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COMPREENSO E INTERPRETAO DE TEXTOS DE DIFERENTES GNEROS (LITERRIOS, JORNALSTICOS, TIRAS, CHARGES, ENTRE OUTROS).Lngua Padro, Lngua Culta, Lngua Literria e Contrato de Comunicao A lngua varia, como sabido, no tempo, no espao geogrfico, no espao social e de uma situao comunicativa para outra. Existem, portanto, vrias lnguas portuguesas, cada uma das quais uma variedade do portugus. Cada variedade da lngua , em princpio, um cdigo, com seus elementos e regras, por maior que seja a semelhana entre esses cdigos. Porm, no to simples como possa parecer, primeira vista, a tarefa de isolar e descrever tais variedades, porque no h fronteiras rgidas entre elas. Haver sempre um componente de arbitrariedade em qualquer diviso que se faa, entretanto a descrio lingstica no pode prescindir de tais divises. A migrao de trabalhadores de baixo nvel salarial de uma regio pobre para um grande centro, por exemplo, pode transformar um dialeto geogrfico em social. O cdigo usado pelas geraes mais velhas e o empregado pelas mais jovens so na verdade variedades diacrnicas muito prximas. Muitos elementos e regras do registro informal utilizados pela camada culta da populao ocorrem tambm nos dialetos sociais das camadas ditas incultas. Alm disso, tende a existir certa correlao entre escrita e formalidade, por um lado, e entre informalidade e fala, por outro. Esse entrecruzamento de dimenses dificulta o estabelecimento de limites precisos entre a coordenada social e a geogrfica, entre a etria e a diacrnica, entre dialetos sociais e variaes de uso (ultraformal, formal, semiformal e informal) ou ainda entre as dicotomias formal versus informal e escrito versus falado. Outra faceta da complexidade do problema a dificuldade que temos, s vezes, para decidir, diante de dois cdigos ou conjuntos de cdigos, se so duas lnguas ou duas variedades da mesma lngua.

primeira vista nos sentiramos tentados a afirmar que duas variedades da mesma lngua no so seno duas lnguas de estruturas muito semelhantes, assertiva que em termos estritamente estruturais pode ser verdadeira, mas no d conta de um fato da mais alta relevncia sociolingstica: o de que, se um falante empregar, digamos, um misto do portugus do Rio de Janeiro como o do Paran, no ser considerado estrangeiro em nenhuma das regies, o mesmo no ocorrendo com o portugus e o espanhol, cuja fuso, na fala de um mesmo indivduo, resultaria num cdigo sentido como estrangeiro tanto nos pases de lngua espanhola quanto nos de lngua portuguesa. O carioca e o paranaense, embora NO usem o mesmo cdigo, falam a mesma lngua, porque se consideram membros da mesma comunidade lingstica e, supondo-se que tenham certo grau de escolaridade, utilizam, na comunicao escrita formal, a mesma variedade dessa lngua, que a sua forma padro. Portanto, embora existam vrias lnguas portuguesas como cdigos, h um e somente um portugus como instituio social. A lngua padro, que na sociolingstica anglfona se denomina standard language, a variedade culta formal do idioma. H quem tome o termo norma culta, indevidamente, como sinnimo de lngua padro. Ocorre que a lngua culta, isto , a das pessoas com nvel elevado de instruo, pode ser formal ou informal. A lngua padro a culta, sim, mas limitada sua vertente formal. , pois, necessrio distinguir os dois conceitos. Lngua culta um termo mais amplo que lngua padro, uma vez que abrange no s o padro, que supra-regional, mas tambm as variedades cultas informais de cada regio. Entendam-se como cultos os dialetos sociais das pessoas acima de determinado grau de escolaridade. Desse modo o termo adquire objetividade e nos desvencilhamos do rano de preconceito de que est impregnado. A lngua culta informal, portanto, no padro. A variedade padro da lngua lidera um conjunto de cdigos que se influenciam mutuamente, a saber: (a) as variedades orais cultas informais das diversas reas geogrficas; (b) a lngua escrita culta informal (c) as variedades literrias do idioma, que se baseiam no padro, mas, no caso do Brasil, nem sempre correspondem fielmente a ele. A lngua literria seria, em princpio, a variedade padro artistificada, mas pode dar-se ao caso de ela se desviar do padro quando o desvio esteticamente necessrio, da a importncia de distinguir tambm lngua padro de lngua literria, embora se empreguem com freqncia os dois termos como equivalentes, impropriedade a que se acrescenta mais uma, a de incluir lngua escrita

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nessa srie pseudo-sinonmica, incluso obviamente inexata, visto que a lngua padro, embora se use sobretudo na escrita, pode usar-se tambm na comunicao oral formal. A lngua oral culta geograficamente mais diversificada do que sua correspondente escrita, ou seja, do que o padro, e, entre as formas escritas da lngua, no caso do portugus atual do Brasil, as literrias variam mais, de uma regio para outra, que as no-literrias, em conseqncia de um compromisso da literatura brasileira, nas ltimas nove dcadas, com os registros coloquiais. Certas infraes norma gramatical que no Brasil se sentem, a partir do modernismo, como adequadas a um poema ou a um conto, no seriam aceitveis numa carta comercial ou num discurso do paraninfo numa cerimnia de formatura. Na literatura anterior ao modernismo, ao contrrio, tais liberdades seriam inadmissveis. Por outro lado, o uso literrio da lngua escrita permite e at estimula a originalidade, ao contrrio do seu emprego no-literrio, que privilegia a padronizao, da ser bastante perceptvel na literatura um outro tipo de variao, a individual. a isso que nos referimos quando falamos em estilo de um escritor. A problemtica do estilo sobrevive s controvrsias sobre a disciplina que o estuda. O que quer que se diga sobre a estilstica, continuar sendo verdade que ficam na obra de arte as marcas pessoais de quem a produziu e que graas a elas se pode, por exemplo, muitas vezes, identificar o autor da obra, quando existe dvida sobre a autoria. A propsito, vem ganhando espao ultimamente uma nova concepo de estilstica, cujo principal representante talvez Jean-Michel Adam, com seu livro Le style dans la langue: une reconception de la stylistique, de 1997. Voltemos, porm, ao tema da lngua literria e da maneira como ela se relaciona com a lngua padro. Do fato de o portugus literrio atual do Brasil no utilizar necessariamente a variedade formal culta do idioma (lngua padro) no se pode concluir que os coloquialismos observveis em obras literrias se devam empregar em qualquer gnero textual. O que virtude num gnero, ou seja, o que adequado ao contrato de comunicao desse gnero, pode ser defeito em outro, isto , pode ser inadequado segundo o contrato deste outro. Contrato de comunicao um dos conceitos bsicos da anlise semiolingstica do discurso de Patrick Charaudeau e pode definir-se como um conjunto de regras discursivas que determinam o

que e o que no permitido no ato de produzir e de interpretar textos (orais ou escritos). Define, portanto, at onde os sujeitos da comunicao podem ir em sua atividade de codificao e de descodificao. Sobre esse conceito, ver Charaudeau e Maingueneau (2002:138-141) e Oliveira (2003b:23-55). Distinguir lngua padro de lngua literria importante, no s na descrio lingstica, porque dessa distino depende a boa escolha do corpus, mas tambm no ensino do idioma. O estudante normalmente no vai escola para aprender a redigir no estilo sofisticado de um Guimares Rosa, mas para tornar-se capaz de produzir uma prosa no literria razovel, de interpretar textos, enfim de dominar certo nmero de contratos de comunicao orais e escritos. O contacto da maioria dos alunos com textos literrios visaria prioritariamente a fazer deles leitores, no necessariamente autores. Uns poucos, excepcionalmente motivados para a produo literria e que revelassem aptido para essa atividade, seriam estimulados a desenvolver seu potencial criativo. Antes do advento do modernismo, a expectativa dos usurios da lngua, a que de modo geral os escritores correspondiam, era que a literatura fosse escrita na lngua padro. Foi a militncia poltico-lingstica de Mrio de Andrade e de seus companheiros que mudou o contrato de comunicao da literatura no Brasil no que se refere variao lingstica: em textos literrios o registro formal (lngua padro) deixou de ser obrigatrio e tornou-se facultativo, passando a escolha da variedade lingstica utilizada a obedecer s necessidades estilsticas do escritor. Hoje, na verdade, o reduto do padro a prosa formal no literria, que assume a forma de cartas comerciais, textos didticos, cientficos, tcnicos, burocrticos, jurdicos notcias na mdia impressa etc. Outra sutileza que merece ateno o fato de que em certos aspectos o padro escolar no corresponde lngua padro real. Como dizamos em Oliveira (2003 a): A gramtica normativa funciona at certo ponto como padro lingstico ideal, termo que em sociolingstica se refere maneira como os falantes gostariam de falar (ou de escrever) em circunstncias formais, em oposio ao padro lingstico real, que a forma como eles realmente falam e escrevem nessas circunstncias. Teoricamente, esse padro escolar deveria corresponder lngua escrita culta formal, ou seja, lngua padro propriamente dita, mas na realidade essa correspondncia no absoluta. A gramtica escolar no admite, por exemplo, uma construo como devo sempre me acautelar, j que o pronome

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oblquo colocado entre os dois verbos deveria ficar encltico ao primeiro, e no procltico ao segundo. O correto seria, ento, devo-me sempre acautelar ou devo sempre acautelar-me. Entretanto, a construo dada como incorreta freqente no uso escrito formal culto brasileiro. Essa construo, inclusive, no sofre qualquer forma de correo social, sendo, quando muito, rejeitada por algumas pessoas mais intransigentes em matria de linguagem, geralmente professores, revisores, e outros profissionais muito preocupados com questes dessa natureza. Essas divergncias entre o padro lingstico escolar e a variedade formal real do idioma levam alguns usurios deste a conceber a lngua padro como algo esotrico, que s alguns iniciados, conhecedores de complicadas regras gramaticais, conseguem dominar. Para a felicidade de professores e alunos, no entanto, a quase totalidade das formas recomendadas pela gramtica normativa existe no uso formal culto, mesmo que em situao minoritria s vezes, competindo ou no com outras tidas como errneas pela tradio escolar. Seria interessante, a esta altura, aprofundar um pouco mais o conceito de lngua padro. Essa variedade da lngua caracteriza-se: pelo comprometimento com a norma gramatical (apesar de alguns pontos de atrito do tipo que acabamos de descrever); por sua natureza formal; por ser mais usada na escrita (embora o possa ser tambm na fala); por seu carter supra-regional; por sua relao inseparvel com o conceito de nao; pelo prestgio de que goza; por seu relativo acronismo. As trs primeiras caractersticas dispensam esclarecimentos. A quarta caracterstica o carter supraregional da lngua padro, que consiste em indivduos de diferentes regies do Brasil usarem a mesma variedade do portugus na comunicao formal escrita, embora empreguem dialetos geogrficos diferentes na comunicao informal do dia-a-dia.

