Poemas de Che Guevara

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Poemas de Che Guevara Eu sei! Eu sei! Se sair daqui, o rio me engolirá... É o meu destino: hoje devo morrer! Mas não, a força de vontade pode superar tudo Há obstáculos, eu reconheço Não quero sair. Se tenho que morrer, será nesta caverna. As balas, o que podem as balas fazer comigo se meu destino é morrer afogado? Mas vou vencer o destino. O destino pode ser conseguido pela força de vontade. Morrer, sim, mas crivado de balas, destroçado pelas baionetas, se não, não. Afogado não... Uma recordação mais duradoura do que meu nome É lutar, morrer lutando. (Ernesto Guevara – 17 de Janeiro de 1947) Pobre velha María... não reze para o deus inclemente que frustrou suas esperanças, sua vida inteira, não peça clemência desde a sua morte, sua vida foi horrivelmente coberta de fome e termina coberta pela asma. Mas eu lhe quero anunciar, numa voz baixa viril de esperanças, a mais vermelha e viril das vinganças. Quero jurá-la na exacta dimensão de meus ideais. Pegue esta mão de homem que parece a de um menino entre as suas, polidas pelo sabão amarelo, esfregue os calos duros e os nós puros na suave vingança de minhas mãos de médico. Descanse em paz, María, descanse em paz, velha lutadora, seus netos viverão todos para ver a alvorada. (Ernesto Guevara - Homenagem à sua paciente, ainda na época de médico, que morre vítima da asfixia da asma e do descaso social)

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Poesia escrita por Che Guevara (a maioria rasgava)

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Page 1: Poemas de Che Guevara

Poemas de Che Guevara

Eu sei! Eu sei! Se sair daqui, o rio me engolirá... É o meu destino: hoje devo morrer! Mas não, a força de vontade pode superar tudoHá obstáculos, eu reconheçoNão quero sair.Se tenho que morrer, será nesta caverna.

As balas, o que podem as balas fazer comigose meu destino é morrer afogado? Mas vouvencer o destino. O destino pode serconseguido pela força de vontade.

Morrer, sim, mas crivado debalas, destroçado pelas baionetas, se não, não. Afogado não...Uma recordação mais duradoura do que meu nomeÉ lutar, morrer lutando.

(Ernesto Guevara – 17 de Janeiro de 1947)

Pobre velha María...não reze para o deus inclemente que frustrou suas esperanças,sua vida inteira,não peça clemência desde a sua morte,sua vida foi horrivelmente coberta de fomee termina coberta pela asma.Mas eu lhe quero anunciar,numa voz baixa viril de esperanças,a mais vermelha e viril das vinganças.Quero jurá-la na exactadimensão de meus ideais.Pegue esta mão de homem que parece a de um meninoentre as suas, polidas pelo sabão amarelo,esfregue os calos duros e os nós purosna suave vingança de minhas mãos de médico.Descanse em paz, María,descanse em paz, velha lutadora,seus netos viverão todos para ver a alvorada.

(Ernesto Guevara - Homenagem à sua paciente, ainda na época de médico, que morre vítima da asfixia da asma e do descaso social)

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Contra o Vento e as Marés

Este poema (contra o vento e as marés) levará minha assinatura.Deixo-lhes seis sílabas sonoras,um olhar que sempre traz (como um passarinho ferido) ternura,

Um anseio de profundas águas mornas,um gabinete escuro em que a única luz são esses versos meus,um dedal muito usado para suas noites de enfado,um retrato de nossos filhos.

A mais linda bala desta pistola que sempre me acompanha,a memória indelével (sempre latente e profunda) das criançasque, um dia, você e eu concebemos,e o pedaço de vida que resta em mim.

Isso eu dou (convicto e feliz) à revoluçãoNada que nos pode unir terá força maior.

(Ernesto "Che" Guevara - Poema dedicado à Aleida, sua esposa)

Canto a Fidel

Vamos, ardoso profeta da alvorada,por caminhos longínquos e desconhecidos,liberar o grande caimão verde* que você tanto ama...Quando soar o primeiro tiroe na virginal surpresa toda selva despertar,lá, ao seu lado, seremos combatentesvocê nos terá.Quando sua voz proclamar para os quatro ventosreforma agrária, justiça, pão e liberdade,lá, ao seu lado, com sotaque idêntico,você nos terá.E quando o final da batalhapara a operação de limpeza contra o tirano chegar,lá, ao seu lado, prontos para a última batalha,você nos terá...E se o nosso caminho for bloqueado pelo ferro,pedimos uma mortalha de lágrimas cubanaspara cobrir nossos ossos guerrilheirosno trânsito para a história da América.Nada mais.

* Caimão verde era o nome alegórico atribuído à ilha de Cuba.

(Ernesto "Che" Guevara - poema escrito pouco tempo antes de embarcarem no iate Granma rumo à Cuba)