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Práticas Interacionais em Rede Salvador - 10 e 11 de outubro de 2012 POLÍTICOS NO TWITTER: UMA ANÁLISE DOS PERFIS DOS CANDIDATOS A PREFEITO DE SALVADOR NA PRÉ-CAMPANHA ELEITORAL 2012 Fernanda Simões Braga Araújo 1 Resumo: Os sites de redes sociais têm se tornado um espaço de socialização cada vez mais presente na vida cotidiana, nos quais usuários interagem e compartilham informações sobre si. Deste modo, discute-se os conceitos de gerenciamento de impressões e auto-apresentação como base para o estudo de dois casos. São analisados os perfis no Twitter dos candidatos a prefeito de Salvador, ACM Neto e Mário Kértesz, na pré-campanha eleitoral 2012. Para o proposto, tem-se em mente uma construção dinâmica e colaborativa desses perfis. Palavras-chave: políticos, Twitter, gerenciamento de impressões, auto-apresentação Abstract: Social network sites have become a socialization space increasingly present in everyday life, in which users interact and share information about themselves. Thus, we discuss the concepts of impression management and self-presentation as basis for studying two cases. We analyzed the Twitter profiles of the Salvador mayor candidates, ACM Neto and Mário Kértesz, in the 2012 election pre-campaign. For this purpose, we keep in mind a dynamic and collaborative construction of these profiles. Keywords: politicians, Twitter, impression management, self-presentation Introdução O presente artigo tem como objetivo produzir uma análise dos perfis no Twitter dos candidatos a prefeito de Salvador durante a pré-campanha das Eleições 2012. Estudar a participação de políticos em mídias sociais requer antes de tudo, o entendimento desses espaços de internet como ambientes que favorecem performances de identidade e gerenciamento de impressões. Cientes disso, muitos autores já têm dedicado atenção especial para como usuários negociam auto-apresentações em Sites de Redes Sociais (SRS) e a importância dessas práticas nas configurações sociais da contemporaneidade. Ao analisar alguns desses trabalhos, Boyd e Ellison (2007) constatam que coletivamente esses estudos mostram como práticas de rede refletem, suportam e alteram conhecidas práticas cotidianas, 1 Fernanda Simões Braga Araújo é jornalista, especialista em Gestão da Comunicação Organizacional Integrada e aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia.

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Práticas Interacionais em RedeSalvador - 10 e 11 de outubro de 2012

POLÍTICOS NO TWITTER: UMA ANÁLISE DOS PERFIS DOS CANDIDATOS A

PREFEITO DE SALVADOR NA PRÉ-CAMPANHA ELEITORAL 2012

Fernanda Simões Braga Araújo1

Resumo: Os sites de redes sociais têm se tornado um espaço de socialização cada vez mais presente na vida cotidiana, nos quais usuários interagem e compartilham informações sobre si. Deste modo, discute-se os conceitos de gerenciamento de impressões e auto-apresentação como base para o estudo de dois casos. São analisados os perfis no Twitter dos candidatos a prefeito de Salvador, ACM Neto e Mário Kértesz, na pré-campanha eleitoral 2012. Para o proposto, tem-se em mente uma construção dinâmica e colaborativa desses perfis.

Palavras-chave: políticos, Twitter, gerenciamento de impressões, auto-apresentação

Abstract: Social network sites have become a socialization space increasingly present in everyday life, in which users interact and share information about themselves. Thus, we discuss the concepts of impression management and self-presentation as basis for studying two cases. We analyzed the Twitter profiles of the Salvador mayor candidates, ACM Neto and Mário Kértesz, in the 2012 election pre-campaign. For this purpose, we keep in mind a dynamic and collaborative construction of these profiles.

Keywords: politicians, Twitter, impression management, self-presentation

Introdução

O presente artigo tem como objetivo produzir uma análise dos perfis no Twitter dos

candidatos a prefeito de Salvador durante a pré-campanha das Eleições 2012. Estudar a

participação de políticos em mídias sociais requer antes de tudo, o entendimento desses

espaços de internet como ambientes que favorecem performances de identidade e

gerenciamento de impressões. Cientes disso, muitos autores já têm dedicado atenção especial

para como usuários negociam auto-apresentações em Sites de Redes Sociais (SRS) e a

importância dessas práticas nas configurações sociais da contemporaneidade. Ao analisar

alguns desses trabalhos, Boyd e Ellison (2007) constatam que coletivamente esses estudos

mostram como práticas de rede refletem, suportam e alteram conhecidas práticas cotidianas,

1 Fernanda Simões Braga Araújo é jornalista, especialista em Gestão da Comunicação Organizacional Integrada e aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia.

