Por que a produção de alimentos depende tanto de agrotóxicos?€¦ · Por outro lado, quando...

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V v USP ESALQ DIVISÃO DE COMUNICAÇÃO Veículo: MTUOL Notícias Data: 28/11/2019 Caderno/Link: http://www.mtuol.com.br/noticia/por-que-a-producao-de-alimentos-depende tanto-de-agrotoxicos Assunto: Por que a produção de alimentos depende tanto de agrotóxicos? ____________________ Quinta, 28 de novembro de 2019 - 09:04:00 Por que a produção de alimentos depende tanto de agrotóxicos? AGRO Imprimir Agrônomos dizem que modelo atual de grandes culturas levou ao uso elevado. E apontam quais soluções podem reduzir a aplicação dos pesticidas. Nas grandes culturas, os agrotóxicos são aplicados por pulverizadores, máquinas que possuem regulagem própria para evitar uso em excesso dos pesticidas Foto: Érico Andrade/G1 O jeito de se produzir alimentos em larga escala e quase o ano todo fez com que agricultores ficassem dependentes do uso de agrotóxicos, dizem agrônomos.

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USP ESALQ – DIVISÃO DE COMUNICAÇÃO Veículo: MTUOL Notícias Data: 28/11/2019 Caderno/Link: http://www.mtuol.com.br/noticia/por-que-a-producao-de-alimentos-depende-tanto-de-agrotoxicos Assunto: Por que a produção de alimentos depende tanto de agrotóxicos?

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Quinta, 28 de novembro de 2019 - 09:04:00

Por que a produção de alimentos depende

tanto de agrotóxicos? AGRO Imprimir

Agrônomos dizem que modelo atual de grandes culturas

levou ao uso elevado. E apontam quais soluções podem

reduzir a aplicação dos pesticidas.

Nas grandes culturas, os agrotóxicos são aplicados por pulverizadores, máquinas que

possuem regulagem própria para evitar uso em excesso dos pesticidas — Foto: Érico

Andrade/G1

O jeito de se produzir alimentos em larga escala e quase o ano todo fez com que

agricultores ficassem dependentes do uso de agrotóxicos, dizem agrônomos.

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Por outro lado, quando mais se aplica o veneno, mais a praga cria resistência. E ele

vai perdendo sua eficiência.

"Apesar de toda a parafernália química, a indústria de agrotóxicos jamais conseguiu

eliminar uma espécie daninha e diminuir as perdas causadas por elas, perdas essas

que continuam as mesmas de 40 anos atrás", afirma o pesquisador brasileiro e PhD

em agronomia Adilson Paschoal, criador do termo "agrotóxico".

Cada vez mais o ingrediente-base do agrotóxico (princípio ativo) acaba tendo que ser

misturado a outros para funcionar melhor. Hoje, 330 são registrados no Brasil. Na

União Europeia, são 466 e, nos Estados Unidos, aproximadamente 500 (veja os mais

vendidos e onde são usados).

Para ir além das polêmicas, o G1 pediu a agrônomos que explicassem, tecnicamente,

como se dá essa dependência dos agrotóxicos, para que servem e que soluções

podem existir para reduzir o uso.

O que é um agrotóxico?

A palavra agrotóxico é usada particularmente no Brasil — no exterior, o termo mais

comum é pesticida.

São produtos químicos usados na produção agrícola, manutenção de pastagens e

proteção de florestas plantadas. Pela legislação brasileira, produtos biológicos e

orgânicos com o mesmo fim também são considerados agrotóxicos.

A base é chamada de princípio ativo: ele sozinho ou misturado a outros vai dar

origem aos produtos que serão vendidos para os agricultores. Eles podem ser

líquidos ou sólidos (em pó ou granulados).

Para que serve?

Essas substâncias mudam a composição da flora e da fauna, para acabar com as

ervas que "competem" com a plantação principal, além de fungos e insetos que podem

danificar essa lavoura.

