Por Edward T Depressão

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Por Edward T. Welch Sobre Aconselhamento Bíblico Uma Parte da série Journal of Biblical Counseling Tradução por Gertrudes Mendonca Chama-se tecnicamente depressão, mas não se pode definir simplesmente por uma palavra. Você sente-se insensível, embora a sua cabeça doa; vazio, ainda que por dentro existam gritos; fadiga, embora com muitos temores. Coisas que antes eram agradáveis, agora quase não chamam a sua atenção. O seu cérebro sente-se dentro de uma névoa. Você sente-se deprimido. Lembra-se quando você ainda tinha metas? Coisas que você almejava? Coisas, talvez pequenas, como ir ao cinema na sexta-feira à noite ou um trabalho que você gostaria de realizar. Agora, suas metas são poucas. Conseguir viver o dia parece já ser o suficiente. Você nota como a vida é quando não se tem metas? Todos os dias são iguais. Não existe sensação de antecipação, de satisfação. Cada dia tem uma monotonia medonha e você teme que amanhã seja o mesmo. A monotonia da vida parece que lhe está matando. Dormir? É uma confusão. Você não consegue dormir suficientemente. Você já nem mesmo se lembra da sensação de acordar revigorado. Você já viu os quadros de Pablo Picasso, dos seus dias de tristezas? Se você encontrar um livro sobre Picasso, leia-o. Os quadros não são animadores mas você, pelo menos, descobre que não está só. Provocado por um relacionamento difícil, Picasso fez uma série de quadros onde as pessoas pareciam sem vida e tudo era

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Por Edward T. Welch Sobre Aconselhamento Bíblico

Uma Parte da série Journal of Biblical Counseling

Tradução por Gertrudes Mendonca

Chama-se tecnicamente depressão, mas não se pode definir simplesmente por uma palavra. Você sente-se insensível, embora a sua cabeça doa; vazio, ainda que por dentro existam gritos; fadiga, embora com muitos temores. Coisas que antes eram agradáveis, agora quase não chamam a sua atenção. O seu cérebro sente-se dentro de uma névoa. Você sente-se deprimido. Lembra-se quando você ainda tinha metas? Coisas que você almejava? Coisas, talvez pequenas, como ir ao cinema na sexta-feira à noite ou um trabalho que você gostaria de realizar. Agora, suas metas são poucas. Conseguir viver o dia parece já ser o suficiente.

Você nota como a vida é quando não se tem metas? Todos os dias são iguais. Não existe sensação de antecipação, de satisfação. Cada dia tem uma monotonia medonha e você teme que amanhã seja o mesmo. A monotonia da vida parece que lhe está matando.

Dormir? É uma confusão. Você não consegue dormir suficientemente. Você já nem mesmo se lembra da sensação de acordar revigorado. Você já viu os quadros de Pablo Picasso, dos seus dias de tristezas? Se você encontrar um livro sobre Picasso, leia-o. Os quadros não são animadores mas você, pelo menos, descobre que não está só. Provocado por um relacionamento difícil, Picasso fez uma série de quadros onde as pessoas pareciam sem vida e tudo era pintado em sombras de azul e cinzento. Estaria ele colocando os seus sentimentos na sua arte ou estaria representando fielmente o mundo como ele, no momento, o via? De qualquer forma, com depressão, não existem dias de sol brilhante; apenas céus desoladoramente nublados e um mundo sem cor e sem brilho.

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Picasso não foi o único que lutou com aquilo que veio a ser conhecido como depressão. Abraham Lincoln, Winston Churchill, o grande pregador inglês Charles Spurgeon, o missionário David Brainard e o tradutor da Bíblia J.B. Phillips, foram algumas das pessoas mais conhecidas e mais realizadas as quais falaram e escreveram sobre as suas lutas. Por isso, embora você se sinta só, muitas pessoas percorreram a mesma vereda antes e muitas outras se encontram agora a percorrê-la.

Se alguma coisa como estas lhe parece familiar, continue a ler. Você já tem motivos para ter esperança. O fato de você querer ler isto – algo que não é absolutamente necessário – já é, por si mesmo, um avanço significativo.

Este material será o mais resumido possível. É um esboço, um mapa, que mostra um caminho através da depressão. Se você discordar com qualquer coisa, argumente. Se lhe parece demasiado, ponha de lado e volte a ler mais tarde.

