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C 2 + m/Instrumental OBRA-PRIMA FEITA COMO PONTE TRANSCULTURAL Inédito por 30 anos, memorável encontro de Egberto Gismonti com Jan Garbarek e Charlie Haden é lançado no Brasil REPRODUÇÕES GISMONTI & CIA O CD duplo Carta de Amor come- ça com o violão de Gismonti anunciando o tema da faixa-títu- lo, logo seguido pelo sax soprano de Jan Garbarek e só depois pelo baixo de Charlie Haden. É um te- ma lírico, como tantos outros que Gismonti compôs em qua- tro décadas de carreira, entre eles o tocante Palhaço (no segun- do CD), traduzindo a conversa harmônica que o trio teve nesse show antológico que, por uma dessas razões inexplicáveis, fi- cou guardado por 30 anos nos ar- quivos da gravadora ECM. O magnetismo de Gismonti, contudo, é poderoso. Um dia, o produtor Manfred Eicher deci- diu resgatar essas fitas do limbo fonográfico para mostrar às no- vas gerações de músicos como três instrumentistas e composi- tores resolveram, em comum acordo, tocar peças uns dos ou- tros para entender o que signifi- ca a palavra alteridade. A sintaxe de três indivíduos, diferentes em tudo, não poderia ser mais seme- lhante. Tome-se como exemplo a segunda faixa do primeiro dis- co, La Pasionaria, criada para a Liberation Music Orchestra que Haden manteve com Carla Bley e que ressuscitou em 2005 – da for- mação original, dos anos 1970, fa- zia parte, entre outros, o argenti- no Gato Barbieri (autor da trilha de O Último Tango em Paris). La Pasionaria é um tributo à re- belde republicana e líder comu- nista Dolores Ibárruri (1895-1989), que se tornou famo- sa ao desafiar as tropas do gene- ral Franco com a frase “Eles não passarão” e morreu no ano em que caiu o Muro de Berlim. Na gravação com Carla Bley, La Pa- sionaria vira, de fato, um grito de guerra. No show do trio Gismon- ti-Haden-Garbarek na Amerika Haus, a discussão ideológica é neutralizada com o entendimen- to entre os instrumentistas e o respeito ao fraseado do baixo de Haden, um homem de convicção ideológica que chegou a ser per- seguido pelo FBI por sua militân- cia anticolonialista e críticas ao apoio dos EUA às ditaduras lati- nas no passado. Sem esforço aparente, Haden e Garbarek entram no mundo das pesquisas étnicas de Gismon- ti e tocam Cego Aderaldo como se entendessem, de fato, que o bra- sileiro está falando do caldeirão de culturas que é o Brasil, do cru- zamento híbrido entre a tradição árabe (da qual Gismonti é legatá- rio) e a linguagem melódica do Nordeste brasileiro. Há uma cor- respondência simétrica entre es- se diálogo e o que o trio mantém na faixa seguinte, Folk Song, que Garbarek compôs tomando em- prestado temas folclóricos da Noruega. No final, é o violão de Gismonti que serve de baliza nes- sa viagem transcultural em dire- ção aos fiordes. “Somos um povo miscigenado, que não tem medo de outras culturas”, resume Gis- monti. Outra prova dessa flexibilida- de está na segunda faixa do se- gundo CD, All That Is Beautiful, de Charlie Haden, em que o pia- no de Gismonti transita no uni- verso jazzístico do baixista sem, contudo, evocar a parceria do americano com o trio que Keith Jarrett manteve nos anos 1970. É um dos grandes momentos do show, embora o mais caloroso se- ja mesmo quando o sax de Garba- rek toca logo depois as primeiras notas de Palhaço, seguindo o ca- minho apontado pelo piano de Gismonti. Nos nove minutos de Palhaço, o entrosamento do trio é tão im- pressionante que, mesmo quan- do o compositor introduz uma variante na canção e começa a im- provisar, ninguém precisa ace- nar com a bandeirinha para que se retome o tema principal. Ain- da uma vez, antes do fim do show, o trio toca duas canções folclóricas com arranjos de Gar- barek, curta e sincopada suíte. A peça de encerramento é uma va- riação de Carta de Amor. Uma mensagem desta vez mais grave. E apaixonada. / A.G.F. ECM Records. Preço médio: R$ 32 Gismonti, C. Haden e Jan Garbarek Power trio. Da esq. para a dir., Jan Garbarek, Gismonti e Charlie Haden em 1979 CARTA DE AMOR Antonio Gonçalves Filho Em abril de 1981, entrou no palco do teatro da Amerika Haus, em Munique, um trio excepcional de músicos formado pelo brasi- leiro Egberto Gismonti (piano e violão), o norueguês Jan Garba- rek (sax tenor e soprano) e o nor- te-americano Charlie Haden (baixo). Por duas horas eles toca- ram na sala da Karolinenplatz, numa celebração que realmente justificava a existência da Ameri- ka Haus, criada pelos EUA logo depois da guerra para estreitar as relações entre a Europa e o continente americano. Ninguém mais indicado que Gismonti, aliás, para fazer essa ponte transcultural. Afinal, ele já tocava, na época, com músicos das mais diversas origens. No en- tanto, foi com Haden e Garbarek que Gismonti – integrante do se- leto time da ECM, como eles – levou adiante seus projetos musi- cais. O trio havia gravado dois discos para o selo dois anos an- tes, Mágico (junho de 1979) e Folk Songs (novembro de 1979), ambos em Oslo. O terceiro en- contro foi a gravação ao vivo do concerto na Amerika