Politicas Publicas

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Aluno: Mateus Silva Leão RELATO/ROTEIRO DA VISITA Dia anterior: “Está prevista a visita a duas ubs’s do sus. Nós como turma nos dividiremos, e metade dos alunos irá para cada UBS (unidade Barão de Bagé e unidade Jardim Leopoldina). Confesso não saber muito bem o que encontrarei por lá (para além da ideia de postinho do senso-comum) e que formas de funcionamento interno serão observadas.” – Folha do meu caderno no dia anterior a visita Dia da visita: “Pegamos o ônibus juntos (primeiro estranhamento), levamos em torno de 1 hora para chegar ao local. Houve certa dificuldade para nos localizarmos, após perguntarmos a uma senhora onde ficava a UBS ela disse que não sabia, e coincidentemente a encontramos lá, fico pensando se ela não quis dizer onde ficava com medo da concorrência (fila) ou se ela realmente não entendeu o que seria uma unidade básica de saúde, talvez ela a conheça por postinho, ou algo do gênero. Chegando lá pude perceber um certo movimento de inquietação/estranhamento por parte dos usuários do serviço frente a nossa presença –eramos muitos, eramos estranhos-. Logo após chegar perguntei para algumas pessoas (funcionários) pela porta dos fundos se eu poderia entrar, expliquei que era aluno de psicologia e gostaria de conhecer a unidade, a porta se abriu, entrei pela cozinha que ficava nos fundos (e provavelmente era usada apenas por funcionários), passei por uma espécie de “setor tecnológico” onde haviam computadores, e uma pessoa sentada, logo em seguida cheguei ao corredor, diversas portas se mostravam ao avançar, portas que separavam saberes. Saí pela entrada. Fomos recebidos pela Marta e juntos fomos ao parque, sentamo-nos no chão e começamos a conversar. Nossa reunião durou em torno de duas horas e foi possivel falarmos sobre assuntos variados, desde o funcionamento da

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psicologia, sus. saúde mental

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Aluno: Mateus Silva Leo

RELATO/ROTEIRO DA VISITADia anterior: Est prevista a visita a duas ubss do sus. Ns como turma nos dividiremos, e metade dos alunos ir para cada UBS (unidade Baro de Bag e unidade Jardim Leopoldina). Confesso no saber muito bem o que encontrarei por l (para alm da ideia de postinho do senso-comum) e que formas de funcionamento interno sero observadas. Folha do meu caderno no dia anterior a visitaDia da visita: Pegamos o nibus juntos (primeiro estranhamento), levamos em torno de 1 hora para chegar ao local. Houve certa dificuldade para nos localizarmos, aps perguntarmos a uma senhora onde ficava a UBS ela disse que no sabia, e coincidentemente a encontramos l, fico pensando se ela no quis dizer onde ficava com medo da concorrncia (fila) ou se ela realmente no entendeu o que seria uma unidade bsica de sade, talvez ela a conhea por postinho, ou algo do gnero.Chegando l pude perceber um certo movimento de inquietao/estranhamento por parte dos usurios do servio frente a nossa presena eramos muitos, eramos estranhos-. Logo aps chegar perguntei para algumas pessoas (funcionrios) pela porta dos fundos se eu poderia entrar, expliquei que era aluno de psicologia e gostaria de conhecer a unidade, a porta se abriu, entrei pela cozinha que ficava nos fundos (e provavelmente era usada apenas por funcionrios), passei por uma espcie de setor tecnolgico onde haviam computadores, e uma pessoa sentada, logo em seguida cheguei ao corredor, diversas portas se mostravam ao avanar, portas que separavam saberes. Sa pela entrada. Fomos recebidos pela Marta e juntos fomos ao parque, sentamo-nos no cho e comeamos a conversar.Nossa reunio durou em torno de duas horas e foi possivel falarmos sobre assuntos variados, desde o funcionamento da UBS at caractersticas do local onde estvamos, passando por o outros temas que abrirei no trabalho terico. Acredito que fomos a este parque tanto por questoes de infra-estrutura (pouco espao na ubs), quanto por questes mais sociais e talvez at analticas, este parque o principal espao pblico do territrio.Aps o final da conversa retornamos a UBS onde o grupo visitou o local, em seguida pegamos o nibus e em uma hora chegamos ao instituto de psicologia.

