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As questões de 21 a 27 referem-se aos dois textos seguintes. TEXTO 1 Ilusão Universitária 1 5 10 15 20 25 30 35 40 Houve um tempo em que, ao ser ad- mitido numa faculdade de direito, um jovem via seu futuro praticamente asse- gurado, como advogado, juiz ou promo- tor público. A situação, como se sabe, é hoje bastante diversa. Mudaram a uni- versidade, o mercado de trabalho e os estudantes, muitos dos quais inadverti- damente compram a ilusão de que o di- ploma é condição necessária e suficiente para o sucesso profissional. A proliferação dos cursos universi- tários nos anos 90 e 2000 é a um só tempo sintoma e causa dessas mudan- ças. Um mercado de trabalho cada vez mais exigente passou a cobrar maior titulação dos jovens profissionais. Com isso, aumentou a oferta de cursos e caiu a qualidade. O fenômeno da multiplicação das fa- culdades e do declínio da qualidade aca- dêmica foi especialmente intenso no cam- po do direito. Trata-se, afinal, de uma carreira de prestígio, cujo ensino é barato. Não exige muito mais do que o professor, livros, uma lousa e o cilindro de giz. Existem hoje 762 cursos jurídicos no país. Em 1993, eles eram 183. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) acaba de divulgar a lista das faculdades reco- mendadas. Das 215 avaliadas, apenas 60 (28%) receberam o “nihil obstat”. A Ordem levou em conta conceitos do pro- vão e os resultados do seu próprio exa- me de credenciamento de bacharéis. A verdade é que nenhum país do mundo é constituído apenas por advo- gados, médicos e engenheiros. Apenas uma elite chega a formar-se nesses cur- sos. No Brasil, contudo, criou-se a ilu- são de que a faculdade abre todas as portas. Assim, alunos sem qualificação 45 50 acadêmica para seguir essas carreiras pa- gam para obter diplomas que não lhes se- rão de grande valia. É mais sensato limi- tar os cursos e zelar por sua excelência, evitando paliativos como o exame da Ordem, que é hoje absolutamente neces- sário para proteger o cidadão de advoga- dos incompetentes – o que só confirma as graves deficiências do sistema educacio- nal. (Folha de S. Paulo, 29/01/2004) TEXTO 2 A Universidade é só o começo 1 5 10 15 20 25 30 Na última década, a universidade viveu uma espécie de milagre da multiplicação dos diplomas. O número de graduados cresceu de 225 mil no final dos anos 80 para 325 mil no levantamento mais recen- te do Ministério da Educação em 2000. A entrada no mercado de trabalho des- se contingente, porém, não vem sendo propriamente triunfal como uma festa de formatura. Engenheiros e educadores, professores e administradores, escritores e sobretudo empresários têm sussurrado uma frase nos ouvidos dessas centenas de milhares de novos graduados: “O di- ploma está nu”. Passaporte tranqüilo para o emprego na década de 80, o certificado superior vem sendo exigido com cada vez mais vistos. Considerado um dos principais pensa- dores da educação no país, o economista Cláudio de Moura Castro sintetiza a re- lação atual do diploma com o mercado de trabalho em uma frase: “Ele é necessá- rio, mas não suficiente”. O raciocínio é simples. Com o aumento do número de graduados no mercado, quem não tem um certificado já começa em desvanta- gem. Conselheiro-chefe de educação do Ban- co Interamericano de Desenvolvimento Português ETAPA

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As questões de 21 a 27 referem-se aosdois textos seguintes.

TEXTO 1Ilusão Universitária

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Houve um tempo em que, ao ser ad-mitido numa faculdade de direito, umjovem via seu futuro praticamente asse-gurado, como advogado, juiz ou promo-tor público. A situação, como se sabe, éhoje bastante diversa. Mudaram a uni-versidade, o mercado de trabalho e osestudantes, muitos dos quais inadverti-damente compram a ilusão de que o di-ploma é condição necessária e suficientepara o sucesso profissional.

A proliferação dos cursos universi-tários nos anos 90 e 2000 é a um sótempo sintoma e causa dessas mudan-ças. Um mercado de trabalho cada vezmais exigente passou a cobrar maiortitulação dos jovens profissionais. Comisso, aumentou a oferta de cursos ecaiu a qualidade.

O fenômeno da multiplicação das fa-culdades e do declínio da qualidade aca-dêmica foi especialmente intenso no cam-po do direito. Trata-se, afinal, de umacarreira de prestígio, cujo ensino é barato.Não exige muito mais do que o professor,livros, uma lousa e o cilindro de giz.

Existem hoje 762 cursos jurídicos nopaís. Em 1993, eles eram 183. A OAB(Ordem dos Advogados do Brasil) acabade divulgar a lista das faculdades reco-mendadas. Das 215 avaliadas, apenas60 (28%) receberam o “nihil obstat”. AOrdem levou em conta conceitos do pro-vão e os resultados do seu próprio exa-me de credenciamento de bacharéis.

A verdade é que nenhum país domundo é constituído apenas por advo-gados, médicos e engenheiros. Apenasuma elite chega a formar-se nesses cur-sos. No Brasil, contudo, criou-se a ilu-são de que a faculdade abre todas asportas. Assim, alunos sem qualificação

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acadêmica para seguir essas carreiras pa-gam para obter diplomas que não lhes se-rão de grande valia. É mais sensato limi-tar os cursos e zelar por sua excelência,evitando paliativos como o exame daOrdem, que é hoje absolutamente neces-sário para proteger o cidadão de advoga-dos incompetentes – o que só confirma asgraves deficiências do sistema educacio-nal.

(Folha de S. Paulo, 29/01/2004)

TEXTO 2

A Universidade é só o começo

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Na última década, a universidade viveuuma espécie de milagre da multiplicaçãodos diplomas. O número de graduadoscresceu de 225 mil no final dos anos 80para 325 mil no levantamento mais recen-te do Ministério da Educação em 2000.

