PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e...

108
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP MARGARETE BORSI JARUSSI ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: SENTIMENTOS REVELADOS POR PROFESSORES DO PRIMEIRO ANO MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO SÃO PAULO 2013

Transcript of PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e...

Page 1: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

MARGARETE BORSI JARUSSI

ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: SENTIMENTOS REVELADOS POR

PROFESSORES DO PRIMEIRO ANO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

SÃO PAULO

2013

Page 2: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

2

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

MARGARETE BORSI JARUSSI

ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: SENTIMENTOS REVELADOS POR

PROFESSORES DO PRIMEIRO ANO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, como exigência parcial para obtenção

do título de Mestre em Educação: Psicologia

da Educação, sob orientação da Prof.ª Dr.ª

Laurinda Ramalho de Almeida.

SÃO PAULO

2013

Page 3: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

3

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof.ª Dr.ª Laurinda Ramalho de Almeida

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

________________________________________

Prof.ª Dr.ª Mitsuko Aparecida Makino Antunes

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

________________________________________

Prof.ª Dr.ª Eliane Bambini Gorgueira Bruno

Instituto de Artes UNESP

Page 4: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

4

DEDICATÓRIA

Para Renine, meu marido e companheiro de todas as horas.

Para minhas amadas filhas, Emily e Amanda.

Page 5: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

5

O AMOR

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse

amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o

dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que

tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse

amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento

dos pobres, e ainda que entregasse meu corpo par ser queimado, e não tivesse

amor, nada disso me aproveitaria.

I Coríntios 13-p. 1080

Page 6: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

6

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo seu amor, sua força e por estar comigo nesta caminhada.

À Professora Doutora Laurinda Ramalho de Almeida, minha querida orientadora,

pela sua paciência, atenção e carinho.

À Professora Doutora Mitsuko Aparecida Makiko Antunes, minha estimada

professora, obrigada pelas aulas maravilhosas e por todas as observações e considerações no

Exame de Qualificação.

À Professora Doutora Eliane Bambini Gorgueira Bruno, pelo carinho e pelas

contribuições no Exame de Qualificação.

À Professora Doutora Vera Maria Nigro de Souza Placco, pelo carinho, atenção,

respeito e pelo sorriso dispensado a todos os alunos do programa de Pós-Graduação.

À Professora Doutora Maria Regina Maluf, pelas aulas enriquecedoras e pelo carinho

que sempre teve comigo.

À Professora Doutora Abigail Alvarenga Mahoney, pelo carinho nos momentos em

que nos encontramos nas aulas da professora Laurinda.

Aos queridos amigos do Mestrado, obrigada pela amizade e por compartilharmos

esta caminhada.

Aos professores do curso de Psicologia da Educação da PUC-SP, que me

enriqueceram com suas aulas.

À Diretora que abriu as portas da escola para que eu pudesse realizar minha pesquisa.

Às professoras que participaram das entrevistas.

Aos meus queridos pais, que sempre me apoiaram e me ensinaram o devido valor dos

estudos na minha vida.

Ao meu querido marido e companheiro, que não me deixou desistir e esteve sempre

do meu lado me apoiando e me confortando nos momentos mais difíceis.

À minha querida e amada filha Emily, meu anjo da guarda, meu tesouro que sempre

me ajudou sem pedir nada em troca. Obrigada pelo seu carinho e dedicação.

À minha querida e amada filha Amanda, meu presente, nossa alegria, obrigada pelos

abraços e beijos nas horas de angústia.

À amiga Andrea Jamil Paiva Mollica, pela amizade e por estar sempre disposta a me

ajudar.

Page 7: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

7

À amiga e companheira de todas as horas Nelma Pedroso Sanches Silveira, obrigada

pelo carinho.

Ao Edson Aguiar, pela atenção, respeito e carinho dispensado aos alunos do

Programa de Pós-Graduação da PUC-SP.

À Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo, obrigada por subsidiar

meus estudos.

Page 8: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

8

JARUSSI-BORSI MARGARETE. Ensino Fundamental de Nove Anos: sentimentos revelados por

professores do primeiro ano. Dissertação (Mestrado em Educação: Psicologia da Educação). Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013.

RESUMO

A partir das legislações 11.114/05 e 11.274/06 o Ensino Fundamental passou a ter duração de

nove anos, e o ingresso de crianças no 1º ano com seis anos de idade. Mudanças educacionais

têm implicações diretas no cotidiano escolar, sobretudo na atuação do professor do 1º ano. A

presente pesquisa teve como objeto de estudo identificar e compreender sentimentos e

emoções de professores que lecionam para os alunos do 1º ano do Ensino Fundamental de

nove anos. Priorizou-se a dimensão afetiva, e o referencial teórico escolhido foi a teoria de

desenvolvimento de Henri Wallon. A pesquisa foi realizada em uma escola pública da rede

estadual de ensino da Grande São Paulo. O caminho metodológico percorrido foi de cunho

qualitativo, e para a produção de informações foram realizadas entrevistas individuais com

duas professoras que lecionam para o 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos e que

atuaram como professoras da 1ª série do Ensino Fundamental de oito anos. A partir das

entrevistas foram elaborados quadros e sínteses para auxiliarem na discussão dos dados. Para

a caracterização das professoras foi utilizado questionário informativo. Os resultados

evidenciaram que as professoras se sentem inseguras no que se refere à sua prática

pedagógica e aos conteúdos do 1º ano e apontaram pouco conhecimento sobre os documentos

oficiais referentes ao ensino de nove anos. Os dados revelaram a necessidade de uma

formação continuada que leve em consideração os aspectos afetivo, cognitivo e motor do

professor, ampliando o canal de comunicação e privilegiando a escuta e o diálogo.

Palavras-chave: Ensino Fundamental de nove anos; sentimentos; professores; Wallon.

Page 9: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

9

ABSTRACT

Since educational laws 11.11405 and 11.274 elementary education has now a nine year length

and the admission of first year students at the age of six, respectively. Educational chances

have direct implications on school routine, especially on first year teacher interaction. The

present research aim to indentify and comprise first year teacher feelings and emotions in the

nine year elementary education. Prioritizing affective dimensions, the theoretical reference

adopted is Henri Wallon´s theory of development. The research was made at a state school in

the São Paulo metropolitan region. The methodological approach is qualitative and, in order

to produce data, two first year teachers of the new length elementary education that also

taught in the first year of eight year elementary education were interviewed. Whereof

interviews, charts and synthesis were elaborated to assist the data discussion. For teachers

characterization, a informative questionnaire was set. The results shown teachers feel insecure

when it comes to pedagogical practice and first year content, pointing little knowledge on nine

year elementary education official documents. Data revealed a further training necessity that

engenders teachers affective, cognitive and motor aspects, increasing communication

channels, privileging listening and dialogue.

Key-words: Nine-Year Elementart Education; teachers; Wallon

Page 10: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

10

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Distribuição de dissertações e teses de acordo com o ano de publicação.......

Quadro 2- Sentimentos e situações indutoras das professoras a respeito da

implantação do Ensino Fundamental de nove anos...........................................................

Quadro 3- Sentimentos e situações indutoras das professoras a respeito das crianças

que recebem no 1º ano.......................................................................................................

Quadro 4- Sentimentos e situações indutoras das professoras ao iniciarem o trabalho

com o 1º ano.......................................................................................................................

Quadro 5- A importância do grupo..................................................................................

21

61

67

71

75

Page 11: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

11

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................

1 MINHA TRAJETÓRIA...............................................................................................

1.1 A Construção do Projeto de Pesquisa e sua Relevância.........................................

2 REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................

3- ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: ANTECEDENTES LEGAIS

ATÉ A SUA AMPLIAÇÃO............................................................................................

4 REFERENCIAL TEÓRICO: Henri Wallon............................................................

4.1 A escolha da teoria de Wallon, vida, obras e sua relação com a educação............

4.2 O conceito de integração.........................................................................................

4.3 Os conjuntos funcionais..........................................................................................

4.3.1 O conjunto afetivo...........................................................................................

4.3.2 O conjunto cognitivo.......................................................................................

4.3.3 O conjunto motor.............................................................................................

4.3.4 O quarto conjunto, a pessoa............................................................................

4.4 Estágio impulsivo-emocional..................................................................................

4.5 Estágio sensório-motor e projetivo.........................................................................

4.6 Estágio do personalismo.........................................................................................

4.7 Estágio categorial....................................................................................................

4.8 Estágio da puberdade e adolescência......................................................................

4.9 Os meios e os grupos..............................................................................................

5 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO.................................................................

5.1 A escolha da instituição e das participantes............................................................

5.1.1 A Instituição.......................................................................................................

5.2 A fase das entrevistas..............................................................................................

5.2.1 A entrevista com a professora Márcia...............................................................

5.2.2 Conhecendo um pouco a professora Márcia......................................................

5.2.3 A entrevista com a professora Marina...............................................................

13

13

18

20

27

35

35

37

38

39

40

41

42

43

43

43

44

45

45

48

49

49

50

51

52

52

Page 12: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

12

5.2.4 Conhecendo a professora Marina......................................................................

6 PROCEDIMENTOS PARA A ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES........................

7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES.................................................

7.1 Sentimentos das professoras a respeito da implantação do Ensino Fundamental

de nove anos.......................................................................................................................

7.2 Sentimentos das professoras a respeito das crianças que recebem no 1º ano.........

7.3 Sentimentos das professoras ao iniciarem o trabalho com o 1º ano........................

7.4 A importância do grupo..........................................................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................

REFERÊNCIAS...............................................................................................................

APÊNDICE A- ROTEIRO PARA AS ENTREVISTAS..............................................

APÊNDICE B- QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DAS

PARTICIPANTES DA PESQUISA..............................................................................

APÊNDICE C-TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.......

APÊNDICE D- DADOS DE CARACTERIZAÇÃO DA 1ª PROFESSORA.............

APÊNDICE E- DADOS DE CARACTERIZAÇÃO DA 2ª PROFESSORA.............

APÊNDICE F- DEPOIMENTO DAS ENTREVISTADAS........................................

53

54

56

56

62

67

71

76

79

89

90

91

92

93

94

Page 13: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

13

INTRODUÇÃO

Estar vivo é estar em conflito permanente,

produzindo dúvidas, certezas sempre questionáveis.

Estar vivo é assumir a educação do sonho cotidiano.

Para permanecer vivo, educando a paixão, desejos de

vida e de morte, é preciso educar o medo e a coragem.

Medo e coragem de ousar.

Medo e coragem em assumir a solidão de ser diferente.

Medo e coragem em construir o novo.

(Madalena Freire)

1 MINHA TRAJETÓRIA

Nasci na cidade de Caieiras, no ano de 1967. Lembro-me de que passei boa parte da

minha infância brincando e sonhando em ser professora. Naquela época, eu achava que para

ser professora precisava ter um dom inato. Só mais tarde pude compreender que a profissão

de professor vai se constituindo ao longo da sua trajetória pessoal e profissional: “[...] ser

professor não é um ato natural. Não há dom para o exercício dessa profissão e sim um

processo de constituição ao longo do percurso de vida do indivíduo” (PELLISSON, 2006, p.

282).

No Ensino Fundamental, estudei em uma escola pública próxima à minha residência;

era uma criança esperta e muito falante. Alguns professores foram muito significativos para

mim, outros nem tanto cujos nomes não consigo lembrar. Dona Teresinha, a professora da 1ª

série, era muito enérgica, mas amorosa conosco e se preocupava com a nossa aprendizagem;

sentava-se ao lado das crianças que tinham dificuldade. Muito religiosa, dava-nos aula de

ensino religioso uma vez por semana; é claro que não ensinava uma religião, mas, sobretudo,

a fraternidade, a solidariedade, o respeito e amor ao próximo.

Outra professora que também marcou muito a minha vida foi a professora Maria

Antônia, de Língua Portuguesa da quinta até a oitava série. Lembro-me de que era exigente e

autoritária. Sua metodologia era tradicional; tínhamos que ficar quietos e copiar os exercícios

da lousa. Eu era uma criança que gostava muito de conversar, mas nas aulas da professora

Maria Antônia, eu era obrigada a ficar quieta porque senão o castigo era certo.

Page 14: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

14

No ano de 1982, fui cursar o Magistério na Escola Estadual Brigadeiro Gavião

Peixoto, e lembro-me da professora de Geografia; sua metodologia era diferente e não usava

livros didáticos; fazia esquemas, desenho sobre relevo, utilizava a lousa e outros materiais,

como retroprojetor e mapas, para nos ensinar. Eu achava sua maneira de lecionar diferente do

que tinha visto até então. Aprendi Geografia com a professora Vericy de um jeito mais

significativo, e seu olhar era cativante. De acordo com Pellisson (2006), através do olhar o

professor pode cativar ou controlar os alunos. A professora de Metodologia da Matemática

pediu para organizarmos um caderno com problemas, pois assim já teríamos algum conteúdo

para trabalhar com os alunos quando nos formássemos. Quando estava no Magistério, achei

aquilo o máximo, mas depois, percebi que o caderninho continha apenas problemas que

estavam totalmente desvinculados do contexto de aprendizagem, e acabei nunca usando. Rosa

era a professora de Didática, enérgica como a professora Teresinha e exigente como a

professora Maria Antônia; suas avaliações eram difíceis e gostava de deixar os alunos de

recuperação. Tivemos que preparar uma pasta com desenhos mimeografados das datas

comemorativas; passei semanas pintando aqueles desenhos, e assim como o caderninho de

problemas, nunca usei aquele material.

Em janeiro de 1985, prestei vestibular para Pedagogia; papai me acompanhou nos

dias de prova e, em fevereiro, iniciei o curso na Faculdade Padre Anchieta, na cidade de

Jundiaí. Eu tinha apenas 17 anos e lembro-me de que meus pais ficaram muito felizes. Papai

dava muita importância aos estudos e fazia questão de que eu e meus irmãos tivéssemos um

curso superior. Nesse mesmo ano, tive dupla jornada de estudos, pois estava cursando o

último ano do Magistério no período da manhã, e à noite, o primeiro ano da faculdade. Foi um

ano bastante difícil, passava as tardes estudando porque eu tinha que tirar boas notas na

faculdade e no Magistério. Escolhi o curso de Pedagogia porque acreditava que poderia me

oferecer mais subsídios teóricos, complementar a minha formação, e também sonhava que um

dia poderia ser diretora de escola.

Formei-me professora no final do ano de 1985, e no ano seguinte, comecei a

trabalhar como eventual na Escola Estadual Isaías Luiz Matiazzo e também na Escola

Estadual Albino Fiori, em Caieiras. No meio do ano, perdi minhas aulas e fui trabalhar em

uma instituição particular com alunos do Maternal, que eu amava; eles eram tão pequeninos e

tão dependentes até para amarrar os sapatinhos; foi uma experiência encantadora, mas

infelizmente ganhava pouco, e no final do ano, resolvi deixar a escola.

Page 15: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

15

Em 1987, ingressei na Prefeitura Municipal de Caieiras lecionando para a Educação

Infantil. Trabalhei dois anos com alunos dessa faixa etária, e logo saí da Prefeitura e me

dediquei exclusivamente à Rede Estadual de Educação.

Nos anos de 1987 a 1991, lecionei na Escola Estadual Walther Weiszflog. Essa

escola ficava próxima da minha residência e o grupo de professores era bem diversificado

porque a escola atendia desde o Ciclo I1 até o Ensino Médio. Nessa diversidade, convivi com

profissionais que pensavam de forma diferente daquilo em que eu acreditava até então,

respeitar a criança em suas peculiaridades levando em conta sua faixa etária e os saberes que

trazia do seu meio. Vivi momentos de angústia profissional, porque alguns colegas de

profissão não concordavam com a minha forma de ver o aluno e até me criticavam.

Em 1993, efetivei-me como professora da Rede Estadual de Ensino numa escola

pequena e exclusiva do Ensino Fundamental Ciclo I. A escola está localizada num bairro

distante do centro da cidade de Caieiras e próxima a chácaras. Lecionei apenas um ano e

trabalhei com alunos do ciclo básico2. Foi uma experiência gratificante; os alunos eram

amorosos, respeitavam os professores e a comunidade participava das atividades que eram

desenvolvidas. Quando chegou o final do ano, pedi remoção para uma escola mais próxima da

minha casa e fui trabalhar na Escola Estadual Otto Weiszflog. O grupo de professores era

unido e trabalhávamos juntos, discutíamos as dificuldades dos alunos, a gestão da sala de

aula, sobretudo, como tornar o processo de ensino e aprendizagem mais prazeroso. Naquela

época, não havia horário de trabalho pedagógico, mas o diretor se preocupava com as ações

pedagógicas e sempre encontrava uma forma de que o grupo de professores tivesse a

oportunidade de se reunir e discutir as dificuldades encontradas na sala de aula.

Foi nessa escola que tive a oportunidade de realizar o sonho de trabalhar na parte

administrativa; a diretora tirou Licença Prêmio e passei a substituí-la durante seis meses.

Infelizmente, fiquei nessa U.E.3 apenas três anos, porque, em 1999, houve uma

reestruturação da rede estadual e todos os professores PEB I4 tiveram que ser removidos para

outras escolas que seriam exclusivas de Ciclo I. Foi uma mudança difícil; eu não me adaptava

à nova escola, os professores tinham muitos anos de magistério, não respeitavam os alunos

em todos os seus aspectos: cognitivo, afetivo e motor; achavam que as crianças eram

simplesmente depósitos de conteúdos, e eles, detentores do saber. Passaram-se três anos

1 Ensino que atende aos anos iniciais do Ensino Fundamental.

2 Primeira e segunda séries do Ensino Fundamental.

3 Unidade Escolar.

4 Professores que lecionam para os anos iniciais do Ensino Fundamental.

Page 16: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

16

quando fui convidada a ser vice-diretora na Escola Estadual Mario Meneguini, onde

permaneci por oito anos.

Quando iniciei, fui muito bem recebida pelos professores, funcionários, pela

coordenadora e também pela diretora da escola. Essa função me trouxe um pouco de

frustração no sentido de que o vice-diretor é designado pelo diretor e está subordinado a ele

sem muito poder de transformação. Mesmo assim, eu procurava acompanhar, além das

atividades administrativas, as atividades pedagógicas, acompanhando o HTPC5 e participando

de alguns cursos oferecidos pela Secretaria Estadual de Educação, como o Letra e Vida.

O curso Letra e Vida6 era um programa de formação continuada, destinado aos

professores que trabalhavam com a leitura e escrita e aos que lecionavam para o PIC7.

Exercendo a função de vice-diretora, não podia frequentá-lo e tive que esperar muito tempo

até me concederem uma vaga. Esse curso me trouxe mais subsídios e competência no que se

refere à didática da alfabetização e à metodologia de ensino, ajudando-me a discutir com os

professores o planejamento das atividades e a avaliar o processo de aprendizagem dos nossos

alunos.

Depois de muitos anos longe dos bancos escolares, retomei meus estudos e fui fazer

um curso de Supervisão Escolar na Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) no

segundo semestre de 2002. Gostei tanto de ter voltado a estudar que acabei fazendo Pós-

graduação Lato Sensu - Especialização em Psicopedagogia nas “Faculdades Oswaldo Cruz”,

em 2003. Esse curso foi muito importante para mim, porque tive a oportunidade e o prazer de

ser aluna da professora Sandra na disciplina Desenvolvimento e Aprendizagem: Bases

Cognitivas. Essa professora foi muito especial e realmente fez a diferença na minha vida

profissional e também na pessoal; ela tinha um olhar diferente para seus alunos. Nós já

éramos adultos, mas mesmo assim, estava preocupada com nossa aprendizagem e acreditava

em nosso potencial. A professora Sandra acreditou em minhas capacidades e habilidades, fez-

me sentir diferente, afetando-me de forma agradável.

Para Pellisson:

5 Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo, destinado à formação continuada do professor.

6Hoje, o curso é oferecido também a outros profissionais da educação que pretendem aprofundar seus

conhecimentos sobre o ensino da leitura e da escrita (informação retirada do site oficial da CENP disponível em:

<http://cenp.edunet.sp.gov.br/index.htm)>. 7 Projeto Intensivo no Ciclo. Projeto desenvolvido pelo Programa Ler e Escrever da Secretaria da Educação do

Estado de São Paulo, para alunos das 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental anos iniciais. Esse projeto conta com

um currículo adaptado para ajudar os alunos com defasagem de aprendizagem.

Page 17: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

17

[...] Ser professor e ensinar com propriedade é uma das tarefas, mas antes de

qualquer coisa o professor precisa estabelecer laços que garantam uma

convivência harmoniosa com o aluno (2006, p.284).

Lembro-me dela com muito carinho, era um prazer participar das suas aulas; sobre

isso Almeida (2008, p.15) nos diz “[...] ele, professor, precisa estabelecer uma mediação

confortável entre os alunos e o conhecimento, uma relação professor-aluno prazerosa e

participativa.” Sandra era organizada, colocava a agenda das atividades que seriam

desenvolvidas no dia. Ah! como era muito bom ser aluna da professora Sandra! “Os mestres

que me marcaram foram os que ensinaram o prazer de aprender” (ALMEIDA, 2010, p.67).

No final de 2009, a escola em que eu trabalhava foi municipalizada, e no ano

seguinte, fui trabalhar na Diretoria de Ensino de Caieiras, na Oficina Pedagógica, como

Professora Coordenadora da Oficina Pedagógica do Ciclo I. Foi uma experiência profissional

muito rica porque participei de muitos encontros e cursos de formação. Fiquei responsável

pela formação de Professores Coordenadores do Ciclo I na área da Matemática, e pela minha

trajetória é possível perceber que eu não tive formação nessa disciplina. Comecei, então, a

fazer o curso de Didática da Matemática, na CENP8, e também a ser formadora de professores

nessa área.

Em 2011, fiquei responsável pela Jornada da Matemática na Diretoria de Ensino, e a

equipe de alunos pela qual eu era responsável foi vice-campeã estadual. Isso foi uma grande

vitória profissional e tive a felicidade de poder estar próxima dessas crianças nesse momento

tão importante de suas vidas.

As crianças ficaram muito felizes por terem conquistado esse título. A escola está

localizada numa área bastante carente em um bairro afastado da Cidade de Francisco Morato.

Fiquei muito orgulhosa daquelas crianças e tenho certeza de que a conquista desse prêmio fez

a diferença na vida delas. Foram dias de trabalho e muita dedicação dos alunos e dos pais,

mas valeu a pena.

No segundo semestre de 2011, passei no processo seletivo para o mestrado e

ingressei na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no Programa de Estudos Pós-

Graduados em Educação: Psicologia da Educação. Mais um sonho se realizando nesta

trajetória de vida pessoal e profissional. Papai, mais uma vez, ficou muito orgulhoso.

8 Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Foi criada em 1987 com o objetivo de desenvolver ações

voltadas à melhoria da qualidade da educação pública e à participação no aprimoramento da política social.

Maiores informações no site oficial disponível em:<http://www.cenpec.org.br/>

Page 18: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

18

1.1 A Construção do Projeto de Pesquisa e sua Relevância

Aquele que sabe ler nas emoções tem o livro do homem

aberto ante seus olhos.

Vladimir Jorge Wukmir

Ao iniciar meu mestrado no final do segundo semestre de 2011 e pensar na

elaboração de uma dissertação para obtenção do título de mestre, lembrei-me das escolas do

Ensino Fundamental anos iniciais que visitei enquanto fui Professora Coordenadora da

Oficina Pedagógica da Diretoria de Ensino Região de Caieiras. Quando estive nessa função,

além das visitas às escolas, participava do HTPC direcionando as ações pedagógicas do

professor coordenador e também acompanhava as aulas de professores das séries iniciais do

Ensino Fundamental. Nesse contato com os educadores, em especial os do 1º ano, notei certo

desconforto e insegurança no que tange ao planejamento das atividades e à criança de seis

anos. Não sabiam se deveriam transferir os conteúdos da antiga 1ª série para o atual 1º ano ou

trabalhar os conteúdos da Educação Infantil.

A partir daí, muitas questões emergiram em mim: o que estava acontecendo com

esses professores? Por que se sentiam desconfortáveis? O que havia por trás desse

desconforto? Como foi organizada a escola para receber essa criança? Como esses professores

foram preparados para receber o aluno do 1º ano? Que conhecimentos têm sobre os

documentos publicados pelo Ministério da Educação e Cultura? Qual o conhecimento que têm

a respeito do ensino de nove anos? Conhecer esses sentimentos não nos ajudaria a reconhecer

quais são suas reais necessidades?

Cumpre esclarecer que este estudo não se propõe a responder a todas as indagações;

entretanto, foi a partir delas que chegamos à delimitação central da nossa pesquisa.

Diante do exposto, decidimos ouvir e dar voz a esse professor do 1º ano, permitindo-

lhe explicitar os sentimentos que eclodiram com a nova configuração do Ensino Fundamental.

Aguiar (2006) aponta a necessidade de pesquisas que desvelem o modo de sentir,

pensar e agir dos professores:

[...] apontamos a necessidade de produção de um conhecimento/pesquisa que

desvele, aprofunde o movimento complexo e contraditório de constituição

dos sentidos subjetivos do professor, um conhecimento que avance na

apreensão das formas de pensar, sentir e agir dos professores, para que, de

Page 19: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

19

posse desse conhecimento, criemos formas de intervenção que contribuam

para a formação desses profissionais. (p. 11)

Desse modo, pudemos constatar que na literatura, poucos trabalhos abordam o

professor e suas emoções. As pesquisas que tratam do Ensino Fundamental de nove anos

centram na implantação, legislação, na criança de seis anos e questões didáticas e

pedagógicas.

Dar voz ao professor e ouvir seus sentimentos implica considerar suas necessidades

enquanto profissional; apreender esses sentimentos pode contribuir para uma formação

continuada e um trabalho coletivo entrelaçado com as questões que permeiam a escola de

nove anos.

Segundo Goodson (1992), a voz do professor deve ser ouvida e ouvida em voz alta.

Finalmente, o problema desta pesquisa ficou proposto: identificar e compreender os

sentimentos dos professores do primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos. Por

priorizarmos a questão afetiva, escolhemos como suporte teórico a teoria de desenvolvimento

de Henri Wallon, que tem como ponto principal a integração organismo-meio e a integração

dos conjuntos funcionais denominados cognitivo, afetivo e motor, tendo uma visão completa

do indivíduo. A teoria walloniana valoriza a dimensão afetiva e pode nos ajudar a refletir

sobre como os professores têm sido afetados pelas mudanças impostas pela Lei 11.274/2006.

Page 20: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

20

2 REVISÃO DE LITERATURA

Com este capítulo, pretendemos discutir aspectos já estudados por outros autores em

relação ao Ensino Fundamental de nove anos, lembrando-nos da afirmação de Gamboa:

Um bom escritor antes de elaborar suas novelas lê muitas outras, encanta-se,

deleita-se e as aprecia com cuidado. De igual maneira, um pesquisador, antes

de elaborar seu projeto, deve ler outras pesquisas, para identificar seus

principais elementos, recuperar seus métodos e estratégias, descobrir suas

rotas ocultas, revelar seus pressupostos e estruturas básicas. Lê e relê outras

pesquisas para compreender os resultados e avaliar suas limitações e

implicações. (2007, p.60)

Paulo Freire (2011, p.33) pontua que “a curiosidade é como a inquietação

indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como a pergunta verbalizada ou não,

como procura de esclarecimento”. E é diante dessa inquietação e indagação que buscamos ler,

reler e refletir sobre o que outros autores escreveram a respeito do tema proposto nesta

pesquisa.

Para nossa revisão de literatura, além dos documentos publicados pelo MEC9,

buscamos artigos em periódicos científicos e produções publicadas nos meios acadêmicos no

período de 2007 a 2011. Escolhemos o ano de 2007, porque a implantação do Ensino

Fundamental de nove anos se deu a partir a Lei 11.274, publicada em 06 de fevereiro de 2006.

Nossa expectativa era de que as produções encontradas pudessem colaborar com a

nossa pesquisa levantando questionamentos e/ou respondendo a algumas dúvidas.

O Ministério da Educação e Cultura publicou alguns documentos no intuito de

orientar gestores e professores no que se refere a questões administrativas, fundamentação

legal, organização do trabalho pedagógico e formação para o professor que atua com crianças

de seis anos de idade. Dentre essas publicações, está o documento Ensino Fundamental de

Nove Anos: Orientações Gerais, publicado em 2004.

Outro documento, publicado em 2007 e intitulado Ensino Fundamental de Nove

Anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade, é composto por nove

9 Ministério da Educação e Cultura. Foi criado em 1930 com o nome de Ministério da Educação e Saúde Pública

e desenvolvia atividades pertinentes a vários ministérios como saúde, esporte, educação e meio ambiente. Os

assuntos ligados à educação eram tratados pelo Departamento Nacional do Ensino, ligado ao Ministério da

Justiça. Somente em 1995, a instituição passou a ser responsável unicamente pela área da educação.

(Informações retiradas do site oficial do MEC, disponível em: <http://portal.mec.gov.br>.

Page 21: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

21

textos; em linhas gerais, tem como foco o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças de

seis anos de idade, apresentando orientações para subsidiar o trabalho pedagógico a partir de

reflexões sobre alguns aspectos importantes para essa faixa etária.

Buscamos também algumas produções e fizemos um levantamento sobre a temática

no Banco de Teses da Capes com as palavras-chave: Ensino Fundamental de Nove Anos.

Algumas produções foram descartadas por não trazerem discussões sobre o foco da nossa

pesquisa.

Encontramos um total de 32 produções distribuídas entre teses e dissertações.

Organizamos um quadro para ilustrar como estão divididas.

