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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP Nilo Silveira Monteiro de Lima Investigações em Geometria Plana com Interfaces Digitais: Um estudo sobre Homotetia Mestrado em Educação Matemática São Paulo 2016

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC-SP

Nilo Silveira Monteiro de Lima

Investigações em Geometria Plana com Interfaces Digitais: Um estudo

sobre Homotetia

Mestrado em Educação Matemática

São Paulo

2016

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Nilo Silveira Monteiro de Lima

Investigações em Geometria Plana com Interfaces Digitais: Um estudo

sobre Homotetia

Mestrado em Educação Matemática

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como

exigência parcial para obtenção do título de MESTRE

EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob orientação do

Prof. Dr. Gerson Pastre de Oliveira.

SÃO PAULO

2016

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Banca Examinadora

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial

desta Dissertação, por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: Local e Data: .

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Dedico este trabalho:

Aos meus pais, Jorge e Mara, pelo imensurável esforço, carinho e confiança

incondicionais.

À minha irmã Ursula, pelo apoio incondicional, aos puxões de orelha e a força nos

momentos mais difíceis.

E aos amigos Rita, Noêmia, Jéssica, Elizabeth, Jacinto e Amari. Pelo apoio, conselhos e a

força que compartilharam comigo.

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Agradeço a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo

investimento em minha formação. Sem este apoio, nada disto teria sido possível.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, e provavelmente, não há palavras suficientes para descrever a

admiração e respeito que tenho por eles, seja pelo esforço diário para a minha formação e

alcançar este ponto na minha vida, quanto pelo carinho incondicional desde sempre.

À minha irmã Ursula, que a sua maneira me dá um exemplo de vida, ao mostrar

sempre que a persistência é o maior combustível para vencer as adversidades, e que a calma e

o silêncio são nossos maiores companheiros e amigos ao longo desta e de todas as jornadas.

Aos meus tios Gontran e Angela, e meu primo Leandro pelo apoio, carinho e auxílio

na minha ambientação em São Paulo.

À minha amiga Rita Lôbo Freitas, por ter sido a mais grata das diversas surpresas ao

longo deste curso, tornando-se amiga incondicional e a maior incentivadora fora da família

para a realização desta pesquisa.

Aos grandes amigos Amari, Jacinto, Noêmia, Jéssica e Elizabeth pelos incontáveis

conselhos e apoio.

Ao Professor Doutor Gerson Pastre de Oliveira, que além de ter se tornado um amigo,

pela paciência infindável na orientação, pelos ensinamentos e conselhos imprescindíveis à

construção desta pesquisa.

Aos professores, colegas e funcionários do Programa de Estudos Pós-Graduados em

Educação Matemática da PUC-SP que me possibilitaram tanto aprendizado ao longo destes

anos e pelas lições que carregarei comigo por toda a vida.

Aos professores que participaram da banca de qualificação e da banca examinadora da

defesa.

Aos participantes desta pesquisa que tornaram possível colher os frutos, por meio das

suas participações, produções e contribuições, fundamentais para a pesquisa.

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LIMA, N. S. M. Investigações em Geometria plana com Interfaces Digitais: Um estudo sobre

Homotetia. 2016. 118 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Educação Matemática) -

Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática. Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, São Paulo, 2016.

RESUMO

Este estudo teve por objetivo desenvolver uma estratégia didática para uso de tecnologias em

atividades/problemas ligados à geometria plana, tendo o tema “Homotetia” como elemento

matemático principal, e a intenção de evidenciar as compreensões constituídas a partir de

pressupostos interativos no âmbito de pessoas-com-tecnologias-digitais. A pesquisa foi

realizada com um grupo de professores que cursavam mestrado na área de Educação

Matemática e empregou uma sequência de atividades que visava, a partir das manipulações

das mídias empregadas, tendo o GeoGebra como destaque, no âmbito de uma estratégia

didática, analisar o percurso pautado pela exploração de construções geométricas em meio

dinâmico. Os estudos prévios a partir da revisão bibliográfica resultaram na seguinte questão

norteadora: de que maneira se caracteriza um percurso de estudo e investigação, envolvendo

professores de Matemática da Escola Básica, acerca do tema “Homotetia” e de tópicos

matemáticos correlatos, realizado a partir de uma proposta que envolve tanto a resolução de

atividades por pessoas-com-tecnologias como o desenvolvimento de fluência em relação às

interfaces empregadas? A investigação empregou, como recursos teóricos, os constructos

relativos às tecnologias da inteligência e de seres-humanos-com-mídias, que serviram de base

para que, nas análises, ficasse evidenciado que as atividades propostas provocaram reflexões a

respeito de temas da geometria plana por parte dos sujeitos, e que houve, de fato,

reorganizações do pensamento matemático a partir da manipulação das mídias, permitindo

que o conhecimento sobre Homotetia pudesse ser discutido autonomamente.

Palavras-chave: Geometria plana; Homotetia; Seres-humanos-com-mídias; GeoGebra;

Educação matemática.

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LIMA, N. S. M. Investigations in Plane Geometry with Digital Interfaces: A Study about

Dilatation. 2016. 118 p. Dissertation (Academic Masters in Mathematics Education) -

Program of Studies Pos-Graduates in Mathematics Education. Pontifical Catholic University

of São Paulo. São Paulo.

ABSTRACT

This study was aimed to develop a teaching strategy for the use of technologies in

activities/problems linked to plane geometry, with the subject "dilation" as main mathematical

principle, with the intent of highlighting the understandings formed by interactive

assumptions from the scope of humans-with-media. The research was conducted with a group

of teachers attending a master's degree in the area of mathematics education and employed a

sequence of activities aimed at analyzing the route marked by exploration of geometric

constructions in dynamic environment, from the manipulation of employed media, featuring

GeoGebra within a didactic strategy scope. Previous studies, from the bibliography review,

resulted in the following guiding question: how to characterize a trajectory of study and

research, involving Basic School Mathematics teachers, about the theme "dilation" and related

mathematical topics, conducted from a proposal that involves both the resolution of activities

by humans-with-media, as the development of fluency in relation to the used interfaces? The

research used, as theoretical resources, the constructs concerning to intelligence technologies

and humans-with-media, which provided the basis, for the analysis, in order to make it

evident that the proposed activities provoked reflections about themes of plane geometry by

the subjects, and that occurred some reorganizations of mathematical thought from media

manipulations, allowing the knowledge of dilation could be discussed autonomously.

Keywords: Plane Geometry; Dilatation; Humans-with-media; GeoGebra; Mathematics

Education.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Homotetia ( ) 'F F de centro O e razão 2 ........................................................... 27

Figura 2– Esquema de construção de um triângulo equilátero no GeoGebra .......................... 59

Figura 3- Exemplo do uso da interface de Geometria Analítica no GeoGebra ........................ 60

Figura 4- Uso da ferramenta Ângulo (1) .................................................................................. 61

Figura 5- Uso da ferramenta Ângulo (2) .................................................................................. 62

Figura 6- Primeiro ensaio da proporcionalidade ...................................................................... 68

Figura 7- Segundo ensaio da proporcionalidade ...................................................................... 68

Figura 8 - Triângulos Equiláteros ............................................................................................. 69

Figura 9– Triângulos equiláteros e casos de semelhança (com C 𝑨𝑩) ................................. 71

Figura 10– Ensaio da primeira etapa do Item c do participante P4 .......................................... 72

Figura 11– Triângulos equiláteros e relação de proporcionalidade .......................................... 73

Figura 12– Triângulo de mesma área não equilátero ............................................................... 75

Figura 13- Exemplo de P6– item C2 ........................................................................................ 76

Figura 14- Homotetia ............................................................................................................... 80

Figura 15– Item c da primeira construção do bloco 2 .............................................................. 86

Figura 16– Itens b e c de P5 ..................................................................................................... 87

Figura 17– Itens b e c de P7 ..................................................................................................... 88

Figura 18– Proposta para a segunda construção, bloco 2 ......................................................... 90

Figura 19– Produção de P5- segunda construção, bloco 2 ....................................................... 91

Figura 20– Produção de P7- segunda construção, bloco 2 ....................................................... 91

Figura 21– Proposta para a terceira construção, bloco 2 .......................................................... 94

Figura 22– Resolução de P5 ..................................................................................................... 95

Figura 23– Resolução de P7 ..................................................................................................... 95

Figura 24– Uma proposta para a primeira construção, bloco 3 .............................................. 107

Figura 25– Proposta para a terceira construção, bloco 3 ........................................................ 109

Figura 26- Exemplos de deduções .......................................................................................... 111

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 13

Capítulo 1 ................................................................................................................................. 21

Considerações sobre o tema matemático .................................................................................. 21

1.1 Perspectiva histórica ....................................................................................................... 21

1.2 A noção de semelhança e de Homotetia: tópicos e teoremas correlatos......................... 23

1.3 Teorema Fundamental da Proporcionalidade ................................................................. 25

1.4 Teorema de Semelhança LLL ......................................................................................... 28

1.5 Teorema de Semelhança AAA........................................................................................ 28

1.6 Teorema de Semelhança LAL ........................................................................................ 29

1.7 Semelhança nos Triângulos Retângulos ......................................................................... 29

Capítulo 2 ................................................................................................................................. 30

Referencial Teórico .................................................................................................................. 30

2.1 Tecnologias e produção do conhecimento ................................................................. 30

2.2 Seres-Humanos-com-mídias ...................................................................................... 33

2.3 Fluência em interfaces digitais e um ciclo de formação ............................................ 39

2.4 Um overview sobre trabalhos correlatos .................................................................... 42

Capítulo 3 ................................................................................................................................. 46

Aportes Metodológicos ............................................................................................................ 46

3.1 Modalidade de pesquisa ............................................................................................. 46

3.2 Descrições dos sujeitos .............................................................................................. 46

3.3 O ambiente virtual de aprendizagem Moodle ............................................................ 48

3.4 O Software GeoGebra ................................................................................................ 49

3.5 Descrição dos instrumentos de coleta dos dados ....................................................... 50

3.6 Estrutura do curso ...................................................................................................... 50

3.6.1 Objetivos e resultados ................................................................................................ 51

3.6.2 Tópicos e roteiro do curso ......................................................................................... 52

3.7 Como os autores/teorias serão empregados na análise (categorias de análise) ......... 52

Capítulo 4 ................................................................................................................................. 54

Descrições e análises ................................................................................................................ 54

4.1 Análises descritivas das atividades da pesquisa ............................................................. 54

4.1.1 Bloco 1: Atividades de fluência e o teorema fundamental da proporcionalidade ....... 55

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4.1.1.1 Análise do ponto de vista didático ........................................................................ 56

4.1.1.2 Análise do ponto de vista matemático................................................................... 56

4.1.1.3 Resultado esperado ................................................................................................ 56

4.1.1.4 Primeira construção ............................................................................................... 57

4.1.1.5 Segunda construção ............................................................................................... 63

4.1.1.6 Terceira construção: A noção da proporcionalidade ............................................. 66

4.1.2 Bloco 2: Proporcionalidade, Homotetia e relações com os casos de semelhança de

triângulos .............................................................................................................................. 76

4.1.2.1 Análise do ponto de vista didático ........................................................................ 76

4.1.2.2 Análise do ponto de vista matemático................................................................... 77

4.1.2.3 Resultado esperado ................................................................................................ 78

4.1.2.4 Primeira construção: retomando as investigações ................................................. 79

4.1.2.5 Segunda construção: Homotetia e a relação da Semelhança nos triângulos ......... 88

4.1.2.6 Terceira Construção .............................................................................................. 92

Considerações Finais ................................................................................................................ 97

Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 103

Apêndices ............................................................................................................................... 106

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INTRODUÇÃO

Ainda que não seja o elemento estruturante de uma iniciativa de pesquisa, as

motivações do investigador têm sua importância. No mínimo, permitem compreender com

alguma profundidade os elementos que, como é o caso, fizeram surgir o pesquisador a partir

do docente.

Neste sentido, trazendo à tona os elementos motivadores dessa pesquisa, enquanto

docente, minha primeira inquietação se revela no meu objetivo principal ao entrar em sala de

aula, que é ensinar Matemática aos meus estudantes de modo que eles, primeiramente, se

sintam suficientemente instigados a participar das dinâmicas que estarão em curso; que eles,

motivados por esse interesse, participem e, pouco a pouco, interajam com os colegas nesse

processo, discutindo e modificando suas concepções do que está em debate; que se habituem à

linguagem matemática e aprendam-na, e, após essa vivência inicial, sejam capazes de

compreender e se expressar por meio dessa linguagem, adaptando, se necessário, esse saber

matemático formalizado às suas necessidades de modo a estender seu alcance a outros

contextos, estimulando pouco a pouco sua autonomia.

Outra inquietação, desde a época da minha Licenciatura em Matemática, é

representada por aprender formas distintas às usuais de ensino, tais como as chamadas

tecnologias de informação e comunicação (TIC), em seu formato digital. Uma primeira

percepção indica que tais tecnologias, quando aplicadas em percursos de resolução de

problemas matemáticos, poderiam auxiliar a desenvolver estratégias de estudo diferenciadas

em relação às práticas tradicionais.

Entretanto, minha experiência não contemplou este aspecto, já que o processo

formativo pelo qual passei como estudante universitário, ocorrido na primeira década do

século XXI em um curso voltado à formação de docentes, articulava de maneira tímida os

saberes específicos aos recursos tecnológicos disponíveis, repetindo grande parte das técnicas

clássicas de ensino que envolviam apenas a transmissão de conceitos e a resolução de

exaustivas listas de exercícios.

Todo este processo pedagógico, por assim dizer, permanecia direcionado à

memorização e à execução de tarefas lineares do currículo proposto. Claramente, o objetivo

era o de prover a aprendizagem de conceitos matemáticos por meio de algoritmos que eram

aplicados nos percursos de resolução. Nas aulas de Geometria, em particular, tanto no ensino

superior como em toda minha trajetória como aluno desde o ensino básico, a massificação dos

exercícios e a obsessão por algoritmos predominou. Mais tarde, como docente de escolas

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públicas, percebi que as mesmas dificuldades repercutiam tanto na prática quanto na

aprendizagem de meus alunos, apenas confirmando a contradição que é tratar a Geometria

Euclidiana de maneira essencialmente algébrica ou aritmética, procedimento a partir do qual

se deixa de lado a exploração e a elaboração de uma lógica de argumentos que validem o que

está em jogo por meio de percursos que estimulem a construção e a manipulação dos objetos

desse campo da Matemática.

Desta forma, ao escolher um público alvo para esta investigação, colocam-se estas

convicções, estudos e esforços em ação e à prova para que, como indicado por Costa e Lins

(2010). Assim, a expectativa desde o início da trajetória no Programa de Estudos Pós-

Graduados em Educação Matemática da PUC/SP, foi a de que os sujeitos da pesquisa ora

apresentada, docentes/pesquisadores em formação continuada, pudessem, ao mobilizar a

tecnologia para ensinar, ao mesmo tempo repensar a prática a qual foram submetidos, bem

como outras que poderiam utilizar com seus alunos:

Nesse sentido, é importante que a formação de docente, em sua fase inicial e

continuada, proporcione situações em que os docentes sejam levados a investigar

novas alternativas de trabalho com o uso de tecnologia em sala de aula, no sentido

de aproximar as concepções construídas no campo teórico com experiências

vivenciadas na prática. (Costa e Lins, 2010, p. 456).

Entretanto, não se pode pensar em uma concepção que encare o uso de tecnologias

digitais – e softwares desenvolvidos com a finalidade de apoiar processos de ensino de

Matemática, em particular – como elementos autônomos e suficientes quando se trata de

encaminhar uma proposta que vise proporcionar ambientes dinâmicos de aprendizagem.

Semelhante intenção não prescinde de estratégia, planejamento, intencionalidade. Além disso,

os saberes dos professores são essenciais, tanto no que se refere aos temas matemáticos em

foco em suas aulas, quanto às tecnologias empregadas. Assim, processos de ensino que desta

forma se constituem pedem o desenvolvimento de fluência em relação às interfaces

mediadoras, a qual, por sua vez, pode encaminhar formas de pensar, elaborar temas de estudo

e desenvolver estratégias em integração com tecnologias. Um ciclo, portanto, encaminhado a

partir da fluência (Oliveira, 2013).

Em relação às tecnologias sobre as quais se desenvolve a mencionada fluência, há

autores que advogam que sua apropriação encaminha uma reorganização do pensamento, ao

ponto de que se constitua, na construção do conhecimento, um coletivo de seres-humanos-

com-mídias, no sentido de reivindicar, para as tecnologias, o papel de parceiras no processo

(Borba e Villarreal, 2005). Assim, na perspectiva da investigação que aqui se apresenta, serão

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os sujeitos vistos como pessoas-com-tecnologias-digitais, coletivos indissociáveis do processo

de aprendizagem, na construção da própria trajetória em relação à apropriação cognitiva dos

saberes em discussão.

Outra inquietação relevante se refere aos percursos de formação constituídos por

aqueles que militam no ensino de Matemática para a escola básica, geralmente marcados por

reproduções/repetições dos elementos empregados nos processos de ensino. Freire (2001)

chamou de “educação bancária” àquela proposta calcada na fala do professor, em sua posição

de detentor do conhecimento e em seus roteiros consolidados. Ao aluno, mesmo o de

licenciatura, neste caso, restaria tomar para si, de forma acrítica, os esquemas constituídos

pelas instruções professorais, o que concorre para sufocar a criatividade e a autonomia de

quem aprende. Assim,

Os melhores professores, nesta concepção, são os que mais abundantemente

transmitem os conteúdos que devem ser mecanicamente memorizados, enquanto que

os alunos mais eficientes são os que mais docilmente se deixam domesticar no

processo, reproduzindo integralmente o que lhes é transmitido. Quando adequados

aos ajustamentos externos propostos para efetivar a submissão, os estudantes

acabam premiados nos processos avaliativos. Ou seja, a adaptação ao modelo

pedagógico é muito mais responsável pelo eventual êxito do que o conhecimento em

si. Nesta lógica, os resultados das avaliações acabam por mostrar cenários

distorcidos, porque todas as vantagens permanecem do lado daqueles que são

especialistas em decorar, em “copiar-e-colar” (OLIVEIRA, 2007, p. 56).

Pretende-se, no entanto, no âmbito desta pesquisa, que uma proposta de resolução de

problemas matemáticos em cenários nos quais as tecnologias digitais são consideradas no

planejamento de interações com as representações dos objetos envolvidos possa encaminhar

as ideias por outras veredas, uma vez que estes elementos, segundo Kenski (2003)

transformam a maneira pela qual as pessoas pensam, sentem, agem. Além disso, “mudam,

também, suas formas de comunicar e adquirir conhecimento” (KENSKI, 2003, p. 21).

Evidentemente, a mudança destacada pela autora é intencional e depende do engajamento de

alunos e professores, além de não prescindir de planejamento, organização e de algum

enfoque específico, ligado às formas pelas quais os participantes de um processo educativo

aprendem melhor, de um lado, e/ou ensinam de forma mais eficiente, de outro. Alguns

exemplos podem ilustrar melhor esta proposição: suponha-se que um processo de ensino de

Matemática vá ser levado a efeito por meio da modalidade online, ou seja, contando com a

constituição de plataformas interativas específicas (como seria o caso do Moodle, por

exemplo) e as respectivas interações dos participantes neste cenário. Neste sentido, uma

proposição diferenciada, considerando as possibilidades abertas pelas tecnologias digitais,

poderia residir: a) na colaboração, vista como construção organizada cuja principal meta seria

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a de constituir e consolidar uma ideia compartilhada sobre tarefas, atividades ou problemas, e

que permitiria eleger objetivos comuns sem perda dos interesses individuais, de modo a

constituir uma construção do conhecimento como resultado do esforço coletivo (Oliveira,

2007); b) na cooperação, entendida como proposta de divisão de tarefas complexas entre os

participantes de um grupo, que as realizariam em caráter individual e proveriam algum

esquema sinérgico de consolidação de resultados; e c) em uma abordagem mais aberta e

situacional, em que intervenções coletivas e/ou individuais poderiam se suceder em uma

ordem que variaria de acordo com a própria dinâmica das atividades; desta forma, existiriam

diferentes características interacionais, sem que se pudesse rotular as mesmas. Quaisquer que

fossem, estas definições não afastariam a consolidação individual da aprendizagem, mas

proporiam processos de construção baseados fortemente em interações, trocas e

compartilhamento. As tecnologias digitais poderiam, aqui, quando à serviço de um projeto

didático consistente, oferecer a ambiência necessária aos projetos interativos por meio dos

Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), cujas interfaces e ferramentas poderiam,

contando com planejamento neste sentido, promover o aprendizado por meio da constituição

de comunidades virtuais.

De outro modo, as interações em um ambiente presencial poderiam ter o mesmo valor

do ponto de vista didático, representando, também, possibilidades de uso efetivo das

tecnologias escolhidas. Esta proposta poderia partir de um rol consistente de problemas, assim

entendidos como elementos em relação aos quais os sujeitos não possuíssem todos os recursos

cognitivos, mas sobre os quais pudessem refletir e conjecturar com vistas a obter,

autonomamente, soluções provisórias, cujo caráter de teste e de confronto em relação ao

estatuto formal do conhecimento matemático permitiria aos envolvidos aceitá-la ou refutá-la,

em um processo justificado pela lógica interna do constructo e sem apelo a determinadas

indicações de caráter determinista. Neste sentido, as tecnologias mencionadas surgiriam como

elementos integrados aos processos de trabalho, à medida que pudessem ser mobilizadas pelos

“investigadores” (alunos e/ou professores) como interfaces por meio das quais obteriam

feedback em relação às suas intervenções, com apoio do dinamismo típico das ferramentas

digitais (reação reconstitutiva “instantânea”, quer dizer, reconfiguração da representação do

objeto mediante a manutenção de suas propriedades), de experimentações potencialmente

intensivas (o que permitiria examinar uma quantidade grande e variada de situações) e de

visualização das modificações/estabilidades das estruturas envolvidas. Parece claro, também

aqui, que semelhante iniciativa demandaria cuidadoso planejamento, tanto na escolha dos

problemas, quanto no controle da experimentação. Igualmente, aspectos como a presença do

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professor/pesquisador como orientador e a eleição das tecnologias mais pertinentes não

poderiam ser relegados ao esquecimento.

Ao mencionar estes exemplos, evidencia-se, em certa medida, as intenções que

nortearam este estudo, do ponto de vista do planejamento: estabelecer um ambiente de

aprendizagem para professores da educação básica, constituído por dinâmicas presenciais e

virtuais, a partir do qual os participantes se organizariam para desenvolver aspectos do

conhecimento sobre determinado tema matemático, com liberdade para colaborar, cooperar,

interagir ou mesmo compartilhar propostas/conjecturas a respeito de problemas específicos

depois de reflexões individuais. O cenário assim constituído, então, demanda o uso de

tecnologias digitais (e, eventualmente, não digitais), sobre as quais os participantes devem

desenvolver fluência.

Esta proposta, de acordo com o que se percebe, em vista do cenário supramencionado,

merece ser investigada, tendo um tema matemático específico como ponto central de

interesse.

Deste ponto de vista, o interesse matemático eleito para esta investigação é a

Homotetia. Esta transformação possui aspectos fundamentais e desdobramentos relevantes a

outros estudos importantes dentro da Geometria, a partir da ideia de proporcionalidade, como

os casos de semelhança de triângulos e polígonos, as relações métricas no triângulo retângulo,

os teoremas de Pitágoras e de Tales, entre outros tópicos. A expectativa, quando da eleição

deste elemento em relação aos sujeitos da pesquisa, era a de alinhar estratégias didáticas para

estimular, em conjunto com a escolha de um software dinâmico de geometria como o

GeoGebra, em atividades de cunho investigativo, uma oportunidade de revisitar conceitos,

compreender estruturas e lógicas próprias da Geometria Euclidiana, e propor uma

modificação em relação à maneira pela qual os mesmos compreendem a Matemática,

superando a visão por meio da qual se consolidam um conjunto de métodos e equações apenas

voltado à resolução de questões repetitivas, tendo como cenário de movimentação um AVA e

um conjunto de encontros presenciais, de modo a propor, em relação ao objeto em questão,

trajetórias de aprendizagem que se constituíssem de forma colaborativa e/ou cooperativa e/ou

individual, de acordo com as características preferenciais dos sujeitos envolvidos.

Assim, esta investigação tem, especificamente, como sujeitos, um grupo de

professores que ensinam Matemática e que realizam uma iniciativa de formação continuada,

uma vez que eram, à época da consolidação deste relatório, mestrandos no âmbito do

Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC/SP. Ou seja, assim

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como o autor deste trabalho, são professores que iniciam sua formação como pesquisadores

na área mencionada.

Além disso, um primeiro desafio deste trabalho estabeleceu-se por constituir um único

tema que pudesse articular os distintos assuntos enunciados. Neste sentido, viu-se que, após

levantamento bibliográfico de artigos e teses que tratavam do tema matemático em questão,

Homotetia, apenas dois resultados surgiram: os trabalhos de Maciel (2004) e Luis (2006), os

quais, ainda assim, não tratavam estritamente deste tópico, mas de estudos voltados à

exploração do tema “semelhança”. Quando se expandiram as buscas envolvendo termos como

“semelhança”, tendo como objetivo situar a pesquisa nas produções existentes e fornecer

subsídios ao enriquecimento do corpo do texto, obtiveram-se vinte e dois resultados, mais

especificamente mediante o uso da expressão-chave "semelhança geometria dinâmica" no

Portal de Periódicos e no banco de teses da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior). Esta pesquisa também se estendeu ao repositório de teses e

dissertações da PUC/SP.

Destes vinte e dois trabalhos, após a devida seleção, destaca-se a pesquisa de Santos

(2013), que desenvolveu uma investigação utilizando o modelo de Van Hiele voltado ao

estudo de semelhança de triângulos em uma turma de 9º ano do Ensino Fundamental na qual,

por meio de atividades no GeoGebra, explora as possibilidades de progresso no reforço de

conhecimentos prévios e de formas de construir novos conceitos sobre o tema, trazendo à tona

como os estudantes iniciantes se desenvolvem à partir de manipulações no software.

Outra pesquisa em relevo é a de Medeiros (2012), que trata do tema de semelhança de

triângulos a partir de uma análise de livros didáticos selecionados e que evidencia a

construção de um curso a distância que aborda o tema com participantes de uma pós-

graduação Latu Sensu. Este autor analisa as concepções dos participantes acerca da geometria

pré e pós curso por meio de questionários e relatórios dos tutores, alinhando resultados e

exemplos práticos relevantes.

Os demais estudos trabalharam ora com geometria por meio de softwares dinâmicos,

mas voltados à aprendizagem de outros objetos matemáticos, ora com semelhança a partir de

outras tecnologias, como, por exemplo, ferramentas analógico-estáticas, tais como régua,

compasso, etc., ou, ainda, digitais, como os softwares Cábri-Géomètre e R.E.C. (Régua e

compasso). Grande parte dessas produções é voltada a pesquisas com públicos de Ensino

Fundamental e Médio, e nenhuma delas utiliza o referencial de análise deste trabalho, o que

reforçou, em relação à relevância do texto aqui apresentado, uma indicação acercada

oportunidade da pesquisa que o mesmo descreve.

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19

Assim, descritos os fatores que caracterizam a problemática relativa à pesquisa que

aqui se apresenta, resta indicar a questão norteadora, em relação à qual se alinham os

procedimentos e recursos teórico-empíricos julgados adequados para prover eventuais

respostas: de que maneira se caracteriza um percurso de estudo e investigação, envolvendo

professores de Matemática da Escola Básica, acerca do tema “Homotetia” e de tópicos

matemáticos correlatos, realizado a partir de uma proposta que envolve tanto a resolução de

atividades por pessoas-com-tecnologias como o desenvolvimento de fluência em relação às

interfaces empregadas?

Com base nesses fatores, o objetivo geral desta pesquisa consiste em desenvolver

uma estratégia didática para uso de tecnologias em atividades/problemas ligados à geometria

plana, tendo o tema de “Homotetia” como elemento matemático principal, e a intenção de

evidenciar as compreensões constituídas a partir de pressupostos interativos no âmbito de

pessoas-com-tecnologias-digitais.

