Ponto Final 21

8
Ganhador de diversos prêmios, entre os quais o de Melhor da TV Aberta, em outubro deste ano, pela campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania, o CQC (Custe o Que Custar), da Rede Bandeirantes de TV, é considerado por críticos e pesquisadores de mídia como uma das principais novidades na televisão brasileira na atualidade. A fórmula, que nasceu na Argenti- na, mistura elementos de jornalismo e entretenimento e adota o humor como estratégia para divertir e informar. A irreverência de seus ‘repórteres’ e humoristas atrai a audiência principal- mente do público adolescente e jovem e também a atenção de especialistas em jornalismo, que advertem para os riscos do formato, que conflita com muitos dos princípios básicos da ati- vidade informativa. Página 5 É assim mesmo, de calça jeans, camiseta e tênis, que o editor e os três repórteres do Folhateen tra- balham. Na redação da Folha de S. Paulo, as mesas dos jornalistas do suplemento estão apinhadas de livros, CDs e objetos curiosos, como um macaco de pelúcia e uma cartola – igual às usadas por mági- cos. Claro, também têm os compu- tadores e papéis espalhados. A ‘desorganização’ e o estilo despojado, entretanto, não se res- tringem ao ambiente de trabalho. Devem ser marcas do suplemento que produzem, um jornal feito para adolescentes e jovens e que precisa concorrer com a rapidez e a interatividade da Internet. Esse tipo de iniciativa não é apenas da Folha. Está presente também em jornais do interior e visa atrair o interesse dos jovens para a leitura dos impressos. Página 3 Um “furo” do jornal O Estado de S. Paulo, em junho deste ano, movi- mentou a agenda política do país. O presidente do Senado, José Sarney, acusado de manter atos secretos na instituição, se transformou em alvo da Justiça, de amplos setores da população e principalmente de seus adversários políticos. Apesar do caso ter se originado no Estadão, para especialistas em mídia, só ganhou tamanha repercussão após ser noti- ciado também pelas redes de televisão aberta do país. A Internet provoca alterações diárias na forma com que os meios de comunicação transmitem infor- mações ao público. Em todas as áreas, o jornalismo online ganha não só em velocidade, mas em inú- meras possibilidades de enriquecer a qualidade do noticiário e também proporcionar participação e diálogo com os internautas. As possibilidades da rede já são amplamente exploradas pelo Valor Econômico, veículo de informação especializado em economia. Os res- ponsáveis pelo produto, entretanto, acreditam que ainda estão tateando na nova mídia, que poderá mudar radicalmente a forma de divulgação de dados econômicos. As mudanças beneficiam a todos, desde banquei- ros e grandes empresários a peque- nos produtores rurais. Página 6 Jornalismo Editor do Folhateen: texto arejado e visual descontraído jeans e tênis CQC traz inovação à TV aberta ao propor informação com humor Atos secretos ganham destaque graças à TV Valor usa Internet para ampliar acesso à economia Desafio é retratar a história e o cotidiano Desde o seu nascimento a fotografia teve impacto sobre o jornalismo, pois a imagem, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas um complemento da informação. Em muitas situações ela revela a notícia toda, passa a mensagem de forma direta e com a rapidez de um flash. Também acrescenta cre- dibilidade e aproxima o leitor do fato. O fotojornalismo brasileiro está repleto de profissionais com elevada capacidade técnica e sensibilidade, capazes de traduzir a realidade através de imagens que ajudam a construir a história do país. Parte significativa desta história é contada por fotos vencedoras do Prêmio Esso de Jornalismo, que confere reconhecimento e prestígio ao trabalho dos profissionais desta área. Página 7 Ao lado do jornal, a TV é con- siderada um dos principais canais de formação da opinião pública no Brasil, pois é o meio de comunicação de maior alcance e abrangência. A repercussão do assunto foi tão grande que resultou em pedidos de cassação e afastamento de Sarney do cargo e também na censura ao Grupo Estado, determinada por um desembargador do TJDFT (Tribunal de Justiça do Dis- trito Federal e Territórios), a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do senador. Página 4 Fotojornalismo: Rodrigo Kivitz Sala de Visitantes da Bovespa – Centro ‘nervoso’ do sistema financeiro de surrado Os artigos “Novas Tecnologias, Comunicação e Formação Continu- ada”, “Mercado de trabalho exige especialização” e “Jornalismo na era digital” discutem as interfaces entre mídia e sociedade e apresentam reflexões sobre o futuro da comunicação e do jornalismo. Página 2 Mídia e sociedade Clareana Marrafon Andréa Bombonatti Manifestação em Campinas pede afastamento do presidente do Senado Vanessa Faria Christianne Abila pontofinal Projeto Experimental dos alunos do 8º semestre de Jornalismo da UNIMEP Sábado, 5 de dezembro de 2009

description

Projeto Experimental dos alunos de Jornalismo da Unimep - dezembro de 2009

Transcript of Ponto Final 21

Ganhador de diversos prêmios, entre os quais o de Melhor da TV Aberta, em outubro deste ano, pela campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania, o CQC (Custe o Que Custar), da Rede Bandeirantes de TV, é considerado por críticos e pesquisadores de mídia como uma das principais novidades na televisão brasileira na atualidade.

A fórmula, que nasceu na Argenti-

na, mistura elementos de jornalismo e entretenimento e adota o humor como estratégia para divertir e informar. A irreverência de seus ‘repórteres’ e humoristas atrai a audiência principal-mente do público adolescente e jovem e também a atenção de especialistas em jornalismo, que advertem para os riscos do formato, que conflita com muitos dos princípios básicos da ati-vidade informativa. Página 5

É assim mesmo, de calça jeans, camiseta e tênis, que o editor e os três repórteres do Folhateen tra-balham. Na redação da Folha de S. Paulo, as mesas dos jornalistas do suplemento estão apinhadas de livros, CDs e objetos curiosos, como um macaco de pelúcia e uma

cartola – igual às usadas por mági-cos. Claro, também têm os compu-tadores e papéis espalhados.

A ‘desorganização’ e o estilo despojado, entretanto, não se res-tringem ao ambiente de trabalho. Devem ser marcas do suplemento que produzem, um jornal feito

para adolescentes e jovens e que precisa concorrer com a rapidez e a interatividade da Internet. Esse tipo de iniciativa não é apenas da Folha. Está presente também em jornais do interior e visa atrair o interesse dos jovens para a leitura dos impressos. Página 3

Um “furo” do jornal O Estado de S. Paulo, em junho deste ano, movi-mentou a agenda política do país. O presidente do Senado, José Sarney, acusado de manter atos secretos na instituição, se transformou em alvo da Justiça, de amplos setores da população e principalmente de seus adversários políticos. Apesar do caso ter se originado no Estadão, para especialistas em mídia, só ganhou tamanha repercussão após ser noti-ciado também pelas redes de televisão aberta do país.

A Internet provoca alterações diárias na forma com que os meios de comunicação transmitem infor-mações ao público. Em todas as áreas, o jornalismo online ganha não só em velocidade, mas em inú-meras possibilidades de enriquecer a qualidade do noticiário e também proporcionar participação e diálogo com os internautas.

As possibilidades da rede já são amplamente exploradas pelo Valor Econômico, veículo de informação especializado em economia. Os res-ponsáveis pelo produto, entretanto, acreditam que ainda estão tateando na nova mídia, que poderá mudar radicalmente a forma de divulgação de dados econômicos. As mudanças beneficiam a todos, desde banquei-ros e grandes empresários a peque-nos produtores rurais. Página 6

Jornalismo

Editor do Folhateen: texto arejado e visual descontraído

jeans e tênis

CQC traz inovação à TV aberta ao propor

informação com humor

Atos secretos ganham destaque graças à TV

Valor usa Internet para ampliar acesso à economia

Desafio é retratar a história e o cotidiano

Desde o seu nascimento a fotografia teve impacto sobre o jornalismo, pois a imagem, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas um complemento da informação. Em muitas situações ela revela a notícia toda, passa a mensagem de forma direta e com a rapidez de um flash. Também acrescenta cre-dibilidade e aproxima o leitor do fato.