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Por que ele é polêmico?

Justamente pela característica de alterar a flora e fauna. Para ambientalistas, o

produto químico muda a naturalidade do ecossistema de onde ele é aplicado, o que

cria uma nova população de insetos, bactérias e ervas daninhas que não são

necessariamente próprias da região.

Se mal aplicado, o agrotóxico também pode atingir lavouras vizinhas, criando

problemas para produções orgânicas ou, até mesmo, matar plantações e florestas

sensíveis ao produto químico. Isso sem contar os riscos que os trabalhadores rurais

correm se o produto não for usado da maneira correta.

Além disso, o veneno mal utilizado pode ser responsável pela morte de abelhas,

insetos importantíssimos para garantir a polinização das plantas, um processo

fundamental no ciclo da agricultura.

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Pelo menos cinco milhões de abelhas foram encontradas mortas em São José das

Missões (RS) em janeiro deste ano — Foto: Batalhão Ambiental da Brigada

Militar/Divulgação

Outro ponto é que o agrotóxico pode deixar resíduos nos alimentos e no lençol

freático, atingindo água de rios.

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No caso da comida, em alguns casos, o pesticida fica apenas na casca do produto,

podendo ser eliminado em uma lavagem. Em outras situações, ele age dentro do

organismo da planta e de seus frutos, e não é possível eliminar 100% desse residual.

No Brasil, existe uma legislação que define limites seguros para a ingestão desses

resíduos. Mas quem é contra o uso dos pesticidas afirma que não existe nenhuma

prova científica que garanta que consumir resíduos de agrotóxicos em níveis

considerados seguros pela lei vai evitar efeitos colaterais.

Como age o agrotóxico?

Para cada "alvo", existe um tipo:

Herbicida: age contra ervas daninhas;

Fungicida: contra fungos que causam doenças;

Inseticida: contra insetos

Inseticidas e fungicidas costumam ser usados antes do plantio, no tratamento das

sementes, assim como os herbicidas, mas também podem atuar depois da colheita,

para evitar a proliferação de doenças durante o armazenamento dos produtos. Veja

como cada tipo age:

Herbicida

Impede a fotossíntese das ervas daninhas para que elas morram e não roubem luz do

sol e nutrientes da plantação principal.

O tipo mais usado entra no organismo da erva e a mata por completo (das folhas à

raiz). Existem herbicidas que agem apenas nas folhas; com isso, as raízes ficam sem

utilidade e morrem.

Fungicidas

Fazem as células dos fungos entrarem em colapso, inibindo a entrada de ar e energia

que esses organismos precisam para se multiplicar.

Inseticidas

Matam insetos nocivos às lavouras, que são aqueles que sugam a seiva (o "sangue"

da planta), introduzem doenças e se alimentam de partes fundamentais para o

desenvolvimento da plantação.

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Todos os inseticidas agem no sistema nervoso dos insetos ou ácaros. Uns causam

excitação, convulsão, paralisia até a morte. Outros podem inibir o apetite desses

seres, fazendo com que eles morram por desnutrição ou desidratação.

Por que se usa tanto agrotóxico?

Os agrônomos listam 5 motivos para isso:

1. o tamanho da área plantada;

2. modelo de produção em larga escala;

3. o clima favorável às pragas o ano todo (caso de países como o Brasil);

4. o aumento da resistência delas aos pesticidas;

5. a dificuldade de encontrar novas substâncias que tenham o mesmo efeito.

1) O tamanho da área plantada

Líder em soja e café, o Brasil é um dos principais exportadores de grãos do mundo e

tem uma das maiores áreas plantadas.

"O maior drama para culturas anuais de grãos é o controle do mato (ervas daninhas)",

explica o professor da Esalq-USP Carlos Armênio Khatounian. O controle manual, feito

normalmente com enxadas, se torna difícil – para não dizer impossível – em grandes

áreas.