Haus, que ficou esquecida nos arquivos da ECM por 30 anos, até que o pro- prietário e fundador do selo, Manfred Eicher, a resgatou no ano passado. O resultado é uma obra-prima: o CD duplo Carta de Amor (crítica abaixo). Essa “carta” reúne algumas “mensagens” retrabalhadas dos dois discos de 1979. Lançado mundialmente no Brasil pelo se- lo Borandá, que representa a ECM no País, o CD duplo traz a versão integral do show de 31 anos atrás com seis composi- ções de Gismonti, três de Garba- rek e duas de Charlie Haden. So- bre ele, Gismonti concedeu uma entrevista ao C2+Música, por te- lefone, em que falou desse en- contro, da longa parceria com Manfred Eicher, das obras sinfô- nicas que compõe para orques- tras internacionais (a do Con- certgebouw de Amsterdã, entre elas) e dos projetos, entre eles o de lançar uma caixa com suas tri- lhas compostas para o cinema e companhias de dança. “Quando ouço Carta de Amor, gravado em dois canais, percebo que se fazia melhor em 1981”, conclui Gismonti, diante do mi- lagre tecnológico dessa mixa- gem das fitas analógicas, tão per- feita e distante dos ruídos dos re- gistros ao vivo. Esse perfeccionis- mo se estende à concepção gráfi- ca dos discos que ele gravou para a ECM desde os anos 1970 – Gis- monti perdeu a conta. “Eicher, certa vez, questionou a capa de Dança das Cabeças (1976), não pe- la foto (do húngaro Lajos Keresz- tes) mas por seu conteúdo (o de- signer alemão Dieter Bonhorst enfatiza a desolação de uma casa popular vermelha).” Eicher, con- ta Gismonti, invocou com o tra- po sujo pendurado na janela, que acabou ilustrando a capa. O músi- co respondeu que o trapo era a cara do Brasil – “é assim que os gringos enxergam nosso país”. Aristocrático, o produtor bávaro nem discutiu. Seu negócio, des- de 1969, quando fundou a ECM, é produzir música que seja me- lhor do que o silêncio. E ele já produziu 1.200 discos dos maio- res intérpretes e compositores, de Arvo Päart a Alfred Schnittke, passando por Keith Jarrett. O ouvido sensível de Eicher promoveu a reunião de Gismon- ti com Haden e Garbarek. “Tudo começou com Haden no cama- rim de um show meu, propondo um dueto.” Eicher intuiu que Garbarek seria o terceiro ele- mento. Gismonti foi conhecer o parceiro na Noruega. Tanto Ha- den como Garbarek já haviam gravado com o pianista america- no Keith Jarrett. “Mas eles não queriam tocar jazz e fizeram questão de interpretar composi- ções minhas no disco Mágico.” No CD lançado, Gismonti revi- sita duas composições de Garba- rek – Spor e Folk Song (música folclórica de seu país com arran- jo do norueguês). O brasileiro, pesquisador de música étnica (ele usou instrumentos indíge- nas em trilhas como Kuarup), re- vela ter se sentido à vontade com o folclore norueguês. “Carta de Amor tem essa coisa bacana da cooperação, do trabalho em gru- po, livre de teorias que só blo- queiam nossa criatividade.” Embora não faça música ideo- lógica, como Haden, que escre- veu La Pasionaria para a esquer- dista Liberation Music Orches- tra – dele e de Carla Bley–, Gis- monti compôs – e poucos se lem- bram disso – a trilha de um filme que marcou a história do cinema brasileiro, Pra Frente Brasil (1982), por provocar a ditadura militar com cenas de tortura. A trilha, cujos direitos pertencem ao selo Carmo, do músico, nun- ca foi lançada. “Eu escrevo para o cinema pensando na história dos protagonistas, como no fil- me Chico Xavier, que para mim começa na cabeça do Chico, co- mo um ruído estrondoso.” Gismonti não trabalha com leitmotiv wagneriano, ou seja, usando um tema para cada perso- nagem. Ele pensa em bloco e con- duz a história por meio da evolu- ção temática. Assim, a música que ele fez para Parceiros da Noi- te (Cruising, 1981) não foi pensa- da especificamente para o perso- nagem do assassino de homosse- xuais – ela foi usada de modo in- devido no filme– , rendendo ao diretor William Friedkin um lon- go processo. “É o único filme da história do cinema em que a tri- lha aparecia acompanhando os créditos finais”, ironiza Gismon- ti. Ele saiu vitorioso. Friedkin te- ve de pontuar seu filme com vio- lentas canções punk de Wille De Ville e The Cripples. Não é o tipo de companhia com quem anda Gismonti. Ele até fez música ruidosa no come- ço dos anos 1970, abusando de sintetizadores, mas esse tipo de experiência ficou no passado. Agora dedicado a peças sinfôni- cas e de câmara, Gismonti tem composto para orquestras como a Tokyo Philharmonic, mostran- do o que aprendeu com Jean Bar- raqué e Nadia Boulanger. Não canta mais, como no começo de carreira. Também deixou as flau- tas de bambu para trás e aposta em projetos acústicos como Sau- dações, álbum duplo que conta a história da música folclórica bra- sileira – e gravado com uma or- questra cubana. Projetos seme- lhantes virão, garante, se tiver tempo para editar dois discos inéditos de Luiz Eça que o selo Carmo esconde no armário. Co- mo Manfred Eicher, ele também guarda cartas na manga. D6 C2+ música SÁBADO, 15 DE SETEMBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