Da mesma forma, os seguintes objetivos específicos foram previstos:

Constituir uma sequência didática sobre Homotetia, envolvendo, igualmente, assuntos

correlatos e necessários à reflexão sobre o tema, que permita, por parte dos sujeitos, a

constituição de percursos investigativos cujos problemas estruturantes são pensados a

partir da integração das pessoas com o software GeoGebra em sua versão número 5;

Possibilitar o engajamento dos participantes na construção de conjecturas e propostas

de resolução de problemas sobre o tema “Homotetia” a partir de um ambiente e de

uma estratégia didática que busca incentivar interações no âmbito de ambientes

virtuais e presencias;

Analisar as produções dos sujeitos sob a perspectiva do referencial teórico que orienta

este trabalho, constituído pela proposta do ciclo de formação de professores para uso

das tecnologias em Educação Matemática (Oliveira, 2013; Oliveira e Marcelino,

2015; Oliveira, Gonçalves e Marquetti, 2015), o constructo seres-humanos-com-

mídias(Borba e Villarreal, 2005) e os conceitos relativos às tecnologias da

inteligência (Lévy, 1993).

Em busca de respostas para a questão supramencionada, e em atenção aos objetivos

elencados, organizou-se uma pesquisa qualitativa, na modalidade estudo de caso, tendo por

sujeitos nove professores que ensinam Matemática em diversos níveis, e que participaram de

um curso oferecido na plataforma Moodle da PUC/SP, e que contou, também, com encontros

presenciais. Este curso foi realizado no primeiro semestre de 2015, como parte dos projetos de

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pesquisa “Tecnologias e educação matemática: investigações sobre a fluência em dispositivos,

ferramentas, artefatos e interfaces”1, coordenado pelo Prof. Dr. Gerson Pastre de Oliveira, e

“Processos de Ensino e Aprendizagem de Matemática em Ambientes Tecnológicos

PEAMAT/DIMAT”2, ambos desenvolvidos no âmbito do grupo de pesquisas PEA-MAT

3. No

curso mencionado, as atividades constantes da sequência didática estruturada por meio de

problemas poderiam ser resolvidas em regime interação entre os pares, a partir da forma que

melhor lhes aprouvesse e contando com as ferramentas disponíveis no Moodle, como o

fórum, por exemplo, e diálogos presenciais. As sequências foram planejadas em uma

perspectiva problematizada e foram posteriormente analisadas tendo por base o referencial

teórico já mencionado, descrito com mais detalhes nos capítulos subsequentes, os quais

trazem a seguinte organização:

Capítulo 1 –Considerações sobre o objeto matemático: aqui, uma discussão de caráter

histórico, epistemológico e didático sobre o tema “Homotetia” tem lugar;

Capítulo 2–Referencial teórico: os principais elementos teóricos que constituem

referência para esta pesquisa são debatidos: tecnologias na educação, proposta do ciclo

de formação de professores para uso de tecnologias e seres-humanos-com-mídias.

Neste mesmo capítulo, apresenta-se uma concisa revisão bibliográfica4;

Capítulo3–Aportes Metodológicos: este capítulo aponta as principais características da

investigação do ponto de vista metodológico, considerando a modalidade de pesquisa

(qualitativa, estudo de caso), a descrição dos sujeitos e do ambiente de pesquisa, a

descrição dos instrumentos de coleta dos dados e uma breve descrição sobre o uso do

referencial teórico em relação às análises;

Capítulo 4– Análises: este capítulo descreve as principais características didáticas e

matemáticas de cada um dos problemas, as dinâmicas das atividades realizadas nos

ambientes disponíveis, além das propostas de resolução dos problemas e as respectivas

correlações com as teorias empregadas.

O trabalho tem, ainda, em suas últimas páginas, as considerações finais, as referências

bibliográficas e um conjunto de apêndices elaborados e empregados ao longo da investigação.

1 Projeto apoiado pelo CNPq (Processo no. 477783/2013-9)

2 Projeto apoiado pela FAPESP (Processo no. 13/23228-7)

3 Processo de Ensino e Aprendizagem em Matemática (PUC/SP)

4 As revisões bibliográficas não se concentram apenas em um ponto deste texto, mas compõem, por exemplo, o

levantamento de caráter histórico acerca do tema.

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21

Capítulo 1

Considerações sobre o tema matemático

1.1 Perspectiva histórica

Os estudos de Geometria, e mais exatamente sobre o tema matemático escolhido,

Homotetia, aparecem nas diversas obras apuradas no levantamento bibliográfico ligados ao

assunto “semelhança”, e estes, por sua vez, remetem a estudos anteriores aos organizados por

Euclides em sua obra "Os Elementos", como pode ser visto a seguir. Assim, com a finalidade

de discutir aspectos relevantes acerca do tema, pode-se considerar que parte da revisão

bibliográfica deste estudo foi trazida aqui.

Luis (2006) relaciona problemas de época e cultura com o desenvolvimento da

Geometria como um todo. O autor organiza um apanhado que parte das contribuições dos

egípcios, gregos, árabes e europeus até as produções mais recentes acerca do tema. Seu ponto

de partida se localiza nos primeiros estudos sobre semelhança, no Egito antigo, por volta de

3200 A.C., nos quais os egípcios utilizavam, para ampliar e reduzir figuras a uma razão K, o

processo de construir figuras semelhantes à inicial, tal que K era a razão de semelhança entre

a inicial e as outras. Utilizavam, para tanto, o método dos quadrados, que podia ser descrito,

segundo a própria autora, como “traçar a figura considerada em um quadriculado, [o que]

reproduziria uma certa razão, de maneira que a figura definitiva desenhada era a transposição

da figura desenhada. Entre esboço e desenho final havia, por conseguinte, uma razão de

semelhança” (p.16).

Na sequência, a autora indica as contribuições dos gregos, principalmente Euclides,

como amplo produtor científico e organizador da coleção "Os Elementos", uma reunião de

praticamente todo o conhecimento matemático daquele tempo, que é composta de treze livros

e publicada por volta de 300 A.C. Esta coleção, mais exatamente no livro VI, dedica-se

apenas ao estudo de semelhança, por meio da teoria das proporções (BOYER apud LUIS,

2006).

Euclides, segundo Resende e Queiroz (2000, p.52), pode ter vivido entre o reinado de

Ptolomeu I Sóter do Egito (304-285 A.C.), tendo precedido Arquimedes (287-212 A.C.).

Por outro lado, segundo Roque (2012) não há registro original da obra "Os

Elementos", havendo somente versões e traduções tardias, nas palavras da autora. Com este

fato em mãos e após uma análise histórica, a autora indaga e apresenta justificativas acerca da

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organização dos volumes da obra supracitada, e mostra que o livro VI, relativo aos estudos

acerca de semelhança, foi, na verdade, um dos últimos dos treze que foram escritos.

Para chegar a esta conclusão, Roque (2012) apresenta contestações ao fato de todas as

construções geométricas da obra "Os Elementos" terem sido feitas apenas com régua e

compasso (ou círculos e retas de modo abstrato naquele contexto). A autora salienta que

Arquimedes e outros matemáticos gregos não seguiram este procedimento e empregaram

métodos de construção não euclidianos, como indício de que apenas régua e compasso não

seriam suficientes para resolver todos os problemas matemáticos antes e depois de Euclides.

Essa perspectiva de que os matemáticos gregos se ancoravam em padrões rígidos,

segunda a autora, tem origem na história da matemática escrita entre os séculos XIX e XX,

período conhecido como de alto rigor matemático. Dentre os trabalhos escritos nesta época,

constam os de Hilbert, que procuraram fundamentar a geometria euclidiana.

Entretanto, o formalismo não era a motivação principal da época dos estudos gregos.

A geometria, como aponta a autora, tem suas bases em uma atividade essencialmente prática

– ainda que abstrata – de resolver problemas. Disto destaca também que, a partir do

encadeamento dedutivo das proposições, uma das explicações possíveis para a organização

didática dessa obra é seu provável cunho pedagógico, organização que não se faz presente

em boa parte dos materiais didáticos disponíveis atualmente. Para a autora, ainda, uma das

razões possíveis para a escolha da régua e do compasso nas construções pode ter sido uma

opção pedagógica. Na verdade, apesar de Euclides não ter afirmado em lugar algum de sua

obra, que as construções tenham que ser feitas com retas e círculos, o mesmo não pretendia

impor uma restrição, mas indicar uma otimização, pois as construções feitas desse modo

seriam mais simples e não exigiriam nenhuma teoria adicional que as fundamentasse.

Uma segunda razão para essa escolha, de cunho epistemológico, como indica a autora,

seria a necessidade de ordenar e sistematizar a geometria, dado os avançados conhecimentos,

já naquela época, dos geômetras. Essa ordem implicaria uma gradação da matemática, do

nível mais elementar ao superior.

Na sequência, a autora indica que, após extensas pesquisas sobre a ordem dos livros

dos Elementos, que esta não expressa na verdade uma ordem cronológica, por conta dos

resultados apresentados nos primeiros livros não serem essencialmente os mais antigos. Disto

indica:

[...] os livros VII a IX, que seriam os mais antigos, empregam uma linguagem

ingênua de razões e proporções que estaria presente desde épocas muito remotas,

antes da descoberta dos incomensuráveis; os livros de I a IV tratam de resultados

sobre equivalência de áreas também antigos, mas as demonstrações evitam o uso da

teoria das razões e proporções; no livro V é apresentada a nova teoria das razões e

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proporções, servindo de base para o estudo da equivalência de áreas e semelhança de

figuras de um novo modo, o que é feito no livro VI. Além disso, o livro I teria sido

escrito com o intuito de apresentar os princípios, por isso exibiria um cuidado

especial com o encadeamento das proposições (ROQUE, 2012, p.165).

Por fim, nota-se que, além destas justificativas acerca da ordenação dos volumes, da

restrição ao uso da régua e compasso nas construções, e o discurso da autora acerca do

encadeamento das proposições a partir dos primeiros princípios (definições, postulados e

noções comuns) e suas consequências (problemas e teoremas), todos os fatores apontavam

para um encadeamento que define o método axiomático-dedutivo.

Entretanto, a autora, mais adiante, aponta uma artificialidade nesta organização, uma

vez que essa priorização do método dedutivo ia contra os enunciados que “pertenciam a uma

mesma cultura prática. Ao dizer „artificial‟, destaca-se o fato de essas proposições terem sido

organizadas em função das técnicas de demonstração usadas para atestar sua validade, e não a

partir dos problemas efetivos que se aplicavam” (ROQUE, 2012, p.184). De todo modo,

importa compreender que o tema semelhança já possuía um estatuto formal, ainda que seu

posicionamento histórico possa ser objeto de polêmicas. Assim, cumpre ampliar as ilações

neste sentido, o que se faz a seguir.

1.2 A noção de semelhança e de Homotetia: tópicos e teoremas correlatos.

A semelhança, segundo Moise e Downs (1971), parte da ideia de proporcionalidade,

na qual duas figuras geométricas, no caso poligonais, possuem exatamente a mesma forma,

sem, contudo, possuírem necessariamente as mesmas medidas. O termo “forma”, nesse

contexto, refere-se às propriedades geométricas que essas figuras têm em comum: uma escala

entre as medidas dos lados e a congruência dos seus ângulos internos. Escala, neste caso,diz

respeito à razão de semelhança entre as propriedades das figuras em questão.

Outra definição mais recente do conceito de semelhança, alinhada com a perspectiva

exposta por Lima (1991) e retomada por Luis (2006), parte de um estudo de figuras, não

necessariamente poligonais, mas que conservam a sua forma quando se realizam ampliações e

reduções da mesma de acordo com uma razão de semelhança.

Ao relacionar dois conjuntos de pontos, figuras planas ou espaciais, chamadas aqui F e

F', estas são consideradas semelhantes se existe uma correspondência biunívoca : 'F F

entre elas, que faz com que cada ponto de F relacione-se a apenas um de F', e ambas possuam

o mesmo número de pontos, com uma razão de semelhança r. Disto, vem a seguinte

propriedade: se X, Y são pontos quaisquer de F e ( ) 'X X , X e X' homólogos; ( ) 'Y Y ,

Y e Y' homólogos, então X' e Y' são seus correspondentes em F'; logo, X'Y' = r. XY.

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Para cada valor que r assume, há consequências para a forma estudada, sendo

reduzida, conservada ou ampliada em relação a original. Neste caso, será ampliada quando

r>1; conservada, pelo princípio da identidade, quando r=1, chamando-se isometria, a qual

determina que a distância entre dois pontos X e Y de F é a mesma distância entre seus

homólogos X' e Y' em F' (também se chama congruência). E, por fim, a forma é reduzida

quando 0<r<1(trata-se da função inversa de ,1 : 'F F tal que

1

ré a razão de

semelhança).

Considerando figuras poligonais, a abordagem por meio de Homotetia proporcionaria,

segundo Lima (1991), um estudo

[...] extremamente simples e que permite desenvolver toda a teoria elementarmente.

Nossos livros didáticos poderiam adotá-las com vantagens. Assim fazendo evitariam

um tratamento incompleto, no qual se dá uma definição válida apenas para

polígonos, enquanto a maior parte dos exemplos que encontramos não se enquadra

nessa categoria (LIMA, 1991, p.39).

Outra abordagem, de acordo com o mesmo autor, componente de um estudo de

relações dos elementos fundamentais das construções aqui empregados, tais como pontos,

segmentos de reta, semirretas e retas, parte da noção de proporcionalidade de tal maneira que,

dados dois segmentos de reta arbitrários, AB e CD, se CD= r.AB, pode-se definir uma

semelhança : AB CD de razão r de modo que, para cada X, elemento de AB, há um X' em

CD de tal forma que CX' = r.AX. Esta semelhança se comprova a partir de que, ao admitir

dois pontos arbitrários X e Y em AB, com X entre A e Y, pela definição de semelhança, há

um ponto X' entre C e Y'. Logo X'Y'= CY' – CX'= r.AY – r.AX = r.(AY-AX) = r.XY. As

demonstrações para semirretas e retas são análogas.

Em termos do uso social do conhecimento matemático, pode-se apontar que o domínio

do tema aqui tratado não pode ser desprezado: Resende e Queiroz (2000), neste sentido,

indicam a importância do estudo de semelhança como fundamental para áreas como

Engenharia e Arquitetura, quando profissionais destas áreas empregam ampliação e redução

de seus registros tais como mapas, plantas e maquetes. Em vista disto, de forma justa, pode-se

questionar por que este estudo foi conduzido apenas com triângulos. Esta escolha se justifica,

a princípio, por conta de uma suposta familiaridade dos sujeitos com elementos, propriedades

e conceitos a serem mobilizados na construção da definição geral de semelhança por meio da

Homotetia. Neste caso, ainda que os mesmos sejam mestrandos, potencialmente trabalharam

estes temas por meio de atividades roteirizadas, que priorizam algoritmos em detrimento da

percepção, apuração, inferência e generalização das propriedades evidenciadas por

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construções geométricas. O emprego de softwares dinâmicos de geometria no âmbito de uma

estratégia didática colaborativa concorre, segundo se supõe, para a revisão deste quadro.

Ainda com relação ao objeto tratado neste texto, Resende e Queiroz (2000) indicam a

divisão do tema “semelhança” nos seguintes tópicos: a ideia e o teorema sobre

proporcionalidade, teorema fundamental de semelhança por meio do conceito de Homotetia,

semelhança nos triângulos quando ocorre um dentre os casos AAA (ângulo, ângulo, ângulo),

LLL (lado, lado, lado) e LAL (lado, ângulo, lado). Ainda se deve considerar o teorema da

semelhança nos triângulos retângulos.

A partir da estruturação destes tópicos iniciais, pode-se trabalhar outros temas

correlatos, como as áreas de triângulos semelhantes, as razões trigonométricas, a

trigonometria numérica e as relações entre as razões trigonométricas, além do tópico de

semelhança de polígonos, entre outros.

No contexto dos teoremas até aqui destacados, indicam-se alguns percursos de

demonstrações necessárias para a fundamentação matemática de propriedades que possam ser

mobilizadas mais adiante. O primeiro deles se refere ao teorema fundamental da

proporcionalidade.

1.3 Teorema Fundamental da Proporcionalidade

Enunciado: Se uma reta paralela a um lado de um triângulo intercepta os outros dois lados

distintos, então ela determina segmentos que são proporcionais a esses lados. (MOISE-

DOWNS, 1971, p. 308).

Demonstração: Seja um triângulo ABC, com pontos D e E contidos em AB e AC,

respectivamente. Admite-se que DE é paralela à BC.

Caso sejam traçados os segmentos DC e EB, determinam-se dois triângulos inscritos em

ABC, AEB e ADC.

(1): Em AEB, pelo enunciado, D fica contido no segmento AB, e o segmento DE determina

dois triângulos em seu interior, ADE e BDE. Estes possuem AD e BD como bases.

Estes triângulos, ADE e BDE, por comporem juntos a região AEB, possuem um vértice em

comum, D, cujas áreas, quando somadas, resultam na área de mesma medida do próprio AEB.

Assim, pode-se afirmar, pelo postulado de adição de áreas, que: AEB ADE BDE (1).

ADE e BDE têm a mesma altura por terem a mesma, e única, perpendicular à AB que passa

pelo vértice comum E. Esta perpendicular determina alturas para ADE e BDE sobre o

segmento AB. Disto, admitimos que BDE tem a altura projetada em seu interior, que

chamaremos de h; logo, a área é dada automaticamente pela equação 𝐵𝐷 .ℎ

2. O triângulo BDE

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tem sua altura externa a ele; entretanto, por possuir o mesmo vértice E, projeta sua altura

sobre a altura do acutângulo, sendo congruente a esta, por possuir a mesma base AB. Desta

forma, sua área é dada por 𝐴𝐷 .ℎ

2, sendo a metade da área do paralelogramo de base AD e

altura h. Do exposto acima e pelo teorema que indica que triângulos com mesma altura têm a

razão entre suas medidas de área igual à razão de suas bases, temos

.

2.

2

BDE

ADE

BD hA BD

AD hA AD .

(2): Da mesma forma, como exposto em (1), pode-se determinar em ADC dois triângulos,

CDE e ADE, com E contido em AC, com bases CE e AE, respectivamente. CDE e ADE têm

a mesma altura pela mesma justificativa apresentada anteriormente; disto, o cálculo das áreas

CDE e ADE também é análogo ao método anterior. Logo, temos que

.

2.

2

CDE

ADE

CE hA CE

AE hA AE .

(3): BDE e CDE têm a mesma base DE. Eles têm mesma altura, pois BC é paralelo à DE de

acordo com o enunciado; logo, suas áreas são iguais.

(4): De (1), (2) e (3), deduzimos que CDEBDE

ADE ADE

AA BD CE

A A AD AE .

(5): Somando-se 1 aos dois lados da igualdade, podemos deduzir que:

1 1BD CE BD AD CE AE BD AD CE AE

AD AE AD AD AE AE AD AE

, onde BD+AD = AB e

CE+AE= AC, logo: AB AC

AD AE .

Outro teorema de demonstração semelhante ao de proporcionalidade é aquele

enunciado como “toda Homotetia é uma semelhança que transforma qualquer reta em si

própria ou numa paralela” (LIMA, 1991, p. 46).

Indica-se, ainda, outro percurso de demonstração relevante com a ideia de

proporcionalidade, que envolve o conceito de Homotetia. Para Lima (1991), conforme

recuperado por LUIS (2006, p.33), "a definição de figuras semelhantes por Homotetia é vista

como um teorema". Disto, Lima (1991) aponta que

Sejam O um ponto no plano (ou do espaço E) e r um número real positivo. A

Homotetia de centro em O e a razão r é a função : (ou : E E )

definida do seguinte modo: ( )O O e para todo X O , ( ) 'X X é o

ponto da semirreta OX tal que OX' = r.OX.". (LIMA, 1991, p.45).

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Em uma Homotetia, para todo ponto X que não seja o seu centro, há um semelhante X'

tal que OX'= r.OX. A Homotetia pode ser, então, em função dos valores atribuídos a r,

identidade, quando r=1, transformando toda reta que passa por O nela mesma; inversa,

quando tem mesmo centro O e razão 1

r. Desta forma, duas figuras F e F' são ditas

homotéticas quando há uma Homotetia tal que ( ) 'F F , como se vê na Figura 1.

Figura 1 – Homotetia ( ) 'F F de centro O e razão 2

Fonte: o autor

Após estas definições prévias, Lima (1991) distingue Homotetia de semelhança, de

modo geral, como ser visto na figura 1:

[...] numa Homotetia os pontos O, X, X' são sempre colineares e nesta ordem se r>1,

ou na ordem O, X', X, caso 0<r< 1; já numa semelhança, as figuras F e F' podem

ocupar posições quaisquer, como numa foto e sua ampliação que podem ser postas

em vários lugares, mas continuam semelhantes (LIMA, 1991, p. 45).

No caso de um estudo por meio de construções geométricas na qual esta razão esteja a

definir a proporção entre duas figuras, trata-se de uma Homotetia direta quando houver uma

ampliação, no caso k>1; uma identidade, no caso k=1; e uma redução, no caso 0<k<1.

Luis (2006) ainda aponta que existem os casos inversos de Homotetia, na hipótese da

adoção de um tratamento vetorial das figuras poligonais, de ampliação inversa para k<-1,

identidade inversa, para k= –1 e redução inversa, no caso 0>k>-1. Nestes casos de inversão de

um polígono, observa-se que as razões são negativas, na medida em que expressam um

afastamento em relação ao ponto que origina a Homotetia, comportamento que pode ser

observado em casos de simetria axial, por exemplo.

A partir das demonstrações anteriormente desenvolvidas e da noção de

proporcionalidade, passa-se ao caso de semelhança nos triângulos, para o qual Resende e

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Queiroz (2000), Lima (1991) e Moise e Downs (1975)apresentam definições convergentes, ou

seja, este caso de semelhança acontece a partir do momento em que há uma correspondência

biunívoca entre os vértices de dois triângulos, congruência entre ângulos correspondentes

destes e os lados correspondentes são proporcionais, dada uma razão de semelhança r.

Disto, segue a demonstração do caso geral de semelhança de triângulos, segundo Lima

(1991, p. 51):

Seja : ' ' 'ABC A B C uma semelhança de razão r, entre os triângulos ABC e

A'B'C', com ( ) 'A A , ( ) 'B B e ( ) 'C C ; então teremos pela definição geral de

semelhança, que ' ' ' ' ' 'A B A C B C

rAB AC BC

, o que indica que os triângulos têm lados

homólogos proporcionais. A Homotetia , de centro A e razão r, transforma ABC em outro

triângulo parcial AB''C'', com B''C'' paralela a BC; assim, ''B B e ''C C .

Em seguida, constata-se que A''B''C' é côngruo em relação a A'B'C', pois AB''= A'B'= r.AB,

AC''= r.AC e B''C''= r.BC. Logo, 'A A , 'B B e 'C C .

De maneira mais específica, pode-se destacar 3 condições a partir das quais, quando

ocorrer ao menos uma delas, pode afirmar que exista uma semelhança entre os triângulos

envolvidos. São os casos nos quais os triângulos têm três ângulos correspondentes iguais

(AAA), um ângulo igual compreendido entre lados proporcionais (LAL) e o caso em que têm

os três lados proporcionais (LLL).

1.4 Teorema de Semelhança LLL

Demonstração: Admita-se que ABC e A'B'C' são triângulos, que A'B'= r.AB, A'C'=r.AC e

B'C'=r.BC, para um certo r>0. A Homotetia partindo de A com razão r transforma ABC num

triângulo AB''C'', pois AB''= r.AB, AC''= r.AC e B''C''= r.BC, o que configura que AB''C'' e

A'B'C' são congruentes. Como ABC e AB''C'' são semelhantes, ABC e A'B'C' são semelhantes

por transitividade.

1.5 Teorema de Semelhança AAA

Demonstração: Admitam-se que ABC e A'B'C' são triângulos, tais que 'A A (1), 'B e

'C C . Sobre as retas suportes de AB e BC, tomem-se B'' e C'', respectivamente, de

modo que AB''=A'B' e AC''=A'C' (2). Por (1) e (2), AB''C'' e A'B'C' são congruentes pelo caso

de congruência LAL, logo '' 'B B . Assim, B''C'' e BC são paralelas e, por conta disso,

AB''C'' e ABC são semelhantes.

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1.6 Teorema de Semelhança LAL

Demonstração: Sejam dois triângulos ABC e A'B'C' tais que 'A A e A'B'= r.AB e A'C'=

r.AC. Como feito anteriormente, sobre as retas suportes de AB e BC, tomem-se B'' e C''

respectivamente, de modo que AB''=A'B' e AC''=A'C'. AB''C'' e A'B'C' são congruentes pelo

caso de congruência LAL. Disto, a Homotetia de centro em A faz com que AB''=r.AB e

AC''=r.AC. Logo, como AB''C'' é congruente a A'B'C', ABC é semelhante a A'B'C'.

Na sequência, indica-se aqui um caso que, por conta do extenso número de tópicos que

podem ser estudados (entre eles, o teorema de Pitágoras e as relações trigonométricas), foi

cogitado como tópico a ser desenvolvido e trabalhado a partir das atividades propostas nesta

investigação5, que é o caso da semelhança nos triângulos retângulos.

1.7 Semelhança nos Triângulos Retângulos

Enunciado: A altura correspondente à hipotenusa de qualquer triângulo retângulo divide-o

em dois triângulos que são semelhantes um ao outro e também semelhantes ao triângulo

original.

Seja um triângulo retângulo ABC, com sua altura projetada de C em um ponto H sobre

AB. Esta altura divide ABC em dois triângulos, AHC e BHC, ambos retângulos em H. A

medida que se comparam AHC com ABC (1) e BHC com ABC (2), obtêm-se:

(1) AHC e ABC são retângulos, AHC em H e ACB em C, ambos têm o vértice A em comum;

disto, o angulo correspondente  é o mesmo para ambos. Pela soma dos ângulos internos do

triângulo retângulo, deduz-se que o ângulo C', relativo ao vértice C em AHC e B em ABC são

congruentes. Desta forma, AHC e ABC são semelhantes pelo caso AAA.

(2) BHC e ABC serão semelhantes de maneira análoga.

Logo de (1) e (2), podemos concluir, por transitividade, que AHC é semelhante a BHC.

Há ainda percursos de demonstração pelo teorema LLL. Segundo Luis (2006),

Hadamard (1898) indica que há demonstrações via AAA para triângulos retângulos com um

ângulo agudo congruente, ou via LAL para os lados de medidas proporcionais que compõem

o ângulo reto.

Desta forma, explorou-se até aqui, neste capítulo, os tópicos e teoremas fundamentais

às conjecturas e propostas de resolução dos problemas por parte dos sujeitos participantes do

estudo. No capítulo seguinte, será abordado o referencial teórico que fundamentou as análises

das produções dos mesmos. 5 Esta frente não chegou a ser desenvolvida em função da falta de disponibilidade de tempo dos sujeitos da

pesquisa, os quais não mais poderiam se ocupar das atividades referentes a esta investigação. De toda forma, os

problemas desenvolvidos para a cobertura deste tópico estão relacionados no Apêndice A.

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30

Capítulo 2

Referencial Teórico

De acordo com o definido na introdução, neste capítulo serão descritas as noções

principais das teorias que orientam as etapas deste estudo, naquilo em que se fazem

importantes para as análises dos dados recolhidos junto aos sujeitos.

2.1 Tecnologias e produção do conhecimento

Uma forma de pensar na inserção das tecnologias na sociedade – e, por consequência,

nos processos educativos – é assumir que as mesmas representam recursos que subsidiam o

trabalho intelectual das pessoas em seus percursos de vida. Nesta pesquisa, assume-se o

pressuposto que a construção do conhecimento ocorre a partir de um coletivo formado por

seres-humanos-com-tecnologias (Borba e Villarreal, 2005), possível quando se desenvolve a

apropriação da lógica das mídias envolvidas ao adquirir fluência no uso das mesmas

(Oliveira, 2013). Na base destes constructos teóricos, estão o pensamento de Lévy (1993) e de

Tikhomirov (1981).

Os processos educativos, por exemplo, utilizam tecnologias diversas em praticamente

todos os movimentos históricos já registrados. Mesmo que os últimos tempos tenham trazido

avanços de toda ordem, do ponto de vista de tornar mais sofisticadas as tecnologias, quer no

que se refere ao instrumental (equipamentos), quanto ao funcional (programas), em uma

proposta de extensão das capacidades humanas (pensar, agir e comunicar), não se pode negar

que tecnologias diversificadas foram engendradas, ao longo dos tempos, para ampliar as

aptidões e o pensamento das pessoas. Para Lévy (1993), o processo evolutivo humano foi

constituído a partir de três paradigmas fundamentais, classificados por ele como tempos do

espírito, e objetivados na oralidade, na escrita e no polo informático-midiático, com

prevalência em distintos momentos históricos. Desta forma, oralidade, escrita e informática

são, na verdade, tecnologias da inteligência, ou seja, assumem, dado um contexto e momento

histórico, funções e ganhos específicos para a construção, manutenção e divulgação do

conhecimento.

