Polimeros

23
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo PCC-5726 Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo Prof. Dr. Vahan Agopyan POLÍMEROS – PROPRIEDADES, APLICAÇÕES E SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL ALUNOS Michel Haddad Reinaldo de A. Sampaio MAIO / 2006

Transcript of Polimeros

Page 1: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

PCC-5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil

Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo

Prof. Dr. Vahan Agopyan

POLÍMEROS – PROPRIEDADES, APLICAÇÕES E SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

ALUNOS

Michel Haddad

Reinaldo de A. Sampaio

MAIO / 2006

Page 2: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

2

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1.1 Histórico 1.2 Definição de polímeros 1.3 Classificações 1.3.1 Quanto à estrutura molecular 1.3.2 Quanto ao comportamento térmico 1.4 Fontes de matéria prima 1.4.1 Produtos naturais 1.4.2 Hulha ou carvão natural 1.4.3 Petróleo 1.5 Transições térmicas dos polímeros 1.5.1 Temperatura de transição vítrea (Tg ou Tv) 1.5.2 Temperatura de fusão cristalina (Tm ou Tf) 2. PROPRIEDADES DOS POLÍMEROS 2.1 Propriedades Mecânicas 2.2 Propriedades Térmicas 2.3 Propriedades Óticas 2.4 Resistência a Intempéries e Ações Químicas 3. APLICAÇÃO DOS POLÍMEROS NA CONSTRUÇÃO CIVIL 3.1 Instalações Hidráulicas Prediais 3.2 Instalações Elétricas 3.3 Fechamento de Fachadas – Esquadrias 3.4 Fechamentos de Coberturas – Telhas 3.5 Pisos, Revestimentos e Forros 3.6 Revestimentos 3.7 Selantes 3.8 Tintas e Vernizes 4. SUSTENTABILIDADE DOS POLÍMEROS NA CONSTRUÇÃO CIVIL 5. CONCLUSÕES 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Page 3: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

3

1. INTRODUÇÃO

1.1 Histórico

O primeiro contato do homem com materiais resinosos e graxas extraídas e/ou refinadas

se deu na Antigüidade, com os egípcios e os romanos, que os usaram para carimbar, colar

documentos e vedar vasilhames. No século XVI, espanhóis e portugueses tiveram o primeiro

contato com o produto extraído da seringueira. Esse extrato, produto da coagulação e secagem

do látex, apresentava características de alta elasticidade e flexibilidade desconhecidas até então

que recebeu o nome de borracha pela sua capacidade de apagar marcas de lápis. Sua utilização

foi bastante restrita até a descoberta da vulcanização por Charles Goodyear, em 1839 que confere

à borracha as características de elasticidade, não-pegajosidade e durabilidade. Em 1846,

Christian Schónbien, químico alemão, tratou o algodão com ácido nítrico, dando origem à

nitrocelulose, primeiro polímero semi-sintético. Em 1862, o inglês Alexander Parker dominou

completamente essa técnica, patenteando a nitrocelulose (ainda é comum a cera Parquetina,

nome derivado de Parker). Em 1897, Krishe e Spittller, na Alemanha, conseguiram um produto

endurecido por meio da reação de formaldeído e caseína, uma proteína constituinte do leite

desnatado (Canevarolo, 2002).

No início do século XX, ficou provado que alguns materiais, produzidos pela Química

incipiente do final do século e que até então eram considerados como colóides, consistiam na

verdade de moléculas gigantescas, que podiam resultar do encadeamento de 10.000 ou mais

átomos de carbono. Quando suas estruturas químicas não apresentavam unidades estruturais

regularmente repetidas, essas moléculas foram chamadas macromoléculas. Os memoráveis

trabalhos de Staudinger, considerado pai dos polímeros, corroborados pelas investigações de

outros pesquisadores, como Mark e Marvel, comprovaram que a natureza dessas

macromoléculas era semelhante à das moléculas pequenas, já conhecidas, e possibilitaram o

desenvolvimento dos materiais poliméricos de modo muito acentuado (Mano, 2000).

O primeiro polímero sintético foi produzido por Leo Baekeland em 1912, obtido pela

reação entre fenol e formaldeído. Essa reação produzia um produto sólido (resina fenólica), hoje

conhecido por baquelite, termo derivado do nome de seu inventor (Canevarolo, 2002). Muitos

dos plásticos, borrachas e materiais fibrosos que nos são úteis nos dias de hoje consitem em

polímeros sintéticos. De fato, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o campo dos materiais

foi virtualmente revolucionado pelo advento dos polímeros sintéticos. Os materiais sintéticos

Page 4: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

4

podem ser produzidos de maneira barata, e as suas propriedades podem ser administradas num

nível em que muitas delas são superiores às suas contrapartes naturais (Callister, 2002).

Tabela 1 - Primeira ocorrência e primeira produção industrial de alguns polímeros comerciais (Canevarolo, 2002).

Polímero 1ª ocorrência 1ª produção industrial

PVC 1915 1933

PS 1900 1936/7

PEBD (LDPE) 1933 1939

NYLON 1930 1940

PEAD (HDPE) 1953 1955

PP 1954 1959

PC 1953 1958

1.2 Definição de Polímeros

A palavra polímero origina-se do grego poli (muitos) e mero (unidade de repetição).

Assim, um polímero é uma macromolécula composta por muitas (dezenas de milhares) de

unidades de repetição denominadas meros, ligados por ligação covalente. A matéria-prima para a

produção de um polímero é o monômero, isto é, uma molécula com uma (mono) unidade de

repetição (Canevarolo, 2002).

