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i POR QUE OS CLIENTES MUDAM? UM ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO DE MUDANÇA DE OPERADORA DE TELEFONIA CELULAR NO RIO DE JANEIRO. GUSTAVO SUED FERREIRA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS – CCJE INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO – COPPEAD MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO ORIENTADORA: LETICIA CASOTTI RIO DE JANEIRO 2004

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POR QUE OS CLIENTES MUDAM?

UM ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO DE MUDANÇA DE OPERADORA

DE TELEFONIA CELULAR NO RIO DE JANEIRO.

GUSTAVO SUED FERREIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS – CCJE

INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO –

COPPEAD

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

ORIENTADORA: LETICIA CASOTTI

RIO DE JANEIRO

2004

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POR QUE OS CLIENTES MUDAM?

UM ESTUDO SOBRE O COMPORTAMENTO DE MUDANÇA DE OPERADORA

DE TELEFONIA CELULAR NO RIO DE JANEIRO.

GUSTAVO SUED FERREIRA

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação e

Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

_______________________________________

Profa. Letícia Moreira Casotti

COPPEAD/UFRJ – Presidente da Banca

_______________________________________

Prof. Frederico Carvalho

COPPEAD/UFRJ

_______________________________________

Profa. Marie Agnes Chauvel

IBMEC

RIO DE JANEIRO

2004

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Ferreira, Gustavo Sued Por que os clientes mudam? Um estudo sobre o comportamento de mudança de operadora de telefonia celular no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2004. viii, 162p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD, 2003. 1. Comportamento de Mudança – Tese. 2. Telefonia Celular – Tese. I. Título II Tese (Mestr. – UFRJ/ COPPEAD).

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Agradecimentos

Esse trabalho contou com o apoio de muitas pessoas. A todas elas, gostaria de

expressar os meus sinceros agradecimentos. Em especial:

À Professora Letícia Casotti, minha orientadora, pelas sugestões, correções e

principalmente por me ajudar a manter o foco do trabalho.

Ao Professor Frederico Carvalho, pelas orientações sobre como abordar o tema

tratado neste estudo e por ter aceitado fazer parte da banca dessa dissertação.

À Professora Marie Agnes Chauvel, cuja tese de doutorado me despertou o

interesse pelo comportamento dos consumidores de serviços, por ter aceitado o

convite para integrar a banca dessa dissertação.

A todos os professores, funcionários e colegas da turma 2002 do COPPEAD por

todo o apoio durante o mestrado. Lembrarei sempre de vocês com muito carinho.

A todas as pessoas que aceitaram participar das entrevistas para esse estudo.

Aos meus pais e a minha irmã pelo amor e apoio incondicionais.

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Resumo

FERREIRA, Gustavo Sued. Por que os clientes mudam? Um estudo sobre o

comportamento de mudança de operadora de telefonia celular no Rio de

Janeiro. Orientadora: Letícia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2004.

Dissertação (Mestrado em Administração).

Entender porque os consumidores decidem mudar de operadora de telefonia

celular é de grande importância em um cenário onde a recente liberalização da

competição fez com que a oferta de operadores de telefonia celular se ampliasse

no país. Este estudo tem como objetivo entender quais motivos levam os

consumidores a mudar de operadora, bem como, mapear os mediadores

presentes neste processo. Os resultados indicam que a maioria dos consumidores

entrevistados mudou declarando-se satisfeita com o pacote de serviços da

operadora antiga. Esses consumidores mudaram pois perceberam a oportunidade

de fazer um “bom negócio”, ou ainda, para trocar o seu aparelho celular por um

novo modelo. Em termos da percepção das operadoras atuantes na cidade do Rio

de Janeiro, as dimensões qualidade do serviço e público-alvo parecem ter sido

utilizadas pelos entrevistados para diferenciar as alternativas. Por fim, resolver o

quê fazer com o aparelho celular antigo surgiu, neste estudo, como custo de

mudança mais importante do que a necessidade de mudar o número do telefone.

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Abstract

FERREIRA, Gustavo Sued. Por que os clientes mudam? Um estudo sobre o

comportamento de mudança de operadora de telefonia celular no Rio de

Janeiro. Orientadora: Letícia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2004.

Dissertação (Mestrado em Administração).

Understanding why customers switch mobile phone providers has gained

importance since the privatization and openness to competition of the mobile

telecommunication’s market in the country. The purpose of this study is twofold.

First, to investigate what motivates customers’ decision to engage in the switching

process. Second, to identify the mediators present in the process. The results

sugest that most interviewed customers who switched did so although satisfied

with the service package offered by their previous provider. Nonetheless, the

switching was due to a perceived opportunity to buy a “better deal” from another

provider, or due to the desire to change cell phone. As for the customers’

perception of the providers present in the city of Rio de Janeiro, two dimensions

were found to be relevant in differentiating them: service quality and target

customers. Finally, a more relevant switching cost than the number portability was

solving what to do with the old cell phone.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS.......................................................................... 10

1.1 O Crescimento do Setor de Serviços .............................................................. 11

1.2 Organização do Estudo................................................................................... 18

2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 20

2.1 O Ambiente de Serviços.................................................................................. 20

2.1.1 Características dos Serviços ........................................................................ 23

2.2 Breve Histórico das Telecomunicações no Brasil............................................ 31

2.2.1 O Período de 1960 até 1994: Antecedentes da Privatização ....................... 32

2.2.2 A Privatização do Sistema Telebrás............................................................. 36

2.2.2.1 A Lei Mínima e a Privatização da Banda B ............................................... 36

2.2.2.2 A Lei Geral de Telecomunicações............................................................. 39

2.2.2.3 O SMP e a Licitação das Bandas C, D e E ............................................... 42

2.3 Caracterizando a Mudança ............................................................................. 49

2.3.1 A Mudança como Resposta à Insatisfação .................................................. 50

2.3.1.1 Determinantes de Satisfação em Telefonia Celular .................................. 61

2.3.1.2 A Pesquisa de Satisfação da Anatel.......................................................... 64

2.3.2 A Mudança do Consumidor Satisfeito .......................................................... 69

2.3.3 Os Mediadores da Mudança ........................................................................ 71

2.3.3.1 Existência de Alternativas ......................................................................... 72

2.3.3.2 Custos de Mudança (Switching Costs)...................................................... 74

3. METODOLOGIA DE PESQUISA ...................................................................... 80

3.1 A Técnica de Análise do Caminho da Mudança SPAT ................................... 80

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3.2 Coleta de Dados.............................................................................................. 86

3.3 Seleção dos Informantes................................................................................. 87

4. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS......................................................................... 89

4.1 Perfil de Uso dos Informantes ......................................................................... 89

4.2 Análise Qualitativa das Entrevistas ................................................................. 91

4.2.1 A Mudança do Consumidor Insatisfeito........................................................ 93

4.2.1.1 Gatilho de Reação..................................................................................... 94

4.2.1.2 Gatilho de Situação ................................................................................... 96

4.2.2 A Mudança do Consumidor Satisfeito ........................................................ 100

4.2.2.1 Gatilho de Influência................................................................................ 101

4.2.2.2 Gatilho de Situação ................................................................................. 112

4.2.3 A Percepção das Alternativas .................................................................... 114

4.2.3.1 VIVO: A Operadora dos Conservadores ................................................. 115

4.2.3.2 ATL: A Operadora dos Pré-Pagos........................................................... 118

4.2.3.3 TIM: A Operadora da Tecnologia Jovem................................................. 120

4.2.3.4 OI: A Operadora de quem? ..................................................................... 123

4.2.4 Os Custos de Mudança.............................................................................. 126

4.2.4.1 A Portabilidade do Número ..................................................................... 127

4.2.4.2 O Investimento no Aparelho Antigo......................................................... 130

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 135

5.1 Sugestões para Estudos Futuros .................................................................. 143

6. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 145

ANEXO I – Perfil dos Consumidores Entrevistados ............................................ 160

ANEXO II – Roteiro de Entrevista ....................................................................... 161

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TABELAS E GRÁFICOS

Tabela 1 – Evolução da Participação dos Serviços no PIB Brasileiro ...................12

Tabela 2 – Participação da população ocupada em serviços nas regiões

metropolitanas (nº de pessoas) .............................................................................14

Tabela 3 – Síntese da situação das telecomunicações no Brasil ao final de

2003 .......................................................................................................................45

Tabela 4 – Ranking dos países com maior nº de telefones ...................................46

Tabela 5 – Operadoras da cidade do Rio de Janeiro e seus Grupos ....................48

Tabela 6 – Importância e Satisfação dos Determinantes do Pós-pago .................68

Tabela 7 – Importância e Satisfação dos Determinantes do Pré-pago .................68

Gráfico 1 – Etapas do Processo de Mudança .......................................................79

Gráfico 2 – Técnica de Análise do Caminho da Mudança (SPAT) ........................83

Gráfico 3 – Resumo dos Processos de Mudança descritos pelos entrevistados ..93

Gráfico 4 – Percepção das Operadoras atuantes no Rio de Janeiro...................116

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1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

Entender os motivos, as dificuldades e as etapas do processo de decisão do

consumidor que decide mudar de uma prestadora de serviços para outra é de

grande importância para as empresas, especialmente à medida que os benefícios

dos relacionamentos ganham maior atenção, tanto da academia quanto do meio

empresarial (STEWART, 1998).

Na literatura o processo de mudança recebe inúmeras denominações. Por

exemplo, Hirschman (1970) usa o termo saída (exit) para denominar o fato de que

“alguns clientes param de comprar o produto da firma” (p.16). Lovelock e Wright

(2001) chamam de deserção (defection) o processo pelo qual o cliente decide

“transferir lealdade à marca de um fornecedor de serviço atual para um

concorrente” (p.150). Já Bansal e Taylor (1999) definem mudança (switching)1 o

ato de “substituição ou troca do prestador de serviços atual para outro prestador

de serviços” (p.200).

Como defende Stewart (1998), o fato de existirem diversos termos para tratar do

mesmo assunto é uma evidência de que este campo de estudo ainda está em

uma fase inicial de desenvolvimento.

1 Para evitar problemas de tradução, segundo o dicionário Oxford (2000), o termo switching é definido como “change or

exchange (positions, methods or policy etc.)” (p.812).

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Neste trabalho o termo mudança será utilizado para tratar do processo pelo qual o

consumidor troca um prestador de serviços por outro. Essa definição reflete a

etimologia da palavra que é derivada do latim mutare e quer dizer “pôr em outro

local ou transferir para outro lugar” segundo o dicionário Aurélio.

1.1 O Crescimento do Setor de Serviços

O mundo ocidental já vivencia o que se pode chamar de uma economia de

serviços (GRÖNROOS, 1995). Essa economia se caracteriza pelo fato de que

mais da metade do seu produto interno bruto (PIB) é produzida no setor de

serviços. Segundo Fitzsimmons e Fitzsimmons (1997) é necessário reconhecer

que hoje em dia os serviços não são somente atividades periféricas, mas sim,

parte integral das sociedades e fundamentais para o funcionamento e saúde das

economias (p.5). De fato, como destacam Bateson e Hoffman (2001), o setor de

serviços é responsável por cerca de 58% do PIB mundial. Nos Estados Unidos e

no Canadá, os serviços respondem por 72% e 67% do PNB2, respectivamente

(LOVELOCK e WRIGHT, 2002).

No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

o setor de serviços alcançou cerca de 53,7% do PIB em 2002, o equivalente a

2 O Produto Interno Bruto (PIB) representa o valor de mercado dos bens e serviços produzidos pelo trabalho e pelas

plantas industriais situadas em um país. Já o Produto Nacional Bruto (PNB) é uma medida semelhante ao PIB, com a

diferença que só considera o valor dos bens e serviços produzidos pelo trabalho e por plantas industriais de propriedade

dos residentes de um país. Assim, o PNB é igual ao PIB mais a renda que os residentes do país recebem sobre a riqueza

que mantém em outros países, menos os pagamentos que os residentes fazem aos proprietários estrangeiros da riqueza

localizada no país (KRUGMAN e OBSTFELD, 1999; BLANCHARD, 1999).

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pouco mais de R$ 700 milhões. A tabela 1 apresenta a evolução da participação

dos serviços no PIB do Brasil no período 1994-2002.

Tabela 1 – Evolução da Participação dos Serviços no PIB Brasileiro (R$ milhões) Ano PIB PIB Serviços Participação Serviços1994 349.205 198.677,71 56,9%1995 646.192 347.207,91 53,7%1996 778.887 433.033,57 55,6%1997 870.743 483.254,16 55,5%1998 914.188 511.101,35 55,9%1999 973.846 529.746,58 54,4%2000 1.101.255 574.754,54 52,2%2001 1.200.060 629.861,35 52,5%2002 1.321.491 709.873,38 53,7%

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE3.

Fitzsimmons e Fitzsimmons (1997) defendem que a sociedade pós-industrial, ou

seja, a sociedade de serviços, se caracteriza pelo emprego da maior parte da

força de trabalho no setor de serviços. Segundo os autores, as sociedades

passam por três estágios de evolução. Na sociedade pré-industrial, a maioria da

população subsiste da agricultura, pesca e mineração. São sociedades agrárias

estruturadas em torno da tradição, rotina e autoridade. As ocupações de serviços

normalmente se restringem a serviços pessoais e domésticos. Na sociedade

industrial a atividade principal é a fabricação de bens. Divisão do trabalho e

aumento da produtividade são as leis que regulam as operações industriais. O

padrão de vida dos indivíduos nesta sociedade é medido pela quantidade de bens

físicos que possuem e consomem. Já na sociedade de pós-industrial, ou

sociedade de serviços, o padrão de vida não é mais medido pela quantidade de

3 Os dados utilizados para a elaboração destas estatísticas foram obtidos em <http://www.ipeadata.gov.br>. Acesso em

06/05/2003.

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bens consumidos mas sim pela qualidade de vida, refletida na disponibilidade e

consumo de serviços como saúde, educação e recreação.

Ainda de acordo com Fitzsimmons e Fitzsimmons (1997), a transformação da

sociedade industrial para a sociedade de serviços ocorre por diversas maneiras.

Primeiro, à medida que a indústria se desenvolve também se desenvolvem os

serviços de apoio como transporte e manutenção. Além disso, a introdução de

tecnologia no processo de produção libera mão-de-obra da fábrica para os

serviços de apoio. Em segundo lugar, o crescimento da população e do consumo

de massa gera maior demanda pelos serviços bancários, imobiliários e de seguro.

Em terceiro lugar, com o aumento da renda per capita, a proporção da renda gasta

no consumo de não duráveis diminui, aumentando a renda disponível para o

consumo de bens duráveis e de serviços.

Nos Estados Unidos, por exemplo, os serviços empregavam 30% da força de

trabalho em 1900. Essa parcela subiu para 74% em 1984, e atingiu 80% em 1992.

No mesmo período, a parcela da população empregada na agricultura despencou

de 42% para cerca de 3%. Em termos absolutos isso implica que em 1992, havia

19,9 milhões de pessoas empregadas na produção de bens, enquanto

empregadas em serviços havia 81,1 milhões (BATESON e HOFFMAN, 2001).

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De acordo com a Pesquisa Anual de Serviços4 (PAS) realizada no ano de 2000

pelo IBGE, o setor de serviços apresentou um crescimento de 9,7% no pessoal

ocupado de 1999 para 2000, ou 532.529 novos postos de trabalho formal. Além

disso, no mesmo período, a receita operacional líquida aumentou 17,7% em

termos nominais e o valor adicionado pelo setor, medido pelo valor bruto da

produção menos o valor do consumo intermediário, cresceu cerca de 17,2%,

também em termos nominais. A tabela 2 traz a evolução da proporção da

população ocupada em serviços sobre a população ocupada total nas regiões

metropolitanas no período de 1994-2002. Os dados foram obtidos da Pesquisa

Mensal do Emprego, realizada pelo IBGE.

Tabela 2 – Participação da população ocupada em serviços nas regiões metropolitanas (nº de pessoas)

Ano POP Ocupada POP Ocupada Serviços Participação Serviços1994 186.443.044 93.858.613 50,3%1995 191.842.949 97.662.467 50,9%1996 196.025.164 101.945.125 52,0%1997 196.596.138 103.589.131 52,7%1998 196.093.544 105.602.893 53,9%1999 196.622.731 107.113.294 54,5%2000 204.995.174 111.640.313 54,5%2001 208.164.583 113.369.797 54,5%2002 211.767.410 117.494.073 55,5%

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE5.

Grönroos (1995) chama atenção para o fato de que além do “setor oficial de

serviços”, i.e, aquele que é retratado pelas estatísticas oficiais, há também o “setor

4 Disponível em <http://www.ibge.com.br>. Acesso em 06/05/2003.

5 As estatísticas são obtidas a partir uma amostra probabilística de, aproximadamente, 38.500 domicílios situados nas

Regiões Metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Disponível em

<http://www.ipeadata.gov.br>. Acesso em 12/05/2003.

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oculto de serviços”. Nele estão os serviços técnicos, de reparo e manutenção,

treinamento, consultoria, administração de materiais, entre outros, que são

oferecidos pelas empresas como forma de diferenciar a sua oferta da dos demais

concorrentes (p.4). Lovelock e Wright (2002) destacam que as estatísticas oficiais

subestimam o valor real do setor dos serviços pois não consideram elementos de

serviço interno que as empresas utilizam como facilitadores da criacão de valor

como, por exemplo, serviços de recrutamento e seleção, jurídicos, contábeis e de

frete.

Baseado no fato de que atualmente o setor de serviços é o que movimenta maior

volume de riqueza nas economias ocidentais, Gummesson (1994) defende uma

mudança de paradigma na administração. Do paradigma manufatureiro – aquele

com foco no bem e orientação para tecnologia, P&D, design, produção em massa

e economias de escala – para um paradigma de serviços. As características deste

novo paradigma são o interesse no cliente e na importância da interação desse

cliente com o prestador de serviços e seus funcionários no processo de criação de

valor.

Como uma das causas da atual revolução dos serviços, Lovelock e Wright (2002)

destacam a privatização dos serviços públicos. Segundo eles, “a transformação de

serviços como linhas aéreas domésticas, telecomunicações e serviços públicos de

abastecimento de gás natural em empreendimentos privados resultaram em

reestruturação, redução de custos e uma postura mais voltada para o

mercado”(p.11).

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No caso brasileiro, os movimentos de abertura da economia, privatização e

estabilização macroeconômica a partir da década de 90 tiveram papel

fundamental no desenvolvimento do setor de serviços. Giambiagi e Além (1999),

ao discutirem se a privatização sozinha teria sido capaz de aumentar a eficiência

técnica e econômica das empresas afirmam que “nos casos em que a privatização

parece ter levado ao aumento da eficiência das empresas, houve dificuldade em

distinguir entre as mudanças decorrentes da desestatização, daquelas resultantes

dos processos paralelos de liberalização das importações e desregulamentação

do mercado interno, e da melhoria do panorama macroeconômico” (p.326).

Mesmo assim o impacto da privatização no setor de telecomunicações brasileiro

foi bastante significativo, em especial no caso da telefonia celular. De acordo com

Vainsencher (2003) seis anos após a privatização o número de aparelhos

celulares em funcionamento saltou de de 7,37 milhões em 1998 para 38 milhões

em 2003, um crescimento de 400%. Segundo dados da Agência Nacional de

Telecomunicações (ANATEL) 6 , em junho de 2004, o número de aparelhos

celulares em funcionamento supera o de telefones fixos em 12 milhões de

terminais, com 54 milhões terminais celulares contra 42 milhões fixos. Com isso, o

país atingiu a marca de 30 terminais celulares para cada 100 habitantes. Deste

total o estado do Rio de Janeiro possui o segundo maior volume de aparelhos em

operação com 7 milhões, ficando atrás apenas do estado de São Paulo que

concentra 14,5 milhões dos aparelhos celulares em funcionameno no país.

6 Disponível em <http://www.anatel.gov.br>. Acesso em 11/09/2004.

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Machado (2003) apresenta um levantamento sobre o desempenho das ações das

empresas de telecomunicações entre setembro de 1998 e agosto de 2003. Na

média essas ações tiveram valorização de 68,8% contra 6,8% do Ibovespa. O que

chama atenção é que a alta foi liderada pelas empresas de telefonia celular. Os

papéis da Tele Centro-Oeste Celular subiram 778% no período enquanto os da

Embratel tiveram queda de 80,8%.

Marques (2003) chama a atenção para o desafio imposto às operadoras de

telefonia celular pelo aumento da competição pós-privatização. Segundo o autor,

“o aumento da concorrência na telefonia celular trouxe uma despesa adicional

para as empresas: cresceu o custo de aquisição de clientes, indicador que embute

os gastos feitos pela operadora para conquistar o assinante”. Uma das

explicações para esse aumento é que atrair os clientes mais lucrativos significa

atrair consumidores que já são clientes de outras operadoras e que precisam ser

estimulados a mudar. Segundo o presidente de uma das quatro grandes

operadoras presentes hoje no país, todos os novos clientes de pós-pago da sua

empresa, são clientes que mudaram de operadora (MAGALHÃES, 2003).

Mais recentemente, Moreira (2004) ressalta que no ano de 2004 o quadro geral

entre as operadoras de telefonia móvel no primeiro semestre foi de aumento de

receita com queda de lucros. Ainda segundo a autora, “a conseqüência do forte

ritmo das vendas e da competição pesada foi a redução das margens de quase

todas as empresas. Para conquistar novos clientes e avançar entre as classes de

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poder aquisitivo menor, as teles tiveram de gastar mais em subsídios, promoções

e publicidade”.

Desta forma, entender por que os clientes decidem mudar de operadora de

telefonia celular e como ocorre o processo, é vital para as empresas manterem os

clientes mais lucrativos e conquistarem os que decidem mudar de operadora.

Investigar o processo de mudança do ponto de vista do consumidor é o objetivo

deste estudo.

1.2 Organização do Estudo

Para investigar o comportamento de mudança de operadora dos clientes de

telefonia celular, o trabalho foi organizado da seguinte maneira. No capítulo 2 são

apresentadas as características e especificidades dos serviços e suas implicações

para a função de marketing. Logo em seguida é traçado um breve histórico das

telecomunicações no país, da privatização até o momento de realização deste

estudo. Por fim, apresenta-se a literatura específica sobre comportamento de

mudança e os quesitos de satisfação em telefonia celular presentes na literatura.

A metodologia utilizada, a coleta de dados e o perfil dos informantes pesquisados

são tratados no capítulo 3.

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No capítulo 4 é feita a análise dos motivos de mudança, da percepção das

operadoras alternativas e dos custos de mudança, como relatados pelos

entrevistados.

As considerações finais e resumo dos resultados encontrados são apresentados

no capítulo 5. A seguir são feitas sugestões para estudos futuros sobre o tema.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Neste capítulo será apresentada uma revisão da literatura sobre os principais

conceitos de marketing de serviços, bem como do processo de privatização das

telecomunicações no Brasil e da literatura específica sobre o processo de

mudança.

2.1 O Ambiente de Serviços

A questão sobre uma definição adequada do que é um serviço data da década de

1960. Os três primeiros artigos sobre marketing de serviços publicados no Journal

of Marketing e o primeiro artigo sobre o tema publicado no European Journal of

Marketing, tratavam sobre o crescente desenvolvimento do setor de serviços e da

conseqüente necessidade de uma definição mais precisa do que é um serviço,

suas características e implicações para o marketing (FISK et al., 1993). Como o

primeiro artigo do gênero, Regan (1963) apresenta uma definição de serviço

baseada na proposta de 1960 da American Marketing Association. Segundo o

autor, serviços são “atividades, benefícios ou satisfações que são oferecidas para

venda, ou são providas em conjunto com a venda de algum bem físico”. Além

disso, afirma que os serviços podem gerar satisfação diretamente, como no caso

de seguros, transporte e habitação, bem como de maneira indireta, quando

apoiam o consumo de determinado bem físico, como é o caso dos serviços de

crédito e entrega (REGAN, 1963, p.57).