Desta maneira, o autor francês assevera que mesmo aquelas tecnologias apontadas por

vezes como antigas ou ultrapassadas, assim como a oralidade e a escrita, não perdem seu

valor, apesar da ascensão da tecnologia informática; na verdade, ampliam ou reduzem sua

importância ao longo do tempo e de acordo com as circunstâncias, mas tendem à

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convergência, em função dos objetivos com que são empregadas (Oliveira, Gonçalves e

Marquetti, 2015). Assim, quando se fala de tecnologias digitais, está incluso um aspecto

típico do polo informático-midiático: aglutinar as outras formas de comunicação e informação

sob outra lógica, que inclui velocidade ampliada, temporalidade distinta e outras

funções/aspectos para elementos como a inteligência e a memória (Lévy, 1993; Oliveira e

Marcelino, 2015).

O acesso e a objetivação dos processos de recuperação, uso e contextualização do

conhecimento passam por distinções, assim com os tempos do espírito e suas respectivas

tecnologias de inteligência. A memória, neste contexto, desempenha papel importante e ganha

distinções. Sob a oralidade, a memória se objetiva nas pessoas, em seus saberes ancestrais,

fundando-se nas narrativas, reificando a palavra falada. Personalidade e memória

praticamente não se distinguem, o que dá ao conhecimento um caráter circular e pessoal.

Em relação à escrita, outra é a condição da memória – e outros são os instrumentos

que subsidiam esta tecnologia da inteligência. A memória passa a ficar objetivada

externamente em relação às pessoas, por meio de rolos/pergaminhos e, depois, por intermédio

dos livros. O advento da escrita institui o que Lévy (1993) chama de irreversibilidade, ou seja,

o caráter de permanência do que se registra, abrindo possibilidade para a transformação dos

objetos de conhecimento em temas de crítica e/ou análise, instituindo incertezas e

preocupações, ou seja,

A partir de então, a memória separa-se do sujeito ou da comunicação tomada como

um todo. O saber está lá, disponível, estocado, consultável, comparável. Esse tipo de

memória objetiva, morta, impessoal, favorece uma preocupação que, decerto, não é

totalmente nova, mas que a partir de agora irá tomar os especialistas do saber com

uma acuidade peculiar: a de uma verdade independente dos sujeitos que a

comunicam (LÉVY, 1993, p. 95).

Enquanto a oralidade é simbolizada pelo círculo, a escrita o é pela linha: são as

trajetórias lineares encaminhadas pelos textos as caracterizadoras deste paradigma. Resta o

símbolo indicado pelo ponto, característica do polo informático-midiático. Entram em jogo a

velocidade de transmissão, as topologias reticulares e/ou rizomáticas, principalmente relativas

à Internet. A quantidade de dados armazenados toma proporções jamais vistas em termos

históricos e a noção de tempo sofre severas modificações, considerando a noção de tempo

real, instituída pela informática. As características hipertextuais / hipermidiáticas deste tempo

do espírito instituem trajetórias complexas na busca por dados interligados, em uma dimensão

dinâmica e com simulações sobre a simultaneidade.

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Entretanto, ainda que de naturezas muito distintas, os três tempos do espírito admitem

convergências e imbricações, não operando pela exclusão mútua, mas convergindo na

ampliação da cognição das pessoas, uma vez que não existe, segundo Lévy (1993),

conhecimento independente de tecnologias intelectuais. Justamente, na visão deste autor, é

preciso

[...]pensar na imbricação, na coexistência e interpretação recíproca dos diversos

circuitos de produção e de difusão do saber, e não em amplificar e extrapolar certas

tendências, sem dúvida reais, mas apenas parciais, ligadas apenas à rede

informático-midiática (LÉVY, 1993, p. 117).

De outro ponto de vista, contudo, desde a sua gênese, a informática faz com que se

adaptem novas interfaces às necessidades dos usuários e acumulem-se novas funções nos

softwares a cada atualização, ampliando a gama de possibilidades dos seus empregos e das

produções intelectuais mediadas pelas mesmas em um ritmo tão surpreendente, guardadas as

devidas proporções, quanto o da Renascença, trazendo novos elementos indispensáveis à

produção de conhecimento humano contemporâneo (Lévy, 1993).

Lévy(1993) destaca, ainda, o caráter da interação quando se utiliza da rede digital, no

que faz menção à imersão do usuário no sistema que utiliza e no contato com outros usuários,

com a finalidade de ampliar a capacidade ou eliminar limitações dos próprios sentidos e da

sua cognição. Interação esta que, segundo Oliveira (2007) permite um aprender junto, de

participantes e docentes, em processos de cooperação e/ou colaboração, no qual os percursos

são individualizados, mas as construções são potencialmente coletivas.

Nesse contexto, a informática assume um caráter mais universal que a oralidade e a

escrita, engendrando novos estilos de saber na integração com as pessoas. É o instantâneo

alimentado por meio da interação e da coletividade, grupos e instituições com tempo de vida

muito maiores que a própria informação. Um destes novos estilos é constituído pela

simulação por meio dos modelos digitais, promovida por conta do seu caráter exploratório, de

forma interativa, substituindo situações nas quais os altos custos de toda natureza impediriam

a realização de determinado estudo. São as simulações que permitem trazer à tona as

representações, inclusive dos objetos matemáticos, conferindo às mesmas a possibilidade de

experimentação intensiva, visualização e dinamismo.

Lévy (1993, p.119) ainda destaca que “a manipulação dos parâmetros e a simulação de

todas as circunstâncias possíveis dão ao usuário uma espécie de intuição sobre as relações de

causa e efeito presentes no modelo”. Por fim, a simulação também auxilia a capacidade de

antecipação e exploração, e por consequência, de aprender. Aproxima-se, da sua maneira,

segundo o autor, mais da atividade intelectual do que a cena teórica.

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As contribuições de sua teoria sobre tecnologias intelectuais faz do pensamento de

Lévy (1993) um elemento indispensável para o referencial teórico constituído para dar suporte

a esta pesquisa. O pressuposto da interação, alinhado na questão de pesquisa, e sua

materialização por meio de interações em ambientes virtuais são vistos pelo autor francês sob

a égide da inteligência coletiva, sustentada e suportada pelas tecnologias de toda a natureza

presentes no ciberespaço. Para Oliveira (2007, p. 86), as tecnologias, como agentes das

conexões, permitem que

Programas, máquinas, redes das mais diversas topologias e assentadas sobre os mais

diversos meios de transmissão/recepção, constituam a ambientação, permitindo a

extensão das possibilidades da pessoa, que passa a alcançar mais longe, projetar-se à

distância. As tecnologias, sobretudo aquelas envolvidas no funcionamento da

Internet, oportunizam, então, a extensão da presença, permitem uma projeção do

corpo através de sinais que trafegam e que são, de um lado, ação, ela mesma

exprimindo pensamentos e vontades das pessoas, e de outro, interpretação, tarefa das

interfaces e das outras pessoas, conectadas. Os lados são múltiplos, as ações e

interpretações são múltiplas, as conexões são múltiplas. O interesse de cada um dos

envolvidos dá o tom, é o direcionador, o criador das trajetórias (Oliveira, 2007,

p.86).

Neste ponto, julgou-se, quando da produção dos problemas componentes da sequência

didática elaborada para a coleta de dados, que a produção dos professores de Matemática,

sujeitos desta pesquisa poderia se constituir a partir de pressupostos da inteligência coletiva,

instituída no âmbito de interações em um ambiente virtual de aprendizagem, apoiada por

tecnologias digitais como o próprio AVA e o software GeoGebra, e por encontros presenciais,

em uma proposta de convergência semelhante àquela que entende o convívio entre a

oralidade, a escrita e a informática. Este coletivo agrega pessoas e tecnologias intelectuais, em

uma proposta conhecida como seres-humanos-com-mídias, que se esclarece em seguida.

2.2 Seres-Humanos-com-mídias

Desde os estágios iniciais de planejamento desta pesquisa, foram consideradas algumas

possibilidades abertas pela disponibilidade das tecnologias informáticas que se alinham com a

perspectiva teórico-metodológica deste trabalho, como por exemplo, a exploração pela

simulação digital, por meio de softwares dinâmicos de geometria como o GeoGebra, ou,

ainda, pelo convívio com os participantes da pesquisa por meio de plataformas de interação,

como o ambiente virtual Moodle. Ferramentas estas que, segundo Borba e Villarreal (2005),

fazem parte de

[...] uma nova extensão da memória com diferenças qualitativas em relação com

outras tecnologias da inteligência (como a oralidade e a escrita), e isto torna possível

a compreensão linear ser desafiada por outras formas de pensamento, baseados em

simulação, experimentação e a 'nova linguagem' que envolve escrita, oralidade,

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imagens, e comunicação instantânea. Nesse contexto a metáfora da linearidade é

cada vez mais substituída pela descontinuidade que caracteriza o uso da internet

(BORBA E VILLARREAL, 2005, p.22).

Em relação à forma como se pode encarar a relação entre pessoas e computadores (ou

outras mídias), Borba e Villarreal (2005) propugnam que tais elementos e os seres humanos

devem ser considerados como elementos que se integram na construção do conhecimento

contemporâneo. Mais que isto, o constructo de ordem teórica pensado pelos autores

mencionados traz à tona a concepção de que o conhecimento

[...] é produzido por coletivos de seres-humanos-com-mídias e não somente por

seres humanos ou por grupos destes, ou seja, as mídias não são apenas assistentes

dos humanos ao se fazer Matemática, pois elas mudam a natureza do que é feito,

sugerindo, assim, que diferentes coletivos humanos com mídias produzem diferentes

formas de acessar o conhecimento matemático (OLIVEIRA; GONÇALVES;

MARQUETTI, 2015, p. 475).

A proposta do constructo mencionado tem suas bases filosóficas constituídas a partir

do pensamento de Lévy (1993), prioritariamente, autor que também fundamenta as asserções

que foram alinhadas anteriormente neste texto. Desta maneira, para este autor:

Qual a imagem que sobressai desta dissolução do sujeito cognitivo em uma

microssociedade biológica e funcional de base, e de sua imbricação em uma

megassociedade povoada por homens, representações, técnicas de transmissão e de

dispositivos de armazenamento, no topo? Quem pensa? Não há mais sujeito ou

substância pensante, nem “material”, nem “espiritual”. O pensamento se dá em uma

rede na qual neurônios, módulos cognitivos, humanos, instituições de ensino,

línguas, sistemas de escrita, livros e computadores se interconectam, transformam e

traduzem as representações (LÉVY, 1993, p. 135).

À alegada dificuldade de integração de agentes humanos e não humanos na produção

do conhecimento, em função das distintas linguagens que os mesmos empregam, contrapõe-se

a ideia de interface, que, na interpretação de Oliveira (2007) surge como

[...] uma estrutura constitutiva composta por camadas, que vão desde as mais

imediatas em relação aos participantes, até as mais recônditas, próximas aos

equipamentos envolvidos. Nas primeiras, predominam os recursos linguísticos,

textuais, gestuais, simbólicos das pessoas. Nas demais, de certa forma ocultas,

ocorrem as conversões dos padrões dos meios „humanos‟ de manifestação em sinais

binários, em última instância, através de recursos computacionais que envolvem

diferentes paradigmas de programação (p. 121).

Esta visão a respeito das interfaces justifica, inclusive, seu emprego no título deste

trabalho: assume-se para tais elementos o papel de tradução, de manifestação do aspecto

midiático de forma perceptível, como espaço das representações matemáticas, estas mesmas

manifestações dos diretamente inapreensíveis objetos matemáticos, segundo a ordem

platônica. Igualmente, Lévy (1993) a indica como “uma superfície de contato, de tradução, de

articulação entre dois espaços, duas espécies, duas ordens de realidade diferentes: de um

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código para outro, do analógico para o digital, do mecânico para o humano. Tudo aquilo que é

tradução, transformação, passagem, é da ordem da interface” (LÉVY, 1993, p. 181).

Outra perspectiva do constructo teórico seres-humanos-com-mídias se constitui a

partir da ideia de que as mídias exercem a possibilidade de reorganizar o pensamento das

pessoas que com elas se integram. Isto é importante em relação a esta pesquisa, a partir da

qual se pretende averiguar as formas pelas quais estas reorganizações do pensamento dos

participantes envolvidos se dão ao longo das dinâmicas de resolução de problemas

matemáticos a partir do uso de tecnologias digitais da inteligência.

A proposição em torno da qual a reorganização do pensamento seria um efeito da

integração entre pessoas e mídias surge com Tikhomirov (1981). Para o autor russo, não há

sentido nas duas ideias mais vulgarmente divulgadas sobre a função dos sistemas

computacionais, que seriam a de substituição e a de suplementação. Para ele, então, os

computadores poderiam alterar significativamente o arcabouço estrutural da atividade

intelectual. Desta forma,

O processo de aquisição de conhecimento é alterado (por exemplo, passa a ser

possível reduzir o número de procedimentos formais a ser adquirido graças ao uso

do computador). Isto nos dá base para afirmar que, como resultado da

informatização, um novo estágio no desenvolvimento ontogenético do pensamento

também se desenvolveu. [...] A memória, o armazenamento de informações, e sua

busca (ou reprodução), são reorganizados. A comunicação é alterada, uma vez que a

comunicação humana com o computador, especialmente quando linguagens

similares à natural são criadas, é uma nova forma de comunicação. As relações

humanas passam a ser mediadas pelo uso de computadores (TIKHOMIROV, 1981,

p. 274).

Parece claro, de toda maneira, que, ainda que as mídias digitais assumam esta

possibilidade de reorganizar o pensamento, as mesmas não determinam a constituição do

conhecimento, mas condicionam-no, à medida que, mesmo sendo factível “desenvolver

conhecimento na ausência de determinada tecnologia [...] algumas possibilidades como

dinamismo, visualização múltipla e experimentação intensiva são melhor objetivadas a partir

do uso de tecnologias digitais” (OLIVEIRA; GONÇALVES; MARQUETTI, 2015, p. 478).

Deste modo, atividades de investigação de temas matemáticos por meio de mídias

digitais como as realizadas nesta pesquisa lançam mão da tríade supramencionada, constituída

pelas ações de experimentar e visualizar, apoiadas no dinamismo típico das interfaces digitais.

A experimentação, neste contexto, assume um papel que vai além de reduzir estes

momentos de ensaio por meio de uma mídia digital aos atos de apenas "pressionar botões" ou

"movimentar o mouse", despreocupados e sem sentido. Aqui, estes atos assumem o papel de

proporcionar ao sujeito conjecturar, e em conjunto com várias representações, permitem

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iniciar um renovado processo de tentativa e erro (BORBA;VILLAREAL, 2005, p. 73) que

pode subsidiar pensamentos mais avançados, como os ligados à demonstração, por exemplo.

Este processo de "tentativa e erro" pode partir de um empirismo que promova, em

seguida, o levantamento de hipóteses, o teste de conjecturas, a argumentação e até mesmo

alcançar generalizações, ou seja, como Borba e Villarreal (2005) indicam por meio de uma

citação de Lakatos (1976), agir como elementos próprios da descrição da lógica das

descobertas matemáticas, ou seja, comportamento mais que desejável de acordo com a

problemática da pesquisa aqui proposta. Isto pode, em certa medida, soar estranho, mas nada

mais significa do que uma constatação, como aquela vista por Lévy (1993): “uma das mais

estranhas modificações ligadas ao uso das simulações digitais é a que hoje afeta as

matemáticas. Tradicionalmente consideradas como reino da dedução, elas também estão

adquirindo um caráter experimental. Simulações de objetos matemáticos podem infirmar,

confirmar, ou gerar conjecturas (LÉVY, 1993, p. 104).

O autor francês aponta que a experimentação e a simulação são elementos importantes

em relação à produção do conhecimento em um cenário com tecnologias da inteligência, e os

modelos tecnológicos digitais vão neste sentido. No contexto mencionado, simulação e

experimentação possuem constituições distintas daquela relativa a um objeto de

conhecimento, mas podem funcionar como elementos básicos, precursores, por assim dizer,

para a construção dos conceitos em estudo. Ainda que subsistam marcantes distinções entre as

tecnologias digitais e as chamadas “tecnologias tradicionais” (não digitais e/ou historicamente

constituídas como típicas de uma área – lápis e papel, por exemplo), o que ressalta do

discurso teórico aqui defendido pode ser resumido pelo termo “convergência”, o qual

significa, de modo diverso da substituição, um postulado que envolve, de acordo com o

processo educativo específico, os polos citados por Lévy (1993): oralidade, escrita e

informática.

Sobre este tema, Noss e Hoyles (1996 apud Borba e Villarreal, 2005) destacam

também a fala de Lévy (1993) sobre as mídias envolvidas nas tecnologias da inteligência,

destacando o polo da informática como extensão da memória, assim como a oralidade e a

escrita, assumindo, para além destas últimas, a possibilidade de desafiar o raciocínio linear a

partir da simulação, experimentação e o suporte multimídia dos computadores. Disto,

destacam que conhecimento é produzido em conjunto com uma determinada mídia ou

tecnologia, como inteligência coletiva.

A visualização por sua vez, desde que os monitores possibilitaram o acesso às

interfaces gráficas ao usuário comum de sistemas computacionais, tomou proporções que o

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próprio Tikhomirov (1981) não previu em seus estudos, e que se desdobraram nos estudos de

Borba e Villarreal (2005). Do levantamento teórico realizado por estes autores, ressaltam, no

que tange à visualização, as seguintes definições:

De acordo com Ben-Chaim, Lappan e Houang (1989 apud Borba e Villarreal, 2005),

a visualização engloba a habilidade de interpretar e compreender informações de uma

figura e a habilidade de conceituar e traduzir relações abstratas e informações que não

estão na figura em termos visuais;

Zimmermann e Cunningham (1991 apud Borba e Villarreal, 2005) apontam que

visualização no contexto matemático é um processo de formação (construção) de

imagens (mentalmente, via lápis e papel ou ainda com auxílio de [outras] tecnologias)

e seu uso tem o objetivo de obter melhor compreensão e estimular o processo de

descoberta matemática;

Para Gutiérrez (1996 apud Borba e Villarreal, 2005), no contexto matemático "é o

tipo de atividade intelectual baseada no uso de elementos visuais ou espaciais, sejam

mentais ou concretos, executada para resolver problemas ou provar propriedades"

(BORBA; VILLARREAL, 2005, p. 9);

Há, ainda, a visão ampla de Zazkis, Dubinsky e Dautermann (1997 apud Borba e

Villarreal, 2005):

Visualização é um ato do qual um indivíduo estabelece uma forte conexão entre um

constructo interno e algo ao qual o acesso é estabelecido pelos sentidos. Tal conexão

pode ser feita em ambas as direções. Um ato de visualizar deve consistir em

qualquer construção mental de objetos ou processos que um indivíduo associa com

objetos ou eventos percebidos por ele/ela como externos. Por outro lado, um ato de

visualização deve consistir em uma construção, em alguma mídia externa como

papel, giz ou a tela de um computador, de objetos ou eventos que o indivíduo

identifique com os objetos ou processos em sua mente (BORBA; VILLARREAL,

2005, p.441).

Claro que falar em visualização não representa exatamente uma novidade em termos

de Educação Matemática – e nem mesmo uma exclusividade relativa ao suporte das

tecnologias digitais. As asserções de Barbosa (2009 apud Oliveira, Gonçalves e Marquetti,

2015) indicam que, nas atividades relativas à matemática, no âmbito das quais a abstração

pode ir além da percepção material, os matemáticos empregam processos simbólicos,

diagramas e várias outras formas ligadas a processos mentais que envolvem a imaginação e

referências mentais. Neste sentido, a visualização cumpre um papel de interpretação, e não

meramente de captação genérica de imagens; e esta interpretação se constitui a partir de trocas

pessoais e sociais, frequentemente oriundas do contexto escolar e da, por assim dizer,

convivência com as representações matemáticas mais comuns aos indivíduos.

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Como elemento adicional, consta um dinamismo que pode ocorrer de maneira típica

quando se empregam tecnologias digitais. A prática de “clicar-e-arrastar”, por exemplo,

quando efetuada sobre alguma representação de objetos matemáticos, pode parecer usual e

bem simples nesta década e meia do século XXI, mas representa um aspecto revolucionário

do acesso a elementos que podem fomentar a construção do conhecimento. Em um software

dinâmico de geometria, por exemplo, arrastar um ponto e observar a manutenção de certas

propriedades ou a evidenciação de outras pode ser uma oportunidade de bastante valia no

processo de elaboração de conjecturas. A correlação entre experimentar e a instantaneidade da

reação da interface abre um mundo de situações diferenciadas, em relação às representações

de determinados objetos ou construções, no sentido de compreender, potencialmente,

inúmeros casos particulares e aquilo que pode levar a generalizações.

Neste sentido, pretendeu-se explorar, neste estudo, as potencialidades até aqui

descritas e pertinentes às tecnologias digitais por meio de atividades estruturadas como

problemas. Noss e Hoyles (1996 apud Borba e Villarreal, 2005) descrevem os papéis de

mediação dos computadores na aprendizagem matemática como 'estruturador' e 'estruturado

por', dado certo tipo de atividade dos participantes, em um tipo particular de software

empregado. Desta forma, a escolha de percursos investigativos mediante resolução de

problemas em um software dinâmico de geometria como o GeoGebra, pode proporcionar uma

oportunidade aos participantes para que os mesmos investiguem tais problemas, apurando

informações a partir das manipulações e dos feedbacks, e organizem a própria argumentação

acerca dos eventos em tela, reestruturando suas próprias concepções, e progressivamente,

adotando novos usos à essa interação.

Nesta pesquisa, o emprego das noções até aqui mencionadas, relativas às tecnologias

digitais, permitirão analisar as produções dos sujeitos por meio de categorias que indicarão se

(e como) as características de visualização, experimentação e dinamismo são mobilizadas

como forma de fomentar conjecturas, debates, reflexões e outros tipos de interação. Também

se procurou observar, a partir das propostas teóricas aqui expostas, de que maneira surgem,

nos problemas e suas resoluções, características que indiquem estar em processo alguma

forma de reorganização de pensamento. Não obstante as descrições feitas até aqui, julga-se

necessário abordar outro aspecto, relativo à fluência no uso de dispositivos digitais destinados

a ensinar e/ou aprender.

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2.3 Fluência em interfaces digitais e um ciclo de formação

Na visão abraçada neste trabalho, as tecnologias compõem, em conjunto com as

pessoas, configurações que podem explorar aspectos como experimentação, visualização e

dinamismo, com intensidades variadas, de acordo com o tipo de interface, com a finalidade de

produzir vantagens no complexo processo de construção do conhecimento matemático. De

igual modo, adota-se a perspectiva, nesta pesquisa, de que estratégias didáticas preparadas de

forma consistente precisam coordenar, em uma iniciativa de ensino, a articulação entre o

conhecimento requerido para a compreensão do objeto, a manipulação de suas representações

e os meios pelos quais este trabalho pode ser feito. Em síntese, é dizer que o emprego de

tecnologias de forma descolada em relação às estratégias didáticas pode apresentar resultados

decepcionantes.

De outro modo, porém, se é certo que o conhecimento matemático deve orientar o

processo, a constituição de certa desenvoltura nas interfaces tecnológicas solicitadas não deve

ser desprezada. Quando há a mobilização de uma mídia nova em um processo de construção

de conhecimento, surgem desafios a superar. Neste sentido, os esforços em torno da

construção de habilidades específicas em relação às tecnologias eleitas independem da

natureza das mesmas, o que equivale dizer que mesmo instrumentos vistos como mais

“simples” ou portadores de menor potencial de dinamismo, como esquadros, transferidores,

réguas, lápis-e-papel, entre outros, não prescindem daquilo que Oliveira (2013) chama de

fluência no uso das mídias. Um exemplo desta alegação pode ser visto em Oliveira e

Fernandes (2010), que relatam um episódio no qual um processo de construção do

conhecimento matemático encontrava entraves praticamente insuperáveis pelo fato de os

estudantes envolvidos não dominarem a forma correta do uso do transferidor, o que fazia com

que a construção das curvas das funções seno e cosseno experimentasse grandes dificuldades

– os estudantes não conseguiam relacionar o conhecimento acerca do assunto que se

encontrava em processo de consolidação com os resultados empíricos que iam produzindo.

No momento em que uma intervenção dos pesquisadores fez com que os mesmos

percebessem em que erravam no uso do dispositivo, as experimentações passaram a refletir

suas conjecturas, o que concorreu para uma aprendizagem efetiva. No caso, mais do que

favorecer a compreensão dos temas envolvidos, a aquisição de fluência no uso do transferidor

colaborou para a superação de dificuldades de caráter impeditivo.

Tecnologias digitais envolvem complexidades diferentes. Neste sentido, emergem

perguntas como “no que os problemas propostos privilegiam o uso das tecnologias digitais em

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relação às tecnologias clássicas”, ou melhor, “quais as vantagens na utilização de interfaces

digitais em relação ao suporte estático das ferramentas clássicas para o ensino do tema

matemático em questão” – neste caso, Homotetia? Finalmente, quais capacidades devem ser

desenvolvidas nesses percursos de modo que, a partir do avanço na fluência nos elementos da

interface empregada, se possa propiciar um percurso investigativo de construção de

conhecimento matemático”?

Para a primeira pergunta, já houve uma resposta preliminar nas seções anteriores dos

aportes teóricos, mas isto foi feito de maneira genérica, sem apontar de maneira específica os

ganhos de acordo com os problemas propostos. Este tópico será retomado nas análises

didáticas dos problemas na seção correspondente.

Para a segunda pergunta, Oliveira (2013) elenca um conjunto de categorias que devem

ser desenvolvidas em uma progressão interativa e não linear, com o objetivo de fazer com que

o usuário domine os elementos da interface, pois, segundo o próprio autor:

Dominar ferramentas inerentes à interface é condição para usá-la com fluência, de

modo que, a partir daí a tecnologia associada possa se transformar em extensão da

memória, do pensamento, de procedimentos de construção e conjectura - ou seja,

aprender a usar, de maneira fluente, o dispositivo, o software, o artefato. (Oliveira,

2013, p. 5)

A questão da fluência, posta pelo autor, desdobra-se em outras duas etapas, as quais se

comunicam e abrem espaço às fases seguintes previstas pelo estudo mencionado, que

compreendem a exploração dos elementos da interface e apropriação da lógica da interface

em uso (Oliveira, 2013; Oliveira, Gonçalves e Marquetti, 2015; Oliveira, 2015).

A exploração tem por objetivo familiarizar o indivíduo com os instrumentos

disponíveis na interface, e a apropriação da lógica tem por objetivo progredir essa

familiaridade e estabelecer as primeiras relações destes elementos com o saber matemático

em jogo, necessário para a resolução de um problema.

A relevância da fluência na tecnologia escolhida para um processo de ensino pode ser

de tal ordem que, se não desenvolvida de forma adequada, pode oportunizar que a interface

concorra mais para atrapalhar do que para subsidiar o processo de construção do

conhecimento matemático pelo sujeito, inclusive surgindo para impedir o desenvolvimento

das conjecturas necessárias à investigação matemática. Oliveira (2013, p. 6) ainda destaca

que “facilitar a construção de conhecimento é muito mais uma questão do percurso intelectual

do sujeito e da estratégia didática docente”. Neste sentido, então, “a fluência tecnológica (por

si só) não garante o aprendizado”. Ainda assim, e apesar destas observações, dificuldades

neste percurso de aprendizagem podem estar vinculadas com a insuficiência desta fluência.

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A expectativa é que a fluência nas tecnologias colabore para alcançar os efeitos

apontados por Borba e Villarreal (2005) e Tikhomirov (1981), de modo que, por meio das

interações com as mídias, sejam possíveis, em relação ao movimento de compreender, certas

reorganizações do pensamento. Tais reorganizações tendem se consolidar à medida que o

docente passa a agregar na sua prática a tecnologia digital sobre a qual desenvolveu certo

nível de fluência.

Nesse meio tempo em que essas reorganizações ocorrem, os sujeitos têm a

oportunidade, desde o início deste ciclo, a partir da experimentação e a visualização por meio

do dinamismo que o software proporciona, em conjunto com as situações propostas pelo

docente, um pensar com tecnologias, à partir do incremento de seus “meios de raciocinar e

conjecturar, o que pode ampliar possibilidades de uso dos conhecimentos matemáticos

presentes em sua estrutura cognitiva, aprendendo a partir deles, mas não de maneira limitada a

eles” (OLIVEIRA, 2013, p.10).