1.3 Classificações

Dependendo do tipo de monômero (estrutura química), do número médio de meros por

cadeia e do tipo de ligação covalente, poderemos dividir os polímeros em três grandes classes:

Plásticos, Borrachas (ou Elastômeros) e Fibras (Canevarolo, 2002). Uma classificação mais

abrangente cita ainda os Revestimentos, os Adesivos, as Espumas e as Películas (Callister,

2002). Muitos polímeros são variações e/ou desenvolvimentos sobre moléculas já conhecidas

podendo ser divididos em quatro diferentes classificações (Canevarolo, 2002):

• Quanto à estrutura química;

• Quanto ao método de preparação;

• Quanto ao comportamento mecânico;

• Quanto ao desempenho mecânico.

Page 5: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

5

No entanto, para melhor compreensão da relação entre suas características e o efeito

sobre o desempenho dos materiais compostos por polímeros, quando empregados na construção

civil, será abordada a classificação de Callister (2002) quanto à estrutura molecular e quanto à

sua resposta mecânica a temperaturas elevadas, ou seja, quanto ao comportamento térmico.

1.3.1 Quanto à estrutura molecular

Polímeros Lineares: as unidades mero estão unidas ponta a ponta em cadeias únicas. São

cadeias flexíveis em que podem existir grandes quantidades de ligações de van der Waals entre

si. Ex: Polietileno, Cloreto de Polivinila, Poliestireno, Polimetil Metacrilato, Nylon e

Fluorocarbonos.

Polímeros Ramificados: cadeias de ramificações laterais encontram-se conectadas às cadeias

principais, sendo consideradas parte das mesmas, sendo que a compactação da cadeia é reduzida,

resultando em polímeros de baixa densidade. Polímeros lineares também podem ser ramificados.

Polímeros com Ligações Cruzadas: cadeias lineares adjacentes ligadas umas às outras, em

várias posições por ligações covalentes. Estas ligações, não reversíveis, são obtidas durante a

síntese do polímero a altas temperaturas e são encontradas em muitos dos materiais elásticos

com características de borracha.

Polímeros em Rede: unidades mero com três ligações covalentes ativas, formando redes

tridimensionais. Polímeros com muitas ligações cruzadas podem ser caracterizados como

polímeros em rede e possuem propriedades mecânicas e térmicas distintas. Ex: Materiais de base

epóxi e fenolformaldeído.

Homopolímeros: quando todas as unidades repetidas dentro da cadeia constituem-se do mesmo

tipo de mero.

Copolímeros: quando as unidades repetidas dentro da cadeia constituem-se de dois ou mais tipos

de meros diferentes.

1.3.2 Quanto ao comportamento térmico

Polímeros Termoplásticos: Sob efeito de temperatura e pressão, amolecem assumindo a forma

do molde. Nova alteração de temperatura e pressão reinicia o processo, sendo, portanto,

recicláveis. Em nível molecular, à medida que a temperatura é elevada, as forças de ligação

secundárias são diminuídas (devido ao aumento do movimento molecular), de modo tal que o

movimento relativo de cadeias adjacentes é facilitado quando uma tensão é aplicada. Os

Page 6: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

6

termoplásticos são relativamente moles e dúcteis e compõem-se da maioria dos polímeros

lineares e aqueles que possuem algumas estruturas ramificadas com cadeias flexíveis. Ex: PE,

PP, PVC, etc.

Polímeros Termofixos: Ou termorrígidos, sob efeito de temperatura e pressão, amolecem

assumindo a forma do molde. Nova alteração de temperatura e pressão não faz efeito algum,

tornando-os materiais insolúveis, infusíveis e não-recicláveis. Durante o tratamento térmico

inicial, ligações cruzadas covalentes são formadas entre cadeias moleculares adjacentes; essas

ligações prendem as cadeias entre si para resistir aos movimentos vibracionais e rotacionais da

cadeia a temperaturas elevadas, sendo que o rompimento destas ligações só ocorrerá sob

temperatura muito elevadas. Os polímeros termofixos são geralmente mais duros, mais fortes e

mais frágeis do que os termopláticos, e possuem melhor estabilidade dimensional. Ex: Baquelite

(resina de fenol-formaldeído), epóxi (araldite), algumas resinas de poliéster, etc.

1.4 Fontes de matéria prima

O custo de um polímero depende basicamente de seu processo de polimerização e

disponibilidade de monômero, dos quais os principais fornecedores de matéria-prima podem ser

divididos em três grupos (Canevarolo, 2002):

1.4.1 Produtos naturais

Citam-se, como mais importantes, a celulose, carboidrato que está presente em quase

todos os vegetais e a borracha natural, encontrada no látex da seringueira, como uma emulsão

de borracha em água. Outros produtos de menor importância também podem produzir polímeros,

como por exemplo, o óleo de mamona (na produção de Nylon 11 e poliuretano) e o óleo de soja

(Nylon 9).

1.4.2 Hulha ou carvão mineral

O esquema a seguir demonstra a obtenção de alguns polímeros a partir da destilação do

carvão mineral.

Page 7: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

7

Figura 1 - Obtenção de alguns polímeros a partir do carvão mineral (Canevarolo, 2002)

1.4.3 Petróleo

O esquema a seguir demonstra a obtenção de alguns polímeros a partir da destilação do

óleo cru.

Figura 2 - Obtenção dos principais monômeros a partir do petróleo (Canevarolo, 2002).

1.5 Transições Térmicas dos Polímeros

1.5.1 Temperatura de transição vítrea (Tg ou Tv)

A temperatura na qual o polímero experimenta a transição do estado no qual apresenta

características de uma borracha para o estado rígido é chamada de temperatura de transição

vítrea (Callister, 2002) ou, na situação inversa, no estado vítreo caracterizado por se apresentar

duro, rígido e quebradiço, abaixo desta temperatura, o polímero não tem energia interna

suficiente para permitir o deslocamento de uma cadeia com relação à outra por mudanças na

conformação (Canevarolo, 2002).