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Já Judd (1964) argumenta que a maioria das tentativas de se definir serviços era

imprecisa pois se baseava em uma lista de exemplos. Segundo o autor, usar listas

de atividades como parte da definição de serviços gera tanta imprecisão quanto

definir serviços como “tudo que não é sólido ou líquido”. Assim, propõe o que

chama de uma definição por exclusão, sendo então uma transação de serviços

“uma transação feita por uma empresa ou empreendedor onde o objeto

transacionado é outro que não a transferência de propriedade (e título, se existir)

de uma commodity tangível7”(JUDD, 1964, p.59). Essa definição permite, na visão

do autor, identificar três categorias bem distintas de serviços, que são: (i) serviços

de bens alugados, i.e., o direito de possuir e usar um produto; (ii) serviço de bens

próprios, i.e., a customização, reparo ou melhoria de um produto; e (iii) serviços

puros, ou seja, experiências não baseadas em produtos.

O terceiro artigo publicado no Journal of Marketing sobre serviços foi o de John

Rathamell, entitulado “What is meant by services?”. Segundo o autor, os

profissionais de marketing são capazes de definir, com alguma clareza, o que é

um bem. São “produtos econômicos tangíveis capazes de serem vistos e tocados,

que podem ou não ser experimentados, ouvidos ou cheirados”. (RATHAMELL,

1966, p.32). Já os serviços são considerados como todo o restante. Apresenta,

então, três definições para os serviços. A primeira é a defendida por Judd (1964).

A segunda diz que os bens são como se fossem um substantivo, um objeto,

7 Para evitar problemas de tradução, segue a definição como no original. “A market transaction by an enterprise or

entrepreneur where the object of the market transaction is other than the transfer of ownership (and title, if any) of a tangible

commodity.” (JUDD, 1964, p.59) [grifo no original].

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enquanto os serviços verbos, ou seja, um ato, um esforço ou uma performance.

Uma terceira maneira de definir serviços seria identificar se a utilidade para o

consumidor advém de características físicas do produto ou da natureza da ação e

performance.

Blois (1974) define serviço como sendo “uma atividade oferecida para venda que

gera benefícios e satisfação sem levar a uma mudança física na forma de um

bem8”. Porém o próprio autor reconhece que esta definição tem limitações, já que

atividades como um salão de cabeleleiro e restaurantes, que geram mudanças

físicas no cabelo e nos alimentos, respectivamente, não seriam classificados como

serviços.

Grönroos (1995) por sua vez, após apresentar uma coletânea de definições

presentes na literatura de marketing, define que “o serviço é uma atividade ou uma

série de atividades de natureza mais ou menos intangível – que normalmente,

mas não necessariamente, acontece durante as interações entre clientes e

empregados de serviço e/ou recursos físicos e/ou sistemas do fornecedor de

serviços – que é fornecida como uma solução ao(s) problema(s) do cliente(s)”.

Mais recentemente, Lovelock e Wright (2001) apresentam duas definições que,

segundo eles, conseguem captar a essência dos serviços. A primeira diz que

“serviço é um ato ou desempenho oferecido por uma parte à outra. Embora o

8 Para evitar problemas de tradução: “A service is an activity offered for sale wich yields benefits and satisfactions without

leading to a physical change in the form of a good.” (BLOIS, 1974, p.137).

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processo possa estar ligado a um produto físico, o desempenho é essencialmente

intangível e normalmente não resulta em propriedade dos fatores de produção”. A

segunda definição diz que “serviços são atividades econômicas que criam valor e

fornecem benefícios para clientes em tempos e lugares específicos, como

decorrência da realização de uma mudança desejada no – ou em nome do –

destinatário do serviço”(p.5). Em relação a segunda definição completam definindo

benefício como a vantagem ou ganho que os clientes obtêm a partir do

desempenho de um produto ou serviço.

Bateson e Hoffman (2001) lembram que uma definição exata de serviço não é

necessária para entender os serviços e os problemas de marketing associados a

eles. Sendo assim, mais importante do que definir precisamente o que é um

serviço, passa a ser entender as características que o diferenciam de um bem

físico e as implicações que estas diferenças geram para o marketing.

2.1.1 Características dos Serviços

De acordo com Fisk et. al. (1993) o marketing de serviços só veio a se firmar como

campo de conhecimento e área de pesquisa independente depois que conseguiu

defender que os serviços têm características que o distinguem suficientemente

dos bens físicos. Ainda de acordo com os autores, o debate acerca das diferenças

ente bens e serviços só perdeu importância a partir de 1986, quando a academia

assumiu as diferenças existentes e passou, então, a se concentrar em temas mais

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específicos como qualidade, encontro de serviços, design, retenção e marketing

interno.

Zeithaml et. al. (1985) chamam atenção para o fato de que existem quatro

características principais dos serviços discutidas pela literatura de marketing. São

elas: intangibilidade, heterogeneidade (ou variabilidade), inseparabilidade entre

produção e consumo, e perecibilidade.

A principal característica dos serviços é que eles são intangíveis. São intangíveis

porque são desempenhos e não objetos, além disso, não podem ser vistos ou

tocados da mesma maneira que os bens físicos (ZEITHAML et. al. 1985).

Segundo Fitzsimmons e Fitzsimmons (1997), serviços são idéias e conceitos,

enquanto Kotler e Armstrong (1999) destacam que a intangibilidade implica que os

serviços não podem ser vistos, provados, sentidos, ouvidos ou cheirados antes de

serem comprados. Lovelock e Wright (2002) por sua vez, definem intangível como

algo que é experimentado, mas não pode ser tocado ou preservado. Ainda de

acordo com os autores, “os benefícios de se possuir e utilizar um produto

fabricado decorrem de suas características físicas (embora a imagem de marca

possa transmitir benefícios). Nos serviços, os benefícios advêm da natureza da

realização”(p.17).

Em um dos artigos mais importantes para a legitimação do marketing de serviços

como disciplina independente (BERRY e PARASURAMAN 1993; FISK et. al.

1993), Lynn Shostack, então vice presidente do Citibank, defendia a

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intangibilidade como o fator vital na diferenciação entre bens físicos e os serviços.

Segundo a autora, não é possível pensar em serviços exatamente como produtos,

a não ser pelo fato de que os primeiros são intangíveis 9 . Serviços são

experimentados, não podem ser estocados ou tocados, e “a intangibilidade não é

um modificador, é um estado. Os intangíveis podem estar associados a algum tipo

de tangível, mas dinheiro nenhum pode comprar a propriedade de intangíveis

como a experiência (filmes de cinema), o tempo (consultores), ou processo

(lavanderia de roupas)” (SHOSTACK, 1977, p.73).

A heterogeneidade, ou variabilidade do resultado, implica que a qualidade do

serviço pode variar de prestador para prestador, de consumidor para consumidor e

de dia para dia (ZEITHAML et. al.1985). Kotler e Armstrong (1999) afirmam que a

qualidade dos serviços depende de “quem os proporciona e de quando, onde e

como são proporcionados” (p.456). Bateson e Hoffman (2001) comentam a esse

respeito que “a prestação de um serviço acontece em tempo real (...) se algo vai

mal durante a prestação do serviço, é tarde demais para instituir medidas de

controle de qualidade antes que o serviço atinja o consumidor” (p.42). Ainda

segundo os autores é devido a esta característica que, por definição, é impossível

alcançar 100% de qualidade em um serviço.

Para Murdick et. al. (1990) também é muito difícil, senão impossível, padronizar o

resultado dos serviços já que os clientes entram no processo com expectativas

9 De acordo com a autora: “It`s wrong to imply that services are just like products ‘except’ for intangibility. By such logic,

aples are just like oranges, except for their ‘appleness’.” (SHOSTACK 1977, p.73).

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muito distintas sobre o seu resultado. Além disso, comentam que muitos serviços

são intensivos em mão-de-obra, o que faz com que a padronização do trabalho de

diversos prestadores de serviço seja dificultada. Grönroos (1995) cita que a

heterogeneidade é fruto do impacto das pessoas no processo de produção e

entrega dos serviços, sejam elas clientes ou empregados ou ambos. Para o autor,

a variabilidade no resultado dos serviços “cria um dos maiores problemas no

gerenciamento dos serviços, ou seja, como manter uma qualidade uniforme

percebida dos serviços produzidos e entregues aos clientes”. Para Lovelock e

Wright (2002) há um ponto positivo na variabilidade que é a possibilidade de se

personalizar alguns quesitos da oferta de serviço de acordo com as necessidades

e expectativas do cliente.

Em serviços, a produção e o consumo são inseparáveis. Bens físicos são

primeiro produzidos para então serem vendidos e consumidos. No caso dos

serviços, primeiro ocorre a venda para então haver a produção e o consumo

simultâneos (ZEITHAML et. al. 1985). O fato de serviços serem processos e não

bens tangíveis, com a produção e o consumo ocorrendo simultaneamente, implica

para Grönroos (1990) que “não há qualidade pré-produzida para ser controlada

com antecedência antes de o serviço ser vendido e consumido”(p.39). O impacto

desta característica sobre o controle de qualidade também é observado por

Fitzsimmons e Fitzsimmons (1997), para quem a simultaneidade da produção e

consumo elimina muitas oportunidades para o controle de qualidade já que, ao

contrário dos bens físicos, os serviços não podem ser inspecionados antes da

entrega.

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Bateson e Hoffman (2001) são enfáticos ao dizer que “tudo e todos que entram em

contato com o consumidor estão prestando serviço” (p.41). Na prática porém,

advertem que o comum é as empresas subestimarem o número de pontos de

contato entre elas e os consumidores. Em um serviço de reboque, por exemplo, a

telefonista pode ter papel tão ou mais importante para informar e acalmar um

cliente aflito do que o mecânico em si.

Por fim, por serem intangíveis, os serviços são perecíveis. De acordo com

Lovelock e Wright (2002), “uma vez que um serviço é uma ação ou realização, e

não um artigo tangível que o cliente guarda, ele é perecível e não pode ser

estocado” (p.20) [grifo no original]. Ainda segundo os autores, manter as

instalações, equipamentos e mão-de-obra necessários à prestação do serviço,

significa simplesmente manter capacidade produtiva, mas não o serviço

propriamente dito.

Zeithaml et. al. (1985) apontam que a perecibilidade implica que a capcidade não

utilizada, em um dado momento, de quartos de hotel, assentos de avião ou linhas

de telefone é simplesmente perdida. Em termos práticos, essa característica cria a

necessidade de conciliar capacidade produtiva e demanda. Kotler e Armstrong

(1999) abordam esta questão afirmando que “quando a demanda é constante, o

fato de os serviços serem perecíveis não causa maiores problemas, mas quando é

flutuante os problemas podem ser graves” (p.457).

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Bateson e Hoffman (2001) abordam um fato interessante decorrente da não

possibilidade de estocar serviços que é a impossibilidade de dissociar os

departamentos de produção e marketing. Em atividades que produzem bens

físicos, os estoques funcionam como a linha que divide as áreas de produção e

marketing ao permitirem que as áreas trabalhem com relativa independência uma

da outra. No caso das prestadoras de serviço “marketing e operações interagem

entre si constantemente (...) em função da impossibilidade de inventariar o

produto” (p.38).

Para Grönroos (1998), enquanto as características da intangibilidade e

heterogeneidade não são específicas dos serviços, a inseparabilidade entre

produção e consumo e a perecibilidade decorrem da característica mais

importante do serviço que é sua natureza de processo. Para o autor, uma parte

central do marketing de serviços se baseia no fato de que o consumo de serviços

não se restringe ao consumo do resultado final como no caso dos bens físicos,

mas inclui todo o processo de produção do serviço em questão. Empresas de

serviço não têm produtos como soluções pré-produzidas para os consumidores

mas sim, processos que são capazes de resolver determinados problemas. Assim,

a percepção que o cliente forma sobre a qualidade do serviço e de seu prestador,

leva em conta tanto a avaliação do processo (que resulta na avaliação da

qualidade funcional) quanto a do resultado final (que resulta na avaliação da

qualidade técnica).

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Embora estas quatro características sejam as mais citadas na literatura como

diferenciais dos serviços, Lovelock e Wright (2002) chamam atenção para o fato

de que elas têm sido criticadas por serem muito acadêmicas e por simplificarem

demais o mundo real. Assim, propõe algumas outras características que ajudam a

distinção entre bens físicos e serviços. A primeira é a de que os clientes não

obtêm propriedade sobre os serviços. Para eles, “talvez a distinção fundamental

entre bens e serviços resida no fato de que os clientes normalmente extraem valor

dos serviços sem obter propriedade permanente de qualquer elemento

tangível”(p.17). Grönroos (1990) apresenta o exemplo de empresas aéreas, onde

ao chegar no destino final o cliente não tem a posse de nada a não ser o canhoto

do cartão de embarque. Ainda assim, alerta para o fato de que há serviços onde o

cliente sai com a posse de bens físicos como no caso de serviços varejistas.

Outra característica destacada por Lovelock e Wright (2002), diz respeito ao

envolvimento do cliente no processo de produção. A participação do cliente

advém da natureza de processo que os serviços apresentam. Porém, vale a pena

destacar algumas implicações da participação dos clientes que a literatura estuda.

Segundo os autores, muitas vezes “os clientes são ativamente envolvidos em

ajudar a criar o produto do serviço – seja pelo auto-atendimento (...) ou pela

cooperação com o pessoal de serviços em contextos como barbearias, hotéis,

faculdades ou hospitais” (p.18). Por este motivo, defendem que a empresa tem

muito a ganhar educando os clientes para que eles participem do processo de

forma mais competente.

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Para Bateson e Hoffman (2001), a participação ativa ou passiva do cliente nas

operações de serviços traz quatro implicações. Primeiro, faz com que mudanças

na parte visível do processo sejam percebidas pelo cliente, podendo afetar seu

comportamento. É o que acontece quando um posto de gasolina com serviços

decide implantar o auto-serviço. Alguns clientes podem não receber bem a

mudança e decidir mudar de prestador, mesmo sendo o resultado final do serviço

igual em ambos os casos. Em segundo lugar, faz com que mudanças no pacote

de benefícios alterem o processo. É o caso do restaurante caseiro que decide se

sofisticar na intenção de agregar maior valor a sua oferta mas acaba afastando as

famílias que preferiam um lugar mais tranqüilo para suas refeições. A terceira

implicação é que todos os funcionários que entram em contato com o cliente

durante o processo estão prestando serviço. Assim, mapear os pontos de contato

com o cliente pode ajudar a empresa a apontar deficiências e aperfeiçoar sua

operação. A quarta implicação está diretamente ligada a anterior e diz que todas

as pessoas de contato são parte da experiência do cliente ao consumir o serviço e,

conseqüentemente, têm impacto no seu julgamento de qualidade.

Por fim, Lovelock e Wright (2002) destacam que os serviços são mais difíceis de

serem avaliados do que os bens físicos. Bens físicos possuem características que

o cliente pode examinar antes da decisão de compra. São atributos de procura

como cor, forma, resistência, cheiro e preço. Entretanto alguns tipos de bens e os

serviços tendem a enfatizar os “atributos de experiência, que só podem ser

percebidos depois da compra ou durante o processo de consumo – como gosto,

portabilidade, facilidade de controle, tranqüilidade e tratamento pessoal” (p.19)

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[grifo no original]. Além disso, existem os atributos de confiança que são as

características difíceis de serem avaliadas mesmo após o consumo do serviço,

como uma cirurgia ou conserto técnico, cujos resultados podem não ser visíveis

imediatamente.

2.2 Breve Histórico das Telecomunicações no Brasil

A primeira chamada feita de um telefone fixo aconteceu em 1876 quando Graham

Bell ligou para seu assistente Watson pedindo que viesse até a sua sala. Já a

primeira chamada feita de um telefone celular aconteceu no dia 3 de abril de 1973

na cidade de Nova Iorque. Neste dia, o então gerente geral da divisão de sistemas

da Motorola, Martin Cooper, ligou para Joel Engel que pesquisava a mesma

tecnologia, na concorrente Bell Labs (MACHADO, 2003). Na época, Cooper,

atualmente considerado o inventor do aparelho celular, fez a chamada a partir do

Motorola Dyna-Tac, um aparelho que pesava quase um quilo e media um pouco

menos de trinta centímetros, com uma bateria que suportava 35 minutos de

conversação e necessitava de 10 horas para recarregar14.

Na verdade, porém, o primeiro sistema telefônico móvel começou a operar em

1946 em Missouri nos Estados Unidos. Eram sistemas que se instalavam em

carros de luxo. O custo era alto, cerca de US$2.500,00, e a qualidade era

14 Disponível em <http://www.cellular.co.za/cellphone _inventor.htm>. Acesso em 27/06/2003.

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prejudicada pela baixa capacidade de realizar chamadas simultâneas que os

transmissores locais possuíam (de 25 a 35 chamadas ao mesmo tempo dentro da

área de abrangência de um mesmo transmissor) (DODD, 2000).

No Brasil, o serviço móvel celular foi implantado em 1990 e, até 1997, somente as

empresas do Sistema Telebrás e quatro outras independentes exploravam este

serviço (PASTE, 2000). De 1990 para os dias de hoje o serviço móvel celular

avançou enormemente. Segundo dados da Agência Nacional de

Telecomunicações (ANATEL)15, de 667 terminais móveis habilitados em 1990, em

junho de 2004, são mais de 54 milhões terminais funcionando em todo o território

nacional. De uma única tecnologia analógica (AMPS), atualmente são oferecidas

mais três tecnologias de acesso digital (TDMA, CDMA e GSM) e, de uma única

banda de freqüência há agora cinco disponíveis e quatro efetivamente em uso.

2.2.1 O Período de 1960 até 1994: Antecedentes da Privatização

No início dos anos 60 cabia a União e aos estados e municípios a exploração dos

serviços de telecomunicações, diretamente ou mediante outorga. A fixação de

tarifas ocorria também de forma descentralizada. Assim, o quadro da telefonia no

país era formado por uma grande empresa, a Companhia Telefônica Brasileira

(CTB)16, que detinha 62% das linhas telefônicas fixas instaladas no país, e outras

15 Fonte: <http://www.anatel.gov.br>. Acesso em 04/08/2004.

16 A CTB era uma subsidiária da Canadian Tractions Light and Power Company que concentrava, principalmente, as linhas

instaladas nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A empresa foi nacionalizada no final dos anos 60 (NOVAES, 1999, p.148)

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800 empresas que dividiam os restantes 38% do mercado (NOVAES, 1999). Sem

nenhum tipo de coordenação ou compromisso com diretrizes comuns de

desenvolvimento entre as empresas, o desempenho do setor era enormemente

prejudicado. Os serviços telefônicos interurbanos eram precários, interligando

apenas o Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Belo Horizonte e Brasília, e as

chamadas internacionais eram insipientes (MINICOM, 1997).

Em 1962 o governo editou o Código Brasileiro de Telecomunicações em um

esforço para criar uma maior unidade no setor. Na época da adoção do Código o

país tinha 1,3 milhão de telefones para uma população de 74 milhões, o que

corresponde a uma densidade de 1,7 telefones por cada 100 habitantes. Em

comparação, logo antes da privatização da Telebrás em 1998, o país contava com

14,8 telefones instalados por 100 habitantes (NOVAES, 1999).

Em linhas gerais, o Código estabelecia que dentro de cada Estado da federação,

os estados e municípios poderiam organizar, regular e executar os serviços de

telefonia diretamente ou mediante concessão. Cabia, entretanto, privativamente a

União prestar os serviços de longa distância (NOVAES, 1999). Assim, em 1965,

foi criada a Embratel, empresa estatal responsável pela prestação dos serviços de

longa distância. Segundo Carneiro e Borges (2002), “a criação da Embratel, em

1965, foi uma tentativa de articular essas companhias [as mais de 800 empresas

públicas e privadas que operavam à época], organizar seus serviços e tornar

possível aos brasileiros o acesso aos serviços internacionais” (p.155). Ainda

segundo estes autores, mesmo com a atuação da Embratel, até o início dos anos

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70 o setor ainda apresentava inúmeras empresas operando em um ambiente

carente de regras claras.

Em 1967 foi criado o Ministério das Comunicações, através do Decreto-Lei nº200.

Ao Ministério foram vinculados o Contel e a Embratel. As medidas implementadas

pelo Código conseguiram melhorar significativamente os serviços de longa

distância mas o serviço local continuava precário (MINICOM, 1997).

Para tentar resolver a situação da telefonia local o governo criou a Telebrás em

1972. A Telebrás nasceu como uma empresa de capital majoritariamente estatal

sob o controle do Ministério das Comunicações. Segundo Novaes (1999) a criação

da Telebrás representou um importante passo no processo de nacionalização e

unificação do sistema de telecomunicações brasileiro, uma vez que ela podia

incorporar empresas prestadoras de serviços de telefonia cujas concessões

fossem expirando e tinha o direito legal de promover desapropriações de

empresas telefônicas privadas e transferir os ativos para suas subsidiárias. Foi

criada como uma empresa holding com a finalidade de controlar uma operadora

em cada estado da federação além da Embratel. Suas atribuições incluíam a

gerência da participação acionária da União nas operadoras e a captação de

recursos no exterior para a execução de projetos nas suas subsidiárias.

De fato, logo após a sua criação a Telebrás começou o processo de aquisição e

absorção de empresas de telefonia. Em 1974 foi designada “concessionária geral”

para exploração dos serviços públicos de telecomunicações em todo o território

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nacional (MINICOM, 1997). Assim, conforme afirma Novaes (1999), “dentro do

contexto em que foram criadas, a Embratel e a Telebrás exerceram um papel

importante na unificação e na criação de uma rede básica de telefonia para o país.

O processo de consolidação das quase mil empresas permitiu alcançar as

economias de escala inerentes ao serviço telefônico e permitiu a captação de

recursos em larga escala para investimentos no setor” (p.150).

A aprovação do Código Brasileiro de Telecomunicações de 1962, a criação da

Embratel em 1965 e da Telebrás em 1972 parecem ter tido impactos positivos

sobre o serviço de telecomunicações durante a década de 70. Segundo Giambiagi

e Além (1999), “nos anos 70, no panorama latino-americano, o serviço de telefonia

brasileiro era um dos melhores da região. Uma ligação internacional era

completada rapidamente, em contraste com a espera que uma ligação similar

implicava, por exemplo, na Argentina” (p.307).

O problema é que os pesados investimentos realizados na década de 70, motor

das políticas desenvolvimentistas, foram perdendo fôlego ao longo da recessiva

década de 80. Assim, o governo não mais tinha como manter investimentos

suficientes para a atualização tecnológica de diversos setores-chave como o de

energia e o de telecomunicações (GIAMBIAGI e ALÉM, 1999).

Às vésperas da privatização, o panorama das telecomunicações no Brasil,

segundo Carneiro e Borges (2002), era, no caso da telefonia fixa, marcado pelo

descrédito nos planos de expansão, pelos altos preços das linhas no mercado

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paralelo, chegando à casa dos US$5.000,00 e por demoras para completar

chamadas e escassez de telefones públicos em áreas rurais e de periferia. No

caso da telefonia celular, o grande problema era a demanda reprimida que

elevava o preço das linhas para cerca de US$4.500,00. Aliado ao preço da linha, o

alto custo dos aparelhos restringia o acesso ao serviço somente às famílias com

renda elevada, tipicamente das classes A e B.

2.2.2 A Privatização do Sistema Telebrás

Segundo Pires (1999), a primeira etapa no processo de reestruturação e

privatização do Sistema Telebrás foi a aprovação de uma Emenda Constitucional

que mudou o texto da Constituição de 1988 e colocou fim ao monopólio estatal na

operação de serviços de telecomunicações. Foi dado assim o primeiro passo para

a introdução do regime de concorrência no setor. Porém, Novaes (1999) chama

atenção para o fato de que o texto da Emenda deixava claro que uma lei seria

votada pelo Congresso para estabelecer o novo papel do Estado e, ao mesmo

tempo, o próprio Congresso determinou que o Executivo não poderia utilizar

nenhuma Medida Provisória para legislar sobre o setor. Com isso o Governo ficou

obrigado a aprovar um novo código de telecomunicações no Congresso.

2.2.2.1 A Lei Mínima e a Privatização da Banda B

Temendo uma demora no processo de aprovação para o novo Código, o então

ministro das comunicações Sérgio Motta enviou para o Congresso uma lei que

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permitiria a abertura da privatização do serviço de telefonia celular imediatamente

(NOVAES, 1999, p.152). Aprovada em julho de 1996, a Lei Mínima das

Telecomunicações, como ficou conhecida, estabeleceu as condições jurídicas

para a licitação das concessões do Serviço Móvel Celular (SMC), que iriam operar

na Banda B da telefonia celular. (PIRES, 1999, p.57). Como destacam Giambiagi

e Além (1999), a privatização da Banda B ficou conhecida “como ‘venda de vento’,

pelo fato de se estar leiloando não um ativo e sim o direito de concorrência com as

empresas públicas que já operavam com telefonia celular” (p.324).