A terceira etapa deste ciclo, no qual o aprendiz se engaja a partir de sua adesão a um

processo de aprendizagem, trata de explorar e desenvolver temas a partir da tecnologia

empregada, ou seja, no caso deste trabalho, por exemplo, a partir do dinamismo oferecido

pelo GeoGebra, proporcionar uma ampliação dos meios pelos quais se exploram os objetos

matemáticos, ao integrar um conhecimento para a resolução de um problema, uma proposta

investigativa que permita avançar em uma atividade e o seu espaço de experimentação. Nisto,

espera-se que o aprendiz possa “visualizar suas propostas e refletir sobre as mesmas, de

acordo com seus conhecimentos prévios e avançar em relação a eles” (OLIVEIRA, 2013,

p.10), partindo, por exemplo, do ato de argumentar sobre condições de existência no contexto

de um problema e alcançar uma generalização ou demonstração para o mesmo, na qual possa

empregar a tecnologia como veículo de expressão para o seu pensamento6.

A quarta etapa consiste em elaborar estratégias com a tecnologia empregada.

Segundo Oliveira (2013, p.11), ao elaborarem estratégias didáticas com o emprego de

tecnologias, deve-se levar em consideração os níveis de aprofundamento de cada etapa da

investigação matemática por meio das mídias escolhidas e os momentos necessários das

intervenções do docente, de acordo com dificuldades que possam emergir no processo e no

desenrolar das atividades que mobilizarão o objeto em questão.

6Nos PCN (BRASIL, 1998, p.86) há uma citação quanto a esta possibilidade, ou seja, da passagem de um

processo de argumentação para uma demonstração: "o refinamento das argumentações produzidas ocorre

gradativamente pela assimilação de princípios da lógica formal, possibilitando as demonstrações".

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A cadeia de eventos descrita nos passos anteriores não se encerra após o cumprimento

de suas etapas, mas configura um ciclo, o qual se repete de formas distintas e não lineares,

partindo da fluência até a elaboração de estratégias didáticas, para o ensino de outros objetos

matemáticos como pode ser visto no diagrama contido na figura.

Figura 2 - Ciclo de uso de tecnologias por professores de Matemática

Fonte: OLIVEIRA, p.12, 2013 (adaptado)

Sobre a não linearidade do processo, pode-se destacar que,

[...] a partir do uso cada vez mais fluente de determinada tecnologia, as etapas

podem surgir de forma diversa em relação à configuração inicial, assumindo outras

constituições, como a de espiral, rede ou de rizoma, o que implicaria em ordens

distintas – isto equivale a dizer que o processo de ampliação da fluência e de

reorganização do pensamento subverte a configuração cíclica, remetendo a

disposições cada vez mais complexas em relação aos coletivos formados por seres-

humanos-com-tecnologias (OLIVEIRA; GONÇALVES; MARQUETTI, 2015, p.

484).

Desta forma, o que se espera é que à medida que os participantes desenvolvam a

fluência, tanto no software GeoGebra assim como na plataforma Moodle, estes possam

incrementar seus meios de pensar o tema escolhido com essas tecnologias, explorar as

atividades aliando seu conhecimento matemático prévio e os resultados fornecidos em tela

pelo software dinâmico de geometria e, deste modo, elaborar outras estratégias de exploração

ao longo da sequência de atividades aqui proposta.

2.4 Um overview sobre trabalhos correlatos

Com objetivo de situar a investigação e apontar aspectos relevantes dos tópicos

abordados neste texto, destacamos aqui as mais relevantes pesquisas dentre periódicos,

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43

dissertações e teses que colaboraram em algum dos momentos da construção da argumentação

aqui exposta e fundamentação das escolhas nas diferentes etapas deste processo.

Dentre os elementos destacados, constam os trabalhos do GPIMEM, Grupo de

Pesquisa em Informática, outras mídias e Educação Matemática da UNESP - Rio Claro.

Dentre estes, Maltempi, Javaroni e Borba (2011, p.43-72) apontam que o emprego de

tecnologias em ambientes de ensino-aprendizagem, tanto presenciais quanto virtuais, depende

da intencionalidade na sua mobilização, ou seja, deve ser pensada "não como um objeto

principal [...], mas com diferentes graus de importância e contextos".

Neste estudo, relacionado a temas que também são abordados nesta pesquisa, dentre

eles o ensino e a aprendizagem de matemática, educação a distância e formação de docentes,

pode-se destacar que o emprego de tecnologias em relação a uma estratégia auxilia não só no

desenvolvimento da aprendizagem de objetos matemáticos, mas também na detecção de

problemas na formação de conceitos destes objetos pelos futuros docentes, oferecendo

possibilidades para a construção de abordagens distintas das usuais e que podem obter

resultados positivos.

Para os autores, resultados promissores podem ser verificados a partir de percursos

que proporcionavam a manipulação de objetos matemáticos por meio de ambientes digitais: a

partir dessa trajetória, a construção de conhecimentos matemáticos, considerando as mídias

empregadas em cada resultado de pesquisa reunido nesse estudo, não só orientam, moldam e

ampliam, mas, de maneira geral, transformam as relações dos seres humanos com os objetos

matemáticos.

No âmbito do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da

PUC/SP, Santos (2012) que desenvolveu uma pesquisa utilizando o modelo de Van Hiele

voltado ao estudo de semelhança de triângulos em uma turma de 9º ano do Ensino

Fundamental, no qual, por meio de atividades no GeoGebra, explora as possibilidades de

progresso no reforço de conhecimentos prévios, bem como a construção de novos conceitos

sobre o tema, trazendo à tona uma maneira pela qual estudantes iniciantes se desenvolvem à

partir de manipulações no software.

Outra pesquisa que se destaca é a de Medeiros (2012), que trata do tema de

semelhança de triângulos a partir de uma análise histórica dos livros didáticos utilizados, e

mostra a construção de um curso de educação à distância, no qual aborda-se o tema com

participantes de um curso de pós-graduação Latu Sensu. Este autor analisa as concepções

acerca da geometria pré e pós-curso dos participantes, utilizando questionários e relatórios dos

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tutores. Em seu desenvolvimento e nas considerações finais, o trabalho traz consigo aportes

históricos e exemplos práticos relevantes.

O trabalho de Luis (2006) é ligado ao conceito de semelhança em um ambiente digital.

Nesta pesquisa, a autora se debruça sobre o estudo de figuras semelhantes, não somente as

poligonais, integrando um software dinâmico de Geometria, neste caso, o Cabri-Géomètre,

por meio de uma estratégia didática com objetivo de, no curso do desenvolvimento desta,

apurar e responder a duas perguntas de pesquisa: “como se dá a transição da geometria

concreta para a espaço - gráfica no contexto de figuras semelhantes?”, e “como ocorre a

passagem das validações empíricas às dedutivas nesse contexto?” (LUIS, 2006, p.106).

Foram participantes deste curso alunos do primeiro ano do ensino médio. A

metodologia do trabalho utilizada foi a engenharia didática e o referencial teórico empregado

incluiu a teoria de Parsysz para o ensino de geometria, o discurso de Balacheff sobre os

processos de validações e provas e o estudo de Freudenthal voltado para o ensino de

demonstração de uma organização local.

Neste estudo, fica explícita uma preocupação para o estudo da semelhança de formas

geométricas diversas, e não somente as poligonais, quando na análise objeto matemático da

semelhança, desde o apanhado histórico sobre o tema, com o caso dos egípcios e a

ampliação/redução de figuras, até o caso de um processo de uma demonstração que fosse

completa e recente para justificar a semelhança de maneira geral, como proposto por Lima

(1991, p.33), a partir da definição de que toda semelhança é composta de uma Homotetia com

uma isometria. Em seguida, passa pelos casos de semelhança de triângulos nos casos LLL,

AAA e LAL. Na sequência, trata de Homotetia de razão k em um estudo vetorial, para os

casos de ampliação (k>1), transformação identidade (k=1) e redução (0<k<1), além dos casos

inversos de identidade (k=-1), redução (-1<k<0) e ampliação (k<-1).

Nas obras avaliadas pela autora em uma seleção de livros didáticos, ao observar suas

exposições e exercícios sobre os temas componentes da noção de semelhança e o modo como

eram apresentados, observou que apenas um deles apresentava um estudo sobre este objeto de

maneira mais formal e completa para a construção deste conceito.

Nesta obra em destaque, contemplou-se: um caso concreto para a ampliação e redução

de figuras por meio de um suporte estático, a relação entre os lados e ângulos correspondentes

de uma figura, do uso da Homotetia, as condições para que dois polígonos sejam semelhantes

usando a ideia da razão constante entre os seus lados correspondentes, além da congruência

dos ângulos correspondentes, até chegar a definição de semelhança entre dois triângulos;

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entretanto, Luis (2006) também aponta que o autor deste estudo não relaciona estas definições

e as influências que exercem entre si.

A partir dos pontos supracitados, a autora elaborou uma sequência que articulasse o

referencial teórico e resultasse em atividades divididas em 3 blocos, com suportes distintos a

cada etapa: o primeiro com o uso do pantógrafo, explorando a transição da geometria concreta

para a espaço-gráfica; no segundo bloco, o software Cabri-Géomètre foi usado, restrito a

atividades nas quais o alunado discerne as propriedades, mas não as explica ou demonstra, ao

passo que utiliza a mídia para as explorações. No terceiro bloco, volta-se ao suporte estático,

no caso o lápis e o papel, para que as atividades fossem resolvidas de maneira dedutiva,

segundo o método de ensino de demonstrações proposto por Freudenthal.

Nas considerações finais de sua pesquisa, a autora destaca que, apesar da preocupação

que os alunos apresentaram em justificar os resultados obtidos por eles desde o início das

atividades, estes tiveram dificuldade em descrever por meio de registros o que haviam

observado nas atividades, sendo estas justificativas bem inferiores às apresentadas nos

momentos de investigação, o que mostra uma falta de familiaridade com percursos nos quais

se justificam os resultados.

No percurso dessas justificativas das "provas" apresentadas pelos alunos, estes

reconheciam as propriedades de semelhança, mas não se preocupavam em justificá-las em

detalhes. Apesar dos percalços e da pouca familiaridade também com a linguagem

matemática empregada, além das dificuldades em se expressarem, apurou-se uma evolução

nas estruturas dos pensamentos empregados por parte dos participantes pela autora ao longo

das atividades, apontando um avanço nas validações das conjecturas apresentadas, e uma

atenuação das dificuldades citadas anteriormente.

Em relação a esta breve apresentação, é preciso destacar a ideia da autora do último

trabalho aqui mencionado, que indicou a possibilidade de trabalhar, em contextos de ensino

e/ou aprendizagem de Geometria, com um esquema de convergência de mídias, ou seja, o uso

de diversificadas formas de suporte em sequências que preveem a resolução de problemas

matemáticos. Uma circunstância desta natureza surgirá mais adiante nas análises relativas a

este trabalho.

Com estas observações, conclui-se o referencial teórico desta pesquisa. Em seguida,

apresentam-se os aportes metodológicos.

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46

Capítulo 3

Aportes Metodológicos

3.1 Modalidade de pesquisa

Este trabalho se refere a uma pesquisa na modalidade qualitativa, por meio de um

delineamento de estudo de caso, o qual, no entendimento de Ponte (2006):

Um estudo de caso visa conhecer uma entidade bem definida como uma pessoa, uma

instituição, um curso, uma disciplina, um sistema educativo, uma política ou

qualquer outra unidade social. O seu objetivo é compreender em profundidade o

“como” e os “porquês” dessa entidade, evidenciando a sua identidade e

características próprias, nomeadamente nos aspectos que interessam ao pesquisador.

É uma investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça

deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial,

pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir a que há nela de mais

essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um

certo fenômeno de interesse (PONTE, 2006, p.2)

O autor indica que os estudos de caso são habitualmente utilizados para, entre outras

possibilidades, realizar análises das propostas de formação inicial ou contínua de docentes, o

que vem a representar, a propósito, o cenário descrito nesta investigação. Assim, em relação

ao paradigma metodológico, este estudo se baseia na interpretação dos fenômenos postos em

evidência e obtidos por meio da recolha de dados (Kilpatrick, 1988 apud Ponte, 2006).

Desta forma, a escolha por esta técnica alinha-se com os propósitos da pesquisa,

principalmente o de desenvolver uma estratégia didática para uso de tecnologias digitais em

atividades/problemas ligados à geometria plana, tendo o tema de “Homotetia” como elemento

matemático principal, e a intenção de evidenciar as compreensões constituídas a partir de

pressupostos interativos no âmbito de pessoas-com-tecnologias-digitais.

3.2 Descrições dos sujeitos

Para a coleta de dados desta pesquisa, abriram-se as inscrições a partir de um regime

de voluntariado junto aos alunos do Mestrado Acadêmico em Educação Matemática da PUC-

SP. Destes, a princípio, houve o interesse de 11 alunos, dos quais nove participaram

inicialmente das interações7. De modo geral, dois estudantes finalizaram as atividades

propostas. Em relação às desistências, nenhuma justificativa foi apresentada – ou mesmo

requerida – em atenção ao fato de os participantes serem, justamente, voluntários.

Cabe ressaltar que o papel do pesquisador, desde o início deste estudo, foi o de

mediador, um facilitador, na medida em que as suas contribuições não afetassem diretamente

7 Aqui, os nomes dos sujeitos foram substituídos pelas siglas P1 a P9, como forma de preservar o anonimato dos

mesmos.

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as produções dos sujeitos. Outro fato a ser destacado é de que as etapas previstas ao

desenvolvimento do ciclo proposto por Oliveira (2013) foram respeitadas, de modo que

pudessem ser vencidas as dificuldades iniciais já apontadas.

A disponibilidade do ambiente na plataforma Moodle, em relação aos tópicos dos

blocos 1 e 2 de atividades, ocorreu no início de maio de 2015 e estendeu-se até o início de

julho do mesmo ano. Entretanto, a participação dos indivíduos na plataforma não se deu da

maneira esperada, ou seja, de forma fluida e espontânea, por assim dizer. Após duas semanas

da abertura da plataforma, não houve acessos, gerando a necessidade de se buscar uma outra

aproximação com os participantes, o que configurou o primeiro obstáculo à aplicação da

pesquisa. Neste esforço, foi relatado por alguns dos sujeitos que os mesmos não sabiam como

operar, seja a plataforma Moodle ou mesmo o GeoGebra da maneira esperada para que se

concretizassem suas produções e postagens, além das interações necessárias para a eventual

troca de ideias entre os participantes.

Deste modo, para contornar estas questões, o pesquisador elaborou uma apresentação

no Power Point que continha os elementos necessários às primeiras explorações no Moodle.

Além disto, uma explicação breve dos elementos do GeoGebra contidos nos roteiros

propostos para as primeiras atividades também foi feita, ao mesmo tempo em que foi marcado

o primeiro de outros três encontros presenciais. Nestas oportunidades, foram distribuídas a

apresentação supracitada e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), ambos

presentes nos apêndices.

Os sujeitos participantes, na sua maior parte, eram professores da rede pública estadual

de São Paulo ou municipal da capital paulista. Apenas três destes não atuavam como

professores ou possuíam menos de cinco anos de formados em suas licenciaturas de

Matemática ou em Pedagogia, o que configura um perfil experiente, na sua maioria, na prática

de sala de aula. As idades dos voluntários variavam entre 25 e 48 anos.

Os três encontros presenciais ocorreram na sala de estudos do PEA-MAT no campus

Consolação da PUC/SP, em sábados não consecutivos, por meio de sessões de duas horas de

duração cada. Estes encontros não estavam programados inicialmente, mas se mostraram

necessários devido à resistência dos sujeitos, e de suas dificuldades, ligadas à fluência nas

tecnologias envolvidas. De todo modo, esta possibilidade já se fazia prevista em Oliveira

(2013). Nos encontros presenciais, os participantes eram incentivados a promoverem

discussões e a acessarem as atividades disponíveis no Moodle, o que só ocorreu em relação

aos dois participantes que finalizaram as atividades. Para estes, a plataforma foi mais que um

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facilitador:representou um meio de possibilitar sua participação, assim como esperado, desde

a elaboração dos instrumentos desta pesquisa.

Deve-se destacar, também, a quase unanimidade no discurso dos participantes de que a

geometria representava um obstáculo de diversas faces para os mesmos, principalmente pela

inexistência da formação em relação à mesma ao longo da própria trajetória acadêmica. Desta

forma, ao longo dos encontros, eram comuns relatos como: "- Eu não sei ao certo se é isso,

mas eu fiz assim...", mostrando o receio natural de se expor e colocar à prova conhecimentos

precários;de todo modo, deve-se ressaltar a coragem indispensável ao docente em buscar

meios para superar tais obstáculos ao buscar por um curso como o oferecido nesta pesquisa.

Outro destaque fica por conta das constantes perguntas, como: "- O que você quer que

eu faça?" ou "- Não entendi o que você quis dizer aqui...", o que configura um reflexo

deletério de uma formação acadêmica que predominantemente busca por questões lineares ou

decorativas. Alguns deles recordavam de aulas que tiveram desde o ensino fundamental

envolvendo alguns dos elementos e construções mais simples, mas a argumentação nas

justificativas e nas respostas era bastante precária, inicialmente.

Por se tratar de um grupo com um número restrito de participantes, tanto aplicação

como coleta de dados foram feitos pelo pesquisador. Como descrito anteriormente, uma das

funcionalidades do Moodle seria o registro das produções e diálogos, entretanto, com a

necessidade dos encontros presenciais, os fatos, reações dos participantes e as produções

foram registradas também por meio de gravações de áudio e registros manuscritos. O registro

das respostas às perguntas feitas na plataforma foi complementado e registrado na plataforma,

conforme o que foi pedido aos participantes.

Vale ressaltar que não houve preparação prévia ou adiantamento com relação ao tema

das atividades, ou seja, nada foi dito sobre o tema ser “Homotetia”, mas foi revelada a

intenção de, por meio das questões e seus percursos exploratórios, conseguir detonar um

processo pelo qual os sujeitos-com-as-mídias conseguissem repensar sua prática e houvesse

de fato reorganizações do pensamento, estas relatadas mais adiante nos resultados.

3.3 O ambiente virtual de aprendizagem Moodle

O Moodle é um ambiente virtual de aprendizagem, livre e gratuito, lançado

oficialmente em 2002, criado por Martin Dougiamas. Trata-se de um software hospedado em

um servidor privado e pode ser acessado por meio de um dos navegadores de internet, como

por exemplo, o Internet Explorer, o Google Chrome ou o Mozilla Firefox.

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Foi arquitetado com o propósito de oferecer recursos às instituições de ensino,

professores e alunos, por meio de um ambiente que possibilita, com diversas ferramentas, o

ensino e/ou aprendizagem online por meio da constituição de cursos ou de iniciativas

semelhantes.

Este ambiente foi escolhido por conta de suas características, as quais se alinhavam

com os propósitos do estudo. Destacam-se dentre elas, por exemplo, proporcionar aos

participantes um ambiente confiável e estável para suas interações, pois as produções ficariam

registradas em um servidor, com acesso facilitado e na qual poderiam contribuir de maneira

síncrona, se assim o desejassem (por meio de um chat, por exemplo), ou assíncrona, por conta

da estrutura de fórum de discussão dos tópicos lá instalados. Além disso, não há custos

envolvidos e a participação de todos é garantida pela infraestrutura da PUC/SP, que permite o

acesso a todos os alunos inscritos.

3.4 O Software GeoGebra

O GeoGebra pode ser visto como um software dinâmico para ensino ou aprendizagem

de Matemática. Criado em 2002 por Markus Hohenwater, trata-se de um programa

computacional gratuito, de livre distribuição e uso para fins educacionais. De acordo com suas

finalidades, pode proporcionar a exploração de diversos temas de campos diversos da

Matemática por meio da sua interface, dentre eles Geometria, Álgebra, Cálculo, Probabilidade

e Estatística.

Quanto a natureza dinâmica do software, Luis (2006) aponta que este proporciona um

processo de construção (desenho, nas palavras da autora), no qual as representações dos “[...]

objetos geométricos são feitas a partir das propriedades que as definem. Através de

deslocamentos aplicados aos elementos que compõem o desenho, este se transforma,

mantendo as relações geométricas que caracterizam a situação" (Luis, 2006, p.13). Além

disto, “os desenhos em movimento criam naturalmente um ambiente de investigação,

possibilitando criar conjecturas, e buscar o entendimento do problema geométrico em

questão”(Luis, 2006, p.13).

Logo, por meio do dinamismo oferecido pelo software, por conta das simulações que

executa e exibe ao usuário, em conjunto com uma estratégia didática, o mesmo pode se

constituir em um instrumento útil na exploração, experimentação e visualização de

propriedades matemáticas de objetos dos campos citados anteriormente, à medida que se

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"clica e arrasta" quando da mobilização das ferramentas disponíveis de acordo com o tema

escolhido.

3.5 Descrição dos instrumentos de coleta dos dados

A coleta de dados desta investigação se deu, prioritariamente, por meio das resoluções

propostas pelos sujeitos para as atividades acerca do tema matemático “Homotetia”,

explicitadas mais adiante. Além disso, foram coletas as impressões, opiniões, propostas,

conjecturas e outras expressões do pensamento dos envolvidos por meio de uma das

ferramentas da plataforma Moodle: o fórum de discussões. O produto resultante das reuniões

presenciais também foi coletado, de modo a juntar tais dados para garantir que o leitor possa

acompanhar cada uma das etapas cumpridas. Ao longo das análises, no próximo capítulo, as

interações assim obtidas são explicitadas. Não se julgou necessário distinguir quais diálogos

ou observações foram feitas em determinada modalidade (online ou presencial), uma vez que

não foi objetivo deste estudo mensurar os dados relativos a este critério.

Não obstante, as manifestações dos sujeitos por meio da interface de comunicação

assíncrona e as de cunho presencial foram essenciais para a percepção e análise das interações

dos sujeitos com as atividades por meio das mídias e o processo de construção do

conhecimento, ocorrido ao longo da investigação. A lógica de constituição dos instrumentos

de coleta se materializa, então, por meio da proposta de um curso no ambiente Moodle, para o

qual os sujeitos foram convidados, e com a ocorrência de encontros presenciais no âmbito da

PUC/SP.

3.6 Estrutura do curso

De acordo com o conceito de plano de ensino definido por Palloff e Pratt (2002, p.

115) como adequado para o ensino online, alguns elementos são necessários para a

apresentação de cursos elaborados nesta modalidade. Destes, apontam-se a apresentação, os

objetivos e resultados esperados, materiais para leitura e tópicos/roteiro de curso. Nas

sessões correspondentes, apresentam-se justificativas das exposições ou não de alguns destes

elementos de acordo com o referencial teórico e as escolhas feitas pelo autor. De antemão, é

preciso dizer que o próprio tema do curso não foi revelado para os sujeitos, com o intuito de

que os mesmos o descobrissem ao longo da constituição das resoluções e como resultado das

interações no ambiente virtual.

Neste sentido, de acordo com os autores supramencionados, na apresentação do curso,

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deve constar os papéis do docente, dos alunos, suas responsabilidades e avaliações.

Utilizando esses pressupostos, elaborou-se um texto, apresentado na tela inicial do curso

(primeiro registro escrito com o qual os participantes tiveram contato). De forma geral, foram

listados os objetivos, papéis de docente e alunos, bem como suas responsabilidades. O texto

pode ser conferido nos apêndices deste trabalho.

3.6.1 Objetivos e resultados

Os objetivos e resultados apresentados aos alunos foram declarados na medida em que

não comprometessem a investigação proposta, ou seja, não anunciassem de antemão o tema

“Homotetia”, mas indicássemos temas que seriam evidenciados ao longo da iniciativa.

Desenvolvimento da fluência no software GeoGebra, por meio das interações com as

representações dos objetos matemáticos componentes dos problemas apresentados;

Promover, a partir da experimentação e da visualização, por meio do dinamismo que o

GeoGebra proporciona, em um movimento conjunto com as situações propostas, um

pensar com tecnologias, a partir do incremento dos meios de raciocinar e conjecturar,

o que pode ampliar possibilidades de uso dos conhecimentos matemáticos presentes

em sua estrutura cognitiva, aprendendo a partir deles, mas não de maneira limitada a

eles (Oliveira, 2013, p.10).

Explorar e desenvolver temas a partir da tecnologia empregada, ou seja, a partir do

dinamismo oferecido pelo GeoGebra, integrar os conhecimentos necessários para a

resolução de um problema, uma proposta investigativa para apresentar conjecturas e o

seu espaço de experimentação. Nisto, espera-se que o aluno possa visualizar suas

propostas e refletir sobre as mesmas, de acordo com seus conhecimentos prévios e

avançar em relação a eles (Oliveira, 2013, p.10).

Da mesma forma, os resultados esperados seriam os seguintes:

Espera-se que os participantes, enquanto desenvolvem a fluência no GeoGebra, por

meio de situações problema que articulam tópicos que compõem o tema central da

discussão, sejam capazes de construir, criticar e resolver tais problemas, apresentando

neste meio tempo seus resultados, inquietações, percepções e argumentos;

Espera-se, também, que os cursistas sejam capazes de perceber e listar, em um

percurso que estimula o uso da linguagem matemática própria para expressá-los, os

elementos geométricos, bem como os axiomas, propriedades e teoremas mobilizados

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nas suas justificativas e o que cada problema trouxe quanto ao uso da tecnologia para

o seu aperfeiçoamento em relação ao tema matemático do curso, e na geometria como

um todo.

3.6.2 Tópicos e roteiro do curso

Os tópicos do curso não foram anunciados aos participantes inicialmente por conta da

proposta da pesquisa, que previa que os sujeitos os descobrissem à medida que iam

resolvendo os problemas; entretanto, serão aqui listados para que o leitor se situe no decorrer

dos eventos que aconteceram ao longo do curso e que foram descritos nas análises. Disto,

destacam-se as etapas:

Atividades de fluência e apresentação da plataforma e do software GeoGebra;

Atividades sobre proporcionalidade e Homotetia;

Atividades sobre Semelhança de Triângulos

o Caso LLL;

o Caso LAL;

o Caso AAA;

o Semelhança nos triângulos retângulos e temas correlatos;

3.7 Como os autores/teorias serão empregados na análise (categorias de análise)

Entende-se aqui como categorias de análise aqueles elementos que constituem os

focos preferenciais da análise dos dados levantados por meio dos instrumentos da pesquisa

(Oliveira, 2007). Além de disso, claramente neste caso, as categorias emergiram e ganharam

sua estrutura ao longo do processo relativo à pesquisa, como indicam Laville e Dionne

(1999), de modo que estes elementos, uma vez ligados à lógica estruturante da investigação,

se estabelecessem e ganhassem legitimidade. Desta maneira, as categorias elencadas aqui são:

Constituição de fluência nas tecnologias empregadas e no tema matemático em

desenvolvimento, de modo a evidenciar a reorganização do pensamento;

Formas de constituição das conjecturas e propostas de resolução de problemas ligados

ao tema “Homotetia” (e conceitos correlatos) a partir de processos interativos com

base em um coletivo de pessoas-com-GeoGebra;

Uso de características típicas das tecnologias digitais, como visualização,

experimentação e dinamismo nas propostas e discussões apresentadas, bem como a

convergência em relação a outras tecnologias (lápis e papel, por exemplo);

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53

Constituição de temas e estratégias a partir da construção do conhecimento em um

cenário de pessoas-com-GeoGebra.

Estruturados desta forma os procedimentos de caráter metodológico, o próximo

capítulo se encarrega das descrições e interpretações relativas às análises.

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54

Capítulo 4

Descrições e análises

4.1 Análises descritivas das atividades da pesquisa

Um ponto importante que deve ser destacado é a importância no planejamento das

atividades que envolvem o uso de tecnologias digitais em seus percursos de investigação.

Como apontam Oliveira (2013) e Oliveira, Gonçalves e Marquetti (2015), as velocidades

destas tecnologias não aceleram instantaneamente o aprendizado, e jamais o fazem, em

qualquer tempo, por elas mesmas. Deve se levar em consideração o nível cognitivo

correspondente, ao mesmo tempo que gradualmente se forneçam elementos para o

desenvolvimento da autonomia dos participantes, etapa essa da estratégia didática que permite

distinguir “[...] níveis de aprofundamento, momentos de intervenção mais direta do docente,

necessidades de retomadas e o uso reconstrutivo do erro e de concepções equivocadas, por

vezes reforçadas por obstáculos de natureza didática ou epistemológica"(OLIVEIRA, 2013,

p.11).

