Poemas de Bocage

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Poemas do consagrado poeta árcade

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  • 1. Poemas Escolhidos | BocageMagro, de olhos azuis, caro moreno,Apenas vi do dia a luz brilhante tranas, de que Amor priso me tece,Da prfida Gertrria o juramentoDas terras a pior tu s, Goa,Cames, grande Cames, quo semelhanteIncultas produes da mocidadeLembrou-se no Brasil bruxa insolenteCartazVs, Franas, Semedos, Quintanilhas,Sanhudo, Inexorvel Despotismo,Liberdade, onde ests? Quem te demora?Importuna Razo, no me persigas;Oh retrato da morte, oh Noite amigaMeu ser evaporei na lida insanaJ Bocage no sou!... cova escuraCrditosClique sobre o poema desejadowww.mundocultural.com.br - Anlises Literrias

2. Poemas Escolhidos | BocageMagro, de olhos azuis, caro moreno,Bem servido de ps, meo(1) na altura,Triste de facha,(2) o mesmo de figura,Nariz alto no meio, e no pequeno:Incapaz de assistir (3) num s terreno,Mais propenso ao furor do que ternura;Bebendo em nveas (4) mos por taa escuraDe zelos infernais letal veneno:Devoto incensador de mil deidades (5)(Digo, de moas mil) num s momento,Inimigo de hipcritas, e frades:*Eis Bocage, em quem luz algum talento;Saram dele mesmo estas verdadesNum dia em que se achou cagando ao vento.*Glossrio1 - Mediano, medocre, mdio2 - De rosto, de cara3 - Usado no sentido de morar4 - Brancas como neve5 - Divindades, veneraes*- Versos corrigidos na edio de 1804Comentrios:Esse soneto considerado o Auto-retrato do poeta. Ele foi corrigido, pelo prprio Bocage, naedio de 1804. Os versos "Inimigo de hipcritas, e frades" e "Num dia em que se achoucagando ao vento" foram substitudos, respectivamente, por "E somente no altar amando osfrades" e "Num dia em que se achou pachorrento", no qual pachorrento tem o significado depaciente. Optamos por divulgar a primeira verso do poema porque a consideramos maisoriginal. Nesse soneto, no qual o poeta v com humor e um certo cinismo as suas desventuras,percebe-se toda a instabilidade do poeta, tanto no sentido fsico, quanto no moral. Ele incapazde assistir, aqui empregado no sentido de morar, "num s terreno".www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 3. Poemas Escolhidos | BocageApenas vi do dia a luz brilhanteL de Tubal(1) no emprio celebrado,Em sangneo carter foi marcadoPelos destinos meu primeiro instante.Aos dois lustros(2) a morte devoranteMe roubou, terna me, teu doce agrado;Segui Marte(3) depois, enfim meu fadoDos irmos, e do pai me ps distante.Vagando a terra curva, o mar profundo,Longe da ptria, longe da venturaMinhas faces com lgrimas inundo.E enquanto insana multido procuraEssas quimeras, esses bens no mundo,Suspiro pela paz na sepultura.Glossrio1- Tubal viveu em Setbal, conforme a histria mtica2- Qinqnio, Espao de 5 anos3-Deus latino da guerraComentrios:Nesse soneto Bocage faz referncia a morte de sua me. Em seguida ele nos fala sobre a suaentrada para Marinha de Guerra e sobre as suas viagens. Essa idia reforada com a presenada "Marte" o deus romano da guerra. Finalizando o poema o eu-lrico, que deseja a paz dasepultura, se opem aos homens que procuram como loucos os bens materiais, que no passamde quimeras, ou seja, sonhos fantasiosos.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 4. Poemas Escolhidos | Bocage tranas, de que Amor priso me tece, mos de neve, que regeis meu fado! Tesouro! mistrio! par sagrado,Onde o menino algero(1) adormece! ledos(2) olhos, cuja luz pareceTnue raio do sol! gesto (3) amado,De rosas e aucenas semeadoPor quem morrera esta alma, se pudesse! lbios, cujo riso a paz me tira,E por cujos dulcssimos favoresTalvez o prprio Jpiter (4) suspira! perfeies! dons encantadores!De quem sois?... Sois de Vnus?