A Lei Mínima trazia duas determinações principais. A primeira era a divisão do

país em 10 regiões para a prestação do serviço celular. Para garantir a existência

de um número razoável de novas operadoras, o edital de venda também separou

essas dez regiões em uma área menos e outra mais favorecida economicamente,

restringindo a participação de cada candidato a concessão à apenas uma destas

regiões. A segunda determinação foi separar as empresas de telefonia fixa das

celulares já existentes, em um prazo máximo de dois anos. Com isso, cada estado

do Brasil passou a contar com duas empresas de telefonia no momento da

privatização, uma fixa e uma celular (no Rio de Janeiro, por exemplo, passaram a

operar como empresas distintas a Telerj e a Telerj Celular) (NOVAES, 1999).

Assim, ainda no ano de 1996, foi feita a venda das concessões de operação de

telefônica celular na Banda B. Além da separação do país em uma área mais e

outra área menos favorecidas economicamente, o edital de venda estabelecia que

cada candidato tivesse investidores com comprovada experiência na

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administração de empresas de telefonia celular. Estabelecia também que a

participação de estrangeiros não passasse de 49% das ações ordinárias e que as

empresas estariam sujeitas a metas de atendimento em cada região.

Novaes (1999) afirma que o leilão da Banda B foi um grande sucesso. Só uma das

dez regiões, a que englobava a região amazônica, não teve interessados. Mesmo

assim, o ágio total do leilão foi de 237%, com valores pagos por habitante da

região chegando a US$156,00 no caso da região metropolitana de São Paulo.

Esses valores mostraram o grande potencial de crescimento que os novos

entrantes enxergavam na telefonia celular em algumas regiões, já que equivaliam

a valores negociados em bolsa para grandes empresas celulares já em operação

nos Estados Unidos (onde a US Cellular valia US$133 por habitante) e na

Inglaterra (onde a Orage tinha o valor de US$142 por habitante). Além do sucesso

financeiro desta primeira empreitada de privatização, a autora destaca que a

experiência deixou claro para o governo que quanto mais transparente o ambiente

regulatório, maior o interesse dos potenciais compradores.

Paralelamente ao processo de licitação da Banda B da telefonia celular, o governo

agia para tentar resolver duas questões vitais para o bom resultado da

privatização do Sistema Telebrás: a equalização da estrutura tarifária e a melhoria

operacional das empresas que compunham o sistema (NOVAES, 1999). Como

empresas operadas pelo poder público, a estrutura tarifária era utilizada como

instrumento de bem-estar social e, portanto, praticava-se subsídio cruzado com as

tarifas. As elevadas tarifas para chamadas de longa distância subsidiavam o

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serviço de chamadas locais em um claro uso dessas empresas como instrumento

de redistribuição de renda. Além disso, enquanto tarifas públicas o governo

também mantinha as tarifas de serviços de telecomunicações sob controle com o

objetivo de combate à inflação. Dados de Novaes (1999) mostram a defasagem

tarifária do Brasil em relação à prática internacional. No caso da assinatura

residencial, enquanto o nível internacional estava entre US$6,00 e US$8,00, no

Brasil estava em US$0,63. Já o pulso de 3 minutos custava cerca de US$0,10 no

mundo e US$0,029 no país. Como resultado dessa política, afirma a autora, “a

geração de caixa da Telebrás deixava a desejar e impedia o aumento dos

investimentos” (p.155).

Em novembro de 1995 foi feita a primeira rodada de reajustes, onde o governo

elevou a assinatura residencial em 500% e o valor da chamada local em 80%. Em

maio de 1997 foi completado o ajuste tarifário, com um novo aumento das tarifas

locais e uma redução da tarifa de longa distância. Com essa nova estrutura

tarifária foi realizado o leilão da privatização. Ainda de acordo com Novaes (1999),

“a privatização da Telebrás ocorreu com as tarifa extremamente competitivas em

nível internacional” (p.155).

2.2.2.2 A Lei Geral de Telecomunicações

Dois anos após a quebra do monopólio público das telecomunicações, foi

aprovada a Lei Geral das Telecomunicações (LGT). Como destacam Carneiro e

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Borges (2002), os dois princípios básicos que passaram a reger as

telecomunicações a partir deste momento foram a universalização e a competição.

Um dos maiores e mais importantes resultados da LGT foi a criação de uma

agência reguladora do setor de telecomunicações. A Agência Nacional de

Telecomunicações (ANATEL) foi criada como uma autarquia vinculada ao

Ministério das Comunicações mas com autonomia decisória em relação ao poder

executivo. Segundo Pires (1999) “um dos aspectos mais importantes da reforma

do setor de telecomunicações foi a criação prévia do órgão regulador, a Anatel. (...)

constituída com características que lhe permitem desempenhar sua missão com

autonomia e independência, tendo em vista a previsão de estabilidade de seus

dirigentes e as autonomias decisória e orçamentária que lhe são concedidas”

(p.59, grifo nosso).

Um dos planos desenvolvidos pela Anatel foi o Plano Geral de Outorgas (PGO).

Segundo esse Plano, a partir de 31 de dezembro de 2001 não mais haveria limite

ao número de prestadores de serviço de telefonia fixa em cada região. Além disso,

as concessionárias que antecipassem o cumprimento das metas de 31 de

dezembro de 2003 para a mesma data em 2001 poderiam atuar em outras regiões

que não a objeto do seu contrato.

Outro plano desenvolvido pela Anatel foi o Plano Geral de Metas de

Universalização (PGMU). Aprovado em 1998, o plano estabeleceu metas em

números de telefones instalados, telefones públicos, prazos para atendimento de

demandas dos consumidores e, em outros indicadores, que deveriam ser

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atingidas pelas empresas de telefonia fixa resultantes da cisão do Sistema

Telebrás (NOVAES, 1999, p.160).

Tendo preparado todo o arcabouço regulatório com antecedência e, com isso,

tornado as regras do jogo claras, só faltava a realização do leilão de venda das

concessões. Então em julho de 1998, no prédio da Bolsa de Valores do Rio de

Janeiro, todas as empresas constituintes do Sistema Telebrás foram privatizadas.

À iniciativa privada foram transferidas três empresas de telefonia fixa local, oito de

telefonia celular Banda A e a Embratel, como operadora de serviços de longa

distância.

Para completar o processo de privatização, em 1999 foram leiloadas as

concessões de operação das empresas-espelho. Como afirmam Giambiagi e Além

(1999), “essas novas empresas – uma por cada uma das 3 regiões em que se

dividiu a telefonia básica e outra concorrente da Embratel – foram autorizadas a

concorrer com as empresas já existentes, de modo a ter dois operadores por

região” (p.324). As quatro competidoras autorizadas a operar como espelho foram:

Vésper, GVT, Vésper SP e Intelig, para as áreas I, II, III e IV respectivamente. O

mercado permaneceu fechado a novos entrantes, tanto no caso da telefonia fixa

como na celular, até o final de 2001. A partir de 2002 a entrada passou a ser

totalmente livre.

Com a introdução da competição nas telefonias fixa e móvel, o relatório BNDES

(2000) destaca que, “o mercado passou a ser o foco das operadoras, cuja

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competitividade depende da atração de novos clientes e da fidelização dos

existentes, o que demanda o lançamento de novos produtos – físicos tarifários e

de relacionamento – concebidos para diferenciar as operadoras perante

segmentos específicos do mercado. Para isso é necessária uma expertise até

então inexistente nas operadoras, o que vem resultando na demanda de

atividades, como marketing, que sequer eram demandadas pelas

telecomunicações” (p.21) [grifo, em negrito, nosso].

2.2.2.3 O SMP e a Licitação das Bandas C, D e E

Preparando o terreno para a abertura total do mercado em 2002 – quando as

operadoras de telefonia fixa poderiam passar a oferecer serviços tanto fixo quanto

celulares em qualquer região do país – a Anatel realizou em 2001 os leilões de

venda de autorizações para operação nas Bandas C, D e E. Segundo Arnt (2001),

ao escolher a freqüência de 1,8Ghz para a operação dessas novas bandas, a

Anatel fez uma escolha pela introdução de uma rede inteiramente nova no país: a

de tecnologia GSM. Até então inexistente no país, a tecnologia GSM teria sido

escolhida pela agência com a intenção de, segundo o autor, aumentar a

concorrência trazendo novos grandes grupos estrangeiros, principalmente os

europeus, para o país.

Souza e Tule (2002) destacam que as empresas das Bandas A e B poderiam

migrar do SMC para o SMP. Segundo os autores, a desvantagem mais clara seria

ter que permitir a seleção do operador de longa distância pelo cliente, já que isso

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poderia reduzir as margens. Mas havia algumas vantagens. Uma delas era ganhar

autorização para operar também na faixa de freqüência de 1,8Ghz com a

tecnologia GSM. A outra era que, de acordo com as regras de transição propostas

pela Anatel, a prestadora que migrasse para o SMP poderia, com algum ônus,

obter autorização para operar telefonia fixa de longa distância nacional e

internacional.

Do leilão das novas bandas, realizado no início de 2002, saíram duas novas

operadoras de telefonia celular. A italiana Telecom Itália Móbiles (TIM), com

autorizações para as áreas 2 e 3 da Banda D e área 1 da Banda E, e a brasileira

Oi, braço de telefonia celular da Telemar, com autorização para operar a área 2 da

Banda D, área equivalente à operada na telefonia fixa pela Telemar. Houve,

porém, sobras de área nas Bandas D e E, além de não ter havido interessados no

leilão da Banda C.

Com a liberalização do mercado começaram os movimentos de consolidação do

setor de telecomunicações. Ao final de 2003, cada estado brasileiro tinha quatro

operadoras de telefonia celular disputando um mercado estimado em

R$ 15 bilhões (GUIMARÃES, 2003). Duas delas ligadas à operadoras fixas – a

Brasilcel (que trabalha com a marca Vivo) e a Oi – e duas independentes.

De acordo com dados da ANATEL, em dezembro de 2003 o número de aparelhos

celulares em operação superou o de telefones fixos. De acordo com Teixeira Jr.

(2003), este fato é desejado pois a competição no caso da telefonia fixa é muito

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mais difícil por enfrentar questões de infra-estrutura de rede. O unbundling,

expressão técnica em inglês para o compartilhamento da rede física de uma

operadora com outras empresas que pagam uma espécie de pedágio por volume

de utilização, mesmo que previsto na Lei Geral de Telecomunicações, não foi

regulamentado até hoje. Assim, como o próprio autor destaca, “a Anatel acredita

que a saída para o enrosco é, literalmente, a tecnologia sem fio” ( TEIXEIRA Jr.,

2003, p.86).

Em síntese, o mercado de telecomunicações brasileiro apresentava os seguintes

riscos e desafios analisados na tabela 3 a seguir:

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Tabela 3 – Síntese da situação das telecomunicações no Brasil ao final de 2003

Telefonia Fixa Local Telefonia Fixa de

Longa Distância Telefonia Celular

Tamanho do Mercado R$ 22 bilhões R$ 8,5 bilhões R$ 15 bilhões

Operadoras Telemar, Brasil Telecom, Telefônica, Vésper e GVT

Embratel, Intelig, Telemar, Telefônica, Vésper e GVT.

TIM, Brasilcel, Oi e Telecom Américas

Nível de Competição

Baixo – as concessionárias Telemar, Brasil Telecom e Telefônica detêm mais de 95%

Alto – as concessionárias locais entraram com agressividade no mercado de DDD e DDI.

Alto – é o mercado mais competitivo. Todas as regiões do país terão três ou quatro operadoras concorrentes, o que pode levar a consolidação.

Desafios

• Estimular a competição dos serviços que dependam do uso da rede local como telefonia, banda larga e serviços corporativos. • Evitar que o fortalecimento excessivo das concessionárias criar barreiras à entrada e prejudique a competição.

• Separar as concessionárias locais em uma empresa de chamadas locais e outra de longa distância para evitar a prática anticompetitiva de subsídios cruzados. • Permitir a fusão da Embratel com a Intelig ou a venda para uma das concessionárias locais com o objetivo de melhorar a saúde financeira da empresa, hoje, muito endividada.

• Permitir a fusão de empresas atuantes na mesma região, já que em algumas localidades do país quatro competidores pode ser um número insustentável. • Estimular o uso do telefone celular, eventualmente criando zonas domésticas em que o preço da ligação se aproxime do cobrado pelas operadoras fixas.

Riscos

• Criar regras para o compartilhamento de infra-estrutura (unbundling), difíceis de aplicar e fiscalizar na prática. • Impedir a criação de conglomerados de múltiplos serviços (fixo, celular e corporativo) e, com isso, enfraquecer a situação financeira das operadoras

• Como a legislação já prevê que os serviços locais e de longa distância sejam contabilizados, a separação em duas empresas pode levar a aumento de custos e repasses aos consumidores. • A venda da Embratel, apesar de resolver o problema da empresa, poderia reduzir o grau de competição, um dos pilares da LGT.

• Ao comprar as licenças para operação, as empresas estão erguendo novas redes por causa das restrições atuais. Retirá-las agora poderia sinalizar negativamente para os investidores. • A criação das zonas domésticas pode retrair os investimentos das operadoras fixas.

Fonte: Teixeira Jr. (2003). Valor do mercado estimado a partir das receitas líquidas das empresas.

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Segundo dados de 2002 da International Telecommunications Union (ITU), em

relação ao resto do mundo, o Brasil ocupava a 7ª posição em número de telefones

fixos mais celulares, ficando atrás da China, EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido

e Itália. Em relação à densidade (número de telefones por cada 100 habitantes),

porém, o país ocupava a 66ª posição. A tabela 4, a seguir, apresenta os dados.

Tabela 4 – Ranking dos países com maior nº de telefones

Ranking País TotalFixos

(milhões)Celulares (milhões)

Densidade (total por 100 hab.)

1 China 421,00 214,40 206,60 32,78 2 EUA 330,70 190,00 140,70 114,70 3 Japão 153,50 74,50 79,00 120,68 4 Alemanha 112,90 53,70 59,20 136,71 5 Reino Unido 85,10 35,20 49,90 144,21 6 Itália 79,40 27,40 52,00 141,28 7 Brasil 73,60 38,80 34,80 42,38 8 França 72,40 33,90 38,50 121,59 9 Coréia do Sul 55,50 23,20 32,30 116,80 10 Índia 54,00 41,40 12,60 5,19

Fonte: <http://www.teleco.com.br>. Acesso em 26/06/2003.

Em relação à composição das operações celulares, dados da Anatel de julho de

2004, mostram que os planos pré-pagos estavam em 79,11% dos mais de 55

milhões de terminais celulares em funcionamento. Em termos de rentabilidade isso

apresenta um desafio às empresas pois os terminais pré-pagos, geralmente,

apresentam rentabilidade inferior aos que operam no sistema pós-pago. De

acordo com Paduan (2003) a receita de uma linha pré-paga equivale a um terço

da receita gerada por uma linha pós-paga.

Também de acordo com os dados da Anatel, é possível perceber que o número de

aparelhos operando nas Bandas A e B representavam mais de 83% do total, o que

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reflete a vantagem das empresas pioneiras do mercado (as incumbents). Em

termos de tecnologia, a analógica AMPS, primeira a ser introduzida no mercado

brasileiro, apresentava participação bem reduzida com menos de 1% dos

aparelhos em funcionamento. A TDMA, considerada uma tecnologia atrasada pois

não permite a transição para os celulares de terceira geração (3G), ainda era

dominante no mercado operando em 45% dos aparelhos.

No momento em que este estudo está sendo finalizado, o panorama da

competição na cidade do Rio de Janeiro, foco deste estudo, é o seguinte. São ao

todo quatro empresas de telefonia celular oferecendo serviços. Cada uma delas

associada a um dos quatro grandes grupos que vêm se formando desde a

abertura do mercado em 2002 e a nova regulamentação do SMP. A tabela 5 a

seguir apresenta um resumo das empresas que atuam na cidade do Rio de

Janeiro e seus grupos controladores.

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Tabela 5 – Operadoras da cidade do Rio de Janeiro e seus Grupos17

ATL Telecom AméricasBanda B Controle Acionário MexicanoTecnologia TDMA Assinantes 5,2 milhõesReceita Líquida R$585 milhões Faturamento US$2bilhõesEBITDA R$181 milhões Tecnologia GSMAssinantes 2 milhõesPré/Pós-pago(%) 84/16ARPU R$31,00

Vivo-RJ Brasilcel (Telefónica/Portugal Telecom)Banda A Controle Acionário Espanhol e PortuguêsTecnologia CDMA Assinantes 16,6 milhõesReceita Líquida R$1.349 milhões Faturamento R$8,5 bilhõesEBITDA R$500 milhões Tecnologia CDMAAssinantes 33,296 milhõesPré/Pós-pago(%) 69/31ARPU n.d.

TIM TIMBanda D e ETecnologia GSMReceita Líquida n.d. Controle Acionário ItalianoEBITDA n.d. Assinantes 4,9 milhõesAssinantes n.d. Faturamento R$2bilhõesPré/Pós-pago(%) n.d. Tecnologia GSMARPU n.d.

Oi OiBanda B Controle Acionário BrasileiroTecnologia GSM Assinantes 1,6 milhõesReceita Líquida R$152 milhões Faturamento R$2bilhõesEBITDA (R$175 milhões) Tecnologia GSMAssinantes 504 milPré/Pós-pago(%) 79/21ARPU R$36

Prestadora Grupos

Fonte: Elaborado a partir de Guimarães (2003) e Atlas Brasileiro de Telecomunicações (2003). Os dados se referem ao resultado das empresas em todas as áreas e regiões em que atuam. ARPU (Average Revenue per User) é a sigla utilizada no setor para se referir à rentabilidade média dos clientes.

17 Em 2004, a operadora ATL passou a se chamar CLARO. Como todas as entrevistas deste estudo foram realizadas

antes dessa mudança, a operadora será tratada somente como ATL durante todo o texo.

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2.3 Caracterizando a Mudança

Estudar o comportamento de mudança dos clientes de telefonia celular implica

identificar todas as etapas envolvidas desde a decisão de saída da prestadora

atual até a escolha da nova. Como argumenta Roos (1999), pesquisar a mudança

como processo significa ir além da visão estática da identificação de

determinantes para uma visão mais holística de relacionamento.

No campo das definições, a mudança pode ser revogável ou irrevogável,

significando que o cliente que muda pode ter a intenção ou não de voltar ao antigo

prestador de serviços. Roos (1999), em um estudo sobre o comportamento de

mudança de consumidores de supermercado, identificou que os todos

consumidores que consideraram sua decisão irrevogável haviam reclamado

diretamente com o supermercado inúmeras vezes antes da saída. Ao contrário, os

clientes que tomaram uma decisão revogável, pouco reclamaram e demonstraram

um comprometimento muito menor em relação à empresa.

A mudança pode ser também completa ou parcial. Segundo Stewart (1998), o

cliente pode cessar totalmente o consumo de determinado serviço ou apenas

reduzir o seu uso. De acordo com Coyles e Gokey (2002), a mudança parcial é um

problema de grande importância especialmente em serviços onde os clientes

costumam utilizar mais de um prestador, como no caso de cartões de crédito.

Ainda segundo eles, as empresas devem tentar identificar os consumidores cujo

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padrão de consumo diminui e atuar sobre eles antes que decidam transferir suas

atividades completamente para outro prestador e seja tarde demais para recuperá-

los.

Finalmente, a mudança pode ser também voluntária ou involuntária. Conforme

comenta Roos (1999), no primeiro caso a mudança é baseada em uma decisão

distinta e pode ser causada tanto por insatisfação como por mudança de hábitos

ou necessidade de variedade. No outro caso não há uma decisão distinta que

anteceda o comportamento, como quando do encerramento das atividades da

empresa ou da mudança do cliente para uma região geográfica não atendida por

tal serviço.

2.3.1 A Mudança como Resposta à Insatisfação

Um dos primeiros estudos sobre o comportamento de mudança, segundo

Stewart (1998), foi o livro de Albert Hirschman intitulado “Saída, voz e lealdade”.

Hirschman (1970) via a opção de saída essencialmente como uma maneira dos

consumidores insatisfeitos mostrarem às firmas que eles perceberam algum

declínio remediável de performance dos produtos e serviços ofertados. Assim, a

saída é apresentada como uma forma que os clientes possuem para alertar a

empresa que eles percebem um declínio na qualidade da oferta dos bens ou

serviços (STEWART, 1998, p.326). Outra maneira de protesto à disposição dos

clientes insatisfeitos é o uso da voz, definida pelo autor como “qualquer tentativa

de modificação, em vez de fuga, de um estado ao qual se pode fazer objeções,

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através de petições individuais ou coletivas à administração diretamente

responsável, apelos a autoridades superiores, com a intenção de pressionar a

direção ou vários tipos de ação e protesto, inclusive os destinados a mobilizar a

opinião pública” (p.40). Assim, em resposta à insatisfação com a oferta da firma os

clientes podem protestar tanto através da mudança de firma quanto da

reclamação à empresa ou a terceiros, como no caso dos organismos de defesa do

consumidor.

Depois do trabalho de Hischman (1970) vários autores passaram a estudar, tanto

teórica como empiricamente, a relação existente entre insatisfação e mudança.

Cronin e Taylor (1992), por exemplo, realizaram um estudo sobre a relação entre

qualidade de serviços, satisfação do cliente e intenção de compra. A partir de 600

questionários aplicados a consumidores de serviços de bancos, lavanderias,

controle de epidemia e fast food, os autores concluíram que a qualidade percebida

é um antecedente à satisfação que, por sua vez, tem um impacto muito maior

sobre a intenção de recompra do que a qualidade do serviço em si. Ainda de

acordo com eles “talvez os clientes não necessariamente comprem o serviço de

maior qualidade; conveniência, preço e disponibilidade podem aumentar a

satisfação mesmo que não afete, na realidade, a percepção de qualidade dos

clientes” (p.65) [grifo nosso].

Em um estudo com base em 668 questionários aplicados a estudantes do turno da

noite de instituições públicas na Bélgica, Ruyter e Bloemer (1999) investigaram o

impacto da satisfação na lealdade do consumidor, mediado pelas variáveis

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“realização de valor” (value attainment) e bom humor (positive mood). O serviço de

educação é semelhante ao de telefonia celular por ser prestado de forma contínua.

Para operacionalizar o estudo, a mensuração da lealdade foi feita com base em

questões de intenção, tanto de usar os serviços novamente quanto de indicá-los à

outras pessoas. Os resultados indicaram que a satisfação está fortemente

relacionada à lealdade.

Já Zeelenberg e Pieters (1999) buscaram entender a relação entre insatisfação e

respostas comportamentais, mediada pelas emoções de arrependimento e

desapontamento. Arrependimento é definido como sendo a emoção que o

consumidor sente ao comparar o serviço obtido com o que poderia ter sido obtido

caso tivesse escolhido outro prestador. É a sensação de que se tomou a decisão

errada. Diferentemente, o desapontamento é definido como a emoção associada à

comparação entre o serviço que foi recebido e aquele que poderia ter sido obtido

caso as circunstâncias, que estavam fora do controle da empresa, tivessem sido

diferentes. Neste caso a responsabilidade é atribuída a eventos externos ao

controle, tanto do consumidor, como da empresa.

O estudo foi feito com base em depoimentos de 150 universitários holandeses que

reportaram experiências insatisfatórias com 11 setores de serviços, incluindo o de

telecomunicações. Os autores concluíram que o arrependimento apresenta um

efeito direto sobre a tendência à mudança de prestador de serviço, independente

do nível de insatisfação ser muito baixo ou muito elevado. Por outro lado, o

sentimento de desapontamento esteve relacionado aos comportamentos de boca-

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a-boca, ou seja, os clientes desapontados com o serviço apresentaram a

tendência de relatar sua experiência. Em relação ao comportamento de

reclamação à empresa ou a terceiros, não foi encontrado nenhum efeito do

arrependimento ou desapontamento.

Rust e Zahorik (1993), em um artigo que propõe uma metodologia para calcular o

retorno de investimentos feitos em satisfação, apresentam um estudo feito com

clientes de bancos de varejo e defendem que o investimento nos principais

determinantes de satisfação do consumidor leva a maior retenção dos clientes,

aumento do market share e maiores lucros.

