Poesia-Ser Humano-A Saga Épica de Nossa Espécie

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SER HUMANO: A SAGA ÉPICA DE NOSSA ESPÉCIE Homem, criatura errante que tem vagado improficuamente pelos séculos em fúria: primata descarado que vive acorrentado à fria ampulheta de luzes e trevas da história. Macaco matreiro que caiu da árvore, seu bipedalismo conferiu-lhe evolucionária vantagem para percorrer a geografia de todo o orbe terrestre. Sobreviveu estoicamente à glaciação das eras e deixou pintada, nas paredes das cavernas, a imagem ocre de suas mais vãs crenças e ilusões. Talhou sorrateiramente a obsidiana e domesticou o fogo, as constelações, os cereais, o falcão e o lobo. Tendo vertigens, interrogo-me: quem lhe domesticará, ó Homem? Ah! Homem, olhando fixamente para o espelho reconheço-me sinistramente em sua figura, pois quantas vezes fomos largados, e, feridos e desolados, uivamos incompreensivelmente juntos, a noite, para a luz da Lua, as mais nuas e cruas angústias existenciais de nossa espécie? Homem, no torpor de nossa raça, no turbilhão das gerações, o fruto amargo de seus genes condena-me, ó ser mundano, pois já fui habilis, já fui erectus, sou sapiens e agora só me resta: SER HUMANO!... Poema premiado, em 2015, no 50º FEMUP (festival nacional de literatura, poesia e música) RODRIGO PETIT- 29|10|14 Poeta das Causas Perdidas

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SER HUMANO: A SAGA ÉPICA DE NOSSA ESPÉCIE

Homem, criatura errante que tem vagadoimproficuamente pelos séculos em fúria:primata descarado que vive acorrentadoà fria ampulheta de luzes e trevas da história.

Macaco matreiro que caiu da árvore,seu bipedalismo conferiu-lhe evolucionária vantagempara percorrer a geografia de todo o orbe terrestre.

Sobreviveu estoicamente à glaciação das erase deixou pintada, nas paredes das cavernas,a imagem ocre de suas mais vãs crenças e ilusões.

Talhou sorrateiramente a obsidiana e domesticou o fogo,as constelações, os cereais, o falcão e o lobo.Tendo vertigens, interrogo-me: quem lhe domesticará, ó Homem?

Ah! Homem, olhando fixamente para o espelhoreconheço-me sinistramente em sua figura,pois quantas vezes fomos largados, e, feridos e desolados,uivamos incompreensivelmente juntos, a noite, para a luz da Lua,as mais nuas e cruas angústias existenciais de nossa espécie?

Homem, no torpor de nossa raça, no turbilhão das gerações,o fruto amargo de seus genes condena-me, ó ser mundano,pois já fui habilis, já fui erectus, sou sapiense agora só me resta: SER HUMANO!...

Poema premiado, em 2015, no 50º FEMUP (festival nacional de literatura, poesia e música)RODRIGO PETIT- 29|10|14Poeta das Causas Perdidas