Poster abrapso - o que eu fiz com o que as instituições fizeram de mim

5
A história de Molly, e a sua luta por emancipação frente às políticas de identidade no acolhimento institucional. Pesquisadora: Thalita Catarina Decome Poker Afiliação Institucional: Mestranda em Psicologia Social pela PUC/SP Orientador: Profª Dr. Antônio da Costa Ciampa “Façamos da interrupção um caminho novo... Da queda, um paço de dança... Do medo, uma escada... Do sonho, uma ponte... Da procura, o encontro!”. (O Encontro Marcado ―Fernando Sabino) Resumo: Estes são os apontamentos iniciais da dissertação de mestrado em psicologia social que contempla a história de vida de uma jovem com 21 anos, que durante a sua infância e adolescência foi assistida pelo programa de acolhimento institucional e com a chegada da maioridade, rompeu com os laços institucionais. No que se refere aos estudos sobre acolhimento institucional, a maior parte das pesquisas concentram-se na infância, adolescência e na equipe técnica. Ao considerar este hiato teórico, esta pesquisa tem como objetivo compreender a constituição identitária do processo de socialização de crianças e adolescentes mediadas pelas políticas de identidade do processo de acolhimento institucional e discutir as possibilidades de superação do prognóstico de marginalidade. Para coleta dos dados foi utilizado como instrumento a narrativa de história de vida e a análise dos dados foi feita á luz do sintagma identidade-metamorfose-emancipação proposto por

Transcript of Poster abrapso - o que eu fiz com o que as instituições fizeram de mim

Page 1: Poster abrapso - o que eu fiz com o que as instituições fizeram de mim

A história de Molly, e a sua luta por emancipação frente às políticas de

identidade no acolhimento institucional.

Pesquisadora: Thalita Catarina Decome Poker

Afiliação Institucional: Mestranda em Psicologia Social pela PUC/SP

Orientador: Profª Dr. Antônio da Costa Ciampa

“Façamos da interrupção um caminho novo... Da queda, um paço de dança... Do medo, uma

escada... Do sonho, uma ponte... Da procura, o encontro!”.

(O Encontro Marcado ―Fernando Sabino)

Resumo:

Estes são os apontamentos iniciais da dissertação de mestrado em psicologia

social que contempla a história de vida de uma jovem com 21 anos, que

durante a sua infância e adolescência foi assistida pelo programa de

acolhimento institucional e com a chegada da maioridade, rompeu com os

laços institucionais. No que se refere aos estudos sobre acolhimento

institucional, a maior parte das pesquisas concentram-se na infância,

adolescência e na equipe técnica. Ao considerar este hiato teórico, esta

pesquisa tem como objetivo compreender a constituição identitária do processo

de socialização de crianças e adolescentes mediadas pelas políticas de

identidade do processo de acolhimento institucional e discutir as possibilidades

de superação do prognóstico de marginalidade. Para coleta dos dados foi

utilizado como instrumento a narrativa de história de vida e a análise dos dados

foi feita á luz do sintagma identidade-metamorfose-emancipação proposto por

Ciampa (1987). As considerações preliminares deste estudo revelaram que: a

presença de pessoas críticas como os educadores e padrinhos que predicaram

a Molly a condição de “criança com direitos assegurados” pode contribuir para

a superação do estigma de abandono, e prescrição de marginalidade.

Objetivo:

Este estudo tem como principal objetivo o desvelamento das políticas de

identidades no que se refere ao atendimento a crianças e adolescentes; e

compreender como se constitui uma identidade política neste cenário, como

Page 2: Poster abrapso - o que eu fiz com o que as instituições fizeram de mim

forma de superação do estigma da criança abandonada, rumo a autonomia e

fragmentos emancipatorios.

Relação com o eixo temático:

Historicamente a figura da criança assistida por instituições de acolhimento tem

assumido um caráter diagnóstico e prescritivo de marginalidade, como

decorrência da sua condição de precariedade e carência (Campos, 1984;

Martinez, 2008 ; Altoé, 2009; Santos & Boucinha, 2011). Os poucos estudos

com os egressos do sistema de acolhimento institucional tem considerado que:

atendimento e o modo como as relações entre a equipe técnica e os abrigados

são estabelecidas e significadas não contribuem para a aquisição da

autonomia na vida adulta (Oliveira, 2001; Ribeiro,2008).

Diante destas questões, no intuito de desconstruir o prognóstico de

marginalidade de egressos do acolhimento institucional, a teoria de identidade

Ciampa (1987/2010) foi eleita, por trabalhar com a possibilidade de

metamorfose e busca por emancipação do individuo diante das determinações

sociais, e também, por possibilitar uma articulação entre as políticas de

identidades que se constituíram ao longo da história de crianças

institucionalizadas, e pela proposta de identidade política como possibilidade

de descolonização do estigma de abandono e marginalidade inculcado.

Método:

Utilizamos a abordagem qualitativa, de forma a eleger a entrevista de história,

por se mostrar um instrumento capaz de demonstrar a superação do individuo

pelo movimento de luta por emancipação frente às determinações sociais.

Procedimentos:

Para a seleção dos narradores o único critério inicial era que fossem adultos

com idade entre 20 a 35 anos que residiram em casas de acolhimento

institucional á partir de 1990 (ano de vigência do Estatuto da criança e do

adolescente), e passaram a maior parte da sua infância e adolescência

assistidos pelo programa.

Page 3: Poster abrapso - o que eu fiz com o que as instituições fizeram de mim

Diante deste critério, uma jovem de 21 anos e que viveu dos 7 aos 17 anos

acolhida institucionalmente que chamaremos de Molly, é eleita pelo seu

posicionamento crítico diante de alguns acontecimentos na sua trajetória, ao

ponto de construir uma história diferente da qual lhe prescreveram como

decorrente do estigma do abandono, apontamento que aparece fortemente em

seu relato.

Conclusões Preliminares:

Na trajetória de Molly, podemos perceber a sua luta iniciada na personagem “a-

adolescente- revoltada” para não ser colonizada por uma política de identidade

para crianças e adolescentes com sentido aniquilador, por conta da prescrição

de marginalidade ao qual sempre a remetiam como forma de coerção das suas

atitudes e questionamentos. Podemos também relacionar a sua luta por

emancipação e busca pela superação do estigma de abandonada, mediada

pelos outros significativos, que foram apresentados em sua narrativa como as

professoras da escola, ao predicar a Molly a condição de “criança-sujeito de

direitos” e que este deveriam ser assegurado por meio das revindicações. E

posteriormente, com o acolhimento dos padrinhos ao sair da instituição, houve

uma significação do conceito de solidariedade, pela sua família estendida ao

apresentar um universo simbólico de militância, o que contribuiu para a

metamorfose da personagem “ a-adolescente-revoltada” para a “mulher-

militante” de causas sociais como a questão da habitação e infância.

Portanto, observa- se um salto qualitativo na identidade de Molly, resultado das

personagens que foi assumindo, e que os seus outros significativos lhe

predicaram, no intuito de não ser colonizada pelas políticas de identidade

atribuídas a criança institucionalizada e metamorfoses decorrentes dos seus

posicionamentos, o que resultou no acumulo de mudanças.

e-mail: [email protected]