Por conta dos sujeitos desta pesquisa serem pessoas que têm ou já tiveram um contato

inicial com os temas matemáticos listados neste trabalho em algum momento da sua trajetória

acadêmica/escolar, e também pelo fato de serem professores e estudiosos que empregam a

geometria no cotidiano profissional/acadêmico, havia a expectativa de se discutir as

atividades em um nível no qual os mesmos conseguiriam passar pelas etapas equivalentes

àquelas que os seus alunos deveriam superar e ir além, do ponto de vista dos saberes

mobilizados e suas conexões.

Esta etapa também faz parte do ciclo mencionado por Oliveira (2013), entretanto, não

se espera que uma argumentação matematicamente impecável emerja de todos os

participantes desde o primeiro momento. Trata-se de um processo gradativo. Para tanto,

esperava-se as trocas interativas concorressem para tornar menos pronunciadas as diferenças

nas formações acadêmicas dos participantes, à medida que os mesmos pudessem confrontar

suas dúvidas, expectativas e constatações, além de constituírem progressos pessoais, de modo

a aproximarem-se dos colegas e compartilharem suas descobertas, principalmente com

aqueles que não tivessem tanta segurança para fornecer suas primeiras contribuições.

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55

Com a intenção de promover características de aprendizagem colaborativa em um

ambiente online interativo, as atividades componentes desta pesquisa, disponibilizadas no

ambiente Moodle, tinham a seguinte constituição:

Atividades de fluência e apresentação da plataforma e do software GeoGebra;

Atividades sobre proporcionalidade e Homotetia;

Atividades sobre Semelhança de Triângulos

o Caso LLL;

o Caso LAL;

o Caso AAA;

o Semelhança nos triângulos retângulos e temas correlatos.

Ao longo deste capítulo, evidenciar-se-á a parte das atividades que foi possível

desenvolver com os sujeitos, bem como as trajetórias de cada um durante o processo. É

preciso ressaltar que não houve tempo – e somente se descobriu isto durante o processo de

coleta de dados, materializado pelo curso já descrito no capítulo anterior – para realizar a

última etapa planejada, relativa às atividades sobre semelhança nos triângulos retângulos.

4.1.1 Bloco 1: Atividades de fluência e o teorema fundamental da proporcionalidade

Estas atividades têm por objetivo introduzir os sujeitos à lógica dos comandos da

interface do software GeoGebra 5, além de proporem o estudo inicial do teorema da

proporcionalidade. Tratam-se, assim, de atividades que têm por objetivo familiarizar os

indivíduos com a lógica interna do programa, de modo a habilitar os mesmos à execução de

construções simples para o desenvolvimento de fluência na interface do software, ao mesmo

tempo em que revisitam postulados fundamentais da geometria euclidiana, como o de

paralelismo, por exemplo, que serão úteis nas etapas seguintes dos percursos investigativos.

Neste ponto, as atividades, conforme explica Oliveira (2013, p.6), devem priorizar

duas etapas: a primeira relativa a exploração dos elementos da interface, ao iniciar as

primeiras construções no software com os desdobramentos desejados, como, por exemplo, a

preservação de proporções de alguma construção ou, ainda, a manutenção das propriedades de

um polígono regular, caso algum dos seus pontos seja movimentado; a segunda, atinente à

apropriação da lógica da interface em uso, na qual o usuário integra o conhecimento

matemático necessário para a resolução do problema e mobiliza elementos da interface em um

movimento de reconfiguração do pensamento (Tikhomirov, 1981). Estas atividades iniciais,

de caráter individual, precedem à problemática inerente às etapas seguintes.

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56

4.1.1.1 Análise do ponto de vista didático

Essa atividade visa explorar os elementos operacionais presentes na interface, ou seja,

os recursos do software. Segundo os argumentos de Oliveira (2013), é importante que o

estudante se aproprie dos elementos típicos da ferramenta utilizada, de modo a encaminhar,

posteriormente, a segunda fase da fluência que diz respeito à compreensão típica da lógica do

programa, em integração com o conhecimento matemático necessário.

Em termos comparativos, a régua, no contexto do GeoGebra, pode ser representada

pela ferramenta "Reta". Já o compasso existe como uma ferramenta de mesmo nome, e o

transferidor pode ser simbolizado a partir da ferramenta "ângulo". Com o uso destes

instrumentos, podem-se construir métodos para criar escalas, explorar proporções, verificar

comprimentos de segmentos por comparação ou via transferência de medidas, verificarem

ângulos e começar a explorar as primeiras construções que aproveitam o potencial dinâmico

do software. A partir daí a expectativa é a de constituir as primeiras discussões quanto as

propriedades, suas alterações ou manutenção, dada a natureza da construção proposta. O papel

do pesquisador consistiu, neste caso, na orientação dos sujeitos em torno da dinâmica do

ambiente e no incentivo às interações (e, quando possível, à colaboração) como forma de

constituir aprendizagens; os alunos, por sua vez, propuseram soluções para as questões em

foco, discutiram e reestruturam suas conjecturas.

4.1.1.2 Análise do ponto de vista matemático

Nesta atividade, há uma ação de caráter múltiplo, tanto na manipulação supracitada,

quanto na retomada do emprego de axiomas e teoremas fundamentais da Geometria

Euclidiana, tais como os teoremas de perpendicularidade e paralelismo entre retas, que serão

úteis mais adiante no desenvolvimento das noções de Homotetia. Além disto, esperava-se que

surgissem as primeiras observações e dúvidas quanto à diferença entre desenhar e construir, já

que as figuras construídas no ambiente digital preservam suas propriedades geométricas

mesmo quando manipuladas; já as desenhadas, não necessariamente.

4.1.1.3 Resultado esperado

Fornecer elementos para que os participantes desenvolvessem, no GeoGebra, as

construções propostas, enunciando aos colegas os percursos que adotaram, interagindo neste

processo, comentando dúvidas e percalços. Nesta etapa, então, esperava-se que surgissem

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dúvidas quanto à operação da interface e, na sequência, questionamentos sobre as restrições

do uso das ferramentas de perpendicularidade e de paralelismo8.

Além disto, esperava-se que os alunos não estruturassem completamente seus

argumentos com base em axiomas ou teoremas em um momento inicial, em função de

possível falta de familiaridade com estes elementos, não consolidados em suas formações

acadêmicas prévias. Em tese, atividades como as que foram encontradas nesta pesquisa vão

além do contexto de problemas geométricos com os quais a maioria dos professores da escola

básica estão familiarizados.

Entretanto, esperava-se que, após as primeiras discussões, a linguagem matemática

própria se constituísse, uma vez que seria recomendada pelo mediador. Desta forma, tal

abordagem poderia surgirem diferentes níveis de domínio dos elementos de Geometria

Euclidiana. Essas mudanças partem da exigência de uma linguagem distinta da linguagem

natural, formalizada e fundamentada nos pressupostos e propriedades geométricas

mobilizadas no desenvolvimento dos problemas, de certa forma aproximando gradativamente

a linguagem empregada daquela presente no discurso próprio à área.

4.1.1.4 Primeira construção

Aqui, o enunciado, disponível no AVA, por meio da ferramenta fórum9, era o

seguinte:

a) Construa um triângulo equilátero de lado com um tamanho qualquer, por exemplo,

com medida 3 cm;

b) Quais argumentos você utilizaria para garantir que o triângulo criado é, de fato,

equilátero? Caso "movimente" algum dos pontos do triângulo que criou, esta

estrutura se preserva íntegra em suas propriedades? Comente no fórum de

discussões da primeira atividade o que garante a estabilidade da construção (ou o

que não a permite);

c) Quais alterações você gostaria de descrever com relação à sua construção?

8 O GeoGebra possui as ferramentas, retas perpendiculares e retas paralelas, disponíveis sem que seja necessário

empregar quaisquer raciocínios matemáticos para obter tais elementos. Entretanto, nesta investigação, foram

priorizados os métodos de construção mesmo para elementos já existentes como comandos da interface, já que

esta condição permitiria, em tese, melhor observar as interações dos sujeitos entre si e com o conhecimento

matemático. 9 Cada uma das construções representava um tópico de um fórum de discussões, de modo que cada participante

“entregava” sua atividade postando sua proposta como resposta ao tópico.

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Por se tratar de uma atividade que pretendia trabalhar aspectos iniciais da fluência em

relação ao GeoGebra, um roteiro foi disponibilizado, como segue, considerando que podem

existir outras formas de levar à cabo esta tarefa:

Criar um segmento de reta AB com comprimento fixo de 3cm (ou outra medida);

Utilizar a ferramenta compasso a partir de um dos seus extremos para criar duas

circunferências, "c" e "d", com centros em A e B, extremos desse segmento AB,

circunferências essas que determinam entre si dois pontos de interseção, C e D;

Caso sejam traçados dois segmentos AC e BC ou ainda AD e BD, a sequência de

segmentos escolhida em conjunto com AB determina um triângulo equilátero.

Este triângulo é equilátero por uma série de justificativas, dentre elas a trivial, oriunda

do senso comum e pela observação da estrutura já finalizada e não construída, na qual se

destacam as características básicas de um triângulo desta natureza, ou seja, todos três lados

com comprimento idêntico e ângulos internos congruentes de 60 graus.

Outra justificativa seria (1) que a partir dos extremos do segmento, dos pontos B e A,

ao traçar as circunferências c e d, com raio de medida igual ao comprimento do segmento AB,

determinam-se dois pontos de interseção de "c" com "d", chamados C e D. Disto, ao transferir

a medida AB com a ferramenta compasso partindo de A ou B sobre "c" ou "d", verifica-se que

os pontos C e D têm distâncias iguais para A e B. Dessa forma, deduz-se que 𝐴𝐵 , 𝐵𝐶 e 𝐶𝐴

(ou 𝐴𝐶 ) têm as mesmas medidas de comprimento.

Também se pode justificar (2) quanto à medida dos ângulos internos: caso transfira-se

a medida AB com o compasso novamente sobre "c" ou "d", partindo de C ou D, teremos outro

ponto, E sobre "c" ou "d", ponto este que determina outro triângulo equilátero ADE ou BDE,

de características semelhantes ao anterior, ABC. Realizando, por exemplo em "d", o mesmo

processo partindo de E, encontra-se B', que é oposto a B em relação à A, no diâmetro 𝐵′𝐵 de

"d". Nisto, 3 regiões circulares idênticas configuram-se dentro de "d" e sobre 𝐵′𝐵 , e, com

isso, garante-se que Â=180º/3 = 60º. Pela propriedade dos ângulos alternos internos, ^ ^

A D , e

pela soma dos ângulos internos de um triângulo,

^ ^ ^ ^ ^

180º 120º 180º 180º 120º 60ºA D B B B .

De (1) e (2) temos que ADB é um triângulo equilátero, como se vê na figura 2.

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Figura 2– Esquema de construção de um triângulo equilátero no GeoGebra

Fonte: o autor

Com relação à construção no GeoGebra, foi observado ser necessário, em algumas

ocasiões, dependendo da configuração ajustada em um computador em particular, ativar os

recursos "Exibir rótulo" e "Exibir valor" em cada um dos pontos, retas e segmentos de reta

empregados nas construções para que o usuário não viesse a ficar sem notações. No âmbito do

programa em questão, podem ser utilizadas as ferramentas “segmento com comprimento

fixo”, “círculo dados centro e um de seus pontos”, “reta”, “segmento de reta”, “polígono” e

“ângulo”.

Quanto aos aspectos de dinamismo do software, caso a construção tenha sido feita

corretamente, ocorrerá a preservação das propriedades da estrutura segundo parâmetros da

geometria euclidiana, parâmetros esses pautados nos axiomas e teoremas utilizados como

elementos pelo software e mobilizados pelo usuário, mesmo que de forma intuitiva.

Ampliação e redução da construção não são possíveis neste caso, considerando o segmento de

cuja medida era fixa e que iniciou a construção: apenas os movimentos de rotação e de

translação da estrutura são possíveis, a partir da movimentação do ponto B ao redor de A, e a

movimentação de toda a estrutura a partir de A.

No que tange aos resultados apurados, destacam-se aqui as dificuldades apresentadas

pelos sujeitos neste ponto, primeiramente com a postagem dos resultados das suas atividades

obtidas por meio do GeoGebra no Moodle, sendo que dois sujeitos enviaram suas produções

por captura de tela, modo este que anula qualquer potencial de réplica dos outros

participantes, por não proporcionar a possibilidade de manipulação, configurando, deste

modo, uma produção semelhante a oferecida por um suporte estático. Em relação a uma

postagem deste tipo, um dos sujeitos indica:

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P3:Na imagem/print da construção do equilátero pela participante, não se tem claro

se o raio é fixo, para tanto seria necessário termos acesso ao arquivo .ggb de sua

construção para que possamos ter essa certeza.

Outra dificuldade foi quanto ao uso da interface de geometria do GeoGebra (janela de

visualização), no que se refere aos elementos da geometria euclidiana. Como pode-se verificar

a seguir, a partir da produção de um dos sujeitos, surgem elementos da geometria analítica,

como o eixo cartesiano (figura 3).

Das produções apuradas, apenas esta utilizava a marcação de 3 pontos isolados usando

o suporte do eixo cartesiano, desenhando, por meio da ligação dos pontos via segmentos, e

não construindo, o triângulo equilátero como pedido. Ao movimentar os pontos, conforme

solicitado por um dos itens da atividade, o sujeito pôde observar que a "construção" que

realizara não tinha estabilidade em relação às propriedades, e que aquele método não passava

de uma aproximação do que seria um triângulo equilátero de fato.

Este foi um dos elementos abordados pelo pesquisador junto aos participantes na

apresentação de slides, contida nos anexos, realizada no primeiro dos encontros presenciais.

Figura 3- Exemplo do uso da interface de Geometria Analítica no GeoGebra

Fonte: Dados da pesquisa

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Dos demais resultados, apesar da indicação do roteiro para que houvesse a iniciação da

exploração dos elementos da interface, apurou-se que houve alguns percursos distintos ao

proposto, dentre eles:

Exploração direta do caso geral de construção de um triângulo retângulo, não

utilizando um segmento de comprimento fixo, mas um segmento de

comprimento AB qualquer – em função disto, o participante julgava ser este

um método que justificava por si só;

Utilização da ferramenta “polígono regular”, por meio da qual o participante

digitava a medida, o lado do triângulo a ser gerado pelo software e o mesmo o

fazia – tal método não estimula reflexão nenhuma acerca dos elementos que

compõem o triângulo equilátero, muito menos a discussão sobre o que a

construção se propunha a propiciar;

Uso da ferramenta círculo dado um centro e raio, a partir do qual o

participante determinava um centro para a circunferência e atribuía um valor ao

raio de 3cm.

Neste meio tempo, apesar de não ter sido exigido, o uso da ferramenta de ângulo por

parte de alguns participantes foi observado, pois auxiliaria na argumentação da acuidade das

construções realizadas, por meio de um fator empírico de constatação, como pode ser

observado nas Figuras 4 e 5 na sequência.

Figura 4- Uso da ferramenta Ângulo (1)

Fonte: Dados da pesquisa

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Figura 5- Uso da ferramenta Ângulo (2)

Fonte: Dados da pesquisa

Quanto ao item b, houve um consenso quanto ao que acontecia com os elementos do

triângulo de acordo com o movimentar dos seus pontos, convergindo exatamente para a

resposta esperada, em relação à qual a construção proposta teria apenas os movimentos de

rotação e translação a partir do movimento dos pontos A e B que a geram.

Entretanto, quanto a questão da argumentação do que poderia garantir que o triângulo

gerado pela construção apresentada de fato fosse equilátero, os modos de argumentar foram

diversos, exibindo, entre outros aspectos, uma precariedade esperada no domínio dos

elementos necessários para argumentar acerca da construção. Por exemplo:

P6: A garantia de ser equilátero está na forma com que foi construído. Ao analisar

a construção tendo um raio fixo de 3cm, sendo um dos pontos o centro de uma

circunferência e tendo o outro ponto como centro de uma segunda circunferência,

resultou assim na formação de três pontos, ponto de início da reta, ponto de fim da

reta[na verdade, aqui o participante se referia ao segmento 𝐴𝐵 ] e intersecção entre

as circunferências (ponto C ou D). Ao ligarmos os pontos as medidas dos lados do

triangulo serão congruentes.

Outro exemplo pode ser visto na resposta seguinte:

P4: Para garantir as propriedades necessárias, usei o recurso mais simples do

software, que é a construção de um polígono regular com 3 lados de mesma medida.

Mas quando expresso que é simples, é preciso compreender as propriedades básicas

de um triângulo equilátero que é um polígono regular de 3 lados. Esse recurso

permite criar qualquer polígono regular a partir de 3 lados. Como o segmento de reta

ou lado tem valor fixo e a figura é um polígono regular então, ele irá manter sua

forma sem deformar, sem modificar suas características, bem como conservando os

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3 ângulos internos com 60º e também pode ser movimentada na malha do programa,

por um dos vértices.

Das argumentações utilizadas, a que apresentou os elementos e a linguagem mais

próximos do apropriado, apesar de não mencionar a congruência na medida dos ângulos, foi a

seguinte:

P3: O triângulo ABC é equilátero devido a congruência dos lados, foi

construído considerando o segmento 𝐴𝐵 como base, e os pontos C e D são pontos de

intersecção entre as circunferências que contém o ponto A e B como centro. O raio

das duas circunferências tem a mesma medida de AB, portanto, qualquer segmento

que contém nas extremidades o centro e qualquer ponto da circunferência possui a

mesma medida do raio, sendo assim, os segmentos 𝐴𝐵 , 𝐴𝐶 e 𝐵𝐶 são congruentes,

possibilitando uma das construções de um triângulo equilátero.

Na sequência, o participante P7 destacou: "o texto de P3 sobre a primeira construção

traz uma linguagem matemática adequada, além de, descrever todos os procedimentos de

forma clara para a construção do triângulo equilátero. Abraços."

Em seguida, uma pequena discussão teve lugar:

P5: Boa noite, pessoal, segue em anexo a minha construção, eu li o roteiro e os

comentários dos colegas. Então fiz um triângulo, com o raio da circunferência com

valor fixo, e o outro com o raio qualquer. Para mim, ambas resultam em um

triângulo equilátero. É isso mesmo?

P7: Vi suas construções e percebi que você construiu outro triângulo considerando o

raio das circunferências como lado comum dos dois triângulos equiláteros, Abraços.

P5: [...]as minhas construções ficaram iguais (às suas). Para constatar o (triângulo)

equilátero medi os ângulos e os lados, como o triângulo está inscrito na

circunferência e foi construído "em cima" dos raios, a movimentação dos pontos não

faz com que deixe de ser equilátero.

Ao fim desta primeira atividade, chega-se à conclusão de que uma construção

relativamente simples traz à tona as incompletudes e as dificuldades no domínio dos

elementos mínimos à elaboração de uma justificativa matematicamente válida. Quaisquer

eventuais validações – ou pelo menos, a grande maioria – empregaram processos empíricos,

por meio, por exemplo, da medição de segmentos ou ângulos, formas estas ligadas a casos

particulares dos objetos em estudo. Entretanto, os resultados evidenciados dão conta dos

processos de experimentação levados à efeito pelos sujeitos, para os quais tiveram o apoio das

interfaces digitais que empregaram.

4.1.1.5 Segunda construção

A segunda construção trazia um questionamento, no seguinte sentido: “Caso vocês

quisessem fazer um modelo que gerasse um triângulo que fosse equilátero, mas que pudessem

modificar o tamanho dos seus lados, como o realizariam? Dentro da solução apresentada

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pelos colegas, há alguma que não conhecia? Alguma argumentação que não fez sentido ou

que gostaria de comentar? Compartilhe conosco”.

Um dos percursos possíveis aqui poderia prever a construção de um segmento

qualquer AB. Depois, os participantes fariam uma circunferência c com centro C de raio 𝐴𝐵

com a ferramenta compasso. Em seguida, marcariam um ponto qualquer, chamado D, sobre c,

em um percurso semelhante ao adotado inicialmente. Na sequência, a partir de D, seria feita

outra circunferência d, secante a c em dois pontos, F e E. Disto, ao traçar os segmentos 𝐹𝐶 ,

𝐶𝐷 e 𝐷𝐹 ou 𝐶𝐷 , 𝐷𝐸 e 𝐸𝐶 resultariam os triângulos equiláteros de lados com a medida AB

escolhida. A justificativa da acuidade da construção é a mesma da etapa anterior.

As ferramentas do GeoGebra nesta alternativa seriam “segmento de reta”,

“circunferência dados centro e um de seus pontos”, “reta”, “polígono” e “ângulo” (esta última

para evidenciar os ângulos internos dos triângulos resultantes, caso o participante ache

necessário).

Com relação aos aspectos do dinamismo apresentado pelo software, destaca-se a

preservação das propriedades da estrutura construída, quando se amplie e/ou reduza a mesma

a partir da movimentação dos extremos de 𝐴𝐵 ; além disto, o movimento de rotação da

estrutura é possível a partir da movimentação do ponto D ao redor de C, e a movimentação de

toda a estrutura (translação)a partir de C.

Quanto aos resultados apurados, e examinando as respostas apresentadas pelos

participantes, logo a primeira delas foi emblemática e deu ritmo a discussão seguinte, pois

resume perfeitamente o que se queria a partir desta tarefa, em sequência à anterior: aliar o

conhecimento matemático prévio de generalização com o resultado em tela para explorar e

ampliar as possibilidades de investigação:

P6: Para construir um modelo que gerasse uma representação de um triângulo

equilátero podendo mudar a medida de suas arestas (lados) meu roteiro foi o

seguinte: Construir um segmento de medida qualquer, em seguida construir círculos

centrados em A e em B com medida de raio igual à medida do segmento. Por fim,

escolher uma das intersecções entre os círculos para criar um ponto C. Nesta

construção pode se mover os pontos A e B de modo à figura permanecer íntegra,

entretanto variando às medidas das arestas (lados).

No momento seguinte, um sujeito destacou a resposta de outro colega que o fez refletir

sobre a própria construção e as possibilidades que emergiam por meio de explorações no

GeoGebra, construção essa que utilizava um segmento de medida qualquer, e em seguida, a

ferramenta transferidor para medir os ângulos internos iguais a 60º de uma das bases de

triângulo e transferir a medida do segmento de medida arbitrária inicial com a ferramenta

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compasso vértice a vértice à partir da base escolhida, triângulo esse que, a priori, seria

equilátero:

P5: Utilizei a ferramenta polígonos regulares para a construção do triângulo

equilátero, nomeei os vértices ABC, sendo os vértices da base os pontos A e B, os

únicos que permitem movimentação. Com a discussão da sala, o colega [...] fez a

construção do triângulo equilátero através da ferramenta “transferidor” utilizando a

medida de 60o, a qual eu não conhecia devido à falta de familiaridade com o

software.

Em seguida, outra das participantes descreveu o seu protocolo de construção,

apropriando-se dos avanços nas etapas alcançadas na atividade anterior e eliminando da tela o

que não era desejado por ela por meio do comando esconder objetos:

P7: Considerar um segmento AB com medida qualquer. Construir uma

circunferência com centro em A e outra com centro B, ambas com raio AB.

Considerei C como ponto de interseção entre as circunferências. Construir outro

segmento 𝐴𝐶 e outro 𝐵𝐶 . Esconder os objetos Circunferências, restando apenas o

triângulo que é equilátero, pois 𝐴𝐵 , 𝐴𝐶 e 𝐵𝐶 apresentam mesma medida por serem

raios das circunferências. Movimentar o triângulo arrastando um dos pontos por vez,

o que deixa claro que independentemente do tamanho, sempre se mantém a

congruência entre os lados. Também verifiquei os ângulos internos, e os mesmos

mantiveram as mesmas medidas nos três ângulos, não importando o tamanho do

triângulo. Agora vou verificar a postagem dos colegas. Abraços.

Ao fim desta segunda atividade, pode-se perceber uma evolução substancial tanto no

aspecto no uso das ferramentas do GeoGebra quanto na linguagem matemática empregada, à

medida que os participantes podiam ter acesso às produções uns dos outros e refletir sobre as

próprias produções. Entretanto, o diálogo mais intenso acerca das construções na plataforma

ocorria prioritariamente entre duas das participantes, P5 e P7, por meio da implementação de

uma proposta de colaboração que surgiu espontaneamente. É preciso destacar que uma delas

tinha grandes dificuldades com o GeoGebra (P5), o que não a impediu de prosseguir

trabalhando com os problemas propostos na sequência, buscando, justamente, desenvolver

fluência com relação aos elementos da interface, conectando-a com o conhecimento

matemático, o problema e a manipulação das ferramentas disponíveis.

Além deste importante aspecto relativo à fluência, observa-se que o caráter dinâmico

da tecnologia digital empregada, e seu papel na formação de conjecturas, aparece de forma

bastante pronunciada, inclusive quando os sujeitos mencionam a forma como observaram a

manutenção das propriedades inerentes à construção, ela mesma relativa à representação, no

caso, do objeto matemático “triângulo equilátero”. Diga-se mais: a experimentação, com o

destaque indicado por Lévy (1993), e que é uma possibilidade aberta neste tipo de atividade

com interfaces digitais, permite o emprego do que Borba e Villarreal (2005) e Laborde (2000)

relacionam com o que chamam de “prova de arrastar”, justamente no sentido de testar,

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experimentar a estabilidade das propriedades matemáticas que devem estar presentes em uma

construção consistente. Quanto ao aspecto interativo, pode-se perceber que apenas duas

participantes, P5 e P7, maximizaram este tipo de trocas, atingindo, inclusive, aspectos de

colaboração, assim entendida, como aqui já se mencionou, como o compartilhamento de

tarefas/atividades, em um fazer conjunto que cria uma interdependência positiva sem anular

as demandas e saberes pessoais. Neste ponto, então, apesar de haver interações (leitura, trocas

de ideias por meio de mensagens, intervenções assíncronas) não foi possível perceber esta

característica nos demais participantes.

4.1.1.6 Terceira construção: a noção da proporcionalidade

Com relação à terceira atividade, seu enunciado assim se dispunha: “nesta tarefa,

admita: uma reta a e três pontos colineares pertencentes à mesma, A, B e C, sendo A o centro

de duas circunferências concêntricas c e d. A circunferência c tem raio de medida AB e d tem

medida AC.

a) Realize essa construção e observe as duas circunferências enquanto movimenta o seu

centro e os pontos B e C. Quais movimentos você consegue realizar? Discuta o

significado de suas ações nas construções em questão com os demais colegas;

Roteiro: Marque dois pontos A e B com a ferramenta Ponto. Trace uma reta que os

contenha, denominada r, com a ferramenta Reta. Na sequência, marque um ponto C

sobre r. Trace as circunferências c e d, ambas com centros em A, com a ferramenta

Compasso;

b) O que pode ser observado? Há alguma regularidade ou alteração que lhe chama a

atenção? Dê um exemplo com valores concretos e explique o percurso adotado”.

No que se refere às respostas esperadas, note-se que, ao traçar uma reta no GeoGebra,

a mesma necessita de dois pontos para definir seu posicionamento relativo ao plano. Caso seja

traçado um terceiro ponto, colinear aos dois primeiros, em uma construção de circunferências

concêntricas como a aqui proposta, define-se um sistema potencialmente interessante de

estudo de proporcionalidade, dada a posição deste terceiro ponto de acordo com os dois

iniciais. Caso o aluno movimente os pontos iniciais, chamados de A e B, a circunferência "c"

se altera, ajustando-se de acordo com o comprimento AB, que é o seu raio. No entanto, ela

também altera a circunferência "d", independente se C está contido em 𝐴𝐵 ou é externo a este

segmento, pois o software automaticamente10

calcula e aplica à lei de proporcionalidade, ou

10

Entenda-se aqui a expressão “calcula automaticamente” de forma relativa, ligada ao que Lévy (1993) chama

de tempo real da informática.

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67

seja,' '

AB AC

AB AC , onde AB' e AC' são as medidas dos novos segmentos quando se afasta ou se

aproxima A de B e vice-versa.

Quanto às respostas apuradas, e que surgiram como resultado do processo de

elaboração de conjecturas, com relação ao item "a", houve uma convergência, indicando que

ocorreu boa compreensão do que era pedido pela questão, ou, como descrito por um dos

participantes:

P3: Movimentando o ponto A no centro das circunferências, é possível movimento

circular (rotação) e ampliando e reduzindo a figura. O ponto B se demonstra

estático. As circunferências permanecem proporcionais ao serem movimentadas. Ao

mover o ponto B, toda a construção acompanha o movimento, o ponto A permanece

estático. O ponto B permite movimentos circulares, ampliando e reduzindo a figura.