..Para alm das paredes da ubs Jardim Leopoldina e do eixo norte-baltazarNo sei muito bem como falar do sus, pois parece que ao falarmos dele queremos mostrar a realidade deste servio, escrevo aqui meus pensamentos, ideias que talvez produzam mais dvidas do que concluses, escrevo tambm ideias que foram surgindo ao longo de nossa discusso e que de forma alguma devem ser interpretadas como verdades absolutas..Nos organizamos em crculo, sentamos na praa, por l iniciamos a conversa, reuniam-se parte dos alunos do terceiro semestre, a professora da disciplina, Marta (psicloga aposentada e ex/militante do sus/reforma psiquitrica que atualmente trabalha na UBS), um psiclogo, um estagirio da psicologia e um ltimo representante da odontologia.Falamos sobre a complexidade do servio e sobre a interdisciplinaridade que se tenta operar, em torno de 60 pessoas trabalham na ubs Jardim Leopoldina, dentre mdicos, psiclogos, agentes de sade, servio social, dentistas, falamos sobre o bairro, falamos sobre o estado, falamos sobre biopoltica, falamos sobre controle social, falamos de sade mental, entre outras coisas, enfim, falamos sobre diversos conceitos que julgamos importantes ao falarmos de SUS. Em seguida tentarei dialogar sobre estes temas, ou pelo menos alguns deles, juntando teoria e prtica. Alias, esta ideia de ir ver como o servio realmente funciona me despertou interesses, e me fez ver o outro lado do servio, o lado mais humano, o lado que tenta cuidar das relaes inter/entre-pessoais, o lado que tenta cuidar de uma esfera mais pblica...UM POUCO SOBRE O TERRITRIOFalamos sobre o territrio, tambm falamos sobre o quanto no haviamos tratado disso conceitualmente, portanto escrevo aqui o que pude entender/compreender sobre este conceito e sua aplicao. Necessrio diferenciar a ideia de territrio e de espao fsico, o territrio, para alm disso, fala das relaes de poder, fala dos modos de viver, fala sobre diversas camadas sociais, fala sobre questo conceituais e prticas.Falamos sobre como este territrio (norte-baltazar) era previlegiado, a UBS recebe fundos do governo federal (pelo que pude entender), enquanto quase todos os outros territrios da cidade recebem fundos do muncipio. Esto operando 23 unidades de ateno bsica neste territrio.Falamos sobre a inexistncia da infncia, sobre como os pais no deixam as crianas sairem por medo, sobre como os prdios dificultam as relaes entre pessoas, porm vimos crianas pequenas brincando na praa, vimos jovens e adolescentes, vimos uma turma da escola praticando esportes, apesar de que foi tentado falar que a praa onde estvamos no era ocupada, o que vimos foi um pouco diferente.Falou-se sobre a populao ser verticalizada (vivem em prdios), sobre o quo pouco as pessoas se vem e conversam, sobre os jardins serem cobertos por galhos para protege-los, disse que a maioria das pessoas so idosos ou trabalhadores e foi pensado que estes apontamentos talvez tenham relao com a sade mental das pessoas..Gostaria de propor esta dialtica entre complexidades (das pessoas, do servio, do territrio) e multidiscplinaridade (por parte dos funcionrios). Esta multidisciplinaridade torna um psiclogo parte dentista, parte mdico, torna o dentista parte psiclogo e parte cuidador de sade mental, misturam-se os saberes e surgem novas formas de cuidado, tenta-se entender o contexto geral, tenta-se trabalhar holsticamente, tenta-se romper com a cultura da especializao. Nos foi dito que se tenta juntar mental e fsico, integrar o que est dividido, tambm tenta-se integrar o usurio com a sua famlia e com o local onde mora. Sobre a mistura dos saberes acho importante citar este trecho da pgina 23 do texto A psicologia e o susa Psicologia, tal como qualquer outro campo de saber/ poder no explica nada. ela mesma que deve ser explicada e isto s se d numa rela-o de intercesso com outros saberes/pode-res/disciplinas. no entre os saberes que a inveno acontece, no limite de seus pode-res que os saberes tm o que contribuir para um outro mundo possvel, para uma outra sade possvel.