Antes de mais nada, você deve saber que o mapa, finalmente, conduz a Jesus Cristo. Ele conduz a uma pessoa, em vez de conduzir a técnicas. Algumas pessoas dizem, “Jesus - não funciona,” “Tentei com Ele e ainda continuo deprimido.” Mas considere isto: Jesus afirma ser Ele, “o Caminho, a Verdade, e a Vida”, fonte de esperança, amante das nossas almas, servo, irmão, amigo, aquele que ouve e atua, aquele que nunca nos abandona. Nenhuma terapia ou medicamento faz tal reivindicação.

Se Jesus e os ensinamentos das Escrituras se parecem com banalidades para você – e talvez se pareçam – lembre-se que tudo soa um pouco vazio para você neste momento. O que pode parecer banal agora, será profundo quando você começar a aperceber-se desta realidade.

Como posso fazer alguma coisa quando eu não sinto nada?

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Aqui está o problema. A maior parte das pessoas faz coisas porque elas sentem vontade de faze-las. Levantam-se de manhã porque elas sentem que têm que ir trabalhar ou sentem que devem evitar as perguntas do chefe quando se atrasam, ou sentem que querem evitar a pobreza. Nós somos mais movidos por sentimentos do que nos imaginamos.

Na depressão, você não sente. Ou seja o que for que você sinta, isso não o motiva a fazer algo de proveitoso. Por exemplo, você sente vontade de morrer, de gritar, de correr, de desaparecer, de fugir. Como é que as pessoas conduzidas por tais sentimentos podem estabelecer metas, ter objectivos ou sentir-se motivadas quando elas não sentem nada?

Inicialmente, você terá que aprender outra forma de viver. Você terá que ser como a mulher cujos músculos ainda funcionavam mas que pararam de dar-lhe informações sobre as suas pernas e braços. Ela não estava paralisada, mas, se ela fechasse os olhos, não poderia dizer se estava em pé, estendendo-se ou descansando. Por vezes, olhava no espelho e via que estava mantendo o seu braço direito estendido no ar, sem que o percebesse. Não podia sequer andar porque não sabia onde estavam as suas pernas. Gradualmente, ao olhar para os espelhos e ao ver o seu corpo, em vez de o sentir, ela começou a caminhar de novo. Depois de praticar muito, caminhar pareceu-lhe novamente natural. Mas teve que aprender uma nova forma de viver e de mover-se.

Na depressão, a nova forma de viver consiste em crer e atuar da forma como Deus afirma em Sua Palavra, em vez de “sentir” o que Ele diz. É viver pela fé. Parafraseando Hebreus 11:1, “a fé é ter a prova das coisas que não sentimos”. Em outras palavras, quando existe um debate entre aquilo que os seus sentimentos dizem e aquilo que dizem as Escrituras, as Escrituras ganham. Qualquer outro resultado significa que você está, essencialmente, dizendo a Deus que Ele não pode ser confiado. “Deus não está dizendo a verdade. Eu não posso confiar n’Ele. Apenas posso confiar em mim mesmo.” Isto não é, provavelmente, aquilo que você quer dizer. Você poderá querer dizer que não entende o que Deus está fazendo, mas negar

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que Deus fala a verdade, é, por si só, algo falso. É uma mentira. Não acredite nisso. Deus é a Verdade.

Eis um exemplo desta nova forma de viver. Você sente que não tem propósitos nem esperanças. Não existe razão para sair da cama, trabalhar, amar ou viver. Você sente isso com todo o seu ser. Deus, no entanto, opõe-se a estes sentimentos em todas as páginas das Escrituras. Por exemplo, “Amai-vos ardentemente uns aos outros, com um coração puro” (1 Pedro 1:22). Trata-se de uma afirmação com um propósito. É uma razão para você sair da cama. Você tem que lutar contra os sentimentos paralisantes para que possa amar outra pessoa. Porquê importar-se? Porque essa é sua obrigação pessoal, demandada pelo Próprio Deus, o Rei dos reis.

Se você é o servo do Rei – e você é – e se Ele lhe pede para fazer alguma coisa, então você acaba de receber um propósito para viver. Somente quando o Rei disser que Ele não precisa mais de você, então o seu propósito estará cumprido. E isto certamente nunca acontecerá com o Deus verdadeiro. Ele diz que os Seus propósitos para você duram por toda a eternidade. Para colocar o seu propósito em termos mais amplos, a sua tarefa consiste em glorificar e usufruir Deus (1 Cor. 10:31). Glorificar Deus significa tornar o Seu nome famoso. A honra e a reputação de Deus tornam-se mais importantes do que a sua própria honra e reputação.