ÓLEO CRU

etileno etano

gasolina

propano

querosene GLP NAFTA asfalto óleo diesel

propileno butadieno isobutileno

GÁS DE HULHA

AMÔNIO

ALCATRÃO

COQUE

etileno metano

uréia e aminas

benzeno

etileno cloreto de vinila

acetileno

formaldeído

fenol

polietileno resinas fenólicas

agente de cura

poliuretano e PS

polietileno PVC

Page 8: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

8

1.5.2 Temperatura de fusão cristalina (Tm ou Tf)

A fusão de um cristal de polímero corresponde à transformação de um material sólido, contendo

uma estrutura ordenada de cadeias moleculares ordenadas, para uma estrutura altamente aleatória

(Callister, 2002). Neste ponto a energia do sistema atinge o nível necessário para vencer as

forças intermoleculares secundárias entre as cadeias da fase cristalina, destruindo a estrutura

regular de empacotamento, mudando do estado borrachoso para o estado viscoso, ou seja,

fundido (Canevarolo, 2002)

Tabela 2 - Temperaturas de Fusão e Transição Vítrea para alguns materiais poliméricos mais comuns (Callister, 2002).

Material Temperatura de transição

vítrea [ºC (ºF)]

Temperatura de Fusão

[ºC (ºF)]

Polietileno (baixa densidade) -110 (-165) 115 (240)

Politetrafluoroetileno -97 (-140) 327 (620)

Polietileno (alta densidade) -90 (-130) 137 (279)

Polipropileno -18 (0) 175 (347)

Nylon 6,6 57 (135) 265 (510)

Poliéster (PET) 69 (155) 265 (510)

Cloreto de Polivinila 87 (190) 212 (415)

Poliestireno 100 (212) 240 (465)

Policarbonato 150 (300) 265 (510)

2. PROPRIEDADES DOS POLÍMEROS

2.1 Propriedades Mecânicas

As propriedades mecânicas dos polímeros são especificadas através de muitos dos

mesmos parâmetros usados para os metais, isto é, o módulo de elasticidade, o limite de

resistência à tração e as resistências ao impacto e à fadiga, sendo que para muitos polímeros,

utiliza-se de gráficos tensão-deformação para a caracterização de alguns destes parâmetros

mecânicos. Os comportamentos típicos tensão-deformação dos polímeros são mostrados na

figura 3. A curva A ilustra o comportamento de polímeros frágeis, que apresentam ruptura no

trecho elástico. A curva B apresenta comportamento semelhante a aquele encontrado em

materiais metálicos e caracteriza o trecho inicial elástico, seguido por escoamento (limite de

Page 9: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

9

escoamento σ1) e por uma região de deformação plástica até a ruptura à tração (limite de

resistência à tração LRT) que pode obter valores maiores ou menores que o limite de

escoamento. A curva C é totalmente elástica, típica da borracha (grandes deformações

recuperáveis mesmo sob pequenos níveis de tensão) e é característica da classe dos Elastômeros

(Callister, 2002).

Figura 3 - Comportamento tensão-deformação para polímeros (Callister, 2002).

Apesar do comportamento mecânico parecido, os polímeros podem ser, em alguns

aspectos, mecanicamente diferentes dos metais, como por exemplo, em relação ao módulo de

elasticidade, limite de resistência à tração e alongamento, sendo que as diferenças encontram-se

expressas na tabela 3 a seguir (Callister, 2002).

Tabela 3 - Comportamento mecânico Metais x Polímeros.

Propriedade Metais Polímeros

Módulo de Elasticidade 7 MPa a 4 GPa 48 a 410 GPa

Limite de resistência à tração 100 MPa 4,1 GPa

Alongamento 100% 1000%

0 1 2 3 4 5 6 7

10

20

30

40

50

60

A

B

C

Tensão (MPa)

Deformação

σσσσ1 LRT

Page 10: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

10

2.2 Propriedades Térmicas

Além das propriedades térmicas que caracterizam os polímeros como termopláticos ou

termofixos e das transições térmicas dos polímeros, pontos importantíssimos na escolha dos

materiais adequados para a aplicação como materiais de engenharia, citados nos itens anteriores,

destacam-se a baixa condutividade térmica e altos coeficientes de dilatação térmica linear

quando comparados a materiais não poliméricos, quatro a cinco vezes maiores, da ordem de 0,2

a 2,3x10-4 ºC-1 (Mano, 2000).

2.3 Propriedades Óticas

A principal propriedade ótica a ser considerada neste trabalho é a transparência,

apresentada por polímeros amorfos ou com muito baixo grau de cristalinidade, quantitativamente

expressa pela transmitância (razão entre a quantidade de luz que atravessa o meio e a quantidade

de luz que incide perpendicularmente à superfície, podendo alcançar até 92% nos plásticos

comuns). Materiais poliméricos muito cristalinos tornam-se translúcidos ou semitransparentes,

ou mesmo opacos.

2.4 Resistência a Intempéries e Ações Químicas

As características mecânicas dos polímeros são muito sensíveis à natureza química do

ambiente, ou seja, na presença de água, oxigênio, solventes orgânicos, etc. (Callister, 2002).

Dentre as propriedades químicas mais importantes estão a resistência à oxidação, ao calor, às

radiações ultra-violeta, à água, a ácidos e bases, a solventes e reagentes (Mano, 2000), conforme

descrito a seguir:

Oxidação: Resistência aumenta em macromoléculas apenas com ligações simples entre átomos

de carbono. Ex: PE, PP. Resistência é menor particularmente em borrachas rompendo as cadeias

e na presença de ozônio. Ex: devido a centelhas elétricas nas imediações de tomadas se forma

ozônio.

Calor: Resistência é maior abaixo da temperatura de transição vítrea. Resistência é menor

frequentemente com a presença de oxigênio pela ruptura das ligações covalentes dos átomos nas

cadeias macromoleculares. Ex: PVC.

Page 11: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

11

Raios Ultra-Violeta: Resistência é menor em macromoléculas com dupla ligação entre átomos

de carbono. Ex: Fissuras e rachaduras com a fragmentação do PP ou LDPE, expostos à luz do

sol.

