PORTUGAL REFORÇA A CAPACIDADE SUBMARINA...4 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA ENTREGA DO N.R.P....

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PORTUGAL REFORÇA A CAPACIDADE SUBMARINA PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA Nº 449 ANO XL PORTUGAL REFORÇA A CAPACIDADE SUBMARINA FEVEREIRO 2011 MENSAL 1,50

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PORTUGAL REFORÇAA CAPACIDADE SUBMARINA

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA ● Nº 449 ● ANO XL

PORTUGAL REFORÇAA CAPACIDADE SUBMARINA

FEVEREIRO 2011 ● MENSAL ● € 1,50

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O Museu apresentava, em 2008, uma importante lacuna nas suas colecções, dada a não existência de qual-quer pintura que representasse um navio provido de rodas dos primórdios da navegação a vapor, com-provadamente em águas portuguesas.

Igualmente se poderia afirmar que o seu património era muito pouco significativo em obras de Luís Ascencio Tomasini (1832-1902), notável pintor de temas marítimos.

Para colmatar esta situação, em Dezembro de 2008, foi adquirido em leilão um óleo sobre cartão (23X37,5 cm) deste artista que representava um vapor de rodas rebocando, à saída da barra do Tejo, um veleiro de dois mastros, sendo visíveis na pintura os fortes de S. Julião da Barra e do Bugio.

Por sua vez, em 1 de Julho de 2010, numa cerimónia realizada no Gabinete do Director, o Dr. Ireneu Cruz, mé-dico em Setúbal, doou formalmente ao Museu um Tomasini, óleo sobre tela (50X50 cm), em homenagem a seu pai Sr. Zeferino Cruz, antigo sargento enfermeiro da Marinha, de quem tinha herdado.

Este segundo Tomasini, em que figura um vapor de rodas a entrar o porto de Lisboa, perto da Torre de Belém, dando reboque a um veleiro de dois mastros, terá sido restaurado, em tempo, pelo Comandante Sousa Machado.

Hoje o Museu, renovando o seu agradecimento ao Dr. Ireneu Cruz pela sua muito generosa oferta, pode orgu-lhar-se de possuir no seu acervo duas obras de um dos mais ilustres pintores portugueses de “marinhas” do final do século XIX.

OS DOIS TOMASINIS DO MUSEU DE MARINHA

2 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

J. A. Rodrigues Pereira CMG

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3REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

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Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 449 - Ano XLFevereiro 2011

DirectorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedacçãoCMG

Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redacção1 TEN TSN

Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedacçãoSAJ L

Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício GorjãoCFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1 TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redacção e Publicidade

Revista da ArmadaEdifício das Instalações Centrais da

Marinha.1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 213 217 650Fax: 213 473 624

Endereço da Marinha na Internetwww.marinha.pt

E-mail da Revista da [email protected]

Paginação e Produção

Tiragem média mensal6000 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Registada na DGI em 6/4/73 com o nº 44/23

Depósito Legal nº 55737/92ISSN 0870-9343

Foto HDW

ANUNCIANTES:MAN FERROSTAAL PORTUGAL, Lda.ROHDE & SCHWARZ, Lda.

Entrega do N.R.P. “ARPÃO”

NAVIO-ESCOLA “SAGRES”Regressa a Portugal

Recepção provisória do N.R.P. “VIANA DO CASTELO”

Almirante Pereira da Silva

SUMÁRIO

OS DOIS TOMASINIS DO MUSEU DA MARINHA

CONCEITO ESTRATÉGICO DE LISBOA – I PARTE

PORTUGAL E OS DESAFIOS DO MAR

II JORNADAS DE LISBOA DE DIREITO MARÍTIMO

NOVAS FORMAS DE COMUNICAR

TOMADAS DE POSSE

ACADEMIA DE MARINHA

ENTREGA DE COMANDO/TOMADA DE POSSE

AS MULHERES NA MARINHA 2

NOVO CHEFE DA BANDA DA ARMADA / ”MÚSICA E PODER SIMBÓLICO”

ANNAIS DE UM GUARDA-MARINHA

A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (16)

SAÚDE NAVAL

HIERARQUIA DA MARINHA 2 / VIGIA DA HISTÓRIA 29

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ATÉ SEMPRE COMANDANTE E CAMARADA SALGUEIROFRUTUOSOQUARTO DE FOLGA / CONVÍVIO

NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS

NAVIOS DA REPÚBLICA

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CONTRACAPA

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4 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

ENTREGA DO N.R.P. “ARPÃO”ENTREGA DO N.R.P. “ARPÃO”

Amanheceu frio, muito frio…Amanheceu frio, como frio ama-nhecera durante as seis longas

semanas que tinham passado na Norue-ga treinando e, antes delas, durante a anterior estadia em Kiel, para o treino a cais.

Amanheceu, pois, frio, um frio insis-tente e cortante, a contrastar com o calor que lhes advinha da excitação, do clímax associado ao grande momento que se preparavam para viver.

Porque hoje era o seu dia, o tão an-siado dia em que, culminando um lon-go processo de aprendizagem que para alguns se iniciara em 2007, iriam tomar finalmente posse daquele que consi-deravam já o “seu navio” e que dali a momentos renasceria, qual Fénix, como N.R.P. “Arpão”.

Ali estavam, já formados e perfilados, grupo de serviço à parte, quando à hora aprazada, 1030 (hora local), os primeiros convidados começaram a chegar.

No ar ecoavam os acordes dos trechos musicais executados pela “Schleswig--Holstein Polizei Big Band”, distraindo os corpos do frio e aquecendo os espíritos.

As altas individualidades convida-das, de entre as quais se destacam: o Ministro Conselheiro da Embaixada de Portugal em Berlim, Dr. Albuquerque Moniz, o ALM Chefe do Estado-Maior da Armada, o VALM Superintendente dos Serviços do Material, o VALM Co-mandante Naval, e o CALM Heinrich Lange, Vice-chefe do Estado-Maior da “Bundesmarine”, começaram a chegar ao recinto onde decorreria a cerimónia pou-co faltava para as 1100; ocuparam os seus lugares e deu-se início à cerimónia com a execução de um pequeno trecho musical.

Terminado este, prontamente discur-sou o Sr. Andreas Burmester. Começaria por dar as boas-vindas aos convidados, destacando em particular o ALM CEMA, o CALM Vice-CEMA da “Bundesmarine” e o Dr. Albuquerque Moniz.

Referiu depois o orgulho, paternal como afirmou, com que todos na HDW viam mais um “filho” dar os primeiros passos e ganhar a sua independência, juntando-se à sua nova família, a Mari-nha de Guerra Portuguesa.

Após partilhar algumas reflexões so-bre os pilares que considera como fun-damentais na sustentação de uma ma-rinha que se queira projectar no futuro, considerou, que com esta nova classe

de submarinos, Portugal veria em mui-to aumentada a sua capacidade naval e abrir-se-lhe-ia todo um espectro de no-vas missões, referindo nomeadamente a observação e a vigilância de extensas áreas marítimas.

A terminar a sua intervenção, louva-ria o trabalho de todos os elementos da Marinha Portuguesa envolvidos no pro-jecto – elementos da missão de acompa-nhamento e fiscalização, guarnições dos dois navios, formandos em geral – pelo profissionalismo e espírito de colabora-ção demonstrados.

As últimas palavras seriam dedica-das, outra coisa não seria de esperar, à guarnição do N.R.P. “Arpão”; diria. “(…) God bless the boat and the Crew. We wish N.R.P. “Arpão” all time safe voyages and happy returns.(…)”.

De seguida discursaria o CALM Lan-ge. Após agradecer o convite endereça-do à “Bundesmarine” para estar presente na cerimónia, felicitando a Marinha de Guerra Portuguesa pela novel unidade, referindo a sua importância no contribu-to de Portugal para a NATO e para a EU no que ao controlo das linhas de comu-nicação marítimas e ameaças que sobre elas impendem, concerne.

Colocando-se, e à assistência, a ques-tão de qual a necessidade, no mundo de hoje, de submarinos convencionais, ela-boraria uma série de considerandos jus-tificativos: Destacamos:- A contínua concentração das popula-ções junto ao litoral;- A alteração, a que se assiste durante os últimos 20 anos, da área de actuação destas plataformas, determinando-lhes missões cada vez mais junto a terra, num quadro de operações de vigilância e re-colha de informação, bem como de apoio a missões executadas por contingentes de forças especiais;- A elevada discrição dos modernos subma-rinos, associada à miríade de sensores que transportam e que lhes permite efectuarem vigilância para além do seu horizonte e, em “tempo real” passar os dados reco-lhidos para as estruturas em terra ou a outras forças navais em cooperação.

O CALM Lange findaria o discurso dirigindo ao “Arpão” e à sua guarniçao: “(…) fair winds, following seas and always a safe and sound return to her homeport(…)” .

Terminado o discurso, pouco passava das 1130 locais, a Big Band da Polícia do Estado de “Schleswig-Holstein” executa-

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5REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

ria o Hino Nacional Alemão ao som do qual seria arriada a bordo a bandeira nacional alemã, transportada de seguida por um grupo composto por elementos da guarnição de prova da HDW e entre-gue ao Sr. Burmester.

Era o sinal que indicava o momento da assinatura do Protocolo de Transfe-rência; este, ainda de carácter provisório até que esteja decorrido o período de ga-rantia do navio, foi assinado, por parte do Estado Português, pelo ALM CEMA, e pela HDW, pelos Srs. Andreas Burmester e Thies Stüber, gestor do projecto nomea-do pelo estaleiro.

Regressados aos seus lugares os in-tervenientes neste solene e significativo evento, seria a altura de o ALM CEMA se dirigir aos presentes.

Num gesto que muito sensibilizou a assistência alemã, o ALM CEMA agrade-ceria em inglês e alemão a presença de todos os que assistiam à cerimónia.

Prosseguiria, sublinhando o marco importante que a cerimónia representa-va, destacando o esforço nacional para manter a Capacidade Submarina da nos-sa Marinha e dotá-la de plataformas que contribuam para o desiderato de uma Marinha equilibrada e capaz.

Salientaria, que explorando a dimen-são submarina, Portugal incrementava significativamente a capacidade de man-ter sob vigilância o domínio marítimo, fa-zendo face à variegada gama de ameaças.

Explorando as suas capacidades, refe-riu, estará a Marinha em condições para operar em qualquer área de interesse para o país, contribuindo activamente com os parceiros da NATO e da EU para um Mundo mais pacífico.

Referindo a quase centenária tradição da Marinha de operar num ambiente sub-superfície, recensearia as capacida-des da plataforma e os desafios que a modernidade dos sistemas representava, declarando a sua convicção de que, ba-seando-se nessa tradição, seriam levados de vencida.

Agradecendo por fim a todos os en-volvidos no projecto – Portugueses e Alemães – o seu contributo e a excelen-te colaboração entre todos havida, diri-giria algumas palavras em português à guarnição: “(…) Concretizamos hoje, com a recepção provisória do submarino “Arpão”, uma importante etapa na modernização da Marinha, ultrapassando muitos obstáculos, mas conscientes da sua importância para Portugal. Grandes responsabilidades caem agora sobre nós. Com a vossa dedicação, pro-fissionalismo e profundo espírito de missão, estou confiante no futuro. Não tenho dúvidas

de que o NRP “Arpão”, arvorando a bandei-ra de Portugal e a insígnia da Marinha, irá cumprir a sua missão com o sucesso de quem acredita na nobre missão de servir Portugal no mar.(…)”.

Ainda antes de findar, formularia vo-tos de que Deus abençoasse o navio e to-dos os que nele servissem.

Terminou agradecendo, novamente em inglês e alemão, toda a ajuda e solida-riedade demonstrada pelos Alemães que durante este processo acompanharam e auxiliaram a Marinha.

A cerimónia passaria então a ser con-duzida em português, procedendo-se à leitura das portarias de aumento do N.R.P. “Arpão” ao efectivo dos navios da Armada e de nomeação do Comandante do navio, CTEN Baptista Pereira.De seguida o ALM CEMA dirigiu-se jun-to à guarnição formada, entregando ao Comandante recém-empossado a Ban-deira Nacional, que seria, acto contínuo, levada para bordo pelo Oficial de Serviço escoltado por Guarda de Honra.

Chegada a Bandeira a bordo ouviram--se os primeiros acordes da “Marcha dos Marinheiros”, ao som da qual a restante guarnição entraria a bordo, sendo que o último a passar a prancha seria o Coman-dante do navio, recebido com as honras da “praxe”.

São 1145; soa o Hino Nacional por-tuguês e a Bandeira Nacional é, pela 1ª vez, içada a bordo do N.R. P. “Arpão”, acompanhada do Jaque – indicando na-vio armado - e da Flâmula, símbolo do Comando.

Estava terminada a cerimónia; se-guir-se-lhe-ia um pequeno “buffet”, servido nas instalações da HDW após o qual as diversas entidades se dirigiriam a bordo para uma visita.

Amanheceu frio…Amanheceu frio e fria continuou a

manhã…Mas um calor interior, alimentado

pelo orgulho, pela satisfação que sen-tiam por estar na sua nova “casa” e pelo sentido do dever cumprido, sobrepu-nha-se-lhe. Estava finalmente completa a 5ª Esquadrilha, Esquadrilha que, esta-mos certos, servirá com Honra e Distin-ção a Marinha e os interesses de Portu-gal e encherá todos os submarinistas de justificado orgulho.

Fotos: HDW e CTE Proença Nunes

Colaboração da Delegação da MCSUB na ALEMANHA

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6 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

Cerimónia de Recepção Provisória do NRP “Viana do Castelo”

Cerimónia de Recepção Provisória do NRP “Viana do Castelo”

A Cerimónia de Recepção Provisória do NRP “Viana do Castelo”, primeiro Navio Patrulha Oceânico (NPO) da

classe com o mesmo nome, teve lugar no pas-sado dia 30 de Dezembro, com o navio atra-cado no cais de aprestamento dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).

A cerimónia foi presidida pelo Prof. Dou-tor Augusto Santos Silva, Ministro da Defesa Nacional, acompanhado pelo Dr. Marcos Pe-restrello, Secretário de Estado da Defesa Na-cional e dos Assuntos do Mar e contou com a presença da Dra. Manuela Eanes, madrinha do navio, acompanhada pelo GEN Ramalho Ea-nes e dos seguintes convidados, GEN Valen-ça Pinto, Chefe do Estado Maior-General das Forças Armadas, ALM Saldanha Lopes, Chefe do Estado-Maior da Armada e Senhora; pelo deputado João Soares, em representação da Comissão de Defesa Nacional; Abel Baptista, Defensor de Moura, Jorge Fão e Rosalina Mar-tins, Deputados à Assembleia da República por Viana do Castelo; Engº José Maria Costa, Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo; ALM Vidal Abreu, ex-Chefe do Estado-Maior da Armada ; Prof. Pita Guerrei-ro, Governador Civil do Distrito de Viana do Castelo ; VALM Viegas Filipe, Director-Geral de Armamento Infra-Estruturas de Defesa, e outros Oficiais da Marinha.

No cais, a guarnição, formada junto ao na-vio e em frente à tribuna onde se encontravam os convidados para a cerimónia, aguardava com natural ansiedade e expectativa o momen-to de entrar a bordo. Estavam assim reunidas as condições para início da cerimónia, o que ocorreu pelas 15H00 com as palavras de boas vindas do Presidente do Conselho de Admi-nistração dos ENVC, Dr. Carlos Veiga Anjos, que salientou a presença do Ministro da Defesa Nacional e do Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar neste evento de grande importância para os Estaleiros Na-vais de Viana do Castelo, agradecendo com um “muito obrigado senhores Ministro e Secre-tário de Estado pela honra que nos dão com com a

Vossa presença”. E prosseguiu:Assistimos hoje à entrega à Marinha Portuguesa do primeiro Navio de Patrulha Oceânica, baptizado com o nome da nossa tão querida e bonita cidade, o primeiro de uma série de seis, que esperamos vir a produzir (…). É um dia muito importante para Por-tugal, para a Marinha Portuguesa e para os ENVC. Para Portugal, por passar a dispor de um recurso muito eficiente no controlo da vasta zona oceânica sob seu dominio (…); para a Marinha Portuguesa, pelo contributo que estes navios irão dar para a me-lhoria e eficiencia da sua frota (…); para os ENVC pela melhoria tecnológica e técnica a que um projecto desta complexidade obrigou. Depois, e não menos importante, pela entrada no apetecido, exigente e promissor mercado das construções navais milita-res(….) Porém, não poderemos ignorar as muitas dificuldades que se depararam a todos os interve-nientes neste processo. Poderíamos, sem dúvida, ter feito melhor, com menores custos e com menores prazos. Valerá a pena reflectirmos sobre os erros co-metidos, no sentido de os evitarmos e equacionarmos o que de bom foi feito no sentido de fazermos ainda melhor (…).

Seguiu-se a assinatura do Auto de Recep-ção Provisória, pelo Chefe do Estado-Maior da Armada, ALM Saldanha Lopes, em represen-tação do Estado Português, e pelo Dr. Carlos Veiga Anjos, em representação dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.

Concluída a assinatura do Auto de Recep-ção Provisória, o Ministro da Defesa Nacional proferiu uma alocução durante a qual afirmou tratar-se de um momento muito importante, visto de quatro ângulos, que são os seguintes: • O primeiro, relativo às questões relacionadas com a segurança e com a autoridade do Estado;• O segundo, relativo ao reequipamento e modernização das capacidades da Marinha Portuguesa;• O terceiro, relativo ao desenvolvimento do sector nacional ligado à construção naval;• O quarto, não menos importante, relativo às perspectivas de desenvolvimento do tecido económico e social da região do Alto Minho e, em particular, da cidade de Viana do Castelo.

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7REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

Concluídos os discursos, a ce-rimónia prosseguiu com a leitura da Portaria que aumentou ao Efec-tivo dos Navios da Armada o NRP “Viana do Castelo” e da Portaria que nomeou o CFR César Manuel Pires Correia, Comandante do navio.

Após a entrega da Bandeira Na-cional ao Comandante do navio, por parte do Ministro da Defesa Nacio-nal e do Almirante Chefe do Estado--Maior da Armada, a guarnição en-trou a bordo ao som da “Marcha dos Marinheiros”.

Pelas 15H40, com a guarnição formada no convés de voo, a Banda da Armada interpretou o Hino Nacional e, em simultâneo, procedeu-se, pela primeira vez, ao içar da Bandeira Nacional a bordo do N.R.P. “Viana do Castelo”.

Terminada a cerimónia de recepção, o Minis-tro da Defesa Nacional foi recebido a bordo pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada

que o acompanhou numa visita ao navio. No decurso da visita, o Ministro da Defesa Nacional assinou o Livro de Honra do Navio na Cama-rinha do Comandante, assinalando assim, de forma indelével este evento.

Por último, e após a saída de bordo do Mi-nistro da Defesa Nacional, o Almirante Chefe

do Estado-Maior da Armada diri-giu-se à guarnição e aos elementos da Missão de Acompanhamento e Fiscalização formados na tolda do navio, onde referiu a importância para a Marinha e para o país do acto que ocorrera, exortando os presentes a enfrentarem com prag-matismo e motivação redobrada as tarefas necessárias para a conclusão do processo de integração do N.R.P. “Viana do Castelo” na Marinha por-tuguesa.

O navio irá agora concluir as pro-vas de mar previstas e a formação e treino da guarnição de modo a pre-

parar a realização do Plano de Treino de Segu-rança, que se prevê efectuar em Abril p.f.

Fotos: SCH T Monteiro de Sá

C. Lopes MoreiraCMG ECN

Chefe da MAF dos MPO´s

FlâmulaViana do Castelo

DESCRIÇÃO HERÁLDICA- Ondada de dez peças de verde e prata, carregada com um escudo de ver-melho com um castelo de ouro. Listel de prata em banda, de três peças, com a legenda em letras ne-gras maiúsculas, de tipo elzevir, “N.R.P. VIANA DO CASTELO”.

A história de Viana do Castelo começou no Monte de Santa Luzia, onde existe hoje uma igreja. Não longe da igreja encontra-se a Pousada de Santa Luzia onde teria sido a antiga povoação e onde se encontram alguns vestígios arqueológicos. Esta povoação foi habitada desde 2000 aC até 1500 dC. O seu declínio veio com a invasão romana que expulsou para o vale os habitantes celtas desta povoação. Com a Reconquista Cristã surgiu um núcleo populacional que deu lugar a freguesia de Santa Maria. A sua privilegiada situação e sua proximidade a uma via medieval assegura-ram a economia que se beneficiava das peregrinações a Santiago de Compostela.

No ano de 1258 Viana foi fundada junto a desembocadura do Rio Lima por D. Afonso III. Seu porto foi muito importante durante a Época das Descobertas, desta Vila marinheira partiram muitas embarcações que voltaram repletas de tesouros que enriqueceram a população.

Em 1374, é concluída a muralha da Vila, na altura com quatro portas: Porta de S. Pedro, Porta da Ribeira, Porta do Postigo e Porta de Santiago. No século XVI, foi aberta a Porta da Vitória. Em 1502, para defesa em relação à pirataria, foi construída uma fortificação na barra denominada Torre da Roqueta. A 1 de Junho de 1512, D. Manuel concede Foral Novo a Viana por a considerar importante pólo de comércio marítimo. Em 1563, D. Sebastião classifica Viana como «Vila Notável», dizendo-a uma das mais nobres e de maior rendimento do reino. Ao longo da Idade Média, Viana torna-se um importante porto marítimo, e durante a época dos Descobrimentos Portugueses, o porto de Viana era mesmo o terceiro mais movimentado do País. Já no século XX viria a ser construída uma frota bacalhoeira nos estaleiros de Viana do Castelo para a pesca do bacalhau nos mares do norte.

A meados do século XIX a população recebe o nome de Viana do Castelo quan-do D. Maria lhe concede o título de cidade.

Curiosidade acerca da origem do nome - Viana do Castelo: Conta-se que um cavaleiro se apaixonou por uma bela princesa. Rondava o castelo da sua amada, vezes sem conta, na esperança de a ver. Um dia, na varanda mais alta do castelo, viu a princesa, Ana de seu nome, que lhe acenava. Louco de alegria, o cavaleiro não se conteve e então gritava: “Vi Ana do Castelo! Vi Ana do Castelo!”

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8 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

O primeiro Secretário Geral da NATO, Lord Ismay, terá afirma-do que a Aliança fora criada com

o propósito de “manter os americanos dentro, os russos fora e os alemães em baixo”, ou na expressão original “keep the americans in, the russians out and the germans down”. Esta frase tem sido frequentemen-te citada, pois sintetiza de forma cirúrgi-ca alguns propósitos que terão estado na génese da Aliança Atlântica. Só tem um problema: não há nenhuma prova de que Lord Ismay alguma vez a tenha proferido! A citação é, pois, um mito.Contudo, veio--me à memória ao ler o novo Conceito Estratégico de Lis-boa. Isto porque ele representa, numa leitura pessoal e conjugada com al-guns desenvolvi-mentos recentes, a queda desse mito.

Comecemos pelo “keep the americans in”. Os EUA têm r e p e t i d a m e n t e reafirmado o seu compromisso em-penhado com a NATO. Todavia, é possível notar dois aspectos que, ine-vitavelmente, des-gastam a robustez do elo transatlântico.

