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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Letras Eni Alves Rodrigues CRÍTICA ACADÊMICA DAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL: um estudo de teses produzidas no período de 2013 a 2017, disponíveis no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES Belo Horizonte 2020

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Letras

Eni Alves Rodrigues

CRÍTICA ACADÊMICA DAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA

PORTUGUESA NO BRASIL: um estudo de teses produzidas no período de 2013

a 2017, disponíveis no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES

Belo Horizonte

2020

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Eni Alves Rodrigues

CRÍTICA ACADÊMICA DAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA

PORTUGUESA NO BRASIL: um estudo de teses produzidas no período de 2013

a 2017, disponíveis no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Letras - Literaturas de Língua Portuguesa. Orientadora: Profª. Drª. Maria Nazareth Soares Fonseca.

Belo Horizonte

2020

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Rodrigues, Eni Alves

R696c Crítica acadêmica das literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil:

um estudo de teses produzidas no período de 2013 a 2017, disponíveis no

Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES/ Eni Alves Rodrigues. Belo

Horizonte, 2020.

162 f. : il.

Orientadora: Maria Nazareth Soares Fonseca

Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Letras

1. Brasil. Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. 2.

Teses - Catálogos. 3. Literatura africana (Português). 4. Escritores africanos.

5. Literatura comparada. 6. Literatura - Filosofia. 7. Abordagem interdisciplinar

do conhecimento. 8. Universidades e faculdades. 9. Teses - Normalização. I.

Fonseca, Maria Nazareth Soares. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais. Programa de Pós-Graduação em Letras. III. Título.

CDU: 869.0(6).09

Ficha catalográfica elaborada por Fabiana Marques de Souza e Silva - CRB 6/2086

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Eni Alves Rodrigues

CRÍTICA ACADÊMICA DAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA

PORTUGUESA NO BRASIL: um estudo de teses produzidas no período de 2013

a 2017, disponíveis no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Letras - Literaturas de Língua Portuguesa.

Profª. Drª. Maria Nazareth Soares Fonseca (Orientadora – PUC Minas)

Profª. Dr.ª Aracy Alves Martins(UFMG)

Prof. Dr. José de Sousa Miguel Lopes (UEMG)

Profa. Dr.ª Terezinha Taborda Moreira (PUC Minas)

Prof. Dr. Wellington Marçal de Carvalho (UFMG)

Belo Horizonte, 20 de fevereiro de 2020.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter permitido a realização de mais um sonho.

À minha mãe, Dona Fia, que sempre disse para mim: “Você consegue!”.

Ao meu pai (in memoriam), exemplo de luta e persistência.

Aos meus filhinhos, Samuel e Sávio, pelo apoio incondicional.

Ao meu marido, Wedson, companheiro de todas as jornadas.

À minha orientadora, Maria Nazareth, mestra para a vida toda.

Aos amigos do GEED (Grupo de Estudo em Estéticas Diaspóricas).

Aos meus familiares, pela força nos momentos difíceis.

Aos amigos, que compreenderam minhas ausências e estiverem por perto, mesmo

assim.

Aos colegas de trabalho, pelo incentivo.

À secretaria e ao corpo docente do Programa de pós-graduação em Letras da PUC

Minas, especialmente à professora Terezinha Taborda.

Ao setor de normalização da Biblioteca da PUC Minas pelo zelo com a

normalização bibliográfica deste trabalho, especialmente à bibliotecária Elizângela.

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RESUMO

Nesta tese apresentamos o resultado da investigação sobre as práticas de leitura

acadêmica expostas em teses produzidas, no Brasil, sobre as literaturas africanas

de língua portuguesa, defendidas nos anos de 2013 a 2017. Partindo de uma

seleção de teses disponíveis no Catálogo de Dissertações e Teses da CAPES,

produzidas em programas de pós-graduação brasileiros, foram identificados os

pressupostos críticos que orientam os estudos das literaturas africanas de língua

portuguesa, com a intenção de avaliar o impacto de tais estudos na construção de

pontos de vista sobre as concepções literárias abordadas nessas pesquisas. Pode

ser visto também quais nações dos países africanos de língua oficial portuguesa

(Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe) têm suas

obras literárias mais estudadas nessas teses, quais autores e autoras são mais

contemplados, bem como, quais temas e teóricos são abordados nas teses do

corpus averiguado. A normalização utilizada nas teses investigadas e a organização

do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES foram pesquisados em alguns

aspectos. Os modos de leituras verificados, as investigações e as discussões

acadêmicas indicaram pressupostos e estratégias críticas da teoria literária em geral

e de outros campos de conhecimento que dialogam com a literatura. Muitos

pressupostos teóricos semelhantes estão presentes nas teses, como os definidos

pelos estudos pós-coloniais e pelos estudos comparados. Os resultados da análise

das teses investigadas mostraram necessidade de maior aplicação da padronização

na elaboração dos resumos e das palavras-chave. Quanto aos sistemas literários o

mais estudado foi o moçambicano, seguido pelo angolano e cabo-verdiano. Os

autores que mais tiveram obras selecionadas para estudos foram Mia Couto,

Pepetela e Paulina Chiziane. Os temas mais analisados foram identidade, memória

e história e os teóricos mais conclamados foram Stuart Hall, Paul Ricouer e Walter

Benjamin. O resultado mostrou, ainda, que as visões de literatura que mais

emergiram das teses investigadas foram aquelas que ressaltam questões acerca do

narrador, de tempo e espaço narrativos e da percepção da realidade, além da

presença marcante do uso de estudos comparados.

Palavras-chave: Literaturas africanas de língua portuguesa. Normalização

bibliográfica. Teses de literatura. Teoria literária.

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ABSTRACT

This thesis reports the result of research on academic reading practices addressed in

theses about African literatures in Portuguese, written in Brazil and defended

between 2013 and 2017. Using a selection of theses available in the CAPES Catalog

of Dissertations and Theses, produced in Brazilian postgraduate programs, this study

identifies the critical assumptions that underpin research on African literatures in

Portuguese, with the purpose of evaluating the impact of such studies on the

construction of views on the literary conceptions that they have addressed. This

study also reports other findings: the Portuguese-speaking African countries (Angola,

Cape Verde, Guinea-Bissau, Mozambique and Sao Tome and Principe) whose

literary works are their most studied and the authors who are the most frequently

addressed, as well as the most frequent themes and theorists in the corpora of these

theses. The standardization used in the investigated theses and the organization of

the CAPES Catalog of Dissertations and Theses were researched in some respects.

The reading modes, the research studies and the academic discussions in the

Brazilian theses on African literature in Portuguese, in the mentioned period,

indicated critical assumptions and strategies of the literary theory in general and

other fields of knowledge that interact with literature. Many similar theoretical

assumptions are present in the theses, e.g., those defined by postcolonial studies

and comparative studies. The results of the analysis of the theses showed that more

standardization is needed when writing abstracts and keywords. The most frequently

studied literary system was the Mozambican one, followed by the Angolan and the

Cape Verdean systems. The authors whose works were selected for studies more

frequently were Mia Couto, Pepetela and Paulina Chiziane. The themes that were

analyzed most often were identity, memory and history, and the most acclaimed

theorists were Stuart Hall, Paul Ricouer and Walter Benjamin. The result also

showed that the views on literature that emerged most often from the target theses

were those that address issues about the narrator, narrative time and space, and the

perception of reality. Also, the use of comparative studies was remarkably frequent.

Keywords: African literature in Portuguese. Bibliographic standardization. Literature

theses. Literary theory.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29

Figura 2 - Resultados com a palavra-chave "literatura africana" com uso de aspas . 30

Figura 3 - Duplicidade da grande área de conhecimento ―Linguística, Letras e Artes‖31

Figura 4 -Tese da área ―Ciências Sociais Aplicadas‖ recuperada com a palavra-

chave ―literatura africana‖ .......................................................................................... 31

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resultado da busca realizada na data de 14 de maio de 2018 ............ 32

Tabela 2 – Resultado da busca realizada dia 02 de setembro de 2018 ................ 33

Tabela 3 - Total de teses ....................................................................................... 33

Tabela 4 - Resultado das teses selecionadas por região brasileira das Instituições de

Ensino Superior de Ensino (IES) ........................................................................... 34

Tabela 5 - Instituições de Ensino Superior de Ensino depositárias das teses

investigadas .......................................................................................................... 35

Tabela 6 - Ano de produção das teses investigadas ............................................. 36

Tabela 7 - Gênero das autorias das teses ............................................................ 36

Tabela 8 - Gênero das autorias das obras estudadas ........................................... 37

Tabela 9 - Sistemas literários pesquisados nas teses ........................................... 39

Tabela 10 – Teses sobre a literatura moçambicana .............................................. 39

Tabela 11 – Teses sobre a literatura angolana ..................................................... 40

Tabela 12 – Teses sobre a literatura cabo-verdiana ............................................. 40

Tabela 13 – Assuntos abordados nas palavras-chave das teses investigadas ..... 43

Tabela 14 - Temas predominantes nas teses investigadas .................................. 46

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT/NBR Associação Brasileira de Normas Técnicas/Norma Técnica.

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas.

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações.

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior.

CINCO Expressão para designar os seguintes países africanos de

língua oficial portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,

Moçambique e São Tome e Príncipe.

CTD Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.

IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia.

IES Instituições de Ensino Superior.

PUC Minas Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10 1 TESES BRASILEIRAS SOBRE LITERATURAS DOS PAÍSES AFRICANOS

DE LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA: ANÁLISE DOS DADOS DISPONÍVEIS ............................................................................................... 17

1.1 Investigação de teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa depositadas no CTD ................................................................................... 26

1.2 Análise dos dados ...................................................................................... 32 1.3 Sistemas literários, autoria e obras abordadas nas teses investigadas37

1.4 Assuntos das teses investigadas ............................................................. 42 2 TEMAS, AUTORES (AS) E TEÓRICOS(AS) MAIS FREQUENTES NAS

TESES INVESTIGADAS .............................................................................. 45 2.1 Identidade(s) ............................................................................................... 49 2.2 Memória(s) .................................................................................................. 52

2.3 História ........................................................................................................ 56 2.4 Literatura moçambicana ............................................................................ 61 2.4.1 Mia Couto .................................................................................................... 64 2.4.2 Paulina Chiziane ......................................................................................... 71 2.5 Literatura angolana .................................................................................... 73

2.5.1 Pepetela ....................................................................................................... 75 2.6 Literatura cabo-verdiana ............................................................................ 78 3 VISÕES DE LITERATURA NAS TESES INVESTIGADAS ......................... 82 3.1 Literatura como contação de histórias ..................................................... 88 3.2 Literatura e cronotopia: espaço e tempo como uma conexão possível 93 3.3 Literatura e realidade: percepção e narração .......................................... 97

3.4 Literatura e sociedade: o comprometimento ético das literaturas africanas de língua portuguesa ............................................................... 102

3.5 Estudos comparativos: diversas linguagens para um mesmo tema ... 110 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 119 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 130 ANEXO A - TESES INVESTIGADAS ......................................................... 140 ANEXO B - TABELA 1 – AUTORES(AS) PRESENTES NAS TESES

INVESTIGADAS ......................................................................................... 149 ANEXO C - TABELA 2 – AUTORES(AS) PRESENTES NAS TESES

INVESTIGADAS (INDIVIDUALMENTE E COMPARATIVAMENTE) ......... 151 ANEXO D - TABELA 3 – ORIENTADORES(AS) DAS TESES

INVESTIGADAS ......................................................................................... 153 ANEXO E - TABELA 4 – OBRAS ESTUDADAS NAS TESES

INVESTIGADAS ......................................................................................... 155 ANEXO F - TABELA 5 – ASSUNTOS DAS PALAVRAS-CHAVE ............ 157

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INTRODUÇÃO

A proposta desta tese surgiu do interesse de promover um estudo

interdisciplinar que pudesse ser construído com os instrumentos próprios da minha

formação acadêmica e que têm me auxiliado a desenvolver minhas pesquisas. Sou

graduada em Biblioteconomia, exerço a profissão de bibliotecária e atuo na área de

Letras. Interessada em desenvolver estudos a partir da interação entre as duas

áreas em que contribuo, a de Biblioteconomia e a de Letras, desenvolvi pesquisa

que fundamentou a minha dissertação de Mestrado, intitulada A inclusão de obras

de Mia Couto nos kits de literatura de escolas mineiras e os pressupostos da lei nº

10.639/2003: pontos de vista e propostas de leitura. A dissertação defendida em

2015, no Programa de Pós- Graduação em Letras da PUC Minas, sob orientação da

Professora Maria Nazareth Soares Fonseca, exemplifica os diálogos que, desde

aquela época, procuro estabelecer com as áreas pelas quais transito.

Chamou-me a atenção, nos anos em que venho me envolvendo com

reflexões e pesquisas sobre a literatura, o modo como essa área de conhecimento

está discutida em teses, sobretudo nas produzidas sobre as literaturas africanas de

língua portuguesa. A consulta aos estudos sobre as literaturas africanas de língua

portuguesa indicava que a investigação voltada a questões ligadas aos cinco países

africanos de língua oficial portuguesa (CINCO) 1, que são Angola, Cabo Verde,

Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, eram relacionadas à história, à

identidade e cultura. Mas não era conhecida uma sistematização desses dados, as

considerações e debates se valiam de informações que até conseguiam desconstruir

alguns estereótipos sobre as culturas africanas e suas literaturas.

As indagações fortaleceram as motivações para a realização de uma

pesquisa mais profunda, que contemplasse anseios meus sobre o modo como as

1 A partir desse ponto usaremos da expressão CINCO para designar os seguintes países Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Sabemos que a sigla oficial para os países africanos de língua oficial portuguesa é PALOP, porém pensamos que a sigla CINCO é mais apropriada, por não carregar em si a ideia de lusofonia. Apoiamos a nossa decisão nas palavras de Inocência Mata (2013), quando esta fala a motivação para não adotar a sigla oficial para tais países: ―Privilegio esta designação dos países de língua portuguesa de África, em detrimento de PALOP, não apenas pelo equívoco que encerra (são países de outras línguas também, sobretudo do crioulo, que em três deles é realmente «língua nacional»), mas, sobretudo na esteira de Mário Pinto de Andrade para quem a designação «os Cinco» resgata a utopia da fraternidade dos tempos da luta anticolonial, com a criação da CONCP-Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, fundada sob a égide de Amílcar Cabral em 1961, em Rabat, Marroco‖. (MATA, 2013, p.106).

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áreas às quais pertenço poderiam ser pesquisadas em teses brasileiras. Ao procurar

pôr em prática as minhas intenções, redigi um projeto que procurou se constituir por

um viés de ciência aplicada e literária, ciente de que as pesquisas em Ciências

Sociais Aplicadas se enquadram na busca de dados atualizados de questões sociais

tais como cultura e política. Esse aspecto fortaleceu a proposta de se fazer uma

pesquisa que primasse pela interdisciplinaridade.

Nesta pesquisa procuramos utilizar os recursos de normalização e

metodologia científica da Biblioteconomia para sistematizar os dados obtidos nas

teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa, no Brasil. O foco consistiu em

mostrar aspectos da pesquisa acadêmica, especificamente teses sobre literaturas

africanas de língua portuguesa e discutir questões e reflexões sobre a literatura que

emergem dessas pesquisas. Buscamos dar maior importância às discussões do que

à coleta de dados e análise destas informações, já que a tese está filiada ao

Programa de Pós–Graduação em Letras, na área de conhecimento da Literatura.

Constituiu-se um motivador importante da pesquisa o trabalho em

desenvolvimento pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Minas, ao

qual se filia esta tese. Esse Programa, desde sua criação, em 1989, acolhe

pesquisas sobre as literaturas africanas de língua portuguesa e esse fator fortalece a

necessidade de se conhecer como essas literaturas foram e são investigadas tanto

pelo próprio programa, quanto por outros cursos de pós-graduação em Letras das

diferentes regiões do Brasil. Além disso, é interessante apontar como estão sendo

feitas as pesquisas e a importância delas para as literaturas africanas de língua

portuguesa com discussões como as que apresentam as teses investigadas.

Os resultados que apresentamos, nesta tese, estão baseados em dados

retirados do material selecionado e não decorre de inferências que, por vezes,

constituem uma das características da pesquisa acadêmica brasileira sobre as

literaturas africanas de língua portuguesa. A investigação das teses indica que a

teoria aplicada às discussões teóricas sobre as literaturas africanas de língua

portuguesa é, quase sempre, de origem europeia, embora alguns teóricos(as)

africanos(as) tenham sido adotados nas pesquisas, como se comprovará nas

discussões apresentadas nos capítulos. A afirmação de importantes estudiosos

africanos sobre a baixa utilização de referencial teórico produzido em África

fortaleceu o interesse em avaliar com qual intensidade essa questão se mostra nas

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teses investigadas.

Uma pesquisa realizada pela professora Regina Dalcastagné, da

Universidade de Brasília, sobre a presença de personagens negros e pobres na

literatura brasileira2 foi importante incentivo para a elaboração da tese. A

investigação realizada pela pesquisadora foi além da análise de obras literárias ao

demonstrar, com base em dados quantitativos, a invisibilidade de negros e pobres,

já afirmada hipoteticamente, na construção de personagens de obras literárias

publicadas pelas mais conceituadas editoras do Brasil. O método utilizado se

aproxima do que expomos em nossa tese, sobretudo por se realizar com critérios da

investigação quantitativa. Para a execução da tese, foi preciso estabelecer critérios

metodológicos de fontes de dados e de tabulação.

Estabelecemos, primeiramente, que as fontes dos dados fossem as teses

sobre literaturas africanas de língua portuguesa e não dissertações, por concluir que

a investigação científica desenvolvida em tempo mais longo apresenta discussões

mais aprofundadas. Como critério de seleção para compor o corpus da pesquisa,

buscamos teses produzidas em Instituições de Ensino Superior (IES) do Brasil,

definindo uma amostragem de teses de doutoramento oriundas de IES que

abarcasse todas as regiões geográficas. Resolvidas as questões das fontes de

dados, precisávamos escolher a forma de coleta, então decidimos que coletaríamos

as teses brasileiras sobre as literaturas africanas de língua portuguesa no Catálogo

de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES)3, catálogo online, gratuito e de livre acesso e que é alimentado

por teses e dissertações da maioria das IES brasileiras.

Em consultas avaliativas do catálogo da CAPES, para delimitar o corpus a ser

pesquisado, descobrimos que, apenas a partir de 2013, o catálogo disponibiliza

informações que vão além da referência bibliográfica das teses e dissertações

coletadas. Como pretendíamos ler o resumo, palavras-chave e algumas teses na

íntegra, optamos por limitar o período de abrangência da consulta a partir 2013 com

2 DALCASTAGNÈ, R. (2011). A personagem do romance brasileiro contemporâneo. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea. Brasília: Universidade Federal de Brasília, v.26, p.13-71, 2011. Saiba mais sobre a pesquisa e a pesquisadora no site: https://www.gelbc.com/regina-dalcastagn

3 CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior é uma fundação vinculada ao Ministério da Educação do Brasil que atua na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu em todos os estados do país. O acesso ao banco de teses e dissertações está disponível no site http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses

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término em 2017, ano da escrita do projeto, ficando assim a pesquisa restrita ao

período de cinco anos. Enfim, delimitamos o local, o período e a fonte dos dados da

pesquisa sobre literaturas africanas de língua portuguesa que pretendíamos realizar,

o que pode ser percebido no título que demos à tese: Crítica acadêmica das

literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil: um estudo de teses produzidas

no período de 2013 a 2017, disponíveis no Catálogo de Teses e Dissertações da

CAPES.

Esclarecida a formação dos dados da pesquisa, escolhemos iniciar a consulta

pelas palavras-chave e pelos resumos, para verificar se esses itens se

apresentavam de acordo com as normas técnicas que os regulamentam em

trabalhos acadêmicos. As palavras-chave e resumos são fontes de informação4 para

pesquisadores de qualquer área, assim como são para a Literatura. Portanto, para

produzi-los deve-se obedecer às normas que propiciem buscas eficazes dos

assuntos pesquisados, das metodologias adotadas e dos resultados obtidos.

Na pesquisa realizada, mostramos a importância das normas técnicas da

Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT) para trabalhos científicos, pois os

dados padronizados podem levar à recuperação mais exata do assunto pesquisado

e possibilitam que a fortuna crítica seja (re)conhecida, dando visibilidade ao que está

sendo estudado nas áreas de conhecimento, no nosso caso especial, a Literatura.

Através de dados quantitativos e reflexões sobre as literaturas africanas de

língua portuguesa procuramos abordar, nas teses investigadas, os seguintes

aspectos:

- a investigação proposta pelas teses selecionadas no período de 2013 a 2017, no

Brasil;

- como e quais sistemas literários dos CINCO foram contemplados nas teses, bem

como quais obras e autores;

- que temáticas são abordadas com mais frequência e quais foram os teóricos(as)

mais solicitados pelas teses sobre os temas tratados por elas;

- as principais visões de literatura que emergem das teses investigadas e os

4 As fontes de informação especializadas são artefatos construídos por seres humanos que agenciam uma série de elementos informacionais sobre determinado recorte/especialidade da existência cotidiana. Esses artefatos se prestam, pelo menos para isso é que foram concebidos, a sanar uma demanda especificamente, não obrigatoriamente, podem apontar novos caminhos em virtude do que resultar o ato de compulsar esses mecanismos.(CARVALHO, W. M; GOMES, G. M. R; REZENDE, A. Fontes de informação especializada em africanidades. Ponto de acesso. Salvador, v. 13, n.1, p. 174-201. Ago.2019.)

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elementos constituintes da estrutura das obras analisadas;

- promoção do acesso a dados comprováveis retirados de teses sobre a produção

acadêmica brasileira que trata das literaturas africanas de língua portuguesa em

suas pesquisas científicas.

A discussão dos itens acima se apresenta, na tese, organizada em três

capítulos, além da introdução e das considerações finais. Os capítulos específicos

têm os títulos:

1. Teses brasileiras sobre literaturas dos países africanos de língua oficial

portuguesa: análise das informações disponíveis.

2. Temas, autores(as) e teóricos(as) mais frequentes nas teses investigadas.

3. Visões de literatura nas teses investigadas.

No capítulo 1, intitulado Teses brasileiras sobre literaturas dos países

africanos de língua oficial portuguesa: análise das informações disponíveis,

construímos uma abordagem conceitual sobre as literaturas africanas de língua

portuguesa e um breve histórico das pesquisas sobre elas, no Brasil. Procuramos

apresentar a metodologia adotada para recolher as teses produzidas no Brasil, no

período de 2013 a 2017, sobre literaturas africanas de língua portuguesa. Neste

capítulo estão disponibilizadas informações sobre coleta, tabulação e análise dos

dados colhidos nas 74 teses que formam o corpus da pesquisa5. Julgamos

importante nomear este corpus, como ―teses investigadas‖, a fim de não precisarmos

repetir, a todo o momento, que as informações não são generalizantes, pois

obedecem a um recorte específico: teses brasileiras da pesquisa acadêmica sobre

as literaturas africanas de língua portuguesa, produzidas de 2013 a 2017. Também

fizemos uma avaliação das ferramentas de pesquisa disponíveis sobre teses e

dissertações produzidas no Brasil e da aplicação das normas técnicas da ABNT para

elaboração de resumos e palavras-chave em trabalhos acadêmicos.

No capítulo 2, intitulado Temas, autores(as) e teóricos(as) mais frequentes

nas teses investigadas, apresentamos discussões sobre os principais temas

abordados, sobre a autoria das obras selecionadas e sobre o aporte teórico que

os(as) pesquisadores(as) adotaram para realizarem seus estudos. A partir dessa

análise, foi possível projetar, quais temas e gêneros literários das literaturas

africanas de língua portuguesa foram merecedores de estudos nos últimos anos no

5 As referências bibliográficas das 74 teses investigadas podem ser vistas no Anexo A.

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Brasil, destacando os mais investigados e os menos trabalhados.

Neste capítulo, notamos que as teses defendidas no início do período

investigado, voltavam-se, predominantemente, aos estudos sobre a oralidade e a

questões históricas. Ao mesmo tempo, vimos que, nas teses investigadas, os temas

mais presentes propostos para a abordagem literária das obras africanas foram:

identidade, memória e história. Observamos que os autores de obras mais

escolhidas para a produção das teses investigadas foram Mia Couto, Pepetela e

Paulina Chiziane. Embora as literaturas africanas de língua portuguesa componham-

se de cinco sistemas literários distintos (literatura angolana, cabo-verdiana,

guineense, moçambicana e santomense), na nossa busca não obtivemos nenhum

retorno específico de tese para a literatura santomense. Também identificamos que

a literatura moçambicana, a angolana e a cabo-verdiana foram os sistemas literários

mais abordados pelas teses investigadas. De posse dessas informações,

investigamos as abordagens específicas de cada tese selecionada, para perceber

quais teóricos(as) e teorias foram adotados pelos pesquisadores. A partir dos

resultados das investigações, identificamos informações sobre as discussões

estéticas e de teoria literária que se apresentam no capítulo 3, intitulado Visões de

literatura nas teses investigadas.

Para a construção deste capítulo, elaboramos uma nova seleção dentre as

teses que abordaram os três principais temas, para investigarmos, de forma mais

profunda as questões literárias específicas nelas presentes e tirarmos questões

relativas ao trabalho literário elaborado pelos autores privilegiados.

Neste último capítulo, discutimos as questões que sobressaíram, nas teses

investigadas, sobre narratologia, espaço-tempo ficcional, narração da realidade e

sobre a forma investigativa da literatura comparada. Sobre os narradores presentes

nas obras analisadas pelas teses, verificamos o resgate do narrador nostálgico de

Walter Benjamin, aquele cuja característica principal é ser um tipo de contador de

histórias. A questão espaço-temporal nas narrativas releva a importância de esta ser

apresentada aliando-se às relações culturais, históricas e sociais. A realidade

narrada, aspecto muito lembrado nas abordagens sobre literaturas africanas de

língua portuguesa, está presente nas teses investigadas, mas está muito além de

apenas um comprometimento ético com a nação, está presente através dos

recursos estéticos utilizados pelos(as) autores(as) dos CINCO. Os estudos

Page 18: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29 Figura 2 - Resultados

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comparativos foram a forma mais requisitada para a busca de abarcar a questão

pós-colonial e da colonização africana e sua diáspora.

Neste trabalho fica clara a proposta de, além de uma revisão bibliográfica,

construir um diagnóstico da pesquisa acadêmica brasileira sobre literaturas africanas

de língua portuguesa nos últimos cinco anos. Pensamos ser possível depreender da

análise das teses investigadas reflexões sobre a pesquisa literária e sua relação

com os estudos pós-coloniais. Além disso, é nosso propósito oferecer um recorte

das visões estéticas e literárias privilegiadas pela análise de textos que se voltaram

aos cenários delineados pelo colonialismo na África e pelas almejadas

independências ou que se motivaram por situações de guerra (colonial e civil) para

encenar a morte de utopias e os caminhos possíveis a serem trilhados no âmbito do

pós- independência.

Esperamos que esta tese, um estudo interdisciplinar que se vale de

mecanismos de abordagem permitidos pelos estudos biblioteconômicos e literários,

possa ser útil para se conhecer particularidades do trabalho acadêmico realizado por

teses brasileiras sobre as literaturas africanas de língua portuguesa no período

recortado. Essa tese tem, certamente, a intenção de avaliar propostas de

investigação científica que sustentam a tese produzida, como fonte e como

inspiração.

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1 TESES BRASILEIRAS SOBRE LITERATURAS DOS PAÍSES AFRICANOS DE

LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA: ANÁLISE DOS DADOS DISPONÍVEIS

No Brasil ainda são poucos os cursos de Letras que oferecem aos alunos

disciplinas de literaturas africanas de língua portuguesa6, na pós-graduação. Por

esse motivo, muitos estudantes, leitores e pesquisadores brasileiros ainda se

sentem afastados do contato com as obras dessas literaturas.

Embora essa feição curricular se refira, sobretudo, a cursos de Letras

distantes dos grandes centros urbanos, ela não impede que já exista uma

considerável crítica7 voltada às publicações de autores africanos de língua

portuguesa, acessível a estudiosos e leitores dessas literaturas. Dentre essa

produção, muitas teses têm se voltado a discussões importantes sobre a literatura

publicada no pré e no pós-independência de cada um dos países africanos de língua

oficial portuguesa, sob a orientação de estudiosos brasileiros que, mesmo não

pertencentes às universidades selecionadas por esta tese, se responsabilizam por

dissertações e teses sobre as literaturas produzidas nos espaços africanos de língua

portuguesa.

Pesquisas bibliográficas comprovam que as literaturas africanas de língua

portuguesa têm sido estudadas muito mais fora de seus países do que neles e que

tal cenário pode ser explicado por vários motivos. Um deles seria o fato de esses

estudos serem produzidos, com maior regularidade e intensidade em instituições de

ensino portuguesas e brasileiras, sobretudo a partir da década de 90. A estudiosa

santomense, Inocência Mata, critica, em texto publicado em 2013, algumas questões

sobre a presença das literaturas africanas de língua portuguesa em instituições

portuguesas e brasileiras, ressaltando que,

Já em 1995, Carlos Reis chamara a atenção para a existência, na comunidade acadêmica portuguesa (e, acrescento eu, brasileira) de ―uma mal disfarçada resistência contra o reconhecimento do significado próprio das chamadas Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa; fruto, em parte, de reminiscências ideológicas de raiz colonialista, essa resistência funda-se também na leitura de tais literaturas à luz do cânone literário português e europeu, leitura que, desse ponto de vista, é

6 Literaturas africanas de língua portuguesa são produzidas por autores dos seguintes países: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

7 Podemos citar alguns estudiosos e estudiosas que têm uma produção crítica reconhecida como: Maria Aparecida Santilli e Benjamin Abdalla Júnior, Rita Chaves, Tânia Macedo e Simone Caputo, da USP; Carmen Tindó, da UFRJ, Laura Padilha da UFF, Maria Nazareth Soares Fonseca e Terezinha Taborda Moreira, da Puc Minas, dentre outros.

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naturalmente desqualificadora‖ (1995, 77). Creio, porém, que esta não é uma atitude do passado: ela continua, por vezes nem tão disfarçada assim, a condicionar as perspectivas das literaturas em português, embora seja evidente o grande avanço no reconhecimento das literaturas africanas, mormente dado o papel das editoras – essa poderosa instância de legitimação literária– nesse processo.(MATA, 2013, p. 113).

Embora concordemos com a existência do viés epistemológico eurocêntrico

dos primeiros estudos sobre as literaturas africanas de língua portuguesa,

produzidos no Brasil, devemos constatar o avanço das pesquisas desenvolvidas

com o auxílio de vertentes estéticas mais abarcadoras das nuances culturais dos

países africanos colonizados por Portugal e, também, o fato de esses estudos terem

contribuído para o questionamento da visão dessas literaturas como exóticas. É

importante ressaltar, nos estudos de obras das literaturas africanas de língua

portuguesa, o caráter combativo ao colonialismo e questionador de feições

harmonizadoras de projetos de nação, ainda que, muitas vezes, não seja destacado

o modo como textos e obras eram criados como artefato literário, com um trabalho

estético particular.

Postas essas questões, é possível considerar que os estudos das literaturas

africanas de língua portuguesa, no Brasil, têm um histórico já bem definido,

sobretudo se levarmos em conta as pesquisas desenvolvidas por pesquisadores

renomados, pertencentes à fase inicial do estudo dessas literaturas em

universidades brasileiras. A professora Laura Padilha (2010) refere-se à História dos

estudos sobre a África no Brasil e destaca alguns dos pioneiros da área:

Na história dos cursos de Letras, no Brasil, os estudos sobre a África e sua produção literária foram sempre colocados à margem e encobertos por um denso manto de silêncio. Tal situação começa a querer reverter-se nos anos setenta, mormente depois das independências dos países então colonizados por Portugal, países estes cuja literatura constitui a área do conhecimento em que mais diretamente atuo. Foi fundamental, em todo esse processo, o papel da Universidade de São Paulo e dos seus pesquisadores pioneiros, como Fernando Mourão e Maria Aparecida Santilli. (PADILHA, 2010, p. 2).

Ainda segundo Laura Padilha (2010), no Brasil, em vários cursos de Letras,

especificamente, ―nos cursos de Graduação [...], as cinco Literaturas Africanas em

Língua Portuguesa não se elencavam como obrigatórias, conforme se dava com a

Portuguesa e a Brasileira‖ (PADILHA, 2010, p. 2).

Nas considerações de Laura Padilha (2010) fica destacado o fato de as

literaturas africanas terem sido estudadas até meados dos anos 90 em ementas de

disciplinas optativas ou subordinadas à disciplina de literatura portuguesa, mesmo

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após a independência dos países africanos colonizados por Portugal. Vale ressaltar

a exceção constituída pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Minas,

que procurou oferecer, regularmente, desde a sua criação, em 1989, disciplinas

obrigatórias de literaturas africanas de língua portuguesa, em cursos de pós-

graduação, contando com professores de outras universidades brasileiras e mesmo

da África.

Sendo o primeiro programa de pós-graduação, no Brasil, a oferecer cursos

regulares de literaturas africanas de língua portuguesa, o Programa de Pós-

Graduação em Letras da PUC Minas, possuía, até o ano de início desta pesquisa

(2018), duas áreas de concentração: ―Linguística e Língua Portuguesa” e

“Literaturas de Língua Portuguesa‖, nos níveis de Mestrado e Doutorado. Na área de

concentração de Literaturas de Língua Portuguesa, o programa ofereceu, até 2018,

as seguintes linhas de pesquisa:

- Identidade e alteridade na literatura; Estudo da relação identidade/alteridade e suas representações no imaginário social, tal como se configura nas literaturas de língua portuguesa, em seu diálogo com outras literaturas e/ou sistemas semióticos. - Texto, gênese e memória; Estudo de textos das literaturas de língua portuguesa e sua gênese, com vistas à crítica textual, à produção de edições, sua recepção crítica e ficcional e sua recuperação para a historiografia literária. - Modernidade e pós-modernidade na literatura. Estudo da construtividade e da autorreferencialidade textuais com que se elaboram a narrativa, a poesia e o texto dramático da modernidade e da pós-modernidade nas literaturas de língua portuguesa. (PUC MINAS, 2017, s.p. grifo nosso).

O Programa de Pós-Graduação em Letras da PUC Minas, através de seus

objetivos, buscava, então, focalizar as literaturas de língua portuguesa, de que

fazem parte as literaturas africanas escritas em português, assim no plural, por

acreditar que os países africanos que têm a Língua Portuguesa como língua oficial

única ou aliada a outros idiomas, produzam literaturas de língua portuguesa.

No âmbito do Programa de Pós-graduação da PUC Minas são acolhidas

pesquisas sobre as literaturas do Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde,

Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Os estudos literários produzidos

abarcam, com frequência, as literaturas de língua portuguesa: africanas, a

portuguesa e a brasileira destacando as correlações com a teoria literária, bem

como a comparação com as literaturas produzidas em outros países.

A pesquisa acadêmica do Programa de Pós-Graduação da PUC Minas tem

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propiciado uma grande contribuição aos estudos das literaturas africanas de língua

portuguesa, ou seja, das literaturas produzidas nos CINCO. Acerca do lugar

ocupado pela literatura nesses países, Maria Nazareth Soares Fonseca e Terezinha

Taborda Moreira (2007) destacam aspectos da produção literária e das tensões

reveladas pela construção de uma consciência nacional:

o estudo da produção poética dos autores africanos pode ser feito mediante uma abordagem diacrônica das literaturas a que pertencem, o qual observa: as dificuldades do sujeito poético de se encontrar com seu universo africano; o fato de que grande parte da produção literária reflete a busca da identidade cultural e a tomada progressiva de uma consciência nacional; o fato de que é sempre possível detectar, nos autores, o momento poético da luta, que se configura num discurso de resistência e de reivindicação por mudanças; as mudanças que encaminham para um processo de releitura constante que liga o presente e o passado na construção de uma África que se renova continuamente. (FONSECA; MOREIRA, 2007, p. 4).

A abordagem diacrônica das literaturas dos CINCO aliada a um sistema

literário recente destes países, já que ficaram independentes a partir da década de

70, é ainda um obstáculo à pesquisa acadêmica, pois não existe até o momento

uma História oficial das literaturas dos CINCO, apesar de muitos críticos

apresentarem suas visões sobre a questão. Nesse sentido, podem ser citadas

algumas obras relevantes: Roteiro da literatura angolana (1985), de Carlos

Ervedosa, Literatura africana de expressão portuguesa (1987), de Manuel Ferreira;

Literaturas africanas de expressão portuguesa (1995) de Pires Laranjeira; A nova

literatura da Guiné Bissau (1998), de Moema Augel e Literatura africana, Literatura

necessária (1985), de Russel G. Hamilton, Polifonia Insulares (2010), de Inocência

Mata, A formação do romance angolano (1999), de Rita Chaves e Cabo Verde:

literatura em chão de cultura(2008), de Simone Caputo Gomes.

Convém ressaltar que havia, em todos os CINCO, textos literários produzidos

já no século XIX, mesmo que fossem produzidos de forma incipiente e pouco

conhecidos dos estudiosos não africanos. É importante destacar a força da literatura

vigente no período anterior às independências e, em países como Angola, Cabo

Verde e Moçambique, a existência de projetos literários que introduziram a

modernidade literária, embora estivessem, ainda, sob o domínio da colonização

portuguesa.

Podemos dizer que, a partir da introdução de cursos de literaturas africanas

de língua portuguesa em universidades portuguesas e, posteriormente, em cursos

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de Letras, no Brasil, surgem estudos mais constantes e significativos sobre essas

literaturas, muitas vezes vistas como literaturas ainda em formação, sem muitos

recursos estéticos. ―Literaturas menores‖, certamente não no sentido proposto por

Deleuze e Félix Guattari8.

Essa questão é apontada por Inocência Mata quando fala do:

[...] incômodo que qualquer estudioso de literaturas africanas de língua portuguesa sente (ou já sentiu – e que eu já senti tanto como estudante quanto como profissional) no seu ofício é a desvalorização do seu objeto de estudo, considerado, implícita ou explicitamente, como literaturas menores. Tal atestado de menoridade decorre de uma resistência eurocêntrica (a que não está ausente o desconhecimento) em relação às outras literaturas ditas universais, mesmo na academia (no Brasil e em Portugal), onde se esperaria um espírito mais condizente com a ―qualidade do que é universal‖ para que o termo universidade remete. (MATA, 2014, p. 36).

Ao pesquisarem sobre literaturas africanas de língua portuguesa muitos

pesquisadores brasileiros defrontam-se com diferenças culturais, nem sempre bem

compreendidas. No entanto, não se pode desconsiderar a contribuição séria e

robusta desses pesquisadores na produção crítica e editorial dessas literaturas. É

também consistente o empenho realizado por docentes brasileiros na formação de

pesquisadores, nessa área, e mesmo de pesquisadores africanos que procuram as

instituições brasileiras, para alavancar a crítica literária dos CINCO. É pertinente

considerar que os esforços de estudiosos de literaturas produzidas em países que

não sejam os seus esbarram em questões sócio-históricas que exigem

conhecimentos que vão além dos estudos literários. É o que considera Inocência

Mata (2014) ao discutir a questão da ―validação externa‖ de obras de autores

africanos:

Mas não pode ser um acrítico movimento, como a que decorre a dinâmica da periferia para o centro em que se gera algumas particularidades que caracterizam o fenômeno literário nos países africanos (falo particularmente dos cinco países africanos de língua oficial portuguesa). Um deles é ―um movimento em que os escritores olham para fora – normalmente para a antiga metrópole e daí para o ‗mundo‘ – para serem reconhecidos‖ (Mata, 2011). Muitas são as modalidades dessa ―validação‖ estética sendo a que se segue a mais superficial, embora muito eficaz nos danos que provoca: se foi publicado em Portugal ou no Brasil é porque a obra tem qualidade, se não o foi é porque não tem, afinal o ―critério editorial‖ é a qualidade e quaisquer outras considerações revelam fantasmagorias e complexos. Nesse processo, o Ocidente e seus avatares (lugares, locais e sujeitos) continuam a ser o modelo, não se tendo em conta que se o cânone literário é o reflexo e o

8 DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 1975

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instrumento de um determinado paradigma, também pode ser lugar onde se enceta a desconstrução desse mesmo paradigma, através da ―descolonização da mente‖ (Ngugi Wa Thiong‘o). (MATA, 2014, p. 36).

Podemos dizer que fazer crítica acadêmica sobre a produção literária de país

que não o do(a) estudioso(a) ou do(a) crítico(a) gera limitações, mas é na

universalidade do objeto de estudo da literatura – a obra literária em si – que está a

atenuante destes obstáculos. Vale ressaltar a importância de buscar teorias literárias

produzidas nos CINCO para melhor compreender questões caras aos estudos

literários como a discussão de conceitos como realidade, tempo, espaço, memória,

identidade e estratégias literárias mais afeitas à escrita criativa africana, presentes

na construção do texto.

Reiteramos que pretendemos fazer uma investigação sobre as práticas de

leitura acadêmica expostas em teses produzidas no Brasil sobre as literaturas

africanas de língua portuguesa, defendidas nos anos de 2013 a 2017. Partindo de

uma seleção de teses apresentadas em vários programas de pós-graduação

brasileiros, propomos identificar os pressupostos críticos que orientaram os estudos

das literaturas africanas de língua portuguesa, com a intenção de avaliar o impacto

de tais estudos na construção de pontos de vista sobre as concepções de literatura

abordadas nesses estudos. É intenção averiguar também quais nações dos CINCO

têm suas obras literárias mais estudadas nas teses selecionadas, quais autores e

autoras são mais contemplados, nessas produções científicas, bem como, quais

temas são abordados por essa produção acadêmica.

