Poetica y Performance Como Critica Social

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Poética e performance como perspectivas críticas sobre linguagem e a vida social 185 ILHA Revista de Antropologia Poética e Performance como perspectivas críticas sobre a linguagem e a vida social * Richard Bauman Folklore Institute, Indiana University, Bloomington, Indiana, EUA Charles L. Briggs Departamento de Antropologia, Vassar College, Nova Iorque, EUA Tradução Vânia Z. Cardoso Departamento de Antropologia, Universidade Federal de Santa Catarina Revisão Luciana Hartmann Departamento de Artes Cênicas, Universidade Federal de Santa Maria

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Autores: Bauman y Briggs

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    ILHARevista de Antropologia

    Potica e Performance como

    perspectivas crticas sobre a

    linguagem e a vida social*

    Richard BaumanFolklore Institute, Indiana University, Bloomington, Indiana, EUA

    Charles L. BriggsDepartamento de Antropologia, Vassar College, Nova Iorque, EUA

    Traduo

    Vnia Z. CardosoDepartamento de Antropologia, Universidade Federal de Santa Catarina

    Reviso

    Luciana HartmannDepartamento de Artes Cnicas, Universidade Federal de Santa Maria

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    Introduo

    Estudiosos tm oscilado h sculos entre duas avaliaes opostasdo papel da potica na vida social. Uma longa tradio de pensa-mento sobre linguagem e sociedade argumenta que a arte verbal ofereceuma fora dinmica central na configurao das estruturas lingsti-cas e nos estudos de lingstica. Este ponto de vista emerge clara-mente nos textos de Vico, Herder, e Von Humbolt. As consideraesde Sapir, dos formalistas russos, e de membros da Escola de Pragasobre o papel da potica, contriburam para o desenvolvimento dosestudos de performance e etnopotica nas ltimas duas dcadas. Noentanto, a potica tem sido freqentemente marginalizada por antro-plogos e lingistas que crem que os usos estticos da linguagem someramente parasitrios de reas centrais da lingstica, como afonologia, sintaxe e semntica, ou de campos da antropologia como aeconomia e a organizao social.

    O balano entre estas duas perspectivas deslocou-se a favor dapotica no final dos anos 70 e incio dos anos 80, quando uma novanfase na performance desviou a ateno do estudo da padronizaoformal e do contexto simblico dos textos, para a emergncia da arteverbal na interao social entre atores [performers] e audincias. Estareorientao encaixou-se bem com a crescente preocupao de mui-tos lingistas com o significado indicial (em contraponto ao mera-mente referencial ou simblico), com o discurso em sua ocorrnciaespontnea, e com o pressuposto que a fala heterognea emultifuncional. Tanto antroplogos quanto folcloristas perceberamque estudos fundamentados na performance correspondiam aos seusinteresses em jogos, na construo social da realidade, e na

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    reflexividade. Uma das dimenses que estimulou de modo especialmuitos pesquisadores foi a maneira como performances deslocam ouso de recursos estilsticos heterogneos, significados suscetveis aocontexto, e ideologias conflitantes, para uma arena onde estes podemser examinados criticamente.

    Diversos panoramas histricos e avaliaes crticas desta litera-tura esto disponveis (28, 33, 35, 36, 39, 40, 63, 93, 166, 237). Por-tanto, voltamos nossa ateno para vrias questes tericas bsicasque tm moldado tanto a maneira como pesquisadores estudam aperformance, quanto sua rejeio por outros. Estes problemas soevidentes no modo como termos chaves tais como performatividade,texto e contexto tm sido definidos, e nos pressupostos usados paradefini-los. Nossa nfase nestes temas tericos mais abrangentes contrria crescente tendncia a tomar esta rea de estudos como aperspectiva performtica[performance approach], minimizando, destaforma, o heterogneo leque de fontes tericas que lhe deram forma ereduzindo a performance ao estatuto de uma frmula para anlise dacomunicao habilidosa [artful communication]1

    Primeiro, examinamos vrios pressupostos cruciais tanto dospartidrios quanto dos crticos s pesquisas da potica. Estas concep-es metafsicas implcitas tomam idias cultural e historicamenteespecficas sobre a natureza da linguagem e seu papel na vida social eas elevam ao nvel de teorias supostamente objetivas e universalmen-te aplicveis. Argumentamos que tais suposies so no somentelimitadas e etnocntricas, mas tambm freqentemente abalam acapacidade de estudiosos de capturar o carter heterogneo e dinmicodo uso da linguagem e o papel central que este ocupa na construosocial da realidade. importante reconhecer a especificidade histricae cultural e o etnocentrismo do pensamento ocidental sobre alinguagem e sociedade, e explorar uma gama maior de alternativas.No contexto destas questes mais amplas, a pesquisa centrada naperformance compartilha alguns dos objetivos centrais dadesconstruo (80), das teorias de recepo [reader-response and receptiontheories] (154, 244), da hermenutica (207), da potica e polticados textos etnogrficos (75), e dos estudos culturais (71).

    Os estudos de performance podem fazer uma contribuio sin-

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    gular a este projeto mais amplo. Como muitos autores j enfatizaram,performances no so simplesmente usos habilidosos [artful] da lin-guagem que se distanciariam tanto da vida do dia-a-dia quanto dequestes mais amplas acerca do significado, com sugeriria a estticaKantiana. Na verdade, performance oferece um enquadre que convi-da reflexo crtica sobre os processo comunicativos. Uma dadaperformance est ligada a vrios eventos de fala que a procedem esucedem (performances passadas, leituras de textos, negociaes,ensaios, fofoca, relatos, crticas, desafios, performances subseqen-tes, e similares). Uma anlise adequada de uma nica performancerequer ento estudos etnogrficos sensveis a como sua forma e signi-ficado so ndices de uma gama mais ampla de tipos de discurso, algunsdos quais no so enquadrados como performance. A pesquisacentrada na performance pode gerar uma maior compreenso dediversas facetas do uso da linguagem e suas interrelaes. J que ascontrastantes teorias da fala, e suas preposies metafsicas correlatas,abarcam mais do que apenas o evento de discurso em si, os estudos deperformance podem abrir um campo mais amplo de perspectivas sobrecomo a linguagem pode ser estruturada e quais papis pode exercerna vida social.

    Estudos centrados na performance desafiam concepes ociden-tais dominantes ao instigarem os pesquisadores a enfatizar a organiza-o cultural dos processos comunicativos. Lingistas, claro, h temposdesconsideram o ponto de vista dos falantes nativos sobre a estrutura euso da linguagem; Boas (51), por exemplo, fez referncias a taisconcepes como explicaes secundrias, e as considerou irrelevantes,distraes e evidentemente falsas. Antroplogos, por outro lado,freqentemente seguem Malinowski (172), alegando representar oponto de vista nativo (ver 106). Apresentaes do modelo nativo outeoria geralmente deixam de lado as dificuldades em derivarperspectivas indgenas exclusivamente dos contedos referenciais dosdados solicitados. Elas tambm tendem a ignorar o fato que fatorescomo gnero e classe social freqentemente geram perspectivasdiscordantes sobre a linguagem e vida social. Para fazermos um usomais fidedigno do meta-discurso dos falantes nativos sobre a lingua-

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    gem, precisamos tomar os atores [performers] e membros da audinciano como simplesmente fontes de dados, mas como parceiros intelec-tuais que podem fazer contribuies tericas substanciais a este discur-so. Tambm precisamos desenvolver uma percepo mais aguada damaneira como o discurso gravado e analisado.

    Como etngrafos da performance, vemos a tarefa de desconstruirconcepes ocidentais dominantes acerca da linguagem e da vida socialcomo uma faceta vital e contnua de um projeto mais amplo. Dessaforma, nos voltamos, mais a frente, para a tarefa complementar deexplorar maneiras alternativas de conceber a performance(Entextualizao e Descontextualizao). Buscamos oferecer umenquadre que desloque noes reificadas e centradas-no-objeto, acercada performatividade, do texto e do contexto noes que pressupemque cada performance esteja contida em uma nica e limitada interaosocial. Atendendo demanda por uma maior ateno dialtica entrea performance e seu contexto sociocultural, poltico e econmico maisamplo, enfatizamos o modo como a padronizao potica extrai discursosde certos eventos de fala em particular, e explora sua relao com umadiversidade de contextos sociais.

    Descentramento e recontextualizao tm poderosas implicaespara a conduo da vida social. A investigao de como este processoacontece, e de como indivduos obtm direitos a certos modos detransformao da fala, pode ento iluminar questes centrais paraantroplogos, lingistas, folcloristas e estudiosos de literatura.

