POLUIÇÃO DE SOLOS: RISCOS E...
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Alzira Dinis
Mestre Assistente
CEMAS, Faculdade de Ciência e Tecnologia – UFP
Helena Fraga
Licenciada em Engenharia do Ambiente - UFP
Presentemente, o solo está a ser progressivamente ameaçado por várias actividades
humanas que o sujeitam a um processo de degradação, de que se destacam a erosão, a
diminuição da matéria orgânica, a contaminação local e difusa, a impermeabilização, a
compactação, a diminuição da biodiversidade e a salinização. Por isso, a prevenção e ges-
tão sustentável devem estar no centro das políticas de protecção do ambiente.
POLUIÇÃO DE SOLOS:RISCOS E CONSEQUÊNCIAS
98 991.INTRODUÇÃO
O solo é geralmente identifi cado como a camada superfi cial da crusta terrestre, a interface
entre a atmosfera, hidrosfera e geosfera. É um recurso vital, dinâmico, com propriedades físi-
cas, químicas e biológicas distintas, constituído por partículas minerais de diferentes tama-
nhos, matéria orgânica, água, ar e organismos vivos (Rodrigues e Duarte, 2003). A literatura
científi ca menciona várias defi nições de solo, duas das quais são citadas seguidamente:
a) “Solo refere-se ao material particulado composto em parte por rocha exposta a
erosão e outros minerais, e ainda por matéria orgânica parcialmente degradada, que
cobre grande parte da superfície terrestre da Terra (Botkin e Keller, 2005);
b) os solos são considerados corpos naturais que cobrem partes da superfície terres-
tre. Têm propriedades que se devem ao efeito integrado da acção do clima e dos orga-
nismos sobre o material original que vai sendo sujeito a alterações ao longo do tempo
(Soil Survey Staff., 1997)”.
A dinâmica no mecanismo da formação dos solos traduz-se em processos de fragmentação
de natureza físico-química e decomposição das rochas, além do transporte, da
sedimentação e da evolução pedogénica (Rocha, 2005). Deste modo, as características
(Petts e Eduljee, 1994; Wright, 2005) do solo são determinadas pelos seus processos de
formação e são dependentes da natureza da fonte geológica principal, dos organismos que
vivem no e acima do solo, da erosão, dos níveis de água subterrânea, do alagamento do
solo, do vento, da chuva, da radiação solar, etc. Com o tempo, os processos de formação dos
solos modifi cam o material original, contribuindo para a formação de diferentes camadas,
e produzindo uma grande variedade de tipos de solo. Dentro de um tipo de solo, podem
ocorrer grandes variações numa curta distância. A distribuição do solo em camadas tem
implicações na migração e destino dos contaminantes na subsuperfície.
Segundo a Comissão das Comunidades Europeias (1996), o solo desempenha uma grande
variedade de funções vitais, de carácter ambiental, ecológico, social e económico. Constitui
um importante elemento paisagístico, patrimonial e físico para o desenvolvimento de infra-
estruturas e actividades humanas, uma vez que é um recurso complexo, dinâmico, interac-
tivo e não renovável, cada vez mais sob a pressão da actividade humana. A protecção do solo
e a limitação dos processos de degradação deste recurso são reconhecidamente imprescin-
díveis para a sua sustentabilidade do desenvolvimento, sendo esta necessidade reconhecida
internacionalmente (Rodrigues e Duarte, 2003).
Na actualidade, o tema poluição do solo tem despertado, a um só tempo, interesse e preocu-
pação dos especialistas, das autoridades e da sociedade. São importantes não só os aspec-
tos ambientais e de saúde pública inerentes, como também, e principalmente, a ocorrência
de episódios críticos de poluição de âmbito mundial, o que introduziu a questão das áreas
contaminadas (Günther, 2005).
É sob a perspectiva de componente de um ecossistema e de um problema de amplo interes-
se que devem ser entendidos os conceitos e os principais efeitos do solo aqui apresentados
de uma maneira simplista, com a fi nalidade de advertir para a sua preservação que deve ser
compreendida como um desafi o ambiental.
2.POLUIÇÃO DOS SOLOS
O solo é um recurso natural e como tal deverá ser utilizado. Contudo, qualquer alteração
indesejável das características físicas, químicas, ou biológicas do ar, do solo e da água que
podem afectar, ou afectarão, prejudicialmente a vida do homem ou a das espécies desejá-
veis, os nossos processos industriais, as condições de vida e o património cultural; ou que
pode, ou poderá, deteriorar os nossos recursos em matérias-primas, são considerados
poluição (Odum, 1997).
