PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Carlos Alberto Lopes … · 2019. 11....
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Carlos Alberto Lopes
Mensuração do Capital Social em Comunidades no Interior do Estado de São Paulo
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL
SÃO PAULO
2012
i
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Carlos Alberto Lopes
Mensuração do Capital Social em Comunidades no Interior do Estado de São Paulo
MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE EM PSICOLOGIA SOCIAL sob a orientação do Prof. Doutor Salvador Antonio Meirelles Sandoval
SÃO PAULO
2012
Errata
1) No Gráfico 4.7 na página 115 as colunas em amarelo mais forte representam as vistas feitas eas colunas em amarelo mais claro representam as visitas recebidas.
iii
Dedico este trabalho à Nancy Rosa Lopes, minha
esposa, e ao meu querido filho Guilherme Rosa
Lopes, companheiros de jornada e de aprendizado.
Com apreço à Oswaldo Rosa (in memoriam).
iv
Agradecimentos
Essencialmente, esta dissertação trata a respeito de redes e capital social, e sua
realização só foi possível porque pude dispor das redes e do capital social que
angariei ao longo da minha vida até este momento.
A minha autoria neste trabalho consistiu em arranjar os elementos variados dessa
ampla rede que tanto tem elementos materiais, imateriais e humanos. A própria
dissertação em si mesma tanto é um ponto de chegada dessa rede como um ponto
de partida para outras redes. Assim esse é um produto feito em rede e nestes
agradecimentos quero me ater aos seus elementos humanos em várias dimensões.
Agradeço ao apoio afetivo propiciado por Nancy Rosa e Guilherme Lopes, esposa e
filho, que me ampararam com esse elemento essencial da dimensão humana para
uma digna produção intelectual;
Agradeço a meus pais, Valdeci e Josefina Lopes, que desde antes dos primeiros
passos, por seus exemplos, me ensinaram que só o trabalho perseverante produz
resultados efetivos;
Agradeço ao Senac SP, instituição na qual pude aprender na prática muito sobre
redes e capital social e ao mesmo tempo possibilitou parte das condições materiais
para este trabalho, sendo ao mesmo tempo meu maior financiador;
Nesta instituição quero agradecer ao apoio e ao crédito de Luciana Duarte e à
diversidade de entendimentos, aos diálogos e historio profissional de meus colegas
de construção social Lourdes Alves e Jorge Duarte;
Também dentro desta instituição pude contar com a valorosa ajuda de alguns
colegas em unidades no estado de São Paulo e especialmente agradeço à Edna
Almeida Dias do São Rafael de Araçatuba, à Lucia Koeler do Gramadinho de
Itapetininga e à Antonio Cícero de Araújo do Santo Antonio de São José do Rio
Preto, que ajudaram na articulação das pessoas e na aplicação dos questionários,
que generosamente me emprestaram suas redes e seus capitais sociais. Outros
colegas também compuseram essa ampla rede: William Medeiros e Maria Paula
v
Puglisi de São Paulo, Maria Lucia Alves e Celso Tucci de São José do Rio Preto e
Carla Rangel de Ribeirão Preto;
E esses amigos também têm suas redes nas comunidades em que atuam com as
quais também contar na consecução desse trabalho. Especialmente agradeço à
Gilson Miguel da Silva, Claudinéia Amado, e Maria Cleide Martins.
Sem poder citar nominalmente, quero agradecer a todas as pessoas que
responderam ao questionário, que gentilmente abriram as portas de suas casas para
nos receber, e além de dar suas opiniões, nos ofereceram café, bolo, água e muita
simpatia;
Nessa rede, no campo intelectual, quero agradecer a três pessoas, que à seus
estilos e crenças, me emprestaram um pouco de sua sabedoria nesse campo de
estudo. Na ordem que passaram a compor a rede da qual faço parte, agradeço a
Augusto de Franco com quem tantas vezes pude conversar sobre redes, política e
projetos e com quem descobri pela crítica audaz os primeiros entendimentos sobre
capital social. Agradeço a Ladislau Dowbor pela generosidade em compartilhar um
pouco da sua sabedoria e com quem pude rever conceitos e ampliar horizontes no
tema da pesquisa. Agradeço imensamente à Salvador Sandoval, meu orientador,
que com a sapiência dos verdadeiros mestres me apontou os caminhos e deixou
que eu os percorresse livremente para bem poder aprender, que me recebeu
inúmeras vezes em suas férias para conversas que foram além das redes e do
capital social;
Neste campo, quero também agradecer ao coletivo dos colegas pesquisadores do
Núcleo de Psicologia Política da PUC SP, que me ouviram e acolheram criticamente
minhas idéias e planos;
Agradeço à Deus na sua mais ampla dimensão, que me facultou viver esse
momento e cumprir um pouco mais da minha missão de aprendizado.
Essa rede é ampla, generosa, gentil e constituída pela fascinante diversidade
humana, e eu poderia escrever muito mais a respeito dela, mas os agradecimentos
precisam dar lugar ao texto para que a própria rede possa continuar.
vi
Lista de Gráficos
Gráfico 4.1: Nível e freqüência de participações em religiões......................... 87
Gráfico 4.2a: Nível de percepção de participação geral e em religiões .......... 88
Gráfico 4.2b: Percepção do nível de participação e freqüência de
participações no geral .................................................................................. 88
Gráfico 4.3: Percentual de encontros públicos para conversar
associados à outros motivos para encontros públicos ................................. 94
Gráfico 4.4: Percentual de telefonemas feitos e recebidos ............................ 100
Gráfico 4.5: Mediana de Renda domiciliar e percentual de posse de
telefones ..................................................................................................... 102
Gráfico4.6: Media de posse de celulares ....................................................... 102
Gráfico 4.7: Percentual de visitas feitas e recebidas associado aos
cruzamentos entre grupos e extratos sociais ............................................... 115
Gráfico 4.8: Comparativo em percentual de respostas "ambas" para os
tipos de visitas nos três bairros ................................................................... 118
Gráfico 4.9: Grau de confiança-desconfiança individual ................................ 122
Gráfico 4.10: Relação entre média de confiança institucional e
coeficiente freqüência de participação em grupos e organizações .............. 127
Gráfico 4.11: Comparativo entre horas de trabalho entre horas de
trabalho e participantes em ações conjuntas .............................................. 137
Gráfico 4.12: Comparativo entre coeficientes de freqüências em
grupos e organizações de participantes e não participantes de ações
conjuntas ..................................................................................................... 138
Gráfico 4.13: Percentual de pessoas que saem às ruas
exclusivamente para conversar desagregados por participantes e
não participantes em ações conjuntas ......................................................... 139
Gráfico 4.14: Média de união das pessoas em desastres e ajuda às
vítimas em fatalidades ................................................................................. 145
Gráfico 4.15: Média de percepção de proximidade e diferença ...................... 147
Gráfico 4.16: Percentual de violência a partir de problemas de
relacionamento por diferenças ..................................................................... 149
vii
Gráfico 4.17: Comparativo da quantidade e variação de problemas de
relacionamento gerados por diferença vs diversidade de grupos e
organizações e extensão das redes ............................................................. 151
Gráfico 4.18: Médias de sentimento de segurança em casa e nas ruas ......... 153
Gráfico 4.19: Percentual de freqüência de audiência de rádio em vezes
por semana e preferência por tipo de programa .......................................... 157
Gráfico 4.20: Percentual de audiência de rádio desagregado para
informação e entretenimento sobre os pontos de audiência de rádio .......... 158
Gráfico 4.21: Percentual e média de audiência de televisão
desagregados em informação e entretenimento .......................................... 159
Gráfico 4.22: Percentual e média de Leitura de jornais .................................. 161
Gráfico 4.23a: Percentual de leitores de jornal desagregados por nível
educacional .................................................................................................. 161
Gráfico 4.23b: Comparativo da renda média domiciliar desagregada
por leitores e não leitores de jornais ............................................................ 162
Gráfico 4.24: Percentual de acesso e média de horas e de quantidade
de locais de acesso à internet ...................................................................... 164
Gráfico 1: Percentual de respondentes por bairro ........................................... 189
Gráfico 2: Percentual entre respondentes participantes e não
participantes da Rede Social ....................................................................... 189
Gráfico 3: Média e mediana da renda domiciliar ............................................. 190
Gráfico 4: Percentual dos respondentes por gênero ....................................... 190
Gráfico 5: Percentual por faixa de idade ......................................................... 190
Gráfico 6: Percentual por religião .................................................................... 191
Gráfico 7: Média de tempo em anos de residência no bairro .......................... 191
Gráfico 8: Média do nível de educacional a partir da conversão em
pontos .......................................................................................................... 192
Gráfico 9: Percentual por faixa de horas de trabalho ...................................... 192
Gráfico 10: Percentual por situação domiciliar ................................................ 193
Gráfico 11: Percentual por tipo de família ....................................................... 193
Gráfico 12: Média de filhos nos domicílios ...................................................... 193
Gráfico 13: Quantidade de pessoas próximas ................................................ 200
viii
Gráfico 14: Comparativo de pessoas próximas formadas por laços
fracos e laços fortes ..................................................................................... 200
Gráfico 15: Mediana de pessoas para pedir dinheiro emprestado .................. 200
Gráfico 16: Percentual de pessoas que podem emprestar dinheiro ................ 201
Gráfico 17: Mediana de pessoas para pedir ajuda em emergências .............. 201
Gráfico 18: Percentual de pessoas que podem ajudar em emergências ........ 201
Gráfico 19: Mediana do total de telefonemas feitos e recebidos ..................... 201
Gráfico 20: Mediana de atividades sociais ...................................................... 202
Gráfico 21: Coeficiente de encontros públicos ................................................ 202
Gráfico 22: Percentual comparativo de pessoas e canais de
informação e comunicação como fontes de informações sobre a
prefeitura e economia .................................................................................. 203
Gráfico 23: Coeficiente do total de visitas feitas e recebidas .......................... 203
Gráfico 24a: Comparativo do percentual de visitas na mesma família
ou parentes e entre amigos e conhecidos ................................................... 203
Gráfico 24b: Comparativo do percentual de visitas entre pessoas da
mesma religião e religiões diferentes ........................................................... 204
Gráfico 24c: Comparativo do percentual de visitas entre pessoas da
mesma classe social e de classes sociais diferentes ................................... 204
Gráfico 25: Média de confiança e desconfiança individual .............................. 205
Gráfico 26: Média de obtenção de cuidados com crianças em viagem .......... 206
Gráfico 27: Média de percepção de ajuda mútua ............................................ 206
Gráfico 28: Mediana de pessoas que pediram ajuda ...................................... 206
Gráfico 29: Média da percepção em disposição em ajudar ............................ 207
Gráfico 30: Percentual de pessoas que participaram de ações
conjuntas ...................................................................................................... 207
Gráfico 31: Interesse eleitoral ......................................................................... 208
Gráfico 32: Média da possibilidade de união de pessoas em desastres ......... 208
Gráfico 33: Média da Possibilidade de União de Pessoas em
fatalidades .................................................................................................... 208
Gráfico 34: Média de percepção de proximidade ............................................ 209
Gráfico 35: Média de percepção de diferenças ............................................... 209
Gráfico 36: Percentual de problemas de relacionamento por diferença .......... 210
ix
Gráfico 37: Percentual de violência a partir de problemas de
relacionamento por diferença ....................................................................... 210
Gráfico 38: Média geral de sentimento de segurança nas casas e nas
ruas .............................................................................................................. 211
Gráfico 39: Média percepção de violência ...................................................... 211
Gráfico 40: Percentual de pessoas vítimas de violência ................................. 212
Gráfico 41: Quantidade de pessoas que tiveram a casa assaltada ................ 213
Gráfico 42: Percentual de audiência de rádio ................................................. 213
Gráfico 43: Pontos de audiência de rádio para informação e
entretenimento (conversão de freqüência para pontos de audiência) .......... 213
Gráfico 44: Percentual de audiência de rádio para informação ou
entretenimento (conversão de freqüência para pontos de audiência) .......... 213
Gráfico 45: Média de audiência de televisão ................................................... 214
Gráfico 46: Média de audiência de televisão para informação e
entretenimento ............................................................................................. 214
Gráfico 47: Percentual de leitura de jornais .................................................... 214
Gráfico 48: Média de leitura de jornais ............................................................ 215
Gráfico 49: Percentual de outras pessoas no domicílio que fazem
leitura de jornal ............................................................................................. 215
Gráfico 50: Percentual de posse de telefone fixo e celular e média de
celulares por domicílio ................................................................................. 215
Gráfico 51: Percentual de existência de telefone público próximo ao
domicílio dos respondentes ......................................................................... 216
Gráfico 52: Percentual de acesso à internet ................................................... 216
Gráfico 53: Média de horas e de quantidade de locais de acesso à
internet ......................................................................................................... 216
Gráfico 54: Média de sentimento de felicidade ............................................... 217
Gráfico 55: Média de percepção do impacto em atuar pela comunidade ....... 218
Gráfico 56: Média de satisfação pessoal ........................................................ 218
x
Lista de Tabelas
Tabela 1.1: Tipos de capital no campo econômico .......................................... 10
Tabela 2.1: Dimensões do capital social e das redes sociais .......................... 50
Tabela 2.2: Características das dimensões bridging e bonding do
capital social e das redes sociais ................................................................. 51
Tabela 3.1: Resumo das categorias e indicadores .......................................... 64
Tabela 3.2: Resumo dos Dados Agregados .................................................... 84
Tabela 4.1: Percentual de pessoas como fonte de informações sobre a
prefeitura e a economia .............................................................................. 113
Tabela 4.2: Percentual de visitas entre pessoas da mesma religião e
religiões diferentes desagregados por opção religiosa ............................... 116
Tabela 1: Percentual por nível de educação formal ......................................... 191
Tabela 2: Percentual por situação de trabalho ................................................ 192
Tabela 3: Componentes, indicadores e medidas do macro indicador
medidas da vida organizacional da comunidade ......................................... 197
Tabela 4: Diversidade e percentual de participações em grupos e
organizações institucionais e não institucionais ........................................... 198
Tabela 5: Coeficiente do nível de participação em grupos e
organizações institucionais e não institucionais ........................................... 198
Tabela 6: Coeficiente da freqüência de participação em grupos e
organizações institucionais e não institucionais ........................................... 199
Tabela 7: Coeficiente da contribuição com bens ou dinheiro para
grupos e organizações institucionais e não institucionais ............................ 199
Tabela 8: Detalhamento dos índices no macro indicador medidas da
confiança social ............................................................................................ 205
Tabela 9: Médias de confiança institucional .................................................... 205
Tabela 10: Medidas de participação coletiva ................................................... 207
Tabela 11: Medidas de coesão e inclusão social ............................................. 209
Tabela 12: Percentual de tipos de diferenças que geram problemas de
relacionamento ............................................................................................. 210
Tabela 13: Medidas de acesso à canais de informação e comunicação ......... 212
Tabela 14: Percentual das prioridades de acesso na internet ......................... 217
Tabela 15: Medidas de empoderamento ......................................................... 217
xi
Tabela 16: Outras medidas e referências ........................................................ 218
Tabela 17: Percentual de membros mais ativos do domicílio
participantes de grupos e organizações ....................................................... 219
Tabela 18: Percentual de benefícios percebidos pela participação em
grupos e organizações ................................................................................. 219
Tabela 19: Percentual de ações conjuntas em categorias .............................. 219
Tabela 20: Descritores utilizados na definição das categorias de ações
conjuntas ...................................................................................................... 220
Tabela 21: Tabela de conversão de freqüência de audiência de rádio
em pontos para ranking ............................................................................... 220
Tabela 22: Tabela de conversão de nível educacional em pontos para
ranking ......................................................................................................... 220
Tabela 23: Sigla dos distritos italianos ............................................................. 221
xii
Lista de Figuras
Figura 1.5: Motivos do declínio do capital social nos Estados Unidos ............ 25
Figura 1.6: Mapa do capital social nos Estados Unidos .................................. 28
Figura 2.1: Representação gráfica do conceito de capital social ..................... 42
Figura 2.2a: Representação gráfica do estoque de capital social na
Comunidade A ............................................................................................. 46
Figura 2.2b: Representação gráfica do estoque de capital social na
Comunidade B ............................................................................................. 47
Figura 2.3: Nível de tolerância e capital social ................................................ 52
Figura 2.4: Dimensões e formas de mensuração do capital social ................. 55
Figura 4.1: Médias de confiança institucional ................................................. 126
Figura 1: Arquitetura do índice exploratório de capital social .......................... 195
Sumário
Agradecimentos ............................................................................................... IV
Resumo ............................................................................................................ 1
Introdução ....................................................................................................... 2
Capítulo 1 - Considerações Teóricas ........................................................... 6
1.1. Alguns Precursores ............................................................................... 6
1.2. Foco Político ......................................................................................... 9
1.3. Foco Instrumental ................................................................................. 10
1.4. Foco Institucionalista ............................................................................. 17
1.5 Relações Conceituais ............................................................................ 23
1.5.1 Sociedade civil e empresas – produção e consumo de
capital social .................................................................................... 23
1.5.2 Governo: exterminador ou produtor de capital social? .................... 31
1.5.3 Redes sociais, Democracia e Capital Social ................................... 32
Capítulo 2 Opções Conceituais ..................................................................... 35
2.1 Abordagens do Capital Social ................................................................ 37
2.2 Conceito Adotado de Capital Social ....................................................... 41
2.3 Capital Social e Redes Sociais .............................................................. 45
2.4 Produção e Manifestação do Capital Social ........................................... 54
Capítulo 3 – Metodologia de Pesquisa ......................................................... 57
3.1 O Campo de Aplicação da Pesquisa ...................................................... 57
3.2 O Questionário de Pesquisa .................................................................. 59
3.3 Dimensões, Categorias e Indicadores ................................................... 62
3.3.1 Grupos e Redes .............................................................................. 64
3.3.1.1 Componente 1: Organizações e Grupos ............................. 66
3.3.1.2 Componente 2: Extensão das Redes .................................. 66
3.3.2 Confiança e Solidariedade .............................................................. 71
3.3.2.1 Componente 1: Confiança ................................................... 72
3.3.2.2 Componente 2: Solidariedade ............................................. 73
3.1.3 Ação Coletiva e Cooperação .......................................................... 74
3.1.3.1 Componente 1: Ação Coletiva ............................................. 75
3.1.3.2 Componente 2: Cooperação ................................................ 75
3.1.4 Coesão e Inclusão Social................................................................ 75
3.1.4.1 Componente 1: Coesão e Inclusão ..................................... 76
3.1.4.2 Componente 2: Segurança .................................................. 77
3.1.5 Canais de Informação e Comunicação ........................................... 77
3.1.5.1 Componente 1: Acesso à Canais de Informação e
Comunicação .................................................................................. 80
3.1.6 Empoderamento e Ação Política ..................................................... 82
3.1.7 Outros Dados .................................................................................. 83
3.2 Perfil Geral da Amostra ...................................................................... 83
Capítulo 4 – Análise Comparativa do Capital Social ................................... 85
4.1 Medidas da Vida Organizacional da Comunidade ................................. 85
4.1.1 Participação em Grupos e Organizações ....................................... 85
4.1.2 Extensão das Redes ....................................................................... 95
4.2 Medidas de Confiança Social ................................................................. 120
4.2.1 Confiança ........................................................................................ 122
4.2.2 Solidariedade .................................................................................. 128
4.3 Ação Coletiva e Cooperação .................................................................. 134
4.3.1 Ação Coletiva .................................................................................. 136
4.3.2 Cooperação .................................................................................... 144
4.4 Coesão e Inclusão Social ....................................................................... 146
4.4.1 Coesão e Inclusão .......................................................................... 147
4.4.2 Segurança ....................................................................................... 152
4.5 Canais de Informação e Comunicação .................................................. 155
4.6 Empoderamento e Ação Política ............................................................ 165
4.7 Outras medidas ...................................................................................... 166
Considerações Finais .................................................................................... 169
Referencias Bibliográficas ............................................................................ 178
Anexo I: Questionário de Pesquisa .................................................................. 181
Anexo II: Caracterização da Amostra ............................................................... 189
Anexo III: Método de Cálculo das Medidas e Indicadores ................................ 194
1. Índice Exploratório de Capital Social ........................................................ 194
2. Metodologia de Determinação das Medidas ............................................ 196
1
Resumo
Esta pesquisa apresenta a mensuração de níveis de capital social em 6 dimensões
inter-relacionadas em três bairros de diferentes cidades no Estado de São Paulo. Foi
utilizada a metodologia de questionário com perguntas fechadas e abrange um total
de 81 entrevistados. O aporte teórico esta centrado nas pesquisas de Robert D.
Putnam com outros subsídios a partir de James Coleman e Pierre Bourdieu e o
aporte metodológico parte das pesquisas do Grupo Temático sobre Capital Social do
Banco Mundial. Derivado dos dados obtidos foi estabelecido um índice exploratório
de capital social que é apresentado como primeiro passo para o aprimoramento de
instrumentos de pesquisa sobre capital social.
Palavras Chaves: capital social, redes sociais, questionário, participação
comunitária.
Abstract
This research presents the measurement of levels of social capital in six interrelated
dimensions in three neighborhoods in different cities in São Paulo State. The
methodology used a questionnaire with closed questions and covers a total of
81respondents. The theoretical research is centered on Robert D. Putnam with other
subsidies from James Coleman and Pierre Boudieu and methodological contributions
from researches of Social Capital Thematic Group of World Bank. Derived from the
data was set an exploratory index of social capital that is presented as the first step
towards the improvement of instruments for research on social capital.
Key Words: social capital, social networks, survey, community participation.
1
Introdução
Os estudos e as interpretações do conceito de capital social ganharam grande
impulso a partir da década de 90, com a publicação das pesquisas de Robert
Putnam sobre a eficiência das instituições italianas a partir da descentralização do
Estado Italiano e posteriormente com sua publicação sobre o estado do capital
social nos Estados Unidos.
Antes disso, porém, na década de 80, mais precisamente em 1988, o sociólogo
norte-americano James Coleman, publica parte dos resultados de sua pesquisa e
suas conclusões sobre capital social aplicados ao campo da educação. Também na
década de 80, o francês Pierre Bourdieu (1979 e 1980) apresenta sua interpretação
a respeito do capital social.
Os três autores citados são os meus principais referenciais teóricos, sendo que
notadamente o primeiro deles exerceu maior influencia sobre meu pensamento.
Além destes, devo parte do aprendizado e dos conceitos utilizados, principalmente
na metodologia de pesquisa ao Grupo Temático sobre Capital Social do Banco
Mundial1.
Partindo das pesquisas deste grupo, estabeleci a análise do capital social em 6
dimensões inter relacionadas: grupos e rede, confiança e solidariedade, ação
coletiva e cooperação, coesão e inclusão social, canais de informação e
comunicação e empoderamento e ação política.
Minha aproximação com o tema de pesquisa teve início em 1997, exercendo
atividades profissionais no Senac São Paulo. Naquela ocasião, juntamente com
outros colegas, começamos a organizar grupos de lideranças comunitárias em
bairros periféricos da cidade de São Paulo e percebemos que a forma e o método de
organizar faziam muita diferença em termos de resultados sociais para suas
comunidades. Estabelecemos alguns princípios de atuação que criavam um
ambiente propicio ao diálogo e à convivência com as diversidades, valorizando a
igualdade e a democracia nas relações e eliminando nesta forma de organização os
arraigados valores piramidais de comando e controle. A esta forma de atuação
1 O Grupo Temático sobre Capital Social é composto pelos seguintes pesquisadores: Christiaan Grootaert, Deepa Narayan, Veronica Nyhan Jones e Michael Woolcock
2
demos o nome de rede social e alguns anos depois já estava claro que a força que
agia por traz desses grupos e propiciava à alguns bons resultados e à outros não
chamava-se capital social.
No âmbito institucional esta experimentação inicial avançou, transformando-se num
programa de investimento em capital social totalizando em 2009 mais de 50 redes
sociais organizadas em cidades no Estado de São Paulo onde o Senac São Paulo
mantinha unidades operacionais, alem de dezenas de outras experiências utilizando
o princípio de formação de redes para organizar grupos temáticos e produtivos. Além
disso, outras dezenas de grupos comunitários foram criados em bairros de algumas
cidades com a intenção de promover processos de desenvolvimento local.
Decorridos 12 anos do inicio desse processo, com a maturidade e a segurança que
a prática traz, era chegado o momento de avançar em termos de concepção teórica
e de metodologias de trabalho visando entender de uma forma mais ampla e
sistematizada o fenômeno das redes sociais e do capital social. Desse modo, em
2009 dei inicio ao programa de mestrado acadêmico na PUC-SP no Núcleo de
Pesquisa em Psicologia Política dentro do Departamento de Psicologia Social.
As questões de ordem profissionais acima delineadas servem para contextualizar e
esclarecer a cerca dos objetivos deste estudo. Minha intenção de estudo
estabelecida no início da pesquisa ambicionava chegar a dois objetivos básicos:
1) Analisar o efeito da aplicação da metodologia do Senac São Paulo para
formação de redes sociais em bairros na geração de capital social, tendo
como palco metodológico a comparação entre grupos que passaram por esse
processo e grupos que não passaram dentro de três comunidades diferentes.
2) Decorrente desse processo, estabelecer um índice de capital social
comunitário que pudesse ser útil para comparação desses grupos e
comunidades.
No entanto, a realidade objetiva e a experiência de campo, demonstraram que
minha ambição estava superdimensionada, uma vez que compreendemos no
decorrer do processo de pesquisa que para poder analisar os efeitos da aplicação
da metodologia de formação de redes sociais sobre o capital social, teríamos antes
que compreender o próprio capital social, suas medidas e interações, aprimorando
3
os instrumentos de mensuração. Assim, os dados coletados e a experiência até o
momento autorizam somente almejar essa ambição em ulteriores pesquisas.
No que concerne ao índice de capital social, algumas questões concorreram para
que não atingir o intento na forma idealizada:
a) O instrumento de pesquisa desenhado não permitiu uma plena utilização de
recursos estatísticos, não tendo sido possível a utilização de análises
regressivas e o estabelecimento de ponderações entre os dados, porque o
instrumento não foi especificamente desenhado para isso e além disso teve
aplicação em um número limitado de localidades.
b) Não conheci ou não consegui ter acesso à pesquisas similares no Brasil que
mensuram o capital social nas dimensões estabelecidas, portanto não tinha
um ponto de partida sobre os qual estabelecer parâmetros para o
questionário.
c) Na falta desses parâmetros em nossa cultura sobre o objeto de estudo,
tivemos antes que empreender pesquisa para saber como se apresentam os
dados relativos às medidas do capital social para depois poder estabelecer
relações entre eles e a partir daí aprimorar o instrumento de pesquisa que
possa levar a estabelecer um índice de capital social que possa merecer esta
denominação
Decorre dessa última justificativa que nos encontramos no estágio inicial de
compreensão do capital social, o que significa que apresento esta pesquisa como
uma tentativa de compreender como as diversas medidas do capital social se
relacionam, apurando os instrumentos de pesquisa e mensuração. Não obstante os
ganhos de conhecimento que obtive com esse trabalho, em termos científicos é
necessário avançar em pesquisas e métodos que possam levar à um índice de
capital social e nesse sentido considero essa pesquisa como sendo exploratória.
Logrado esse fim, talvez num futuro, a metodologia de formação de redes do Senac
São Paulo ou outras que organizam comunidades possam ser avaliadas à luz das
dimensões do capital social.
4
Dadas estas considerações, quero deixar bem registrado o que quero e onde quero
chegar com esta pesquisa. Assim, apresento os objetivos de pesquisa reformulados
nos seguintes termos:
a) Analisar e comparar o capital social em três bairros de cidades
diferentes no Estado de São Paulo e
b) Estabelecer um índice exploratório de capital social.
Colocadas essas considerações iniciais que intentam assinalar os caminhos
percorridos apresento a seguir o que poderá ser encontrado neste trabalho.
No Capítulo 1 apresentando as principais correntes teóricas norteadoras de meu
entendimento conceitual, e nos três últimos tópicos apresento algumas reflexões
relacionando o capital social com a sociedade civil e o estado, principalmente no que
concerne a produção e ao consumo de capital social, para na seqüência apresentar
algumas ligações do capital social com a democracia.
No Capítulo 2 apresento algumas abordagens utilizadas na pesquisa do capital
social, fazendo a necessária relação do capital social com as redes sociais e finalizo
o capítulo apresentando de forma direta o conceito adotado de capital social e
aproveito para delinear alguns conceitos sobre as dimensões adotadas para análise
do capital social.
O capítulo 3 está reservado para apresentação da metodologia de pesquisa,
incluindo informações sobre os locais da pesquisa de campo, sobre o questionário e
sua composição.
No capítulo 4, analiso os dados e apresento as possíveis conexões com as teorias
do capital social que adotei, deixando para as considerações finais um resumo das
principais conclusões, onde também aproveito para incluir indicações de uso da
metodologia adotada.
Nos Anexos I, II e III poderão ser encontradas na forma de gráficos e tabelas todos
os dados que foram coletados na pesquisa de campo e que serviram para a análise
no capítulo 4, assim como outros gráficos e tabelas informativas.
5
Capítulo 1 - Considerações Teóricas
Nas considerações teóricas que faço neste capítulo, além dos já citados autores,
trago à reflexão outras contribuições como forma de entender o conceito de capital
social e ampliar seus fundamentos teóricos.
1.1 Alguns Precursores
Em 1831, Alexis de Tocqueville, então um jovem jurista Frances, empreende uma
viagem à recém-nascida nação norte-americana. Financiado por sua própria família,
uma vez que seu pedido ao governo Francês fora negado, tinha como objetivo inicial
conhecer o sistema prisional norte-americano. No entanto, além de apresentar em
relatório suas conclusões sobre seu objeto de pesquisa, Tocqueville, encantado com
a forma de organização do povo norte-americano, em 1832 lança o hoje já clássico
Democracia na América. Nesta obra, Tocqueville descreve suas impressões e
observações de viagem, sendo inevitável a comparação com a cultura aristocrática
de seu país.
Sem nunca ter usado diretamente o termo capital social, Tocqueville trouxe
importantes contribuições para o entendimento das bases sociais nas quais estava
assentada a jovem democracia americana e a vitalidade de sua sociedade. Suas
observações continuaram ecoando até os nossos dias, sendo referência para a
corrente denominada de comunitaristas, a ponto de influenciar fortemente Robert
Putnam quando este elaborou seu Social Capital Index2 para o estudo do declínio
capital social nos Estados Unidos e anteriormente para definir os Indicadores de
Desempenho Cívico3 em sua pesquisa sobre o desempenho institucional dos
Distritos Italianos (ver adiante). Como ilustração de tal relevância, Putnam refere-se
à Tocqueville numa ironia reverente como o “santo padroeiro dos comunitaristas
americanos”. (PUTNAM, 2000, p. 24).
Tocqueville destaca a intensa movimentação política dos americanos em torno da
resolução de assuntos públicos, em oposição à sua indiferença à autoridade formal.
2 PUTNAM, Robert D. Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community. New York, 2000. 3 PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia: A Experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2007.
6
[...] Sobrevêm um obstáculo na via pública; a passagem fica interrompida, para a circulação; imediatamente os vizinhos se organizam em corpo deliberativo; desta assembléia improvisada sairá um poder executivo que remediará o mal antes que a idéia de uma autoridade preexistente à dos interessados se tenha apresentado à imaginação de alguém. (TOCQUEVILLE, 1997, p. 147)
Junto à profusão associativista para resolver problemas públicos, anota em seu
“diário de viagem” a capacidade e grande tendência das pessoas em se organizar
em associações para resolver conjuntamente os mais variados problemas, dos mais
triviais e cotidianos aos mais complexos e amplos. Comparando essa característica
a outros países, afirma que “em toda parte onde, à frente de uma empresa nova,
vemos na França o governo e na Inglaterra um grande senhor, tenhamos certeza de
perceber, nos Estados Unidos, uma associação”. (TOCQUEVILLE, 1997, p. 392)
Outro aspecto a ser destacado da obra de Tocqueville é o registro que fez relativo à
grande quantidade de jornais que circulavam pelas cidades por onde passou.
Movidos pelo interesse pelo lucro, seus editores prestavam um grande serviço,
fazendo as informações circularem e contribuindo para alimentar o interesse da
população em relação aos assuntos públicos.
Em 1961, Jane Jacobs, urbanista canadense radicada nos Estados Unidos,
empreende pesquisa com o propósito de descobrir que fatores levavam algumas
cidades ao declínio e que fatores levavam outras ao desenvolvimento. Sua
inquietação a fazia se perguntar por que algumas cidades pareciam estar vivas e
outra mortas. Sua principal conclusão apontou que as cidades com maior potencial
de desenvolvimento e que se mantinhas vivas, como ela denominou, eram aquelas
em que se podia notar um maior nível de relacionamento entre as pessoas. Nestas
cidades, as pessoas se conheciam melhor e cuidavam umas das outras em
aspectos da vida cotidiana. Cita como exemplo o fato de que nas cidades que
pareciam estar vivas, se uma criança estivesse na rua e um adulto conhecesse os
pais da criança, haveria a tendência desse adulto em cuidar da criança ou adverti-la
caso estivesse fazendo algo indevido.
[...] O Sr. Lacey, o chaveiro da rua, dá uma bronca em um de meus filhos que correu para a rua e mais tarde relata a desobediência a
7
meu marido quando ele passa pela loja. Meu filho recebe mais que uma lição clara sobre segurança e obediência. Recebe também, indiretamente, a lição de que o Sr. Lacey, com quem não temos outras relações senão de vizinhos, sente-se em certo sentido responsável por ele. (JACOBS, 2000, p. 90)
Como seu olhar primário era no urbanismo, traz uma série de exemplos de como a
arquitetura de uma cidade pode contribuir ou não para a resolução de violência
urbana, por exemplo. O olhar das pessoas sobre o que é público, facilitado pela
arquitetura, facilita o cuidar do outro. Cita exemplos de conjuntos habitacionais cujas
janelas são dispostas para o lado de dentro do conjunto e não para a rua. Caso,
próximo à essas habitações, estivesse ocorrendo um assalto, não haveria
testemunhas. Ou, falando de outro modo, o ladrão se sentiria desestimulado a agir
se houvesse alguém na janela observando.
Jacobs destaca o valor da manutenção das relações sociais entre as pessoas e do
incremento da confiança mútua, assim como do olhar atento da sociedade.
Os dois autores citados fazem referências a componentes do conceito de capital
social, tais como confiança, reciprocidade, troca de favores, e principalmente o
entrelaçamento das pessoas em múltiplas de redes de relacionamento e interesse.
No entanto, o próprio termo em si que hoje utilizamos para designar um conjunto de
relacionamentos - capital social - segundo apontamento de Putnam, foi pela primeira
vez utilizado por Lyda Judson Hanifan em 1916, na ocasião um supervisor de
escolas rurais no estado de West Virginia nos Estados Unidos que estava
preocupado com o desempenho escolar dos alunos de sua região. Conscientemente
utilizou o termo “capital” ao escrever para alertar economistas e empresários sobre a
“importância produtiva dos ativos sociais” (PUTNAM, 2000, p. 445).
Aquelas substâncias tangíveis que contam na vida diária das pessoas: os chamados bons sentimentos, companheirismo, simpatia e inter-relações sociais entre indivíduos e famílias que constroem a unidade social.... O indivíduo fica desamparado socialmente se ficar isolado [...] Se ele mantém contato com seus vizinhos, e eles com outros vizinhos existirá um acúmulo de capital social que pode satisfazer imediatamente suas necessidades e poderá suportar potencialidades suficientes para provimentos de condições de vida em toda comunidade. A comunidade como um todo será beneficiada pela cooperação entre suas partes, enquanto o indivíduo encontrará em suas associações as vantagens de ajuda, simpatia e o companheirismo de seus vizinhos. (HANIFAN, 1920 apud PUTNAM, 2000, p. 19)
8
1.2 Foco Político4
Segundo Higgins (2005), o filósofo Frances, Pierre Bourdieu, elabora sua definição
de capital social, sem, no entanto, dar prosseguimento a estudos desse conceito. A
contribuição desse pensador, porém, foi fundamental, trazendo um foco
eminentemente político para o tema. Para Bourdieu, capital social é o “agregado dos
recursos atuais ou potenciais, vinculados à posse de uma rede duradoura de
relações de familiaridade ou reconhecimento mais ou menos institucionalizadas”
(BOURDIEU, 1979)
Sua concepção de capital social consiste num recurso individual que a pessoa pode
movimentar em seu favor. Quanto maior e melhor for a rede social de uma pessoa,
maior e melhor será seu estoque de capital social.
Na opinião de Higgins, no entanto, a principal preocupação de Bourdieu não era com
o capital social, uma vez que ele só o menciona de “forma tangencial quando se
refere à forma como as empresas menos poderosas podem fazer lobby ante o
Estado para que modifique em seu favor as regras do jogo econômico” (HIGGINS,
2005, p. 109).
Higgins identifica na obra de Bourdieu sete “tipos de capital no campo econômico”
(HIGGINS, 2005, p. 109), resumidos na Tabela 1.1.
4 Para este e os dois próximos tópicos, adotamos a classificação adotada por Higgins (2005) quanto ao foco principal dos autores discutidos
9
Tabela 1.1: Tipos de capital no campo econômico
Fonte: Elaboração a partir de Higgins (2005)
De um modo geral, Higgins considera o conceito de capital social de Bourdieu é
instrumento para a obtenção de outros tipos de capital. Assim, formula que o
“Volume de capital social (VCS) de um agente específico está em função da extensão da rede social (ES) e do volume de capital econômico (VCE) e cultural (VCC) que possuem as pessoas com as quais se relaciona, assim VCS = ES x (VCE + VCC)” (HIGGINS, 2005, p. 237)
Concluindo, que desta forma, “capital social é um fator multiplicador de outras
formas de capital” (HIGGINS, 2005, p. 237)
1.3 Foco Instrumental
Seguindo com certo paralelismo nessa mesma linha instrumental do capital social,
trago à consideração outro autor, que seguindo a avaliação Higgins, também deu a
esse conceito em estudo o caráter de utilitarista. Trata-se do sociólogo Norte-
Americano James Coleman.
Coleman esteve empenhado em desenvolver uma teoria sociológica para explicar a
ação social, de modo a incluir componentes de duas correntes de pensamento: a
corrente sociológica que via o “ator como um ser socializado e agindo sob o governo
de normas sociais, papéis e obrigações” (COLEMAN, 1988, p.95) e cuja principal
Tipos de Capital Resumo da Definição
Financeiro “Acesso aos recursos financeiros”
Cultural
“É o acúmulo do hábitus técnico e científico dos atores sociais, das
objetivações científicas na forma de máquinas ou aparelhos e da
institucionalização de títulos e diplomas”
Tecnológico “Estoque de recursos científicos e tecnológicos”
Jurídico Conhecimento e ação sobre os diversos campos do direito
Organizacional “Nível de informação e conhecimento sobre o campo”
Comercial Venda, distribuição, marketing, etc.
Simbólico “Imagem da marca”
10
virtude em sua opinião consistia em sua “habilidade em descrever a ação num
contexto social e explicar o modo como as ações são moldadas, constrangidas e
redirecionadas pelo contexto social” (COLEMAN, 1988, p.95); a corrente econômica,
que “vê o ator como tendo metas atingidas de forma independente, agindo de forma
independente e totalmente auto-interessada” (COLEMAN, 1988, p.95), considerando
que a principal virtude dessa corrente era “possuir um princípio de ação que
maximiza a utilidade” (COLEMAN, 1988, p.95).
Adepto da Teoria da Ação Racional, sua teoria sociológica, consistia em
[...] aceitar os princípios da ação racional ou intencional e tentar mostrar como esse princípio, em conjunção com um particular contexto social, pode importar não apenas para a ação dos indivíduos em um particular contexto, mas também para o desenvolvimento da organização social. (COLEMAN, 1988, p.96).
Coleman identifica três macro-aspectos da estrutura social como sendo importantes
recursos a disposição dos indivíduos para sua ação e os classifica como formas de
capital social:
a) Obrigações, expectativas e confiabilidade:
As obrigações se constituem por ações que indivíduos devem empreender em
relação a outros indivíduos dentro de uma estrutura social. Prestar um favor,
ajudar alguém, emprestar algo, entre outros, constituem exemplos de
obrigações.
Essas obrigações são estabelecidas em decorrência do recebimento anterior
de outras ações. Aquele que recebeu uma ação de alguém se sente obrigado a
retribuir, e aquele que prestou a ação, se considera na expectativa de receber
proporcional ação no futuro.
Assim, uma estrutura social repleta de obrigações e expectativas, impacta
diretamente a qualidade das relações sociais entre os indivíduos. Duas
características, no entanto, “a confiabilidade do ambiente social, que significa
que as obrigações serão cumpridas e a extensão das obrigações mantidas”.
(COLEMAN, 1988, p.102), influenciam para que as obrigações e expectativas
11
mútuas possam se converter em capital social útil para a ação individual e
coletiva e principalmente para o empreendimento de bens públicos.
Algumas considerações, a partir dessa primeira forma de capital social mencionada
por Coleman, já podem ser feitas de forma breve.
No que concerne à “confiabilidade”, caso esta não exista em forma, quantidade e
qualidade suficientes na estrutura social, garantindo a reciprocidade das ações
empreendidas, os indivíduos tenderão a não fazer ações em prol de outros, pois
segundo o “credo” (adotado por Coleman) da Teoria da Ação Racional, os indivíduos
agem de forma egoísta e visando o auto-interesse.
Por um lado, resgatando Higgins em sua análise do pensamento de Coleman,
quando afirma que “ainda que a perspectiva de Coleman tenha a virtude do
realismo, custa aceitar que o mundo seja um grande bazar povoado só de
mercadores” (HIGGINS, 2005, p.257), podemos concluir que existem muitos outros
aspectos presentes no relacionamento entre as pessoas que afetam as formas como
se estabelecem as expectativas e obrigações. Estou aludindo à valores presentes no
relacionamento humano que em muitas situações ultrapassam o cálculo racional, ou
seja, afeto, identidades, valores, crenças, ideologias, gostos, etc.
Por outro lado, ressaltando o qualificativo “virtude do realismo” destacado da citação
de Higgins, e parafraseando o próprio Higgins (2005), não é possível acreditar que o
mundo seja composto só de santos e altruístas. Isto é, “os mercadores” também
fazem parte do mundo e este também é um fator presente nas relações. As relações
humanas, por sua vez, são complexas e dinâmicas, sendo necessário que vejamos
as obrigações e expectativas como formas parciais de capital social que não podem
estar isoladas do contexto social.
Concernente à “extensão das obrigações mantidas” entre os indivíduos é preciso
dar crédito à Coleman, quando este reconhece que esta forma de capital social é
afetada pela possível desproporcionalidade de obrigações de alguns indivíduos em
relação a outros, o que contribui para a diferença de poder entre os indivíduos.
É possível concluir, portanto, que esta forma de capital social ao invés de produzir
bens públicos ou coletivos, pode servir para a dominação e exploração,
12
notadamente em sociedades marcadas pelas diferenças sociais, principalmente de
caráter econômico.
b) Canais de informações:
Mantendo-se coerente com a Teoria da Ação Racional, Coleman identifica que
os canais de informações existentes numa dada estrutura social, constituem-se
em outra forma de capital social, pois “informação é importante como
provedora de base para a ação” (COLEMAN, 1988, p.104), acrescentando que
adquiri-la tem um custo, e que “no mínimo sua aquisição requer atenção, que é
sempre um suprimento escasso” (COLEMAN, 1988, p.104).
Uma das conseqüências que podemos extrair dessa assertiva, é que, seguindo a
linha de pensamento de Coleman, um indivíduo terá maior probabilidade de acerto
em suas decisões, quanto maiores e melhores forem os canais de informação de
que dispuser. Uma vez que os canais de informações são “inerentes às relações
sociais” (COLEMAN, 1988, p.104), é muito acertado afirmarmos que um agente terá
melhores condições de decidir quanto mais amplas e diversificadas forem as redes
sociais nas quais ele está inserido.
Ilustrar esta forma de capital social por meio de um exemplo extremo e hipotético
pode ajudar a compreendê-lo: Os atores A e B vivem na mesma estrutura social,
partilhando de uma mesma cultura e estão classificados no mesmo extrato sócio-
econômico e são de idades aproximadas.
O ator A trabalha em uma empresa de grande porte da área financeira e no seu dia-
a-dia profissional mantém contato com muitos clientes da empresa com origens e
condições financeiras e sociais diferentes. Muitos de seus colegas de trabalho
possuem formação superior e são de idades distintas da sua. Ele mesmo, depois do
expediente, freqüenta um curso superior onde se relaciona com colegas de classe,
além de conhecer outras pessoas de outros cursos. Interessado nas questões
atinentes aos interesses dos alunos na sua universidade, participa do centro
acadêmico nos momentos que lhe é possível. Nos finais de semana, seguindo
tradição familiar, participa desde adolescente de cultos religiosos e por conta da
manutenção dessa crença já teve oportunidade de viajar com seus amigos em
13
encontros da igreja. Esse mesmo agente gosta de futebol e concilia as atividades da
igreja com encontros com os amigos para jogar e se divertir. No âmbito familiar, o
ator A tem dois irmãos, sendo que um deles, três anos mais velho, mora junto na
mesma casa com os pais e sua irmã, seis anos mais velha, é casada e mora em
outro bairro com o marido e seus dois filhos. Seus pais são pessoas de origem
humilde, sendo que o pai trabalha como operário numa metalúrgica e a mãe cuida
dos afazeres domésticos. Nos domingos toda a família se reúne para o tradicional
almoço, aproveitando o momento para conversas triviais e manutenção do afeto
mútuo.
Já o ator B, apresenta condições quase antagônicas. Trabalha em uma pequena
empresa familiar na montagem de móveis. Completou o ensino médio, e não
apresentou interesse em continuar estudando. É avesso à cultos religiosos, tanto por
não ter recebido orientação familiar quanto por considerar que as pessoas que
freqüentam igrejas tendem a se meter em sua vida com conselhos e sermões. Gasta
seu tempo livre assistindo a programas televisivos de entretenimento e esportes.
Sua família é constituída pelo pai, pela mãe e duas irmãs mais velhas que moram
em outro estado e que raramente se encontram.
Esses dois exemplos hipotéticos ilustram a inserção desses dois agentes em
diferentes redes sociais. Enquanto o ator A participa de redes diversificadas e com
interesses distintos, o ator B mantém-se relativamente isolado. O ator A tem um alto
custo em termos de tempo e disposição para manter-se em contato com outras
pessoas, enquanto o Agente B quase não investe tempo e disposição em manter
relacionamentos.
No caso de desemprego, qual desses dois atores terá maior probabilidade de
receber uma indicação de emprego ou informação sobre uma vaga existente? Caso
o governo local abra um programa de financiamento para jovens com vontade de
empreender, qual dos dois terá maior chance de obter e aproveitar melhor essa
informação que pode se converter em oportunidade?
A resposta, considerando ainda muitos possíveis fatores é obvia e claramente
aponta para o agente A. É esse o poder dos canais de informação que ocorrem por
meio das relações sociais. Olhando apenas do ponto de vista individual, pode-se
falar que o ator A tem um capital social muito superior ao ator B. Portanto, na medida
em que uma sociedade é composta por mais atores próximos ao ator A, maior será o
14
capital coletivo dessa sociedade, considerando até este momento somente o fator
canais de informação.
c) Normas e sanções efetivas:
Nossa interpretação do pensamento de Coleman, a partir do texto consultado,
nos leva a concluir que está aludindo à normas e sanções efetivas de caráter
cultural reinantes numa estrutura social, pois
[...] normas desse tipo, reforçadas pelo apoio social, status, honra e outras recompensas é o capital social que ergue jovens nações [...] facilita o desenvolvimento de nascentes movimentos sociais por meio de pequenos grupos de membros dedicados, voltados para uma causa e auto recompensados, e que em geral lideram pessoas para trabalhar por bens públicos (COLEMAN, 1988, p.104-105).
Em sua análise da utilidade desse tipo de capital social, assevera que normas
e sansões efetivas “não só facilitam certas ações, como constrangem outras”
(COLEMAN, 1988, p.105) pois, em seu exemplo, assim como facilita que se
possa caminhar a noite com segurança, também constrange a ação de
criminosos.
É interessante notar que Coleman ao falar em “sansões” acrescenta o adjetivo
“efetivas”. Isso é de singular importância uma vez que se uma norma (de caráter
legal ou não) estabelecer uma conduta e não for efetiva na aplicação de punição,
estará gerando uma recompensa para seu infrator. Na linha da Teoria da Ação
Racional (com comportamentos egoístas e auto-interessados), pagar o imposto de
renda, por exemplo, não é uma ação coerente, a não ser que os riscos de ser punido
de forma efetiva sejam maiores que os ganhos decorrentes do não pagamento.
Resumindo, temos que para Coleman, o
Capital social é definido por suas funções. Ele não é uma simples entidade, mas uma variedade de diferentes entidades, com dois elementos em comum: todos eles consistem em aspectos da estrutura social e eles facilitam certas ações dos atores dentro dessa
15
estrutura, quer sejam atores pessoas ou atores corporativos. Como outras formas de capital, capital social é produtivo, fazendo possível a consecução de certos fins sem os quais na ausência dele não seriam possíveis. Diferente do capital físico e do capital humano, o capital social não é completamente substituível, podendo ser específico de algumas atividades. Uma dada forma de capital social que está disponível para facilitar algumas ações pode ser inútil ou prejudicial para outras. (COLEMAN, 1988, p.98).
Uma vez apontadas as três formas básicas de capital social e a definição que dá ao
conceito, é necessário mencionar que ele fez uso preferencial do conceito de capital
social para analisar a seu efeito na criação de capital humano, notadamente no
campo da educação de jovens.
Considerando que o ambiente familiar não é uma simples variável, avalia que este
pode ter alto impacto no desempenho escolar, e que pode ser “analiticamente
separado dentro de pelos menos três diferentes componentes: capital financeiro,
capital humano e capital social”. (COLEMAN, 1988, p.109).
O capital financeiro pode ser medido pelos recursos financeiros disponíveis na
família e que provê os recursos materiais necessários para educação. O capital
humano pode ser medido pelo nível de educação dos pais que cria um “ambiente
cognitivo que ajuda a criança a aprender” (COLEMAN, 1988, p.109). Já o capital
social da família “são as relações entre pais e filhos (e quando a família inclui outros
membros, as relações se estendem para esses membros)” (COLEMAN, 1988,
p.110).
