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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Karen Ciaccio Secco Coaching e formação da consciência docente MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO SÃO PAULO 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Karen Ciaccio Secco

Coaching e formação da consciência docente

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO

SÃO PAULO 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO APULO PUC-SP

Karen Ciaccio Secco

Coaching e formação da consciência docente

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para o título de MESTRE em Educação: Currículo, sob a orientação do Professor Doutor Alípio Márcio Dias Casali.

SÃO PAULO

2012

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BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ ______________________________________________ _____________________________________________

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Dedico este trabalho

Aos meus amados e queridos pais, Vera Lúcia Ciaccio Secco e Roberto Secco, que sempre me incentivaram e acreditaram em meu potencial, não

poupando esforços para que meu sonho fosse realizado.

Ao meu querido amigo e família: Michiel Herbert, que me deu todo apoio necessário para que eu pudesse concluir minha dissertação, sempre com uma

palavra de amor, carinho e encorajamento, contribuindo efetivamente para o estudo e para as reflexões sobre o tema estudado.

Ao meu amado, cúmplice e companheiro, Nilson de Oliveira, meu marido, que

sempre teve muita paciência e com seu olhar crítico também me auxiliou nesta jornada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus por me fortalecer em cada momento

dessa jornada.

À minha família, por ser a fonte de conforto, sabedoria, esclarecimento e

aprendizagem, sempre com palavras de incentivo e amor. Sem o apoio de

vocês jamais teria trilhado este caminho tão belo. Aproveito para estender

meus agradecimentos aos meus queridos amigos que me apoiaram também

durante o desenvolvimento desta dissertação, cada um à sua maneira. Amigos

que me auxiliaram a concluir e estruturar meu estudo e também me ofereceram

conforto, amor, carinho e companhia em todos os momentos nessa trajetória.

Agradeço ao meu marido amado, que com muito amor e paciência

sempre esteve ao meu lado e soube me compreender e me encorajar nos

momentos mais difíceis.

Devo ainda agradecer ao meu coach querido e amado amigo, Michiel

Herbert, por todo apoio nos mais diversos aspectos de minha vida. Agradeço

com muito carinho por ter acreditado em meu potencial e ter me encorajado em

cada instante desse período tão importante em minha vida, além de contribuir

tanto com reflexões imprescindíveis sobre o trabalho de coaching dentro e fora

da educação. Agradeço também à Ana Rosa e ao Tai, pela paciência, pela

compreensão, pelo amor e pelo carinho que me dispuseram em todos os

momentos. Obrigada por ter mantido a cada instante meu brilho no olhar e por

me inspirar tanto!

Quero aqui expressar minha enorme gratidão ao querido orientador,

Prof. Dr. Alípio Casali, que foi meu coach e me proporcionou, durante nossas

orientações e aulas, uma oportunidade de experiências que jamais encontraria

somente pelas páginas dos livros, sempre com muita paciência e sabedoria

que encantava a todos ao redor. Quero ainda poder agradecê-lo por todo apoio

que me deu diante das situações difíceis que passei nesse caminho árduo,

porém muito prazeroso. Meu muito obrigado de todo o meu coração por

contribuir tanto para minha formação como pesquisadora e também em meu

desenvolvimento pessoal e profissional.

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Venho ainda estender meus agradecimentos a todos os professores aos

quais devo grandes aprendizagens ao longo das disciplinas cursadas durante o

mestrado.

Meus agradecimentos, em especial, ao Prof. Dr. Antônio Ciampa, que

fez contribuições tão valiosas durante a disciplina que tive a oportunidade de

frenquentar e aprender tanto com suas discussões e reflexões em torno do

tema Identidade. Agradeço ainda pelas contribuições sábias durante a

qualificação.

Estendo ainda meus agradecimentos à Prof. Dr. Ana Cristina Limongi,

que me acolheu de maneira muito carinhosa em seu grupo de pesquisa na

USP e deu também contribuições de grande valia para a minha dissertação

durante a qualificação. Em suma, agradeço mais uma vez pela leitura atenta da

pesquisa e pelas contribuições fundamentais para o ajuste deste estudo.

A CAPES, pelo apoio e incentivo por meio da bolsa nos últimos 12

meses de pesquisa.

Não poderia deixar de agradecer à Cida, funcionária exemplar do

Programa Educação: Currículo, sempre disposta em auxiliar os alunos de

maneira alegre e educada, que me ajudou tanto durante todo o mestrado.

Agradeço também a todas as professoras que se dispuseram a

participar deste estudo de maneira tão dedicada e que me proporcionaram

crescimento pessoal e profissional.

Agradeço também a toda a equipe diretiva da escola pesquisada, pelo

apoio e pelos ajustes realizados para que pudesse concluir esta pesquisa e por

acreditarem na educação e em uma formação docente que envolva a

profissionalidade do professor, dentro de seu ambiente de trabalho.

Quero ainda fazer um agradecimento geral a todas as pessoas que

participaram desse processo da realização de meu grande sonho, contribuindo

direta e/ou indiretamente para a realização da presente pesquisa. Meu muito

obrigado a todos!

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RESUMO

Coaching e formação da consciência docente

Karen Ciaccio Secco

Este estudo tem como objetivo principal olhar para a subjetividade do professor; olhar para a ligação entre as dimensões pessoais e profissionais na formação da consciência docente e na produção identitária dos professores. Busca maiores esclarecimentos sobre a profissão docente, compreendendo suas crenças e elucidando seus valores pessoais e profissionais através do coaching (processo que trabalha com desenvolvimento pessoal e profissional do ser humano). Apresenta como referenciais teóricos as concepções de Rousseau, Dewey, Vygotsky, Freire, Nóvoa e Ciampa no que diz respeito aos princípios educacionais, à formação da identidade e à consciência docente; e como fundamentação teórica do coaching, apresenta os conceitos de Atkinson, O’Connor & Lages, Whitmore, Galley e Pérez. A opção metodológica foi pela pesquisa qualitativa, utilizando a pesquisa-ação como referência, segundo Barbier. Para análise e interpretação dos dados utiliza Bardin, enfatizando duas categorias: compromisso e responsabilidade. Durante a pesquisa de campo foram realizadas as sessões de coaching com professores de Educação Infantil e do Ensino Fundamental I, com a intenção de verificar qual efetivamente foi o impacto do coaching na dimensão pessoal e profissional dos sujeitos envolvidos na pesquisa. A dissertação conclui que o coaching teve um impacto positivo em ambas as dimensões mencionadas, considerando-as indissociáveis, isto é, uma reflete na outra. O trabalho com as sessões de coaching possibilitou reflexões e mudanças na vida pessoal e profissional dos sujeitos. Como o foco da pesquisa era especificamente a formação da consciência docente, por meio do coaching, associando-se consciência aos conceitos de compromisso e responsabilidade com a profissão, concluiu-se que quando se desenvolve a dimensão pessoal do sujeito o profissional também se modifica. Neste caso, evidencia-se o fortalecimento do grupo de professores, a valorização do trabalho em equipe e um olhar mais atento para os educandos, resgatando o brilho no olhar dos professores e contemplando também as expectativas, que, em especial, eram a formação docente e o autoconhecimento, dados esses que foram resultados da presente pesquisa. Em suma, busca-se, desta forma, a construção de um programa de formação que utilize o coaching como novo elemento do currículo, com foco na formação dentro da escola, olhando para as dimensões pessoais e profissionais do docente, contribuindo para sua produção identitária e para uma maior consciência de/para sua profissão. Palavras-chaves: Formação de Professor, Coaching, Identidade e Consciência Docente.

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ABSTRACT

Coaching and training awareness teacher

Karen Ciaccio Secco

This study's main objective is to look at the subjectivity of the teacher, look for the link between personal and professional dimensions of consciousness in teacher training and teachers in the production of identity, reaching further information on the teaching profession, better understanding their beliefs and clarifying their personal values and professional through coaching (the process that works with personal and professional development of the human). It assumes the theoretical conceptions of Rousseau, Dewey, Vygotsky, Freire, Ciampa and Nóvoa with regard to educational principles and the formation of teacher identity and consciousness as theoretical teaching of the coaching, it introduces the concepts of Atkinson, O'Connor & Lages, Whitmore, Galley and Pérez. The methodology was that of qualitative research, using action research as a reference, according to Barbier. For analysis and interpretation of data it was used Bardin, emphasizing two categories: commitment and responsibility. During the field research coaching sessions were conducted with kindergarten and elementary school teachers with the intention to ascertain what was effectively the impact of coaching in personal and professional dimensions of the subjects involved in research. The dissertation concludes that coaching had a positive impact on both dimensions mentioned, whereas inseparable, in other words, reflecting the other one. Working with the coaching sessions has allowed reflections and changes in personal and professional lives of individuals that were involved in this study. The focus of this research was specifically aware of teacher training, through coaching, joining awareness, the concepts of commitment and responsibility with the profession; it was concluded that when, looking at the personal dimension of the subject, his/her the work is also modified, which in this case, we realized the strengthening of the group of teachers, promotion of teamwork and a greater attention to the students, rescuing the shining eyes of teachers and also considering the expectations, which in particular were the teacher training and self-knowledge, data which were results of this search. In short, this way we seek to build a training program that uses coaching as a new element of the curriculum, focusing on education in school, looking for personal and professional dimensions of teaching, contributing to the production of identity and to lager awareness of/for his/her profession. Keywords: Teacher Training, Coaching, Teacher Identity and Consciousness.

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LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS

Quadro 1 – Perfil dos Sujeitos Pesquisados......................................................91

Quadro 2 – Roda da Vida..................................................................................97

Quadro 3 – Pontos fortes e fracos...................................................................114

Quadro 4 – Principais valores apresentados pelos sujeitos............................116

Gráfico 1 – Escolaridade....................................................................................93

Gráfico 2 – Crenças Religiosas.........................................................................93

Gráfico 3 – Maternidade entre as professoras...................................................94

Gráfico 4 – Estado Civil das professoras...........................................................94

Gráfico 5 – Tempo de Magistério.......................................................................95

Gráfico 6 – Vínculos trabalhistas com outras escolas.......................................95

Gráfico 7 – Tempo de trabalho na unidade.......................................................96

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LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

CEFAM – Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério

FGV – Fundação Getúlio Vargas

ICF – International Coaching Federation

MBA – Master in Business Administration

ZDP – Zona de Desenvolvimento Proximal

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................01

CAPÍTULO I

O QUE É O COACHING?

1. A história do coaching..............................................................................13

2. Coaching e a sua natureza..........................................................................19

3. Benefícios do coaching...............................................................................25

4. Tipos de coaching.......................................................................................28

5. Teacher coaching........................................................................................32

CAPÍTULO II

REFERENCIAL TEÓRICO DA EDUCAÇÃO

1. As propostas pedagógicas de Rousseau, Dewey, Vygotsky e Freire....34

1.1. Jean-Jacques Rousseau..................................................................34

1.2. John Dewey......................................................................................40

1.3. Lev Vygotsky e a Zona de Desenvolvimento Proximal....................45

1.4. Paulo Freire......................................................................................47

2. Coaching e educação: a relação entre o coaching e os autores............48

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CAPÍTULO III

COACHING E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: RELATO DE UMA

EXPERIÊNCIA

1. Abordagem qualitativa e pesquisa-ação...................................................67

2. Percurso metodológico e a pesquisa de campo......................................71

3. Pesquisa de campo.....................................................................................74

3.1. Cenário e sujeitos da pesquisa........................................................75

3.2. Pesquisa de campo: sessões de coaching......................................77

4. Primeiros resultados das sessões.............................................................82

5. Análise, interpretação e resultados da pesquisa.....................................85

CAPÍTULO IV

COACHING E FORMAÇÃO DOS PROFESSORES: UMA CONTRIBUIÇÃO

AO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO

1. Coaching: um novo elemento do currículo.............................................121

2. A construção da identidade docente.......................................................130

3. Coaching e a formação de professores...................................................135

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................145

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APÊNDICES

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INTRODUÇÃO

Meu projeto de mestrado surgiu de um grande sonho. Desde menina tenho

paixão pela educação. Quando criança, era apenas uma brincadeira: imitava

minhas professoras. Aos 9 anos de idade tive duas grandes educadoras em minha

vida. A paixão por elas era tanta que despertava em mim o desejo de aprender e

de poder ser cada dia melhor. Elas eram minha mãe, professora, que na época

também era assistente de direção numa escola de Educação Infantil; e minha

professora da 3a série, atual 4o ano do Ensino Fundamental. Elas eram realmente

incríveis, referências na vida de tantas crianças. Nessa época já desejava ser

professora. Trago entre as minhas memórias as vezes que acompanhava a minha

mãe na escola e participava das festividades e do cotidiano daquelas professoras.

Ao ouvir e pensar na palavra PROFESSOR me lembro do quanto esta

profissão era reconhecida, respeitada. Ser professor era ter prestígio, sabedoria,

status, de certa forma. Desde então, em toda a minha vida escolar tive bons e

ruins professores, os quais deixaram marcas, alguns como brilhantes referências,

outros nem tanto, mas que me ajudaram a enxergar coisas que não faria na

profissão.

O tempo passou e entrei no magistério, no antigo CEFAM – Centro de

Aperfeiçoamento e Formação do Magistério. Lá estudávamos o dia todo e foi onde

compreendi o que é paixão, amor, dedicação e desejo de mudar a educação

brasileira. Em minha opinião, foi uma das grandes escolas em que realmente se

preparava o professor para assumir uma sala de aula. Veio a compreensão do

sistema educacional, seus pontos e contrapontos e juntamente com esta visão, a

realização de um sonho: ser professor, ou melhor, educador: um educador que faz

a diferença na vida de uma criança, de uma família, de uma comunidade e/ou até

na sociedade como um todo.

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Vieram os estágios e as primeiras percepções: quantos professores em

sala que davam a mesma aula de 20, 30 anos atrás; quantos professores

esquecidos, num sistema abandonado pelo governo e pela sociedade; tantos

problemas. Porém, em meio a tantos conflitos, a parte mais linda e magnifica da

profissão: a pureza, a inocência, o amor e a confiança de uma criança. Isto, sim,

me motivava cada vez mais a entrar em sala e colocar meus verdadeiros sonhos,

desejos e aprendizagens em prática. Meu único pensamento: fazer a diferença de

maneira positiva na vida do aluno que estava em minhas mãos!

Certa ou errada, o que me inspirava era a paixão, o amor pela profissão e

fui percebendo que, como eu, existiam outros que amavam a nossa profissão,

mas que, na maioria das vezes, trabalhavam sozinhos. Então, vinha em meus

questionamentos: por que não trabalharmos todos juntos em prol de um mesmo

objetivo? Por que não tentarmos mudar a educação? Quantas indagações de uma

menina nova no magistério, sem muita experiência, mas com uma vontade e uma

garra enorme de mudar! Mudar a educação parecia um sonho muito ousado, mas

a busca por ele está cada vez mais perto.

Com o passar do tempo, ingressei na Prefeitura Municipal de Santo André,

depois na Prefeitura Municipal de São Bernardo e, a mais almejada, na Prefeitura

de São Paulo, o coração do Brasil. Imaginava que todos os esforços estariam

nesta grande rede. Não foi bem assim, mas meus valores e desejos continuavam

presentes.

O retorno de minha prática educativa era imediato; financeiro, nenhum. Mas

o carinho de meus alunos e de seus pais estava presente em minha vida

diariamente: homenagens, bilhetinhos, beijos, abraços e choro - mas um choro de

alegria - ao final de cada ano, de cada etapa vencida, cumprida. Sem muitos

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recursos, tinha dentro de mim o desejo de aprender com eles, meus amados e

adoráveis alunos1.

Paralelo a isso, à minha prática profissional, me formei na Faculdade de

Educação Física e, em seguida, fiz Pedagogia.

Quanta coisa tenho aprendido nessa estrada. Porém, tenho de confessar

que também tive as minhas crises na área educacional; desmotivação talvez não

fosse a palavra mais adequada, mas um descontentamento com a forma com que

o Estado, a sociedade e até os próprios professores enxergam a educação. Foi

com base neste descontentamento que me movi a procurar algo para lutar pela

minha grande razão de viver: a arte de EDUCAR. Descontente com tanto descaso,

fui a busca de novos conhecimentos para realmente poder transformar a

educação.

Assumi os riscos e saí da rede na qual batalhei tanto para entrar, fui para a

educação corporativa entender o lado privilegiado do país, pois até então havia

trabalhado na periferia, um mundo à parte dentro de nosso mundo. Foi aí que

conheci e percebi que quando temos uma causa, um sonho, fazemos qualquer

coisa para que este seja realizado: trabalhei treinando executivos. Especializei-me

numa empresa de liderança e pude medir de perto o quanto o sonho de uma

pessoa, a disposição para a mudança, juntamente com plano estratégico para a

efetivação deste sonho, fazem a diferença não só na vida da pessoa, como na

busca por um mundo melhor. Nessa época fiz meu MBA em Gestão de Pessoas,

na Fundação Getúlio Vargas – FGV.

Foi então que, infelizmente, vi que a educação estava mesmo esquecida

pela parte “rica” da sociedade, mas descobri também que quando queremos algo

e nos determinamos para consegui-lo somos capazes de transformar o mundo! Os

recursos estão dentro de nós mesmos! Por que não passar esta vivência para

1 Que mais para frente fui perceber que o pronome MEU não deveria ser usado, pois os alunos são

do mundo e para o mundo. São nossos tesouros, nossos futuros líderes, talentos e cidadãos.

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outros professores, tão sonhadores e apaixonados quanto eu? Eram esses

pensamentos que permeavam o tempo todo minha cabeça. Foi então que conheci

o coaching. Que processo encantador! Um trabalho que ia ao encontro de tudo o

que eu acreditava na educação, baseado no outro, trabalhando a reflexão, o

pensamento a todo o momento, o autoconhecimento, o sonho, a missão de vida,

os valores; enfim, despertar no outro a força que ele mesmo tem. Fazê-lo

reconhecer que pode, que o ser humano é capaz.

A partir de então meu sonho tomou ainda mais forma. O que fazer com

tantas informações? Como colocá-las em prática? Então, com um processo curto

de coaching 4 passos, resolvi ir para o Canadá e me especializar em coaching, e

percebi que lá este processo é trabalhado nas escolas. Tive a oportunidade de

conhecer escolas lá fora que aplicam o coaching em seu cotidiano e que trazem

bons resultados. Então, por que não trabalhar em meu país? É mais um

questionamento que me motivou a voltar para o Brasil e colocar em prática tudo o

que havia lido, aprendido e vivenciado na prática. Percebi que hoje é possível,

tenho um longo trabalho e terei grandes parceiros, que assim como eu sonham

em fazer uma educação de qualidade.

Minha trajetória não termina aí. Ela apenas começou. Encontrei também no

curso de coaching, no Canadá, uma pessoa muito especial, que me motiva e

inspira nesta jornada: Michiel Kerbert2, que compartilha do mesmo objetivo que

eu: fazer a diferença na educação, como já havia citado acima. Ele me motivou a

voltar e realizar a minha pesquisa e a partir daí é que minha nova história começa,

mas a história de um mesmo e novo sonho, EDUCAÇÃO, esta palavra que me

move, me impulsiona. Quero poder despertar esta mesma paixão em outros

professores, resgatar o brilho no olhar e o motivo real que fez com que eles

escolhessem esta profissão tão bela, que nos ensina tanto, que nos desperta

como agentes de mudança em sociedade, ampliando nossas visões de mundo,

2 Michiel Kebert: amigo querido, empresário, profissional renomado na área de coaching e na

educação corporativa.

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lidando com pessoas e comportamentos de diferentes tipos, trabalhando com

cultura, contribuindo para a formação de um ser humano melhor, de uma

sociedade mais justa e menos violenta. Pois, para mim, a solução para os grandes

conflitos de nosso país passa pela construção de uma nova educação.

Compartilhar este sonho, estes conhecimentos com meus colegas de

profissão me motivam a estudar, pesquisar, investigar a arte do coaching aplicada

à educação como um todo. A arte de fazer perguntas que estimulam o pensar; que

auxiliam e direcionam o olhar do professor para seu aluno; que o auxilia a prestar

atenção no ser humano que está à sua frente, na sala de aula e fora dela; a

compreender qual o impacto de uma atitude profissional na vida de um aluno. O

coaching auxiliará na mudança de cultura escolar, compreendendo e

ressignificando crenças, vivenciando valores de forma plena e, acima de tudo,

interessando-se pelo outro, pelo próximo, sendo este seu aluno ou não. A

utilização desta ferramenta ampliará a visão da prática educativa atual, trazendo

benefícios para a sociedade como um todo, pois o objetivo maior é despertar no

aluno o desejo de aprender sempre e trazer para a educação uma nova visão

educacional, que se preocupa em formar seres humanos melhores em busca de

um mundo melhor para todos nós.

O coaching pretende dar uma contribuição diferenciada à educação. É uma

ferramenta, uma técnica que pode ser aplicada tanto com os professores como

com os alunos. Porém, como toda e qualquer mudança, só acontece de maneira

efetiva juntamente com o desejo das pessoas de realmente mudarem junto com

ela, de enxergarem nas mudanças oportunidades de crescimento, novas

possibilidades, novos aprendizados e conquistas. A mudança vem do desejo do

próprio ser humano e este deve enxergar nela a possibilidade, oportunidade de

crescimento. Ter ciência de que ela só acontece se o indivíduo quiser que ela

realmente aconteça.

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Cabe então a mim, enquanto educadora, e aos que aqui compartilham do

mesmo desejo de transformação de nossa sociedade acreditar que isto é possível

e colocar em prática o amor pela profissão, a missão de vida, sendo agente

transformador através do trabalho com a formação da consciência docente e

diretamente com os alunos envolvidos nesse processo de sucesso.

Se aprender para a vida significa alguma coisa, trata-se antes de tudo da

criação de novas formas de compreensão, de unidade entre o ser humano e o

mundo, dos seres humanos entre si, entre o que se aprende na sala de aula e o

que se vive e se viverá fora dela e fora da escola. Partindo desta perspectiva, o

professor deve ter clareza de um projeto de educação comprometido com o

desenvolvimento das capacidades que permitam intervir na realidade para

transformá-la. Ele deve compreender que cabe a ele levar quem aprende a níveis

cada vez mais profundos de consciência, tornando-o um ser maduro e

responsável. E aqui é onde o processo de coaching pode auxiliá-lo na

compreensão e no desenvolvimento de seu educando.

Como deixo claro, sou impulsionada por motivações pessoais e

profissionais, pois a escola, a educação, precisa mudar, inovar, renovar, buscar

novos caminhos. E para que isso aconteça é necessário trabalhar a subjetividade

do professor, em sua dimensão pessoal e profissional, resgatando o passado,

nossas raízes, olhando para um futuro melhor, sem esquecer o presente e das

ações que devemos ter hoje para que possamos alcançar um futuro tão almejado.

Sempre com os pés no chão e a mente no infinito.

A busca e o regaste do entusiasmo em sala de aula, como explicito durante

toda a minha introdução, também fazem parte desta pesquisa. Tanto a escola

quanto a sala de aula devem ser espaços onde a pedagogia do entusiasmo esteja

o tempo todo presente e o educador realmente sinta-se realizado em exercer sua

profissão e que o brilho esteja tanto em seus olhos como nos olhos de seus

educandos; que, em primeiro lugar, “ser professor seja ser um ser humano

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melhor” e que este desejo faça parte do cotidiano escolar, promovendo reflexões

em sala de aula que contribuam para que o educando também se torne um ser

humano melhor e se realize integralmente. Segundo Arroyo (2000), não nascemos

humanos, nos fazemos e aprendemos a ser humanos.

Acredito que o professor deve ter clareza de que inspirar seus alunos faz

com que estes estabeleçam relações não só com o processo ensino

aprendizagem, mas também como compreendem o mundo. Quem faz as coisas

por obrigação tende a fazê-las com menor empenho e obtém resultados

medíocres. Já aqueles que agem movidos pelo amor e pelo talento se entregam

de corpo e alma, alcançando resultados extraordinários. Quando o professor

acredita em sua causa e trabalha por amor à profissão, sua motivação o

impulsiona, seu envolvimento aumenta e, consequentemente, o processo de

aprendizagem torna-se mais rico e produtivo. O coaching contribui efetivamente

para que isto aconteça, pois é através dele que o educador estará refletindo

profundamente sobre estas questões e sobre a cultura educacional como um todo,

compreendendo cada vez mais suas crenças, valores e comportamentos.

Direcionamento do olhar para o momento presente: pesquisa em ação

Por conta de toda a minha trajetória de vida, tanto na dimensão pessoal

como na profissional, cheguei ao tema título desta pesquisa: Coaching e formação

da consciência docente. A decisão por pesquisar o tema, em primeiro lugar, está

baseada numa crença de que nós, enquanto educadores, temos a obrigação de

sonhar e de que estes sonhos possam transgredir a realidade e propiciar

mudanças individuais e coletivas, além de estar diretamente atrelada a identificar

os gaps3 existentes na exigência da sociedade para com a escola, para com o

professor, especialmente direcionada à lacuna existente diante desta demanda de

3 Gaps: termo em inglês que significa “lacunas”, de acordo com o Dicionário Michaelis on line

(DICIONÁRIO MICHAELIS, 2011).

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massa, onde o professor está no meio deste grande problema e está ficando pra

trás, completamente perdido, desatendido, desassistido. Quem cuida do sujeito

professor na sua subjetividade? Como fazer isso? Como ajudar o sujeito professor

na sua subjetividade a ter uma inserção adequada dentro do universo escolar e da

sociedade? Qual o impacto do coaching neste processo da formação da

consciência docente? Trazer uma discussão como esta é fazer um resgate

histórico.

E para resolver esta questão é que proponho o coaching. Ele captura estes

gaps e vem para solucioná-los. Estes processos análogos estão reconectando

tradições ancestrais. Em especial, quando resgatamos as ideias de Rousseau,

Dewey e Paulo Freire, realizando uma contraposição com o histórico e o

surgimento do coaching, que vem de uma tutoria, mesmo que a tutoria tivesse

sido um privilégio dos nobres.

Verificam-se na literatura diferentes abordagens sobre a origem do

coaching. Quero trazer os seguintes referenciais: Atkinson (2007a, 2007b), Pérez

(2009), O`Connor & Lages (2010). Os teóricos citados buscam abordar as

principais linhas do coaching as quais serão seguidas no decorrer desta pesquisa,

deixando claro que o coaching utilizado segue uma abordagem humanista do

profissional professor, buscando interligar a dimensão pessoal e profissional,

ressaltando ainda que o coaching vem para dar voz a esses profissionais que

necessitam ser olhados sob uma ótica diferenciada. Daí a importância de se

explicar o processo histórico do coaching, reforçando a ideia de que o mesmo se

apropria da maiêutica de Sócrates e surge dentro da educação; é a partir dela que

migra para a Administração. Tento também eliminar, a princípio, supostas

resistências voltadas à semântica da palavra em sua tradução simples e baseada

num entendimento de senso comum, em que é compreendida a palavra coaching

pura e simplesmente como treinamento e ou adestramento, ou até baseada numa

visão do esporte voltada apenas para busca da técnica autoritária e de uma alta

desempenho a qualquer preço.

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Este estudo pretende trazer alguns elementos do coaching, já utilizados em

outros países e até no Brasil, que trarão para a escola alguns dispositivos

similares aos que são usados em empresas, respeitando as peculiaridades da

escola e a essência de cada professor enquanto ser humano, visando não só o

trabalho com este educador, mas que ele possa utilizar os pressupostos do

coaching em sala de aula como start4 para ações e intervenções mais efetivas

diante de seus educandos, proporcionando condições, situações, experiências

que visem o desenvolvimento das potencialidades do mesmo, almejando um ser

humano melhor e uma sociedade cada vez mais justa e igualitária, trazendo uma

nova plataforma para o trabalho de coaching em educação. Algumas condições,

se não ideais, próximas ao ideal.

A pesquisa busca utilizar o viés humanista do coaching, buscando expor as

raízes do processo para que esse seja compreendido criticamente e também

visando um viés político dentro das escolas, dentro da educação. (ATKINSON,

2007a).

O problema que dá origem a este projeto é a insatisfação geral dos

professores em relação à profissão docente, identificada pela desvalorização

social, pela falta de recursos para exercer a profissão, pelos baixos salários, pelo

excesso de trabalho e, principalmente, por crenças tão arraigadas ao longo da

profissão, entre outras questões, que afrontam a educação brasileira nos dias

atuais.

A insatisfação dos professores provoca cansaço, desânimo e falta de

motivação para exercer de maneira efetiva a profissão. Na maioria das vezes,

impede-os de cumprir seu papel na sala de aula, de se atualizar, de buscar novos

conhecimentos e aprimorar sua prática pedagógica, causando um

descomprometimento do profissional docente com o exercício de sua profissão.

4 Start: termo em inglês que significa começar, iniciar, de acordo com o Dicionário Michaelis on line

(DICIONÁRIO MICHAELIS, 2011).

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A hipótese a ser utilizada neste trabalho é: se houver um trabalho com a

subjetividade do professor, um olhar direcionado para o educador na sua

dimensão pessoal e profissional, através do coaching, o problema apresentado

será minimizado e muitos gaps na relação professor-escola-aluno estarão

solucionados.

Acredito que o coaching, em sua essência, possibilita a mudança do ser

humano e da realidade na qual o mesmo está inserido, pois, a partir da

compreensão da subjetividade do ser, de suas crenças e valores, o professor

estará resgatando seu “brilho no olhar”, visando sempre potencializar seus

talentos dentro e fora da sala de aula e, consequentemente, assumindo também o

papel de teacher coach, um profissional que olha para seu aluno e crê que este

pode se desenvolver mais a cada dia. No decorrer do presente estudo trago os

princípios do coaching e como este pode ser utilizado como ferramenta de

sucesso.

Tendo em vista a importância da descoberta de caminhos que tornem

possível um trabalho significativo com a pessoalidade e profissionalidade do

professor, tenho a intenção de articular projetos que contribuam para a formação

de professores, pautados na pesquisa e voltados à busca por uma nova

consciência docente.

A pesquisa é essencialmente qualitativa. Surgiu a partir de muitos outros

estudos tanto nas disciplinas do Programa de Educação: Currículo como em

minhas próprias pesquisas realizadas nas aulas, na Internet, no Portal da CAPES

e na leitura de bons livros e dissertações que contribuem com a educação de

forma geral.

Busco a fundamentação teórica a fim de aprofundar meus conhecimentos,

refletir de forma crítica e tornar minha dissertação mais consistente, justificando

sua relevância social e acadêmica, assim como já explicitado anteriormente.

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Nesta pesquisa, o objetivo principal é olhar para a subjetividade do

professor, olhar para a ligação entre as dimensões pessoais e profissionais na

formação da consciência docente e na produção identitária dos professores,

buscando maiores esclarecimentos sobre a profissão docente, compreendendo

melhor suas crenças e elucidando seus valores pessoais e profissionais através

do coaching.

Para atingir o objetivo principal e buscar respostas para o problema

anunciado, analisarei junto a um grupo de professores em que medida uma prática

de coaching pode produzir um efeito de ampliação de sua consciência docente e

intensificação de seu compromisso profissional. Para isso seguirei o percurso

metodológico da pesquisa numa abordagem qualitativa, pois se desenvolve na

relação e nos níveis de colaboração com outro, trabalha a autorreflexão, buscando

a transformação de todos (pesquisador e sujeitos), visando a elaboração de teoria

para a condução da prática. Conforme Chizzotti (2003, p. 79), “uma

interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o

mundo objetivo e a subjetividade do sujeito”.

Esta dissertação está assim estruturada: o primeiro capítulo, intitulado O

que é o coaching?, apresenta um histórico do tema, sua definição, seus

pressupostos e os tipos de coaching, enfatizando o coaching teacher.

O segundo capítulo, Referencial teórico da educação, traz a fundamentação

teórica, apresentando uma justificativa histórica do tema, explicando o que foi

perdido ao longo do tempo e mostrando a importância da retomada de alguns

princípios educacionais e do próprio coaching para a educação. Resgata ainda a

proposta pedagógica de Rousseau, Dewey, Vygotsky e Freire.