A entrada no mercado de trabalho des-se contingente, porém, não vem sendopropriamente triunfal como uma festa deformatura. Engenheiros e educadores,professores e administradores, escritorese sobretudo empresários têm sussurradouma frase nos ouvidos dessas centenasde milhares de novos graduados: “O di-ploma está nu”.

Passaporte tranqüilo para o emprego nadécada de 80, o certificado superior vemsendo exigido com cada vez mais vistos.

Considerado um dos principais pensa-dores da educação no país, o economistaCláudio de Moura Castro sintetiza a re-lação atual do diploma com o mercado detrabalho em uma frase: “Ele é necessá-rio, mas não suficiente”. O raciocínio ésimples. Com o aumento do número degraduados no mercado, quem não temum certificado já começa em desvanta-gem.

Conselheiro-chefe de educação do Ban-co Interamericano de Desenvolvimento

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durante anos, ele compara o sem-diplo-ma a alguém “em um mato sem cachorrono qual os outros usam armas automáti-cas e você um tacape”. Por outro lado, oeconomista-educador diz que ter um fu-zil, seja lá qual for, não garante tantavantagem assim nessa floresta.

Para Robert Wong, o diagnóstico ésemelhante. Só muda a metáfora. Princi-pal executivo na América do Sul daKorn/Ferry International, maior empre-sa de recrutamento de altos executivosdo mundo, ele equipara a formação aca-dêmica com a potência do motor de umcarro.

Equilibrados demais acessórios, igua-lado o preço, o motor pode desempatar aescolha do consumidor. “Tudo sendoigual, a escolaridade faz a diferença.”

Mas assim como Moura Castro, ohead hunter defende a idéia de que ummotor turbinado não abre automatica-mente as portas do mercado. Wong contaque no mesmo dia da entrevista à Folha[Jornal Folha de S. Paulo] trabalhava naseleção de um executivo para uma multi-nacional na qual um dos principais candi-datos não tinha experiência acadêmica.“É um self-made man.”

Brasileiro nascido na China, Wongobserva que é em países como esses, cha-mados – “em desenvolvimento”, que exis-tem mais condições hoje para o sucessode profissionais como esses, de perfil em-preendedor. (...)(Cassiano Elek Machado. A universidade é só

o começo. Folha de S. Paulo, 27/07/2002.Disponível na Internet:

http://wwwl.folha.uol.com.br/folha/sinapse.Data de acesso: 24/08/2004)

Assinale a opção que não pode ser inferidado Texto 1.a) Um mercado de trabalho mais exigente écausa direta da multiplicação de cursos uni-versitários e causa indireta da queda da qua-lidade desses cursos.b) O baixo custo de um curso de direito aliadoà valorização social do profissional que nele

se forma é fator determinante na proliferaçãodesse tipo de curso.c) A elite que deveria chegar a se formar emcursos de direito, medicina e engenharia deveser recrutada nas camadas sociais mais privi-legiadas economicamente.d) É necessário que os cursos universitáriossejam seletivos para garantir a qualidade naformação profissional.e) O exame da OAB só se justifica pela baixaqualidade do ensino proporcionado pela gran-de maioria dos cursos de direito.

alternativa C

"A verdade é que nenhum país do mundo é cons-tituído apenas por advogados, médicos e enge-nheiros. Apenas uma elite chega a formar-se nes-ses cursos." A elite a que se refere o texto (umaelite) não é, necessariamente, a citada na alterna-tiva (a elite).

Assinale a opção que não traduz umainterpretação condizente com os valores dosadvérbios terminados em mente.a) A admissão no curso de direito quase garan-tia uma carreira futura, como advogado, juizou promotor público. (Texto 1, linha 3)b) Muitos estudantes não estão advertidosquanto à ilusão de que o diploma é a chave dosucesso profissional. (Texto 1, linhas 8 e 9)c) De todos os cursos superiores, os cursos dedireito foram os que mais se multiplicaramnos últimos anos. (Texto 1, linha 22)d) Não há dúvida de que o exame da OAB deveser mantido nos dias atuais. (Texto 1, linha 48)e) A entrada dos graduados no mercado detrabalho não pode ser considerada, nos últimosanos, uma grande vitória. (Texto 2, linha 9)

alternativa C

O advérbio especialmente particulariza e destacaos cursos de Direito dos outros que também pas-saram pelo fenômeno da multiplicação. Não impli-ca, necessariamente, que foram os que maiscresceram.

Segundo o autor do Texto 1, alguns estudan-tes pensam que o diploma é condição necessá-

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Questão 21

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ria e suficiente para o sucesso profissional. JáCláudio de Moura Castro, no Texto 2, afirmaque ele é necessário mas não suficiente. Assi-nale a opção que confirma a idéia de que o di-ploma é necessário mas não suficiente.a) um motor turbinado não abre automatica-mente as portas do mercado.b) quem não tem um certificado já começa emdesvantagem.c) a universidade viveu uma espécie de mila-gre da multiplicação dos diplomas.d) o motor pode desempatar a escolha do con-sumidor.e) os outros usam armas automáticas e vocêum tacape.

alternativa B

A alternativa correta é a B, pois afirmar "quemnão tem um certificado já começa em desvanta-gem" implica duas coisas:1) a idéia de que o certificado não é suficiente,pois, para dizer que só o certificado já basta, afrase seria bem diferente: "quem tem certificado jácomeça com vantagem";2) a idéia de que o certificado é necessário, poisnão tê-lo traz desvantagem no mercado de traba-lho.Pode-se ver isso também de um modo mais for-mal.A sentença da alternativa B equivale a: "Se al-guém não tem certificado, então já começa emdesvantagem". Isso é equivalente a: "Se alguémcomeça com vantagem, então tem certificado".Nessa sentença, "tem certificado" é condição ne-cessária para "alguém começa com vantagem",mas não é suficiente.