Quadro 1. Distribuição de dissertações e tese de acordo com o ano de publicação

ANO DISSERTAÇÕES TESES

2007 1 0

2008 4 0

2009 7 1

2010 6 1

2011 9 3

Fonte: Banco de Teses Capes - último acesso em 3/07/2012

Descreveremos abaixo os trabalhos encontrados e registrados no quadro.

Capuchinho (2007), Araújo (2008) e Sturion (2010) buscaram em estudos distintos

os significados e sentidos dados pelos professores sobre o Ensino Fundamental de nove anos.

O estudo de Capuchinho foi realizado em um município da Grande São Paulo. Seus

resultados demonstraram que os sentidos e significados produzidos pelos professores acerca

do Ensino Fundamental de nove anos norteiam a sua prática pedagógica. O estudo de Araújo

foi realizado em duas escolas da Rede Municipal de Juiz de Fora. Sua pesquisa constatou a

falta de conhecimento dos documentos oficiais para orientar o trabalho dos professores com

as crianças de seis anos, a falta de apoio pedagógico às professoras, e concluiu ainda que os

sentidos construídos para a inclusão da criança de seis anos no Ensino Fundamental de nove

anos partiram do que o professor imagina a respeito do trabalho pedagógico que é

desenvolvido na Educação Infantil.

A pesquisa de Sturion foi realizada em um município do interior do Estado de São

Paulo e seus resultados mostraram diferentes concepções dos entrevistados a respeito da

alfabetização, letramento, do espaço físico, do brincar e sobre o Ensino Fundamental de nove

Page 22: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

22

anos; essas concepções, segundo a autora, acabam repercutindo no trabalho pedagógico em

sala de aula.

Com o título A Ampliação do Ensino Fundamental de Nove Anos: um estudo sobre

as manifestações do Conselho Nacional de Educação, Abbiati (2008) dissertou como o

CNE10

se manifesta diante das necessidades administrativas e pedagógicas que a ampliação da

duração do Ensino Fundamental gerou. Fez para isso uma análise documental, concentrando-

se nas legislações federais e nos atos normativos do CNE.

Rosa (2008) analisou os discursos sobre o Ensino Fundamental de nove anos, que se

mostram presentes nos artefatos culturais - as revistas - enfatizando as tramas discursivas que

os constituem. A autora pesquisou como o Ensino Fundamental de nove anos é descrito nas

revistas, mostrando organização, produtividade e seus efeitos.

A pesquisa de Zatti (2009), de cunho bibliográfico-documental, foi realizada na

cidade de Chapecó, Santa Catarina, e centrou-se no estudo das Leis 11.114/2005 e

11.274/2006, e como as mesmas incitam mudanças nas políticas educacionais para a educação

básica.

Dantas (2009) estudou a inserção de crianças de seis anos no Ensino Fundamental de

nove anos e a atuação docente. Sua pesquisa intitulada Ensino Fundamental de Nove Anos no

Distrito Federal: reflexões sobre a inserção de crianças de seis anos no ensino público e a

atuação docente foi realizada em escolas da rede pública do Distrito Federal. Seus resultados

apontaram para a existência de problemas estruturais, formação docente precária, a

insegurança dos professores sobre os conteúdos e estratégias a serem adotadas, e uma

preocupação excessiva dos professores e das escolas no que se refere à alfabetização e

letramento.

A dissertação de Motta (2009) intitulada Ampliação do Ensino Fundamental:

compreendendo o fazer do professor teve por objetivo discutir o processo de ampliação da

escolaridade obrigatória e suas implicações no fazer docente. A pesquisa foi realizada em uma

escola do município de Assis e constatou que os professores tinham pouco conhecimento da

lei e uma prática apoiada na figura do professor.

A pesquisa que buscou investigar a diferença no processo de ensino e aprendizagem

das crianças de seis anos inseridas no Ensino Fundamental de nove anos entre instituições

10

Conselho Nacional de Educação. “O atual Conselho Nacional de Educação-CNE, órgão colegiado integrante

do Ministério da Educação, foi instituído pela Lei 9.131, de 25/11/95, com a finalidade de colaborar na

formulação da Política Nacional de Educação e exercer atribuições normativas, deliberativas e de

assessoramento ao Ministro da Educação.” (Informação retirada do site oficial do MEC, disponível em:

<http://portal.mec.gov.br>.

Page 23: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

23

públicas e privadas de ensino encontra-se na dissertação de Zingarelli (2009) intitulada A

ampliação do ensino fundamental de nove anos na escola pública e na escola privada: a

experiência de Araraquara. A autora observou duas escolas públicas da rede municipal e duas

escolas privadas do município de Araraquara. Os resultados apontaram que as mudanças

ocorreram mais nas escolas públicas - no que tange ao espaço físico, organização de tempo e

concepção de aprendizagem - do que nas escolas privadas, em que as mudanças ocorreram

somente no papel.

As pesquisas de Abreu (2009) e Ferreira (2011) buscaram investigar as

transformações conceituais e metodológicas dos processos de alfabetização e letramento nas

séries iniciais a partir da implantação do Ensino Fundamental de nove anos na rede municipal

de ensino de Uberlândia (Abreu) e no município de Jaguarão (Ferreira).

Nas dissertações de Santaiana (2008), Albrecht (2009), Silva (2009), Loureiro

(2010), Bueno (2010), Thomé (2011), Santos (2011), Sinhori (2011), Leal (2011), Oliveira

(2011) e na tese de Tenreiro (2011), as pesquisas centraram-se na implantação do Ensino

Fundamental de nove anos.

Antunes (2010), em seu estudo, investigou como são implantadas as políticas

públicas no cotidiano de uma escola pública estadual e de uma escola particular do município

de Santa Maria. Seus resultados mostraram que a política de implantação estava em processo

de implementação, mas distante de estar legitimada nos cotidianos estudados.

A dissertação que investigou os sentimentos das crianças ao ingressarem no 1º ano

do Ensino Fundamental de nove anos em uma escola pública do interior de Pernambuco está

registrada na pesquisa de Abreu (2010). A autora constatou que as crianças revelaram

diversos sentimentos de tonalidade tanto agradável como desagradável no que se refere ao

espaço físico e material da escola e no relacionamento com a professora.

Bonfim (2010) dissertou sobre o espaço concedido à ludicidade e à corporeidade na

prática pedagógica do 1º ano. Seus resultados apontaram que os espaços escolares continuam

inadequados, pouco espaço para as brincadeiras, e há falta de conhecimento dos professores

quanto à ampliação do Ensino Fundamental.

A dissertação de Oliveira (2011) com o título A Formação Continuada de

Professores de Primeiro Ano do Ensino Fundamental de Nove Anos e os Desafios ao

Trabalho Pedagógico teve como objetivo compreender se há relação entre a formação

continuada oferecida pela Secretaria Municipal de Marília-SP e o trabalho pedagógico dos

professores do 1º ano. Os dados revelaram uma concepção de formação continuada de caráter

Page 24: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

24

informativo e prescritivo, que não contribui para o trabalho dos profissionais que estão em

exercício.

O objetivo de averiguar quais foram as adaptações na proposta curricular para

atender o E.F.11

de nove anos na Rede Municipal de Juiz de Fora está descrito na dissertação

de Lima (2011). A autora realizou entrevistas semiestruturadas, analisou documentos oficiais

relativos a essa política e fez observações em escolas municipais da cidade. Os dados

apontaram empenho da Rede Municipal, sobretudo, no trabalho coletivo, democrático e

reflexivo.

Ronsoni (2011) pesquisou como os profissionais da educação que atuam na rede

municipal e estadual de ensino compreendem os desdobramentos da ampliação do Ensino

Fundamental em seu contexto de trabalho. A pesquisa foi realizada em Erechim, Rio Grande

do Sul, e envolveu análise de documentos legais, análise bibliográfica e entrevistas

semiestruturadas com gestores, coordenadores pedagógicos e docentes do 1º ano.

As teses de doutorado que investigaram a infância e o lugar da criança de seis anos

no Ensino Fundamental de nove anos estão registradas em pesquisas distintas de Costa (2009)

e Mota (2010).

Moraes (2011), em sua tese de doutorado intitulada Ensino Fundamental de 9 anos:

a docência em Escolas da Rede Municipal de São Carlos, pesquisou o processo de

desenvolvimento profissional e aprendizagem docente de professores e coordenadores que

atuam no 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos. O estudo foi realizado em escolas da

Rede Municipal de São Carlos, e para a coleta de dados foram utilizados análise documental,

questionários e entrevistas. Os dados obtidos apontaram que a ampliação do Ensino

Fundamental requer mudanças na cultura das salas de aula e das escolas.

A pesquisa de doutorado de Nogueira (2011), realizada em uma escola da rede

municipal de Pelotas, teve como objetivo investigar a passagem de crianças de seis anos de

idade da Educação Infantil para o 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos.

Nossa revisão bibliográfica também buscou artigos publicados em periódicos

científicos, a saber, Ensino Fundamental de Nove Anos: bases legais de sua implantação de

Saveli (2008). A autora discutiu a ampliação do Ensino Fundamental de oito para nove anos

como uma política de inclusão social.

No artigo intitulado A Passagem da Educação Infantil para o Ensino Fundamental:

tensões contemporâneas, Neves, Gouvêa e Castanheira (2011) buscaram relatar como foi a

11

Ensino Fundamental

Page 25: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

25

transição de um grupo de crianças de uma escola de Educação Infantil para uma escola de

Ensino Fundamental, em Belo Horizonte. As autoras constataram que as práticas educativas

estavam em torno da brincadeira e do letramento, mas de forma diferente. Na Educação

Infantil, o brincar, um dos elementos centrais do cotidiano desse segmento escolar, esteve

presente em todas as rotinas, e as atividades voltadas para a aquisição da língua escrita

estiveram em diversos eventos de letramento, diferentemente do que ocorreu no Ensino

Fundamental, onde o brincar ficou situado em segundo plano e as práticas educativas se

organizaram em torno de atividades de repetição para a apropriação da língua escrita.

No trabalho de Abdian e Ciardella (2011) com o título Ampliação do Ensino

Fundamental para nove anos: entre as normatizações da política educacional, o movimento

teórico e as representações sociais dos profissionais da escola pública, as autoras trouxeram

uma discussão sobre as representações sociais de profissionais da educação de duas escolas

públicas do interior do Estado de São Paulo, uma municipal e outra estadual, sobre a política

de ampliação do Ensino Fundamental de nove anos.

Arelaro, Jacomini e Klein (2011), em seu artigo O ensino fundamental de nove anos

e o direito à educação, discutiram as consequências das Leis 11.114/2005 e 11.274/2006 nas

Redes Municipais e Estaduais de São Paulo. A pesquisa envolveu diferentes segmentos, como

crianças de seis anos matriculadas no Ensino Fundamental de nove anos, pais e profissionais

da educação. Os dados revelaram a escassez de recursos materiais e financeiros, a falta de

orientação dos professores, e que houve apenas uma adaptação do currículo da 1ª série para o

1º ano com pequenas adequações metodológicas, e o lúdico, tão importante para essa faixa

etária, não foi incluído na rotina do professor.

Dantas e Maciel (2010), em seu trabalho Ensino fundamental de nove anos e a

inserção de crianças de seis anos na escolarização obrigatória no Distrito Federal: estudo de

caso, buscaram uma reflexão sobre a consolidação do Ensino Fundamental de nove anos e as

peculiaridades da criança de seis anos nesse novo ambiente, a partir da ação docente. Os

participantes da pesquisa foram professores e alunos do 1º ano de duas escolas públicas do

Distrito Federal. Para as autoras, o importante é ver, entender e lidar com as crianças

considerando suas necessidades - a de aprender e a de brincar - garantindo condições

adequadas para recepcioná-las no Ensino Fundamental.

Já Gorni (2007), em seu artigo intitulado Ensino Fundamental de 9 anos: estamos

preparados para implantá-lo?, investigou como a proposta do Ensino Fundamental de nove

anos chegou às escolas e como estas se prepararam para esse processo. A pesquisa foi

realizada em diferentes cidades do Paraná e se utilizou de entrevistas junto a professores,

Page 26: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

26

diretores e representantes de Núcleos Regionais de Ensino e de Secretarias Municipais de

Educação. Para a autora, a simples antecipação da entrada das crianças no Ensino

Fundamental poderia significar a supressão de uma etapa importante que era realizada na

Educação Infantil.

Ao analisarmos as produções e os artigos citados no corpo deste capítulo,

percebemos que, em sua maioria, estão centrados na ampliação, implementação e bases legais

do Ensino Fundamental de nove anos, na formação continuada dos professores que lecionam

para o 1º ano e em como as escolas se organizaram física e administrativamente para receber

as crianças com seis anos de idade.

Isso vem fortalecer a justificativa desta pesquisa, que busca compreender quem são

esses professores que estão lecionando para o 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos,

quais sentimentos têm despertado e como se prepararam profissionalmente para receber essas

crianças com seis anos, que estão chegando um ano mais cedo à escola.

Page 27: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

27

3- ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS: ANTECEDENTES LEGAIS ATÉ A

SUA AMPLIAÇÃO

A educação brasileira, fruto de um processo histórico, percorreu uma trajetória de

lutas, mudanças e conquistas. Consideramos pertinente para esta pesquisa traçar uma breve

trajetória histórica das legislações brasileiras até a Lei Federal 11.274/2006, que ampliou o

Ensino Fundamental de oito para nove anos. Iniciaremos pela primeira Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, a Lei 4024/61, promulgada pelo então presidente João Goulart,

que estabelecia:

Art. 2º A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola.

Parágrafo único: à família cabe escolher o gênero de educação que deve dar

aos seus filhos.

Art.23 A educação pré-primária destina-se aos menores de sete anos, e será

ministrada em escolas maternais ou jardins de infância.

Art. 26 O ensino primário será ministrado, no mínimo, em quatro séries

anuais.

Parágrafo único. Os sistemas de ensino poderão estender a sua duração até

seis anos, ampliando, nos dois últimos, os conhecimentos do aluno e

iniciando-o em técnicas de artes aplicadas, adequadas ao sexo e à idade.

Art.27 O ensino primário é obrigatório a partir dos sete anos e só será

ministrado na língua nacional. Para os que iniciarem depois dessa idade

poderão ser formadas classes especiais ou cursos supletivos correspondentes

ao seu nível de desenvolvimento.

Art.29 Cada município fará anualmente, a chamada da população escolar de

sete anos de idade, para matrícula na escola primária.

A referida Lei em seu artigo 2º reafirmava o que já estava posto na Constituição de

1946, o direito à educação para todos. A LDB12

também estabelecia a obrigatoriedade de

quatro anos para o ensino primário a partir dos sete anos de idade. Para que o aluno pudesse

frequentar o ginasial, era necessário fazer o exame de admissão, o que constituía uma

diminuição do número de alunos nesse segmento.

De acordo com Oliveira e Araujo (apud TENREIRO, 2011, p. 71), esse exame:

[...] constituía um verdadeiro “gargalo”, pois após a conclusão da 4ª série do

antigo ensino primário havia uma expressiva diminuição dos que

12

Lei de Diretrizes e Bases 4024/61.

Page 28: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

28

efetivamente conseguiam ingressar no ginásio, ou seja, diminuía o número

daqueles que prosseguiam os estudos.

Segundo Aranha (2006), essa Lei já se encontrava ultrapassada. “Embora o

anteprojeto da lei fosse avançado na época da apresentação, envelhecera no correr dos debates

e do confronto de interesses” (p. 311). Isto se deu porque o anteprojeto foi apresentado em

1948 e a Lei só foi aprovada em 1961.

Para Ghiraldelli (2009), a Lei que tramitou treze anos no Congresso era destinada

inicialmente a um país pouco urbanizado e foi aprovada para um Brasil com necessidades

educacionais que o Parlamento não conseguiu perceber.

Em 11 de agosto de 1971, período conturbado de Ditadura Militar, foi aprovada a Lei

5692 fixando diretrizes e bases para o ensino de primeiro e segundo graus. O ministro da

educação Jarbas Passarinho elegeu um grupo de trabalho para elaborar o projeto, que deu

origem à LDB 5692/71.

Essa lei “refletia, em boa medida, os princípios da Ditadura Militar, verificados pela

incorporação de determinações no sentido de uma racionalização perversa do trabalho escolar

e na adoção do ensino profissionalizante no Segundo Grau de forma absoluta e universal.”

(GHIRALDELLI, 2009, p. 124).

A referida Lei ampliou o ensino de primeiro grau para oito anos e matrícula

obrigatória a partir dos sete anos, trazendo um avanço para a educação do 1º grau no que

tangia à ampliação e obrigatoriedade, passando de quatro para oito anos e abolindo o exame

de admissão.

Observamos a ampliação e a obrigatoriedade em seus artigos:

Art. 18. O ensino de 1º grau terá duração de oito anos letivos e

compreenderá, anualmente, pelo menos 720 horas de atividades.

Art. 19. Para o ingresso no ensino de 1 º grau, deverá o aluno ter idade

mínima de sete anos.

§ 1º As normas de cada sistema disporão sobre a possibilidade de ingresso

no ensino de primeiro grau de alunos com menos de sete anos de idade.

§ 2º Os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade inferior a

sete anos recebam conveniente educação em escolas maternais, jardins de

infância e instituições equivalentes.

Art. 20. O ensino de 1º grau será obrigatório dos 7 aos 14 anos, cabendo aos

Municípios promover, anualmente, o levantamento da população que

alcance a idade escolar e proceder à chamada para matrícula.

Page 29: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

29

Diante do exposto nos artigos supracitados e segundo Tenreiro (2011), a LDB trouxe

uma importante conquista para que as crianças das classes populares tivessem o direito de

permanecer mais tempo na escola pública. Infelizmente essa conquista não garantiu sua

permanência na escola, pois muitas delas deixavam os bancos escolares para ajudar no

sustento da família.

Na LDB 5692/71, o Conselho Federal de Educação passou a ser responsável por

fixar matérias do núcleo comum para o 1º grau (1º e 2º graus passaram, então, a ter uma parte

obrigatória de disciplinas do núcleo comum e uma parte diversificada de disciplinas para

atender às diversidades locais). O 2º grau tornou-se integralmente profissionalizante

(GHIRALDELLI, 2009).

Após anos de Ditadura Militar, em outubro de 1988, foi aprovada a Constituição da

República Federativa do Brasil, também conhecida como a “Constituição Cidadã”, e

considerada a Constituição mais democrática, pois trouxe avanços no que se refere aos

direitos individuais e coletivos e à organização política.

Em seu artigo 6º, a educação aparece como um dos direitos sociais, segundo

Sifuentes (apud TENREIRO, 2011, p.74):

Apesar dos percalços, é forçoso concluir que nenhum outro direito social, de

todos os previstos na Constituição Federativa do Brasil de 1988, recebeu

tratamento tão cuidadoso como o referente à educação, podendo ser

considerado o primeiro e o mais importante dos direitos sociais.

Reiterando a educação como um direito de todos, a Constituição de 1988 apresenta

em seu artigo 205º: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento

da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Com

base nos princípios de igualdade, numa educação básica obrigatória e gratuita, a referida Lei

também aponta uma preocupação com o acesso e permanência dos alunos:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

IV- gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

Art. 208. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a

garantia de:

Page 30: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

30

I-Educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)

anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a

ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela EC 59)13

IV- educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos

de idade; (EC 53 )14

Com relação aos recursos destinados à educação, a Constituição de 88 em seu artigo

212º determina percentuais anuais: “A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e

os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita

resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e

desenvolvimento do ensino”.

Continuando nossa trajetória, em 20 de dezembro de 1996, foi aprovada a LDB, a

Lei nº 9.394, estabelecendo as novas diretrizes e bases para a educação nacional:

Art. 1º. a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na

vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino

e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas

manifestações culturais.

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I-igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

VI-gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais.

Art. 4º O dever do Estado com a educação pública será efetivado mediante a

garantia de:

I-ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não

tiveram acesso na idade própria.

Para Ghiraldelli (2009), a nova LDB:

[...] resultou de intensa luta parlamentar e extraparlamentar. Entidades da

sociedade, com interesses diversos, porém convergentes em relação à defesa

do ensino público e gratuito, se reuniram em vários momentos, criando

versões de uma LDB de seu agrado. [...] (p. 170)

Entretanto, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional resultante foi uma

mescla do projeto do Senador Darcy Ribeiro e do projeto que ouviu os setores da população.

(op. cit.)

Segundo Tenreiro (2011), a Lei 9.394/96 regulamentou direitos e conquistas

assegurados na Constituição Federal de 1988, reorganizando a educação brasileira.

13

Emenda Constitucional Nº 59 de 11 de novembro de 2009. 14

Emenda Constitucional Nº 53 de 19 de dezembro de 2006.

Page 31: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

31

A nova LDB em seu artigo 21º reconhece a educação infantil como parte integrante

da educação básica: “a educação escolar compõe-se de: I- educação básica, formada pela

educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.” Dessa forma, há um

redimensionamento da educação infantil para a idade de zero a cinco anos.

Cabe ressaltar que a referida Lei em seu artigo 87º, parágrafo 3 das Disposições

Transitórias, deixa facultativa a matrícula de crianças a partir dos seis anos de idade na 1ª

série do Ensino Fundamental de oito anos, observando que as matrículas devem ser oferecidas

primeiramente a todos os educandos com sete anos de idade.

Em consonância com a LDB de 1996, artigos 9º e 87º, e com a Constituição de 1988,

artigo 214º, a Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001, sancionou o Plano Nacional de Educação –

PNE – fixando metas e diretrizes para os próximos dez anos. Ao colocar metas e objetivos

para o Ensino Fundamental, o PNE propõe: “Ampliar para nove anos a duração do Ensino

Fundamental obrigatório com início aos seis anos de idade, à medida que for sendo

universalizado o atendimento na faixa etária de 7 a 14 anos”. Com essas metas, os alunos

provenientes das classes populares têm a obrigatoriedade de ingressar no sistema escolar um

ano mais cedo, aumentando suas oportunidades de aprendizagem. Sobre isso, Corsino (2007),

em seu artigo As crianças de seis anos e as áreas do conhecimento, publicado pelo MEC,

ressalta:

[...] a ampliação do ensino fundamental para nove anos, que significa bem

mais que a garantia de mais um ano de escolaridade obrigatória, é uma

oportunidade histórica de a criança de seis anos pertencente às classes

populares ser introduzida a conhecimentos que foram fruto de um processo

sócio-histórico de construção coletiva. (BRASIL, p.61-62)

Segundo Saveli (2008), a inclusão dessas crianças na escolaridade obrigatória resgata

um direito de cidadania, permitindo que uma grande parte da população se beneficie de um

direito que antes era de poucos.

Em 16 de maio de 2005, o Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva

sancionou a Lei Federal nº 11.114/2005, alterando os artigos 6º, 30º, 32º e 87º da Lei de

Diretrizes e Bases 9.394/96, com o objetivo de tornar obrigatória a matrícula dos alunos com

seis anos de idade no Ensino Fundamental. Tal alteração apenas indicava a mudança da idade

do ingresso das crianças de sete para seis anos, mantendo a duração mínima de oito anos para

o Ensino Fundamental.

Page 32: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

32

A ampliação do Ensino Fundamental de oito para nove anos só foi regulamentada

pela Lei Federal nº 11.274, em 6 de fevereiro de 2006. Essa Lei dispõe sobre a duração de

nove anos para o Ensino Fundamental, com matrícula obrigatória aos seis anos de idade.

Os artigos 32º e 87º da LDB 9394/96 passaram, então, a ser redigidos da seguinte

maneira:

Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos,

gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por

objetivo a formação básica do cidadão, mediante: ...................................(NR)

Art. 87................................................................................................................

§ 2º O poder público deverá recensear os educandos no ensino fundamental,

com especial atenção para o grupo de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos de idade e

de 15 (quinze) a 16 (dezesseis) anos de idade.

§3º......................................................................................................................

I- matricular todos os educandos a partir dos 6 (seis) anos de idade no ensino

fundamental.

A referida Lei estipulou o prazo de até 2010 para que os Municípios e Estados se

adaptassem à nova legislação.

Em 14 de dezembro de 2010, foi aprovada a Resolução nº 7 que fixa as Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de nove anos.

Diante do exposto, o Ensino Fundamental no Brasil passou a ter duração de nove

anos.

Sabemos que o ingresso das crianças com seis anos no Ensino Fundamental de nove

anos não é apenas uma questão legal e de transferência de conteúdos, mas exige das escolas

mudanças no que diz respeito ao tempo, espaço, estrutura física e, acima de tudo, à

importância de construir uma proposta pedagógica que leve em consideração quem é essa

criança que está chegando um ano mais cedo ao Ensino Fundamental, e um trabalho

pedagógico que pense nas especificidades e singularidades dessa criança de seis anos,

preservando seu direito à infância.

Para Kramer:

[...] o trabalho pedagógico precisa levar em conta a singularidade das ações

infantis e o direito à brincadeira, à produção cultural tanto na educação

infantil quanto no ensino fundamental. É preciso garantir que as crianças

sejam atendidas nas suas necessidades (a de aprender e a de brincar), que o

trabalho seja planejado e acompanhado [...] (2007, p.20)

Page 33: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

33

Retomando o texto publicado pelo MEC (2007), o objetivo de mais um ano no

Ensino Fundamental é o emprego mais eficaz do tempo para que as crianças aprendam de

uma maneira mais prazerosa, assegurando-lhes um tempo maior no convívio escolar e,

consequentemente, mais oportunidades de aprendizagem, não só no que se refere à aquisição

da língua escrita como também em outras áreas do conhecimento. Corsino, ao falar sobre a

importância do professor em propor atividades significativas e desafiadoras, propõe:

Somos nós que mediamos as relações das crianças com os elementos da

natureza e da cultura, ao disponibilizarmos materiais, ao promovermos

situações que abram caminhos, provoquem trocas e descobertas, incluam

cuidados e afetos, favoreçam a expressão por meio de diferentes linguagens,

articulem as diferentes áreas do conhecimento [...] (CORSINO, 2007, p.58)

Outros fatores também devem ser levados em consideração, como pensar nessa

criança em todas as dimensões: afetiva, cognitiva e motora. Nascimento, em seu artigo

publicado pelo MEC (2007), deixa claro que:

Se acreditamos que o principal papel da escola é o desenvolvimento integral

da criança, devemos considerá-la: na dimensão afetiva, ou seja, nas relações

com o meio, com as outras crianças e adultos com quem convive; na

dimensão cognitiva, construindo conhecimentos por meio de trocas com

parceiros mais e menos experientes e de contato com o conhecimento

historicamente construído pela humanidade; na dimensão social,

frequentando não só a escola como também outros espaços de interação

como praças, clubes, festas populares, espaços religiosos, cinemas e outras

instituições culturais; na dimensão psicológica, atendendo suas necessidades

básicas, como por exemplo, espaço para a fala e escuta, carinho, atenção,

respeito aos seus direitos. (p.28)

A referida citação está de acordo com a teoria escolhida que fundamenta nossa

investigação. Wallon enfatiza a importância de se considerar a integração afetiva- cognitiva-

motora para conhecer a criança, bem como o papel do outro – adulto ou criança – na

constituição do aluno.

Pensar no Ensino Fundamental de nove anos também é pensar nesse professor que

está lecionando para essas crianças com seis anos de idade, e como tem sido sua formação em

serviço - nos HTPCs -, como esse professor tem lidado com as questões legais e pedagógicas

e com o que conta para ajudá-lo a enfrentar suas dificuldades. Por isso, é fundamental uma

formação continuada articulada com a ação docente, que não só privilegie um espaço de

discussão para o enriquecimento profissional, mas que também pense nesse professor, que

muitas vezes se sente desvalorizado, angustiado e que precisa ser ouvido e respeitado.

Page 34: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

34

Altenfelder (2006) corrobora com nosso pensamento quando diz que “[...] o desejo e a

necessidade que os professores têm de serem olhados, ouvidos, considerados, respeitados

[...]” (p.51).

Sabemos que as reformas educacionais afetam o cotidiano escolar impondo novos

desafios ao professor, trazendo-lhe muitas vezes sentimentos de tonalidades desagradáveis

que influenciam diretamente na sua atuação pedagógica. O que propomos com a nossa

pesquisa é dar voz a esses professores que estão dentro da sala de aula e que muitas vezes são

esquecidos pelas reformas políticas, pelo sistema e pela gestão escolar.

Page 35: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

35

4 REFERENCIAL TEÓRICO: Henri Wallon

4.1 A escolha da teoria de Wallon, vida, obras e sua relação com a educação

Ao entendermos que a teoria serve de instrumento ao pensamento, aprimora

nosso olhar e nos ajuda a interpretar o que vemos, nosso diálogo com ela

será fecundo e seu autor poderá se tornar para nós um outro significativo e

um referente para nossa ação. (ALMEIDA, 2010, p. 120)

Como o objetivo desta pesquisa é estudar os sentimentos de professores do 1º ano do

Ensino Fundamental de nove anos, escolhemos a teoria de desenvolvimento de Henri Wallon,

porque essa teoria nos apresenta conceitos importantes para a compreensão do processo de

constituição da pessoa. Seus estudos mostram como a criança se transforma em um adulto. É

uma teoria que postula a integração organismo-meio, compreende o ser humano em sua

totalidade em todas as suas dimensões e reconhece o papel da afetividade no processo do

desenvolvimento humano.

A importância de uma teoria que valorize a afetividade e sua integração com os

aspectos cognitivo e motor vem ao encontro de nosso pensamento de que no processo ensino-

aprendizagem, professor e aluno são cognição e afetividade, e não só cognição. Na teoria

walloniana, a dimensão afetiva ocupa um lugar central para a compreensão do psiquismo

humano e o seu estudo é capaz de ancorar o estudo dos sentimentos do professor e do aluno

no contexto escolar.