O terceiro capítulo, intitulado Coaching e formação dos professores, aborda

as questões relacionadas ao tema e prioriza a reflexão sobre currículo e sobre a

construção da identidade e formação docente, dialogando concomitantemente

com o coaching e seus princípios norteadores.

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No quarto e último capítulo, intitulado Olhares metodológicos, descrevemos

o percurso da pesquisa e a metodologia utilizada; descrevo ainda o cenário e

sujeitos de pesquisa, a coleta de dados e a análise e interpretação dos mesmos,

através do processo de coaching.

Para finalizar, retomo, nas Considerações finais, as hipóteses e questões

de pesquisa, apresentando os resultados do estudo e apontamentos para uma

reflexão na busca de novos caminhos a serem explorados na educação,

especificamente na formação da consciência docente.

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CAPÍTULO I

O QUE É O COACHING?

1. A história do coaching

O coaching apresenta diferentes origens em seu processo histórico. Cabe

descrever primeiramente o que é este processo e quais as abordagens históricas

de seu surgimento.

Coaching é um processo estruturado que ajuda as pessoas a atingirem

suas metas em suas vidas pessoais, em suas carreiras, em seus

empreendimentos ou em suas organizações. Através do coaching, as pessoas

aperfeiçoam e aprofundam seu aprendizado, melhoram suas performances e sua

qualidade de vida. A interação entre coach (quem conduz o processo) e coachee

(a pessoa que é alvo do processo) faz com que este descubra seus sonhos, metas

e seu potencial inexplorado; auxilia o coachee a transformar esse conjunto em

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ação e não perder o foco no caminho da implantação. Ele tem como foco as

possibilidades futuras, as ações que devem ser feitas no presente e não os “erros”

do passado (ATKINSON, 2007a).

A história do coaching começou a ser escrita há alguns séculos, tendo o

filósofo Sócrates como uma grande inspiração para o seu surgimento, pois fazia

uso de um processo de perguntas que ajudava as pessoas a refletirem sobre as

respostas desejadas. O coaching utiliza perguntas reflexivas como sua base.

Fazer perguntas poderosas é uma das principais habilidades que um coach

profissional precisa ter e desenvolver (Ibidem).

A história aponta para os séculos XV e XVI, quando a cidade húngara de

Kocs, situada a uns 70 km de Budapeste (entre Viena e Peste), se tornou a mais

popular e se converteu em paragem obrigatória para todas as viagens entre as

duas capitais.

Em Kocs passou a ser muito comum o uso de uma carruagem que tinha um

sistema de suspensão, destacando-se ainda pela sua comodidade com relação às

carruagens tradicionais. Esta carruagem passou a ser chamada de kocsi szeker,

ou seja, a carruagem de kocs. Assim o termo kocsi (pronunciado cochi) passou

para o alemão como kutsche, para o italiano como cocchio e para o espanhol

como coche. Em português também temos a palavra cocheiro (PÉREZ, 2009).

Desta forma, podemos dizer que a palavra coach é de origem húngara e

referia-se a um veículo puxado por animais que servia para transportar as pessoas

de um lugar para o outro.

Este conceito originário ainda molda o papel e a função do processo do

coaching, do papel do coach. Pois é um processo que transporta as pessoas de

um ponto ao outro, do ponto que estão no hoje (presente) para chegar ao amanhã

(futuro). O coach é o facilitador dessa viagem.

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Instalou-se nos Estados Unidos antes de 1971, diretamente atrelado ao

esporte. O precursor foi Thimothy Galley, com seu livro publicado em 1974, The

Inner Game of Tennis, que assumia o papel de coach esportivo. Seu livro foi um

marco para o coaching que conhecemos hoje.

Em seu livro, Galley argumenta que o tenista tinha dois adversários: um é o

externo, que fica do outro lado da rede, e o objetivo é derrotá-lo; o outro é o

adversário interior, ou seja, você mesmo. Enquanto o adversário externo, de certa

forma, tira o melhor de você, o interno conhece todos os seus problemas e seus

pontos fracos e, ao mesmo tempo em que possui muitas armas para enfrentar o

adversário externo, possui a distração, conversas internas e dúvidas. Esse jogo

interior se desenvolve na mente do jogador. E, na verdade, seu pior adversário

acaba sendo ele mesmo (GALLEY, 1974).

Whitmore (2010) ressalta em sua pesquisa que Galley tinha tocado a

essência do coaching: liberar o potencial de uma pessoa para maximizar seu

desempenho, ajudá-la a aprender ao invés de ensiná-la. Um coach reconhece que

os obstáculos internos são com frequência mais assustadores que os externos.

Sua obra foi realmente revolucionária, pois reuniu elementos da psicologia

humanista, esportiva, do pensamento budista e de propor a ideia da programação

do inconsciente, mesclando de forma habilidosa com o aconselhamento.

Segundo O’Connor & Lages (2010), em 1980 as ideias de coaching

começaram a aparecer na cultura popular dos Estados Unidos, mas somente em

1990 o coaching passou a se desenvolver. Um dos responsáveis foi Thomas

Leonard, fundador, em 1994, da Internacional Coach Federation, que é hoje a

principal associação dos profissionais de coach do mundo.

Apesar de o coaching ter ganhado espaço nos Estados Unidos com sua

pragmática abordagem ocidental às mudanças, orientadas para metas e

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resultados, o coaching também tem em suas raízes a psicologia humanista e a

filosofia oriental, que buscam o ser humano como um ser integral.

O’Connor & Lages afirmam que muitos princípios da psicologia humanista

foram incorporados no processo de coaching, como: a visão otimista da natureza

humana, onde todas as pessoas querem se realizar; cada pessoa forma um todo

singular; cada pessoa é um ser único e valioso; todas as pessoas têm escolhas e

sentimentos que devem ser valorizados. Na visão desses dois autores,

para o coaching não existem fórmulas prontas, o coachee é um

especialista em sua própria experiência; cada um é um, e essas diferenças devem ser respeitadas. Os coaches convidam os coachees a serem arquitetos de suas próprias futuras

personalidades, fazendo escolhas e assumindo a responsabilidade por essas escolhas. (O’CONNOR & LAGES, 2010, p. 27-28)

A filosofia oriental contribuiu muito para o desenvolvimento do coaching, em

especial, pois, enquanto o ocidente buscava Deus no exterior, o oriente buscava

Deus no interior. Olhava para o íntimo da pessoa e buscava o diálogo interior,

fator fundamental no processo de coaching, onde o coachee busca o diálogo

interior e suas próprias respostas nele mesmo.

Outra filosofia subjacente no coaching é a filosofia socrática e seus

postulados maiêuticos, presentes nos diálogos de Platão, que evidenciavam a

capacidade das pessoas em procurar e encontrar as respostas em si próprias.

O coaching proporciona situações que fazem com que o coachee encontre

as melhores respostas, buscando alcançar seus objetivos, aprendendo com as

mais diversas situações e, muitas vezes, desafiando suas próprias crenças no

alcance de suas metas.

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Segundo Dorion (2008), Sócrates é considerado o “pai a filosofia”. Ele dizia

que sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância, dando origem à frase “só

sei que nada sei”. Pensava devagar e não aceitava a primeira coisa que lhe vinha

à mente. Buscava se libertar de ideias e conceitos de terceiros, submetendo-os a

críticas antes de enunciar seu pensamento.

Segundo Platão, Sócrates não queria ser considerado um professor e

nunca se considerou um sábio. Preferia ser visto como uma “parteira de ideias”.

Ele considerava que qualquer um poderia fazer o que ele fazia desde que se

dispusesse a fazer perguntas, aprender com todo mundo e desafiar suas próprias

crenças (apud WILLIANS, 2000).

Sócrates pregava que, ao desenvolvermos a confiança em nossas próprias

ideias, ficaríamos menos vulneráveis às influências de opiniões alheias e

acreditava que, para descobrir sua verdadeira vocação, o homem precisava se

libertar das expectativas que os outros têm sobre ele (DORION, 2008).

Sócrates afirmava que as verdades do método estavam em seu interior,

vindos da sua experiência anterior no mundo das ideias.

No coaching, a aproximação da “verdade interior” do coachee não implica

necessariamente ter a crença de que tal verdade seja inata.

A ideia básica da filosofia socrática que se relaciona diretamente com a

prática do coaching nos parece muito clara no diálogo entre Sócrates e Teeteto:

É por isso que não possuo sabedoria e não posso gabar-me de nenhuma descoberta que a minha alma tenha produzido. Em compensação, aqueles que convivem comigo, embora alguns a princípio pareçam muito ignorantes, fazem maravilhosos progressos à medida que recebem a minha influência, se o Deus assim lhes permite, não só em sua opinião mas também na dos outros. E é evidente que não aprendem nada comigo e encontram em si mesmos as belas coisas que dão à luz. (apud DORION, 2008, p. 54-55)

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Vale lembrar que para compreendermos os fundamentos do coaching é

necessário que se compreenda o método socrático, técnica para adquirir

conhecimento através da palavra, as quais estão escritas em forma de diálogos,

onde Sócrates surge como protagonista, fazendo seus discípulos refletirem

através de perguntas inteligentes, para que dessa forma adquiram conhecimento

por si próprios, podendo assim chegar à verdade das coisas (PÉREZ, 2009).

De acordo com Atkinson (2007a), alguns princípios e valores nomeados por

Sócrates, em especial voltados para os indivíduos, estão presentes fortemente na

cultura do coaching.

Autoconhecimento como base em uma vida autêntica;

Autoridade moral e espiritual do indivíduo sobre sua própria “alma”;

Questionamento do “senso comum” para verificação da verdade, em vez de

confiar na tradição;

Liberdade de expressão, direito de discordar abertamente e de questionar a

autoridade são elementos essenciais de uma sociedade saudável;

Pensamento disciplinado pela lógica e pela experiência pessoal.

Pérez (2009) afirma que o método socrático é um método baseado no

diálogo, onde através de perguntas se questionam conceitos considerados

verdades até o momento. Este método se processa em duas fases:

1) Ironia: fase na qual Sócrates conseguia que seu interlocutor reconhecesse

sua ignorância e a partir desse momento, então, estivesse preparado para adquirir

conhecimento, para chegar à Verdade Universal; e

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2) Maiêutica: fase em que começa a real procura da Verdade, através da

dialética. Consiste numa evolução progressiva quanto à exatidão de definições

elaboradas. Quanto mais correta for a definição mais perto se estará da Verdade.

É desses ensinamentos socráticos que temos a inspiração do coaching.

Como ressalta Atkinson (2007b), o conhecimento não está no coach e sim no

coachee. Um bom coach tem de incorporar esta ideia, pois este é um dos

princípios que garante o sucesso do programa e o diferencia de outras profissões,

como a consultoria, o mentoring (pessoa que tem mais experiência e orienta o

outro), o counseling (pessoa que faz um aconselhamento), entre outros. O

coaching foi buscar nos princípios socráticos a sua base.

Sócrates não dava respostas, nem soluções, ajudava seus discípulos a

encontrarem as respostas em si próprios. Promovia o autoconhecimento e a

aprendizagem significativa através da reflexão; assim também faz o coaching, que

tem como premissa promover a reflexão, a aprendizagem e o autoconhecimento

do coachee. Seguir o lema de Sócrates, “conhecer-te a ti mesmo”, o que significa

precisamente consciência racional de si mesmo para organizar racionalmente a

própria vida: é um dos propósitos do coaching5.

2. Coaching e sua natureza

O coaching é um meio para se chegar a um fim e não um fim em si mesmo.

Trata-se de uma metodologia de mudança destinada a ajudar as pessoas a

aprender, a desenvolver-se e dar o melhor de si. Para conseguirmos o melhor das

5 A intenção da presente pesquisa é apenas descrever de acordo com os teóricos utilizados a

origem do coaching com base nos princípios socráticos e não aprofundar os estudos na área filosófica.

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pessoas precisamos acreditar que o melhor está com cada uma delas, adotando

uma visão otimista do ser humano.

Para o sucesso de um processo de coaching é imprescindível que o coach

utilize os princípios básicos do mesmo. Atkinson (2007b) define que:

Princípios são pressupostos éticos que você assume como fundamentos. Ex: eu não minto porque vai contra meus princípios regras ou leis que criamos para viver porque são uma consequência direta do seu valor fundamental e refletem no nosso sistema de crenças (A arte e a Ciência do Coaching 6, módulo II,

2009).

A partir desta definição que rege o processo de coaching, a autora ainda

apresenta cinco princípios fundamentais a serem incorporados integralmente pelo

coach, a saber:

As pessoas são como elas são. Este princípio diz que as pessoas podem

crescer e mudar a partir de sua própria vida, através de suas escolhas.

Todas as pessoas têm capacidades e habilidades que podem ser

desenvolvidas a partir do seu querer;

As pessoas já possuem todos os recursos de que necessitam.

Imagens mentais, vozes interiores, sensações e sentimentos são os blocos

básicos de construção de todos os nossos recursos mentais e físicos.

Podemos usá-los para construir qualquer pensamento, sentimento ou

habilidade que desejarmos, colocando-os depois nas nossas vidas, onde

quisermos ou mais precisarmos;

As pessoas sempre fazem a melhor escolha disponível para elas. Cada um

de nós tem a sua própria e única história. Através dela aprendemos o que

6 A Arte e a Ciência do Coaching é o curso oferecido pela Erickson College, em Vancouver,

Canadá, ministrado por Marilyn Atkinson. Essa instituição está associada à ICF.

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querer e como querer, o que valorizar e como valorizar, o que aprender e

como aprender. Esta é a nossa experiência. A partir dela, devemos fazer

todas as nossas opções, isto é, até que outras novas e melhores sejam

acrescentadas;

A mudança é algo inevitável. A transformação é algo inevitável. O mundo

está em constante transformação e, consequentemente, as pessoas

também; e

Todo comportamento tem uma intenção positiva para o sujeito. Todos os

comportamentos nocivos, prejudiciais ou mesmo impensados tiveram um

propósito positivo originalmente: gritar para ser reconhecido; agredir para

se defender; esconder-se para se sentir mais seguro etc. Em vez de se

tolerar ou condenar essas ações, podemos separá-las da intenção positiva

daquela pessoa para que seja possível acrescentar novas opções mais

atualizadas e positivas a fim de satisfazer a mesma intenção.

De acordo com Atkinson (2007b), o coach tem a responsabilidade de seguir

esses princípios e deve ter muito claro os três elementos importantes no processo:

mudança, relacionamento e aprendizado.

A mudança está diretamente ligada ao desenvolvimento, em busca de algo

melhor no e para o indivíduo. A palavra mudança, no Dicionário Aurélio (2009, p.

567) apresenta diferentes definições, dentre estas, apresento-lhes algumas delas:

ação ou efeito de mudar, transformação; pressupõe uma alteração de um estado,

modelo ou situação anterior para um estado, modelo ou situação futuros, por

razões inesperadas e incontroláveis ou por razões planejadas e premeditadas;

modificação ou alteração de sentimentos e atitudes.

Mudanças acontecem o tempo todo e avançar nessa trajetória é essencial

para compreendermos e nos posicionarmos diante dos novos cenários, ampliamos

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o nosso olhar e entendermos melhor nossas crenças, valores e atitudes. Todo

coaching começa com a necessidade de mudar.

A mudança é como se fosse uma porta que só abre do lado de dentro, pois

cabe a cada individuo querer e abrir a porta, buscando novos horizontes,

enfrentando novos desafios e se desenvolvendo constantemente.

O coaching é um processo que apoia as pessoas nessas mudanças,

potencializando escolhas e auxiliando as pessoas a caminharem na direção que

elas pretendem ir, de forma que potencializem seus talentos e as tornando seres

humanos melhores. Ele é baseado em reflexão, diálogo e ação, promovendo

desenvolvimento pessoal e profissional.

O coach instiga, promove a reflexão constante sobre os comportamentos,

crenças e atitudes, tanto no âmbito profissional como pessoal.

O relacionamento é fundamental no processo de coaching, pois o coach

cria uma poderosa relação de parceria com o coachee, construindo uma relação

de confiança e qualidade de relacionamento. Esses também são componentes

para o sucesso do processo, pois sem confiança, confidencialidade e um bom

relacionamento não há um bom coaching.

O aprendizado é o último elemento fundamental, mas não o menos

importante. O coaching ajuda o coachee a aprender, incentiva a capacidade de

autoconhecimento, buscando uma análise minuciosa de um determinado

problema ou situação, utilizando os princípios do coaching, aprendendo com suas

ações e comportamentos e buscando olhar o outro de forma diferenciada.

Dentro do coaching o aprendizado se dá em quatro estágios, segundo

Atkinson (2007a):

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Estágio 1 - Incompetência Inconsciente: é o estágio onde o indivíduo não

tem a consciência de que não sabe algo. É o estágio onde eu não sei que não sei

alguma coisa;

Estágio 2 - Consciência Incompetente: é o estágio onde o indivíduo tem a

consciência de que aquele determinado assunto existe, mas não têm

conhecimento sobre o mesmo. É o estágio onde eu sei que não sei determinado

assunto;

Estágio 3 - Consciência Competente: é o estágio onde o indivíduo está

começando a se desenvolver, pois é onde procura o conhecimento sobre

determinado assunto. Sei que o assunto existe e estou aprendendo sobre ele; e

Estágio 4 - Competência Inconsciente: é o estágio onde o indivíduo

incorpora determinado conhecimento, domina as habilidades envolvidas em

determinado assunto e já o pratica de forma inconsciente. Exemplo claro é quando

o indivíduo dirige de forma automática, ouvindo rádio, falando no celular e adquiriu

aquele conhecimento e age inconscientemente no momento de dirigir. Não pensa

mais no momento em que deve colocar a primeira ou a segunda marcha, por

exemplo.

Esses estágios são considerados, dentro do coaching, o ciclo da

aprendizagem. O coaching vê a vida como uma trajetória em melhoria contínua,

onde a aprendizagem e o desenvolvimento caminham lado a lado e o ser humano

é o protagonista de sua própria história, desse seu desenvolvimento e

aprendizado.

Vale ressaltar ainda neste capítulo a diferença entre o coaching e

atividades similares. Esta diferença está descrita de forma muito clara no material

da Lambent do Brasil7 (2002).

7 Lambent do Brasil – Federação Americana dos Profissionais de Coaching.

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Mentoring - é quando alguém com mais experiência e sabedoria em

determinada área dá conselhos, orienta as ações e funciona como modelo. Ele é

um mentor, um “padrinho” no campo profissional desse indivíduo;

Counseling (aconselhamento) - é um processo de apoio geralmente dentro

do ambiente profissional, com a finalidade de auxiliar o indivíduo a solucionar os

problemas pessoais que afetam o profissional. O profissional de couseling dá

conselhos de como o indivíduo deve agir;

Terapia - trabalha com o indivíduo que apresenta alguns problemas de

ordem psicológica, focando experiências vividas em seu passado. O indivíduo que

procura a terapia geralmente quer livrar de alguma dor ou desconforto, mais do

que irem à direção aos seus objetivos. Busca a cura emocional e o alívio mental;

Treinamento - o treinamento é o processo de adquirir habilidade através do

estudo, experiência ou ensino. O treinador é por definição um expert no assunto

abordado. E o treinamento geralmente trabalha com habilidades específicas e

resultado imediato. Em geral é um para muitos e não um para um; e

Consultoria - um consultor oferece conhecimento e experiência e resolve o

problema dos negócios, ou até desenvolve o negócio como um todo. O consultor,

geralmente, lida com a organização e não com as pessoas de forma direta.

Vale, aqui, enfatizar que o coaching é um processo que foca o futuro,

atrelado as ações no presente para que esse futuro possa realmente acontecer. O

coach faz as perguntas e o coachee é quem tem as melhores respostas. O coach

não dá sugestões de ações e nem diz o que o coachee deveria fazer,

independente da sua própria experiência em determinados assuntos. Ele tem o

coachee como um ser único a quem, utilizando os princípios do processo, já

citados anteriormente, auxilia o mesmo a se desenvolver e descobrir seus próprios

recursos para alcançar suas metas e objetivos, encontrar soluções para o que

realmente lhe incomoda.

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Acredito que, atualmente, as melhores práticas para a busca do

desenvolvimento pessoal e profissional estão entre as práticas de coaching. O

coaching procura facilitar a transformação de desejos e sonhos em objetivos

claramente definidos, aonde se quer chegar, partindo dos recursos atuais,

considerando quais as competências que precisam ser reforçadas ou adquiridas,

que esforços e recursos devem ser mobilizados para suprir as carências, que

limitações e hábitos improdutivos precisam ser vencidos nos níveis: intrapessoal,

interpessoal e profissional. O que facilita a aceitar a responsabilidade pelas

escolhas e pelas consequências. Treina o indivíduo a não culpar ninguém, nem as

circunstâncias e nem a si mesmo pelos resultados diferentes do que foi objetivado,

bem como a analisar o quê e como foi feito ou deixou de ser feito, que contribuiu

para que não se atingisse os objetivos, estimulando o aprendizado. O ser humano

é o agente de sua vitória.

3. Benefícios do coaching

O coaching traz resultados devido ao relacionamento de apoio entre coach

e coachee. Coaching não é uma técnica para ser aplicadas em certas

circunstâncias pré-concebidas. É uma forma de gerenciamento, de tratar as

pessoas, de pensar, de ser. Quero listar de forma simples alguns dos benefícios

do coaching, de acordo com a ICF – International Coach Federation8:

- iniciativa de mudanças;

- direção;

8 ICF – International Coach Federation

– Federação Internacional de Coaching, onde os

profissionais de coaching do mundo todo são cadastrados. A Federação garante uma formação de qualidade, realizada com seriedade.

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- clareza em relação às metas;

- planejamento da carreira;

- equilíbrio entre vida pessoal e trabalho;

- melhora nas relações pessoais e profissionais;

- melhora na habilidade de comunicação;

- aumento da satisfação no trabalho;

- ampliação da autoestima e da autoconfiança;

- aumento da motivação;

- mais energia;

- sucesso.

Atualmente, coaching é uma profissão reconhecida mundialmente. Existem

diversas associações que promovem e apoiam o coaching profissional, sendo a

ICF a mais importante e significativa, com representações em 49 países.

(INTERNACIONAL COACH FEDERATION, 2010)

Segundo a ICF (Ibidem), coaching é um relacionamento cujo foco é levar os

clientes a tomar ações em direção à realização de suas visões, metas e desejos.

Coaching utiliza um processo de questionamento e descoberta pessoal para criar

no cliente um nível de consciência e responsabilidade e promove ao cliente

estrutura, suporte e feedback9. O processo de coaching ajuda o cochee tanto na

definição quanto no alcance de metas pessoais e profissionais, muito mais

rapidamente e facilmente do que seria possível de outra maneira.

9 Feedback: termo em inglês que significa regeneração, realimentação, resposta, retroinformação:

comentários e informações sobre algo que já foi feito com o objetivo de avaliação, de acordo com Dicionário Michaelis on line. (DICIONÁRIO MICHAELIS, 2011)

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Pesquisas realizadas quanto ao uso do coaching, nos Estados Unidos, nos

mostram que a utilização do coaching cresceu 45% nos últimos anos (REIS,

2000). Esses dados mostram que as empresas e as escolas estão utilizando

estratégias de desenvolvimento que procuram gerar aprendizagem e

desenvolvimento pessoal e profissional no próprio local onde ocorrem as

interações de trabalho, mesmo que se utilize de um especialista externo,

garantindo a privacidade e o apoio ativo. Os diálogos de coaching podem propiciar

profundidade de questionamento que permite que o indivíduo escape do

pensamento restrito da própria cultura profissional, organizacional e, em alguns

casos, nacional (ADLER, 2003). No Canadá, as empresas e escolas que tem

utilizado o processo também tiveram excelentes resultados, o uso do coaching

aumentou 70% nos últimos anos (ATKINSON, 2007a). Trazer pesquisas atuais

evidencia a importância da metodologia tanto na gestão, como com o próprio

indivíduo. Vale ressaltar que a análise da realidade brasileira é fator primordial

antes da aplicação do processo, fator esse levado em consideração para a

realização desta pesquisa.

O processo de coaching de time também traz excelentes benefícios para a

equipe e para a organização, tais como: melhora no relacionamento entre o time e

seu líder e entre os membros do próprio time; compreensão do que realmente o

gestor espera do time; aumento da satisfação pessoal e do desempenho dos

membros do time; encoraja o time a dar feedbacks mais constantes e a

compartilhar ideias entre seus membros; mudança de atitude, como melhoria de

autoconfiança e autoestima, que gera aumento de produtividade; fazer com que os

membros sintam-se mais seguros para lidar com as mudanças, pois sabem que

podem contar com o apoio um dos outros; permitir que os membros do time

adquiriam novos conhecimentos e habilidades através da troca de experiências;

aumenta a moral do time, que acaba se refletindo na retenção de talentos; permitir

que o time faça uso dessa oportunidade para construir um futuro ao qual

realmente querem pertencer (Ibidem).

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28

4. Tipos de coaching

Como o coaching tem evoluído muito como metodologia e crescido muito

mundialmente, este também se ampliou para as diversas demandas do mercado e

da sociedade. Venho aqui citar algumas delas, segundo Atkinson (2007a):

Teacher coaching - visa provocar mudanças, aprofundar conhecimentos,

potencializar talentos, trabalhar competências que impulsionem o sucesso da

instituição escolar como um todo, trabalhando sobre um potencial ainda

inexplorado, integrando liderança, professores e alunos em busca de seus sonhos

e da melhor forma de realizá-los; promovendo também o desenvolvimento pessoal

e profissional do professor;

Carrear coaching - visa provocar questionamentos que levem ao

autoconhecimento e à consequente utilização do mais alto potencial, tomando

decisões e ações alinhadas, descobrindo e colocando em prática o melhor de

cada ser humano; para indivíduos que desejam iniciar ou reconstruir suas

carreiras de forma planejada, analisando todas as variáveis possíveis e assumindo

o controle por suas decisões; para indivíduos que já descobriram a carreira de

seus sonhos e querem continuar se desenvolvendo e explorando todo o potencial;

Relationship coaching - coaching para melhorar os relacionamentos e

analisar posturas e comportamentos, refletindo sobre estes com uma perspectiva

de mudança;

Executive coaching - coaching para a alta gerência, para melhorar as

tomadas de decisões estratégicas e a liderança;

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29

Sport coaching - o coaching de esporte desenvolve atletas de alto

desempenho na sua modalidade, explorando o máximo de seu potencial, para que

o atleta obtenha os resultados alcançados;

Student coaching - é um trabalho de profunda reflexão sobre a escolha

profissional, levantando questões essenciais para o sucesso na vida do estudante;

Life coaching - é o trabalho que tem como foco o equilíbrio entre a vida

pessoal e profissional, proporcionando reflexões que auxiliem o coachee a viver

sua vida de forma plena. Ajuda a descobrir uma forma de darmos o melhor de nós

e extrairmos o melhor dos outros, vivenciando nossos valores e compreendendo

nossas crenças;

Leadership coaching - auxilia a liderança a explorar o potencial de sua

equipe e o potencial do próprio líder, ampliando sua visão de mundo, refletindo e

elaborando ações que proporcionem resultados cada vez melhores, alinhando

missão, visão e valores do líder, da equipe e da organização.

O profissional coach pode atuar nas mais diversas áreas, sempre de acordo

com os princípios e valores do coaching, lembrando que o foco deste nosso

trabalho é o teacher coaching. Dentro desse processo é de suma importância

abordar a questão das crenças, pois essas serão bastante trabalhadas, onde o

coachee reconhecerá suas crenças e as classificará como limitantes ou não,

compreendendo que essas crenças refletem diretamente no modo de agir dos

seres humanos e, muitas vezes, especificamente, em seu desempenho no

trabalho (WHITMORE, 2010).

Whitmore (Ibidem) traz um exemplo bem específico da área da educação,

em que apresenta professores que acreditam na capacidade de seus alunos.

Pesquisas comprovam que esses alunos apresentam um desempenho melhor do

que aqueles alunos que os professores não acreditam que possam progredir em

seus estudos, ressaltando que esse desempenho está diretamente ligado ao

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desempenho profissional do professor. Se o professor acredita, se empenha cada

vez mais, buscando alternativas para seu educando progredir em seu

aprendizado; porém, o contrário também é verdadeiro: o professor que acredita

que determinado aluno é incapaz, acaba deixando-o de lado e privando-o de

poder avançar com os outros.

As crenças formam nossos modelos mentais, isto é, a maneira que o

mundo parece funcionar de acordo como nossas experiências. É a nossa visão do

mundo. As crenças não são fatos, embora muitas vezes a consideramos como

tais. Rhandy Di Stéfano (2008, p. 119) explicita isto de maneira muito clara.

[...] os maiores obstáculos da vida do ser humano são frutos de seu modelo mental, ou seja, a maneira que ele percebe e analisa a realidade. Esta percepção da realidade pode ser totalmente incongruente com os fatos, mas uma vez que a pessoa acredita nela, ela age como se fosse verdade absoluta. O modelo mental é o filtro que usamos para enxergar a vida. Os fatos da vida na maioria das vezes são os mesmos para as pessoas o que nos difere é o modelo mental que usamos para analisá-los.

As crenças dão forma ao nosso mundo social. Temos crenças sobre as

pessoas, sobre nós mesmos, sobre a sociedade, sobre relacionamentos, crenças

sobre nossa profissão. Elas determinam nossas ações e estão diretamente ligadas

aos nossos valores. Nossas crenças podem nos impulsionar e nos limitar nas mais

diferentes decisões e ações de nossa vida.

As crenças são mutáveis e cabe a nós reconhecermos nossas crenças,

verificarmos quais efetivamente nos auxiliam e quais nos impedem de ir adiante

em nosso caminho. O coach tem a responsabilidade de nos auxiliar nessa

identificação.

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Atkinson (2007b) afirma que as decisões e as ações do ser humano são

ligadas à representação que ele tem de si e do mundo, representadas pelo seu

sistema de crenças, que são compartilhadas socialmente. O coach tem o dever de

fazer com que o coachee reconheça suas crenças e, se preciso, as ressignifique.

A autora define crenças

[...] como relações de causa e efeito nas quais você acredita. São desenvolvidas baseadas nas nossas vivências, experiências. Elas podem ser positivas (que nos impulsionam a alcançar nossos objetivos). Ex: Na vida tudo é possível, o ser humano tem todos os recursos necessários para alcançar seus objetivos; ou negativas (que nos limitam a alcançar nossos objetivos. Ex: quem trabalha pouco vai morrer pobre).

Wooden & Carty (1996) definem o sistema de crenças como um conjunto

coerente que tem como eixo uma questão central e afirma que, embora as

crenças não sejam consensuais para um conjunto de pessoas que fazem parte de

uma determinada cultura, há um sistema social de crenças compartilhadas por

várias pessoas. Os autores ressaltam que um sistema de crenças considera o

modo como as coisas são e também intervém no modo como as pessoas acham

que as coisas deveriam ser, isto é, nos valores que deveriam prevalecer.

Dentro de um processo de coaching é fundamental a importância do

resgate dos valores fundamentais para o coachee: se este tem vivenciado

realmente seus valores e se os mesmos são essenciais para sua vida e sua

conduta ética. O coach é um facilitador para que esse reconhecimento aconteça,

buscando sempre a mudança e a satisfação do coachee.

A Lambent do Brasil (2002) define valores como coisas, estados ou estilos

que você valoriza. São nossas bases, o que realmente importa para nós mesmos.

São expressos através de palavras tais como liberdade, autonomia, família,

saúde, honestidade etc.

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Os valores são a energia que estão por trás de nossas metas. Se as metas

são nossos destinos, os valores são os que nos impulsionam em direção a elas.

São os valores que nos ajudam a nos comprometermos com determinadas

decisões e ações de nossa vida cotidiana. Eles também fazem parte do trabalho

no processo de coaching, pois sem eles o processo não aconteceria.