Umidade: Polímeros que absorvem água sofrem alteração de volume, podendo aumentar o peso

do material. Resinas fenólicas, por exemplo, no caso de cura incompleta dos laminados, incham,

mudam de tamanho e sofrem delaminação.

Ácidos: O contato com ácidos em geral, em meio aquoso, pode causar a parcial destruição das

moléculas poliméricas. Ex: Resinas melamínicas e produtos celulósicos sofrem alteração em

meio ácido mesmo diluído.

Bases: Soluções alcalinas, usualmente aquosas, em maior ou menor concentração, são bastante

agressivas a polímeros cuja estrutura apresente certos agrupamentos como carboxila, hidroxila,

fenólica e éster. Ex: Resinas fenólicas e epoxídicas.

Solventes e Reagentes: Quando as moléculas do solvente são mais afins com as do polímero do

que com elas próprias, podem penetrar entre as cadeias macromoleculares, gerando interações

físico-químicas. Forças inter-moleculares como pontes de hidrogênio, ligações dipolo-dipolo ou

mesmo forças de Van der Waals, permitem a dispersão, a nível molecular, dos polímeros, isto é,

sua dispersão.

3. PRINCIPAIS APLICAÇÕES DOS POLÍMEROS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Nas últimas décadas, os polímeros têm sido cada vez mais solicitados na Construção

Civil, e de forma concomitante, a eficiência desses materiais está invadindo os projetos de

edifícios, buscando substituir materiais considerados até então, de maior nobreza como o aço, a

madeira, o barro e o concreto na execução das obras.

Para ter-se idéia da importância dos polímeros (plásticos) na construção civil, estes

materiais detêm seu segundo maior mercado neste setor, perdendo apenas para o de embalagens,

quanto à utilização como matéria-prima.

Neste capítulo são apresentados os componentes construtivos e seus subsistemas,

acentuando-se as características e propriedades dos mesmos e dos polímeros com os quais foram

obtidos e suas reações de polimerização.

Page 12: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

12

3.1 Instalações hidráulicas prediais

A qualidade das instalações hidráulicas prediais, no seu conceito mais amplo, é

fundamental para a qualidade da edificação como um todo. O usuário final deseja que a

instalação hidráulica predial possa suprir as suas necessidades com baixo custo, durabilidade,

manutenção fácil e barata. Por outro lado, o construtor ou o empreendedor de uma edificação

deve procurar componentes e sistemas com qualidade, baixo custo, facilidade de execução e

também de manutenção. (Manual OPP/TRIKEM, 1998, p. 08).

Os polímeros podem ser usados para instalações prediais de água, esgoto sanitário e

captação e condução de águas pluviais.

Em instalações hidráulicas prediais de água, há uma utilização cada vez maior dos seus

componentes produzidos em polímeros. No caso do PVC (poli cloreto de vinila), segundo o

manual TRIKEM (1988), é utilizado basicamente para a condução ou manuseio de água à

temperatura ambiente e no caso da condução de água quente são indicadas às tubulações de

CPVC (poli cloreto de vinila clorado), semelhante ao PVC, porém com maior estabilidade em

relação à água quente.

As tubulações baseadas em PVC são indicadas para aplicações em edificações

residenciais, comerciais e industriais.

Segundo ACETOZE (1996), e VANDERGORIN (1987) as características dos

componentes, em PVC, são que estes possuem juntas estanques (soldadas ou rosqueadas), tem

menor custo de material e de mão-de-obra em relação aos materiais tradicionalmente utilizados,

são resistentes à corrosão, a lisura das paredes internas resulta em maior velocidade do fluxo e

menos formação de depósito, não são condutores de eletricidade, coeficiente de expansão

térmica muito maior que outros matérias, são praticamente imunes ao ataque de bactérias e

fungos, possuem densidade menor que materiais tradicionais como cerâmica e ferro galvanizado.

3.2 Instalações elétricas

Dentre os componentes elétricos, podem ser citados os eletrodutos para a passagem de

fios e cabos, internamente às paredes das construções; perfis para instalações elétricas aparentes;

fios e cabos com isolamento; e componentes terminais da instalação (caixas, espelhos, tomadas,

interruptores e outros). Estes componentes elétricos são bastante difundidos por permitir um bom

isolamento elétrico e por minimizar os efeitos de curto circuito originados dos fios descascados.

Há ainda, os dutos e subdutos responsáveis pela passagem de calor.

Page 13: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

13

Os polímeros mais largamente empregados para confecção destes materiais são: PVC

(poli cloreto de vinila), PS (poliestireno), PE (polietileno), PP (polipropileno), PPO

(polióxifenileno) e o PCTFE (politrifluorcloroetileno). O PVC é o único polímero aplicado na

produção de todos os componentes elétricos; enquanto que o OS é aplicado com maior

constância em cabos elétricos; o PE e PP em isolamento de cabos elétricos; o PPO em relés e

interruptores e o PCTFE em diversos componentes para equipamentos elétricos.

Os fios são filamentos formados por um condutor e os cabos, formados por vários

condutores. No caso destes componentes em PVC, podem ser utilizados em instalações elétricas,

telefônicas, antenas de televisão e FM, localizados em edificações residenciais, comerciais e

industriais e subestações transformadoras.

Os eletrodutos poliméricos são destinados ao alojamento e proteção dos fios elétricos e

podem ser rígidos ou flexíveis e possuem em comum a elevada resistência à compressão, o que

permite que sejam embutidos em lajes, paredes e pisos.

Os dutos e subdutos de PVC são utilizados em instalações subterrâneas de redes elétricas

e de telefonia, ou seja, têm a função de proteger cabos e fibras óticas.

Conforme já mencionado existem ainda outros componentes como os relés e interruptores

normalmente confeccionados em PPO.