Em sua avaliação, mesmo que os pais sejam dotados de grande capital humano, “se
ele não for complementado pelo capital social incorporado nas relações familiares,
ele será irrelevante para o desenvolvimento educacional das crianças” (COLEMAN,
1988, p.110).
Basicamente, o capital social na família pode ser medido pela “presença física dos
adultos na família e pela atenção dada pelos adultos para a criança” (COLEMAN,
1988, p.111), pois são esses fatores que “permitem a criança ter acesso ao capital
humano dos adultos” sendo que “os efeitos da falta de capital social dentro da
família diferem para diferentes resultados educacionais. Um dos quais ele se mostra
especialmente importante é a evasão escolar”. (COLEMAN, 1988, p.111),
16
Em pesquisa conjunta com Hoffer5, Coleman analisou as taxas de evasão escolar
para um grupo de quatro mil estudantes de escolas públicas. Isolando as variáveis
do capital social e controlando estatisticamente as variáveis do capital financeiro e
capital humano, ou seja, comparando as taxas de evasão de alunos com os mesmos
níveis de capital financeiro, humano e diferentes níveis de capital social, conclui que
a presença do capital social no ambiente familiar é determinante para a diminuição
da evasão escolar.
Os dados apresentados por Coleman sugerem que o capital social tem um efeito
acumulativo, ou seja, na medida em que se acrescentam variáveis que apontam a
falta de capital social, aumenta a taxa de evasão escolar.
Dito de outra forma, os dados específicos para os efeitos da falta de capital social na
família parecem indicar o que outros já afirmaram sobre o capital social na
comunidade como um todo: mais capital social leva a um maior estoque de capital
social, e quanto menos capital social, menor tende a ser seu estoque.
Assim apresentado, o capital social tanto parece ser efeito como causa de si mesmo
e parece estar numa circularidade sem fim. No entanto, penso que para apresentar
uma possível solução para o momento, é preciso dar especial atenção ao trecho da
definição de Coleman sobre o capital social, quando o classifica como “uma
variedade de diferentes entidades”, e assim sendo seus efeitos só podem ser
observados de uma forma sistêmica e dinâmica.
1.4 Foco Institucionalista
No começo desse texto apresentei alguns conceitos de Tocqueville que nos ajudam
a entender a atual conceituação de capital social. Se em 1831, um europeu fez uma
viagem ao novo mundo e pode revelar aos seus contemporâneos as realizações de
uma sociedade calcada na associação e no relacionamento entre seus membros,
em 1970 foi necessário que um americano fosse ao velho mundo para nos revelar
um pouco mais dos efeitos do capital social na vida social, incluindo os fatores
econômicos. Putnam empreendeu
5 Hofffer, T. B. 1986. Educational Outcomes in Public and Private High Schoolss. Ph. D. dissertation. University of Chicago, Department of Sociology
17
[...] uma viagem tocquevilliana em sentido inverso - do novo para o velho mundo [...] O olhar de Tocqueville era político. Por isso, ele escreveu, na década de 1830, A Democracia na América. O olhar de Putnam era político [...] por isso, ele escreveu, em 1993, um Para que a Democracia Funcione. (FRANCO, 2004)
Assim, é essencialmente política e comunitária a visão de Putnam sobre capital
social, pois em essência, como veremos adiante, capital social é relacionamento
entre as pessoas e essa é a base para a política.
Em 1970, começa um processo de divisão do território italiano em Distritos. Tal
medida, determinada pela constituição de 1948, vinha sendo protelada por
divergências políticas. Até esta nova divisão administrativa na Itália não existiam os
governos de nível intermediário típicos das federações.
Apresentava-se para Putnam, uma oportunidade única de estudar, a partir de um
estado democrático moderno, a eficiência das instituições. No caso italiano, cada
governo distrital seria dotado de uma mesma estrutura e com os mesmos recursos.
Essa pesquisa consome 25 anos de trabalho e em 1993, publica Making Democracy
Work: Civic Traditions in Modern Italy.6
Sua pergunta principal era “porque alguns governos democráticos tem bom
desempenho e outros não?”, (PUTNAM, 2006, p. 19), e seu objetivo era “contribuir
para a compreensão do desempenho das instituições democráticas” (PUTNAM,
2006, p. 19).
Para responder à sua pergunta foi necessário estabelecer os indicadores que
pudessem medir o desempenho institucional e a partir destes estabelecer índices
para cada um dos novos distritos italianos.
Os dados referentes a esses indicadores foram obtidos em dois períodos, de 1970 a
1976 e de 1978 a 1985. O segundo período de coleta de dados esteve sob a
influência de leis e decretos que “delegaram poderes consideráveis e transferiram
recursos substanciais a todas as regiões” (PUTNAM, 2006, p. 80).
6 Publicado no Brasil pela Fundação Getúlio Vargas sob o título de Comunidade e Democracia: A Experiência da Itália Moderna
18
A figura 1.1 mostra o índice de desempenho institucional aplicado sobre o mapa da
Itália com as divisões distritais. Fica muito evidente nessa disposição geográfica,
uma clara divisão de desempenho institucional entre os distritos do norte e os do sul
da Itália.
Figura 1.1: Desempenho institucional dos distritos italianos (1978 a 1985)7
Fonte: PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia: A Experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2007, p. 98
Referindo-se a esta constatação, Putnam pergunta “O que é que diferencia as
regiões do Norte com bom desempenho das regiões do Sul com mau desempenho
e, em cada uma dessas partes, as mais prósperas das menos prósperas?”
(PUTNAM, 2006, p. 97).
7 As siglas correspondentes aos distritos italianos estão na Tabela 23, Anexo III
19
Estabelece então duas hipóteses básicas para testar os dados:
Modernidade sócio-econômica, isto é, as conseqüências da revolução industrial e
‘Comunidade cívica’, isto é, os padrões de participação cívica e solidariedade social. (PUTNAM, 2006, p. 97).
A Figura 1.2 cruza os dados do índice de desempenho institucional com os dados do
desempenho econômico. Uma primeira e mais superficial análise dessa figura, pode
nos levar a concluir que a modernidade sócio-econômica explica o desempenho
institucional, pois os distritos mais ricos e com melhor desempenho estão localizados
no quadrante superior direito e os distritos mais pobres e com pior desempenho
institucional estão no quadrante inferior esquerdo.
Mas as acentuadas diferenças de desempenho observadas dentro de cada quadrante são absolutamente inexplicáveis em termos de desenvolvimento econômico. A Campânia, a região em torno de Nápoles, é economicamente mais adiantada do que Molise e Basilicata, que figuram em último na escala de desenvolvimento, mas o governo dessas duas são visivelmente mais eficazes que o da Campânia. A Lombardia, o Piemonte e a Ligúria – as três pontas do célebre triângulo industrial do norte – são mais ricos do que a Emilia-Romagna e a Úmbria (ou pelo menos assim era no início dos anos 70), mas o desempenho do governo dessas últimas é nitidamente superior. A riqueza e o desenvolvimento não explicam tudo. (PUTNAM, 2007, p. 100, grifo no original).
20
Figura 1.2: Modernidade econômica e desempenho institucional
Fonte: PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia: A Experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2007, pag. 99
Para explicar a diferença dentro de cada quadrante, Putnam recorre ao conceito de
comunidade cívica, entendendo este como sendo a ampla participação dos cidadãos
nos assuntos públicos e que “consideram o domínio público algo mais do que um
campo de batalha para a afirmação do interesse pessoal” (PUTNAM, 2006, p. 80).
Uma comunidade cívica, na concepção de Putnam se caracteriza por três
características básicas:
Igualdade política – com a prevalência de direitos e deveres de forma
igualitária e onde os cidadãos se mantém unidos por “relações horizontais de
reciprocidade e cooperação, e não por relações verticais de autoridade e
dependência” (PUTNAM, 2006, p. 102).
Solidariedade, confiança e tolerância – Essas características prevalecem
nas relações entre as pessoas, mesmo em atividades do dia-a-dia, diminuindo
o que os economistas chamam de custos transacionais, e ainda segundo
Putnam “a comunidade cívica não está livre de conflitos, pois seus cidadãos
tem opiniões firmes sobre as questões públicas, mas são tolerantes com seus
oponentes” (PUTNAM, 2006, p. 102).
Desenvolvimento Econômico
EmUm
To PiFr
Tr Ve Li LoLa Va
Ma
AbBaMo
Pu Sa
Si
CmCi
21
Associações – A participação dos cidadãos em associações “reforçam as
normas e os valores da comunidade cívica”, assim como “uma densa rede de
associações secundárias ao mesmo tempo incorpora e promove a cooperação
social” (PUTNAM, 2006, p. 103). Neste ponto, podemos observar claramente a
influência de Tocqueville sobre o pensamento de Putnam.
Para medir o impacto da “comunidade cívica” sobre o desempenho dos governos
distritais, Putnam elabora seu Índice de Comunidade Cívica, composto por quatro
indicadores, conforme Tabela 1.2.
Tabela 1.2: Indicadores de comunidade cívica
Fonte: PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia: A Experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2007, p. 106-109
Coletados os dados da participação cívica, e dispostos igualmente sobre o mapa do
território italiano com seus distritos, pode se observar o resultado na figura 3
Se compararmos o mapa mostrado na Figura 1.1 (desempenho institucional dos
distritos italianos (1978 a 1985)) com o mapa mostrado na Figura 1.3 (Comunidade
cívica nos distritos italianos), é inequívoca a clara correlação positiva existente entre
os dois indicadores. Os distritos com melhor desempenho institucional coincidem, de
um modo geral, com aqueles com maior participação cívica de seus cidadãos.
Indicadores
1. Número de associações (clubes desportivos e não desportivos) em cada distrito
2. Percentual de leitura de jornal (mínimo 1 membro da família)
3. Média de comparecimento às urnas para referendos (não obrigatório) (demonstração de preocupação
com questões públicas)
4. Exercício do voto Preferencial (junto com o voto em chapa o eleitor pode indicar um candidato segundo
sua preferência)
22
Figura 1.3: Comunidade cívica nos distritos italianos
Fonte: PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia: A Experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2007, p. 111
Comunidade Cívica é outro nome que pode se atribuir ao capital social. Nesse
sentido, Putnam define capital social como “características da organização social,
como confiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da
sociedade, facilitando as ações coordenadas”. (PUTNAM, 2006, p. 177).
Muito provavelmente animado com suas constatações dos efeitos do capital social
nos distritos italianos, e também provavelmente intrigado (e preocupado) com a
situação do capital social nos Estados Unidos, Putnam “volta” para seu país e em
2000 publica seu “Bowling Alone”, onde apresenta o levantamento do capital social
nos Estados Unidos, bem como aponta possíveis causas para o declínio ocorrido
nos vinte e cinco anos anteriores à compilação dos dados.
De um modo geral, aperfeiçoa os indicadores de comunidade cívica dos distritos
italianos e publica seu “Índice de Capital Social”, desta vez munido de mais dados
tanto em termos de quantidade quanto em termos de qualidade.
23
A Figura1.4 apresenta alguns aspectos da vida associativa nos Estados Unidos no
período de 1900 a 1998 (alguns dados são até 1997).
Compilando dados de fontes diversificadas, relativos à participação em associações
de defesa de direitos e serviços públicos, associações de pais e mestres, sindicatos
de trabalhadores, associações profissionais (advogados, engenheiros, etc.) e ligas
de boliche, Putnam constata uma assombrosa coincidência na disposição temporal
da participação.
Figura 1.4: Vida associativa e atividades públicas nos Estados Unidos no período de 1900 a 1998
Fonte: Elaboração própria a partir de Putnam (2000)
De um modo geral, fica muito claro, que todas as linhas apresentadas na Figura 4,
mostram:
a) Uma ascensão geral moderada de 1910 a 1920, com exceção para as ligas
de boliche e associações de pais e mestres, com ascensão menos acentuada;
b) Queda em todos os índices em 1929 em decorrência da grande depressão,
exceção para afiliação em sindicatos, provavelmente por efeito da própria
crise;
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ligas de Boliche
Associação de Pais e Mestres SindicatosAssociações Profissionais
Afiliação em Associações Nacionais
24
c) Ascensão altamente elevada nos anos da segunda guerra mundial, entre
1939 e 1945, tendo o espírito nacionalista como motor;
d) Continuidade da ascensão pós segunda guerra mundial, porém em níveis
menos acentuados, provavelmente ainda como efeitos do sentimento
nacionalista, sendo que depois da guerra “essa energia foi redirecionada para
dentro da vida comunitária”. (PUTNAM, 2000, p. 254);
e) Pico e patamar entre 1950 e 1960 e
f) Queda generalizada após 1960, com queda mais acentuada após 1975.
Putnam se preocupou em estabelecer algumas explicações para o período de queda
generalizada no último quarto do século 20. Na Figura 1.5, aponta alguns motivos do
declínio do capital social neste período, sendo eles basicamente os seguintes:
Figura 1.5: Motivos do declínio do capital social nos Estados Unidos8
Fonte: Adaptação a partir de PUTNAM, Robert D. Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community. New York, 2000, p. 284
8 A “mudança geracional” neste gráfico está representada com valor de 40% para tornar visivelmente mais claro o entendimento, no entanto, na avaliação de Putnam este fator é responsável por “metade do declínio geral no capital social” (PUTNAM, 2000, p. 284). A diferença entre nossa adaptação do gráfico e a análise de Putnam se deve ao fato de que os 10% restantes são atribuídos à somatória do fator “mudança geracional” com o fator “TV”.
25
a) Mudança Geracional – Atribui à geração nascida entre 1910 e 1940 o
adjetivo de “longa geração cívica” e explica “isto é, o grupo de homens e
mulheres que tem estado mais engajado em afazeres cívicos através de suas
vidas” (PUTNAM, 2000, p. 132). Inexoravelmente esta geração está sendo
substituída por seus netos, e esta mudança é responsável por pelo menos 40%
da erosão do capital social. Em 1960 a maior parte dessa geração alcançou
seu ápice em termos de participação pública, e não coincidentemente, como
sublinha Putnam, neste ano começou a erosão do capital social. Esta geração,
provavelmente se formou por conta de três fatores: foram protagonistas da
segunda guerra mundial (principalmente seu núcleo que nasceu entre 1925 e
1935) participando ativamente do esforço de guerra; vivenciaram a grande
depressão de 19299 e foi a última geração a crescer sem a presença da
televisão.
b) Televisão – É responsável por pelo menos 25% na erosão do capital social,
sendo que 10% desse total se deve à uma combinação com o declínio da longa
geração cívica. Seu efeito corrosivo, assim como de outros meios eletrônicos
de entretenimento, está em privatizar o tempo livre das pessoas. Assistir TV é
um ato solitário e isso reduz o tempo que as pessoas poderiam utilizar para se
relacionar com outras pessoas.
c) Trabalho – Considera que este fator é responsável por 10% na queda da
participação cívica, principalmente pelas pressões que tem exercido no tempo
e pela ocorrência da dupla carreira familiar (o casal que trabalha fora em
período integral)
d) Subúrbios – Estima que 10% da queda no capital social se deva a este
fator, principalmente localizado pelo espalhamento das cidades e pela
tendência em morar em condomínios exclusivos. Os subúrbios contribuíram
para o aumento no tempo de deslocamento (principalmente de carro) e isso
retira possibilidade de dedicar tempo para ampliar os relacionamentos
interpessoais
e) Outros – Para os demais 15% da queda de capital social, Putnam alega que
não ter uma explicação sendo este seu limite de entendimento na ocasião.
9 Outros eventos catastróficos podem também, ajudara no aprendizado da colaboração
26
Na Tabela 1.3 estão concentrados os componentes do Índice de Capital Social
elaborados por Putnam para a pesquisa nos Estados Unidos. O levantamento de
dados desses indicadores, cruzados com outros índices econômicos e sociais
(renda, riqueza, educação, raça, gênero, etc.), serviram tanto para explicar grande
parte do declínio no capital social, quanto para traçar o mapa do capital social nos
Estados Unidos, apresentado na Figura 1.6.
Tabela 1.3: Componentes do índice de capital social
Fonte: PUTNAM, Robert D. Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community. New York, 2000, pag. 291
Grupos Indicadores
1. Medidas da vida organizacional da comunidade
• Ter servido em comitê de organização local no último ano (percentual)
• Ter servido como oficial em algum clube ou organização no último ano (percentual)
• Organizações cívicas e sociais por 1000 habitantes
• Media do número de encontros de clubes atendidos no último ano
• Média do número de grupos afiliados
2. Medidas de engajamento em afazeres públicos
• Comparecimento nas eleições presidenciais 1998 e 1992
• Ter participado de encontros públicos para afazeres comunitários ou na escola no último ano (percentual)
3. Medidas do voluntarismo comunitário
• Número de organizações não lucrativas por 1000 habitantes
• Média do número de equipes de trabalho em projetos comunitários no último ano
• Média do número de vezes que fez trabalho voluntário no último ano
4. Medidas da sociabilidade informal
• Concorda que ‘Eu gasto muito tempo visitando amigos’
• Média do número de vezes que recebeu amigos em casa
5. Medidas de confiança social
• Concorda que ‘Muitas pessoas podem ser confiáveis’
• Concorda que ‘Muitas pessoas são honestas’
27
Figura 1.6: Mapa do capital social nos Estados Unidos10
Fonte: Adaptação a partir da elaboração de: PUTNAM, Robert D. Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community. New York, 2000, p. 293
Desta imagem, é importante destacar que os estados que tem melhores índices de
capital social, assinalados em vermelho, geralmente estão acompanhados de outros
dados estatísticos significativos, apresentados por Putnam.
Desempenho educacional – O estado da Dakota do Norte (junto com a
Dakota do Sul e mais 2 estados) estão entre os estados com maiores índices
de capital social e especificamente a Dakota do Norte é o estado com o melhor
desempenho educacional. Oposto a isso, figurando na ante-penúltima posição
no índice de capital social e última posição no desempenho educacional está o
Mississipi
Saúde pública – Minessota apresenta o mais alto índice de saúde pública e
está entre os 4 melhores no índice de capital social. No lado oposto, Arkansas
tem o pior índice de saúde pública e entra no terço inferior do Índice de Capital
Social.
10 Obs.: Dados não disponíveis para Hawaii e Alaska
28
Taxa de assassinatos – Aqui os estados com maior índice de capital social,
Dakota do Sul e Dokota do Norte, tem os menores índices de assassinatos.
Também apresentando um lado oposto, a Louisiana (um dos quatro com
menores índices de capital social) está entre os estados mais violentos com
medição a partir da taxa de assassinatos.
Igualdade na distribuição de renda – Altos índices de capital social são
acompanhados por melhores índices de igualdade social. Os estados de
Vermont e New Hampshire, situados no terço superior do índice de capital
social, são os que apresentam as melhores taxas de distribuição de renda.
Novamente Mississipi e Louisiana aparecem com o pior índice na distribuição
de renda.
Resumindo, as conclusões empíricas do trabalho de Putnam, tanto no caso da Itália,
quanto no caso dos Estados Unidos, deixam claro que o capital social anda de mãos
dadas com outros índices importantes de “saúde social”. Isso nos leva a pensar que
capital social é uma variável altamente complexa e só pode ser visto de uma forma
sistêmica.
1.5 Relações Conceituais
Neste momento, apresento algumas considerações que vinculam o capital social à
sociedade civil, às empresas e ao governo, bem como algumas notas relativas à sua
ligação com a democracia.
1.5.1 Sociedade civil e empresas – produção e consumo de capital social
De um modo geral, todos os autores citados anteriormente, enquadram a sociedade
civil como produtora por excelência de capital social, isto é, a fonte primária de
origem do capital social.
Tocqueville destaca sempre o papel do cidadão comum na formação de associações
e sua participação na vida pública, quer seja formando ou mantendo associações de
29
caráter privado ou público. Destaca em algumas passagens de suas “anotações de
viagem” a aversão que percebia em alguns segmentos da sociedade americana
quanto a intromissão do governo ou dos agentes públicos na resolução de
problemas.
Muito coerente, pois os governos (em todos os níveis) nos Estados Unidos
nasceram da necessidade e não de uma autoridade que delega poderes. Os
primeiros puritanos que chegaram à América, logo que aportaram e conseguiram
equacionar os primeiros problemas da sobrevivência, trataram de criar uma forma de
governo que cuidasse dos interesses da coletividade. Logo, nessa cultura, o governo
somos nós e não eles.
Essa cultura de engajamento cívico e associativismo, nos termos de Putnam, que
perdurou até o terceiro terço do século 20 nos Estados Unidos, foi em grande parte
o responsável pela formação e surgimento de empreendedores (grandes ou
pequenos), que ajudou a moldar o mercado consumidor. Assim, as empresas que
nasceram nesse bojo se beneficiaram enormemente do capital social presente na
sociedade.
Jacobs ressalta o papel das redes de relações pessoais no cotidiano e o olhar que
um cidadão pode ter sobre o outro no sentido do cuidar e está falando diretamente
do papel da sociedade civil como produtora do capital social.
Coleman, por excelência e ideologia, ao apontar o capital social como base para a
tomada de decisões racionais, aposta na reciprocidade, nos canais de informação e
nas normas sociais (cultura) como elementos que nascem na sociedade e dos quais
as empresas podem se beneficiar, já que para ele, a empresa também é um ator
social.
Putnam, definitivamente aposta no poder de organização e participação da
sociedade civil, tanto para criar a comunidade cívica como para o engajamento nos
assuntos públicos. Em sua ótica, os relacionamentos formais e informais constituem
a base na qual se forma o capital social. Este, por sua vez, tanto pode beneficiar as
ações empresariais, como pode ajudar a controlar seus excessos, assim como para
as ações governamentais.
Assim, nessa rápida retrospectiva, o capital social nasce na sociedade civil, que o
produz (ou pode produzir) em abundância, e este capital social acaba por ser
30
consumido também pelas empresas que se beneficiam dele tendo um ambiente
social de maior confiança capaz de reduzir os riscos das transações comerciais. As
empresas, por outro lado, podem ser exterminadores de capital social se
controlarem em demasia os relacionamentos entre as pessoas.
Mas, e o Estado?
1.5.2 Governo: exterminador ou produtor de capital social?
Tanto um quanto outro, dependendo da forma como este se relaciona com a
sociedade civil.
Governos que se provam eficientes, como foi o caso de alguns governos distritais do
centro e norte da Itália, souberam aproveitar e foram influenciados pelo capital social
existente em suas sociedades. São vigiados, cobrados, fiscalizados e mais
importante, foram eleitos por comunidades engajadas. Assim esses governos são
consumidores do capital social existente na sociedade civil, ao mesmo tempo em
que reforçam o capital social na medida em que o aproveita.
Mas os governos podem também incentivar a formação de capital social ou no
mínimo aproveitar de forma intencional o capital social comunitário já existente.
Peter Evans apresenta o conceito de sinergia para descrever como isso pode se dar.
Pressupõe o autor que a
sinergia entre estado e sociedade pode ser um catalisador para o desenvolvimento. Normas de cooperação e redes de engajamento cívico entre cidadãos comuns podem ser promovidas pelas agências públicas e usadas para fins de desenvolvimento (Evans, 1997, p.178)
e isso pode alargar as fronteiras entre o público e o privado.
Evans apresenta um exemplo de pesquisa de Judith Tendler11 onde agentes de
saúde pública no Estado do Ceará só conseguiram implantar o programa de saúde
depois que conseguiram estabelecer relações diretas com os moradores. Ou seja,
conseguiram aproveitar o capital social de nível primário que já existia na região,
11 Tendler, Judith, and Sarah Freedheim. 1994. “Trust in a Rent-Seeking World: Health and Government Transformed in Northeast Brazil.” World Development 22, 12: 1771–92.
31
estabeleceram relações de confiança e reciprocidade, e assim, literal e
figurativamente as portas se abriram.
Mas também os governos, por meio de seus líderes e suas burocracias podem
ajudar a exterminar capital social. Augusto de Franco sintetiza o papel que pode ser
exercido por líderes apresentando a “fórmula do mal”:
[...] Líder carismático, demagogia e palanquismo, dificuldade de aceitar a crítica e a opinião do outro, esbanjamento de recursos públicos [...] assistencialismo, incentivo à divisão da sociedade na base dos pobres contra os ricos (ou do povo contra as elites), mobilização das massas, criação de inimigos, desprezo pela ordem legal e desvirtuamento das instituições – todos esses ingredientes, quando combinados, compõem uma espécie de ‘fórmula do mal’, que retira dos indivíduos e das comunidades a capacidade de gerar o seu próprio desenvolvimento [...] (FRANCO, 2006)
Atuar dessa forma, significa exterminar capital social.
As burocracias, quando servem de castelos para alguns agentes do Estado,
costumam por toda sorte de obstáculos para evitar a participação e o engajamento
cívico.
Em documento público resultante de um conjunto de eventos, seminários e
encontros ocorridos entre 2006 e 2007 estão listadas 81 propostas para alavancar o
desenvolvimento do Brasil. Essas propostas estão em sintonia com a sinergia de
Evans, pois os autores destacam que “trata-se menos de trocar a pergunta ‘o que o
governo pode fazer por nós?’, por ‘como o governo pode apoiar o que estamos
empreendendo?’ ” (Dowbor e Coletivo, 2008. Itálico no original)
A grande maioria dessas propostas necessita vencer obstáculos burocráticos e de
vontade política para serem implementados. Seu grande apelo é: não destruam o
(pouco) capital social que ainda existe.
1.5.3 Redes sociais, Democracia e Capital Social
As três categorias conceituais desse tópico estão intimamente ligadas e são
mutuamente reforçadas, muito embora possamos, para fins específicos, tratá-las sob
perspectivas diferentes.
32
Neste texto, ao abordar alguns autores que tem se dedicado ao estudo do capital
social, fica patente que capital social se refere ao conjunto de relações entre as
pessoas, quer sejam essas relações formais ou informais, para fins privados ou
públicos e para o bem ou para o mal (qualquer que seja a acepção de bem ou mal).
Isso implica que redes sociais e capital social são conceitos análogos. Medir a
extensão das redes sociais em uma sociedade é também medir o estoque de capital
social presente nessa mesma sociedade.
Enquanto que capital físico refere-se à objetos físicos e capital humano é referente à propriedade dos indivíduos, capital social refere-se às conexões entre indivíduos – as redes de relações e as normas de reciprocidade e confiança que emergem delas. Nesse sentido, o capital social esta intimamente relacionado ao que alguns tem chamado de ‘virtude cívica’. A diferença é que ‘capital social’ chama a atenção para o fato de que a virtude cívica é mais forte quando está incorporada numa densa rede de relações sociais recíprocas. Uma sociedade com muitos virtuosos mas com indivíduos isolados não é necessariamente rica em capital social (PUTNAM, 2000, p. 19)
O conjunto das relações entre as pessoas, como essas relações se configuram, o
grau de abertura ou fechamento, os mecanismos, travas ou facilidades que se
interpõe ou são interpostas nos caminho dessas redes sociais (e do capital social),
são modos como podemos olhar as configurações da democracia.
O que sustenta na base um verdadeiro processo democrático é o grau de ligação
entre as pessoas. Como as pessoas ser articulam e se relacionam para manter seus
direitos democráticos básicos: igualdade e liberdade.
A constatação desse pressuposto pode se dar ao se observar as primeiras
providências de grupos que intentam contra a democracia em golpes de estado:
proibir o encontro público entre as pessoas e censurar os meios de comunicação, ou
seja, cortar a conexão entre as pessoas. Esse intento será mais difícil onde as
pessoas estiverem melhor conectadas umas às outras.
Visto dessa forma, capital social e redes sociais enquanto sinônimos são
sustentáculos da democracia, e são fatores que a fortalecem. A democracia, por
outro lado, é ambiente necessário para o florescimento de capital social.
33
Assim, capital social, redes sociais e democracia são configurações sociais que se
reforçam mutuamente.
34
Capítulo 2 - Opções Conceituais
Dadas as considerações teóricas dos principais autores desenvolvidas no capítulo
precedente, importa agora apresentar de forma objetiva as opções conceituais
adotadas que nortearam o trabalho de pesquisa de campo e análise dos resultados,
bem como definir o campo sobre o qual tais conceitos serão aplicados, suas
limitações e implicações.
É importante ressaltar antes de avançar neste capítulo, que capital social é um
conceito extremamente novo em termos de pesquisa acadêmica, estando em plena
evolução teórica. Conseqüentemente, não existe uma padronização na forma de
mensurá-lo, sendo que os métodos variam de acordo com a perspectiva teórica e o
campo de aplicação do conceito.
Conforme Franke, o conceito tem sido aplicado a diferentes campos, tais como
“família e juventude, escolas e educação, vida comunitária, trabalho e organizações,
democracia e governança, problemas relacionados à ação coletiva e
desenvolvimento econômico” e acrescentando “saúde mental, imigração e
segurança pública. (WOOLCOCK, 2001 apud FRANKE, 2005)
O conceito de capital social entra de forma mais contundente na agenda pública a
partir de 1998 quando o Banco Mundial lança o programa Social Capital Initiative.
Contando com investimento de um milhão de dólares do Governo da Dinamarca, o
objetivo do programa naquele momento consistia em “operacionalizar o conceito de
capital social e demonstrar como e quanto ele afeta os resultados do
desenvolvimento” (SERAGELDIN, 1998, p. iii). Para cumprir seu objetivo, 12 projetos
de pesquisas foram selecionados e todos se aplicavam a estudos de casos de
situações específicas de programas de desenvolvimento de pequena escala.
Segundo Franke
uma das mais importantes conclusões de todos os projetos liderados pela Iniciativa Capital Social é que o efeito do capital social é muito diferente dependendo do local de estudo e as mesmas dimensões nem sempre tem o mesmo papel (FRANKE, 2005, p. 3)
35
A partir dessa iniciativa, os policy markers passam a considerar o capital social junto
com outras estratégias de desenvolvimento. Por um lado, trata-se de uma questão
de oportunidade, uma vez que um grande financiador, nesse caso o Banco Mundial,
estava interessado em incluir a consideração desse fator na elaboração de projetos
sob seu financiamento. Por outro lado, e associado à grande atenção que tem
recebido o conceito de capital social, existe segundo alguns autores, um viés
ideológico.
Portes afirma que o conceito de capital social vem de encontro à necessidade de
ampliar a perspectiva econômica predominante usada para avaliar o
desenvolvimento (PORTES, 1998, p. 2-3). Assim capital social é considerado como
o quinto fator de produção, precedido pela terra, trabalho, capital físico e capital
humano. (HIGGINS, 2005, p. 23)
Trata-se, portanto, nas palavras de Higgins de “explorar ao máximo a sociabilidade
como um antídoto contra o individualismo, a ineficiência burocrática, a corrupção e
os custos de transação”, concluindo que este “filão inexplorado é o que se denomina
como capital social” (HIGGINS, 2005, p. 22-23).
Diante da profusão dos discursos que enaltecem o capital social, Higgins, sob sua
ótica crítica, considera prudente levantar, a guisa de hipóteses, algumas questões,
entre elas
até que ponto os economistas e as instituições multilaterais, com sua idéia de um quinto fator de produção esquecido, têm em mente só propostas de desenvolvimento que promovam a eficiência (melhora da rentabilidade) sem mexer nos problemas estruturais de redistribuição de renda? (HIGGINS, 2005, p. 28).
Portes, por sua vez, aludindo à popularização do termo capital social, afirma que
este ganhou contornos de remédio “para todos os males que afetam a sociedade
interna e externamente”, (PORTES, 1998, pag. 2) sendo que vem sendo aplicado
“para tão diferentes eventos e em muitos diferentes contextos que o faz perder
qualquer significado distintivo” (PORTES, 1998, pag. 2). Em seu entendimento, o
termo “não incorpora nenhuma idéia nova para os sociólogos” pois reporta à
36
[...] ênfase de Durkheim na vida grupal como um antídoto contra a anômia e a auto destruição e à distinção de Marx entre uma classe atomizada em si mesma e uma classe mobilizada e efetiva para si mesma. (PORTES, 1998, pag. 2)
2.1 Abordagens do Capital Social
O entendimento sobre capital social, bem como as escolhas metodológicas usadas
para seu estudo e as conclusões advindas das diversas pesquisas são impactadas
também pela abordagem em uso.
De acordo com Franke (2005) e Hjøllund e Svendsen (2000), três principais
abordagens podem ser identificadas na literatura sobre capital social: a) abordagem
macro; b) abordagem micro e c) abordagem meio.
A) Abordagem Macro
Os autores e estudos que utilizam essa abordagem estão focados nas condições
favoráveis ou desfavoráveis existentes em uma sociedade que facilitam ou
dificultam a cooperação entre seus membros. Assim, a estrutura política e o
desenvolvimento institucional de determinadas localidades funcionam como
correia transmissora de valores criando ou não “condições para o engajamento
cívico e participação política” (FRANKE, 2005, p. 3).
Neste caso, existe uma ênfase muito forte nos aspectos culturais de uma
comunidade. Os valores e normas que são transmitidos de geração para geração
ou são propagados pelos exemplos de líderes ou formadores de opinião, facilitam
ou não com que as pessoas participem de ações coletivas e da conseqüente
construção de bens públicos.
A partir dessa abordagem podemos ter, em relação à ampliação ou fomento de
capital social, usando a linguagem dos economistas, um círculo virtuoso ou
vicioso. Quanto mais confiança e reciprocidade puder ser verdadeiramente
transmitida por uma determinada cultura, mais o capital social irá florescer e se
ampliar. Pelo contrário, quanto menos confiança e reciprocidade são transmitidas
culturalmente, menos haverá em termos de estoque de capital social, porque
menos dispostas as pessoas estarão em termos de ação conjunta, prevalecendo
o individualismo e atomização das relações.
37
Seguindo exemplo apontado por Higgins (2005) a partir da leitura de Rothstein
que aponta o “eficiente desempenho das cortes e da polícia da Suécia”
(HIGGINS, 2005, p. 208-209), podemos pensar que quanto mais confiança o
cidadão puder colocar nas instituições garantidoras da justiça e da ordem
pública, mais confiança poderá depositar em seu co-cidadão, pois se este
descumprir a lei será punido. Pelo contrário, instituições dessa ordem fracas e
parciais imprimem a certeza da impunidade e instilam a permanente
desconfiança.
Nesta abordagem, portanto, o capital social esta intimamente relacionado à
confiança e junto com aspectos relacionados à identidade coletiva tem raízes
culturais e históricas. Olhar o capital social a partir desse prisma, implica em
medir o grau de confiança reinante na sociedade e medir o grau de desempenho
das instituições.
Para não sucumbir a um pensamento paralisante, visto que a confiança fica
estabelecida a partir de aspectos culturais e históricos, é importante ressaltar que
a cultura pode e é modificada a partir do dia-a-dia. A partir de tais medidas de
confiança e desempenho institucional, é possível estabelecer estratégias de
atuação que possam modificar o quadro existente.
B) Abordagem Micro
As pesquisas que utilizam uma abordagem micro do capital social, conforme
informa Franke, focam no estudo do valor da ação coletiva. Entender as razões
que determinam a formação de associações, bem como seus tipos, quantidades
e os valores que estão subjacentes ao trabalho associativo está no centro do
interesse de pesquisadores que enveredam por esta abordagem. (FRANKE,
2005, p. 1). Nas palavras de Franke, “esta abordagem define o capital social
como o potencial de estratégias cooperativas” (FRANKE, 2005, p. 1)
Em termos empíricos, importa neste caso, estudar como são estabelecidas as
diversas redes entre os membros de uma sociedade e que normas e valores
estão regendo as interações entre os indivíduos, famílias e comunidades.
(Hjøllund e Svendsen, 2000, pag. 4).
38
C) Abordagem Meio
Nesta abordagem, o capital social tem um caráter instrumental, ou seja, é visto
como um recurso que pode possibilitar a obtenção de informações e recursos.
Sua ênfase esta em analisar as estruturas sociais existentes que facilitam ou
dificultam a ação dos indivíduos. Conseqüentemente, esta abordagem está
situada entre as abordagens macro – aspectos culturais que facilitam a confiança
e cooperação – e micro – como os indivíduos interagem.
Estruturas sociais neste contexto é entendido como as diferentes “molduras
sociais” nas quais os indivíduos de uma sociedade atuam. Assim, aspectos como
distribuição de renda, nível de estratificação social, regime político ou ideológico,
atuação do Estado, compartilhamento de espaços públicos, nível de convivência
étnica e religiosa, fazem parte da estrutura social que determinam as “redes
socais, a posição dos membros dentro dessas redes, os tipos de interação e as
condições nas quais elas ocorrem” e estes “são fatores que determinam a
natureza dos recursos e o modo no qual eles circulam”. (FRANKE, 2005, p. 2)
Se na abordagem macro o capital social pode ser visto com um bem público ou
coletivo e na abordagem micro ele pode ser interpretado como um bem
individual, na abordagem meio ele não é nem público nem individual, “mas uma
propriedade decorrente da interdependência entre os indivíduos e entre grupos
dentro de uma comunidade” permeados pela cultura. (FRANKE, 2005, p. 2)
As três abordagens apresentadas, não são excludentes entre si, mas olham o capital
social sob ângulos diferentes, portanto, são complementares e altamente
interligadas.
Do ponto de vista teórico, entender a complexidade do capital social exige uma visão
sistêmica e integrada, porém do ponto de vista empírico, seu estudo e mensuração,
assim como a operacionalização de seus componentes, requer levar em conta os
objetivos da pesquisa, estratégias e interesses em jogo de quem está fazendo a
pesquisa e o campo na qual o conceito está sendo aplicado.
39
Ou seja, o que estou afirmando e assumindo é que o capital social é um conceito
que até o momento não goza de uma padronização e de um entendimento que
possa ser aplicado a diferentes contextos e situações a partir de uma medida única e
universal. As manifestações de seus principais componentes – confiança, redes e
cooperação – são amplas e diversificadas, como são as culturas e sub-culturas
criadas pela humanidade. Além disso, dentro de culturas semelhantes existem
manifestações diferentes desses componentes, levando em conta tanto aspectos
objetivos de ordem material, interesses e situações, quanto aspectos subjetivos de
caráter cultural.
Dessa complexidade resulta a dificuldade de criação de índices que possam ser
amplamente aplicados e que possam, por exemplo, estabelecer os índices de capital
social entre nações e sua posterior comparação.
O capital social pode ser estudado em campos bastante diferentes:
Na saúde é possível estudar os efeitos da recuperação de pacientes tendo
como uma das variáveis os relacionamentos interpessoais, ou quanto o
isolamento social pode levar a algumas doenças; (PUTNAM, 2000, p. 326-327)
Na educação, conforme analisou Coleman, as taxas de evasão escolar
podem ser comparadas aos níveis de capital social presentes na família ou na
comunidade. O desenvolvimento infantil é protegido e beneficiado em
comunidades com índices mais elevados de capital social. (COLEMAN, 1988).
Estudos de imigrações mostram como os imigrantes se adaptam a novas
culturas conservando e nutrindo suas redes e relações de confiança;
(PUTNAM, 2000, p. 320; ALMEIDA, sem data)
No campo da segurança pública, experiências mostram como a formação de
redes de vizinhos tem ajudado a diminuir índices de criminalidade; (PUTNAM,
2000, JACOBS, 2000)
Pesquisadores tem apontado o capital social como componente fundamental
na implantação de políticas públicas ou projetos de desenvolvimento
comunitário mesmo em ambientes com baixo estoque de capital social;
(EVANS, 1997; TENDLER, 1994)
Cidades são revitalizadas ou entram em declínio econômico e social
dependendo de como são as relações entre seus membros; (JACOBS, 2000)
40
No campo econômico, estudos mostram que os custos transacionais são
maiores em ambientes de pouca confiança; que as pessoas com mais
conexões são melhores sucedidas na busca de empregos; (GRANOVETTER,
1973)
A psicologia social aponta a força e o poder das relações grupais na
formação de opiniões e na tomada de decisões. (MOSCOVICI, 1991)
Empresas, cidades e regiões inteiras tem se beneficiado do poder criativo
proveniente da conexão entre pessoas e entre empresas.
No campo político, quanto maior a participação e engajamento em assuntos
públicos dos cidadãos de uma nação, mais forte e consolidada é sua
democracia. (PUTNAM, 2000 e 2007)
A partir dessa avaliação, importa para os fins desta pesquisa, estabelecer de forma
clara meu entendimento a cerca de capital social e a partir dele, definir as variáveis
que indicam os estoques de capital social, assim como definir o campo de aplicação
da pesquisa.
2.2 Conceito Adotado de Capital Social
Partindo da leitura e crítica dos principais autores sobre capital social, explicitados
não Capítulo 1, adoto o seguinte conceito sobre capital social:
Grau de conectividade entre os indivíduos de uma localidade do qual
emerge o conjunto das redes sociais que facilitam as ações individuais
ou coletivas, gerando normas e valores compartilhados, reciprocidade e
cooperação.
41
Figura 2.1: Representação gráfica do conceito de capital social
Fonte: Elaboração própria
Afigura 2.1 ilustra meu entendimento conceitual a cerca do capital social. A forma
como as elipses estão dispostas, mostram o capital social em sua dupla dimensão
de efeito e causa.
Nesse sentido, capital social é um efeito direto do grau de conectividade das
pessoas e um efeito impactado pela cultura reinante em cada localidade.
O grau de conectividade entre as pessoas significa o quanto e como as pessoas se
relacionam umas com as outras. Como são as suas relações no dia-a-dia, qual a
qualidade desses relacionamentos, sua intensidade e seus motivos. Nesse sentido,
podemos afirmar sem receio que em toda sociedade existe determinado grau de
relacionamento entre os indivíduos, ou seja, a relação entre as pessoas é algo
implícito no conceito de sociedade, caso contrário, não seria sociedade e sim um
conjunto amorfo de seres humanos vivendo de forma atomizada. A própria condição
Solidariedade
CooperaçãoReciprocidade
Normas Valores Compartilhados
(conjunto dos relacionamentos sociais configurados em redes)
Ciclo Positivo / Negativo
B
C
D
Identidade
Necessidades
Valores e crenças
Confiança
42
humana, para ser considerada como tal, pressupõe o relacionamento entre os
indivíduos.
Partindo dessa premissa, e seguindo essa lógica, está implícito que toda sociedade
tem um determinado nível de capital social. Assim, capital social não é algo que se
cria a partir do ponto zero, mas algo que pode ser ampliado a partir do que já existe
e das condições onde ocorre, desse modo, é mais adequado falar em estoques de
capital social.
Para ilustrar melhor essa premissa, podemos recorrer a um exercício de imaginação:
Vamos imaginar que fosse possível transportar 100 pessoas para um novo planeta
recém-descoberto e que permitisse a vida na forma como a conhecemos na Terra.
Sem que possam resistir a essa mudança, 100 pessoas de 100 diferentes cidades
são compulsoriamente e individualmente transportadas para esse novo planeta. Ao
chegar ao destino as pessoas são mantidas isoladas até que o centésimo
passageiro chegue. Depois disso, são colocadas juntas em determinado local e
deixadas a própria sorte. No exato momento em que o isolamento é quebrado, pela
pura condição humana, relacionamentos começam a ser formados, vínculos
começam a ser estabelecidos, conflitos e paixões vão surgindo.
A partir desse exercício, é impossível pensar que as pessoas se manterão
absolutamente atomizadas. Podem ocorrer divisões entre os membros do grupo que
procurarão novos locais para habitar nesse planeta, mas as pessoas vão se agrupar
seguindo múltiplos e variados fatores.
Nesse exercício imaginativo, não estamos partindo do ponto zero absoluto, pois o
nível de capital social dessa comunidade compulsória terá relação direta com o grau
de relacionamento entre as pessoas, que por sua vez, será determinado pelo
sincretismo cultural resultante do processo de formação da nova cultura.
Como ilustrado na Figura 2.1 na elipse A, são os aspectos culturais de uma
sociedade que ajudam a determinar em parte como as pessoas se relacionam. Tais
processos culturais, em minha acepção, na base do processo de formação cultural,
estão relacionados aos processos de identidade coletiva entre as pessoas e como
se organizam para suprir as suas mais variadas necessidades grupais e individuais
(segurança, alimentação, prazer e etc.) ao longo do processo histórico. Os
processos de identificação coletiva, que podem ser resumidos como os sentimentos
43
de pertencimento à um grupo, e as labutas pela sobrevivência (suprimento de
necessidades), ao longo do tempo geram valores básicos da sociedade e formam
suas crenças. Neste processo se configura o nível de confiança entre os membros
de uma sociedade, assim como uma miríade de outros aspectos (comportamentos,
costumes, linguagem, códigos de conduta, etc) que se retro-alimentam.
No estudo que Putnam empreendeu para avaliar a eficiência das instituições
italianas, ao apresentar algumas hipóteses sobre as diferenças no capital social
entre o norte e o sul da Itália, recorre a algumas explicações de caráter histórico,
apontando que o norte da Itália foi marcado por séculos de ajuda mútua entre seus
habitantes para não sucumbir ante as necessidades, ao passo que aponta que no
Sul, o poder papal e a relação de dependência da igreja criaram um ambiente de
paternalismo e assistencialismo (PUTNAM, 2007)
Voltando agora ao grau de relacionamento entre as pessoas, é salutar esclarecer
que não estamos aludindo exclusivamente a relacionamentos puramente individuais,
de indivíduos com indivíduos, mas também de indivíduos que se agrupam dentro de
uma sociedade conforme seus interesses, necessidades, valores comuns, objetivos
e etc. Assim, ao longo da vida, as pessoas vão se estabelecendo em redes de
relacionamentos, que podem ser mais amplas ou mais estreitas, conforme a
configuração cultural em que estão inseridas (Figura 2.1 na elipse B).
A mais básica dessas redes de relacionamento é a constituída pela família nuclear
(pai, mãe e filhos). Um pouco mais além, podemos falar da família ampliada, onde
encontramos os irmãos, avós, sobrinhos, etc.12 As redes de relacionamento
calcadas na identificação quanto à crença religiosa e nas relações de proximidade
física se encontram também num nível básico.
Assim, como podemos observar na Figura 2.1 na elipse C, o que denominamos de
capital social é o agregado dos conjuntos de relacionamentos (redes) entre as
pessoas. São dessas redes - suas configurações topológicas, sua densidade, suas
estruturas, seu grau de diversidade, a freqüência e intensidade do contato entre
seus membros - em seus aspectos quantitativos e qualitativos, que são gerados os
aspectos sociais que podem ser considerados efeitos do capital social, ou seja o
12 Para conhecer uma discussão que relaciona a família ao capital social ver o artigo A Economia da Família em de Ladislau Dowbor disponível em http://dowbor.org/ecofamilia.asp#_ftnref1
44
grau de solidariedade entre as pessoas, as normas e valores que são comuns e são
compartilhados entre as pessoas, assim como os níveis e tipos de reciprocidade e
cooperação.
Tais efeitos do capital social, que provisoriamente vou chamar de “aspectos da vida
social”, podem ser melhor capturados e mensurados se puderem ser traduzidos em
outros comportamentos e ações sociais.
Dessa forma, como ilustrado na Figura 2.1 na elipse D, para medir o capital social, é
também necessário investigar e mensurar esses outros comportamentos e ações
sociais. A escolha de quais aspectos mensurar, conforme mencionado
anteriormente, esta diretamente relacionado ao campo no qual o conceito de capital
social esta sendo aplicado e os objetivos da pesquisa.
Assim, por exemplo as ações conjuntas entre membros de uma sociedade, traduzem
um pouco do nível de comportamento cooperativo (e competitivo) que existe nessa
sociedade. Como as pessoas se ajudam mutuamente, quer seja no dia-a-dia ou em
momentos de necessidades extremadas, traduz um pouco do grau de solidariedade
presente na sociedade. Os movimentos sociais e a participação política refletem os
valores que são compartilhados na sociedade, assim como a efetividade das normas
vigentes ajudam a determinar o controle social que inibi ou reforça comportamentos
e ações dos mais variados tipos.
2.3 Capital Social e Redes Sociais
Explicitado meu entendimento a cerca do capital social, o qual irá nortear a
elaboração dos indicadores que serão investigados, fica explicito a quase
singularidade entre capital social e redes sociais.
Nesta concepção, capital social é rede social, ou em outras palavras, o estoque de
capital social de uma comunidade é o conjunto das mais variadas redes sociais
presentes nessa comunidade (ou sociedade, localidade, cidade, bairro, país).
Enquanto conceitos equivalentes, parto do princípio de que ambos já estão
presentes em algum nível em qualquer sociedade, quer estejamos falando de uma
pequena ou grande cidade de uma país ocidental desenvolvido ou não, de uma vila
45
de pescadores encravada em uma remota área de um país sub-desenvolvido ou de
uma aldeia de agricultores em um país asiático, por exemplo.
As Figuras 2.2a e 2.2b ilustram de forma hipotética os estoques de capital social
presentes em duas comunidades diferentes representados pela quantidade de redes
sociais que estão estabelecidas.
Figura 2.2a: Representação gráfica do estoque de capital social na Comunidade A
Fonte: Elaboração própria
A
BC
D
E
F
GH
I
J
K
L
M
N
O
P
Q
R
S
T
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Associação de bairro
Associação Industrial
Vizinhos
Time de Futebol
Sócios em uma empresa
Membros de uma igreja
Organizadores da festa regional
Associação Comercial
Redes Sociais na Comunidade A
Estoque Capital Social
46
Figura 2.2b: Representação gráfica do estoque de capital social na Comunidade B
Fonte: Elaboração própria
Esses supostos estoques de capital social nessas hipotéticas comunidades estão
estabelecidos de forma “natural”, ou seja, são resultados do processo histórico do
desenvolvimento dessas comunidades. Isso significa que intencionalmente nenhuma
ação foi desenvolvida no sentido de aumentar ou diminuir o estoque de capital social
nessas comunidades, o que não exclui que ao longo da formação dessas
comunidades, ações não tenham sido feitas (o que chamei de natural) que
redundaram no aumento ou diminuição do estoque de capital social.
Neste momento é preciso esclarecer três questões fundamentais que estão
associadas aos conceitos de capital social e redes sociais.