Para o sucesso do processo, o coachee deve se comprometer com as

ações por ele traçadas e, para isso, seus valores devem estar claros e devem-no

impulsionar a alcançar seus objetivos.

5. Teacher coaching

Como mencionado anteriormente, optei nesta pesquisa pelo processo de

coaching focado no trabalho dos professores (teacher coaching). Processo esse

que utilizará alguns focos de trabalho que serão abordados durante as sessões

com os professores.

O teacher coaching será totalmente direcionado para o autoconhecimento,

centrado numa abordagem humanista e educacional, auxiliando os professores a

aprender a aprender, incentivando expectativas elevadas, a busca por novos

caminhos e/ou estratégias para alcançar a visão de futuro, através da proatividade

e de planos de ação consistentes e reflexivos, utilizando o feedback constante

entre eles e os incentivando cada vez mais a utilizá-lo com seus respectivos

alunos.

Vale ainda deixar claro que será um processo que dará voz aos

professores, lembrando-os de seu papel político pedagógico e enfatizando o valor

de ser um profissional da área de educação; resgatando seu lado humano,

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construindo e ou reconstruído sua identidade e apresentando estratégias para

auxiliá-lo a ter um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, relacionando as

duas dimensões, sempre na busca de um equilíbrio e focando nas melhores

práticas e ações a serem realizadas dentro e fora da escola, tanto no âmbito

profissional entre os pares, pais e a gestão como, principalmente, com seus

educandos.

Na descrição da pesquisa-ação, dentro do capítulo acerca da metodologia

de pesquisa empregada, as sessões do teacher coaching serão expostas de

forma minuciosa, apresentando as estratégias de trabalho utilizadas. Cabe ainda

deixar claro que o resgate da missão de vida desses professores, a compreensão

de suas crenças e o resgate de seus valores pessoais e profissionais estarão à

frente de todo o trabalho.

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CAPÍTULO II

REFERENCIAL TEÓRICO DA EDUCAÇÃO

1. As propostas pedagógicas de Rousseau, Dewey, Vygotsky e Freire

1.1. Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) tem um papel importantíssimo na

trajetória da educação e sua referência é indispensável quando aproximamos o

coaching da formação da consciência docente. Para falar sobre este papel é

imprescindível resgatarmos de forma breve, sua contribuição pessoal para a

revolução na tradição filosófica ocidental, que, segundo Severino (2008), no

século XVIII, era voltada para pensar o homem como um ser genérico, como

espécie humana. E Rousseau é o responsável por uma profunda mudança ao ser

o primeiro filósofo a chamar a atenção para a compreensão do homem concreto,

que é homem histórico, tanto em suas questões individuais como em sociedade.

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Rousseau está muito preocupado com a felicidade humana a ser realizada

e conquistada nas condições concretas, ao contrário do pensamento da metafísica

tradicional que tendia a deslocar esta felicidade para um momento posterior à

própria existência histórica dos homens.

Para Rousseau, o homem é feito para ser feliz e deve saber como agir para

atingir tal felicidade (DOZOL, 2006).

Vale lembrar que no século XVIII o mundo ocidental viveu um processo de

tremenda efervescência, um período de transformações históricas sociais e

culturais na Europa, com a afirmação do Iluminismo e do Naturalismo. Conforme o

pensamento dominante da época, Rousseau reconhece o papel prioritário que a

razão natural tem na busca de esclarecer o sentido da existência humana. Ele

acreditava que o homem é bom por natureza, sendo preciso, segundo ele,

imaginar uma sociedade e uma educação que não corrompessem esta bondade e

sim que ela se desdobrasse em virtudes sociais. (Ibidem).

Rousseau vê o homem surgir na natureza em perfeita harmonia,

compreendendo o homem que emerge da natureza como parte dela, entendo-o,

desta forma, como parte integrante da natureza. Para Rousseau, o homem nasce

feliz e perfeito, profundamente integrado à natureza. Ele afirma que o convívio em

sociedade com o progresso intelectual e racional é que vai perturbar essa

harmonia. (Ibidem)

É nesse período ainda que vai se constituindo o pensamento político, pois,

de acordo com Severino (2008), nós temos pela primeira vez na história a

possibilidade de ver se constituírem as primeiras nações, os primeiros estados se

colocando a questão concreta do poder, que faz parte de todo o clima bem

representado pelo evento da Revolução Francesa, abrindo a discussão do papel

do povo na discussão da sociedade.

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Rousseau sofreu naquela época críticas severas da Igreja, pois buscava

dar respostas concretas aos problemas da sociedade europeia, onde procurou

elaborar sugestões para diferentes tipos de governo que estavam sendo

ensaiados naquele período histórico. Toda a problematização que ele faz é

exatamente tentar explicar porque o homem, sendo naturalmente bom, se

manifesta tão mal no âmbito da sociedade. “O homem nasceu livre e por toda

parte se encontra sob grilhões” (ROUSSEAU, 2004, p. 11).

Portanto, todo o problema da ação humana tanto da teoria como da prática,

na condição da sua existência, seria como recuperar, como resgatar esse estágio

de liberdade e harmonia com a natureza. A característica da origem do ser

humano que se encontra totalmente comprometida na convivência social é a linha

de todo o seu investimento intelectual. Sua reflexão filosófica vai se dar muito no

sentido de fazer um diagnóstico, uma descrição das misérias de seu tempo, como

os grilhões que nos escravizam e, ao mesmo tempo, nos apontam novas

condições que poderiam nos trazer a felicidade. E é por isso que ele, ao

vislumbrar uma nova sociedade, tem a necessidade de pensar numa educação

diferente do que aquela que estava sendo praticada no seu momento histórico, a

qual se desenvolvia nas ciências e nas artes, mas que tinha trazido a perda da

felicidade, da liberdade e da vontade humana.

Ele era influenciado pelo naturalismo que marcou o Renascimento e o início

da Idade Moderna. O pensamento vigente considerava o mundo natural e o

mundo material como uma entidade dotada de autonomia. É o que se chama na

filosofia de cosmocentrismo em oposição ao teocentrismo da Idade Média. Para

os pensadores no início do período moderno, a natureza não precisava da

intervenção divina, não se apelava mais para a fé; tratavam a natureza como uma

entidade autônoma, como o centro de seu objeto de estudo. Surgia então o

antropocentrismo, como afirmação da autonomia, das condições naturais

existentes tanto do mundo como do próprio homem no mundo. A partir de tal

perspectiva a ciência vai procurar explicar e resolver todos os problemas do

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mundo, analisando, pesquisando a realidade natural, transformando a natureza no

seu objeto de conhecimento (SEVERINO, 2008).

Voltando à premissa de Rousseau, que diz que o entrosamento entre o

homem e a natureza se dá na dimensão do sentimento e do envolvimento de

sensibilidade, o homem não pode ser tratado pura e simplesmente como um

fragmento dessa natureza, No entanto, esta relação envolve uma densa

sensibilidade que precisa ser levada em conta e a tese dele é justamente esta: ao

ter dado um tratamento muito lógico e adestrado à realidade, a ciência perdeu as

artes. Perdeu as habilidades técnicas do homem, mesmo provocando um

aparente crescimento da sociedade, mas a um custo muito alto da felicidade

humana. Ele trás fortemente em sua obra a conciliação entre o sentimento e a

inteligência, procurando uma maneira de conciliar, num mesmo projeto político e

educativo, natureza e sociedade, eliminando as contradições humanas (DOZOL,

2006).

Para Rousseau, a vida em sociedade se apresentava como um fato

concreto e real para os homens e a vida em sociedade não estaria

correspondendo, garantindo a segurança e a felicidade dos homens. Como estava

realmente preocupado com a situação social, ocupou-se em desvendar todos os

impasses e malefícios ligados aos grilhões aos quais se referia, pensando numa

outra organização da vida em sociedade, numa outra proposta de educação. Ele

acreditava que a vida social não deveria comprometer a harmonia entre o homem

e a natureza. Para isso, cada um teria que abrir mão de seus interesses egoísticos

e todos deveriam fazer um pacto coletivo para colocar a vontade geral acima da

vontade particular. Deste modo, a liberdade dos indivíduos conviveria muito bem

com a necessidade das normas, leis, postas no âmbito da sociedade. (Ibidem)

Se o homem ficasse exclusivamente no âmbito da natureza, ele viveria

feliz, em harmonia com as funções dessa natureza, mas como o homem,

historicamente, se encontrou e foi levado a esta vida, obviamente, surgiram os

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conflitos das necessidades individuais e as limitações trazidas pela vontade geral,

pelos interesses coletivos dessa sociedade. Portanto, a superação desse impasse

e a recuperação da condição original do homem, mesmo vivendo em sociedade,

só poderiam acontecer se houvesse um entendimento entre as determinações e

as exigências da vontade geral para com as necessidades individuais, priorizando

a felicidade e o viver bem, fatores do pano de fundo do pensamento

rousseauniano.

A vontade geral se expressava formalmente mediante um processo de

convenção que estava por baixo do sentido social, a ser assinado entre todos os

participantes da sociedade e/ou através de seus representantes, levando à

organização de um aparelho político administrativo conhecido no ocidente como

Estado, sob a forma da democracia. Este é o grande objetivo e tema central do

Contrato Social. O caminho para se chegar a esta nova condição social é, sem

dúvida, a educação. A dimensão fundamental dessa educação é de levar o

indivíduo natural a um novo estágio sem romper seu elo com a natureza

(SEVERINO, 2008).

De acordo com Moacir Gadotti, Rousseau

[...] inaugurou uma nova era na história da educação. Ele se constitui no marco que divide a velha e a nova escola. Suas obras com grande atualidade são lidas até hoje. Entre elas citamos Sobre a desigualdade entre os homens, O contrato social e Emílio. Rousseau resgata primordialmente a relação entre a educação e a política. Centraliza, pela primeira vez, o tema da infância na educação. A partir dele a criança não será mais considerada um adulto em miniatura; ela vive em um mundo próprio que é preciso compreender: o educador para educar deve fazer-se educando de seu educando; a criança nasce boa, o adulto, com sua falsa concepção da vida, é que perverte a criança. (2005, p. 86)

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Rousseau propõe uma educação que respeite a integridade, a

autenticidade e a autonomia da criança. Aborda uma pedagogia que valoriza muito

mais a aprendizagem do que um ensino, onde o professor não deve impor algo e

sim atuar na direção de despertar e orientar o aprendiz, incentivando posturas

convergentes com uma relação harmoniosa com a natureza. Dentro de sua obra,

Emílio, a grande discussão que prevalece é a forma de valorização da criança, de

não enxergá-la como um adulto em miniatura, trazendo fortemente o conceito de

tutoria, a qual busca um homem livre, feliz e sem ser corrompido pela sociedade.

Ele conta uma história de como seria a educação de uma criança, o Emílio, numa

nova perspectiva de educação e de homem. Rousseau vai mostrando durante

toda a sua obra a importância de se trabalhar desde a mais tenra idade a relação

da criança com a natureza, a fim de que não haja o rompimento da relação.

Educado desta forma, Emílio seria um cidadão capaz de assumir e aceitar as

exigências impostas pela convivência social, sem sentir-se oprimido.

Rousseau faz uma crítica muito severa à educação vigente, que era

racionalizada e impositiva e que via a criança como uma folha em branco, onde

era preciso trazer tudo e colocar ali; onde, geralmente, eram trazidos valores e

referências de uma pessoa adulta que, segundo ele, era uma pessoa totalmente

deformada pela própria vida em sociedade. As concepções rousseaunianas

trazem a importância de se levar em conta a seriedade do próprio modo de ser

criança, propondo uma pedagogia centrada nela, que busca a criança que nasce

livre, é feliz e está em harmonia com a natureza.

Severino (2008) afirma que nós, enquanto professores, assumimos uma

postura coerente com essas premissas de Rousseau quando procuramos

encarnar na nossa prática cotidiana esta dimensão de respeito pela autonomia e

pela liberdade do educando. Quer dizer: a grande meta da educação é a

constituição de sujeitos autônomos. Os grilhões citados por Rousseau assumiram

novos formatos, as opressões são de outra natureza; muitas vezes vem da própria

tecnologia, da própria ciência, do modo de organizar a sociedade; dessa

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engenharia social do condicionamento pelos meios de comunicação; nós

continuamos a ter muitos dos grilhões e, consequentemente, o aprendizado para

uma vivência democrática continua. Certamente, Rousseau, por ser romântico,

exagerou um pouco no que diz respeito às possibilidades da felicidade humana,

mas isto faz parte da dimensão utópica do pensamento, que é uma força

importante para sua vitalidade, nos lembrando da importância de sonhar alto,

mesmo que a realização não seja muito possível, ou até imediata.

Para Rousseau, a educação ajudava pensar tipos de homem e ajudava a

construir tipos de sociedade (ROUSSEAU, 2004).

Em suma, todo o interesse de Rousseau e toda a sua paixão fazem parte,

de um modo ou de outro, da doutrina do homem, compreendendo que “o que o

homem é”, não está separado “do que este homem deve ser”. Para ele, a

educação tem dois aspectos: o metodológico, respeitando o ser, educando o

indivíduo na liberdade, utilizando o princípio da natureza, para que este seja

autônomo; e na finalidade na busca do seu “dever ser”, voltado para que seja livre,

obedecendo às leis que ele mesmo criou. Ele reforça em sua obra que o homem

deve ser senhor de seu destino (Ibidem).

Dando continuidade às bases teóricas do presente estudo, reforçaremos a

ideia da valorização do indivíduo, de suas experiências, da busca pela autonomia

e da importância da democracia na educação do mesmo, com outro fundamental e

importante filósofo da educação: John Dewey.

1.2. John Dewey

John Dewey (1859-1952) trouxe grandes contribuições à educação. Sua

proposta pedagógica estava ligada diretamente a uma escola laboratório, pois já

tinha chegado à conclusão de que os métodos das escolas de ensino elementar

não se encontravam de acordo com os melhores conceitos psicológicos da época,

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propondo uma experiência inovadora, que garantiria liberdade de ação para

professores e alunos, com novos métodos e técnicas de ensino, rompendo

também com a pedagogia tradicional. Ele começou suas reflexões sobre suas

concepções educacionais partindo de seu “credo pedagógico”, em 1897, o qual

era baseado essencialmente na experiência e na democracia. Entendia a escola

como centro de educação primordial, devendo preparar os alunos para a

resolução de problemas com os quais se deparavam no seu ambiente físico e

social. A escola deveria surgir como um prolongamento da vida, esta devia ser

destinatária das aprendizagens escolares adquiridas (ALARCÃO, 1996).

Dewey representa um marco de referência fundamental no movimento

pedagógico e suas pesquisas, embora realizadas há muito tempo, ainda se fazem

surpreendentemente atuais em nossa realidade educacional.

Todo o pensamento educacional de Dewey é baseado numa concepção

filosófica. Ele valoriza muito a experiência do aluno e do professor,

compreendendo que é possível encontrar neste mundo mais sensível os valores

que precisamos para viver. Da concepção filosófica do Pragmatismo, Dewey

atribuía a este conceito outra versão, que significa preocupação com as coisas

práticas, imediatas. Na linguagem comum, temos uma visão pejorativa da palavra;

na Filosofia, diz respeito à prática, à valorização das coisas e da experiência. A

palavra não assume para ele um caráter individualista, pois o indivíduo está

diretamente vinculado às vivencias dos outros indivíduos. O conceito de

pragmatismo, para Dewey, é estar vinculado à experiência, à prática, à vivencia

social, grupal, prezando, desta forma, por um pragmatismo coletivo (CUNHA,

1994).

Ele é quem traz para a educação o conceito de pensamento como uma

ferramenta utilizada para resolver problemas da sua liberdade, enfatizando que

em nosso cotidiano nos deparamos com diferentes problemas os quais temos que

resolver e, para que isto aconteça, elaboramos hipóteses, as testamos e,

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dependendo do resultado, confirmamos ou não essas mesmas hipóteses.

Emergindo a partir desta concepção o conceito de pensamento reflexivo, que se

distancia do pensamento comum, pois vem como instrumento para a resolução de

problemas. Ele denomina o pensamento reflexivo como a melhor maneira de

pensar e o define como sendo a “espécie de pensamento que consiste em

examinar mentalmente o assunto e dar-lhe consideração séria e consecutiva”

(DEWEY, 1959, p. 13). As ligações entre as ideias determinam o pensamento

reflexivo.

O pensamento reflexivo requer ou prova ou testemunho (fundamento da

crença) que lhe sirva de garantia. As crenças estão fortemente presentes na

análise desse pensamento, pois, segundo Alarcão (1996, p. 46),

o sentido desse pensamento se baseia na crença e é o único que se constitui de imediato em motor das realizações intelectuais e práticas independente da validade, ou não dos argumentos que a sustentam. Isto não quer dizer que indefinidamente o pensamento reflexivo possa tomar como suporte uma crença não confirmada. Para suportar, a crença precisa de se consolidar, adquirindo forma de certeza. Requer, por isso, a pesquisa de evidências, num esforço voluntário e consciente de investigação. Para aferir a validade da crença recorre-se à análise da consistência dos argumentos e da relação que se estabelece com as conclusões. Colocam-se também questões no sentido de se saber o que resultaria se uma crença fosse diferente, alternativa, fosse dominante.

Desta forma, é importante ressaltar que Dewey, ao elaborar o conceito de

pensamento reflexivo nos deixa claro que o mesmo parte do princípio de que uma

coisa é possível em consequência da outra e que as crenças estão por trás desse

pensamento, as quais devem ser confirmadas, conforme a citação acima, pois

muitas vezes o homem tem tendência em formular crenças limitantes sem

reconhecer as reais possibilidades de resolução de um determinado problema.

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Para Dewey (1959), pensar é próprio do homem e é o que nos diferencia

dos demais animais. O ato de pensar reflexivamente constitui um fim educativo. É

através dele que antecipamos o conhecimento e os fatos para que possamos

tomar as decisões e providências necessárias para a resolução de problemas,

evitando ou minimizando os inconvenientes. Afirma ainda que ninguém é capaz de

pensar em alguma coisa sem experiência e informação sobre algo.

Vale enfatizar ainda que deste conceito, pensamento reflexivo, surge ainda

o conceito de professor reflexivo, que está diretamente relacionado com as

práticas educativas e na forma de Dewey pensar a educação.

O professor reflexivo não trabalha com definições prévias, com soluções

prontas. Ele está sempre questionando sua prática; vendo sua relação com os

alunos; afirmando que não temos soluções prontas, temos que testar; reforçando

a reflexão-ação do professor; elucidando que esta atitude docente é indispensável

às práticas educativas; possibilitando, dessa maneira, uma visão mais crítica por

parte do educador.

O diálogo e a reflexão são elementos que devem incidir sobre as relações

interpessoais e sobre os sentimentos, porque ambos, professor e aluno,

necessitam da relação de confiança no processo de aprendizagem e deve estar

claro para o educador que ele deve propor situações que o aluno vivencie,

experiências que o leve a pensar de forma reflexiva, promovendo sua

aprendizagem de forma significativa. Não é dar as respostas aos alunos e, sim,

ensinar diferentes caminhos que os façam chegar às suas próprias respostas e/ou

traçarem novos caminhos a serem seguidos.

À educação, na visão de Dewey, interessa fundamentalmente o pensar

real, pensar este em que se desenvolvem atitudes que promovam o

desenvolvimento do ser humano que assume uma postura mental de questionar,

problematizar, sugerir e construir a partir daí um conhecimento alicerçado em

bases sólidas (ALARCÃO, 1996).

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A concepção de educação de Dewey está pautada na experiência, reflexão

e ação. Dentro desta perspectiva pedagógica, o aluno é objeto de estudo do

profissional docente, do aluno ativo, participativo, que tem paixões e desejos e,

fundamentalmente, que tem experiências a serem consideradas. Nesta concepção

não existem verdades absolutas, mas, sim, verdades provisórias, com as quais

devemos contar para resolver nossos problemas particulares e sociais. É

importante dizer que chegamos a essas verdades por um consenso. Isso acontece

quando a verdade é elaborada no coletivo. A ideia de consenso é fundamental e

se sobrepõe à ideia de verdade absoluta. Dai vem o conceito de democracia,

fortíssimo no pensamento de Dewey (CUNHA, 1994).

Ele, quando fala em democracia, está pensando num modo de vida para as

pessoas; num modo como as pessoas se relacionam para chegar a um consenso.

O fundamento da concepção da democracia é a liberdade. A proposta de Dewey é

que nós não devemos fazer uma separação absoluta ou até colocar em polos

opostos o ensino tradicional, de um lado, e, do outro a escola nova; de um lado, o

adulto, e do outro, a criança; de um lado, o conhecimento e, do outro, o

desenvolvimento psicológico da criança; de um lado, os saberes organizados, a

moral, e, do outro, a lógica, a bagunça. Ele elabora a sua ideia de educação sem

desprezar o que há de importante nesses dois pontos. Ex: numa escola haverá

liberdade, sim, mas haverá regras, que serão discutidas, chegando-se a elas por

meio do consenso; há conhecimento, sim, mas haverá o interesse do aluno por

este conhecimento, sendo que este deve ser significativo para o aluno; haverá

autoridade, sim, mas não autoritarismo. Não há imposição de regras morais. Em

uma escola democrática, na visão de Dewey, é fundamental que haja liberdade e

consenso para se decidir o que é melhor no próprio consenso, na circunstância,

para que, desta maneira, o conhecimento possa se desenvolver e os alunos

possam se desenvolver como seres sociais que saibam viver coletivamente, que

exige muitas vezes abrir mão de seu ponto de vista em prol do coletivo, do

consenso. (Ibidem)

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Temos que pensar a democracia na escola, valorizando o ambiente

democrático na escola e o tomando como princípio da liberdade, havendo a

possibilidade de contestação, discussão e da própria liberdade de expressão;

sempre visando a chegada a um consenso, onde, como mencionado

anteriormente, muitas vezes o ser deve abrir mão de seu ponto de vista particular

em benefício do coletivo.

O diálogo, como citado anteriormente, é outro conceito bastante presente

na concepção educacional de Dewey, pois é através dele que as reflexões são

realizadas em busca das possíveis soluções e de avanços no processo de

desenvolvimento e aprendizagem.

Para finalizar, dentre os principais pontos da proposta educacional de

Dewey, é imprescindível abordar o papel político da educação, refletindo sempre

sobre qual é a escola que realmente queremos e fazer com que ela contribua para

a superação dessa sociedade na qual vivemos, buscando uma perspectiva de

mudança social, em busca de um mundo mais justo e equilibrado, dentro de uma

proposta política que seja realmente democrática.

1.3. Lev Vygotsky e a Zona de Desenvolvimento Proximal

Lev Vygotsky (1896-1934) forjou um conceito específico para tratar do

processo de aprendizagem, que ele denominou Zona de Desenvolvimento

Proximal. A presente pesquisa se apoia sobre este conceito. Antes de entrarmos

nele propriamente dito é fundamental um breve relato histórico sobre o autor.

Vygotsky foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos pelos

quais a cultura torna-se parte de cada pessoa, ao insistir que as funções

psicológicas são produtos da atividade cerebral. Conseguiu explicar a

transformação dos processos psicológicos elementares em processos complexos

dentro da história. Ele enfatizava o processo histórico-social e o papel da

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linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de

conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é

interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e

de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação.

Ele sempre considerou o homem inserido na sociedade e, sendo assim,

sua abordagem sempre foi orientada para os processos de desenvolvimento do

ser humano com ênfase da dimensão sócia histórica e na interação do homem

com o outro no espaço social. Sua abordagem sócio-interacionista buscava

caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar

hipóteses de como as características humanas se formam ao longo da história do

indivíduo (VYGOTSKY, 1996).

Para Vygotsky, o indivíduo se desenvolve porque ele aprende. O

desenvolvimento deve ser olhado de maneira prospectiva, algo que está por

acontecer. É ali que acontecerá a intervenção pedagógica. O foco é olhar para o

futuro. E para esse desenvolvimento ser compreendido dessa maneira, Vygotsky

aborda o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que é o nível de

desenvolvimento real que significa aonde a criança já chegou; é o que ela já tem

e, na outra ponta, o que ele chama de desenvolvimento potencial, que é o que a

criança ainda não tem, mas podemos imaginar, que está próximo de acontecer,

porque a criança consegue se relacionar com aqueles objetos e/ou situação não

autonomamente ainda, mas com a ajuda, com a intervenção do outro; e aquilo

pertence a um plano de desenvolvimento que está próximo de se consolidar, ou

seja, aquilo que já está pronto e aquilo que está presente em semente é o que

Vygotsky localiza na chamada Zona de Desenvolvimento Proximal. É nesse

momento que deve acontecer a intervenção, pois é neste momento que se

operam as transformações. A partir dessas intervenções é que o indivíduo irá

refletir, aprendendo e se desenvolvendo (OLIVEIRA, 2006).

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Marta Kohl Oliveira (2006) afirma que a ZDP define aquelas funções que

ainda não amadureceram, mas estão em processo de maturação. Funções que

amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário.

Este conceito, para Vygotsky, tem um valor dentro da teoria, mas ele não é

um conceito instrumental. Segundo Oliveira (Ibidem), não há a possibilidade de

entrar numa sala de aula e medir a ZDP de um aluno, ou identificá-la no próprio

educando, porque ele é um conceito muito flexível e muito complexo; não é visível

na prática, somente nos ajuda a entender o desenvolvimento. Para cada tópico de

desenvolvimento, para cada criança, em cada micro momento do desenvolvimento

há uma zona. Para Vygotsky, as ZDPs estão sempre em movimento.

1.4. Paulo Freire

Paulo Freire (1921-1927) é considerado o mentor da educação para a

consciência. Foi o mais célebre educador brasileiro, também reconhecido

mundialmente, principalmente pelo seu método de alfabetização de adultos e por

seu pensamento ser pedagogicamente político, buscando a conscientização dos

alunos e das classes menos favorecidas, enfatizando uma educação que

promovesse a criticidade em seus educandos, a curiosidade e a dialogicidade.

Freire (2005, p. 43) acredita que ninguém ensina nada a ninguém, porém

as pessoas também não aprendem sozinhas: “os homens se educam entre si

mediados pelo mundo”. Ele valorizava muito a bagagem cultural do aluno, suas

experiências. Sua proposta metodológica era dos temas geradores, que deveriam

ser oferecidos pelos alunos para serem aprofundados em sala de aula, gerando

conhecimento não só entre os discentes, mas também entre os docentes,

mostrando que a realidade do mundo não é separada da dos homens. O processo

exige investigação do educador sobre o pensamento e a linguagem dos

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educandos, buscando a compreensão dos níveis de percepção da realidade de

seus alunos e compreendendo, assim, a visão de mundo dos mesmos.

O autor influenciou muitos movimentos educacionais, mas aqui, no

presente estudo, tenho como foco as contribuições de Freire voltadas para a

formação de professor, que tem como premissa a formação de um ser humano

crítico, consciente e transformador do contexto social no qual está inserido. Estou

ciente de que sua obra tem sido revisitada constantemente por diversos

estudiosos e pesquisadores nos mais diferentes aspectos: educacionais, sociais,

políticos, históricos e filosóficos. O meu olhar, aqui, está voltado para alguns

conceitos específicos, como: sonho possível, dialogicidade, problematização e

ação-reflexão-ação, discutidos em sua relação com os princípios do coaching.

Freire identifica nos conceitos citados acima uma premissa para uma

concepção libertadora da educação. O diálogo com o referencial freireano

possibilita uma profunda reflexão crítica sobre o tema e a importância do mesmo

para a educação, em especial para o desenvolvimento do professor enquanto ser

humano integral, propondo dentro de uma concepção de formação docente a

compreensão de todos os envolvidos no processo, o que caracteriza diversas

ações concretas no cotidiano do profissional docente. Sobre esta perspectiva, se

faz necessária uma discussão profunda com um olhar atento para as dimensões

pessoais e profissionais da profissão.

2. Coaching e a educação: a relação entre coaching e os autores

Neste item venho propor uma discussão sobre alguns conceitos-chave dos

autores acima apresentados e a relação de suas propostas teóricas com o

coaching.

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Como mencionado anteriormente, a filosofia de Jean-Jacques Rousseau

está ligada à Filosofia Iluminista, além de sua proposta situar-se em um contexto

pré-revolucionário (antes da Revolução Francesa), nos dando em sua obra

inúmeros indícios para a compreensão de que política e educação são

inseparáveis, pois o homem não é constituído unicamente por sua faculdade

racional. A época do Iluminismo é a época da autonomia da razão, é a força motriz

do progresso intelectual, diferentemente dos séculos anteriores, onde a razão era

compreendida como um conjunto de verdades eternas e reveladas (DOZOL,

2006).

A concepção educacional de Rousseau teve um enorme impacto na Europa

do século XVIII, abrindo caminho para a reforma das instituições educativas, no

sentido de centrar o ato pedagógico no aluno e de aproximar mais a escola da

natureza e da vida. O movimento da Escola Nova, surgido no princípio do século

XX, deve muito da sua inspiração ao Emílio de Rousseau. Contudo, ao longo do

século XVII, o Emílio foi alvo de muitas e violentas críticas, sobretudo por parte

dos pedagogos jesuítas que viam na crítica ao ensino livresco uma recusa

infundada e pueril da cultura clássica e da cultura cristã.

Rousseau nos deixa muito clara a importância das paixões, das sensações,

a vontade da própria criança aprender. Ele esperava que surgisse em Emílio a

vontade pela educação e acreditava que não éramos nós, os professores, quem

tínhamos que propor o que a criança deveria aprender e, sim, deveria partir da

mesma o desejo, a curiosidade por aprender algo.

[...] vede que raramente cabe a vós propor o que ele deve aprender; cabe a ele desejá-lo, procurá-lo, encontrá-lo; cabe a vós colocá-lo ao seu alcance, fazer habilmente nascer esse desejo e fornecer-lhe os meios de satisfazê-lo. (ROUSSEAU, 2004, p. 235-236)

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Resgatando este conceito tão simples, onde Rousseau, enquanto tutor, cria

condições para a aprendizagem, estimulando o desejo de aprender, nos trazendo

passagens da importância das paixões, dos desejos que vêm de dentro para fora,

contradizendo a educação anterior, que acreditava que o novo homem se formaria

de fora para dentro. Rousseau propôs uma educação sensível aos movimentos

que emanem do interior da alma, que, segundo Dozol (2006), quer dizer que em

lugar do constrangimento e da uniformidade há o favorecimento das

potencialidades individuais e espontâneas do ser. Essa passagem está

intimamente ligada ao coaching, que tem entre um dos seus objetivos resgatar os

desejos, as paixões e desenvolver as potencialidades do ser humano, com um

único diferencial: na obra rousseauniana o pensamento era voltado somente para

o ser, baseado nos interesses individuais do homem, enquanto o processo de

coaching visa, além dos interesses individuais, os interesses coletivos.

Abordando ainda esta questão do desejo em sua obra, Rousseau aponta a

necessidade do equilíbrio entre o poder e o desejo, tendo como resultado a

felicidade, o prazer de realizar as coisas.

[...] só neste estado primitivo o equilíbrio entre o poder e o desejo é reencontrado e o homem não é infeliz. Quanto mais o homem tiver permanecido próximo à sua condição natural, mais a diferença entre as sua faculdades naturais e seus desejos será pequena, menos distante estará de ser feliz [...]. (ROUSSEAU, 2004, p. 299)

O coachee tem como um dos objetivos estar o mais próximo possível da

felicidade ideal. Segundo Dozol (2006), toda a obra rousseauniana, tanto em seus

aspectos éticos como políticos, conecta-se com um problema único e permanente:

o da felicidade do gênero humano. Ele irá reger a natureza humana em direção à

sua felicidade, lembrando-se da importância do equilíbrio entre o poder e o desejo,

trabalhando durante o processo com o mundo real e o imaginário.

