POEMA SELECIONADO PARA O XI FESTIPOEMA...

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POEMA SELECIONADO PARA O XI FESTIPOEMA 2017 Categoria: Poema: Autor: Cidade: Adulto A CASA QUE HABITO André Telucazu Kondo Caraguatatuba / SP A casa que habito não tem lembranças nos ladrilhos, não tem porta presente, porão de passado, janela para o futuro. Na casa que habito, as notícias não passam da ,soleira, com o irônico capacho de bem- vindo — todos pisam na hospitalidade, e beijam a porta na cara. As ‘novidades’ amarelam do lado de fora e são abandonadas em alheias varandas, que o mundo insiste em enganar com tragédias velhas — repetidas à exaustão. Na casa que habito ouço o sussurro das tábuas, o gemer dos pregos, nada é concreto — tudo é devaneio. Acredito em papais noéis só não tenho chaminés. Na sala, há uma cadeira de balanço, que só vai e nunca volta; no quarto, uma cama de casal solteira com uma mancha de arrependimento no lençol; na cozinha, o relógio está sempre faminto, com os ponteiros devorando as madrugadas e regurgitando escuridões nas horas de luz. A torneira da pia do banheiro goteja solidões, a banheira é colo, o corpo nu fetal, o eco dos azulejos embaçados — e o choro primordial de um parto sem útero. A casa que habito não está em rua alguma, encontra-se em um eu desconhecido, na Alameda dos Ausentes,

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POEMA SELECIONADO PARA O XI FESTIPOEMA 2017

Categoria: Poema: Autor:

Cidade:

Adulto A CASA QUE HABITO

André Telucazu Kondo

Caraguatatuba / SP

A casa que habito

não tem lembranças nos ladrilhos,

não tem porta presente, porão de passado,

janela para o futuro.

Na casa que habito, as notícias não passam

da

,soleira, com o irônico capacho de bem-

vindo

— todos pisam na hospitalidade, e beijam

a porta na cara.

As ‘novidades’ amarelam do lado de fora

e são abandonadas em alheias varandas,

que o mundo insiste em enganar

com tragédias velhas — repetidas à

exaustão.

Na casa que habito ouço o sussurro das

tábuas,

o gemer dos pregos,

nada é concreto — tudo é devaneio.

Acredito em papais noéis

só não tenho chaminés.

Na sala, há uma cadeira de balanço,

que só vai e nunca volta;

no quarto, uma cama de casal solteira

com uma mancha de arrependimento no lençol;

na cozinha, o relógio está sempre faminto,

com os ponteiros devorando as madrugadas

e regurgitando escuridões nas horas de luz.

A torneira da pia do banheiro goteja solidões,

a banheira é colo, o corpo nu fetal,

o eco dos azulejos embaçados — e o choro

primordial

de um parto sem útero.

A casa que habito não está em rua alguma,

encontra-se em um eu desconhecido,

na Alameda dos Ausentes,

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Categoria: Poema: Autor : Cidade

Adulto A PASSAGEM DO POEMA

Diego Felipe Muniz Garcia

Rio de Janeiro/RJ

Passará meu sono, passará a hora,

Quase tudo, a saber, passará;

Passará o vento no vão da porta,

E as brisas doiradas do sol a raiar...

Lá dentro em repouso sobre tecido morno branco,

A dama em coma, febril, estará a descansar,

E nela passarei as gotas do meu orvalho, dolorido pranto,

Tal qual passarei na esperança de lhe salvar...

E se for preciso para salvar-lhe morrerei num poema,

Aliás, prefiro eu morrer num poema que em mim um poema faltar,

Prefiro eu morrer calado dentro de um poema,

Do que dentro de mim um poema calado de amor se matar...

A dama, enferma de solidão, que não poderá,

Assim como eu decidir do que morrer,

Deitada sofrerá, sofrerá, sofrerá...

Para que um poema possa assim viver!

Serão injustos os poemas que insistem em falar da dor?

Ou seria injusto o amor se não deixasse o poema falar?

E quem sofre com o poema: o poeta ou o leitor?

Ou será que mais sofreria aquele que de amor nunca sofrerá?

Não importa! Tenho uma dama a salvar.

Uma dama que está morrendo e sendo do poema a semente,

Este qual se escreve, que está a brotar,

Este qual não mente quando diz que sente.

