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Aluno: Tutor: Polo/Cidade: Tarefa 1: Adaptao do Roteiro de Atividades Grupo:

ROTEIRO DE ATIVIDADES Literatura de Informao e Relato de Viagem 1 Srie do Ensino Mdio / 1 Bimestre / 1 CicloROTEIRO DE ATIVIDADES - 1 bimestre da 1 Srie do Ensino Mdio: 1 CICLO -

EIXO BIMESTRAL: LITERATURA DE INFORMAO E TEXTOS JESUTICOS / RELATO DE VIAGEM E CRNICA

Texto Gerador 1

O texto gerador a seguir pertence categoria dos textos informativos. A c arta de Pero Vaz de Caminha representa o primeiro registro da existncia do Brasil. Alm disso, a grande importncia desse texto tambm se deve descrio da paisagem exuberante e dos grupos sociais que nela habitavam. A partir dele, portanto, pode-se discutir em que medida os encantos da terra e de seu povo ainda fundamentam a imagem de nosso pas.

Carta de Achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha

Senhor, posto que o Capito-mor desta Vossa frota, e assim os outros capites escrevam a Vossa Alteza a notcia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegao achou, no deixarei de tambm dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que para o bem contar e falar o saiba pior que todos fazer! Todavia tome Vossa Alteza minha ignorncia por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui no h de pr mais do que aquilo que vi e me pareceu. [...] E portanto, Senhor, do que hei de falar comeo. E digo qu: [...] seguimos nosso caminho, por este mar de longo, at que tera-feira das Oitavas de Pscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra. E quarta-feira seguinte, pela manh, topamos aves a que chamam furabuchos. Neste mesmo dia, a horas de vspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra ch, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capito ps o nome de O Monte Pascoal e terra A Terra de Vera Cruz! [...] E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro [...]. A feio deles serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso so de grande inocncia. Ambos traziam o beio de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mo travessa, e da grossura de um fuso de algodo, agudo na ponta como um furador. [...] O Capito, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos ps uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoo. [...] Acenderamse tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capito; nem a algum. Todavia um deles fitou o colar do Capito, e comeou a fazer acenos com a mo em direo terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E tambm olhou para um castial de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castial, como se l tambm houvesse prata! [...] Dos que ali andavam, muitos quase a maior parte traziam aqueles bicos de osso nos beios. E alguns, que andavam sem eles, traziam os beios furados e nos buracos traziam uns

espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha. E alguns deles traziam trs daqueles bicos, a saber um no meio, e os dois nos cabos. E andavam l outros, quartejados de cores, a saber metade deles da sua prpria cor, e metade de tintura preta, um tanto azulada; e outros quartejados d'escaques. Ali andavam entre eles trs ou quatro moas, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, to altas e to cerradinhas e to limpas das cabeleiras que, de as ns muito bem olharmos, no se envergonhavam. [...] Eles no lavram, nem criam. No h aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimria, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem seno desse inhame, que aqui h muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as rvores de si lanam. E com isto andam tais e to rijos e to ndios, que o no somos ns tanto, com quanto trigo e legumes comemos [...]. Parece-me gente de tal inocncia que, se ns entendssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristos, visto que no tm nem entendem crena alguma, segundo as aparncias. E portanto se os degredados que aqui ho de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, no duvido que eles, segundo a santa teno de Vossa Alteza, se faro cristos e ho de crer na nossa santa f, qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente boa e de bela simplicidade. E imprimir-se- facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. [...] E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, no lhes falece outra coisa para ser toda crist, do que entenderem nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como ns mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adorao tm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos sero tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. [...] At agora no pudemos saber se h ouro ou prata nela [na nova terra], ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si de muito bons ares frescos e temperados [...]. guas so muitas; infinitas. Em tal maneira graciosa que, querendo -a aproveitar, dar-se- nela tudo; por causa das guas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que ser salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lanar. E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pr assim pelo mido. [...] Beijo as mos de Vossa Alteza

Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. Pero Vaz de Caminha.(CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El Rei D. Manuel. Disponvel em:

http://www.culturabrasil.org/zip/carta.pdf. p. 1, 2, 3, 7, 8, 9.)

ATIVIDADES DE USO DA LNGUA

Questo 1: O homem dispe de vrios recursos para se comunicar. justamente a capacidade de usar diferentes linguagens (formas no-verbais, como cores, sons, figuras, gestos, ou formas verbais, as palavras) que nos torna seres humanos racionais, diferenciando -nos dos animais. A linguagem funciona, ento, como um cdigo utilizado na construo de uma mensagem que, por meio de um canal, transmite a informao de uma pessoa para outra. Com isso, notamos que h certos fatores chamados elementos da comunicao que so imprescindveis para que tal transmisso se realize. A partir disso, responda aos itens abaixo: Habilidade trabalhada: Reconhecer as funes da linguagem: referencial,

metalingustica, potica e emotiva.

A - Identifique os elementos que estruturam a comunicao mediada pelo Texto Gerador I.

a) Emissor b) Receptor c) Mensagem d) Cdigo e) Canal f) Contexto ou referente

Resposta Comentada: A identificao dos elementos que concretizam o processo de comunicao possibilita que o aluno perceba o conjunto de traos que estaro presentes em qu alquer ato comunicativo. Assim, a partir do Texto Gerador I, sero identificados os seguintes elementos da comunicao: a) Emissor: o autor da carta, Pero Vaz de Caminha. b) Receptor: o rei de Portugal, D. Manoel. c) Mensagem: a descrio de como era o Brasil e como viviam os ndios na poca da chegada dos portugueses. d) Cdigo: a lngua portuguesa. e) Canal: o papel utilizado para escrever a carta. f) Contexto ou referente: o tema do texto (o ndio e a terra).

B - Levando em considerao os elementos da comunicao que voc identificou n o item A, responda: a) Qual dos elementos da comunicao recebeu maior destaque no relato de viagem apresentado por meio da carta? b) Qual funo da linguagem predomina, ento, nesse texto? c) Quais marcas lingusticas comprovam isso?