Mais específico sobre o setor de telefonia celular, o artigo de Bolton (1998) buscou

identificar o papel da satisfação do consumidor na determinação da duração do

relacionamento entre o cliente e a operadora celular. Segundo a autora, entender

os motivos que determinam a duração deste relacionamento é especialmente

importante no caso da telefonia celular, cujas empresas perdem, a cada ano,

cerca de 30% dos clientes para a concorrência (p.47).

A partir de uma base de 650 clientes de uma empresa de telefonia celular, a

autora chegou à conclusão de que o nível de satisfação reportado pelo cliente foi

responsável por explicar 26% da variação na duração do relacionamento do

cliente com a empresa. A importância disso está ligada ao fato de que “os

gerentes e pesquisadores podem ter subestimado a importância da ligação entre a

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satisfação do consumidor e retenção porque a relação entre satisfação e tempo de

duração é muito complexa e difícil de detectar” (p.62).

Outra conclusão importante do estudo de Bolton (1998) foi a de que o papel da

satisfação acumulada com experiências passadas é vital na avaliação e respostas

às falhas no serviço. Ou seja, é como se o fato de prestar serviços satisfatórios

regularmente criasse um efeito de longo prazo capaz de isolar a firma das

respostas negativas do consumidor às falhas, como a saída ou reclamação.

Entretanto, exatamente porque a duração da relação empresa-cliente está

fortemente associada ao acúmulo de experiências satisfatórias, os clientes novos

são particularmente mais vulneráveis do que os antigos. Como descreve a autora,

“as organizações deveriam focar nos consumidores que estão nos estágios iniciais

do relacionamento – se as experiências deles não são satisfatórias, o

relacionamento provavelmente será muito curto” (p.62).

Portanto, o estudo sugere que a melhor estratégia para a empresa é o foco na

satisfação dos novos consumidores através de investimentos em customização da

oferta. Essa indicação é suportada pelos trabalhos de Anderson et al. (1997) e

Rust et al. (2002), nos quais defende-se que o foco em estratégias de satisfação

dos clientes, em detrimento de programas de aumento de produtividade, tem

maior impacto sobre a lucratividade das empresas de serviços.

Um dos trabalhos pioneiros na tentativa de identificar os determinantes do

comportamento de mudança sob a ótica do consumidor, aplicáveis a serviços em

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geral, foi o de Keaveney (1995). Usando o método de incidente crítico em casos

de mudança ocorridos em 45 categorias distintas de serviços, dentro das quais

havia 14 incidentes relativos a operadoras de telefonia fixa e celular, a autora

chegou a 8 categorias de determinantes à mudança. São elas:

1) Política de Preço – nessa categoria estão incluídos todos os

comportamentos de mudança que envolveram incidentes relativos a

preços, taxas, tarifas de serviços adicionais, multas e preços

promocionais. Essa categoria foi a terceira mais importante como

motivação à mudança, sendo mencionada por 30% dos

respondentes, dentre os quais 9% atribuíram a mudança

exclusivamente a esse motivo. São identificadas quatro

subcategorias: (i) preços elevados, os clientes consideravam o

preço do serviço alto demais em relação a um padrão interno, ao que

considerava receber do serviço ou em relação à concorrência; (ii)

aumento de preços, quando o novo preço foi considerado alto

demais em relação ao anterior; (iii) práticas injustas de preço, que

levaram os clientes a se sentirem enganados ou a pensar que a

prática de precificação era injusta e, por fim; (iv) práticas

enganosas de preço, como no caso onde o preço final do serviço

era muito superior à uma cotação inicial fornecida pela empresa.

2) Inconveniência – três subcategorias emergiram em relação à

inconveniência: (i) localização ou horário de funcionamento, caso

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em que a existência de um prestador mais próximo do cliente ou que

funcionasse em horários mais convenientes leva à mudança; (ii)

tempo de espera para marcar o serviço, onde o problema estava

na dificuldade de se conseguir ter acesso ao serviço e; (iii) tempo

de espera pelo serviço, caso em que o consumidor considerou, a

partir de referência interna ou promessa da empresa, que o serviço

demorou demais. Mais de 20% dos respondentes indicaram essa

categoria como motivo para a mudança, sendo que em 22% deles

essa categoria foi a única mencionada.

3) Falhas no Serviço Principal (Core Service Failures) – categoria

mais citada nos relatos de mudança, as falhas no serviço principal da

empresa apareceram em 44% dos relatos, sendo que em 11% deles

apareceu como a única causa de mudança. Três subcategorias

foram identificadas: (i) erros, casos de seqüências de erros em um

único encontro de serviços ou em vários encontros, de deterioração

do serviço ao longo do tempo, de grandes erros como a prescrição

de medicamentos errados, de serviços incompletos ou prestadores

sem competência para prestar o serviço ofertado; (ii) erros de

cobrança, incluindo a cobrança por serviços não prestados e

demoras para corrigir e ressarcir o consumidor destas cobranças

indevidas; (iii) catástrofes, no caso de serviços que causaram dano

direto ao consumidor ou a familiar, animais ou pertences, ou ainda,

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aquelas falhas que levaram o consumidor a perder tempo e/ou

dinheiro.

4) Falhas no Encontro de Serviços – definindo encontro de

serviços como as interações entre os clientes e funcionários da

empresa, surgiram nessa categoria 4 comportamentos que foram

considerados motivos suficientes para a mudança de 9% dos

respondentes e um dos motivos para outros 34%. Suas

subcategorias são: (i) negligência, quando os clientes não foram

ouvidos ou foram deliberadamente ignorados, quando o funcionário

foi apressado no atendimento ou não fez diferença nenhuma na

prestação do serviço; (ii) deseducação, caso em que o funcionário

foi considerado rude, impaciente ou mal humorado; (iii)

desinteresse, em atender pedidos, responder telefonemas ou em

esclarecer dúvidas dos clientes e; (iv) desconhecimento, caso em

que os funcionários foram considerados inexperientes, inaptos,

desconhecedores de técnicas mais modernas ou ainda funcionários

que simplesmente não inspiravam confiança.

5) Respostas dos Funcionários às Falhas no Serviço – pouco

mais de 17% dos relatos estiveram ligados a casos em que, além de

ter ocorrido uma falha no serviço, o consumidor percebeu problemas

na resolução do erro. Como subcategorias surgiram: (i) relutância,

quando a percepção foi a de que o problema foi resolvido porém,

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com evidente má vontade; (ii) falha em responder, caso em que a

reclamação do consumidor foi ignorada, não foi considerada legítima

ou ainda quando a resposta foi de que não havia nada que o

funcionário pudesse fazer e; (iii) resposta negativa patente, caso

em que a culpa pela falha foi atribuída exclusivamente ao cliente.

6) Atração por Competidores – nesta categoria, presente em cerca

de 10% dos relatos, o consumidor considera ter mudado para um

prestador de serviço “melhor” em vez de ter saído de um prestador

insatisfatório. O termo “melhor” foi utilizado no sentido de mais

personalizado, mais confiável ou com maior qualidade percebida.

Interessante que muitas vezes a percepção de ser um prestador

melhor do que o antigo fez o consumidor mudar ainda que o novo

serviço fosse mais caro ou menos conveniente.

7) Problemas Éticos – presente em 7% dos casos descritos, essa

categoria gerou quatro subcategorias: (i) desonestidade, ao propor

serviços desnecessários ao cliente; (ii) intimidação, caso em que as

táticas de venda foram consideradas agressivas e ameaçadoras; (iii)

práticas perigosas ou insalubres, caso em que a louça do

restaurante estava suja ou um mesmo funcionário manuseava

alimentos e dinheiro e; (iv) conflitos de interesse, caso do agente

de viagens que oferece passagens das companhias aéreas que

pagam maiores comissões.

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8) Mudança Involuntária e outros motivos pouco citados – no

primeiro caso foram agrupados os casos em que a mudança se deu

por fatores fora do controle tanto da empresa quanto do consumidor,

como quando houve mudança de endereço ou quebra de acordos e

convênios e a empresa deixou de oferecer determinado serviço.

Além disso, como destaca a autora, determinantes de satisfação e

qualidade presentes na literatura como lotação e a presença de

outros consumidores no encontro de serviços, foram pouco

freqüentes nos relatos.

A partir da da análise destas oito categorias, Keaveney (1995) destaca dois pontos.

O primeiro diz respeito ao fato de que seis de um total de oito categorias são

controláveis pela empresa, ou seja, existem ações através das quais a empresa

pode atacar essas categorias em busca de reduzir as taxas de mudança. Esse

fato encontra também suporte no trabalho de Trubik e Smith (2000), que

argumentam que, dos motivos que levam a saída, 65% estão ligados a fatores

controláveis pela empresa, notadamente o tratamento dado aos clientes.

O segundo ponto destacado diz respeito a complexidade do comportamento de

mudança. De acordo com Keaveney (1995), 55% dos relatos de mudança citaram

duas ou mais categorias como responsáveis pela decisão de mudar. Por exemplo,

15% dos consumidores indicaram ter mudado de prestadora devido à falhas de

serviço aliado a respostas insatisfatórias. Outros 10% relataram o preço como

motivo associado à falha de serviço na decisão de mudar.

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Outra questão importante é que, ainda segundo Keaveney (1995), os

determinantes de resultados positivos de satisfação e retenção podem ser

assimétricos em relação àqueles que motivam a mudança, ou seja, os quesitos

que levam a um estado de satisfação não são necessariamente os mesmo que

levam à insatisfação e mudança. Pela possibilidade dessa assimetria é que Bansal

e Taylor (1999) argumentam que é justificável que o comportamento de mudança

seja tido como um campo de pesquisa próprio.

O trabalho de Verma (2003), por exemplo, estudou os determinantes de

encantamento (delight) e raiva (outrage) em serviços, sob o ponto de vista do

consumidor na Índia. Encantamento é definido como uma resposta emocional a

um serviço que tanto satisfez o cliente como o trouxe algum valor que não era

esperado. Ao contrário, a raiva é a resposta às falhas consideradas muito graves

pelos clientes e, segundo o autor, é um impulsionador perfeito para a mudança. A

partir do estudo de incidentes críticos, o trabalho conclui que o encantamento é

determinado por fatores ligados ao tratamento dedicado e customizado aos

clientes, como a demonstração que os problemas do cliente são relevantes para a

empresa e que há a intenção de resolvê-los. No caso da raiva, as falhas na

entrega do serviço prometido e o tratamento rude ou com indiferença foram os

principais determinantes.

Depois de apresentadas algumas evidências que suportam uma relação positiva

entre satisfação, retenção e lealdade, cabe apresentar alguns atributos de

satisfação específicos para o caso de telefonia celular.

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2.3.1.1 Determinantes de Satisfação em Telefonia Celular

O artigo de Woo e Fock (1999) buscou identificar atributos de satisfação entre

usuários de telefonia celular de Hong Kong. A partir da análise de um total de 891

questionários válidos, os autores chegaram a quatro fatores capazes de explicar

59,3% da variação de satisfação da amostra. Do mais para o menos importante,

os determinantes encontrados foram:

1) Qualidade de Transmissão e Cobertura – incluem-se neste fator a

cobertura e qualidade da transmissão, tanto em áreas abertas como

fechadas e subterrâneas (por exemplo, no metrô). Além disso, inclui

a questão da estabilidade das ligações, ou seja, a freqüência com

que a ligação cai sem ter sido terminada pelo cliente e, a

disponibilidade da rede, no sentido de o usuário conseguir completar

ligações em áreas onde não há problemas de cobertura. Também

incluídos nesse determinante estão as funções oferecidas pelo

aparelho celular e a imagem da operadora. Nesse último caso, os

autores argumentam que, a inclusão de um atributo de imagem na

dimensão de qualidade de transmissão e cobertura indica os

consumidores geralmente associam a imagem da operadora a sua

competência técnica.

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2) Política de Preço – determinante estão quesitos como a variedade

dos pacotes de serviço oferecidos, os preços destes pacotes e o

preço dos aparelhos de telefone celular disponíveis na operadora.

3) Competência do Pessoal – que congrega a disponibilidade de

serviços de call center, a disponibilidade de ajudar dos funcionários e,

a sua competência para resolver os problemas.

4) Serviços ao Consumidor – nesse quesito, considerado o de menor

impacto na avaliação da satisfação geral com o serviço, estão a

precisão da cobrança nas contas, a localização e horário de

atendimento das lojas de serviços, a qualidade de reparos e

manutenção, além da comunicação com o consumidor.

Gertportt et al. (2001) realizaram um estudo com usuários de telefonia celular na

Alemanha. Uma característica do mercado de telefonia celular na Alemanha é que

as quatro empresas concorrentes operam exclusivamente com tecnologia GSM.

Como resultado, a oferta de serviços das quatro operadoras é bem semelhante e

faz com que a estrutura de mercado se aproxime de um oligopólio. A partir de 684

entrevistas telefônicas, três determinantes de satisfação foram confirmados:

1) Qualidade Percebida da Rede – no que diz respeito à cobertura e

clareza das ligações ao ar livre e em áreas cobertas, além da

freqüência de quedas na ligação.

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2) Preço – tanto para ter acesso à rede como pelo seu uso, ou seja,

o preço da assinatura e dos minutos de conversação no caso do

pós-pago, ou somente o custo por minuto no caso do pré-pago.

3) Percepção do Benefício Obtido do Serviço – segundo os autores,

significa que ainda que os consumidores tenham uma visão positiva

(negativa) do serviço ofertado pela prestadora, a sua satisfação geral

pode ser afetada pelo fato de que eles percebem que os benefícios

que obtêm da empresa são baixos (altos).

A hipótese de que o serviço ao consumidor também seria um determinante da

satisfação foi rejeitada. Isso implica que, na amostra estudada por Gerportt et al.

(2001), as respostas da empresa aos chamados dos clientes e, mesmo a

qualidade dos contatos iniciados pela operadora, não mostraram ter influência na

avaliação de satisfação dos consumidores.

Outro estudo que traz indicações sobre os determinantes da satisfação em

telefonia celular é o de Lee et al. (2001). Para estudar a relação entre satisfação e

lealdade, mediada por custos de troca, os autores definiram três determinantes de

satisfação, que foram:

1) Política de Preços

2) Serviço – incluindo área de cobertura e clareza das ligações

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3) Serviços Adicionais – incluindo a precisão da cobrança e a

facilidade de acesso à operadora.

2.3.1.2 A Pesquisa de Satisfação da Anatel

No Brasil, a agência reguladora do setor de telecomunicações, Anatel, divulgou

em 2003 o relatório completo de uma pesquisa de satisfação de clientes de

serviços telefônicos, abrangendo tanto os serviços de telefonia fixa residencial e

não residencial quanto de telefonia pública e telefonia celular (SMC) pré e pós-

pago (ANATEL, 2003). De fevereiro de 2000 a setembro de 2002, foram

desenvolvidos e aplicados 84.246 questionários a consumidores de todo o país,

dos quais 47.971 (56,94%) foram referentes à telefonia celular. Dos usuários de

telefonia celular, 23.932 (28,41%) utilizavam o sistema SMC pré-pago, e os

restantes 24.039 (28,53%) o sistema SMC pós-pago.

Na pesquisa Anatel (2003) foram identificados 8 determinantes de satisfação para

a telefonia celular. No caso do sistema SMC pós-pago, a satisfação foi medida em

relação aos seguintes quesitos:

1) Atendimento nos Pontos de Venda da Empresa – que inclui os

seguintes itens;

1.1) Rapidez na solução dos problemas, dúvidas e

reclamações nas lojas da empresa.

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1.2) Interesse e boa vontade dos atendentes para resolver

os problemas.

1.3) Conhecimento, por parte dos atendentes, dos diferentes

serviços oferecidos.

1.4) Tempo de espera para ser atendido.

2) Central de atendimento – que inclui os subitens;

2.1) Facilidade de contato com a Central de Atendimento

2.2) Capacidade do atendente em resolver, pelo telefone, os

problemas, dúvidas e reclamações apresentados.

2.3) Solução dada pela empresa aos problemas e/ou

reclamações.

3) Conta, Cobrança e Condições de Pagamento – neste item a

satisfação foi medida com relação ao seguinte:

3.1) Facilidade de escolher a melhor data para pagamento

da conta.

3.2) Clareza e detalhamento das informações contidas na

conta.

3.3) Exatidão (precisão) dos valores cobrados.

3.4) Atendimento ao prazo de cinco dias entre o

recebimento e o vencimento da conta.

3.5) Existência de diferentes formas de pagamento, como

débito em conta, cartão de crédito, dentre outras.

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4) Tarifas e Preços – composto por:

4.1) Divulgação de tarifas e preços.

4.2) Preço da ligação local.

4.3) Preço da mensalidade mínima.

5) Qualidade das ligações – medida por:

5.1) Cobertura no Estado.

5.2) Qualidade do som nas chamadas interurbanas.

5.3) Quantidade de ligações interurbanas sem interrupções,

sem quedas e sem cortes.

5.4) Qualidade das ligações recebidas de telefone fixo para

o telefone celular.

5.5) Qualidade das ligações feitas em áreas internas e

fechadas (automóvel, apartamento, shopping centers, etc).

5.6) Quantidade de vezes em que o telefone celular fica fora

de serviço e/ou não funciona.

6) Informações Prestadas pela Empresa – abrangendo:

6.1) Facilidade de obtenção de informações sobre os

diferentes serviços e planos oferecidos pela empresa.

6.2) Clareza das informações sobre os diferentes serviços e

planos oferecidos pela empresa.

6.3) Clareza das informações sobre as áreas de cobertura.

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6.4) Utilidade das informações apresentadas pela empresa

através de anúncios de TV, rádio, jornais e revistas.

6.5) Clareza das informações apresentadas nos manuais,

catálogos e folhetos da empresa.

7) Serviços – abrangendo:

7.1) Conhecimento dos tipos de serviço existentes.

7.2) Utilidade e/ou adequação dos serviços oferecidos.

7.3) Modernidade da empresa.

8) Aparelho Celular – contendo os quesitos:

8.1) Preço do aparelho.

8.2) Qualidade do aparelho.

8.3) Compreensão das informações contidas no manual do

aparelho.

No caso do sistema SMC pré-pago houve algumas inclusões e exclusões de

quesitos para adequar as diferenças entre os serviços, mas a principal diferença

foi a substituição do determinante “3) Conta, Cobrança e Condições de

Pagamento”, pelo determinante “Lojas”, conforme definição a seguir:

3) Lojas – composto por:

3.1) Quantidade de lojas que vendem o kit do celular pré-

pago.

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3.2) Localização das lojas que vendem os cartões.

3.3) Disponibilidade nas lojas dos vários tipos de cartões

(valor).

A partir dos questionários chegou-se aos índices médios de satisfação (IMS) para

os serviços de telefonia celular. As tabelas 2.3.1.2.1 e 2.3.1.2.2 abaixo trazem o

resumo dos resultados.

Tabela 6 – Importância e Satisfação dos Determinantes do Pós-pago

Pós-Pago Importância (%) IMS (%)Serviços 21,7 73,8Aparelho Celular 17,0 73,9Central de Atendimento 17,0 72,6Qualidade das Ligações 12,7 72,5Tarifas e Preços 11,0 49,1Informações Prestadas 9,1 72,9Atendimento nos Pontos de Venda 7,8 71,9Conta, Cobrança e Condições de Pagamento 3,7 77,4

Fonte: Anatel (2003)

Tabela 7 – Importância e Satisfação dos Determinantes do Pré-pago Pré-Pago Importância (%) IMS (%)

Lojas 23,2 78,9Aparelho Celular 15,1 81,5Tarifas e Preços 11,7 58,2Central de Atendimento 11,6 77,2Informações Prestadas 11,3 75,9Qualidade das Ligações 9,9 73,8Atendimento nos Pontos de Venda 9,4 75,7Serviços 7,7 74,1

Fonte: Anatel (2003)

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2.3.2 A Mudança do Consumidor Satisfeito

Reichheld (1996a) defende que “as pesquisas de satisfação são um teste de

satisfação menos preciso do que o comportamento [porque] nossas pesquisas

mostraram que de 60 a 80% dos clientes que desertaram disseram em uma

pesquisa anterior à deserção que estavam satisfeitos ou muito satisfeitos” (p.268).

A partir dessas evidências o autor cunhou a expressão “armadilha da satisfação”.

Stewart (1998) afirma que a insatisfação não é condição nem necessária nem

suficiente para gerar a mudança. Segundo a autora, a mudança pode ser

provocada pela sensação de saciedade, fadiga ou cansaço com a interação com a

empresa. Assim há um comportamento de mudança motivado pela busca de

variedade (variety seeking).

Roos (1999) também concorda que nem todos os clientes que mudam estão

insatisfeitos. Segundo ele, o fato dos clientes mudarem pode estar ligado à

expressão da sua necessidade de variedade. A perda desses clientes pode ser

tão danosa para a empresa como a perda dos clientes insatisfeitos. Porém, o

autor destaca que a diferença entre o cliente que muda insatisfeito e o que muda

buscando variedade é que este último pode ser reconquistado por ações da

empresa. A dificuldade, porém, é que estes consumidores normalmente não

reclamam, ficando então nas mãos da empresa a responsabilidade de entrar em

contato com este cliente para descobrir as razões de sua mudança e tentar

reconquistá-lo.

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Keaveney (1995) observou que muitas vezes os consumidores mudaram mesmo

estando satisfeitos com o prestador de serviços anterior. Um dos motivos foi a

conveniência de, por exemplo, mudar para um escritório de contabilidade que

permite a consulta de informações através da Internet. Outro motivo esteve ligado

à ações dos competidores, que inclui o fato de o consumidor ter experimentado ou

ter tido conhecimento de um serviço nitidamente superior. Equivale ao que

DeSouza (1992) classifica como o desertor de produto, ou seja, aqueles

consumidores que mudam para concorrentes que oferecem bens e serviços

superiores e que são os mais difíceis de reconquistar.

Um terceiro caso citado por Keaveney (1995) é o da mudança que tem por

objetivo fazer o cliente gastar menos com determinado serviço, ainda que em

troca de um nível de serviço diferente. DeSouza (1992) chama esses clientes de

desertores de preço. Curasi e Kennedy (2002) chamam esse comportamento de

lealdade comprada (purchased loyalty). Segundo os autores, o que caracteriza

esses clientes é que as suas decisões de recompra são baseadas em

recompensas obtidas de programas de fidelidade, ou ainda, no fato de ter o

serviço de menor preço, a idéia de ser o “melhor negócio”. A fragilidade óbvia de

ter esse tipo de consumidor na base de clientes da empresa é que se um

concorrente oferecer um programa de recompensas mais atraente poderá

provocar a mudança de grande parte da base.

Da mesma maneira que Keaveney (1995), Colgate et al. (1996) estudaram os

determinantes da mudança de universitários clientes de bancos comerciais e

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concluíram que o maior motivador listado para a mudança foi a existência de uma

outra instituição financeira considerada mais conveniente, com 33% dos casos.

Em segundo lugar, com uma importância de 23,3%, surgiu o quesito insatisfação

com o serviço. Em quinto lugar, respondendo por 8,2% dos casos, estava o fato

do banco para o qual o cliente mudou ter oferecido vantagens não oferecidas pelo

banco antigo, em um caso claro de ação da concorrência.

Em termos de lealdade, Jones e Sasser (1995) apresentam uma definição que

engloba todas as razões apresentadas acima sob o rótulo de “consumidor

mercenário”. De acordo com os autores, “ele [o consumidor mercenário] pode

estar completamente satisfeito, mas demonstrar quase nenhuma lealdade” (p.97).

Uma característica destes clientes é que eles são normalmente muito caros de se

atrair e tendem a deixar a empresa rapidamente, antes de tornar o relacionamento

lucrativo para a empresa. Ainda de acordo com os autores, “eles buscam preços

baixos, compram por impulso, estão interessados nas tendências da moda, ou

procuram a mudança simplesmente pela mudança” (p.97).

2.3.3 Os Mediadores da Mudança

Nos itens anteriores foram apresentadas evidências de que a mudança pode ser

motivada por que o cliente está insatisfeito com um ou diversos aspectos do

serviço. Também foi dito que o cliente pode mudar mesmo estando muito satisfeito

com o serviço, simplesmente porque deseja experimentar uma nova empresa ou

porque está em busca de um melhor negócio em termos de preço.

