PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas...

167
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP AMARI GOULART UM ESTUDO SOBRE A ABORDAGEM DOS CONTEÚDOS ESTATÍSTICOS EM CURSOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA: UMA PROPOSTA SOB A ÓTICA DA ECOLOGIA DO DIDÁTICO DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA São Paulo 2015

Transcript of PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas...

Page 1: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

AMARI GOULART

UM ESTUDO SOBRE A ABORDAGEM DOS CONTEÚDOS ESTATÍSTICOS

EM CURSOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA: UMA PROPOSTA

SOB A ÓTICA DA ECOLOGIA DO DIDÁTICO

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

São Paulo

2015

Page 2: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada
Page 3: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

AMARI GOULART

UM ESTUDO SOBRE A ABORDAGEM DOS CONTEÚDOS ESTATÍSTICOS

EM CURSOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA: UMA PROPOSTA

SOB A ÓTICA DA ECOLOGIA DO DIDÁTICO

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, como exigência

parcial para a obtenção do Título de DOUTOR EM

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a orientação da

Professora Doutora Cileda de Queiroz e Silva Coutinho

São Paulo

2015

Page 4: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada
Page 5: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

Banca Examinadora

_______________________________________________

_______________________________________________

_______________________________________________

_______________________________________________

_______________________________________________

Page 6: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou

parcial desta Tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: ________________________________Local e Data: _______________

Page 7: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

A todos os professores e professoras de Matemática que, apesar de todas as

dificuldades impostas, continuam diuturnamente em sala de aula trabalhando

arduamente para o aprimoramento do conhecimento matemático e estatístico de seus

alunos. A estes heróis e heroínas anônimos(as), dedico este trabalho.

Page 8: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada
Page 9: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

AGRADECIMENTOS

Finalizar uma tese de doutorado é, em parte, finalizar uma trajetória, e não caberia em

poucas páginas a lista de pessoas que me influenciaram neste longo caminho. Portanto,

agradeço a todos os familiares, amigos, professores e alunos que, de alguma forma,

contribuíram nesta jornada.

Agradeço, em particular,

a minha orientadora, Cileda de Queiroz e silva Coutinho, pelo incentivo, paciência,

prontidão e dedicação;

aos membros da banca do exame de qualificação: Profa. Dra. Adair Mendes Nacarato,

Prof. Dr. Fumikazu Sato, Prof. Dr. Marcos Nascimento Magalhães e Profa. Dra. Silvia

Dias de Alcântara Machado, por suas colaborações e sugestões, que deram um norte a

este trabalho;

à CAPES, por financiar parte deste trabalho;

ao IFSP, pelo apoio a nosso trabalho.

Page 10: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada
Page 11: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

RESUMO

Esta pesquisa teve por objetivo determinar as relações que podemos estabelecer entre o

ensino de Estatística na Educação Básica e o Ensino de Estatística nos cursos de

Licenciatura em Matemática, visando potencializar a formação de professores para o

Letramento Estatístico. Utilizando como base teórica a Teoria Antropológica do

Didático (TAD) e sua perspectiva Ecológica, formulamos, por hipótese, dois

ecossistemas: o ecossistema do Ensino de Matemática na Educação Básica e o

ecossistema do curso de Licenciatura em Matemática. Para verificar se esses

ecossistemas potencializam o desenvolvimento do Letramento Estatístico, foram

analisados os seguintes documentos: os PCN de terceiro e quarto ciclos do Ensino

Fundamental (Matemática), os PCN do Ensino Médio (Ciências da Natureza,

Matemática e suas Tecnologias), os PCN+ (Ciências da Natureza, Matemática e suas

Tecnologias), as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (Ciências da Natureza,

Matemática e suas Tecnologias), as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de

Matemática, Bacharelado e Licenciatura (DCN-BL) e as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em Nível Superior,

Curso de Licenciatura, de graduação plena (DCN-FP), bem como os seguintes exames

de larga escala: SAEB, Prova Brasil, ENEM e ENADE e também duas coleções de

livros didáticos aprovadas pelo PNLD e destinadas à Educação Básica. A partir das

análises dos documentos, concluímos que nenhum desses ecossistemas potencializa o

desenvolvimento do Letramento Estatístico. Não foram encontradas relações que

possam ser estabelecidas entre o ensino de Estatística na Educação Básica e o Ensino de

Estatística nos cursos de Licenciatura em Matemática visando aprimorar a formação de

professores para o Letramento Estatístico.

Palavras-chave: Formação de professores, Educação Estatística, Letramento

Estatístico, livro didático

Page 12: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada
Page 13: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

ABSTRACT

The purpose of this study was to identify the relationships operating between the

teaching of Statistics to Basic Education students (up to the 12th grade) and the teaching

of Statistics at Teaching Degree programs in Mathematics—relationships that might

enhance the professional education of Brazilian teachers towards the development of

Statistical Literacy among their future students. The Anthropological Theory of the

Didactic, in its ecological perspective, was the theoretical framework adopted, from

which two ecosystems were hypothesized: those of Mathematics teaching in Basic

Education and in Teaching Degree programs in Mathematics. To examine whether these

ecosystems are currently promoting the development of Statistical Literacy, the

following documents were analyzed: the National Curriculum Parameters (PCN) for

6th-9th Grades (Mathematics), the PCN for 10th-12th Grades (Natural Sciences,

Mathematics, and their Technologies), the PCN+ (Natural Sciences, Mathematics, and

their Technologies), the Curriculum Guidelines for 10th-12th Grades (Natural Sciences,

Mathematics, and their Technologies), the National Curriculum Guidelines for

Mathematics Programs – Teaching and Non-Teaching Degrees (DCN-BL), and the

National Curriculum Guidelines for Higher-Education Training of Teachers for 1st-12th

Grades – Full Teaching Degree (DCN-FP). The following national exams were also

evaluated: SAEB, Prova Brasil, ENEM, and ENADE. The analysis also included two

textbook series (one for 6th-9th grades and the other for 10th-12th grades) approved by

the National Textbook Program for Basic School (PNLD). The analyses of these

documents and materials revealed that neither ecosystem currently promotes the

development of Statistical Literacy. Between the teaching of Statistics to Basic

Education students and the teaching of Statistics at Teaching Degree programs in

Mathematics, no relationships were found to operate which might enhance the

professional education of teachers towards the development of Statistical Literacy

among their future students.

Keywords: Professional education of teachers, Statistics Education, Statistical Literacy,

textbooks

Page 14: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada
Page 15: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo de Letramento Estatístico, segundo Gal (2002), elaborado por Silva

(2007) ..............................................................................................................................41

Figura 2 – Estrutura do Pensamento Estatístico proposta por Wild e Pfannkuch (1999),

elaborada por Silva (2007) .............................................................................................46

Page 16: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada
Page 17: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Síntese da competência estatística apresentada por Rumsey (2002),

elaborada por Silva (2007) .............................................................................................43

Quadro 2 – Conteúdos de Probabilidade e Estatística identificados nos PCN ..............73

Quadro 3 – Quadro comparativo da Prova Brasil e do SAEB ......................................81

Quadro 4 – Número de questões do ENEM cujo tema é Probabilidade e Estatística dos

anos de 2009 a 2012 .......................................................................................................85

Quadro 5 – Descrições das tarefas obtidas a partir das análises das questões de

Estatística das questões do ENEM dos anos de 2009 a 2012 .........................................86

Quadro 6 – Descrições das tarefas obtidas a partir das análises das questões de

Probabilidade das questões do ENEM dos anos de 2009 a 2012 ...................................86

Quadro 7 – Número de questões que abordam Probabilidade e Estatística das edições

do ENADE em que a área de Matemática foi avaliada ..................................................89

Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

.......................................................................................................................................103

Quadro 9 – Descrições das tarefas obtidas a partir das análises das questões de

Estatística do livro didático do sexto ano .....................................................................121

Quadro 10 – Descrições das tarefas obtidas a partir das análises das questões de

Estatística do livro didático do sétimo ano ...................................................................124

Quadro 11 – Descrições das tarefas obtidas a partir das análises das questões de

Estatística do livro didático do oitavo ano ....................................................................126

Quadro 12 – Descrições das tarefas obtidas a partir das análises das questões de

Estatística do livro didático do nono ano ......................................................................128

Quadro 13 – Tarefas encontradas na coleção Matemática: Contexto e aplicações .....131

Page 18: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada
Page 19: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Porcentagem dos conteúdos probabilísticos e estatísticos contidos na

coleção Praticando Matemática-Edição renovada ........................................................102

Tabela 2 – Frequência absoluta e frequência relativa das tarefas encontradas no livro

didático do sexto ano ....................................................................................................123

Tabela 3 - Frequência absoluta e frequência relativa das tarefas encontradas no livro

didático do sétimo ano ..................................................................................................126

Tabela 4 - Frequência absoluta e frequência relativa das tarefas encontradas no livro

didático do oitavo ano ...................................................................................................127

Tabela 5 - Frequência absoluta e frequência relativa das tarefas encontradas no livro

didático do nono ano .....................................................................................................129

Tabela 6 – Porcentagem dos conteúdos probabilísticos e estatísticos contidos na

coleção Matemática: Contexto e aplicações .................................................................130

Tabela 7 – Descrições das tarefas obtidas a partir das análises das questões de

Probabilidade e Estatística dos exercícios do livro didático do volume II ...................138

Tabela 8 – Descrições das tarefas obtidas a partir das análises das questões de

Probabilidade e Estatística dos exercícios do livro didático do volume III ..................141

Page 20: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada
Page 21: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

Sumário

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 21

CAPÍTULO I: O PROFESSOR DE MATEMÁTICA E A EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA EM SUA FORMAÇÃO

INICIAL: ALGUMAS PESQUISAS ................................................................................................... 23

A revisão bibliográfica ............................................................................................................. 23

Algumas considerações ........................................................................................................... 34

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA .................................................. 37

Introdução ............................................................................................................................... 37

2.1 - A Educação Estatística ..................................................................................................... 37

2.2 – O Letramento Estatístico ................................................................................................ 38

2.3 – O Pensamento Estatístico e o Raciocínio Estatístico ...................................................... 44

2.3.1 – Articulação entre pensamento, raciocínio e letramento .......................................... 46

2. 4 - A Teoria Antropológica do Didático ............................................................................... 48

2.4.1 – A noção de organização praxeológica ..................................................................... 49

2.4.2 – As noções de Organização Matemática e Organização Didática ............................ 51

2.5 – A perspectiva ecológica .................................................................................................. 52

2.6 - A formação inicial de professores ................................................................................... 56

2.6.1 – Perfil dos alunos dos cursos de Licenciatura ........................................................... 57

2.6.2 – Saberes docentes .................................................................................................... 58

2.7 – Fundamentação metodológica....................................................................................... 64

2.7. 1 - Questão de pesquisa ................................................................................................ 64

2.7. 2 - Metodologia e procedimentos ................................................................................. 65

CAPÍTULO III: A LICENCIATURA EM MATEMÁTICA E O ENSINO DE ESTATÍSTICA NOS

DOCUMENTOS E EXAMES OFICIAIS ............................................................................................. 69

Introdução ............................................................................................................................... 69

3. 1 – Os documentos oficiais.................................................................................................. 70

3. 1. 1 – Os Parâmetros Curriculares Nacionais .................................................................. 70

3. 1. 2 – As Diretrizes Curriculares Nacionais ...................................................................... 75

3. 2 – Os exames de larga escala ............................................................................................. 80

3. 2. 1 – O SAEB e a Prova Brasil .......................................................................................... 80

3. 2. 2 – O Exame Nacional do Ensino Médio ...................................................................... 83

3. 2. 4 – O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes ............................................... 87

3. 3 – Algumas considerações ................................................................................................. 96

Page 22: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

CAPÍTULO IV: A PRESENÇA DA ESTATÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA ........... 99

Introdução ............................................................................................................................... 99

4.1 – As obras analisadas ...................................................................................................... 101

4.2 - Análise da coleção Praticando Matemática: edição renovada ..................................... 101

4.2.1 – Organização Matemática ...................................................................................... 102

4.2.1.1 – Análise praxeológica ......................................................................... 104

4.2.2 – Organização Didática ............................................................................................ 121

4.3 – Análise da coleção Matemática: contexto e aplicações ............................................... 130

4.3.1 – Organização Matemática ....................................................................................... 130

4.3.2 – Organização Didática ............................................................................................ 138

4.4 – Algumas considerações ................................................................................................ 143

CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS ............................................................................................ 145

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 151

ANEXO I: Cursos avaliados pelo ENADE de 2004 a 2012. .......................................................... 161

ANEXO II: Artigo 70 da Portaria INEP n0 223 de 26 de julho de 2011 ........................................ 163

Page 23: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

21

INTRODUÇÃO

A Estatística é um instrumental de relevante importância para todos os campos

do conhecimento científico. Podemos encontrar exemplos de suas aplicações nas

Ciências Médicas e Biológicas, nas Ciências Humanas e nas Ciências Exatas.

Na área médica, podemos apresentar como exemplos as técnicas estatísticas que

permitem verificar a eficácia ou não de um novo método cirúrgico, uma nova

medicação ou um novo tratamento. Nas Ciências Exatas, as técnicas utilizadas no

Controle Estatístico da Qualidade, cuja aplicação é de grande importância para a cadeia

produtiva. Nas Ciências Humanas, temos como exemplo as pesquisas educacionais,

cujos resultados são utilizados para elaborar políticas públicas voltadas à educação, ou o

tratamento de dados para a tomada de decisões nas áreas de finanças ou gestão.

Em geral, no mundo acadêmico atual, quase todas as carreiras ligadas à pesquisa

ou aplicações científicas têm em seu currículo uma disciplina introdutória de Estatística

Básica ou Estatística Aplicada.

Ela também está presente na vida cotidiana, pois numa simples leitura diária de

jornais, ou na mídia como um todo, encontramos diversos termos e representações

estatísticos, tais como gráficos diversos, média salarial, taxa de desemprego, índice de

crescimento e margem de erro, que expõe fatos sociais e econômicos, descrevendo

realidades regionais do país e do mundo.

Estes termos, quando compreendidos, podem fundamentar a formação da

consciência crítica e da capacidade de tomada de decisões, que constituem uma das

metas da Educação Básica. Nesse contexto, concordamos com os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) em que o ensino da Estatística deve ser tratado com

maior atenção desde o início da escolaridade.

Conhecimentos relativos à Estatística vêm sendo cobrados em exames oficiais

internacionais, nacionais e estaduais, tais como PISA, ENEM, SAEB, Prova Brasil e

SARESP. Os trabalhos de Acosta (2013), Nunes (2013), Goulart (2007) e Friolani

(2007), entre outros, promovem discussões sobre o tema.

Nota-se que, institucionalmente, há um reconhecimento de que o ensino de

Estatística deva estar presente desde o início da Educação Básica, tanto no Brasil quanto

em outras partes do mundo. No entanto, de acordo com Azcárate e Cardeñoso (2011), a

mesma atenção não é dedicada à formação dos professores responsáveis por seu ensino

nas salas de aula.

Page 24: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

22

No Brasil, autores como Santos (2005), Costa (2007) e Viali (2008) apontam

uma série de problemas relacionados ao ensino de Estatística na Escola Básica. Tais

problemas serão abordados com mais profundidade no Capítulo I.

Nesta tese, partimos da premissa que os problemas apontados por esses autores

são resultantes da formação inadequada que os professores recebem em sua formação

inicial para ensinar Estatística na Educação Básica. Portanto, este trabalho tem por

finalidade identificar as relações que operam entre o ensino de Estatística na Educação

Básica e o Ensino de Estatística nos cursos de Licenciatura em Matemática, visando

potencializar a formação de professores para o letramento estatístico.

O Capítulo 1 apresenta uma revisão bibliográfica que aponta elementos da

Educação Estatística presentes na formação inicial do professor de Matemática.

Nos Capítulos 2 e 3 são apresentadas as referências teóricas e a metodologia

utilizadas nesta pesquisa.

O Capítulo 4 descreve os motivos que embasaram a escolha dos documentos e

exames oficiais focalizados neste estudo e procede à análise desses exames e

documentos.

No capítulo 5 são analisados os livros didáticos aprovados pelo PNLD para os

quatro últimos anos do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio.

Finalizando este estudo, são apresentadas nossas considerações finais e

perspectivas futuras.

Page 25: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

23

CAPÍTULO I: O PROFESSOR DE MATEMÁTICA E A

EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA EM SUA FORMAÇÃO INICIAL:

ALGUMAS PESQUISAS

Neste capítulo apresentaremos nossa revisão bibliográfica, abrangendo pesquisas

que tiveram como objeto a Educação Estatística na formação inicial de professores de

Matemática.

Para a seleção dos trabalhos, consultamos o banco de dissertações e teses da

Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior (CAPES), utilizando

as seguintes palavras-chave: “formação de professores”, “Educação Estatística”, “ensino

de Estatística” e “currículo de Estatística”. Para a seleção dos artigos, consultamos a

base de dados Scielo, com as mesmas palavras-chave.

A revisão bibliográfica

Começaremos esta revisão com a pesquisa de doutorado de Moreira (2004), que

examinou o processo de formação de professores em um curso de Licenciatura em

Matemática, com o objetivo de analisar as relações entre os conhecimentos matemáticos

veiculados nesse processo e as questões que se colocam na prática escolar docente.

O autor utilizou a metodologia de pesquisa de estudo de caso, tomando como

unidade de estudo o curso diurno de Licenciatura em Matemática da Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG), restringindo-se ao tema Números.

Na pesquisa foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta de dados:

questionários, entrevistas, documentos do curso de licenciatura em Matemática da

UFMG, livros didáticos escolares, textos utilizados como referências básicas nas

disciplinas do curso e a literatura sobre Educação Matemática.

Partindo da perspectiva teórica em que se distingue a Matemática escolar da

Matemática científica ou acadêmica, Moreira (2004) descreve o conhecimento sobre

Números veiculado no curso e o confronta com as questões que a literatura de pesquisa

indica como envolvidas na prática do professor de Matemática.

A análise dos dados converge para a conclusão de que o conhecimento

matemático é trabalhado no processo de formação de professores a partir das

Page 26: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

24

perspectivas e dos valores da Matemática acadêmica. Consequentemente, importantes

questões escolares que não se ajustam a essas perspectivas e a esses valores são

ignoradas.

Um exemplo citado pelo autor é que:

A hipervalorização da matemática acadêmica no

processo de formação pode estimular ainda o

desenvolvimento de concepções e valores que, muitas

vezes, dificultam a comunicação do professor com os

alunos e a própria gestão da matéria em sala de aula.

Um dos exemplos [...] refere-se ao seguinte: o recém-

licenciado, sem alternativas para justificar um

determinado resultado matemático senão a prova

formal e reconhecendo esta como inviável na prática

escolar, pode ser levado a reduzir a argumentação a um

exame de vários exemplos numéricos, sem outro

recurso de convencimento a não ser a indução da

crença de que, sendo verificado em “muitos” casos

particulares, o resultado deve ser válido em geral.

(MOREIRA, 2004, p. 178)

Para esse autor, a implicação imediata de seu trabalho para o processo de

formação de professores refere-se à necessidade de um redimensionamento da formação

matemática de modo a equacionar de forma adequada os papéis da Matemática escolar e

a Matemática acadêmica nesse processo. Considera que é necessário construir uma

perspectiva que nos permita compreender que:

[...] o futuro professor de matemática da escola vai

ensinar, que tipo de questões referentes ao

conhecimento matemático ele encontra no seu trabalho

docente e que significado se pode atribuir, em termos

da prática escolar, à expressão “o professor precisa

saber mais do que aquilo que ensina”. Em outras

palavras, uma perspectiva que nos permitisse estudar o

processo de formação e a prática docente escolar e

investigar como os conhecimentos matemáticos da

formação se conectam (ou não) aos conhecimentos

matemáticos envolvidos nas questões que se colocam

para o professor na prática profissional na escola

básica. (MOREIRA, 2004, p. 181)

Embora o trabalho de Moreira (2004) não aborde o tema Tratamento da

Informação, colabora com nosso estudo por abordar explicitamente o papel do saber

escolar e do saber científico na formação de professores de Matemática, uma vez que

nossa pesquisa trata dessa confrontação em relação aos conteúdos de Probabilidade e

Estatística.

Page 27: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

25

A leitura de seu trabalho nos levou a refletir sobre uma perspectiva que nos

permita investigar como os conhecimentos estatísticos presentes na formação dos

futuros professores de Matemática se articulam (ou não) aos conhecimentos estatísticos

envolvidos nas questões que se colocam para o professor na prática profissional na

Escola Básica.

Outra pesquisa que aborda a formação de professores de Matemática foi a

realizada por Luís (2004), com o objetivo de estudar e propor formas de aperfeiçoar a

formação de professores de Matemática para a Educação Básica, tendo como

perspectiva a autonomia do aluno na construção social de seu conhecimento. Visava

assim aprimorar os cursos de formação de professores de Matemática para o Ensino

Secundário em Moçambique, levando em consideração os problemas ali enfrentados

atualmente no ensino de Matemática.

Por meio de observações de aulas e entrevistas semiestruturadas aplicadas a

professores da Escola Secundária e da Universidade Pedagógica (UP) em Moçambique,

o autor concluiu que, o curso de formação de professores de Matemática na UP não

oferece elementos formativos para que ocorram as mudanças de práticas pedagógicas

que se pretendem no ensino de Matemática na Escola Secundária daquele país. Isso

ocorre, segundo Luís (2004), porque as práticas pedagógicas atuais da Escola Básica são

semelhantes às que ocorrem na UP. Tais práticas são, fundamentalmente, centradas na

figura do professor, que ora assume o papel de transmissor, ora o de inculcador de

conhecimentos.

Essas práticas, na perspectiva do autor, apresentam a Matemática como uma

aplicação cega de regras e manipulação de algoritmos, sem nenhuma compreensão por

parte dos alunos. Tal perspectiva é apresentada tanto para os alunos da Escola

Secundária como para os da UP.

Luís (2004) conclui que não são oferecidas condições para que os futuros

professores de Matemática possam reconstruir os conhecimentos matemáticos durante o

curso na UP. Considera que essa reconstrução se baseia na perspectiva sócio-histórico-

cultural e deve traduzir-se por uma conscientização do saber, a qual não pode existir

fora da práxis, por constituir “um processo de actividade crítica que está acompanhada

de uma percepção articulada dos fenômenos numa totalidade concreta e histórica”

(LUÍS, 2004, p. 90).

Tal conscientização tem como pressuposto, segundo o autor, uma relação ativa e

reflexiva entre o sujeito e o objeto de conhecimento. A essa conscientização o autor dá o

Page 28: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

26

nome de perspectiva da construção do conhecimento. Conclui que o problema do ensino

de Matemática na escola básica deriva fundamentalmente de deficiências na formação

de professores, ou seja, “de uma formação centrada no ensino superior sem o cuidado

devido na articulação com o meio profissional ao qual destinam os professores” (LUÍS,

2004, p. 29).

Essa formação é similar à valorização da Matemática acadêmica (praticada nos

departamentos de Matemática das universidades), observada por Moreira (2004), e já

focalizada.

Luís (2004) conclui que é pertinente que as práticas curriculares do curso de

formação de professores de Matemática se desenvolvam sob a perspectiva da

construção do conhecimento.

Podemos notar que tanto Moreira (2004) como Luís (2004) defendem mudanças

nos cursos de Licenciatura em Matemática em seus respectivos países de origem, para

que possam ocorrer mudanças nas formas como esses professores atuam na Educação

Básica. Tal mudança também é defendida por nós.

Embora Luís (2004) trabalhe com a realidade educacional de Moçambique, a

perspectiva da construção do conhecimento por ele defendida é compartilhada por

Severino (2003), estudioso da problemática da formação de professores no Brasil.

Na pesquisa conduzida por Severino (2003) aponta-se que uma das limitações

dos cursos de formação de professores no Brasil é a visão que considera o conhecimento

mais propriamente como um produto que se repassa, do que um processo para se

construir determinado conhecimento. A mesma visão foi detectada por Luís (2004) na

realidade moçambicana.

A perspectiva de construção do conhecimento exige, entre outras coisas, uma

mudança de postura dos docentes que lecionam em cursos de formação de professores.

Quanto à mudança de postura dos professores que atuam nos cursos de formação

docente, Rego (2004, p. 117) afirma que “os que trabalham na formação de professores

não podem esperar mudanças na atuação do professor junto a seus alunos, se não

mudarem a sua forma de atuar junto aos professores”.

Portanto, se quisermos que os professores da Educação Básica mudem de

postura em sua atuação, os formadores desses professores precisarão mudar sua própria

postura.

Segundo Rego (2004), os formadores de professores devem alterar suas práticas

pedagógicas para que possam auxiliar os futuros professores na construção de novos

Page 29: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

27

conhecimentos, uma vez que, segundo Gatti e Barreto (2009, p. 175), “os professores

tendem a reproduzir mais as experiências provenientes da sua vivência como estudantes

do que as teorias com os quais entram em contato”.

Referindo-se explicitamente a professores que lecionam Estatística em cursos de

graduação, Cordani (2001) afirma que:

É preciso mudar a concepção de boa parte dos

professores, que insistem numa orientação

exclusivamente computacional para a disciplina, com

cálculos muitas vezes tediosos, para uma base mais

experimental, ligada ao contexto cultural do aluno bem

como a área de concentração do curso. (CORDANI,

2001, p. 11)

Observamos a convergência dos resultados até aqui apontados no que se refere

ao importante papel do formador de professores da Escola Básica.

Embora Severino (2003), Luís (2004), Rego (2004) e Gatti e Barreto (2009), não

abordem explicitamente o ensino de Probabilidade e Estatística, suas pesquisas apontam

que, para haver mudanças nas práticas dos professores da Escola Básica, as

transformações devem começar a ocorrer em sua formação inicial – daí nossa opção em

abordar os conteúdos estatísticos em cursos de Licenciatura em Matemática.

Para sua dissertação de Mestrado Profissional, Santos (2005) realizou uma

pesquisa com o objetivo de verificar o processo de incorporação dos temas do bloco

Tratamento da Informação na Educação Básica e as relações dessa incorporação com a

formação continuada de professores de Matemática.

Para tanto, entrevistou um grupo de 52 professores da rede pública estadual

paulista e acompanhou sua formação continuada, além de acompanhar as aulas

ministradas por quatro deles.

A partir das análises dos dados coletados, Santos (2005) aponta que, a maior

parte dos professores não trabalha com conteúdos estatísticos na Educação Básica. Os

principais motivos apresentados pelos entrevistados para não abordarem conteúdos

estatísticos em suas aulas foram: o assunto ser complexo, os conteúdos estatísticos não

serem apresentados nos livros didáticos, faltar domínio de conteúdos estatísticos e haver

ausência de abordagem destes na formação inicial.

Dos argumentos apresentados pelos professores entrevistados, considerar o

assunto complexo é um juízo de valor que traz indícios da falta de domínio desses

conteúdos por esses profissionais, como aponta Novaes (2011).

Page 30: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

28

Vale assinalar que atualmente todo livro didático voltado à Escola Básica

apresenta conteúdos estatísticos, uma vez que os editais do Plano Nacional do Livro

Didático (PNLD) deixam claro que todos os blocos do conhecimento matemático

identificados nos Parâmetro Curriculares Nacionais (PCN) devem constar na coleção,

sob pena de exclusão desta da lista de escolhas possíveis para o professor da rede

pública em todo o Brasil.

O trabalho de Santos (2005) tem importância para nossa pesquisa por apontar

indícios do escasso Letramento Estatístico dos professores, o que pode ser consequência

de sua formação inicial ou do longo tempo sem participação em formação continuada.

Nesse caso, a prática é constituída unicamente a partir da interação do professor com o

livro didático.

A pesquisa de Bayer et al. (2005), por sua vez, visou verificar se o licenciado

em Matemática está preparado para lecionar Estatística na Escola Básica. Como

metodologia, os pesquisadores aplicaram um questionário estruturado composto de 17

questões que versavam sobre a aptidão dos egressos para lecionar os conteúdos de

Estatística propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para 80 alunos

concluintes dos cursos de Licenciatura em Matemática no Rio Grande do Sul.

Dos alunos pesquisados, 52% declararam que o curso não os preparara

suficientemente para lecionar Estatística. Os autores concluem que:

É emergente a criação e o desenvolvimento de projetos

de estudos que objetivem um aprimoramento dos

professores com relação aos seus conhecimentos de

Estatística e que forneçam suporte didático para suas

aulas de Matemática em que conteúdos de Estatística

sejam trabalhados. Destacamos a importância de que

na formação do professor de matemática ocorra um

maior contato deste com a educação estatística,

conscientizando-o da relevância destes conteúdos na

formação de seus alunos. (BAYER et al., 2005, p. 10)

Para que, na formação inicial do professor de Matemática ocorra maior contato

com a Educação Estatística, faz-se necessário repensar como esses conteúdos são

abordados nos cursos de Licenciatura em Matemática.

Em sua dissertação de Mestrado Acadêmico, Costa (2007) investigou como os

professores da Educação Básica percebem a inserção da Probabilidade e Estatística nos

currículos escolares e como os professores formadores percebem esse ensino na

formação do professor de Matemática.

Page 31: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

29

A autora aplicou um questionário com questões abertas e fechadas aos

professores da Educação Básica e entrevistou quatro professores formadores.

Analisando as respostas de 30 questionários, a autora concluiu que, embora a maioria

dos professores entrevistados tivesse se formado após a publicação dos PCN, a

formação que receberam não contribuiu para a constituição de um repertório de saberes

voltado ao ensino de Probabilidade e Estatística na Escola Básica. Tal resultado é

análogo ao obtido por Santos (2005) e por Bayer et al. (2005). No entanto, a maior parte

dos professores focalizados procurava inserir conteúdos estatísticos em suas aulas,

buscando apoio não só em livros paradidáticos e didáticos, mas também em jornais e

revistas.

Todavia, entre os dados coletados, essa autora observou que os professores

formadores apontaram alguns problemas em relação ao livro didático. De acordo com

uma das formadoras entrevistadas por Costa (2007), o livro didático comete graves

erros conceituais quando aborda tópicos de Probabilidade e Estatística:

Como o nome do bloco de conteúdo é Tratamento da

Informação, qualquer texto que o aluno vai tirar

informação do texto eles interpretam como parte, faz

tratamento da informação. Os buracos que têm na

formação, na sequência do livro são enormes, erros

conceituais, dizer que uma frequência relativa é a

probabilidade é café pequeno, só que são erros

cometidos por quase todos os livros. Então você não

pode dizer assim no livro didático o quê que eu tenho

que fazer, adianta eliminar esse livro? Não. Porque

esse erro está muito difundido. Qual é o trabalho que

tem que fazer? É trabalhar corpo a corpo mesmo, é

tentar atingir os autores. [...] os resultados tem sido

assim desanimadores, têm sido desanimadores em

termos de falta de associação, a média existe por si só.

Pra que relação com alguma coisa? A confusão normal

de média com moda não tem nada no livro que leve o

aluno a sair dessa confusão porque isso é um obstáculo

epistemológico. Aquilo é muito natural do aluno ter,

mas não tem nada no livro que minimize isso.

(COSTA, 2007, p. 145)

O trabalho de Costa (2007) nos aponta a necessidade de verificar como os

conteúdos de Probabilidade e Estatística são abordados nos livros didáticos voltados à

Escola Básica, uma vez que, segundo a autora, os professores utilizam os livros

didáticos como apoio para inserir conteúdos estatísticos em suas aulas.

Buscando verificar se o professor de Matemática é adequadamente preparado

para ensinar Probabilidade e Estatística na Educação Básica, Viali (2008) analisou uma

Page 32: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

30

amostra de 125 currículos de cursos de Licenciatura em Matemática, selecionados

aleatoriamente de um total de 539 cursos existentes no Brasil.

As variáveis observadas foram: o semestre em que se ministram as disciplinas

de interesse, a carga horária das disciplinas de Probabilidade e Estatística e quanto elas

perfazem da carga horária total do curso. O autor também analisou a disciplina típica

oferecida.

O estudo permitiu concluir que, em sua maior parte, a disciplina é ministrada no

quinto ou sexto semestre e que os tópicos relacionados a Probabilidade e Estatística

cobrem em média 2,5% (60 horas) da carga horária total das Licenciaturas em

Matemática, considerando-se um curso de 2 400 horas, que é a carga mínima legal. As

60 horas destinadas aos conteúdos de Probabilidade e Estatística são consideradas

insuficientes pelo autor.

Viali (2008) constatou que, dentre as disciplinas ministradas, a que focaliza

Probabilidade e Estatística tem tipicamente carga horária de 60 horas e apresenta a

Estatística como uma disciplina da Matemática.

Nessa abordagem, a ênfase recai sobre a manipulação dos algoritmos e a

demonstração de fórmulas, sem preocupação com a compreensão dos conceitos

estatísticos, segundo Ben-Zvi e Garfield (2004), tal enfoque não leva os alunos a pensar

estatisticamente.

O artigo de Viali (2008) é relevante a nossa pesquisa porque aponta questões a

serem investigadas tais como: Qual é a carga horária adequada? Qual é a abordagem

adequada dos conteúdos estatísticos nos cursos de Licenciatura em Matemática? Além

disso, salienta que, da maneira como o assunto é tratado atualmente, não ocorre

desenvolvimento do letramento estatístico por parte dos futuros professores.

Em sua tese de doutorado, Passos (2009) realizou um estudo sobre a formação

de professores de Matemática, analisando a produção bibliográfica constituída por

artigos publicados em periódicos da área de Educação Matemática no período de 1976 a

2007. Foram abrangidos os seguintes periódicos: GEPEM, Bolema, Educação

Matemática em Revista, Zetetiké e Educação Matemática Pesquisa. Em busca da

compreensão do campo formação de professores e de sua caracterização na área de

Educação Matemática, a autora trabalhou com as seguintes questões:

Quais foram os problemas de pesquisa e/ou as reflexões que os artigos

abordaram no período considerado para a análise?

Page 33: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

31

Quais foram as ideias fundamentais que orientaram essas reflexões

e/ou pesquisas e/ou projetos nesse período?

Quais os sentidos apresentados por esses autores de artigos sobre o

professor e sua formação?