O fotojornalismo brasileiro está repleto de profissionais com elevada capacidade técnica e sensibilidade, capazes de traduzir a realidade através de imagens que ajudam a construir a história do país. Parte significativa desta história é contada por fotos vencedoras do Prêmio Esso de Jornalismo, que confere reconhecimento e prestígio ao trabalho dos profissionais desta área. Página 7

Ao lado do jornal, a TV é con-siderada um dos principais canais de formação da opinião pública no Brasil, pois é o meio de comunicação de maior alcance e abrangência. A repercussão do assunto foi tão grande que resultou em pedidos de cassação e afastamento de Sarney do cargo e também na censura ao Grupo Estado, determinada por um desembargador do TJDFT (Tribunal de Justiça do Dis-trito Federal e Territórios), a pedido do empresário Fernando Sarney, filho do senador. Página 4

Fotojornalismo:

Rodrigo Kivitz

Sala de Visitantes da Bovespa – Centro ‘nervoso’ do sistema financeiro

de

surrado

Os artigos “Novas Tecnologias, Comunicação e Formação Continu-ada”, “Mercado de trabalho exige especialização” e “Jornalismo na era digital” discutem as interfaces entre mídia e sociedade e apresentam reflexões sobre o futuro da comunicação e do jornalismo. Página 2

Mídia e sociedade

Clareana Marrafon

Andréa Bombonatti

Manifestação em Campinas pede afastamento do presidente do Senado

Vane

ssa

Faria

Christianne Abila

pontofinalProjeto Experimental dos alunos do 8º semestre de Jornalismo da UnimEP • Sábado, 5 de dezembro de 2009

2 Sábado, 05 de dezembro de 2009pontofinal

Ponto Final: Órgão laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep (Universida-de Metodista de Piracicaba). Reitor: Clóvis Pinto de Castro – Diretor da Facul-dade de Comunicação: Belarmino Cesar Guimarães da Costa – Coordenador do Curso de Jornalismo: Paulo Roberto Botão – Orientador e Editor Responsável: Paulo Roberto Botão (MTB 19.585). Repórteres: Andrea Palhardi Bombonatti, Christianne Aparecida Abila, Clareana Marrafon Lopes da Silva, Marcella C. Maganha Barraca, Rodrigo Pinto Costa Kivitz e Vanessa Cristina Faria. Produ-ção Gráfica e Arte Final: Sérgio Silveira Campos (Laboratório de Planejamento Gráfico) – Correspondência: Faculdade de Comunicação – Campus Taquaral – Rodovia do Açúcar, Km 156 – Caixa Postal 68 – Telefone: (19) 3124.1676 – E-mail: [email protected] – Impressão: Jornal de Piracicaba.

EXPEDIENTE

AnA MAriA Cordenonssi*roseMAry BArs*

WAnderley GArCiA*

A competitividade existente hoje no mercado de trabalho exige que todos busquem especializações a fim de dominarem, de maneira significativa, o processo de produção com critérios que sustentam a competência e a credibilidade do profissional. As formas para organizar o saber, o conhecimento formal, e de praticá-lo permitem ampliar as possibilidades de atuação e transformam a con-corrência em algo construtivo, e não mais um meio para a desclassificação do candidato à vaga. O domínio do espe-cialista permitirá que o melhor se sobressaia em qualquer disputa e possa, ainda, ter o privilégio de escolhas.

O mundo moderno requer que o profissional esteja capacitado a empreender análises conjunturais de forma competente. Essa exigência integra as mudanças na estru-tura e na dinâmica mundiais no último quarto do século XX, que provocaram transformações profundas na vida em sociedade. O fenômeno da globalização aumentou a complexidade das atividades profissionais.

Além da concentração e da centralização do capital, este fenômeno também tem se refletido nas atividades humanas que envolvem criação, transferência e uso da informação, alterando a percepção e o modo de lidar com essa infor-mação. A virtualidade, a comunicação em tempo real e a avalanche informacional constituem alguns dos desafios dos profissionais de mídia que prezam pela qualidade e pela ética, especialmente no que diz respeito ao tratamento da informação direcionada a um público heterogêneo.

Nesse contexto, a preocupação ao se trabalhar com um volume assombroso de dados, deve priorizar o direito do cidadão à informação exata acompanhada de comentário

para melhor compreensão da realidade social. O fenômeno da globalização no Brasil promoveu transformações edito-riais importantes, como a segmentação dos veículos para atender à diversificação de um público cada vez mais crítico, mas também significa a ampliação do mercado para o pro-fissional da informação que precisa, contudo, qualificar-se para atuar em áreas cada vez mais especializadas, uma vez que a graduação é insuficiente para cumprir esta função.

Pensando nessa conjuntura da modernidade é que a Faculdade de Comunicação da Unimep oferece, a partir de 2010, quatro cursos de especialização (lato sensu): Jornalismo Contemporâneo, com objetivo de oferecer um panorama da área e suas diversas especificidades (como cultura, ciência, esporte, veículos eletrônicos e impressos) e que formará sua segunda turma em julho do próximo ano; Assessoria de Imprensa, com a finalidade de aprofundar os conhecimentos desta área e discutir as diversas atuações pro-fissionais; Jornalismo Multimídia que visa colaborar para a compreensão das grandes transformações provocadas pelo surgimento de novas tecnologias, além de prepará-lo para lidar com as mais diversas ferramentas digitais; e Comuni-cação Organizacional com a função de especializar quem atua em empresas, em instituições públicas e no terceiro setor. A qualidade da educação metodista está presente nos projetos pedagógicos de todos estes cursos.

Ingressar no curso de especialização é uma decisão pessoal, porém deve ser calcada na necessidade de se planejar o futuro profissional.

* Ana Maria é jornalista e doutoranda em Comunicação, Rosemary Bars é jornalista e doutora em Comunicação, Wanderley Garcia é jornalista e doutor em Ciências da Informação. Coordenam, respectivamente, os cursos de especialização em Jornalismo Contemporâneo e Assessoria de Imprensa, Assessoria de Imprensa e Jornalismo Multimídia da Unimep

Mercado de trabalho exige especialização

PAulo roBerto Botão *

As novas tecnologias de formato digital e a Internet mudaram a fisionomia do Jornalismo. No atual contexto da chamada sociedade da informação, a atividade de noticiar e esclarecer sobre os temas de interesse público, tão essencial ao funcionamento da democracia, se torna ainda mais indispensável e requer capacitação de natureza técnica, estética e, principalmente ética.

Os cursos de Jornalismo no mundo inteiro e, felizmente tam-bém no Brasil, repensam suas estratégias de ensino, seus currículos e seus projetos pedagógicos. Precisam responder a uma realidade social complexa, enfeixada pelas novas mídias e pelo advento de um novo paradigma comunicacional que destaca o entrelaçamento entre os sujeitos e as infinitas possibilidades de interação e diálogo e de manifestação do pensamento.

Neste ano que finda, tivemos a construção de um importante instrumento para balizar as mudanças que devem ocorrer: a pro-posta de novas “Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso e Jornalismo”, apresentada ao Ministério da Educação e dependente agora de aprovação pelo Conselho Nacional de Educação. A pro-posta contempla este rico contexto em que estamos inseridos e tem como mérito maior firmar as especificidades do jornalismo como campo de conhecimento, passo fundamental para a valorização e o aprimoramento do ensino superior nesta área.

Compete agora aos cursos aceitar os desafios propostos e afinar suas propostas. No que se refere ao Curso de Jornalismo da Unimep, estamos conscientes destes desafios e prontos para continuar cons-truindo alternativas pedagógicas capazes de responder às exigências do mercado de trabalho e da sociedade.

Ao completar 30 anos, em 2010, nosso curso investe fortemente no aprimoramento do seu projeto e na consolidação de seu corpo docente e instalações, e aposta na necessidade de especialização e formação continuada. Para tanto, além do curso de graduação, propõe três áreas de pós-graduação: jornalismo contemporâneo, jornalismo multimídia e assessoria de imprensa.

* Jornalista, mestre em Comunicação Social, coordenador do Curso de Jornalismo da Unimep e diretor editorial e de Comunicação do FNPJ (Fórum Nacional de Professores de Jornalismo)

Jornalismo na era digital

BelArMino CesAr GuiMArães dA CostA *

As transformações empreendidas pela digitalização da informação, tanto relacionadas às estruturas de produção e circulação de conhecimento quanto às relacionadas com a esfera da sensibilidade e inteligência humanas, fazem com que, no âmbito educativo, a formação dos profis-sionais da área de comunicação passe pela produção de conteúdo para múltiplas plataformas, mas também deva considerar aspectos éticos e políticos. Ou seja, a compre-ensão do jornalismo, do papel da publicidade, os efeitos produzidos no campo do design gráfico, da fotografia e da produção cultural, dentre outras áreas comuns à comu-nicação, à arte e à mediação tecnológica, compreendem domínio técnico e de linguagem, que permitem lidar com a produção de mensagens, e vão além, já que todo processo comunicativo ocorre permeado pelas estruturas econômicas, sociais e de poder.

