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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP
Reno Stagni
Imagens alquímicas renascentistas:Um estudo preliminar do manuscrito La génération et
opération du grand œuvre pour faire de l’or (1620)
MESTRADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Profa. Doutora Maria Helena Roxo Beltran.
SÃO PAULO 2008
ERRATA
Página Linha Onde se lê Deve ler-se
Índice 6 Capítulo III Capítulo 3
16 8 Capítulo III Capítulo 3
23 9 texugo”. texugo.
44 9 se desdobra em dupla,
se desdobra em dupla (figuras 18 e 19),
64 8 d’Or de l’Or,
8 4ª Iluminura 1ª Série Substituir a imagem apresentada, pela imagem abaixo.
4ª Iluminura – 1ª série
Banca Examinadora
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
CNPq, pelo apoio financeiro, possibilitando a realização desta pesquisa.
À minha querida orientadora, Profa. Dra. Maria Helena Roxo Beltran, por
acreditar e orientar este trabalho. Sua presença foi muito importante e sem o seu
brilhantismo esta dissertação não seria possível.
Às Profas. Dras. Ana Maria Alfonso-Goldfarb e Vera Cecília Machline, por
participarem da Banca de Qualificação, e pelas críticas e sugestões a esse
trabalho.
Aos professores do Programa de Estudos Pós Graduados em História da
Ciência por compartilharem seus conhecimentos.
Aos amigos do Centro Simão Mathias de Estudo em História da Ciência,
que sempre colaboraram fornecendo informações, se predispondo a ajudar e
trocar experiências.
À Laís dos Santos P. Trindade, Renata F. Mourão e Sílvia M. Moreira,
grandes amigas, sempre prontas a me ouvir.
À Roseli Minas, por seu tempo e ajuda na reta final, com a revisão do
texto.
Ao amigo José Luis que apesar da distância, ouviu, debateu e contribuiu
com excelentes sugestões.
Ao tio Antonio e Maria Helena, pelo apoio irrestrito.
À minha irmã Dania, pela motivação e amor.
À Vera, minha segunda mãe, pelo carinho diário.
À minha esposa Lia e aos meus filhos Guilherme, Henrique e Thais, por
suportarem as ausências e me fazerem sorrir nos momentos mais tensos.
À minha mãe, educadora carinhosa, que durante esse trabalho inúmeras
vezes me veio à lembrança...
RESUMO
Autor: Reno Stagni
Título: Imagens alquímicas renascentistas: Um estudo preliminar do manuscrito
La génération et opération du grand œuvre pour faire de l’or (1620).
O objetivo deste estudo é analisar, dentre os múltiplos aspectos que
permeiam a tradição alquímica, aquele que trata das relações entre imagem e
texto como via de acesso aos conhecimentos guardados nos livros, e tentar
evidenciar alguns aspectos do uso da imagem como instrumento de decodificação
do texto verbal.
Para tanto foi selecionado, como estudo de caso, o manuscrito La
Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or (A Geração e
Operação da Grande Obra para Fazer Ouro), manuscrito anepígrafo, copiado no
primeiro quartel do século XVII, cujo confronto com outras obras alquímicas do
mesmo período, propiciou a análise, objeto deste estudo.
Palavras Chave: Alquimia, Renascimento, Emblemas.
ABSTRACT
Author: Reno Stagni
Title: Renaissance alchemical images: A preliminary study of manuscript
La génération et opération du grand œuvre pour faire de l’or (1620).
The objective of this study is to analyze, among the multiple aspects that
permeate the alchemical tradition, one that treats the relation between image and
text as a way to the knowledge stored in the books, and to try to evidence some
aspects of the use of the image as a tool to decode the verbal text.
Therefore it was chosen, as case study, the manuscript La Génération et
Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or (The Generation and Operation of
the Great Work to Make Gold), anonymous manuscript, copied in the first quarter
of the XVII century, whose comparison with alchemical works related to that same
period provided the analysis, object of this study.
Keywords: Alchemy, Renaissance, Emblems.
ÍNDICE
Introdução ................................................................................................................. 1
Capítulo 1 - O Manuscrito La Génération et Opération du Grand
Œuvre Pour Faire de l’Or: Algumas Questões Sobre Sua Autoria ............................ 6
Capítulo 2 - A Imagem dos Mineiros nos Tratados Alquímicos ................................. 28
Capítulo III - Análise da Primeira Iluminura do Manuscrito
La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or ............................... 43
Considerações Finais ................................................................................................ 78
Bibliografia.................................................................................................................81
Relação de Figuras ................................................................................................... 92
Recensio das Obras Atribuídas a Jacques Le Tesson .............................................. 99
1
INTRODUÇÃO
A imagem como arte visual influenciou a investigação e a descrição da
natureza na Europa moderna, já a partir do Renascimento, quando os artesãos e
seus arsenais de técnicas participaram das intensas modificações no modo de
considerar a natureza, especialmente em áreas como a botânica, a zoologia, a
anatomia, a metalurgia e a arquitetura. Era a imagem e seu potencial de
comunicação vindo em auxílio do texto; não como mero ornato visual, mas como
um modo de tornar compreensível o conhecimento da natureza.
Alguns artistas/artesãos, como Albrecht Dürer, chegaram mesmo a
“teorizar” sobre a natureza, não só com palavras, mas, até certo ponto, por meio
das suas produções artísticas, e esforçaram-se por estabelecer seus status como
observadores, representadores e conhecedores da natureza.1
Dissertando sobre os “manuais práticos” e “tratados técnicos” publicados
especialmente durante o século XVI, Beltran afirma que “eles fornecem indícios
de uma tendência à diferenciação das práticas artesanais, numa manifestação do
complexo processo de formulação da ciência moderna”2.
1 Sobre este assunto, vide: Maria Helena Roxo Beltran, “Matemática, Magia e Técnica: Algumas Concepções de John Dee,” in SBHC - 10 Anos. Anais do IV Seminário Nacional de História da Ciência
e da Técnica, org. José L. Goldfarb (São Paulo: Anna Blume/Nova Stella/FAPEMIG, 1993), pp.42-46; e Pamela H. Smith “Art, Science, and Visual Culture in Early Modern Europe,” Isis 97, nº 1 (mar. 2006): 83-100.
2 Maria Helena Roxo Beltran, “Receituários, Manuais e Tratados: Indícios sobre a Diferenciação das Práticas Artesanais,” in Anais do VII Seminário Nacional de Historia da Ciência e da Tecnologia e VII
Reunião da Rede de Intercâmbios para a História e a Epistemologia das Ciências Químicas e
Biológicas, orgs. José. L. Goldfarb & Márcia. H. M. Ferraz (São Paulo: Imprensa Oficial/Edusp/Unesp, 2000), 91.
2
Esta tendência à delimitação de campos do conhecimento, favorecida
pela generalização do uso da máquina impressora na Europa, acabaria por
culminar na especialização do saber, no século XIX. No entanto, no caso
específico da alquimia, arte e ciência estão intimamente ligadas como se fora ars
& scientia, prática e teoria, fazer e saber. Assim,
na formulação da alquimia medieval no Ocidente, a tradicional relação
entre saber e fazer continuou a ser enfatizada. Além disso, assumia-se
que os conhecimentos alquímicos deveriam ser mantidos em segredo.
Desta forma, a simbologia presente nas imagens e nos textos
alquímicos ocultava operações práticas sobre a matéria passíveis de
realização.3
Segundo diversos estudiosos que analisaram as relações entre texto e
imagem, o simbolismo na alquimia renascentista mostra-se sob diferentes
abordagens.
Assim, para Jung o simbolismo alquímico é uma projeção, sobre a
matéria, dos arquétipos e dos processos do inconsciente coletivo; para Halleux, “o
simbolismo alquímico, como todo simbolismo, não é nem unívoco nas suas
significações, nem específico nas suas origens”; e, ainda, para Sherwood Taylor,
“as imagens alquímicas são mais para mostrar, do que para explicar”.4
3 Maria Helena Roxo Beltran, “O Laboratório e o Ateliê”, in O Laboratório, a Oficina e o Ateliê: A Arte
de Fazer o Artificial, orgs. Ana M. Alfonso-Goldfarb & Maria H. R. Beltran (São Paulo: Educ/Fapesp/Inep/ Comped, 2002), 48.
4 Pela ordem das citações, Carl G. Jung. Psicologia e Alquimia, 2ª ed. (São Paulo: Vozes, 1994); Robert Halleux, Les textes alchimiques (Turnhout, Bélgica: Brepols, 1979), 151; e F. Sherwood Taylor, Los Alquimistas: Fundadores de la Química Moderna (México, Buenos Aires: Fondo de Cultura Econômica, 1957), 156. Sobre os estudos das imagens alquímicas e suas diferentes abordagens, vide Maria Helena Roxo Beltran, Imagens de Magia e Ciência: Entre o Simbolismo e os Diagramas da Razão (São Paulo: Educ, FAPESP, 2000), 13-22.
3
Neste estudo procura-se analisar, dentre os múltiplos aspectos que
permeiam a tradição alquímica, aquele que trata das relações entre imagem e
texto como via de acesso aos conhecimentos guardados nos livros, e tentar
evidenciar alguns aspectos do uso da imagem como instrumento de decodificação
do texto verbal.
Para tanto foi selecionado, como estudo de caso, o manuscrito La
Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or (A Geração e
Operação da Grande Obra para Fazer Ouro)5, manuscrito anepígrafo, copiado no
primeiro quartel do século XVII, cujo confronto com outras obras alquímicas do
mesmo período, propiciou a análise de alguns aspectos das relações entre
imagem e texto.
Assim, o primeiro capítulo dedica-se a descrever o manuscrito, cujo
conteúdo propriamente dito do conjunto texto-imagem proporcionou uma melhor
compreensão de antigas formas de conhecimento sobre a matéria.
Além disso, procuramos alguns indícios referentes à autoria do texto e ao
ano da sua escritura, o que propiciou a busca de outras obras alquímicas
produzidas no mesmo período, com iconografias similares e de igual espessura
semântica.
No segundo capítulo, selecionamos para análise a primeira iluminura do
manuscrito estudado, cujo motivo central, um mineiro que escava as entranhas da
terra, trata-se de imagem recorrente no imaginário alquímico.
5 La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or: Ouvrage très ruineux et des plus
chimérique et extravagant; idée sortie de la cervelle creuse d'un échappé des petites maisons. Edição fac-similar da cópia depositado na Bibliothèque Municipale de Lyon, Ms Palais des Arts 88 (Grenoble: Le Mercure Dauphinois, 1999).
4
Finalmente, no terceiro capítulo, apresentamos a análise da iluminura
selecionada, realizada através do expediente da comparação com imagens de
outras obras de cunho alquímico, objetivando estabelecer paralelos entre elas,
buscando referências cruzadas de um horizonte interpretativo a outro para uma
melhor compreensão do pensamento do autor.
5
CAPÍTULO 1
O MANUSCRITO LA GÉNÉRATION ET OPÉRATION
DU GRAND ŒUVRE POUR FAIRE DE L’OR:ALGUMAS QUESTÕES SOBRE SUA AUTORIA
6
CAPÍTULO 1
O MANUSCRITO LA GÉNÉRATION ET OPÉRATION
DU GRAND ŒUVRE POUR FAIRE DE L’OR:
ALGUMAS QUESTÕES SOBRE SUA AUTORIA
Para análise das relações entre texto e imagem em obras de cunho
alquímico, partimos de um manuscrito anepígrafo, copiado no primeiro quartel do
século XVII, ilustrado com vinte e uma iluminuras e que traz em sua portada o
título: La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or: Ouvrage
très ruineux et des plus chimérique et extravagant; idée sortie de la cervelle
creuse d'un échappé des petites maisons6 (A Geração e Operação da Grande
Obra para Fazer Ouro: Obra muito ruinosa, quimérica e extravagante; idéia saída
da cabeça oca de um fugitivo do manicômio).
A escolha desse manuscrito, como estudo de caso, deve-se
principalmente ao seu valor intrínseco, cujo conteúdo propiciará a análise de
alguns aspectos das relações entre texto e imagem.
Composto por vinte e uma imagens acompanhadas de texto explicativo, o
manuscrito La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or, hoje
conservado na Bibliothèque Municipale de Lyon sob a cota Ms. Palais des
Arts 88, pertenceu à biblioteca de Pierre Adamoli e está basicamente dividido em
duas séries de 14 e 6 iluminuras e uma última iluminura de encerramento do
tratado.
6 La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or: Ouvrage très ruineux et des plus
chimérique et extravagant; idée sortie de la cervelle creuse d'un échappé des petites maisons. Edição fac-similar da cópia depositado na Bibliothèque Municipale de Lyon, Ms Palais des Arts 88 (Grenoble: Le Mercure Dauphinois, 1999).
7
A primeira série (1 a 14) refere-se aos diferentes regimes da obra, a
segunda série (1 a 6) à multiplicação da pedra e uma última iluminura representa
a apoteose dos trabalhos alquímicos.
La Génération et Opération du Grand Œuvre pour
Faire de l’Or, Ms Palais des Arts 88, 1620 (portada)
Primeira Série (1 – 14)
1ª Iluminura – 1ª série 2ª Iluminura – 1ª série
8
3ª Iluminura – 1ª série 4ª Iluminura – 1ª série
5ª Iluminura – 1ª série 6ª Iluminura – 1ª série
7ª Iluminura – 1ª série 8ª Iluminura – 1ª série
9
9ª Iluminura – 1ª série 10ª Iluminura – 1ª série
11ª Iluminura – 1ª série 12ª Iluminura – 1ª série
13ª Iluminura – 1ª série 14ª Iluminura – 1ª série
10
Segunda Série (1 – 6)
1ª Iluminura – 2ª série 2ª Iluminura – 2ª série
3ª Iluminura – 2ª série 4ª Iluminura – 2ª série
5ª Iluminura – 2ª série 6ª Iluminura – 2ª série
11
Apoteose
La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or,
Ms Palais des Arts 88, 1620 (apoteose)
Acreditamos ser aqui oportuno observar que a comparação entre as
características caligráficas do texto e do título da portada revelam duas mãos,
levando-nos a crer que o Ms. Palais des Arts 88, originalmente sem uma inscrição
que o nomeasse e pudesse dar uma idéia do seu conteúdo, teve seu título saído
da imaginação de um dos seus depositários.