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C2+m/Instrumental

OBRA-PRIMA FEITA COMOPONTE TRANSCULTURAL

Inédito por 30 anos, memorável encontro de Egberto Gismonticom Jan Garbarek e Charlie Haden é lançado no Brasil

REPRODUÇÕES

GISMONTI & CIA

O CD duplo Carta de Amor come-ça com o violão de Gismontianunciando o tema da faixa-títu-lo, logo seguido pelo sax sopranode Jan Garbarek e só depois pelobaixo de Charlie Haden. É um te-ma lírico, como tantos outrosque Gismonti compôs em qua-tro décadas de carreira, entreeles o tocante Palhaço (no segun-do CD), traduzindo a conversaharmônica que o trio teve nesseshow antológico que, por umadessas razões inexplicáveis, fi-cou guardado por 30 anos nos ar-quivos da gravadora ECM.

O magnetismo de Gismonti,contudo, é poderoso. Um dia, oprodutor Manfred Eicher deci-diu resgatar essas fitas do limbofonográfico para mostrar às no-vas gerações de músicos comotrês instrumentistas e composi-

tores resolveram, em comumacordo, tocar peças uns dos ou-tros para entender o que signifi-ca a palavra alteridade. A sintaxede três indivíduos, diferentes emtudo, não poderia ser mais seme-lhante. Tome-se como exemploa segunda faixa do primeiro dis-co, La Pasionaria, criada para aLiberation Music Orchestra queHaden manteve com Carla Bley eque ressuscitou em 2005 – da for-mação original, dos anos 1970, fa-zia parte, entre outros, o argenti-no Gato Barbieri (autor da trilhade O Último Tango em Paris).

