POR TRÁS DO TRANSE
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01-Dec-2015Category
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POR TRS DO TRANSE
BEHIND THE TRANCE
Beatriz Mariza, Jennyfer Fiorilo, Luana Wouters, Nadine Campos e Vincius Prado Orientadora Professora Mestre Regina Golden Barbosa
RESUMO
Esse artigo tem como finalidade referenciar uma coleo composta por seis looks, unissex e com propsitos sustentveis. As peas atendem a um pblico-alvo prprio, colhido a partir de pesquisas de campo previamente metodizadas e executadas. A versatilidade caracterstica marcante desse pblico e est atrelada adaptabilidade das peas, ajustveis s silhuetas masculina e feminina. O presente projeto aprofunda-se no elo sincrtico entre jesutas e indgenas, emergente da colonizao brasileira, que culmina na formao do povo caboclo e suas crenas religiosas nicas. O culto ao Santo Daime, aqui aprofundado , tambm, fruto dessa miscigenao. Todas essas religies tm como caracterstica comum a busca por um estado psquico alterado, que serve de impulso para o desenvolvimento do conceito de criao Por Trs Do Transe.
Palavras-Chave: Design de Moda, Cultura Brasileira, Caboclo, Santo Daime, Transe, Sustentabilidade, Unissex.
ABSTRACT
This article has the goal to reference a collection composed of six unisex looks with sustainable purposes. The pieces attend to their own target audience, gathered from previously arranged and attained researches. Versatility is a major feature of this audience and its coupled up with the adaptability of the pieces, adjustable to the male and female silhouettes. The present project deepens in the syncretic link between the Jesuits and the natives, emergent from the brazilian colonization, which culminates the formation of the Caboclo people and their unique religious beliefs. The cult to Saint Daime, here deepened is too a product of such miscegenation. All of those religions have as a common characteristic the search of an altered psychic state, that suits as an impulse toward the development of the concept of the creation Behind The Trance.
Keywords: Fashion Design, Brazilian Culture, Caboclo, Santo Daime, Trance, Sustentability, Unisex.
Alunos do quarto semestre do curso de graduao Design de Moda, da Universidade Anhembi Morumbi. Endereos eletrnicos: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]
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Introduo O ponto inicial para a elaborao deste projeto foi a abordagem do Design de
Moda e a Cultura Brasileira atrelados ao tema do artigo. Tomou-se como referncia
principal, para adentrar cultura brasileira, a obra O Povo Brasileiro, de Darcy
Ribeiro e, assim, situar o leitor aos propsitos do trabalho. A formao do povo
Caboclo, tal como a de suas religies, tem a colonizao brasileira como marco
zero. A incorporao do catolicismo s religies indgenas culminou em uma ampla
riqueza ritualstica em torno da natureza deificada, como o culto ao Santo Daime. O
artigo aborda a relao entre essas religies, que apresentam uma busca por um
estado elevado que se conjuga alm do corpreo. Assim, o conceito de criao Por
Trs do Transe apresenta um paralelo atemporal que transcende o ponto de vista
religioso. A pesquisa tem a inteno de implicar inquietaes, tornando o que seria
talhada como concluso, apenas o estalo introdutrio a uma perspectiva prpria.
Com base no conceito de criao, desenvolvemos uma coleo unissex composta
por seis looks (com as respectivas fichas tcnicas), um ensaio fotogrfico e uma
edio grfica em forma de livreto, que comporta os processos em torno no
desenvolvimento das peas.
1. Design de Moda e Cultura Brasileira
Uma das mais conhecidas definies de cultura foi articulada pelo antroplogo
britnico Edward Burnett Tylor, no sculo XIX. Segundo ele (apud Silva e Silva,
2006), a cultura tudo que o homem emprega socialmente como habilidade, sendo
um modo de adaptao ao meio. Logo, cultura um conjunto em que o homem
intersecciona-se entre realizaes materiais e aspectos imateriais. Isso observado
em tradies repetidas geracionalmente, que renem o homem em idealismos e
feitos. A figura 1 sintetiza essa descrio:
Figura 1: O Conjunto Cultura. (Fonte: os autores)
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Moreira [s.d.], ainda seguindo o pensamento de Tylor, afirma que para toda e
qualquer pesquisa de mbito antropolgico devemos analisar agentes primordiais
que compe a cultura, como arte, moral, costumes, mitos, comidas, roupas, entre
outros. A moda um espelho do cotidiano de onde est inscrita, assegura Moura
(2008). Por meio dessas afirmaes, podemos convir que, a partir de uma
linguagem prpria, a moda reflete e dissemina essas referncias sociais. Portanto, a
moda comunica a carga cultural de um indivduo, funcionando como forma de
compor e expressar o estilo de vida dentro de sua cultura.
Figura 2: Painel que retrata a Moda como representante de estilo de vida.