O primeiro é o reduzido investimento dos países europeus na defesa. Apesar de os aliados se terem comprometido a convergir para orçamentos de defesa cor-respondentes a 2% do PIB, apenas quatro nações europeias cumprem essa meta, en-quanto os EUA se fixam nos 4% do PIB. Isso faz com que os americanos sejam res-ponsáveis por 73% dos gastos de todos os membros da NATO com a defesa.

O segundo é a falta de vontade ou a in-capacidade da grande maioria dos aliados em darem um contributo efectivo para as operações em curso no Afeganistão. De facto, os EUA fornecem 71% das tropas da NATO aí presentes. E se é verdade que todos os 28 aliados estão a contribuir para o esforço de guerra, não é menos verdade

ser bem diferente ter tropas a combater no Afeganistão, ou ter tropas a morrer no Afeganistão – o que sucede sobretudo com os americanos.

Tudo isto, associado à percepção do gigantismo dos desafios de segurança e defesa que se põem hoje em dia, tem levado os americanos a dinamizarem a criação de parcerias com outros actores re-gionais. Os EUA continuam, assim, “in”, mas cada vez mais empenhados numa rede de parcerias estratégica, que permita ultrapassar as especificidades da NATO, nomeadamente as que decorrem da li-mitação geográfica do âmbito da Aliança

(apenas aberta, para alargamento, a países europeus) e as que resultam da dificulda-de ou da morosidade na resposta perante alguns problemas de âmbito securitário (em função de as decisões serem, obriga-toriamente, tomadas por consenso entre os 28 aliados).

Olhemos agora para o “keep the rus-sians out”. Com o fim da guerra-fria, a Rússia já tinha deixado de ser o principal oponente da Aliança Atlântica. O novo Conceito Estratégico marca mais uma evolução no relacionamento com a Rús-sia, que passa, agora, a ser encarada como um parceiro estratégico, apesar das sus-peições recíprocas e das ambiguidades que têm marcado esta relação e que não desaparecem com um simples documen-to. De qualquer maneira, os apoios dados

pela Rússia ao esforço de guerra no Afe-ganistão, conjugados com a reformulação das bases do sistema de Defesa Anti--Míssil, permitiram uma aproximação, com materialização imediata no Conceito Estratégico de Lisboa, que aponta para uma “parceria forte e construtiva, basea-da na confiança mútua, na transparência e na previsibilidade”. A cooperação com a Rússia na questão da Defesa Anti-Míssil ficou, mesmo, consagrada no documen-to, mostrando que a Rússia está cada vez menos “out”.

Finalmente, analisemos o “keep the germans down”. Esclarecidas, em 1994,

algumas dúvidas constitucionais re-lativas ao emprego das suas Forças Ar-madas no exterior, a Alemanha já é o terceiro aliado com maiores despesas com a defesa (atrás dos EUA e do Reino Unido) e é, também, o terceiro país em número de efectivos militares (depois dos EUA e da Turquia). Em consonância com a sua cada vez mais forte posição in-

ternacional, a Alemanha não hesitou em abrir a “caixa de Pandora” da questão nuclear, no processo de negociação do Conceito Estratégico, defendendo uma menor ênfase no papel das armas nucle-ares e um maior empenho na desnucle-arização, o que provocou uma clivagem com os EUA e, sobretudo, com a França. A cuidada redacção final do documento assinado em Lisboa acaba por reconhe-cer que a “NATO continuará uma alian-ça nuclear”, mas acrescentando (muito por influência teutónica) o objectivo de prosseguir a redução do arsenal nuclear no futuro. A Alemanha não está, decidi-damente, “down”!

N. Sardinha MonteiroCFR

A queda de um mito

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9REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

PORTUGAL E OS DESAFIOS DO MARIN MEMORIAM DO PROFESSOR DOUTOR ERNÂNI LOPES (1942-2010)

«Ensina a História que prosperidade e navios no mar foram sempre sinónimos na língua por-tuguesa; que época em que estamos alheados do mar é época de decadência»1.

P resentemente, o território nacional é composto por três pequenos núcleos, que constituem os vértices de um

vasto triângulo de mar Atlântico. Foi igual-mente o mar que, nos primórdios da nacio-nalidade, tornou possível a conquista de uma parte daquilo que é hoje Portugal, po-voado desde tempos imemoriais por gente que a ele se afeiçoou, por vocação ou neces-sidade. Escassos três séculos volvidos após a sua fundação, o chamamento do Atlântico constituiu canto de sereia para os ouvidos dos marinheiros portugueses. Com as suas ex-traordinárias navegações, fizeram com que o mar passasse a unir em vez de separar, con-tribuindo, assim, para que o português alcan-çasse o estatuto de língua universal, partilha-da hoje por oito países em quatro continentes. O mar e a língua, pelo facto de favorecerem o estabelecimento de relações políticas, eco-nómicas e culturais com os demais países de língua oficial portuguesa, constituem activos de elevado valor estratégico para Portugal.

A importância do mar está intrinseca-mente relacionada com os nossos espaços marítimos e que os portugueses souberam dilatar, contando hoje com uma linha de cos-ta que se estende por 2.188 km e uma Zona Eco-nómica Exclusiva (ZEE) que abrange 1,7 milhões km2. Em termos de superfície terrestre, Portugal posiciona-se no centésimo décimo (110.º) lugar entre os países do mundo. Relativamente à ZEE, que representa 18,7 vezes a dimensão do territó-rio, Portugal ocupa o décimo primeiro (11.º) lugar a nível mundial, à frente de países como a China, a Índia ou a Alemanha. Aliás, se atendermos ao espaço exclusivamente europeu, o nosso país de-tém, presentemente, a mais extensa ZEE.

Na sequência da recente proposta apresenta-da por Portugal junto da Comissão dos Limites da Plataforma Continental das Nações Unidas, o imenso espaço marítimo sob responsabilidade nacional pode ainda, dentro em breve, conhecer um incremento substancial. Caso venha a ser sa-tisfeita a pretensão portuguesa, a nossa platafor-ma continental mais do que duplica – dos actuais 1,7 milhões para os 3,6 milhões de km2 – passan-do a haver continuidade de solo nacional entre o território do continente e as regiões autónomas da Madeira e dos Açores.

Como o Professor Ernâni Lopes sustentava, este vastíssimo espaço marítimo encerra um ele-vado potencial de riqueza que pode contribuir, se convenientemente gerido e explorado, para o desenvolvimento do país, com a particularidade das responsabilidades e desafios daí decorrentes irem de encontro à nossa quase milenar vocação marítima.

Actualmente, o tráfego marítimo é responsá-vel por cerca de 90% do comércio mundial. Em Portugal, as mercadorias movimentadas nos por-tos nacionais representam 60% das exportações e 70% das importações. É igualmente por via ma-rítima que nos chega a totalidade do petróleo e dois terços do gás natural que importamos.

O sector das energias renováveis – ondas, ma-rés e vento – apresenta igualmente um enorme potencial de crescimento em instalações off-shore, prevendo-se que, no futuro próximo, uma per-centagem crescente da energia eléctrica seja pro-duzida em ambiente marítimo.

Ainda com grande potencial de crescimento, a denominada economia do mar já repre-senta 11% do produto interno bruto (PIB) nacional, 12% do emprego, 17% dos impos-tos indirectos e 15% das margens comerciais geradas pela economia portuguesa, sendo que o sector portuário, com o porto de Sines à cabeça, é um dos que tem registado maior desenvolvimento nos últimos anos.

O mar, principal traço da nossa identida-de, é igualmente símbolo de coesão nacional e elemento potenciador da determinação colec-tiva. Neste sentido, a sua acção mobilizadora constitui um importante contributo para que possamos ultrapassar, com êxito, os crescen-tes e complexos desafios que nos são coloca-dos pelo mundo em mudança, cuja globaliza-ção, convém recordar, foi encetada pela visão empreendedora dos portugueses nos séculos XV e XVI, que a bordo das suas frágeis naves ousaram dar «novos mundos ao mundo».

Importa no entanto sublinhar, que a uti-lização pacífica do mar exige confiança, só possível com navios que exerçam a autori-dade do Estado e que garantam a segurança relativamente às ameaças que actualmente

se nos deparam. À criminalidade transnacional e aos tráficos de armas, narcóticos e seres huma-nos, vieram somar-se outras, tão imperceptíveis quanto nefastas, como o terrorismo internacional, a proliferação de armas de destruição maciça, a depredação dos recursos vivos e não vivos, a des-truição dos habitats e a poluição do meio marinho.

A exigência e os desafios colocados pelo mar, porque aparentemente insuperáveis, reivindi-cam esforços muitas vezes difíceis de compreen-der. Não obstante, as adversidades e contingên-cias com que actualmente nos confrontamos, só podem ser ultrapassadas se entendidas como uma invulgar oportunidade para de pronto ence-tarmos um novo rumo. Só assim estaremos em condições de deixar um país melhor e pessoas mais qualificadas para enfrentar o rol crescente de desafios vindouros. De acordo com a posição incansavelmente reiterada pelo Professor Ernâni Lopes ao longo da última década, o imenso lega-do que nos foi confiado exige melhores cidadãos e, sobretudo, uma atitude mais responsável, com vista granjear o respeito e acautelar o futuro da-queles que nos sucedem. Ainda estamos a tempo!

Colaboração do EMA CFR António Manuel Gonçalves

Membro do CINAVNota:

1Comandante Serra Brandão (1958).

O Professor Doutor Ernâni Rodrigues Lopes licenciou-se em Economia no Instituto de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF, actual ISEG) em 1964, onde foi assistente entre 1966 e 1974. Como oficial da Reserva Naval, cumpriu o serviço militar obrigatório na Marinha, na Direcção das Constru-ções Navais, entre 1964 e 1967. Integrou, a partir de 1967, o Serviço de Estatística e Estudos Económicos do Banco de Portugal, que dirigiu nos últimos anos. Entre 1975 e 1979 foi embaixador de Portugal em Bona, Alemanha Federal, assumindo depois, entre 1979 e 1983, o cargo de embaixador e chefe da missão portuguesa junto das Comunidades Euro-peias em Bruxelas, tendo sido responsável pelas negociações de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE). Em 1982 doutorou-se em Economia pela Universidade Católica, onde já leccionava desde 1980. Como Ministro das Finanças e do Plano entre 1983 e 1985, liderou o processo de adesão de Portugal à CEE e foi responsável pela aplicação do programa do Fundo Monetário Interna-cional (FMI) no nosso país. Desde a sua fundação em 1996, exerceu o cargo de presidente da assembleia--geral da Associação dos Oficiais da Reserva Naval (AORN) e em 2003 foi eleito membro efectivo da Academia de Marinha. Desempenhava o cargo de presidente do conselho de administração da Fun-dação Luso-Espanhola e, desde 2007, era Professor Catedrático da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa. Foi igualmente conferencista convidado em diversas instituições militares, designadamente, no Instituto de Defesa Nacional (IDN), Instituto Superior Naval de Guerra (ISNG) e Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM).

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10 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

Comunicar é uma característica do ho-mem como ser social, inserido numa comunidade. Desde os primórdios que

o homem comunica com os seus semelhantes, recorrendo a pinturas, gestos, sons, linguagens e escrita. Através desta faculdade é possível trans-mitir ideias, partilhar conhecimento e exprimir sentimentos.Um dos componentes da comunicação é o meio

ou canal de transmissão da mensagem, o qual tem vindo a evoluir ao longo dos tempos. O primeiro terá sido a pintura, através da arte rupestre. Desde então passou pelo papel, telégrafo, telefone, rádio, cinema, televisão e, mais recentemente, culminou na Internet.As novas tecnologias vieram ligar intrinsecamen-

te a sociedade actual, removendo fronteiras, encurtando espaços e reduzindo o tempo entre os inter-locutores, estando presentes na maioria das actividades desen-volvidas pelo homem. Esta nova forma de relacionamento e integra-ção das pessoas com a tecnologia designa-se hoje por sociedade da informação.

O telemóvel e a Internet pas-saram a fazer parte da vida quo-tidiana do cidadão, sendo dois exemplos muito significativos da evolução tecnológica. Hoje, a maioria de nós possui pelo menos um telemóvel pessoal e acesso à Internet, cuja uti-lização se tornou tão comum que a consideramos indispensável. Estamos cada vez mais dependen-tes das tecnologias e, em casos extremos, viciados nelas. Estes factores são ainda mais acentuados nos jovens, já nascidos na era da sociedade da informa-ção e mais permeáveis às respectivas influências.

A Internet tornou-se uma tecnologia indispensá-vel como ferramenta de desenvolvimento pessoal, profissional, sociocultural, económico, científico e tecnológico, permitindo a comunicação entre um indivíduo e o resto do mundo, a recolha e envio de informação e o desenvolvimento de actividades, quer pessoais quer profissionais, como ferramen-ta colaborativa nas organizações e empresas. No entanto, a evolução tem mostrado que a tendência é o incremento da mobilidade, consubstanciada no aumento das capacidades do telemóvel como extensão da Internet, permitindo assim o acesso à informação em qualquer lugar e momento. A evolução do telemóvel alcançou potencialidades consideráveis, pois permite comunicar, consultar o correio electrónico, visualizar informação na In-ternet, participar em redes sociais, enviar con-teúdos multimédia e outras potencialidades ainda em desenvolvimento, mas que em breve estarão disponíveis.

Um exemplo das potencialidades dos disposi-tivos móveis é a utilização do GPS1 incorporado, para disponibilizar nas redes sociais a informação em tempo real, sobre a localização do utilizador ou

do local e hora em que foi tirada determinada foto-grafia (Geotagging2). No entanto, estas tecnologias podem pôr em causa a privacidade, ao se conhecer publicamente o local e hora onde esteve determi-nada pessoa. Estes problemas poderão ainda ser mais relevantes, se esta tecnologia for utilizada por militares em operações, pois podem revelar o posi-cionamento das forças.

A forma como exploramos a Internet para co-municar tem vindo a evoluir, desde os tempos em que apenas permitia a simples troca de mensagens de correio electrónico até, mais recentemente, à ex-plosão do fenómeno das comunidades do ciberes-paço (virtual), mais conhecidas por redes sociais3 .

Devido às suas características, as redes sociais assumem um relevo crescente enquanto platafor-

ma de partilha de conhecimento, de divulgação de experiências, actividades e opiniões, de contacto com familiares e amigos, de encontro com novas pessoas e constituição de grupos de interesse virtu-ais, contribuindo decisivamente para o desenvol-vimento de relações entre indivíduos e organiza-ções, potenciando a promoção do bem-estar e da motivação das pessoas, através da partilha, na In-ternet, de conteúdos em diversos formatos, como texto, vídeo, som, imagens, etc.

O uso destas redes suscita, no entanto, reflexão, pois levanta um conjunto de problemas que po-dem ser circunscritos em três vertentes: utilização no contexto da vida profissional; no respeito pela liberdade de expressão, como indivíduos integra-dos numa sociedade; e na salvaguarda da privaci-dade de cada um.

Ao nível empresarial, as redes sociais já estão a ser utilizadas para dinamizar áreas de negócio, sendo também usadas como ferramenta colabora-tiva para troca de informação interna entre os cola-boradores. Estima-se que, em poucos anos, as re-des sociais possam substituir o correio electrónico, por ser possível desenvolver um meio de contacto mais interactivo entre colaboradores, incluindo como portal colaborativo da empresa.

No entanto, estas redes acarretam também riscos e problemas para as organizações, pois po-dem veicular informação classificada, decorrente das suas actividades, são fonte de propagação de software malicioso e podem consumir recursos da

organização sem proveito directo para a mesma. É neste contexto, de avaliação de riscos, que muitas organizações e empresas, como é o caso da Mari-nha, têm vindo a estudar e implementar formas de regular o acesso à rede global, implementando as medidas que entendem como mais adequadas à actividade que desenvolvem, tais como o impedi-mento de acesso a sites, à transferência de conteú-dos específicos, a serviços disponíveis na Internet, etc..

Um estudo realizado pela SOCITM4 com a colaboração da Gartner5 menciona que 90% das empresas restringem de alguma forma o acesso à internet e às redes sociais. Nos factores que mo-tivam as restrições estão a perda de produtivida-de, comprometimento da informação, perda de

reputação e consumo de recursos e infra-estruturas tecnológicas das or-ganizações. Contudo, conclui que é totalmente impossível controlar os colaboradores das empresas no uso das redes sociais, pois estes, muitas vezes, contornam as limitações atra-vés do uso de equipamentos próprios para acesso à Internet. Por isso, o es-tudo recomenda aos CIO6 que lide-rem na educação e sensibilização dos colaboradores e encontrem formas de tirar proveito destas redes para as empresas.

No que concerne ao uso das redes sociais para expressar livremente opi-

niões, ideias e pensamentos, há que ter em consi-deração que a Internet é um espaço público a que todos têm potencialmente acesso. A informação ali disponibilizada não tem hierarquias ou controlo, devendo, por isso, ser o mais impessoal possível. Para além disso, a sua utilização deve pautar-se pelo senso comum, pois, à semelhança do que acontece no mundo real, a utilização das redes sociais e da Internet para expressar opiniões que possam ofender terceiros ou contrariem os princí-pios da ética, da moral e dos bons costumes, pode resultar em processos-crime.

A liberdade de expressão é um dos direitos do homem instituído nas sociedades democráticas e na Declaração Universal dos Direitos do Homem, e previsto como direito fundamental na Consti-tuição da República Portuguesa. No entanto, têm surgido casos de despedimento de colaboradores que emitiram opiniões enquanto os seus dados pessoais incluíam menção a vínculos com empre-sas. A alegação é de que, nestes casos, a opinião que foi transmitida vinculou também a empresa e não estava em sintonia com a política desta, pondo em causa a sua imagem e bom nome.

Recentemente, os escândalos envolvendo o site da WikiLeaks7 , no que respeita à divulgação de informação classificada das organizações e em-presas, vêm dar ênfase aos problemas que advêm da dicotomia entre a liberdade de expressão e a divulgação da informação utilizando estes meios de comunicação. Apesar da WikiLeaks não estar

NOVAS FORMAS DE COMUNICAR

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11REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

seguinte, poderá dar origem a processo disciplinar. Ora, como mais vale prevenir do que remediar, compete aos Comandantes, Directores ou Che-fes, através dos respectivos Oficiais de Segurança e Administradores do Domínio do Utilizador (OSDU/ADU), assegurar que os utilizadores têm conhecimento da política de segurança para a In-ternet e Intranet em vigor na Marinha9 .

Por estes motivos, e tendo em consideração que a Internet é uma rede sem tutela e que a infor-mação ali disponibilizada se torna pública e, uma vez colocada, não é possível retirá-la nem exercer qualquer controlo sobre a sua difusão, a utilização das redes sociais pelos militares, militarizados e ci-vis da Marinha deve ser feita de forma contida e conscienciosa. Em paralelo, a decisão sobre a infor-mação a disponibilizar deve pautar-se por critérios

de bom senso, no estrito uso da liberdade de expressão individual, mas tendo sempre presente a reserva própria dos assuntos de natureza militar e de autoridade do Estado.

A Marinha tem acompanhado os desen-volvimentos na Internet e mantém presen-ça nos principais sites, permitindo a todos seguir os eventos de maior relevo e obter a mais diversa informação sobre as activida-des em curso. Se ainda não conhece, reco-menda-se uma visita a: http://www.flickr.com/photos/39092705@n04; http://twit-ter.com/marinhapt; http://www.youtube.com/marinhaportuguesa e http://pt-pt.facebook.com/pages/Marinha-de-Guerra--Portuguesa/111437682208594, assim com o envio de propostas e sugestões para o en-dereço de correio electrónico [email protected].

Tal como na vida real, desejamos a todos os que navegam “bons ventos e mar de fei-ção” o que, também neste caso, não dispen-

sa as precauções acima descritas porque “quem vai para o mar avia-se em terra”.

C. Pereira SimõesCFR

Notas:1Global Positioning System2 Geotagging é o processo pelo qual é adicionado numa de-

terminada informação a posição GPS.3 As redes sociais são também designadas como parte da

“Web 2.0” ou redes interactivas, podendo ser associadas a sites de Blogues genéricos e a outros como o Orkut, Facebook, My Space, Hi5, Twitter, Linkedln, fóruns, e-groups, mensagens in-stantâneas, wikis, sites de partilha (Youtube e Flickr), etc.

4 Society of Information Technology Management - UK5 Gartner – empresa mundial líder em pesquisa de tecnolo-

gias de informação6 Chief Information Office7 WikiLeaks é uma organização transnacional com sede na

Suécia, que disponibiliza no seu site informações classificadas, obtidas por fuga de informação de organismos governamentais ou de empresas.

8 Cyberbulling designa os actos praticados, intencional-mente, por jovens ou crianças, usando tecnologias de infor-mação, para denegrir, ameaçar, humilhar ou executar outro acto mal intencionado dirigido a outro jovem ou criança.

9 Na Marinha, estas matérias são reguladas por uma pub-licação, o PCA 15 - Doutrina para a Intranet e Internet na Marinha - que estabelece um conjunto de regras e boas práticas para os utilizadores dos recursos.

directamente relaciona-da com a utilização das redes sociais, por não ser considerada propria-mente um site de partilha de informação (quem disponibiliza a informa-ção não a pode editar ou apagar), é através deste tipo de comunicação que, muitas vezes, surgem as fugas de informação clas-sificada.

No âmbito da vida privada, as redes sociais

são um meio privilegiado para comunicar no mundo virtual. Com efeito, a grande maioria das pessoas possui conta em pelo menos um dos principais sites destas redes e já algu-ma vez participou em blogues ou utilizou ferramentas de conversação em tempo real. Contudo, a facilidade de utilização e a infor-mação disponibilizada podem ter efeitos perversos, não só de dependência como, também, de necessidade de protagonismo face ao universo virtual em que os utilizado-res se inserem (já não basta ser-se “popular” na escola ou no local de trabalho, é impres-cindível sê-lo, também, no mundo virtual).

O ser humano, como ser social, gosta de se afirmar perante os seus semelhantes, de ser conhecido, de se evidenciar, enaltecer ou promover. As redes sociais, designada-mente o Hi5, Facebook, Twitter e Myspace, servem este propósito de forma nunca antes imaginada. No âmbito profissional existe uma rede congénere, o Linkedin.

No entanto, o uso destas redes de forma individual potencia riscos para os utiliza-dores, pois a partilha de informação privada com pessoas e grupos desconhecidos pode pôr em cau-sa o seu bom nome e a sua privacidade. Os mais frequentes são:- Armazenamento e divulgação de informação por outras entidades, perdendo-se o controlo e o percurso dessa informação;- Difamação, perda de privacidade e roubo de identidade;- Transferência de software malicioso;- Problemas sociais (difamação, perseguições, cy-berbulling8 , etc.).

