poemas de Fernando Pessoa

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Poemas de Fernando Pessoa e Heterónimos Ilustrações de Mariana Lopes

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Poemas de Fernando Pessoa, Ilustrações de Mariana Lopes

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Page 1: poemas de Fernando Pessoa

Poemas de Fernando Pessoa e HeterónimosIlustrações de Mariana Lopes

Page 2: poemas de Fernando Pessoa

Biografia

Fernando António Nogueira Pessoa, nascido a 13 de julho

de 1888, é conhecido por Fernando Pessoa. Foi um poeta portugues,

é considerado um dos maiores poetas de lingua portuguesa, o seu

valor é comparado ao de Luís de Camões. Fernando Pessoa por ter

crescido na África do Sul, em virtude do casamento de sua mãe, foi

alfabetizado em Inglês. Quatro das suas obras lançadas em vida são

em português. Durante a sua vida trabalhou em jornalismo,

publicidade e no comércio, e principalmente, na literatura como

poeta. Multiplicou-se em diversas personagens como heterónimos,

das quais se movimenta grande parte dos estudos sobre a sua vida e

a sua obra. O grande impulsionador da heteronimia auto denominou-

se um “drama em gente”.Fernando Pessoa morreu de cirrose

hepática aos quarenta e sete anos, na cidade onde nasceu, lisboa. A

sua última frase dita com vida foi “I know not what tomorrow will

bring...”

Morreu a trinta de Novembro de 1935.

Page 3: poemas de Fernando Pessoa

Biografia

Fernando António Nogueira Pessoa, nascido a 13 de julho

de 1888, é conhecido por Fernando Pessoa. Foi um poeta portugues,

é considerado um dos maiores poetas de lingua portuguesa, o seu

valor é comparado ao de Luís de Camões. Fernando Pessoa por ter

crescido na África do Sul, em virtude do casamento de sua mãe, foi

alfabetizado em Inglês. Quatro das suas obras lançadas em vida são

em português. Durante a sua vida trabalhou em jornalismo,

publicidade e no comércio, e principalmente, na literatura como

poeta. Multiplicou-se em diversas personagens como heterónimos,

das quais se movimenta grande parte dos estudos sobre a sua vida e

a sua obra. O grande impulsionador da heteronimia auto denominou-

se um “drama em gente”.Fernando Pessoa morreu de cirrose

hepática aos quarenta e sete anos, na cidade onde nasceu, lisboa. A

sua última frase dita com vida foi “I know not what tomorrow will

bring...”

Morreu a trinta de Novembro de 1935.

Page 4: poemas de Fernando Pessoa

SONHO. NÃO SEI QUEM SOU

Sonho. Não sei quem sou neste momento.

Durmo sentindo-me. Na hora calma

Meu pensamento esquece o pensamento,

Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo

Parece que erro. Sinto que não sei.

Nada quero nem tenho nem recordo.

Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,

Fantasmas me limitam e me contêm.

Dorme insciente de alheios corações,

Coração de ninguém.

Fernando Pessoa

Page 5: poemas de Fernando Pessoa

SONHO. NÃO SEI QUEM SOU

Sonho. Não sei quem sou neste momento.

Durmo sentindo-me. Na hora calma

Meu pensamento esquece o pensamento,

Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo

Parece que erro. Sinto que não sei.

Nada quero nem tenho nem recordo.

Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,

Fantasmas me limitam e me contêm.

Dorme insciente de alheios corações,

Coração de ninguém.

Fernando Pessoa

Page 6: poemas de Fernando Pessoa

LIBERDADEAi que prazerNão cumprir um dever,Ter um livro para lerE não o fazer!Ler é maçada,Estudar é nada.O sol douraSem literatura.O rio corre, bem ou mal,Sem edição original.E a brisa, essa,De tão naturalmente matinal,Como tem tempo não tem pressa.Livros são papéis pintados com tinta.Estudar é uma coisa em que está indistintaA distinção entre nada e coisa nenhuma.Quanto é melhor, quando há bruma,Esperar por D. Sebastião,Quer venha ou não!Grande é a poesia, a bondade e as danças...Mas o melhor do mundo são as crianças,Flores, música, o luar, e o sol, que pecaSó quando, em vez de criar, seca.O mais do que istoÉ Jesus Cristo,Que não sabia nada de finançasNem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

Page 7: poemas de Fernando Pessoa

LIBERDADEAi que prazerNão cumprir um dever,Ter um livro para lerE não o fazer!Ler é maçada,Estudar é nada.O sol douraSem literatura.O rio corre, bem ou mal,Sem edição original.E a brisa, essa,De tão naturalmente matinal,Como tem tempo não tem pressa.Livros são papéis pintados com tinta.Estudar é uma coisa em que está indistintaA distinção entre nada e coisa nenhuma.Quanto é melhor, quando há bruma,Esperar por D. Sebastião,Quer venha ou não!Grande é a poesia, a bondade e as danças...Mas o melhor do mundo são as crianças,Flores, música, o luar, e o sol, que pecaSó quando, em vez de criar, seca.O mais do que istoÉ Jesus Cristo,Que não sabia nada de finançasNem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

Page 8: poemas de Fernando Pessoa

SEGUE O TEU DESTINO

Segue o teu destino. Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas, O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós - próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não pensam.