Em relação ao Texto 2, aponte a opçãocorreta.a) Dizer “o diploma está nu” pode significarque é uma ilusão ver o diploma universitáriocomo uma efetiva garantia de emprego.b) Anteriormente à década de 80, a relação dodiploma com o mercado de trabalho não eranem necessária nem suficiente.c) Um self-made man é a prova de que definiti-vamente o diploma universitário deixou de serimportante em países em desenvolvimento.d) Nos países desenvolvidos, para se conse-guir um emprego, ter um diploma é mais im-portante que ter um perfil empreendedor.

e) O “milagre da multiplicação dos diplomas”acabou por desvalorizar completamente aformação universitária.

alternativa A

Correção das demais alternativas:� Alternativa B, o texto diz:"Passaporte tranqüilo para o emprego na décadade 80, o certificado superior vem sendo exigidocom cada vez mais vistos".� Alternativas C e D:O texto diz apenas que os países chamados "emdesenvolvimento" possibilitam mais condiçõespara os profissionais de perfil empreendedor(self-made man).� Alternativa E:O texto não afirma que "o milagre da multiplicaçãodos diplomas" afetou "completamente" a forma-ção universitária.

No texto 2, os especialistas que expressamsuas opiniões usam de algumas metáforas.Assinale a opção em que o termo metafóriconão corresponde ao elemento que ele substi-tui.a) tacape / diploma universitáriob) fuzil / diploma universitárioc) floresta / mercado de trabalhod) potência do motor / diploma universitárioe) carro / candidato a um emprego

alternativa A

No texto, "tacape" é metáfora do "sem-diploma",daquele que não evoluiu e ficou num estágio ain-da primitivo. "... ele compara o sem-diploma a al-guém 'em um mato sem cachorro no qual os ou-tros usam armas automáticas e você um tacape'."

Assinale a opção em que a expressão com opronome demonstrativo exige que sejam con-sideradas informações anteriores e posterio-res para ser interpretada.a) esses cursos (Texto 1, linhas 39 e 40).b) essas carreiras (Texto 1, linha 43).c) essas centenas de milhares de novos gra-duados (Texto 2, linhas 13 e 14).d) esse contingente (Texto 2, linhas 7 e 8).e) profissionais como esses (Texto 2, linha 64).

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Questão 25

Questão 26

Questão 24

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alternativa E

"esses": apresenta valores anafóricos e catafóri-cos pois retoma o termo "profissionais" (como"self-made man") e também se refere a “perfil em-preendedor”, respectivamente.

Nos trechos abaixo, a segunda frase especifi-ca o conteúdo da primeira, sem acrescentar aela nova informação.I. A situação, como se sabe, é hoje bastantediversa. Mudaram a universidade, o mercadode trabalho e os estudantes.II. Trata-se, afinal, de uma carreira de pres-tígio, cujo ensino é barato. Não exige muitomais do que o professor, livros, uma lousa e ocilindro de giz.III. (...) o head hunter defende a idéia de queum motor turbinado não abre automaticamen-te as portas do mercado. Wong conta que (...)trabalhava na seleção de um executivo parauma multinacional na qual um dos principaiscandidatos não tinha experiência acadêmica.IV. Equilibrados demais acessórios, igualadoo preço, o motor pode desempatar a escolhado consumidor. “Tudo sendo igual, a escolari-dade faz a diferença.”Então, está(ão) correta(s):a) I e II.b) I e III.c) II e IV.d) apenas III.e) apenas IV.

alternativa E

São informações acrescentadas à idéia anterior-mente colocada:I. universidade, mercado de trabalho e estudantes;II. professor, livros, lousa e cilindro de giz;III. seleção de um executivo...O único item em que não ocorre qualquer acrésci-mo de informação é o IV, pois a segunda parte sin-tetiza e repete o que anteriormente fora enunciado.

Na tirinha de Caco Galhardo, a palavra “sen-tido” assume duas acepções.

Das frases abaixo, indique a opção em que apalavra “sentido” tem o mesmo significadoque tem na fala do soldado.a) Sentido com o que lhe fizeram, não os pro-curou mais.b) Sua decisão apressada não revela muitosentido.c) Ninguém compreendeu o sentido de suaatitude.d) O caminho bifurca-se em dois sentidos.e) Muitos escritores buscam o sentido das coisas.

alternativa E

Na voz de comando, "sentido!" é uma interjeiçãousada para chamar a atenção da tropa. Já na falado soldado, trata-se de um substantivo abstrato, ea interrogação "sentido do que" (sic) aponta paraa necessidade de esclarecer o seu significado.Em A, sentido é adjetivo, significando cheio demágoa, magoado.Em D, a palavra significa direção, rumo. Em ne-nhum desses casos a palavra exige a pergunta"sentido de quê?".Em B e C, a palavra refere-se a situações particula-res (atitudes, decisão) em que não há propósito oubom senso. Já em E, a palavra refere-se à existência– o sentido das coisas: isto é, o significado da vida.Jean Paul Sartre (o soldado da tirinha) foi o filóso-fo central do Existencialismo, uma filosofia quedominou a cena européia no período de en-treguerras e que discutiu amplamente o sentidoou sem-sentido da existência. Assim, quando Sar-tre pergunta "Sentido do quê, senhor?" *, ele estáse referindo a essa questão crucial do "sentidodas coisas", ou seja, da existência.(*) O que foi corrigido nessa parte da resposta.

O projeto Montanha Limpa, desenvolvidodesde 1992, por meio da parceria entre oParque Nacional de Itatiaia e a DuPont,visa amenizar os problemas causados pelapoluição em forma de lixo deixado por visi-tantes desatentos.

(Folheto do Projeto Montanha Limpa do ParqueNacional de Itatiaia).

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Questão 29

Questão 28

Questão 27

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A preposição que indica que o Projeto Monta-nha Limpa continua até a publicação do Fo-lheto éa) entre. b) por (por visitantes). c) em.d) por (pela poluição). e) desde.

alternativa E

A preposição desde indica um movimento ou ex-tensão a partir de um momento determinado.Assim, "desenvolvido desde 1992" indica que oProjeto Montanha Limpa teve início no referidoano e continua existindo até a publicação do fo-lheto.