Pela primeira vez, desde a revolução copernicana da tipografia, um sistema de comunicação opera em diferentes áreas de produção, e não só no âmbito da troca de mensa-gens e seus efeitos nas relações de troca simbólicas entre sujeitos, grupos societários e na esfera das relações entre lugares e civilizações. A internet, incluindo seus sistemas de linguagem e operacionalidade, atua em diferentes setores do mundo industrial, financeiro e também da troca de informações através de redes sociais. Não se trata apenas de um sistema de comunicação, com similaridade à fun-cionalidade da televisão, do rádio e dos meios impressos, e sim a internet representa uma novidade histórica em termos de articular comunicação, estruturas de produção e acesso de informação, tendo como eixo a conectividade e a hibridização de suportes e linguagens.

Por intermédio da internet podemos produzir e acessar conteúdos de corporações de mídia, tal como víamos fa-zendo com a expansão da indústria cultural e da formação da chamada sociedade de massa, ao longo do século XX para cá, e com a internet acessamos também produções culturais originárias de outras estruturas e formatos, como a música, a arte figurativa, o teatro, além de ser um espa-ço de convivência virtual e de relacionamentos na esfera do trabalho, do lazer e do acesso à informação. Ou seja, um ambiente revolucionário no campo da percepção, da inteligência e com intervenções radicais nas estruturas do conhecimento humano, tal como se deu com a escrita e o surgimento das mídias eletrônicas. Contudo, a internet atua em diferentes esferas, muitas delas sutilmente pos-tas, como a da afirmação da linguagem do algoritmo que transforma, por exemplo, as formas de representação com a computação gráfica, que se distingue da imagem obtida diretamente pelo obturador.

Diante das mudanças empreendidas pela digitalização da informação, e os efeitos que a internet acarreta na forma de acessar conteúdos e dispor de mecanismos de interação no campo da linguagem, da relação homem e máquina e na ação sistêmica com as corporações de mídia, dentre outros aspectos, o que se espera da formação de quem atua como comunicador social é que tenha competência ética, estética e política frente aos desafios das novas tecnologias. Portanto, o que se espera é que o profissional tenha uma formação continuada e não meramente especializada. Isso se traduz em responsabilidade social.

* Jornalista, doutor em Educação, diretor da Faculdade de Comunicação da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) e coordenador do Grupo de Pesquisa Comunicação e Educação da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação)

Novas Tecnologias, Comunicação e Formação Continuada

Sábado, 05 de dezembro de 2009 pontofinal 3

rodriGo [email protected]

Aqui ainda é 2009. Não sei em qual baú você foi remexer para encontrar esta folha de jornal velha e meio rasgada. A tinta deve ter desbotado há bas-tante tempo. É estranho e agora deve parecer sem graça, mas, como pode perceber, houve a época em que as notícias eram impressas em papel e sujavam nossos dedos. Talvez você nem saiba disso.

No ano em que me formei em jornalismo, os jornais ainda existiam. As pessoas achavam que viviam uma revolução – quer dizer, revolução para os padrões que estavam acostuma-das. Nunca a informação havia trafegado de forma tão rápida e chegado a tanta gente. Com tão poucos recursos, o tema que dominava as discussões era a complexa rede pela qual usuários de computadores do mundo todo se comunicavam: a Internet. Tudo muito primitivo, mas parecia o máximo. Sério!

E a questão que quebrava a cabeça de donos de jornais e jornalistas de veículos im-pressos era a seguinte: “Como chegar até você?”. Isso, você mesmo! O leitor do futuro... Ninguém sabia ao certo de que maneira as pessoas iriam se informar dali alguns anos. Falavam de crise de suporte mi-diático. Ou seja, crise do papel. Precisavam encontrar um jeito de dar sobrevida aos jornais. O que era pior, no momento em que enfrentavam quedas nas tiragens e nas vendas. Uma das tentativas foi atrair a atenção do público jovem. O que não era fácil.

Só para se ter idéia, a As-sociação Nacional de Jornais (ANJ), apontou em pesquisa que essa faixa de idade era uma das que menos lia jornais. Em 2007, apenas 6% dos ado-lescentes de 10 a 14 anos afir-mavam ser leitores de jornais. Entre os jovens de 15 a 24 anos, o número era de 24%. Pano-rama assustador, mas vamos em frente.

Uma das estratégias defini-das: criar suplementos semanais direcionados aos adolescentes dentro dos jornais. As armas: investir em assuntos e interesses do universo jovem, com visual e linguagem atraentes para eles. Um dos primeiros jornais a se arriscar nesse incerto campo de batalha foi a Folha de S. Paulo, que criou em 1991 o caderno Folhateen (ver texto ao lado).

PausaMe desculpa, caro leitor do

futuro, agora peço licença para voltar ao passado. No caso, o meu tempo presente.

Continuando...Os jornais da região de

Piracicaba seguiram o mesmo caminho. O jornal O Liberal, de Americana, criou o Teen+ em 1997, com a proposta de “falar para os jovens”, segundo a ex-editora do caderno, Julia-na Pinheiro. Desenvolvido em 2002, Radical foi o primeiro suplemento feito para adoles-centes pelo Jornal de Piracica-ba. Em 2005, foi rebatizado para Tribos.

Jornalismo impresso

Jornais investem em suplementos jovens, com novo design, linguagem e, principalmente, conteúdo

Juliana pinheiroeditora durante quatro anos do Teen+

Diogo Bercito21 anos, repórter do Folhateen

“Comecei no grupo de apoio do Folhateen. Eu tinha 16 anos, escrevi um textinho para o caderno e a editora me chamou para integrar o grupo. Na época eu não tinha a mordomia de ir de car-ro. Então ia de metrô, sozinho, para a redação da Folha. Achei super bacana e, na verdade, foi nesse momento que decidi ser jornalista.”

“Eu era leitora do caderno Teen+. Estava no primeiro ano de jornalismo quando ele surgiu. Pensei: ‘Nossa, imagina escrever para esse cader-no, que bacana que deve ser...’ Por também ser nova, eu trazia o que estava acontecendo no meu universo para o Teen+, os problemas, as questões e as dúvidas de quando se é jovem. Assim surgiu a oportunidade de fazer as primeiras reportagens. Fui repórter do caderno por sete anos, sempre no meio da moçada.”

Jayro de Sousa

mudanças ao completar 18 anosFolhateen:

Carta ao leitor do futuro

Rodrigo Kivitz

para o jornal impresso. “Nunca vamos anular as limitações do papel”, afirma. Ele aposta que matérias interessantes podem chamar a atenção independente do supor-te utilizado para sua divulgação.

Atender o público que estava entre as crianças e os adultos e não se identificava com as outras editorias do jornal. Com esse objetivo, a Folha de S. Paulo criou seu suplemento jovem em 1991, o Folhateen, até hoje referência entre as publicações direcionadas aos adolescentes.

Para a secretária de redação da Folha, Vera Guimarães Martins, o objetivo con-tinua o mesmo. “Só que agora com um grau de importância ainda maior, quando se sabe que os jornais estão perdendo muitos leitores nas faixas mais jovens”, afirma.

O editor do suplemento, Marco Au-rélio Canônico, aponta que as principais diferenças do Folhateen são: ser semanal (circula às segundas-feiras) e ter liberdade para ousar. “Por conta do nosso público, evidentemente temos tendência a ter uma cara mais moderna”.

O Folhateen já passou por várias mu-danças. A última em junho de 2009, quan-do completou 18 anos – idade próxima a de seus leitores, jovens de 12 a 25 anos.

O suplemento aumentou a interação e estreou novas colunas, uma delas, com textos dos próprios adolescentes.

E ainda extrapolou o formato papel, passando a existir também na Internet. “A gente precisa falar com o jovem pelo caminho que ele usa para se comunicar”, diz o repórter Tarso Araújo. Outra forma de contato com o público são as reuniões com o grupo de apoio, formado por lei-tores do caderno.

A estudante Louise Baseto, 18, par-ticipa dele. “É interessante poder se relacionar com o jornal não apenas como leitora. Expor meu ponto de vista e, tipo, as coisas que penso e às vezes nem tenho com quem compartilhar”, comenta a jovem. O jornalista mais novo da equipe, Diogo Bercito, 21, fez parte do grupo antes de ser repórter do Folhateen (ver depoimento).

Apesar de concordar que as gerações mais novas estão lendo menos, o repórter Chico Feletti não considera que exista uma fórmula para atrair os adolescentes

“A intenção era justamente ganhar os jovens, para que com o tempo eles migrassem para o jornalzão”, conta a criadora do projeto jovem no Jornal de Pira-cicaba, Eleni Destro. No Tribos, as pautas são direcionadas para os adolescentes, sobre temas que tenham relação com o dia

a dia deles, como educação, comportamento, sexualida-de, drogas e cultura. Para a atual editora do Teen+, Renata Ribeiro, o segredo é saber como escrever para esse público. “É se

vestir um pouco de teen, usar a linguagem e as

gírias que eles usam e viajar mais no

texto”. Outro pon-

to apontado pelas jornalis-tas é a necessi-dade do suple-

mento estar na Internet. Além

da importância de interagir e envolver

os adolescentes em todas as etapas de pro-

dução, estimulando-os a escrever artigos, dar opiniões ou sugestões de reportagens. “É fundamental manter um canal totalmente aberto com os leitores, que são uma espécie de ombudsman do caderno”, comenta Renata. Blogs, MSN, Twitter e comunidades no Orkut são ferramentas usadas para essa aproximação.