Muitas vezes as actividades humanas causam ou agravam problemas do solo, incluindo a
erosão e o esgotamento de minerais do solo. Tais actividades não promovem o uso susten-
tável do solo, isto é, não existe uma preocupação com a sua preservação de modo a que as
gerações futuras possam usufruir deste, uma vez que usado de uma forma sustentável é
capaz de se renovar ano após ano por processos naturais (Raven e Berg, 2004).
O uso do solo, as actividades resultantes do crescimento urbano, a extracção de recursos e
o aterro de resíduos são alguns dos processos que podem provocar impactes no solo e nas
águas subterrâneas (Rodrigues e Duarte, 2003).
Assim, a poluição está ligada à concentração, ou quantidade, de resíduos presentes no ar,
na água ou no solo. Para que se possa exercer o controle da poluição de acordo com a legis-
lação ambiental, defi nem-se padrões e indicadores de qualidade do ar (concentrações de
NOx, CO, SOx, etc.), da água (Concentrações de O2, pH, temperatura, etc.) e do solo (taxa de
erosão, etc.) que se deseja respeitar num determinado ambiente (Braga et al., 2002).
100 1012.1.CONSEQUÊNCIAS DA POLUIÇÃO
Apesar de existirem várias interpretações do termo «poluição», a defi nição de Holdgate
(Alloway, 1995) para poluição é largamente aceite como consensual: a poluição é a introdu-
ção, pelo homem, de substâncias e energia no ambiente, susceptíveis de causar problemas
de saúde pública, em organismos vivos ou sistemas ecológicos, prejudicar estruturas ou sua
funcionalidade e interferir com usos legítimos do ambiente.
Por tradição, o solo tem sido utilizado como receptor de substâncias resultantes das activi-
dades humanas, principalmente para a deposição fi nal (Günther, 2005).
O enorme número de aterros que existem hoje em dia espalhados pelo mundo, visando
reduzir o problema dos resíduos, tem conduzido a debates sobre o problema dos gases que
neles se libertam, em especial o metano e o dióxido de carbono. A contaminação (Attewell,
1998) pode também alterar a resistência do solo e exercer um efeito de deterioração nas
fundações, por exemplo no aço e cimento que as constituem.
Actualmente não se pode dizer que existam solos perfeitamente não contaminados (Petts
e Eduljee, 1994). Os níveis de poluição dos solos são infl uenciados também pelas práticas
de cultivo e pela deposição aérea dos contaminantes naturais e por aqueles produzidos
pelo homem. Mesmo os solos que aparentemente não foram afectados pelas actividades
humanas podem revelar níveis de elementos naturais superiores aos normais, o que não se
encontra relacionado com a poluição. Em particular, os níveis naturais de elementos inorgâ-
nicos, por exemplo metais pesados, variam largamente de local para local.
A existência de locais contaminados representa uma ameaça real para os ecossistemas e
populações que neles vivem ou trabalham, podendo a sua infl uência atingir distâncias signi-
fi cativas devido, fundamentalmente, ao elevado potencial de mobilidade de muitos contami-
nantes e da interacção solo/águas subterrâneas por efeitos de percolação/lixiviação desses
contaminantes (http://www.inresiduos.pt/portal).
Faz-se frequentemente uma distinção entre a contaminação do solo originária de fontes
claramente confi nadas (contaminação local ou pontual) e a causada por fontes difusas.
A contaminação local está geralmente associada à exploração mineira, às instalações indus-
triais, aos aterros sanitários e outras instalações, tanto em funcionamento como depois de
encerrados. A poluição difusa está geralmente associada à deposição atmosférica, a certas
práticas agrícolas e à reciclagem e tratamento inadequado de resíduos e águas residuais
(http://www.inresiduos.pt/portal).
A introdução de contaminantes no solo
pode resultar na perda de algumas ou
várias funções do solo e ainda provocar
contaminação da água subterrânea. A
ocorrência de contaminantes no solo,
originados por várias fontes, acima de
certos níveis provoca múltiplas con-
sequências negativas para a cadeia
alimentar, para a saúde pública e para
os diversos ecossistemas e recursos
naturais (Rodrigues e Duarte, 2003).