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especialmente no que diz respeito a como as pessoas representam (e escondem) aspectos de si

mesmos e se conectam com outras pessoas.

No âmbito do corpo disciplinar que tem se firmado em torno da pesquisa em SRS, a

análise em questão se insere na investigação de como os usuários administram as impressões

sobre si e as suas redes pessoais na ambiência digital. A problematização das concepções de

auto-apresentação e gerenciamento de impressões ajudará a entender por que as pessoas se

engajam em construir impressões de si mesmos e como as redes sociais digitais têm se

tornado um espaço propício para a expressão do self, tanto em termos narrativos quanto

visuais. Para Schlenker (2003), gerenciamento de impressão é a atividade dirigida a objetivos

de controle de informações, a fim de influenciar as impressões formadas por uma audiência.

Quando as pessoas tentam controlar as impressões sobre si, a atividade é chamada de auto-

apresentação. O autor afirma, portanto, que o conceito de auto-apresentação envolve uma

série de atividades que estão unidas pela ideia central de que o comportamento social é um

desempenho que simbolicamente transmite informações sobre si ao próximo.

Ao resgatar as primeiras pesquisas que se debruçaram sobre o tema, Schlenker (2003)

considera que o termo auto-apresentação surgiu como um tópico importante da Psicologia

Social nos últimos 25 anos. No entanto, reconhece que o conceito foi popularizado na

Sociologia por Erving Goffman no clássico The Presentation of Self in Everyday Life, de

1959. Conforme descreve, Goffman elaborou uma abordagem dramatúrgica do gerenciamento

de impressão, comparando encontros sociais a performances de palco em que as pessoas

enquanto atores sociais projetam suas identidades ou “faces” (fachadas) para os outros e se

engajam em atividades mútuas que são regidas por regras sociais e rituais. A partir dessa

perspectiva, Schlenker (2003) ressalta que a auto-apresentação pode ser guiada por uma

variedade de motivos, que pode incluir transmitir um retrato “autêntico” do self, aquele

percebido pelo ator no momento da interação, e não somente manipulação. Portanto, isso

atenua a concepção da auto-apresentação enquanto uma atividade apenas superficial ou

enganadora.

Sob essa ótica se amplia também a gama de situações em que a auto-apresentação tem

lugar. Segundo o autor, “(…); it occurs among friends, even in familiar situations; it occurs

even in long-standing relationships such as marriage; and it does not necessarily involve

conscious attention and control” (SCHLENKER, 2003, p. 494). Dito de outro modo, ele

sugere que a forma como as pessoas se apresentam pode envolver processos cognitivos

automáticos ou controlados, a depender da familiaridade do contexto social. Na vida diária,

scripts de auto-apresentação podem ser criados automaticamente, tornando-se hábitos e

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padrão de comportamento, o que exige menos esforço cognitivo. Já quando as pessoas são

desafiadas a se apresentar de maneira diferente da habitual, isso exige maior esforço

cognitivo. O que vai definir uma identidade socialmente desejada, de acordo com Schlenker

(2003), depende de fatores relevantes para o ator, a audiência e a situação social.

Numa espécie de roteiro para o gerenciamento de impressões, Metts e Grohskopf

(2003) ilustram as habilidades interpretativas e comunicativas requeridas para realização dos

objetivos pretendidos com a criação, manutenção e reparação de impressões do self. Para elas,

as pessoas diferem em suas habilidades de gerenciamento de impressão; as que são mais

perceptivas e hábeis comunicadoras são capazes de reconhecer, adaptar-se e até mesmo se

antecipar às reações dos outros durante a interação social. Mas não só isso, uma estratégia de

gerenciamento de impressão pode ser mal executada por uma série de razões, como a escolha

de um repertório linguístico limitado, sobrecarga cognitiva, falta de cooperação dos outros,

falta de motivação, dentre outras. Nesse sentido, as autoras defendem que treinamento e

prática são importantes para dominar a arte de se apresentar para os outros. Em sua definição:

Self-presentation refers to the process by which individuals, more or less intentionally, construct a public self that is likely to elicit certain types of attributions from others, attributions that would facilitate the achievement of some goal, usually to acquire social rewards or advantages, or to prevent loss of self-esteem when future failure seems probable. (METTS e GROHSKOPF, 2003, p. 360)

Desde que foram introduzidas na vida cotidiana de um número cada vez maior de

pessoas, as mídias sociais têm se constituído em objeto de pesquisa para estudiosos da auto-

apresentação e gerenciamento de impressões. À semelhança de outros espaços sociais, SRS

estão inseridos em práticas diárias e requerem contato e/ou interação entre pessoas que podem

ser velhas conhecidas ou não. Para acessar esses sites, com maior ou menor diferença entre

seus tipos, é preciso criar um perfil auto-descritivo, que inclui dados pessoais, tais como

nome, idade, localização, interesses e, ainda, uma lista de contatos aos quais os usuários

tenham optado por associar-se publicamente. Os perfis e as exibições de conexões pessoais

são parte fundamental desses sites e fornecem informações sobre o usuário. Donath e Boyd

(2004) sugerem que demonstrações públicas de conexão servem como sinais de identidade

importantes que ajudam as pessoas a navegar no mundo em redes sociais, em que uma

extensa rede pode servir para validar as informações de identidade apresentadas nos perfis.