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Para Rousseau (2004), o mundo real (a realidade) tem seus limites e o

mundo imaginário (aquilo que se imagina) é infinito. Ele diz que a diferença entre

ambos é que traz o sofrimento para os seres humanos. O processo de coaching

trabalha com os dois mundos, minimizando alguns destes sofrimentos, das

frustrações, pois está pautado em ações que devem ser efetivas para minimizar os

supostos sofrimentos.

Para Rousseau, o importante era não confundir aprendizagem com

aquisição de conhecimentos (método natural), pois o conhecimento deve ser

construído e todos possuem conhecimento: “Fazei com que o vosso pupilo esteja

atento aos fenômenos da natureza e, em breve, o tornareis curioso” (ROUSSEAU,

2004, p. 178). Seguindo a linha de pensamento, num processo de coaching, o

coach acredita que o coachee, seu pupilo, tem todos os recursos e que este irá

construir a rede de conhecimentos, pois todas as pessoas possuem seus

conhecimentos.

O coaching, de certa forma, vem resgatando alguns pressupostos

educacionais esquecidos ou, talvez, guardados na memória dos educadores que

muitas vezes não estão sendo colocados em prática. O processo de coaching traz

à tona alguns desses conceitos e os aplica efetivamente.

O coach acredita que as respostas estão com o outro, assim como

Rousseau (Ibidem) que, durante a educação de Emílio, prepara as situações e

propostas de forma que as respostas venham dele e não de Rousseau.

Rousseau expressava em sua obra muitas de suas crenças, uma delas

fortemente apresentada era de que todo ser humano, todo homem é bom por

natureza, sendo a sociedade que o corrompe. Tendo essa crença como premissa,

percorre um caminho para o qual convergem a política (governo e leis), a moral

(virtudes e costumes) e a educação, cuja tarefa é, a partir da boa natureza

humana, preservá-la até o momento da socialização e, a partir daí, atualizá-la e

desdobrá-la em virtudes sociais (DOZOL, 2006).

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Esta busca pelo bem, por práticas que façam a sociedade ser mais justa e

melhor, está muito condizente com a ação do processo de coaching, que, além de

pensar no desenvolvimento individual do ser humano, pensa também num bem

estar maior para a sociedade. Como define Rousseau (2004) no Livro IV, do

Emílio, é preciso estudar a sociedade pelos homens e os homens pela sociedade.

Em toda a sua obra Rousseau clama pela responsabilidade do homem

frente à sua felicidade individual e, sobretudo, social. Outra crença que está

implícita em sua obra é a possibilidade de realizar um ideal ético ou moral de

convivência social: a busca apaixonada por princípios igualitários e democráticos,

que legitimem outro modelo de relações entre os homens (DOZOL, 2006).

Para Rousseau (2004), o conceito de Homem vem atrelado à liberdade. O

homem deve ser livre, sendo protagonista de sua própria história, tendo o poder

de criar, recriar e construir uma nova realidade social. E este também um princípio

do coaching, onde cada pessoa é responsável pela construção de sua realidade,

cabendo a ela o poder da ação e da mudança.

Outro conceito que aparece de forma muito intensa durante toda a obra

rousseauniana é o conceito de tutorial, que, para Rousseau, como quem assume

o papel de ser o tutor de Emílio, o tutor promove diversas situações nas quais o

“seu Emílio” tenha que utilizar diferentes saberes; dar conselhos a ele; enfim, é

seu mentor (quem orientava aos melhores caminhos).

De acordo com Rousseau (Ibidem), o papel do tutor consiste em colocar em

destaque os elementos que possibilitarão avanços e o crescimento do ser

humano, maximizando suas potencialidades.

Lembrando que tutoria é uma palavra de origem latina e significa aquele

que guia, ampara, protege e defende. Assim, o tutor é a pessoa encarregada de

cuidar, ensinar e orientar uma pessoa e/ou um grupo que necessite de orientação.

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(DICIONÁRIO AURÉLIO, 2009, p. 798): a função que Rousseau assumia em sua

obra.

É de suma importância ressaltar, neste momento, que a tutoria é parte das

raízes do coaching, conforme explicitado anteriormente. Segundo Atkinson

(2007a), em meados do século XIX o papel do coach começa a emergir na Europa

(em especial, na Inglaterra), assumindo a figura de tutor para alunos das

universidades, com o objetivo de traçar os melhores caminhos e orientá-los da

melhor forma possível nos estudos, já visando as melhores notas e os melhores

alunos.

Atualmente, ainda de acordo com Atkinson (Ibidem), o profissional de

coach, em determinados momentos, pode assumir o papel de tutor, assim como

Rousseau assumia com Emílio, porém, neste caso, o coach será tutor e/ou mentor

somente quando o coachee solicitar e, geralmente, falará sobre assuntos

relacionados às suas próprias experiências vividas, não impondo regras ou

situações, conforme Rousseau fazia com seu pupilo. O profissional de coach

deverá lembrar-se sempre dos princípios do processo e focar em realizar

perguntas que façam o coachee refletir e encontrar suas próprias respostas e

caminhos.

De acordo com as ideias de Franke e Dahlgreen (1996), um tutor deve

possuir qualidades pessoais e profissionais para desencadear um trabalho

verdadeiramente formativo, configurados pela capacidade de estabelecer

diálogos, paciência, diplomacia, flexibilidade, sensibilidade e experiências.

Podemos observar uma grande similaridade no conceito desses autores com

algumas características explícitas na obra de Rousseau, que, conforme citado

anteriormente, assume o papel de tutor, mentor, conselheiro, em certos

momentos, do Emílio.

Como, para Rousseau (2004), o conceito de homem alia-se ao de

liberdade, sendo que o homem tem o poder de criar, recriar e construir a nova

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realidade social, verifica-se a necessidade, no contexto atual, de o homem pensar

políticas públicas que garantam seus direitos e deveres para o pleno exercício de

sua liberdade e cidadania.

Refletindo sobre esta questão, proponho o coaching no decorrer desta

pesquisa como alternativa para a transformação social, lembrando que o foco

desta pesquisa é o professor. Durante o processo de coaching é fundamental que

as pessoas tenham voz ativa e não se esqueçam de refletir sobre seu papel

político na sociedade. Na presente pesquisa minha proposta é inserir o processo

de coaching como ferramenta para desenvolvimento pessoal e profissional do

professor, visando a liberdade, a felicidade e o protagonismo, os quais Rousseau

tanto declarou serem importantes em sua obra, sem esquecer que a educação é

um ato político e democrático.

Para ampliar a discussão, vale lembrar os conceitos relevantes e ideias do

filósofo americano John Dewey, compreendendo como essas estão ligadas ao

processo de coaching, lembrando que ele apresentou uma proposta de escola

como um laboratório no qual alunos e professores aprendiam juntos através da

experiência e da exploração intelectual do mundo que os cerca. Dewey entendia

que a escola devia preparar os alunos para a resolução de problemas reais.

O ensino corre sempre o risco de afogar a experiência vital, conquanto limitada, do discípulo, num acúmulo de noções transmitidas. Aquele que não é mais um instrutor acaba onde começa o verdadeiro professor: no ponto em que a matéria transmitida incute, em tudo que entrara pela exígua, estreita porta da percepção sensorial e da atividade motora, uma vida mais completa e significativa. (DEWEY, 1959, p. 287)

Refletindo sobre o pensamento de Dewey, cabe ao professor ser teacher

coach, aquele que faz as melhores perguntas aos seus educandos, para que os

mesmos possam refletir e lhe dar as melhores respostas, deixando de lado o

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papel de transmissor de informações e problematizando algumas situações que

levem cada vez mais à busca da percepção e da reflexão crítica sobre a realidade,

promovendo aprendizagens significativas e o desenvolvimento do indivíduo

enquanto ser humano.

O teacher coach é aquele que percebe a individualidade de seu aluno

(ATKINSON, 2007b) e que está de acordo com a proposta deweyana, em que o

cultivo da individualidade é fundamental e é convergente com as necessidades

vitais de cada indivíduo, proporcionando desta forma a aprendizagem através da

experiência pessoal (DEWEY, 2010).

Na teoria deweyana, compreender a natureza humana é essencial para

contribuir para a formação e emancipação dos educandos. Para que isso

aconteça, é fundamental compreendermos a natureza do coaching, que está

atrelada ao conhecimento de si e do outro, de certa forma, buscando através da

experiência, das ações previamente planejadas o desenvolvimento humano nos

aspectos pessoais e profissionais e refletindo diretamente no trabalho dos

professores com os educandos, almejando o mesmo objetivo: a emancipação dos

sujeitos; seguindo a mesma premissa de que os alunos têm os recursos,

aprendem com a experiência e o professor tem a habilidade de identificar as

necessidades de seus educandos, promovendo, assim, cada vez mais, uma

educação de qualidade.

Ler Dewey hoje proporciona ao pesquisador uma compreensão maior da

escola progressista e o resgate dos princípios imprescindíveis da/para educação;

em especial, quando falamos de experiência, da conexão entre educação e

experiência pessoal, da valorização da individualidade, do pensar no social, na

democracia e trazer o pensamento reflexivo, fatores presentes em toda a

pesquisa. Em suma, segundo Dewey (Ibidem, p. 15), “a principal razão para

aceitar a educação progressiva é acreditar e utilizar métodos humanistas e seus

princípios democráticos”.

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A busca por essa visão mais humanista é essencial e muito presente na

educação nos dias atuais e está intimamente relacionada com o processo de

coaching, pois este processo busca esta visão e procura aplicá-la, através de

novos hábitos ou da mudança de hábitos antigos, promovendo a formação de

novas atitudes emocionais e intelectuais, modificando quem pratica a mudança e

quem sofre o processo da mudança.

Dewey (2010, p. 35) afirma que os hábitos afetam a formação das atitudes:

A característica básica do hábito é a de que toda a ação praticada ou sofrida em uma experiência modifica quem a pratica e quem a sofre, ao mesmo tempo em que esta modificação afeta, quer queiramos ou não, a qualidade das experiências subsequentes, pois ao ser modificada pelas experiências anteriores, de algum modo será outra pessoa que passará pelas novas experiências. A concepção ampla de hábito envolve a mudança de atitudes emocionais e intelectuais; envolve nossas sensibilidades básicas e nossos modos de receber e responder a todas as condições com as quais nos deparamos na vida.

O processo de coaching promove o crescimento e o desenvolvimento do

ser humano. Ele também é um processo educativo. Desta forma, resgatamos

outra ideia que Dewey (Ibidem) relata em sua obra Educação e experiência de que

todo processo educativo deve ser identificado como um crescimento.

É importante expor que, dentro do processo de coaching, a escolha, a

tomada de decisão por parte do coachee é fundamental para que haja este

crescimento. Assim como a educação cria certas escolhas, o coaching também

abre caminhos, pois desperta a consciência das crenças, dos valores, a

curiosidade de experimentar o novo, as novas experiências, almejando metas e

enfrentando desafios.

Dewey (Ibidem, p. 38) afirma:

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[...] a experiência desperta a curiosidade, fortalece a iniciativa e dá origem a desejos e propósitos suficientemente intensos para levar a pessoa, no futuro, a lugares além de seus limites. A continuidade funciona de uma maneira bastante diferente. Toda a experiência é uma força em movimento. Seu valor pode ser julgado para que e para onde ela se move... Sua tarefa enquanto educador é ver em que direção caminha uma experiência […].

O coach assume o papel de levar o coachee de um ponto a outro;

compreende que através de algumas técnicas aplicadas durante o processo o

educador pode visualizar a si mesmo no futuro e escolher quais passos, atitudes e

hábitos deve praticar no presente para que esta visão de futuro se concretize por

meio de novas escolhas, experiências as quais surgirão de forma motivadora e

fazendo com que o educador redescubra seus próprios limites e venha a superá-

los. Segundo Dewey (2010), toda a experiência prepara o indivíduo para o futuro,

o que deve ser considerado em cada processo educativo. Ele ressalta ainda a

importância das ações no presente e o quanto estas ações refletem no futuro, com

a intenção de que essas ações do presente produzam um efeito favorável sobre o

futuro.

Dewey afirma que “a educação, como crescimento ou amadurecimento,

deve ser um processo contínuo e sempre presente” (Ibidem, p. 51). Para que isso

ocorra efetivamente, o coaching propõe um planejamento das ações, trazendo a

importância da execução do mesmo. É importante ressaltar que o planejamento é

um “norte” para o coachee, devendo este ser flexível, de acordo com os desejos e

metas do educador, deixando espaço livre para os pensamentos individuais e para

contribuições específicas de novas experiências. De acordo com Dewey (Ibidem),

o planejamento é importante desde que seja flexível o suficiente para permitir o

livre jogo da individualidade de experiência e, ainda assim, sólido o bastante para

direcionar o contínuo desenvolvimento das capacidades dos indivíduos.

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Os desejos, para Dewey, assim como para o coaching, são a mola

propulsora da ação; sempre refletindo numa forma de realizá-los. É através desse

desejo que se criam possibilidades para o planejamento citado anteriormente.

Em um esquema educacional, a ocorrência de um desejo e de um impulso não é o objetivo final, mas sim a oportunidade e a demanda para a formulação de um plano e de um método de ação. Tal plano, repetindo o que já foi dito, só pode ser formulado através do estudo e da consideração de todas as informações relevantes. (DEWEY, 2010, p. 72)

Em suma, para Dewey, a educação é baseada na democracia, na

experiência, na interação com o outro e deve ser para a vida toda, promovendo a

transformação social, trazendo à tona a importância de se olhar e valorizar a

individualidade do ser humano. Na sala de aula, o aluno é o centro, tem todos os

recursos dentro dele, assumindo o papel de coachee, sendo o professor o coach,

aquele que promove situações, cria condições para levar seu aluno de um ponto a

outro, através do diálogo, da interação e de uma reflexão crítica.

Esses aspectos identificados em ambos os teóricos (Rousseau e Dewey)

aqui apresentados estão correlacionados com o processo de coaching,

fundamentando a pesquisa teoricamente e demonstrando a importância desse

trabalho nos dias atuais.

Outro autor que contribui muito para as discussões em torno do presente

trabalho é Lev Vygotsky, que traz em sua obra estudos que enfatizam a atividade

do sujeito na aquisição do conhecimento e o caráter qualitativo das mudanças no

desenvolvimento, onde a interação social e o instrumento linguístico são decisivos

para compreender o desenvolvimento cognitivo, sendo uma teoria histórico-social

de desenvolvimento, postulando um sujeito interativo e social (CASTORINA,

1997).

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Vygotsky (1998) elabora o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal.

Este conceito também faz parte da base da minha pesquisa, pois é a Zona de

Desenvolvimento Proximal que evidencia o caráter orientador da aprendizagem

com relação ao desenvolvimento cognitivo.

O autor define o conceito como sendo:

[...] a distância entre o nível do desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução problema sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (Ibidem, p. 112)

A Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) desperta nos educadores e em

pessoas interessadas neste trabalho uma grande expectativa ao se trabalhar no

contexto da sala de aula, no contexto onde o desenvolvimento e a aprendizagem

caminham atrelados, observando o movimento que as funções mentais estão

realizando e identificando como auxiliar para que a aprendizagem seja

internalizada, completando o processo do interpessoal para o intrapessoal.

Dentro do processo do coaching, o coach trabalha na zona de

desenvolvimento proximal do indivíduo, pois age exatamente na distância entre o

nível real do indivíduo, onde ele está e como solucionará determinado problema

de forma independente, e aonde chegará efetivamente, que seria o nível potencial,

realizado a partir das indagações do coach, buscando a solução do problema a

partir da interação com o outro.

Podemos afirmar que, para Vygotsky, esses processos de aprendizagem

são indissociáveis, pois a aprendizagem que acontece dentro da Zona de

Desenvolvimento Proximal, promovendo desenvolvimento do indivíduo, é um

processo de transformação constante na trajetória do indivíduo.

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A Zona de Desenvolvimento Proximal constitui-se em uma situação de

experiência da prática pedagógica em que o/a professor/a pode criar um ambiente

diferenciado para o ensino e estimular o aluno a realizar novas aprendizagens.

Como afirma o próprio Vygotsky (1998, p. 113), a Zona de Desenvolvimento

Proximal provê psicólogos e educadores de um instrumento através do qual se

pode entender o curso interno do desenvolvimento, verificando não apenas as

fases que já se completaram, mas observar aquelas etapas que estão em

formação, iniciando seu processo de desenvolvimento. O autor salienta que a ZDP

permite-nos delinear o futuro imediato da criança e seu estado dinâmico de

desenvolvimento, propiciando o acesso não somente ao que já foi atingido,

através do desenvolvimento, como, também, àquilo que está em processo de

maturação.

Sua matriz epistemológica básica, o materialismo histórico e dialético,

considera que, ao produzir o meio em que vive, o homem se produz, ou seja, o

homem é determinado historicamente, mas é, simultaneamente, determinante da

história.

Para Vygotsky, a constituição do sujeito é um movimento dialético entre

aprendizagem e o desenvolvimento. Assim é também o coaching, que se constitui

nesse movimento dialético.

Em suma, a Zona de Desenvolvimento Proximal é constituída na e pelas

interações sociais em que os sujeitos se encontram envolvidos com problemas ou

situações que remetam à confrontação de pontos de vista diferenciados. Essas

interações podem ser tanto entre adulto/criança, entre pares ou mesmo interações

com um interlocutor ausente. O que caracteriza a ZDP é a confrontação ativa e

cooperativa de diferentes compreensões a respeito de uma dada situação.

Portanto, a ZDP caracteriza-se como um espaço de trocas múltiplas e de

diferentes naturezas, afetivas, cognitivas, entre outras, onde os indivíduos estejam

envolvidos em atividades diversificadas. Ressaltando mais uma vez que o

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indivíduo, na perspectiva de Vygotsky, é um ser social, isto é, suas atividades

estão impregnadas de cultura e devem ser analisadas sobre este prisma.

O indivíduo que busca um processo de coaching está inserido na cultura,

na sociedade, vem munido de muitas experiências sociais e, consequentemente,

culturais e está em busca de desenvolvimento, geralmente tanto no lado pessoal

como profissional. Este desenvolvimento está atrelado ao bem social, direta ou

indiretamente.

No que diz respeito às ideias de Freire, o futuro depende de nossa atuação

consciente, responsável, ética e engajada. O futuro é construído por nós. A

responsabilidade de fazermos um futuro melhor, seja para nós mesmos ou para a

nossa sociedade, depende única e exclusivamente de nós, de nossas atitudes e

mudanças, buscando uma atuação cada vez melhor em nossa prática docente,

equilibrando vida pessoal com vida profissional. Freire reintera essa afirmação

quando nos deixa claro que o futuro não é algo dado e, sim, algo que se faz com a

interação entre as pessoas e o mundo. Assim, “[...] mais do que uma presença no

mundo, o ser humano se tornou uma presença no mundo, com o mundo e com os

outros” (FREIRE, 1986, p. 20).

Volto a afirmar que a mudança é difícil e que muitas vezes a desesperança

vivenciada por situações existentes em nosso dia a dia aniquila nossas forças,

mas vale lembrar que o sonho é possível, mesmo que muitas vezes possamos

achar em nossa mente que ele é impossível. Paulo Freire nos apresenta um

exemplo claro, resgatando a fala de Amílcar Cabral, professor-aluno e

revolucionário do processo de libertação de Guiné-Bissau, de prenúncio de um

“sonho possível”:

Agora deixe-me sonhar. E então começou a falar com os olhos fechados. Falou tudo que deveria acontecer com Guiné-Bissau depois da independência. Depois de falar durante trinta a quarenta minutos, terminou, e um dos militantes arriscou fazer-lhe uma

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pergunta. Perguntou: Camarada, Cabral, isso não será um sonho? Cabral abriu os olhos, olhou para ele, sorriu e disse: Sim, é um sonho possível. E terminou o encontro dizendo: Qual é a revolução que não sonha. Isto é imaginação. Esta é a possibilidade de ir além do amanhã sem ser idealista. Isto é o utopismo, como relação dialética entre denunciar o presente e anunciar o futuro. Antecipar o amanhã pelo sonho de hoje. A questão é o que Cabral disse: O sonho é um sonho possível ou não? Se é menos possível trata-se, para nós, de torná-lo mais possível. (FREIRE, 1986, p. 220)

O sonho é possível. Só depende de nossas ações e de colocarmos nossas

vozes em ação. Assim como Freire enfatiza a importância de sonhar e de tornar

esse sonho possível na prática, o coaching tem como um dos focos do processo

de trabalhar com o sonho, tornando-o possível. O coach instiga o coachee a

pensar em caminhos, ações que possam ser tomadas e realizadas no presente

para que esse sonho do futuro possa se tornar realidade e não ser apenas utopia.

Nós educadores, que estamos tão engajados com a formação do ser

humano, com a mudança de uma sociedade, temos o dever de sonhar e de

colocar em prática ações que efetivem o sonho, a transformação. O coaching vem

para contribuir com esse processo de colocar em prática essas ações que

realizem os sonhos, potencializando resultados tanto na vida do educador como

do educando.

Trazer o coaching para a educação é fazer o sonho de mudança de a

realidade educacional tornar-se possível. É trazer de volta o brilho no olhar do

professor ao atuar em sua sala de aula todos os dias. É acender a chama da

paixão pela profissão. É resgatar o conceito de Freire de “sonho possível”

expresso na Pedagogia da esperança: “de que não há mudança sem sonho, como

não há sonho sem esperança” (Idem, 1992, p. 91).

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Esse conceito tão presente na Pedagogia da esperança está diretamente

ligado ao cerne do trabalho do coach, pois não há processo de coaching sem

mudança e sem sonhos. O sonho é o motor da história do ser humano.

Fazendo-se e refazendo-se no processo de fazer a história, como sujeitos e objetos, mulheres e homens, virando seres da inserção no mundo e não da pura adaptação ao mundo, terminaram por ter no sonho também o motor da história. (FREIRE, 1992, p. 91)

O processo de coaching resgata a história de vida da pessoa e faz com que

esta se conscientize de que é sujeito de sua própria história e responsável por

modificá-la ou não; reforça a importância do sonho possível como motor de sua

história, fazendo o coachee refletir sobre sua atuação e interação com o mundo e

impulsionando-o a mudar e a sonhar cada vez mais.

Outro conceito de Freire presente no processo de coaching é a pergunta e

a problematização. A pergunta constitui o centro da concepção problematizadora.

Assim como afirma Freire: “a própria humanização colocada como meta da

pedagogia freireana tem como pressuposto a condição de homens e mulheres se

colocar a si mesmo como problema e a constantemente redescobrir o seu posto

no cosmo” (Idem, 2005, p. 31).

Essa constante reflexão do educador como ser humano possibilita o pensar

crítico, que qualifica a pergunta como meio de transformar a realidade e

humanizar as relações sociais (STRECK et al., 2008, p. 328).

A pergunta é fundamental na prática educativa e é através dela que o

educando avança em seu processo ensino-aprendizagem e que o educador

transforma sua prática. O questionamento é a condição para o conhecimento,

assim como já acontecia com Sócrates e sua maiêutica. É através do

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questionamento e da escuta ativa do outro que o discípulo descobria a verdade

(STRECK et al., 2008, p. 328).

Assim como explicitado anteriormente, no centro do processo de coaching

estão as perguntas, a reflexão e o diálogo, tríade esta que está presente

diariamente na prática educativa, reforçando, desta forma, mais uma vez, a

importância do coaching na e para a educação.

Segundo Freire, a prática educativa problematizadora enfatiza o desafio e

quanto mais educandos e educadores são problematizados e auxiliados a

problematizar seu ser no mundo mais se sentirão desafiados a fazer novas

perguntas e a progredir cada vez mais enquanto seres aprendentes e enquanto

seres humanos.

Como situação gnosiológica, em que o objeto cognoscível, em lugar de ser o término do ato cognoscente de um sujeito, é mediatizador de sujeitos cognoscentes, educador de um lado, educando, de outros, a educação problematizadora coloca, desde logo, a exigência da superação da contradição educador x educando. Sem esta, não é possível a relação dialógica, indispensável à cognoscibilidade dos sujeitos cognoscentes, em torno do mesmo objeto cognoscível. (FREIRE, 2003, p. 68)

O coaching potencializa essa autopercepção do sujeito no mundo em que

se encontra e faz com que este reflita que ele é um ser em construção e que cabe

a nós mesmos a decisão de mudarmos nossas posturas e atitudes em busca de

uma educação melhor, de uma vida mais equilibrada e de uma sociedade mais

justa. Para que isso aconteça o diálogo tem papel fundamental no

desenvolvimento do processo. É ele, o diálogo, juntamente com as perguntas do

coach e com as respostas do coachee que se faz presente e propõe a reflexão

para que haja então a ação.

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O diálogo impulsiona o pensar crítico problematizador, implica numa práxis

social, que é o compromisso entre a palavra dita e a ação humanizadora. É a

partir da dialogicidade e da reflexão que os caminhos se abrem para repensar a

vida e transformar o mundo que nos cerca (STRECK et al., 2008, p. 117).

O homem constrói a si mesmo por meio da reflexão e do comprometimento

com a realidade. Ele deve se compreender como sujeito de sua própria história e

criador de sua cultura. Concordo com Freire quando este afirma que

é preciso que a educação esteja – em seu conteúdo, em seus programas e em seus métodos – adaptada ao fim que se percebe: permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo e estabelecer com os outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história. (FREIRE, 1986, p. 85)

O coaching tem como alicerce essa mesma concepção de Freire sobre o

sujeito. O processo auxilia o coachee a reconhecer-se como sujeito ativo de sua

própria história, possibilitando de fato a presença do sujeito em sua plenitude.

O coaching vem com uma proposta de buscar a transformação da prática

educativa, a valorização do profissional docente, o autoconhecimento e uma

mudança na cultura da escola. Isso não significa eliminar conflitos e, sim, criar

possibilidades dialogar sobre os mesmos, interpretá-los e recriá-los coletivamente.

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CAPÍTULO III

COACHING E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: RELATO DE UMA

EXPERIÊNCIA

Ao longo deste capítulo apresentareis as bases teóricas e metodológicas

desta pesquisa. Utilizo a abordagem da pesquisa qualitativa como cerne do

presente estudo, enfocando a pesquisa-ação como base para a realização das

investigações propostas no decorrer do processo desta pesquisa, descrevendo a

escolha dos instrumentos de coleta e análise de dados, além do perfil dos sujeitos

envolvidos e do cenário da pesquisa.

É importante lembrar que, embora esta pesquisa configure-se como uma

abordagem qualitativa, utilizo alguns subsídios da abordagem quantitativa, para a

análise interpretativa das tabelas.

Pauto-me em estudos realizados por Lüdke e André (1986), Chizzotti

(2010) e Abramowicz (1996), no que diz respeito à abordagem qualitativa, e em

Barbier (2007), como referência na pesquisa-ação, delimitando os aspectos que

permitem inseri-lo nesta abordagem.

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67

1. Abordagem qualitativa e pesquisa-ação

A abordagem qualitativa permite refletir sobre as ações do processo de

condução da investigação desta pesquisa, interpretando os diálogos entre

pesquisador e sujeitos, evidenciando as ações desenvolvidas na construção do

processo de formação dos professores, revelando e valorizando suas

experiências, visando uma atitude crítica de todos os envolvidos no estudo, não

perdendo de vista um princípio norteador desta abordagem que é o

desenvolvimento humano.

De acordo com Abramowicz (1996), uma das características da pesquisa

qualitativa é a valorização das experiências tanto do pesquisador como do sujeito

pesquisado, pois a natureza desta abordagem evidencia a subjetividade.

Segundo Chizzotti, a pesquisa em ciências humanas tem sua

especificidade, exigindo metodologia própria devido à multiplicidade e à

complexidade das dimensões da vida humana e dos seus contextos e os saberes

que se constituíram e se acumularam ao longo do tempo. A pesquisa em ciências

humanas interessa-se em refletir e aprofundar, por meio de análises, as

descobertas feitas e aquelas que poderão emergir a “favor da vida humana”, o que

exige estudo detalhado e rigoroso para o aprofundamento do conhecimento

daquilo que se deseja pesquisar:

É, em suma, uma busca sistemática e rigorosa de informações, com a finalidade de descobrir a lógica e a coerência de um conjunto, aparentemente disperso e desconexo de dados para encontrar uma reposta fundamentada a um problema bem delimitado, contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento

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em uma área ou problemática específica. (CHIZZOTTI, 2010, p. 19)

A opção pela pesquisa qualitativa se fez pelos subsídios que a mesma

fornece ao estudo aqui apresentado, atendendo aos objetivos já explicitados

anteriormente, possibilitando uma compreensão e um aprofundamento do objeto

de estudo.

O desenvolvimento da pesquisa considerou o contexto onde os sujeitos

estavam inseridos e as relações que são construídas e estabelecidas em seu

interior, considerando os processos de interação entre pesquisador e sujeitos

pesquisados e a apropriação dos mesmos sobre a problemática emergente

estudada.

Chizzotti afirma que é fundamental “construir uma apresentação holística do

fenômeno estudado e de seu contexto, descrevendo os comportamentos em seu

ambiente natural, extraindo as estruturas reveladoras de significado e fenômeno

estudado” (Ibidem, p. 73).

Lüdke e André (1986) ressaltam que a abordagem qualitativa revela a

opinião dos participantes, capturando olhares através de suas próprias

perspectivas. Segundo as autoras, a partir do momento em que consideramos os

diferentes pontos de vistas dos participantes, os estudos qualitativos permitem

iluminar o dinamismo interno das situações, geralmente inacessíveis ao

observador externo.

André (2003) enfatiza que a pesquisa qualitativa valoriza a maneira própria

de entendimento da realidade do indivíduo, portanto, passa por um processo

baseado na própria construção que o indivíduo faz durante o seu processo de

aprendizado. Esse processo permite a relação direta e dinâmica entre o

pesquisador e o sujeito pesquisado, focando a reflexão do contexto pesquisado.

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Essa pesquisa espera compreender com maior profundidade a questão

principal, o coaching na formação da consciência docente, a partir de um conjunto

estruturado de conhecimentos, podendo oferecer subsídios para o

desenvolvimento do professor de forma integral e, para isso, optamos pela

pesquisa-ação.

A pesquisa–ação possibilita ao pesquisador e aos sujeitos pesquisados a

reflexão crítica que visa a transformação, a mudança de suas próprias atitudes e

de seus comportamentos.

Barbier (2007) afirma que a pesquisa-ação permite que as pessoas

participem na sua própria mudança de atitude ou de comportamento num sistema

interativo.

André (2003) endossa as palavras acima, afirmando que o professor é

quem decide fazer uma mudança na sua prática docente e a acompanha com um

processo de pesquisa, ou seja, um planejamento de intervenção. Processo este

semelhante ao coaching, desenvolvido durante a pesquisa.

Barbier corrobora, ressaltando que na pesquisa-ação há uma crescente

participação dos envolvidos. O pesquisador passa a ser um interventor e é aquele

que provoca reflexões para que as mudanças ocorram de maneira efetiva.

Enfatiza também a escuta sensível dos participantes, o que, para o autor, é

[...] um “escutar/ver” que se apoia na empatia. O pesquisador deve saber sentir o universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro para compreender do interior as atitudes e os comportamentos, o sistema de ideias, de valores, de símbolos e de mitos. (BARBIER, 2007, p. 94)

A escuta sensível reconhece a aceitação incondicional do outro,

semelhante ao que o coaching realiza durante todo o processo. É uma escuta que

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não julga, não mede, não compara e, sim, compreende sem, entretanto, aderir a

opiniões ou confundir-se com o outro, com o que é enunciado e praticado. Devo

reafirmar, desta forma, a coerência do pesquisador dentro desta abordagem de

pesquisa.