2.1.1.TIPOS DE CONTAMINANTES
Na Tabela 1 apresenta-se concretamente
alguns dos principais tipos de conta-
minantes, os locais onde ocorrem e os
principais problemas que podem causar.
Tabela 1 Alguns contaminantes, locais de
ocorrência e problemas (Attewell, 1998).
Outros contaminantes não referidos na
Tabela I podem ter que ser considera-
dos quando as condições existentes no
local o exigem.
2.1.2.TIPOS DE IMPACTE
A natureza dos impactes sobre os solos
pode dividir-se entre, (a) perturbação
física com alterações na estrutura, ou
(b) efeitos poluentes provocados pela
adição ou remoção de substâncias ou
calor (Petts e Eduljee, 1994).
2.1.2.1.EFEITOS FÍSICOS
O impacte na geologia relaciona-se
primeiramente com a perda e dano de
características geológicas, paleontológi-
cas e fi siográfi cas. As características geo-
lógicas podem ser alteradas através de:
.Deposição de resíduos.
.Migração de gases, como o metano.
.Escavação do solo.
.Plantação de árvores no topo de uma
superfície, que podem levar a erosão
desnecessária, instabilidade ou dano.
.Qualquer acesso, ou movimento sobre a
face geológica em si, incluindo escalada.
Os efeitos físicos do desenvolvimen-
to podem conduzir a alterações na
topografi a, remover a camada vegetal,
torná-lo propício à erosão, ou introduzir
substâncias ou elementos não-naturais,
denominados poluentes, que alteram a
qualidade do solo (Günther, 2005). Tal
perturbação física pode conduzir a altera-
ções na densidade e consistência do solo,
da sua aptidão para a drenagem natural,
e do seu teor em matéria orgânica. A ero-
são da superfície dos solos pode ser uma
das consequências, e a remoção do solo
ou a sua alteração em profundidade pode
provocar desagregação da superfície.
Estes efeitos podem ter impactos sobre
os microorganismos do solo, fl ora e fau-
102 103na natural, produtos agrícolas, hidrologia
e qualidade das águas subterrâneas e
águas superfi ciais, e sobre a paisagem
e amenidade visual, bem como sobre os
edifícios e trabalhos de engenharia.
2.1.2.2.EFEITOS POLUENTES
Em resumo pode dizer-se que os solos
podem ser sofrer impacte poluente
através de:
.Alterações na qualidade da água à
superfície e corrente.
.Lixiviação de contaminantes de ins-
talações, em particular lixiviados de
aterros.
.Fugas de tanques.
.Deposição com impregnação de líqui-
dos poluentes.
.Aplicação directa de resíduos na terra,
por exemplo lamas de esgoto.
.Produção e migração de gás nos ater-
ros conduzindo a alterações na tempe-
ratura do solo.
.Contaminação dos solos através do
movimento ascendente dos lixiviados
por acção capilar, sob determinadas
condições climáticas.
Esta lista de fontes de poluição do solo
indicia que a contaminação se pode verifi -
car anteriormente à entrada em contacto
dos poluentes com o solo. Os efeitos letais
e sub-letais dos poluentes do solo sobre a
fauna e a fl ora podem resumir-se na Figu-
ra 1. Os poluentes do solo podem afectar
os processos naturais, por exemplo alte-
rando a disponibilidade de nutrientes para
o crescimento dos produtos cultivados.
de aplicação de critérios, menos notória
talvez, actualmente.
A deposição de lamas em terra conti-
nua a ser uma alternativa de deposição
atractiva, não somente com a proibição
da deposição no mar, mas também pelo
facto da União Europeia ter encorajado a
sua utilização como meio de reciclagem
e operação de deposição aceitáveis. O
controle da lista negra de substâncias
que infl uem negativamente no ambiente,
a alteração das práticas de utilização do
recurso terra, a alteração no tipo de pro-
dutos cultivados e as novas políticas de
protecção para as águas da superfície e
subterrâneas, representam potenciais
restrições à segurança que a longo-pra-
zo esta via representa.
2.2.DESCONTAMINA-ÇÃO DE SOLOS
Regra geral, a contaminação do solo
torna-se um problema quando:
a) há uma fonte de contaminação,
b) há vias de transferência de poluentes
que viabilizam o alargamento da área
contaminada
c) há indivíduos e bens ameaçados por
essa contaminação.