Primeiro, pelo menos nos últimos 8 anos, é recorrente na imprensa e nos meios
empresariais o uso do termo “redes sociais”. A imprensa tem utilizado esse termo no
sentido de designar os diversos espaços de contato virtual entre as pessoas que tem
sido desenvolvidas. Assim, referem-se aos espaços de contato virtual do tipo Orkut,
A
BC
D
E
F
G
H
I
J
K
L
MN
O
P
Q
R
ST
X
X
X
X
XX
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
Associação de Bairro
VizinhosTime de Futebol
Membros de uma igreja
Redes Sociais na Comunidade B
Estoque Capital Social
Narcotraficantes
47
Facebook, Linked-in, entre outras, como “redes sociais”. Tal utilização, não obstante
o direito de utilizá-las, em meu ponto de vista, e para fins dessa pesquisa, não
corresponde ao meu entendimento e utilização.
Tais espaços virtuais de contato não constituem outra coisa se não ferramentas que
as pessoas utilizam para se conectar com outras pessoas. Portanto, a ferramenta
utilizada para um determinado fim, não define o fim em si mesmo, ela mostra apenas
como o fim está sendo atingido. Ferramentas de contato entre as pessoas existem e
tem evoluído há muitos milênios. Se assim fosse, pergaminhos, cartas, telefonemas
e sinais de fumaça poderiam ser considerados redes sociais, mas nunca em si
mesmo foram consideradas como tais.
O que ocorre é que com o avanço da tecnologia informacional foi possível observar
um fenômeno que sempre existiu: como e quanto as pessoas estão conectadas
entre si e quais são as redes que estão estabelecidas ou são formadas a partir de
interesses, desejos e necessidade. A tecnologia informacional, além de facilitar o
contato entre as pessoas, permitiu mensurar esse contato de forma mais ampla e
imediata. Assim, quando um grupo na atualidade, utilizando a internet e suas
diversas ferramentas de contato virtual inicia um movimento de apoio ou repúdio à
alguma questão social, é possível observar de forma mais precisa o potencial das
conexões que estão estabelecidas. Isso é mais visível atualmente do que era há 20
anos (por exemplo).
No início do processo de independência dos Estados Unidos, quando Paul Revere
saiu percorrendo as diversas comunidades alertando sobre a vinda das tropas
Britanicas, nada mais fez do que utilizar ferramentas para mobilizar as redes que já
estavam estabelecidas em prol da independência. Essas redes, já vinham sendo
formadas há muitos anos durante os contatos diários, pessoais e comerciais, em
assembléias e encontros entre os colonos que se mobilizavam pela causa. O
sucesso do alerta de Paul Revere só foi bem sucedido porque as redes já estavam
estabelecidas. Se tal intento pudesse ser observado na atualidade, certamente
poderíamos ver diversas “comunidades” na internet que postulariam a
independência.
Assim sendo, portanto, um segundo ponto a ser esclarecido, é que não estamos
falando de fenômeno da atualidade: redes sociais sempre existiram. Seguindo
48
Castells, podemos afirmar que o avanço tecnológico no qual vivemos é o que nos
faz enxergar as redes sociais
Embora a forma de organização social em redes tenha existido em outros tempos e espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para a sua expansão penetrante em toda estrutura social (CASTELLS, 2006, p. 565).
Segundo, redes existem sempre que existem pessoas que estão se relacionando
para determinados fins. Assim, exemplificando, forma se redes quando:
Um grupo de aposentadas do condomínio se reúne todas as quartas-feiras
para jogar baralho;
Um grupo de jovens ligados a uma igreja atua de forma conjunta para prestar
serviços assistenciais a moradores de rua;
Um grupo de empreendedores troca constantes informações a cerca de
inovações tecnológicas e mercadológicas que podem redundar em benefício
de seus negócios;
Um grupo de uma comunidade atua para melhorar as condições do seu bairro
ou reformar o parque infantil próximo de suas casas;
Alguns empresários se associam para formar um novo negócio e explorar um
segmento mercadológico.
Assim também, pode-se observar o lado nefasto das redes sociais e do capital
social, quando:
Um grupo de comparsas reúne seus talentos para roubar bancos, fraudar
licitações ou formar cartéis empresariais;
Um grupo se associa para o tráfico de drogas ilícitas, exploração sexual,
contrabando de armas e de pessoas, etc.;
Um grupo de parlamentares intencionalmente só aprova projetos mediante o
recebimento de benefícios pessoais e
Grupos em diferentes localidades sincronizam suas ações armadas de modo
a impor seus pontos de vista ou ideologia.
49
Terceiro, o capital social e as redes sociais podem ser classificadas dentro de
algumas dimensões, conforme Putnam, resumidos na Tabela 2.1.
Tabela 2.1: Dimensões do capital social e das redes sociais
Fonte: Elaboração própria a partir de Putnam (PUTNAM, 2000, p. 22)
Além dessas dimensões, Putnam apresenta duas outras dimensões, dotadas de
maior significação e implicações nesse estudo. Trata-se do capital social briding e
bonding. As principais características dessas duas dimensões podem ser
comparadas na Tabela 2.2.
Dimensão Classificação Definição Exemplos
Estratégica
Repetido e Intensivo
Relacionamentos que se repetem, que são intensivos e abrangem uma gama diferente de pessoas e atividades
• Jogadoras de baralhos de todas as quartas-feiras• Membros da diretoria de um sindicato ou associação
Episódico, isolado e anônimo
Relacionamentos oriundos de encontros casuais e com pouca freqüência
• Dois moradores de um mesmo edifício que as vezes se encontram no elevador• Um taxista e seu passageiro durante uma viagem
Constituição
FormalFormalmente organizados, com constituição escrita, definição de papéis e encontros regulares
• Conselhos de regulamentação profissional• Empresas, governos, clubes , ONGs e etc.
Informal
Sem constituição escrita ou registrada, papeis não definidos ou definidos conforme as circunstâncias com encontros regulares ou não
• Grupo de vizinhos que jogam futebol aos domingos pela manha• Amigos que se encontram para tomar vinho
Finalidade
PúblicaAções voltadas para o interesse público
• Associações de defesa do consumidor•Governos, órgãos da justiça, associações de defesa de direitos
Privada Ações voltadas para interesses privados ou coletivos
• Associações de colecionadores ou praticantes de esportes •Clubes de funcionários públicos ou associações de previdência privada
50
Tabela 2.2: Características das dimensões bridging e bonding do capital social e das
redes sociais
Fonte: Elaboração própria a partir de Putnam (PUTNAM, 2000), Gittel e Vidal (GITELL, Ross. VIDAL, Avis, 1998) e Granovetter (GRANOVETTER, Mark S., 1998)
De um modo geral, o capital social de ponte13 (bridging) produz efeitos que cruzam
as fronteiras raciais, de gênero, opção sexual, classe e etc. Seus efeitos contribuem
para a integração social de um modo mais amplo e aprofundam sentimentos de
tolerância e facilitam a convivência a partir das diversidades. Seus efeitos mais
amplos são ótimos para a democracia, sendo especialmente úteis em momentos de
graves crises sociais ou econômicas, bem como em momentos de desastres
naturais.
O capital social de ligação (bonding), por outro lado, facilita o início de ação entre as
pessoas, uma vez que não precisa superar a barreira da identidade. É muito salutar
na medida em que reforça os vínculos de solidariedade, principalmente em
momentos em que as pessoas do grupo necessitam de suporte, quando ocorre, por
exemplo, um desemprego entre os membros de uma família.
Não obstante, é preciso ressaltar que o capital social de ligação pode, em algumas
configurações sociais, apresentar efeitos negativos. Neste texto, ao assumir que
capital social é o grau de conexão entre as pessoas configurado nas diversas redes
sociais está implícito a aceitação do capital social de ponte. Nesse sentido, nada
mais lógico do que os membros de uma comunidade buscarem a ampliação de seus
relacionamentos em prol de seus interesses. Dependendo dos valores que estão
presentes nestas redes sociais, poderemos observar o reforço do sectarismo
13 A partir desse ponto, usarei uma tradução livre para o português para os termos bridging enquanto ponte e bonding como ligação
Efeitos Foco Finalidade
Bridging
Inclusão social. Conectam e “incorporam pessoas de diversos recortes sociais”, diferentes grupos e interesses.Geram identidades mais amplas.
Exterior. Seu olhar está voltado para toda sociedade.
Adequados “para ligação com recursos externos e difusão de informações”.
Bonding
Exclusividade na ação. Reforça o vínculo entre pessoas e grupos semelhantes. “Reforçar identidades exclusivas e grupos homogêneos.Reforçam as identidades já existentes.
Interior. Sua atenção está centrada no seu grupo de interesse.
Servem como “suporte à reciprocidades específicas e mobilização solidária” entre pessoas pertencentes ao grupo
51
podendo ser este um efeitos negativos do capital social exclusivo, levando, em
situações mais extremas à guerras étnicas e genocídios, ou mesmo a formação de
grupos de extermínio ou de perseguição religiosa.
Putnam, ao discutir a ligação entre capital social e tolerância, apresenta sua
conclusão da possibilidade de “04 tipos de sociedade” (PUTNAM, 2000, p. 355) a
partir do cruzamento de níveis diferentes de tolerância e de capital social, conforme
ilustra a Figura 9
Figura 2.3: Nível de tolerância e capital social
Fonte: Elaboração a partir de Putnam (PUTNAM, 2000)
A análise de Putnam está constituída no sentido de demonstrar que capital social
não é incompatível com tolerância, demonstrando de forma estatística, a partir de
seu Social Capital Index que os estados americanos com mais alto índice de capital
social são também os mais tolerantes em termos de gênero, igualdade racial e
direitos civis. (PUTNAM, 2000, p. 356).
Meu objetivo ao apresentar a Figura 2.3, atende aos interesses do objeto de
pesquisa contidos nessa dissertação, apresentando um objeto (capital social) não
Capital Social
Individualista:"Você faz o seu e eu faço o meu”
Comunidade Cívica
Anarquia:"Guerra de todoscontra todos”
Comunitarismosectário:"Os de dentro vs os de fora"
Baixo Alto
52
apenas imerso na fragrância idealizada das rosas, mas também apontar os espinhos
presentes em seu caminho.
Gostaria de chamar a atenção do leitor sobre os quadrantes superior e inferior direito
da Figura 2.3. O capital social de ligação, quando presente de forma dominante, e
associado a baixos níveis de tolerância pode produzir um comunitarismo que
Putnam classificou de sectário,
Assim, o sectarismo é filho legítimo da intolerância e do capital social de ligação,
uma vez que ambos valorizam a igualdade entre os iguais em detrimento da
igualdade entre os diferentes. Da mesma forma, fica valorizada a fraternidade entre
os iguais ou entre aos que fazem parte do mesmo grupo em detrimento dos que
estão fora.
Em comunidades com forte capital social de ligação pode existir uma diminuição da
liberdade individual em prol da igualdade coletiva. Assim, por exemplo, numa vila de
pescadores com fortes laços de identificação, o indivíduo se sentirá fortemente
constrangido à seguir os demais ou terá grande resistência em apresentar oposição
quer seja à idéias ou ações dessa comunidade. Por outro lado, quando um membro
dessa comunidade precisar de ajuda, nessa configuração, certamente terá boas
chances de ser amparado14.
Ambas as dimensões, como podemos ver, tem efeitos sociais positivos e são
importantes nas diversas configurações e situações sociais. Talvez um equilíbrio no
incentivo e nas manifestações dessas duas dimensões do capital social seja
adequado em termos de um quadro social amplo. Entre a dimensão de ponte e de
ligação, ou entre as outras dimensões apresentadas, como assevera Putnam,
felizmente,
Muitas das evidências que eu tenho apresentado sugerem que o capital social de vários níveis é mutuamente reforçado – aquele que estende a mão para amigos e a família geralmente é o mais ativo em chegar na comunidade também. Mas isso não acontece em todos os casos. O dilema da fraternidade vs fraternidade destaca um
14 Uma discussão mais ampla das intrincadas relações entre liberdade, igualdade e fraternidade pode ser encontrada em Putnam, Robert, Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community. New York, 2000, especialmente os capítulos 1, de onde extrai os conceitos de capital social de ponte e ligação e no capítulo 22 de onde extrai algumas idéias que analisam alguns efeitos negativos do capital social.
53
aspecto dessa questão em discussão. Alguns tipos de capital social de ligação desencorajam a formação de capital social de ponte e vice-versa (destaque do autor) (PUTNAM, 200, p. 362, destaque do autor)
2.4. Produção e Manifestação do Capital Social
Quanto à produção e manifestação do capital social, adotamos o entendimento de
que as dimensões do capital social utilizadas na pesquisa15 cobrem aspectos
diferentes do capital social no que concerne basicamente à sua produção ou
manifestação.
Por produção, estamos nos referindo aos fatores que ajudam a produzir, manter ou
destruir capital social, primariamente mensurados a partir das dimensões Grupos e
Redes e Confiança e Solidariedade.
Por manifestação entendemos duas categorias complementares:
Operação: como o capital social atua na realidade concreta, ou seja, como
ele facilita as ações coletivas, a informação e a comunicação
Resultados: mensurando os níveis de coesão social, a sociabilidade e os
conflitos assim como o grau de empoderamento percebido.
A figura 2.4 mostra a relação entre as 6 dimensões do capital social que serão
mensuradas e as diferentes formas de classificar sua manifestação
15 Conforme explicitado na Introdução, página 2 e no Capítulo 3, página 62
54
Figura 2.4: Dimensões e formas de mensuração do capital social16
Fonte: Elaboração a partir dos conceitos do World Bank, 2003
A relação entre as 6 dimensões do capital social e o que do capital social pode ser
mensurado em cada dimensão, não pode ser visto de uma forma linear e estanque.
A figura 2 foi propositalmente construída dessa forma para refletir a inter-relação
ente as dimensões e o que pode ser captado em cada dimensão. As relações das
dimensões com os aspectos mensuráveis mostram características primárias e nunca
exclusivas.
Dessa forma, quando mostramos que Organizações e Redes e Confiança e
Solidariedade são dimensões que produzem e reproduzem capital social, estamos
afirmando que o fazem de modo primário, mas não exclusivo, pois, neste caso, não
16 Para melhor entendimento desta figura, as elipses dispostas em torno do círculo central denominado de capital social representam as dimensões adotadas na pesquisa de campo e as elipses que conectam as dimensões em parem representam características do capital social. Os retângulos que conectam as elipses exemplificam algumas medidas utilizadas para mensuração das manifestações e dimensões.
•Disposição em• colaborar
•Atividades conjuntas•União em emergências
Produção
OperaçãoResultados
Confiança eSolidariedade
Ação Coletiva e
Cooperação
Coesãoe Inclusão Social
Empoderamentoe Ação Política
Grupose redes
Canais de Informação e
Comunicação
CapitalSocial
•Conflitos•Violência
•Sociabilidade
•Diferenças
•Proximidade•Identidades
•Segurança
•Felicidade
•Atividade
•Protagonismo
•Relevância da participação
•Passividade
•Intensidade e efetividade da participação•Diversidade de grupos e organizações
•Acesso à recursos•Extensão das redes
•Solidariedade
•Confiança•Dar e receber ajuda
•Intensidade
•Usos
•Fontes de informação
•Freqüência
•Acessos às ferramentas
55
podemos deixar de considerar que quando um individuo participa de uma
organização, pode ter aí um excelente canal de informação e comunicação com os
demais, assim como, inversamente, canais de informação, que são meios primários
de observação da operação do capital social facilitam a participação em
organizações e redes, bem como podem ser instrumentos de ações coletivas.
Na mesma lógica, a resolução adequada de conflitos em uma comunidade, que
primariamente é um aspecto mensurável do resultado do capital social, esta
relacionado aos níveis de confiança que podem existir ou à diversidade das redes
existentes na comunidade.
56
Capítulo 3 – Metodologia de Pesquisa
Neste capítulo, num primeiro momento, apresentamos de uma forma ampla a
estratégia de pesquisa, depois apresentamos algumas informações a cerca do
instrumento de pesquisa adotado e na seqüência justificativas para o instrumento de
pesquisa com base em nossa conceituação teórica.
3.1 O Campo de Aplicação da Pesquisa
O locais selecionados para aplicação da pesquisa de campo, são alguns dos locais
onde o Senac São Paulo implantou o processo de formação da rede social e de
desenvolvimento local, conforme brevemente elucidamos na Introdução, e também
como já esclarecemos essa variável deixou de ser considerada em nossa análise.
a) Bairro São Rafael em Araçatuba
Com aproximadamente 650 residências, na região norte de Araçatuba, o Bairro
São Rafael possui 1.920 habitantes em sua maioria composta por migrantes
nordestinos em busca de trabalho na lavoura canavieira. O bairro foi fundado
em 1994 por iniciativa da prefeitura que loteou uma área para abrigar esse
fluxo migratório. Em termos de infra-estrutura, segundo apontamentos dos
próprios moradores (SENAC, 2010), o bairro tem um área verde de 4Km2 e
duas escolas de ensino fundamental. O comércio é extremamente reduzido,
composto de bares e pequenas mercearias o que obriga a população local a se
deslocar para consumo de itens básicos.
Araçatuba possui 182.791 habitantes e está localizada na região Noroeste do
Estado de São Paulo, distante 530 Km da capital, sendo sede da 9ª. região
administrativa do Estado. Grande parte da sua economia é derivada da
indústria sucroalcooleiro, com PIB per capita de R$ 16.472,19, ocupando a
203º. posição no Estado, sendo o 55º maior contribuinte para o PIB - Produto
Interno Bruto paulista. Seu IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal é de 0,848 e ocupa a 12ª posição no Estado (SEAD, 2011).
57
B) Bairro Gramadinho em Itapetininga
O Bairro do Gramadinho, oficialmente é um dos 5 distritos de Itapetininga.
Segundo Gonzaga (2000), o bairro foi fundado em 05 de agosto de 1830 em
local onde tropeiros vindos do Sul do país em direção à Sorocaba
anteriormente haviam construído um rancho para seu abrigo, dos animais e
dos artigos transportados. O local escolhido era formado por “uma grande
clareira entre a mata, onde havia uma grama espessa e macia” (GONZAGA,
2000, p.64), derivando dessa característica geográfica o nome do bairro.
O bairro fica 30km distante da cidade de Itapetininga e segundo Gonzaga é
composto de 217 construções residenciais e comerciais, estimando em 5.000 o
número de habitantes, sendo 4.000 na zona rural. Ainda segundo o mesmo
autor o bairro conta com pequeno comércio e empresas que trabalham no
beneficiamento de batatas que geram 120 empregos diretos (GONZAGA, 2000,
p. 54)
Itapetininga possui 146.285 habitantes (SEAD, 2011) e está localizada no
Sudeste do Estado de São Paulo, na região Administrativa de Sorocaba,
distante 180 km da Capital do Estado de São Paulo. Sua economia está
essencialmente voltada para a agricultura e para a produção de madeira a
partir de florestas cultivadas. Seu PIB per capita é da ordem de R$ 14.547,72.
Entre os 645 municípios do Estado de São Paulo ocupa a 174º no PIB per
capita e 72º. posição na composição do PIB do Estado contribuindo com
0,20%. É o terceiro maior município em extensão territorial no Estado com IDH
de 0,786, ocupando a 273ª. posição no Estado.
C) Bairro Santo Antonio em São José do Rio Preto
Santo Antonio é um bairro relativamente novo, localizado na região norte de
São José do Rio Preto, com loteamento iniciado em 1991 como parte de um
plano municipal de atender à demanda por habitação por parte da população
de baixa renda.
Segundo estimativas da associação dos moradores tem aproximadamente
15.000 habitantes sendo composto por aproximadamente 2.500 residências.
Além do comércio de rua conta com um centro comercial com várias lojas e
58
supermercados. Em termos de equipamentos públicos conta com 3 escolas e
duas creches que atendem a demanda local e de outros bairros adjacentes. É
servido também por equipamentos de saúde para emergências e consultas.
São José do Rio Preto está localizada no noroeste do Estado de São Paulo,
454 km distante da capital do Estado, conta com 408.258 habitantes. Em
relação ao Estado de São Paulo é o 12º município com a maior população e a
17ª maior economia, com predominância na área de prestação de serviços e
contribuindo com 0,73% do PIB do Estado. O PIB per capita é de R$
17.776,09, 164ª posição também no Estado de São Paulo.
3.2 O Questionário de Pesquisa
O questionário utilizado nesta pesquisa e apresentado abaixo é uma adaptação do
instrumento de pesquisa desenvolvido em junho de 2003 pelo Grupo Temático sobre
Capital do Banco Mundial com base em experiências anteriores na mensuração de
capital social no período de 1999 a 2001, envolvendo pesquisas que relacionavam o
capital social a diversos outros aspectos:
Participação em associações e confiança (Tânzania);
Instituições de nível local (Bolívia);
Projetos setoriais e no processo de criação e destruição de capital social
(Wold Bank, 1998);
Survey sobre capital social (Gana e Uganda)
Pobreza (Guatemala). (Wold Bank, 2003)
O questionário original17 é composto de 95 questões e abrange 6 dimensões do
capital social: Organizações e redes; Confiança e solidariedade; ação coletiva e
cooperação; informação e comunicação; coesão e inclusão social e autoridade (ou
capacitação) e ação política (tratarei dessas dimensões mais adiante neste texto).
17 O questionário na versão original em português e ingles pode ser obtidos respectivamente em: http://www.contentdigital.com.br/textos/comunidades/Questionario%20Integrado%20para%20medir%20Capital%20Social%20Banco%20Mundial.pdf e http://siteresources.worldbank.org/INTSOCIALCAPITAL/Resources/Social-Capital-Integrated-Questionnaire/AlbaniaFinalRptAug2802.pdf
59
Desta configuração, ao fazermos nossa adaptação, inclusive severamente
aconselhada pelos criadores do questionário, chegamos ao um total de 51 questões
e adotamos os seguintes critérios para proceder a adaptação:
1) Optamos por manter as 6 dimensões originalmente estabelecidas por
entendermos que refletem facetas condizentes com nosso entendimento atual
sobre o capital social;
2) Sistematicamente retiramos todas as questões que faziam a comparação
entre a situação atual do respondente e sua situação passada, visto que nosso
foco central é fazer a comparação entre grupos de comunidades diferentes e
compatibilizar o questionário com os recursos disponíveis para a consecução
da pesquisa de campo.
3) Adaptamos os termos utilizados para que pudessem ser melhor
compreendidos pelos nossos respondentes brasileiros (um dos exemplos é
chamar de prefeitura aquilo que chamaram de governo local);
4) Diminuímos sensivelmente o peso de questões que investigavam o papel de
questões étnicas por entendermos que essa não é nossa questão central nesta
pesquisa e inversamente, aumentamos o peso da mensuração de aspectos
que levem em conta diferenças socioeconômicas;
5) Retiramos perguntas relacionadas exclusivamente a questões rurais, visto
que nossa pesquisa terá lugar em ambientes urbanos de cidades médias no
interior do Estado de São Paulo;
6) Retiramos questões que se investigavam aspectos ligados à sociedades de
castas ou muito estratificadas;
7) Retiramos algumas questões, ou parte de questões que nos pareceram fora
de propósito em nosso campo de pesquisa (é o caso da pergunta que
mensurava quantos meses por ano o domicílio não era acessível por estradas);
8) Especificamente na dimensão organizações e redes não incluímos questões
que investigavam a liderança dos grupos, algumas de suas configurações
internas e a relação desses grupos com outros grupos em nível local ou
nacional;
60
9) De um modo geral, optamos por estabelecer menores períodos de tempo em
que o respondente teria que recorrer à memória para responder (no
questionário original a maioria das questões solicitava respostas relativas aos
10) últimos meses e em nosso caso utilizamos períodos variados de acordo
com cada tipo de questão);
11) Especificamente na dimensão Informação e Comunicação acrescentamos
questões que visam mensurar o papel das novas tecnologias da informação,
visto que desde a criação original do questionário (2003) até a atualidade,
tivemos avanços tecnológicos e socioeconômicos nesses acessos, bem como
acrescentamos questões que investigam o conteúdo acessado nas mídias
eletrônicas (principalmente a televisão), visto ser condizente com alguns
pressupostos que apresentaremos no momento oportuno;
12) Para a maioria das questões que necessitavam de uma escala, usamos
uma onde o respondente devia apontar um valor de percepção de 1 a 5,
padronizando o 1 como sendo o nível mais baixo na escala e o 5 como sendo o
nível mais alto de acordo com o aspecto investigado e
13) Nossa adaptação foi submetida à crítica dos pesquisadores do Núcleo de
Pesquisa em Psicologia Política da PUC SP e posteriormente procedemos
teste do questionário com pessoas em condições semelhantes às que
encontramos em campo. Tais procedimentos suscitaram correções e
modificações nas questões.
Em complemento ao questionário, criamos uma sessão de caracterização do
respondente, visando poder desagregar o conjunto de respostas em algumas
variáveis (renda, educação, idade, sexo, entre outros), possibilitando investigar
alguns nexos conotativos entre esses elementos e os dados que denotam a
presença de capital social.
Uma vez que estamos interessados em captar o fenômeno do capital social como
um todo e comparar os níveis obtidos entre diferentes comunidades, justifica-se
nossa opção metodológica, na medida em que, em nosso ponto de vista, um
questionário de pesquisa com perguntas padronizadas e limitação no número de
61
respostas nos permite uma melhor padronização do nível de objetividade e
comparação entre diferentes grupos.
A unidade básica de avaliação dos dados foi o domicilio. Para tanto, definimos
domicílio como sendo uma unidade habitacional com relativa independência, mesmo
que construídas no mesmo terreno18.
3.3 Dimensões, Categorias e Indicadores
Segundo o Grupo Temático sobre Capital Social do Banco Mundial, subjacente às 6
dimensões do capital social investigadas por meio desse questionário, estão
diferentes, “mas claramente diferenciadas” correntes teóricas sobre o tema. Por um
lado, a corrente teórica que postula que o capital social são os recursos que podem
ser mobilizados a partir das “relações com outras pessoas”. Por outro lado, está a
corrente teórica que preconiza que o capital social “refere-se à natureza e extensão
do envolvimento de um indivíduo em várias redes informais e organizações cívicas
formais” (World Bank, 2003, p. 5-6).
A primeira corrente, representada pelo pensamento de Bourdieu e Portes identifica o
capital social como sendo os recursos que são obtidos a partir das redes e a
segunda entende as próprias redes e as relações como sendo o capital social.
Segundo Ramos-Pinto
a ‘corrente dominante’ na literatura do capital social, representada pragmaticamente pelo trabalho de Putnam, representa o capital social como sendo os ‘fios’ enquanto os teóricos de redes representam-no como sendo a ‘eletricidade’.(SZRETER and WOOLCOCK, 2004 apud RAMOS-PINTO, sem data, p. 2)
Por outra vertente, alguns autores atribuem papel fundamental à confiança como
geradores de capital social, possibilitando o surgimento de densas redes de relações
que facilitam as ações coletivas ou individuais (COLEMAN, 1988, p.95). Putnam, por
seu turno, reconhece o papel da confiança como componente do capital social e ao
18 Essa é uma situação muito recorrente em comunidades de baixo poder aquisitivo. Na medida em que os filhos vão constituindo suas famílias, parte do terreno pode ser destinada à construção de um novo domicílio.
62
mesmo tempo em que atribui a sua existência a fatores histórico-culturais, discorda
de Coleman ao afirmar que a densidade das redes estabelecidas numa sociedade
ajuda a gerar confiança. Nessa polêmica, Fukuyama vê o capital social como “uma
capacidade que decorre da prevalência de confiança numa sociedade”
(FUKUYAMA, 1996, p. 41) afirmando que a sua existência e transmissão são
decorrentes de fatores culturais.
Assim, o questionário que adotamos, ao investigar tanto as redes quanto a
confiança, a nosso ver, possibilita uma visão integrada do capital social segundo a
variedade de entendimentos apresentada de forma sucinta no parágrafo anterior.
Para análise dos dados, mantivemos a classificação em 6 dimensões elaborada pelo
Grupo Temático sobre Capital Social do Banco Mundial enquanto referencial teórico
e de análise. Para as dimensões grupos e redes, confiança e solidariedade, ação
coletiva e cooperação e coesão e inclusão social, criamos um macro-indicador para
cada uma dessas dimensões, composto por 13 indicadores, cujas medidas
compõem o índice exploratório de capital social. As medidas das duas dimensões
restantes, canais de informação e comunicação e empoderamento e ação política,
acrescentam outros 7 indicadores e assim como algumas medidas de qualificação
dos dados não fazem parte do índice exploratório de capital social e serviram para
análise e comparação.
A Tabela 3.1 apresenta as dimensões, macro-indicadores e indicadores que compõe
o índice exploratório de capital social, e na seqüência apresentamos considerações
para todos os elementos desta tabela19.
19 No Anexo 100 apresentamos os dados obtidos na pesquisa e explicamos o procedimento adotado para os cálculos.
63
Tabela 3.1: Resumo das categorias e indicadores
Fonte: Elaboração própria
3.3.1 Grupos e Redes
Considerada como estrutural, esta dimensão do capital social visa mensurar a
participação das pessoas em organizações formais ou informais, com objetivos
públicos, coletivos ou privados e em redes de relacionamentos.
Tradicionalmente, a associação à grupos é usada como medida em pesquisas sobre
capital social. Destacamos 02 pontos que ajudam a entender essa tradição e
justificam sua inclusão em nossa pesquisa:
Grupo: 1 Dimensão: Grupos e Redes
Macro Indicador: Medidas da Vida Organizacional da Comunidade
Componentes Indicadores
1. Participação em Organizações e Grupos 1. Participação em organizações e grupos institucionais
2. Participação em organizações e grupos não institucionais
2. Extensão das Redes 3. Redes de acesso à serviços
4. Contatos virtuais
5. Contatos presenciais
Grupo: 2 Dimensão: Confiança e Solidariedade
Macro Indicador: Medidas de Confiança Social
Componentes Indicadores
1. Confiança 6. Confiança individual
7. Confiança institucional
2. Solidariedade 8. Solidariedade
Grupo: 3 Dimensão: Ação Coletiva e Cooperação
Macro Indicador: Medidas de Participação Coletiva
Componentes Indicadores
1. Ação Coletiva 9. Participação
2. Cooperação 10. Cooperação em emergências
Grupo: 4 Dimensão: Coesão e Inclusão Social
Macro Indicador: Medidas de Coesão e Inclusão Social
Componentes Indicadores
1. Coesão e inclusão 11. Proximidade
12. Diferenças
2. Segurança 13. Percepção de segurança
64
Primeiro, via de regra, as pessoas se filiam à grupos de forma voluntária na busca
de alguns objetivos que consideram importantes em suas vidas, quer esses objetivos
sejam subjetivos (status em ser afiliado, por exemplo) ou objetivos (serviços e
recursos). Esta afiliação voluntaria, quando medida no conjunto de uma sociedade
ou localidade, traz elementos que permitem avaliar como as questões coletivas são
tratadas, se as soluções passam por ações coletivas ou se cada um resolve por si os
problemas que se apresentam na vida social. No caso dessa pesquisa e
especificamente em nosso contexto institucional brasileiro, alguns tipos de afiliações
não têm esse valor. É o caso, por exemplo, quando médicos ou advogados, se filiam
aos seus conselhos regionais. Tais afiliações não se fazem de forma voluntária, mas
impostas por uma regra legal que impede que o indivíduo exerça sua profissão caso
não seja afiliado e exige, na totalidade dos casos, que seja contribuinte financeiro.
Mesmo considerando esse contexto institucional brasileiro, muitos indivíduos
afiliados à seus conselhos não o fazem apenas de modo compulsório como manda a
lei, mas buscando atingir seus objetivos, participam de comissões ou grupos
temáticos dentro dos conselhos20.
Esse tipo de afiliação é muito diferente, quando médicos, por exemplo, se filiam à
associações que defendem ou representam interesses específicos de suas
especializações (por exemplo: Associação Brasileira de Pediatria).
Segundo, atuar de forma coletiva na resolução ou enfrentamento de um problema
ou dificuldade, além de propiciar maior força política ao grupo, amplia sobremaneira
os contatos sociais que o individuo pode estabelecer, mostrando um pouco a
respeito da extensão das redes que são mantidas e o quanto as participações em
grupos e redes podem possibilitar o acesso à recursos que são úteis ou necessários
ao indivíduo.
Para mensurar esta dimensão específica do capital social, estabelecemos um
macro-indicador que denominamos de Medidas da Vida Organizacional da
20 A OAB – Ordem dos Advogados do Brasil é pródiga nesse sentido. Além de ter o conselho federal e os regionais (conforme determina a Lei), dentro das regiões possui seções municipais e no caso das grandes cidades possui sessões distritais. Dentro de todos esses níveis, existem comissões dos mais variados tipos atuando a partir de seus temas em nível local, regional ou nacional. Por exemplo, assim como existe a comissão de direitos humanos na OAB do Estado de SP, existe a mesma comissão na sessão da Cidade de São Paulo e dentro desta a mesma comissão existe em muitos distritos da cidade.
65
Comunidade, composto por sete indicadores divididos em dois componentes, com
as seguintes características e configurações:
3.3.1.1 Componente 1: Organizações e Grupos.
Composto por dois indicadores que medem de forma distinta a participação em
organizações e grupos institucionais (Indicador 1) e não institucionais (indicador 2),
pois entendemos que essas duas categorias medem tipos diferentes de
participações com significados qualitativamente diferentes que impactam na vida
organizacional da comunidade.
Entendemos como participação em grupos institucionais aquelas efetuadas a partir
de grupos que estão organizados no conjunto da sociedade, quer seja a partir de
parâmetros legais ou de forte presença cultural. Por exemplo, incluímos nesta
categoria as participações em sindicatos, conselhos profissionais, conselhos e
grupos ligados à escolas (basicamente conselho de pais e mestres) ou partidos
políticos e participações em atividades religiosas.
Nas participações em grupos não institucionais, incluímos aquelas em grupos e
organizações organizados localmente a partir da deliberação, vontade e
engajamento dos moradores da localidade. Como exemplo, temos as participações
em grupos culturais, associações de moradores, grupos de jovens e de pessoas da
terceira idade ou grupos de praticantes de atividades esportivas ou recreativas.
Esses dois indicadores foram compostos pelas medidas obtidas a partir dos
seguintes parâmetros:
Diversidade de participação em cada categoria;
Nível de participação em grupos de cada categoria;
Freqüência de participação em grupos de cada categoria e
Contribuição com bens ou dinheiro em grupos de cada categoria.
3.3.1.2 Componente 2: Extensão das Redes
Por extensão das redes, no contexto desta pesquisa, entendemos como sendo a
quantidade e a qualidade dos relacionamentos mantidos pelos respondentes. Nesse
sentido, além de mensurar parte da quantidade dos relacionamentos mantidos,
66
procuramos qualificar esses relacionamentos e medir parte dos resultados que
podem ser obtidos por cada conjunto de respondentes a partir da extensão de suas
redes.
Sabemos que parte da extensão das redes que são mantidas pelos indivíduos
poderia ser avaliada a partir da participação em organizações e grupos, no entanto,
com a inclusão deste componente, podemos olhar para os dados a partir de outra
dimensão. Se no componente 1 (participação em organizações e grupos), podemos
observar parte da vida organizacional da comunidade no plano coletivo, neste
componente encontramos medidas desta mesma vida organizacional no plano
individual. Ou seja, os indicadores do componente 1 apontam, de uma modo geral,
como a comunidade se organiza para enfrentar coletivamente suas questões e os
indicadores do componente 2 mostram a extensão das redes dos indivíduos e parte
da potencia de cada indivíduo na solução de algumas de suas necessidades
individuais. Exemplificando, ao participar do sindicato de sua categoria, o individuo
esta buscando uma atuação coletiva para a resolução de suas necessidades e ao
recorrer aos amigos para pedir dinheiro emprestado em uma emergência, esta
buscando uma solução individual, muito mais pautado em sua própria potencia do
que na potencia do grupo.
Este componente tem seu resultado a partir das medidas de 3 indicadores:
Rede de acesso à serviços;
Contatos virtuais e
Contatos Presenciais.
O indicador Rede de Acesso à serviços (indicador 3) mede parte da extensão das
redes de relacionamentos que são mantidos pelos respondentes e que podem levá-
lo a obter ajuda, tendo sido investigada a partir de 3 questões:
a) Quantidade de pessoas próximas que considera que tem atualmente (com
explicação de que pessoas próximas são aquelas com quem se sente à
vontade para conversar a respeito de assuntos particulares, ou chamar quando
precisa de ajuda);
b) Quantidade de pessoas para quem podem pedir dinheiro emprestado para
pagar despesas eventuais e de emergência e
67
c) Quantidade de pessoas com as quais se sentiria a vontade para pedir ajuda
em uma situação de emergência (exemplificando que poderia ser a morte de
um dos membros do domicílio que contribuem para o sustento da casa).
Para qualificar parte da extensão das redes, conforme aludimos anteriormente,
lançamos mão de quatro estratégias:
1) Laços fortes e fracos
Depois de apontar a quantidade de pessoas próximas que considera que tem,
solicitamos que indicassem, quantas dessas pessoas próximas são parentes.
Ao estabelecer este percentual, podemos medir o percentual de laços fortes e
laços fracos. O pano de fundo teórico encontra-se nos estudos de Granovetter,
quando este autor entende por laços fortes aqueles relacionamentos
consangüíneos e por laços fracos os relacionamentos situados fora da família e
do círculo de parentes (GRANOVETTER, 1973). Ambos os tipos de laços são
úteis para diferentes situações e tem efeitos diferenciados na qualidade da
rede de relacionamentos. Os laços fortes são essenciais para a sobrevivência,
onde a ajuda de parentes pode ser fundamental em situações de emergência,
porém são menos úteis para acessar recursos que estão fora desse círculo de
relacionamentos. Por serem pessoas muito próximas, a variedade de recursos
disponíveis a partir desses laços tende a ser menor. Já os laços fracos
permitem acesso a recursos de ordem diversificada por haver uma maior
diversidade nos relacionamentos. Por exemplo, se alguém quer procurar
emprego, é bom que avise também aos amigos e conhecidos, porém, na hora
de conseguir um prato de sopa é bom contar com os parentes. (PUTNAN,
2000).
2) Acesso à recursos
Outra forma de ampliar a qualificação da extensão das redes, foi investigar as
possibilidades de acesso à recursos. Assim, as questões relativas ao acesso à
recursos financeiros e acesso à recursos em emergência, mostram alguns
dados que falam da potência dessa rede de relacionamentos.
68
Para obter esses dados, colocamos o respondente frente à duas situações
hipotéticas. Na primeira delas, para mensurar o acesso à recursos financeiros,
após perguntar para quantas pessoas de fora do domicílio se sentiriam a
vontade para pedir dinheiro emprestado caso estivessem frente a uma despesa
eventual ou de emergência, introduzimos um primeiro complemento a esta
pergunta, solicitando que o respondente avaliasse quantas dessas pessoas
teriam condições financeiras de emprestar.
Na segunda situação hipotética, para avaliar o acesso à recursos em
emergências, após pedir aos respondentes que apontassem para quantas
pessoas de fora do seu domicílio se sentiriam a vontade para pedir ajuda caso
estivessem em uma situação de emergência mais grave, introduzimos um
complemento semelhante à situação anterior perguntando quantas dessas
pessoas teriam condições de ajudar.
Nos dois casos utilizamos os percentuais de pessoas que podem emprestar
dinheiro e fornecer ajuda para compor o índice exploratório de capital social.
3) Posição Social
Num segundo complemento, aplicado apenas à primeira questão relativa ao
empréstimo de dinheiro, pedimos aos respondentes que apontasse qual a
posição social das pessoas em relação a ele(a) que poderiam emprestar
dinheiro.
4) Pontes e Ligações Sociais
A quarta estratégia está presente no indicador Contatos Presenciais (indicador
5) sendo um complemento às duas perguntas que investigaram a quantidade
de visitas feitas e recebidas nas duas últimas semanas. Após obter os dados
dessas duas perguntas, solicitamos que distinguisse a maioria das visitas e dos
visitados nas seguintes classificações:
Complemento A: Se eram da mesma família ou parentes ou amigos e
conhecidos;
69
Complemento B: Se eram da mesma religião ou de religiões diferentes
e
Complemento C: Se eram da mesma classe social ou de classes
sociais diferentes.
As medidas obtidas para qualificação da extensão das redes não foram inclusas no
índice exploratório de capital social, porém foram utilizadas nas análises
decorrentes. As duas últimas estratégias ajudaram na avaliação do tipo de capital
social predominante em cada bairro, se capital social de ponte (bridging) ou ligação
(bonding)21.
Complementando a mensuração de dados do Componente 2 - Extensão das Redes,
incluímos dois outros indicadores que reportam dados relativos à quantidade de
contatos que os respondentes mantêm.
O Indicador 4 - Contatos Virtuais, mensura a quantidade de contatos mantidos pelos
respondente pelo uso do telefone, medindo a quantidade de telefonemas feitos e
recebidos. Foram medidas tomadas separadamente e somadas na composição do
indicador.
O Indicador 5: Contatos presencias22, forneceu dados relativos à quantidade de
contatos que os respondentes tiverem de forma presencial. Quatro medidas
compõem esse indicador:
Atividades Sociais: Mediu quantas vezes nos últimos 6 meses o respondente
participou de atividades sociais no seu bairro. Essa medida ajuda a conhecer
algumas oportunidades coletivas de contato com outras pessoas e seu
significado reside no fato de serem atividades de caráter público e de forte
apelo cultural.
Encontros públicos: Mensurou quantas vezes nas duas últimas semanas o
respondente se encontrou com pessoas em local público para a realização de
21 Conforme apresentado na página 70 e seguintes 22 Para conhecer a formulação original das perguntas que forneceram os dados que compõe esse indicador, consultar o Anexo I, nas seguintes perguntas: Sobre atividades sociais, pergunta 42; Sobre encontros públicos, pergunta 38; Sobre informações da prefeitura e da economia, dados derivados das opções 1, 5, 6, 7 das perguntas 31 e 32 e sobre a quantidade de visitas, perguntas 39 e 40.
70
algumas atividades específicas. Neste caso, está presente uma dimensão
pessoal e particular dos contatos, mostrando um pouco da força dos contatos
informais no estabelecimento de redes.
Informações sobre a Prefeitura e Economia: Apontou o percentual de
informações obtidas dessas duas esferas pelo contato presencial com
pessoas. Serve para medir o quanto os contatos presenciais ajudam na
obtenção de informações sobre questões de interesse público23.
Quantidade de visitas: Medida composta a partir da somatória das visitas
feitas e recebidas nas duas últimas semanas. De certa forma, aponta para o
grau de isolamento ou interação entre as pessoas no cotidiano num âmbito
estritamente privado.
3.3.2 Confiança e Solidariedade
Esta dimensão é classificada como a dimensão cognitiva do capital social (World
Bank, 2003, p. 18), pois está bastante ligada às questões culturais que permitem o
aprendizado ou reprodução de padrões culturais e de comportamento que reforçam
ou deprimem aspectos ligados ao capital social (normas, regras, padrões de
reciprocidade, comportamentos, atitudes, etc.). Nesse sentido, o instrumento de
pesquisa captou questões relativas à confiança geral e específicas entre membros
das comunidades.
Por confiança, aqui estamos entendendo como o sentimento geral de confiar em
outras pessoas e instituições e não na credulidade de que todas as pessoas são
honestas e agirão corretamente. Uma questão, exemplificando, é ter confiança na
polícia enquanto instituição pública e outra é acreditar que todos os membros dessa
corporação agirão corretamente de acordo com as regras e normas estabelecidas.
A solidariedade, por sua vez, implica na percepção de dar e receber ajuda de um
modo geral e não de formas ou para pessoas de modos específicos.
23 Parte dos dados usados nesta medida são oriundos de uma pergunta originalmente inclusa na dimensão Canais de Informação e Comunicação e quando tratarmos dessa dimensão daremos mais detalhes a respeito. Para conhecer a formulação original Vide Anexo I pergunta 31 e 32.
71
Nas pesquisas sobre capital social, a relação entre participações em redes e
confiança social tem assumido papeis antagônicos, pois,
em alguns casos a participação em redes sociais é vista como a fonte da confiança social e das normas cívicas, enquanto outros autores vêem a participação social como uma conseqüência do nível de confiança e adesão às normas cívicas de uma sociedade (PINTO, sem data, p. 3)
Para a mensuração desta dimensão, definimos um macro-indicador que
denominamos de Medidas de Confiança Social, composto por 3 indicadores
divididos em 2 componentes, conforme explicamos na seqüência.
3.3.2.1 Componente 1: Confiança
Este componente é composto por 2 indicadores: Confiança Individual (Indicador 6) e
Confiança Institucional (Indicador 7)
O Indicador 6 – Confiança Individual objetiva mensurar o grau de confiança que as
pessoas depositam umas nas outras na relação pessoal. Para tanto, utilizamos a
estratégia de fazer três afirmações e solicitar que os respondentes atribuíssem um
valor a cada uma das afirmações, correspondendo tais valores ao grau de
concordância ou discordância em relação à afirmação. As medidas obtidas são
derivadas de duas afirmações, uma que averigua o grau de confiança e outra que
averigua o grau de desconfiança. O saldo desta equação aponta para um grau de
confiança-desconfiança. Uma terceira afirmação verifica o grau de confiança em
relação especificamente a pedir ou tomar dinheiro emprestado24.
O Indicador 7 – Confiança Institucional visa medir a percepção de confiança dos
membros da comunidade em relação às instituições de um modo geral. Neste caso,
relacionamos instituições que estão presentes na sociedade de um modo geral e
outras com as quais as pessoas têm contato mais direto, visando mensurar
diferentes níveis de confiança. Em alguns casos optamos por relacionar o nome da
própria instituição (exemplo: Polícia Militar) e em outros casos o nome das
categorias profissionais que ilustram a face pública mais visível dessas instituições
24 Vide pergunta geradora de dados no Anexo I, pergunta 13 nas afirmações A e B e D.
72
(exemplo: professores para medir a confiança na instituição escola). Em alguns
casos a transposição do nome da categoria para a Instituição é bem direta (médicos
e enfermeiras em relação à hospitais ou equipamentos de saúde) e em outros casos
somente é possível uma transposição difusa (por exemplo, a categoria “políticos”
esta presente em diversas instituições de vários níveis).
De um modo geral, o critério básico foi utilizar citações que fizessem maior sentido
para os entrevistados segundo nossa percepção de entendimento (por exemplo,
usamos “políticos em geral” como referência à deputados, senadores, ministros,
presidente da república, etc.)25.
Do ponto de vista da teoria do capital social, o papel das instituições tem sido
considerado nas pesquisas a partir de duas correntes de pensamento:
Por um lado as instituições são vistas como sendo produto da confiança geral
reinante na sociedade, isto é, se uma sociedade tem um nível alto de
confiança, tende a ter instituições fortes;
Por outro lado as instituições são vistas como sendo geradoras de confiança
na sociedade, ou seja, instituições fortes ajudam a criar um clima geral de
confiança e de respeito às normas.
3.3.2.2 Componente 2: Solidariedade
Composto por um único indicador (Indicador 8 – igualmente denominado de
Solidariedade), visa mensurar o quanto as pessoas recorrem umas às outras em
busca de ajuda a partir dos relacionamentos e contatos mantidos na comunidade.
As medidas componentes deste indicador são derivadas de um conjunto de 4
perguntas que abordaram os seguintes temas:
Cuidado com crianças: Mede a percepção da possibilidade de obter ajuda
de outras pessoas para cuidar das crianças quando os responsáveis
necessitam viajar. Atenção e proteção às crianças têm sido mencionada por
alguns autores indicando de um modo geral um comportamento social que
denota um nível de confiança difusa na sociedade, muito mais do que 25 Uma única citação (estranhos) não se enquadra enquanto instituição ou representante de instituição e não foi usada na composição do índice.
73
“simplesmente” um gesto de solidariedade. Collemam cita esse comportamento
em Jerusalem e (COLEMAN, 1988). Jacobs usa para exemplificar o “olhar
atento da sociedade” (JACOBS, 2000, p. 90).
Ajuda mútua: Mensura a percepção dos respondentes quanto a freqüência
com que percebem o quanto as pessoas ajudam umas às outras de um modo
geral e não de formas específicas.
Pedidos de ajuda: Mede a quantidade de pessoas que pediram ajuda ao
respondente nos últimos 6 meses para resolver problemas de ordem pessoal.
Em complemento à esta questão também perguntamos qual a classe social
das pessoas que pediram ajuda em relação à ele (este complemento não foi
incorporado ao índice exploratório de capital social)
Disposição em ajudar: Ajuda a avaliar a percepção dos respondentes
quanto disposição das pessoas em ajudar de um modo geral. Neste caso,
utilizamos novamente a estratégia de fazer uma afirmação e solicitar uma nota
ao respondente quanto à concordância ou discordância de nossa afirmação26.
3.1.3 Ação Coletiva e Cooperação
Ações coletivas e cooperativas entre os indivíduos ocorrem mais facilmente diante
da presença de níveis adequados de relacionamento e confiança. A única exceção
seria a existência de uma força externa que obrigasse os indivíduos a atuar
conjuntamente (um governo ditatorial, por exemplo) (World Bank, 2003, p. 15)
Atuar conjuntamente na construção de bens públicos e cooperar com outros
membros da comunidade na solução de questões comuns, são manifestações da
vida social, mais facilmente geradas e mantidas em ambientes com maior densidade
de capital social. Nesse sentido, ao mensurarmos os níveis de ações coletivas e
cooperação estamos mensurando um pouco dos resultados do capital social.
Para esta dimensão do capital social, definimos um macro-indicador que
denominamos de Medidas de Participação Coletiva composto por dois indicadores
separados em dois componentes.
26 As perguntas gerados de dados para este indicador podem ser conhecidas no Anexo I. Para o cuidado com crianças, vide a pergunta 7; para ajuda mútua vide pergunta 14; para pedidos de ajuda vide pergunta 10 e disposição em ajudar, vide pergunta 13 afirmação C.