    Da performatividade construo social da realidade

    Em How to do things with words (13), J.L. Austin despertou entusi-asmo, assim como controvrsia. Sua rejeio ao foco exclusivo emuma semntica de valor-verdade, em prol de uma viso do uso dalinguagem como ao social que emerge no evento de fala total [totalspeech act], repercute na nfase dada por Bauman s propriedadesemergentes da performance (26, 33). O impacto desta caracterizaodo uso da linguagem como ao social, por tericos do ato da falacomo Austin (13), Grice (119) e Serle (219-221), foi intensificado porsua ressonncia com a nfase dada por Sapir ao carter dinmico da

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    linguagem (214, 173); com a caracterizao pela Escola de Praga damultifuncionalidade dos signos (105, 176, 186, 187); e com a viso deMalinowski da linguagem com um modo de ao em vez deprimariamente uma maneira de pensar (170, 171). Os trabalhos deBateson (25) e Goffman (109, 110) tambm foram influentes nestesentido.

    Dizer que o uso da linguagem uma ao social , no entanto,muito mais fcil do que desenvolver perspectivas que possam identifi-car e explicar a natureza deste dinamismo. Como Levinson (163)aponta, a teoria do ato de fala [speech act theory] tem se baseado numahiptese de fora literal, que postula uma correlao de um-para-um entre as elocues performativas e as foras ilocucionrias, mes-mo se a maior parte dos tericos admite que formas superficiais,freqentemente, no indicam diretamente fora ilocucionria.Silverstein (229) sugere que a teoria do ato de fala, em ltima instn-cia, retorna ao mesmo reducionismo referencial que condena, aoafirmar que o contedo semntico de verbos explicitamenteperformativos pode ser usado na correlao entre tipos de elocuesperformativas e a fora ilocucionria. Esta equao torna-se gritantena concluso de Austin de que, haja visto que falta preciso (isto ,sutileza referencial) s lnguas primitivas, performativos explcitostambm estaro ausentes; ser, desta forma, impossvel, fazer clarasdistines entre as foras ilocucionrias. Muito mais do que a reputaoda prpria teoria do ato de fala depende da resoluo destes problemas eles foram estudiosos a enfrentarem questes basicas recorrentes,referentes estrutura versus o evento, aos elementos independentesdo contexto versus elementos pragmticos da linguagem e ao papelda linguagem na vida social. Pesquisas centradas na performance,particularmente estudos de discursos polticos e rituais, tm ocupadoum papel especial nesta tarefa.

    A anlise centrada no discurso argumenta que uma ampla gamade caractersticas formais pode sinalizar a fora ilocucionria deenunciaes, freqentemente parte ou despeito de seu contedoreferencial. Uma das asseres mais controversas a caracterizaoda retrica poltica em sociedades tradicionais feita por Bloch (50).

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    Ele argumenta que o estilo oratrio coloca grandes limites na formalingstica, suprime a criatividade, e reduz a importncia de refern-cias; ainda assim, este processo de formalizao aumenta imensamentea capacidade dos falantes [speakers] obterem o desfecho desejado.Mesmo se muitos autores tm atacado Bloch (60, 147, 192, 199), seutrabalho tem levado pesquisadores a examinar a maneira como aperformatividade pode estar ligada a um amplo leque de elementos epadres formais. Hanks (124) argumenta, por exemplo, que aformalidade da fala ritual maia de Yucatec no impossibilita respostascriativas histria pessoal do xam e ao parmetro contextual daperformance. McDowell (180) sugere que a formalizao da fala ritualdiminui sua acessibilidade tanto a atores [performers] em potencialquanto a audincias; esta supresso da funo referencial aumentasua eficcia. Ela tambm argumenta, em um estudo de advinhas (178:22-30), que o enquadre da fala como performance pode marcar umasuspenso ou inverso das condies fortuitas delineadas por Austin.Analises de conversao, tais como as de C. Goodwin (111), M.Goodwin (115), Moerman (184), Sacks (212, 213), e Schegloff (216,217), tm enfocado a organizao seqencial da conversa,argumentando que a funo comunicativa de uma enunciao relativa sua localizao na seqncia linear do discurso. Em algumascomunidades de fala [speech communities], a alternncia de cdigos [code-switching] oferece uma maneira importante de transformar a foraperformativa das enunciaes (10). Hill (135) fundamenta-se emBakhtin (18) e Volosinov (251), ao argumentar que as alternncias decdigo podem intensificar a ateno para com as linguagens e variaesem competio, de tal forma que identidades, relaes sociais e a cons-tituio da comunidade em si so abertas negociao (cf. 136).

    De maneira semelhante, um nmero de pesquisadores, baseadosno trabalho de Jakobson sobre o paralelismo (72, 151-153), tmdemonstrado a maneira como as construes paralelsticas, tanto nonvel micro quanto no macro (230, 248a), podem sinalizar a forailocucionria. Haviland (131) argumenta que a autoridade dos anciospara a mediao dos conflitos emerge de suas habilidades em deslocaruma cacofonia de vozes iradas atravs do uso daquilo que incorpora aquintessncia da ordem lingstica e social zinacanteca as duplas

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    rituais; muitos exemplos semelhantes, da Indonsia do Leste, estodisponveis em um volume recente, editado por Fox (101). Urbanargumentou que a estilizao cultural das incorporaes sonoras dochoro, sinaliza tanto afeto quanto sociabilidade nos rituais de lamento(250).

    Outros estudos tm tambm sugerido que a performatividadeno est localizada somente em traos formais especficos, mas emunidades formal-funcionais mais amplas. Abrahams (3, 6) e Bauman(32) baseiam-se em Bakhtin (17, 18), Bateson (25), Goffman (109,110), Huizinga (137) e Turner (245, 246), ao argumentarem que osenquadres das brincadeiras no somente alteram a fora performativadas enunciaes, mas oferecem situaes onde a fala e a sociedadepodem ser questionadas e transformadas. Estruturas de participao,particularmente a natureza da alternncia de turnos e a interaoator[performer]-audincia, podem ter implicaes profundas na for-mao das relaes sociais (50, 60, 88, 113-115, 134, 188, 227, 248).

    Vrios autores tm sugerido que o gnero [genre] tem um papelna configurao da fora ilocucionria (2, 9, 37, 44, 56, 59, 63, 117,117, 125, 140, 204). Estes trabalhos sugerem que gneros so muitomais do que conjuntos isolados e auto-contidos de traos formais. Umamudana de gnero evoca funes comunicativas contrastantes,estruturas de participao e modos de interpretao. Alm disso, acapacidade social de certos gneros e a relao entre gneros, so, elasmesmas, padronizadas de tal modo que do forma e so formadas porgnero [gender], classe social, etnicidade, idade, tempo, espao e outrosfatores (2, 4, 8, 9, 32, 37, 55, 63, 108, 118, 162, 223, 225). De maneirasimilar, a busca de um foco interativo em particular (ensino, exortao,aproximao, confronto etc.) geralmente envolve mudanas de gneronegociadas, onde elementos de um gnero so mesclados a traos deoutro. O trabalho pioneiro de Bakhtin (18, 19) sobre esta questo temganhado profundidade e maior preciso em vrios estudos recentes(5, 37, 86, 165). A fora ilocucionria de uma enunciao emerge nosomente de sua localizao dentro de um gnero e lugar social emparticular, mas tambm das relaes indiciais entre a performance eoutros eventos de fala que a precedem e sucedem (falaremos mais

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    sobre este tpico mais abaixo). A fora ilocucionria e os efeitosperlocucionrios dos depoimentos em tribunais so altamentedependentes, por exemplo, das regras sobre evidncias e dos enquadressemiticos mais amplos que especificam os tipos de relaes admissveiscom outros conjuntos de discurso oral e escrito (46, 77, 81, 182, 189,190, 202, 203).

    Este conjunto de pesquisas tem aumentado enormemente nossacompreenso da performatividade ao mostrar que a fora ilocucionriano simplesmente um produto do contedo referencial e/ou daestrutura sinttica de frases especficas. As propriedades formais dodiscurso, unidades maiores de eventos de fala, enquadres, chaves [keys],estrutura de participao, e similares, no so simplesmente condiesfortuitas (13) ou condies preparatrias (219), que ativamenunciaes performativas auto-contidas. A fora ilocucionria podeser comunicada por uma srie de elementos do micro ao macro e,mais importante, pela interao entre tais elementos. A etnografia dacomunicao, a anlise de discurso e a pesquisa sobre performancetm contribudo para a mudana do foco da pesquisa, de frases eelementos isolados para, nos termos de Austin, o evento de fala total[total speech act].