(Fontes: http://www.iplay.com.br/, http://upload.wikimedia.org,http://3.bp.blogspot.com/, http://cdn4.lbstatic.nu)
Ribeiro (1995) aponta que o povo brasileiro se diferencia do portugus a partir
de caractersticas provindas da imigrao, que introduziu no Brasil, principalmente,
italianos, rabes e japoneses, de matrizes indgenas e africanas, da reunio de
paisagens humanas em condies ambientais diferentes e de diferentes formas de
produo. A fuso de matrizes raciais mpares, com diferentes tradies culturais
agora entrelaadas, deu origem a uma nao com um povo novo, em um novo
modelo estrutural societrio.
A confluncia de tantas e to variadas matrizes formadoras poderia ter resultado numa sociedade multitnica, dilacerada pela oposio de componentes diferenciados e imiscveis. Ocorreu justamente o contrrio, uma vez que, apesar de sobreviverem na fisionomia somtica e no esprito dos brasileiros os signos de sua mltipla ancestralidade, no se diferenciaram em antagnicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades tnicas prprias e disputantes de autonomia frente nao. (RIBEIRO, 1995, p. 19)
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Figura 3: Obra Operrios, de Tarsila do Amaral, que ilustra a diversidade do povo brasileiro. (Fonte: http://galeriadefotos.universia.com.br)
Dentro dessa nova identidade brasileira, considera Ribeiro (1995), emergem
novos grupos, como: os sertanejos, cultivadores de gados no nordeste; os caboclos,
da Amaznia e seus seringais; os crioulos, dos engenhos de acar no nordeste; os
caipiras, das mineraes e plantaes de caf; os sulinos, do pastoreio, e
compostos por alemes, italianos, e seus descendentes; entre outras
miscigenaes.
2. Caboclo
Dentre as classificaes relatadas, a pesquisa ser aprofundada no povo
caboclo. Foi no sculo XVII, segundo Rezende (2006) aps terem notcias de
incurses inglesas e holandesas na regio do rio Amazonas, que a Coroa
Portuguesa enviou um regimento para expuls-los e posteriormente colonizar e
firmar-se em Belm. Desde o incio da colonizao houve intensos conflitos entre
colonos e indgenas, tendo como resultado a tomada das tribos e a escravizao da
maioria. Ribeiro (1995) conta que aldeias inteiras eram escravizadas e quase todos
os que fugiam eram mortos no processo de busca.
Rezende (2006) articula que desde a fundao de Belm, as misses jesutas,
carmelitas e franciscanas foram presentes, catequizando e aculturando a populao
indgena. V-se a preferncia dos nativos pelo caminho oferecido pelos
missionrios, j que, mesmo tendo que seguir um modo de vida contrrio ao que
viviam, sua segunda opo seria a de serem escravizados.
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Para os ndios condenados a uma escravido ainda mais dura em mos dos colonizadores, o regime das misses, se no representava uma amenidade, era todavia, mais suportvel. Permitia-lhes sobreviver, por vezes conservar certa vida familiar, quando suas mulheres no eram cobiadas por algum portugus ou mestio [...]. (RIBEIRO, 1995, p. 310)
Figura 4: A presena do ndio, desentendido, na primeira missa de So Paulo de Piratininga.
(Fonte: http:// cdcc.usp.br)
Os caboclos herdaram dos ndios a tradio tribal e a capacidade de
subsistncia atravs do roado de culturas tropicais, dentre outras adaptaes
extremamente necessrias para a permanncia na mata. Nenhum colonizador
sobreviveria na mata amaznica sem esses ndios que eram seus olhos, suas mos
e seus ps. (RIBEIRO, 1995, p. 313) O caboclo, esclarecem Brondizio e Siqueira
(1992), tambm descende dos nordestinos de origem africana, porm, essa
miscigenao ocorreu de maneira intensiva por volta do sculo XIX, quando foram
levados para trabalhar nas lavouras de algodo, arroz e cacau.
Deste modo, ao lado da vida tribal que fenecia em todo o vale, alava-se uma sociedade nova de mestios que constituiria uma variante cultural diferenciada da sociedade brasileira: a dos caboclos da Amaznia. (RIBEIRO, 1995, p. 314)
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Figuras 5, 6 e 7: O contato entre o caboclo e a floresta. (Fonte: http://montorilaraujo.blogspot.com.br e http://terranauas.blogspot.com.br)
Desta miscigenao tnica e cultural, apesar de impactante e impositiva quanto
s crenas catlicas, surgem novos ramos religiosos, aponta Silva (2007), repletos
de concepes vindas do antepassado amerndio. Esta fuso foi de extremo valor
para a formao do caboclo em sua cultura e sociedade.
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3. Religiosidade cabocla: O Culto do Santo Daime
3.1 Contextualizao da Religiosidade Cabocla
As misses jesuticas visavam converter os ndios f catlica dos
colonizadores, explica Gonalves (1994). Mesmo com