Neste ponto, as autoras observam que “the subject's profile may touch upon various

facets of his or her identity, and those who are displayed as links may know only some of

these” (DONATH e BOYD, 2004, p. 75). No entanto, e talvez por isso mesmo, a exibição

pública de conexões é vista como um sinal da confiabilidade reivindicada por uma identidade.

Em suma, perfis e conexões pessoais em SRS nos dizem muito sobre como os usuários

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escolheram se representar. Mas cabe destacar que o gerenciamento de impressões em redes

sociais vai além de perfis estáticos de usuários; esses sites exigem atualizações frequentes de

status em forma de textos, links, fotos, vídeos e conteúdos derivados de aplicativos. Ao

estudar atualizações do feed de notícias do Facebook, Barash et al. (2010) afirmam que esse

tipo de contato contínuo com a rede social, semelhante ao observado em serviços de

microblogging como o Twitter, oferece a oportunidade de entender como as pessoas

administram as impressões como uma atividade secundária, quando estão se comunicando

com os outros.

Portanto, como referente conceitual, este artigo vai adotar a definição de Danah Boyd

(2011) ao tratar os SRS como um gênero de “públicos em rede”. Ela afirma:

In addition to being a site of self-representation, profiles are a place where people gather to converse and share. Conversations happen on profiles and a person's profile reflects their engagement with the site. As a result, participants do not have complete control over their self-representation. (BOYD, 2011, p. 43).

Essa perspectiva se aproxima da abordagem pós-moderna que toma o self como um

construto emergente da interação social e como um processo ao invés de uma entidade

definida. Ao recorrer a pensadores que tentam explicar as transformações que ocorreram no

mundo no final do século XX e suas implicações para o indivíduo, Burkitt (2008) afirma que

as fontes de nossas identidades já não são estáveis e seguras. “‘I’ is a pronoun within a

language, the purpose of which is communication between people, it is less clear to say ‘I

think therefore I am’ than to say ‘we communicate therefore I am’” (BURKITT, 2008, p.

166). Deste modo, não estamos aqui a procura de uma representação única e acabada dos

sujeitos definidos para análise. Para o presente artigo levaremos em conta para a pluralidade

de identidades do sujeito que é político, enquanto uma categoria socialmente construída. Não

há dúvidas de que esta categoria não é a única e nem mesmo construída sem contradições e

negociações com outras experiências. As representações expressas por esses sujeitos no

Twitter são uma extensão de experiências vividas por eles (sua trajetória de vida) e estão sob

o pano de fundo do contexto social no qual se inserem (seu lugar de fala).

Por fim, no âmbito do quadro conceitual aqui proposto, resta atentar para a inevitável

associação nos dias atuais da política, que sempre foi considerada uma atividade

eminentemente argumentativa, com os espaços de exposição e visibilidade típicos das redes

digitais de comunicação. No livro Comunicação e Política, Rubim (2000) já nos chama

atenção para as novas possibilidades da política em espaço eletrônicos, globalizados e que vão

além de uma convivência direta e imediata. Diante de uma Idade Mídia, o autor afirma que “a

mera existência física já não assegura um existir social” (RUBIM, 2000, p. 41-42). Com o

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pressuposto colaborativo das ferramentas da Web 2.0, entre elas os SRS, a exigência de uma

“publicização de si” é sem dúvida acentuada. E assim como outras dimensões da

sociabilidade, a política se vê afetada por novas possibilidades de realização.

Análise dos perfis

Neste tópico, passaremos à análise dos perfis criados e mantidos pelos candidatos a

prefeito de Salvador no microblog denominado Twitter. Entendido como uma mídia digital do

tipo SRS, o Twitter é tomado no curso deste artigo como veículo onde circulam

representações de si geradas, re-produzidas e co-construídas discursivamente, à luz do

referencial teórico discutido acima.