Neste âmbito, a comunicação social tem vindo a divulgar alguns dos perigos das redes sociais, nomeadamente a RTP1 - Programa linha da frente (Ligados à máquina - 06JUN10) e a SIC – Grande Reportagem (Vidas em rede - 13JUN10). Outro caso noticiado ocorreu nos EUA, onde uma mu-lher de St. Louis, Lori Drew, foi acusada de ter induzido ao suicídio a jovem de 13 anos Megan Meier. Lori Drew, com a ajuda da filha, criou um perfil de um rapaz de 13 anos, no Myspace, para denegrir a imagem da jovem. Após estabelecer la-ços de amizade esta começou a enviar mensagens abusivas, culminado com o suicídio de Megan.

Não existem dúvidas de que as novas formas de comunicar, recorrendo às tecnologias com base

na Internet, são imprescindíveis nos dias que cor-rem. Já ninguém consegue “viver” sem compu-tadores, sem telemóvel ou outros equipamentos e dispositivos electrónicos para interagir numa sociedade cada vez mais interligada em rede, atra-vés da Internet ou de redes privadas. O fenómeno de crescimento e adesão a estas redes tem vindo a crescer vertiginosamente e a mudar a forma como vivemos no ciberespaço. No entanto, importa ter em conta que as redes sociais estão a mudar a forma anónima como estávamos habituados a na-vegar e a comunicar no ciberespaço, pelo que não devemos desprezar o seu poder de divulgação de informação e as consequências que daí advêm. Para que possamos tirar proveito destas novas ferramentas de comunicação é indispensável que as utilizemos de forma proveitosa, tendo presente

que não é a tecnologia que destrói a informação mas sim a (má) intenção de quem a utiliza.

Para além da consciencialização dos seus co-laboradores, as empresas e organizações estão, cada vez mais, a estabelecer códigos de conduta na utilização da Internet e das redes sociais, de forma a prevenir a utilização abusiva dos seus re-cursos e da sua informação, estipulando quais as consequências do não cumprimento das normas. Todos devem ter em consideração que a Internet e, em particular, as redes sociais, não são espaços sem leis. Note-se que os crimes contra a honra (di-famação, injuria e ofensa) têm sido punidos e até agravados por terem utilizado meios de grande abrangência como as redes sociais.

No caso específico da Marinha, parece inques-tionável que as redes sociais contribuem para o bem-estar do pessoal, pois é através delas que muitos militares, militarizados e civis, aprovei-tando o seu tempo de lazer, comunicam com os seus familiares, quando se encontram ausentes, no cumprimento das missões. No entanto, nunca é de mais lembrar que a divulgação de informação sensível ou que de algum modo vincule a Marinha a opiniões não autorizadas significa um compro-metimento da informação e uma quebra do dever de sigilo a que todos estamos obrigados e, por con-

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12 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

“DA TOMADA DE GOA AOS NOSSOS DIAS”

Dando início ao ciclo temático “Da tomada de Goa aos nossos dias”, na sessão cultural de 9 de Novembro, o Presidente da Academia começou por anunciar que, por motivos de saúde

do académico Prof. Doutor Oliveira e Costa, havia sido cancelada a primeira sessão prevista, “A conquista de Goa: um novo paradigma da Expansão Portuguesa”.

O ALM Vieira Matias anunciou que durante as sessões do ciclo es-taria patente na Academia uma mostra de armas antigas, utilizadas nos séculos XVI e XVII pelos portugueses e pelos povos da região gentilmente cedidas pelo Museu Luso-Alemão. O Presidente agrade-ceu ao académico Rainer Daehnhardt a grande dis-ponibilidade demonstrada para o efeito.

Foi então apresentada a conferência “Um retrato marítimo de Goa na Era Moderna”, pelo Prof. Dou-tor Teles e Cunha do Insti-tuto de Estudos Orientais da Universidade Católica.

O orador explicou como Goa, logo desde a sua conquista em 1510, foi assumindo uma pre-ponderância emergente como Estado da Índia, em consequência da sua centralidade geográ-fica e da evolução da expansão por-tuguesa que deu origem a um impé-rio essencialmente marítimo. Na sua detalhada exposição abordou a génese da riqueza goesa e a sua fragilidade, e as razões do declínio do nosso comércio, significativamente deficitário.

O debate subse-quente, muito participado, revelou o interesse que a temática do novo ciclo suscitou na assistência.

Na segunda sessão cultural integrada no mesmo ciclo temático “Da tomada de Goa aos nossos dias”, em 16 de Novembro, o Presi-dente Vieira Matias informou ter decorrido na Academia das Ciências, o lançamento do livro “Políticas Públicas do Mar – Para um Conceito Estratégico Nacional”, do qual foi coordenador o Doutor Viriato Soro-menho Marques e os Drs. João Falcato e Aristides G. Leitão. A confe-rência que se seguiu foi apresentada pela Prof. Doutora Raquel Soeiro de Brito, com o título “Goa em meados do século XX”, e foi uma ver-dadeira lição de Geografia sobre aquele território do então Estado Por-tuguês, realçando os trabalhos de campo por si desenvolvidos quando integrou a Missão Geográfica de 1956-57. Recorrendo ao seu vasto

ACADEMIA DE MARINHA

espólio fotográfico, a conferencista fez uma detalhada caracterização dos aspectos geográficos, fisiográficos, económicos, demográficos e da realidade goesa dos anos cinquenta, e abordou ainda as linhas mestras da sua evolução.

O debate que se seguiu foi enriquecido com as experiências pes-soais de alguns dos presentes, conhecedores da região, após a anexa-ção do território pela União Indiana.

Ainda sobre o mesmo tema decorreu a terceira conferência na sessão cultural de 23 de Novembro que tinha por título “Goa de-pois de 1961 e a herança cultural portuguesa”. Foi apresentada pelo

Comandante Rodrigues da Costa, Delegado da Funda-ção Oriente na Índia, com residência em Goa.

Com o conhecimento que lhe adveio dos cerca de três anos que viveu em Goa, o orador começou por falar sobre a saída da administração portuguesa em Dezembro de 1961, e do que resultaria ao ser in-tegrado na União Indiana, após a realização de dois actos de consulta popular. Seguidamente caracterizou o aspecto económico goês, sobretudo resultante do de-

senvolvimento da exploração minei-ra, mas também das novas indús-trias e da criação de um turismo massificado, pre-dominantemente interno. Sempre acompanhado pela passagem de elu-cidativas imagens e gráficos estatísti-cos, o conferencis-ta falou então das transformações so-

ciais, do papel da Igreja, da revolução na educação, da oferta cultural e da herança portuguesa manifestada de múltiplas e nostálgicas for-mas. A terminar, o Comandante Rodrigues da Costa expressou a es-cassez dramática de professores da Língua Portuguesa devidamente qualificados, chamando a atenção para ser incrementada a coopera-ção cultural, económica e científica, e eliminados os entraves para o desenvolvimento das relações entre o nosso país e o Estado de Goa. No final do debate subsequente foi visível o interesse que o tema e os dotes comunicacionais do orador suscitaram na assistência, tendo o Presidente felicitado o orador pelo sucesso da sua apresentação.

Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA

Prof. Doutora Raquel Soeiro de Brito Comandante Rodrigues da CostaProf. Doutor Teles e Cunha

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13REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

NAVIO-ESCOLA “SAGRES”VOLTA AO MUNDO 2010

A 3ª Viagem de circum-navegação do N.R.P. “Sagres” teve os seus capítulos finais durante o mês de Dezembro. A

estadia no porto de Alexandria antecedeu a última tirada, que atravessou o Mediterrâneo com destino a Lisboa sob condições muito ad-versas.

À chegada ao porto interior de Alexandria, no dia 6 de Dezembro, repetiu-se o ritual de receber os pilotos, que ajudaram na coordena-ção dos rebocadores e o pessoal da manobra de cabos. Num moderno terminal de passa-geiros, esperavam-nos os representantes da nossa Embaixada no Cairo, o Cônsul Hono-rário e os representantes da Marinha Egípcia. Apesar das excelentes condições do cais e por alegados motivos de segurança, as autorida-des não nos permitiram a realização da habi-tual conferência de imprensa nem a abertura a visitas públicas, o que melindrou a habitual partilha do navio com a população local. O programa protocolar do porto de Alexandria iniciou-se imediatamente com uma cerimónia de deposição de coroa de flores no Memorial do Marinheiro Desconhecido. Seguiram-se os habituais cumprimentos protocolares ao Co-mandante Geral da Marinha e depois ao Go-vernador da região. No início da tarde serviu--se o almoço de retribuição de cumprimentos a bordo, concluindo-se o primeiro ciclo de diplomacia desta visita. A nossa recepção foi oferecida no terceiro dia e o número de pre-senças foi relativamente baixo apesar de se terem enviado 450 convites. Algumas pessoas vieram exclusivamente do Cairo para a recep-ção, o que representa três horas de viagem em cada sentido devido ao trânsito infernal, só comparável ao que vimos na Índia.

O tempo livre foi direccionado para a visita à cidade, no primeiro contacto com a cultura árabe destaca-se o comércio de rua fervilhante. Nestes vende-se de tudo, frutas e vegetais, carnes e peixes em estado de con-servação duvidoso, tecidos, malas e afins. Infelizmente o lixo acumula-se pelas ruas e o pó do deserto, que se espalha por todo o lado, envolvem a cidade num tom sujo. Os bairros típicos ombreiam com uma ampla marginal, onde se observam edifícios mo-dernos, em geral consagrados à hotelaria. Na marginal pode-se visitar a colossal Bi-blioteca de Alexandria, um edifício recente, inspirado na célebre biblioteca que ardeu há cerca de dois mil anos. Para além da Bi-blioteca, poderiam ser visitados o Anfiteatro Romano, as Catacumbas, algumas igrejas e mesquitas, hotéis de época, a Fortaleza Qai-tbay, esta muito bem preservada e edificada no local onde se julga ter existido o mítico Farol de Alexandria.

A Comissão de Bem-Estar do Navio pre-parou excursões à cidade do Cairo. Dividiu--se a guarnição em três grupos e, um em cada dia, com saída de bordo às 06:30 para regres-sar às 23:00. O passeio contemplou a visita às pirâmides da região de Gizé, ao Museu do Cairo, à Cidadela de Saladino, a um Souk, (mercado tradicional), e à imponente Mes-quita de Mohammed Ali. Às primeiras horas de sol observámos as milenares pirâmides do complexo de Gizé e a guardiã do vale do Nilo – a Esfinge. No final do dia e com o sol a pôr--se visitámos o Museu do Cairo. Inaugurado em 1902, alberga o espólio do túmulo do rei--rapaz, Tutankhamun.

Um verdadeiro tesouro que incluía sarcó-fagos de ouro, as carruagens em que se des-locava, as suas mobílias, bengalas, jóias, etc... A riqueza e o esplendor deste recheio contras-tam com as condições do edifício, há muito ultrapassadas, apesar de ter sido o primeiro edifício construído propositadamente para a função museológica. Terminámos a visita num souk onde despachámos as últimas li-bras egípcias a troco de souvenirs. Nesta altu-ra já discutíamos sem contemplações, testan-do a paciência dos vendedores.

Largámos na manhã de dia 10 com con-dições meteorológicas pouco favoráveis pelo que o Piloto desembarcou ainda no porto interior. O canal de saída é estreito mas está bem balizado com bóias e tem um bom enfia-mento de faróis, porém existem 3 navios en-calhados dentro do porto, o que relembra as dificuldades impostas pela teimosia do mar. As previsões indicavam-nos três tempestades ao longo do caminho até Lisboa, mas nada muito forte.

Ao final do dia o tempo começou a piorar e à meia-noite rasgou-se a primeira de muitas velas que se foram danificando. Na manhã seguinte várias outras velas apresentavam costuras a ceder. Com o vento sempre a cres-

CONCLUSÃO

Na Mesquita do Cairo.

Nas Pirâmides de Gizé.

Homenagem ao Marinheiro Desconhecido em Alexandria.

Nova Biblioteca de Alexandria.

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14 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

cer, o mar atingiu valores muito acima das previsões meteorológicas tendo-se registado máximos de 65 nós de vento e de 12 metros de ondulação. O navio alternava entre um nó avante e um nó a ré, uma verdadeira inquie-tação para uma guarnição que ansiava chegar a casa.

No período mais complicado desta borras-ca caiu no DSC do VHF o pedido de auxílio imediato de um navio que se encontrava a 40 milhas, mas a barlavento, o que tornava impossível a nossa aproximação. Era o porta--contentores italiano Jolly Amaranto, que ti-nha tido um incêndio na casa das máquinas e estava à deriva, sem propulsão e à mercê da terrível ondulação que nós também sentí-amos. O mau tempo foi paulatinamente can-sando o pessoal, que até para repousar tinha dificuldade, devido aos saltos e ao balanço.

Pela primeira vez em 11 meses a cozinha não conseguiu confeccionar as refeições da guarnição. As equipas do leme, agora cons-tituídas por cinco homens, governavam com todo o leme a um e outro bordo – in-cansáveis num esforço sobre-humano para manter o mar na amura, debaixo de chuva, com um vento que dói e encarando um mar angustiante. Não é nada fácil a vida deste pessoal com estas condições. Revezam-se de 2 em 2 horas, chefiados pelo oficial de quar-to que ali permanece 4 sofridas horas, sem o peso do leme nas mãos, mas com a grande responsabilidade de conduzir o navio de acordo com as ordens do comandante, não permitindo que se atrevesse ao mar ou ao vento, o que se torna mais complexo duran-te a noite ou quando mar e vento não são coincidentes na direcção. Por vezes passava uma onda por cima e o poço, que fazia jus ao seu outro significado, enchia-se de água.

Na manhã do dia doze o tempo já apre-sentava melhorias mas tivemos um contra-tempo. Uma fuga de combustível no motor, que obrigou à sua paragem por meia hora para solução do problema. Para tal foi neces-sário correr com o tempo com as gáveas bai-xas para não perder no governo. Entretanto as coisas já estavam mais calmas no Jolly Amaranto e nós ficámos mais descansados.

O amanhecer de dia treze trouxe-nos uma desagradável surpresa. O navio estava coberto de um tom avermelhado. O vento forte que soprou da Líbia trazia muita areia em suspensão. Uma areia vermelha finís-sima que coloriu cabos, velas, anteparas e tudo o que estava exposto. Tivemos muito trabalho a limpar o navio mas contámos com a ajuda preciosa de fortes aguaceiros.

A navegação continuou aos soluços, ora suportando vento forte e ondulação alterosa que nos atrasavam, ora aproveitando, cada brisa, cada abrigo e usando todas as velas que podíamos para recuperar das perdas. Nesta fase o trabalho dos homens do mestre foi fulcral, aproveitando uma aberta durante

a tarde, montaram a máquina de costura in-dustrial no poço e recuperaram e reforçaram todo o velame que lhes foi possível. Uma luta contra o tempo que em muito contribui para o cumprimento desta ultima tirada. Mais do que apoiar na velocidade as velas eram fun-damentais para actuar como estabilizadores do navio.

Após esta primeira tempestade navegá-mos à máxima velocidade para criar uma almofada de tempo para o atraso provocado por uma outra que viríamos a enfrentar logo após a Sicília. Esta foi mais fraca que o espe-rado mas enfrentámos correntes contrárias de três nós que nos obrigaram a aproximar da costa da Tunísia para ver reduzido o seu efeito.

Mau tempo no Mediterrâneo

Seguíamos já ao longo da costa Argelina, muito cozidos, devido às fortes correntes de oeste quando, a meio da tarde de dia 17, o vento cresceu em muito pouco tempo de uns 25 nós na amura de bombordo para 50 na proa. Era a passagem de uma frente muito activa que trouxe também aguaceiros fortes. A ondulação passou rapidamente de cerca de um metro para cinco. A nossa velocidade, que andava pelos 9 nós, caiu para um. Fomos len-tamente recuperando nas horas seguintes, na-vegando a uma média de 3 nós durante 12 ho-ras e depois a cerca de 6 nós. Perdemos muito tempo e o ânimo voltou a baixar até porque a forte corrente da entrada do Mar de Alboran nos tirava 3 nós à velocidade de superfície. Mais uma vez optámos pelo caminho mais

longo e fomos contornar a costa de onde nos tínhamos afastado devido ao vento forte que nos obrigou a arribar. E ao final do dia 19 já estávamos acima da média necessária, a fazer 10 e 11 nós com uma corrente míni-ma que só voltou a manifestar-se quando tivemos que nos fazer à boca do Estreito de Gibraltar.

Passámos a linha imaginária entre Ceu-ta e a Ponta Europa, em Gibraltar, cerca das 22:00 de dia 21. Ao aproximar de Tarifa, caiu sobre nós um aguaceiro com uma tremenda trovoada que veio acompanhado por ventos que fecharam e chegaram aos 67 nós (124 km/h). O navio adornou e foi mais lento a arribar do que o vento a fechar. A bujarrona de dentro bateu e desfez-se em farrapos. Sa-ímos do Esquema de Separação de Tráfego para manter as restantes velas cheias e carre-gámos o estai do velacho e o estai da gávea ficando o pessoal todo encharcado!

De dia para dia vinham aumentando os contactos para confirmação da nossa hora de chegada mas com tantas adversidades era muito difícil dar uma resposta de con-fiança. Nesta altura já tínhamos desistido da chegada a 23 de manhã e estávamos a apos-tar na tarde, o que implicava uma média de 7 nós. A bordo crescia uma ansiedade, justi-ficada pela incerteza do dia da chegada e pe-las saudades de um Portugal cada vez mais perto. A dureza desta última etapa veio con-firmar a fibra da guarnição que contribuiu com o melhor de si, num esforço incessante para o sucesso desta missão.

À uma da manhã de dia 22, já a navegar no Atlântico e com ventos de “apenas” 30 nós, voltámos a caçar as duas velas de estai para estabilizar o navio que já sentia a ondu-lação a crescer. E cresceu, cresceu, até que começámos a levar autenticas chapadas de mar e a nossa velocidade caiu para os 5 nós. E assim fomos, com saltos, inclinações, ace-lerações e desacelerações, tudo muito brusco e por vezes regado por fortes aguaceiros, até deixar por estibordo o Cabo Trafalgar e os bancos Trafalgar e del Hoyo. Com este mar os baixos ficam mais perigosos devido ao

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15REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

Chegada à BNL.

encurtar das ondas que se tornam mais agres-sivas. Passados os baixos, às cinco da manhã, pudemos finalmente arribar e, com menos esforço, o motor imprimiu mais velocidade ao navio e a esperança voltou à ponte. Tinha sido sempre assim ao longo da tirada, alternando frequentemente entre a convicção e a esperança de chegar a 23 e o desalento de parecer impossí-vel quando eramos fustigados pelo mau tempo e pelas fortes correntes.

Contra as previsões, fomos conseguindo progredir a boa velocidade na travessia do Golfo de Cádiz e, sabendo que a depressão cavada que nos estava a afectar se ia deslocar para noroeste e provocar um forte temporal daquele quadrante nas horas seguintes, ten-támos adiantar-nos. Íamos caçar mais pano mas desistimos quando vimos a gávea baixa a começar a abrir uma costura. Ainda assim estávamos dentro da velocidade necessária para chegar a 23 antes do anoitecer. O ven-to forte e mar alteroso não nos permitiram aproar directamente ao Cabo de São Vicente e aproveitámos para ganhar algum abrigo do mar que ia lentamente rodando para noroes-te. Atingimos a costa do Algarve cerca das 18:00 de dia 22, junto a Vilamoura, e depois avançámos sem pano em direcção ao Cabo mas o vento e a ondulação não paravam de subir e sabíamos que pioraria na costa oeste. A vontade de chegar ajudava-nos a aguentar as difíceis condições que estavam a começar a atingir proporções a evitar. Ao sul do Bur-gau, com 50 nós de vento e ondas enormes, verificámos que os navios que iam à nossa frente estavam a progredir a apenas 2 nós! Seria insensato continuar! E assim, com mui-ta pena, colocámos o mar na popa e fomos para o abrigo da Ponta da Piedade, frente a Lagos. Eram duas da manhã!

Apontávamos agora para a chegada no dia 24 de manhã, o que ainda nos obrigaria a suportar a fase final da tempestade. Às 11:00 estávamos de novo a passar o Cabo com uns “calmos” 30 nós de vento nor-noroeste e on-das de 5 metros. Primeiro muito lentamente e depois a ganhar velocidade à medida que vento e mar caíam, passámos Sines às 23:00 e entrámos na Barra do Tejo às 6 da manhã!

Terminou aqui o período mais stressante da nossa viagem – inacreditavelmente pas-sámos safos às tempestades permanentes do Cabo Horn e aos tufões do Pacífico para sofrer nos nossos conhecidos Atlântico e Me-diterrâneo. Não esquecemos também os dias terríveis ao largo do Brasil onde se perdeu o Concórdia e depois junto à península Valdêz já a meio da costa da Argentina.

Às 09:00, em Algés, entraram os primeiros jornalistas convidados para noticiar a nossa chegada. Depois foi o VALM Comandante Naval e o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada. À nossa volta juntavam-se em-barcações de recreio com amigos e admira-dores que, apesar de ser véspera de Natal,

vieram dar-nos o testemunho do seu reconhe-cimento pela missão que agora termina. Nas margens juntavam-se pessoas a acenar e nós íamos tendo finalmente a verdadeira noção do impacte que a viagem tinha tido. O Almirante CEMA desembarcou após falar à guarnição e aos jornalistas, junto ao Terreiro do Paço, e nós seguimos para a Base Naval onde alguns milha-res de pessoas nos aguardavam para um beijo ou um abraço. Trazíamos apenas pano latino, a bandeira nacional era a maior de todas e a flâ-mula, seguindo a tradição antiga, tinha crescido

Faina do leme.

Entrando o Tejo.

Visita do ALM CEMA.

dois metros por cada mês após os seis meses de missão. Ao atracar carregámos o pano de taca-da e despachámos a faina para que o publico se pudesse aproximar. Eram centenas, entre fami-liares, amigos e admiradores da barca.

Volta à faina!Fim da Missão!Missão Cumprida!

O N.R.P. “Sagres” concluiu assim a sua terceira Volta ao Mundo, sendo esta a sua viagem de maior duração e extensão. Uma longa e difícil viagem em que, para além de ter cumprido a missão normal de formação dos futuros oficiais da Marinha, in-cluiu a participação no evento “Velas Sudamérica 2010”, nas celebrações do “Dia de Portugal” nos EUA, dos 150 anos do “Tratado de Paz, Amizade e Comércio entre Portugal e o Japão” e dos 500 anos da chegada dos Portugueses ao Oriente; vi-sitaram-se as comunidades portuguesas e apoiou--se a política externa nacional no Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Equador, México, EUA, Ja-pão, Coreia do Sul, China, Timor Leste, Indonésia, Tailândia, Malásia, Índia e Egipto.

O navio navegou cerca de 5 500 horas em 343 dias de missão, percorreu cerca de 40 000 milhas, passou o mítico Cabo Horn e diversas zonas com ameaça real de tempestades tropicais e de pira-taria, atravessou vários oceanos, tocou os quatro quadrantes, enfrentando a sua guarnição, vários riscos e violentos temporais e sofrendo as elevadas temperaturas e humidade da zona inter-tropical e o frio extremo da Patagónia e Terra do Fogo no Atlântico Sul.