(5) - mentira; Sis de Marlia, sois de meus amores.Glossrio1 - Cpido / Literalmente, algero significa rpido ligeiro.2- Risonho alegre3 - significa rosto, muito comum na poesia clssica4 - Deus supremo, o pai de todos5 - Deusa da beleza e do amorComentrios:Esse soneto um timo exemplo do estilo rcade. Nele temos a presena da natureza e defiguras mitolgicas como Vnus e Jpiter. O poema construdo baseado na oposio beleza e oseu efeito. As mos da musa tecem o fado do poeta, os seus lbios tiram a sua paz. A beleza damulher amada detalhada por quase todo o poema e, no final, ela comparada a Vnus, deusada beleza e do amor, e em nada perde para ela, pois at mesmo Jpiter por ela suspira.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 5. Poemas Escolhidos | BocageDa prfida(1) Gertrria o juramentoParece-me que estou inda escutando,E que inda ao som da voz suave e brandoEncolhe as asas, de encantado, o vento:No vasto, infatigvel pensamentoOs mimos da perjura(2) estou notando...Eis Amor, eis as Graas festejandoDos ternos votos o feliz momento.Mas ah!... Da minha rpida alegriaPara que acendes mais as vivas cores,Lisonjeiro pincel da fantasia?Bastam, cega paixo, loucos amores;Esqueam-se os prazeres de algum dia,To belos, to durveis como as flores.Glossrio1 - traidora, desleal, infiel, que mente a f jurada2 - que jura em falsoComentrios:Tudo leva a crer que esse soneto foi inspirado na traio de Gertrudes (Gertrria) que casou-secom o irmo de Bocage, Gil Bocage, quando o poeta estava na ndia. Nesse poema percebe-se ador e amargura do eu-lrico ao perceber que sua amada o traiu. A concluso do poema muitocnica. O amor comparado com as flores, belas, porm, pouco duradouras.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 6. Poemas Escolhidos | BocageDas terras a pior tu s, Goa,Tu pareces mais ermo, que cidade;Mas alojas em ti maior vaidadeQue Londres, que Paris, ou que Lisboa:A chusma(1) de teus ncolas (2) pregoaQue excede o gro-Senhor na qualidade;Tudo quer senhoria; o prprio fradeAlega, para t-la, o jus da croa!De timbres prenhe (3) ests; mas ouro e prataEm cruzes, com que dantes te benziasFoge a teus infanes (4) de bolsa chataOh que feliz, e esplndida serias,Se algum fusco Merlin,(5) que faz bagataTe alborcasse (6) a Pardaus (7) as senhoriasGlossrio1 - Grande quantidade, monto2 - Moradores, habitantes3 - Pleno, repleto, cheio4 - Antigo ttulo da nobreza5 - Lendrio mago da corte do Rei Arthur6- Permutasse, trocasse7 - Antiga moeda da ndia portuguesaComentrios:Essa Goa sobre a qual Bocage descarrega o seu Sarcasmo muito diferente daquela que foiconquistada por Afonso de Albuquerque e que se transformou no maior centro comercial dooriente. Na viso do poeta Goa "Das terras a pior" , seus habitantes so pretensiosos e vivemse vangloriando do seu luxo e riqueza, porm o imprio est em franca decadncia, o imprioest falido e corrupo toma conta de seus habitantes. Para reverter essa situao, concluironicamente o poeta, somente Merlin com sua poderosa magia.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 7. Poemas Escolhidos | BocageCames, grande Cames, quo semelhanteAcho teu fado ao meu, quando os cotejo!Igual causa no fez perdendo o TejoArrostar(1) co sacrlego (2) gigante: (3)Como tu, junto ao Ganges sussurranteDa penria cruel no horror me vejo:Como tu, gostos vos, que em vo desejo,Tambm carpindo estou, saudoso amante:Ludibrio (4) , como tu, da sorte duraMeu fim demando ao Cu, pela certezaDe que s terei paz na sepultura:Modelo meu tu s... Mas, oh tristeza!...Se te imito nos transes da ventura,No te imito nos dons da Natureza.Glossrio1 - Olhar de frente2 - Que cometeu sacrilgio, ato de impiedade, de profanao3 Referncia ao episdio do Gigante Adamastor, de Os Lusadas. Representa o cabo dastormentas (Sul da frica), limite do mar conhecido por Vasco da Gama.4 - Escarneo, zomboComentrios:Nesse soneto Bocage invoca Cames, comparando as suas desventuras com as dele. Assemelhanas entre os dois so muitas: Ambos cruzaram o cabo da Boa Esperana, erambomios, briguentos, tiveram muitos amores e morreram quase na misria. No ltimo terceto dopoema, Bocage, como era de costume no perodo Neoclssico, admite que Cames o seumodelo. No entanto, ele lamenta o fato de se equiparar ao "grande Cames" "Nos transes daventura" e no no dom de fazer versos.