Dentre as características dos polímeros empregados na confecção dos diferentes materiais

apresentados podemos destacar segundo ACETOZE (1996) que são auto-extinguíveis, ou seja, se

não houver presença de chama externa, o fogo se apaga naturalmente, em alguns casos o PVC

pode ser tratado com aditivos resistentes a ação da luz solar para instalações de fiação externa,

não sofrem corrosão e são imunes às composições das argamassas e concretos no caso dos

eletrodutos, possuem baixa densidade, são bons isolantes elétricos, acompanham as

acomodações do solo no caso dos dutos e subdutos.

3.3 Fechamento de fachadas – Esquadrias e portas

Os perfis de esquadrias de PVC foram lançados na Alemanha entre 1955 e 1960 e

atualmente representam uma parcela significativa das esquadrias vendidas nos mercados europeu

e americano.

As primeiras tentativas de produção e comercialização de esquadrias sintéticas, no Brasil,

datam de meados da década de setenta quando ainda se importava o PVC, e a partir de 1979

inicia-se no Brasil a produção, em maior escala, das esquadrias de PVC, basicamente com

tecnologia alemã e austríaca.

Page 14: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

14

Atualmente o PVC domina 50% do mercado de esquadrias da Europa e supera os 30%

nos EUA, sendo que no Brasil permanece estacionado na casa dos 5%. Segundo os fabricantes

de esquadria de PVC a construção, em geral, vai demorar mais alguns anos até assimilar os

benefícios desta tecnologia por dois motivos básicos: excesso de tradicionalismo e

desconhecimento quanto à redução no consumo de energia elétrica, proporcionado pelo uso do

PVC.

A janela é um componente construtivo que pode ser discutido sob diversos pontos de

vista, ou seja, para o arquiteto e projetista ela representa um elemento que corta a fachada,

interrompe sistemas de divisórias ou tetos e requer detalhamento especial de suas interfaces em

conjunto com estes sistemas. Na opinião do construtor, a janela é um elemento onde o

funcionamento de vários matérias e componentes devem estar em harmonia, ou então, na opinião

do usuário, a janela traz luz natural, ar fresco e uma vista do exterior. Em suma, independente de

qualquer ponto de vista, a janela é um componente de fachada que filtra as condições externas

para as internas e, ainda tem possibilidades de ser operável e oferecer certo grau de transparência

à luz natural.

Os parâmetros básicos para o comportamento das janelas são o bom desempenho durante

o uso e a durabilidade ao longo do tempo. Estes fatores devem ser garantidos por um sistemático

controle de qualidade, iniciado ainda na fase do projeto através da tipologia e do material que

constituem a janela.

A implantação de janelas de PVC no projeto e construção de edifícios tem sido realizada

obedecendo a certas exigências da qualidade como segurança, habitabilidade, durabilidade e

qualidade dos dispositivos complementares. Ao se comparar o custo de esquadrias fabricadas

com materiais distintos, no caso o PVC e o alumínio, deve-se considerar determinados aspectos

como o desempenho da esquadria; se a esquadria é fornecida com vidro e persiana; o custo de

instalação da esquadria e do vidro, entre outros aspectos.

A fabricação das portas de PVC baseia-se na mesma formulação utilizada para a

fabricação de janelas em PVC rígido. Atualmente a porta sanfonada em PVC rígido é um

produto bem sucedido devido à sua facilidade de limpeza, instalação e funcionamento, cujas

funções são dividir e decorar os ambientes. Quando recolhidas ocupam pouco espaço e podem

ser instaladas em paredes que já receberam acabamento.

Ainda podemos citar as persianas e venezianas que são perfis que formam um sistema par

escurecimento, proteção e resguardo dos ambientes que possuem caixilhos. As persianas são

constituídas de cortinas rígidas ou semi-rígidas de PVC, que podem ser recolhidas. As

venezianas são elementos fixados em perfis de janelas ou porta-balcão, fazendo parte integrante

Page 15: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

15

do caixilho. É muito comum mesclar o uso de PVC com outros materiais nas venezianas como o

alumínio.

3.4 Fechamento de coberturas – Telhas

As telhas plásticas utilizadas atualmente, são as telhas de PVC rígido, aplicadas em

combinação com outros tipos de telhas; além das telhas de policarbonato, fibra de vidro e

plipropileno, fabricadas no Brasil.

No caso das telhas de PVC, podem ser utilizadas em edificações residenciais, comerciais

e industriais, mas são especialmente indicadas para locais onde se deseja a passagem de luz

natural, diminuindo assim a necessidade de luz artificial, durante o período diurno. Essa

aplicação só é possível graças às propriedades do PVC neste caso de apresentarem-se

translúcidos ou opacos, com grande resistência química e apresentarem boa absorção acústica e

térmica.

As telhas de fibra de vidro, também chamadas de fiberglass ou vitrofibra, e com sigla

GRP ou RP, é na verdade um material que combina fibras de vidro e resina, ou seja, as fibras de

vidro reforçam um laminado de poliéster conferindo-lhe ótimas propriedades. As características

das telhas de fibra de vidro são baixo peso, permitindo fácil manuseio na aplicação e economia

no transporte; alta resistência mecânica; boa resistência química; menor custo de acabamento;

boa resistência a fortes intempéries, dispensa manutenções e oferece facilidade de reparos, no

caso de danificação de uma estrutura. Essas telhas são caracterizadas por serem totalmente

translúcidas, sendo projetadas para diversas funções como iluminação zenital, cobertura, divisão,

decoração ou fechamento de ambientes.

As telhas de polipropileno (PP) fazem parte de uma nova tecnologia que está sendo

produzida em coberturas a partir de polímeros, e que consiste num sistema de módulos com

encaixes, formadas por agrupamentos de até seis telhas de PP, reproduzidas com o mesmo

design de telhas tradicionais.