Uma primeira conclusão desse levantamento, segundo a autora, é que a maior

parte dos artigos sobre esse tema foi produzida no período de 1996 a 2007. Além disso,

esse levantamento possibilitou constituir uma base de dados que serviu a uma

investigação qualitativa, a partir da qual Passos (2009) construiu categorias de busca,

seguidas de unidades de pesquisa e análise. São elas: o problema de pesquisa ou questão

de discussão ou reflexão nos artigos; as ações investigativas ou descritas; as conclusões,

considerações ou produtos dessas pesquisas relacionadas à formação inicial, e em

particular, aos processos de formação do professor em geral (as referências teóricas

citadas no desenvolvimento do artigo; os participantes da pesquisa; os sentidos sobre o

que é ser professor; os sentidos sobre a formação do professor).

Segundo a autora, as análises dos artigos selecionados contribuíram para a

compreensão do “ser” e do “fazer” dos professores neles focalizados; dos objetivos e

funções de sua formação; do que se espera do professor ao final do processo formativo

na ótica dos autores que escreveram os artigos analisados; dos conteúdos matemáticos

e/ou pedagógicos propostos; da proposição de atividades práticas; da sugestão de cursos

e suas estruturas curriculares; da reflexão sobre seus limites e possibilidades indicadas e

envolvidas nesse processo formativo.

Para finalizar, a autora conclui que muito se discute sobre o professor de

Matemática no Brasil, e seu trabalho possibilitou observar algumas tendências nesse

campo e seus possíveis desenvolvimentos na escola.

Analisando os conteúdos matemáticos e/ou pedagógicos propostos expressos

nos resumos de diferentes artigos, analisados por Passos (2009), não identificamos

nenhum estudo referente ao ensino e à aprendizagem de Probabilidade e Estatística na

formação de professores de Matemática. A partir da leitura da análise de Passos (2009),

sentimos a necessidade de trabalhos que abordem o ensino e a aprendizagem de

Probabilidade e Estatística na formação de professores, objeto de nosso trabalho.

Magalhães (2010), em um artigo que avalia o conhecimento dos formandos,

aplicou um questionário e um teste aos alunos do último ano do curso de Licenciatura

em Matemática do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo

(IME-USP). No questionário havia perguntas referentes a experiências profissionais,

Page 34: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

32

experiências acadêmicas e perspectiva de carreira. O teste, composto de 20 questões de

múltipla escolha, avaliou o conhecimento dos formandos.

Dos entrevistados, 65% declararam estar preparados para lecionar Estatística na

Escola Básica. No entanto, o autor adverte que:

[...] a maior parte dos formandos declarou que se sentia

preparada para ensinar tópicos de Estatística nos Ensinos

Fundamental e Médio. Contudo, os resultados do Teste indicam

que alguns tópicos de Estatística não foram devidamente

assimilados por eles. Por exemplo, a dificuldade apontada com

a correta interpretação de Intervalos de Confiança é

preocupante. (MAGALHÃES, 2010, p. 6)

Os resultados apresentados por Magalhães (2010) são similares aos obtidos por

Bayer et al. (2005). Mais uma vez, vemos a necessidade da ampliação do contato dos

futuros professores de Matemática com a Educação Estatística em sua formação inicial.

Vale salientar que os alunos entrevistados por Magalhães (2010) frequentaram

obrigatoriamente, no mínimo, duas disciplinas de Probabilidade e Estatística, com uma

carga horária conjunta de aproximadamente 120 horas, o dobro de horas frequentado

pela maior parte dos alunos que cursam a Licenciatura em Matemática, conforme

aponta Viali (2008).

Silva (2011) analisou as possíveis consequências do descompasso entre as

orientações curriculares para a Educação Básica e a formação inicial do professor de

Matemática quanto à presença da Probabilidade e Estatística no currículo dos cursos de

Licenciatura em Matemática. Para tanto, tomou como referência o projeto pedagógico

de curso (PPC) de sete instituições de ensino superior (IES), todas elas com nota 5 (nota

máxima) no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE).

Em suas conclusões, Silva (2011) constata:

[...] o quanto o Parecer CNE/CES 1.302/2001 provoca

um abismo entre a abordagem da estatística e

probabilidade nos cursos de licenciatura e a prática

efetiva deste tema na educação básica. O problema

inicia-se pela ausência de obrigatoriedade da

existência de uma disciplina que trate deste assunto

no curso de licenciatura, pois este tema é

considerado indispensável somente no bacharelado.

[destaque nosso] (SILVA, 2011, p. 760)

Observa-se, assim, que Silva (2011) também aponta que os problemas na

abordagem de Probabilidade e Estatística na Licenciatura em Matemática começam com

Page 35: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

33

a ausência de sua obrigatoriedade nos cursos de Licenciatura, resultado este também

apontado por Viali (2008).

Em relação às questões que norteiam sua pesquisa, Silva (2011) verifica que:

(...) os conteúdos Estatística e Probabilidade são

normalmente discutidos, nos cursos pesquisados, em

uma disciplina apenas, localizada na segunda

metade do curso e desarticulada com outras,

portanto, privando o licenciando de questionar as

formas destes conteúdos na educação básica.

[destaque nosso] (SILVA, 2011, p. 761)

Quanto ao número de disciplinas, Silva (2011) aponta que, em geral, os cursos

oferecem uma única, fato também observado por Viali (2008). Tal carga horária é,

segundo os autores, insuficiente para uma boa formação, premissa com a qual

concordamos e a qual assumimos.

O trabalho de Silva (2011) nos aponta a necessidade de observar em nosso

trabalho a influência das DCN nos cursos de Licenciatura em Matemática e as

articulações de Probabilidade e Estatística com as outras áreas de conhecimento da

Educação Básica, e do Currículo da própria Licenciatura.

Em um artigo que tem por objetivo investigar o enfoque dado nos cursos de

Licenciatura em Matemática aos conteúdos para ensinar Estatística na Educação Básica,

Silva e Gomes-Ferreira (2012) procuraram identificar aqueles abordados nas disciplinas

de conteúdos estatísticos, de Educação Estatística, de Estatística como ferramenta na

Educação e de Estatísticas Educacionais nos 356 cursos de Licenciatura em Matemática

avaliados pelo ENADE, distribuídos em 146 Instituições de Ensino Superior (IES).

Por meio de amostragem estratificada, as autoras selecionaram 111 IES,

abrangendo 157 cursos avaliados pelo ENADE. Das 111 IES, a maior parte não tinha

disponibilizado em seus sites as matrizes curriculares e as ementas, 36 tinham

disponibilizado somente as matrizes curriculares e apenas oito haviam disponibilizado a

matriz curricular e as ementas do curso.

Das 44 matrizes curriculares analisadas pelas autoras, apenas uma não possuía

disciplinas de conteúdos estatísticos e, das oito ementas analisadas, nenhuma

explicitava preocupações com o ensino e a aprendizagem de Estatística na Educação

Básica.

As autoras concluem que a Estatística ainda está longe de ser vista como

conteúdo de Matemática na Educação Básica nos cursos de Licenciatura em

Page 36: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

34

Matemática, sendo isto um dos motivadores para a realização de nosso trabalho, já que

o ensino de Estatística, na Educação Básica, é atribuição do professor de Matemática.

Brandão (2012) realizou sua pesquisa de doutorado com o objetivo de identificar

as concepções de professores e licenciandos em Matemática sobre os processos de

ensino e de aprendizagem de noções de Estatística.

Utilizando como metodologia de pesquisa a análise documental e noções de

Design Experiments, o autor aplicou uma sequência de ensino a três professores de

Matemática formados pela Universidade Estadual do Maranhão, campus Bacabal

(UEMA/Bacabal), e a nove alunos do curso de Licenciatura em Matemática dessa

mesma universidade, com o objetivo de discutir os significados das medidas de

tendência central (média, moda e mediana).

De acordo com o autor:

Nas concepções dos participantes, sem diferença entre professor

e aluno, em sua maioria eram determinantes as definições dos

livros didáticos. Com relação ao conceito de média, por

exemplo, os participantes quase em sua totalidade

conceituavam dizendo que média era a divisão entre a soma de

determinados valores dividido pelo total deles. (BRANDÃO,

2012, p. 123)

É muito preocupante que as concepções de professores de Matemática sejam

determinadas a partir das definições dos livros didáticos, porque estes apresentam

alguns equívocos em relação aos conceitos estatísticos, conforme nos aponta Costa

(2007).

Brandão (2012) conclui que o ensino baseado na aplicação de fórmulas para o

cálculo de medidas estatísticas não permite uma construção da estrutura conceitual por

parte dos estudantes.

Tal fato já havia sido apontado por Ben-Zvi e Garfield (2004). Todavia, a maior

parte das disciplinas de conteúdos de Estatística na formação de professores de

Matemática, segundo Viali (2008), ainda trabalha desta forma.

Algumas considerações

A partir das pesquisas que compõem esta revisão bibliográfica, podemos traçar

algumas considerações.

Em relação ao ensino de Estatística na Escola Básica, Santos (2005) afirma que

a maior parte dos professores não trabalha com estes conteúdos, enquanto Costa (2007)

afirma que a maior parte destes professores trabalha com tais conteúdos. Embora Santos

Page 37: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

35

(2005) e Costa (2007) apresentem conclusões opostas para pesquisas realizadas em

épocas próximas, podemos fazer algumas considerações. Uma delas é que a diferença

de resultados pode ser oriunda da origem dos grupos selecionados, ambas sendo

pesquisas qualitativas e, portanto, com resultados válidos apenas para o grupo

pesquisado. Algumas hipóteses poderiam ser levantadas, mas apenas para grupos com

mesmas características e sob as mesmas condições de observação.

Entretanto, os professores que fizeram parte das pesquisas de Santos (2005) e de

Costa (2007) afirmaram que sua formação inicial não os preparou para ensinar

Estatística na Escola Básica, resultado este também foi observado por Bayer et al.

(2005) ao entrevistarem futuros professores.

Portanto, temos indícios de que um dos problemas que afetam o ensino de

Probabilidade e Estatística na Escola Básica é seu ensino nos cursos de Licenciatura em

Matemática. Segundo Rego (2004), para que ocorram mudanças na atuação do futuro

professor, são necessárias mudanças em sua formação inicial. Logo, temos que repensar

o ensino destes conteúdos nos cursos de formação de professores de Matemática

(Licenciatura Plena).

A utilização do livro didático como material de apoio é um ponto crítico, pois,

conforme aponta Brandão (2012), as definições estatísticas, tanto dos professores

quanto dos alunos pesquisados, se basearam nas definições contidas em livros didáticos.

Tais definições são algumas vezes equivocadas, como indicado pelos professores

formadores entrevistados por Costa (2007). No capítulo V de nosso trabalho, faremos

uma análise de livros aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)

para constituir parte do corpus a ser analisado.

Outro problema, que é apontado por Moreira (2004) e por Luís (2004), é que o

conhecimento valorizado nos cursos de Licenciatura em Matemática são os valores da

Matemática acadêmica.

Esta visão, segundo Luís (2004), torna o professor um mero transmissor de

informações e com isso limita seu trabalho em sala de aula, além de desenvolver uma

visão de que a Matemática é a aplicação cega de algoritmos e regras, sem nenhuma

compreensão, desconsiderando assim a premissa de que a Estatística é a ciência do

número em contexto, bem como as premissas da Análise Exploratória de Dados.

Esta visão, quando aplicada ao ensino de Estatística, é extremamente prejudicial,

pois sabemos que a simples manipulação de algoritmos, de acordo com Ben-Zvi e

Garfield (2004), Santos (2007), Viali (2008) e Brandão (2012), não é capaz de

Page 38: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

36

desenvolver o letramento estatístico, porque para a Estatística o importante não é o

resultado obtido pelo algoritmo, mas sim sua interpretação, ou seja, o contexto no qual

os dados foram coletados.

Portanto, a partir do que foi apresentado, torna-se necessário repensarmos o

ensino de Probabilidade e Estatística na formação inicial de professores de Matemática.

Consideramos ser necessária uma nova abordagem e, baseando-nos em Severino (2003),

Moreira (2004) e Luís (2004), pensamos que tal abordagem deva levar em consideração

as necessidades da Escola Básica – em outras palavras, levar em conta os conteúdos

probabilísticos e estatísticos a serem ensinados na Escola Básica, uma vez que, como já

foi comentado, faz-se necessário abordar explicitamente o papel do saber escolar e do

saber científico na formação de professores de Matemática.

Além disso, tal abordagem também dever permitir a potencialização do

desenvolvimento do letramento estatístico dos alunos dos cursos de Licenciatura em

Matemática e promover mecanismos para que, ao atuarem como professores na Escola

Básica, esses futuros professores sejam capazes de criar situações que favorecem o

letramento estatístico de seus alunos.

A partir da discussão realizada, formulamos a seguinte questão de pesquisa:

Investigar as relações que podemos estabelecer entre o ensino de Estatística na

Educação Básica e o Ensino de Estatística nos cursos de Licenciatura em

Matemática visando potencializar a formação de professores para o letramento

estatístico?

Page 39: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

37

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E

METODOLÓGICA

Introdução

Neste capítulo apresentaremos os elementos teóricos que serão utilizados como

suporte para a escolha e a análise do corpus constituído, a nossa questão de pesquisa e a

fundamentação metodológica adotada para seu desenvolvimento.

Inicialmente, procuramos definir o campo de pesquisa da Educação Estatística,

seus objetos de estudo e o que, nesse campo do conhecimento, se entende por

Letramento Estatístico.

Depois, apresentaremos a Teoria Antropológica do Didático (TAD) e a sua

perspectiva ecológica.

Em seguida, iremos abordar alguns aspectos da formação de professores para a

Escola Básica.

E finalmente, apresentaremos a nossa questão de pesquisa, a metodologia e os

procedimentos adotados para o seu desenvolvimento.

2.1 - A Educação Estatística

Segundo Vendramini (2006), a percepção de que a Educação Estatística e a

Educação Matemática são campos científicos iguais, tem levado professores de diversos

níveis de ensino a abordar conteúdos estatísticos em sala de aula como se estivessem

abordando conteúdos matemáticos, enfatizando demonstrações de fórmulas e cálculos

matemáticos. Essa forma de abordagem, segundo Ben-Zvi e Garfield (2004), não leva

os alunos a pensar estatisticamente e, em consequência, não desenvolve o Letramento

Estatístico.

A Educação Matemática, segundo Brito e Fini (1994, p. 33), é um campo

científico interdisciplinar que, utilizando contribuições da Matemática e das Ciências da

Educação, visa “explicar os complexos fenômenos componentes do processo de ensino

e aprendizagem da Matemática, situados em ambientes culturais”.

Por sua vez, a Educação Estatística é um campo científico que tem como

objetivo:

Page 40: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

38

Estudar e compreender como as pessoas ensinam e aprendem

Estatística, o que envolve os aspectos cognitivos e afetivos do

ensino-aprendizagem, além da epistemologia dos conceitos e o

desenvolvimento de métodos e materiais de ensino etc., visando

o desenvolvimento do letramento estatístico. (CAZORLA;

KATAOKA; SILVA, 2010, p. 22)

Portanto, assim como a Educação Matemática, a Educação Estatística também

é um campo interdisciplinar, que utiliza contribuições da Estatística, da Matemática, das

Ciências da Educação e da própria Educação Matemática.

Na delimitação do objeto de estudo da Educação Estatística, Cazorla, Kataoka

e Silva (2010) atribuem como principal objetivo desse campo do conhecimento o

desenvolvimento do Letramento Estatístico. Ben-Zvi e Garfield (2004) defendem que o

letramento, raciocínio e pensamento estatísticos estão interligados. No desenvolvimento

desta pesquisa, assumimos esta interrelação, ou seja, ao visarmos o desenvolvimento do

letramento, admitimos que o pensamento e o raciocínio são desenvolvidos.

2.2 – O Letramento Estatístico

Para definir o que é Letramento Estatístico, Gal (2002) toma como premissa o

indivíduo adulto que vive em uma sociedade industrializada. Para esse autor, o

Letramento Estatístico tem dois componentes inter-relacionados:

a) competência das pessoas para interpretar e avaliar

criticamente a informação estatística, os argumentos

relacionados aos dados ou a fenômenos estocásticos, que podem

se apresentar em qualquer contexto e, quando relevante, b)

competência das pessoas para discutir ou comunicar suas

reações para tais informações estatísticas, tais como seus

entendimentos do significado da informação, suas opiniões

sobre as implicações desta informação ou as suas considerações

acerca das conclusões fornecidas. (GAL, 2002, p. 2-3, tradução

nossa)

Portanto, para esse autor, o Letramento Estatístico é traduzido em termos de

competências, isto é, o indivíduo não possui simplesmente os conhecimentos

estatísticos, mas deles faz uso efetivo na sociedade em que vive, com o objetivo de

interpretá-la e modificá-la.

Page 41: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

39

Gal (2002) propõe um modelo de Letramento Estatístico composto de cinco

elementos cognitivos, que permitem ao indivíduo compreender, interpretar e avaliar

criticamente informações estatísticas, e por dois elementos de disposição, responsáveis

pela postura ativa diante da informação estatística.

Os cinco elementos cognitivos são: a alfabetização estatística, isto é, a

capacidade de ler informações textuais, em gráficos e tabelas; os conhecimentos

estatísticos; os conhecimentos matemáticos; o conhecimento do contexto; e a

competência para elaborar questões críticas.

Para a compreensão e a interpretação de informações estatísticas, segundo esse

autor, é necessário o conhecimento dos conceitos básicos de Probabilidade e de

Estatística.

Apoiando-se nas pesquisas de Joran et al. (1995 apud GAL, 2002), que

analisaram a ocorrência de números racionais, especialmente frações, porcentagens e

médias, em sete revistas de grande circulação voltadas a diferentes públicos adultos nos

Estados Unidos (Reader's Digest, National Geographic, Better Homes and Gardens,

National Enquirer, Time, Consumers’ Reports e Sports Illustrated) e nas revisões de

trabalhos de educadores matemáticos e estatísticos, Gal (2002) propõe cinco tópicos dos

conhecimentos básicos de Probabilidade e Estatística, assim sintetizados:

a necessidade dos dados e a maneira como são coletados;

a familiaridade com os termos e ideias básicas relacionados à Estatística;

a familiaridade com os termos e ideias básicas relacionados às

apresentações gráficas e tabulares;

a compreensão das noções básicas de Probabilidade;

o conhecimento sobre como as conclusões e inferências estatísticas são

obtidas.

Além desses cinco tópicos, Gal (2002) salienta mais quatro aspectos que

considera importantes para o desenvolvimento do conhecimento estatístico. O primeiro

é o conhecimento das ideias-chave da investigação estatística, sendo que a primeira

delas é a existência natural da variabilidade. O segundo aspecto é a compreensão de que

Page 42: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

40

a média aritmética e a mediana são instrumentos para resumir um conjunto de dados a

partir de sua medida de tendência central e que a média é mais afetada do que a

mediana. O terceiro aspecto é a compreensão de que o mesmo conjunto de dados pode

ser representado de duas maneiras: como gráficos e como tabelas. O quarto aspecto é o

conhecimento do significado de eventos aleatórios, ou ao acaso.

Além dos conhecimentos estatísticos, Gal (2002) salienta a importância dos

conhecimentos matemáticos, que permitem a correta utilização dos objetos estatísticos.

Por exemplo, para se calcular a média de um conjunto de dados é necessário dispor de

conhecimento sobre soma e divisão de números racionais.

Além do conhecimento de tópicos estatísticos e matemáticos, é necessário

também o conhecimento do contexto, pois, de acordo com Gal:

O conhecimento do contexto é a principal determinante de

familiaridade do consumidor com as fontes de variação e erro,

pois ele pode imaginar porque uma diferença entre grupos pode

ocorrer ou imaginar a razão de um estudo estar errado. (GAL,

2002, p. 17, tradução nossa)

O último elemento cognitivo proposto por Gal (2002) é a competência para

elaborar questões críticas:

As notícias apresentadas aos cidadãos podem, em geral, ser

manipuladas atendendo a interesses políticos e comerciais, entre

outros que podem estar ausentes no contexto de sala de aula e

no contexto da investigação empírica. (GAL, 2002, p. 15,

tradução nossa)

Para exemplificar como os meios de comunicação podem manipular dados, o

autor cita um estudo conduzido por Orcutt e Turner (1993 apud GAL, 2002), sobre

como a imprensa norte-americana analisou seletiva e intencionalmente os dados

coletados por um instituto de pesquisa a respeito do uso de drogas por alunos do Ensino

Médio nos Estados Unidos. Segundo os autores citados, os meios de comunicação

tentaram vender ao público a ideia de que havia uma epidemia de uso de drogas por

parte dos alunos do Ensino Médio, selecionando convenientemente somente alguns dos

dados coletados, além de utilizar métodos gráficos para fazer com que uma pequena

diferença percentual parecesse maior do que realmente era.

Page 43: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

41

Na perspectiva de Gal (2002), a competência para elaborar questões críticas, que

constitui um dos elementos cognitivos, é extremamente importante, embora

praticamente ignorada nos cursos de Estatística.

Além dos cinco elementos cognitivos já apresentados, Gal (2002) propõe ainda a

existência de dois elementos de disposição: um deles é a postura crítica; o outro são as

crenças e atitudes. De acordo com Silva (2007):

A postura crítica é a propensão de um adulto ter um

comportamento questionador diante de informações

quantitativas que podem ser unilaterais, viesadas ou

incompletas, seja de maneira intencional ou não. Quanto às

crenças e atitudes, se um indivíduo acredita ser capaz de

interpretar informações estatísticas (crença) e tem uma atitude

positiva em relação a investigação estatística, ele tende a

apresentar uma postura crítica em relação às informações

estatísticas. (SILVA, 2007, p. 25-26)

Portanto, a postura crítica e as crenças e atitudes são elementos essenciais para a

elaboração de questões críticas (quinto elemento cognitivo) e, em conjunto com os

outros quatro elementos cognitivos, formam a base teórica que irá sustentar a crítica

justificada.

O modelo de Letramento Estatístico proposto por Gal (2002) pode ser resumido

como mostra a Figura 1.

Figura 1. O modelo de Letramento Estatístico, segundo Gal (2002)

Fonte: Silva (2007, p. 26).

Page 44: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

42

Devemos lembrar que Gal (2002) faz o seguinte alerta: os componentes

cognitivos podem sofrer alterações conforme o contexto cultural de interesse ou a

sofisticação do Letramento Estatístico esperado. Assim, os elementos constituintes do

Letramento Estatístico podem diferir, de acordo com o contexto observado.

Com relação ao grau de sofisticação do Letramento Estatístico, Watson e

Callingham (2003) sugerem uma sequência hierárquica com seis níveis de tarefa:

idiossincrático, informal, inconsistente, consistente e não crítico, crítico e

matematicamente crítico. Nos níveis idiossincrático e informal, os alunos se esforçam

para interpretar a situação, mas o fazem apenas no nível do contexto. Nos dois níveis

seguintes, os alunos conseguem mobilizar os conceitos estatísticos em diferentes

contextos, mas há a ausência de crítica. Nos dois últimos níveis de Letramento

Estatístico, os alunos compreendem os conceitos estatísticos envolvidos e apresentam

postura crítica.

Watson e Callingham (2003) defendem a ideia de que, para termos em nossa

sociedade adultos estatisticamente letrados, é necessário que o Letramento Estatístico

tenha início na Educação Básica. Concordamos com essa ideia e também a defendemos,

sendo ela, por isso, é um dos motivos da realização deste trabalho.

Com o objetivo de promover o Letramento Estatístico em cursos introdutórios de

Estatística, Rumsey (2002) apresentou uma revisão de diversos estudos que procuravam

definir o que é Letramento Estatístico. De acordo com essa autora:

Uma revisão dos muitos artigos publicados e apresentados neste

tópico revela que a expressão “letramento estatístico” não está

definida de forma consistente. À luz da discussão apresentada

acima envolvendo as metas globais para nossos alunos, fica

claro que enquanto todas estas definições aplicam-se aos

objetivos, o uso da expressão “letramento estatístico” é muito

abrangente. Tentarei esclarecer omitindo essa expressão da

discussão e, ao invés disso, usarei duas expressões distintas para

designar os dois resultados de aprendizagem que discutimos.

“Competência Estatística” refere-se ao conhecimento básico

que sublinha o pensamento e raciocínio estatístico, e “cidadania

estatística” refere-se ao objetivo final de desenvolver a

habilidade de agir como uma pessoa educadora na atual era da

informação. A cidadania estatística pode muito bem exigir um

alto grau de pensamento e raciocínio estatístico. (RUMSEY,

2002, p. 4, tradução nossa)

Page 45: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

43

Rumsey (2002) opta por utilizar os termos competência estatística e cidadania

estatística. Considera que a competência estatística de base, tal como definida acima,

envolve os seguintes componentes:

consciência dos dados;

compreensão de determinados conceitos estatísticos básicos e de suas

terminologias;

conhecimento dos princípios básicos de coleta de dados e geração de

estatísticas descritivas;

habilidades básicas de interpretação (a capacidade de descrever o que

significam os resultados no contexto do problema);

habilidades básicas de comunicação (que permitem explicar os resultados

de outra pessoa).

O Quadro 1 abaixo sintetiza a competência estatística, tal como conceituada por

Rumsey (2002).

Quadro 1. Síntese da competência estatística apresentada por Rumsey (2002),

segundo Silva (2007)

Atenção aos dados Promove motivação aos alunos, pois os dados estão presentes

na vida diária, são frequentemente subutilizados e as decisões

baseadas em dados podem ter um forte impacto em nossa vida.

Entendimento básico

de Estatística

É a capacidade de relacionar o conceito dentro de um tema

não estatístico; explicar o que o conceito significa, usá-lo em

uma sentença ou dentro de um problema maior e responder

questões sobre ele. Não significa saber calcular, por exemplo,

o desvio-padrão, mas sim compreendê-lo.

Coleta de dados e

resultados

Dar a oportunidade aos estudantes para coletar seus próprios

dados e determinar os resultados estatísticos básicos podem

ajudá-los em sua aprendizagem.

Interpretação em um

nível básico

Saber interpretar resultados estatísticos (gráficos, tabelas etc.)

e comunicá-los com as próprias palavras.

Habilidades básicas

de comunicação

Leitura e escrita da informação estatística, ou seja comunicar a

outras pessoas a informação estatística, utilizando as próprias

palavras.

Fonte: Silva (2007, p. 27)

De acordo com Rumsey (2002), a competência estatística é a base para o

desenvolvimento do raciocínio e do pensamento estatístico, necessários para o

desenvolvimento de habilidades científicas e de pesquisa, que capacitam a explicar,

Page 46: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

44

julgar, avaliar e tomar decisões sobre a informação. De acordo com a autora, essas são

as habilidades que devem ser desenvolvidas em um primeiro nível de Letramento

Estatístico.

Embora Rumsey (2002) utilize os termos competência estatística e cidadania

estatística, tais definições são similares aos elementos cognitivos e aos elementos de

disposição propostos por Gal (2002). Entretanto, Rumsey (2002) traz dois novos

elementos para que o indivíduo possa atingir as habilidades científicas e de pesquisa,

que são o raciocínio e o pensamento estatístico. Mas o que querem dizer estes dois

novos termos?

2.3 – O Pensamento Estatístico e o Raciocínio Estatístico

O pensamento estatístico é definido por Snee (1990) como o processo de

pensamento que reconhece a presença da variação em tudo o que se faz. Segundo esse

autor, os elementos do pensamento estatístico são: o reconhecimento da variação

presente em todo o processo, a necessidade dos dados para medir a variação e o uso de

métodos e as ferramentas estatísticas para quantificar e entender a variação, permitindo

a tomada de decisões.

Wild e Pfannkuch (1999) abordaram os processos de pensamento envolvidos na

resolução de problemas estatísticos de forma mais ampla, estudando os processos de

pensamento envolvidos desde a formulação de problemas estatísticos até as conclusões

finais. Para tanto, basearam-se na literatura acadêmica e em entrevistas feitas com

estudantes de Estatística e com estatísticos profissionais, com o objetivo de desvendar

seus processos de raciocínio estatístico.

Nessa investigação empírica, identificaram uma estrutura de quatro dimensões

para o pensamento estatístico:

Dimensão 1: o ciclo investigativo.

Dimensão 2: tipos de pensamento.

Dimensão 3: o ciclo interrogativo.

Dimensão 4: disposições.

Page 47: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

45

Segundo Wild e Pfannkuch (1999), se compreendermos os padrões e as

estratégias de pensamento que esses profissionais utilizam para resolver problemas

estatísticos do mundo real, e se entendermos como tais padrões e estratégias são

interligados, poderemos resolver o desafio de como desenvolver o Letramento

Estatístico de nossos alunos.

Em uma reflexão baseada no artigo de Wild e Pfannkuch (1999), Chance (2002)

afirma que:

Um tema recorrente em todo o seu artigo é que a natureza

contextual do problema estatístico é um elemento essencial e,

como os modelos são ligados a este contexto, é nele onde

ocorre o pensamento estatístico. Embora muitas das aptidões

desejadas em pessoas que pensam estatisticamente, como a

credulidade e o ceticismo, sejam adquiridas através da

experiência, Wild e Pfannkuch argumentam que as ferramentas

da resolução de problemas, bem como as questões que

envolvem “preocupação” ou “disparo” [de um processo],

podem ser ensinadas aos alunos, em vez de depender-se

exclusivamente de um modelo de aprendizagem.

Evidentemente, o desenvolvimento dos modelos e das

ferramentas prescritivas que descrevem irá auxiliar na

identificação e instrução do pensamento estatístico. (CHANCE,

2002, p. 3, tradução nossa)

Baseando-se no estudo sistemático das definições dadas por Wild e Pfannkuch

(1999) das quatro dimensões do pensamento estatístico, Silva (2007, p. 30) assumiu em

sua pesquisa o pensamento estatístico com as “estratégias mentais utilizadas pelo

indivíduo para tomar decisão em toda etapa de um ciclo investigativo”. A Figura 2 traz

uma interpretação gráfica fornecida pela autora para a definição de pensamento

estatístico adotada:

Page 48: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

46

Figura 2. Estrutura do pensamento estatístico, proposta por Wild e Pfannkuch

(1999), elaborada por Silva (2007)

Fonte: Silva (2007, p. 31)

Segundo esta autora há uma relação entre Letramento Estatístico e pensamento

estatístico:

Quanto mais uma disciplina Estatística estimular o

desenvolvimento do pensamento estatístico, há maior

probabilidade de que os futuros cidadãos apresentem níveis de

letramento estatístico mais avançado. (SILVA, 2007, p. 31-32)

2.3.1 – Articulação entre pensamento, raciocínio e letramento

Ben-Zvi e Garfield (2004) apontam que, se por um lado, alguns educadores

estatísticos utilizam os termos pensamento estatístico e raciocínio estatístico para

definir as mesmas capacidades do Letramento Estatístico, outros educadores estatísticos

utilizam diferentes definições para a compreensão desses processos cognitivos.

Os autores apontam que foi realizada uma conferência em Israel em 1999, com

pequeno número de pesquisadores interessados nessa temática. No encontro, buscou-se

Page 49: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

47

gerar algumas definições comuns do que são letramento, raciocínio e pensamento

estatísticos. Foram apresentadas e discutidas definições preliminares. Uma segunda

conferência foi realizada na Austrália em 2001 e uma terceira nos Estados Unidos em

2003.

Garfield, Delmas e Chance (2003 apud BEN-ZVI; GARFIELD, 2004) afirmam

que, embora nenhum acordo formal tenha sido realizado sobre as definições e as

diferenças entre letramento, pensamento e raciocínio estatístico, as definições abaixo

resumem o pensamento atual desses teóricos.

Entendem-se por Letramento Estatístico:

As capacidades básicas e importantes que podem ser utilizadas

para compreender a informação estatística ou os resultados de

investigação. Essas capacidades incluem a possibilidade de

organizar os dados, construir e exibir tabelas e trabalhar com as

diferentes representações dos dados. Letramento estatístico

inclui também uma compreensão dos conceitos, vocabulários e

símbolos, e inclui também uma compreensão da probabilidade

como uma medida da incerteza. (GARFIELD; DELMAS;

CHANCE, 2003 apud BEN-ZVI; GARFIELD, 2004, p. 7,

tradução nossa)

Nota-se que essa definição apresenta os elementos cognitivos propostos por

Gal (2002).

O raciocínio estatístico, por sua vez, é assim definido:

Raciocínio Estatístico: pode ser definido como o motivo (causa)

para as pessoas com ideias estatísticas darem sentido a

informação estatística. Isso envolve a interpretação que as

pessoas fazem baseadas em um conjunto de dados,

representações dos dados ou medidas-resumo dos dados. O

raciocínio estatístico pode envolver a conexão de um conceito

com o outro (por exemplo, média e variância), ou pode

combinar ideias sobre dados e chances. Raciocinar significa

entender e ser capaz de explicar os processos estatísticos e ser

plenamente capaz de interpretar os resultados estatísticos.

(GARFIELD; DELMAS; CHANCE, 2003 apud BEN-ZVI;

GARFIELD, 2004, p. 7, tradução nossa)

E, para o pensamento estatístico, é dada a seguinte definição:

Pensamento Estatístico: Envolve uma compreensão de como e

por que as investigações ou estudos estatísticos são realizados e

as “grandes ideias” que sustentam a investigação estatística.

Estas ideias incluem a onipresença natural da variabilidade e

quando e como utilizar os métodos estatísticos adequados para a

análise dos dados, tais como os resumos numéricos (medidas-

Page 50: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

48

resumo) e apresentação gráfica dos dados. Ele também envolve

a compreensão da natureza da amostragem, como nós fazemos

inferência a partir de amostras obtidas de uma população e por

que o planejamento de experimentos é necessário a fim de

estabelecer uma causalidade. Inclui a compreensão dos modelos

que são utilizados para simular experimentos aleatórios, como

os dados são utilizados para estimar probabilidades e, como,

quando e por que as ferramentas inferenciais existentes podem

ser utilizadas para auxiliar o processo de investigação. O

pensamento estatístico inclui também a capacidade de entender

e utilizar o contexto do problema nas investigações formuladas,

tirar conclusões, reconhecer e compreender todo o processo (da

pergunta, passando para a coleta de dados e para a escolha do

método de análise para testar as hipóteses do problema, etc.).

Finalmente, pensadores estatísticos (pessoas que pensam

estatisticamente) são capazes de criticar e avaliar os resultados

de um problema resolvido ou de um estudo estatístico.