    Este processo tem seguido trs estgios vagamente definidos. Umnmero de estudos (publicados principalmente nos finais dos anos1960 at o meio da dcada de 1970) aplicou o modelo terico de Austina uma comunidade de fala especfica e/ou corpus de tipos de eventosde fala (94, 98, 99, 208). Como resultado, tornou-se evidente umafalta de adequao dos conceitos delineados por Austin, Searle, Gricee outros, s maneiras como a performatividade era concebida e utilizadaem um grande nmero de comunidades de fala. Etnografias da falatanto expuseram o etnocentrismo e reducionismo inerente a taisformulaes quanto ajudaram pesquisadores a encontrar alternativas(88a, 141, 157, 191a, 209, 229). Eventualmente o uso da teoria do atoda fala para modelar as questes de pesquisa foi em grande partepreterido pelas, como Levinson coloca, abordagens muito maiscomplexas, multifacetadas e pragmticas, das funes que asenunciaes encenam [perform] (163: 283). Estudiosos orientadospara a performance no pensam mais a performatividade

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    primariamente como o uso de elementos especficos para sinalizarefeitos ilocucionrios especficos dentro de um grupo fixo de conven-es e um dado contexto social. Na verdade, eles a vem como ainterao complexa e heterognea de padres formais na construosocial da realidade. Trabalhos sob esta perspectiva (ver particular-mente 9, 32, 42, 60, 701, 76, 134, 164) ressoam com as vozes de filsofose crticos literrios, tais como Burke (68, 69), Gadamer (103), Langer(161) e Williams (253), ao argumentarem que as elaboraes formaisno relegam o discurso esfera de uma esttica Kantiana ao mesmotempo puramente subjetiva e cuidadosamente isolada da cognio,das relaes sociais e da poltica. Enquanto Austin (13: 21-22)argumentou que a performance enfraquece a fora performativa dasenunciaes, esta literatura sugere que a padronizao potica,enquadres, gneros, estruturas de participao e outras dimenses daperformance chamam ateno para o estatuto da fala como ao social.

    Pesquisadores podem avanar mais do que tem sido o caso, nouso do rico potencial das pesquisas centradas em performance paraquestionar noes j aceitas sobre a natureza da performatividade eseu papel na vida social. Trs assuntos em particular necessitam deateno crtica.

    Primeiro, a relao entre caractersticas formais e a funo co-municativa tem sido geralmente tratada como um meio para um fim,de tal modo que a forma torna-se significante somente na medida emque est conectada com algum tipo de contedo ou funo. Saussure(215), por exemplo, idealizou a forma como um plano sem sentido, desons indiferenciados, que constitudo como um conjunto designificantes arbitrariamente relacionados a unidades de contedoreferencial. Igualmente elucidativa sua analogia capitalista, ondeele equaciona a relao entre significantes e significados quela entrea moeda e os bens. Algumas comunidades de fala, no entanto,consideram o som em si mesmo um lugar primrio do significado.Feld (91, 92) sugere que os kalulis revertem a direo da explicao,vendo a padronizao de sons lingsticos e musicais como emanandoiconicamente dos sons naturais, particularmente dos cantos dospssaros e de quedas dgua; aqui funes de comunicao e fins

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    socialmente definidos so derivados de padres formais, e no vice-versa. E. Basso (20) e Seeger (222) baseiam-se em dados da Amricado Sul para argumentar que a dimenso musical das performancespode dar forma padronizao lingstica e relaes sociais (vertambm 210, 238). Conquanto mais pesquisas sejam necessrias paradar mais clareza a essas questes, aparente que a reificao da formacomo uma coleo de recipientes vazios espera de pequenas dosesde contedo referencial ou fora ilocucionria empobrece nossacompreenso da performance e da comunicao.

    Segundo, a sugesto de Austin que a performance torna a foraperformativa das enunciaes vazias ou nulas no pode ser sim-plesmente invertida. A performance nem sempre conecta o discursoautomaticamente e de forma desimpedida a certas foras ilocucionriase efeitos perlocucionrios. Keenan (156) e Briggs (65) apontaramque performances podem, por sua prpria natureza, por em questo aeficcia performativa das formas de fala, levando assim a negociaessobre a relao entre elocues e foras ilocucionrias. Bauman (269),Silverstein (232) e, j muito antes deles, Sapir (214), mostraram comomudanas diacrnicas entre padres de relao entre forma esignificado so usadas nos conflitos entre proponentes de formas eideologias rivais. Briggs (63: 328-31) argumenta que a fala ritual podeevocar uma forma especial de significao onde a prpria distinoentre significante e significado colapsa. Bauman (26) e Hymes (142)sugeriram que a avaliao da competncia dos atores [performes] pelaaudincia forma uma dimenso crucial da performance.Particularmente no discurso ritual e poltico, essa preocupao comforma e funo freqentemente estendida a avaliaes de como (eat se) padronizaes formais tornam-se imbudas de significadofuncional.

    Finalmente, teorias da performatividade pressupem concepesacerca da natureza da linguagem e da ao social. Como Heidegger(133) argumentou, teorias ocidentais da linguagem e da potica, porsua vez, pressupem a metafsica ocidental; Derrida (84, 85) buscouexpor estas conexes ao desconstruir o discurso ocidental. Aperformance em sociedades no-ocidentais e em setores marginaliza-

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    dos das naes ocidentais industrializadas oferecem cenrioselucidativos para fomentar esta procura. Tais performances no srevelam formas e funes contrastantes; concepes bsicas dalinguagem e da vida social tambm diferem (102). No caso de gruposmarginalizados na periferia do capitalismo industrial, as performancesfreqentemente esto claramente preocupadas com a desconstruodas ideologias e das formas expressivas dominantes (63, 90, 162, 164,194, 195, 235, 252).

    Uma ilustrao marcante da produtividade desta perspectiva um artigo de Rosaldo (209). Ela usa concepes dos ilongots paramostrar como Searle cai vtima de vises popularescas que localizamo significado social nos sujeitos e desconsidera o senso de restriosituacional (209:212). Os dados dos ilongots levaram-na aargumentar que a anlise de Searle dos verbos performativos deveriaser lida menos como leis universais do evento da fala do que comouma etnografia - no obstante sua parcialidade das vises contem-porneas da pessoa e da ao, no que estas esto ligadas a modosculturalmente especficos de falar (209: 228). (Ver tambm Besnier,neste volume2, sobre a relao entre linguagem, afeto, e os conceitosde pessoa). Tais pesquisas, verdadeiramente dialgicas, no vem osfalantes como tolos que no possuem a habilidade de refletir signifi-cativamente sobre suas prprias condutas comunicativas. Ao contr-rio, essas pesquisas os aceitam como parceiros que tm contribuiessubstanciais a fazer aos processos de desconstruo das visesocidentais sobre a linguagem e a vida social, e de explorar uma faixamais ampla de alternativas.

    Do contexto contextualizao

    Um movimento crucial no estabelecimento da abordagem daperformance foi a mudana dos estudos de texto para a anlise daemergncia dos textos em contexto. Malinowski (170, 171) jenfatizava o contexto cultural e interativo do uso da linguagem, dan-do ateno especialmente s formas de arte verbal, tais como frmulasmgicas e narrativas. Os trabalhos de Bateson (25) e Goffman (109)sobre enquadres, a nfase de Parry (201) e Lord (167) no papel da

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    audincia na composio oral, e a conceptualizao do evento comu-nicativo proposta por Jakobson (151) e expandida por Hymes (138,139, 141) ofereceram importantes estmulos para estudiosos daperformance (ver 1, 12, 26, 43, 45).

    No entanto, um nmero de estudos recentes sugerem que pes-quisadores esto deslocando o foco para alm do contexto, em suaconcepo em termos normativos, convencionais, e institucionais. Otrabalho de Blackburn sobre bow songs3 tamil oferece um exemplo disto.Em artigo publicado em 1981, Blackburn observava que a influnciado contexto oral no contedo da narrativa fornecia um foco centralpara este ensaio (47: 208). Cinco anos depois, apesar de declarar deforma semelhante que Performance ... seja l o que for que aconteacom um texto em contexto (48: 168), ele passou a argumentar que aanlise do texto permanecia central ao estudo da performance. Nomomento que sua monografia sobre as bow songs apareceu em 1988,Blackburn afirmava que o necessrio uma abordagem daperformance centrada no texto que comece com a narrativa fora desua encenao [enactment] (49: xviii).