74
3.1.3.1 Componente 1: Ação Coletiva
Este componente é composto por um indicador: Participação (Indicador 9) que
mensura as participações nas quais os respondentes dos três bairros estiveram
envolvidos, sendo composto por duas medidas de ações coletivas. A primeira delas
mensura as ações conjuntas feitas pelos respondentes no bairro junto com outras
pessoas no últimos 12 meses. Em complemento, solicitamos que citassem até 3
atividades nas quais tiveram parte (esta foi a única pergunta aberta no questionário),
e as respostas foram classificadas em 7 categorias).27. A segunda medida mantêm o
caráter de ação coletiva, mas não é feita conjuntamente e nem esta localizada
unicamente no bairro, ou seja, medimos o interesse dos respondentes nas últimas
eleições.
3.1.3.2 Componente 2: Cooperação
Composto por um indicador denominado de Cooperação em Emergências (indicador
10) objetivou identificar a percepção do nível de cooperação entre as pessoas em
situações de emergência.
Para obter as medidas derivadas deste indicador, utilizamos pela última vez da
estratégia de colocar o respondente frente à duas situações hipotéticas. Na primeira,
perguntamos qual a possibilidade das pessoas se unirem para resolver
conjuntamente um problema caso houvesse um desastre natural no bairro. Na
segunda situação hipotética, perguntamos sobre a possibilidade de algumas
pessoas no bairro se unirem para ajudar as vítimas caso ocorresse uma fatalidade
com uma das pessoas do bairro. Em ambos os casos instruímos os respondente a
atribuir um valor padronizado de acordo com suas percepções28.
3.1.4 Coesão e Inclusão Social
Esta quarta dimensão do capital social objetiva mensurar um pouco dos efeitos que
podem ser atribuídos à presença ou ausência do capital social. Se a partir da 27 Para conhecer as categorias analíticas, ver Tabela no Anexo III. 28 Para conhecer a formulação original das perguntas, vide Anexo I. Para a situação hipotética que investiga a união para resolução de um problema, vide a pergunta 17 e para a situação hipotética sobre ajuda à vitimas, vide pergunta 18.
75
dimensão anterior podemos observar um pouco dos resultados do capital social na
forma de ações coletivas na construção de bens públicos ou coletivos, nos
indicadores que compõe esta dimensão, alguns resultados também podem ser
atribuídos ao capital social, neste caso, porém, ajudando a moldar o ambiente social
no qual as ações coletivas são realizadas.
Para mensurar esta dimensão, criamos um macro-indicador para o qual repetimos o
mesmo nome da dimensão e extraímos das questões formuladas 3 indicadores
divididos em 2 componentes básicos, conforme segue:
3.1.4.1 Componente 1: Coesão e Inclusão
Este componente é composto por dois indicadores: Proximidade (Indicador 11) e
Diferenças (Indicador 12).
Nesses dois indicadores procuramos investigar a percepção do grau de proximidade
e diferenças que existem entre as pessoas. Em si mesmas, de forma isolada, tais
medidas dizem muito pouco a respeito do capital social presente na comunidade.
Nesse sentido, para melhor avaliação, os dados obtidos foram comparados à outros
dados obtidos em outras dimensões.
No caso da proximidade, comparamos suas medidas principalmente com as
medidas de qualificação da extensão das redes em cada bairro.
Em relação ao grau de percepção de diferenças importa saber o que decorre dessa
diferença: se ela é aceita como parte do convívio social ou se gera problemas de
relacionamento ou leva à violência e exclusão. Para este indicador, portanto, nosso
índice considerou não o grau de diferença percebido, mas grau de problemas que
são gerados pelas diversas diferenças percebidas. Para tanto, quando os
respondentes apontavam que as diferenças causavam problemas, perguntamos que
tipos de diferenças causam problemas e se em algum momento levaram à
violência29.
Em tese, uma comunidade com extremado nível de proximidade entre as pessoas
pode ser revelador de um capital social de ligação muito forte, podendo levar a
sentimentos de sectarismo e exclusão dos que não pertencem àquele grupo, assim
29 Para conhecer os tipos de diferenças considerados nesta pesquisa, vide Anexo I pergunta 36.
76
como um sentimento de diferença muito grande pode levar a soluções inadequadas
dessas diferenças caso não estejam amparadas em outros indicadores do capital
social (especialmente confiança)30
3.1.4.2 Componente 2: Segurança
A segurança e a violência é o alvo de investigação deste componente, a partir da
percepção dos respondentes. Situações de conflito e principalmente de violência,
podem ser características da falta de confiança social e do capital social estrutural
(World Bank, 2003, p. 20), revelando um ambiente socialmente impotente para a sua
resolução. No índice exploratório de capital social o componente segurança é
composto a partir do Indicador 13 - Percepção de Segurança.
Como o próprio nome já define, medimos a percepção de segurança dos
respondentes e não os níveis de segurança em si mesmos e para sua mensuração,
investigamos três questões.
Na primeira delas intentamos saber qual o sentimento de segurança do respondente
em duas situações: sozinho em sua casa e na rua depois de anoitecer. Na segunda,
qual sua percepção do nível de violência ou paz do bairro e na terceira, questões
ligada à violência de uma forma mais direta, inquirindo se já foi vítima de violência,
quantas vezes e se sua casa já foi assaltada.
3.1.5 Canais de Informação e Comunicação
Nas seções anteriores apresentamos as quatro dimensões a partir das quais foram
definidos os indicadores que compõe o índice exploratório de capital social.
Conforme aludimos anteriormente, duas das dimensões apresentadas pelo Grupo
Iniciativa Capital Social do Banco Mundial, canais de informação e comunicação e
empoderamento e ação política, não fazem parte do citado índice por duas razões
de natureza distinta: Canais de comunicação e informação por convicção teórica e
Empoderamento por insuficiência de dados que nos tenha permitido uma análise
minimamente convincente.
30 Ver nossa discussão sobre o tema na página 78)
77
No próximo tópico nos ocuparemos de apresentá-las, assim como melhor explicar
nossos motivos.
O objetivo deste módulo em nosso instrumento de pesquisa foi mensurar a
existência, quantidade e qualidade dos meios de informação e dos canais de
comunicação utilizados pelos membros de um domicílio.
Neste caso, seguimos o ponto de vista teórico que preconiza que o acesso à
informações, tendo os canais de comunicação como instrumentos para se chegar às
informações, são fatores altamente relevantes para o estabelecimento de relações
entre as pessoas, assim como subsidia o individuo na tomada decisões e no
fomento de ações (COLEMAN, 1988, p.104).
A mensuração dos dados relativos aos canais de informação e comunicação, como
acabamos de dizer, esteve presente em nossa pesquisa pautado em convicção
teórica a partir de duas vertentes. Por um lado, consideramos tais dados de
fundamental importância na análise do capital social, principalmente tendo em vista
que atualmente tais mecanismos estão avançados tanto do ponto de vista
tecnológico como de acesso. Nesse sentido, não é crível desprezar seu impacto e
relevância. Por outro lado, tendo por base o mesmo motivo, não nos foi possível
incluir os dados obtidos no índice de capital social, uma vez que somente a
mensuração dos dados não permite fazer considerações quanto aos estoques de
capital social. Assim, não é possível afirmar que uma determinada comunidade que
faz ou recebe mais telefonemas ou que tem mais acesso à internet ou passa mais
tempo usando a internet tenha maior estoque de capital social do que outra.
Sabemos que o acesso à canais de comunicação e informação pode estar
relacionados à outros fatores, tais como por exemplo a renda, idade ou
simplesmente disponibilidade do recurso no meio comunitário.
A partir dessas premissas, e partindo de nosso entendimento atual sobre o tema em
pesquisa, nos sentimos habilitados (ou limitados) a classificar os canais de
informação e comunicação, no âmbito dessa pesquisa, como parte da “infra-
78
estrutura”31 necessária para o ambiente relacional onde ocorrem as interações
sociais e a partir das quais intentamos mensurar o capital social32.
Ao tratar essa dimensão como infra-estrutural no sentido amplo de uma sociedade,
não sentido micro das relações cotidianas, estamos também atribuindo a essa
dimensão uma faceta instrumental. Queremos dizer com isso que os canais de
informação e comunicação atuam como instrumentos ou ferramentas a partir dos
quais as demais dimensões podem florescer. Nesse sentido, quando analisado o
capital social estrutural de uma comunidade pode-se buscar pistas a cerca de que
canais de comunicação se serve esta comunidade para fundar e manter suas
organizações e como suas redes se comunicam e a qualidade das informações que
circulam nessas redes. Parte da efetividade de uma organização depende de como
seus membros se comunicam. É nesse sentido que insistimos em caracterizar os
canais de informação e os meios de comunicação como a infra-estrutura na qual o
capital social pode transitar. Também assim, ao mensurar parte dos resultados ou
efeitos do capital social, tomando medidas relativas às ações coletivas de
comunidades, vamos observar que seus atores se valem de meios de comunicação
para compartilhar suas intenções, estratégias e planos. Portanto, consideramos que
parte do sucesso de empreendimentos públicos e mesmo dos coletivos se deve à
qualidade das informações que podem ser acessadas, ou mais enfaticamente,
manter e reforçar o capital social depende essencialmente da habilidade dos membros de uma comunidade em comunicar-se entre si, com outras comunidades e com membros de suas redes que vivem fora de suas comunidades (World Bank, 2003, p. 16).
No que tange às normas e sanções, que na presente perspectiva teórica esta
relacionada à dimensão cognitiva do capital social traduzida em indicadores de
confiança e solidariedade, o estabelecimento das normas e a efetividade das
31 Usamos esse termo com sentido análogo ao que é usado comumente em outras ciências. Assim como na economia a infra-estrutura de um território facilita ou dificulta a produção de bens e serviços, na perspectiva do capital social, o que denominamos de infra-estrutura do ambiente relacional facilita ou dificulta a produção e manutenção do capital social, impactando seus níveis, mas não o impedindo de existir. 32 Para apenas mencionar uma vertente de debate possível, mas longe de queremos intentar por esse caminho, a democracia poderia ser considerada uma outra infra-estrutura para o florescimento do capital social. Sobre esse assunto, rica análise poderá ser encontrada no Capitulo 21 do Livro Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community de Robert Putnam.
79
sanções se utiliza também de canais de informação e comunicação para produzir os
seus efeitos.
Imputa ainda considerar e destacar que possivelmente o mais primitivo meio
informação e comunicação entre as pessoas, é o contato direto pessoa-a-pessoa.
Nessa perspectiva, quando grupos se juntam em associações ou estabelecem
relacionamentos a partir de suas redes, também pode-se observar a utilização de
canais de informação e meios de comunicação. Em muitas comunidades, este é o
meio mais efetivo de propagação de uma mensagem.
3.1.5.1 Componente 1: Acesso à Canais de Informação e Comunicação
Para mensuração dos dados relativos à essa dimensão, está inclusa uma sessão
inteira no questionário de pesquisa composta por 11 questões e agrupadas num
único componente que denominado de Acesso à Canais de Informação e
Comunicação que é composto por 6 indicadores33, que passamos a comentar:
Audiência de Radio e TV: Mensura a freqüência semanal de audição de
rádio e a freqüência diária que assistem TV. Complementar a estas questões
perguntamos sobre o tipo de programa de rádio ou de TV com maior audiência.
A quantificação das audiências serve para mostrar o impacto que esse canal
de comunicação tem na vida de cada comunidade e os tipos de programas
com maior audiência mostram um pouco da utilização que se faz do canal,
basicamente enquadrados como sendo de busca de informações e de
entretenimento34.
Internet: Para mensuração deste canal, nos valemos de 3 perguntas. Na
primeira delas, investigamos se o respondente tem acesso à internet e em que
locais. Na segunda, perguntamos quantas horas por dia em média fica
conectado e na terceira qual o tipo de uso mais freqüente na internet.35
33 Ressaltamos novamente que esse indicador não compõe o Índice Exploratório de Capital Social. 34 No Capítulo 3, existem algumas considerações teóricas específicas sobre o significado de cada tipo de uso, bem como alguns efeitos resultantes no capital social. A formulação original das perguntas que mensuram essas duas audiências, assim como sua qualificação, pode ser encontrada no Anexo I. Em relação ao rádio, vide as perguntas 24 e 25 e em relação à TV, vide perguntas 26 e 27. 35 Para conhecer as perguntas que deram origem à esses dados, vide Anexo I, perguntas 21 a 23.
80
Telefone: A utilização deste canal de comunicação esta presente em uma
única pergunta36 que aglutina 4 tipos de informações relativas à posse ou
acesso ao canal: 1) Se tem telefone fixo no domicílio; 2) Se tem celular; 3)
Quantas pessoas no domicílio tem celular e 4) Se existe telefone público
próximo ao domicílio;
Muito embora intimamente conectadas, neste caso fizemos um distinção entre
o canal de comunicação, representadas pela mensuração da posse ou acesso
ao telefone e as informações que podem ser obtidas através desse canal,
mensuradas pela quantidade de telefonemas feitos ou recebidos. Esta
distinção atende à uma opção conceitual, uma vez que preferimos classificar os
telefonemas feitos ou recebidos como um dos indicadores que medem a
extensão das redes, neste caso contabilizados no Indicador 4 (Contatos
Virtuais).
Jornais: Um dos mais clássicos instrumentos de aferição do capital social,
empregado por Tocqueville e Putnam, a leitura de jornais em nosso
questionário é avaliado em duas perguntas37 que mostram 3 tipos de dados: 1)
Quantas vezes por semana o respondente lê jornais; 2) Se em seu domicílio
outros membros lêem e em caso positivo 3) Quem são esses membros.
Informações sobre a prefeitura e a economia: Esta medida visou
investigar quais as fontes prioritárias do respondente para obter informações
sobre atuação da prefeitura e sobre questões ligadas à economia da cidade.
Como estratégia, elaboramos duas questões e apresentamos uma série única
de 10 opções padronizadas de fontes de informações, solicitando que o
respondente apontasse duas fontes mais importantes e como complemento
que informasse a prioridade.
Semelhante ao procedimento adotado na mensuração da posse e acesso ao
telefone, no caso desta questão adotamos também uma distinção conceitual.
As medidas que apontavam que as principais fontes de informações eram
pessoas foram inclusas no Indicador Contatos Presenciais (indicador 5) e as
medidas que apontavam os canais de informação como fontes de informações
foram mantidas neste indicador de acesso a canais de informação e
36 Vide Anexo I, pergunta 28. 37 Anexo I, perguntas 19 e 20.
81
comunicação. Conceitualmente, entendemos que recorrer à pessoas para obter
informações implica em medir parte da extensão das redes que são mantidas,
portanto, esses dados nos falam muito mais sobre a dimensão estrutural do
capital social alem de fornecer pistas sobre questões culturais presentes em
cada comunidade.
3.1.6 Empoderamento e Ação Política
Segundo os formuladores do questionário original, o empoderamento “refere-se a
expansão dos recursos e a capacidade das pessoas em tomar parte, negociar,
influenciar, controlar e responsabilizar”. (World Bank, 2003, p. 21).
A ação política dos membros de uma comunidade é apenas uma das ações
possíveis para esse empoderamento, sendo que outros fatores como eficiência das
instituições públicas na prestação de serviços e na facilitação das ações, bem como
investimentos em educação e outros serviços públicos básicos, fazem parte do
empoderamento.
De um modo geral, essa dimensão pode ser entendida como sendo um dos efeitos
mais amplos em termos sociais que em parte podem ser atribuídos ao níveis de
capital social. Nesse sentido, nossa intenção original ao incluir algumas questões
dessa dimensão, principalmente as questões relativas à ação política dos indivíduos,
era poder captar um pouco desse efeito.
Apesar de nossa boa intenção e esforço nesse sentido, os dados registrados
mostraram-se muito pobres e insuficientes, não nos permitindo um nível mínimo de
segurança para poder falar em empoderamento de uma comunidade. Tal pobreza e
insuficiência de dados teve origem quando definimos a quantidade de questões
totais do formulário e o total de questões para esta dimensão. A limitação no
tamanho do questionário foi decorrente da insuficiência de recursos (principalmente
tempo) para consecução da pesquisa de campo geradora desta dissertação.
Assim, nos curvamos à realidade e decidimos não incluir os dados obtidos nessa
dimensão no índice exploratório de capital social, porém procedemos análise e
comparação dos dados.
82
Na versão do questionário que foi aplicado esta dimensão era composta por três
medidas:
Grau de percepção de felicidade: mensura numa escala de 1 a 5 o quanto os
respondentes se sentem felizes;
Grau de percepção de impacto da atuação: mensura a percepção do
impacto em fazer atividades para melhoria do local onde os respondentes
vivem e
Grau de interesse eleitoral: mensura a intensidade do acompanhamento das
últimas eleições.
Dessas três medidas as duas primeiras foram mantidas na dimensão
empoderamento e ação política e a terceira incluímos na dimensão ação coletiva e
cooperação compondo o Indicador 9 que mede as participações em ações coletivas.
3.1.7 Outros Dados
Duas perguntas constantes do instrumento de pesquisa tanto não compuseram o
índice exploratório de capital social quanto não fazem parte de nenhum dos
indicadores apresentados anteriormente, no entanto, serviram de referência para
análise dos dados, quer em apoio a um indicador ou dimensão específica ou na
análise geral dos dados.
Membro mais ativo e Benefícios: Para cada participação em grupos e
organizações institucionais ou não institucionais (Indicadores 1 e 2) foi
solicitado aos respondentes que apontassem quais eram os membros com
participação mais ativa no domicílio e quais eram os principais benefícios
percebidos em decorrência dessa participação38.
3.2 Perfil Geral da Amostra
Antes de analisar os dados para cada uma das dimensões do capital social,
apresentamos sinteticamente o perfil do nosso respondente no agregado dos dados
em todas as amostras:
38 As opções padronizadas de membros do domicílio pode ser consultada na nota de rodapé 95 no Anexo I, e os benefícios apresentados podem ser conferidos na Tabela 18 do Anexo III.
83
“Mulher, 40 anos de idade, católica, residente no bairro há 13 anos, ensino
médio completo que trabalha mais de 40 horas semanais como empregada
com carteira registrada e mora com o marido e os filhos”
Trata-se de um perfil apenas estatístico e esta longe de representar a diversidade
presente nos bairros pesquisados e mais distante ainda de representar a riqueza
das diversas, complexas e múltiplas interações sociais que resultam em parte do
capital social que foi possível mensurar. Dados agregados podem ser vistos na
tabela abaixo.
Tabela 3.2: Resumo dos dados agregados
Fonte: Elaboração própria
Características Valores
Renda média domiciliar R$ 1.619,16
Gênero
Masculino 42%
Feminino 58%
Idade
Até 19 anos 13%
20 a 29 anos 14%
30 a 39 anos 20%
40 a 49 anos 24%
50 a 59 anos 15%
60 a 69 anos 6%
70 anos e mais 7%
Religião
Católicos 68,24%
Evangélicos 18,82%
Nenhuma 5,88%
Outras 7,06%
Tempo Médio de Residência 165,66 meses
Educação Formal
Analfabetos 2,35%
Fundamental incompleto 24,71%
Fundamental completo 11,76%
Médio incompleto 7,06%
Médio completo 41,18%
Superior incompleto 9,41%
Superior completo 2,35%
Pós graduação 1,18%
Características Valores
Horas de trabalho (semanal)
Faixa 1 – 0 horas 30,59%
Faixa 2 – até 19 horas 5,88%
Faixa 3 – 20 a 39 horas 17,65%
Faixa 4 – 40 horas e mais 45,88%
Situação de trabalho
Empregados 39,13%
Desempregados 2,17%
Autônomo ou informal 28,26%
Trabalhador em casa 6,52
Não trabalha 4,35%
Somente aposentados 11,96
Empresário ou cooperativado 7,61%
Situação domiciliar
Mora sozinho 7,06%
Mora com família 90,59%
Outras situações 2,35%
Tipos de famílias
Casal sem filhos em casa 14,46%
Casal com filhos e casa 59,04%
Pai ou mãe com filhos 10,84
Outros tipos 15,66%
84
Capítulo 4 – Análise Comparativa do Capital Social
Neste capítulo apresentamos a análise das diversas dimensões do capital social nas
comunidades em estudo. A divisão em componentes e indicadores deve ser
entendida muito mais como um recurso de análise do que propriamente como
divisões estanques e fechadas. Nesse sentido, estamos cientes das múltiplas
interações que existem entre os indicadores e macro indicadores.
Na análise que segue, traremos alguns elementos que ajudam a entender e
classificar essas comunidades, justificando alguns pontos com os dados e a teoria
disponível.
4.1 Medidas da Vida Organizacional da Comunidade
No que se refere à análise de como as comunidades estão constituídas do ponto de
vista organizacional, como já tivemos oportunidade de expor, fizemos uma divisão
dos 5 indicadores em dois componentes básicos: Participação em organizações e
grupos e extensão das redes.
As medidas deste macro indicador classificam o Bairro Santo Antonio como tendo o
maior valor no índice exploratório de capital social, no entanto a diferença deste com
o Bairro Gramadinho é de apenas 2,63%, fator que não nos permite afirmar que o
Santo Antonio tem um capital social estrutural maior que o Gramadinho. Nesse
sentido, preferimos entender que ambos têm o mesmo nível de capital social
estrutural que se apresenta com características diferentes.
Seguindo a mesma lógica de pensamento, no entanto, podemos afirmar que o Bairro
São Rafael, entre os três, é o que tem o menor nível de capital social estrutural. Seu
índice é 90% menor que o Gramadinho e 95% menor que o Santo Antonio.
4.1.1 Participação em Grupos e Organizações
De um total de 15 grupos e organizações que apresentamos aos respondentes
(excluindo a categoria outros) os respondentes do São Rafael participam em apenas
40% do total, o que significa a participação em 6 grupos e organizações, sendo que
2 grupos estão na categoria institucionais e o dobro em não institucionais.
Comparado aos dois outros bairros, sua diversidade de grupos e organizações é
85
muito pequena, uma vez que o Gramadinho tem participações em 66% e o Santo
Antonio em 80%.
No que se refere à diversidade de organizações e grupos institucionais,
eminentemente trata-se de uma participação ligada à religião. Alguns fatores
reforçam essa opinião:
Do total de entrevistados no São Rafael, 73,08% participam de grupos
religiosos e para comparação, temos um total de 67,65% no Gramadinho e
60% no Santo Antonio;
Desse percentual de 73,08% de participação em grupos religiosos, 89,47%
consideram que são muito ativos, o que revela um sentimento de religiosidade
muito acentuado;
100% dos respondentes no São Rafael têm alguma prática religiosa, sendo
que entre eles, 80,77% são católicos. No total geral dos respondentes de
todos os bairros, 5,88% deles alegaram não ter religião, enquanto que no São
Rafael nenhum respondente se declarou nesta condição;
Outro fator que reforça essa tendência é o fato que na categoria de
organizações e grupos não institucionais, a participação em grupos de jovens
é 3 vezes maior que o segundo colocado (Gramadinho), e é muito comum
que grupos de jovens estejam ligados à práticas religiosas.
Um efeito colateral da pouca diversidade de grupos institucionais sobre o capital
social do bairro pode ser observado a partir da contradição entre a percepção da
participação e sua efetividade. Os dados mostram que a grande maioria dos
respondentes do São Rafael, como já mencionado, considera-se muito ativa na
participação em religiões, o que deveria fazer com que a freqüência de participação
e as contribuições fossem proporcionais, pelo menos em religiões. No entanto, não é
isso que observamos. Pelo contrário, os valores mensurados apontam que a
contribuição, e mais acentuadamente a freqüência, são inversamente proporcionais
à percepção do nível de participação. Isso nos faz levantar a hipótese de que os
respondentes deste bairro se percebem muito ativos pela pequena disponibilidade
de outras possibilidades de participações institucionais. Ou seja, enquanto no São
86
Rafael a religião é praticamente a única forma de participação institucional, no Santo
Antonio ela é mais uma.
Gráfico 4.1: Nível e freqüência de participações em religiões
Fonte: Elaboração própria.
A inversão de proporcionalidade entre percepção do nível de participação e a
freqüência efetiva em grupos religiosos fica visualmente explicita no Gráfico 4.1 pela
relação entre essas duas variáveis mostradas na linha verde.
Assim, a diversidade de organizações e grupos disponíveis para participação em
uma comunidade pode afetar os níveis de capital social estrutural em duas
vertentes:
Na primeira delas, uma pequena diversidade concentra a atenção e as
percepções dos membros, mas deprime os níveis de participação efetiva, na
nossa pesquisa medida pela freqüência e contribuição e
Na segunda vertente, uma grande diversidade contribui para que os
membros de uma comunidade se percebam pouco ativos porque não
conseguem dar conta de participar de todas, dado justamente a maior
quantidade de opções. No entanto, uma grande diversidade oferece uma gama
de possibilidades de participações maiores o que eleva no todo a freqüência e
a contribuição pois atende à interesses e vontades diversificadas dentro da
comunidade.
0,57 0,46 0,308,32
11,44 14,4014,60
24,87
48,00
05
10152025303540455055
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
Coeficientes
Nivel Participação
Freqüência de Participação
Relação Nivel vs Freqüência
87
Os Gráficos 4.2a e 4.2b explicitam melhor a tríade Diversidade – Nível de
Participação – Freqüência de Participação para todo o conjunto de participações em
grupos e organizações (institucionais e não institucionais).
Gráfico 4.2a: Nível de percepção de participação geral e em religiões
Fonte: Elaboração própria
O Gráfico 4.2a mostra que o nível de participação geral está inversamente
impactado pelo nível de percepção de participação em religiões, ou seja, quanto
maior a diversidade de grupos e organizações disponíveis, maior é a percepção
geral de participação e menor o impacto da percepção de participação em grupos
religiosos.
Gráfico 4.2b: Percepção do nível de participação e freqüência de participações no
geral
Fonte: Elaboração própria
1,111,31
1,37
0,57 0,46
0,30
0,0
0,5
1,0
1,5
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
Co
efic
ien
te
Geral Religiões
1,111,31
1,37
17,21
30,41 28,69
15,50
23,21 20,94
0
5
10
15
20
25
30
35
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
Co
efic
ien
tes
Nivel ParticipaçãoFreqüência de ParticipaçãoRelação Nivel vs Freqüência
88
Já no Gráfico 4.2b pode-se ver que a percepção do nível de participação é
desproporcional à freqüência de participações efetivas. Essa desproporção fica
muito evidente no caso do São Rafael e um pouco menos evidente do que no caso
do Santo Antonio. Quando introduzimos a variável religião (Gráfico 4.1) a
desproporção é muito mais significativa.
Essas constatações, no entanto, carecem de outros dados para poder assumir
significação mais ampla, pois não levantamos antecipadamente que organizações e
grupos estão presentes em cada bairro. Pelos nossos dados, conseguimos apontar
quais organizações existem a partir das respostas, mas não podemos dizer que elas
constituem o total de organizações e grupos de cada bairro.
Por outro, ponderamos que se alguma outra organização existisse no bairro teria
uma boa possibilidade de ter sido citada pelo menos por um dos participantes. A
possibilidade de existir uma organização de caráter institucional e não ter sido
citada, nos leva à questionar a efetividade dessa organização, uma vez que ela não
é objeto de participação dos entrevistados. Em parte esta dúvida nos faz pensar a
respeito do cuidado que devemos ter ao analisar parte do capital social estrutural
representado pela participação em organizações e grupos institucionais em espaços
geográficos limitados como é o caso de bairros que normalmente congregam
pessoas de características socioeconômicas semelhantes. Nesse sentido, por
exemplo, não é possível esperar participações no Conselho Regional de Medicina se
não entrevistamos nenhum médico, ou quando a amostra da pesquisa inclui apenas
2 casos com ensino superior que representam 2,35% da amostra. No caso desse
exemplo específico seria necessária uma amostra que representasse um espaço
geográfico maior, talvez a cidade ou a região, e mesmo assim, restaria saber se o
Conselho Regional de Medicina esta organizado na cidade ou na região de modo a
possibilitar a participação dos médicos.
Além disso, também é preciso olhar para as organizações institucionais de acordo
seus fins e interesses. Assim é muito diferente analisar o capital social estrutural
institucional mensurando a participação em conselhos profissionais e conselhos
ligados à políticas públicas, por exemplo. Os conselhos profissionais visam
interesses e objetivos de um coletivo, já os conselhos ligados à políticas públicas
visam fins de todos os coletivos (ou fins públicos). Nesse sentido seria muito natural
não encontrar participantes do conselho regional de medicina no São Rafael ou
89
mesmo em Araçatuba, mas será que não seria desejável e positivo que moradores
do São Rafael participassem, por exemplo, do Conselho Municipal de Saúde ou
Segurança numa seção organizada no bairro? Ou falando em termos puramente
especulativos, qual não seria o poder e a influencia de um partido político que
estivesse tão presente na vida das pessoas como esta a religião?
Voltando novamente à realidade dos dados, vamos encontrar no Santo Antonio
alguns dados que alimentam nossas conjecturas hipotéticas anteriores. Em termos
de participação em grupos e organizações institucionais, excetuando as
organizações ligadas à atividades profissionais e de comércio, todas as demais
relacionadas no questionário são objeto de participação dos respondentes deste
bairro39. Nas organizações e grupos ligados à educação, os respondentes do Santo
Antonio não só se percebem com um nível mais alto de participação como
efetivamente participam e contribuem muito mais com esses grupos. Quando
comparado ao Gramadinho, no Santo Antonio a freqüência de participação em
grupos educacionais é 2,13 vezes maior.
O Santo Antonio é praticamente o único bairro onde existe participação em
organizações e grupos ligados à movimentos políticos ou partidos políticos40 e em
conselhos ligados às políticas públicas.
Quanto à participação em sindicatos, o índice do Gramadinho é o dobro do Santo
Antonio, porém derivado de dados extremamente tímidos41.
Nos indicadores de participação em organizações e grupos institucionais, mais uma
vez precisamos voltar à religião. Tanto no Santo Antonio como no Gramadinho a
religião, diferente do São Rafael, não é a única instituição de participação, mas de
longe é a mais forte nos dois bairros. No Santo Antonio a freqüência de participação
39 Vide Tabela 4 no Anexo III 40 O Gramadinho apresenta apenas um caso de participação em grupos desse tipo que participa 1 vez por ano, resultando num coeficiente de 0,01, razão pela qual desprezamos este dado na análise em curso. 41 Para o três bairros, encontramos 1 participação em sindicatos para cada um deles. A única diferença que não impacta no índice geral é que o participante do Gramadinho participa duas vezes por ano do sindicato e os participantes do São Rafael e do Santo Antonio participam apenas uma vez.
90
é 25,87% superior ao Gramadinho42, no entanto essa participação superior esta
melhor distribuída entre os respondentes do que nos outros bairros.
O Indicador 2 que mensura a participação em organizações e grupos não
institucionais nos mostra um quadro estruturalmente semelhante ao Indicador 1,
porem agora estamos livres do peso ditatorial dos dados da participação religiosa e
podemos complementar de forma mais abrangente parte da nossa visão sobre o
capital social estrutural nos três bairros.
Neste indicador, semelhante ao Indicador 1, no conjunto de medidas que contribuem
para o índice exploratório de capital social notamos no Santo Antonio um capital
social estrutural não institucional ligeiramente superior ao Gramadinho, no entanto,
uma depressão muito superior em relação ao São Rafael.
A diversidade de organizações e grupos não institucionais, é um pouco mais
equilibrada entre os três bairros quando comparada à diversidade de grupos e
organizações institucionais, sendo que do total de opções apresentadas aos
respondentes, o São Rafael participa em 50%, o Gramadinho em 62% e o Santo
Antonio participa de 87% delas.
No São Rafael, para fins desta análise, a participação em organizações não
institucionais pode ser dividida em três conjuntos:
Num primeiro conjunto, em grupos ligados à saúde e esportes, está 15,38%
dos respondentes, cuja participação é responsável por 20,27% do coeficiente
geral de freqüências de participações não institucionais.
Num segundo conjunto estão os respondentes em grupos de jovens, com
um total de 11,53%. Apesar de baixo em termos de percentuais de
respondentes, é alto na composição do coeficiente total de freqüência de
participação calculado para este bairro, contribuindo com 52,70% deste índice.
Esses dados são significativos pois grupos de jovens normalmente são
formados a partir de atividades religiosas sendo em muitos casos quase uma
extensão destas. Esta análise amplia a força das atividades religiosas no bairro
e deprime ainda mais a diversidade de grupos e organizações em que as
pessoas podem participar. Para comparação, no Gramadinho temos apenas 42 Vide coeficientes de freqüência em religiões na Tabela 6 no Anexo III
91
5,88% dos respondentes participando desse tipo de grupo, contribuindo com
somente 0,37% no coeficiente total de freqüências não institucionais para o
bairro43.
Num terceiro conjunto, analisado os dados relativos à participação na
associação de Bairro, ficamos intrigados em constatar que 38,46% dos
respondentes participam da associação dos moradores, o que impacta com
27,03% no coeficiente de freqüência total de organizações e grupos não
institucionais desse bairro e o coloca em primeiro lugar no coeficiente de
freqüência em associações de bairro. Porque o São Rafael tem um coeficiente
de freqüência na associação de bairro maior que o Gramadinho e o Santo
Antonio? Para comparação, o Gramadinho apresenta 20,58% e o Santo
Antonio incríveis 56% de respondentes que participam da associação de
moradores.No Gramadinho esse coeficiente contribui com 10,28% e no Santo
Antonio com 13,95% do coeficiente total de freqüência em organizações e
grupos institucionais.
Para entender o alto percentual das pessoas que participam da associação de
moradores, procuramos algumas pistas em outros indicadores o que nos obrigou a
desagregar alguns dados. Novamente nos deparamos com a questão da diversidade
de organizações e grupos disponíveis para atuação no bairro e levantamos algumas
hipóteses:
Primeira hipótese: a freqüência de participação na associação de bairro é maior
pois as opções de participação (diversidade) são menores neste bairro. No Santo
Antonio, como existem mais opções de participação (maior diversidade) a freqüência
de participação fica mais diluída entre outras organizações (o mesmo que ocorre
com religiões) e
Segunda hipótese: Semelhante à participação em organizações e grupos
institucionais, no caso São Rafael ligado à religião, sistemicamente uma diversidade
baixa deprime ainda mais a diversidade e a freqüência global e concentra as
43 O Santo Antonio poderia fornecer uma boa base de comparação, uma vez que é o bairro com o maior coeficiente de freqüência em religião e visto que estamos associando grupos de jovens com religião, porém, nenhum respondente neste bairro participa de grupos de jovens. Provavelmente este dado não foi captado no Santo Antonio porque não existe na amostra do bairro ninguém com idade na faixa até 19 anos que fornece, via de regra, participantes para grupos de jovens.
92
possíveis freqüências de participação na baixa diversidade. Constatamos que existe
um potencial de participação que poderia ser aproveitado em outras organizações e
grupos, mas como faltam opções, ou as pessoas não participam de nenhuma ou
participam no que está disponível.
Se você morar no São Rafael, se não for jovem ou uma pessoa que goste de
participar de atividades religiosas e não se interessar por esportes, mas se tiver
vontade e disposição em participar de alguma organização, ou você participa da
associação de bairro ou você saí às ruas para conversar.
É exatamente isso que mais da metade dos respondentes do São Rafael faz. Em
outro indicador vamos verificar que 53,91% dos encontros públicos no São Rafael
ocorrem para conversar44, ou seja, as pessoas saem às ruas e encontram outras
para conversar. O Gramadinho tem um percentual de 50% e o Santo Antonio de
19,05% de pessoas que saem às ruas para conversar.
Vinculamos esse dado com o elevado índice de freqüência na associação dos
moradores porque justamente essa associação ajuda a preencher um vazio
organizacional que existe no bairro, daí o alto nível de freqüência no São Rafael
quando comparado aos outros bairros e em relação ao seu próprio valor de
freqüência geral em organizações grupos institucionais.
O potencial de participação referido pode ser avaliado a partir da comparação de
alguns dados do São Rafael com os outros bairros:
O Gráfico 4.3 mostra que entre as pessoas que saem às ruas para
conversar, no São Rafael 53,33% o fazem somente para conversar. A metade
delas esta na faixa de trabalho 1, ou seja que declararam zero horas de
trabalho. No Gramadinho e no Santo Antonio, para esse mesmo motivo e
mesma faixa de trabalho, temos respectivamente 28,57% e 25%;
Entre os três bairros o São Rafael é o que tem o maior percentual de
aposentados, 22,22%, enquanto este percentual no Gramadinho é de 2,94% e
no Santo Antonio de 12,90%. Neste caso estamos considerando aposentados
44 Esse dado é proveniente de uma das medidas do Indicador 5 e será utilizado mais adiante para analisar a extensão das redes, ainda dentro do macro indicador Medidas da Vida Organizacional da Comunidade. Sobre esse dado teceremos outros comentários e considerações e o vincularemos à questão da diversidade ora em análise.
93
somente aqueles que se declaram nesta condição e que não exercem
nenhuma outra atividade profissional junto com a aposentadoria45;
Se ao total de somente aposentados adicionarmos o total de pessoas que só
exercem trabalhos domésticos sem consideração de horas de trabalho e os
que declararam não trabalhar, encontramos nessa somatória 40,74% dos
respondentes no São Rafael, 20,59% no Gramadinho e 16,13% no Santo
Antonio e
Nos três bairros, individualmente o percentual de pessoas que participam de
apenas 1 grupo é o maior. Quando somamos o percentual de pessoas que
participam de 1 grupo ou menos, ou seja que não participam de nenhum grupo,
no São Rafael somos surpreendidos com o alto valor de 69,23%, enquanto que
no Gramadinho esse percentual é de 55,88% e no Santo Antonio de 44%.
Gráfico 4.3: Percentual46 de encontros públicos para conversar associados à outros
motivos para encontros públicos47
Fonte: Elaboração própria
Terceira hipótese: Os que participam 2 ou mais vezes por mês da associação dos
moradores no São Rafael concentram 90% do coeficiente de freqüência na
45 Para comparar esses dados com outras situações de trabalho vide a Tabela 2 no Anexo III. 46 Valores arredondados para facilitação da visualização gráfica. 47 Os percentuais relativos ao Santo Antonio serão explicados mais adiante.
0102030405060708090
100
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
5850
16
53
41
100
20
35
0
2735
0
13
41
0
Per
cen
tual
Encontros Públicos para Conversar Só ConversarConversar + Comer e Beber Coversar + Jorgos/Esportes/RecreaçãoConversar + Religião
94
associação de moradores.Esse dado também se refere à diversidade e
concentração, ou seja, aqueles que participam na associação de moradores o fazem
com muita freqüência porque esta é uma das poucas opções além de provavelmente
serem os respondentes mais ativos no bairro. O Santo Antonio neste caso serve
como contra-ponto uma vez que mostra um melhor equilíbrio entre os que participam
2 vezes ou mais por mês, 35,5%, os que participam 1 vez por mês com o mesmo
percentual e os que participam menos de 1 vez por mês com 28,57%.
Quarta hipótese: outros fatores que não fazem parte do escopo da pesquisa podem
estar contribuindo para esse alto coeficiente de freqüência na associação dos
moradores do São Rafael, tais como a gestão da associação do bairro e fatores
culturais ligados à criação do bairro.
Algumas outras questões ligadas à organizações e grupos não institucionais, e que
não foram abordadas na análise anterior, merecem algumas palavras.
Entre os três bairros, o Gramadinho apresenta um nível intermediário em termos de
diversidade de grupos e organizações não institucionais, e apresenta o maior
coeficiente geral de freqüências, sendo 6% maior que o Santo Antonio e 76,70%
maior que o São Rafael. Nesse coeficiente praticamente a metade (40,13%) é
devido à participação em atividades esportivas, 33,42% em freqüências em grupos
de produção e o restante esta diluído em freqüências na associação de moradores,
atividades culturais e grupo de jovens.
O Santo Antonio, por sua vez, se destaca pela diversidade de organizações e
grupos não institucionais. De todas as organizações nesta categoria que foram
citadas para os respondentes, somente não encontramos participantes em grupos
de jovens48.
Semelhante ao que ocorre em organizações e grupos institucionais, o Santo Antonio
é único bairro entre os três que tem participações em grupos de terceira idade e
organizações não governamentais, que juntos impactam em 15,95% no coeficiente
48 Acreditamos que não encontramos participações nesse tipo de organização devido à inexistência de respondentes na amostra desse bairro com menos de 19 anos, sendo que esta faixa etária é a que mais fornece participantes para participação nesse tipo de grupo.
95
geral de freqüência do bairro. Além da associação de moradores já comentado
anteriormente, a freqüência em grupos de produção contribui com 11,96% desse
índice e outros 27,91% são devidos à freqüências em grupos ligados à cultura e
saúde. A freqüência em atividades esportivas e recreativas tem o maior impacto
isoladamente, contribuindo com 30,23% no bairro.
No Santo Antonio, em acréscimo, há registros de 4 participações na categoria
“outros grupos”, em que as participações e freqüências não foram computadas em
nenhuma categoria, portanto não afetaram o índice exploratório de capital social.
Até o momento nos detivemos na análise dos Indicares 1 e 2 e em alguns momentos
nos servimos de dados de outros indicadores para embasar nossa opinião.
Precisamos ainda vencer a análise de 3 outros indicadores para podermos tirar
algumas conclusões a respeito do capital social estrutural dessas três comunidades,
o que faremos a seguir.
4.1.2 Extensão das Redes
Conforme já assinalado no capítulo metodológico, analisar a extensão das redes
dentro da dimensão estrutural do capital social visa captar informações da estrutura
individual das pessoas na resolução dos problemas ou necessidades cotidianas.
Logo, para fins analíticos e organizativos do pensamento, estamos olhando para o
capital social estrutural tanto a partir do nível coletivo (o que foi apontado na análise
de participação em organizações e grupos institucionais e não institucionais) como a
partir do nível individual.
Essa forma de divisão, no entanto, não é estanque tanto no macro indicador a que
esta ligado (medidas da vida organizacional da comunidade) quanto no restante dos
indicadores ligados à outras dimensões.
Um primeiro conjunto de medidas que chama a atenção é que o Santo Antonio leva
vantagem no componente extensão das redes no índice exploratório de capital
social sobre os demais bairros, no entanto não é uma vantagem hegemônica em
todos os indicadores que fundamentam esse componente. No computo geral desse
componente, o índice do Santo Antonio é 11,11% superior ao Gramadinho e 80%
96
superior ao São Rafael, muito coerente com as variações obtidas no mesmo índice
para o componente organizações e grupos49.
Assim,nesse primeiro vôo panorâmico sobre esse componente começamos a
justificar nossa visão da múltipla influência que os indicadores guardam entre si, e
que portanto, os fatores individuais do capital social estrutural não estão isolados
dos fatores coletivos.
Seguindo a linha que adotamos na análise do componente anterior, vamos fazer
nossa análise a partir dos dados do São Rafael e tomar medidas dos dois outros
bairros para fins comparativos. Tentaremos seguir essa linha em todos os
componentes e indicadores e até aqui justificado pelo fato de que o São Rafael,
também neste componente, claramente esta em desvantagem nos estoques de
capital social.
Pelo índice exploratório de capital social já sabemos que a extensão total das redes
no São Rafael é 80% inferior ao Santo Antonio e acrescentamos agora que ela é
100% inferior ao Gramadinho.
O indicador rede de Acesso à Recursos (indicador 3) é composto por 3 medidas que
ajudam a avaliar a extensão das redes. Se você morasse no São Rafael, e
precisasse de ajuda, ao recorrer às pessoas próximas, medianamente você teria
25% menos de possibilidades de obter ajuda do que se você morasse no
Gramadinho e 50% menos de possibilidades do que se você morasse no Santo
Antonio, no entanto você provavelmente não se sentiria infeliz com essa condição,
pois dentro da sua comunidade a situação geral é muito semelhante.
Com essa analogia queremos trazer à analise que a rede de acesso à recursos no
São Rafael é muito mais pobre que nos dois outros bairros, que é generalizada em
todos os indicadores que medem este componente e além disso, essa pobreza de
contatos tem uma distribuição muito mais homogênea no São Rafael do que nos
dois outros bairros. A homogeneidade da distribuição dos contatos no São Rafael
pode ser vista a partir do percentual de contatos da parcela dos 10% com mais
49 Para o componente organizações e grupos o índice exploratório de capital social do Santo Antonio é 2,63% superior ao do Gramadinho e 95% superior ao do São Rafael.
97
contatos e na comparação com o restante 90%. Neste bairro os 10% de
respondentes com mais contatos, detêm um pouco menos de 1/3 dos contatos,
30,08% deles para ser mais preciso. Comparando, no Gramadinho e no Santo
Antonio, os 10% de respondentes com mais contatos detêm respectivamente
49,86% e 43,17% dos contatos.
Ao mensurar a extensão das redes, não basta nos determos no número de contatos
que uma pessoa tem, mas como já alertamos anteriormente, é preciso tentar
qualificar um pouco essa rede e medir a que ela pode servir.
O São Rafael tem uma rede de contatos que neste momento da análise pode ser
chamada de rede primária, ou seja, 48,87% da rede de contatos do bairro é
constituída por parentes ou de laços fortes como denominou Granovetter
(GRANOVETTER, 1973). Comparando, no Gramadinho o percentual de laços fortes
é da ordem de 43,21% e no Santo Antonio de 35,61%.
Tanto laços fortes como laços fracos falam do capital social a partir de determinadas
perspectivas. Os laços fortes em uma comunidade são pródigos em criar ou
incrementar os vínculos entre as pessoas, fortalecendo o sentimento de identidade
coletiva, sendo ótimos e necessários em situações de emergência. Já os laços
fracos ajudam a abrir conexões em outras redes e na obtenção de recursos que não
estão disponíveis a partir das redes constituídas essencialmente por laços fortes.
O São Rafael, pela elevada taxa de laços fortes e associado à baixa diversidade de
organizações e grupos e alto coeficiente de freqüência nas poucas organizações e
grupos presentes na comunidade se mostra um bairro muito mais encerrado em si
mesmo do os outros dois, com menores aberturas para o mundo externo. E não
estamos falando de uma comunidade que se fortalece internamente a partir de seus
fortes vínculos, pelo contrário, o que podemos interpretar nos mostra uma
comunidade onde seus membros vivem de forma mais isolada e cada um tem que
se virar com aquilo que precisa.
Esses fatores certamente contribuem para a dificuldade em acessar recursos
externos e obter ajuda mesmo dentro da comunidade. Alguns dados contribuem
para justificar essa opinião:
98
A mediana de contatos dos respondentes dos São Rafael a quem podem
recorrer para pedir dinheiro emprestado em uma situação de emergência é de
1,5 pessoas, enquanto que no Gramadinho a mediana é de 2 pessoas e no
Santo Antonio de 2,5 pessoas;
Além de apresentar a menor mediana entre os três bairros, a possibilidade
de que alguém tenha condições de emprestar dinheiro é a menor entre os três.
No São Rafael este recurso está disponível em 74,51% dos contatos, enquanto
que no Gramadinho está disponível em 91,95% e no Santo Antonio de 81,82%
dos contatos;
No São Rafael a mediana de contatos para pedir ajuda em emergência é 2
vezes menor que no Gramadinho e três vezes menor que no Santo Antonio50 e
Ajuda a deteriorar essa baixa mediana quando constatamos que no São
Rafael quase metade dos respondentes (46,15%) simplesmente não tem
ninguém a quem recorrer quando precisa de ajuda. Esse percentual é bastante
consistente pois está muito bem distribuído por toda amostra do bairro, sendo
que não existe um única variável na desagregação dos dados que permitiu
traçar um perfil dessas pessoas.
Nossa percepção geral é de um bairro com um perfil familista, como definiu
Fukuyama (FUKUYAMA, 1996) fica reforçada quando constatamos a partir de outros
indicadores que as pessoas neste bairro se percebem pouco próximas e pouco
diferentes.
Relativo à extensão das redes, até agora trouxemos alguns dados que nos alertam
quanto à potencia dessas redes. Mas quais recursos podem ser mobilizados a partir
delas?. É salutar agora, olhar para os outros dois indicadores que compõe a
extensão das redes e apontar algumas pistas que nos ajudem a entender um pouco
melhor essa extensão.
As redes dos moradores dos três bairros não são estabelecidas por decretos, muito
embora possam ser ampliadas a partir de ações deliberadas que aumente as
50 As medianas dos três bairros pode ser conferida no Gráfico 17 no Anexo III.
99
conexões entre as pessoas. Essas redes são constituídas a partir das relações
cotidianas entre as pessoas, quer seja a partir de participação em organizações e
grupos ou partir dos contatos que as pessoas mantêm entre si.
Os Indicadores 4 e 5, que respectivamente medem os Contatos Virtuais e os
presenciais, nos dão algumas pistas de como essas redes operam ou se comportam
no cotidiano.
Para mensurar os contatos virtuais utilizamos a quantidade de telefonemas feitos e
recebidos pelos respondentes e que excluem os telefonemas que são recebidos por
meio de serviços de telemarketing.
No Gramadinho a quantidade de telefonemas feitos e recebidos é exatamente igual.
Já em relação ao São Rafael e Santo Antonio, predomina a quantidade de
telefonemas recebidos, com diferencial estatístico de 1,96% nos dois bairros nas
duas variações de contatos virtuais, conforme pode ser conferido no Gráfico 4.4
Gráfico 4.4: Percentual de telefonemas feitos e recebidos
Fonte: Elaboração própria
O São Rafael apresenta a menor média per capta de telefonemas, na ordem de 8,73
telefonemas por respondente, enquanto que no Gramadinho essa média é de 11,94
e no Santo Antonio de 17,4 por respondente.
Os dados, mais uma vez depõem contra o São Rafael não somente a partir dessas
médias, mas a partir da comparação que pode ser feita com as duas variáveis que
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
44,4950,00
42,53
55,5150,00
57,47
Per
cen
tual
Telefonemas Feitos Telefonemas Recebidos
100
potencialmente mais podem impactar esse tipo de contato virtual, ou seja, o acesso
e a posse do hardware e do software que possibilitam esses contatos.
O acesso neste caso tem duas conotações distintas, porém altamente dependentes.
Primeiro o acesso no sentido da disponibilidade de aparelhos e serviços telefônicos
na região em que os bairros se localizam. Neste sentido os três bairros estão
localizados em centros urbanos médios no estado da federação com a maior infra-
estrutura tanto de serviços de telecomunicação como de comercialização desses
serviços e de produtos de telefonia. Inegavelmente os três bairros têm a disposição
serviços de telefonia.