12
Características Caligráficas
Portada Texto Localização
9ª Iluminura – 1ª Série – Alínea 1
2ª Iluminura – 1ª Série – Alínea 7
9ª Iluminura – 1ª Série – Alínea 2
4ª Iluminura – 1ª Série – Alínea 9
9ª Iluminura – 1ª Série – Alínea 3
9ª Iluminura – 1ª Série – Alínea 22
9ª Iluminura – 1ª Série – Alínea 7
9ª Iluminura – 1ª Série – Alínea 16
9ª Iluminura – 1ª Série – Alínea 6
5ª Iluminura – 2ª Série – Alínea 13
Ms. Palais des Arts 88 (detalhe da portada)
Título montado a partir de palavras extraídas do texto do Ms. Palais des Arts 88
13
Ao observarmos as iluminuras do manuscrito La Génération et Opération
du Grand Œuvre pour Faire de l’Or, percebemos uma certa semelhança com os
desenhos esquemáticos que ilustram o texto do Quatrième Traité (Quarto
Tratado) que compõe o manuscrito Œuvre Du Lyon Verd (Obra do Leão Verde) de
Jacques Le Tesson, conhecido também por Jacques Tesson ou Jacob Taisson
(figuras 1a a 4b).7
Fig. 1a Fig. 1b
Ms. Palais des Arts 88 (1ª iluminura – 1ª série) Quatrième Traité de Tesson, Ms. nº 14.493, p. 227
Fig. 2a Fig. 2b
Ms. Palais des Arts 88 (3ª iluminura – 1ª série) Quatrième Traité de Tesson, Ms. nº 14.493, p. 233
7 Segundo Bernard Husson, o Quatrième Traité de Jacques Le Tesson está, mais adequadamente, nomeado nos manuscritos depositados na Bibliothèque Palais des Arts e na Bibliothèque d’Avignon, como Traité du Régime; Bernard Husson, “Avertissement”, em L'Œuvre du Lion Verd, de Jacques Le Tesson (Paris: Librairie de Médicis, 1978), 9.
14
Fig. 3a Fig. 3b
Ms. Palais des Arts 88 (4ª iluminura – 2ª série) Quatrième Traité de Tesson, Ms. nº 14.493, p. 235
Fig. 4a Fig. 4b
Ms. Palais des Arts 88 (6ª iluminura – 2ª série) Quatrième Traité de Tesson, Ms. nº 14.493, p. 245
A partir desses indícios, confrontamos o manuscrito La Génération et
Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or e o Quatrième Traité ou Traité du
Régime de Jacques Le Tesson os quais, pesem as aparências que os distinguem,
revelaram não ser mais do que um único e mesmo texto, apresentando indícios
de que um único pensamento influiu na composição de ambos os manuscritos e
constitui seu princípio fundamental.
O método e a ordem dos assuntos prevalecem; o estilo, que consiste na
escolha e na organização das palavras de um, apesar das variantes devidas aos
copistas, repousa no outro. No mais, tudo que foi adicionado ao manuscrito
La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or e que não consta
15
no Quatrième Traité ou Traité du Régime de Jacques Le Tesson, pode ser
considerado como acessório, a saber: a prece inicial e a apoteose final.
Com o objetivo de promover o confronto entre os dois textos, realizou-se
um recenseamento inicial das obras atribuídas a Jacques Le Tesson, procurando
levantar, ainda que preliminarmente, indícios sobre a sua tradição direta,
compreendida pelos manuscritos constantes nos catálogos on-line das bibliotecas
públicas européias e americanas e edições fac-similares, assim como da sua
tradição indireta, compreendida pelas fontes, citações, notas bibliográficas,
transcrições e traduções.8
Entre o material recenseado para ser confrontado com o manuscrito La
Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or, optamos por utilizar a
transcrição realizada por Bernard Husson do manuscrito depositado na
Bibliothèque Nacionale de France sob o nº 14.943.9
Quanto ao manuscrito La Génération et Opération du Grand Œuvre pour
Faire de l’Or, utilizamos a reprodução fac-símile, editada por Geneviéve Dubois
em 1999 e transcrita em francês moderno ao lado das reproduções das páginas
manuscritas do século XVII.10 No entanto, se essa transcrição, por um lado,
mostra-se fidedigna, por outro, revela-se infiel em algumas passagens do texto,
levando-nos à realização de uma nova transcrição a partir da cópia fac-similar.
8 O recenseamento, não definitivo, das obras atribuídas a Jacques Le Tesson, está apresentado ao final desta dissertação. Sobre a constituição da tradição direta e indireta, vide Segismundo Spina, Introdução à Edótica: Crítica Textual (São Paulo: Cultrix, Edusp, 1977), 90.
9 Jacques Le Tesson, “Traité du Régime”, in L’Œuvre du Lion Verd (Paris: Librairie de Médicis, 1978), 62-82.
10 La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or: Ouvrage très ruineux et des plus
chimérique et extravagant; idée sortie de la cervelle creuse d'un échappé des petites maisons. Edição fac-similar da cópia depositado na Bibliothèque Municipale de Lyon, Ms Palais des Arts 88 (Grenoble: Le Mercure Dauphinois, 1999).
16
Apresenta-se a seguir, nossa transcrição do texto referente à 1ª Iluminura
– 1ª Série do manuscrito La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire
de l’Or, seguida do cotejo com o manuscrito Quatrième Traité ou Traité du
Regime de Jacques Le Tesson (Ms. BN nº 14.493) e da tradução da transcrição
realizada.11
Cabe salientar que neste trabalho foi realizado apenas o cotejo e a
tradução do texto que acompanha a primeira iluminura pertencente à primeira
série, a qual foi selecionada para análise, a ser apresentada no Capítulo III desta
Dissertação, devido à relevância do tema central - um mineiro que escava as
entranhas da terra - imagem recursiva no imaginário dos tratados alquímicos.12
Não se trata, aqui, como poderia parecer à primeira vista, apenas da
representação da ação de apoderar-se da matéria com a qual o artífice operará
as necessárias transformações em busca do conhecimento da matéria e,
conseqüentemente, do domínio da natureza. Antes, é através da sua picareta de
mineiro, esse instrumento fálico de que fala Mircea Eliade, que o alquimista
penetra os segredos da Terra-Mãe, detentora dos mistérios do Demiurgo, pronta
a compartilhar seus embriões-metálicos com aqueles iniciados nos ritos sagrados
hierogâmicos.13
11 A metodologia adotada para a transcrição seguiu os conselhos publicados na obra: Bernard Barbiche & Monique Chatenet, dirs., L’Edition des textes anciens, XVIe – XVIIe siècle, 2ª ed. (Paris: Inventaire Géneral-E.L.P., 1993).
12 O cotejo entre o manuscrito La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or e oQuatrième Traité ou Traité du Regime de Jacques Le Tesson será posteriormente desenvolvido em estudo específico.
13 Mircea Eliade, Ferreiros e Alquimistas (Rio de Janeiro: Zahar, 1979), 109.
17
Fig. 5
Ms. Palais des Arts 88 (Texto e 1ª iluminura - 1ª série)
Fig. 6
Quatrième Traité de Tesson, Ms. BN nº 14.943, p. 227 e 228
18
1. Au nom de Dieu et de la Sainte Vierge, la mère. En la
2. première figure appert comme l’artiste a cave si profond
3. dans le Roch et si sagement qu’il a trouvé sa matière
4. propre et bonne, et après qu’il l’a trouvée, la dispose comme
5. un vrai philosophe et la rend apte à se multiplier en
6. son genre, lui opérant toutes ses vertus génératives et
7. augmentations, ce qui consiste du tout en la composition qui
8. est nommée des Sages philosophes un saint mariage,
9. duquel naîtra un fils de nature plus céleste que
Transcrição
Ms. Palais des Arts 88 [1ª iluminura – 1ª série]
10. terrestre, et sera nommé Unique entre les Dieux.
CotejoMs. Palais des Arts 88 Ms. BN nº 14.493
Abreviações:om: omittitur ou omitido add: addititur ou adicionado
1. Au nom ... la mère. : om || la : cette || 2. a : om || si : add bas au || 3. dans le : d’un || roch : roc || et si sagement : tant || a : ait || sa : la || 4. qu' : om || l'a trouvée, la : om || 4.e 5 comme ... philosophe : sagement || 5. e 6. et la rend ... toutes : om || 6. génératives : génératrices || 7. augmentations : augmentatives || en : à || 8. Sages : om || un : om || 9. duquel naître : lequel concevra || de : add telle.
Tradução Em nome de Deus e da Santa Virgem, a mãe. Na primeira figura aparece como o artista cavou tão profundamente a Rocha e assim, sabiamente, encontrou sua matéria própria e boa e, depois de tê-la encontrado, a dispôs como um verdadeiro filósofo e tornou-a apta a multiplicar-se em seu gênero, operando sobre todas as suas virtudes generativas e aumentativas, o que consiste na composição que é nomeada dos Sábios filósofos um santo casamento, do qual nascerá um filho de natureza mais celeste que terrestre, e será nomeado Único entre os Deuses.
Nota: Na transcrição realizada para a edição de Geneviéve Dubois, o transcritor optou por ligar a palavra “Roch” e a palavra “et” (alínea 3), interpretando a palavra “et” como “er”, transcrevendo “Rocher”(Rochedo) ao invés de “Roch et” (Rocha e).
: Roch et
19
Existem ainda, duas outras cópias desse texto, sendo uma semelhante ao
manuscrito La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or,
proveniente da Biblioteca da Universidade de Glasgow (Glasgow University
Library), referenciada sob a cota GB0247, MS Ferguson 271: 20 Figures
Alchimiques en aquarelle, avec explications [em duas séries 1-14, e 1-6], século
XVIII, 40 ff, 215 x 163 mm. Infelizmente este manuscrito encontra-se mutilado,
faltando tanto o fólio correspondente à explicação da 1ª iluminura da 1ª série,
quanto o fólio correspondente à 7ª iluminura da 2ª série.
A segunda cópia trata-se de uma série incompleta de iluminuras, sem
lugar, nem data (provavelmente século XVIII), pertencentes a uma versão
posterior do modelo original, que reproduz, sob uma forma modificada, as
iluminuras 6, 12 e 13 da 1ª série e as iluminuras 5 e 6 da 2ª série. As cinco
iluminuras estão conservadas na The Wellcome Library for the History and
Understanding of Medicine, ICV 26073 – 26077, juntamente com os desenhos
relativos aos escritos de Nicolas Flamel.
É interessante notar que o ilustrador destas iluminuras veste as
personagens que no Ms. Palais des Arts 88 estão representadas nuas (figuras 7a
a 11b).
O estabelecimento da autoria do texto do manuscrito La Génération et
Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or e do ano da sua escritura (1584)
exigiu a busca de referências cruzadas com outras obras alquímicas da mesma
época, em especial com as obras de Jacques Le Tesson, permitindo uma melhor
compreensão de antigas formas de conhecimento sobre a matéria.
20
Primeira Série – Iluminuras 6, 12 e 13
Fig. 7a Fig. 7b
Ms. Palais des Arts 88
(6ª iluminura – 1ª série)
Wellcome Library, ICV 26075
(6ª iluminura – 1ª série)
Fig. 8a Fig. 8b
Ms. Palais des Arts 88
(12ª iluminura – 1ª série)
Wellcome Library, ICV 26076
(12ª iluminura – 1ª série)
Fig. 9a Fig. 9b
Ms. Palais des Arts 88
(13ª iluminura – 1ª série)
Wellcome Library, ICV 26077
(13ª iluminura – 1ª série)
21
Segunda Série – Iluminuras 5 e 6
Fig. 10a Fig. 10b
Ms. Palais des Arts 88
(5ª iluminura – 2ª série)
Wellcome Library, ICV 26073
(5ª iluminura – 2ª série)
Fig. 11a Fig. 11b
Ms. Palais des Arts 88
(6ª iluminura – 2ª série)
Wellcome Library, ICV 26074
(6ª iluminura – 2ª série)
Sobre Jacques Le Tesson, muito pouca ou quase nenhuma informação se
possui, senão aquelas dadas por ele próprio em uma nota preliminar à suas
obras:
No ano de 1581, eu Jacob Taisson, ourives nativo de Honfleur na
Normandia, cheguei a esta divina ciência na vila de Marselha, através
de muito sofrimento e trabalho... Este livro foi composto em Marselha,
22
no ano de 1584, por mim, Jacob Taisson, nos tempos em que a vila
encontrava-se tomada pela peste, morrendo 2900 pessoas. Eu comecei
esta obra [alquímica] em abril de 1581 e em 9 de outubro Eu lancei o
figo em terra bem cultivada.14
Jacob Taisson, conhecido também por Jacques Tesson ou Jacques Le
Tesson, redigiu suas obras em 1584, sob o reinado de Henrique III de Valois,
numa França abalada pelas guerras com a Espanha e os conflitos, em seu
próprio solo, entre católicos e huguenotes.15
Contemporâneo de Jean d’Espagnet, Alexandre Sethon, Gerard Dorn,
Andréas Libavius, Michael Maier, Michael Sendivogius, Denis Zacchaire, entre
tantos destacados estudiosos que floresceram entre os séculos XVI e XVII,
Jacques Le Tesson revela-se, através dos seus escritos, como um profundo
conhecedor da prática alquímica, elucidando de forma original o modus operandi
da obra, lançando mão, para tanto, da pluralidade dos autores tradicionais, o que
era uma constante nos tratados alquímicos que circulavam em manuscritos
durante o final da Idade Média e o início do Renascimento. Dentre os autores
citados direta ou indiretamente por Jacques Le Tesson em suas obras,
destacamos: Hermes Trismegisto, Maria Profetisa, Geber, Damasceno, Arisleus e
Pitágoras (ambos in Turba Philosophorum), São Tomas de Aquino, Arnaldo de
Villanova e Bernardo Trevisan.
14 Jacob Taisson, “Les Œuvres Physiques”, in Manuscripts Catalogue – Document Details: Glasgow
University Library, Glasgow, Special Collection: GB 0247 Ms Ferguson 193; disponível em University
of Glasgow – Library, <http://special.lib.gla.ac.uk/manuSCRIPTs/search/detaild.cfm?DID=7316> (acessado em maio de 2007).