Na concepção de Wallon, a afetividade tem papel imprescindível no

processo de desenvolvimento da personalidade e este, por sua vez, se

constitui sob alternância dos domínios funcionais. (ALMEIDA, 2001, p.42)

Outro fator importante a ser destacado é que para Wallon, Psicologia e Pedagogia

são duas áreas que se aproximam e se complementam, uma serve de instrumento para outra,

sendo a escola um campo fértil para se observar a criança.

Em 15 de junho de 1879, nasceu em Paris Henri Wallon, numa família ligada à

história e política da França. Wallon teve uma infância tranquila e saudável, convivendo com

o pensamento democrático e republicano.

Em 1899, matriculou-se na Escola Normal Superior, saindo licenciado em Filosofia.

Trabalhou como professor efetivo na periferia de Paris, no Liceu Bar-Le-Duc.

Page 36: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

36

Wallon buscou a psicologia através da medicina, iniciando seu curso em 1903,

servindo mais tarde como médico na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) quando tratou de

soldados feridos. Foi da experiência com soldados acidentados e das crises ou síndromes de

guerra que ele iria se perguntar qual seria a relação das emoções com a razão, o que já havia

feito estudando crianças com síndromes variadas que atendera.

As indagações e observações de Wallon durante seu atendimento aos feridos de

guerra o levaram a reformular sua tese de doutorado, com base nos estudos com crianças

“com retardo”, que mais tarde foi publicada em seu primeiro livro A Criança Turbulenta

(1925).

Em 1925, inaugurou um modesto laboratório: Psicobiologia da Criança, atendendo

crianças provenientes de famílias de metalúrgicos, lavadeiras e comerciários. Esse laboratório

foi contribuição importante para suas investigações sobre a evolução psicológica da criança.

Durante a segunda Guerra Mundial (1939-1945) trabalhou na Resistência Francesa,

reforçando ainda mais a necessidade de a escola assumir valores: solidariedade, antirracismo,

justiça social, como condições para a reconstrução de uma sociedade mais justa (Mahoney,

2009). Foi nesse período que viveu na clandestinidade com o pseudônimo de René Hubert,

conseguindo mesmo assim produzir o livro Do ato ao pensamento, no qual explica a

passagem do ato motor ao pensamento. Outras obras que são leitura obrigatória para a

compreensão da sua teoria do desenvolvimento são: As origens do caráter da criança, As

origens do pensamento na criança, Psicologia e Educação da Criança.

Na sua obra A evolução Psicológica da Criança, publicada em 1941, Wallon

descreveu os grandes conjuntos funcionais, conjuntos estes que só podem ser descritos

separadamente por uma questão didática, pois a criança deve ser vista em todos os seus

aspectos: afetivo, motor e cognitivo, ou seja, como um ser completo e integrado. Segundo

Mahoney (2009):

O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos

tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que

cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária

apenas para a descrição do processo. Uma das consequências dessa

interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos

eles. (p.15)

Em 1937, Wallon foi o primeiro professor da cadeira de Psicologia e Educação da

Criança no Collège de France, e na sua aula inaugural, teceu reflexões sobre a relação entre a

Page 37: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

37

Psicologia e a Educação, sobretudo, a importância de se observar a criança em diferentes

lugares, especialmente na escola.

Todavia, conclui não há dúvida de que para o conhecimento de seu

comportamento torna-se indispensável observá-la nos diferentes campos e

nos diferentes exercícios de sua atividade cotidiana-particularmente na

escola. (WALLON, apud DANTAS, 1983, p.26)

Wallon não criou um método pedagógico para a educação, mas foi professor,

participou de debates educacionais, publicou livros, artigos e palestras, algumas dirigidas para

professores. Foi presidente da Sociedade Francesa de Pedagogia e juntamente com o físico

Paul Langevin e Henri Piéron participou do projeto para a reforma do ensino francês, Projeto

Langevin-Wallon. Segundo Almeida e Mahoney (2011), o projeto está assentado em quatro

princípios, a saber: justiça, dignidade, orientação e cultura geral.

Sua obra deixou-nos importantes lições, principalmente no campo educacional.

A obra científica do professor Wallon constitui, sem dúvida, um exemplo e

um excelente auxílio. O rigor científico de sua obra psicológica ensina aos

professores a objetividade indispensável ao educador que, antes de agir, deve

compreender; e que não pode, sob pena de esterilizar sua ação, considerar a

criança fora do seu meio. (DANTAS, 1983, p.20)

Abordaremos a seguir o conceito de integração organismo-meio, os conjuntos

funcionais, os estágios de desenvolvimento de Wallon e a importância dos meios e dos grupos

para a constituição da pessoa.

4.2 O conceito de integração

Para Wallon, o psiquismo se constitui pela interação entre o biológico e o social. O

homem se humaniza nas relações com o meio social e cultural em que vive.

Na realidade, nunca pude dissociar o biológico do social, não porque os

julgue redutíveis um ao outro, mas porque me parecem no homem tão

estreitamente complementares desde o seu nascimento, que é impossível

encarar a vida psíquica sem ser sob forma de suas relações recíprocas.

(WALLON,1995, p.14)

Page 38: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

38

O ser humano está em constante transformação, que é “moldada pela troca constante

entre os fatores genéticos e condições sociais, os quais determinam a direção do processo de

desenvolvimento, transformando a criança no adulto de sua cultura” (ALMEIDA, 2011,

p.102). Por meio dessa relação recíproca com o meio físico e social o indivíduo vai se

diferenciando dos demais rumo à sua autonomia.

Pedro Dantas (1983) aponta essa integração do social com o biológico como um dos

pontos originais e a espinha dorsal da psicologia walloniana.

A integração para Wallon não se dá apenas na relação social-biológica, mas também

na integração entre os conjuntos funcionais: afetivo, cognitivo e motor, constituindo o quarto

conjunto, a pessoa.

4.3 Os conjuntos funcionais

A psicogenética walloniana considera o ser humano como um ser global e integrado.

Henri Wallon, em sua teoria do desenvolvimento, apresenta quatro conjuntos funcionais que

formam um sistema integrado e vinculado entre si:

Os domínios funcionais entre os quais se dividirá o estudo das etapas que a

criança percorre serão, portanto, os da afetividade, do ato motor, do

conhecimento e da pessoa. (WALLON, 1995, p.135)

Wallon descreve cada um dos conjuntos per se, mas lembra que:

As necessidades da descrição obrigam a tratar separadamente alguns grandes

conjuntos funcionais, o que não deixa de ser um artifício, sobretudo de

início, quando as atividades estão ainda pouco diferenciadas. Algumas,

porém, como o conhecimento, surgem manifestadamente tarde. Outras, pelo

contrário, surgem desde o nascimento. (WALLON, 1995, p.131)

A teoria nos apresenta uma visão integrada do sujeito evidenciando as relações entre

os domínios funcionais nas diferentes fases de desenvolvimento. Qualquer alteração em um

dos domínios ou conjuntos funcionais afeta os demais.

Page 39: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

39

4.3.1 O conjunto afetivo

Como já mencionamos, Wallon dedicou boa parte de seu trabalho ao estudo da

afetividade, escreveu livros e artigos sobre o assunto. Segundo o autor, o nascimento da

afetividade precede a inteligência e se manifesta nos movimentos mais expressivos do bebê,

que são carregados de significados afetivos.

De acordo com Almeida (2010), “Afetividade refere-se à capacidade do ser humano

de ser afetado pelo mundo interno e externo, por sensações ligadas a tonalidades agradáveis e

desagradáveis” (p.26).

O domínio da afetividade se inicia de uma forma sincrética e simbiótica, estendendo-

se para a evolução e socialização. Nesse período, o meio é essencial para modelar o indivíduo.

Para Wallon, afetividade é um termo amplo e integra a emoção, o sentimento e a

paixão.

Ao nascer, a criança precisa do outro para ser cuidada e para que as suas

necessidades básicas sejam supridas; utiliza-se do choro para mobilizar e afetar a todos que

estão ao seu redor, iniciando, então, as primeiras relações afetivas com o outro e com o meio

social: “[...] a emoção estabelece os primeiros laços com o mundo humano e, através dele,

com o mundo físico. A emoção é determinante na evolução mental [...]” (ALMEIDA, 2010,

p.26).

A emoção é epidérmica, efêmera, imprevisível e contagiosa; é através dela que o

bebê tem suas solicitações atendidas e estabelece suas relações com o outro. Sobre isso

Galvão (2012) aponta:

Devido ao seu poder de contágio, as emoções propiciam relações

interindividuais nas quais diluem-se os contornos da personalidade de cada

um. Essa tendência de fusão própria às emoções explica o estado de

simbiose com o meio em que a criança se encontra no início do

desenvolvimento. (p. 65)

O sentimento é mais duradouro; ocorre após o surgimento de elementos simbólicos

como a linguagem, que assume um papel importante na sua expressão. “A criança que é

solicitada pelo sentimento não tem, perante as circunstâncias, as reações instantâneas e diretas

da emoção” (WALLON, 1995, p.144).

Page 40: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

40

Para Almeida (2001), os sentimentos são menos instintivos e caracterizados por

expressões mais pensadas; o sentimento é psicológico, revelando um estado mais permanente,

enquanto a emoção revela um estado fisiológico e efêmero.

A paixão aparece no estágio do personalismo e pressupõe autocontrole do indivíduo,

tornando-se, assim, emoção silenciosa.

A paixão pode ser viva e profunda na criança. Mas com ela surge o poder de

tornar a emoção silenciosa. Ela pressupõe, portanto, para se desenvolver, a

capacidade de autocontrole e não se pode antecipar à oposição claramente

sentida entre o ego e as outras pessoas, cuja consciência não se produz antes

dos 3 anos. Então a criança torna-se capaz de amadurecer secretamente

frenéticos ciúmes, ligações afetivas exclusivas, ambições mais ou menos

vagas, mas exigentes. (WALLON, 1995, p.145)

4.3.2 O conjunto cognitivo

O conjunto cognitivo inicialmente é sincrético como os demais; ao interagir com o

meio, o conhecimento da criança vai se transformando e se tornando mais preciso e

articulado. Wallon destaca que: “O pensamento da criança foi classificado de sincrético. De

fato, não se podem atribuir os mesmos qualificativos às suas operações e às do pensamento

adulto” (1995, p.178).

A aquisição da linguagem é um importante salto para o desenvolvimento do ser

humano, e Wallon enfatiza sua importância para as funções cognitivas. Para Amaral (2010),

“Os processos cognitivos intervêm na aquisição e no uso da linguagem, na memória, na

capacidade de prestar atenção, na imaginação, na aprendizagem, na solução de problemas”

(p.77).

De acordo com a teoria walloniana, antes da aquisição da fala, para atender às suas

necessidades (pegar um objeto que está longe do alcance de suas mãos, por exemplo) a

criança se utiliza da inteligência prática ou das situações, que, para o autor, é uma inteligência

mais imediata e concreta.

Por sua vez, a linguagem vai evoluindo e se tornando refinada; o indivíduo passa a

ser capaz de lidar com diferentes símbolos e signos, surgindo, assim, a inteligência discursiva.

Para Amaral (2010):

A inteligência discursiva só poderá ter seu desenvolvimento pleno a partir da

emergência da linguagem. A passagem a uma nova forma de atividade

Page 41: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

41

mental só ocorre quando a criança entra no universo dos signos, com o

advento da linguagem, por volta dos 2 anos. É a linguagem que abre a

possibilidade de substituir a ação motora direta sobre as coisas, abreviando a

aprendizagem, que já não depende da manipulação imediata e concreta. Pela

linguagem, a criança vai representar o mundo mentalmente [...]. (p. 84)

Inteligência e afetividade para Wallon são ao mesmo tempo antagônicas e

complementares, onde conquistas em um campo interferem no outro.

O maior desafio é manter o equilíbrio entre ambas, pois o estado emocional pode

impedir o indivíduo de exercer uma atividade cognitiva. Sendo assim, a emoção pode criar

conflitos e perturbar o equilíbrio da razão.

Os conflitos de ordem emotiva estimulam o desenvolvimento dos indivíduos

na medida em que ultrapassá-los exige manter serenidade, o equilíbrio entre

a razão e a emoção. A serenidade é conseguida, quando o indivíduo

consegue manter a racionalidade, ou seja, a ativação dos centros corticais.

As suas consequências são um maior amadurecimento tanto da afetividade

quanto da inteligência. (ALMEIDA, 2001, p. 85)

4.3.3 O conjunto motor

O conjunto motor é responsável pelo deslocamento do corpo, pelas reações posturais,

pelo equilíbrio corporal, e dá suporte para os sentimentos e para as emoções se expressarem.

“O ato motor possibilita a expressão da emoção, e é um recurso privilegiado para o

desenvolvimento cognitivo: as percepções são retidas somente quando a criança é capaz de

reproduzi-las por meio de gestos apropriados” (ALMEIDA, 2010, p.27).

A teoria walloniana discute três formas de deslocamento:

[...] o primeiro, os deslocamentos do corpo no tempo e no espaço, em função

das leis da gravidade (movimento exógeno ou passivo); o segundo

deslocamento (movimento autógeno ou ativo) é caracterizado pelos

movimentos voluntários ou intencionais do corpo ou partes dele; o terceiro é

o das reações posturais, que se caracterizam por mímicas e expressões

corporais e faciais diante das diferentes situações que os humanos enfrentam.

(ALMEIDA, 2010, p.26-27)

Para Wallon, o movimento se inicia ainda na vida fetal. Após o nascimento e ao

longo do desenvolvimento da criança juntamente com a maturação biológica, o conjunto

motor vai se aperfeiçoando.

Page 42: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

42

4.3.4 O quarto conjunto, a pessoa

“A pessoa é a unidade do ser” (MAHONEY, 2010, p.18) e integra os conjuntos

afetivo, cognitivo e motor; um é parte constitutiva do outro.

Mahoney (2009) aponta a integração dos conjuntos funcionais e como a pessoa

emerge:

É de uma rede de relações entre os conjuntos - motor, afetivo, cognitivo - e

entre eles e seus fatores determinantes - orgânicos e sociais - que emerge a

pessoa. Impossível entendê-la fora dessa rede de relações. (p. 17)

A integração dos conjuntos afetividade – cognição – motricidade, em suas diferentes

configurações no processo de desenvolvimento, permitiu a Wallon propor a seguinte

sequência de estágios para o desenvolvimento humano:

Impulsivo-Emocional (0 a 1 ano)

Sensório-Motor e Projetivo (1 a 3 anos)

Personalismo (3 a 6 anos)

Categorial (6 a 11 anos)

Puberdade e Adolescência (11 anos em diante)

É importante salientar que as idades propostas por Wallon na sequência dos estágios

foram definidas para crianças da sua época, inseridas naquele momento histórico e cultural.

Os estágios de desenvolvimento não ocorrem de uma forma linear, mas cada estágio

é preparado pelo anterior e prepara o seguinte. A passagem de um estágio para outro ocorre

através de crises e conflitos.

Para Wallon, existem três leis que regulam a sucessão dos estágios:

1ª Alternância funcional: ora o conhecimento é para si mesmo (movimento

centrípeto), ora é para o mundo exterior (movimento centrífugo);

2ª Predominância funcional: indica que há uma predominância em um dos

conjuntos funcionais, ora afetivo, ora cognitivo, ora motor; mesmo com a predominância de

um dos conjuntos, os demais estão presentes;

3ª Integração funcional: implica a hierarquização entre estágios e uma

integração progressiva dos conjuntos funcionais.

Page 43: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

43

No início, os conjuntos funcionais se revelam de uma forma sincrética e, aos poucos,

vão se diferenciando de uma forma mais clara e coordenada.

A seguir, descreveremos os estágios de desenvolvimento propostos por Wallon,

dando mais ênfase ao estágio categorial, porque é o estágio em que se encontram os alunos do

Ensino Fundamental de nove anos, objeto de estudo desta pesquisa. Descreveremos de forma

mais sucinta os demais estágios.

4.4 Estágio impulsivo-emocional

Nesse estágio, há uma exploração do próprio corpo, com movimentos

descoordenados e bruscos. A criança não se distingue do outro e há uma simbiose afetiva

entre o bebê e as pessoas de seu convívio.

4.5 Estágio sensório-motor e projetivo

A criança começa a falar e a andar, e com isso, a explorar o espaço físico nomeando

objetos e pessoas; há um relaxamento da simbiose afetiva e do sincretismo. O domínio

cognitivo predomina nesse estágio

4.6 Estágio do personalismo

A criança está voltada para a construção da sua personalidade e suas aquisições são

graduais.

Esse estágio é marcado por três relações interpessoais: oposição (ao outro), sedução

ou idade da graça (quando quer ser admirada) e imitação (a criança se reaproxima do outro,

usando-o como modelo). A tarefa central nesse estágio é promover a individualização da

criança. O pensamento se caracteriza ainda pelo sincretismo, confuso e contraditório, estando

presente também nas explicações e definições infantis do real (Bastos e Dér, 2009).

Page 44: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

44

4.7 Estágio categorial

O estágio categorial é um estágio marcado pela predominância do conjunto cognitivo

e para o mundo exterior, isto é, na direção centrífuga.

Segundo Amaral (2009), nesse estágio, a criança aprende a se conhecer como

indivíduo pertencente a diferentes grupos, toma conhecimento de suas possibilidades,

adquirindo um conhecimento mais completo de si.

Seus gestos são mais precisos, podendo planejar mentalmente o movimento e

selecionar o gesto mais adequado para a ação que irá realizar. É capaz de organizar o

pensamento em categorias, classificações e agrupamentos.

Uma característica marcante desse estágio é a capacidade de autodisciplina mental,

conhecida como atenção, possibilitando à criança se concentrar por mais tempo em uma

atividade.

O estágio categorial está dividido em duas etapas: pré-categorial (dos seis aos nove

anos de idade) e categorial (dos nove aos onze anos); a primeira etapa é configurada pelo

pensamento por pares e pelo sincretismo. Para Wallon (1989):

O pensamento existe apenas pelas estruturas que introduz nas coisas.

Inicialmente há estruturas muito elementares. O que é possível constatar,

desde o início, é a existência de elementos que estão sempre aos pares. O

elemento de pensamento é essa estrutura binária, não elementos que o

constituem. (p.30)

Nessa fase inicial do pensamento discursivo – pensamento por pares, a criança não é

capaz de pensar exclusivamente sobre uma única situação, fato ou objeto. Seu pensamento é

global, não conseguindo distinguir o todo das partes. Um elemento ou ideia só pode existir em

relação a outro que lhe dê identidade.

Passada essa fase do pensamento por pares, inicia-se o período categorial, onde

ocorrem transformações progressivas no comportamento e no pensamento. A criança já é

capaz de analisar, comparar e assimilar objetos ou acontecimentos.

Para Wallon (1995):

O período dos 7 aos 12 ou 14 anos é aquele em que a objetividade substitui o

sincretismo. As coisas e a pessoa vão a pouco e pouco deixando de ser os

fragmentos de absoluto que se impunham sucessivamente à intuição. A rede

das categorias reflete as mais diversas classificações e relações. Mas o

animador é a própria atividade da criança, que entra na sua fase categorial:

Page 45: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

45

ela atribui-se então as tarefas pelas quais é capaz de se distribuir, a fim de

extrair delas os efeitos de que cada uma é susceptível. É-lhe agora

indispensável o interesse pela tarefa, o que deixa para trás o simples

adestramento. Esse interesse pode ser suficiente e ultrapassa de longe a

preocupação de comprometer sempre a sua própria personagem na conduta.

(p. 214)

À medida que o pensamento da criança se torna capaz de identificar, classificar e

comparar os objetos, de explicar a existência das coisas por meio das relações de tempo,

espaço e causalidade, a criança vai tomando consciência dos papéis que o outro ocupa em

relação a si e ela mesma com relação o outro (AMARAL, 2009).

A partir dos seis anos a criança ingressa no Ensino Fundamental e passa a se

dissociar mais do seu meio familiar; gradualmente adquire o sentimento de que sua

personalidade é polivalente e, por conseguinte, mais livre. Na escola, a criança aprende a

manter relações com as mesmas pessoas, mas em diferentes situações (DANTAS, 1983).

Segundo Gulassa (2010), nesse estágio, a criança aprende a se comportar como uma

pessoa entre as demais, o que lhe possibilita desenvolver uma nova variedade de condutas

sociais.

4.8 Estágio da puberdade e adolescência

É o último estágio que separa a criança do adulto. É marcado por transformações

corporais e psíquicas. O adolescente está em busca da sua autoafirmação, questiona os valores

que lhe foram impostos pelos pais e pela sociedade em que vive. A predominância do

conjunto funcional é na direção centrípeta, portanto, o afetivo.

4.9 Os meios e os grupos

Na teoria de desenvolvimento de Wallon, o meio é condição imprescindível para o

desenvolvimento, e o meio social prepondera sobre o meio físico. Para o autor, o homem é

geneticamente social.

É na convivência com diferentes grupos e em diferentes meios que o ser humano se

constitui e se humaniza.

Page 46: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

46

Na concepção walloniana, meio e grupo são conceitos distintos, diferem

entre si mas são conexos; em certas situações podem coincidir e em outras se

superpor. Ambos, meio e grupo, são complementos indispensáveis ao ser

humano. São partes constitutivas da pessoa. (GULLASSA, 2010, p.98)

É no meio que o ser vivo mantém uma relação de troca, retira dele suas condições de

sobrevivência e evolução. O meio não só exerce influência como também define

possibilidades e limitações de qualquer ser.

Alguns meios contêm os grupos, e a família é um exemplo disso:

Certos meios, como a família, são ao mesmo tempo grupos, ou seja, a sua

existência assenta na reunião de indivíduos que têm entre si relações que

destinam a cada um o seu papel ou o seu lugar no conjunto. A escola não é

um grupo propriamente dito, mas antes um meio onde podem constituir-se

grupos, de tendência variável e que podem estar em harmonia ou em

oposição com os seus objetivos. (WALLON, 1979, p.165)

A escola também é um meio, um meio funcional do qual a criança participa para

aquisição de conhecimentos e da cultura, permitindo a ela se socializar com o grupo ao qual

pertence; é também um local de brincadeiras, jogos e de relações com um grupo de crianças

com diferentes condutas morais e sociais. É nesse convívio com os diferentes que a criança

vai se desenvolvendo de forma integrada. “Os grupos são condições socialmente organizadas

e propícias ao desenvolvimento da criança e revelam para ela a cultura a que pertence e que

poderá um dia enriquecer” (MAHONEY, 2010, p.63).

É na convivência em diferentes grupos que a criança vivencia diferentes papéis, o de

filho, o de aluno, o de irmão, etc. Nessas relações, vai aprendendo a agir, a conhecer

diferentes lados da sua personalidade e das suas potencialidades. Segundo Gullassa (2010),

em cada idade da criança, o grupo tem um significado especial para sua formação e seu

desenvolvimento.

Na teoria walloniana, o papel do grupo se inicia por volta dos três anos e a família é

o primeiro grupo de que a criança participa. À medida que vai se desenvolvendo, outros

grupos se apresentam a ela dando-lhe oportunidades de vivenciar diferentes papéis e

estabelecer relações. “O grupo é indispensável à criança não só para sua aprendizagem social,

mas para o desenvolvimento da sua personalidade e para a consciência que pode tomar dela”

(WALLON, 1979, p. 172).

De acordo com Wallon, o grupo é indispensável à criança tanto para o

desenvolvimento da sua personalidade como para a aprendizagem social. A criança se juntará

a um grupo por interesses e afinidades, assumindo obrigações definidas e posições que

Page 47: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

47

poderão variar; haverá trocas, exigências e uma relação eu-outro que será indispensável para

sua constituição: “[...] O grupo é o veículo ou iniciador de práticas sociais. Ultrapassa as

relações puramente subjetivas de pessoa a pessoa” (op. cit. p.175).

Page 48: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

48

5 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

A tomada de decisões metodológicas é sempre uma tarefa difícil para o

investigador na medida em que ele tem que selecionar um método e técnicas

de investigação adequadas ao seu objeto de estudo, que lhe permitam a

produção do novo conhecimento.

(VILARINHO, apud MORO, 2009, p.177-178)

Como o objeto de estudo desta pesquisa é identificar e compreender os sentimentos

de professores do 1º ano diante da ampliação do Ensino Fundamental, optamos por uma

pesquisa de abordagem qualitativa.

Segundo Chizzotti (apud Mollica, 2010):

O termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais

que constituem objeto de pesquisa, para extrair do convívio significados

visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível e,

após esse tirocídio, o autor interpreta e traduz em um texto, zelosamente

escrito, com perspicácia e competência científicas, os significados patentes

ou ocultos do objeto de pesquisa. (p. 46)

O instrumento para coleta de dados que nos pareceu mais apropriado para conhecer

os sentimentos das professoras foi a entrevista.

Para Aguiar (2006, p.18), “A entrevista é um dos instrumentos mais ricos e permite o

acesso aos processos psíquicos que nos interessam, particularmente, os sentidos e os

significados”. Como estudo piloto, realizamos uma entrevista guiada por um roteiro

previamente formulado com perguntas semiestruturadas. Um questionário também foi

utilizado para caracterização da professora. Por ocasião da qualificação, a banca sugeriu a

realização de mais uma entrevista, bem como entrevistas recorrentes. Sobre essa prática

Aguiar nos aponta:

[...] a prática da entrevista recorrente, isto é, a cada entrevista, após uma

primeira leitura, o informante deverá ser consultado no sentido de eliminar

dúvidas, aprofundar contradições, colocações e permitir uma quase análise

conjunta do processo, de modo a se explorarem as contradições, as lacunas,

etc. (2006, p.18)

Na entrevista recorrente, apresentamos uma matriz da primeira entrevista para a

professora; assim, ela pôde completar algumas questões e esclarecer outras.

Page 49: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

49

Para Szymanski (2010), o sentido de apresentar esse material decorre da

consideração pelo entrevistado, já que ambos produziram um conhecimento numa situação de

interação.

5.1 A escolha da instituição e das participantes

O motivo da escolha da instituição foi porque esta vem cumprindo as metas do

SARESP15

há cinco anos consecutivos apresentando um bom desempenho, e também pelo

elemento facilitador, pois a pesquisadora tem um bom relacionamento com a diretora, o que

ajudou na coleta dos dados e no acesso à escola, aos professores e funcionários.

Os sujeitos da nossa pesquisa foram duas professoras que lecionam para o 1º ano do

Ensino Fundamental de nove anos em escola pública da Rede Estadual de Ensino.

A diretora da escola, ao tomar conhecimento dos objetivos da nossa pesquisa,

prontamente se colocou à disposição para nos ajudar no que fosse preciso, indicando o nome

das professoras.

O critério para a escolha das participantes foi: professora que está lecionando para o

1º ano do Ensino Fundamental de nove anos e que tivesse atuado como docente na antiga 1ª

série. Este critério nos ajudou a perceber que sentimentos foram gerados nas professoras que

passaram por essa nova experiência.

5.1.1 A Instituição16

A escola está localizada em um município da Grande São Paulo e atende o Ciclo I do

Ensino Fundamental em regime de progressão continuada; funciona em dois períodos: manhã,

das 7 horas às 11 horas e 30 minutos; tarde, das 13 horas às 17 horas e 30 minutos.

O prédio escolar foi construído em 1968, passou por reformas nos anos de 1998 e

2006, tendo sido adaptado para alunos portadores de necessidades especiais. Conta com dez

15

Sistema de Avaliação Externa do Estado de São Paulo, realizado desde 1996. “Tem como finalidade produzir

informações periódicas e comparáveis sobre a situação da escolaridade básica na rede pública de ensino

paulista, visando orientar os gestores do ensino no monitoramento das políticas voltadas para a melhoria da

qualidade educacional” ( Informações retiradas do site http://saresp.fde.sp.gov.br ). 16

Os dados foram retirados do Projeto Político Pedagógico da instituição.

Page 50: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

50

salas de aulas, centro de leitura, salas de direção, coordenação e secretaria, sala dos

professores, pátio coberto e um playground infantil.

A escola possui recursos materiais para o apoio pedagógico e uso administrativo,

acervo de livros, acervo de fitas e DVDs e equipamentos audiovisuais.

Sua organização técnico-administrativa conta com uma diretora efetiva, uma vice-

diretora designada, uma coordenadora pedagógica, além de uma secretária, três agentes

escolares, um auxiliar de serviços e um funcionário que foi contratado pela APM17

.

O corpo docente é constituído por vinte e cinco professores PEB I (doze professores

efetivos e treze OFAs18

), um professor de Educação Física e outro de Arte.

A maioria dos alunos é proveniente de classes populares, porém com grande

valorização dos estudos como possibilidade de ascensão social. As famílias são participativas

e presentes nos eventos que a escola proporciona. A comunidade escolar é formada por

quatro bairros.

A escola está próxima a um Centro Esportivo Municipal, que é utilizado para aulas

de Educação Física e outras atividades conforme parceria com a Secretaria Municipal de

Esportes.

A comunidade preserva o prédio escolar e não há problemas com depredações,

pichações ou mesmo furtos.

A construção do Projeto Político Pedagógico da escola está norteada por princípios

de justiça social, inclusão cultural, étnica, física, social e cognitiva. A educação é a porta para

alcançar uma sociedade mais justa com uma equipe de gestores e professores que reflitam

sobre a sua prática, assumindo um compromisso pedagógico em rever suas concepções de

mundo e de educação.

5.2 A Fase das Entrevistas

As entrevistas foram guiadas por um roteiro previamente elaborado (apêndice A) e

em diferentes dias. É importante salientarmos que embora estivéssemos nos orientando por

um roteiro, cada entrevista seguiu caminhos próprios.