Consideramos, assim, que os modos de leitura, as investigações e as

discussões acadêmicas, nas teses brasileiras sobre literaturas africanas de língua

portuguesa, no período mencionado, indicam pressupostos e estratégias críticas da

teoria literária em geral e de outros campos de conhecimento que dialogam com a

literatura. Mesmo sabendo que, quando diferentes estudos críticos discutem um

mesmo tema, a abordagem é sempre singular, pensamos, ainda de forma hipotética,

que muitos pressupostos teóricos semelhantes podem estar presentes nas teses,

pois, além das relações que os textos literários estabelecem com diferentes campos

reflexivos, estes se entrelaçam com outras áreas do conhecimento, sobretudo com a

Antropologia, a Filosofia, a História, a Psicologia e a Sociologia. É intuito deste

trabalho deixar mais evidente quais os suportes teóricos mostram-se predominantes

nas teses investigadas. A análise das teses expõe temas preponderantes, a maioria

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relacionada com a colonização portuguesa, em África, com as guerras de

independência e civil e com os rumos tomados em cada um dos países no pós-

independência, encenados por agenciamentos literários diversos.

Nesta tese adotaremos como método de pesquisa a análise documental, que,

segundo Marli André e Menga Lüdke (1986), tem como objetivo identificar

informações pontuais nos documentos a partir de questões ou hipóteses de

interesse. A escolha desta metodologia para nossa pesquisa pareceu-nos

adequada, por perceber que, ao propor partir das questões teóricas que alicerçam

os estudos das literaturas africanas de língua portuguesa, construímos uma

pesquisa por amostragem das teses produzidas, no período delimitado, para

investigar tais indagações, bem como consolidar outras investigações que com elas

se relacionam.

O estudo através da análise documental parece-nos o caminho ideal para

refletir sobre nossas questões investigativas, pois:

Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentem afirmações e declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte "natural" de informação. Não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto. (ANDRÉ, LUDKE, 1986, p. 40).

Sabendo que as informações contextualizadas nos documentos oferecem dados

para uma reflexão embasada sobre um assunto, buscamos realizar uma análise

documental que contemple as seguintes etapas:

1. A caracterização do tipo de documento;

2. Seleção da fonte dos documentos;

3. A definição da amostragem;

4. A análise, propriamente dita, dos dados.

Na tentativa de produzir uma investigação que dê maior visibilidade à

pesquisa acadêmica brasileira sobre as literaturas africanas de língua portuguesa,

selecionamos para este estudo apenas teses. O recorte se explica porque, embora

saibamos da riqueza da comunidade científica brasileira na produção de

dissertações, artigos e capítulos de livros voltados à temática, pensamos que, nas

teses, existe uma maior profundidade de reflexão que se explica por dois motivos

principais: pelo tempo de dedicação à pesquisa e pela especificidade do documento

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produzido, ao finalizar o estudo.

Primeiramente, pensamos em selecionar teses das universidades que

contivessem, em seus programas de doutorado em Letras, uma linha de pesquisa

que contemplasse as literaturas africanas de língua portuguesa. Em teste preliminar

dessa hipótese de fonte de dados para nossa tese, foi verificado que muitas das

teses sobre as literaturas africanas de língua portuguesa eram oriundas de

instituições que não contemplam essa linha de pesquisa em seus cursos de pós-

graduação. Por esse motivo, optamos por obter as teses a partir do Catálogo de

Teses e Dissertações (CDT) da CAPES, disponível para acesso livre online. Trata-se

de recurso que, conforme a instituição constitui-se de

ferramenta, criada em 2002, que permitia a pesquisa apenas por autor, título, instituição, nível e ano de defesa do trabalho, agora também permite a pesquisa nos campos resumo, palavras-chave, biblioteca, linha de pesquisa, área de conhecimento, programa, agência financiadora, nível e, caso deseje, a possibilidade de pesquisar em todos os campos. (CAPES, 2017, sp).

Escolhida como fonte de informação o Catálogo de teses e Dissertações da

CAPES, passamos à delimitação do tema: literaturas africanas de língua portuguesa

e sua crítica no Brasil. A escolha desta fonte de informação se deu depois de testes

com pequena amostragem. Foi realizada uma pesquisa com a metodologia do

projeto feito para esta tese. O resultado foi uma comunicação no Seminário de

discentes da PUC Minas - 20189. Foram averiguados dois catálogos de Teses e

Dissertações brasileiras: o Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES10 e a

Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) 11. A escolha foi pelo

9 Seminário Discente do Programa de Pós-graduação em Letras PUC Minas – 2018. O evento criado em 2018, tem a proposta de periodicidade anual e de ser aberto a toda a comunidade acadêmica. (PUC Minas, 2018).

107 Catálogo de Teses e dissertações da CAPES, funciona dentro da plataforma Sucupira da Capes, disponibiliza resumos e textos integrais, quando autorizados, de todas as teses de doutorado e dissertações de mestrado apresentadas no Brasil. Por enquanto, a ferramenta tornou disponíveis as informações de 2013 a 2016, mas o objetivo é, em breve, ter o histórico dos trabalhos de conclusão de pós-graduação no país desde o ano de 1987.

11 A Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), do (IBICT), integra e dissemina, em um só portal de busca, os textos completos das teses e dissertações defendidas nas instituições brasileiras de ensino e pesquisa. O acesso a essa produção científica é livre de quaisquer custos. A BDTD contribui para o aumento de conteúdos de teses e dissertações brasileiras na internet, o que significa a maior visibilidade da produção científica nacional e a difusão de informações de interesse científico e tecnológico para a sociedade em geral. Além disso, a BDTD também proporciona maior visibilidade e governança do investimento realizado em programas de pós-graduação. (IBICT, 2018). A (BDTD) foi concebida e é mantida pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) no âmbito do Programa da Biblioteca

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Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES (CTD)12, pois este contempla 415

instituições brasileiras produtoras de teses e dissertações, enquanto que na BDTD

do IBICIT apenas 114 universidades depositaram suas produções cientificas.

Esperamos, além de realizar um estudo sobre as teses produzidas, também

contribuir com uma avaliação das ferramentas de pesquisa disponíveis sobre teses e

dissertações produzidas no Brasil. Assim, poderemos aferir se os resultados das

buscas feitas oferecem as respostas esperadas pelos pesquisadores.

O CTD é uma ferramenta que possui diversas maneiras de coletar as

informações. Uma delas é a busca a partir das palavras-chave. Escolhemos

palavras-chave selecionadas por nós, a partir de reflexões teóricas, já existentes,

sobre literaturas africanas de língua portuguesa. Em primeiro lugar, a pesquisa se

norteou pela palavra-chave ―literaturas africanas de língua portuguesa‖; depois a

delimitamos de forma a encontrar as palavras-chave que possibilitassem a

localização de teses produzidas sobre obras, autores e sobre o sistema literário de

Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Foi feito o

uso também da pesquisa por ano, ou seja, pela delimitação do período escolhido

para esta pesquisa: 2013 a 2017. Todas as teses encontradas com esta delimitação

fizeram parte do corpus da investigação. Esta seleção teve grande importância, pois

permitiu ir além de uma fortuna crítica sobre as literaturas africanas de língua

portuguesa no Brasil e considerar também aspectos da reflexão teórico-crítica das

teses investigadas.

Como o objetivo foi estudar a pesquisa acadêmica sobre literaturas africanas

de língua portuguesa realizada em várias regiões do Brasil, optamos por, buscar no

Catálogo de Dissertações e Teses da CAPES, não fossem recuperadas teses de

alguma região geográfica brasileira 13, que seriam investigados os catálogos digitais

de teses das grandes universidades destas regiões, descobertas na pesquisa no

CDT da CAPES. Em caso positivo, as teses seriam incorporadas ao corpus da

pesquisa.

No intuito de pesquisar de que forma as literaturas africanas de língua

Digital Brasileira (BDB), com apoio da Financiadora de Estudos e Pesquisas (FINEP), tendo o seu lançamento oficial no final do ano de 2002 (IBICT, 2018).

12 A partir deste ponto: Adotaremos a sigla CTD para tratar do Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.

13 O Brasil se encontra dividido em cinco grandes regiões geográficas: Sul, Sudeste, Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

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portuguesa foram abordadas no corpus selecionado, analisamos, principalmente, os

resumos, as palavras-chave, a introdução, as considerações finais e as referências

bibliográficas de cada tese. Isso foi feito para buscar quais foram os principais

sistemas literários de países de língua oficial portuguesa analisados nas teses, os

principais temas, autores, obras e teóricos(as) mais frequentes, dentro do período

selecionado. Para extração de dados das teses, além da leitura, recorremos a

ferramentas computacionais de tratamentos de dados do Microsoft Office14.

Uma reflexão teórico-crítica dos resultados obtidos permeia as discussões

das práticas crítico-literárias das teses produzidas sobre as literaturas africanas de

língua portuguesa pela comunidade acadêmica brasileira ao longo do período

selecionado. Um primeiro tópico será destinado à descrição da coleta dos dados.

1.1 Investigação de teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa

depositadas no CTD

Ao iniciar a busca no CDT, esbarramos em sérios problemas de indexação de

texto15 em decorrência da liberdade dos pesquisadores na criação de palavras-

chave. Esse primeiro impasse nos leva a considerar que, sem um controle de

vocabulário16 na construção das palavras-chave, estudos relevantes podem ter

ficado de fora desta pesquisa. A seleção das palavras-chave feitas para a

elaboração desta pesquisa também pode ter excluído estudos significativos

produzidos no Brasil, em razão da pessoalidade impressa nas buscas em catálogos

de informação.

As palavras-chave, para esta pesquisa, foram escolhidas do assunto geral para o

14

No pacote Microsoft Office, foi utilizado o Word, Excel. No Word, utilizamos os recursos de localizar, contar palavras, classificar, etc.... No Excel, foi feito o uso das tabelas, tabelas dinâmicas e fórmulas estatísticas tais, como média, soma, percentagem, dentre outras.

15 Indexação: Representação do conteúdo temático de um documento por meio dos elementos de uma linguagem documentaria ou de termos extraídos do próprio documento (palavras-chave e frases-chave). . (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 193)

16 Gestão de um vocabulário com a finalidade de desambiguizar e restringir a forma dos termos, além de limitar o número de conceitos e termos disponíveis para a indexação. O controle é alcançado para distinguir entre homógrafos, de modo que cada um tenha apenas um significado, e a partir da escolha de um conjunto de sinônimos e quase-sinônimos, um deles sendo preferido para uso na indexação. O propósito dessas restrições é aumentar a probabilidade de indexadores e pesquisadores escolherem o mesmo termo para etiquetar um conceito particular. (CONTROLE DE VOCABULÁRIO. In. Teusaro OC. USP, 2015).

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específico, conforme sugerem as normas biblioteconômicas para elaboração de

palavras-chave:

1. Literatura africana

2. Literaturas africanas

3. Literaturas africanas de língua portuguesa

4. Literatura angolana

5. Literatura moçambicana

6. Literatura guineense

7. Literatura santomense

8. Literatura cabo-verdiana

9. Angola

10. Cabo Verde

11. Guiné-Bissau

12. Moçambique

13. São Tomé e Príncipe

Para delimitar ainda mais o assunto, colocamos todas as palavras-chave

entre aspas. Este recurso de colocar o termo pesquisado entre aspas permite a

localização de resultados que tenham exatamente o termo composto digitado. Por

exemplo, ao digitar ―literatura angolana‖, no momento da busca o resultado da

pesquisa registrará somente teses que tenham o termo exatamente como foi

digitado. Vale ressaltar que este delimitador de assunto em pesquisas serve a

qualquer buscador de dados, sejam os buscadores da internet (Google, por

exemplo), de bibliotecas ou de fontes de informação.

Embora já esteja em desuso o termo literatura africana porque remete a uma

visão de que a literatura estudada seria a do continente e não de parte dele,

julgamos ser interessante considerar o termo para pesquisa já que, no início das

pesquisas, no Brasil, sobre a literatura dos CINCO, era comum o uso da expressão

no singular. Atualmente, com o conhecimento já consolidado, a expressão no

singular só se justifica para abarcar características comuns das literaturas do

continente africano. Não temos informação de que, no Brasil, haja controle de

palavras-chave nos programas de pós-graduação, para que os bancos de dados

possam realizar ontologias17 mais eficazes em seus metadados18 e, assim,

17

Ontologia: Termo oriundo da Filosofia, ―que se assemelha a uma linguagem documentária

Page 30: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29 Figura 2 - Resultados

28

produzirem resultados mais precisos nas buscas em catálogos online de bibliotecas

e/ou de fontes de informação.

A escolha da expressão ―literaturas africanas de língua portuguesa”, e não

outros como ―literaturas em português”, ―literaturas lusófonas‖, se justifica pelo fato

de esta expressão ser a mais adotada pelos textos teóricos e pelos programas de

pós-graduação em Letras, inclusive, ser a legitimada pelo Programa de Pós-

Graduação em Letras da PUC Minas, em suas linhas de pesquisa e produções

científicas.

Ainda sobre as palavras-chave, convém ressaltar que o CTD não utiliza todas

as palavras-chave indicadas pelo arquivo original, isto é, teses e/ou dissertações.

Para tentarmos entender o critério de seleção utilizado pelo CTD, enviamos uma

consulta, por e-mail, ao sistema da CAPES, solicitando informação de como se dá a

seleção de palavras-chave, mas não tivemos retorno. Na mesma consulta

indagamos sobre os separadores de especificação das palavras-chave, mas

também não obtivemos resposta.

Ao optar pelo uso da base de dados da CAPES, verificamos que só

conseguiríamos obter informações, além da referência bibliográfica das teses

selecionadas, sobre aquelas produzidas após a implantação da ―Plataforma

Sucupira” 19 (iniciada em 2013) e que tivesse a autorização de divulgação.

Esclarecidos os caminhos percorridos para obtenção dos dados, passamos a

considerar a amostragem dos resultados obtidos em cada busca e depois fizemos a

análise dos dados selecionados. Nesta primeira busca, julgamos necessário

apresentar as telas do CTD para mostrar a necessidade de se refinarem os

resultados que queríamos (apenas teses).

Na figura 1, temos o resultado de busca sem o uso das aspas. Sem este

delimitador, os resultados são imensos e inespecíficos, pois segundo F. W.

Lancaster (1993),

o problema em todas as buscas é tentar manter o equilíbrio entre revocação e precisão. O que é comumente preciso é obter o máximo de revocação, porém mantendo um nível aceitável de precisão. Quando a estratégia de

18

Metadados: Informação que descreve a estrutura dos dados e sua relação com outros, por exemplo: uma etiqueta no registro de uma base de dados, que indica o campo que contem o nome do autor. (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 246).

19 É uma nova e importante ferramenta para coletar informações, realizar análises e avaliações e ser a base de referência do Sistema Nacional de Pós-Graduação - SNPG (SNPG).(CAPES, 2018, s.p.)

Page 31: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29 Figura 2 - Resultados

29

busca é cotejada com a base de dados, a qualidade da própria base de dados torna-se, evidentemente, um dos fatores principais que influem no desempenho. (LANCASTER, 1993, p. 77).

Ao utilizarmos o CTD vimos que para ter uma boa revocação (quantidade de

retornos) e com resultados precisos e relevantes, o uso de termos entre aspas torna-

se imprescindível. Pois como podemos ver nas duas figuras abaixo, sem o uso de

aspas o resultado é imenso e como uso de aspas o retorno é menor, o que pode

significar resultados mais relevantes e precisos.

Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas

Fonte: Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES –set. 2018

Ainda sobre delimitadores, podemos observar uma dificuldade no que se

refere ao tipo de obra – tese ou dissertação. Se observarmos a figura 2, veremos

que temos três opções em ―tipo‖, mas nesta mesma tela só aparecem dois tipos

―mestrado e doutorado‖ e, somente ao clicarmos descobrimos a terceira opção, que

se trata de ―mestrado profissional‖. Nesta modalidade de mestrado exige-se um

trabalho de conclusão

que constitui-se em um Relatório Técnico ou Dissertação com proposta de intervenção, abordando o diagnóstico total ou parcial de organizações públicas, devendo ser observadas as normas da NBR/ABNT e as premissas do método científico. (PROFIAP, 2017, s.p. ).

Entendemos essa distinção, já que nessa modalidade de pós-graduação o

Page 32: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29 Figura 2 - Resultados

30

mestrando pode, também, produzir dissertação para fins de obtenção de título de

mestre e um pesquisador pode precisar buscar apenas as dissertações produzidas

pelos cursos de mestrado profissional, salientamos, porém a necessidade de isso

estar claro nas especificações de busca.

Fonte: Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES – set. 2018

Verificamos, também, a necessidade de se aplicarem filtros pela duplicidade

de opções, como podemos notar na figura 3, a grande área do conhecimento

―Linguística, Letras e Artes‖ é repetida duas vezes, com a mesma designação,

embora com quantidade de resultados diferentes. Ao marcarmos uma de cada vez,

foi possível descobrir, ao acaso e pela repetição da situação em outras pesquisas,

que a grande área se repete porque aquela tem maior número de resultados é a que

possui a opção ―Detalhes” (resumo, texto completo e outras opções) e a grande área

de conhecimento com menor número de resultados é a que apresenta teses

produzidas em data anterior ao ano de criação da Plataforma Sucupira, ou seja,

antes de 2013. Podemos ver o detalhamento destas informações na figura 3.

Figura 1 - Resultados com a palavra-chave "literatura africana" com uso de

aspas

Page 33: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29 Figura 2 - Resultados

31

Fonte: Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES – set. 2018

É interessante notar que foi recuperada uma tese da área ―Ciências Sociais

Aplicadas‖ usando a palavra-chave ―literatura africana‖, isso confirma que o sistema

CTD da CAPES busca em todo o texto das teses e não apenas nas palavras -chave,

como podemos ver na figura 4.

Fonte: Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES- set.2018

Após os primeiros resultados obtidos, no momento da escrita do projeto de

tese, definimos que a pesquisa seria feita utilizando-se a palavra-chave selecionada

Figura 2 - Duplicidade da grande área de conhecimento “Linguística, Letras e Artes”

Figura 3 -Tese da área “Ciências Sociais Aplicadas” recuperada com a palavra-chave “literatura africana”

Page 34: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29 Figura 2 - Resultados

32

entre aspas e aplicando os seguintes filtros:

Grande área do conhecimento: Linguística, Letras e Artes (marcando as duas

opções que aparecem).

Ano: Marcando, dentre os resultados, as opções dos anos de 2013 a 2017.

Tipo: Doutorado (Tese)

Feita a delimitação do tema e ilustração do passo a passo da pesquisa, segue

a análise dos dados colhidos no CTD.

1.2 Análise dos dados

Realizamos uma pesquisa no CTD, no dia 14 de maio de 2018 (momento da

escrita do projeto de pesquisa), aplicando a metodologia de pesquisa supracitada,

cujos resultados são apresentados na tabela a seguir:

Tabela 1 - Resultado da busca realizada na data de 14 de maio de 2018

Palavras-chave utilizadas na busca no CTD

Total de resultados

Teses sobre outros assuntos

Teses de cada sistema literário

Tese(s) contadas em outra(s) palavras-chave

Literatura africana 3 1 2 0

Literaturas africanas de língua portuguesa

4 0 4 0

Literatura moçambicana 8 0 6 2

Moçambique 35 13 13 9

Literatura angolana 7 0 7 0

Angola 31 9 11 11

Literatura cabo-verdiana 4 0 4 0

Cabo-verde 12 4 1 7

Literatura santomense 0 0 0 0

São Tomé e Príncipe 2 0 0 2

Literatura guineense 2 0 2 0

Guiné-Bissau 11 9 1 2

TOTAL GERAL 119 35 51 33

Fonte: dados da pesquisa

No momento da escrita deste capítulo, ao conferirmos a consulta, foi

observado que a quantidade de teses sobre literaturas africanas de língua

portuguesa tinha aumentado. Para confirmar e completar os dados analisados,

refizemos a busca utilizando os critérios já citados nesta tese, pois o CTD realiza

Page 35: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29 Figura 2 - Resultados

33

coleta de teses anualmente, ―com atualizações no 1º semestre de cada ano.

Eventualmente, a atualização pode ocorrer no 2º semestre em decorrência de

ajustes no calendário da coleta dos dados‖ (CATÁLOGO, 2018, s.p).

O resultado da busca por teses sobre literaturas africanas de língua

portuguesa, produzidas no Brasil, de 2013 a 2017, foi o seguinte:

Tabela 2 – Resultado da busca realizada dia 02 de setembro de 2018

Palavras-chave utilizada na busca no CTD

Quantidade de resultados

Outros assuntos

Cada sistema literário

Tese(s) contadas em outra(s) palavras-chave

Literaturas africanas 18 1 17 2

Literatura africana 7 0 7 0

Literatura angolana 9 0 9 11

Angola 33 9 24 0

Literatura cabo-verdiana 5 0 5 14

Cabo Verde 30 13 17 0

Literatura guineense 2 0 2 5

Guiné –Bissau 13 8 5 0

Literatura moçambicana 12 2 10 16

Moçambique 52 29 23 0

Literatura santomense 0 0 0 3

São Tomé e Príncipe 7 3 4 0

Total Geral 188 65 123 51

Fonte: dados da pesquisa

Na análise dos primeiros resultados da busca no CTD tivemos 72 teses e

mais duas teses oriundas de outras fontes online para compor o estudo que iremos

produzir. Podemos explicar, melhor, na próxima tabela:

Tabela 3 - Total de teses

Resultado da busca no catálogo 02-09-2018 Quantidade

Total geral 188

Teses de cada sistema literário 125

Teses que não são sobre literaturas africanas de língua portuguesa 65

Tese(s) contadas em outra(s) palavras-chave 51

Total de teses selecionadas para o estudo 74

Fonte: dados da pesquisa

O total de teses selecionadas para o estudo está indicado na tabela 3. Como

na busca no CTD não foi encontrada nenhuma tese produzida em instituições de

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34

ensino superior das regiões Norte e Centro-Oeste, lançamos mão da possibilidade

de buscar teses destas instituições de ensino superior em seus sites específicos e

na BDTD do IBICT, pois tínhamos conhecimento de estudos literários oriundos de

pesquisadores destas regiões. A busca, dentro dos critérios estabelecidos para esta

pesquisa, resultou em uma tese produzida na região Norte e outra na Centro-Oeste.

Assim temos 74 teses para compor nosso corpus de investigação. A tabela a seguir

especifica a quantidade de teses, por região, a serem abordadas neste estudo:

Tabela 4 - Resultado das teses selecionadas por região brasileira das

Instituições de Ensino Superior de Ensino (IES)

Localização da IES depositária da tese Total

Sudeste 44

Sul 20

Nordeste 8

Centro-oeste 1

Norte 1

Total geral 74

Fonte: Dados da pesquisa

Pelo cenário da educação brasileira20 já prevíamos que a Região Sudeste

teria mais instituições produtoras de teses sobre as literaturas africanas de língua

portuguesa. Isto se confirmou na consulta: as instituições de ensino superior desta

região foram responsáveis pela produção de mais de 60% das teses sobre

literaturas africanas de língua portuguesa nos anos de 2013 a 2017. Cabe informar

outro item que também já era esperado: a alta concentração de pesquisadores em

três estados da Região Sudeste do Brasil (São Paulo, Minas Gerais e Rio de

Janeiro). Porém, as universidades da Região Sul também contribuíram

significativamente. Podemos ver na tabela 5, como foi a produção de teses por IES

em cada região geográfica do Brasil:

20

O número de alunos nas universidades e faculdades ainda está distante da proporção da população nas regiões. As diferenças de acesso compõem o cenário geral do Ensino Superior brasileiro na modalidade presencial. De fato, a distribuição das matrículas dos cursos de graduação, no período citado [2010], ratificam as disparidades, com maior concentração de matrículas na Região Sudeste (48,7%) e baixo acesso na Região Norte, com apenas 6,5% das matrículas. (BARROS, Aparecida, 2015, p.364).

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35

Tabela 5 - Instituições de Ensino Superior de Ensino depositárias das teses

investigadas

IES depositárias da(s) tese(s) Quantidade

Universidade de São Paulo – Região Sudeste 19

Universidade Federal do Rio de Janeiro – Região Sudeste 9

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Região Sudeste 6

Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Região Sul 6

Universidade Federal de Pernambuco – Região Nordeste 4

Universidade Estadual de Londrina – Região Sul 4

Universidade Federal da Bahia – Região Nordeste 4

Universidade Federal de Santa Catarina – Região Sul 3

Universidade Federal do Rio Grande – Região Sul 2

Universidade Federal do Paraná – Região Sul 2

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – Região Sudeste 2

Universidade Federal Fluminense – Região Sudeste 2

Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Região Sudeste 1

Universidade Federal do Pará – Região Norte 1

Universidade Federal de Minas Gerais – Região Sudeste 1

Universidade Est.Paulista Júlio de Mesquita Filho/S.J.R. Preto - Região Sudeste

1

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Região Sul 1

Universidade do Sul de Santa Catarina – Região Sul 1

Universidade de Brasília – Região Centro-Oeste 1

Universidade Est.Paulista Júlio de Mesquita Filho/Assis - Região Sudeste 1

Universidade Federal do Espírito Santo - Região Sudeste 1

Universidade Est.Paulista Júlio de Mesquita Filho/Araraquara - Região Sudeste

1

Universidade Federal de Santa Maria – Região Sul 1

Total Geral 74

Fonte: Dados da pesquisa

A concentração da pesquisa em literaturas africanas de língua portuguesa

nas regiões Sudeste e Sul, especificamente em quatro estados brasileiros, retrata

um maior número de discentes de ensino superior nessas regiões. Eles perfazem

45% das matrículas de todo o país, segundo dados do Censo da Educação Superior

- 2017. O conhecimento de onde são produzidas teses sobre literaturas africanas de

língua portuguesa é muito importante, pois propicia informações concretas para os

interessados em fazer pesquisas sobre a área e, também, possibilita que estudantes

brasileiros e, principalmente os estrangeiros, que pesquisam o tema ―literaturas

africanas de língua portuguesa‖ possam saber onde estão as possíveis instituições

que os acolherão.

No período de 2013 a 2017, a produção de teses sobre literaturas africanas

de língua portuguesa foi instável, havendo um crescimento nos três primeiros anos e

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36

queda nos dois últimos, como podemos notar na tabela:

Tabela 6 - Ano de produção das teses investigadas

Ano de produção das teses Quantidade

2013 12

2014 16

2015 19

2016 14

2017 13

Total geral 74

Fonte: Dados da pesquisa

Não era objetivo da pesquisa averiguar a questão de gênero dos autores nem

dos pesquisadores, mesmo assim foi possível verificar uma maioria de autoras nas

teses investigadas. Em dados estatísticos brasileiros verificamos que as mulheres

possuem mais anos de estudos do que homens, conforme os dados da Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), de 2014, realizada pela Fundação

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):

Das mulheres ocupadas com 16 anos ou mais de idade, 18,8% possuíam Ensino Superior completo, enquanto para homens, na mesma categoria, esse percentual é de 11%, apontam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014, realizada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa indica ainda que as mulheres são maioria para Ensino Médio completo ou Superior incompleto: 39,1% das mulheres se enquadram nessa categoria, contra 33,5% dos homens. (BRASIL, 2016, s.p).

Assim sendo, tivemos uma maioria expressiva de mulheres brasileiras tanto

na orientação21 quanto na confecção das teses investigadas. Mais de 70% dos

pesquisadores que estudaram, em nível de doutorado, as literaturas africanas de

língua portuguesa, são mulheres, como podemos ver a seguir:

Tabela 7 - Gênero das autorias das teses

Gênero das autorias das teses Quantidade

Feminina 53

Masculina 20

Não foi possível inferir o gênero do(a) pesquisador(a)

1

Total geral 74 Fonte: Dados da pesquisa

21

A tabela com nomes do(as) orientadores(as) das teses investigadas podem ser vistas no anexo D.

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37

Como este dado de gênero é apenas ilustrativo, não foi utilizada nenhuma

metodologia para ter certeza do gênero declarado pela autoria, apenas inferimos

pelo nome social adotado na referência da tese no CTD. A constatação sobre a

autoria feminina das teses investigadas não se estendem às obras analisadas, uma

vez que a maioria das obras estudadas é de autoria masculina. Esse dado reflete o

fato de as mulheres não ocuparem a maioria das publicações no mercado editorial,

logo, a autoria das obras literárias estudadas pelas pesquisadoras brasileiras de

literaturas africanas de língua portuguesa é, como se esperava, majoritariamente,

masculina (72% dos livros estudados são produzidos por autores), como pode ser

observado na tabela 8.

Tabela 8 - Gênero das autorias das obras estudadas

Gênero das autorias das obras estudadas Total

Masculino 97

Feminino 32

Autoria não informada no resumo 6

Total 135

Fonte: Dados da pesquisa

A análise de dados inicial ilustra, quantitativamente, as informações que

recolhemos nestas 74 teses selecionadas para o estudo. Passaremos para o

detalhamento de quais sistemas literários, temas, obras, autores dos CINCO foram

abordados nas teses investigadas.

1.3 Sistemas literários, autoria e obras abordadas nas teses investigadas22

Os sistemas literários são conjuntos de obras, autores, leitores e estudos

críticos. Nesses sistemas são reconhecidas marcas estéticas singulares dos autores

daquelas nações. Segundo Antônio Cândido, para termos um sistema literário em

um país é preciso mais do que algumas obras literárias de destaque. Segundo o

crítico literário brasileiro, podemos destacar três elementos essenciais para a

formação de um sistema literário:

22

Teses investigadas: a fim de evitar repetição, definimos este termo para falar do nosso corpus, formado pelas 74 teses brasileiras sobre literaturas africanas de língua portuguesa, produzidas entre 2013 a 2017, localizadas no CTD.

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38

a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor, (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns a outros. O conjunto dos três elementos dá lugar a um tipo de comunicação inter-humana, a literatura, que aparece sob este ângulo como sistema simbólico, por meio do qual as veleidades mais profundas do indivíduo se transformam em elementos de contato entre os homens, e de interpretação das diferentes esferas da realidade. Quando a atividade dos escritores de um dado período se integra em tal sistema, ocorre outro elemento decisivo: a formação da continuidade literária, – espécie de transmissão da tocha entre corredores, que assegura no tempo o movimento conjunto, definindo os lineamentos de um todo. (CÂNDIDO, 1981, p. 25-26).

Nesse sentido, podemos dizer que um país pode apresentar manifestações

literárias e não possuir um sistema literário nacional, pois necessita de uma tradição

literária, de uma continuidade e de leitores. Assim, mesmo com produção literária

relevante nos CINCO, antes da independência destes, não podemos dizer que

temos um sistema literário pleno, pois não contamos com alguns dos elementos

essenciais relacionados por Antonio Candido.

Na esteira dessas reflexões, Anita M. R. Moraes (2010) reflete sobre o

conceito de sistema literário a partir de estudos da obra A formação do romance

angolano (1999), de Rita Chaves, e afirma que

o gênero se consolida no sistema literário angolano, concorrendo para a consolidação do próprio sistema, quando alcança uma forma apropriada, capaz de esteticamente responder aos dilemas impostos pela sociedade colonial. N’A formação do romance angolano, a atenção não recai sobre a formação de um conjunto de produtores, sobre o número de leitores, os modos de edição e circulação das obras, índices de letramento, percentagem de falantes de português, etc.; recai sobre a estrutura interna das obras. (MORAES, 2010, p. 73).

Vemos que, além dos elementos citados por Antonio Candido (1981) para se

perceber a presença de um sistema literário em um país, um gênero literário, no

caso do sistema angolano, o romance, pode contribuir significativamente para a

consolidação deste.

Em um sistema literário há uma grande importância para o elemento da

recepção, seja de fruição, seja da crítica. Interessa-nos perceber nas teses

investigadas o(s) ponto(s) de vista elaborado(s) pela leitura crítica dos sistemas

literários compostos pelas literaturas africanas de língua portuguesa.

Os estudos das literaturas africanas trazem em si uma característica muito

peculiar, a ideia da generalização. Essa característica também se mostra nos

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39

estudos literários africanos pós-coloniais, tanto que algumas teses ainda se referiam

às diferentes literaturas dos CINCO como ―literatura africana de língua portuguesa‖.

Como já comentamos, nos estudos sobre literaturas africanas de língua portuguesa

no Brasil, poucas são as instituições que oferecem a linha de pesquisa específica

para tal assunto. Nesse sentido, era esperado que muitas das teses selecionadas

indicassem o interesse por estudos comparados sobre obras de diferentes sistemas

literários dos CINCO. Essa hipótese foi confirmada, como podemos notar na tabela

9:

Tabela 9 - Sistemas literários pesquisados nas teses

Sistemas literários Quantidade

Literatura comparada 32

Literatura moçambicana 17

Literatura angolana 15

Literatura cabo-verdiana 5

Literatura guineense 3

Literaturas africanas de língua portuguesa em geral 2

Total de teses 74

Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 9, consideramos a incidência de pesquisas sobre cada sistema

literário dos CINCO. Percebemos, pelo detalhamento, que os sistemas literários

foram averiguados, em sua maioria, como se vê na tabela a seguir, em estudos

comparativos.

Tabela 10 – Teses sobre a literatura moçambicana

Literatura moçambicana 17

Literatura comparada: moçambicana e portuguesa 3

Literatura comparada: moçambicana e brasileira 3

Literatura comparada: angolana e moçambicana 2

Literatura comparada: cabo-verdiana e moçambicana 2

Literatura comparada: moçambicana, nigeriana e queniana 1

Literatura comparada: moçambicana, brasileira, e portuguesa 1

Literatura comparada: moçambicana, brasileira e estadunidense 1

Literatura comparada: moçambicana, brasileira e cabo-verdiana 1

Literatura comparada: moçambicana e nigeriana 1

Literatura comparada: moçambicana e martinicana 1

Literatura comparada: moçambicana e angolana 1

Total geral 34

Fonte: dados da pesquisa

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40

Verificamos que os estudos sobre a literatura moçambicana, tanto

isoladamente (dezessete teses), quanto integrando estudos comparados (dezessete

teses), perfazem um total de 34 teses que discutiram aspectos desse sistema

literário. Vejamos na tabela 11 sobre os estudos da literatura angolana:

Tabela 11 – Teses sobre a literatura angolana

Literatura angolana Total

Literatura angolana 15

Literatura comparada: angolana e brasileira 5

Literatura Comparada: angolana e inglesa 1

Literatura comparada: angolana e moçambicana 2

Literatura comparada: angolana e portuguesa 1

Literatura comparada: angolana, brasileira e portuguesa 1

Literatura comparada: moçambicana e angolana 1

Literatura comparada: moçambicana e angolana 1

Literatura comparada: santomense, angolana, e brasileira

1

Total geral 28

Fonte: dados da pesquisa

A tabela 11 demonstra que a literatura angolana foi abordada de forma

isolada em quinze teses e, de forma comparada, em treze. Consideremos outra

tabela demonstrativa:

Tabela 12 – Teses sobre a literatura cabo-verdiana

Literatura cabo-verdiana Total

Literatura cabo-verdiana 4

Literatura comparada: cabo-verdiana e moçambicana 2

Literatura comparada: cabo-verdiana e portuguesa 1

Literatura comparada: cabo-verdiana, brasileira e portuguesa 1

Literatura comparada: cabo-verdiana, brasileira e trinitária-tobagense 1

Literatura comparada: moçambicana, brasileira e cabo-verdiana 1

Total geral 10

Fonte: dados da pesquisa

Pela tabela, podemos notar que a literatura cabo-verdiana foi mais estudada

na forma comparada. Nos dados colhidos também percebemos que a literatura

guineense não esteve presente nos estudos realizados de forma comparativa e que

a santomense integrou apenas os estudos comparativos feitos por uma das teses

consultadas. Nas teses investigadas foi possível perceber a presença marcante do

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41

sistema literário do colonizador, a literatura portuguesa, nas propostas de estudos

comparados.

Como vimos, o sistema literário mais estudado foi o moçambicano, logo

podemos inferir que, principalmente pela grande recepção de suas obras no Brasil,

Mia Couto é, sem dúvida, o autor mais abordado. Ressaltamos que a obra do

escritor moçambicano, que recebeu uma série de prêmios literários e, em 2013, foi o

vencedor do Prêmio Camões, é publicada por uma grande editora brasileira, a

Companhia das Letras.

Acrescentamos que o espectro de autores foi bem extenso, 135 autores

abordados, de forma isolada ou comparada, sendo 64 autores diferentes. Pelos

autores presentes em cada uma das teses, podemos ver qual foi a frequência com

que eles foram estudados, na tabela 1 do anexo B e na tabela 2, do anexo C.

A partir deste momento, começamos a notar, de forma marcante, a

importância da obediência à normalização de escrita de trabalhos acadêmicos, pois

lidamos com palavras-chave, assunto e autoria. Como foi usado o software Excel, e

especificamente o recurso de tabelas dinâmicas e fórmulas estatísticas, qualquer

diferença de caractere, de entrada de nome, faz com que a informação seja

indexada como diferente. Podemos citar, como exemplo, a extração dos dados,

sobre autoria, pesquisados nas teses que estamos lendo: Uma tese citou o autor

José Luandino Vieira apenas como Luandino Vieira e, em outra tese, foi usado

Agualusa como autor, quando o nome padronizado deste é José Eduardo Agualusa.

Sabemos que é prioridade do pesquisador produzir uma pesquisa de qualidade

sobre o tema escolhido, no entanto, quando analisamos os resumos e as palavras-

chave, nem sempre essa qualidade pode ser percebida através desse tipo de texto.

Ao observarmos as orientações metodológicas23 para a produção de artigos

científicos (artigo de periódico, dissertação, tese...), notamos a diversidade na

elaboração dos resumos. Alguns cumpriam as normas técnicas, mas não deixavam

claros os aspectos investigativos da tese. A atenção dada às normas de redação

dos resumos não foi muito alta na maioria das teses consultadas. Em resumos

apresentados por seis teses, não se esclareceu a autoria da(s) obra(s) estudada(s).

23

ABNT NBR 6028:2018 - informação e documentação - resumo – apresentação, ABNT NBR 6022:2018 - Informação e documentação - Artigo em publicação periódica técnica e/ou científica - Apresentação e NBR 14724:2011- Informação e documentação — Trabalhos acadêmicos — Apresentação.

Page 44: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29 Figura 2 - Resultados

42

É um número relativamente alto, se considerarmos a recomendação de clareza

quanto ao tema e quanto à metodologia, estabelecida nas normas.

Do total de teses investigadas, a maioria, dezessete, não informou no

resumo24, quais obras estariam presentes no estudo realizado. Pelos dados

anteriores sabemos que a literatura moçambicana foi a mais estudada e, dentro

deste sistema literário, o autor Mia Couto o mais abordado. De sua produção

literária, as obras mais selecionadas para pesquisa foram O outro pé de sereia e O

último voo do flamingo. Em outras teses sobre a literatura moçambicana, quando se

especificou a obra estudada, houve destaque para duas obras de Paulina Chiziane:

Ventos do Apocalipse e O alegre canto da perdiz. Da literatura angolana, o destaque

é o autor Pepetela e, dentre suas obras, Mayombe e A gloriosa família.

1.4 Assuntos das teses investigadas

Os assuntos pesquisados que verificamos nas palavras-chave das teses

investigadas, em sua maioria, já eram esperados, pois o nosso percurso acadêmico

e de leituras sobre literaturas africanas de língua portuguesa nos permitiu inferir esta

informação. Sobre este aspecto, Stanley Fish (1992) acentua que:

Essa compreensão compartilhada é a base da confiança com a qual eles [estudantes] falam e argumentam, mas as categorias dessa compreensão são próprias deles somente no sentido de que, como atores dentro de uma instituição, automaticamente tornam-se herdeiros dos sistemas de inteligibilidade dessa instituição, das suas maneiras de significar. (FISH, 1992, p. 205).

Podemos perceber que em cada área de conhecimento se forma uma

comunidade interpretativa que se orienta de forma muito parecida na compreensão

de conceitos e nas pesquisas realizadas. Nas teses investigadas, temos 344

palavras-chave25 citadas nas 74 teses. Aquelas que mais se repetem são algumas

das esperadas por nós. Na tabela 13, a seguir, podemos ver os três autores que

mais tiveram obras estudadas, os três temas mais abordados e os sistemas literários

que mais originaram estudos nas teses investigadas:

24

Todas as obras estudadas pelas 74 teses podem ser vistas na tabela 4 em anexo E. 25

Nesta tabela colocamos apenas os assuntos que mais se repetem, o total dos 344 assuntos investigados pode ser vista no anexo F.

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43

Tabela 13 – Assuntos abordados nas palavras-chave das teses investigadas

Palavras-chave Total

Mia Couto 13

Identidade(s) 12

Memória(s) 10

Literatura Moçambicana 10

História 8

Pepetela 7

Literatura Angolana 7

Paulina Chiziane 5

Literatura Cabo-Verdiana 5

Fonte: dados da pesquisa

No quesito palavras-chave, podemos notar alguns problemas relevantes: o

uso de frases como palavras-chave, palavras inespecíficas e o principal problema e

o mais grave foi uso de diversos caracteres como separador usado entre elas (ponto

e vírgula, traço, vírgula, traço, reticências), o que dificulta bastante a geração de

estatísticas. Para contar quantas vezes temos cada palavra-chave, esta precisa

estar destacada da outra palavra-chave da tese por um separador, o recomendado é

um ponto final. Se a recomendação da ABNT tivesse sido seguida poderíamos dar

um comando no software Excel que organizasse todas as palavras-chave ao

encontrar um ponto final, porém isto não foi possível, pela falta de padronização de

separadores. Assim, antes de usar as ferramentas de tratamento de dados, foi

preciso um esforço de reparação. Tivemos que substituir todos os separadores

diferentes por ponto final, para depois fazermos a contagem.