Resposta Comentada: No desenvolvimento desta questo, necessrio retomar a atividade A, que identifica os elementos da comunicao, a fim de analisar qual deles foi mais enfocado no texto. Paralelamente, importante destacar os objetivos do relato de viagem que compe a carta: descrever os acontecimentos, os lugares e as pessoas vistos ao longo de uma viagem. A partir dessa observao, mais facilmente, o aluno responder que, neste texto, o elemento da comunicao que recebeu maior destaque foi o contexto ou referente.

Se as funes da linguagem se definem pela nfase dada a cada um dos elementos da comunicao, a identificao do enfoque dado ao referente conduzir o aluno concluso de que, no Texto Gerador 1, a funo predominante a referencial. A fim de comprovar essa anlise, o aluno poder destacar trechos da carta e observar as seguintes marcas lingusticas, comuns a textos referenciais: predomnio da objetividade, contedo informacional e linguagem impessoal, construda por meio do uso recorrente de verbos (de ligao) no presente e conjugados na 3 pessoa gramatical.

Questo 2: Apesar de no ser o objetivo do texto, em alguns trechos da Carta, Caminha apresenta envolvimento com o relato, deixando transparecer sua posio acerca do que observa na nova terra: (...) aqui no h de pr mais do que aquilo que vi e me pareceu. Parece-me gente de tal inocncia que, se ns entendssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristos (...) E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, no lhes falece outra coisa para ser toda crist (...) o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que ser salvar esta gente.

Considerando os trechos do quadro, assinale a alternativa que apresente corretamente a funo de linguagem predominante e a explicao para tal predominncia: (A) Conativa, j que consiste em influenciar o comportamento do destinatrio (eles, esta gente, lhes). (B) Emotiva, pois est centrada no prprio emissor da mensagem ( e me pareceu, Parece-me, a mim e a todos pareceu).

(C) Ftica, uma vez que reflete a preocupao de manter o contato, focalizando o canal (se ns entendssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristos , no lhes falece outra coisa para ser toda crist). (D) Metalingustica, porque est centrada no cdigo (se ns entendssemos a sua fala e eles a nossa). (E) Referencial, visto que focaliza o contexto, refletindo uma preocupao em transmitir, com objetividade, conhecimentos referentes aos fatos, eliminando, por isso, marcas de primeira pessoa. Habilidade trabalhada: Reconhecer as funes da linguagem: referencial,

metalingustica, potica e emotiva.

Resposta comentada: Na primeira questo, os alunos foram motivados a identificar os elementos da comunicao e, a partir da, a funo de linguagem predominante no Texto Gerador 1. Nesta atividade, voc pode retomar os elementos da comunicao apontados na questo anterior para que a turma analise qual deles predomina nos trechos do quadro. Com essa retomada, eles sero levados a perceber que o emissor ou remetente da carta posto em destaque por meio das marcas lingusticas de 1 pessoa. Essa percepo invalida a alternativa (e), que destaca a objetividade e ausncia dessas marcas. Na anlise da alternativa (a), voc pode perguntar aos alunos se os discursos so direcionados aos habitantes, para que, dessa forma, eles reconheam que essa opo est incorreta. As alternativas (c) e (d) aproveitam a meno ao distanciamento entre as lnguas de nativos e europeus para propor que os trechos esto centrados no cdigo ou no contato; no entanto, os trechos no apresentam predominncia nem nos sinais convencionados para promover a comunicao tampouco no canal, meio pelo qual transmitida a mensagem. A alternativa (b) , portanto, a nica correta, pois o trao comum a todos os trechos o destaque viso pessoal do emissor acerca do que est sendo observado o que, linguisticamente, marcado pelas formas verbais e pronominais em 1 pessoa (vi, entendssemos, me, ns, nossa, mim).

Questo 3: Uma mesma palavra pode expressar diferentes sentidos, que so determinados por fatores como o contexto e a inteno de quem fala ou escreve. Quando uma palavra utilizada com significao objetiva, limitando-se aos sentidos descritos no dicionrio, dizemos que foi empregada denotativamente. Quando utilizada com significao subjetiva, expressando outros sentidos por associaes, dizemos que foi empregada conotativamente. Considerando essas informaes, observe estes fragmentos retirados da Carta de Caminha e, em seguida, responda aos itens A e B: i) Nem comem seno desse inhame, que aqui h muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as rvores de si lanam. E com isto andam tais e to rijos e to ndios, que o no somos ns tanto, com quanto trigo e legumes comemos. ii) Contudo, o melhor fruto que dela [da nova terra] se pode tirar pareceme que ser salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lanar.

a) possvel perceber que os termos destacados no possuem o mesmo significado nos dois contextos. Assim, indique os possveis significados dos vocbulos semente e fruto em cada uma das passagens do texto.

b) Considerando a reposta anterior, explique: Em qual trecho os vocbulos destacados foram empregados conotativamente? E em qual foram utilizados denotativamente? Habilidade trabalhada: Identificar o sentido denotativo e conotativo da linguagem.

Resposta comentada: Pela interpretao da carta, os alunos devem observar que, no primeiro excerto, o autor utiliza os vocbulos fruto e semente para se referir a elementos da alimentao indgena como evidenciam as expresses comem e a terra e as rvores de si lanam. Esses dois vocbulos so, portanto, empregados com sentido denotativo.

No segundo trecho, ao contrrio, esses mesmos vocbulos estruturam uma linguagem conotativa: o maior fruto a ser extrado/conquistado pelos portugueses consistiria na salvao daquelas pobres almas, que s seria alcanada graas semente, expanso da f crist e implantao dos fundamentos scio-culturais europeus. Desse modo, a fim de que os alunos compreendam essas construes metafricas, seria interessante recuperar os objetivos e as expectativas dos viajantes em relao ao Novo Mundo: descrever e catalogar a terra e o povo recm-descobertos, a fim de ampliar as riquezas do reino de Portugal e fortalecer a Igreja. Assim, a explorao dos fragmentos em destaque revela, alm da possibilidade de uma mesma expresso evocar diferentes sentidos, os preconceitos, as ambies e o olhar maravilhado dos navegadores europeus diante as belezas do novo continente.