O jovem também pre-cisa “se ver” no cader-no. Em uma reporta-gem sobre gravidez

na adolescência, por exemplo, Juliana diz que o médico não é mais a fonte principal, e sim apenas um consultor da ma-téria. “Quem fala mais são os jovens. São eles quem expõem os problemas, dão dicas. Se fos-se de outro jeito, a reportagem não teria o mesmo impacto”, argumenta.

Mas, não há consenso de que esta seja a melhor estraté-gia. A psicanalista e escritora Maria Rita Kehl, por exemplo, entende que não há motivos para os adolescentes precisarem de uma publicação específica. “É um pouco estranho ver no jornalismo uma linguagem toda especial dirigida ao jovem, cheia de gírias, como se ele fosse uma espécie de leitor em formação. Quando vai terminar essa formação? Eu não sei se isso integra ou discrimina”, questiona. Pois é, futuro leitor, até sabermos como as notícias vão chegar até você, a discussão ainda vai durar muito tempo.

O editor do caderno, Marco Aurélio Canônico, aposta na ousadia

Eleni Destro: intenção do Tribos é fazer os jovens migrarem para o “jornalzão”

Cadernos teens apostam em linguagem e visual atraentes

Dúvida cruel! Jornalistas

quebram a cabeça para descobrir

o que interessa à geração que cresceu com a

Internet

Jayro de Sousa

Rodrigo Kivitz

Jorge

Bin

Jayro de Sousa

4 Sábado, 05 de dezembro de 2009pontofinal

AndréA PAlhArdi [email protected]

Em 10 de junho de 2009, o povo brasileiro se surpreendeu com mais um escândalo político, desta vez estampado nas páginas de O Estado de S. Paulo, um dos mais influentes jornais do país. Os repórteres Rosa Costa e Leandro Colon noticiaram atos secretos no Senado, envolvendo principalmente o seu presidente, José Sarney, acusado, entre outras coisas, de nomear seus familiares em cargos públicos. A publicação foi o start para uma série de reportagens que se seguiram em toda a mídia nacional.

Apesar do “furo jornalístico” ter sido dado pelo jornal impresso, que tem tiragem diária de 217.962 (de segunda-feira a sábado) e 306.162 (aos domingos) exemplares em média, o caso ganhou repercussão nacional quando foi abor-dado pelos telejornais das principais emissoras do país. Isso porque a televisão é o principal meio de comunicação do Brasil. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatística), está presente em 94,80% dos lares.

O jornalista e pesquisador Guilherme Jorge de Rezende reflete sobre o tema no seu livro “Telejornalismo no Brasil – Um Perfil Editorial”, no qual diz que “o telejornalismo cumpre uma função social e política tão relevante porque atinge um público em grande parte iletrado ou pouco habituado à leitura, desinteressado pela notícia, mas que tem de vê-la, enquanto espera a novela”.

Além de possuir a maior audiência, a tele-visão é o meio mais abrangente, pois chega ao público de todas as classes sociais. “O peso da TV tem sido enorme na contemporaneidade; afinal, em uma sociedade de massas, a difusão da informação requer formatos ágeis e uma co-municação direta e atraente”, explica o cientista político Jefferson Goulart, professor do Depar-tamento de Ciências Humanas da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

O âncora do Jornal do SBT, Carlos Nas-cimento, não desmerece o trabalho das outras mídias, mas reafirma a importância da televisão. “A TV é o veículo mais importante da comuni-cação no Brasil já há várias décadas. Não que a mídia impressa, o rádio e outros veículos não tenham importância, é claro que eles têm. Foi o Estadão que levantou esse assunto dos atos secretos, mas é nos telejornais da noite que grande parte da população que não tem acesso aos jornais fica sabendo das coisas”, afirma.

A maior repercussão dos assuntos noticiados pela televisão é reconhecida pelo editor de po-lítica do jornal O Estado de S. Paulo, Cláudio Augusto. “Infelizmente o alcance do meio im-presso é muito restrito no Brasil, então é obvio que quando as TVs entram em uma determinada cobertura o assunto ganha um alcance maior”. Porém, não concorda que o assunto tenha mais importância quando transmitido pela televisão. “A relevância não guarda relação direta com o fato das TVs entrarem ou não no caso, senão vários assuntos que são tratados nos jornais seriam irrelevantes”, defende.

Opinião PúblicaSe é certo que a televisão atinge um público

maior, também parece claro que os jornais têm um papel decisivo no “agendamento” dos temas que são debatidos pela sociedade, ou seja, na formação da opinião pública.

De acordo com Cláudio Augusto, as emisso-ras de televisão se pautam nos impressos para fazerem suas reportagens. “Pelo menos metade das matérias que são vistas na TV tem origem nos jornais, mesmo que elas não dêem crédito. Mas, o pauteiro ou o chefe de reportagem da TV tem como primeira tarefa do dia ler os jornais”, afirma o editor que diz ter feito um clipping que mostra o número de vezes que o jornal foi citado nos telejornais por conta dos atos secretos.

Em 10 de junho de 2009, o jornal O Estado de S. Paulo publicou a existência de atos secretos no Senado, entre eles, nepotismo, contratos su-perfaturados, contratações fantasmas, aumentos irregulares em gratificações e notas frias. Além disso, o jornal publicou a transcrição de escutas telefônicas, cedidas pela Polícia Federal, entre Sarney e familiares, na chamada “Operação Boi Barrica”.

O caso resultou em 11 denúncias e repre-sentações contra Sarney no Conselho de Ética do Senado, mas no dia 07 de agosto todas as denúncias e representações foram arquivadas.

Em 31 de agosto, o jornal e o Portal Estadão foram censurados pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), a pedido de Fernando Sarney, filho de José Sarney.

Como repercussão, centenas de pessoas saíram às ruas e invadiram a Internet em forma de manifestação.

Em 30 de setembro José Sarney foi inocen-tado em um relatório feito pelo diretor-geral do Senado, Haroldo Tajra, e pelo advogado Luiz Augusto Geaquino dos Santos.

Pelo “furo” dos atos secretos, os repórteres Rosa Costa e Leandro Colon foram indicados ao Prêmio Esso de Jornalismo.

o escândalo

O caminho dos atos secretos

SarneyO Estado de S. Paulo deu o “furo”, mas foram as TVs que ampliaram a repercussão da notícia

na mídia

Para Carlos Nascimento, TV é o principal veículo de comunicação do Brasil

Cláudio Augusto: TV complementa o trabalho dos jornais impressos

Na opinião de Boechat, ccensura sofrida pelo Estadão é a prova de que a cobertura foi bem feita

Pessoas se manifestam nas ruas e exigem “Fora Sarney”; ao lado, página de O Estado de S. Paulo revela atos secretos no Senado

O jornalista, doutor em Ciências da Comu-nicação e professor de Jornalismo da Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo), Manuel Carlos Chaparro, explica esta relação entre as mídias e os fatores que levam umas a pautarem as outras. “A escolha da mídia impressa ou eletrônica certamente é estratégica. Se há um conteúdo que por sua rele-vância já se sabe que será um grande escândalo, talvez seja bom começar pela mídia impressa, porque ela vai pautar a televisão e a televisão vai fazer o ecossocial daquele acontecimento”.

A amplitude da televisão também é reconhe-cida pelo âncora do Jornal da Band, Ricardo Boechat, porém ele opina que “entre ter uma grande audiência e formar uma opinião pública há uma distância muito grande, e acho que a televisão mais tem audiência do que forma opinião”. Jefferson Goulart também questiona o papel de principal formadora de opinião pública dado à televisão devido à concorrência com outros meios de alta velocidade e à falta de credibilidade que abalaram a sua imagem.

O jornalista Moah Souza, criador do site www.forasarney.com, diz que “a televisão é fundamental, assim como os demais meios de comunicação, mas o problema é que muitas vezes as notícias que podem contrariar seus donos não são levadas ao ar”. Para ele, o fato atrapalha a idoneidade da TV, daí a importância de meios alternativos, como a Internet.