(GARFIELD; DELMAS; CHANCE, 2003 apud BEN-ZVI;

GARFIELD, 2004, p. 7, tradução nossa)

Silva (2007) e Campos (2007) afirmam que há uma relação intrínseca entre o

raciocínio estatístico, o pensamento estatístico e o Letramento Estatístico, e que um não

tem precedência sobre o outro. De acordo com Silva (2007):

[...] à medida que um indivíduo apresenta um nível de

raciocínio mais avançado (segundo o modelo de Garfield, 2002)

e pensa estatisticamente (conforme o modelo de Wild e

Pfannkuch, 1999), seu nível de letramento estatístico será

maior. Ou seja, o nível de letramento estatístico é dependente

do raciocínio e pensamento estatísticos. Por outro lado, à

medida que o nível de letramento aumenta, o raciocínio e o

pensamento estatístico tornam-se mais apurados. (SILVA,

2007, p. 35)

É a essa relação intrínseca entre letramento, raciocínio e pensamento

estatísticos que se refere o termo Letramento Estatístico utilizado neste trabalho.

2. 4 - A Teoria Antropológica do Didático

A Teoria Antropológica do Didático (TAD), proposta por Chevallard (1996,

1999) é o estudo do homem perante o saber matemático:

A razão para a utilização do termo “antropológico” é que a

TAD situa a atividade matemática e, em consequência, a

atividade do estudo de Matemática, dentro do conjunto das

atividades humanas e das instituições sociais.

(CHEVALLARD, 1999, p. 221)

Page 51: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

49

De acordo com Almouloud (2007), esta teoria:

[...] é uma contribuição importante para a Didática da

Matemática, pois, além de ser uma evolução do conceito de

transposição didática, inserindo a didática no campo da

antropologia, focaliza os estudos das organizações

praxeológicas didáticas pensadas para o ensino e a

aprendizagem de organizações matemáticas. (ALMOULOUD,

2007, p. 111)

A TAD tem por postulado básico a praxeologia (ou as organizações

praxeológicas). Para Chevallard (1999):

A premissa básica da TAD é contrária a esta visão particularista

do mundo social: na verdade admite-se que toda atividade

humana realizada regularmente pode ser descrita por um único

modelo, aqui resumido pela palavra de praxeologia.

(CHEVALLARD, 1999, p. 222)

2.4.1 – A noção de organização praxeológica

Para Chevallard (1991, 1995, 1996, 1999) toda atividade humana realizada

regularmente pode ser analisada a partir de diferentes maneiras e de diferentes pontos de

vista, em um sistema de tarefas, ou seja, um sistema de atividades relativamente bem

circunscritas que se delineiam no decorrer da prática.

Para esse autor:

[...] “resolver uma equação do segundo grau” é um tipo de

tarefa, mas “fechar a torneira” ou “abrir a porta”, “lavar o rosto”

ou “cumprimentar”, “corrigir um pacote de exames” ou

“elaborar uma maneira de introduzir alunos do DEUG1 na

noção de integral” também são tipos de tarefas.

(CHEVALLARD, 1995, p. 2)

Nesse contexto, a utilização do termo “tarefa” assume sentido relativamente

amplo. Seja então T um determinado conjunto de tarefas, por exemplo o de “resolver

uma equação do segundo grau” ou o de “abrir uma porta”. A praxeologia relativa a T

requer (em princípio) uma maneira de executar as tarefas contidas em T, isto é, uma

forma particular de realizar o conjunto de tarefas T, que o autor denomina técnica (do

grego tekhnê, ‘saber fazer’).

1 No ensino francês, DEUG (Diplôme d’Études Universitaires Générales) refere-se aos dois primeiros

anos da educação superior.

Page 52: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

50

Portanto, uma praxeologia relativa ao conjunto de tarefas T possui, em princípio,

pelo menos uma técnica relativa a T, isto é, contém um bloco designado “saber fazer”.

Para Chevallard (1999) entende-se por tecnologia, um discurso racional sobre a

técnica. Tal discurso tem por objetivo justificar racionalmente a técnica utilizada. Por

sua vez a teoria, é um nível mais avançado de justificativa, isto é, a justificativa da

tecnologia. Em síntese:

Esquema 1: Esquema da organização praxeológica, proposta por

Chevallard (1999)

Praxeologia

Saber Fazer Saber

Fonte: O autor

Por exemplo, considere-se o seguinte problema, que costuma aparecer em livros

didáticos do Ensino Fundamental: “Num avião viajam 4 brasileiros, 2 japoneses, 3

italianos e 3 espanhóis. Escolhendo um passageiro ao acaso, determine a

probabilidade de ele ser espanhol.”

Esse problema pode ser colocado na forma da seguinte tarefa T: calcular a

probabilidade de um evento. Tal tarefa pode ser executada pela seguinte técnica:

1) Descrever o espaço amostral:

U = {B1, B2, B3, B4, J1, J2, I1, I2, I3, E1, E2, E3}

2) Descrever o evento de interesse:

A: O passageiro escolhido ao acaso é espanhol.

3) Descrever os casos favoráveis:

A = {E1, E2, E3}

4) Calcular a razão entre o número de casos favoráveis e o número de casos

possíveis:

P(A) = n(U)/n(A) = 3/12 = 1/4 = 0,25

A tarefa e a técnica constituem o bloco “saber fazer”, mas quais são a tecnologia

e a teoria que justificam essa técnica, isto é, qual é o bloco do saber? Designaremos o

Page 53: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

51

bloco do saber por discurso teórico-tecnológico. Em nosso exemplo, o conhecimento

matemático envolvido é o conceito de probabilidade de um evento, e o que melhor se

adapta a esse caso é a definição clássica de probabilidade, assim expressa por Dantas

(2004):

Consideramos um espaço amostral S com N eventos simples

que suporemos igualmente possíveis. Seja A um evento de S

composto por m eventos simples. A probabilidade de A, que

denotaremos por P(A), é definida por:

N

mAP )(

(DANTAS, 2004, p. 25)

Resumindo: em torno de um conjunto de tarefas T, encontra-se um trio formado

por uma técnica capaz de executar esse conjunto de tarefas, uma tecnologia relativa a

essa técnica e uma teoria relativa a esta tecnologia, o conjunto (sistema) assim formado

é denominado praxeologia ou organização praxeológica relativa ao conjunto de tarefas

T.

2.4.2 – As noções de Organização Matemática e Organização Didática

Uma organização matemática é, segundo Chevallard (1999), uma resposta a uma

questão ou a um conjunto de questões. Em outras palavras, é uma resposta a uma tarefa

ou a um conjunto de tarefas. O autor não define claramente o que seja uma organização

matemática, mas nos fornece um esboço de sua estrutura, no qual postula que tal

organização é constituída de quatro componentes principais: tipos de problemas

(tarefas), técnicas, tecnologias e teorias – ou seja, por uma organização praxeológica.

Observando-se as relações dinâmicas que operam entre esses componentes ao se

executar um determinado conjunto de atividades matemáticas, tendo por objetivo

responder as questões propostas por esse conjunto de atividades, emergem duas faces

inseparáveis: o bloco do saber fazer e o bloco do saber. Ao unir esses dois blocos

referentes a um conjunto de atividades matemáticas, caracterizamos uma organização

matemática.

Mas qual é o objetivo de se elaborar uma organização matemática? Colocado de

outra forma, quais são as condições que possibilitam o desenvolvimento de atividades

matemáticas institucionalizadas? Ou, fazendo referência a nossa questão de pesquisa:

quais são as condições que possibilitam as atividades que têm por finalidade o

Page 54: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

52

desenvolvimento do Letramento Estatístico na Escola Básica ou nos cursos de

Licenciatura em Matemática?

Como toda atividade humana, o estudo (da Matemática/Estatística) requer um

discurso que justifique e interprete a prática. Portanto, paralelamente à noção de

organização matemática, surge a noção de organização didática (OD).

As organizações didáticas, segundo Chevallard (1999), são as respostas mais ou

menos explícitas referentes a estas práticas, com as suas duas caras: “práxis” formada

pelas tarefas e pelas técnicas didáticas e o “logos” formado pelo discurso sobre o saber-

fazer, isto é, as tecnologias e teorias didáticas.

Por exemplo, consideremos a OM relativa ao estudo da equação do segundo

grau no oitavo ou nono ano do Ensino Fundamental. Tal organização possui suas

tarefas, suas técnicas e seu discurso teórico-tecnológico.

Temos então a seguinte pergunta: “Como ensinar equações do segundo grau para

alunos do oitavo ou nono ano do Ensino Fundamental”. A questão pode ser colocada na

forma da seguinte tarefa: “Ensinar a equação do segundo grau para alunos do oitavo

ou nono ano do Ensino Fundamental”. Tal tarefa, para ser executada, possui uma

técnica, que por sua vez possui um discurso teórico-tecnológico construído a partir de

elementos do campo da Didática da Matemática.

2.5 – A perspectiva ecológica

De acordo com Artaud (1998), a perspectiva ecológica se apresenta como um

meio de questionar o real. O que existe e por que existe? O que não existe e por que não

existe? O que existe poderia deixar de existir? Sobre quais condições o que existe

poderia deixar de existir? O que não existe poderia existir? Sob quais condições o que

não existe poderia existir?

Essa perspectiva apresenta determinados elementos, discutidos a seguir, que

permitem ao pesquisador desprender-se de certas ilusões de transparência e tornar-se

mais atento a seu objeto de estudo.

Embora Artaud (1998) utilize a definição de ecossistema proposta por Conlivaux

(1993 apud ARTAUD, 1998), neste trabalho optamos pela definição proposta por

Odum e Barrett (2007), a qual descreve um ecossistema como:

Page 55: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

53

Uma comunidade biótica e seu ambiente abiótico funcionando

como um sistema (usado pela primeira vez por A. G. Tansley

em 1935); uma unidade discreta que consiste de partes vivas e

não vivas interagindo para formar um sistema ecológico.

(ODUM; BARRET, 2007, p. 519)

Segundo Odum e Barret (2007), uma comunidade biótica é o conjunto de todos

os seres vivos que habitam em uma mesma área e podem estabelecer relações entre si.

Por sua vez, seu ambiente abiótico é o conjunto de todos os fatores (luz, ar, solo,

temperatura etc.) que afetam diretamente o desenvolvimento fundamental à vida. Por

exemplo, os seres vivos são afetados por fatores climáticos; caso ocorra uma geada,

muitas plantas morrem.

A Ecologia entende o conceito de sistema ecológico como um “conjunto de

componentes interdependentes funcionando dentro de um limite definido” (ODUM;

BARRET, 2007, p. 535). Tal limite é a unidade discreta do sistema ecológico ou parcela

de terra de tamanho conveniente, na definição proposta por Conlivaux (1993 apud

ARTAUD, 1998). As partes vivas (comunidade biótica) e não vivas (ambiente abiótico)

dessa porção de terra constituem o conjunto de componentes interdependentes.

Pretendemos utilizar a definição de ecossistema proposta por Odum e Barret

(2007) como uma metáfora, pois nosso objetivo é compreender as relações que podem

ser estabelecidas entre o ensino de Estatística na Educação Básica e o ensino de

Estatística nos cursos de Licenciatura em Matemática, bem como compreender de que

modo essas relações afetam o desenvolvimento do Letramento Estatístico. Nessa

perspectiva, a comunidade biótica (seres vivos) seriam os objetos

matemáticos/estatísticos e o ambiente abiótico seriam os fatores que afetam o

desenvolvimento desses objetos. Por exemplo, o conceito matemático de probabilidade

de um evento não “vivia” no ensino fundamental. A partir da publicação dos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN), que sugeriram que esse tópico matemático fosse

focalizado desde o Ensino Fundamental, esse conceito passou a “viver” nesse período

escolar.

Portanto, para melhor compreendermos a interação entre a formação inicial de

professores de Matemática e sua atuação na Escola Básica, podemos postular a

existência de vários ecossistemas.

Page 56: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

54

Segundo Artaud (1998), alguns didatas de Matemática identificaram em seus

estudos quatro tipos de ecossistemas. São eles:

1. o ecossistema do saber;

2. o ecossistema didático escolar;

3. o ecossistema profissional;

4. o ecossistema noosferiano.

O ecossistema do saber refere-se ao ambiente em que a Matemática é produzida.

O ecossistema didático escolar é o ambiente no qual se estuda a Matemática. O

ecossistema profissional é onde se utiliza a Matemática para concretizar algumas

tarefas. O ecossistema noosferiano, por sua vez, é onde a Matemática é manipulada para

fins de transposição.

Em nosso estudo, não buscaremos trabalhar com tais delimitações, mas sim com

a articulação entre esses ecossistemas. Como nosso objetivo não é construir uma

proposta de sequências de ensino para a Estatística na Escola Básica, mas sim analisar a

formação inicial dos professores de Matemática quanto a tal ensino, justificamos nossa

escolha de não separar os ecossistemas descritos por Artaud (1998), mas sim buscar

identificar ecossistemas específicos a nossa pesquisa (de acordo com os interesses e

objetivos de nosso estudo), que apresentaremos no Capítulo III.

Baseando-nos na ideia de ecossistema proposta por Odum e Barret (2007), nas

ideias de Artaud (1998) e em nosso objeto de pesquisa, definimos inicialmente dois

grandes ecossistemas: o ecossistema do ensino de Matemática na Educação Básica e o

ecossistema do curso de Licenciatura em Matemática.

Uma vez definidos esses dois grandes ecossistemas, que interações serão

analisadas?

Percebemos a necessidade de definir os conceitos de nicho e de hábitat,

provenientes da Ecologia. O conceito de nicho ecológico, de acordo com Begon,

Townsend e Harper (2007), é geralmente mal compreendido e mal empregado. Para

esses autores, ele é muitas vezes utilizado de maneira imprecisa para descrever o tipo de

lugar em que um organismo vive, que na verdade é seu hábitat.

O hábitat de um organismo intestinal seria o canal alimentar de

um animal; o habitat de um afídeo poderia ser um jardim; o

Page 57: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

55

habitat de um peixe poderia ser um lago. (BEGON;

TOWNSEND; HARPER, 2007, p. 31)

No caso específico de nosso trabalho, definimos nossa “espécie” como os

objetos estatísticos, os quais vivem em diferentes hábitats. Eles podem viver no

currículo de Matemática na Escola Básica, nos PCN, no currículo dos cursos de

Licenciatura em Matemática, nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), nas

propostas curriculares estaduais e municipais e nos livros didáticos para a Escola

Básica, entre outros. Citam-se também os exames de larga escala como hábitats: Exame

Nacional de Ensino Médio (ENEM), SAEB, Prova Brasil, ENADE etc.

Assim como em um lago (hábitat de alguns tipos de peixes) não há somente

peixes, os exames nacionais de larga escala e os documentos oficiais não são hábitats

exclusivos dos objetos estatísticos.

Os objetos estatísticos também vivem no currículo da escola básica e no

currículo dos cursos de licenciatura em Matemática, etc.

Retornando aos conceitos específicos da Ecologia, Begon, Townsend e Harper

(2007) definem o conceito de nicho da seguinte maneira:

Um nicho não é um local, mas uma ideia: um resumo das

tolerâncias e necessidades de um organismo. [...] é fácil

visualizar os estágios de um nicho multidimensional. [...] o

modo pelo qual duas dimensões de um nicho (temperatura

e salinidade) juntas definem uma área, que é parte do

nicho de um camarão-de-areia. Três dimensões, como

temperatura, pH e disponibilidade de um determinado

alimento, podem definir o nicho como um volume. Na

realidade, considera-se um nicho como um hipervolume n-

dimensional, em que n é o número de dimensões que o

constituem. É difícil imaginar (e impossível delinear) um

diagrama de um nicho mais realista. Contudo, a versão

tridimensional simplificada capta a ideia do nicho

ecológico de uma espécie. Ela é definida pelos limites

onde pode viver, crescer e se reproduzir, ficando claro que

nicho é um conceito, em vez de um local. (BEGON;

TOWNSEND; HARPER, 2007, p. 31)

Por exemplo, a Escola Básica é uma delimitação em que os objetos estatísticos

podem “viver”, “crescer” e se “reproduzir”. Por outro lado, o curso de Licenciatura em

Matemática é outra delimitação em que os objetos estatísticos também podem “viver”,

“crescer” e se “reproduzir”.

Page 58: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

56

Dentro dessa perspectiva, como o nicho dos saberes profissionais e o nicho dos

saberes escolares se relacionam?

Daí nossa escolha metodológica pela análise de documentos: a busca de indícios

de condições de sobrevivência dos saberes estatísticos, específicos e didáticos na Escola

Básica e nos cursos de Licenciatura em Matemática.

Portanto, que relações podemos estabelecer entre o ensino de Estatística na

Educação Básica e o Ensino de Estatística nos cursos de Licenciatura em Matemática

visando potencializar a formação de professores para o Letramento Estatístico?

O estudo ecológico nos permite inferir que diferentes hábitats proporcionam

nichos distintos para determinada espécie. Portanto algumas questões se apresentam

como subquestões em nossa pesquisa. São elas:

1. Como os objetos estatísticos vivem e como eles se desenvolvem na Escola

Básica?

2. Como os objetos estatísticos vivem e como eles se desenvolvem na Licenciatura

em Matemática?

3. Os diferentes hábitats em questão proporcionam um nicho favorável para que os

objetos estatísticos desempenhem a função de desenvolver o Letramento

Estatístico dos alunos da Escola Básica?

2.6 - A formação inicial de professores

A formação inicial de professores pode ser abordada a partir de vários aspectos:

segundo o ponto de vista da legislação relativa a essa formação, das características

socioeducacionais dos licenciandos, das características presentes nos cursos de

formação de professores e dos currículos e ementas dos cursos de Licenciatura, entre

outros aspectos.

No Capítulo I, apresentamos algumas pesquisas que abordaram a formação de

professores de Matemática a partir dos currículos e das ementas dos cursos de

Licenciatura em Matemática, além de outros aspectos.

No presente tópico, abordaremos a formação inicial de professores a partir do

perfil dos alunos ingressantes nos cursos de Licenciatura, bem como dos saberes

Page 59: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

57

docentes. Tal opção deve-se ao fato de que tais elementos são indissociáveis, e por isso

focalizaremos a formação inicial dos professores a partir destes dois aspectos.

2.6.1 – Perfil dos alunos dos cursos de Licenciatura

Quem são os alunos das Licenciaturas? Quais as características desses alunos?

Segundo Gatti e Barreto (2009), é importante identificar as características dos alunos de

Licenciatura, uma vez que têm peso sobre a aprendizagem e seus desdobramentos na

atuação profissional.

Essas autoras traçaram o perfil dos alunos de Licenciatura tomando por base o

questionário socioeconômico do Exame Nacional de Cursos (ENADE) de 2005,

abrangendo 137.001 sujeitos.

De acordo com Gatti e Barreto (2009), o principal motivo que conduz a optar

por um curso de Licenciatura é a intenção de vir a exercer o magistério – motivo

alegado por 53,4% dos alunos que responderam a um questionário. Um achado

interessante foi que 20,8% dos licenciandos optaram por essa formação para disporem

de uma opção de trabalho caso não consigam exercer outro tipo de atividade:

Observe-se, contudo, que a escolha da docência como uma

espécie de “seguro-desemprego”, ou seja, como uma alternativa

no caso de não haver possibilidade de exercício de outra

atividade, é relativamente alta, sobretudo entre os licenciandos

de outras áreas que não a Pedagogia. (GATTI; BARRETO,

2009, p. 160)

As autoras observam que 46% dos alunos se situam na faixa etária entre 18 a 24

anos, considerada a ideal. Para compreendermos esse achado, basta lembrar que se

espera que o aluno conclua o Ensino Médio com idade de 17 ou 18 anos.

Dos estudantes pesquisados, 75,4% eram mulheres. Segundo as autoras, essa

predominância não é fenômeno recente:

Desde a criação das primeiras escolas normais, no final do

século XIX, as mulheres começaram a ser recrutadas para o

magistério das primeiras letras. A própria escolarização de nível

médio da mulher se deu pela expansão dos cursos de formação

para o magistério, permeados pela representação do ofício

docente como prorrogação das atividades maternas e pela

naturalização da escolha feminina pela educação. (GATTI;

BARRETO, 2009, p. 162)

Page 60: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

58

Atualmente, as mulheres constituem a maioria dos estudantes de Pedagogia

(92,5%) e na Licenciatura em Matemática esse índice é de 54,5%.

Em relação à situação socioeconômica, 50,4% dos alunos são oriundos de

famílias cuja renda mensal varia de 3 a 10 salários mínimos.

Quanto à jornada de trabalho, 43,3% trabalhavam 40 horas semanais ou mais e

21% trabalham entre 20 e 40 horas semanais, ou seja, trata-se de alunos que, em sua

grande maioria, empregam a maior parte de seu tempo em atividades laborais.

Quanto à bagagem cultural, Gatti e Barreto (2009), consideram que a

escolaridade dos pais pode ser tomada como indicador. Neste quesito, os pais de 41,5%

dos alunos completaram a quarta série (atual quinto ano) do Ensino Fundamental e os

de 17,2% completaram o Ensino Fundamental. Para as autoras, isso denota um processo

muito claro de ascensão desse grupo geracional a níveis de formação mais altos que os

alcançados na geração anterior.

Outro achado é que os estudantes provêm, em sua maioria, da escola pública.

São 68,4% os que cursaram todo o Ensino Médio em escolas públicas e 14,2% os que o

fizeram parcialmente. A proporção de alunos que frequentaram apenas o ensino médio

privado é menor entre os alunos da Pedagogia (14,3%) do que entre os das demais

licenciaturas (18,3%).

Para Gatti e Barreto (2009):

As condições de formação anterior dos estudantes também aqui

merecem ser consideradas, visto que eles provêm, em sua

maioria, da Escola Pública. São 68,4% os que cursaram todo o

ensino médio no setor público e 14,2% os que fizeram

parcialmente. As instituições formadoras e as políticas precisam

trabalhar com esse dado. (GATTI; BARRETO, 2009, p. 258)

2.6.2 – Saberes docentes

Numa sociedade organizada, a educação, como prática institucionalizada, tem

por objetivo contribuir, segundo Severino (2009):

[...] para a integração dos homens no tríplice universo das

práticas que tecem sua existência histórica concreta: no

universo do trabalho, âmbito da produção material e das

relações econômicas; no universo da sociabilidade, âmbito das

Page 61: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

59

relações políticas, e no universo da cultura simbólica, âmbito da

consciência pessoal, da subjetividade e das relações

intencionais. (SEVERINO, 2009, p. 161)

Severino (2003, 2009) defende que os investimentos na formação inicial e

continuada de professores não podem se reduzir a uma qualificação puramente técnica.

Esta precisa também ser política, sendo que, para o autor, política é a expressão da

sensibilidade às condições histórico-sociais da existência dos sujeitos envolvidos na

Educação.

Portanto, na formação inicial de professores, esse autor defende que ela deva

abranger ao menos três núcleos disciplinares: o dos conteúdos específicos, o dos

componentes pedagógicos e o dos componentes antropológicos. O mais importante,

segundo o autor, é a articulação esses três núcleos.

Para Severino (2003) o núcleo dos conteúdos específicos refere-se à cultura

científica, isto é, à ciência. No caso da formação inicial de professores de Matemática

da Escola Básica, trata-se da Matemática e da Estatística.

O núcleo dos componentes pedagógicos refere-se à dimensão das habilidades

técnicas, dos instrumentos técnicos e metodológicos que são utilizados no exercício da

profissão docente. Nesse componente situam-se as didáticas, as metodologias de ensino

– enfim, todos os ramos do conhecimento que respondem à questão: Como ensinar o

assunto X?

Antes de apresentar o que entende por núcleo dos componentes antropológicos,

Severino (2003), aborda o conceito de dimensão das relações situacionais, utilizada

para:

Designar o fato concreto de que o homem é um ser de relações,

um ser que se encontra sempre numa situação de permanente

relacionamento com sua própria interioridade, com os produtos

simbólicos mediante os quais expressa a intervenção de sua

subjetividade, de relacionamento com os seus semelhantes,

próximos e distantes no tempo e/ou no espaço e com os dados

objetivos material, onde desenvolve sua vida. Com efeito, sua

vida prática é tecida dessas relações. (SEVERINO, 2003, p. 79)

Tal conceito é utilizado pelo autor para defender a importância do

autoconhecimento, imprescindível para o professor por lhe permitir a eficácia no ato de

ensinar. Portanto, também é necessário haver:

Subsídios das Ciências do campo da Psicologia nos cursos de

formação de educadores. Lidando com a vivência subjetiva dos

Page 62: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

60

indivíduos, a psicologia ajuda a todos a conhecerem melhor a si

mesmos e aos outros. (SEVERINO, 2003, p. 80)

Além da Psicologia, Severino (2003) defende que na formação inicial de

professores são necessários elementos das Ciências Sociais, porque o professor é um

indivíduo inserido em uma sociedade em um determinado momento histórico. Além

disso, o professor forma novos indivíduos de uma espécie, mas como pode ele cumprir

essa função se não conhece bem essa espécie? Não sabe como ela surgiu, como se

desenvolveu e nem como vem se desenvolvendo.

De acordo com este autor, para auxiliar o professor a compreender essas

questões é necessário o estudo de elementos de Antropologia em sua formação inicial.

Conclui que:

Não podem, pois, estar ausentes do currículo de um curso de

formação de educadores componentes de cunho filosófico que

sirvam de mediadores para a elucidação desse sentido de

pertença dos sujeitos/educandos à espécie humana, em sua

especificidade. (SEVERINO, 2003, p. 80)

A esse conjunto em que se articula a visão antropológica, histórica, social,

política, econômica, psíquica e filosófica, Severino (2003) designa por núcleo dos

componentes antropológicos.

A importância da proposta de Severino (2003) é a de abordar as três grandes

questões:

1) O que ensinar?

2) Como ensinar?

3) Para quem ensinar?

Geralmente, segundo o autor, os cursos de formação de professores se

restringem aos dois primeiros aspectos, ou seja, à dimensão técnica. A dimensão

política, qual seja, para quem ensinar, raramente aparece. Em nosso ponto de vista, na

dimensão política cabe também uma quarta questão: Por que ensinar?

Defendemos que a visão integracionista proposta por Severino (2003) é um

avanço em relação à visão predominante, que defende a ideia de que para ser um bom

professor basta saber o conteúdo e o modo de ensinar esse conteúdo (a dimensão

puramente técnica).

Outro autor que aborda o conhecimento do professor é Shulman (1986, 1987),

que defende a ideia de que o professor precisa conhecer bem os conteúdos que se

Page 63: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

61

propõe a ensinar. Alerta, porém, que apenas o domínio dos conteúdos a serem ensinados

não é suficiente para o exercício profissional docente.

Assim como Severino (2003), Shulman (1986, 1987) agrupa o conhecimento

dos professores em três categorias, as quais denomina: conhecimento específico,

conhecimento didático do conteúdo e conhecimento do currículo.

Considera que o conhecimento específico é a compreensão dos conceitos, dos

processos e dos procedimentos de uma área específica do conhecimento humano, isto é,

o saber científico ao qual o professor se propõe a ensinar – um equivalente ao núcleo

dos conteúdos específicos proposto por Severino (2003).

O conhecimento didático do conteúdo é a relação entre os conhecimentos

específicos do conteúdo e os métodos gerais de ensino, isto é, as formas de ensinar

determinado conteúdo.

O conhecimento do currículo engloba recursos e materiais que o professor

escolhe para abordar o conteúdo, bem como a ordem e o modo de apresentá-lo.

O conhecimento didático do conteúdo e o conhecimento do currículo proposto

por Shulman (1986, 1987) podem ser englobados no núcleo dos componentes

pedagógicos proposto por Severino (2003).

Na organização proposta por Shulman (1986, 1987) não encontramos uma

categoria similar ao núcleo dos componentes antropológicos proposta por Severino

(2003).

Severino (2009) argumenta que, hoje, a formação didática e específica não é

suficiente. Essa ideia é também defendida por Moll (2011) e por Font (2013), que

argumentam que os currículos da educação básica têm atualmente por objetivo

desenvolver competências e habilidades. Tal objetivo gerou um novo paradigma, pois o

ensino não está mais baseado nos conteúdos curriculares, que são apenas meios para o

desenvolvimento das competências e das habilidades almejadas para nossos alunos.

Esses autores defendem o currículo por competências na formação inicial de

professores, e tal currículo deve ser pensado para o desenvolvimento de uma

competência profissional, que permita ao futuro professor desenvolver e avaliar as

competências e habilidades matemáticas comtempladas no currículo da Educação

Básica.

Ponte (1999), colocando-se de forma crítica frente a Shulman (1986, 1987),

desdobra o conhecimento profissional dos professores em quatro grandes domínios: o

Page 64: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

62

conhecimento dos conteúdos no ensino, o conhecimento do currículo, o conhecimento

do aluno e o conhecimento do processo instrucional, assim considerados:

(1) o conhecimento dos conteúdos de ensino, incluindo as

suas interrelações internas e com outras disciplinas e as suas

formas de raciocínio, de argumentação e de validação; (2) o

conhecimento do currículo, incluindo as grandes finalidades

e objectivos e a sua articulação vertical e horizontal; (3) o

conhecimento do aluno, dos seus processos de

aprendizagem, dos seus interesses, das suas necessidade e

dificuldades mais frequentes, bem como dos aspectos

culturais e sociais que podem interferir positiva ou

negativamente no seu desempenho escolar; e (4) o

conhecimento do processo instrucional, no que se refere à

preparação, condição e avaliação da sua prática lectiva. Este

conhecimento, longe de estar isolado, relaciona-se de um

modo muito estreito com diversos aspectos do

conhecimento pessoal e informal do professor da vida

quotidiana como o conhecimento do contexto (da escola, da

comunidade, da sociedade) e o conhecimento que ele tem

de si mesmo. (PONTE, 1999, p. 3)

A organização proposta por Ponte (1999) é mais completa que a sugerida por

Shulman (1986, 1987) e do que a elaborada por Severino (2003). Portanto, neste estudo,

optamos por utilizá-la como referencial juntamente com a integração dos quatro

domínios, em referência à articulação dos núcleos presentes na proposta de Severino

(2003).

A partir do que foi exposto e baseando-nos na perspectiva ecológica e na

nomenclatura utilizada por Ponte (1999), caracterizamos, por hipótese, os seguintes

ecossistemas:

1. O ecossistema do conhecimento dos conteúdos de ensino: refere-se ao

ambiente em que ocorre a compreensão dos conceitos, dos processos e dos

procedimentos de uma área específica do conhecimento humano. Nesse

ambiente também ocorre a compreensão das competências e das habilidades

que os conceitos e processos desta área específica do conhecimento humano

desenvolvem no indivíduo.

2. O ecossistema do conhecimento do currículo: refere-se ao ambiente em que

ocorre a compreensão do currículo, bem como suas grandes finalidades e

articulações. Nesse ambiente ocorre também a compreensão do

desenvolvimento das competências e habilidades determinadas por esse

currículo, em detrimento de outras, assim como as articulações de diferentes

habilidades e competências.

Page 65: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

63

3. O ecossistema do conhecimento do aluno: refere-se ao ambiente em que

ocorre a compreensão do aluno, de seus processos de aprendizagem, de seus

interesses e de suas necessidades e dificuldades. Além disso, nesse ambiente

também se procuram compreender os aspectos culturais, políticos e sociais

que podem interferir de forma positiva ou negativa no desenvolvimento das

competências e habilidades dos alunos.

4. O ecossistema do processo instrucional: refere-se ao ambiente em que ocorre

o processo instrucional, isto é, a preparação de aulas, as condições em que

estas serão ministradas e as avaliações, sejam elas planejadas pelo professor

ou institucionais, além de reflexões sobre a prática. Nesse ambiente ocorre a

compreensão do desenvolvimento das competências e das habilidades dos

indivíduos e as formas de avaliar seu desenvolvimento.

Esses quatro ecossistemas permitem-nos abordar os seguintes aspectos presentes

na Educação Básica:

1. O que ensinar?

2. Por que ensinar?

3. Para quem ensinar?

4. Como ensinar?

No presente estudo, tais aspectos referem-se não só a: O que ensinar da Estatística?

Por que ensinar Estatística? Para quem ensinar Estatística?, mas também: Como ensinar

Estatística de forma que os alunos possam desenvolver o Letramento Estatístico,

atentando-se sobre como relacionar de forma integrada estes quatro aspectos na

formação de professores.

Gatti e Barreto (2009) afirmam que:

Currículos precisam ser mais bem equacionados nos diferentes

níveis de ensino, em particular na formação de professores. [...]

Abundam resoluções e normas que acabam por gerar remendos

nos processos formativos de professores, gerando um processo

entrópico, que acaba por mantê-los com formas e conteúdos já

exaustivamente analisados como inoperantes quando se pensa

educação de qualidade.

No que concerne à formação de professores, uma verdadeira

revolução nas estruturas institucionais formativas e nos

currículos de formação é necessária. [...] A formação de

professores não pode ser pensada a partir das ciências e seus

diversos campos disciplinares, como adendo destas áreas, mas a

Page 66: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

64

partir da função social própria a escolarização – ensinar às

novas gerações o conhecimento acumulado e consolidar valores

e práticas coerentes com nossa vida civil. [...] A formação de

profissionais professores para a educação básica tem que partir

de seu campo de prática e agregar a este os conhecimentos

necessários selecionados como valorosos, em seus fundamentos

e com as mediações didáticas necessárias, sobretudo por se

tratar de formação para o trabalho educacional com crianças e

adolescentes. (GATTI; BARRETO, 2009, p. 256-257)

Em concordância com Gatti e Barreto (2009), bem como com Moreira (2004),

defendemos que a formação dos professores deve ser vista a partir de seu campo de

prática, isto é, das necessidades da Escola Básica e de seus atores. A partir desta visão,

delimitamos nossa pesquisa e fizemos nossa opção metodológica, que será discutida a

seguir.

2.7 – Fundamentação metodológica

Neste tópico apresentaremos nossa questão de pesquisa e a fundamentação

metodológica adotada para seu desenvolvimento.