    Recentemente, estudos centrados na performance tambm tmsido lidos de modos antitticos. Limn & Young (166) argumentam,por exemplo, que estudos de performance no tm correspondido aochamado de Bauman por anlises do contexto social, cultural e histricomais amplo; eles atribuem esta deficincia devoo dos estudiososs anlises microsociolgicas ou interacionais e potica da ...arte verbal. Bronner (67:89) argumenta, de forma um poucosemelhante, que ao enfatizar exibio[display] e performance,tomando aes expressivas como estratgias usadas em situaesespecficas, a natureza de um ator foi dissociada do ato, e o cenriofsico foi isolado do contexto social ao redor. Portanto, nestes e emoutros relatos recentes, pesquisas centradas na performance emergemcomo elefantes do homem cego4. Blackburn busca recuperar o espaoperdido no estudo das performances orais atravs da reverso dadireo que os estudos de performance haviam traado (49:xxi, xvii);ou seja, para ele estudos de performance parecem estar muitopreocupados com contexto e muito pouco preocupados com detalhes

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    textuais. Por outro lado, Lmon & Young e Bronner argumentam queperspectivas centradas em performance esto demasiadamente presas potica para serem capazes de discernir os contextos sociais e polticos.

    Estas discrepncias no so simplesmente o produto de tendn-cias divergentes neste campo: estes autores citam muitas das mesmasfontes. Tais argumentos tampouco simplesmente sugerem ummovimento circular do texto para o contexto para o texto. Na verdade,estudos de performance esto no meio de uma reformulao radicalonde texto, contexto e a distino entre eles esto sendoredefinidos. Esta mudana sinalizada gramaticalmente pela adiode afixos que efetivamente deslocam a nfase do produto para o pro-cesso, e de estruturas convencionais para agncia, na medida em quetermos como entextualizao e contextualizao ganhamlegitimidade. O restante desta parte do texto devotado a uma consi-derao acerca do movimento de contexto para contextualizao;discutiremos a transio de texto para textualizao logo a seguir.

    Briggs (63:13) identifica dois problemas inerentes ao conceito decontexto: inclusividade e falsa objetividade. Alguns pesquisadorespropuseram definies relativamente mais limitadas. Dundes (87:23),por exemplo, afirma que o contexto de um item folclrico a situaosocial especfica onde este item em particular efetivamenteempregado. Em sua formulao seminal, Malinowski distingue ocontexto da realidade cultural ... o equipamento material, as atividades,interesses, valores estticos e morais com os quais as palavras estocorrelacionadas (171: 22), do contexto situacional ou contextosocial, inteno, objetivo e direo das atividades que acompanhamas palavras (171:214). Bauman (30) expande a lista para seiselementos, incluindo o contexto de significao, contextoinstitucional, contexto do sistema comunicativo, base social,contexto individual e contexto de situao. Todas estas definiesde contexto so demasiadamente inclusivas, no existindo formaalguma de saber quando um conjunto adequado de fatores contextuais constitudo. A tarefa aparentemente simples de descrever o

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    contexto de uma performance pode, dessa forma, tornar-se umaregresso infinita.

    O problema da falsa objetividade emerge do carter positivistada maior parte das definies de contexto. Esta equao do contex-to com uma descrio objetiva de tudo que cerca um conjunto deenunciaes tem duas conseqncias importantes. Primeiro, j que obviamente impossvel apontar todos os aspectos do contexto, opesquisador torna-se o juiz que estabelece o que merece ser includo.Segundo, definies positivistas constroem o contexto como umconjunto de condies externas ao discurso e que existem a priori eindependentemente da performance. Isto reduz a habilidade do ana-lista de discernir como os prprios praticantes determinam quaisaspectos da interao social em andamento so relevantes e tambmoculta a maneira como a fala d forma ao cenrio, freqentementetransformando as relaes sociais. Reificar o contexto tambmpreserva implicitamente a premissa que o significado emerge essenci-almente de contedos proposicionais livres do contexto, que so entomodificados ou esclarecidos pelo contexto (cf. 234).

    Vrios escritores tm tentado escapar desse molde ao focar nacapacidade metacomunicativa ou metapragmtica (228) da lingua-gem. Cook-Gumperez e Gumperz (78; ver tambm 123) incorporaminsights de Bateson (25), Goffman (109, 110), e outros ao proporemuma mudana de contexto para contextualizao. Eles argumentamque contextos comunicativos no so ditados pelo cenrio social e fsico,mas emergem de negociaes entre os participantes das interaessociais. O processo contnuo de contextualizao pode ser percebidoao atentarmos para os indicadores de contextualizaoque sinalizamquais elementos do cenrio so usados pelos participantes na interaopara produzir os enquadres interpretativos. Um corpus literrio emrpida expanso aponta para a centralidade de elementos depadronizao potica na contextualizao de performances (20, 21,32, 42, 48, 63, 112, 131, 144, 146, 159, 180, 227, 248, 250). Analisesbaseadas na performance tm um papel chave a desempenhar aqui, jque deixas de contextualizao poeticamente padronizadas sorealadas na performance; essa percepo acentuada pode auxiliar os

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    pesquisadores a determinar como deixas individuais so interligadasna criao de padres formais e funcionais mais amplos.

    O deslocamento da nfase no contexto para a contextualizaosugere a razo pela qual anlises de performance tm, simultanea-mente, focado mais no texto e no contexto nos ltimos anos. Paraevitarmos reificar o contexto necessrio estudar os detalhes tex-tuais que iluminam a maneira como os participantes constroem cole-tivamente o mundo ao seu redor. Por outro lado, tentativas deidentificar o significado dos textos, perfomances ou gneros inteirosem termos de contedos puramente simblicos e independentes docontexto desconsideram a multiplicidade de conexes indiciais quepermitem que a arte verbal transforme, e no simplesmente reflita, avida social. Afirmar que pesquisadores devem escolher entre anlisesde padres poticos, interao social ou contextos sociais e culturaismais amplos reificar cada um destes elementos e impedir uma anliseadequada de qualquer um deles.

    O deslocamento que ns identificamos aqui representa um gran-de passo em direo a uma viso de performance centrada no agente.Contextualizao envolve um processo ativo de negociao no qualparticipantes examinam reflexivamente o discurso em sua emergn-cia, inserindo avaliaes sobre sua estrutura e significado na prpriafala. Atores [performers] estendem tais avaliaes de modo a incluirprevises sobre como a competncia comunicativa, histrias pessoaise identidades sociais de seus interlocutores daro forma recepo doque dito. Muitas pesquisas tm focado a maneira como este meta-processo incorporado na forma textual das performances, particu-larmente no caso de narrativas. Babcock (14), Bauman (32), Briggs(66), McDowell (177) e outros, tm focado na meta-narrativa, essesdispositivos que comentam sobre o narrador, o narrar e a narrativaenquanto mensagem e cdigo (14:67). Meta-narrativa inclui umconjunto de elementos que, como Georges argumenta (107), tm sidomarginalizados, ignorados e, ocasionalmente, mesmo removidos dastranscries, devido a sua suposta irrelevncia para os eventos narra-dos em si. Como Bauman argumenta (32), dispositivos meta-narrati-vos indicam no somente elementos da interao social em andamen-

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    to, mas tambm a estrutura e significado da narrativa e da maneiracomo ela ligada a outros eventos. Por exemplo, o contador de hist-rias texano Ed Bell incorpora o seguinte comentrio meta-narrativoem uma histria sobre uma rvore gigante de abelhas: E no culpovocs se vocs no acreditam em mim sobre esta rvore, porque eutambm no acreditaria se no tivesse visto com meus prprios olhos.No sei se posso dizer a vocs como poderiam acreditar nisso ou no,mas aquela era uma rvore grande (32:99). Bauman argumenta quetais intervenes transpem o hiato entre o evento narrado e o eventonarrativo ao se dirigirem faticamente audincia. Shuman (227) de-talha a maneira como histrias de briga entre adolescentes focam nos a briga, mas tambm situaes que revelam o teor das contnuasrelaes existentes entre as partes envolvidas. Tais histrias entoapresentam tanto a avaliao das causas e conseqncias das brigasquanto as afirmaes dos participantes das brigas acerca de seus direitosde contar e ouvir a histria.

    Um dispositivo para conectar eventos narrados e eventos narra-tivos (149) a fala citada [reported speech]; um conjunto crescente depesquisas (32, 37, 65, 144, 169, 233, 247) tm aprofundado os insightsde Volosinov (251). A fala citada permite que atores [performers]aumentem a heterogeneidade estilstica e ideolgica ao apelarem amltiplos eventos de fala, vozes e pontos de vista. Como mostrare-mos abaixo, este descentramento do evento narrativo e da voz donarrador abre possibilidades para a renegociao de significados erelaes sociais alm dos parmetros da performance em si.