O acrílico (polimetacrilado de metila) apresenta grandes vantagens em suas

características como a excelente transparência (transmite 90% da luz incidente), boa resistência a

intempéries, mesmo sem estabilizantes, funcionamento contínuo até 75°C, não estilhaça, é

brilhante e apresenta coeficiente de dilatação elevado. Entretanto o acrílico apresenta

combustibilidade. Entre os grandes projetos de coberturas acrílicas podemos citar a cobertura da

Expo Mundial do Canadá, e a cobertura da Estação Rodoviária de São Paulo.

Page 16: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

16

O PC (policarbonato) apresenta uma séria de vantagens como ótima resistência mecânica

a fluência e ao impacto (250 vezes maior que o vidro e 30 vezes maior que o acrílico) boa

resistência à deformação, mesmo com altas temperaturas (até 140°C), bom isolamento elétrico,

não propaga chama, e boa resistência química. Graças a estas propriedades, o PC tem ganhado

destaque nos últimos anos dentro do setor de construção civil.

3.5 Pisos, Revestimentos e Forros

Os pisos vinílicos são materiais produzidos a partir do PVC e apresentados no mercado

através de placas, pisos semiflexíveis ou mantas que são adaptados para aplicação em qualquer

ambiente interno como residências.

De acordo com SIMÕES E LEITE (1997), o piso vinílico é composto por resina de PVC

ou de copolímeros de cloreto de vinila ou ambos, plastificantes, estabilizantes, aditivos, cargas

inertes e pigmentos. No caso das mantas flexíveis pode haver a associação das mesmas a uma

manta de fibra de vidro, que aumenta a estabilidade dimensional do produto. Na categoria dos

pisos semiflexíveis, há ainda ladrilhos que podem ser constituídos por fibra de amianto. Os pisos

vinílicos podem apresentar as características interessantes, tais como: oferecem facilidade,

economia e rapidez na sua aplicação, são versáteis, podendo ser aplicados em diferentes

ambientes, resistência comprovada com relação à dureza e impacto, boa resistência a agentes

químicos com bases, sais e ácidos.

Podemos ainda mencionar os papéis de parede confeccionados em PVC. As

características mais importantes de um papel de parede em PVC na opinião de ACETOZE

(1995) são: a capacidade de suportar a lavabilidade, a estabilidade da cor, e a instalação fácil,

rápida e econômica.

Existem ainda com menos freqüência às telas em vinil, confeccionadas a partir de uma

base de tela de algodão recoberto com película de PVC, com espessura de 0,10 mm e gramatura

de 175 g/m2. São produtos de última geração e apresentam boa resistência à ação mecânica, são

laváveis e mantêm-se inalterados com o passar do tempo.

O forro pode ser descrito como uma barreira utilizada no interior das edificações, entre a

cobertura e os ambientes, com uma diversidade de funções como acabamento interior,

isolamento térmico, absorções sonoras, delimitação espacial e ocultação de redes de instalação.

Os painéis mais utilizados são os de gesso, fibras vegetais, resinas sintéticas

(principalmente PVC e acrílico), de madeira e de metal. Entre as propriedades dos polímeros

utilizados na confecção de painéis para forro de teto podemos destacar a instalação mais limpa e

Page 17: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

17

eficiente, a facilidade de limpeza, a baixa densidade, o ótimo isolamento acústico e elétrico, e um

bom desempenho térmico devido às cavidades internas que formam vazios de ar.

3.6 Tintas e vernizes

Por muitos séculos as tintas foram usadas apenas por seu aspecto estético. Mais tarde

quando foram introduzidas em paises onde as condições climáticas eram mais severas, passaram

a ser elaboradas dando importância ao aspecto proteção.

De maneira simplista podemos afirmar que as tintas são uma composição líquida,

geralmente viscosa, constituída de um ou mais pigmentos dispersos em um aglomerante líquido,

que ao sofrer um processo de cura, quando estendida em película fina, forma um filme opaco e

aderente ao substrato. Esse filme tem a finalidade de proteger e melhorar esteticamente às

superfícies. Sendo assim podemos isolar quatro componentes principais da tinta: resina,

pigmento, aditivo e solvente. A homogeneização destes componentes básicos resulta em um

líquido viscoso que ao ser aplicado nas superfícies atua como um sistema de proteção, após a

cura, contra o desgaste provocado por corrosão. No caso da construção, além de proteger as

superfícies de paredes, muros, tetos, pisos, clarabóias, esquadrias, entre outros, contra diversas

intempéries e ataques químicos, a tinta é também uma solução que envolve um acabamento

bonito, durável e de baixo custo.

As tintas base aquosa para alvenaria no Brasil são produzidas em sua grande maioria com

emulsões acrílicas-estirenadas. Existem as emulsões acrílicas puras, as vinilacrílicas e os PVAs

(poliacetato de vinila).

Como importantes propriedades das tintas podemos citar um baixo módulo de

elasticidade, uma grande resistência a intempéries, e ótima aderência ao substrato onde é

aplicada.

4. SUSTENTABILIDADE DOS POLÍMEROS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Atualmente está sendo dada muita ênfase à preservação e conservação do meio ambiente

como forma de garantir um desenvolvimento sustentável. Entre os diversos danos causados ao

meio ambiente, um está relacionado com os resíduos plásticos. Esses resíduos em geral, levam

muito tempo para sofrerem degradação espontânea e, quando queimados, produzem gases

tóxicos. Os polímeros correspondem a 8% em massa do resíduo sólido urbano e 20% em volume

Page 18: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

18

deste mesmo universo segundo Agnelli (1996). Os tipos de polímeros mais encontrados entre os

resíduos estão o poli(cloreto de vinila) (PVC), o poli(tereftalato de estireno) (PET), o polietileno

de alta e baixa densidade (PEAD), o poli(propileno) (PP), e o poli(estireno) (PS).