O site Twitter foi lançado em 2006 e atingiu o ápice de sua expansão em 2009, quando

ultrapassou a marca de 11 milhões de usuários, segundo estudo da empresa de consultoria

Sysomos (apud SANTAELLA e LEMOS, 2010, p. 64). O funcionamento deste SRS depende

que os participantes postem atualizações de texto – tweets – de até 140 caracteres, que são

compartilhados com a rede de seguidores desse fluxo. Em sua página de apresentação, o

Twitter é definido como uma “rede de informação em tempo real, que conecta você com as

últimas histórias, ideias, opiniões e novidades sobre o que você achar interessante”. Portanto,

basta encontrar os perfis de interesse e seguir as conversas, sem qualquer exigência de

reciprocidade no vínculo de amizade.

É neste sentido que Marwick e Boyd (online) ressaltam o papel dinâmico do Twitter

em contraste com as homepages pessoais, consideradas as primeiras apresentações de

identidade multimídia online. As autoras caracterizam as páginas pessoais como altamente

gerenciadas e limitadas em alcance colaborativo, onde as pessoas tenderiam a se apresentar de

formas fixas, singulares e auto-conscientes. Por outro lado, o microblog Twitter

proporcionaria dinâmicas e interativas apresentações de identidade para audiências

desconhecidas. “Self-presentation on Twitter takes place through ongoing ‘tweets’ and

conversations with others, rather than static profiles. It is primarily textual, not visual”

(MARWICK e BOYD, online, p. 3). Esse entendimento reforça a tendência cada vez mais

visível do uso do Twitter como um espaço ativo para performances de identidades e ajuda a

entender a opção pela análise deste site.

Para fins de delimitação espaço-temporal, optou-se por analisar os tweets visíveis no

fluxo dos perfis dos candidatos a prefeito de Salvador entre os dias 5 de junho e 5 de julho de

2012. O período escolhido para a análise refere-se à fase da pré-campanha eleitoral, uma vez

que o calendário para o pleito municipal deste ano, divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral

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(TSE), estabeleceu o dia 5 de julho como prazo para registro dos candidatos pelos partidos

políticos e coligações e a data seguinte como o início oficial da propaganda eleitoral. A

escolha por tal período pareceu oportuna, pois se supõe como consequência do impedimento

legal de campanha que os perfis destes candidatos estejam menos dominados por assuntos

políticos e mais diversificados em temáticas, permitindo a observação de várias facetas desses

selves.

Os candidatos inscritos no Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA) na disputa

pela capital são ACM Neto (DEM), Hamilton Assis (PSOL), Márcio Marinho (PRB), Mário

Kertész (PMDB), Nelson Pelegrino (PT) e Rogério Tadeu da Luz (PRTB). Aqui, como

objetos para observação empírica, foram selecionados os dois perfis com maior número de

seguidores no Twitter: ACM Neto (32,832 seguidores) e Mário Kertész (20,787 seguidores)2.

Tomamos esses dados como expressão do grau de inserção social em rede e expansão

cognitiva alcançada por esses usuários através desse site, desafios colocados para o uso hábil

do Twitter de acordo com Santaella e Lemos (2010)3.

Ao longo da pesquisa, adotou-se uma metodologia quantitativa, compreendida como o

levantamento do número de tweets no período e a frequência de suas publicações, combinada

a uma metodologia qualitativa. Nesta etapa do trabalho, os tweets foram analisados

identificando as interpretações de sentido aferidas de sua linguagem e conteúdo, de acordo

com algumas categorias pré-definidas. No aspecto linguagem procurou-se analisar

basicamente se o tom utilizado no tweet foi formal ou informal e se o tweet foi escrito em

primeira ou terceira pessoa. Já os conteúdos foram enquadrados de acordo com suas temáticas

em políticos4 e não políticos. Cabe ressaltar, porém, que essas categorias binárias apenas

atendem a necessidade de delimitação neste espaço de análise. Um mesmo tweet se observado

sob diferentes aspectos pode ser enquadrado em mais de uma temática e usado como exemplo

mais de uma vez.

A interação dos candidatos com os demais usuários do site também foi analisada,

através dos replies (respostas) e retweets ou RT (encaminhamento de mensagens). E por fim,

foi levada em consideração a interação com outras mídias, seja através da publicação de fotos,

vídeos e links externos. Após estas análises, definiram-se alguns pontos centrais do perfil

desses candidatos sobre os quais nos debruçamos. Antes, porém, de qualquer problematização

2 Dados coletados em 17 de julho de 2012.3 Os demais candidatos não chegaram a registrar 5 mil seguidores no momento da coleta dos dados. Os números foram considerados pouco representativos e, portanto, eles não entraram no corpus da análise.4 Embora qualquer mensagem possa ter cunho político, neste trabalho iremos considerar aquelas que trazem como principal referência nomes de personagens ou partidos políticos.