    Enquanto grande parte das pesquisas sobre as funesmetacomunicativas da padronizao potica tem focado a narrativa,vrios estudos tm analisado provrbios, advinhas, rimas, insultos,saudaes e outros gneros, assim como os elementos poticos daconversao (5, 22, 54, 63, 74, 116, 118, 160, 178, 181, 230, 231).Mais estudos so necessrios nesta rea.

    Esta mudana nas perspectivas analticas tem fomentado a per-cepo do papel ativo que os ouvintes tambm desempenham nasperformances. Em narrativas conversacionais, comum ser dado aosmembros da audincia oportunidades de fala, tornando ento a

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    narrativa uma coperformance (83, 113). O backchannel5 de participa-o de membros da audincia d forma estrutura e ao contedo daperformance ao mesmo tempo em que aqueles que falam avaliam oenvolvimento e compreenso de seus interlocutores (41, 63, 89, 111,129, 131). C. Goodwin (113) argumenta que as audincias soinstrudas pelo discurso em como acompanhar os diferentesenvolvimentos dos membros naquilo que dito; a audincia tambmtem um papel central na avaliao do significado da fala. A interaoperformance-audincia claramente moldada no somente por sinaisostensivos; K. Basso (23) oferece uma anlise notvel dos modos comoaqueles que falam podem se abster de usar dicas de contextualizaoostensivas, contando com padres de resposta culturalmente definidospara levar os ouvintes a perceberem o sentido da narrativa no contextocorrente. Mesmo quando membros da audincia dizem ou fazempraticamente nada no momento da performance, seus papis tornam-se ativos quando eles se tornam os falantes em subseqentesentextualizaes do tpico daquele momento (por exemplo: em relatos,desafios, refutaes, encenao das conseqncias, e similares).

    O movimento do contexto para contextualizao, e tpicoscorrelatos, ento nos permite reconhecer as maneiras sofisticadas comoos atores [performers] e as audincias usam a padronizao potica parainterpretar as estruturas e significados de seus prprios discursos.Pesquisadores podem, desta forma, basear suas anlises nos esforosinterpretativos dos participantes. Esta mudana de orientao temimplicaes profundas para o trabalho-de-campo. Ela facilita umamaior compreenso das dinmicas da performance no prprio encontroetnogrfico.

    A premissa conceitual e metodolgica bsica da etnografia daperformance que a estrutura e dinmica do evento de performanceservem para orientar os participantes incluindo o ator [performer].Poderamos ento esperar que avaliaes do discurso emergente nosencontros etnogrficos levassem em conta tanto os objetivos etnogrficosquanto o papel do pesquisador de campo. No entanto, anlises dosefeitos das aes do etngrafo, grupo de pesquisa, equipamento,programa de pesquisa etc., sobre tais discursos requerem modificaes

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    do foco, j h muito existente, dos folcloristas e antroplogos nocontexto natural i.e. na maneira como os nativos fazem (ou faziam)as coisas isolados, livres de influncias externas comprometedoras.Etngrafos de perfomance necessitaram de uma certa ousadia paradesconstruir essa noo de um contexto natural, confrontando suasprprias influncias sobre o que suas fontes locais lhes ofereciam.Contudo, depois da anlise pioneira de Haring(127) sobre como seusinformantes moldaram o que lhe diziam de acordo com suas concepesacerca de quem ele era, o que ele queria e o que deveria ser contado paraele, inmeros ensaios tm examinado a contextualizao do encontroetnogrfico. Estes trabalhos tm iluminado a negociao dos objetivosda interao, e o papel dos participantes nesta negociao, assim comoas escolhas, formas e o enquadre de seus discursos (31, 61, 62, 73, 82,142, 146, 183, 242). De fato, foi mostrado que a contextualizaoestende-se alm dos limites do contexto do trabalho de campo em si, namedida em que o gravador coloca em considerao possveis audinciassubseqentes (32:78-111, 242:285-301). Tal ateno reflexiva contextualizao do encontro etnogrfico afetou significativamente aprpria formulao da teoria da performance: a distino pioneira deHymes entre o relato de um texto artstico e a sua performance estbaseada na anlise de enquadres de contextualizao mutveis enegociados no seu trabalho de campo com seus informantes chinook(142).

    Ao focar nos fundamentos dialgicos da descoberta etnogrfica,esta linha reflexiva de pesquisa centrada-em-performance antecipoua recente virada para um antropologia mais dialgica (175, 242). Porsua vez, os insights que discutimos aqui oferecem potica e polticada etnografia uma percepo mais apurada do trabalho comunicati-vo investido por nossos interlocutores, e um conjunto de ferramentaspara analisar a entextualizao (79) e a contextualizao dos dilogosetnogrficos.

    Os insights oferecidos pelos estudos que citamos at agora emer-gem da sensibilidade especial dos etngrafos para com as dinmicasda contextualizao e performance. Paredes (197) oferece uma crticaincisiva s prticas etnogrficas que deixam de levar em consideraoa performance do prprio encontro etnogrfico. Paredes acha que a

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    literatura sobre a sociedade e cultura do Grande Mxico (especial-mente a texana-mexicana)6 est crivada de interpretaes imprecisasque resultam do ingnuo vis referencial da prtica etnogrficapositivista de solicitar fatos s pessoas e assumir que elas darorespostas francas. Paredes mostra que o encontro etnogrfico convida demonstrao de competncia comunicativa, uma pedra fundamentalda performance, da mesma forma que a desigualdade quefreqentemente caracteriza a relao entre informante nativo eetngrafo pode levar brincadeira, pilhria ou representaosegundo esteretipos. Existe ento uma predisposio para aperformance e outros enquadres expressivos de comunicao nacontextualizao do discurso no encontro etnogrfico, independenteda questo explorada no momento ser a arte verbal ou o parentesco.O trabalho de Paredes sugere que uma sensibilidade para a performancedeve ser uma parte crtica e reflexiva de qualquer investigaoetnogrfica que envolva a coleta de dados por meios verbais (vertambm 62, 120).

    Entextualizao e descontextualizao 7

    Muitas pesquisas sobre contextualizao orientadas pela pers-pectiva da performance tm se concentrado na localizao daperformance em contextos situacionais. Uma perspectiva alternativaest comeando a emergir dos estudos de performance, e de outrasreas, que abordam alguns dos problemas bsicos na antropologialingstica a partir de um conjunto de premissas opostas.

    Consideremos por um momento porque pesquisadores tiveramque tornar a contextualizao uma problemtica, devotando tantoesforo para estabelecer que a forma, a funo e o significado da arteverbal no podem ser compreendidos parte do contexto. A razo precisamente que as formas da arte verbal so muito suscetveis aserem tratadas como objetos auto-contidos e delimitados, passveisde separao de seus contextos sociais e culturais de produo e re-cepo . Tomando a prtica de descontextualizao como o foco deinvestigao, perguntamos o que torna isto possvel, como isso al-canado em termos formais e funcionais, para que fins, por quem, sob

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    quais circunstncias, e assim por diante. Estamos atualmente longede ter respostas conclusivas para essas questes, mas a investigaopode abrir algumas novas abordagens produtivas.8

    Os trabalhos anteriores da maioria dos investigadores dacontextualizao tm assim tendido a tomar o rumo oposto quele emque ns agora embarcamos. Eles estabeleceram como a performanceest ancorada em, e inseparvel de, seu contexto de uso. Tais trabalhos sobre os vnculos da performance competncia, intenes deexpressividade, estratgias de retrica e propsitos funcionais do ator[performer]; sobre as conexes fticas do ator [performer] sua audin-cia; sobre as conexes indiciis do discurso em perfomance a seu entor-no situacional, aos participantes, ou outras dimenses do evento deperformance; sobre a estrutura do texto em performance enquantoemergente em performance, e assim por diante serviram paraestabelecer como e por que a arte verbal deveria ser resistente aodescentramento, extrao de seu contexto. Em contraste, ns iremosperguntar o que faz a performance ser passvel de descentramento apesarde todas estas foras de fixao [anchoring]. O que a faz suscetvel decontextualizao? Que fatores afrouxam as conexes entre o discursoem performance e seu contexto?

    Um ponto inicial para estas perguntas a distino entre discur-so e texto. No cerne do processo de descentrar o discurso est o processomais fundamental a entextualizao. Em termos simples, apesar distoestar longe de ser simples, o processo de tornar o discurso passvelde extrao, de transformar um trecho de produo lingstica emuma unidade um texto que pode ser extrado de seu cenriointeracional. Um texto, ento, nesta perspectiva, discurso tornadopassvel de descontextualizao. Entextualizao pode muito bemincorporar aspectos do contexto, de tal forma que o texto resultantecarregue elementos da histria de seu uso consigo.