O Brasil foi o país que mais gastou com agrotóxicos em 2017 (US$ 8,8 bilhões),

segundo a consultoria inglesa Phillips McDougall. Mas, considerando a área plantada,

de 63,9 milhões de hectares, o país ficou em 7º no ranking mundial de gastos com

pesticidas.

Nas primeiras posições ficaram Japão, França, Alemanha e Estados Unidos, por

exemplo. EUA e União Europeia têm mais área plantada que o Brasil.

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Brasil ocupou 7º lugar na lista de países que mais usaram agrotóxicos por área

plantada em 2019 — Foto: Betta Jaworski/G1

2) Modelo de produção em larga escala

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O modelo de produção em larga escala tornou os grandes produtores dependentes

dos agrotóxicos, dizem os agrônomos. Ele gerou a necessidade de se colher mais em

uma mesma área plantada.

Caio Carbonari, professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

(Unesp), entende que o agricultor acaba tendo que decidir entre aumentar a

produtividade numa mesma área ou buscar novas (desmatamento legal).

"Não é possível fazer produção comercial sem pesticidas. O produtor tem uma escolha:

abertura de área ou produtividade. Se você não apostar em tecnologia para aumentar a

produtividade, tem que ampliar área", afirma Carbonari.

"O uso de defensivos químicos ou orgânicos oferece vantagem para evitar a abertura

de áreas”, concorda Roberto Rodrigues, engenheiro agrônomo e ex-ministro da

Agricultura.

Apesar disso, não é possível dizer que o uso de agrotóxicos impeça o desmatamento

ilegal, segundo os especialistas. Este é um problema muito complexo para ser

associado apenas à produtividade, afirma Carlos Armênio Khatounian, da Esalq-USP.

Ele explica que cada região do país enfrenta um problema específico, muito mais

ligado à especulação do valor das áreas.

Outra crítica ao modelo de produção em larga escala é que, para aumentar a

produtividade em um mesmo local, as plantas passaram a ser reféns dos agrotóxicos.

No melhoramento genético de sementes, o foco é a produtividade, e não a defesa,

explica o pesquisador Adilson Paschoal.

"Apesar de mais produtivo, o modelo industrial do agronegócio é energeticamente

ineficiente", diz o especialista.

Segundo ele, esse modelo acabou beneficiando as fabricantes dos pesticidas, já que

uma planta desenvolvida para ser mais produtiva não conseguiria sobreviver em

condições normais.

Vale lembrar que os principais agrotóxicos são feitos por empresas que também

desenvolvem sementes para as grandes culturas.

Segundo a segundo a consultoria inglesa Phillips McDougall, o Brasil foi o 13º país

que mais gastou com agrotóxicos em 2017, levando em conta a produção.

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Brasil ocupou 13ª posição no ranking de países que mais usaram agrotóxicos por área

plantada em 2017 — Foto: Roberta Jaworski/G1

3) Clima favorável às pragas o ano todo

Segundo agrônomos, ao contrário de outros países, especialmente os do hemisfério

norte, o clima tropical do Brasil é muito mais propenso ao ataque de pragas. Em

países da Europa e certas regiões dos EUA, a neve mata boa parte dos problemas de

uma lavoura comercial.

Por outro lado, o clima quente permite produzir três safras no ano (uma no verão,

uma no inverno e uma entre esses dois períodos). A maior parte dela é de soja, milho

e trigo, culturas que podem ter alguns problemas em comum.

Essa frequência de safras deixa a chamada "ponte verde" que, como o nome sugere,

mantém condições para que as pragas permaneçam na área de lavoura.

“Nós fazemos uma agricultura intensiva, uma boa parte do país faz duas safras, até três.

Isso significa uma manutenção permanente (de pragas e doenças). Não existe solução

para evitar essa continuidade que não seja o defensivo”, diz Roberto Rodrigues.

4) Aumento da resistência

O uso de agrotóxicos fez surgir novas pragas e também tornou algumas mais

resistentes aos pesticidas.