Um segundo sentido refere-se ao poder aquisitivo nas comunidades para adquirir os
serviços e produtos de telecomunicação. A renda mensal domiciliar mediana no São
Rafael é 26,66% inferior ao Santo Antonio que está em primeiro lugar nessa variável,
e também 66,66% superior ao Gramadinho que ocupa a terceira posição em renda
domiciliar entre os três bairros. A partir do cruzamento dessas duas variáveis (renda
e posse de telefones) pode-se constatar que apenas parcialmente existe uma
correspondência entre poder aquisitivo e posse de telefone fixo ou celular.
Partindo do São Rafael, aferimos que um percentual de 57,69% dos respondentes
deste bairro possuem telefone fixo e celular o que o coloca na primeira posição
nesta variável com 5,69 pontos percentuais a mais que o Santo Antonio que
apresenta a maior mediana na renda domiciliar. Nesta comparação, portanto,
mesmo que estatisticamente pequena não existe correlação entre renda domiciliar e
posse de telefones.
No Gráfico 4.5 podemos observar exatamente o oposto quando comparamos o São
Rafael com o Gramadinho na variável posse de telefones, uma vez que o
Gramadinho possui 37,10% menos telefones do que o São Rafael e ao mesmo
tempo é o bairro com a menor mediana em renda domiciliar.
101
Gráfico 4.5: Mediana de renda domiciliar e percentual de posse de telefones
Fonte: Elaboração própria
Além desses dados, apresentamos mais dois que ajudam a consolidar a liderança
do São Rafael na posse de aparelhos telefônicos:
O primeiro deles já esta contido no percentual de posse de aparelhos
telefônicos, mas julgamos oportuno destacar que o São Rafael é único bairro
entre os três com posse universal de celular, sendo que o Gramadinho guarda
uma distancia de 9,1 e o Santo Antonio de 12 pontos percentuais em relação
àquele bairro e
O segundo desses dados é derivado deste primeiro, pois além de posse
universal de celulares o São Rafael tem o maior índice per capita de aparelhos
celulares. Trata-se de uma média apenas 1,26% superior ao Santo Antonio e
de 15,52% superior ao gramadinho, conforme pode ser visto no Gráfico 4.6.
Gráfico 4.6: Media de posse de celulares
Fonte: Elaboração própria
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
1.500
900
1.900
Rea
is
52,00%
20,59%
57,69%
100,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
Per
cen
tual
Mediana Renda Domiciliar Percentual de Posse de Telefone
2,40
2,60
2,80
3,00
3,20
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
3,20
2,77
3,16
Méd
ia
102
Além desses dados, consideramos salutar esclarecer que 81% dos respondentes do
São Rafael tem acesso à telefone público próximo aos seus domicílios, sendo 7
pontos percentuais menor que o Santo Antonio e 13 pontos percentuais maior que
Gramadinho.
Nosso objetivo central neste indicador de contatos virtuais certamente não é
associar o capital social à posse de aparelhos telefônicos, mas sim associar o capital
social ao uso que se faz desses instrumentos de comunicação. A análise da
correlação entre renda domiciliar e posse de telefones serviu para preparar o terreno
para a argumentação seguinte.
A posse e acesso à telefones poderia estar limitando os contatos virtuais nos locais
de pesquisa e por sua vez, este acesso poderia estar sendo determinado pela renda
dos respondentes. Nossa conclusão é de que a renda não determina o acesso a
telefones no São Rafael e muito possivelmente determina este acesso no
Gramadinho. No entanto a posse de telefones não contribui para determinar a
extensão das redes no que tange à variável contatos virtuais. Ocorre justamente o
oposto: O São Rafael, como maior acesso e posse, faz o menor uso do telefone
entre os três bairros.
Assim, os comparativamente baixos índices de contatos virtuais no São Rafael, ao
mostrar parte da extensão das redes neste bairro, apresentam mais algumas pistas
para compreender o seu capital social estrutural. Já descobrimos que no São Rafael
os grupos e organizações são pouco diversificados, as pessoas participam menos,
tem menores possibilidades de obter ajuda e também se comunicam menos. Vamos
tentar agora completar esse quadro analisando os contatos presenciais.
De um modo geral, no Indicador 5 que mensura os contatos presenciais, o São
Rafael continua ocupando a terceira posição no índice exploratório de capital social
e diferente dos demais indicadores, neste caso o Gramadinho assume a liderança.
103
De todos os indicadores que mensuram a extensão das redes, este é o que
apresenta o maior equilíbrio entre os três bairros e o único em que não encontramos
liderança do Santo Antonio
Participar de atividades sociais tais como casamentos, funerais, festas religiosas e
aniversários são ótimas oportunidades para ampliação da rede pessoal ou mesmo
para fortalecer o vínculo entre as pessoas a partir de atividades cotidianas. O
Gramadinho é pródigo na promoção de atividades desse tipo e seus moradores
participaram em média de 4,48 eventos desse tipo nos 6 meses precedentes à
aplicação dos questionários no bairro. Neste bairro apenas 6,45% dos respondentes
não participaram de nenhuma atividade social, enquanto que no Santo Antonio
temos um percentual de 25% e no São Rafael mais de um terço (34,62%) dos
respondentes não participaram de atividades sociais51.
Outra forma de mensurar a extensão das redes a partir dos contatos presenciais foi
medir e qualificar os encontros públicos que as pessoas tem a partir de seu
cotidiano. Olhando os dados de uma forma geral, o Gramadinho foi classificado em
primeiro lugar no índice exploratório de capital social nessa medida, o São Rafael
ficou com a segunda posição e o Santo Antonio em terceiro lugar52. No entanto,
percebemos que essa medida guarda um alto grau de complexidade e inter-relação
com outros fatores, alguns dos quais pelo menos parcialmente conseguimos
justificar a partir de nossos dados e outros permanecem sem explicação, carecendo
de aprofundamento em outras pesquisas.
Um primeiro olhar panorâmico sobre essa medida, revela que em média no
Gramadinho cada respondente participou de 6,00 encontros públicos, enquanto que
no São Rafael essa média foi de 4,98 encontros públicos e no Santo Antonio apenas
1,68 encontros públicos por respondente.
51 Para conhecer a mediana dos três bairros em atividades sociais vide Gráfico 20 no Anexo III. 52 A posição dos bairros na medida atividades sociais pode ser vista na Tabela 3 e os coeficientes de encontros públicos sociais podem ser visto no Gráfico 21, ambos no Anexo III.
104
Para tentar entender a complexidade e inter-relação da medida encontros públicos e
relacioná-la com a teoria do capital social, neste caso, em primeiro lugar vamos
analisar os dados do Santo Antonio e não do São Rafael como temos feito até agora
Chama a atenção o fato de o Santo Antonio nesta medida estar em terceiro lugar
não somente na média de encontros públicos, mas também na intensidade geral
como esses encontros ocorrem, visto que seu coeficiente de encontros públicos é
4,76 vezes menor que o líder Gramadinho e 3,64 vezes menor que o São Rafael. O
impacto desses dados nos leva a questionar porque o Santo Antonio, líder nos
demais indicadores, neste indicador e em especial nesta medida apresenta tais
valores? E não se trata somente da intensidade dos encontros públicos, mas
também da sua abrangência na amostra desse bairro.
Na tentativa de entender os motivos que levam pessoas do Santo Antonio a não
participar de encontros públicos, tentamos estabelecer relações com outros dados
da pesquisa, porém tal empreendimento não revelou nenhum perfil específico. Até
mesmo o mais obvio dos motivos, ou seja a falta de tempo, medida pela carga
horária de trabalho, não logrou mostrar correlações diretas.
Nosso melhor palpite é que encontros públicos, de uma forma geral, não são uma
opção no Santo Antonio, e algumas formas específicas de encontros públicos não
encontram a mesma ressonância que observamos nos outros bairros. Isso é
absolutamente verdadeiro para 44% dos respondentes do Santo Antonio, que não
participou de nenhum tipo de encontro público nas 2 últimas semanas que
precederam a aplicação do questionário53.
O baixo índice do Santo Antonio em encontros públicos, pode também ser
parcialmente compreendido quando comparado com outros indicadores de capital
social estrutural e quando se olha para o interior das medidas de encontros públicos:
Primeiro: Quando afirmamos que para 44% dos respondentes do Santo
Antonio participar de encontros públicos não é uma opção, na verdade
estamos dizendo que não é a opção principal ou predominante, pois desse
percentual, apenas 18,18% não participam de algum grupo ou organização.
53 Para comparação, no Gramadinho o percentual de pessoas que não participaram de nenhum encontro público é de apenas 8,84% e no São Rafael é de 15,38%.
105
Isso equivale a dizer que 8,82% das pessoas que não participam de
encontros públicos tem outras formas de estabelecer redes e contribuir para o
capital social estrutural do bairro, e uma dessas formas é participar de
organizações e grupos;
Segundo: O coeficiente de freqüência em organizações e grupos para as
pessoas que não participam de encontros públicos no Santo Antonio é
apenas 2,62 vezes menor que o mesmo coeficiente geral de freqüências do
bairro, sendo que para comparação, no Gramadinho esse índice é 19,49
vezes menor e no São Rafael é 6,72 vezes menor quando comparado com os
respectivos coeficientes gerais. Essa constatação reforça a anterior no
sentido de que mesmo que 44% não participem de encontros públicos tem
uma maior freqüência em grupos e organizações que as pessoas na mesma
situação em outros bairros e
Terceiro: Olhando para o interior dessa medida de encontros públicos vamos
constatar duas diferenças significativas do Santo Antonio em relação aos dois
outros bairros:
a) O baixo índice de encontros públicos do Santo Antonio esta
concentrado nas modalidades do tipo encontros públicos para comer ou
beber, que totalizam 64,29% das saídas e que coincidentemente é o
mesmo percentual das pessoas que participam de encontros públicos.
Essa modalidade de encontro público, entre as que foram apresentadas
como opções, requer um grau de planejamento e organização igual ou
minimamente superior à algumas outras apresentadas. No mínimo, antes
de sair para comer ou beber as pessoas já tem essa ação combinada
anteriormente ou o fazem imediatamente antes de sair. Esse nível mínimo
de planejamento e organização também está presente em jogar, praticar
esportes ou praticar atividades religiosas.
Com esse argumento, queremos relacionar encontros públicos para
comer e beber com participação e freqüência em grupos e organizações,
pois é a partir da atuação em grupos e organizações que atributos como
planejamento e organização tanto são aprendidos como requeridos para a
ação pública ou coletiva. Ora, o Santo Antonio é rico e diverso em termos
de atuação coletiva estruturada, quer seja institucional ou não e
106
b) A outra diferença no interior das medidas de encontros públicos é a
face oposta da mesma moeda que simboliza níveis mais elevados de
planejamento e organização no Santo Antonio. Uma das modalidades de
encontros públicos disponibilizada para escolha dos respondentes implica
em “sair às ruas apenas para conversar”, ou seja, as pessoas saem às
ruas, encontram outras e conversam. Uma modalidade de encontro
público muito casual que não requer planejamento nem organização e a
partir da qual faremos outros comentários quando analisarmos os
encontros públicos no Gramadinho e principalmente no São Rafael.
No Santo Antonio apenas 19,05% das saídas referem-se exclusivamente
à essa modalidade, sendo que esse percentual é praticado por apenas
16% do total dos respondentes e 28,57% das pessoas que tiveram
encontros públicos.
A partir desse terceiro tópico, chegamos a um ponto de dizer que talvez participar de
encontros públicos além de não ser uma opção prioritária, não é uma necessidade
dos respondentes do Santo Antonio como poderemos ver por contraste na análise
dos outros bairros.
No São Rafael, os valores ligados aos encontros públicos garantem ao bairro nestas
medidas uma posição superior ao Santo Antonio no índice exploratório de capital
social e ao mesmo tempo revelam a partir do interior desses dados a pobreza do seu
capital social estrutural.
No São Rafael os encontros públicos são praticados por 84,62% dos respondentes.
De todas as saídas para encontros públicos praticadas por esse percentual de
respondentes, 46,09% deles estão distribuídos nas modalidades comer e beber,
praticar esportes (que inclui jogar e atividades recreativas) e praticar atividades
religiosas em percentuais que variam de 13% a 18%. O restante, portanto 53,91%
das saídas para encontros públicos, esta concentrado na modalidade conversar.
Nesta modalidade, neste bairro, encontramos 57,69% dos respondentes.
107
Saídas para conversar é um padrão recorrente e forte no São Rafael, como apontam
alguns dados derivados dessas respostas:
30,77% da amostra sai exclusivamente para conversar;
As respostas que apontam conversar e mais uma modalidade são praticadas
por 19,23% dos respondentes e associadas à duas outras modalidades
perfazem 7,69% e
Nenhum respondente apontou conversar junto com as 3 outras modalidades.
Essa modalidade de contatos sociais, parte da extensão das redes e do capital
social estrutural, parece estar bastante enraizada no comportamento coletivo dos
moradores do São Rafael e provavelmente faz parte da sua estrutura básica de
relacionamentos. Nossa premissa é reforçada pelo fato de que não foi possível
estabelecer um perfil mínimo que caracterize esse sub-grupo da amostra que sai de
casa exclusivamente para conversar e não somente no São Rafael, mas igualmente
nos dois outros bairros. Para citar alguns exemplos:
Não é a quantidade de horas que trabalham que os caracterizam. No São
Rafael metade desse subgrupo trabalha mais de 40 horas semanais e outra
metade esta na faixa que não computa horas de trabalho. No Gramadinho e no
Santo Antonio existe uma distribuição mais equilibrada entre as faixas com
uma maior concentração na faixa de trabalho acima de 40 horas. Portanto não
é a pressão do tempo de trabalho que impede as pessoas de sair às ruas e
conversar;
Não é a renda o fator distintivo. Estão distribuídos por todas as faixas de
renda disponíveis em cada bairro em proporções próximas aos percentuais de
cada amostra;
Não é a situação de trabalho um fator preponderante. Pessoas que saem as
ruas apenas para conversar tanto são empregados com registro em carteira
como são aposentados. No São Rafael percebemos uma concentração de 1/3
de pessoas que trabalham em casa e saem para conversar, mas em
compensação, no Gramadinho nenhumas das pessoas que trabalham em casa
saem para conversar;
A idade também não importa na hora de sair às ruas para conversar. No
Gramadinho existe uma distribuição bem equilibrada para todas as faixas de
108
idade e no São Rafael uma pequena desproporção na faixa de idade até 19
anos e na faixa entre 50 e 59 anos;
Na somatória das três amostras os homens saem 10% a mais apenas para
conversar do que as mulheres, sendo que no Gramadinho a desproporção é
maior;
A educação formal também importa muito pouco na hora de sair para
conversar. No São Rafael e no Gramadinho estão concentrados tanto na faixa
de ensino fundamental incompleto quanto ensino médio incompleto, porém no
Santo Antonio existem pessoas com ensino fundamental completo e ensino
superior;
Este subgrupo em média passa quase o mesmo tempo diante da TV e
ouvindo rádio quando comparado com os demais respondentes. A Audição de
rádio nos três bairros é em média 21,27% superior para este sub-grupo.No
Santo Antonio as pessoas que saem de casa apenas para conversar assistem
32,57% menos TV e
Elas também não se diferenciam pelo tipo de programa que assistem na TV.
Suas preferências por programas de informação e entretenimento seguem os
mesmos percentuais da respectiva amostra de cada bairro.
O subgrupo de pessoas que saem de casa exclusivamente para conversar se
diferencia dos demais respondentes, a partir de nossos dados, por duas questões
ligadas ao comportamento de sair de casa:
Em média, fazem e recebem menos vistas que os demais respondentes. No
São Rafael essas pessoas fazem e recebem visitas 4,26 vezes menos, no
Gramadinho essa diferença é de apenas 1,09 vezes e no Santo Antonio é de
2,58 vezes menos visitas e
Outro dado que mostra uma diferença é na quantidade de atividades sociais
nas quais essas pessoas participam, mesmo assim em proporções diferentes
em cada amostra. No São Rafael as pessoas que saem de casa só para
conversar participam 88% menos de atividades sociais. No Gramadinho
participam exatamente 12% menos e no Santo Antonio as pessoas que saem
de casa exclusivamente para conversar participam de 14,80% a mais de
atividades sociais.
109
A partir da análise desses dados levantamos a hipótese de que o comportamento
geral de encontros públicos e mais especificamente o comportamento de sair às
ruas exclusivamente para conversar esta relacionado à estrutura geral do capital
social de cada bairro. Nossa melhor resposta no momento é que a baixa diversidade
de organizações e grupos tende a concentrar as freqüências naquilo que está
disponível e os baixos níveis organizativos que contribuem com a baixa diversidade
levam as pessoas a sair às ruas para fazer aquilo que fazem naturalmente com
muito pouca exigência de organização.
Os dados obtidos a partir do calculo das freqüências em organizações e grupos
depõe a favor de nossa hipótese. No São Rafael, um bairro pobre em diversidade de
grupos e organizações e altamente concentrado em organizações religiosas, a
média de freqüência em grupos e organizações das pessoas que participam de
encontros públicos exclusivamente para conversar é 9,78 vezes menor que a
mesma freqüência para o conjunto da amostra do bairro. No Gramadinho, que está
num nível intermediário em termos de diversidade de grupos e organizações, essa
diferença é 6,28 vezes. Já no Santo Antonio, rico em diversidade de grupos e
organizações, a diferença é de apenas 3,65 vezes.
Olhando para o São Rafael a partir desse conjunto de dados, começamos a plasmar
a imagem de uma espiral descendente. Alguns indicadores negativos retro-
alimentam outros de forma também negativa formando um círculo vicioso que
impede o fomento de capital social. Essa imagem está apenas no início e somente
uma visão mais ampla a partir das outras dimensões do capital social poderá ajudar
a distinguir se estamos diante de uma ante-visão ou de apenas de uma miragem.
Estamos cientes de que muitas outras variáveis não relacionadas a partir de nossos
dados podem estar influenciando esses resultados. Por exemplo, não sabemos se
no São Rafael existem bares ou restaurantes que facilitam a saída das pessoas para
comer ou beber ou quais são os espaços públicos nos três bairros para atividades
recreativas. No entanto, ao olhar de perto e no interior desses dados, nos
deparamos mais uma vez com a complexidade e inter-relação dos indicadores que
estamos usando para mensurar o capital social. Nesse sentido, um comportamento
110
tão simples como o de sair às ruas apenas para conversar assume proporções e
significados distintos em cada estrutura social. No São Rafael, sair para conversar é
a melhor opção disponível para quebrar o isolamento. No Santo Antonio, não é a
preferência e nem a necessidade. No Gramadinho é uma preferência não absoluta e
uma necessidade não exclusiva.
Para analisar os contatos presenciais, avaliamos até este momento as medidas
relativas à encontros sociais e encontros públicos. Dois outros conjuntos dados que
colocamos sob a mesma epígrafe do Indicador 5 precisam ser vencidos para que
possamos ter mais elementos para avaliar a extensão das redes e completar nossa
visão sobre o capital social estrutural nos três bairros.
No terceiro desses conjuntos de dados procuramos entender a extensão das redes
buscando estabelecer a proporcionalidade entre obter informações diretamente com
pessoas ou obter informações usando canais de informação e meios de
comunicação. A estratégia utilizada foi perguntar às pessoas como obtinham
informações sobre as ações da prefeitura e sobre a economia da cidade. Das 10
opções apresentadas aos respondentes, cinco delas foram classificadas como
ligadas às pessoas e as outras cinco ligadas à canais de informação e meios de
comunicação. Os percentuais somados de respostas ligados à pessoas e
desagregados por bairros, portanto que falam da extensão das redes e mais
diretamente dos contatos presenciais, ajudaram a compor o índice exploratório de
capital social. As respostas ligadas à canais de informação e comunicação serviram
para comparação e serão tratadas mais adiante quando analisaremos questões
ligadas à comunicação e informação.
A partir desses critérios vamos encontrar o Gramadinho em primeiro lugar, São
Rafael em segundo e Santo Antonio em terceiro lugar. Na somatória dos valores dos
três bairros, os canais de informação e meios de comunicação predominam com
71,84% das opções e o restante (28,16%) são fontes de informação constituídas por
pessoas ou grupos. Na desagregação desses dados por bairro, constatamos que o
111
Gramadinho tem um percentual 45,70% superior ao São Rafael e 70,13% superior
ao Santo Antonio54.
Olhando para o interior desses dados, no que tange à contato com pessoas como
fontes de informações, vamos constatar algumas diferenças que se ligam à alguns
pontos já tratados e que nos fornecem mais pistas sobre a extensão das redes:
Não existem diferenças significativas entre as fontes de informações
constituídas por pessoas em relação ao tipo de informação (sobre a prefeitura
ou sobre a economia) como pode ser verificado na Tabela 4.1. A diferença
média é de apenas 1,30%.
Juntando os dois tipos de informações, temos:
O São Rafael, mais uma vez se destaca pela pouca diversidade e pela
concentração. 80% das fontes de informações são constituídas por parentes,
amigos e vizinhos e 20% por colegas de trabalhos ou sócios;
No Gramadinho também a maioria das fontes de informações são parentes,
amigos e vizinhos, com 55,56% das opções, porém neste caso todas as
demais fontes são citadas e existe um equilíbrio maior. Neste caso, a segunda
fonte mais citada foi colegas de trabalho ou sócios e a terceira líderes
comunitários e
O Santo Antonio, acompanhando sua tendência geral, prima também pela
diversidade nas fontes de informações. Menos da metade das fontes de
informações (47%) é constituída por parentes, amigos e vizinhos. A grande
diferença neste bairro está por conta de citações que apontam grupos ou
associações (24%) e pessoas do governo (18%).
54 Consultar Gráfico 22 no Anexo III.
112
Tabela 4.1: Percentual de pessoas como fonte de informações sobre a prefeitura e a
economia
Fonte: Elaboração própria
No quarto conjunto de dados do indicador contatos presenciais, foi mensurado a
quantidade de visitas feitas e recebidas e estabelecidas algumas qualificações para
essas visitas.
Nesta medida o Gamadinho figura em primeiro lugar, com um coeficiente 16,57%
superior ao Santo Antonio em segundo lugar e 56,92% superior ao São Rafael que
está em terceiro lugar. No interior dessa medida, observamos as seguintes
variações:
O coeficiente separado de vistas feitas e recebidas mantém os bairros na
mesma posição apontada anteriormente e
Os três bairros apresentam proporções diferentes entre visitas feitas e
recebidas. No São Rafael, 65% das visitas foram recebidas. O Gramadinho e o
Santo Antonio têm posições proporcionalmente invertidas com variação e
1,14%. Enquanto que no Gramadinho 55,51 das vistas foram recebidas, no
Santo Antonio 54,38% das vistas foram feitas, o que coloca este último bairro
como o único com mais visitas feitas do que recebidas55.
As visitas se apresentam com uma característica qualitativamente diferenciada das
outras medidas de contatos presenciais. Nas atividades sociais, tais como festas
comunitárias, casamentos e funerais, as pessoas normalmente se encontram em
espaços públicos ou privados, porém são espaços destinados ou apropriados para
55 Vide Gráfico 23 no Anexo III.
Economia Prefeitura
Santo Antonio
GramadinhoSão
RafaelCategorias
SãoRafael
GramadinhoSanto
Antonio
8,11 17,74 19,61 Parentes – Amigos – Vizinhos 19,61 21,88 11,36
5,41 1,61 - Grupos e Associações - 1,56 4,55
- 9,68 3,92 Colegas de Trabalho ou Sócios 5,88 7,81 2,27
2,70 6,45 - Líderes Comunitários - 3,13 -
2,70 1,61 - Pessoas do Governo - - 4,55
113
essas atividades. Nos encontros públicos, tais como comer, beber, jogar, praticar
atividades esportivas ou recreativas e mesmo conversar, como já analisamos
anteriormente, os encontros ocorrem em espaços eminentemente públicos, ou no
máximo privados como é o caso de restaurantes e bares, mas abertos publicamente.
Os contatos presenciais que servem como fontes de informações ocorrem de uma
forma muito variada. Podem ocorrer na rua, no local de trabalho, no encontro da
associação de moradores ou no culto religioso ou na frente das casas quando saem
às ruas.
Já as visitas se diferenciam por ocorrer quase exclusivamente em espaços
puramente privados, ou seja, elas são realizadas na casa das pessoas. Não é usual
dizer que se faz uma visita ao encontrar alguém na rua ou ir à uma festa de
casamento e alguém ode até dizer que se visita uma pessoa em seu local de
trabalho ou no leito de um hospital, mas não foi a este tipo de visita a que nos
referimos. A formulação da nossa pergunta, que resultou nas respostas em análise,
deixou muito claro a que locais estávamos nos referindo quando indagamos quantas
pessoas haviam sido recebidas em casa e quantas visitas foram feitas na casa das
pessoas.
Essa característica da visita, ao ocorrer nos espaços privados mostra a face também
privada da extensão das redes e requer vínculos mais profundos e duradouros entre
as pessoas, reforçando e mantendo esses mesmos vínculos e identidades.
Tendo em vista essas considerações, incluímos propositalmente algumas questões
que tivessem utilidade para ir além das respostas quantitativas e nos fornecesse
algumas pistas sobre o tipo de capital social que esta presente ou tem
predominância em cada comunidade. Tais questões investigaram os cruzamentos
entre alguns grupos e extratos sociais que denominamos de pontes e ligações
sociais e os respondentes foram solicitados à classificar a maioria das visitas em três
categorias:
Da mesma família ou parentes ou se eram amigos e conhecidos;
Da mesma religião ou de religiões diferentes e
Da mesma classe social ou de classes sociais diferentes.
114
Algumas considerações gerais que obtivemos a partir das visitas desagregadas por
bairro e pelos cruzamentos entre grupos e extratos sociais, conforme pode ser visto
no Gráfico 4.7.
O São Rafael e o Santo Antonio tem percentuais muito próximos relativos à
vistas classificadas entre familiares e parentes e entre amigos e conhecidos.
Ambos consideram que a maioria das visitas é constituída por amigos e
conhecidos. No Gramadinho temos uma inversão nessas percepções. A
grande maioria das vistas neste bairro é constituída por familiares e amigos;
A religião, quando vista no conjunto dos dados, não tem sido um motivo que
impede as pessoas de se visitarem, pois os percentuais entre visitas de
pessoas da mesma religião ou de religiões diferentes são muito pequenos. No
São Rafael e no Gramadinho predominam visitas da mesma religião e no Santo
Antonio os percentuais são exatamente os mesmos e
A classe social ou a percepção da classe social é a variável onde notamos
as maiores diferenças. Se os contatos presenciais fossem mensurados
somente pelas visitas feitas ou recebidas, poderíamos dizer que esses contatos
seriam bastante homogêneos em termos de poder aquisitivo.
Gráfico 4.7: Percentual de visitas feitas e recebidas associado aos cruzamentos
entre grupos e extratos sociais
Fonte: Elaboração própria
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
Per
cen
tual
33
61
38
67
39
635255 50
4845 50
79
90
67
26
10
33
Mesma classesocial
Classes sociais diferentes
Mesma família e parentes
Amigos e conhecidos
Mesmareligião
Religiões diferentes65 35 56 44 46 54
115
Quando desagregamos as visitas da categoria religião por opção religiosa dos
respondentes56, descobrimos que a religião impacta de forma diferenciada se as
visitas são feitas dentro da mesma religião ou em religiões diferentes, e
apresentamos alguns dados que podem ser vistos no Tabela 4.2.
No São Rafael, católicos visitam 25% mais pessoas da mesma religião do
que de religiões diferentes. Os evangélicos, até porque são o grupo religioso
minoritário, visitam pessoas da mesma religião e de religiões diferentes na
mesma proporção;
No Gramadinho católicos visitam 85,71% mais católicos do que pessoas de
outras religiões. Já os evangélicos visitam 33,33% mais pessoas de outras
religiões. Neste bairro a desproporção entre católicos e evangélicos é menor do
que no São Rafael57 e
No caso do Santo Antonio preferimos não fazer essa comparação, pois não
existem duas religiões minoritárias com exatamente o mesmo percentual.
Tabela 4.2: Percentual de visitas entre pessoas da mesma religião e religiões
diferentes desagregados por opção religiosa
Fonte: Elaboração própria
Assim, as questões que investigaram os cruzamentos de alguns extratos sociais –
família, religião e classe social – foram muito úteis para percebemos que no
Gramadinho existe uma maior tendência para o capital social de ligação e no Santo
Antonio uma tendência maior para o capital social de ponte.
56 A desagregação desses dados foi feita a partir da maioria e minoria religiosa (católicos e evangélicos respectivamente) 57 Para ver os percentuais de opções religiosas nos três bairros, vide Gráfico 6 no Anexo III.
Religiões
São Rafael Gramadinho
Mesma Religião
Religiões Diferentes
Mesma Religião
Religiões Diferentes
Católicos 56 44 65 35
Evangélicos 50 50 43 57
116
No Gramadinho, como vimos, as visitas se concentram um pouco na mesma
religião, bastante dentro do ambiente familiar e parental e extremamente dentro da
mesma percepção de classe social. Apresentamos algumas considerações sobre
essa questão no Gramadinho:
A quantidade de visitas na amostra esta muito melhor distribuído no
Gramadinho do que nos outros bairros. Neste bairro 10% dos respondentes
com mais visitas respondem por 23,16% do total de vistas. No São Rafael esse
índice é de 34,44% e no Santo Antonio é de 39,05%;
Com uma menor variação nas respostas, o significado de visitas no
Gramadinho é muito mais homogêneo do que nos outros bairros, portanto, está
mais arraigado no comportamento da amostra;
Essa interpretação é reforçada pelo menor nível de dúvida dos respondentes
do Gramadinho quando comparados à respondentes dos outros bairros.
Avaliamos o nível de dúvida nas respostas pelo percentual em que os
respondentes utilizavam a opção “ambas” para classificar as visitas a partir da
família, da religião ou da classe social. À exceção do Santo Antonio ao
classificar as visitas pela classe social todas as demais respostas no
Gramadinho tem o menor percentual para “ambas” conforme pode ser visto no
Gráfico 4.8;
O Gramadinho já apresentava um maior percentual de visitas dentro da
mesma religião e esse percentual aumenta ainda mais quando desagregamos
os dados por opção religiosa conforme pode visto na Tabela 4.2. Resumindo,
católicos visitam desproporcionalmente mais católicos e
No Gramadinho as pessoas com percepções de classes sociais diferentes
podem até se encontrar e formar suas redes de relacionamento na participação
em grupos e organizações, nos cultos religiosos, nas atividades sociais e nos
encontros públicos, mas certamente irão se encontrar muito pouco por meio de
visitas. Neste bairro 90% das visitas são feitas entre pessoas que se percebem
como sendo da mesma classe social.
A partir desses dados podemos perceber que existe no Gramadinho uma tendência
muito maior na formação de clusters do que nos dois outros bairros, ou seja,
pessoas se relacionando no nível privado muito mais com seus pares do que com
117
seus não pares. Trata-se de uma tendência que verificamos tanto dentro dos dados
do próprio Gramadinho quanto a partir da comparação com os outros bairros.
Gráfico 4.8: Comparativo em percentual de respostas "ambas" para os tipos de
visitas nos três bairros
Fonte: Elaboração própria
No Santo Antonio predomina uma situação oposta ao do Gramadinho. Neste bairro,
além dos dados relativos aos cruzamentos sociais entre grupos e extratos sociais,
sua diversidade de grupos e organizações e a extensão das redes mensuradas,
autorizam a falar numa tendência para o capital social de ponte (bridging).
Já em relação ao São Rafael, apesar de ter valores relativamente próximos ao Santo
Antonio nos cruzamentos de grupos e extratos sociais, não podemos falar em capital
social de ligação ou de ponte. Como já vimos, a extensão de suas redes é muito
diminuta e centrada nos laços fortes e como veremos mais adiante na análise da
dimensão coesão e inclusão social, sua característica fundamental é de outra ordem,
já prenunciada pelos seu índice de capital social estrutural.
É oportuno fazer duas ressalvas no que tange à concentração de visitas da mesma
classe social. Por um lado, talvez seja uma característica específica dos
relacionamentos, medidos a partir das visitas, levar para dentro de casa somente as
pessoas que são mais iguais a partir percepção da classe social. A favor dessa
hipótese estão os dados dos três bairros que mostram que no seu conjunto as
0,005,00
10,0015,0020,0025,0030,0035,0040,0045,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
42,31
12,50
36,00
11,546,45
16,67
7,69 6,454,00P
erce
ntu
al
Fámilia e Amigos Religião Classe Social
118
classes sociais não se visitam na mesma proporção. Neste caso temos que nos
perguntar: Porque então as visitas de amigos e conhecidos no São Rafael e no
Santo Antonio são maiores? Porque as visitas entre pessoas de religiões diferentes
tanto no São Rafael quanto no Santo Antonio tem níveis muito próximos?. Será que
tanto no São Rafael quanto no Santo Antonio não existem amigos e conhecidos e
pessoas de outras religiões que sejam de classes sociais diferentes?.
Nossos dados no momento não nos permitem formular respostas para essas
perguntas, o que nos leva a deixar outra questão para pesquisas futuras: No caso do
Gramadinho será que estamos diante da formação de clusters dentro clusters? Ou
seja, será que no Gramadinho, católicos mais ricos visitam mais católicos do mesmo
nível social?
Por outro lado, até este momento estamos falando em percepção de classe social e
não em classe social, pois não coletamos dados que nos permitissem fazer tal
classificação. O máximo que temos nesse campo é a renda domiciliar dos
respondentes. Nesse sentido, quando as pessoas respondem que a maioria das
visitas é da mesma classe social, estão comparando os visitados e visitantes com
sua própria percepção de classe social. Além disso a percepção de classe social é
uma resposta indireta, ou seja é derivada da pergunta que investiga o número de
visitas.
A partir dessa ressalva e sabendo que o Gramadinho tem a menor mediana e média
em termos de renda domiciliar, poderíamos supor que os respondentes do
Gramadinho tenderiam a considerar que as visitas são na grande maioria da mesma
classe social porque eles se percebem muito iguais em termos de renda. Isso
poderia significar existir pouca margem para visitas entre pessoas de classes sociais
diferentes e daí sua concentração de respostas para visitas da mesma classe social.
Por sua vez essa hipótese é amparada pelos níveis de distribuição da renda
domiciliar. O Gramadinho tem a melhor distribuição de renda entre os três bairros. A
variação na renda domiciliar no gramadinho é 2,21 vezes menor que no São Rafael
e 4,97 vezes menor que no Santo Antonio. Assim a percepção de classe social a
partir da maioria das visitas acompanha os níveis de distribuição de renda: Quanto
pior a distribuição de renda, maior a percepção de classe social o que impacta na
avaliação da maioria das visitas a partir desse critério.
119
Até este ponto conseguimos analisar o capital estrutural em nossos três bairros, que
não se estabelece somente a partir de seus próprios indicadores, mas que guarda
relação como outros indicadores em outras dimensões. Vamos agora tentar analisar
como se apresenta a dimensão cognitiva do capital social que permite o aprendizado
e a reprodução de comportamentos que podem ajudar a sustentar o capital social
estrutural reagindo com ele de forma dinâmica e sistêmica.
4.2 Medidas de Confiança Social
A mensuração do capital social cognitivo para cada bairro que compõe nosso
universo de pesquisa foi realizado por medidas que de um modo geral tentaram
captar os índices de confiança social. Está dividido em dois componentes básicos:
confiança e solidariedade. As medidas de confiança são compostas pelos
indicadores de confiança individual (indicador 6) e confiança institucional (indicador
7). As medidas de solidariedade são compostas por um único indicador (também
denominado de solidariedade) com valores derivados de 4 medidas.
Numa primeira análise a que podemos lançar mão, ao olhar esses indicadores como
um todo, diferentemente dos indicadores que mensuram o capital social estrutural,
neste caso podemos perceber um grande equilíbrio entre os três bairros na
somatória dos valores dos três bairros acompanhada também de um equilíbrio no
interior de cada indicador.
Também neste caso, o Santo Antonio está em primeiro lugar em termos de
confiança social, no entanto sua diferença com o São Rafael e Gramadinho é muito
pequena. No índice exploratório de capital social as medidas de confiança social no
Santo Antonio são 15,38% maiores que no Gramadinho e apenas 7,14% maiores
que no São Rafael.
Mensurar os níveis de confiança com boa margem de segurança não é tarefa das
mais simples e certamente uma apuração mais rigorosa que nos permitisse observar
seus níveis em cada bairro exigiria rigor metodológico específico. No caso específico
120
de nossa pesquisa exigiria um número maior de questões que investigassem a
confiança a partir de diferentes dimensões. Um empreendimento desse tipo seria
incompatível com nosso objetivo por alguns motivos que passamos a elencar e que
servem para todas as dimensões que analisamos:
Primeiro motivo, porque nossa intenção era captar o fenômeno do capital
social como um todo, em 6 dimensões de 3 bairros diferentes e não privilegiar
uma única dimensão ou um único bairro;
Segundo motivo, derivado deste primeiro, se deve ao exíguo número de
pesquisas que mensuram o capital social a partir de várias dimensões no
ambiente cultural onde os dados foram coletados e que pudesse servir de
ponto de partida para nossa investigação58;
Terceiro motivo, muito ligado à anterior, esta a intencionalidade de realizar
uma pesquisa que possa apontar alguns caminhos para futuras pesquisas,
nossas ou de outros pesquisadores. Nesse sentido, é oportuno esclarecer,
estamos utilizando a qualificação “exploratório” para nosso índice, pois
justamente o que ele visa é explorar essas dimensões do capital social e
desenvolver metodologia para sua operacionalização e
O quarto motivo é de ordem econômica: não dispusemos de recursos
suficientes (principalmente tempo) que viabilizassem aumentar o número de
perguntas e investigar com mais profundidade alguns aspectos.
Por esses motivos é que preferimos afirmar que na análise em curso investigamos
apenas parte do que possa ser entendido por confiança. Feita essa ressalva,
podemos olhar com tranqüilidade os dados que coletados.
58 Durante a fase de pesquisa bibliográfica não conseguimos acesso à pesquisas semelhantes. Muitos dos conceitos que embasam esse questionário estão pautados por pesquisas feitas em outros países. Isto é especialmente preocupante principalmente em questões ligadas à confiança e solidariedade que estão fortemente ancoradas em aspectos culturais. O próprio questionário que utilizamos, como já tivemos oportunidade de esclarecer, é uma adaptação feita a partir das pesquisas do Grupo Temático sobre Capital Social cuja aplicação se deu em alguns países africanos e no leste europeu.
121
4.2.1 Confiança
No que se refere ao Indicador 6 - Confiança Individual os três bairros obtiveram
exatamente os mesmos índices. Para apuração desse índice, nossa estratégia foi
estabelecer uma medida de confiança individual e outra de desconfiança individual
para cada bairro. Os valores dessas medidas foram obtidos de forma indireta, ou
seja, fizemos duas afirmações e os respondentes atribuíram um grau de
concordância59.
Muito embora sejam bem próximos dentro de cada conjunto dessas duas medidas,
os valores que mensuram a desconfiança são superiores aos que mensuram a
confiança. Assim, se tivéssemos estabelecido uma medida que poderíamos chamar
de Índice de confiança-desconfiança, teríamos valores negativos para os três
bairros, conforme pode ser visto no Gráfico 4.9. O São Rafael e o Santo Antonio
praticamente estariam empatados nesse índice com um diferencial estatístico de
apenas 0,01 ponto na média a favor do primeiro bairro. Assim, na prática, haveria
apenas o Gramadinho na segunda posição, com 0,36 pontos abaixo do São Rafael.
Gráfico 4.9: Grau de confiança-desconfiança individual
Fonte: Elaboração própria
59 Vide explicação a respeito no Capítulo 3, pag. 122
‐2
‐1
0
1
2
3
4
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
2,88
2,292,72
3,653,42 3,48
‐0,77 ‐1,13 ‐0,76Média
Confiança Desconfiança Grau Confiança‐Descofiança
122
No entanto, preferimos manter separados esses índices, pois dão margem à
algumas considerações que julgamos pertinentes serem expostas.
Assim, olhando os valores obtidos, vamos encontrar o São Rafael como sendo o
campeão da confiança e desconfiança ao mesmo tempo. Tanto numa quanto noutra,
a diferença é muito pequena, conforme Gráfico 4.9. Na confiança o São Rafael é
5,88% superior ao segundo colocado (Santo Antonio) e 25,76% superior ao terceiro
colocado (Gramadinho). Olhando para o índice da desconfiança, neste caso com
diferenças muito menores, os respondentes do São Rafael são 4,89% e 6,73% mais
desconfiados que respectivamente os respondentes do Santo Antonio e do
Gramadinho.
Como podemos observar estamos diante de um cenário muito homogêneo em
termos de confiança ou desconfiança em relação a outros indivíduos. O maior
percentual de diferença que apontamos, 25,76% do São Rafael para o Gramadinho
na confiança é devido à um fator provavelmente circunstancial do segundo bairro e
que não conseguimos explicar. No Gramadinho encontramos um percentual de
44,12% da amostra que discorda totalmente da nossa afirmação de que se pode
confiar na maioria das pessoas que moram no bairro. Ou seja, um pouco menos da
metade da amostra desse bairro tem grau zero de confiança individual.
Esse percentual de respondentes do Gramadinho com zero de confiança não tem
um perfil comum que tenha sido possível identificar por nossos dados. Estão
distribuídos por todas as faixas de idade e renda, religiões, situação de trabalho,
participação em organizações e grupos. Somente quando comparamos com o
gênero é que encontramos um percentual de homens inversamente proporcional ao
percentual de homens de todo o grupo. Mesmo quando comparamos esse grupo
com zero de confiança com o grupo com os níveis mais altos de confiança não
encontramos diferenças significas que possam ser atribuídas ao nível de confiança
individual.
Pelo lado da medida de desconfiança, também não existem diferenças percentuais
significativas entre os bairros. Nos três bairros encontramos praticamente 1/3 de
cada amostra que concordou em nível máximo com nossa afirmação de que “é
preciso estar atento ou alguém pode tirar vantagem de você”.
123
Interpretamos os percentuais relativos à essa questão como significando níveis de
desconfiança, no entanto gostaríamos de deixar registrado duas ressalvas:
Primeira ressalva: Não temos segurança suficiente para afirmar que os
níveis de concordância com a frase “é preciso estar atento ou alguém pode tirar
vantagem de você” signifiquem implicitamente a desconfiança ou menores
níveis de confiança. Podemos estar diante de uma reação defensiva que surge
quando o respondente é colocado sob uma situação hipotética ou os variados
níveis de concordância podem ter outros significados, como por exemplo,
ingenuidade ou boa fé60 e
Segunda ressalva: Refere-se não somente à afirmação que tentou medir o
nível de desconfiança, mas ao conjunto de afirmações contidas em uma das
perguntas do questionário61. Usamos uma estratégia muito interessante para
medir confiança e desconfiança, mas a sua operacionalização mostrou-se difícil
juntos à muitos respondentes que tendiam a querer conversar sobre a
afirmação e demoravam para entender que deveriam concordar ou discordar e
partir disso estabelecer um nível de 1 a 562.
Essas ressalvas fragilizam alguns de nossos dados, porém acreditamos que não
sejam determinantes nos resultados obtidos e podem ser compensadas por outras
questões onde investigamos a confiança.
No Indicador 7 que mensura a confiança institucional, a diferença entre os três
bairros também é pequena. O São Rafael, por este indicador, é o bairro que
apresenta a melhor média, 10,53% superior ao Santo Antonio na segunda colocação
e 16,67% superior ao Gramadinho na terceira colocação.
A Figura 4.163 mostra os resultados da confiança institucional para os três bairros e a
partir dele desses dados podemos fazer alguns apontamentos:
60 Não pretendemos levar adiante essa discussão neste contexto, no entanto é preciso ter em mente que tirar ou “levar vantagem” é um fator muito forte em nossa cultura, podendo ter impactado fortemente nas respostas. 61 Vide Anexo I, pergunta 13. 62 Vide explicação a respeito no Capítulo 3, pag. 72 63 Os mesmos dados estão disponíveis na Tabela 9 no Anexo III.
124
São Rafael e Gramadinho apresentam configurações bastante semelhantes
em termos de categorias em que depositam suas confianças institucionais.
Suas diferenças estão nas três primeiras colocações. Os professores
aparecem em primeiro lugar no São Rafael e neste bairro recebem a maior
média de confiança por categoria de todos os respondentes. Na seqüência,
coerentes com a forte presença da religião no bairro, o segundo colocado são
líderes religiosos e em terceiro classificam os médicos e enfermeiras. Já no
Gramadinho os profissionais da saúde estão em primeiro lugar, seguidos dos
professores e somente em terceiro lugar figuram os líderes religiosos;
No Santo Antonio a configuração de confiança institucional é ligeiramente
diferente na preferência dos respondentes. Semelhante ao Gramadinho,
colocam em primeiro e segundo lugar médicos e enfermeiras e professores.
Dois tipos de líderes disputam o terceiro e quarto lugar no Santo Antonio e os
respondentes deste bairro preterem os líderes religiosos para quarto lugar e
colocam os líderes comunitários no terceiro lugar;
No Santo Antonio, diferente dos dois outros bairros a polícia militar tem
preferência em relação aos comerciantes;
Prefeitura, políticos locais e políticos de um modo geral, respectivamente
ocupam as últimas posições nesse ranking, tanto no Gramadinho quanto no
Santo Antonio. No São Rafael existe uma pequena inversão nas últimas
posições onde os políticos locais assumem a última posição e
Na avaliação agregada de todos os respondentes, professores estão em
primeiro lugar e políticos locais estão em último lugar com as piores avaliações
em termos de confiança institucional das pessoas.
125
Figura 4.1: Médias de confiança institucional
Fonte: Elaboração própria
Uma controvérsia na teoria do capital social diz respeito à relação entre confiança e
a participação em redes. Alguns autores defendem que a confiança é oriunda da
participação em redes e outros defendem o contrário, ou seja, que participar em
redes, grupos e organizações aumenta os níveis de confiança social.
Pelo que temos podido observar até o momento, a relação citada anteriormente
parece ser muito determinista para poder ser aplicada à uma questão conceitual
complexa e multidimensional como é o capital social. Parece que ambas as
variáveis, participação em redes e confiança, interagem e se influenciam
mutuamente não somente a partir de si mesmas, mas levando em conta outras
variáveis com alto grau de complexidade. Acreditamos que nesta equação outras
variáveis devam entrar, tais como: efetividade das instituições, níveis educacionais,
ambiente democrático, fatores culturais mais arraigados, efetividade das normas e
sanções, fatores conjunturais da localidade e ainda muitos outros.
Mas o que dizem os nossos dados a respeito da relação direta entre confiança e
participação em redes? Até certo ponto é possível estabelecer essa relação, não
sendo ela tão direta ou causal.
No caso de nossa pesquisa as medidas de confiança são inversamente
desproporcionais aos níveis de participação em redes, grupos e organizações,
visualmente ilustrado no Gráfico 4.10. Muito embora com pouca margem de
4,083,35
3,813,15 3,23 3,00
2,501,88
1,50
3,543,67 2,92
2,302,58
2,292,17
1,501,55
3,56 3,80
2,723,32
2,16 2,52
2,08
1,72 2,04
Santo Antonio Gramadinho São Rafael
Professores Médicos Enfermeiras
LíderesReligiosos
Líderes Comunitários
Comerciantes Polícia Militar
Prefeitura Políticos em Geral
PolíticosLocais
126
diferença, o São Rafael é o bairro com os maiores níveis de confiança, tanto
individual quanto institucional. Assim, se a confiança fosse tão determinante para a
participação em redes, esse número deveria ser alto para o São Rafael, e não é isso
que ocorre. O São Rafael, como já vimos, apresenta os menores valores de
freqüência tanto em grupos e organizações institucionais quanto não institucionais. A
média de confiança no São Rafael é apenas 10,53% superior à mesma média no
Santo Antonio, porém o coeficiente geral de freqüência em grupos e organizações
do São Rafael é 66,71% menor que o do Santo Antonio.
Podemos olhar esses dados com outra comparação: O Gramadinho tem a mais
baixa média de confiança, no entanto tem o mais alto coeficiente de freqüência geral
em grupos e organizações, porém com uma diversidade e comprometimento de
participação menores que o Santo Antonio.
Gráfico 4.10: Relação entre média de confiança institucional e coeficiente
freqüência de participação em grupos e organizações
Fonte: Elaboração própria
Dado esse cenário, deixamos suspensas três questões antes de tratar do próximo
indicador:
Primeira: Dado a proximidade das médias de confiança nos três bairros,
preferimos sustentar que os três bairros partem do mesmo nível de confiança
para construir seu capital social, portanto, outros fatores estão intervindo no
processo social que fazem com que o Santo Antonio e o Gramadinho tenham
praticamente os mesmos estoques de capital social estrutural;
2,30
2,40
2,50
2,60
2,70
2,80
2,90
3,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
2,94
2,52
2,66
Mé
dia
17,21
30,4128,69
35,00
30,00
25,00
20,00
15,00
10,00 Co
efi
cie
nte
0,00
Média de Confiança Institucional
Coeficiente de Freqüência em Grupos e Organizações
127
Segunda: Os elementos que se pode usar para medir a confiança não estão
contidos nas divisas geográficas de um bairro. Cada bairro faz parte de uma
cidade, região e um país, portanto não tem uma cultura isolada que lhes dê
características próprias. Assim, a confiança sendo uma característica cultural,
tem relação com a cultura mais ampla onde o bairro esta inserido. Ao mesmo
tempo, não descartamos a existência do que nos permitimos chamar de uma
micro-cultura local que ajuda a moldar alguns comportamentos64 e
Terceira: Alguns fatores que ajudam a moldar o capital social cognitivo de
cada bairro podem ter uma relação muito direta com o bairro e outras podem
ter uma relação mais direta com o município onde o bairro esta localizado. Por
exemplo, o São Rafael e o Santo Antonio são bairros relativamente novos que
foram criados para responder à uma demanda de habitação local e estão
encravados dentro de Araçatuba e São José do Rio Preto, respectivamente. O
Gramadinho, por outro lado, é um bairro que fica distante 30 km de Itapetininga
e existe desde 1850.
4.2.2 Solidariedade
O terceiro indicador que complementa as medidas de confiança social é composto
por medidas que avaliam os níveis de solidariedade nos três bairros e sobre eles
vamos apresentar alguns dados e tecer alguns comentários.