ATIVIDADES DE LEITURA

Questo 4: A carta uma situao comunicativa em que os parceiros no esto face a face, mas preservam suas identidades. Dessa forma, em seus escritos, Caminha no s demonstra a hierarquia da tripulao ao rei como tambm revela aspectos da organizao social portuguesa no contexto histrico das grandes navegaes. Considerando essa preservao de identidades discursivas, recupere, no texto, um fragmento que comprove a submisso do escrivo Caminha ao rei D. Manuel. Em seguida, justifique essa escolha. Habilidade trabalhada: Identificar nos textos da literatura de informao e nos jesuticos as marcas das escolhas do autor, da relao com a tradio literria e com o contexto sociocultural.

Resposta comentada: Nesta atividade, importante voc pedir aos alunos que recuperem o propsito de comunicao do texto. interessante relembrar que se trata de um escrivo portugus

com o propsito de descrever a nova terra conquistada ao seu rei por meio do gnero discursivo carta. Nesse gnero, os parceiros mantm suas identidades psicolgicas e sociais: o escrivo da tripulao, Caminha, deve cumprir seu papel de oferecer ao financiador da viagem, D. Manuel, informaes sobre a nova terra que justificassem o apoio financeiro incurso. Dessa forma, possvel recuperar marcas textuais da relao de submisso existente entre eles, como nos exemplos a seguir: no deixarei de tambm dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que para o bem contar e falar o saiba pior que todos fazer!, Todavia tome Vossa Alteza m inha ignorncia por boa vontade, E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos sero tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza.(...), E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pr assim pelo mido.(...), Beijo as mos de Vossa Alteza.. Nesses e em outros fragmentos, voc pode mostrar a presena do pronome de tratamento e o fato de os pronomes que se referem ao rei estarem grafados em letra maiscula (Ela, Vos), o que revela o tratamento respeitoso do emissor, Caminha, ao receptor, o rei D. Manuel. Os destaques nos excertos corroboram o posicionamento submisso do escrivo ao desejo do rei, tanto quando oferece o seu melhor e se projeta como incapaz diante de to alta autoridade, como quando apresenta pedidos de perdo ou confere beijo nas mos.

Questo 5: A Carta considerada um marco documental, pois, po r intermdio dela, possvel recuperar aspectos culturais e ideolgicos da sociedade portuguesa da poca. Tendo em vista essa considerao, recupere, no Texto Gerador 1, trechos que comprovem o afastamento de algumas aes indgenas da concepo portuguesa de civilizao, representando, portanto, um choque cultural entre os dois povos. Habilidade trabalhada: Analisar e avaliar a presena do indgena na literatura de informao, na jesutica e na literatura contempornea.

Resposta comentada: Nesta questo, importante voc destacar que a Carta, produzida por Caminha, recupera a viso que o grupo cultural portugus projeta sobre o Novo Mundo. Dessa forma, os destaques que apresentam com estranhamento as aes indgenas podem revelar aspectos da organizao social portuguesa. No fragmento E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capito; nem a algum., por exemplo, o conector adversativo mas evidencia que o comportamento dos ndios foi contrrio ao esperado por Caminha, j que, para ele, parece haver obrigao de os sditos apresentarem comportamento submisso ao rei, por meio de gestos corteses. Outros exemplos de trechos podem revelar o costume portugus de andar com roupas, relacionados, provavelmente, ao aspecto climtico e religioso de Portugal: Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso so de grande inocncia. ou e suas vergonhas, to altas e to cerradinhas e to limpas das cabeleiras que, de as ns muito bem olharmos, no se envergonhavam.. O importante aspecto cultural da religio portuguesa tambm aparece, entre outros, no s excertos: no tm nem entendem crena alguma e nenhuma idolatria nem adorao tm; que parecem mostrar os ndios como seres vazios por no conhecerem e adorarem o mesmo deus dos portugueses. Por outro lado, h fragmentos que, apesar de se assemelharem a uma possvel crena ou presena de ritos, so destacados na Carta sem meno alguma a aspectos religiosos: Ambos traziam o beio de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro e E andavam l outros, quartejados de cores, a saber metade deles da sua prpria cor, e metade de tintura preta, um tanto azulada; e outros quartejados d'escaques.. Outro aspecto revelador da concepo portuguesa de civilizao est presente em Eles no lavram, nem criam. No h aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimria, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem seno desse inhame, que aqui h muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as rvores de si lanam. E com isto andam tais e to rijos e to ndios, que o no somos ns tanto, com quanto trigo e legumes comemos (...).. Esse excerto pode revelar que hbitos indgenas referentes alimentao eram estranhos ao povo portugus.

ATIVIDADE DE LEITURA e DE USO DA LNGUA

Questo 6: J vimos que, para a comunicao se efetivar, alguns elementos so necessrios: preciso haver um emissor (ou locutor) e um receptor (ou interlocutor) que compartilhem um cdigo lingustico utilizado na construo e transmisso da mensagem. Tendo em vista essa afirmativa, responda: a) Que obstculo foi apontado por Caminha para a evangelizao dos ndios? Justifique com um fragmento. b) A qual elemento da comunicao se relaciona esse empecilho? c) Qual seria, portanto, a funo de linguagem predominante no fragmento que voc selecionou? Habilidades trabalhadas : Analisar e avaliar a presena do indgena na literatura de informao, na jesutica e na literatura contempornea; Reconhecer as funes da linguagem: referencial, metalingustica, potica e emotiva.