"Quando você começa a aplicar venenos, você desencadeia outros problemas. Na

soja, a principal praga era a lagarta-da-soja. Com o controle químico, surgiram outras,

como a falsa-medideira", destaca Carlos Armênio Khatounian, da Esalq-USP.

“Insetos, ácaros e nematoides têm a seu favor no mínimo 480 milhões de anos de

existência antes do ser humano (plantas daninhas, fungos, bactérias têm muito mais

tempo ainda), daí seu enorme potencial de se adaptarem e evoluírem, resistindo ao

uso de produtos desenvolvidos para exterminá-los”, lembra o pesquisador Adilson

Paschoal.

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Para aumentar a efetividade dos agrotóxicos, têm sido feitas misturas com mais de um

princípio ativo (base do agrotóxico), o que faz aumentar o uso de veneno.

"O erro está exatamente aí: o agrotóxico combate o efeito (a praga, o patógeno) e não a

causa, isto é, os fatores que desencadeiam os ataques", resume Paschoal.

"Por isso o modelo químico de agricultura falha pelo seu princípio, e o uso de venenos

tem de ser contínuo, no benefício apenas das companhias agroquímicas", completa.

5) Sem equivalentes biológicos

Para alguns insetos já existe a opção de controle biológico. A produção de cana-de-

açúcar e a de laranja são exemplos: atualmente, agricultores contam com produtos

que matam pragas importantes, como a broca, psilídeo e a cigarrinha.

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Vespinha é usada por citricultores para combater inseto que transmite doença. —

Foto: Reprodução EPTV

Mas, por outro lado, ainda não encontraram um substituto para o glifosato, por

exemplo. O agrotóxico mais usado no mundo, é aplicado nas principais lavouras,

como as de soja e milho.

Seu diferencial, segundo agrônomos, é ter mais eficiência no controle de uma

quantidade maior de plantas daninhas do que outros produtos.

“O glifosato é base do plantio direto (técnica de cultivo que utiliza a palhada para

proteger o solo da erosão). Não existe produto com característica similares”, explica

Caio Carbonari, da Unesp.

Em encontro com jornalistas no início de agosto, a Associação Brasileira das

Empresas de Controle Biológico (ABCBio) afirmou que os defensivos biológicos

disponíveis no mercado são, em sua maioria, inseticidas, enquanto fungicidas e

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herbicidas estão em pesquisa ainda, não existindo produtos comprovadamente

eficientes à disposição do agricultor.

Produtor só usa 'porque precisa'

Os especialistas concordam que os agricultores não têm nenhum prazer em utilizar

agrotóxicos.

"Se pudessem, eles (produtores) não usariam veneno. Não é porque gostam. É uma

imagem falsa. Não tem nenhum orgasmo", diz Khatounian, da Esalq-USP.

Os agricultores afirmam que o registro de novos agrotóxicos, sejam eles genéricos ou

inéditos, não estimulam o uso. O motivo é que os pesticidas são caros. O gasto médio

com defensivos na soja em Mato Grosso, maior produtor do país, por exemplo,

equivale a 21% dos custos da lavoura. São R$ 830 por hectare.

Além disso, existe toda uma burocracia que precisa ser seguida para comprar e aplicar

os pesticidas, como receituário e devolução das embalagens.

"A produção de commodities tem uma margem de lucro pequena. Se o agricultor

puder gastar menos, ele vai buscar. Se ele entender que pode perder, vai fazer de

tudo para não perder", reforça Khatounian.

"Ele (o agricultor) toma a decisão em cima de problemas econômicos. O ideal era não

usar nada. O custo das moléculas e da aplicação são muito altos, sem falar no custo

ambiental", completa Jacinto Batista, professor da Universidade Federal da Paraíba

(UFPB).

Afinal, existe saída?