A “Sagres” recebeu, nos 26 portos visitados, cer-ca de 300 000 visitantes e 4 000 convidados para diversos eventos a bordo, nomeadamente altas entidades das quais se destacam Suas Excelências o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e seus congéneres, o Secretário de Estado da Defesa Nacional e Assuntos do Mar, os Presidentes do Equador e de Timor Leste, a Princesa Takamado do Japão, Membros dos Governos e Corpos Di-plomáticos, sendo sempre objecto de elogiosos comentários e rasgados elogios.

Em todas as acções em que o navio esteve envol-vido, soube a guarnição, mercê do elevado espírito de corpo e de vontade de bem-fazer, manter um elevado profissionalismo e aprumo que se revela-ram na forma sempre impecável como o navio se apresentou, dignificando a Marinha e o País e sen-do motivo justificado de reiterado orgulho para os portugueses que connosco contactaram. Ao longo de mais de onze meses, vivendo num es-paço exíguo e num ambiente de elevada exigência, e com as privações próprias e inerentes dos que andam no mar por tão longo período, privados sobretudo dos familiares, de lhes dar apoio e de os acompanhar nos momentos mais singulares da condição humana, os marinheiros da barca não negaram um sorriso a uma visita, a melhor das atenções aos milhares de convidados, nem o seu esforço nas manobras, na condução e na manu-tenção do navio que esteve sempre ao seu melhor nível.

A guarnição foi contemplada com o privilégio da percepção do legado histórico, cultural e civi-lizacional de Portugal, ainda vivo no Mundo, o qual justificou parte desta Missão. Ficando mais uma vez plasmado que a Sagres é o melhor veicu-lo para alimentar a chama desse legado. Navegar continua e continuará a ser preciso.

EPÍLOGO

Colaboração do COMANDO DO NRP “SAGRES”

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A primeira grande História das Ilhas Fi-lipinas, escrita poucos anos depois da ocupação levada a cabo por Miguel

Lopez de Legazpi, deve-se a Antonio de Morga, letrado que foi ouvidor (magistrado) de Manila, e que ali viveu cerca de oito anos. Naturalmen-te que a sua perspectiva da ocupação contradiz a visão portuguesa dos acontecimen-tos, no que ao confronto diz respeito, mas permite reme-xer os documentos nacionais, vasculhando os subentendi-dos e sugerindo-nos questões em que o discurso epistolar oficial nem sempre é omisso ou pouco claro. Neste texto percebemos bem como a via-gem de Ruy Lopez Villalobos (1542) correspondia a um in-tuito específico de Carlos V sobre os domínios orientais, e como os sobreviventes que chegaram a Castela, pela via da Índia (Marinha de D. João III (37), tiveram um papel de-terminante na continuação das explorações. Castela per-cebeu com toda clareza que a sua presença nas ilhas das especiarias, vizinhas às Molucas, só seria possível se conseguisse encontrar uma via de regresso à Nova Espanha, sem passar pelo espaço controla-do por Portugal. E o projecto seguinte foi prepa-rado por Frei André de Urdaneta – homem co-nhecedor de náutica, que já estivera nas Molucas numa das expedições que se seguiram à viagem de Magalhães –, com o apoio do vice-rei da Nova Espanha, Dom Luis de Velasco. O comando da expedição foi entregue a Miguel Lopez de Lega-zpi, e a armada partiu de La Navidad em 1564 surpreendendo completamente os portugueses. Tinham passado cerca de vinte anos sobre a an-terior tentativa castelhana, cujos resultados fo-ram desastrosos, e não imaginaram que os seus vizinhos e rivais voltassem a aventurar-se pelo Pacífico em direcção às Molucas. Na verdade, Legazpi levava um regimento que lhe dizia para se dirigir às Ilhas dos Luções, que deveria tentar pacificar e trazer à obediência de Castela em mol-des semelhantes ao que sucedia com os domínios americanos. Como nos relata Morga, chegaram a Cebu cerca de três meses depois, Legazpi ficou no arquipélago para cumprir a missão de estabeleci-mento de uma nova colónia, e Urdaneta iniciou uma viagem de regresso seguindo um percur-so inicial para norte, até cerca de 40º de latitude, onde guinou para leste com os ventos gerais que o trouxeram até Acapulco. Para mal dos portu-gueses estava conseguido o objectivo espanhol de

alcançar as ilhas da especiaria, e regressar a Nova Espanha sem passar pela Índia ou África.

É de crer que Marramaque tenha sido com-pletamente surpreendido pela notícia da presen-ça espanhola em Cebu, quando aportou a Brunei, na costa da ilha de Bornéu, em 1567. E muito mais

grave do que a presença dos navios de Castela, vinte anos depois do episódio com Villalobos, era o facto de já ali estarem há cerca de dois anos, sem que ninguém tivesse dado por isso. Legazpi evitara propositadamente o contacto com os por-tugueses, e essa postura permitiu-lhe um estabe-lecimento perene em Cebu e, depois, na ilha de Luzon, onde fundou a cidade de Manila.

As duas acções levadas a cabo por Marrama-que contra os espanhóis, descritas na Revista ante-rior, contrariavam o regimento explícito que rece-bera em Goa, mas compreendem-se no espanto que a situação lhe causou e numa imediata análise das consequências nefastas que o facto represen-tava para os portugueses. Lamentavelmente não conseguiria nenhum efeito militar imediato, remetendo o problema para a velha e insolúvel discussão sobre os limites da área espanhola ou portuguesa, no Extremo Oriente. As Filipinas não eram as Molucas, de forma que não podiam ser incluídas nos termos do acordo de Saragoça, e a conversa voltaria ao mesmo, com ambas as partes a argumentar os direitos sobre a região. Contudo, a presença no local e o controlo da rota do Cabo, que fora uma vantagem portuguesa em 1529, es-tava agora esbatido pela presença castelhana efec-tiva nas Filipinas e pela possibilidade de regressa-rem à Nova Espanha através do Pacífico, como já tinha feito Urdaneta.

Marramaque trazia da Índia uma missão

complexa e importante para o domínio portu-guês sobre as Molucas, procurando dar remédio aos conflitos que prejudicavam os portugueses da guarnição e os casados que viviam do comér-cio naquelas ilhas. Os problemas vinham de há alguns anos a este tempo, e tinham como base a

postura ardilosa do rei de Ternate – uma figura que falava muito bem o português, tinha estado na Índia no tempo de D. Constantino e sabia bem como manobrar nos meandros da pró-pria sociedade portu-guesa no Oriente. Sabia que, para leste de Mala-ca o domínio oficial da coroa era precário e nas múltiplas diásporas de portugueses casados no local e de descendentes cristãos asiatizados, as influências dependiam da riqueza de cada um, valendo a pena intrigar com uns e outros, para obter benefícios e seme-

ar a discórdia. As queixas que chegaram a Goa

denunciavam, por um lado, as manhas do rei de Ternate, e por outro, os conflitos que se tinham levantado em Amboíno com as comunidades cristãs e a perseguição que sofriam por parte dos poderes locais. Era, portanto dupla a sua missão: matar ou prender o rei de Ternate e submeter o seu numeroso clã familiar; e dominar os Itos da ilha de Amboino, obter a vassalagem dos restan-tes povos e construir ali uma fortaleza, onde deve-ria ficar como capitão Aires Gomes de Brito. Mas a soldadesca que levava desgastou-se nas incursões mal preparadas a norte e tornou-se escassa para a missão principal. Passou uns meses a jogar ao gato e ao rato com o soberano de Ternate, que sempre conseguiu furtar-se às suas emboscadas e, quando chegou a altura da monção para seguir para o sul, os seus apoios eram escassos.

A ilha de Amboíno fica a norte do Arquipé-lago de Banda e tem uma profunda baía que se estende de oeste para leste, ao fundo da qual está a actual cidade de Ambom. Foi nesse extremo que os primeiros portugueses se fixaram e onde Mar-ramaque acabou por construir uma fortaleza em Madeira, a partir da qual conduziu uma longa e penosa campanha militar que se revelou bastan-te mais difícil e violenta do que seria de esperar à partida. Mas dela daremos conta noutra altura.

J. Semedo de MatosCFR FZ

A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (16)

Carta actual da ilha de Amboíno, onde pode ser vista a profunda baía, ao fundo da qual se abrigavam os navios e onde foi construída uma fortaleza portuguesa.

Marramaque entre Amboíno e as FilipinasMarramaque entre Amboíno e as Filipinas

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cessidade imperiosa do país dispor de uma nova estratégia naval, Pereira da Silva e Botelho de Sousa (1880-1960), os seus elementos mais notá-veis, adoptaram como modelo o pensamento de Alfred Mahan (1840-1914). Pelo seu desempenho notável nesta causa, a 31 de Maio de 1904 Pereira da Silva foi nomeado para integrar a Comissão do Plano de Reconstrução da Armada, tendo concluído, por essa altura, o curso de Torpedos e Electricidade.

Por ser ainda Primeiro-tenente, exer-ceu, interinamente, as funções de Co-mandante do cruzador Rainha D. Amélia (1906) e da corveta D. Estefânia (1909).

Seguiu-se a sua nomeação, a 14 de Setembro de 1908, para vogal efectivo do Conselho de Guerra da Marinha. Incon-formado com o progressivo declínio da Marinha, que se vinha registando desde o Ultimato Inglês, fez publicar O Nosso Plano Naval, em 1909, em vésperas da implan-tação da República, no qual preconizava a criação de «uma base de operações no porto de Lisboa, um ponto de apoio nos Açores e uma esquadra de combate de carácter claramente ofensivo, organiza-da dentro de recursos financeiros judi-ciosamente determinados». Nesta obra, afirmava igualmente que «a falta de um curso de estratégia e táctica naval para ofi-ciais de marinha, muito tem contribuído

para os defeitos que apontamos».A 2 de Novembro de 1911, na sequência

da implantação da República, o governo provisório nomeou o Primeiro-tenente Pe-reira da Silva presidente de uma comissão que incluía mais de 40 oficiais da Armada. Tinha como missão preparar um plano naval com base nas ideias por si preconizadas, com

o objectivo estudar e propor a reorgani-zação de todos os serviços da Marinha. Pouco depois, era nomeado vogal de uma outra comissão, à qual competia es-tudar a adopção do sistema de comuni-cações por telegra-fia sem fios (TSF) a bordo dos navios da Armada.

Posteriormente, foi convidado por Le-otte do Rego (1867-1923) para seu ime-diato no cruzador Vasco da Gama, cargo

ALMIRANTE PEREIRA DA SILVAUMA VIDA DEDICADA À MARINHA

Filho do oficial do Exército Gregório José Pereira da Silva e de Luiza da Purifica-ção Correa e Silva, Fernando Augusto

Pereira da Silva nasceu em Lisboa, no dia 13 de Janeiro de 1871. Assentou praça na Escola Naval a 13 de Novembro de 1889 e casou aos 31 anos, no dia 1 de Dezembro de 1902, com Isaura da Conceição Saraiva, de quem teve dois filhos, ambos rapazes.

Segundo Maurício de Oliveira, terá sido ain-da como Aspirante, na sua primeira via-gem de instrução a bordo da corveta Du-que da Terceira, em 1893-1894, que «tomou plena consciência do portentoso Portugal de além-mar […] e de quanto necessitá-vamos de uma Armada disseminada em permanência por todas aquelas longínquas paragens». Estando prevista para breve a sua promoção a Guarda-marinha, não con-cluíu aquela viagem, tendo desembarcado a 5 de Março de 1894 na Ilha de Moçam-bique, para se apresentar no Comando da Divisão Naval do Índico. Participaria, nesse ano, na campanha de defesa de Lourenço Marques, quando os nativos se sublevaram por ocasião da revolta liderada pelo régulo Gungunhana (c.1850-1906) em Moçambi-que2. Serviu ainda na canhoneira Quanza, antes de regressar à metrópole como oficial de guarnição da corveta Afonso de Albu-querque.

Promovido a Segundo-tenente, foi oficial imediato das canhoneiras Faro e Açor, perten-centes à Esquadrilha de Fiscalização do Sul, que patrulhavam as águas do Algarve. Tendo-se voluntariado para servir no ultramar, partiu a 18 de Março de 1896 para Moçambique a bor-do do transporte Índia. Comandou aí o seu pri-meiro navio durante mais de um ano, a lancha--canhoneira Obuz, que integrava a Esquadrilha do Zambeze. Em 1897 seguiu para Angola a bordo da corveta Rainha de Portugal, tendo sido colocado no Comando da Divisão Naval do Atlântico Sul. De regres-so a Lisboa a 6 de Junho de 1898, voltou à fiscali-zação da costa do Algar-ve, desta vez a bordo da canhoneira Tavira.

Em 1901 destacou para o novo cruzador Rainha D. Amélia. Como encarregado dos ser-viços de electricidade, participou na viagem da

família Real aos Açores e à Madeira nesse ano, bem como na escolta do cruzador D. Carlos I que em 1902 transportou o príncipe D. Luís (1887--1908) a Inglaterra, e a Tânger, Gibraltar e Porto Santo no ano seguinte.

Encontrando-se o país confrontado com a desagregação do poder naval e consequente de-cadência do Estado nos territórios ultramarinos, em 1901 era criada a Liga Naval Portuguesa. Depois de um intenso trabalho desenvolvi-

do pelo Segundo-tenente António Pereira de Matos, juntaram-se, entre outros, nomes como Gago Coutinho (1869-1959), Pereira da Silva, Er-nesto de Vasconcelos (1852-1930) e Henrique Ben-saúde . Com o envolvimento dos seus membros em acções de propaganda por todo o país, a Liga Naval Portuguesa contribuiu fortemente para o ressurgimento marítimo nacional. Cientes da ne-

«As nações devem ter Armadas que se apropriem ou que sejam a consequência da sua política»1 .

O Contra-almirante Pereira da Silva.

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Cartaz da Liga Naval Portuguesa.

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Com uma atitude entusiasta, a sua primeira preocupação como ministro foi pôr os poucos navios disponíveis a navegar, pois na sua opinião «havia um Ministério da Marinha, mas não havia Marinha». Assim, pelo Decreto n.º 10:040, de 27 de Agosto de 1924, mandou constituir um agrupa-mento denominado Divisão Naval Colonial, com a finalidade de efectuar um périplo por África, que incluía paragens nas províncias ultramarinas e cer-tos pontos estratégicos. No seu regresso a Lisboa, em Junho do ano seguinte, este agrupamento de navios foi recebido pelo Presidente Teixeira Go-mes (1860-1941) e pelo Ministro da Marinha Pe-reira da Silva, que no seu discurso de boas-vindas afirmou:

«A Divisão Naval Colonial cumpriu honrosa-mente a missão que lhe foi cometida, vencendo bem todas as dificuldades duma tão longa via-gem, como é a volta ao continente negro – cerca de 15000 milhas […] Afastaram-se os marinhei-ros do ambiente citadino e deu-se-lhes o mar em toda a sua plenitude. As autoridades da União Sul-Africana admiraram-se de que levássemos canhoneiras de 400 toneladas a dobrar o cabo da Boa Esperança […] Não há dúvida: somos mais pobres, mas não somos inferiores aos outros».

Relativamente às reformas de organização de que a Armada carecia, considerava que a «orgâni-ca militar é uma ciência e uma arte; ciência quanto às suas leis, métodos e princípios reguladores; arte quanto às suas formas de aplicação e de efectivação».

Com a reforma que introduziu no Ensino Na-val em 1924, a formação dos alunos que se desti-navam à marinha mercante passou a ser feita na recém-criada Escola Náutica, tendo igualmente inaugurado escolas de pescas nos principais por-tos do país. Por seu turno, a instrução dos alunos militares era ministrada na Escola Naval, que considerava «um instituto Superior de ordem científica, técnica, naval e militar, com o fim de

educar e instruir os seus alunos para o exercício de funções de oficiais da Armada». No quadro de reformas que considerava indispensáveis e urgentes, a da Escola Naval foi uma das primei-ras a ser implementadas. Além de um ensino mais sólido e actualizado à luz dos ensinamentos colhidos na Guerra 1914-1918, foi por esta altura que se tor-nou efectivo o seu funcionamento em regime de internato.

No seu entender, era «no meio na-val, aliando a experiência à teoria que se adquiria o equipamento moral e mental», razão que o levou a assinar a

portaria n.º 4:059, de 30 de Maio de 1924, determinando que a barca Flores seria integrada na Armada sob a designação de navio-escola Sagres.

Em sua opinião, a «invisibilidade» dos subma-rinos, que constituíam um elemento importante do seu Plano Naval, era considerada uma impor-tante arma para a «defesa móvel das bases de ope-rações e pontos de apoio das forças navais».

Foi também a sua visão que o levou a instalar a base da Flotilha Ligeira em Vila Franca de Xira,

que exerceu entre 23 de Maio de 1915 e 10 de Maio de 1916. Nas suas palavras, «ser imediato de Leot-te do Rego era uma distinção – mais do que isso, era uma honra que se concedia». Entretanto, a 26 de Junho 1915 foi nomeado para integrar, como vogal, a comissão encarregada de rever o projecto de Ordenança Geral da Armada. A 11 de Outubro desse ano, o Major General da Armada deferia um requerimento seu, no qual «pedia para que fosse oficialmente reconhecido com o seu nome um sistema eléctrico de comunicações para regulação de tiro, que estudou e teve aplicação no cruzador “República”». No início de 1916 foi-lhe atribuída, a título pessoal, a tarefa de «tomar conhecimento das aspirações dos oficiais da Armada e dar parecer sobre a razão dessas pretensões».

Muito embora tivesse o maior prazer em tra-balhar com Leotte do Rego, não apreciava aquilo a que chamava a «vida morna» do Tejo, pelo que ansiava ardentemente navegar em alto mar e «fa-zer a guerra». Inteirado das legítimas aspirações do seu imediato, Leotte do Rego ter-lhe-á dito um dia:– Deixa-te estar, Fernando. Dou-te o primeiro co-mando que vagar e que seja próprio para a tua categoria e para a tua personalidade.

Muito embora o comando dos contra-torpedei-ros fosse confiado a capitães-tenentes, ou mesmo a capitães-de-fragata, Leotte do Rego não hesitou em recomendar o Primeiro-tenente Pereira da Silva para comandar o contra-torpedeiro Douro. Duran-te a Guerra, sob seu comando, entre 10 de Maio de 1916 e 11 de Agosto de 1918, o contra-torpedeiro Douro efectuou um total de 34 missões de patrulha anti-submarina, participando na escolta de navios portugueses, mercantes e de transporte de tropas, percorrendo neste período mais de 12.000 milhas. Pelo seu notável desempenho no comando do contra-torpedeiro Douro, o então Presidente da República, Almirante Canto e Castro (1862-1934), condecorou-o com a Ordem da Torre e Espada. Finda esta comissão, integrou o grupo que escolheu o «local próprio para séde da esquadrilha de contra-torpedeiros». Transitou depois para o recém-criado Estado Maior Naval, onde impulsionou a criação do Curso Naval de Guerra, com o objectivo de preparar os oficiais da Arma-da em áreas como a estratégia, a táctica, o valor e aplicação das diversas unidades navais.

Depois de ter sido Chefe do Estado- -Maior da Divisão Naval de Operações durante alguns meses, foi chefe de gabi-nete do Ministro da Marinha, entre 8 de Julho de 1919 e 14 de Janeiro de 1920. De-pois disso, chefiou a missão de aquisição de dois cruzadores à Marinha Inglesa, assumindo, já Capitão-de-fragata, o comando de um desses navios, o cruzador Carvalho Araújo, entre 5 de De-zembro de 1920 e 3 de Março de 1921.

Com uma personalidade sensata e ponderada, desenvolveu sempre uma importante acção peda-gógica junto das guarnições dos diversos navios onde esteve embarcado.

Regressou ao Estado Maior Naval, seguindo-

-se, depois disso, o comando do Corpo de Mari-nheiros da Armada. A 18 de Dezembro de 1923 Pereira da Silva tomava posse como Ministro da Marinha, proferindo, no seu discurso, as linhas que iriam nortear a sua acção:

«Tentarei, desde já, fazer navegar a Marinha e, logo que mo consintam, dotá-la com os meios ne-cessários para a tornar útil a um País de tão largos domínios a defender e de tão gloriosas tradições

marítimas a manter. A Marinha não pode estar longos períodos no Tejo. Daí advêm desprestígio e empobrecimento. Tudo isso é mau para a disci-plina, além de se perderem o treino, o hábito e o gosto do mar».

Apesar da enorme instabilidade política que se vivia, confirmada pelos inúmeros governos que se sucederam, Pereira da Silva desempenhou o cargo até 31 de Maio de 1926, com um pequeno interreg-no, entre Novembro de 1924 e Fevereiro de 1925. Muito por força da enorme reputação e notorieda-de que entretanto granjeara, neste conturbado pe-ríodo foi o ministro que permaneceu em funções durante mais tempo.

O contra-torpedeiro Douro, que Pereira da Silva comandou durante a Grande Guerra.

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Colecção CALM Roque Martins

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19REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

em 1925, por considerar o local adequado para dar formação ao pessoal especializado e onde nasceram as escolas de mecânicos e de alunos marinheiros.

Ficou viúvo a 24 de Outubro de 1925, tendo igualmente visto falecer o filho primogénito nesse mesmo ano, que era Aspirante da Escola Naval e no qual depositava grandes esperanças como continuador da sua obra e devoção à Marinha. Casou-se em segundas núpcias com Gracinda Correia da Cruz, no dia 8 de Maio de 1927.

Por considerar imprescindível a defesa das províncias ultramarinas, enviou forças navais a África e ao Oriente, criando um Centro de Avia-ção Naval em Macau, dotado de infra-estruturas e de uma esquadrilha composta por três hidroaviões Farey.

Dotado de uma visão estratégica de longo prazo, considerava que o financiamento do seu Plano Naval deveria ser obtido através de em-préstimo externo amortizável em vinte anos, sendo que a construção de unidades navais tinha igualmente em vista o desenvolvimento da construção naval nacional, quer a nível do Arsenal da Marinha, quer de ou-tros estaleiros da área de Lisboa. Na sequência da apresentação do Plano Naval do ministro Pereira da Silva, a que se seguiram as primeiras reacções pouco favoráveis, Joaquim Manso (1878-1956) satirizava assim, através da imprensa, a endémica ausência mobilizadora que nos caracteriza:

«Não sorriam os incrédulos, não encolham os ombros os indiferentes, não se entretenham a in-trigar os maledicentes. Não façam obra destrutiva. Ajudem a construir qualquer coisa!».

Com efeito, em 1926, insatisfeito com o «si-lêncio que se fizera no parlamento à volta do seu Programa Naval e da constante agi-tação política não permitir a obra de reconstrução da Armada tal como a delineara e previra», revelou intenção de abandonar a pasta da Marinha. En-tendeu, no entanto, que aquele seu tra-balho deveria ser dado a conhecer sob a forma de livro, no qual, como autor, poderia apresentar as suas justificações e defender-se das muitas e injustas críticas de que era acusado. Apesar de o poder ter feito publicar a expensas do seu Ministério, optou por ser ele próprio a custear as despesas da obra Política Naval e Política Naval Nacional, que foi impressa nas oficinas gráficas do Instituto Profissional dos Pupilos do Exército, dando opor-tunidade aos alunos para praticarem aquele ofício.