A fabricação de polímeros em 2002 foi destinada para: embalagens (39,73%), construção

civil (13,67%), descartáveis (11,55%), componentes técnicos (8,04%), agrícola (7,67%),

utilidades domésticas (4,72%), outros (14,62%). Sabemos que 16,5% dos plásticos rígidos e

filme, consumidos no Brasil, retornam à produção como matéria-prima, o que equivale a cerca

de 200 mil toneladas por ano. Deste total, 60% provêm de resíduos industriais e 40% do lixo

urbano, segundo estimativa da ABREMPLAST (Associação Brasileira de Recicladores de

Materiais Plásticos).

Embora a indústria de embalagem seja a maior produtora de resíduos poliméricos

encontrados dentro dos resíduos sólidos urbanos, a construção civil vem encontrando espaços

para reutilização de materiais poliméricos provenientes de outras indústrias. É o caso do (PET)

que depois das roupas, as garrafas usadas agora viram insumo para tintas, e até inusitado tubo

para esgoto predial, além de revestimento.

Variedade de plástico mais procurado para revalorização, o PET descobre novas vocações num

ritmo acelerado. Consolidado em diversos segmentos de mercado, o de vestuário inclusive, o

PET reciclado avança agora na fabricação de tintas, tubos, pisos e revestimentos. Estes estudos

ainda são recentes, e carentes de resultados comparativos entre materiais já consagrados no

mercado e utilizados para a mesma finalidade. Entretanto, no caso da produção de tubos para

esgoto predial, já existem empresas que detêm conhecimento e técnicas para fabricação deste

componente a partir de (PET) reciclado, e que atendam as exigências encontradas na norma

brasileira NBR 5688-99.

Outras oportunidades de reciclagem vêm sendo exploradas dentro da construção civil,

como a estudada pelo professor D’Abreu da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,

que pretende substituir a areia utilizada na construção civil pelo plástico triturado. Segundo o

professor D’Abreu, as primeiras experiências nesse sentido são promissoras. O principal motivo

para se adotar de vez a prática da reciclagem, na opinião de D’Abreu, é a causa ecológica. "O

plástico, por exemplo, vem do petróleo e a areia que pretendemos substituir é tirada dos leitos

dos rios. Com isso, a natureza é menos agredida", ensina.

Existem ainda empresas que se preocupam com a reutilização dos resíduos gerados pelos

seus produtos no mercado, como é o caso da Tetra Pak, que recebeu o prêmio Valor Social do

ano de 2004 por um projeto chamado “Embalagens longa vida viram telhas para construção

civil”.

Page 19: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

19

O PVC, um dos polímeros mais utilizados dentro da construção civil, principalmente para

a fabricação de tubos e conexões hidráulicos para instalações prediais, também é passível de

reciclagem, embora este polímero não gere volumes grandes de resíduo. Os resíduos de PVC

representam em média 0,8% do peso total do lixo domiciliar. Isso ocorre porque o PVC é mais

utilizado em produtos de longa duração, como tubos e conexões, fios e cabos para a construção

civil segundo o Instituto do PVC. O PVC reciclado tem diversas aplicações. É utilizado na

camada central de tubos de esgoto, em reforços para calçados, juntas de dilatação para concreto,

perfis, cones de sinalização, etc.

Embora seja muito importante utilizarmos materiais reciclados dentro da construção civil,

um estudo de sustentabilidade do material envolve mais do que isto. Precisamos estar

preocupados com a durabilidade do material, os impactos causados pela sua extração do meio

ambiente, e sua industrialização. Podemos dizer que o ciclo de vida deste material é muito

importante quando pretendemos compara-lo a outros materiais.

Em algumas aplicações, a utilização dos polímeros apresenta enormes vantagens a

materiais mais tradicionais por sua durabilidade. Este é o caso do PVC. Segundo o Instituto do

PVC este polímero apresenta ciclos de vida útil longos, que estão associados às suas aplicações.

Podem ser divididos da seguinte forma: 12% dos produtos têm vida útil de até 2 anos, como as

embalagens; 24% de 2 a 15 anos, como produtos utilizados na indústria automobilística e 64%

de 15 a 100 anos, como produtos da construção civil. Quando aplicado em tubos e conexões,

apresenta uma vantagem em relação aos tubos de aço galvanizado, porque não são passíveis de

oxidação. Como se encontram normalmente protegidos pela estrutura dos imóveis, estão livres

das ações das intempéries o que prolonga suas características por muitos anos. Não podemos

esquecer que o PVC, dentre todos os materiais usados na fabricação de esquadrias e portas é o

único que não necessita de camada de proteção frente aos ambientes agressivos. O alumínio

necessita de uma camada de anodização, a madeira precisa ser envernizada e o ferro precisa de

pintura. Os sistemas de pintura aplicados na madeira e no metal para garantir sua preservação e

durabilidade são, em geral, à base de solvente, e levam para a atmosfera materiais voláteis,

prejudiciais a natureza e a nossa saúde, como é o caso do xileno ou da águarraz encontrados em

muitas formulações.

As tintas apresentam uma parcela de materiais poluentes em sua formulação, sendo os

principais os solventes, coalescentes, plastificantes, e os biocidas, que são os materiais lixiviados

para o ambiente com maior facilidade. Entretanto o polímero empregado na formação de filme

das tintas não é um potencial gerador de impacto ambiental, considerando somente a aplicação

do produto. Entretanto a aplicação da tinta gera um desperdício considerável nos canteiros de

Page 20: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

20

obra. Os valores encontrados em pesquisas são médios, porque as faixas de variação entre

canteiros são muito grandes. Entretanto a conscientização da mão de obra quanto à diminuição

do desperdício de materiais é muito importante para a diminuição destes valores.

Os materiais poliméricos aplicados em exterior podem ter sua durabilidade questionada.