    Fundamental para o processo de entextualizao a capacidadereflexiva do discurso, capacidade que este compartilha com todossistemas de significao, de virar-se ou dobrar-se sobre si mesmo, detornar-se um objeto de si mesmo, de referir-se a si mesmo (15, 16).Nos termos de Jakobson (151), com respeito linguagem, esta

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    capacidade reflexiva se manifesta mais diretamente nas funesmetalingstica e potica (174). A funo metalingstica (oumetadiscusiva) objetifica o discurso ao fazer do discurso seu prpriotpico; a funo potica manipula as caractersticas formais do discur-so para chamar ateno para as estruturas formais atravs das quais odiscurso organizado.

    Performance, a encenao da funo potica, um modo decomunicao altamente reflexivo. Da maneira como o conceito deperformance foi desenvolvido em lingstica, a performance vistacomo um modo habilidoso [artful] de fala, especialmente marcado, eque constri ou representa um enquadre interpretativo especial, den-tro do qual o ato da fala deve ser entendido. Performance coloca o atode falar em destaque o objetifica, o destaca parcialmente de seucenrio de interao e o oferece para avaliao por uma audincia.Performance acentua a percepo do ato de falar e permite que aaudincia faa avaliaes acerca da habilidade e da eficcia dos talen-tos do ator [performer]. Por sua prpria natureza, ento, a performancepotencializa a descontextualizao.

    Podemos abordar o processo de entextualizao em performanceem termos formais e funcionais, atravs da explorao dos meiosdisponveis aos participantes, nas situaes de performance, para trans-formar trechos de discurso descolados de seu ambiente discursivo emtextos coerentes, eficazes e memorveis. Quais so os recursosdiscursivos que podem ser usados para esse fim? De uma perspectivaformal, esta linha de investigao nos leva para territrio familiar: aorganizao formal de textos, dispositivos para coeso, e assim pordiante. Aqui, a anlise formal minuciosa desenvolvida em anosrecentes, sob o estmulo da etnopotica (144, 226, 242, 243) a anlisecomparativa do paralelismo (72, 100, 101, 158) e a anlise dos gnerosde folclore (32, 44, 63, 118, 178, 179) expandiram nossa compreensoda textualidade das formas de arte verbal. Os meios e dispositivosdelineados por Bauman (26) como chaves para performance podemser vistos como ndices de entextualizao. Anlises de conversao(110:5-77; 163, 218, 240) e estudos de disputas e conflitos, orientadospara a linguagem (58, 64, 114, 122), oferecem perspectivas para a

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    anlise formal do discurso e entextualizao, e ilustram como adisponibilidade do texto para ser isolado pode ser atingida de formainterativa. Estes estudos nos relembram que os participantes podemeles mesmos estar direta e fortemente preocupados com o controlesocial da entextualizao, descontextualizao, e recontextualizao(7a).

    Alm dos aspectos formais, as anlises de enquadre (109), ainvestigao fenomenolgica dos mundos criados em performance(61, 264), estudos da interao entre performances verbais e a mdiaque as acompanham, como msica, dana, e objetos materiais (91,179, 222, 239), anlises dos processos de composio (95-97, 108) eum conjunto de outras linhas de investigao, iluminam o processode entextualizao em performance. A tarefa descobrirempiricamente quais meios esto disponveis para transformar o dis-curso em texto em uma dada situao social, para quem eles estodisponveis e sob quais circunstncias.

    Claramente, performance no o nico mecanismo deentextualizao. Nossa assero, na verdade, que performance,enquanto um enquadre, intensifica a entextualizao. Tambm importante relembrar que a performance uma qualidade varivel;sua relevncia entre as vrias funes e enquadres de um ato comuni-cativo pode variar ao longo de um contnuo desde uma performancecompleta, contnua, at um passageiro irromper de performance (31,142). Da mesma forma, entextualizao uma questo de graduaoatravs dos gneros de fala de uma comunidade (20:91-140; 57, 63,108, 118, 180, 223). A performance completa parece estar associada entextualizao mais marcada, mas tal correlao est longe de serperfeita; uma parte de um discurso rigorosamente entextualizada podeser citada, ou traduzida, ou transmitida dentro de outros enquadresalm da performance. Esta uma rea que ser produtiva parainvestigaes futuras.

    O breve apanhado sobre a entextualizao que oferecemos deve sersuficiente para substanciar nosso argumento que o discurso pode sermoldado para facilitar sua separao do contexto situacional. Os processoque ancoram o discurso em contextos de uso podem sofrer oposio deoutros que potencializam a capacidade de separao. Se considerarmos

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    agora o que acontece com o texto quando este descontextualizado,reconheceremos que a descontextualizao de um contexto social envolvea recontextualizao em outro. Para os propsitos deste momento,consideramos que a descontextualizao e recontextualizao de textosso dois aspectos do mesmo processo, mas o tempo e outros fatores podemmediar estas duas fases. Como o processo transformacional, precisamosagora determinar o que o texto recontexualizado traz consigo do seu(s)contexto(s) anterior(es) e qual forma, funo e significado emergenteslhe so dados ao ser recentrado.

    Neste estgio podemos apenas sugerir esquematica eprogramaticamente quais podem ser algumas das dimenses destatransformao. claro que isso se torna mais fcil quando dispomosde dados sobre os pontos sucessivos deste processo, mas mesmo oexame de textos aparentemente isolados pode ser produtivo porqueum texto pode carregar um pouco de sua histria consigo (7a, 37, 63).Alm do mais, uma sucesso de recentramentos pode estar contidaem um nico evento (206,236; 165-68).

    Por exemplo, Melaquias Romero, em sua performance de umconto sobre um tesouro, popular entre a populao de lngua espa-nhola no norte do Novo Mxico, oferece um sumrio do conto, umaperformance da verso de seus pais e de vrias narraes baseadas emoutras verses da narrativa. Tais recentramentos podem tambm sersimultneos em vez de seriais. Sr. Romero apresenta uma cena cen-tral no conto sobre o tesouro, um dilogo entre um pastor e seu pa-tro, tal como ela havia sido contada pelo patro a outro pastor, quepor sua vez a recontou a dois amigos; o Sr. Romero ento reconta amaneira como estes dois indivduos lhe apresentaram a narrativa (ver66).

    Ao mapear as dimenses da transformao poderamos utilizarquaisquer uns dos elementos seguintes, ao mesmo tempo que atenta-mos para suas interrelaes:

    1. Enquadre [framing] o controle metacomunicativo do texto

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    recontextualizado. Nos termos de Goffman (110: 124-59), qual o footing9

    adotado em relao ao texto no processo de sua recontextualizao? Eleest ligado a apresentaes anteriores como repetio ou citao? Aqui,o crescimento recente do interesse em falas citadas [reported speech] (32:54-77; 169; 223:201-7; 232) e na metapragmtica (228) ser de especialimportncia, assim como a pesquisa crescente sobre gneros mistos, ondetextos encenados [performed] em um gnero esto embebidos em textoscom gnero distintos (37, 193). O enquadre diferencial de textos quandoestes so apresentados em ensaios, em oposio performance, tambmmerecedor de mais pesquisas (109:60-61; 241).

    2. Forma [form] Inclui meios formais e estruturas, da fonologia gramtica, a estilos de fala, a estruturas maiores de discurso, como osprincpios de organizao em gneros. O foco nesta dimenso detransformao formal, de um contexto para outro, permite insights naevoluo dos gneros (7, 196). Uma transformao formalparticularmente interessante o recentramento do texto pela substituiometonmica: a meno do lugar onde um evento narrado aconteceu (23,24), ou uma parte central do enredo (155), por exemplo, para evocar umtodo na mente dos ouvintes.

    3. Funo [function] Manifesta, latente e performativa (foraperlocucionria e ilocucionria; ver acima). Um texto principalmenteritual, por exemplo, pode ser usado para entretenimento, prtica oupedagogia (223:118).

    4. Localizao indicial [indexical grounding] inclui marcadores deiticos depessoas, localizao espacial, temporal etc. A anlise da metanarraooferece um ponto de vista produtivo sobre este problema (14, 32, 37,177).

    5. Traduo inclui tanto a traduo inter-lingstica quanto a inter-semitica (150). Aqui esto em questo as diferentes capacidadessemiticas de diferentes linguagens e diferentes mdias (168). O queacontece se um texto transferido do zuni para o ingls ou da narraooral para a escrita? Estas questes tm sido centrais para a explorao daetnopotica (93, 144, 242) e para a problemtica da transcrio (191,205). Elas oferecem ento um importante ponto de vista crtico e reflexivosobre nossa pratica acadmica enquanto antroplogos lingistas.

