Poema Urgentemente

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URGENTEMENTE É urgente o amor. É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras, Ódio, solidão e crueldade, Alguns lamentos, Muitas espadas. É urgente inventar a alegria, Multiplicar as searas, É urgente descobrir rosas e rios E manhãs claras. Cai o silêncio nos ombros e a luz Impura, até doer. É urgente o amor, é urgente Permanecer. Eugénio de Andrade, Antologia Breve

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poema sobre direitos humanos, liberdade, solidariedade

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Page 1: Poema Urgentemente

URGENTEMENTE

É urgente o amor. É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras, Ódio, solidão e crueldade, Alguns lamentos, Muitas espadas.

É urgente inventar a alegria, Multiplicar as searas, É urgente descobrir rosas e rios E manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz Impura, até doer. É urgente o amor, é urgente Permanecer.

Eugénio de Andrade, Antologia Breve

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"Todos os homens nascem livres e iguais em

dignidade e direitos. São

dotados de razão e consciência e devem agir em

relação uns aos outros com espírito de fraternidade".

IMPROVISO DA ALMA E DO POETA

(Rogério Martins Simões)

Dia a dia o desamor

Quebra o sentido da vida

Sofre-se em segredo

E na incerteza...

Reina a ganância,

A injustiça

O sofrimento, a pobreza

E o medo!

É fácil dizer:

Temos de ser solidários!

Ser… não é fácil?

A vida é tortuosa,

Manhosa

Vai tudo numa pressa.

E na pressa tudo olha

Nada se vê!

Olho! Nada vejo!

Olho! Nada sinto!

Olho! Olho! Olho!

Que vejo?

Vai tudo na pressa

À velocidade do salário.

Page 3: Poema Urgentemente

Vai tudo na pressa

À velocidade do ganho!

E o homem virou máquina,

Computador

Autómato.

Mas… o luar está igual

O céu não mudou!

Mudou a humanidade

Que perdeu a individualidade.

Passámos a ser números,

Peças de inventário.

Desumanidade!

Dia a dia

Caem os valores morais

Perfilam as estatísticas

Dos ganhos:

Ganha a produção:

Ganha-se menos!

Trabalha-se mais:

Ganha-se menos!

Que importa?

Se um homem tem fome?

E se há revolta.

Que importa?

A quem importa?

Importa é o dinheiro

Ser rico,

Virar banqueiro.

Mas… a areia cintila no deserto!

E nem tudo o que brilha é oiro

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- Não vedes o céu a irradiar?!

Não! A humanidade não luz:

A sociedade é egoísta,

Prolifera o desamor.

Importa é estar na "berra"

E neste egoísmo nada sobra.

Está quase a bater no fundo!

Estes tempos são difíceis

Só há tempo para o fútil,

Para a notícia brejeira,

Para a asneira

Para a coscuvilhice.

E nesta agitação…

A alma consome

E o corpo mata.

Mas o mar permanece azul!

O melro assobia

O vento vira furacão.

Passou o tempo…

(O tempo passa depressa)

E na pressa

Não há tempo para filhos.

Dos filhos para os avós.

Dos avós para os netos.

Dos meninos para a família!

Volta poesia!

Volta poeta...

Acredita...

Que estamos no Outono,

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Mais logo… será Inverno,

Vem aí a Primavera

Tudo será verde… renascido,

E de volta ao lar,

Em redor da lareira

Quando o dia findar,

Os avós,

Os pais

E os netos

Recordarão histórias da vida,

Contadas sem segredos,

(Segredos bem guardados).

E desses segredos

Renascerão

Os gestos colectivos de amor

Repreendidos

E esconjurados

Os actos egoístas

De desamor.

E os meninos

De volta às escolas

(Sem números nas camisolas)

Pintadas a lápis de cor

Vão ter recreios doirados

Em mil e uma aventuras.

E se treparem às arvores,

Subirão à “Torre de Babel”

E todos se entenderão

Na mesma língua.

Porque a terra vai ser paraíso

E os frutos não mais serão proibidos...