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De qualquer maneira, sejam quais forem os motivos que levam o cliente a optar

pela mudança, essa decisão irá passar necessariamente pela consideração de

pontos como a disponibilidade de alternativas, a eventual perda de benefícios de

programas de lealdade ou, ainda, a perda do número atual do telefone no caso de

telefonia celular. A existência destes mediadores compõe o que Colgate e Lang

(2001) denominaram dilema da mudança.

Os mediadores são também chamados de barreiras à mudança. Como afirmam

Jones et al. (2000), as barreiras à mudança “são qualquer fator que torne mais

difícil ou custoso para o consumidor mudar de prestador de serviços” (p.261). A

seguir serão apresentados os principais determinantes destas barreiras.

2.3.3.1 Existência de Alternativas

Um dos mediadores do processo de mudança de prestador de serviços é a

existência de prestadores alternativos que sejam percebidos como superiores.

Hirschman (1970), ao abordar o papel da dinâmica de mercado no uso das opções

de saída e voz, afirma que o número total de bens e marcas disponíveis na

economia faz com que a saída fique facilitada em relação à voz. A possibilidade

de consumir bens e serviços de mais de uma empresa faz com que a

consideração da saída ganhe força.

Mas, como argumenta Stewart (1998), não basta a existência real de alternativas.

Duas condições são necessárias para que as alternativas existentes no mercado

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operem como mediadores no processo de mudança. A primeira é que os

consumidores tenham conhecimento destas alternativas, ou seja, devem saber

que elas existem. A segunda é que as alternativas sejam percebidas pelo

consumidor como sendo superiores. Como destaca a autora, “se, por exemplo, o

consumidor desconhece fornecedores alternativos, ou se as alternativas são

percebidas como inferiores ou semelhantes, o consumidor deverá agir como se

não houvesse alternativas” (p.240).

Em um estudo sobre os serviços de aconselhamento financeiro, Sharma e

Patterson (2000) defendem que os clientes podem decidir encerrar um

relacionamento com um prestador se perceberem que há alternativas mais

atraentes seja pela disponibilidade de melhores serviços, pela localização do

escritório, por oferecer uma gama maior de serviços adicionais ou ainda menores

taxas de administração e promessas de retornos financeiros mais elevados.

Colgate e Norris (2001) propõem um modelo de reação do consumidor à falhas de

serviços de bancos comerciais. Em seu estudo observaram que a maioria dos

clientes que permaneceram clientes do mesmo banco após uma tentativa

frustrada de recuperação, declarou perceber que “banco era tudo igual” e que

“todos oferecem os mesmos serviços”. Ou seja, mesmo sabendo da existência de

alternativas, o fato de as julgarem semelhantes ao banco de que já eram clientes

fez com que permanecessem ainda que insatisfeitos com o serviço e com a

recuperação operada.

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2.3.3.2 Custos de Mudança (Switching Costs)

Outro mediador importante no processo de mudança são os custos percebidos no

processo. Os custos de mudança são definidos por Jones et al. (2000) como a

percepção do consumidor sobre o tempo, dinheiro e esforços envolvidos no

processo de mudança de prestador de serviços. Jones et al. (2002)

complementam afirmando que, em um sentido mais amplo, os custos de mudança

estão associados aos custos econômicos e psicológicos associados à troca de

prestador de serviços. Segundo eles, são seis os custos de mudança relevantes

no caso de serviços, como discutido a seguir. Os dois primeiros são custos

diretamente associados à decisão de continuar ou não o relacionamento,

enquanto que os quatro seguintes representam custos associados ao processo de

aprendizado exigido na mudança para uma nova empresa.

1) Custo do Desempenho Perdido – benefícios e privilégios perdidos

ao abandonar o prestador atual. Exemplos incluem programas de

pontos e milhagem, descontos por volume e tratamento especial

baseado em níveis de utilização anteriores.

2) Custos de Incerteza - é a incerteza psicológica ou risco percebido

pelo cliente de escolher uma empresa cujo desempenho nunca foi

experimentado e, portanto, é para ele desconhecido. Este custo é

maior nos casos onde a qualidade é mais difícil de ser julgada ou

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varia demais entre as alternativas, o que, em maior ou menor grau

ocorre em serviços.

3) Busca Pré-Mudança e Custos de Avaliação – representam a

percepção do cliente em relação ao tempo e esforço envolvido na

pesquisa de informações sobre as alternativas existentes e a

avaliação dos custos e benefícios antes da decisão de mudar.

4) Custos Comportamentais e Cognitivos Pós-Mudança – inclui a

percepção do cliente sobre o custo de tempo e esforço que incorrerá

para aprender e se adaptar as novas regras e procedimentos do

prestador para o qual mudou.

5) Custos de Inicialização (Setup) – são os custos que o cliente tem

que incorrer pela necessidade de aprendizado da empresa. Ou seja,

inclui os formulários que devem ser preenchidos para iniciar os

serviços, novos exames de saúde quando se muda de médico ou

dentista, ou a dificuldade de explicar ao novo cabeleireiro como o

cliente prefere que o seu corte seja feito. No caso de celular, o

principal custo deste tipo seria o cadastramento na nova operadora.

6) Custos Irrecuperáveis (Sunk Costs) – são aqueles custos

irrelevantes em termos econômicos, mas importantes do ponto de

vista psicológico. O tempo, dinheiro e esforço investidos na

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manutenção do relacionamento com o provedor atual. Ou seja, todos

os custos anteriores se convertem em custos irrecuperáveis assim

que a decisão de mudar é tomada. Colgate e Lang (2001) tratam

esses custos sob o nome de investimento no relacionamento.

Segundo estes autores, o investimento no relacionamento inclui a

confiança no prestador de serviços. O quesito confiança pode ser

muito importante em sociedades como a brasileira em que o papel

das relações sociais é tão importante a ponto de criar esferas de

ação social antagônicas como a proposta pela metáfora de “a casa e

a rua” de DaMatta (1997).

Jones et al. (2002) ainda alertam para o fato de que a relação entre a intenção de

recompra e os custos de mudança listados acima variam entre indústrias e que,

portanto, é importante para a empresa identificar quais são os custos relevantes

em cada setor.

No caso específico de telefonia celular, Lee et al. (2001) propõe que os custos de

mudança têm impacto diferente dependendo do nível de utilização do celular.

Segundo os autores, os custos são mediadores importantes entre satisfação e

lealdade no caso dos clientes que optam por planos que possibilitam falar até

quatro horas por mês. No caso de usuários de mais de quatro horas mensais, os

custos de mudança não têm papel importante e explicam que quando o uso

excede um determinado número de horas, a mudança se torna muito difícil e os

clientes passam basicamente a aceitar o que a empresa tem para oferecer.

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Ainda segundo os autores, os custos de mudança mais importantes para os

clientes de serviços de telefonia celular são o investimento feito no aparelho

antigo e a impossibilidade de manter o número quando se muda de operadora.

No primeiro caso, o custo é relevante quando não há a possibilidade de se utilizar

o mesmo aparelho em outra operadora. Isso acontece freqüentemente por causa

da incompatibilidade entre alguns modelos e as tecnologias de transmissão

(Analógico, TDMA, CDMA e GSM).

O outro custo está ligado à portabilidade do número. Segundo Gerport et al.

(2001), por exemplo, o principal motivo dos clientes insatisfeitos com os serviços

de telefonia celular não mudarem de operadora na Alemanha é a impossibilidade

de manter o mesmo número no novo prestador. O custo da troca surge da

necessidade de ter que comunicar o novo número a todas as pessoas que

possuíam o número antigo, atualizar cadastros e refazer cartões de visita, por

exemplo.

A portabilidade do número está programada para entrar em operação nos Estados

Unidos até o fim do ano de 2003 e, segundo Black (2003), a indústria de telefonia

celular deve viver uma reviravolta em termos dos níveis de mudança. Atualmente,

cerca de 147 milhões de americanos utilizam aparelhos celulares e a taxa de

mudança é de 27% ao ano. Isto significa que, a cada ano, cerca de 40 milhões de

usuários decidem mudar de operadora mesmo tendo que abrir mão do número

antigo.

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No Brasil, a regulamentação tanto da telefonia fixa quanto da móvel celular (SMP),

prevê a portabilidade do número, como foi mencionado anteriormente. Porém,

pelas dificuldades técnicas envolvidas ainda não há notícias de quando esse

sistema começará a operar.

Vale destacar que os custos de mudança só têm importância para a decisão de

mudar à medida que o consumidor tem alternativas atraentes à sua disposição.

Ou seja, a existência de alternativas antecede a consideração dos custos e

benefícios da mudança (LEE et al. 2001, p.38).

Jones e Sasser (1995) chamam de reféns os consumidores que estão presos a

uma empresa pelas altas barreiras à saída. Segundo os autores, “esses indivíduos

[os reféns] experimentam o pior que a empresa tem a oferecer e precisam aceitar

isso” (p.97). Há dois problemas principais em se ter uma base composta de reféns.

O primeiro está ligado ao fato de que grande parte dos clientes deve mudar de

empresa no momento em que surja uma alternativa no mercado percebida como

superior. O segundo é que, como defendem os autores, mesmo estando presos a

oferta da firma, esses clientes tendem a reclamar e a pedir serviços especiais

muito mais freqüentemente do que aqueles que escolhem a empresa de maneira

deliberada.

Bendapudi e Berry (1997) concordam que o problema dos relacionamentos

construídos à base de restrições à saída é que eles são altamente susceptíveis à

dissolução assim que as barreiras deixam de existir. Além disso, defendem que os

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consumidores que se sentem presos a um relacionamento com uma empresa

tendem a ser mais receptivos a ofertas e ações dos concorrentes. Já os clientes

que estão em uma relação por escolha, mesmo estando expostos às ações dos

concorrentes, são menos propensos a procurar por alternativas.

Após a revisão de literatura sobre comportamento de mudança sob a ótica dos

consumidores, é possível resumir o processo através do gráfico 1 a seguir.

Gráfico 1 – Etapas do Processo de Mudança

Fonte: Elaboração Própria

Insatisfeito

Satisfeito

Alternativas Custos

Avaliação de Custos e

Benefícios

Avaliação Pós-Mudança

Mudança

EEssttaaddoo IInniicciiaall ddoo

CCoonnssuummiiddoorr

MMeeddiiaaddoorreess ddaa MMuuddaannççaa

RReessuullttaaddoo

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3. METODOLOGIA DE PESQUISA

Por que os clientes mudam? O objetivo deste estudo exploratório é entender o

processo de mudança de operadora de telefonia celular sob a ótica do consumidor.

Identificar os motivos que levam à decisão de mudança, bem como, a percepção

das alternativas existentes e os custos envolvidos, culminando com uma avaliação

da experiência na nova empresa.

O estudo utilizou metodologia qualitativa denominada SPAT (ROOS, 1999, 2002;

ROOS et al. 2004), que consiste em uma variação da técnica de incidente crítico

(FLANAGAN, 1954; STAUSS, 1993). Na coleta de informações foram

entrevistadas 27 pessoas.

3.1 A Técnica de Análise do Caminho da Mudança SPAT

De acordo com Reichheld (1996), a mudança é fruto da percepção do consumidor

de que há uma queda no valor da oferta da firma. Além disso, é um processo que

envolve, na maioria das vezes, uma combinação de eventos até a decisão de

mudar. Portanto, a melhor maneira para entender como se dão esses processos é

entrevistar consumidores que mudaram.

Na visão de Reichheld e Sasser (1990), entender as causas que levaram os

consumidores a mudar pode ser útil para a empresa, na medida em que essas

informações podem ser utilizadas para evitar que um mesmo motivo leve outros

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consumidores a mudar. Ainda segundo Reichheld e Sasser (1990), “ao contrário

de pesquisas de mercado, o feedback dos clientes que mudaram tende a ser mais

concreto e específico. Com o feedback não se tenta medir fatores como satisfação

ou atitudes, que são subjetivos e mudam com freqüência, e não se levantam

questões hipotéticas que podem ser irrelevantes para o respondente. A análise da

mudança envolve questões específicas e relevantes sobre o porquê do cliente ter

mudado”(p.109).

Roos (1999) sugere um método para analisar os processos de mudança

denominado Técnica de Análise do Caminho da Mudança (SPAT, do inglês

Switching Path Analisys Technique). Segundo a autora, essa abordagem é uma

variante do método de incidente crítico adaptada para focar o relacionamento

cliente-empresa ao invés de se restringir a encontros de serviço específicos. Isso

é possível porque a mudança em si é definida como o incidente crítico e serve

como o ponto de referência para o consumidor entrevistado descrever todo o

processo que o levou à decisão de mudar. Esse processo que culmina na

mudança de empresa é denominado caminho da mudança.

A metodologia SPAT abrange tanto o final do relacionamento do cliente com a

empresa antiga, quanto o início do relacionamento com a nova empresa para qual

ele decidiu mudar. A mudança é usada pelo pesquisador como o ponto de partida

nas entrevistas, porém o objetivo final é entender o processo de saída da antiga

empresa e a avaliação pós-mudança que o entrevistado faz da nova

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empresa (ROOS et al., 2004, p.257). É, portanto, uma metologia que considera a

dinâmica do relacionamento consumidor-empresa.

As vantagens da utilização da metodologia SPAT para o estudo de

relacionamentos consumidor-empresa são, na visão de Roos (2002), que:

(i) o pesquisador consegue aproveitar as informações contidas

dentro dos incidentes críticos

(ii) o consumidor é quem determina os critérios que utilizará para

descrever o relacionamento

(iii) o tempo é descrito como um processo

(iv) o consumidor descreve um comportamento real e não

intencional. Além disso, o entrevistado consegue incluir em

sua descrição do processo o contexto em que a decisão foi

tomada.

Como afirma Roos (2002), em relação à outras técnicas de incidente crítico “a

metodologia SPAT se baseia em comportamentos reais do ponto de vista do

relacionamento” e, portanto, permite que o comportamento do consumidor seja

tomado como uma conseqüência do nível crítico de um relacionamento dentro de

um determinado contexto.

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Em síntese, a metodologia SPAT procura estudar a mudança como um processo,

incluindo o(s) evento(s) que desperta(m) o desejo de mudar (gatilho), o processo

de decisão da mudança (caminho da mudança) e o início do relacionamento do

consumidor com a nova empresa. O gráfico 2 a seguir ilustra o objetivo da técnica.

Gráfico 2 – Técnica de Análise do Caminho da Mudança (SPAT)

Fonte: Roos (1999 e 2002)

No caminho da mudança, o gatilho é o fator responsável por deixar o consumidor

suscetível à mudança. Ou seja, é o motivo que alimenta e dá direção à mudança

sem, entretanto, ser observável no processo. Roos (2002) identifica três diferentes

tipos de gatilhos, que são:

(i) Gatilho de Situação (Situational Trigger) - é aquele que

consiste em uma mudança na situação do consumidor que

está fora do escopo do relacionamento cliente-empresa em si.

Gatilho de:- Situação- Influência- Reação

Prestador A Prestador B

IncidenteCrítico

IncidenteCrítico

IncidenteCrítico

IncidenteCrítico

IncidenteCrítico

Caminho da Mudança Mudança

Processo:-Propulsor-Intensificador-Detentor

Entrevista

Gatilho de:- Situação- Influência- Reação

Prestador A Prestador B

IncidenteCrítico

IncidenteCrítico

IncidenteCrítico

IncidenteCrítico

IncidenteCrítico

Caminho da Mudança Mudança

Processo:-Propulsor-Intensificador-Detentor

Entrevista

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Exemplos incluem novos horários de trabalho, nova situação

financeira, uso do tempo livre, mudança na mobilidade

(compra de um carro que faz o consumidor deixar de utilizar

transportes alternativos) e mudanças demográficas.

(ii) Gatilho de Influência (Influential Trigger) – são motivos ligados

à situação competitiva e, portanto, específicos para cada

indústria. Acontecem quando o prestador de serviço atual

serve como base para comparação com outro prestador. A

situação típica é a da entrada de novas empresas no mercado

que promovem ações de marketing convidando os

consumidores a experimentar os seus serviços, seu novo

conceito.

(iii) Gatilho de Reação (Reactional Trigger) - são os motivos

ligados à mudanças na oferta da empresa. Exemplos típicos

são os casos de queda ou inconsistência na qualidade dos

serviços ofertados.

Os gatilhos são os motivos que levam os consumidores a considerar a mudança,

ou seja, a iniciar o caminho da mudança. Durante a mudança – parte efetivamente

visível do processo, que deriva sua energia e direção do gatilho – as justificativas

expressas pelos consumidores para mudar são descritas por Ross et al. (2004)

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como os determinantes da mudança. Como exemplo, segundo Roos et al.

(2004), muitas vezes os consumidores relatam que o preço do produto ou serviço

é um determinante da decisão de mudar. Porém, enquanto determinante da

mudança, o quesito preço pode estar ligado aos três tipos de gatilho. É possível

que o consumidor tenha perdido o emprego e por isso o serviço da empresa tenha

passado a ser caro demais para a sua nova realidade financeira, ilustração de

gatilho de situação combinado com determinante preço. Outro caso possível é o

do consumidor que considera o aumento de preços praticado pela empresa

abusivo e decide mudar – gatilho de reação com determinante preço. Por fim, uma

nova empresa oferece produtos ou serviços a preços menores do que os

concorrentes e faz os clientes mudarem alegando preço como o determinante:

gatilho de influência combinado com determinante preço.

Roos (2002) identifica três diferentes tipos de determinantes da mudança:

(i) Propulsor (pusher) – é o determinante que o consumidor

relata como motivo para mudar.

(ii) Intensificador (swayer) – é aquele determinante que influencia

positiva ou negativamente a mudança, sendo responsável por

encurtar ou prolongar o processo de mudança.

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(iii) Detentor (puller) – ou seja, os fatores que de alguma maneira

fazem com que o consumidor deseje voltar para o prestador

antigo, ou ainda, mudar somente parcialmente seu padrão de

consumo para incluir mais um prestador sem abandonar o

antigo.

Como ressaltam Roos et al. (2004), “a combinação de um gatilho com um

determinante da mudança revela mais sobre o fenômeno da mudança do que o

determinante visto de maneira isolada”, como no exemplo do determinante preço

antes descrito.

3.2 Coleta de Dados

Os relatos sobre os processos de mudança de operadora de telefonia celular

foram obtidos a partir de entrevistas com consumidores que mudaram de

operadora celular dentro de um período de até um ano. Foram realizadas 27

entrevistas, das quais 3 foram feitas pessoalmente e as restantes por telefone.

Todas as entrevistas foram gravadas, transcritas para posterior análise e

ocorreram no período de 30 de julho a 13 de agosto de 2003 (ver ANEXO I).

As entrevistas tiveram duração média de 26 minutos, com desvio padrão de 9

minutos. Todas foram conduzidas pelo autor deste trabalho e, da primeira para a

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última entrevista, foi possível observar uma tendência na redução do tempo de

duração das entrevistas de cerca de 30 para 20 minutos, resultado da prática

adquirida na condução das entrevistas por telefone.

Foi elaborado um roteiro (ver ANEXO II) para que a condução das entrevistas

passasse, necessariamente, pelos seguintes ítens: (i) motivos da mudança; (ii)

pontos positivos e negativos da operadora antiga; (iii) pontos positivos e negativos

da nova operadora; (iii) importância do número antigo; (iv) importância do aparelho

antigo; (v) papel da tecnologia na escolha da nova operadora; (vi) percepção

sobre o perfil das quatro operadoras que fornecem serviço na cidade do Rio de

Janeiro (Vivo, Oi, Tim e Atl); (vii) avaliação de satisfação da empresa atual.

3.3 Seleção dos Informantes

Os 27 entrevistados da amostra foram selecionados por conveniência, a partir de

contatos pessoais do autor deste estudo e de indicações dos próprios

entrevistados.

Todos os informantes eram moradores da cidade do Rio de Janeiro. A idade

média dos informantes foi de 24 anos (com desvio padrão de 4 anos), sendo que o

entrevistado mais novo tinha 19 anos e mais velho 38 anos. A distribuição dos

entrevistados, segundo a faixa etária, foi a seguinte:

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De 18 a 25 anos: 17 (62,96%)

De 26 a 30 anos: 9 (33,33%)

Mais de 30 anos: 1 (3,70%)

Com essa distribuição de idade, a amostra captou uma parcela mais jovem de

consumidores de telefonia celular. Jovem, mas não por isso, menos importante.

Segundo Pressinott (2003), 55% dos aparelhos celulares vendidos no Estado de

São Paulo entre outubro de 2002 e fevereiro de 2003 foram adquiridos por

pessoas de até 25 anos. Ainda de acordo com a autora, “independente de quem

paga, o interessante é que os jovens escolhem o aparelho e a operadora” (p.1).

Já quanto ao sexo do informante, a distribuição dos entrevistados foi a seguinte:

Homens: 12 (44,44%)

Mulheres: 15 (55,56%)

Quanto ao grau de instrução, 100% dos informantes possuíam pelo menos o nível

superior, mesmo que ainda em curso. A distribuição ficou da seguinte maneira:

Superior Incompleto: 8 (29,63%)

Superior Completo: 8 (29,63%)

Pós-Graduação: 11 (40,74%)

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4. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

O objetivo dessa sessão é apresentar e analisar as informações obtidas dos

informantes a partir das entrevistas.

4.1 Perfil de Uso dos Informantes

Antes de apresentar a análise dos relatos obtidos nas entrevistas, é ilustrativo

mostrar alguns dados referentes aos movimentos de mudança dos informantes

entrevistados.

Dos 27 entrevistados, 24 relataram um único processo de mudança e 3 deles

mudaram duas vezes de operadora de telefonia celular. O tempo médio da última

mudança até o ponto da entrevista foi de 6 meses com desvio padrão de 3. Os

estudos sobre o processo de mudança citados na revisão de literatura utilizam

como regra colher relatos de pessoas que tenham mudado no máximo há 6 meses

para garantir que a lembrança dos fatos seja recente. Neste estudo, pôde-se

perceber que, quanto maior o intervalo de tempo entre a mudança e a entrevista,

maior a dificuldade dos entrevistados se recordarem com exatidão dos valores

pagos no aparelho e contratados no plano escolhido. Entretanto, no tocante às

lembranças das motivações e dificuldades envolvidas, não foi percebida nenhuma

diferença significativa entre o grupo de entrevistados com menos ou mais de seis

meses da mudança.

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Foi, portanto, estabelecido que o período máximo entre a mudança e a entrevista

seria de até 01 ano. Na amostra deste estudo, 16 entrevistados, ou seja, 59,26%,

haviam mudado há menos de 6 meses. Os 11 restantes, 40,74%, mudaram em

períodos entre 6 e 11 meses.

Na “dança das operadoras”, o quadro foi também significativo. Em termos da

operadora antiga, ou seja, aquela da qual o consumidor mudou, 7 (25,93%)

consumidores eram clientes ATL, enquanto 20 (74,07%) eram clientes VIVO (ex

Telerj Celular e Telefônica Celular). No final da pesquisa, a distribuição dos

consumidores entrevistados entre as operadoras se apresentava da seguinte

maneira: TIM com 15 (55,56%), OI com 6 (22,22%), ATL com 5 (18,52%) e VIVO

com 1 (3,70%).

Quanto à permanência na operadora antiga, o tempo médio foi de 38 meses com

desvio padrão de 21. Foi freqüente o caso de consumidores que mudaram após

ficarem quatro ou cinco anos como clientes da mesma empresa.

Outra mudança observada foi quanto ao plano de serviço utilizado. Para a

operadora antiga, a maior freqüência de planos era a do tipo pós-pago, aqueles

em que se paga uma assinatura fixa por mês mais os minutos utilizados, com 13

(48,15%) entrevistados neste tipo de plano. Em seguida, empatados, estavam os

planos pré-pagos e os planos do tipo perfil, onde o consumidor paga uma quantia

fixa por uma quantidade de minutos e um adicional caso ultrapasse essa franquia,

cada um com 7 (25,93%) casos. No final da pesquisa, o quadro era diferente. O

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plano pós-pago passou a ser o menos utilizado pelos entrevistados, com apenas 1

(3,70%) caso. Quase empatado estava o uso do plano pré-pago, com 2 (7,41%)

entrevistados. A grande maioria, 24 casos (88,89%), passou a utilizar os planos do

tipo perfil.