Com relação aos temas estudados, o problema de falta de padronização tem

a ver com as discussões teóricas sobre identidade, termo usado ora no singular ora

no plural. O mesmo acontece com o conceito de memória. A discussão de

pluralização de conceitos é um ponto comum de muitas áreas do conhecimento,

inclusive, nas duas em que se insere nossa pesquisa, que são a Biblioteconomia e a

Literatura, embora nenhuma delas imponha um modo de dizer sobre os conceitos.

Na Biblioteconomia, há uma indicação de que, quando indexamos um assunto,

devemos preferir usá-lo no singular, como podemos ver no trecho a seguir:

Uso de singular e de plural – os termos do vocabulário controlado devem ser usados no singular, mas o plural é admitido quando o termo só é

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44

empregado no plural, do contrário, a compreensão de seu significado pode ser prejudicada pelo uso do singular. (GALVINO, 2012, p. 85)

A autora da afirmação anterior faz uma leitura de estudiosos do tema da

indexação de assunto para chegar a sua conclusão, porém não há norma técnica da

ABNT sobre o assunto.

No que tange a reflexões filosóficas, Beatriz Sarlo (2007), ao refletir sobre

teorias da memória, um dos assuntos mais abordados pelas teses investigadas, nos

diz que:

[...] todos parecem mais dispostos à crença nas verdades históricas no plural (o plural, esta inflexão do paradigma que alcançou a mais alta categoria, o que é muito bom, mas também propõe como solução verbalista a qualquer questão conflituosa). (SARLO, 2007, p. 40).

Beatriz Sarlo (2007) considera o uso do conceito no plural mais abarcador

das nuances que o formam, porém afirma que se corre o risco de tornar uma

solução simples, sem as devidas discussões teóricas.

Sendo assim, ao escolher usar uma palavra-chave no plural ou singular, o

autor da tese tem toda liberdade, técnica e filosófica, porém deve refletir se a opção

feita vai ser eficiente para recuperação da informação em catálogos

(Biblioteconomia) e se vai ser produtiva para contemplar a análise literária que foi

realizada no estudo (Literatura).

Na análise das palavras-chave das teses investigadas, exceto as que tratam

de sistemas das literaturas africanas de língua portuguesa, suas autorias e obras,

inferimos que o tema identidade foi o assunto mais abordado. Em segundo lugar,

está o tema memória e, em terceiro, história, seguidos por oralidade e violência.

Feitas essas indicações pontuais, para as quais a tabulação de dados

concretos referentes às teses investigadas foi fundamental, mostraremos, no

próximo capítulo, como os temas estão delimitados e com que aporte teórico foram

discutidos.

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45

2 TEMAS, AUTORES (AS) E TEÓRICOS(AS) MAIS FREQUENTES NAS TESES

INVESTIGADAS

Neste capítulo discutiremos o modo como cada um dos temas mais

frequentes está considerado nas teses investigadas, bem como a metodologia

utilizada para realizar as investigações e as discussões propostas. As reflexões

acerca dos temas podem mostrar quais teóricos(as) e quais teorias são mais

frequentes nas investigações das literaturas africanas de língua portuguesa.

Convêm salientar que, por nosso estudo tratar de um recorte espaço-temporal, será

possível apontar as semelhanças e as dessemelhanças das escolhas teóricas dos

autores de teses brasileiras sobre literaturas africanas de língua portuguesa nos

últimos cinco anos. Não nos propusemos verificar a presença dos mesmos temas

em teses produzidas em outras épocas e em outros países, tais como nos CINCO e

em Portugal. Na averiguação dos temas e teorias mais frequentes nas teses, iremos,

além da mera descrição, refletir sobre os conceitos estudados, bem como, as

possíveis motivações de escolhas de um tema/teoria e não outros. Também

apontaremos os diversos recortes estabelecidos para a discussão de um mesmo

tema.

Em todas as teses são indicados pressupostos e estratégias críticas da teoria

literária e de campos de conhecimento que dialogam com a literatura. É pertinente

considerar que, embora os mesmos temas apareçam em várias teses alicerçados

pelos(a) mesmos(as) teóricos(as), os estudos feitos abordam aspectos sempre

diferenciados, uma vez que a investigação é particularizada pelo recorte privilegiado

pelo pesquisador. Portanto, temas semelhantes aparecem, nas teses investigadas, a

partir de pressupostos teóricos também semelhantes, mas são produzidas diferentes

correlações entre os textos literários e os campos reflexivos. Esses aspectos

evidenciam o fato de que os temas predominantes, nas teses, se relacionem com

modos de encenação literária de fatos e relatos da colonização portuguesa em

África, das guerras de independência e civil e dos rumos tomados pelos países, no

pós-independência.

Essas direções investigativas são indicadas pelas palavras-chave que mais

se repetem nas teses, sempre com a intenção de indicar autor(es), temas e campo

de investigação selecionado para os estudos. Assim foi possível verificar as

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principais abordagens das teses investigadas, conforme os resultados que se

seguem:

1. Autores: Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane.

2. Temas: Identidade(s), memória(s) e história.

3. Sistema literário: literatura moçambicana, literatura angolana e literatura cabo-

verdiana.

Um dado a ser destacado é a presença marcante de obras de Mia Couto nas

teses. Obras do escritor moçambicano são abordadas em 25% das teses

selecionadas. É também importante considerar que o número de teses que analisam

obras dos autores, Pepetela e Paulina Chiziane, situados entre os mais pesquisados

não superam a quantidade de estudos sobre as obras do moçambicano Mia Couto.

Na tabela 13, os dados levantados demonstram quais os temas

predominantes nas teses investigadas, de forma preliminar. Os dados da tabela,

primeiramente, foram retirados do campo ―palavras-chave‖, de onde foram extraídas

as três mais citadas. No entanto, como já dito no primeiro capítulo deste estudo, a

especificação do assunto, nas palavras-chave, nem sempre indica os assuntos mais

estudados na tese. Por esse motivo decidimos investigar também o campo ―resumo‖

de todas as teses para verificar se mais alguma tese tratava desses mesmos temas.

Esta estratégia permitiu uma visão mais pontual dos temas predominantes nas teses

investigadas, pois, como podemos ver na tabela 14, a seguir, outras teses de nosso

corpus investigaram os temas embora não os especificassem nas palavras-chave.

Tabela 14 - Temas predominantes nas teses investigadas

Temas Teses Especificado nas palavras-chave

Não especificado nas palavras-chave

Identidade(s) 21 12 09

Memória(s) 20 10 10

Mia Couto 20 13 07

Literatura Moçambicana 12 08 04

Literatura angolana 10 07 03

Pepetela 10 07 03

História 10 08 02

Paulina Chiziane 08 05 03

Literatura cabo-verdiana 06 05 01

Fonte: Dados da pesquisa

A leitura da tabela 14 permite perceber que existe um número alto de teses

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que investiga o tema proposto, sem a devida indexação nas palavras-chave. Essa

falta de indicação está presente em torno de 25% das teses e isto pode refletir no

quesito originalidade de uma tese, pois, se o investigador não encontra o seu recorte

de pesquisa nas fontes secundárias de informação26, ele poderá deduzir que seu

estudo é original, embora por vezes não seja. Sendo assim, podemos dizer que a

indexação de assunto é essencial para visibilidade da fortuna crítica de qualquer

pesquisa acadêmica. Na área da Literatura não seria diferente, pois permite coletar

informação sobre qual autor/obra/assunto já foi estudado e de que maneira foi

abordado. Podemos exemplificar a importância da indicação do assunto pesquisado

da seguinte maneira: caso fosse feita uma pesquisa no CTD para averiguar sobre

teses que investiguem a literatura cabo-verdiana, nos últimos cinco anos, apenas

uma tese ficaria de fora dos resultados, pois, como vimos na tabela 14, das teses

investigadas que abordaram a literatura cabo-verdiana, em apenas uma delas não

foi feita esta indicação nas palavras-chave.

Para buscar os modos como os temas mais frequentes das 74 teses foram

estudados, optamos pela leitura dos resumos, que, de acordo com a norma técnica

de resumo científico, a NBR 6028: 2018 - Informação e documentação - Resumo –

Apresentação, um resumo só é considerado claro quando ―informa ao leitor

finalidades, metodologia, resultados e conclusões do documento, de tal forma que

este possa, inclusive, dispensar a consulta ao original‖. (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003, p. 1). De acordo com esta

recomendação27, procuramos verificar nos resumos das teses que lemos sua

metodologia de pesquisa, bem como, o aporte teórico adotado para o estudo.

Verificamos que, das 74 teses, apenas 28 especificaram, no resumo, quais

teóricos(as) foram utilizados na análise do texto literário. Pensamos ser importante

identificar as correntes teóricas, bem como os estudiosos utilizados para a análise

literária, já que nos estudos de Literatura não possível descrever a metodologia

adotada.

26

Fontes secundárias de informação: ―Contêm informações sobre documentos primários e são arranjados segundo um plano definitivo; são, na verdade, os organizadores dos documentos primários e guiam o leitor para eles.‖ (CUNHA, 2001. p.10).

27 Vale ressaltar que as bibliotecas das IES brasileiras, em sua grande maioria, disponibilizam Manual de Normalização Bibliográfica, onde explicam as NBRs e exemplificam o uso, para que os estudantes atendam às recomendações da ABNT. Além disso, muitas bibliotecas oferecem serviço de treinamento de aplicação das normas da ABNT em trabalhos acadêmicos, porém, cabe ao estudante de graduação e pós-graduação decidir se procura ou não, tal serviço, pois a adesão é voluntária.

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Após a leitura dos resumos, podemos afirmar que os teóricos(as) mais

utilizados, nas teses investigadas, são Mikhail Bakhtin, sobretudo na discussão de

questões relacionadas à análise da linguagem literária; Homi K. Bhabha e Stuart Hall

nas reflexões sobre identidade; Paul Ricoeur e Walter Benjamin, nas abordagens

dos temas história e memória. Os resumos também permitiram perceber que as

reflexões sobre as literaturas africanas de língua portuguesa baseiam-se, sobretudo,

em estudos das pesquisadoras Inocência Mata e Ana Mafalda Leite e dos

pensadores africanos Achille Mbembe e Hampaté Bâ, dentre outros teóricos(as)

ocidentais e brasileiros. Dentre as teses investigadas, chamou-nos a atenção o

percurso teórico escolhido pela tese, A encruzilhada tem muitos caminhos... Teoria

descolonial e epistemologia de Exu na canção de Martinho da Vila, de Edelu

Kawahala, porque recorre a uma feição teórica pouco comum no meio acadêmico. A

autora, na procura por caminhos teóricos relacionados com as culturas africanas,

propõe estabelecer

[...] um olhar a partir do que chamei de Epistemologia de Exu, recorrendo ao signo de Exu como uma possibilidade de rompimento com as epistemologias eurocêntricas. Ele é representativo do movimento da resistência negra na diáspora, signo que rompe com a razão e abre para outras possibilidades de leitura do real, do sensível. Exu, assim, torna-se signo de uma epistemologia descolonial, porque recolhe os fragmentos, a contradição e joga tudo num alguidar, alquimizando e produzindo outras formas de existência. (KAWAHALA, 2014, p. 33).

A afirmação da pesquisadora vai ao encontro dos anseios de se buscar

aporte teórico não eurocêntrico para análises literárias de obras africanas e mesmo

afro-brasileiras.

Ainda com relação à temática das teses, construiremos, a seguir, uma visão

panorâmica dos temas discutidos nas teses sobre literaturas africanas de língua

portuguesa, destacando aqueles que, conforme demonstrado na tabela 14, são os

mais frequentes nas propostas das teses investigadas. Serão discutidos,

primeiramente, os três temas que mais aparecerem nas discussões construídas

pelas teses: identidade(s), memória(s) e história. A seguir, destacaremos algumas

particularidades com relação aos sistemas literários mais pesquisados: literatura

moçambicana, literatura angolana, literatura cabo-verdiana. Finalmente,

abordaremos aspectos enfocados pelas teses sobre os autores, cujas obras são as

mais escolhidas pelas teses que avaliamos: Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane.

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Vejamos como o tema ―identidade/identidades‖ é trabalhado pelas teses que

o escolheram como base das análises de obras das literaturas africanas de língua

portuguesa.

2.1 Identidade(s)

A partir das considerações propostas pelas teses que discutiram o tema

identidade, abordando-o sob vários aspectos, percebemos que, na maioria das

teses, o tema foi entendido como algo que dá sentido ao sujeito e, no caso da

literatura, esse sentido é encenado pelas histórias que se contam. As considerações

feitas nas teses ratificam a grande força que o tema tem nos estudos dos textos

literários africanos, pois muitos focalizam os conflitos identitários que permeiam as

narrativas. Esses conflitos integram as histórias contadas e as ações das

personagens, em contos e romances, mas também se mostram frequentes em

poemas escritos, principalmente, na fase pré-independência.

As discussões presentes nas teses indicam que o tema da identidade é uma

demanda constante do sujeito colonizado e das culturas submetidas, durante

séculos, ao processo colonial. As imposições de silenciamento da identidade e as

perversidades causadas pela castração da liberdade individual e coletiva tornam-se

presentes nas narrativas analisadas pelas teses, o que acaba por reivindicar

análises literárias que explorem o aspecto identitário. Nas teses investigadas,

verificamos o uso dos termos ―identidade‖, no singular, e ―identidades‖, no plural,

embora as discussões não se mostrem conclusivas quanto à razão de se usar um

termo ou outro quando se discutem as questões identitárias. No entanto, foi possível

perceber que o termo ―identidades‖ foi o mais utilizado e, quase sempre, no sentido

de pluralizar a tipologia de identidade e não para designar a multiplicidade de

identidades própria de cada sujeito.

Na discussão do tema identidade(s)28 encontramos nas teses que escolheram

acompanhar os variados pontos de vista teóricos propostos sobre a questão, o uso

de expressões como: identidade e seus conceitos, identidade individual, coletiva,

28

Optamos por grafá-la como aparece na maioria das teses investigadas, embora, no nosso trabalho, não façamos opção pelo termo identidade ou por identidades. O mesmo procedimento será adotado com relação ao tema memória/memórias.

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individual e coletiva, étnica, feminina, regional, cultural, local, literária e identidades

diaspóricas.

A questão identitária é pesquisada nas teses quase sempre atrelada a um

modo de leitura que permite a investigação de visões relacionadas ao conceito tal

como ele se apresenta nas narrativas literárias realizadas. A análise, na maioria das

vezes, discute como a noção de identidade está presente no mundo contemporâneo,

sempre interagindo com questões culturais, espaciais, políticas e sociais.

As teses que priorizam o tema da identidade buscaram um suporte teórico em

autores importantes na discussão da questão, dentre os quais podemos citar

Antonio da Costa Ciampa, Antônio Sérgio Guimarães, Benjamin Abdala Junior,

Boaventura Santos, Edward Said, Fernando Catroga, Frantz Fanon, Hommi K.

Bhabha, Jane Tutikian, José Luiz Cabaço, Luiz Costa Lima, Massimo Canevacci,

Michell Pollack, Nestor Garcia Canclini, Paul Ricouer, Pierre Nora, Stuart Hall e Zilá

Bernd.

Dentre estudos realizados sobre o tema da identidade é notória a

apropriação, pelos pesquisadores, do conceito de entrelugar, de Hommi K. Bhabha,

identidade cultural, de Stuart Hall, e identidade híbrida, proposto por Nestor Garcia

Canclini. Sobre o conceito de entrelugar, que auxilia a discussão do tema da

identidade do sujeito, a autora da tese, Lilian de Paula Serra e Deus, intitulada

Memória, identidades e bastardia em As visitas do Dr. Valdez, de João Paulo Borges

Coelho, O outro pé da sereia, de Mia Couto e Leite derramado, de Chico Buarque

(2016), destaca aspectos ressaltados pelo teórico Homi K. Bhabha , ao dizer que:

Na perspectiva de Bhabha as identidades, na época moderna, não são mais marcadas por singularidades como, por exemplo, classe, gênero, localidade geopolítica ou orientação sexual [...] O discurso de Bhabha, a respeito do conceito, aponta, pois, para a ideia de que o entrelugar é o espaço intersticial, espaço de uma constante negociação que abarca muitos aspectos, sejam eles culturais, linguísticos, políticos. (DEUS, 2016, p. 34).

A autora ressalta, na reflexão de Homi K. Bhabha, a referência ao entrelugar

como espaço intersticial em que se realizam negociações identitárias. Um dos

aspectos apontados pelo teórico anglo-indiano é o cultural, também discutido por

Stuart Hall. Para esse autor, a identidade é algo móvel, múltipla e fragmentada, não

podendo ser pensada como única e estável. Relaciona-se com as diversas vivências

e situações de que o sujeito participa, ainda que nem sempre sejam aceitas por ele,

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podendo ser, por isso, bastante conflitantes. A teoria de Stuart Hall dá sustentação

às discussões de muitas das teses de literaturas africanas de língua portuguesa, nas

quais a questão da identidade está presente. Na tese Identidades em trânsito em

romances e contos de Mia Couto (2015), de Arnon Gomes, o ponto de vista de

Stuart Hall é ressaltado:

As reflexões de Stuart Hall indicam que é legítimo afirmar que não se pode pensar que o sujeito tenha uma identidade límpida e clara como água cristalina; melhor seria falar e esboçar a categoria numa dinâmica de pluralização de identidades e, por vezes, ambíguas. [...] A questão da identidade é discutida a partir de um processo de aprendizagem das relações que se estruturam entre o sujeito e o mundo, consigo mesmo e com o outro; por isto, pensar a identidade é pensar, também, a diferença. A identidade do indivíduo expressa uma relação permanente eu-tu, descortinando o universo da alteridade. (GOMES, 2015, p. 18 - 19).

A obra de Stuart Hall, A identidade cultural na pós-modernidade, publicada no

Brasil em 2004, é frequentemente citada, sendo destacadas as três percepções

identitárias que se relacionam ―com a forma como o sujeito é interpelado ou

representado‖ (HALL, 2004, p. 21): a iluminista, a social e a pós-moderna.

Stuart Hall destaca que a concepção de identidade proposta pela fase

iluminista se estrutura a partir da noção de um sujeito (o sujeito do Iluminismo)

unificado e dotado ―das capacidades de razão‖ (HALL, 2004, p. 10). Essa concepção

irá justificar a ideia de que a identidade é fixa, portanto, inalterável; já o sujeito

sociológico, característico do mundo moderno, seria constituído nas interações entre

―o mundo pessoal e o mundo público‖, a partir, portanto, da relação que o sujeito

estabelece com os outros. O sujeito pós-moderno, na visão de Stuart Hall, não

possui uma identidade fixa, essencial e permanente. Como acentua o teórico, a

identidade, na pós-modernidade, é continuamente transformada em relação às

formas pelas quais é interpelada pelos sistemas culturais.

Outra percepção de identidade, não oposta a Stuart Hall, mas vista por outros

critérios, é a proposta por Nestor Canclini. O teórico destaca, em suas reflexões, o

aspecto híbrido do sujeito da pós-modernidade. Utilizando o conceito de hibridação

como uma importante chave de leitura para as literaturas africanas de língua

portuguesa, Mauro Gaglietti (2007) consideram que

Canclini prefere chamar situação intercultural de hibridação em vez de

sincretismo ou mestiçagem, ―porque abrange diversas mesclas interculturais - não apenas raciais, às quais costuma limitar-se o termo ‗mestiçagem‘ - e

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52

porque permite incluir as formas modernas de hibridação, melhor do que ‗sincretismo‘, fórmula que se refere quase sempre a fusões religiosas ou de movimentos simbólicos tradicionais‖ (2006, p. 19). O autor transita entre diferentes manifestações culturais e artísticas (muitas delas anônimas): desde passeatas reivindicatórias, passando pela pintura, arquitetura, música, grafite e histórias em quadrinhos até a simbologia dos monumentos. Desse modo, reflete sobre o que chama de migrações multidirecionais, relativizadoras do paradigma binário (subalterno/hegemônico, tradicional/moderno) que tanto balizou a concepção de cultura e poder na modernidade. (GAGLIETTI, 2007, p. 6).

Vemos, nas discussões propostas pelas teses, a preocupação de buscar

reflexões mais adequadas para se falar de identidade(s), principalmente

considerando as visões teóricas sobre o sujeito pós-moderno, bastante peculiares à

realidade de países que viveram longos anos de colonização, como é o caso dos

países africanos de língua oficial portuguesa.

A discussão literária da questão da identidade, nas teses investigadas, se fez

privilegiando, além das obras de Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane, os

seguintes autores africanos: Chinua Achebe (Nigéria), João Paulo Borges Coelho

(Moçambique), José Eduardo Agualusa e José Luandino Vieira (Angola), Luís Carlos

Patraquim (Moçambique), Ngugi Wa Thiong‘o (Quênia) e Rui Knopfli (Moçambique)

e Ruy Duarte de Carvalho (Angola).

Nos estudos literários apresentados pelas teses selecionadas, a análise do

viés identitário destacou tanto as personagens, como o contexto encenado pela

literatura. As reflexões, muitas vezes de forma interdisciplinar, conclamaram outros

elementos constituintes do processo de construção da identidade, tais como gênero,

raça, nação, história e memória.

Abordaremos o tema da memória no próximo item, apresentando as formas

como este foi tratado e quais teóricos(as) foram utilizados para a discussão nas

teses que analisamos.

2.2 Memória(s)

O tema da memória revela-se pertinente à realidade vivida pelos africanos,

tanto em decorrência do silenciamento da História do continente, quanto pelo

apagamento de histórias locais, provocado pela colonização europeia levada à

África. Nações africanas, que conseguiram conquistar sua independência

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tardiamente, só o fizeram, em alguns casos, através de muita luta e de guerras

extremamente violentas. Podemos afirmar que o silenciamento da memória africana

é ocasionado por processos de subalternização que retiram, de alguns sujeitos, o

direito de falarem por si mesmos, de narrarem a sua história. Conflitos e traumas do

passado e do presente são impulsionados como estratégias literárias de

enfrentamento ao silêncio imposto à memória dos africanos.

Na esteira da necessidade de se perceber a nação como um espaço que

contemple a todos, Homi K. Bhabha (1998) destaca a memória como elemento

importante na ―engrenagem da nação‖. O teórico afirma que a memória é um

recurso indispensável à construção das nações literárias e um elemento condutor do

discurso poético. Nesse sentido, relembramos o que diz Walter Benjamin (1994),

quando assinala que é preciso rememorar a história, pois sabemos que ―articular

historicamente o passado não significa conhecê-lo ‗como ele de fato foi‘. Significa

apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um

perigo‖ (BENJAMIN, 1994, p. 3). É necessário fazer um reconhecimento do passado

dos silenciados e levantar a voz contra o silenciamento dos subalternizados,

buscando a não perpetuação do apagamento de memórias destes sujeitos.

Um espaço social marcado pelo comércio de africanos escravizados e pela

violência da colonização torna-se, fatalmente, um lugar de memórias soterradas.

Ainda que o silenciamento da memória desses eventos esteja sendo revisitada por

historiadores africanos, ele está sendo questionado pela Literatura desde antes das

independências dos países africanos. Como já assinalado, em grande número de

obras literárias, a questão da memória está presente, o que justifica a intenção das

teses investigadas, quando procuram perceber a ressonância, nos textos literários,

da memória dos eventos africanos que fazem parte de sua cultura e de sua tradição.

Vimos que, nas obras escolhidas para análise nas teses que pesquisamos,

acentuam-se autores que retomam as memórias silenciadas, seja porque viveram a

época sobre a qual escrevem, seja porque se ligam a comunidades que foram

submetidas ao silenciamento. Muitas teses demonstram que as obras literárias dos

autores africanos aludem ao que diz Homi K. Bhabha sobre a força das narrativas

literárias no trabalho de construção da nação, sobretudo porque podem recriar,

imageticamente, a memória de muitos indivíduos obrigados a se calar ou que

tiveram suas histórias e sua cultura sufocadas por histórias hegemônicas que não

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contemplam o passado vivenciado pelos colonizados.

Vozes de resistência ecoam nas obras de literaturas africanas de língua

portuguesa, buscando romper cenários de silenciamento dos subalternizados. A

(re)escrita da nação penetra nos subterrâneos da memória, da cultura e da história

dos indivíduos, buscando enriquecer narrativas que remetem a sujeitos que

travaram (travam) lutas sociais, culturais, políticas e históricas, trazendo à tona

feições da memória africana, muitas vezes ainda não contempladas em documentos

oficiais.

Assim, podemos dizer que obras das literaturas africanas de língua

portuguesa encenam as transformações vivenciadas pelos africanos desde os

tempos da colonização e, sobretudo, nos primeiros anos do século XXI, já na

vivência do processo de construção das diferentes nações do continente. Os fatos

relacionados ao processo colonizatório, às guerras de libertação e às guerras civis

são encenados em várias obras literárias, tornando os cruzamentos entre História e

ficção apropriados à interpretação do passado e às interseções entre a memória

individual e coletiva. Nesse sentido, o tema da memória, nas teses que analisamos,

assume diferentes aspectos, inscrevendo, inclusive, relações pertinentes com a

temática pós-colonial e com perspectivas da literatura negra, vista por Conceição

Evaristo como um corpus “que se constituiria como uma produção escrita marcada

por uma subjetividade construída, experimentada, vivenciada a partir da condição de

homens negros e de mulheres negras na sociedade‖ (EVARISTO, 2009, p. 17).

A forma de abordagem do tema, na maior parte das teses, é a comparativa,

partindo, por vezes, da investigação de obras de dois ou mais autores dos países

africanos de língua portuguesa. O viés comparativo, muitas vezes, foi também

empregado para a análise de obras de autores africanos e autores brasileiros e/ou

portugueses que fizeram da memória o elemento fulcral de suas ficções. Nas teses

sobre literatura e memória(s), notamos a preocupação em relacionar o tema com

pontos de vista da crítica sobre as literaturas africanas e/ou com questões da

História dos CINCO.

Para o aporte teórico, os autores das teses recorreram, de forma

predominante, às reflexões do estudioso Paul Ricouer, mais especificamente à obra

Memória, história e esquecimento (2007). Além desse autor, vários outros

teóricos(as) são citados em diversas teses como apoio para as discussões sobre o

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tema da(s) memória(s): Aleida Assmann, Beatriz Sarlo, Henri Bergson, Linda

Hutcheon, Maurice Hallbwachs, Michel Pollack, Walter Benjamin e Zilá Bernd.

Notamos que, em algumas das teses investigadas, as referências ao aporte

teórico foram feitas de forma clara, principalmente no resumo, explicitando quais os

teóricos(as) utilizados na discussão literária do tema da memória e, também, dos

demais temas abordados na tese. Como exemplo dessa feição formal, podemos

citar o trecho do resumo da tese Violência e memória: relatos testemunhais em

diálogo na África e América (2017), de Nadson Vinícius dos Santos:

Este trabalho se desenvolveu mediante metodologia qualitativa-teórica com privilégio à pesquisa bibliográfica e se apoiou, dentre outros nomes, nos aportes teóricos de Amadou Hampatè Bâ, Achille Mbembe, Ali Mazrui, Inocência Mata, Jan Vansina, Joseph Ki-Zerbo, Kwame N‘krumah e Paulin Hountondji, do lado africano, e em Alberto Romero, Ana Pizarro, Beatriz Sarlo, Felix Luna, João Camillo Penna, Leonor Arfuch, Mabel Moraña, María Griselda Zuffi, Seligmann-Silva, Silviano Santiago e Valéria de Marco, do lado americano. O contraponto com o mundo ocidental se estribou nas ideias de Hanna Arendt, Erich Auerbach, Walter Benjamin, Roger Chartier, Sigmund Freud, Karl Marx e Friedrich Nietzsche. (SANTOS, Nadson, 2017, p. 9, grifo nosso).

A tese afirma a tendência atual de se usarem teóricos(as) africanos(as) como

embasamento das pesquisas em literaturas africanas de língua portuguesa. Ao

especificar os locais de origem dos autores, foi utilizada a expressão ―mundo

ocidental‖ para arrolar os teóricos(as) europeus. Isso não deixa claro que diferença

quer fazer, pois América também é ocidental em comparação com África. A distinção

feita pelo autor da tese acaba por repetir pressupostos eurocêntricos que

consideram apenas a Europa como Ocidente. E ao separar estudiosos não africanos

em ―lado americano‖ e ―mundo ocidental‖ retoma distinções ditadas por

epistemologias europeias sobre o conhecimento e até sobre a Literatura. Para essas

epistemologias o que não é europeu é o outro, o estranho, o exótico, o mítico.

Após elencar os teóricos(as) sobre memória(s) adotados pelas teses que

elegeram o assunto como instrumento de investigação literária das obras de

literaturas africanas de língua portuguesa, percebemos que a maioria dos

teóricos(as) adotados(as) são europeus. Embora o tema memória(s) seja assunto

universal, a memória da África e dos africanos possui sutilezas que precisam ser

consideradas, principalmente a questão de, por longos períodos, ter sua memória

selecionada e transmitida por pesquisadores europeus. Notamos que as literaturas

africanas de língua portuguesa retomam as memórias coletivas e individuais

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africanas, principalmente nos seus enredos e personagens na busca de apropriação

da(s) memória(s) e de luta contra o silenciamento das vozes africanas. Esta

característica das obras foi destacada pelos investigadores das teses que

analisamos, como traço característico de obras literárias oriundas de espaços

colonizados.

Sabemos do viés interdisciplinar do tema memória(s) que aparece

entrelaçado a questões dos indivíduos e da História. Pensamos que a opção pode

estar atrelada ao fato de o tema história ser o terceiro tema mais abordado pelas 74

teses que analisamos. Refletiremos no próximo item sobre o recorte dado pelas

teses de nosso corpus que selecionaram esse recorte para seus estudos.

2.3 História

O tema da história é o recorte escolhido por uma quantidade significativa das

teses investigadas. Grande parte das teses procura defender a ideia de que vozes

silenciadas e histórias não contadas encontram eco nas narrativas literárias. Nesse

sentido, são consideradas narrativas literárias que vasculham tempos de angústia e

temor, além dos traumas individuais e coletivos que nelas ressoam. Seligmann-Silva

(2008), um dos teóricos convocados para a escrita das teses investigadas, reafirma

a força da literatura na encenação de eventos traumáticos, quando diz que

A imaginação é chamada como arma que deve vir em auxílio do simbólico para enfrentar o buraco negro do real do trauma. O trauma encontra na imaginação um meio para sua narração. A literatura é chamada diante do trauma para prestar-lhe serviço. (SELIGMANN-SILVA, 2008, p. 70).

Devido a situações violentas e até de barbárie, nas nações africanas, fatos

traumáticos vivenciados e não narrados pela História oficial fazem com que a

literatura retome o tema da história, muitas vezes relacionando-o à memória e à

identidade. Assim vemos nas narrativas de autores dos CINCO, principalmente, nas

obras inaugurais dos vários sistemas literários, uma tentativa de discutir as lacunas

da História oficial.

A presença de eventos da História encenados por obras literárias analisadas

nas teses lidas por nós constitui chave principal de leitura em pelo menos dez teses.

Para apoio teórico da discussão da história nas obras, os autores das teses

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recorreram, principalmente, a teóricos(as) não africanos. Dentre os mais citados,

Walter Benjamin, Paul Ricouer e Le Goff se destacam entre os ocidentais, mas

também são referidos teóricos(as) da crítica pós-colonial como Achille Mbembe,

Stuart Hall, Inocência Mata dentre outros.

É importante destacar, nas narrativas literárias africanas, a apropriação e

interpretação do passado. Tal perspectiva, nos sistemas literários dos CINCO, leva a

reflexões como a feita por Alexsandra Machado da Silva dos Santos (2013) sobre

autores moçambicanos que

[...] demonstram a preocupação com a elaboração de uma literatura que pense a respeito da História de Moçambique favorecendo uma (re) construção identitária coletiva e/ou individual, enquanto um processo formado e transformado a partir de trocas culturais; desvendando um universo onde as negociações históricas e literárias são resultados da narratividade existente. (SANTOS, Alexsandra, 2013, p. 18).

Várias narrativas dos sistemas literários dos CINCO abordam a temática

histórica de seus países sem deixar de lado a preocupação com o trabalho estético

de suas produções literárias, ainda que dialoguem com a cultura. Nesse sentido,

eventos da História africana fazem parte do ato de narrar e ajudam a produzir os

efeitos de sentido que a obra quer atingir.

Nas teses investigadas fica claro que a relação história e literatura tem

compromisso com a releitura de fatos reais, mas prioriza a verossimilhança

estabelecida a partir da interação entre a realidade e a ficção. Essa posição nos

permite reiterar que as literaturas africanas de língua portuguesa trazem,

marcadamente, uma apropriação narrativa dos recentes fatos da História geral e da

independência de seus países. Na ficcionalização surge a retomada da colonização

portuguesa e suas violentas consequências para o povo africano em geral.

O modo como as teses retomaram a História, no âmbito da Literatura, nos

mostra a intenção de rever e interpretar criticamente o passado, retomando temas

relevantes da História dos povos africanos, tais como: identidade, nação,

colonialismo, pós-colonialismo, independência e pós-independência, guerra e paz. A

presença do colonizador português nos CINCO está, portanto, destacada nas

análises produzidas pelas teses, já que a maioria propõe realizar estudos

comparativos de obras de literaturas africanas de língua portuguesa e obras da

literatura de Portugal, nas quais está presente a colonização.

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A conexão do Brasil com a História dos CINCO também se reflete em teses

que a analisaram juntamente com a literatura, algumas apresentando, inclusive,

estudos comparativos entre obras africanas e obras literárias brasileiras. Com

relação ao total de trabalhos investigativos que se construíram a partir de reflexões

sobre temas históricos, esclarecemos serem, ao todo, dez teses de nosso corpus

que destacaram o tema história no rol de palavras-chave. Dessas, apenas três

trataram do tema para discutir uma única obra literária ou obras de um mesmo autor,

sendo as demais, estudos comparativos entre obras literárias. Das três teses sobre

história que privilegiaram obra(s) de um só autor, uma estudou romances do

moçambicano João Paulo Borges Coelho, a segunda analisou as obras do angolano

José Luandino Vieira e a terceira tomou para análise a obra Sans Soleil (que tem

como tema Guiné-Bissau) do cineasta francês Chris Marker.

Fatos da História angolana foram os mais referidos e estudados nas teses

investigadas, pois estes foram retomados em sete das dez teses sobre História e

Literatura. Os autores angolanos Pepetela e José Eduardo Agualusa foram os que

tiveram mais obras analisadas pelo viés histórico.

Em se tratando de Literatura e História, o interesse por revolver os escombros

do passado é o aspecto que mais se destaca nos estudos, ainda que não seja intuito

de obras que ficcionalizam a História oficial ser um retrato fiel do que ocorreu em

seu país. Afirma-se, nas teses investigadas, a intenção da literatura de construir

personagens e enredos que recuperam os fragmentos de histórias vividos e os

silenciados no percurso da História da nação. Nesse caminho analítico, as teses

investigadas que trabalharam com eventos da História dos CINCO indicam ser

importante ter o aporte teórico do filósofo Walter Benjamin, pois é dele a premissa

de que é necessário ―narrar a História a contrapelo‖. O pensamento benjaminiano

figura de forma notória nas teses que recorreram ao tema história, como exemplo,

podemos ver o trecho da tese Ressoantes cantos e traumas em Comissão das

lágrimas e Maio, mês de Maria (2013), de Raquel Cristina dos Santos Pereira:

Benjamin não intenciona enformar o romance ou qualquer obra de arte às características externas da enunciação crítica correlacionadas aos aspectos sociais, políticos e históricos das sociedades, pois, não há que se estabelecer qualquer relação de subordinação entre a linguagem da obra e a realidade, há apenas uma relação de interação, na qual, a partir da arte que se concebem as chaves do conhecimento - social e / ou cultural -, abre-se no mundo o arcabouço filosófico que lhe dá a forma. (PEREIRA, 2013, p. 17).

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As ideias benjaminianas acerca da interação entre História e ficção e sobre a

verossimilhança, na narrativa literária, permitem reflexões muito pertinentes para a

análise das obras de literaturas africanas de língua portuguesa.

A importância da História para a nação e para os indivíduos é de ver os fatos

considerados em sua completude, porque, na versão oficial da História de um povo,

sobressai a visão dos vitoriosos. Portanto, é na literatura que o ―indizível‖ encontra

morada e é onde narradores trapeiros, personagens que recolhem cacos

(BENJAMIN, 1994) da história e de enredos traumáticos vão se debruçar sobre um

passado violento e opressor, como o relacionado ao colonialismo e com as lutas

pela libertação ocorridas nos CINCO.

Nas teses que se voltaram à história para construir suas investigações, a obra

A gloriosa família, do angolano Pepetela, é a mais presente, exatamente porque

encena fatos da História angolana. Nessa obra de Pepetela, chama-nos a atenção o

fato de apresentar um narrador mudo e analfabeto que conta a história dos tempos

coloniais. Essa estratégia expõe, sem dúvida, o poder da Literatura de inventar e de

criar, mesmo quando esteja retomando fatos realmente acontecidos, como é o caso

do romance de Pepetela. Vemos que os autores de narrativas buscam estratégias

estético-literárias que melhor expressem visões de histórias não contadas pela

História oficial.

A retomada dos momentos históricos pela literatura pode ser percebida em

várias teses do nosso corpus que tratam de temas que se relacionam com a história

e mesmo nas teses que privilegiam memória, identidade. Foi possível perceber, nas

teses, a grande expressividade das obras literárias que ficcionalizam a História.

Notamos que os pesquisadores, na discussão proposta, foram além dos clássicos

filósofos como Walter Benjamin, Paul Ricouer, porque se valeram de outros

pensadores como Le Goff, além de recorrerem a teóricos(as) africanos como Achile

Mbembe e a estudiosos brasileiros, portugueses e a africanistas, como Moema

Augel, especialista na literatura da Guiné-Bissau, para apoiarem as discussões das

obras.

O termo romance histórico foi adotado por uma tese de nosso corpus para

destacar que o gênero subverte a História. O autor da tese faz interessantes

incursões estético-ideológicas no estudo comparativo entre obras brasileira,

portuguesa e angolana. Na referida tese, intitulada O romance histórico da

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colonização: a figuração artística transgressiva do passado em O tetraneto del-rei,

de Haroldo Maranhão, A gloriosa família, de Pepetela, e As naus, de António Lobo

Antunes (2016), o investigador, Rogério Max Canedo Silva afirma que:

Com base fundamentalmente na conceituação teórica de romance histórico de György Lukács (2011) e de Fernando Ainsa (1991; 2003), verificamos que a forma narrativa em destaque tem, nas últimas décadas, insistido no propósito de reequacionar acontecimentos passados e sua repercussão num presente permeável à vida de outrora. Em face de tais pressupostos, elegemos como corpus de análise os seguintes romances pertencentes às literaturas em língua portuguesa: O tetraneto del-Rei, de Haroldo Maranhão, A gloriosa família, de Pepetela, e As naus, de António Lobo Antunes. As três obras, respectivamente de autores brasileiro, angolano e português, figuram igualmente formações nacionais enfronhadas nos influxos históricos de um marco decisivo para os povos afetados: a expansão e refluxo da máquina mercante lusitana.( SILVA, Rogério, 2016, s.p. ).

Com o conceito já amplamente aceito, romance histórico, o autor da tese

supracitada seleciona obras contemporâneas que vão, de forma alegórica e irônica,

subverter o passado dito oficial e permitir que a narrativa seja permeada por vozes

silenciadas pelo sistema opressor do colonizador. Sabemos que, por mais

traumatizantes que alguns momentos históricos tenham sido, os indivíduos que

sobreviveram precisam ter suas histórias contadas por eles mesmos e, ainda mais,

precisam que estas sejam ouvidas e lidas.

As abordagens literárias da História realizadas pelos autores de literaturas

africanas de língua portuguesa se fizeram tão marcantes que mereceram estudos de

uma grande parcela das teses que analisamos. Foi importante perceber, nestas

teses que abordaram o tema da história, a intenção de se fazer as reflexões com

apoio de teóricos(as) que ressaltam a importância de ouvir a história pela

perspectiva dos vencidos. Todos esses olhares escolhidos pelos autores das teses

passam por muitos motivos que também compõem a história investigativa da

Literatura do Brasil, campo do conhecimento que, não somente no Brasil, reflete

imposições da sociedade capitalista e muitas vezes não representativa de minorias,

como pobres, mulheres e negros. Se os sistemas literários refletem as condições da

sociedade em que estão inseridos, pela nossa pesquisa foi possível notar como esta

questão se reflete em autores dos CINCO com mercado editorial mais desenvolvido.

Logo, obras de autores de países com mercado editorial mais forte mereceram mais

estudos, dentre as 74 teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa,

produzidas nos últimos cinco anos no Brasil.

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Vemos que na Literatura produzida, consumida e estudada no mundo ecoam

as condições econômicas, sociais, culturais e políticas do país. Essa questão pode

ser deduzida, a priori, no projeto da nossa tese e tornou-se uma confirmação após

nossa pesquisa: os sistemas literários que teriam mais obras contempladas seriam o

de Moçambique e Angola, por suas condições econômicas e de mercado editorial

são melhores do que Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Como

elegemos investigar os três principais sistemas literários e seus autores,

abordaremos, nos itens, a seguir, a Literatura moçambicana, o assunto mais

estudado enquanto sistema literário, Mia Couto e Paulina Chiziane, autores

privilegiados nas teses. Em seguida, abordaremos a Literatura angolana, segundo

sistema literário com mais autores e obras analisados. Pepetela é o autor com mais

obras investigadas desse sistema. Discutiremos também questões sobre o sistema

literário de Cabo Verde, que ficou em terceiro lugar entre os sistemas literários que

mais tiveram sua literatura investigada. Se considerarmos o total de obras

analisadas, o sistema literário de Cabo Verde está representado por um número

inferior das teses investigadas.