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 8. Poemas Escolhidos | BocageIncultas produes da mocidadeExpondo a vossos olhos, leitores:Vede-as com mgoa, vede-as com piedade,Que elas buscam piedade, e no louvores:Ponderai da fortuna a variedadeNos meus suspiros, lgrimas, e amores;Notai dos males seus a imensidade,A curta durao dos seus favores:E se entre versos de sentimentoEncontrades alguns, cuja aparnciaIndique festival contentamento,Crede, mortais, que foram com violnciaEscritos pela mo do Fingimento,Cantados pela voz da Dependncia.Comentrios:Esse soneto pode ser considerado como o julgamento literrio que Bocage faz dos poemas queescreveu na juventude. Ao critic-los, ele crtica tambm o estilo da poca e o fingimento dascomposies rcades. Por meio da forma imperativa, ele amplia a intensidade apelativa dopoema e pede aos leitores para que tenham piedade de seus versos, pois s piedade elesbuscam. A utilizao de iniciais maisculas em "Fingimento" e "Despotismo" personifica idiasabstratas. Ao fazer isso, ele pode estar tentando transferir a eles um pouco da responsabilidadepela autoria dessas "Incultas produes".www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 9. Poemas Escolhidos | BocageLembrou-se no Brasil bruxa insolenteDe amar ao pobre mundo estranha peta; (1)Procura um mono (2), que infernal caretaLhe faz de longe, e lhe arreganha o dente:Pilhando-o por merc do Averno (3) ardente,Conserva-lhe as feies na face preta;Corta-lhe a cauda, veste-o de roupeta,E os guinchos(4) lhe converte em voz de gente:Deixa-lhes os calos, deixa-lhe a catinga;Eis entre os Lusos o animal sem raboProle(5) se aclama da rainha Ginga: (6)Dos versistas se diz modelo e cabo;A sua alta cincia a mandinga,O seu benigno Apolo (7) o Diabo.Glossrio1 - Mentira2 - Designao geral para os macacos3 - Inferno4 - Som agudo e inarticulado do homem e de alguns animais5 - Gerao, prognie, descendente6 - Rainha Ginga, da angola.7 - Deus Grego-romano, o mais belo dos deusesComentrios:Esse soneto, de tom extremamente irnico, foi dedicado a Domingos Caldas Barbosa, presidenteda Nova Arcdia. Nele, Bocage compara Caldas a um demnio que, para iludir os portugueses,disfara seus guinchos em canes. Esse demnio, por ser descendente da rainha Ginga,adversria dos portugueses durante a poca da colonizao, um inimigo do povo portugus.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 10. Poemas Escolhidos | BocageCartaz:Quarta-feira catorze do correnteSe apresenta outra vem com bom cenrioNo Salitre a comdia do "Antiqurio",A que tem concorrido imensa gente: obra traduzida novamentePor um poeta, amigo do empresrio,Memorio,(1) que engole um dicionrio,E orna de verdes pmparos(2) a frente:Em lugar de entremez(3) se h de seguirDo Franco a grande pea curiosa,Tragdia de "Sesstris" que faz rirTem versos naturais, parecem prosa!Que venha o nobre pblico a aplaudirEspera a companhia obsequiosa.Glossrio1 - quem tem boa memria, ou facilidade para decorar2 - ramos mais novos da videira3 composio teatral curta, de carter jocosoComentrios:Soneto com tom satrico. Nele anunciado a repetio de uma pea, cuja traduo atribuda aBelchior Manuel Curvo Semedo, membro da Nova Arcdia. No entanto, essa pea s est sendoapresentada porque o tradutor "amigo do empresrio". Note que a pea ser apresentada emuma quarta-feira, referncia irnica s reunies da Nova Arcdia que, por acontecerem squartas-feiras, ficaram conhecidas como "quartas-feiras de Lereno".www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 11. Poemas Escolhidos | BocageVs, Franas, Semedos, Quintanilhas,Macedos e outras pestes condenadas;Vs, de cujas buzinas penduradasTremem de Jove(1) as melindrosas filhas;Vs, nscios, que mamais das vis quadrilhasDo baixo vulgo insossas gargalhadas,Por versos maus, por trovas aleijadas,De que engenhais (2) as vossas maravilhas;Deixai Elmano, que, inocente honradoNunca de vs se lembra, meditandoEm coisas srias, de mais alto estado.E se quereis, os