La Pasionaria é um tributo à re-belde republicana e líder comu-n i s t a D o l o r e s I b á r r u r i(1895-1989), que se tornou famo-sa ao desafiar as tropas do gene-ral Franco com a frase “Eles nãopassarão” e morreu no ano em

que caiu o Muro de Berlim. Nagravação com Carla Bley, La Pa-sionaria vira, de fato, um grito deguerra. No show do trio Gismon-ti-Haden-Garbarek na AmerikaHaus, a discussão ideológica éneutralizada com o entendimen-to entre os instrumentistas e orespeito ao fraseado do baixo deHaden, um homem de convicçãoideológica que chegou a ser per-seguido pelo FBI por sua militân-cia anticolonialista e críticas aoapoio dos EUA às ditaduras lati-nas no passado.

Sem esforço aparente, Hadene Garbarek entram no mundodaspesquisas étnicas de Gismon-ti e tocam Cego Aderaldo como seentendessem, de fato, que o bra-sileiro está falando do caldeirãode culturas que é o Brasil, do cru-zamento híbrido entre a tradição

árabe (da qual Gismonti é legatá-rio) e a linguagem melódica doNordeste brasileiro. Há uma cor-respondência simétrica entre es-se diálogo e o que o trio mantémna faixa seguinte, Folk Song, queGarbarek compôs tomando em-prestado temas folclóricos daNoruega. No final, é o violão deGismonti que serve de baliza nes-sa viagem transcultural em dire-ção aos fiordes. “Somos um povomiscigenado, que não tem medode outras culturas”, resume Gis-monti.

Outra prova dessa flexibilida-

de está na segunda faixa do se-gundo CD, All That Is Beautiful,de Charlie Haden, em que o pia-no de Gismonti transita no uni-verso jazzístico do baixista sem,contudo, evocar a parceria doamericano com o trio que KeithJarrett manteve nos anos 1970. Éum dos grandes momentos doshow, embora o mais caloroso se-ja mesmo quando o sax de Garba-rek toca logo depois as primeirasnotas de Palhaço, seguindo o ca-minho apontado pelo piano deGismonti.

Nos nove minutos de Palhaço,o entrosamento do trio é tão im-pressionante que, mesmo quan-do o compositor introduz umavariante nacanção e começa a im-provisar, ninguém precisa ace-nar com a bandeirinha para quese retome o tema principal. Ain-da uma vez, antes do fim doshow, o trio toca duas cançõesfolclóricas com arranjos de Gar-barek, curta e sincopada suíte. Apeça de encerramento é uma va-riação de Carta de Amor. Umamensagem desta vez mais grave.E apaixonada. / A.G.F.

ECM Records. Preço médio: R$ 32

Gismonti, C. Haden e Jan Garbarek

Power trio.Da esq. paraa dir., JanGarbarek,Gismonti eCharlieHadenem 1979

CARTA DE AMOR

Antonio Gonçalves Filho

Em abril de 1981, entrou no palcodo teatro da Amerika Haus, emMunique, um trio excepcionalde músicos formado pelo brasi-leiro Egberto Gismonti (piano eviolão), o norueguês Jan Garba-rek (sax tenor e soprano) e o nor-te-americano Charlie Haden(baixo). Por duas horas eles toca-ram na sala da Karolinenplatz,numa celebração que realmentejustificava a existência da Ameri-ka Haus, criada pelos EUA logodepois da guerra para estreitaras relações entre a Europa e ocontinente americano.

Ninguém mais indicado queGismonti, aliás, para fazer essaponte transcultural. Afinal, ele játocava, na época, com músicosdas mais diversas origens. No en-tanto, foi com Haden e Garbarekque Gismonti – integrante do se-leto time da ECM, como eles –levouadiante seus projetos musi-cais. O trio havia gravado doisdiscos para o selo dois anos an-tes, Mágico (junho de 1979) eFolk Songs (novembro de 1979),ambos em Oslo. O terceiro en-contro foi a gravação ao vivo doconcerto na Amerika Haus, queficou esquecida nos arquivos daECM por 30 anos, até que o pro-

prietário e fundador do selo,Manfred Eicher, a resgatou noano passado. O resultado é umaobra-prima: o CD duplo Carta deAmor (crítica abaixo).

Essa “carta” reúne algumas“mensagens” retrabalhadas dosdois discos de 1979. Lançadomundialmente no Brasil pelo se-lo Borandá, que representa aECM no País, o CD duplo traz aversão integral do show de 31anos atrás com seis composi-ções de Gismonti, três de Garba-rek e duas de Charlie Haden. So-bre ele, Gismonti concedeu umaentrevista ao C2+Música, por te-lefone, em que falou desse en-contro, da longa parceria comManfred Eicher, das obras sinfô-nicas que compõe para orques-tras internacionais (a do Con-certgebouw de Amsterdã, entreelas) e dos projetos, entre eles ode lançar uma caixa com suas tri-lhas compostas para o cinema ecompanhias de dança.