Resposta comentada: Para realizar esta questo, voc pode mostrar aos alunos que, em sua carta ao rei, Caminha aponta a lngua como obstculo para evangelizar os ndios, conforme se comprova nos seguintes fragmentos: se ns entendssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristos (...); E portanto se os degredados que aqui ho de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, no duvido que eles, segundo a santa teno de Vossa Alteza, se faro cristos e ho de crer na nossa santa f (...); esta gente, no lhes falece outra coisa para ser toda crist, do que entenderem -nos (...). Nesse aspecto, importante os alunos entenderem que o fato de os portugueses e os ndios no dominarem o mesmo cdigo dificultou a comunicao mais efetiva e, por isso, a evangelizao. O empecilho apontado por Caminha se relaciona ao elemento de comunicao cdigo e, portanto, funo de linguagem metalingustica.

Texto Gerador 2

Este texto gerador, assim como a Carta de Caminha, pertence categoria dos textos informativos. A importncia deste relato provm da observao e do registro que Hans Staden faz da lngua e da cultura indgena, pois evidenciam a viso fantasiosa e depreciativa do europeu em relao aos povos nativos, muito comum naquela poca.

Duas Viagens ao Brasil Captulo 36 Como os selvagens comeram um prisioneiro e me levaram para a festa Alguns dias depois, quiseram comer um prisioneiro numa aldeia chamada Ticoaripe, a cerca de seis milhas de Ubatuba. Da minha prpria aldeia acorreram vrios e me levaram junto. Fomos num barco. O escravo que queriam comer pertencia tribo dos Maracajs. Como costume deles quando querem comer um homem, prepararam uma bebida de razes que chamam de cauim. Somente depois da festa da bebida que o matam. Quando finalmente o momento chegou, fui na noite anterior ao festim falar com o escravo e disse-lhe: Ento voc est preparado para morrer. Ele riu e respondeu: Sim, estou com todo o equipamento, apenas a muurana no bastante longa. Em casa temos melhores. Eles chamam de muurana uma corda de algodo algo mais espessa que um dedo, com a qual os prisioneiros so amarrados, e sua corda era cerca de seis braas curta demais. Ele falava como se estivesse indo a uma quermesse. Eu tinha comigo um livro em portugus que os selvagens acharam num navio conquistado com a ajuda dos franceses e deram para mim. Eu li um pouco desse livro quando deixei o prisioneiro, e fiquei com pena dele. Por isso fui de novo encontr-lo e falei outra vez com ele, pois os Maracajs esto entre os amigos dos portugueses: Eu tambm sou prisioneiro, igual a voc, e no vim porque quero comer um pedao de voc, e sim porque meus senhores me trouxeram. Ao que ele respondeu que sabia muito bem que ns no comamos carne humana. Continuei dizendo -lhe que devia consolar-se, pois eles comeriam apenas a sua carne, mas que seu esprito iria para um outro lugar, para onde tambm vo os nossos espritos, e que l havia muita alegria.

Ele perguntou, ento, se isso era verdade. Eu disse que sim, e ele retrucou que jamais tinha visto Deus. Terminei dizendo que ele veria Deus na outra vida e afastei-me, uma vez que a conversa estava encerrada. Na noite seguinte, bateu um forte vento soprando to poderosamente que arrancou pedaos da cobertura da casa. O que fez os selvagens ficarem zangados comigo. Disseram em sua lngua: Aip mair angaipaba ybytu guasu omou. O que vem a ser: o homem mau, o santo, agora faz com que o vento chegue, pois durante o dia olhou na pele do trovo. Assim chamavam o meu livro. Eu teria chamado o mau tempo porque o escravo era amigo nosso e dos portugueses e assim eu talvez quisesse impedir a festa. Ento roguei a Deus e disse para mim mesmo: Senhor, tu que me protegeste at agora, continua a proteger-me. Isso porque sussurravam muito a meu respeito. Quando amanheceu, o tempo estava bom. Bebiam e estavam muito contentes. Ento fui ao encontro do escravo e disse-lhe: O forte vento era Deus. Ele quer te levar at a presena Dele. Ele foi comido no segundo dia depois desse. Vocs sabero como isso ocorreu no vigsimo nono captulo do segundo livro.

ATIVIDADE DE LEITURA

Questo 7: Em uma das suas viagens ao Brasil, Hans Staden acabou aprisionado por uma comunidade Tupinamb, que, segundo ele, tinha a inteno de devor-lo. Sendo assim, o viajante alemo dedica boa parte de sua narrativa descrio dos rituais antropofgicos dos nativos. De acordo com o texto, responda: a) Que imagem dos povos indgenas esse relato ajudou a difundir pela Europa? b) De que modo descries do Novo Mundo como essa, feita por Staden, serviram de justificativas s misses civilizatrias portuguesas? Habilidades trabalhadas: Analisar e avaliar a presena do indgena na literatura de informao, na jesutica e na literatura contempornea; Identificar nos textos da

literatura de informao e nos jesuticos as marcas das escolhas do autor, da relao com a tradio literria e com o contexto sociocultural.

Resposta Comentada: A fim de levar seus alunos a uma reflexo sobre a questo da dominao cultural europeia em relao s comunidades indgenas, voc poderia observar que, ao tratar dos costumes dos nativos, Staden descreve, muitas das vezes, as aldeias e o comportamento dos nativos de forma pejorativa. Os relatos do aventureiro alemo apresentam os tupinambs como selvagens e insaciveis comedores de carne humana. Esse hbito ritualstico dos indgenas, contrrio ao cristianismo, era constantemente associado a prticas diablicas e representado tambm em diversas ilustraes, que, em alguns casos, beiram o grotesco. Essas imagens reuniam muitos detalhes que nem sempre eram expressos por palavras. O notrio conhecimento da prtica antropofgica indgena teria reforado a noo de marginalidade e bestialidade em relao aos nativos, ajudando a promover o projeto expansionista lusitano, pois atribua um sentido humanitrio e religioso ao empreendimento colonial, justificando-o. Desse modo, os verdadeiros interesses dos colonizadores a acumulao material, resultante das polticas das grandes navegaes, e a conquista espiritual, advinda da expanso da f crist permaneciam encobertos.