2.7. 1 - Questão de pesquisa

Esta tese tem por objetivo responder a seguinte questão:

Quais são as relações que podemos estabelecer entre o ensino de Estatística

na Educação Básica e o Ensino de Estatística nos cursos de Licenciatura em

Matemática visando potencializar (aprimorar) a formação de professores para o

Letramento Estatístico à luz da Ecologia do Didático?

A essa questão estão associadas as seguintes subquestões, já apresentadas

anteriormente:

1. Como os objetos estatísticos vivem e como eles se desenvolvem na Escola

Básica?

2. Como os objetos estatísticos vivem e como eles se desenvolvem na Licenciatura

em Matemática?

Page 67: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

65

3. Os diferentes hábitats em questão proporcionam um nicho favorável para que os

objetos estatísticos desempenhem a função de desenvolver o Letramento

Estatístico dos alunos da Escola Básica?

2.7. 2 - Metodologia e procedimentos

Para responder a questão de pesquisa, adotamos como metodologia de pesquisa

a análise documental.

A opção por esse método deve-se ao fato de que, como já exposto anteriormente,

baseando-nos em Moreira (2004) e em Gatti e Barreto (2009), defendemos que a

formação dos professores deve ser vista a partir de seu campo de prática, ou seja, das

necessidades da Escola Básica e de seus atores.

Por isso optamos por examinar os documentos da Escola Básica, uma vez que

estes apresentam a visão institucional desse segmento de ensino e de suas necessidades.

Como procuramos estabelecer relações entre o ensino de Estatística na Educação Básica

e na formação de professores, optamos também por examinar os documentos que regem

a formação dos professores.

Nesta pesquisa, adotamos para documento a definição proposta por Cellard

(2008):

[...] tudo o que é vestígio do passado, tudo o que serve de

testemunho, é considerado como documento ou “fonte”, como é

mais comum dizer atualmente. Pode-se tratar de textos escritos,

mas também de documentos de natureza iconográfica e

cinematográfica, ou de qualquer outro tipo de testemunho

registrado, objetos do cotidiano, elementos folclóricos, etc.

(CELLARD, 2008, p. 296)

Esse autor classifica os documentos em públicos e privados. Os públicos

abrangem duas categorias. À primeira destas, Cellard (2008) dá o nome de arquivos

públicos, que consistem em documentos públicos abrangendo arquivos governamentais

(federais, estaduais, municipais ou escolares), arquivos de estado civil e alguns arquivos

de natureza notarial ou jurídica. Trata-se de documentação tipicamente volumosa e

organizada segundo planos de classificação complexos e variáveis no tempo. Os demais

documentos públicos são classificados por Cellard (2008) como não arquivados.

Incluem-se nesta categoria os jornais, as revistas, os periódicos e qualquer outro tipo de

documento distribuído.

Page 68: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

66

Por sua vez, os documentos privados são também divididos em duas categorias,

que Cellard (2008) denomina de arquivos privados e documentos pessoais.

Neste estudo, analisamos somente documentos públicos, segundo a definição

proposta por esse autor. Para o escopo desta pesquisa, não iremos diferenciar se os

documentos públicos são arquivos públicos ou documentos públicos não arquivados,

mas simplesmente os designaremos como documentos públicos.

Spink (2004) afirma que:

Os documentos de domínio público refletem duas práticas

discursivas: como gênero de circulação, como artefatos do

sentido de tornar público, e como conteúdo, em relação aquilo

que está impresso em suas páginas. São produtos em tempo e

componentes significativos do cotidiano; complementam,

completam e competem com a narrativa e a memória. Os

documentos de domínio público, como registros, são

documentos tornados públicos, sua intersubjetividade é produto

da interação com um outro desconhecido, porém significativo e

frequentemente coletivo. (SPINK, 2004, p. 126)

Além disso, os documentos públicos:

Podem refletir as transformações lentas em posições e posturas

institucionais assumidas pelos aparelhos simbólicos que

permeiam o dia a dia ou, no âmbito das redes sociais, pelos

agrupamentos e coletivos que dão forma ao informal, refletindo

o ir e vir de versões circulantes ou advogadas. (SPINK, 2004, p.

136)

Nessa perspectiva, o corpus desta pesquisa será constituído pelos seguintes

documentos públicos: os PCN; as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de

Matemática, Bacharelado e Licenciatura (DCN-BL); as Diretrizes Nacionais para a

Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de Licenciatura,

de graduação plena (DCN-FP); as avaliações do Sistema de Avaliação da Educação

Básica (SAEB); a Prova Brasil; o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM); e o

Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE). A justificativa da escolha

desse corpus se encontra no Capítulo III.

Os documentos escolhidos para a análise são componentes significativos do

cotidiano escolar, pois interferem de maneira indireta no trabalho docente e nas práticas

escolares que ocorrem no dia a dia das instituições de ensino na Educação Básica e na

formação dos profissionais que irão atuar na Educação Básica.

Page 69: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

67

Nossa questão de pesquisa trata da identificação das relações entre documentos

que regem a Escola Básica e documentos que regem a formação de professores e visa

identificar as relações que podem ser estabelecidas para potencializar a formação de

professores para o desenvolvimento do Letramento Estatístico, de acordo com o

definido anteriormente neste capítulo.

Pretende-se neste estudo verificar se tais tópicos estão presentes nas propostas

dos documentos oficiais voltados à Educação Básica e como os tópicos de

Probabilidade e Estatística são cobrados nos exames oficiais.

A partir da análise desses documentos, que será realizada à luz dos pressupostos

da TAD e da Ecologia, buscaremos identificar as organizações matemáticas e didáticas

que emergem desses documentos referentes aos conteúdos estatísticos e probabilísticos.

Uma vez identificadas tais organizações, iremos analisar se elas permitem o

desenvolvimento do Letramento Estatístico.

Page 70: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

68

Page 71: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

69

CAPÍTULO III: A LICENCIATURA EM MATEMÁTICA E O

ENSINO DE ESTATÍSTICA NOS DOCUMENTOS E EXAMES

OFICIAIS

Introdução

O objetivo deste capítulo é analisar como os conteúdos estatísticos e

probabilísticos são apresentados como objetos de ensino nos documentos oficiais, isto é,

nos documentos produzidos por órgãos governamentais, e como esses conteúdos são

avaliados nos exames oficiais de larga escala nacionais.

Escolhemos os seguintes documentos para serem analisados: os PCN de terceiro

e quarto ciclos do Ensino Fundamental (Matemática), os PCN do Ensino Médio

(Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias), os PCN+ (Ciências da

Natureza, Matemática e suas Tecnologias), as orientações curriculares para o ensino

médio (Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias), as Diretrizes

Curriculares Nacionais para os cursos de Matemática, Bacharelado e Licenciatura

(DCN-BL) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da

Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena (DCN-

FP).

A análise dos PCN e das Orientações Curriculares para o Ensino Médio

(OCEM) tem por objetivo analisar quais são os conteúdos estatísticos e probabilísticos

sugeridos para a Educação Básica.

Além disso, os PCN são documentos produzidos no âmbito do Ministério da

Educação (MEC) e têm abrangência nacional. Suas diretrizes são utilizadas para a

elaboração das questões da Prova Brasil, do SAEB e do ENEM.

Por sua vez as DCN-BL serão analisadas com o objetivo de verificar quais são

os conteúdos Estatísticos e Probabilísticos e como o ensino destes é proposto para os

cursos de formação de professores de Matemática.

A análise das DCN-FP visará verificar como se constituem os princípios, os

fundamentos e os procedimentos que devem ser observados na organização curricular

em instituições que atuam na formação de professores para a Educação Básica e como

esses elementos se relacionam com a Educação Estatística.

A escolha de tais documentos deve-se ao fato de que tanto as DCN-BL quanto

as DCN-PF orientam a formulação de projetos pedagógicos dos cursos de Licenciatura

Page 72: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

70

em Matemática, conforme o Parecer CNE/CP 009/2001, de 8 de maio de 2001, e o

Parecer CNE/CES 1302/2001, de 6 de novembro de 2001.

Os exames oficiais por nós selecionados foram o SAEB, a Prova Brasil, o

ENEM e o ENADE.

A escolha do SAEB, da Prova Brasil e do ENEM deveu-se ao fato de serem

exames de larga escala nacionais aplicados aos alunos da Educação Básica e que, de

forma indireta, interferem nas políticas públicas voltadas a esse nível de escolaridade e

na atuação dos professores dessa modalidade de ensino.

O ENADE será analisado por ser um exame nacional de larga escala aplicado

aos alunos ao final da graduação, com o objetivo de analisar o progresso dos estudantes

durante seus estudos universitários, ou seja, por permitir a análise do que se espera de

um aluno que conclui um curso de Licenciatura em Matemática.

3. 1 – Os documentos oficiais

Neste item faremos uma breve apresentação dos documentos oficiais escolhidos

e abordaremos os conteúdos estatísticos presentes nestes documentos, descrevendo

como é sugerida sua abordagem na Educação Básica.

3. 1. 1 – Os Parâmetros Curriculares Nacionais

Os PCN são uma série de documentos elaborados pelo MEC, contendo

orientações para o ensino na Educação Básica, com o intuito de auxiliar o trabalho dos

professores que atuam nessa modalidade de ensino.

Elaborado no conjunto das reformas educacionais promovidas pelo governo de

Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), os primeiros PCN foram lançados em 1997 e

eram voltados às séries iniciais do Ensino Fundamental.

Em 1998 foram lançados os volumes destinados às séries finais do Ensino

Fundamental e, em 1999, os destinados ao Ensino Médio, que receberam um adendo em

2002 e outro em 2006.

No que se refere aos conteúdos de Matemática, os documentos voltados ao

Ensino Fundamental os dividem em quatro grandes blocos: Números e Operações,

Espaço e Forma, Grandeza e Medidas e Tratamento da Informação. Já os documentos

Page 73: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

71

voltados ao Ensino Médio dividem os conteúdos em três eixos ou temas estruturadores:

Álgebra: Números e Funções, Geometria e Medidas e Análise de Dados.

Os conteúdos relativos à Probabilidade e à Estatística, além dos referentes à

Análise Combinatória, estão presentes no bloco de conteúdos Tratamento da

Informação no Ensino Fundamental e no eixo Análise de Dados no Ensino Médio.

De acordo com os PCN (Brasil, 1998), tais conteúdos matemáticos fazem parte

da Educação Básica, pois:

A demanda social é que leva a destacar este tema como um

bloco de conteúdo, embora pudesse ser incorporado aos

anteriores. A finalidade do destaque é evidenciar sua

importância, em função de seu uso atual na sociedade

(BRASIL, 1998, p. 52)

De acordo com esses documentos, a inclusão de tais conteúdos no Ensino

Fundamental II tem os seguintes objetivos:

Com relação à Estatística, a finalidade é fazer com que o aluno

venha a construir procedimentos para coletar, organizar,

comunicar dados, utilizando tabelas, gráficos e representações

que aparecem frequentemente em seu dia-a-dia. Além disso,

calcular algumas medidas estatísticas como média, mediana e

moda com o objetivo de fornecer novos elementos para

interpretar dados estatísticos.

Com relação à Probabilidade, a principal finalidade é a de que o

aluno compreenda que muitos dos acontecimentos do cotidiano

são de natureza aleatória e que se podem identificar possíveis

resultados desses acontecimentos e até estimar o grau da

possibilidade acerca do resultado de um deles. (BRASIL, 1998,

p. 52)

Gal (2002) propõe cinco elementos cognitivos em seu modelo para o

desenvolvimento do Letramento Estatístico: a capacidade de ler informações textuais

em gráficos e tabelas, conhecimentos estatísticos, conhecimentos matemáticos,

conhecimento do contexto e competência para elaborar questões críticas.

Comparando esses elementos com os objetivos para o ensino de Estatística no

Ensino Fundamental II, temos que:

– Para atingir o objetivo de que o aluno construa procedimentos para coletar,

organizar, comunicar dados utilizando tabelas, gráficos e representações que

comparecem com frequência em seu dia a dia, é necessário que ele tenha a

capacidade de ler as informações textuais em gráficos e tabelas, além de conhecer o

contexto em que esses dados foram coletados, e a comunicação destes dados para

outros alunos requer senso crítico.

Page 74: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

72

– Calcular a média, a mediana e a moda tendo por objetivo fornecer novos elementos

para interpretar dados estatísticos requer dos alunos conhecimentos estatísticos e

determinados conhecimentos matemáticos, como por exemplo operações no conjunto

dos racionais.

Portanto, os objetivos sugeridos para o Ensino Fundamental II estão de acordo

com os cinco elementos cognitivos propostos por Gal (2002) para o desenvolvimento do

Letramento Estatístico.

Para o ensino o Ensino Médio o objetivo é:

[...] o desenvolvimento de várias competências relativas à

contextualização sócio-cultural, como a análise de situações

reais presentes no mundo contemporâneo e a articulação de

diferentes áreas do conhecimento. Contribui também para a

compreensão e o uso de representações gráficas, identificação

de regularidades, interpretação e uso de modelos matemáticos e

conhecimento de formas específicas de raciocinar em

Matemática. (BRASIL, 2002, p. 127)

Diferentemente do que ocorre com os objetivos do Ensino Fundamental,

caracterizado por tarefas bem delimitadas referentes aos objetos estatísticos (ou seja,

referem-se de forma explícita aos conteúdos), nos objetivos voltados ao Ensino Médio

predomina, na visão dos documentos, o desenvolvimento de várias competências,

descritas de formas mais gerais, cuja ênfase é o aspecto questionador.

Nessa perspectiva, os objetivos do Ensino Médio estão mais próximos dos dois

elementos de disposição (questionar informações obtidas) propostos por Gal (2002)

para o desenvolvimento do Letramento Estatístico.

Os conteúdos relativos à Probabilidade e à Estatística identificados nos PCN

(BRASIL, 1998) para o Ensino Fundamental II são descritos no Quadro 2.

Page 75: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

73

Quadro 2: Conteúdos de Probabilidade e Estatística presentes nos PCN do Ensino

Fundamental II (1998)

Ensino Fundamental II

Coleta, organização de dados e utilização de recursos visuais adequados (fluxogramas,

tabelas e gráficos) para sintetizá-los, comunica-los e permitir a elaboração de conclusões.

Leitura e interpretação de dados expressos em tabelas e gráficos.

Compreensão do significado de média aritmética como um indicador da tendência de uma

pesquisa.

Leitura e interpretação de dados expressos em gráficos de colunas, de setores, histogramas

e polígonos de frequência.

Organização de dados e construção de recursos visuais adequados, como gráficos (de

colunas, de setores, histogramas e polígonos de frequência) para apresentar globalmente os

dados, destacar aspectos relevantes, sintetizar informações de uma pesquisa.

Compreensão de termos como frequência, frequência relativa, amostra de uma população

para interpretar informações de uma pesquisa.

Distribuição das frequências de uma variável de uma pesquisa em classes de modo que

resuma os dados com um grau de precisão razoável.

Obtenção das medidas de tendência central de uma pesquisa (média, moda e mediana),

compreendendo seus significados para fazer inferências.

Construção do espaço amostral e indicação da possibilidade de sucesso de um evento pelo

uso de uma razão.

Construção do espaço amostral, utilizando o princípio multiplicativo e a indicação da

probabilidade de um evento por meio de uma razão.

Elaboração de experimentos e simulações para estimar probabilidades e verificar

probabilidades previstas.

Fonte: PCN (Brasil, 1998)

De acordo com os PCN, espera-se que com o ensino desses conteúdos os alunos

do Ensino Fundamental II consigam construir estratégias para a execução das seguintes

tarefas2:

Coletar, organizar e analisar informações, construir e interpretar

tabelas e gráficos, formular argumentos convincentes, tendo por

base a análise de dados organizados em representações

matemáticas diversas;

Resolver situações-problema que envolvam o raciocínio

combinatório e a determinação da probabilidade de sucesso de

um determinado evento por meio de uma razão.

[...] construir tabelas de frequência e representar graficamente

dados estatísticos, utilizando diferentes recursos, bem como

elaborar conclusões a partir da leitura, análise, interpretação de

informações apresentadas em tabelas e gráficos;

Construir um espaço amostral de eventos equiprováveis,

utilizando o princípio multiplicativo ou simulações, para

estimar a probabilidade de sucesso de um dos eventos.

(BRASIL, 1998, p. 65, 82)

2 Entende-se aqui por tarefa a ação a ser executada, nos termos da TAD apresentada no Capítulo II.

Page 76: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

74

Nota-se que para o Ensino Fundamental II há uma descrição detalhada dos

conteúdos a serem desenvolvidos. Analisando-os, percebe-se que evidenciam a

necessidade de coletar dados, a maneira como estes são coletados, a comunicação dos

resultados obtidos, o conhecimento de termos e ideias básicas relacionadas à Estatística,

ideias básicas relacionadas à elaboração de gráficos e tabelas e conhecimentos de

noções de Probabilidade – isto é, os conteúdos do documento voltado ao Ensino

Fundamental II, de certa forma, estão de acordo com os elementos do Letramento

Estatístico, segundo as propostas de Gal (2002) e de Rumsey (2002).

Em relação aos PCN voltados ao Ensino Médio, pudemos identificar nos

documentos analisados os seguintes conteúdos estatísticos e probabilísticos:

Estatística: descrição de dados; representações gráficas; análise

de dados: médias, moda e mediana, variância e desvio padrão.

[...] Probabilidade: possibilidades; cálculo de probabilidades

(BRASIL, 2002, p. 127)

Embora a descrição dos conteúdos seja sucinta, cada tópico traz uma descrição

detalhada das competências e habilidades a serem desenvolvidas. Com o ensino dos

tópicos de Estatística, os alunos devem desenvolver estratégias para a resolução das

seguintes tarefas:

• Identificar formas adequadas para descrever e representar

dados numéricos e informações de natureza social, econômica,

política, científico-tecnológica ou abstrata.

• Ler e interpretar dados e informações de caráter estatístico

apresentados em diferentes linguagens e representações, na

mídia ou em outros textos e meios de comunicação.

• Obter médias e avaliar desvios de conjuntos de dados ou

informações de diferentes naturezas.

• Compreender e emitir juízos sobre informações estatísticas de

natureza social, econômica, política ou científica apresentadas

em textos, notícias, propagandas, censos, pesquisas e outros

meios (BRASIL, 2002, p. 127)

Traçando um paralelo com Gal (2002), as três primeiras tarefas podem ser vistas

como elementos dos componentes cognitivos, que segundo Gal (2002) dizem respeito à

competência dos indivíduos em compreender as informações estatísticas. A última

delas, por sua vez, pode ser vista como o elemento de disposição, que segundo o autor é

a competência em questionar informações recebidas.

Em relação aos tópicos de Probabilidade, os alunos devem desenvolver

estratégias para a resolução das seguintes tarefas:

Page 77: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

75

• Reconhecer o caráter aleatório de fenômenos e eventos

naturais, científico-tecnológicos ou sociais, compreendendo o

significado e a importância da probabilidade como meio de

prever resultados.

• Quantificar e fazer previsões em situações aplicadas a

diferentes áreas do conhecimento e da vida cotidiana que

envolvam o pensamento probabilístico.

• Identificar em diferentes áreas científicas e outras atividades

práticas modelos e problemas que fazem uso de estatísticas e

probabilidades (BRASIL, 2002, p. 127-128)

No adendo de 2006 tampouco se encontram descrições de conteúdos a serem

trabalhados, e sim competências e habilidades a serem desenvolvidas. Um exemplo:

Vale destacar a necessidade de se intensificar a compreensão

sobre as medidas de posição (média, moda e mediana) e as

medidas de dispersão (desvio médio, variância e desvio

padrão), abordadas de forma mais intuitiva no ensino

fundamental. (BRASIL, 2006, p. 79)

Nota-se que para o Ensino Fundamental II, os documentos são mais detalhados

em termos operacionais dos que os documentos voltados ao Ensino Médio, onde a

ênfase recai sobre as competências e habilidades que devem ser desenvolvidas.

Portanto, temos que preparar o professor para trabalhar, não com conteúdos, mas sim

em desenvolver as competências e habilidades de seus alunos.

Volta-se então ao paradigma discutido por Moll (2011) e Font (2013): devemos

desenvolver nos futuros professores competências e habilidades que lhes permitam

desenvolver e avaliar as competências e habilidades matemáticas contempladas no

currículo da Educação Básica.

As competências e habilidades matemáticas contempladas na Educação Básica

são as descritas nos PCN. Assim, emerge a seguinte questão: Quais são as competências

e habilidades relacionadas à Educação Estatística que esse profissional deve possuir?

Formulada essa questão, passemos aos documentos que abordam a formação do

professor para a Educação Básica.

3. 1. 2 – As Diretrizes Curriculares Nacionais

Para a formação de professores de Matemática para a Educação, temos dois

documentos legais a observar: as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de

Page 78: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

76

Matemática, Bacharelado e Licenciatura (DCN-BL) e as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a formação de professores da Educação Básica, em nível superior, curso

de licenciatura, de graduação plena (DCN-FP).

As DCN-BL têm por objetivo:

Servir como orientação para melhorias e transformações na

formação do Bacharel e do Licenciado em Matemática;

Assegurar que os egressos dos cursos credenciados de

Bacharelado e Licenciatura em Matemática tenham sido

adequadamente preparados para uma carreira na qual a

Matemática seja utilizada de modo essencial, assim como para

um processo contínuo de aprendizagem. (BRASIL, 2001, p. 1)

As DCN-BL trazem em seu texto orientações sobre o perfil dos formandos, as

competências e habilidades que devem ser desenvolvidas durante o curso de

Matemática (Bacharelado/Licenciatura), a estrutura do curso, os conteúdos curriculares

obrigatórios, as atividades complementares e o estágio.

Na seção voltada aos conteúdos curriculares, em que se descrevem os conteúdos

comuns a todos os cursos de Licenciatura, temos a seguinte distribuição:

Cálculo Diferencial e Integral

Álgebra Linear

Fundamentos de Álgebra

Fundamentos de Geometria

Geometria Analítica (BRASIL, 2001, p. 5)

Além disso, a parte comum aos cursos de Licenciatura em Matemática deve

incluir:

a) Conteúdos matemáticos presentes na educação básica nas áreas

de Álgebra, Geometria e Análise;

b) Conteúdos de áreas afins à Matemática, que são fontes

originadoras de problemas e campos de aplicação de suas teorias;

c) Conteúdos da Ciência da Educação, da História e Filosofia das

Ciências e da Matemática. (BRASIL, 2001, p. 5)

Percebe-se, em ambos os casos, a ausência de explicitações de conteúdos

comuns a Probabilidade e a Estatística como conteúdo curricular obrigatório na

formação do professor. Esse documento não traz, portanto, elementos para o

desenvolvimento do Letramento Estatístico do futuro professor.

Por sua vez, as DCN-FP buscam:

Construir sintonia entre a formação de professores, os

princípios prescritos pela Lei de Diretrizes e Bases da educação

Nacional/LDBEN, as normas instituídas nas Diretrizes

Curriculares para a Educação Infantil, para o ensino

Page 79: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

77

fundamental e para o ensino médio, e suas modalidades, bem

como as recomendações constantes dos Parâmetros e

Referenciais Curriculares para a educação básica elaborados

pelo Ministério da Educação. (BRASIL, 2002, p. 4)

Pensamos que, para tal sintonia ser construída, deve-se observar a

obrigatoriedade de conteúdos de Probabilidade e Estatística nos cursos de Licenciatura

em Matemática visando o Letramento Estatístico, uma vez que eles fazem parte das

recomendações dos PCN, que sugerem elementos que permitem esse desenvolvimento.

Entretanto, apesar da não obrigatoriedade nas Licenciaturas em Matemática,

Viali (2008) observou a existência de pelo menos um curso de 64 horas de

Probabilidade e Estatística nessas Licenciaturas. No entanto, a maneira com que é

geralmente ministrado não permite o desenvolvimento do Letramento Estatístico.

Um ecossistema em equilíbrio supõe uma organização matemática (OM) e uma

organização didática (OD) que permitam o desenvolvimento das habilidades que

contemplem o Letramento Estatístico. Dada a ausência de obrigatoriedade de seus

conteúdos em um documento oficial que regula os cursos de Licenciatura em

Matemática, e considerando-se o curso típico ministrado, detectado por Viali (2008),

temos um ecossistema em desequilíbrio.

As DCN-FP afirmam que:

Nos cursos atuais de formação de professor, salvo raras

exceções, ou se dá grande ênfase à transposição didática dos

conteúdos, sem sua necessária ampliação e solidificação –

pedagogismo, ou se dá atenção quase exclusiva a

conhecimentos que o estudante deve aprender – conteudismo,

sem considerar sua relevância e sua relação com os conteúdos

que ele deverá ensinar nas diferentes etapas da educação básica.

[...] nos demais cursos de licenciatura, que formam especialistas

por área de conhecimento ou disciplina, é frequente colocar-se o

foco quase que exclusivamente nos conteúdos específicos das

áreas em detrimento de um trabalho mais aprofundado sobre os

conteúdos que serão desenvolvidos no ensino fundamental e

médio. (BRASIL, 2002, p. 16-17)

Desta vez, um documento oficial afirma que nos cursos atuais de formação de

professores temos um ecossistema em desequilíbrio.

Tal desequilíbrio, segundo Moreira (2004) e Luís (2004), decorre da valorização

da Matemática acadêmica nos cursos de Licenciatura em Matemática. Portanto, assim

como Moreira (2004), Luís (2004) e Gatti e Barreto (2009), as orientações das DCN-FP

também sugerem olhar para os conteúdos da Escola Básica, ideia com a qual

Page 80: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

78

concordamos, uma vez que, para haver equilíbrio entre o ecossistema da Escola Básica

e o ecossistema de formação de professores, eles têm que estar relacionados.

Em suas diretrizes para a formação de professores, as DCN-FP defendem que a

concepção e a organização de um curso de formação de professores envolvem:

a) definir o conjunto de competências necessárias à atuação

profissional; b) tomá-las como norteadoras tanto da proposta

pedagógica, em especial, quanto da organização e da gestão da

escola de formação. (BRASIL, 2002, p. 29)

As DCN-FP definem seis competências gerais a serem desenvolvidas na

Educação Básica:

1. Competências referentes ao comprometimento com

os valores inspirados na sociedade democrática;

2. Competências referentes à compreensão do papel

social da escola;

3. Competências referentes ao domínio dos conteúdos

a serem socializados, de seus significados em diferentes

contextos e de sua articulação interdisciplinar;

4. Competências referentes ao domínio do

conhecimento pedagógico;

5. Competências referentes ao conhecimento de

processos de investigação que possibilitem o

aperfeiçoamento da prática pedagógica;

6. Competências referentes ao gerenciamento do

próprio desenvolvimento profissional. (BRASIL, 2002, p.

32-35)

Nesse documento, cada competência geral é completada e contextualizada por

competências específicas. Tais competências perpassam o ecossistema do conhecimento

dos conteúdos de ensino, o ecossistema do conhecimento do currículo, o ecossistema do

conhecimento do aluno e o ecossistema do processo instrucional, isto é, perpassam os

quatro ecossistemas que caracterizamos por hipótese no Capítulo II.

Quanto aos conhecimentos profissionais exigidos para a constituição das

competências definidas pelas DCN-FP, eles também são caracterizados em seis

aspectos: conhecimento sobre a cultura geral e profissional; conhecimentos sobre

crianças, jovens e adultos; conhecimento sobre a dimensão cultural, social, política e

econômica da Educação; conhecimento sobre os conteúdos das áreas de conhecimento

que são objetos de ensino; conhecimento pedagógico; e conhecimento advindo da

experiência.

Page 81: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

79

Comparando esses elementos com os núcleos disciplinares propostos por

Severino (2003), constatamos que os três primeiros aspectos fazem parte do núcleo dos

componentes antropológicos, o quarto aspecto faz parte do núcleo dos conteúdos

específicos e o quinto aspecto se inclui no núcleo dos componentes pedagógicos.

O sexto elemento – conhecimento advindo da experiência – é descrito pelas

DCN-FP como relacionado:

[...] à forma como esse conhecimento é constituído pelo sujeito.

É um tipo de conhecimento que não pode ser construído de

outra forma senão na prática profissional e de modo algum pode

ser substituído pelo conhecimento “sobre” esta prática. Saber –

e aprender – um conceito, ou uma teoria é muito diferente de

saber – e aprender – a exercer um trabalho. Trata-se, portanto,

de aprender a “ser” professor. (BRASIL, 2002, p. 39)

O aprender a “ser” professor ocorrerá no ecossistema do processo instrucional,

isto é, no ambiente em que ocorre o processo instrucional: a escola – daí a necessidade

de se articular a teoria e a prática na formação do professor.

Em relação aos conteúdos das áreas de conhecimento que são objetos de ensino,

locus dos objetos estatísticos e probabilísticos, as DCN-FP afirmam:

Incluem-se aqui os conhecimentos das áreas que são objetos de

ensino em cada uma das diferentes etapas da educação básica.

O domínio desses conhecimentos é condição essencial para a

construção das competências profissionais apresentadas nestas

diretrizes. (BRASIL, 2002, p. 37)

A construção das competências profissionais só será possível pelo domínio de

um conjunto de saberes. Contudo, tais saberes não podem ser apresentados de forma

disciplinar, mas sim a partir de eixos articuladores. Como sugestão, as DCN-FP

apresentam os seguintes eixos:

1. Eixo articulador dos diferentes âmbitos do

conhecimento profissional;

2. Eixo articulador da interação e comunicação e do

desenvolvimento da autonomia intelectual e profissional;

3. Eixo articulador entre disciplinaridade e

interdisciplinaridade;

4. Eixo articulador entre a formação comum e a formação

específica;

5. Eixo articulador dos conhecimentos a serem ensinados

e dos conhecimentos educacionais e pedagógicos que

fundamentam a ação educativa;

6. Eixo articulador das dimensões teóricas e práticas.

(BRASIL, 2002, p. 41-45)

Page 82: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

80

Nota-se que a proposta de eixos articuladores é similar à de Severino (2003), e

nossos quatro ecossistemas foram formulados a partir das propostas de Severino (2003)

e Ponte (1999).

Diferentemente das DCN-BL, que se limitam a conteúdos comuns a todos os

cursos de Licenciatura em Matemática, com predominância da visão disciplinar e da

formulação de tais conteúdos a partir dos paradigmas da Ciência, as DCN-FP têm como

paradigma o trabalho na Escola Básica com o objetivo de desenvolver competências e

habilidades dos alunos desse segmento de ensino, e preparar o futuro professor para

atuar nesse contexto.

Percebemos diferentes pontos de vistas na elaboração desses documentos. As

DCN-BL dão atenção exclusiva a conhecimentos que os estudantes devem aprender e a

DCN-FP dão grande ênfase às competências e habilidades que os alunos de Licenciatura

devem desenvolver. Em nenhum momento, porém, esses documentos explicitam como

desenvolver essas competências e habilidades.

Entretanto, como ambos os documentos devem ser observados na proposta de

novos cursos de formação de professores, é necessário estabelecer um diálogo entre tais

referências, uma vez que as competências e habilidades se constroem com conteúdos.

Devemos então propiciar o desenvolvimento de uma organização matemática (OM) e

uma organização didática (OD) que permitam o desenvolvimento de habilidades para a

docência da Estatística e da Matemática.

3. 2 – Os exames de larga escala

3. 2. 1 – O SAEB e a Prova Brasil

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (INEP), o sistema de avaliação da Educação Básica brasileira é composto de

duas avaliações complementares.

A primeira, denominada Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB), mas

também conhecida como SAEB, é aplicada a alunos matriculados no quinto e nono anos

do Ensino Fundamental e também a alunos do terceiro ano do Ensino Médio. Os alunos

são selecionados de forma amostral e são oriundos das redes de ensino públicas e

privadas de todo o país, tanto da área urbana como da rural.

Page 83: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

81

O segundo exame é a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC),

também conhecida como Prova Brasil, aplicada de forma censitária a todos os alunos do

quinto e nono anos do Ensino Fundamental da rede pública de ensino. Os alunos são

oriundos de escolas que tenham no mínimo 20 alunos matriculados na série avaliada,

seja a escola urbana ou rural.

Essas duas avaliações são realizadas a cada dois anos, quando são aplicados

exames de Língua Portuguesa e Matemática, além de questionários socioeconômicos a

serem respondidos pelos alunos participantes da avaliação e pela comunidade escolar.

O Quadro 3 compara esses dois exames.

Quadro 3: Comparação entre a Prova Brasil e o SAEB

Prova Brasil SAEB

A prova foi criada em 2005. A primeira aplicação ocorreu em 1990.

A Prova Brasil avalia as habilidades em

Língua Portuguesa (foco em leitura) e

Matemática (foco na resolução de

problemas).

Alunos fazem prova de Língua Portuguesa

(foco em leitura) e Matemática (foco na

resolução de problemas).

Avalia apenas estudantes de ensino

fundamental, de 5° e 9° anos.

Avalia estudantes de 5° e 9° anos do

ensino fundamental e também estudantes

do 3º ano do ensino médio.

A Prova Brasil avalia as escolas públicas

localizadas em área urbana e rural.

Avalia alunos da rede pública e da rede

privada, de escolas localizadas nas áreas

urbana e rural.

A avaliação é quase universal: todos os

estudantes das séries avaliadas, de todas as

escolas públicas urbanas e rurais do Brasil

com mais de 20 alunos na série, devem

fazer a prova.

A avaliação é amostral, ou seja, apenas

parte dos estudantes brasileiros das séries

avaliadas participa da prova.

Como resultado, fornece as médias de

desempenho para o Brasil, regiões e

unidades da Federação, para cada um dos

municípios e escolas participantes.

Oferece resultados de desempenho apenas

para o Brasil, regiões e unidades da

Federação.

Parte das escolas que participarem da

Prova Brasil ajudará a construir também

os resultados do Saeb, por meio de recorte

amostral.

Todos os alunos do Saeb e parte daqueles

da Prova Brasil farão uma única avaliação.

Fonte: http://www.inep.gov.br, acesso em 7 de agosto de 2013.

A matriz de competências e habilidades da área de Matemática da Prova Brasil e

do SAEB é composta por 28 descritores na avaliação do quinto ano do Ensino

Page 84: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

82

Fundamental, 37 descritores na avaliação do nono ano do Ensino Fundamental e 35

descritores na avaliação do Ensino Médio.