Glorificar a Deus! Soa como um clichê? Embora isso pareça impraticável, na verdade é muito concreto. É realizado em pequenos passos, por vezes privados, de fé e obediência. Outras pessoas podem não perceber, mas se você fizer alguma coisa por causa de Jesus e por aquilo que Jesus fez por você – desde pentear o seu cabelo ou chegar a vender tudo o que tem e tornar-se um missionário – então você estará trazendo glória a Deus.

Você quer um incentivo tangível? Existe uma evidência clara nas Escrituras de que, quando você busca a Deus e o Seu reino, os seus problemas tornam-se mais leves (2 Cor. 4:16, 17).

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Ouça

Enquanto você desenrola uma clara afirmação de propósito, você deve ter alguém para ajudá-lo a refinar, lembrá-lo e ler dita afirmação para si. Neste ponto, a sua tarefa consistirá em ouvir. Você tem estado a ouvir os seus próprios pensamentos, mas agora deverá ouvir aquilo que Deus diz em Sua Palavra, e aquilo que Ele lhe diz através de outras pessoas. Ouvir parece uma actividade passiva, mas é um trabalho muito difícil. O livro de Tiago lembra-nos que temos predisposição para “apenas ouvir”, como pessoas que observam num espelho e nos esquecemos rapidamente como parecemos. Por isso quando você lê ou ouve falar de verdade e amor, não se limite apenas a escutar; ouça realmente.

O que é que você vai ouvir? Quando o Deus trino fala, Ele inevitavelmente fala de Jesus. Jesus é aquele que tem compaixão dos que sofrem e Ele compreende aqueles que sofrem porque a Sua dor excedeu à nossa. Você já reparou que quando você ouviu a alguém que estava sofrendo, especialmente se esse sofrimento foi esmagador e intenso, os seus próprios problemas pareceram menos pesados? Pelo menos esta forma de ouvir, desvia nossa atenção do nosso próprio sofrimento, e assim vemos que não estamos sós. Isto é o que acontece quando você olha para Jesus e ouve.

Continue a ouvir, no entanto. Mesmo que você se possa sentir rejeitado por outros, Jesus não o rejeitará (Salmo 27:10). Volte-se para Ele em fé – ainda que seja com uma pequena partícula de fé – e Ele nunca o abandonará nem o deixará (Hebreus 13:5). Ele mesmo promete.

O amor nem sempre o comove? Pense nisso. Na presença de Deus, você levará toda a eternidade para começar a compreender o amor. Se isso não o comover agora, sem dúvida, então irá. O Seu amor é como o amor dum bom pai para um filho que ainda não entende os detalhes do amor paternal. Em outras palavras, a criança pode ocasionalmente pensar que o pai não a ama, mas o amor do pai é demasiadamente elaborado e lindo para que a criança o possa entender.

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A criança está desgostosa porque não poder mais brincar na lama, mas o pai a está lavando e preparando-a para uma viagem à Disneylândia. Se você não pode ver este amor agora, então continue a ouvir o evangelho, a saber, que de acordo com o plano de Deus, Jesus morreu por pecadores como nós. Este é um amor maravilhoso e profundo. Se não lhe parece maravilhoso, então talvez seja porque você se tenha esquecido que é um pecador. Jesus, afinal das contas, não morreu por boas pessoas que precisavam de um impulso espiritual; Ele morreu para trazer inimigos alienados e condenados para dentro da Sua família.

Há muito mais coisas que Deus diz, mas é muito fácil começar a vaguear e a pensar, “isto não está me ajudando em nada”. Conforme observou uma mulher, “Nenhum amor de, ou para outros – e havia muito – poderia ajudar-me. Nem a vantagem de uma família que se preocupava cuidadosamente, nem um emprego fabuloso, foram suficientes para ultrapassar a dor e a desesperança”. Em momentos como esses, é tempo de refletir.

Reflita

Se você está deprimido e está ouvindo aos seus próprios pensamentos, você irá provavelmente ouvir pensamentos que são negros, sem esperança, pessimistas e críticos contra você ou contra outros. Sempre que estes pensamentos começam, eles raramente param até atingirem o lugar mais desesperante possível. Por exemplo, se alguém falar sobre o Papai Noel, você começa a pensar que também está muito gordo e que, por detrás, todos se riem da sua gordura. Se alguém o cumprimenta por um trabalho bem feito, você crê que isso pode ser para atenuar o despedimento iminente de seu emprego, e que se a pessoa realmente conhecesse o tipo de trabalho que você fez, você seria mesmo despedido, e… Todo o processo é automático. Dê-lhe início, e ele deslancha. É um piloto mental automático. O fato da sua mente poder sentir-se perpetuamente nublada significa que você não se sente capaz do esforço hercúleo necessário para realizar correções mentais.