E até que não chegue, enfim, o citado dia,

Colherei os tenros florais que no chão estarão a aflorar,

A eles darei carinho; à amada em coma darei minha vida,

E só assim, na passagem do poema, ser nascido o amor poderá...

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Adulto CINZAS APAGADAS

Valéria Pisauro

Campinas - SP

Na parede um retrato denuncia

Saudade de tempos de outrora,

Época em que felicidade consistia,

No pacato rancho a emanar

guarida

E uma família em compasso

reunida.

Tanta riqueza naquela

simplicidade,

Quanto mais humilde mais

hospitalidade,

Harmonia entre terra, vida e

cantoria.

O sol acordava mais cedo,

Tinha pressa para clarear.

A primavera era mais verde

E sonhos arados para semear.

Moringa no canto da mesa,

A compota de doce, a chaleira,

O café torrado no pilão

E a lenha a queimar no fogão.

Hoje, resta uma saudade urgente

Sem beira nem eira que aquece,

Daquela que bate na porta da frente,

Do rosário rezado, congado,

cavalhada,

Do reisado, das mulheres

benzedeiras,

Dos cordéis, os cantadores de feira

E das modas de viola ao redor da

fogueira,

Que a alma da gente não se esquece.

A vaidade tornou-se ilusão,

Por querer, se fez estrada

E do tímido vilarejo nasceu cidade.

Das lenhas somente cinzas apagadas,

Das carroças restaram as rodas,

Que enfeitam o jardim alguma

mansão,

Nos museus, os arreios pendurados

E os arpejos de tristes violões.

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Categoria: Poema: Autor : Cidade

Adulto CANTEIROD DE HORTELÃ

Mauro Martiniano de Oliveira

São Paulo

Dos antigos canteiros do quintal

de pedras, restavam tão somente

as marcas dos tijolos que os

rodeavam.

Porém hoje, aqueles banquinhos

de tijolinhos à vista estavam lá!...

Em formas retangulares e

quadradinhos.

E eu me vi menino, sentado num

deles a balançar os quebra-pedras

sobre um tatuzinho para vê-lo virar

bola.

Dali vi meu pai sob uma parreira...

Acho então que devia ser agosto,

porque ele podava os galhos da

videira.

Só me desviei a atenção quando

ouvi gritos de minhas duas irmãs

que corriam com as Susis junto a elas.

E o pequeno vira-lata que fuçava

o pedal da bicicleta preta parou...

Só para também correr juntinho

delas.

É tão estranho saber que um dia

tudo isso existiu. É só forçar um

pouco a visão e pular o véu do passado.

Esses personagens ainda andam

pelo quintal da velha casa, todos

os dias perfazendo as coisas de outrora.

Amanhã, pedirei para que esse

menino sente-se num daqueles

canteiros de hortelã próximos ao varal.

Lá pels dez da manhã! Só para

ver minha mãe quarar as roupas

nas pedras quentes deste meu quintal.

E com essa visão irei prometer

enfim, que repararei com tempo,

tudo de bom que o tempo levou de mim.

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Categoria: Poema: Autor : Cidade

Adulto CONTEMPLAÇÃO

Maria das Dores Oliveira

Ipatinga/MG

Na intimidade dos quintais

por entre os varais,

gorjeia o galo a melodia:

- É dia, é dia!

Os bichos nada sabem de

sociologia

só sabem de alegria.

Tem sabor de amora

a intimidade dos quintais.

As rolinhas nos ninhos;

Carinhos, carinhos...

Se é tão complicado para nós,

os bichos sabem tudo de amor.

A intimidade dos quintais

tem o frescor dos riachos.

Os bichos não têm religião

e comem na mão do Criador.

Se não são inteligentes,

por instinto são oniscientes.

Por entre os arvoredos

na intimidade dos quintais,

desfrutam os pardais,

zombando dos muros e grades.

Os bichos nada sabem de

geografia

só sabem de liberdades.

Na intimidade dos quintais

o melro vive solto a cantar.

Deitado sobre a grama,

o gato folgaz aprecia o panorama.

Os bichos nada sabem de filosofia

só sabem de harmonia

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Categoria: Poema: Autor : Cidade

Adulto DESAMOR

Diógenes Henrique Carvalho V. Silva

Natal/RN

Venham, estrelas!

Aliviem o meu tormento,

massageando de luz a minha dor.

Iluminem esse vão passatempo,

o de sofrer desafortunado amor.