17

Associação de Pais e Mestres. 18

Professor Ocupante de Função Atividade (categoria de professor não efetivo do).

Page 51: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

51

5.2.1 A entrevista com a professora Márcia19

Como já mencionado anteriormente, a escolha das participantes para as entrevistas

foi uma indicação da diretora da escola, pois as mesmas atendiam aos critérios citados no

corpo desta pesquisa.

Primeiramente, entrei em contato por telefone com a professora, dando alguns

esclarecimentos sobre a pesquisa e a necessidade de realizar uma entrevista. Márcia colocou-

se à disposição e marcamos uma data que fosse mais adequada para ela.

A entrevista foi realizada na própria escola, em junho de 2012. Os alunos foram para

a aula de Educação Física e aproveitamos esse horário para conversarmos com mais

tranquilidade. O espaço utilizado foi uma sala de aula.

Antes de iniciarmos a entrevista, percebi a professora apreensiva e nervosa, portanto,

achamos conveniente conversarmos sobre outros assuntos. Conversamos sobre meu trabalho,

meus alunos e sobre a escola em que leciono. Márcia me contou sobre seus netos e seus

alunos. Quando notamos que a professora estava mais tranquila, começamos a falar dos

objetivos da pesquisa e da necessidade de gravar a entrevista. Mais calma, Márcia assinou o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice C) e iniciamos a entrevista, que teve a

duração de aproximadamente uma hora e dez minutos.

No decorrer da entrevista, Márcia foi ficando cada vez mais à vontade fazendo

algumas brincadeiras e sorrindo; esse momento de descontração foi importante porque Márcia

pôde expressar seus sentimentos sem medo.

Na sequência da entrevista, Márcia respondeu um questionário de caracterização, que

pode ser encontrado nos apêndices B e D.

Cumpre-nos esclarecer que a entrevista recorrente foi realizada em dezembro de

2012. Após a transcrição dos dados coletados da primeira entrevista, apresentamos uma

matriz do conteúdo para a entrevistada esclarecer alguns pontos tanto em relação à sua

formação como em relação à escola de nove anos, tais como: o entendimento que a professora

tem do Ensino Fundamental de nove anos; detalhes sobre as dificuldades que as crianças têm;

a importância do brincar para essa faixa etária; quantos anos depois de formada fez o curso

superior.

Os esclarecimentos foram acrescentados à matriz (apêndice F). Nesse dia, Márcia

estava mais confortável e tranquila.

19

Usamos um nome fictício para preservar a verdadeira identidade da professora.

Page 52: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

52

5.2.2 Conhecendo um pouco a professora Márcia

Márcia tem 59 anos, é uma professora alegre e falante; mesmo nervosa no início da

nossa entrevista, mostrou-se disposta a colaborar. Formada no curso de Magistério há 22

anos, está há dez nessa escola. Ao longo da sua carreira, lecionou para todas as séries do

Ensino Fundamental I anos iniciais. Sua preferência é trabalhar com crianças da 1ª série. Pelas

exigências da LDB 9394/96, fez o curso Normal Superior EAD20

numa universidade

particular. Quando começou a lecionar para o 1º ano do Ensino Fundamental de nove anos,

fez inscrição para o curso A criança de seis anos no Ensino Fundamental21

, mas infelizmente

não conseguiu concluir porque o site apresentava constantes problemas e Márcia não

conseguia postar as atividades na plataforma online.

5.2.3 A entrevista com a professora Marina22

Entramos em contato com a entrevistada por telefone. Como estava chegando o final

do ano e as professoras estavam participando dos Conselhos de Classe, Marina só pôde nos

atender na segunda quinzena de dezembro de 2012.

No dia da entrevista, o professor de Educação Física ficou com as crianças; assim,

nós pudemos conversar tranquilamente em outra sala de aula.

Cumpre-nos esclarecer que a entrevista com a professora Marina foi devidamente

consentida.23

Diferente da professora Márcia, Marina estava tranquila e confiante. A entrevista

teve duração de aproximadamente uma hora e vinte minutos, transcorrendo de uma forma

bem tranquila e agradável.

Após a entrevista, Marina respondeu o questionário de caracterização, que pode ser

encontrado nos apêndices B e E.

Ao final da entrevista, Marina me convidou para participar da festa de encerramento

do ano e pude ter o prazer de desfrutar com ela e com as crianças esse momento tão alegre.

20

Educação a Distância 21

Curso online oferecido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, por meio da Escola de Formação

e Aperfeiçoamento dos Professores do Estado de São Paulo, em parceria com a Fundação Santillana. Esse curso

oferece subsídios teóricos e práticos para a ação docente. (Informações retiradas do site

<http://www.rededosaber.sp.gov.br/> 22

Usamos um nome fictício para preservar a verdadeira identidade da professora. 23

Ver apêndice C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Page 53: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

53

5.2.4 Conhecendo a professora Marina

Marina tem 46 anos, é uma professora extrovertida e carismática. Desde o início da

entrevista mostrou-se disposta a contribuir com a nossa pesquisa. Fez o curso de Magistério, é

professora OFA (ocupante função atividade) do Ensino Fundamental I anos iniciais. Ingressou

na profissão em 1986. Trabalhou em escolas particulares e está nessa escola há dois anos.

Marina já lecionou para outras séries e diz gostar muito de trabalhar com alunos do 5º ano;

atualmente leciona para o 1º ano. Fez o curso Normal Superior em uma instituição particular;

não participou do curso A criança de seis anos no Ensino Fundamental, porque não tinha

habilidades para realizar o curso online.

Page 54: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

54

6- PROCEDIMENTOS PARA A ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES

“A análise é o processo que conduz à explicitação da compreensão do

fenômeno pelo pesquisador. Sua pessoa é o principal instrumento de

trabalho, o centro não apenas da análise de dados, mas também da produção

dos mesmos durante a entrevista” (SZYMANSKI, ALMEIDA, PRANDINI,

2010, P.71).

Partindo da fala das autoras e para não se perderem os sentimentos e as emoções das

professoras, foram registrados, ao longo das entrevistas, entonação, gestos e expressões

corporais das mesmas. Os dados coletados foram transcritos logo após as entrevistas.

O processo de transcrição de entrevista é também um momento de análise,

quando realizado pelo próprio pesquisador. Ao transcrever, revive-se a cena

da entrevista, e aspectos da interação são relembrados. Cada reencontro com

a fala do entrevistado é um novo momento de reviver e refletir. (op. cit.

p.74)

Após as transcrições das entrevistas e para organizar os depoimentos das professoras,

elaboramos um quadro (apêndice F) contendo três colunas:

1ª coluna - as perguntas de cada entrevista e da entrevista recorrente;

2ª coluna - as respostas da professora Márcia;

3ª coluna - as respostas da professora Marina.

Realizamos, então, diversas leituras para apreendermos o significado das falas.

Fizemos uma análise criteriosa dos dados agrupando-os em eixos.

Deparamos com um rico material, entretanto, pela inviabilidade de utilizarmos todas

as informações, selecionamos alguns eixos para discutir de acordo com o objetivo desta

pesquisa, a saber:

Sentimentos das professoras a respeito da implantação do Ensino Fundamental

de nove anos;

Sentimentos das professoras a respeito das crianças que recebem no 1º ano;

Sentimentos das professoras ao iniciarem o trabalho com o 1º ano;

A importância do grupo.

Page 55: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

55

Após a discussão de cada eixo, organizamos outro quadro para sintetizar os

sentimentos de tonalidades agradáveis e desagradáveis e as situações indutoras que

apareceram durante as entrevistas.

Apresentaremos as análises de cada eixo e os quadros síntese no capítulo a seguir.

Page 56: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

56

7- ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES

A reforma do Ensino Fundamental instituída pela Lei 11.274/2006 trouxe uma nova

configuração no cotidiano escolar, sobretudo, na vida do professor que leciona para o 1º ano

despertando-lhe diferentes sentimentos.

Para identificarmos e compreendermos sentimentos e emoções desse professor,

consideramos importante ouvi-lo na busca de apreendermos o que estava por trás desses

sentimentos e emoções.

A análise dos dados coletados durante as entrevistas foi iluminada pela teoria de

desenvolvimento de Henri Wallon, que tem como pressuposto a integração dos conjuntos

funcionais dando uma visão completa do indivíduo, que é constituído e se constitui numa

relação recíproca com o meio em que vive.

Como já exposto no capítulo anterior, a análise foi feita por intermédio de

transcrições, leituras, aproximações dos eixos temáticos e elaboração de quadros síntese.

Apresentaremos as análises das entrevistas de acordo com os eixos já colocados no capítulo

anterior.

7.1 Sentimentos das professoras a respeito da implantação do Ensino Fundamental de nove

anos

Grandes mudanças nas políticas públicas educacionais, sobretudo aquelas que afetam

a prática pedagógica do professor, precisam ser amplamente discutidas, principalmente com

os envolvidos no processo educativo. Colocados como meros executores, os professores não

são ouvidos e sofrem os efeitos dessas mudanças.

Ambrosetti apud Arelaro, Jacomini e Klein (2011) ressalta:

Colocados como executores de reformas e programas oficiais que não

entendem, não aceitam e para cuja elaboração não foram ouvidos, os

professores têm atravessado essas mudanças adotando uma atitude que

poderíamos definir como “pedagogia do possível”, ou seja, atendem

formalmente às exigências oficiais, acrescentam à sua prática aquilo que

julgam conveniente, e continuam trabalhando da sua maneira.(p.41)

Page 57: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

57

Para as autoras, “ainda prevalece a implementação pela força da lei em detrimento do

debate, do convencimento e de orientações que fundamentam a realização dos propósitos

educacionais” (ARELARO, JACOMINI E KLEIN, 2011, p.42).

Almeida (2006) ressalta a importância de dar voz aos professores para que digam

como pensam o seu trabalho na atualidade e como estão sendo afetados pelas mudanças

introduzidas pelas reformas educacionais. Nossas entrevistadas, ao falarem sobre a Lei

11.274/2006, evidenciam que a nova configuração do Ensino Fundamental gerou sentimentos

de tonalidades desagradáveis.

Mesmo eu, que trabalhei sempre com a 1ª série, fiquei meio preocupada [...]

A insegurança era geral, não era só de quem iria pegar o 1º ano, não. As

professoras das 3ª e 4ª séries também [...]

[...] nós tínhamos esse medo e essa insegurança. (Márcia)

Foi assim, tudo meio ainda sem muita estrutura, meio jogado e confuso [...]

[...] das professoras estarem inseguras [...]

Estavam ansiosas [...] (Marina)

Esses sentimentos apontados se devem ao fato de que para muitos professores, uma

nova configuração no seu trabalho pode despertar sensações desagradáveis, causar algum

sofrimento e impedir sua atuação como docente. Nesses casos, a teoria walloniana ressalta

que a emoção prevalece em situações em que o indivíduo não tem competência ou em

situações de imperícia. “A emoção traz consigo a tendência para reduzir a eficácia do

funcionamento cognitivo [...]”. “[...] Na vida adulta ela tende a surgir nas situações para as

quais não se tem recursos, nas circunstâncias novas e difíceis” (DANTAS 1992, p.88).

Márcia relata que os sentimentos de insegurança também atingiram os professores

das demais séries, “[...] e foi uma insegurança geral” (Márcia).

O documento publicado pelo MEC (2007), Ensino Fundamental de nove anos -

orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade, deixa clara a necessidade de

discussões a respeito da ampliação do Ensino Fundamental: “[...] é preciso, ainda, que haja,

de forma criteriosa, com base em estudos, debates e entendimentos [...]” (p.9).

Ao questionarmos as professoras sobre as discussões que envolveram a ampliação do

Ensino Fundamental, percebemos também que pouco foi feito no interior das escolas:

Naquele ano, nós não recebemos nenhuma formação da Diretoria de Ensino;

a diretora fez uma reunião com todos os professores da escola pra comunicar

e como seria a implantação do Ensino Fundamental de 9 anos e fez também

Page 58: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

58

a reunião pra saber como a gente ia começar a trabalhar com estas

crianças[...]

Nós discutimos pouco sobre o ensino de nove anos [...]. (Márcia)

[...] teve uma reunião geral para informar sobre a implantação do ensino de

nove anos. A diretora estava à frente da reunião. (Marina)

As falas evidenciam que nas reuniões que antecederam a implantação do Ensino de

nove anos nas escolas em que lecionam, não se discutiu a nova estrutura do Ensino

Fundamental. Márcia diz que a diretora comunicou os professores e pouco se discutiu sobre o

assunto. Marina ressalta que na reunião geral, a diretora informou sobre a implantação.

O documento supracitado ressalta ainda que os equipamentos, os materiais didáticos

e o mobiliário precisam ser repensados; contudo, nos depoimentos das professoras, essas

mudanças não ocorreram no primeiro ano da implantação do Ensino Fundamental:

No primeiro ano da implantação, não teve muitas adaptações, não [...]

Infelizmente as carteiras e as cadeiras são as mesmas até hoje. [...]

[...] a escola tem que oferecer mais coisas para o aluno. Não pode só oferecer

lousa, carteiras e cadeiras, eles estão cansados disso. (Márcia)

Na antiga escola, não teve nenhuma adaptação na parte física, as crianças

foram recebidas com as mesmas carteiras e cadeiras. Aqui nessa escola,

também não mudou, e eu acho que não são adequadas para nossas crianças.

Eu acho as cadeiras e carteiras muito grandes pra eles, acho incômodo,

então, o ideal seria que fosse tudo próprio para uma criança de 6 anos, não

essa carteira que é muito grande, eu acho que isso deveria mudar na

estrutura.(Marina)

As falas das professoras mostram que as escolas não adequaram o mobiliário para

receber as crianças do 1º ano e que as carteiras e cadeiras são as mesmas até hoje. Márcia

acrescenta que as crianças estão cansadas disso e que a escola tem que oferecer mais.

Um mobiliário que não seja adequado para os alunos com seis anos de idade, aliado à

falta de preparo para a implantação da nova lei, dificulta a criação de um ambiente criativo e

acolhedor para as crianças.

A sala de aula deve ser um cenário convidativo à aprendizagem. A esse respeito

Hoffmann revela:

[...] O cenário criado pelo educador - o tom afetivo ou agressivo na

condução dos trabalhos, os tempos destinados às situações, os recursos

disponibilizados e outros aspectos - pode ser diretivo e limitador das

respostas dos alunos, ou ao contrário, provocativo e convidativo à

aprendizagem. Embora seja praticamente impossível sabermos o jeito certo

de fazer as provocações adequadas a crianças e jovens, esse é o esforço que

se deve ter em educação. Não basta, contudo, fazer o desafio adequado em

Page 59: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

59

termos intelectuais ou afetivos. É preciso que o contexto de aprendizagem

esteja organizado de forma significativa para isso, criando-se cenários

educativos que permitam aos alunos terem confiança, recursos, a liberdade

de tempo e espaço para suas descobertas. (HOFFMANN, apud

HASHIMOTO, 2012, p.123)

Um ambiente educativo destinado a situações de aprendizagem, que ajude o aluno a

ter confiança e liberdade, deve estar aliado a uma proposta pedagógica com objetivos e metas

claros, que leve em conta as necessidades das crianças.

Apesar de evidenciar sentimentos de tonalidades desagradáveis quanto à implantação

do ensino de nove anos, Marina se refere às colegas que, mesmo inseguras, realizaram um

bom trabalho em função da disponibilidade de trabalhar com os alunos do 1º ano.

Estavam ansiosas, mas pegaram o 1º ano porque queriam ter aquela

experiência, não foi falta de opção, foi da vontade delas e trabalharam super

bem naquele ano. (Marina)

Márcia diz que mesmo sem mudanças na parte física, ela e as demais professoras

realizaram um bom trabalho: “[...] mas até que realizamos um bom trabalho”.

Vale dizer que mesmo evidenciando situações que as deixaram ansiosas e apavoradas

em seu trabalho, as entrevistadas não se eximiram das suas responsabilidades enquanto

professoras. A experiência enquanto profissional foi essencial nesse processo.

Corroborando com a importância da experiência, Almeida (2010) ressalta: “Nós,

professores, sabemos que o fio condutor da nossa ação é a experiência de cada um, constituída

na trajetória pessoal e profissional” (p.119).

Cumpre-nos informar que nos anos seguintes, a instituição adaptou alguns espaços

para as crianças, a saber, brinquedoteca, sala de leitura e um mini playground.

Nós temos a brinquedoteca, a sala de leitura separada, tudo com horário

definido pra eles poderem trabalhar, brincar nesses brinquedos ou ir pra

biblioteca com mais tranquilidade, né? (Márcia)

Aqui na nossa escola, nós temos um parquinho, com grama, gangorra, tudo

bonitinho, fica aqui do lado, é legal e nós levamos as crianças lá. É um mini

playground [...] (Marina)

Evidenciamos nos relatos que o mobiliário da sala de aula era o mesmo até a data da

entrevista; entretanto, a direção da escola se preocupou em organizar outros espaços

diferenciados de aprendizagem para os alunos frequentarem.

Page 60: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

60

Sobre os espaços físicos dentro da escola Rapoport (2009) ressalta:

[...] o ambiente, compreendido numa dimensão que abrange tanto os

espaços físicos quanto as relações que se estabelecem no interior dos

mesmos, contempla e aproxima-se, de certo modo, das características

e necessidades do universo infantil. (p.24)

Contudo, Márcia declara que a sala de computador não comporta todos os seus

alunos.

Aqui na escola, nós temos a sala de computador com 10 computadores e 31

alunos; como você coloca esta quantidade de alunos em 10 computadores? É

difícil até pra ficar na sala, não dá. Eu acho que a escola tem que evoluir,

sim, mas também tem que dar boas condições para os alunos. (Márcia)

A professora deixa clara a importância de a escola oferecer boas condições físicas

para as crianças.

Corsino (2007) diz que as condições dos espaços, organização, recursos, limpeza,

segurança etc. são fundamentais, e que um trabalho de qualidade para as crianças nas

diferentes áreas do currículo exige ambientes aconchegantes, desafiadores, seguros, criativos

e alegres. Portanto, não basta apenas criar ambientes diferenciados; estes devem oferecer

condições adequadas para as crianças.

Ao falarem sobre as questões referentes à escola de nove anos e os sentimentos das

professoras a respeito da ampliação do Ensino Fundamental, elas revelaram sentimentos de

tonalidades tanto agradáveis como desagradáveis que estão registrados no quadro 2.

Page 61: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

61

Quadro 2 – Sentimentos e situações indutoras das professoras a respeito da implantação do Ensino

Fundamental de nove anos

Sentimentos de tonalidades desagradáveis

Sentimentos das professoras Situações indutoras

Márcia sentiu-se:

Preocupada

Insegura

Amedrontada

Percebeu que a insegurança era geral

Nova configuração do Ensino

Fundamental

Diante de uma situação que não conhecia

Não receber formação das instâncias

superiores (a direção é que comunicou

sobre a implantação)

Mudanças nas condições de trabalho da

sala de aula

As colegas que lecionavam para as 3ª e

4º séries também se sentiam inseguras

Marina sentiu-se:

Insegura

Ansiosa

Percebeu insegurança nas colegas

Com a nova situação que passou a

configurar o Ensino Fundamental

Mudanças nas condições de trabalho da

sala de aula

Professoras que lecionavam para o 1º

ano24

Sentimentos de tonalidades agradáveis

Sentimentos Situações indutoras

Márcia sentiu:

Prazer

Satisfação

Perceber que mesmo sem mudanças na

estrutura física da escola, ela e as outras

professoras realizaram um bom trabalho

A partir do momento em que a escola

organizou a brinquedoteca, sala de leitura

e o playground

Marina sentiu:

Satisfação

Alegria

Percebeu boa vontade nas colegas que

pegaram o 1º ano

Mesmo sem nada muito planejado,

percebeu que as colegas fizeram um bom

24

É importante salientar que no ano da implantação do Ensino Fundamental de nove anos, a professora Marina

estava lecionando para o 2º ano em outra Unidade Escolar. Em 2011, a professora transferiu-se para a instituição

pesquisada e passou a lecionar para o 1º ano.

Page 62: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

62

trabalho

A partir do momento em que a escola

organizou a brinquedoteca, sala de leitura

e o playground

7.2 - Sentimentos das professoras a respeito das crianças que recebem no 1º ano

Ariès25

(1978), em seus estudos sobre a história social da criança e da família, aponta

que a concepção de infância nem sempre existiu da mesma maneira. A criança já foi

considerada um ser insignificante, incapaz e frágil, e a infância, uma fase sem importância.

Com a modernidade, surgiu, então, um novo conceito de infância e uma preocupação

em valorizar a criança e sua educação.

Para Faria (apud Klein 2011), a criança é hoje um sujeito de direitos, um ser

competente e capaz de múltiplas relações.

Muitos são os desafios que os professores encontram na sala de aula, principalmente

quando atuam com crianças, mas colocamos a seguinte questão para tratarmos deste eixo: por

que as professoras se sentiram apavoradas com relação à idade dessas crianças?

Para a professora Márcia, a diferença em trabalhar com os alunos de seis anos é

grande em relação aos alunos que têm sete anos:

Dá a impressão no início que não tem diferença... Ah! É um ano só, não vai

fazer tanta diferença, mas a diferença é grande.

Acho que a idade das crianças que assustava; nós pensávamos que por serem

tão novinhas, elas dariam mais trabalho [...]

[...] eu fiquei apavorada, por causa da idade deles [...] (Márcia)

Márcia declara que no início, tem-se a impressão de que não há diferença entre

crianças de seis e sete anos. Ao perceber essa diferença, sentiu-se assustada pensando que por

serem mais novas dariam mais trabalho.

Marina relata que ao se deparar com as crianças com seis anos, sentiu-se perdida e

sem saber o que fazer, pensando que eram bebês, e Márcia diz que no começo do ano ficou

apavorada, sem dormir, e que o trabalho com o 1º ano é bem pesado e que as professoras de 3ª

e 4ª séries não queriam pegar os alunos do 1º ano por acharem que eram muito novos.

25

Ver ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1978.

Page 63: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

63

[...] e quando eu me deparei com os alunos do 1º ano, eu falei: Meu Deus!

Eles são uns bebês [...] (Marina)

No começo, você fica sem dormir, se descabela, fica apavorada [...]

Olha, eu ficava sem dormir, sem dormir no início, só de pensar. Meu Deus!

O 1º ano, quando inicia, é bem pesado, é bem pesadinho.

As professoras das 3ª e 4ª séries também, e elas falavam: - Nossa senhora,

pelo amor de Deus, eu não quero pegar essa crianças novinhas e pequeninas.

(Márcia)

Os depoimentos apontam sentimentos de insegurança, angústia e medo. Esses

sentimentos fizeram com que as professoras ficassem perdidas e sem saber o que fazer com as

crianças; assim como Mollica (2012), podemos dizer que a emoção obnubila a razão, e o

educador fica desorientado e não sabe como agir nessas situações.

No que diz respeito à maturidade das crianças, as professoras desvelam posições

distintas. Márcia diz que os alunos com seis anos são imaturos; já Marina acha que a idade é

certa para as crianças frequentarem a escola e que não acha as crianças imaturas.

Dá a impressão no início que não tem diferença... Ah! É um ano só, não vai

fazer tanta diferença, mas a diferença é grande. No estágio que eles estão

agora, seria uma 1ªsérie, porque, quando eles entram no 1º ano, é um

prezinho, é um prezinho mesmo, né? Eles não sabem onde colocar a

mochila, porque no prezinho, as crianças penduravam a mochila num lugar

próprio. O desenho, as atividades são diferentes. Eu senti diferença sim, eles

são mais agitados e imaturos [...] (Márcia)

Não tem mais aquele lance de imaturidade, criança imatura, não. Ele vem

pra escola, acho que a idade é certa pra vir mesmo, eu gostei, eu acho que a

criança fica mais tempo na escola e eu acho que é bom. E pra mim não

importa se está entrando com cinco/seis anos. Antigamente, ele não fazia a

pré-escola, a Educação Infantil? Agora não, ele já está aqui na nossa escola,

a gente prepara ele para o 2º ano, que está aqui mesmo; ele sai com outra

visão, já sabe o que é uma escola. Eu gostei. (Marina)

Na teoria de desenvolvimento de Henri Wallon, entre os seis e onze anos a criança se

encontra no estágio categorial. Esse estágio é marcado por grandes avanços, principalmente

no plano intelectual; há um recuo do sincretismo e seus gestos são mais precisos. Uma das

características desse estágio é a autodisciplina mental – atenção - que possibilita à criança

manter-se mais concentrada em uma atividade.

Entretanto, na psicogenética walloniana, o desenvolvimento da criança não se dá de

uma forma linear; cada estágio que se inicia não exclui o anterior, mas prepara o seguinte. Por

isso, a importância de o professor conhecer e entender as fases de desenvolvimento em que

seu aluno se encontra para acolhê-lo em todas as suas necessidades.

Page 64: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

64

Contar apenas com a experiência para lidar com as situações da sala de aula pode

dificultar o trabalho do professor. Para Almeida (2010), “Nossos sucessos e insucessos podem

então pedir por uma teoria, para validar nossa prática ou para aprimorá-la” (p.119).

Nas entrevistas, evidenciamos que o desconhecimento de uma teoria do

desenvolvimento foi um agravante na hora de lidar com essas crianças:

No 1º dia de aula, dei uma folhinha pra elas desenharem, e eu percebi que

elas têm bastante dificuldade, não colocaram o nome e outras só rabiscaram

a folha. Muitas crianças não convivem com esse ambiente letrado, poucas

crianças têm esse contato, e quando terminou o dia, eu pensei: meu Deus, eu

não vou conseguir nada. [...] São tão pequeninos e eles estão vindo do

prezinho com muitas dificuldades. Eles não têm aquela noção de caderno, de

sentar, eles pegam uma folhinha, rabiscam e jogam na sua mesa, né? Aí você

diz: espera um pouquinho, não é assim, tudo você tem que falar. Desde o

tênis que você tem que amarrar até na hora que tem que ir ao banheiro e

levar o papelzinho, tudo, né? (Márcia)

Eu cheguei pensando alto, com expectativas altas para os primeiros dias e fui

recebida daquele jeito. Naquele dia, não rendeu nada, eu apenas cuidei dos

alunos. (Marina)

Com vistas ao que foi exposto acima na fala das entrevistadas, percebemos que não

existe um entendimento quanto ao trabalho a ser desenvolvido com as crianças do 1º ano. É

importante o professor adequar suas atividades às necessidades das crianças, pois, de acordo

com Rapoport, Ferrari, Silva (2009), a criança poderá sentir-se inferior caso o nível de

exigência das atividades vá além do que as crianças dessa fase podem realizar. As autoras

retomam a ideia da transposição dos conteúdos:

Então, retoma-se a ideia de que não se podem transpor para o primeiro ano

os conteúdos e formas de trabalhar da primeira série. Ao fazer isso,

possivelmente serão criadas condições para a criança experimentar a

frustração e o fracasso, levando-a sentir-se incapaz de fazer o que é esperado

dela. (op. cit. p.20)

A teoria walloniana auxilia o professor a entender e conhecer a criança em seu

desenvolvimento e em sua totalidade. Para Wallon (1995), “A criança só sabe viver sua

infância. Conhecê-la pertence ao adulto [...]” (p. 27).

Em relação ao lúdico, as professoras apontam a importância do brincar nessa faixa

etária; entretanto, há uma ambiguidade na fala de Márcia, pois ao mesmo tempo em que

reconhece a importância do brincar para as crianças, diz não estar acostumada e se ficasse

brincando com os alunos o dia todo, ficaria desesperada. Ademais, evidenciamos que ela tem

uma preocupação com o conteúdo no caderno e que os pais cobram muito a alfabetização.

Page 65: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

65

E agora, introduzindo bastante o lúdico, né? Porque tem que ter. Eu acho que é importante, às vezes a gente até esquece que é professora ali,

tá brincando, tá se soltando, é como se você fosse uma avó mesmo que agora

eu sou, né? Eles gostam e se sentem à vontade.

Todos falavam que tinha que trabalhar o lúdico, mas sinceramente eu não

estou acostumada a trabalhar com o lúdico, porque tem muita cobrança dos

pais com a alfabetização, com o conteúdo. Depois você fala, puxa vida, e

conteúdo no caderno, essa criança vai chegar em casa e não tem nada no

caderno, e o pai vai dizer que ficou brincando o dia inteiro, e eu tinha a

impressão que se ficasse brincando o dia inteiro com eles, o tempo não iria

passar e eu ficaria desesperada. (Márcia) Quando as crianças estão brincando, você vê o jeito que ele está se

expressando, onde você vê se ela sabe dividir com o colega, porque algumas

vezes o jogo é em dupla e ele tem que saber brincar com o outro, eu acho

que isso é importante. (Marina)

Para Borba (2007, p.35), “o brincar é um importante processo psicológico, fonte de

desenvolvimento e aprendizagem”. Portanto, quando a criança está brincando na escola, não

está perdendo/matando o tempo; ela está aprendendo, se relacionando e interagindo com os

demais. O brincar é uma das formas de expressão que a criança utiliza para se relacionar com

o outro.