O ponto C ao ser movimentado, vemos movimentos circulares, ampliação e redução

da figura c, porém os pontos A e B permanecem estáticos. Apenas a circunferência c

se movimenta.

No item "b", houve o caso de um outro participante que partiu de

testes(experimentações) no GeoGebra para começar a conjecturar sobre a proporcionalidade

apontada pelo participante anteriormente descrito. Disto, o referido sujeito enunciou a

seguinte resposta, bastante coerente:

P6: O que se mantém regular é a proporção entre as circunferências c e d quando

movimentamos o ponto A ao longo da reta r ou B ao longo da reta r.

Podemos confirmar pois, utilizando a ferramenta distância/perímetro do

GeoGebra.

Caso1:

AB=6, AC=2.

AB/AC = 3

Caso2:

AB=3, AC=1.

AB/AC = 3

As asserções dos participantes, de modo geral, podem ser imaginadas a partir das

figuras 6 e 7:

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Figura 6- Primeiro ensaio da proporcionalidade

Fonte: Dados da Pesquisa

Figura 7- Segundo ensaio da proporcionalidade

Fonte: Dados da Pesquisa

Entretanto, em relação ao item “b”, não houve o mesmo sucesso, principalmente se

comparado com o obtido no item “a”. As respostas foram bastante diversificadas, e boa parte

delas apresentando equívocos, entre os quais a conjectura de que nãoexistiria a relação de

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proporcionalidade entre as circunferências, assim como na passagem descrita por um dos

participantes:

P4: Ao inserir valores para os segmentos 𝐴𝐵 e 𝐴𝐶 , a partir da ferramenta “distância,

comprimento e perímetro” e movimentar os pontos as medidas destes segmentos vão

se alterando de acordo com este movimento. A regularidade que percebemos é o fato

de os círculos permanecerem concêntricos em A.

Outro relato de uma das participantes teve como base o insucesso na tentativa da

resolução dessa etapa: "Gente, acho que estou fazendo algo de errado, pois não consegui

fazer de maneira alguma a terceira construção. Vejam até que ponto cheguei, mas parei por

aí"(P5). Na verificação do procedimento adotado pela mesma, apurou-se que esta não

correlacionara sua proposta com as etapas anteriores, ou seja, a construção não preservava as

propriedades por não ter sido feita corretamente. Após verificar a postagem dos colegas

acabou por perceber seu equívoco e corrigi-lo. A percepção do equívoco, neste caso, se deu

em função de três elementos destacados no referencial teórico deste trabalho: a visualização

(percepção de inconsistência em relação à representação esperada), o dinamismo (a alteração

das construções conduziram a algo inesperado, o que faz o sujeito perceber que algo estava

errado) e um regime de experimentações intensivas (assim como as propriedades são

preservadas em uma construção corretas, os inúmeros casos visualizados em construções

incorretas tendem a ser “consistentemente” errados).

A atividade ainda admitia um item c, que continha: “c) A partir do procedimento de

construção realizado inicialmente, construa dois triângulos equiláteros, um inscrito no outro,

como observado na figura seguinte [figura 8].

Figura 8 -Triângulos Equiláteros

Fonte: o autor

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70

Após a construção concluída, responda: O que pode observar quando desloca um dos

vértices do triângulo que está inscrito no outro? Algum destes vértices não se desloca?

Porquê? O que acontece caso o ponto C seja movimentado para além dos limites do segmento

AB? Como o triângulo ACD pode ser classificado em relação à AEB em todos esses casos?

Justifique as suas afirmações e debata com os colegas suas impressões.

Roteiro: Como feito anteriormente, marque dois pontos A e B com a ferramenta

Ponto. Trace uma reta que os contenha, denominada a, com a ferramenta Reta. Na

sequência, marque um ponto C, entre A e B, sobre a, também com a ferramenta Ponto.

Para construir os triângulos equiláteros, precisa-se de duas circunferências, a serem

feitas com a ferramenta Compasso com raios de medidas iguais as bases dos mesmos,

e centros nos extremos de cada base, para determinar os pontos que indicam o vértice

restante do triângulo desejado. Para o triângulo equilátero com lados de medida AB,

duas circunferências que chamaremos de d e d', que determinam o ponto E, e para o

triângulo equilátero de medida AC, c e c' que determinam o vértice D, como na figura

8”.

Com relação à resposta esperada para esta construção, os triângulos ACD e AEB são

triângulos equiláteros pela mesma justificativa do problema 1, com ACD inscrito em AEB,

caso C esteja contido em AB. Caso o sujeito movimente os pontos, perceberá que apenas os

pontos das bases dos triângulos construídos, no caso A, C e B terão mobilidade e que os

vértices determinados pelas circunferências descritas no protocolo se ajustam também de

acordo com os movimentos de cada um dos pontos da base. Após a exaustão dos métodos

possíveis de redução, identidade e ampliação nos casos que r>0 e nos casos inversos no qual

r<0, espera-se que o participante perceba que as características fundamentais desses

triângulos não se alteram, e que se tratam de triângulos semelhantes.

Quanto ao dinamismo do software, de acordo com uma proposta de pessoas-com-

GeoGebra, os pontos D e E não poderão ser movidos de maneira independente, pois os

triângulos foram construídos em função das circunferências com raios de medida AB e AC.

Disto, ao deslocar C no sentido de B sobre a, percebe-se que a área de ACD amplia-se até

coincidir com AEB, e em seguida, ultrapassa os limites de AEB, caso continue se deslocando

neste sentido.

Neste caso, quando C está contido em 𝐴𝐵 , a Homotetia é direta, e determina que ACD

é semelhante a AEB, podendo tratar-se, assim, de uma redução (0<r<1), uma identidade (r=1),

quando ACD for côngruo a AEB, ou uma ampliação (r>1) quando, ao movimentar o ponto C

sobre a reta suporte do segmento AB, extrapolar os limites deste segmento no sentido de B.

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Caso o participante movimente o ponto C no sentido de A sobre a, vai observar que

ACD mudará de posição no plano, tendo como referências a reta a e o triângulo AEB – ou

seja, será “invertido” em relação às referências mencionadas. Isto se dá por conta de uma

Homotetia inversa (r<0), na qual o software ajusta as posições dos vértices C (sentido oposto

de B sobre a) e D (sentido oposto de E sobre b (reta suporte de 𝐴𝐸 ) ) de ACD.

Disto, pode-se inferir uma redução inversa de ACD (caso 0>r>-1), por exemplo,

quando se quer reduzir e inverter, uma identidade inversa (r=-1) e uma ampliação inversa (r<-

1).

Por fim, espera-se que os participantes concluam que, mesmo a partir de qualquer

movimento de C sobre a, contido ou não em 𝐴𝐵 , este determina um caso de semelhança entre

os triângulos ACD e AEB, pois os ângulos correspondentes de ambos triângulos são

congruentes e seus lados têm medidas proporcionais entre si, ou seja, proporcionais a uma

razão r de semelhança (figura 9).

Figura 9– Triângulos equiláteros e casos de semelhança (com C 𝑨𝑩 )

Fonte: o autor

Das respostas apuradas neste item, pode-se destacar que os participantes conseguiram

apresentar em tela resultados semelhantes ao exibido na figura 8, entretanto, os protocolos das

construções criavam diferenças importantes de acordo com o percurso de cada um, o que

podia ser constatado a medida que os pontos da construção eram movidos.

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Por exemplo, um dos participantes (P4), para marcar o ponto D, ao invés de fazê-lo

como interseção de c e c', fez como interseção de c com um ponto entre A e E; logo, quando

se movia o ponto C para fora do segmento 𝐴𝐵 , podia-se observar o resultado expresso na

Figura 10, a seguir.

Por meio deste percurso, a resposta alcançada por P4 foi a seguinte: "ao movimentar o

vértice do triangulo inscrito, vemos a ampliação ou redução das medidas (com C entre A e

B). O vértice B não se desloca mantendo a integridade do triângulo ABE (na verdade, ele se

referia a ACD estar limitado a ser congruente a ABE por conta do protocolo elaborado por

ele; logo, têm-se como resultados as sentenças a seguir). Ao ultrapassar o segmento 𝑨𝑩 , o

triangulo ACD(medida de área) permanece congruente ao triângulo ABE. Os triângulos ABE

e ACD são semelhantes (isto com C contido no segmento 𝑨𝑩 , fora destes limites ou ABE se

funde a ACD ou simplesmente perde as propriedades que garantem sua semelhança)".

Protocolo semelhante foi adotado por mais um dos participantes, P1.

Figura 10– Ensaio da primeira etapa do Item c do participante P4

Fonte: Dados da pesquisa

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73

O item c da atividade possuía dois subitens. Em um deles, a proposta era: “c1)

Verifique o que ocorre com a área deste triângulo menor em relação ao maior quando a

medida da sua base e a medida da sua altura são exatamente metade do valor daquele em que

ele está inscrito. Qual argumentação você utilizaria para justificar a partir da sua própria

construção?” (ver figura 11).

Neste caso, no plano algébrico, caso o sujeito substitua na equação na qual calcula a

medida da área do triângulo maior suas medidas em função das do triângulo menor, verifica-

se que esta é 4 vezes maior, pois a medida de sua base e altura são a metade de AEB. Em

função disto, quando se realiza a construção via GeoGebra, a visualização desta propriedade

se torna mais acessível. Quando o participante ajustar o ponto C, tal que este esteja sobre o

ponto médio do segmento 𝐴𝐵 , verifica que D coincide com o ponto médio do segmento 𝐴𝐸

porque este é determinado pelo software usando a relação de proporcionalidade AD AC

AE AB .

Disto, pode-se observar que a altura de ACD é exatamente a metade da altura de AEB porque

D está contido em um mesmo segmento que o ponto médio entre E e C e coincide com o

ponto médio entre esses pontos, e com uma composição de figuras, observa-se a possibilidade

de dividir AEB em 4 setores de áreas congruentes à ACD. Disto, pode-se concluir que ACD é

4 vezes menor que AEB. Uma outra interpretação, em um caso mais geral, pode determinar

que as medidas das áreas dos triângulos AEB e ACD estão para si como o quadrado da razão

de semelhança entre elas (vide teorema 3.6 em Lima, 1991, p.58).

Figura 11– Triângulos equiláteros e relação de proporcionalidade

Fonte: o autor

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Das respostas apuradas a que mais se aproximou daquela que melhor expressaria o

estatuto formal foi a seguinte:

P7: Os dois triângulos são equiláteros, quando arrastei o ponto C, até B, percebo que

são idênticos (congruentes), isso comprova a identidade entre eles. Quando o ponto

C está (sobre a) na mediatriz do segmento 𝐴𝐵 , ACV é um quarto do triângulo ABE

(medida da área).

A partir deste posicionamento, um dos participantes que realizaram a construção

citada no item anterior teve a oportunidade de refletir sobre a própria proposta, indicando:

P5: [...] fiz a leitura das respostas e percebi que minha construção difere dos colegas

com exceção da construção de P3 em 2 de julho de 2015. O participante P7 fez uma

observação que achei importante e testei em minha construção, algo que não tinha

feito. Será que minha construção está correta? Fiquei em dúvida ao ver a construção

dos colegas.

De fato, a construção apresentava imprecisões que não permitiriam classificá-la como

correta. Na sequência, então, o sujeito pôde verificar o seu equívoco e percebeu a importância

na verificação da produção da colega de curso.

O segundo subitem do item c trazia a seguinte proposta: “C2) Determine um outro

triângulo inscrito no triângulo maior e que tenha a mesma área do menor, contanto que este

não seja equilátero como o primeiro”.

Aqui, o participante precisa apenas marcar um ponto G sobre a reta que suporta 𝐷𝐹 ,

tal que o triângulo GAC tenha mesma base e altura de medida congruente à altura do

triângulo ADC. Assim, terão a mesma área, pois possuem a mesma base (𝐴𝐶 ) e alturas,

relativas a este segmento, congruentes (pois G e D estão sobre a mesma reta suporte), mesmo

que sejam alturas projetadas em pontos diferentes. Pode-se deslocar livremente G sobre a reta

que contém 𝐷𝐹 e a medida da área de GAC não se altera (figura 12).

Em relação ao constructo pessoas-com-GeoGebra, caso G seja marcado entre D e F, o

usuário ficará limitado a movimentar este ponto no âmbito deste intervalo. Caso seja traçado

sobre a reta que contém este segmento, poderá deslocá-lo livremente. As características

dinâmicas da construção podem permitir a visualização da estabilidade das propriedades aqui

enunciadas, dadas condições análogas.

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Figura 12– Triângulo de mesma área não equilátero

Fonte: o autor

Das respostas apuradas, a única que cumpria a tarefa e distinguia-se do modelo

proposto foi a contida na Figura 13, a seguir. Esta proposta apresentava como solução um

triângulo com o dobro da base de ACD e a metade da sua altura, fatos estes garantidos pela

sua base 𝐴𝐵 e seu vértice F ser o ponto médio de 𝐴𝐷 . Desta forma, quando indagado sobre o

que aconteceria com a medida da área do triângulo AFB em relação a ACD caso o ponto F

fosse movimentado sobre 𝐴𝐸 , P6 disse que as áreas deixariam de ser congruentes, sem,

entretanto, apresentar uma alternativa para este quadro, que poderia ser explicado da forma

como se propôs na resposta esperada.

Neste ponto, algumas evidências levantadas a partir do referencial teórico desta

investigação podiam ser identificadas nas produções dos sujeitos, principalmente entre os

mais participativos: com maior fluência relativa aos instrumentos da interface do GeoGebra, a

mobilização do conhecimento matemático necessário para resolução das atividades passou a

contar com a habilidade de selecionar, em relação à lógica da interface, os elementos mais

adequados – a consequência, então, conduz à conjectura de que estes participantes

demonstram uma reorganização do pensamento, como assinalado por Tikhomirov (1981) e

Borba e Villarreal (2005). Esta característica pode ser aventada a partir da reação do indivíduo

diante do problema matemático: ao experimentar, contar com o dinamismo da interface e

buscar validações a partir da percepção visual e do acesso ao seu conhecimento, a interação

reativa (Lévy, 1993) em relação aos feedbacks da interface passa a ser decisiva em suas

conjecturas. Isto não significa abandonar outras interfaces, até mesmo as não digitais.

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Figura 13- Exemplo de P6– item C2

Fonte: Dados da pesquisa

4.1.2 Bloco 2: Proporcionalidade, Homotetia e relações com os casos de semelhança de

triângulos

Neste bloco de atividades, tem-se por objetivo expandir a situação anterior para os

casos de semelhança de triângulos à medida que os sujeitos têm como proposta desenvolver a

fluência para além daquela atingida (potencialmente) até este momento. Além disso, propõe-

se a continuidade da exploração do objeto matemático por meio de uma configuração formada

por pessoas-com-GeoGebra nos percursos de resolução dos problemas propostos, a partir do

princípio da Homotetia, iniciado na última construção do bloco anterior.

Desta forma, em outras palavras, trata-se de atividades que têm por objetivo explorar o

conceito e resoluções que envolvem Homotetia e que mobilizam casos de semelhança que

podem ser empregados na justificativa das perguntas componentes dos problemas a seguir.

Nesta etapa, os participantes não terão acesso a roteiros, uma vez que se espera que, a partir

deste ponto, já possuam domínio das ferramentas disponíveis no GeoGebra em um nível

suficiente para a resolução das questões e que deem sequência nas atividades tendo como

perspectiva o pensar com as tecnologias, avançando em relação aos argumentos trazidos por

Oliveira (2013).

4.1.2.1 Análise do ponto de vista didático

As atividades desta etapa partem da anterior, na qual se iniciaram as propostas de

desenvolvimento da fluência em relação ao GeoGebra em integração com o desenvolvimento

de conjecturas sobre o tema matemático, e exigem os progressos obtidos na apreensão das

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propriedades geométricas e das ferramentas mobilizadas pelas construções já realizadas no

ambiente dinâmico. Aqui, saem de cena os roteiros propostos, e surge a perspectiva que o

trabalho colaborativo ganhe algum espaço, a partir do momento que se pressupõem

dificuldades nas construções feitas por meio dos percursos investigativos e a exigência

aumentada na elaboração de justificativas para propostas de resolução dos problemas.

Na primeira das construções, espera-se que os participantes iniciem um pensar por

meio das tecnologias (Oliveira, 2013), partindo de conjecturas que podem emergir a partir da

visualização e da experimentação que terá lugar nas construções propostas, bem como quando

formularem uma argumentação que justifique as ações tomadas no curso das referidas

construções. Na segunda delas, emerge pela primeira vez uma ocorrência na qual se propõe

uma generalização dos casos de semelhança de triângulos por meio de uma Homotetia aliada

a noção de proporcionalidade, o que traz à cena uma etapa de exploração do tema de

semelhança. Esta exploração é retomada na sequência, na última das construções, onde

propõe-se um problema de modo que os participantes possam mobilizar vários dos elementos

construídos anteriormente, com vistas a compor um conjunto de ferramentas que os auxilie a

justificar suas decisões e a resolvê-lo.

O início das ações desta etapa é semelhante a anterior, porém, a partir da segunda

construção, propõe-se a formação de duplas para as discussões. Os membros destas duplas

devem trabalhar entre si e apresentar seus resultados às demais duplas, para que discutam os

percursos adotados em suas construções, as justificativas para as mesmas, pautadas nas

observações possibilitadas pelo dinamismo que o GeoGebra proporciona, além das

inquietudes/expectativas que forem vivenciadas até então, de modo a fortalecer,

potencialmente, o aprendizado conjunto (e colaborativo, se possível), ao passo que também se

estimulem as propostas entre os grupos de formas alternativas das construções apresentadas,

incrementando a interdependência.

4.1.2.2 Análise do ponto de vista matemático

Como sequência da etapa anterior, parte-se de um estímulo ao que foi mobilizado e

institucionalizado nas construções até então, ou seja, da noção de proporcionalidade para o

estudo de outros tópicos relacionados a semelhança, como a Homotetia e semelhança nos

triângulos. Como na primeira construção, inicia-se este bloco de atividades com uma proposta

inicial de ampliação de um segmento, componente de um triângulo, com uma razão de

semelhança igual a dois. Em seguida, propõe-se uma redução desse triângulo, com uma razão

de semelhança igual a dois terços. Espera-se que, neste ponto, os participantes comecem a

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inferir e justificar seus argumentos das construções feitas por eles, quanto à questão da

proporcionalidade entre os segmentos componentes dos triângulos, que é garantida por meio

do paralelismo das retas que suportam estes segmentos, e a garantia da forma semelhante

destes, no que tange a congruência dos ângulos correspondentes do triângulo inicial e a sua

projeção sendo mantida, já que estas são as condições para que a semelhança seja

comprovada entre eles.

Na construção seguinte, espera-se que utilizem estas noções desenvolvidas até aqui

com a finalidade de elaborar uma resolução na qual exibam ao menos um dos casos de

semelhança de triângulos para um dado triângulo qualquer, em uma Homotetia de centro A.

Não se trata de uma construção simples, considerando que precisam perceber e definir

os elementos que garantam a confiabilidade da mesma, ou seja, partindo da ideia

desenvolvida pelos casos nos quais se atribuem valores à razão de semelhança, espera-se que

os participantes percebam uma Homotetia entre os vértices do triângulo inicial e sua projeção.

Portanto, há ao menos um dos pontos, que está sobre uma das retas suporte dos vértices do

triângulo original alinhados com o centro da Homotetia A, que define um dos vértices da

figura projetada desejada.

Deste ponto homólogo, para preservar a congruência dos ângulos correspondentes

entre o triângulo inicial e a sua projeção, o participante traça retas paralelas aos lados do

triângulo inicial, partindo do ponto homólogo do vértice escolhido da figura mencionada, e,

por meio da interseção destas paralelas com as retas suporte que passam por A e pelos demais

vértices não escolhidos inicialmente do triângulo inicial, determina os outros dois pontos

homólogos que formarão a projeção desejada.

4.1.2.3 Resultado esperado

À medida que as etapas das construções forem completadas, espera-se que os

participantes, ao chegarem ao modelo geral construído, quando moverem os pontos do

triângulo inicial por meio do dinamismo que o GeoGebra proporciona, visualizem as mesmas

alterações na sua projeção, preservando sua forma. Ao moverem o vértice homólogo que

determinará os outros vértices da projeção a partir do triângulo inicial, espera-se que os alunos

reconheçam, a partir desta ação, quando se trata de uma ampliação, uma identidade ou ainda

uma redução, como já mencionado na análise do objeto matemático, de acordo com a razão de

semelhança. Caso este ponto homólogo seja arrastado além dos limites do segmento limitado

pelo centro da Homotetia A e o vértice correspondente a ele na figura inicial, no sentido de A,

o participante poderá observar uma inversão da projeção gerada.

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4.1.2.4 Primeira construção: retomando as investigações

A primeira atividade deste bloco visava promover a continuidade da discussão das

construções que utilizaram a proporcionalidade, induzir a ideia de Homotetia para estudar

semelhanças a partir de razões com valores discretos, partindo, em seguida, para o caso geral.

No primeiro item, o enunciado era o seguinte:

a) “Construa a partir de um segmento qualquer 𝐴𝐵 , que está contido sobre uma reta a,

outro segmento 𝐴𝐵′ , também sobre a que tenha o dobro da medida AB. Movimente B

sobre a e descreva o que acontece com B'.

Roteiro: Como feito anteriormente, marque dois pontos A e B com a ferramenta

Ponto. Trace uma reta que os contenha, denominada a, com a ferramenta Reta. Na

sequência, com a ferramenta Compasso, trace uma circunferência c com centro em B

de raio AB. O ponto de interseção de c com a será o ponto B', basta marcá-lo com

precisão usando a ferramenta Interseção entre dois objetos.

Com relação ao ponto B', o software vai nomeá-lo provavelmente como C. Basta

renomear este ponto, clicando com o botão direito do mouse sobre ele, indo até a

opção renomear e atribuindo a notação desejada. Outra observação fica por conta do

uso da ferramenta Interseção entre dois objetos:utilize-a sempre que precisar marcar

algum ponto de difícil acesso, com precisão”.

Quanto à resposta esperada, após o movimento de B sobre a, o GeoGebra ajusta a

distância de B' para preservar a relação AB'= 2.AB. A transferência de medidas via

ferramenta Compasso será muito importante mais adiante.

b) “Agora, marque outros dois pontos não contidos em a, quais sejam C, contido em uma

reta d, que passa por A, e D, contido em uma reta g, que também passa por A. C e D

determinam com B um triângulo qualquer CDB. Utilize o mesmo princípio do item

anterior para marcar pontos C' e D' que sejam também determinados pelo dobro da

medida dos segmentos 𝐴𝐶 e 𝐴𝐷 , sobre as retas d e g, respectivamente.

Marque o triângulo B'C'D' com a ferramenta polígono e descreva o que percebe. Há

alguma regularidade quando se compara este triângulo com o triângulo BCD? Quais

propriedades observadas na figura garantem sua argumentação? Movimente os pontos,

observe e relate o ocorrido. O que preserva a integridade das propriedades relativas à

construção realizada nesta atividade?”

Partindo do princípio da proporcionalidade, à medida que os participantes determinem

C' e D' de acordo com o proposto, podem perceber que estão construindo B'C'D' e que se trata

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de uma ampliação de BCD tal que a razão de semelhança é igual a 2 (ampliação), de acordo

com as proporções entre seus lados. Além disto, trata-se de triângulos semelhantes pelo caso

LLL, pois a partir do procedimento de transferência de medidas descrito anteriormente, esta já

estabelece uma relação entre os pontos BCD e os homólogos B'C'D', tais que B'C'=2.BC,

C'D'= 2.CD e D'B'= 2.DB. Quanto à congruência dos ângulos correspondentes, esta é

garantida pelo paralelismo dos lados de BCD e B'C'D'. A proposta pode ser vista, como

exemplo, na figura 14.

Neste caso, as ferramentas do GeoGebra utilizadas podem ser Ponto, Reta, Compasso,

Polígono, Ponto de interseção, Ângulo (para conferência). Os participantes-com-GeoGebra,

ao movimentarem o ponto A (centro da Homotetia) em qualquer sentido, perceberão que este

movimento faz com que a B'C'D' seja projetado em um sentido sempre oposto ao dele,

conquanto o triângulo original BCD mantenha também sua forma e não altere sua posição na

tela.

A movimentação dos pontos B, C e/ou D altera a forma de BCD por conta da alteração

dos ângulos internos, bem como a forma B'C'D' de maneira semelhante. Outros

desdobramentos interessantes poderiam acontecer caso algum dos participantes, quando

alinhasse os vértices de BCD com o centro da Homotetia A, viesse a perceber que esta

construção poderia ser reduzida a um dos casos anteriores, como o da última construção do

bloco um.

Figura 14- Homotetia

Fonte: o autor

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Em relação às respostas apresentadas, os participantes que finalizaram as atividades

chegaram à mesma conclusão, como previsto neste estudo. Dentre as observações feitas por

eles, destacam-se:

P7: Pessoal, boa noite. Segue minha construção. Espero que esteja correta. Resposta

dos questionamentos: Observo que ao movimentar o ponto B ocorre a redução ou

ampliação dos triângulos conservando a proporcionalidade entre seus lados. Esses

novos triângulos não são equiláteros, são escalenos. Utilizei a ferramenta para medir

os lados desses triângulos e observei que: C'B' = 2CB; C'D' = 2CD; D'B' = 2DB.

Abraços.

Nota-se que P7 relacionou a resposta ao item a (ou comentário, como parece ser mais

o caso) aos triângulos construídos como resposta ao item b, e não ao segmento AB. Isto não

pode ser considerado um equívoco, pois asserções contidas nas respostas dadas possuem

validade e são da mesma natureza da resposta pretendida inicialmente. Além disso, menciona

a proporcionalidade, conhecimento que se pretendia ver relacionada à construção. Ao

mencionar a redução e a ampliação dos triângulos, P7 indica empregar a interface

computacional por meio da experimentação, movimento que vai sendo mediado por

sucessivas visualizações dos resultados por assim dizer parciais das diversas configurações

obtidas a partir do dinamismo. Esta descrição possibilita ver uma configuração de pessoa-

com-GeoGebra em uma dinâmica desenvolvida a partir da fluência em relação à interface,

mas que já configura o que Oliveira (2013) denomina como pensar com tecnologias, pois o

participante pôde verificar com o GeoGebra a alteração nas medidas dos lados dos triângulos

e estabelecer uma relação entre eles, observar a semelhança das propriedades dos triângulos

obtidos por meio da manipulação das representações dos objetos na tela e os conhecimentos já

presentes em sua estrutura cognitiva, no caso, a noção de proporcionalidade.

Na sequência, outro participante descreveu:

P5: Nilo, estou na construção 1. A parte (a) do roteiro já fiz, mas na parte (b), fique

com a seguinte dúvida: O roteiro (b) diz:não contidos em na reta a (?!) ... a minha

dúvida é: então posso escolher qualquer um que esteja, dentro, fora ou pertença a

circunferência? Eu tentei entender, daí acabei olhando o da P7. Mas fiquei com a

dúvida mencionada acima.

Entretanto, após observar a construção da colega e manipular o software como pôde,

apoiou-se sobre as mídias que dominava melhor, ou seja, lápis e papel, para, na sequência,

utilizar o software para testar a validade da sua construção. Fica cada vez mais claro que o

que está em jogo é a mídia proporcionar ao usuário esses momentos de reflexão, e não ser um

fator impeditivo, obrigatório ou limitante. Surge, então, uma observação a ser feita aqui, em

torno da convergência entre as mídias, de modo que cada uma delas sobre as quais se tem

algum tipo de fluência e com a qual se possa reorganizar o pensamento de forma mais

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adequada possa ser integrada em uma configuração de “pessoas-com-mídias-resolvendo-

problemas”. A questão da não substituição, mas da readequação e reposicionamento do uso de

diversas interfaces, já destaca por Lévy (1993), torna a surgir neste ponto:

P5: Aleluia!!! Nilo, finalmente consegui...Estou feliz, mas preciso deixar registrado

que tentei "n" vezes pelo GeoGebra e não obtive sucesso, então "apelei", ou seja, fiz

usando folha, régua e compasso. Após isso consegui enxergar o que o roteiro está

direcionando... Homotetia. Como ficou certo no papel, apenas reproduzi o resultado

no software.