As questões 30 e 43 (questão dissertativa)referem-se ao texto abaixo

Ao Teatro o que é do teatroINÁCIO ARAÚJO....................................Crítico da FOLHA

Não há melhor maneira de filmar o tea-tro do que teatralmente. A expressão “teatrofilmado” raramente faz sentido, e nós aquino Brasil só teríamos a ganhar no dia emque pudéssemos assistir ao filme de “O Reida Vela” do Oficina – que por alguma razãoinfeliz nunca passa.

Kenneth Branagh evitou o teatro filma-do em “Henrique V” (Eurochannel, 0h) [ca-nal de TV por assinatura], ganhou o direitoa concorrer ao Oscar e ficou famoso. Mas,passadas as festas, temos um resultadopara lá de duvidoso.

Onde faz sentido a conclamação do reiHenrique a seus soldados a não ser no teatro?E por que “cinematografizar” a coisa se Jo-seph Mankiewicz, por exemplo, que era umcineasta, ao filmar “Júlio César”, optou pordeixar clara a origem teatral de seu filme?

(Folha de S. Paulo, 11/5/04)

Considerando o texto anterior, assinale a op-ção correta.a) O título já evidencia a tese do autor: não sedeve filmar peça teatral.b) As falas dos personagens em peças de tea-tro não fazem sentido se filmadas.

c) Uma peça teatral pode ser filmada se,como faz Mankiewicz, sua origem for indica-da na apresentação do filme.d) “Henrique V” só concorreu ao Oscar porqueignorou a natureza teatral da obra original.e) “O Rei da Vela”, na sua versão cinemato-gráfica, é um exemplo de teatro filmado.

alternativa E

"... e nós aqui no Brasil só teríamos a ganhar nodia em que pudéssemos assistir ao filme de ‘ORei da Vela’ do Oficina – que por alguma razão in-feliz nunca passa." A “versão cinematográfica” re-fere-se à peça de Oswald de Andrade, encenadano Teatro Oficina por José Celso Martinez Corrêa.A expressão não é adequada, embora seja essa aalternativa mais próxima do texto.

Das opções abaixo, cujos textos foramextraídos do Manual do Proprietário de umcarro, a única alternativa que não apresentainadequação quanto à construção ou aoemprego de palavra éa) Se o veículo costuma permanecer imobili-zado por mais de duas semanas ou se é utili-zado em pequenos percursos, com freqüêncianão diária (...) adicione um frasco de aditivo.b) Algumas [instruções], todavia, merecematenção especial, em virtude das graves conse-qüências que sua não observância pode repre-sentar para a integridade física dos ocupantese para o funcionamento do veículo.c) Ao calibrar os pneus, não se esqueça deexaminar também o de reserva. Veja instru-ções na Seção 7, sob Pneus.d) Somente se a utilização do veículo ocorreressencialmente nas rodovias asfaltadas namaior parte do tempo é que se pode procederà troca de óleo a cada 6 meses ou 10.000 km,o que primeiro ocorrer.e) O uso dos cintos de segurança devetambém ser rigorosamente observado emveículos equipados com sistema “Air bag”,que atua como complemento a este sistema.

alternativa C

Vejamos cada alternativa:a) Apresenta um claro problema de construção,pois a frase "com freqüência não-diária" está an-tecipada e deve vir entre vírgulas.

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Questão 30

Questão 31

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b) O verbo representar foi inadequadamente em-pregado, pois ele não possui o sentido de acarre-tar ou ter como conseqüência.d) "essencialmente" e "na maior parte do tempo"tornam a construção pleonástica.Na alternativa C, o uso da palavra Pneus commaiúscula indica tratar-se de um título de seção:assim, é correto se falar "sob (o título) Pneus".

(...) defendemos a adoção de normas e o investi-mento na formação de brinquedistas*, pessoasbem mais preparadas para a função do que es-tagiários que têm jeito e paciência para cuidarde crianças. (Veja–SP, 13/08/2003)*brinquedistas – neologismo, que designa as pessoasque brincam com as crianças em creches, escolas ebrinquedotecas.

A ambigüidade desse texto deve-se

a) às expressões de comparação “bem mais” /“do que”.b) à ausência de flexão do pronome relativo“que” em “que tem jeito”.c) à distinção das funções sintáticas de “brin-quedistas” e de “estagiários”.d) à ausência de vírgula após a palavra “esta-giários”.e) à ordem dos termos.

alternativa E

A oração adjetiva "que têm jeito e paciência..."pode referir-se tanto a estagiários como a brin-quedistas. Para desfazer a ambigüidade é neces-sário deslocar a oração para perto de “brinquedis-tas”, fazendo com que a oração adjetiva restrinjaexclusivamente esse termo.

O emprego de “o mesmo”, comumentecriticado por gramáticos, é usado, muitasvezes, para evitar repetição de palavras ouambigüidade. Aponte a opção em que o usode “o mesmo” não assegura clareza namensagem.a) Esta agência possui cofre com fechaduraeletrônica de retardo, não permitindo a aber-tura do mesmo fora dos horários programa-dos. (Cartaz em uma agência dos Correios)

b) A reunião da Associação será na próximasemana. Peço a todos que confirmem a parti-cipação na mesma. (Mensagem, enviada pore-mail, para chamada dos associados parauma reunião)c) Antes de entrar no elevador, verifique se omesmo se encontra parado neste andar. (Lei9.502)d) Após o preenchimento do questionáriopara levantamento de necessidade de treina-mento, solicito a devolução do mesmo a esteSetor. (Ofício de uma instituição pública)e) A grama é colhida, empilhada e carregadasem contato manual, portanto a manipulaçãofica restrita à descarga do caminhãomanualmente ao lado do mesmo. (Folheto deinstruções para plantio de grama na forma detapete de grama)

alternativa B

Na alternativa B, "mesma" pode se referir à confir-mação da reunião que tanto pode ser diretamentena Associação quanto por qualquer outro meionão mencionado – e-mail, carta, telefone, etc.