15 Edward McNall Burns, História da Civilização Ocidental, vol. 2, (Porto Alegre, Rio de Janeiro: Globo, 1986), 436.
23
Dominique Bougerie, em seu Honfleur et les Honfleurais, informa que no
Anuário da Normandia de 1912, Charles Bréard, historiador de Honfleur, publicou
um comunicado sobre Jacques Tesson, informando que durante o 79º Congresso
da Associação Normanda, foi proposto por um livreiro, um manuscrito intitulado
Traitez de Jacob Tesson, orfèvre à Honfleur sur la science hermétique, e que
Bréard, pesquisando nos arquivos honfleurenses, descobriu “uma família Taisson
proprietária de dois terrenos com casas, situados em Saint Léonard de Honfleur”,
cuja etimologia do nome da família seria originário do baixo latim Taxo, que
significa texugo”. Bougerie informa, ainda, que:
Encontra-se a marca do ourives Tesson no Anuário das Punções de
Prata repertoriadas na França desde a origem. As punções de mestre
indicavam as iniciais do ourives e um atributo referente à vila onde eles
trabalhavam. Para Honfleur, o atributo é uma Torre Coroada.
Infelizmente, este Anuário não reproduz a punção sobre a qual
poderíamos encontrar a marca das iniciais de Jacques Tesson.16
Não poderíamos deixar de registrar, aqui, entretanto, o equívoco cometido
por Dominique Bougerie. Ora, apesar de ser “ourives nativo de Honfleur na
Normandia”, Jacques Le Tesson, conforme ele mesmo declara, residia em
Marselha, exercendo, portanto, a profissão de ourives nessa vila. Logo, se é
verdade que a punção de mestre de Jacques Le Tesson trazia, junto às suas
iniciais, um atributo da vila onde trabalhava, não se trata, aqui, do atributo
referente à vila de Honfleur, torre coroada de Prata, sobre Goles, acompanhada
de duas flores-de-lis de Ouro, mas, sim, do atributo referente à vila de Marselha,
cruz de Azura, sobre Prata (figuras 12 e 13) .
16 Dominique Bougerie, Honfleur et les Honfleurais: Cinq Siècles d’Histoires, vol.1, (Honfleur: Marie Honfleur, 2002), 176.
24
Fig. 12 Fig. 13
Brasão de Honfleur Brasão de Marselha
Quanto à informação que nos dá Jacques Le Tesson sobre a epidemia
que assolou a vila de Marselha em 1581, muito pouco ou quase nenhum registro
histórico se tem. Não se trata, pois, de uma história de fôlego, como foi a peste
negra de 1347-48 e suas recorrências até meados do século XV; a qual provocou
na Europa, como é sabido, uma verdadeira catástrofe demográfica; tendo a
França como um dos principais palcos de sua atuação dramática, dizimando
grande parte da população francesa em pouco menos de um século.17
Este fato na vida dos habitantes da vila de Marselha, infelizmente para
nós, pertence à história dos acontecimentos, é episódica e, provavelmente, seria
definida por Fernando Braudel como “explosiva, ruidosa”.
Faz tanto fumo que enche a consciência dos contemporâneos; mas
dura um momento apenas, apenas se vê sua chama.18
17 Werner Schreiber & Friedrich Karl Mathys, Infectio: Doenças Infecciosas na História da Medicina
(Basiléia: Roche, 1991), 11-35. 18 Fernand Braudel, História e Ciências Sociais (Lisboa: Presença, 1972), 12-3.
25
Mas é na história social e, sobretudo, na fragilidade da vida econômica,
“atenta ao tempo breve, ao indivíduo e ao acontecimento [e que] habituou-se
desde a muito à sua narração precipitada, dramática, de pouco fôlego”19, que
iremos recuperar, ainda que num breve relance, as nefastas cicatrizes deixadas
pela mortífera pestilência.
O século XVI foi um século de prosperidade inesperada após a Guerra
dos Cem Anos, surgindo nesta época a Companhia Marselhense do Coral,
dirigida por Thomas Lenche e seus associados, a qual empregava, em 1576,
52 chefes exploradores de coral para a pesca no Mediterrâneo, contando, em
1581, com nada menos que 102 raspadores de coral, na sua grande maioria
proveniente de Cassis, de Antibes, de Bormes, de Hyènes, de Cagnes e de
Roquebrune, onde, desde o século XI, a prática da pesca do coral era
extremamente ativa e importante fonte de receita ao longo da orla provençal.20
É, pois, através desta Companhia e seus “preciosos” registros das cifras
da pesca do coral, que a face grotesca da epidemia se revela e nos permite
avaliar a extensão do drama vivido pelos habitantes desta vila à época de
Jacques Le Tesson, pelo menos no que tange ao aspecto econômico.
Assim, no quadro a seguir apresentado, pode-se observar uma queda de
aproximadamente 85,5% na produção da pesca do coral durante o ano da peste,
ocorrendo uma recuperação da produção nos anos seguintes.
19 Ibid., 12.20 M.-L. Laroche, “Le Corail et les Corailleurs en Provence”, Annales de la Sociéte Scientifique et
Littéraire de Cannes et l’Arrondissement de Grasse 44 (1999): 163-176.
26
Registros nos Assentamentos da Companhia Marselhense do Coral
Ano Cifras (livres21)1578-1579 44.973 1579-1580 44.052 1580-1581 21.601
1581-15823.133
(ano da peste) 1582-1583 23.829 1583-1584 20.752 1548-1585 18.391
Finalmente, neste breve apanhado, confessamos não saber ao certo se
Jacques Le Tesson era seu verdadeiro nome ou um nom de plume. O que
sabemos é que num determinado momento da sua vida, quando concebeu a
escritura do La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or, texto
central de nosso estudo, Jacques Le Tesson optou pelo anonimato... talvez
porque temesse pelo seu próprio destino com uma publicação de cunho herético,
talvez porque a humildade advinda do adepto assim o exigia.22
De qualquer forma podemos imaginar que, talvez, o ilustrador tenha
retratado o alquimista honfleurense na iluminura de abertura do manuscrito La
Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or, a qual retrata um
mineiro que, em contato direto com o mais promitente dos laboratórios, a mãe-
natureza, busca o conhecimento da matéria, assunto a ser tratado nos capítulos
adiante.
21 Unidade francesa de massa usada entre 1350 e o final do século XVIII: 1 livre = 489,5 g 22 Alguns historiadores à guisa de justificar a causa determinante da carência de obras de cunho alquímico
que se nota no século XVI, imputam a responsabilidade a Francisco I que proíbe, através de regulamentação - cartas patentes de 1537- o uso da imprensa; justificativa esta que não podemos de forma alguma concordar. "De fato, essa regulamentação, sempre muito exata, só serve para confirmar o progresso da heresia e a multiplicação dos livros proibidos. A partir de 1540, e sobretudo em 1550, os livreiros e os impressores franceses ousam cada vez mais. Impressoras clandestinas aparecem em quase toda parte, os vendedores ambulantes pululam, os livros heréticos publicados sem indicação de origem são mais numerosos. Ao mesmo tempo, sob títulos inofensivos, se desenvolve toda uma literatura que apresenta todas as aparências da ortodoxia, mas que é na realidade veículo de heresia". L. Febvre & H.J. Martin, O Aparecimento do Livro (São Paulo: Unesp, Hucitec, 1992), 437.
27
CAPÍTULO 2
A IMAGEM DOS MINEIROS NOS TRATADOS ALQUÍMICOS
28
CAPÍTULO 2
A IMAGEM DOS MINEIROS NOS TRATADOS ALQUÍMICOS
Imagem de abertura de vários tratados de cunho alquímico, porta de
entrada ao santuário onde o artífice será iniciado nos segredos de ofício, a
natureza, ora está representada escondida sob uma montanha, à espera de ser
desvelada pelos mineiros que cavam em busca de minerais-embriões, ora se
revela na forma de uma encantadora criatura que serve de guia ao filósofo e ao
artífice que seguem seus passos, ou seja, àquele que detém em si o duplo
apanágio: saber/fazer (figura 14).
Fig. 14
Musæum Hermeticum. Francofurti, 1625. (Detalhe do Frontispício)
Podemos ver ainda, a representação dos mineiros nos primeiros livros
sobre mineração e metalurgia publicados na primeira metade do século XVI, em
especial nas obras: Das Bergbüchlein (1505) de Ulrich Rulein von Kalbe,
conhecido por Calbe de Freyberg, De la Pirotechinia (1540) de Vannoccio
Biringuccio, obra de instrução de práticas metalúrgicas, publicada postumamente
29
em Veneza em 1540, à qual seguiu-se quatro edições italianas (1550, 1558,
1559,1678), três francesas (1556, 1572,1627) e duas edições latinas (1572,1627),
e De Re Metallica (1556) de Georg Bauer, conhecido sob a forma latinizada por
Georgius Agricola (figuras 15 a 17).
Fig. 15
Ulrich Rulein von Kalbe, Das Bergbüchlein. Augsbourg, 1505.
30
Fig. 16
G. Agricola, De Re Metallica Libri XII. Basileæ, 1556.
Fig. 17
Vannoccio Biringuccio, La Pyrotechnie, ou Art Du Feu,
Contenant Dix Livres. Paris, 1572.
Da mesma forma, os mineiros estão presentes em um dos primeiros
manuscritos ilustrados do século XV, Aurora Consurgens, e no tratado de
Splendor Solis, manuscrito magnificamente ilustrado com 22 iluminuras, cujo
exemplar mais antigo que se tem conhecimento traz duas datas, 1532 e 1535
(figuras 18 e 19).
31
Fig. 18
Aurora Consurgens, sec.XIV, Zentralbibliothek, Zurich, Ms. Rhenoviensis 172.
Fig. 19
Salomon Trismosin, Splendor Solis, sec. XVI, British Library, London, Harley Ms. 3469.
32
Existem, ainda, várias cópias de Splendor Solis, do final do século XVI,
conservadas em Berlim, Nuremberg, Kassel, Paris e Londres. 23
Importa observar que em todas essas obras, os mineiros guardam
semelhanças com gnomos, ou seja, com criaturas de baixa estatura que habitam
as profundezas da Terra.24 Como faz notar Mircea Eliade,
as divindades marcadas por uma deformidade estavam relacionadas
com os 'estrangeiros', os 'homens das montanhas', os 'anões
subterrâneos', isto é, com as populações montanhesas e excêntricas,
cercadas de mistérios, geralmente de terríveis metalúrgicos.25
A imagem do mineiro-gnomo persiste, ainda, durante o século XVII, em
gravuras e na decoração dos frontispícios de algumas tratados alquímicos, obras
de metalurgia e compêndios sobre as aplicações da “química” na medicina, como
é o caso das obras: Septimana Philosophica (1620), de Michael Maier,
Antidotarium medico-chymicum reformatum (1620) de Johann Daniel Mylius,
Hydrolithus Sophicus seu Aquarium Sapientum (1625) de Johann Ambrosius
Siebmacher, Opera Omnia (1682) de J. B. Van Helmont e Gründlicher und
ausführlicher Bericht Von Bergwercken (1690) de Georg Aengelhard von
Löhneyss (figuras 20 a 24).
23 Sobre os manuscritos de Splendor Solis, vide Maria Helena Roxo Beltran, Imagens de Magia e de
Ciência: Entre o Simbolismo e os Diagramas da Razão (São Paulo: Educ, Fapesp, 2000), 77; e Jacques van Lennep, Alchimie: Contribuition à l’Histoire de l’Art Alchimique, 2ª ed. (Bruxelles: Crédit Communal de Belgique, 1984), 111-14.
24 Sobre este assunto, vide Maria Helena Roxo Beltran, Imagens de Magia e de Ciência: Entre o
Simbolismo e os Diagramas da Razão (São Paulo: Educ/Fapesp, 2000), 17. Vide também, da mesma autora, “História da Química e História da Arte”, in Centenário de Heinrich Rheinboldt: 1891-1991,org. Paschoal Senise (São Paulo: IQUSP, 1993), 128.
25 Mircea Eliade, Ferreiros e Alquimistas (Rio de Janeiro: Zahar, 1979), 82.
33
Fig. 20
Michael Maier, Septimana Philosophica. Francofurti, 1620. (Detalhe do Frontispício)
Fig. 21
J. D. Mylius, Antidotarium medico-chymicum reformatum. Francofurti, 1620; e J. A. Siebmacher, Hydrolithus Sophicus seu Aquarium Sapientum.
Francofurti, 1625. (Detalhe do Frontispício).
34
Fig. 22
Basilius Valentinus. Gravura de Mechior Haffner, 1677.
Fig. 23
J. B. van Helmont, Opera Omniae. Francoforti, 1682. (Detalhe do Frontispício)
35
Fig. 24
Georg Aengelhard von Löhneyss, Gründlicher und
ausführlicher Bericht Von Bergwercken. Leipzig, 1690.
36
Com o objetivo de auxiliar na análise da primeira iluminura do manuscrito
La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or, selecionamos,
dentre as imagens que ilustram essas obras que circularam entre o século XV e o
início do século XVII, quer sob a forma de manuscritos, quer sob a forma
impressa, selecionamos, dizíamos, a primeira iluminura que compõe o manuscrito
de Splendor Solis, a qual retrata dois mineiros trabalhando na extração do mineral
da montanha.26
A sua escolha reside no fato de os mineiros, imagem central dessa
iluminura, estarem circundados por cenas que, mais do que uma manifestação de
tendência artística, ou mero adornos realizados por capricho do iluminador, tem a
aparente função de auxiliar na interpretação do tema central.
Essa obra foi impressa pela primeira vez em 1599, em Rorschach am
Bodensee, encabeçando uma compilação de 20 tratados de diferentes autores
constante do terceiro volume (Tractatus III) de Aureum Vellus oder Guldin schatz
und Kunstkammer, cujos dois primeiros volumes foram impressos em 1598.