ATIVIDADE DE USO DA LNGUA e DE LEITURA

Questo 8: Por ser tratar de uma poca em que era comum surgirem histrias de viagens mentirosas e absurdas, Hans Staden preocupou-se em escrever um relato minucioso. Em vrios momentos, o autor transcreve e traduz vocbulos ou, at mesmo, breves dilogos em Tupi, como possvel observar no trecho a seguir:

Na noite seguinte, bateu um forte vento soprando to poderosamente que arrancou pedaos da cobertura da casa. O que fez os selvagens ficarem zangados comigo. Disseram em sua lngua: Aip mair angaipaba ybytu guasu omou. O que vem a ser: o homem mau, o santo, agora faz com que o vento chegue, pois durante o dia olhou na pele do trovo.

Com base nessas informaes: a) Identifique a funo da linguagem predominante neste texto. b) Indique o provvel propsito de Staden ao registrar a lngua Tupi? Habilidades trabalhadas: Reconhecer as funes da linguagem: referencial, metalingustica, potica e emotiva; Identificar nos textos da literatura de informao e nos jesuticos as marcas das escolhas do autor, da relao com a tradio literria e com o contexto sociocultural.

Resposta comentada: Para que seu aluno tenha uma melhor compreenso sobre o assunto, seria interes sante que voc retomasse os elementos da comunicao relacionando-os s funes da linguagem. Dessa forma, voc poderia destacar que, no trecho abordado na questo, o autor se utiliza da linguagem para explicar e/ou traduzir uma passagem apresentada na lngua dos nativos. Sendo assim, a funo predominante seria a metalingustica, pois o foco recai sobre o prprio cdigo. O aventureiro alemo recorreu a vrias estratgias a fim de assegurar que seu pblico leitor aceitasse como verdadeiras as suas desventuras no Novo Mundo. Para atestar a veracidade do relato, recorreu, sempre que oportuno, ao registro de dilogos na lngua Tupi.

Texto Gerador 3 O texto gerador a seguir um relato de viagem, gnero no literrio que possui caractersticas comuns aos exemplares literrios do bimestre: tanto os relatos de viagens, como os textos da Literatura de Informao apresentam preocupao em descrever e informar sobre um determinado local.

Pequeno relato de viagem Estou de volta do Crato, trazendo na lembrana as serras azuis que cercam o vale do Cariri, riscadas pelas guas que descem o flanco, formando quedas; uma vegetao exuberante, povoada de animais preciosos e diversos. O osis do serto tambm verdejante, apesar de assolado por estios, como o de 1877, que nosso padim Ccero teve de enfrentar junto com seus fiis. Ali esto as prsperas cidades de Crato e Juazeiro, quase juntas de to crescidas. Juazeiro, nascida numa trilha onde havia trs dessas milagrosas rvores, que davam pouso aos viajantes, est fazendo cem anos por agora. incrvel pensar que em apenas cem anos as poucas casas de barro e palha se transformaram nessa metrpole, passando por tantos sofrimentos, tantos conflitos; e hoje um centro de religiosidade dos maiores no mundo, terra com a nobre vocao acadmica, bero de mestres. Ali sempre visito dona Assuno, pintora e mestra da cultura, que faz os bolos confeitados mais perfeitos, e conheceu padre Ccero, quando era menina. Tambm andei fazendo um trabalho junto a gravuristas da Lira Nordestina, numa pequena antologia de poemas ilustrados com xilos. Nunca deixo de ir ao mestre Espedito Seleiro, em Nova Olinda, para comprar umas currulepes, to apreciadas na Califrnia; e visito as crianas que administram uma casa, em projeto exemplar. O Crato mais antigo. Foi primeiro o aldeamento da Misso do Miranda meu xarapim era um chefe indgena e em 1745 consistia em apenas uma igreja de taipa nas margens do rio Granjeiro, cercada de poucas e singelas casas. Cidade com histria grandiosa: ali dona Brbara de Alencar e outros heris lutaram pela nossa independncia, e pela repblica, quando a Vila Real do Crato j era das povoaes mais importantes do Nordeste colonial, no comeo do sculo 19. O municpio tem carrascais, florestas espinhosas e de chuvas, resqucios de Mata Atlntica, e um dos lugares mais sensveis para a conservao da riqueza natural do Cear. Possui universidades, metr, feira de

gado; artistas e artesos, como o antigo mestre Noza, cujo galpo fui visitar; tem parque natural, a fabulosa banda cabaal dos Irmos Aniceto, e academia de cordel em homenagem ao Patativa; tem infelizmente alagamentos causados pela destruio das matas nos clios do Granjeiro e seu assoreamento. Visitamos a graciosa estao frrea e entramos numa casa antiga, era uma instituio pblica, mas parecia a casa de nossas avs, com santos e crochs. Conheo algo da vida familiar cratense quando visito minha amiga, a professora Maria Isa, e seu marido, o mdico Luciano. Eles possuem uma cultura ao mesmo tempo erudita e popular, so capazes de discorrer longamente sobre um livro clssico, ou as qualidades e usos do rap entre os sertanejos. Antes de subirmos a ladeira at sua bonita e antiga casa no alto da colina, paramos para comprar um bolo de milho que poucas vezes provei to bom. O filho Bernardo, tambm mdico, tambm con versador, fascina as visitas com histrias curiosas do povo cearense. Dessa vez, fomos assistir coroao de Nossa Senhora, na praa, debaixo de uma chuva fininha. Vi aquele povo devoto, compungido pelo que a vida traz de sofrimentos e esperanas. Senti-me no mais profundo dos Cears. Fui convidada pelo Sesc. Levava nos braos um livro e uma lata de leite especial, para entregar ao bispo do Cariri, dom Panico, mandados por dona Lcia, coisa to meiga e nordestina; acompanhada de duas amigas inseparveis, vi que estou ficando parecida com a minha me, que s viaja em comitiva. Recepcionada pela doce Tina e seu esposo, fui para uma noite de incentivo leitura, aberta por uma orquestra de sopros, ainda mais emocionante para mim, av de um trompetista e um futuro clarinetista crianas; teve cordel lido pelo autor, Marcio Lopes Siqueira. Havia uma exposio de trabalhos de crianas que leram livros infantis e se inspiraram nos personagens e nas histrias, as coisas mais lindas esses desenhos! Depois, conversas com um pblico atento e silencioso, a lotar uma quadra de esportes. Professores falaram com a voz de quem sabe o que diz, tecendo comentrios elaborados por estudos; conversas longas sobre como a leitura, principalmente a de livros, e ainda mais, a de livros do tesouro literrio, capaz de construir nosso pensamento, ampliando nossos conhecimentos, nossa imaginao, nossa fala. Voltei abraada a livros ou originais de escritores do Cariri, pensando em toda aquela gente autntica, com um qu de pureza, lutando entre o avano do tempo e a tradio. Um artista amigo meu disse: O vale do Cariri lindssimo, minha alma se perde por l quando volto de viagem, uma