Brincar com o outro, portanto, é uma experiência de cultura e um complexo

processo interativo e reflexivo que envolve construção de habilidades,

conhecimentos e valores sobre o mundo. O brincar contém o mundo e ao

mesmo tempo contribui para expressá-lo, pensá-lo e recriá-lo. Dessa forma,

amplia os conhecimentos da criança sobre si mesma e sobre a realidade ao

seu redor. (op. cit. p.41)

Para Wallon (1995, p. 73), “o jogo é uma atividade própria da criança” e tem um

importante papel na sua evolução psíquica. Segundo o autor, os jogos são primeiramente

funcionais, são os movimentos mais simples, como estender os braços ou as pernas, agitar os

dedos. Sua importância é tornar os gestos mais precisos. Após estes, estão os jogos de ficção,

como brincar de bonecas, montar em uma vassoura como se fosse um cavalo, exigindo uma

atividade de interpretação mais complexa. Posteriormente, aparecem os jogos de aquisição,

quando a criança se esforça em perceber e compreender seres, coisas, imagens, canções que

estão ao seu redor. Finalmente, aparecem os jogos de fabricação, em que a criança se diverte

em reunir, transformar e criar novos objetos.

De acordo com Wallon (1995), o jogo para o adulto pode ser considerado lazer

opondo-se à atividade séria que é o trabalho; porém, para a criança o jogo assume o lugar

primordial de toda atividade que realiza. No jogo, a criança reproduz e imita as experiências

Page 66: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

66

que acaba de viver; fixa-se nos seres que lhe interessam aos seus sentimentos, podendo se

imaginar no lugar deles, alternando, assim, ficção e observação.

Diferentemente do que pensa a professora Márcia, se planejado, o jogo/brincadeira

pode ser um aliado do professor, pois possibilita a aprendizagem de várias habilidades e o

desenvolvimento intelectual e social da criança.

Dessa forma, a escola deve criar e proporcionar tempo e espaço para a brincadeira. O

brincar deve estar incluído na rotina semanal do professor; é preciso que não só as crianças do

1º ano brinquem, como todas as crianças do Ensino Fundamental anos iniciais; ademais,

brincando também se aprende.

Ao questionarmos a respeito do perfil do professor do 1º ano, as entrevistadas

relatam que o professor deve ter um perfil diferenciado e seu olhar deve estar voltado para a

criança.

[...] eu acho que você tem que ver a criança com outros olhos, porque eles

são bem pequeninos e precisam de uma atenção especial, uma conversa

especial. Até seu jeito de falar com uma criança do 1º ano, com outra do 2º

ano é diferente, porque ela já passou por essa etapa, é diferente, a criança

precisa de mais atenção, mais carinho e mais cuidados. [...] (Marina)

A gente acaba tendo um perfil diferente, viu, eu acho que a gente acaba

tendo, porque eu com a idade que eu estou, né... eu acho assim que eu acabo

brincando mais, então se for aquela pessoa mais fechada, mais séria, que não

gosta de brincar, que não gosta de vir à vontade pra escola, eu acho que a

criança vai ficar um pouco retraída. Agora se você brinca, senta no chão,

conversa, canta com eles, é bem legal. (Márcia)

As professoras demonstram que apesar de não conhecerem uma teoria do

desenvolvimento, o professor do 1º ano deve ter uma atenção especial para os alunos.

Para Almeida (2010), há uma diferença entre professores e mestres; segundo a

autora, professores são aqueles que ensinam os conteúdos, e mestres, aqueles que ajudam o

aluno a se constituir como pessoa. Corroboramos com a ideia de Almeida, sobretudo, quando

os mestres acreditam em seus alunos estabelecendo uma relação de confiança entre os

conteúdos ensinados, transformando a aprendizagem em um processo agradável e

significativo. Seu olhar está sempre voltado para as necessidades do aluno, seja criança,

jovem ou adulto.

[...] “é difícil precisar quando o mestre torna-se um mestre... A força do

mestre é uma responsabilidade assumida. Primeiramente, responsabilidade

para com os outros, pois o mestre descobre que ele tem responsabilidade de

alma. Vivia até então confiando nos outros; agora, são os outros que devem

confiar nele.” (GUSDORF, apud ALMEIDA, 2010,p.67)

Page 67: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

67

Registramos no quadro abaixo os sentimentos de bem estar e mal estar das

professoras a respeito das crianças que recebem no 1º ano.

Quadro 3 – Sentimentos e situações indutoras das professoras a respeito das crianças que recebem no

1º ano

Sentimentos de tonalidades desagradáveis

Sentimentos Situações indutoras

Márcia sentiu-se:

Apavorada

Preocupada

Com medo

Com dificuldade

Receber alunos com seis anos

Não saber como trabalhar com alunos

desta faixa etária

Não saber quais conteúdos deveriam ser

trabalhados

Trabalhar com o lúdico

Marina sentiu-se:

Perdida

Apavorada

Deparar-se com alunos com seis anos

Não saber quais atividades desenvolver

com as crianças

Sentimentos de tonalidades agradáveis

Sentimentos Situações indutoras

Márcia sentiu-se:

Alegre

Satisfeita

Por achar que tem um perfil diferente

para lidar com as crianças pequenas

Por brincar com as crianças

Por se sentir à vontade quando brinca

com os alunos

Marina sentiu-se:

Satisfeita

Porque tem um olhar diferenciado para

seus alunos

Porque dá uma atenção especial para as

crianças

Porque dá mais carinho e mais cuidado

para seus alunos

Page 68: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

68

7.3 - Sentimentos das professoras ao iniciarem o trabalho com o 1º ano

A reforma do Ensino Fundamental trouxe muitas polêmicas quanto ao trabalho a ser

realizado com os alunos do 1º ano. Embora nossas entrevistadas reconheçam que a ampliação

do Ensino Fundamental de oito para nove anos é um avanço para as crianças com seis anos de

idade, sobretudo para crianças das classes desfavorecidas, sentiram-se perdidas e inseguras

quanto à sua prática pedagógica. Isso ficou evidenciado durante as entrevistas realizadas.

Quando eu peguei o 1º ano, eu falei Meu Deus! O que vou fazer com eles? Naquele dia, eu entrei meio angustiada, sem saber direito o que fazer...

assim...meio perdida [...] (Marina)

Apesar de ter trabalhado com a 1ª série, como já falei, eu fiquei apavorada,

por causa da idade deles, pensei, aquelas crianças tão novinhas o que eu iria

trabalhar, o que iria fazer? (Márcia)

Percebemos nos relatos os sentimentos de tonalidades desagradáveis gerados pela

falta de conhecimento de uma proposta de trabalho específica para o 1º ano.

Nos depoimentos acima, evidenciamos que as professoras não tinham objetivos e

conteúdos definidos, e, segundo Almeida (2008), as finalidades propostas para o trabalho

educacional precisam ser claramente definidas, não podendo ficar subentendidas.

Assim, se os professores trabalham com incertezas e sem propostas claras e

objetivas, sentem-se inseguros. De acordo com Feldmann (2009), “[...] o professor se vê

muitas vezes inseguro, com muitas incertezas diante do seu papel e da própria função social

da escola e do trabalho docente a ser realizado”.

Marina deixa clara essa insegurança ao se deparar com os alunos do 1º ano. Relata

que já havia trabalhado com a Educação Infantil, porém sentiu-se perdida e sem saber o que

fazer ao iniciar o trabalho com o 1º ano.

Eu fiquei perdida no início, porque até então, eu nunca havia dado aula para

o 1º ano. Já tinha trabalhado com pré-escola em escola particular, que é

diferente. Quando eu peguei o 1º ano, eu falei: Meu Deus! O que vou fazer

com eles? (Marina)

Colocamos, então, o seguinte questionamento para tentar esclarecer a fala de Marina.

As crianças de Educação Infantil são diferentes das crianças do Ensino Fundamental? E

Marina responde que as exigências são diferentes: “a cobrança com a alfabetização é maior no

Ensino Fundamental” (Marina).

Page 69: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

69

Percebemos essa cobrança por parte dos pais nos depoimentos abaixo:

Tem tanta preocupação com a alfabetização que eles ficam cobrando a

escrita de mão; eles falam: eu quero que meu filho faça letra de mão.

Quando que ele vai fazer? (Márcia)

Os pais cobram muito a questão da alfabetização. Eles querem o caderno

cheio de lição, querem lição de casa logo nos primeiros dias. (Marina)

Embora os pais cobrem letra de mão e caderno cheio de lição, as professoras deixam

clara a importância de desenvolver outras atividades no 1º ano:

Na minha primeira reunião de pais, eu já explico que não é assim que

funciona com o 1º ano; falo da importância do brincar, das atividades que

desenvolvemos fora da sala de aula, na brinquedoteca, na sala de leitura,

assim eles ficam menos ansiosos e eu fico mais tranquila. (Marina)

E eu falo: poxa, vamos com calma, vamos por partes, tem as suas etapas, né,

a gente não pode pular estas etapas; e agora eu percebo uma cobrança maior

ainda, eles falam: meu filho não aprendeu nada, não sabe nem ler; e eu

explico: não é que não aprendeu nada, ele está no seu tempo. Quando você

mostra uma sondagem ou uma provinha, eles não entendem direito e

também não dão valor para as fases que a criança passa; como pra gente

antigamente, certas fases da criança também não tinha, e agora é diferente.

Eu explico nas reuniões, eu tenho que mostrar a sondagem e colocar as

hipóteses da escrita na lousa e falo como eu estou trabalhando e falo em que

hipótese de escrita a criança está; aí eles começam a entender um pouco, mas

é difícil pra cabecinha dos pais também. (Márcia)

Nesse momento, é importante retomarmos as orientações do MEC (2007) no que

tange ao trabalho a ser desenvolvido com os alunos do 1º ano. Não se trata de transferir os

conteúdos da antiga 1ª série para esse 1º ano, restringindo a aprendizagem exclusivamente à

alfabetização, mas sim, ampliar as possibilidades de aprendizagem.

O MEC (2007) destaca a importância de as escolas construírem uma proposta

pedagógica coerente com as especificidades da infância e que respeite a criança como sujeito

da aprendizagem.

Dantas e Maciel (2010) sinalizam que o ensino de nove anos deve ser repensado no

seu conjunto, salientando que:

[...] é preciso que haja a reorganização pedagógica, de propostas, currículos

e projetos político-pedagógicos, de modo que assegurem o pleno

desenvolvimento das crianças em seus aspectos físico, psicológico,

intelectual, social e cognitivo, tendo em vista alcançar os objetivos do

Ensino Fundamental sem restringir a aprendizagem das crianças de seis anos

Page 70: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

70

à exclusividade da alfabetização, mas sim ampliando as possibilidades de

aprendizagem. Tudo isso, tendo a infância como eixo primordial e visando a

reestruturação qualitativa dessa etapa de ensino. (p.160)

As autoras também deixam claro que o trabalho com as crianças de seis anos deve

valorizar as diversas formas de expressão, como a arte, a dança e a música.

Retomando a entrevista com Marina, ela também expressa sua angústia num dia

tumultuado:

[...] e quando eu me deparei com os alunos do 1º ano, eu falei: Meu Deus26

!

Foi um dia muito tumultuado, serviu só pra cuidar dos alunos, não serviu pra

nada, além disso. (Marina)

Todavia, ao refletir o quão tumultuado e angustiante tinha sido aquele dia com as

crianças, Marina muda suas estratégias, sua postura e metodologia:

Quando cheguei em casa, na verdade, no caminho, já fui pensando que tinha

que mudar minha postura, minhas estratégias e minha metodologia, porque

eles são pequenos e foi aí que passei a sentar no chão, a brincar, a cantar, e

eles aprenderam muita organização, muita coisa mesmo. (Marina)

No relato de Marina, percebemos que mesmo vivendo um momento de frustração no

qual não sabia como agir com as crianças, ela percebeu a necessidade de mudar.

Durante toda a vida do ser humano ocorrem situações de aprendizagens e mudanças,

e com Marina não foi diferente.

Almeida (2010) corrobora com o nosso pensamento ao citar que a psicogenética

walloniana é uma teoria otimista: “enquanto o indivíduo mantiver sua capacidade de ajustes a

um meio saudável, estará aberto a mudanças, em todas as etapas. A passagem do tempo

impõe limites, mas também possibilidades, algumas nunca imaginadas” (p.25).

Cumpre-nos salientar que Marina esclarece um ponto importante ao falar sobre o

segundo ano em que leciona para crianças do 1º ano:

Neste ano, não; como eu já tinha passado por tudo aquilo, eu mudei meu

jeito e minhas atividades, eu já conhecia as expectativas de aprendizagem do

1º ano e preparei atividades para essa faixa etária; eu estava menos ansiosa

porque já tinha trabalhado com os alunos do 1º ano. Eu fui para casa mais

feliz e tranquila, foi maravilhoso, foi bom, as crianças me receberam muito

26

Grifo nosso. Na entrevista com Marina, nesse momento, ao falar dos alunos, captamos sentimentos de

angústia e desespero.

Page 71: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

71

bem e eu a eles também; eu senti que era uma turminha que ia render muito,

e rendeu. Eu não fui embora frustrada, não, eu fui feliz, foi diferente daquela

primeira experiência, porque ninguém falou nada pra mim.

Olha Margarete, foi uma graça, foi maravilhoso, eu não tive problema com

este 1º ano, foi maravilhoso, foi muito bom, nossa, eu estou muito feliz, eles

saíram com mais do que eu esperava, eles foram desabrochando e a

aprendizagem deles também. Quando você vê uma criança de seis anos

comparando as histórias que foram trabalhadas em sala é o máximo, eu acho

lindo, gostei muito do trabalho, estou muito feliz. (Marina)

A partir do momento em que Marina passa a conhecer as expectativas de

aprendizagem do 1º ano, não se sente mais frustrada e muda seu jeito, e as atividades são

preparadas levando em conta a faixa etária dos seus alunos.

Para Gulassa (2010), “O professor precisa ter clareza de para que está educando seus

alunos, e tais objetivos permeiam toda a sua ação” (p.117).

No quadro abaixo, registramos os sentimentos de tonalidades desagradáveis e

agradáveis e as situações indutoras referentes ao trabalho com o 1º ano.

Quadro 4 - Sentimentos e situações indutoras das professoras ao iniciarem o trabalho com o 1º ano

Sentimentos de tonalidades desagradáveis

Sentimentos Situações indutoras

Márcia sentiu-se:

Apavorada

Insegura

Não ter uma proposta pedagógica

específica para o 1º ano

Não ter claro o trabalho que deveria

realizar com os alunos do 1º ano

Marina sentiu-se:

Angustiada

Perdida

Não ter uma proposta pedagógica

específica para o 1º ano

Não ter claro o trabalho que deveria

realizar com os alunos do 1º ano

Sentimentos de tonalidades agradáveis

Sentimentos Situações indutoras

Márcia sentiu-se:

Tranquila

Por esclarecer aos pais sobre o trabalho

que está desenvolvendo na sala de aula

com relação à alfabetização

Marina sentiu-se:

Satisfeita

Feliz

Tranquila

Porque percebeu a tempo que precisava

mudar sua postura, estratégia e sua

metodologia

Por ter lecionado no ano anterior para os

alunos do 1º ano

Page 72: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

72

Porque passou a conhecer as

expectativas de aprendizagem do 1º ano

Porque seu aluno está aprendendo

7.4 - A importância do grupo

Embora poucas sejam as referências ao grupo de pares, julgamos importante abrir

este eixo, pois tanto a literatura sobre a formação de professores quanto minha experiência no

magistério mostram a força do grupo na socialização profissional.

Para Wallon:

O grupo não é simples ajuntamento, ele se funda na colaboração. Na

impossibilidade, de início de associar os indivíduos, em seus esforços de

existência, pelo conhecimento do meio e das dificuldades a resolver em

comum, é preciso arrastá-los juntos para a ação. [...] no estágio em que as

situações ultrapassam ainda as capacidades conceituais de cada um, a ação

precisa produzir-se pelo contágio de um impulso comum, por reflexo

condicionado e pelo simples sinal de uma circunstância que lhe tenha sido

anteriormente associada. (WALLON, apud MARTIN, 2006, p.76)

Diante disso, Márcia e Marina buscaram colaboração e apoio no grupo:

Comentei com as minhas colegas a minha preocupação [...]

[...] e às vezes, com as colegas de 1º ano mesmo. Trocamos as dúvidas, os

conhecimentos. Tem uma professora que é mais nova do que eu, passou por

outras escolas, então, a gente troca as experiências, né? (Márcia)

Ah! Eu recorro ao grupo de professores do 1º ano, minhas colegas, e falo que

estou com tal e tal problema e o grupo me ajuda.

[...] acabamos falando com as amigas do 1º ano mesmo. (Marina)

As entrevistadas sentiram-se acolhidas pelo grupo de professores e puderam falar

sobre as dificuldades que estavam enfrentando. Para Gulassa (2010), “todo desenvolvimento

acontece nos grupos. O homem não sobreviveria ou se humanizaria fora das relações entre si,

das relações grupais” (p. 104). Nesse sentido, é no grupo que o indivíduo se constitui como

ser humano.

De acordo com Zumpano e Almeida (2012), o convívio do ser humano em grupo é

fundamental para sua integração ao meio sociocultural.

Page 73: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

73

O grupo propicia a regulação do comportamento e das atitudes do indivíduo

em relação ao meio e ao outro com o qual congrega esforços para garantir

um objetivo comum. É por meio do confronto entre individualismo e

coletivismo que o grupo ganha vida [...] (p. 31)

Na teoria walloniana, o grupo é um espaço privilegiado de relações onde ocorre

simultaneamente a construção individual e coletiva.

Márcia destaca a importância da coordenadora para auxiliá-la em momentos de

dificuldades:

Eu recorro à coordenadora e peço socorro, porque você acaba até errando em

algumas coisas, né? No modo de falar. Puxa vida! Não deveria ter falado

assim, tem que mudar, agora tem que ser assim. Então, é sempre com a

Coordenadora [...]

Mas quem me acode mesmo é a Coordenadora. (Márcia)

Márcia sente-se tranquila e amparada quando necessita da ajuda da coordenadora.

Pelos relatos acima observamos que o ambiente escolar tem proporcionado

momentos de troca de experiência com as colegas e o amparo da coordenação. Isso permitiu

às professoras se sentirem mais seguras e tranquilas.

Todavia, Marina afirma que nem sempre nas reuniões do HTPC, consegue discutir

sobre os problemas da sala de aula porque a coordenadora passa muita informação e há muita

coisa para estudar:

E também tem o HTPC que ajuda um pouco, mas no HTPC tem muita

informação para a coordenadora dar, tem muita coisa pra estudar, nem

sempre lá a gente vai discutir sobre os problemas que ocorrem na sala de

aula [...] (Marina)

No caso de Marina, evidenciamos a necessidade de haver mais tempo nas reuniões

de HTPC para trocar experiências. Segundo Zumpano e Almeida (2012), o PC27

precisa trocar

experiências, estar próximo e ser um aliado dos professores que estão sob seus cuidados.

O Professor Coordenador é um importante agente de transformação na escola e

exerce um papel relevante na formação do professor. Ele deve estar atento às necessidades e

dificuldades que os professores enfrentam no dia a dia.

Sobre a formação continuada as professoras relatam que é um momento importante

para a reflexão do trabalho que desenvolvem na sala de aula e também para troca de

experiências e desabafo:

27

Professor Coordenador

Page 74: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

74

Acho que é um momento de reflexão e muitas vezes de desabafo, porque o

professor precisa ser escutado em suas angústias. (Márcia)

É importante para a reflexão do trabalho que nós estamos realizando na sala

de aula, e também podemos trocar experiências com os colegas, falar dos

problemas do dia a dia com os alunos e discutir um pouco de teoria.

(Marina)

Segundo Franco (2009), é fundamental nas reuniões de HTPC que o coordenador

proporcione momentos de troca de experiências, de estudo teórico para subsidiar a prática

pedagógica, relacionando os problemas do dia a dia com as teorias.

Zumpano e Almeida (2012) apontam que o PC deve estabelecer uma parceria com os

professores com base na troca de experiências e complementaridade de ações:

O acompanhamento dos professores, o estabelecimento de uma parceria com

esses atores baseada em princípios de troca de experiências e

complementaridade de ações, em que cada um atualiza o que existe em

potência no outro, o olhar atento sobre o trabalho executado, a escuta ativa, a

apreensão desse profissional completo, considerando seus saberes, sua

afetividade e sua cognição, refletem a vontade de o coordenador pedagógico

compreender os professores que acompanha, pois dessa forma ajuda-os a dar

sentido ao que ainda não pode se observado. Por intermédio do coordenador

pedagógico, é possível construir um grupo de professores que se desenvolva

utilizando o estudo, a reflexão e a produção coletiva do conhecimento;

conhecimento que terá um significado muito especial, pois não foi

construído por um, mas por todos [...] (p.32-33)

Diante do exposto, coordenador e professores, de posse desse conhecimento

construído em grupo, poderão fundamentar as ações pedagógicas com mais segurança.

Cumpre enfatizar que como as professoras se sentiram acolhidas no grupo, os

sentimentos de tonalidades desagradáveis não foram evidenciados neste eixo. No quadro 5,

serão expostos apenas os sentimentos de tonalidades agradáveis.

Page 75: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

75

Quadro 5 - A importância do grupo

Sentimentos de tonalidades agradáveis

Sentimentos Situações indutoras

Márcia sentiu-se:

Acolhida

Amparada

Porque num momento de angústia

pôde contar com as colegas de

trabalho

Porque pôde contar com a

Coordenadora da escola em momentos

de dificuldades

Poder trocar experiência com uma

professora que é mais nova do que ela

e lecionou em outras escolas

Marina sentiu-se:

Acolhida

Amparada

Por contar com as colegas que

também lecionam para o 1º ano

Page 76: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

76

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa, que teve como objeto central de estudo identificar e compreender os

sentimentos do professor do 1º ano, tem muito de minha experiência profissional enquanto

Professora, Professora Coordenadora, Vice-diretora, Diretora e Professora Coordenadora da

Oficina Pedagógica.

Ter vivenciado todas essas funções ao longo da minha trajetória profissional me fez

refletir muito sobre as dificuldades e ansiedades que enfrentamos em cada uma dessas

funções, sobretudo, a de professora de ciclo I. Por isso, buscamos dar voz a esse professor que

está na sala de aula esquecido pelas instâncias superiores.

Ao longo da pesquisa, fui percebendo que há muito de mim neste estudo; sinto

vontade de falar, e às vezes até de gritar, na busca de ser ouvida em minhas necessidades,

porque é isso que queremos enquanto profissionais: sermos ouvidos em nossas angústias,

medos e frustrações, mas infelizmente poucos querem nos ouvir.

E por que ouvir e entender os sentimentos dos professores? Porque eles podem nos

revelar muito a respeito das suas necessidades enquanto educadores. Nessa perspectiva,

Hunter (2004) alerta que uma necessidade é uma legítima exigência física ou psicológica para

o bem estar do indivíduo.

As entrevistas apontaram que as professoras têm necessidade de falar sobre suas

angústias, medos, ansiedades, alegrias e conquistas. As entrevistadas relataram a necessidade

de uma formação continuada que leve em consideração também esses aspectos.

A necessidade afetiva das professoras ficou evidenciada ao longo das entrevistas ao

suscitarem sentimentos de tonalidades desagradáveis. Se esses sentimentos não forem bem

trabalhados, poderão ocasionar paralisações ou rupturas, instalando-se uma crise. É

importante o educador tomar consciência das suas emoções para redimensionar suas ações. Se

esses sentimentos forem levados em consideração e trabalhados apropriadamente, poderão ser

impulsionadores de crescimento.

Outro aspecto evidenciado é que o novo formato do Ensino Fundamental instaurou

uma crise para o professor do 1º ano; os dados revelaram que ele ainda não se sente seguro

quanto à metodologia e ao conteúdo. Ainda há muita dúvida em relação à criança de seis anos

na escola de nove anos. O professor do 1º ano precisa se constituir como um novo profissional

frente à reforma proposta pela Lei 11.274/2006.

Page 77: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

77

Apesar da crise que as professoras estão enfrentando, relataram que mesmo vivendo

momentos de angústia, medo, insegurança e desvalorização profissional, sentem-se satisfeitas

em trabalhar com o 1º ano, afirmando que amam o magistério e acreditam na educação.

Outro aspecto a ser destacado neste estudo se refere ao distanciamento entre as

reformas educacionais e seus principais agentes, os professores; eles não são considerados e

estão sempre ausentes na elaboração das propostas educacionais. Almeida (2006) aponta que

temos assistido à desvalorização profissional e à desqualificação do trabalho do professor em

muitas reformas e a ele são impostas condições de trabalho deficientes.

A Lei 11.274/2006 está posta, mas ainda temos muitos desafios quanto à escola de

nove anos, e pensar nesse professor, na sua afetividade e nas suas necessidades é um desses

desafios.

A formação continuada é um caminho para ajudar o professor; os dados da pesquisa

apontaram para uma formação continuada que leve em consideração os aspectos afetivos do

educador. Vieira (2011) ressalta que ao vivenciar um processo de mudança, haverá sempre

um efeito na afetividade no professor. Portanto, conhecer os sentimentos do professor pode

facilitar o enfrentamento de situações cotidianas que surgem no trabalho.

Em relação à criança de seis anos, as professoras mostraram-se apavoradas e

despreparadas em trabalhar com elas. As entrevistadas apresentaram visões distintas:

enquanto uma valoriza a maturidade e tem dificuldades para trabalhar com o lúdico, a outra

professora acha que as crianças estão na idade certa para entrar no Ensino Fundamental e

valoriza o brincar nessa faixa etária. Ambas reconhecem que as crianças precisam ser

acolhidas.

A importância de os educadores conhecerem uma teoria de desenvolvimento e de

práticas educativas coerentes com as necessidades e especificidades da criança ficou patente

em suas falas.

Em linhas gerais, ficou evidenciado o desconhecimento dos documentos publicados

pelo MEC e a falta de discussão acerca da implantação do ensino de nove anos. Concordamos

com Hashimoto (2012) ao afirmar que se não houver diálogo e discussão entre o que se

constitui como lei, norma ou parecer, acompanhamento e trabalho de formação com quem

efetivamente realizará as ações, as mudanças ficarão comprometidas.

Minha experiência como professora mostra que se as formações em serviço e as

instâncias superiores não discutirem acerca da escola de nove anos, de uma reestruturação do

currículo e de uma proposta pedagógica coerente com as especificidades da criança,

acontecerá apenas a transferência dessa criança da Educação Infantil para o Ensino

Page 78: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

78

Fundamental, comprometendo os objetivos propostos pelos documentos da escola de nove

anos.

A importância do grupo no contexto escolar como suporte para ajudar o professor no

desenvolvimento do seu trabalho também ficou evidenciada nas falas das entrevistadas. O

grupo é um espaço de aprendizagem, humanização e de relações interpessoais; sendo assim,

pode ajudar o professor a enfrentar e superar as dificuldades encontradas em seu trabalho.

Ao finalizar a pesquisa, fica a certeza de que há necessidade de mais estudos que

privilegiem os aspectos afetivos do educador, considerando-o de modo integral. É preciso que

esse professor seja ouvido e suas necessidades de autoestima, pertencimento, valorização e

realização profissional sejam atendidas, pois, assim como a criança, o professor é um sujeito

completo, único e histórico, e tem necessidades que precisam ser atendidas para que dê conta

de seu importante trabalho.

Que os resultados obtidos possam ser úteis para aqueles que são responsáveis pela

formação inicial e continuada de professores.

Page 79: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

79

REFERÊNCIAS

ABBIATI, Andreia Silva. . A ampliação do ensino fundamental para nove anos: um

estudo sobre as manifestações do Conselho Nacional de Educação. Dissertação de

Mestrado. Universidade Metodista de Piracicaba, 2008.

ABDIAN, Graziela Zambão; CIARDELLA, Thaís Monteiro. Ampliação do Ensino

Fundamental para nove anos: entre as normatizações da política educacional, o movimento

teórico e as representações sociais dos profissionais da escola pública. In: Práxis Educativa,

Ponta Grossa, v.2, p. 177-191, jul. dez., 2011.

ABREU, Marcia Martins de Oliveira. Ensino Fundamental de nove anos no município de

Uberlândia: implicações no processo de alfabetização e letramento. Dissertação de

Mestrado. Universidade Federal de Uberlândia, 2009.

ABREU, Ludmila Passos. O ingresso no 1º ano do ensino fundamental de nove anos:

sentimentos revelados por crianças de uma escola pública. Dissertação de Mestrado.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010.

AGUIAR, Wanda Maria Junqueira. A pesquisa junto a professores: fundamentos teóricos e

metodológicos. In: AGUIAR Wanda Maria Junqueira. (org.). Sentidos e significados do

professor na perspectiva sócio-histórica: relatos de pesquisa. São Paulo: Casa do

Psicólogo, p. 11-22, 2006.

ALBRECHT, Tatiana D’Onellas. A implementação do 1º ano no ensino fundamental de

nove anos: estudo de uma experiência. Dissertação de Mestrado. Universidade Católica

Dom Bosco, 2009.

ALMEIDA, Ana Rita Silva. A emoção na sala de aula. Campinas, SP: Papirus, 2ª edição,

2001.

ALMEIDA, Maria Isabel de. A reconstrução da profissionalidade docente no contexto das

reformas educacionais- vozes de professores na escola ciclada. In: SILVA Aida Maria

Monteiro (org.). Políticas Educacionais, tecnologias e formação do educador:

repercussões sobre a didática e as práticas de ensino. Recife: Endipe, p.83-107, 2006.

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. Diretrizes para a formação de professores: uma

abordagem possível. In: PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza; ALMEIDA, Laurinda

Ramalho de (org). O coordenador e os desafios da educação. São Paulo: Edições Loyola, p.

9-23, 2008.

______; O relacionamento interpessoal na coordenação pedagógica. In: ALMEIDA, Laurinda

Ramalho de; PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza (org.). O coordenador pedagógico e o

espaço de mudança. São Paulo: Edições Loyola, p.67-79, 2010.