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Você tem que começar a pensar – não um pensamento automático, mas pensamento com objectividade. O seu pensamento deve ser guiado pelas Escrituras. Trabalho difícil? Sim. Qualquer esforço mental é trabalho. Mudanças imediatas? Provavelmente, não aquelas que são óbvias para você. Mas você deve refletir. O seu pensamento corrente volta-se para a falta de esperança e desespero. Você tem que desejar lutar.

Se você sente relutância em fazer isto, então você deve questionar se você realmente quer mudar. Isto pode parecer estranho, mas muitas pessoas não querem. O trabalho envolvido não parece valer a pena, e elas detestam o que terão que enfrentar se não estiverem deprimidas, ou, por outro lado, muitos são leais ao seu próprio estilo de vida preferindo que a mudança ocorra no mundo ao seu redor e não em si.

Portanto, pense. Será que você realmente quer mudar?

Se você perceber que está mais relutante em mudar do que pensava, você deve voltar atrás e repensar o seu propósito. Algumas pessoas usam os seus filhos como motivação para mudar, mas os filhos não são uma razão suficientemente poderosa. Os seus pensamentos tenebrosos irão persuadi-lo rapidamente de que os seus filhos, bem como todos os outros, estariam melhor sem você. A única razão suficiente será que você reconheça estar chamado para representar a Deus sobre a terra. Ele é o seu mestre amoroso e você é o Seu filho, servo ou embaixador – escolha o que quiser. Ele é a causa do seu viver.

Se isto também não for suficiente, você terá que voltar atrás para ouvir. Peça a alguém para lhe dizer quem é Deus. Quando a sua mente está nebulosa é muito difícil para você relembrar, por isso, peça a outra pessoa. Peça a outra pessoa para lhe dizer que o Deus criador vive e que Ele enviou Jesus para morrer pelos pecados de seres como nós, que ignorávamos a Deus e éramos seus inimigos. Peça à pessoa para o convencer de que Deus é bom. Peça para continuar a falar-lhe até que isso soe como boas notícias e você, finalmente, creia.

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Pense sobre isso. Se você não estivesse deprimido, você estaria extasiado por tudo aquilo que Deus fez. Você simplesmente se curvaria e, tal como muitos outros que entenderam o amor e a presença de Deus, diria, “Eu não sou merecedor, mas estou agradecido”. Não desista de ouvir estas verdades. Elas irão mudá-lo. Não desista.

O que é que a sua depressão está dizendo? O que significa?

Enquanto você procura ouvir sobre Cristo e o propósito para a sua vida, o próximo lugar para aplicar o seu pensamento consiste em perguntar, “O que é que dizem os meus sentimentos?” Os seus sentimentos dizem alguma coisa sobre você mesmo.

Esta é a forma como acontece com todas as emoções: o medo, a ira, a antecipação, o pavor, etc. Essas emoções são geralmente causadas por algumas circunstâncias na sua vida, mas são também as suas respostas e, ao mesmo tempo, as suas interpretações de eventos. Em outras palavras, elas revelam quem você é. Por exemplo, se você recebe uma conta inesperada, isso pode causar-lhe preocupações financeiras. Mas se você estiver obcecado e cronicamente receoso sobre o seu futuro financeiro, o medo revela em quem você confia: você confia em você mesmo em vez de confiar no seu Deus. As suas emoções revelam quem você é.

Moisés disse a mesma coisa aos Hebreus quando eles andavam vagueando no deserto. Ele cria que as dificuldades da vida no deserto haviam servido para testar o povo, “…para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos ou não” (Deuteronômio 8:2). Quando o povo estava descontente e, até mesmo irado, estava dizendo mais sobre si mesmo do que sobre o deserto.

O mesmo é verdadeiro quanto à depressão: a depressão diz alguma coisa sobre o seu coração. A questão é, o que está dizendo? É aqui

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que você tem que pensar. Considere algumas destas possibilidades. Quem é que dita os seus sentimentos de desânimo?

“Eu tenho medo”.