Muitos são os meus lamentos

e tantos os meus miramentos

que nem sequer mais sustento

os meus olhos no firmamento.

Venham, estrelas!

Sanem essa loucura

de desejar o que não posso ter

e me deem qualquer candura

que só os teus raios podem conceder.

Demasiados são os segundos,

largos os meus choros profundos,

tão tristes e rotundos

como não há mais nesse mundo.

Venham, estrelas!

Reflitam a minha queixa

e sequem o meu pranto,

que nem sequer me deixa

querer a quem amo tanto!

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Adulto Dobradura de Poema

Ronaldo Henrique Barbosa Junior

Rio de Janeiro/RJ

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Adulto FADA POETA

Lúcio Rodrigues Junior

Tatuí/SP

Vens de onde, fada poeta?

Quanta ousadia! Invadir, assim

Minha ilha tão secreta.

Vens da aldeia de Pessoa.

Por onde não passa o Tejo,

E a vida não corre à toa?

Quem sabe caíste da nau de Camões,

Embriagado por Baco foi salva pelo deus,

Enquanto Mercúrio salvava os ladrões.

Vai ver, tu vieste das sonâmbulas terras,

Dos poetas tristes, de secas paisagens,

Pais da liberdade, e filhos da guerra

Vieste de longe, num barquinho à vela?

Será que partiste da terra do nunca,

Ou lançaste a proa do mar de Florbela?

De onde vens, não importa!

Se os deuses te enviam,

Abro-te as portas.

Sentemos na areia, fitemos o mar.

Gozemos do tempo, que o sol já se põe,

E o ombro da noite carrega o luar!

Se queres ficar, te dou companhia.

E, em troca te peço,

A tua poesia!

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Adulto FILHOS DO BRASIL

Maicon de Almeida Moreira

Boa Esperança – MG

Nas ladainhas de vozes em choro

Que do rio chegam aos vilarejos em coro

Uma gota de suor respinga

No rosto molhado de homens cerrados,

De homens de caatinga.

E no sol tropical desse solo quente e imensidão,

O fruto do pão de quem semeia a mesma terra

É saqueado por coroas de miséria

Tirando chapéu de rosto, tirando osso de cão.

E na ardência desse chão farto

Botam cerca e restringem um redundante parto:

Dos filhos do Brasil que não mais é dado

Das mães que alimentariam a nação.

E se na força do trato

Fores tratados como um vão:

Aos dolorosos arados

Haverá pelos animais, árvores e povos suados

A fé na justiça à toda essa desolação!

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Adulto MENSAGEIRO DO AMOR

Aparecido de Oliveira

Pindamonhangaba

Queria ser um mensageiro do amor

E por onde quer que andasse

Não houvesse ódio ou dor.

Queria ouvir minha voz ecoando

Por vales e montanhas

E aprender com o silêncio

O verdadeiro significado do sibilar do vento.

Queria que a terra não fosse tão violenta

Que a vida sobre pujasse a morte

Que a cultura fosse o arquétipo do saber

E que a ignorância fosse extipada

Queria almas caridosas, para que pudessem

Falar com seus atos,

O verdadeiro significado do amor.

Queria mandar cartas que não escrevi

E receber respostas que não ansiei.

E como tudo se encerra, queria enfim,

Quando partisse da terra

Por todo mal que não quis

Por todo bem que eu fiz

Que se lembrassem de mim.

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Adulto PAISAGEM LÍRICA

Lourival Antonio de Carvalho Junior

Canoas/RS

Quando passarmos mádido bosque do Amor,

Onde impera a beleza de um sonho profundo,

Aos nossos corações cintilará o mundo

Como o adejo fantástico de um beija-flor!

Cada lembrança de perfume está repleta,

Medrando a rosa – mesmo que desvanecida –,

Pois tudo brilha, vira acorde e ganha vida,

Ao ser descrito pela pena do poeta!

Portanto ao vento as borboletas como cordas

Hão de tocar por entre as nossas esperanças,

Lendo sobre as veredas cada verso dourado!

E do lago mais límpido do qual transbordas,

Tu, sendo Ninfa ou pássaro que vence lanças,

Hás de nos encontrar seguindo lado a lado!