Considere o uso do particípio nas frasesabaixo, extraídas do Texto 2:I. Considerado um dos principais pensadores daeducação no país, o economista Cláudio de Mou-ra Castro sintetiza a relação atual do diplomacom o mercado de trabalho em uma frase (...).II. Equilibrados demais acessórios, igualado opreço, o motor pode desempatar a escolha doconsumidor.III. Brasileiro nascido na China, Wong obser-va que é em países como esses (...).

Considere ainda a seguinte regra gramatical:

“[...] a oração de particípio tem sujeito dife-rente do sujeito da oração principal e estabe-lece, para com esta, uma relação de anteriori-dade.” (Cunha, C.; Cintra, L. Nova gramáticado português contemporâneo. Rio de Janeiro:Nova Fronteira, 1985:484)Esta regra se aplicaa) apenas a I. b) a I e II. c) a I e III.d) apenas a II. e) a II e III.

alternativa D

A única frase em que o particípio possui sujeito di-ferente do sujeito da oração principal é a II.

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Questão 34

Questão 33

Questão 32

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Sujeito de "equilibrados" demais acessórios.Sujeito da oração principal o motor.

Inspirados no texto Reino Unido pode taxarfast food contra obesidade (referente à ques-tão 45), poderíamos construir as manchetesabaixo. Aponte a opção em que a mancheteexpressa uma relação causal entre os elemen-tos envolvidos. Tenha em mente que nem to-das as cinco manchetes refletem a idéia cen-tral do texto.a) Governo combate a obesidadeb) Governo financia instalações esportivasc) Governo cobra taxas de empresas de fastfoodd) Obesidade provoca mortee) Obesidade cresce 400% em 25 anos

alternativa D

A relação de causa e efeito se dá em: obesidade(causa) – morte (conseqüência).

O romance Senhora (1875) é uma das obrasmais representativas da ficção de José deAlencar. Nesse livro, encontramos a formula-ção do ideal do amor romântico: o amor ver-dadeiro e absoluto, quando pode se realizar,leva ao casamento feliz e indissolúvel. Isso seconfirma, nessa obra, pelo fato dea) o par romântico central – Aurélia e Seixas– se casar no início do romance, pois se apai-xonam assim que se conhecem.b) o amor de Aurélia e Seixas surgir imedia-tamente no primeiro encontro e permanecerintenso até o fim do livro, quando o casal seune efetivamente.c) o casal Aurélia e Seixas precisar vencer ospreconceitos sócio-econômicos para se casar,pois ela é pobre e ele é rico.d) a união efetiva só se realizar no final daobra, após a recuperação moral de Seixas,que o torna digno do amor de Aurélia.e) o enriquecimento repentino de Aurélia pos-sibilitar que ela se case com Seixas, fatos quesão expostos logo no início do livro.

alternativa D

O volume Senhora, de Alencar, realiza várias fa-cetas do cânone romântico. Fernando, em nomeda honra, regenera-se moralmente (devolvendo odinheiro para Aurélia) e, aos olhos da moça, pas-sa de um mero "caça-dotes" a um homem de ca-ráter, digno de seu amor. O livro divide-se em "OPreço", "Quitação", "Posse" e "Resgate", conotan-do uma forte relação comercial, diluída em nomede um sentimento maior e puro: o amor.

Em 1891, Machado de Assis publicou o ro-mance Quincas Borba, no qual um dos temascentrais do Realismo, o triângulo amoroso(formado, a princípio, pelos personagens Pa-lha-Sofia-Rubião), cede lugar a uma equaçãodramática mais complexa e com diversos des-dobramentos. Isso se explica porquea) o que levava Sofia a trair Palha era apenaso interesse na fortuna de Rubião, pois elaamava muito o marido.b) Palha sabia que Sofia era amante de Ru-bião, mas fingia não saber, pois dependia fi-nanceiramente dele.c) Sofia não era amante de Rubião, como pen-sava seu marido, mas sim de Carlos Maria,de quem Palha não tinha suspeita alguma.d) Sofia não era amante de Rubião, mas seinteressou por Carlos Maria, casado com umaprima de Sofia, e este por Sofia.e) Sofia não se envolvia efetivamente comRubião, pois se sentia atraída por Carlos Ma-ria, que a seduziu e depois a rejeitou.

ver comentário

No romance Quincas Borba, tudo se move numaatmosfera de dubiedade, maus pensamentos, in-segurança; tudo é ameaçador e sombrio. Há umverdadeiro jogo de desencontros amorosos: Ru-bião é apaixonado por Sofia, que é casada comPalha, que deseja ver Rubião unido a Maria Bene-dita, que acaba se casando com Carlos Maria, queteve inclinações amorosas por Sofia, que se sentiaatraída por ele. A bela e sábia Sofia, disfarça-se dedengosa e desfrutável com a intenção oculta deenredar Rubião nos interesses comerciais do mari-do, o Palha, cuja avidez nos negócios desmente oindicativo de fragilidade que seu nome sugere.Carlos Maria, para quem Sofia também já se insi-nuara, é um narcisista e, como tal, seu casamento

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Questão 36

Questão 35

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com Maria Benedita é uma relação unilateral: elaama, ele é amado; ela se realiza, ele se entedia.Cabe salientar que a famosa ironia machadianaserve como disfarce, como instrumento retórico eexpressivo que acoberta aquilo que se pretendeexpor. Desse modo, Sofia é uma mulher à beira doadultério, sem, porém, realizá-lo.Os comentários acima invalidam as alternativasA, B, C e E.A única alternativa possível seria a D, mas o fato deo enunciado sugerir que Carlos Maria já era casadocom uma prima de Sofia, o que ocorreu posterior-mente, torna essa alternativa problemática.