“Quando ouço Carta de Amor,gravado em dois canais, perceboque se fazia melhor em 1981”,

conclui Gismonti, diante do mi-lagre tecnológico dessa mixa-gem das fitas analógicas, tão per-feita e distante dos ruídos dos re-gistros ao vivo. Esse perfeccionis-mo se estende à concepção gráfi-ca dos discos que ele gravou paraa ECM desde os anos 1970 – Gis-monti perdeu a conta. “Eicher,certa vez, questionou a capa deDança das Cabeças (1976), não pe-la foto (do húngaro Lajos Keresz-tes) mas por seu conteúdo (o de-signer alemão Dieter Bonhorstenfatiza a desolação de uma casapopular vermelha).” Eicher, con-ta Gismonti, invocou com o tra-po sujo pendurado na janela, queacabou ilustrandoa capa. O músi-co respondeu que o trapo era acara do Brasil – “é assim que osgringos enxergam nosso país”.Aristocrático, o produtor bávaronem discutiu. Seu negócio, des-de 1969, quando fundou a ECM,é produzir música que seja me-lhor do que o silêncio. E ele jáproduziu 1.200 discos dos maio-res intérpretes e compositores,de Arvo Päart a Alfred Schnittke,

passando por Keith Jarrett.O ouvido sensível de Eicher

promoveu a reunião de Gismon-ti com Haden e Garbarek. “Tudocomeçou com Haden no cama-rim de um show meu, propondoum dueto.” Eicher intuiu queGarbarek seria o terceiro ele-mento. Gismonti foi conhecer oparceiro na Noruega. Tanto Ha-den como Garbarek já haviamgravado com o pianista america-no Keith Jarrett. “Mas eles nãoqueriam tocar jazz e fizeramquestão de interpretar composi-ções minhas no disco Mágico.”

No CD lançado, Gismonti revi-sita duas composições de Garba-rek – Spor e Folk Song (músicafolclórica de seu país com arran-jo do norueguês). O brasileiro,pesquisador de música étnica(ele usou instrumentos indíge-nas em trilhas como Kuarup), re-vela ter se sentido à vontade como folclore norueguês. “Carta deAmor tem essa coisa bacana dacooperação, do trabalho em gru-po, livre de teorias que só blo-queiam nossa criatividade.”

Embora não faça música ideo-lógica, como Haden, que escre-veu La Pasionaria para a esquer-dista Liberation Music Orches-tra – dele e de Carla Bley–, Gis-monti compôs – e poucos se lem-bram disso – a trilha de um filmeque marcou a história do cinemabrasileiro, Pra Frente Brasil(1982), por provocar a ditaduramilitar com cenas de tortura. Atrilha, cujos direitos pertencemao selo Carmo, do músico, nun-ca foi lançada. “Eu escrevo parao cinema pensando na históriados protagonistas, como no fil-me Chico Xavier, que para mimcomeça na cabeça do Chico, co-mo um ruído estrondoso.”

Gismonti não trabalha comleitmotiv wagneriano, ou seja,usando um tema para cada perso-nagem. Ele pensa em bloco e con-duz a história por meio da evolu-ção temática. Assim, a músicaque ele fez para Parceiros da Noi-te (Cruising, 1981) não foi pensa-da especificamente para o perso-nagem do assassino de homosse-xuais – ela foi usada de modo in-

devido no filme– , rendendo aodiretor William Friedkin um lon-go processo. “É o único filme dahistória do cinema em que a tri-lha aparecia acompanhando oscréditos finais”, ironiza Gismon-ti. Ele saiu vitorioso. Friedkin te-ve de pontuar seu filme com vio-lentas canções punk de Wille DeVille e The Cripples.

Não é o tipo de companhiacom quem anda Gismonti. Eleaté fez música ruidosa no come-ço dos anos 1970, abusando desintetizadores, mas esse tipo deexperiência ficou no passado.Agora dedicado a peças sinfôni-cas e de câmara, Gismonti temcomposto para orquestras comoa Tokyo Philharmonic, mostran-do o que aprendeu com Jean Bar-raqué e Nadia Boulanger. Nãocanta mais, como no começo decarreira. Também deixou as flau-tas de bambu para trás e apostaem projetos acústicos como Sau-dações, álbum duplo que conta ahistória da música folclórica bra-sileira – e gravado com uma or-questra cubana. Projetos seme-lhantes virão, garante, se tivertempo para editar dois discosinéditos de Luiz Eça que o seloCarmo esconde no armário. Co-mo Manfred Eicher, ele tambémguarda cartas na manga.