Pensando ainda no aspecto da mudança, é imprescindível citar que a

mudança só acontece de fato quando queremos efetuá-la em nossas vidas,

refletindo e tendo uma autocrítica em relação à nossa postura. Citando Marrow,

Kurt Lewin afirma que:

Quando falamos de pesquisa, subentendemos Action-Research, quer dizer uma ação em um nível realista sempre seguida por uma reflexão autocrítica objetiva e uma avaliação dos resultados. Uma vez que nosso objetivo é aprender rapidamente, nunca teremos medo de enfrentar nossas deficiências. Não queremos ação sem pesquisa e nem pesquisa sem ação. (apud BARBIER, 2007, p. 29)

Corroborando com esta discussão, volto a me remeter ao processo de

coaching, que segue os mesmos princípios citados acima. Durante toda esta

pesquisa esses princípios foram seguidos à risca, sempre procurando fazer com

que houvesse uma reflexão crítica por parte dos sujeitos e uma escuta sensível

durante as sessões de coaching, promovendo, desta forma, o desenvolvimento

pessoal e profissional dos professores envolvidos e o meu próprio

desenvolvimento, enquanto pessoa e pesquisadora. A pesquisa-ação possibilita

esta transformação e o desenvolvimento de todos os envolvidos, lembrando-se da

importância de se transformar o discurso que se quer em ação e refletir de que

maneira esta mudança irá impactar nas pessoas que estão à volta, reforçando a

ideia do pensar na ação individual dentro de uma prática coletiva.

Fundamento a minha reflexão com Morin (apud BARBIER, 2007, p. 78):

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A pesquisa ação integral visa a mudança pela transformação recíproca da ação e do discurso, isto é, de uma ação individual em prática coletiva eficaz e instigadora, e de um discurso espontâneo em um diálogo esclarecido e até mesmo engajado. Ela exige que haja contrato aberto, formal (de preferência não estruturado), implicando uma participação cooperativa, podendo levar a uma co-gestão.

A partir de toda esta revisão bibliográfica que ampara e fundamenta a

presente pesquisa, foi desenvolvida a pesquisa de campo, a qual será descrita de

forma detalhada, juntamente com o percurso metodológico, nas páginas a seguir.

2. Percurso metodológico e a pesquisa de campo

Como em todo processo de pesquisa, o primeiro ponto a ser definido foi o

problema de pesquisa, para que, em seguida, eu fizesse o levantamento das

referências bibliográficas, lembrando que o marco inicial para a delimitação do

problema partiu de minhas inquietações, indagações e experiências vividas

durante toda a trajetória pessoal e profissional.

Com a intenção de encontrar subsídios para o desenvolvimento do

professor enquanto ser humano, parti do problema: a insatisfação geral dos

professores em relação à profissão docente, identificado pela desvalorização

social, pela falta de recursos para exercer a profissão, pelos baixos salários, pelo

excesso de trabalho e, principalmente, por crenças tão arraigadas ao longo da

profissão, entre outras questões que afrontam a educação brasileira nos dias

atuais. A seguir tratei de realizar um levantamento de teóricos e pesquisas sobre o

tema, buscando focar também dentro desta perspectiva a intenção principal do

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tema de pesquisa: a utilização do coaching para a formação dos professores,

promovendo o desenvolvimento pessoal e profissional.

O levantamento foi feito através de pesquisas em livros, dissertações e

teses, artigos acadêmicos, periódicos, revistas eletrônicas, discussões vivenciadas

durante as disciplinas cursadas no mestrado, nas conversas reflexivas com

orientador e nas palestras e cursos feitos no decorrer desse período. Com base

em todo este levantamento, optei pelos autores que fundamentam e sustentam

esta pesquisa, já descritos anteriormente. A partir de então, juntamente com o

orientador, fui delineando a pesquisa de campo e, em seguida, a enviei para o

Comitê de Ética em Pesquisa para ser aprovada e então colocada em prática.

Vale lembrar que durante todo este processo me norteei pelo objetivo

principal: olhar para a subjetividade do professor, olhar para a ligação entre as

dimensões pessoais e profissionais na formação da consciência docente e na

produção identitária dos professores, alcançando maiores esclarecimentos sobre a

profissão docente, compreendendo melhor suas crenças e elucidando seus

valores pessoais e profissionais através do processo coaching.

Para alcançar o objetivo principal elenquei algumas perguntas de pesquisa

que seriam respondidas durante o presente estudo:

1. Quais as crenças e os valores presentes no cotidiano dos

professores pesquisados?

2. Qual o impacto do coaching na formação da consciência docente?

3. Qual a contribuição do coaching para a construção da identidade

docente?

Após o problema e o objetivo estabelecidos e as questões de pesquisa

descritas, parti para o campo, com a utilização do coaching.

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As sessões de coaching desenvolvidas caracterizam a pesquisa e serão

descritas detalhadamente, pois contribuíram para as respostas das perguntas

acima.

A opção para a coleta de dados e informações foram: as sessões de

coaching e as discussões e atividades realizadas no decorrer da pesquisa, que se

configuraram como diálogo entre mim – a pesquisadora – e os sujeitos

pesquisados, questionário formal (com questões objetivas traçando o perfil dos

profissionais estudados e a expectativa para com o coaching); um questionário

com questões abertas (dissertativas), as quais promoviam uma reflexão profunda

sobre crenças, ações, valores e atitudes, buscando desvelar a missão de vida

desses professores. Segundo Chizzotti (2010, p. 51), a coleta de dados deve ser

efetuada em todo o processo de pesquisa e pressupõe uma interação constante

com os sujeitos.

Por fim, tratei da análise dos dados, através da interpretação dos mesmos,

baseada na autora Laurence Bardin (2011), utilizando as categorias de pesquisa:

compromisso e responsabilidade com a profissão e consciência da importância da

profissão e da formação permanente. Dentro destas categorias utilizei as tabelas

para demonstrar os dados, conferindo à análise dos dados um enfoque

interpretativo, onde as situações vivenciadas durante a pesquisa foram

observadas em sua complexidade, de forma que revelasse o máximo possível a

maneira como os professores administram sua vida pessoal e profissional, como

realizam suas relações humanas e como demonstram sua consciência com

relação a esses fatores e seu compromisso com a profissão.10

10

Cabe registrar que, na presente pesquisa, o conceito de consciência está atrelado ao compromisso e à responsabilidade docente, pois “consciência é um termo muito ambíguo, nos possibilitando diversas interpretações” (MEAD & MORRIS, 2010, p. 38). A referência para a compreensão do conceito de consciência, aqui, está também no existencialismo de Jean Paul Sartre (SARTRE; FERREIRA, 1970), para quem a responsabilidade de cada ser humano implica toda a humanidade, isto é, o humanismo está ligado ao compromisso. Sartre (SARTRE; FERREIRA, 1970, p. 209) afirma que o “que toda verdade e toda ação implicam em uma subjetividade humana”.

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No processo de coleta e análise dos dados, um dos grandes desafios da

pesquisa consistiu na minha disciplina, como pesquisadora, em realizar os

registros de forma minuciosa após as sessões de coaching, evidenciando as falas

dos participantes, descrevendo comportamentos e impressões que muitas vezes

estavam implícitas em determinadas discussões e opiniões dos sujeitos

pesquisados. Esses registros possibilitaram grande contribuição para a coleta e

análise dos dados. Foram feitos em um diário de campo, em seguida digitados no

computador, já com as minhas observações, procurando relacionar a teoria com a

prática, efetuando o resgate teórico necessário.

Para Chizzotti (2010), o processo de construção dos registros é dinâmico e

complexo, pois consiste na coleta, seleção e análise de todas as informações

obtidas, contribuindo para a conservação, classificação e identificação dessas

informações de forma fidedigna ao processo de pesquisa realizado.

Vale ressaltar que a utilização de um instrumento quantitativo

(questionários e tabelas) procura saber se há relações entre as categorias

apresentadas e se houve um impacto positivo do coaching para o

desenvolvimento pessoal e profissional dos sujeitos pesquisados.

É importante enfatizar ainda que procurei, por meio da coleta e da análise

dos dados, compreender os sujeitos e o contexto que estão inseridos, garantindo

a visão do todo e a compreensão das peculiaridades dos sujeitos, buscando,

desta forma, a construção de novos significados para o enriquecimento desta e de

futuras pesquisas.

3. Pesquisa de campo

A seguir, descrevo como se deu a pesquisa de campo, o seu cenário e os

sujeitos desta pesquisa.

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3.1. Cenário e sujeitos de pesquisa

O cenário escolhido para a pesquisa de campo foi uma escola da iniciativa

privada na cidade de Santo André, com 10 anos de história. O Instituto de Ensino

atende a alunos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.

Os dirigentes demonstram uma grande preocupação com a qualidade de

ensino e, em especial, com o lado humano de seus profissionais, alunos e

comunidade escolar. A equipe dirigente é composta por um diretor e uma diretora

mantenedores, pela diretora geral de ensino, por quatro diretorias pedagógicas,

sendo uma para cada nível de ensino: Educação Infantil (a partir de 2 anos),

Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio. Há ainda quatro orientadoras

educacionais, uma coordenadora de idiomas, um coordenador de esporte e uma

coordenadora para a Escola Ampliada, para os alunos que permanecem em

período integral.

Cabe ainda destacar que a escola atende a 2.014 alunos, com 102

professores e mais de 162 funcionários. Tem ainda uma infraestrutura com

25.000m2, com salas de aulas, anfiteatro, laboratórios das mais diversas

disciplinas, sala de música, ateliê de arte, saguão de exposições, biblioteca, centro

de inglês e esporte (com piscinas, quadras poliesportivas cobertas, campo de

futebol e sala para dança e ginástica), horta, dois parques e lindos jardins.

A pesquisa de campo foi realizada nessa escola, primeiramente porque,

quando fui conversar com a equipe gestora da escola ela demonstrou grande

interesse em que a pesquisa fosse lá realizada, pois, desta forma, os professores

se beneficiariam e esses benefícios, de certa maneira, estariam voltados para a

educação dos alunos da escola. Faço parte do corpo docente da escola no Ensino

Médio e Fundamental I, fato que facilitou a aplicação da pesquisa. Porém, vale

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destacar, eu não tinha nenhum contato com os professores da Educação Infantil,

onde foi aplicada a maior parte da pesquisa.

A maior parte da pesquisa foi realizada com os docentes da Educação

Infantil (13 professores), mas participaram ainda 3 professores do Ensino

Fundamental I, também selecionados dentro do critério descrito logo abaixo. Um

dos professores trabalha também na rede pública de ensino.

Realizei a primeira reunião com a equipe diretiva da Educação Infantil,

expondo os objetivos da pesquisa e a necessidade de que os sujeitos da pesquisa

participassem da mesma de forma voluntária. Para Abramowicz (1996), a

participação não pode ser imposta, oportunizando respostas às necessidades

reais e sentidas dos sujeitos. Ao construir e criar conhecimentos, ativamente, a

participação percorre os caminhos da ação-reflexão e se reveste de uma

dimensão crítica, que permite a inserção contextualizada.

Baseada em pressupostos teóricos, além dos sujeitos participarem de

forma voluntária, defini que os mesmos participariam a partir de uma questão

fundamental: se os professores pudessem escolher sua profissão novamente, o

que escolheriam? Se a resposta fosse “ser professor”, então se enquadravam na

pesquisa; do contrário, não seriam sujeitos de pesquisa, mesmo querendo

participar, pois a pesquisa tinha como objetivo, também, resgatar o compromisso e

a responsabilidade com a educação, promovendo a consciência da profissão

através do coaching. Se a resposta do sujeito fosse “escolheria outra profissão”,

estes objetivos já descritos no presente estudo talvez não acontecessem, pois o

foco seria abandonar a educação e não fazer algo por ela.

Definidos os sujeitos de pesquisa, iniciei então a pesquisa de campo

propriamente dita.

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3.2. Pesquisa de campo: sessões de coaching

É de suma importância relatar que a pesquisa de campo foi

minuciosamente planejada, utilizando o processo de coaching como instrumento

para a formação dos professores escolhidos como sujeitos de pesquisa, visando a

dimensão pessoal e profissional dos mesmos.

A pesquisa de campo foi estruturada com cinco sessões de coaching, que

aconteceram semanalmente, com duração de 80 a 90 minutos cada sessão, com

assuntos previamente selecionados e planejados de acordo com a concepção

teórica do presente estudo e visando atingir aos objetivos já explicitados. Segue

abaixo a descrição do planejamento e de algumas discussões e reflexões

provocadas durante a sessão:

3.2.1 primeira sessão

O primeiro encontro tinha como objetivo explicar o foco da pesquisa,

apresentar-me como pesquisadora aos sujeitos pesquisados e vice-versa, e

ressaltar a importância da participação voluntária para o sucesso da pesquisa e

para o desenvolvimento do sujeito pesquisado. Ao término das sessões de

coaching os sujeitos teriam uma tarefa a ser entregue para a próxima sessão,

tarefa esta que deveria ser um compromisso pré-estabelecido, sem a possibilidade

de atrasos, pois estas eram imprescindíveis para as próximas discussões durante

o processo.

Expostos os objetivos e focos centrais da pesquisa, expliquei

detalhadamente o que é um processo de coaching, sua trajetória profissional e

ouvi os participantes se apresentarem com um olhar atento, já buscando dados de

pesquisa, procurando alinhar as expectativas com os participantes. Ainda nesta

primeira sessão, para que os participantes saíssem mobilizados com o tema,

apliquei uma atividade chamada “Roda da vida”, na qual os professores tinham

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que fazer um balanço de sua vida pessoal e profissional, avaliando, com notas de

0 a 10, o quanto estavam realmente satisfeitos com alguns aspectos elencados já

descritos na Roda. Ditei 8 aspectos e 2 foram de escolha do sujeito. Os aspectos

citados foram: família, gestão financeira, romance (tempo para namoro, marido ou

namorado), intelectual (aspectos de formação, leitura de livros, participação em

palestras e congressos), espiritual (podendo ser religião, ou um momento de

reflexão individual), profissional (o quanto estavam satisfeitas com a sua

profissionalidade e profissão), social (quanto tempo dedicavam aos amigos), lazer

(quanto se dedicavam ao lazer).

Após realizarem a atividade, abrimos a discussão para verificar: se esta

“Roda” girasse o que aconteceria e, então, chegamos à conclusão de que os

pontos mais altos se tornariam igualados aos mais baixos, chegando à conclusão

que, dentro da “Roda”, os pontos mais baixos é que deveriam subir, igualando-se

aos mais altos e, assim, promovendo um equilíbrio na vida, para o quê teriam de

planejar ações e realizar mudanças no seu modo de vida, podendo estas ser a

curto, médio e longo prazo.

Os sujeitos de pesquisa assistiram a um trecho de um vídeo O diabo veste

prada, onde a mudança do próprio comportamento e das atitudes é que fazem o

ambiente se modificar e não o contrário. Viram que essas mudanças acontecem a

partir do querer individual e que estão ligadas às crenças e valores do professor,

enquanto ser humano.

A intenção nessa primeira sessão era de provocar uma reflexão sobre quais

atitudes e comportamentos devem ou não permanecer no cotidiano desses

sujeitos, avaliar como está a vida, de forma geral, e de que maneira continuar

vivendo-a.

Houve também a preocupação em deixar os sujeitos de pesquisa

motivados a participarem da próxima sessão.

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A tarefa que levaram para a próxima sessão foi um questionário formal

(Apêndice), descrevendo informações sobre formação, idade, religião, estado civil,

entre outras questões objetivas, com a intenção de conhecer melhor os

participantes. Levaram ainda um questionário com perguntas abertas

(dissertativas), com o propósito de refletir sobre sua vida, valores e visão de

futuro, com o intuito de prepará-los para a segunda sessão.

Fechamos a sessão com o vídeo O menestrel, que relata a importância de

termos nossas metas e objetivos traçados, de realizarmos nossos sonhos e

vivermos intensamente cada dia de nossa vida.

3.2.2 segunda sessão

A segunda sessão teve como propósito trabalhar com missão de vida e

visão de futuro, resgatando a história dos sujeitos pesquisados, a fim de que

refletissem sobre suas escolhas no passado, as quais foram determinantes para

se tornarem o ser humano de hoje e quais seriam suas escolhas no presente, para

se tornarem um ser humano melhor no futuro.

Para isso, iniciamos a sessão com vídeo do filme Patch Adams, que retrata

a importância de ter sua missão de vida e sua visão de futuro e realizar seu

trabalho com paixão, prazer e dedicação. Realizamos um debate sobre as

questões do vídeo e, em seguida, os sujeitos pesquisados fizeram uma atividade

que tinha como proposta realizar uma reflexão sobre o passado, o presente e o

futuro. Mediante uma música instrumental, direcionei a atividade, com os

participantes de olhos fechados, resgatando escolhas, decisões e momentos

importantes em suas vidas. Vale ressaltar que ficou a critério de cada participante

fechar os olhos ou não, embora todos tenham participado com os olhos fechados.

Esta atividade também foi realizada para a sensibilização dos participantes, para

que os mesmos fizessem a próxima atividade de forma mais tranquila e motivada.

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Ao término da reflexão, colhi impressões, opiniões breves sobre a

experiência vivenciada e fiz relações individuais com as questões respondidas

como tarefa, para que então partíssemos para a construção da linha do tempo.

A linha do tempo é uma atividade que resgata a história de vida das

pessoas e projeta uma visão de futuro, pois é feita até 10 anos à frente. Nessa

sessão, os sujeitos construíram suas linhas com marcos até 2021. Aqueles que

iriam terminando tinham a opção de compartilhar com o colega ao lado. Alguns

quiseram compartilhar e outros, não.

Levaram como tarefa para a próxima sessão a produção de um artigo

publicado em 2021, onde teria que ter a descrição da vida pessoal e profissional,

já com o propósito de registrar a visão de futuro, com olhar atento para dimensão

pessoal e profissional. E teriam que pensar em pontos fortes e fracos, já propondo

uma reflexão profunda sobre o comportamento e atitudes, promovendo o

autoconhecimento.

3.2.3 terceira sessão

Nesta sessão o objetivo ainda era descobrir a missão de vida e fazer com

que os sujeitos refletissem sobre que pequenas mudanças de hábitos e

comportamentos no seu cotidiano fariam a diferença para que realizassem seus

sonhos.

Foi trabalhado o conceito de envolvimento total, de Tony Schwartz (LOEHR

& SCHWARTZ, 2005), que tem como pressuposto a administração do tempo, o

equilíbrio da dimensão pessoal e profissional. Ele atribui o nome de ritual para a

mudança de pequenos hábitos cotidianos.

Assistiram a mais um trecho do filme O diabo veste prada, com um olhar

direcionado para a gestão de mudança. Após a discussão, retomaram a Roda da

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vida e os pontos fortes e fracos e escolheram um tópico para escrever um ritual

que poderiam começar a praticar no cotidiano. Algumas professoras escolheram a

dimensão pessoal e, outras, a profissional.

Para finalizar a sessão, retomaram o questionário reflexivo (com as

perguntas abertas), a linha do tempo e o artigo em que produziram e escreveram

a sua missão de vida.

3.2.4 quarta sessão

Nesta sessão iniciamos com o conceito de meta esperta, onde os

participantes tinham que escolher um aspecto da Roda da vida e definir uma meta

em curto prazo, sem esquecer-se de sua missão de vida e sua visão de futuro.

Discutimos o conceito no âmbito pessoal e profissional e, então, os sujeitos

partiram para a prática: escrevendo e delimitando suas metas a curto prazo, para

assim finalizar a sessão.

Assistiram a um trecho do vídeo A era do gelo. Refletimos sobre as crenças

positivas e limitantes, como ressignificá-las para podermos nos desenvolver

enquanto seres humanos.

Levaram como tarefa: elencar as crenças da profissão docente, quais

seriam as positivas e quais as limitantes.

3.2.5 quinta sessão

Nesta última sessão discutimos sobre as crenças e trabalhamos o conceito

de administração do tempo.

Para finalizar a sessão, foi realizada uma dinâmica onde teriam que trocar

talentos, reconhecendo pontos fortes de colegas de trabalho, fortalecendo

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vínculos para a realização de um trabalho coletivo melhor no cotidiano profissional

do grupo participante.

Na dinâmica, cada participante recebia um chocolate Talento e tinham que

trocar os respectivos chocolates, compartilhando os pontos fortes reconhecidos no

outro.

Para finalizar a última sessão, fiz um agradecimento ao grupo e propus uma

última tarefa: a produção de um depoimento escrito sobre o processo de coaching,

dizendo se a experiência foi positiva ou não e fazendo a descrição de possíveis

mudanças no cotidiano.

4. Primeiros resultados das sessões

A construção da pesquisa de campo possibilitou o meu crescimento

constante como pesquisadora, refletindo-se isso não só sobre o presente estudo,

como também sobre dimensões pessoais e profissionais ligadas a este trabalho.

Além disso, e principalmente, proporcionou uma reflexão por parte do grupo de

professores participantes e fortaleceu vínculos entre a equipe, pois os

participantes construíram coletivamente, não somente uma visão individualizada,

mas como um grupo de trabalho, socializando informações, problematizando a

prática, compartilhando e discutindo crenças, valores e atitudes.

Segundo Freire (1996), as socializações de registros construídos pelo

coletivo são bons instrumentos de reflexão sobre o trabalho desenvolvido,

possibilitando a problematização do cotidiano, exigindo da equipe rigor e clareza

entre o que ser quer e a realização concreta disso, reforçando que é refletindo

sobre as ações de hoje e de ontem que podemos melhorar as próximas ações.

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Durante as sessões de coaching, os sujeitos de pesquisa interagiram

constantemente comigo, como pesquisadora, por meio do diálogo, compartilhando

suas experiências e compreendendo a importância de se desenvolver a partir de

suas próprias vivências. Freire (2005, p. 12) assegura: “Com a palavra o homem

se faz homem, ao dizer sua palavra, pois o homem assume conscientemente sua

essencial condição humano”. O autor ressalta ainda que

ensinar exige disponibilidade para o diálogo. O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade como inconclusão em permanente movimento na história. (Idem, 1996, p. 136)

Como já mencionado anteriormente, o diálogo é pressuposto fundamental

do coaching. É através dele que o sujeito desvela suas crenças, se abre para o

mundo e descobre cada vez mais novas coisas para serem aprendidas e

modificadas em sua história e na sociedade. É na relação dialógica e na vivência

de novas experiências que acontece a formação permanente do professor, o

desenvolvimento de sua dimensão pessoal e profissional, assim como ratifica

Freire (2005, p. 14):

Distanciando-se do seu mundo vivido, problematizando-o, decodificando-o criticamente, no mesmo movimento da consciência o homem se redescobre como sujeito instaurador desse mundo de sua experiência. Testemunhando objetivamente sua história, mesmo a consciência ingênua acaba por despertar criticamente, para identificar-se como personagem que se ignorava e é chamada a assumir seu papel.

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Dewey também destaca que o valor da experiência está ligado ao sentido

que se atribui a ela. A experiência nos possibilita exercer nossa individualidade

para com o mundo, resultando em mudanças e transformações. Ele afirma que

quando experimentamos alguma coisa, agimos sobre ela, fazemos alguma coisa com ela, em seguida sofremos ou sentimos as consequências. Fazemos alguma coisa ao objeto da experiência e em seguida ele nos faz em troca alguma coisa: essa é a combinação específica de que falamos. A conexão dessas duas fases de experiência mede o fruto ou valor da mesma. (DEWEY, 1959, p. 192)

O processo de coaching que permeou a pesquisa de campo possibilitou

aos sujeitos de pesquisa uma experiência nova de formação de professores, de

forma reflexiva e dialógica, resultando na mudança e na transformação das ações

pessoais e profissionais dos educadores.

Nóvoa traz a teoria da pessoalidade e diz que esta necessita deve ser

construída no bojo da profissionalidade do professor, identidades e práticas

pedagógicas, resultando em experiências concretas e propiciando avanços

conscientes na formação do professor.

Trata-se de construir um conhecimento pessoal (um autoconhecimento) no interior do conhecimento profissional e de captar o sentido de uma profissão que não cabe apenas em uma matriz técnica ou científica. Toca-se aqui em qualquer coisa de indefinível, mas que está no cerne da identidade profissional docente. (NÓVOA, 2009, p. 92)

O processo de coaching desenvolvido na pesquisa de campo vem contribuir

com esse aprendizado na dimensão pessoal e profissional, gerando novas

experiências durante toda a sua trajetória, evidenciando seu modo de pensar e

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fazer e promovendo o autoconhecimento e o seu desenvolvimento integral

enquanto ser humano.

5. Análise, interpretação dos dados e resultados da pesquisa

No presente item proponho-me a analisar e interpretar de forma minuciosa

os dados coletados através dos instrumentos citados anteriormente: questionários

com perguntas objetivas e abertas, material das sessões de coaching, diário de

campo (com discussões e percepções acerca dos sujeitos pesquisados) e

depoimentos finais dos sujeitos. Esta interpretação é realizada de acordo com as

sessões de coaching descritas anteriormente. Em seguida, buscarei uma

interlocução dos sujeitos e dos teóricos, verificando se o objetivo e as hipóteses

de pesquisa foram contemplados neste estudo.

Os dados aqui apresentados foram interpretados por meio da análise de

conteúdos conforme os pressupostos teóricos de Lawrence Bardin. Segundo a

autora, a abordagem quantitativa e a qualitativa não têm o mesmo campo de ação.

A primeira obtém dados descritivos através de um método estatístico. A segunda

corresponde a um procedimento mais intuitivo, mas também mais maleável e mais

adaptável, a índices não previstos, ou à evolução das hipóteses (BARDIN, 2011).

A opção pela análise de conteúdo, segundo Lawrence Bardin, foi realizada

com a intenção da possibilidade de fornecer técnicas precisas e objetivas que

seriam suficientes para garantir a descoberta do verdadeiro significado dos

instrumentos analisados.

A presente pesquisa, como explicitado anteriormente, apresentará os dados

quantitativos em forma de tabelas e gráficos e a interpretação dos mesmos, dos

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questionários e das sessões de coaching, incluindo discussões, depoimentos e

registros no diário de campo, que serão também analisados de acordo com Bardin

(2011), que afirma que a análise desses conteúdos descritos tem a intenção de

desvendar o que está por trás das palavras, buscando outra realidade através das

mensagens. Assim, as informações e dados aqui interpretados retratarão a

importância da dimensão pessoal e profissional do professor e o impacto do

coaching na formação dos professores escolhidos como sujeitos de pesquisa,

elucidando as hipóteses levantadas no início deste estudo.

Para Bardin, a análise de conteúdos envolve

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos da descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não), que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas), destas mensagens. (Ibidem, p. 44)

A sistematização proposta por Bardin (Ibidem, p. 125), direcionada para a

organização da análise, está de acordo com três polos: a pré-análise, a

exploração material e o tratamento do resultado, a inferência e a interpretação.

Segundo o autor, o primeiro polo, chamado de pré-análise, é a fase da

organização propriamente dita, onde o pesquisador sistematiza as ideias e

organiza um plano de análise. Dentro deste polo há três fases a leitura flutuante, a

escolha dos documentos e a formulação das hipóteses e dos objetivos, além da

elaboração dos indicadores que fundamentam a interpretação final.

Nesta pesquisa foram levantadas as hipóteses de acordo com o objetivo

que foi estabelecido logo no início do estudo e a partir destes fatores foram

elencados dois indicadores, o compromisso e a responsabilidade, lembrando que

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as fases do primeiro polo não precisam estar em ordem cronológica como

descritas.

Estes três fatores não se sucedem, obrigatoriamente, segundo uma ordem cronológica, embora se mantenham estritamente ligados uns aos outros, a escolha dos documentos depende dos objetivos, ou, inversamente, o objetivo só é possível em função dos documentos disponíveis; os indicadores serão construídos em função das hipóteses, ou, pelo contrário, as hipóteses serão criadas na presença de certos índices. (BARDIN, 2011, p. 125)

Tomando como pressuposto teórico a análise de conteúdo de Bardin,

dentro do primeiro polo, que é a pré-análise, a pesquisa iniciou a interpretação dos

dados, realizando a leitura flutuante, isto é, estabelecendo os primeiros contatos

com os dados de pesquisa, conhecendo os instrumentos utilizados, se

apropriando de todo o material coletado durante a pesquisa.

O segundo polo citado pelo autor, a exploração do material, também foi

realizada de forma minuciosa e gradual, com várias idas para a definição das

unidades de registros, das categorias adotadas. É neste polo que consiste a etapa

mais duradoura, pois há a codificação, na qual são feitos recortes em unidades de

contexto (deve fazer compreender a unidade de registro) e de registro (é o menor

recorte de ordem semântica, que se liberta do texto, podendo ser uma palavra-

chave, um tema, objetos etc.), onde os requisitos para uma boa categoria são a

homogeneidade (único princípio de classificação), pertinência (está adaptada ao

material de análise escolhido e pertence ao quadro teórico definido), objetividade e

fidelidade (definir claramente as variáveis) e produtividade (resultados férteis em

hipóteses novas, índices de referência e em dados exatos), fatores tomados como

base na análise dos instrumentos aqui apresentados (Ibidem). As unidades de

contexto na pesquisa são: dimensões pessoais e profissionais dos professores,

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além do coaching propriamente dito; e as unidades de registro são: compromisso

e responsabilidade com a profissão, já elencadas como categorias de pesquisa.

O terceiro polo, voltado ao tratamento dos resultados, inferência e

interpretação dos dados dos dois polos anteriores está descrito abaixo. Este é um

momento em que, a partir dos dados e informações coletados, se estabelecem

relações entre o objeto de análise e seu contexto mais amplo, chegando até

mesmo a reflexões que estabeleçam novos paradigmas nas estruturas e relações

estudadas. Deste modo, a partir do contexto e das unidades de registro já

descritas e enumeradas, realizo as inferências e passo a interpretá-los, à luz dos

referenciais teóricos aqui abordados.

Tomando como base as propostas de Lawrence Bardin (2011), para a

análise de conteúdo parto para o terceiro polo, com olhar atento, analisando

sessão por sessão, concomitantemente com os instrumentos de pesquisa

trabalhados em cada uma dessas sessões.

Na primeira sessão foi possível analisar durante as discussões que muitas

das professoras que ali estavam buscavam algo novo em sua formação, uma

técnica, uma ferramenta, enfim, algo que pudessem aplicar em seu cotidiano e

mudar de alguma forma. O primeiro encontro foi de grande impacto na vida

dessas educadoras, atingindo primeiramente o objetivo de despertar o interesse

em participar de algo novo, que viesse de alguma maneira contribuir para o

crescimento, o desenvolvimento, a atuação e a formação na área pedagógica. O

encontro despertou certo encantamento nas professoras; para lembrar Assmann

(1998), que trabalha com a necessidade de se reencantar a educação, atribuindo

um sentido de prazer e motivação a este tema. O autor confirma o meu problema

de pesquisa, ressaltando que há um descontentamento com relação à educação e

em todos os envolvidos no processo de educar (pais, professores, alunos,

sociedade), trazendo em sua obra o processo de reencantamento da prática

educativa, dos professores, alunos e comunidade escolar. Segundo o autor,

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o reencantamento da educação requer a união entre sensibilidade social e eficiência pedagógica. Portanto o compromisso ético-político do/a educador(a) deve manifestar-se primordialmente na excelência pedagógica e na colaboração para um clima esperançador no próprio contexto escolar. (ASSMANN, 1998, p. 34)

Com base nas produções teóricas de Assmann, pode-se afirmar que a

escolha da unidade de contexto se confirma aqui acertada (dimensão pessoal e

profissional): desde o primeiro encontro já houve uma sensibilização do professor

para o compromisso com sua profissão e o despertar de um clima esperançoso,

como aborda o autor, não só no contexto de trabalho como na dimensão pessoal

também. Vale lembrar que esta participação foi voluntária e após o horário de

trabalho, onde os sujeitos deixariam de estar com suas respectivas famílias, valor

fundamental para os sujeitos desse grupo de pesquisa (dado que será abordado

nas tabelas abaixo). Este fator também reafirma as unidades de registro, o

compromisso e a responsabilidade do profissional, a princípio de uma maneira

geral e curiosa, de certa forma, mas um primeiro passo para a busca de

compromisso ético-político do professor em manifestar sua excelência em sua

prática educativa diariamente, acreditando em seu potencial e,

concomitantemente, acreditando em seu educando também.