Substituído na pasta da Marinha, voltou ao Estado Maior Naval, onde assumiu o cargo de subchefe. Pouco tempo depois, Pereira da Silva era chamado para formar e presidir à Comissão Executiva de Propaganda da Armada. Com géne-se na acção do Clube Militar Naval, tinha como ob-jectivo criar, através da imprensa, filmes e outros

documentos, um ambiente propício ao «ressurgi-mento naval». Numa altura em que considerava que se havia atingido o «zero naval», foi sob a égi-de do ministro Magalhães Correia , em 1930, que o seu Programa Naval começou, finalmente, a ser posto em prática. De resto, como subchefe do Es-tado Maior Naval havia sido nomeado relator «de um programa naval em harmonia com os pontos de vista do ministro da Marinha». Na realidade, tanto o novo ministro como o próprio Presidente

da República sempre declararam que esta refor-ma, conhecida como Programa Magalhães Correia, incorporava o trabalho e as ideias desenvolvidas por Pereira da Silva.

Entre 2 de Setembro de 1931 e 12 de Novembro de 1932 foi chefe da missão militar encarregada de fiscalizar a aquisição de novos navios a Inglaterra. Terminaria a sua longa carreira naval como 1.º Co-mandante da Brigada de Artilheiros e da fragata D. Fernando II e Glória, cargo que exerceu entre 6 de Dezembro de 1932 e 13 de Janeiro de 1933.

A 17 de Janeiro de 1933 assumiu o cargo de vogal na comissão encarregada de propor ao go-verno as bases da organização e as atribuições do Conselho Superior de Defesa Nacional.

Homem culto, trabalhador, de elevada formação moral, tolerante, republicano, sem paixões nem filiações partidárias, para quem «o poder não se disputava a tiro, antes se alcançava mediante consultas honestas ao eleitorado», continuou a dedicar à Marinha toda a sua devoção, mesmo depois de passar à reserva a 9 de Fevereiro de 1933.

Consciente das limitações da política na-cional e da pequenez da mentalidade da Nação,

Pereira da Silva interessou-se, desde muito cedo, pelo estudo da organização da Armada, vindo, com a sua acção, a ter um papel preponderante na modernização de toda a Marinha. Não obs-tante já se encontrar na situação de reserva, fruto da sua postura e do enorme prestígio que todos lhe reconheciam, a 24 de Janeiro de 1935 foi dis-tinguido com a promoção ao posto de Contra--almirante.

Em 1937, ao constatar que, sete anos volvidos, não se ia além da implementação de uma pequena parte da primeira fase do Programa Magalhães Correia – que devia ser executado em três fases, durante 12 anos – Pereira da Silva escreveu nos Anais do Clube Militar Naval:«Ainda que circunstâncias superio-res de administração governativa por certo justifiquem, temos que notar, penosamente, um estado de paralisia naval».

Escritor prolífico, o Contra-almi-rante Fernando Augusto Pereira da Silva faleceu em Lisboa, no dia 3 de

Novembro de 1943, aos 72 anos, deixando-nos um vasto e valioso conjunto de trabalhos publi-cados.

Depois de em vida ter sido distinguido com inúmeros louvores e as mais altas condecorações, o seu extraordinário legado justifica plenamente as homenagens que a Marinha regularmente lhe vem prestando. A primeira teve lugar em 1966, ao ser dado o seu nome à primeira fragata da classe Almirante Pereira da Silva, navio construído nos estaleiros da Lisnave e aumentado ao Efectivo dos Navios da Marinha a 2 de Dezembro de 1963. Em 1996, foi a vez da Escola Naval o homenagear, como Patrono do curso de cadetes que entrou para a Marinha naquele ano. No passado dia 14

de Dezembro, coube ao Estado-Maior da Armada – herdeiro do espírito e das tradições do Estado Maior Naval, e onde Pereira da Silva foi subchefe – atribuir o seu nome à sua mais nobre e renovada sala, anteriormente co-nhecida como Sala de Adidos.

«Falando da minha acção, ain-da que modesta, devo dizer que a consciência me diz que em toda a minha carreira naval não descurei o emprego dos meios necessários para robustecer e reanimar a nos-sa Marinha de Guerra, nos seus

aspectos materiais, morais e mentais, pois todos eles considerei, com maior ou menor desenvolvimento, conforme as épocas e as circunstâncias, quer nos meus livros, publica-ções diversas, artigos de jornais, quer na ela-boração de diplomas e formulação de parece-res, quando estava em condições de o poder fazer, e, porque o meu procedimento foi bem apreciado, não direi pelo seu valor, mas pela honestidade das minhas intenções» 3.

A fragata Almirante Pereira da Silva

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A antiga Sagres, ainda sem a Cruz de Cristo nas velas, foi integrada na Marinha em 1924 como navio-escola, por decisão do ministro Pereira da Silva.

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20 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

Notas:

1 Pereira da Silva.2 Embora conhecido entre nós como Reinaldo Frederico

Gungunhana, o seu verdadeiro nome era Mdungazwe Ngun-gunyane Nxumalo. Foi o último soberano da região moçam-bicana de Gaza e último monarca da dinastia Jamine, tendo recebido o cognome de Leão de Gaza. Reinou entre 1884 e 1895, altura em que foi feito prisioneiro por Mouzinho de Albu-querque (1855-1902) na aldeia de Chaimite. Transportado para Lisboa na companhia do seu filho Godide e de alguns elemen-tos que lhe eram próximos, foi depois desterrado para os Açores, onde veio a falecer onze anos mais tarde.

3 Pereira da Silva.

PROMOÇÕES

Aspirante de 2.ª classe 12 DE NOVEMBRO DE 1889

Aspirante de 1.ª classe 20 DE JANEIRO DE 1894

Guarda-marinha 20 DE JULHO DE 1894

Segundo-tenente 7 DE DEZEMBRO DE 1895

Primeiro-tenente 23 DE ABRIL DE 1906

Capitão-tenente 18 DE AGOSTO DE 1917

Capitão-de-fragata 9 DE DEZEMBRO DE 1918

Capitão-de-mar-e-guerra 5 DE JUNHO DE 1931

Contra-almirante 24 DE JANEIRO DE 1935

CONDECORAÇÕES- Medalha de Prata da Rainha D. Amélia

- Medalha Comemorativa da Expedição a Moçambique (1894-1895)

- Medalha de Prata de Comportamento Exemplar

- Medalha de Ouro Comemorativa das Campanhas do Extremo Oriente Português

- Comendador da Ordem Militar de Avis

- Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito

- Medalha Militar de Ouro da Classe de Bons Serviços

- Medalha da Victória

- Medalha de Ouro de Comportamento Exemplar

- Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo

- Oficial da Ordem da Coroa de Itália (Itália)

- Grã-Cruz da Ordem de Santo Olavo (Noruega)

- Grande Oficial da Ordem Militar de Avis

- Comendador da Ordem de Santi Maurizio e Lazzaro (Itália)

PRINCIPAIS TRABALHOS PUBLICADOS

Bibliografia:

O nosso plano naval, Lisboa, Tipografia Castro Irmão, 1909.

Política Naval e Política Naval Nacional, Lisboa, Oficinas Gráficas do Instituto Profissional dos Pupilos do Exército, 1924.

Política Internacional e Política Naval, Lisboa, Tipografia da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, 1934.

«Algumas reflexões sobre a marinha de guerra», Anais do Clube Militar Naval, n.º 36, Lisboa, 1909, pp. 303-306.

«O nosso plano naval» Anais do Clube Militar Naval, n.º 40, Lisboa, 1909, pp. 87-96.

«Algumas reflexões sobre a nossa organização naval» Anais do Clube Militar Naval, n.º 40, Lisboa, 1909, pp. 713-724.

«O domínio do mar e o valor da ofensiva na guerra naval», Anais do Clube Militar Naval, n.º 40, Lisboa, 1909, pp. 234-243.

«O nosso programa naval», Anais do Clube Militar Naval, n.º 41, Lisboa, 1910, pp. 233-242.

«O ressurgimento da marinha de guerra», Anais do Clube Militar Naval, n.º 42, Lisboa, 1911, pp. 609-619.

«A organização da defesa das costas», Anais do Clube Militar Naval, n.º 43, Lisboa, 1912, pp. 129-139.

«A reorganisação da Armada Portugueza», Anais do Clube Militar Naval, n.º 43, Lisboa, 1912, pp. 361-382.

«Os ensinamentos navais da actual conflagração e a nossa defeza marítima», Anais do Clube Militar Naval, n.º 45, Lisboa, 1914, pp. 709-714.

«O valor dos submersiveis na guerra naval», Anais do Clube Militar Naval, n.º 46, Lisboa, 1915, pp. 87-106.

«A Reorganização do Ministério da Marinha», Anais do Clube Militar Naval, n.º 53, Lisboa, 1922, pp. 230-272.

«A Política Militar e Naval Portuguesa e a Influência dos Pactos e dos Acordos de Desarmamento sobre a nossa Directriz Política», Anais do Clube Militar Naval, n.º 61, Lisboa, 1930, pp. 5-31.

«O campo naval estratégico metropolitano», Anais do Clube Militar Naval, n.º 68, Lisboa, 1938, pp. 411-435.

António José Telo, História da Marinha Portuguesa. Ho-mens, Doutrinas e Organizações, 1824-1974, tomo I, Lis-boa, Academia de Marinha, 1999.António Rodrigues Pereira, Marinha Portuguesa – Nove Séculos de História, Lisboa, Comissão Cultural da Marinha, 2010.António Silva Ribeiro, «Mahan e as marinhas como in-strumento político», Revista Militar, n.º 5, Maio de 2010, pp. 465-483.Jorge Semedo de Matos, «Pereira da Silva», Patronos da Escola Naval, Lisboa, Escola Naval, 2007, pp. 409-411.Maurício de Oliveira, Pereira da Silva, Oficial-Ministro-Doutrinador, Lisboa, Editora Marítimo-Colonial, 1968.Rui Ortigão Neves, «Pereira da Silva», Revista da Arma-da, n.º 320, Maio de 1999, pp. 17-21.Pedro Torcato Faustino, Almirante Pereira da Silva – Seu Contributo para a Modernização da Marinha, tese de mestrado, orientador CFR Costa Canas, Escola Naval, inédito, 2009.

Colaboração do EMA CFR António Manuel Gonçalves

Membro do CINAV

II JORNADAS DE LISBOA DE DIREITO MARÍTIMO

No seguimento da realização, com su-cesso, das I Jornadas de Lisboa de Direito Marítimo, a 6 e 7 de Março

de 2008, organizadas no âmbito do Centro de Direito Marítimo e dos Transportes (CDMT) da Faculdade de Direito de Lisboa (FDL), e das quais resultou uma publicação de elevado inte-resse científico para uma área do Direito com larguíssima tradição académica e conceptual em Portugal, realizaram-se igualmente no âm-bito do CDMT, a 11 e 12 de Dezembro de 2010, as II Jornadas de Lisboa de Direito Marítimo as quais contaram com reputados especialistas na-cionais e estrangeiros, designadamente acadé-micos e especialistas italianos e espanhóis.

Atenta a evolução do direito comunitário nesta área, e do próprio desenvolvimento que, em termos internos, as questões concernentes ao direito marítimo aplicado têm conhecido, em especial nas áreas da construção, segurança do navio, do registo, das garantias, a questão

do abandono, remoção de destroços, controlo e inspecção de navios, do transporte marítimo e dos portos, é de significativo interesse a reali-zação de ciclos de conferências com tais carac-terísticas temáticas, e que contam com alguns dos maiores especialistas nacionais na matéria como o Bastonário Dr. Mário Raposo, e os Prof. Doutores Menezes Cordeiro, Januário da Costa Gomes e Luís Lima Pinheiro.

Para a Marinha, e sendo conhecido o vasto quadro de atribuições que a lei comete aos ór-gãos da Autoridade Marítima Nacional, tais iniciativas encerram interesse acrescido quan-do é sabido que uma significativa parcela da legislação de índole marítima em Portugal é conceptualmente pensada e, ou, projectada, por juristas especialistas da Marinha.

Dr. Luís da Costa DiogoAssessor, DGAM

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21REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

● Decorreu no passado dia 2 de Dezem-bro, no gabinete do Chefe do Estado-Maior da Armada, a cerimónia de tomada de posse do Chefe do Gabinete do CEMA, CMG Braz da Silva, que foi presidida pelo CEMA, ALM Saldanha Lopes. Assistiram à cerimónia diversos oficiais generais e superiores, bem como oficiais, sargentos e praças que prestam serviço no Gabinete do CEMA.

Após a leitura da ordem, usou da pala-vra o novo Chefe do Gabinete, que referiu ser conhecedor das respon-sabilidades em que ficara incumbido, dada a sua passagem recente por funções no Gabinete do CEMA, e da sua disponibilidade e em-penho em tudo fazer para apoiar o ALM CEMA no desempenho das suas exigentes funções.

No final, o ALM CEMA proferiu uma pequena alocução, na qual sublinhou que o bom relacionamento entre o seu Gabinete, o EMA e toda a estrutura superior da Marinha são essenciais para a harmonia, coesão e missão da Marinha.

No final da alocução, o CMG Braz da Silva, que sucedeu no cargo ao VALM Monteiro Montenegro, foi cumprimentado por todos os presentes.

O CALM Francisco José Nunes Braz da Silva, natu-ral de Ervidel, Baixo Alentejo, entrou para a EN e foi promovido a guarda-marinha em 1982. No mar, foi oficial imediato dos NRP´s “Geba”, “S. Roque”, “João Coutinho” e “Oliveira e Carmo”. Especializou-se em mergulhador-sapador, tendo prestado serviço em uni-dades de mergulhadores e frequentado o NATO Explo-sive Ordnance Disposal Course na Naval School EOD, Indian Head, EUA.

Em 1989 frequentou o Aircraft Controller Course no Reino Unido, tendo assumido funções como instrutor no CITAN e embarcado como controlador de helicópte-ros nos NRP’s “Cte Sacadura Cabral”, “Vasco da Gama”

e “Álvares Cabral”.Prestou serviço na Divisão de Operações do CN, onde teve oportunidade de em-

barcar em vários navios, como oficial de EM de Comandos de Força Naval. Prestou serviço no CINCIBERLANT, onde frequentou vários cursos NATO e posteriormente na Divisão de Planeamento do EMA e na Divisão de Operações do Estado-Maior Mi-litar Internacional, no Quartel-General da NATO, em Bruxelas. Em OUT04, foi nome-ado Chefe do Gabinete do 2º Comandante do Comando Aliado Conjunto de Lisboa, em Oeiras. Desempenhou as funções de Ajudante de Campo do Almirante CEMA de NOV05 a OUT08, e de Chefe da Divisão de Planeamento do EMA, de SET09 a NOV10.

O CALM Braz da Silva frequentou, entre outros, o CGNG, o Senior Course do NATO Defense e o Curso de Promoção a Oficial-General. Ao longo da sua carreira recebeu vários louvores e condecorações.

CHEFE DO GABINETE DO CEMA

TOMADAS DE POSSE

● Realizou-se em 16 de Dezembro na Casa da Balan-ça a tomada de posse do novo Vice-Chefe do Estado--Maior da Armada, VALM Carvalho Abreu, em subs-tituição do VALM Conde Baguinho, que foi presidida pelo CEMA, ALM Saldanha Lopes tendo estado pre-sentes diversas individualidades desde Almirantes a muitos militares e civis e familiares do empossado.

Após a habitual leitura da O. A. usou da palavra o novo Vice-CEMA de que se salienta: “... Definidos pelo ALM CEMA, a visão e os objectivos, com-pete-nos estudá-los bem e trabalhar melhor para os concreti-zar. A maior necessidade de justificação dos gastos correntes e do investimento, a que todas as organizações são obrigadas, requer naturalmente, em tempo de escassez de recursos, uma grande colabora-ção e coordenação entre todos, mas ao mais alto nível entre o EMA, os Órgãos Centrais de Administração e Direcção, o CN, o IH, a DGAM, a CCM e a pró-pria Inspecção-Geral da Marinha, ela é uma exigência natural. Só assim será possível alcançar uma maior eficiência. O fazer mais com menos não será pos-sível sempre, mas só saberemos de forma segura se analisarmos bem algumas possibilidades. Naturalmente que a definição correcta de prioridades, algumas já enunciadas, assume hoje mais do que nunca uma importância relevante....”

Por último usou da palavra o ALM CEMA de que se salienta:“... Ao mesmo tempo, o EMA deverá assegurar a ligação institucional com entidades externas nacionais e estrangeiras.Refiro-me, no âmbito nacional, à ligação com os outros EM’s congéneres e à articulação e coordenação com as várias agências, departamentos e organismos do Estado com competências no mar. No âmbito internacional, releva o relacionamento com as marinhas de países amigos e os parceiros multilaterais, com especial enfoque para as iniciativas marítimas internacionais e para a Cooperação com os Países de Língua Por-tuguesa, privilegiando, progressivamente, a troca de experiências entre EM’s.No quadro da Reorganização da Estrutura Superior das FA’s, importa levar por diante a implementação da nova Lei Orgânica da Marinha e dos subse-quentes Decretos Regulamentares, tendo como objectivo permanente o refor-

O VALM João da Cruz de Carvalho Abreu nasceu em Bragança, ingressou na E.N. e foi promovido a G/M em 1973. Embarcado, desempenhou as funções de Oficial Imediato dos NRP’s “Santa Cruz” e “Velas”, de Chefe do Serviço de Nave-gação dos NRP’s “Cte Sacadura Cabral” e “João Coutinho”. Após a especialização em Electrotecnia foi Chefe de Serviço do NRP “João Roby”. Comandou três unida-des navais: os NRP’s “Rosário”, “Baptista de Andrade” e “Álvares Cabral”. No NRP “Baptista de Andrade” efectuou comissões nos Açores e além de exercícios nacionais e NATO, participou ainda na operação SHARP VIGILANCE (1992), no Adriático, e na operação CRUZEIRO DO SUL (1992/1993), no Atlântico Sul. No NRP “Álvares Cabral” após o OST participou em vários exercícios nacionais e inter-nacionais, salientando-se a integração na STANAVFORLANT e a participação na EUROMARFOR como navio-chefe. Foi instrutor no Centro de Instrução de Minas e Contra-Medidas e na Escola de Electrotecnia, professor de Electrotecnia na EN, ser-viu no EMA e foi adjunto militar de Marinha no Gabinete do CEMGFA. Foi Director do CITAN e Chefe do CENGE. No SACLANT, chefiou a secção Above Water War-fare e depois no Supremo Comando Aliado da Transformação, chefiou a secção do Scientific Programme of Work, com funções de supervisão do financiamento e do programa científico da NC3A e do NATO Undersea Research Centre. Representou Portugal, o SACLANT e o SACT em diversos grupos de trabalho NATO.

Frequentou diversos cursos, destacando-se, a especialização em Electrotecnia, uma pós-graduação em Estratégia no ISCSP o CSNG, e no estrangeiro o Naval Staff Course, o NATO European Security Course (NSS 1995), e o Maritime Tactical Cour-se (MTC, 1996).

Comandou o Corpo de Fuzileiros, de NOV05 a OUT08. Foi Comandante Opera-cional dos Açores e Chefe do EM Conjunto do EMGFA.

Ao longo da sua carreira recebeu vários louvores e condecorações.

VICE-CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADAço das sinergias e a harmonização dos propósitos, para que exista a sintonia indispensável à consecução dos superiores interesses da Marinha, sempre em consonância com os pro-eminentes desígnios do País.No contexto particular do EMA, relevo a missão de apoiar simultaneamente o CEMA e a Autoridade Marítima Nacional, bem como a atribuição da função de director-coordenador do EMA ao SCEMA, resultando, consequentemente, maior disponibilidade do VCEMA para a coordenação inter-sectorial da Marinha, incluindo a articulação com o meu Gabine-te, para que o todo seja coerente e sincronizado,...”

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22 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

COMANDANTE NAVAL

SUPERINTENDENTE DOS SERVIÇOS FINANCEIROS

ENTREGA DE COMANDO

TOMADA DE POSSE

Na tarde do passado dia 10 de Dezembro de 2010, o VALM Monteiro Montenegro assumiu o cargo de Comandante Naval,

em cerimónia militar realizada na BNL, presidida pelo CEMA, Almirante Saldanha Lopes e contan-do com a presença de altas entidades Militares e Civis, nacionais e estrangeiras.

As forças em parada, comandadas pelo CMG Pereira da Silva e compostas por 3 companhias re-presentantes, respectivamente, das Unidades Na-vais, do Batalhão de Fuzileiros Nº 1 e do Batalhão de Fuzileiros nº 2, prestaram as honras devidas à chegada do Almirante CEMA, acto ao qual se seguiu uma cerimónia de imposição de condeco-rações.

De seguida, o novo Comandante Naval profe-riu uma alocução, em que realçou a necessidade de “… encarar de forma realista as circunstâncias que temos pela frente para que com serenidade, lucidez e pragmatismo possamos transformar as dificuldades pre-sentes em oportunidades que nos rasguem novos hori-zontes, num processo contínuo de adaptação à mudança e, simultaneamente, de busca de novas rotas que condu-zam ao progresso e modernidade.”. O VALMMontei-ro Montenegro estabeleceu ainda duas linhas de acção orientadoras para o seu mandato, durante o qual pretende: no plano externo, estreitar a coope-ração entre todas as entidades que detêm compe-tências próprias no Mar sob soberania e jurisdição nacionais; e no plano interno, contribuir para o es-

forço solidário de todos os sectores da Marinha na partilha dos recursos humanos e financeiros, na procura da mitigação do impacte das restri-ções na esquadra.

Seguiu-se o discurso do Almirante CEMA, o qual, começando por enaltecer a confiança depositada no novo Comandante Naval e o simbolismo da cerimónia, abordou ainda as cir-cunstâncias actuais e os desafios para o futuro próximo. Neste particular, destacam-se os rep-tos decorrentes da necessidade: de continuar a garantir a manutenção, em permanência, de uma Força Naval em prontidão de 48 horas; de vir a ser assumido pela primeira vez em 2011, o comando da Força Naval da União Europeia empenhada na Operação ATALANTA; de ser mantida a par-ticipação no Contingente Nacional da FND no Afeganistão; e de reforçar o empenhamento na cooperação para o desenvolvimento em parceria com outras marinhas, designadamente com os países do norte de África.

O Almirante CEMA concluiu o seu discurso com os votos: “Senhor almirante, que a sorte o acom-panhe nesta nobre missão. Bons ventos e mar de feição.”

A cerimónia terminou com o desfile das forças em parada, seguido de uma passagem de um he-licóptero Lynx em cumprimentos à tribuna, a que se seguiu um Porto de Honra no NRP “Vasco da Gama”.