Finalmente, foi feita também uma análise da mudança entre os fabricantes de

aparelhos celular. A principal diferença foi que com a entrada das operadoras TIM

e OI operando com tecnologia GSM, aparelhos da marca Siemens passaram a ser

utlizados por 9 (33,33%) entrevistados. As fabricantes Motorola e Nokia, por sua

vez, se mantiveram relativamente estáveis enquanto a Samsung perdeu

participação na amostra, saindo de 4 casos para somente 1, uma queda de 75%.

Por fim, a marca Qualcomm deixou de ser utilizada pela amostra.

4.2 Análise Qualitativa das Entrevistas

Antes de apresentar a análise dos relatos obtidos dos consumidores, é importante

frisar que a separação dos entrevistados em consumidores que mudaram

satisfeitos e consumidores que mudaram insatisfeitos foi realizada a partir da

avaliação do entrevistado em relação ao seu grau de satisfação com o pacote de

serviço oferecido pela prestadora antiga.

Assim, um entrevistado classificado como consumidor que mudou satisfeito não

significa um consumidor que estava satisfeito com todos os atributos do serviço

oferecido pela operadora antiga. Significa, entretanto, que os atributos com os

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quais estava satisfeito eram superiores – seja em número, em importância ou

ambos – aos que os deixavam insatisfeito. De maneira similar, os entrevistados

classificados como consumidores que mudaram insatisfeitos foram aqueles que

poderiam estar satisfeitos com algum aspecto do serviço, porém insatisfeitos com

um maior número de aspectos, ou ainda com aspectos que julgava mais

relevantes no serviço.

Com base no modelo de Análise do Caminho da Mudança SPAT, os entrevistados

foram classificados quanto ao estado inicial de satisfação, o gatilho e o

determinante da mudança. O gráfico 3 a seguir apresenta a classificação dos

processos de mudança descritos pelos consumidores entrevistados.

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Gráfico 3 – Resumo dos Processos de Mudança descritos pelos entrevistados

Insatisfeito4 casos

Gatilho de Situação2 casos

Gatilho de Reação2 casos

Serviço de Atendimento

2 casos

Conta Elevada2 casos

Satisfeito23 casos

Gatilho de Situação2 casos

Gatilho de Influência21 casos

Aparelho8 casos

Realidade Financeira

2 casos

Preço13 casos

ModeloIndefinido6 casos

ModeloDefinido2 casos

Estado Inicial Estado Inicial do do

ConsumidorConsumidorGatilhoGatilho Determinante da MudançaDeterminante da Mudança

Fonte: Elaboração Própria

4.2.1 A Mudança do Consumidor Insatisfeito

Os casos nos quais os consumidores mudaram dizendo-se insatisfeitos com o

serviço da operadora foram pouco freqüentes entre os entrevistados. Somente 4

consumidores atribuíram a mudança à insatisfação com algum aspecto do serviço

da empresa. Os gatilhos destes processos de mudança foram o de reação, em 2

casos, e o de situação nos outros 2 casos.

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4.2.1.1 Gatilho de Reação

Nos casos de gatilho de reação, o determinante da mudança foi a insatisfação

com o serviço de atendimento ao cliente da operadora antiga, como pode ser

observado nos relatos descritos abaixo.

O consumidor 2 decidiu desativar o seu telefone celular após ter recebido uma

ligação da empresa comunicando que a sua linha seria desligada em poucos dias

por falta de pagamento.

“A conta era débito automático daí eu me mudei e passou a ser

conta normal. Não sei o que aconteceu com uma conta, o meu pai

pagava, e no meio dos papéis sumiu. Aí me ligaram de uma forma

pouco cortês me avisando que em dez dias o meu nome estaria no

SPC [Serviço de Proteção ao Crédito]. Aí eu não entendi nada. (...)

Das contas que o meu pai pagava era a menos importante (...) Como

o meu telefone estava começando a dar problema eu falei: ‘Dane-se

a ATL’, e mandei desligar o telefone para deixar de pagar o plano

perfil. Aí acabou a ATL para mim (...) Eles até falaram que eu

poderia manter o número bloqueado por um mês mas eu já estava

tão de saco cheio com a ATL - eu acho que o pessoal do serviço de

atendimento nunca podia ter feito um negócio desses”.

(consumidor 2)

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A ligação do serviço de atendimento dessa empresa causou uma reação tão ruim

no consumidor 2 que ele pediu para desligar o seu telefone antigo antes mesmo

de ter um novo número.

“Acabou que eu me conformei em ficar sem telefone. (...) Fiquei sem

celular uns dez dias só que a minha namorada não agüentava mais

ficar sem conseguir me achar e comprou um celular novo para mim.

Quer dizer, ela comprou o celular e eu paguei”. (consumidor 2)

O segundo caso de gatilho de reação e insatisfação com o serviço de atendimento

como determinante da mudança foi o do consumidor 4. Esse consumidor utilizava

o aparelho da sua mãe há mais de um ano e teria que devolvê-lo. A sua intenção

era comprar um novo aparelho, habilitá-lo com o número de sua mãe e então

devolver o aparelho antigo com um novo número para ela.

Ao tentar se informar sobre como fazer essa operação em um quiosque da

empresa, localizado em um hipermercado, ficou extremamente insatisfeito com a

má vontade do representante da empresa que, na sua visão, só conseguiu

apresentar dificuldades para que o processo fosse realizado.

“A minha mãe queria o telefone dela de volta. Aí a gente foi comprar

um outro VIVO. Eu queria ficar com o número dela porque eu já

estava usando há um ano e tinha esse número em cartão, currículo

(...) Quando eu fui comprar o aparelho, o cara da loja da VIVO me

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tratou muito mal. Ele me falou que não dava para fazer isso, que

tinha que pagar uma taxa e que eu teria que ir pra outra loja porque

ali ele não fazia. Ainda me disse que enquanto essa mudança fosse

feita eu teria que ficar sem os dois aparelhos”. (consumidor 4)

Combinado com a insatisfação em relação ao atendimento no quiosque da

operadora antiga, a disponibilidade de ofertas das operadoras concorrentes dentro

do mesmo hipermercado parece ter levado o consumidor à rápida decisão de

mudança, como conta em seu depoimento:

“Aí quando a gente foi pagar as compras, tinha uma loja da OI e TIM

e eu entrei de bobeira. (...) Os celulares eram muito mais baratos do

que os que eu tinha visto na VIVO, aí eu decidi ficar na OI. Comprei

por impulso. Tanto que eu nem entrei em nenhuma promoção. (...)

Eu fiquei com muita raiva da VIVO”. (consumidor 4)

4.2.1.2 Gatilho de Situação

Os outros dois casos de insatisfação apresentaram gatilho de situação e a

percepção de que as contas mensais do telefone celular eram muito elevadas

como determinante da mudança.

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Foi o caso do consumidor 12, que tinha um plano do tipo perfil porém

normalmente excedia os minutos da franquia e, por isso, achava que suas contas

atingiam sempre valores muito elevados.

“Eu mudei porque eu pagava sempre muito caro. Quer dizer, eu falo

demais no telefone. (...) Eu tinha aquele plano perfil de 100 mais 100

minutos mas sempre passava. Aí minha conta sempre vinha acima

de R$100. Aí eu vi em um ponto de ônibus que a TIM estava fazendo

uma promoção de 500 minutos por R$99 (...) e ainda tinha um monte

de celular lá que você escolhia e comprava por R$1. Ou seja, levava

o celular de graça, né?” (consumidor 12)

O consumidor 23 também estava insatisfeito com o valor de suas contas mensais

no operadora antiga e relata seu processo de mudança a seguir:

“Eu já estava questionando se valia a pena ter um celular porque a

minha conta vinha sempre mais de R$100. Aí no meu aniversário

roubaram o meu celular. (...) Eu não sei te explicar por que mas foi

um alívio. Eu não queria mais celular, nem queria aquela conta. (...)

O problema é que eu precisava profissionalmente ter o celular. (...)

Aí quando eu decidi voltar, a primeira coisa que eu pensei foi que

tava todo mundo dizendo que a OI e a TIM, além de oferecerem um

serviço mais moderno, a conta vem mais barata”. (consumidor 23)

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A importância de não voltar a gastar a mesma quantia que gastava na operadora

antiga pode também ser percebida quando o consumidor enumera os principais

atributos que buscava naquele momento da escolha de uma nova operadora.

“Aí eu fui eliminando. Eu precisava de uma [operadora] que eu não

gastasse muito dinheiro todo mês e que as ligações interestaduais

não fizessem a minha conta ficar ainda superior a cento e pouco por

mês. Daí a diferença entre a TIM e OI da VIVO e ATL foi absurda.

Na verdade eu nem conseguia comparar com a ATL, porque com a

minha raiva com relação à TELEFÔNICA, eu agora já queria ou TIM

ou OI, uma das novas, porque pra mim a ATL e TELEFÔNICA

estavam no mesmo pacote”. (consumidor 23)

Os testemunhos dos consumidores 12 e 23 parecem estar de acordo com o

estudo de Joo et al. (2002), que sugere ser difícil para os consumidores escolher o

plano ideal dentre tantas opções e que isso traz implicações sobre a retenção de

clientes. Segundo eles, os consumidores de telefonia móvel sentem dificuldade

em entender os diferentes pacotes de preços e tarifas, bem como, em prever sua

demanda futura pelo serviço. Com base em um estudo sobre o padrão de

consumo de 10.000 consumidores, os autores concluíram que 40% deles estavam

utilizando planos mais caros do que precisariam pelo seu padrão de uso. Além

disso, identificaram menores taxas de mudança (churn rate) entre os restantes

60% que possuíam um plano de serviços adequado ao seu nível de uso.

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O fato de apenas quatro processos de mudança terem sido classificados como

mudança por insatisfação não significa que todos os outros consumidores

deixaram as operadoras totalmente satisfeitos. A maioria dos consumidores

relatou alguma insatisfação com relação a atrasos e erros na conta, dificuldade de

acessar o serviço de atendimento ao consumidor, impossibilidade de ter pontos

suficientes em programas de relacionamento para poder obter novos aparelhos ou

mesmo com promessas não cumpridas das propagandas. Os relatos a seguir

ilustram esse ponto:

“A única coisa que eu não gostava era que, no início, para saber o

meu saldo eu era cobrado por isso. (...) Eu achava isso muito ruim,

porque eu estou querendo me controlar. De repente eu só tenho

R$0,50 de saldo e só para saber o saldo, o saldo acabava”.

(consumidor 7)

“O que me irritava muito na TELEFÔNICA era a recepção. Tinha

lugares que era para pegar e não pegava. Às vezes tinha até um

ATL do lado que pegava e o meu não funcionava. (...) E isso é que

era para ser o diferencial deles. Tem até aquela propaganda que o

cara diz que ‘Vivo aqui só tem eu, o fulano e o meu VIVO’, mas não

é nada disso”. (consumidor 13)

A insatisfação com alguns quesitos da operadora antiga parece ter deixado os

consumidores mais atentos ao desempenho da nova operadora nestes mesmos

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quesitos. Os testemunhos sugerem que esses aspectos do serviço ficaram mais

suscetíveis à comparação do que outros que não geravam insatisfação. O relato

do consumidor 17, cujo motivo principal da mudança foi a oferta de um plano mais

atraente por uma operadora concorrente, exemplifica esse ponto:

“O sinal era muito ruim. (...) Agora melhorou muito. Só tinha um

lugar na minha casa em que funcionava o celular antigamente. Agora

eu posso estar em qualquer lugar da minha casa que o celular

funciona”. (consumidor 17)

4.2.2 A Mudança do Consumidor Satisfeito

A maioria dos entrevistados, 23 casos no total, mudou declarando estar satisfeita

com o pacote de serviços da operadora antiga. Expressões como “não tinha

problema nenhum”, “estava tudo bem” e “eu estava muito satisfeito com o que

tinha na operadora antiga”, sugerem que esses consumidores não tinham a

intenção de mudar, entretanto, a ação da concorrência ou o desejo de um novo

pacote de serviços não oferecido pela operadora antiga, parece ter motivado a

mudança dos satisfeitos.

Em termos de gatilho destes processos de mudança, 21 casos apresentaram

gatilho de influência, ou seja, situações onde a ação da concorrência provocou a

mudança. Os restantes 2 casos apresentaram gatilho de situação, situações em

que mudanças no próprio consumidor despertaram o processo de busca de uma

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nova operadora. Não houve casos de gatilho de reação entre os consumidores

que mudaram declarando-se satisfeitos. Esse fato parece estar dentro do

esperado pois, como destacam Roos et. al. (2004), “consumidores motivados por

gatilho reacional estão, normalmente, muito insatisfeitos e, tão logo exista a

possibilidade, mudam completamente de empresa” (p.263).

4.2.2.1 Gatilho de Influência

Dos 21 casos de gatilho de influência, 13 foram de consumidores que mudaram

porque a concorrência ofereceu planos mais baratos do que a operadora antiga,

tendo portanto, o preço como determinante da mudança.

O consumidor 8, por exemplo, mudou para um plano que permite ligações

gratuitas nos finais de semana para telefones da mesma operadora durante trinta

e um anos. Mesmo percebendo a nova operadora como inferior à antiga em

termos de área de cobertura do serviço, ele declara que a promoção é tão

vantajosa que, por enquanto, só mudaria caso a promoção fosse revogada. Assim,

quando perguntado por que voltaria para a operadora antiga ele diz:

“A cobertura seria um motivo que eu voltaria para a VIVO. (...) Não

está sendo suficiente ainda porque na maior parte do tempo eu

consigo falar bem pelo meu celular. Não tem me incomodado tanto

ele não funcionar na hora do almoço. (...) Não me incomoda o

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suficiente e eu vou dizer: ‘eles conseguiram me comprar’. Essa

promoção do final de semana é sensacional”. (consumidor 8)

Logo em seguida, quando perguntado se mudaria novamente, desta vez para

outra operadora que não a antiga, o consumidor volta a destacar como o plano de

serviços da sua operadora atual é visto como “bom negócio”.

“Hoje, se a OI fala que por algum motivo a Anatel cassou essa

promoção dos 31 anos, eu mudo automaticamente. Eu saio na hora,

sem dúvida. Como eu acho que isso não vai acontecer, essa

promoção ainda me prende muito fortemente à empresa”.

(consumidor 8)

A possibilidade de falar com um outro telefone da mesma operadora gratuitamente,

foi o que motivou a mudança do consumidor 24, como comenta no relato a seguir:

“Eu mudei, basicamente, porque entraram operadoras novas no

mercado que vieram cheias de promoções. Eu entrei em uma dessas

promoções e mudei. (...) Hoje eu uso um plano onde eu posso falar

com uma pessoa de graça até o final do ano. (...) É até engraçado

porque hoje eu não falo mais com a minha namorada por nenhum

número fixo e nem uso o meu telefone fixo para ligar para ela. Só

uso o celular”. (consumidor 24)

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Mais adiante na entrevista, esse consumidor demonstra que estaria disposto a

mudar de operadora novamente quando a promoção que o fez entrar na

operadora expirasse, conforme relato:

“Porque nesse TIM que eu tenho, a promoção acaba em dezembro.

(...) Como eu sei que vai chegar o Natal e vai ter um monte de

promoção do tipo ‘compre 1 e leve 5’, eu adio a troca definitiva para

dezembro”. (consumidor 24)

Uma outra maneira de contratar um plano de serviços celular mais atrativo em

termos de custo, que surgiu em alguns relatos, foi o plano corporativo ou plano

empresa. Estes, em geral, apresentam condições de custo diferenciadas em

relação aos planos acessíveis por pessoas físicas.

O consumidor 22 relata que todo o escritório onde trabalhava rescindiu contrato

com a operadora antiga para contratar uma empresa que foi até eles com uma

oferta, percebida por todos, como muito mais vantajosa. A decisão de mudar foi

individual e voluntária.

“Aqui no banco, tinha o plano empresa TELEFÔNICA. A gente

estava até satisfeito, não tinha problema nenhum. Só que a TIM veio

com um plano muito agressivo. A mudança foi pelo custo do serviço

que a TIM ofereceu para gente. (...) O custo-benefício da TIM é

muito superior. Mesmo com esse problema do sinal. Eu estaria

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gastando três vezes mais se estivesse com a TELEFÔNICA ainda. A

economia vale o sacrifício do sinal.” (consumidor 22).

Ao inciar um novo emprego, o consumidor 7 passou a usar o celular como

ferramenta de trabalho e, por isso, pesquisou alternativas atraentes para deixar o

serviço pré-pago que utilizava anteriormente, como relata:

“Eu era do pré-pago da TELEFÔNICA e quase não usava o telefone.

Só recebia ligação, era tipo ‘pai de santo’. Aí eu comecei a trabalhar

em consultoria, ficava muito tempo no cliente e precisaria mais do

celular. (...) Como eu era cliente antigo, resolvi ligar pra

TELEFÔNICA, mas não me deram nenhum atrativo maior. (...) Além

disso, um dos clientes da consultoria é a TIM e, conversando com o

pessoal da TIM, me ofereceram entrar no plano de funcionários da

TIM”. (consumidor 7)

No caso do consumidor 3, a decisão de mudar para um plano corporativo de uma

outra operadora ocorrreu depois que seu aparelho celular foi roubado. Segundo

ele, a troca foi muito vantajosa financeiramente, permitindo que as faturas mensais

fossem reduzidas pela metade. É interessante notar que o consumidor já esperava

encontrar no plano empresa melhores condições do que possuía como pessoa

física e, por isso, teve a iniciativa de pesquisar se a empresa em que trabalhava

teria alguma oferta, como relata a seguir:

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“Eu fui assaltada no ônibus e tinha que comprar outro celular. Como

eu trabalho na Empresa X eu resolvi ver se tinha algum esquema de

desconto por lá. Na época tinha um convênio com a ATL. Estava

também com uma promoção do Dias dos Pais e eu comprei o

aparelho baratinho e troquei para a ATL no plano corporativo. (...)

Para falar 100 minutos no plano corporativo eu pagava R$35,00 na

época. Antes, eu gastava uns R$70,00. Valeu muito a economia”.

(consumidor 3)

A existência de um convênio com uma operadora na empresa em que começou a

trabalhar foi também o motivo que levou o consumidor 5 a mudar de operadora,

como pode ser percebido no relato a seguir:

“Eu comecei a trabalhar na Empresa X. (...) Com esse plano

corporativo eu tinha o direito de comprar aparelhos bons com

desconto, fora o desconto nas tarifas. Pago R$40,00 para falar 100

minutos. Ou seja, o custo benefício é muito maior. Vou ligar muito

mais vezes em função disso. (...) Agora eu falo mais ao telefone.

Antes eu ligava menos porque sabia que a ligação era mais cara.

Então mudei para esse plano em função disso.” (consumidor 5)

A política de vendas agressiva de uma operadora parece ter sido responsável pela

mudança do consumidor 27. No caso deste entrevistado, a nova operadora foi até

a empresa onde trabalhava - e da qual o seu pai era um dos sócios - e ofereceu o

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dobro de minutos de conversação pelo mesmo custo do plano antigo, além de não

ter cobrado nada pelos aparelhos novos. É interessante perceber como logo no

início da estória sobre a mudança, o consumidor diferencia o plano de serviços

corporativo contrastando com o “plano comum”, ou seja, o plano acessível por

pessoas físicas.

“Eu tenho plano empresa, não é plano comum, lá da empresa do

meu pai. A gente tinha um plano da TELEFÔNICA que era bacana.

Aí a TIM veio e fez uma proposta para o meu pai que era uma coisa

muito maior do que a gente tinha. Vou dar um exemplo: a gente tinha

20 telefones com 5 mil minutos de conversação por mês para todos

eles. A TIM deu 10 mil minutos pelo mesmo valor. Então foi o dobro

pelo mesmo valor. Eu acho que foi mesmo pelo valor que o meu pai

trocou e todo mundo da empresa aceitou trocar. Até porque eles

também deram os aparelhos. Eu estou com um telefone hoje que

tem câmera”. (entrevistado 27)

No final da entrevista, esse mesmo entrevistado sugere que, somente pela

mudança da operadora, a troca não teria nenhum sentido para ele. O que fez com

que aceitasse mudar foi o fato da operadora antiga não ter conseguido oferecer

um plano tão atraente, segundo comenta:

“Eu estava muito satisfeito com o que eu tinha na VIVO. Continuaria

na VIVO com certeza. Se eles tivessem oferecido o que a TIM veio

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aqui na empresa para oferecer eu acho que ficaria lá para sempre”.

(consumidor 27)

De maneira semelhante, a abordagem de venda agressiva da concorrência parece

ter levado o consumidor 1 a mudar duas vezes de operadora, como mostra no

depoimento a seguir:

“A TIM foi lá no trabalho do meu pai. Aliás, as duas vezes que eu

mudei no plano empresa foi por causa disso. Os caras é que vão lá

no trabalho do meu pai. A TIM foi lá e ofereceu esse plano ‘meu

sonho’, onde eu posso falar de graça com um número TIM durante

um ano e pago R$50 por 100 minutos. Aí meu pai trocou, eu troquei,

minha mãe trocou, a família inteira trocou. (...) Os aparelhos também

eram muito mais baratos”. (consumidor 1)

Logo em seguida ele comenta sobre a segunda mudança de operadora, que

ocorreu também por ação comercial de uma operadora concorrente. É

interessante notar que as operadoras de telefonia celular parecem já ter se dado

conta de que os planos empresa oferecem grande atratividade e, desta forma,

permitem que os funcionários da empresa conveniada indiquem um determinado

número de pessoas de fora da empresa para fazer parte do plano.

“Agora foi a mesma coisa. A moça da OI foi lá e bateu na porta do

trabalho do meu pai com um plano empresa OI. Nesse plano as

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pessoas da empresa pagam R$39,00 e falam à vontade entre elas.

O aparelho saiu por R$1,00. (...) Agora também botei a família do

meu namorado inteira”. (consumidor 1)

O acesso do consumidor 18 ao plano empresa de uma nova operadora se deu de

maneira ainda mais indireta do que no caso descrito anteriormente. Foi através de

convênio com a empresa em que trabalha uma amiga, segundo comenta a seguir:

“Não tenho reclamação nenhuma da minha operadora antiga, a ATL

(...) Aí surgiu a oportunidade de comprar um telefone da TIM. (...)

Não teve problema nenhum, foi a oportunidade de comprar o da TIM.

(...) A vantagem foi que apareceu uma amiga nossa que ia comprar

um telefone pelo plano empresa e o vendedor falou que poderia

vender vários. Então seis amigas minhas compraram o mesmo

telefone. Era muito barato. R$40,00 o aparelho. Sabe, foi essa a

vantagem. Eu tinha um plano perfil na ATL e hoje continuo com um

plano perfil até R$5,00 mais barato”. (consumidor 18)

O desejo de ter um novo aparelho celular foi motivador da mudança associado

ao gatilho de influência no caso de 8 consumidores que mudaram satisfeitos com

a operadora antiga. Dentro deste grupo, 6 consumidores buscavam apenas

aparelhos com características específicas (como tamanho, cor ou tecnologia),

enquanto outros 2 consumidores desejavam um aparelho celular de marca e

modelo específicos.

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Nos casos em que o desejo era em relação à algumas características específicas,

a mudança de operadora esteve associada à uma troca financeiramente vantajosa.

Em outras palavras, além de passar a ter um novo aparelho com as características

desejadas, os consumidores estiveram preocupados em garantir que a mudança

de operadora os deixasse, pelo menos, em condições de gasto iguais as que

tinham na operadora antiga.

No relato a seguir, o consumidor 25 não desejava nenhum modelo específico mas

um aparelho que apresentasse um certo conjunto de características. Pesquisou na

operadora antiga e não encontrou nenhuma alternativa que o satisfizesse, como

demonstra:

“Eu queria muito trocar de aparelho. Muito mesmo (...) Eu estava

cansada, queria uma coisa moderna, menor. Queria sem antena e

sem flip. Os modelos que eu tinha visto da VIVO eram todos nessa

faixa de R$700,00. E mesmo com aquela pontuação toda que eu

tinha sendo cliente da VIVO há trocentos anos, não chegaria nem

perto. Eu pegaria os 25.000 pontos que eu tinha e ainda teria que

colocar mais R$500,00. Então quando a TIM surgiu, acaso ou não,

veio com várias coisas que eu queria: aparelho novo, preço ridículo e

plano bom. Tanto que a minha conta na VIVO custava duzentos

reais e a minha conta agora na TIM custa R$70,00”. (consumidor 25)

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O depoimento do consumidor 13 sugere que ele também se decepcionou com o

fato do programa de fidelidade não gerar vantagens em relação às ofertas da

concorrência quando decidiu trocar de aparelho celular.