Paulo Freire afirma o valor da esperança como categoria central de sua

obra, ligada ao compromisso: se há a esperança, há de se fazer algo para que a

educação tenha cada vez mais qualidade. O autor afirma que

[…] o papel do educador e da educadora é cuidar para que a esperança não se desvie e não se perca, caindo ou na desesperança ou no desespero. Em sendo um imperativo histórico, a esperança se manifesta na prática. Não há esperança na “pura espera”, isto é na imobilidade e na paralisia. Se a meta é

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a criação de um amanhã diferente, sua construção tem que ser iniciada hoje. (FREIRE, 1992, p. 10)

Não há como abordar o tema esperança sem falar do reencantamento. Esta

é uma das crenças que também impulsiona os professores a se mobilizarem para

a mudança, para o aumento da responsabilidade e do compromisso com

dimensão profissional e pessoal.

Dando continuidade à análise e à interpretação dos dados, apresento

primeiramente o perfil dos sujeitos, ressaltando que este instrumento de coleta de

dados foi aplicado após o término da primeira sessão, sendo imprescindível para a

interpretação e a compreensão de alguns dados aqui analisados.

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QUADRO 1- PERFIL DOS SUJEITOS PESQUISADOS

PROF

.

IDADE

e

SEXO

FORMAÇÃO RELIGIÃO FILHOS EST. CIVIL LOCAL

DE NASC.

TEMPO DE

MAGISTÉRIO

TEMPO NA

UNIDADE

JARDIM

TRABALHA

FORA DA

UNIDADE

JARDIM

A 27 - F PEDAGOGIA

PSICOPED.

CATÓLICA 0 CASADA SP 9 ANOS 9 ANOS NÃO

B 36 - F PEDAGOGIA

PSICOPED.

ESPÍRITA 2 CASADA SP 18

ANOS

2 ANOS SIM

C 42 - F PEDAGOGIA ESPÍRITA 2 CASADA SCSUL 25 Anos 4 ANOS NÃO

D 38 - F PEDAGOGIA

PSICOPED.

ESPÍRITA 2 CASADA SANTO

ANDRÉ

20 ANOS 3 ANOS NÃO

E 27 - F BIOLOGIA

PSICOPED

CATÓLICA 0 SOLTEIRA SANTO

ANDRÉ

9 ANOS 5 ANOS NÃO

F 32 - F PSICOLOGIA

PEDAGOGIA

PSICOPED

CATÓLICA 2 CASADA SBC 16 ANOS 9 MESES SIM

G 31 – F PEDAGOGIA CATÓLICA 1 CASADA SANTO

ANDRÉ

17 ANOS 8 MESES NÃO

H 28 - F PSICOLOGIA

PEDAGOGIA

CATÓLICA 1 CASADA SANTO

ANDRÉ

10 ANOS 3 ANOS NÃO

I 27 – F PEDAGOGIA

PSICOPED

CATÓLICA 0 SOLTEIRA SANTO

ANDRÉ

7 ANOS 6 ANOS NÃO

J 23 - F PEDAGOGIA CATÓLICA 0 SOLTEIRA SBC 4 ANOS 4 ANOS NÃO

K 35 - F PEDAGOGIA

NEUROED

EVANG. 0 SOLTEIRA SP 14 ANOS 12 ANOS NÃO

L 39 – F PEDAGOGIA ESPÍRITA 0 SOLTEIRA SCS 16 ANOS 4 MESES SIM

M 22 – F PEDAGOGIA CATÓLICA 0 SOLTEIRA RIBEIRÃ

O

PIRES

4 ANOS e 6

MESES

4 ANOS NÃO

N 24 - F PEDAGOGIA ESPÍRITA 0 SOLTEIRA SANTO

ANDRÉ

6 ANOS 5 ANOS NÃO

O 27 - F PEDAGOGIA CATÓLICA 0 SOLTEIRA MAUÁ 6 ANOS 6 ANOS NÃO

P 37 - F PEDAGOGIA CATÓLICA 0 CASADA SANTO

ANDRÉ

23 ANOS 11 ANOS NÃO

O perfil dos professores analisados retrata que todos os sujeitos de

pesquisa são mulheres entre 27 e 40 anos; 8 são casadas e têm filhos; 8 são

solteiras e sem filhos. Todas as professoras são da região do Grande ABC,

Estado de São Paulo, morando próximo à escola onde lecionam. A maior parte

delas tem mais de 6 anos de magistério e tem um grande tempo na escola

pesquisada. A escola é considerada, por unanimidade, como uma excelente

escola na região, onde, mesmo o salário não sendo o almejado, é satisfatório,

reforçando a imagem de se trabalhar numa boa escola, comprovada por todas

elas como uma boa referência no currículo, além das professoras que tem filhos

poderem dar um bom estudo a eles. Tais comentários foram feitos na primeira

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sessão de coaching pelos sujeitos de pesquisa, já discutindo a Roda da vida,

apresentada logo abaixo.

Vale analisar ainda que os dados da tabela acima podem ser mensurados

quantitativamente, revelando o perfil das professoras na escola pesquisada,

fatores estes que contribuirão para a análise interpretativa do discurso dos

sujeitos, corroborando para a fidedignidade dos resultados da pesquisa.

Nota-se que todas as professoras têm uma religião como base, fator que

aparece constantemente nas discussões e respostas dos questionários, sendo 10

da religião católica, 5 que participam da religião espírita e 1 evangélica.

No que diz respeito à formação, todas têm nível superior: 15 são formadas

em Pedagogia; 1 é formada em Biologia. Duas das professoras apresentam duas

graduações: Pedagogia e Psicologia. Há 7 professoras que cursaram pós-

graduação, 6 delas em Psicopedagogia e 1 em Neuroeducação. Este fator

também comprova o interesse pela área de atuação profissional e demonstra o

desejo de se aprofundarem mais nos estudos para continuarem a carreira na

educação.

Tais dados podem ser visualizados nos gráficos abaixo e também foram

comprovados na linha do tempo, atividade explicada logo adiante.

Deve-se lembrar que a abordagem quantitativa fundamenta-se na

frequência da aparição de determinados elementos da mensagem, de forma que

se pode observar que os gráficos apontam para os resultados interpretados no

Quadro 1 acima (BARDIN, 2011, p. 144).

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Gráfico 1

Gráfico 2

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Gráfico 3

Gráfico 4

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Gráfico 5

Gráfico 6

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Gráfico 7

Após a observação dos gráficos, que retratam os dados já tratados e

analisados, o próximo instrumento que será interpretado é a Roda da vida,

realizando os cruzamentos de informações de acordo com a necessidade.

A Roda da vida é uma técnica de coaching aplicada para realizar um

balanço geral da vida dos sujeitos. Ele apresenta os seguintes resultados: de um

lado, os aspectos que englobam a vida de maneira geral e, de outro, a nota, a

média dada pelos sujeitos de pesquisa sobre o quanto estão satisfeitos com as

áreas de suas respectivas vidas e o quanto realmente estão se dedicando a elas.

Observe o Quadro 2 abaixo:

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QUADRO 2 – Nota de satisfação com aspectos da vida atualmente

Observando os resultados no Quadro 2 é possível identificar a insatisfação

e a pouca dedicação nas áreas de grande interesse dos participantes. Para

realizar a interpretação desses dados foi utilizada a coocorrência, isto é, a

presença simultânea de duas ou mais unidades de registros numa unidade de

contexto, que, neste caso, foram decididas posteriormente (BARDIN, 2011, p.

142).

Unidade de registro é a unidade de significação codificada e corresponde ao segmento de conteúdo considerado unidade de base, visando a categorização e a contagem frequencial. A unidade de registro pode ser de natureza e de dimensões muito

ASPECTOS Média

FAMÍLIA 6

ESPIRITUALIDADE 7

GESTÃO

FINANCEIRA

4

PROFISSIONAL 8

ADM TEMPO 3

INTELECTUALIDADE 4

LAZER 5

SOCIAL 4

ROMANCE 5

SAÚDE 6

NÃO SABER DIZER

NÃO

6

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variáveis. Reina certa ambiguidade no que diz respeito aos critérios de distinção das unidades de registro. (BARDIN, 2011, p. 34)

Utilizou-se ainda para a interpretação dos dados a associação e a

oposição, ou seja, modalidades qualitativas que, eventualmente, diferenciam a

natureza da coocorrência como indicadores na pesquisa (Ibidem, p. 143).

Com base nos indicadores acima citados, notei que a pesquisa trouxe de

forma clara e objetiva que a principal insatisfação está relacionada à gestão

financeira dos rendimentos, fator que comprova também a existência do problema

deste estudo. O lazer aparece ainda como uma nota muito baixa, ligado

diretamente à nota atribuída pela maioria dos sujeitos ao que diz respeito à

administração do tempo, fato que comprova que sem se administrar bem o tempo,

o lazer, o social, o romance (relacionamentos amorosos) e o restante das áreas

acabam sendo prejudicadas, confirmando mais uma vez o problema de pesquisa

exposto e sua relevância dentro da área acadêmica e profissional, ressaltando que

esta conclusão foi tomada a partir da discussão na sessão de coaching.

Outra área que traduz muitas informações é a parte intelectual, que, ao

mesmo tempo em que está baixa, por falta de tempo de estudar, de ler e de fazer

novos cursos, se opõe diretamente à parte profissional, a qual os sujeitos de

pesquisas atribuíram nota 8, traduzindo para a pesquisa o gostar da profissão, fato

diretamente ligado e comprovado à pergunta voltada para a escolha dos sujeitos

da presente pesquisa. Mesmo com oposição entre estes dois fatores, foi possível

identificar nas discussões realizadas na primeira sessão o interesse em fazer mais

cursos, buscar conhecimentos para solucionar alguns problemas da prática

pedagógica.

A área que também retrata uma nota alta é a ligada à espiritualidade, o que

deixa clara a crença em uma religião e que, através do acreditar em algo maior,

buscam a força necessária para continuar suas ações enquanto seres humanos.

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Algo que traduz também a crença fortíssima em fazer o bem e ser uma pessoa

melhor a cada dia, questões também discutidas durante a primeira sessão.

A Roda da vida deixa claras as prioridades dos sujeitos de pesquisa. Um

aspecto que obteve uma nota baixa e muitas vezes foi colocado em segundo

plano pelos sujeitos pesquisados é a saúde, o que se opõe ao dado exposto na

discussão sobre ser uma pessoa melhor, uma profissional melhor, pois, para

poder ser melhor em qualquer área e ou aspecto da vida, preciso de saúde.

Outro aspecto que aparece fortemente é “o não saber dizer não”, que está

atrelado também a pensar sempre no outro, em primeiro plano, corroborando com

a família, que aparece em primeiro lugar não só na roda da vida, como nos

questionários e nas técnicas aplicadas posteriormente.

Bardin (2011) afirma que é muito comum em análise e interpretação de

conteúdos aparecerem essas oposições, que traduzem a importância da reflexão

sobre as dimensões pessoais e profissionais para que possamos modificar

algumas ações no cotidiano para sermos condizentes com o que pensamos e

agimos.

Ainda na primeira sessão foi possível perceber o quanto as professoras

foram tocadas com as discussões, em especial no que diz respeito a “sair da zona

de conforto”, compreender e analisar seus comportamentos diários, planejar seus

sonhos e fazer algo em busca desses sonhos; traçar objetivos que possam

realmente trazer a alegria de alcançá-los e, consequentemente, obter uma

melhora na dimensão pessoal e profissional.

Os depoimentos desta primeira sessão confirmam o que foi descrito:

Prof. A - “Foi uma sessão interessante. Difícil, pois nunca pensei nisso, mas cheguei à conclusão que temos que parar para refletir sobre nosso papel enquanto educadoras e enquanto mãe, esposa e filha, na vida pessoal.”

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Prof. B - “Fiquei mexida mesmo! Quanto tempo que levo a minha vida na mesmice, sem me dar conta de que o tempo está passando e eu faço todos os dias tudo sempre igual. Quero ser uma pessoa melhor, mas percebi que estou acomodada, porém esta reunião de hoje me fez pensar no que posso mudar e como praticar esta mudança no meu dia a dia.” Prof. C - “Acho que o coaching seria muito bom na escola pública como um todo, pois enquanto estou fazendo minha sessão contigo me lembro de colegas que sei que estão acomodadas e que se tivessem este 'empurrãozinho' [risos] poderiam ser melhores profissionais em sala de aula.” Prof.. G - “A sessão me fez sonhar! Algo que não fazia há muito tempo!” Prof. F - “Pensei em mim. Nos mais diferentes papéis que assumo no meu dia a dia.” Prof. M - “Vi que nós fazemos o ambiente. Podemos mudar se quisermos. E o quão é difícil na rotina escolar e diária não entrarmos no piloto automático e fazermos o mesmo todo dia, sem prestar a atenção nas pessoas mais importantes, sejam estas nossos alunos ou familiares.”

Prof. P - “Foi uma conversa difícil, mas muito boa. Pude ver o que quero e tenho feito na minha vida.”

Vale ressaltar que entre a semana da primeira e da segunda sessão,

encontrei uma das professoras do grupo pesquisado que me trouxe uma

declaração muito positiva sobre o primeiro encontro. Ela disse o seguinte:

Prof. K - “As professoras não veem a hora de chegar a próxima sexta, inclusive eu, na nossa segunda sessão de coaching. Estamos curiosas para saber o que virá, pois as reflexões feitas nos provocaram muito.”

O depoimento acima descrito corrobora com a avaliação positiva do

primeiro encontro. Foi possível notar que os vídeos passados durante as sessões

despertaram grandes reflexões e discussões que as levaram a repensar a vida na

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dimensão pessoal e profissional, mais uma vez envolvendo as crenças, os valores

e as mudanças que deveriam ser realizadas.

Na segunda sessão, as professoras vieram para o encontro motivadas,

percepção realizada a partir de depoimentos logo no início da sessão:

Prof. I - “O que teremos hoje? Estou curiosa!” Prof. D - “Tinha um compromisso às 18 horas, mas mudei o horário para poder participar da sessão. Quero realmente mudar algumas coisas na minha vida.” Prof. L - “As perguntas dos questionários estavam difíceis. Nunca parei para escrever sobre isso. Já havia pensado em algumas coisas, mas nunca me planejei no papel.”

O segundo encontro iniciou-se com um vídeo sobre Missão de vida, como

descrito anteriormente. Já na primeira discussão foi possível identificar que as

professoras estavam dispostas a pensar em suas carreiras. Isto fica muito claro

em algumas das falas durante as discussões após o filme:

Prof. A - “Nossa! Ele ama de verdade o que faz! E agora estou pensando no que eu posso fazer diferente no meu trabalho, pois também amo dar aula, estar com as crianças, mas, ultimamente, estou cansada e sem paciência. Acho que preciso reacender a chama que tinha quando entrei no magistério.” Prof. K - “Não tem idade para se fazer o que ama.” Prof. N - “Não necessariamente temos apenas uma missão de vida. Podemos querer ser uma excelente mãe e ser uma excelente profissional também. Vi que podemos ter um propósito maior nessa vida, como, por exemplo, fazer a diferença na vida de outra pessoa, através de diversas maneiras.”

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Prof. E - “É... acho que é importante termos visão de futuro... Mais que isso, colocarmos no papel e nos mobilizarmos para que possa acontecer de verdade.”

Após as primeiras discussões do filme, as professoras iniciaram um

processo de reflexão (presente, passado e futuro) e, em seguida, partiram para a

atividade da linha do tempo.

Este tipo de atividade nos remete à teoria de Vygotsky (2003), na convicção

de que a atividade humana não se reduz apenas à repetição do passado. Com

base, nas experiências vividas e na atuação cotidiana que se confronta com a

realidade, as professoras, ao entrarem em contato com as imagens, ao relembrá-

las, reelaboram, modificam e criam algo novo, conforme seus interesses, suas

necessidades e as mudanças que ocorrem em seu ambiente de trabalho e em sua

dimensão pessoal. Para o autor, a atividade humana acontece de duas formas:

reprodutora, isto é, que está relacionada à memória, e criadora, voltada para a

capacidade humana de transformar, envolve a imaginação. Segundo Vygotsky

(Ibidem, p. 9),

toda a atividade humana que não se limite a reproduzir fatos ou impressões vividas, mas que crie novas imagens, pertence a esta questão criadora ou combinadora. O cérebro não se limita a ser um órgão capaz de conservar ou reproduzir apenas nossas experiências passadas, é também um órgão combinador, criador, capaz de reelaborar e criar com elementos de experiências passadas novas normas e possibilidades […]. É precisamente a atividade criadora do homem que faz dele um ser projetado para o futuro, um ser que contribui ao criar e modifica seu presente.

O presente estudo compreende o ser humano como um ser projetado para

o futuro e com grande capacidade de modificar seu presente. Vygotsky nos

possibilita reafirmar a importância da atividade no processo de coaching e vai ao

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encontro do objetivo desta pesquisa, que é o de trabalhar a dimensão pessoal e

profissional do professor, fazendo com que este crie coisas novas para o seu

presente e se projete para o seu futuro; que utilize as experiências do passado

para transformar o seu presente e o seu futuro.

Dewey (2010, p. 51) afirma que,

[...] de alguma maneira, o presente sempre afeta o futuro. As pessoas que deveriam ter alguma ideia dessa conexão entre o presente e o futuro são as que já alcançaram a maturidade. Consequentemente, recai sobre essas pessoas a responsabilidade de estabelecer as condições adequadas ao tipo de experiências presentes que produzam um efeito favorável sobre o futuro. A educação, como crescimento ou amadurecimento, deve ser um processo contínuo e sempre presente.

O coaching tem como objetivo promover estas reflexões sobre as ações do

presente que, consequentemente, afetam o futuro. Os sujeitos de pesquisa

também se enquadram na afirmação de Dewey: se comprometeram com o

comparecimento nas sessões de coaching e com o compromisso e

responsabilidade de repensar a dimensão pessoal e profissional, buscando ações

mais adequadas e produzindo experiências presentes favoráveis que contribuem

com um futuro promissor.

Observei que durante a atividade de visualização do passado, do presente

e do futuro, que remeteu às escolhas nos três períodos, as professoras se

emocionaram, agradeceram pelo momento, pois havia tempo que não paravam

para pensar em si próprias e em suas respectivas escolhas. Foi um momento de

análise das experiências passadas, de criação de um novo presente e,

consequentemente, de um novo futuro. Muitas precisaram de um tempo para

poder falar e ainda permaneceram alguns minutos em seu “mundo interno”. As

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lembranças nesta atividade tinham a intenção de auxiliá-las durante a construção

da linha do tempo, resgatando os pontos importantes do passado e escrevendo os

do futuro de uma maneira como se já tivessem acontecido; voltando a refletir

sobre as escolhas que fariam hoje (no presente) para poderem conquistar seus

mais variados sonhos do futuro, transformando sua realidade cotidiana;

relembrando a importância da dimensão pessoal e profissional; mostrando com a

atividade que ambas seguem paralelamente durante a vida. Corroboro com a

afirmação de Cortella (2011) de que não separa a “vida pessoal” da “vida

profissional”, pois o trabalho faz parte da vida pessoal e somos seres únicos, cuja

vida tem várias dimensões, uma delas a profissional, sendo que isso não significa

que sejam isoladas e separadas uma da outra, mas, pelo contrário, caminham

juntas todo o tempo.

Nas linhas do tempo foi possível observar novamente na dimensão pessoal

e profissional o valor da família na formação dos valores, em especial no querer

construir uma família ou preservá-la, se esta já existisse. O sonho de casar e ter

filhos e viajar está presente em 100% do grupo, algumas já casadas, bem como

mostra o Quadro 1 e outras em busca do casamento e da construção da família;

no âmbito profissional, a escolha por continuar na carreira da educação é também

de 100%, constatada na descrição nas linhas do tempo e na Missão de vida das

professoras. Aspecto que comprova novamente que a escolha dos sujeitos foi

realizada coerentemente com o critério que colocamos descrito no início da

pesquisa. Logo abaixo estão algumas das missões de vida elaboradas a partir das

discussões e reflexões sobre as técnicas aqui aplicadas, reafirmando as

interpretações acima:

Prof. A – “Procurar ser mais dedicada. Olhar mais atentamente para os meus alunos e colegas de trabalho.” Prof. B – “Confiar e acreditar no meu trabalho. Posso sempre fazer melhor. Só depende de mim.”

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Prof. C – “Reclamar menos e fazer mais. Respeitar as diferenças entre meus alunos e colegas de trabalho, aprender a lidar com as dificuldades.” Prof. D – “Ser uma professora mais dedicada e mais envolvida com minha sala de aula e com os projetos da escola.” Prof. E – “Exercer minha profissão de forma mais comprometida e atenta. Procurar me motivar, comprometendo-me com meu próprio estímulo.” Prof. F – “Me superar a cada dia na minha vida profissional. Criar laços mais afetivos e duradouros. Deixar boas lembranças para todos que cruzarem meu caminho.” Prof. G – “Vir mais tranquila para que eu possa ter um rendimento melhor com meus pequenos em sala de aula. Ter mais calma e mais paciência.” Prof. H – “Estudar mais como professora. Ter um maior entendimento referente a criança como um todo e contribuir para seu melhor desenvolvimento.” Prof. I – “Ser melhor como professora e poder olhar mais para meus alunos.” Prof. J – “Identificar os talentos de meus alunos e auxiliar em suas dificuldades.”

Prof. K – “Continuar sendo uma excelente professora. Contribuir para o desenvolvimento de meus alunos e de outros professores. Trabalhar mais com os alunos que apresentam dificuldades; atendê-los de maneira diferente. Sempre com muita simplicidade, fé e amor.” Prof. M – “Melhorar meu modo de lidar com as crianças. Me doar mais. Vou me dedicar mais ao trabalho.” Prof. N – “Melhorar meu desempenho. Ser uma pessoa e uma professora melhor.” Prof. O – “Ter um olhar mais cuidadoso para meus alunos, pais e colegas de trabalho.” Prof. P – “Ser mais tolerante com as pessoas. Poder ter uma prática pedagógica mais organizada e com mais energia para exercê-la.”

A ideia de missão de vida trabalhada na pesquisa foi de acordo com a

técnica do coaching que traz a descrição da Missão de vida, como algo que posso,

devo e quero fazer, praticar diariamente. Exercer a Missão de vida todos os dias

remete à felicidade, à alegria e à realização pessoal (ATKINSON, 2007a; 2007b).

Este foi um fator que foi planejado minuciosamente para direcionar a reflexão para

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o cotidiano do professor, fazendo-o pensar em sua prática, em sua realização

enquanto ser humano, no âmbito profissional e, desta forma, refletindo no âmbito

pessoal.

Quando aqui abordo a dimensão pessoal e/ou profissional, voltada à

missão de vida, não posso deixar de evidenciar o caráter social, em especial sob a

perspectiva de George Mead (1992), que, ao destacar o caráter social do ser

humano, demonstra que o indivíduo se fundamenta da ação social e se alimenta

da interação com a sociedade e que é através desta que o sujeito constrói o seu

comportamento, ou seja, quanto mais socializado, mais individualizado está

também, adquirindo desta maneira o self, isto é a consciência de si mesmo.

As modificações que introduzimos na ordem social na qual nos encontramos envolvidos implicam necessariamente que introduzamos modificações em nós mesmos. [...] Assim, as relações entre a reconstrução social e a reconstrução do self ou da personalidade são recíprocas e internas ou orgânicas. [...] Ou, em poucas palavras, a reconstrução social e a reconstrução do self ou da personalidade são os dois aspectos de um processo somente: o processo da evolução social humana. (Ibidem, p. 309)

Ao se destacar a questão da missão de vida, embora seja escrita de forma

individual, deve-se entendê-la como inseparável do coletivo, pois as ações dos

sujeitos refletem no social, no ambiente onde estão inseridos e o contrário também

é verdadeiro, reforçando, aqui, o conceito de Mead de que a “reconstrução” social

ou do self culmina para a evolução social humana, pois está voltada para o bem

estar não só coletivo como individual, de forma concomitante.

Sartre (SARTRE; FERREIRA, 1970, p. 251) reitera que “todo projeto, por

mais individual que seja, tem valor universal”. O autor afirma ainda que “para obter

uma verdade qualquer sobre mim, necessário é que eu passe pelo outro. O outro

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é indispensável à minha existência, tal como, aliás, ao conhecimento que eu tenho

de mim” (SARTRE; FERREIRA, 1970, p. 251).

Vale citar que, durante a sessão e o trabalho de escrita da Missão de vida,

as professoras também se reportaram à vida pessoal como algo indissociável do

coletivo, fator também descrito por Cortella (2011). Porém, para esta pesquisa,

realizei o recorte nestes documentos escritos para que fosse possível direcionar o

olhar para o foco do presente estudo, ressaltando e valorizando a categoria já

explicitada: compromisso e responsabilidade com a educação, com o trabalho na

sala de aula.

A missão de vida foi escrita no fim da terceira sessão, quando foram

retomadas com as professoras as tarefas anteriores (questionários abertos com as

questões reflexivas, já expressando valores, visão de futuro e missão de vida de

forma indireta), além da reportagem que escreveram em forma de texto, baseadas

na linha do tempo, feita na segunda sessão e nas discussões anteriores. O

resultado destas tarefas descritas é a escrita da Missão de vida, checando as

informações dadas pelos sujeitos de pesquisa nesses respectivos instrumentos de

análise e interpretação de dados.

Observou-se que, na terceira sessão, a relação de confiança havia se

construído, pois os sujeitos de pesquisa compartilhavam seus sonhos, suas

dificuldades e habilidades, expondo nos instrumentos de coleta de dados

informações muito pessoais, dentre elas os seus pontos fortes e fracos, de forma

muito aberta e explícita.

No fim das sessões algumas professoras faziam questão de deixar o

depoimento do valor do coaching em suas vidas. Depoimentos estes que também

comprovam o impacto positivo do coaching logo no início do trabalho, como, por

exemplo:

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Prof. F - “Esta semana tive que tomar uma decisão importante na minha vida. Com o coaching, pude pensar melhor em meus comportamentos e quais seriam os impactos de minhas escolhas nesta decisão. Tenho certeza de que, se não tivesse conhecido a técnica do coaching, teria tomado uma decisão errada, ou melhor, impensada, pois antes de tomá-la previ algumas reações e acho que fiz as perguntas certas, pois estou satisfeita com o que escolhi.” Prof. P - “Olha... se não tivesse o coaching teria feito a maior besteira... Nunca pensei tanto na minha vida como agora. Estou olhando para as pessoas de uma maneira diferente, digamos assim... [risos].”

Nesta terceira sessão foi realizada ainda a escrita de um “ritual”, ou seja,

um novo hábito que as professoras poderiam adquirir diariamente, na vida pessoal

e profissional, com o objetivo de sair da zona de conforto e de trabalhar alguns

itens da roda da vida, buscando aumentar a satisfação nos aspectos que estavam

com nota mais baixa.

Os exemplos de rituais, hábitos abaixo citados estão voltados para a vida

profissional, direcionados para o foco da pesquisa:

Prof. H - “Fazer pelo menos um elogio para diário para cada criança.” Prof. K - “Olhar com mais atenção para meus alunos. Elencar um por dia para direcionar melhor meu olhar, toda quinta-feira.” Prof. N - “Ler um livro por mês na área profissional.” Prof. P - “Planejar minhas aulas diariamente. Chegar 10 minutos mais cedo e rever meu plano de aula.”

A importância de novos hábitos é também mencionada por autores

renomados como John Dewey (2010), corroborando com George Mead (1992,

2010), com Sartre (SARTRE; FERREIRA, 1970) e Vygotsky (1996), que trazem a

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importância e o reflexo no outro, no coletivo, mesmo que este seja um hábito

individual, pois o ser humano se constitui no social. Dewey aponta que

a característica básica do hábito é a de que toda a ação praticada ou sofrida em uma experiência modifica a quem a pratica e a quem sofre, ao mesmo tempo em que esta modificação afeta, quer queiramos ou não, a qualidade das experiências subsequentes, pois, ao ser modificada pelas experiências anteriores, de algum modo, será outra pessoa que passará por novas experiências. [...] A concepção mais ampla de hábito envolve a formação de atitudes emocionais e intelectuais, envolvendo nossas sensibilidades básicas e nossos modos de receber e responder as condições com as quais nos deparamos na vida. (DEWEY, 2010, p. 35)

Para consolidar a importância destes hábitos, que fazem parte também do

autoconhecimento, Garcia e Puig afirmam que

o autoconhecimento é sempre um processo inacabado, que implica numa atividade de auto-observação e descoberta de si mesmo mas também de antecipação do futuro e construção de formas desejadas. Essas tarefas mostram a importância que a criação de hábitos de trabalho tem para a vida pessoal e profissional. Trata-se de conseguir se conhecer melhor e adquirir as destrezas que permitem fazê-los. (2010, p. 27-28)

Através das pequenas ações observadas acima, podemos ratificar o

coaching, pois vem se colocando necessário e positivo na área educacional.

Trazendo benefícios para sala de aula, para o trabalho do professor. Através dos

depoimentos, a pesquisa retrata que o professor se sente acolhido, no sentido de

poder mudar e melhorar cada vez mais, lembrando que o sentido de melhora aqui

está atrelado a aumentar o potencial de cada sujeito no seu cotidiano.

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Na quarta sessão, com a utilização da técnica meta esperta, segundo Hall e

Simeral (2008, p. 120), as professoras voltaram novamente para a roda da vida.

Remetendo-se às outras atividades também elaboradas e descritas, as

professoras escolheram mais um aspecto da roda para ser trabalhado, fazendo a

relação todo o tempo com as ações e escolhas tomadas e realizadas no presente

para vivenciarmos o futuro da forma imaginada.

A pesquisa retratará aqui o depoimento de uma professora utilizando a

técnica meta esperta na área profissional, em que esta atribuiu nota 8 e gostaria

de chegar à nota 10 na área.

Específica - O que quero? Ficar mais satisfeita com meu profissional.

Sistêmica – Qual impacto na minha vida? Poderei ganhar mais e

atingir, de certa forma, mais pessoas. Terei que abrir mão de alguns momentos de lazer para estudar.

Positiva – Quero poder ser mestre em educação. Ganhar um salário

melhor e obter mais conhecimento na minha área de atuação.

Evidência – Descobrirei se estou no caminho certo quando estiver me sentindo mais segura com relação aos conhecimentos da área, no momento de atender aos pais na reunião, citando autores; quando receber novos desafios e propostas aqui na escola mesmo, como a escola de pais, quando estiver participando das discussões nas aulas de mestrado com conhecimento adquirido.

Recursos – Tenho um dinheiro extra com as minhas aulas

particulares. Tentarei a bolsa de estudos na universidade.

Tamanho – Minha meta é desafiante, pois faz parte de meu sonho e é possível de ser atingida.

Alternativas – Meu plano de ação é entrar em 2013, na USP, e

enquanto isso estarei me preparando com leituras e reservando um dinheirinho a mais para possíveis imprevistos. Sei que terei menos tempo para algumas atividades que gosto de fazer, mas faz parte do

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meu sonho, pois também quero dar aula na faculdade futuramente, além de ganhar mais também.

Analisando esta atividade do coaching, pode-se notar que, mesmo

buscando novos desafios, o sujeito de pesquisa não sai da área da Educação.

Sonha em crescer profissionalmente, estando dentro de sua profissão. Neste

percurso de estudo, novas possibilidades podem aparecer dentro do próprio

ambiente de trabalho (escola de pais – palestras ministradas aos pais sobre temas

e teóricos da educação brasileira), além de enriquecer o trabalho em sala de aula,

por conta do conhecimento que estará adquirindo. É de suma importância ainda

relembrar que o fato de sentir-se mais segura estará trabalhando direta e

indiretamente um ponto fraco próprio, promovendo o crescimento tanto na

dimensão pessoal como profissional, principalmente nas reuniões e atendimentos

com os pais (aspectos citados na atividade).