Uma tradução francesa parafraseada, realizada por um certo L. I., foi
publicada em 1612 por Charles Sevestre, em Paris. A edição parisiense está
dividida em onze partes, sendo: dedicatória ao Príncipe François de Bourbon, um
prólogo, seguido de seis tratados, um discurso sobre “As virtudes admiráveis e
forças sobre-humanas desta nobre tintura”, uma “Exposição particular dos efeitos
maravilhosos da verdadeira medicina dos filósofos, redigida em quatro
26 Jacques van Lennep destaca que as iluminuras que compõem o manuscrito de Splendor Solis não ocupam o mesmo lugar em cada uma dos manuscrito; Jacques van Lennep, Arte y Alquimia: Estudio de
la Iconografía Hermética y de sus Influencias (Madrid: Nacional, 1978), 62.
37
considerações gerais”, e, finalmente, uma conclusão.27 Essa obra, assim
organizada, apresenta a imagem dos mineiros localizada ao final do Segundo
Tratado (figura 25) “representando a obra dos Filósofos por meio de duas figuras”;
sendo que a primeira figura que abre o tratado, representa o Brasão da Obra.
Fig. 25
Salomon Trismosin, La Toison d’Or. Paris: 1612
Por outro lado, na edição princeps alemã de 1599, ilustrada por 22
xilogravuras coloridas à mão após a impressão, a mesma imagem dos mineiros
está localizada ao final da primeira das sete similitudes descritas no terceiro
tratado (Tractatus Tertium) que trata das “Circunstâncias da Consecução de Toda
a Obra desta arte ou Magistério, que são debatidas e mostradas por meio de
27 Sobre a descrição de cada uma das partes que compõem a edição parisiense de 1612, vide Maria Helena Roxo Beltran, Imagens de Magia e Ciência: Entre o Simbolismo e os Diagramas da Razão (São Paulo:Educ, FAPESP, 2000), 77-89. Vide também, da mesma autora, “Os Saberes Femininos em Imagens e Práticas Destilatórias”, Circumscribere 1 (2006): 40-41.
38
algumas similitudes, figuras, parábolas e adágios múltiplos dos Filósofos
filosofantes”28 (figura 26).
Fig. 26
Salomon Trismosin, Splendor Solis.
Rorschach am Bodensee, 1599.
Essa primeira similitude trata, mais especificamente, sobre a formação
das terras perfeitas, onde o quente e o frio, o seco e o úmido, se encontram bem
cozidos e mesclados; e das terras imperfeitas, as quais, insuficientemente
umectadas e insuficientemente cozidas, são impedidas de petrificarem-se; e vem
complementar, ainda, em certa medida, o segundo tratado, no que tange às duas
disposições ali mencionadas, a saber: o mercúrio filosófico, formado pelo
encontro dos vapores aquosos com uma substância terrestre e sutil; e o enxofre
filosófico, nascido do contato desse mesmo mercúrio filosófico com uma
concreção terrestre, sutil e ígnea.
28 Salomon Trismosin, “Splendor Solis: avec ses Figures. Traduction inédite du texte allemand de 1598 par Bernard Husson”, in La Toison d’Or ou La Fleur des Trésors (Paris:Retz, 1975), 198-201.
39
A estas duas disposições, “herança legada à alquimia medieval, através
dos árabes”29, veio a somar uma terceira, o sal, introduzido por Paracelso30.
Esses três princípios, segundo Alfonso-Goldfarb,
apesar de não serem substâncias, não são sempre os mesmos
qualitativamente em cada objeto, diferenciando-se bastante das
chamadas qualidades fixas dos [quatro] elementos que variariam
somente em quantidade, dependendo do composto tomado.31
Pode-se inferir que esse terceiro agente, apesar de não estar nomeado
em Splendor Solis, trata-se do elo de ligação entre as duas disposições (aquosa e
ígnea), ou seja, a “substância” ou “concreção” terrestre de que fala Salomon
Trismosin.
Dissertando sobre a tria prima de Paracelso, John Read supõe que o
acordo entre os “dois opostos” poderia estar representado em uma “atrativa
gravura de 1625”, a qual mostra dois peixes nadando no mar,com a seguinte
frase em latim: O mar é o corpo, os dois peixes são o espírito e a alma
(figura 27).32
Esses dois peixes podem ser vistos, ainda, no emblema XXII de Atalanta
Fugiens, que, como faz notar Jong, comparando esse emblema com o de
Lambsprinck, apesar de personificarem os dois opostos, são essencialmente um
29 Ana Maria Alfonso-Goldfarb, Da Alquimia à Química: Um Estudo sobre a Passagem do Pensamento
Mágico-Vitalista ao Mecanicismo, 3ª ed. (São Paulo:Landy, 2001), 67. 30 É interessante notar que na página de título da obra Splendor Solis, mit schönen Figuren (1599),
Salomon Trismosin se auto intitula “Preceptor de Paracelso” (Theophrasti Paracelsi Præceptor). 31 Ana Maria Alfonso-Goldfarb, 145. 32 John Read, Through Alchemy to Chemistry (London: G. Bell and Sons, 1961), 25. Com relação à
“atrativa gravura de 1625”, John Read, apesar de não especificar, refere-se, provavelmente, ao primeiro emblema do De Lapide Philosophico de Lambsprinck (1625), publicado simultaneamente em vernáculo germânico no Dyas Chymica Tripartida e em latim no Musæeum Hermeticum. A edição princeps do De Lapide Philosophico (1599) não apresenta ilustrações.
40
e devem ser “cozidos” e completamente dissolvidos no mar, até que corpo, alma e
espírito formem uma unidade (figura 28).33
Fig. 27
Lambsprinck, De Lapide Philosophico.
Francoforti, 1625.
Fig. 28
Michael Maier, Atalanta Fugiens. Francoforti, 1618. Emblema XXII
Emblema XXII (detalhe)
33 Helena M. E. de Jong, Michael Maier’s Atalanta Fugiens: Sources of an Alchemical Book of Emblems
(York Beach, Maine: Nicolas-Hays, 2002), 179.
41
Assim, na comparação entre a iluminura de Splendor Solis com a primeira
iluminura, da primeira série, do manuscrito La Génération et Opération du Grand
Œuvre pour Faire de l’Or, a ser apresentado no capítulo seguinte, será levado em
consideração o conceito, enxofre, mercúrio e sal, ou seja, os três princípios (tria
prima) de Paracelso em conjunto com o pensamento alquímico.
42
CAPÍTULO 3
ANÁLISE DA PRIMEIRA ILUMINURA DO MANUSCRITO
LA GÉNÉRATION ET OPÉRATION DU GRAND ŒUVRE POUR FAIRE DE L’OR
43
CAPÍTULO 3
ANÁLISE DA PRIMEIRA ILUMINURA DO MANUSCRITO
LA GÉNÉRATION ET OPÉRATION DU GRAND ŒUVRE POUR FAIRE DE L’OR
A primeira iluminura que serve de abertura para o manuscrito La
Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or, tem por motivo
principal uma personagem trajando calça, gibão e sobrecasaca curta, chapéu e
botas de trabalho; que munido de uma picareta de mineiro, escava ao sopé de
uma montanha escarpada (figura 29).
Em nome de Deus e da Santa Virgem, a mãe.
Na primeira figura aparece como o artista
cavou tão profundamente a rocha e assim,
sabiamente, encontrou sua matéria própria e
boa e, depois de tê-la encontrado, a dispôs
como um verdadeiro filósofo e tornou-a apta a
multiplicar-se em seu gênero, operando sobre
todas as suas virtudes generativas e
aumentativas, o que consiste na composição
que é nomeada dos Sábios filósofos um santo
casamento, do qual nascerá um filho de
natureza mais celeste que terrestre, e será
nomeado Único entre os Deuses. Fig. 29
La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or (1ª iluminura – 1ª série).
Este motivo, como já visto, está presente na abertura de inúmeros
tratados alquímicos, obras de metalurgia e compêndios de trabalhos sobre as
aplicações da “química” na medicina e, se por um lado não esclarece qual deve
44
ser a matéria-prima a ser eleita para o início do labor alquímico, por outro parece
querer indicar que esta matéria pertence ao reino mineral, levando-nos a
considerar o conselho dado por Jean d’Espagnet, na sua obra A Obra Secreta da
Filosofia de Hermes:
Aquele que procura a arte de aperfeiçoar e de multiplicar os metais
imperfeitos... deve procurar na natureza dos metais a espécie metálica,
como no homem aquela do homem, e no boi aquela do boi. 34
É interessante notar que em alguns tratados de cunho alquímico, o
mineiro solitário da imagem em questão, se desdobra em dupla, o que nos leva a
questionar se não estaria aí, intencionalmente indicado, a extração, das minas, de
duas matérias ou substâncias naturalmente combinadas, ou a extração de uma
matéria composta por dois princípios. Segundo Alfonso-Goldfarb, o corpus
alquímico árabe é absorvido pela Europa Ocidental a partir do século XII com as
traduções para o latim das obras: De compositione Alchimicæ de Khalid ibn Yazid,
dos Setenta Livros da obra jabiriana e das obras de (pseudo) Rasis, De
Aluminibus et Salibus e Liber Luminis Luminum.35
Desta forma, as idéias árabes, especialmente do corpus jabiriano sobre a
composição dos minerais, “baseado na teoria das duas naturezas opostas,
enxofre e mercúrio em diferentes proporções, sendo a proporção mais perfeita,
segundo Jabir, a do ouro”36, poderiam estar, de certa forma, explicitadas na
imagem do par de mineiros.
34 Jean d’Espagnet, L’Œuvre Secret de la Philosophie d’Hermès (Paris: E. P. Denoël, 1972), 121.35 Ana Maria Alfonso-Goldfarb, Da Alquimia à Química: Um Estudo sobre a Passagem do Pensamento
Mágico-Vitalista ao Mecanicismo (São Paulo:Landy, 2001), 107-8. 36 Ibid., 86.
45
Dissertando sobre as representações pictográficas da teoria alquímica,
Tenney L. Davis mostra, através da análise da imagem que acompanha a
epígrafe que serve de abertura à obra Musæum Hermeticum, impressa pela
primeira vez em 1625, que a doutrina alquímica baseava-se na teoria dos “dois
princípios contrários” (figura 30).
Fig. 30
Musæum Hermeticum. Francoforti, 1625 (epígrafe).
Segundo Davis, nesta imagem o “sol e a lua representam os princípios
positivo e negativo, Enxofre e Mercúrio” e, ao mesmo tempo, provavelmente
representem o ouro e a prata, sendo que os outros cinco metais estariam
representados pelas cinco estrelas localizadas entre o sol e a lua. Os setes
46
metais também estariam representados pelas sete figuras humanas que se
encontram sob a terra.
Davis chama a atenção para as três figuras que estão sentadas junto às
árvores e que seguram símbolos alquímicos, sendo que: o triângulo com vértice
para cima simboliza o fogo, o princípio positivo enxofre; o triângulo com o vértice
para baixo simboliza a água, o princípio negativo mercúrio; e no centro a
combinação dos dois triângulos, ou seja, dos dois princípios contrários (ígneo e
aquoso), formando o “selo de Salomão”, a Pedra dos Filósofos e que contém os
quatro elementos Aristotélicos (o triângulo com vértice para cima e para baixo, o
fogo e a água, respectivamente; e os mesmos triângulos cortados por uma linha
vertical, o ar e a terra). 37
Dissertando sobre os Princípios metálicos, Pernety igualmente informa
que a numerosa família do reino mineral, tanto nas entranhas da terra como em
sua superfície, é formada pela união e diferentes combinações de dois princípios,
Mercúrio e Enxofre, mais ou menos puros e mais ou menos digeridos.38
Sobre a matéria-prima da Grande Obra, o texto que acompanha a
primeira iluminura do manuscrito La Génération et Opération du Grand Œuvre
pour Faire de l’Or, informa apenas que “o artista cavou tão profundamente a
Rocha e assim, sabiamente, encontrou sua matéria própria e boa”. No entanto,
uma nota marginal que acompanha a explicação da primeira figura da cópia do
Traité du Regime de Jacques Le Tesson, realizada por Jean Vauquelin des
Yveteaux, hoje depositada no Muséum d’Histoire Naturelle de Paris, sob o nº 360,
37 Tenney L. Davis, “Pictorial Representations of Alchemical Theory”, Isis 28, nº 1 (fev. 1938): 74.38 Antoine-Joseph Pernety, Les Fables Egyptiennes Et Grecques Devoilees & Reduites Au Meme Principe
Avec Une Explication Des Hièroglyphes, vol. 1 (Paris: Bauche, 1758); reimpressão fac-similar (Paris: Table d’Emeraude, 1982), 132.
47
esclarece sobre a natureza desta “Rocha” nos seguintes termos: “A Rocha é o sol
e seu mineral”39, o que parece estar em conformidade com a representação
pictórica da primeira iluminura do manuscrito La Génération et Opération du
Grand Œuvre pour Faire de l’Or. 40
Assim, acima do sítio onde o mineiro cava “tão profundamente a Rocha”,
surge uma mulher nua que traz em seu ventre um menino vermelho coroado.
Poderíamos ver aqui, uma representação semelhante à imagem
analisada por Davis, uma alusão ao fato de a matéria-prima buscada pelo
minerador possuir os dois princípios contrários, ou seja, a mulher nua, princípio
negativo mercúrio, de compleição aquosa, trazendo no seu ventre o menino
vermelho coroado, princípio positivo enxofre, de compleição ígnea. Em outras
palavras, poderíamos ver aí a simples indicação do continente e do conteúdo, do
mineral e do “embrião metálico”.
Para melhor compreendermos as representações iconográficas dessa
dupla natureza ígnea e aquosa, passamos a analisar a primeira das vinte e duas
iluminuras que compõem o manuscrito intitulado Splendor Solis (1582),
depositado na Biblioteca do Museu Britânico, sob a cota Harley Ms. 3469, e
concomitantemente iremos traçando paralelos com a primeira iluminura do
manuscrito La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or.
39 Jacques Tesson, L'oeuvre du Lion vert (Genève: Arbre d’Or, 2008), 97. 40 Segundo Bernard Husson, as notas marginais na cópia realizada por Jean Vauquelin des Yveteaux são da
mão do boticário Maurice Fouques; Bernard Husson, Trois Textes Alchimiques Inédits du XVIIe Siècle
(Paris, Librairie de Médicis, 1979), 10.
48
Assim é que podemos observar, nesta iluminura, um par de mineiros
escavando as profundezas de uma montanha à procura da matéria-prima da
Grande Obra.