Se você fosse um morador típico do Gramadinho provavelmente estaria morando
neste bairro em média nos últimos 18 anos e teria entre 30 e 49 anos de idade. É
muito possível que você morasse com sua esposa ou marido e ambos trabalhassem
entre 20 e 40 horas semanais e tivessem entre 2 e 3 filhos, que estão em idades
entre 5 e 14 anos. Nessa condição se você tiver que fazer uma viagem de
emergência terá muito mais chances de alguém cuidar de suas crianças do que se
você morasse no São Rafael ou no Santo Antonio. No Gramadinho, em relação
64 Sair às ruas apenas para conversar no São Rafael parece se encaixar dentro do que estamos chamando de micro-cultura local.
128
Santo Antonio, a solidariedade dos vizinhos para cuidar das crianças é 10,51%
superior e em relação ao São Rafael é 50,67% superior65.
Cuidados com as crianças é um recurso que está um pouco mais disponível no
Gramadinho do que no Santo Antonio. O São Rafael não está na situação típica que
descrevemos acima, portanto, na média, cuidado com crianças não é uma
necessidade e isto contribui para depreciar circunstancialmente a solidariedade
neste bairro.
A ajuda com as crianças é uma manifestação específica, e talvez bem concreta, do
nível de solidariedade entre as pessoas. Dada a importância e força do laço afetivo
existente, via-de-regra, com os filhos e principalmente quando estes são crianças,
poder contar com alguém para cuidar das crianças numa situação de emergência, é
algo muito valioso nas relações entre as pessoas e assume uma envergadura ainda
maior quando estamos nos referindo à uma comunidade. É bem possível que
possamos olhar para essa medida não apenas como uma manifestação da
solidariedade, mas também como uma medida da confiança individual, afinal de
contas, não se deixa o filho com qualquer pessoa66.
Além da questão específica da ajuda com crianças, a partir dos dados que
obtivemos, podemos olhar para a solidariedade a partir de dois prismas: o
sentimento de solidariedade entre as pessoas e a sua efetividade. Nos dois casos os
dados irão mostrar as percepções do sentimento e da efetividade da solidariedade.
A partir desses dois prismas, podemos relacionar a solidariedade aos recursos
disponíveis, ou seja, quanto o ato de ser solidário se liga ao capital social de uma
comunidade ou ao capital econômico.
Para operacionalizar esse conceito de solidariedade em nossa pesquisa tentamos,
por um lado, dar-lhe concretude ao relacioná-lo à duas situações concretas da vida
cotidiana, uma no plano individual e outra no plano coletivo, captando dessa forma a
sua efetividade. Por outro lado, relacionamos a solidariedade à uma idéia abstrata
para assim poder captar a percepção desse sentimento.
65 As médias de cuidados com crianças pode ser vistas no Gráfico 26 no Anexo III. 66 Vide comentário a esse respeito da confiança na pag. 72
129
A solidariedade somente se manifesta a partir do espaço relacional entre as
pessoas, em outras palavras, a solidariedade é um recurso importante, e este
recurso é obtido somente através das redes de contatos e das conexões a que estas
redes podem levar. Nesse sentido, as medidas que nos falam da solidariedade, tem
uma estreita ligação com as medidas que nos informam a respeito da extensão das
redes. No índice exploratório de capital social as primeiras estão inclusas no macro
indicador Medidas de Confiança Social e as segundas estão no macro indicador
Medidas da Vida Organizacional da Comunidade. Assim, temos aqui a oportunidade
de relacionar, a partir dos dados obtidos, o capital social cognitivo com o capital
social estrutural, e mais uma vez poder ver que não são manifestações estanques
ou isoladas que possam ser mensuradas de forma independente.
Como já vimos antes, no Indicador 3 que mede a extensão da rede no que se refere
a acessar recursos, o São Rafael obteve os menores índices. Trata-se, portanto, de
um bairro com uma rede fechada e pouco tecida, composta 48,87% por laços
primários de relacionamento (os laços fortes ou parentais) e assim pouco potente
para facilitar o acesso à recursos, entre eles a solidariedade das pessoas. Já no
Gramadinho e no Santo Antonio, com predominância deste último, a situação é bem
diversa. Suas redes de relacionamentos são mais extensas, diversificadas e
compostas por uma quantidade menor de laços fortes.
Ao incluirmos o indicador 3 (redes de acesso à recursos) dentro do grupo de
medidas que medem o capital social estrutural nossa intenção foi justamente em
posicionar esses indicadores como sendo básicos e, repetindo, estruturantes do
capital social. Nesse sentido, se uma comunidade não tece suas redes terá muito
mais dificuldade em acessar recursos e estará à mercê de outras forças sociais,
muitas vezes de dominação, porém quase sempre de dependência, trazendo
consigo outras conseqüências indesejáveis.
Voltando aos nossos dados de solidariedade, vamos encontrar um São Rafael com
os mais baixos índices de solidariedade entre os três bairros, portanto, paralelos aos
seus índices de extensão das redes no que se refere ao acesso à recursos. No
130
índice exploratório de capital social a diferença entre o São Rafael e os dois outros
bairros não é grande, pois em termos de medidas de solidariedade o São Rafael
esta numa posição 14,29% inferior ao Gramadinho e 28,57% inferior ao Santo
Antonio.
A diferença mostra sua singularidade quando olhamos para o conjunto desses
indicadores e interpretamos seus significados. Neste ponto, estamos nos referindo à
diferença entre a efetividade da solidariedade e percepção do sentimento de
solidariedade. Como já aludimos, a efetividade foi captada a partir da opinião em
situações concretas da vida cotidiana o sentimento de solidariedade a partir de uma
situação abstrata.
Começando pela percepção do sentimento de solidariedade, entre os três bairros o
São Rafael é aquele onde os respondentes mais se consideram solidários uns com
os outros, ou seja, o sentimento de solidariedade alcança neste bairro sua maior
expressão nos nossos dados67, e vamos citar alguns desses dados nesse sentido:
O sentimento de solidariedade no São Rafael é 14,10% superior ao
Gramadinho e 31,66% superior ao Santo Antonio;
Quando os respondentes do São Rafael foram chamados a avaliar a nossa
afirmação de que a maioria das pessoas naquele bairro está disposta a ajudar
quando necessário, 30,77% deles responderam com grau máximo de
concordância com nossa afirmação. Para comparação, o grau máximo de
concordância com a afirmação foi atribuído por 21,21% no Gramadinho e 12%
no Santo Antonio e
Outra forma de olhar a força da auto-avaliação positiva do São Rafael é
apresentar os percentuais de respondentes que atribuíram grau mínimo à
afirmação que apresentamos e percebermos que esses percentuais são quase
inversamente proporcionais. No São Rafael apenas 11,54% atribuíram grau
mínimo para afirmação, enquanto que no Gramadinho esse percentual foi de
27,27% e no Santo Antonio foi de 28%.
67 As médias podem ser conferidas no Gráfico 29 no Anexo III.
131
Antes de tratar da efetividade da solidariedade, vamos fazer um pequeno parêntese
e chamar a atenção para uma correlação entre duas medidas que nos parecem
significativas quando estamos falando de capital social. Como vimos os
respondentes do São Rafael acham que são solidários e como veremos,
efetivamente eles não são mais solidários que os respondentes do Gramadinho e do
Santo Antonio. Esta é a segunda vez que nos deparamos com uma percepção que
não corresponde a dados relacionados à efetividade. Na primeira, na avaliação da
participação em grupos e organizações vimos que sua percepção de nível de
participação em era bem mais alta do a sua efetiva freqüência de participação. À
esta primeira contradição atribuímos à baixa diversidade de grupos e organizações
presentes no bairro. Para esta segunda, por enquanto, não temos uma explicação
que nos pareça minimamente razoável. Será que está segunda está ligada ao níveis
mais elevados de confiança individual? Ou será que pode estar ligada à uma
possível interpretação de que esses níveis de confiança referem-se muito mais à
ingenuidade do que à confiança? Vamos ver se os dados vindouros trarão alguma
luz ou se deixaremos essas perguntas para outras pesquisas.
No que concerne à efetividade da solidariedade, ou seja, como ela é percebida na
concretude do cotidiano, encontramos uma inversão de percepções: O São Rafael
que se considera muito solidário tem baixos índices de solidariedade efetiva e o
contrário, o Gramadinho e o Santo Antonio que se auto-avaliam menos solidários
são mais efetivos em prestar solidariedade. Vamos ver alguns dados e
considerações relacionadas à esta constatação:
Nós últimos 6 meses anteriores à aplicação do questionário, segundo os
respondentes do São Rafael, a mediana de pessoas que lhes procuraram para
pedir ajuda para problemas pessoais foi de apenas 1 pessoa. No Gramadinho
essa mediana é 3 vezes maior e no Santo Antonio é 4,5 vezes maior68;
Essa mediana do São Rafael e mesmo a sua média (1,96 pessoas) aponta
uma boa consistência das respostas, pois a variação na avaliação dos
respondentes é muito pequena quando comparada ao Gramadinho e ao Santo
Antonio;
68 Para conhecer as medianas nos três bairros consultar o Gráfico 28 no Anexo III
132
Na quantidade de pessoas que pediram ajuda, o Santo Antonio, primeiro
colocado nessa medida com uma mediana de 4,5 e uma média de 10,18
pessoas apresenta a menor consistência entre as respostas, portanto com a
maior variação que é devida à uma concentração de 63,39% dos pedidos de
ajuda nos últimos 6 meses em 18,18% dos respondentes com um número
entre 12 e 60 pessoas que os procuraram para pedir ajuda;
Nessas mesmas medidas, o Gramadinho é o bairro com o maior equilíbrio,
como atestam sua mediana de 3 e sua média de 3,57 pessoas. A máxima
concentração de 26,83% dos pedidos de ajuda esta em 13,04% dos
respondentes com 10 a 12 pedidos de ajuda;
No São Rafael para 46,15% dos respondentes absolutamente ninguém
pediu ajuda para problemas pessoais nos últimos 6 meses e este é um
caminho de mão dupla para a maioria desses respondentes. Isso significa que
dos 46,15% a quem ninguém pediu ajuda, 58,33% também não tem ninguém
a quem recorrer quando precisam de ajuda em emergências. Esse dado
em específico vem de encontro à nossa avaliação quanto à pobreza estrutural
da rede de relacionamentos no São Rafael e
No Santo Antonio o caminho também é de mão dupla, mas numa
desproporção inversa. Os 63,39% dos pedidos de ajuda nos últimos 6 meses
estão concentrados em 18,18% dos respondentes e 16% dos respondentes do
Santo Antonio concentram 56,20% dos contatos para ajuda em emergência.
Esses dados e argumentos apresentados nos levam a constatar que estamos diante
de um quadro que aponta uma péssima distribuição da efetividade da solidariedade
nos pólos opostos dessa medida. O São Rafael concentra a pobreza de contatos e o
Santo Antonio concentra a riqueza, ou seja, no São Rafael muitas pessoas tem
poucos contatos que levam a recursos e no Santo Antonio, poucas pessoas tem
muitos contatos que levam aos mesmos recursos.
Em termos de capital social, ao olhar para esse conceito em termos coletivos, nos
parece muito mais salutar o cenário que temos no Gramadinho, onde observamos
um boa distribuição dos canais e contatos que levam a recursos.
133
Se você morar no Santo Antonio e for uma das pessoas que concentram os pedidos
de ajuda para problemas pessoais, neste aspecto em específico, pode se considerar
uma pessoa rica em capital social. E no Santo Antonio você pode ser o mais ricos
entre os ricos em capital social, pois 60 pessoas nos últimos 6 meses lhe
procuraram para pedir ajuda em um problema pessoal. A sua riqueza não estará na
carga de pedidos que você recebe, mas em como vai proceder para cobrar no futuro
a “fatura” desses pedidos. As faturas que você emitiu ao ajudar as pessoas que lhe
procuraram muito provavelmente não serão pagas em dinheiro, mas certamente
serão liquidadas em outra moeda, que vai depender dos seus interesses e dos usos
que pode fazer desse capital social. Por exemplo, se resolver se candidatar a
vereador poderá “lembrar” às 60 pessoas que lhe procuraram que você é candidato
e apresentar o seu número de inscrição. Alguém duvida que isso ocorra?
Continuando em nosso exemplo hipotético, mas que certamente não está descolado
da realidade, você também pode estar na elite econômica desse bairro ou da cidade
onde este bairro esta localizado e neste caso você estará na posse de dois
poderosos capitais que fazem muita diferença. Neste caso agora, além dos seus
interesses e do uso do seu capital social também entra os usos que queira fazer do
seu capital econômico e as pessoas com as quais você se alia nesse jogo social.
Dependendo desses fatores, também da sua personalidade e dos valores que
carrega e da cultura que esta subjacente, pode ser que você queira manter este
estado de separação entre ricos e pobres em capital social e econômico.
Fizemos essas digressões usando dados do Santo Antonio não para falar desse
bairro, mas para apontar algumas conexões que existem entre capital social, capital
econômico, confiança e reciprocidade, normas e instituições, entre outros.
4.3 Ação Coletiva e Cooperação
Até este momento analisamos a estrutura do capital social presente nos três bairros
pelos indicadores que forneceram dados relativos à participação em grupos e
organizações e relativos à extensão das redes. Comparamos esses dados com as
medidas que apontam para o capital social cognitivo dos bairros, ou seja, alguns
elementos da cultura que facilitam ou dificultam a produção ou reprodução de
134
padrões culturais e que impactam no capital social. Chegamos agora no momento
de analisar o terceiro e o quarto conjunto de dados que dentro de uma visão
integrada e multidimensional do capital social nos falam de outras dimensões a partir
das quais o capital social pode ser avaliado. O terceiro conjunto, que analisaremos
na seqüência, nos informa a respeito dos resultados do capital social na vida das
comunidades. No quarto conjunto de dados, cuja análise virá na seqüência deste, ao
mesmo tempo que nos informa também sobre alguns resultados do capital social,
também nos informa sobre o ambiente social no qual este capital social esta sendo
moldado e no qual opera.
No terceiro conjunto temos as medidas que mensuram a dimensão ação coletiva e
cooperação do capital social, que implica em como as pessoas das comunidades
estão atuando de forma conjunta para a busca de soluções para problemas ou
necessidades coletivas. Para operacionalizar esse conceito, a partir de nosso
instrumento de pesquisa, dividimos nossos indicadores de modo a nos fornecer
algumas respostas de como estão ocorrendo as participações em ações coletivas e
quais são as percepções de cooperação entre as pessoas.
No índice exploratório de capital social, 2 indicadores que compõem essa dimensão,
estão agrupados no macro-indicador Medidas de Participação Coletiva. Seguindo o
padrão de classificação adotado nos macro-indicadores 1 e 2, o São Rafael também
neste caso figura na terceira colocação. Seu índice geral em medidas de
participação coletiva é 66,66% inferior ao Gramadinho e ao Santo Antonio que estão
empatados em primeiro lugar69.
Vamos olhar para o interior desse macro indicador e descobrir algumas
peculiaridades que o compõe e que levam o São Rafael à esta posição.
69 Conforme Tabela 10 no Anexo III
135
4.3.1 Ação Coletiva
No índice exploratório de capital social, o indicador 9 que mensura as participações
em ações conjuntas e o interesse eleitoral, coloca o São Rafael e o Gramadinho
empatados na segunda posição, com metade dos pontos do Santo Antonio.
As medidas que avaliam as participações em ações conjuntas são as únicas que
estão amparadas em medidas oriundas de respostas abertas. Nesse sentido, além
de mensurar se os respondentes haviam participado de ações conjuntas com outras
pessoas do bairro nos últimos 12 meses precedentes à aplicação dos questionários,
perguntamos também quais foram as três principais atividades.
Nesta medida de ações conjuntas, um pouco mais da metade dos respondentes do
Santo Antonio, 52% responderam positivamente à esta questão. São Rafael e
Gramadinho estão praticamente empatados percentualmente na quantidade de
pessoas que participaram de ações conjuntas70.
Ao olhar para o interior desse indicador constatamos que a pressão no tempo não
é um impeditivo para a participação em ações conjuntas. A quantidade de horas
de trabalho semanal, informando o quanto as pessoas estão ocupadas em trabalhar
e ganhar dinheiro e a freqüência com que participam de grupos e organizações
também impactando no tempo disponível, puderam ser cruzadas com segurança
para que possamos fazer essa afirmação. Essas duas variáveis impactam com
intensidades diferentes nos três bairros:
No São Rafael, o impacto do tempo de trabalho sobre a participação em
ações conjuntas é maior, pois somente 30% das participações estão
concentradas no grupo de respondentes que trabalham mais de 40 horas
semanais. Já no Gramadinho para essa mesma faixa de trabalho o percentual
é de 58,33% e no Santo Antonio é de 61,54%;
Uma forma oposta de ver esse dado é analisar o percentual de participações
em ações conjuntas da faixa oposta de horas de trabalho, ou seja, as pessoas
que declararam que não ocupam nenhuma parte do seu tempo com horas de
trabalho (ao menos remunerado). No São Rafael o maior percentual de
participação em ações conjuntas esta nesta faixa de trabalho com 40% dos
70 Como pode ser observado no Gráfico 30 no Anexo III, a diferença entre Gramadinho e São Rafael é de 0,0059% pró São Rafael
136
respondentes. Para esta mesma faixa de trabalho o Gramadinho conta com
16,67% e o Santo Antonio conta com 7,69%, conforme pode ser comparado no
Gráfico 4.11;
Com esses dois dados, podemos ver que no São Rafael quanto mais
trabalho menos participação. No Gramadinho os que menos trabalham
participam tanto quanto os que trabalham entre 19 e 39 horas e os que mais
trabalham mais participam. No Santo Antonio a desproporção é ainda maior,
pois quanto mais trabalho mais participação e
De um modo geral as pessoas que participam de ações conjuntas também
são mais engajadas em grupos e organizações, como podemos ver no Gráfico
4.12. No São Rafael as pessoas que participam de atividades conjuntas tem
um coeficiente de freqüência em grupos e organizações 44,10% superior às
pessoas que não participam de ações conjuntas, no Gramadinho essa
diferença é de 5,73% e no Santo Antonio temos o ápice com 66,81%.
Gráfico 4.11: Comparativo entre horas de trabalho entre horas de trabalho e
participantes em ações conjuntas
Fonte: Elaboração própria
40,00
0,00
30,00 30,00
16,67
16,67
16,67
58,33
7,697,69
23,08
61,54
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
Faixa 1 (0 hs) Faixa 2 (até 19 hs) Faixa 3 (20 a 39hs) Faixa 4 (40 hs e mais)
Per
cen
tual
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
137
Gráfico 4.12: Comparativo entre coeficientes de freqüências em grupos e
organizações de participantes e não participantes de ações conjuntas
Fonte: Elaboração própria
A questão principal quando tentamos avaliar as possíveis razões que levam as
pessoas a participar e não participar de ações conjuntas não é o quanto elas tem de
tempo disponível, mas o que fazem com o tempo que tem disponível.No São Rafael
e no Gramadinho as pessoas preferem sair exclusivamente para conversar à
participar de ações conjuntas. Nesses dois bairros as pessoas nessa dupla condição
representam respectivamente 23,08% e 17,65%. No Santo Antonio as pessoas
também saem às ruas exclusivamente para conversar e não participam de
atividades conjuntas, mas pesa tremendamente o fato de que neste bairro apenas
4% está nesta dupla condição. No Santo Antonio acontece exatamente o oposto do
que ocorre no São Rafael e no Gramadinho, ou seja, a maioria das pessoas que sai
exclusivamente para conversar também participa de ações conjuntas, conforme
pode ser visto na Tabela 4.13.
11,60
14,58
19,10
8,05
13,7911,45
19,65
30,4128,69
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
Co
efic
ien
te
Paticipantes Não Participantes Total Amosta
138
Gráfico 4.13: Percentual de pessoas que saem às ruas exclusivamente para
conversar desagregados por participantes e não participantes em ações conjuntas
Fonte: Elaboração própria
Outro conjunto de dados relativos à participação em ações conjuntas nos foi
fornecido pela avaliação aberta dos respondentes citando as três principais
atividades das quais haviam participado. As respostas foram agrupadas em 7
categorias de análise de acordo com sua similaridade71. A partir desses dados que
passamos a comentar, podemos avaliar outros aspectos do impacto do capital social
nas ações conjuntas.
Olhando para o conjunto dos dados, as atividades classificadas como organização
comunitária, cultura popular e campanhas estão nas três primeiras posições
respectivamente.
A categoria organização comunitária catalisa exatamente 1/3 de todas as
ações conjuntas no São Rafael e o que eles mais fazem (50%) são atividades
de contato com representantes do poder público, principalmente com o prefeito,
para tratar de questões do bairro. No Gramadinho os respondentes não
mencionaram nenhuma atividade ligadas à contatos com prefeito ou prefeitura
e no Santo Antonio 40% das atividades nesta categoria foram para esse fim;
No São Rafael, ainda dentro da categoria organização comunitária, 25% das
ações conjuntas desenvolvidas pelos respondentes são derivadas da atuação
71 Os critérios utilizados para o agrupamento das respostas em categorias pode ser encontrado na Tabela 20 e os percentuais de cada bairro nas categorias de ações conjuntas estão na Tabela 19, ambas no Anexo III.
25,00
14,29
75,0075,00
85,71
25,00
0,0010,0020,0030,0040,0050,0060,0070,0080,0090,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
Per
cen
tual
Paticipantes de Ações Conjuntas Não Participantes de Ações Conjuntas
139
de uma instituição externa ao bairro. Neste caso estamos nos referindo às
atividades que foram desenvolvidas pelo Senac São Paulo dentro do seu
processo de desenvolvimento local daquele bairro72 e
Na categoria cultura popular, o São Rafael é campeão absoluto com 41,67%
das ações conjuntas concentradas nesta categoria e deste percentual, 30%
também são atividades desencadeadas por um agente externo que promove
atividades culturais73
Juntando as duas informações, temos que 20,83% de todas as ações conjuntas dos
respondentes do São Rafael são devidas à ação de agentes externos. O percentual
parece pequeno, mas assume uma relevância maior quando juntamos algumas
outras informações:
A diversidade de grupos e organizações no São Rafael, como já vimos, é a
mais pobre entre os três bairros. Com isso quando aparece um agente externo
que promove atividades que possibilitam a participação das pessoas existe
adesão porque existe carência de oportunidades;
Junta-se a isso o fato de que no São Rafael, 56% dos respondentes não
declaram quantidade de horas em que exercem algum tipo de atividade74. Este
dado nos fala da existência de um recurso entre os respondentes do São
Rafael – tempo disponível – que se torna um aliado à carência de
oportunidades, portanto, um agente externo com esse cenário pode ser muito
melhor sucedido do que em outros bairros;
No Gramadinho a participação de agentes externos ao bairro, neste caso
restrito à atuação do Senac São Paulo, impacta em 22,22% no total de ações
conjuntas entre os moradores do bairro. Apesar de ser maior do que no São
Rafael está restrito à uma das categorias (organização comunitária) e os
valores estão melhor distribuídos nas demais categorias de ações conjuntas;
72 Vide citação na Introdução 73 Usamos aqui e na citação relativa ao Senac São Paulo a expressão agente externo como sendo não pertencente direta e exclusivamente ao bairro. No caso desta citação, estamos nos referindo à Prefeitura de Araçatuba que desenvolve um programa cultura denominado de Culturaça – uma corruptela com as palavras cultura e Araçatuba para designar um projeto que promove atividades culturais de promoção dos artistas locais (tanto dos que possam haver no bairro como de outros bairros da cidade). 74 Este grupo é composto por pessoas que não trabalham, só trabalham em casa e somente são aposentados e que estão na faixa zero de horas de trabalho.
140
No Santo Antonio o impacto de agentes externos é da ordem de 5% no total
das ações conjuntas. Este bairro apresenta um cenário inverso ao do São
Rafael. Nele existe a maior diversidade em termos de grupos e organizações e
quando um agente externo chega sua ação é muito menos preponderante do
que nos outros bairros e
No São Rafael, na categoria cultura popular, além de 30% de atividades
ocorrerem devido à ação de agente externo, os demais 70% são devidos à
ações conjuntas para organizações de festa junina e quermesse. Esse tipo de
manifestação popular esta ligado à igreja católica que arrebanha 80% dos fiéis
desta comunidade. Entre os respondentes que citaram a participação em ações
para organização dessas festas, 86% são católicos. Este dado, ainda que
marginal no contexto geral reforça a tese de que a diminuta diversidade
restringe as ações coletivas no bairro.
Já que voltamos ao tema da religião, seria bom destacar outro dado que vem de
encontro à outras percepções que já apontamos. As ações conjuntas ligadas à
categoria religião ocupam apenas o quarto lugar no computo geral das respostas
para todos os bairros. Essa posição causa estranheza, uma vez que a religião,
ocupando lugar de destaque nos três bairros, deveria ser objeto de maior número de
ações entre as pessoas. Além de ser fator com forte ligação na realização de ações
conjuntas no São Rafael, como acabamos de ver, o índice de freqüência em
organizações e grupos religiosos é de longe o mais robusto de todos, responsável
isoladamente por 42,46% de todas as freqüências em grupos e organizações nas
três amostras. Um pouco dessa estranheza encontra algumas pistas quando
olhamos para o interior das ações conjuntas classificadas na categoria religião e o
comparamos com outro dado já analisado nos indicadores 1 e 2.
No São Rafael as ações conjuntas ligadas à religião correspondem à 4,17% das
ações conjuntas e é justamente nesse bairro que os respondentes se consideram
muitos ativos quando avaliaram seu nível de participação em organizações.
Comparando agora com o percentual de ações conjuntas, com o coeficiente de
contribuição com bens e dinheiros (o mais baixo entre os três bairros), entendemos
que a “atividade” dos respondentes do São Rafael se dá dentro da “passividade”, ou
141
seja, o que eles entendem por “ativos” é comparecer aos cultos e muito pouca coisa
alem disso.
Para entender melhor esse ponto, olhemos para alguns sinais:
No São Rafael a única citação de ação conjunta refere-se à retiro espiritual.
Esta ligada à atividade religiosa, sem necessariamente ser enquadrado como
culto;
No Gramadinho, para 27,78% das respostas de ações conjuntas que foram
classificadas em religião, nenhuma delas refere-se à atividade de culto, mas
referem-se à atividades sociais da igreja, tais como a reforma de templos e
ajuda espiritual e
No Santo Antonio, temos 5% das ações conjuntas classificadas em religião,
que também corresponde à uma única citação e refere-se à arrecadação de
fundos para a igreja.
Muito possivelmente existem diferenças na forma como as organizações religiosas
estão constituídas nos três bairros, mas apontamos aqui um reflexo do caráter
sistêmico do capital social sobre as ações conjuntas. O Gramadinho e o Santo
Antonio estão quase empatados nos seus estoques de capital social estrutural e
essa característica contribui para que inclusive as ações conjuntas ligadas às
religiões possam ser úteis para outros fins. Os crentes nos três bairros
possivelmente não são muito diferentes em termos de fé, o que os difere é o
ambiente social no quais estão inseridos. No Gramadinho e no Santo Antonio, as
freqüências de participação e a quantidade e diversidade de grupos impacta na força
religiosa que tanto tem que responder de forma mais condizente com o ambiente
social, quanto se aproveita do capital social já presente nas suas comunidades e vai
alem de suas fronteiras.
Outro ponto para o qual gostaríamos de chamar a atenção também está presente no
interior do indicador de ações conjuntas. Desta feita a estranheza encontra no
Gramadinho que não tem uma única ação conjunta classificada na categoria
esportes e recreação. A estranheza se dá pelo fato de que neste bairro a freqüência
em grupos e organizações de caráter esportivo e recreativo é o maior de todos.
142
Possivelmente os respondentes do Gramadinho não realizam ações conjuntas
referentes à atividades esportivas e recreativas porque sua participação e freqüência
deve se dar em atividades que são organizadas por outros, possivelmente a
prefeitura. Neste caso, serve de comparação o Santo Antonio, uma vez que os
respondentes deste bairro apontaram ações conjuntas referentes à organização de
campeonatos, pintura de ruas para a prática do futebol e participação em grupo de
capoeira.
Participar de um grupo esportivo certamente ajuda na formação de redes e no
aumento do contato entre as pessoas, o que é positivo para o capital social. No
entanto, organizar um time ou campeonato, lidar com as dificuldades inerentes,
diferenças de concepções e busca de recursos, requer maiores níveis de
organização e capital social estrutural. Tais níveis de organização são apreendidos
também a partir da participação em grupos e organizações, quer estes sejam ligados
à igreja, à associação dos moradores, ao partido político, ao sindicato e etc. Em
resumo essa diversidade que encontramos no Santo Antonio facilita as ações
conjuntas e este bairro apresenta o maior equilíbrio dentro das categorias de ações
conjuntas que adotamos.
Para finalizar registramos que a segunda medida de ação coletiva deste indicador,
interesse eleitoral em cada bairro, aponta o Santo Antonio na liderança dessa
medida, com um percentual de interesse eleitoral 52,62% acima do Gramadinho que
está na segunda posição e 118,83% acima do São Rafael75.
Essa diferença em interesse eleitoral entre o Santo Antonio e os demais bairros está
sustentada em dois parâmetros:
No Santo Antonio 40% dos respondentes apontaram que acompanharam as
últimas eleições com nível máximo de intensidade e inversamente no São
Rafael 61,54% e no Gramadinho 41,18% dos respondentes apontaram o nível
mínimo e
No Santo Antonio as respostas nessa medida apresentam menor variação
que nos outros bairros, o que nos fala da consistência no conjunto do bairro.
75 As médias de interesse eleitoral dos três bairros podem ser vistas no Gráfico 31 no Anexo III
143
4.3.2 Cooperação
O Indicador 10 mensura as percepções de cooperação entre as pessoas. A
cooperação em situações de emergência parecem ser aquelas onde mais se pode
lamentar ou se alegrar com os estoques de capital social presente na comunidade.
Em alguns tipos de situações de emergência, a forma como as comunidades se
auto-organizam para enfrentar a emergência e suas conseqüências, como reagem e
como se recuperam, pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Em muitas
situações de desastres naturais num primeiro momento conta a cooperação entre as
pessoas, mesmo porque em muitos desses casos as forças institucionais demoram
a agir porque em boa parte sua própria estrutura de reação está destruída,
dependendo da dimensão do tipo de desastre. Em muitos desses desastres em
várias partes do mundo é que vemos as pessoas se organizando para enfrentar a
crise ou se aproveitando do momento para fazer saques.
Outros tipos de situações de emergência se caracterizam não pelo caráter público
de seus efeitos, mas justamente pelo caráter privado. Neste caso, são os dramas
que se descortinam no cotidiano das pessoas, quando, por exemplo, a morte ou a
invalidez desamparam uma família inteira. Nesses casos as forças institucionais são
normalmente ainda mais lentas para reagir, não porque não tem a estrutura
necessária, mas não conseguem enxergar os detalhes. Aqui a cooperação entre os
vizinhos ou comungantes da mesma fé pode mitigar muitos dos efeitos negativos, na
forma da doação de alimentos e no acolhimento ou na ajuda para que os afetados
possam se recuperar.
Foi sob essas duas óticas de situações emergências a partir das quais solicitamos
aos nossos respondentes apontassem suas percepções. O Gramadinho se destaca
pela liderança nesse indicador, e se mostra mais sensível em cooperar tanto na
comparação entre os tipos de emergência quanto na comparação com os outros
bairros.
O Gráfico 4.14 mostra ao mesmo tempo as médias nas duas medidas que compõe o
Indicador 10. Na medida de cooperação em desastres o Gramadinho está à frente
144
do São Rafael, segundo colocado, com uma média 6,06% superior e se distância do
Santo Antonio, terceiro colocado, com uma média de 17,85% superior.
Já na medida de cooperação em situações de emergência com pessoas, os valores
do São Rafael e do Santo Antonio são praticamente os mesmos, com uma diferença
na média ente os dois de 1,69% a favor do Santo Antonio. Já em relação ao
Gramadinho, o Santo Antonio apresenta uma média 13,64% inferior.
Um destaque para esses dados é a grande concentração de respostas no
Gramadinho no grau máximo na nossa escala (até 5). Para união das pessoas em
desastres, no grau máximo temos 54,55% dos respondentes e para ajudar as
vítimas em emergências pessoais esse índice cai para 48,48%.
Gráfico 4.14: Média de união das pessoas em desastres e ajuda às vítimas em
fatalidades
Fonte: Elaboração própria
Não temos dados, especulamos apenas, que as médias do Gramadinho possam
estar mais elevadas que os demais devido à um passado comum no enfrentamento
de emergências, uma vez que o passado comum entre os moradores do
Gramadinho é maior que no outros dois bairros. No Gramadinho as pessoas moram
no bairro em média há 17,89 anos, enquanto isso a média no Santo Antonio é um
3,00
3,20
3,40
3,60
3,80
4,00
4,20
4,40
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
4,00
4,24
3,603,54
4,09
3,60
Méd
ias
Desastres Fatalidades
145
pouco inferior, na marca de 15,16 anos e no São Rafael temos uma média de 8,1
anos76.
4.4 Coesão e Inclusão Social
A principal utilidade dos indicadores que agrupamos sob essa dimensão é poder
conhecer um pouco o ambiente no qual o capital social opera e também a partir do
qual ele pode produzir alguns resultados ou impactar com intensidade diferente nas
formas organizativas da comunidade.
Os indicadores desta dimensão estão agrupados dentro do macro-indicador que
estamos denominando de Medidas de Coesão e Inclusão Social. Um dos
indicadores aponta diretamente para os níveis de coesão social, ou seja, como cada
comunidade se percebe enquanto grupo de um modo geral e outro nos traz alguns
dados relativos à inclusão, diferenças e possibilidades de exclusões sociais.
Neste mesmo macro-indicador, criamos uma divisão para medir a percepção de
segurança em cada bairro. Fazemos questão de frisar que não se trata de medir os
níveis de segurança, pois não levantamos dados a esse respeito, mas somente
como as pessoas a percebem.
Incluir as questões de segurança aqui, a partir de nosso ponto de vista, significa
também mensurar o ambiente social no qual as pessoas se sentem e que pode
afetar a forma como se relacionam.
Para este macro-indicador, de um modo geral, os dados depõem a favor do
Gramadinho. No índice exploratório de capital social o Gramadinho esta posicionado
com um valor 44,44% superior ao Santo Antonio que é o segundo colocado e
62,50% superior ao São Rafael na terceira posição77.
76 Não é só tempo de residência que conta, temos que considerar que o Gramadinho foi fundado há 182 anos, o São Rafael há 18 anos e o Santo Antonio há 21 anos.No Gramadinho encontramos pessoas que moram no bairro há 45 anos, e assim temos a sucessão de gerações dentro de um mesmo espaço geográfico e uma história muito mais comum e longínqua. Dados do tempo de residência podem ser encontrados no Gráfico 7 no Anexo III 77 Na Tabela 11, Anexo III podem ser encontrados os índices dos três bairros para esta dimensão.
146
4.4.1 Coesão e Inclusão
Os Indicadores 11 e 12, que respectivamente avaliam os graus de proximidade e
diferença entre os respondentes dos três bairros precisam ser olhados de uma forma
conjunta pois estão muito interligados em aspectos relativos ao capital social.
De um modo geral, a proximidade ou diferença, em si mesmas não querem dizer
muita coisa. O que importa é saber o quanto essa proximidade ou essa diferença
esta impactando nos relacionamentos que são mantidos, que ajudam a formar as
redes para acesso à recursos e ajudam na estruturação do capital social.
O São Rafael nos dá margem para algumas análises nesse sentido. Entre os três
bairros é o que apresenta a menor média de percepção de proximidade e ao mesmo
tempo, a menor média de percepção de diferença entre eles, conforme pode ser
visto no Gráfico 4.15. Assim eles se sentem pouco próximos e pouco diferentes uns
dos outros, portanto, não é a diferença entre eles que os distancia, mas o isolamento
em que estão de um modo geral.
Gráfico 4.15: Média de percepção de proximidade e diferença
Fonte: Elaboração própria
Esse isolamento é uma constante em vários dados, podendo ser percebido mais
claramente na diminuta diversidade de grupos e organizações, no baixo nível de
freqüência de participação em organizações e grupos, na pequena extensão das
redes que dificulta o acesso à recursos em situações de emergência, no baixo
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
2,46
3,50
2,88
2,38
2,94
3,38
Méd
ia
Proximidade Diferença
147
coeficiente de visitas e no impacto que agentes externos tem em suas ações
conjuntas.
Nesse sentido, é bem provável que o isolamento seja em parte responsável não
pelas poucas diferenças entre eles, mas pela pouca percepção dessas diferenças.
Um caso oposto é o do Santo Antonio. Neste bairro os respondentes se percebem
um pouco mais próximos uns dos outros do que no São Rafael, no entanto são os
que se percebem mais diferentes. Suas oportunidades de relacionamento, suas
redes e a diversidade de grupos e organizações contribuem para aflorar as
diferenças e os conseqüentes problemas, no entanto, tais diferenças não inibem o
capital social estrutural.
Em menor proporção o mesmo ocorre em relação ao Gramadinho. Neste bairro
anotamos a maior média de proximidade entre as pessoas e a diferença está num
nível intermediário entre os dois outros bairros. Também no Gramadinho não existe
inibição do capital social estrutural. Neste caso, no entanto, como já tratamos, a
proximidade tende à formação de clusters.
Alguns outros dados reforçam estas percepções. No São Rafael eles se percebem
pouco diferentes, no entanto afirmam que as diferenças causam percentualmente
tantos problemas de relacionamento quanto causam no Gramadinho. Na verdade,
na percepção dos respondentes do São Rafael as diferenças causam 0,47% a mais
de problemas de relacionamento do que nas percepções dos respondentes do
Gramadinho. No Santo Antonio as respostas parecem ser mais coerentes, pois se
percebem mais diferentes e essas diferenças são percebidas como um pouco mais
do que o dobro de causadoras de problemas de relacionamento quando
comparadas aos dois outros bairros.
Nas respostas agregadas, três grupos de diferenças podem ser formados a partir da
concentração das respostas78. No primeiro grupo estão as diferenças de religião e
de costumes que somadas perfazem 44,83% das respostas. No segundo grupo
estão as diferenças de riqueza, geração e educação com um total de 37,93% das
respostas. No terceiro estão todas as demais diferenças, política, etnia, entre
78 A Tabela 12 no Anexo III apresenta os percentuais de todos os tipos de diferenças que geram problemas de relacionamento desagregados por bairros
148
proprietários e locatários de imóveis e gênero, que juntas alcançam 17,24% das
respostas.
No São Rafael, 38,46% dos problemas de relacionamento são causados por
diferenças de religião e na seqüência estão as diferenças causadas por diferença
nos costumes. Neste bairro as diferenças de educação, política e gênero não
causam problemas.
No Gramadinho as diferenças de costumes estão em primeiro lugar com 25,00% dos
problemas de relacionamento e em segundo e terceiro estão empatadas diferenças
de riqueza e geração com 20,83%. Para os respondentes deste bairro, diferenças de
gênero e entre proprietários e locatários de imóveis não causam problemas.
No Santo Antonio os maiores causadores de problemas de relacionamento estão
concentrados nas diferenças de religião com 23,81% e no segundo posto de
causadores de problemas estão as diferenças de educação com 19,05%. Neste
bairro não foram citados problemas de relacionamento causados por gênero e entre
proprietários e locatários de imóveis.
Em complemento a esses dados, o Gráfico 4.16 mostra o percentual de violência
associado ao percentual de problemas de relacionamento gerados pelas diferenças
Gráfico 4.16: Percentual de violência a partir de problemas de relacionamento por
diferenças
Fonte: Elaboração própria
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
30,77 30,30
62,50
Per
cen
tual
20,00
29,41
66,67
Problemas de Relacionamento Violência
149
A variação no apontamento de problemas de relacionamento que são originados
pelas diferenças apresenta uma relação inversa com a diversidade de grupos e
organizações e a extensão das redes, como pode ser visto no Gráfico 4.17.
Essa relação inversa é bem mais visível na comparação entre os dados do São
Rafael com os dados do Gramadinho. O São Rafael concentra suas freqüências de
participação em atividades religiosas e neste campo concentra os problemas de
relacionamento e ao mesmo tempo com uma diminuta diversidade de grupos e
organizações e extensão das redes percebe menos problemas de relacionamento
causados por outras diferenças. O Santo Antonio, pólo oposto em diversidade de
organizações e grupos e com valores próximos ao Gramadinho em termos de
extensão das redes, têm uma melhor distribuição das respostas justamente auxiliado
por conta dessas duas características.
150
Gráfico 4.17: Comparativo da quantidade e variação de problemas de
relacionamento gerados por diferença vs diversidade de grupos e organizações e
extensão das redes79
Fonte: Elaboração própria
As questões de proximidade e diferenças constatadas nos três bairros se assemelha
a um jogo social com resultados coletivos diferentes nos três bairros e se
pudéssemos captar um pensamento coletivo talvez ele se assemelhasse ao
seguinte:
No São Rafael: “Olha, você fica no seu canto e eu fico no meu. Você não
me ajuda quando eu precisar, mas também não conte comigo em suas
necessidades. Nós dois vamos perder, mas vamos perder juntos”.
No Gramadinho: “Olha, nós não somos muito diferentes, mas eu sou muito
mais próximo dos meus iguais. Eu tenho a minha turma e prefiro ficar com ela.
Você fica com sua turma.”
79 Os valores apontados neste gráfico tem significados distintos. Diversidade e quantidade de problemas são valores absolutos Variação de problemas está relacionado ao percentual de problemas apontados em cada bairros e extensão das redes refere-se ao índice de cada bairro neste componente a partir do índice exploratório de capital social. O Gráfico fornece informações visuais entre os 4 tipos de informações.
6
7
76
1012
15,3
9,4
6,6
10
20
18
56789
101112131415161718192021
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
Val
ore
s d
e R
efer
ênci
a
Quantidade de Problemas de relacionamento por diferenças
Diversidade (Quantidade de Grupos e Organizações)
Variação de Problemas de relacionamento por diferenças
Extensão das Redes
151
No Santo Antonio: “Olha, você tem o seu canto e eu tenho o meu. Nós dois
somos diferentes e ambos queremos ganhar. Vamos cuidar do nosso canto
comum para que ambos ganhem?”.
Ou seja, no São Rafael predomina uma sociedade individualista com baixo capital
social de ponte e de ligação. No Gramadinho percebemos alguns aspectos do
comunitarismo sectário com tendência para o capital social de ligação. O Santo
Antonio é o que mais se aproxima da comunidade cívica de Putnam com maior
tendência ao capital social de ponte.
4.4.2 Segurança
O segundo componente da dimensão coesão e inclusão social denominamos de
segurança e operacionalizamos usando o Indicador 13 (Percepção de Segurança)
que reúne duas medidas que mostram a percepção de segurança nos três bairros e
outra que aponta o percentual de pessoas que foram vítimas de violência. Nas duas
primeiras medidas quanto maior a percepção de segurança, maior a classificação no
índice exploratório de capital social80. Na outra medida, quanto maior a quantidade
de vítimas de violência, menor a classificação no mesmo índice.
Destes critérios, decorre a classificação do Gramadinho em primeiro lugar, o Santo
Antonio em segundo e o São Rafael em terceiro no componente percepção de
segurança no índice exploratório de capital social.
O São Rafael apresenta a menor média de sentimento de segurança, sendo que
eles se consideram muito mais seguros dentro de suas casas do que nas ruas,
conforme pode ser visto no Gráfico 4.18. Os respondentes do Gramadinho e do
Santo Antonio também se sentem mais seguros dentro de suas casas do que nas
ruas, porem com uma diferença menor quando comparados aos respondentes do
São Rafael.
80 Esta relação esta estabelecida em razão da forma como definimos as medidas que geraram a percepção de segurança, conforme explicado no Capitulo 3 na página 77. A primeira medida é composta por duas perguntas nas quais os respondentes apontavam um valor mais alto quando se sentem mais seguros dentro de casa e nas ruas depois de anoitecer, conforme pode ser visto no Anexo I perguntas 44 e 45. A segunda medida é composta por 1 pergunta onde os respondentes apontavam um valor mais alto quando consideram seu bairro mais pacífico, conforme Anexo I pergunta 43.
152
Gráfico 4.18: Médias de sentimento de segurança em casa e nas ruas
Fonte: Elaboração própria
O menor sentimento de segurança no São Rafael em suas casas ou nas ruas é
condizente com a medida de sentimento de segurança que adotamos. Os
respondentes avaliam seus bairros muito mais como violentos do que pacíficos,
porém em proporções diferentes. No São Rafael a auto classificação como um bairro
violento, na média é 4,98% maior que no Gramadinho e 41,19% maior que no Santo
Antonio81.
Possivelmente no São Rafael temos as menores percepções de segurança porque
neste bairro os nossos dados registraram as maiores taxas de violência. Naquele
bairro 15,38% das pessoas já foram vítimas de violência com 4 casos apontados. No
Gramadinho apenas 2,94% já foram vítimas de violência, o que significa 1 único
caso. No Santo Antonio, 12% das pessoas já foram vítimas de violência com 2 casos
sendo este o único bairro onde os respondentes apontaram que já tiveram suas
casas assaltadas (3 ocorrências).
Para esses dados, gostaríamos de destacar que o baixo capital social estrutural do
São Rafael esta relacionado tanto com a menor percepção de segurança e maiores
81 Gráfico 39 no Anexo III.
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
3,693,56 3,52
2,69
3,33 3,21
Méd
ia
Média Segurança em Casa Média Segurnaça nas Ruas
153
índices de violência. Nos dois outros bairros, os seus maiores estoques de capital
social estrutural estão relacionados com as suas maiores percepções de segurança
e não estão relacionados com seus índices de violência.
O capital social tem sido celebrado como um antídoto poderoso contra a violência e
a criminalidade. Putnam afirma que as taxas de assassinatos estão negativamente
relacionadas aos estoques de capital social nos estados dos Estados Unidos. Não é
incomum encontrarmos iniciativas de vizinhos que combinam códigos para informar
que estão sendo assaltados e na verdade tais códigos são decorrentes de suas
iniciativas de relacionamento para combater a criminalidade saindo do isolamento e
do individualismo e partindo para soluções coletivas. Ao analisar a implantação das
Unidades de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro, uma das leituras que podemos
fazer é que essa ação esta propiciando um ambiente menos danoso para o
florescimento do capital social que possa servir à toda comunidade ao barrar e
destruir o que o próprio Putnam chamou de lado nefasto do capital social, no caso
carioca, composto pela associação de pessoas para o tráfico de drogas.
No caso de nossa pesquisa, não temos dados suficientes que possam nos dar
segurança para fazer tal associação de menores taxas de criminalidade com o
capital social nos três bairros, pois não temos de fato as taxas de criminalidade e sim
temos alguns relatos nesse sentido.
Por outro lado, com os dados que obtivemos relativos à percepção de segurança
nos sentimos aptos a considerar que maiores estoques de capital social estão
positivamente relacionados à maiores percepções de segurança, pois no
Gramadinho e no Santo Antonio com suas redes mais extensas, seus
relacionamentos mais amplos e a diversidade de suas participações em grupos e
organizações os fazem se sentir mais seguros, ou pelo menos amparados em sua
insegurança, já que conseguem possivelmente pelo menos falar mais uns com os
outros a esse respeito. Já no São Rafael o isolamento leva cada um a sentir-se
inseguro no seu canto e como seus contatos são poucos e concentrados até o falar
a respeito fica dificultado.
O que estamos trazendo é outro aspecto sistêmico do capital social. Possivelmente
no Gramadinho quando as pessoas se reúnem para praticar esportes, mesmo que
154
esta prática tenha sido organizada por uma instituição externa, parafraseando
Putnam, entre uma jogada e outra deve haver algum comentário sobre a segurança
no bairro e sobre como cada um está lidando com ela82.
4.5 Canais de Informação e Comunicação
Conforme já explicamos no Capítulo 3 a dimensão canais de informação e
comunicação, diferentemente das outras 4 dimensões analisadas até este momento,
não faz parte do índice exploratório de capital social que serviu para classificar os
bairros. Relembrando nossa posição teórica considerarmos essa dimensão como
uma infra-estrutura a partir da qual o capital social obtêm mais um elemento
facilitador de sua operação e da potencializarão de outros elementos que o compõe.
Não obstante a importância que atribuímos à essa dimensão, consideramos ela
muito mais uma ferramenta a disposição do capital social do que uma característica
em si do capital social.
Enquanto ferramenta, sua disponibilidade, assim como seu uso, pode variar de
acordo com a comunidade que estamos avaliando. Pode não estar disponível, entre
outras razões, por exemplo, a televisão, a internet e o telefone que requerem infra-
estrutura mínima para sua operação, tais como eletricidade, cabos, provedores de
acesso, produtores de conteúdo além de recursos econômicos e interessados em
explorar esses serviços.
O uso pode ser impactado por razões diversas. Por exemplo: pessoas analfabetas
ou com pouco letramento não conseguem fazer uso do jornal escrito; pessoas com
baixa renda podem ter mais dificuldades para o acesso ao telefones e internet (e
esta última ainda influenciada por fatores culturais e geracionais).
Tais considerações no entanto não implicam em não reconhecer seu potencial e a
diferença que podem fazer para incrementar o capital social. Comunidades que
podem ter acesso e fazer bom uso de canais de informação e comunicação podem
conseguir alcançar ainda maiores níveis sistêmicos desse capital.
82Quando este autor analisa a diminuição no jogo de cartas nos Estados Unidos comenta que “Ainda se nós assumíssemos conversadoramente, que os temas da comunidade vêm a tona na conversação uma vez a cada dez partidas, o declínio no jogo de cartas implica em 50 milhões a menos de ‘micro deliberações’ a respeito dos afazeres comunitários para cada ano na atualidade do que foi duas décadas passadas”. (PUTNAM, 2000, p.104)
155
Quando Tocqueville visitou os Estados Unidos em 1832 foi exatamente esta a
constatação que ele fez. Ao observar o grande número de associações presentes no
cotidiano e a organização voluntária nos afazeres públicos, características que hoje
incluímos no conceito de capital social, ele disse que os jornais que circulavam em
profusão ajudavam a difundir as idéias pois “é preciso que achem um meio de se
falar todos os dias, sem se ver, e de marchar de acordo sem estar reunidos”
(TOCQUEVILLE, 1998, p.395).