Page 80: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

80

______; Cognição, corpo e afeto. Revista Educação: História da Pedagogia-Henri Wallon:

A trajetória de um estudioso para entender as relações entre emoção e razão. São Paulo:

Editora Segmento, p.20-31, outubro de 2010.

______; Ser professor: um diálogo com Henri Wallon. In: MAHONEY, Abigail Alvarenga;

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon.

São Paulo: Edições Loyola, p.119-140, 2010.

______; MAHONEY, Abigail. A psicogenética walloniana e sua contribuição para a

Educação. In: AZZI, Roberta Gurgel; GIANFALDONI, Mônica Helena Tieppo Alves. (org.).

Psicologia e Educação. São Paulo: Casa do Psicólogo, p.101-127,2011.

ALTENFELDER, Anna Helena. Formação continuada: os sentidos atribuídos na voz do

professor. In: AGUIAR, Wanda Maria Junqueira de. Sentidos e significados do professor na

perspectiva sócio-histórica: relatos de pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo, p.40-58,

2006.

AMARAL, Suely Aparecida. Estágio Categorial. In: MAHONEY, Abigail Alvarenga; Henri

Wallon. Psicologia e Educação ALMEIDA, Laurinda Ramalho de.(org.). São Paulo: Edições

Loyola, p.51-58, 2009.

______; A constituição da pessoa: a dimensão cognitiva. In: MAHONEY Abigail Alvarenga;

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon.

São Paulo: Edições Loyola, p.77- 93,2010.

ANTUNES, Jucemara. Ensino Fundamental de nove anos; Cotidiano escolar. Dissertação

de Mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, 2010.

ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral de do

Brasil. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2006.

ARAUJO, Rita de Cássia Barros de Freitas. Construindo sentidos para a inclusão das

crianças de seis anos de idade no ensino fundamental de nove anos: um diálogo com

professores. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2008.

ARELARO, Lisete Regina Gomes; JACOMINI, Márcia Aparecida; KLEIN, Sylvie

Bonifácio. O ensino fundamental de nove anos e o direito à educação. In: Revista Educação

e Pesquisa, São Paulo, v.37, n.1, p.35-51, 2011.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro. 1ª ed. brasileira.

Editora Guanabara, 1978.

Page 81: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

81

BASTOS, Alice Beatriz B. Izique; DÉR, Leila Christina Simões. Estágio do Personalismo. In:

MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. (org.) Henri Wallon.

Psicologia e Educação. São Paulo: Edições Loyola, p. 39-49, 2009.

BONFIM, Patricia Vieira. A criança de seis anos no ensino fundamental: UNI-DUNI-TÊ...

Corporeidade e ludicidade – mais que uma rima, um porquê. Dissertação de Mestrado.

Universidade Federal de São João Del Rei, 2010.

BORBA, Ângela Meyer. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: Ensino

Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade.

Brasília: MEC, p.33-45, 2007.

BRASIL, Lei Federal 4024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. Diário Nacional da República Federativa do Brasil, 27 de dezembro de

1961. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4024.htm.

______; Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º

graus, e dá outra providências. Diário Oficial de República Federativa do Brasil, Brasília,

1971. Disponível em: htpp://www.planalto.gov.br/ ccivil/Leis/L5692.htm. Acesso em

3/07/2012.

______; Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da

República Federativa do Brasil, Brasília, 5 de outubro de 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constitui%C3% A7ao.htm. Acesso em

03/07/2012.

______; Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece Diretrizes e Bases da Educação

Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1996. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 4/07/2012 .

______; Lei 10.172 de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá

outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2001.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ leis_2001/l10172.htm. Acesso em

4/07/ 2012.

______; Lei 11.114 de 16 de maio de 2005. Altera os artigos 6o, 30º, 32º e 87º da Lei N

o

9.394, de 20 de dezembro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do Ensino

Fundamental aos seis anos de idade. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,

Brasília, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-

2006/2005/Lei/L11114.htm. Acesso em 4/07/ 2012.

______; Lei nº 11.274 de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos artigos 29º, 30º, 32º e

87º da Lei No 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o Ensino Fundamental,

com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário Oficial da República

Federativa do Brasil, Brasília, 2006. Disponível em:

Page 82: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

82

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/ L11274. htm. Acesso em:

4/07/2012.

______; Ministério da Educação. Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientações Gerais.

Brasília. Julho/2004. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/noveanorienger.pdf.

______; Ministério da Educação. Ensino Fundamental de Nove Anos: orientações para a

inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: MEC, 2007.

______; Resolução CNE/CEB Nº 7 de 14 de dezembro de 2010. Fixa Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. Diário Oficial da União.

Brasília, 15 de dezembro de 2010. Seção 1, p. 34.

BUENO, Mara Lucinéia Marques Corrêa. Ensino Fundamental de nove anos:

implementação e organização escolar em dourados/MS. Dissertação de Mestrado.

Universidade Federal da Grande Dourados, 2010.

CAPUCHINHO, Alessandra de Oliveira. Sentidos e significados produzidos pelo professor

sobre o ensino fundamental de nove anos. Dissertação de Mestrado. Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP, São Paulo, 2007.

CORSINO, Patrícia. As crianças de seis anos e as áreas do conhecimento. In: Ensino

Fundamental de Nove Anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de

idade. Brasília: MEC, p. 57-68, 2007.

COSTA, Sônia Santana da. Ensino Fundamental de nove anos em Goiânia: o lugar da

criança de seis anos, concepções e fundamentos sobre sua educação. Tese de Doutorado.

Universidade Federal de Goiás. 2009.

DANTAS, Heloísa. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In:

LA TAILLE, Yves de. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São

Paulo: Summus, p.85-98, 1992.

DANTAS, Pedro da Silva. Para conhecer Wallon: Uma Psicologia dialética. São Paulo:

Brasiliense, 1983.

DANTAS, Angélica Guedes; MACIEL, Diva Maria M. A. Ensino Fundamental de Nove

Anos e a inserção de crianças de seis anos na escolarização obrigatória no Distrito Federal:

estudo de caso. In: Educação e Sociedade, Campinas, V. 31, n. 110, p. 157, 2010.

DANTAS, Angélica Guedes. Ensino Fundamental de nove anos no Distrito Federal:

reflexões sobre a inserção de crianças de seis anos no ensino público e a atuação docente. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, 2009.

Page 83: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

83

FELDMANN, Marina Graziela. Formação de professores e cotidiano escolar. IN:

FELDMANN, Marina Graziela (org). Formação de professores e escola na

contemporaneidade. São Paulo: Editora Senac, São Paulo, p.71-80, 2009.

FERREIRA, Darlise Nunes. A alfabetização e a implantação do Ensino Fundamental de

nove anos no município de Jaguarão/RS. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de

Pelotas, 2011.

FRANCO, Francisco Carlos. O coordenador pedagógico e o professor iniciante. In: BRUNO,

Eliane Bambini Gorgueira; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; CHRISTOV, Luiza Helena da

Silva (org.). O coordenador pedagógico e a formação docente. São Paulo: Edições Loyola,

p-33-37, 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São

Paulo: Paz e Terra, 2011.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

GAMBOA, Silvio Sánchez. Pesquisa em educação: métodos e epistemologias. Chapecó:

Argos, 2007.

GHIRALDELLI, JR. Paulo. História da Educação Brasileira. 4ª ed.- São Paulo: Cortez,

2009.

GOODSON, Ivor F. Dar voz ao professor: as histórias de vida dos professores e o seu

desenvolvimento profissional. In: NÓVOA António (org.). Vidas de Professores. Portugal:

Porto Editora, p. 63-78, 1992.

GORNI, Doralice Aparecida Paranzini. Ensino Fundamental de 9 anos: estamos preparados

para implantá-lo?. In: Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, v.15, n.54, p.

67-80, 2007.

GULASSA, Maria Lúcia Carr Ribeiro. A constituição da pessoa: os processos grupais. In:

MAHONEY, Abigail, Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. (org). A constituição

da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Edições Loyola, p. 95-118, 2010.

HASHIMOTO, Cecília Iacoponi. Ensino Fundamental de nove anos: um caminho em

velha estrada? Um velho caminho em nova estrada? Tese de Doutorado. Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, 2012.

HUNTER, James C.. O monge e o executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.

Page 84: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

84

KLEIN, Sylvie Bonifácio. Ensino Fundamental de nove anos no Município de São Paulo:

um estudo de caso. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2001.

KRAMER, Sonia. A infância e sua singularidade. In: Ensino Fundamental de nove anos:

orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília: MEC, p.13-23,

2007.

LEAL, Maria do Perpétuo Socorro Lima. Ensino Fundamental de 9 (nove) anos: a

universalização do acesso, a permanência qualitativa na escola e as contradições do

processo de implantação em São Luís. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do

Maranhão, 2011.

LIMA, Lilian Aparecida. Ensino Fundamental de nove anos: repercussões da Lei nº

11.274/2006 na proposta curricular da rede municipal de ensino de Juiz de Fora.

Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2011.

LOUREIRO, Carla Cristiane. O Ensino Fundamental de nove anos e o colégio de

aplicação: da "prontidão" a emergência da infância. Dissertação de Mestrado.

Universidade Federal de Santa Catarina, 2010.

MAHONEY, Abigail, Alvarenga; Introdução. In: MAHONEY, Abigail, Alvarenga

ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. (org.). Henri Wallon: Psicologia e Educação. São Paulo:

Edições Loyola, p.9-18, 2009.

______; A constituição da pessoa: desenvolvimento e aprendizagem. In: MAHONEY,

Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; A constituição da pessoa na

proposta de Henri Wallon. São Paulo: Edições Loyola, p. 13-24, 2010.

______; Inspiração para pesquisas em educação. Revista Educação: História da Pedagogia-

Henri Wallon: A trajetória de um estudioso para entender as relações entre emoção e razão.

São Paulo: Editora Segmento, p.54-63, 2010.

MARTIN, Mara Westin Lemos. Sentidos atribuídos a uma experiência desafiadora: o desafio

de confeccionar um livro de história infantil. In: AGUIAR Wanda Maria Junqueira. (org.).

Sentidos e significados do professor na perspectiva sócio-histórica: relatos de pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo, p.73-91, 2006.

MOLLICA, Andrea Jamil Paiva. Torna-se professor da EJA: um estudo priorizando a

dimensão afetiva. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

São Paulo, 2010.

MORAES, Alessandra Cardoso de. Ensino Fundamental de 9 anos: a docência em Escolas

da Rede Municipal de São Carlos. Tese de Doutorado. Universidade Federal de São Carlos,

2011.

Page 85: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

85

MORO, Catarina de Souza. Ensino Fundamental de 9 anos: o que dizem as professoras do

1º ano. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2009.

MOTA, Maria Renata Alonso. As Crianças de Seis Anos no Ensino Fundamental de Nove

Anos e o Governamento da Infância. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio

Grande do Sul, 2010.

MOTTA, Carolina Caires. Ampliação do Ensino Fundamental: compreendendo o fazer do

professor. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

Assis, 2009.

NASCIMENTO, Anelise Monteiro do. A infância na escola e na vida: uma relação

fundamental. In: Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da

criança de seis anos de idade. Brasília: MEC, p.25-32, 2007.

NEVES, Vanessa Ferraz Almeida; GOUVÊA, Maria Cristina Soares de; CASTANHEIRA,

Maria Lúcia. A passagem da Educação Infantil para o Ensino Fundamental: tensões

contemporâneas. In: Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, vol.37, n.1, p.121-140, 2011.

NOGUEIRA, Gabriela Medeiros. A passagem da Educação Infantil para o 1º ano no

contexto do Ensino Fundamental de nove anos: um estudo sobre alfabetização,

letramento e cultura lúdica. Tese de Doutorado, 2011.

OLIVEIRA, Daniele Ramos de. A formação continuada de professores de primeiro ano

do Ensino Fundamental de nove anos e os desafios ao trabalho pedagógico. Dissertação

de Mestrado. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, 2011.

OLIVEIRA, Sueli Machado Pereira. A implantação do Ensino Fundamental de nove anos

em Minas Gerais: a visão da criança. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais, 2011.

PELLISSON, Maria Cristina Rosolen Moretto. Análise de um memorial de formação: a

afetividade no processo de constituição de uma professora. In: LEITE, Sérgio Antônio da

Silva, (org.). Afetividade e práticas pedagógicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, p.281-311,

2006.

RAPOPORT, Andrea. Adaptação ao primeiro ano do Ensino Fundamental. In: RAPOPORT,

Andrea (org.). A criança de 6 anos no Ensino Fundamental. Porto Alegre: Mediação, p.23-

36, 2009.

RAPOPORT, Andrea; FERRARI, Andrea Gabriela; SILVA, João Alberto da. In:

RAPOPORT, Andrea (org.). A criança de 6 anos no Ensino Fundamental. Porto Alegre:

Mediação, p 9-21, 2009.

Page 86: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

86

RONSONI, Marcelo Luis. O Ensino Fundamental no limiar de 2010: repercussões da Lei

n. 11.274/2006 nos sistemas estadual e municipal de ensino de Erechim/RS. Dissertação

de Mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, 2011.

ROSA, Sonia Maria Oliveira da. Ensino Fundamental de nove anos: as armadilhas

civilizatórias nas revistas Veja, Isto é, Educação e Nova Escola. Dissertação de Mestrado.

Universidade Luterana do Brasil, 2008.

SANTAIANA, Rochele da Silva. “+ 1 ano é fundamental”: práticas de governamento dos

sujeitos infantis nos discursos do Ensino Fundamental de nove anos. Dissertação de

Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008.

SANTOS, Margarete Santos. A Implementação do Ensino Fundamental de 9 Anos de

duração no município de Camaçari/ Bahia/Brasil: experiências de duas escolas da rede

pública municipal. Dissertação de Mestrado. Universidade Católica de Salvador, 2011.

SAVELI, Esméria de Lourdes. Ensino Fundamental de nove anos: bases legais de sua

implantação. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v.3, n.1, p.67-72, 2008.

SILVA, Rute da. A implementação do Ensino Fundamental de nove anos e seus efeitos

para a Educação Infantil: um estudo em municípios catarinenses. Dissertação de

Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina, 2009.

SINHORINI, Eliane de Fátima Inglez. A construção do currículo do 1º ano do Ensino

Fundamental de nove anos na rede Municipal de Balneário Camboriú. Dissertação de

Mestrado. Universidade do Vale do Itajaí, 2011.

STURION, Fernanda. O Ensino Fundamental de nove anos: o que revelam professores

em seus discursos. Dissertação de Mestrado. Universidade Metodista de Piracicaba, 2010.

SZYMANSKY, Heloisa; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; PRANDINI, Regina Célia

Almeida Rego. Perspectivas para análise de entrevistas. In: SZYMANSKY, Heloisa (org.). A

entrevista na Pesquisa em Educação: a prática reflexiva. Brasília: Liber Livro Editora, 3ª

ed., p.62-86, 2010.

SZYMANSKY, Heloisa. Entrevista reflexiva: um olhar psicológico sobre a entrevista em

pesquisa. In: SZYMANSKY, Heloisa (org.). A entrevista na Pesquisa em Educação: a

prática reflexiva. Brasília: Liber Livro Editora, 3ª ed., P.9-61, 2010.

TENREIRO, Vieira Odete Maria. O Ensino Fundamental de nove anos: O impacto da

política na escola. Tese (Doutorado em Educação)-Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, São Paulo, 2011.

Page 87: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

87

THOMÉ, Andréa Cristine Mesquita Bergamasco. Ensino Fundamental de nove anos:

dificuldades enfrentadas e aprendizados construídos por gestores e professores. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo/ Ribeirão Preto, 2011.

VIEIRA, Marili M. da Silva. O coordenador pedagógico e os sentimentos envolvidos no

cotidiano. In: PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza e ALMEIDA, Laurinda Ramalho (org.).

O coordenador pedagógico e o cotidiano da escola. São Paulo: Edições Loyola, p.83-92,

2010.

WALLON, Henri. A evolução Psicológica da Criança. Lisboa: Edições 70,1995.

______; Psicologia e Educação da criança. Lisboa: Vega, 1979.

______; As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole, 1989.

ZATTI, Alexandra Tagata. Ensino Fundamental de 9 anos: implicações na formação do

professor para o atendimento à infância. Dissertação de Mestrado. Universidade de Passo

Fundo, 2009.

ZINGARELLI, Joice Eliete Boter. A ampliação do Ensino Fundamental de nove anos na

escola pública e na escola privada : a experiência de Araraquara. Dissertação de

Mestrado. Universidade Federal de São Carlos, 2009.

ZUMPANO, Viviane Aparecida Amabile; ALMEIDA, Laurinda Ramalho. A atuação do

coordenador pedagógico na educação infantil. In: PLACCO Vera Maria Nigro de Sousa e

ALMEIDA, Laurinda Ramalho (org.). O coordenador pedagógico: provocações e

possibilidades de atuação. São Paulo, Edições Loyola, p.-21-36, 2012.

Page 88: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

88

APÊNDICES

Page 89: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

89

APÊNDICE A- ROTEIRO PARA AS ENTREVISTAS

1- Quando foi implantado o Ensino Fundamental de nove anos na sua escola?

Houve alguma reunião para informar os professores? Quem fez a reunião?

2- Como estavam os professores que iriam receber os alunos?

3- Você tem conhecimento dos documentos publicados pelo MEC e da legislação

que trata sobre o ensino de nove anos?

4- Nas reuniões de HTPC, vocês revisitam esses materiais ou discutem outros

materiais que tratem do ensino de nove anos?

5- Quais adaptações que a sua escola fez para receber os alunos com 6 anos?

Você acha que a sua escola precisa de mais alguma adaptação?

6- Quando você veio para esta escola? Como é feita a atribuição de aulas na sua

escola?

7- Se você tivesse a oportunidade de escolher outra série no dia da atribuição,

qual escolheria?

8- Como você se sentiu quando começou a lecionar para os alunos do 1º ano?

9- Você acha que o professor do 1º ano tem que ter um perfil diferenciado?

10- Vamos tentar nos lembrar do primeiro dia em que você lecionou para o 1º ano,

como você se sentiu, como as crianças se comportaram, como foi aquele primeiro dia?

11- E quando terminou seu primeiro dia de aula, como você se sentiu? Quais

sentimentos despertaram em você?

12- E os desafios que você enfrenta na sala de aula, com quem conta para ajudá-la?

13- Você percebe alguma diferença com relação ao movimento, maturidade,

concentração, apego ao professor, nos alunos de 6 anos em relação aos alunos de 7 anos?

14- Como está sendo a experiência de trabalhar com alunos de 6 anos?

15- Agora que as crianças estão entrando mais cedo no Ensino Fundamental, quais

as cobranças que a família tem feito? E com relação à alfabetização, quais são as cobranças?

16- Qual a importância do brincar para os alunos que estão no 1º ano?

17- Quais os desafios que você tem enfrentado na sala de aula neste ano?

18- Qual a importância da formação continuada para o seu trabalho?

19- Para você, ser professor é...

Page 90: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

90

APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO DE CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES DA

PESQUISA

Nome___________________________________________________idade_________

Escola em que leciona___________________________________________________

1-Quando Ingressou no Magistério?

2-Quantos anos tem de Magistério?

3- Há quantos anos leciona nesta escola?

4-Em que séries você já lecionou?

5- Exerce outra atividade? Qual?

6-Qual sua formação?

Nível Médio

Nível Superior

7-Você participou de algum curso de formação continuada? Quais?

8-O que você achou desses cursos?

9- Você participou do curso A Criança de seis anos no Ensino Fundamental

oferecido pela Secretaria Estadual de Educação? O que achou do curso?

Page 91: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

91

APÊNDICE C-TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do Pesquisador: Margarete Borsi Jarussi

Prezada Professora, você está sendo convidada a participar da minha pesquisa de

Mestrado Acadêmico na PUC-SP em Educação: Psicologia da Educação, sob a orientação da

Professora Dr.ª Laurinda Ramalho de Almeida.

Tenho como objetivo estudar o Ensino Fundamental de Nove Anos: sentimentos

revelados por professores do primeiro ano.

A metodologia é de caráter qualitativo, portanto haverá questionário e entrevistas

gravadas.

Esclarecemos que as informações colhidas serão utilizadas somente no campo

acadêmico, garantindo o anonimato dos sujeitos participantes.

Deixo claro que você pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO

LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo, e fica ciente de que todo o

trabalho realizado se torna informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional.

Tendo em vista o esclarecimento acima descrito, ciente de que minha participação não

terá nenhum tipo de remuneração ou custo, eu manifesto livremente meu consentimento em

participar da pesquisa aqui apresentada, assinando este documento.

Dados do entrevistado

Nome: _____________________________________________________________________

RG: _______________________________________________________________________

Assinatura: _________________________________________________________________

Telefone de contato: __________________________________________________________

Dados do entrevistador

Nome: Margarete Borsi Jarussi

RG: 14.509.333-5

Assinatura: _________________________________________________________________

Telefone de contato:___________________________________________________________

[email protected]

Local e data:__________________________

Page 92: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

92

APÊNDICE D - DADOS DE CARACTERIZAÇÃO DA 1ª PROFESSORA

Nome: Márcia (nome fictício) Idade: 59 anos.

Escola em que leciona: O nome da instituição foi resguardado.

1-Quando ingressou no Magistério? Em 1989.

2-Há quantos anos está no Magistério? 22 anos.

3- Há quantos anos leciona nesta escola? 10 anos.

4-Em que séries você já lecionou?

Tenho trabalhado mais com a 1ª série/1º ano, mas também já lecionei para outras

séries.

5- Exerce outra atividade? Qual? Não.

6-Qual sua formação?

Nível Médio: Magistério.

Nível Superior: Normal Superior.

7-Você participou de algum curso de formação continuada? Quais?

Sim, Teia do Saber, que era focado em redação e projetos.

8-O que você achou desses cursos?

Adorei, trouxe subsídios teóricos e ajudou na prática.

9- Você participou do curso A Criança de seis anos no Ensino Fundamental oferecido

pela Secretaria Estadual de Educação? O que achou do curso?

Iniciei o curso, mas não terminei, porque o site tinha muitos problemas e ficava

difícil postar as atividades.

Page 93: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

93

APÊNDICE E – DADOS DE CARACTERIZAÇÃO DA 2ª PROFESSORA

Nome: Marina (nome fictício) Idade: 46 anos

Escola em que leciona: O nome da instituição foi resguardado.

1-Quando ingressou no Magistério? Em abril de 1986.

2-Há quantos anos está no Magistério? 26 anos.

3- Há quantos anos leciona nesta escola? 1ano e meio.

4-Em que séries você já lecionou?

Todas, do 1º ao 5º ano.

5- Exerce outra atividade? Qual? Não.

6-Qual sua formação?

Nível Médio: Magistério.

Nível Superior: Normal Superior.

7-Você participou de algum curso de formação continuada? Quais?

Sim, o curso Letra e Vida, oferecido pela Diretoria de Ensino.

8-O que você achou desses cursos?

Maravilhoso, pode esclarecer dúvidas sobre hipóteses de leitura e escrita da

criança.

9- Você participou do curso A Criança de seis anos no Ensino Fundamental oferecido

pela Secretaria Estadual de Educação? O que achou do curso?

Não participei.

Page 94: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

94

AP

ÊN

DIC

E F

- D

EP

OIM

EN

TO

DA

S E

NT

RE

VIS

TA

DA

S

QU

ES

ES

M

ÁR

CIA

M

AR

INA

Quan

do f

oi

imp

lanta

do

o E

nsi

no

Fu

nd

amen

tal

de

nove

anos

na

sua

esco

la?

Houve

algu

ma

reu

niã

o

par

a in

form

ar

os

pro

fess

ore

s?

Quem

fez

a r

eun

ião

?

Foi

no an

o de

2009,

eu es

tava

nes

ta

esco

la.

A

dir

etora

fez

um

a re

uniã

o c

om

todos

os

pro

fess

ore

s

da

esco

la

pra

co

munic

ar

e co

mo

seri

a a

impla

nta

ção d

o E

nsi

no F

undam

enta

l de

9 a

no

s, e

fez

tam

bém

a r

euniã

o p

ra s

aber

co

mo a

gen

te i

a

com

eçar

a t

rabal

har

com

est

as c

rian

ças,

porq

ue

a

idad

e del

es é

muit

o a

ssust

adora

pra

gen

te,

né?

A d

iret

ora

, a

coord

enad

ora

, a

vic

e, t

odo m

un

do

,

todos

os

pro

fess

ore

s par

tici

par

am d

esta

reu

niã

o.

Eu

não

est

ava

nes

ta e

scola

qu

and

o f

oi

imp

lan

tado

o E

nsi

no

Fun

dam

enta

l d

e n

ove

ano

s. E

u c

heg

uei

aqu

i n

o a

no

pas

sado

e p

egu

ei u

ma

sub

stit

uiç

ão d

o

ano

, m

as

eu

não

es

tava

aqu

i q

uan

do

fo

i

imp

lan

tado

.

Na

ou

tra

esco

la,

eu es

tava

leci

on

and

o p

ara

o 2º

ano

e t

eve

um

a re

un

ião

ger

al p

ara

info

rmar

so

bre

a

imp

lan

taçã

o d

o e

nsi

no

de

no

ve

ano

s. A

dir

eto

ra

esta

va

à fr

ente

da

reu

niã

o.

Fo

i as

sim

, tu

do

mei

o a

inda

sem

mu

ita

estr

utu

ra,

mei

o j

ogad

o e

co

nfu

so,

não

tin

ha

mu

ita

no

ção d

o

qu

e ir

ia

ensi

nar

naq

uel

e an

o,

com

o

rece

ber

as

cria

nça

s co

m aq

uel

as ca

rtei

ras

tão

gra

nd

es,

Não

teve

nen

hu

ma

mu

dan

ça n

a p

arte

fís

ica

da

esco

la.

Ap

esar

d

e as

p

rofe

sso

ras

esta

rem

in

segu

ras

e

pre

ocu

pad

as,

eu a

cho

qu

e at

é fu

nci

ono

u b

em,

com

a b

oa

vo

nta

de

del

as,

porq

ue

não

ti

nha

mat

eria

l

nen

hu

m q

uan

do

fo

i im

pla

nta

do

.

E c

om

o e

stav

am a

s p

rofe

sso

ras

qu

e ir

iam

rec

eber

esse

s al

unos?

Mes

mo e

u,

que

trab

alhei

sem

pre

com

a 1

ª sé

rie,

fiquei

mei

o p

reocu

pad

a e

fale

i: p

uxa

vid

a! U

mas

cria

nça

s novin

has

, né?

aquel

a dúvid

a, s

erá

que

eles

vão

vir

do pre

zinho?

Ser

á que

não

vão

te

r

pre

zinho?

Entã

o,

essa

era

a n

oss

a dúvid

a, c

om

o

seri

a e

o q

ue

faze

r co

m a

s cr

iança

s na

sala

de

aula

.

A i

nse

gura

nça

era

ger

al,

não

era

só d

e quem

iri

a

peg

ar o

ano,

não

. A

s pro

fess

ora

s das

e 4

ª

séri

es t

ambém

, e

elas

fal

avam

: -

Noss

a se

nh

ora

,

pel

o

amor

de

Deu

s,

eu

não

quer

o

peg

ar

essa

s

cria

nça

s novin

has

e

peq

uen

inas

. T

odas

n

ós

Est

avam

an

sio

sas,

mas

peg

aram

o 1

º an

o p

orq

ue

qu

eria

m te

r aq

uel

a ex

per

iên

cia,

n

ão fo

i fa

lta

de

op

ção

, fo

i da

vo

nta

de

del

as,

e tr

abal

har

am s

up

er

bem

naq

uel

e an

o.

Est

avam

mu

ito

sem

um

no

rte,

par

ece

qu

e não

ti

nh

a nad

a m

uit

o

pla

nej

ado

e

org

aniz

ado

, m

as f

izer

am o

qu

e p

odia

m.

Page 95: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

95

nham

os

esse

med

o e

ess

a in

segura

nça

.

Már

cia,

a

que

vo

cê at

rib

ui

esse

s se

nti

men

tos

de

med

o e

de

inse

gu

ran

ça q

ue

vo

cês

senti

am?

Ach

o q

ue

a id

ade

das

cri

ança

s que

assu

stav

a; n

ós

pen

sávam

os

que

por

sere

m t

ão n

ovin

has

, el

as

dar

iam

m

ais

trab

alho,

e nin

guém

sab

ia

dir

eito

quai

s co

nte

údos

que

dev

eria

m s

er t

rabal

had

os

com

essa

s cr

iança

s.

Você

te

m

con

hec

imen

to

dos

docu

men

tos

publi

cados

pel

o

ME

C

e d

a le

gis

laçã

o

que

trat

a

sobre

o e

nsi

no

de

no

ve

anos?

Na

reuniã

o q

ue

o g

rupo g

esto

r fe

z, o

s docu

men

tos

fora

m m

ost

rado

s pra

gen

te.

Ten

ho

co

nh

ecim

ento

des

ses

do

cum

ento

s d

e

qu

and

o s

aiu e

ssa

Lei

do

ensi

no

de

no

ve

ano

s, p

ois

na

esco

la

em

qu

e eu

es

tava,

fo

i re

aliz

ada

um

a

reu

niã

o

com

o

s p

rofe

ssore

s,

coord

enad

ora

e

a

dir

eção

par

a ex

pli

car

com

o f

icar

ia a

si

tuaç

ão d

a

esco

la.

Nas

re

uniõ

es

de

HT

PC

, vo

cês

revis

itam

es

ses

mat

eria

is o

u d

iscu

tem

ou

tro

s m

ater

iais

que

trat

em

do e

nsi

no d

e n

ove

anos?