Longe de representar qualquer contrassenso em relação aos pressupostos teóricos

assumidos nesta pesquisa, reconhece-se que a convergência entre mídias de diferentes

constituições e naturezas é fator preponderante para a garantia de que o aprendiz se sinta

confortável para relacionar, na configuração da qual faz parte, a tecnologia julgada mais

adequada, qualquer que seja o polono qual se integre (oralidade, escrita ou informática –

Lévy, 1993). Neste aspecto, reconhecem Oliveira e Marcelino (2015):

Ao mesmo tempo, é preciso admitir que certas perspectivas somente se confirmam,

quando se fala em aprender matemática, a partir da associação daquele que aprende

com alguma tecnologia que lhe suporte ou lhe assessore o pensamento. O

dinamismo na observação do comportamento de uma função dados diferentes (e

muitos) coeficientes, por exemplo, ou a observação da manutenção das propriedades

de uma construção geométrica em dadas condições é bastante difícil sem o uso de

softwares específicos. Claro que lápis e papel também representam tecnologias,

assim como réguas, transferidores, compassos, esquadros e outros instrumentos

equivalentes (p. 820).

É importante destacar que P5 emprega os elementos destacados na fala dos autores

supramencionados: usa as tecnologias vistas como tradicionais, mas busca validar a

construção por meio do uso do GeoGebra, ambiente no qual a tríade dinamismo-visualização-

experimentação permanece disponível de forma intensiva.

Quanto às demais respostas apresentadas, devem-se destacar as seguintes:

P5: [Há alguma regularidade quando se compara este triângulo com o triângulo

BCD?] Sim, o segundo é a ampliação do primeiro. Quando um aumenta ou diminui

o mesmo acontece com o outro;

[Quais propriedades observadas na figura garantem sua argumentação?] A origem A

vale para todos os pontos. Os novos pontos B’, C’ e D’ estão contidos nas retas

suporte dos pontos originais B, C, D. A propriedade matemática acho que é a

reflexão dos pontos (eu acho ?!) “[Aqui, P5 quis fazer menção ao princípio de

paralelismo].

P5: [Movimente os pontos, observe e relate o ocorrido. O que preserva a integridade

das propriedades relativas à construção realizada neste exercício?] As retas estão na

origem A que é um ponto fixo (centro da Homotetia), e os pontos “originais e

novos” deslizam pelas suas respectivas retas".

Nitidamente, P5 trouxe a resposta esperada em relação à primeira pergunta, indicando

que há uma ampliação. Ainda que o sujeito não tenha, neste ponto, mencionado a proporção,

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ele já o havia feito em questão anterior. Deve-se notar que a resposta traz uma sutileza que

revela um pouco de seu processo: o participante menciona que a manipulação de um triângulo

(“aumento”/”diminuição”) implica em efeito semelhante no outro, o que pode indicar que esta

afirmação parte da observação do caráter dinâmico da construção, permitindo uma série de

experimentações que reforçariam, por meio da visualização, a criação da conjectura

apresentada (Borba e Villarreal, 2005; Oliveira, 2013). Neste aspecto, a construção assume o

caráter de modelo digital, da forma como indicada por Lévy (1993), que entende esta

possibilidade como um elemento interativo de exploração, contrapondo-se ao modelo

analógico e estático: em sua versão digital, este elemento seria “essencialmente plástico,

dinâmico, dotado de certa autonomia de ação e reação” (LÉVY, 1993, p. 121). A intervenção

no modelo digital, neste caso, subsidia a conjectura apresentada pelo sujeito, que emprega a

tecnologia como elemento que encaminha uma reorganização de suas ideias.

Na resposta seguinte, que solicitava indicar as propriedades matemáticas observadas,

nota-se que, ao mencionar o posicionamento dos pontos B‟, C‟ e D‟ nas mesmas retas que B.

C e D, P5 se referia ao princípio de paralelismo, ainda mais quando menciona A como ponto

comum entre as retas suporte. Resta destacar que, em resposta anterior, o participante revela

ter medido os lados dos dois triângulos e constatado a relação entre elas em termos gerais, ou

seja, a proporção, relacionada às propriedades que se mantêm estáveis quando se alteram as

medidas. Supõe-se, aqui, que o sujeito tenha baseado, pelo menos em parte, suas conjecturas

nas manipulações que realizou por meio do software GeoGebra nas questões anteriores. Ainda

assim, seria desejável que fosse feita menção ao caso LLL de semelhança de triângulos, o que

não ocorreu.

No que faz menção à terceira resposta, o sujeito se refere, de maneira informal, tendo

por base as experimentações realizadas no ambiente dinâmico, aos princípios de

proporcionalidade e paralelismo, os quais, de acordo com a análise já indicada anteriormente,

garantem a estabilidade e o acerto, em termos matemáticos, da construção. Evidentemente,

contam de forma decisiva a fluência na tecnologia empregada e o alinhamento da resolução

com um pensar com tecnologia: dada a sequência de atividades e o uso intensivo da interface,

as construções se integram ao que Lévy (1993) chama de condicionamento tecnológico, ou

seja, o sujeito condiciona as conjecturas que provê e as resoluções que propõe ao uso da

tecnologia a partir da qual seu pensamento se reconfigurou – qualquer tecnologia (lápis e

papel, computador, calculadora, etc.). Isto não quer dizer determinismo, ou seja, claro que

ainda é possível proceder sem o uso da tecnologia quando aquele saber está consolidado na

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estrutura cognitiva do indivíduo, mas não é necessário fazê-lo. Isto implica em dizer que, sem

o conhecimento (matemático, no caso), pouco importa qual tecnologia ou quão sofisticada ela

seja: para pensar com tecnologias, as pessoas partem de um conhecimento que detém ou que

vão construindo como resposta ao problema sobre o qual se debruçam.

Neste item, P7 limitou-se a concordar com as respostas supramencionadas, apoiando o

colega em relação às afirmações que fazia e ajudando-o em relação às construções providas

no GeoGebra, caracterizando, segundo nossa análise, um procedimento de cooperação.

c) Realize o mesmo processo da construção anterior, mas, desta vez, marque os pontos

B', C' e D' de modo que sejam determinados por dois terços da medida AB, AC e AD

sobre as retas a, g e d, respectivamente. Relate aos colegas o que observou,

comparando a construção do item anterior a esta, considerando o processo que

empregou para desenvolver a sua construção. Há algum elemento novo? O que pode

afirmar quanto aos dois triângulos que estão nesta construção?A partir deste e do

percurso adotado no item b, pode se afirmar que estas etapas já consistem um método

geral para ampliar e reduzir figuras? Por quê? ”

Aqui, espera-se que os participantes percebam que, após dividirem os três segmentos

AB, AC e AD, cada qual sobre uma reta correspondente, como no enunciado, em 3 partes

congruentes em relação a uma reta suporte d, por exemplo, estas divisões são garantidas a

partir do paralelismo e do princípio de proporcionalidade (figura 15).

Em termos do conhecimento matemático necessário à construção solicitada, poder-se-

ia ter o seguinte raciocínio: seja 𝐴𝐵 um segmento qualquer a ser dividido em n partes

idênticas. Admite-se, então, uma reta concorrente d (com ângulo menor que 90º) a um dos

extremos deste segmento de modo que, usando uma medida arbitrária p, esta seja projetada

(transferência de medida via compasso) n vezes sobre d. Disto, a partir do último ponto

projetado por este procedimento, traça-se uma reta até o outro extremo do segmento. Desta

última, para cada um dos pontos de interseção determinados sobre d nas transferências da

medida p sobre d, traçam-se paralelas até que se esgotem todos estes pontos. A justificativa

para a precisão deste método está justamente no teorema de Tales, no qual duas retas

transversais a um conjunto de paralelas determinam segmentos proporcionais e

correspondentes sobre elas. Por fim, sobre a reta escolhida, consegue-se dividir o segmento

em n partes iguais, e, tomando-se duas destas partes, tem-se um ponto homólogo de forma

que o segmento determinado por ele e A seja tal que 2

' . .3

AB AB r AB (RESENDE;

QUEIROZ, 2002).

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Repete-se este procedimento para cada um dos outros vértices de BCD, no caso C e D,

de modo que se localizem C' e D', tais que 2

' . .3

AC AC r AC e2

' . .3

AD AD r AD . Isto

mostra que as medidas dos lados de B'C'D' são proporcionais as de BCD; logo, pelo teorema

LLL de semelhança, BCD e B'C'D' são semelhantes.

O elemento "novo" desta construção é o uso de uma razão de proporção racional ao

invés de inteira, como utilizada até o momento, o que poderia causar uma discussão acerca de

como construir um segmento dividido desta forma e o princípio do paralelismo, mais uma vez

necessário para a tarefa.

Quanto à última das perguntas, espera-se que os participantes digam que não, pois a

razão de semelhança entre as figuras é dada em ambos os casos e não é variável, o que pode

ser observado caso se movimente o centro da Homotetia e se observe que a projeção não

altera sua forma nem proporções.

Um contraexemplo pode ser outra figura reduzida, mantida (identidade) ou ampliada

em relação à original, com razões de semelhança distintas da inicial. Ou, ainda, pode haver a

combinação de uma visualização via reposicionamento do centro de Homotetia A sobre cada

um dos vértices de BCD e a relação com o caso do último problema do bloco anterior a este,

no qual o participante pode apontar os casos inversos ou, ainda, partir da ideia da construção,

dado o seu dinamismo, para apresentar uma argumentação inicial para o caso geral.

Para esta construção, as ferramentas do GeoGebra necessárias são Ponto, Reta,

Compasso, Polígono, Ponto de interseção, Ângulo (para conferência) e Reta Paralela (para a

construção dos pontos à distância de dois terços da medida do centro da Homotetia até cada

vértice da figura original).

Em relação ao dinamismo do software, as pessoas-com-GeoGebra poderão

compreender que o centro da Homotetia, A, ao ser movimentado, reflete sobre a construção os

mesmos comportamentos apontados no caso anterior (idem para os vértices de BCD). Por

conta de a razão de semelhança estar no intervalo 0<r<1, aos participantes restará a

visualização de uma projeção "menor" e "mais próxima" de A do que a figura original.

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Figura 15– Item c da primeira construção do bloco 2

Fonte: o autor

Neste item, podem ser destacadas as seguintes respostas:

P5: Quando movimento o ponto B, o segmento AB' aumenta ou diminui na mesma

razão(proporção). Ele segue a razão 2 coeficiente de proporção (Homotetia), ou

seja, o dobro. Então o segmento aumenta e diminui, sim, na mesma proporção;

[Há algum elemento novo?] Não tem elemento novo...acho relevante comentar

apenas que a reta a, antes era suporte do segmento AB, mas agora ela compõe a

formação da figura para fazer a Homotetia... não a considero como elemento novo

[Na verdade, o sujeito não percebeu o valor da razão, alterado para dois terços do

original e não faz menção em quanto isso altera o resultado na tela. No item b, a

atividade propiciava uma ampliação, e neste, uma redução];

[O que pode afirmar quanto aos dois triângulos que estão nesta construção?] As

áreas dos triângulos estão aumentando ou diminuindo na razão de 4, mas as

características originais são preservadas.[Neste ponto, ainda fazia menção ao

exemplo da Homotetia de razão 2];

[A partir deste e do percurso adotado no item b, pode-se afirmar que estas etapas já

consistem um método geral para ampliar e reduzir figuras? Por quê?] Este é sim um

método de ampliação e redução, pois os novos pontos B', C' e D', fazem parte das

retas suporte dos pontos originais.

Estas respostas de P5 revelam que as atividades eram, de fato, realizadas por uma

configuração constituída por pessoas-com-GeoGebra, formada a partir da construção de

fluência em relação à tecnologia e revelando formas de pensar de forma integrada com os

dispositivos computacionais: o sujeito revela perceber a proporcionalidade existente na

proposta quando movimenta o ponto B (experimentação e visualização, proporcionadas pelo

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dinamismo do ambiente). Quanto à não percepção do “elemento novo” constante da atividade,

é preciso reconhecer que talvez o enunciado não tenha provocado o entendimento desejado,

ou seja, a percepção de que se tratava de outra razão, a qual, por sua vez, teria como resultado

uma redução, no lugar de uma ampliação, como feito anteriormente. Talvez também por isso

a resposta seguinte tenha sido baseada na Homotetia de razão 2. De todo modo, até aqui,

ainda que tenha havido alguma dificuldade na comunicação, percebe-se que os conceitos

emergem de forma consistente nas respostas fornecidas.

Na última resposta, P5 parece acreditar que o método em questão representa um caso

geral de Homotetia, ignorando que as razões empregadas nas atividades em questão não são

variáveis. Ainda que várias características da construção assumam distintos valores, mantendo

as propriedades, mudando dinamicamente a partir da ação de clicar-e-arrastar, o aspecto

invariável da razão impede que se trate esta atividade como um caso geral. Aqui, pode-se

aventar que o participante em questão não tenha percebido o caráter constante da razão ou que

detenha uma ideia equivocada de generalização.

Com relação às respostas providas neste item, seguem as figuras 16 e 17 com as

construções realizadas pelos sujeitos P5 e P7.

Figura 16– Itens b e c deP5

Fonte: dados da pesquisa

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Figura 17– Itens b e c de P7

Fonte: dados da pesquisa

4.1.2.5 Segunda construção: Homotetia e a relação da Semelhança nos triângulos

O objetivo desta atividade consiste em expandir o emprego da Homotetia nos estudos

aqui realizados e fazer com que os participantes concluam que: toda Homotetia entre dois

triângulos determina uma semelhança entre eles, e que, a partir desse princípio, os mesmos

podem resolver problemas que necessitem deste conceito na construção e na argumentação.

a) “Construa um triângulo qualquer BCD. A partir das construções feitas até agora,

utilize os conceitos que foram trabalhados para determinar um triângulo B'C'D' tal que

a razão entre as medidas dos lados destes dois triângulos seja a mesma, de valor

qualquer, estabelecida por vocês. Explorem possibilidades quanto às regularidades

apuradas nas construções anteriores, compartilhe com os colegas o processo de

construção que empregaram e as justificativas geométricas que puderem listar e que

foram percebidas e mobilizadas. Não deixe de comentar as construções dos colegas, e

caso tenham imaginado alguma outra construção que seja válida para a resolução do

problema, compartilhem com o grupo”.

Quanto à resposta esperada, a partir das construções anteriores, os participantes

poderiam notar a relação que indica onde se encontram os pontos tais que, a partir da

Homotetia entre BCD e B'C'D', determinam a razão de semelhança entre elas.

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Alguns fatos a partir deste enunciado: no caso, a Homotetia determina dois segmentos,

AB e AB', que são proporcionais a uma razão de semelhança r, partindo do ponto do centro

de Homotetia A, resultando em uma ampliação (se r>1), uma identidade (se r=1) ou uma

redução da imagem (quando 0<r<1). Isto é possível considerando uma simples verificação, à

medida que, a partir de A e de 3 pontos não colineares simultaneamente, BCD, forma-se um

triângulo, e a partir de um de seus vértices, por exemplo B, no prolongamento da reta suporte

do segmento 𝐴𝐵 , seu homólogo B' se encontra contido.

A partir de B', caso sejam traçadas retas paralelas aos lados do triângulo BCD,

determinam-se pontos de interseção entre essas paralelas e as retas de suporte dos demais

vértices C e D que determinam seus homólogos C' e D' tais que, quando se movimenta B, o

princípio do paralelismo faz com que ele reproduza os resultados visuais supracitados. Caso

B' seja movimentado sobre sua reta suporte (a mesma de A) e o extrapole, este determina uma

Homotetia inversa, tal que r<0(ver figura 18).

A semelhança entre o triângulo inicial BCD e seu homólogo B'C'D' pode ser

justificada das formas apuradas de semelhanças de triângulos desde o estudo do objeto

matemático, ou seja, por LLL(caso sejam apuradas a razão de semelhança r entre as medidas

dos lados), por meio de um caso AAA (por conta da conservação da congruência dos ângulos

correspondentes destes por meio do paralelismo entre os seus lados), ou, ainda, por um caso

LAL (a partir do momento que se usa um ponto homólogo B', seu ângulo correspondente e

congruente com o original, B, e dois lados consecutivos que partem destes e que são

proporcionais entre si pela razão de semelhança r).

As ferramentas do software que permitiriam trabalhar com estes procedimentos seriam

Ponto, Reta, Compasso, Polígono, Ponto de interseção, Ângulo e reta paralela (para a

construção dos pontos homólogos de cada vértice da figura original que comporão a projeção

de BCD, B'C'D').

De todas as construções até aqui realizadas, esta foi a única para a qual não houve

propostas que pudessem ser consideradas corretas, do ponto de vista do rigor matemático. As

dificuldades experimentadas na resolução do item c da primeira construção acarretaram a

inexistência de uma experiência anterior que pudesse permitir uma associação com a tarefa

aqui proposta. Da mesma forma como cogitado em relação ao item anterior mencionado, não

fica claro para o pesquisador em qual dos aspectos houve falha, se em relação ao

conhecimento matemático, à compreensão da questão ou à fluência na mídia, ou ainda uma

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falha na estratégia didática por não ter sido considerado que haveria, neste momento,

problemas quanto às construções propostas.

Figura 18– Proposta para a segunda construção, bloco 2

Fonte: o autor

As construções propostas por P5 e P7 são exibidas, respectivamente, nas figuras 19 e

20, a seguir. Nota-se que as propostas mencionadas não permitem a que a proposta simulasse

um caso geral, a partir do qual se pudesse, como na construção da figura 18, que a variação do

ponto A mantivesse válida a Homotetia, variando a razão de acordo com a experimentação

proposta pelo sujeito.

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Figura 19– Produção de P5- segunda construção, bloco 2

Fonte: Dados da pesquisa

Figura 20– Produção deP7- segunda construção, bloco 2

Fonte: Dados da pesquisa

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4.1.2.6 Terceira Construção

A terceira construção da sequência de atividades trazia o seguinte enunciado:

“Sejam 3 retas paralelas, p,s,t e que têm entre si uma mesma distância, sendo

interceptadas por um feixe de 5 semirretas que determinam sobre p, s, e t cinco segmentos de

mesma razão, feixe este que parte de um ponto A exterior às retas supracitadas. Disto, elabore

uma construção que traduza o que foi descrito acima, justifique a validade desta, e

compartilhe com seus colegas as observações que pôde fazer neste percurso. Nesta construção

que elaborou, há a possibilidade de movimentar algum dos pontos? Quais deles? O que o

movimento destes pontos lhe revela? Qual justificativa empregaria para garantir que estes

segmentos determinados sobre p, s e t pelo feixe de semirretas determinado é de fato regido

por uma mesma proporção? Qual a razão de proporcionalidade entre estes segmentos?”.

Espera-se, neste ponto, que os sujeitos determinem uma estratégia para, em primeiro

lugar, conseguirem posicionar as 3 retas p, s e t a uma mesma distância arbitrária. Para tanto,

podem usar a transferência de um segmento de medida qualquer, por exemplo CD, sobre uma

reta auxiliar que é suporte de um segmento 𝐴𝐵 e que seja concorrente às 3 retas p, s, t.

Repetindo este processo de transferência por 3 vezes, obtêm-se os pontos de interseção (F, H,

J) das três retas com a reta auxiliar a.

Para determinar a direção de p, s e t, traça-se a primeira destas retas, p, com a

ferramenta reta, por um ponto K qualquer e não contido em a e, em seguida, em um dos

pontos determinados pela medida CD à partir de A sobre a, no caso, F. Depois, as duas retas

seguintes deverão ser traçadas por H e J com a ferramenta Reta Paralela a partir de a, para a

conservação da inclinação entre elas em função da primeira, por conta de que quando duas

paralelas são cortadas por uma transversal, esta determina ângulos correspondentes

congruentes.

Feito isso, devem ser determinados os 5 pontos por onde o feixe de semirretas irá

passar, estabelecendo os 5 segmentos idênticos sobre cada uma das 3 paralelas. A marcação

desses pontos pode ser feita a partir de qualquer uma das retas, uma vez que no enunciado já

havia a restrição do feixe, indicando que este deveria partir de A e passar pelos 5 pontos

determinados nesta etapa, de maneira e justificativa análogas à etapa anterior.

Para tanto, pode-se usar a medida do mesmo segmento que originou o primeiro

controle deslizante, ou ainda criar um outro segmento, por exemplo LM, como base para as

transferências, de tal forma que a medida estipulada seja transferida a partir de um dos pontos

de interseção sobre a reta paralela, no caso o ponto J, por cinco vezes. Isto vai fazer com que

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encontrem os 5 pontos equidistantes sobre uma das três paralelas, e que se possa traçar o feixe

de retas desejado. A figura 21 traz um esboço da construção aqui indicada.

De fato, a razão entre os segmentos será a mesma. Isto ocorre porque, a partir dos 5

pontos determinados para a passagem do feixe de semirretas, determinam-se 5 triângulos a

partir do ponto de origem que têm propriedades semelhantes. Cada um deles têm um vértice

em A e é cortado por três paralelas. Como pode ser visualizado na figura 21, os lados destes

triângulos, contidas nas semirretas do feixe e cortadas pelas paralelas, constituem uma mesma

razão para os segmentos que são determinados por eles ao dividirem exatamente estes lados

em 3 partes iguais. Nisto, tem-se 5 casos de semelhança LAL; portanto, os segmentos

determinados pelos pontos de interseção das semirretas do feixe com as paralelas são

proporcionais e tem uma razão de proporcionalidade igual a 1/3 para cada uma das paralelas a

partir do vértice A.

Nesta construção, as ferramentas utilizadas no software foram Ponto, Reta, Compasso,

Polígono, Ponto de interseção, Ângulo (para conferência) e Reta paralela (para a construção

dos pontos homólogos de cada vértice da figura original).

Caso movimente-se o ponto K, torna-se possível às pessoas-com-GeoGebra

visualizarem que as demais paralelas também modificarão suas inclinações, preservando a

distância que há entre elas. Ao movimentar o ponto B, toda a estrutura gira ao redor de A. A

medida que se movimenta os extremos do segmento 𝐶𝐷 , criado para determinar a distância

entre as paralelas, pode-se observar que a distância entre elas vai ampliando ou diminuindo de

forma diretamente proporcional a sua medida e, por fim, ao mover os extremos de 𝐿𝑀 , os

pontos do feixe determinados sobre as paralelas também se aproximam ou se afastam entre si,

diretamente proporcionais a ele.

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Figura 21– Proposta para a terceira construção, bloco 2

Fonte: o autor

Em relação às respostas esperadas, apenas P5 apresentou uma proposta de resolução,

ainda que parcial a construção requerida, como exposto na figura 22. Neste ponto, P7 alegou

ter muitas dúvidas acerca de como empregar o conhecimento matemático que fosse adequado

ao problema proposto e apenas esboçou o que seria um processo de construção (figura 23).

Além de uma construção mais próxima do estatuto formal do conhecimento

matemático válido, P5 procurou responder às questões lançadas:

P5: [Há a possibilidade de movimentar algum dos pontos? Quais deles?] Sim,

somente o ponto A (origem das semirretas) e o centro das circunferências.

[O que o movimento destes pontos lhe revela? ] Que as medidas da divisão dos

segmentos mantêm a mesma proporção entre si.

[Qual justificativa empregaria para garantir que estes segmentos determinados

sobre p,s e t pelo feixe de semirretas é de fato regido por uma mesma

proporção?] As propriedades se mantêm, acho que isso ocorre porque as paralelas

são equidistantes e porque as retas que saem do ponto A fazem parte das

circunferências.

[Qual a razão de proporcionalidade entre estes segmentos?] A razão é um.

O que há de mais interessante nessas repostas e na construção em si é que P5 foi

bastante eficaz no que se refere ao emprego do sistema computacional para representar a

construção solicitada, apesar do equívoco em usar 4 ao invés de 5 retas no feixe, como pedido

no enunciado. Entretanto, não conseguiu alcançar um resultado ainda mais próximo da

conformidade em relação ao conhecimento matemático em jogo por conta de não ter

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percebido que, para os segmentos serem proporcionais a uma razão como a dada, as retas

paralelas deveriam ter uma mesma distância entre si a partir do centro da Homotetia, fato que

não ocorreu. A maior discrepância, se considerada a resolução indicada na figura 21, ficou por

conta da razão indicada pelo participante: um. Na verdade, é provável que o mesmo estivesse

se referindo à razão dos segmentos sobre as retas paralelas.

Figura 22– Resolução de P5

Fonte: Dados da Pesquisa

Figura 23– Resolução de P7

Fonte: Dados da Pesquisa

Neste caso, percebe-se que a fluência no uso do GeoGebra e as propostas trazidas a

partir de uma configuração de pessoas-com-tecnologias encaminhou conjecturas que

permitiram alcançar, principalmente no caso de P5, algum progresso em relação ao

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conhecimento matemático, mas não garantiu, de todo modo, que o conhecimento fosse

consolidado integralmente. É preciso considerar que as estratégias usadas pelos sujeitos

permitiram, no que se refere a esta atividade, algum avanço, mas que outras possibilidades

poderiam ser levadas em conta. Claramente, então, uma limitação deste estudo surgiu quando

o planejamento dos problemas não considerou a hipótese de reaproveitar os impasses,

equívocos e eventuais erros para reconfigurar pontos do processo de construção do

conhecimento, de modo a propor a retomada das atividades, por exemplo, após uma discussão

sobre os possíveis caminhos para levá-la a bom termo.

Assim, concluídas as análises, a parte seguinte deste texto traz as últimas

considerações relativas à investigação aqui descrita.

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Considerações Finais

Um olhar retrospectivo sobre a pesquisa e suas experimentações se faz necessário

agora, quando se pretende tecer as palavras finais sobre esta iniciativa. A primeira impressão

que restou ao pesquisador, forte e indelével, é o caráter de inacabamento do ato de pesquisar,

de procurar subsídios para responder às questões que surgem após largas reflexões, buscas por

textos de referência, leituras, planejamento de atividades, esforço de campo, análises e

sínteses de dados. Muito mais poderia ser feito e dito, mas “é da própria dinâmica da

atividade de pesquisa e do ato de investigar o recorte, o delineamento, o design, o plano”

(OLIVEIRA, 2016, s/p). Desta forma, não seria possível a tudo abarcar, nem ter a pretensão

de cuidar de elementos que fugissem à esfera do compromisso assumido quando se elegeram

objetivos e questões direcionadores.

No caso desta investigação, tinha-se como norte primordial a reunião de elementos

que permitissem de alguma forma responder à indagação formulada assim: de que maneira se

caracteriza um percurso de estudo e investigação, envolvendo professores de Matemática da

Escola Básica, acerca do tema “Homotetia” e de tópicos matemáticos correlatos, realizado a

partir de uma proposta que envolve tanto a resolução de atividades por pessoas-com-

tecnologias como o desenvolvimento de fluência em relação às interfaces empregadas?

Na mesma linha de raciocínio, surgiu como objetivo geral o de desenvolver uma

estratégia didática para uso de tecnologias digitais em atividades/problemas ligados à

geometria plana, tendo o tema de “Homotetia” como elemento matemático principal, e a

intenção de evidenciar as compreensões constituídas a partir de pressupostos interativos no

âmbito de pessoas-com-tecnologias-digitais. Também existiram os objetivos específicos, que

foram listados como:

Constituir uma sequência didática sobre Homotetia, envolvendo, igualmente, assuntos

correlatos e necessários à reflexão sobre o tema, que permita, por parte dos sujeitos, a

constituição de percursos investigativos cujos problemas estruturantes são pensados a

partir da integração das pessoas com o software GeoGebra em sua versão número 5;

Possibilitar o engajamento dos participantes na construção de conjecturas e propostas

de resolução de problemas sobre o tema “Homotetia” a partir de um ambiente e de

uma estratégia didática que busca incentivar interações no âmbito de ambientes

virtuais e presencias;

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Analisar as produções dos sujeitos sob a perspectiva do referencial teórico que orienta

este trabalho, constituído pela proposta do ciclo de formação de professores para uso

das tecnologias em Educação Matemática (Oliveira, 2013; Oliveira e Marcelino,

2015; Oliveira, Gonçalves e Marquetti, 2015), o constructo seres-humanos-com-

mídias(Borba e Villarreal, 2005) e os conceitos relativos às tecnologias da

inteligência (Lévy, 1993).

Repetir estes compromissos aqui se configura como um recurso de bastante utilidade.

Permite indicar, por exemplo, que o percurso não teve nada de linear, mas teve que ser

recomposto e reconfigurado constantemente, à medida que as perplexidades e imprevistos

aconteciam, justamente porque “fazer pesquisa não é perseguir um roteiro pronto e asséptico,

preparado para o livramento do pesquisador em relação aos percalços da realidade, mas

justamente, de maneira inversa, facear a realidade, tendo, por recursos, os elementos

metodológicos eleitos e por retaguarda, o referencial teórico composto” (OLIVEIRA, 2016,

s/p). Foi assim que, nesta pesquisa, viu-se que alguns sujeitos se iam distanciando e mesmo

abandonando as atividades, de modo a reduzir os nove participantes iniciais a dois.