A sessão teve como foco também o autoconhecimento, voltando aos

instrumentos de reflexão já citados e trabalhados (questionários, atividades, linha

do tempo), resgatamos os valores, os pontos fracos e fortes das professoras,

contemplando, desta maneira, as expectativas levantadas com relação ao trabalho

logo no início.

Garcia e Puig (2010) e Santo (2010) enfatizam a importância do trabalho

com autoconhecimento para a construção de si mesmo, da descoberta do seu eu

interior, mais uma vez contemplando as expectativas que no início do trabalho

também estavam ligadas ao autoconhecimento.

Santo (Ibidem) lembra ainda a primeira vez que o tema foi citado

historicamente, por Sócrates, com seu famoso “conhecer-te a ti mesmo”, como

“princípio de toda sabedoria”. Sócrates já foi mencionado e atrelado ao histórico

do coaching neste estudo. Santo (Ibidem, p. 9) apresenta como preocupação

central de sua obra o autoconhecimento na formação do educador, colocando-o

como fundamental para estes que são os responsáveis por iniciar com as novas

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gerações os processos pelos quais nos constituímos como seres humanos. Para

ele,

o autoconhecimento é um tema importante para todo e qualquer ser humano que queira realizar o processo de construção de si mesmo de forma consciente e rumo à integração de muitos fios que tecem a complexidade de nossa condição humana, ele é de modo especial aos educadores. (SANTO, 2010, p. 9)

O autoconhecimento no coaching também está diretamente atrelado à

mudança. E mudança está ligada à ação. Quando abordamos as questões de

missão de vida, valores, visão de futuro, estamos também falando de novas

ações, de sair da zona de conforto e buscar um novo caminho, uma nova

aprendizagem. É fundamental que o professor se aproprie cada vez mais de suas

potencialidades, desejos e sonho e, desta maneira, esteja mais comprometido

com a educação e com sua dimensão tanto pessoal como profissional, exercendo

seus diferentes papéis na sociedade e estando em constante transformação.

Segundo Ciampa (1987), o processo de interiorização é considerado elemento

imprescindível para a constituição da identidade, que se constitui num processo de

metamorfose.

Tabulando os dados do questionário, ainda pensando no

autoconhecimento, sem esquecer-se das questões de comprometimento e

responsabilidade, foi possível analisar os pontos fortes e fracos que mais

apareceram neste grupo e algo interessante de se observar é que questões

relativas à responsabilidade, ao compromisso, à honestidade, à amizade e à

alegria aparecem fortemente, valores e pontos fundamentais para serem bons

profissionais e, por sua vez, uma contradição aparece também: a insegurança

destes profissionais que devem passar todo tempo a segurança para os alunos.

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A pesquisa mostra também a importância da organização na profissão e,

em contrapartida, deixa claro que muitas professoras se avaliam nervosas, fator

este que deve ser trabalhado diariamente, pois, na sala de aula e numa reunião de

pais, por exemplo, os profissionais de educação não podem demonstrar

nervosismo e na prática pedagógica é essencial que se tenha paciência e calma

com os alunos.

Observa-se também que, ao se elencarem os pontos fortes e fracos, se

está de maneira indireta levantando também as competências do profissional de

educação e os valores pessoais que devem ser cruzados com os valores

profissionais. Quando são analisados, logo abaixo, os principais valores dos

sujeitos pesquisados, pode-se notar que muitos são os mesmos que pontos fortes

e fracos. De uma maneira ou de outra, são pontos que devem ser trabalhados

sempre e alinhados frequentemente, para que a atuação e a satisfação com a

profissão esteja sempre caminhando lado a lado.

Com a observação do Quadro 3 a seguir, pode-se observar o número de

professoras que reconheceu os respectivos pontos fortes e fracos durante as

atividades realizadas nas sessões de coaching. Vale ressaltar que o número que

contém no Quadro 3 representa a quantidade de professoras que descreveu

pontos fortes ou fracos em seus registros durante as atividades.

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Quadro 3 - Pontos fortes e fracos e o número de vezes que aparecem nos instrumentos de pesquisa

PONTOS FORTES PONTOS FRACOS

ALEGRIA – 10 TEIMOSIA - 2

SINCERIDADE /HONESTIDADE - 11 INSEGURANÇA -13

ENGRAÇADA E BRINCALHONA - 2 GASTAR DEMAIS- 3

AMIGA - 9 NERVOSA - 8

PREOCUPAR-SE COM OUTRO - 5 AUTO COBRANÇA -2

GENTIL /ATENCIOSA - 5 PERFECCIONISTA - 4

COMPROMETIDA / RESPONSÁVEL - 12 ANSIOSA -10

JUSTA 2 ACOMODADA/ PREGUIÇOSA - 3

ORGANIZADA – 7 FALA MUITO - 3

ESTUDIOSA – 2 EGOÍSTA

COMUNICATIVA – 6 DESORGANIZADA – 3

PRESTATIVA - 3 PESSIMISTA - 2

PACIENTE – 2 TIMIDA - 2

CARISTIMÁTICA 1 IMPULSIVA

FIEL – 6 CHORONA / SENSÍVEL DEMAIS - 4

PERSISTENTE MAU HUMORADA- 2

CARINHOSA / AMOROSA - 11 DESCONFIADA - 3

Nota-se ainda que há mais uma oposição ao analisarmos os dados acima,

pois um ponto fraco que apareceu em 100% das professoras e que chamou

bastante a atenção foi a insegurança. Há um paradoxo, pois ao mesmo tempo em

que devem passar segurança para os alunos e serem seguras em sua profissão,

por estarem formando cidadãos, e lidam com pais diretamente, todas se julgam

pessoas inseguras. Este fator está ligado, de certa forma, ao não sair da zona de

conforto, pois ao saírem para a zona de aprendizagem assumem riscos e

potencializam a insegurança. Daí a importância do autoconhecimento: ao se

apropriar de seu ponto fraco, há a possibilidade de trabalhar sobre ele, buscando

minimizá-lo ou eliminá-lo.

Observa-se também que alguns pontos fortes, como alegria, honestidade,

amor, carinho, amizade, organização, comunicação, compromisso e

responsabilidade são descritos por quase todas as professoras, isto é, aparecem

em mais de 50% nos instrumentos analisados. Misturando-se com os valores dos

sujeitos importantes, demonstrando a coerência entre valor pessoal e profissional,

pois os pontos fortes também traduzem, de certa maneira, algumas competências

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técnicas e primordiais para a profissão docente, tais como organização,

comprometimento, responsabilidade, comunicação, amorosidade.

Concomitantemente, também, refletem os valores da profissão que coincide com

tais competências. Cabe evidenciar que alegria é fundamental na profissão

docente, em especial quando se trabalha com crianças.

Nos pontos fortes nota-se ainda que a fidelidade aparece com frequência

também. Deve-se observar, mais uma vez, o bom número de mulheres casadas,

em especial, que participaram da pesquisa.

Os pontos que aparecem com um número mais baixo com relação à

frequência, pode-se notar que alguns se completam com os já citados

anteriormente, como generosidade, preocupar-se com o outro, ser justa, carisma,

ser engraçada e persistência.

Um fator que vai ao encontro com o observado na roda da vida é o ponto

forte ser estudiosa, que é abordado por apenas duas professoras; na roda da vida

aparece como fator de nota baixa e insatisfatória, também por falta de

planejamento, de tempo e sobrecarga de trabalho, mesmo com a intenção de

torná-lo satisfatório, até porque é uma competência do profissional docente, que

deve ser curioso, pesquisador e procurar estar atualizado constantemente para

assim aperfeiçoar sua prática pedagógica cada vez mais. Autores como Nóvoa

(1995a, 1995b, 2009), Schön (2000) e Alarcão (1996) reforçam esta concepção da

importância da formação permanente do professor, pressupostos abordados no

Capítulo IV desta dissertação.

Voltando-se ainda para os pontos fracos, algo que o Quadro 3 retrata é a

ansiedade e o nervosismo, que aparecem também como ponto em mais de 50%

nas atividades das professoras, fatores que chamam a atenção, pois a profissão

exige calma e paciência e não o inverso. Este fator reafirma também o problema

descrito neste estudo, pois as sobrecargas de trabalho, as classes cheias, entre

outros fatores, corroboram para tal resultado. Cabe, num outro momento de

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trabalho, talvez até em outra pesquisa, realizar um estudo específico sobre os

quadros aqui apresentados. As professoras foram orientadas a aplicar algumas

técnicas utilizadas nas sessões de coaching para poder trabalhar com os seus

respectivos pontos fracos e potencializar os fortes.

Quadro 4 - Principais valores apresentados pelos sujeitos de pesquisa

Família

Amor

Superação de desafios

Saúde

Deus

Trabalho

Amigos

Alegria

Paz

Lazer

Honestidade

Responsabilidade

Ao observar o Quadro 4 nota-se que os valores apresentados são de ordem

pessoal, embora alguns deles, como trabalho, responsabilidade e honestidade,

também façam parte da dimensão profissional.

Observa-se ainda no Quadro 4 de valores pessoais que se pode notar a

presença da família, da fé, da superação de desafios, da importância do trabalho

na vida desses profissionais. Esses valores também revelam as crenças de alguns

profissionais, sendo algumas positivas e outras negativas. Positivas quando

abordamos a crença de forma que nos impulsiona: “Tudo vai dar certo” (superação

de desafios); “Fazer o bem não importa a quem” (Deus, religião); “O trabalho

valoriza o ser humano” (Trabalho); “Nós ganhamos pouco, mas nos divertimos”

(alegria, amigos): exemplos dados pelo grupo pesquisado.

Como citado anteriormente, os valores desses sujeitos de pesquisa

também estão diretamente ligados ao seu perfil profissional, em especial no que

diz respeito à família e a Deus. A pesquisa resgatou também crenças negativas do

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grupo: “O professor não é valorizado por ninguém”; “Lazer para professor não

existe nunca”, entre outras que foram ressignificadas usando outra técnica do

coaching: a generalização, que é fazer o processo de “quebrar” a crença com um

questionamento. Por exemplo, não existe nenhum professor que seja valorizado?

Que tenha algum tipo de lazer? Realizando estes questionamentos, o grupo,

geralmente, chega a uma posição contrária à crença e a ressignifica para que

possa usá-la de forma positiva.

Como pesquisadora, realizei um trabalho de levantamento das crenças

relacionadas à profissão, especificamente daquela unidade escolar; as crenças

daquele grupo. Neste levantamento foram identificadas algumas crenças

principais, que muitas vezes limitavam a ação dos profissionais:

Dificuldade da professora nova (auxiliar) assumir uma sala;

Professora de Educação Infantil não assume sala no Ensino

Fundamental I;

Os pais dão a última palavra;

Educação Infantil tem uma imagem distorcida – Escolinha não é

importante;

Professor não tem tempo para nada.

A partir deste trabalho o grupo de professoras ressignificou as crenças de

forma que as mesmas pudessem ser interpretadas de maneira a impulsionar as

atuações profissionais. Observa-se que algumas crenças estavam tão arraigadas

que impediam algumas professoras de fazer algo diferente, pois acreditavam que

não auxiliaria em nada e, por sua vez, agirem sempre da mesma maneira, o que

culmina com a acomodação, o que pode ser facilmente percebido nas discussões

e observações realizadas no diário de campo, como, por exemplo:

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Prof. A - “Pra quê fazer algo diferente se ninguém olha? Não somos valorizadas mesmo!” Prof. H - “Aqui é a escolinha de crianças.” Prof. P - “Só pega sala aqui se for conhecida de alguém.”

A partir das crenças identificadas, o grupo resolveu ressignificá-las e

repensar a atuação pedagógica, mudando pequenas ações, gestos e/ou palavras

que fazem a diferença na sala de aula. As crenças ressignificadas foram:

Uma professora nova, quando se destaca, “sai do comum” e assume a sala.

Professoras de Educação Infantil podem assumir salas no Ensino Fundamental I; basta agir e falar o que deseja.

Se realizarmos os trabalhos com o máximo de atenção, minimiza-se a atitude de alguns pais.

Mostrar na reunião de pais a importância da Educação Infantil, cabendo ao professor, no cotidiano, conhecer cada vez mais seu aluno e criar condições para que ele possa potencializar talentos e trabalhar com as dificuldades, valorizando assim o trabalho na Educação Infantil.

A administração do tempo cabe ao professor, priorizando tarefas e atividades importantes no dia a dia.

Toda mudança parte de uma reflexão e ação.

Para finalizar a interpretações dos dados e resultados das sessões propus

uma dinâmica sobre os talentos de cada profissional daquele grupo. A dinâmica, a

última do trabalho realizado, aplicada para o fechamento do programa de coaching

na pesquisa de campo, trouxe para este estudo resultados muito positivos,

retratados durante e depois da atividade. A dinâmica teve como foco trabalhar as

habilidades de olhar para o próximo, de saber ouvir e de identificar os talentos em

si e no outro. Durante a atividade o grupo estava tão entrosado e envolvido que

fizeram de forma tranquila e com muita emoção, amor e carinho, resultado este

que vem ao encontro dos valores do grupo, enquanto pessoas e profissionais.

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Foram momentos de aprendizagem, descobertas e muita alegria. Perceberam a

importância de reconhecer o talento do outro e potencializar seus próprios

talentos. Após a realização da dinâmica, os comentários que ratificam o valor da

dinâmica foram:

Prof. A - “Como é difícil, às vezes, prestarmos a atenção no outro.” Prof. B - “Vou levar o coaching para a minha vida.” Prof. C - “Vou prestar mais a atenção nas minhas colegas de trabalho.” Prof. D - “Lembrei de vários talentos de meus alunos e familiares e de como é importante reforçá-los no nosso cotidiano.” Prof. E - “Na nossa profissão é fundamental saber ouvir e identificar talentos e dificuldades.”

Prof. J - “Identificando talentos no outro, muitas vezes te ajuda a identificar teus próprios talentos. E como é bom ser reconhecida!” Prof. O - “Meu Deus, nem eu sabia que era tudo isso!”

O vínculo do grupo foi fortalecido, as professoras ficaram mais próximas, o

trabalho passou a fluir melhor e alguns focos de comentários inadequados no

cotidiano foram minimizados, de acordo com o depoimento dos gestores da

escola, que disseram:

Gestor A - “Não sei o que você fez com elas, mas as fofocas diminuíram. O grupo está mais unido.” Gestor B - “O trabalho em equipe melhorou. A proximidade entre elas aumentou.”

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Analisando estes depoimentos, podemos observar a importância do

trabalho em equipe e o quanto este trabalho fortalece a instituição escolar. O

diálogo é fundamental na construção da formação da consciência docente e as

sessões de coaching, embora trabalhando as dimensões pessoais, foram

realizadas no coletivo e focando também as dimensões profissionais, valorizando

o trabalho em equipe e o vínculo do grupo, promovendo a troca de experiências,

fazendo com que os professores aprendam com os colegas de trabalho e se

apropriem cada vez mais do sentido da instituição escolar que lecionam e da

função da escola na sociedade.

Ser professor é compreender os sentidos da instituição escolar, integrar-se numa profissão, aprender com os colegas mais experientes. É na escola e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão. (NÓVOA, 2009, p. 30)

A diversidade das atividades realizadas nas sessões de coaching e os

diferentes instrumentos utilizados para a interpretação dos dados contribuíram de

maneira efetiva para a discussão do impacto do coaching na formação da

consciência docente e para a reflexão sobre as dimensões pessoais e

profissionais, emergindo a valorização do profissional e reinterando o conceito que

Nóvoa (Ibidem) traz acerca da formação do professor, que se constrói dentro de

sua profissão, fortalecendo a importância do autoconhecimento nessa trajetória.

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CAPÍTULO IV

COACHING E FORMAÇÃO DOS PROFESSORES:

UMA CONTRIBUIÇÃO AO DESENVOLVIMENTO DO CURRÍCULO

1. Coaching: um novo elemento no currículo

Para se abordar uma nova concepção de currículo é imprescindível falar

das transformações na sociedade. Elas acontecem de maneira constante e

acompanhada de uma velocidade imensa. Diante tais transformações um desafio

se impõe à instituição escolar: formar sujeitos autônomos intelectual, ética, cultural

e politicamente, capazes de se inserir dignamente na sociedade. Para tanto, é

necessário buscar um caminho metodológico que permita pensar sobre a escola,

incorporando os elementos macro e micro que compõem a complexidade da sua

realidade; uma realidade que é parte de um movimento amplo, mas que, ao

mesmo tempo, se constitui a partir de um movimento local e particular. É no

movimento local que acreditamos estar reunido um conjunto de ações e

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retroações instituintes, que se apresentam como exemplos legítimos e autênticos

de alternativas pedagógicas que podem viabilizar essa formação e de transformar-

se em políticas públicas em educação. Pensando neste contexto, cabe refletir

sobre uma nova concepção de currículo, em especial na formação dos

profissionais da educação, o qual é o foco desse estudo, pensando na formação

de uma nova consciência docente a partir de um currículo emancipador, que,

segundo Abramowicz (1996), se constitui em uma construção permanente de

práticas com um significado marcadamente cultural, social, histórico e interativo,

caracterizando-se, assim, como uma prática social pedagógica complexa.

Vale ressaltar ainda que o currículo, na formação da consciência docente,

não pode ser separado da totalidade da sociedade. É uma concepção dialética,

não podendo ignorar as tendências do momento, onde esteja vinculado a uma

cultura (GIROUX, 1997).

Pensando sobre esta perspectiva, é de suma importância compreender e

refletirmos sobre as diferentes concepções de currículo ao longo da história nas

escolas brasileiras.

Ao longo da história surgiram diferentes concepções de currículo.

Concepções estas que têm subjacentes teorias de justiça social, contribuições

filosóficas, sociológicas, psicológicas, antropológicas e, também, teorias de

aprendizagem e de ensino.

Do latim, curriculum significa caminho, trajeto, percurso, pista ou circuito

atlético. Segundo o Dicionário Aurélio (2009, p. 281), o termo curriculum é

derivado da palavra latina currere, que significa correr, curso ou carro de corrida.

Pode também estar se referindo a “ordem como sequência” e a “ordem como

estrutura”.

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Cortella (2011) afirma que a tradução para a palavra currículo é carreira,

isto é, o meu curso de existência do ser humano, um caminho para a realização

de algo, sonhos, metas e objetivos.

O currículo é uma práxis, não um objeto estático. Enquanto práxis, é a

expressão da função socializadora e cultural da educação. Por isso as funções

que o currículo cumpre, como expressão do projeto cultural e da socialização, são

realizadas por meio de seus conteúdos, de seu formato e das práticas que gera

em torno de si. Deste modo, analisar os currículos concretos significa estudá-los

no contexto em que se configuram e através do qual se expressam em práticas

educativas.

A história das concepções de currículo é marcada por decisões básicas

tomadas com o intuito de racionalizar, de forma administrativa, a gestão do

currículo para adequá-lo às exigências econômicas, sociais e culturais da época;

elaborar uma crítica à escola capitalista; compreender como o currículo atua; e

propor uma escola diferente.

O presente trabalho se fundamentará teoricamente numa concepção de

currículo emancipatória, participativa e reflexiva que compreenda o currículo como

sendo ele vivido, pensado e adequado à realidade cultural da sociedade. Para

isso, apoio-me nos conceitos de Paulo Freire e Henry Giroux, fazendo um paralelo

com os conceitos de coaching, a partir de Atkinson, correlacionando as visões

sobre o currículo e sobre o processo de coaching, buscando interligá-los, com a

intenção de mostrar a importância de se acrescentar o coaching na formação

continuada dos profissionais da educação.

Para apresentar as contribuições de Giroux e Freire, devo destacar os

principais conceitos de suas obras. Para os autores, as escolas são como esferas

que representam formas de conhecimento, práticas de linguagem, relações e

valores sociais, educando o aluno na/pela crítica, na possibilidade e na

democracia. Para Giroux, o ser humano é partícipe do mundo, é um ser concreto,

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que tem conhecimento, intenções, sentimentos. Para Freire, o aluno deve ser

criativo, construtor de seu conhecimento com perspectiva transformadora; é

sujeito crítico e ativo; os alunos se constroem na construção do professor.

Para Giroux, a dialogicidade deve ocorrer de forma horizontal. Não há como

pensar no aluno sem pensar na totalidade. Sua participação deve ser uma ação

qualificada e embasada de uma intencionalidade crítica. O poder deve estar

vinculado a um ato de resistência, à voz e à vez para os oprimidos. Freire afirma

ainda que o diálogo impulsiona a ação, a atuação do sujeito, do protagonista, seja

ele professor ou aluno; que o diálogo é uma escuta sensível e social, pois a

pessoa escuta, pensa, repensa, rediz e parte para a ação. É exatamente a

proposta do coaching: o coach trabalha e estimula esta ideia de diálogo com o

coachee, sempre pensando na ação e transformação da realidade. Intervir na

realidade com uma intencionalidade, com uma inserção crítica. Segundo Freire,

toda a intencionalidade educativa tem objetivo, seja ele explícito ou não. Para ele,

o currículo deve ser emancipador, vivido, flexível e construído a partir da realidade

dos alunos, assim como os professores devem ser mediadores do conhecimento,

convictos de que ensinam e aprendem simultaneamente; são professores

pesquisadores, criativos, críticos e abertos a todos os questionamentos.

Giroux (1997) segue a linha de Freire e acredita que o currículo deve ser

historicamente situado e culturalmente determinado, na busca da emancipação

das camadas populares. Ele deve ser dinâmico e poroso. Giroux critica a teoria

educacional que separa a conceitualização, o planejamento e a organização

curricular dos processos de implementação e execução. Os professores são como

intelectuais, não sendo neutros, estruturam a natureza do discurso, as relações

sociais em sala de aula e os valores que eles legitimam em sua atividade de

ensino. Para o autor,

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ao encarar os professores como intelectuais, podemos elucidar a importante ideia que toda atividade humana envolve alguma forma de pensamento. [...] Esse ponto é crucial, pois ao argumentarmos que o uso da mente é a parte da atividade humana, nós dignificamos a capacidade humana de integrar o pensamento à prática [...]. (GIROUX, 1997, p. 161)

É preciso conhecer de fato os professores, adentrar em suas experiências,

ouvir suas vozes, a fim de transformar conhecimentos em práticas. Buscamos um

professor que investiga e produz para a sua área, seleciona livros, frequenta

seminários, congressos, cursos, na busca e socialização de novas práticas e

teorias, questionando e questionando-se. Articulando prática e teoria, ele investiga

a sua prática, levantando problemas, selecionando a metodologia de pesquisa,

validando ou refutando hipóteses, selecionando e fazendo leituras na busca da

fundamentação específica, registrando, analisando, propondo. Esse professor

leva o aluno a questionar, via diálogo, o que se aprende, valorizando ao máximo a

linguagem do aluno, respeitando as diferenças, explicitando-as e trabalhando com

elas. Essa concepção de professor esclarece que profissional precisamos ter para

a superação da realidade imposta.

Giroux defende o professor como intelectual da educação esclarecendo que

“o intelectual é mais do que uma pessoa das letras, ou um produtor e transmissor

de ideias. Os intelectuais são também mediadores, legitimadores e produtores de

ideias e práticas sociais; eles cumprem uma função de natureza eminentemente

política” (Ibidem, p. 186). Vai mais além quando afirma: “os intelectuais

transformadores podem fornecer a liderança moral, política e pedagógica” (Ibidem,

p. 187)

O coaching está diretamente ligado a esses conceitos, pois é um processo

que estimula o questionamento, a reflexão, a ação, o planejar e buscar

alternativas para o desenvolvimento pessoal e profissional, impactando de

maneira positiva na escola, na sala de aula e na sociedade indiretamente. O

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coração do processo é a geração de mudanças, a transformação de promessas

faladas para a realização das práticas. Nesta perspectiva, vale lembrar que

mudanças no ambiente escolar causam reações diversas dos atores educacionais

que vão da adesão até a resistência e estão ligadas ao significado que cada

indivíduo dá ao processo proposto ou implantado. Essas e outras são reações

comuns à mudança. Por sua vez, a mudança também possibilita falar da

realidade, confere autoridade, autoria e entusiasmo. Essas reações fazem parte

de um processo de coaching. Segundo Freire, toda mudança é possível.

O coaching trabalha ainda com a construção ou reconstrução da identidade

profissional de quem educa, que é marcada por escolhas, condutas, angústias,

desejos e outros afetos da história de vida de cada sujeito na travessia de

ser/estar no mundo; possibilita também, durante o processo, o ato de contar o que

já ocorreu; se feito com entrega, modifica a topografia emocional de quem

relembra; o calor do momento lembrado pode contaminar o presente, trazendo

esperança à desesperança, convertendo lágrimas em sorriso, resgatando a

vontade de transformar a realidade, trabalhando com técnicas que tragam

emoção, reforçando o rigor profissional da profissão e a importância da ação na

prática.

O coaching contribui para a mudança do olhar; possibilita aos coachees

olhares diferençados sobre temas importantes da educação: escola, currículo e

ser educador(a). Partindo desses pressupostos, vale enfatizar o argumento de

Giroux (1997, p. 20-21) que considera que “repensar e reestruturar a natureza do

trabalho docente é considerar os professores como intelectuais”. Devemos

também “considerar os professores como atores reflexivos” (Ibidem, p. 21). É

mudando o patamar de inércia ou de movimentos que já estão atuando e precisam

“alçar novos voos”, ganhar maiores proporções, que precisamos fazer emergir os

intelectuais transformadores; professores que repensem e reestruturem suas

práticas, os currículos, as escolas e questões da sociedade.

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Venho propor aqui uma reestruturação das práticas através do coaching;

que os professores possam utilizar as técnicas do processo dentro e fora da sala

de aula e que o coaching faça parte de uma nova estrutura curricular na formação

dos professores, seja ela inicial e/ou continuada, reestruturando assim a escola e

muitas questões que envolvem políticas públicas para a educação brasileira.

O coaching está muito atrelado à teoria de Giroux, pois trabalha todo o

tempo na análise e na reflexão das situações cotidianas e com o planejamento

enfatizando a prática do mesmo. Isso fica claro quando Giroux diz que “é possível

a elaboração de uma severa crítica àquelas ideologias que legitimam as práticas

sociais que separam, de um lado, contextualização, projeto e planejamento, e de

outro, os processos de implementação e execução” (1997, p. 21-22). Concordo

ainda com este autor quando ele aponta que a tarefa central é tornar o pedagógico

mais político e o político mais pedagógico, assim como pensa Freire, pensando

sempre em colocar o planejamento em ação e compreender qual a intenção que

subjaz aquela prática, aquele comportamento ou aquela mudança.

Ver o coaching futuramente como uma política pública retifica o que Giroux

aponta em uma de suas falas:

quando os professores entram no debate é para serem objetos de reformas educacionais [...] cumprindo ditames e objetivos decididos por especialistas um tanto afastados da realidade cotidiana da vida em sala de aula. (Ibidem, p. 157)

Logo, os professores se veem relegados a “tarefas instrumentais”, com

poucos espaços para práticas sociais de oposição, entremeados em teorias de

ensino padronizadas que se sustentam na falsa pretensão de que todos os alunos

possam aprender com os mesmos materiais e pelos mesmos procedimentos. Ao

invés de se renderem a essa forma de cooptação acadêmica e política, é

importante que os educadores compreendam claramente os elementos teóricos

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que dão significado ao papel do intelectual transformador e o tipo de teoria

educacional crítica na qual tal papel está fundamentado (GIROUX, 1997, p. 41).

Desta forma os professores estarão buscando entendimento e

questionamentos a respeito das formas contraditórias que o poder assume nos

espaços escolares e como a dinâmica da linguagem atua formalmente e de modo

oculto nos currículos, silenciando as pessoas. A emersão do intelectual

transformador se concretiza nesse âmbito, no enfrentamento das práticas

opressoras, na preparação dos estudantes para lutar por condições de vida mais

democráticas, na mudança de percepção pelos próprios professores e,

consequentemente, da sociedade em geral, do seu papel enquanto intelectuais

críticos e reflexivos. O coaching amplia o olhar do profissional, desenvolvendo

habilidades que promovem a mudança e estimulam a ação.

O processo de coaching trabalha ainda com a visão de futuro do educador,

tanto na dimensão profissional como na dimensão pessoal, alinhando as duas e

almejando, assim, uma visão realizável de futuro, trabalhando no presente para

que esta visão se efetive.

A linguagem da crítica une-se à linguagem da possibilidade quando indica as condições necessárias para novas formas de cultura, para práticas sociais alternativas, para novos modos de comunicação e para uma visão realizável do futuro. (Ibidem, p. 33-34)

O presente projeto, Coaching e a formação da consciência docente, tem

a intenção de ser trabalhado tanto na formação inicial dos profissionais da

educação, assim como dito anteriormente, como na formação continuada

desses profissionais. É uma nova ferramenta que vem para auxiliar os

profissionais da educação, tanto na dimensão pessoal como na profissional.

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A formação continuada consiste em ações de formação, como expressa

Libâneo (2001), realizadas dentro da jornada de trabalho e fora da jornada de

trabalho, sendo assim explicitada:

[...] dentro da jornada de trabalho (ajuda professores iniciantes, participação no projeto pedagógico da escola, entrevistas e reuniões de orientação pedagógica – didática, grupos de estudo, seminários, reuniões de trabalho para discutir a prática com colegas, pesquisas, mini-cursos de atualização, estudos de caso, conselhos de classe, programas de educação à distância etc.) e fora da jornada de trabalho (congressos, cursos, encontros, palestra). Ela se faz por meio de estudo, da reflexão, da discussão e da confrontação das experiências dos professores. É responsabilidade da instituição, mas também do próprio professor, porque o compromisso com a profissão requer que ele tome para si a responsabilidade com a própria formação. (Ibidem, p. 191)

Pensando nesta perspectiva, o coaching educacional entra para se efetivar

nessa proposta feita por Libâneo, pois proporciona exatamente o que ele propôs,

deixando clara a responsabilidade do próprio professor para que essas mudanças

sejam significativas; e deixa claro que ele também é responsável pelo seu próprio

desenvolvimento.

Em suma, a educação será mais plena quanto mais esteja sendo um ato de

conhecimento, um ato político, afirma Freire. O processo de coaching auxilia na

jornada de autoformação, de autoconhecimento, de descoberta da

intencionalidade, a qual subjaz as práticas, as atitudes e os comportamentos na

vida cotidiana do profissional da educação, ampliando caminhos e propondo cada

vez mais a ação-reflexão-ação.

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2. A construção da identidade docente

Segundo Rousseau (2004), o nosso verdadeiro estudo é o da condição

humana. Partindo deste pressuposto, venho propor neste item uma reflexão sobre

a importância do estudo da condição humana, mais especificamente no que diz

respeito à subjetividade do ser.

Morin (2003) enfatiza a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a

condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão. A partir do

momento em que analisamos a subjetividade do ser humano e realizamos um

trabalho com sua subjetividade, estamos promovendo o desenvolvimento pessoal

e profissional da pessoa, propondo-lhe o autoconhecimento e fazendo-a

compreender o que é ser um cidadão de verdade, expondo suas opiniões e tendo

consciência de seus direitos e deveres.

Quando se pensa em realizar um trabalho de coaching é imprescindível

pensar também no trabalho com a subjetividade do ser humano, pois, para que

haja o desenvolvimento pessoal, devem-se trabalhar técnicas que promovam o

autoconhecimento, refletindo sobre a pessoa enquanto ser humano, seus desejos,

pontos fortes, fracos, seus sonhos e suas paixões (reflexão sobre a história de

vida, sobre a individualidade do ser).