Nós

dis

cuti

mos

pouco

so

bre

o

ensi

no

de

no

ve

anos,

porq

ue

tem

m

uit

os

pro

jeto

s que

a es

cola

par

tici

pa

e pre

cisa

mos

dis

cuti

r so

bre

is

so.

Tem

tam

bém

as

aval

iaçõ

es e

xte

rnas

que

nós

tem

os

qu

e

dar

conta

.

Às

vez

es a

Co

ord

enad

ora

tra

z al

gu

ma

cois

a so

bre

a cr

ian

ça d

e se

is a

no

s e

algu

ns

auto

res

que

trat

am

sob

re e

ssa

faix

a et

ária

.

Quai

s ad

apta

ções

qu

e a

sua

esco

la f

ez p

ara

rece

ber

os

alunos

com

6 a

no

s?

Você

ac

ha

que

a su

a es

cola

p

reci

sa

de

mai

s

algum

a ad

apta

ção

?

No p

rim

eiro

ano d

a im

pla

nta

ção

, não

tev

e m

uit

as

adap

taçõ

es,

mas

at

é que

real

izam

os

um

bo

m

trab

alho.

Infe

lizm

ente

as

cart

eira

s e

cadei

ras

são

as

mes

mas

at

é hoje

. D

epois

vie

ram

as

re

vis

tinh

as,

vie

ram

muit

as r

evis

tas

daq

uel

a P

icolé

, que

a gen

te

foi

uti

liza

ndo

, né,

não

era

det

erm

inad

a dir

etam

ente

pro

ano,

mas

a g

ente

usa

va

bas

tante

e m

and

ava

as c

rian

ças

traz

erem

pra

esc

ola

bri

nqued

inhos

pra

gen

te

trab

alhar

es

sa

par

te,

mas

no 1º

ano n

ão

houve

mudan

ça;

dep

ois

, nós

com

eçam

os

a

trab

alhar

es

sa

par

te,

tanto

é

que

foi

feit

a a

bri

nqued

ote

ca n

a es

cola

, né?

Nós

tem

os

a bri

nqued

ote

ca,

a sa

la

de

leit

ura

separ

ada,

tu

do

com

horá

rio

def

inid

o

pra

el

es

poder

em t

rabal

har

, bri

nca

r nes

ses

bri

nqued

os

ou

ir

pra

bib

liote

ca c

om

mai

s tr

anquil

idad

e, n

é?

Na

anti

ga

esco

la,

não

tev

e n

enh

um

a ad

apta

ção

na

par

te fí

sica

, as

cr

ian

ças

fora

m re

cebid

as c

om

as

mes

mas

ca

rtei

ras

e ca

dei

ras.

E

ta

mb

ém

não

rece

bem

os

mat

eria

l p

edag

ógic

o e

spec

ífic

o p

ara o

ano

. E

ssa

falt

a d

e m

ater

ial

dei

xo

u

os

pro

fess

ore

s p

reocu

pad

os

e in

segu

ros,

porq

ue

com

o

é q

ue

iria

m t

rabal

har

?

Eu

ach

o a

s ca

dei

ras

e ca

rtei

ras

mu

ito

gra

ndes

pra

eles

, ac

ho

in

côm

od

o;

entã

o,

o i

dea

l se

ria

qu

e fo

sse

tud

o p

róp

rio

par

a u

ma

cria

nça

de

seis

an

os,

não

essa

car

teir

a, q

ue

é m

uit

o g

ran

de,

eu a

cho

que

isso

qu

e d

ever

ia m

ud

ar n

a es

trutu

ra.

Aq

ui

na

noss

a es

cola

, n

ós

tem

os

um

p

arq

uin

ho,

com

gra

ma,

gan

go

rra,

tu

do b

on

itin

ho

, fi

ca a

qu

i d

o

lad

o, é

legal

e n

ós

levam

os

as c

rian

ças

lá.

s p

lan

ejam

os

no

iníc

io d

a se

man

a o

dia

em

qu

e

Page 96: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

96

cad

a p

rofe

ssor

vai

p

ara

o

par

qu

inho

co

m

as

cria

nça

s e

aí v

ocê

pod

e ir

, é

legal

, n

oss

a é

óti

mo

!

Até

o

pro

fess

or

de

Ed

uca

ção

F

ísic

a vai

pra

,

po

rqu

e não

tem

os

qu

adra

aq

ui

na

esco

la;

entã

o,

a

gen

te

vai

n

o

João

O

do

ni

(um

a q

uad

ra

da

pre

feit

ura

da

cidad

e, q

ue

fica

em

fre

nte

à e

sco

la),

entã

o,

se o

pro

fess

or

não

vai

pra

lá,

po

de

ir a

qu

i n

o

par

quin

ho

.É u

m m

ini

pla

ygro

un

d,

e al

i as

cri

ança

s

tam

bém

têm

qu

e ap

ren

der

a d

ivid

ir u

m p

ou

quin

ho

.

Qu

and

o v

ai à

bal

ança

tem

qu

e fi

car

um

tem

po

e

dep

ois

sai

r, p

orq

ue

é a

vez

do

ou

tro

. T

ud

o i

sso

é

mu

ito

b

om

p

ara

o

ano

. P

arec

e q

ue

ele

bri

nca

nd

o l

á, m

as t

amb

ém t

á ap

rend

end

o a

div

idir

,

a re

par

tir

e sa

ber

q

ue

é a

vez

d

o o

utr

o.

Aq

uel

a

cria

nça

qu

e se

nta

na

bal

anci

nha

e n

ão

sab

e

bal

ança

r d

irei

to,

vo

cê v

ê u

m a

mig

uin

ho

fal

and

o:

é

assi

m,

esti

ca o

pez

inho

, vai

pra

trá

s e

par

a fr

ente

,

tud

o i

sso v

ocê

est

á tr

abal

han

do

co

m a

cri

ança

.

Tem

tam

bém

a b

rin

qu

edote

ca c

hei

a d

e jo

gu

inh

os

de

mo

nta

r, j

ogo

da

vel

ha,

jo

go

s d

e eq

uil

íbri

o,

tem

bas

tan

te c

ois

a lá

e t

em a

sal

a d

e le

itu

ra.

Aq

ui

na

no

ssa

esco

la é

sag

rad

o,

tod

a se

man

a te

m

qu

e ir

na

sala

de

leit

ura

e n

a b

rin

qu

edo

teca

, is

so j

á

entr

a na

no

ssa

roti

na

sem

anal

, p

orq

ue

é u

m

mo

men

to q

ue

a cr

ian

ça

sai

da

sala

de

aula

e v

ai

par

a u

m l

ugar

dif

eren

te p

ra l

er,

noss

a é

mu

ito

leg

al

esta

r naq

uel

a m

esa

redo

nda

qu

e te

m l

á. A

gen

te

tam

bém

tem

liv

ros

na

sala

de

aula

, m

as n

a sa

la d

e

aula

ele

fic

a to

do

dia

. N

a b

rin

qu

edote

ca,

tam

bém

eles

ap

ren

dem

, p

orq

ue

cheg

am

e tê

m

qu

e

rep

arti

r o

s bri

nqu

edos.

Tem

um

rev

eza

men

to d

os

bri

nqu

edos

que

são

sep

arad

os

por

core

s q

ue

estã

o

pin

tad

as n

o c

hão

, te

m v

erm

elh

o,

azu

l, v

erd

e. N

o

Page 97: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

97

co

meç

o,

a gen

te c

olo

cava

crac

alea

tori

amen

te e

as c

rian

ças

sabia

m:

sou v

erd

e, t

enh

o q

ue

sen

tar

no

ver

de,

e a

ssim

po

r dia

nte

. N

ão d

eu u

m m

ês,

eles

apre

nd

eram

qu

e el

es s

enta

riam

div

idid

os

nas

co

res

e n

ão

pre

cisa

vam

d

e cr

ach

á,

qu

e n

ão

po

der

iam

peg

ar

bri

nq

ued

inh

o

daq

ui

e co

loca

r al

i.

Olh

a

Mar

gar

ete,

fo

i u

ma

gra

ça,

foi

mar

avil

hoso

, eu

não

tive

pro

ble

ma

com

est

e 1

º an

o,

foi

mar

avil

ho

so,

foi

mu

ito

bo

m,

no

ssa,

eu e

sto

u m

uit

o f

eliz

, el

es

saír

am c

om

mai

s d

o q

ue

eu e

sper

ava,

ele

s fo

ram

des

abro

chan

do

e a

ap

rend

izag

em

del

es t

amb

ém.

Qu

and

o

vo

um

a cr

ian

ça

de

seis

an

os

com

par

and

o a

s his

tóri

as q

ue

fora

m t

rab

alh

adas

em

sala

é o

máx

imo

, eu

ach

o l

ind

o,

go

stei

mu

ito

do

trab

alho

, es

tou

mu

ito f

eliz

.

E q

uem

uti

liza

ess

es e

spaç

os?

Ser

ia c

om

o a

idei

a d

os

can

tos?

Co

mo

fu

nci

ona?

O 1

º an

o t

em a

pri

ori

dad

e de

ir,

dep

ois

nos

ou

tro

s

horá

rios

são en

caix

adas

as

outr

as

séri

es,

mas

a

pri

ori

dad

e é

dos

anos.

Isso

, só

que

fora

das

sal

as,

porq

ue

as n

oss

as s

alas

não

são

tão

gra

ndes

, né,

e o

núm

ero d

e al

un

os

é

gra

nde.

N

o a

no p

assa

do n

ós

tínham

os

cinco

anos,

e

este

an

o,

esta

mos

com

ap

enas

tr

ês.

Dim

inuiu

bas

tante

, m

as m

esm

o a

ssim

, as

cla

sses

têm

30,

32 a

té 3

4 a

lunos.

Por

isso

, te

mos

que

faze

r

um

rev

ezam

ento

.

Duas

vez

es p

or

sem

ana

tem

bri

nqued

ote

ca e

tem

a

sala

de

leit

ura

sep

arad

a. E

ssa

sala

de

leit

ura

é u

m

horá

rio s

ó d

eles

, é

o m

om

ento

del

es.

As

cria

nça

s

vão

esc

olh

er o

liv

ro q

ue

quer

em p

egar

. T

udo o

qu

e

eles

quer

em

refe

rente

à

leit

ura

es

ali.

E

les

senta

m à

vonta

de

em co

lchões

peq

uen

os,

al

i n

o

chão

m

esm

o,

e vão

le

r.

Você

fi

ca

na

fren

te

fala

ndo c

om

o p

egar

o l

ivro

, ch

ama

a at

ençã

o p

ara

Est

es es

paç

os

são

uti

liza

do

s p

or

todas

as

ries

,

po

rqu

e as

cri

ança

s aq

ui

da

no

ssa

esco

la t

amb

ém

são

p

equ

enas

; m

esm

o o

s al

un

os

do

ano

, el

es

qu

erem

bri

nca

r, m

as a

pri

ori

dad

e é

do

ano

. N

ós

faze

mo

s u

m r

eveza

men

to.

Page 98: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

98

o que

estã

o ven

do e

o que

tem

de

inte

ress

ante

.

Você

fic

a co

mo m

odel

o,

senão

ele

s vão

peg

ando

o

livro

ass

im d

e qual

quer

jei

to e

guar

dan

do

, né?

Na

bri

nqued

ote

ca,

tam

bém

tem

os

canti

nhos

do

s

bri

nqued

os,

te

m jo

guin

hos,

te

m aq

uel

e P

equ

eno

Engen

hei

ro.

Cad

a dia

você

muda

a co

r do l

ugar

que

eles

vão

fic

ar.

Ele

s tê

m c

rach

á tu

do s

epar

ado

pra

poder

bri

nca

r, p

ra n

ão f

icar

sem

pre

no m

esm

o

bri

nqued

o e

não

form

ar a

quel

a bag

unça

, porq

ue

é

bas

tante

cri

ança

, né?

Már

cia,

você

p

od

eria

ex

pli

car

mel

ho

r as

co

res

pin

tadas

no c

hão

da

bri

nqued

ote

ca,

po

rque

eu n

ão

ente

ndi

dir

eito

.

Entã

o,

é as

sim

: a

bri

nqued

ote

ca é

um

esp

aço q

ue

tem

des

enhad

o n

o c

hão

as

core

s ver

de,

ver

mel

ho

e

azu

l; v

ocê

entr

a co

m a

s cr

iança

s e

colo

ca 4

ou

5

cria

nça

s no v

erde,

4 o

u 5

no v

erm

elho e

no a

zul

da

mes

ma

form

a. C

olo

ca o

cra

chaz

inho n

as c

rian

ças

e

quem

est

á no v

erde

não

vai

poder

bri

nca

r co

m o

bri

nqued

o q

ue

é do v

erm

elho e

do a

zul,

e a

ssim

por

dia

nte

. N

o o

utr

o d

ia,

a gen

te r

evez

a e

colo

ca a

s

cria

nça

s em

outr

as co

res.

Entã

o,

duas

vez

es p

or

sem

ana,

ele

s pas

sam

por

bri

nqued

os

dif

eren

tes.

Duas

vez

es e

les

vão

par

a a

bri

nqued

ote

ca e

du

as

vez

es n

a sa

la d

e le

itura

. A

o t

odo

, sã

o 4

aula

s p

or

sem

ana.

Quan

do v

ocê

vei

o p

ara

esta

esc

ola

?

Em

2002.

O a

no

pas

sad

o,

em 2

01

1,

po

rque

eu l

á n

a o

utr

a

esco

la eu

per

di

min

ha

clas

se e

vim

p

ra cá

par

a

sub

stit

uir

um

a 4

ª sé

rie.

Em

ago

sto

, eu

per

di

a 4

ª

séri

e, e

entã

o, pas

sei

a le

cion

ar p

ara

o 1

º an

o.

Com

o é

fei

ta a

atr

ibuiç

ão d

e au

las

na

sua

esco

la?

Na

ver

dad

e, n

o m

eu c

aso,

fico

u o

per

íod

o

da

tard

e pra

eu t

rabal

har

e o

s 1 º

anos

são à

tar

de,

e

a dir

etora

só m

e dá

o 1

º an

o,

e an

tigam

ente

só m

e

Fo

i at

rib

uíd

o,

porq

ue

a dir

eto

ra a

trib

ui

as c

lass

es

con

form

e o

per

fil

do

pro

fess

or.

Page 99: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

99

dav

a a

séri

e; ac

ho q

ue

tenho m

ais

faci

lidad

e p

ra

trab

alhar

co

m as

cr

iança

s des

sa fa

ixa

etár

ia,

né,

que

é m

ais

alfa

bet

izaç

ão

mes

mo.

E

ago

ra,

intr

oduzi

ndo

bas

tante

o

lúdic

o,

né?

P

orq

ue

tem

que

ter.

Se

você

tiv

esse

a o

po

rtu

nid

ade

de e

sco

lher

outr

a

séri

e no d

ia d

a at

rib

uiç

ão,

qu

al e

scolh

eria

?

O 1

º an

o,

não

iri

a nem

tit

ubea

r, j

á ir

ia d

iret

o,

né,

acho

que

eu

sei

trab

alhar

co

m

eles

, já

m

e

acost

um

ei c

om

ess

e je

itin

ho d

eles

, né?

E

u a

cho

assi

m,

você

bas

tante

res

ult

ado d

aqui

pra

fre

nte

,

vam

os

diz

er,

junho,

julh

o,

você

com

eça

a ver

um

resu

ltad

o

gost

oso

. N

o

com

eço

, você

fi

ca

sem

dorm

ir,

se d

esca

bel

a, f

ica

apav

ora

da

e fa

la:

Meu

Deu

s! S

ão t

ão p

equen

inos

e el

es e

stão

vin

do d

o

pre

zinho co

m m

uit

as dif

iculd

ades

. E

les

não

têm

aquel

a noçã

o de

cader

no,

de

senta

r, el

es peg

am

um

a fo

lhin

ha,

rab

isca

m e

jogam

na

sua

mes

a,

né?

você

diz

: es

per

a um

pouquin

ho,

não

é a

ssim

,

tudo v

ocê

tem

que

fala

r. D

esde

o t

ênis

que

vo

tem

que

amar

rar

até

na

hora

que

tem

que

ir a

o

ban

hei

ro e

lev

ar o

pap

elzi

nho,

tudo

, né?

Eu a

cho a

ssim

, é

dif

ícil

no i

níc

io,

mas

dep

ois

é

gra

tifi

cante

.

Ap

esar

do

s per

calç

os

e d

e to

do

tra

bal

ho

qu

e te

mo

s

no

iníc

io d

o a

no

e

da

inse

gu

ran

ça q

ue

o p

rofe

ssor

tem

, eu

esc

olh

eria

, si

m,

o 1

º an

o.

Már

cia,

quan

do

vo

fala

d

as

dif

icu

ldad

es

das

cria

nça

s, q

uai

s se

riam

ess

as d

ific

uld

ades

?

Na

ver

dad

e, e

u a

cho q

ue

a dif

iculd

ade

é m

ais

da

gen

te m

esm

o d

o q

ue

del

es,

eles

sab

em b

em o

qu

e

quer

em,

as c

rian

ças

quer

em v

ir p

ra e

scola

, fa

lar

o

tem

po t

odo.

Na

cabec

inha

del

es,

tudo é

novid

ade.

Nós

é que

tem

os

essa

an

sied

ade.

E

u

sou

um

a

pro

fess

ora

an

tiga

e gost

o das

co

isas

em

ord

em,

quer

o q

ue

pin

tem

os

des

enhos

bem

bonit

inhos.

Se

você

olh

ar o

s ca

der

nin

hos

del

es h

oje

, vai

ver

qu

e

estã

o

bem

fe

itin

hos,

co

m

lim

ites

, co

m

esp

aço

,

usa

m d

irei

tinho a

s li

nhas

, m

as q

uan

do v

em d

o p

ré,

não

, el

es

pin

tam

de

qual

quer

je

ito,

colo

cam

n

a

Page 100: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

10

0

m

inha

mes

a se

m

colo

car

nom

e e

quer

em

fica

r

andan

do

o

tem

po

todo;

entã

o,

eu

acho

qu

e a

dif

iculd

ade

é m

ais

noss

a em

se

ad

apta

r a

essa

cria

nça

que

não

par

a o t

empo t

odo;

tenho q

ue

ter

vár

ias

ativ

idad

es p

repar

adas

, ir

fora

e

bri

nca

r

com

ele

s, p

orq

ue

eles

quer

em s

em

pre

mai

s.

Com

o v

ocê

se

senti

u q

uan

do

co

meç

ou

a l

ecio

nar

par

a os

alunos

do

ano

?

Apes

ar d

e te

r tr

abal

had

o c

om

a 1

ª sé

rie,

com

o j

á

fale

i,

eu

fiquei

ap

avora

da,

p

or

causa

da

idad

e

del

es;

pen

sei,

aquel

as c

rian

ças

tão n

ovin

has

, o

qu

e

eu i

ria

trab

alhar

, o q

ue

iria

faz

er?

Todos

fala

vam

que

tinha

que

trab

alhar

o l

údic

o,

mas

sin

cera

men

te

eu n

ão e

stou a

cost

um

ada

a tr

abal

har

com

o l

údic

o,

porq

ue

tem

m

uit

a co

bra

nça

dos

pai

s com

a

alfa

bet

izaç

ão,

com

o c

onte

údo.

Dep

ois

você

fal

a,

puxa

vid

a, e

conte

údo n

o c

ader

no,

essa

cri

ança

vai

cheg

ar e

m c

asa

e não

tem

nad

a no c

ader

no

, e

o p

ai

vai

diz

er q

ue

fico

u b

rinca

ndo o

dia

inte

iro

, e

eu

tinha

a im

pre

ssão

que

se f

icas

se b

rinca

ndo o

dia

inte

iro

com

el

es,

o

tem

po

não

ir

ia

pas

sar

e eu

fica

ria

des

esper

ada.

Eu

fiq

uei

per

did

a n

o i

níc

io,

po

rqu

e at

é en

tão

, eu

nu

nca

h

avia

dad

o

aula

par

a o

ano

. Já

ti

nh

a

trab

alhad

o

com

p

ré-e

sco

la

em

esco

la

par

ticu

lar,

qu

e é

dif

eren

te.

Qu

and

o e

u p

egu

ei o

ano

, eu

fale

i: M

eu D

eus!

O q

ue

vou

faz

er c

om

ele

s? D

aí,

me

engaj

ei

com

as

o

utr

as

pro

fess

ora

s.

Aq

ui

na

esco

la,

tem

um

gru

po

mu

ito

bo

m,

se a

bre

mu

ito

, a

gen

te c

on

ver

sa b

asta

nte

. A

co

ord

enad

ora

tam

bém

é m

uit

o

legal

, e

aí,

aquel

e ch

oq

ue

no

dia

.

Qu

and

o e

u e

ntr

ei n

a cl

asse

, m

e p

ergu

nte

i o

qu

e eu

vo

u f

azer

, o

qu

e eu

vo

u f

azer

, p

orq

ue

é b

em i

sso

mes

mo

, fi

qu

ei p

erd

ida

e ap

avo

rad

a co

m a

qu

elas

cria

nça

s p

equ

enas

e s

em s

aber

dir

eito

o q

ue

faze

r.

Pas

sei

a ex

plo

rar

a o

rali

dad

e,

con

tar

his

tóri

a,

dei

xar

el

es se

ex

pre

ssar

em,

e fo

i in

do

, e

acab

ei

go

stan

do

, fo

i b

om

.

Você

ach

a que

o p

rofe

ssor

do

ano

tem

que

ter

um

per

fil

dif

eren

ciad

o?

A gen

te ac

aba

tendo,

viu

, eu

ac

ho que

a gen

te

acab

a te

ndo,

porq

ue

eu c

om

a i

dad

e que

eu e

sto

u,

NE

, eu

ach

o a

ssim

, q

ue

eu a

cabo b

rinca

ndo m

ais;

entã

o,

se

for

aquel

a pes

soa

mai

s fe

chad

a,

mai

s

séri

a, q

ue

não

gost

a de

bri

nca

r, q

ue

não

gost

a d

e

vir

à

vonta

de

pra

esc

ola

, eu

ach

o q

ue

a cr

iança

vai

fica

r um

pouco

re

traí

da.

A

gora

, se

você

bri

nca

,

senta

no c

hão

, co

nver

sa,

canta

co

m el

es,

é bem

legal

.

Eu a

cho q

ue

essa

cois

a de

volt

ar a

ser

cri

ança

co

m

eles

é m

uit

o i

mport

ante

.

Ah

tem

, eu

ach

o q

ue

sim

, eu

ach

o q

ue

vo

cê t

em

qu

e ver

a c

rian

ça c

om

ou

tro

s olh

os,

po

rque

eles

são

bem

peq

uen

ino

s e

pre

cisa

m d

e u

ma

aten

ção

esp

ecia

l, u

ma

con

ver

sa e

spec

ial.

Até

seu

jei

to d

e

fala

r co

m u

ma

cria

nça

do

ano

, co

m o

utr

a d

o 2

º

ano

, é

dif

eren

te,

po

rqu

e el

a já

p

asso

u

po

r es

sa

etap

a,

é dif

eren

te,

a cr

ian

ça

pre

cisa

d

e m

ais

aten

ção

, m

ais

cari

nh

o e

mai

s cu

idad

os.

Page 101: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

10

1

V

amos

tenta

r n

os

lem

bra

r d

o p

rim

eiro

dia

em

que

você

lec

ionou p

ara

o 1

º an

o,

com

o v

ocê

se

senti

u,

com

o a

s cr

ian

ças

se c

om

po

rtar

am, co

mo

fo

i aq

uel

e

pri

mei

ro d

ia?

E

você

, M

árci

a,

des

cobri

u

o

qu

e as

cr

iança

s

esta

vam

sen

tin

do

?

Eu

me

colo

quei

m

uit

o

no

lugar

de

mãe

e

avó

mes

mo,

porq

ue

eu j

á te

nho n

etos,

entã

o,

quan

do

as

cria

nça

s olh

avam

pra

m

im,

eu

sabia

que

eles

esta

vam

quer

endo a

lgum

a co

isa

nova,

né,

entã

o e

u

sabia

que

eu

tinha

que

mudar

. E

u

com

ecei

a

conver

sar

com

ele

s pra

des

cobri

r o q

ue

era

a del

es,

o

que

esta

vam

se

nti

ndo

naq

uel

e m

om

ento

tam

bém

, m

as e

u f

iquei

muit

o a

pav

ora

da

tam

bém

.

*********************************

Eu d

esco

bri

. E

les

esta

vam

ap

avora

dos

com

o eu

,

mas

el

es

esta

vam

busc

ando,

sabe,

quan

do

a

cria

nça

busc

a? E

le o

lha

pra

você

ass

im .

.. q

ue

vai

ser

agora

? Q

ue

a se

nhora

vai

faz

er a

qui?

Pra

qu

e é

isso

? P

ra q

ue

é aq

uil

o?

Entã

o,

a per

gunta

del

es é

um

a at

rás

da

outr

a, o

tem

po t

odo.

Você

tem

qu

e

esta

r pro

nta

, não

ad

ianta

fi

car

pre

sa

nu

ma

ativ

idad

e m

ais

que,

vam

os

diz

er,

20 m

inuto

s, m

eia

hora

.

No i

níc

io,

você

tem

que

mudar

bas

tante

, você

deu

um

a at

ivid

ade

agora

, daq

ui

a pouco

você

tem

qu

e

par

ar e

faz

er o

utr

a co

isa,

can

tar,

conver

sar,

sen

ão

eles

dis

per

sam

e n

ão q

uer

em s

aber

, el

es c

ansa

m.

Ess

a fa

se d

a 1ª

séri

e par

a o 1

º an

o,

que

eles

são

men

orz

inhos,

te

ve

bas

tante

dif

eren

ça,

mas

ti

ve

bas

tante

apoio

tam

bém

.

Eu

te

nh

o

um

a ex

per

iên

cia

legal

p

ra

te

con

tar.

Naq

uel

e dia

, eu

en

trei

mei

o a

ngu

stia

da,

sem

sab

er

dir

eito

o

q

ue

faze

r...as

sim

...m

eio

p

erdid

a, m

as a

gen

te

sab

e q

ue

conta

r um

a h

istó

ria,

q

ual

quer

cria

nça

de

qual

qu

er s

érie

go

sta.

En

tão

foi

o q

ue

eu

fiz.

..

Est

ou

eu

na

fren

te

com

m

eu

livri

nh

o

tod

o

pre

par

ado

e

com

eço

a

con

tar

a h

istó

ria.

D

a

po

uco

, u

m c

utu

ca d

e cá

, o

utr

o c

utu

ca d

e lá

. N

oss

a!

Vir

ou

um

a b

agu

nça

, m

eia

zia

pre

sto

u a

ten

ção e

pro

fess

ora

no

va

(qu

e er

a eu

) n

ão c

ham

ava

aten

ção

.

Aí,

cheg

uei

em

cas

a e

pen

sei:

ten

ho q

ue

mu

dar

de

estr

atég

ia.

No

o

utr

o

dia

, le

vei

o

utr

o

livri

nh

o;

qu

and

o en

trei

na

sala

, af

aste

i u

m p

ou

qu

inh

o as

cart

eira

s e

fale

i as

sim

: qu

em

go

star

ia

de

senta

r

aqu

i p

ra o

uvir

a

his

tori

nha?

T

od

os

sen

tara

m n

o

chão

. N

aqu

ela

clas

se,

tin

ha

um

alu

no

hip

erat

ivo

e

com

ou

tro

s pro

ble

mas

tam

bém

, el

e n

ão p

arav

a, e

le

fugia

, er

a u

m p

rob

lem

a n

a es

cola

, m

as n

aqu

ele

dia

, el

e ta

mb

ém s

ento

u e

tod

os

ou

vir

am a

his

tóri

a.

Dep

ois

q

ue

eu

term

inei

d

e le

r,

fale

i p

ara

eles

rep

rese

nta

rem

o

s p

erso

nag

ens

da

his

tóri

a e

per

gu

nte

i q

uem

go

star

ia

de

ser

o

prí

nci

pe,

a

Bra

nca

de

Nev

e e

os

outr

os

per

son

agen

s; e

aí,

eu

com

ecei

a

per

ceber

q

ue

a co

isa

era

com

m

ais

aten

ção

, er

a tu

do

m

ais

dev

agar

. E

u

cheg

uei

pen

sand

o

alto

, co

m

exp

ecta

tivas

al

tas

par

a o

s

pri

mei

ros

dia

s e

fui

rece

bid

a d

aquel

e je

ito

.

Naq

uel

e d

ia,

não

re

ndeu

n

ada,

eu

ap

enas

cuid

ei

do

s al

un

os.

A

p

arti

r d

o

segu

nd

o

dia

, as

co

isas

com

eçar

am

a m

ud

ar,

po

rqu

e eu

te

nte

i m

ud

ar

e

faze

r as

cois

as m

ais

dev

agar,

sem

mu

ita

ansi

edad

e.

Ele

s se

ac

ost

um

aram

co

m aq

uel

e je

ito

de

ou

vir

Page 102: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

10

2

h

isto

rin

has

, se

nta

do

s no

ch

ão,

e se

mp

re

per

gu

nta

vam

: h

oje

vai

ter

his

tori

nh

a d

e se

nta

r n

o

chão

? E

, eu

co

nse

gu

i le

var

, fo

i fi

cand

o

tran

qu

ilo

, le

gal

, p

orq

ue

o

pri

mei

ro

dia

fo

i

angu

stia

nte

, eu

não

ti

nha

um

a vis

ão

daq

uel

a

cria

nça

peq

uen

a,

com

su

as

nec

essi

dad

es;

na

ver

dad

e, e

u p

rep

arei

a m

inh

a au

la,

mas

era

par

a

cria

nça

de

ano

. A

s at

ivid

ades

não

tin

ham

nad

a a

ver

co

m e

les.