Medo de:

tomar uma decisão errada;

fracassar;

ser exposto;

perder um ser amado;

ser abandonado;

não ter o controle;

morrer;

ter uma doença incapacitante;

ver Deus;

tudo.

“Eu sou culpado”, ou, “Eu tenho vergonha”.

Culpado de:

meu próprio pecado;

não estar à altura dos meus próprios padrões de sucesso em vez de considerar os padrões de Deus;

não ser aprovado pelas pessoas cujas opiniões se tornaram mais importantes do que as opiniões de Deus;

viver como se tivesse de pagar a Deus pelo meu pecado quando, na verdade, a forma de poder glorificar Deus consiste em concordar que Ele já pagou por tudo;

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uma consciência que faz julgamentos com base em dados incompletos (como, por exemplo, assumindo a responsabilidade pelos pecados alheios).

“Eu perdi alguma coisa”.

A depressão muitas vezes provoca um vazio. Como se você tivesse perdido alguma coisa ou alguém. Poderia ser um emprego, saúde, juventude, dinheiro, um ser. Você sente como se um ser amado tivesse morrido. Mas a depressão é mais do que um luto. É um luto enlouquecido. Muito provavelmente, a coisa perdida era como um deus para você. Era onde você colocava a sua esperança e confiança.

“Eu preciso de alguma coisa”.

A depressão está a dizer-lhe que você precisa de amor, significado, respeito ou algum outro desejo psicológico? Todos gostamos destas coisas quando as temos, mas por vezes elas tornam-se mais importantes do que deviam. Você pode perceber o que acontece quando os seus desejos se tornam na coisa mais importante de sua vida? Os seus desejos transformam-se em necessidades. Você sente como se tivesse que os ter a fim de viver. Isto é cobiça e a cobiça quer sempre mais. Nunca se satisfaz. Sente-se sempre vazia.

“Estou irado”.

Você provavelmente ouviu o que a depressão poderá estar lhe dizendo: “Estou irado”. Usualmente estamos irados porque não obtivemos o que exigimos de alguém ou do próprio Deus. Isto não significa que você tenha pensamentos homicidas ou que você esteja brandindo o seu punho contra Deus (ainda que este possa ser o caso). Então, procure expressões mais calmas da ira, tais como queixas, murmurações, falta de perdão, ou auto-piedade. Se você não as vê, olhe de novo. Elas estarão lá.

“Devo evitar alguma coisa”.

Considere o que poderia ser desagradável sobre a sensação de não mais estar deprimido. Você teria que confrontar-se com algo que você quisera evitar? Tal como uma pessoa, ou dificuldades financeiras, ou responsabilidades que incluem a possibilidade de fracasso? A névoa

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mental e a fadiga física da depressão ajudam-no a evitar pensar sobre algum acontecimento perturbador, ou sobre uma pessoa em particular.

“Ai de mim!”.

Conselheiros experientes que prestam ajuda às pessoas deprimidas, são rápidas em apontar o fato de que a depressão fala a linguagem da auto-piedade. “Se ninguém mais vai sentir pena de mim, eu sentirei pena de mim mesmo.” Isto pode ser mortal. Significa que você vive como uma vítima em vez de viver como aquele a quem graça e piedade infinitas, foram demonstradas

“Eu não tenho esperança”

Se isto lhe parece familiar, então você tem que fazer outra pergunta: “Esperança de quê?” Esperança de que se vai libertar da depressão? Talvez você esteja esperando muito pouco.

“Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Romanos 5:2-5). Esta passagem das Escrituras é difícil de entender, mas uma coisa está clara. O Apóstolo Paulo, que escreveu esta carta, sentiu profunda dor e sofrimento na sua vida, mas, de qualquer forma, isso não o derrubou.

A sua tarefa consiste em descobrir o segredo de Paulo, segredo o qual, ele está ansioso por revelar. Eis uma dica: “Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos” (Hebreus 12:3). Paulo manteve os seus olhos em Jesus. Quando nós retiramos os nossos olhos de Jesus, a estrada é infinitamente longa. Sabemos que não teremos resistência para tal façanha. Mas quando vemos que Jesus – o Conhecedor de corações – viajou esta estrada antes de nós, então podemos estar confiantes de que o Espírito está

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conosco e nos dará força para caminharmos, em fé humilde e em obediência.