O descritor “é uma associação entre conteúdos curriculares e operações mentais

desenvolvidas pelo aluno que traduzem certas competências e habilidades” (BRASIL,

2011, p. 18). Entretanto, os descritores da Prova Brasil e do SARESP:

[...] não contemplam todos os objetivos de ensino, mas

apenas aqueles considerados mais relevantes e

possíveis de serem mensurados em uma prova para,

com isso, obter informações que forneçam uma visão

real do ensino. (BRASIL, 2011, p. 151)

Os descritores que avaliam as competências e habilidades referentes aos

conteúdos de Probabilidade e Estatística são os seguintes:

1- Para a avaliação do nono ano:

D 36 – Resolver problema envolvendo informações

apresentadas em tabelas e/ou gráficos.

D 37 – Associar informações apresentadas em listas e/ou

tabelas simples aos gráficos que as representam e vice-versa.

(BRASIL, 2011, p. 153)

2- Para a avaliação do terceiro ano do Ensino Médio:

D33 - Calcular a probabilidade de um evento

D34 – Resolver problema envolvendo informações

apresentadas em tabelas e/ou gráficos.

D35 – Associar informações apresentadas em listas e/ou tabelas

simples aos gráficos que as representam e vice-versa. (BRASIL,

2011, p. 80)

Nota-se a ausência, na matriz de competências e habilidades do nono ano do

Ensino Fundamental, de descritores que avaliam conteúdos relacionados à

Probabilidade. Entretanto esse conteúdo é sugerido pelos PCN para os quatro últimos

anos do Ensino Fundamental.

Temos então a ausência de um descritor para avaliar os conhecimentos sobre

Probabilidade, embora tal conhecimento seja uma das condições para o

desenvolvimento do Letramento Estatístico, nos termos de Gal (2002). Essa ausência

pode indicar uma não associação entre o que é avaliado e a construção do Letramento

Estatístico.

No Ensino Médio, tem-se um único descritor destinado a avaliar questões

relativas à Probabilidade, mas na maneira como tal descritor é explicitado percebe-se

uma limitação na avaliação desse conteúdo:

Page 85: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

83

Pretende-se que esse descritor avalie a habilidade de o

aluno calcular a probabilidade de ocorrência de um

determinado evento. (BRASIL, 2011, p. 123)

Pensamos que o descritor proposto e o objetivo com ele pretendido limitem as

questões cobradas nesse exame.

Concordamos com Nunes (2013) quando afirma que o SAEB é projetado mais

para medir o domínio de conteúdos do que sua aplicação na vida real, e suas questões

apresentam certo distanciamento e/ou artificialidade, no sentido que, embora às vezes

apresentem contextos próximos do cotidiano, exigem apenas domínios de habilidades

de reprodução.

3. 2. 2 – O Exame Nacional do Ensino Médio

O ENEM foi criado em 1998 com o objetivo de avaliar o desempenho dos

estudantes no final do Ensino Médio, buscando contribuir para a melhoria da qualidade

de ensino da Educação obrigatória.

Até 2008, constituía-se de 63 questões de múltipla escolha e uma redação. As

questões de múltipla escolha eram estruturadas a partir de uma matriz de competências

e habilidades, composta de cinco competências e 21 habilidades. Cada habilidade era

avaliada por três questões – daí a parte objetiva da prova ser composta de 63 questões.

A partir de 2009, o exame sofreu algumas alterações, sendo que a mais

significativa foi a utilização da Teoria da Resposta ao Item (TRI). Uma das

consequências disso foi a alteração de sua matriz de competências e habilidades.

As provas objetivas passaram a ser estruturadas a partir de quatro matrizes de

competências e habilidades, uma para cada área de conhecimento (Ciências Humanas e

suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Linguagens, Códigos e suas

Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias), sendo que cada uma das quatro áreas é

hoje avaliada por 45 questões.

O novo ENEM é aplicado em dois dias. Em cada dia são avaliadas duas áreas de

conhecimento. A prova de redação é realizada no dia em que se avalia a área de

conhecimento Linguagens, Códigos e suas Tecnologias.

Outra mudança ocorrida a partir de 2009 foi a utilização desse exame para

ingresso no Ensino Superior. Até 2008, a nota do ENEM representava uma pequena

parte da nota do exame vestibular e a partir de 2009 com a criação do Sistema de

Seleção Unificada (SISU), a nota do ENEM passou a ser utilizada como a única forma

Page 86: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

84

de acesso à maior parte dos cursos superiores em instituições de ensino superior

públicas brasileiras.

Além disso, a nota do ENEM também é utilizada para acesso a programas

oferecidos pelo governo federal, tais como o Programa Universidade para Todos

(ProUni), o Fundo do Financiamento Estudantil (FIES) e o Ciências sem Fronteiras,

programa federal que concede bolsas de estudos em instituições estrangeiras a

estudantes de graduação.

Com a alteração da matriz de competências e habilidades, os conteúdos do bloco

Análise de Dados passaram a ser avaliados a partir das seguintes competências e

habilidades:

Competência de área 6 - Interpretar informações de natureza

científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas,

realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e

interpretação.

H24 - Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas

para fazer inferências.

H25 - Resolver problema com dados apresentados em tabelas

ou gráficos.

H26 - Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas

como recurso para a construção de argumentos.

Competência de área 7 - Compreender o caráter aleatório e não-

determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar

instrumentos adequados para medidas, determinação de

amostras e cálculos de probabilidade para interpretar

informações de variáveis apresentadas em uma distribuição

estatística.

H27 - Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de

um conjunto de dados expressos em uma tabela de frequências

de dados agrupados (não em classes) ou em gráficos.

H28 - Resolver situação-problema que envolva conhecimentos

de estatística e probabilidade.

H29 - Utilizar conhecimentos de estatística e probabilidade

como recurso para a construção de argumentação.

H30 - Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando

conhecimentos de estatística e probabilidade. (BRASIL, 2009,

p. 5)

Comparados com os descritores do SAEB, os do ENEM são mais completos em

termos de conteúdos estatísticos e probabilísticos, pois a maneira como são formulados

leva à elaboração de questões que permitam uma avaliação mais aprofundada desses

conteúdos.

De acordo com o que já foi discutido no Capítulo II, para Gal (2002) o

Letramento Estatístico tem dois elementos inter-relacionados: os componentes

Page 87: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

85

cognitivos (o indivíduo compreende a informação que contém estatística) e os

componentes de disposição (o indivíduo questiona a informação recebida).

Nas competências e habilidades acima descritas, esses dois elementos aparecem

porque há habilidades que permitem ao indivíduo compreender a informação estatística

e questionar a informação recebida. Portanto, se um indivíduo tem tais competências e

habilidades desenvolvidas, podemos concluir que ele é letrado estatisticamente.

Entretanto, o ENEM não é um exame que tem por objetivo desenvolver essas

habilidades e competências, e sim medi-las. Uma análise nas provas de Matemática nos

permitirá conhecer a organização matemática desse exame.

A análise das questões das provas de Matemática do ENEM de 2009, 2010,

2011 e 2012 revela os números descritos no Quadro 4.

Quadro 4: Número de questões sobre Probabilidade e Estatística no ENEM, de

2009 a 2012

Ano em que o ENEM

foi realizado

Número de questões

sobre o tema

Probabilidade

Número de questões

sobre o tema Estatística

2009 3 9

2010 4 4

2011 3 6

2012 2 8

Em cada ano, há cerca de 10 questões sobre os temas Probabilidade e Estatística.

Como esse exame é composto de 45 questões, essa temática perfaz aproximadamente

22% das questões, o que é um número bastante expressivo.

Em relação aos tópicos abordados na maior parte das questões, a tarefa pedida é

a obtenção de informações a partir da leitura de um gráfico, sendo que os únicos

gráficos que apareceram nas questões analisadas são os de barras e os de linhas.

A ausência de questões que utilizam a leitura de outros tipos de gráficos, como

por exemplo os de setores, que têm frequência muito alta nos meios de comunicação

escritos, causam um desequilíbrio no ecossistema, porque impedem a percepção, pelos

alunos, de que um conjunto de dados possa receber várias representações gráficas,

importante aspecto para o desenvolvimento do Letramento Estatístico.

Foram pouquíssimas as questões que abordaram o cálculo de medidas de

tendência central e medidas de dispersão. Quando tais tópicos foram abordados, a tarefa

Page 88: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

86

exigida limitava-se a calcular e medida a partir de determinado conjunto de dados, e tais

dados eram totalmente descontextualizados, perdendo-se com isso um dos elementos

para o desenvolvimento do Letramento Estatístico, que segundo Rumsey (2002) é o

entendimento básico da Estatística, isto é, a capacidade de relacionar o conceito

estatístico dentro de um contexto.

Os Quadros 5 e 6 descrevem as tarefas encontradas ao se analisarem as questões

sobre Probabilidade e a Estatística no ENEM de 2009 a 2012 à luz da TAD, proposta

por Chevallard (1992).

Quadro 5: Tarefas identificadas na análise das questões sobre Estatística no

ENEM de 2009 a 2012

Tarefa Descrição da tarefa

1 Obter informações a partir da leitura de um gráfico de barras

2 Obter informações a partir da leitura de um gráfico de linha poligonal

3 Obter informações a partir da leitura de uma tabela

4 Calcular a amplitude de um conjunto de dados

5 Calcular o valor da mediana de um conjunto de dados

6 Calcular o valor da média ponderada de um conjunto de dados

7 Calcular o valor da média aritmética de um conjunto de dados

8 Calcular o valor da moda de um conjunto de dados

9 Calcular a variância de um conjunto de dados

Quadro 6: Tarefas identificadas na análise das questões sobre Probabilidade no

ENEM de 2009 a 2012

Tarefa Descrição da tarefa

1 Determinar a probabilidade de um evento

2 Determinar a probabilidade de um evento complementar

3 Determinar a probabilidade da união de dois eventos

4 Determinar a probabilidade da intersecção de dois eventos

5 Determinar a probabilidade da união de três ou mais eventos

6 Determinar a probabilidade da intersecção de três ou mais eventos

7 Determinar a probabilidade de um evento em contexto geométrico

8 Comparar a probabilidade de dois ou mais eventos

Questões que versam sobre Probabilidade de Estatística vêm ganhando cada vez

mais destaque no ENEM, no qual hoje ocupam em média aproximadamente 22% da

área de conhecimento Matemática e suas Tecnologias.

Page 89: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

87

Além disso, da maneira como está colocada sua matriz de competências e

habilidades, o ENEM apresenta questões mais elaboradas que as do SAEB e da Prova

Brasil.

Entretanto, nas questões desse exame as tarefas também aparecem isoladas e

descontextualizadas, o que não favorece o desenvolvimento Letramento Estatístico,

embora as articulações dessas tarefas o favoreçam, uma vez que tais tarefas apresentam

termos e ideias básicas relacionados à Estatística, termos e ideias básicas relacionados

às apresentações gráficas e tabulares e compreensão das noções básicas de

Probabilidade, isto é, conhecimentos básicos de Probabilidade e Estatística propostos

por Gal (2002) para a compreensão e a interpretação de informações estatísticas –

elemento que favorece o Letramento Estatístico.

3. 2. 4 – O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

O ENADE, que integra o Sistema Nacional da Educação Superior (SINAES),

tem por objetivo geral:

Avaliar o desempenho dos estudantes em relação aos

conteúdos programáticos previsto nas diretrizes

curriculares, às habilidades e competências para a

atualização permanente e aos conhecimentos sobre a

realidade brasileira, mundial e sobre outras áreas do

conhecimento. (BRASIL, 2011, p. 19)

O ENADE começou a ser aplicado em 2004, após sancionamento da Lei 10.861,

de 14 de abril de 2004. Os primeiros cursos a serem avaliados por esse exame foram os

de Agronomia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia,

Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço Social, Terapia

Ocupacional e Zootecnia. Os cursos de Matemática (Bacharelado e Licenciatura) foram

avaliados pela primeira vez em 2005, e em 2008 e 2011 passaram por novas avaliações.

O Anexo II lista os cursos e respectivos anos em que foram avaliados pelo ENADE.

O exame se compõe de 40 questões, assim distribuídas:

10 questões de formação geral comum aos cursos de todas as áreas,

sendo duas discursivas e oito de múltipla escolha;

30 questões de um componente específico, sendo três questões

discursivas e 27 de múltipla escolha.

Page 90: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

88

As questões do componente específico da avaliação de Matemática são assim

subdivididas:

20 questões comuns aos alunos de Bacharelado/Licenciatura;

10 questões específicas para os alunos de Bacharelado;

10 questões específicas para os alunos de Licenciatura.

As questões específicas da área de Matemática têm por objetivo:

Aferir o desempenho dos estudantes em relação aos

conteúdos previstos nas Diretrizes Curriculares para os

cursos de Matemática, Bacharelado e Licenciatura, às

habilidades e competências necessárias para o

ajustamento às exigências decorrentes da evolução do

conhecimento matemático e de seu ensino e à

compreensão de temas exteriores ao âmbito específico

de sua profissão e outras áreas do conhecimento.

(BRASIL, 2011, p. 19)

O exame toma como referência um profissional capaz de:

I – conceber a Matemática como um corpo de

conhecimentos rigoroso, formal e dedutivo, produto da

atividade humana, historicamente construída;

II – dominar os conhecimentos matemáticos e

compreender o seu uso em diferentes contextos

interdisciplinares;

III – analisar criticamente a contribuição do

conhecimento matemático na formação de indivíduos e

no exercício da cidadania;

IV – Identificar, formular e solucionar problemas;

V – valorizar a criatividade e a diversidade na

elaboração de hipóteses, de proposições e na solução

de problemas;

VI – identificar concepções, valores e atitudes em

relação à Matemática e seu ensino visando à atuação

crítica no desempenho profissional. (BRASIL, 2011, p.

19)

Na parte específica da área de Matemática, o exame espera que o aluno

desenvolva, ao longo do seu processo de formação, habilidades e competências que lhe

possibilitem:

I – ler e interpretar textos e expressar-se com clareza e

precisão;

II – interpretar e utilizar a linguagem matemática com

precisão e o rigor que lhe são inerentes;

III – estabelecer relações entre os aspectos formais e

intuitivos da Matemática;

IV – formular conjecturas e generalizações, elaborar

argumentações e demonstrações matemáticas;

V – analisar criticamente o uso de diferentes definições

para o mesmo objeto;

Page 91: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

89

VI – utilizar conceitos e procedimentos matemáticos

para analisar dados, elaborar modelos, resolver

problemas e interpretar suas soluções;

VII – utilizar diferentes representações para um

conceito matemático, transitando por representações

simbólicas, gráficas e numéricas entre outras.

(BRASIL, 2011, p. 19)

Os conteúdos curriculares tomados como referencial são descritos no Anexo II.

O Quadro 7 apresenta o número de questões que abordam Probabilidade e

Estatística no ENADE.

Quadro 7: Número de questões que abordam Probabilidade e Estatística das

edições do ENADE em que a área de Matemática foi avaliada

Ano em que a

área de

Matemática foi

avaliada

Questões de

formação geral

Questões

comuns aos

bacharelandos

e licenciandos

Questões

específicas aos

bacharelandos

Questões

específicas aos

licenciandos

2005 1 0 0 0

2008 0 2 0 0

2011 0 1 0 0

A seguir, essas questões serão avaliadas com base na TAD.

Análise das questões do ENADE

Questão de 2005

Enunciado: Nos dias atuais, as novas tecnologias se desenvolvem de forma

acelerada e a Internet ganha papel importante na dinâmica do cotidiano das pessoas

e da economia mundial. No entanto, as conquistas tecnológicas, ainda que

representem avanços, promovem consequências ameaçadoras.

Leia os gráficos e a situação-problema expressa através de um diálogo entre uma

mulher desempregada, à procura de uma vaga no mercado de trabalho, e um

empregador.

Page 92: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

90

Apresente uma conclusão que pode ser extraída da análise

a) dos dois gráficos:

b) da situação-problema, em relação aos gráficos.

a) Tarefa (T1): Analisar os gráficos de barras dados e extrair uma análise deles.

Técnica (t1): 1. Analisar o primeiro gráfico de barras (Total de internautas em

milhões, 2004).

2. Analisar o segundo gráfico de barras (Internautas a cada 10 habitantes, 2003).

3. Comparar as informações obtidas à partir dos dois gráficos e formular uma

análise a partir dessas informações.

Discurso teórico-tecnológico [T1,t1]: O conhecimento estatístico envolvido no

bloco [T1, t1] é a leitura de um gráfico de barras. De acordo com Magalhães e Lima

(2005, p. 13) “o gráfico de barras utiliza o plano cartesiano com os valores da

variável no eixo das abscissas e as frequências ou porcentagens no eixo das

ordenadas”. Além disso, neste bloco é necessário proceder a uma análise a partir das

Page 93: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

91

informações obtidas nos gráficos. Tal análise não é um conhecimento estatístico,

mas pode ser comprometida pela ausência desse conhecimento.

b) Tarefa (T2): Interpretar a situação-problema e comparar com a interpretação

obtida em T1.

Técnica (t2): 1. Interpretar a situação-problema.

2. Comparar com a análise obtida no item a.

3. Formular uma análise a partir das informações do passo 1 e do passo 2.

Discurso teórico-tecnológico [T2,t2]: Este bloco não envolve conhecimento

estatístico, mas tal conhecimento é necessário para obtermos algumas informações

relevantes ao problema.

Questões de 2008

Enunciado da primeira questão: Há 10 postos de gasolina em uma

cidade. Desses 10, exatamente dois vendem gasolina adulterada. Foram

sorteados aleatoriamente dois desses 10 postos para serem fiscalizados.

Qual é a probabilidade de que os dois postos infratores sejam sorteados?

a) 1/45 b) 1/20 c) 1/10 d) 1/5 e) 1/2

Tarefa (T3): Calcular a probabilidade de um evento.

Técnica (t3): 1. Identificar o experimento aleatório.

2. Descrever o espaço amostral do experimento aleatório.

3. Identificar o evento que se quer estudar.

4. Dentro do espaço amostral, identificar os resultados favoráveis ao

evento que se quer estudar.

5. Calcular o número de casos favoráveis.

6. Calcular o número de casos possíveis.

7. Determinar a razão entre o número de casos favoráveis e o número de

casos possíveis (definição clássica de probabilidade).

Page 94: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

92

Discurso teórico-tecnológico [T3,t3]: O conhecimento matemático

envolvido no bloco [T3, t3] é o conceito de probabilidade de um evento.

Neste caso, o que melhor se adapta é a definição clássica de

probabilidade, definida por Dantas (2004) da seguinte maneira:

Consideramos um espaço amostral S com N eventos simples,

que suporemos igualmente possíveis. Seja A um evento de S

composto de m eventos simples. A probabilidade de A, que

denotaremos por P(A), é definida por:

N

mAP )(

(DANTAS, 2004, p. 25)

Enunciado da segunda questão: Os gráficos abaixo mostram informações

a respeito da área plantada e da produtividade das lavouras brasileiras de

soja com relação às safras de 2000 a 2007.

Com base nessas informações, resolva o que se pede nos itens a seguir e

transcreva suas respostas para o Caderno de Respostas, nos locais

devidamente indicados.

a) Considerando I = área plantada (em milhões de ha), II = produtividade

(em kg/ha) e III = produção total de soja (em milhões de toneladas),

Com base nessas informações, resolva o que se pede nos itens a seguir:

a) Considerando I = área plantada (em milhões de ha), II = produtividade

(em kg/ha) e III = produção total de soja (em milhões de toneladas),

preencha a tabela abaixo.

Page 95: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

93

Ano I II III

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

b) Faça o esboço do “gráfico de linhas” que representa a quantidade de

quilogramas de soja produzidos no Brasil, em milhões de toneladas, no

período de 2000 a 2007. Nomeie as variáveis nos eixos de coordenadas e dê

um título adequado para seu gráfico.

a) Tarefa (T4): Preencher corretamente um quadro dado.

Técnica (t4): 1. Interpretar o primeiro gráfico de linhas.

2. Preencher o item I do quadro.

3. Interpretar o segundo gráfico de linhas.

4. Preencher o item II do quadro.

5. Utilizando as informações do primeiro e do segundo gráfico de linhas,

calcular a produção total de soja de 2000 a 2007.

6. Preencher o item III do quadro.

Discurso teórico-tecnológico [T4,t4]: O conhecimento estatístico

envolvido no bloco [T4, t4] é a leitura de um gráfico de linhas. A leitura

correta do gráfico de linhas permite o preenchimento correto do item I e do

item II do quadro. Preencher corretamente o item III envolve os seguintes

conhecimentos matemáticos: transformação de unidades de medidas e

multiplicação.

b) Tarefa (T5): Construir um gráfico de linhas que represente a situação

pedida no item b.

Page 96: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

94

Técnica (t5): 1. Ler corretamente o quadro do item a.

2. Construir o gráfico de linhas.

3. Nomear o gráfico de linhas.

Discurso teórico-tecnológico [T5, t5]: O conhecimento estatístico

envolvido no bloco [T5, t5] é a leitura de um quadro e a construção de um

gráfico de linhas, porque a construção do gráfico está associada à leitura

correta do quadro do item anterior.

Questão de 2011

Enunciado: Em um prédio de 8 andares, 5 pessoas aguardam o elevador no

andar térreo. Considere que elas entrarão no elevador e sairão, de maneira

aleatória, nos andares de 1 a 8.

Com base nessa situação, faça o que se pede nos itens a seguir, apresentando

o procedimento de cálculo utilizado na sua resolução.

a) Calcule a probabilidade de essas pessoas descerem em andares diferentes.

b) Calcule a probabilidade de duas ou mais pessoas descerem em um mesmo

andar.

a) Tarefa (T6): Calcular a probabilidade de um evento.

Técnica (t6): 1. Identificar o experimento aleatório.

2. Descrever o espaço amostral do experimento aleatório.

3. Identificar o evento que se quer estudar.

4. Dentro do espaço amostral, identificar os resultados favoráveis ao evento

que se quer estudar.

5. Calcular o número de casos favoráveis.

6. Calcular o número de casos possíveis.

7. Determinar a razão entre o número de casos favoráveis e o número de

casos possíveis (definição clássica de probabilidade).

Discurso teórico-tecnológico [T6,t6]: O conhecimento matemático

envolvido no bloco [T6, t6] é o conceito de probabilidade de um evento.

Page 97: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

95

Neste caso, o que melhor se adapta é a definição clássica de probabilidade, já

definida no discurso teórico-tecnológico [T3, t3].

b) Tarefa (T7): Calcular a probabilidade de um evento complementar.

Técnica (t7): 1. Identificar o experimento aleatório.

2. Descrever o espaço amostral do experimento aleatório.

3. Identificar o evento que se quer estudar.

4. Perceber que o evento que se deseja estudar é o complementar ao item a.

5. Calcular a probabilidade do evento complementar do item a.

Discurso teórico-tecnológico [T7,t7]: O conhecimento matemático

envolvido no bloco [T7, t7] é o cálculo de um evento complementar definido

por Dantas (2004, p. 41) como “Se AC é o complementar do evento A, então:

P(AC) = 1 – P(A)”.

Todas as questões do ENADE que abordam Probabilidade e Estatística não

apresentam grau de dificuldade maior que as questões apresentadas no ENEM. Trata-se

portanto de questões que poderiam ter sido propostas pelo ENEM, já que o referencial

de conteúdos curriculares para a elaboração do componente específico da área de

Matemática (Anexo II) – os conteúdos de Probabilidade e Estatística – aparecem

somente como conteúdos matemáticos da Educação Básica para a realização desse

exame, isto é, a organização matemática identificada no ENADE é a mesma identificada

no ENEM.

Isso provavelmente se deve à ausência de conteúdos probabilísticos e estatísticos

nas DCN para a formação de professores de Matemática.

Constata-se, portanto, que o ENADE não oferece elementos que permitam

pensar a formação ou avaliar as competências e habilidades profissionais de professores

de Matemática no que se refere ao ensino de Probabilidade e Estatística.

Page 98: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

96

3. 3 – Algumas considerações

Neste capítulo, analisamos a presença da Probabilidade e da Estatística em

documentos oficiais e exames oficias.

De acordo com o apresentado no início deste capítulo, o primeiro objetivo da

análise destes documentos foi verificar quais são os conteúdos estatísticos neles

sugeridos, uma vez que nossa hipótese é que tais conteúdos são ou serão ensinados na

Educação Básica, devendo portanto fazer parte do repertório do futuro professor.

Dessa análise emergem os seguintes conteúdos a serem trabalhados na Escola

Básica: coleta, organização de dados e utilização de recursos visuais adequados; tabelas

de frequência; tabelas de dupla entrada; gráficos de barras; gráficos de colunas;

diagramas de linha poligonal; histogramas; medidas de tendência central (média,

mediana, moda); medidas de dispersão (variância e desvio-padrão); cálculo de

probabilidades (definição clássica e frequentista); elaboração de experimentos e

simulações para estimar probabilidades e verificar probabilidades previstas; cálculo de

probabilidades da união e intersecção de eventos; cálculo de probabilidades no contexto

geométrico; e comparação de probabilidades – conteúdos que, de forma resumida,

devem desenvolver as seguintes competências: interpretar e utilizar informações

expressas em gráficos ou tabelas, resolver situações problemas a partir dos dados

obtidos em gráficos e tabelas, calcular medidas de tendência central e de dispersão,

interpretar medidas de tendência central ou de dispersão para resolver problemas,

utilizar conhecimentos de Estatística e Probabilidade como recurso para a construção de

argumentação e avaliar propostas de intervenção da realidade.

Esses conteúdos, bem como seus objetivos, são similares aos tópicos de

conhecimentos básicos de Probabilidade e Estatística propostos por Gal (2002) e à

síntese da competência estatística proposta por Rumsey (2002).

O segundo objetivo foi verificar como esses conteúdos são avaliados nos exames

oficiais. De acordo com Soares e Nascimento (2012) e Nunes (2013), o SAEB e a Prova

Brasil são exames elaborados para medir diretamente o domínio dos conteúdos,

enquanto o ENEM é elaborado para medir habilidades cognitivas úteis na vida ou no

mercado de trabalho. Apesar das diferenças apresentadas, todos os exames apresentam

coerência em seus objetivos.

Page 99: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

97

A partir das análises das DCN-BL e do ENADE, chegamos à conclusão de que

não dispomos de elementos para pensar o ensino de Probabilidade e Estatística na

formação do professor de Matemática, embora as DCN-BL tenham por objetivo

(BRASIL, 2001) orientar melhorias e transformações da formação do professor de

Matemática e o ENADE vise (BRASIL, 2011) avaliar o desempenho dos estudantes de

graduação.

Entretanto, embora as DCN-FP não abordem os conteúdos a serem ministrados

na Educação Básica, a análise desse documento nos trouxe elementos para pensar o

ensino de elementos da Educação Estatística na Escola Básica, uma vez que as DCN-PF

defendem que, para pensarmos a formação dos professores que atuam na Educação

Básica, devemos olhar o que acontece no interior dessa instituição.

No próximo capítulo, analisaremos duas coleções adotadas na Educação Básica

que foram aprovadas pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD).

Page 100: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

98

Page 101: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

99

CAPÍTULO IV: A PRESENÇA DA ESTATÍSTICA NOS LIVROS

DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA

Introdução

O objetivo deste capítulo é analisar como são propostas as organizações

matemáticas e as organizações didáticas, no sentido proposto por Chevallard (1999),

nos livros didáticos de Matemática utilizados na Escola Básica. Optamos pela análise

dos livros didáticos devido a sua forte tradição dentro da cultura escolar brasileira,

conforme nos aponta Silva (1996):

[...] O livro didático é uma tradição tão forte dentro da educação

brasileira que o seu acolhimento independe da vontade e da

decisão dos professores. Sustentam essa tradição o olhar

saudosista dos pais, a organização escolar como um todo, o

marketing das editoras e o próprio imaginário que orienta as

decisões pedagógicas do educador. (SILVA, 1996, p. 8)

Além disso, segundo Dante (1996), Lajolo (1996), E.T. Silva (1996) e M.A.

Silva (2012), devido à precária situação do sistema educacional brasileiro permite-se

que o livro didático “acabe determinando conteúdos e condicionando estratégias de

ensino, marcando, pois, de forma decisiva, o que se ensina e como se ensina o que se

ensina.” (LAJOLO, 1996, p. 4), ou seja, o livro didático acaba determinando as

organizações matemáticas e as organizações didáticas.

Como já discutido no Capítulo I, a respeito dos conteúdos estatísticos, os

professores, na ausência de uma formação, utilizam os livros didáticos como apoio para

inserir conteúdos estatísticos em suas aulas (COSTA, 2007) e as concepções dos

professores sobre medidas de tendência central (média, moda e mediana) são

determinadas a partir das definições presentes nesses livros (BRANDÃO, 2012). As

pesquisas de Costa (2007) e Brandão (2012) apontam indícios da influência dos livros

didáticos nas práticas e concepções docentes. Além disso, Silva (1996) também aponta

que:

[...] Para uma boa parcela dos professores brasileiros, o livro

didático se apresenta como uma insubstituível muleta. Na sua

falta ou ausência, não se caminha cognitivamente na medida em

que não há substância para ensinar. Coxos por formação e/ou

Page 102: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

100

mutilados pelo ingrato dia-a-dia do magistério, resta a esses

professores engolir e reproduzir a ideia de que sem a adoção do

livro didático não há como orientar a aprendizagem. Muletadas

e muleteiros se misturam no processo. (SILVA, 1996, p. 8)

Silva (1996) afirma que tal fato não é culpa do professor, e sim da

desvalorização sistemática do trabalho docente que vem ocorrendo no Brasil desde

1970. Para esse autor:

[...] à perda crescente da dignidade do professor brasileiro

contrapõe-se o lucro indiscutível e estrondoso das editoras de

livros didáticos. Essa história começa a ser assim no início da

década de 70: a ideologia tecnicista sedimentou a crença de que

os “bons” didáticos, os módulos certinhos, os alphas e as betas,

as receitas curtas e bem ilustradas, os manuais à Disney etc...

seriam capazes – por si só – de assumir a responsabilidade

docente que os professores passavam a cumprir cada vez

menos. Quer dizer: à expropriação das condições de trabalho no

âmbito do magistério correspondeu um aumento gigantesco nas

esferas da produção, da venda ou distribuição e do consumo de

livros e manuais didáticos pelo País. (SILVA, 1996, p. 8)

Tal fato também é apontado por Bezerra (2006):

As condições de trabalho e de formação dos professores

tornavam-se cada vez mais precárias, justamente no momento

em que a escola começava a atender uma clientela que antes

estava alijada do saber formal. Os materiais didáticos

rapidamente deixaram de ser obras de referência, como haviam

sido até então, e passaram a orientar e conduzir a ação docente.

(BEZERRA, 2006, p. 31)

A função de condutores “exclusivos” dos professores é mais atual do que

nunca. Para sua tese de doutorado, Munakata (1997) colheu o seguinte depoimento de

um responsável pela edição em uma grande editora:

Não podemos fazer para a escola pública um material que dê

trabalho para o professor, que implique preparação de aula,

pesquisa além do livro. Porque ele não tem onde, não tem

recursos, não tem formação para isso. A gente tem que fazer

livros mais mastigadinhos, com aula prontinha do começo ao

fim, que tenha estratégia indicada para o professor, que não

implique preparação de aula, pesquisa além do livro.

(MUNAKATA, 1997, p. 151)

Segundo Silva (2012, p. 807), cientes da ação formadora que os livros didáticos

exercem sobre os professores da Escola Básica, “os pareceristas do Programa Nacional

do Livro Didático (PNLD) têm dedicado atenção especial ao manual do professor”.

Page 103: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

101

Ainda segundo este autor, tal fato está creditando ao livro didático responsabilidades

adicionais, sendo uma delas a formação dos professores.

Devido aos fatos apresentados, consideramos relevante analisar as

organizações matemáticas e didáticas dos conteúdos estatísticos que são trabalhados nos

livros didáticos utilizados na Educação Básica.

4.1 – As obras analisadas

Para verificarmos quais são as organizações matemáticas e didáticas referentes

aos tópicos de Estatística que comparecem nos livros didáticos de Matemática utilizados

nas escolas brasileiras, optamos por analisar as obras mais distribuídas pelo PNLD

voltadas aos quatro últimos anos do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio.

Para os quatro últimos anos do Ensino Fundamental, a obra mais distribuída,

dentre as aprovadas no PNLD de 2014, é o livro didático Praticando Matemática:

edição renovada, de Álvaro Andrini e Maria José Vasconcelos, publicado pela Editora

do Brasil. De acordo com os dados estatísticos disponibilizados pelo Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação (FNDE), foram distribuídos 2.831.411 livros dessa

coleção.

Para o Ensino Médio, a obra mais distribuída, dentre as aprovadas pelo PNLD

de 2012, é Matemática: ciência e aplicações, escrita por vários autores, da Editora

Atual. Ao todo, foram distribuídos 2.224.912 livros dessa coleção.

Entretanto, optamos por analisar a segunda coleção mais distribuída porque ela

era adotada na instituição em que trabalhávamos e teríamos acesso imediato. Trata-se da

coleção Matemática: contexto e aplicações, de Luiz Roberto Dante, da Editora Ática,

que teve distribuição de 1.605.229 livros coleção. Passemos então à análise das obras

escolhidas.

4.2 - Análise da coleção Praticando Matemática: edição renovada

Essa coleção foi aprovada pelo PNLD de 2014 e foi a mais distribuída. Dentre

os conteúdos matemáticos nela abordados, os tópicos relacionados à Probabilidade e à

Estatística ocupam na obra as porcentagens indicadas na Tabela 1.

Page 104: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

102

Tabela 1: Porcentagem dos conteúdos probabilísticos e estatísticos presentes na

coleção Praticando Matemática: edição renovada

Ensino Fundamental Porcentagem dos tópicos de Probabilidade e Estatística

6o ano 3,47%

7o ano 7,64%

8o ano 3,29%

9o ano 12,36%

Consideramos essas porcentagens relativamente baixas, pois, sendo o bloco

Tratamento da Informação um dos quatro grandes blocos definidos pelos PCN,

esperávamos percentuais um pouco maiores. Cabe lembrar que esses conteúdos

correspondem, em média, a cerca de 22% das questões na prova de Matemática do

ENEM.

Salientamos que no livro da coleção destinado ao nono ano incluem-se na

porcentagem indicada na Tabela 1 os conteúdos de Análise Combinatória. Embora tais

conteúdos façam parte do bloco Tratamento da Informação, não os analisaremos por

não fazerem parte do âmbito de nossa pesquisa. Passemos agora à organização

matemática dessa coleção.