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dos resultados encontrados, faz-se necessária uma breve apresentação dos candidatos como

forma de contextualizar cada um deles no cenário da política baiana.

@acmneto_25

Antônio Carlos Peixoto de Magalhães Neto ou ACM Neto tem 33 anos e entrou na

política pelas mãos do avô; ele é herdeiro político de Antônio Carlos Magalhães (ACM), que

foi governador da Bahia, senador e ministro das Comunicações. Em 2003, ACM Neto

assumiu o primeiro mandato como deputado federal pelo extinto Partido da Frente Liberal

(PFL). Reelegeu-se nas eleições de 2006 e 2010, estando, portanto, em seu terceiro mandato

consecutivo como deputado e pela segunda vez como o líder da bancada do Democratas

(DEM) na Câmara Federal. Nas eleições de 2012, ACM Neto disputa a prefeitura de Salvador

pela segunda vez. Na primeira em 2008, ele ficou em terceiro lugar no número de votos e não

chegou a disputar o segundo turno5. No Twitter, ele se apresenta como “Líder do Democratas

na Câmara dos Deputados e candidato a prefeito de Salvador”.

Dos dois candidatos analisados, ACM Neto é o com maior número de tweets

registrados no site (13,420), assim como o número de seguidores (32,832) e seguidos

(15,262)6. No período da análise, porém, foi o que apresentou menor número de atualizações

em seu fluxo. Foram 292 tweets entre 5 de junho e 5 de julho de 2012, sendo 276 publicados

a partir de seu perfil @acmneto_25 e 16 “retweeted by ACM Neto”. Os retweets incluem em

sua maioria assuntos políticos, a exemplo de mensagens de colegas e eleitores manifestando

apoio a sua candidatura e notícias de sua agenda. Observadas as ressalvas já feitas

anteriormente, apenas dois podem ser considerados não diretamente ligados a assuntos

políticos: a divulgação de um abaixo-assinado para o Instituto Eu Quero Viver e de uma foto

num forró de condomínio. A linguagem que predomina é a dos tweets originais, sendo uma

escolha do usuário “passar adiante”. A maioria utiliza um tom formal para internet, sem

abreviações ou erros gramaticais, embora em pelo menos seis deles haja o uso claro da

linguagem informal.

5 Informações de sua homepage http://www.acmneto.com.br.6 Dados coletados em 17 de julho de 2012.

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No período analisado, a atualização do perfil do Twitter de ACM Neto manteve-se

quase que diária; o maior intervalo sem tweet é de dois dias consecutivos, 21 e 22 de junho. A

quantidade por dia é bastante variada, é possível observar dias em que há apenas uma

postagem e outros em que o número de postagens ultrapassa 10 tweets (no dia 15 de junho

são 22), não sendo possível estabelecer uma média representativa. Destes números, a

constatação que pode ser aferida é que o candidato procura manter contato constante com seu

fluxo de seguidores. Dos 276 tweets publicados a partir de seu perfil, 83 são replies ou

respostas. Em sua maioria, cerca de 48 tweets, há referências a assuntos políticos: mensagens

em que o candidato faz agradecimentos pelo apoio recebido ou tira dúvidas de jornalistas e

eleitores7.

Nota-se que a linguagem empregada por ACM Neto obedece às regras formais do uso

da língua portuguesa, muito embora predomine uma elaboração simples e direta, em primeira

pessoa. Durante as interações pelo Twitter, o perfil @acmneto_25 demonstra intimidade com

o interlocutor, chegando inclusive em alguns momentos a revelar interesse por seus assuntos

pessoais.

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Para uma análise mais precisa seria necessário acompanhar o fluxo de todas as conversações empreendidas neste período, o que não está no escopo deste artigo.

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Em outros momentos da interação, @acmneto_25 arrisca-se a mostrar um lado bem

humorado. Essa faceta de seu perfil parece estar em acordo com as dimensões – cool e

entertaining – percebidas por Barash et al. (2010) como altamente relevantes para o sucesso

da projeção da auto-imagem em atualizações de SRS.

Passando à analise das mensagens postadas por ACM Neto que não correspondem a

replies, há um total de 193 tweets, cuja autoria poderia ser reclamada para si como de “livre e

espontânea vontade”. A exceção aparece com 15 tweets assinados pela assessoria do

candidato, nos quais é empregada uma linguagem formal e em terceira pessoa, deixando claro

que não se trata de algo postado pelo próprio candidato, mas por sua equipe com o seu aval.