“Quando eu decidi mudar de aparelho ainda liguei pra VIVO, porque

eu era cliente top e, de repente, eu ganhava um aparelho. Eu tinha

esse negócio há três anos e tinha a metade dos pontos que

precisava pra ganhar um aparelho. (...) Era ponto pra burro. Eu ainda

perguntei: ‘Mas com esses pontos que eu tenho eu não consigo

nada? Um desconto na compra do aparelho?’ E aí a resposta era só:

‘Não, não, ...’ Era aquela mulher de telemarketing, sabe? (...) Aí eu

comparei os tipos de plano da VIVO e da TIM. Em qualquer tipo de

plano ficava mais barato, cinco, dez reais, às vezes mais, na TIM. (...)

Está um pouco mais barato mas está mais barato. E eu ainda tinha

ficado meio chateado com essa estória toda do aparelho e do plano

de pontos”. (consumidor 13)

Por outro lado, quando os consumidores desejavam um modelo de aparelho

específico, a mudança aconteceu mesmo não sendo percebida como vantajosa

financeiramente.

No relato do consumidor 6, a escolha foi pelo aparelho e a operadora veio como

conseqüência, por ser a única empresa que oferecia o aparelho desejado na

época.

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“[o aparelho antigo] era um Nokia básico. No início eu não estava

dando bola. Depois eu comecei a achar ele grande. Aquela coisa de

querer um telefone mais bonitinho. E me apaixonei por um aparelho.

Primeiro foi pelo Samsung Slim, aquele fininho. Eu estava

paquerendo e ia comprar. Aí não sei o que aconteceu, fiquei adiando

até que saiu esse aqui, o Samsung Luminix. Fiquei apaixonada pelo

aparelho. (...) Então, quer dizer, a ATL foi uma escolha pelo aparelho.

Não escolhi a ATL. Escolhi o aparelho e o aparelho era da ATL. Se

eu pudesse teria escolhido até um com chip para poder viajar para a

Itália e poder só trocar o chip”. (consumidor 6)

A troca foi percebida como desvantajosa em termos financeiros para o consumidor

16. Desvantajosa porque na operadora antiga podia falar com seus pais e irmão,

todos clientes da operadora antiga, com tarifas diferenciadas. Portanto, ao decidir

mudar abriu mão das tarifas promocionais que desfrutava na operadora antiga.

“Eu já estava querendo mudar o aparelho há algum tempo. Só que

na hora de trocar o aparelho eu tinha gostado de um que, até então,

eu só tinha visto na ATL. (...) Eu mudei mesmo por causa do

aparelho. Uma vantagem da TELEFÔNICA para mim é que o meu

pai, minha mãe e meu irmão, todos têm telefone da TELEFÔNICA.

Aí como eu fui pra ATL e fiz um plano de minutos, a minha conta

está mais cara. Na TELEFÔNICA era mais vantajoso porque nas

ligações de uma operadora para a mesma normalmente eles dão

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desconto. Então, se eu tivesse um VIVO, certamente a minha conta

seria mais barata”. (consumidor 16)

Adiante na entrevista, o consumidor conta que pouco tempo depois a operadora

antiga começou a comercializar o mesmo aparelho que provocou a mudança.

Novamente parece que a mudança foi impulsionada pelo desejo de um aparelho

específico, um motivo mais emocional.

“Foi coisa de, sei lá, quinze ou vinte dias, eu vi que tinha chegado na

VIVO o aparelho idêntico. Antes eu procurei e não tinha em

nenhuma loja da TELEFÔNICA. Só na ATL. Foi por isso que eu

escolhi a ATL”. (consumidor 16)

4.2.2.2 Gatilho de Situação

Dentre os consumidores que mudaram declarando estar satisfeitos com a

operadora antiga, 2 processos foram motivados porque mudou a realidade

financeira dos consumidores.

O consumidor 19 relata que, quando começou a trabalhar, procurou dentre as

operadoras do mercado um plano de serviços que ele pudesse pagar e, com isso,

deixar de usar o telefone antigo pago por sua mãe. É interessante perceber que

este consumidor afirma ter iniciado sua busca em anúncios de jornal e não tentou

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nenhum contato com a operadora antiga a fim de obter um pacote de serviços nos

moldes que desejava:

“Eu tinha um ATL. O problema é que a minha mãe continuava a

pagar a minha conta. (...) Eu comecei a trabalhar e queria começar a

pagar a minha conta. Queria também um plano mais barato e trocar

o aparelho porque o meu era muito antigo. (...) Aí eu comecei a dar

uma olhada em jornal mas nada muito sério. Até que eu falei com um

amigo que tinha mudado para a TIM com um plano de 25 minutos

por R$25. (...) Eu me interessei, fui até a TIM e descobri que, fora

isso, eles estavam comprando aparelhos usados de outras

operadoras”. (consumidor 19)

Ao iniciar o curso de mestrado, o consumidor 15 conta que desejou mudar o gasto

com o telefone celular. Segundo comenta, precisava mudar o plano de serviço

para o sistema pré-pago. Tentou contato com a operadora antiga mas não obteve

o que queria e, portanto, acabou buscando alternativas nas outras operadoras.

“Quando eu fiz o meu orçamento para passar um tempo sem renda,

calculei que precisaria passar o telefone para o serviço pré-pago

para reduzir a despesa. (...) Eu tentei fazer a mudança da minha

linha na própria TELEFÔNICA mas a atendente disse que só seria

possível se fizesse essa mudança na loja. (...) Aí pensei na ATL por

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causa da cobertura e eles ofereciam aparelhos bem acessíveis para

operar no plano pré-pago.” (consumidor 15)

4.2.3 A Percepção das Alternativas

A percepção dos consumidores sobre as operadoras alternativas existentes,

parece ser importante no processo de escolha da operadora para a qual se vai

mudar. A existência de alternativas percebidas como superiores à opção antiga é

pré-requisito para que a mudança ocorra (HIRSCHMAN, 1970; STEWART, 1998).

Pode também encurtar ou prolongar o processo de mudança, uma vez que traz

para o consumidor aspectos positivos e negativos que devem ser ponderados na

hora da escolha da nova operadora. Portanto, a percepção das alternativas

funciona como o que Roos (2002) denomina determinante intensificador da

mudança, discutido no item 3.1.

Durante as entrevistas foi pedido aos entrevistados que descrevessem como seria

o perfil típico dos consumidores de cada uma das quatro operadoras atuantes na

cidade do Rio de Janeiro.

A partir dos relatos, duas dimensões parecem ser as mais importantes na

diferenciação destas operadoras: a consistência do serviço e a abrangência do

público-alvo. O gráfico 4 a seguir ilustra as percepções.

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Gráfico 4 – Percepção das Operadoras atuantes no Rio de Janeiro

• Serviço Consistente

• Público Restrito

• Serviço Consistente

• Grande Público

• Serviço Promissor

• Público Restrito

• Serviço Promissor

• Grande Público

NívelNívelde de

ServiçoServiço

AbrangênciaAbrangênciado do

PúblicoPúblico--AlvoAlvo

• Serviço Consistente

• Público Restrito

• Serviço Consistente

• Grande Público

• Serviço Promissor

• Público Restrito

• Serviço Promissor

• Grande Público

NívelNívelde de

ServiçoServiço

AbrangênciaAbrangênciado do

PúblicoPúblico--AlvoAlvo Fonte: Elaboração Própria

4.2.3.1 VIVO: A Operadora dos Conservadores

Tradicionais, conservadores, temerosos à mudança, preguiçosos, inertes e de

maior poder aquisitivo. Esse foram os adjetivos mais freqüentemente utilizados

para descrever o perfil típico dos consumidores VIVO. A idéia de antiguidade não

é de se estranhar, uma vez que esta foi a primeira empresa a oferecer o serviço

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de telefonia celular na cidade do Rio de Janeiro, ainda como a estatal Telerj

Celular.

O fato de ser a mais antiga gerou também duas outras associações. A primeira foi

que teria os clientes de maior poder aquisitivo, o que parece estar associado aos

clientes que puderam pagar um preço muito elevado para ter acesso ao serviço

nos primeiros anos em que foi oferecido, antes mesmo da privatização. A outra

associação foi que, por ser a mais antiga operadora celular na cidade, teria o

melhor serviço em termos de área de cobertura.

Adicionalmente, alguns entrevistados apresentaram dificuldade em identificar a

mudança da marca TELEFÔNICA para VIVO, como demonstram os depoimentos

a seguir:

“Normalmente essas pessoas que têm telefone há muito tempo são

clientes TELEFÔNICA. (...) As pessoas, mais velhas não digo, mas

que usam há mais tempo. E até que tem um poder aquisitivo maior,

porque elas podiam ter telefone numa época que era muito caro”.

(consumidor 2)

“O consumidor da TELEFÔNICA é geralmente mais conservador. (...)

E acha que ela está há mais tempo no mercado e oferece mais

segurança. As pessoas que eu vejo que têm TELEFÔNICA são

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aquelas que acham que têm a cobertura melhor. E no fundo as

coberturas são todas as mesmas”. (consumidor 10)

“Pelas pessoas que eu conheço da VIVO, eu acho que são aquelas

que já têm telefone celular há bastante tempo. (...) Tem conta

mesmo, fatura. Gosta do serviço e, por isso, está disposto a pagar

um pouco mais. Porque é um pouco mais caro”. (consumidor 14)

O consumidor 25, por exemplo, trabalhou durante alguns anos em empresa aérea

e faz uma analogia com a TELEFÔNICA.

“Acho que quem era da TELEFÔNICA ou está com medo de mudar

pra TIM, porque não quer trocar o certo pelo duvidoso, ou está

satisfeito com a empresa mesmo. (...) A TELEFÔNICA para mim

está ultrapassada. É igual a VARIG, só tem nome”. (consumidor 25)

Algumas vezes, o fato de permanecer cliente de uma empresa que é a mais antiga,

pode gerar a percepção de inércia e acomodação.

“O consumidor VIVO é aquele que está parado no tempo, que não

viu que tem opção melhor. (...) É o consumidor que está na inércia”.

(consumidor 9)

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“O pessoal da TELFÔNICA é aquele pessoal mais antigo. Acredito

que foi no embalo. Já tinha telefone há muito tempo, não quer trocar

de número, aí trocou para a VIVO e continuou no embalo. Vamos

que vamos”. (consumidor 7)

4.2.3.2 ATL: A Operadora dos Pré-Pagos

A ATL foi a segunda operadora a oferecer os serviços de telefonia celular no Rio

de Janeiro. Apesar de alguns entrevistados terem feito uma associação muito forte

entre a ATL e a VIVO pelo tempo em que atuam no mercado, a percepção geral

foi de que a ATL é uma empresa com foco em um público de baixa renda,

usuários majoritariamente de planos pré-pagos. Os depoimentos também

sugeriram que a ATL não conseguiu acompanhar a agressividade promocional

das concorrentes e suas novidades em preços, planos e aparelhos, como é

demonstrado a seguir:

“A impressão que eu tenho é que a ATL está meio fora da

competição, ficou um pouco para trás. (...) Você vê pouca

propaganda da ATL, as lojas estão sempre meio vazias. A sensação

que eu tenho é essa”. (consumidor 21)

“A ATL não tem muito marketing, né? Não falam muito. Parece que é

mais boca-a-boca. Você não repara muito nas lojas, porque não são

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chamativas. Não tem propaganda em tudo que é outdoor como é o

caso da VIVO” (consumidor 17)

“A ATL tá afundando, né? Eu não sei como ela sobrevive ainda,

porque eu não vejo ninguém falando que vai comprar um telefone

ATL. Não é um comentário ‘Ah! Eu vou comprar um ATL’. Para mim

a ATL é só o ATLHall [casa de espetáculos da cidade do Rio de

Janeiro] (...) No início eu conhecia gente que tinha telefone ATL, hoje

em dia são raras as pessoas que eu conheço que têm”.

(consumidor 24)

“A ATL dá a impressão de ser uma coisa mais, eu não sei se é

preconceito, mas a impressão que dá é que é mais galera de

subúrbio. São telefones mais simples, com menos coisinha de troca

de capinha e tal, que a galera mais classe média gosta. (...)

Definitivamente não é de gente jovem e também não é da burguesia”.

(consumidor 13)

“Eu tenho uma visão muito ruim da ATL porque eu acho que eles

não passam uma imagem muito bacana. Eles fazem pouca

divulgação. E a divulgação é sempre em cima de aparelhos ruins. Eu

acho que eles fazem uma propaganda meio caída”. (consumidor 10)

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4.2.3.3 TIM: A Operadora da Tecnologia Jovem

Na avaliação dos consumidores entrevistados, a TIM é vista como uma empresa

que entrou no mercado com uma tecnologia de comunicação mais moderna do

que as existentes. Além disso, é percebida pela propaganda e promoções

agressivas, voltadas para um público predominantemente jovem e experimentador.

Mesmo apontando alguns problemas como o da área de cobertura ou a

inexperiência do serviço de atendimento, os depoimentos sugerem uma crença

em que, no futuro, esses problemas serão resolvidos.

Neste trecho da entrevista do consumidor 25 se percebe como a TIM é tida como

uma empresa que terá melhor desempenho de serviço no futuro e como a

construção deste tipo de imagem pode fazer com que o consumidor seja tolerante

com o desempenho presente.

“A TIM é uma empresa relativamente nova se comparada à

TELEFÔNICA. E como toda empresa nova, é óbvio que tem várias

coisas que precisam ser consertadas. Mas por ser uma empresa

nova e por oferecer tudo o que oferece, eu acho que só tem a

melhorar. (...) E ela é uma empresa italiana, um grupo muito grande”.

(consumidor 25)

Mais adiante em sua entrevista, o consumidor 25 desenvolve um pouco mais esse

argumento:

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“Já escutei algumas pessoas reclamando que a TIM não pega em

todo o Estado. Mas isso é porque é agora. A TELEFÔNICA quando

começou não pegava dentro de túnel. (...) Inclusive tinha aquela

propaganda que o cara estava falando com a mulher e fingia que a

ligação caía porque tava entrando no túnel. Então é assim, no futuro

eu acho que só tem a melhorar”. (consumidor 25)

Mais moderna, a tecnologia GSM trouxe para o mercado o conceito de um chip de

memória. Utilizada pela TIM, e também pela OI, a “tecnologia do chip” foi

percebida como superior às tecnologias oferecidas pela VIVO e ATL. Mesmo

assim, parecem não ser tão claras para os consumidores as vantagens dessa

nova tecnologia e, somente em poucas entrevistas, o quesito mobilidade foi

apontado como diferencial relevante da tecnologia GSM por consumidores que

utilizam o celular em outros estados e países. Os depoimentos a seguir ilustram

esse ponto:

“A OI também tem o chip, mas a TIM fala mais desse chip e, de

repente, é um pouco melhor. (... ) Eu comprei um TIM para o meu

avô e o que eu entendi desse chip é que, na verdade, se você

estraga o telefone tira aquele chip, instala no telefone novo e leva

toda a sua agenda. Mas não vi muita utilidade para esse chip. Não

tem nada que te faça ouvir ou falar melhor”. (consumidor 26)

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“Uma coisa muito boa da tecnologia GSM da TIM é que, se eu viajo,

eu posso usar outros servidores da TIM. (...) Quando eu vou pra

Minas não tem TIM, mas eu posso transferir o meu servidor para a

OI. (...) Usando como OI eu pago um taxa não tão grande e pago

ligação local quando ligo pra Minas. Agora eu voltei da Suécia e fiz a

mesma coisa. Coloquei um servidor local e poderia receber as

minhas ligações de qualquer jeito”. (consumidor 17)

Com relação ao público-alvo, a TIM foi percebida como uma empresa

predominantemente de jovens. A propaganda e o conceito de conveniência e

sofisticação da tecnologia GSM parecem ter ajudado a construir esse conceito,

como demonstram os próximos relatos. Antes, porém, cabe observar que nessa

avaliação pode estar presente o viés de um grupo, predominantemente de jovens,

que mudou recentemente para essa empresa.

“Eu imagino o consumidor da TIM sempre jovem. (...) Acho que a

propaganda buscou esse público. Me chamou a atenção que era

uma coisa mais moderna. O conceito de moderno me lembra uma

coisa de gente mais jovem. Nem sou tão jovem assim, mas não era

pra minha mãe era pra mim, entendeu?” (consumidor 23)

“A TIM entrou recentemente no mercado e eu acho que é mais para

gente que nem eu, que está mudando de operadora”.

(consumidor 12)

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“Se eu fosse definir em uma palavra eu definiria como jovem. Até

mesmo por ter esse site do Blah [serviço de mensagens SMS da

TIM]. (...) É um público jovem que quer mudar, quer novidade”.

(consumidor 25)

Além de jovem, o público-alvo da TIM foi também descrito por alguns dos

entrevistados como seletivo, tanto pela propaganda quanto pela sofisticação de

alguns aparelhos que são oferecidos aos consumidores.

“A TIM agora está tendendo mais para o popular mas ainda é um

pouquinho mais seletiva. Não sei se é por que ela fez o comercial

com o Ronaldinho e diz que tem o tal do chip”. (consumidor 26)

“Eu acho que o público da TIM é um público de renda um pouco

maior, justamente porque os celulares que eles vendem são mais

caros. Os celulares que eles vendem são mais caros do que os da

OI e da TELEFÔNICA”. (consumidor 21)

4.2.3.4 OI: A Operadora de quem?

Segundo os depoimentos dos consumidores entrevistados, a OI também foi

reconhecida por ter trazido ao mercado a opção da tecnologia GSM, tida como

mais moderna do que as tecnologias CDMA e TDMA oferecidas pela VIVO e ATL.

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Diferentemente da TIM, porém, as entrevistas revelaram certa desconfiança em

relação ao futuro da OI.

No que diz respeito à tecnologia, a percepção foi de que a GSM é mais moderna e

conveniente, como se pode observar nos depoimentos dos seguintes

entrevistados:

“O fato da tecnologia ser GSM contou. O meu raciocínio foi que se

eu não gostasse da OI poderia trocar o chip. (...) Eu não entendo

direito de tecnologia, mas sempre na teoria o mais novo tem alguma

vantagem sobre o mais velho, né? (...) Teve outra vantagem também.

Eu tava trabalhando em um projeto fora da cidade do Rio, aí lá eu

podia pagar ligações locais”. (consumidor 4)

“Como a mãe da minha filha mora em outro Estado, quando eu vou

pra lá o meu celular assume o DDD local. Então eu posso fazer uma

ligação lá como local, sem precisar discar o código de área. (...) Eu

não sabia disso, sinceramente, quando eu escolhi a OI. Mas é uma

coisa muito boa você chegar num lugar e assumir o DDD local. (...)

Eu acho engraçado eles nem falarem nisso. Já que eles não cobram

por isso, eles poderiam usar isso pra fazer uma campanha de

marketing”. (consumidor 8)

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Quanto ao público-alvo, houve entre os entrevistados a impressão de que a OI

tem um público bastante jovem, quase infantil, e mais popular do que o público da

TIM e VIVO.

“Eles dão tanta facilidade que causa a impressão de que, quem usa

OI é um público não tão seletivo, mais popular. (...) Eles não fazem

questão de mostrar nada interessante, nada novo, só a pechincha, o

barato”. (consumidor 26)

“Eu acho que eles formaram esse conceito. (...) Eles criaram essa

imagem de uma pessoa jovem, descolada, independente. Não é à

toa que eles criaram aquele OI MTV. Eles têm o objetivo de alcançar

uma fatia do mercado que ainda não foi explorada. Para as crianças,

por exemplo, criaram esse OI XUXA”. (consumidor 20)

“A OI me lembra mais criança, uma coisa mais família. Inclui a

criança e o avô. Me passa mais a coisa da família toda”.

(consumidor 23)

Apesar da associação positiva provocada pela oferta de uma nova tecnologia, foi

possível perceber entre os entrevistados uma desconfiança em relação ao

desempenho atual da empresa e, consequentemente, ao seu futuro como

operadora.

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“Eu acho que a OI tá completamente fora do páreo. Porque todo

mundo tem o pé muito atrás com a TELEMAR. (...) Não é nem em

relação à OI, mas pelo fato da TELEMAR ser a controladora. A

TELEMAR tem uma imagem muito negativa. Então acho que a OI

entrou forte mas herdou um pouco desta imagem (...) A TELEMAR é

campeã de reclamações, é a pior empresa do Brasil há três anos. E

não é só aqui não, acho que em todas as áreas de concessão”.

(consumidor 13)

“A OI foi para o buraco, né? Ela não tá sendo comprada pela

TELEFÔNICA? A OI veio só pra dizer ‘oi’ e agora ta dizendo ‘tchau’

(...) A OI tentou o OI XUXA, o OI MTV, promoção da OI, OI Festival e

ela não pega”. (consumidor 25)

“O serviço da OI é muito prematuro ainda para tudo. Principalmente

na forma de atender o cliente. Eu não fui mal atendida não, mas

você vê que eles não sabem exatamente o que estão fazendo. (...)

Me atenderam, né? Cadastraram lá. Mas sabe quando você não

sente confiança no que o atendente está falando?” (consumidor 20)

4.2.4 Os Custos de Mudança

Os custos de mudança são, de acordo com Jones et al. (2002), os custos

econômicos e psicológicos experimentados pelo consumidor durante o processo

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de mudança de prestador de serviços. Segundo Lee et al. (2001), esses custos

surgem e ganham importância para a tomada de decisão, à medida em que as

alternativas à disposição do consumidor são percebidas como atraentes. Portanto,

são variáveis que sucedem a existência de alternativas.

Como descrito no item 2.3.3.2, em telefonia celular os custos mais relevantes no

processo de mudança são a não portabilidade no número do telefone – ou seja,

a impossibilidade de manter o mesmo número de telefone ao mudar de operadora

– e, o investimento feito no aparelho antigo. A seguir, discute-se a percepção

dos consumidores entrevistados sobre esses dois aspectos.

4.2.4.1 A Portabilidade do Número

Na visão dos consumidores que mudaram, a proliferação do acesso à Internet e

do correio eletrônico reduziram o custo de trocar o número antigo ao mudar de

operadora, uma vez que ficou mais fácil e rápido comunicar a mudança para o

novo número. Além disso, como cada vez mais pessoas mudam de operadora,

comunicar uma mudança de número passou a ser visto como algo corriqueiro.

Aliado ao uso do e-mail, alguns entrevistados mantiveram o celular antigo

operando junto ao novo por um determinado período de tempo. Assim buscaram

ter um prazo maior para comunicar o seu novo número de telefone celular. O

depoimento deste consumidor ilustra bem esse ponto.

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“Não foi tão complicado mudar de número porque foi só mandar um

e-mail para todo mundo que eu avisei o meu número novo. Óbvio

que durante um tempo eu fiquei com os dois celulares e a quem

ligasse eu passava o outro número. Durante mais ou menos um mês,

por aí. Mas não foi complicado não”. (consumidor 17)

O consumidor 13 defende que mudar de número não representa um custo tão alto,

principalmente agora que a mudança de número de telefone celular ficou mais

usual.

“Mudar de número foi muito fácil. Teve uma ou duas pessoas que

ligaram para o número antigo. Mas com o e-mail fica muito fácil. Dá

muito pouco trabalho e você avisa rápido. (...) A gente consegue

mandar para todo mundo do círculo de relação muito rápido. Ficam

faltando algumas pessoas que você encontra menos ou que não

estão na sua lista de mensagem, mas a pessoa acaba descobrindo.

E de qualquer forma você ainda pode ficar um tempo com o seu

celular antigo, para fechar a conta, terminar o mês, e aí você já vai

avisando do novo número”. (consumidor 13)

E continua comentando que, mesmo no caso de profissionais que utilizam o

celular como ferramenta de trabalho, a mudança de número não é barreira

intransponível.