4.2.1 – Organização Matemática

Analisando as atividades matemáticas referentes aos tópicos de Probabilidade e

Estatística contidos nessa coleção, a partir da TAD proposta por Chevallard (1999),

encontramos 20 tarefas na coleção (Quadro 8).

Page 105: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

103

Quadro 8: Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática: edição renovada

Tarefa 6o ano 7

o ano 8

o ano 9

o ano

Interpretar um gráfico de barras X X X

Dada uma tabela de frequências construir um

gráfico de barras

X

Dada uma tabela de frequências, verificar se o

gráfico de barras foi construído corretamente

X

Interpretar uma tabela de frequência X X

Calcular a média aritmética de um conjunto de

dados à partir da leitura de um gráfico X

Dado um gráfico de barras construir uma tabela

de frequência X

Dada uma tabela de frequências calcular a

frequência relativa de cada variável X

Construir um gráfico de setores X

Interpretar um gráfico de setores X X

Interpretar gráficos que utilizam pictogramas X X

Calcular a média aritmética de um conjunto de

dados

X

Determinar o valor de um elemento

desconhecido de um conjunto de dados, dado a

média aritmética do conjunto de dados e os

valores dos outros (n-1) elementos.

X

Utilizar o conceito de média aritmética para a

resolução de problemas

X

Interpretar um gráfico de linhas X X

Dado um experimento aleatório descrever o

espaço amostral X

Calcular a probabilidade de um evento X X

Comparar a probabilidade de eventos X

Calcular a probabilidade de um evento

complementar X

Calcular a probabilidade da união de eventos X

Calcular o número de elementos de um

determinado evento X

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Nota-se que as 20 tarefas encontradas na coleção analisada estão presentes em

um único ano, exceção feita à interpretação de gráficos e tabelas.

Page 106: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

104

Inferimos que o motivo disso sejam os exames de larga escala nacionais, uma

vez que, as interpretações de gráficos e tabelas são as únicas tarefas que fazem parte dos

descritores do SAEB e da Prova Brasil para alunos concluintes do Ensino Fundamental.

Além disso, das 28 questões de Estatística presentes no ENEM no período de 2009 a

2012, 27 requeriam interpretar gráficos e tabelas, se não na questão toda, pelo menos

em algum item.

A seguir, selecionamos um exemplo representativo de cada uma das 20 tarefas

encontradas, para explicitarmos as técnicas associadas e o discurso teórico-tecnológico

que justificam tais técnicas.

4.2.1.1 – Análise praxeológica

Questão 1: A um grupo de crianças foi feita a seguinte pergunta:

Você tem algum animal de estimação em sua casa?

Este gráfico foi apresentado como resultado da pesquisa.

a) Quantas meninas disseram “não”?

b) Quantas crianças disseram “não”?

c) Quantas crianças disseram “sim”?

d) Quantos meninos responderam à pergunta?

e) Quantas crianças responderam à pergunta?

Tarefa (T1): Interpretar um gráfico de barras

Page 107: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

105

Técnica (t1): 1. Relacionar a categoria menina à cor vermelha e em seguida verificar o

número de meninas, olhando para a altura do gráfico, que assumiram a categoria “não”.

2. Verificar, a partir da leitura do gráfico de barras, o número de meninas que

responderam “não”. Em seguida, verificar o número de meninos que responderam “não”

e, finalmente, somar os dois resultados.

3. Verificar, a partir da leitura do gráfico de barras, o número de meninas que

responderam “sim”. Em seguida, verificar o número de meninos que responderam “sim”

e, finalmente, somar os dois resultados.

4. Verificar, a partir da leitura do gráfico de barras, o número de meninos que

responderam “sim”. Em seguida, verificar o número de meninos que responderam “não”

e, finalmente, somar os dois resultados.

5. Verificar, a partir da leitura do gráfico de barras, o número de meninos que

responderam “sim”. Em seguida, verificar o número de meninos que responderam

“não”, depois disso verificar o número de meninas que responderem “sim”, depois

verificar o número de meninas que responderam “não” e, finalmente, somar os dois

resultados.

Discurso teórico-tecnológico [T1, t1]: De acordo com Magalhães e Lima (2005), “O

gráfico de barras utiliza o plano cartesiano com os valores da variável no eixo das

abscissas e as frequências ou porcentagens no eixo das ordenadas” (MAGALHÃES;

LIMA, 2005, p. 13). No gráfico existem duas variáveis: a variável sexo e a variável

animal de estimação. A variável sexo assume dois atributos: meninos (para o sexo

masculino) e meninas (para o sexo feminino), e a variável animal de estimação assume

dois atributos: sim (para a criança que possui animal de estimação) e não (para a criança

que não possui animal de estimação).

Questão 2: Para saber se você realmente entendeu, use papel quadriculado para fazer o

gráfico de barras referente às atividades de lazer preferidas pelos alunos de uma classe

de 7o ano, indicadas na tabela abaixo.

Page 108: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

106

Tarefa (T2): Dada uma tabela de frequências, construir um gráfico de barras.

Técnica (t2): 1. Dar um título ao gráfico;

2. Traçar e nomear o eixo horizontal (eixo das abscissas);

3. Traçar e nomear o eixo vertical (eixo das ordenadas);

4. Traçar cinco barras no eixo horizontal;

5. Graduar o eixo vertical para marcar a frequência de cada resposta;

6. Traçar os retângulos.

Discurso teórico-tecnológico [T2, t2]: De acordo com Magalhães e Lima (2005), o

gráfico de barras “utiliza o plano cartesiano com os valores da variável no eixo das

abscissas e as frequências ou porcentagens no eixo das ordenadas” (MAGALHÃES;

LIMA, 2005, p. 13). Ainda, de acordo com estes autores, “para cada valor da variável

desenha-se uma barra com altura correspondendo à sua frequência ou porcentagem”

(MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 13).

Questão 3: Veja, na tabela abaixo, o resultado de um estudo realizado em certa escola,

sobre a frequência dos alunos à biblioteca em cada dia da semana.

A partir dessa tabela, foi montado um gráfico de barras. Observe-o.

O gráfico contém erros. Identifique-os e refaça o gráfico corretamente usando papel

quadriculado.

Page 109: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

107

Tarefa (T3): Dada uma tabela de frequências, verificar se o gráfico de barras foi

construído corretamente.

Técnica (t3): 1. Construir um gráfico de barras, dada uma tabela de frequências.

2. Comparar o gráfico construído com o gráfico dado.

Discurso teórico-tecnológico [T3, t3]: Na construção do gráfico de barras, conforme

Magalhães e Lima (2005), as barras traçadas no eixo horizontal têm que ter a mesma

largura e o eixo vertical que corresponde a porcentagens ou frequência deve ter valores

em escala.

Questão 4: A tabela abaixo indica o número de medalhas que alguns países receberam

nas Olimpíadas de 1996.

Analisando as informações da tabela, é correto afirmar que:

a) os Estados Unidos obtiveram 73 medalhas a mais que a França.

b) a França obteve exatamente o dobro de medalhas em relação ao Brasil.

c) a Alemanha ganhou 50 medalhas a mais que o Brasil.

d) o Brasil obteve 12 medalhas a menos que a França.

Page 110: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

108

Tarefa (T4): Interpretar uma tabela de frequência3.

Técnica (t4): 1. Verificar, na tabela, o número de medalhas que os Estados Unidos

conquistaram nas Olimpíadas de 1996;

2. Verificar, na tabela, o número de medalhas que a França conquistou nas olimpíadas

de 1996;

3. Verificar a diferença entre o número de medalhas dos Estados Unidos e da França;

4. Concluir que a questão A é falsa;

5. Verificar, na tabela, o número de medalhas que a França conquistou nas Olimpíadas

de 1996 e dividir pela metade;

6. Verificar, na tabela, o número de medalhas que o Brasil conquistou nas Olimpíadas

de 1996;

7. Comparar a metade das medalhas obtidas pela França com o número de medalhas

obtidas pelo Brasil;

8. Concluir que a questão B é falsa;

9. Verificar, na tabela, o número de medalhas que a Alemanha conquistou nas

Olimpíadas de 1996;

10. Verificar a diferença entre o número de medalhas da Alemanha e do Brasil;

11. Concluir que a questão C é verdadeira.

Discurso teórico-tecnológico [T4, t4]: O conhecimento estatístico utilizado foi a

interpretação dos valores de uma tabela de frequência. Essa tabela contém os valores da

variável e de suas respectivas contagens. Foram utilizados também os conceitos

matemáticos de subtração e divisão, além de se verificar se uma sentença é verdadeira

ou falsa.

Questão 5: O número de horas trabalhadas por uma professora, durante uma semana,

está registrado no gráfico.

3 Embora a estrutura da tabela apresentada na questão 4 seja a de uma tabela de dupla entrada, optamos

por definir a tarefa T4: Interpretar uma tabela de frequência porque todas as informações que pedem para

o aluno analisar referem-se ao total de medalhas. Caso omitíssemos o número de medalhas de ouro, prata

e bronze a questão não seria prejudicada.

Page 111: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

109

Qual é a média aritmética de horas diárias trabalhadas pela professora de segunda-feira

a sexta-feira?

Tarefa 5 (T5): Calcular a média aritmética de um conjunto de dados a partir da leitura

de um gráfico.

Técnica (t5): 1. Obter o número de horas trabalhadas pela professora durante cada dia

da semana, através da leitura de um gráfico.

2. Somar os valores obtidos;

3. Dividir a soma obtida pelo número de dias da semana trabalhados.

Discurso teórico-tecnológico [T5, t5]: A obtenção de informações a partir de um

gráfico de barras foi discutida anteriormente. A informação nova de que dispomos é o

conceito de média aritmética, definida por Bussab e Morettin (2013) da seguinte

maneira:

Se x1, ... , xn são n valores (distintos ou não) da variável X, a

média aritmética ou simplesmente média, de X pode ser escrita:

n

i

in x

nn

xxx

1

1 1... (BUSSAB; MORETTIN, 2013, p.

36)

Questão 6: Foi realizada uma pesquisa sobre o local onde cada aluno do 6o ano A

nasceu. Com as informações obtidas o professor construiu o seguinte gráfico de barras:

Page 112: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

110

Qual tabela deu origem ao gráfico?

a)

Local de Nascimento Número de alunos

São Paulo 15

Santos 6

Bauru 4

Campinas 5

b)

Local de Nascimento Número de alunos

São Paulo 6

Santos 4

Bauru 5

Campinas 15

c)

Local de Nascimento Número de alunos

São Paulo 6

Santos 15

Bauru 5

Campinas 4

Page 113: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

111

d)

Local de Nascimento Número de alunos

São Paulo 6

Santos 5

Bauru 15

Campinas 4

Tarefa (T6): Dado um gráfico de barras, construir uma tabela de frequência.

Técnica (t6): 1. Ler a frequência absoluta da categoria São Paulo;

2. Ler a frequência absoluta da categoria Santos;

3. Ler a frequência absoluta da categoria Bauru;

4. Ler a frequência absoluta da categoria Campinas;

5. Construir a tabela de frequências com os dados obtidos do gráfico de barras e

localizar a tabela correta.

Discurso teórico-tecnológico [T6, t6]: Em uma tabela de frequência, os valores (ou

categorias) que a variável assume estão localizados no eixo das abscissas e sua

frequência absoluta (ou relativa) está no eixo das ordenadas. Na construção de uma

tabela de frequências, a primeira coluna indica os valores (ou categorias) que a variável

assume; na segunda coluna localiza-se a frequência absoluta de cada valor (ou

categoria) assumida pela variável.

Questão 7: A tabela apresenta as opiniões de 60 alunos sobre um filme visto na escola,

Péssimo 3

Ruim 6

Regular 18

Bom 21

Ótimo 12

Total 60 100%

Calcule as porcentagens relativas às diversas opiniões e represente-as num gráfico de

barras, em seu caderno.

Tarefa (T7): Dada uma tabela de frequências, calcular a frequência relativa de cada

variável.

Page 114: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

112

Técnica (t7): 1. Calcular a razão 3/60 e multiplicar por 100;

2. Calcular a razão 6/60 e multiplicar por 100;

3. Calcular a razão 18/60 e multiplicar por 100;

4. Calcular a razão 21/60 e multiplicar por 100;

5. Calcular a razão 12/60 e multiplicar por 100.

Discurso teórico-tecnológico [T7, t7]: O conhecimento matemático envolvido nesta

questão são os conceitos de representação percentual, proporcionalidade e frequência

relativa.

Questão 8: Em uma votação sobre qual é o esporte favorito em uma classe, o resultado

está indicado na tabela abaixo.

Represente em seu caderno o resultado dessa pesquisa por meio de um gráfico de

setores.

Tarefa (T8): Construir um gráfico de setores.

Técnica (t8): 1. Para cada categoria da variável esporte, calcular a frequência relativa;

2. A partir da frequência relativa, calcular a que ângulo ela corresponde no círculo

trigonométrico;

3. Traçamos um círculo com compasso, marcando seu centro, e traçamos um raio;

4. Usando o centro do círculo como vértice e o raio como um de seus lados, traçamos

com auxílio do transferidor o ângulo relativo à categoria futebol;

5. Utilizando o mesmo procedimento, traçamos os outros ângulos relativos às outras

categorias.

Discurso teórico-tecnológico [T8, t8]: De acordo com Magalhães e Lima (2005, p. 13),

construir um gráfico de setores “consiste em repartir um disco em setores circulares

Page 115: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

113

correspondentes às porcentagens de cada valor, calculadas multiplicando-se por 100 a

frequência relativa fi.”.

Questão 9: O gráfico mostra como é a cor dos olhos dos 25 alunos de uma turma do 7o

ano.

a) Quantos alunos têm olhos verdes?

b) Quantos alunos têm olhos castanho-escuros?

c) Quantos alunos têm olhos castanho-claros?

Tarefa (T9): Interpretar um gráfico de setores.

Técnica (t9): 1. Observar no gráfico de barras a porcentagem de alunos que possuem

olhos verdes;

2. Calcular o valor absoluto dos alunos que possuem olhos verdes, a partir da

informação obtida em t9,1.

Observação: As mesmas técnicas devem ser adotadas para responder aos itens b e c.

Discurso teórico-tecnológico [T9, t9]: Esta tarefa utiliza novamente a definição de

gráfico de setores proposta por Magalhães e Lima (2005).

Questão 10: Os colegas de classe de Mário andaram recolhendo latinhas vazias para

uma campanha beneficente. Observe na tabela o número de latinhas que eles recolheram

até o mês de abril:

Page 116: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

114

a) Quantas latinhas recolheram no mês de março?

b) Em que mês recolheram menos latinhas?

c) Quantas latinhas precisam recolher no mês de maio para totalizar 3 000 latinhas entre

janeiro e maio?

Tarefa (T10): Interpretar gráficos que utilizam pictogramas.

Técnica (t10): 1. Perceber que cada pictograma representa 100 latinhas;

2. Verificar, através da tabela, que no mês de março temos 7 pictogramas.

3. Concluir que no mês de março os alunos recolheram 700 latinhas.

Observação: Os itens B e C utilizam as mesmas técnicas que o item A.

Discurso teórico-tecnológico [T10, t10]: Atualmente, os pictogramas são bastante

utilizados pelos meios de comunicação, principalmente nos jornais impressos, de acordo

com Magalhães e Lima (2005):

Meios de comunicação apresentam diariamente, gráficos das

mais variadas formas para auxiliar na apresentação das

informações. Órgãos públicos e empresas se municiam de

gráficos e tabelas em documentos internos e relatórios de

atividades e desempenho. Graças à proliferação de recursos

gráficos, cuja construção tem sido cada vez mais simplificada

em programas computacionais, existe hoje uma infinidade de

gráficos que podem ser utilizados. (...) Deve ser notado,

entretanto, que a utilização de recursos visuais na criação de

gráficos deve ser feita cuidadosamente; um gráfico

desproporcional em suas medidas pode dar falsa impressão de

desempenho e conduzir a conclusões equivocadas.

(MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 12)

Questão 11: Um carro rodou 16.209 quilômetros num ano, 9.643 em outro ano e

18.476 no ano seguinte. Em média, quantos quilômetros ele rodou por ano?

Tarefa (T11): Calcular a média aritmética de um conjunto de dados

Page 117: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

115

Técnica (t11): 1. Somar os três valores referente à quilometragem de cada ano;

2. Dividir o valor obtido por 3.

Discurso teórico-tecnológico [T11, t11]: Neste caso, utiliza-se o conceito de média

aritmética, já definido anteriormente.

Questão 12: A média de sete números é 90. Seis desses números são: 74, 101, 68, 97,

86, 120. Qual é o número que falta?

Tarefa (T12): Determinar o valor de um elemento desconhecido de um conjunto de

dados, dada a média aritmética do conjunto de dados e os valores dos outros (n – 1)

elementos.

Técnica (t12): 1. Montar a equação 907

12086976810174

x;

2. Resolver a equação.

Discurso teórico-tecnológico [T12, t12]: Neste caso, também é utilizado o conceito de

média aritmética, já expresso anteriormente.

Questão 13: Uma prova foi aplicada em uma turma de 20 alunos. A nota mais alta foi

9,3 e a nota mais baixa, 4,7. A média aritmética das 20 notas é 7,0. Retirando-se a nota

mais alta e a nota mais baixa, a média aritmética das 18 notas restantes:

a) diminui mais do que 1 ponto.

b) diminui menos do que 1 ponto.

c) aumenta mais do que 1 ponto.

d) aumenta menos do que 1 ponto.

e) permanece inalterada.

Tarefa (T13): Utilizar o conceito de média aritmética para a resolução de problemas.

Técnica (t13): 1. Utilizando o conceito de média aritmética, descobrir que a soma das

notas dos 20 alunos é 140;

2. Utilizando as informações do enunciado e resolvendo a equação 140... 201 xx ,

descobrir que a soma das notas dos 18 alunos restantes é 126.

Page 118: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

116

3. Utilizando novamente o conceito de média aritmética, calcular a média dos 18 alunos

restantes;

4. Verificar o item verdadeiro.

Discurso teórico-tecnológico [T13, t13]: Neste caso, também é utilizado o conceito de

média aritmética, já apresentado. Também foi utilizado o conceito matemático de

resolução de equações.

Questão 14: O gráfico mostra a população recenseada no Brasil.

a) Qual era a população brasileira em 1960?

b) Qual foi o aumento, em milhões, da população brasileira de 1960 a 1970?

Tarefa (T14): Interpretar um gráfico de linhas.

Técnica (t14): 1. Localizar 1960 no eixo das abscissas.

2. Acompanhando a reta que passa por 1960 e é paralela ao eixo das ordenadas,

localizar o ponto no gráfico de segmentos.

3. No ponto localizado, traçar uma reta que passa por esse ponto e é paralela ao eixo das

abscissas.

4. No encontro dessa reta com o eixo das ordenadas, localizar a informação necessária.

5. Verificar, usando as técnicas anteriores, qual era a população brasileira em 1970.

6. Subtrair do valor encontrado para a população brasileira em 1970 o valor encontrado

para a população brasileira em 1960.

Discurso teórico-tecnológico [T14, t14]: O conhecimento estatístico utilizado é a noção

de gráfico de linhas. Muitas variáveis são medidas em intervalos longos de tempo.

Page 119: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

117

Nesta questão, temos o tamanho da população brasileira ao longo do tempo. De acordo

com Moore (2005), para mostrar a mudança ao longo do tempo constrói-se um gráfico

de linhas, que o autor denomina de gráfico temporal e define da seguinte maneira:

Um gráfico temporal de uma variável representa

graficamente cada observação contra o tempo em que foi

medida. Sempre coloque o tempo na escala horizontal de

seu gráfico e a variável que está medindo na vertical.

Conectar as observações por linhas ajuda a enfatizar

qualquer mudança ao longo do tempo. (MOORE, 2005, p.

17)

Questão 15: Lançam-se 3 moedas simultaneamente, podendo sair cara ou coroa.

Quantos e quais são os resultados possíveis?

Tarefa (T15): Dado um evento, descrever o espaço amostral.

Tarefa (t15): 1. Identificar o experimento aleatório;

2. Calcular o número de elementos do experimento aleatório;

3. Descrever os elementos do experimento aleatório.

Discurso teórico-tecnológico [T15, t15]: O conhecimento matemático utilizado é o

princípio multiplicativo. De acordo com Santos, Mello e Murari (2007), o princípio

multiplicativo é assim enunciado:

Se um evento Ai pode ocorrer de mi maneiras diferentes, para i

= 1, 2, 3, ... , n, então esses n eventos podem ocorrer, em

sucessão, de m1 m2 ... mn maneiras diferentes. (SANTOS,

MELLO e MURARI, 2007, p. 40)

Questão 16: Para vencer um jogo de dados, Fernanda deveria, ao lançar um dado, obter

um número ímpar. Qual a chance de Fernanda vencer esse jogo?

Tarefa (T16): Calcular a probabilidade de um evento.

Técnica (t16): 1. Descrever o espaço amostral.

2. Descrever os casos favoráveis.

3. Calcular a razão entre o número de casos favoráveis e o número de casos possíveis.

Page 120: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

118

Discurso teórico-tecnológico [T16, t16]: Discurso teórico-tecnológico: O

conhecimento matemático envolvido é o conceito probabilidade de um evento. Neste

caso, o que melhor se adapta é a definição clássica de Probabilidade, apresentada por

Dantas (2004) da seguinte maneira:

Consideramos um espaço amostral S com N eventos simples,

que suporemos igualmente possíveis. Seja A um evento de S

composto de m eventos simples. A probabilidade de A, que

denotaremos por P(A), é definida por:

N

mAP )(

(DANTAS, 2004, p. 25)

Questão 17: Numa caixa estão os seguintes cartões:

Retirou-se um cartão da caixa, sem olhar.

a) Qual é a letra com maior probabilidade de sair? Qual é essa probabilidade?

b) Qual é a probabilidade de sair a letra I?

c) Qual é a probabilidade de sair uma vogal?

d) Quais são as letras que tem a mesma probabilidade de sair?

e) A probabilidade de sair M é maior ou menor que a de sair E?

Tarefa (T17): Comparar a probabilidade de eventos.

Técnica (t17): 1. Calcular a probabilidade de sair a letra M.

2. Calcular a probabilidade de sair a letra A.

3. Calcular a probabilidade de sair a letra T.

4. Calcular a probabilidade de sair a letra E.

5. Calcular a probabilidade de sair a letra I.

6. Calcular a probabilidade de sair a letra C.

Page 121: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

119

7. Verificar qual é a letra com maior probabilidade de sair.

8. Comparar as letras que tem a mesma probabilidade de sair.

9. Comparar as probabilidades das letras M e E.

Discurso teórico-tecnológico [T17, t17]: Neste caso, o conhecimento matemático

envolvido, assim como na questão anterior, é o de probabilidade de um evento, e o que

melhor se adapta é a definição clássica de Probabilidade, tal como definida por Dantas

(2004) e enunciada anteriormente.

Questão 18: Num avião viajam 20 brasileiros, 10 japoneses, 8 italianos e 3 espanhóis.

Escolhendo ao acaso um passageiro, determine a probabilidade de ele:

a) ser espanhol;

b) não ser espanhol;

c) ser japonês ou italiano;

d) ser norte-americano.

Observação: Os itens a e d referem-se à Tarefa T16: calcular a probabilidade de um

evento. Como já vimos um modelo desta tarefa na questão 16, vamos nos concentrar

nos itens b e c.

Item b:

Tarefa (T18): Calcular a probabilidade de um evento complementar.

Técnica (t18): 1. Utilizar a informação “probabilidade de ser espanhol”, já calculada no

item a;

2. Subtrair 1 do valor encontrado no item a.

Discurso teórico-tecnológico [T18, t18]: Nesta questão, estão envolvidos os conceitos

matemáticos de evento complementar e probabilidade de um evento complementar.

Dantas (2004) define evento complementar da seguinte maneira: “Definição 1.3.3: O

complementar do evento A, denotado por AC, é o evento quando A não ocorre”, e

probabilidade de um evento complementar da seguinte maneira: “Lema 1.6.3: Se AC, é

o complemento do evento A, então P(AC) = 1 – P(A).”

Item c

Page 122: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

120

Tarefa (T19): Calcular a probabilidade da união de eventos.

Técnica (t19): 1. Identificar o experimento aleatório;

2. Descrever o espaço amostral do experimento aleatório;

3. Calcular o evento A: ser japonês;

4. Calcular o evento B: ser italiano.

Discurso teórico-tecnológico [T19, t19]: Os conhecimentos matemáticos envolvidos são

os conceitos de probabilidade de um evento e probabilidade da união de eventos. O

conceito de probabilidade de um evento já foi definido. A probabilidade da união de

eventos é definida por Dantas (2004) da seguinte maneira:

Lema 1.6.5: Sejam A e B dois eventos quaisquer do espaço

amostral S, tem-se:

P(A U B) = P(A) + P(B) – P(AB).

(DANTAS, 2004, p. 41)

Questão 19: Numa turma do 9o ano, de 28 alunos, a probabilidade de, numa escolha ao

acaso, se obter uma menina é 4/7. Quantos rapazes tem a turma?

Tarefa (T20): Calcular o número de elementos de um determinado evento.

Técnica (t20): 1. Conhecer a definição clássica de Probabilidade.

2. Montar o sistema de equações

28

7

4

yx

yx

y

3. Resolver o sistema de equações.

Discurso teórico-tecnológico [T20, t20]: Este caso envolve o conceito de Probabilidade,

já visto em questões anteriores.

Nesta questão, apresentamos uma das possíveis técnicas para a sua resolução.

Caso o aluno opte por uma técnica diferente da apresentada, o Discurso teórico-

tecnológico permanece o mesmo.

Page 123: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

121

4.2.2 – Organização Didática

Uma vez que descrevemos a organização matemática presente na coleção

analisada, passaremos à organização didática. Neste trabalho, entendemos por

organização didática a proposta por Chevallard (1999), que a define da seguinte

maneira:

As praxeologias didáticas ou organizações didáticas são

respostas (no sentido forte) a questões do tipo “Como estudar a

questão q = τT?” ou “Como estudar a obra O?”, as respostas

aqui indicadas, genericamente, δq e δO, de modo que ODθ =

δOMθ. Dito isto, a questão é saber quais os tipos de tarefas

constituem uma praxeologia didática; ou para colocar de outra

forma, quais “gestos” podem ser olhados como didáticos.

(CHEVALLARD, 1999, p. 237)

Baseando-nos nessa definição, chamaremos de organizações didáticas as

respostas dadas pelo livro didático com o objetivo de ensinar as organizações

matemáticas neles encontradas.

Portanto, nosso objetivo é analisar como a coleção Praticando Matemática:

edição renovada propõe ensinar as organizações matemáticas nela encontradas. No

Quadro 9 descrevemos as tarefas obtidas a partir das análises das questões de Estatística

dos exercícios do livro da coleção destinado aos alunos do sexto ano.

Quadro 9: Descrições das tarefas obtidas a partir das análises das questões de

Estatística dos exercícios do livro didático do sexto ano

Tarefa Descrição da tarefa

1 Interpretar um gráfico de barras

2 Dado uma tabela de frequências, construir um gráfico de barras

3 Dado uma tabela de frequências, verificar se o gráfico de barras foi

construído corretamente

4 Obter informações a partir da leitura de uma tabela

5 Calcular a média aritmética de um conjunto de dados à partir da leitura de

um gráfico de barras

6 Dado um gráfico de barras, construir uma tabela de frequência

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Portanto, de que forma a coleção se propõe a ensinar os alunos a desenvolver

essas tarefas?

Page 124: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

122

No livro do sexto ano, estas tarefas são desenvolvidas no capítulo 7, cujo título é

“Dados, tabelas e gráficos de barras”. Tal nome é muito sugestivo, uma vez que, das

seis tarefas presentes nesse volume, todas envolvem gráficos de barras e tabelas.

O volume do sexto ano introduz o tema com o seguinte subtítulo: “Para que

servem os gráficos?”. O texto é iniciado com uma pergunta destinada ao leitor (aluno):

“Você já viu gráficos como o apresentado ao lado?” e, ao lado do texto, há um gráfico

de barras.

Em seguida, a obra apresenta um texto que descreve que esse tipo de gráfico

aparece com frequência em jornais, revistas e outros meios de comunicação, e afirma

que o uso de gráficos facilita a visualização e comparação de dados, explicando também

que o gráfico ao lado é chamado de gráfico de barras. Na obra, o nome do gráfico

aparece escrito em negrito.

O texto apresenta informações técnicas do gráfico de barras, e no final apresenta

uma atividade cuja tarefa é interpretar um gráfico de barras (T1).

Embora o primeiro volume da coleção afirme que usar gráficos facilita visualizar

e comparar dados, em nenhum momento há nele a preocupação de definir o que são

dados, como eles são obtidos e como compará-los.

Esse volume simplesmente apresenta o gráfico e pede para os alunos obterem

informações a partir de sua leitura.

Nesse aspecto, o volume destinado ao sexto ano omite a necessidade dos dados e

a maneira como eles são coletados – o primeiro dos cinco tópicos de conhecimentos

básicos de Probabilidade e Estatística propostos por Gal (2002) para o desenvolvimento

do Letramento Estatístico.

Depois da primeira atividade de leitura de um gráfico de barras, o livro didático

ensina a técnica T2: dada uma tabela de frequências, construir um gráfico de barras.

A tabela utilizada refere-se a atividades realizadas no período de lazer dos 30

alunos de um sexto ano. A obra analisada perde a oportunidade de instigar os alunos a

sentirem necessidade de dados.

Após o ensino da técnica de construção de um gráfico de barras a partir de uma

tabela, o livro traz duas atividades envolvendo construção de gráfico de barras a partir

de tabela, seguidas de seis exercícios envolvendo as quatro primeiras tarefas descritas

no Quadro 9.

Na continuação do volume, o segundo subtítulo é “Vamos fazer uma pesquisa

estatística?”. Esse tópico é importante para o Letramento Estatístico porque nesse

Page 125: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

123

momento surge a necessidade dos dados. No entanto, a obra direciona o trabalho dos

alunos propondo a pesquisa a ser feita e o modo de proceder, ou seja, direcionando

inteiramente o trabalho dos alunos, deixando-lhes pouco espaço para o desenvolvimento

do raciocínio crítico.

Esse segundo subtítulo é seguido de outros 10 exercícios envolvendo todas as

tarefas encontradas no livro do sexto ano. Fazemos uma ressalva para a T5: calcular a

média aritmética de um conjunto de dados a partir da leitura de um gráfico de barras.

Essa tarefa é equivocada, uma vez que, nesse volume, não foi apresentado o conceito de

média aritmética.

A tarefa T6 – dado um gráfico de barras, construir uma tabela de frequências –

também apresenta problemas, pois a obra não ensina o aluno a construir esse tipo de

tabela.

Em ambos os casos, é necessária a intervenção do professor, que terá que ensinar

ao aluno o conceito de média aritmética (ou pedir aos alunos que ignorarem o exercício,

que é o único a abordar essa técnica) e a construção da tabela de frequências.

Além disso, há nas atividades propostas nesse volume um desequilíbrio nas

tarefas pedidas, conforme mostra a Tabela 2.

Tabela 2: Frequências absolutas e relativas das tarefas encontradas no livro

didático do sexto ano

Tarefa Frequência absoluta Frequência relativa

1 7 43,75%

2 2 12,50%

3 2 12,50%

4 3 18,75

5 1 6,25%

6 1 6,25%

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Nota-se uma ênfase nas tarefas que envolvem a interpretação de gráficos de

barras e tabelas de frequência (T1 e T4) no volume da coleção destinado ao sexto ano.

Fazemos a hipótese de que tal ênfase deve-se ao fato de que tais tarefas (T1 e T4)

estão presentes na matriz de habilidades e competências do SAEB. Assim como o

Page 126: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

124

ENEM influenciou alterações nos livros didáticos de Matemática do Ensino Médio

(PAIVA, 2003), o SAEB pode estar influenciando alterações nos livros didáticos de

Matemática do Ensino Fundamental, mas tal afirmação carece de pesquisas que a

comprovem ou refutem. Seguimos agora para a análise do volume destinado ao sétimo

ano.

As tarefas, que o volume destinado ao sétimo ano se propõe a desenvolver são

descritas no Quadro 10.

Quadro 10: Tarefas obtidas a partir da análise das questões de Estatística

presentes no livro didático do sétimo ano

Tarefa Descrição da tarefa

1 Dada uma tabela de frequências, calcular a frequência relativa de cada

categoria de uma variável.

2 Interpretar um gráfico de barras.

3 Construir um gráfico de setores.

4 Interpretar um gráfico de setores.

5 Interpretar gráficos que utilizam pictogramas.

6 Calcular a média aritmética de um conjunto de dados.

7 Dado a média aritmética de um conjunto de dados e os valores de (n-1)

elementos, determinar o valor do elemento desconhecido.

8 Utilizar o conceito de média aritmética para a resolução de problemas

9 Interpretar uma tabela de frequências.

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

No segundo livro da coleção (sétimo ano), os aspectos ligados a Probabilidade e

Estatística são trabalhados no Capítulo 6, intitulado “Construindo e interpretando

gráficos”, que se divide em cinco partes.

Na primeira parte, “Porcentagens e gráficos”, é dada uma tabela de frequências

com a frequência absoluta, e a partir dela ensina-se a técnica do cálculo da porcentagem,

determinando os valores da frequência relativa.

Salientamos que, a obra não distingue frequência absoluta de frequência relativa

tratando ambas como “frequência”.

Com a obtenção da nova tabela, constrói-se o gráfico de barras, ou seja,

trabalha-se com a seguinte tarefa T: dada uma tabela de frequências, construir um

gráfico de barras. Essa tarefa, presente no volume destinado ao sexto ano, é destacada

novamente no sétimo ano.

A primeira parte se finaliza com três exercícios, o primeiro dos quais pede a

tarefa T1 do Quadro 10 e os outros dois a tarefa T3.

Page 127: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

125

Na segunda parte, denominada “Construindo um gráfico de setores”, ensina-se a

técnica de construção de um gráfico de setores. Em seguida, há cinco exercícios que

envolvem as tarefas T4 e T5.