Isso se pode demonstrar por meio de um experimento simples: Submetem-se a um observador textos tcnicos, jurdicos, burocrticos etc. redigidos em diferentes regies do pas e pede-se que ele identifique a regio de origem dos respectivos autores, o que ele provavelmente, em virtude da supra-regionalidade da lngua padro, no ser capaz de fazer, pelo menos no com base na variedade da lngua utilizada. Se o fizer, ser graas a ndices no lingsticos. Ao contrrio, se gravarmos em fita trechos de conversaes de falantes de diferentes dialetos geogrficos, pedindo a algum que faa a escuta das gravaes, essa pessoa provavelmente no encontrar dificuldade para identificar a regio de origem dos respectivos falantes. Mesmo com relao a comunicaes escritas informais, essa identificao no ser difcil em certas circunstncias. A quinta caracterstica, a relao inseparvel entre lngua padro e nao, est magistralmente expressa numa conhecida frase de Max Weinreich - apud Rosa (2000:23) -, a qual, numa traduo adaptada, seria: uma lngua um dialeto com exrcito, marinha e aeronutica. A frase original : a shprakh iz a diyalekt mit an armey un a flot (uma lngua um dialeto com exrcito e marinha). Einar Haugen no seu clssico artigo Dialect, language, nation, discute essa questo, pondo o foco no caso da Noruega - cf. Haugen (1972:97-111). No incio do sculo XIX, a Noruega, at ento provncia da Dinamarca, conquista sua independncia. Logo em seguida, em conseqncia de uma luta bem-sucedida no campo da poltica lingstica, os noruegueses passam a escrever numa variedade lingstica livre da antiga lngua padro, baseada no dinamarqus de Copenhague. Apesar da existncia de um alto grau de semelhana estrutural entre essa nova lngua padro e o dinamarqus e de um razovel grau de inteligibilidade mtua entre os dois cdigos, o novo padro lingstico passou a ser considerado uma nova lngua, o que s foi possvel graas ao fato de a Noruega ter-se tornado uma nao independente. Com o tempo surgiram outras propostas de noruegus padro e a situao se complicou. Esses padres acabaram-se especializando quanto funo. Atualmente a situao comunicativa que determina a escolha entre eles. A Noruega no o nico exemplo de interralao entre padro lingstico e nacionalidade. Basta examinar a histria de algumas lnguas modernas para constatar que o surgimento das respectivas naes influiu decisivamente em sua adoo na modalidade escrita e no posterior

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estabelecimento de uma gramtica normativa para sua variedade padro. Os primeiros textos escritos em portugus, por exemplo, aparecem relativamente pouco tempo depois do surgimento de Portugal como nao. No Brasil, a partir da Independncia, vrios intelectuais passam a defender a denominao Lngua Brasileira para o idioma nacional, com a diferena de que, entre ns, ao contrrio do que ocorreu na Noruega, os defensores essa tese no tiveram xito (em poltica do idioma, como em qualquer atividade poltica, pode-se ser vencedor ou perdedor), mas o simples fato de algum a defender j demonstra a inseparabilidade dos conceitos de nao e padro idiomtico. Outro exemplo interessante o do galego, codialeto do portugus. No sculo XIX, um grupo de intelectuais galegos tentou promover a independncia da Galiza. Elementos desse grupo criaram uma modalidade escrita para o galego. Apesar do fracasso do objetivo poltico do movimento, de promover a independncia galega, o sentimento nacionalista que o animou foi causa da adoo do galego na escrita e do surgimento da literatura galega. O quinto item o prestgio, atributo essencial da lngua padro, graas ao qual ela tradicionalmente dada como correta e os registros informais, como incorretos, viciosos e at, de certo modo, como inexistentes. A negao da existncia de tais cdigos est implcita em exclamaes como Isso no portugus!, que ouvimos s vezes com referncia a vocbulos e construes tpicos desses registros. Isso nos leva a uma discusso interessante sobre o que existir em matria de linguagem. No custa lembrar que uma forma, prestigiosa ou no, existe na lngua quando, em determinadas situaes comunicativas, a comunidade que fala ou escreve essa lngua a emprega. O sexto e ltimo item, o relativo acronismo da variedade padro da lngua, resulta do fato de que ela evolui mais vagarosamente que as demais variedades, embora tambm evolua. Entre a nossa conversao espontnea e a de um portugus ou brasileiro do sculo XVIII, a distncia maior que entre a nossa comunicao formal e a desse mesmo indivduo, supondo que ele tivesse acesso lngua padro de sua poca. Por mais elitistas que sejam as origens da lngua padro, que se baseia, evidentemente, num dialeto social e geogrfico prestigioso, h vantagens prticas em aprend-la. Quem no capaz de empreg-la sofre vrias formas de excluso e

incapaz de comunicar-se nas situaes em que ela necessria. Uma poltica lingstica verdadeiramente democrtica, por conseguinte, a que defende o seu ensino na escola, no evidentemente como variedade nica, mas como cdigo a ser usado nos gneros textuais que o exigem, em obedincia aos respectivos contratos de comunicao. INTERPRETAR Para se fazer uma interpretao necessrio termos um conhecimento de LINGUAGEM LNGUA DIALETO GRIA Sabemos que a linguagem um sistema de sinais de que o homem se serve para comunicar- se. um meio organizado que tem por finalidade a expresso de idias e juzos. Sua origem deve reencontrar as origens do homem: sendo ele um animal social, tambm por natureza um animal que fala. Puede decirse el lenguage constituye algo esencial en el hombre, sin el cual no lo sera realmente. (Historia del linguage Emlio Relao Salvat. Edit. 1958. pgina 8 10) A natureza social do homem exige a linguagem. E o homem deve ter inventado antes mesmo do fogo e das outras mais primitivas invenes. (Le linguage Vendryes Edit. Albisa Michel Paris 1950 pgina 12 e passim) A linguagem la manifestacion Del espiritu tenida por ms digna de admiracin a lo largo de los tiempos. (Historia de la lingstica Guillermo Thonsen Edit. Labor S.A. 1945 Pgina 11) O homem um animal comunicativo. Sua linguagem mais importante a verbal, falada ou escrita. (verbum = palavra. Aqui o adjetivo verbal usado com o seu sentido etimolgico. Verbal se refere a palavra). S um sentido anlogo que se fala em linguagem de animais e de coisas. A palavra humana no apenas sons que ferem os ouvidos, letras que ferem os olhos, mas sinais a que se atribuem valores simblicos que podem variar ao infinito, por conveno. Bossuet exprimiu argumente esta idia: Ls animaux peuvent tre touchs de la voux, en tant quelle signifie, par institution, ce qui sappelle proprement parler et entendre. Cest autre chose dtre frapp du son ou de la parole en tant quelle agite lair et ensuite les orlilles et le cervean : autre chose de la regarder comme un signe dont les hommes sont convenns et rappeler en son esprit les choses quelle signifie. Ce dernier cest ce qui sappelle entendre le lenguage ; et il ny en dans les animaux aucun vestige. ( Vendryes C. pgina 14 note 2) Ateno:

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Os animais podem ser tocados pela voz, enquanto ela ar impelido e agitado, no enquanto a voz significa, por conveno, o que se chama, propriamente, falar e entender. uma coisa ser tocado pelo som ou pela palavra enquanto agita o ar e, em seguida, os ouvidos e o crebro; outra coisa, olha- la como um sinal que os homens convencionaram e relembraram; na mente, as coisas que a palavra significam. Isto o que se chama entender a linguagem e dela no h vestgio algum nos animais. evidente que da linguagem primitiva moderna mediaram muitas peripcias e muitos mistrios. A linguagem verbal se entranhou no homem de tal modo que embora teoricamente se possa pensar sem palavras, na realidade ningum o faz. o instrumento necessrio das idias, no s para exprimi- las, mas ainda para receb- las. Existem vrias teorias da origem da linguagem. Sintetizando temos: Para Max Mller o homem tem uma faculdade de expresso, um instante criado da linguagem, e nota nele. Para Spencer a linguagem, com as outras capacidades do homem, nasceu da evoluo do animal. J o Hovelacque faz a distino entre energueia e ergon a faculdade natural; o uso que artificial. H mais uma teoria e a que defendo: o homem nasce com faculdades criadoras, todos os meios de viver em sociedade, de comunicar- se. Paulatinamente, em elaborao lenta, vai adquirindo meios cada vez mais perfeitos. A linguagem um instrumento, uma inveno da inteligncia humana, inicialmente primria e depois complexa e perfeita. O homem tem em si o poder criador de meios para realizar a sua natureza de politikn zon (= animal social). Sem dvida que a linguagem um dos meios mais poderosos de convivncia. O problema da origem da linguagem no moderno: veja Demcrito, grego, julga que a linguagem ma criao arbitrria (Thesei), Plato, criao natural (Physei) segundo a soluo de Crtilo, personagem do dilogo platnico. Ateno: Physei ou thesei = por natureza ou por conveno. H uma teoria que me parece excessivamente teolgica: Deus criou o homem e lhe infundiu a linguagem. Testa que sou, defendo outro caminho: Deus criou o homem, deu- lhe os meios, os instrumentos, as faculdades para realizar- se. E o homem criou a linguagem. Dialetos e Gria Dialetos So modificaes regionais, estveis, de uma lngua. Na definio no se inclui a idia pejorativa de corrupo.

O portugus do Brasil como o de Angola , sem nenhum desdouro para o mais intransigente nacionalista, um dialeto da lngua portuguesa. A GRIA uma linguagem fechada, usada por um grupo social restrito, com a preocupao de se distinguir dos outros. Pode a palavra gria ter tambm o sentido pejorativo da lngua de mau gosto. Torna- se complicada e incompreensvel. Podemos ainda dizer que a gria constitui uma contribuio prejudicial lngua tornando- a espria, confusa e pouco comunicativa. A gria um elemento de linguagem que denota expressividade e revela grande criatividade, desde que, naturalmente, adequada mensagem, ao meio e ao receptor. Mesmo que seja criativa a gria s admitida na lngua falada. Sendo que a lngua escrita no a tolera. S em casos especiais na comunicao entre amigos, familiares, namorados, sendo que isto caracterizada pela linguagem informal. Dicas de interpretao Ateno: Antes de mais nada e importante entender que a interpretao de um texto, qualquer que seja ele, precisa ser considerada a partir de seus prprios elementos internos, o que significa dizer que no existe o que normalmente se costuma chamar de uma verdadeira viagem. A dificuldade est centrada, portanto, em um ponto bsico: conseguir perceber, dentro de um senso comum o que o texto est sugerindo. Para isso, importante que qualquer estudante, pessoa disposta a interpretar o texto literrio tenha, antes de mais nada, boa vontade e pacincia. 1 A leitura do texto deve ser silenciosa. Vrias vezes, duas, trs, quatro... tantas quantas vezes precisar. Geralmente bastam trs. Evidentemente no dispomos de muito tempo. Diante do fator tempo; ento leia com o mximo de ateno, procurando identificar a Temtica Central. 2 Identificar o que o enunciado solicita. muito comum o estudante, candidato errarem a resposta de uma questo por no ter percebido com exatido, o que o enunciado deseja saber. - Assim sendo, concentre- se em todas as palavras presentes no enunciado - Um ponto muito importante: observe se o enunciado da questo est abordando o texto como um todo ou se faz referncia a apenas uma parte do texto 3 A escolha da melhor opo, em se tratando de uma prova de mltipla escolha. - Chegamos ao ponto mais problemtico de todos: a opo correta. NOTA: muito comum os candidatos se queixarem de que chegam a duas opes e sempre acabam marcando a opo errada. Calma!!! Muita calma!!! Ateno!!! Eu digo o seguinte: Se voc conseguiu eliminar trs das opes, chegou a duas e marcou a errada, mas uma delas estava

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certa, voc estava no caminho certo. O que faltou foi um pouco mais de ateno, ou talvez quem sabe, um pouco mais de habilidade para conseguir perceber as mincias das duas opes. 4 Certificao das respostas. Uma vez escolhida a opo tente verificar se nenhuma outra poderia ser aceita. Tente ser isento nesta anlise. - Lembre- se de que, s vezes, uma vrgula suficiente para modificar completamente a significao de uma frase. Sempre tenha em mente que o texto literrio , por excelncia, plurissignificativo, o que significa dizer que, sua significao extrapola uma simples leitura tcnica. Para entend- lo, preciso, como dito anteriormente, decodificar as figuras de linguagem.