O caso foi levado até a sociedade por meio da mídia, que tem como um de seus mais im-portantes papéis: o de vigiar o poder em nome da coletividade. “Uma das funções consagradas pela sociedade para o jornalismo é a de ‘Quarto Poder’, isto é, a função de fiscalizar os outros três poderes”, enfatiza o jornalista Rogério Christofoletti, criador do blog Monitorando.

As denúncias publicadas pelo Estadão e depois por outros meios de comunicação pro-vocaram centenas de manifestações públicas, virtuais e presenciais contra o presidente do

Senado. No dia da Indepen-dência do Brasil (07 de Setem-bro deste ano), as passeatas contra Sarney fizeram parte das comemorações.

Em Campinas, o ato ocor-reu sob a coordenação do jovem estudante João De-nardi Machado. Ele acredita que houve interesse político particular do jornal O Estado de S. Paulo na divulgação do tema, mas reconhece o papel essencial dos meios de co-municação. “De uma forma ou de outra é impossível não visualizarmos a importância da mídia; afinal, nosso pró-prio movimento se mostrou promissor somente en-quanto a mídia repercutiu os escândalos em torno de Sarney”, avalia.

A divulgação das de-núncias contra o presidente do Senado e sua família levou à censura do Gru-po Estado, o que o deixou impedido de noticiar informações sobre a operação denominada de “Boi Barrica”. Para Ricardo Boechat, isso é sinal do bom trabalho jornalístico feito. “Essa foi uma cobertura tão boa, presente e marcante que até produziu um ato de ressurgimento da censura. Boa no sentido caricato nesse aspecto, porque a reação desmedida, absurda da censura, prova que a cobertura estava no caminho certo”.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, é proibido “qualquer espécie de censura, seja de natureza política, ideológica ou artísti-ca”. O âncora Carlos Nascimento lamenta o epi-sódio. “Toda forma de censura é, em primeiro lugar, proibida pela Constituição Brasileira e em segundo lugar deplorável em um país que queira adotar e exercer um regime democrático”.

Ilust

raçã

o: F

ranc

isco

Rib

eiro

Jún

ior

Ana Paula Palhares Ana Paula PalharesAndréa Bombonatti

Andréa Bombonatti

Sábado, 05 de dezembro de 2009 pontofinal 5

Já para o autor do livro Showrnalismo e pro-fessor de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, José Arbex Junior, “esse formato é perigoso, danoso, permite que você por meio do jornalismo/entretenimento assuma posições pelas quais você não vai ter que res-ponder, porque não se sabe se você é jornalista ou se você é um apresentador de programa de entretenimento”.

A abordagem nada tradicional realizada pelos repórteres, segundo Rafael Cortez ajuda na hora de obter informações. “É uma ferramenta de des-contração tamanha, que quando você vê o cara relaxou e falou uma coisa irada para você, ele não diria de outra maneira”. Esta descontração devido ao humor, segundo o psicólogo social Antônio Zuin, também chama a atenção de quem assiste ao programa. “Tudo o que você vai passar para alguém e você passa pela estratégia da lin-guagem principalmente do humor, a sua chance de ser ouvido, de ter a atenção do telespectador é muito maior”, explica.

A abordagem dos repórteres e outros recursos utilizados na edição também estimulam uma refle-xão sobre a ética. Para o editor Marcos de Assis, o que o programa faz é a vontade que o brasileiro tem de fazer. “É a gente se fazer parte da população,

As marcas registradas da produtora Cuatro Cabezas, responsável pelo programa CQC no Brasil, são os cortes rápidos feitos pelas câmeras e a forma de edição que utiliza recursos gráficos para ilustrar a opinião do programa sobre os entrevistados ou sobre o que esta sendo dito. “O que faz a gente assinar CQC são os efeitos e a forma com que a gente edita, toda a linguagem de câmera, o que os roteiristas colocam na boca dos apresen-tadores e tudo mais, enfim” explica o artegrafista do pro-grama, Marcos de Assis.

Para pesquisadores do jor-

nalismo, entretanto, esses efei-tos não resistem a uma análise sob o prisma da ética jornalís-tica, são antiéticos e podem ridicularizar os entrevistados. Assis defende o CQC: “A gente não tem a intenção de ridicu-larizar, mas que a gente quer espetar e ‘agulhar’ os caras, a gente quer, essa é a intenção, essa é a postura do programa”. O produtor do quadro “Pro-teste Já” complementa: “Não quer dar a cara, não de a cara, não quer ser vítima de uma brincadeira foge da câmera, não aparece”.

O jornalista Luciano Mar-tins analisa o tema por outra

ótica e diz que não cabe o uso dos conceitos éticos do jorna-lismo. “Não contraria ética nenhuma, é um programa hu-morístico, se fosse jornalismo de fato, seria mau jornalismo, seria péssimo jornalismo”. Ele também ressalta que “colocar ponto de interrogação na ca-beça de um entrevistado, arte grafismo, é típico de programa de humor, de manipulação da realidade”.

Já para a coordenadora de produção Renata Varela, o programa é de humor com base jornalística, dá “tapa com luva de pelica, e assim vai ga-nhando espaço”.

Mosca na sopa

CQC, da Band, inova, ganha audiência e provoca polêmica entre pesquisadores e jornalistas

Jornalismo e Humor

ClAreAnA [email protected]

22h15, segunda-feira. A qualquer momento aquela mosca se infiltrará em vários ambien-tes. Ela zumbe, incomoda, questiona.

O inseto, símbolo do CQC Custe o Que Custar, é incômodo e também é a mais clara representação do programa , apresentado pela Rede Bandeirantes de TV. Apesar de ter sido eleito o melhor da TV aberta em outubro de 2009 pela campanha “Quem financia a Baixaria é contra a Cidadania”, uma iniciativa da CDHM (Comissão de Direitos Humanos e Minorias), da Câmara dos Deputados em parceria com entidades da sociedade civil, o CQC divide opiniões, e gera polêmica sobre qual a sua classificação, qual o seu gênero. Será jornalismo? Será um programa de humor?

A locução inicial do programa anuncia que “Começa agora para todo o Brasil seu resumo semanal de notícias! Este é o Custe o que Custar!”, mas para o professor e diretor da Faculdade de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Rogério Bazi, o formato não é esse. “Não é um resumo semanal de notícias, senão seria um programa de televisão de notícias, seria um programa de entrevistas e na verdade não é. É uma misce-lânea de vários assuntos”, contesta.

Rafael Cortez, um dos repórteres do CQC, defende a presença do jornalismo no programa. “A nossa referência para a produção de conte-údo, desde a pré-producão, abordagem, pauta, finalização, reportagem, equipe de externa, montagem e edição são sempre jornalísticas. E quem vai dizer que a gente não é jornalista? Porque a gente põe piada no meio?”.

Já para o jornalista colaborador do Ob-servatório de Imprensa, Luciano Martins, é um programa de humor muito inteligente, é moderno, é ágil, mas não é jornalismo. Ele ainda critica: “Você fazer humor dizendo que é jornalismo não é honesto, é uma fraude!”.

Toda esta discussão sobre o gênero desperta uma dúvida. É possível fazer jornalismo com ou como entretenimento, e sem perder o principal objetivo da profissão, que é o de informar?

Para a jornalista Fabia Dejavite, doutora em Comunicação pela (USP) Universidade de São Paulo, o programa pode ser caracterizado como “infotenimento”, por juntar opinião, informação e humor. “O infotenimento é a combinação da informação com o entreteni-mento. Algo impensável há alguns anos, po-

rém imprescindível hoje”. Para ela o

CQC é o melhor exemplo desta proposta na te-levisão.

Ridicularização e ética

fazer encargo da população brasileira, que tem vontade de fazer isso”, diz. Arbex contesta, e diz que isso é ruim e cria uma sensação de catarse. “É um sentimento de compensação por algo que você vê sendo realizado, que não foi você que realizou, mas quando você vê a encenação daquilo, você se sente gratificado”. Zuin concorda e argumenta ser preciso tomar cuidado para que esse momento catártico não fique só na catarse, mas que possa reproduzir reflexão.

Independente de ser ou não jornalístico, para os responsáveis pela sua produção, o propósito do CQC tem sido cumprido. “O que a gente tem feito é fazer as pessoas ficarem na frente da tele-visão se divertindo com a gente. As pessoas estão se identificando cada vez mais com o programa”, explica o editor Marcos. Os dados de audiência do Ibope comprovam sua fala.

24h10, terça-feira. O zumbido a qualquer momento sumirá. Está fora do ar o CQC. Até a reprise de sábado.

Fábia Dejavite“Hoje não tem como

informar sem também entreter, e o jornalismo

tem aproveitado cada vez mais isso, é uma tendência hoje na transmissão das

informações”.