Está ausente na obra a comparação entre o gráfico de barras e o gráfico de

setores, que permitiria evidenciar quando um deve ser utilizado em vez do outro. Tal

comparação é importante, pois permite desenvolver nos alunos a transnumeração, isto é,

a utilização de diferentes representações gráficas para o mesmo conjunto de dados.

Na terceira parte, denominada “Pictogramas”, são apresentadas essas

representações, construídas a partir de uma tabela de frequências. Como no caso do

gráfico de setores, as atividades subsequentes envolvem interpretação e construção de

pictogramas.

A quarta parte, denominada “Médias”, trabalha com o conceito de média,

apresentada como a soma dos valores dos elementos dividida pelo número de

elementos. Não é feita nenhuma referência à média como medida que resume um

conjunto de dados. Em nenhum momento a obra se refere a média como uma das

medidas de tendência central ou sobre os objetivos dessas medidas. As outras medidas

de tendência central (mediana e moda) não são mencionadas.

O conceito de média é reduzido ao algoritmo, e as atividades previstas no final

da quarta parte reforçam essa ideia.

A quinta e última parte, denominada “Estudando um orçamento familiar”,

propõe a formação de grupos de três ou quatro alunos que deverão entrevistar uma

família. São sugeridas algumas questões para que os alunos elaborem um questionário.

Tal proposta, inteiramente interessante do ponto de vista estatístico, permite

trabalhar de forma integrada conceitos da Educação Estatística e da Educação

Financeira. No entanto, da maneira como a obra conduz a atividade, esta acaba se

limitando a explorar a construção das tabelas e dos gráficos estudados anteriormente,

perdendo-se a oportunidade de trabalhar com os alunos a elaboração de questões

críticas.

Do ponto de vista do desenvolvimento das tarefas encontradas no volume

destinado aos alunos do sétimo ano, a obra contém 65 exercícios de Estatística (Tabela

3).

Page 128: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

126

Tabela 3: Frequências absolutas e relativas das tarefas encontradas no livro

didático do sétimo ano

Tarefa Frequência absoluta Frequência relativa

1 1 1,6%

2 8 12,9%

3 4 6,4%

4 8 12,9%

5 8 12,9%

6 19 30,6%

7 4 6,4%

8 7 11,3%

9 3 4,8%

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Dos 65 exercícios apresentados, há três cuja resolução exige realizar duas

tarefas. Há uma ênfase muito forte na interpretação de gráficos (T2, T4 e T5) e na

exploração do algoritmo do cálculo da média aritmética (T6, T7 e T8).

Em relação às questões que requerem construção e interpretação de gráficos,

nota-se uma preferência pelas que envolvem as tarefas de interpretação de gráficos, em

detrimento das que envolvam sua construção. Novamente, fazemos a hipótese de qual

fato de deva à matriz de habilidades e competências do SAEB e da Prova Brasil.

Quanto à exploração do algoritmo da média aritmética, quase 50% dos

exercícios referem-se a tarefas que utilizam o conceito de média aritmética. Entretanto,

percebe-se nesses exercícios apenas o cálculo da média, sem a sua interpretação.

Passemos agora ao volume destinado ao oitavo ano, no qual foram detectadas as

tarefas descritas no Quadro 11.

Quadro 11: Tarefas obtidas a partir da análise das questões de Estatística

presentes no livro didático do oitavo ano

Tarefa Descrição da tarefa

1 Interpretar um gráfico de barras.

2 Interpretar uma tabela de frequência.

3 Interpretar um pictograma.

4 Interpretar um gráfico de setores.

5 Interpretar um gráfico de linhas.

6 Dado um evento descrever o espaço amostral.

7 Calcular a probabilidade de um evento.

8 Calcular a média aritmética de um conjunto de dados.

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Page 129: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

127

Esse volume, intitulado “Possibilidades e estatística”, está dividido em duas

partes.

A primeira tem início com noções de Análise Combinatória, e por isso não será

aqui analisada.

Na segunda parte, intitulada “Os gráficos estatísticos”, a obra faz uma revisão de

gráficos de barras, gráficos de setores e pictogramas, reapresentando os gráficos

abordados nos dois volumes anteriores. A seguir, apresenta o gráfico de segmentos,

seguindo o mesmo modelo utilizado para apresentar os três gráficos anteriores.

Em seguida, traz atividades envolvendo a construção e interpretação dos

gráficos em questão (de barras, de setores, pictogramas e de segmentos).

Ressalte-se que se trata de uma obra coerente, pois seu objetivo é elaborar e

interpretar gráficos de barras, pictogramas, gráficos de setores e de segmentos – o que a

obra de fato faz. No entanto, tal opção acaba por limitar o desenvolvimento do

Letramento Estatístico nos alunos.

O livro do oitavo ano contém 64 exercícios envolvendo Probabilidade e

Estatística. A distribuição dos exercícios de acordo com as tarefas é apresentada na

Tabela 4.

Tabela 4: Tarefas identificadas nas questões de Estatística presentes no livro

didático do oitavo ano

Tarefa Frequência absoluta Frequência relativa

1 9 27,3%

2 2 6,0%

3 2 6,0%

4 5 15,2%

5 9 27,3%

6 2 6,0%

7 3 9,1%

8 1 3,0%

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Nota-se novamente a grande ênfase dada à interpretação de gráficos. Nesse

volume é apresentado ao aluno pela primeira vez o gráfico de linha. Embora 27,3% dos

exercícios versem sobre a interpretação desse tipo de gráfico, sua construção não é

pedida em nenhum. Como mostra a Tabela 4, a maior parte dos exercícios envolve

tarefas relativas à interpretação de gráficos.

Page 130: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

128

Constata-se ainda a presença de exercícios envolvendo as tarefas T7 e T8, mas o

tema Probabilidade não é abordado nesse volume. Tal ausência também foi observada

no livro destinado ao sexto ano.

Passemos agora ao volume destinado ao nono ano, no qual foram detectadas as

tarefas descritas no Quadro 12.

Quadro 12: Tarefas obtidas a partir da análise das questões de Estatística

presentes no livro didático do nono ano

Tarefa Descrição da tarefa

1 Calcular a probabilidade de um evento.

2 Comparar probabilidades de eventos.

3 Calcular a probabilidade de um evento complementar.

4 Calcular a probabilidade da união de eventos

5 Calcular o número de elementos de um determinado evento

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

O volume, intitulado “Noções de Probabilidade”, está dividido em três partes.

Na primeira parte, intitulada “Qual é a chance?”, a obra introduz a noção de

probabilidade a partir de uma história. No entanto, em nenhum momento são abordadas

as noções básicas de probabilidade (experimento aleatório, espaço amostral e evento).

Na história apresentada, a noção de probabilidade é desenvolvida em linguagem

bastante simplificada, e a probabilidade é apresentada como sinônimo de chance,

seguindo as orientações dos PCN. Em seguida, há dez exercícios que pedem a tarefa T1

(calcular a probabilidade de um evento).

Na segunda parte, intitulada “As probabilidades e a estatística”, a obra aborda de

forma intuitiva o conceito de probabilidade frequentista, mas peca por não se

aprofundar no assunto e nem relacioná-la com a definição clássica. Em seguida há

exercícios que novamente pedem a tarefa T1.

Na terceira parte, intitulada “população e amostra”, há uma tentativa, por meio

de uma breve história, de abordar esses dois conceitos.

Em seguida, há uma sequência de exercícios que, porém, abordam a

interpretação de gráficos e tabelas. Tal enfoque faz desaparecer as noções abordadas no

texto.

Em seguida, há mais exercícios envolvendo as tarefas T1, T3 e T4.

O livro do nono ano contém 46 exercícios de Estatística. A distribuição dos

exercícios de acordo com as tarefas envolvidas encontra-se na Tabela 5.

Page 131: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

129

Tabela 5: Tarefas identificadas nas questões de Estatística presentes no livro

didático do nono ano

Tarefa Frequência absoluta Frequência relativa

1 41 90,8%

2 1 2,3%

3 1 2,3%

4 1 2,3%

5 1 2,3%

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Pode-se dizer que, no quarto volume da coleção, introduz-se um novo conceito,

que é o de probabilidade, em sua definição clássica e frequentista, mas sem a

abordagem conjunta de ambas as definições, o que reforça a interpretação dos gráficos

estudados anteriormente e das tabelas.

Também podemos observar que a uma das técnicas trabalhadas é a de calcular a

probabilidade utilizando-se a definição clássica.

Com a análise dos quatro volumes destinados ao Ensino Fundamental,

concluímos que, em geral, a coleção utiliza as seguintes técnicas para realizar a tarefa T,

de ensinar as tarefas matemáticas (TM) identificadas na coleção.

T1: Apresentação da tarefa TMi;

T2: Técnicas para a resolução da tarefa TMi;

T3: Exercícios que utilizem as técnicas para a resolução das tarefas TMi.

Portanto, a coleção opta por apresentar uma organização didática que enfatiza

aspectos procedimentais.

Tal organização é classificada por Gáscon (2003) como organização didática

tecnicista. De acordo com este autor, “as organizações didáticas tecnicistas identificam

implicitamente ‘ensinar e aprender matemática’ como ‘ensinar e aprender técnicas

(algoritmos)’ com todo o reducionismo que isto implica” (GÁSCON, 2003, p. 24).

Sob essa organização, o ensino se concentra quase que totalmente no bloco do

saber fazer, fazendo pouquíssimas referências ao bloco do saber.

Assim, como em seu ensino em cursos de graduação (Viali, 2005) voltados à

formação de professores de Matemática para a Educação Básica, a visão do ensino de

Estatística contida no livro didático analisado reduz esse campo do conhecimento à

construção de gráficos e tabelas e à manipulação de fórmulas e algoritmos, o que resulta

em perda da concepção do ensino de Estatística como sendo a análise de dados em

Page 132: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

130

determinado contexto. Consequentemente, o enfoque adota não favorece o

desenvolvimento do Letramento Estatístico.

Passemos agora à análise da obra destina ao Ensino Médio.

4.3 – Análise da coleção Matemática: contexto e aplicações

Nos conteúdos matemáticos abordados nessa obra, os tópicos relacionados a

Probabilidade e Estatística ocupam as porcentagens indicadas na Tabela 6.

Tabela 6: Porcentagem dos conteúdos probabilísticos e estatísticos contidos na

coleção Matemática: contexto e aplicações

Ensino Médio Porcentagem de tópicos de Estatística

Primeiro ano 0%

Segundo ano 8,07%

Terceiro ano 12,88%

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Percebe-se nessa tabela a ausência desses conteúdos no primeiro ano do Ensino

Médio e uma porcentagem média próxima à da coleção destinada ao Ensino

Fundamental.

4.3.1 – Organização Matemática

Analisando os tópicos referentes a Probabilidade e Estatística a partir da TAD,

identificamos nessa coleção 23 tarefas (Quadro 13).

Page 133: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

131

Quadro 13: Tarefas encontradas na coleção Matemática: Contexto e aplicações

Tarefa 1o

ano

2o

ano

3o

ano

Determinar o espaço amostral e os eventos de um experimento

aleatório

X

Calcular a probabilidade de um evento X X

Calcular a probabilidade da união de eventos X

Calcular a probabilidade de um evento complementar X

Calcular a probabilidade de um evento condicionado X

Verificar a independência de dois eventos X

Calcular a probabilidade de um evento utilizando a

distribuição binomial

X

Definir universo em uma pesquisa estatística X

Definir amostra em uma pesquisa estatística X

Definir a variável estatística X

Construir uma tabela de frequências X

Interpretar uma tabela de frequências X

Interpretar um gráfico de segmentos X

Construir um gráfico de segmentos X

Interpretar um gráfico de barras X

Construir um gráfico de barras X

Interpretar um gráfico de setores X

Construir um gráfico de setores X

Construir um histograma X

Calcular a média aritmética de um conjunto de dados X

Calcular a moda de um conjunto de dados X

Calcular a mediana de um conjunto de dados X

Calcular o desvio padrão de um conjunto de dados X

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Nota-se nesse quadro que, das 23 tarefas identificadas nessa coleção, 13 já

haviam sido identificadas na coleção destinada ao Ensino Fundamental.

Assim, para evitar análises repetitivas, optamos por apresentar apenas as

questões que envolvem 10 tarefas que não foram identificadas no Ensino Fundamental:

Questão 1: Jogam-se dois dados. Qual é a probabilidade de se obter o 4 no primeiro

dado se a soma dos resultados é 9?

Tarefa (T1): Calcular a probabilidade de um evento condicionado.

Técnica (t1): 1. Identificar o evento A: Obter 4 no primeiro dado;

2. Identificar o evento B: Obter soma 9 no lançamento de dois dados;

3. Calcular a probabilidade do evento A;

Page 134: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

132

4. Calcular a probabilidade do evento B;

5. Calcular a probabilidade da interseção do evento A com o evento B;

6. Calcular a probabilidade do evento A, dado que o evento B ocorreu utilizando

𝑃(𝐴/𝐵) =𝑃(𝐴∩𝐵)

𝑃(𝐵).

Discurso teórico-tecnológico [T1, t1]: O conhecimento matemático envolvido nesse

bloco é o conceito de probabilidade condicional, assim formulado por Dantas (2004):

Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral e supondo que

P(A) > 0, a probabilidade condicional de B dado A é definida

por:

.)(

)()/(

AP

ABPABP

(DANTAS, 2004, p. 46)

Questão 2: Dois dados perfeitos são lançados. Consideramos o evento A: sair número

ímpar no primeiro dado e B: a soma dos resultados ser 7. Determine se A e B são

eventos independentes.

Tarefa (T2): Verificar a independência de dois eventos.

Técnica (t2): 1. Calcular a probabilidade do evento A;

2. Calcular a probabilidade do evento B;

3. Calcular a probabilidade da intersecção do evento A com o evento B;

4. Calcular o produto da probabilidade do evento A com a probabilidade do evento B;

5. Comparar os resultados de obtidos em t2,3 e t2,4;

6. Concluir se os eventos são independentes ou não.

Discurso teórico-tecnológico [T2, t2]: O conhecimento matemático envolvido nesse

bloco é o conceito de independência de eventos, assim formulado por Magalhães e Lima

(2005):

Dois eventos A e B são independentes, se a informação da

ocorrência ou não de B não altera a ocorrência de A. Isto é,

),()/( APBAP 0)( BP ,

ou ainda a seguinte forma equivalente:

).()()( BPAPBAP

(MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 44)

Page 135: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

133

Questão 3: Se uma moeda é lançada 6 vezes, qual é a probabilidade de sair coroa 4

vezes?

Tarefa (T3): Calcular a probabilidade de um evento utilizando a distribuição binomial.

Técnica (t3): 1. Definir o evento A, isto é, o evento que será considerado sucesso;

2. Calcular a probabilidade do evento A;

3. Verificar o número de experimentos realizados;

4. Determinar a probabilidade de 4 sucessos quando são realizados 6 experimentos.

Discurso teórico-tecnológico [T3, t3]: O conhecimento matemático envolvido nesse

bloco é o modelo binomial. Magalhães e Lima (2005) definem o modelo binomial da

seguinte maneira:

Considere a repetição de n ensaios de Bernoulli independentes e

todas com a mesma probabilidade de sucesso p. A variável

aleatória que conta o número total de sucessos é denominada

Binomial com parâmetros n e p e sua função de probabilidade é

dada por

nkppk

nkXP knk ...,,2,1,0,)1()(

Com

k

n representando o coeficiente binomial calculado por

.)!(!

!

knk

n

k

n

(MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 72)

Questão 4: Uma concessionária de automóveis tem cadastrados 3 500 clientes e fez

uma pesquisa sobre a preferência de compra em relação a “cor” (branco, vermelho ou

azul), “preço”, “número de portas” (duas ou quatro) e “estado de conservação” (novo ou

usado). Foram consultados 210 clientes. Diante dessas informações, responda: qual é o

universo estatístico e qual é a amostra dessa pesquisa? Quais são as variáveis e qual é o

tipo de cada uma?

Tarefa (T4): Identificar o conjunto-universo em uma pesquisa estatística.

Técnica (t4): 1. Delimitar o problema/tema;

Page 136: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

134

2. Delimitar o objeto de estudo;

3. Verificar a população de interesse.

Discurso teórico-tecnológico [T4, t4]: O conhecimento envolvido nesse bloco é a

definição de população. De acordo com Magalhães e Lima (2005):

Na terminologia estatística, o grande conjunto de dados que

contém a característica que temos interesse recebe o nome de

população. Esse termo refere-se não somente a uma coleção de

indivíduos, mas também o alvo sobre o qual reside o nosso

interesse. (MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 2)

Tarefa (T5): Identificar a amostra em uma pesquisa estatística.

Técnica (t5): 1. Verificar a população de interesse;

2. Optar pela técnica de amostragem mais apropriada;

3. Verificar se a amostra é representativa da população que se deseja estudar.

Discurso teórico-tecnológico [T5, t5]: O conhecimento envolvido nesse bloco é a

definição de amostra, assim definida por Magalhães e Lima (2005):

Tendo em vista as dificuldades de várias naturezas para se

observar todos os elementos da população, tomaremos alguns

deles para formar um grupo a ser estudado. Este subconjunto da

população, em geral com dimensões sensivelmente menor, é

denominado de amostra. (MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 3)

Tarefa (T6): Classificar as variáveis estatísticas

Técnica (t6): 1. Verificar se a variável assume um valor numérico ou uma categoria;

2. Nomear a variável de acordo com a categoria que ela assume.

Discurso teórico-tecnológico [T6, t6]: O conhecimento matemático envolvido nesse

bloco é a definição de variável estatística, assim apresentada por Moore (2005):

Uma variável é qualquer característica de um indivíduo. Uma

variável pode assumir valores diferentes para indivíduos

diferentes. (MOORE, 2005, p. 3)

Esse autor define indivíduos da seguinte maneira:

Page 137: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

135

Os indivíduos são os objetos descritos por um conjunto de

dados, podendo ser pessoas, animais ou objetos. (MOORE,

2005, p. 3)

Além disso, as variáveis podem ser classificadas em qualitativas e

quantitativas. Magalhães e Lima (2005) definem as variáveis qualitativas da seguinte

maneira:

A variável é qualitativa quando os possíveis valores que assume

representam atributos e/ou qualidades. Se tais variáveis tem

ordenação natural, indicando intensidades crescentes de

realização, então elas serão classificadas como qualitativas

ordinais. Caso contrário, quando não é possível estabelecer uma

ordem natural entre seus valores, elas são classificadas como

qualitativas nominais. (MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 6)

Por sua vez, as variáveis quantitativas são assim definidas:

Variáveis quantitativas, isto é, variáveis de natureza numérica,

podem ser divididas em discretas e contínuas. Grosso modo,

variáveis quantitativas discretas podem ser vistas como

resultantes de contagens, assumindo assim, em geral, valores

inteiros. De uma maneira mais formal, o conjunto dos valores

assumidos é finito ou enumerável. Já as variáveis quantitativas

contínuas assumem valores em intervalos dos números reais e

geralmente, são provenientes de uma mensuração.

(MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 6)

Questão 5: A temperatura máxima do dia em uma cidade foi anotada durante vinte dias

e apresentou os seguintes dados: 30 C; 32 C; 31 C; 31 C; 33 C; 28,5 C; 33,5 C;

27 C; 30 C; 34 C; 30,5 C, 28 C; 30,5 C; 29,5 C; 26 C; 31 C; 31 C; 29 C; 32

C;

31,5 C. Construa o histograma correspondente com os valores da variável em 5

intervalos.

Tarefa (T7): Construir um histograma.

Técnica (t7): 1. Determinar o tamanho do intervalo subtraindo o menor valor do maior

valor;

2. Obter o tamanho das classes, dividindo o tamanho do intervalo por 5;

Page 138: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

136

3. Determinar as classes;

4. Determinar o número de elementos de cada classe;

5. Relacionar as classes com as suas frequências absolutas.

Discurso teórico-tecnológico [T7, t7]: De acordo com Magalhães e Lima (2005), o

histograma:

Consiste em retângulos contíguos com base nas faixas de

valores da variável e com área igual à frequência relativa da

respectiva faixa. Dessa forma, a altura de cada retângulo é

denominada densidade de frequência ou simplesmente

densidade definida pelo quociente da área pela amplitude da

faixa. (MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 14)

Questão 6: Durante os sete primeiros jogos de um campeonato, um time marcou

respectivamente 3, 2, 1, 1, 4, 3 e 2 gols. Determine:

a) a moda;

b) a mediana.

Tarefa (T8): Calcular a moda de um conjunto de dados.

Técnica (t8): 1. Calcular a frequência relativa de cada números de gols;

2. Selecionar o valor de maior frequência relativa.

Discurso teórico-tecnológico [T8, t8]: O conhecimento matemático envolvido nesse

bloco é a definição de moda, assim apresentada por Magalhães e Lima (2005):

Considere uma variável X com observações representadas por

x1, x2, ..., xn. (...) A moda é dada pelo valor mais frequente e será

denotada por moobs. (MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 94)

Tarefa (T9): Calcular a mediana de um conjunto de dados.

Técnica (t9): 1. Colocar os valores em ordem crescente;

2. Selecionar o valor central.

Page 139: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

137

Discurso teórico-tecnológico [T9, t9]: O conhecimento matemático envolvido nesse

bloco é a definição de mediana, assim apresentada por Moore (2005):

A mediana M é o ponto do meio de uma distribuição, o número

tal que a metade das observações são menores do que ele e

metade maiores. Para achar a mediana de uma distribuição:

1. Ordene todas as observações segundo o tamanho, da menor

para a maior.

2. Se o número de observações n for ímpar, a mediana M é a

observação central na lista ordenada. Ache a posição da

mediana, contando (n + 1)/2 observações a partir do valor mais

baixo da lista.

3. Se o número de observações n for par, a mediana M é a

média das duas observações centrais da lista ordenada. A

posição da mediana é novamente (n + 1)/2 a partir do valor

mais baixo da lista. (MOORE, 2005, p. 31)

Questão 7: Em um concurso o critério de aprovação leva em conta a média e o desvio-

padrão após a realização de 3 provas. Calcule a média e o desvio-padrão de um

candidato que nas provas obteve, respectivamente, 63 pontos, 56 pontos e 64 pontos.

Tarefa (T10): Calcular o desvio-padrão de um conjunto de dados.

Técnica (t10): 1. Calcular a variância de um conjunto de dados;

2. Calcular a raiz quadrada da variância.

Discurso teórico-tecnológico [T10, t10]: Os conhecimentos matemáticos envolvidos

nesse bloco são os conceitos de variância e de desvio-padrão. Tais conceitos são

definidos da seguinte maneira por Magalhães e Lima (2005):

A variância, referente à variável X de um conjunto de dados, é

definida por

n

i

obsiobs xxn 1

2)(1

var

Para manter a mesma unidade dos dados originais, é

conveniente definirmos o desvio padrão como sendo dpobs =

obsvar . (MAGALHÃES; LIMA, 2005, p. 104)

Page 140: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

138

4.3.2 – Organização Didática

Como podemos observar no Quadro 13, nessa coleção o autor optou por

trabalhar separadamente as atividades relacionadas ao cálculo de probabilidades e as

relacionadas à Estatística. Tal opção, de acordo com Batanero, Estepa e Godino (2006),

não favorece o desenvolvimento do Letramento Estatístico.

As tarefas relacionadas ao cálculo de probabilidades estão presentes no

segundo volume da coleção; as relativas aos conteúdos estatísticos estão presentes no

terceiro volume.

Somente a tarefa “Calcular a probabilidade de um evento” aparece no segundo

e no terceiro volumes.

Passaremos agora à análise didática do segundo volume.

Na Tabela 7 apresentamos as tarefas que foram identificadas no segundo

volume, bem como as frequências absolutas e relativas das atividades em que as tarefas

são demandadas.

Tabela 7: Tarefas identificadas nas questões de Probabilidade e Estatística

presentes no livro didático do segundo volume

Tarefa Frequência

absoluta

Frequência

relativa

Determinar o espaço amostral e os eventos de

um experimento aleatório

5 6,0%

Calcular a probabilidade de um evento 36 42,8%

Calcular a probabilidade da união de eventos 10 11,9%

Calcular a probabilidade de um evento

complementar

5 6,0%

Calcular a probabilidade de um evento

condicionado

16 19,0%

Verificar a independência de dois eventos 7 8,3%

Calcular a probabilidade de um evento

utilizando a distribuição binomial

5 6,0%

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Nesse volume foram identificadas sete tarefas. Assim, nosso próximo passo

será analisar quais são as escolhas didáticas que o segundo volume da obra faz para

trabalhar com a organização praxeológica baseada nas tarefas acima.

Inicialmente, é apresentado ao aluno um pequeno texto histórico sobre a Teoria

das Probabilidades, seguido de uma seção denominada “Atividades”. Nessa seção há

Page 141: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

139

duas atividades: a primeira é sobre a realização de um experimento aleatório e na

segunda atividade aparecem algumas questões envolvendo o cálculo da probabilidade

de eventos simples. Visa-se que ambas sejam respondidas de forma intuitiva.

Após esse texto introdutório, é apresentado o primeiro tópico, denominado

“Introdução”, contendo um pequeno texto que explica o que é um experimento

aleatório. Em seguida, quatro exemplos de experimentos aleatórios são apresentados,

sendo sucedidos pelo segundo tópico, denominado “Espaço amostral e evento”. Nele,

definem-se os conceitos de espaço amostral e evento.

Em seguida, são apresentados cinco experimentos aleatórios e, para cada um,

são designados os elementos de seu espaço amostral. Um evento é definido e os

elementos deste evento são apresentados. O tópico é finalizado com cinco exercícios

envolvendo a tarefa “Determinar o espaço amostral e os eventos de um experimento

aleatório”.

No terceiro tópico, denominado “Eventos certos, impossíveis e mutuamente

exclusivos”, definem-se os conceitos de evento certo, evento impossível e eventos

mutuamente exclusivos. Neste tópico não há exercícios.

No quarto tópico, denominado “Cálculo de probabilidades”, define-se o cálculo

de probabilidade de um evento, a partir de sua definição clássica, e em seguida são

apresentados cinco exercícios, todos resolvidos. No final do tópico há exercícios que

demandam a tarefa “Calcular a probabilidade de um evento”.

No quinto tópico denominado “Definição teórica de probabilidade e

consequências”, há uma tentativa de definir teoricamente o conceito de probabilidade e

suas consequências. Para tanto, esse volume procede à análise do experimento aleatório

“lançamento de uma moeda perfeita”, após a qual apresenta as três propriedades que

devem ser satisfeitas, explorando a seguir as consequências dessa definição. Em

seguida, são apresentados seis exemplos que utilizam as consequências da definição.

Após os exemplos, a obra traz exercícios propostos que exploram as consequências da

definição, ou seja, atividades que envolvem as seguintes tarefas: “Calcular a

probabilidade da união de eventos”, “Calcular a probabilidade da interseção de eventos”

e “Calcular a probabilidade de um evento complementar”.

Em prosseguimento, é abordado o conceito de probabilidade condicional. Para

tal abordagem, o volume segue a mesma dinâmica de apresentação dos conceitos:

apresenta-se uma situação-problema, seguida da definição a ser trabalhada, a qual é

sucedida por exemplos e exercícios propostos, que são as aplicações do conceito

Page 142: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

140

apresentado, obedecendo à dinâmica “apresentação do conceito, exemplos de aplicação

e exercícios de aplicação”.

A seguir, são explorados os conceitos de probabilidade condicional e de eventos

independentes, adotando-se a mesma dinâmica dos conceitos anteriores.

Depois dos exercícios envolvendo a tarefa “Verificar a independência de dois

eventos”, inicia-se o sexto tópico, denominado “Outras aplicações”, constituído de

exercícios que abordam todos os conceitos estudados até então.

O conceito de distribuição binomial, apresentado no sétimo tópico, é abordado

com um exemplo. Em seguida há outro exemplo da aplicação do método, o qual é

sucedido por exercícios propostos, não fugindo à sequência já apresentada em outros

tópicos quando foram explorados outros conceitos.

O último tópico versa sobre aplicações da Probabilidade à Genética, e contém

exercícios em que os conceitos estudados anteriormente são aplicados a este ramo do

conhecimento.

No tópico sobre Matemática e suas práticas sociais, há um texto sobre

transplantes no Brasil. O tópico termina com atividades adicionais, que são exercícios

de exames vestibulares.

Passemos agora à análise didática do terceiro volume.

Na Tabela 8 descreve as tarefas identificadas ao se analisarem as questões de

Probabilidade e Estatística do terceiro volume.

Page 143: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

141

Tabela 8: Tarefas identificadas nas questões de Probabilidade e Estatística

presentes no livro didático do terceiro volume

Tarefa Frequência

absoluta

Frequência

relativa

Definir universo em uma pesquisa estatística 1 1,6%

Definir amostra em uma pesquisa estatística 1 1,6%

Definir a variável estatística 2 3,2%

Construir uma tabela de frequências 9 14,5%

Interpretar uma tabela de frequência 1 1,6%

Interpretar um gráfico de segmentos 2 3,2%

Construir um gráfico de segmentos 2 3,2%

Interpretar um gráfico de barras 2 3,2%

Construir um gráfico de barras 3 4,8%

Interpretar um gráfico de setores 3 4,8%

Construir um gráfico de setores 2 3,2%

Construir um histograma 3 4,8%

Calcular a média aritmética de um conjunto de

dados

13

21,0%

Calcular a moda de um conjunto de dados 7 11,3%

Calcular a mediana de um conjunto de dados 6 9,7%

Calcular o desvio padrão de um conjunto de

dados

2

3,2%

Calcular a probabilidade de um evento 3 4,8%

Fonte: Dados obtidos nesta pesquisa

Inicialmente, há um pequeno texto introdutório sobre a Estatística, seguido de

duas atividades envolvendo interpretação e construção de gráficos.

Na introdução há um gráfico de linhas que aborda o saldo da balança comercial

brasileira de 2009. A seguir são abordados os termos de uma pesquisa estatística. São

apresentados os conceitos de população e amostra, variável qualitativa (nominal/

ordinal) e variável quantitativa (discreta/contínua), complementados com um exercício

envolvendo esses conceitos.

Em seguida são abordados os conceitos de frequência relativa e frequência

absoluta, e a seguir são apresentados os dados referentes a um grupo de alunos. A partir

desses dados, pede-se a construção de uma tabela de frequências. Em seguida há

exercícios propostos abordando tarefas relativas a esses conceitos.

O tópico seguinte é denominado “Representação gráfica”. Nele, são abordados

os seguintes gráficos: gráfico de segmentos, gráfico de barras, gráfico de setores e

histograma. Ensina-se primeiramente a construir esses gráficos, e em seguida há

exercícios que abordam tarefas relativas à construção e interpretação desses gráficos.

Page 144: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

142

Vem então o tópico “Medidas de tendência central”, que ensina a calcular

média, moda e mediana. A primeira medida de tendência central apresentada é a média

aritmética, abordada da seguinte maneira: apresentam-se três conjuntos de dados e

realiza-se o cálculo dessa média, após o que apresenta-se formalmente seu cálculo. Em

seguida, apresenta-se o cálculo da média aritmética ponderada, da mesma maneira que o

da média aritmética, ou seja, apresenta-se um conjunto de dados e, a partir deles, se

calcula a média aritmética ponderada. No final há cinco exercícios propostos

envolvendo as tarefas relativas a esses conceitos.

A segunda medida de tendência central abordada é a moda, apresentada por

meio de três exercícios resolvidos, sucedidos de um exercício cujo item c pede como

tarefa “calcular a moda de um conjunto de dados”.

A mediana é apresentada da mesma maneira que a média e a moda. Em seguida,

há dois exercícios em que, a partir de um conjunto de dados, pede-se para calcular a

média, a moda e a mediana. Nota-se que a atividade pede apenas os valores dessas

medidas, sem preocupação com aspectos interpretativos.

O tópico se finaliza ensinando como calcular a média aritmética, a moda e a

mediana a partir de tabelas de frequências. Para tanto, apresenta-se uma tabela de

frequência e a partir dela se ensina como calcular tais medidas. O final do tópico é

composto de quatro exercícios padronizados, similares ao exercício resolvido.

O tópico subsequente aborda o ensino do cálculo das medidas de dispersão

(variância e desvio-padrão). Novamente, a obra apresenta três conjuntos de dados, com

os quais se calcula a variância. A seguir, a mesma sequência é apresentada e calcula-se

o desvio-padrão.

Finalizando, são apresentados dois exercícios em que um dos itens consiste no

cálculo da variância e do desvio-padrão. Os aspectos interpretativos dessas medidas são

praticamente inexistentes, tal como nas medidas de tendência central. No último tópico,

denominando “Estatística e Probabilidade”, é dado um exemplo baseado em um

experimento aleatório e, em seguida, monta-se uma tabela de frequências, a partir da

qual se calculam probabilidades. O tópico é finalizado com cinco exercícios envolvendo

Estatística e Probabilidade.

O final do capítulo apresenta atividades adicionais (22 exercícios de exames

vestibulares).

Dois fatos nos chamam atenção. O primeiro é a concentração de exercícios que

envolvem tarefas de construção de tabelas de frequência e o cálculo da média aritmética

Page 145: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

143

de um conjunto de dados. O segundo é a ausência de tarefas envolvendo a interpretação

de histogramas e do cálculo da variância, embora o texto ensine a calcular essa medida.

Assim como na coleção destinada ao Ensino Fundamental, a obra destinada ao

Ensino Médio envolve as seguintes técnicas para realizar a tarefa T (ensinar as tarefas

matemáticas (TM) identificadas na coleção): t1: apresentação da TMi, t2: técnicas para a

resolução da TMi; t3: exercícios que utilizam as técnicas para a resolução da TMi. Tal

organização didática é baseada na sequência “definição, exemplos, exercícios”,

classificada por Gáscon (2003) como organização didática tecnicista.

4.4 – Algumas considerações

Neste capítulo analisamos como são propostas as organizações matemáticas e

as organizações didáticas, no sentido proposto por Chevallard (1999), em livros

didáticos de matemática utilizados na Escola Básica.

Com a análise, concluímos que é enfatizado o bloco do “saber fazer” (tarefas e

as técnicas associadas a estas). O bloco do “saber” (conhecimentos referentes aos

domínios de validade das técnicas e suas justificativas) quase não comparece. Além

disso, a ênfase recai sobre algumas técnicas em detrimento de outras, notadamente sobre

a construção e interpretação de gráficos e tabelas, no caso da Estatística, e sobre o

cálculo da probabilidade de um evento, no caso da Probabilidade.