COMO FAZER ISSO? Procure perceber o vocbulo em seu sentido denotativo (isto , real) a partir da, veja se, naquele contexto, o vocbulo est assumindo uma outra significao, ou seja, se est sendo utilizado em seu sentido conotativo. Relacione este vocbulo aos demais que esto a sua volta, na frase, at que como na montagem de um quebra- cabea, todas as peas possam se encaixar devidamente. No um processo fcil, mas com prtica constante se consegue atingir timos resultados. No s os alunos afirmam gratuitamente que a interpretao depende de cada um. Na realidade, isto para fugir a um problema que no de difcil soluo por meio de sofisma (= argumento aparentemente vlido, mas, na realidade, no conclusivo, e que supe m f por parte de quem o apresenta). Podemos, tranqilamente, ser bem-sucedidos numa interpretao de um texto. FUNO DA LINGUAGEM Muitas vezes deparamos com certos problemas quando falamos, ou quando escrevemos e devemos proceder uma anlise de qualquer manifestao literria, temos de conhecer as funes da linguagem. A linguagem, como instrumento de comunicao no exercitada de graa ou gratuitamente. Sintetizando temos seis elementos que fazem parte do processo de comunicao: O assunto ou referente, O emissor, receptor, O contato, o cdigo e a mensagem. Para cada um desses elementos o lingista Roman Jakobson fez corresponder uma funo da linguagem ou lingstica. As funes propriamente ditas so seis: ~ Funo ftica, metalingstica e potica

Funo Ftica (ou de contato): est ligada no contato, visando estabelecer prolongar ou interromper a comunicao, testando para verificar a eficincia do canal, ou seja, estabelecendo e mantendo contato com o interlocutor. Exemplo: Sabe, meu irmo, que o cursinho do colgio Salesiano de Vitria vai fechar? Al, al, no desligue, no, ouviu? Funo Metalingstica: ligada diretamente no cdigo, trazendo sempre uma explicao, procurando definir o que no est claro. Verificando se o emissor e o receptor esto usando o mesmo repertrio. Exemplos: A lua o satlite da terra. O que a saudade? a presena do ausente. O que o amor? o despertador do corao. Funo Potica: ligada na prpria mensagem, valorizando a informao pela forma. A mensagem mais fim do que meio. uma verdadeira oposio funo referencial porque nela predomina a Conotao e o Subjetivismo. a funo do belo, do esttico, mas no exclusiva da poesia, podendo existir tambm na prosa. Exemplos: ... a lua era um desparrame de prata (Jorge Amado) Quem cabritos vende, e cabras no tem, de algum lugar lhe vm. (provrbio) Observao: No se esquea de que numa mensagem podemos encontrar duas ou mais funes, porm, sempre com predominncia de uma delas. Segundo o austraco Karl Bhler foi o primeiro a estabelecer as funes da linguagem, mas se limita numa relao trplice com: 1 o emissor / 1 pessoa 2 o receptor / 2 pessoa 3 as coisas sobre as quais se fala / 3 pessoa Diante disso, neste esquema encontrou Bhler trs funes da linguagem: a expressiva b apelativa c representativa Lembrando que foi Roman Jakobson quem ampliou para seis, incluindo os trs ltimos tipos. Procurei ser o mais simples possvel. Para mim: A interpretao do texto literrio no deixa de ser um contedo que merece muita ateno por parte dos estudantes do 1 e 2 graus, at mesmo 3 grau, candidatos a vestibulares e concursos. A nica soluo o treino, ou seja, muitos exerccios, pois assim voc chegar a concluso de que tudo fcil, sendo que tudo depende dos exerccios. Se voc estiver preparando- se para fazer um vestibular ou concurso o que tem que fazer : resolver o maior nmero possvel de exerccios de provas anteriores. Funo referencial, emotiva e conativa Funes Referencial, Emotiva e Conativa

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Funo Referencial (ou denotativa ou cognitiva) informativa ou cognitiva: podemos dizer que a comunicao pura e simples, ou seja, aponta para o sentido real das coisas e dos seres. A maior preocupao, neste caso, a mensagem; e o emissor apenas se limita a informar. Exemplos: O Esprito Santo um estado devedor. noite, vemos as estrelas no cu. O sol uma estrela de quinta grandeza. Funo Emotiva (ou expressiva): est ligada, concentrada no emissor da mensagem. O prprio nome expressa sentimentos, emoes e julgamentos, tendo a impresso de um sentimento verdadeiro e simulado. Exemplos: Que tarde maravilhosa!... Meus Deus, que cu lindo... Funo Conativa (ou apelativa ou imperativa): esta funo est ligada no receptor da mensagem, isto , no sujeito receptor e eminentemente persuasivo, sedutor. Exemplos: Inspira- me lua! Mame, olha o mar!... Voc acha que o Zez conseguir passar no vestibular?

privilegiados e dominantes da sociedade. Assim, ele conclui que a escola a base do preconceito lingustico, e esta reproduz as desigualdades sociais. Na Inglaterra, por sua vez, a linguista Deborah Cameron, autora do livro Verbal Hygiene, inicia sua obra citando uma manchete um jornal dominical, que diz numa traduo livre "Tradies Inglesas do Passado esto sob amea". A reportagem no remete a nenhum grande costume ingls, mas sim a cidados ingleses comumente chamados de "anoraks", que saem s ruas para panfletar que a lngua inglesa est sendo descaracterizada, arruinada pela mdia em geral. Como isso se torna relevante para um livro chamado Higiene Verbal? O que ficaria claro, a partir desse ponto, que existe um nmero significativo de pessoas que se importam sobre questes lingusticas; essas pessoas no apenas falam seu prprio idioma, mas so apaixonadas por ele. A autora se prope ento a ouvir o que essas pessoas tm a dizer, e compreender o porqu delas agirem de tal modo. A autora comenta uma situao na qual ela estava com um grupo dessas pessoas presentes no Conway Hall (um centro de estudos culturais, independente) e, quando ela disse que era uma linguista, todos ficaram animados, e disseram: Uau, como os linguistas combatem esses abusos da linguagem?. A autora, meio sem jeito, acabou evitando a discusso. Ela acredita que eles no entenderiam que a lingustica uma cincia descritiva, e no prescritiva, alm de acreditar que essa seria uma resposta um tanto rude. Em 5 de julho de 1993, num programa de rdio da BBC, Michael Dummet, um professor emrito de lgica, apontava para o trgico estado da lngua inglesa e apontava como culpadas desse fato as idias ridculas dos linguistas. Linguistas, diz ele, proclamam que a Lngua no importa, e pode ser usada e abusada vontade. Entre outros casos considerados "trgicocmicos" pela Lingustica, a autora cita um memorando do jornal The Times, onde o editor diz para os jornalistas que no usem a palavra "consensus", pois era uma palavra horrvel/odiosa. Por fim, a autora reitera sua proposta de tentar compreender (compreender no significa concordar, ela deixa isso claro) o posicionamento assumido por essas pessoas frente a questes lingusticas. Nos Estados Unidos da Amrica, apesar da no existncia de uma academia reguladora dos assuntos da linguagem, no faltam pessoas que tomam para si essa funo, sendo elas conhecidas como "language mavens". Essas pessoas chegam at mesmo a constituir grupos de defesa de um chamado "ingls real", verdadeiro, ou numa posio mais globalista como acontece no caso do Esperanto. Elas mandam cartas para jornais

A PLURALIDADE DE NORMAS: REGIONAIS, SOCIAIS, ETRIAS E ESTILSTICAS (REGISTROS).Preconceito lingustico O preconceito lingustico uma forma de preconceito a determinadas variedades lingusticas. Para a lingustica, os chamados erros gramaticais no existem nas lnguas naturais, salvo por patologias de ordem cognitiva. Segundo os linguistas, a noo de correto imposta pelo ensino tradicional da gramtica normativa origina um preconceito contra as variedades no-padro. Origens O socilogo Nildo Viana foi quem primeiro apresentou uma viso marxista deste fenmeno, relacionando-o com a educao escolar e a dominao de classe, bem como questionando pesquisadores deste tema. Para Viana, a linguagem um fenmeno social e est ligada ao processo de dominao, tal como o sistema escolar, que a fonte da "dominao lingustica". A ligao indissolvel entre linguagem, escrita e educao com os processos de dominao, segundo o autor, a fonte do preconceito lingustico, pois a lngua escrita veiculada pela escola se torna a lngua padro e esta se torna norma geral que todos devem seguir, mas o seu modelo se encontra entre os setores

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dizendo/apontando para um "declnio do bom ingls". Seus alvos vo alm dos jornais, chegando a atacar anunciantes de panfletos, banners etc. Variao lingustica e preconceito Da mesma forma que a humanidade evolui e se modifica com o passar do tempo, a lngua acompanha essa evoluo e varia de acordo com os diversos contatos entre os seres pertencentes comunidade universal. Assim, considerada um objeto histrico, sujeita a transformaes, que se modifica no tempo e se diversifica no espao. Existem quatro modalidades que explicam as variantes lingusticas: 1. variao histrica (palavras e expresses que caram em desuso com o passar do tempo); 2. variao geogrfica (diferenas de vocabulrio, pronncia de sons e construes sintticas em regies falantes do mesmo idioma); 3. variao social (a capacidade lingustica do falante provm do meio em que vive, sua classe social, faixa etria, sexo e grau de escolaridade); 4. variao estilstica (cada indivduo possui uma forma e estilo de falar prprio, adequando-o de acordo com a situao em que se encontra). Entretanto, mesmo que as variantes acima descritas expliquem as variaes lingusticas, o falante que no domina a lngua denominada "padro" por sua comunidade lingustica, sofre preconceitos e "excludo" da "roda dos privilegiados", aqueles que tiveram acesso educao de qualidade e, por isso, consideram-se "melhores" que os demais. Esse tipo de preconceito denominado preconceito lingustico. De acordo com Marcos Bagno, "preconceito lingustico a atitude que consiste em discriminar uma pessoa devido ao seu modo de falar". Como j dito, esse preconceito exercido por aqueles que tiveram acesso educao de qualidade, norma padro de prestgio, ocupam as classes sociais dominantes e, sob o pretexto de defender a lngua portuguesa, acreditam que o falar daqueles sem instruo formal e com pouca escolarizao feio, e carimbam o diferente sob o rtulo do erro. Infelizmente, preconceito lingustico somente uma denominao bonita para um profundo preconceito social: no a maneira de falar que sofre preconceito, mas a identidade social e individual do falante. H muitos preconceitos no mundo todo: preconceito racial, preconceito contra os pobres, contra as mulheres..., enfim, uma infinidade de absurdos cometidos por parte dos ignorantes. Mas, dentro do chamado preconceito lingustico, posso citar alguns considerados destaque, devido constante frequncia de suas ocorrncias.