Julgamos necessário mostrar um breve panorama dos sistemas literários

moçambicanos, angolanos e cabo-verdianos, e não apenas arrolar as teses que

investigaram as obras de literatura escritas por autores desses países, a fim de

mostrar as particularidades de cada autoria e contextualizar os modos de leitura

privilegiados pelos autores das teses que investigaram estas obras.

2.4 Literatura moçambicana

A literatura moçambicana apresenta suas produções literárias em três fases,

segundo Maria Nazareth Soares Fonseca e Terezinha Taborda Moreira (2007, p.

47): a fase colonial, a fase nacional e a fase pós-colonial. Na tese De mitos e

silêncios: nas águas do feminino pelos romances de Paulina Chiziane (2014), a

autora, Eliane Gonçalves da Costa, seleciona obra da primeira romancista da

literatura moçambicana que surge na fase pós-colonial. Referindo-se ao modo como

os momentos históricos moçambicanos aparecem nas obras analisadas, a autora

diz:

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Sua escrita traz os três tempos apresentados: o colonial, a independência e o pós-colonial. Sua história pessoal traz as marcas de um mosaico cultural histórico-físico-cultural, sua escrita é aberta por esses brados. Na sua literatura, encontra-se mais que o apelo raivoso de novos tempos; observa-se também uma ampla reflexão acerca da relação entre tradição e a contemporaneidade, salientando o papel da mulher na construção das identidades de Moçambique. (COSTA, 2014, p. 16-17).

.

É bom destacar que a escritora moçambicana, Paulina Chiziane, vai além da

temática histórica, uma vez que ela aborda o gênero de uma forma muito singular.

Essa questão merece ser analisada em culturas como a moçambicana em que,

especificamente, são fortes as relações sociais pluriétnicas, as relações familiares,

bem como a tradição do lobolo29, a matrilinearidade e patrilinearidade. O cuidado no

trato dessas questões evita que se caia em especulações ocidentalizadas de

feminismo, na análise de personagens de seus romances.

O sistema literário moçambicano tem poucos poetas publicados no Brasil e,

isto pode justificar o fato de haver apenas três poetas de Moçambique estudados

pelas teses lidas por nós, sendo eles: Luis Patraquim, Rui Knopfli e Juvenal

Bucuane30. Outro fator que pode ter contribuído pela baixa quantidade de estudos

sobre a poesia africana é que, no Brasil, o gênero poesia está pouco presente nas

ementas de cursos de literatura, mesmo em programas de pós-graduação em

Letras. Em rápida pesquisa no CTD, verificamos que, no período selecionado para a

nossa pesquisa, apenas 12% das teses investigadas analisavam o gênero literário

―poesia‖. Constatamos, pela pesquisa, uma lacuna nessa área, uma vez que poucos

estudos do gênero literário ―poesia‖ fazem parte dos estudos acadêmicos de

literatura, em geral, e das literaturas africanas de língua portuguesa, em especial.

Sobre o sistema literário moçambicano, observamos que as investigações

feitas pelas teses versaram sobre os principais temas de estudos que elencamos

(identidade(s), memória e história), e que a maioria delas procurou discutir temas

específicos, bem como as estratégias literárias utilizadas pelos autores. Dessas

estratégias, são destacadas considerações sobre narrador, personagem, espaço e

discussões sobre a intertextualidade, e mesmo sobre a epistolariedade, dentre

outras questões relativas à escrita literária. Podemos citar, como exemplo de

29

Lobolo: É – a grosso modo- a cerimônia de casamento entendida como ―tradicional‖ no sul de Moçambique, na qual a família do noivo oferece bens para a família da noiva em troca do casamento. (FURQUIM, 2016, p.6)

30É preciso destacar a publicação, no Brasil, de outros poetas moçambicanos, além dos estudados pelas teses investigadas, como por exemplo: José Craveirinha, Noemia de Sousa e Virgílio de Lemos.

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63

questões importantes discutidas pelos trabalhos, a tese sobre narratologia, O

"Outro’’ moçambicano: expressões da moçambicanidade em João Paulo Borges

Coelho (2016), de Ana Beatriz Braun. Nessa tese, a autora afirma que, além de

investigar aspectos da memória e da história, relacionados com a literatura

moçambicana, irá

analisar os romances [de João Paulo Borges Coelho] a partir de seus narradores: organizadores das várias linhas narrativas que se desenvolvem nos romances. Falando a partir de uma multiplicidade de posições, os narradores de Borges Coelho estruturam um amplo painel da sociedade moçambicana. (BRAUN, 2016, s.p. ).

Nessa tese de nosso corpus e em outras também, vemos que um trecho do

caminho das pesquisas sobre literaturas africanas de língua portuguesa já foi

trilhado, pois antes as pesquisas privilegiavam estudos literários mais voltados para

o fato de essas literaturas se proporem a encenar dados concretos da realidade dos

CINCO. Agora, muitos estudos destacam o trabalho estético nas obras.

Embora a maioria das teses, que privilegiaram a literatura moçambicana,

volte-se ao gênero romance, devemos considerar que o sistema literário

moçambicano se compõe de muitos autores de contos, gênero marcante na escrita

africana. Acreditamos que este fato se deve às características especificas do gênero

literário conto. Além disso, ele se aproxima das histórias contadas oralmente, tão

características das culturas africanas. Essas características não diminuem as

possibilidades de estudos acadêmicos sobre este gênero literário, pois o conto

possuem questões literárias tão instigantes quanto aos gêneros romance e poesia.

Embora a narrativa longa predomine nas teses estudadas, algumas se

voltaram para a análise de narrativas curtas moçambicanas, escolhendo, sobretudo,

contos de Mia Couto. Nas teses que versaram sobre contos de Mia Couto,

encontramos análises de contos retirados das seguintes obras do autor: Vozes

anoitecidas (1986), Cada homem é uma raça (1990), Estórias Abensonhadas

(1994), Contos do nascer da terra (1997), Na berma de nenhuma estrada (1999), O

fio das missangas (2003). Somente quatro livros de narrativas curtas do autor não

foram contemplados nas teses que averiguamos, a saber, Cronicando (1991), O

país do queixa andar (2003), Pensatempos: textos de opinião (2005).

As teses sobre a escrita miacoutiana foram a maioria nos cinco anos que

pesquisamos, portanto, destacaremos as principais abordagens procedidas sobre

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64

obras do escritor, a fim verificar os temas mais frequentes nas teses investigadas.

2.4.1 Mia Couto

O renomado escritor moçambicano teve suas obras analisadas em pelos

menos 20 das 74 teses investigadas, sendo, portanto, as que mais mereceram

estudos. Como dissemos, a forma comparativa foi a mais adotada em teses que

tratam da obra miacoutiana. A utilização do método parece ser a melhor forma de

tratar textos de diferentes obras, de diferentes autores oriundos dos países africanos

e/ou da diáspora negra. Pensamos que a balcanização do continente africano entre

os países europeus colonizadores acabou por fortalecer traços de opressão

semelhantes em todos os povos colonizados. Partindo de pontos que mostram haver

similaridades na História dos povos africanos, os estudiosos de literatura percebem,

também, semelhanças nos modos de narrar, o que acaba por justificar os estudos

literários comparativos. São diversos movimentos de resistência encenados pelas

literaturas africanas, porém, podemos afirmar ser a luta contra o colonialismo a mais

predominante. Esse processo de dominação deixou marcas profundas e danosas no

continente africano e, consequentemente, nos africanos, sobretudo nos da África

sub-saariana e nos afrodescendentes. Esta dolorosa exploração da África refletiu

nas teorias pesquisadas em todos os campos do conhecimento, inclusive na

Literatura.

A estética da diáspora negra, na Literatura, é tratada por grande quantidade

das teses que se valeram de estudos comparativos como método de análise

literária, principalmente aquelas que tratam das obras de Mia Couto. Os estudos

comparativos não se limitam à investigação de obras de Mia Couto e nem das

literaturas de língua portuguesa – moçambicana, angolana, cabo-verdiana,

guineense e santomense. Há teses que comparam obras literárias africanas e

brasileiras e portuguesas. Há também estudos comparativos entre obras das

literaturas africanas de língua portuguesa com outras das literaturas de outros

espaços da África, tais como Nigéria e Quênia, e mesmo com obras de espaços da

diáspora negra, como a Martinica. São países, que, embora tenham suas

particularidades com relação à colonização, não ficaram isentos das perversas

consequências deixadas ao povo negro/africano. São questões muitas vezes

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65

silenciadas que ganham voz no espaço da literatura.

Na tese, Poéticas da alteridade: Chinua Achebe, Ngugi Wa Thiong’o e Mia

Couto (2014), de Jair Braga Filho, foram selecionadas obras de Mia Couto para

avaliar as relações tensas entre colonizador e colonizado. Além disso, tem a

intenção de, comparativamente,

desvelar as características de um discurso literário, aqui africano, que faz frente à hegemonia cultural eurocêntrica ocidental, reforçando sua especificidade ao tratar das relações tensas e transformadoras entre colonizadores e colonizados - no texto pós-colonial de Chinua Achebe - entre grupos sociais pertencentes a um mesmo meio - na obra neocolonial de Ngugi Wa Thiong‘o -, e entre personagens em estado de procura permanente por uma identidade e que já não pertencem mais a um grupo específico, ampliando e problematizando o conceito de alteridade, característica dos tempos pós-modernos que correm. É o caso da poética transcolonial de Mia Couto. (BRAGA FILHO, 2014, p. 5).

A leitura das discussões oferecidas pelas teses possibilita constatar que a

hegemonia cultural eurocêntrica impôs condições severas ao desenvolvimento do

sujeito africano, sobretudo refletindo em sua identidade e em suas relações com o

sagrado e com a oralidade, muitas vezes interditada pela obrigatoriedade de uso da

escrita. Na esteira dessas questões, os estudos miacoutianos trataram destas e de

outras questões amplamente aceitas pela crítica das obras deste autor, tais como o

insólito, elementos telúricos (água, paisagem) e personagens femininas. Essas

investigações também exploraram pontos comumente abordados nos estudos das

literaturas africanas de língua portuguesa, conforme constatado por nossa pesquisa,

tais como o colonialismo, pós-colonialismo, neocolonialismo e as guerras de

libertação e civil.

Algumas das teses que analisamos e que trataram das obras de Mia Couto

apresentaram discussões bastante singulares. Três delas investigaram temas como

bastardia, o pacto fáustico e as transfigurações do passado. No intuito de confirmar

esta singularidade, realizamos consulta ao CTD sobre teses produzidas na literatura

em geral sobre estes três assuntos. Delimitamos a busca aos mesmos limitadores

usados por esta tese na investigação dos estudos sobre literaturas africanas de

língua portuguesa. Encontramos apenas mais uma tese sobre a questão da

bastardia, mas nenhuma outra sobre pacto fáustico e sobre transfigurações do

passado. Esses dados reforçam o nosso objetivo de oferecer dados confiáveis às

instituições de Letras no Brasil e, em especial, aos pesquisadores de literaturas

Page 68: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS … · LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Resultados com a palavra-chave literatura africana - sem uso de aspas . 29 Figura 2 - Resultados

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africanas de língua portuguesa, pois conseguimos ver quais temas de estudo são

explorados à exaustão, ao passo que outros ainda são poucos tratados pela

academia.

Uma obra (O outro pé da sereia), bastante estudada, do escritor Mia Couto,

integra o elenco da tese que trata do tema da bastardia, tendo como título Memória,

identidades e bastardia em As visitas do Dr. Valdez, de João Paulo Borges Coelho,

O outro pé da sereia, de Mia Couto, e Leite derramado, de Chico Buarque (2016), a

pesquisadora, Lilian de Paula Serra e Deus reflete sobre bastardia em obras de dois

autores moçambicanos e um brasileiro. Para sua pesquisa sobre o tema, a

estudiosa buscou o aporte teórico de Marthe Robert (2007), conforme ressalta no

trecho:

A intenção é partir das premissas acentuadas por Robert sobre a relação entre bastardia e romance e sobre a prerrogativa de que toda narrativa romanesca abarca o conceito freudiano de romance familiar para discutir como os romances selecionados para análise podem ser vistos a partir dessas concepções. Abordar-se-á o fato de nos três romances existirem personagens que, de alguma forma, encenam a ficção infantil discutida por Freud. Ainda que se considere o fato de que tanto Freud quanto Marthe Robert criaram suas teorias a partir de visões europeias, pensa-se ser possível analisar aspectos dos romances africanos e brasileiro levando em consideração pontos de vistas críticos construídos a partir do viés psicanalítico. Por isso, neste capítulo, além da discussão da questão da bastardia, segundo Robert (2007), tangenciaremos o complexo de Édipo e a ficção da criança perdida ou adotada teorizadas por Freud como possibilidade de leitura dos romances. (DEUS, 2016, p. 28).

O tema da bastardia romanesca é assumido pela autora da tese como uma

configuração psicanalítica passível de ser discutida em relação a obras literárias. O

conceito e as percepções teóricas sobre ele são retomados para ajudar a

compreender determinadas questões apresentadas por romances africanos. O viés

comparativo da tese ajuda a disseminação de conceitos que foram discutidos, de

forma ampla, para se pensar em relações específicas do contexto familiar, ainda que

se leve em conta as diferenças existentes entre as narrativas. Desse modo, o

conceito foi trabalhado como importante ferramenta para ajudar na análise de uma

questão que é humana e universal, logo, pertinente ao estudo de romances oriundos

de espaços colonizados.

O outro tema bastante singular, como já acentuado, utilizado para a

investigação das literaturas africanas de língua portuguesa, especificamente da obra

miacoutiana, é o de pacto fáustico. Esse tema foi examinado na tese O pacto das

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elites e sua representação no romance em Angola e Moçambique, de Sueli da Silva

Saraiva, em 2013. Para a investigação, a autora requisita uma obra de Mia Couto, O

último voo do flamingo (2000), além de outras das literaturas africanas de língua

portuguesa, como Maio, mês de Maria (1997), de Boaventura Cardoso, Predadores

(2005), de Pepetela e O sétimo juramento (2000), de Paulina Chiziane, nas quais ela

percebeu

as marcas do mito fáustico, um elemento da intertextualidade que esses romances apresentam entre si e com obras de outros sistemas literários emergiram como uma produtiva presença para a compreensão desses países e suas literaturas num contexto mais amplo. (SARAIVA, 2013, s.p. ).

A referida tese analisa as obras adotando as características do pacto

diabólico, de conseguir realizar um desejo e em troca perder algo caro a si mesmo,

de Fausto, e aponta como elementos claros desse acordo são encenados a partir da

ação de personagens dos romances O último voo do flamingo, de Mia Couto e O

sétimo juramento, de Paulina Chiziane. Os romances são postos em contraponto a

Predadores, de Pepetela, obra em que, segundo a autora, ―habilmente se produz

aquilo que poderia ser entendido como a forma abstrata do pacto‖ (SARAIVA, 2013,

p. 241), em decorrência, sobretudo, do tom realista da obra.

O assunto ―transfigurações do passado‖, em obras de Mia Couto, é avaliado

pela pesquisadora Daniela Aparecida Costa na tese Transfigurações do passado em

narrativas de Teolinda Gersão e Mia Couto (2015). A tese se realiza

por meio do exame dos modos como se processa a ―transfiguração do passado‖ nas obras escolhidas, confronta os diferentes olhares sobre a tomada do passado histórico dos dois países, pelos romances em questão, com o objetivo de mostrar como os dois escritores incorporam e apropriam-se do factual como estratégia narrativa, bem como perscrutar de que modo tal processo implica a construção artística das obras. (COSTA, 2015, s.p. ).

Tomando por base um romance moçambicano e outro português, a estudiosa

adota para sua investigação o conceito de ―transfiguração do passado‖ que, para

ela, implica em subverter momentos históricos dos países de nacionalidade dos

autores, no caso das obras analisadas, o salazarismo português e o colonialismo,

em Moçambique, de modo a trazer para a tese a interação entre literatura e história,

de forma transgressora.

As obras de Mia Couto também foram objeto de investigação em teses que

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privilegiaram aspectos da memória, identidade, história, feições do sagrado, da

nação e do feminino, dentre outros. Merecem destaque as teses que abordaram a

poética de Mia Couto, a partir de olhares mais singulares que procuram revisitar as

obras desse autor tão estudado no Brasil. Tal enfoque pode se valer de conceitos

como o de hipertextualidade, pensado por Gérard Genette como um palimpsesto,

como um pergaminho, cuja primeira inscrição foi raspada para se traçar outra, sem

esconder inteiramente a anterior (MOLINA, 2016).

O conceito palimpsesto foi utilizado como aporte teórico para fundamentar o

processo de derivação textual que se instaura entre os textos de O outro pé de

sereia, de Mia Couto, e a carta de Luiz de Froes, de 1562. O conceito de

hipertextualidade, de Gérard Genette, utilizado na tese A hipertextualidade em O

outro pé da sereia: uma escrita em palimpsesto (2016) pode ser definido nas

palavras de Maria de Fátima Castro de Oliveira Molina como

todo texto derivado de um texto anterior por um processo de transformação ou imitação. Diante dessa simplificação, o autor [Gérard Genette] apresenta duas precauções necessárias para a perfeita consolidação do conjunto das categorias transtextuais por ele listadas. A primeira diz respeito à importância de não considerá-las como classes estanques; a segunda volta-se mais para uma definição da natureza da transtextualidade considerada como aspecto da textualidade. (MOLINA, 2016, p. 93).

Assim, para a autora da tese, a obra O outro pé da sereia é um hipertexto, ou

seja, texto conectado a outro. Assim, ela investiga as estratégias narrativas de

intertextualidade poética no romance, tais como imitação, transformação, paródia e,

principalmente, o recurso de palimpsesto, caracterizado como retomada e reescrita

de um texto outro, sobre o qual o novo texto se debruça. Nas palavras de Gérard

Genette (2010), em citação de Molina, o palimpsesto refere-se à

[...] duplicidade do objeto, [que] na ordem das relações textuais, pode ser figurada pela velha imagem do palimpsesto [grifo do autor], na qual vemos, sobre o mesmo pergaminho, um texto se sobrepor a outro que ele não dissimula completamente, mas deixa ver por transparência. (GENETTE, 2010, p. 144 apud MOLINA, 2016, p. 100).

A tese é construída a partir da análise da multiplicidade de histórias que

constituem o romance de Mia Couto: a oficial, que se passa em 1562, e as fictícias

que compõem o enredo desencadeado por acontecimento ocorrido em 2002. A

autora reforça que a narrativa de Mia Couto não é uma reprodução da realidade,

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mas a transformação da realidade, enfocada a partir dos recursos da ficção. Sobre

os fatos ocorridos em 1562, sobrepõem-se outros, deixando os eventos do século

XVI serem revisitados pelo recurso da transparência.

A questão da imanência e da transcendência seria apenas mais um recorte

destes temas recorrentes nos estudos das obras de Mia Couto, porém a tese

Moçambique (entre) laços poéticos: conversas e versos, de Roselene Berbigeier Feil

(2015), acrescenta a esses aspectos a questão da interação entre a arte e a

mundanidade banal do universo cotidiano do autor Mia Couto. Nesta tese, a autora

mergulha no mundo cotidiano dos moçambicanos, valendo-se de entrevistas feitas

com cidadãos moçambicanos residentes em Moçambique. Com esse recurso, faz

uma leitura das obras Vinte e zinco, Terra sonâmbula, Antes de nascer o mundo, O

outro pé da sereia e O último voo do flamingo, buscando uma interação entre os

dados fornecidos por entrevistas feitas por ela e os ficcionalizados/inventados pelo

autor Mia Couto. Como a autora fez um estudo em Moçambique e não apenas a

leitura das obras, é interessante perceber, nas palavras da autora da tese, as

explicações sobre as particularidades do universo africano e sobre percepções

dessa realidade, fora do continente africano:

As particularidades do universo africano, através da obra de Mia Couto, são transpostas para a literatura que o mundo além-África recebe, são desejos e percepções distantes da realidade exterior ao continente. Muito daquilo que o autor diz sobre a África soa pouco plausível. A concepção ocidental tem uma lógica estruturada sobre alicerces menos sutis, daí a intraduzibilidade de muitos elementos como ―próprios da África‖ e sua absorção limitada ou fantasiosa. A ótica universalista ainda exclui o diferente, o entende como restrito à mística e à sublimação, dessa constatação nasce um encantamento que oculta a realidade africana e a oriental em muitos de seus aspectos. (FEIL, 2015, p. 11).

O diálogo entre a realidade e a literatura, produzido por autores africanos,

como Mia Couto, aproxima a cultura africana da ocidental mostrando que o ser

humano tem, muitas vezes, os mesmos questionamentos, embora se expressem de

modo singular em cada espaço. A produção literária e sua globalização contribuem

para o distanciamento da imagem de uma África exótica e mítica e possibilitam

melhor conhecimento de suas literaturas.

Vamos nos deter ainda em mais uma tese que investigou a obra de Mia

Couto por um viés diferente dos comumente adotados. Trata-se da tese de Cristina

Mielczarski dos Santos que investiga o recurso da ―epistolariedade‖ nas narrativas

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de Mia Couto, como forma de minimizar o silenciamento das personagens femininas,

em suas narrativas. A tese de título Entre o bronze da letra e o cristal da voz:

interditos da voz na ficção de Mia Couto (2017) teve como objeto de estudo,

a interdição da voz, ou seja, desenvolver um enfoque a partir das personagens que utilizam a escrita para comunicação. O foco foi dado a partir do gênero epistolar (bilhetes, cartas e diários), mas abrindo para outros silenciamentos, como o caso das exiladas da razão. [...] Evidenciou-se, neste contexto, por intermédio das obras expostas o silenciamento da voz feminina (SANTOS, Cristina, 2017, s.p. ).

Como procuramos demonstrar, as teses que contemplaram obras de Mia

Couto realizaram recortes que evidenciam particularidades do universo

moçambicano de que fazem parte eventos e pessoas que integram os processos de

ficcionalização exibidos nas obras do escritor. Indo além de aspectos que ressaltam

o comprometimento ético deste autor moçambicano com seu país, as teses

buscaram refletir sobre questões relativas aos estudos literários, tais como: forma

narrativa, recursos poéticos, aspectos da diegese, enfim, propõem investigar

elementos da narrativa literária, a partir da obra do escritor.

A variedade de estudos sobre as obras de Mia Couto permite afirmar que

existe uma vasta gama de possibilidades de leitura, sobretudo de textos

provenientes de literaturas que, como as africanas, têm uma relação muito forte com

a encenação de aspectos do continente africano, por vezes pouco conhecidos dos

que se situam fora da África.

Após apresentarmos o sistema literário mais abordado nas 74 teses, a

literatura moçambicana, e o escritor mais estudado, Mia Couto, esperamos ter

disponibilizado informações concretas dos estudos feitos sobre obras literárias de

Moçambique e de Mia Couto. Essas informações confirmam algumas afirmações

mais gerais sobre as literaturas africanas de língua portuguesa e trazem outras que

surpreendem pela particularidade da pesquisa.

Passaremos ao tópico onde apresentaremos a escritora que obteve a terceira

posição dentre as obras analisadas nas teses investigadas, depois das de Mia Couto

e Pepetela.

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2.4.2 Paulina Chiziane

Paulina Chiziane é considerada a primeira romancista de Moçambique.

Nascida em 1955, no interior do país, foi para Maputo para fins de estudo. Na capital

ela enfrentou um dos grandes desafios dos moçambicanos: a pluralidade de línguas.

Em Maputo falava-se o idioma Ronga e na escola aprendia-se a Língua Portuguesa.

Porém, ela era falante de Chope. Publicou seu primeiro romance Balada de amor ao

vento, em 1990. Depois vieram outros como Ventos do Apocalipse (1999), Sétimo

Juramento (2000), Niketche: uma história de poligamia (2002),que lhe rendeu o

prêmio José Craverinha, em 2003, e O alegre canto da perdiz (2008). Destas suas

obras, tivemos teses sobre Balada de amor ao vento, Niketche: uma história de

poligamia, O alegre canto da perdiz, O livro da paz da mulher angolana: as heroínas

sem nome (em que ela é organizadora junto com Dya Kasembe), O sétimo

juramento e Ventos do apocalipse. A obra O alegre canto da perdiz foi motivo de

quatro das teses que estudaram obras de Paulina Chiziane e, das oito teses de

nosso corpus que trataram das obras desta romancista moçambicana, seis

estudaram suas obras de forma comparada. As comparações se deram, na maioria,

com a obra Ponciá Vicêncio, da escritora brasileira Conceição Evaristo e, em

segundo lugar, com a obra O último voo do flamingo, de Mia Couto.

A escrita de Paulina Chiziane ―consegue apropriar, reescrever e subverter

mitos e elementos pertencentes à cultura ocidental, de forma criativa, irônica e, por

vezes, bem-humorada‖ (MANCELOS, 2007, p. 5). Esse poder de apropriação das

questões moçambicanas, principalmente sobre gênero, se verifica nos recortes

escolhidos pelos pesquisadores das teses investigadas, pois, em sua maioria, as

teses que tratam da obra de Paulina Chiziane estudaram aspectos do feminino

atrelado às questões de autoria ou das personagens. Em relação às discussões

sobre gênero na obra Niketche: uma história de poligamia, por exemplo, precisamos

estar atentos aos diferentes lugares que a mulher ocupa na sociedade

moçambicana, pois algumas cenas encontradas na obra de Paulina Chiziane

podem, aos olhos do feminismo ocidental (eurocêntrico), levar o leitor a ver algumas

personagens como submissas, mas no contexto de algumas comunidades

moçambicanas, elas podem não ser. O mesmo se dá quando consideramos as

relações poligâmicas que não vivenciamos no Brasil como traço de uma tradição

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cultural. Prestar atenção às diferenças sociais que a cultura moçambicana apresenta

em relação à brasileira não quer dizer que muitas das situações vividas pelas

mulheres moçambicanas não sejam de submissão e opressão.

Em O alegre canto da perdiz, a autora Paulina Chiziane narra a história de

quatro mulheres da mesma família, de forma circular e fragmentada. O enredo

perpassa pelo período colonial de Moçambique até a pós-independência

moçambicana. Nesta obra podemos perceber que

a partir da personagem Delfina, que a autora encena as relações de opressão ao longo da história de Moçambique, a dupla subalternização da mulher negra nesse espaço, já que ela tenta ser a dona do próprio destino, mas não consegue, sofrendo preconceito da sociedade por tentar subverter o que lhe foi reservado como mulher e negra, e também a resistência da mulher negra a essa condição traumática que lhe é imposta. (LANA, 2018, p. 232).

O lugar da mulher moçambicana marca os romances de Paulina Chiziane e

se reflete nas teses sobre suas obras, como podemos ver na tese intitulada De mitos

e silêncios: nas águas do feminino pelos romances de Paulina Chiziane, da

pesquisadora Eliane Gonçalves da Costa. O referido estudo

tem como objetivo investigar os romances Balada de Amor ao Vento (2003) e O Alegre canto da Perdiz (2008) da escritora moçambicana Paulina Chiziane, seguindo a cartografia cultural de Moçambique proposta pela autora, com a finalidade de questionar os elementos da cultura ligados à tradição, bem como a de verificar os choques culturais desencadeados pelo colonialismo.( COSTA, 2014, s.p. ).

As reflexões suscitadas pelas leituras das obras de Paulina Chiziane levam a

discussões acerca da identidade do(a) moçambicano(a), pois suas personagens, na

maioria mulheres, ecoam as vozes de sujeitos subalternizados e marginalizados. Na

escrita de Paulina Chiziane tradição e contemporaneidade são marcas das

personagens, levando a percepção de novas identidades femininas na cena literária.

Nesse tópico dialogamos sobre a escrita literária de Paulina Chiziane e sobre

as investigações de suas obras nas teses investigadas. É nosso objetivo realizar

este mesmo movimento no próximo item – literatura angolana - onde

apresentaremos as informações colhidas das teses de nosso corpus que

investigaram a literatura angolana e o autor Pepetela.

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2.5 Literatura angolana

A literatura angolana é, como já dito, o segundo sistema literário mais citado

nas palavras-chave e nos resumos das teses que pesquisamos. Pelo que expõem

as teses, esse sistema literário pode ser apreendido em momentos significativos

indicados pela importância de obras e autores que o representam. Um desses

momentos pode ser considerado a partir da produção escrita de intelectuais que

participaram dos movimentos de independência e produziram textos para a luta

libertária. Esses intelectuais, ao contribuírem com a produção literária do país,

podem ser considerados os precursores da literatura angolana pós-independência.

Dentre esses, podemos citar Antônio de Assis Júnior, Castro Soromenho e Oscar

Ribas. Obra importante do sistema literário angolano, O segredo da morta: romance

de costumes angolenses, de Antônio de Assis Junior31, foi destacada pela tese

intitulada O instinto de nacionalidade na formação do romance angolano: análise de

O Segredo da Morta, Antônio de Assis Junior (2014). Na referida tese, a autora,

Silvana Rodrigues Quintilhano, justifica a escolha desta obra para sua análise,

afirmando que:

A narrativa traz, de forma ampla e visível, o panorama cultural da sociedade angolana pré-independência. Desde então, essa obra vem sendo considerada um marco no panorama literário de Angola, na qual se pode discutir o conceito de nacionalidade, mesclando costumes burgueses civilizacionais à oralidade primitiva angolana. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo afirmar que O segredo da morta, tornou-se marco inicial na formação do romance angolano, que com seu instinto de nacionalidade, prenunciou aspectos da angolanidade, a partir de uma estratégia estética inovadora. (QUINTILHANO, 2014, s.p. ).

Outro momento literário pode ser considerado com o surgimento do

Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, em 1948, responsável pelo apelo

―Vamos descobrir Angola‖, buscando romper com a cultura imposta pelo colonizador

e visando uma literatura angolana que refletisse a cultura de Angola. Os autores que

se destacaram nesse momento são, dentre vários outros, Mário Antônio, Agostinho

Neto, Viriato da Cruz, Alda Lara, Antônio Jacinto e Mário Pinto de Andrade.

A vertente assumidamente voltada para a função social da literatura foi

31

Esta obra apresenta alguns percalços em sua publicação, pois foi publicada em 1929, sendo editada em livro somente em 1935. Por ter sido censurada, foi reeditada somente em 1979. (QUINTILHANO, 2014, s.p.).

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colocada em prática por muitos autores angolanos, destacando, dentre outros,

Manuel Rui, Boaventura Cardoso e Pepetela. Nas produções literárias desses

autores é marcante a presença de um diálogo com o período definido pelas lutas de

libertação nacional e conflitos internos durante a consolidação de Angola como

nação independente.

O sistema literário angolano, ainda no período colonial, ganha maior fôlego

com as obras de José Luandino Vieira32, que trazem, desde Luuanda, publicado,

pela primeira vez nos anos 60, uma proposta de renovação da linguagem literária.

Essa proposta irá se fortalecer em obras como Nós, os do Makulusu (1975) e João

Véncio: os seus amores (1979). Mais recentemente, a escrita do escritor se

radicalizou ainda mais, na trilogia, ainda em construção, intitulada De rios velhos e

guerrilheiros, de que estão já publicados: O livro dos rios (2006) e O livro dos

guerrilheiros (2009).

A escrita contística de José Luandino Vieira mereceu uma tese, em 2014,

intitulada O lugar de Luandino Vieira na tradição do conto angolano, da

pesquisadora Joelma Gomes dos Santos. Ela faz uma reflexão sobre a importância

de teses que discutem o gênero literário conto, em geral, e na literatura angolana,

em particular, afirmando haver poucas teses sobre este gênero literário.

Confirmamos a observação da autora, ao perceber que do nosso escopo, apenas

5% das 74 teses tratava especificamente sobre contos, apesar das literaturas

africanas de língua portuguesa terem expressiva produção nesse gênero literário.

No desenvolvimento da análise dos contos de José Luandino Vieira, a

pesquisadora julgou importante trilhar um caminho pela teoria literária ocidental

sobre as narrativas breves e também pelas teorias sobre a literatura angolana, além

de embasamento sobre o conto de tradição oral, especificamente o mussosso33.

Sendo assim, a autora afirma que:

32

Este autor, assim como Mia Couto, foi premiado como prêmio literário de Camões, mas por razões pessoais, recusou receber a honraria portuguesa.

33 Nas comunidades tradicionais quimbundo, o mussosso é uma forma narrativa utilizada para entreter e também para instruir os interlocutores. Os contadores de histórias [re]transmitem as narrativas que são repassadas de geração em geração ao longo dos anos, ouvidas de seus mais-velhos, líderes, ou griots. É em baixo [sic] de uma árvore, ou à volta da fogueira que os laços com os ancestrais são mantidos por meio da escuta e enunciação dessas estórias. (SANTOS, 2014, p. 42, destaques da autora).

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Inserir o autor no seu contexto de produção requer uma incursão por teorias do conto como as de Poe (2009), Lancelotti (1965), Piglia (2004), observando a expressão do gênero em Angola a partir da leitura de críticos como Laura Padilha (2007) e Carlos Ervedosa (1979), desenhando seu percurso histórico de realização, passando por questões que envolvem ainda suas relações com a narrativa oral tradicional, o mussosso, amparados pelo trabalho de estudiosos como Ribas (1964), A. Hampaté Bâ (2011) e Chatelain (1964); exige lançar um olhar analítico sobre a formação do gênero no referido cenário literário, investigando suas etapas de transformação, passando pelos citados movimentos que, a partir de suas propostas e estilos, iam dando novas feições às formas de narrar; para então retornarmos ao ponto alto de sua transgressão que localizamos na obra de José Luandino Vieira, ponto chave de ruptura e mudança estética sofridas pelo gênero, como se defende. (SANTOS, 2014, p. 9).

A autora problematiza a inserção da obra de José Luandino Vieira nas teorias

ocidentais pelas subversões literárias que o autor utiliza em suas criações. Por essa

razão, recorre aos teóricos(as) africanos em geral e aos que discutem as literaturas

africanas de língua portuguesa.

Acrescentamos, ainda, que, nas teses de nosso corpus que especificaram

como tema de suas pesquisas a literatura angolana, uma delas abordou a poética de

Paula Tavares e, a outra, os romances de José Eduardo Agualusa. O viés estudado

das obras de Paula Tavares foi a poética dos sentidos e de Agualusa, o aspecto da

memória e da ironia.

Nesse item que finalizamos, sobre a literatura angolana, fizemos uma breve

exposição deste sistema literário e suas abordagens nas dez teses que o

estudaram. Continuaremos a falar da literatura angolana, ao expor as informações

que colhemos sobre Pepetela, o segundo autor com mais obras estudadas nas

teses produzidas pelos brasileiros que investigaram as literaturas africanas de língua

portuguesa nos últimos cinco anos.

2.5.1 Pepetela

Pepetela foi um militante da independência angolana e exerceu liderança

expressiva nos movimentos pela libertação de Angola. Atuou como guerrilheiro

diretamente na luta armada pela libertação de Angola, integrando o partido político

Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Trata-se de um dos autores

angolanos mais reconhecidos, mesmo antes da independência de Angola, quando

conseguiu escrever três romances, porém apenas a obra As aventuras de Ngunga

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foi publicada durante o período de luta de libertação, em 1973. Com o fim da luta

armada pela independência em Angola, Pepetela chegou a ocupar cargo político no

governo MPLA, que logo abandonou para assumir a vida acadêmica e a de escritor.

Este autor angolano foi estudado por dez teses das 74 que selecionamos e

todas, com exceção de uma, foram analisadas de forma comparativa, com obras das

literaturas moçambicana, brasileira e portuguesa. Entre seus romances, os que

mereceram estudos nas teses que lemos foram A gloriosa família, A geração da

utopia, Yaka, Predadores, Mayombe e Lueji. Ao estudar tais obras, os principais

recortes para investigá-las foram aqueles que conectam as relações entre literatura

e sociedade: história, ironia, identidade(s), pós-colonial, política e capitalismo. Para

aporte teórico dessas discussões foram tomados como apoio, principalmente: Homi

K. Bhabha, Jacques Derrida¸ Tzvetan Todorov, Roland Barthes, Georg Lukacs,

Mikhail Bakhtin, Paul Gilroy, além de Margarida Calafate Ribeiro, Inocência Mata,

Moema Augel e Jane Tutikian.

Houve duas teses que trataram da intertextualidade e para tanto tomaram

como referência as reflexões produzidas por Julia Kristeva. Em uma das teses sobre

a intertextualidade na obra de Pepetela, foi realizada uma leitura que considera as

obras analisadas como narrativas de fundação e sagas familiares. O autor, Donizeth

Aparecido dos Santos, da referida tese, que tem o título de Sagas familiares e

narrativas de fundação engajadas de Érico Veríssimo e Pepetela (2013), buscou

encontrar na trilogia de O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo, e no romance Yaka,

de Pepetela, construções estéticas e ideológicas que aproximam as duas narrativas,

a partir do viés proposto. Assim o pesquisador procurou

comprovar que a obra do escritor brasileiro serviu de modelo para o escritor angolano, que incorporou algumas de suas estratégias narrativas e as adaptou ao contexto da literatura angolana, segundo o conceito de intertextualidade de Julia Kristeva (1974) que concebe a escrita de um texto literário como a leitura do corpus anterior, noção que implica ver o texto como absorção e transformação de um outro texto, de modo que o romancista ao escrever a sua obra sempre parte de um modelo pré-existente, seja para legitimá-lo ou questioná-lo, sem que isto signifique que ele tenha feito uma mera cópia do modelo apropriado. (SANTOS,Donizeth, 2013, s.p. ).

Se nesta tese, o objeto de estudo é a intertextualidade entre duas obras

literárias, na outra tese sobre o mesmo conceito, a discussão se fez a partir da

verificação de como os fatos históricos relativos ao sistema colonial português são

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encenados pela literatura angolana e portuguesa.

No momento da análise das teses que têm obras de Pepetela como objeto de

suas pesquisas, encontramos um aspecto que favorece a nossa hipótese de que é

preciso realizar estudos sobre a produção específica de um campo de

conhecimento, no nosso caso, sobre Letras, sub-área Literatura, especificamente,

sobre as literaturas africanas de língua portuguesa. Só o olhar de um pesquisador

da área pode ir além de coleta de dados, e, como esperamos estar realizando,

oferecer considerações sobre conceitos que transitam pela área e sobre suas

metodologias. Portanto verificamos que há um destaque para os(as) teóricos(as)

ocidentais, como esperado, mas também há forte presença de alguns teóricos(as)

africanos(as) e de pesquisadores de literatura, brasileiros, portugueses e africanos.

Como nossa proposta de tese é elencar e discutir os modos de investigação

das literaturas africanas de língua portuguesa, a partir de um recorte, ressaltamos a

preocupação, em várias teses, de ouvir a voz dos teóricos africanos(as) e da cultura

africana, não só a dos CINCO, como foi o caso da tese já citada que se valeu do

recurso à epistemologia de Exu. Neste tópico sobre Pepetela destacamos uma tese

que adota um método de análise literária de narrativa africana recorrendo a

conhecimentos culturais africanos. Essa tese se vale dos preceitos do candomblé

para analisar personagens de Pepetela.

Podemos dizer que a pesquisadora Waldelice Maria Silva de Souza (2014),

autora da tese A rotação das identidades: o transe como dínamo da arquitetura das

personalidades nos oríkìs e dos personagens na obra de Pepetela, embora também

adote referencial teórico da comunidade interpretativa formada pelos pesquisadores

brasileiros de literaturas africanas de língua portuguesa, vai buscar na fonte das

africanidades suporte para fazer seu estudo. Podemos compreender melhor o que a

pesquisadora realizou, quando esta afirma que:

O rito literário se confunde com os atos ritualísticos de culto ao antepassado, na mesma medida em que o acervo de personalidades dos contos sagrados dos povos tradicionais colabora na estruturação da potência, dos gestos e dos atos de vários personagens do escritor. Os personagens se vinculam ao grupo dos outros e entram em rotação desvencilhando-se da condição de alienados, pela assimilação da cultura colonialista portuguesa, dispostos ao transe que os ligará novamente ao sistema expressivo de língua e culto pelo reconhecimento da importância da vida e da história do antepassado. Será observada a arquitetura ambidestra dessa rotação pelo transe nos romances Mayombe, Lueji – o nascimento de um império e Yaka. (SOUZA, Waldelice, 2014, p. 7).

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Assim, a estética da construção dos personagens e a identidade angolana

foram percebidas pela estudiosa por um modo de leitura que busca manter as

singularidades do modo de escrever de Pepetela. Podemos dizer que esta

metodologia adotada pela pesquisadora é inovadora e merece ser considerada

como possibilidade teórica em leituras de outros autores africanos ou

afrodescendentes.

Na escrita de Pepetela verificamos muito da história, da memória e da

identidade de Angola. Esses aspectos mereceram estudos nas dez teses que

versam sobre as obras do autor. Porém, as teses que investigamos não ficaram

apenas nesse viés já esperado. Da leitura dos romances de Pepetela, os autores

trouxeram estudos da linguagem narrativa utilizada por ele e, também, a inovadora

tese que utilizou preceitos do candomblé para realizar sua pesquisa.

Exploradas as questões que vislumbramos sobre as investigações das obras

de Pepetela, nas teses que selecionamos, passaremos agora para o terceiro

sistema literário mais destacado nas palavras-chave das 74 teses que investigamos:

a literatura cabo-verdiana.

.

2.6 Literatura cabo-verdiana

Cabo Verde é um país africano insular e, por isso, as características do

processo colonial, ocorridas lá foram diferentes das outras nações colonizadas por

Portugal, na África. As lutas pela independência foram menos violentas que em

outros territórios, pois este país funcionava mais como suporte portuário para o

sistema colonizatório. Dentre os movimentos literários mais importantes de Cabo

Verde alguns foram diretamente influenciados pelas literaturas portuguesa e

brasileira. Somente com a publicação da revista Claridade, na década de 30, é que

Cabo Verde avançou na estruturação de seu projeto literário.