Dos tweets que não estão assinados pela Assessoria ou Equipe (178), a grande maioria

(122) traz como conteúdo manchetes de notícias, referenciadas com os links externos. O tema

que prevalece são as coligações políticas que antecedem o período da campanha eleitoral, mas

também podem ser encontradas referências a notícias sobre seca no sertão, risco de epidemia

de dengue, promoção de festas populares, inscrições para o ENEM, greve dos professores do

Estado da Bahia e outras paralisações. A linguagem mais uma vez está em terceira pessoa e

com escrita mais formal.

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De resto, foram identificados 56 tweets de ACM Neto que podem ser considerados

mais pessoais, em que o candidato se permite expressar claramente opiniões sobre

acontecimentos do dia a dia e até compartilhar emoções vivenciadas por ele. Aqui, mesmo os

assuntos políticos são tratados sob uma ótica pessoal, o que parece reivindicar uma espécie de

“autenticidade” para as mensagens nesse formato. A linguagem é em primeira pessoa e alude

diretamente ao interlocutor.

Percebe-se que as mensagens nesse sentido, embora escritas dentro do padrão formal

da língua portuguesa, não fazendo uso de gírias ou do chamado internetês8, incorporam

recursos coloquiais que procuram afastar as impressões de pedantismo e/ou distanciamento do

interlocutor. Por conseguinte, o candidato também faz questão de inserir assuntos corriqueiros

a partir de seu perfil, a exemplo do futebol, uma temática recorrente em seus tweets mais

pessoais. ACM Neto chega a postar uma sequência de tweets durante uma partida entre

8 Bisognin e Finatto (2010) definem o internetês como uma forma de adaptação da escrita para a internet, que é normalmente usada por jovens na apressada comunicação pela Web.

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Santos e Corinthians e, em uma partida do Bahia, seu time, até extrapola o uso mais formal da

linguagem.

Cabe registrar, ao final, que a análise do perfil de ACM Neto revela um usuário

adaptado à dinâmica do site de microblogging Twitter. O candidato manteve uma presença

online, atualizando o seu fluxo de mensagens, e equilibrou diferentes temáticas, visando a

manutenção do interesse da audiência. Adicionalmente, também houve a preocupação em

promover a interação com diferentes mídias, através da postagem de vídeos do Youtube,

compartilhamento de fotos em “tempo real”, links externos para notícias e trechos de

entrevistas em rádio e televisão.

@marioksz

Mário de Melo Kertész ou Mário Kertész tem 68 anos e também entrou na vida

política pelas mãos de Antônio Carlos Magalhães (ACM). Na primeira gestão de ACM como

governador da Bahia (1971-1975), Mário assumiu a Secretaria do Planejamento, Ciência e

Tecnologia, e, no segundo governo de ACM (1979-1981), foi prefeito nomeado de Salvador.

Em 1981, rompeu com o Carlismo e, em 1985, filiado ao PMDB, foi eleito prefeito de

Salvador na primeira eleição direta. Em 1992, Mário disse ter encerrado sua vida política e

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passou a se dedicar à iniciativa privada. Desde então, mantém o Grupo Metrópole, que inclui

a Rádio Metrópole, o Jornal da Metrópole, o Portal da Metrópole e a TV Metrópole. De volta

à política em 2012, disputa sua segunda eleição para prefeito da capital9. No Twitter, ele se

apresenta como “Candidato a prefeito, Mário quer cuidar de Salvador. Devolver à cidade, a

efervescência cultural, econômica e social que você merece”.

Em relação ao candidato anteriormente analisado neste artigo, Mário Kertész

apresenta menor número de tweets (1,924) e de seguidores (20,787) e seguidos (114)

registrados em sua página10. No entanto, é o que apresenta maior número de atualizações no

período da análise, de 5 de junho a 5 de julho de 2012. São 661 tweets, dos quais 636

postados a partir de seu perfil @marioksz e 25 “retweeted by Mário Kertész”. Na maior parte

dos retweets predominam assuntos políticos, tanto em âmbito nacional como local: formação

de legendas e encontros políticos. Apenas em nove deles pode-se perceber um alargamento

das temáticas a partir de tweets que divulgam informações do trânsito, programação da rádio

Metrópole, vaga para estagiário no grupo Metrópole e fatos que estão acontecendo na cidade

de Salvador. As mensagens preservam a linguagem original; a maioria segue um padrão

formal de escrita, sem erros gramaticais. No entanto, em seis delas pode-se observar

abreviações ou uso coloquial da língua portuguesa.