O poema a seguir, de autoria de Cecília Mei-reles, faz parte do livro Viagem, de 1939.

Epigrama 11

A ventania misteriosapassou na árvore cor-de-rosa,e sacudiu-a como um véu,um largo véu, na sua mão.

Foram-se os pássaros para o céu.Mas as flores ficaram no chão.

(MEIRELES, Cecília. Viagem/Vaga Música.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.)

Esse poemaI. mostra uma certa herança romântica, tan-to pelo teor sentimental do texto como pelareferência à natureza.II. mostra uma certa herança simbolista, poisnão é um poema centrado no “eu”, nem apre-senta excesso emocional.III. expõe de forma metafórica uma reflexãosobre algumas experiências difíceis da vidahumana.IV. é um poema bastante melancólico por re-gistrar de forma triste o sofrimento decorren-te da perda de um ente querido.

Estão corretas as afirmaçõesa) I e III. b) I, III e IV. c) II e III.d) II, III e IV. e) II e IV.

alternativa A

Trata-se de um texto de nítida feição simbolistapois, altamente conotativo, mais sugere do querevela. Podemos adotar duas linhas interpretati-vas.Numa primeira leitura, associa-se "ventania miste-riosa" ao destino, ao imprevisto e ao imponderá-

vel da existência humana, que, num momento,desestrutura a realidade ou desfaz os sonhos, asilusões (a "árvore cor-de-rosa"); esse momento deperda é metaforicamente descrito como "Fo-ram-se os pássaros para o céu". Portanto, o textofala de desilusão. Dessa forma, o que fica no"chão" (na realidade)? Aquilo que, do que passou,permanece válido, quer seja pela sua pureza oubeleza ou poesia, etc. ("flores"). Como diria CarlosDrummond de Andrade, "De tudo fica um pouco".Numa segunda leitura, também admissível, o tex-to sugere a experiência da morte (a "ventania mis-teriosa"), que traz a dor da perda ("Foram-se ospássaros para o céu"). O uso da conjunção adver-sativa mas, no último verso, indica uma oposiçãoem relação ao verso anterior, criando-se relaçõesantitéticas: partem x ficam; céu x chão: existe per-da, mas algo de bom ("as flores") permanece.Desse modo, independentemente de como ler opoema (desilusão ou morte), este se revela deteor existencial-sentimental, enfatizando a buscado perene para além da efemeridade de tudo.Por fim, o recurso de usar natureza como metáforados sentimentos ou, em sentido mais amplo, de ex-periências vitais, tem raízes na estética romântica.

O livro Claro Enigma, uma das obras maisimportantes de Carlos Drummond de Andra-de, foi editado em 1951 . Desse livro consta opoema a seguir.

MemóriaAmar o perdidodeixa confundidoeste coração.

Nada pode o olvidocontra o sem sentidoapelo do Não.

As coisas tangíveistornam-se insensíveisà palma da mão.

Mas as coisas findas,muito mais que lindas,essas ficarão.

(ANDRADE, Carlos Drummond de.Claro Enigma. Rio de Janeiro:

Record, 1991.)

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Sobre esse texto, é correto dizer quea) a passagem do tempo acaba por apagar damemória praticamente todas as lembrançashumanas; quase nada permanece.b) a memória de cada pessoa é marcada ex-clusivamente por aqueles fatos de grande im-pacto emocional; tudo o mais se perde.c) a passagem do tempo apaga muitas coisas,mas a memória afetiva registra as coisas queemocionalmente têm importância; essas per-manecem.d) a passagem do tempo atinge as lembran-ças humanas da mesma forma que enve-lhece e destrói o mundo material; nadapermanece.e) o homem não tem alternativa contra apassagem do tempo, pois o tempo apagatudo; a memória nada pode; tudo se per-de.

alternativa C

O poema de Drummond sugere que a memória(evocada no título) guarda a carga emocional dascoisas que passaram e essas, sim, são as quetêm valor (“Mas as coisas findas, / muito mais quelindas, / essas ficarão”).

O livro de contos A Guerra Conjugal, deDalton Trevisan, publicado em 1969,reatualiza alguns temas da ficçãorealista-naturalista do século XIX, e registrade forma crua a vida nos grandes centrosurbanos. Nesse sentido, é correto afirmar quenessa obraa) os casais protagonistas, da média e altaburguesia, como nos romances de Machadode Assis, vivem sempre conflitos ligados aoadultério.b) os protagonistas dos contos estão quase sem-pre envolvidos em conflitos conjugais e familia-res, que levam à violência e à perversão.c) a maior parte dos contos retrata dramas decasais massacrados por um cotidiano miserá-vel e por uma vida sem perspectivas.d) quase todos os casais (denominados sem-pre de João e Maria) vivem dramas natura-listas, gerados por taras e perversões sexuais.e) as personagens são de classe média; vivemna periferia de grandes cidades, mergulhadasnuma grande miséria existencial e cultural.

alternativa C

O crítico Mário da Silva Brito, na apresentação dolivro, assim se expressa: "Em Guerra Conjugal(...) Dalton Trevisan conta trinta histórias dedesencontros, desentendimentos, conflitos,dramas, paixões e sofrimentos de trinta casaiscom o mesmo nome de João e Maria – trinta fá-bulas que, no dizer do próprio autor – são 'ba-talhas da Ilíada doméstica', ou como pensa umpersonagem, 'as mil e uma noite de discus-sões, insônias e ranger de dentes'. Povoamesse doloroso e pungente universo, verdadeirocampo de concentração dos desvalidos do amor,maridos traídos, mulheres insatisfeitas, criaturasfrustradas, bêbados e prostitutas, crianças semafeto, ressentidos e machucados seres huma-nos, provindos todos da classe média, da peque-na burguesia degradada e do proletariado semrumo. O cenário é Curitiba, mas uma Curitibauniversalizada, inserida num contexto amplo,que transcende quaisquer limitações geográfi-cas ou de região."