vez acompanhei s cinco da manh os catadores de pequis. Verdade, nossas almas se perdem por l. Ana MirandaIn: http://www. opo vo.com.br/app/colunas/ana mirand a/20 11/07/16 /no ticiaanamiranda,2268247/pequeno - relato-de-viagem.shtml [16.07.2011]. Acesso em: 27/12/2011.

Texto Complementar 1 De um avio, de Joo Cabral de Melo Neto, um poema, forma literria no focalizada no bimestre, mas de grande importncia para o estabelecimento da distino entre textos literrios e no literrios. Este texto complementar tambm relevante por abordar o tema da viagem, aproximando-se, assim, dos relatos apresentados neste Roteiro de Atividades.

De um avio Joo Cabral de Melo Neto 1 Se vem por crculos na viagem Pernambuco Todos-os-Foras. Se vem numa espiral da coisa sua memria. O primeiro crculo quando o avio no campo do Ibura. Quando tenso na pista o salto ele calcula. Est o Ibura onde coqueiros, onde cajueiros, Guararapes. 2 No segundo crculo, o avio vai de gavio por sobre o campo. A vista tenta dar um ltimo balano A paisagem que bem conheo, por t-la vestido por dentro, mostra, a pequena altura coisas que ainda entendo. Que reconheo na distncia de vidros lcidos, ainda:

Contudo j parece em vitrine a paisagem.

eis o incndio de ocre que tarde queima Olinda;

O aeroporto onde o mar e mangues, eis todos os verdes do verde, onde o mareiro e a maresia. submarinos, sobremarinos: Mas o ar condicionado, mas enlatada brisa. De Pernambuco, no aeroporto, a vista j pouco recolhe. o mesmo, recoberto, porm, de celuloide. Nos aeroportos sempre as coisas se distanciam ou celofane. No do Ibura at mesmo a gua doda, o mangue. Agora o avio (um saltador) caminha sobre o trampolim, Vai saltar-me de fora para mais fora daqui. No primeiro crculo, em terra de Pernambuco j me estranho. J estou fora, aqui dentro deste pssaro manso. dos dois lados da praia estendem-se indistintos; eis os arrabaldes, dispostos numa constelao casual; eis o mar debruado pela renda de sal; e eis o Recife, sol de todo o sistema solar da plancie: daqui uma estrela ou uma aranha, o Recife, se estrela, que estende os seus dedos, se aranha, que estende sua teia: que estende sua cidade por entre a lama negra.

In: NETO, Joo Cabral de Melo. A educao pela pedra e outros poemas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. p.p. 36-38 (fragmento).

ATIVIDADE DE LEITURA Questo 9: Os textos podem se destinar transmisso de informaes por meio de explicaes claras e objetivas, apresentando, neste caso, uma funo utilitria, tpica dos textos no literrios. No entanto, tambm h textos que apresentam uma forma bastante particular. Nesses casos, as palavras empregadas podem assumir outros sentidos alm dos dicionarizados e o modo de construo das mensagens passa a ser to ou mais importante que o contedo transmitido. Esses textos apresentam uma funo esttica ou potica, caracterstica dos textos literrios. Os textos acima tm em comum o tema da viagem. Todavia, transmitem as informaes de forma distinta. A partir de sua leitura, responda: Em qual deles predomina a funo utilitria caracterstica dos textos no literrios e em qual deles predomina a funo esttica tpica dos textos literrios? Justifique. Habilidade trabalhada: Diferenciar texto literrio de no literrio. Resposta comentada: A proposta desta atividade alertar o aluno para as peculiaridades do texto literrio e do texto no literrio atravs da comparao entre um relato de viagem e um poema. Assim, para auxiliar seus alunos na interpretao dos dois textos, importante destacar que, enquanto o texto gerador Pequeno relato de viagem traz as impresses de sua autora, Ana Miranda, a partir da visita que realizou s cidades de Crato e Juazeiro, localizadas no estado brasileiro do Cear, o texto complementar, um poema de Joo Cabral de Melo Neto, menciona as cidades de Olinda e Recife, do estado nordestino de Pernambuco. Para estabelecer a distino entre ambos os textos, voc pode utilizar os cinco critrios adotados por Plato e Fiorin : plurissignificao (o texto literrio possui mais de um sentido), desautomatizao (a funo potica combina os elementos de modo inusitado), conotao (significados no imediatos ou dicionarizados), relevncia do plano de1

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FIORIN, Jos Luiz & SAVIOLI, Francisco Plato. Para entender o texto: leitura e redao. So Paulo: tica, 2007. p.p. 349 357.