A atualização do perfil de Mário Kértesz durante a análise é quase diária, somente não

são registrados tweets no dia 1º de julho e 23 de junho. O candidato procura, portanto, manter

contato constante com seus seguidores. Uma média de atualizações não é representativa, uma

vez que a variação é bastante elevada: enquanto no dia 30 de junho é registrado apenas um

tweet, no dia 5 de julho são 62. Do total de 636 mensagens postadas a partir do perfil

@marioksz, 95 são replies ou respostas. Dentre esses, em dez percebe-se alguma referência a

assuntos políticos e em 21 percebe-se referência a sua rotina de radialista. A maioria, cerca de

9 Informações de seu site de campanha http://www.salvadortemjeito15.com.br/.10 Dados coletados em 17 de julho de 2012.

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50 tweets, são mensagens curtas, nas quais não é possível identificar o assunto das interações,

sem que haja um acompanhamento mais preciso do fluxo dessas conversações, o que não está

no escopo deste artigo.

Nota-se que os replies apresentam comentários ou respostas diretas a perguntas de

interlocutores, numa linguagem não informal. As mensagens não exibem abreviações ou erros

gramaticais. Em poucas interações, cerca de dez, Mário Kértesz parece mostrar intimidade

com o interlocutor.

Dos tweets postados por Mário Kértesz e que não se tratam de replies (541), é possível

perceber uma grande incidência (144) de mensagens com a hashtag #equipeMK ou

#salvadortemjeito, com algumas variações na escrita. As hashtags inseridas nessas mensagens

parecem indicar uma assinatura, que as diferenciam das demais por não terem sido postadas

pelo próprio candidato, mas por sua equipe com o seu aval. De fato, esses tweets apresentam

uma linguagem em terceira pessoa ou trazem citações do candidato entre aspas. Eles ocorrem

com mais frequência nas datas próximas à campanha eleitoral e transmitem informações de

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sua agenda política. Muitas vezes, fazem a cobertura da participação do candidato num evento

até o seu término.

Os tweets não assinados pela equipe de Mário Kértesz podem ser divididos em dois

grandes grupos para análise. Como grupo de maior representatividade, destacam-se 287

mensagens que trazem chamadas de notícias, com os respectivos links externos. O maior

encaminhamento é para o Portal da Metrópole (www.metro1.com.br), mantido pela sua

equipe. Esses tweets são escritos em linguagem impessoal e formal, geralmente obedecendo

ao uso culto da língua portuguesa. Em pelo menos 105 deles é possível perceber referências a

assuntos políticos, guardadas as observações feitas anteriormente; os demais se referem a

acontecimentos da ordem do dia.

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Em outro grupo são identificados 87 tweets que podem ser enquadrados em uma

perspectiva mais pessoal, uma vez que Mário Kértesz escreve em primeira pessoa e aborda

assuntos mais próximos do seu cotidiano. Destes, apenas 15 tratam de assuntos políticos,

dando conta de encontros com correligionários ou entrevistas, em que ora é ele quem

entrevista os políticos e ora é entrevistado enquanto candidato. Mas a grande maioria, pelo

menos 57 tweets desse grupo, trata dos convidados que serão recebidos pelo seu programa e

sua rotina como radialista.

Percebe-se que essas mensagens mantém o padrão formal de escrita da língua

portuguesa, mas numa linguagem simples que parece direcionada ao entendimento dos

interlocutores de Mário Kértesz. Independente do assunto, ele expressa seu ponto de vista ou

emoção sentida no momento. Uma temática recorrente em seus tweets que também parece

constituir uma faceta mais pessoal de seu perfil é a recomendação de produtos culturais, sejam

livros, filmes, documentários. Esses tweets estão intercalados em períodos de tempo e

geralmente trazem uma avaliação entusiasmada da obra.

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A análise do perfil de Mário Kértesz também revela um usuário ambientado com a

plataforma Twitter. O candidato posta atualizações constantes em seu fluxo de tweets,

responde aos interlocutores e não se restringe a abordar apenas uma temática. Como

observado, muitas de suas mensagens são acompanhadas de links externos para notícias,

trailers, fotografias e arquivos de áudio. Rematando a proposta deste artigo, finalizamos com

algumas observações sobre o processo de identificação dos candidatos através do uso do

Twitter e suas formas de interação social em rede.

Considerações finais

De acordo com a análise empreendida, é interessante ressaltar que os dois candidatos

mostram-se inseridos na lógica de funcionamento do Twitter. Como assinalam Santaella e

Lemos (2010) tal dado pode ser compreensível por se tratarem de figuras públicas – um

deputado, outro radialista –, cuja inserção em rede é facilitada, uma vez que suas

comunidades de seguidores surgem espontaneamente. No entanto, as autoras acreditam que “o

uso pleno e avançado das possibilidades comunicacionais do Twitter exige determinado nível

de mestria em relação às funcionalidades e ao gerenciamento e manipulação dos fluxos

comunicacionais” (SANTAELLA E LEMOS, 2010, p. 80). Assim, a administração de um

perfil em rede é um processo inacabado e está condicionada, sobretudo, ao conhecimento da

mídia online, à natureza do conteúdo veiculado e aos anseios da audiência. Nesse sentido, os

dois candidatos também parecem navegar com desenvoltura, se tomarmos os aspectos

observados acima e a constância da afiliação aos perfis durante o período de análise.