Veja 5 soluções apontadas pelos agrônomos:

1. mudar modelo de produção

2. maior volume de orgânicos

3. ampliar defensivos biológicos

4. adoção de agrotóxicos mais modernos

5. uso mais racional

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1) Mudar o modelo de produção

“Tem-se que mudar o modelo agrícola atual, que não foi desenvolvido por profissionais

da área agronômica e para os agricultores, mas pelas multinacionais dos agrotóxicos e

para seus interesses particulares”, diz Adilson Paschoal.

O biólogo americano Nathan Doley, que publicou um estudo recente sobre o uso de

pesticidas nos EUA, acredita que o caminho é tentar equilibrar natureza e manejo. Ele

fala em "trabalhar com a natureza, em vez de contra ela" e "interromper o método

tradicional de cultivar uma monocultura de culturas em grandes áreas de terra".

"É preciso alterar o modelo, passando-se a adotar manejo integrado de pragas,

patógenos e invasoras (em que o controle químico é o último recurso), controle

biológico, variedades resistentes e tolerantes, cuja produtividade pode ser aumentada

não apenas por melhoramento genético, mas também por manejo correto do solo,

rotação de culturas, culturas intercalares e enriquecedoras do solo", afirma Paschoal.

2) Maior volume de orgânicos

Se na lavouras das commodities agrícolas ainda não é possível abrir mão totalmente

desses produtos químicos, na produção de frutas e hortaliças já é, acredita Carlos

Armênio Khatounian, da Esalq-USP.

O gargalo dos orgânicos é não ter produção em larga escala. O desafio é "achar o

meio termo para ter um aumento razoável sem fragilizar a planta", afirma o agrônomo

da Esalq-USP.

Mesmo assim, segundo os especialistas, isso vai requerer uma mudança no padrão de

consumo, assumindo que não é possível ter uma fruta ou hortaliça o ano todo.

"A produção orgânica consegue tranquilamente abastecer o mercado com variedade, mas

não com as mesmas plantas. Isso porque a produção orgânica trabalha com o ambiente

ideal da cultura, então o consumidor tem que se acostumar que não vai ter morango o

ano todo, tomate o ano todo...", explica Khatounian.

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3) Mais defensivos biológicos

Para o ex-ministro Roberto Rodrigues, com o tempo haverá uma provável substituição

dos defensivos químicos pelos biológicos. "Serão anos de pesquisa até se ter uma

base, mas existe uma luz (no fim do túnel)”, afirma.

4) Agrotóxicos mais modernos

O ritmo de liberação de novos agrotóxicos neste ano é o mais alto da série histórica no

Brasil. Caio Carbonari entende que os pesticidas mais novos tendem a ser menos

tóxicos e seu uso passa a ser é menor.

Para o uso de cada 100 ml de um produto antigo, são necessários apenas 9 ml do

produto novo, diz o professor da Unesp.

"Todos os (novos agrotóxicos) que estão na fila (de registro do Ministério da

Agricultura) têm 9% da dose média dos produtos que estão no mercado que foram

desenvolvidos na década de 1970", afirma.

Jacinto Batista diz também que, para ele, o registro de agrotóxicos, sendo genéricos

ou novos, não é um problema em si. O professor da UFPB afirma o governo definindo

quanto pode ser usado garante mais segurança para consumidores e aplicadores.

"Se produto for usado fora das recomendações ou falsificado, o dano é maior. Um dos

grandes problemas da autorização não é ela, mas, sim, a falta de reavaliação", explica.

5) Uso mais racional

Para os especialistas, a pesquisa e a capacitação dos aplicadores de agrotóxicos

podem garantir um uso mais racional do produto.

A Embrapa e outras empresas de pesquisa agropecuárias estimulam os produtores a

adotarem o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que é uma série de táticas que o

agricultor utiliza para evitar o uso desnecessário de agrotóxicos.

Nele, os produtores usam técnicas de contagem da população de insetos para saber

se eles estão causando prejuízo econômico à produção. Se estão, aí o controle