Visto isso, analisemos as alternativas:a) Primeiro erro: a localização das personagens namédia e alta burguesia. O primeiro conto, "O Se-nhor Meu Marido", assim começa: "João era casadocom Maria e moravam em barraco de duas peçasno Juvevê: era rua de lama (...)". Segundo erro: arestrição dos conflitos ao adultério.b) Primeiro erro: os protagonistas não estão"quase sempre" em conflitos conjugais e familia-res – as situações revelam, sempre, de algummodo, uma situação de conflito, que não se limitanecessariamente ao sexo, como por exemplo, noconto "A Náusea do Gordo"; aqui, o conflito ad-vém mais do comportamento geral do persona-gem do que de seu comportamento sexual emparticular.Segundo erro: a afirmação de que esses conflitoslevam à violência e à perversão. No primeiro con-to, o marido traído suporta, por amor, as seguidastraições da esposa.d) A rigor, não se pode afirmar, tachativamente,que os dramas são naturalistas, gerados por tarase perversões sexuais; trata-se, na realidade, dedramas humanos (contextualizados diversas ve-zes nas relações conjugais) que transcendem apura questão sexual, embora esta seja, via de re-gra, um espelho dos desacertos e desencontrosdos personagens.

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e) Primeiro erro: como já vimos, os personagensnão se limitam à classe média.Segundo erro: o ambiente é Curitiba e não "gran-des cidades".Por exclusão, resta a alternativa C. No entanto,pode-se discutir o significado da expressão "coti-diano miserável": o adjetivo tem sentido social ouexistencial? Denotativo ou conotativo? Em geral,os contos revelam um cotidiano destituído degrandeza que parece aprisionar, irremediavel-mente, os personagens em suas teias.

O romance Vidas Secas, de Graciliano Ra-mos, publicado em 1938, é um marco da fic-ção social brasileira, pois registra de formabastante realista a vida miserável de umafamília de retirantes que vive no sertãonordestino. A cachorra Baleia tem um pa-pel especial no livro, pois é sobretudo narelação dos personagens com esse animalque podemos perceber que elas não se de-sumanizam, apesar de suas condições devida. Considerando essa idéia, expliquequal a importância do capítulo “Baleia” noromance.

Resposta

No volume Vidas Secas, o capítulo, "Baleia" temuma significação especial: foi o quadro que deuorigem ao romance. É importante notar que acachorrinha mereceu um capítulo inteiro parasi. Ela é uma personagem não-humana que seantropomorfiza: tem identidade, marcada pelonome próprio; garante a sobrevivência das pes-soas quando fogem (é animal de caça); tem de-sejos e sonhos, "um mundo cheio de preás",etc. As personagens humanas se descaracteri-zam como humanos (zoomorfização), não têmidentidade (por exemplo, Fabiano de quê?);animalizam-se para conseguir forças para en-frentar o meio árido em que vivem. A presençade Baleia (mesmo após a morte dela) não dei-xa os humanos se esquecerem de que são ho-mens, ela é um elo com uma humanidade quese dilui. Cabe ressaltar que há uma ironia nonome dela, uma vez que se trata de um animalpequeno, magro e de um ambiente notadamen-

te seco. Assim, o nome "Baleia" poderia repre-sentar a permanente busca por água.

O poema a seguir faz parte do livro Rosácea(1986), da escritora Orides Fontela. Leia-oatentamente.

Lembretes

É importante acordara tempo

é importante penetraro tempo

é importante vigiaro desabrochar do destino.

(FONTELA, Orides.Trevo (1969-1988). São Paulo:

Duas Cidades, 1988.)

a) Em cada estrofe, a escritora nos lembra dealgo importante acerca da vida humana.Explique a que atitudes, comportamentos oumomentos da existência a escritora se refereem cada uma das três estrofes do poema.b) A seqüência dos “lembretes” torna-se com-plexa ao longo do poema por meio de metáfo-ras cada vez mais abstratas. Aponte qual opossível significado metafórico da expressão“vigiar / o desabrochar do destino”, na últimaestrofe.

Resposta

a) Na primeira estrofe, "acordar a tempo" remete a"despertar para o mundo", o que faz com que te-nhamos uma postura investigativa diante da reali-dade, sendo assim uma metáfora da própria ju-ventude. Na segunda estrofe, a expressão "pene-trar o tempo" equivale a "mergulhar na vida", àprópria vivência desta, e portanto à idade adulta.Por fim, a idéia de "vigiar o desabrochar do desti-no", na última estrofe, propõe uma mudança depostura: devemos passar de sujeitos atuantes aespectadores vigilantes, relacionando-se assim àvelhice, ao cumprimento do destino de todos osseres.b) A expressão "vigiar o desabrochar do destino"pode ter o significado equivalente a "acompanhar

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Questão 42

Questão 41

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conscientemente seu próprio fim", ou seja, à ex-pectativa da morte.

Considere o texto Ao Teatro o que é do teatro,apresentado na questão 30.a) Explique a expressão “faz sentido” nasduas ocorrências:A expressão “teatro filmado” raramente fazsentido, (...)Onde faz sentido a conclamação do rei Henri-que a seus soldados a não ser no teatro?b) No texto, as aspas são usadas cinco vezes,por três diferentes motivos. Transcreva as ex-pressões aspeadas e explique cada um dosmotivos.

Resposta

a) Na primeira ocorrência, "A expressão ‘teatro fil-mado’ raramente faz sentido", o grifo remete o lei-tor ao campo da linguagem, marcando a recusado autor em aceitar semanticamente a expressão.Na segunda ocorrência, "Onde faz sentido a con-clamação do rei...", a expressão indica existir pos-sibilidade, ter lógica, ser cabível.b) Em “teatro filmado”, as aspas são usadas parafazer sobressair uma expressão não peculiar à lin-guagem normal de quem escreve, sugerindo que oautor tem restrições ao uso dessa expressão.Em "O Rei da Vela", "Henrique V", "Júlio César",as aspas marcam a citação do nome de peçasteatrais.Em "cinematografizar", as aspas marcam a cria-ção de uma palavra, um neologismo. O novo ver-bo significa tornar cinema.