Sobre esta importante publicação, temos a tese Claridade - o canto e o louvor

de um povo no percurso da construção identitária: o diálogo como regionalismo

(2015), de Elisângela Aparecida da Rocha, na qual a pesquisadora reflete sobre

identidade e a importância do regionalismo brasileiro para a literatura cabo-verdiana,

como podemos perceber no trecho seguinte:

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O contato com escritores brasileiros (modernistas e regionalistas), a partir dos anos de 1930, foi a força motriz para o desenvolvimento e modernização literária cabo-verdiana. Nesse processo, os estudos de Gilberto Freyre, notadamente o Manifesto Regionalista, foram especialmente significativos por oferecerem o arcabouço teórico e metodológico para a valorização das raízes culturais das ilhas e de sua formação social. (ROCHA, 2015, s.p.).

A pesquisadora reforça o intercâmbio entre o Brasil e Cabo Verde na

literatura cabo-verdiana, afirmando que as contribuições advindas da literatura

brasileira da década de 30 vão além desse período. O forte intercâmbio entre estas

Literaturas parece, a nosso ver, ter mantido esse laço até hoje.

São ao todo seis, das 74 teses, que focalizam a literatura de Cabo Verde. Um

número bem expressivo em comparação com a produção literária do país, ainda

pouco divulgada/distribuída fora do arquipélago. Destacamos também, com essas

teses, o trabalho que se tem desenvolvido na Universidade Federal de São Paulo

(USP), já que todas as teses que lemos sobre literatura cabo-verdiana foram

produzidas nessa universidade. Temos certeza de que esse resultado está no fato

de, na USP, haver um estudo particularizado das diferentes literaturas africanas de

língua portuguesa. Na instituição, as literaturas africanas de língua portuguesa não

são estudadas em bloco e, sim, separadamente. Assim, se todas as teses que

lemos sobre literatura cabo-verdiana foram produzidas em setor específico que

cuida de estudos e pesquisas sobre a literatura de Cabo Verde, isso pode ter

contribuído para que essa condição esteja expressa pela clareza demonstrada nas

palavras-chave de cada um dessas teses.

As teses sobre a literatura cabo-verdiana recorrem a temas e teóricos (as) já

elencados por nós, mas podemos destacar, também, estudos mais específicos

sobre a realidade geográfica do arquipélago, porque tal fato reflete-se na produção

literária. Nesse sentido, destacamos estudos sobre o tema da insularidade, em

obras literárias de Cabo Verde, pois sabemos que a literatura deste país traz em si

as características de sua formação geográfica e da constituição de uma nação que

traz as marcas da fragmentação, sendo a identitária, talvez, a mais importante.

Estética, lírica e narratologia se imbricam na encenação literária dessa singularidade

do país.

Nossa proposta neste capítulo foi apontar – e discutir – os aspectos literários

e teóricos(as) dos assuntos mais abordados pelas teses de nosso corpus, que foram

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os autores: Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane, os temas: Identidade(s),

Memória(s) e História e os sistemas literários: Literatura moçambicana, Literatura

angolana e Literatura cabo-verdiana.

Podemos dizer que os temas dos estudos sobre as literaturas africanas de

língua portuguesa assemelham-se aos encenados pelas literaturas ocidentais

contemporâneos e não se caracterizam, apenas, como muitos estudiosos afirmam,

como manifestações características da literatura de comprometimento ético. Os

autores de literaturas africanas de língua portuguesa são, sim, profissionais

comprometidos com suas mundivivências e, logo, estas questões são ficcionalizadas

nas obras escritas por eles. Os recursos estéticos que utilizam conseguem, na

maioria das vezes, ficcionalizar a realidade africana, a partir de estratégias que

também estão presentes em obras de autores não africanos. Devemos levar em

consideração que muitos recursos específicos da escrita literária, em África,

precisam ser reinventados, porque as culturas africanas têm modalidades narrativas

orais altamente significativas que foram silenciadas pela cultura letrada levada ao

continente durante a colonização.

Deduzimos com as teses investigadas que os processos de expressão das

culturas africanas apresentam elementos específicos. As teorias estéticas e culturais

produzidas em África são essenciais para melhor compreendermos os pontos de

vista de teóricos(as) africanos(as) sobre os processos de criatividade que as

literaturas procuram encenar. É preciso ressaltar que, embora ainda seja insuficiente

a circulação de pontos de vista africanos sobre as culturas e as literaturas do

continente, muito das africanidades já estão sistematizadas em conhecimento

organizado e disseminado, o que pode ser notado pelo uso de teóricos(as)

africanos(as) nas investigações realizadas por várias das teses que lemos.

Ao longo deste capítulo, arrolamos alguns dos teóricos(as) que são utilizados

pelos produtores de teses brasileiras sobre as literaturas africanas de língua

portuguesa e, a partir delas, apresentamos discussões que evidenciam uma

comunidade interpretativa já estabelecida. Também demonstramos que as

particularidades da cultura, história, geografia da África e suas diásporas fazem

emergir narrativas e modos de análise literária bastante diferenciados, como a que

propôs a epistemologia do orixá Exu como ferramenta de análise e a que se valeu

de elementos do candomblé para o mesmo fim.

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Assim, consolidada a fase de nossa pesquisa que se vale da indicação de

dados quantitativos e descritivos, passaremos a um aprofundamento mais

investigativo que procurará verificar visões específicas da literatura que emergem

das teses brasileiras que investigaram as literaturas africanas de língua portuguesa,

nos últimos cinco anos. Sabemos de antemão que as marcas fragmentárias da

sociedade contemporânea, africana e global, deixaram seus traços na produção do

conhecimento humano, nos últimos anos. Isto poderá ser percebido nas discussões

que pretendemos realizar a partir do que já observamos nas teses: o avanço de

algumas correntes literárias e educacionais em detrimento de outras.

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3 VISÕES DE LITERATURA NAS TESES INVESTIGADAS

“Todas as influências são parte de mim, que dão vazão na palavra, que constrói e inventa”. (Mia Couto)

Neste capítulo trataremos das visões de literatura que emergem das

pesquisas feitas pelas teses investigadas, com a intenção de verificar que

concepções estético-literárias foram privilegiadas pelos pesquisadores. Na leitura

das teses investigadas, evidenciam-se discussões e considerações sobre a literatura

e sobre o fazer literário. Essas discussões referem-se aos modos como, no espaço

da literatura, são ficcionalizadas questões sociais e culturais africanas e como isto

pode explicar determinadas construções estéticas próprias do universo das

literaturas africanas de língua portuguesa.

Na maioria das teses investigadas, a literatura é discutida com a ajuda de

uma ampla metodologia investigativa de seu objeto, a obra literária, muitas vezes

valendo-se de reflexões de teóricos(as) de diferentes vertentes dos estudos

culturais. Dentre os estudiosos mais citados, temos Achille Mbembe, Ana Mafalda

Leite, Hampaté Bâ, Homi K. Bhabha, Inocência Mata, Mikhail Bakhtin, Paul Ricoeur,

Stuart Hall e Walter Benjamin.

Pensamos ser pertinente observar que, apesar de a história literária de cada

país africano de língua portuguesa ainda ser recente, se comparada com a dos

países europeus colonizadores do referido continente, as indagações sobre o fazer

literário estão presentes na produção teórica dos africanos, desde antes das

independências que ocorreram em 1975. A maioria desses teóricos, entretanto, é

ainda pouco conclamada para a discussão de questões relacionadas com a

literatura, principalmente porque as reflexões quase sempre se valem de referencial

teórico mais conhecido. É importante considerar que as questões apresentadas

pelas teses, ainda que não tenham objetivo de discutir aspectos do fazer literário,

remetem a considerações da Estética, da Poética e da Estilística, muitas vezes

discutidas em suas relações com outros campos de conhecimento como o das

ciências sociais e humanas.

Observamos que estão presentes nas análises literárias discussões sobre

estratégias narrativas que consideram as projeções do autor no texto, a construção

dos narradores e de vozes narrativas, bem como, considerações sobre os intertextos

que enriquecem as relações da literatura com outras artes, surgindo, por vezes,

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reflexões sobre a recepção dos textos pelos leitores.

Esses aspectos adotados pelas teses investigadas nos motivaram a indagar

sobre a utilização de referencial teórico-literário legitimado pelo Ocidente e também

sobre a apropriação de conceitos e reflexões produzidas no próprio continente

africano. Nesse sentido, é importante considerar que muitas discussões teóricas

elaboradas por intelectuais africanos e africanistas espalhados pelo mundo nem

sempre estão à disposição dos estudiosos brasileiros, situação que pode justificar

uma maior presença de teóricos(as) não africanos(as) no embasamento das

pesquisas feitas.

A questão de institucionalização literária, nos países africanos de língua

portuguesa é discutida por Pires Laranjeira (2015), quando considera que os

estudos sobre as literaturas africanas, principalmente os produzidos em Portugal e

no Brasil, se embasam, na maioria das vezes, em aparato teórico não africano. O

estudioso ressalta o cenário real em que se estabelecem os processos de

institucionalização literária, em cada um dos países africanos, que têm a língua

portuguesa como oficial, ressaltando que a literatura não depende diretamente dos

índices de desenvolvimento humano dos países em que existe. O crítico destaca

ainda que

[...] as suas práticas não são nem poderiam ser alheias àquele desenvolvimento. Questões como o avanço da alfabetização, a consolidação dos sistemas de ensino ou a emergência mais lenta ou mais célere, de instrumentos de institucionalização literária (editoras, revistas, academias, prêmios, etc.) não são abordadas nem resolvidas nos países africanos de língua portuguesa do mesmo modo que o são em Portugal ou no Brasil. Pensar que é assim equivale a confundir, com desajustado voluntarismo, os

desejos, por ventura generosos, com a nitidez da realidade. (LARANJEIRAa,

2015, p. 11).

Ecoam nas questões abordadas por Laranjeira (2015), os questionamentos

de Luiz Kandjimbo (2012), um estudioso das literaturas africanas de língua

portuguesa, de Angola principalmente:

Se a crítica literária africana integra os sistemas literários nacionais, ela pressupõe uma teorização que deve ser autónoma, coenvolvendo problemáticas de ordem epistemológica. Tal reflexão permite trazer à liça questões acerca do sujeito e do objeto do discurso, dos métodos, princípios operatórios e das condições da sua eficácia. Não pode a instauração da crítica literária surgir do nada.( KANDJIMBO, 2012, p. 50).

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As considerações feitas até aqui nos permitem refletir que, apesar do lugar

que o país ocupa na história do desenvolvimento econômico, esse fato não deve ser

visto como um ponto de partida para legitimar, ou não, as teorias literárias ou outras

que produzem. Porém essa questão acaba nos levando a pensar que a utilização de

teorias produzidas no Ocidente deveria dialogar mais de perto com discussões

oriundas de teóricos(as) africanos(as) que se voltam aos estudos literários. O

estudioso poderia, desse modo, escolher sempre o aporte teórico mais adequado às

discussões do objeto literário a ser estudado. Ao utilizar as teorias europeias, não

deveria desprezar as nuances históricas e culturais do contexto de produção das

obras literárias africanas nem desconsiderar o impacto provocado pelo extenso e

cruel período de colonização vivido pelos países africanos. A especificidade da

História desses países, sobretudo daqueles que foram vítimas do colonizador

português, exige um olhar atento às questões que vão além do viés econômico, da

submissão dos corpos ao trabalho forçado, pois, como esclarece Y. V. Mudimbe

(2012), a colonialidade do saber é, talvez, a herança mais perversa deixada pela

colonização europeia na África.

A colonização dos países africanos instituída por Portugal não foi diferente

daquela levada ao continente pela França e pela Inglaterra, por exemplo, embora

por vezes essa diferença seja ressaltada em Portugal e no mundo. A colonização

portuguesa, na África, foi como as outras, violenta e castradora, motivada ―pela

vontade de converter; transformar e mudar radicalmente um espaço e seus

habitantes‖ (MUDIMBE, 2012, p, 143).

Vinculada ao pensamento de Y. V. Mudimbe, Flávio Garcia e Inocência Mata

(2016) afirmam que precisamos estar atentos ao viés político no que se refere às

teorias ocidentalocêntricas sobre o pós-colonial, principalmente com a questão de a

colonização portuguesa ser, muitas vezes, considerada melhor que os demais

sistemas coloniais, como podemos perceber no trecho a seguir, em que a autora se

vale de afirmação de Boaventura Souza Santos (2001):

Com efeito, misturam-se nessa epistemologia aparentemente da diferença duas ideias igualmente originais: a primeira é que o colonialismo português foi ―diferente‖(entendendo não raramente por diferente, melhor), chegando até a ser considerado, como já ouvi de ―africanista‖, um colonialismo cultural‖, o que é uma contradição entre termos, se, se pensar o colonialismo como implantação de colônias em territórios distantes cujos recursos são explorados com a utilização de mão de obra local (sendo portanto, sempre, uma consequência do imperialismo. [...] da anterior, a

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segunda ideia advoga que a pós-colonialidade no mundo da língua portuguesa é uma realidade muito diferente que não pode dialogar com a do mundo anglo-saxônico, de onde ressalta a ideia da ―especificidade do colonialismo português‖ (SANTOS, 2001, p.27), ainda que assente basicamente, mas não exclusivamente, na economia política que determina a condição semiperiférica de Portugal no sistema colonial europeu. (MATA, 2016, p. 32).

A ideologia de um colonialismo português diferente dos demais acabou por

acentuar um viés neocolonial da interpretação literária, além de possibilitar que

alguns críticos portugueses optem por não utilizar as teorias pós-coloniais não

portuguesas e ainda, de considera-las inadequadas as análises da produção literária

cultural dos países africanos colonizados pelos portugueses.

Podemos dizer que as teorias produzidas em espaços africanos colonizados

por outros países, que não Portugal, têm propiciado o enriquecimento das análises

literárias de textos de autores dos CINCO, embora reconheçamos que aquelas

produzidas por teóricos(as) com vivência nos países colonizados por Portugal

contemplam de forma mais profunda as especificidades daquele espaço. Como

exemplo de estudiosos africanos podemos citar o camaronês Achi Achillele Mbembe

que se tornou uma referência acadêmica no estudo do pós-colonialismo. Sua

contribuição pode ser verificada em toda sua obra, em especial, nas discussões de

seu livro Crítica da razão negra (2014) em que o teórico nos convida a refletir sobre

a ideia de mundo a partir da experiência negra. Ele acrescenta que a forma como é

visto o negro atualmente foi construída pelo sistema escravagista colonial e, dessa

maneira, a definição social de negro se confunde com os conceitos de escravo e de

raça, como podemos perceber no trecho a seguir:

Produto de um maquinário social e técnico indissociável do capitalismo, de sua emergência e globalização, esse termo foi inventado para significar exclusão, embrutecimento e degradação, ou seja, um limite sempre conjurado e abominado. Humilhado e profundamente desonrado, o negro é, na ordem da modernidade, o único de todos os humanos cuja carne foi transformada em coisa e o espírito em mercadoria — a cripta viva do capital. (MBEMBE, 2014, sp, grifo nosso).

A mercantilização do povo africano fez com que seu desenvolvimento

científico registrado fosse sequestrado. Portugal, por exemplo, impedia que em suas

colônias se publicassem obras literárias; o que se encontrava, antes do século XX,

eram escassas publicações que conseguiam meios para resistir às repressões do

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sistema colonial. Em meados do século XX surgem às lutas de libertação das

colônias portuguesas e, nesse momento, também se reafirmam expressões de

movimentos literários responsáveis por publicações como: Claridade (Cabo Verde),

Mensagem (Angola) e Msaho (Moçambique).

A literatura pós-colonial e, por conseguinte, os estudos pós-coloniais acabam

por considerar elementos da busca pela identidade, memória, história e gênero,

muitos deles já presentes na produção literária colonial, como se confirma nas teses

investigadas. Há um alto número de estudos que se dedicaram a esses recortes.

Nas teses investigadas, pode ser vista, com maior intensidade, uma visão pós-

colonial da literatura, visão que advém da necessidade de ser especificado um

campo teórico interseccionado ao percurso construído pelos estudos culturais,

buscando romper com fronteiras políticas, intelectuais e ideológicas entre teorias e

textos literários da Europa e o restante do mundo.

A teoria conhecida como pós-colonial busca contemplar os efeitos políticos,

filosóficos, artísticos e literários deixados pelo colonialismo nos espaços em que foi

implantado. Essa teoria que teve marco inicial com a publicação do livro

Orientalismo, do palestino Edward Said, em 1978, não possui, no entanto, consenso

conceitual e terminológico. Embora ainda enfrentemos problemas conceituais e

terminológicos, derivados das consequências ideológicas do colonialismo, contamos

hoje com um vasto material sobre o tema, o que nos permite ampliar os estudos

sobre os textos literários produzidos nos CINCO. É possível perceber a construção e

legitimação de novas epistemologias literárias, já que a literatura pós-colonial

africana e outras, como a caribenha e a latina, trazem em si as marcas de um longo

e perverso processo de colonização.

Inocência Mata, estudiosa do pós-colonial, nos diz que ―não se pode dizer que

exista uma teoria do assunto‖ pronta, mas,

em todo o caso, vale dizer que, o que parece aproximar as várias percepções, perspectivas e insights deste campo de estudos é a construção de epistemologias que apontam para outros paradigmas metodológicos – que potenciam outras formas de racionalidade, racionalidades alternativas, outras epistemologias do Sul, por exemplo – diferentes dos paradigmas ―clássicos‖ na análise cultural e literária. Decorre desta reflexão a consideração de que porventura a mais importante mudança a assinalar é a atenção à analise das relações de poder, nas diversas áreas da atividade social caracterizada pela diferença: étnica, de raça, de classe, de gênero, de orientação sexual (MATA, 2014, p. 31).

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O pesquisador brasileiro, Sílvio Paradiso (2016), acrescenta seu

entendimento do conceito de literatura pós-colonial ao dizer que

a literatura pós-colonial observa e revela essa vida cultural nos espaços pós-coloniais, através da narrativa produzida pelas ex-colônias, chamados pelo imperialismo de ―degradados‖, ―selvagens‖, ―devassos‖, ―diabólicos‖, ―preguiçosos‖ e ―primitivos‖, analisando, porém, detalhadamente o seu tema central: os encontros e desencontros entre colonizadores e colonizados, seja no âmbito linguístico, político ou religioso (como se tais elementos pudessem ser tão díspares). Tal atitude gera uma literatura de resistência, de revide e contra-ataque, a qual tenta resgatar forças e ideais perdidos no tempo, sufocados pela violência do Outro/dominante, para que o povo subjugado possa ter consciência de sua identidade e lutar contra uma ordem estabelecida pelos representantes da supremacia ocidental. (PARADISO, 2016, p. 152)

Os estudos pós-coloniais permitem, também, questionar o cânone da

literatura e da teoria literária, instalado ou em construção, recorrendo, por exemplo,

às seleções e escolhas de determinados autores africanos de língua portuguesa,

feitas por estudiosos não pertencentes aos CINCO. Como afirma Inocência Mata,

em vários momentos de sua reflexão, este cânone é formado, preferencialmente, por

autores que são publicados em Portugal e Brasil e muitas vezes reconhecidos com

prêmios literários. Esse cânone das literaturas africanas de língua portuguesa é

assumido também pelos cursos de Letras de várias universidades que as leem com

ajuda da crítica literária já consolidada. Esse processo acaba por restringir que

outras obras e outros autores sejam estudados, muitas vezes porque suas obras

não alcançam os públicos de fora do continente africano. Às vezes, o olhar do

pesquisador estrangeiro coloca tais literaturas como expressões de uma cultura

local, oral, ou seja, como fruto de sociedades de tradições orais, pondo-as em

contraposição com sociedades letradas, como as ocidentais, muitas vezes

percebendo a expressão oral como inferior à escrita.

A crítica literária eleva algumas obras ao cânone da Literatura e exalta as

teorias literárias que as estudam. Este fenômeno tem muito a ver com a

escolarização da Literatura, como podemos perceber no trecho seguinte:

Em nome de uma pseudo-democracia das Letras, que pretendia construir uma História Geral da Literatura ou uma poética universal, desenvolvendo um instrumental comum para a abordagem do fenômeno literário, independente de circunstâncias específicas, os comparatistas, provenientes na maioria do contexto euro-norte-americano, o que fizeram, conscientemente, ou não, foi estender a outras literaturas os parâmetros instituídos a partir de reflexões desenvolvidas sobre o cânone literário europeu (e por europeu entenda-se o cânone constituído basicamente por

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obras literárias das potências econômicas do oeste do continente). O resultado inevitável foi a supervalorização de um sistema determinado e a identificação deste sistema – o europeu - como o universal. (COUTINHO, 2017, p. 68).

Nesse sentido, como já dito, quando se estudam as literaturas africanas, o

apoio teórico ainda é, majoritariamente, constituído de teorias produzidas na Europa

e nos Estados Unidos, quase sempre voltadas à análise de obras literárias oriundas

do contexto de produção que estudam. Será que teriam a mesma visão de literatura

se considerassem obras literárias produzidas fora da Europa? Pensamos que talvez

não, levando em consideração, por exemplo, estratégias literárias que nascem do

uso de línguas europeias em contextos plurilinguísticos como os africanos.

No próximo tópico apresentaremos considerações feitas pelas teses sobre

elementos do processo narrativo.

3.1 Literatura como contação de histórias

Podemos considerar que o narrador da ficção ganha maior foco com o

surgimento do romance e de teorias voltadas ao estudo deste gênero narrativo, cuja

função é contar uma história. É evidente que o aparecimento do romance faz surgir

um narrador mais complexo que assume a narração, valendo-se de estratégias por

vezes inusitadas. Muitas vezes, as teorias narratológicas europeias e aquelas a elas

interligadas tipificam o narrador, qualificando-o como narrador-personagem,

narrador-onisciente, narrador-observador ou demarcando o uso gramatical que o faz

ser um narrador de primeira ou de terceira pessoa.

As discussões sobre a figura do narrador nas teses investigadas valem-se,

principalmente, das visões de Walter Benjamin (1994). Em ensaios desse teórico,

são discutidas as dificuldades de permanência do narrador tradicional, aquele

considerado um contador de histórias, ou seja, aquele que narra suas próprias

vivências ou as experiências vividas por sua comunidade.

Acrescentamos que, nas narrativas das literaturas africanas de língua

portuguesa, encontramos narradores contadores de história, pois os autores,

principalmente os moçambicanos Mia Couto e Paulina Chiziane, se identificam como

contadores de histórias, porque assumem formas de contação oral próprias de suas

culturas. Tanto Mia Couto como Paulina Chiziane afirmam não se considerarem

autores de obras a serem lidas por um público específico ou relacionadas a um

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gênero literário. Essa questão é considerada por Mia Couto quando, na contracapa

de seu livro, O gato e o escuro, comenta sobre a exigência de este ser classificado

como literatura infantil: ―não sei se alguém pode fazer livros para crianças. Na

verdade, ninguém se apresenta como fazedor de livros para adultos‖. (COUTO, s.p.,

2006).

Sobre a questão de ser contadora de história ou romancista, Paulina Chiziane

afirma, em texto presente na contracapa de alguns de seus romances, no qual se

declara seguidora da tradição de contação de histórias, própria de sua cultura:

Dizem que sou romancista e que fui a primeira mulher moçambicana a escrever um romance [...], mas eu afirmo: sou contadora de estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte. (CHIZIANE, 2002, contracapa)

Os autores supracitados apropriam-se de recursos da cultura local,

principalmente de elementos da oralidade e de formas de contar a história de

Moçambique. Em seus livros publicados, utilizam de recursos estéticos para

trazerem as marcas da oralidade em suas narrativas. Na esteira desses dois autores

que, como demonstrado em capítulos anteriores, foram os o primeiro e terceiro mais

estudados nas teses investigadas, existem outros escritores de literaturas africanas

de língua portuguesa que utilizam de narradores contadores de história, como, por

exemplo, José Luandino Vieira e Boaventura Cardoso, ambos de Angola. Esse

modo de narrar sobressai-se no gênero literário conto, que traz uma história curta,

mas densa, que propicia a diversidade de produção de sentidos e estudos literários

valiosos. Uma das teses investigadas, intitulada Tecendo os fios da memória:

palavra e memória nos romances de Mia Couto (2017), a autora, Suelany Cristtinny

Ribeiro Mascena, estuda a presença do narrador contador de história, nomeado pela

estudiosa como narrador-griot. A expressão narrador-griot34 vale-se de termo

francês utilizado em algumas regiões da África.

Nas reflexões da pesquisadora, vemos emergir uma visão de literatura, que

prevalece nos estudos que realiza, onde se destacam recursos da oralidade na

narrativa literária. A autora da tese demonstra que estruturas da oralidade são

34

O termo griot, de origem francesa, é utilizado em algumas regiões de África para designar o contador de histórias. Embora o termo não seja usado em todas as regiões do continente africano, deslocou-se para o Brasil, onde tem sido usado, genericamente, para designar o contador de histórias.

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90

utilizadas por vários autores africanos não para contemplar uma característica de

sociedade ágrafa, mas como recurso da literatura que produzem. Na discussão, ela

acentua o fato de a oralidade ser, no continente africano, uma forma de transmissão

de conhecimentos e não uma demonstração de ausência de escrita, pois, como é

sabido, em várias regiões do continente, no Egito, na Etiópia e em outros lugares,

existiram escritas que foram interditadas com o advento da colonização e a

imposição do tipo de escrita utilizada na Europa.

No texto da tese, a autora afirma que a contação de história é um recurso

narrativo inspirado na potência textual da memória e da tradição, que, para algumas

etnias, é um recurso mais completo para ensinar e/ou contar uma história, pois

as narrativas orais possuem um entendimento individual do sujeito com o universo e também da comunidade que encara a narração pelo ponto de vista simbólico. Por conta disso, a transmissão dos conhecimentos difundidos pela tradição oral é vista com seriedade e os mais velhos são responsáveis por preservar e transmitir aos mais novos a sabedoria oral. (MASCENA, 2017, p. 87).

Na apropriação de recursos da oralidade, o autor Mia Couto não apenas

transfere esse modo de contar para a literatura. Ele transforma, cria e subverte esta

forma, como por exemplo, no romance Antes de Nascer o mundo (2009), analisado

na tese supracitada, no qual, quem conta a história não é o ―mais velho‖ (o que é

comum na tradição) e sim um menino. Podemos dizer que a oralidade na narrativa

não é ausência de habilidade estética e sim uma atitude criativa.

Essa maneira de narrar, uma interpretação que resgata vozes inauditas pelo

sistema colonizador, embasada na experiência, vai ao encontro da proposta de

Walter Benjamin (1994), quando este diz que:

A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores. E, entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos. Entre estes, existem dois grupos, que se interpenetram de múltiplas maneiras. A figura do narrador só se torna plenamente tangível se temos presentes esses dois grupos. "Quem viaja tem muito que contar", diz o povo, e com isso imagina o narrador como alguém que vem de longe. Mas também escutamos com prazer o homem que ganhou honestamente sua vida sem sair do seu país e que conhece suas histórias e tradições. (BENJAMIN, 1994, p. 198).

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Percebemos uma visão da função da literatura, entendida nos estudos pós-

coloniais, e de acordo com as teses investigadas, retomada de narrativas orais,

como uma forma de valorizar a cultura das minorias, marginalizadas, muitas vezes, pela crítica ocidental. Logo, apreender a oralidade na literatura é uma maneira de dar voz

35 a personagens que antes não apareciam nas

narrativas ou ocupavam espaços subalternizados, reiterando as relações de subserviência entre colonizado e colonizador. (MASCENA, 2017, p. 87).

A redução da habilidade de contar histórias, de narrar, de passar a

experiência através da palavra, afirmada por Walter Benjamin, nos mostra as falhas

presentes na vida contemporânea, denominada por estudiosos da Biblioteconomia

como Sociedade da informação e caracterizada pela imensa quantidade de dados,

mas também pela volatilidade destes. O processamento cognitivo dessa realidade

atual está além da capacidade humana de retenção de conhecimento. Esse excesso

de informação influenciou o modo de fazer de todas as produções escritas, nas mais

diversas áreas do conhecimento, inclusive na literatura.

Nos processos narrativos orais, é inegável a necessidade de resgatar

conhecimento acumulado, processado, e a capacidade de memorização que tem se

perdido na Sociedade da Informação. É essencial para se contar uma boa história, a

troca de vivências e a interação oportunizada entre os indivíduos, pois sabemos da

importância da linguagem socializada na construção de identidade individual e

coletiva.

Sobre as especificidades narrativas das literaturas africanas de língua

portuguesa, como já reportamos, o conto é um gênero narrativo marcante nas

produções literárias e nele aparecem vários narradores contadores de história. Na

literatura angolana, temos que considerar a importância de um tipo de conto da

tradição oral, o mussosso, que traz um narrador diferente dos tipos canônicos. Em

tese já citada, O lugar de Luandino na tradição do conto angolano (2014), a autora,

Joelma Santos esclarece que sua pesquisa

exige lançar um olhar analítico sobre a formação do gênero no referido cenário literário, investigando suas etapas de transformação, passando pelos citados movimentos que, a partir de suas propostas e estilos, iam dando novas feições às formas de narrar; para então retornarmos ao ponto alto de sua transgressão que localizamos na obra de José Luandino

35

Embora citemos trecho desta tese sobre retomada das narrativas orais, preferimos o termo ―ouvir a voz‖ ao termo utilizado pela pesquisadora: ―dar voz‖.

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Vieira, ponto chave de ruptura e mudança estética sofridas pelo gênero, como se defende. (SANTOS, Joelma, 2014, s. p. grifo nosso).

O autor angolano escolhido para compor o estudo da pesquisadora, traz em

sua obra uma proposta estética que acaba por ser um marco para as próximas

gerações de autores angolanos e africanos. José Luandino Vieira foi um dos

precursores angolanos de uma estética que subverte a língua do colonizador,

apropriando-se dela e nela inserindo recursos de outras línguas presentes em

Angola. A contribuição dele foi vista na tese investigada como ―um constante

desalinhar e realinhar da literatura angolana atribuindo a ela novas feições.‖

(SANTOS, Joelma, 2014, s.p.).

Nas teses investigadas emerge uma visão de literatura onde os narradores

podem ser contadores de histórias, narradores performáticos36, denotando na escrita

o recurso da oralidade, o que leva os pesquisadores das literaturas africanas de

língua portuguesa a discutirem obras literárias que remetem à sonoridade e a outras

marcas da tradição oral na estética da língua portuguesa. Podemos refletir que a

visão da literatura como contação de história, presente em muitas das teses

investigadas, (re)molda a narratologia, se apropria da linguagem do colonizador e

utiliza recursos próprios da oralidade, tema estudado por 11 das 74 teses

investigadas.

Pensamos, ainda, que a criação de novos modos de narrar e as escolhas de

narrador visando assumir as performances da contação oral são importantíssimas

para o projeto literário de nações que ainda estão modelando as suas instituições

literárias, podendo escolher sobre o que escrever e o como escrever a sua história,

a busca de identidade e como narrar os fatos arquivados na memória.

Fica perceptível a importância de análises literárias que levam em conta as

peculiaridades de cada país, assumindo, inclusive, o esforço da literatura para

encenar feições da identidade nacional. Muitas vezes, as obras literárias

acompanham os movimentos sociais, culturais e momentos da história, fortalecendo

36

Sobre a presença de narradores performáticos no texto ficcional africano, afirma Terezinha Taborda Moreira: ―Todas essas formas de gerar sonoridades na língua configuram uma atitude de torná-la uma dicção e um fazer. Nos textos, a escrita quer dizer e fazer. Por isso ela se põe em movimento, desliza e varia a fim de fazer desprender de si um bloco sonoro, um sopro gaguejante criador que coloca em desequilíbrio e que se realiza em séries de jogos de linguagem, vocalizações, jogos de sentidos, musicalizações, entonações, exclamações e interrogações. Todos esses aspectos são fundamentais para emprestar a narração uma dicção que ser-lhe-á própria e permitir-lhe-á figurar, em cena literária, a cena ritual da contação de histórias e a performance do contador‖. (MOREIRA, 2005, p. 84 - 85).

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uma visão mais ou menos comprometida com a realidade. Esse movimento

perpassa muitas das teses investigadas, revelando um esforço para considerar os

modos de narrar assumidos por algumas obras literárias e as formas de

transgressão e de subversão que elas agenciam.

Além das literaturas africanas assumirem recursos próprios da contação oral,

muitas vezes, para permitir que as vozes silenciadas pela colonização possam ser

ouvidas, nas teses investigadas, notamos reflexões marcantes sobre o espaço e

tempo narrativo, questões estas que serão aprofundadas no próximo tópico.

3.2 Literatura e cronotopia: espaço e tempo como uma conexão possível

Os CINCO têm em comum diversas vivências, além da questão de terem

sofrido a colonização de Portugal, pois muito antes da Conferência de Berlim37,

havia reinos que organizavam suas fronteiras e estas englobavam mais de um país

atual, compartilhavam conhecimentos e mantinham uma organização coerente com

a época. É comum percebermos em culturas dos países africanos de língua

portuguesa, costumes e visões semelhantes de temas importantes, tais como a

morte, a religiosidade e a percepção da realidade, de espaço e de tempo. Esses

traços das sociedades africanas também são verificados em muitos países fora da

África devido à diáspora negra.

Uma tese que discute essas questões, nas literaturas africanas de língua

portuguesa e na literatura marcada pela diáspora negra, intitula-se Traços do Chão,

tramas do mundo (2014) e sua autora, Luana Antunes Costa Chaigne, propõe:

pelo método comparativo e pela orientação dialética, analisar os ensaios L‘intraitable beauté du monde – adresse à Barack Obama (2009), uma coautoria de Patrick Chamoiseau e Édouard Glissant, e ―E se Obama fosse africano?‖ (2009a), de Mia Couto, procurando destacar as estratégias de revisão epistemológicas eurocêntricas e de inserção do pensamento de margem na cena política global. Em um segundo movimento analítico, propomos confrontar três linhas de força que se apresentam nos romances Texaco (1993), de Patrick Chamoiseau, e Jesusalém (2009b), de Mia Couto, quais sejam, as representações da memória, do feminino e do espaço. (CHAIGNE, 2014, s.p. ).

37

―Há 130 anos, em 1885, terminava na Alemanha um encontro de líderes europeus que ficou conhecido como Conferência de Berlim. O objetivo era dividir África e definir arbitrariamente fronteiras, que existem até hoje.‖ Disponível em: https://p.dw.com/p/1EiLs. Acesso em: set. 2019.

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94

Verificamos que a tese considera não apenas as questões vividas

concretamente na realidade histórico-social africana, mas, sobretudo, como elas

estão ficcionalizadas nas obras de autores, selecionados por ela.

Questões relacionadas ao tempo, espaço e realidade são apropriadas pelos

romances produzidos por vários autores de forma a demonstrar como os africanos

as percebem. Podemos considerar que as teorias literárias sobre o tempo e o

espaço, já bastante difundidas nos meios acadêmicos, são adotadas, com

frequência, pelos estudiosos das literaturas africanas de língua portuguesa. Na tese,

O espaço diaspórico nas literaturas africanas de língua portuguesa (2015), de

Kleyton Ricardo Wanderley Pereira, vimos que

[...]a experiência da diáspora é vivenciada de maneiras diferentes e pode provocar reações as mais diversas, tanto naqueles que retornam ao seu lugar de origem (quando retornam), quanto nos que os recebem (uma segunda pátria, talvez). [...] problematiza a questão do espaço a partir de um diálogo crítico e transdisciplinar entre seu conceito na teoria literária e as várias ciências que o consideram elemento fundamental de seus estudos, a saber, a Filosofia, a Geografia, a Sociologia, e outras. A partir desse entrelaçamento, foi possível elaborar uma síntese teórica para analisá-lo enquanto uma categoria ficcional que dialoga não só com os elementos internos da obra, foco narrativo, personagem, tempo, como também externos, o ―espaço da identidade‖. Por fim, [foram analisadas] algumas obras das literaturas africanas de língua portuguesa, procurando identificar a construção e configuração dos espaços diaspóricos e, em consequência disso, a identidade cultural proveniente das relações entre os agentes da (pós)colonização. (PEREIRA, 2015, s.p. ).

Para discutir o tema do espaço diaspórico nas literaturas africanas de língua

portuguesa, o pesquisador selecionou para análise as seguintes obras: O pecado

maior de Abel (2009), de Inácio Rebelo de Andrade, de Angola; Cais-do-Sodré té

Salamansa (1974), Ilhéu dos pássaros (1974) e A casa dos mastros (1989), de

Orlanda Amarílis, de Cabo Verde; A última tragédia (1995), de Abdulai Sila, da

Guiné-Bissau, Ventos do apocalipse (2002), de Paulina Chiziane, de Moçambique e

15 dias de regresso (2007), de Olinda Beja, de São Tomé e Príncipe. Na tese, o

modo como o espaço ficcional é analisado reforça que a ideia, de que este é o lugar

de representação das inter-relações pessoais e temporais.

O conceito de espaço pode ser caracterizado nos três tópicos formulados

pela geógrafa Doreen Massey (2008):

1. O espaço é um produto de inter-relações. Ele é constituído através de interações, desde a imensidão do global até o intimamente pequeno (esta é

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uma proposição que não representa nenhuma surpresa para aqueles que têm acompanhado a literatura anglófona recente!). 2. O espaço é a esfera da possibilidade da existência da multiplicidade; é a esfera na qual distintas trajetórias coexistem; é a esfera da possibilidade da existência de mais de uma voz. Sem espaço não há multiplicidade; sem multiplicidade não há espaço. Se o espaço é indiscutivelmente produto de inter-relações, então isto deve implicar na existência da pluralidade; multiplicidade e espaço são co-constitutivos. 3. Finalmente, e precisamente porque o espaço é o produto de relações, relações que são práticas materiais necessariamente embutidas, que precisam ser efetivadas, ele estão sempre num processo de devir, está sempre sendo feito - nunca está finalizado, nunca se encontra fechado. (MASSEY, 2008, p. 29).

É interessante notar que, nas teses investigadas que discutem a questão do

espaço narrativo nas obras literárias, é utilizado um referencial teórico que focaliza

aspectos da realidade e que vê a paisagem como algo cultural, não, como fazem

alguns teóricos da literatura, como o local onde se passam as ações de um enredo.

Na literatura, com frequência, a realidade narrada se vê imbricada com as

características espaciais que, por sua vez, estão relacionadas com o tempo. Em

obras das literaturas africanas de língua portuguesa, os personagens por vezes são

considerados a partir de elementos da natureza. Essa especificidade faz com se

tenha uma visão de literatura em que o elemento espaço pode ser considerado a

partir de quatro modos de abordagem: ―representação do espaço; espaço como

forma de estruturação textual; espaço como focalização; espaço da linguagem.‖

(BRANDÃO, 2013, p. 58)

A discussão de conectividade entre espaço e tempo não é algo exclusivo da

literatura, existe também nas Ciências Exatas, principalmente no conceito proposto

por ―Albert Einstein, onde o tempo é a quarta dimensão do espaço, o qual, por sua

vez, está em constante expansão‖. (BRANDÃO, 2013, p. 51). Na literatura, a noção

de Cronotopo38, tratado na obra de Mikhail Bakhtin, traz nova importância ao tópico

do espaço.

Na tese investigada de Kleyton Ricardo Wanderley Pereira, já citada

anteriormente, após dedicar um capítulo à discussão dos diversos conceitos de

espaço na Física, Geografia e, especificamente, na Literatura, ele faz o seguinte

recorte teórico sobre o espaço para analisar as obras de literaturas africanas de

38

Cronotopo: Reporta-se à relação entre as categorias de espaço e tempo. Composto pelas palavras gregas cronos: tempo e topos: lugar, por ele se enfatiza a indissociabilidade destes dois elementos tal como se manifesta nas representações literárias. CEIA, Carlos: s.v. ―Cronotopo‖, E-Dicionário de Termos Literários (EDTL), coord. de Carlos Ceia. Disponível em http://www.edtl.com.pt. Acesso em: 28 jun. 2019.

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língua portuguesa, selecionadas para compor seu estudo:

Queremos aclarar que para nós o espaço diaspórico, como o pensamos na sua dinâmica múltipla entre obra ficcional e realidade, reflete as tensões culturais nas relações entre personagens/sujeitos da diáspora na construção de uma identidade muitas vezes fragmentada e dividida no cronotopos: entre o aqui e o lá; o passado e o presente. Assim, ele se transforma numa verdadeira encruzilhada (trans)cultural onde se revelam as dinâmicas relações de poder (HALL, 1998, 2000; BRAH, 2005).( PEREIRA, 2015, p. 100-101).

Em outra tese, No fogo das três pedras: a leitura comparada das poéticas de

Corsino Fortes, Arménio Vieira e Filinto Elísio (2016), de Raquel Aparecida Dal

Cortivo, a questão espaço-temporal é o foco principal do estudo ―pois as concepções

do tempo e do espaço interferem nas escolhas estéticas e temáticas dos poetas,

determinando trânsitos e permanências‖ (DAL CORTIVO, 2015, p. 8). Nesse estudo

a pesquisadora reflete que:

No âmbito desta tese, optou-se por entender o espaço de maneira simplificada, como o termo que designa uma determinada extensão geográfica, mais próximo, portanto, do conceito de meio ambiente físico, que pode ser compreendido, ainda, como certa unidade política sobre a qual (ou a partir da qual) se projetam também valores e símbolos identitários, de modo a despertar sentimentos de pertença nos sujeitos que o habitam. (DAL CORTIVO, 2015, p. 65).

Há muitos exemplos de personagens, enredos e narradores interpelados pelo

espaço e pela paisagem. Muitas vezes, os próprios elementos naturais podem ser

considerados personagens em obras das literaturas africanas de língua portuguesa.