    6. A estrutura emergente [emergente structure] do novo contexto, conformeela moldada pelo processo de recontextualizao. Textos tanto doforma quanto so moldados pelos contextos situacionais em que soproduzidos.

    At agora, esboamos um enquadre para a investigao dodescentramento e do recentramento principalmente em termos for-mais. Mas, do mesmo modo que a anlise formal dos processos e

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    prticas de contextualizao um meio de investigao de problemassociais e culturais mais amplos, tambm a anlise dadescontextualizao e recontextualizao se manter ou vir a ruircomo um projeto antropolgico na medida em que puder iluminarquestes de interesse mais amplo. Deixem-nos sugerir ento algumasproblemticas para as quais tais investigaes podem ser produtivas.Ao faze-los comeamos a responder certas crticas s anlises centradasem performance (resumidas em 166).

    A descontextualizao e recontextualizao de discursos j ence-nados [performed] age sobre a economia poltica dos textos (104, 148),textos e poder. A performance um modo de produo social (253);produtos especficos incluem textos, discursos descentrados.Descontextualizar e recontextualizar um texto portanto um ato decontrole, e a questo do poder social emerge como resultado do exer-ccio diferencial de tal controle. Mais especificamente, podemos reco-nhecer acessos diferenciados aos textos, diferenas na legitimidadedas reivindicaes sobre textos e seus usos, competncias diferencia-das no uso dos textos, e valores diferenciados agregados aos vriostipos de textos. Todos estes elementos, deixem-nos enfatizar, soculturalmente construdos, socialmente constitudos e sustentados porideologias, podendo, assim, variar de uma cultura para outra. Nenhumdesses fatores dado social ou culturalmente, j que cada um podeestar sujeito a negociaes como parte do processo de entextualizao,descentramento e recentramento.

    1. O acesso [access] depende de estruturas institucionais, defini-es sociais de eligibilidade e outros mecanismos e critrios de inclu-so e excluso (mesmo assuntos prticos, tais como chegar aonde ostextos so encontrados).

    2. A questo da legitimidade [legitimacy] refere-se concesso daautoridade para a apropriao de um texto de modo que esterecentramento conte como legtimo (227). Direitos de propriedadecultural, tais como copyrights, critrios acadmicos de plgio e seusequivalentes em outras culturas, todos regulam o exerccio do poderlegtimo sobre discursos encenados [performed], assim como o fazemmecanismos sociais como a ordenao, a iniciao, ou o aprendizado.

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    No s estruturas institucionais e mecnicas conferem autoridadelegtima para controlar textos, mas o potencial inverso tambm existe:Contra Bordieu (52: 649), a apropriao e uso de formas particularesde discurso pode ser a base do poder institucional.

    3. A competncia [competence], o conhecimento, e a habilidade[ability] para levar a cabo, com sucesso e apropriadamente,descontextualizaes e recontextualizaes de discursos encenados[performed], podem ser concebidas em nvel local como uma capacida-de humana inata, habilidade adquirida, ddiva especial, uma correla-o com a localizao do sujeito no ciclo de vida, e assim por diante(ver por exemplo 63, 101: 13-16; 118: 239, 132).

    4. Finalmente, valores [values] organizam os estatutos relativosdos textos e seus usos em uma hierarquia de preferncias. Textospodem ser valorizados por seus possveis usos, pelo que pode ser obtidopor eles ou por sua referncia indicial a qualidades ou estados desejados o capital cultural de Bourdieu (53, 104, 148).

    Todos estes fatores acesso, legitimidade, competncia e valores so centrais para a construo e aquisio da autoridade. Desde aformulao incial por Hymes (142), na qual a performance consitiana exibio autorizada [authoritative] de competncia comunicativa, aautoridade manteve um lugar central nas anlises orientadas pelaperformance. A definio de Hymes acentua a aquisio pelo ator[performer] de uma voz autorizada [authoritative] , a qual baseada,pelo menos em parte, no conhecimento, habilidade, e direito decontrolar o recentramento de textos de grande valor. O controle sobreo descentramento e recentramento parte do enquadre social, e dessaforma uma das maneiras atravs das quais os textos so investidoscom autoridade (55), que por sua vez impe limites formais e funcionaissobre como o texto pode ser posteriomente recentrado: um texto comautoridade [authoritative], por definio, aquele que protegido aomximo contra transformaes que o comprometam (18).

    Apesar das implicaes do descentramento e recentramento dodiscurso para a construo e o exerccio do poder poderem ser aborda-das a partir de vrios pontos de vista, incluindo concepes culturaisacerca da natureza e usos da performance, estruturas institucionais,

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    ou ideologia, a prtica localizada da descontextualizao erecontextualizao um enquadre referencial essencial e fundacional.Neste sentido, a investigao da descontextualizao erecontextualizao d continuidade ao programa da etnografia da fala,adicionando um enquadre conceitual, centrado na prtica discursivaem si, e ligando contextos situacionais distintos nos termos dapragmtica da textualidade. Alm disso, a cadeia de ligaes pode serestendida sem um limite temporal, j que textos podem sercontinuamente descentrados e recentrados (128). Por um lado, issoilumina o processo de tradicionalizao (37, 143), o contar e recontarde uma histria, o citar e recitar de um provrbio, enquantorecentramentos constitutivos da construo simblica de uma conti-nuidade discursiva com um passado imbudo de significado. O enfoqueem tais processos localiza performances, textos e contextos em sistemasde relaes histricas. Por outro lado, o traar de cadeias dedescentramento e recentramento oferece um enquadre unificado paraa anlise do controle sobre o discurso, que se extende do local e dapequena escala para o global. Uma dada performance de um contofolclrico, por exemplo, pode ser traada atravs de processos dedescentramento e recentramento interligados na tradio oral local,na nacionalizao da cultura, na medida em que essa apropriadapelas elites letradas em prol de ideologias nacionalistas, ou nainternacionalizao da cultura, ao ser elevada a posio de integrantede uma literatura mundial (11; 145:35-64; 185; 211).

    Nossa abordagem do descentramento e do recentramento detextos tambm contribui para a especificao operacional e substanti-va da noo mais abstrata de dialogismo de Bakhtin (18), que cadavez mais influente na antropologia linguistica e no folclore. Se defato, como nos diz Bakhtin, nossas bocas esto repletas das palavrasdos outros, o programa que delineamos aqui tem a inteno de elucidarcomo essas relaes dialgicas so consumadas, de tal maneira quesejam levadas em conta as interrelaes forma-funo e a sociologia eeconomia poltica do dilogo bakhtiniano.

    Uma outra recompensa importante oferecida pela investigaoda descontextualizao e recontextualizao de textos uma perspec-tiva crtica e reflexiva para o exame de nossa prpria prtica acadmi-

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    ca. Muito do que fazemos como antropologia lingstica pode serresumido como descontextualizao e recontextualizao do discursode outros (130, 249). Certamente o exerccio de tal poder no necessitaser unilateral; nossos intelocutores podem tentar controlar o modocomo seus discursos sero entextualizados e recontextualizados. Estesprocessos tem implicaes importantes para os mtodos, objetivos e,no menos significativamente, para a tica, de nossa profisso.

    Concluso

    Performance emergiu como uma palavra chave em alguns seto-res da antropologia lingstica e do folclore na primeira metade dadcada de 70, unindo sob sua rubrica pelo menos trs reorientaescrticas que estavam ento movimentando estes campos afins. Aprimeira destas envolvia um desafio concepo da linguagem pro-mulgada sob a bandeira da lingstica generativa transformacional[transformational generative-linguistics]. Sob aquela perspectiva,performance fala natural [natural-speech], o que o falante [speaker]de fato faz ao usar a linguagem estava excluda do escopo da teorialingstica, que estava centrada na competncia, num sistema cognitivoabstrato e idealizado de regras para a produo e compreenso desentenas gramaticalmente apropriadas. Era ento conceitual eretoricamente eficaz investir na performance como o centro de umalingstica alternativa, socialmente constituda (141), onde a funosocial molda a forma lingstica, a linguagem tem significado tantosocial quanto referencial, e as funes comunicativas da linguagemna constituio da vida social so fundamentais para sua essncia.

    Uma segunda grande mudana de perspectiva expressa pela noode performance se deu no folclore, fundamentada na reorientao deuma viso tradicionalista do folclore como itens culturais reificados,que persistem no tempo textos, artefatos, mentifacts10 - para umaconcepo do folclore como um modo de ao comunicativa (198).Aqui performance era compreendida como o assumir deresponsabilidades para com uma audincia para a demonstrao dehabilidades e eficcia comunicativa (26, 142).