Considere o texto a seguir.

a) Identifique a inadequação sintática.

b) Reescreva o texto, eliminando tal inade-quação. Faça as modificações necessárias.

Resposta

a) A inadequação sintática está na falta de parale-lismo do texto, que advém, inclusive, da forma dediagramação. Apontam-se dois casos:1º caso: o verbo fazer, transitivo direto, deveriaser seguido de substantivos, que teriam funçãosintática de objeto direto. Ao introduzir o infinitivo“buzinar”, há uma quebra da seqüência nominal.2º caso: a partir de “não saia das trilhas...” o textoremete somente ao verbo evitar e não mais aevitar fazer, e pede uma seqüência de infinitivos.b) � Reescrevendo o primeiro caso: “evite fazerfogo e fogueiras; barulho e som alto”.� Reescrevendo o segundo caso: “evite buzinar,sair das trilhas ou dos pontos de visitação; pichar,escrever...”.

A manchete abaixo apresenta ambigüidadesintática, que é desfeita pelo conteúdo do tex-to que lhe segue.

Reino Unido pode taxar fast foodcontra obesidade

O Reino Unido estuda cobrar taxa deempresas de fast food para financiar insta-lações esportivas e o combate à obesidade.Segundo um relatório, a obesidade no paíscresceu quase 400% em 25 anos, e, se conti-nuar aumentando, pode superar o cigarrocomo maior causa de mortes prematuras.Governo e empresas locais têm sido critica-dos por não combaterem o problema.

(Folha de S. Paulo, 7/06/2004)

a) Quais as interpretações sugeridas pelamanchete?b) Qual dessas interpretações prevalece nanotícia?

Resposta

a) (1) Governo pode punir os fast foods por provo-car a obesidade.

(2) Governo pode punir os fast foods que se po-sicionam contra a obesidade.b) A primeira interpretação, já que o problema écriar incentivos para combater a obesidade.

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Questão 44

Questão 45

Questão 43

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INSTRUÇÕES PARA REDAÇÃO

Examine os dados contidos nos gráficos e tabela a seguir e, a partir das informações nelescontidas, extraia um tema para sua dissertação que deverá ser em prosa, de aproximadamen-te 25 linhas.Para elaborar sua redação, você deverá se valer, total ou parcialmente, dos dados contidos nosgráficos e tabela. Dê um título ao seu texto. A redação final deve ser feita com caneta azul oupreta.Atenção: A Banca Examinadora aceitará qualquer posicionamento ideológico do candidato.A redação será anulada se não versar sobre o tema ou se não for uma dissertação em prosa.

Os gráficos seguintes, retirados de Folha de S. Paulo de 23/11/1986, são resultados de umapesquisa realizada em novembro do mesmo ano. Nessa pesquisa, foram entrevistadas 900pessoas, distribuídas por todo o município de São Paulo, de ambos os sexos, com dezoito anosou mais e com diferentes níveis de escolaridade e de posições sócio-econômicas.

O(a) Sr(a) concorda ou discorda que existem algumas ocupações profissionais que são pró-prias para as mulheres e outras que são próprias para os homens?(O gráfico a seguir traduz as respostas dos entrevistados.)

De um modo geral, nas seguintes ocupações, o(a) Sr(a) confia mais no trabalho de um ho-mem ou no de uma mulher? Os cinco gráficos abaixo traduzem as respostas dos entrevista-dos.

49% Concorda

Discorda 42%

Concorda/discordaem parte

4%

5%Não sabe

36

54

8

2

Advocacia

62

45 47

Cirurgia

58

23

37

Engenharia

58

64

32

AssistênciaSocial

51

42

52

Ensino

Homem

Mulher

Ambos/Indiferente

Não sabe

TOTAL (%)

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A tabela abaixo, retirada do Boletim DIEESE – Edição Especial, 8/março/2004, mostra a po-pulação economicamente ativa por sexo do Brasil e grandes regiões – 2002.

Brasil egrandes regiões

1992 2002

Mulheres Homens Total Mulheres Homens Total

Centro-Oeste

Nº%

1.872.57138.4

2.998.52261.6

4.871.093100.0

2.537.05240.9

3.665.58859.1

6.202.640100.0

Nordeste Nº%

7.808.28639.7

11.868.41760.3

19.676.703100.0

9.553.83741.1

13.712.00758.9

23.265.844100.0

Norte (1) Nº%

1.101.77938.8

1.739.58861.2

2.841.367100.0

1.884.83441.4

2.671.94758.6

4.556.781100.0

Sudeste Nº%

11.754.50738.8

18.573.74361.2

30.328.250100.0

16.333.65243.2

21.492.85356.8

37.826.505100.0

Sul Nº%

4.947.90441.3

7.044.47258.7

11.992.376100.0

6.221.79343.8

7.982.08256.2

14.203.875100.0

Brasil (1) Nº%

27.482.85139.4

42.222.32460.6

69.705.175100.0

36.531.16842.5

49.524.47757.5

86.055.645100.0

Nota: (1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá.

Comentário

O ITA, com o tema deste ano, propôs aos candidatos que refletissem e escrevessem sobre a(des)igualdade entre homens e mulheres no que diz respeito a ocupações profissionais.Ao levar em consideração as tabelas e gráficos, alguns pontos importantes ficaram evidentes – como aopinião de que existem profissões mais bem exercidas por homens e outras mais bem exercidas pormulheres, ou, então, que, em todas as regiões do Brasil, há o predomínio da mão-de-obra masculina.Os candidatos poderiam, inclusive, fazer alusão ao próprio ITA, uma instituição que, embora admitamulheres em seus cursos desde 1995, sempre foi mais procurado por homens que por mulheres.Bom tema, que exigia leitura e comparação de gráficos e tabelas, uma firme argumentação, qualquerque fosse a opinião do candidato.

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