Reporter Danilo Gentili“Credibilidade pra ser

apresentador do Jornal Nacional? Não, não quero

ser, obrigado”

Rafael Cortez “No jornalismo tradicional

falta ousadia, falta um espaço jovem de abordagem, falta sair um pouco daqueles padrões,

super consolidados, da mesma apuração”.

Editor Marcos de Assis“O que a gente faz, nada mais é do que uma caricatura, é um ponto de vista, nada mais”.

Renata Varela“O CQC é um programa de humor com a base jornalística, mas tudo passa pelo filtro do humor”.

Original argentinoO programa CQC começou a ser exi-

bido no Brasil em 17 de março de 2008. Trata-se da versão brasileira do progra-ma produzido pela Eyeworks - Cuatro Cabezas, a partir do formato original argentino, chamado Caiga Quién Caiga (Caia Quem Caia).

Ele é formado por oito integrantes. São três apresentadores, Marcelo Tas Rafinha Bastos e Marco Luque, e seis repórteres: Danilo Gentili, Rafael Cortez, Oscar Fi-lho, Felipe Andreoli e Mônica Iozzi.

A coordenadora de produção Renata Varela diz que o programa começa a ser feito na terça-feira com os roteiristas dando as dicas de pautas. “A gente tem o processo de pauta. A produção de externa do programa é meio que uma ‘formulazinha’, entra na pauta, aí a pauta discute com o coordenador de conteúdo e com a direção, eles aprovam, escolhem o produtor que vai e o repórter. A partir desse momento o produtor pega a pauta e começa a produzir”, conta.

A escolha dos repórteres também e feita de forma criteriosa, como diz Vare-la. “Cada repórter tem um pouco de um perfil, o Felipe faz muita coisa de esporte, o Danilo está fazendo política, o Rafa e o Oscar fazem matérias mais de comporta-mento, ou celebridades, eventos, mas ao mesmo tempo a gente troca, eles cansam e o público também”.

O fechamento é feito na tarde da segunda-feira. “O roteiro sai geralmente às cinco da tarde, e mesmo assim quan-do eles fazem a passagem ainda mudam algumas coisas”, explica a coordenadora de produção.

O programa tem duração de duas horas e possui quatro quadros fixos: CQTeste, feito por Rafael Cortez; Pala-vras-Cruzadas; Proteste Já, apresentado por Rafinha Bastos; e o Top 5, um resumo de situações engraçadas que ocorreram na semana.

Bren

da B

ella

ni

Clar

eana

Mar

rafo

n

Clar

eana

Mar

rafo

n

Clar

eana

Mar

rafo

n

Clar

eana

Mar

rafo

n

Gei

son

Silv

a Pa

ulo

Gei

son

Paul

o

6 Sábado, 05 de dezembro de 2009pontofinal

ChristiAnne [email protected]

Quem imaginou que um dia poderia acom-panhar tudo o que está acontecendo na econo-mia do Brasil e do mundo em tempo real e em qualquer lugar? A cotação do Dólar, o preço do tomate, o valor das ações, podem estar disponí-veis a todos com um simples clique no telefone celular, por mensagens SMS, tradicionais e-mails e até em micro blogs, como o Twitter.

Neste contexto, marcado pelas novas mídias, um dos desafios dos jornalistas, em todas as áreas, é proporcionar ao seu leitor informações de maneira rápida, mas sem que se perca a qualidade do conteúdo. “Os ambientes digitais possuem características técnicas e de linguagem que se casam perfeitamente às demandas do jornalismo econômico. Destaco algumas delas: a velocidade da informação, que permite que ela seja oferecida de forma rápida, ágil, instantânea, quase em tempo real; a linguagem multimídia, que forma parte da essência da linguagem nos meios digitais; e outra que é a interatividade”, diz Christian Marra, professor e coordenador do Master em Jornalismo Digital, curso vincu-lado à Universidade de Navarra, na Espanha.

Para Ana Paula Silva, jornalista e pesquisado-ra do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), essas novas tecnologias da informação não beneficiam só os grandes empresários, que fa-zem parte da elite da economia nacional, mas também favorece os pequenos produtores. “Nós temos aqui no Cepea a experiência de enviar por celular o preço de tomate e batata, no meio da tarde, para produtores rurais. Muitos destes de pequeno porte estão lá em suas regiões – às vezes até afastadas de cidades – e sabem que às 14h30, 15h30, vão receber em seu celular o preço daqueles produtos que eles produzem, comercializam. Então quando alguém chega para comercializar, pra comprar seu produto, ele vai ter outra informação para discutir”, explica.

Já o professor e coordenador do curso de ciências econômicas da Faculdade de Gestão e Negócios da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), Francisco Crocomo, utiliza essas novas ferramentas para complementar suas aulas. Mostra vídeos de entrevistas com econo-mistas e pessoas ligadas ao governo para seus alunos. “O meio virtual

hábito das equipes que produzem conteúdo on-line enviarem repórteres para as ruas. “Na maior parte dos casos, a equipe de jornalistas ainda é pequena e composta, sobretudo, de redatores, que passam o dia inteiro na redação. A figura do repórter de Internet ainda não é tão comum quanto à do repórter do jornal, da TV, do rádio. Mas a tendência é que isso mude com o passar dos anos, na medida em que os sites de notícias se consolidem como uma das principais fontes informativas”, aposta.

Com essa limitação de funcionários é difícil separar exclusivamente conteúdos para enviar ao Twitter, ao Mobile ou às mensagens em SMS. Assim, uma das políticas que o site adotou foi mandar automatica-mente para os leitores os destaques online. “Na prática dá na mesma, como se eu fosse selecionar manu-almente o que vai entrar. Aquilo que ‘ta’ pegando na home, ‘ta’ pe-gando no Twitter”, relata Paula.

Apesar de contar com esses recursos mais avançados, o site ainda busca aprimoramentos. “Nosso site está passando por re-formulação porque está atrasado em relação a novas tecnologias. Estamos em fase de transição para uma nova interface que inclua podcast, vídeo, dispositivos de Iphone, navegação otimizada. Temos só uma área de fotos. Então estamos batalhando para isso mesmo, porque temos a noção de que vídeo e Internet é uma coisa crescente”, diz Paula.

A estudante de Economia da Unimep e em-presária no ramo de construção, Mariana Arena, afirma que as novas mídias são fundamentais e ajudam bastante em seu trabalho. “O acesso à Internet pelo celular ajuda um investidor em ações a ficar conectado com as oscilações do mercado, sem que tenha neces-sidade de estar em seu escritório ou com um computador na frente, sendo assim ele consegue maximi-zar o processo de compra e venda de ações, conseguindo tomar de-cisões. Além disto, todas as outras tecnologias ajudam a desmistificar a economia”, argumenta.

Assinante e leitora do Valor Online, Mariana revela que encontra no site tudo o que precisa e sempre com rapidez, e confessa que uma das ferramentas que ajuda em seu dia a dia é o Mobile. “Para o meu trabalho, utilizo apenas a Internet pelo celular, desta forma estou sempre atualizada com os acontecimentos recentes da economia no mundo inteiro, porém tenho alguns amigos que trabalham diretamente no mercado financeiro que utilizam o SMS e o Twitter”.

Segundo o jornalista Rogério Christofoletti, coordenador da Renoi (Rede Nacional do Obser-vatórios de Imprensa), nem todos os veículos de comunicação utili-zam bem todos os recursos que a web oferece. “O “boom” agora é você usar redes sociais, usar muita interação, usar recursos que permitam cada vez mais portabili-dade, mobilidade”, explica.

Na opinião do especialista, o jornalista tem que estar sempre ‘antenado’ e preparado para operar de forma que possa cada vez mais agradar seu público. A formação do profissional é ampla e complexa. “Olhando pro futuro, um futuro ime-diato de cinco, dez anos, eu acho que o jornalista precisa ter uma boa formação cultural, uma boa formação jornalística, de preparo técnico – saber fazer TV, fazer online, rádio – e não só ficar ali com microfone na mão, saber editar, passar por todos os processos de produção da notícia. Então ele tem que estar muito conectado com as mudanças que estão ocorrendo, de outras tantas possibilidades tecnológicas, porque ele vai ter que cada vez mais se aplicar em estudar, descobrir coisas novas, se adequar”, conclui.

Agilidade é um dos fatores essenciais para o sucesso das novas mídias

eConomia

da informaçãoValor

o

facilitou trazer opiniões, de diversas formas, a questão do vídeo, dos flashes, entrevistas de pessoas. Você pode ver e ouvir rapidamente opiniões”, afirma.