Em 14 de Janeiro na Casa da Balança, presidido pelo ALM CEMA teve lugar a tomada de posse do novo Superinten-

dente dos Serviços Financeiros (SSF), CALM AN Esteves Nunes que rendeu o CALM Palma Mendonça. Assistiram à cerimónia muitos ofi-ciais generais e superiores, bem como militares e civis das áreas da Superintendência e ainda familiares do empossado

Após a leitura da OA, e a condecoração com a Medalha de Serviços Distintos-Prata do ante-rior Superintendente, usou da palavra o novo Superintendente de que se realça:“...São assim, em conformidade, exigidas medidas que permitam monitorizar e projectar, com absoluto rigor e disciplina, a inerente execução orçamental, natu-ralmente, subsumida às normas de direito financeiro público e conter a despesa, cuja gestão, respeitando a axiomática dos recursos disponibilizados, terá que ob-servar, para além dos critérios da economia, eficiência e eficácia, o princípio do melhor valor acrescentado na concretização do produto institucional e na edificação das capacidades.Assim é fundamental que o empacto no funcionamen-

to, da decisão e concretização do investimento, seja vertida no Plano Financeiro de Médio e Longo Prazo. Este inovador plano, que já encontra previsão no Re-gulamento de Administração Financeira da Marinha, constituirá um precioso e fundamental elemento da avaliação da sustentabilidade financeira de médio e longo prazo e, concomitantemente o elemento de refe-rência na gestão dos sectores funcionais da Marinha...”

Por fim o ALM CEMA, referiu designada-mente:“...Os actuais constrangimentos de índole financeira, decorrentes da sensível situação do País, merecem-me, como comandante da Marinha, atenção redobrada

para a área financeira.Como tenho afirmado, as dificuldades não deverão ser sinónimo de desalento, antes de coragem, âni-mo, reflexão crítica, análise lúcida e decisão ponde-rada, na busca das melhores soluções...”

O CALM AN João António Barreiros Esteves Nunes ingressou na EN, tendo concluído o curso de AN, em 1976.

Foi oficial de guarnição e chefe de serviço nos NRP s “Augusto Castilho” e “Oliveira e Carmo”, membro dos CA s da BNL e G1EA. Como oficial superior foi membro dos CA do DMS e do DMM e chefe dos serviços adminis-trativos dos respectivos Comandos de ZM.

Foi professor efectivo da EN na Área Científica de Finan-ças, leccionou as disciplinas de Administração Financeira e Finanças Públicas. Desempenhou funções de chefe da Div. de Inspecções Financeiras e Patrimoniais da DAR. De 2002 a 2005 chefiou o Gabinete da Marinha junto da USNavy no Naval Inventory Control Point – Philadelphia. Foi Director Financeiro da Marinha.

Tem a Pós-Graduação em Direito da Propriedade In-dustrial e Intelectual pela Faculdade de Direito da Univer-sidade de Lisboa, a Licenciatura em Gestão Financeira pela Universidade do Algarve, o CGNG e a Pós-Graduação em Direito Administrativo e Administração Pública pelo Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Empresariais.

Na sua carreira, foi agraciado com vários louvores e con-decorações.

O VALM José Alfredo Monteiro Montenegro ingres-sou na EN e especializou-se em Artilharia Naval, frequen-tou, o International Principal Warfare Officer Course no Reino Unido, o CGNG, o Senior Course do Colégio de Defesa NATO e o Curso de Promoção a Oficial General.

Como Oficial Subalterno, serviu durante 11 anos a bordo de várias UN’s, nas quais exerceu funções como Chefe de Serviço, Chefe de Departamento de Operações e Imediato.

Em terra, no âmbito da Esquadra, foi Instrutor de Tác-tica Naval, Chefe da Secção de Instrução e Treino do CN em acumulação com o cargo de Oficial de Ligação ao Flag Officer Sea Training. Comandou a Esquadrilha de Heli-cópteros de 1996 a 1999.

No mar, comandou o NRP “Honório Barreto” e o NRP “Corte Real”, com a qual integrou a Standing Naval Force Atlantic como Navio-Almirante. Foi ainda Chefe do Estado-Maior da European Maritime Force (EURO-MARFOR).

Foi adjunto da Marinha na Missão Militar NATO em Bruxelas. Em Setembro de 2006 assumiu funções como Chefe da Divisão de Informações do EMA.

Exerceu o cargo de Chefe do Gabinete do CEMA como CALM.

Ao longo da carreira, foi agraciado com vários louvores e condecorações.

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23REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

importância das bandas nas instituições militares. De seguida foi a vez da autora agradecer a quan-tos tinham contribuído para a realização do seu trabalho e abordar a metodologia de todo o pro-cesso de investigação. O acontecimento terminou com um Porto de Honra e a sessão de autógrafos.

O trabalho encontra-se organizado em cinco capítulos: no primeiro é feito um enquadramen-to da bibliografia existente sobre a temática; no segundo é realizada uma avaliação e um resumo da história da música militar na Europa (França e Inglaterra) e na América (Estados Unidos e Bra-sil); no terceiro é descrito o universo filarmónico nacional, incluindo as bandas civis e militares; o quarto refere-se ao estudo da música circunscrito à Marinha Portuguesa e no último capítulo é ana-lisado o papel e dinâmica da Banda da Armada na actualidade.

“No quadro das actividades da Marinha no domínio cultural e artístico, o desempenho da Banda da Armada situa-se e está firme num patamar de excelência, amplamente reconhecida, tanto no plano interno como no externo. Este facto, aliado ao valor in-trínseco da missão da Banda enquanto ór-gão de cultura e da arte que inegavelmente produz, à dimensão imaterial do resultado do seu trabalho, mas com um contributo decisivo para o fortalecimento identitário e para o espírito de corpo naval, constituem, a meu ver, razão de ser bastante para a pró-pria existência da Banda da Armada e para o efectivo suporte ao seu funcionamento, mesmo num quadro de constrangimentos como aquele em que vivemos. A Banda da Armada contribui, decisivamente, para a edificação e preservação do nosso patrimó-nio cultural imaterial e, por conseguinte, a sua acção é inalienável.(…)”

NOVO CHEFE DA BANDA DA ARMADA

“MÚSICA E PODER SIMBÓLICO”

No passado dia 28 de Dezembro, re-alizou-se no Pavilhão das Galeotas, no Museu de Marinha, a cerimónia

da tomada de posse do novo Chefe da Ban-da da Armada, 1TEN MUS Délio Alexandre Coelho Gonçalves.

A cerimónia foi presidida pelo Director da Comissão Cultural de Marinha, VALM Vilas Boas Tavares e contou com a presen-ça de diversos Oficiais, Sargentos e Praças entre muitos convidados. A cerimónia teve início com o concerto da Banda da Armada, dirigido pelo Chefe cessante, CFR MUS Silva Ribeiro.

Após a leitura da O.A. seguiu-se a pas-sagem de testemunho através da entrega “simbólica” da “Batuta”, legada à Banda da Armada por um neto do ex-chefe da Banda da Armada, Maestro António Maria Chéu.

O novo Chefe da Banda da Armada, no uso da palavra salientou “… hoje abre-se um novo ciclo de “mestrança” na Banda da Armada portuguesa, no qual espero estar à altura, e fazer jus ao seu bom-nome Militar e Artístico, honran-do o seu passado, trabalhando o seu presente mas visionando o seu futuro! O futuro daquele que é actualmente reconhecido por muitos, e quase una-nimemente, como o melhor agrupamento do géne-ro no nosso país, e como um dos melhores a nível internacional!(…)”

Seguiu-se uma alocução pelo VALM Vilas Boas Tavares sendo de realçar (…)

O 1TEN MUS Délio Alexandre Coelho Gonçalves nasceu na Azambuja, iniciou os seus estudos musicais com o Maes-tro João Teófilo, e mais tarde com o Professor Carolino Carreira. Fez o Curso de Técnicas Orquestrais para Instrumentis-tas de Sopro em Fagote, na Universidade Menendéz Pelayo. Em 1991, ingressou na Banda da Armada Portuguesa onde desempenhou as funções de 1º Fagote Solista. Frequentou a Escola Profissional de Música de Almada, onde finalizou os seus estudos em Fagote com o professor Carolino Carreira.

Trabalhou com os mais variados agrupamentos e Orquestras, recitou a solo. Em 2001, terminou os estudos em Direcção de Banda, Fanfarra e Brass Band, no Royal Music Conservatorium de Maastricht, onde estudou com o Professor Jo Conjaerts.

Actualmente a sua actividade está centrada na direcção de agrupamentos profissionais e amadores.É Maestro e Professor na Escola de Música do Conservatório Nacional e Professor de Direcção no Instituto Piaget.Foi agraciado com vários louvores e condecorações.

Vera Pereira nasceu em César, Oliveira de Azeméis, em 1981 É licenciada em Flauta Transversal pela Esco-la Superior de Música de Lisboa e mestre em Música pela Universidade de Aveiro. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e colaborou com as principais or-questras portuguesas. Desde Janeiro de 2003, é membro da Banda da Armada (flauta e flautim), tendo presente-mente o posto de 1º Sargento Músico.

Na sequência da cerimónia de tomada de posse do novo Chefe da Banda da Armada decorreu o lançamento do li-

vro “Música e Poder Simbólico” da autoria da 1SAR B Vera Pereira.

Presidida pelo VALM Villas Boas Tavares, Di-rector da Comissão Cultural da Marinha, o evento contou com a presença de numerosos oficiais, sar-gentos e praças da Marinha e convidados, entre os quais a Prof. Doutora Susana Sardo, orientadora da dissertação de mestrado que deu origem à obra agora editada e que proferiu, na ocasião, al-gumas palavras realçando que o livro evidencia a

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24 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

VISITA DE NATAL DO ALMIRANTE CEMA AO HOSPITAL DA MARINHA

Intervenção da Medicina Subaquática e Hiperbárica em acidentes de mergulho profundo

Como é tradicional na quadra natalícia, decorreu, no passado dia 17 de Dezembro, a visita do Almirante CEMA aos doen-tes internados no Hospital da Marinha.

O Almirante Saldanha Lopes, acompanhado de elementos do seu Gabinete, do Vice-Almirante SSP Bonifácio Lopes, do Contra--Almirante DSS Teles Martins e da Direcção do HM, percorreu as enfermarias do hospital. No decurso da sua visita, o Almirante CEMA teve a oportunidade de trocar algumas palavras com os do-entes internados, dirigindo, a cada um deles, palavras de conforto e de encorajamento.

Seguidamente o Almirante Saldanha Lopes dirigiu-se para a Biblioteca, onde o aguardava, com grande expectativa, a guarnição

Foi organizado pela Marinha portuguesa, entre 27 de Setembro e 08 de Outubro, na área a sul de Portimão, um exercício conjun-to, internacional, de mergulho militar profundo, denominado

“Deep Divex 2010”.No decurso deste exercício, dois mergulhadores belgas sofreram

um acidente de mergulho, a cerca de 78 metros de profundidade.Um dos mergulhadores teve uma convulsão hiperóxica, com per-

da de conhecimento, inundação dos pulmões com água salgada e pa-ragem respiratória (pré-afogamento).

O outro, consciente dos riscos que corria, ascendeu à superfície, transportando o pré-afogado, sem paragens de descompressão, de-senvolvendo, após emergir, uma doença de descompressão (D.D.) neurológica muito grave, ficando com a metade direita do corpo pa-ralisada e em estado de shock.

SAÚDE NAVAL

Mergulhador com D.D. em tratamento hiperbárico no CMSH. Mergulhadores recuperados (pré-afogado – 1º a contar da esquerda; D.D. – ao centro).

do hospital. Após uma breve alocução de boas vindas por parte do Director do HM, o Almirante CEMA proferiu uma alocução em que relevou a importância da Saúde Naval, salientou o seu apoio pes-soal e da Marinha à sua acção e estimulou todos, a prosseguirem o esforço de bem servir.

No final era unânime e visível, entre os presentes, a satisfação com as palavras do Almirante CEMA que constituíram, neste tem-po conturbado de mudança e de incerteza quanto ao futuro do Hos-pital da Marinha, um importante factor de estabilidade e de motiva-ção da Guarnição do Hospital da Marinha.

Colaboração HM/DSS

Após a reanimação do pré-afogado, ambos os acidentados foram pronta e adequadamente tratados com recompressão em câmara hiperbárica no navio de apoio, e posteriormente transferidos para o Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica (CMSH), em Lisboa, onde se continuou o tratamento e a recuperação de ambos por mais três semanas, findas as quais regressaram a casa na companhia dos seus familiares, e em bom estado de saúde.

A actuação do CMSH mereceu, da parte do Governo Belga, atra-vés da sua Embaixada em Lisboa, as mais elogiosas apreciações.

Este episódio, atesta a importância de um sector da Saúde Naval preparado para o pronto e eficaz apoio ás acções operacionais de sub-superfície.

J. Albuquerque e Sousa CMG MN

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25REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

de alumínio às refeições…RA – Não são de alumínio, são de inox.De alumínio eram, usados ainda nos anos sessenta, um prato fundo, um copo e três talheres. Era equipamento pessoal. Comia-se o prato e, no fim, a sopa, nesse mesmo prato passado por água ou nem isso.AM – Que horror!RA – Era o sistema inglês, nada adaptado ao

nosso tipo de alimentação... No meu primeiro navio, assim que pudemos, em 1962, comprá-mos pratos e copos de vidro e talheres inox para as praças… do célebre «Saco Azul». O

tabuleiro aparece, com o Self-service, quando chegam os navios dos EUA.AM – Mais civilizado!RA – Sim e não. Tivemos de mandar pôr por-tas nas… sanitas. Em todas!

As Mulheres na Marinha 2

Conversando com... 2ºSargento C Ana MartinsRA – Enquanto acertamos o gravador diga-nos há quanto tempo está na Armada?AM – Faz dez anos em Junho, dia 18.RA – Notável! Não sei em que dia entrei para a Escola Naval.AM– Ah! Foi um dia inesquecível…RA – Desculpe. O seu nome?AM– Ana Martins.RA – 2.º Sargento Ana Martins (AM). De fac-to é, depois do intróito, a primeira página das nossas vidas. Assentou praça….Como foi?AM – Na Escola de Fuzileiros. Primeiro fiz o re-crutamento, ali, em Alcântara.RA – Fazem os exames, etc., até que chega a carta e foi apresentar-se em Vale de Zebro. Quantas mulheres?AM - Éramos 25 mulheres e muitos homens…RA – Não era portanto uma recruta de Fuzilei-ros. Agora não é, pois é muito mais puxada…AM – Penso que na altura havia umas turmas para Fuzileiros.RA – Chegou, e…AM – Sim! Lembro-me que levei uma mala cheia de roupa e até um stock de toilette… pro-dutos de beleza. Preparei tudo com a minha mãe.RA – Bom… (não pudemos deixar de sorrir… as duas malas, pensámos).AM – Claro que rapidamente me apercebi que foi um disparate. Nem tínhamos tempo e se ti-véssemos não estávamos autorizadas. Na sema-na seguinte, trouxe tudo para casa.RA – O «Necessaire» tornou-se… “des-necessaire”AM – Completamente desnecessário (en-tre mais risos).RA – Quanto tempo?AM – Mês e meio! RA - A recruta custou? A família gostou da ideia?AM – Sim! Custou, mas… Quando aca-bou e fui a casa, os meus pais que tinham um bar de praia em Santa Cruz, quando cheguei, tinham lá um bolo enorme que dizia «Parabéns» e com velinhas… os meus pais fizeram-me uma festa de boas vindas, a família toda, amigos da família…RA – Tem irmãos?AM – Um rapaz e uma rapariga! Eu sou a do meio.RA – Depois foi um embarque?AM – Na “Sacadura Cabral”. Éramos 14 Mif’s no meio de cerca de uma centena de ho-mens, não mais. Lembro-me dos tabuleiros

AM - (Um olhar entre incrédula e apavorada…)RA – Alojadas em instalações restritas, claro.. O que fizeram?AM – Fizemos muitos SAR e Planos de Treino. Fomos muitas vezes à Madeira - Gostei muito de ir à Madeira – Fomos a Portimão pois andáva-mos ali a fazer Fiscalização da Pesca. Nunca fui ao estrangeiro, só quando, mais tarde, embarco na “Roby”.RA – Mas entretanto…AM – Depois de um ano fui para o Curso de For-mação Marinheiro. Na “Sacadura” nunca tive funções da minha especialidade, Comunicações. Pelo meu Cartão de Detalhe, como era a mais marreta, fui dada à Cozinha…RA – Devia ser o Capitão!AM – Não! Porque entretanto veio um Filho da Escola e ele é que foi o Capitão.RA – Ficava como… Capitoa!AM – Não porque as Mif’s não fazem as limpe-zas dos Sanitários dos homens.RA – Mas isso é… descriminação!AM – Não! Eu era Faxina permanente… Fazía-mos às das mulheres! Mas fizemos uma escala entre nós e era rotativa. Não fazíamos isso às pessoas…RA – Em longas comissões, de dois anos, era duro. Mas…AM – Atracada, era muitas limpezas, manuten-ção ao navio, aos amarelos e pouco contacto com a especialidade. Dependia do meu esforço, de-pois dos Serviços Gerais dava um salto ao Centro

e tentar apanhar alguma coisa mas o Curso de Grumetes não dava para muita coisa.RA – E creio que “casam” a parte de Sina-leiro com a de Telegrafista.AM – Exactamente. Era um curso de três meses em que tentavam explicar tudo a seguir à Recruta e ainda por cima davam--nos disciplinas de matérias que entretanto tinham sido abolidas. O curso estava muito desactualizado.RA – Homógrafo? E… Morse?AM – Não. Já não tivemos. Morse, só no de Marinheiros e só o luminoso, pois o acús-tico já se não utilizava. Era mais o Procedi-mento Rádio Telefónico , aprender aqueles conceitos básicos…

RA – E no Curso de Formação de Mari-nheiros?AM – Eram nove meses e muito mais comple-to. Tínhamos Inglês, as disciplinas necessárias à organização, muitas aulas de Morse Lumino-so… éramos só três, um camarada que agora é

2ºSargento C-Ana Martins

Aula na Escola de Fuzileiros

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26 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

Enfermeiro, um que desistiu a meio e eu. No fim só dois.RA – (estupefactos) Como? Quando?AM – Em 2002/2003.Foi numa fase em que estava muita gente a sair da Marinha e pouca a concorrer aos cursos. Na verdade, ele fez tudo para chumbar, pois era brilhante a apanhar Mor-se. Seria o melhor de nós três…RA – No antigo Grupo n.º 2 de Escolas da Ar-mada, no Alfeite.AM - Agora a ETNA. Eu era asilante. Fui asilante durante quatro anos. Nos primeiros tempos aproveitei para sair muito à noite mas depois acabei por utilizar o meu tempo de melhor ma-neira; fui para um Ginásio, praticar desporto… joguei muito Badmington.RA – Imagino tudo muito diferen-te… Nos anos da Guerra de África os grumetes do ITE (Instrução Técnica Elementar) dormiam, durante mês e meio no chão, nas suas macas, no in-tervalo entre fiadas de beliches de três andares. Sabiam que sabíamos que estavam muito mal instalados mas assumiam-no com resignação ou, talvez mais correctamente, com dignidade, senão mesmo estoicismo. Os padrões materiais de vida me-lhoraram muito e com isso o nível de instrução e ainda bem! Mas nem tudo. Falta “Cumprir--se Portugal!” (dissemos ou apenas pensámos? Não sei). Como é agora?AM – Os beliches são de dois andares… Acabei o Curso e a minha intenção era embarcar numa fragata da Classe “Vasco da Gama”. Era o que eu mais queria! Mas as rendi-ções são de três em três anos e já tinham acontecido e ofereci-me para os Açores pois estaria em terra e desejava fazer um Curso Superior e pensava que aí seria mais fácil. Mas quando a minha promoção saiu à Ordem o Concurso já tinha fechado. Foi, ali, morrer na praia… Mas ainda bem! Fui então para a “João Roby” e adorei lá estar.RA – Uma corveta… das mais novas? Um cano ou dois? O reparo de 76 mm ou de 100?AM – Ah! Não reparei mas é das mais modernas. Um, como o das fragatas.RA – Quem era João Roby?AM – Aaaah… Não sei!RA – (Sorriso…) Quando fui tutor no CNED perguntei a um aluno, nos Açores (não o co-nheci pessoalmente), quem era o «Honório Barreto»… respondeu-me, com desembaraço q.b. que era um ilustre oficial da Armada… mandei-o investigar. Um Guinéu, oficial do Exército de 2.ª linha, quase certamente o pri-meiro Africano a representar a soberania dum Estado Europeu e não se pense que era dócil, antes pelo contrário. Vale a pena saber! E aí?AM – Estive lá pouco tempo porque o navio foi para o Arsenal para ser abatido. A Guarnição

destacou toda mas depois houve uma contra or-dem. Fez umas reparações e o navio ainda anda a navegar.RA – E depois desses fabricos? Grandes fabri-cos, talvez…AM – Gostei muito de estar na “João Roby” por que fiz o que não tinha ainda feito; Comunica-ções! Aqui tive oportunidade de ir para o Centro e de participar nas Operações embora as Comu-

nicações nas corvetas não tivessem muito inte-resse pois têm apenas o básico. RA - O Centro de Informações de Combate, agora de Operações ou o de Comunicações?AM – O CO estava desactivado. Não tínhamos Guerra ASW, nem me lembro de haver Torpe-deiros a bordo. Eram as comunicações SAR, com os helicópteros…RA – Até?

AM – Foi todo o Verão e já no Outono tive de desembarcar. Tive imensa pena pois estava a adorar estar lá. Foi triste para toda a Guarnição, Estávamos muito felizes de estar lá a bordo. Dali, embarquei na “Hermenegildo Capelo” e muitas pessoas vieram comigo. Especialmente as mu-lheres. Foi, simpaticamente, como voltar a casa. Mas já com outras funções!RA - Tudo a correr bem!AM – Sim! Fui para a Táctica. O meu Cartão de detalhe era na Ponte e como sou de Comunica-ções, tanto posso fazer Comunicações como Si-nais. Era mais bandeiras mas também Cifra. Era adjunta do Encarregado da secção da Cifra .

RA – Como se chamam em Português os “Penants”? AM – Galhardetes! Mas habitualmente dizemos “Penants”.RA – Isso ! Quis, mas não conseguia lembrar--me? Obrigado. Uma mulher para reparar as bandeiras. Ideal!AM – Sou um desastre em… costura. Estive lá cerca de um ano. Fizemos várias missões e os

“Contex” e “Fibex”. A “Capelo” en-costou para abate e a Guarnição toda transitou para a “João Belo”, um navio igual, acabadinho de sair do Arsenal, todo pintadinho de novo. Recordo que os beliches ainda estavam todos recolhidos. Depois foi adaptarmo-nos àquele navio, arrumar as publicações e o navio foi logo posto à prova no PTB, no Plano de Treino Básico, para o pôr a navegar e tivemos uma equipa da Flo-tilha a bordo a verificar. RA – Também me lembro de ter em-barcado num navio vindo de grandes fabricos no Arsenal e do cheiro agres-sivo das tintas, aliás todos os cheiros

de bordo, dos óleos da Casa das Máquinas, dos desinfectantes, sei lá. AM – É assim, sobretudo nessa circunstância. Sobretudo nos navios mais velhos. Como era asi-lante a roupa à paisana que guardava no meu ar-mário, quando a vestia para sair, tinha um cheiro especial; eu até dizia que estava a cheirar a navio!RA - Em África, na ponte alta, com vento de popa, eram, umas vezes, o horrível cheiro do

fumo e outras, o irresistivelmente apetitoso cheiro do pão a sair do for-no. Quando saía de Quarto não perdo-ava… E quando mudava de navio… as cabeçadas e tropeções, na primeira semana.AM – Não foi o caso pois os navios eram da mesma classe. Mas lembro--me disso na passagem das portas es-tanques e de, mesmo por cima do meu beliche, passar um cano de esgoto e de pensar “Deus queira que isto nunca re-bente em cima de mim!” (risos).RA – O pé direito dos actuais navios é muito mais alto. Começaram logo a navegar?