olhos alongando,Ei-lo! Vede-o no Pindo (3) recostado,De perna erguida sobre vs...Glossrio1 - Outro nome de Jpiter.2 - Inventais, traais, maquinais3 - Nome do monte consagrado a Apolo e s musas na Grcia antigaComentrios:O tom desse soneto irnico. Nele, Bocage compara os membros da Nova Arcdia "pestescondenadas". Ele ainda zomba deles usando nomes rcades como Jove e Pindo. Essas "pestes",como diz Bocage, fazem uma poesia maante e vivem perseguindo Elmano, que, alm de ser umpoeta superior, um homem honrado, que nunca se lembra deles porque est ocupado com averdadeira poesia "coisas srias, de mais alto estado". A superioridade de Elmano fica clara noltimo terceto: ele est no Pindo sob a proteo de Apolo e das musas enquanto que os outros...Em algumas publicaes esse verso completado com "mijando" ou "cagando".As duas palavrasse encaixam perfeitamente no verso, ou seja, a mtrica e rima ficam perfeitas.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 12. Poemas Escolhidos | BocageSanhudo,(1) Inexorvel(2) Despotismo,(3)Monstro que em pranto, em sangue a fria cevas,(4)Que em mil quadros horrficos te enlevas,Obra da Iniqidade(5) e do Atesmo;Assanhas o danado FanatismoPorque te escore o tronco onde te enlevas;Porque o sol da Verdade envolva em trevas,E sepulte a Razo num denso abismo:Da sagrada Virtude o colo pisas,E aos satlites vis da prepotnciaDe crimes infernais o plano gizas:(6)Mas, apesar da brbara insolncia,Reinas s no extrior, no tiranizasDo livre corao a independncia.Glossrio1 - temvel2 - inabalvel3 - sistema de governo com poder absoluto e arbitrrio4 - alimentar, nutrir5 - injustia6 - delinear, traarComentrios:Esse um soneto que reflete as idias liberais da Revoluo Francesa. No poema existe uma atitude pr-romntica, pois o Despotismo opressor no consegue atingir o corao que livre. Vale lembrar que osautores do Romantismo, que estaria por vir, tinham posies polticas muito semelhantes a essas. Por isso,refora-se ainda mais a antecipao romntica de Bocage.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 13. Poemas Escolhidos | BocageLiberdade, onde ests? Quem te demora?Quem faz que o teu influxo em ns no caia?Por que (triste de mim)! por que no raiaJ na esfera de Lsia(1) a tua aurora?Da santa redeno vinda a horaA esta parte do mundo, que desmaia:Oh! Venha... Oh! Venha, e trmulo descaiaDespotismo feroz, que nos devora!Eia! Acode ao mortal, que frio e mudoOculta o ptrio amor, torce a vontade,E em fingir, por temor, empenha estudo:Movam nossos grilhes tua piedade;Nosso nume tu s, e glria, e tudo,Me do gnio e prazer, oh Liberdade!Glossrio1 - Esfera lsea - o contexto indica que se refere a PortugalComentrios:Esse outro soneto ideolgico. Nele existe a defesa dos ideais liberais e a crtica ao Despotismoopressor. Por isso, o poema torna-se uma espcie de canto a liberdade, que possu a funo deacorda Portugal, uma terra que ainda est adormecida. Novamente temos o uso de iniciaismaisculas para personificar idias abstratas.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 14. Poemas Escolhidos | BocageImportuna Razo, no me persigas;Cesse a rspida voz que em vo murmura;Se a lei do Amor se fora da ternuraNem domas, nem contrastas, nem mitingas:(1)Se acusas os mortais, e os no abrigas,Se (conhecendo o mal) no ds a cura,Deixa-me apreciar minha loucura,Importuna Razo, no me persigas. teu fim, teu projeto encher de pejo(2)Esta alma, frgil vtima daquelaQue, injusta e vria, noutros laos vejo:Queres que fuja de Marlia bela,Que a maldiga, a desdenhe; e meu desejo carpir,(3) delirar, morrer por ela.Glossrio1 - amansar, abrandar2 - vergonha, pudor3 - sofrer, chorarComentrios:Nesse soneto temos traos do Arcadismo e tambm do Romantismo. Marlia est em outroslaos, que pode ser entendido como outros braos. Essa viso real, essa "Importuna Razo"persegue o eu-lrico, que, aos invs de lhe dar ouvidos, prefere apreciar sua loucura. A Razo,personificada pelo uso de iniciais maisculas, pede para o eu-lrico fuja de sua amada, porm,seu desejo " carpir, delirar, morrer por ela.". Nota-se claramente que nesse poema existe umconflito entre a razo Arcade e a emoo tipicamente Romntica.