ValorTodas estas novidades abriram possibilida-

des também para os jornais e revistas, que nos últimos anos apostam e investem nas tecnolo-gias multimídias. Este é o caso do jornal Valor Econômico, que está no mercado desde 2002 quando começou já com suas versões impressa e online. De lá pra cá, com as transformações na Internet, o site foi se adaptando às neces-sidades de seus leitores, com a preocupação de produzir conteúdo tanto para pessoas que acompanham a economia diariamente, como para aqueles que eventualmente venham a se interessar pelo assunto.

“Muitas vezes a gente tem visto exemplo em correspondências, conversando com um ou com outro, a gente pensa que não vai ter interesse em economia numa pessoa da classe C ou D, que acabou de conseguir um computador ou usa em lan-house, mas tem interesse sim, as pessoas se informam, querem saber, as pessoas estão atrás de coisas que melhorem a vida delas em termos econômicos, ou seja, um emprego melhor, uma situação melhor”, diz Paula Cleto, editora do Valor Online.

Apesar de contar com uma equipe pequena, composta por sete pessoas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e uma em Brasília, o Valor Online busca alternativas para manter seu leitor cada vez mais satisfeito. Uma delas é a integra-ção existente com a equipe do jornal impresso, o que possibilita o aproveitamento recíproco de conteúdo. E esta parceria é fundamental, pois os jornalistas do online trabalham em turnos, o que torna difícil a disponibilidade para deslo-camentos e cobertura presencial. “Quando tem quatro pessoas na redação costumamos dizer que a casa está cheia”, diz Paula.

Mas esse não é um problema exclusivamente do Valor. Segundo Marra, ainda não existe o

Para Ana Paula, do Cepea, a Internet beneficia de grandes empresários a

pequenos produtores

Crocomo, da Unimep: novas tecnologias na formação dos

futuros economistas

Paula Cleto, editora-chefe do Valor Online, afirma

que a empresa busca aprimoramento nesta área

Redação do Valor une profissionais do

online e impresso

Iluis

traç

ão: T

haís

Oliv

eira

Fotos: Christianne Abila

Sábado, 05 de dezembro de 2009 pontofinal 7

MArCellA [email protected]

vAnessA [email protected]

“Fotógrafo faz fotografia, fotógrafo não faz demagogia, fotógrafo não gosta de sangue, mas a sociedade ta com hemorragia, não existe foto chocante, na verdade o que é feio é o nosso dia a dia”. O trecho da música “Abaixando a máquina” de Cláudio Henrique, descreve o co-tidiano retratado pelos fotojornalistas. Mostra como a foto imprimi a realidade e através do olhar transmite as mais diversas visões, sensa-ções e interpretações, e como pode também revelar a personalidade e a preocupação social do profissional.

As fotografias fazem parte da chamada linguagem visual, hoje esta mais do que nunca presente na vida das pessoas, que se deparam todos os dias com imagens de diferentes tipos estampadas nas revistas, jornais, sites, outdoors, galerias de arte e registros pessoais.

Apesar de tão presente na atualidade, esta história começou em meados do século XIX. Os primeiros cliques das reportagens fotogra-fadas tiveram como cenário a guerra. Segundo o jornalista e pesquisador português Jorge Pedro Sousa, “o primeiro fotojornalista pago para fotografar e fornecer imagens com caráter informativo para os jornais foi Roger Fenton que cobriu a Guerra da Criméia entre os anos de 1854 e 1855”. Seu trabalho tornou-se um portal direto para o que acontecia nos campos de batalha. Deste período em diante, e ao longo do século XX, a presença da imagem no jornalismo só aumentou.

A fotografia jornalística tem caráter infor-mativo, ela é usada para dar credibilidade ao texto e assim transmitir informações capazes de formar a opinião pública. As fotos denunciam, expõem e revelam os acontecimentos. No foto-jornalismo fotografia e texto se complementam e neste casamento o mais importante é valorizar e disseminar informações. z“A imagem por si só não consegue mostrar tudo o que há pra dizer, como, por exemplo, quem e o que está ali naquela foto, onde e quando aconteceu. Por isso há necessidade de um texto que complete a informação”, esclarece Sousa.

Além de informar e comprovar um fato as fotografias têm grande repercussão e muitas ve-zes podem trazer benefícios à vida dos cidadãos. Um exemplo é a foto “Engenheiro é Morto no Centro”, do fotojornalista, Marcelo Carnaval, publicada no jornal O Globo e vencedora do Prêmio Esso de 2007. A imagem revela o olhar de ódio da mãe que tem em seus braços o filho ensangüentado e morto. Segundo Carnaval, “a mãe ficou muito chateada quando a foto foi publicada, mas depois aprovou sua repercussão, porque as pessoas que a reconheciam na rua a amparavam”.

Já a fotojornalista Wania Corredo pode ver sua foto beneficiar alguém de outra maneira. “Teve um incêndio no mercado Ceasa, um galpão inteiro pegou fogo, nos escombros tinha muita comida podre e muita gente. Eu

O Prêmio Esso de Jornalismo, hoje a mais tradicional premiação à cate-goria de profissionais de comunicação do Brasil, foi criado em 1955 pela Esso Brasileira de Petróleo, inicial-mente com a denominação “Prêmio Esso de Reportagem”. A categoria de fotografia foi instituída em 1960, como uma menção honrosa ao re-pórter-fotográfico Campanela Neto, que na época fotografou um grupo de oficiais da Aeronáutica Brasileira que havia se rebelado contra o presidente Juscelino Kubitschek.

A fotografia de Campanela Neto recebeu o título de “Acontecimentos em Aragarças” e segundo Ruy Portilho, Coordenador do Prêmio de Jornalis-

mo, “foi publicada em vários jornais, as agências distribuíram para o mundo inteiro”. Graças à esta repercussão uma categoria específica foi instituída no elenco de premiações do Esso.

O processo de seleção é rigoroso e envolve profissionais com experiência reconhecida na área. Uma comissão formada por 25 jornalistas, em nível de editores, seleciona cinco fotografias finalistas. Estas fotos são submetidas a uma comissão julgadora formada por 50 editores de fotografia de todo o Brasil, que via Internet, escolhem a vencedora. “Nós nos servimos muito da experiência e da bagagem dos ju-rados”, explica Portilho.

Sob os critérios de escolha da fo-

tografia premiada, Portilho destaca o impacto, a dramaticidade e também a dificuldade. “O risco físico que muitas vezes os fotógrafos correm na hora de fazer o flagrante e a coragem do profis-sional de se aproximar de determinadas situações, levantar a câmera, colocar no rosto e fazer a foto, isso é muito bem vindo nas comissões de seleção”, diz.

Muitos fotógrafos se destacaram no Brasil por serem premiados pelo Esso de Fotografia. Alguns deles são: Marcelo Cranaval, Wania Corredo, Clóvis Miranda e Marcelo Tristão. Na opinião da premiada Wania Carredo, para a maioria dos fotojornalistas, “o Prêmio Esso é o supra-sumo da profis-são. Ser um Esso é uma ambição”.

Fotografia e informação premiadas

“Martírio no presídio”, de Clóvis Miranda, vencedora do Esso 2008, foi publicada no jornal A Crítica, de Manaus. Revela momentos da rebelião no Instituto Penal Antônio Trindade no Amazonas. Chocante pelo fato que retrata, a imagem ainda lembra Cristo sendo retirado da cruz

Premio Esso 2006, de Marcelo Carnaval ,“Engenheiro é morto no Centro”, publicada em O Globo, mostra mãe que ampara nos braços o filho morto

A expressão de um rosto pode impactar

mais do que a violência. Foto de

Marcelo Tristão

Vanessa Faria

Wania Corredo, do carioca

Extra emociona com a história da menina Ana

Carolina

CONGElAR INSTANTES E REVElAR A hISTóRIA

Imagem ganha destaque no jornalismo e prestígio

com o Prêmio Esso

fiquei tão envolvida que fiquei uma semana lá. Fotografei uma menininha, loirinha, toda sujinha que estava com uma latinha de leite moça, toda suja, tomando. Eu e uma amiga, também fotojornalista, descobrimos com a mãe da Carolina, que era a primeira vez que ela tomava leite condensado, fiquei arrasada. A foto foi publicada na primeira página e nós contamos a história da Carolina. Combinamos de voltar nos escombros para tentar encontrar a Carolina e sua família. Conseguimos achá-la na favela Zacarias passando muita dificuldade, a levamos ao hospital e ela estava com anemia profunda, foi operada e hoje em dia estuda e tem uma vida melhor. Na verdade a Carolina virou um símbolo, toda a foto que eu faço se puder ajudar um pouquinho, já é um retorno”, emociona-se Wania, ao contar a história.

ImpactoAs fotografias que causam impacto são

aquelas que retratam fatos extraordinários do cotidiano, o crime, a violência e as tragédias. Segundo Guilhermo Planel, fotojornalista e do-cumentarista, “é aquela foto que toca você. Uma fotografia que na realidade traz uma série de informações e mensagens que são decodificadas por cada pessoa de uma forma diferente”.