Essa constatação, a princípio, rechaça a ideia altamente difundida de que a internet é

um campo privilegiado da juventude, contida na expressão “nativos digitais”. Há uma forte

tendência a imaginar que os jovens formados sob os preceitos das redes digitais e interação na

Web atuam com maior rapidez, concentram-se em várias tarefas ao mesmo tempo e, portanto,

têm melhor desenvoltura na atuação em blogs, microblogs e SRS. Don Tapscott (apud VAN

PEBORGH, 2010, p. 32), autor da primeira radiografia desta geração, assegura que seus

membros nasceram entre 1977 e 1996. O intervalo inclui o candidato ACM Neto, nascido no

ano de 1979, à condição de um nativo digital e exclui o candidato Mário Kértesz, nascido no

ano de 1944. A julgar por esta definição o candidato mais jovem seria também o mais atuante

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e comprometido com o seu perfil online. Ao contrário, a nossa análise mostra que o candidato

Mário Kértesz é o que mais atualiza o seu perfil, com uma diferença considerável no número

de tweets no período.

Mas cabe aqui a ponderação na forma da máxima já bastante popular de que nem

sempre quantidade é sinônimo de qualidade. Medir o desempenho dos usuários em rede

apenas pelo número de tweets publicados por dia não é suficiente para aferir a condição de

seu relacionamento com aqueles aos quais estão ligados. A ideia de relacionamento tão cara

às redes sociais requer usuários que interagem, comentam, compartilham e se engajam em

prol de ações comuns. Claro que uma análise mais detalhada dos fluxos conversacionais dos

dois candidatos seria preciso para qualquer conclusão nesse sentido. No entanto, ACM Neto

parece administrar melhor esse relacionamento, na medida em que dosa o número total de

tweets publicados e aqueles em que mantém alguma relação com seus interagentes – apesar

de, ou talvez o que explique, uma maior audiência. Ele se arrisca a se aproximar mais de seus

seguidores, seja pelo emprego de uma linguagem mais direta ou pela abordagem de temáticas

que tradicionalmente interessam o público, a exemplo do futebol.

Já no Twitter de Mário Kértesz prevalece a postagem de notícias, acompanhadas de

links externos e escritas de forma impessoal. Ao interagir diretamente com os usuários, ele

muitas vezes utiliza mensagens curtas. É em sua faceta mais pessoal que mostra alguma

intimidade com o interlocutor e aposta na indicação de filmes, livros e outros produtos

culturais. Como vimos ao longo deste artigo, nada impede que essas performances, tanto a de

Mário Kértesz quanto a de ACM Neto, estejam revestidas por estratégias cuidadosamente

conscientes de auto-apresentação, em que os candidatos procuram equilibrar informações

pessoais, escolher os temas de abordagem e reivindicar autenticidade ao seu perfil. Mas assim

como a concepção de autenticidade é variada, a forma como os indivíduos se apresentam

muda de acordo com a maneira como são interpelados. “In other words, self-presentation is

collaborative. Individuals work together to uphold preferred self-images of themselves and

their conversation partners” (MARWICK e BOYD, online, p. 10).

Portanto, um perfil é construído nas interações e conversas com os outros, que estão

constantemente a acontecer. Aqui nos propomos a analisar a construção identitária dos

candidatos a prefeito de Salvador no Twitter, que de forma alguma pode ser considerada

como uma experiência acabada ou, simplesmente, estendida a outras experiências mesmo no

contexto das redes sociais. Como sugere Cancline, “a identidade é uma construção que se

narra” (CANCLINI, 1999, p. 163). Portanto, as representações que são expressas nesse SRS

pelos sujeitos políticos, enquanto uma categoria socialmente construída, só são possíveis

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analisando a sua inserção num campo de significados e sentidos a partir do qual se

posicionam e se (re)constroem uns aos outros. Essa perspectiva suscita e deixa espaço para

reflexões sobre o papel do outro na construção de nossas próprias subjetividades. Ao mesmo

tempo em que os ambientes digitais trazem elementos para gerenciar isso de forma mais fácil,

oferecendo dispositivos técnicos para impressionar os outros, são um novo desafio na medida

em que revelam nossa condição de público em rede.

Referências

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