Dentre todas as dimensões que estamos analisando esta é a mais suscetível de
sofrer mudanças a partir de avanços tecnológicos. Em 1966 somente a ficção
científica havia “inventado” um aparelho móvel de comunicação, e que hoje é de uso
pessoas de 92,9% dos total respondentes de nossa pesquisa. Mesmo em 1993
quando o Grupo Temático sobre Capital Social elaborou o questionário integrado de
capital social, a partir do qual fizemos nossa adaptação, a internet era pouco citada
e a ênfase era saber se existia agencia dos correios próxima da casa das pessoas.
Para além dessas considerações, precisamos assinalar que o uso dessas
ferramentas de comunicação, assim como de outras, depende da vontade das
pessoas. Se as pessoas não tiverem vontade, interesse ou necessidade de usá-las,
nem as mais avançadas tecnologias terão utilidade. No entanto se as pessoas
quiserem se comunicar, organizar atividades, manter vínculos e conhecer umas às
outras poderão se valer de sinais de fumaça, toque de tambores, das cartas, do
telégrafo e da internet.
Em resumo, o que faz a conexão entre as pessoas não são as ferramentas, mas sim
as redes que se formam inclusive pelo uso das ferramentas de comunicação.
Colocadas essas questões, precisamos olhar para nossos dados e informar como as
nossas três comunidades estão servidas dessas ferramentas e como delas fazem
uso. Não repetiremos aqui dados sobre ferramentas de informação e comunicação
das quais já fizemos uso anteriormente neste texto em apoio a outros argumentos.
156
Conforme pode ser conferido na Tabela 1383, Santo Antonio, São Rafael e
Gramadinho, nessa ordem estão classificados nesta dimensão em análise. O Santo
Antonio dispõe de 17,86% a mais de ferramentas de comunicação do que o São
Rafael e 43,48% a mais que o Gramadinho.
Vamos começar nossa análise olhando conjuntamente os dados dos indicadores 14
e 15 que mensuram respectivamente o acesso ao rádio e à televisão. Os Gráficos
4.19, 4.20 e 4.21 resumem informações sobre esses dois canais de comunicação:
freqüência de audiência do rádio e média de audiência da televisão e percentual de
preferência por tipo de programa nos dois canais.
Gráfico 4.19: Percentual de freqüência de audiência de rádio em vezes por semana
e preferência por tipo de programa84
Fonte: Elaboração própria
83 Anexo III. 84 Estas mesmas informações podem ser visualizadas em outra configuração no Gráfico 42 no Anexo III.
0
10
20
30
40
50
19
8
1235 27
219
326
4120
8 12 16
44
Perc
en
tual
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
Nunca Menos de uma vez Uma vez
Algumas vezes Todos os dias
157
Gráfico 4.20: Percentual de audiência de rádio desagregado para informação e
entretenimento sobre os pontos de audiência de rádio85
Fonte: Elaboração própria
85 As freqüências de audiência de rádio foram convertidas em pontos para possibilitar a comparação percentual dentro de cada bairro, conforme critérios expostos na Tabela 21 no anexo III.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
74,0089,00
82,00
Au
diê
nci
a (P
on
tos)
24,32
11,24
31,71
75,68
88,76
68,29
100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
50,00
Pe
rce
ntu
al
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
Audiência de Rádio Informação Entretenimento
158
Gráfico 4.21: Percentual e média de audiência de televisão desagregados em
informação e entretenimento
Fonte: Elaboração própria
Como podemos ver a pelo Gráfico 4.20, a diferença na audiência de rádio entre os
três bairros é pequena. No Gramadinho a audiência é 8,54% maior que no Santo
Antonio e 20,27% maior que no São Rafael. Quanto à TV, no Gramadinho os
respondentes passam em média 12,15% a mais de tempo em frente à TV do que os
respondentes do São Rafael e 39,22% a mais que os respondentes do Santo
Antonio.
No entanto, a diferença mais significativa entre os três bairros não se dá pelos
pontos de audiência de rádio ou pela média de horas em que assistem TV, mas sim
na preferência do tipo de programa e na média em que assistem cada tipo de
programa.
Em relação ao rádio, o Santo Antonio tem um percentual de pontos de audiência de
apenas 8,54% menor que ao Gramadinho, no entanto no Santo Antonio o uso do
0,005,00
10,0015,0020,0025,0030,0035,0040,0045,0050,0055,0060,0065,0070,0075,0080,0085,0090,0095,00
100,00
Sao Rafael Gramadinho Sto Antonio
46,34 43,40 53,4953,66 56,60 46,51
Percentual
3,403,303,203,103,00
Mé
dia
2,902,802,702,602,502,402,302,202,102,00
3,503,603,70
1,901,801,70
2,95
2,89
3,39
2,87
2,30
2,25
Média de Entretenimento
Média de InformaçãoPercentual Informação
Percentual de Entretenimento
159
rádio é 182,20% a mais para busca de informações do que no Gramadinho. No São
Rafael, os respondentes também ouvem menos rádio do que no Gramadinho, no
entanto buscam 116,49% a mais informações quando também comparados ao
Gramadinho.
No Santo Antonio, a média geral de audiência de TV é a mais baixa com 2,32 horas
por dia, no entanto, 53,49% da audiência é para programas de caráter informativo
(jornalismo, documentários, entrevistas). No São Rafael e no Gramadinho a menor
audiência é para esse tipo de programa, com 46,34% no primeiro bairro e 43,40% no
segundo.
Em relação a esses dados, tanto em relação ao rádio como em relação à TV, não foi
possível estabelecer correlações significativas com outros indicadores de capital
social. Nossa hipótese, seguindo a afirmativa de Putnam86, era de que as pessoas
que menos participam da vida pública mais assistem TV e mais assistem programas
de entretenimento.
O Indicador 16 mostra alguns dados em relação à leitura de jornais nos três bairros
pesquisados, apresentados no Gráfico 4.22. O Santo Antonio se destaca pois além
de ter o maior percentual de leitores de jornal tem também a maior média de leitura
de jornais. Quando comparamos o Santo Antonio com o São Rafael (segundo
colocado nas duas medidas) constatamos que existe 17,39% a mais de pessoas que
lêem jornal e estes leitores se dedicam em média a leitura desse canal de
informação 47,69% a mais.
86 Este pesquisador norte-americano postulou, conforme já mencionamos que a TV teve entre 15% a 25% de responsabilidade no decréscimo do capital social nos Estados Unidos no último quarto do século 20 pelo duplo atributo de “roubar” e privatizar o tempo das pessoas que poderia ser usado para participação em organizações e atividades comunitárias.
160
Gráfico 4.22: Percentual e média de Leitura de jornais
Fonte: Elaboração própria
Duas variáveis impactam com intensidade diferente o percentual e a média de
leituras de jornais nos três bairros, o nível formal de educação e a renda conforme
pode ser visto nos Gráficos 4.23a e 4.23b.
Gráfico 4.23a: Percentual de leitores de jornal desagregados por nível educacional
Fonte: Elaboração própria
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
46,00
39,00
54,00
Per
cen
tual
4,00
3,50
3,00
4,50
5,00
2,50
2,00
3,33
4,92
2,00
Média Percentual
Mé
dia
,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
41,6746,15
23,08
58,3353,85
76,92
Per
cen
tual
Até Medio Incompleto Medio Completo e Acima
161
Gráfico 4.23b: Comparativo da renda média domiciliar desagregada por leitores e
não leitores de jornais
Fonte: Elaboração própria
As pessoas com ensino médio e acima lêem 39,98% mais jornais no São Rafael
quando comparadas como pessoas com até o ensino médio incompleto. No
Gramadinho essa diferença é 16,68% e no Santo Antonio é de 233,28%.
No São Rafael e no Gramadinho quase não existe diferença na renda domiciliar
média entre as pessoas que lêem e as que não lêem jornais, portanto essa variável
não impacta nos dois bairros a partir dos dados de que dispomos. No Santo Antonio,
no entanto, a renda faz muita diferença, pois os que lêem jornais neste bairro tem
uma renda média domiciliar 52,54% maior do que aqueles que não lêem jornais.
Duas ressalvas precisam ser consideradas na análise e interpretação desses dados:
Primeira: Sabemos que a educação impacta na leitura de jornais, muito
mais no Santo Antonio do que nos outros bairros, não necessariamente por ser
jornal, mas por tratar-se de leitura, que é um hábito muito mais freqüente em
pessoas com maior nível educacional. Quando convertemos os níveis
educacionais em pontos87, constatamos que o Santo Antonio tem uma média
de formação escolar 19,26% superior aos dois outros bairros que estão
praticamente empatados88. Isso significa que podemos estabelecer essa
correlação entre leitura de jornais e educação com maior nível segurança e
87 Vide critérios utilizados na Tabela 22 no Anexo III. 88 Conforme Gráfico 8 no Anexo II.
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
1.722
1.085
2.639
1.714
1.106
1.730
Rea
is
Leitores Não Leitores
162
Segunda: Já em relação à renda não podemos ter o mesmo nível de
segurança, pois as pessoas afirmaram que fazem leitura de jornal, mas não
investigamos que tipo de jornal nem se elas compram o jornal. Conjecturamos
que no São Rafael e no Gramadinho pode haver algum tipo de jornal que seja
de distribuição gratuita e que portanto não requer renda para sua leitura.
Reforça essa conjectura o fato de que no São Rafael e no Gramadinho existe
um maior percentual de pessoas que também fazem leitura de jornal no mesmo
domicílio. Isso tanto pode estar se referindo à uma acesso mais facilitado à
esse canal como pode significar um compartilhamento do canal de informação.
Quanto ao indicador 17, que investiga a posse e o acesso à telefones, já os
analisamos quando relacionamos os seus dados aos contatos virtuais (indicador 4)
que contribuem para a extensão das redes nos três bairros89.
O Indicador 18 investigou o acesso e uso da Internet nos três bairros e o Gráfico
4.24 fornece uma visão integrada dos principais dados desse indicador. Os
respondentes do Santo Antonio são os que mais fazem uso dessa ferramenta de
comunicação e informação, principalmente no percentual de pessoas que tem
acesso. Entre as pessoas com acesso, a diferença da média diária de uso entre o
São Rafael e o Santo Antonio é de apenas 0,02 pontos percentuais. O maior
percentual de acesso significa que no Santo Antonio a internet esta provavelmente
sendo uma ferramenta que ajuda a amplificar suas redes de relacionamento e a
sustentar suas participações em redes e organizações.
No Gramadinho, provavelmente o uso da internet também ajuda a sustentar suas
redes e suas participações, no entanto, a menor média de renda domiciliar deprime
consideravelmente sua média de acesso diário. Uma pista neste sentido é que
seguramente de todas as opções de acesso que citamos aos respondentes, o
acesso domiciliar é o que exige maiores recursos financeiros. Com a menor renda
média domiciliar, no Gramadinho o acesso à internet nos domicílios é possível para
29,03% dos respondentes, enquanto que no Santo Antonio, com a maior renda
89 O Gráfico 50, complementado pelo Gráfico 51, no Anexo III apresentam os dados relativos à posse e uso do telefone
163
média domiciliar este local acesso está disponível para 53,10% dos respondentes.
Uma vez que os moradores do Gramadinho não tem acesso público e gratuito à
essa ferramenta, compensam utilizando outros meios que não geram custos ou
geram custos menores. Assim, no Gramadinho, 67,74% dos acessos à internet são
feitos no trabalho, em escolas e em lan houses. No São Rafael esse o percentual de
acesso nesses locais fica em 51,85% e no Santo Antonio é de 43,75%.
Gráfico 4.24: Percentual de acesso e média de horas e de quantidade de locais de
acesso à internet
Fonte: Elaboração própria
Finalmente, o indicador 19, último desta dimensão, investigou as fontes prioritárias
entre os respondentes para se obter informações a cerca das ações da prefeitura e
sobre a economia da cidade. Dividimos as fontes em duas categorias: pessoas e
canais de informação. Os resultados relativos à primeira categoria (pessoas) foram
analisados juntamente com o indicador que mensurou os contatos presenciais
(indicador 5) e a segunda categoria de fontes de informação desse indicador se
relaciona com esta dimensão em análise.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
58,00
67,00
76,00
Per
cen
tual
4,00
3,50
3,00
4,50
5,00
2,50
2,00
Mé
dia
1,50
1,00
2,69
2,36
2,71
1,93
1,461,68
Média de Locais de Acesso
Média de Horas de Acesso
Percentual de Acesso
164
De um modo geral a maioria dos respondentes de todos os bairros obtêm mais
informações sobre as ações da prefeitura e da economia utilizando-se de canais de
informação. Entre eles, no entanto, o Santo Antonio faz um uso mais intensivo que
os demais. O Gráfico 22 no Anexo III mostra esses resultados e comentamos alguns
deles relacionados à outros indicadores.
No Santo Antonio o uso da internet para obter informações sobre a prefeitura
e a economia é 174,22% mais elevado do que no Gramadinho e 56,41% mais
elevado do que no São Rafael. A razão da diferença entre os dois recai
novamente sobre a renda domiciliar média;
No São Rafael o percentual de 48,05% de informações obtidas por telejornal
sofre impacto da existência de um canal de TV com conteúdo produzido pelo
poder público local e
As variáveis ações da prefeitura ou noticias da economia estão melhor
distribuídas nos canais de comunicação (jornal, TV, radio, etc) e uma
distribuição mais desigual em pessoas como fontes de informações. Ou seja,
para obter essas informações as pessoas são mais relevantes dos que os
canais de informação e comunicação.
4.6 Empoderamento e Ação Política
Conforme justificamos no Capitulo 3 os dados obtidos nessa dimensão não
compuseram o índice exploratório de capital social.
Nesta dimensão não obtivemos dados suficientes para avaliar a ação política dos
respondentes e assim definimos o macro-indicador dessa dimensão como
empoderamento e o avaliamos a partir do Indicador 20 – Satisfação Pessoal que em
nossa opinião dá conta de mensurar apenas uma pequena parte do que podemos
considerar como empoderamento.
Esta é a única dimensão onde o São Rafael tem a liderança e seguindo os critérios
adotados no índice exploratório de capital social seu índice é o dobro do
Gramadinho e do Santo Antonio que estão também empatados90. No entanto,
90 Vide Tabela 15 no Anexo III
165
quando olhamos para o interior do indicador verificamos que as diferenças são muito
pequenas entre os três bairros.
Ao tomarmos as duas medidas em conjunto verificamos que a média de satisfação
pessoal dos respondentes do São Rafael é apenas 4,62% e 8,23% superior em
relação aos respondentes do Gramadinho e do Santo Antonio respectivamente.
O interior desse indicador revela diferenças ainda menores entre os três bairros e
praticamente a mesma posição entre os bairros, sendo a única exceção o grau de
felicidade onde o Santo Antonio está em segundo lugar e o Gramadinho em terceiro.
A única nota digna de ser registrada está na mensuração do grau de percepção de
impacto em atuar pela comunidade, onde o Santo Antonio e o Gramadinho tem uma
maior variação nas suas respostas, ligeiramente maior no Santo Antonio quando
comparado ao Gramadinho e mais acentuada quando comparado ao São Rafael.
Nossa interpretação vai no sentido de que tanto no Santo Antonio quanto no
Gramadinho o grau de exigência entre os respondentes é maior devido à parâmetros
mais elevados que os respondentes desses bairros tem devido à sua mais intensa
atuação em grupos e organizações.
4.7 Outras medidas
Conforme já adiantamos, duas medidas resultantes de nosso questionário não estão
inclusas em nenhuma dimensão e, portanto, não compuseram o índice exploratório
de capital social:
Membros do domicílio:
Com os dados agregados, 72,67% de todos os participantes de grupos e
organizações é constituído pelo próprio respondente da pesquisa, 12% dos
respondentes apontaram que é o marido ou esposa que participam e 10%
apontaram a participação de filhos ou netos. O restante 5,33% dos
respondentes apontaram pai, mãe ou outros membros do domicílio91 e
A maior variação nas respostas entre os bairros esta no apontamento do
filho ou neto como principal membro do domicílio participante pelos
91 Os dados desagregados por bairro podem se conhecidos na Tabela 17 no Anexo III.
166
respondentes do Gramadinho. Neste bairro, 10,75% a mais de respondentes
afirmaram que o principal participante em grupos esportivos e recreativos são
seus filhos ou netos.
Benefícios da participação:
Destacamos que no Santo Antonio existe a maior percepção de que atuar
em grupos e organizações beneficia a comunidade com 47% dos benefícios
apontados, o que sugere uma maior consciência política dos motivos que
levam a participação92;
De um modo geral todas as participações, quando olhamos do ponto de
vista sistêmico do capital social, tendem a beneficiar a comunidade visto que
podem geram resultados que vão além dos motivos específicos do grupo ou
organização. Alguns grupos e organizações, no entanto, apresentam
características que beneficiam a comunidade de forma mais direta. Os
respondentes do Santo Antonio fazem de forma mais adequada essa conexão
quando todos apontam que participar da associação de moradores, dos
conselhos de políticas públicas, de grupos ligados à educação e organizações
não governamentais beneficia a comunidade;
No São Rafael a conexão máxima que os respondentes conseguem fazer
entre participação e benefício é de 88,89% de benefícios para participação na
associação de moradores. No Gramadinho essa conexão é menor com
percentual de 66,67% e
Acesso à serviços e melhoria da renda, que são benefícios mais diretos
ligados ao incremento do capital social estrutural no que diz respeito à
participação em grupos e organizações, somente são citados por respondentes
do Gramadinho. 8% dos benefícios de acesso à serviços citados por
respondentes deste bairro estão concentrados em associação de moradores,
associação de profissionais, grupos esportivos e sindicatos. Ainda neste bairro
encontramos 4% dos benefícios que melhoram a renda pela participação na
associação de moradores.
92 Vide Tabela 18 no Anexo III
167
Para finalizar, neste capítulo, demos conta de apresentar todos os indicadores e
medidas que compõe nossa pesquisa. Reservamos para as considerações finais
uma visão geral sobre o estado do capital social em cada bairro, juntamente com
outras considerações.
168
Considerações Finais
Empreender pesquisa tendo como tema central o capital social foi tarefa das mais
instigantes do ponto de vista intelectual e mais do que uma atividade necessária
para a conclusão do mestrado acadêmico teve o importante papel de melhor elucidar
para mim mesmo conceitos que já compreendia de modo abstrato, mas que a partir
da pesquisa passei a compreendê-los de modo muito concreto pela vivência que o
campo propicia com sua riqueza de dados e informações.
O capital social é um conceito muito simples de ser definido, mas muito complexo de
ser operacionalizado, pois afinal de contas, na mais simples das definições basta
dizer que o capital social é o que ocorre entre as pessoas. Mas como medir e
operacionalizar o que ocorre entre as pessoas?
Se pudéssemos ter um aparelho que nos permitisse registrar as relações entre as
pessoas, quer estejam elas sejam em uma empresa, comunidade ou região,
certamente veríamos seguimentos de linhas, não necessariamente retas,
assinalando o espaço relacional. Neste imaginário aparelho, se tentássemos medir
as linhas que conectam as pessoas, certamente teríamos quase que infinitas
medidas, variando conforme as pessoas, a cultura local, o histórico do grupo, suas
regras e seus valores, necessidades pessoais, características do espaço geográfico,
ferramentas e tecnologias disponíveis, recursos disponíveis ou desejados, e talvez
mais uma dezena de variáveis que neste momento não nos cabe relacionar, mas
que certamente entrariam nesta “equação”.
No entanto, não temos esse aparelho e talvez nunca venhamos a tê-lo porque
estamos falando das quase infinitas variáveis que entram na “equação” das relações
humanas que dificilmente conseguimos traduzir em números. Esse rol de variáveis
que citamos traduz um pouco das descobertas que fizemos e dos conseqüentes
aprendizados gerados. Na falta do aparelho que possa medir o capital social ou da
equação que possa defini-lo, empreendemos a tarefa de aprimorar os instrumentos a
nosso dispor, aproveitando-nos da experiência de outros e esperando que nossas
reflexões possam contribuir de forma humilde com outros trabalhos que serão
empreendidos no futuro.
169
Com essas questões, colocadas de forma ampla, queremos primeiro trazer à
reflexão que o instrumento de pesquisa que utilizamos cumpriu seu objetivo e
conseguiu diferenciar algumas questões pertinentes ao capital social nos três bairros
que nos serviram de palco para a pesquisa de campo. Quando olhamos para os
resultados dos macro-indicadores de capital social de cada bairro, claramente
conseguimos ver que para o São Rafael captamos uma singularidade que lhe é
própria. Se os números amplos desses mesmos indicadores deixam dúvidas quanto
aos estoques de capital social do Gramadinho e do Santo Antonio, o olhar atento e
para o interior dos dados desses dois bairros nos revela também suas
singularidades.
Encontramos um São Rafael pobre na diversidade de grupos e organizações, onde
as organizações religiosas dominam boa parte do cenário participativo, onde os
respondentes avaliam que seu nível de participação é muito ativo, mas que, no
entanto, não corresponde à uma efetiva freqüência de participação nem à
contribuição que podem dar a esses grupos e organizações.
Trata-se de uma contradição entre a percepção e a efetividade que se repete
quando também se percebem os mais solidários, mas não efetivam sua
solidariedade a partir de alguns indicadores.
De certa forma podemos dizer que esses moradores estão desamparados a partir
deles mesmos, com redes também pouco tecidas e formadas em grande parte pelos
laços familiares. A partir dessa estruturação de seu capital social é o bairro onde as
pessoas mais têm dificuldades para acessar recursos e buscar ajuda tanto no
coletivo quanto na individualidade de seus componentes, o que também ajuda a
diminuir sua potencia para atuar conjuntamente na resolução dos problemas
coletivos.
De um modo geral este bairro está marcado por duas grandes características: falta
de diversidade e isolamento, que tanto são responsáveis pelo cenário que
analisamos, quanto retro-alimentam um ambiente social pouco propício à elevação
dos seus níveis de capital social, que os faz sentirem-se ao mesmo tempo muito
próximos, mas que não os mobiliza para ação, pelo contrário, mantêm cada um no
170
seu quadrado. Ao mesmo tempo, este é um bairro que está muito próximo dos
demais em termos de confiança social, como já analisamos, mas que também não
se traduz ou não é utilizado para o coletivo e nem mesmo para o individual.
Nossa visão geral sobre o São Rafael ao término desse trabalho não pode ser
comparada com a visão de um deserto árido e estéril na construção dos ambientes
relacionais, mas pelo contrário, o vemos como um campo fértil em oportunidades
que se bem trabalhadas podem gerar resultados de uma forma mais imediata. Não
desdenhamos do sol escaldante do deserto relacional do São Rafael, mas
chamamos a refletir que tendas podem ser erguidas de modo a criar um ambiente
propicio ao relacionamento e à criação de vínculos. Não se trata de um bairro que,
apesar de suas diferenças não percebidas, está em guerra consigo mesmo
desgastando seu já pobre tecido social. Cada um está em seu canto e lá vai
permanecer se oportunidades não forem co-criadas com seus habitantes de modo a
aproveitar seus recursos e principalmente seu tempo e disposição.
Neste ambiente pobre em capital social, os agentes externos que atuaram fizeram
uma diferença muito mais significativa. Este é o caso do Senac São Paulo quando
investiu recursos para neste bairro promover o processo de formação da rede social
e do desenvolvimento local, como alguns dados já expostos deixaram entrever.
Encontramos um Santo Antonio no pólo oposto em termos de capital social. Rico em
diversidade de grupos e organizações e efetivo na freqüência de participações e na
contribuição com esses grupos. As redes de relacionamento são amplas e
diversificadas e podem ser traduzidos em efetivos resultados do capital social em
termos de ações conjuntas e obtenção de recursos, mostrando uma sociedade muito
mais dinâmica e com interesses diversificados. O capital social elevado (na
comparação) não é sufocado diante de muitas desigualdades e conflitos que as
diferenças bem percebidas trazem, mas pelo contrário, também retro-alimentam o
próprio capital social.
A diversidade é uma constante neste bairro e mesmo algumas formas de
relacionamento, a grande religiosidade e as características dos encontros públicos,
danosas para o capital social no São Rafael, neste bairro são aproveitadas em prol
171
do próprio capital social, elevando o nível de desempenho e demandas sobre as
instituições que são compelidas em responder à altura.
Os agentes externos aqui não tem o mesmo impacto que percebemos no São
Rafael. A ação do Senac São Paulo neste bairro, formando a rede social e
promovendo o processo de desenvolvimento local, encontra de saída um forte aliado
estrutural, mas precisa ser muito mais eficiente para lograr resultados.
E encontramos um Gramadinho que se distância do São Rafael, mas que não se
aproxima qualitativamente do Santo Antonio. Tem uma freqüência maior em grupos
e organizações, porém a partir de uma menor diversidade. Com menores níveis de
confiança social tendem a se agrupar entre os iguais para amenizar as diferenças.
Se por um lado não ficam isolados, por outro não praticam uma sociabilidade mais
ampla e inclusiva. Nossa impressão geral é de uma sociedade estagnada e pouco
dinâmica.
Aqui o agente externo que deseja investir no capital social necessita vencer uma
forte barreira inicial e quebrar a inércia dos seus moradores se quiser alcançar
resultados.
Voltando mais especificamente sobre nosso instrumento de pesquisa, percebemos
que muitos de seus dados se relacionam de forma muito direta, mas de um modo
geral ele se assemelha à uma fotografia panorâmica, que nos dá a visão do todo no
que tange ao estado do capital social, e que precisa ser complementado por outros
dados quando se deseja implementar projetos específicos.
Nesse sentido queremos destacar que nossa metodologia e instrumento de
pesquisa permitem àqueles que estiverem interessados em fazer investimentos na
ampliação do capital social, podem aproveitar de forma muito direta algumas
informações de acordo com seus interesses e possibilidades.
Para incrementar uma parte do capital social estrutural, o Estado, neste caso
representado pelo poder público municipal pode ter um papel relevante de uma
forma mais direta. Dois tipos de organizações que impactam nos níveis de
freqüência estão diretamente ligados à municipalidade: escolas e equipamentos de
172
saúde. Nesses dois equipamentos públicos, dependendo da forma como seus
gestores enxergam, a educação e a saúde podem se transformar em propulsores de
maiores níveis de capital social, não somente medidos por uma maior freqüência em
grupos ligados à esses dois tipos de organizações, mas de uma forma sistêmica.
Algumas ações que podem ser feitas por essas organizações públicas dependem de
decisões que são tomadas num nível macro da municipalidade, no entanto outras
podem estar inteiramente ligadas à gestão local desses equipamentos. Por exemplo,
as escolas podem tentar promover atividades que envolvam os pais ou responsáveis
tanto em atividades extra-curriculares como na organização de festas, campeonatos
entre os alunos, incentivando a criação ou dando efetividade às associações de pais
e mestres, etc. Nos equipamentos de saúde, além de cuidar das emergências,
grupos de pessoas ligados à cuidados específicos em saúde podem ser formados. O
impacto no capital social nestes casos não estará apenas nas freqüências em
grupos desse tipo, mas no fato de serem ações que estão propiciando o encontro
entre as pessoas.
Se você passar a participar de um grupo que se reúne periodicamente para
conversar, por exemplo, sobre a obesidade, vai passar a levar para casa não
somente informações sobre o assunto, mas estará ampliando sua rede de
relacionamentos que lhe será útil em outros momentos. Isso terá um impacto
sistêmico em sua vida e quando for ampliando para um grupo maior, o impacto
sistêmico será também amplificado para a comunidade. E o impacto será não
somente pela ampliação da sua rede, mas também pelo fato de lhe tirar do
isolamento e de agir individualmente o que o leva a pensar e agir como se a
obesidade fosse uma questão unicamente sua93.
93 Nosso exemplo foi construído com base no exemplo apresentado por Putnam em Bowling Alone. Neste exemplo o cientista político norte-americano apresenta um hipotético casal que se encontra no dilema entre deixar o filho numa escola pública onde poderá conviver e aprender com a diversidade e as diferenças mas que tem péssimas condições de conservação, educação e gestão ou colocar o filho numa escola particular em condições inversas. Se optarem por deixar o filho na escola pública, junto com isso se contarem com a ajuda de outros pais podem formar uma associação para melhorar a escola e além dos ganhos que podem ter para os objetivos específicos em relação à escola, o casal e os outros membros da suposta associação terão uma rede maior a quem poderão pedir ajuda em outras necessidades.(PUTNAM, Robert D. Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community. New York, 2000, p. 289-290)
173
No que concerne ainda em relação ao poder público, simples espaços da infra-
estrutura urbana podem contribuir de modo sistêmico para incrementar os níveis de
capital social. Numa simples praça com play ground, enquanto as crianças se
divertem, as mães conversam e possivelmente suas redes de relacionamento são
estendidas, e entre uma conversa e outra do trivial cotidiano podem surgir
comentários sobre a segurança, a saúde e a limpeza do bairro. Nenhuma dessas
conversas, necessariamente necessita redundar em uma ação coletiva, mas muitas
podem trazer recursos (neste caso informações) que podem levar a soluções, ao
menos no plano individual, que com mais dificuldades seriam obtidas se as mães e
seus filhos, isoladamente, continuassem exclusivamente dentro de suas casas.
Esses três exemplos estão construídos sob uma hipótese fundamental: a existência
de escolas, equipamentos de saúde e praças com play ground num bairro. A sua
não existência ou a sua existência isolada de outros contextos não aproveita
plenamente seu potencial sistêmico.
Um efeito vivo e demonstrado pelos dados da pesquisa ocorreu justamente no São
Rafael em uma atividade ligada à cultura. Quando a prefeitura de Araçatuba
implantou neste bairro o seu Projeto Culturaça94 conseguiu concorrer com relativa
igualdade com as igrejas na mobilização das pessoas para ações conjuntas.
Este exemplo vindo do São Rafael é muito significativo para justificar nossa
insistência em colocar o capital social como um fenômeno sistêmico. O projeto da
prefeitura de Araçatuba ao mesmo tempo foi causa e efeito do incremento do capital
social no bairro. Foi causa quando mobilizou as pessoas para ações conjuntas e foi
efeito quando pesou fortemente na resolução de implantá-lo no bairro a mobilização
que o Senac São Paulo já havia feito na implantação da rede social e do processo
de desenvolvimento local.
Com essas reflexões, deixamos registrada nossa esperança de que gestores
públicos e pesquisadores incluam o capital social como uma das variáveis de suas
gestões e pesquisas quando definirem suas políticas e projetos.
94 Vide nota de rodapé 73 140 onde explicamos resumidamente o que é este projeto.
174
Os agentes privados podem utilizar essa metodologia de mensuração do capital
social como uma ferramenta para ajudar a definir seus investimentos e ações sociais
e se estiverem interessados em investir no incremento do capital ela será
especialmente útil.
Investir em capital social não requer ações únicas e exclusivas para esse fim, mas
requer considerá-lo como parte importante do processo social. Nesse sentido,
quando falamos que o capital social é o que se passa entre as pessoas, estamos
também dizendo que o capital social está contido (mas não restrito) no meio
ambiente relacional de uma comunidade, ou seja, ele não é construído por decreto,
mas avança ou retrocede também nas relações cotidianas. Assim, o agente privado
que desejar incorporar essa perspectiva, quando, por exemplo, investir em uma
atividade educacional, cultural ou esportiva, junto com os fins que deseja alcançar,
considere também os meios que está utilizando.
Assim, se você quiser fazer uma ação social e acreditar que é importante que jovens
pobres da periferia de uma cidade podem gerar renda aprendendo a utilizar uma
câmera de vídeo, mais do que ensinar as técnicas, propicie um ambiente em sala de
aula em que esses jovens possam interagir e compartilhar suas experiências e
sentimentos. Na parte prática do curso você pode incentivar a produção coletiva de
um vídeo sobre a história da cidade ou do bairro e para isso os jovens terão que sair
às ruas para entrevistar pessoas, coletar depoimentos e conhecer novas pessoas. O
seu objetivo foi alcançado, pois os jovens aprenderam a produzir vídeos e junto com
isso formaram novos relacionamentos, estabeleceram novas conexões e estão
inseridos em novas redes. Neste momento, pare para pensar em quais foram os
ganhos primários e os secundários e quais deles serão mais permanentes na vida
desses jovens.
Lançando um olhar amplo sobre os resultados de nossa pesquisa, um agente
interessado em investir em ações sociais considerando o capital social nos três
bairros, poderia utilizar as seguintes estratégias:
175
No São Rafael: invista em atividades que ajudem as pessoas a ampliar suas redes
e sair do isolamento em que estão. Atividades educacionais ou esportivas
especialmente desenhadas ou adaptadas para esse fim constituem um ótimo
começo. Aproveite o tempo disponível das pessoas. Buscar aliados e parceiros junto
às igrejas e associação de bairro podem fornecer novos elementos para ações de
ampliação da rede.
No Gramadinho: Invista em atividades educacionais que ajudem as pessoas a
gerar renda, não somente a partir da educação, mas também nas questões
produtivas dos grupos que podem ser formados. A renda neste bairro é um
agravante que impacta no uso das ferramentas de comunicação e ajuda a segregar
as pessoas nas suas percepções de classe social. Quando as pessoas se juntam
para produzir doces artesanais, exemplo real do bairro, não estão só produzindo e
gerando renda, estão também formando novas redes e cruzando classes sociais.
No Santo Antonio: Aproveite o capital social que já existe e descobrirá as
oportunidades ao estar presente e articulado com seus atores sociais. Não tente
liderar verticalmente e seja mais um com seus recursos, que certamente serão
aproveitados e amplificados.
Ao colocar as questões dessa forma, longe queremos estar de estabelecer fórmulas
ou receitas prontas, mas queremos colocar o capital social no bojo das
considerações, e ao fazê-lo, trazemos mais um elemento que julgamos importante
na finalização destas considerações.
Metodologias como a que utilizamos não se encerram e não se bastam em si
mesmas, mas podem e devem ser enriquecidas por outros dados e outros tipos de
pesquisas.
Os dados que obtivemos podem alcançar novas dimensões quando cruzados com
dados de outras pesquisas de indicadores sócio-demográficos, tais como
criminalidade e violência, renda, trabalho e consumo, pobreza, assim como
pesquisas sobre expectativas, hábitos e costumes.
176
Finalizando nossa avaliação e considerações, que entendemos muito mais como
processuais do que finais, dois aspectos que merecem destaque:
Entender o histórico dos bairros, sua formação e os contextos nos quais
estão inseridos, pode ajudar a ampliar nossa compreensão sobre o capital
social em contextos sociais específicos e
Para projetos futuros de pesquisas, guardamos expectativas de utilizar essa
metodologia de pesquisa tanto em escala maior quanto em ambientes urbanos
de grandes cidades.
177
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1
Considerações Finais
Empreender pesquisa tendo como tema central o capital social foi tarefa das mais
instigantes do ponto de vista intelectual e mais do que uma atividade necessária
para a conclusão do mestrado acadêmico teve o importante papel de melhor elucidar
para mim mesmo conceitos que já compreendia de modo abstrato, mas que a partir
da pesquisa passei a compreendê-los de modo muito concreto pela vivência que o
campo propicia com sua riqueza de dados e informações.
O capital social é um conceito muito simples de ser definido, mas muito complexo de
ser operacionalizado, pois afinal de contas, na mais simples das definições basta
dizer que o capital social é o que ocorre entre as pessoas. Mas como medir e
operacionalizar o que ocorre entre as pessoas?
Se pudéssemos ter um aparelho que nos permitisse registrar as relações entre as
pessoas, quer estejam elas sejam em uma empresa, comunidade ou região,
certamente veríamos seguimentos de linhas, não necessariamente retas,
assinalando o espaço relacional. Neste imaginário aparelho, se tentássemos medir
as linhas que conectam as pessoas, certamente teríamos quase que infinitas
medidas, variando conforme as pessoas, a cultura local, o histórico do grupo, suas
regras e seus valores, necessidades pessoais, características do espaço geográfico,
ferramentas e tecnologias disponíveis, recursos disponíveis ou desejados, e talvez
mais uma dezena de variáveis que neste momento não nos cabe relacionar, mas
que certamente entrariam nesta “equação”.
No entanto, não temos esse aparelho e talvez nunca venhamos a tê-lo porque
estamos falando das quase infinitas variáveis que entram na “equação” das relações
humanas que dificilmente conseguimos traduzir em números. Esse rol de variáveis
que citamos traduz um pouco das descobertas que fizemos e dos conseqüentes
aprendizados gerados. Na falta do aparelho que possa medir o capital social ou da
equação que possa defini-lo, empreendemos a tarefa de aprimorar os instrumentos a
nosso dispor, aproveitando-nos da experiência de outros e esperando que nossas
2
reflexões possam contribuir de forma humilde com outros trabalhos que serão
empreendidos no futuro.
Com essas questões, colocadas de forma ampla, queremos primeiro trazer à
reflexão que o instrumento de pesquisa que utilizamos cumpriu seu objetivo e
conseguiu diferenciar algumas questões pertinentes ao capital social nos três bairros
que nos serviram de palco para a pesquisa de campo. Quando olhamos para os
resultados dos macro-indicadores de capital social de cada bairro, claramente
conseguimos ver que para o São Rafael captamos uma singularidade que lhe é
própria. Se os números amplos desses mesmos indicadores deixam dúvidas quanto
aos estoques de capital social do Gramadinho e do Santo Antonio, o olhar atento e
para o interior dos dados desses dois bairros nos revela também suas
singularidades.
Encontramos um São Rafael pobre na diversidade de grupos e organizações, onde
as organizações religiosas dominam boa parte do cenário participativo, onde os
respondentes avaliam que seu nível de participação é muito ativo, mas que, no
entanto, não corresponde à uma efetiva freqüência de participação nem à
contribuição que podem dar a esses grupos e organizações.
Trata-se de uma contradição entre a percepção e a efetividade que se repete
quando também se percebem os mais solidários, mas não efetivam sua
solidariedade a partir de alguns indicadores.
De certa forma podemos dizer que esses moradores estão desamparados a partir
deles mesmos, com redes também pouco tecidas e formadas em grande parte pelos
laços familiares. A partir dessa estruturação de seu capital social é o bairro onde as
pessoas mais têm dificuldades para acessar recursos e buscar ajuda tanto no
coletivo quanto na individualidade de seus componentes, o que também ajuda a
diminuir sua potencia para atuar conjuntamente na resolução dos problemas
coletivos.
De um modo geral este bairro está marcado por duas grandes características: falta
de diversidade e isolamento, que tanto são responsáveis pelo cenário que
analisamos, quanto retro-alimentam um ambiente social pouco propício à elevação
3
dos seus níveis de capital social, que os faz sentirem-se ao mesmo tempo muito
próximos, mas que não os mobiliza para ação, pelo contrário, mantêm cada um no
seu quadrado. Ao mesmo tempo, este é um bairro que está muito próximo dos
demais em termos de confiança social, como já analisamos, mas que também não
se traduz ou não é utilizado para o coletivo e nem mesmo para o individual.
Nossa visão geral sobre o São Rafael ao término desse trabalho não pode ser
comparada com a visão de um deserto árido e estéril na construção dos ambientes
relacionais, mas pelo contrário, o vemos como um campo fértil em oportunidades
que se bem trabalhadas podem gerar resultados de uma forma mais imediata. Não
desdenhamos do sol escaldante do deserto relacional do São Rafael, mas
chamamos a refletir que tendas podem ser erguidas de modo a criar um ambiente
propicio ao relacionamento e à criação de vínculos. Não se trata de um bairro que,
apesar de suas diferenças não percebidas, está em guerra consigo mesmo
desgastando seu já pobre tecido social. Cada um está em seu canto e lá vai
permanecer se oportunidades não forem co-criadas com seus habitantes de modo a
aproveitar seus recursos e principalmente seu tempo e disposição.
Neste ambiente pobre em capital social, os agentes externos que atuaram fizeram
uma diferença muito mais significativa. Este é o caso do Senac São Paulo quando
investiu recursos para neste bairro promover o processo de formação da rede social
e do desenvolvimento local, como alguns dados já expostos deixaram entrever.
Encontramos um Santo Antonio no pólo oposto em termos de capital social. Rico em
diversidade de grupos e organizações e efetivo na freqüência de participações e na
contribuição com esses grupos. As redes de relacionamento são amplas e
diversificadas e podem ser traduzidos em efetivos resultados do capital social em
termos de ações conjuntas e obtenção de recursos, mostrando uma sociedade muito
mais dinâmica e com interesses diversificados. O capital social elevado (na
comparação) não é sufocado diante de muitas desigualdades e conflitos que as
diferenças bem percebidas trazem, mas pelo contrário, também retro-alimentam o
próprio capital social.
A diversidade é uma constante neste bairro e mesmo algumas formas de
relacionamento, a grande religiosidade e as características dos encontros públicos,
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danosas para o capital social no São Rafael, neste bairro são aproveitadas em prol
do próprio capital social, elevando o nível de desempenho e demandas sobre as
instituições que são compelidas em responder à altura.
Os agentes externos aqui não tem o mesmo impacto que percebemos no São
Rafael. A ação do Senac São Paulo neste bairro, formando a rede social e
promovendo o processo de desenvolvimento local, encontra de saída um forte aliado
estrutural, mas precisa ser muito mais eficiente para lograr resultados.
E encontramos um Gramadinho que se distância do São Rafael, mas que não se
aproxima qualitativamente do Santo Antonio. Tem uma freqüência maior em grupos
e organizações, porém a partir de uma menor diversidade. Com menores níveis de
confiança social tendem a se agrupar entre os iguais para amenizar as diferenças.
Se por um lado não ficam isolados, por outro não praticam uma sociabilidade mais
ampla e inclusiva. Nossa impressão geral é de uma sociedade estagnada e pouco
dinâmica.
Aqui o agente externo que deseja investir no capital social necessita vencer uma
forte barreira inicial e quebrar a inércia dos seus moradores se quiser alcançar
resultados.
Voltando mais especificamente sobre nosso instrumento de pesquisa, percebemos
que muitos de seus dados se relacionam de forma muito direta, mas de um modo
geral ele se assemelha à uma fotografia panorâmica, que nos dá a visão do todo no
que tange ao estado do capital social, e que precisa ser complementado por outros
dados quando se deseja implementar projetos específicos.
Nesse sentido queremos destacar que nossa metodologia e instrumento de
pesquisa permitem àqueles que estiverem interessados em fazer investimentos na
ampliação do capital social, podem aproveitar de forma muito direta algumas
informações de acordo com seus interesses e possibilidades.
Para incrementar uma parte do capital social estrutural, o Estado, neste caso
representado pelo poder público municipal pode ter um papel relevante de uma
forma mais direta. Dois tipos de organizações que impactam nos níveis de
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freqüência estão diretamente ligados à municipalidade: escolas e equipamentos de
saúde. Nesses dois equipamentos públicos, dependendo da forma como seus
gestores enxergam, a educação e a saúde podem se transformar em propulsores de
maiores níveis de capital social, não somente medidos por uma maior freqüência em
grupos ligados à esses dois tipos de organizações, mas de uma forma sistêmica.
Algumas ações que podem ser feitas por essas organizações públicas dependem de
decisões que são tomadas num nível macro da municipalidade, no entanto outras
podem estar inteiramente ligadas à gestão local desses equipamentos. Por exemplo,
as escolas podem tentar promover atividades que envolvam os pais ou responsáveis
tanto em atividades extra-curriculares como na organização de festas, campeonatos
entre os alunos, incentivando a criação ou dando efetividade às associações de pais
e mestres, etc. Nos equipamentos de saúde, além de cuidar das emergências,
grupos de pessoas ligados à cuidados específicos em saúde podem ser formados. O
impacto no capital social nestes casos não estará apenas nas freqüências em
grupos desse tipo, mas no fato de serem ações que estão propiciando o encontro
entre as pessoas.
Se você passar a participar de um grupo que se reúne periodicamente para
conversar, por exemplo, sobre a obesidade, vai passar a levar para casa não
somente informações sobre o assunto, mas estará ampliando sua rede de
relacionamentos que lhe será útil em outros momentos. Isso terá um impacto
sistêmico em sua vida e quando for ampliando para um grupo maior, o impacto
sistêmico será também amplificado para a comunidade. E o impacto será não
somente pela ampliação da sua rede, mas também pelo fato de lhe tirar do
isolamento e de agir individualmente o que o leva a pensar e agir como se a
obesidade fosse uma questão unicamente sua1.
1 Nosso exemplo foi construído com base no exemplo apresentado por Putnam em Bowling Alone. Neste exemplo o cientista político norte-americano apresenta um hipotético casal que se encontra no dilema entre deixar o filho numa escola pública onde poderá conviver e aprender com a diversidade e as diferenças mas que tem péssimas condições de conservação, educação e gestão ou colocar o filho numa escola particular em condições inversas. Se optarem por deixar o filho na escola pública, junto com isso se contarem com a ajuda de outros pais podem formar uma associação para melhorar a escola e além dos ganhos que podem ter para os objetivos específicos em relação à escola, o casal e os outros membros da suposta associação terão uma rede maior a quem poderão pedir ajuda em outras necessidades.(PUTNAM, Robert D. Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community. New York, 2000, p. 289-290)
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No que concerne ainda em relação ao poder público, simples espaços da infra-
estrutura urbana podem contribuir de modo sistêmico para incrementar os níveis de
capital social. Numa simples praça com play ground, enquanto as crianças se
divertem, as mães conversam e possivelmente suas redes de relacionamento são
estendidas, e entre uma conversa e outra do trivial cotidiano podem surgir
comentários sobre a segurança, a saúde e a limpeza do bairro. Nenhuma dessas
conversas, necessariamente necessita redundar em uma ação coletiva, mas muitas
podem trazer recursos (neste caso informações) que podem levar a soluções, ao
menos no plano individual, que com mais dificuldades seriam obtidas se as mães e
seus filhos, isoladamente, continuassem exclusivamente dentro de suas casas.
Esses três exemplos estão construídos sob uma hipótese fundamental: a existência
de escolas, equipamentos de saúde e praças com play ground num bairro. A sua
não existência ou a sua existência isolada de outros contextos não aproveita
plenamente seu potencial sistêmico.
Um efeito vivo e demonstrado pelos dados da pesquisa ocorreu justamente no São
Rafael em uma atividade ligada à cultura. Quando a prefeitura de Araçatuba
implantou neste bairro o seu Projeto Culturaça2 conseguiu concorrer com relativa
igualdade com as igrejas na mobilização das pessoas para ações conjuntas.
Este exemplo vindo do São Rafael é muito significativo para justificar nossa
insistência em colocar o capital social como um fenômeno sistêmico. O projeto da
prefeitura de Araçatuba ao mesmo tempo foi causa e efeito do incremento do capital
social no bairro. Foi causa quando mobilizou as pessoas para ações conjuntas e foi
efeito quando pesou fortemente na resolução de implantá-lo no bairro a mobilização
que o Senac São Paulo já havia feito na implantação da rede social e do processo
de desenvolvimento local.
2 Vide nota de rodapé 73 140 onde explicamos resumidamente o que é este projeto.
7
Com essas reflexões, deixamos registrada nossa esperança de que gestores
públicos e pesquisadores incluam o capital social como uma das variáveis de suas
gestões e pesquisas quando definirem suas políticas e projetos.
Os agentes privados podem utilizar essa metodologia de mensuração do capital
social como uma ferramenta para ajudar a definir seus investimentos e ações sociais
e se estiverem interessados em investir no incremento do capital ela será
especialmente útil.
Investir em capital social não requer ações únicas e exclusivas para esse fim, mas
requer considerá-lo como parte importante do processo social. Nesse sentido,
quando falamos que o capital social é o que se passa entre as pessoas, estamos
também dizendo que o capital social está contido (mas não restrito) no meio
ambiente relacional de uma comunidade, ou seja, ele não é construído por decreto,
mas avança ou retrocede também nas relações cotidianas. Assim, o agente privado
que desejar incorporar essa perspectiva, quando, por exemplo, investir em uma
atividade educacional, cultural ou esportiva, junto com os fins que deseja alcançar,
considere também os meios que está utilizando.
Assim, se você quiser fazer uma ação social e acreditar que é importante que jovens
pobres da periferia de uma cidade podem gerar renda aprendendo a utilizar uma
câmera de vídeo, mais do que ensinar as técnicas, propicie um ambiente em sala de
aula em que esses jovens possam interagir e compartilhar suas experiências e
sentimentos. Na parte prática do curso você pode incentivar a produção coletiva de
um vídeo sobre a história da cidade ou do bairro e para isso os jovens terão que sair
às ruas para entrevistar pessoas, coletar depoimentos e conhecer novas pessoas. O
seu objetivo foi alcançado, pois os jovens aprenderam a produzir vídeos e junto com
isso formaram novos relacionamentos, estabeleceram novas conexões e estão
inseridos em novas redes. Neste momento, pare para pensar em quais foram os
ganhos primários e os secundários e quais deles serão mais permanentes na vida
desses jovens.
8
Lançando um olhar amplo sobre os resultados de nossa pesquisa, um agente
interessado em investir em ações sociais considerando o capital social nos três
bairros, poderia utilizar as seguintes estratégias:
No São Rafael: invista em atividades que ajudem as pessoas a ampliar suas redes
e sair do isolamento em que estão. Atividades educacionais ou esportivas
especialmente desenhadas ou adaptadas para esse fim constituem um ótimo
começo. Aproveite o tempo disponível das pessoas. Buscar aliados e parceiros junto
às igrejas e associação de bairro podem fornecer novos elementos para ações de
ampliação da rede.
No Gramadinho: Invista em atividades educacionais que ajudem as pessoas a
gerar renda, não somente a partir da educação, mas também nas questões
produtivas dos grupos que podem ser formados. A renda neste bairro é um
agravante que impacta no uso das ferramentas de comunicação e ajuda a segregar
as pessoas nas suas percepções de classe social. Quando as pessoas se juntam
para produzir doces artesanais, exemplo real do bairro, não estão só produzindo e
gerando renda, estão também formando novas redes e cruzando classes sociais.
No Santo Antonio: Aproveite o capital social que já existe e descobrirá as
oportunidades ao estar presente e articulado com seus atores sociais. Não tente
liderar verticalmente e seja mais um com seus recursos, que certamente serão
aproveitados e amplificados.
