Poemas

do amor

intocável

Shauara David

Shauara David

Poemas do amor intocável

1° edição

Natal/RN

Edição do Autor

2015

Dedico aos amores improváveis, impalpáveis, às paixões poéticas mais intensas e verdadeiras,

a toda e qualquer intenção de amor, carinho e bem querer, na profundeza santa dos encontros espontâneos, na reciprocidade dos desejos, ainda que tudo esteja apenas no imaginário, cada

pessoa compõe uma particularidade, uma mudança, um caminho, um amor partilhado pelo fio que tece a vida, e vai formando os fractais de flores, as ternas lembranças. Aos românticos,

sonhadores e criadores apaixonados pelos sentimentos e sensações, pois só o colorido do amor é capaz de mover e manter a luz acesa.

“ Não importa a distância que nos separa, se há um céu que nos une.”

Carlos Drummond

“ De longe te hei de amar- da tranquila distância em que o amor é saudade, e o desejo constância.”

Cecília Meireles

Nossos metais Escrevo-te de uma realidade generosa porque a linguagem é menos frágil quando há distância o pigmento de alguma cor, e a substância da chuva acariciam a solitude que conduz nossos passos em busca de criação daqui, ouço o silêncio de tua voz melodiosa, sucinta o átomo é invisível e flui livremente entre nós devemos transcender ao concreto e barulho que agridem o tempero do espaço onde me habitas? No minimalismo rico de uma pedra concreta? Na simetria bela da asa de uma borboleta? Ou na afinidade sacra entre o ouro e a prata? O ar nos deserta, mas a terra nos condena à imortalidade. O infinito caminha perdido em torno dos mundos oferecendo flores, abraçando almas, desfrutando danças mas sem a paixão dos homens. Estou fatal! Só a solidão nos recria e a misteriosa atração por ti, me evidencia.

Degustando-nos Estamos nus desvendados, milagrosamente, à milhas de distâncias; pela teimosia da palavra a utilidade do efeito-causa e a honrosa troca de energia. Devoro-te, carinhosamente de cá -degustando-nos- o ineditismo cúmplice nos faz únicos parceiros livres! Em que paralelo nos perderemos? Em que espaço-tempo fundiremos as almas e de uma só causa nos embebedaremos? Os sonhos se estabeleceriam reclusos silenciosos e concretos os passos seriam calmos como nós, desnudos, sem peso. Alcanço teu âmago, o apetite oscila; estamos nutridas de ti, eu e a poesia.

Preliminar Seus sussurros são pétalas brancas e vermelhas em meu dia molhado de serenidade e névoa seu nome é vento acariciando suavemente a minha pele. uma preliminar que faz pulsar estrelas, internamente minhas pernas tremem com as palavras que desenham tua saliva, tua boca, tua língua quente. Ah, se não te amasse cada vez mais, como haveria de degustar teu requinte?

Pétalas Impregnei-me na noite para divertir ouvi os escritos, li músicas clássicas mas evitei comida, e só não fui comedida por exceder o pensamento a ti. Abdiquei do vinho por um chá de gengibre e limão depois de dançar, como havia prometido, de olhos fechados no tapete felpudo da sala enquanto esperava esfriar a xícara pus meus pés em água quente e ervas e observei a fumaça do incenso entre as orquídeas mais belas sobre a mesa citei teu nome para as flores que brotassem ali ajudassem a equilibrar tua embriaguez (o centro delas é a harmonia do universo) ainda não havia flor, mas uma bolsinha guardava a semente que ventanearia a nossa poesia para outras espécies nos perpetuando em pétalas.

O que sinto extasiada Não quero mais nada nesse segundo longo em que mergulho na reconstrução de ti o que sinto, santo pulsa ininterrupto impalpável desde quando algoz nos entregamos ao beijo teu sorriso, teu cheiro habilitam a embrenhar-me na vasta terra da chapada e reduzir a nada o medo de cidade. Estamos sós na empreitada extasiante que nos consome a esperança de um dia.

Silhueta Vês? Os passarinhos estão cantando no mesmo amanhecer que te embala o sono corro ao sol para agarrar o sopro de palavras estive privilegiada em driblar tua ressaca e me tornar poema pelas mãos culinárias e o tempero verbo - deliciado- a lamber-me a silhueta vazia a caneta falha, mas a valsa se mantém estrelada sobre minha cama descansa o suor das linhas que nos deflagram. Já não sei mais quem me és.