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“Acho que tem até a ver com o momento agora. A TIM está entrando

muito forte, a OI entrou há pouco tempo. Então tem muita gente

mudando de celular. (...) Mesmo um executivo tem uma secretária

que pode avisar todo mundo”.(consumidor 13)

Ainda que não seja intransponível, a mudança de número parece ser relevante,

uma vez que alguns entrevistados relataram ser uma vantagem poder escolher

parte do seu novo número de telefone celular. Há empresas que oferecem a

possibilidade dos clientes escolherem os quatro últimos dígitos do número do

telefone, o que foi citado por alguns como um diferencial na escolha da nova

operadora.

O consumidor 11, por exemplo, se dispôs a pagar uma quantia adicional para ter a

opção de escolher os quatro últimos dígitos de seu novo número.

“Eu optei pela OI porque eu posso escolher o número. Então eu

selecionei um número ‘série ouro’ que tem o final 9999. (...) Você

paga uma vez e, na época, custou R$100 para escolher a série ouro.

Tem a ‘série prata’ também que permite escolher três números em

seqüência igual”. (consumidor 11)

No relato a seguir, o consumidor 12 evidencia que dedicou bastante tempo na loja

para escolher o seu novo número. Além disso, o seu número antigo iria começar a

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ser usado pela sua irmã mais nova, o que possibilitava que um número maior de

pessoas fosse avisado da mudança.

“O meu objetivo era, já que eu ia mudar de número, eu só iria mudar

se eu conseguisse um número fácil, mais fácil do que o que eu tinha.

Aí o vendedor pôs lá na tela a partir de que número eu podia

escolher e eu fiz com que ele testasse várias combinações fáceis

que vinham na minha cabeça para ver quais estavam disponíveis. (...)

Não foi também muito preocupante porque como o celular ia ficar

com a minha irmã, ela atende o telefone e passa o meu número

novo”. (consumidor 12)

4.2.4.2 O Investimento no Aparelho Antigo

As entrevistas sugeriram que o investimento feito no aparelho antigo é custo mais

relevante do que a portabilidade do número. Freqüentemente, o fato do aparelho

estar quebrado ou com problemas, acelerou o processo de mudança. O mesmo

ocorreu nos casos onde os aparelhos foram roubados ou perdidos.

“Eu tinha o mesmo celular desde que comecei com a ATL. Não tinha

muita reclamação da ATL. (...) O que aconteceu foi que o meu

telefone foi começou a ter problemas. A antena quebrou, a bateria

descarregava toda hora. Também eu já tinha o celular há três anos.

(...) Então eu comecei a procurar um aparelho novo. Aí surgiu a

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oportunidade de comprar um celular da TIM que estava super

barato”. (consumidor 18)

“Eu fui assaltado e levaram o meu celular. Acabei pegando o celular

do meu avô para habilitar com o meu número. Só que o celular era

muito velho, tinha vários problemas e começou a desligar direto.

Então eu decidi comprar outro. Liguei para a TELEFÔNICA para ver

se tinha alguma oferta, mas para comprar um aparelho barato tinha

que ser um aparelho muito ruim. (...) Então, era a época do dia das

mães e a TIM estava com uma promoção muito boa, com descontos

de R$ 200 em um celular de qualidade absurdamente maior do que

os que custavam o mesmo na TELEFÔNICA”. (consumidor 10)

Adicionalmente, nos casos em que o aparelho antigo estava em condições

normais de funcionamento no momento da mudança de operadora, foi possível

observar nas entrevistas que o processo só foi concluído uma vez que os

consumidores resolveram o quê fazer com esse aparelho, caso não fosse viável

habilitá-lo na nova operadora.

Em seu depoimento, o consumidor 19 comenta que quando descobriu que a

operadora para a qual pensava em mudar compraria seu aparelho antigo, parou o

processo de busca e assinou o contrato com esta empresa.

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“Eu me interessei [por uma oferta de plano de serviços da TIM], fui

até lá e descobri que, fora isso, eles estavam comprando aparelhos

usados de outras operadoras”. (consumidor 19)

No momento da entrevista, o consumidor 24 mantinha três aparelhos de telefone

celular, dois deles em funcionamento e um guardado para emergências. No trecho

a seguir racionaliza a sua decisão:

“Na verdade hoje eu tenho três celulares em casa, o que é um

absurdo. Eu mantive um no pré-pago da TELEFÔNICA porque

quando eu troquei de celular era ridículo eu me desfazer de um

aparelho que estava funcionando. Aí com R$10,00 você podia

habilitar no pré-pago. (...) E é sem custo. Eu coloquei um cartão de

R$25,00 que vai durar até o final do ano. Então esse celular serve

para emergências. A minha irmã mora em outra cidade e quando ela

vem eu empresto pra ela. Às vezes minha empregada leva ele

quando vai passear com o meu filho”. (consumidor 24)

O consumidor 17 comenta que ainda guardava o aparelho antigo, mesmo

desligado, porque ele ainda funcionava normalmente, como relata abaixo:

“O aparelho antigo está aqui. Ele está desligado, mas ainda está

aqui”. (consumidor 17)

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Os consumidores 8 e 26 venderam os seus aparelhos antigos, ainda em bom

estado de funcionamento, para amigos próximos. O consumidor 8, inclusive, já

havia comprado o seu primeiro celular de um amigo e quando trocou de operadora

vendeu novamente para um outro amigo.

“O meu celular da telefônica ‘caiu do céu’. Eu comprei de segunda

mão. Era um celular de cartão. Comprei para ajudar um amigo que

tinha comprado um celular novo e não sabia o que fazer com esse.

Então ele passou o celular para mim quase de graça, por R$50,00

na época. (...) Agora quem está com o meu celular é um outro amigo

meu. Ele me disse que agora mal carrega, mas funciona. Serve

praticamente para darem recado para ele”. (consumidor 8)

“Eu vendi o meu aparelho antigo para uma conhecida. A minha mãe

ficou com o dela, o meu pai ficou com o dele. A minha irmã e o meu

irmão foram roubados. Roubaram o do meu irmão numa semana, o

da minha irmã na semana seguinte. Aí a minha mãe disse para eles

não comprarem outro telefone da TELEFÔNICA que ela estava

fechando um plano empresa com a OI”. (consumidor 26)

No caso do consumidor 12, nas duas vezes em que mudou de operadora o

aparelho antigo funcionava normalmente e, por isso, em ambas as vezes a sua

irmã passou a utilizar o aparelho antigo.

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“O meu aparelho antigo eu dei pra minha irmã. Ela só herda os meus

telefones”. (consumidor 12)

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo exploratório buscou investigar o processo de mudança de operadora

de telefonia celular sob a ótica dos consumidores. A partir de 27 entrevistas, os

testemunhos coletados sugerem que:

As mudanças de operadora motivadas por insatisfação com o serviço da

operadora antiga foram pouco frequentes, sendo o caso de 4 consumidores

entrevistados. Destes, 2 mudaram pois consideraram o tratamento recebido da

empresa rude, descortês e indiferente. Os demais, declararam estar insatisfeitos

com o preço do serviço que utilizavam da operadora antiga e, portanto, iniciaram o

processo de busca por uma alternativa que melhor os atendesse, evidenciando

um comportamento orientado para valor.

Cabe ressaltar que esses consumidores quando perguntados se voltariam a

utilizar a operadora antiga, não demonstraram intenção de voltar. Mais acentuado

nos casos de insatisfação com o atendimento da empresa, parece que os

consumidores se sentiram ofendidos e deixaram a empresa com certo rancor, da

mesma forma que defendem Zeelenberg e Pieters (1999). Para as empresas

serve o alerta porque, além destes clientes não demonstrarem intenção de voltar a

consumir da empresa, eles geralmente praticam propaganda boca-a-boca

negativa ao relatar repetidamente suas experiências a outros consumidores, como

defende Hirschman (1970).

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O caso mais freqüente de mudança de operadora foi o do consumidor que

mudou declarando estar satisfeito com o pacote de serviços da operadora

antiga, com 23 casos. Dentro destes surgiram 21 casos de gatilho de influência,

onde o preço do serviço da nova operadora e o desejo de um novo aparelho

celular foram os determinantes, e 2 casos de gatilho de situação.

Dos 21 casos de gatilho de influência, 13 processos puderam ser classificados

como apresentando determinante preço, notadamente por ações promocionais

das operadoras concorrentes. Os consumidores aqui classificados mudaram não

porque estavam insatisfeitos com a operadora antiga mas porque perceberam

uma oportunidade de fazer um “bom negócio” em termos financeiros. O “bom

negócio” aqui definido como a possibilidade de pagar um valor menor por um

plano de serviços equivalente em minutos de conversação, ou ainda, pela

possibilidade de pagar quantia semelhante por um plano de serviços superior em

minutos de conversação.

Parece pelos depoimentos que, para vencer a desconfiança e a inércia dos

consumidores satisfeitos, as novas operadoras optaram por uma estratégia de

baixos preços nos serviços através, por exemplo, da disseminação do acesso aos

planos de serviço do tipo plano-empresa com condições diferenciadas dos planos

acessíveis por pessoas físicas.

Para as operadoras, essa estratégia de atrair os consumidores via preço parece

ter duas implicações. A primeira é sobre a rentabilidade dos clientes. Segundo

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Venturini (2004), entre junho de 2003 e junho de 2004, a receita média por usuário

celular (ARPU, do inglês, average revenue per user) caiu 14%, como resultado,

dentre outros, de “promoções e planos de serviço com descontos significativos

para chamadas entre celulares do mesmo grupo (família, empresa, ...),

principalmente no segmento corporativo”. Também comentando sobre o resultado

das operadoras de telefonia celular no Brasil no primeiro semestre de 2004,

Moreira (2004) diz que, “a conseqüência do forte ritmo das vendas e da

competição pesada foi a redução das margens de quase todas as empresas. Para

conquistar novos clientes e avançar entre as classes de poder aquisitivo menor, as

teles tiveram de gastar mais em subsídios, promoções e publicidade”.

A segunda implicação parece ser que o consumidor vem aprendendo a se

comportar de maneira mais oportunista e está cada vez menos fiel às operadoras.

Estão assim, se comportando como o que Jones e Sasser (1995) rotulam de

“consumidor mercenário”, ou seja, como consumidores que apresentam pouca ou

nenhuma lealdade mesmo quando completamente satisfeitos com a empresa.

É importante frisar que, ao contrário do consumidor aqui classificado como

insatisfeito e com gatilho de reação combinado com determinante conta elevada, o

“consumidor mercenário” não questionava o valor pago pelos serviços na

operadora antiga. O processo de mudança se iniciou porque foi percebida uma

oportunidade de passar a utilizar um plano de serviços considerado mais

vantajoso.

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Ainda com gatilho de influência, 8 processos de mudança tiveram como

determinante o desejo por um novo aparelho celular. O aparelho antigo podia

estar quebrado ou ser considerado antiquado por ser grande demais, pesado ou

ultrapassado tecnologicamente. Dentro deste grupo de consumidores surgiram

dois subgrupos. Um deles formado por aqueles consumidores que queriam trocar

de aparelho mas não desejavam nenhuma marca ou modelo específicos. Tudo o

que queriam era que o aparelho apresentasse um determinado conjunto de

características físicas e técnicas. Nesse caso, a mudança de operadora teve o

objetivo de conciliar a troca do aparelho com um novo plano de serviços que fosse

também atraente em termos financeiros. Com isso o consumidor percebeu que fez

um “bom negócio” na troca do aparelho.

No segundo subgrupo, os consumidores desejavam um aparelho de marca e

modelo definidos. Para estes, a mudança de operadora não foi necessariamente

combinada com um “bom negócio” em termos financeiros. Ao contrário, nas

entrevistas feitas para este estudo, os consumidores declararam ter feito trocas

que os deixaram em situação igual ou pior em termos de gastos com o serviço de

telefonia celular. Ainda assim, o desejo de possuir determinado aparelho celular foi

forte o suficiente para motivar a mudança de operadora.

Para as empresas, oferecer aparelhos que despertem o desejo dos consumidores

pode ser uma estratégia adicional de atrair novos consumidores mesmo quando o

pacote de serviços oferecido não é tão atraente financeiramente como o oferecido

por operadoras concorrentes.

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Por fim, 2 processos de mudança de consumidores satisfeitos apresentaram

gatilho de situação combinado com a nova realidade financeira como determinante.

A mudança nestes casos ocorreu porque os consumidores perceberam que a

melhor maneira de ajustar os gastos com o serviço de telefonia celular à sua nova

realidade financeira era deixar a sua operadora antiga e contratar os serviços de

uma outra.

Em relação à percepção dos consumidores sobre as operadoras de telefonia

celular atuantes na cidade do Rio de Janeiro, a análise dos relatos permitiu

agrupá-las em torno de dois eixos: a consistência do serviço e o público alvo.

A VIVO foi descrita pelos entrevistados como a operadora dos conservadores. A

percepção foi que os seus consumidores são pessoas exigentes com relação ao

serviço celular e, por isso, optaram pela operadora que teria melhor área de

cobertura do que as concorrentes. Para ter acesso a esse nível de serviço seletivo,

o consumidor teria que estar disposto a pagar mais, já que a percepção foi que

essa operadora oferece serviços mais caros do que os da concorrência.

Com relação à ATL, a percepção foi de que a empresa não acompanhou o ritmo

promocional e de mídia imposto pela entrada das duas novas concorrentes e,

portanto, acabou perdendo muitos assinantes para a concorrência e ficou com

uma maioria de consumidores do plano pré-pago em sua base de usuários.

Apesar disso, foi reconhecida como tendo um serviço consistente, em uma

associação ao tempo em que opera no mercado.

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Jovem e inovadora é a imagem da TIM para os entrevistados. Os depoimentos

sugerem que a oferta de uma nova tecnologia foi um atrativo para o consumidor

jovem experimentar os serviços. As campanhas publicitárias com celebridades e

os aparelhos oferecidos aos consumidores parecem ter formado a imagem de um

público-alvo seletivo para essa operadora. A inconsistência do serviço, por outro

lado, pareceu ser tolerada por uma crença que, no futuro, os problemas seriam

resolvidos.

A OI foi percebida pelos entrevistados como moderna por ter entrado no mercado

operando uma nova tecnologia, assim como a TIM. A estratégia de focar em

nichos como crianças, adolescentes e universitários, entretanto, parece ter criado

uma percepção de que o público-alvo da empresa é pouco seletivo. Aqui, ao

contrário do que surgiu na TIM, a inconsistência do serviço foi vista com

desconfiança pelos entrevistados.

Com relação aos custos de mudança, a necessidade de trocar o número de

telefone celular ao optar por uma nova operadora foi descrita como contornável

porém não trivial. A proliferação da Internet e das ferramentas de e-mail parece ter

facilitado a divulgação de um novo número de celular para uma grande quantidade

de pessoas. Ainda assim, alguns entrevistados adotaram a estratégia de manter o

celular antigo em funcionamento por um período de tempo considerado suficiente

para comunicar a mudança de número às pessoas que não puderam ser

comunicadas por e-mail. Aliado a isso, alguns consumidores também se

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preocuparam com que o novo número fosse de fácil memorização, chegando até a

pagar taxas adicionais por determinadas sequências de número.

O investimento feito no aparelho antigo foi custo de mudança percebido como

mais relevante pelos entrevistados do que a portabilidade de número. De fato,

muitos processos de mudança só foram levados adiante depois que o aparelho foi

perdido, roubado ou quebrou. Quando o aparelho estava funcionando

normalmente, os consumidores se cobraram resolver o quê fazer com o aparelho

antigo. Uns venderam para terceiros, outros repassaram para alguém da família.

Nos casos onde nenhuma destas alternativas foi possível, os consumidores

acabaram habilitando o aparelho antigo para operar no sistema pré-pago que

consideraram uma maneira de manter o aparelho quase sem custo. Feito isso,

esses aparelhos acabaram normalmente guardados e sem utilização.

As operadoras que entraram no mercado após a privatização parecem ter

percebido a importância dessa barreira, pois entre seus pacotes promocionais há

opções que oferecem aparelhos pela quantia simbólica de R$1,00. Ainda que para

comprar o aparelho em tal condição o consumidor tenha que aderir a um contrato

com duração mínima e multa de rescisão, a percepção é a de que o problema do

aparelho antigo está resolvido. Assim, se o opção for descartar o aparelho não há

problema porque o novo foi obtido “sem custo” e o investimento no aparelho antigo

não terá sido perdido. Se for vendido ou passado adiante para um terceiro, maior

a vantagem percebida. Além disso, continua existindo a possibilidade do

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consumidor ter dois aparelhos de telefone celular habilitando um deles em um

plano pré-pago.

Em resumo, o aumento da competição provocado pela privatização do Sistema

Telebrás afetou diretamente o consumidor de serviços de telefonia celular. De

uma situação na qual ele tinha que entrar na fila e pagar muito caro para ter

acesso a um serviço de qualidade questionável, ele agora se encontra na posição

de receber diariamente inúmeras ofertas de serviços melhores e mais

diferenciados.

Com isso, o consumidor que mudou de operadora aprendeu que não é necessário

se sujeitar a serviços caros e ineficientes. Se vencer a inércia e estiver disposto a

barganhar poderá fazer uma mudança vantajosa ou ainda permanecer na mesma

operadora em condições melhores. Porque, agora, há opção.

Para as empresas o momento é de buscar entender as necessidades do

consumidor para diferenciar-se da concorrência. Manter os consumidores

lucrativos e buscar meios para aumentar a rentabilidade dos demais a partir da

oferta de serviços agregados, como os serviços de comunicação de dados. Só

assim parece que será possível resolver a equação competição, guerra de preços

e crescimento com lucratividade.

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5.1 Sugestões para Estudos Futuros

Para consolidar os resultados aqui apresentados seria interessante ampliar o

número de consumidores pesquisados, com o objetivo de incluir diferentes classes

sociais e faixas etárias. Parece razoável supor, por exemplo, que a mudança do

número do celular seja uma barreira muito mais forte para profissionais em

estágios mais avançados de carreira do que para os profissionais em início de

carreira que este estudo atingiu.

Como o aparelho antigo foi um custo de mudança muito relevante no processo,

seria interessante tentar identificar se existe um ciclo de depreciação típico dos

aparelhos que permita prever os períodos em que os consumidores estariam mais

propensos à mudança. Na mesma linha de pesquisa de ciclos, muitos

consumidores que mudaram na época do estudo assumiram contratos de

permanência mínima com as novas operadoras, tipicamente, de um ano. Entender

como esses consumidores agiriam sem essa restrição contratual também é uma

sugestão para pesquisas futuras.

Por fim, seria interessante investigar, pela ótica da empresa, se existem diferenças

de lucratividade entre os clientes que nunca mudaram de operadora e os que

mudaram uma ou mais vezes. Como a grande maioria dos consumidores

entrevistados neste estudo mudou em busca de melhores negócios em termos

financeiros, é provável que seja necessário mais tempo para que retorne o

investimento feito na aquisição destes consumidores. Nesse caso, as empresas

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deveriam recalibrar os gastos para atrair novos clientes e os esforços para manter

os clientes lucrativos de sua base atual.

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ANEXO I – Perfil dos Consumidores Entrevistados

Método Data Minutos Sexo Idade Escolaridade Empresa Meses Aparelho Plano Empresa Meses Aparelho Serviço1 pessoal 30/07/03 33 feminino 21 superior incompleto ATL 49 Ericson pré OI 1 Siemens perfil2 telefone 02/08/03 42 masculino 23 pós-graduação incompleto ATL 48 Nokia perfil TIM 10 SonyEricson perfil3 telefone 02/08/03 34 feminino 23 superior completo VIVO 30 Motorola pós ATL 10 Nokia perfil4 telefone 02/08/03 26 feminino 26 pós-graduação incompleto VIVO 11 Lg pós OI 6 Motorola perfil5 telefone 02/08/03 28 masculino 22 pós-graduação incompleto VIVO 19 Nokia pré ATL 11 Motorola perfil6 pessoal 04/08/03 33 feminino 38 superior completo VIVO 12 Nokia pré ATL 6 Samsung Luminix perfil7 telefone 04/08/03 24 masculino 26 superior completo VIVO 72 Samsung pré TIM 8 Nokia 310 perfil8 telefone 05/08/03 36 masculino 26 superior completo VIVO 21 Lg pré OI 11 Siemens 145 perfil9 telefone 05/08/03 27 masculino 26 pós-graduação incompleto ATL 27 Nokia pré VIVO 5 Nokia perfil10 telefone 05/08/03 25 masculino 26 pós-graduação incompleto VIVO 48 Qualcomm pós TIM 5 Siemens perfil11 telefone 09/08/03 21 masculino 26 pós-graduação incompleto VIVO 84 Nokia pós OI 4 Nokia perfil12 telefone 09/08/03 30 feminino 23 pós-graduação incompleto VIVO 63 Motorola pré TIM 1 Motorola perfil13 telefone 11/08/03 18 masculino 23 pós-graduação incompleto VIVO 72 Motorola pós TIM 2 Nokia perfil14 telefone 11/08/03 22 feminino 24 superior incompleto ATL 12 Nokia perfil TIM 3 Motorola perfil15 telefone 11/08/03 46 masculino 30 pós-graduação incompleto VIVO 36 Motorola pós ATL 8 Nokia pré16 pessoal 12/08/03 40 feminino 21 superior incompleto VIVO 30 Motorola pós ATL 11 Motorola perfil17 telefone 12/08/03 15 feminino 21 superior incompleto ATL 48 Nokia pós TIM 10 Motorola perfil18 telefone 12/08/03 16 feminino 22 superior incompleto ATL 36 Ericson perfil TIM 3 Siemens perfil19 telefone 12/08/03 24 masculino 23 pós-graduação incompleto ATL 3 Nokia perfil TIM 1 Siemens perfil20 telefone 13/08/03 21 feminino 22 superior incompleto VIVO 60 Sansumg pós OI 2 Siemens pós21 telefone 13/08/03 25 feminino 23 pós-graduação incompleto VIVO 36 Qualcomm pós TIM 10 Siemens perfil22 telefone 13/08/03 16 masculino 25 superior completo VIVO 24 Motorola pós TIM 7 Sony Ericson perfil23 telefone 13/08/03 21 feminino 26 superior completo VIVO 24 Lg pós TIM 4 Siemens perfil24 telefone 13/08/03 18 masculino 25 superior completo VIVO 28 Samsung perfil TIM 8 Nokia pré25 telefone 13/08/03 21 feminino 26 superior incompleto VIVO 60 Samsung pós TIM 2 Nokia perfil26 telefone 13/08/03 16 feminino 19 superior incompleto VIVO 36 Motorola perfil OI 2 Siemens perfil27 telefone 14/08/03 17 feminino 24 superior completo VIVO 24 Motorola perfil TIM 5 Nokia perfil

Operadora Inicial Operadora FinalInformanteConsumidor Entrevista

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ANEXO II – Roteiro de Entrevista

Saudações:

Bom dia, meu nome é Gustavo e estou realizando uma pesquisa com

consumidores que mudaram de operadora de telefonia celular. O objetivo desta

entrevista é ouvir nas suas palavras por que você decidiu mudar. Quais foram os

atrativos, as dificuldades e o que você está achando da sua operadora atual. Não

há respostas certas ou erradas.

1) Você mudou de celular no último ano. Você se lembra como iniciou esse

processo de mudança?

a. Qual era o seu celular antigo?

b. Quando tempo você ficou com ele?

c. Qual é o novo e há quanto tempo você mudou?

2) Tinha alguma coisa que você gostava na operadora antiga?

3) Tinha alguma coisa que você não gostava?

a. Atenção aos quesitos:

i. Serviços

ii. Aparelho Celular

iii. Central de Atendimento

iv. Qualidade das Ligações

v. Tarifas e Preços

vi. Informações Prestadas

vii. Atendimento nos Pontos de Venda

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viii. Conta, Cobrança e Condições de Pagamento

ix. Lojas (pré-pago)

4) O que você acha, então, que foi mais decisivo para mudar?

5) Como ficou sabendo da sua nova empresa?

6) Como foi ter que mudar de número de celular?

7) O que foi feito com o aparelho antigo?

8) Agora como você compara a sua operadora atual com a antiga? Tem algum

arrependimento por ter mudado?

9) Para você, qual a cara de um consumidor da empresa X? E das Y, W, Z?

10) O que você falaria para a pessoa que quisesse mudar hoje de celular?

11) Hoje você mudaria de novo? Por quê?

12) Voltaria para a antiga?

13) Como se sentiu em relação ao processo de mudança?