A norma padro constitui o portugus correto; tudo o que foge a ela representa erro. Dentro do ambiente escolar, muitos professores costumam repetir essa frase. Porm, necessrio que eles compreendam que no existe portugus certo ou errado, mas modalidades de prestgio ou desprestgio que correspondem ao meio e ao falante. O apagamento de uma modalidade em favor de outra despersonalizador, pois o indivduo, ao ingressar na escola, possui um repertrio cultural j formado pelo seu meio e, se lhe for dito que tudo o que conhecia (no caso, sua linguagem) errado, perder sua identidade verdadeira e poder adquirir o preconceito. Por isso, desejvel que o aluno no abandone sua modalidade em seu meio. Mas, a prtica da norma culta deve ser ensinada para a promoo social do mesmo. As instituies de ensino deveriam tratar a questo do ensino da norma culta e das variantes lingusticas de maneira com que os alunos conseguissem compreender a norma e suas variantes. Deveriam promover aos alunos uma reflexo sobre a lngua materna, distinguindo o que adequado ou inadequado em determinadas situaes de uso. Dessa forma, a classe scioeconomicamente desprivilegiada teria a oportunidade de ascenso social e de acesso aos instrumentos culturais, obtendo prestgio. Mas, ao contrrio do que realmente adequado ao ensino da lngua, as escolas esto mantendo as classes menos favorecidas em um baixo patamar, sem lhes promover o conhecimento da lngua materna e a reflexo sobre as variaes lingusticas existentes, privando-as de uma oportunidade de ascenso social. importante que os professores promovam os instrumentos necessrios para que os alunos possam ser capazes de compreender as linguagens formal e informal e adequ-la s diversas situaes que lhes acontecerem. H tambm a necessidade de faz-los refletir sobre o que certo e errado, levando em considerao as diversas variaes histricas, estilsticas, geogrficas e sociais que a linguagem possui. O bom portugus aquele praticado em determinada regio, O caboclo fala errado, Nenhum brasileiro fala o portugus corretamente. Indivduos no conhecedores das variantes lingusticas adoram fazer afirmaes como essas. Mas preciso que coloquem em suas mentes que a lngua varia de acordo com a regio em que falada (devido sua cultura, costumes e classe social) e que essa variao afeta a norma criando, ento, uma modalidade de linguagem para cada situao especfica de ocorrncia verbal. No existe ento certo e errado no ato lingustico, mas sim variantes decorrentes de alguns fatores como regio, classe social e etc.

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O bom portugus o das pocas de ouro da literatura. Primeiro, h um portugus culto falado e um escrito. Mas a lngua escrita mais conservadora que a falada; segundo, a norma ancora a lngua no contemporneo; terceiro, a lngua um fenmeno social, e sua existncia prende-se aos grupos que a instituram. Bagno afirma que A mdia poderia ser um elemento precioso no combate ao preconceito lingustico. Infelizmente, ela hoje o pior propagador deste preconceito. Enquanto os estudiosos, os cientistas da linguagem, alguns educadores e at os responsveis pelas polticas oficiais de ensino j assumiram posturas muito mais democrticas e avanadas em relao ao que se entende por lngua e por ensino de lngua, a mdia reproduz um discurso extremamente conservador, antiquado e preconceituoso sobre a linguagem. Programas de rdio e televiso, sites da internet, colunas de jornal e outros meios de multimdia esto cheios de absurdos tericos e distores, pois so feitos por pessoas sem formao cientfica sobre o assunto. Divulgam bobagens sobre a lngua e discriminam os estudiosos da linguagem. Isso atrapalha a desmistificao do certo e errado e acaba propagando o preconceito. Em suma, para se acabar com o preconceito, seja ele racial, social ou qualquer outro, necessrio que haja uma democratizao da sociedade, que d oportunidades iguais a todos, reconhecendo e respeitando suas diferenas. E mais: a palavra preconceito significa um pr conceito daquilo que ainda no se conhece a fundo. A partir do momento em que se estuda determinado assunto, que se aprende sobre ele, o que se deve adquirir respeito, e no discriminao. DEFININDO OS TERMOS Variao: teoria da variao; assume a heterogeneidade e o caos lingstico como objeto de estudo; tambm denominada como sociolingstica quantitativa ou dinmica. Faz parte da sociologia da linguagem. Variantes: vrias maneiras de se dizer a mesma coisa, com o mesmo valor de verdade. Conjunto de formas lingsticas que compem uma varivel; podem ser: padro, no-padro, conservadora, inovadora, estigmatizada e de prestgio. Varivel: conjunto de variantes. A VARIVEL LINGUISTICAS E AS VARIANTES

Em toda comunidade de fala so freqentes as formas lingsticas em variao. A essas formas em variao d-se o nome de variantes que so, portanto, diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade. A um conjunto de variantes d-se o nome de varivel lingstica. No Brasil No portugus falado no Brasil, a marcao de plural no sintagma nominal encontra-se em estado de variao. Esta variao pode ocorrer por diversos fatores, principalmente acesso aos estudos e a regio em que o individuo mora. Vejamos um exemplo destas variaes: 1. aS meninaS bonitaS 2. aS meninas bonita 3. aS menina bonita O que estes exemplos nos mostram, que uma linguagem coloquial (aquela usada no cotidiano, que no segue as normas gramaticais e muito empregada na lngua oral) ou uma linguagem popular (aquela que serve para propsitos de comunicao, em que caracterizada pela noobedincia s normas gramaticais e, frequentemente usada por pessoas com baixa escolaridade: ignorante) est sendo utilizada e foge da lngua padro e suas normas. Embora estas formas se distanciem da norma, isto no significa que o individuo no consiga se comunicar e que os outros no possam compreender. Outras consideraes: Assim, a variedade do Portugus existente no Brasil o Portugus, por exemplo, falado em So Paulo e o Portugus falado em Minas, ou o Portugus falado no Brasil e o falado em Portugal, cada variedade lingstica tem uma gramtica prpria e igualmente vlida. A Lngua Portuguesa possui grande variedade de dialetos, muitos deles com uma acentuada diferena lexical em relao ao Portugus padro. Podemos entender por Dialetos as variaes de pronuncia, vocabulrios e gramticas pertencentes a uma determinada lngua. Os dialetos no ocorrem somente em regies diferentes, pois numa determinada regio existem tambm as variaes dialetais, etrias, sociais, geogrficas, referentes ao sexo masculino e feminino e tambm estilsticas, como exemplo de variao regional encontramos certas palavras possuindo significados

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que necessitam de traduo, caso de Pastelaria no Brasil onde se vende Pastel de carne, queijo basicamente, em Portugal vamos a Pastelaria comprar Pes, doces, bolinhos e outras guloseimas do gnero. Um carro velho e muito usado em Portugal apelidado de Chocolateria, mas no Brasil no se usa este termo. No Brasil vrios fatores podem confirmar estas variaes Lingsticas, Vejamos alguns exemplos, Fatores Sociais: O Portugus empregado pelas pessoas que tm acesso a escola e aos meios de instruo difere do Portugus empregado pelas pessoas privadas de escolaridade. Algumas classes sociais assim dominam uma forma de lngua que goza de prestigio enquanto outras so vitimas de preconceitos por empregarem formas de lngua menos prestigiada. Cria-se desta maneira uma modalidade de lngua a norma culta que deve ser adquirida durante a vida escolar e cujo domnio solicitado como forma de ascenso profissional e social, o idioma , portanto um instrumento de dominao e discriminao Social. Fatores relacionados ao Sexo: As mulheres possuem algumas peculiaridades no uso da lngua e os homens possuem outras, para exemplificar essas variaes referentes ao sexo, observamos os diminutivos como bonitinho, gracinha, menininha sendo usados mais pelas mulheres e aumentativos de nomes prprios como Marco, Carlo sendo mais usados por homens. Fatores Etrios: A camada mais jovem da populao usa um dialeto que se contrasta muito com o usado pelas pessoas mais idosas. Os jovens absorvem novidades e adotam a linguagem informal, enquanto os mais idosos tendem a ser mais conservadores. Algumas grias usadas por jovens foram aceita e hoje usada na linguagem informal que o caso da palavra legal, mas nem todas as palavras so aceitas, como a palavra pisante para sapato ou cremilda para dentadura, muito usada na dcada de Setenta. Esses exemplos comprovam o fato de que nem tudo que novo e diferente ir se efetivar numa lngua, podendo alguns vocbulos simplesmente ir desaparecendo e outros continuarem existindo dentro de um determinado dialeto ou at abranger seu uso por outros sem necessariamente cobrir todos os dialetos existentes nessa lngua. Fatores Geogrficos: H variaes entre as formas que a Lngua Portuguesa assume nas diferentes regies em que falada basta pensar nas evidentes diferenas entre o modo de falar de um Paulista e de um Carioca, ou na expresso de um Gacho em contraste com a de um Mineiro. Essas variaes regionais constituem os falares e os dialetos.

Dialeto Caipira(exemplo): Norma Culta Dialeto Caipira Alfinete Arfinete Falso Farso Melhor Mir Voc Oc Concluindo as variantes e suas formas As variantes de uma comunidade de fala encontram-se sempre em relao de concorrncia; padro vs. no-padro; conservadoras vs. inovadoras; de prestgio vs. estigmatizadas. Em geral, a variante considerada padro ao mesmo tempo, conservadora e aquela que goza do prestgio sociolingstico na comunidade. As variantes inovadoras, por outro lado, so quase sempre nopadro e estigmatizadas pelos membros da comunidade. Por exemplo, no caso da marcao do plural no portugus do Brasil, a variante [S] padro, conservadora e de prestgio; a variante [], por outro lado, inovadora, estigmatizada e no-padro. Aps diagnosticar estas variaes, a explicao deve ser procurada na configurao social da comunidade em questo. Somente o encaixamento sociolingstico da varivel na comunidade poder explicar o por que destas variaes, hoje to fortes e presentes nas comunidades. Outras consideraes A partir destas denominaes podemos perceber que entre a sociedade e a lngua, de fato, no h uma relao de mera casualidade. Desde que nascemos, um mundo de signos lingsticos nos cerca, e suas inmeras possibilidades comunicativas comeam a tornarem-se reais a partir do momento em que, pela imitao e associao, comeamos formular nossas comunicaes. Para haver uma comunicao entre os membros de uma sociedade, no necessrio haver nica e exclusivamente o uso das palavras. Sons, gestos, imagens, etc. tambm so formas de comunicao, porm atravs da lngua que o mundo que nos cerca permanentemente atualizado e, ela funciona como um elemento de interao entre o individuo e a sociedade em que ela atua. atravs dela que a realidade se transforma em signos, pela associao de significantes sonoros a significados arbitrrios, com os quais se processa a comunicao lingstica.