    Terceiro, a virada para a performance marcou um esforo para

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    estabelecer um espao mais amplo dentro da lingstica e da antropo-logia, para a potica arte verbal em contraste com a concepo,profundamente enraizada na epistemologia e na ontologia ocidental,que a potica um enfraquecimento da linguagem, funcionalmentenula ou desprovida de valor, irrelevante para o que realmente fazfuncionar a linguagem ou a sociedade (102, 224). O foco no usoartstico da linguagem na conduo da vida social no parentesco,poltica, economia, religio abriu caminho para uma compreensoda performance enquanto constitutiva socialmente e eficaz, no apenassecundria e derivativa (38, 40).

    Todos estes trs redirecionamentos contaram principalmente cominvestigaes etnogrficas e analticas da inter-relao da forma-funo-significado dentro dos contextos situacionais do uso dalinguagem. Como tentamos tornar claro nas primeiras partes destaresenha bibliogrfica, os desenvolvimentos seguintes nos estudos daperformance mantiveram a postura crtica na qual a anlise centradana performance foi fundada, e continuam a explorar produtivamenteo enquadre bsico de referncia situacional que caracteriza as linhasde investigao centradas na performance.

    Recentemente, no entanto, tanto crticos quanto pesquisadores,tm identificado certas limitaes engendradas por um modo de anliseque atm-se em demasia ao evento de fala ou performance como afonte primria de referncia e unidade de anlise (166). As dificuldadesso vrias. Primeiro, h o problema da histria, a necessidade deconectar sries de eventos de fala a sistemas histricos de inter-relaes,de acordo com uma perspectiva centrada no discurso. Segundo, h operene problema, micro e macro, de como relacionar o uso dalinguagem s estruturas sociais mais amplas, particularmente asestruturas de poder e valor que constituem a economia poltica deuma sociedade. Novamente o problema identificar prticasdiscursivas que faam a mediao entre o uso situado da linguagemcom eventos de fala e essas estruturas mais amplas. E, finalmente, ho problema da ligao entre a fala artstica da performance e outrasformas de uso da linguagem de tal modo que a anlise de performanceno caia na armadilha de segregar o potico de outros modos de falar.

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    A terceira maior seo de nossa resenha bibliogrfica oferece deforma preliminar e resumida um enquadre que ns acreditamos irajudar a superar as limitaes que enumeramos aqui. A investigaodos processos interrelacionados de entextualizao, descontextualizao(descentramento), e recontextualizao (recentramento), construda apartir dos insights acumulados pelas anlises de performance anterio-res, abre caminho para a construo de histrias de performances; parailuminar as estruturas sistmicas mais amplas nas quais as performancesdesempenham um papel constitutivo; e para a ligao da performancecom outros modos de uso de linguagem, j que as performances sodescentradas e recentradas tanto dentro como atravs de eventos defala referidas, citadas, avaliadas, contadas, refletidas, refeitas, e deoutras maneiras transformadas na produo e reproduo da vida social.Como sugerimos, este enquadre nos parece ainda mais produtivo paratornar nossa prtica acadmica contnua com o fenmeno ao qual de-votamos nossa ateno etnogrfica. A potica e a poltica da etnografiaso iluminadas pela potica e pela poltica do discurso dentro dascomunidades sobre as quais e dentro das quais ns escrevemos. Nossosdilogos com nossos interlocutores etnogrficos esto dialeticamenterelacionados aos seus dilogos entre si e aos nossos dilogos quandoretornamos s nossas casas. Anlises orientadas pela performance esto,ento, bem posicionadas para continuar a misso crtica sobre a qualforam fundadas, testando nossas prprias concepes da linguagem enossa prpria prtica acadmica, ao buscar compreender o papel dalinguagem a da potica na vida social das culturas do mundo.

    Agradecimentos

    Durante a elaborao deste ensaio ambos os autores receberambolsas do National Endowment for the Humaties, que so aqui reconheci-das com gratido. Tambm somos gratos Universidade de Indiana eVassar College pelos fundos para viagem que possibilitaram nossa cola-borao. Como apontado, a seo Entextualizao eDescontextualizaoreflete profundamente as discusses do semin-rio sobre Textos e Poder promovido pelo Center for Psychosocial Studiese organizado por Michael Silverstein e Greg Urban. Gostaramos de

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    agradecer aos membros do seminrio por suas contribuies intelectu-ais para este trabalho: Donald Brenneis, James Collins, VincentCrapanzano, William Hanks, John Haviland, Judith Irvine, BenjaminLee, John Lucy, Elizabeth Mertz, Richard Parmentier, Michael Silverstein,Greg Urban e Bernard Weissbourd. Michael Herzfeld e Hugh Mehanforam os debatedores da uma mesa redonda [em um encontro] daAmerican Anthropological Association, baseada no trabalho do GrupoTextos e Poder, e ofereceram valiosos comentrios. Estes colegas noso, evidentemente, responsveis pelas falhas lgicas e expositivas emnossa apresentao. Tambm gostaramos de agradecer a John Lucypor ter compartilhado conosco seu trabalho11 em andamento sobre falacitada [reported speech].12

    Notas

    * O artigo aqui traduzido foi publicado como Poetics and Performance as CriticalPerspectives on language and social life, no Annual Review of Anthropology, 19:59-88, de 1990. Aparece aqui sob permisso do autor e do peridico.

    1NT: Artful no se refere a algo artistico, mas a algo que marcado por uma habili-dade diferenciada ou especial, algo feito de maneira mais habil do que o normalou de qualidade distinta.

    2 NT: Niko Besnier, Language and Affect, publicado em Annual review of Anthropology,19:419-51, 1990.

    3 NT: bow songs so estrias contadas ao som de msica produzida por arcos ondeso presas sinetas. Agradeo a Rafael Menezes Bastos pela informao.

    4 NT: Referncia fbula do elefante e os homens cegos que no conseguem percebero elefante como um todo, mas apenas suas diferentes partes isoladamente.

    5 NT: Literalmente, sinal de retroalimentao. Mantenho o termo em ingls porqueeste assim usado enquanto termo tcnico no campo da msica.

    6 NT: O autor refere-se aqui cultura e sociedade hispnicas que incluem a regio dosudoeste dos Estados Unidos, territrio anexado pelo estado americano no finalda guerra Mxico-Estados Unidos (1846-1848).

    7 Como esta uma formulao preliminar e programtica de uma linha de pesquisaque est comeando a tomar forma, no a enquadramos como uma reviso daliteratura. Na verdade, atravs de citaes, conectamos nosso esboo a pesquisasanteriores sobre as quais esta abordagem pode ser construda. Esta parte do textodeveria ser lida em conjunto com o artigo de William Hank sobre

    textos e textualidade (Text and Textuality) publicado em 1989 no Annual Review ofAnthropology (126).

    8 A questo da descontextualizao (e recontextualizao, qual voltaremos maisadiante) tem sido o foco principal de um seminrio no Centro de EstudosPsicosociais [NT: em Chicago], principalmente sob a rubrica do descentramento erecentramento do discurso. Estes termos baseiam-se no uso ps-estruturalista, aooferecerem uma crtica s perspectivas nas quais esse uso radicado (34). Atravs

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    do trabalho dos membros deste grupo, estes termos comearam a ganhar umacirculao mais ampla na antropologia lingstica (ver como exemplo 126, 200).Empregamos centramento, descentramento e recentramento aqui de modointercambivel com contextualizao, descontextualizao erecontextualizao.

    9 NT: Footing um desdobramento do conceito de enquadre de Goffman, e est ligado negociao dos enquadres pelos participantes do discurso. O conceito foi intro-duzido em Footing, texto publicado em Semiotica, 25:1-29 em 1979, e traduzidopara o portugus em Sociolingistica Interacional, organizado por Branca Telles Ribeiroe Pedro M. Garcez (1998, Editora AGE, Porto Alegre).

    10 NT: Mentifacts, artefatos e fatos-sociais seriam as trs dimenses constitutivas dacultura para o bilogo Julian Huxley, ou o equivalente dimenso ideolgica dacultura segundo a diviso analtica de Leslie White.

    11 NT: John Lucy editou o livro Reflexive Language: Reported Speech and metapragmatics,publicado em 1993, pela Cambridge University Press.

    12 NT e NR: Gostaramos de agradecer a imprescindvel colaborao de E. Jean Langdonpara esta traduo, que alm de coment-la tambm garantiu a obteno dosdireitos de traduo.

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