Isso pode ser verificado, especialmente, na tese investigada A poética da memória:

uma leitura fenomenológica do eu, em Terra sonâmbula e Um rio chamado tempo,

uma casa chamada terra, de Mia Couto (2014), de Ilse Maria da Rosa Vivian:

O espaço, dessa forma, duplica os efeitos do tempo e exerce um papel preponderante na construção da personagem. No caminho do reconhecimento de si mesmo, Mariano tem sua trajetória marcada pelos signos da composição da Ilha, que se interpõem como obstáculos ou como coadjuvantes ao protagonista. Paralelamente ao espaço público e às figuras monumentais da vida coletiva, é apresentado o universo privado da casa que, como metonímia da Ilha, constitui-se em espaço propício à dialética interior e exterior, movimento constitutivo do ato narrativo que revela a personagem pela dinâmica pessoal e íntima, sem prescindir da expressão de sua condição histórica e cultural. (VIVIAN, 2014, p. 158).

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As questões romanescas, não só as relativas ao tempo e ao espaço, das

literaturas africanas de língua portuguesa podem ser vistas pelo viés eurocêntrico

como algo insólito, como uma realidade fantástica, mas se deslocarmos o ponto de

vista para a vivência africana, veremos que se trata de um modo de viver/ver a

realidade. O realismo literário, ou melhor, os realismos, são um viés analítico

bastante comum nas teses investigadas, portanto dedicaremos a este tema o

próximo tópico de nossa tese.

3.3 Literatura e realidade: percepção e narração

Nas produções acadêmicas brasileiras acerca das literaturas africanas de

língua portuguesa, um dos recortes escolhidos para abordagem é a realidade

vivenciada nos CINCO. Percebemos essa presença em pelo menos 14 das 74 teses

investigadas que analisamos. Nesses estudos, os investigadores enfocaram

narrativas que encenaram em seus textos percepções da realidade africana, tais

como as questões de gênero, a tradição oral, o pós-colonial e as guerras. A estética

narrativa da encenação literária perpassa a dicotomia entre fato e ficção, sujeitos

políticos e poéticos, manifestação social e os sistemas literários, realidade vivida e

recriada. Um exemplo desta apropriação narrativa foi visto, por nós, na tese Rui

Knopfli e Manuel Alegre: de exílios e insílios, a poesia (2017) de Kelly Mendes Lima,

onde

os sujeitos poéticos de Knopfli e Alegre, tais quais aqueles sujeitos históricos, manifestam-se como descentrados em relação a quaisquer discursos ―oficiais‖, seja o mais restrito das Academias e da Crítica Literária, seja o mais amplo do Estado Novo português – e mesmo o de grupos políticos contrários a este, incluindo, no caso do escritor africano, o da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). São, portanto, vozes ―deslocadas‖, de um eu ―insilado‖. Todavia, tal sentido não se restringe ao figurativo: ambos os literatos, em sua realidade objetiva, ainda que em momentos alternados, foram marcados pela saída, traumática e por motivos políticos, de seu local original, de seu espaço, de sua pátria; conheceram de fato o exilio físico e, igualmente, transformaram tal experiência em matéria poética. (LIMA, 2017, p. 9).

Podemos dizer que a percepção subjetiva e o mundo fenomenal se fundem

na escrita conectando memória e estética.

Na busca para nomear o realismo verificado em estéticas abordadas pelas

literaturas africanas de língua portuguesa, os pesquisadores, em geral, adotam

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conceitos específicos para nomear outras visões de realidade diferentes daquelas

adotadas na Europa, tal como fantástico, insólito e religiosidade. Na falta de um

termo que abarcasse as visões de realidades apresentadas nos textos de literaturas

africanas, o termo realismo fantástico acabou sendo estendido a elas. Porém, nas

teses investigadas, para tratar do realismo percebido e narrado apenas duas teses,

trazem o tema realismo fantástico e o realismo mágico. Mesmo assim, já os trazem

com ressalvas de que estes não apresentam os recursos necessários para analisar,

na perspectiva realista, a vivência africana, como podemos perceber na tese A

poética da memória: uma leitura fenomenológica do eu em Terra sonâmbula e Um

rio chamado tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto (2014), de Ilse Maria da

Rosa Vivian:

As tradições ancestrais, a comunidade, a natureza, a guerra, a modernidade, tudo chega ao leitor da perspectiva íntima da personagem. Essa característica pode ser vista como um recurso que age duplamente: ao mesmo tempo em que se apresenta com detalhes o imaginário cultural africano nas suas diversas facetas e contradições, desvela-se a personagem a partir da condição dinâmica que rege a sua existência, levando o leitor, com o acesso à pluralidade do universo íntimo, a ser cúmplice no processo de criação. Levando em conta esses efeitos, Laranjeira considera a obra de Mia Couto muito próxima da de escritores sul-americanos: A intromissão, de chofre, do imaginário ancestral, do fantástico, que transforma esse realismo quase social num imprevisto realismo animista (a expressão é dos angolanos Henrique Abranches e Pepetela), propenso à aproximação ao realismo mágico sul-americano (Gabriel García Marquez, Carlos Fuentes, etc.), este também decorrente do cruzamento da descrição pormenorizada de ambientes, caracteres e acções com o onírico e a imaginação populares. (LARANJEIRA, 1995, p. 316). A temática dominante da obra de Mia Couto é questão que ultrapassa qualquer limite de espaço ou de tempo. (VIVIAN, 2014, p. 39).

Vemos, no excerto anterior, a problematização conceitual de realismo(s) para

análise literária de narrativas das literaturas africanas de língua portuguesa.

Também na tese já referida, Tecendo os fios da memória: palavra e memória nos

romances de Mia Couto (2017) de Suelany Christtinny Ribeiro Mascena, há

questionamentos terminológicos, ao adotar o recorte de realismo, para analisar a

obra Venenos de Deus, remédios do Diabo de Mia Couto:

Para questionar o emprego dos termos ―maravilhoso‖, ―fantástico‖, ―animismo‖, ―insólito‖, associados à literatura de Mia Couto, utilizamos os trabalhos de: Irlemar Chiampi (1980), Maria Nazareth Soares Fonseca e Maria Zilda Ferreira Cury (2008) e Luciana Morais da Silva (2013). (MASCENA, 2017, p. 20).

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Nesse sentido, a investigadora não se propõe definir qual é o melhor termo a

ser adotado, contudo, vê necessidade de refletir acerca dos termos elencados por

ela e de contextualizá-los por um viés histórico e cultural. Assim, retomamos um

conceito bastante utilizado para estudar a percepção de realidades narradas nas

histórias africanas: o realismo animista. Trata de um termo discutido,

exaustivamente, pelo estudioso Harry Garuba. Suas considerações podem ser

explicadas da seguinte maneira:

Animismo, palavra que vem do latim animu, quer dizer espírito, vida. Harry Garuba (2014) irá considerar que o animismo é um modo de pensar a vida, sem os dualismos do modernismo. Sendo assim, ―as fronteiras entre natureza e sociedade, mundo dos objetos e dos sujeitos, mundo material e o de significados agenciados e simbólicos são menos confiáveis do que o projeto modernista havia decretado‖ (GARUBA, 2014, p. 2). Portanto, para o filósofo, o animismo seria uma lógica que subverte binarismos e ―desestabiliza a hierarquia da ciência sobre a magia e da narrativa secularista da modernidade através da reabsorção do tempo histórico nas matrizes do mito e do mágico‖(GARUBA, 2012, p. 42). (RODRIGUES, 2018, p. 1).

Ao considerar que o realismo animista melhor contempla as questões

realistas das literaturas africanas de língua portuguesa, não desconsideramos as

contribuições propostas por teóricos sobre realismo mágico e o real maravilhoso,

principalmente Uslar Pietri, da Venezuela, e Alejo Carpentier, de Cuba, que

acentuam ser o rompimento das fronteiras entre realidade, sonho e imaginação, um

modo de viver condizente com a singularidade histórica e cultural de povos hispano-

americanos. Podemos dizer também que tais teorias se encaixariam na ficção

africana, porém, o conceito de realismo animista acolhe melhor determinados

procedimentos característicos do cotidiano de povos africanos, sobretudo o modo

como consideram o tempo, a vida e a morte e que está diretamente relacionado com

o modo de pensar e viver a realidade. (RODRIGUES, 2018, p. 5).

O realismo animista ou concepções animistas são requisitados em pelo

menos dezoito das 74 das teses investigadas, sendo que três dedicam tópicos

específicos à discussão do termo. Na tese intitulada A voz angolana nos contos de

Boaventura Cardoso: configuração da memória ancestral (2015), de Maria Aparecida

Barros, a autora analisa as obras Fogo de fala e A morte do velho Kipaça, trazendo,

no capítulo Restauração do contexto sagrado: a árvore, o feto, a criança e o velho -

a alma sob perspectiva do realismo animista, discussões acerca da percepção da

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realidade pelo viés animista. No referido tópico, a autora nos diz as motivações

desse recorte para estudar as obras de Boaventura Cardoso:

Optamos por desenvolver a análise das narrativas propostas para este capítulo, seguindo as coordenadas estruturadas por Boaventura Cardoso, assentadas no realismo animista. Entendemos que a ação denota compromisso político, no entrelaçamento cultural dos povos banto com as entidades divinas. O espiritual anima as práticas sociais, o sagrado pode estar no tambor, nos elementos da natureza, na dança, na música, na sabedoria dos mais-velhos e no respeito à tradição. ―A estética animista tem um caráter de readequar a narrativa, sob o viés da religião tradicional africana, para o discurso político, denunciativo e subversivo‖ (PARADISO, 2015). Tais fatores almejam a redefinição identitária. Compreendemos que no realismo animista Boaventura Cardoso acende a chama do pertencimento ao trazer à superfície textual a fala, os costumes, a memória, enfim, a luta do povo angolano, juntamente com suas divindades, transcorrida no solo sagrado de Angola, na resistência ao império colonial. (BARROS, 2015, p. 155).

Essas reflexões animistas atreladas à realidade de guerras de libertação e

civil ocorrida nos CINCO trazem à tona narrativas que ficcionalizam fatos

traumáticos. A vivência opressora de guerra e de violências traz para os textos

africanos uma literatura vinculada à sociedade africana, onde temas como nação,

identidade, memória e história são retomados. A dificuldade de narrar eventos de

grandes sofrimentos e perdas repercute na estética de autores africanos que

retomam suas próprias vivências, e até, experiências traumáticas. Sabemos que o

real é indizível, ele apenas existe. Quando relatado e/ou narrado, o real já está

mediado, tornando-se uma realidade percebida e, quando se narra, na ficção, temos

a realidade ficcionalizada e, esta é transfigurada pela estética literária de modo a dar

conta de produzir os efeitos de sentidos da realidade vivenciada. Dessa maneira, a

poesia, o conto o romance, nas literaturas africanas de língua portuguesa, retomam

a realidade africana, seus conflitos e traumas. A traumática realidade precisa (quase

que exige) ser encenada, pois é na literatura que encontra um bom acolhimento para

expressar a dor.

Verificamos, nas teses investigadas, uma literatura que busca ouvir a voz dos

sujeitos dos CINCO, muitos vezes silenciados, e suas realidades. São acolhidos nos

textos literários narradores que ―representam‖ esta realidade, como mulheres e

escravizados. O sufocamento da existência pela colonização faz ecoar, ainda,

narrativas fragmentadas e permeadas por recursos de linguagem que revelam o

silêncio e o silenciamento de vozes marginais.

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Quando as obras literárias são escolhidas pelos estudiosos, os lugares de

fala, as histórias dos vencidos vêm à tona e não há saída senão abordar tais textos,

de certa maneira, apontando e discutindo temas relacionados aos horrores da

escravidão e da colonização. Notamos que emerge das teses investigadas a visão

de literatura como local de possibilidade de fala de seres marginalizados, de ouvir o

não contado pela História oficial. Como exemplo, temos a tese, A experiência

poética com o indizível: Ana Luísa Amaral, João Maimona e Salgado Maranhão

(2014), de Iracy Conceição de Souza, onde a autora aborda a literatura em língua

portuguesa e sua diáspora, selecionando obras do sistema literário português,

brasileiro e angolano para refletir sobre a construção de significados para a

realidade vivenciada no processo colonizatório (seja na metrópole ou nas colônias) e

procura

mostrar que os poemas são expressões da virtualidade de um mundo hipotético, um fenômeno inesperado, o escândalo da enunciação, visto que este se define mais pela libertação de virtualidades, pela imaginação que tudo revoluciona, desarruma, interroga, do que por um estreitamento de plenitude intelectiva. Jacques Lacan constata que o dizer dos poetas escapa à razão, apontando não só para a existência de uma Outra cena — o Inconsciente —, mas também para o real, como impossível de ser

simbolizado. (SOUZA, 2014, p. 6).

Notamos, assim, que, na Literatura, o movimento realista é pluralizado e

assim, podemos dizer que temos realismos, pois de fato, o que pode ser narrado é a

realidade apreendida e cada sujeito e/ou comunidade a vivencia de uma maneira.

Como já dissemos, ao longo deste nosso estudo, não há como deixar de

notar a presença da realidade dos CINCO nas literaturas africanas de língua

portuguesa. Esse comprometimento ético nos leva a refletir sobre a necessidade

humana de narrar o que se vive, ouve e/ou vê. A narrativa embasada na realidade

vem passando por diversas reflexões teóricas, desde a tradição aristotélica, pela

qual a literatura teria por finalidade representar a realidade, até a tradição moderna

da teoria literária, segundo a qual a referência nada mais é que uma ilusão, uma vez

que a literatura não aborda outra coisa que não ela própria, mostrando-se essencial

e autônoma em si mesma, sem vínculos (COMPAGNON, 2006). O escritor

interpretaria a mimese como conhecimento e não a copiaria, porque a mimese

―designa um conhecimento próprio ao homem, a maneira pela qual ele constrói,

habita o mundo‖. (COMPAGNON, 2006, p. 127).

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102

Sendo assim, vemos, nas teses investigadas, que emerge a visão de

literatura não como imitação da realidade, mas como uma forma de se conhecer o

mundo. Este mundo, não se pode deixar de pensar, decorre de uma dimensão

íntima, particular, que interage com uma dimensão social. A sociedade encenada

literariamente e suas relações vão ser discutidas no próximo tópico.

3.4 Literatura e sociedade: o comprometimento ético das literaturas africanas

de língua portuguesa

A função social da literatura, indicadora do modo como a arte e a literatura se

fazem arma de luta, sobretudo em tempos coloniais, indica, como observamos, nas

discussões produzidas pelas teses, um comprometimento ético que refletirá nos

recursos estéticos apresentados por narrativas e poemas que se voltam à História e

à realidade vivida pelos africanos. Antônio Cândido (2006) considera que a literatura

pode-se constituir a partir de eixos estabelecidos com a Sociologia. Em sua reflexão,

o teórico apresenta seis desses eixos, estabelecendo as relações possíveis entre a

Literatura e a Sociologia:

Um primeiro tipo seria formado por trabalhos que procuram relacionar o conjunto de uma literatura, um período, um gênero, com as condições sociais. Um segundo tipo poderia ser formado pelos estudos que procuram verificar a medida em que as obras espelham ou representam a sociedade, descrevendo os seus vários aspectos. É a modalidade mais simples e mais comum, consistindo basicamente em estabelecer correlações entre os aspectos reais e os que aparecem no livro [...] o terceiro é apenas sociologia. Ainda quase exclusivamente dentro da sociologia se situa o quarto tipo, que estuda a posição e a função social do escritor, procurando relacionar a sua posição com a natureza da sua produção e ambas com a organização da sociedade.[...] Desdobramento do anterior é o quinto tipo, que investiga a função política das obras e dos autores, em geral com intuito ideológico marcado. Nos nossos dias tem tido a preferência dos marxistas, — compreendendo desde as formulações primárias da crítica de partido até as observações matizadas e não raro poderosas de Lukács, na obra posterior a 1930. [...] Um sexto tipo, voltado para a investigação hipotética das origens, seja da literatura em geral, seja de determinados gêneros. (CANDIDO, 2006, p. 18-20, grifo nosso).

A função política das obras e dos autores, arrolada por Antonio Candido

(2006), é um dos eixos mais assumidos pelas literaturas africanas de língua

portuguesa, principalmente no período pré-independências, o que não quer dizer

que todos os autores e obras produzidas nos CINCO assumam de forma direta o

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contexto cultural ou se envolvam com as lutas de identidade e memória das nações

colonizadas por Portugal.

É certo que o fazer literário, em momentos históricos de lutas em um país,

possa estar, não de forma exclusiva, a serviço de uma determinada ideologia e na

busca de uma concepção de identidade. Em suas construções estéticas, surgem

expressões comprometidas com a liberdade política da sociedade a qual o escritor

pertence, contexto não só das literaturas africanas de língua portuguesa, mas

também de produções latino-americanas e caribenhas, sobretudo. De certa maneira,

o comprometimento ético com as reivindicações sociais pode ser mais forte em um

dado período cronológico, onde, conscientemente, se ressalta na Literatura a sua

função social. Percebemos, nas sociedades africanas, que o fazer literário, mesmo

sem se descuidar dos valores estéticos, assumem estratégias que permitem ao leitor

tomar conhecimento da história dos vencidos, ouvir as vozes dos marginalizados e

conhecer uma África que se aproxima da realidade vivenciada por seu povo.

O comprometimento ético com as questões culturais e sociais motiva a

apropriação de recursos estéticos que são ressaltados, sobretudo, na construção de

uma estética de cada nação africana, no pós-colonial e acaba por gerar uma crítica

literária externa que, muitas vezes se apega apenas a esse aspecto. A

consequência desse apego, frequentemente, é a negação da própria intenção da

expressão estética africana, que por surgir em um espaço de fatos difíceis de narrar,

como a escravidão e a violência de um processo duradouro de colonização, exige

que os autores recriem, apropriem e inovem suas estratégias literárias. Esse

movimento narrativo demanda dos pesquisadores a busca, muitas vezes solitária, de

aportes teóricos e até de epistemologias literárias bem diversas das adotadas para

leituras de obras de autores ocidentais, principalmente, europeus.

Segundo Pires Laranjeira (2015), nas literaturas africanas de língua

portuguesa, a literatura angolana é aquela que mais denota um comprometimento

ético, principalmente em obras de autores publicados fora de Angola, tais como

Pepetela e José Eduardo Agualusa:

A literatura angolana é constituída, na sua maioria, por textos castiços, regionalistas, nacionalistas, patrióticos, historizicizantes, realistas, ideologicamente marcados, lusófonos, bantuofónos. Isto é, situados na matriz negro-africana/bantuofóna da cultura angolana de língua portuguesa. Alguns dos textos culturais e literários podem ser pós-modernos e desterritorializados, podem até ser de cultura angolana nômada, viajante ou

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itinerante, imaginária ou fantástica, diaspórica ou delirante, mas a maioria do seu corpus é notoriamente apelativa das origens, das raízes, do projeto nacional, da combinatória entre a ancestralidade bantu e a herança portuguesa. (LARANJEIRA, 2015, p. 29).

Podemos dizer, que, nas literaturas africanas de língua portuguesa, não é

possível apagar o passado colonial de dominação e suas consequências indeléveis

na sociedade contemporânea dos CINCO. Desvalorizar este aspecto tão importante

dessas literaturas seria pensar que a memória desse passado já passou, ―o mesmo

que a atribuir ao intelectual africano um certificado de cinismo, desmemória ou

menoridade‖. (LARANJEIRA, 2015, p. 41)

Há várias maneiras de narrar, ficcionalizar as realidades dos CINCO e de

encenar tais aspectos no espaço da literatura, pois, segundo Karl Schollhammer

(2012), a realidade, apesar de global, é construída e pensada a partir do nacional.

Os recursos de construção literária adotados em uma obra, ou apontados em sua

recepção no mundo ou em países de língua portuguesa (especialmente Brasil e

Portugal), não querem dizer que a obra seja alheia às questões identitárias da

história com a memória do país.

Podemos citar o caso de Mia Couto, escritor conhecido no mundo e o que tem

mais obras analisadas nas teses investigadas, que foi, e ainda é, vítima de polêmica.

Este autor moçambicano, muitas vezes, é acusado de produzir uma obra distante do

projeto nacional da literatura moçambicana. Pensamos ser pertinente trazer a

opinião da moçambicana Fátima Mendonça (2008), quando discute os modos de

recepção crítica da obra miacoutiana:

revela o poder de mecanismos de recepção dos textos literários em situações marcadas pelo fator ―emergente‖ ou ―pós-colonial‖, onde a fronteira entre o que é do ―próprio‖ e o que do ―outro‖ se articula de forma ambígua e prolonga, até aos interstícios da memória, o diálogo/confronto com o passado colonial, produzindo um efeito de instabilidade do sistema literário, o que dificulta a emergência do cânone. (MENDONÇA, 2008, p. 31).

Podemos dizer que ser lido/publicado em outros países não é fator essencial

para dizer se o autor é ou não comprometido com a identidade nacional. Importa os

sentidos produzidos com suas histórias, com seus personagens e com outros

elementos constituintes de sua narrativa. O fato de Mia Couto, nascido em

Moçambique, ser branco e filho de português não pode fazer dele menos

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moçambicano. A história pessoal do escritor não pode ser pensada como marca

essencial de sua escrita, pois, como afirma Panguane, em citação feita por Fátima

Mendonça,

os homens nascem onde nascem. Crescem onde é possível crescer. (...) Exigir-se que se escreva somente a realidade vivida é, quanto a mim, a manifestação de um certo tipo de preconceito, porque a literatura também é ficção, e a invenção de personagens, circunstância e de todo resto. A ficção é a única possibilidade que se nos apresenta de abarcarmos realidades e lugares nunca vividos e habitados! (PANGUANE, 1987, p. 43-44, apud MENDONÇA, 2008, p. 30).

Os aspectos sociais e culturais não deixam de ser encontrados nas obras de

Mia Couto. As teses investigadas, bem como, estudos sobre a obra do escritor, em

sua maioria, discutem questões relacionadas com identidade, memória e história.

Outras teses investigadas, como apontamos, mesmo considerando o aspecto

cultural e social encenado pelas obras literárias, apresentam aspectos que

desarticulam visões e concepções próprias da teoria literária. A tese de Waldelice

Maria Silva de Souza, intitulada A rotação das identidades: o transe como dínamo da

arquitetura das personalidades nos oríkìs e dos personagens na obra de Pepetela

(2014), já citada por nós, escolhe analisar os personagens não como elementos

construídos, prontos, mas na perspectiva do talvez. Para tanto, como já

acentuamos, desloca a dicotomia afirmativa do ser ou não ser para uma existência

de poder ser algo e também ser outra coisa. Essa perspectiva não coloca cada

personagem como herói ou anti-herói, são personagens complexos que ora podem

ser bons, ora podem ser maus. Essa visão vai depender da situação vivida. Por este

viés analítico, a estudiosa vê na obra pepeteliana o transe entre personalidades

africanas e os personagens romanescos, para demonstrar que este autor

ressignifica a história vivenciada pelos angolanos.

Essa preocupação está presente em outras teses que discutem aspectos da

significação de temas voltados às relações humanas e ao modo como essas

relações são encenadas em narrativas das literaturas africanas de língua

portuguesa. A necessidade de atenção com as nuances culturais, religiosas e com

os momentos históricos específicos vivenciados em cada nação dos CINCO é

ressaltada por Laranjeira (2015), ao discutir o modo como a questão do feminino

aparece na obra de Paulina Chiziane:

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O feminismo literário africano somente veio a ser verificado, mas não assumido, com determinação e verdadeira inovação (no sentido de escalpelizado ficcionalmente, com crueza, sem pudores e preconceitos tradicionalistas), nas obras da moçambicana Paulina Chiziane.( LARANJEIRA, 2015, p. 41).

Nas teses investigadas, o feminino é retomado em análises de enredo e

personagens que trazem em sua construção aspectos como a diáspora negra

feminina, mitos e silêncios de mulheres, a escrita e a resistência de mulheres

negras, o gesto testemunhal em situações de guerra e no atlântico pós-colonial. A

essas análises somam-se outras questões como a poética da negociação, a loucura

e o pacto das elites.

Com a publicação dos romances de Paulina Chiziane, a voz das mulheres de

Moçambique ganha força com histórias narradas por personagens femininas e

escritas por uma mulher. Também é importante ressaltar que a boa acolhida das

obras da escritora pode motivar a busca de outras publicações de mulheres nas

literaturas africanas de língua portuguesa.

Do ponto vista literário, a voz feminina imprime nas narrativas um ponto de

vista feminino abordando aspectos da tradição oral, das artes e ofícios das mulheres

africanas. Aliada a isso, a escrita de mulheres africanas, como a das

afrodescendentes, traz para a literatura as encenações das relações de gênero e de

raça, muitas vezes resgatando suas vivências.

Outro aspecto relevante nas teses investigadas, quando nestas estão

privilegiadas as questões de gênero, voltadas ao feminino, é a predominância de

análises de obras literárias de autoria feminina, sobressaindo as da autora

moçambicana Paulina Chiziane e da poetisa angolana Paula Tavares. Estas autoras

aparecem tendo suas obras estudadas em comparação, majoritariamente, com a

escritora brasileira Conceição Evaristo, reconhecida autora de obras com temas da

mulher negra.

Pensamos que a presença marcante das obras de Conceição Evaristo nas

análises comparativas com as de Paulina Chiziane, se deve ao fato de a autora

brasileira ser uma das maiores (senão a maior) representante das escritoras negras

no Brasil. Além disso, a sua obra, assim como as das autoras dos CINCO, traz para

as histórias construções literárias que fazem de mulheres, e no caso brasileiro

mulheres negras, sujeitos de discursos por uma via de igualdade. Acrescentamos

que, nas teses que assumiram a comparação entre autoras africanas e brasileiras, o

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conjunto da obra de Conceição Evaristo permitiu a análise de questões da diáspora

negra em que as semelhanças e diferenças identificadas tornam-se estratégias

essenciais para denotar as particularidades inerentes às autoras negras, no projeto

literário e identitário individual e coletivo de cada nação.

A questão de gênero quando atrelada à questão da cor da pele

(especificamente da mulher negra) merece ser estudada com cautela, quando é

colocada em comparação à situação da mulher em países africanos e em países da

diáspora negra. Temos que levar em conta além da (des)valorização da cor da pele,

o fato de que a visão da mulher nos CINCO ser diferente da que enfoca a mulher

negra brasileira. Nas literaturas africanas de língua portuguesa encenam-se

questões ligadas ao lugar da mulher em relações poligâmicas, no matriarcado e em

guerras. Na literatura brasileira, sobretudo na de autoria negra feminina, sobressaem

as imbricações da mulher negra com os horrores da escravidão transatlântica.

Vale ressaltar também que as implicações do racismo brasileiro e do racismo

nos CINCO também são diferentes, mas não menos terríveis por causa das formas

de implementação dos sistemas escravocrata e colonial e no que se refere às

questões de mestiçagem. Sobre reflexões de gênero, de forma comparativa, temos

teses que selecionaram a escrita da resistência em obras sobre mulheres e

produzidas por escritoras africanas e pela brasileira Conceição Evaristo.

Destacamos, nesse sentido, a tese Conceição Evaristo e Paulina Chiziane: escritas

de resistência (2013), em que a pesquisadora faz um recorte da temática de gênero

e das condições de vida da mulher negra nos romances Ponciá Vicêncio, de

Conceição Evaristo e O alegre canto da perdiz, de Paulina Chiziane. Nesse estudo a

autora, Rosália Estelita Gregorio Diogo, afirma que:

Nos romances analisados, as escritoras abalam, por meio das suas escritas, a imposição do grupo social hegemônico, que sistematicamente orienta as representações literárias: homens brancos. Ponciá Vicêncio e O alegre canto da perdiz apresentam um Outro que historicamente era invisibilizado nas construções literárias canônicas: a mulher negra. (DIOGO, 2013, p. 9).

A autora da tese defende que a escrita de Conceição Evaristo e Paulina

Chiziane é do campo da feminização e o enfoque do estudo é a escrita femininizada

das escritoras: enredos de história de mulheres, escrito por mulheres. Assim, a

estudiosa defende que a escrita de ambas é permeada pelas questões de gênero e,

no caso da autora brasileira, ainda temos, mais fortemente, as questões de raça.

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Pensamos que as mulheres negras moçambicanas, apesar de terem passado

por questões de marginalização, não passam pelas mesmas situações que as

mulheres negras brasileiras e isto não pode deixar de ser contextualizado,

mostrando as semelhanças e as diferenças. Na tese, Nações entrecruzadas:

tessitura de resistência na poesia de Conceição Evaristo, Paula Tavares e

Conceição de Lima, a autora, Assunção de Maria Sousa e Silva (2016) seleciona a

mesma temática da tese anteriormente citada (autoria feminina, resistência feminina

e questões étnico-raciais) e alerta para as singularidades do caso africano e do afro-

brasileiro:

O procedimento de análise se pauta pelo método comparativo, efetuando o entrecruzamento de contextos dos países das autoras, comparando as dicções poéticas e os posicionamentos estéticos, considerando-as como sujeitos de discursos por uma via não hierarquizante, nem tampouco desigual ou excludente. As semelhanças e diferenças identificadas tornam-se objetos estratégicos e mecanismos funcionais para compor as singularidades e as particularidades inerentes às autoras no processo de construção de seu fazer poético que evidencia as identidades e as condições femininas nas nações literárias. (SILVA, Assunção, 2016, p. 7).

As estratégias de linguagem para ficcionalizar a voz feminina aparecem

contextualizadas no tempo e espaço em que ocorrem, fazendo surgir uma pesquisa

literária fundamentada em contribuições críticas que respeitam as construções

identitárias de cada nação onde foi produzida a poesia e destacam o lugar de fala

das escritoras. Na referida tese, a pesquisadora afirma ainda que as

mulheres de países e lugares diferentes sempre hão de ter pontos comuns e preocupações semelhantes, contudo, as formas de enfrentamento, o modo de poetisar e/ou narrar as particularizam. Isso se explicita, quando se verifica no processo de investigação os procedimentos e estratégias poéticas utilizados na construção poética de cada uma destas autoras. A palavra que se alarga na extensão sintático-semântica, sob o procedimento e utilização de metáforas, metonímias, inversões, anáforas, assonâncias e rítmica no universo poético de cada uma das autoras investigadas, expõe, diferentemente, visões de mundo que questionam o preestabelecido. (SILVA, Assunção, 2016, p. 237).

As questões de autoria, viés amplamente discutido pela teoria literária,

passaram por mudanças significativas, desde a importância dada a elas no

movimento literário realista e no modernismo ocidental, até às discussões da ―morte

do autor‖ na pós-modernidade. Com a emergência de grupos historicamente

silenciados, sejam nações periféricas, sejam grupos marginalizados, como mulheres

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e negros, a questão do olhar do crítico para quem escreve (o(a) autor(a)), volta a ser

considerada. As discussões sobre o autor e a autoria não reaparece apenas como

representação de uma luta de classe, ou seja, uma função social da literatura, mas

como uma forma de apropriação estética da voz de indivíduos não pertencentes aos

grupos dominantes (homens brancos em sua maioria). Ao assumirem o direito à fala

e a condições de serem ouvidos, os que antes eram dominados lutam para que suas

histórias não sejam contadas por outrem, e as obras literárias assumam como

sujeito da enunciação a voz dos grupos sociais historicamente subjugados.

Vimos nas teses investigadas que as obras escolhidas e análises feitas

selecionaram autores que não trilham o caminho radical da segregação e da

exclusão de quem pode e quem deve escrever sobre os sujeitos silenciados.

Notamos também que os pesquisadores se mostraram atentos às diferenças do

ponto de vista de quem escreve. Foi ressaltada a importância da voz dos narradores

escolhidos, o que nos permite perceber que, quando esta escolha não é pautada

pelo respeito à História de uma nação, o enredo reverbera a voz implícita de uma

sociedade machista e discriminatória na escolha de enredos e lugares dos

personagens negros e femininos.

Podemos dizer que vemos nas literaturas africanas de língua portuguesa a

importante contribuição de Mia Couto em seus romances, ao privilegiar mulheres

como tema e/ou personagens, o que é verificado pela forte presença de estudos

sobre as personagens e as questões femininas das obras do autor. Podemos citar a

importância do destaque da voz feminina em suas obras, ressaltando que o olhar de

quem vai criar e (de)escrever será (quase) sempre diferente, seja homem ou mulher,

mas não podemos fazer juízo de valor dessas apropriações de gênero.

Nas teses investigadas, vimos que os pesquisadores tiveram, na maioria

delas, o cuidado ao relacionar quem fala, como fala e contextualizar a situação, pois

o mais importante é sempre a obra analisada. A voz feminina miacoutiana

(narradoras, personagens) aparece como tema de destaque, nas teses investigadas.

Evidenciamos a questão da escrita como recurso de voz na obra de Mia Couto em

geral, em especial aquelas que têm protagonistas femininas. Essa questão está

discutida na tese, já citada, Entre bronze da letra e o cristal da voz: interditos da voz

na ficção de Mia Couto (2017), onde a autora, Cristina Santos, afirma que:

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Nas obras do autor moçambicano, a palavra escrita presentifica-se e é representada por aquele que escreve – o que domina a escrita, a letra. Porém, dominando-a, ela pode também ser questionada, subvertida. Evidenciou-se, neste contexto, por intermédio das obras expostas o silenciamento da voz feminina pela repressão suscitada por meio da instituição patriarcal, social e política. (SANTOS, 2017, s.p).

A análise literária da voz feminina na tese supracitada é focada no gênero

epistolar e reflete a importância da escrita para transmitir um pensamento para um

destinatário individual ou coletivo. Como é dito na tese, o destinatário pode ser um

sujeito silenciado comunicando com o outro, ou pode, metaforicamente, simbolizar

um grupo ou uma nação que não foi ouvida historicamente. Consequentemente, nos

estudos literários, onde a metalinguagem se destaca, sobressai a maneira como os

personagens subvertem o silenciamento imposto à voz dos sujeitos subalternizados.

Foi possível perceber pelo enfoque dado nas teses investigadas e com aporte

teórico vivenciado por nós que a subalternização em espaços colonizados é gritante

e as questões epistemológicas do conhecimento sobre estes espaços ou nestes

espaços é sempre um ponto de discussão. Desde que a Europa foi colocada como o

centro da civilização e do conhecimento, outros espaços e suas relações foram

colocados numa perspectiva de Outro, de estranho, de diferente e, muitas vezes, de

menor valor.

Enfim, a questão transatlântica da diáspora negra, assumida nos moldes da

Literatura Comparada, é o tipo de visão crítica mais utilizada pelas teses

investigadas por nós, para tratar de diversos temas. Essa questão será aprofundada

no item seguinte, quando nos propomos investigar como os estudiosos brasileiros

abordaram este recorte crítico, ao produzirem teses sobre literaturas africanas de

língua portuguesa.

3.5 Estudos comparativos: diversas linguagens para um mesmo tema

A Literatura Comparada, no seu início, buscava entender ‖as ideias ou temas

literários e acompanha[va] os acontecimentos, as alterações, as agregações, os

desenvolvimentos e as influências recíprocas entre as diferentes literaturas‖.

(COUTINHO; CARVALHAL, 1994, p. 61).

Esse viés teórico, muitas vezes, já está descrito nas linhas de pesquisas

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assumidas pelos programas de pós-graduação em Letras, quando privilegiam essa

feição como linha mestra de sua proposta investigativa. No caso de estudos

produzidos a partir da intenção comparativa, notamos que o pesquisador pode

contemplar mais facilmente o objeto de estudo escolhido, desde as obras

selecionadas e os vieses de comparação estabelecidos, geralmente compondo o

corpus com obras de diferentes literaturas africanas de língua portuguesa ou dessas

com obras da literatura brasileira ou da portuguesa.

A escolha majoritária da Literatura Comparada, ao estudar as literaturas

africanas de língua portuguesa, assume a vantagem de se contemplarem mais

obras, tanto dos sistemas literários dos CINCO, quanto de outras literaturas e

mesmo de outras manifestações artísticas. Mesmo que ainda nos deparemos com

generalizações nem sempre verdadeiras e com relações hierarquizantes de valor do

sistema literário de cada nação, no mercado editorial, por exemplo, isto não foi

verificado nas teses investigadas. Os estudos comparatistas se pautaram por buscar

semelhanças e dessemelhanças entre as obras analisadas sem juízo de valor.

Das 74 teses investigadas, temos 32 teses que produziram investigação com

o recorte dos estudos comparados, ou seja, cerca de 40% do total. Pelas

investigações que realizamos, esta escolha se deve às propostas de alguns

programas de pós-graduação brasileiros bem como às reflexões feitas pelos

Estudos Pós-coloniais, que vêm se debruçando sobre os horrores do processo

colonial, sem se preocuparem com questões fronteiriças e, sim, considerando o que

é comum no continente africano.

Podemos ilustrar, com os dados que colhemos nas teses investigadas, que a

escolha do estudo comparativo é predominante nas pesquisas realizadas sobre a

literatura cabo-verdiana e na única investigação sobre a literatura santomense.

Vimos também que a literatura guineense, moçambicana e angolana tiveram os

estudos sobre elas divididos, quase igualitariamente, entre a forma comparatista e a

não comparatista.

Houve teses que foram além das comparações entre as literaturas africanas

de língua portuguesa, optando por obras da literatura brasileira e da portuguesa e

até mesmo por outras literaturas africanas como a literatura queniana e a nigeriana.

Outras realizaram estudos comparativos não apenas com esses sistemas literários

mais marcados pela diáspora negra, mas entre obras das literaturas africanas de

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língua portuguesa com a literatura estadunidense, a martiniquense e a de Trinidade

e Tobago. Um exemplo de tese que considerou as semelhanças e as

dessemelhanças entre as literaturas africanas foi a de Jair Ramos Braga Filho, já

referida, Poéticas da alteridade: Chinua Achebe, Ngugi Wa Thiong’o e Mia Couto

(2014). Nesse estudo, como afirma o autor, ―a ênfase recai na situação de alteridade

constituída no encontro entre o colonizador europeu e o colonizado africano‖.

(BRAGA FILHO, 2014, p. 1). Além dessa questão, outras se mostram fundamentais

ao estudo pretendido:

Há uma literatura autenticamente africana? Quais seriam as suas especificidades? Como chamar de literaturas africanas aquelas escritas em línguas europeias, levando-se em conta as mais de mil línguas vernáculas do continente? Qual é o papel da forte herança oral africana nas literaturas contemporâneas? Que teoria, própria ou ―emprestada‖ é capaz de abranger um corpus tão vasto e heterogêneo, por mais que a experiência colonial seja um fator em comum das obras que ele contém? (BRAGA FILHO, 2014, p. 1).

A questão da língua adotada na produção das literaturas africanas é uma

discussão que, quase sempre, permeia as análises literárias formuladas, pois, como

sabemos, a linguagem é elemento essencial na constituição da obra literária. No

continente africano, considerado por muitos estudiosos como berço da escrita, a

colonização europeia foi avassaladora com a interdição de uso das línguas

autóctones. O que vemos hoje é o uso da língua do colonizador como oficial em

muitos países africanos, a partir, sobretudo, das independências acontecidas no

século XX. Acrescentamos que, entre a língua oficial e as que se falam no cotidiano,

há uma imensa vala que separa a elite das classes trabalhadoras e das populações

rurais. Esse fator dificulta o acesso, por parte da população iletrada, à literatura

escrita em língua oficial e, por parte da população letrada, às expressões artísticas

realizadas em línguas locais.

O método comparativo de abordagem das literaturas africanas permite uma

visão consolidada sobre a estética e sobre o contexto das obras literárias, até

mesmo das expressas em línguas que não sejam as herdadas do colonizador. A

apropriação feita pela literatura da língua do colonizador caracteriza-se, na maioria

das vezes, por processos de subversão intensa, em que a oralidade é revisitada

para a construção de estratégias literárias. Essas estratégias permitem a produção

de diálogos criativos da escrita literária com as línguas africanas específicas das

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diferentes regiões, bem como com o crioulo.

Outro elemento que emerge das teses investigadas e que se faz

característico dos estudos comparatistas é a intertextualidade. Ao usar este

processo de produção textual, relevam-se aspectos do fazer literário que se

caracterizam pela evocação de outros textos convocados pelo escritor e/ou pela

escritora. Neste processo, fica evidente o cuidado de não se considerar o conceito

de ―literatura canônica‖ como validador do fazer literário que invoca outros textos ou

mesmo de não se usar o método comparativo atribuindo maior valor aos textos

canônicos que compõem o diálogo intertextual. Sobre o modo como um texto invoca

outro, em sua produção, nos diz Tania Carvalhal:

o comparativista não se ocuparia a constatar que um texto resgata outro texto anterior, apropriando-se dele de alguma forma (passiva ou corrosivamente, prolongando-o ou destruindo-o), mas examinaria essas formas, caracterizando os procedimentos efetuados. Vai ainda mais além, ao perguntar por que determinado texto (ou vários) são resgatados em dado momento por outra obra. Quais as razões que levaram o autor do texto mais recente a reler textos anteriores? Se o autor decidiu reescrevê-los, copiá-los, enfim, relançá-los no seu tempo, que novo sentido lhes atribui com esse

deslocamento? (CARVALHAL, 2006, p. 52).

Esse cuidado com a análise literária comparativista é essencial para os

sistemas literários, pois, como sabemos, o texto mais recente, aquele que ―resgata

outro texto anterior‖, pode também subverter a ordem sócio-política estabelecida

pelo texto da tradição, do cânone, e incentivar uma releitura dos códigos

estabelecidos. O valor do diálogo intertextual está, sobretudo, na visão crítica

estabelecida pelo novo texto no processo criativo que legitima. Assim, o texto

original e o novo assumem importância no espaço literário, e sua avaliação se faz

sem se preocupar em estabelecer níveis de qualidade entre o texto recriado e o que

o inspirou.