expresso (valorizao do significante) e intangibilidade da organizao lingustica (o efeito esttico se perde com o comprometimento da forma). O primeiro texto revela funo utilitria, constituindo-se num exemplar no literrio. Em primeiro lugar, importante demonstrar que, nesse relato de viagem, as expresses se referem a elementos do mundo real (cenrios, culturas e pessoas dos lugares descritos), direcionando o leitor a uma nica interpretao, como em: Estou de volta do Crato, trazendo na lembrana as serras azuis que cercam o vale do Cariri ou O municpio tem carrascais, florestas espinhosas e de chuvas, resqucios de Mata Atlntica, e um dos lugares mais sensveis para a conservao da riqueza natural do Cear. Esses trechos demonstram a predominncia da denotao e a nfase na informao (funo referencial da linguagem), marcas dos gneros no literrios. Paralelamente, voc pode destacar que o relato no apresenta combinaes inusitadas de palavras, como tambm no valoriza o plano de expresso. Sendo o texto fundamentalmente denotativo, com significados concretos e claros, nem mesmo a presena das impresses da autora, comuns no gnero relato de viagens, compromete as informaes do texto. Assim, embora alguns trechos demonstrem, de forma mais evidente, a opinio da autora como milagrosas rvores (no segundo pargrafo) ou a fabulosa banda (no terceiro pargrafo) , essas marcas de subjetividade no se confundem com a forma potica, pois se constroem de modo a focalizar o referente (as cidades visitadas) e no a prpria mensagem. Finalmente, o texto gerador tambm no intangvel, pois pode ser facilmente resumido sem qualquer prejuzo de sentido. O segundo texto De um avio, poema de Joo Cabral de Melo Neto, nitidamente literrio. Para comprovar isso, voc pode, inicialmente, ressaltar que o texto tem maior complexidade e possibilita ao leitor vrios nveis de leitura. O eu potico est partindo do aeroporto de Guararapes, em Ibura, bairro de Recife, para algum destino fora do estado de Pernambuco (Todos-os-Foras), e compara sua viagem aos desenhos do crculo e da espiral. medida que se afasta de Recife, como se desenhasse um novo crculo, uma nova perspectiva da paisagem, cada vez mais distante. Ao mesmo tempo, desenha-se uma espiral ampliando seu raio, que parte da cidade (coisa) indistinta no cenrio visto do avio para permanecer apenas na lembrana (mem ria). Portanto, h ao menos dois sentidos para essa viagem: a viagem real, feita por avio, e a afetiva, emocionalmente experimentada pelo eu potico. Os desenhos do crculo e da espiral podem, ainda, ganhar outro sentido a partir da referncia celulide, substncia de que feito o papel, e celofane, tipo de papel.

Esses termos no se referem a caractersticas das cidades mencionadas no poema e tambm no expressam o estado emocional do eu potico. Na verdade, as palavras celuloide e celofane parecem estranhas a todo texto. Pode-se, ento, pensar no eu potico desenhando os crculos e espiral durante a decolagem. Enquanto os crculos representariam a viagem real, com o distanciamento das cidades, a espiral representaria a viagem afetiva, com a permanncia das cidades na memria. ainda possvel interpretar os desenhos e o papel como metfora para a prpria escrita potica. Assim, como se o poema tivesse sido escrito durante a decolagem. Desse modo, voc pode pontuar, nos vrios nveis de leitura, diferentes sentidos para o mesmo texto, revelando a plurissignificao. Em segundo lugar, importante explicitar que o poema tambm desautomatiza a linguagem ao promover o estranhamento na combinao de elementos e palavras, como na segunda estrofe (Quando tenso na pista/o salto ele calcula), ou ainda na sexta estrofe (a gua doda, o mangue). As personificaes do avio e da gua geram estranhamento, pois so inusitadas, impossveis no domnio da realidade. Desse modo, voc poder sublinhar que o texto predominantemente conotativo, pois se afasta do significado imediato para atingir nveis mais profundos de sentido, como na dcima estrofe (A paisagem que bem conheo,/por t-la vestido por dentro), na qual o verbo vestir assume outro sentido, diferente do usual. Outra particularidade dos textos literrios que pode ser destacada a valorizao do plano da expresso. Nesse poema, a escolha de cada palavra, de cada fonema tem relevncia na configurao do ritmo e das rimas, como vemos no segundo e quarto versos da segunda estrofe (o avio no campo do Ibura/o salto ele calcu la), ou nos mesmos versos da quarta estrofe (onde o mareiro e a maresia/mas enlatada brisa), por exemplo. Finalmente, a forma do texto intangvel, visto que qualq uer alterao comprometeria seu resultado esttico. Para facilitar a compreenso dos alunos, voc poderia desenvolver a anlise proposta nesta questo a partir de um quadro comparativo, semelhante a este:

Texto no literrio (Pequeno relato de viagem) Clareza (o texto no literrio no

Texto literrio (De um avio) Plurissignificao (o texto literrio

possibilita mltiplas leituras) 1 Ex.: hoje religiosidade um dos centro maiores

possui mais de um sentido) de Ex.: Se vem numa espiral/da coisa no sua memria

mundo, terra com a nobre vocao acadmica, bero de mestres (...) Predomnio referencial 2 Ex.: O Crato mais antigo. Foi Ex.: a gua doda, o mangue primeiro o aldeamento da Misso do Miranda (...) Denotao (significados imediatos Conotao ou dicionarizados) 3 Ex.: Fui convidada pelo Sesc. Ex.: A paisagem t-la que vestido bem por Levava nos braos um livro e uma conheo,/por lata de leite especial, para entregar dentro ao bispo do Cariri (...) Relevncia do plano de contedo (valorizao do significado) 4 Ex.: Depois, conversas com um Ex.: de vidros lcidos, ainda:/ eis pblico atento e silencioso, a lotar o incndio de ocre/ que tarde uma quadra de esportes. Tangibilidade lingustica (o resumido) 5 Ex.: Conheo algo da vida visito Ex.: e eis o Recife, sol de todo/ o sistema solar da plancie:/ daqui da texto queima Olinda; da organizao Relevncia do plano de expresso (valorizao do significante) (significados no imediatos ou dicionarizados) da funo Desautomatizao da funo potica) (predomnio

organizao Intangibilidade

pode ser lingustica (o efeito esttico se perde com o comprometimento da forma)

familiar cratense quando

minha amiga, a professora Maria

Isa, e seu marido, o mdico uma estrela/ ou uma aranha Luciano. Resumo: A amiga Maria Isa e seu esposo do autora um exemplo de como so as famlias de Crato. Qualquer tentativa de resumo

rasura a forma potica.