Você... Você bagunçou meu caderno de rascunhos (intrínsecos sentimentos mudos) abalou a paz de uma vida tranquila enfraqueceu o discernimento acerca da realidade, desconcertou meu dia sem contar a audácia de me olhar nos olhos mantendo-se alojado a desestruturar meu pensamento! O que penso me domina, por quantos instantes ainda haverás de penetrar minha retina?

Angústia do desejo A tristeza descansa nos teus olhos verdes e se revela nos infinitos brilhinhos do oceano ali, sentada em frente ao mar para uma conversa franca tua sensibilidade me desmembra; como abrandar sentimentos insanos se despertada pelos raios de sol fui acariciada pela longínqua poeira do teu beijo? Os seres que nadam, nada me disseram mas permaneci serena observando a harmonia das ondas partilhando com o vento a alegria de fundir nossas energias mesmo na incrível angústia do desejo.

Estremecimento Minhas ideias vararam madrugadas ao encontro de teus passos ébrios nossas almas se ataram para além das montanhas e estrelas vai, eremita, segue estrada mas mantenha tua barba e incite a loucura de nós dois! A poesia nos confidenciou uma missão e a força de medir nosso dom provém a proteção do afeto e a sensação de reencontro no estremecimento estranho que me aloja sem por que.

Doce melancolia Estou invadida à doce melancolia de nos fazer amantes totalmente integrada à unidade da coisa que nos torna inter indivisíveis mentes invisivelmente.

Nossa poesia Se tudo já nadou como poderia presenciar teu corpo ‘o fundo depois do esboço’ sendo atropelado pelo orvalho para depois brotar flores de tua pele? Que ironia há em musicar-me de teus fonemas e tornar sacra a doce ilusão de um dilema? Meus cacos te repousam em sangria mas é meu vulto que desata o espaço onde procriamos nossa poesia.

Onde tudo evolui Até onde um corpo suporta tatuar-se de tua poética? Como a distância, se no silêncio do coração pulsa o amor numa vibração corpórea? Sabemos, nos encontramos na mais autêntica criação dos mundos e todo o resto não importa, flui na correnteza exclamada do silêncio...

Desfrute! Perdi a quentura do chá porque me perdi por ti em insanos pensamentos se pudesses me ver, ririas de mim! de um lado ao outro sem concluir tarefas da casa perdida na própria rotina querendo dispersar a adrenalina que me torna ausente da realidade (crua) pela (nua) sensação do grande amor “deixe de utopias, menina que a claridade do dia cega...” ririas, amor, absurdamente da fantasiosa forma de te encontrar em memórias apenas existentes na sutil essência dos mais românticos apaixonados “doida! não vai muito além se tudo não passa de palavras..” depois ainda ririas, mas não comprometerias tua sã postura nem abdicaria do reino que não podes desfrutar.

Vale sagrado

Essa medalha ostentada em teu peito é o bronze que rejuvenesceu meu desejo o sol me atingia o corpo de maré e absorvia a alma emanada no caloroso pensamento de acalentar teu frio. Quando aquele arrepio macio enrijeceu minha pele nos silenciamos foi nesse exato momento que nos tornamos sonho no vale sagrado do encontro.

Amor intocável Poema carnal de um amor intocável poema sacro, místico nosso, e de todos os mortais poema perigoso espaçado de corpos intocados poema calmo, fogo alastrando nos anos passadas eras futura espera poema mórbido, calado de dúbia existência incansavelmente lindo, o poema que fala do grande bem.

Motivos Gosto de ser surpreendida pelo teu nome (suavemente abrupto) palpita no peito uma alegria infantil um desejo para além das razões meu sentimento não se enquadra nelas nem em palavras. Cadê o motivo que me leva a ti? teu gosto forte café amargo teu agradável olhar semiótico teu ocioso segredo triste não me nego à inércia mas insisto no límpio reconhecimento da veia entre um milhão de artérias.

Cá dentro Há um lugar visado invisível onde ninguém tem acesso reservado (exclusivamente) para nossos excessos.

Ísis e Órion Hoje estive de branco para comemorar o ano novo egípcio Sírius e o esplendor da atemporalidade engrandece o destino do encontro que nos mantém invisíveis conectados à energia divina a loucura vestida de roupas claras nos insere ao universo do outro no ardente recolhimento da sorte estaremos brilhantes como as treze luas no nascimento helíaco de nós dois paisagens do amanhecer, com todo o mistério da simplicidade.