Em relação às organizações didáticas, há predomínio da organização didática

tecnicista, segundo a classificação de Gáscon (2003). Tal organização tem

implicitamente a visão de que ensinar e aprender Matemática é ensinar e aprender

algoritmos, com todo o reducionismo que isso envolve.

Percebe-se que nas atividades propostas das obras analisadas, as tarefas pedidas

envolvem geralmente como técnica a utilização de algoritmos, e tal visão não

desenvolve o Letramento Estatístico.

Assim, para desenvolvimento do Letramento Estatístico nos alunos que

utilizam essas obras como material de apoio, torna-se necessária a intervenção de um

professor estatisticamente letrado que tenha conhecimentos de como desenvolver o

Letramento Estatístico em seus alunos. Tal perfil deve ser alcançado em sua formação

inicial.

Passaremos agora as nossas considerações e perspectivas.

Page 146: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

144

Page 147: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

145

CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS

A Educação Estatística, na perspectiva de Cazorla, Kataoka e Silva (2010), é um

campo científico que tem por objetivo o estudo e a compreensão dos processos de

ensino-aprendizagem de Estatística visando o desenvolvimento do Letramento

Estatístico. Adotamos essa perspectiva neste trabalho.

Concordamos com Vendramini (2006) em que a Educação Estatística não é o

mesmo campo da Educação Matemática, embora utilize contribuições deste para

responder suas questões. Também concordamos que conceber o campo da Educação

Estatística e o da Educação Matemática como iguais tem levado professores de diversos

níveis de ensino a abordar conteúdos estatísticos em sala de aula como se estivessem

abordando conteúdos matemáticos.

Com base em tal fato, também observado por Viali (2005) em cursos de

Licenciatura em Matemática, lançamos a hipótese de que durante a sua formação o

futuro professor de Matemática é educado dentro da perspectiva de que abordar

conteúdos estatísticos é o mesmo que abordar conteúdos matemáticos – hipótese essa

que requer investigação específica.

Considerando esse contexto, elaboramos nossa questão de pesquisa, que tem por

objetivo estabelecer relações entre o ensino de Estatística na Educação Básica e o

Ensino de Estatística nos cursos de Licenciatura em Matemática.

Tal objetivo foi estimulado pelos trabalhos de Moreira (2004), Luís (2004) e

Gatti e Barreto (2009), que defendem que a formação de professores para a Escola

Básica tem que partir de seu campo de prática e agregar a este os conhecimentos

necessários ao trabalho educacional.

Assim, procuramos responder neste trabalho a seguinte questão: Quais são as

relações que podemos estabelecer entre o ensino de Estatística na Educação Básica e o

Ensino de Estatística nos cursos de Licenciatura em Matemática visando potencializar

(aprimorar) a formação dos professores para o Letramento Estatístico? Entendemos por

Letramento Estatístico a relação intrínseca entre letramento, raciocínio e pensamento

estatísticos, baseando-nos nos trabalhos de Wild e Pfannkuch (1999), Chance (2002),

Gal (2002), Rumsey (2002), Watson e Callingham (2003), Ben-Zvi e Garfield (2004) e

Silva (2007).

Page 148: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

146

Optamos pela pesquisa documental e adotamos como documentos a serem

analisados os PCN de terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental (Matemática), os

PCN do Ensino Médio (Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias), os

PCN+ (Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias), as orientações

curriculares para o Ensino Médio (Ciências da Natureza, Matemática e suas

Tecnologias), as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Matemática,

Bacharelado e Licenciatura (DCN-BL), as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de Licenciatura,

de graduação plena (DCN-FP), e duas coleções adotadas na Educação Básica que foram

aprovadas pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD).

As teorias de análise adotadas para examinar esses documentos foram a Teoria

Antropológica do Didático e a perspectiva ecológica.

Utilizando elementos da perspectiva ecológica, definimos dois grandes

ecossistemas: o ecossistema do Ensino de Matemática na Educação Básica e o

ecossistema do curso de Licenciatura em Matemática.

Formulamos a hipótese de que o ecossistema do Ensino de Matemática na

Educação Básica é um hábitat dos objetos estatísticos e utilizamos o conceito de nicho

como sendo os limites em que uma espécie pode viver, crescer e se reproduzir.

Procuramos também responder a seguinte subquestão: Como os objetos

estatísticos vivem e como se desenvolvem na Escola Básica? Para tanto, os limites

delineados foram os documentos voltados para a Educação Básica, os exames de larga

escala voltados à Educação Básica e o livro didático. Concluímos que os objetos

estatísticos passaram a viver na Escola Básica a partir da promulgação dos PCN e do

início dos exames de larga escala SAEB, Prova Brasil e ENEM.

Em geral, os objetos estatísticos mais presentes são os gráficos e as tabelas de

frequência, tendo como tarefas mais constantes sua elaboração e interpretação.

As medidas de tendência central e as medidas de dispersão raramente

comparecem, e as tarefas que envolvem estes objetos limitam-se a calcular seu valor.

Estabelecemos a hipótese de que a presença constante de gráficos e tabelas deve-

se aos exames de larga escala e ao livro didático.

Tais exames alimentam os gráficos e as tabelas de frequência porque seus

descritores, assim como as questões desses exames, privilegiam tarefas que envolvem

problemas cuja solução requer a interpretação de informações apresentadas em gráficos

ou tabelas de frequência.

Page 149: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

147

O livro didático, Segundo Dante (1996), Lajolo (1996), E.T. Silva (1996) e M.A.

Silva (2012), determina conteúdos e estratégias de ensino. Nossa análise de duas

coleções – uma destinada aos quatro últimos anos do Ensino Fundamental e outra

destinada ao Ensino Médio, ambas aprovadas pelo PNLD – permitiu-nos concluir que

ambas são regidas pela Organização Didática Tecnicista, segundo a classificação de

Gáscon (2003).

Tal organização traz implicitamente a perspectiva de que ensinar e aprender

Matemática é ensinar e aprender técnicas (algoritmos), com todo o reducionismo que

isso envolve.

Além disso, essa organização matemática enfatiza as tarefas e técnicas, ou seja,

o bloco do saber fazer, praticamente ignorando o bloco do saber.

Em relação às tarefas pedidas, o livro didático também se concentra em questões

que envolvem interpretação de gráficos e tabelas. Além disso, o livro reforça a

perspectiva de que ensinar Estatística é como ensinar Matemática, perspectiva essa que

coloca ênfase em fórmulas e algoritmos.

Essa visão procedimental também é observada nas questões do SAEB, da Prova

Brasil e do ENEM que envolvem conteúdos estatísticos.

Nessa perspectiva, a sobrevivência da interpretação das medidas de tendência

central e de dispersão dentro de um contexto é quase inexistente.

Tendo por hipótese que o ecossistema do curso de Licenciatura em Matemática

constitui outro hábitat dos objetos estatísticos, e delineando como limites as DCN-FP,

as DCN-BL e o ENADE, procuramos responder como os objetos estatísticos vivem e se

desenvolvem nessa Licenciatura.

Concluímos que, embora as DCN-BL não incluam Probabilidade e Estatística

nos cursos de Licenciatura, os objetos estatísticos vivem nos cursos de Licenciatura em

Matemática.

Em geral, eles vivem dentro de uma disciplina cuja carga é de 60 horas e que

tem como visão que a Estatística é um ramo da Matemática, vendo portanto seu ensino

como uma manipulação cega de algoritmos.

Tal visão não favorece o desenvolvimento do Letramento Estatístico. Além

disso, temos por hipótese que o ENADE não influi na sobrevivência ou não dos objetos

estatísticos nos cursos de Licenciatura em Matemática, uma vez que nossas análises nos

revelaram que o ENADE não oferece elementos que permitam pensar a formação ou

Page 150: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

148

avaliar as competências e habilidades profissionais de professores de Matemática no

que se refere ao ensino de Probabilidade e Estatística.

Nossa terceira subquestão envolveu analisar se os diferentes hábitats em questão

proporcionam um nicho favorável para que os objetos estatísticos desempenhem a

função de desenvolver o Letramento Estatístico dos alunos da Escola Básica.

Após as análises, concluímos que, quando habita o ecossistema do Ensino de

Matemática na Educação Básica, o objeto estatístico tem por limites os PCN, a Prova

Brasil, o SAEB, o ENEM e o livro didático.

Tal nicho não desempenha a função de favorecer o Letramento Estatístico

porque, como já exposto, esse nicho reforça a perspectiva de que ensinar Estatística é

ensinar Matemática, enfoque que coloca ênfase na manipulação de fórmulas e

algoritmos, sem nenhuma interpretação.

Quando habita o ecossistema do curso de Licenciatura em Matemática, o objeto

estatístico tem por limites as DCN e o ENADE.

Tal nicho tampouco desempenha a função de favorecer o Letramento Estatístico,

como já explicitado, tendo como consequência um profissional não letrado

estatisticamente.

Nenhum desses dois hábitats proporciona um nicho favorável para que os

objetos estatísticos desempenhem a função de desenvolver o Letramento Estatístico dos

alunos da Escola Básica.

Com isso, podemos retornar a nossa questão inicial: Quais são as relações que

podemos estabelecer entre o ensino de Estatística na Educação Básica e o Ensino de

Estatística nos cursos de Licenciatura em Matemática visando potencializar (aprimorar)

a formação dos professores para o Letramento Estatístico?

De acordo com nossas análises, não encontramos nenhuma relação entre o

ensino de Estatística na Educação Básica e o ensino de Estatística nos cursos de

Licenciatura em Matemática.

Embora vivam em ambos os ecossistemas, os objetos estatísticos o fazem de

forma isolada, sem nenhuma inter-relação entre os ecossistemas.

Mesmo isolados, em qualquer dos ecossistemas, a maneira como vivem não

favorecem a função de desenvolver o Letramento Estatístico em alunos da Escola

Básica.

Portanto, não encontramos nenhuma relação que se possa estabelecer entre o

ensino de Estatística na Educação Básica e o ensino de Estatística nos cursos de

Page 151: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

149

Licenciatura em Matemática visando potencializar a formação dos professores para o

Letramento Estatístico.

Entretanto, em ambos os ecossistemas, os objetos estatísticos que lá vivem têm o

potencial para favorecer o Letramento Estatístico. Frente a essa constatação, emerge

uma questão como perspectiva futura: Por que, embora tenha potencial, o Letramento

Estatístico não é desenvolvido?

Nesta perspectiva, algumas questões merecem ser analisadas, dentre as quais a

seguinte: Quem ensina Estatística nas Licenciaturas em Matemática? Por que predomina

a visão da Estatística como um ramo da Matemática?

Respostas a esta e outras questões correlatas podem, idealmente, começar a

iluminar um caminho rumo ao Letramento Estatístico dos alunos da Escola Básica e,

com isso, viabilizar o desenvolvimento do Letramento Estatístico em nossa sociedade.

Page 152: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

150

Page 153: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

151

REFERÊNCIAS

ACOSTA, J. H. C. Panorama actual de los estándares educativos em estocática. In: II

ENCUENTRO SOBRE DIDÁCTICA DE LA ESTADÍSTICA, PROBABILIDAD Y

EL ANÁLISIS DE DATOS, 2011, Cartago. Anais do II EDEPA. Cartago: Instituto

Tecnológico de Costa Rica, 2011. 6-17.

ALMOULOUD, S. Fundamentos da Didática da Matemática. Curitiba, Editora

UFPR, 2007.

ARTAUD, M. Introduction à l’approche écologique du didactique: l’écologie des

organisations mathématiques et didactiques. In: ÉCOLE D’ÉTÉ DE DIDACTIQUE

DES MATHÉMATIQUES, 1988, Hougate, Bailleul. Actes de la neuvième École d’été

de didactique des Mathématiques. Hougate, Bailleul, 1998. 101-139.

AZCÁRATE, P.; CARDEÑOSO, J. M. La enseñanza de la Estadística a través de

Escenarios: implicación en el desarrollo profesional. BOLEMA, Rio Claro, v. 24, n. 40,

p. 789-810, dez. 2011.

BAYER, A. et al. Preparação do formando em Matemática-Licenciatura para lecionar

Estatística no Ensino Fundamental e Médio. In: V ENCONTRO NACIONAL DE

PESQUISAS EM CIÊNCIAS. 2005. Bauru. Atas do V ENPEC. Bauru. Associação

Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 2005. 1-11.

BATANERO, C., ESTEPA, A; GODINO, J. D. (2006). Análisis Exploratorio de Datos:

Sus Posibilidades em la Enseñanza Secundaria. SUMA, v. 9, p. 25-31, 2006. Disponível

em < http://www.ugr.es/~batanero>, Acesso em 20 jan. 2013.

BEGON, M.; TOWNSEND, C. R.; HARPER, J. L. Ecologia: De indivíduos a

Ecossistemas. São Paulo: Artmed Editora S.A., 4a ed., 2007.

Page 154: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

152

BEN-ZVI, D.; GARFIELD, J. Statistical Literacy, Reasoning, and Thinking: Goals,

Definitions, and Challenges. In: BEN-ZVI, D.; GARFIELD, J. (Orgs.). The Challenge

of Developing Statistical Literacy, Reasoning and Thinking. Dordrecht: Kluwer

Academic Publishers, 2004. p. 3-15.

BEZERRA, H. G. Em busca da qualidade: PNLD História – 1996-2004. In: SPOSITO,

M. E. B.(Org.). Livros didáticos de História e Geografia: avaliação e pesquisa. São

Paulo. Cultura Acadêmica, 2006. p. 27-53.

BRANDÃO, R. J. B. Formação do professor de Matemática no Centro de Estudos

Superiores de Bacabal/UEMA para o ensino de Estatística. 2012. Tese (Doutorado

em Educação Matemática) – UNIBAM, São Paulo, 2012.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF,

142p., 1997.

______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF,

148p.; 1998.

______. Parâmetros Curriculares Nacionais, Ensino Médio: Ciências da natureza,

Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEM, 58 p.; 1999.

______. Parâmetros Curriculares Nacionais, Ensino Médio +: Ciências da

natureza, Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEM, 141p.; 2002.

______.Orientações curriculares para o Ensino Médio: Ciências da natureza,

Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 135 p.; 2006.

______.Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Matemática,

Bacharelado e Licenciatura. Brasília: CNE/CES, 6 p.; 2001.

______.Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da

Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.

Brasília: CNE/CES, 56 p.; 2002.

Page 155: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

153

______.Plano de desenvolvimento da educação: Prova Brasil. Brasília: MEC/SEB,

200 p.; 2011.

______. Plano de desenvolvimento da educação: SAEB. Brasília: MEC/SEB, 127 p.;

2011.

BRITO, M. R. F.; FINI, L. D. T. Interdisciplinaridade e Pós-graduação em Educação

Matemática. Temas e debates, n. 5, p. 33-40, 1994.

BUSSAB, W. O.; MORETTIN. P.A. Estatística Básica. São Paulo: Editora Saraiva, 8a

ed., 2013.

CAMPOS, C. R. A Educação Estatística: uma investigação acerca dos aspectos

relevantes à Didática da Estatística. 2007. Tese (Doutorado em Educação

Matemática) – UNESP, Rio Claro, 2007.

CAZORLA, I. M.; KATAOKA, V. Y.; SILVA, C. B. Trajetória e perspectiva da

Educação Estatística no Brasil: Um olhar a partir do GT12. In: LOPES, C. E.;

COUTINHO, C. Q.S.; ALMOULOUD, S. (orgs.). Estudos e reflexões em Educação

Estatística. Campinas: Mercado de letras, 2010. p. 19-44.

CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et all. (orgs.). A pesquisa

qualitativa: Enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Editora vozes,

2008. 3 ed. p. 295-316.

CHEVALLARD, Y. Dimension instrumentale, dimension sémiothique de l´activité

mathématique. In: Séminaire de Didactique des Mathématiques et de l´informatique

de Grenoble. 1991, Université Joseph Fourier, Grenoble.

_____. La fonction professorale: esquisse d’un modèle didactique. In: NOIRFALISE,

R.; PERRIN-GLORIAN, M. J. (orgs.). Actes de la VIIIe école d’été de didactique des

Mathématiques. Clermont-Ferrand, IREM de Clermont-Ferrand, 1995.

Page 156: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

154

_____. Conceitos fundamentais da didáctica: As perspectivas trazidas por uma

abordagem antropológica. In: BRUN, J. (org.). Didáctica das Matemáticas. Lisboa:

Instituto Piaget, 1996. p. 115-152.

_____. L’analyse des pratiques enseignantes em théorie anthropologique du didactique.

Recherches em Didactique des Mathématiques. Grenoble: La Pensée Sauvage-

Édtions, v. 19.2, p. 221-265, 1999.

CHANCE, B. L. Components of Statistical Thinking and Implications for Instruction

and Assessment. Journal of Statistics Education. v. 10, n. 3, 2002. Disponível em:

<www.amstat.org/publications/jse/v10n3/chance.html>. Acesso em 20 jan. 2013.

CORDANI, L. K. O ensino de Estatística na universidade e a controvérsia sobre os

fundamentos da inferência. 2001. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de

São Paulo, São Paulo, 2001.

COSTA, A. A Educação Estatística na formação do professor de Matemática. 2007.

Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade São Francisco, Itatiba, 2007.

DANTAS, C. A. B. Probabilidade: um curso introdutório. São Paulo: EDUSP, 2004.

DANTE, L. D. Livro didático de matemática: uso ou abuso?. Em aberto. Brasília, v.16,

n. 69, p. 52-58, 1996.

FONT, V. Um modelo de educación por competencias en la formación inicial de

profesores de secundaria de matemáticas. In: VII CONGRESSO IBEROAMERICANO

DE EDUCACIÓN MATEMÁTICA. 2013. Montevidéu. Anais do VII CIBEM.

Montevidéu: Sociedad de Educación Matemática Uruguaya, 2013. 1-8.

FRIOLANI, L. C. O pensamento estocástico nos livros didáticos do Ensino

Fundamental. 2007. Dissertação (Mestrado profissional em Educação Matemática) –

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007.

Page 157: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

155

GASCÓN, J. La necesidad de utilizar modelos en didáctica de las matemáticas.

Educação Matemática Pesquisa, v. 5, n. 2, p. 11-37, 2003.

GAL, I. Adult´s statistical literacy: meanings, components, responsabilities.

Internacional Statistical Review, v. 70, n. 1, p. 1-25, 2002.

GATTI, B.; BARRETO, E. S. de S. Professores do Brasil: impasses e desafios.

Brasília, UNESCO, 2009.

GOULART, A. O discurso sobre os conceitos probabilísticos para a escola básica.

2007. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, São Paulo, 2007.

LAJOLO, M. Livro didático: um (quase) manual de usuário. Em aberto. Brasília, v.16,

n. 69, p. 3-7, 1996.

LUÍS, M. C. Por um currículo de formação do professor de Matemática na

perspectiva de construção do conhecimento. 2004. Tese (Doutorado em Educação) –

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2004.

MAGALHÃES, M. N. Avaliação do conhecimento de Estatística dos formandos em

Licenciatura do IME-USP. In: XIX SIMPÓSIO NACIONAL DE PROBABILIDADE E

ESTATÍSTICA, 2010, São Pedro. Anais do XIX SINAPE. São Pedro: Sociedade

Brasileira de Estatística, 2008. p. 1-6.

MAGALHÃES, M. N.; LIMA, A. C. P. Noções de Probabilidade e Estatística. 6 ed.

São Paulo: EDUSP, 2005.

MOLL, V. F. Competencias profesionales em la formación inicial de professores de

matemáticas de secundaria. Revista Iberoamericana de Educación Matemática.

N. 26, p. 9-25, 2011.

MOORE, D. S. A Estatística Básica e sua prática. 3 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005.

Page 158: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

156

MOREIRA, P. C. O conhecimento matemático do professor: formação na

licenciatura e prática docente na Escola Básica. 2004. Tese (Doutorado em

Educação) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.

MUNAKATA, K. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. 1997. Tese

(Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,

1997.

NOVAES, D. V. Concepções de professores da Educação Básica sobre

variabilidade estatística. 2011. Tese (Doutorado em Educação Matemática) –

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011.

NUNES, S. M. L. A proficiência matemática dos alunos brasileiros no PISA 2003:

Uma análise dos itens de incerteza. 2013. Tese (Doutorado em Educação) –

Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013.

ODUM, E. P.; BARRETT, G. W. Fundamentos de Ecologia. São Paulo: Cengage

Learning, 5a ed., 2007.

PASSOS, M. M. O professor de Matemática e sua formação: análise de três

décadas da produção bibliográfica em periódicos na área de Educação Matemática

no Brasil. 2009. Tese (Doutorado em Educação para a Ciência) – Universidade

Estadual Paulista, Bauru, 2009.

PONTE, J. P. Didácticas específicas e construção do conhecimento profissional. In:

TAVARES, J.; PEREIRA, A.; PEDRO, A. P.; SÁ, H. A. (eds), Investigar e formar em

educação. Actas do IV Congresso da SPCE. Porto: SPCE, p. 59-72, 1999.

REGO, T. C. Vygotsky: Uma perspectiva histórico-cultural da Educação. 16 ed.

Petrópolis, Vozes, 2004.

RUMSEY, D. J. Statistical Literacy as a goal for introductory statistics courses.

Journal of Statistics Education. v. 10, n. 3, p. 1-12, 2002. Disponível em:

<http://www.amstat.org/publications/jse/v10n3/rumsey2.html>. Acesso em 20 jan. 2013

Page 159: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

157

SANTOS, C. R. O tratamento da informação: Currículos prescritos, formação de

professores e implementação em sala de aula. 2005. Dissertação (Mestrado

profissional em Educação Matemática) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

São Paulo, 2005.

SANTOS, J. P. O.; MELLO, M. P.; MURARI, I. T. Introdução à Análise

Combinatória. Rio de Janeiro, Editora Ciência Moderna Ltda., 2007.

SEVERINO, J. S. Preparação técnica e formação ético-política dos professores. In:

BARBOSA, R. L. L. (Org.). Formação de educadores: Desafios e perspectivas. São

Paulo: Editora UNESP, 2003. Cap. 4, p. 71-89.

_____. Humanismo, Personalismo e os desafios da educação Contemporânea. Revista

de Educação Pública. Cuiabá, v. 18, n.36, p. 155-164, 2009.

SHULMAN, L. S. Those who understand: knowledge growth in teaching. Educational

Research, 15(2), 1986, p. 4-14.

______. Knowledge and teaching: foundations of the new reform. Havard Education

Review, vol. 57, 1, 1987, p. 1-22.

SILVA, C. B. Pensamento estatístico e raciocínio sobre variação: um estudo com

professores de Matemática. Tese (Doutorado em Educação Matemática) – PUC-SP,

São Paulo, 2007.

SILVA, E. T. Livro didático: do ritual de passagem à ultrapassagem. Em aberto.

Brasília, v.16, n. 69, p. 8-11, 1996.

SILVA, L. B.; GOMES-FERREIRA, V. G. Formação para o ensino da Estatística nos

cursos de Licenciatura em Matemática no Brasil. In: XVI ENCONTRO BRASILEIRO

DE ESTUDANTES DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA,

2012, Canoas. Anais do XVI EBRAPEM. Canoas: ULBRA, 2012. p. 1-12.

Page 160: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

158

SILVA, M. A. A presença da Estatística e da Probabilidade no currículo prescrito de

cursos de Licenciatura em Matemática: uma análise do possível descompasso entre as

orientações curriculares para a Educação Básica e a formação inicial do professor de

Matemática. BOLEMA, Rio Claro, v. 24, n. 40, p. 747-764, dez. 2011.

SILVA, M. A. A fetichização do livro didático no Brasil. Educação e Realidade, Porto

Alegre, v. 37 n. 3, p. 803-821, set./dez. 2012.

SNEE, R. D. Statistical thinking and its contribution to total quality. The American

Statistician. v. 44, n. 2, p. 116-121, 1990. Disponível em:

<http://www.jstor.org/stable/2684144?seq=2#page_scan_tab_contents>. Acesso em: 27

jan. 2013.

SOARES, S. S. D.; NASCIMENTO, P. A. M. M. Evolução do desempenho cognitivo

dos jovens brasileiros no PISA. Cadernos de pesquisa, São Paulo, v. 42, n. 145, p. 68-

87, 2012.

SPINK, P. Análise de documentos de domínio público. In: SPINK, M. J. (Org.).

Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. 3 ed. São Paulo: Cortez,

2004. Cap. 5, p. 123-151.

VENDRAMINI, C. M. M. Contribuições da Educação Estatística para a Educação

Matemática. In: BRITO, M. R. F. Solução de problemas e a Matemática Escolar.

Campinas: Alínea, 2006. Cap. 9, p. 237-252.

VIALI, L. O ensino de Estatística e Probabilidade nos cursos de Licenciatura em

Matemática. In: XVIII SIMPÓSIO NACIONAL DE PROBABILIDADE E

ESTATÍSTICA, 2008, São Pedro. Anais do XVIII SINAPE. São Pedro: Sociedade

Brasileira de Estatística, 2008. P. 1-7.

WATSON, J.; CALLINGHAN, R. Statical Literacy: a complex hierarchical construct.

Statistics Educacion Research Journal. v.2, n.2, p. 3-46, 2003. Disponível em:

<http://iase-web.org/documents/SERJ/SERJ2%282%29_Watson_Callingham.pdf>.

Acesso em 24 jan. 2013.

Page 161: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

159

WILD, C.; PFANNKUCH, M. Statistical thinking in empirical enquiry. Internacional

Statistical Review. V. 67, n. 3, p. 223-265, 1999. Disponível em: <http://iase-

web.org/documents/intstatreview/99.Wild.Pfannkuch.pdf>. Acesso em 31 jan. 2013.

Page 162: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

160

Page 163: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

161

ANEXO I: Cursos avaliados pelo ENADE de 2004 a 2012.

Ano Cursos avaliados

2004 Agronomia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia,

Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia,

Serviço Social, Terapia Ocupacional, Zootecnia.

2005 Arquitetura e Urbanismo, Biologia, Ciências Sociais, Computação, Engenharia –

Grupo I, Engenharia – Grupo II, Engenharia – Grupo III, Engenharia – Grupo

IV, Engenharia – Grupo V, Engenharia – Grupo VI, Engenharia – Grupo VII,

Engenharia – Grupo VIII, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras,

Matemática, Pedagogia, Química.

2006 Administração, Arquivologia, Biblioteconomia, Biomedicina, Ciências

Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social, Design, Direito,

Música, Normal Superior, Psicologia, Secretariado Executivo, Teatro, Turismo.

2007 Agronomia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia,

Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição,

Odontologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional, Zootecnia, Tecnologia em

Agroindústria, Tecnologia em Radiologia.

2008 Arquitetura e Urbanismo, Biologia, Ciências Sociais, Computação, Engenharia –

Grupo I, Engenharia – Grupo II, Engenharia – Grupo III, Engenharia – Grupo

IV, Engenharia – Grupo V, Engenharia – Grupo VI, Engenharia – Grupo VII,

Engenharia – Grupo VIII, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras,

Matemática, Pedagogia, Química, Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de

Sistemas, Tecnologia em Alimentos, Tecnologia em Automação Industrial,

Tecnologia em Construção de edifícios, Tecnologia em Fabricação Mecânica,

Tecnologia em Gestão da Produção Industrial, Tecnologia em Manutenção

Industrial, Tecnologia em Processos Químicos, Tecnologia em Redes de

Computadores, Tecnologia em Saneamento Ambiental.

2009 Administração, Arquivologia, Biblioteconomia, Ciências Contábeis, Ciências

Econômicas, Comunicação Social: Cinema, Comunicação Social: Editoração,

Comunicação Social: Jornalismo, Comunicação Social: Publicidade e

Propaganda, Comunicação Social: Radialismo, Comunicação Social: Relações

Públicas, Design, Direito, Estatística, Música, Psicologia, Relações

Page 164: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

162

Internacionais, Secretariado Executivo, Teatro, Turismo, Tecnologia em Design

de Moda, Tecnologia em Gastronomia, Tecnologia em Gestão de Recursos

Humanos, Tecnologia em Gestão de Turismo, Tecnologia em Gestão Financeira,

Tecnologia em Marketing, Tecnologia em Processos Gerenciais.

2010 Agronomia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia,

Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição,

Odontologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional, Zootecnia, Tecnologia em

Agronegócio, Tecnologia em Agroindústria, Tecnologia em Gestão Ambiental,

Tecnologia em Gestão Hospitalar, Tecnologia em Radiologia.

2011 Arquitetura e Urbanismo, Artes Visuais, Biologia, Ciências Sociais,

Computação, Engenharia – Grupo I, Engenharia – Grupo II, Engenharia –

Grupo III, Engenharia – Grupo IV, Engenharia – Grupo V, Engenharia – Grupo

VI, Engenharia – Grupo VII, Engenharia – Grupo VIII, Filosofia, Física,

Geografia, História, Letras, Matemática, Música, Pedagogia, Química,

Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Tecnologia em

Alimentos, Tecnologia em Automação Industrial, Tecnologia em Construção de

edifícios, Tecnologia em Fabricação Mecânica, Tecnologia em Gestão da

Produção Industrial, Tecnologia em Manutenção Industrial, Tecnologia em

Processos Químicos, Tecnologia em Redes de Computadores, Tecnologia em

Saneamento Ambiental.

2012 Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social:

Jornalismo, Comunicação Social: Publicidade e Propaganda, Design, Direito,

Psicologia, Relações Internacionais, Secretariado Executivo, Turismo,

Tecnologia em Gestão Comercial, Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos,

Tecnologia em Gestão Financeira, Tecnologia em Logística, Tecnologia em

Marketing, Tecnologia em Processos Gerenciais.

Page 165: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

163

ANEXO II: Artigo 70 da Portaria INEP n

0 223 de 26 de julho de 2011

A prova do Enade 2011, no componente específico da área de Matemática, tomará

como referencial os seguintes conteúdos curriculares:

I - Comuns aos Bacharelandos e Licenciandos e referentes a conteúdos matemáticos da

Educação Básica:

a) números reais: racionais, irracionais, frações ordinárias, representações decimais;

b) contagem e análise combinatória, probabilidade e estatística: população e amostra,

organização de dados em tabelas e gráficos, distribuição de frequências, medidas de

tendência central;

c) funções: formas de representação (gráficos, tabelas, representações analíticas, etc.),

reconhecimento, construção e interpretação de gráficos cartesianos de funções, funções

inversas e funções compostas, funções afins, quadráticas, exponenciais, logarítmicas e

trigonométricas;

d) progressões aritmética e geométrica;

e) equações e inequações;

f) polinômios: operações, divisibilidade, raízes;

g) matrizes, determinantes e sistemas lineares;

h) geometria plana: paralelismo; perpendicularidade, congruência; semelhança,

trigonometria, isometrias, homotetias e áreas;

i) geometria espacial: sólidos geométricos, áreas e volumes;

j) geometria analítica plana: plano cartesiano, equações da reta e da circunferência,

distâncias;

k) matemática financeira.

II - Comuns aos Bacharelandos e Licenciandos e referentes aos conteúdos matemáticos

do Ensino Superior:

a) números complexos: interpretações geométrica e algébrica, operações, fórmula de De

Moivre;

b) geometria analítica: vetores, produtos interno e vetorial, determinantes, retas e

planos, cônicas e quádricas;

c) funções de uma variável: limites, continuidade, Teorema do Valor Intermediário,

derivada, interpretações da derivada, Teorema do Valor Médio, aplicações;

Page 166: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

164

d) integrais: primitivas, integral definida, Teorema Fundamental do Cálculo, aplicações;

e) funções de várias variáveis: derivadas parciais, derivadas direcionais;

diferenciabilidade, regra da cadeia, aplicações;

f) integrais múltiplas: cálculo de áreas e volumes, Teorema de Green;

g) teoria elementar dos números: princípio da indução finita, divisibilidade, números

primos, Teorema Fundamental da Aritmética, equações diofantinas lineares,

congruências módulo m, Pequeno Teorema de Fermat;

h) álgebra linear: soluções de sistemas lineares, espaços vetoriais, subespaços, bases e

dimensão, transformações lineares e matrizes, autovalores e autovetores, produto

interno, mudança de coordenadas, aplicações;

i) fundamentos de análise: números reais, convergência de sequências e séries, funções

reais de uma variável, limites e continuidade, extremos de funções contínuas;

j) estruturas algébricas: grupos, anéis e corpos, anéis de polinômios.

III - Específicas para os Bacharelandos:

a) álgebra: anéis e corpos, ideais, homomorfismos e anéis quociente, fatoração única em

anéis de polinômios, extensões de corpos, grupos, subgrupos, homomorfismos e

quocientes, grupos de permutações, cíclicos, abelianos e solúveis;

b) espaços vetoriais com produto interno: operadores autoadjuntos, operadores normais,

Teorema Espectral, formas canônicas, aplicações;

c) análise: derivada, Fórmula de Taylor, integral, sequências e séries de funções;

d) integrais de linha e superfície, Teoremas de Green, Gauss e Stokes;

e) funções de variável complexa: Equações de Cauchy-Riemann, Fórmula Integral de

Cauchy, resíduos, aplicações;

f) equações diferenciais ordinárias, sistemas de equações diferenciais lineares;

g) geometria diferencial: estudo local de curvas e superfícies, primeira e segunda forma

fundamental, curvatura gaussiana, geodésicas, Teoremas Egregium e de Gauss-Bonet;

h) topologia dos espaços métricos.

IV - Específicas para os Licenciandos:

a) Matemática, história e cultura: conteúdos, métodos e significados na produção e

organização do conhecimento matemático para a Educação Básica;

b) Matemática, escola e ensino: seleção, organização e tratamento do conhecimento

matemático a ser ensinado;

Page 167: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … Goulart.pdf · Quadro 8 – Tarefas encontradas na coleção Praticando Matemática-Edição renovada

165

c) Matemática, linguagem e comunicação na sala de aula: intenções e atitudes na

escolha de procedimentos didáticos; história da matemática, modelagem e resolução de

problemas; uso de tecnologias e de jogos;

d) Matemática e avaliação: análise de situações de ensino e aprendizagem em aulas da

escola básica; análise de concepções, hipóteses e erros dos alunos; análise de recursos

didáticos.