Uma vez que estão expostos a intempéries, estes materiais podem ter suas características

estéticas afetadas, como brilho e cor, e também suas propriedades químicas e mecânicas como

resistência ao impacto no caso das telhas. Embora estes polímeros sejam aditivados com

estabilizantes, como é o caso do polipropileno empregado em telhas substitutivas às cerâmicas

ou concreto, sua durabilidade pode ser inferior aos materiais tradicionais neste caso. Sua

manutenção ou substituição mais constante pode gerar sérios impactos ambientais. Entretanto,

uma consideração mais profunda deve levar em conta que estas coberturas são mais leves que as

tradicionais e necessitam de uma estrutura mais esbelta o que gera menor extração de materiais

do ambiente para a confecção dos telhados.

Embora apresentadas diversas vantagens para utilização do polímero na construção civil,

em relação à sustentabilidade do ambiente construtivo, uma preocupação deve ser a origem dos

polímeros, que em sua grande maioria está no petróleo, uma fonte de matéria-prima não

renovável. Esta preocupação já tem orientado algumas pesquisas, para fontes alternativas ao

petróleo na geração de energia e obtenção de polímeros. Hoje em dia já existem tecnologias

desenvolvidas para produção de alguns monômeros importantes como o estireno e ácido acrílico

através de fontes renováveis como o álcool etílico, a sintetização do bagaço de cana e do óleo de

mamona. Esta preocupação aumenta à medida que o petróleo torna-se cada vez mais escasso no

mercado, as reservas mundiais diminuem, e o consumo aumenta. Entretanto o petróleo

continuará sendo a principal fonte de matéria-prima para geração de polímeros por muitos anos.

5. CONCLUSÕES

Desde as primeiras aplicações de materiais poliméricos pelo homem, o avanço no campo

da pesquisa e também das tecnologias de processamento dos mesmos, permitiu que os polímeros

fossem empregados em diversos segmentos da indústria, aproveitando-se de suas propriedades, e

adequando-as às necessidades de cada aplicação.

Na indústria da construção civil este avanço permitiu, entre outras coisas, a substituição

de materiais clássicos como o vidro e a madeira, exibindo, à primeira vista, a promessa de

diminuição do impacto ambiental gerado pela extração destes produtos naturais. Por outro lado,

Page 21: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

21

muitos polímeros são gerados a partir de outras fontes naturais, como o petróleo, que também

constitui uma fonte de matéria prima não renovável, sendo que a maioria dos produtos naturais,

desde que extraídos de forma sustentável, podem ser plenamente renováveis.

A possibilidade de pré-fabricação dos componentes produzidos com materiais

poliméricos permite a diminuição do desperdício e geração de resíduos no canteiro. No entanto,

na posição de segundo maior consumidor de materiais poliméricos no mundo, com

aproximadamente 13,5% desta quantidade destinada à construção civil, não se deve

desconsiderar a geração de resíduos, uma vez que não se tratam, em geral, de materiais

biodegradáveis.

Mesmo assim, demonstra-se que é completamente possível a reciclagem de boa parte

destes resíduos sem perda das características iniciais dos materiais poliméricos, ressaltando a

possibilidade de total reaproveitamento dos mesmos, entretanto, o processo de reciclagem dos

polímeros é o mais caro, pois envolve seleção do material.

Finalmente, conclui-se que os polímeros constituem uma fonte importantíssima de

materiais para a solução de problemas técnicos de projeto mas sua aplicação deve ser orientada

de forma sustentável, coexistindo com soluções a partir de materiais naturais de forma a permitir

o equilíbrio do meio ambiente.

Page 22: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

22

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALLISTER Jr., William D. Ciência e Engenharia dos Materiais – Uma Introdução. LTC –

Livros Técnicos e Científicos S.A. Rio de Janeiro, 2002.

CANEVAROLO Jr., Sebastião V. Ciência dos Polímeros – Um Texto Básico para Tecnólogos e

Engenheiros. Artliber Editora. São Paulo, 2002.

CARASCHI, José Cláudio; LEÃO, Alcides Lopes. Avaliação das Propriedades Mecânicas dos

Plásticos Reciclados Provenientes de Resíduos Sólidos Urbanos. Botucatu, São Paulo, 2002.

Disponível em: www.ppg.uem.br/Docs/ctf/Tecnologia/2002/02_156_02_Jose%20Caraschi_

Avaliacao%20das%20propriedades%20Resumo.pdf. Acesso em 26/03/2006.

CHAVES, André Luiz de Oliveira. Os Polímeros Utilizados na Construção Civil e seus

Subsídios. EESC - Escola de Engenharia de São Carlos, Dissertação de Mestrado. São Carlos,

1998.

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Disposições sobre resíduos na Construção

Civil.

HOLLAWAY, Leonard C. (Ed.). Polymers and Polymers Composites in Construction. London,

1990.

INSTITUTO DO PVC. O PVC e o Meio Ambiente. Disponível em:

http://www.institutodopvc.org/meioamb.htm . Acesso em 03/05/06.

MANO, Eloísa Biasotto. Polímeros como Materiais de Engenharia. Editora Edgard Blücher

Ltda. São Paulo, 2000.

PUC – Pontifícia Universidade Católica. Concientização de trabalho através da reciclagem. Jornal da PUC, n. 90, junho, 1999.

RETO, Maria Aparecida de Sino. O papel da reciclagem em tempos modernos. Revista Plástico

moderno. Editora QD Ltda. pg 22, n. 374, 2005.

Page 23: Polimeros

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – PCC 5726 – Princípios da Ciência dos Materiais Aplicados aos Materiais de Construção Civil – Prof. Dr. Antonio Domingues de Figueiredo e Prof. Dr. Vahan Agopyan

Polímeros – Propriedades, Aplicações e Sustentabilidade na Construção Civil

23

__________. PET abre o leque para novos usos. Revista Plástico Moderno. Editora QD Ltda. n.

372, 2004.

SAUNDERS, K. J. Organic Polymer Chemistry. Chapman and Hall. London, 1973.