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 15. Poemas Escolhidos | BocageOh retrato da morte, oh Noite amigaPor cuja escurido suspiro h tanto!Calada testemunha de meu pranto,De meus desgostos secretria antiga!Pois manda Amor, que a ti somente os diga,D-lhes pio(1) agasalho no teu manto;Ouve-os, como costumas, ouve, enquantoDorme a cruel, que a delirar me obriga:E vs, oh cortesos da escuridade,Fantasmas vagos, mochos(2) piadores,Inimigos, como eu, da claridade!Em bandos acudi aos meus clamores;Quero a vossa medonha sociedade,Quero fartar meu corao de horrores.Glossrio1 - piedoso2 - espcie de corujaComentrios:Nesse soneto percebe-se claramente os traos pr-romnticos de Bocage. A morte se fazpresente, confunde-se com a noite e amiga do eu-lrico, mais que isso, ela a "Caladatestemunha" do seu pranto. Alm disso, surgem fantasmas e mochos, figuras noturnas, quecomo ele so inimigos da claridade. Claridade essa que no deve ser vista simplesmente comoluz, mas sim como a luz do conhecimento e da razo, que se ope a noite, ou seja, a incerteza,aos mistrios da alma. No entanto, esse clima Romntico, que envolve o eu-lrico, no chega ata mulher amada, que dorme tranqilamente.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 16. Poemas Escolhidos | BocageMeu ser evaporei na lida(1) insanaDo tropel(2) de paixes, que me arrastavaAh! Cego eu cria, ah! msero eu sonhavaEm mim quase imortal a essncia humana.De que inmeros sis a mente ufana(3)Existncia falaz me no dourava!Mas eis sucumbe Natureza escravaAo mal, que a vida em sua origem dana. (4)Prazeres, scios meus e meus tiranos!Esta alma, que sedenta em si no coubeNo abismo vos sumiu dos desenganos.Deus, Deus!... Quando a morte luz me roubeGanhe um momento o que perderam anos,Saiba morrer o que viver no soube.Glossrio1- Vida2 - Grande confuso, desordem3- Que se orgulha de algoComentrios:Esse soneto, de tom confessional, um dos poemas de Bocage mais reproduzidos no Brasil. Elefoi escrito pouco antes da morte de Bocage e outro exemplo do pr-romntismo, porque aemoo, mais uma vez contrada pela rigidez do verso. No poema, o eu-lrico nos mostra comoa sua vida foi consumida em prazeres e amores. No ltimo terceto ele invoca Deus, arrepende-se dos erros cometidos em vida e, mostrando que est totalmente reconciliado com a religio,espera encontrar na eternidade o perdo Divino.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 17. Poemas Escolhidos | BocageJ Bocage no sou!... cova escuraMeu estro vai parar desfeito em vento...Eu aos Cus ultrajei! O meu tormentoLeve me torne sempre a terra dura.Conheo agora j quo v figuraEm prosa e verso fez meu louco intento;Musa!...Tivera algum merecimentoSe um raio da razo seguisse pura!Eu me arrependo; a lngua quase friaBrade em alto prego mocidade,Que atrs do som fantstico corria:Outro Aretino(1) fui...A Santidade Manchei!...Oh! Se me creste, gente mpia,Rasga meus versos, cr na eternidade.Glossrio1 -Pedro Aretino famoso escritor satrico italiano que dosa desregramento, malevolncia comhumorComentrios:Esse talvez seja um dos sonetos mais famosos de Bocage. Ele o exemplo perfeito do termopr-romntico porque as emoes so contradas, ou seja, esto presas a rigidez do versoperfeito e a forma fixa de soneto. Esse poema foi escrito pouco antes da morte do poeta. Nelevemos um eu-lrico arrependido da sua vida desgarrada e reconciliado a vida religiosa. Ao dizer"Rasga meus versos, cr na eternidade" ele se desprende dos valores materiais e mostra-setotalmente voltado para a eternidade.www.mundocultural.com.br - Anlises Literrias 18. Poemas Escolhidos | BocageElaborao: Prof. Ablio FriedmanEsse material parte integrante do site www.mundocultural.com.br e pode serredistribudo livremente, desde que no seja alterado, e que as informaesacima sejam mantidas. Para maiores informaes, escreva [email protected] - Anlises Literrias