Entretanto, o tratamento imposto pelo binômio metodologia-teoria desta investigação

não dependia de um número específico de sujeitos: observar e descrever como se dava o

processo de construção/refinamento do conhecimento matemático no tema em destaque a

partir de uma configuração de pessoas-com-tecnologias pôde acontecer sem prejuízos, a não

ser em relação a um universo mais reduzido. Pode-se imaginar que, se mais pessoas pudessem

ter finalizado as atividades, diferentes e mais numerosas análises poderiam ser feitas, mas isto

é algo que não se pode garantir. A partir do segundo bloco, quando P5 e P7 assumiram a

condição de público total do curso que serviu de base à recolha de dados, intensivas

interações tiveram lugar, o que permitiu que as análises encetadas no capítulo anterior

tivessem lugar. Claro que é preciso indicar uma possibilidade no sentido de que, em futuras

pesquisas que se debrucem sobre temas semelhantes aos cuidados aqui, maiores cuidados

sejam tomados no sentido de preservar, quanto possível, o número original de pessoas

envolvidas nas interações.

Outro ponto importante a ser destacado nestas últimas páginas se refere ao fato de que

a organização do estudo facultou acompanhar as trajetórias dos participantes ao longo de uma

experiência que permitiu a apropriação de uma nova forma de pensar – e de reorganizar o

pensamento – acerca de temas matemáticos fortemente interligados (paralelismo,

proporcionalidade, semelhança e Homotetia), e que se deu a partir do uso de tecnologias

digitais (em princípio) e não digitais (incidentalmente). Esta trajetória que elencou momentos

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de convergência e de uso intensivo da interface computacional, marcou de forma bastante

distintiva o papel da construção de fluência dos dispositivos empregados como uma

importante etapa de consolidação de processos cognitivos. Esta fluência apoiou o movimento

por meio do qual se deu a reorganização do pensamento e o pensar com tecnologias. Foi

possível observar como isto acontecia a partir do discurso dos sujeitos, da forma distinta

como se expressavam à medida que iam ganhando maior desenvoltura no GeoGebra. As

justificativas apresentadas para as conjecturas vinham predominantemente calcadas no

trinômio “dinamismo – experimentação – visualização”, ou melhor, em um tipo de

experimentação possibilitado por um tipo de dinamismo e que permite um tipo de

visualização. Isto quer dizer que o dinamismo do GeoGebra, materializador do “tempo real” e

da “interface reativa” dos sistemas modeladores, como destacado por Lévy (1993), permite

construir uma relação com o conhecimento matemático que tem lugar quando

experimentações intensivas, sucessivas e virtualmente numerosas podem ocorrer. Outro é o

tipo de dinamismo e outra é a experimentação quando se recorre ao lápis e ao papel, por

exemplo: este estudo levanta a possibilidade de que a manipulação dos chamados “recursos

tecnológicos tradicionais” pode ser marcada por algum dinamismo – mexer o papel, mudar o

olhar, variar o ângulo do desenho em relação à folha com o lápis – e alguma experimentação

– desenhar ao lado de um diagrama inicial, rabiscar. Nos dois casos, possibilidades de

visualização são abertas, com mais subsídios e recursos na versão digital, mas, às vezes, de

uma forma mais familiar ao sujeito, na versão não digital. De todo modo, a estimular a

conjectura das tecnologias como reorganizadoras do pensamento, e da resolução das

atividades por pessoas-com-tecnologias (ou pessoas-que-pensam-com-tecnologias), percebe-

se o recurso a elas em todas as circunstâncias da investigação aqui descrita, bem como a

forma como convergem, quando necessário, para subsidiar a construção do conhecimento.

Com base nisto, o discurso dos sujeitos surgia povoado por termos como “- Quando

movimentei a construção, observei que as figuras eram proporcionais...”, “- Alterei o tamanho

do segmento e as propriedades se mantiveram...”, “- Quando uma construção tem seu

tamanho aumentado, a outra diminui...”, “- Mudando a razão, as propriedades se mantêm...”.

As falas apontam, então, de maneira inequívoca, raciocínios e conjecturas em torno de

pensamentos-com-tecnologias. Reconhece-se, é claro, que não se tratam de demonstrações –

como limitação do estudo, aliás, deve-se dizer que mesmo a busca de casos gerais representou

grande dificuldade para os participantes. No entanto, estas possibilidades podem encaminhar

outras, reservando ao emprego de estratégias didáticas com tecnologias um papel importante

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na elaboração de propostas de resolução de atividades e problemas matemáticos. Os aspectos

relativos às generalizações e/ou demonstrações ficam, no que se refere a este estudo, como

potenciais inquietações, pedindo novas pesquisas.

De outro ponto de vista, pode-se dizer que, desde o início desta pesquisa, houve o

interesse, de fato, no estudo da noção de semelhança a partir do conceito de Homotetia, aqui

apresentado e explorado nas situações que foram propostas aos participantes. Para tanto, as

buscas por referenciais bibliográficos e do apanhado histórico acerca deste objeto em

dissertações e teses apontavam a necessidade de um estudo que investigasse as

potencialidades de uma estratégia didática na qual se utilizassem mídias digitais e que

abordasse esse tema. O que se viu, então, a partir destes pressupostos, foi uma série de

resultados que destacam a relevância destas tecnologias, mas que indicam o quanto convivem

com as mesmas outras mídias. Pensar em configurações que amplificam as possibilidades do

pensamento, sem criar restrições ao uso de um ou outro recurso, é um tema que também pode

ser continuado.

Para implementar o que se planejou, foram concebidos três blocos de atividades, sendo

que os dois primeiros compõem as descrições principais deste texto, enquanto o terceiro não

foi posto em prática e consta na seção de apêndices, logo após as referências deste estudo.

Este terceiro bloco possui atividades que partem do conceito de Homotetia para o estudo de

semelhança em triângulos retângulos e uma aplicação neste sentido, como um processo de

demonstração para o Teorema de Pitágoras.

Este bloco fica à disposição de outros pesquisadores que se interessem pelo assunto e

que queiram empregá-lo em seus grupos de estudos e/ou alunos. A razão da não

implementação do terceiro bloco foi, como já indicado, o desligamento de alguns dos

participantes, até que restaram apenas duas destas pessoas. Estes, por sua vez, indicaram que

as atividades passaram a tomar muito do seu tempo. Aqui, então, valem algumas reflexões: o

Moodle assumiu para a maior parte dos participantes apenas a função de espaço para depósito

dos arquivos, e, em poucos momentos, ocorreram diálogos mais intensivos entre os

participantes, a não ser nos casos de P5 e P7, que interagiram de forma bastante pronunciada

usando os elementos do AVA. Na visão de Oliveira (2007) e de Castells (2002), a percepção

de tempo e espaço são alteradas pelas tecnologias, ao menos em relação às pessoas que

aderem ao uso dos espaços virtuais de aprendizagem. Para aqueles que assim o fazem, soma-

se, ao tempo cronológico, o que os autores chamam de tempo intemporal, constituído por uma

medida distinta, que amplia aquele tempo localizado, marcado por uma ocasião, um encontro,

um decorrer de horas, minutos e segundos. Uma atividade se estende, e usa, por exemplo, de

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mecanismos assíncronos (como o fórum de discussões, por exemplo) para se prolongar e

subsistir em intervalos distintos. Neste estudo, este tempo diferente se abriu àqueles que

aderiram ao uso do Moodle mais do que como repositório de arquivos. Ainda assim, é preciso

verificar, para estudos futuros, de que forma se pode promover o uso destes espaços virtuais –

espaços de fluxos, para Castells (2002) – de maneiras não alcançadas pela presente pesquisa,

como uma forma de melhorar esta relação com o uso do tempo e a disponibilidade para o

aprimoramento pessoal no conhecimento matemático. Assim, outras formas de trabalho

conjunto poderiam ser priorizadas, o que não ocorreu aqui, como a colaboração e/ou a

cooperação.

Sobre outro aspecto, pode-se dizer que a estratégia didática empregada foi essencial

para que se pudesse discutir a construção do conhecimento sobre os temas matemáticos

abordados. A postura de não interferência direta do pesquisador, que não deixou de esclarecer

pequenas questões relativas à interface e aos enunciados, colaborou para que debates fossem

abertos, principalmente entre P5 e P7. A estratégia permitiu implementar as atividades

organizadas na pesquisa e acompanhar as propostas de resolução relativas às mesmas. Tal

postura permite afirmar que vários avanços foram obtidos, em que pesem algumas incorreções

e dificuldades que notoriamente persistiram.

Vale destacar, mais uma vez que os roteiros constantes das atividades foram

fornecidos aos participantes com o propósito de que as discussões fossem iniciadas, até o

ponto em que os mesmos tivessem condições de executar minimamente o que se objetivava.

À medida que as dificuldades persistiam, desde o desenvolvimento da fluência nas interfaces,

como foi mencionado anteriormente, fluência esta que compreende a exploração dos

elementos da interface e a apropriação da lógica da interface, a necessidade destes roteiros foi

novamente reestabelecida, de modo que a estratégia didática não tivesse seu andamento

comprometido. De todo modo, as interfaces escolhidas tinham o propósito de subsidiar a

construção de conhecimento matemático, fato esse que se consolidou parcialmente, como já

foi destacado.

Entretanto, como pode ser visto pelos resultados apresentados pelo participante P5, a

sucessão dos roteiros não foi suficiente para desenvolver a sua fluência como esperado em um

primeiro momento. Este fato não o impediu de explorar e investigar valendo-se do suporte

“lápis-e-papel” que dominava para dar solução a um problema proposto, seguido da

reprodução do resultado por meio do suporte digital. Na sequência do seu discurso (p. 83-84),

em resposta às questões da atividade, P5 compreende o sentido da questão (que menciona

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pela figura do roteiro) e o saber já presente em sua estrutura cognitiva que justifica o resultado

obtido pelo mesmo (Homotetia).

De todo o modo, os resultados aqui obtidos apontam para uma evolução gradativa dos

participantes, evolução esta que, espera-se, mantenha o potencial de estender-se para a prática

profissional dos sujeitos como professores e pesquisadores. Essencialmente, além de um

acréscimo em relação ao conhecimento sobre os temas geométricos aqui tratados, a

expectativa é a de que tanto os participantes quanto os leitores desta contribuição à área de

Educação Matemática possam desenvolver e manter uma visão sobre as tecnologias de

natureza variada que lhes permita trabalhar com entusiasmo, sem afastamento em relação ao

aspecto crítico.

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Apêndices

Apêndice 1- Bloco retirado do estudo: semelhança no triângulo retângulo

A partir deste momento, espera-se utilizar as noções, os recursos e as justificativas já

apresentadas pelos participantes no estudo de semelhanças em um tipo específico de

triângulos, a respeito das quais se observam regularidades que merecem destaque, devido ao

grande número de aplicações práticas, entre elas, a demonstração de teoremas amplamente

utilizados por estudantes de matemática, como, por exemplo, o teorema de Pitágoras.

Assim, este tópico específico trata da semelhança nos triângulos retângulos. Para

tanto, este estudo inicia por algumas discussões iniciais. Por meio das atividades, parte-se de

uma construção de triângulos retângulos por meio de ternas pitagóricas dadas, de modo a

estabelecer, a partir um processo de construção empírico, as primeiras propriedades de um

triângulo retângulo. Na sequência, tenta-se uma justificativa, com uma potencial

demonstração, do que é de fato necessário para garantir para um triângulo ser apontado, de

fato, como retângulo. A seguir, um contraexemplo é solicitado, via construção, para a

justificativa de que as ternas pitagóricas não geram todos os triângulos retos.

Na segunda construção, alinha-se um processo para a construção de um triângulo

retângulo qualquer, um processo de demonstração da semelhança nos triângulos retângulos

em um caso geral e, em seguida, um problema sobre justificar a origem da média geométrica

e de um processo de demonstração teorema de Pitágoras, ambos via noção de semelhança.

1- Primeira construção

Os objetivos da atividade serão descritos na versão final.

a) “Construa triângulos com lados de medidas 3, 4 e 5; 6, 8 e 10; 5, 12 e 13. Qual o

procedimento adotado? E o que pode afirmar para garantir que a construção é

válida? O que pode afirmar sobre elas ao compará-las entre si? ”.

Espera-se que, nesta etapa,os participantes construam sem dificuldade os triângulos

pedidos pela questão. Trata-se de um procedimento que não tem exatamente o status de

problema, por conta do grau de complexidade; entretanto, faz-se necessário, à medida que

introduz o tema do bloco e motiva algumas discussões voltadas às perguntas a seguir.

Poderá ser verificado que são triângulos retângulos necessariamente, porque de outro

modo as medidas dos lados não cumpririam as exigências do enunciado para a construção de

triângulos retângulos, algo facilmente verificado via teorema de Pitágoras.

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Outro método para averiguar o anteriormente citado pode ser feito pela construção de

um triângulo com as medidas dadas via circunferências a partir de segmentos desenhados no

GeoGebra com as medidas dadas pelo enunciado, por meio do transporte de medidas via

compasso. Por exemplo, faz-se 3 segmentos com a ferramenta segmento com comprimento

fixo, de comprimentos 3, 4 e 5. Disto marca-se um ponto A qualquer e usa-se qualquer uma

das medidas, por exemplo o segmento que mede 5, para se fazer uma circunferência com a

ferramenta Compasso de centro em A e raio desta medida. Marca-se B sobre a circunferência;

logo, AB mede 5. A partir de B, faz-se o mesmo procedimento, só que com outro segmento,

por exemplo, o que mede 4. Logo, qualquer ponto sobre a circunferência de centro em B de

raio 4, estará a uma distância de 4 de B, em função do conceito de lugar geométrico relativo à

circunferência. Por fim, para marcar C, a partir de A se cria uma outra circunferência de raio

congruente com a medida do segmento restante igual a 3; disto, encontram-se os pontos de

interseção C e C' desta última circunferência com a circunferência de centro em B e raio 4, e

ambos distam 3 de A e 4 de B. Logo, podemos traçar ABC com as medidas pedidas. O

mesmo pode ser feito a partir das medidas das outras duas ternas, como pode ser verificado na

figura 24. CEF tem medidas 6, 8 e 10 e CRT tem medidas 5,12 e 13.

Figura 24– Uma proposta para a primeira construção, bloco 3

Fonte: o autor

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Os participantes, com base nos conhecimentos anteriores e nas construções aqui

realizadas, possivelmente afirmarão que a primeira e a segunda ternas são proporcionais e

determinam triângulos semelhantes por LLL de razão 2. Entretanto, quanto a terceira terna, a

única característica em comum com as duas primeiras se refere ao fato de formar um triângulo

retângulo a partir de suas medidas, sem, no entanto, ser semelhante às outras duas, porque não

há como estabelecer nem ao menos uma das três relações que compõem o mínimo para se

determinar a semelhança entre tais triângulos: LLL (os lados não têm medidas proporcionais),

LAL (há ângulo correspondente e congruente, no caso o ângulo reto, mas este não está

compreendido entre dois pares de lados com medidas proporcionais) ou AAA (os ângulos

correspondentes, com exceção ao ângulo reto, não são congruentes).

Quanto a justificativa destes triângulos serem retângulos, isto se verifica por que a

hipotenusa de cada um deles determina um diâmetro de uma circunferência, de modo que o

vértice oposto à hipotenusa esteja sobre a circunferência e determine desta forma um arco

capaz de 90 graus.

Outra justificativa passaria pela demonstração geral e pela seguinte argumentação:

dados os três vértices de um triângulo ABC tais que AB forme um diâmetro de uma

circunferência c, de centro O e C esteja sobre ela, de modo que, por hipótese, suponha-se que

o ângulo correspondente a C, ^

BC A seja reto e os demais ^

B AC e ^

A BC sejam tais que,

dado a soma do dos ângulos internos do triângulo ABC resultem em^

B AC +^

A BC = 90º

(1). Sobre c, ao traçar uma reta que passe por C e por O, determina-se outro diâmetro de

medida AB=CC' em c, tal que o ponto simétrico de C, C' seja determinado.

Caso liguem-se os pontos A e B à C', forma-se um triângulo ABC'. Pode-se deduzir da

figura 25 que 4 triângulos foram formados: CO e C'O são congruentes e AO é congruente à

BO pelos diâmetros que os contêm; além disto;^

C O B e^

'C O A são congruentes, pois são

opostos pelo vértice; logo, COB e C'OA são semelhantes por LAL.

De maneira análoga pode-se deduzir que AOC e C'OB também são semelhantes.

Disto, podemos afirmar por uma composição, que ABC e ABC' são semelhantes, e que

AC'BC é um paralelogramo (2). Por (1) e (2) temos que AC'BC é um retângulo e ABC é, de

fato, reto em ^

BC A .

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Figura 25– Proposta para a terceira construção, bloco 3

Fonte: o autor

As ferramentas do GeoGebra utilizadas nesta construção poderiam ser Ponto, Reta,

Segmento de comprimento fixo, Compasso, Polígono e Ângulo.

A construção de permitir às pessoas-com-GeoGebra visualizarem que duas das ternas

são semelhantes por LLL; entretanto, a terceira não é semelhante a nenhuma das duas

primeiras, o que pode ficar evidente com apoio das investigações com o GeoGebra indicarem

elementos que justificam que esta não apresenta nenhuma das relações necessárias para

definir uma semelhança com as demais.

b) “Caso se multiplique indefinidamente por uma constante r as medidas da primeira

e da última ternas propostas no item anterior, poderia se formar todos os triângulos

retângulos? Caso não, construa um contraexemplo, justificando a escolha do

mesmo. Discuta com os colegas em quais contextos aparecem tais tipos de

triângulos e no que o estudo proposto até aqui auxilia nas suas investigações.

A resposta deveria ser “não”. E como contraexemplos podem ser sugeridas ternas com

valores racionais não proporcionais às ternas já propostas como a terna (5, 5,96, e 7,78) ou

ainda a presença de números incomensuráveis nas medidas dadas, como as raízes quadradas

de números primos, como as que compõem alguns dos elementos da espiral de Teodoro,

partindo da terna (1,1, 2 ). Isto pode trazer à tona a discussão da apresentação realizada por

alguns materiais didáticos, ou ainda estratégias didáticas que exploram apenas algumas ternas

pitagóricas no estudo de triângulos retângulos.

2- Segunda construção: Triângulos retângulos - caso geral e média geométrica

Objetivo da atividade: Promover a elaboração de um método para a construção de triângulos

retângulos dado um segmento AB, que determina o diâmetro de uma circunferência de centro

C e raio CA e, a partir desta construção deduzir por meio de semelhança que, os triângulos

determinados pela altura h, de um vértice D sobre 𝐴𝐵 , são semelhantes com o triângulo

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original e entre si. Disto, passamos às deduções de algumas propriedades determinadas por

estas semelhanças e dois problemas que empregam destas, no caso, a média geométrica e o

teorema de Pitágoras.

a) Construa um triângulo retângulo ABD qualquer, de altura de medida DH, com H contido

em 𝐴𝐵 , AB tal que seja o diâmetro de uma circunferência c e D esteja sobre esta

circunferência. Realize esta construção e argumente sobre quais fatores garantem a

confiabilidade da estrutura. Movimente seus vértices e pontos, e descreva o que puderam

observar.

Resposta esperada:

A demonstração que pode ser indicada para que ABD seja reto pode partir do arco capaz de

180º relacionado a AB, o que garante o ângulo ser reto no vértice em D. Ou ainda uma

demonstração que se alinha com a feita no caso geral, como a que consta na seção resposta

esperada da primeira construção deste mesmo bloco.

Ferramentas utilizadas no software: Ponto, Reta, Compasso, Ponto médio ou Centro (para

determinar o centro da circunferência de diâmetro AB), e perpendicular (Para determinar H,

sobre 𝐴𝐵 alinhado com D, o que determina a altura relativa a D, 𝐷𝐻 ) , interseção entre dois

objetos e polígono.

Aspectos do dinamismo do software: Ao movimentar os extremos do segmento 𝐴𝐵 , o

triângulo ABD se diminui ou amplia a medida que aproxima-se ou afasta-se A de B. Por

conta de D estar sobre a circunferência de diâmetro AB, a medida que este seja movimentado

sobre c, sua altura DH varia de 0, quando D coincide com um dos extremos de AB, ao no

máximo AB/2 (medida do raio dado o segmento AB ser o diâmetro de c), ponto no qual ABD

torna-se além de reto, isósceles.

b) Partindo-se da construção anterior, quantos triângulos estão presentes nesta construção que

realizaste acima?Qual a relação que pode estabelecer entre estes triângulos e o triângulo

ABD? E qual a relação que pode estabelecer entre eles mesmos?

Resposta esperada: Espera-se que os participantes relacionem os triângulos determinados pela

altura DH em ABD, ou seja, AHD e DHB. Logo, tratam-se de 3 triângulos. Espera-se que por

conta dos progressos alcançados até aqui, que os participantes consigam por meio de uma

reconfiguração de AHD e DHB, que estes investiguem sobre a semelhança destes com ABD e

em seguida entre si, e por meio da argumentação empregada, desenvolver uma demonstração

para tal teorema. Para tanto, deve se relacionar vértices homólogos de suas construções

iniciais com os das reconfigurações e os ângulos correspondentes para que as construções

sejam válidas. Como pode ser visto na figura 26:

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Figura 26- Exemplos de deduções

Fonte: o autor

Disto pode-se estudar os casos de semelhança primeiro de AHD com ABD. (1)

Pela reconfiguração proposta no início desta seção, pela identidade da semelhança

transferimos AHD sobre ABD de modo que se pudesse relacionar os elementos de ambos

com o objetivo de exibir uma semelhança entre eles. Para tanto, por ^

A H D ser reto o

homólogo de H na figura nova passa a ser D', tal que D' e D fiquem sobrepostos, (pois o

ângulo correspondente de D é ^

A D B também é reto).

A por transferência de medidas passa a ser A'' e D passa a ser D'', formando o

triângulo AD'D''. Com o auxílio das medições e do suporte dinâmico do GeoGebra, pode-se

apurar que ABC e AD'D'' são semelhantes por AAA pois seus ângulos correspondentes são

todos congruentes. Logo, ABC é semelhante com AHD.

O procedimento e as justificativas são análogas para DHB. (2)

Por (1) e (2) e a transitividade pode-se afirmar que AHD é semelhante a DHB.

Ferramentas utilizadas no software: As mesmas da etapa anterior, com destaque a ferramenta

polígono que foi usada para destacar AHD e DHB.

Aspectos do dinamismo do software: Nesta etapa, além do já explicado na primeira

construção sobre as consequências de movimentar A e B, agora quando movimenta-se D os

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dois triângulos que compõem ABC, AHD e DHB, se alteram e se complementam, seja pelas

proporções que seus lados determinam entre si e com ABC quanto a manutenção da

congruência dos seus ângulos correspondentes, mostrando de fato que trata-se de uma

semelhança.

c) Normalmente, é apresentada a fórmula de média geométrica pela equação .h a b sem

que haja necessariamente um caminho de dedução para justificá-la, uma ideia da qual

construção esta relação possa estar relacionada, ou ainda quais outras relações métricas

podem ser exploradas à partir do mesmo raciocínio que a originou.

Disto, partindo das conclusões apuradas da construção anterior, com a e b tais que, a = AH e

b = HB, escreva uma relação que traduz o que consta na fórmula acima e justifique o processo

de formação dessa relação.

Resposta esperada:

Verifica-se o valor da média geométrica por exemplo, os casos de semelhança destes com

AAA pois os ângulos correspondentes de AHD e DHB são todos congruentes, logo pelo

mesmo princípio, pelo vértice H, quando comparamos AHD e DHB temos que

BH/DH=DH/AH, o que resulta em DH²=BH.AH , logo DH é a média geométrica entre BH e

AH.

d) Deduza por meio das relações estabelecidas até aqui o teorema de Pitágoras.

Resposta esperada: Na verdade, o que acontece com as relações métricas do triângulo

retângulo é que elas são deduzidas, por exemplo, à partir dos casos de semelhança, entre elas

os resultados que serão demonstrados a seguir. Utilizando as semelhanças apuradas nas

construções anteriores, pode-se afirmar que:

(1) Da semelhança (por LAL) apurada entre DHB e ABD, à partir do vértice B e seus ângulos

correspondentes podemos deduzir a proporção DB AB

BH DB , disto se

2.DB AB BH

(2) Da semelhança (por LAL) apurada entre AHD e ABD, à partir do vértice A e seus ângulos

correspondentes podemos deduzir a proporção DA AB

AH AD , disto se

2.DA AB AH .

Somando os resultados de (1) e (2) temos:

2 2

. . ( )DB DA AB BH AB AH AB BH AH , logo como já definido, AB= AH+BH,

disto 2 2 2( )DB DA AB como se queria demonstrar.

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Apêndice 2 - Apresentação de slides feita para os participantes

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Apêndice 3 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

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Apêndice4–Texto inicial do curso na plataforma Moodle

As construções propostas pelos problemas que serão apresentados a vocês neste curso

têm por objetivo "cobrir" as propriedades e teoremas acerca de um tema (objeto) da geometria

plana sobre o qual conversaremos gradativamente. Cabe a cada participante, neste momento,

explorar as ferramentas e os elementos da interface que empregaremos nas interações com os

objetos matemáticos, o GeoGebra 5. Isto deverá ocorrer, em um primeiro momento, por meio

de atividades com roteiros que têm a finalidade de promover a familiarização em relação ao

programa computacional, iniciando e desenvolvendo um processo de construção de fluência

que será muito importante para o trabalho com os temas que apresentaremos.

Fluência, neste contexto, segundo Oliveira (2013), compreende duas etapas:

exploração dos elementos da interface e a apropriação lógica da mesma. A exploração tem

por objetivo de familiarizar o indivíduo com os instrumentos disponíveis na interface,

enquanto a apropriação da lógica:

Consiste em estender a compreensão inicial, restrita às ferramentas, para a forma

como a tecnologia em questão trata a perspectiva matemática pensada pelo usuário,

ou seja, como se dá a integração entre o conhecimento matemático, fundamental

para a resolução de um problema, e a expressão desta resolução sob o ponto de vista

da forma como a interface opera(OLIVEIRA, 2013, p. 3).

Outro elemento teórico importante nesta trajetória diz respeito às atividades em si, que

deverão assumir natureza colaborativa, de modo a fomentar a constituição de uma

comunidade virtual de aprendizagem colaborativa. A atitude colaborativa se consolida, como

pode parecer óbvio, pelo desenvolvimento de uma cultura de colaboração. Por sua vez,

colaborar, neste contexto, tem o sentido de construir em conjunto, ao longo da trajetória, de

forma partilhada, participativa. As participações, ainda que destinadas a qualquer pequena

intervenção significativa, serão valorizadas e bem-vindas. Esta atitude, então, não pode ser

confundida com cooperação, que tem sua importância, como procedimento por meio do qual

se dividem tarefas, de consecução separada, para serem reunidas posteriormente em um

momento sinérgico de integração.

Assim, são fundamentais as interfaces de potencial colaborativo do Moodle, nosso

AVA (ambiente virtual de aprendizagem) o fórum, o chat, o wiki, entre outras, sobre as quais

falaremos oportunamente.

Neste contexto, o papel do docente é o de motivador e mediador; trata-se do

elaborador/planejador das atividades que têm por base uma proposta de ensino calcada em

problemas e construções, justamente no intuito de explorar um tema da Geometria Euclidiana

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por meio do GeoGebra 5, a partir do qual os participantes das atividades têm a base para

desenvolver propostas e conjecturas, investigar, e, ao mesmo tempo, ampliar a fluência, nas

discussões entre os pares e com o docente. Os temas serão, via de regra, as propriedades e

fenômenos que poderão ser observados no transcurso das atividades, ao mesmo tempo que

expõem suas inquietações, percepções, êxitos e eventuais falhas.

Na sequência, os papéis dos alunos/participantes; passam pela facilitação das

discussões, observação crítica do processo, construção de intervenções significativas em

relação à dinâmica do grupo, promoção da atitude colaborativa. O objetivo é aprender e

ensinar, de todos para todos.

Estes elementos fundamentais orientarão as ações ao longo da jornada de estudos deste

tema de geometria euclidiana plana, e têm como um dos objetivos não somente iniciar,

desenvolver e encerrar as discussões acerca do mesmo, mas proporcionar um ambiente

profícuo para o surgimento de outros estudos, não necessariamente em Geometria Euclidiana,

mas nas áreas matemáticas de interesse comunitário.

Agradecemos desde já pela participação de todos! Fiquem à vontade para começar

com as atividades”.