E não foi só Jesus que caminhou por este caminho de esperança antecipando as glórias que estavam, ali mesmo, logo depois da curva, quase fora de vista. Como indica Hebreus 11, o caminho está bastante usado e populado por santos do passado e do presente. Embora as pessoas deprimidas se sintam absolutamente sós, elas, na verdade, fazem parte de uma gigantesca procissão de santos em direção aos céus.

“Eu sei que o meu Redentor está comigo e eu esperarei humildemente pelo seu salvamento”.

Quando a fé é testada, como acontece durante a depressão, por vezes o que se revela é um coração que confia no Senhor. Você decidiu que seguiria a Deus, não porque Ele faz com que você se sinta bem, mas porque Ele é o Senhor de tudo, o Pastor amante, o Pai eterno. Não resta mais ninguém para seguir. Naturalmente, você não compreende o que está acontecendo com você agora, mas você sabe que Ele é o seu Deus e que Ele está consigo, e isso é o suficiente.

O que diz a sua depressão? Esta é apenas uma pequena lista de algumas das expressões mais comuns do coração. Existem muitas mais. Se você não consegue distinguir o significado da sua depressão, existe muito mais ainda para se fazer. Ouvir o evangelho de Cristo, conhecer o seu propósito e atuar sobre esse propósito, consistem, por si mesmo, suficiente trabalho. Mas continue a perguntar o que a sua depressão lhe está dizendo.

Confie e adore somente a Deus

Enquanto você pensa sobre o significado dos seus sentimentos, você vai notar que, em vez de ser conduzido para um desespero cada vez maior, a vereda o conduzirá ao Deus trino. Mais especificamente, irá conduzi-lo à pergunta, “Você vai viver para Deus? Ou para si mesmo e para as coisas que você adora? Por vezes demora-se um pouco para

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responder a estas perguntas mais críticas, mas elas estarão sempre lá, para serem respondidas.

Usualmente tudo o que você tem a fazer é perguntar-se, da mesma maneira como faria uma criança de três anos,

“Porque?”

“Porque não posso continuar”.

“Porquê?”

“Porque já estou cansado e não posso suportar mais a dor”.

“Porquê?”

”Porque eu sinto como se estivesse sozinho”.

”Porquê?”

“Porque… não creio que Deus esteja comigo”.

“Porquê?”

”Porque… não confio nele. Eu confio na minha interpretação que procedem dos meus sentimentos”.

Os “porquês”, devem conduzi-lo a Deus. Você ficará cansado das perguntas já na altura em que chegue à segunda, mas deixe que elas continuem. No fim das suas perguntas, diga ao Senhor, “Jesus és o meu Senhor, eu confesso a minha incredulidade e confio em Ti”.

Confiança, confissão de pecado e seguir a Cristo em obediência – parece familiar? Estas são as bases da vida espiritual. Quando você atingir por baixo do superficial, estas, finalmente, serão as coisas realmente importantes para todos nós. E você vai descobrir que funcionam. E se isso lhe parece superficial, então você está adormecido para os segredos do universo e precisa voltar a ouvir. Não confie naquilo que as suas emoções lhe dizem sobre esta questão. Elas podem ser simples, mas não são simplistas. Elas são os fundamentos da própria vida. Elas são os caminhos primários de como devemos responder a Deus.

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Confesse os pecados ao seu Pai nos céus

Confiança em Cristo, confissão de pecado, obediência Àquele que o ama. Destes três, confessar o pecado parece ser desencorajador no princípio. Pode ser que você já sinta-se como uma pessoa má. Isto faz com que você se sinta pior. Mas, reflita:

Se o Espírito de Deus lhe vai permitir que você veja o pecado na sua vida, você já tem uma boa evidência de que Ele é o seu Pai e de que você é Seu filho. Você não pode ver o seu próprio pecado sem que Deus o revele.

Confessar os pecados deve ser uma parte normal da nossa rotina diária, quer estejamos depressivos ou não (Mateus 6:9-13).

Confessar os pecados não põe em risco o nosso relacionamento com Deus. Apenas o realça. Se nós temos confiado em Cristo, o julgamento divino do nosso pecado caiu sobre Cristo, não sobre nós. Confessar os pecados lembra-nos que Cristo já tratou do nosso mais profundo problema e que temos razão para estarmos agradecidos

Eis a regra. Se você considera aquilo que a sua depressão lhe diz e se isso lhe toma totalmente de seu relacionamento com Cristo, então não pare nessa jornada até ter ouvido algo de bom. A Palavra de Deus ensina-nos sempre, em tudo, concluir com Jesus e com palavras que são boas novas aos nossos ouvidos.

