Poesia Romântica 1ª Fase: indianista e nativista
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Poesia Romântica1ª Fase: indianista e
nativista
Aquarela do Brasil(Ary Barroso)
Brasil!Meu Brasil brasileiroMeu mulato inzoneiroVou cantar-te nos meus versosO Brasil, samba que dáBamboleio, que faz gingarO Brasil, do meu amorTerra de Nosso SenhorBrasil! Pra mim! Pra mim, pra mimAh! abre a cortina do passadoTira a mãe preta do cerradoBota o rei congo no congadoBrasil! Pra mim! Pra mim, pra mim!Deixa cantar de novo o trovadorA merencória luz da luaToda canção do meu amorQuero ver a sá dona caminhandoPelos salões arrastandoO seu vestido rendadoBrasil! Pra mim, pra mim, Brasil!
Brasil!Terra boa e gostosaDa morena sestrosaDe olhar indiferente
O Brasil, samba que dábamboleio que faz gingar
O Brasil, do meu amorTerra de Nosso Senhor
Brasil!, Pra mim, pra mim, pra mimO esse coqueiro que dá coco
Onde eu amarro a minha redeNas noites claras de luar
Brasil!, Pra mim, pra mim, pra mim.Ah! e estas fontes murmurantes
Aonde eu mato a minha sedeE onde a lua vem brincar
Ah! esse Brasil lindo e trigueiroÉ o meu Brasil brasileiro
Terra de samba e pandeiroBrasil! Pra mim, pra mim! Brasil!
Brasil! Pra mim, Brasil!, Brasil!
inzoneiro: que ou quem é sonso, manhoso;merencória: triste, melancólica;sá: sinhá;sestrosa: capaz de perceber algo rapidamente; esperta, viva, sagaz;trigueiro: cuja cor é escura como a do trigo maduro; moreno.
Características• Intenção de divulgar uma identidade nacional
que promovesse o sentimento de amor à pátria e nos libertasse das influências literárias portuguesas;
• Resgate do índio e da natureza como símbolos do caráter nacional;
• Influência dos textos dos participantes das missões estrangeiras e da independência política;
• Os poetas tinham um olhar idealizado da pátria, pois estavam vivendo na Europa, o que deu o tom exagerado de saudade à produção literária deste período;
• Circulação de textos facilitada pela fundação da Imprensa Régia;
• Formação de um público leitor de perfil definido.
Linguagem
• Ritmo dos poemas semelhante ao toque dos tambores indígenas;
• Valorização do formalismo clássico, marcado pelo controle da métrica e da rima;
I-Juca Pirama(Gonçalves Dias)
No meio das tabas de amenos verdores,Cercado de troncos – coberto de flores,Alteiam-se os tetos d’altiva nação;São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,Temíveis na guerra, que em densas coortesAssombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória,Já prélios incitam, já cantam vitória,Já meigos atendem à voz do cantor:São todos Timbiras, guerreiros valentes!Seu nome lá voa na boca das gentes,Condão de prodígios, de glória e terror!
taba: aldeia indígena;coorte: força armada; tropa;prélio: luta, combate.
Gonçalves Dias• Orgulhava-se de
descender das três raças que formaram o povo brasileiro, pois era filho de português com uma cafuza (mistura de índio com negro);
• Na Europa, conheceu os textos românticos de Almeida Garret e Alexandre Herculano.
• Abordou os grandes temas românticos em sua poesia: natureza, pátria e religião.
Canção do exílio(Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite– Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.
• A principal vertente de sua poesia é a indianista.
IAqui na floresta
Dos ventos batida,Façanhas de bravosNão geram escravos,Que estimem a vidaSem guerra e lidar.
- Ouvi-me, Guerreiros.- Ouvi meu cantar.
IIValente na guerra
Quem há, como eu sou?Quem vibra o tacapeCom mais valentia?Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?- Guerreiros, ouvi-me;
- Quem há, como eu sou?
O Canto do Guerreiro(Gonçalves Dias)
• Crítica ao homem branco, que massacrou as tribos indígenas quando de sua chegada ao Brasil.
Deprecação(Gonçalves Dias)
Tupã, ó Deus grande! cobriste o teu rostoCom denso velâmen de penas gentis;E jazem teus filhos clamando vingançaDos bens que lhes deste da perda infeliz!
Tupã, ó Deus grande! teu rosto descobre:Bastante sofremos com tua vingança!Já lágrimas tristes choraram teus filhosTeus filhos que choram tão grande mudança.
Anhangá impiedoso nos trouxe de longeOs homens que o raio manejam cruentos,Que vivem sem pátria, que vagam sem tinoTrás do ouro correndo, voraces, sedentos.
E a terra em que pisam, e os campos e os riosQue assaltam, são nossos; tu és nosso Deus :Por que lhes concedes tão alta pujança,Se os raios de morte, que vibram, são teus?
Desembarque de Cabral em Porto Seguro, de Oscar Pereira da Silva,
1922 deprecação: súplica, rogo, pedido;velâmen: termo usado em sentido figurado, para sugerir que Tupã teria véu de penas sobre os olhos e, por isso, não via o que estava acontecendo com seu povo nas mãos dos colonizadores portugueses;Anhangá: fantasma, espírito do mal, diabo;cruento: que gosta de derramar sangue; sanguinário, cruel.
Poesia épica• Substituição do cavaleiro medieval europeu pelo índio brasileiro
como símbolo de força, valentia, virtude, honra e coragem.
“Tu choraste em presença da morte?Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;Pois choraste, meu filho não és!Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
“Possas tu, isolado na terra,Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,Tenham alma inconstante e falaz!”
I-Juca Pirama(Gonçalves Dias)
VIII
Poesia lírica• São abordados os principais temas românticos: encantos da
mulher amada, a natureza e os sentimentos mais arrebatados, como os sofrimentos da vida, a solidão e a morte.
Se se morre de amor(Gonçalves Dias)
Se se morre de amor! — Não, não se morre,Quando é fascinação que nos surpreendeDe ruidoso sarau entre os festejos;Quando luzes, calor, orquestra e flores.
Assomos de prazer nos raiam n'alma,Que embelezada e solta em tal ambienteNo que ouve, e no que vê prazer alcança! ...
Amor é vida; é ter constantementeAlma, sentidos, coração— abertos Ao grande, ao belo;é ser capaz d'extremos.
D'altas virtudes, até capaz de crimes!Compr'ender o infinito, a imensidade,E a natureza e Deus; gostar dos campos,D'aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,E ter o coração em riso e festa;E à branda festa, ao riso da nossa almaFontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventuraNo mesmo tempo, e ser no mesmo pontoO ditoso, o misérrimo dos entes;Isso é amor, e desse amor se morre!
• Natureza como espaço que abriga e acolhe o sujeito que sofre.
Leito de folhas verdes(Gonçalves Dias)
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo À voz do meu amor moves teus passos? Da noite a viração, movendo as folhas, Já nos cimos do bosque rumoreja.
Eu sob a copa da mangueira altivaNosso leito gentil cobri zelosaCom mimoso tapiz de folhas brandas,Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,Já solta o bogari mais doce aroma!Como prece de amor, como estas preces,No silêncio da noite o bosque exala.
viração: brisa marinha que sopra à noite;cimo: ponto mais alto do morro;bogari: arbusto de flores perfumadas com as quais se aromatizam chás e cuja essência é usada em perfumaria.