Pontos de Teoria Da História

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Concurso UFU – Teoria da História 2 – História e Memoria História e Memória, apesar das aparentes semelhanças diferem. O substrato de ambas talvez seja igual: o passado. E, em primeiro lugar, a ele, passado enquanto temporalidade, que remetem a construção da memória ou a operação histórica. A dissonância entre os dois fazeres, porém, é grande. A memoria tecida sobre um determinado evento ou conjunto de evento dificulta a percepção histórica que se pode ter desses episódios, refaz o itinerário de atribuição de sentidos, constrói um fato oferecendo explicação coerentes a episódios, na origem, desconexos. Constrói-se, assim, a memória histórica que, do apelo individual atinge dimensão coletiva. Memória histórica que recria o passado, operando temporalidade como textualidade, fundindo referência que explicam o presente. Compreende-se que a memoria histórica nasce dentro da narrativa histórica, encontrando seu lugar na estratégia adotada de representação e fixação de uma dada lembrança do vivido. Mais do que pura representação, a memoria afirma-se diferentemente da história pela capacidade de assegurar permanências, manifestações sobreviventes de um passado muitas vezes sepultado, sempre isolado do presente pelas muitas transformações, pelos cortes que fragmentam o tempo. Memoria como lugar de

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Concurso UFU Teoria da Histria

2 Histria e Memoria

Histria e Memria, apesar das aparentes semelhanas diferem. O substrato de ambas talvez seja igual: o passado. E, em primeiro lugar, a ele, passado enquanto temporalidade, que remetem a construo da memria ou a operao histrica. A dissonncia entre os dois fazeres, porm, grande. A memoria tecida sobre um determinado evento ou conjunto de evento dificulta a percepo histrica que se pode ter desses episdios, refaz o itinerrio de atribuio de sentidos, constri um fato oferecendo explicao coerentes a episdios, na origem, desconexos. Constri-se, assim, a memria histrica que, do apelo individual atinge dimenso coletiva. Memria histrica que recria o passado, operando temporalidade como textualidade, fundindo referncia que explicam o presente.Compreende-se que a memoria histrica nasce dentro da narrativa histrica, encontrando seu lugar na estratgia adotada de representao e fixao de uma dada lembrana do vivido. Mais do que pura representao, a memoria afirma-se diferentemente da histria pela capacidade de assegurar permanncias, manifestaes sobreviventes de um passado muitas vezes sepultado, sempre isolado do presente pelas muitas transformaes, pelos cortes que fragmentam o tempo. Memoria como lugar de persistncia, de continuidade de viver o hoje inexistente. Ao realizar essa projeo do passado no presente, identificando as marcas de uma continuidade pouco notvel, a memria nega a alteridade de que a histria sempre trata: onde a histria encontra diferenas, a memoria produz semelhanas lgicas, regularidades. Inventa-se, assim, o mesmo, o igual, para sublinhar a identidade que, na passagem de uma temporalidade a outra, se perde. O tempo no , na busca processada pela memria histrica, algo a ser simplesmente reencontrado: para a memria nascida dessas perdas nunca houve perda, nunca houve corte. O tempo costurado mostrado uno, sem fissuras, sem obstculos em sua trajetria.Construir memria ento, ser capaz de, para preservar esse efeito de continuidade, localizar os sinais da manuteno do passado. Sinais, indcios, pistas: o vocabulrio oscila entre a semntica da semiologia, da psicanlise, da polcia. No porm apenas catar sinais cria-los: a se conforma a distino com a histria, cujo compromisso com a verossimilhana enuncia a presena de alteraes no percurso do passado. Mais aparentado fico do que histria, a memria atribui importncia a tudo que evoca o passado e assegura sua manifestao no presente. O discurso, lugar possvel de manifestao plena da memria, oferece espao adequado a esse procedimento de anestesiamento das transformaes. O discurso constri o fato, pela lapidao do evento. No mais ponto restrito no passado, esse fato circundado pelas artimanhas da memria tecida em torno dele; como numa teia, o fato passa a determinar as imagens do passado que devem persistir e a guiar as interpretaes presentes e futuras, forando leituras, conformando encadeamentos e sentidos, afirmando concretudes e objetividades de um passado cuja inspirao normalmente vaga e subjetiva. No universo da memria construda pelo discurso, por trs do fato, vive uma ideia, quase sempre travestida, que elide a tenso constante do evento e junto com a tenso a perspectiva da memria como recusa da histria, projeo e difuso no apenas de uma verso do passado, mas de uma teia do fato que qualifica, pouco ou importando, no caso, se essa qualificao positiva ou no, se est interessada em afirmar sua permanncia ou rechaa-la em favor de outra linha de continuidade e tradio resgatada.Constantemente afeioada ao passado, desejosa de sua permanncia e disposta a resgat-lo a memria no reside exclusivamente nos textos. O encontro dos vestgios que permitem sua recuperao pode ocorrer em outros lugares, segundo outras matrizes que no as textuais. As materializaes desse passado prestes a ser reposto so sempre compostas na tenso entre o individuo e o coletivo, no resultado inevitavelmente coletivo mesmo dos esforos individualizados de retorno. Passado materializado numa espcie de atmosfera coletiva de que todos podem usufruir quando desejarem revisitar os tempos idos.