É nesse momento que o desafio de ser um fotojornalista fica claro, pois o profissional tem que resumir aquilo que presencia em apenas um click, uma imagem. “Esse é o verdadeiro valor do fotojornalismo”, completa Planel, que levanta ainda uma questão a todos os profissio-nais que trabalham na área de fotojornalismo: “Qual o direito que eu tenho de fotografar a dor de alguém e depois simplesmente ir embora?”.

A questão realmente incomoda os profis-sionais. O fotojornalista Bolly Vieira, editor de fotografia do Jornal de Piracicaba, relembra um fato que presenciou, há quatro anos, na festa de São João, em Tupi, que ilustra bem a situação. “Um senhor tirou os sapatos e fez o tradicional pula-brasa, como os fiéis que acreditam na tra-dição popular fazem. Lembro ainda que minha foto ficou ruim. Eu o vi passando e sentando, ele começou a passar mal e as pessoas se aglo-meraram a sua volta. Achei muita sacanagem, não tive coragem de fotografá-lo. Ele estava sofrendo! O senhor acabou morrendo ali e eu não consegui fazer a foto porque respeitei a dor do cara”.

Hoje em dia, entretanto, muitos jornais re-tratam a criminalidade e a violência como uma representação do cotidiano. Na opinião de Bolly, esse tipo de linha editorial é adotado porque “as pessoas gostam de acompanhar, no conforto de suas casas, todos os tipos de tragédias”.

Bolly diz ainda que faz parte da natureza do ser humano ter esse tipo de curiosidade com o que acontece rotineiramente, seja em sua cidade, região, país ou até fora dele. “Quando ele vê uma foto factual de crime ou de tragédia ele quer ter detalhes daquele acontecimento”, explica.

Desde a sua descoberta a foto adquiriu uma importante função dentro do jornalismo e tornou-se notável também como documento.

Bolly Vieira, repórter fotográfico do Jornal de piracicaba

Mar

cella

Mag

anha

8 Sábado, 05 de dezembro de 2009pontofinal

Mais uma vez os brasileiros se depararam com um escândalo en-volvendo uma autoridade política. Cumprindo o papel fundamental do Jornalismo, o jornal O Estado de S. Paulo trouxe à tona atos secre-tos no Senado brasileiro e a mídia repercutiu incansavelmente esse triste episódio. É nestes momentos que vemos a importância de uma cobertura jornalística bem feita, afinal a sociedade reflete e forma a sua opinião a partir disso.

A televisão aparece neste con-texto como o principal meio de comunicação do país, presente na maioria dos lares brasileiros. E isso comprova o compromisso que a TV possui e o quão deve ser imparcial o seu trabalho, embora nem sempre isso ocorra.

De qualquer forma, seja pelo impresso ou pela TV, mais uma vez o Brasil foi manchado por um de seus representantes. E o pior é que o Grupo Estado foi censurado por de-

O programa CQC (Custe o Que Custar) surgiu há menos de dois anos. Talvez por ser tão recente seja difícil ainda chegar a uma opinião quanto ao

Escolher o tema Fotojornalismo não foi um dos aspectos mais difíceis da produção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

A justificativa do tema fica a cargo das afinidades, curiosidades e demais interesses do grupo. Para a matéria jornalística o viés foi a fotografia como meio de informação. Com certeza foi uma experiência inesquecível produzir um projeto assim, com um tema tão complexo como fotojornalismo.

No inicio o que mais se ouviu so-bre o tema foi que “ele era um tanto quanto ousado”. Anteriormente a idéia inicial de se tratar do tema fo-tojornalismo nos pareceu tão lúdica, pensávamos mesmo que mostraría-mos “O olhar do fotógrafo antes do click” como algo tranqüilo e singelo, quando na verdade os momentos antes do click, segundo a maioria dos fotógrafos entrevistados são de tensão e “não se pensa muito, se faz a foto, o mais rápido possível”.

Um pouco de história foi impor-tante na produção da matéria, isso

A maior parte do meu interesse pelo jornalismo está no texto. Na busca pela melhor forma de me ex-pressar ao redigir uma reportagem. O ponto mais comentado pelos jor-nalistas entrevistados para o nosso trabalho foi justamente esse: a lin-guagem. Muito mais complicado do que parece, escrever tendo o público jovem como alvo é difícil. Assim como o repórter do Folhateen, Chi-co Feletti, não considero que exista alguma fórmula que garanta eficácia. Mas acredito que para tornar o texto atraente – simples sem ser simplório, sem carregar nas gírias – é necessário libertá-lo dos padrões tradicionais do estilo jornalístico.

Por que o repórter não pode as-sumir a primeira pessoa ao escrever, apresentar suas opiniões e pontos de vista ou então incorporar recursos usados na literatura de ficção? Foi o que tentei fazer na introdução da re-portagem “Carta ao leitor do futuro”, mas nem de longe fiquei satisfeito. O grau de ousadia poderia ser muito maior. Não vou me lamentar se o jor-nal impresso morrer daqui uns anos. O que importa é que as pessoas con-tinuem a ler, seja em jornais de papel ou na Internet. E, para isso acontecer, é a profundidade das matérias que precisa ser repensada. Jovem não é burro, ele também quer se informar com qualidade. (Rodrigo Kivitz)

Cumprindo o seu compromisso

Érika, Evandro, Bruna, Ana Maria, Ana Paula, Andréa e Jandiara

Fotojornalismo antes, durante e depois do click

Rafael, Jayro, Pietro, Rodrigo, Renan e Darlene

Jornalismo e os jovens

CQC: humor com base no jornalismo

Fernanda, Lindiane, Geison, Clareana, Brenda, Aline e Tânia

Karla Camargo

porque muitas pessoas desconhecem o que é, e como surgiu o fotojorna-lismo no Brasil e no mundo.

O mesmo acontece com o Prê-mio Esso de Fotografia que para os profissionais do ramo é a premiação mais tradicional e importante à nível

nacional. A repercussão da fotografia para o profissional e para os persona-gens é outro aspecto abordado. Uma fotografia impactante pode sensibil-zar a sociedade e modificar a vida de muitas pessoas. (Marcella Maganha e Vanessa Faria)

seu formato, gênero e mesmo ao seu caráter jornalístico ou não.

As opiniões a este respeito tam-bém são conflitantes mesmo entre

as pessoas que participam de sua produção. Alguns garantem ser um programa de humor com base em jornalismo. Pesquisadores e jorna-listas também divergem e apontam argumentos em favor de uma ou outra posição e o objetivo do nosso trabalho foi justamente o de mostrar esta riqueza de opiniões existentes.

Após um esforço de análise, en-tendo que se trata efetivamente de um programa humorístico. Apesar do formato de programa de humor, entretanto, é feito com base em téc-nicas jornalísticas, tendo como foco principal informar seus telespecta-dores. Seu processo de produção ocorre em modelo parecido com o do telejornalismo convencional.

O que diferencia o CQC e o faz humorístico é a forma como essas informações são apresentadas, sempre com humor e opinião mostrados de forma direta. (Clareana Marrafon)

nunciar irregularidades, contrariando a Constituição Federal que prevê a liberdade de expressão. Além disso, o presidente José Sarney foi inocentado

e não responderá por nenhum de seus delitos. Parece brincadeira, mas esse é o nosso país! (Andréa Palhardi Bombonatti)

Página5

Página7

Página6

Página3

Página4

Bruna, André , Taís e Christianne

César, Lilian, Vanessa Piazza, Luiza, Gabriela, Marcella e Vanessa Faria

Karla Camargo

Ginel Flores

Ginel Flores

O Jornalismo tem sofrido intensas inovações quando inserido no ambien-te digital. As novas mídias vieram para facilitar e dar agilidade à informação, e hoje um assunto que nem todo mundo domina pode ser facilmente compreendido graças a ferramentas que encontramos na internet. Calcular uma taxa de juros, por exemplo, pode ser feito por qualquer um e não mais por um especialista como antes.

Podemos encontrar economistas em redes sociais que se manifestam sobre bolsa de valores, taxas de câm-

bio e outros temas. Temos acesso a uma informação que até há pouco tempo só era “procurada” por quem realmente era da área. Toda essa in-teratividade possibilita compreender a economia mais facilmente, através de blogs, twitter, redes socias, vídeos e outras ferramentas. As novas tec-nologias, neste aspecto, constituem nova oportunidade para que as pes-soas se informem sobre economia e deixem de lado o preconceito de que a informação econômica é chata e inacessível. (Christianne Abila)

Internet aproxima economia das pessoas