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Sendo a lngua entendida por como manifestao da vida em sociedade, o estudo da lngua pode ligar-se sociologia, abrindo-se, a partir da, campos novos de pesquisa, em especial o da sociolingstica. Modernamente, estudiosos como Willian Bright, Dell Hymes, Willian Labov, dentre outros, tm conduzido a sociolingstica aos mais diversos caminho, como por exemplo, o de perceber que a variao lingstica se d tambm dentro de uma subvariedade da fala de uma dada comunidade, restrita por operaes de foras sociais a representantes de um grupo tnico, religioso, econmico ou educacional especifico. Estudando a delimitao do campo de pesquisa sociolingstico, J. Sumpf afirma que a sociolingstica surge, numa primeira abordagem, como uma via outra, contra, a mais, para melhor que a via j bem trilhada da lingstica descritiva, retomando necessariamente uma srie de oposies, tais como as de lngua fala, uniformidade diversidade, simplicidade complexidade, funo uso, fala ato de fala, cdigo fala, funo estrutura, contexto mensagem, linguagem situao, linguagem homem ou antropologia. Para William Bright, um dos mais importantes especialistas norte americanos, a sociolingstica abordaria problemas que vo alm das simples relaes entre lngua sociedade, objeto da sociologia da linguagem, porque sua finalidade seria a comparao da estrutura lingstica com a estrutura social. Ainda dizia: a tarefa as sociolingstica mostrar a variao sistemtica da estrutura lingstica e da estrutura social e, talvez, mesmo, um relacionamento casual em uma direo ou em outra e a diversidade lingstica precisamente a matria de que trata a sociolingstica. Foi ele quem iniciou suas pesquisas partindo da identidade social do falante e do ouvinte, denominando os dialetos das classes. Aps ter percebido que de fato h uma diferena no uso da lngua conseqente das classes sociais, abriu-se novos campos de pesquisa referente este acontecimento. Fernando Tarallo, em seu livro: A Pesquisa Sociolingstica argumentou que o portugus do Brasil tem uma tendncia de um uso excessivo e incrementado do pronome na posio de sujeito e um significativo decrscimo da reteno do pronome na posio do objeto, dentre outros usos. Luiz Carlos Cagliai, em seu livro Lingstica e Alfabetizao, retrata a grande dificuldade que a escola encontra para alfabetizar aqueles alunos que nunca aprendem reside no fato de os professores

terem, em sua formao escolar, apenas estudos da Gramtica Normativa Tradicional, faltando-lhes os conhecimentos da Lingstica Moderna, com relao aos estudos da linguagem oral e escrita. Infelizmente, os conhecimentos cientficos da Lingstica tambm esto ausentes dos programas, dos currculos, das obras didticas e das apostilas. Todavia, sem eles, alguns alunos no conseguiro se alfabetizar, seja em que escola for. A questo central da alfabetizao, que saber ler, depende essencialmente da ao da ortografia, neutralizando a variao dialetal e definido o valor fontico das letras. Outras noes lingsticas complementam o trabalho, ajudando o aluno a progredir com segurana. A Questo da Variao Lingstica em Sala de Aula Alguns lingistas talvez j estejam preparando suas baterias para me criticar, sob o argumento de que deve existir um motivo para que o brasileiro em geral no faa concordncia de nada com nada e o que importa discutir o motivo do erro, como se o motivo do erro justificasse o erro. Alis, esse tipo de lingista so poucos graas a Deus adora dizer que em lngua no existe erro, o que existe a variao lingstica, o que importa comunicar. Esses mesmos lingistas perdem seu precioso tempo e a verba do contribuinte, com teses mirabolantes, financiadas pelo dinheiro pblico, em que se descabelam para justificar por que o brasileiro diz 'falta dez minuto'. Um argumento clssico que 'quando o sujeito vem depois do verbo o falante no o reconhece como tal e acaba colocando o verbo no singular.' Chique, no? nhenhenhm. " (Pasquale, O Globo, 01/03/98) Pasquale Cipro Neto, como muitos professores de lngua portuguesa prescritivistas no Brasil, pensam que preciso engessar a lngua em sua norma "padro", caando os "erros" e corrigindo-os atravs da aplicao de regras "acima de quaisquer suspeitas" para que os falantes da lngua se apoderem de seus mecanismos e possam, com o devido conhecimento da gramtica normativa, penetrar no universo restrito da comunidade letrada e dos clssicos da literatura nacional. Mas ser que esse conhecimento que vai permitir que nosso povo se apodere do conhecimento por meio de uma leitura consciente, que seja um cidado participante da vida cultural e poltica de seu pas? Como deve a escola agir para ampliar as competncias comunicativas de seus alunos, tanto no uso oral como no uso escrito, apresentando-os norma padro do portugus, sem continuar a exclulos, a expuls-los, a estigmatiz-los? A escola, muitas vezes, prestigia uma determinada forma de falar: a lngua culta, eleita pela sociedade como "padro".

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As demais formas de falar, que no correspondem eleita, acabam sendo desprivilegiadas. O que vai bloquear o aluno consiste precisamente na priorizao da norma culta. proporo que o professor for permitindo ao aluno "dizer a sua palavra", este se sentir fortalecido, favorecendo o trabalho do professor que ir paulatinamente ampliando o desempenho lingstico do aluno, levando-o a expressar-se, a colocar-se diante do mundo. Aos poucos, outras variedades lingsticas sero apresentadas atravs de textos, de conversas em que o aluno possa perceber diferentes registros (do mais informal ao formal, do coloquial ao padro). A partir desse contato o aluno ser capaz de interagir com diferentes pessoas em circunstncias diversas, percebendo a adequao da sua linguagem situao de uso. Desta forma, o aluno se sentir mais livre e seguro para produzir seus textos, entrelaando-os com suas histrias que sero contadas e no mais contidas. Sabemos que cada falante adquire e internaliza a lngua em uma de suas variedades: aquela que predominante em seu meio; por isso o objetivo do ensino da L P no fazer com que o aluno adquira sua lngua (como no caso de lngua estrangeira), mas antes de tudo, ampliar a capacidade de o falante usar essa lngua, desenvolvendo sua competncia comunicativa por meio de atividades com textos utilizados nas mais diferentes situaes de interao comunicativa. Esse tipo de ensino deve ser a gramtica no como regras e normas pura e simplesmente, mas como uma gramtica em explicitao, surgida da reflexo, baseada no conhecimento intuitivo dos mecanismos da lngua. Essa gramtica "reflexiva" ser usada para o domnio consciente de uma lngua que o aluno j domina inconscientemente, avanando para o conhecimento, pelo aluno, daquilo que ele no domina coincidentemente, garantindo o domnio da lngua em suas variedades e diferentes recursos. Levando o aluno aquisio de novas habilidades lingsticas, realizamos um ensino produtivo e no aquele em que se d apenas a lngua descritiva. Em primeiro lugar, preciso que o professor veja a questo da variao lingstica existente em sala de aula como um fato da lngua, para que ele entenda como importante que esse aspecto seja aceito na escola e na sociedade. Discutir essa variao com seus alunos e mostrar a eles como so os diferentes dialetos, por que so diferentes, o que isso representa em termos de estruturas lingsticas das/nas lnguas (pois tal variao no um problema exclusivo da lngua portuguesa) fundamental. Importante tambm mostrar refletir e discutir como a sociedade encara esta variao lingstica, os seus preconceitos e a conseqncia que isto traz na vida de cada um.

A escola deve respeitar os dialetos, entendlos e at mesmo ensinar como essas variedades da lngua funcionam, comparando-as entre si. claro que o dialeto "aceito pela sociedade" deve estar includo entre eles, mas em condies de igualdade, sem prestigiar este ou aquele dialeto. Indo mais alm, mostrar aos alunos como a sociedade interfere neste processo, ao atribuir valores sociais diferentes aos diversos modos de falar a lngua e que esses valores, mesmo se baseando em preconceitos e falsas interpretaes do certo e do errado em lingstica, tm conseqncias econmicas, polticas e sociais muito srias para as pessoas. Vamos ver isto concretamente: uma pessoas que deseja trabalhar como operrio (que lida em silncio com uma mquina) pode conseguir tal trabalho, mesmo que fale um dialeto estigmatizado pela sociedade.Porm, se esse mesmo operrio aspira a um emprego em que se lide com o pblico (sobretudo o de classes sociais altas) s o obter caso se torne falante do dialeto "privilegiado por tais classes sociais". Cotidianamente entramos em contato, nos principais meios de comunicao, com uma campanha sistemtica de correo de supostos 'erros' no uso da lngua portuguesa, tanto na modalidade escrita quanto na modalidade falada. Ao invs de ter um carter jornalstico, essas matrias contribuem, equivocadamente, para reforar no falante nativo a idia de que ele no consegue utilizar adequadamente a sua prpria lngua. Baseadas na modalidade escrita do dialeto de maior prestgio social, essas plulas de gramtica normativa so apresentadas sem levar em conta o processo necessrio e permanente de mudana lingstica, que acompanha as mudanas sociais e culturais de um povo. Estudos descritivos da lngua portuguesa usada no Brasil apontam vrios desses supostos erros como tendncias de mudanas em curso, no que diz respeito, por exemplo, incorporao de estrangeirismos, alteraes metafricas, reorganizaes sintticas, concordncias nominais e verbais, colocao de pronomes, conjugao verbal, etc. A repercusso dessa campanha simplista de caa ao erro s traz prejuzos a um ensino produtivo da lngua, que tenha por objetivo o aperfeioamento do desempenho oral e escrito do aluno e a ampliao de sua capacidade de leitura e produo de textos. a retomada de um ensino prescritivo, que, alm de acirrar os preconceitos sociais, pouco pode contribuir para a formao do cidado.