Esta iluminura pode ser comparada a um emblema, uma tendência que,
segundo Santiago Sebastián, se afirmou em meados do século XVI com a
publicação ilustrada de dois textos medievais – Margarita Pretiosa Novella (1546)
de Petrus Bonus e o Rosarium Philosophorum (1550) – seguindo o gosto
instaurado pela emblemática, tendência esta, que culminaria com a publicação da
complexa obra alquímico-emblemática de Michael Maier, Atalanta Fugiens,
publicada em 1617, em Oppenheim, pelo impressor Hieronymus Galler, às
expensas de Johann Theodor de Bry.41
Composta por cinqüenta emblemas, acompanhados, cada um, por um
epigrama, uma fuga a três vozes e um discurso explicativo, essa obra, segundo
Beltran, pretende explicar as “relações entre o tema apresentado na imagem e a
‘química’, auxiliando assim a compreensão desses elevados conhecimentos
guardados nas imagens”42.
Conforme ainda Beltran, em Atalanta Fugiens, não só a música, mas
também as imagens são objetos de meditação, sendo que estas são emblemas
nos quais estão contidos os símbolos utilizados pelos alquimistas para transmitir
suas concepções de composição da matéria, transformação e separação dos
41 Santiago Sebastián, Emblemática e Historia Del Arte (Madrid: Cátedra, 1995), 95-100. Sobre a obra Atalanta Fugiens, vide Helena Maria Elisabeth Jong, Michael Maier’s Atalanta Fugiens: Sources of an
Alchemical Book of Emblems (York Beach, ME: Nicolas-Hays, 2002); e Maria Helena Roxo Beltran, Imagens de Magia e Ciência: Entre o Simbolismo e os Diagramas da Razão, (São Paulo:Educ, FAPESP, 2000), 97-112.
42 Maria Helena Roxo Beltran, Imagens de Magia e Ciência: Entre o Simbolismo e os Diagramas da
Razão, (São Paulo:Educ, FAPESP, 2000), 102.
49
elementos, bem como a idéia de que o enobrecimento da matéria poderia
conduzir o operador ao aperfeiçoamento de sua alma.43
A difusão dos livros de emblemas é geralmente associada ao humanista
André Alciato, que publicou em Augsburgo, no ano de 1531, seu Emblematum
Líber, “a primeira e mais famosa das incontáveis coleções de epigramas
ilustrados, ou paráfrases epigramáticas de imagens, tão populares no século XVI
e XVII”44. O emblema é uma composição tripartida, formado por uma sentença ou
Motto, uma figura ou Pictura e um texto explicativo ou Subscriptio (figura 31).
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Fig.31
Andrea Alciati, Emblematum Líber, Augsburgo, 1531.
Como exemplo da aplicação da emblemática em tratados alquímicos,
podemos citar uma das xilogravuras que compõem a primeira edição impressa do
Rosarium Philosophorum (figura 32), publicada por Jacobus Cyriacus, em
43 Ibid., 102. 44 Erwin Panofsky, Estudios sobre Iconología (Madrid: Alianza, 1972), 165.
50
Frankfurt, no ano de 1550, cuja composição muito se assemelha, salvo alguns
detalhes secundários, ao desenho preparatório para o afresco da Basílica de
Sant’Andrea em Mântua, Itália, hoje fazendo parte do acervo da National Galleries
of Scotland, executado pelo artista maneirista Domênico Ricci (il Brusasorci), no
mesmo ano de 1550 (figura 33).
Ambas as imagens, concebidas no mesmo ano, retratam a Santíssima
Trindade – o Pai todo-poderoso, seu Filho único e o Espírito Santo – presidindo a
elevação e exaltação da Virgem Maria acima dos coros dos Anjos, a Sua
coroação com o diadema real e Seu assentamento no trono da luz eterna.45
No entanto, o que, no nosso entender, distingue fundamentalmente as
duas composições é que a primeira trata-se de um emblema e a segunda de uma
alegoria, ou seja, a xilogravura do Rosarium Philosophorum é um dogma
alquímico, o Tria Unum, ilustrado por uma imagem visual e o desenho de
Brusasorci é uma imagem visual revestida de um dogma religioso, o ternário
Divino.46
Dessa forma, quando contemplamos a alegoria de Brusasorci, somos
“convidados, mas não forçados” a buscar um significado religioso na imagem.
45 Santo António de Lisboa, Obras Completas: Sermões Dominicais e Festivos, vol. 1 (Porto: Lello e Irmão, 1987), 953-66
46 Cf. Erwin Panofsky, Significado nas Artes Visuais (São Paulo: Perspectiva, 2004), 194.
51
Fig. 32
Tria Unum, xilogravura reproduzida do Rosarium Philosophorum. Francoforti, 1550.
Fig. 33
Domenico Brusasorci, Coroação da Virgem (detalhe), 1550.
52
Por outro lado, o emblema é uma imagem que “esconde”, dependendo do
contexto em que estiver ilustrando, uma lição que pode ser, entre outros, de
cunho moral, educativo, político, religioso e, inclusive, alquímico. Além disso, é
possível reconhecer o significado por trás da imagem através do texto explicativo
que a acompanha.47 Enfim, ela exige a busca de um significado.
Assim, a xilogravura do Rosarium Philosophorum pode ser tratada como
um emblema alquímico, pois, além de estar acompanhada por um texto
explicativo (subscriptio), ou seja, o próprio corpo textual do tratado, por uma
imagem (pictura) e por uma sentença (motto) presente através das filacteras48, ou
seja, além de ser uma composição tripartida, ela está inserida dentro de um
contexto alquímico.
Outro exemplo seriam as obras de cunho alquímico, escritas e publicadas
em Amsterdam pelo mestre de minas (berg-meester) e alquimista holandês
Gossen van Vreeswijk, que viveu na segunda metade do século XVII.
Suas obras, das quais podemos citar: De Roode Leeuw, of het Sout der
Philosophen – 1671 (O Leão Vermelho ou o Sal dos Filósofos); De Groene
Leeuw, of het Licht der Philosophen – 1674 (O Leão Verde ou o Luz dos
Filósofos; e De Goude Leeuw, of den Asijn der Wysen – 1675 (O Leão de Ouro ou
o Vinagre dos Sábios), estão ilustradas com emblemas que, na opinião de
Jacques van Lennep, são “de uma confecção grosseira, mas de uma inspiração
47 Maria Helena Roxo Beltran, Imagens de Magia e Ciência: Entre o Simbolismo e os Diagramas da
Razão (São Paulo:Educ, FAPESP, 2000), 105. 48 Na filactera da esquerda lê-se: “Cujo pai é o sol e a mãe a verdadeira lua. E do pai nasce um filho. E o
filho é a mãe”. Na filactera da direita, lê-se: “O dragão não morre sem seu irmão e sua irmã, não tanto por um, mas por ambos”. No centro da imagem lê-se a fraze Tria Unum, que significa: três coisas, uma só.
53
inabitual" e “constituindo um dos belos florões não somente da arte alquímica,
mas também da arte emblemática”49.
No entanto, uma pesquisa mais apurada revela que as imagens que
ilustram as obras de Gossen van Vreeswijk não são criações originais, mas
reproduções, ou antes, adaptações, na sua grande maioria, dos emblemas que
compõem as obras Proteus (1618 e 1627) e Emblemata Moralia et Æconomica
(1627), ambas escritas por Jacob Cats (1577-1660), “um dos mais importantes
escritores Holandeses do século XVII e um dos mais populares”50.
A título de curiosidade, do total de quinze ilustrações que compõe o
tratado O Leão Vermelho ou o Sal dos Filósofos, seis pertencem ao Proteus
(figuras 34 e 35) e as nove restantes ao Emblemata Moralia et Æconomica
(figuras 36 e 37).
Fig. 34 Fig. 35
Goossen van Vreeswijk, De roode leeuw of
het sout der philosophen. Amsterdam, 1671.Jacob Cats, Proteus ofte Minne-beelden
verandert in Sinne-beelden. Rotterdam, 1627.
49 Jacques van Leenep, Alchimie: Contribution à l’Histoire de l’Art Alchimique (Bruxelles: Crédit Communal de Belgique, 1984), 229 e 444.
50 Roelof van Straten, An Introduction to Iconography (Amsterdam: Gordon and Breach, 1994), 65.
54
Fig. 36 Fig. 37
Goossen van Vreeswijk, De roode leeuw of
het sout der philosophen. Amsterdam, 1671. Jacob Cats, Emblemata Moralia et
Æconomica. Rotterdam, 1627.
Assim, questionamos se seria adequado interpretar as imagens que
ilustram os tratados de Goossen van Vreeseijk, levando em consideração os
mottos e subscriptio atribuídos por Jacob Cats a essas mesmas imagens.
Pensamos que não. Primeiro porque essas imagens foram tomadas
“emprestadas” para servir a outro contexto. Segundo que Vreeseijk cuidou em
apor símbolos alquímicos sobre cada imagem, com o aparente objetivo de
orientar o pensamento do observador para a via alquímica.
Segundo Ginzburg, “os livros de emblemas, como se centravam em
imagens, podiam transpor facilmente as fronteiras lingüísticas, mesmo quando
não eram escritos numa língua internacional como o latim”51. No entanto, os
mottos nem sempre eram pictorializados, sendo a imagem, em alguns livros de
emblemática, descrita verbalmente.
51 Carlo Ginzgurg, Mitos, Emblemas, Sinais: Morfologia e História (São Paulo: Companhia das Letras, 1989), 103.
55
Por outro lado, consideramos ainda, como pertencente à natureza
emblemática, composições pictóricas cujos mottos e subscriptios, aparentemente
ausentes, em verdade apresentam-se subjacentes às imagens.
É interessante notar que esta modalidade de emblemática, no nosso
entender, transpõe totalmente as fronteiras lingüísticas tornando-a, na acepção da
palavra, universal.
É neste caso que, acreditamos, se enquadra a iluminura do Splendor
Solis, que passamos agora a analisar como um emblema, composto de motto,
pictura e subscripto visuais, conforme indicações que colocamos ao lado direito
da imagem que se segue (figura 38).
É importante ressaltar que na análise da imagem do Splendor Solis
inverteremos o caminho natural de leitura dessa iluminura-emblema, ou seja,
começaremos analisando o seu texto explicativo ou subscriptio, passando então
ao corpo do emblema ou pictura e finalizaremos abordando o seu motto, pois,
como observa Betty J. T. Dobbs, “as imagens alquímicas carregam uma forte
semelhança com um dispositivo não-naturalista usado por pintores medievais
para indicar a importância relativa de várias figuras em uma composição,
dispondo a imagem mais importante na posição mais elevada”52, levando o
observador a ler a composição de baixo para cima numa atitude de ascensão.
52 Betty J. T. Doobs, Alchemical Death & Ressurrection: The Significance of Alchemy in the Age of
Newton (Washington, DC: Smithsonian Institution Libraries, 1990), 10.
56
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Fig. 38
Salomon Trismosin, Splendor Solis, sec. XVI British Library, London, Harley Ms. 3469.
57
A composição dessa iluminura do manuscrito Splendor Solis apresenta, à
guisa de base de enquadramento da imagem, o momento em que a rainha Ester
se apresenta ao rei Assuero (figura 39). Consideramos este enquadramento como
o subscriptio da composição pictórica, o qual pode ser aqui transvertido pela
passagem constante do Capítulo 5, Versículos 1-2 do Livro de Ester, conhecido
também como o Rolo de Ester (Megillah Esther), que é um dos cinco livros
históricos do antigo testamento da Bíblia53.
Fig. 39
Salomon Trismosin, Splendor Solis, sec. XVI, British Library, London, Harley Ms. 3469 (detalhe).
Este livro chegou até nós em duas versões, uma mais abreviada, em
hebraico, e outra mais ampliada, em grego (Septuaginta), à qual foram
incorporadas seis passagens que os estudiosos chamam de Adições A-F54; e
narra a história sobre o rei persa Assuero que, após depor sua esposa, a rainha
53 Os cinco livros históricos compõem-se de: Cântico dos Cânticos, O Livro de Ruth, Lamentações,Eclesiastes e O Livro de Ester. Sabemos tratar-se, aqui, da narrativa bíblica do Livro de Ester porque os nomes Esthes (sic) e Asueros apresentam-se grafados sobre cada uma das personagens ilustradas no Ms. Harley 3469, depositado no Britsh Museum Library.
54 Sobre a origem da versão grega (Septuaginta) e as adições A-F, vide Carey A. Moore, “On the Origim of the LXX Additions to the Book of Esther”, Journal of Biblical Literature 92, nº 3 (set. 1973), 382-93.
58
Vasti, por ofendê-lo ao recusar-se comparecer a um banquete oferecido pelo rei,
toma por esposa Ester, uma jovem judia conhecida por sua beleza, “filha de
Abiail, tio de Mardoqueo, que a adotara como filha”55 e que escondeu do rei a sua
origem hebraica, não declarando, a pedido de Mardoqueo, “nem seu povo nem
sua linhagem”56.
Amã, o favorito do rei e inimigo dos judeus, especialmente de Mardoqueo,
convence Assuero a editar um decreto contra os judeus. Mardoqueo pede então a
Ester que intervenha junto ao rei em favor do seu povo, contra o implacável
programa de extermínio arquitetado por Amã, ao que Ester aceita, apesar de
saber que, para tanto, correria risco de morte.
Ester, acompanhada de duas servas, apresenta-se ao rei, pedindo por
seu povo e denunciando Amã. Assuero atende ao pedido de Ester e manda
enforcar Amã na mesma forca que este havia preparado para Mardoqueo.
Assim, inspirada em uma das passagens do Livro de Ester, esta cena do
Splendor Solis, aparentemente fora do contexto central, e que Jacques Van
Lennep insiste em ver aí “Ester implorando a clemência de Assuero”57, esta cena,
dizíamos, retrata o momento em que a rainha Ester se apresenta ao rei Assuero,
apesar de saber que “todo homem ou mulher que chegar ao rei no pátio interior,
sem ser chamado, não há senão uma sentença, a de morte, salvo se o rei
estender para ele o cetro de ouro, para que viva”58.