Ricardo Reis

Page 9: poemas de Fernando Pessoa

SEGUE O TEU DESTINO

Segue o teu destino. Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas, O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós - próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não pensam.

Ricardo Reis

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DE QUEM É O OLHAR

De quem é o olhar

Que espreita por meus olhos?

Quando penso que vejo,

Quem continua vendo

Enquanto estou pensando?

Por que caminhos seguem,

Não os meus tristes passos,

Mas a realidade

De eu ter passos comigo?

Às vezes, na penumbra

Do meu quarto, quando eu

Por mim próprio mesmo

Em alma mal existo,

Toma um outro sentido

Em mim o Universo —

É uma nódoa esbatida

Fernando Pessoa

Page 11: poemas de Fernando Pessoa

DE QUEM É O OLHAR

De quem é o olhar

Que espreita por meus olhos?

Quando penso que vejo,

Quem continua vendo

Enquanto estou pensando?

Por que caminhos seguem,

Não os meus tristes passos,

Mas a realidade

De eu ter passos comigo?

Às vezes, na penumbra

Do meu quarto, quando eu

Por mim próprio mesmo

Em alma mal existo,

Toma um outro sentido

Em mim o Universo —

É uma nódoa esbatida

Fernando Pessoa

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O AMOR, QUANDO SE REVELA

O amor, quando se revela,não se sabe revelar.Sabe bem olhar p'ra ela,mas não lhe sabe falar.Quem quer dizer o que sentenão sabe o que há de dizer.Fala: parece que mente.Cala: parece esquecer.Ah, mas se ela adivinhasse,se pudesse ouvir o olhar, e se um olhar lhe bastassepra saber que a estão a amar!Mas quem sente muito, cala;quem quer dizer quanto sentefica sem alma nem fala,fica só, inteiramente!Mas se isto puder contar-lhe o que não lhe ouso contar,já não terei que falar-lheporque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

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O AMOR, QUANDO SE REVELA

O amor, quando se revela,não se sabe revelar.Sabe bem olhar p'ra ela,mas não lhe sabe falar.Quem quer dizer o que sentenão sabe o que há de dizer.Fala: parece que mente.Cala: parece esquecer.Ah, mas se ela adivinhasse,se pudesse ouvir o olhar, e se um olhar lhe bastassepra saber que a estão a amar!Mas quem sente muito, cala;quem quer dizer quanto sentefica sem alma nem fala,fica só, inteiramente!Mas se isto puder contar-lhe o que não lhe ouso contar,já não terei que falar-lheporque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

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COMEÇA A IR SER DIA

Começa a ir ser dia, O céu negro começa, Numa menor negrura Da sua noite escura, A Ter uma cor fria Onde a negrura cessa. Um negro azul-cinzento Emerge vagamente De onde o oriente dorme Seu tardo sono informe, E há um frio sem vento Que se ouve e mal se sente. Mas eu, o mal-dormido, Não sinto noite ou frio, Nem sinto vir o dia Da solidão vazia. Só sinto o indefinido Do coração vazio. Em vão o dia chega Quem não dorme, a quem Não tem que ter razão Dentro do coração, Que quando vive nega E quando ama não tem.

Fernando Pessoa

Page 15: poemas de Fernando Pessoa

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COMEÇA A IR SER DIA

Começa a ir ser dia, O céu negro começa, Numa menor negrura Da sua noite escura, A Ter uma cor fria Onde a negrura cessa. Um negro azul-cinzento Emerge vagamente De onde o oriente dorme Seu tardo sono informe, E há um frio sem vento Que se ouve e mal se sente. Mas eu, o mal-dormido, Não sinto noite ou frio, Nem sinto vir o dia Da solidão vazia. Só sinto o indefinido Do coração vazio. Em vão o dia chega Quem não dorme, a quem Não tem que ter razão Dentro do coração, Que quando vive nega E quando ama não tem.

Fernando Pessoa

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560 mariana lopes 13 12D