AM – Não! Mas por vezes havia faltas de pessoal noutros navios e eu, na altura, apesar de enjoar, gostava muito de navegar e havia uma escala em que eu estava sempre inscrita. Surgiu uma oportunidade quando uma camarada que devia fazer uma substituição me pediu e fui logo, sem hesitar, para a “Sacadura Cabral”, outra da classe “João Belo”.RA – Iria dizer da classe “Comandante” - qua-tro comandantes - em oposição à classe “Almi-rante” - três almirantes. Isto quando se decidiu transferir o nome de Gago Coutinho para a classe “Magalhães Correia”. Eram, por coinci-dência, as “Commandant Rivière” francesas.

Ana Martins com as camaradas do curso de sargentos.

Dia do Juramento de Bandeira - Agosto de 2001

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27REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

Se fosse artilheira, teríamos muito para conver-sar. Já lá vão… Só continuam as peças de 100 mm.Foi, então, para o mar?AM – Foi uma viagem de instrução dos ca-detes do quarto ano. Fomos a Casablanca, a Rota e a Las Palmas. A melhor viagem que eu fiz e a única, adorei, foi muito interessan-te até porque eu não conhecia a Guarnição da «Sacadura» mas receberam-me muito bem, toda a gente, desde o Comando…RA – De facto (eu podia ser seu avô) vivemos num mundo diferen-te. O relacionamento entre os jo-vens é diferente. No meu tempo era impensável haver mulheres a bor-do… em comissões de dois anos, ou mais que isso.AM – Mas as comissões, nas fraga-tas, agora são de três anos!RA – (Sorrisos) Não é isso! Eram no navio mas no… Ultramar!AM – Ah! Sim! As viagens? Esta foi a maior ausência… só durou um mês!RA – Três meses nos Açores, ao que me di-zem, é já o fim do mundo.AM – Mas as mulheres estão condicionadas ao tipo de navio pois nem todos têm condi-ções de habitabilidade adequadas.RA – Sei. Sabe como os Holandeses resolve-ram o assunto?AM – Juntam tudo… Isso é impensável por-que o homem português é diferente.RA – (Risos)AM – Talvez daqui a uns anos… Hoje, seria uma bomba atómica! Mas gostaria imenso de fazer uma comis-são numa “Vasco da Gama”, fazer uma NATO, era uma experiência que queria fazer. Sim, para o futuro, mas agora a minha vida é diferente…RA – Uma pergunta que faço sem-pre. Na altura faltava-lhe uma disci-plina do 12º ano (Mas agora já com-pletou!) … então, não pensa tira um curso superior?AM – Neste momento estou a fazer um curso à distância de Artes Deco-rativas, é um curso técnico que faço por prazer, gosto muito de design e de artes… Claro que gostaria de ter feito um curso para oficial, porque gostava, não só pelo posto, mas também para poder continuar a estudar e ter, mais tarde, as vantagens do meu traba-lho. Penso fazer um curso superior mas tenho uma filha pequena, tem quatro anos, e resolvi adiar…RA – Não sabia. Acho muito acertado! O seu marido…AM – Conheci-o em Marrocos, nessa viagem, em Casablanca…RA – Não me diga que é Marroquino!AM – É um Marinheiro português! Nunca

o tinha visto cá, nem na Base Naval, e fui lá conhecê-lo! Ele também andava a navegar, em companhia connosco. Na «Vasco da Gama». Foi amor à primeira vista e até hoje, tem sido fantástico.RA – Continua na Armada?AM – Sim! É Cabo de Comunicações.RA – Do Quadro Permanente?AM – Ambos.

RA – Quando se casou foi, tenho a certeza, … fardada!AM – Não.RA – Calculava. Foi de brincadeira. Voltou à «João Belo», e?AM – Sim, mas entretanto engravidei e já não pude fazer uma viagem de instrução à Rús-sia. Desembarcada, fui para Alcântara onde estive, ao abrigo das leis, até ao primeiro ano

da nossa Filha e depois fui para o Curso de Sargentos.RA – Por concurso?AM – Claro! Fiz a Prova Técnico Naval (a PTN), de Cultura Naval e, no meu caso, de Comunicações e nos psicotécnicos de admis-são ao Curso de Sargentos para que fui, poste-riormente, seleccionada… De Julho de 2007 a Outubro de 2008.RA – Daí…AM – Quando saiu à Ordem, em Fevereiro de 2009, a minha promoção, destaquei para o Sub-Registo, Secção de Credenciações.RA – Em 1999 exerci as funções de Chefe do

Serviço de Inspecções, Doutrina e Formação do Gabinete Nacional de Segurança e dei vá-rios Cursos de Segurança…AM – Fiz esse Curso na Junqueira, no antigo edifício do Instituto Superior Naval de Guerra. RA – Nas embaixadas era frequente, nas Cifras, encontrar Sargentos C. Estavam lá com as famílias mas as mulheres eram… domésticas.

AM – Ambos sermos militares é uma condicionante.RA – Verdade, mas afinal basta que ambos exerçam uma profissão, iguais ou não.AM – E continua-se a associar a casa à mulher.RA – É! E as mães são as culpadas. Tratam os rapazes com todas as mordomias, mais uma.AM – Exactamente! E eles… o meu Irmão, nem se apercebe.RA – Uma pergunta pessoal, mi-nha. Ninguém ma mandou fazer. Se a Armada convidasse a que se andasse fardado, nem que fosse

uma vez por semana, no Dia de Joanetes, por exemplo, como é que isso seria recebido?AM – Não imagino. Hoje está fora dos hábi-tos, é o que sei… RA – Sinto, quando falo com o pessoal da Armada, oficiais, sargentos ou praças, que têm orgulho no que fazem e, embora saiba que nem tudo são rosas, surpreende-me que, anónimos, não usufruam os dividendos que

o prestígio do seu trabalho traz à Armada e ao País. De facto as nos-sas FA’s estão no topo da tabela da nossa Opinião Pública e a Armada em destaque.AM – Tenho orgulho! Os meus tam-bém…RA – Sei. Percebe-se bem. Em 1963, preparei um Regulamento que eliminasse a já absurda obri-gatoriedade de as Praças andarem fardadas que não seguiu por ra-zões muito circunstanciais.Hoje convidaria todos os que são a imagem viva da Armada a afirma-rem-na, mostrando-se fardados.

Sabia que os Marinheiros, que fizeram a República, não consentiram que a Coroa Real que encima a entrada da Rua do Ar-senal fosse destruída pela populaça opor-tunista?Seria um direito deles que afirmaram, não a destruindo. A única Coroa que não terá sido destruída… Eram a Briosa Armada! A Briosa nem podia ser outra.As maiores felicidades para os três…

Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves1TEN

Treino físico na Marinha.

Dia da Promoção.

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28 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

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29REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

“ANNAIS DE UM GUARDA-MARINHA”

A Sala de Leitura da Biblioteca Central de Marinha foi cenário, no passado dia 16 de Dezembro de 2010, de uma tocante

cerimónia histórica e de comovente sensibilidade, a que uma vasta e prestigiada assistência empres-tou o brilho máximo, correspondendo, com a sua presença, à iniciativa da Comissão Cultural de Marinha e do seu Director, o VALM José Augusto Vilas-Boas Tavares.

Evocando nesse dia a memória de um ilustrís-simo oficial de Marinha, o VALM Vicente Maria de Moura Coutinho de Almeida D’Éça, a sessão ficou ligada ao lançamen-to de um Diário Náutico da autoria deste oficial, enquanto Guarda-Marinha, descre-vendo de forma impar o seu princípio de vida naval, com especial incidência para o período referente aos três anos de comissão em Angola, entre os anos de 1874 e 1877 efectuando o tirocínio para promoção ao posto de 2.º Tenente.

O documento que se apresenta com um descritivo desordenado, quer no re-ferente a cálculos náuticos, quer quanto aos textos relatando o dia-a-dia das nave-gações dos navios onde o oficial esteve embar-cado, foi objecto de um estudo interpretativo, anotado, conferindo-lhe uma mais fácil leitura e a divulgação de factos de uma época de epo-peia, que poderão constituir uma ajuda impor-tante para a compreensão das dificuldades vivi-das pelos marinheiros desse tempo.

A autoria deste trabalho é do oficial da Reserva Naval, incorporado no ano de 1961, José Pires de Lima, que a esta tarefa dedicou o seu entusiasmo e conhecimentos da Marinha apresentando uma obra que, de difícil leitura, no seu original, se tornou num documento acessível muito interessante.

Na apresentação do trabalho, o seu autor refe-riu, com especial ên-fase, a circunstância de se tratar de uma forma implícita na conduta de muitos oficiais da Reserva Naval, de entende-rem que ainda ficou por pagar à Marinha o benefício que dela receberam, enquanto parte da sua estrutura, no tempo de juventude em que prestaram o seu ser-viço militar obrigatório.

Abrindo a sessão, o VALM Vilas-Boas Tava-res explicou as razões porque a CCM aderiu a esta edição, referindo aspectos da obra e congratulan-do-se por trazer para o presente a memória de um ilustre oficial que dedicou 59 anos da sua vida ac-tiva ao serviço da Marinha. No final da sua inter-venção deu a palavra ao VALM Vicente Manuel de Almeida D’Éça, neto do autor do Diário Náu-tico, figura prestigiada da Marinha e que, com a sua presença conferiu à cerimónia o ambiente de sensibilidade comovente a que anteriormente nos referimos.

E foi com alguma dificuldade em manter uma tentada frieza que o VALM Almeida D´Eça se di-rigiu à assembleia presente:

“Aos 92 anos e com os problemas de saúde que te-nho, mandaria a boa prudência que me limitasse a ouvir nesta cerimónia. Tratando-se porém de meu Avô, não resisti a dizer-vos umas breves palavras de natureza pessoal. O manuscrito que está na base do livro que tem hoje o seu lançamento, foi-me entregue pelo Arquivo Central de Marinha por se pensar que era da autoria

de meu Avô – o manuscrito não está assinado - para que confirmasse a sua autoria e me pronunciasse so-bre ele, se assim entendesse. Razões de vária ordem, particularmente um acidente de saúde grave, impedi-ram-me de o fazer, o que constituía para mim grande preocupação”

Mais adiante o VALM Almeida D’Éça explica as circunstâncias em que o documento foi entre-gue a José Pires de Lima, agradecendo a este o em-penhamento dedicado à obra e igualmente o re-conhecimento à Comissão Cultural de Marinha, ao seu anterior Director, o CALM Rui Abreu e ao actual, o VALM Vilas-Boas Tavares, pelo bom acolhimento que deram à publicação do livro.

Marcado pela memória de seu Avô, aludiu com evidente comoção ao ano de 1929 referindo: - Meu Avô faleceu quando eu tinha 11 anos. No seu funeral levei nos meus braços uma almofada com as suas condecorações. Tinha por meu Avô, como criança, uma enorme afeição que à medida que os anos passaram e fui conhecendo a apren-dendo a apreciar, a sua personalidade e a sua vida, se transformou numa profunda admiração”.

Lembrando o Comandante Quelhas Lima, que fora seu professor e aluno de seu Avô, citou as palavras que o mesmo escreveu referindo-se ao VALM Almeida D’Éça:

“Na regência daquela cadeira…Almeida D’Éça ergue-se a incomensurável altura, a consciência per-

feita das funções de professor atinge a maravilha do apostolado, como doutrinador e educador… Instila no âmago dos seus alunos, geração por geração, em co-municabilidade perfeita, sincronismo de consciências, o orgulho pela História Pátria em que tivemos a graça de nascer, exalta a Marinha como órgão de grandeza e a forja das nossas maiores glórias…”

O VALM Vicente Maria de Almeida D’Éça nasceu em 1852 e assentou praça em 1870, Promo-vido a Guarda-Marinha em 1873, destacou para

vários navios entre os quais a Fragata D. Fer-nando II e Glória quando este navio era sede da Escola de Artilharia Naval.

Em 1874 iniciou uma longa comissão em Angola cumprindo três anos de tirocínio exigidos para a promoção ao posto de 2.º Te-nente, período durante o qual deixou as suas memórias num documento que intitulou “Annais de um Guarda-Marinha”.

Com a idade de 33 anos e ainda no posto de 1.º Tenente, foi nomeado Lente da 5.ª ca-deira da Escola Naval.

Dedicado ao ensino onde se notabilizou nas áreas do Direito Internacional Maríti-mo e da História Marítima, ocupou tam-

bém, em diversas ocasiões, importantes cargos de nomeação civil, representando Portugal em congressos no estrangeiro, teve assento em 1893 na Câmara dos Senhores Deputados, foi eleito em 1912 sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e em 1920, por unanimidade, eleito seu sócio efectivo. Entre os anos de 1922 e 1924 ocupou o cargo de Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Promovido ao posto de Vice-Almirante em 1917, foi Comandante da Escola Naval em 1919 e, apesar de ter atingido o limite de idade em 1922, a Lei permitiu que se mantivesse na vida activa como professor até ao ano de 1929. Nesta data, foi defini-

tivamente desligado do serviço, sendo exonerado do car-go de professor da Escola Naval em 14 de Outubro deste último ano.

Em 10 de No-vembro de 1929, menos de um mês

após a sua exoneração de professor, o Vice-Almi-rante falecia, não sobrevivendo ao afastamento de uma vida de 59 anos totalmente dedicada à Mari-nha de Guerra.

A cerimónia que teve lugar no passado dia 16 de Dezembro na Biblioteca Central, trouxe para o presente a memória esquecida de quem foi presti-giada figura da Marinha de Guerra, e revestiu-se de um simbolismo especial pela presença como-vente de um neto, também oficial general da Ma-rinha e de vários dos seus bisnetos.

Ao acto presidiu o Vice-chefe do Estado--Maior da Armada, VALM João da Cruz de Car-valho Abreu.

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30 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

sendo seu inimigo, os matasse.Não consta que o povo de Lisboa, tão hor-

rorizado com o crime cometido, ficasse igual-mente horrorizado com a barbárie da pena já que os três condenados foram arrastados por cavalos até à praça do Desembarque, junto à Ribeira Nova, onde foram enforcados, as suas cabeças foram depois colocadas em pos-tes altos junto à praia e os corpos esquarteja-dos e espalhados desde o local da forca até ao cais de Belém, onde deveriam permanecer até serem consumidos pelo tempo.

Com.E.Gomes

Nota: Não se pense que este foi um episódio isolado pois, em 12 de Agosto de 1749, o Cônsul de Inglaterra comunicava a condenação de 4 marinheiros portu-gueses por acto semelhante contra o navio americano Venus de Nova York.

Fonte: Gazeta de Lisboa de 30 de Junho de 1780 e 18 de Agosto de 1781List of State Papers Vol. II

HIERARQUIA DA MARINHA

VIGIA DA HISTÓRIA

2

29

ALMIRANTE

Não se sabe ao certo a data do apa-recimento desta palavra ligada à hierarquia da marinha. Segundo

a tradição, terá sido D. Afonso Henriques quem, pela primeira vez, concedeu o título de almirante a D. Fuas Roupinho. Porém, desconhece-se a que função corresponderia e se há alguma fonte documental que apoie esta lenda.

Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Macha-do, o termo almirante deriva do árabe al mir (forma vulgar de “amir”, que significa “che-fe” ou “dirigente”) com o sufixo românico “ante”. Embora haja concordância quanto à presença do vocábulo “amir”, o mesmo não se verifica quanto à explicação do sufixo, para o qual subsistem diferentes opiniões.

As Ordenações Afonsinas referem que o primeiro almirante de Portugal foi o geno-vês Emmanuel Pezagno, nomeado em 1317 por D. Dinis. Porém, como notou Silva Mar-ques em Descobrimentos Portugueses, a tal afirmação pode contrapor-se um documen-to datado de 6 de Fevereiro de 1288, ano da coroação daquele monarca, que alude Domingo Martins como “dicto almirante”. Dez anos mais tarde um outro documento

régio refere-se às competências do almiran-te sobre os alcaides, arrais e petintais.

O título de almirante acabou por defi-nhar na posse dos descendentes de Pezagno, essencialmente porque a obtenção e o aper-feiçoamento dos conhecimentos técnicos e científicos necessários ao desempenho das mais altas funções de comando nas ma-rinhas, requerem hábitos de estudo e de trabalho que não fluem por via hereditária. Nestas circunstâncias, com o decorrer dos tempos, a designação de almirante foi desa-parecendo da hierarquia da marinha, sendo suplantada pela denominação de capitão mor da frota ou da armada.

No auge da expansão marítima houve a preocupação de fazer reviver o título e a função de almirante, D. Manuel I concedeu a Vasco da Gama a dignidade de “Almiran-te dos Mares da Índia”, a que correspon-diam “honras, preeminências, liberdades, poder, jurisdição, rendas, foros e direitos” especiais. Contudo, este título privativo da descendência de Vasco da Gama, também acabou por fenecer pelas razões atrás aludi-das.

Maria de Lurdes Freitas Ferraz refere, em Documentação Histórica de Moçam-

bique, que existem no Arquivo Histórico Ultramarino duas petições para o cargo de almirante, datadas de 1608 e 1646. Porém, é sabido que, no reinado dos Filipes, come-çou a dar-se aos oficiais generais da mari-nha, a mesma designação que tinham os do exército. Exemplo disso é o facto da recon-quista da cidade da Baía ter sido feita em 1625 por uma esquadra espanhola e outra portuguesa, com 20 e 17 navios respectiva-mente, sendo cada uma delas comandada por um capitão-general.

As designações próprias dos exércitos mantiveram-se na hierarquia da marinha durante muitos anos, até que, a 22 de Fe-vereiro de 1797, o príncipe Regente D. João decretou que os tenentes-generais com exercício em marinha seriam denominados vice-almirantes e que ao posto de almirante teriam acesso os antigos vice-almirantes. De então para cá o termo almirante permane-ceu ininterruptamente associado a vários postos da hierarquia e a algumas designa-ções honoríficas da marinha.

António Silva RibeiroCALM

COMBATE À PIRATARIA

Numa altura em que a pirataria no mar está na ordem do dia afigura--se de interessar relatar um episódio

ocorrido entre nós.A 2 de Junho de 1780 largou de Lisboa o

navio sueco Patrioten de que era capitão J. Paulsen. Na noite da saída e já fora da barra, foi o navio assaltado por sete homens arma-dos que mataram todos os passageiros e tri-pulantes que encontraram.

Do massacre escaparam o mestre e o seu filho que se esconderam e um marinheiro que se lançou ao mar e foi recolhido por uma embarcação quando nadava para terra.

Após o saque, os piratas fizeram dois rombos no navio com o propósito de o afun-dar tentando, assim, esconder o seu crime.

Quis o Destino, porém, que mesmo na-quelas condições viesse o navio a encalhar junto ao Cabo Espichel onde veio a ser en-contrado.

A averiguação do caso, que pela bar-

baridade causou grande horror na cidade de Lisboa, correu célere pois, pouco mais de um mês decorrido, quatro dos piratas já haviam sido presos, eram eles os espanhóis João Paulo Monge, António Joaquim Mon-ge seu irmão e José Cerqueira e o português Plácido Fernandes Maciel. Os restantes três piratas, o português João Martins Polido e os espanhóis Inácio Dias e Diogo Félix Lavado encontravam-se foragidos em parte desco-nhecida.

Tão rápido quanto as averiguações as-sim decorreu o julgamento dos piratas que, a 14 de Agosto de 1781, viram executadas as respectivas sentenças, os irmãos Monge o português Maciel foram condenados à morte só escapando José Cerqueira que entretanto falecera na prisão.

Quanto aos três foragidos deveriam ser alertadas as autoridades do Reino para que fossem presos e executada a sentença de morte ou para que qualquer pessoa do povo, não

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31REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

ATÉ SEMPRE COMANDANTE E CAMARADA SALGUEIRO FRUTUOSO

Ao Amigo, Camarada, Comandante, Imediato, Frutuoso, onde quer que esteja dedicamos (Esquadrilha de Submarinos, a sua Guarnição, o seu Curso e todos os que com ele privaram) estas breves palavras:

Faleceu a 21 de Novembro, o Comandante do recém-chegado “TRI-DENTE”, 5 dias antes de completar 41 anos. O Comandante Frutuoso não gostaria de ser aqui recordado, distinguido entre outros Camaradas que têm o mesmo tipo de destino, triste e cruel, mas que acabam por não pre-encher uma página da Revista da Armada. No entanto se soubesse que o fizemos em memória de todos os Camaradas, que partem prematuramen-te, sem terem tido a oportunidade de compensar a família pelo tempo que dedicaram ao Serviço, certamente que iria concordar.

Foi um dia fatídico aquele em que a guarnição do “TRIDENTE” regres-sou do Mar para se despedir do seu líder… Ainda sem saber o porquê de uma missão interrompida, quando tudo parecia correr bem, algo nos dizia que era um dia diferente de todos os outros… Em plena foz do Tejo estáva-mos rodeados de roazes-corvineiros, acontecimento pouco comum mesmo para quem praticou a barra do porto de Lisboa tantas vezes. Na altura não percebemos, agora… é tudo tão claro e transparente.Comandante, agora percebemos que eras tu a dizer “Bem-vindos”. Com saudade sabemos que estarás sempre a olhar pela tua Marinha, pelo teu Tridente e pela tua Guarnição.

Se há um mês as palavras ditas em memória do nosso Comandante, ca-marada e amigo corriam em lágrimas sofridas pelo coração, estas agora são bem mais difíceis… correm nas memórias e saudade. A certeza da morte é aquela em que menos queremos acreditar, talvez pelo facto desta ignorân-cia não nos trazer sofrimento, ou a lembrança de que algum dia, em alguma altura iremos acabar por perder alguém que nos é estimado.

Só está morto quem não viveu. Quem não deixou marcas profundas nas pessoas com quem privou. Quem não sofreu ao deixar os seus mais queridos, sabendo que só regressava a casa semanas mais tarde. Quem via o que não queria e nada fazia para o corrigir. Quem sabia o que queria, mas acima de tudo, sabia o que não queria.

Com orgulho falavas do teu trabalho, dizendo que à Marinha tan-to devias. “Somos o fruto do que vivemos, com quem vivemos”. Temos saudades… saudades das conversas, dos conselhos, das experiências que transmitias aos teus subordinados, simplesmente porque achavas que era assim que devia ser. As suas 12517 horas de imersão, deram credibilidade e dimensão às suas sábias palavras, sempre com a preocupação de passar conhecimento aos mais modernos.