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A lngua na escola da lngua falada/escrita o dialeto que o professor ou a professora domina (dialetos geogrfico, social, etrio, masculino, feminino) com algumas variedades de grau de formalismo, particularmente os nveis coloquial tenso e formal. Pode acontecer que nenhuma dessas variedades coincida com as da criana. Neste caso, os professores e professoras, alm de evitarem palavras ou expresses que no sejam teis aos seus alunos, quando ocorrer uma palavra til, mas fora do vocabulrio deles (alunos), devero ter o cuidado de apresent-la, explic-la, quantas vezes for necessrio. O critrio para a escolha de uma variedade nova, como objetivo a ser alcanado, ser sempre a sua utilidade. A variedade nova trabalhada na escola, alm de estar ao alcance do aluno, dever ser-lhe til. til ao seu acesso social, til para se adequar ao seu status, til para estudos subseqentes, em resumo, til para alguma coisa. O trabalho do professor que lida com a Lngua Portuguesa dever se efetuar a partir da gramtica/uso, da gramtica natural j interiorizada pelo aluno, enquanto falante nativo da lngua. Aos poucos, outras variedades lingsticas iro entrando em contato com a do aluno, para que sejam explicitadas as regras pertinentes a cada situao de comunicao, ampliando, assim, o seu desempenho lingstico. O aluno est sempre em contato com diferentes circunstncias de comunicao. As situaes de uso da escrita envolvem desde comunicaes rpidas, como bilhetes e recados, at comunicaes bem formais, como relatrios e requerimentos. As comunicaes rpidas so feitas sem muito planejamento e sem muitos cuidados. As formais exigem um planejamento minucioso e cuidados especiais. Alm disso, requerem conhecimento e vivncia do tipo de texto. Dependendo das situaes de uso, certas variedades lingsticas se impem. Assim, o aluno dever ser capaz de dialogar com diferentes pessoas, em circunstncias diversas percebendo a adequao da linguagem (oral/escrita) situao de uso. Por exemplo, ao dar um mesmo recado oralmente ou por escrito para o colega, para o professor, para o diretor da escola, saber utilizar diferentes registros: do mais informal ao formal, do coloquial at o padro, considerado como a "norma culta da lngua". Em resumo, aquilo que se chama de linguagem correta no passa de uma variedade da lngua que em determinado momento da histria, foi considerada a mais prestigiada pela sociedade culta. Nessa confuso entre conhecer sua lngua e dominar a gramtica normativa, o leitor induzido ao

preconceito, relacionando o chamado "erro" burrice, incompetncia, feira, ao fracasso social e profissional. Assim a lngua usada como uma arma, e que arma poderosa, de marginalizao e excluso social. A idia de superioridade lingstica , na verdade, mais perversa do que a da superioridade das raas, culturas e sexos, porque a sociedade a perpetua inconscientemente. fcil ouvir, de pessoas extremamente politizadas, afirmaes preconceituosas sobre lnguas ou dialetos de prestgio -- por exemplo, a rejeio ao r retroflexo do caipira, considerado um smbolo de falta de cultura; o fascnio pela suposta objetividade do ingls. Quantas vezes eu, na escola em que trabalho e fora dela, ouvi pessoas dizendo: Ah, voc professor de portugus? Tenho de tomar muito cuidado com o que eu digo... As variedades no so, pois, erros, mas diferenas. O que h so inadequaes de linguagem, que consistem no no uso de uma variedade, ao invs de outra, mas no uso de uma variedade ao invs de outra. Numa situao em que as regras sociais no abonam aquela forma de falar. O professor deve lidar com as variedades lingsticas dos seus alunos, aproveitando as "diferentes falas" de forma produtiva, ou seja, transformando-as em mais uma oportunidade de interao e aprendizagem. A escola, portanto, no deve reprimir a diversidade lingstica tentando uniformizar a lngua(gem) de seu aprendiz, impondo uma variedade. Atender antes linguagem dos alunos, sabendo relativizar os usos e criar situaes que realmente alarguem e diversifiquem a experincia de falante de cada um. A proposta de Lngua Portuguesa evidencia a produo de textos orais e escritos, pretendendo resgatar a fala do aluno. Estimulando ao mximo a sua oralidade, incitando-o a relatar as suas experincias de vida, utilizando o seu saber "extraescolar" como ponto de partida para lev-lo aquisio da norma culta, o professor far com que o aluno amplie o seu potencial lingstico. Assim, parte-se do oral para chegar-se ao escrito, respeitando-se as variedades empregadas pelos alunos. Contudo, o aluno, no pode ficar restrito linguagem que ele j domina. Deve-se facilitar o acesso norma culta, atravs do contato, da interao com diferentes textos, diversas linguagens objetivando uma ampliao na/da competncia lingstica do aluno, estimulando seu "falar"/dizer" o mundo criticamente, confrontando , assim, atravs de vrias oportunidades, a linguagem do aluno com a que a escola oferece. O aluno, ao entrar a escola, possuidor de um saber lingstico prvio, limitado oralidade. O

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professor deve levar o aluno a desenvolver esse potencial enriquecendo a sua expresso oral atravs de um trabalho com diferentes formas de expresso. A partir, por exemplo, de debates, discusses, entrevistas, comentrios, opinies, narraes de fatos, pode-se ampliar a competncia comunicativa do aluno e a formao de conceitos. Desta forma, contribui-se para criar, paralelamente, as condies necessrias para um trabalho eficiente, expressivo, onde o sujeito possa falar (e escrever) suas idias, pensamentos e emoes. A prtica da lngua desenvolve-se atravs de duas modalidades: a oral e a escrita. Podemos distinguir vrias diferenas entre elas, apesar das semelhanas existentes nas duas modalidades. muito comum, por exemplo, o uso de "amigo dele"/ "eu chamo voc ou lhe chamo"/ "a gente vai escola"/ "o amigo que a me ....."/ empregados na linguagem oral em vez de "seu amigo"/ "eu o chamo "/ "ns vamos escola"/ "o amigo cuja me..., usados (respectivamente) na linguagem escrita. H que se considerar tambm as diferenas nas situaes comunicativas em que as mensagens orais e escritas so processadas. Durante a situao de produo oral, os interlocutores esto presentes fisicamente, o que significa uma interao efetiva entre emissor e receptor que podem se utilizar de recursos outros como gestos, expresso facial / corporal, alm da entonao, pausas, fluncia, recursos tpicos da linguagem oral. H ainda a ocorrncia de rupturas nos enunciados, frases inacabadas ou incompletas, repeties de palavras ou frases, marcas tambm tpicas do oral. A comunicao escrita menos "econmica" e fora o emissor a fazer referncias mais precisas sobre a situao. A escrita requer do produtor do texto um trabalho de elaborao mais cuidadosa. Permite pensar, planejar selecionar para depois escrever. Permitindo ainda voltar atrs no que foi apresentado, corrigindo, acrescentado palavras, reorganizando-as, por isso a escrita uma atividade mais demorada que a fala. Deve-se levar em conta que a lngua falada geralmente ensinada, corrigida, verificada com base na escrita, o que vem negar suas caractersticas especficas. O professor pode, ento, planejar situao especiais para o desenvolvimento das atividades que envolvem a produo oral e escrita de textos. Um ensino de Lngua Portuguesa que prioriza a interao implica uma tomada de posio, na sala de aula, quanto s variedades lingsticas, quer

regionais, quer sociais, enfrentadas pelo professor no dia a dia escolar. Tentar aprisionar a lngua na verdade tentar cercear o esprito criador do ser humano. Felizmente, o ser humano e, conseqentemente, a lngua no se deixam aprisionar. A prova deste fato est na variao e nas mudanas lingsticas, inexorveis ao longo do tempo, por razes as mais diversas. Ignorar tal fato revela desconhecimento ou simplesmente vontade de vender jornal a qualquer custo, mesmo a custo de enfatizar o preconceito lingstico, um dos grandes males da humanidade: lnguas, alm de excelentes sistemas de comunicao e de identificao, so tambm perversos instrumentos de exerccio do poder. A TEORIA DE SOCIOLINGUISTICA VYGOTSKY E A

Vygotsky abstrai que o ser humano criado histrico e socialmente, e que suas relaes com a natureza e com os outros homens no nvel da conscincia so lidados de forma espontnea apenas quando ele no tem percepo da conscincia sobre aquilo que est fazendo. Por outro lado, medida que o homem toma conscincia da conscincia que possui, mais e mais ele abstrai sobre seus atos e sobre o meio. Com isto, seus atos deixam de ser espontneos (no sentido biolgico do termo) para se tornarem atos sociais e histricos, envolvendo a psique do indivduo. Observe que, nesse diverso campo da conscincia, existe como base metodolgica e objeto de estudo a intencionalidade da conscincia. Diramos de certa forma, que para este autor a conscincia o estado supremo do homem, o que na teoria vygotskiniana chamado de Tomada de Conscincia. E esses elementos da conscincia vo dar origem aos denominados processos mentais superiores, os quais so diferentes dos processos mecnicos, por estes serem aes conscientes, controladas ou voluntrias, envolvendo memorizao ativa seguida de pensamento abstrato. Aprendizagem a assimilao consciente do mundo fsico mediante a interiorizao gradual de atos externos e sua transformao em aes mentais. Privilegiam o ambiente social. Entendem que os processos psquicos, que a aprendizagem entre eles, so assimilaes de aes exteriores, interiorizaes desenvolvidas atravs de linguagem interior que permite formar abstraes. A aprendizagem produzida atravs de um dilogo constante entre o exterior e o interior do indivduo, e as aes mentais so formadas a partir das variveis externas (concretas), que so interiorizadas surgindo a capacidade de atividade abstrata (aes mentais) com varias formas de manifestao (material - aes externas -, verbal linguagem - ou intelectual

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pensamento -) e diversos graus de generalizao e assimilao. Costuma-se destacar que a abordagem de Vygotsky tem explicao das mudanas de ordem qualitativa. Isto porque o autor preocupou em descrever e entender o que ocorre ao longo da gnese de certas funes, assim como, no estudo da linguagem da formao de conceitos, etc. Nessa teoria no se tem estgios de desenvolvimento explicado detalhadamente sobre o surgimento e desenvolvimento das funes psquicas atravs de acumulao de processos elementares. J que nessa abordagem no se questiona o fato de que todos os indivduos tenham uma capacidade de aprendizagem que, inicialmente, est condicionada pelo nvel de desenvolvimento alcanado. AMBIENTE DE APRENDIZADO DA LNGUA A educao no fica espera do desenvolvimento intelectual da criana. Ao contrrio, sua funo levar o aluno adiante, pois quanto mais ele aprende, mais se desenvolve mentalmente. Segundo Vygotsky , essa demanda por desenvolvimento caracterstica das crianas. Se elas prprias fazem da brincadeira um exerccio de ser o que ainda no so, a escola que se limita ao que elas j sabem intil. Para Vygotsky , as potencialidades do indivduo devem ser levadas em conta durante o processo de ensino-aprendizagem. Isto porque, a partir do contato com pessoa mais experiente e com o quadro histrico-cultural, as potencialidades do aprendiz so transformadas em situaes em que ativam nele esquemas processuais cognitivos ou comportamentais. Pode acontecer tambm de que este convvio produza no indivduo novas potencialidades, num processo dialtico contnuo. Assim, como a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, a escola tem um papel essencial na construo do ser psicolgico e racional. A escola deve dirigir o ensino no para etapas intelectuais j alcanadas, mas sim para estgios de desenvolvimento ainda no incorporados pelos alunos, funcionando como um incentivador de novas conquistas psicolgicas. A escola tem ou deveria ter como ponto de partida o nvel de desenvolvimento real da criana (em relao ao contedo) e como ponto de chegada os objetivos da aula que deve ser alcanado, ou seja, chegar ao potencial da criana. Aqui o professor tem o papel explcito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanos que no ocorreriam espontaneamente. Resumindo, a teoria de Vygotsky sciointeracionaista, ou seja, est estritamente ligada com a sociolingstica pelo fato da construo do