E q

uan

do t

erm

ino

u s

eu p

rim

eiro

dia

de

aula

, co

mo

você

se

senti

u?

Qu

ais

sen

tim

ento

s d

esp

erta

ram

em

você

?

Muit

o

per

did

a,

mes

mo

te

ndo

trab

alhad

o

vár

ios

anos

com

a 1

ª sé

rie,

no f

inal

do d

ia,

você

fal

a, s

erá

que

eu v

ou c

onse

guir

, eu

fiq

uei

apav

ora

da.

No

dia

de

aula

, dei

um

a fo

lhin

ha

pra

ela

s des

enhar

em,

e eu

per

cebi

que

elas

têm

bas

tante

dif

iculd

ade,

não

colo

cara

m o

no

me

e o

utr

as s

ó r

abis

cara

m a

fo

lha.

Muit

as c

rian

ças

não

conviv

em

co

m e

sse

ambie

nte

letr

ado,

pouca

s cr

iança

s tê

m

esse

co

nta

to,

e

quan

do t

erm

inou

o d

ia,

eu p

ense

i: m

eu D

eus,

eu

não

vou c

onse

guir

nad

a. C

om

ente

i co

m a

s m

inh

as

cole

gas

a m

inha

pre

ocu

paç

ão,

mas

dep

ois

vo

vai

ven

do q

ue

vai

, é

bem

de

goti

nha

mes

mo.

Co

mo

eu

fale

i, q

uan

do

eu

vim

pra

est

a es

cola

,

eu e

stav

a co

m u

ma

séri

e e

fazi

a d

ois

an

os

que

eu l

ecio

nav

a par

a a

qu

arta

sér

ie.

Eu

est

ava

com

a

exp

ecta

tiva

de

alu

no

de

qu

arta

sér

ie,

com

aq

uel

a

cois

a m

uit

o a

lta,

e q

uan

do e

u m

e d

epar

ei c

om

os

alu

nos

do

ano

, eu

fal

ei:

Meu

Deu

s! E

les

são

un

s

beb

ês,

não

é a

ssim

, eu

est

ou

via

jand

o.

Foi

um

dia

mu

ito

tu

mu

ltuad

o,

serv

iu s

ó p

ra c

uid

ar d

os

alun

os,

não

ser

viu

pra

nad

a al

ém d

isso

. E

u v

i q

ue

a at

itu

de

del

es e

ra m

uit

o i

nfa

nti

l, o

jei

tin

ho

de

fala

r, o

jei

to

de

per

gu

nta

r.

Qu

and

o

cheg

uei

em

ca

sa,

na

ver

dad

e, n

o ca

min

ho

, já

fu

i p

ensa

nd

o qu

e ti

nha

qu

e m

ud

ar

min

ha

po

stu

ra,

min

has

es

trat

égia

s e

min

ha

met

od

olo

gia

, po

rque

eles

são

peq

uen

os,

e

foi

aí q

ue

pas

sei

a se

nta

r n

o ch

ão,

a bri

nca

r, a

can

tar,

e

eles

ap

ren

der

am

mu

ita

org

aniz

ação

,

mu

ita

cois

a m

esm

o.

Nes

te a

no,

não

; co

mo

eu

tin

ha

pas

sado

po

r tu

do

aqu

ilo

, eu

mu

dei

meu

jei

to e

min

has

ati

vid

ades

, eu

já c

on

hec

ia a

s ex

pec

tati

vas

de

apre

nd

izag

em d

o 1

º

ano

e p

repar

ei a

tivid

ades

par

a es

sa f

aix

a et

ária

, eu

esta

va

men

os

ansi

osa

porq

ue

já t

inh

a tr

abal

had

o

com

os

alu

no

s d

o 1

º an

o.

Eu

fu

i p

ara

casa

mai

s

feli

z e

tran

qu

ila,

fo

i m

arav

ilh

oso

, fo

i b

om

, as

Page 103: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

10

3

cr

ian

ças

me

rece

ber

am

mu

ito

bem

e

eu

a el

es

tam

bém

; eu

se

nti

q

ue

era

um

a tu

rmin

ha

qu

e ia

ren

der

m

uit

o,

e re

nd

eu.

Eu

não

fu

i em

bo

ra

fru

stra

da,

não

, eu

fui

feli

z, f

oi

dif

eren

te d

aqu

ela

pri

mei

ra e

xp

eriê

nci

a, p

orq

ue

nin

gu

ém f

alo

u n

ada

pra

mim

,

E o

s des

afio

s q

ue

vo

cê e

nfr

enta

na

sala

de

aula

,

com

quem

co

nta

par

a aj

ud

á-la

?

Eu r

ecorr

o à

coord

enad

ora

e p

eço s

oco

rro,

porq

ue

você

aca

ba

até

erra

ndo e

m a

lgum

as c

ois

as,

né?

No

modo d

e fa

lar.

Puxa

vid

a! N

ão d

ever

ia t

er f

alad

o

assi

m,

tem

que

mudar

, ag

ora

tem

que

ser

assi

m.

Entã

o,

é se

mpre

com

a C

oord

enad

ora

, e

às v

ezes

,

com

as

co

legas

d

e 1º

ano m

esm

o.

Tro

cam

os

as

dúvid

as,

os

conhec

imen

tos.

Tem

um

a pro

fess

ora

que

é m

ais

nova

do

que

eu,

pas

sou

por

outr

as

esco

las,

entã

o,

a gen

te t

roca

as

exper

iênci

as,

né?

Mas

quem

me

acode

mes

mo é

a C

oord

enad

ora

.

Ah

! E

u

reco

rro

ao

gru

po

d

e p

rofe

sso

res

do

pri

mei

ro

ano

, m

inh

as

cole

gas

, e

falo

q

ue

esto

u

com

tal

e t

al p

rob

lem

a e

o g

rup

o m

e aj

uda.

E t

amb

ém t

em o

HT

PC

que

aju

da

um

po

uco

, m

as

no

H

TP

C

tem

m

uit

a in

form

ação

par

a a

coo

rden

adora

d

ar,

tem

m

uit

a co

isa

pra

es

tudar

,

nem

se

mp

re

a gen

te

vai

d

iscu

tir

sob

re

os

pro

ble

mas

qu

e o

corr

em n

a sa

la d

e au

la,

acab

amo

s

fala

nd

o c

om

as

amig

as d

o 1

º an

o m

esm

o.

Você

per

cebe

algu

ma

dif

eren

ça co

m re

laçã

o ao

mo

vim

ento

, m

atu

rid

ade,

co

nce

ntr

ação

, ap

ego

ao

pro

fess

or,

nos

alu

no

s de

6 an

os

em re

laçã

o ao

s

alunos

de

7 a

no

s?

a im

pre

ssão

no i

níc

io q

ue

não

tem

dif

eren

ça..

.

Ah!

É u

m a

no s

ó,

não

vai

faze

r ta

nta

dif

eren

ça,

mas

a

dif

eren

ça

é gra

nde.

N

o

está

gio

que

eles

estã

o a

gora

, se

ria

um

a 1ªs

érie

, porq

ue,

quan

do e

les

entr

am n

o 1

º an

o,

é u

m p

rezi

nho,

é um

pre

zin

ho

mes

mo,

né?

E

les

não

sa

bem

onde

colo

car

a

moch

ila,

porq

ue

no

pre

zinho

as

cria

nça

s

pen

dura

vam

a

moch

ila

num

lu

gar

pró

pri

o.

O

des

enho,

as a

tivid

ades

são

dif

eren

tes.

A

cho q

ue

agora

, a

cabec

inha

del

es e

stá

mai

s m

adura

.

O

ano,

quan

do

inic

ia,

é pes

ado,

é b

em

pes

adin

ho.

Olh

a, e

u f

icav

a se

m d

orm

ir,

sem

dorm

ir n

o i

níc

io,

só d

e pen

sar.

Meu

Deu

s! E

u f

alav

a par

a o m

eu

mar

ido

: M

eu D

eus,

eu e

stou c

om

tri

nta

e p

ouca

s

cria

nça

s!

Loir

o,

não

sa

be

peg

ar

isso

, não

sa

be

peg

ar n

o l

ápis

dir

eiti

nho,

eles

não

conhec

em c

ore

s,

Não

tem

mai

s aq

uel

e la

nce

de

imat

uri

dad

e, c

rian

ça

imat

ura

, não

. E

le v

em p

ra e

sco

la,

ach

o q

ue

a id

ade

é ce

rta

pra

vir

mes

mo

, eu

go

stei

, eu

ach

o q

ue

a

cria

nça

fic

a m

ais

tem

po

na

esco

la e

eu

ach

o q

ue

é

bo

m.

E p

ra m

im n

ão i

mp

ort

a se

est

á en

tran

do

co

m

cin

co/

seis

an

os.

An

tigam

en

te,

ele

não

faz

ia a

pré

-

esco

la,

a E

du

caçã

o I

nfa

nti

l? A

go

ra n

ão,

ele

já e

stá

aqu

i n

a n

oss

a es

cola

, a

gen

te p

repar

a el

e p

ara

o 2

º

ano

, q

ue

está

aq

ui

mes

mo

; el

e sa

i co

m o

utr

a vis

ão,

já s

abe

o q

ue

é u

ma

esco

la. E

u g

ost

ei.

Page 104: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

10

4

en

tão,

você

te

m

que

ensi

nar

tu

do

des

de

o

com

ecin

ho.

Eu s

enti

dif

eren

ça,

sim

, el

es s

ão m

ais

agit

ados

e im

aturo

s, m

as m

esm

o a

ssim

, eu

ach

o

que

as c

rian

ças

têm

que

vir

mai

s ce

do p

ra e

sco

la,

e

a es

cola

tem

que

ofe

rece

r m

ais

cois

as p

ara

o a

lun

o.

Não

pode

só o

fere

cer

lousa

, ca

rtei

ras

e ca

dei

ras,

eles

es

tão

cansa

dos

dis

so.

Aqui

na

esco

la,

nós

tem

os

a sa

la d

e co

mputa

dor

com

10 c

om

puta

do

res

e 31 a

lunos,

com

o v

ocê

colo

ca e

sta

quan

tidad

e de

alunos

em 1

0 c

om

puta

dore

s? É

dif

ícil

até

pra

fic

ar

na

sala

, não

dá.

E

u ac

ho que

a es

cola

te

m q

ue

evolu

ir,

sim

, m

as

tam

bém

te

m

que

dar

boas

condiç

ões

par

a os

alunos.

Com

o e

stá

sen

do

a e

xp

eriê

nci

a d

e tr

abal

har

com

alunos

de

6 a

no

s?

Eu s

into

um

pra

zer

muit

o g

rande

em t

rabal

har

co

m

eles

ag

ora

, ac

ho que

é m

uit

o gra

tifi

cante

; eu

te

fale

i que

no c

om

eço a

pav

ora

, m

as d

epois

é m

uit

o

bom

, você

eles

cr

esce

ndo,

amad

ure

cend

o,

des

cobri

ndo

os

val

ore

s, q

uan

do v

ocê

tra

bal

ha

com

val

ore

s. D

aí v

ocê

com

par

a. E

u a

cho m

uit

o b

om

,

muit

o g

rati

fica

nte

. A

gen

te t

em m

edo,

ainda

ten

ho

,

ainda

tenho

, né?

D

epois

de

tanto

te

mp

o

trab

alhan

do

, ai

nda

tem

co

isas

que

você

fi

ca

na

dúvid

a, m

as e

u a

cho q

ue

tem

bas

tante

est

udo,

tem

bas

tante

rev

ista

, bas

tante

auto

res

que

estã

o f

alan

do

do 1º

ano

e des

sa

fase

da

cria

nça

, o que

po

de

ajudar

bas

tante

.

Eu

est

ou

go

stan

do

mu

ito

des

ta e

xper

iên

cia

de

esta

r

com

os

peq

uen

os.

Agora

que

as c

rian

ças

estã

o e

ntr

ando

mai

s ce

do n

o

Ensi

no

Fundam

enta

l,

quai

s as

co

bra

nça

s que

a

fam

ília

tem

fei

to?

Tem

cobra

nça

par

a o p

rofe

ssor,

os

pai

s diz

em:

po

r

favor,

ten

ha

pac

iênci

a co

m m

eu f

ilho,

ele

é m

uit

o

peq

uen

ino,

muit

o n

ovin

ho;

alguns

têm

um

pou

co

de

rece

io.

As

mai

ore

s pre

ocu

paç

ões

o quan

do

tem

que

dar

rem

édio

s, c

om

o v

enti

lador

ligad

o,

o

horá

rio

de

ir

ao

ban

hei

ro,

todas

es

sas

pre

ocu

paç

ões

os

pai

s tê

m,

porq

ue

é a

vez

qu

e

Os

pai

s co

bra

m m

uit

o a

qu

estã

o d

a al

fabet

izaç

ão.

Ele

s q

uer

em

o

cad

ern

o

chei

o

de

liçã

o,

qu

erem

liçã

o d

e ca

sa l

ogo

no

s p

rim

eiro

s d

ias.

N

a m

inh

a

pri

mei

ra r

eun

ião

de

pai

s, e

u j

á ex

pli

co q

ue

não

é

assi

m

qu

e fu

nci

on

a co

m

o

ano

, fa

lo

da

imp

ort

ânci

a d

o

bri

nca

r,

das

at

ivid

ades

q

ue

des

envo

lvem

os

fora

d

a sa

la

de

aula

, n

a

Page 105: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

10

5

E

você

, M

árci

a,

ach

a qu

e o

pro

fess

or

é um

cuid

ador?

E

com

re

laçã

o

à al

fab

etiz

ação

, q

uai

s sã

o

as

cobra

nça

s?

eles

est

ão v

indo p

ra e

scola

. A

cobra

nça

mai

or

é

em c

ima

da

gen

te,

até

em r

elaç

ão a

o c

uid

ar d

eles

,

eles

ach

am q

ue

a gen

te é

um

a cu

idad

ora

.

Eu a

cho q

ue

o p

rofe

ssor

não

é u

m c

uid

ador,

ele

está

ali

par

a en

sinar

, pois

o p

apel

dos

pai

s a

gen

te

jam

ais

vai

fa

zer,

em

bora

alg

um

as veze

s a

gen

te

acab

a fa

zendo.

Nes

ta se

man

a m

esm

o,

eu ti

ve

a

exper

iênci

a c

om

um

a al

una

que

eu d

esco

bri

ago

ra

no f

inal

zinho d

o a

no

, que

eu f

alei

: P

uxa

vid

a! T

em

hora

s que

a gen

te a

té b

riga

com

est

as c

rian

ças

e

você

fal

a, e

u n

ão p

oder

ia t

er f

eito

iss

o,

mas

eu

não

sabia

da

situ

ação

que

a cr

iança

est

ava

pas

sando e

m

casa

. A

cr

iança

ch

oro

na

e você

pen

sa qu

e é

man

ha,

porq

ue

quer

a

mãe

, m

as

a cr

iança

n

ão

conta

tu

do pra

você

. U

m dia

des

tes,

o pai

vei

o

conver

sar

com

igo,

e eu

per

gunte

i pra

el

e o q

ue

esta

va

aconte

cendo,

porq

ue

a fi

lha

chora

va

mu

ito

aqui

na

esco

la;

pai

s que

vêm

nu

ma

reuniã

o,

não

são t

odas

as

cria

nça

s que

par

a pas

sar

foi

aí q

ue

ele

me

conto

u que

esta

va

separ

ando da

mãe

d

a

men

ina

e el

a ch

ora

va

porq

ue

não

sab

ia l

idar

com

a

situ

ação

e s

enti

a sa

udad

es d

a m

ãe.

Se

eu s

oubes

se

dis

so a

nte

s, t

eria

aju

dad

o a

cri

ança

.

Eu a

cho q

ue

ante

s de

ser

essa

cuid

adora

, você

ter

ia

que

saber

o

que

está

aco

nte

cendo,

e não

são

todos

os

por

um

a

psi

coped

agoga.

***********************

Tem

ta

nta

pre

ocu

paç

ão co

m a

alfa

bet

izaç

ão q

ue

eles

fic

am c

obra

ndo a

esc

rita

de

mão

; el

es f

alam

:

eu q

uer

o q

ue

meu

fil

ho f

aça

letr

a de

mão

. Q

uan

do

que

ele

vai

faz

er?

E eu

fa

lo:

poxa,

vam

os

com

ca

lma,

vam

os

po

r

par

tes,

te

m a

suas

et

apas

, né,

a

gen

te não

po

de

bri

nqu

edote

ca,

na

sala

de

leit

ura

, as

sim

ele

s fi

cam

men

os

ansi

oso

s e

eu f

ico

mai

s tr

anq

uil

a.

Page 106: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

10

6

pula

r es

tas

etap

as,

e ag

ora

eu

per

cebo

um

a

cobra

nça

mai

or

ainda,

ele

s fa

lam

: m

eu f

ilho n

ão

apre

ndeu

nad

a, n

ão s

abe

nem

ler

; e

eu e

xpli

co:

não

é que

não

apre

ndeu

nad

a, e

le e

stá

no s

eu t

emp

o.

Quan

do

você

m

ost

ra

um

a so

ndag

em

ou

um

a

pro

vin

ha,

ele

s não

ente

ndem

dir

eito

e t

ambém

não

dão

val

or

par

a as

fas

es q

ue

a cr

iança

pas

sa,

com

o

pra

gen

te

anti

gam

ente

, ce

rtas

fa

ses

da

cria

nça

tam

bém

não

tin

ha,

e a

gora

é d

ifer

ente

. E

u e

xp

lico

nas

reu

niõ

es,

eu t

enho q

ue

most

rar

a so

ndag

em e

colo

car

as

hip

óte

ses

da

escr

ita

na

lousa

e

falo

com

o e

u e

stou t

rabal

han

do e

fal

o e

m q

ue

hip

óte

se

de

escr

ita

a cr

iança

es

tá;

eles

co

meç

am

a

ente

nder

um

pouco

, m

as é

dif

ícil

pra

ca

bec

inh

a

dos

pai

s ta

mbém

.

Qual

a i

mport

ânci

a d

o b

rin

car

par

a o

s al

unos

que

estã

o n

o 1

º an

o?

Eu a

cho que

é im

port

ante

, às

vez

es a

gen

te at

é

esquec

e que

é pro

fess

ora

ali

, tá

bri

nca

ndo,

tá s

e

solt

ando,

é co

mo s

e você

foss

e um

a av

ó m

esm

o

que

agora

eu s

ou,

né?

Ele

s gost

am e

se

sente

m à

vonta

de.

Qu

and

o

as cr

iança

s es

tão b

rin

can

do

, vo

cê vê

o

jeit

o q

ue

ele

está

se

expre

ssan

do

, o

nde

vo

cê v

ê se

ela

sab

e d

ivid

ir

com

o

co

lega,

p

orq

ue

algu

mas

vez

es

o

jogo

é

em

du

pla

e

ele

tem

q

ue

sab

er

bri

nca

r co

m

o

ou

tro

, eu

ac

ho

q

ue

is

so

é

imp

ort

ante

.

Quai

s os

des

afio

s q

ue

vo

cê t

em e

nfr

enta

do n

a sa

la

de

aula

nes

te a

no?

Os

des

afio

s sã

o

duas

cr

iança

s que

estã

o

pré

-

silá

bic

as

ainda:

um

a que

está

se

mpre

co

m

pro

ble

min

ha

de

saúde,

ela

tem

bro

nquit

e as

mát

ica

e t

em b

asta

nte

dif

iculd

ade

de

apre

ndiz

agem

; el

a

não

re

conhec

e to

das

as

le

tras

do

alfa

bet

o,

conhec

e as

let

ras

do n

om

e del

a. T

enho t

rabal

had

o

com

al

fabet

o

vel

e

feit

o

ativ

idad

es

dif

eren

ciad

as p

ara

ela,

mas

ain

da

não

deu

; e

tem

um

gar

oti

nho

tam

bém

, o

Jorg

e,,

que

é u

ma

gra

cinha,

é s

uper

car

ente

e q

uie

to,

mas

noss

a,

é

um

a dif

iculd

ade,

ra

bis

ca

tudo

e não

co

nse

gu

e

copia

r as

le

tras

da

lousa

; já

fa

lei

com

a

O m

aio

r d

esaf

io e

ram

trê

s cr

iança

s q

ue

esta

vam

na

hip

óte

se p

ré-

silá

bic

a e

não

qu

eria

m p

arti

cip

ar d

a

ho

ra

do

S

ho

w

de

sica

; d

vo

cê fa

lava

vem

fula

no

, não

, não

vin

ha,

is

so er

a u

m d

esaf

io p

ra

mim

, co

nq

uis

tar

essa

s tr

ês c

rian

ças.

Dem

oro

u,

eu

sem

pre

ch

amav

a p

ra

par

tici

par

d

as

ativ

idad

es e

dav

a u

m at

end

imen

to in

div

idu

aliz

ado

. Is

so

me

dei

xav

a an

gu

stia

da

e eu

fa

lava

par

a a

coo

rden

adora

: não

é p

oss

ível

aq

uel

e tr

ês a

lun

os,

par

ece

que

não

ch

egam

o

nd

e eu

q

uer

o

e n

em

con

segu

em s

e ex

pre

ssar

. Is

so f

oi

até

julh

o m

ais

ou

men

os.

Qu

and

o e

ntr

amo

s d

e fé

rias

, já

note

i q

ue

a

Page 107: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

10

7

co

ord

enaç

ão

que

esta

s cr

iança

s vão

pre

cisa

r de

refo

rço,

entã

o,

o

meu

m

aior

des

afio

d

e

apre

ndiz

agem

são

es

tes

dois

alu

nos.

Ah,

ten

ho

tam

bém

um

a al

una

que

hoje

é s

iláb

ica

com

val

or,

ela

vei

o

de

outr

a sa

la,

porq

ue

dav

a bas

tante

trab

alho

pra

outr

a pro

fess

ora

e

bri

gav

a co

m

as

cria

nça

s; a

dir

etora

ach

ou p

or

bem

tro

car

de

sala

um

pouquin

ho.

Ela

se

deu

bem

com

igo e

com

as

cria

nça

s, e

stá

mel

hora

ndo o

apre

ndiz

ado,

mas

5

min

uto

s,

ela

levan

ta,

bat

e,

mord

e,

mord

e at

é a

ore

lha

das

cr

iança

s se

você

dei

xar

, dei

xar

n

ão,

porq

ue

a gen

te n

ão d

eixa,

é

só v

ocê

dis

trai

r u

m

pouquin

ho.

São

es

tas

3

cria

nça

s que

são

meu

mai

or

des

afio

.

Nat

ália

vo

lto

u

mai

s al

egre

, q

uer

endo

p

arti

cip

ar

mai

s,

qu

eren

do

se

en

vo

lver

m

ais

com

as

ativ

idad

es,

e eu

fal

ei p

ra c

oo

rden

adora

: no

ssa,

não

esto

u

acre

dit

and

o,

min

ha

alu

na

está

m

ais

par

tici

pat

iva;

e

não

fo

i só

el

a,

os

ou

tro

s d

ois

tam

bém

, e

qu

and

o e

u p

erce

bi

os

pré

-sil

ábic

os

se

torn

aram

si

lábic

os

com

val

or

e eu

fiq

uei

fel

iz.

Ess

es e

ram

os

meu

s m

aio

res

des

afio

s, p

orq

ue

a

falt

a d

e m

ater

ial,

o

p

rofe

sso

r vai

se

vir

and

o,

o

pro

fess

or

faz

mal

abar

ism

o,

mas

meu

mai

or

des

afio

era

con

quis

tar

os

três

alu

no

s q

ue

eu a

chav

a m

eio

apát

ico

, m

eio

par

ado

e

dev

agar

zin

ho

. F

ui

trab

alhan

do

co

m

eles

e

con

segu

i fa

zer

eles

se

exp

ress

arem

e

par

tici

par

em m

ais

das

at

ivid

ades

.

Pel

o m

eno

s, i

sso

eu

lu

crei

co

m e

les,

mes

mo

qu

e

não

fo

sse

em a

tivid

ades

esc

rita

s, m

as e

m o

utr

as

ativ

idad

es .

Qual

a i

mport

ânci

a d

a fo

rmaç

ão c

on

tin

uad

a par

a o

seu t

rabal

ho?

Ach

o

que

é um

m

om

ento

de

refl

exão

e

mu

itas

vez

es d

e des

abaf

o,

porq

ue

o p

rofe

ssor

pre

cisa

ser

escu

tado e

m s

uas

angúst

ias.

É i

mp

ort

ante

par

a a

refl

exão

do

tra

bal

ho

qu

e n

ós

esta

mo

s re

aliz

and

o

na

sala

d

e au

la,

e ta

mb

ém

po

dem

os

troca

r ex

per

iên

cias

co

m o

s co

legas

, fa

lar

do

s p

roble

mas

d

o

dia

a

dia

co

m

os

alu

no

s e

dis

cuti

r u

m p

ou

co d

e te

ori

a.

Par

a você

, se

r p

rofe

sso

r é.

..

Um

a sa

tisf

ação

; te

nho m

edo de

me

apose

nta

r e

senti

r m

uit

a fa

lta

des

sas

cria

nça

s, t

enho m

edo

, é

cansa

tivo,

é as

sust

ador

e às

vez

es

não

so

mo

s

val

ori

zadas

na

noss

a pro

fiss

ão,

mas

ach

o q

ue

vo

u

senti

r m

uit

a fa

lta

das

cri

ança

s. O

ano q

ue

vem

eu

me

apose

nto

e e

u a

cho

que

vou s

enti

r m

uit

a fa

lta

da

sala

de

aula

.

Quan

do e

u f

ico d

e fé

rias

, eu

não

vej

o a

hora

de

volt

ar.

Sou s

ó e

u e

meu

mar

ido,

eu c

onver

so c

om

outr

as pro

fess

ora

s que

são ca

sadas

e

têm

fi

lho

s

ainda

e ta

mbém

m

esse

ap

ego

com

a

esco

la;

É t

ud

o n

a m

inh

a vid

a, e

u a

cho

qu

e eu

não

vo

u

sab

er v

iver

sem

. É

mu

ito

gra

tifi

cante

ser

pro

fess

or,

não

é,

M

argar

ete?

P

orq

ue

cheg

a n

o fi

m d

o d

ia,

mes

mo

qu

e vo

cê t

enh

a fi

cad

o b

rava

com

alg

um

a

cois

a, p

orq

ue

eu s

ou

ass

im,

eu e

scuto

bas

tante

as

cria

nça

s, m

as s

e te

m q

ue

fica

r b

rava

eu f

ico,

mas

aí v

ai e

mb

ora

, e

um

a cr

iança

fal

a tc

hau

prô

e t

e d

á

um

ab

raço

, u

m b

eijo

. Is

so é

mu

ito

gra

tifi

cante

,

isso

é s

inal

de

qu

e vo

cê t

á ag

rad

and

o e

m a

lgu

ma

cois

a ta

mb

ém

, p

orq

ue

sen

ão

ele

nem

se

apro

xim

aria

de

vo

cê,

né?

Ele

s sã

o o

máx

imo

. E

u

Page 108: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … O AMOR Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como metal que soa ou como o sino que tine.

10

8

par

ece

que

é um

a co

nti

nuid

ade

mes

mo

da

casa

da

gen

te,

né?

Eu

sou

sozi

nha,

m

eu

mar

ido

é

apose

nta

do,

entã

o,

quan

do e

u t

iro f

éria

s e

fico

em

casa

, eu

adoro

cuid

ar d

a ca

sa,

faze

r co

mid

a, a

do

ro

tudo,

mas

eu

si

nto

fa

lta

dis

so aq

ui,

si

nto

m

uit

a

falt

a. Q

uan

do eu

es

tou em

ca

sa,

fico

pen

san

do

:

Meu

Deu

s, e

sse

ano e

u v

ou d

eixar

de

faze

r is

so e

vou f

azer

aquil

o;

quan

do v

ocê

est

á de

féri

as e

m

casa

, fi

ca p

ensa

ndo e

não

a hora

de

reto

rnar

pra

pôr

em

prá

tica

aq

uil

o

que

você

pen

sou.

Meu

mar

ido f

ala,

você

cheg

a, e

stá

cansa

da,

o b

arulh

o

inco

moda,

é c

ansa

tivo,

mas

sen

te f

alta

.

não

sei

me

ver

em

ou

tra

cois

a, e

u n

ão c

on

sigo

me

ver

em

ou

tra

pro

fiss

ão.

Eu

pen

so s

e fi

car

sem

aula

, q

ue

eu v

ou

ser

, eu

am

o a

min

ha

pro

fiss

ão,

eu

amo

o m

agis

téri

o.

Eu

acr

edit

o n

a ed

uca

ção

.

Ap

esar

de

algu

mas

vez

es m

e se

nti

r d

esval

ori

zad

a,

angu

stia

da,

ch

atea

da

e ca

nsa

da,

eu

go

sto

mu

ito d

o

qu

e eu

faç

o.

Dep

ois

de

28

an

os

de

mag

isté

rio

, eu

me

ded

ico

,

pro

curo

faz

er o

po

ssív

el p

elo

s m

eus

alu

no

s; m

uit

as

vez

es,

a gen

te d

á aq

ui

na

sala

o q

ue

eles

não

têm

em c

asa;

mu

itas

vez

es,

um

a p

alav

ra,

um

ges

to f

az

a d

ifer

ença

. Is

so é

im

po

rtan

te,

olh

ar p

ara

a cr

ian

ça

po

rqu

e el

es p

reci

sam

de

um

a p

alav

ra d

e ca

rin

ho

.