A Vida continua e sabemos que onde quer que estejas, é isso que dese-jas que façamos… que continuemos as obras que começaste e não tiveste oportunidade de dar seguimento. Como nos ensinaste, a Vida só tem uma direcção… para a frente. As direcções podem ser infinitas como a decisão, mas o objectivo é avançar. O nosso Comandante geralmente dizia quando trazia o N.R.P. “Tridente” à cota periscópica – “O pior num esclarecimento é fazer “esparguete” sem nunca sair do mesmo sítio”. Deixa-nos extrapolar essa ideia para a vida - O pior na vida é fazer dela um “esparguete”, sem nunca sair do mesmo sítio.

A todos os que prematuramente a morte levou, bons Comandantes, bons Camaradas, bons Amigos, possuidores de virtudes como a sincerida-de, honestidade, profissionalismo, exigência para com eles e com os outros, os nossos sentimentos e o pedido para que as suas memórias e experiencias não sejam esquecidas em prol de uma Marinha melhor, como aquela em que o nosso Comandante acreditava e ajudou a melhorar. Do seu Comandante da Esquadrilha de Submarinos:

Camarada de luta, a ti que serviste este País e esta Marinha nos Subma-rinos de forma exemplar, silenciosamente e sem alardes, e que não tiveste tempo para usufruir em pleno dos resultados do teu esforço, te digo:

Que foste escolhido entre os melhores, para comandares o primeiro sub-marino da classe “Tridente”;

Que sempre te conheci totalmente disponível, sempre leal, sempre PRONTO;

Que ter-te conhecido e ter-te como subordinado, desde o teu primeiro embarque nos submarinos, até ao comando do “Tridente”, foi uma HON-RA e um privilégio que me deste sempre a certeza da missão cumprida, nem que chovessem espadas do céu;

Que foste e serás sempre um exemplo a seguir e que deixas em nós um enorme buraco, uma tristeza difícil de descrever, um vazio;

Que resta-nos a tua memória e a certeza que um dia estaremos juntos, novamente, a discutir Submarinos e a apreciar aqueles pequenos momen-tos de camaradagem, abaixo da linha de água. Descansa em paz na tua longa patrulha.No mastro da nossa Esquadrilha estará sempre, ondulante, um BZ para ti.Envio-te, onde quer que estejas, o nosso sinal preferido - Dolphin Code 39 - Black is beautifull. Bem hajas!

Com a colaboração de todos os seus camaradas

“- Escreve da tua experiência para mais tarde te recordarmos!... - Aqueles que me conhecem e que comigo privaram, não vão precisar que lhes lembre, saberão escrever sobre mim.”

Uma semana antes de partir.

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32 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

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33REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011

QUARTO DE FOLGA

Norte (N)♠ ♥ ♦ ♣

7 D A 6 6 7 9 5 6 8 4 5 4

Este (E) ♠ ♥ ♦ ♣

8 R D R 3 10 V 6 7 3 5 4 2

Oeste (W)♠ ♥ ♦ ♣A V R D

10 V 10 9 5 9 8 2 3

Sul (S)♠ ♥ ♦ ♣

A V R D 10 V 10 9 5 9 8 2 3

JOGUEMOS O BRIDGEProblema nº137

PALAVRAS CRUZADASProblema nº420

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº137 SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 420

Todos vuln. S joga 4 ♠ recebendo a saída de ♥ V. Analise as 4 mãos e escolha a linha em que gostaria de estar sentado para marcar pontos para a sua coluna?

Deve escolher a linha N-S, pois o jogo é imperdível desde que jogue pequena no morto e deixe fazer a 1ª vaza de R, que está seco de certeza em E; o mesmo cuidado deverá ter a 2 mãos. Qualquer ataque será inofensivo, e quando W fizer o A de trunfo e voltar com ♥10 joga pequena outra vez e se E cortar não há problema, pois teria que dar sempre mais uma♥; se não o fizer pega então de A, destrunfa e dá depois a ♥ perdente. Este problema mostra a grande importância da primeira vaza, porquanto a resolução de muitos problemas depende da primeira jogada, para o que devemos começar por procurar interpretar a saída, contarmos as nossas perdentes e estabelecer uma linha de jogo. Neste caso, quem jogou sem cumprir este princípio básico e cobriu instintivamente o R com o A, já não conseguiu evitar o cabide, dando o A de trunfo e 3 ♥. Posteriormente apresentarei outros problemas para constatar a importância da 1ª vaza.

Horizontais: 1- Cidade da Alemanha, na alta Baviera, à beira do Danúbio. 2- Entre nós; bicai na confusão; nota musical (inv). 3- Riscara. 4- Navio de vela, de alto bordo, com três mastros; género de mamíferos marinhos. 5- Planta ocnácea, das regiões quen-tes; errais na confusão. 6- Fruto da cidreira; aguardente fabricada com as escumas e o xarope do açúcar de cana (inv). 7- Cidade e município do estado de S. Paulo, Brasil; rodo na confusão. 8- Cidade da antiga Palestina. 9- Pedido de socorro, de uma embar-cação; reza; espécie de cotovia (inv). 10- Mil e cinquenta romanos; pequenos corpos esféricos; grande massa. 11- Ilha da Polinésia, a mais importante do Arquipélago de Havai; hora canónica (inv); palavra composta da preposição a e do artigo plural os.

Horizontais: 1 – Ingolstadio. 2 – Ca; Ciaib;Od. 3- Tracara. 4 – Nau; Ma-natim. 5 – Ocna;Irsare. 6 – Cidra; Aifat. 7 –Lorena;Door. 8 – Ascalon. 9– S.O.S.; Ora; Aic. 10- Ml;Graos;Mo.11- Oau;Aon;Aos.

Verticais: 1 – Iconoclasmo. 2 – Na; Acio; Ola. 3 – Tundras. 4 – Ocr; Ares. 5 – Liam; Ancora . 6 – Sacai; Aarao. 7 – Tianra ; Laon. 8 – Abrasido; Om-por. 9 – Atafona. 10 – Io; Irao; Imo. 11 – Odometricos.

Verticais: 1- Doutrina dos iconoclastas. 2- Simb. quím, do sódio; o maior poeta trá-gico de Roma (190-86 a.C.); onda. 3- Planícies geladas do Norte da Sibéria, onde apenas crescem musgos. 4- Crona confusão; deus da mitologia grega, identificado com o deus Marte dos Romanos. 5- Mali (república) na confusão;rio de Portugal, nasce na serra de Arga (Viana do Castelo). 6- Cidade do Japão; o primeiro sumo sacerdote dos Hebreus (Bíblia). 7- Tirana na confusão; cidade de França. 8- Entusiasmado(fig). 9-Azenha. 10- Satélite de Júpiter; estado da Ásia Ocidental; que está no lugar mais fundo. 11- Relativo à odometria (pl).

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 111 2 3 4 5 6 7 8 9

10 11

● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ●

Nunes MarquesCALM AN

Carmo Pinto1 TEN REF

BIBLIOGRAFIAO SENTIR DE UMA VOZ DO MAR

MEMÓRIAS DE UM PESCADOR MARINHEIRO

O autor desta obra 1TEN Manuel J. Lopes dos Santos, murtoseiren-se por origem e matosinhense por adopção, faz-nos a apresenta-ção das suas memórias desde as origens dos seus familiares até

à sua vinda para a Marinha, as suas motivações e a sua carreira na briosa. Contando as suas histórias vividas ao longo da sua carreira, devidamente ilustrada com imagens, consegue manter o interesse do leitor e ao mesmo tempo preservando a sua herança cultural das suas origens de pescador, fazendo-o de um modo simples mas genuíno e muito interessante.

A Revista da Armada agradece ao autor a oferta deste exemplar da sua memória que irá ser incluído e assim enriquecer a nossa Biblioteca.

J. Vaz Ferreira CMG

Na RA nº 447 Dezembro 2010, nas NO-TÍCIAS PESSOAIS – Comandos e Cargos onde se lê CTEN Nuno Manuel Gomes Sousa Henriques nomeado Co-mandante do NRP “António Enes” ,deve ler-se CTEN Nuno Manuel Gomes Sousa Rodrigues.

Na R.A. nº 448, JAN 2010, na Pág. 35, NAVIOS DA REPÚBLICA - Canhoneira “Limpopo” na 2ª coluna, 3º parágrafo onde se lê “De salientar ....do cruzador “Vasco da Gama”....”, deverá ler-se “...do cruzador “Adamastor”.

CORRECÇÕES

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34 FEVEREIRO 2011 • REVISTA DA ARMADA

NOTÍCIAS PESSOAIS

CONVÍVIOS

COMANDOS E CARGOS

RESERVA

REFORMA FALECIDOS

NOMEAÇÕES● ALM José Carlos Torrado Saldanha Lopes nomeado Chefe do Estado-Maior da Armada ● VALM João da Cruz Carvalho Abreu nomeado Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada ● VALM José Alfredo Monteiro Mon-tenegro nomeado Comandante Naval do Continente ● CMG Francisco José Nunes Braz da Silva nomeado Chefe do Gabinete do ALM CEMA ● CTEN Victor Manuel Arruda Vasconcelos Capelo nomeado Chefe da Brigada Hi-drográfica Nº 2 ● 1TEN. MUS Délio Alexandre Coelho Gonçalves nomeado Chefe da Banda da Armada.

● ALM Fernando José Ribeiro Melo Gomes● CALM António Tome Robalo Cabral ● CALM AN José Carlos da Palma Mendonça● CALM AN Henrique Lila Morgado ● CMG FZ Jorge Manuel de Oliveira Monteiro ● CTEN SEM João Agostinho Grácio Pedro dos Santos ● SMOR CM Joaquim Albuquer-que Cabral ● SMOR M Fernando Joaquim de Oliveira; SMOR US Francisco José Coelho dos Santos Jones ● SMOR MQ João António Varela ● SMOR MQ Victor Manuel Nobre Rocha ● SMOR CM Joaquim Martins Couceiro ● SMOR CM Manuel Francisco da Silva Barreiros ● SCH FZ José de Azevedo Pinto ● SCH L Jacinto Lopes Gomes ● SAJ A José Jorge de Paiva Pinto ● SAJ CM Jorge de Andrade Martins ● SAJ FZ Manuel José Coelho ● SAJ V José Guilherme Rodrigues Marques ● SAJ FZ Teófilo Alberto Silva Figueiredo ● 1SAR MQ Paulo Camilo de Oliveira Pereira ● CAB TFH Carlos Alberto de Melo Fernandes ● CAB E Manuel Soares Domingos ● CAB M José Evaristo Marques Fernandes ● CAB CM Belarmino Simão Ferreira ● CAB L Joaquim José Figueiredo da Conceição ● CAB L Manuel Gonçalves de Sá ● CAB TFP Rui Manuel de Matos Rito.

● CALM António Alberto Rodrigues Cabral ● CMG AN Vitor José Dinis Melquiades ● CMG FZ Francisco Manuel Lhano Preto ● CMG MN An-tónio José de Santa Marta Granger Rodrigues ● CMG SEC António Dias Marques ● CMG AN Fernando Cardoso da Mata ● CMG EMQ José Luís Teixeira Pereira Duarte ● CFR OT Júlio Freitas de Sousa ● CFR SEE José Manuel Mousinho Camões ● CFR OT Domingos Ferreira da Silva ● CFR OT José Venâncio Correia ● CFR OT João António Pimenta Valentim ● CFR FZ João Manuel Coelho Pereira Serra ● CFR FZ Luís Pereira Coutinho

● CFR OTS REF Nelson Ferreira Rodrigues ● 1TEN OTS REF Francisco Ga-briel Amaro ● SMOR US REF José Augusto Romão Cerdeira ● SMOR CM REF Hermélio Viegas Coelho ● SAJ M REF José Manuel Mesquita; SAJ V Mário Sequeira Mota ● SAJ FZ REF José Pedro da Graça Miguens ● SAJ C REF José Ganhão Moreira● SAJ M REF José Cabrita ● SAJ E REF Vitor Ma-nuel Pereira dos Santos ● 1SAR MQ António Campos ● CAB CCT RES Fer-nando Manuel Pimentel Pinto Serra; Guarda 1ª CL REF Jaime José da Costa Oliveira.

Sanches Baena ● CFR FZ José Manuel Simões Rodrigues de Castro ● CFR OT José Luís Rodrigues Calado ● CFR Francisco Emílio Neves da Piedade Vaz ● CFR MN João José Biléu Umbelino ● CTEN SEP Manuel António José Carneiro ● CTEN Luís Miguel Ferreira Varela Pais ● CTEN OT José Francis-co Guerreiro Jonas ● SMOR L Pedro Guilherme Ferreira da Silva ● SMOR L José Viriato Nunes Pereira ● SMOR TRI Manuel Horácio Pereira Varandas ● SMOR H Manuel da Silva Santos ● SMOR US Jacinto Manuel Dolores Rosa ● SMOR CE António Gomes Torcato ● SCH L Júlio Freire Duarte● SCH L António Lele Branco ● SCH FZ David Monteiro Seiceira ● SCH CE Carlos Manuel Rosendo Horta ● SCH CM José Joaquim da Encarnação Santana Crato ● SCH R António dos Santos Cardoso ● SCH T José Martins Rodrigues ● SCH ETI António José dos Santos Martins ● SAJ ETC Arménio Vilhena Pereira ● SAJ L Aníbal de Jesus Almeida ● SAJ TF Adelino Fernandes dos Santos ● SAJ FZ António João Machado Barão ● SAJ L Custódio Salvado Cantanhede Parrulas ● SAJ A Mário Rui Martins Cavaco ● SAJ A Fernando dos Santos Martins ● SAJ CM José João da Silva Fernandes ● SAJ A António José de Sousa Poejo Guerreiro ● SAJ FZ José Carlos Pinto da Veiga ● SAJ FZ Manuel do Nascimento Nery Martins ● SAJ FZ Mário Semedo ● SAJ TF Luís Manuel Figueiredo dos Santos ● SAJ E Helder Manuel Cabrita Lopes ● SAJ T Américo Ferreira de Carvalho ● 1SAR M Manuel Joaquim Martins Dinis ● 1SAR M Manuel Pires Martins ● 1SAR Armando Guedes Dias ● 1SAR E Ma-nuel João Genebra Delgado ● 1SAR C Domingos Elias Rodrigues ● 1SAR M Manuel da Silva Mendes ● 1SAR C António Augusto Simões Bento ● 1SAR C Francisco de Jesus Magalhães ● 1SAR C Lúcio Aurélio Castilho ● 1SAR M Bento Manuel Rodrigues Alves ● 1SAR CM Inácio Lima Lopes Monteiro ● CAB CM Jorge Augusto Mateus António ● CAB R António José Franco Gon-çalo; CAB TFD Rui Manuel Henriques Martins ● CAB L Luís Filipe Martins Branco; CAB L Franklim Pereira Asêncio Dias ● CAB L Ernesto Domingos dos Santos ● CAB L Hermínio António de Jesus Alves ● CAB L Manuel Neto Parreira D Avó ● CAB TFH João Antunes Simões ● CAB A Aníbal Manuel Silvestre.

● A Direcção de Apoio Social, no âmbito da secção de cultura e lazer, realizou no passado dia 25 de Setembro, o seu 1º Concurso de Pes-ca Desportiva, no Cais do Ginjal (Cacilhas), seguindo-se um almoço-convívio no Parque de Merendas da Base Naval de Lisboa.

Mais uma vez se provou que, o mais im-portante não é a quantidade de peixe que é pescado, uma vez que a pescaria “rendeu” pouco mais de 22kg de peixe, nem a com-

petição em si, mas sim o engenho da participação, e a importância da con-vivência com pessoas que pouco vemos.

O 1º Classificado, Civil, Paulo Jorge Ferreira com 5,720kg, o 2º Classificado SCH Ermício Teixeira, com 2,820kg, que obteve simultaneamente o prémio para o maior exemplar capturado 1,640kg e do 3º Classificado, 2SARG FZ Américo Monteiro que capturou 2,700kg, todos os participantes receberam um certificado de participação.

Queremos deixar um especial agradecimento a todos os que participaram, organizaram e ajudaram a levar a cabo este concurso.Entre sorrisos e abraços se concretizou o 1º Concurso de Pesca Desportiva da Marinha, levado a cabo pela Direcção de Apoio Social, ao qual gostaríamos de dar continuidade no futuro, por se tratar de mais uma actividade de cariz social com extrema importância.

CONCURSO DE PESCA DESPORTIVA IV ENCONTRO NACIONAL ANTIGOS ALUNOS DA FRAGATA “D. FERNANDO II E GLÓRIA”

Sábado dia 2 de Abril de 2011 Concentração pelas 11,00 horas

Junto aos Estaleiros da ex-Parry & Son CACILHAS

A Comissão Organizadora:Augusto Fernando Gomes-TM 965140060 [email protected] Vardasca-TM 963899868 [email protected] Pereira Lopes-TM 967970171 [email protected]é Moreira Alves-TM 918852962 zalves@netvisão.pt

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Navios da República

13. A CANHONEIRA “BEIRA”

Foi construída no Arsenal da Marinha de Lisboa e aumentada ao Efectivo dos Navios da Armada em 30 de Dezembro de 1910. Deu o nome à classe, de que faziam parte além da “Beira”, as canhoneiras “Ibo”, “Ben-go”, “Mandovi”, “Quanza”, “Zaire”, “Damão” e a “Diu”, navios conhe-cidos na gíria naval por cruzadores de algibeira.As principais características eram as seguintes:Deslocamento máximo ..........................................................500 toneladasComprimento (fora a fora) ....................................................... 45 metrosBoca ...............................................................................................8,30 “Calado ...........................................................................................2,34 “Velocidade máxima ..................................................................13 nósVelocidade de cruzeiro ...............................................................9 “Autonomia (a 9 nós) .............................................................3200 milhasPossuía duas máquinas alternativas de tríplice expansão com 700 HP de potência, sendo o carvão o combustível utilizado. Armada com quatro peças de artilharia Hotchkiss, duas de 65 mm e outras duas de 47 mm, dispunha de uma guarni-ção inicial de 71 homens (4 oficiais, 8 sargentos e 59 praças).

Os cerca de 30 anos em que esteve ao serviço repartiram-se por missões de fiscalização da pesca no Continente, patrulhas nos Açores e ocasionalmente na Madeira e permanências em Cabo Verde e Angola. Nos últimos quatro anos foi utilizada em trabalhos hidrográficos.

A partir de Abril de 1911 e até Agosto de 13 esteve no Algarve e na Zona Norte fiscalizando a pesca, período esse interrom-pido no Verão de 1912 com uma comissão à Madeira e aos Açores.

A Grande Guerra iniciou-se em Julho de 1914 e logo em Agosto foi atacado e saqueado o posto português de Mazuía, na margem do rio Rovuma, fronteira norte de Moçambique. A “Beira” largou de Lisboa em Setembro fazendo parte da escolta a um comboio que transportava as primeiras forças expedicionárias com destino a África. Permaneceu inicialmente dois meses em S. Tomé seguindo depois para Angola. Re-gressou a Lisboa em Abril de 1915 reatando as missões de fiscalização da pesca no Algarve.

Entretanto, a guerra estendeu-se às águas do Atlântico tendo S. Vi-cente de Cabo Verde sido considerado vital para os Aliados, já que além de porto carvoeiro era o local de amarração dos cabos submarinos que ligavam três continentes e onde se encontravam refugiados, desde o iní-cio das hostilidades, oito navios alemães.

Tornava-se então urgente a presença naval em S. Vicente que, desde Fevereiro de 1915, com a saída da “Ibo” para Lisboa, não dispunha de qualquer navio de guerra português.Assim, a “Beira” , em Novembro, largou com destino a Cabo Verde onde havia de permanecer até Junho de 1917. Em 24 de Fevereiro de 1916 fo-ram requisitados os navios alemães surtos em S. Vicente, tendo a canho-neira coadjuvado essa operação e passado a ser responsável pela guarda dos navios, cujas tripulações ficaram internadas na Ilha de S. Nicolau sob custódia de uma força de Marinha.

Em Março chegou a esquadra inglesa do Atlântico composta de seis cruzadores, um couraçado e vários navios auxiliares. A “Beira” assumiu então a incumbência da defesa dos navios ingleses quando fundeados no porto, cumprindo para isso uma patrulha diária das 6 horas da tarde às 6 da manhã. Em Setembro, a “Ibo” regressou de Lisboa. Tinham de-

corrido para a “Beira” seis meses de árduo serviço de campanha. A esquadra inglesa, em Novembro de 1916, largou para Sul passan-

do a fazer base em Freetown, na Serra Leoa, reconhecendo o Almi-rantado Britânico como altamente meritórios os serviços prestados pela Marinha Portuguesa.

Apesar da saída da esquadra o porto de S. Vicente continuava a ser um alvo para o inimigo, situação comprovada a 4 de Dezembro de 1916 quando a “Beira” juntamente com a “Ibo” abriu fogo sobre um submarino alemão que havia surgido à entrada da baía, obrigando-o a proceder a rápida imersão.

Em Junho de 1917 seguiu para os Açores onde esteve integrada na Divisão Naval até Outubro, mês em que regressou a Lisboa.

No início de 1918 a ameaça submarina em águas caboverdianas mantinha-se pelo que se tornava necessário transportar de Lisboa mate-rial destinado à construção de barragens submarinas e peças de artilharia

para a defesa de S. Vicente. Com o objectivo de render a “Ibo” e transportar aque-le material e pessoal nele especializado, deixou o Tejo em Janeiro desse ano tendo o seu comandante procedido à reorganiza-ção e reforço da defesa do porto onde passaram a ser formados comboios, cujas saídas eram dirigidas pela canhoneira que se mante-ve em comissão até Janei-ro de 1919.

De regresso ao Conti-nente, a partir de Março, voltou a estar empenhada na fiscalização da pesca até ao fim do ano, altura

de entrada em fabricos que demoraram três anos. Em Outubro de 1923 após uma curta missão no Algarve, largou para a Estação Naval de An-gola onde se manteve em cruzeiro até Maio de 1924.

Em Outubro iniciou o “Periplo de África”, fazendo parte da Divi-são Naval Colonial que além da “Beira” era constituída pelo cruzador “República”, canhoneira “Ibo” e transporte “Gil Eanes”. Esta força naval, com um curso de guarda-marinhas embarcado, terminou a sua viagem em Junho de 1925.

Até Maio de 1928 fiscalizou as águas do Continente e posteriormente foi atribuída, por ano e meio, à Estação Naval dos Açores. Seriam as suas últimas comissões deste tipo.Durante 17 anos apenas tinha imobilizado três anos para reparações pelo que em Abril de 1928 entrou em fabricos, concluídos em Agosto de 33.

Iniciou então a derradeira fase da sua vida operacional tendo largado em Setembro para a Estação Naval de Angola onde durante dois anos efectuou serviços de patrulha e transporte logístico, regressando em No-vembro de 1935.

Foi determinada em Agosto de 36 a sua atribuição ao serviço hidro-gráfico pelo que passou a ser designada por navio hidrográfico “Beira”. Deixou Lisboa, pela última vez, em Setembro de 1936, ficando integra-da na Missão Hidrográfica de Angola para durante cerca de quatro anos proceder ao levantamento hidrográfico daquele território.

Após três décadas de prestimosos serviços de que se destaca, em ple-na Grande Guerra, a defesa do porto de S. Vicente, foi a canhoneira “Bei-ra” abatida em 31 de Junho de 1941 ao Efectivo dos Navios da Armada.

J.L. Leiria PintoCALM

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