Portanto não se detenha com, “Miserável homem que eu sou”. Você pode ser um miserável, mas não pode terminar aí. “Dou graças a Deus por Cristo Jesus nosso Senhor!” (Romanos 7:24,25). Lembre-se que se você colocou a sua fé em Jesus, você é perdoado, adotado, amado e feliz. Você tem que começar a pensar na forma como Deus pensa, e não na forma como você pensa.

Tome passos práticos de amor e obediência

A lista a seguir inclui um número de aplicações da Escritura. A ideia básica consiste em que a fé se expressa em acção.

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Escolha uma história bíblica, leia-a todos os dias e escreva 25 aplicações da mesma (ou 5, 10, ou 50 aplicações). Isto poderá parecer-lhe impossível, mas logo que você passe as primeiras dez - creia-me - ficará mais fácil. Esteja consciente dos frequentes desvios de sua atenção. Sua mente está fatigada. Certamente lhe será difícil concentrar-se numa só coisa, mas, fazê-lo, lhe ajudará.

Escreva cinco maneiras de como você foi abençoado por algum amigo. Notifique-o pelo correio.

Escreva seu propósito para viver. Deixe que isto seja revisto por outros. Depois memorize e viva-o.

Torne-se perito naquilo que Deus diz àqueles que sofrem. Considere começar com as palavras de Hebreus 10-12. Este texto convoca-o para a fé e a esperança e, logo, lhe conduz a Jesus. Mas, ainda, não se detenha aí. As Escrituras, de igual maneira, também nos apontam caminhos em direção a outras pessoas: fé em Deus, amor por outras pessoas. Neste caso, as Escrituras dizem: “Segui a paz com todos” (Hebreus 12:14). Como você poderá ser um pacificador? A quem você precisa perdoar? De quem você precisa pedir perdão?

Anote o sermão de domingo. Atue sobre as coisas que você anotou.

Cada dia, fale ou escreva alguma coisa que possa servir de encorajamento para outros. Você tem um chamamento. Existem pessoas às quais você foi chamado para amar, para cuidar, para ajudar.

Todos os dias ouça a Palavra de Deus e ouça música que lhe conduza a Cristo, ou ouça a outra pessoa que tenha sabedoria espiritual. Capacite-se para resumir aquilo que ouviu, e fale a alguém sobre isso.

Mantenha-se atento para os indícios de descontentamento e de queixas. Pecados tais como os mexericos. Estes são pecados aceitáveis na nossa cultura, o que nos impede de ver as suas raízes horríveis. O que, realmente, afirmam o descontentamento e as queixas? Você pode perceber como eles se dirigem contra Deus?

Considere todas estas perguntas. Nesta nossa cultura, será que já esquecemos os benefícios trazidos pelas dificuldades e provações? Quais são os possíveis benefícios do sofrimento? (Salmo 119:67; 2 Coríntios 1:8-10; Hebreus 5:8; Tiago 1:3).

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Peça a algumas pessoas para orarem por você e convide-as a lhe dizerem a verdade. Quando você pede por oração, peça por mais do que o simples alívio da depressão. Use isto como uma oportunidade para orar por grandes coisas. Encontre orações nas Escrituras e ore de igual maneira. Por exemplo, ore para que você possa conhecer o amor de Cristo (Efésios 3), para que você se assemelhe mais a Jesus (Romanos 8:29), para que você possa amar aos outros e para que você possa entender o que significa glorificar a Deus.

Quando em dúvidas, mostre, criativamente, o seu amor por outras pessoas.

Pensamentos finais

A depressão é difícil de suportar. Ela não vai embora sem luta. Mas existem boas razões para que você se engaje nessa luta. Mudanças são garantidas (Filipenses 1:6). Você está na presença do “Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação” (2 Coríntios 1:3, 4). Você crê nisso? Pense nisto. Quando você considera que o Pai enviou o Seu Filho – o Seu amado e único filho – para morrer por nós quando ainda éramos Seus inimigos, então não existe razão para pensar que Ele será mesquinho em Seu amor e compaixão agora que O conhecemos como Pai.

No entanto, por vezes, nós temos a nossa própria definição de compaixão. Compaixão pode significar “rapidamente, retirar nossa miséria”. Em vez disso, você deverá crer que o amor de Deus e a Sua compaixão excedem, até mesmo, a nossa própria imaginação, e, muito mais, nossa compreensão. Ele tem sempre algo de bom. Quer banhá-lo com graça e fazer com que você se pareça cada vez mais com Jesus.

