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POSSO PERGUNTAR? Quando se fala de problemas ambientais, é seguro que todos têm ciência de grande parte deles. Ninguém desconhece que, persistindo a atual situação geral, de deposição irregular dos resíduos humanos, chamados de resíduos sólidos, o planeta vai ficar literalmente atolado em lixo. Da mesma forma, todos sabem que o lixo contamina e polui água, solo e ar. Não é mistério para ninguém que o volume de água doce disponível para consumo está sofrendo redução gradual, cada vez mais acelerada, principalmente pela poluição oriunda dos esgotos domésticos e industriais, pelo uso inconseqüente e pela distribuição irregular, fruto de desmatamentos, queimadas e outras atividades humanas que interferem na qualidade da água e nos regimes dos ventos e chuvas. Quando se fala em aquecimento global, todos são verdadeiros especialistas. Muitos, escorados na ampla divulgação da mídia, sabem qual vai ser o potencial das águas gélidas que se somarão aos oceanos, aumentando-lhes nível e afetando negativamente a atualmente famosa Corrente do Golfo, em razão do derretimento das geleiras da Groelândia. Sabem quantos graus a temperatura vai se elevar nos próximos dez anos, quantos centímetros os oceanos vão subir, qual o aumento da incidência de furacões, tornados e outras tempestades tropicais. O mesmo acontece quanto a outros prejuízos ambientais causados pelas atividades humanas no planeta. Difícil encontrar quem não se diga conhecedor de situações prejudiciais de grande vulto, causadas por atividades como queimadas ou uso descontrolado e excessivo de produtos químicos, papel, água ou energia elétrica. Se alguém perguntar para qualquer estudante, dona de casa, operário ou empresário, servidor público (aqui incluídos os políticos) ou a quem quer que seja quem é o responsável pelos agravos à natureza, a resposta é unânime: o homem, no sentido lato de ser humano. Cada um de nós observa com bastante acuidade a “pegada ecológica” de nosso semelhante. Pegada ecológica, aqui, tem o sentido técnico que lhe é emprestado: a pressão que cada um exerce no ambiente pela sua maneira de viver, produzir e consumir. Mas poucos olham, atrás de si, seu próprio rastro no ambiente.

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POSSO PERGUNTAR?

Quando se fala de problemas ambientais, é seguro que todos têm ciência de grande parte deles. Ninguém desconhece que, persistindo a atual situação geral, de deposição irregular dos resíduos humanos, chamados de resíduos sólidos, o planeta vai ficar literalmente atolado em lixo. Da mesma forma, todos sabem que o lixo contamina e polui água, solo e ar. Não é mistério para ninguém que o volume de água doce disponível para consumo está sofrendo redução gradual, cada vez mais acelerada, principalmente pela poluição oriunda dos esgotos domésticos e industriais, pelo uso inconseqüente e pela distribuição irregular, fruto de desmatamentos, queimadas e outras atividades humanas que interferem na qualidade da água e nos regimes dos ventos e chuvas.

Quando se fala em aquecimento global, todos são verdadeiros especialistas. Muitos, escorados na ampla divulgação da mídia, sabem qual vai ser o potencial das águas gélidas que se somarão aos oceanos, aumentando-lhes nível e afetando negativamente a atualmente famosa Corrente do Golfo, em razão do derretimento das geleiras da Groelândia. Sabem quantos graus a temperatura vai se elevar nos próximos dez anos, quantos centímetros os oceanos vão subir, qual o aumento da incidência de furacões, tornados e outras tempestades tropicais.

O mesmo acontece quanto a outros prejuízos ambientais causados pelas atividades humanas no planeta. Difícil encontrar quem não se diga conhecedor de situações prejudiciais de grande vulto, causadas por atividades como queimadas ou uso descontrolado e excessivo de produtos químicos, papel, água ou energia elétrica.

Se alguém perguntar para qualquer estudante, dona de casa, operário ou empresário, servidor público (aqui incluídos os políticos) ou a quem quer que seja quem é o responsável pelos agravos à natureza, a resposta é unânime: o homem, no sentido lato de ser humano. Cada um de nós observa com bastante acuidade a “pegada ecológica” de nosso semelhante. Pegada ecológica, aqui, tem o sentido técnico que lhe é emprestado: a pressão que cada um exerce no ambiente pela sua maneira de viver, produzir e consumir. Mas poucos olham, atrás de si, seu próprio rastro no ambiente.

Vamos simplificar. Se você tem casa, carro, consumo de classe média, provavelmente para que todos os habitantes do planeta pudessem ter o mesmo padrão de vida que o seu, seria necessária a existência de riquezas equivalentes às disponíveis em dois planetas Terra. Assusta? Mas essa é a realidade. Segundo estudos dos técnicos responsáveis pela avaliação de dados do “peso” ecológico de cada um, um padrão de classe média do cidadão dos EEUU pede a existência de três a quatro planetas Terra de riqueza. A conta é complexa, mas lógica: pega-se o valor somado das riquezas globais disponíveis e disponibilizáveis, dividindo-o pelo número de habitantes. O resultado é a riqueza a que cada um de nós tem direito. Usar mais que isso é ter uma pegada ecológica mais pesada do que o sistema natural pode suportar.

Tire a prova dos nove: veja seu peso ecológico no site www.myfootprint.org. Na página principal, direcione o mouse no mapa do Brasil, clique em português (esse é o idioma escolhido) e faça o teste que se abre a seguir. No final, o site vai certamente acusá-lo de excesso de peso na natureza. Naturalmente, para seguir esses procedimentos ou para ler este artigo você necessita ter computador e ligação com a rede mundial. Só esse privilégio já o posiciona em uma situação ambiental pouco confortável: não dá para toda a população do planeta gozar desses privilégios.

Vamos, então, ligar os elos de nosso raciocínio: conhecemos os problemas ambientais, sabemos que o ser humano é causa de influência negativa e aceleração desses processos de degradação, temos consciência de que somos humanos e que, portanto, degradamos produzindo lixo, gastando água,

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usando combustível fóssil à base de carbono e consumimos excessivamente. Parece lógico concluir-se que se somos a causa de efeitos negativos ao ambiente, basta desacelerar nossa influência prejudicial ao meio que os problemas serão minimizados. Lógico, mas...

Incoerentes. É o que somos: incoerentes. Será que não percebemos e não tivemos nossa consciência desperta para o fato de que se somos o agente prejudicial podemos, por nossa vontade espontânea, ajudar a reverter a gravidade da situação? Qualquer um sabe prever as catástrofes que estão por vir, sabe identificar o porquê dessas catástrofes. Será que não pode contribuir para estancar as causas das catástrofes? Em sua própria vida, em sua casa, em seu trabalho, em seu consumo?

Então, posso perguntar? O que você tem feito de efetivo e prático para reduzir a sua influência perniciosa no ambiente? Você já percebeu que você é, como todos os outros 6 bilhões e meio de habitantes do planeta, responsável pela degradação ambiental? Pense nisso. Pergunte-se isso na próxima vez que se mirar em um espelho.