Ao colocar as questões dessa forma, longe queremos estar de estabelecer fórmulas
ou receitas prontas, mas queremos colocar o capital social no bojo das
considerações, e ao fazê-lo, trazemos mais um elemento que julgamos importante
na finalização destas considerações.
Metodologias como a que utilizamos não se encerram e não se bastam em si
mesmas, mas podem e devem ser enriquecidas por outros dados e outros tipos de
pesquisas.
9
Os dados que obtivemos podem alcançar novas dimensões quando cruzados com
dados de outras pesquisas de indicadores sócio-demográficos, tais como
criminalidade e violência, renda, trabalho e consumo, pobreza, assim como
pesquisas sobre expectativas, hábitos e costumes.
Finalizando nossa avaliação e considerações, que entendemos muito mais como
processuais do que finais, dois aspectos que merecem destaque:
Entender o histórico dos bairros, sua formação e os contextos nos quais
estão inseridos, pode ajudar a ampliar nossa compreensão sobre o capital
social em contextos sociais específicos e
Para projetos futuros de pesquisas, guardamos expectativas de utilizar essa
metodologia de pesquisa tanto em escala maior quanto em ambientes urbanos
de grandes cidades.
10
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13
Anexo I: Questionário de Pesquisa
Caracterização do Respondente Sexo: Idade: Renda Familiar: Filhos
Valor (R$) Quantidade Tempo de residência no local: (registrar o número de meses ou anos em que a pessoa vive no local)
Tempo de Residência
(meses) (anos)
Religião
Religiões Escolha Católica Evangélica Espírita Kardecista Religião dos Orixás Judaica Outras (especificar) Nenhuma
Formação:
Faixas Opção Analfabeto Fundamental Completo Fundamental Incompleto Médio Completo Médio Incompleto Superior Incompleto Superior Completo Pós Graduação
Situação de Residência
Situação de Residência Opção Mora Sozinho Mora com familiares Mora com companheiro(a) Mora com amigos ou colegas Outro
Situação de trabalho
Faixas Horas de trabalho Empregado (com ou sem registro) Temporariamente desempregado Autônomo Trabalho informal Trabalhador(a) em casa Não trabalha Aposentado Atividade Empresarial / Cooperativa
14
1 - Grupos e Redes Pergunta 1: Grupos - Conforme eu for lendo a seguinte lista de grupos, por favor, diga-me se você ou alguém neste domicílio pertence a um desses grupos.
Participação, associação ou afiliação à Organizações e/ou grupos
Sim Não
Membro Ativo3
Nível Participação4
Contribuição.5
Freqüência de Participação6
A. Grupos (formais ou informais), cooperativa de trabalho e produção
B. Associações Comerciais ou de negócios, câmaras de comércio, etc.
C. Associação profissional (médicos, professores, funcionários públicos, etc.)
D. Sindicato (patronal ou de trabalhadores)
E. Associação de moradores ou comissão de moradores do bairro / cidade e conselhos
F. Grupo religioso ou espiritual (ex. igrejas, grupo religioso informal, grupo de estudo religioso)
G. Grupo ou movimento político ou partido político
H. Grupo ou associação cultural (ex. arte,música, teatro,cinema, canto)
I. Grupo educacional (ex. Associação de pais e professores, comitê escolar)
J. Grupo de saúde (auto ajuda ou formado por centros de saúde)
L Grupo esportivo ou recreativo (times de futebol ou outros esportes)
M. Grupos de jovens N Grupos de terceira idade O Organizações de trabalhos sociais (ONGs, associações) ou clubes de serviços (Rotary, Lions, etc.)
P. Outros grupos: Pergunta 2: Das organizações que você ou algum membro de sua família participam citadas anteriormente, qual é o principal beneficio que você percebe nesta participação?
Benefícios Opção 1 Melhora a renda atual do meu domicílio ou o acesso a serviços 2 É importante em situações de emergência no futuro 3 Beneficia a comunidade / coletividade 4 Prazer / Diversão 5 Espiritual, posição social, auto-estima, Status 6 Outros (especifique): 7 Não percebe benefícios
Pergunta 3: Quantas pessoas próximas você diria que tem hoje? Essas pessoas são aquelas com quem se sente à vontade, para conversar a respeito de assuntos particulares, ou chamar quando precisa de ajuda.
Quantidade
3 Códigos e tipos de membros considerados: 1)Respondente; 2)Marido/Esposa 3) Filho, Neto; 4) Pai, Mãe, Sogro; 5)Outros (que morem no domicílio) 4 Códigos e tipos de Nível de Participação: 1) Pouco Ativo 2) Relativamente ativo; 3)Muito Ativo 5 Códigos e Tipo de Contribuição: 1) Dinheiro 2) Bens 3) Nenhum 6 Códigos e Tipo de Contribuição: 1) Dinheiro 2) Bens 3) Nenhum
15
Pergunta 4: Desse total de pessoas próximas, quantos são parentes (esposa, marido, irmão(a), filho(a), mãe, pai, sogro(a),tio(a), primos)
Quantidade Pergunta 5: Se de repente você precisasse de uma pequena quantia em dinheiro [suficiente para pagar uma despesa eventual e de emergência], para quantas pessoas de fora do seu domicílio, você se sentiria a vontade para pedir emprestado?
Quantidade >>>>> Se Nenhuma Vá para pergunta 8 Pergunta 6: Dessas pessoas, quantas você diria que atualmente têm condições de lhe fornecer esse dinheiro?
Quantidade Pergunta 7 – Qual a posição social dessas pessoas em relação à você?
Opções 1 Igual 2 Mais alta 3 Mais baixa
Pergunta 8: Se de repente você precisasse viajar por um ou dois dias, você poderia contar com seus vizinhos para tomarem conta das suas crianças? Utilize uma escala de 1 a 5, onde 1 quer dizer “Com certeza não teria ninguém” e 5 quer dizer “Com certeza teria alguém”
Opção Escolha (1 a 5) 1 Grau de Possibilidade de ajuda
Pergunta 9: Se de repente você se deparasse com uma situação de emergência mais grave, tal como a morte de um dos membros do seu domicílio que contribuem para o sustento da casa, para quantas pessoas de fora do seu domicílio, você se sentiria a vontade para pedir ajuda?
Quantidade 0 >>>>> Vá para Pergunta 11 Pergunta 10: Dessas pessoas, quantas você diria que atualmente tem condições de lhe ajudar?
Quantidade Pergunta 11: Nos últimos 6 meses, quantas pessoas com um problema pessoal lhe pediram ajuda?
Quantidade >>>> Vá para Pergunta 13 Pergunta 12: Qual a posição social dessas pessoas em relação à você?
Opções Opções 1 Igual 2 Mais alta 3 Mais baixa
2 – Confiança e Solidariedade Pergunta 13: Em toda comunidade, algumas pessoas se dão bem e confiam umas nas outras, enquanto outras pessoas não. Agora, eu gostaria de falar a respeito da confiança e da solidariedade na sua comunidade. Quanto você confia em diferentes tipos de pessoas. Numa escala de 1 a 5, onde 1 quer dizer “confio muito pouco” e 5 quer dizer “confio totalmente”, quanto você confia nas pessoas para cada uma das seguintes categorias?
Afirmações Opção (1 a 5) A. Comerciantes B. Prefeitura C. Polícia Militar D. Professores E. Médicos e enfermeiras F. Estranhos G. Políticos Locais (Vereadores, Prefeito) H. Líderes Comunitários I. Políticos em Geral J. Líderes Religiosos (padre, pastor, rabino, pai/mãe de santo)
16
Pergunta 14: Em geral, quanto você concorda com as seguintes afirmações? Faça sua opção utilizando uma escala de 1 a 5, onde 1 quer dizer “discordo totalmente” e 5 quer dizer “concordo totalmente”:
Afirmações Opções (1 a 5) A. Pode-se confiar na maioria das pessoas que moram neste bairro. B. Neste bairro, é preciso estar atento ou alguém pode tirar vantagem de você. C. A maioria das pessoas neste bairro estão dispostas a ajudar caso você precise. D. Neste bairro, as pessoas geralmente não confiam umas nas outras quanto a emprestar e tomar dinheiro emprestado.
Pergunta 15: Hoje em dia, com que freqüência você diria que as pessoas neste bairro ajudam umas às outras? Utilize uma de 1 a 5, onde 1 quer dizer “sempre ajudam” e 5 quer dizer “nunca ajudam”.
Escolha (1 a 5) 1 Grau de percepção de ajuda mútua
3 - Ação Coletiva e Cooperação Pergunta 16: Nos últimos 12 meses, você trabalhou com outros membros no seu bairro em alguma ação conjunta.
Opções Escolha 1 Sim 2 Não >>>> Vá para Pergunta 18
Pergunta 17: Quais foram as três principais atividades nos últimos 12 meses?
Opções 1 Atividade 1 2 Atividade 2 3 Atividade 3
Pergunta 18: Se houvesse um desastre neste bairro (exemplos: enchentes, falta de água ou eletricidade por período prolongado) na sua opinião, a qual a possibilidades das pessoas se unirem para tentar resolver o problema ou minimizar os danos causados? Numa escala de 1 a 5 faça uma escolha, sendo que 1 significa pouco possível e 5 muito possível
Escolha (1 a 5) 1 Grau de Possibilidade de União
Pergunta 19: Suponha que ocorresse uma fatalidade com uma das pessoas em seu bairro, tal como uma doença grave, ou a morte de um parente. Qual a possibilidade de algumas pessoas na comunidade se unirem para ajudar as vítimas?
Escolha (1 a 5) 1 Grau de Possibilidade
4 - Informação e Comunicação Pergunta 20: Quantas vezes por semana você lê jornais? Quantidade Não lê
Pergunta 21: Outras pessoas do seu domicílio lêem jornais7?
Opções Escolha Membro do Domicílio* 1 Sim 2 Não
7 Utilizado os mesmos tipos e códigos para membros de domicílio da pergunta 1
17
Pergunta 22: Você tem acesso à internet? Se Sim em que locais? Locais Sim Não >>>> Se não para todas os locais vá para
Pergunta 25 1 Domicílio 2 Local de trabalho 3 Centros Públicos 4 Lan House 5 Escolas / Universidades 6 ONGs / Associações 7 Outros
Pergunta 23: Se sim, qual a média de horas por dia?
Quantidade Pergunta 24: Quais os dois tipos de usos mais freqüentes na internet?
Opções Escolha 1 Noticias 2 Sites de Relacionamento (Orkut, facebook, youtube) 3 Sites de compras e de banco 4 E-mail 5 Busca de informações e pesquisas(atividades escolares, acadêmicas e assuntos gerais)
6 Conversas on line (Skipe) Pergunta 25: Com que freqüência você ouve o rádio?
Opções Escolha 1 Todos os dias 2 Algumas vezes por semana 3 Uma vez por semana 4 Menos de uma vez por semana 5 Nunca >>>> Vá para pergunta 27
Pergunta 26: Qual o tipo de programa que você mais ouve no rádio?
Opções Escolhas 1 Musicais 2 Jornalísticos 3 Entrevistas 4 Religioso 5 Outros
Pergunta 27: Qual a média de horas por dia que você assiste televisão?
Quantidade >>>>> Se 0 vá para pergunta 29 Pergunta 28: Que programas você mais assiste (assinalar no máximo 2)
Opções Escolha Prioridade 1 Musicais 2 Notícias / Jornalísticos 3 Entrevistas 4 Religiosos 5 Variedades 6 Infantis 7 Documentários 8 Reality Show (Exemplos: Big Brother, A fazenda) 9 Programas de auditório 10 Filmes 11 Novelas
18
Pergunta 29: Questões sobre o telefone Questões Sim / Não
1 Tem telefone fixo no seu domicílio 2 Tem celular
Questão Quantidade
1 Quantas pessoas no seu domicílio tem celular
Questão Sim / Não 1 Existe telefone público próximo do domicilio
Pergunta 30: Quantos telefonemas você faz por dia?
Quantidade Pergunta 31: Quantos telefonemas você recebe por dia? (excluindo ligações comerciais ou de telemarketing)
Quantidade Pergunta 32: Quais são as duas fontes de informação mais importantes a respeito do que a prefeitura está fazendo (tais como medidas econômicas, programas sociais, obras, programas em saúde e educação, etc.)?
Opções Escolha Prioridade 1 Parentes, amigos e vizinhos 2 Jornal da cidade 3 Programas de Rádio 4 Telejornais locais 5 Grupos ou associações 6 Colegas de trabalho ou sócios 7 Líderes comunitários 8 Pessoas do governo 9 ONGs 10 Internet
Pergunta 33: Quais são as duas fontes de informação mais importantes sobre a economia da CIDADE (tais como empregos, preços de produtos e safras, etc.)?
Opções Escolha Prioridade 1 Parentes, amigos e vizinhos 2 Jornal da Cidade 3 Programas de Rádio 4 Telejornais 5 Grupos ou associações 6 Colegas de trabalho ou sócios 7 Líderes comunitários 8 Pessoas do governo 9 ONGs 10 Internet
5 – Coesão e Inclusão Social Pergunta 34: Como você descreveria o grau de proximidade entre as pessoas em seu bairro? Utilize uma escala de 5 pontos, em que 1 quer dizer “muito distantes”e 5 “muito próximas”.
Escolha (1 a 5) 1 Grau de Proximidade
Pergunta 35: Até que ponto você diria que as pessoas são diferentes no seu bairro (diferenças de religião, renda, cultura, idade, religião, etc.). Utilize uma escala de 1 a 5, onde 1 quer dizer “pouco diferentes” e 5 quer dizer “muito diferentes”.
Opções Escolha (1 a 5) 1 Grau de Diferença
19
Pergunta 36: Alguma dessas diferenças causa problemas no relacionamento entre as pessoas do bairro?
Opções 1 Sim 2 Não >>>> Vá para Pergunta 39
Pergunta 37: Quais são as duas diferenças que mais freqüentemente causam problemas?
Opções Escolha / Prioridade 1 Diferenças de educação 2 Diferenças entre proprietários e locatários de imóveis 3 Diferenças de riqueza/posses materiais 4 Diferenças entre homens e mulheres 5 Diferenças entre gerações mais jovens e gerações mais velhas 6 Diferenças entre moradores antigos e moradores novos 7 Diferenças de preferência política ou partidária 8 Diferenças de crenças e práticas religiosas 9 Diferenças de origem étnica (cor, raça, costumes) 10 Diferenças de costumes, práticas e hábitos 11 Outras diferenças
Pergunta 38: Alguma vez esses problemas levaram à violência?
Opções 1 Sim 2 Não
Pergunta 39: Nas duas últimas semanas, quantas vezes você se encontrou com pessoas em um local público para:
Atividades Escolhas Comer (almoçar ou jantar) Beber Jogar Praticar esportes Praticar atividades religiosas Atividades recreativas Somente conversar (qualquer assunto)
Pergunta 40: Nas duas últimas semanas, quantas visitas você recebeu em sua casa?
Quantidade Pergunta 41: Nas duas últimas semanas, quantas vezes você visitou outras pessoas em suas casas?
Quantidade Pergunta 42: As pessoas com quem você se encontrou, ou que você visitou eram, em sua maioria:
Opções Escolha 1. Da mesma família ou parentes 2. Amigos ou conhecidos
Opções Escolha
3. Da mesma religião 4. De religiões diferentes
Opções Escolha
5. Da mesma classe social 6. De classe social diferente
20
Pergunta 43: Quantas vezes, nos últimos 6 meses, você participou de uma atividade social no bairro? (casamento, funeral, enterro, festa religiosa, festa comunitária, etc.)?
Quantidade Pergunta 44: Na sua opinião, esse bairro é geralmente pacífico ou marcado pela violência? Utilize uma escala de 1 a 5, onde 1 quer dizer muito violento e 5 muito pacífico.
Escolha (1 a 5) 1 Grau de Violência
Pergunta 45 - Em geral, como você sente em relação ao crime e à violência quando está sozinho em casa?.Utilize uma escala de 1 a 5, onde 1 quer dizer muito inseguro e 5 muito seguro
Escolha (1 a 5) 1 Grau de percepção de Segurança em Casa
Pergunta 46 - Como você se sente ao andar sozinho(a) na sua rua depois de escurecer? Utilize uma escala de 1 a 5, onde 1 quer dizer muito inseguro e 5 muito seguro
Escolha (1 a 5) 1 Grau de percepção de Segurança em ao andar sozinho
Pergunta 47: Nos últimos 12 meses, você ou alguém do seu domicílio foi vítima de um crime violento, ou seja, atacado(a) ou assaltado(a)?
Opções 1 Sim 2 Não >>>> Vá para Pergunta 49
Pergunta 48: Quantas vezes? Quantidade
Pergunta 49 - Nos últimos 12 meses, a sua casa foi assaltada ou roubada?
Opções 1 Sim 2 Não
6 - Empoderamento e Ação Política Pergunta 50: Em geral, você se considera uma pessoa feliz ou infeliz. Utilize uma escala de 1 a 5, onde 1 quer dizer muito infeliz e 5 muito feliz. Escolha (1 a 5) 1 Grau de percepção de felicidade
Pergunta 51: No geral, qual o impacto que você acha que tem em fazer atividades para melhoria do local em que se vive? Utilize uma escala de 1 a 5, onde 1 quer dizer “tem um grande impacto” e 5 quer dizer “não tem nenhum impacto”. Escolha (1 a 5) 1 Grau de percepção de felicidade
Pergunta 52 Com que intensidade você acompanhou as últimas eleições?
Opções Escolha (1 a 5) 1 Grau de Intensidade
21
Anexo II: Caracterização da Amostra8
O objetivo deste anexo é apresentar os dados gerais da amostra desagregados
pelos três bairros que foram objeto da pesquisa.
Gráfico 1: Percentual de respondentes por bairro
Gráfico 2: Percentual entre respondentes participantes e não participantes da Rede
Social
8 Todos os gráficos, tabelas e figuras neste deste Anexo e do Anexo III são de nossa produção e
responsabilidade (assim não apresentamos a fonte ao final de cada um).
,0
10,0
20,0
30,0
40,0
Sao Rafael Gramadinho Sto Antonio
30,6
40,0
29,4
Per
cen
tual
0
10
20
30
40
50
60
70
Sao Rafael Gramadinho Sto Antonio
5044
64
5056
36
Per
cen
tual
Rede Vizinhos
22
Gráfico 3: Média e mediana da renda domiciliar
Gráfico 4: Percentual dos respondentes por gênero
Gráfico 5: Percentual9 por faixa de idade
9 Valores arredondados para melhor visualização
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
1.718
1.092
2.225
1.500
900
1.900
Rea
is
Média Mediana
0
10
20
30
40
50
60
70
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
6559
48
3541
52
Percentual
Mulheres Homens
0
5
10
15
20
25
30
35
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
23
15
0
12
18
12
8
2724
1921
32
19
9
20
8 9
0
12
0
12
Percentual
Até 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 anos e acima
23
Gráfico 6: Percentual por religião
Gráfico 7: Média de tempo em anos de residência no bairro
Tabela 1: Percentual por nível de educação formal
0
20
40
60
80
100
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
8165 60
1524
160
9 84 316
Per
cen
tual
Católicos Evangélicos
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
8,10
17,8915,16
An
os
Nível de Educação FormalSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Analfabeto 3,85 - 4,00
Fundamental Incompleto 30,77 26,47 16,00
Fundamental Completo 3,85 20,59 8,00
Médio Incompleto 11,54 5,88 4,00
Médio Completo 42,31 41,18 40,00
Superior Incompleto 7,69 2,94 4,00
Superior Completo - 2,94 4,00
Pós-Graduação - - 4,00
24
Gráfico 8: Média do nível de educacional a partir da conversão em pontos10
Gráfico 9: Percentual por faixa de horas de trabalho
Tabela 2: Percentual por situação de trabalho
10 Os critérios para essa conversão estão na Tabela 21 neste mesmo anexo
3,403,603,804,004,204,404,60
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
3,81 3,82
4,56
Méd
ia
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
38,46
29,4124,00
0,00
11,76
4,00
23,08
14,71 16,00
38,4644,12
56,00
Per
cen
tual
Faixa 1 (0 horas) Faixa 2 (até 19 horas)Faixa 3 (20 a 39 horas) Faixa 4 (40 horas e mais)
Situação de TrabalhoSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Empregado 40,74 32,35 45,17
Desempregado 14,81 41,18 25,81
Trabalho doméstico 14,81 5,88 -
Não trabalha 3,70 5,88 3,23
Somente aposentado 22,22 2,94 12,90
Empresário / Cooperativado 3,70 5,88 12,90
25
Gráfico 10: Percentual por situação domiciliar
Gráfico 11: Percentual11 por tipo de família
Gráfico 12: Média de filhos nos domicílios
11 Valores arredondados para melhor visualização
0% 20% 40% 60% 80% 100%
São Rafael
Gramadinho
Santo Antonio
4
12
7
96
85
91
0
3
2
Percentual
Mora Sozinho Mora com Familia Outros
0
10
20
30
40
50
60
70
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
24
912
44
6764
12 128
20
1216
Per
cen
tual
Casal sem Filhos no Domicílio
Casal e Filhos no Domicílio
Pai ou Mãe com Filhos no Dmicílio
Outros
2,30
2,40
2,50
2,60
2,70
2,80
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
2,72
2,582,48
Méd
ia
26
Anexo III: Método de Cálculo das Medidas e Indicadores12
O objetivo deste anexo é esclarecer nossos procedimentos para cálculo de todas as
medidas que resultaram da pesquisa de campo. Na primeira parte apresentamos e
esclarecemos como foi construído o índice exploratório de capital social e na
seqüência apresentamos os resultados de todas as medidas utilizando gráficos e
tabelas. Na parte final incluímos uma sessão com tabelas referentes à algumas
medidas originadas na pesquisa, tabelas informativas sobre conversão de valores e
duas tabelas com as siglas dos estados dos Estados Unidos e Itália.
Para facilitar o entendimento e a busca quanto ao método utilizado em cada medida,
seguiremos o mesmo formato adotado no Capítulo 4 onde procedemos a análise
comparativa do capital social.
1. Índice Exploratório de Capital Social
Este índice foi construído visando facilitar a análise de dados e poder gerar uma
visão ampla dos resultados que obtidos, assim como servir de ponto de apoio a
partir do qual foi feita a análise de todas as dimensões do capital social.
Todos os dados que compõe o índice foram retirados do questionário de pesquisa e
sua estrutura geral e divisão segue a mesma ordem do questionário e apenas 13%
das perguntas não estão diretamente vinculadas às seções correspondentes da
análise. Em alguns casos, algumas perguntas forneceram alguns dados para uma
determinada dimensão e outros dados para outras dimensões
12 Todos os gráficos e tabelas neste anexo são de nossa produção e responsabilidade (assim não
apresentamos a fonte ao final de cada uma).
27
Figura 1: Arquitetura do índice exploratório de capital social
A estrutura geral do índice seguiu a arquitetura resumida na Figura 3000, e
aproveitamos essa imagem para explicar os componentes do índice destacados com
números em círculos na citada imagem:
1. A medida é a menor unidade de mensuração que utilizamos e corresponde às
perguntas do questionário de pesquisa. No total foram 51 perguntas com potencial
de gerar 168 respostas de cada participante da pesquisa. O cálculo das medidas
sofreu variação conforme a sua natureza, resultados e relevância na análise. Cada
bairro analisado recebeu uma pontuação condizente com sua posição em cada
medida, resultando, portanto numa pontuação simples, o que inclusive determinou
em parte classificar o índice como “exploratório”. Assim, o bairro posicionado no
primeiro lugar na medida recebeu 3 pontos, o que ficou em segundo lugar recebeu 2
pontos e para o terceiro colocado foi atribuído 1 ponto.
2. O indicador é um conjunto de medidas ou de partes de medidas com significado
específico dentro de cada dimensão. No total produzimos 20 indicadores,
numerados em ordem seqüencial. O valor de cada indicador é a somatória dos
pontos obtidos nas medidas que o compõem.
3. O componente é um conjunto de indicadores conceitualmente interligados. No
total definimos 9 componentes numerados seqüencialmente dentro de cada
dimensão. A classificação dos bairros em cada componente seguiu o mesmo critério
já informado.
4. Macro Indicador é um conjunto de componentes com seus indicadores e está
diretamente relacionado à cada dimensão, sendo a maior unidade de mensuração
que utilizamos. A definição dos nomes dos macro indicadores esta relacionada tanto
Grupo: Dimensão:
Macro Indicador:
Componente 1:
Indicador 1:
Medida 1
Medida 2
2
3
4
56
1
28
com a dimensão quanto com o conjunto de indicadores. A pontuação de cada bairro
nos macro indicadores também é uma somatória dos pontos de cada componente e
respectivos indicadores.
5. Dimensão segue a conceituação teórica do Grupo Temático sobre Capital Social
do Banco Mundial.
6. Grupo é a seqüência numérica da dimensão e do macro indicador.
2. Metodologia de Determinação das Medidas
O objetivo desta seção é informar sobre os valores de cada uma das medidas que
foram utilizadas dentro dos indicadores. Para melhor acompanhamento e localização
da informação, antes de cada macro indicador apresento uma tabela com o total de
pontos considerados para o ranking dos bairros. Nessas tabelas, na coluna
“referência”, está indicado a tabela ou gráfico que pode ser consultado em relação à
cada medida.
As medidas das dimensões grupos e redes, confiança e solidariedade, ação coletiva
e cooperação e coesão e inclusão social compuseram o índice exploratório de
capital social. Nessas dimensões as medidas que aparecem sem valores não
impactaram quantitativamente no índice e as apresentamos pois servem de
referência à análise que fizemos no Capitulo 4. As medidas das outras duas
dimensões – canais de informação e comunicação e empoderamento e ação política
– não impactaram o índice e foram utilizadas para complemento das análises.
29
2.1 - Medidas da Vida Organizacional da Comunidade
Tabela 3: Componentes, indicadores e medidas do macro indicador medidas da vida
organizacional da comunidade
Grupo: 1 Dimensão: Grupos e RedesSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Referência
Macro Indicador: Medidas da vida organizacional da comunidade 20 38 39
Componente 1: Organizações e grupos 10 18 21
Indicador 1: Participação em organizações e grupos institucionais 6 9 10
Diversidade de grupos e organizações Institucionais 1 3 3 Tabela 4
Nível de participação grupos institucionais 3 2 1 Tabela 5
Freqüência grupos institucionais 1 2 3 Tabela 6
Contribuição Bens e Dinheiro Grupos Institucionais 1 2 3 Tabela 7
Indicador 2: Participação em organizações e grupos institucionais 4 9 11
Diversidade de Grupos e organizações não Institucionais 1 2 3 Tabela 4
Nível de Participação Grupos não Institucionais 1 2 3 Tabela 5
Freqüência Grupos não Institucionais 1 3 2 Tabela 6
Contribuição Bens e Dinheiro Grupos não Institucionais 1 2 3 Tabela 7
Componente 2: Extensão das Redes 10 20 18
Indicador 3: Redes de acesso à recursos 3 6 9
Pessoas Próximas 1 2 3 Gráf ico 13
Percentual de Laços Fortes e Fracos - - - Gráf ico 14
Quantidade de pessoas para pedir dinheiro emprestado 1 2 3 Gráf ico 15
Percentual de Pessoas que Podem Emprestar Dinheiro - - - Gráf ico 16
Quantidade de pessoas para pedir ajuda em emergências 1 2 3 Gráf ico 17
Percentual de Pessoas que Podem Ajudar em emergências - - - Gráf ico 18
Indicador 4: Contatos Virtuais 1 2 3
Telefonemas 1 2 3 Gráf ico 19
Indicador 5: Contatos Presenciais 6 12 6
Atividades Sociais 1 3 2 Gráf ico 20
Encontros Públicos 2 3 1 Gráf ico 21
Informações Prefeitura e Economia - Pessoas 2 3 1 Gráf ico 22
Quantidade de Visitas 1 3 2 Gráf ico 23
Pontes e Ligações Sociais – Família - - - Gráf ico 24a
Pontes e Ligações Sociais – Religião - - - Gráf ico 24b
Pontes e Ligações Sociais – Classe Social - - - Gráf ico 24c
30
Tabela 4: Diversidade e percentual de participações em grupos e organizações
institucionais e não institucionais
Tabela 5: Coeficiente do nível de participação em grupos e organizações
institucionais e não institucionais
Grupos e OrganizaçõesSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Associações Comerciais - - -
Associações Profissionais - 1,89 -
Sindicatos 2,70 1,89 1,64
Religiosos 51,35 43,40 24,59
Políticos - 1,89 4,92
Educacionais - 3,77 6,56
Conselhos de Políticas Públicas - - 4,92
Grupos de Produção - - 1,64
Associação de Moradores 27,03 13,21 22,95
Grupos Culturais - 5,66 9,84
Grupos de Saúde 2,70 - 3,28
Grupos Esportivos ou Recreativos 8,11 18,87 11,48
Grupos de Jovens 8,11 3,77 -
Grupos de Terceira Idade - - 3,28
Organizações Não Governamentais - - 4,92
Coeficiente Total – Não Institucionais 0,51 0,75 0,85
Grupos e OrganizaçõesSão
RafaelGramadinho Santo
Antonio
Associações Comerciais - - -
Associações Profissionais - 0,02 -
Sindicatos 0,01 0,01 0,02
Religiosos 0,57 0,46 0,30
Políticos - 0,02 0,06
Educacionais 0,04 0,04 0,08
Conselhos de Políticas Públicas - - 0,06
Coeficiente Total – Institucionais 0,60 0,56 0,52
Grupos de Produção - 0,09 0,03
Associação de Moradores 0,10 0,14 0,26
Grupos Culturais - 0,09 0,18
Grupos de Saúde 0,03 - 0,06
Grupos Esportivos ou Recreativos 0,06 0,25 0,15
Grupos de Jovens 0,09 0,03 -
Grupos de Terceira Idade - - 0,05
Organizações Não Governamentais - - 0,06
Coeficiente Total – Não Institucionais 0,51 0,75 0,85
Coeficiente Total 1,11 1,31 1,37
31
Tabela 6: Coeficiente da freqüência de participação em grupos e organizações
institucionais e não institucionais
Tabela 7: Coeficiente da contribuição com bens ou dinheiro para grupos e
organizações institucionais e não institucionais
Grupos e OrganizaçõesSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Associações Comerciais - - -
Associações Profissionais - 0,12 -
Sindicatos 0,01 0,02 0,01
Religiosos 8,32 11,44 14,40
Políticos - 0,01 1,56
Educacionais - 0,15 0,32
Conselhos de Políticas Públicas - - 0,36
Coeficiente Total – Institucionais 8,33 11,74 16,65
Grupos de Produção - 6,24 1,44
Associação de Moradores 2,40 1,92 1,68
Grupos Culturais - 1,08 2,28
Grupos de Saúde 0,24 - 1,08
Grupos Esportivos ou Recreativos 1,56 9,36 3,64
Grupos de Jovens 4,68 0,07 0,00
Grupos de Terceira Idade - - 1,56
Organizações Não Governamentais - - 0,36
Coeficiente Total – Não Institucionais 8,88 18,67 12,04
Coeficiente Total 17,21 30,41 28,69
Grupos e OrganizaçõesSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Associações Comerciais - - -
Associações Profissionais - 1,00 -
Sindicatos 1,00 1,00 1,00
Religiosos 7,00 9,00 9,00
Políticos - - 3,00
Educacionais - 2,00 3,00
Conselhos de Políticas Públicas - - -
Coeficiente Total – Institucionais 8,00 13,00 16,00
Grupos de Produção - 2,00 2,00
Associação de Moradores - 3,00 5,00
Grupos Culturais - 1,00 3,00
Grupos de Saúde 1,00 - 2,00
Grupos Esportivos ou Recreativos 1,00 3,00 5,00
Grupos de Jovens 1,00 1,00 -
Grupos de Terceira Idade - - 1,00
Organizações Não Governamentais - - 2,00
Coeficiente Total – Não Institucionais 3,00 10,00 20,00
Coeficiente Total 11,00 23,00 20,00
32
Gráfico 13: Quantidade de pessoas próximas
Gráfico 14: Comparativo de pessoas próximas formadas por laços fracos e laços
fortes
Gráfico 15: Mediana de pessoas para pedir dinheiro emprestado
0
100
200
300
400
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
133
361
278
Qu
anti
ade
de
Pes
soas
0
20
40
60
80
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
51,13 56,7964,39
48,87 43,2135,61
Per
cen
tual
Laços Fracos Laços Fortes
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
1,50
2,002,50
Med
ian
a
33
Gráfico 16: Percentual de pessoas que podem emprestar dinheiro
Gráfico 17: Mediana de pessoas para pedir ajuda em emergências
Gráfico 18: Percentual de pessoas que podem ajudar em emergências
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
74,5191,95 81,82
Per
cen
tual
0,000,501,001,502,002,503,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
1,00
2,00
3,00
Med
ian
a
0,0020,0040,0060,0080,00
100,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
89,19 82,4272,26
Per
cen
tual
34
Gráfico 19: Mediana do total de telefonemas feitos e recebidos
Gráfico 20: Mediana de atividades sociais
Gráfico 21: Coeficiente de encontros públicos
0,002,004,006,008,00
10,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
6,508,00
10,00M
edia
na
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
1,19
4,48
1,96
Med
ian
a
0,000,200,400,600,801,001,20
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
0,91
1,19
0,25
Co
efic
ien
te
35
Gráfico 22: Percentual comparativo de pessoas e canais de informação e
comunicação como fontes de informações sobre a prefeitura e economia
Gráfico 23: Coeficiente do total de visitas feitas e recebidas
Gráfico 24a: Comparativo do percentual de visitas na mesma família ou parentes e
entre amigos e conhecidos
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
24,51
35,71
20,99
75,4964,29
79,01
Per
cen
tual
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
1,30
2,041,75
Co
efic
ien
te
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
33,33
60,71
37,50
66,67
39,29
62,50
Per
den
tual
Família e Parentes Amigos e Conhecidos
36
Gráfico 24b: Comparativo do percentual de visitas entre pessoas da mesma religião
e religiões diferentes
Gráfico 24c: Comparativo do percentual de visitas entre pessoas da mesma classe
social e de classes sociais diferentes
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
52,17 55,1750,0047,83
44,8350,00
Per
cen
tual
Mesma Religião Religiões Diferentes
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
79,1789,66
66,67
26,3210,34
33,33
Per
cen
tual
Mesma Classe Social Classes Sociais Diferentes
37
2.2 - Medidas de Confiança Social
Tabela 8: Detalhamento dos índices no macro indicador medidas da confiança social
Gráfico 25: Média de confiança e desconfiança individual
Tabela 9: Médias de confiança institucional
Grupo: 2 Dimensão: Confiança e SolidariedadeSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Referência
Macro Indicador: Medidas de Confiança Social 14 13 15
Componente 1: Confiança 7 5 6
Indicador 6: Confiança Individual 4 4 4
Grau de Confiança Individual 3 1 2 Gráfico 25
Grau de Desconfiança Individual 1 3 2 Gráfico 25
Indicador 7: Confiança Institucional 3 1 2
Confiança em Instituições 3 1 2 Tabela 9
Componente 2: Solidariedade 7 8 9
Indicador 8: Solidariedade 7 8 9
Cuidado com Crianças 1 3 2 Gráfico 26
Ajuda Mútua 2 1 3 Gráfico 27
Pedidos de Ajuda 1 2 3 Gráfico 28
Percepção de disposição de ajuda 3 2 1 Gráfico 29
0
1
2
3
4
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
2,882,29
2,72
3,65 3,42 3,48
Méd
ia
Confiança Desconfiança
Categorias Profissionais / InstituiçõesSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Professores 4,08 3,54 3,56
Médicos e Enfermeiras 3,35 3,67 3,80
Líderes Religiosos 3,81 2,91 2,72
Líderes Comunitários 3,15 2,30 3,32
Comerciantes 3,23 2,58 2,16
Polícia Militar 3,00 2,29 2,52
Prefeitura 2.50 2,17 2,08
Políticos em Geral 1,88 1,50 1,72
Políticos Locais 1,50 1,55 2,04
Média Geral do Bairro 2,94 2,52 2,66
38
Gráfico 26: Média de obtenção de cuidados com crianças em viagem
Gráfico 27: Média de percepção de ajuda mútua
Gráfico 28: Mediana de pessoas que pediram ajuda
0,001,002,003,004,005,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
3,00
4,52 4,09
Méd
ia
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
1,00
3,00
4,50
Med
ian
a
3,303,353,403,453,503,553,60
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
3,46
3,39
3,56
Méd
ia
39
Gráfico 29: Média da percepção em disposição em ajudar
2.3 - Medidas de Participação Coletiva
Tabela 10: Medidas de participação coletiva
Gráfico 30: Percentual de pessoas que participaram de ações conjuntas
01234
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
3,42 3,00 2,60M
édia
Grupo: 3 Dimensão: Ação Coletiva e CooperaçãoSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Referência
Macro Indicador: Medidas de Participação Coletiva 6 9 9
Componente 1: Ação Coletiva 3 3 6
Indicador 9: Participação 3 3 6
Participações em ações conjuntas 2 1 3 Gráfico 30
Interesse eleitoral 1 2 3 Gráfico 31
Componente 2: Cooperação 3 6 3
Indicador 10: Cooperação em Emergências 3 6 3
União de pessoas em desastres 2 3 1 Gráfico 32
União de Pessoas em fatalidades 1 3 2 Gráfico 33
0,00
20,00
40,00
60,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
38,46 38,24
52,00
Per
cen
tual
40
Gráfico 31: Interesse eleitoral
Gráfico 32: Média da possibilidade de união de pessoas em desastres
Gráfico 33: Média da Possibilidade de União de Pessoas em Fatalidades
0,001,002,003,004,005,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
1,852,65
4,04
Méd
ia
3,203,403,603,804,004,204,40
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
4,00
4,24
3,60
Méd
ia
3,20
3,40
3,60
3,80
4,00
4,20
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
3,54
4,09
3,60
Méd
ia
41
2.4 - Medidas de Coesão e Inclusão Social
Tabela 11: Medidas de coesão e inclusão social
Gráfico 34: Média de percepção de proximidade
Gráfico 35: Média de percepção de diferenças
Grupo: 4 Dimensão: Coesão e Inclusão SocialSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Referência
Macro Indicador: Medidas de Coesão e Inclusão Social 8 13 9
Componente 1: Coesão e Inclusão 4 5 3
Indicador 11: Proximidade 1 3 2
Grau de Proximidade 1 3 2 Gráfico 34
Grau de Diferença - - - Gráfico 35
Indicador 12: Diferenças 3 2 1
Percentual de problemas por diferença 3 2 1 Gráfico 36
Tipo de diferenças que geram problemas de relacionamento - - - Tabela 12
Violência a partir dos problemas de relacionamento por diferenças - - - Gráfico 37
Componente 2: Segurança 4 8 6
Indicador 13: Percepção de segurança 4 8 6
Sentimento de segurança 2 3 1 Gráfico 38
Percepção de violência 1 2 3 Gráfico 39
Vítima de violência 1 3 2 Gráfico 40
Quantidade de pessoas com casa assaltada - - - Gráfico 41
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
2,46
3,502,88
Méd
ia
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
2,382,94
3,38
Méd
ia
42
Gráfico 36: Percentual de problemas de relacionamento por diferença
Gráfico 37: Percentual de violência a partir de problemas de relacionamento por
diferenças
Tabela 12: Percentual de tipos de diferenças que geram problemas de
relacionamento
0,0010,0020,0030,0040,0050,0060,0070,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
30,77 30,30
62,50
Méd
ia
0,0010,0020,0030,0040,0050,0060,0070,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
20,0029,41
66,67
Per
cen
tual
Tipos de DiferençasSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Educação - 11,11 21,05
Proprietários e locatários de imóveis 14,29 - -
Riqueza - 16,67 15,79
Gênero - 22,22 -
Geração 7,14 5,56 10,53
Tempo de residência - - -
Política - 5,56 10,53
Religião 35,71 11,11 21,05
Etnia 7,14 - 10,53
Costumes 28,57 27,78 10,53
43
Gráfico 38: Média geral de sentimento de segurança nas casas e nas ruas
Gráfico 39: Média percepção de violência
Gráfico 40: Percentual de pessoas vítimas de violência
3,003,103,203,303,403,50
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
3,19
3,433,36
Méd
ia
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
4,46 4,25
3,16
Méd
ia
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
15,38
2,94
12,00
Méd
ia
44
Gráfico 41: Quantidade de pessoas que tiveram a casa assaltada
2.5 - Acesso à Canais de Informação e Comunicação
Tabela 13: Medidas de acesso à canais de informação e comunicação
0
1
2
3
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
0 0
3
Méd
ia
Grupo: 5 Dimensão: Canais de Informação e ComunicaçãoSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Referência
Macro Indicador: Canais de Informação e Comunicação 28 23 33
Componente 1: Acesso à Canais de Informação e Comunicação 28 23 33
Indicador 14: Rádio 3 4 5
Audiência de rádio (percentual) 1 3 2 Gráfico 42
Audiência de rádio (informação e entretenimento em pontos) - - - Gráfico 43
Audiência de rádio para informação 2 1 3 Gráfico 44
Audiência de rádio para entretenimento - - - Gráfico 44
Indicador 15: Televisão 4 4 4
Audiência de televisão 2 3 1 Gráfico 45
Audiência de televisão para informação 2 1 3 Gráfico 46
Audiência de televisão para entretenimento - - - Gráfico 46
Indicador 16: Jornal 7 4 7
Leitura de jornais 2 1 3 Gráfico 47
Quantidade de leitura de jornais 2 1 3 Gráfico 48
Outras pessoas no domicílio que lêem jornais 3 2 1 Gráfico 49
Média de leitura de jornaisIndicador 17: Telefone 9 7 8
Posse de celular 3 2 1 Gráfico 50
Posse de telefone fixo 1 3 2 Gráfico 50
Quantidade de celulares no domicílio 3 1 2 Gráfico 50
Existência de telefone público 2 1 3 Gráfico 51
Indicador 18: Internet 3 3 6
Acesso à internet 1 2 3 Gráfico 52
Média de acesso à internet 2 1 3 Gráfico 53
Locais de acesso à internet - - - Gráfico 53
Prioridades de acesso na internet - - - Tabela 14
Indicador 19: Fontes de informação 2 1 3
Quantidade de canais como fonte de informação 2 1 3 Gráfico 22
45
Gráfico 42: Percentual de audiência de rádio
Gráfico 43: Pontos de audiência de rádio para informação e entretenimento
(conversão de freqüência para pontos de audiência)
Gráfico 44: Percentual de audiência de rádio para informação ou entretenimento
(conversão de freqüência para pontos de audiência)
19,23
7,69
11,54
34,62
26,92
20,59
8,82
2,94
26,47
41,18
20,00
8,00
12,00
16,00
44,00
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00
Percentual
Gramadinho
São Rafael
Santo Antonio
Todos os dias
Algumas vezespor semana
Uma vez por semana
Menos de uma vez por semana
Nunca
0,0020,0040,0060,0080,00
100,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
74,0089,00 82,00
Po
nto
s
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
24,3211,24
31,71
75,6888,76
68,29
Per
cen
tual
Informação Entretenimento
46
Gráfico 45: Média de audiência de televisão
Gráfico 46: Média de audiência de televisão para informação e entretenimento
Gráfico 47: Percentual de leitura de jornais
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
2,883,23
2,32
Méd
ia
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
2,89 2,872,30
2,953,39
2,25
Méd
ia
Informação Entretenimento
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
46,0039,00
54,00
Per
cen
tual
47
Gráfico 48: Média de leitura de jornais
Gráfico 49: Percentual de outras pessoas no domicílio que fazem leitura de jornal
Gráfico 50: Percentual de posse de telefone fixo e celular e média de celulares por
domicílio
3,33
2,00
4,92
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
Méd
ia
34,0036,0038,0040,0042,0044,0046,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
46,00
43,00
39,00
Per
cen
tual
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
57,70
25,80
64,00
100,0090,90 88,00
Per
cen
tual 3,00
2,90
2,70
3,30
3,50
2,50
Mé
dia3,20
2,77
3,16
CelularTelefone Fixo Média Celular
48
Gráfico 51: Percentual de existência de telefone público próximo ao domicílio dos
respondentes
Gráfico 52: Percentual de acesso à internet
Gráfico 53: Média de horas e de quantidade de locais de acesso à internet
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
81,00 68,0088,00
Per
cen
tual
020406080
100
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
58,0067,00
76,00
Per
cen
tual
2,69
2,36
2,71
1,93
1,461,68
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
Per
cen
tual
49
Tabela 14: Percentual das prioridades de acesso na internet
2.6 - Medidas de Empoderamento e Ação Política
Tabela 15: Medidas de empoderamento
Gráfico 54: Média de sentimento de felicidade
Prioridades de Acesso na InternetSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Notícias 37,50 20,00 30,30
Sites de relacionamento 20,83 14,29 12,12
Compras - 8,57 3,03
E-mail 16,67 20,00 24,24
Pesquisas 20,83 31,43 21,21
Conversas on line - 5,71 3,03
Outros 4,17 - 6,06
Grupo: 6 Dimensão: Empoderamento e Ação PolíticaSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Referência
Macro Indicador: Medidas de Empoderamento 6 3 3
Componente 1: Satisfação Pessoal 6 3 3
Indicador 11: Satisfação Pessoal 6 3 3
Felicidade 3 1 2 Gráfico 54
Impacto em atuar pela comunidade 3 2 1 Gráfico 55
Satisfação pessoal (felicidade e impacto em atuar pela comunidade) - - - Gráfico 56
4,20
4,25
4,30
4,35
4,40
4,45
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
4,42
4,294,32
Méd
ia
50
Gráfico 55: Média de percepção do impacto em atuar pela comunidade
Gráfico 56: Média de satisfação pessoal
3 - Outras Medidas e Referências
Tabela 16: Outras medidas e referências
3,803,853,903,954,004,054,104,154,20
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
4,19
4,06
3,96
Méd
ia
7,607,808,008,208,408,608,80
São Rafael Gramadinho Santo Antonio
8,62
8,24
7,96
Méd
ia
Outras Medidas e Referências Referência
Membros dos domicílios que participam de grupos e organizações Tabela 17
Benefícios em participar de grupos e organizações Tabela 18
Percentual de ações conjuntas nas categorias Tabela 19
Critérios para classificação de ações conjuntas em categorias (descritores) Tabela 20
Tabela de conversão de freqüência de audiência rádio em pontos para ranking Tabela 21
Tabela de conversão de nível educacional em pontos Tabela 22
51
Tabela 17: Percentual de membros mais ativos do domicílio participantes de grupos
e organizações
Tabela 18: Percentual de benefícios percebidos pela participação em grupos e
organizações
Tabela 19: Percentual de ações conjuntas em categorias
Membro do DomicílioSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Respondente 67,57 60,38 86,67
Marido / Esposa 10,81 13,21 11,67
Filho / Neto 8,11 20.75 1,67
Pai / Mãe 10,81 1,89 0,00
Outros 2,70 3,77 0,00
BenefíciosSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Espiritual / Auto-estima 66,67 52,00 32,26
Beneficia a comunidade 22,22 16,00 46,77
Prazer / Diversão 8,33 16,00 19,35
Facilita acesso à serviços - 8,00 -
Melhora a renda do domicílio - 4,00 -
Emergência no futuro - 2,00 -
Posição social / Status - - 1,61
Não percebe benefícios 2,78 - -
Outros - 2,00 -
Categorias de Ações ConjuntasSão
RafaelGramadinho
Santo Antonio
Campanhas 8,33 16,67 15,00
Cultura popular 41,67 5,56 20,00
Esportes e lazer 4,17 16,67 5,00
Organização comunitária 33,33 27,78 25,00
Produção e geração de renda 4,17 5,56 10,00
Religiosas 4,17 27,78 25,00
52
Tabela 20: Descritores utilizados na definição das categorias de ações conjuntas
Tabela 21: Tabela de conversão de freqüência de audiência de rádio em pontos
para ranking
Tabela 22: Tabela de conversão de nível educacional em pontos para ranking
Categoria Descritores
CampanhasArborização / Arrecadação agasalhos /Bazar para deficientes / Campanha contra febre amarela /Doação / Mobilização contra dengue / Plantio de árvores
Cultura popular Culturaça / Escola de samba / Festa junina / Formatura / Organização eventos / Quermesse
Educação Contador de histórias / Educação / Ensinar Costurar / Levar grupo a palestras / Voluntaria na escola
Esportes e lazer Campeonato / Campeonato futebol / Grupo Capoeira / Grupo de vôlei / Pintura da rua para futebol
Organização Comunitária
Ajuda Associação Moradores / Almoço Associação Moradores / Campanha para Eleição na Associação Moradores / Comissão na Prefeitura / Comissão para conversar com prefeito / Desenvolvimento Local / Encontro com prefeito / Falar sobre Bairro / Lançamento Plano Desenvolvimento Local / Mapa Verde / Mapeamento do bairro / Preparo de eventos na escola / Reivindicações / Visita Prefeito melhoria bairro
Produção e geração de renda
Artesanato / Brechó / Geração de renda (banana chips) / Grupo Culinária
ReligiosasAjuda espiritual / Arrecadação de fundos para igreja / Auxilio em festas da igreja / Construção da igreja / Pastoral do idoso / Reforma local adoração / Retiro espiritual
Sem classificaçãoComercio e serviços / Construção civil / Mestre de obra / Necessidade do Grupo / Viagem para borda da mata – MG
Tabela de Conversão Pontos
Nunca ouve rádio 0
Menos de uma vez por semana 1
Uma vez por semana 2
Algumas vezes por semana 3
Todos os dias 4
Nível Educacional Pontos
Analfabeto 1
Fundamental Incompleto 2
Fundamental Completo 3
Médio Incompleto 4
Médio Completo 5
Superior Incompleto 6
Superior Completo 7
Pós-Graduação 8
53
Tabela 23: Sigla dos distritos italianos
Sigla Distrito
AB Abruzos
BA Basilicata
CI Calábria
CM Campânia
EM Emília Romagna
FR Friuza Veneza-Giulia
LA Lácio
LI Ligúria
LO Lombardia
MA Marche
MO Molise
PI Piemonte
PU Púglia
SA Sardenha
SI Sicilia
TO Toscana
TR TrentinoAlto-Adige
UM Umbria
VA Vale D’Aosta
VE Venécia