55 Es. 2: 13. 56 Es. 2: 10. 57 Jacques Van Lennep, Alchimie: Contribuition à l’Histoire de l”Art Alchimique (Bruxelas: Crédit
Communal de Belgique, 1984), 116. Vide também, do mesmo autor, Arte y Alquimia: Estúdio de la Iconografia Hermética y de sus Influencias (Madrid: Nacional, 1978), 63.
58 Es. 4: 11.
59
Sucede que, “vendo o rei à rainha Ester, que estava no pátio, alcançou
graça aos olhos; e o rei estendeu para Ester o cetro de ouro, que tinha na sua
mão, e Ester chegou, e tocou a ponta do cetro.”59
Ora, o ato de implorar denota movimento, impulsividade, porque implorar
é pedir com ansiedade e insistência; implorar é investir contra aquele a quem se
implora, não com palavras, mas com o coração contrito, como a se oferecer em
troca da súplica. O corpo estanca, as mãos trêmulas amparam ou, antes, afastam
o juízo inexorável. A cabeça, lançada para traz, recusa-se a ouvir o veredicto final;
o olhar perdido, dirigido ao solo em sinal de humildade, mergulha num abismo
insondável, porque o pensamento vacila diante do que há por vir.
Não, não é assim que, na iluminura do Splendor Solis, Ester se
apresenta. Ali, onde Jacques Van Lennep reconhece a figura de uma mulher
suplicante a espera da graça que reconcilia, nós vemos simplesmente a de uma
rainha apresentando-se diante do seu rei.
Não há nela a expressão da angústia que atormenta, muito menos a ação
de quem tem o coração contrito a espera da graça do perdão.
Antes, o semblante de Ester é contemplativo, sereno, não há hesitação. A
rainha não denota uma alma infeliz, miseravelmente atormentada, nem o rei
Assuero apresenta-se compadecido e misericordioso. Ainda que, na versão
grega, Ester, por receio à sua vida, vacila diante do poder de Assuero e, por duas
vezes, desmaia, é mais por temor que por instância e humildade60.
59 Es. 5: 2. 60 Es. Adição D, Bíblia de Jerusalém.
60
Segundo a Bíblia, “Ester se vestiu com trajes reais, e se pôs no pátio
interior da casa do rei, defronte do aposento do rei”; “e o rei estendeu para Ester o
cetro de ouro, que tinha na sua mão, e Ester chegou, e tocou a ponta do cetro”61
(figura 40).
Fig.40
Bíblia Sagrada: Livro de Ester (c. 1430), Koninklijke Bibliotheek.
É esta, portanto, a passagem bíblica do Livro de Ester retratada no
manuscrito Splendor Solis, onde Ester aparece como motivo central, logo abaixo
da interseção de dois arcos abatidos.
Apesar de, entre ela e o rei, uma coluna, aparentemente fora de posição,
separá-los, o cetro real os une, podendo, a princípio, ser interpretado como uma
alegoria ao fato de, apesar de serem de povos diferentes, ela de origem hebraica
e ele zoroastriano, os dois protagonistas desta alegoria pertencem ao mesmo
reino.
61 Es. 5: 1-2.
61
Por outro lado, poderíamos conjecturar se esta alegoria, por estar inserida
em um contexto alquímico, não corresponderia a uma representação dos dois
princípios contrários, separados na imagem pela coluna, mas unidos em uma só
matéria através do cetro de ouro. Com relação a essa questão, Bernardo
Trevisano adverte que:
“o Ouro e a Prata, segundo a Doutrina de todos os Filósofos, são a
Matéria da nossa Pedra. Em verdade, disse Hermes, seu Pai é o Sol e
sua Mãe é a Lua. O que mais embaraça é saber qual é o terceiro
Componente; ou seja, qual é esta Prata-viva através da qual fazemos o
nosso Composto com o Ouro e a Prata.”62
O cetro de ouro do rei Assuero pode bem ser comparado com este
“terceiro Componente” de que fala Bernardo, e parece ter a função de unir, de
pacificar, tal e qual a vara de ouro do deus grego Hermes, ao redor da qual,
segundo nos informa Pernety, “estavam duas serpentes torcidas, que pareciam
querer devorar-se; mas a vara tinha a propriedade de conciliá-las”63.
Vale esclarecer que, segundo d’Espagnet, este terceiro agente não entra
em substância para a união entre o Sol e a Lua pois,
“a obra inteira se realiza perfeitamente graças a dois corpos somente, a
saber, o Sol e a Lua devidamente preparados. Pois, a Natureza efetua
com estes dois corpos uma verdadeira geração natural, com a ajuda da
arte, pela intervenção do acasalamento entre o macho e a fêmea,
donde procede uma linhagem muito mais nobre que seus parentes.”64
62 Bernard Le Trevisan, “La Parole Délaissée”, in Œuvre Chymique de Bernard Le Trevisan (Paris, Guy Trédaniel, 1976), 78-9.
63 Antoine-Joseph Pernety, Dictionnaire Mytho-Hermétique (Paris: Bauche, 1758). Reimpressão fac-similar (Milan: Archè, 1980), 298a.
64 Jean d’Espagnet. L’Œuvre Secret de la Philosophie d’Hermès (Paris: E. P. Denoël, 1972), 123.
62
Sobre esse acasalamento, o texto que acompanha a primeira iluminura do
manuscrito La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or
acrescenta que esta composição (acasalamento) é “nomeada dos Sábios filósofos
um santo casamento, da qual nascerá um filho de natureza mais celeste que
terrestre, e será nomeado Único entre os Deuses”.
Completam a cena do Splendor Solis a figura de Amã que surge atrás do
trono de Assuero, as duas servas que acompanharam Ester, uma de cada lado da
coluna, um soldado que guarda o vestíbulo, em posição de alerta, pronto para
executar as ordens de Assuero, e, finalmente, fora do recinto real, Mardoqueo é
retratado observando Ester e aguardando o resultado do encontro.
Mardoqueo, segundo o velho testamento, “estava comissionado à Porta
Real”65. Mas, tão logo soube do decreto para exterminar seu povo, “Mardoqueo
rasgou suas vestes e se cobriu de pano e de cinza. Em seguida percorreu toda a
cidade, enchendo-a com seus gritos de dor, e foi até o Portão Real, que ninguém
podia ultrapassar, vestindo pano de saco”66.
Sabemos tratar-se de Mardoqueo porque no Livro de Ester somente ele é
citado como “comissionado à Porta Real”67.
O fato é que cobrir-se de pano de saco e cinza era uma forma simbólica
de demonstrar tristeza, lamentação e luto o que por si só faria com que
Mardoqueo encarnasse a personagem Saturno, aguardando, junto ao Portão
Real, a entrada em cena, pois ele representa, na Grande Obra, a fase do nigredo,
a morte eterna, o luto.
65 Es. 2: 21. 66 Es. 4: 1-2. 67 Es. 2: 19, 21; 3: 3; 5, 9, 13; 6: 10, 12.
63
Ester e Assuero poderiam representar, assim, o primeiro regime da Obra,
ou seja, o Regime do Mercúrio; Mardoqueo, por seu turno, representaria o
segundo regime, ou o do Saturno, pois segundo Filaleto,
“apenas tenha Mercúrio terminado seu reinado, entra seu sucessor
Saturno, que ocupa o mais alto nível, depois daquele” e acrescenta: “Oh
triste espetáculo, imagem da morte eterna, porém que agradável
mensageiro para o Artista!"68.
Cabe salientar que na cópia do Splendor Solis depositada na Biblioteca
Estatal de Berlim, Ms Codex Germ. fol. 42, Mardoqueo está representado trajando
armadura completa, em dissonância com a narrativa bíblica (figura 41).
Não podemos afirmar com absoluta certeza se houve erro por parte do
iluminador ou se houve uma real intenção em representar Mardoqueo trajando o
conjunto de armas brancas.
Já na cópia depositada no Gabinete de Estampas do Museo de Berlim,
Ms Codex 78 D 3, que apresenta duas datas: 1532 e 1535, a imagem de
Mardoqueo aparece extremamente desbotada pela ação do tempo, não
fornecendo qualquer indício de seus elementos iconográficos (figura 42).
68 Eyrénée Philalèthe, L’Entrée Ouverte au Palais Fermé du Roi (Paris: Retz, 1976), 166-7.
64
Fig.41 Fig.42
Ms Codex Germ. fol. 42. Ms Codex 78 D 3.
Por outro lado, na cópia aqui analisada, Mardoqueo apresenta-se
sentado, com sua cabeça apoiada em uma das mãos, denotando indolência,
vestido, aparentemente, de túnica e segurando um bastão, atributos, segundo
Panofsky, utilizados durante a idade média e o renascimento, para representar
Saturno. 69
Ascendendo nosso olhar na imagem, nos defrontamos com o par de
mineiros que, como o representado na primeira iluminura do manuscrito La
Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire d'Or cava “profundamente a
Rocha” e assim, sabiamente, encontra “sua matéria própria e boa”.
Pensamos estar aqui representado o artesão, aquele que, segundo
Mircea Eliade, “faz coisas eficazes”, que “conhece os segredos de como fazê-
los”70.
69 Erwin Panofsky, Estudios sobre Iconologia (Madrid: Alianza, 1972),93-117. 70 Mircea Eliade, Ferreiros e Alquimistas (Rio de Janeiro: Zahar, 1979), 79.
65
Se em algumas representações esse inventor apresenta-se em dupla é,
possivelmente, como já foi analisado anteriormente, com a intenção de assinalar
as duas naturezas opostas contidas na matéria eleita pelo alquimista, quais
sejam: aquosa e ígnea.
Um pormenor ainda vem marcar a natureza de cada um dos princípios
contidos na matéria buscada pelos mineiros (figura 43). Trata-se das crianças que
arrematam a borda decorativa superior da imagem do manuscrito Splendor Solis,
o motto do emblema, sendo que a da esquerda, que revela seu sexo e que tem
preso à mão um pássaro, pode representar - considerando-se, aqui, as idéias
árabes das duas naturezas opostas - o princípio ativo e fixo; e a da direita, que
infelizmente tem seu sexo dissimulado devido ao posicionamento da sua perna
esquerda e esforça-se em capturar um pássaro que parece resistir à tentativa
pueril, pode representar, da mesma forma, o princípio passivo e volátil.
Finalmente, dois delfins presos pela cauda a um querubim arrematam a
decoração, indicando, possivelmente, a união dessas duas naturezas encarnadas
nas figuras das crianças.
Fig.43
Salomon Trismosin, Splendor Solis, sec. XVI, British Library, London, Harley Ms. 3469 (detalhe).
66
Este motto, ainda que pictórico, pode bem ser transvertido na seguinte
sentença: Concórdia, devido à sua similaridade com um dos emblemas constante
na edição parisiense de 1534 do Emblematum Líbellus, de Alciato, no qual
podemos observar dois corvos, símbolo da lealdade, que sustentam um cetro,
símbolo do poder, da mesma forma que o cetro de ouro une Assuero e Ester
(figura 44).
Fig. 44
Andrea Alciato, Emblematum Libellus, Paris: 1534.
Na tradução francesa, impressa em 1612 pelo impressor parisiense
Charles Sevestre sob o título La Toyson d’or ou La Fleur des Trésors, e
reimpressa em 1613, as iluminuras são substituídas por xilogravuras iluminadas
de dimensões menos amplas (figura 45) onde as filigranas, bordaduras e
contornos foram suprimidos, sendo mantido apenas o motivo central, devido às
limitações que a técnica de xilogravura apresenta.71
71 Sobre as iluminuras e imagens impressas, vide Maria Helena Roxo Beltran, Imagens de Magia e
Ciência: Entre o Simbolismo e os Diagramas da Razão, (São Paulo:Educ, FAPESP, 2000), 94-6.
67
Neste caso, podemos supor que o ilustrador tenha assinalado os dois
princípios contrários contidos na matéria-prima, acrescentando na paisagem
montanhosa, sobre cada um dos mineradores, uma cabra-montês, sendo uma na
posição passante e a outra na posição rampante, indicando, possivelmente, a
qualidade passiva do mercúrio e a ativa do enxofre, respectivamente.
Fig. 45
Salomon Trismosin, La Toison d’Or. Paris, 1612.
Esta mesma imagem está representada ainda na obra Hortulus
Hermeticus (Jardinzinho Hermético) de Daniele Stolcio de Stolcenberg, publicada
em Frankfurt, no ano de 1627, pelo impressor Lucae Jennis. Nesta obra,
composta por 160 medalhões, dispostos dois a dois, os mineradores estão
figurados para o símbolo que se atribui a Santo Tomás de Aquino “Italus
Chymicus”72 (figura 46), acompanhada da sentença escrita em legenda latina:
72 O autor, Daniel Stolcius, intitula erroneamente Santo Tomás de Aquino como “Químico Italiano” (Italus Chymicus); ao invés de “Teólogo Italiano”. Sobre esse assunto, vide C. S. Gutkind, “Dante Alighieri
68
Ex sulphure et mercurio ut natura, sic ars producit metalla.
A arte, como a natureza, produz os metais a partir do enxofre e do mercúrio.
Fig. 46
Daniel Stolcius de Stolzenberg, Hortulus Hermeticus. Fracoforti, 1627.
Poder-se-ia argumentar que o motto da iluminura do Splendor Solis
analisada, bem poderia ser a legenda contida neste medalhão. Mas preferimos
“Concórdia”, pois o motto tem a função primeira de complementar a imagem e
não explicá-la, função esta atribuída ao subscriptio.
Todas essas representações dos dois princípios antagônicos, contidos na
matéria-prima da Grande Obra, quais sejam: o princípio ativo e positivo,
identificado com o sol, o enxofre, o masculino, seco, fixo e quente; e o princípio
passivo e negativo, identificado com a lua, o mercúrio, o feminino, úmido, volátil e
frio73; podem, possivelmente, estar representadas nos demais elementos
pictográficos que compõem a primeira iluminura do manuscrito La Génération et
Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or.
Alchymicus Amoris”, Journal of the Warburg and Courtauld Institutes 3, nº 1-2 (Out. 1939 – Jan. 1940): 153-5.
73 Tenney L. Davis, “Pictorial Representations of Alchemical Theory”, Isis 28, nº 1 (fev. 1938), 74.
69
Com o objetivo de facilitar a observação e a análise desses elementos
acessórios que compõem esta iluminura, dividimos a composição em quatro
seções: A, B, C e D (figura 47).