Na esfera individual, existe unidade/diversidade genética. Todo ser

humano traz geneticamente em si a espécie humana e compreende geneticamente a própria singularidade anatômica, fisiológica. Há unidade/diversidade cerebral, mental, psicológica,

afetiva, intelectual, subjetiva: todo ser humano carrega, de modo cerebral, mental, psicológico, afetivo, intelectual e subjetivo, os caracteres fundamentalmente comuns e ao mesmo tempo possui as próprias singularidades cerebrais, mentais, psicológicas, afetivas, intelectuais, subjetivas. (Idem, 2000, p. 56)

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Como dizia Platão, há uma condição indispensável a todo ensino: o eros,

que é, a um só tempo, desejo, prazer e amor; desejo e prazer de transmitir, amor

pelo conhecimento e amor pelos alunos, por seu trabalho, por sua vida. O

presente estudo pretende resgatar este amor, este desejo proposto por Platão e

relembrado por Morin, resgatando a missão de vida do professor através do

trabalho com a subjetividade, dentro do processo do coaching. O eros permite

dominar a fruição ligada ao poder, em benefício da fruição ligada à doação. É isso

que, antes de tudo o mais, pode despertar o desejo, o prazer e o amor no/do

professor (MORIN, 2003).

O processo de coaching traz uma concepção do professor enquanto sujeito,

protagonista de sua vida pessoal e profissional, em concordância com o que diz

Morin (Ibidem): o que realmente precisamos hoje é de uma concepção completa

do sujeito.

Para Casali (2007, p. 16), a construção da subjetividade do professor deve

coincidir com a construção da sua profissionalidade e vice-versa. O sujeito deve

reconhecer-se a si mesmo.

Compreender a subjetividade do professor significa buscar como o

professor se constitui enquanto ser humano, suas crenças, valores, saberes,

experiências, desejos e sonhos; é compreender como o professor se constitui e

como o docente constrói o seu saber e a sua prática pedagógica e o quanto isto

interfere na vida de seus educandos.

Atualmente, grande parte das pesquisas que investigam a formação da

identidade docente está atrelada à teoria e prática do professor, está relacionado

com o processo histórico da educação, à análise dos currículos das universidades,

entre outros temas, que, de certa forma, não se aprofundam na construção da

identidade a partir de sua subjetividade. Muitas delas até citam a importância de

se olhar para o professor como uma pessoa, de se trabalhar com o lado pessoal e

profissional do professor, porém não descrevem como deve ser o trabalho ou por

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onde iniciar o mesmo com os educadores. A subjetividade é, muitas vezes,

deixada de lado no seu fazer pedagógico diário. O processo de coaching vem com

a proposta de trabalhar com a subjetividade do educador; buscar as significações

atribuídas às suas práticas.

No Brasil, a partir da década de 1990, proliferam os estudos e pesquisas

sobre a subjetividade e o imaginário social. Esses estudos enfocam a figura do

professor como centro do processo identificador da profissão docente, desvelando

as crenças e representações que cercam o fazer pedagógico na sala de aula

(NÓVOA, 1995a; 1995b).

Desvelar a subjetividade do ser significa que cada indivíduo é uma síntese

individualizada e ativa de uma sociedade, uma reapropriação singular do universo

social, histórico e subjetivo que o envolve (FERRAROTTI, 1983).

Nóvoa é um dos autores que ressalta a importância desse trabalho com a

subjetividade do professor, enfatizando o trabalho com as dimensões pessoais e

profissionais. O autor nos traz os “três As”:

- A de Adesão, porque ser professor implica sempre a adesão de

valores, a adoção de projetos, um investimento nas potencialidades das crianças e dos jovens. - A de Ação, porque também aqui, na escolha das melhores

maneiras de agir, se jogam decisões do foro profissional e do foro pessoal. Todos sabemos que certas técnicas e métodos “colam” melhor com a nossa maneira de ser do que outros. Todos sabemos que o sucesso ou insucesso de certas experiências “marca” a nossa postura pedagógica, fazendo-nos sentir bem ou mal com esta ou aquela maneira de trabalhar na sala de aula. - A de Autoconsciência, porque em última análise tudo se decide

no processo de reflexão que o professor leva a cabo sobre a sua própria ação. É uma dimensão decisiva na profissão docente, na medida em que a mudança e a inovação pedagógica estão intimamente dependentes deste pensamento reflexivo. (NÓVOA, 1995b, p. 16)

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Nóvoa afirma que é impossível separar o eu pessoal do eu profissional,

reforçando ainda mais a importância de se realizar um trabalho efetivo com a

subjetividade do professor, de olhar para o educador enquanto ser humano

integral.

O processo de coaching tem como um de seus objetivos principais

trabalhar de forma efetiva com elementos subjetivos dos professores. A dimensão

subjetiva do indivíduo não só faz parte de um processo de constituição individual

como também se constrói na coletividade, pois, a partir desse trabalho, o sujeito é

capaz de questionar a si e ao mundo de forma consciente, buscando a reflexão

permanente do professor enquanto sujeito, ser humano. Para Nóvoa, a formação

de professores se desenrola a partir de uma determinada visão docente. Para ele,

[...] a formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas) mas sim através de um trabalho de reflexidade crítica sobre as práticas e de (re) construção permanente de uma identidade pessoal [...] investir na pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência. (1995b, p. 25)

A importância da subjetividade está claramente descrita nos trabalhos e

pesquisas de Nóvoa (1995a; 1995b). Este trabalho permite ao educador explorar

seus limites e possibilidades de forma prática e imediata, ampliando a visão de

sua prática, do sujeito-professor enquanto protagonista não só na sua vida

profissional e pessoal como na sua vida social.

Cortella (2011) defende a mesma ideia de Nóvoa (2009): da impossibilidade

de separar vida pessoal de profissional, pois o trabalho faz parte da vida; o ser

humano é integral; é uma pessoa cuja vida tem diferentes dimensões, sendo uma

delas a profissional, mas estas dimensões estão interligadas quando abordamos a

questão do desenvolvimento do ser humano.

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Compreende-se no presente estudo que o trabalho com a subjetividade do

professor é de fundamental importância. Procurei, nesta pesquisa, enxergar o

professor como ser humano integral, demonstrando a necessidade de um olhar

especial para seu desenvolvimento enquanto ser humano e suas diversas

dimensões.

As considerações realizadas aqui neste texto promovem a valorização do

professor enquanto ser humano e ressaltam a importância de se trabalhar a sua

dimensão pessoal e profissional, resgatando a sua profissionalidade como

educador, promovendo seu autoconhecimento e valorizando sua subjetividade.

Enquanto seres humanos, somos incompletude, convivemos

permanentemente com a falta. Falta que nasce do desejo, que vem atrelada ao

sonho, que está interligada com nossos desafios e limites, questões estas que

reafirmam ainda mais a importância da subjetividade na formação do professor.

Madalena Freire (2008) afirma que, enquanto seres humanos, “somos

inteirezas” e, ao mesmo tempo, seres inacabados. Inteireza marcada por

dimensões que nos constitui numa totalidade. Esse movimento de auxiliar o

professor a compreender a ligação entre essas dimensões que o constituem sua

totalidade poderá ajudá-lo a ir além de sua prática educativa, resgatando sua

história de vida, compreendendo seus valores, crenças e construindo ou

reconstruindo sua identidade.

Compreender a subjetividade do professor é entender como o professor se

constitui; é buscar as significações atribuídas às suas práticas, aos fatos, aos

saberes, aos desejos, às crenças, aos valores com os quais o docente constrói

seu fazer pedagógico e como ele se constitui enquanto ser humano integral.

A subjetividade é algo muito complexo. É ver o homem compreendido como

sujeito, sendo capaz de questionar a si mesmo e ao mundo, ampliando sua

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capacidade de reflexão e exercendo a criticidade nas diversas dimensões que

constituem o homem.

Para Nóvoa (1995a), assim como citado anteriormente, o professor se

constitui através da reflexão crítica, construindo e reconstruindo de forma

permanente sua identidade.

Acredito que, a partir dessas reflexões, podem-se colocar os estudos sobre

a subjetividade do professor no centro de nossas preocupações enquanto

pesquisadores, educadores e formadores, pois a partir dela poderemos

possivelmente garantir um ensino de melhor qualidade, a partir da reflexão crítica

e de um desenvolvimento integral do docente na construção de sua identidade.

3. Coaching e a formação dos professores

Este capítulo tem como propósito contribuir para a discussão sobre o

coaching e a formação dos professores, com foco em questões que envolvem a

reflexão dos saberes docentes, a construção da identidade do professor e sua

profissionalidade. Os desafios impostos pela complexidade da temática exigiram

uma literatura com autores que dialogam de maneira crítica e profunda com esta

abordagem. Assim, procuramos sustentação em autores como Nóvoa (1995a,

1995b, 2007, 2009); Assmann (1998), Paulo Freire (1985, 1996, 2005, 2010) e

Ciampa (1987, 2002).

Adentrar nas diferentes dimensões que envolvem a formação docente é

uma tarefa complexa, desafiadora e instigante. A presente pesquisa tem a

intenção de discutir algumas dessas dimensões, relacionando-as com a

importância do coaching na e para a formação docente.

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Os desafios educacionais atuais não podem ser resolvidos apenas na

escola e somente com a formação dos professores; devem ser abordados por

políticas públicas que atinjam a família, os alunos, os professores, enfim, a

sociedade. (ARANTES, 2009)

Casali (2010) afirmava durante, as suas aulas no Programa de Educação:

Currículo, na disciplina Educação Brasileira, a importância de se criar políticas

públicas funcionais na e para a educação de maneira realmente efetiva e que

garanta a qualidade não só da aprendizagem dos alunos, como a qualidade da

formação desses professores.

Chizzotti (2011), também durantes as suas aulas no mesmo Programa de

Educação: Currículo, na disciplina Políticas Públicas e Reformas Curriculares

Educacionais, enfatizava a necessidade de uma política pública eficiente,

garantindo acesso e qualidade da educação, além de valorização do profissional

docente, numa perspectiva crítico-reflexiva; abordava ainda a necessidade de um

currículo emancipador e de reformas curriculares atreladas às políticas públicas.

Concordo com os autores e quero deixar claro que não temos a intenção de

que o coaching substitua uma política pública de qualidade e nem que venha inibir

a posição política dos educadores. Pelo contrário, tem a intenção de dar voz aos

professores e olhar para a subjetividade dos mesmos, buscando relacionar sua

dimensão pessoal com a profissional, pensando numa formação permanente do

professor que atenda realmente às suas necessidades. Nóvoa afirma que

grande parte dos programas de formação tem-se revelado de grande inutilidade, servindo apenas para complicar um cotidiano docente. A concepção da Educação Permanente obriga-nos a pensar ao contrário, construindo os dispositivos de formação a partir das necessidades das pessoas e da profissão, investindo na construção de redes de trabalho coletivo que sejam o suporte de práticas de formação baseadas na partilha e no diálogo profissional. (2009, p. 27)

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Segundo Arantes (2009), nenhuma profissão tem sido tão questionada no

país como a profissão docente, principalmente por conta dos resultados

educacionais aferidos por diferentes sistemas avaliativos que têm indicado

insuficiência na aprendizagem dos alunos. E os professores e seu preparo

profissional têm sido colocados em cheque, mais do que qualquer fator.

Cortella (2009) ressalta que a educação está em crise e que esta crise tem

suas raízes estruturais históricas e se manifestam de diversas formas, sendo um

dos motivos o despreparo dos educadores, entre outros tantos.

Assmann (1998) afirma ainda que as lutas pela revalorização e

redignificação, salarial e profissional, dos docentes adquiriu tal prioridade que

muitos já nem se lembram mais de ancorá-la também ao reencantamento do

cerne pedagógico da experiência educacional.

Nóvoa (1995b, p. 25) diz que “o aprender contínuo é essencial e se

concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar

de crescimento profissional permanente”. Para este estudioso português, a

formação continuada se dá de maneira coletiva e depende da experiência e da

reflexão como instrumentos contínuos de análise.

O coaching tem o propósito de trazer à tona as questões citadas pelos

autores acima, em especial quando se fala em resgatar o encantamento da

profissão, de ser parte de um processo de construção e reconstrução da

identidade do professor, tornando-o agente do processo que deve acontecer

dentro da escola, proporcionando reflexão contínua sobre as práticas, crenças,

valores e atitudes presentes na profissão docente. Uma formação que se dá

concomitantemente com a prática profissional, através da reflexão individual e

coletiva sobre o “ser professor”, ou seja, o professor em sua totalidade, baseado

em suas experiências pessoais e profissionais, em sua trajetória de vida, fazendo

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com que o mesmo esteja em constante transformação e desenvolvimento,

contribuindo para a construção de uma política de identidade dentro do seu

espaço de atuação, considerando sempre sua atuação fora dela, onde o ser

professor também assume diversos personagens, como, por exemplo: mulher,

esposa, mãe, filha, irmã, tia, madrinha, amiga etc. Esta visão de totalidade do

professor e de transformação constante é reforçada por dois autores de base para

o presente estudo: Nóvoa (1995a, 1995b, 2009) e Ciampa (1987, 2002).

Nóvoa (2009) afirma que o trabalho dos professores precisa ser imaginado

a partir de uma nova formação, das práticas, do associativismo e de um novo

entendimento das políticas educacionais, entendida não como um conjunto de

micro competências adicionadas, mas como uma realidade que privilegia a todo

um sistema, onde se valorizam conhecimentos, capacidades, atitudes, níveis de

adequação de intenções, todos expressos num conjunto de relações interpessoais

e institucionais que determinam o exercício adequado da profissão.

Ciampa (1987) ressalta a importância de uma política de identidade que

garanta a emancipação do sujeito, que priorize o desenvolvimento do ser humano,

tanto em sua individualidade como em suas relações coletivas, promovendo, desta

forma, transformações sociais emancipatórias. Segundo o autor, a emancipação

está atrelada ao movimento emancipatório. Esse movimento está ligado à

metamorfose, conceito proposto por ele que explica a construção da identidade,

onde o indivíduo está em constante transformação. A identidade é compreendida

como um processo social, histórico e natural, que ocorre desde o nascimento até a

sua morte. Ele traz em seus conceitos a compreensão da relação dialética que se

dá entre o sujeito e a sociedade, por isso, reforça a ideia de construção da

identidade do ser humano como movimento dinâmico de metamorfoses

constantes.

O coaching pressupõe a humanização e, com isso, tem a intenção de

construir uma política de identidade humanizadora e democrática que tenha como

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objetivo principal garantir direitos igualitários e o desenvolvimento do professor em

sua dimensão pessoal e profissional.

O coaching corrobora com o conceito de Ciampa (1987), pois o indivíduo

realiza durante o processo uma reflexão sobre sua trajetória de vida, que é

constituída historicamente num conjunto de relações sociais, pressupondo nesse

processo de construção e/ou reconstrução da identidade do coachee, a

emancipação do indivíduo. A emancipação é proposta pelo autor como parte

integrante desse processo, entendendo a identidade como metamorfose.

Segundo Ciampa (Ibidem, p. 14), “a identidade constitui-se num tema

apaixonante, desafiante e pertinente. Onde houver gente, haverá questão de

identidade”. Para ele, as identidades constituem a sociedade e vice-versa, pois

somos seres históricos sociais. Afirma que o ser humano não nasce humano e,

sim, nasce humanizável, através de um processo que se dá por meio da

socialização.

Arroyo (2000) endossa as palavras de Ciampa, pois reafirma que educar é

humanizar, é situar o olhar no desenvolvimento humano, é fazer parte de uma

realidade histórica. Também para Arroyo, não nascemos humanos e, sim, nos

fazemos humanos. Para ele, a nossa história, enquanto construção social e

cultural, está diretamente ligada à trajetória profissional dos indivíduos, dos

saberes e ofícios envolvidos nessa trajetória.

Arroyo (Ibidem, p. 18) ressalta ainda que “[...] educar incorpora as marcas

de um ofício e de uma arte, aprendida nos diálogos das gerações. O magistério

incorpora perícias e saberes aprendidos pela espécie humana ao longo de sua

formação”.

Paulo Freire, em suas obras, também reforça a ideia dos autores já citados,

pois acredita que o ser humano deve estar em constante busca pela

transformação, também numa perspectiva dialética, pressupondo uma interação

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no mundo em que vive. Baseado sempre na problematização e na ação-reflexão-

ação das experiências vivenciadas no cotidiano, enfatizando uma metodologia que

prioriza a criticidade e o olhar para o ser humano. Para Freire,

[...] não há homens sem mundo, sem realidade, o movimento parte das relações homem-mundo. Daí que este ponto de partida esteja sempre nos homens no aqui e no seu agora, que constituem a situação em que se encontram ora imersos, ora emersos, ora insertados [...]. (2005, p. 85)

A partir de tais reflexões pode-se afirmar que é imprescindível, na

construção da identidade do profissional docente, conhecer sua trajetória de vida,

suas experiências, a realidade na qual está inserido, para que haja a

transformação da mesma, baseada sempre numa perspectiva crítica e

emancipatória do sujeito, de forma que garanta seu desenvolvimento integral.

Seguindo ainda nesta linha de pensamento, venho propor uma discussão

sobre uma formação da identidade docente, especificamente na visão de Nóvoa

(2009), que resgata em seus estudos mais recentes os novos paradigmas da

educação: o professor em desenvolvimento profissional, o professor reflexivo e o

professor investigador, pesquisador, reafirmando a ideia de Freire de que não

existe ensino sem pesquisa e vice-versa (FREIRE, 1996). Nóvoa afirma que

avançamos muito no que diz respeito ao ponto de vista teórico, mas ainda falta

muita pesquisa e efetivação das mesmas do ponto de vista prático, ressaltando

que práticas pedagógicas progressivas são muito difíceis de encontrar,

enfatizando a importância de uma escola e de uma formação de professores e

educandos comprometidas, do ponto de vista global e político.

Em seus estudos mais recentes, Nóvoa (2009) propõe uma perspectiva

bem diferente de formação dos professores a partir de quatro dimensões:

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A partir de dentro

Conhecimento Docente

Redes e Partilhas

Espaço Político de Educação

A dimensão a partir de dentro vem para reforçar a ideia de que precisamos

passar a formação de professores para dentro da profissão, isto é, quem deve

formar professores deveriam ser professores com experiência na docência, assim

como quem forma os médicos são os médicos, quem forma engenheiros são

engenheiros e assim por diante. Formar professor, atualmente, e infelizmente,

ainda é algo exclusivamente teórico. Temos que tornar a formação prática,

trazendo uma formação que venha de dentro das escolas, de dentro do espaço

vital dos professores, revivendo, desta maneira, a profissão docente, reafirmando

a ideia de passar a formação do professor para dentro da profissão docente,

assim como acontece com outras áreas do conhecimento e outras profissões,

trazendo à tona a importância da relação teoria e prática. Nóvoa (2009, p.19)

afirma: “trata-se sim de afirmar que as nossas propostas teóricas só fazem sentido

se forem construídas dentro da profissão, se forem apropriadas a partir de uma

reflexão dos professores sobre seu próprio trabalho”.

A dimensão conhecimento do professor traz um conceito de que o

importante não é transformar o conhecimento em prática e, sim, a prática em

conhecimento profissional docente, conceito que resgata também as concepções

de Dewey e Freire, já citadas nesta pesquisa. A experiência, por si só, pode ser

uma forma de rotina reprodutiva, o que faz da experiência um conhecimento

prático é a reflexão sobre a mesma, revelando, desta forma, toda a complexidade

do ato de ensinar. Nóvoa (Ibidem, p. 28) diz: “os professores têm de se assumir

como produtores da sua profissão”.

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O desenvolvimento profissional corresponde ao curso superior somado ao conhecimento acumulado ao longo da vida. Uma boa graduação é necessária, mas não basta, é essencial atualizar-se sempre, isso remete a necessidade da formação continuada no processo da atuação profissional, ou seja, há a necessidade da construção do saber, no processo de atuação profissional. (NÓVOA, 2009, p. 28)

Desta forma, o autor também resgata a concepção de Schön (2000), que

identifica nos bons profissionais uma brilhante combinação de ciência, técnica e

arte. É esta dinâmica que possibilita ao professor agir em contextos instáveis

como o da sala de aula. O processo é essencialmente metacognitivo, em que o

professor dialoga com a realidade que lhe fala, em reflexão permanente. Os bons

profissionais lançam mão de uma série de estratégias não planejadas, cheias de

criatividade, para resolver problemas no dia a dia.

Trata-se de construir um conhecimento pessoal (um auto-conhecimento) no interior do conhecimento profissional e de captar o sentido de uma profissão que não cabe apenas numa matriz técnica ou científica. Toca-se aqui em qualquer coisa de indefinível, mas que está no cerne da identidade profissional docente. (NÓVOA, 2009, p. 22)

Segundo o autor, é através da autoformação, na teoria da pessoalidade

construída no cerne da profissionalidade, que o professor vivencia diferentes

experiências, aprendendo ao longo de sua vida pessoal e profissional. Desta

forma o coaching vem corroborar com a visão de Nóvoa, pois promove o

desenvolvimento e evidencia ações concretas e pontuais no cotidiano do docente.

Trazer o desenvolvimento para o coração da profissão, que é o trabalho

pedagógico da escola, faz com que alarguemos o espaço vital do professor,

combatendo a dispersão docente e propondo uma profissão com uma visão mais

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focada, pois o verdadeiro desenvolvimento do professor vem a partir da cultura

profissional, da integração do professor na escola e de suas práticas pedagógicas.

É preciso organizar programas de desenvolvimento profissional docente no

interior da escola, trazendo uma nova proposta para a formação dos professores,

uma formação mais consciente da importância da profissão e do

comprometimento com a mesma.

Nóvoa (2009) propõe a ideia de haver a fusão entre os espaços

acadêmicos e a escola, onde professores e formadores estejam integrados,

criando uma mesma realidade educacional.

Na terceira dimensão o autor ressalta a importância das redes e partilhas,

mostrando os conflitos existentes na profissão como os processos de

burocratização, as grandes demandas da escola e a multiplicação das tarefas do

professor juntamente com a cobrança de resultado dos mesmos. Nóvoa (Ibidem)

propõe, neste item, o resgate das lógicas de cooperação de partilha dos

professores, o trabalho em equipe. Construir uma cultura profissional coletiva,

integrar mais os jovens docentes à profissão.

A última dimensão é a criação de um espaço político de educação onde

haja um novo contrato social em torno da educação, onde os professores tenham

voz política e pública, reforçando a presença pessoal e pública dos docentes,

repensando-se as políticas públicas educacionais. Segundo o autor,

há uma ausência dos professores, uma espécie de silêncio de uma profissão que perdeu visibilidade no espaço público. Hoje, impõe-se uma abertura dos professores para o exterior. Comunicar com a sociedade é também responder perante a sociedade. Possivelmente, a profissão tornar-se-á mais vulnerável, mas esta é a condição necessária para a afirmação do seu prestígio e do seu estatuto social. Nas sociedades contemporâneas, a força de uma profissão define-se, em grande parte, pela sua capacidade de comunicação com o público. (Ibidem, p. 23-24)

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Por fim, analisando todas essas dimensões propostas por Nóvoa, com base

em concepções de teóricos também renomados em educação, quero aqui reforçar

a importância do processo de coaching para que tais dimensões sejam realmente

efetivadas na educação, pois o coaching possibilita um espaço de reflexão para e

do professor dentro da escola, promove o desenvolvimento profissional e pessoal,

o trabalho em equipe, reforça vínculos, proporciona o compartilhar das práticas e

das experiências vivenciadas a partir de um olhar crítico e reflexivo sobre as

mesmas, dá voz aos professores, possibilitando autonomia e buscando a

emancipação dos docentes, dando voz aos mesmos e visibilidade na sociedade.

Acredito que os impactos do processo contribuem para uma educação de

qualidade e que, futuramente, o coaching poderá ser encarado como uma política

pública e/ou uma política de identidade que reforça a importância da profissão

para a sociedade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação vem fortalecer as reflexões sobre a profissionalidade

docente, que aqui se entende como uma relação entre a dimensão pessoal e

profissional do sujeito, e afirmar que o coaching é uma ferramenta para o

desenvolvimento da formação da consciência docente, assim como também

contribui diretamente para a melhoria da relação professor-aluno e

consequentemente da prática educativa. Assim sendo, cabe afirmar uma intenção

maior de futuramente o coaching vir a ser utilizado como uma importante

ferramenta para as Políticas de Identidade, como uma Política Pública, estratégia

esta que se abre para novas investigações na área, pois no momento é apenas

uma intenção baseada nos resultados positivos apresentados na análise dos

dados da presente pesquisa.

O tema aqui abordado, portanto, é uma iniciativa de se trazer algo novo

para a Educação, resgatando alguns princípios educacionais antigos descritos

desde Rousseau, Dewey e Vygotsky, realizando um diálogo com autores como

Freire, Nóvoa e os teóricos do coaching propriamente dito. O tema é inacabado,

isto é, não se fecha, nem exclui outras discussões que envolvam a mesma

temática, pois permite diversos desdobramentos, dado tratar-se de questão com

enorme complexidade.

Juntamente com os sujeitos da pesquisa propus-me a olhar atentamente

para a subjetividade do professor, direcionando a atenção para suas crenças,

valores, desejos, missão de vida, visão de futuro e correlacionando-as

simultaneamente com as duas dimensões fundamentais do ser humano: a pessoal

e a profissional, aqui entendidas como indissociáveis. As respostas aqui dadas

demonstram que a profissão docente deve ser desempenhada com competências

técnicas, ressaltando a responsabilidade e o compromisso no exercício da

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profissão. Fica claro que não se aborda Educação sem abordar a questão da

identidade dos seus sujeitos; ambas as questões se interligam.

Constatei que o coaching teve um impacto positivo na dimensão pessoal e

profissional dos sujeitos de pesquisa. Consegui observar algumas crenças

presentes no cotidiano dos sujeitos de pesquisa e ressignificá-las, promovendo

dessa maneira o seu autoconhecimento e, por consequência, novas ações que

contribuíram para suas respectivas práticas dentro e fora da sala de aula.

Possibilitou-se desta forma, um olhar mais atento sobre as pessoas ao redor dos

sujeitos pesquisados, em especial, sobre os alunos e colegas de trabalho.

Os vínculos foram fortalecidos entre os professores, contribuindo para um

melhor trabalho em equipe e minimizando alguns problemas de comunicação

entre eles. A compreensão por parte dos sujeitos da importância do trabalho em

equipe, das trocas de experiências, também corroboram o sucesso da presente

pesquisa, minimizando alguns dos problemas citados no início deste estudo,

fazendo com que os sujeitos administrassem melhor seu tempo e olhassem de

forma mais atenta para seus alunos, o que condiz com a hipótese utilizada neste

trabalho: “se houvesse um trabalho com a subjetividade do professor, um olhar

direcionado para o educador na sua dimensão pessoal e profissional, através do

coaching, o problema apresentado seria minimizado e muitos gaps nesta relação

professor-escola-aluno estariam solucionados”. Observou-se que quando se olha

para a dimensão pessoal do professor, esta reflete diretamente na sua dimensão

profissional, pois elas estão interligadas. A partir dessa conclusão podemos ainda

assumir que o objetivo do estudo foi contemplado.

Cabe ainda evidenciar que a presente pesquisa veio colaborar de forma

direta para a questão da produção identitária do profissional docente,

demonstrando que o trabalho com a profissionalidade do professor dentro da

escola, como elucida Nóvoa (2009), surte efeito transformador não só na sua

realidade profissional, como na sua dimensão pessoal. O trabalho possibilitou,

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assim, o alinhamento de valores pessoais com os profissionais, a compreensão

das crenças que os impulsionam e das que os limitam, trazendo novos

significados às mesmas, promovendo desta forma o desenvolvimento integral do

sujeito.

As questões de pesquisa também foram suficientemente respondidas.

Constatou-se a importância do coaching para a formação da consciência docente,

que aqui foi compreendida como compromisso e responsabilidade com a

profissão. Constatou-se igualmente a contribuição direta possível do coaching

para a construção da identidade docente, partindo dos pressupostos teóricos de

Ciampa (1987), reafirmando que a identidade é um processo inacabado, histórico,

social e em constante metamorfose.

Concluiu-se que é fundamental que se mantenha a integridade tanto da

dimensão pessoal como da dimensão profissional do professor, para que dessa

maneira se garanta a integralidade de ambas. A integração das duas dimensões

sem a redução de uma em detrimento da outra possibilita uma prática pedagógica

bem próxima do ideal, isto é, uma prática integral, com consciência docente, que

aqui foi compreendida como compromisso e responsabilidade, considerando-se

que o professor é uma pessoa, e nela essas duas dimensões devem atuar como

unidade para que não haja o desequilíbrio na vida desse professor.

Finalizo este estudo com a certeza de que há muito para ser discutido e

feito sobre a temática do aprimoramento da formação docente em geral. Tenho a

convicção de que há um longo caminho a ser percorrido para que o coaching seja

realmente inserido na educação, especificamente no campo da formação docente,

promovendo desenvolvimento humano e mais emancipação dos profissionais

docentes. Ou seja, por meio da presente pesquisa esclareço o que é o coaching e

quão positiva pode ser sua utilização inovadora e transformadora na Educação

Brasileira.

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148

Por fim, espero que este trabalho contribua com os estudos voltados para a

formação da Consciência e Identidade Docente, resgatando o brilho no olhar de

cada professor e propiciando olhares futuros para aqueles que têm a paixão pela

educação e pretendem realizar estudos nesta área tão fascinante.

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APÊNDICES

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Apêndice A

Relação de Documentos Apresentados ao Programa de Pós-Graduação em

Educação: Currículo junto ao Comitê de Ética

Ofício de Apresentação do Projeto de Pesquisa ao CEP – Sede

Campus Monte Alegre da PUC-SP

Formulário Folha de Rosto

Termo de Livre de Consentimento Livre e Esclarecido

Termo de Compromisso do Pesquisador Responsável

Projeto de Pesquisa em Português. Trata-se do projeto de pesquisa

científico propriamente dito, apresentado na estrutura que habitualmente

compõem um plano de pesquisa.

Currículo Lattes

Parecer Consubstanciado

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Apêndice B

QUESTIONÁRIO FORMAL

NOME:

IDADE:

FORMACÃO (GRADUAÇÃO, PÓS – GRADUAÇÃO) :

RELIGIÃO:

FILHOS:

ESTADO CIVIL:

NATURAL DE:

TEMPO DE MAGISTÉRIO:

TEMPO NO COLÉGIO UNIDADE JARDIM:

PERÍODO QUE TRABALHA NO COLÉGIO UNIDADE JARDIM:

TRABALHA EM OUTRO LUGAR _______ ONDE _______

EXPECTATIVAS COM O TRABALHO DE COACHING:

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Apêndice C

JOGO RÁPIDO

O QUE MAIS ME MOTIVA NO TRABALHO É .....

O QUE MAIS ME INCOMODA NO TRABALHO É.....

SE VOCÊ TIVESSE O PODER DE MUDAR O QUE MAIS TE INCOMODA NO

TRABALHO, QUAL SERIA O PRIMEIRO PASSO PARA A MUDANÇA

MUDAR É ...

SER PROFESSOR É ...

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Apêndice D

TAREFA 1:

1) O que está incompleto na sua vida?

2) O que você gostaria de fazer em sua vida para se considerar

completamente realizada?

3) O que gostaria de aprender na sua vida?

4) Faça uma lista. O que você faria se tivesse apenas mais 6 meses de vida ?

5) Qual foi o livro/filme mais inspirador que você já leu/viu?

6) Quais são as coisas mais importantes de sua vida?

7) Imagine seu enterro. Três pessoas aparecem para te elogiar: uma da

família, uma do seu ambiente profissional e outra um grande amigo seu.

Quem são essas pessoas e o que dizem sobre você e sobre sua vida?

8) Se você tivesse todo o dinheiro que necessita, o que mudaria na sua vida e

o que não mudaria?

9) Liste o que mais te dá energia em sua vida e o que mais te tira energia.

10)Qual é o seu propósito de vida?Qual o motivo de você estar vivo neste

planeta?Qual é o seu legado?Qual o impacto que você causa nas pessoas

que estão ao seu redor e no Universo como um todo?

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Apêndice E

RODA DA VIDA

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Apêndice F

LINHA DO TEMPO

FAÇA DUAS LINHAS DO TEMPO DE FORMA PARALELA, UMA PROFISSIONAL

E UMA PESSOAL, COM PONTOS MARCANTES DE SUA VIDA. DE SEU

NASCIMENTO ATÉ O ANO DE 2021.