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Adulto PALAVRA PÉTALA

Adriane Lima

Campinas/SP

Escrevo no vazio

um amontoado de palavras

repletas de formas

que penso criar

Atravessa-me a essência

o dia estagnado

amparado por flores

que o inverno derrubou

Sob a luz da lua

verto sépalas, colho pétalas

fecho os olhos

em minha alegria teimosa

por acreditar

A curva de meu verso

se insinua, modela

silêncio em paz

e alma nua

Pesa-me o breve

onde a vida pulsa

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Adulto PÉTALAS AO VENTO

Fernando Jesus Nogueira Catossi -

Jundiaí/SP

Lágrimas que riscam a tez sofrida

Onde rugas sulcam o valor dos anos

Dedos hábeis a trançar a lã

Regem o ritmo em que tece seu destino

Olhar opaco se conforma com a baixa luz

Cansada e diluída pelas horas que se

esvaem

Calejada pela noite, desafia a penumbra

Pincelando em poucos traços a tristeza

que a distrai

O velho castiçal abriga a vela jovem

Que de bela só possui a poesia

Sua chama dança, cortejada pela brisa

Parindo sombras de almas joviais

Como a murcha flor do ontem

Que do jardim partiu sem se despedir

A vida lhe cobra os encantos

E dá ao triste pranto a voz de uma

saudade

Recosta o corpo exausto, de um cansaço

solitário

Foge ao som do silêncio e cala ecos do

passado

Reprime nos lábios os desejos de outrora

E que hoje, tão sem vida, invejam o rubro

de uma aurora

Mas fogo imune ao tempo não se apaga

com o vento

Pouco ou nada sofre com quem por ele não

mais chora

Nem um beijo lhe ofereça ou com o peito lhe

conforte

Transcende a incerteza de um amor que não

mais volta

O sorriso lhe visita a boca, que reage mais

disposta

Solta as mechas cor de prata e as estende

pelas costas

Tal qual bela mariposa que de ousada vai à luz

Aceitando a própria morte no calor que lhe

seduz

Pelo encanto avista o fim e o cansaço lhe

invade

O semblante se ameniza como o céu num fim

de tarde

O novelo vai ao chão junto aos braços

delicados

Traz consigo alguns retalhos de uma echarpe

inacabada

O coração sente o momento e cadencia sua

marcha

Levando ao velho corpo o torpor da despedida

Fecha os olhos novamente e já não mais se

sente só

A tenra mão libera a agulha para alcançar sua

eternidade

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Adulto SILHUETAS

Antenor Rosalino

Araçatuba/SP

No meu silêncio transfigurado

Assim como um navio

Que passa pela noite,

Fora do alcance da voz,

Sou teu escudo invisível!

E em noites taciturnas,

Entre sândalos de bem-me-

quer,

Faço silhuetas de ti

Visualizando tua imagem

E teus segredos de mulher.

Os meus olhos lacrimejam

E as lágrimas escorrem em

pétalas

Na quietude que me afaga a

alma,

Como se fosse a última página

Que escrevo no livro da memória.

Os candelabros grafitam a luz

vespertina

Sob transparente sombra de

rendas e cetins,

Em perfeita glória escarlate!

Afugento-me do assobio do vento

Revestindo sonhos pela

madrugada!

Meus pensamentos vicejam

Odes de amor perfeito,

Mas só me restam os versos que

fiz

Buscando teus olhos inquietos

No meu viver carmesim.

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Adulto VIOLAÇÃO DE DIREITOS

Josina Do Amaral

Santa Catarina

Passei a tarde admirando a liberdade em bater de asas e cantos.

Eles sempre estão por aqui, mas, nunca em tanta variedade.

Tititi, pipipi, bem-te-vi, pius longos e afinados, eram tantos.

Só estranhei, a quantidade.

Azuis, escuros, cinzas, coloridos, marrons e amarelos.

Eram pequenos, grandes, bicudos, faladores, exibidos, voadores.

Frágeis, assustados, escondidos, calados e ainda assim, belos.

Encantada com a passarada reunida, me enganei, confundi.

Achei que admirava a liberdade, mas, já era fim de tarde e eles não

saíam de lá.

Alguns, daqueles pássaros tão lindos, nunca, antes vi.

Egoísta, desejei, que no meu jardim, viessem morar.

Achei que fosse uma festa da natureza, mas, descobri, não se

exibiam ou cantavam pra mim.

Choravam e conversavam entre si e adaptando-se ao pouco espaço,

voavam para lá e para cá.

Se ajuntaram ali, sujeitos sem teto, despejados com violência pelo

desmatamento sem fim.

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