A
C
B
D
Igreja
Céu Carr egado
de Nuvens
Túmulo
Dragões
Mulher e
Menino
Coroado
Vermelho
Castelo
Pássaro
Arbustos
Fig. 47
70
A iluminura assim dividida mostra uma paisagem onde predomina, em
primeiro plano, duas montanhas escarpadas. A da esquerda, de coloração ocre e
de aspecto árido, pode ser interpretada como pertencente à natureza quente,
seca e estéril; a outra, de coloração branca como que tomada pela neve e
apresentando, aqui e ali, alguns arbustos, como pertencente à natureza fria,
úmida e vegetativa (figura 47 – seções A e B).
Segundo o texto que acompanha esta iluminura, o
minerador solitário, posicionado na escarpa da esquerda,
cava em busca de “sua matéria própria e boa”. As duas
figuras que se acercam, acima e abaixo, do mineiro,
poderiam então indicar as qualidades desta matéria própria
e boa, e o resultado do trabalho empreendido.
Desta forma, analisando a composição de baixo para cima, em atitude de
ascensão, podemos observar primeiramente que as serpentes podem ser
divididas em dois grupos.
Composição 1º Grupo 2º Grupo
O primeiro grupo pode indicar a natureza da matéria que o mineiro busca,
simbolizada pelas duas serpentes, verde e vermelha, uma em oposição à outra,
caracterizando assim as duas naturezas opostas contidas na matéria eleita.
Segundo o texto, depois que o artista “encontrou sua matéria própria e boa”, “a
dispôs como um verdadeiro filósofo”, podendo ser interpretado pelo segundo
71
grupo de serpentes, as quais, ainda que mantendo suas qualidades individuais,
estão intimamente entrelaçadas, ou dispostas, como quer o texto.
Podemos ver esta “disposição” das duas serpentes, verde e vermelha,
assinalada na imagem do ouroboros que ilustra a cópia de Synosius, realizada
por Theodorus Pelecanus em 1478, manuscrito Ms Paris 2327, fólio 279,
conservado na Bibliothèque Nationale de Paris (figura 48) e que, segundo
Sheppard, representa o dualismo da unidade da matéria.74
Fig. 48
Ouroboros, MS Paris 2327, 1478.
Logo acima do mineiro surge da rocha uma mulher nua que traz em seu
ventre um menino vermelho coroado. Essa imagem pode ser aqui interpretada
como o resultado obtido ou almejado dessa “disposição” que o mineiro realiza
“como um verdadeiro filósofo”, ou seja, tornar a matéria “apta a multiplicar-se em
seu gênero, operando sobre todas as suas virtudes generativas e aumentativas”.
74 H. J. Sheppard, “The Ouroboros and the Unity of Matter in Alchemy: A Study in Origins”, Ambix 10, nº 2 (jun. 1962): 93-4.
72
Apesar de estar sitiada na escarpa de natureza quente, seca e estéril, ela
parece indicar com a mão esquerda, apontando para a outra montanha, a sua
natureza fria, úmida e vegetativa.
Cabe salientar que esta mulher apresenta-se nua, como era habitual, na
iconografia alquímica, representar a mãe natureza: com os seios à mostra (nutrix)
e grávida (matrix, geratrix).
É interessante notar que, talvez com a intenção de salientar esta dupla
natureza da matéria, o artista cuidou em ilustrar em cada uma das
escarpas os atributos de cada princípio contrário. Assim, contrapondo
o túmulo que aparece logo acima da mulher, simbolizando,
possivelmente, o corpo fixado, vemos um pássaro que ameaça alçar
vôo, simbolizando o corpo volátil.
Da mesma forma, coroando as duas montanhas vemos de um lado uma
igrejinha, cuja torre está encimada por uma cruz, podendo simbolizar,
dentro deste contexto, os bens atemporais, perenes, fixos. Do outro lado
vemos um castelo simbolizando, ainda dentro desse contexto, os bens
terrenos, passageiros, cuja bandeirola, desfraldada ao sabor do vento,
pode ser interpretada como reveladora da sua natureza aérea e volátil.
Não poderíamos deixar de assinalar o combate entre as duas naturezas
contrárias simbolizadas pelo combate entre os dois Dragões (figura 47 - seção C),
o qual aparece relatado no sonho de Mardoqueo, logo na abertura do Livro de
Ester, passagem, esta, que a versão
grega anexa ao texto hebraico:
73
Gritos e ruídos, ribomba o trovão, treme o chão, tumulto sobre a terra.
Dois dragões avançam, ambos prontos para o combate... Transtornados
de terror diante dos males que o esperam, todo o povo justo se prepara
para morrer e invoca a Deus. Ora, de seu grito, como de uma pequena
fonte, brota um grande rio, de águas caudalosas. A luz se levanta com o
Sol.75
Finalmente, a “seção D” mostra
um céu carregado de nuvens, o qual,
quando visto em conjunto com a “seção
C”, muito se assemelha a uma cena figurada na segunda imagem do Livro de
Abraão, o Judeu, descrito por Nicolas Flamel na sua obra O Livro das Figuras
Hieroglíficas76 (figura 49). Esta imagem, acompanhada do texto explicativo de
Nicolas Flamel, revela a necessidade da intervenção de um terceiro agente, o
vento do norte ou aquilão, para produzir a união das duas naturezas contrárias, os
Dragões e Grifos Aquilonianos.77
Fig. 49
Composição (seções C e D). Les Figures d’Abraham. Juif. Paris, 1612.
75 Es. Adição A, BJ. 76 Nicolas Flamel, Le Livre des Figures Hieroglyphiques, (Paris, Retz, 1977), 78. 77 O texto que acompanha esta imagem informa que: “do outro lado da Quarta folha, pintou ele (II) uma
bela Flor no topo de uma Montanha muito alta, que o Aquilão açoitava rudemente. Ela tinha a haste frágil, as flores brancas e vermelhas, as folhas reluzentes como o Ouro fino, em torno da qual os Dragões e Grifos Aquilonianos faziam seu ninho e morada”; Nicolas Flamel, Le Livre des Figures
Hieroglyphiques (Paris: Retz, 1977), 77-79.
74
Este “vento do norte” está representado em um dos emblemas
arquitetados por Adrianus Junius, no seu Les Emblemes (1567), para representar
a “Equidade do Espírito Vitorioso”, cujo epigrama que o acompanha nos instrui
sobre a força do espírito (Aquilão) sobre a matéria (figura 50).
Fig. 50
Adrianus Junius, Lês Emblemes. Antwerp, 1567.
Representações semelhantes podem ser vistas em três das quinze
pranchas do Mutus Líber (1677) (figura 51), assim como na segunda prancha de
uma série de dez cenas com representações alquímicas, xilografadas por
Domenico Beccafumi (figura 52).78 Sobre esta série, Giorgio Vasari comenta que:
Beccafumi imprimiu à água forte algumas pequenas histórias muito
caprichosas de arquimia, onde Júpiter e outros Deuses, querendo
congelar Mercúrio, puseram-no em um cadinho aceso por Vulcano e
78 Sobre a série de dez cenas xilografadas por Domenico Beccafumi, vide Caroline Karpinski, “The Alchimist’s Illustrator”, The Metropolitan Museum of Art Bulletin, New Series 19, nº 1 (summer 1960): 8-14; e Jacques van Lennep, Alchimie: Contribuition à l’Histoire de l”Art Alchimique (Bruxelas: Crédit Communal de Belgique, 1985), 153.
75
Plutão. Quando pensaram que devessem parar, Mercúrio voou e foi-se
para fora em fumaça.79
Fig. 51
Altus, Mutus Líber, Rupellæ, 1677.
Fig. 52
Domenico Beccafumi, Alegoria da Descoberta dos Metais, 1520-25.
79 Giorgio Vasari, Vita de’ Piú Eccellenti Pittori Scultori e Architetti (Siena: Pazzini Carli, 1792), 315. Em nota de rodapé, o editor informa que Giorgio Vasari se engana quando sugere que Beccafumi gravou em água forte algumas estampas que representava várias operações de alquimistas, tratando-se, na verdade, de xilogravuras.
76
Assim, se as serpentes representam o objeto de busca do mineiro e a sua
correta disposição, e a mulher nua o resultado obtido dessa disposição, então, o
conjunto céu/dragões, dentro deste contexto, poderia revelar o modus operandi,
indicando, desta forma, a necessidade de potencializar as virtudes guardadas na
matéria através da quintessência, do mediador que capta as virtudes celestes.80
Talvez esteja aqui indicada a chave que proporciona esse “santo
casamento” de que fala o texto, “do qual nascerá um filho de natureza mais
celeste que terrestre, e será nomeado Único entre os Deuses”.
Da mesma forma que a iluminura de Splendor Solis, a iluminura que serve
de abertura ao manuscrito La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire
de l’Or também pode ser interpretada como um emblema, tendo por pictura a
imagem do mineiro, por subscriptio o combate dos dois dragões e por motto
“A equidade do espírito vitorioso”, tal e qual no emblema de Adrianus Junius.
Pode-se perceber, desta forma, que alguns tratados alquímicos
renascentistas se valeram da composição tripartida dos emblemas para transmitir
seus conhecimentos secretos sobre a matéria, os quais, sintetizados através de
imagens, eram revelados àqueles que se iniciavam nos conhecimentos
considerados sagrados.
80 Sobre a quintessência, vide Maria Helena Roxo Beltran, Imagens de Magia e Ciência: Entre o
Simbolismo e os Diagramas da Razão, (São Paulo:Educ, FAPESP, 2000), 23-4.
77
CONSIDERAÇÕES FINAIS
78
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por mais que se tente dizer o que se vê, o que se vê jamais reside no que se diz.
M. Foucault, As Palavras e as Coisas
Considerando que, segundo Foucault, “o discurso e a figura têm, cada
um, seu modo de ser, mas eles mantêm entre si relações complexas e
embaralhadas”81, questionamos, em um primeiro momento, qual a função da
imagem no contexto alquímico?
Percebemos que algumas imagens alquímicas têm a função de
complementar o texto tentando esconder aquilo que não se pode dizer e se quer
escrever, pois, como pudemos depreender desta pesquisa, esses conjuntos
textos-imagem aparentemente não apresentam separação entre o sistema
lingüístico e o pictórico, mas uma continuidade de leitura que transmuta letra em
traço.
Essa forma de se expressar pode ser interpretada como uma opção do
autor-alquimista, entre utilizar a imagem para comunicar veladamente um segredo
ou calar-se. Logo, a imagem alquímica não se dirige a todos, mas aos que
pretendem se iniciar nos segredos de ofício, aos que estão sendo instruídos; indo
mais além do que a sua simples decodificação, levando o leitor-observador a
meditar sobre o seu significado.
81 Michel Foucault, As Palavras e as Coisas: Uma Arqueologia das Ciências Humanas (São Paulo: Martins Fontes, 2002), 79.
79
É oportuno aqui mencionar o que preleciona Jacques Le Tesson, no seu
tratado sobre a condução da Grande Obra. Citando o filósofo Damasceno,
escreve Le Tesson que este adepto ao começar a sua obra “olhava por toda a
sala a fim de comprovar que não houvesse se quer uma mosca voando ali dentro,
querendo significar com isso que nunca é excessivo guardar segredo, devido ao
perigo que pode acarretar a sua divulgação”82.
Porém, mesmo fechadas em si mesmas, as imagens alquímicas trazem,
em seu interior, chaves para sua análise. Neste trabalho procuramos iniciar a
exploração de uma dessas chaves, propondo analisar essas imagens como
emblemas.
82 Jacques Le Tesson, “Sommaire de la Précédente Conduite en Forme de Pratique”, in L’Œuvre du Lion
Verd (Paris: Librairie de Medicis,1978), 61.
80
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92
RELAÇÃO DE FIGURAS
Pags.1-3
La Génération et Operation du Grand OEuvre pour Faire de l’Or, Ms Palais des Arts 88 (Portada; 1ª a 14ª iluminuras – 1ª série; 1ª a 6ª iluminuras – 2ª série; e Apoteose).
Fonte : La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or. Edição fac-similar da cópia depositado na Bibliothèque Municipale de Lyon, Ms Palais des Arts 88. (Grenoble: Le Mercure Dauphinois, 1999), 9, 15-41, 43-53, 55.
Figs.1a-4a
La Génération et Operation du Grand OEuvre pour Faire de l’Or, Ms Palais des Arts 88 (detalhe da 1ª iluminura – 1ª série; 3ª iluminura – 1ª série; 4ª iluminura – 2ª série; e 6ª iluminura – 2ª série).
Fonte : La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or. Edição fac-similar da cópia depositado na Bibliothèque Municipale de Lyon, Ms Palais des Arts 88. (Grenoble: Le Mercure Dauphinois, 1999), 15, 19, 49, 53.
Figs.1b- 4b
Le Tesson, Jacques. “Quatrième Traité de TessonBibliothèque”, in Œuvre Du Lyon Vert, de Jacques Le Tesson. Paris, Bibliothèque Nationale, Ms. Français 14943 [Supp. Fr. 2514], pp. 227, 233, 235 e 245.
Fonte : Jacques Le Tesson, L’OEuvre du Lion Verd (Paris: Librairie de Médicis, 1978), 64, 67, 71, 85.
Fig. 5 La Génération et Operation du Grand OEuvre pour Faire de l’Or, Ms Palais des Arts 88 (texto e 1ª iluminura – 1ª série).
Fonte : La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or. Edição fac-similar da cópia depositado na Bibliothèque Municipale de Lyon, Ms Palais des Arts 88. (Grenoble: Le Mercure Dauphinois, 1999), 14-5.
Fig. 6 Le Tesson, Jacques. “Quatrième Traité de Tesson”, in Œuvre Du Lyon Vert, de Jacques Le Tesson. Paris, Bibliothèque Nationale, Ms. Français 14943 [Supp. Fr. 2514], p. 227-8.
Fonte : Jacques Le Tesson, L’OEuvre du Lion Verd (Paris: Librairie de Médicis, 1978), 64-5.