conhecimento partir da linguagem social em que o individuo se encontra; linguagem esta que a sociolingstica como campo da lingstica vem explicar e compreender as diferenas. Concluindo, a escola um local de construo de conhecimento que esta repleto de variaes e diferenas, ento juntando estas duas teorias podemos dizer que este local seria o melhor para se aprender atravs da interao com as diferenas. CONCLUSO Assim como os outros idiomas, o Portugus foi se desenvolvendo atravs de sculos, tendo sofrido influencias de vrios idiomas e dialetos, at chegar ao estagio que conhecemos hoje. Porm, devemos considerar que o Portugus de hoje no exatamente lngua nica, temos registrados vrios dialetos e subdialetos, falares e sub-falares, muitas vezes bastantes distintos. A sociolingstica o meio que temos de entende nossa lngua, o seu surgimento e as suas variaes nos mostrando que foi feita com razes comum, mas com diferenas que lhe do personalidade e vidas prprias, desenvolvidas ao longo do tempo de acordo com as variaes culturais das sociedades que as criam e a utilizam; vem atravs das diferenas, que ocorrem na sociedade, explicar estas variaes que presenciamos no dia-adia. Este campo da lingstica, antes de qualquer coisa vem compreender estas variaes a fim de tentar solucionar esta excluso para com o individuo que faz uso destas formas de linguagem. Fechando, atravs deste campo, principalmente ns educadores, podemos nos empenhar em incluir nossos alunos, partindo das variaes que eles apresentam para ensinar e ao para excluir, porque esta excluso nada mais do que no aceitar o diferente. ANEXOS J que a sociolingstica estuda a lngua na sociedade e suas variaes, segue em anexo os nveis de linguagem, para que nos possamos esclarecer mais profundamente os tipos de variao. Nveis de linguagem Existem diferentes nveis de fala, cujo uso depende da situao, do perfil dos interlocutores, do contedo da mensagem, das intenes do locutor. Situao de informalidade: quando estamos em casa, com nossos familiares, entre amigos. Nessa situao, utilizamos expresses espontneas, que se aproximam da linguagem falada.

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Situao de formalidade: quando estamos em nosso ambiente de trabalho, diante de nosso superior. Nessa situao, devemos ser mais cuidadosos na escolha das palavras. Competncia comunicativa: capacidade de adequar nossos textos s diferentes situaes pelas quais passamos. Os nveis podem ser: Nvel Culto: o mais desejvel pelas escolas; segue as normas gramaticais; propicia ascenso social: Explicar-lhe-ei os vrios nveis da linguagem. Nvel coloquial: aquele usado no cotidiano; no todas as normas gramaticais, muito empregado na lngua oral: Me apaixonei, pra, a gente... Nvel afetivo: usado para demonstrar carinho; emprega muitos diminutivos: Lindinho, o lanchinho est pronto. Nvel popular: serve para os propsitos de comunicao; caracterizado pela no-obedincia s normas gramaticais; usado pelas pessoas que possuem pouca escolaridade: ingnorante; A gente se esforcemo; O fenmeno Euninho... Nvel regional: usado por certas comunidades; caracteriza-se por pronuncias prprias, significados peculiares: Menina - SP corresponde a Guria - RS Penca SP corresponde a Palma - AL Nvel grupal gria: prprio de certos grupos, geralmente composto de jovens: gria dos surfistas, dos rappers, do malandro. Linguagem de especialidade: prpria de certas profisses, de certos locais de trabalho: advogados, mdicos, informtica.

O homem dispe de vrios recursos para se expressar e se comunicar. Esses recursos podem utilizar sinais de diferente natureza. Tais sinais admitem a seguinte classificao: a) Verbais; b) No-Verbais; Quando esses sinais se organizam formando um sistema, eles passam a constituir uma linguagem. Observe:

Incndio destruiu o Edifcio Z.

Para expressar o mesmo fato, foram utilizadas duas linguagens diferentes: a) Linguagem No-Verbal- Qualquer cdigo que no utiliza palavra; b) Linguagem Verbal- Cdigo que utiliza a palavra falada ou escrita; Linguagem todo sistema organizado de sinais que serve como meio de comunicao entre os indivduos. Quando se fala em texto ou linguagem, normalmente se pensa em texto e linguagem verbais, ou seja, naquela capacidade humana ligada ao pensamento que se concretiza numa determinada lngua e se manifesta por palavras (verbum, em latim). Mas, alm dessa, h outras formas de linguagem, como a pintura, a mmica, a dana, a msica e outras mais. Com efeito, por meio dessas atividades, o homem tambm representa o mundo, exprime seu pensamento, comunica-se e influencia os outros. Tanto a linguagem verbal quanto linguagem no-verbal expressam sentidos e, para isso, utilizam-se de signos, com a diferena de que, na primeira, os signos so constitudos dos sons da lngua (por exemplo, mesa, fada, rvore), ao passo que nas outras exploram-se outros signos,como as formas, a cor, os gestos, os sons musicais, etc.

O PROCESSO DE COMUNICAO E AS FUNES DA LINGUAGEM1. Linguagem Observe a fala do vendedor: Quem sabe o senhor desenha para ns? Se o comprador soubesse desenhar, o problema estaria resolvido facilmente. Ele poderia lanar na mo de um outro meio de expresso que no fosse a fala.

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Em todos os tipos de linguagem, os signos so combinados entre si, de acordo com certas leis, obedecendo a mecanismos de organizao. Semelhanas e Diferenas Uma diferena muito ntida vai encontrar no fato de que a linguagem verbal linear. Isto quer dizer que seus signos e os sons que a constituem no se superpem, mas se sucedem destacadamente um depois do outro no tempo da fala ou no espao da linha escrita. Em outras palavras, cada signo e cada som so usados num momento distinto do outro. Essa caracterstica pode ser observada em qualquer tipo de enunciado lingstico. Na linguagem no-verbal, ao contrrio, vrios signos podem ocorrer simultaneamente. Se na linguagem verbal, impossvel conceber uma palavra encavalada em outra, na pintura, por exemplo, vrias figuras ocorrem simultaneamente. Quando contemplamos um quadro, captamos de maneira imediata a totalidade de seus elementos e, depois, por um processo analtico, podemos ir decompondo essa totalidade. O texto no-verbal pode em princpio, ser considerado dominantemente descritivo, pois representa uma realidade singular e concreta, num ponto esttico do tempo. Uma foto, por exemplo, de um homem de capa preta e chapu, com a mo na maaneta de uma porta descritiva, pois capta um estado isolado e no uma transformao de estado, tpica da narrativa. Mas podemos organizar uma seqncia de fotos em progresso narrativa, por exemplo, assim: a) foto de um homem com a mo na maaneta da porta; b) foto da porta semi-aberta com o mesmo homem espreitando o interior de um aposento; c) foto de uma mulher deitada na cama, gritando com desespero; Como nessa seqncia se relata uma transformao de estados que se sucedem progressivamente, configura-se a narrao e no a descrio. Essa disposio de imagens em progresso constitui recurso bsico das histrias em quadrinhos, fotonovelas, cinema etc. Sobretudo com relao a fotografia, ao cinema ou a televiso, pode-se pensar que o texto no-verbal seja uma cpia fiel da realidade. Tambm essa impresso no verdadeira. Para citar o exemplo da fotografia, o fotgrafo dispe de muitos expedientes para alterar a realidade: o jogo de luz, o ngulo, o enquadramento, etc. A estatura do indivduo pode ser alterada pelo ngulo de tomada da cmera, um ovo pode virar uma esfera, um rosto iluminado pode passar a impresso

de alegria, o mesmo rosto, sombrio, pode dar impresso de tristeza. Mesmo o texto no-verbal, recria e transforma a realidade segundo a concepo de quem o produz. Nele, h uma simulao de realidade, que cria um efeito de verdade. Os textos verbais podem ser figurativos (aqueles que reproduzem elementos concretos, produzindo um efeito de realidade) e no-figurativos (aqueles que exploram temas abstratos). Tambm os textos no-verbais podem ser dominantemente figurativos (as fotos, a escultura clssica) ou nofigurativos e abstratos. Neste caso, no pretendem sumular elementos do mundo real (pintura abstrata com oposies de cores, luz e sombra; esculturas modernas com seus jogos de formas e volumes).

1.2 Comunicao comunicao;

Os

processos

da

Teoria da comunicao; O esquema da comunicao Existem vrios tipos de comunicao: as pessoas podem comunicar-se pelo cdigo Morse, pela escrita, por gestos, pelo telefone, por e-mails, internet, etc.; uma empresa, uma administrao, at mesmo um Estado podem comunicar-se com seus membros por intermdio de circulares, cartazes, mensagens radiofnicas ou televisionadas, e-mails, etc. Toda comunicao tem por objetivo a transmisso de uma mensagem, e se constitui por um certo nmero de elementos, indicados no esquema abaixo:

Esses elementos sero explicados a seguir: Os elementos da comunicao a) O emissor ou destinador o que emite a mensagem; pode ser um indivduo ou um grupo (firma, organismo de difuso, etc.)

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b) O receptor ou destinatrio o que recebe a mensagem; pode ser um indivduo, um grupo, ou mesmo um animal ou uma mquina (computador). Em todos estes casos, a comunicao s se realiza efetivamente se a recepo da mensagem tiver uma incidncia observvel sobre o comportamento do destinatrio (o que no significa necessariamente que a mensagem tenha sido compreendida: preciso distinguir cuidadosamente recepo de compreenso). c) A mensagem o objeto da comunicao; ela constituda pelo contedo das informaes transmitidas. d) O canal de comunicao a via de circulao das mensagens. Ele pode ser definido, de maneira geral, pelos meios tcnicos aos quais o destinador tem acesso, a fim de assegurar o encaminhamento de sua mensagem para o destinatrio: Meios sonoros: voz, ondas sonoras, ouvido... Meios visuais: excitao luminosa, percepo da retina... De acordo com o canal de comunicao utilizado, pode-se empreender uma primeira classificao das mensagens: _as mensagens sonoras: palavras, sons _as mensagens tcteis: presses, trepidaes, _as mensagens olfativas: perfumes, por _as mensagens gustativas: tempero (apimentado) ou no... msicas, diversas; choques, etc; exemplo; quente A comunicao restrita; so poucos os signos em comum. Exemplo: Conversa entre um ingls eu um estudante brasileiro de 1 grau que estuda ingls h um ano. 3 Caso: A comunicao no se realizou; a mensagem recebida, mas no compreendida: o emissor e o receptor no possuem nenhum signo em comum. Exemplos: mensagem cifrada recebida por um receptor que ignora o cdigo utilizado; neste caso, poder haver uma operao de decodificao, mas ela ser longa e incerta; Conversa (?) entre um brasileiro e um alemo, em que um no fala a lngua do outro. 2 Caso:

Observao: um choque, um aperto de mo, um perfume s constituem mensagens se veicularem, por vontade do destinador, uma ou vrias informaes dirigidas a um destinatrio. A transmisso bem-sucedida de uma mensagem requer no s um canal fsico, mas tambm um contato psicolgico: pronunciar uma frase com voz alta e inteligvel no suficiente para que um destinatrio desatento a receba. e) O cdigo um conjunto de signos e regras de combinao destes signos; o destinador lana mo dele para elaborar sua mensagem (esta a operao de codificao). O destinatrio identificar este sistema de signos (operao de decodificao) se seu repertrio for comum ao do emissor for comum ao do emissor. Este processo pode se realizar de vrias maneiras (representaremos por dois crculos os repertrios de signos do emissor e do receptor): 1 Caso:

A comunicao mais ampla; entretanto, a inteligibilidade dos signos no total: certos elementos da mensagem proveniente de E no sero compreendidos por R.