Por fim, vale destacar que as informaes aqui sintetizadas no podem ser tomadas de modo categrico. possvel, por exemplo, observar uma linguagem conotativa em textos no literrios, como no ltimo pargrafo de Pequeno relato de viagem, em que se encontra a expresso almas se perdem por l. Parafraseando seu amigo, a autora se refere ao envolvimento afetivo que o lugar lhe proporcionou e utiliza, para isso, uma linguagem figurada. Portanto, dada a tenuidade dos limites entre os textos literrios e os no literrios, importante esclarecer aos alunos que esse quadro-resumo apenas um recurso para a anlise comparativa.

ATIVIDADE DE PRODUO TEXTUAL Questo 10: Relatar uma experincia comunicativa de mo-dupla: relatando um fato, somos capazes de compreend-lo melhor e possibilitamos que outras pessoas tambm tenham acesso a uma experincia vivida por ns e a entendam.2

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FARACO, Carlos Emlio; MOURA, Francisco Marto de; MARUXO Jr, Jos Hamilton. Lngua Portuguesa: linguagem e interao. Vol 1. So Paulo: tica, 2010. p. 204.

Redigindo um relato de viagem comum nos fascinarmos por programas de viagens que mostram lugares, pessoas e culturas diferentes da nossa. Quem nunca achou interessante, por exemplo, o falar de pessoas de outros estados ou at mesmo de outros pases? Relatar essas experincias pode ser uma atividade bem divertida. As situaes difceis ou alegres por que tenhamos passado podem proporcionar boas risadas entre os colegas de turma. Mas, como transmitir essa experincia de maneira envolvente? A seguir vo algumas dicas para ajudar na produo desse gnero dos viajantes.

COMO? Neste bimestre, estudamos os relatos de Pero Vaz de Caminha, Hans Staden e Ana Miranda. Agora, selecione uma viagem que voc tenha vivido e que gostaria de compartilhar com seu professor e seus colegas de classe. No se preocupe com o tipo de viagem, se foi longa ou curta, distante ou prxima de sua residncia; afinal, desses lugares sempre podemos aproveitar experincias interessantes. Quem sabe esse relato possa ser fixado no mural da escola com algumas imagens dessa viagem.

PLANEJAMENTO Utilize a estrutura lgica do relato de viagem: 1) Como foi a preparao da viagem? A ansiedade, o trajeto, as dificuldades, quem foi com voc? 2) Quais foram as primeiras aes? E as seguintes? Nessa parte do planejamento, interessante destacar as aes em ordem cronolgica, ou seja, reunir os fatos que marcaram desde sua chegada ao destino at o retorno da viagem na ordem em que aconteceram. 3) Como foi o retorno? Deixou saudade? Foi uma experincia ruim? Qual a lio que fica dessa experincia?

ELABORAO Estrutura global Linguagem: Escreva em linguagem objetiva e clara e empregue a variedade padro da lngua. Estrutura gramatical: Observe que os verbos, nos relatos de viagem, esto, predominantemente, no pretrito perfeito (passado). Organizao textual: Lembre-se de que o relato de viagem um texto de comunicao com foco nas aes vivenciadas pelo viajante, importantes para a sequncia do texto. Atente, tambm, para o modo de organizao descritivo: a caracterizao do ambiente e das pessoas, com seus costumes, crenas e outras caractersticas, enriquecero seu relato. Ponto de vista: Um relato de viagem repleto de impresses pessoais e muitas observaes demonstram um certo estranhamento entre culturas, hbitos diferentes. Relate realmente o que voc acha do que conheceu na viagem, mas cuidado para no ofender ou ferir as pessoas. Habilidade trabalhada: Produzir um relato de viagem. Comentrio: Ao observar a produo dos relatos dos alunos, importante analisar algumas caractersticas que correspondam linguagem e estrutura (organizao textual) do gnero solicitado. Isso porque, a avaliao do aluno no pode se restringir somente criatividade do relato, linguagem padro utilizada ou a outro aspecto isolado do texto. linguagem utilizada no relato de viagem, voc pode atribuir 30% da nota final do texto, pois, a partir desse critrio de correo, sero analisados: a linguagem padro, a correo gramatical, o uso dos verbos indicando passado, a pontuao, a regncia e a concordncia de verbos e nomes, bem como a linguagem pessoal (subjetiva), caracterstica dos relatos de viagens. Outros aspectos a serem observados, muito importantes para a caracterizao do gnero estudado, o modo de organizao do texto e o desenvolvimento do tema definido pelo aluno: uma viagem que ele realizou. Se, no relato de viagem, as aes so desencadeadoras dos fatos, o modo de organizao narrativo (com exceo do conflito) deve predominar na estruturao do texto. Assim, importante observar se o aluno conseguiu: i) fazer uma introduo com os motivos da viagem e o incio do percurso; ii)

desencadear as aes de forma cronolgica, respeitando, assim, as sequncias dos fatos; iii) concluir o texto, com suas impresses finais e com uma reflexo sobre a viagem. Esse campo de correo pode ter uma nota de at 40% do texto. Os ltimos 30% do texto podem ser reservados coerncia e coeso e textual. A articulao entre os perodos e os pargrafos, a concatenao entre os fatos e as aes e o emprego adequado de conectivos so critrios importantes para avaliar a ordenao lgica do texto. Vale lembrar que a ausncia dos conectivos no deve ser muito penalizada, pois, alm de esse contedo ainda no ter sido trabalhado, h outras forma de coeso textual. Por fim, fundamental que a avaliao global do texto considere o aspecto comunicativo do relato. O aluno conseguiu levar os colegas para a sua viagem? H reflexes pessoais que engendram algum crescimento pessoal e/ou coletivo? Essas perguntas podem ser feitas ao aluno, autor do texto, e a seus colegas ouvintes.

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