93
Figs.7a-11a
La Génération et Operation du Grand OEuvre pour Faire de l’Or, Ms Palais des Arts 88 (6ª, 12ª e 13ª iluminuras – 1ª série; 5ª e 6ª iluminura – 2ª série).
Fonte : La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or. Edição fac-similar da cópia depositado na Bibliothèque Municipale de Lyon, Ms Palais des Arts 88. (Grenoble: Le Mercure Dauphinois, 1999), 25, 37,39,51, 53.
Figs.7b-11b
The Wellcome Library for the History and Understanding of Medicine, ICV 26073 – 26077.
Fonte : Wellcome Library Collection.
http://libsys.wellcome.ac.uk/record=b1196452 – 56 (acessado em fevereiro de 2007).
Fig. 12 Brasão de Honfleur.
Fonte : Les emblèmes de France.
http://emblemes.free.fr/bassenormandie/14600.php (acessado em maio de 2008).
Fig. 13 Brasão de Marselha.
Fonte : Armoiries de la ville de Marseille.
http://www.marseillais-du-monde.org/blason_mars.php3 (acessado em maio de 2008).
Fig. 14 Musaeum Hermeticum. Francofurti, 1625. (detalhe frontispício).
Fonte : Stanislas Klossowski de Rola, The Golden Game: Alchemical Engravings of the Seventeenth Century (London: Thames and Hudson, 1988), 184.
Fig. 15 Ulrich Rulein von Kalbe, Das Bergbüchlein. Augsbourg, 1505 (frontispício).
Fonte : Les fonds anciens de la bibliothèque de l'Ecole des mines de Paris.
http://fonds-ancien.ensmp.fr/Ouvrages_rem/Bergbuchlein/livre/Pages_livre/page_berg_01.html (acessado em abril de 2007).
Fig. 16 G. Agricola, De Re Metallica Libri XII. Basileae, 1556. p. 218.
Fonte : VSB-Technical University of Ostrava - Central Library.
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Fig. 17 Vannoccio Biringuccio, La Pyrotechnie, ou Art Du Feu, Contenant Dix Livres.Paris, 1572. p. 4.
Fonte : Les Bibliothèques Virtuelles Humanistes (BVH).
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94
Fig. 18 Aurora Consurgens, sec.XIV:Zurich, Zentralbibliothek, Ms Rhenoviensis 172.
Fonte : http://hdelboy.club.fr/aurora_22_22.jpg (acessado em setembro de 2007).
Fig. 19 Salomon Trismosin, Splendor Solis, sec. XVI, London, British Library, Harley Ms. 3469.
Fonte : Eidolons Alchemie.
http://www.hermetik.ch/eidolon/bilder/manuskript/1582%20Splendor/index.htm (acessado em agosto de 2007).
Fig. 20 Michael Maier, Septimana Philosophica. Francofurti, 1620. (Detalhe do Frontispício).
Fonte : Stanislas Klossowski de Rola, The Golden Game: Alchemical Engravings of the Seventeenth Century (London: Thames and Hudson, 1988), 162.
Fig. 21 J. D. Mylius, Antidotarium Medico-Chymicum Reformatum. Francofurti, 1620; e J. A. Siebmacher, Hydrolithus Sophicus seu Aquarium Sapientum.Francofurti, 1625. (Detalhe do Frontispício).
Fonte : Stanislas Klossowski de Rola, The Golden Game: Alchemical Engravings of the Seventeenth Century (London: Thames and Hudson, 1988), 158.
Fig. 22 Basilius Valentinus. Gravura de Mechior Haffner, 1677.
Fonte : Past – Portal to Artifacts of Science and Technology.
http://www.past.dk/artefacts/0000/0263.tkl?lang=en (acessado em fevereiro de 2008).
Fig. 23 J. B. van Helmont, Opera Omniae. Francoforti, 1682. (Detalhe do Frontispício).
Fonte : Paulo Alves Porto, Van Helmont e o Conceito de Gás: Química e Medicina no Século XVII (São Paulo: EDUSP, EDUC, 1995), 11.
Fig. 24 Georg Aengelhard von Löhneyss, Gründlicher und ausführlicher Bericht Von Bergwercken. Leipzig, 1690 (Frontispício).
Fonte : Sächsische Landesbibliothek – Staats – und Universitätsbibliothek Dresden.
http://digital.slub-dresden.de/sammlungen/werkansicht/266566820/0/ (acessado em fevereiro de 2008).
Fig. 25 Salomon Trismosin, La Toison d’Or. Paris, 1612.
Fonte : Salomon Trismosin, La Toison d’Or ou La Fleur des Trésors (Paris:Retz, 1975), 69.
95
Fig. 26 Salomon Trismosin, Splendor Solis. Rorschach am Bodensee, 1598.
Fonte : Musée de l'Ecole des Mines de Paris.
http://euromin.w3sites.net/photosensmp/img0007.jpg (acessado em agosto de 2007).
Fig. 27 Lambsprinck, De Lapide Philosophico. Francoforti, 1625.
Fonte : Lambsprinck, La Pierre Philosophale: Reproduction des 18 Planches du Musæum Hermeticum (Milano: Archè, 1971), 7.
Fig. 28 Michael Maier, Atalanta Fugiens. Francoforti, 1618 (Emblema XXII).
Fonte : Stanislas Klossowski de Rola, The Golden Game: Alchemical Engravings of the Seventeenth Century (London: Thames and Hudson, 1988), 82.
Fig. 29 La Génération et Operation du Grand OEuvre pour Faire de l’Or, Ms Palais des Arts 88 (texto e 1ª iluminura - 1ª série).
Fonte : La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or. Edição fac-similar da cópia depositado na Bibliothèque Municipale de Lyon, Ms Palais des Arts 88. (Grenoble: Le Mercure Dauphinois, 1999), 15.
Fig. 30 Musæum Hermeticum, 1625 (epígrafe).
Fonte : Triplov.
http://www.triplov.com/alquimias/pilar/museum_hermeticum.htm (acessado em março de 2008).
Fig. 31 Andrea Alciati, Emblematum Líber. Augsburgo, 1531.
Fonte : Glasgw University Emblem Website - Alciato at Glasgow.
http://www.emblems.arts.gla.ac.uk/alciato/facsimile.php?id=SM18_B2r (acessado em outubro de 2007).
Fig. 32 Tria Unum, xilogravura reproduzida do Rosarium Philosophorum, 1550.
Fonte : Jacques van Lennep, Alchimie: Contribuition à l’Histoire de l’Art Alchimique, 2ª ed. (Bruxelas: Crédit Communal de Belgique, 1985), 158.
Fig. 33 Domenico Brusasorci: Coroação da Virgem (detalhe), 1550.
Fonte : National Galleries of Scotland.
http://www.nationalgalleries.org/collection/online_az/4:322/result/0/54434? artistId=1424&artistName=Domenico%20Brusasorci%20(Domenico%20 Riccio)&initial=B&submit=1 (acessado em junho de 2007).
96
Fig. 34 Goossen van Vreeswijk, De roode leeuw of het sout der philosophen.Amsterdam: Arentsz, 1671. p. 66.
Fonte : Delft University of Technology.
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Fig. 35 Jacob Cats, Proteus ofte Minne-beelden verandert in Sinne-beelden. Rotterdam, 1627. p. 26.
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Fig. 36 Goossen van Vreeswijk, De roode leeuw of het sout der philosophen.Amsterdam: Arentsz, 1671. p. 187.
Fonte : Delft University of Technology.
http://www.library.tudelft.nl/tresor/books/Roode_leeuw/0187.png (acessado em maio de 2008).
Fig. 37 Jacob Cats, Emblemata Moralia et Æconomica. Rotterdam, 1627. p. 8.
Fonte : Herzog August Bibliothek Wolfenbüttel.
http://diglib.hab.de/wdb.php?dir=drucke/2-1-eth (acessado em abril de 2008).
Fig. 38 Salomon Trismosin, Splendor Solis, sec. XVI, London, British Library, Harley Ms. 3469.
Fonte : Eidolons Alchemie.
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Fig. 39 Salomon Trismosin, Splendor Solis, sec. XVI, London, British Library, Harley Ms. 3469 (detalhe).
Fonte : Eidolons Alchemie.
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Fig. 40 Bíblia Sagrada: Livro de Ester (c. 1430), Koninklijke Bibliotheek.
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Fig. 41 Berlin Staatsbibliothek, Preussischer Kulturbesitz, Cod. Germ. Fol. 42 (detalhe).
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Fig. 42 Berlin Kupferstichkabinett, Staatliche Museen zu Berlin, COD. 78 D 3 (detalhe).
Fonte : Eidolons Alchemie.
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Fig. 43 Salomon Trismosin, Splendor Solis, sec. XVI, London, British Library, Harley Ms. 3469 (detalhe).
Fonte : Eidolons Alchemie.
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Fig. 44 Andrea Alciato, Emblematum Libellus. Paris, 1534.
Fonte : Glasgw University Emblem Website - Alciato at Glasgow.
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Fig. 45 Salomon Trismosin, La Toison d’Or, Paris: 1612.
Fonte : Salomon Trismosin, La Toison d’Or ou La Fleur des Trésors (Paris: Retz, 1975), 69.
Fig. 46 Daniel Stolcius de Stolzenberg, Hortulus Hermeticus. Francofurti, 1627. p. 6.
Fonte : Stanislas Klossowski de Rola, The Golden Game: Alchemical Engravings of the Seventeenth Century (London: Thames and Hudson, 1988), 145.
Fig. 47 La Génération et Operation du Grand OEuvre pour Faire de l’Or, Ms Palais des Arts 88 (1ª iluminura - 1ª série).
Fonte : La Génération et Opération du Grand Œuvre pour Faire de l’Or. Edição fac-similar da cópia depositado na Bibliothèque Municipale de Lyon, Ms Palais des Arts 88. (Grenoble: Le Mercure Dauphinois, 1999), 15.
Fig. 48 Ouroboros, Ms Paris 2327, 1478, Fólio 279.
Fonte : Stanislas Klossowski de Rola, Alchimie: Florilège de l’Art Secret. Augmenté de La Fontaine de Amoureux de Science par Jehan de La Fontaine, 1413 (Pay-Bas: Seuil,1974), 33.
Fig. 49 Les Figures d’Abraham Juif (figura II).
Fonte : Nicolas Flamel, Le Livre des Figures Hieroglyphiques (Paris: Retz, 1977), 78.
98
Fig. 50 Adrianus Junius: Lês Emblemes (Antwerp: Christophe Platin,1567), 47.
Fonte : French Emblems at Glasgow.
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Fig. 51 Mutus Liber (Rupellæ, Petrum Savouret, 1677), 4, 9 e 12.
Fonte : La Alquimia y su Libro Mudo [Mutus Liber] (Madrid: Luis Carcamo, 1981), 67, 97 e 115.
Fig. 52 Domenico Beccafumi: Alegoria da Descoberta dos Metais,1520-25.
Fonte : The Renaissance Connection.
http://www.renaissanceconnection.org/allegori.php (acessado em março de 2008).
99
ADENDO
RECENSIO DAS OBRAS ATRIBUÍDAS A JACQUES LE TESSON
- Manuscritos - século XVI
1. Paris, Bibliothèque Nationale, MS. Français 19069 [Saint-Germain français
1227].
Papel, 338x225 mm, 69 ff., sec. XVI.
L’effigie de la pierre par maistre Jacques Tesson, de Honfleur: les Philosophes
l’ont appelé roy et ce nom en est bien propre (f. 35 vº - 39 rº).
- Manuscritos - século XVII
1. Glasgow, University Library, Ms. Ferguson 194.
Papel, 200x155 mm, 66 pp., sec. XVII.
Les œuvres physiques de Jacob Taisson.
2. Lyon, Bibliothèque du Palais des Arts, Ms 971 (900).
Papel, 161x 98 mm, 86 ff, sec. XVII.
Le grand et excellent œuvre des sages par Jacques Le Tesson, contenant
trois traités ou Dialogues du Lion Verd, du grand Thériaque et du Régime.
3. Paris, Bibliothèque du Muséum d'Histoire Naturelle, Nº 360.
Papel, grande in-folio, 1026 pp., sec. XVII.
L'œuvre du Lion Verd, de Jacques Le Tesson, orfèvre de Honfleur (p. 357-
454).
4. Paris, Bibliothèque Nationale, Ms. Français n° 14.943 [Supp. Fr. 2514].
Papel, 160x95 mm, 291 pp., sec. XVII.
Œuvre du lyon vert, de Jacques Le Tesson, en dialogue.
100
- Manuscritos - século XVIII
1. Avignon, Bibliothèque de la Ville, Nº 4865.
Papel, 220x175 mm, 114 ff., sec. XVIII.
Le Lion Verd ou le très excellent œuvre des sages par Jacques Le Tesson.
2. Glasgow, University Library, Ms. Ferguson 24.
Papel, 263x196 mm, 83 ff., sec. XVIII (1786).
Le Lion Verd ou la Grande et la tres excellente Œuvre des Sages par
Jacques le Tesson (f. 1 - 41).
3. London, Wellcome Library for the History and Understanding of Medicine,
Ms. 4770.
Papel, 240x170 mm, 185+3 ff., sec. XVIII (c. 1725).
Le livre de Jacques Tesson orfèvre contenant le Livre du Grand Œuvre.
Composé à Marseille l’année 1581 (f. 1 - 120).
4. Paris, Bibliothèque Nationale, Ms. Français nº 12.335 [Supp. Fr. 2527].
Papel, 272x200 mm, 128 ff., sec. XVIII.
Pratique de Jacques Tesson (f. 31 - 34).
5. Washington, D.C., Library of Congress, Ms. Div., pré-acc. 14.
Papel, 164x108 mm, 173 pp., sec. XVIII.
Œuvre du Lyon verd, Dialogue sur la tres grande et excellente Œuvre des
sages, par Jacques Le Tesson.
101
- Edições Impressas
Le Tesson, Jacques. L'Œuvre du Lion Verd. Paris: Librairie de Médicis, 1978.
Le Tesson, Jacques. La Obra del León Verde. Barcelona: Indigo, 2000.
Tesson, Jacques. The Green Lion: Three Dialogues. Glasgow: Hermetic
Research, 2004.
Tesson, Jacques. L'Œuvre du Lion Vert. Genève: Arbre d’Or, 2008.