Os estudos comparativos legitimam pesquisas que sustentam a investigação,

ressaltando o trânsito entre as obras e encenam a convergência de temas,

personagens e estratégias estéticas que configuram o trabalho literário realizado

pelos autores e autoras das literaturas enfocadas. Como se mostra nas teses

investigadas, os pesquisadores precisam, necessariamente, estar atentos a

considerações teóricas que respeitem as literaturas de outros espaços que não o

europeu.

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114

Nas teses investigadas, os diálogos teóricos da literatura comparada parecem

possibilitar o deslocamento de visões estéticas endossadas pelo eurocentrismo para

demonstrar que as literaturas africanas de língua portuguesa não se relacionam de

forma dependente com as literaturas europeias, ou seja, não se pautam pela ideia

de que as obras produzidas por autores europeus seriam uma espécie de modelo

para autores oriundos de espaços que foram vítimas de colonização.

Embora saibamos que literatura miacoutiana tem pontos em comum com a

proposta estética do angolano José Luandino Vieira e que Mia Couto é leitor e

admirador declarado da obra de Guimarães Rosa, isso não é o que torna valiosa a

escrita do autor moçambicano. Isto configura uma visão dos estudos comparativos

de que autores são, antes de tudo, leitores. O conceito de linhagens estéticas,

infelizmente, ainda é uma marca de credenciamento para que a literatura periférica

assuma lugares de notoriedade no espaço literário e no acadêmico.

Refletindo sobre este aspecto de afiliação da literatura comparada podemos

perceber que novos autores, que assumem em suas escritas temas e estratégias

estéticas que lembram autores canônicos, são muitas vezes, estigmatizados como

devedores à(s) obra(s) que os antecederam. Nesse contexto, podemos dizer que

esta semelhança com uma fonte anterior torna-se um valor do qual dependeria a

obra recente. Pensamos ainda que o fato de as literaturas africanas de língua

portuguesa terem sido estudadas, majoritariamente, de forma comparada, pode

carregar este peso da afiliação como um dos fatores para serem aceitas como

objeto de pesquisas nos programas de pós-graduação brasileiros, embora não

tenhamos como comprovar esta motivação, apenas podemos inferir devido ao

grande número de estudos comparados nas teses investigadas.

Alertamos que um ponto importante que perpassa o comparativismo é aquele

que se configura como um processo de descolonização literária. Essa estratégia de

análise literária busca apresentar o comparativismo literário de forma distanciada da

noção de fonte e influência, ou seja, ter uma capacidade crítica ao "olhar para fora".

Pensando nas reflexões que essa posição traz para os estudos literários

comparados, vemos que estes podem colaborar de forma expressiva para o

processo de descolonização das mentes que se elabora ao longo do

desenvolvimento das literaturas africanas de língua portuguesa, com seus avanços e

retrocessos. Essa questão está discutida na tese, Casa de silêncio, Mar de solidão:

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o espaço literário nos contos de Orlanda Amarílis e de Sophia de M. B. Andersen

(2014), onde a pesquisadora afirma que:

Ambas as autoras viveram a mesma época e frequentaram os mesmos espaços reservados aos intelectuais empenhados na mudança da literatura portuguesa, ou seja, as revistas e antologias literárias que agrupavam escritores das linhas mais díspares, mas que, ética e esteticamente trabalhavam a favor de uma modificação severa tanto nas letras quanto na sociedade. O trabalho com as suas obras implica, necessariamente, na releitura desse momento histórico e de aspectos relativos às transformações trazidas pelo novo modo de pensar a literatura. Assim, o espaço na narrativa ganha grande relevância e é um elemento que vem a corroborar com os estímulos sociais e ideológicos daquele período e marcam profundamente a obra tanto de Sophia Andersen quanto de Orlanda Amarílis, podendo ser considerado um dos aspectos mais relevantes de suas obras. (GRECCO, 2014, p. 14).

Percebemos que a investigadora teve o cuidado de considerar a escrita

literária das duas autoras, uma portuguesa, outra cabo-verdiana, como

contemporâneas uma da outra, pois, apesar do processo histórico diferente com que

conviveram, ambas foram lutadoras em espaços literários predominantemente

masculinos. Assim,

ainda que as marcas de nacionalidade já não sejam situadas inicialmente (para que a análise comparativa não se reduza a uma afirmação de nacionalidades e, muito menos, ao exame do predomínio de uma sobre outra) elas se constituem em inevitável ponto de chegada. (CARVALHAL, 2006, p. 80).

Podemos dizer que cabe ao investigador a responsabilidade de descolonizar

os estudos comparados, ao realizar suas pesquisas, mostrando a originalidade de

cada texto selecionado, sem atribuir valor diferente, em suas análises, ao texto que

provém da margem e ao que é do centro. Consideramos que, muitas vezes, a

investigação comparada volta-se às literaturas ditas periféricas e que esses estudos

dão relevância a obras ainda não contempladas por ementas de disciplinas

regulares de cursos de Letras. Essa característica pode ser percebida nas teses

investigadas, pois mais de 20% delas foram produzidas em departamentos de

literatura comparada de programas de pós-graduação em Letras.

Os estudos comparados também contemplam aspectos relativos à questão do

leitor. Na discussão dos processos de edição e recepção das obras, podem ser

investigados aspectos de diversos sistemas literários, tais como edições, traduções

e a crítica literária. Nesse aspecto, faz surgir uma característica relevante nos

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estudos comparados que são os ―aspectos da recepção na criação de uma nova

obra literária‖ (CARVALHAL, 2006, p. 66). Os estudos de literatura comparada

podem averiguar como cada sistema literário acolhe a obra, investigando aspectos

sociais, culturais e outros da recepção e comparando-os com relação a duas ou

mais obras analisadas.

Inferimos que a recepção das literaturas africanas de língua portuguesa nos

CINCO é algo que merece ser investigado mais profundamente, pois foi interessante

perceber que o estudo da recepção não foi contemplado nas teses investigadas, de

forma específica.

As dificuldades de fluência na língua portuguesa dificulta a recepção das

obras de literaturas africanas de língua portuguesa nos CINCO e até no mundo,

porém não tivemos acesso a dados sobre isso, já que as teses investigadas não

trataram desse tema. Sabemos pelos estudos linguísticos produzidos no Brasil, que

o cidadão dos CINCO, principalmente aquele distante das capitais, tem dificuldade

de acesso à língua portuguesa, na sua forma falada e escrita. Sobre essa

dificuldade, Lourenço Rosário, estudioso moçambicano, afirma que:

O problema da língua portuguesa em África não se resolve com afirmações de caráter meramente emocional e de natureza absoluta. Toda a gente sabe que uma larga percentagem da população africana dos países de língua portuguesa não fala, nem sabe falar, esta língua. Mas, a fingir, vamos repetindo nos escritos, nos colóquios que esses milhões todos falam o português. Talvez interesse à politica tal fingimento, mas, que os acadêmicos se tornem câmara de ressonância é que não faz sentido. (ROSÁRIO, 2007, p. 12).

A crítica sobre o acesso à língua portuguesa pelos cidadãos dos CINCO nos

leva a refletir sobre a responsabilidade de nós, estudiosos das literaturas africanas

de língua portuguesa, estarmos contribuindo para o fortalecimento do mito do

império português no mundo, se não mais para ressaltar sua expansão, territorial e

econômica, mas com relação à lusofonia, ideia celebrada por Portugal, que é

bastante contestada pelos povos de língua oficial portuguesa. Sabemos que as

literaturas africanas de língua portuguesa são entendidas, muitas vezes, como se

refletissem uma unidade linguística, no entanto, não é bem assim.

A africanização da língua portuguesa vai acentuando traços característicos de

cada espaço onde a língua foi transformada em oficial. Já se pode dizer que temos

muitas variantes do idioma português: o de Portugal, o do Brasil, o de Macau, o do

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Timor-Leste e os dos países africanos: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,

Moçambique e São Tomé e Príncipe. O idioma oficial, ensinado nas escolas, segue,

com frequência, uma variante culta que não valoriza as marcas da ritmicidade das

culturas africanas e as apropriações linguísticas ocorridas com uso da língua

portuguesa, em cada espaço para onde foi levado pelos colonizadores. Este fato

não está aumentando o número de leitores e falantes do idioma português. Mais

grave ainda é saber que a maioria dos CINCO tem outras línguas que acabam

influenciando naquilo que foi chamado pelos portugueses, de forma pejorativa, de

―pretoguês‖39. O termo é utilizado por Pires Laranjeira para referir-se ao processo de

crioulização do idioma português, principalmente em São Tomé e Príncipe, mas

pode designar a africanização natural da língua oficial pelos falantes dos vários

países africanos colonizados pelos portugueses. Estas peculiaridades decorrentes

das interações entre o idioma nacional e as línguas africanas não são totalmente

respeitadas nos sistemas educacionais e, também, não são contempladas,

amplamente, em ambientes de pesquisas acadêmicas em Portugal e no Brasil,

mesmo no campo da Linguística.

Notamos que os autores africanos estudados nas teses investigadas investem

nas transformações que a língua portuguesa vai assumindo nos espaços africanos

em que funcionam como língua oficial e isto se reflete na quantidade de estudos que

elegem essa temática para construir as teses.

As questões literárias que emergem das teses investigadas contribuem, como

temos demonstrado, para caracterizar o modo como as obras são discutidas como

pertencentes ao universo da Literatura. Essas questões foram, buscadas por nós, a

partir das indicações de referenciais teóricos, sejam eles africanos ou não. O que

fica claro, nas teses investigadas, é que as visões de literatura que emergem das

obras de autores africanos ressaltam as questões humanas e as formas como estas

são construídas pela linguagem, ao revisitar temas como memória, história, gênero,

espaço e tempo que bordejam as histórias contadas pela literatura. Lourenço do

Rosário, de Moçambique, ressalta a escolha de recursos estéticos que estão

comumente presentes nas obras literárias africanas:

Os textos [das literaturas africanas de língua portuguesa] circulam num mundo repleto de intertextualidades visíveis. Se os temas abordados giram

39

(LARANJEIRA, 2015, p. 40)

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à volta da questão da dominação, opressão, resgate de valores, luta, exaltação, esperança na vitória, etc., os recursos estéticos privilegiam principalmente o ritmo, a hipérbole, a interrogação, a ironia, a evocação. (ROSÁRIO, 2007, p. 158).

Percebemos, nas teses investigadas, o quanto as literaturas africanas de

língua portuguesa estão sendo visitadas pela crítica literária especializada, tanto em

países da África, quanto em Portugal e no Brasil, o que contribui para o

enfraquecimento de estereótipos, muito frequentes no imaginário da colonização e

para o fortalecimento de uma análise mais pertinente das diferentes literaturas

produzidas em espaços africanos colonizados por Portugal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O caminho trilhado para coletar as teses no Catálogo de Teses e

Dissertações da CAPES e analisar os dados foi muito importante, pois mostrou o

quanto a interdisciplinaridade é fecunda na produção do conhecimento. Nesse

sentido, procuramos aliar conhecimentos biblioteconômicos e literários para estudar

as teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa e buscamos verificar a

importância dada à normalização das informações nos textos acadêmicos e nos

catálogos online. Além de pesquisar como os investigadores brasileiros se

apropriaram das teorias literárias existentes, vimos também que, algumas vezes,

eles criaram novas metodologias em pesquisas sobre literaturas africanas de língua

portuguesa.

Para compor nosso corpus, foram selecionadas 74 teses e, dentro delas,

realizamos estudos estatísticos e analíticos que nos permitiram refletir sobre o uso

das normas da ABNT para os resumos e as palavras-chave. Retiramos, também

nessas fontes, dados sobre os itens mais pesquisados nas IES brasileiras, em

literaturas africanas de língua portuguesa tais como sistemas literários, temas,

autores, além de discorrer sobre as visões de literaturas africanas de língua

portuguesa e seu uso nas teses.

O estudo que realizamos permitiu-nos produzir um panorama detalhado da

pesquisa acadêmica brasileira sobre literaturas africanas de língua portuguesa, no

período recortado. Um aspecto destacado foi o geográfico, pois conseguimos arrolar

onde se produzem mais teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa no

Brasil. Foi possível saber que os programas de pós-graduação da região Sudeste do

Brasil foram responsáveis pela produção de mais de 60% das teses sobre literaturas

africanas de língua portuguesa nos anos de 2013 a 2017. Esta informação pode

facilitar para os interessados em fazer pesquisas em literaturas africanas de língua

portuguesa onde estão as possíveis instituições que os acolherão. Também propicia

às instituições de pesquisa pensar na democratização do acesso aos programas de

pós-graduação que estudam as literaturas africanas de língua portuguesa,

ampliando espaços de pesquisas em todas as regiões brasileiras.

Na produção de teses sobre literaturas africanas de língua portuguesa,

percebemos que houve um crescimento nos três primeiros anos e queda nos dois

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últimos, embora não tenhamos conseguido saber qual foi o motivo deste declínio.

A questão de gênero, assunto caro às pesquisas sobre literaturas africanas

de língua portuguesa, não foi tópico especifico na busca de dados das teses

colhidas no CTD da CAPES, mesmo assim, achamos importante relatar aquilo foi

visto, ou seja, uma maioria feminina na autoria das teses investigadas e na

orientação delas, em contraponto como a maioria da autoria das obras analisadas

pelas teses ser masculina, o que nos leva a refletir sobre a necessidade de se

buscar formas de incentivar a produção literária de mulheres e de promover o

acesso às obras de escritoras das literaturas africanas de língua portuguesa.

Destacamos que as narrativas escritas por mulheres são escassas também no

mercado editorial no Brasil e no mundo como um todo, não apenas nos CINCO.

De forma sintética os resultados da pesquisa apontaram para as seguintes

questões:

A. Necessidade de aplicação maior da padronização na elaboração dos

resumos e das palavras-chave, além da indicação de que precisamos

de maior divulgação e melhorias do CTD, bem como, de instruções

mais claras e mais coerentes para os usuários desta importante fonte

de informação para a ciência.

B. O sistema literário mais estudado foi o moçambicano, seguido pelo

angolano e cabo-verdiano.

C. Os autores que mais tiveram obras selecionadas para estudo foram

Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane.

D. Os temas mais analisados foram identidade, memória e história.

E. As questões próprias da análise literária que mais emergiram das

teses investigadas foram as que discutem a construção de narradores,

tempo e espaço narrativos, além de modos de percepção da realidade.

F. Dentre as metodologias de análises empregadas, a comparação de

obras de diferentes literaturas e diferentes autores foi preponderante.

Algumas questões sobre a padronização em trabalhos acadêmicos revelaram

que esse aspecto não é a prioridade principal nas teses investigadas, pois quando

analisamos os resumos e as palavras-chave, a qualidade do texto não era a mesma

percebida na produção desses itens. Pensamos que, após nosso trabalho, os

pesquisadores brasileiros poderão reconhecer a importância da padronização destes

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itens em uma tese, pois só com a uniformização é possível que os trabalhos sejam

recuperados com precisão, nas pesquisas em catálogos online, como o da CAPES.

A padronização insuficiente nas teses investigadas nos leva a perguntar sobre

o conhecimento de sua devida importância, já que somente com boa normalização

uma pesquisa pode ser recuperada em bancos de dados e assim ser fonte de

informação para novos estudos. Fica também a indagação de que, talvez, pudesse

ser útil um maior investimento dos programas de pós-graduação sobre o uso das

normas bibliográficas da ABNT, assim como o acesso a ferramentas digitais de

padronização bibliográfica40 que podem facilitar a elaboração de resumos e de

palavras-chave.

Um item padronizado pela ABNT é o da elaboração de palavras-chave;

embora a escolha das palavras seja livre, elas devem servir de informação sobre a

pesquisa. Por essa razão, a escolha deve ser pensada de modo a selecionar

aquelas que melhor identifiquem o documento produzido. Portanto, para uma melhor

eficiência, nesse quesito, o pesquisador pode recorrer aos serviços de normalização

bibliográfica da biblioteca da IES que acolhe a tese e/ou usar ferramentas digitais

para selecionar palavras, para se ter certeza de que a palavra-chave escolhida

remete mesmo ao assunto discutido na tese.

Apresentamos, nas análises da padronização algumas sugestões quanto ao

uso de conceitos discutidos. Um mesmo termo aparecia nas teses investigadas ora

no plural, ora no singular. Um exemplo disso é o uso do título da área pesquisada:

―literaturas africanas de língua portuguesa‖ e ―literatura africana de língua

portuguesa‖. Pensamos que o termo ―literaturas africanas‖ seria o mais adequado,

por se tratar de literatura produzida em vários países e não reforçar a ideia de haver

uma literatura do continente africano e, portanto, o uso da expressão literaturas

africanas de língua portuguesa contempla melhor os estudos sobre a literatura

produzida em cada um dos CINCO.

Os temas estudados, memória, história e identidade, apareceram em

quantidade equilibrada tanto na forma pluralizada, ou não. A discussão de

pluralização de conceitos é comum nas pesquisas e referenciais teóricos, assim, o

pesquisador, ao escolher o estudioso que norteará sua pesquisa, acaba por usar o

modo como ele grafa o termo. Na área de conhecimento da literatura, os

40

Sugerimos algumas ferramentas como: FastFormat, Mettzer e outras disponíveis na internet.

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pesquisadores têm liberdade para escolher entre o plural, ou não, ao grafar os

conceitos, porém na Biblioteconomia, há uma indicação de que, quando indexamos

um assunto, ou seja, elaboramos palavra-chave, esta deve estar no singular. Logo, é

válida a adoção, no corpo de uma tese ou de outro texto acadêmico, um conceito no

plural, mas este precisa aparecer no singular nas palavras-chave, com exceção

daqueles de forma única (por exemplo: ônibus, óculos).

Além da recuperação de dados em meios digitais, a elaboração dos resumos,

dentro das normas da ABNT, permite ao pesquisador, que vai produzir estudos de

revisão bibliográfica, organizar os dados com menos dificuldades. Por exemplo, nas

palavras-chave, notamos, nas teses investigadas, que nem sempre foi seguida a

orientação da ABNT, de se usar o ponto final para separá-las umas das outras, e

também, algumas vezes, foram usadas frases e palavras pouco específicas. Tudo

isso, conforme ressaltamos, dificultou nossa geração de estatística, já que a

precisão dos caracteres é essencial nos meios de tratamento da informação.

Sobre a tabulação de dados que colhemos, não foi possível o uso de

ferramenta específica para tratamento de dados. Usamos o Word e Excel, da

Microsoft Office. Embora existam softwares específicos41 para tratamento de dados

textuais, não conseguimos ter acesso a eles em tempo hábil. Esses softwares

seriam interessantes ferramentas a serem adquiridas por programas de pós-

graduação em Letras, pois o uso deles permite realizar pesquisas em textos, por

palavras e frases, além de tratamento dos dados textuais colhidos. O uso de

softwares facilita também as análises literárias quando se trabalha com obras em

formato digital: periódicos eletrônicos, e-books, blogs, sites, enfim, textos

eletrônicos. Cabe informar que esses tipos de suportes de informação ficaram mais

fáceis de serem referenciados, nas bibliografias, pois houve na última revisão, em

2018, da Norma técnica 6023 – Referências Bibliográficas, mudanças na forma de

citar documento eletrônico e também foi inserida a maneira normatizada de citar

redes sociais.

Os assuntos mais pesquisados nas teses investigadas, que verificamos nas

palavras-chave, corresponderam àqueles que o nosso percurso acadêmico e de

leituras sobre literaturas africanas de língua portuguesa nos permitiu inferir. Isso

aproxima nossas conclusões ao que afirma Stanley Fish (1992) sobre a ideia de

41

Podemos citar como exemplo o software Sphinx.

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123

que, em cada área de conhecimento, se forma uma comunidade interpretativa e que

os pesquisadores se orientam de forma muito parecida na compreensão de

conceitos e nas pesquisas realizadas.

Nas teses investigadas, temos 344 palavras-chave citadas nas 74 teses. Foi

preciso agrupar em subitens o que foi mais pesquisado, ou seja, autores, temas e

sistemas literários. Assim tivemos o seguinte resultado:

1. Autores: Mia Couto, Pepetela e Paulina Chiziane.

2. Temas: Identidade(s), Memória(s), História.

3. Sistema literário: literatura moçambicana, literatura angolana e literatura cabo-

verdiana.

Contudo não foi possível, como já dito, verificar estes dados apenas com a leitura

de palavras-chave, pois um número alto de teses que investigava um determinado

tema proposto figurava sem a devida indexação nas palavras-chave. Foi preciso

buscar em outras partes das teses investigadas, como, por exemplo, na introdução.

Além dos temas mais citados nas palavras-chave, buscamos saber quais

teóricos(as) apoiaram as discussões nas teses investigadas. Sabendo o que esperar

de um resumo científico, acreditávamos que encontraríamos estes dados nesse

item, porém, um número expressivo de resumos não continha o aporte teórico

utilizado. Essa constatação reflete a necessidade de melhoria de elaboração de

resumos, pois sabemos, por orientação da ABNT, que todo resumo científico deve

trazer hipótese, objeto, metodologia e resultados da pesquisa feita.

Os principais teóricos utilizados nas teses investigadas foram Mikhail Bakhtin,

sobretudo na discussão de questões relacionadas à análise da linguagem literária;

Homi K. Bhabha e Stuart Hall nas reflexões sobre identidade; Paul Ricoeur e Walter

Benjamin, nas abordagens dos temas história e memória. Os resumos também

permitiram perceber que as reflexões sobre as literaturas africanas de língua

portuguesa baseiam-se, sobretudo, em estudos das pesquisadoras Inocência Mata e

Ana Mafalda Leite e dos pensadores africanos Achille Mbembe e Hampaté Bâ,

dentre outros teóricos(as) ocidentais e brasileiros. Ver a presença de pensadores

africanos dos CINCO ou, de outros espaços africanos, foi importante para demarcar

o lugar de fala da teoria sobre África e suas literaturas.

O principal tema abordado foi a identidade. Os autores das teses investigadas

buscaram suporte teórico em importantes pesquisadores, na discussão da questão,

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124

dentre os quais podemos citar Antonio da Costa Ciampa, Antônio Sérgio Guimarães,

Benjamin Abdala Junior, Boaventura Santos, Edward Said, Fernando Catroga,

Frantz Fanon, Hommi K. Bhabha, Jane Tutikian, José Luiz Cabaço, Luiz Costa Lima,

Massimo Canevacci, Michell Pollack, Nestor Garcia Canclini, Paul Ricouer, Pierre

Nora, Stuart Hall e Zilá Bernd.

Acreditamos que a história de colonização, guerras da independência e civil,

vivenciadas pelos africanos dos CINCO e por muitos dos autores que tiveram suas

obras analisadas, contribuíram para que a questão identitária se sobressaísse nas

teses investigadas. O sujeito fragmentado pela opressão da colonização e a

violência das guerras estão presentes em muitos enredos das obras literárias. A

constatação da presença do sujeito fragmentado na construção de enredos literários

justifica o uso de conceitos como o de entrelugar, sobretudo amparado pelas

reflexões de Hommi KBhabha, de identidade cultural, na esteira de Stuart Hall, e de

identidade híbrida, visto a partir da proposição de Nestor Garcia Canclini, nas teses

investigadas, como suporte para as análises literárias sobre temas de viés

identitário. As reflexões, muitas vezes de forma interdisciplinar, resgataram outros

elementos identitários, tais como gênero, raça, nação, história e memória.

Ao tratar de memória, segundo tema mais estudado nas teses investigadas,

seus autores recorreram, de forma preponderante, às reflexões do estudioso Paul

Ricouer, mas também se valeram de vários outros teóricos(as) importantes na

discussão desse tema, como Aleida Assmann, Beatriz Sarlo, Henri Bergson, Linda

Hutcheon, Maurice Hallbwachs, Michel Pollack, Walter Benjamin e Zilá Bernd.

Embora o tema da memória seja comum nas obras literárias e nas pesquisas

acadêmicas atuais, a memória da África e dos africanos possui sutilezas que

precisam ser consideradas. São nações que tiveram suas memórias subtraídas,

muitas vezes rasuradas ou narradas somente por teóricos europeus. Essa questão

indica o fato de as teses que investigaram a(s) memória(s) coletivas e individuais

africanas ressaltarem as formas de construção narrativa que, nos enredos e na

construção das personagens, indicam tanto a luta pela apropriação da(s)

memória(s), quanto a desempenhada contra o silenciamento das vozes africanas.

Esta característica presente em muitas das obras literárias investigadas pelos

autores das teses que analisamos, revela a importância do recorte memorialístico,

traço característico de obras literárias oriundas de espaços colonizados.

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As literaturas africanas de língua portuguesa possuem, em muitas de suas

narrativas, a ficicionalização de momentos traumáticos de sua História e, portanto,

as feições que podem ser afetadas, tais como identidade, memória e história são

muito retomadas nas teses investigadas.

Apontamos, na tese, que a história é tratada como tema recorrentemente

encenado pelas obras literárias africanas, sobretudo, com a intenção de se

produzirem reflexões a partir do olhar de teóricos(as) que ressaltam a importância de

se considerar a história pela perspectiva dos vencidos. Se esta ainda não está

escrita, a literatura cobre essa falta, sobretudo quando anuncia o protagonismo dos

que tiveram as suas memórias silenciadas, soterradas, como anuncia Michel Pollak

(1989).

O cânone literário mereceu reflexão, pois discorremos sobre os autores que

tiveram mais obras analisadas nas teses investigadas. Sabemos que o cânone tem

contribuição das pesquisas acadêmicas sobre literatura em sua constituição,

inclusive pela produção de teses. O critério de pertencimento a esse lugar era forte,

pois, se a obra tivesse grande quantidade de estudos em IES (teses, por exemplo),

era motivo de ser canonizada. Porém, no Brasil, o referendo acadêmico tem deixado

de ser elemento de destaque para canonizar um autor, já que as redes sociais, o

mercado editorial e as feiras literárias têm elevado os autores a esse lugar.

Nas teses investigadas, foi confirmada a predominância das obras dos

autores mais conhecidos e reconhecidos no circuito das literaturas africanas de

língua portuguesa, no continente africano no mundo, nas análises literárias. Este

fato leva, como indicamos na tese, a que vários estudiosos questionem os critérios

de escolha das obras a serem analisadas pelos pesquisadores. O que faz uma obra

ser escolhida ou preterida para compor uma análise literária em texto acadêmico?

Os possíveis motivos seriam a facilidade de acesso a publicação, obras premiadas,

respaldadas por outros pesquisadores? Sabemos que uma obra nunca esgota suas

possibilidades de estudos literários, mas, no nosso estudo, se viu uma discrepância

entre a quantidade de estudos de obras do escritor que mais mereceu ser discutido

em teses e outros. Fica clara a necessidade de se verificar a possibilidade de

parcerias institucionais para se ampliarem as fontes de estudos sobre as literaturas

africanas de língua portuguesa e para se contemplar a diversidade autoral em

estudos acadêmicos.

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Apesar de todas as dificuldades dos autores africanos (principalmente

mulheres), especificamente daqueles dos CINCO, e os afrodescendentes (em

especial mulheres) para conseguirem ter obras publicadas e lidas, vimos que houve

diversidade de autores nas 74 teses investigadas. Foram 135 autores abordados. O

primeiro do ranking foi Mia Couto e a terceira Paulina Chiziane, ambos

representantes da literatura moçambicana. Já o segundo escritor que teve mais

obras analisadas foi Pepetela, pertencente à literatura angolana.

Dentre os gêneros literários, o romance teve destaque. Pensamos que isto

possa ser devido ao fato de o romance ocupar o lugar, por excelência, de uma

feição estética que acolhe as inovações, as complexidades e as diversidades

narrativas. Sendo assim, mesmo que as literaturas africanas de língua portuguesa

registrem muitos contos, estes não predominaram e foram apenas 5% das análises

nas 74 teses investigadas. Nesta questão de gênero literário, vimos destacar nas

teses sobre a literatura moçambicana, além dos romances de Mia Couto e de

Paulina Chiziane, os contos miacoutianos e a poesia de Rui Knopli. Na análise da

literatura angolana sobressaíram os romances de Pepetela, Boaventura Cardoso e

José Eduardo Agualusa, os contos de José Luandino Vieira e a poesia de Paula

Tavares.

As teses investigadas que trataram sobre a literatura cabo-verdiana,

trouxeram estudos específicos sobre a influência da insularidade nos sujeitos do

arquipélago e como tal fato reflete na produção literária. Em várias dessas teses

foram retomadas as questões da fragmentação do sujeito, em particular, a questão

identitária, não havendo repetição de autores pesquisados. Da literatura guineense

sobressaíram as questões da nacionalidade e o autor Abdulai Silva. A única tese,

das investigadas, que abordou a literatura santomense selecionou obras da escritora

Conceição Lima e fez análise comparativa com a poesia de Conceição Evaristo e

Paula Tavares, refletindo sobre a resistência na escrita.

Especificamente sobre os três autores de literaturas africanas de língua

portuguesa mais contemplados com análises de suas obras foi possível verificar,

nas teses investigadas, as seguintes considerações: As teses que contemplaram

obras de Mia Couto realizaram recortes que evidenciam particularidades do universo

moçambicano, de que fazem parte eventos e pessoas que integram os processos de

ficcionalização exibidos nas obras do escritor. Indo além de aspectos que ressaltam

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o comprometimento ético deste autor moçambicano com seu país, as teses

buscaram refletir sobre questões relativas aos estudos literários, tais como: forma

narrativa, recursos poéticos, aspectos da diegese, dentre outros elementos da

narrativa literária. Na escrita de Pepetela verificamos, marcadamente, a

ficcionalização da História, da memória e da identidade de Angola. Assim, os

autores das teses investigadas realizaram estudos da linguagem narrativa utilizada

por ele e, também, uma pesquisadora produziu a inovadora tese que utilizou

preceitos do candomblé para realizar sua pesquisa. As reflexões suscitadas pelas

leituras das obras de Paulina Chiziane construíram discussões acerca da identidade

do(a) moçambicano(a), pois em suas personagens, na maioria mulheres, ecoam as

vozes de sujeitos subalternizados e marginalizados.

Podemos dizer, após nossa pesquisa, que os temas dos estudos sobre as

literaturas africanas de língua portuguesa assemelham-se aos temas das literaturas

ocidentais contemporâneos e não se caracterizam, apenas, como manifestações

características da literatura de comprometimento ético. Deduzimos, com as

teses investigadas, que os processos de expressão das culturas africanas

apresentam elementos específicos e que as teorias estéticas e culturais produzidas

em África são necessárias para permitir que melhor compreendamos os pontos de

vista nos processos estéticos encenados nas literaturas africanas de língua

portuguesa.

É preciso destacar que, embora ainda seja insuficiente a circulação de pontos

de vista de teóricos(as) africanos(as) sobre as culturas e as literaturas do continente,

muito das singularidades dos povos que o habitam já estão sistematizadas em

conhecimento organizado e disseminado. Isso justifica o fato de os pesquisadores

referenciarem africanistas nas investigações realizadas por várias das teses que

lemos. Consideramos, nesse sentido, que as particularidades da cultura, história,

geografia da África e suas diásporas fazem emergir, além de narrativas inovadoras,

modos de análise literária bastante diferenciados, como a apresentada por uma tese

que propôs utilizar, em suas reflexões literárias, a epistemologia do orixá Exu e outra

que se valeu de preceitos do candomblé como método de análise literária.

Percebemos também que, nas teses investigadas, emergem diversas visões

sobre a constituição do fazer literário e de literatura. Uma das teses destacadas

aproxima os narradores dos contadores de histórias, apontando, na escrita de

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romances, estratégias de construção narrativa próprias da oralidade. Essa questão

levou alguns pesquisadores a discutirem obras literárias a partir do trabalho com a

sonoridade da linguagem escrita, ressaltando também outras marcas da tradição

oral, esteticamente organizadas na construção da escrita literária. Podemos refletir

que a visão da literatura como contação de história, presente em muitas das teses

investigadas, (re)molda a narratologia, mostrando como o(a) escritor(a) se apropria-

se da linguagem do colonizador sem deixar de absorver recursos próprios da

oralidade, recursos esses, bastante estudados pelas teses, já que foram eleitos para

compor onze das 74 teses investigadas.

Foi possível também comprovar a importância de análises literárias que

levaram em conta as peculiaridades de cada país africano, assumindo, inclusive, o

esforço da literatura para encenar feições da identidade nacional. Esse movimento

perpassa muitas das teses investigadas, revelando um esforço para considerar os

modos de narrar adotados por algumas obras literárias e as formas de transgressão

e de subversão que elas agenciam, sobretudo, quando assumem recursos próprios

do universo oral característico da cultura encenada no espaço da literatura. Recurso

que, como destacamos em nossas considerações, é utilizado para permitir que as

vozes silenciadas pela colonização possam ser ouvidas.

A análise das teses demonstrou que a estética do realismo, em suas

diferentes expressões, foi um viés analítico bastante comum nas teses investigadas.

Os estudos elaborados foram produzidos embasados em diversas reflexões teóricas

sobre a encenação de realidades e experiências vivenciadas em cada espaço. Uma

das discussões marcantes acerca do realismo foi o destaque dado à sua feição

animista, nos termos propostos por Harry Garuba (2014) e Sueli Saraiva (2007), já

que estas se fizeram presentes em dezoito das 74 teses.

Outra característica marcante, percebida nas teses investigadas, foi o fato de

um elevado número destas ser produzido no âmbito dos estudos comparados, ou

seja, em mais de 20% das teses investigadas por nós, o que pode, a nosso ver,

apresentar vantagens e desvantagens para o campo de pesquisas sobre as

literaturas africanas de língua portuguesa no Brasil. Vantagens porque, assim, a

pluralidade e a interdisciplinaridade são contempladas nas pesquisas, não só entre

as literaturas africanas de língua portuguesa, mas com outras literaturas, em

especial com as literaturas africanas inglesas, francesas e espanholas, por exemplo.

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Desvantagens porque, às vezes, as análises em blocos forçam semelhanças entre

as obras literárias analisadas e não permitem estudos específicos sobre a literatura

de cada país. Sabemos o quão importante é ressaltar que cada país do continente

tem sua própria literatura, embora muitos programas de pós-graduação não possam

estudá-las de forma individualizada.

Enfim, percebemos nas teses investigadas o quanto a crítica brasileira sobre

as literaturas africanas de língua portuguesa está solidificada, sem propagar

estereótipos e mesmo comprometida com apropriações da teoria literária existente e

com a criação de novas metodologias. Esse resultado de nossa pesquisa ressalta a

relevância da pesquisa acadêmica sobre as literaturas africanas de língua

portuguesa no Brasil e a importância destes estudos para cumprirem a Lei

10639/2003, já que a diáspora africana aqui é tão presente.

Após ter concluído esta tese, esperamos ter contribuído com a pesquisa

acadêmica sobre as literaturas africanas de língua portuguesa e que este estudo

possa ser fonte de consulta para futuros pesquisadores. Como o assunto que

pesquisamos foi delimitado, pois fizemos apenas um recorte espaço-temporal e

utilizamos apenas um catálogo online de teses, certamente outros aspectos da

pesquisa poderão ser destacados e aprofundados.

Resta-nos a certeza de haver investigado o corpus selecionado com critérios

objetivos, mas também com o desejo de conhecer aspectos inusitados, como alguns

destacados, da pesquisa brasileira sobre as literaturas africanas de língua

portuguesa.

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literaturas africanas de língua portuguesa. Cadernos CESPUC de Pesquisa. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, Série Ensaios, n. 16, 2007, p. 13-63. Disponível em: http://portal.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20120905153204.pdf. Acesso em: dez. 2017. FURQUIM, Fabiane Miriam. A permanência do lobolo e a Organização social. Revista Cantareira, n. 25 . Jul-Dez, 2016, p. 5-15. GAGLIETTI, Mauro; BARBOSA, Márcia Helena Saldanha. A questão da hibridação cultural em Nestor García Canclini. In: Anais do VIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Região Sul, Passo Fundo/RS. 2007. 11p. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sul2007/resumos/R0585-1.pdf . Acesso em: 11 dez. 2018. GALVINO, Claudio Cesar Timóteo. A arte de indexar artigos de periódicos: a política de indexação da seção de periódicos da Biblioteca Central da UFPB. 2012. Dulce Amélia de Brito Neves. Dissertação. (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal da Paraíba: João Pessoa, 2012. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/8713. Acesso em: Jan. 2019. GARUBA, Harry. On animism, modernity/colonialism, and the African order of knowledge: Provisional reflections. E-flux. V. 36. 2014. 10p. Disponível em: http://www.e-flux.com/journal/36/61249/on-animism-modernity-colonialism-and-the-african-order-of-knowledgeprovisional-reflections/. Acesso em: 11 out. 2017. GOMES, Arnon de Miranda. Identidades em trânsito em romances e contos de Mia Couto. Orientadora: Maria Nazareth Soares Fonseca. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. GRECCO, Fabiana Miraz de Freitas. Casa de silêncio, mar de solidão: o espaço literário nos contos de Orlanda Amarílis e de Sophia de M. B. Andersen. Orientador: Rubens Pereira dos Santos. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Est.Paulista Júlio de Mesquita Filho/Assis, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 9. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA. IBICT. Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/. Acesso em: 02 set. 2018. KANDJIMBO, Luís. A Incompletude do Processo de disciplinarização das literaturas africanas. In: FONSECA, Maria Nazareth Soares da; CURY, Maria Zilda Ferreira. África: dinâmicas culturais e literárias. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2012. p. 33 a 65.

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KAWAHALA, Edelu. Na encruzilhada tem muitos caminhos... teoria descolonial e epistemologia de Exu na canção de Martinho da vila. Orientadora: Simone Pereira Schmidt. 2014. Tese. (Doutorado em Literatura) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. LANA, Elisangela Costa. Violência, trauma e silenciamento na escrita literária de Paulina Chiziane. In. MOREIRA, Terezinha Taborda (Org.); ABREU, Denise Borille de (Org). Tramas e traumas: escritas de guerra em Angola e Moçambique. Belo Horizonte, MG: PUC Minas, 2018. E-book. ISBN 978-85-8239-096-5. Disponível em: https://issuu.com/cespuc-centrodeestudosluso-afro-bra/docs/tramas_e_traumas. Acesso em: 14 jul. 2018. LANCASTER, F. W. Indexação e resumos. Tradução de Antonio Agenor Briquet de lemos. Brasília: Briquet de Lemos, 1993. LARANJEIRA, Pires. Pós-colonialismo e pós-modernismo em contexto pré-moderno e moderno - o local e o nacional nas literaturas dos cinco e as ilusões da literatura-mundo. Revista de estudos literários, 2015, v.5, p. 17-47. Coimbra: Centro de Literatura Portuguesa (CLP), Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2015. LARANJEIRAa, Pires. Introdução. Revista de estudos literários, 2015, v.5, p. 11-13. Coimbra: Centro de Literatura Portuguesa(CLP), Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2015. LIMA, Kelly Mendes. Rui Knopfli e Manuel Alegre: de exílios e insílios, a poesia. Orientador: Mário Cesar Lugarinho. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MANCELOS, João de. [Recensão de] Chiziane, Paulina - Niketche: uma história de poligamia. Máthesis. Viseu: Universidade Católica Portuguesa, Departamento de Letras, n. 16, 2007. Disponível em: http://hdl.handle.net/10316.2/23564. Acesso em: 24 jun.2019. MASCENA, Suelany Christtinny Ribeiro. Tecendo os fios da memória: palavra e memória nos romances De Mia Couto. Orientador: Roland Gerhard Mike Walter. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MASSEY, Doreen B. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Trad. Hilda Pareto Maciel; Rogério Haesbaert. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. MATA, Inocência. Literatura-mundo em português: encruzilhadas em África. Anuário de Literatura Comparada. 2013. v. 3. p. 107-122. Disponível em: http://revistas.usal.es/index. php/1616_Anuario_Literatura_Comp/article/download/12443/12779. Acesso em: 05 nov. 2017.