Portanto, não desista. Você tem um propósito. Deus está atuando. Você é um servo do Rei, um filho que representa o Pai, e em breve você terá o privilégio de “consolar os que estiverem em alguma tribulação” (2 Coríntios 1:4). O corpo de Cristo precisa de você.

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Algumas perguntas comuns

O que é que ajudou outras pessoas? A algumas pessoas que atravessaram a depressão, pediram-lhes que completassem esta frase: “Eu verifiquei mudanças na minha experiência de depressão quando…”

Comecei a falar comigo mesmo em vez de dar ouvidos aos meus próprios pensamentos. Comecei a falar-me das diferentes Escrituras em vez de ouvir as minhas próprias vozes de desesperança.

Parei de dizer, “Isso não funciona”. Estava sempre a buscar uma solução mágica. Eu orava (tentando negociar com Deus), olhava para dentro do meu coração (por um, ou dois minutos) ou tentava alguma outra rápida atividade espiritual semelhante e, quando isso não funcionava, eu desistia. Agora creio que isso, de fato, “funciona”. Existe contentamento e até alegria por longo prazo, pequenos passos de fé e obediência.

Tive um amigo e um pastor que mantinham um maior quadro do reino de Deus diante de mim. A depressão fez o meu mundo muito pequeno; quando vi que Deus estava atuando, comecei a ter esperança.

A minha filha ficou muito doente. Isso forçou-me a ver mais além do meu próprio mundo.

Uma amiga não desistiu de mim. Ela estava sempre a amar-me e a apontar-me para verdade, mesmo quando eu não queria ouvir falar sobre Jesus.

Uma amiga “emprestou-me” a sua fé. A minha fé era tão fraca, mas eu sabia que ela estava sempre confiante na presença de Deus e em seu amor pela igreja e até mesmo por mim.

Perdoei ao meu pai e confiei-o a Deus.

Vi que 90% era orgulho. Via-me como se merecesse certas coisas de outras pessoas.

Comecei a entender que estava numa guerra e percebi que tinha que batalhar.

Vi que estava fazendo as coisas, mais do que permitindo que as coisas fossem feitas para mim. Por exemplo, eu estava produzindo ira

Page 18: Por Edward T Depressão

e passava muito tempo a queixar-me. No meu coração, realmente estava fazendo aquilo que eu queria fazer.

Comecei a ter mais conhecimento sobre a graça de Deus. Comecei a entender que o meu chafurdar em culpas, era causado mais por minhas obras de justiça do que por um arrependimento segundo Deus.

Logo que compreendi que era bom para mim ver o meu próprio pecado – uma evidência do amor de Deus e da obra do Espírito em minha vida – comecei a dizer a mim próprio, “Quando em dúvida, arrependa-se”.

Comecei a prática de caminhar “um passo por vez”, e a trabalhar naquilo que acreditava serem as responsabilidades que me haviam sido dadas por Deus.

E quanto às coisas que aliviam os sintomas? Que dizer quanto ao tomar medicação anti-depressiva? Mudar sua dieta? Começar algumas luzes de espectro total? Seguir um programa de exercícios? Fazer uma viagem de férias? Você pode já ter tentado algumas destas coisas que por vezes aliviam a gravidade de alguns sintomas da depressão. Você deveria tentar isso outra vez ou não?

Em última instância, a decisão será sua. Mas tome apenas as decisões pensadas e sensatas. Converse com outros sobre o assunto. Quais são os benefícios e os riscos? Quais as alternativas? Faça a sua própria tarefa e verifique.

Compenetre-se de que não existe uma cura milagrosa. Se há alguma coisa que possa ajudar, ainda assim você deve fazer perguntas sobre aquilo que a depressão lhe está dizendo e você deve, igualmente, buscar o seu crescimento em Cristo. A depressão nos revela mais do que apenas a composição química do nosso cérebro. Assim, pois, não pense no problema como algo espiritual ou físico. Em vez disso, pense no problema como uma ocasião para considerar o seu próprio coração. À medida que você o faz, a sua depressão será reduzida de forma significativa. Poderá haver um problema físico ou químico? Talvez. Mas um problema, de qualquer natureza, é sempre uma ocasião para um exercício espiritual.

Obtido em "http://pt.gospeltranslations.org/wiki/Palavras_de_Esperan%C3%A7a_para_Aqueles_que_Lutam_com_a_Depress%C3%A3o"