Secretamente Se hoje me esqueci de ti por alguns minutinhos não foi nada de mais os raros instantes tornam-se mágicos reverberando sobre minha cama insistentemente acumulados pela vontade do agora o impalpável atiça a curiosidade e a ânsia de tê-lo torna absorto depois uma suavidade invade grandioso discreto segredo; literatura, nossa imensidade.

Yin Yang

Universo que expande o verso milimetricamente potencializado na perspectiva do interessante yin e yang de tua persona; afiada complexidade genialidade simples encontrados num estilo único sucinto brincante como a vida semiótica andarilha presidiada de criação e portanto é, sendo nas entrelinhas ocultas ao resto cria na originalidade das ruínas (interessar pelo que ninguém se interessa é não seguir o caminho das multidões) tua consistência é literária queira ou não são estilos, são olhares inacreditável o alcance de tuas palavras! causa uma verdade na sensação do indizível sentidos não menos verdadeiros são códigos para outros entendimentos.

Beleza e mistério Teus longos dreads e barba pouco menos comprida são registros da história emaranhada de pelos poros passos estradas cruzadas pilares erguidos pautados no bom senso e na positividade do pensamento a essência principia daquele horizonte onda a chuva amansa, turbina inflama colorida por cima do cinza e faz brilhar tua íris de neblina! Enobrece ainda mais as linhas bailarinas do mar e eleva teu nome à competência do ato qual lua te rege a noite? És brando, firme, coerente como a orla marítima de Torres A melodia das ondas comunga com a brisa como se uma sereia te tocasse o rosto embalando o sono abrandando a voz com toda a beleza e mistério guardada nas pedras teu corpo paira na imensidão da praia a areia massageia teus pés e tua figura massageia minha vista.

Estado florido Estou sorrindo agora para ti, amor ainda que a distância nos detenha um carinho aumenta a vontade de ti nutre a saudade do que ainda não vivi e atrai ao universo paralelo colorido espetaculares estados floridos vivências guardadas no teu compasso dança angolana e o suingue surfista e a mania (linda) de biografar as pedras selam nosso tato diante a natureza como me faz bem a tua voz, Leonardo - teu nome rima com o elegante felino pintado- tão bom ver teu passo calmo de quem já descobriu o mundo teus cabelos tão longos esticam meu desejo, tua barba tua pele clara, teu rosto perfeito teu sorriso menino, a postura máscula atiçam profundos impulsos de fundir-me em teu beijo.

Entrelaço Um fractal divino de flores compõe todo o espaço de meus olhos lembrança espiritual de nós na página lapidada da memória cumplicidade santa dos corações entregues corda bamba do desejo à distância inquietude contida, cálidos pensamentos noturnos nenhum escudo nenhum veneno mantras e louvores a essência dos diamantes nos atam num fractal divino de flores.

A descoberta do outro Precisamos nos encontrar, amado por tudo quanto é mais sagrado preciso sentir teu cheiro, tato concretizar o abraço emaranhar-me em teus braços até os raios solares anunciarem que o sonho é real (felizmente e diria até belíssimo!) com o todo o milagre do encontro a descoberta do outro e o constante espanto dos sutis detalhes... precisamos sim, mesclar simplicidades porque já temos o futuro vago lugar, desejoso recortado os tais caquinhos colecionados de sintonias (quantos rios fluem entre nós?) as dúvidas são tão mesquinhas e ainda há um segredo a ser desfrutado resignar-me-ei tanto aos teus encantos até que se forme um manto branco e inunde o mundo todo de lindezas! Deixemos os corações nos guiarem no brilho intenso da liberdade, do amor.

Entre nós Entre as nossas almas puras estrelas de ancestrais magias pulsam duras vontades de não sei parecido uma alegria infantil de criativos pensamentos -audaciosos projetos de nenhum tempo- Os toques indeléveis os planos indizíveis agarram-se ao invisível sentimento bom de cuidar de querer atar-se mesmo ao consequente sofrimento um novo rumo é construído os pés desacostumados titubeiam mas seguem em frente, bravios a conhecer os mares.