O problema pode ser resolvido por:
a) remoção dos indivíduos e/ou bens
ameaçados,
b) remoção da fonte de poluição ou,
c) bloqueamento das vias de transferên-
cia (isolamento da área).
Fig.1 Vias de exposição da fl ora e fauna aos
poluentes do solo.
Como por exemplo, pode ser aborda-
da a aplicação directa de resíduos no
solo, particularmente o espalhamento
de lamas de esgoto e a sua injecção em
terras utilizadas para a agricultura ou
fl orestação, é prática comum na maior
parte dos países dos Estados Membros
da Comunidade.
Com a aplicação das regras europeias,
as concentrações de metais pesados
nos solos têm vindo a diminuir em
alguns países, aqueles e que a Legisla-
ção é efectivamente aplicada. No Reino
Unido, por exemplo, foi implementa-
da a Directiva 86/278/EEC desde 1989
que especifi ca a concentração limite
nos solos de sete metais prioritários
(zinco, cobre, níquel, cádmio, chumbo,
mercúrio e crómio). Contudo, a mesma
legislação não foi implementada com o
mesmo êxito noutros países. Isto é ape-
nas um exemplo da não conformidade
A implementação de um processo de
remediação e descontaminação de
solos baseia-se numa metodologia de
actuação, cujas principais fases são
(Sepúlveda e Ribeiro, 1994):
.Identifi cação do local contaminado
(inventários);
.Estabelecimento dos objectivos de
remediação (diagnóstico-avaliação das
áreas contaminadas);
.Avaliação e selecção da(s) técnica(s) de
tratamento e respectiva implementação;
.Monitorização após implementação.
Fig.2 representa esquematicamente um resu-
mo da metodologia geral de actuação, com as
várias actividades a serem consideradas.
104 105Em termos globais podem distinguir-se
duas grandes linhas de processos de
descontaminação de solos (Sepúlveda
e Ribeiro, 1994; Nazaroff e Alvarez-
Cohen, 2001; Correia, 2002):
In-situ: a operação de descontaminação
dá-se no local onde se encontra o terreno
a regenerar, sendo os contaminantes reti-
rados do solo através de meios de trans-
porte como a água e/ou o ar. Estes veícu-
los de transporte são então tratados, quer
por via química, biológica ou mecânica, e
novamente introduzidos no terreno.
Ex- situ: este tipo de operação implica
a remoção do solo do local onde este
se encontra inicialmente, de modo a
ser submetido a tratamento de des-
contaminação. Os tratamentos ex- situ
podem ser on-site, quando ocorrem
directamente no local (por exemplo,
através de uma unidade de lavagem de
solos) ou off-site, quando o tratamento
implica o transporte do solo conta-
minado até à central de tratamento,
onde sofre determinados processos de
descontaminação.
Na Figura 3 apresentam-se alguns pro-
cessos de descontaminação, utilizados
no tratamento de solos.
Normalmente para executar uma regene-
ração completa de um determinado local,
é necessário proceder à aplicação de
várias tecnologias, temporalmente para-
lelas ou sequenciais. As combinações são
defi nidas caso a caso, tendo em conside-
terior. Assim, a preocupação com a preservação, protecção, controle e recuperação do solo
tem sido ampliada nas últimas três décadas, a altura em que os acontecimentos de áreas
contaminados passaram a ser socialmente ampliados (Günther, 2005).
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3.CONCLUSÕES
O solo é um recurso fi nito, limitado e
não renovável, face à sua taxa de degra-
dação potencialmente rápida, que tem
vindo a aumentar nas últimas décadas
- pela pressão crescente das activida-
des humanas - em relação à sua taxa
de formação e regeneração extrema-
mente lenta. Convém ter a noção que
formação de uma camada de solo de
apenas 30 cm leva tão só 1000 a 10000
anos a completar-se.
A urbanização crescente das socieda-
des modernas promove uma separação
do mundo rural e faz perder a noção
da importância do solo como suporte
de vida no planeta (Varennes, 2003). O
motivo de tanta preocupação é o fac-
to de que o solo, uma vez degradado
e/ou contaminado, terá consequências
ambientais, sanitárias, económicas,
sociais e políticas que poderão limitar
ou até inviabilizar a seu utilização pos-
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