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MATA, Inocência. Localizar o ―pós-colonial‖. In: GARCIA, Flavia; MATA, Inocência (Orgs.). Pós-coloniais e pós-colonialismo: propriedades e apropriações de sentido. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2016. p. 32-50. MATA, Inocência. Estudos pós-coloniais Desconstruindo genealogias eurocêntricas. Civitas. Porto Alegre, v. 14 n. 1, p. 27-42, jan.-abr. 2014. Disponível em: http://www1.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20161026130823.pdf. Acesso em: 15 out. 2019. MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Editora Antígona, 2014. MENDONÇA, Fátima. Literaturas emergentes, identidade e cânone. In: RIBEIRO , M. C. e MENESES, M. P. (Orgs.). Moçambique: das palavras escritas. Porto: Afrontamento, p. 19-34. MOLINA, Maria de Fátima Castro de Oliveira. A hipertextualidade em O outro pé da sereia: uma escrita em palimpsesto. Orientador: Orlando Nunes de Amorim. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Est.Paulista Júlio De Mesquita Filho/SJR. Preto, São José do Rio Preto, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MORAES, Anita Martins Rodrigues de. Notas sobre o conceito de ―sistema literário‖ de Antonio Candido nos estudos de literaturas africanas de língua portuguesa. Itinerários – Revista De Literatura. Araraquara: UNESP, n. 30, p. 65-84, 2010. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp. br/itinerarios/article/view/2996/2731. Acesso em: 09 set. 2018. MOREIRA, Terezinha Taborda. O vão da voz: a metamorfose do narrador na ficção moçambicana. Belo Horizonte: Ed. PUC Minas, 2005. MUDIMBE, V. Y. A invenção da África: gnose, filosofia e a ordem do conhecimento. Lisboa: Mangualde: Luanda: Edições Pedago; Edições Mulemba, 2012. PADILHA, Laura Cavalcante. O ensino e a crítica das literaturas africanas no Brasil: um caso de neocolonialidade e enfrentamento. Magistro, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 2-15, 2010. Disponível em: http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/magistro/article/viewFile/1063/625. Acesso em:07 out . 2017. PARADISO, Silvio Ruiz. Teoria da literatura. Maringá -Pr, UniCesumar, 2016. PEREIRA, Kleyton Ricardo Wanderley. O espaço diaspórico nas literaturas africanas de língua portuguesa. Orientador: Roland Gerhard Mike Walter. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. PEREIRA, Raquel Cristina Dos Santos. Ressoantes cantos e traumas em Comissão das lágrimas e Maio, mês de Maria. Orientadora: Ângela Beatriz de Carvalho Faria. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de

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Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. UFRJ. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro: FGV, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989. PROFIAP. MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PROFISSIONAL. Regulamento do mestrado profissional em administração pública em rede nacional. Disponível em: http://www.profiap. org.br/profiap/sobre-o-curso/profiap-regulamento-28-06-19.pdf. Acesso em: 07 out . 2017. PUC MINAS. Programa de Pós-graduação em Letras. Belo Horizonte: PUC Minas, 2017. Disponível em: https://www.pucminas.br/pos/letras/Paginas/Area-de-Concentracao-e-Linhas-Pesquisa.aspx. Acesso em: nov. 2017 e set. 2018. QUINTILHANO, Silvana Rodrigues. O instinto de nacionalidade na formação do romance angolano: análise de O Segredo da Morta, Antônio de Assis Junior. Orientador: Sérgio Paulo Adolfo. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. RANCIÉRE, Jacques. A literatura impensável. In: Políticas da escrita. Trad. Raquel Ramalhete. São Paulo. Editora 34, 1995. ROCHA, Elisângela Aparecida da. Claridade- o canto e o louvor de um povo no percurso da construção identitária: o diálogo como regionalismo. Orientadora: Simone Caputo Gomes. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. RODRIGUES, Eni Alves. A crítica das literaturas africanas de língua portuguesa na PUC Minas: uma análise das teses produzidas no Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas. Artigo apresentado ao I Seminário de discentes da PUC MINAS (2018). [manuscrito]. RODRIGUES, Eni Alves. Considerações sobre o realismo animista a partir da leitura do conto A morte do velho Kipacaça, de Boaventura Cardoso. Cadernos CESPUC de Pesquisa Série Ensaios, n. 32, p. 28-34, 2018. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoscespuc/article/view/17047. Acesso em 02 set. 2019. ROSÁRIO, Lourenco. Singuralidades II. 4.ed. Maputo: texto editores, 2007. SANTOS, Alexsandra Machado da Silva dos. Poética da negociação cultural em Paulina Chiziane e Mia Couto. Orientador: Alexandre Montaury Baptista Coutinho. 2013. Tese. (Doutorado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Cristina Mielczarski do. Entre o bronze da letra e o cristal da voz:

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interditos da voz na ficção de Mia Couto. Orientadora: Ana Lúcia Liberato Tettamanzy. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Donizeth Aparecido dos. Sagas familiares e narrativas de fundação engajadas de Érico Veríssimo e Pepetela. Orientadora: Tânia Celestino de Macedo. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Joelma Gomes dos. O lugar de Luandino Vieira na tradição do conto angolano. Orientador: Anco Márcio Tenório Vieira. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Nadson Vinicius dos. Violência e memória: relatos testemunhais em diálogo na África e América. Orientador: José Luís Giovanoni Fornos. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Rui Costa. A teoria em questão: Stanley Fish e Frederic Jameson. Orientador: Antônio Feijó M. 2006.Tese. (Doutorado em Letras). Universidade de Lisboa, Lisboa, 2006. Disponível em: http://hdl.handle.net/10451/3747. Acesso: em out. de 2017. SARAIVA, Sueli da Silva. O pacto das elites e sua representação no romance em Angola e Moçambique. Orientadora: Rita de Cássia Natal Chaves. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SARAIVA, Sueli. O realismo animista e o espaço não-nostálgico em narrativas africanas de língua portuguesa. Anais Encontro Regional da ABRALIC, 2007, p. 1-10. Disponível em: http://www.abralic.org.br/enc2007/anais/80/107.pdf. Acesso em: 11 out. 2017. SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. Tradução Rosa Freire d'Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras/Belo Horizonte: UFMG, 2007. SCHOLLHAMMER, Karl Erik. Realismo afetivo: evocar realismo além da representação. Estud. Lit. Bras. Contemp. [online], n.39, pp. 129-150. Brasília: Universidade de Brasília, 2012. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S2316-40182012000100008. Acesso em: 31 ago.2019. SELIGMANN-SILVA, Márcio. Narrar o trauma: a questão dos testemunhos de catástrofes históricas. Psicologia clínica, v. 20, n. 1, p. 65-82, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pc/v20n1/05.pdf. Acesso em: 04. abr. 2017.

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SILVA, Assunção de Maria Sousa e. Nações entrecruzadas: tessitura de resistência na poesia de Conceição Evaristo, Paula Tavares e Conceição Lima. Orientadora: Maria Nazareth Soares Fonseca. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SILVA, Rogério Max Canedo. O romance histórico da colonização: a figuração artística transgressiva do passado em O tetraneto del-rei, de Haroldo Maranhão, A gloriosa família, de Pepetela, e As naus, de António Lobo Antunes. Orientador: Edvaldo Aparecido Bergamo. 2016. Tese. (Doutorado em Literatura) - Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SOUZA, Iracy Conceição de. A experiência poética com o indizível: Ana Luísa Amaral, João Maimona e Salgado Maranhão. Orientadora: Ângela Beatriz de Carvalho Faria. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio De Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SOUZA, Waldelice Maria Silva de. A rotação das identidades: o transe como dínamo da arquitetura das personalidades nos oríkìs e dos personagens na obra de Pepetela. Orientadora: Martha Alkimin de Araújo Vieira. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. VIVIAN, Ilse Maria da Rosa. A Poética da memória: uma leitura fenomenológica do eu em ―Terra sonâmbula‖ e ―Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra‖, de Mia Couto. Orientador: Noelci Fagundes da Rocha. 2014. Tese. (Doutorado em Linguística e Letras) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018.

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ANEXO A - TESES INVESTIGADAS

ALMEIDA, Cintia Machado de Campos. Viagens de fora para dentro: profanações e vagamundagens de Luís Carlos Patraquim. .2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Orientadora: Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. ALVES, Roberta Maria Ferreira. Olhares irônicos sobre a morte: memória e travestimentos em narrativas de língua portuguesa. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. Orienadora: Maria Nazareth Soares Fonseca. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. ARAUJO, Ridalvo Felix de. Candombe mineiro: É d‘ingoma/ Saravano tambu/ Peço licença/ Pro meu canto firmá. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. Orientador: Marcos Antônio Alexandre. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BACH, Carlos Batista. José Eduardo Agualusa: ironias e memória como traços de uma poética. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Orientadora: Ana Lúcia Liberato Tettamanzy. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BAROSSI, Luana. Devires Inauditos: linhas de fuga em narrativas de língua portuguesa. 2015. Orientador: Emerson da Cruz Inácio. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade De São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BARROS, Liliane Batista. A reconstrução histórica da cabanagem em "Lealdade" e da guerra civil moçambicana em "As duas sombras do rio". Orientadora: Tânia Maria Pereira Sarmento Pantoja .2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Pará, Belém, 2018. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BARROS, Maria Aparecida de. A voz angolana nos contos de Boaventura Cardoso: configuração da memória ancestral. Orientadora: Regina Célia dos Santos. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BIAZETTO, Flavia Cristina Bandeca. As confluências das tradições literárias escritas e orais nos livros didáticos: um estudo das representações das literaturas africanas, afro-brasileira e indígenas nos materiais do Programa Nacional do Livro Didático 2014. Orientadora: Vima Lia de Rossi Martin. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018.

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BISPO, Erica Cristina. Eternos descompassos... faces do trágico em Abdulai Sila. Orientadora: Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BRAGA FILHO, Jair Ramos. Poéticas da alteridade: Chinua Achebe, Ngugi Wa Thiong‘o e Mia Couto. Orientadora: Patrícia da Silva Cardoso. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2014.Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BRAUN, Ana Beatriz Matte. O "Outro" Moçambicano: expressões da moçambicanidade em João Paulo Borges Coelho. Orientadora: Raquel Illescas Bueno. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016. Disponível em http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. BRUNO, ELAINE ZERANZE. Cartas de um país distante: tempo, memória e história em Sans Soleil de Chris Marker. Orientador: André Luiz de Lima Bueno. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. CARVALHO, Wellington Marçal de. A relevante tarefa de forjar a guineidade: a prosa de Odete Semedo e Abdulai Sila. Orientadora: Maria Nazareth Soares Fonseca. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte. 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. CESARIO, Irineia Lina. Ventos do Apocalipse, de Paulina Chiziane, e Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo: laços africanos em vivências femininas. Orientadora: Simone Caputo Gomes. 2013. (Doutorado em Letras) - Universidade De São Paulo, São Paulo, 2013 . Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. CHAIGNE, Luana Antunes Costa. Traços do chão, tramas do mundo. Representações do político na escrita de Mia Couto e Patrick Chamoiseau. Orientador: Benjamin Abdala Júnior. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. CORREA, Cláudia Maria Fernandes. Encontros meridionais, histórias transnacionais: quando a voz feminina (re)nasce pela poesia. Orientador: Lynn Mario Trindade Menezes de Souza. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. CORREIA, Wesley Barbosa. Representações histórico-ficcionais de Angola: uma leitura de 'A gloriosa família' de Pepetela e 'Nação Crioula' de José Eduardo Agualusa. Orientador: Cláudio Alves Furtado. 2015. Tese. (Doutorado em Estudos Étnicos e Africanos) - Universidade Federal da Bahia, Salvador , 2015.

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Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. COSTA, Daniela Aparecida da. Transfigurações do passado em narrativas de Teolinda Gersão e Mia Couto. Orientadora: Maria Célia de Moraes Leonel. 2015. Tese. (Doutorado em Estudos Literários) - Universidade Est.Paulista Júlio De Mesquita Filho/Araraquara, Araraquara, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. COSTA, Eliane Gonçalves Da. De mitos e silêncios: nas águas do feminino pelos romances de Paulina Chiziane. Orientadora: Gisele Manganelli Fernandes. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Est.Paulista Júlio De Mesquita Filho/Sjr. Preto, São José do Rio Preto, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. COSTA, Fernanda Antunes Gomes da. Paula Tavares e a poética dos sentidos. Orientadora: Gisele Manganelli Fernandes. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. CROSARIOL, Isabelita Maria. O legado de Próspero: uma investigação do projeto narrativo de Ruy Duarte de Carvalho. Orientador: Alexandre Montaury Baptista Coutinho. 2013. Tese. (Doutorado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. DAL CORTIVO, Raquel Aparecida. No fogo das três pedras: leitura comparada das poéticas de Corsino Fortes, Arménio Vieira e Filinto Elísio. Orientadora: Simone Caputo Gomes. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. DEUS, Lilian Paula Serra e. Memória, Identidades e Bastardia em As Visitas Do Dr. Valdez, de João Paulo Borges Coelho, O outro pé da Sereia, de Mia Couto e Leite derramado, de Chico Buarque. Orientadora: Maria Nazareth soares Fonseca. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016. Disponível em: Http://Catalogodeteses.Capes.Gov.Br/Catalogo-Teses/#!/. Acesso Em: 02 Set. 2018. DIOGO, Rosália Estelita Gregório. Conceição Evaristo e Paulina Chiziane: escritas de resistência. Orientadora: Terezinha Taborda Moreira. 2013. Tese. (Doutorado em Letras). Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. DOMINGOS, Rosemary de Fátima de Assis. Literatura africana em língua portuguesa: a construção das identidades nas representações das mulheres na prosa de Mia Couto. Orientadora: Jussara Bittencourt de Sá. 2016. Tese. (Doutorado em Ciências da linguagem) - Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em:

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02 set. 2018. FEIL, Roselene Berbigeier. Moçambique (entre) laços poéticos: conversas e versos. Orientadora: Ana Lúcia Liberato Tettamanzy. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. FERREIRA, Derneval Andrade. Vozes em diálogo na literatura angolana: 'Mayombe' de Pepetela e 'Noites de vigília' de Boaventura Cardoso. Orientadora: Maria De Fatima Maia Ribeiro. 2016. Tese. (Doutorado em estudos étnicos e africanos) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. FRANCISCO, Chimica. Autoritarismo e violência pós-coloniais em Xefina e Quem me dera ser onda. Orientadora: Rosani Úrsula Ketzer Umbach. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. GARCIA, Neiva Kampff. Águas de travessia: a matriz poética na obra de Mia Couto. Orientadora: Jane Fraga Tutikian. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. GOMES, Arnon de Miranda. Identidades em Trânsito em romances e contos de Mia Couto. Orientadora: Maria Nazareth Soares Fonseca. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. GRECCO, Fabiana Miraz de Freitas. Casa de silêncio, mar de solidão: o espaço literário nos contos de Orlanda Amarílis e de Sophia de M. B. Andresen. Orientador: Rubens Pereira dos Santos. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Est.Paulista Júlio de Mesquita Filho/Assis, Assis, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. GRIGOLETTO, Cassiana. O Sagrado em narrativas de Mia Couto e Boaventura Cardoso: encruzilhada transcultural e força política de descolonização. Orientador: Roland Gerhard Mike Walter. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. JESUS, Ivo Ferreira de. Africanidades e africanias: resistências a identidades nacionais europocêntricas e hegemônicas para Angola e Brasil em Yaka (Pepetela) e Viva o povo brasileiro (João Ubaldo Ribeiro). Orientadora: Maria de Fátima Maia Ribeiro. 2016. Tese. (Doutorado em Literatura e Cultura) - Universidade Federal Da Bahia, Salvador, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. KAWAHALA, Edelu. Na encruzilhada tem muitos caminhos... Teoria descolonial

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e epistemologia de exu na canção de Martinho da vila. Orientadora: Simone Pereira Schmidt. 2014. Tese. (Doutorado em Literatura) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. LIMA, Kelly Mendes. Rui Knopfli e Manuel Alegre: de exílios e insílios, a poesia. Orientador: Mário Cesar Lugarinho. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. LOUREIRO, Diana Gonçalves. História do conto angolano: da ruptura à independência. Orientador: José Luís Giovanoni Fornos. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MAGALHÃES, Alessandra Cristina Moreira De. Olhares a partir da margem: leituras de Os papéis do inglês, A casa velha das margens e A sul, sombreiro. Orientador: Sílvio Renato Jorge. 2015. Tese. (Doutorado em Estudos de Literatura) -Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MALLET, Isabel Bellezia dos Santos. Dos sinos que dobram pelos do Makulusu. Orientadora: Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MARCELINO, Jacqueline Laranja Leal. Mulheres Negras: tradições orais, artes, ofícios e identidades. Orientadora: Stelamaris Coser. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) -Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MASCENA, Suelany Christtinny Ribeiro. Tecendo os fios da memória: palavra e memória nos romances De Mia Couto. Orientador: Roland Gerhard Mike Walter. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MELONI, Otavio Henrique Rodrigues. Cosmopolitas da mesma aldeia: um estudo sobre a formação e a consolidação do sistema literário moçambicano a partir da obra de quatro poetas. Orientadora: Mariângela Rios de Oliveira. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MICHELETTI, Everton Fernando. Os (des)caminhos da nação: um estudo comparado do espaço em Terra sonâmbula e Mãe, Materno Mar. Orientadora: Tânia Celestino de Macedo. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MOLINA, Maria de Fátima Castro de Oliveira. A hipertextualidade em O outro pé

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da sereia: uma escrita em palimpsesto. Orientador: Orlando Nunes de Amorim. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Est.Paulista Júlio De Mesquita Filho/Sjr. Preto, São José do Rio Preto, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MONTEIRO, Pedro Manoel. Caminhos da ficção cabo-verdiana produzida por mulheres: Orlanda Amarilis, Ivone Aida e Fátima Bettencourt. Orientadora: Simone Caputo Gomes. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. MORAES, Viviane Mendes de. Entre as savanas de aridez e os horizontes da poesia: a multifacetada geopoética de Rui Knopfli. Orientadora: Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. NASSR, Paula Terra. Rui Knopfli um poeta à margem: entre o Tejo e o Zambuze. Orientadora: Jane Fraga Tutikian. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. NEVES, Alexandre Gomes. Narrativas de Ruy Duarte de Carvalho. Orientadora: Rita de Cássia Natal Chaves. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade e São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. PARADISO, Silvio Ruiz. Religião e religiosidade nas literaturas africanas pós-coloniais: um olhar em Things fall apart, de Achebe e O outro pé da sereia, de Mia Couto. Orientador: Sérgio Paulo Adolfo. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. PEREIRA, Kleyton Ricardo Wanderley. O espaço diaspórico nas literaturas africanas de língua portuguesa. Orientador: Roland Gerhard Mike Walter. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. PEREIRA, Raquel Cristina Dos Santos. Ressoantes cantos e traumas em Comissão das lágrimas e maio, Mês de Maria. Orientadora: Ângela Beatriz de Carvalho Faria. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. UFRJ. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. PRIMI, Juliana. Entre dois mundos: a loucura feminina nos romances A Louca de Serrano, de Dina Salústio, e O alegre canto da perdiz, de Paulina Chiziane. Orientadora: Simone Caputo Gomes. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018.

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QUINTILHANO, Silvana Rodrigues. O instinto de nacionalidade na formação do romance angolano: análise de O Segredo da Morta, Antonio de Assis Junior. Orientador: Sérgio Paulo Adolfo. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. RIBEIRO, Giselle Rodrigues. Flagrantes de cotidianos periféricos na literatura contemporânea de Brasil e Cabo Verde. Orientador: Mário Cesar Lugarinho. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. ROCHA, Elisângela Aparecida da. Claridade- o canto e o louvor de um povo no percurso da construção identitária: o diálogo como regionalismo. Orientadora: Simone Caputo Gomes. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. RUCKERT, Gustavo Henrique. Entre pós-colonialismos: Portugal e Angola, diferentes histórias e distintos romances. Orientadora: Jane Fraga Tutikian. 2015. Tese (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTANA, Suely Santos. “O branco veio, tem que ir embora” – temas e tramas literárias na (re)construção da Guiné-Bissau: uma leitura da narração da nação na ―trilogia‖ de Abdulai Sila. Orientadora: Maria de Fátima Maia Ribeiro. 2014. Tese. (Doutorado em Estudos Étnicos e Africanos) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Alexsandra Machado da Silva dos. Poética da negociação cultural em Paulina Chiziane e Mia Couto. Orientador: Alexandre Montaury Baptista Coutinho. 2013. Tese. (Doutorado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Cristina Mielczarski do. Entre o bronze da letra e o cristal da voz: interditos da voz na ficção de Mia Couto. Orientadora: Ana Lúcia Liberato Tettamanzy. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Donizeth Aparecido dos. Sagas familiares e narrativas de fundação engajadas de Érico Veríssimo e Pepetela. Orientadora: Tânia Celestino de Macedo. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Joelma Gomes dos. O lugar de Luandino Vieira na tradição do conto

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147

angolano. Orientador: Anco Márcio Tenório Vieira. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal De Pernambuco, Recife, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Nadson Vinicius dos. Violência e memória: relatos testemunhais em diálogo na África e América. Orientador: José Luís Giovanoni Fornos. 2017. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, 2017. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SANTOS, Tiago Ribeiro dos. Entre tralhas e traumas de guerra: o gesto testemunhal da escritora Paulina Chiziane. Orientadora: Simone Pereira Schmidt. 2015. Tese. (Doutorado em literatura) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SARAIVA, Sueli da Silva. O pacto das elites e sua representação no romance em Angola e Moçambique. Orientadora: Rita de Cássia Natal Chaves. 2013. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SILVA, Assunção de Maria Sousa e. Nações entrecruzadas: tessitura de resistência na poesia de Conceição Evaristo, Paula Tavares e Conceição Lima. Orientadora: Maria Nazareth Soares Fonseca. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SILVA, Avani Souza. Narrativas orais, literatura infantil e juvenil e identidade cultural em Cabo Verde. Orientadora: Simone Caputo Gomes. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade De São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SILVA, Cinthia Renata Gatto. Dramaturgia do angolano José Mena Abrantes em perspectiva pós-colonial. Orientadora: Sônia Aparecida Vido Pascolati. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SILVA, Luciana Morais da. Figurações da personagem e o universo insólito nos novos discursos fantásticos: narrativas curtas de Murilo Rubião, Mário de Carvalho e Mia Couto. Orientador: Flávio Garcia Queiroz de Melo. 2016. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SILVA, Rogério Max Canedo. O romance histórico da colonização: a figuração artística transgressiva do passado em O tetraneto del-rei, de Haroldo Maranhão, A gloriosa família, de Pepetela, e As naus, de António Lobo Antunes. Orientador: Edvaldo Aparecido Bergamo. 2016. Tese. (Doutorado em Literatura) -Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em:

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http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SILVA, Zoraide Portela. José Luandino Vieira: Memórias e guerras entrelaçadas com a escrita. Orientadora: Rita de Cássia Natal Chaves. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SOUZA, Iracy Conceição de. A experiência poética com o indizível: Ana Luísa Amaral, João Maimona e Salgado Maranhão. Orientadora: Ângela Beatriz de Carvalho Faria. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio De Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SOUZA, Maria Salete Daros de. Cabe o amor no relato da guerra? Testemunhos femininos e o Atlântico pós-colonial. Orientadora: Simone Pereira Schmidt. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. SOUZA, Waldelice Maria Silva de. A rotação das identidades: o transe como dínamo da arquitetura das personalidades nos oríkìs e dos personagens na obra de Pepetela. Orientadora: Martha Alkimin de Araújo Vieira. 2014. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. VEIGA, Luiz Maria. De armas na mão: personagens-guerrilheiros em romances de Antonio Callado, Pepetela e Luandino Vieira. Orientadora: Rita de Cassia Natal Chaves. 2015. Tese. (Doutorado em Letras) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018. VIVIAN, Ilse Maria da Rosa. A poética da memória: uma leitura fenomenológica do eu em ―Terra sonâmbula‖ e ―Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra‖, de Mia Couto. Orientador: Noelci Fagundes da Rocha. 2014. Tese. (Doutorado em Linguística e Letras) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 02 set. 2018.

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149

ANEXO B - TABELA 1 – AUTORES(AS) PRESENTES NAS TESES

INVESTIGADAS42

(Continua)

Autor(as) Quantidade

Mia Couto 20

Pepetela 10

Paulina Chiziane 8

Não informado no resumo 6

Boaventura Cardoso 6

Conceição Evaristo 6

José Eduardo Agualusa 4

José Luandino Vieira 4

João Paulo Borges Coelho 3

Rui Knopfli 3

Lobo Antunes 3

Chinua Achebe 2

Luís Carlos Patraquim 2

Marlene NourbeSe Philip 2

Orlanda Amarílis 2

Paula Tavares 2

Ruy Duarte de Carvalho 2

Sans Soleil 2

Teolinda Gersão 2

Abdulai Sila 1

Alê Abreu 1

Alice Walker 1

Ana Luisa Amaral 1

Antonio Callado 1

Antônio de Assis Junior 1

Aristides Pereira 1

Arménio Vieira 1

Arnaldo Santos 1

Baltasar Lopes 1

Chico Buarque 1

Conceição Lima

42

Cada autor foi contado todas as vezes que teve suas obras analisadas nas teses investigadas, buscando nos resumos títulos e palavras-chave.

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150

Tabela 1 – Autores(as) presentes nas teses investigadas

(conclusão)

Corsino Fortes 1

Dina Salústio 1

Dya Kasembe e Paulina Chiziane 1

Eliane Brum 1

Erico Verissimo 1

Evel Rocha 1

Fátima Bettencourt 1

Filinto Elísio 1

Germano Almeida 1

Haroldo Maranhão 1

Helder Macedo 1

Ivone Ainda 1

João Maimona 1

João Ubaldo Ribeiro 1

Joaquim Chissano 1

Jorge Araújo 1

José Mena Abrantes 1

Juvenal Bucuane 1

Lídia Jorge 1

Luandino Vieira 1

Machado de Assis 1

Manuel Alegre 1

Manuel Rui 1

Marcus Vinícius Faustini 1

Margarida Calafate Ribeiro 1

Mário de Carvalho 1

Martinho da Vila 1

Murilo Rubião 1

Ngugi wa Thiong'o 1

Patrick Chamoiseau e Édouard Glissant 1

Ruy Duarte de Carvalho 1

Salgado Maranhão 1

Sophia de Mello Breyner Andresen 1

Vera Duarte 1

William Shaskspeare 1

Total geral 135

Fonte: dados da pesquisa

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ANEXO C - TABELA 2 – AUTORES(AS) PRESENTES NAS TESES

INVESTIGADAS (INDIVIDUALMENTE E COMPARATIVAMENTE)

(continua)

Autores(as) Total

Abdulai Sila 2

Ana Luisa Amaral. João Maimona. Salgado Maranhão 1

Antonio Callado. Pepetela. José Luandino Vieira. 1

Antônio de Assis Junior 1

Baltasar Lopes. Jorge Araújo. 1

Boaventura Cardoso. 1

Boaventura Cardoso. Mia Couto 1

Boaventura Cardoso. Pepetela. Paulina Chiziane. Mia Couto. 1

Chinua Achebe. Mia Couto 1

Chinua Achebe. Ngugi wa Thiong'o. Mia Couto 1

Conceição Evaristo. Paula Tavares. Conceição Lima 1

Conceição Evaristo. Paulina Chiziane. 1

Corsino Fortes. Arménio Vieira. Filinto Elísio 1

Dina Salústio. Paulina Chiziane 1

Erico Verissimo. Pepetela 1

Helder Macedo. Luandino Vieira. Lídia Jorge. Pepetela. Lobo Antunes. José Eduardo Agualusa.

1

João Paulo Borges Coelho 1

João Paulo Borges Coelho. Mia Couto. Chico Buarque. 1

Joaquim Chissano. Aristides Pereira 1

José Eduardo Agualusa 1

José Eduardo Agualusa. Alê Abreu. Lourenço Mutarelli. Eliane Brum. 1

José Luandino Vieira 3

José Mena Abrantes 1

Juvenal Bucuane. Manuel Rui. 1

Lobo Antunes. Boaventura Cardoso 1

Luís Carlos Patraquim 1

Luís Carlos Patraquim. Mia Couto. 1

Machado de Assis. Germano Almeida. Jorge Amado. João Paulo Borges Coelho 1

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152

Tabela 2 – Autores(as) presentes nas teses investigadas (individualmente e

comparativamente)

(conclusão)

Marcus Vinícius Faustini. Evel Rocha 1

Margarida Calafate Ribeiro. Dya Kasembe e Paulina Chiziane. 1

Martinho da Vila 1

Mia Couto 8

Mia Couto. Boaventura Cardoso. 1

Mia Couto. Patrick Chamoiseau e Édouard Glissant. 1

Murilo Rubião. Mário de Carvalho. Mia Couto 1

Não informada no resumo 6

Odete Semedo. Abdulai Sila 1

Orlanda Amarílis. Ivone Ainda. Fátima Bettencourt 1

Orlanda Amarílis. Sophia de Mello Breyner Andresen. 1

Paula Tavares 1

Paulina Chiziane 2

Paulina Chiziane. Conceição Evaristo 1

Paulina Chiziane. Mia Couto. 1

Pepetela 1

Pepetela. Boaventura Cardoso. 1

Pepetela. João Ubaldo Ribeiro 1

Pepetela. José Eduardo Agualusa 1

Pepetela. Lobo Antunes. Haroldo Maranhão 1

Rui Knopfli 2

Rui Knopfli. Manuel Alegre 1

Ruy Duarte de Carvalho 1

Vera Duarte. Conceição Evaristo. Marlene NourbeSe Philip, 1

Total geral de teses 74

Fonte: dados da pesquisa

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153

ANEXO D - TABELA 3 – ORIENTADORES(AS) DAS TESES INVESTIGADAS

(continua)

Orientadores(as) Total de teses

orientadas

Simone Caputo Gomes 6

Maria Nazareth Soares Fonseca 5

Rita de Cássia Natal Chaves 4

Simone Pereira Schmidt 3

Roland Gerhard Mike Walter 3

Maria de Fátima Maia Ribeiro 3

Jane Fraga Tutikian 3

Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco 3

Ana Lucia Liberato Tettamanzy 3

Tânia Celestino de Macedo 2

Sergio Paulo Adolfo 2

Mário Cesar Lugarinho 2

José Luís Giovanoni Fornos 2

Gisele Manganelli Fernandes 2

Ângela Beatriz de Carvalho Faria 2

Alexandre Montaury Baptista Coutinho 2

Anco Márcio Tenório Vieira 1

André Luiz de Lima Bueno 1

Benjamin Abdala Junior 1

Cláudio Alves Furtado 1

Edvaldo Aparecido Bergamo 1

Emerson da Cruz Inacio 1

Flavio Garcia Queiroz de Melo 1

Jussara Bittencourt de Sá 1

Lynn Mario Trindade Menezes de Souza 1

Marcos Antônio Alexandre 1

Maria Célia de Moraes Leone 1

Maria Teresa Salgado Guimarães da Silva 1

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154

Tabela 3 – Orientadores(as) das teses investigadas

(conclusão)

Mariângela Rios de Oliveira 1

Martha Alkimin de Araújo Vieira 1

Noelci Fagundes da Rocha 1

Orlando Nunes de Amorim 1

Patricia da Silva Cardoso 1

Raquel Illescas Bueno 1

Regina Celia dos Santos 1

Rosani Ursula Ketzer Umbach 1

Rubens Pereira dos Santos 1

Sílvio Renato Jorge 1

Sonia Aparecida Vido Pascolati 1

Stelamaris Coser 1

Tania Maria Pereira Sarmento Pantoja 1

Terezinha Taborda Moreira. 1

Vima Lia de Rossi Martin 1

Total de teses 74

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155

ANEXO E - TABELA 4 – OBRAS ESTUDADAS NAS TESES INVESTIGADAS

(continua)

Teses Obras estudadas43

1 Memórias póstumas de Brás Cubas. A morte e a morte de Quincas Berro Dágua. As visitas do Doutor Valdez.

2 Teoria Geral do Esquecimento. Nação Crioula

3 As duas sombras do rio

4 Teoria geral do esquecimento. O menino e o mundo. O natimorto: um musical silencioso. Uma duas

5 Dizanga dia Muenhu. O fogo da fala. A morte do velho Kipacaça

6 A última tragédia. Eterna paixão. Mistida.

7 As duas sombras do rio. Crónica da rua. Rainhas da noite.

8 Chris Marker

9 Ventos do Apocalipse. Ponciá Vicêncio.

10 L‘intraitable beauté du monde – adresse à Barack Obama. E se Obama fosse africano?

11 Preces e Súplicas ou Os Cânticos da Desesperança. Poemas da Recordação e Outros Movimentos. She Tries Her Tongue, Her Silence Softly Breaks

12 A gloriosa família. Nação Crioula

13 A cabeça calva de Deus e Sinos de Silêncio: canções e haikais (2015), de Corsino Fortes; O Brumário. Derivações do Brumário. Sequelas do Brumário . Fantasmas e fantasias do Brumário. Do lado de cá da rosa. Li Cores e Ad Vinhos. Mexendo no baú: Vasculhando o U . Zen limites.

14 Paisagem com mulher e mar ao fundo. A árvore das palavras. Terra sonâmbula. Vinte e zinco.

15 Balada de Amor ao Vento. O Alegre canto da Perdiz

16 Os papeis do inglês. As paisagens propícias. A terceira metade. Como se o mundo não tivesse leste. Vou lá visitar pastores. Desmedida.

17 As Visitas do Dr. Valdez. O Outro Pé da Sereia. Leite Derramado

18 Ponciá Vicêncio. O alegre canto da perdiz

19 Vinte e zinco, A chuva pasmada, O outro pé da sereia e A confissão da leoa

20 Vinte e Zinco. Terra Sonâmbula . Antes de Nascer o Mundo. O O Último Voo do Flamingo.

21 Mayombe. Noites de Vigília

22 A flecha de Deus. Pétalas de sangue. O último voo do flamingo.

23 Xefina. Quem me dera ser onda

24 Vinte e zinco. O outro pé da sereia. Sapatos de tacão alto: conto. Prostituição auditiva: conto. Falas do velho tuga: : conto. A benção: conto

25 A árvore que tinha batucada (conto). Mãe, materno mar. O outro pé da sereia.

26 Yaka. Viva o povo brasileiro

27 Os papéis do inglês. A casa velha das margens. A sul. O sombreiro

28 Nós os do Makulusu

29 The Color Purple. Ponciá Vicêncio. Niketche

43

São 74 teses investigadas, porém somente 57 informaram em seu resumo quais foram as obras estudas, portanto 17 teses não informaram no resumo este dado

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156

TABELA 4 – Obras estudadas nas teses investigadas

(conclusão)

30 Terra Sonâmbula. Antes de Nascer o Mundo

31 Monção. Raiz de orvalho

32 Mãe, Materno Mar. Terra sonâmbula

33 O outro pé da sereia

34 Cais-do-Sodré té Salamansa. Vidas vividas. Semear em pó

35 Os papeis do inglês . As paisagens propícias. A terceira metade. Como se o mundo não tivesse leste. Vou lá visitar pastores. Desmedida: Luanda-São Paulo-São Francisco e volta. Crônicas do Brasil.

36 Things Fall Apart .O outro pé da sereia.

37 Comissão das Lágrimas. Maio, mês de Maria

38 Louca de Serrano. O alegre canto da perdiz

39 O segredo da morta

40 Guia afetivo da periferia. Marginais

41 Claridade - revista de letras e artes

42 Estação das chuvas. As naus. Partes de África. Nosso musseque. A costa dos murmúrios. Mayombe

43 Eterna paixão. A última tragédia. Mistida

44 Balada de amor ao vento. O alegre canto da perdiz. O último voo do flamingo

45 Vozes Anoitecidas. Cada Homem é Uma Raça, Estórias Abensonhadas.Contos do Nascer da Terra Na Berma de Nenhuma Estrada e outros contos. O Fio das Missangas. Vinte e Zinco. A Confissão da Leoa. Mulheres de Cinzas.

46 O continente. O retrato. O arquipélago. Yaka

47 Vidas, lugares e tempos. Uma luta, um partido, dois países,

48 Ventos do Apocalipse e O Alegre Canto da Perdiz,

49 Maio: mês de Maria. Predadores. O sétimo juramento. O último voo do flamingo

50 Chiquinho. Comandante Hussi

51 A órfã do Rei. Sem herói nem reino ou o azar da Cidade de S. Filipe de Benguela com o fundador que lhe tocou em sorte. Sequeira, Luís Lopes ou o mulato dos prodígios. Kimpa Vita, a profetiza Ardente. Tari-Yari, misericórdia e poder no Reino do Congo e Ana, Zé e os escravos.

52 O tetraneto del-rei. A gloriosa família. As naus

53 Nós, os do Makulusu. O livro dos rios. O livro dos guerrilheiros

54 África no feminino: as mulheres portuguesas e a guerra colonial. O livro da paz da mulher angolana: as heroínas sem nome

55 Mayombe. Lueji. Yaka

56 Quarup. Bar Don Juan. Reflexos do baile. Sempreviva. As aventuras de Ngunga.Mayombe. A geração da utopia. O planalto e a estepe. O livro dos rios. O livro dos guerrilheiros.

57 Terra sonâmbula. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

Fonte: dados da pesquisa

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157

ANEXO F - TABELA 5 – ASSUNTOS DAS PALAVRAS-CHAVE

(continua)

Assuntos das palavras-chave Total

Mia Couto 13

Memória 8

Literatura moçambicana 8

Identidade 8

Angola 5

Boaventura Cardoso 5

História 5

Literatura 5

Literatura angolana 5

Literatura cabo-verdiana 5

Literatura comparada 4

Narrativa 4

Poesia 4

Moçambique 3

Oralidade 3

Pepetela 3

Pós-colonialismo 3

Representação 3

Romance 3

Violência 3

Cabo Verde 2

Chinua Achebe 2

Conto 2

Escrita 2

Ficção 2

Gênero 2

Hibridação 2

Identidades 2

Literatura africana 2

Literatura angolana contemporânea 2

Literatura brasileira 2

Literaturas africanas 2

Literaturas de língua portuguesa 2

Luandino vieira 2

Memórias 2

Mulheres 2

Nação 2

O outro pé da sereia 2

Poesia moçambicana 2

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158

Tabela 5 – Assuntos das palavras-chave

(continua)

Reconstrução 2

Religiosidades 2

Ruy Duarte de Carvalho 2

Voz angolana 2

Abdulai Sila 2

África 1

Africanias 1

Africanidades 1

Água 1

Agualusa 1

América do Sul 1

Amilcar Cabral 1

Amor e guerra 1

Ancestrais 1

Angústia 1

Anticolonialismo em Angola 1

Antônio Callado 1

António Lobo Antunes 1

Arménio Vieira 1

Arnaldo Santos 1

Artes e ofícios 1

Atlântico pós-colonial 1

Atos de fingir: simulacro 1

Autoria feminina 1

Autoritarismo 1

Barack Obama 1

Bastardia 1

Brasil 1

Brasil claridade 1

Cabanagem 1

Campo literário 1

Candomblé como método de análise da literatura africana 1

Cantos de dançar 1

Capitão David 1

Chiquinho 1

Chris Marker 1

Ciência: ficção 1

Colonizador-colonizado 1

Comandante Hussi 1

Comissão das lágrimas 1

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159

Tabela 5 – Assuntos das palavras-chave

(continua)

Comunitarismo cultural 1

Condição feminina 1

Construções identitárias 1

Contos 1

Devir 1

Diálogo 1

Diáspora africana 1

Dina Salústio 1

Ditadura militar 1

Dramaturgia angolana 1

Elites 1

Epistemologia descolonial 1

Epistolariedade 1

Escritas 1

Escritura de autoria feminina 1

Espaço 1

Espaço e tempo na literatura 1

Espaço literário 1

Estética 1

Estória 1

Estrutura 1

Estudo de personagens 1

Estudo dos personagens em Pepetela 1

Estudos narrativos 1

Etnicidade 1

Ex-cêntrico 1

Exclusão 1

Exílio 1

Fátima Bettencourt 1

Feminino 1

Ficção: história 1

Figuração de personagens 1

Filinto Elísio 1

Geopoética 1

Grotesco 1

Guerra civil 1

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160

Tabela 5 – Assuntos das palavras-chave

(continua)

Guerra colonial 1

Guerra de libertação 1

Guerra fria 1

Guerra moçambicana 1

Guerras 1

Guiné-Bissau 1

Hermenêutica do cotidiano 1

Hipertextualidade 1

História da literatura 1

Histórias 1

Historiografia 1

Identidade cultural 1

Identidade nacional 1

Imanência 1

Insólito ficcional 1

Instinto de nacionalidade 1

Intelectual e política 1

Intertextualidade 1

Ironia 1

Ironia e intertextualidade 1

Ironia: humor 1

Ivone ainda 1

João Maimona 1

João Paulo Borges Coelho 1

José Luandino Vieira 1

Juvenal Bucuane 1

Lealdade 1

Língua 1

Literatura africana (português) 1

Literatura africana de língua portuguesa 1

Literatura contemporânea 1

Literatura de língua portuguesa 1

Literatura e história 1

Literatura e história angolanas 1

Literatura engajada 1

Literatura guineense 1

Literatura guineense: crítica e interpretação 1

Literatura portuguesa 1

Literaturas africanas de língua portuguesa 1

Livro didático 1

Lugares de memória 1

Luís Carlos Patraquim: profanação 1

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161

Tabela 5 – Assuntos das palavras-chave

(continua) Manuel Rui 1

Matriz poética 1

Mês de Maria 1

Metaficção historiográfica 1

Mimesis 1

Mito 1

Moçambique 1

Morte do romance 1

Movimentos intelectuais em angola 1

Mulher 1

Mulheres negras 1

Mundos possíveis 1

Nação em África 1

Narrador 1

Narrativa contemporânea angolana 1

Narrativas bissau-guineenses 1

Narrativas de fundação 1

Ngugi wa thiong'o 1

O real como impossível de ser simbolizado 1

O segredo da morta 1

Obra de Pepetela 1

Obra poética 1

Obra-mundo 1

Oratura 1

Orlanda Amarílis 1

Pacto faústico 1

Paisagens literárias 1

Palavra 1

Paradigma 1

Patrick Chamoiseau 1

Paulina Chiziane 1

Paulina Chiziane: loucura 1

Percepção 1

Personagem 1

Personagens-guerrilheiros 1

Poesia contemporânea 1

Poesia lusófona: Ana Luísa Amaral 1

Poética 1

Portugal 1

Portugal e angola 1

Pós-colonial 1

Pós-colonialidade 1

Pós-independência 1

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162

Tabela 5 – Assuntos das palavras-chave

(conclusão)

Processos históricos 1

Próspero e Caliban 1

Protagonismo feminino 1

Psicanálise e literatura 1

Psicanálise lacaniana 1

Realidades periférica 1

Relações raciais 1

Religião 1

Religiões de matriz africana 1

Religiosidade 1

Resistência-violência 1

Romance angolano 1

Romance contemporâneo 1

Romance moçambicano 1

Romances 1

Sagas familiares 1

Sagrado 1

Salgado Maranhão 1

Sans Soleil 1

Sentidos 1

Sistema literário

1

Subalternidade 1

Sujeito hibrido 1

Sujeitos discursivos 1

Tempo 1

Teolinda Gersão 1

Teoria literária 1

Testemunho 1

Testemunho feminino 1

Things fall apart 1

Tradição 1

Tradições negras 1

Tradições orais 1

Trágico 1

Transfiguração do passado 1

Trauma 1

Viagem 1

Total geral 344