Intensamente Uma begônia sorria para mim quando amanheci corada, distraída o céu cinza-uniforme meio indeciso cedeu uma chuvinha fofa o beija flor na janela atrás do néctar me saudou alegremente num bom dia a suavidade na melodia de Chopin e você, em todos esses detalhes. Como me dissuadir de tua presença se estás mais que enraizado em meu pensamento? Tua intensidade me invade a alma sobressalta minha calma abriga-me no arrepio dos poros a quintessência transforma a matéria na vitalidade e grandeza do teu espírito promete, Sansão, ninguém te cortará o cabelo! tua força moverá nosso amor sem remover montanhas; e estaremos selados diante a natureza.

Nobre amor “bebida amarga da raça que adoça meu coração” Vitor Ramil Meu amor é desapego aconchegado no peito em tempo integral meu amor é vento é calma é litoral Meu amor é livre distante, invisível e insistentemente real. Não tem fronteiras, barreiras é presente, companheiro é rio, é cachoeira é porto, é cais um caos de carinhos serenos vendavais meu amor é mar nosso rio é grande sol constante névoa, madrugadas frias o mesmo horizonte que nos extrema nos instiga.

Acalanto para tua ausência O corpo entregue de praia imenso aconchegado mar flutua na melhor infância magnífica mania de colo e a dança mística num dia de muitos sóis (brilhos multiplicados pelas ondas) falésias observam despretensiosas - rochas esculpidas pelo oceano- uma perspectiva que desconheço são redutíveis os meus encantos mas o primor dos meus sentidos são larvas de nenhum emblema são teus, apenas; na visão caleidoscópica de plumas palpitando invisível na audição turva embalada marejada de balanço meu paladar é água de coco e a captação sensorial alívio dos bons ventos de agora qualquer razão é acalanto onde tua ausência mora.

Éramos

Sim, éramos agrestes sedentos de chuva fiéis às luas de quentura em quentura éramos plumas rudes éramos campestres vagos de profundeza nerds ao contrário dureza e castelo meros bobos da corte éramos tendência e apego se calmos faiscávamos brilhos se irritadiços, granitos nosso abrigo era desengano nossa distração labirinto não deixe opacar nossa estrela já que nos tornamos altruísmo não seguimos regras na rústica capacidade de mesclar infância e velhice encantamento e mistério das variadas referências com a mesma vibração de critérios éramos.

Paixão é fogo... Eleva ao topo, depois lodo; paixão abrupta tão forte quanto o oposto abrilhantou até opacar escondido numa gruta coloriu até despetalar sua cor tornou-se invisível antes essencial preenchido excepcional, audaz esvaziou-se fugidio comum, gasto nem falta faz batalha de sossegos palha consumida pelo fogo fervor extremo massagem tão boa mas logo cessa meu fogo não é de palha gosto da flama expressa paixão, provisoriamente eterna.

As torres Aquele amor se transformou num bom presságio de pseudônimo Salomão por entre as furnas, o desencanto e a distante imagem de um espetáculo em ruínas as torres artificiais fecham o campo de visão -por propriedade e ignorância- mas as torres naturais se sobrepõem num místico surrealismo de exuberância fertilizam ali, tão exposto as cores que banharam nossa libido genuínos planos detidos insones madrugadas e gemidos.

O sentido da maré Não é dose meu café amargo tanto quanto o previsível abismo de teus grossos dedos aplaudindo e reverenciando tanto o amor para enfim nadar salgar a cabeça adocicar a alma e espremer desejos mas sem mergulhar até perder-se invisível no meio das águas a estrela de Davi apenas sumiu do meu mapa astral não sobrou migalha de frustrância os sinos ainda dobram para lembrar que as horas não erram invisivelmente nadam -movimentam os mares- mas não a esmo.

Amor livre Ele estudou e aprovou meu corpo mas não provou meus sentidos do colorido à transparência em todo o percurso me despi ele contente, eu mais ou menos distraída, me perdi sonhei que esqueceria a essência do sonho amanheci com a sensação de ter inventado o mundo o amor não se prende a uma pessoa apenas, nem a algo que se veja; amor é vento, alcança tudo.

Abrigo Empresto meus sentimentos a alguém que nunca conheci aos que me conheceram, o zelo abrigado no abraço verdadeiro banhado a risos lágrimas de emoção por vezes, sofrimento só por ironia mesmo um vasto sorriso estampado composto de cálcio e milênios.