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Exemplo: um curso de alto ministrado a alunos no preparados para recebe-lo. 4 Caso:

Tipos de comunicao Comunicao unilateral estabelecida de um emissor para um receptor, sem reciprocidade. Por exemplo, um professor, um professor durante uma aula expositiva, um aparelho de televiso, um cartaz numa parede difundem mensagens sem receber resposta. Comunicao bilateral se estabelece quando o emissor e o receptor alternam seus papis. o que acontece durante uma conversa, um bate-papo, em que h intercmbio de mensagens. 2. Nveis de Linguagem Texto: A, Galera Jogadores de futebol podem ser vtimas de estereotipao. Por exemplo, voc pode imaginar um jogador de futebol dizendo estereotipao? E, no entanto, por que no? _A, campeo. Uma palavrinha pra galera. _Minha saudao aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso de seus lares. _Como ? _A, galera. _Quais so as instrues do tcnico? _Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de conteno coordenada, com energia otimizada, na zona de preparao, aumentam as probabilidades de, recuperado o esfrico, concatenarmos um contragolpe agudo, com parcimnia de meios e extrema objetividade, valendo-nos na desestruturao momentnea do sistema oposto, surpreendido pela reversoinesperada do fluxo da ao. _Ahn? _ pra dividir no meio e ir pra cima pra pega eles sem cala. _Certo. Voc quis dizer mais alguma coisa? _Posso dirigir uma mensagem de carter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsvel e piegas, a uma pessoa qual sou ligado por razes, inclusive, genticas? _Pode. _Uma saudao para a minha progenitora. _Como ? _Al, mame! _Estou vendo que voc um, um... _Um jogador que confunde o entrevistador, pois no corresponde expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expresso e assim sabota a estereotipao? _Estereoqu? _Um chato? _Isso. (Luis Fernando Verssimo)

A comunicao perfeita: todos os signos emitidos por E so compreendidos por R (o inverso no verdadeiro, mas estamosconsiderando um caso de uma comunicao unidirecional: ver mais abaixo.) No basta, no entanto, que o cdigo seja comum para que se realize uma comunicao perfeita; por exemplo, dois brasileiros no possuem necessariamente a mesma riqueza de vocabulrio, nem o mesmo domnio sintaxe. Finalmente, deve ser observado que certos tipos de comunicao podem recorrer simultaneamente utilizao de vrios canais de comunicao e de vrios cdigos (exemplo: o cinema). f) O referente constitudo pelo contexto, pela situao e pelos objetos reais aos quais a mensagem remete. H dois tipos de referentes: constitudo pelos Referente situacional: elementos da situao do emissor e do receptor e pelas circunstncias de transmisso da mensagem. Assim que quando uma professora d a seguinte ordem seus alunos: coloquem o lpis sobre a carteira, sua mensagem remete a uma situao espacial, temporal e a objetos reais. Referente textual: constitudo pelos elementos do contexto lingstico. Assim, num romance, todos os referentes so textuais, pois o destinador (o romancista) no faz aluso salvo raras excees - sua situao no momento da produo (da escrita) do romance, nem a do destinatrio (seu futuro leitor). Os elementos de sua mensagem remetem a outros elementos do romance, definidos no seu prprio interior. Da mesma forma, comentando sobre nossas recentes frias na praia, num bate-papo com os amigos, no remetemos, com a palavrapraia ou com a palavra areia, as realidades presentes no momento da comunicao.

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A primeira gramtica da lngua portuguesa foi publicada em Portugal, no ano de 1536. Reflexo do momento histrico - a Europa vivia o auge do movimento renascentista -, apresentava um conceito clssico de gramtica: a arte de falar e escrever corretamente. Em outras palavras: s falava e escrevia bem quem seguisse o padro imposto pela gramtica normativa, o chamado nvel ou padro formal culto. Quem fugisse desse padro incorria em erro, no importando o que, para quem e para que se estava falando. Qualquer que fosse o interlocutor, o assunto, a situao, a inteno do falante, era o padro formal culto que deveria ser seguido. Hoje, entende-se que o uso que cada indivduo faz da lngua depende de vrias circunstncias: do que vai ser falado e de que forma, do contexto, do nvel social e cultural de quem fala e de para quem se est falando. Isso significa que a linguagem do texto deve ser adequada situao, ao interlocutor e a intencionalidade do falante. Voltemos ao texto acima (A, galera). As falas do jogador de futebol so inadequadas ao contexto: a seleo vocabular, a combinao das palavras, a estrutura sinttica e a frase extensa (releia, por exemplo, a terceira resposta do jogador, num nico longo perodo) fogem da situao a que a fala est relacionada, ou seja, uma entrevista dada ainda no campo de jogo durante um programa esportivo. E o mais curioso que o jogador tem ntida conscincia de qual a funo da linguagem e de qual o seu papel como falante, tanto que, ante a surpresa do entrevistador, passa do padro formal culto para o padro coloquial, mais adequado quela situao: _Uma saudao para a minha progenitora. Traduo, em linguagem coloquial: _Al, mame! Assim, podemos reconhecer em uma mesma comunidade que utiliza um nico cdigo a lngua portuguesa, por exemplo vrios nveis e formas de expresso. Padro Formal Culto e Padro Coloquial De maneira geral, podemos distinguir o padro coloquial do padro formal culto. Padro Formal Culto a modalidade de linguagem que deve ser utilizada em situaes que exigem maior formalidade , sempre tendo em conta o contexto e o interlocutor. Caracteriza-se pela seleo e combinao das palavras, pela adequao a um conjunto de normas, entre elas, a concordncia, a regncia, a pontuao, o emprego correto das palavras quanto ao significado, a organizao das oraes e dos perodos, as relaes entre termos, oraes, perodos e pargrafos.

Padro Coloquial faz referncia utilizao da linguagem em contextos informais, ntimos e familiares, que permitem maior liberdade de expresso. Esse padro mais informal tambm encontrado em propagandas, programas de televiso ou de rdio, etc. 3. Funes da Linguagem As funes da linguagem so seis: a) Funo referencial ou denotativa; b) Funo emotiva ou expressiva; c) Funo Ftica; d) Funo conativa ou apelativa; e) Funo metalingstica; f) Funo potica, Leia os textos a seguir: Texto A A ndia Everon, da tribo Caiabi, que deu a luz a trs meninas, atravs de uma operao cesariana, vai ter alta depois de amanh, aps ter permanecido no Hospital Base de Braslia desde o dia 16 de maro. No incio, os ndios da tribo foram contrrios idia de Everon ir para o hospital mas hoje j aceitam o fato e muitos j foram visit-la. Everon no falava uma palavra de Portugus at ser internada e as meninas sero chamadas de Luana, Uiara e Potiara. Jornal da Tarde, 13 jul. 1982 Texto B Uma morena No ofereo perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as pginas de um livro, sou definida e clara como o jarro com a bacia de gata no canto do quarto se tomada com cuidado, verto gua limpa sobre as mos para que se possa refrescar o rosto mas, se tocada por dedos bruscos, num segundo me estilhao em cacos, me esfarelo em poeira dourada. Tenho pensado se no guardarei indisfarveis remendos das muitas quedas, dos muitos toques, embora sempre os tenha evitado aprendi que minhas delicadezas nem sempre so suficientes para despertar a suavidade alheia, mesmo assim insisto: meus gestos, minhas palavras so magrinhos como eu, e to morenos, que esboados a sombra, mal se destacam do escuro, quase imperceptvel me movo, meus passos so inaudveis feito pisasse sempre sobre tapetes, impressentida, mos to leves que uma carcia minha, se porventura a fizesse, seria mais branda que a brisa da tardezinha. Para beber, alem do ch, raramente admito um clice de vinho branco, mas que seja seco para no esbrasear em excesso minha garganta em ardores...

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ABREU, Caio Fernando. Fotografias. In: Morangos mofados. 2. ed. So Paulo, Brasiliense, 1982. p. 93 Texto C _ Voc acha justo que se comemore o Dia Internacional da mulher? _ Nada mais justo! Afinal de contas, voc est entendendo, a mulher h sculos, certo, vem sendo vtima de explorao e discriminao, concorda? J houve alguns avanos, sabe, nas conquistas femininas. Voc percebeu? Apesar disso, ainda hoje a situao da mulher continua desfavorvel em relao do homem, entende? Texto D Mulher, use o sabonete X. No dispense X: ele a tornar to bela quanto estrelas de cinema. Texto E

A Funo Referencial ou denotativa No texto A, a finalidade apenas informar o receptor sobre um fato ocorrido. A linguagem objetiva, no admitindo mais de uma interpretao. Quando isso acontece, predomina a funo referencial ou denotativa da linguagem. Funo referencial ou denotativa aquela que traduz objetivamente a realidade exterior ao emissor. B Funo emotiva ou expressiva No texto B, descrevem-se as sensaes da mulher, que faz uma descrio subjetiva de si mesmo. Nesse caso, em que o emissor exterioriza seu estado psquico, predomina a funo emotiva da linguagem, tambm chamada de funo expressiva. Funo emotiva ou expressiva aquela que traduz opinies e emoes do emissor. C Funo Ftica

Mulher. [Do lat. Muliere.] S. f. 1. Pessoa do sexo feminino aps a puberdade. [Aum.: mulhero, mulheraa, mulherona.] 2. Esposa. Texto F A mulher que passa Meu Deus, eu quero a mulher que passa. Seu dorso frio um campo de lrios Tem sete cores nos seus cabelos Sete esperanas na boca fresca! Oh! Como s linda, mulher que passas Que me sacia e suplicias Dentro das noites, dentro dos dias! Teus sentimentos, so poesia. Teus sofrimentos, melancolia. Teus plos leves so relva boa Fresca e macia. Teus belos braos so cisnes mansos Longe das vozes da ventania. Meu Deus, eu quero a mulher que passa! MORAIS, Vincius de. A mulher que passa. In:____. Antologia potica. 4. ed. Rio de Janeiro, Ed. Do autor, 1960. p.90. Todos os textos lidos, o tema um s: mulher. No entanto, a maneira de cada autor varia. O que provoca essa diversificao o objetivo de cada emissor, que organiza sua mensagem utilizando uma fala especfica. Portanto, cada mensagem tem uma funo predominante, de acordo com o objetivo do emissor.

No texto C, o emissor utiliza expresses que tentam prolongar o contato com o receptor, testando freqentemente o canal Neste caso, predomina a funo ftica da linguagem. Funo ftica aquela que tem por objetivo iniciar, prolongar ou encerrar o contato com o receptor.