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16/09/2012Mogi News - Mogi das Cruzes

Mágico - Carta de Amor

2Seção: Página:Variedades

CD de Gismonti resgata obra esquecida

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20/09/2012O Liberal - Americana

Egberto Gismonti

26Seção: Página:+ Cult

Disco de Egberto Gismonti é lançado depois de 31 anos

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23/09/2012Correio Braziliense

Mágico - Carta de Amor

7Seção: Página:Diversão & Arte

Feitiço contra o tempo

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24/09/2012Valor Econômico

Borandá

D4Seção: Página:Eu &

Trinta anos depois, gravação inédita de Gismonti, Garbarek e Haden é lançada

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Trinta anos depois, gravação inédita de Gismonti, Garbarek e Haden é lançada

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26/09/2012Veja

Mágico - Carta de Amor

132Seção: Página:Veja Recomenda

Mágico: Carta de Amor

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R7.com 01/10/2012 11:17 - Atualizado em 01/10/2012 11:17

Show de Egberto Gismonti é lançado 30 anos depois Cinthya Oliveira - Do Hoje em Dia

Arquivo Hoje em Dia Parcerias internacionais são bastante profícuas

Pode parecer mentira, mas uma gravação incrível de jazz ficou esquecida nos arquivos da gravadora alemã ECM por 30 anos. Felizmente, o proprietário da empresa, Manfred Eicher, resgatou o material e o transformou em um álbum duplo. Assim, finalmente, o público tem acesso à gravação de um show realizado em abril de 1981, na cidade de Munique. No palco, três músicos de reconhecimento inegável: o brasileiro Egberto Gismonti (piano e violão), o norueguês Jan Garbarek (sax tenos e soprano) e o norte-americano Charlie Haden (baixo acústico). O álbum foi lançado na Europa no ano passado e agora chega ao Brasil, por meio da Borandá, representante da ECM no país. As músicas ali tocadas chegaram ao conhecimento do público por meio de dois discos gravados pelo trio em 1979, pela mesma gravadora: "Mágico" e "Folk Songs". O diferencial é que neste show agora lançado em CD, elas foram retrabalhadas. "Carta de Amor" é uma síntese de como o encontro de diferentes mundos em um mesmo palco pode ser bastante rico – especialmente quando o assunto é jazz. São quatro mundos envolvidos, se considerarmos a importância do alemão Manfred Eicher como catalisador para a reunião dos três músicos. E as sonoridades apresentadas vão além do Brasil, Escandinávia e Estados Unidos. As influências vêm de todas as partes. Prova disso é "Cego Aderaldo", composição de Gismonti com forte linguagem árabe. Vale observar como os companheiros conseguem explorar bem a brasilidade das composições de Gismonti presentes: "Carta de Amor", "Don Quixote", "Branquinho" e "Palhaço". Gismonti, por outro lado, interpreta divinamente nas criações dos amigos. Destaque para "La Pasionaria", música de mais de 16 minutos de Charlie Haden. Nela, todos puderam explorar seus talentos, em especial Garbarek, que emociona (e muito) com seu sax.

Tags: Egberto Gismonti | show | disco | Música | Pop HD | Hoje em Dia

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01/10/2012Hoje em Dia

Borandá

CAPA/5Seção: Página:Cultura

Show de Gismonti é lançado 30 anos depois

Page 21: Power trio. GISMONTI&CIA - boranda.com.br · Gismonti e Charlie Haden em 1979 CARTADE AMOR AntonioGonçalvesFilho Emabrilde1981,entrounopalco do teatro da Amerika Haus, em …

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Show de Gismonti é lançado 30 anos depois

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06/10/2012Correio da Paraíba

Egberto Gismonti - Mágico/Carta

de Amor

CAPA/C1Seção: Página:Caderno 2

Encontro no palco

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Encontro no palco

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17/10/2012Carta Capital

Egberto Gismonti - Mágico/Carta

de Amor

71Seção: Página:Bravo!

Eloquência autoral