SADE UM DIREITO DE TODOS, DEVER DO ESTADOOra, me parece que ao dizermos que a sade um direito do cidado, empoderamos a mquina do estado para tratar deste tema, dizemos que o Sus no um servio estatal, e de fato no , mas no h como negar que o SUS est em relao com o estado e com seus representantes indicados, e com os civis, e com os tcnicos e profissionais da sade (constituindo um rizoma), toda esta transversalidade, atravessamentos que vem de todos os lados me parecem complexificar o sus e seus servios, Sus este que produto de lutas sociais e tericas, de movimentos instituintes contra as instituies (LOUCURA, MANICMIOS, CURA, etc) e de instituies vigentes, no mais operamos somente com a lgica hospitalar, nem somente com a lgica privada dos planos de sade, focamos na preveno e na manuteno da sade pblica.Este novo paradigma, esta nova forma de promover sade que o sus vem aplicando primeiramente me pareceu quase ideal, considero que realmente houveram muitos avanos. Porm remeteu-me a outros pensamentos, novamente com Fuganti, na pgina 670 vemos isto: Dar sade a todos, dar acesso a todos? Democratizar o acesso sade? Valores universais, todos tm direito a isso e a aquilo. Habituamo-nos a achar que os valores universais do homem so inquestionveis, portanto, a v-los como soluo. Mas investir em valores universais sintomtico. O valor universal uma maneira de falsificar a realidade. Em nome dos valores universais cometeram-se as piores atrocidades.Penso sobre essa possivel tentativa de falsificar a realidade, de falarmos que damos sade para todos, mas na pratica focamos em determinadas classes sociais, ou em determinadas reas, talvez em um certo esteretipo de brasileiro, o pobre. Falo isso pois perguntei a muitas pessoas se j haviam recebido visitas de algum do sus, e a resposta foi no.Portanto, no fazemos nada de bom, nobre, afirmativo, real e necessrio enquanto fazemos ou pensamos algo em nome de. A linguagem no neutra e, muito menos, o pensamento feito de valores universais. Fuganti, Biopoltica, pg 670Parece contraditrio a noo da sade ser um direito de todos e dever do estado, parece que operamos em nome das pessoas, por elas, quando na verdade deveriamos ouvir, deveriamos trabalhar nas singularidades e nas potncialidades, em vez de trabalharmos com valores universais. Acredito que tenta-se operar desta forma, como Marta mesmo falou, tenta-se operar conforme as demandas dos usurios, mas parece que contradies surgem nestas relaes. Finalizo este trecho ainda com o texto de Fuganti, na pgina 770 Segundo Foucault, o poder pastoral busca sempre cuidar de cada ovelhinha do rebanho para que ela permanea em estado de demanda de uma instncia que no lhe pertence. A ovelha precisa do pastor, precisa da referncia. Existiria um rebanho humano? Seria o que chamamos de povo? Seria um tal povo que precisaria do SUS, da sade, do ministrio, do governo?

REFERENCIAS BIBLIOGRFICASFUGANTI, Luiz. Biopoltica e produo de sade: um outro humanismo? Interface v.13. supl. I, p.667-79, 2009.BENEVIDES, Regina; PASSOS, Eduardo. A psicologia e o sistema nico de sade: quais interfaces? Psicologia e Sociedade. Vol.17,n.2. POA. Mai/ago 2005.