Praticar para oxame tuguês .º ANO 12.º ANO

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12.ºANO 11.º ANO 10.º ANO Praticar para o exame Português

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12.º ANO

11.º ANO

10.º ANO

Praticar para o

examePortuguês

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Índice 2

Conteúdos programáticos 10.º, 11.º e 12.º 6

CAPÍTULO 1

EDUCAÇÃO LITERÁRIA 8

10.º ANO

1. Poesia trovadoresca 9

EX. 1 Contextualização histórico-literária 9

1.1. Cantigas de amigo 11

EX. 2 “Ai eu coitada” 11

EX. 3 “Sedia la fremosa seu sirgo torcendo” 12

EX. 4 “Pois nossas madres van a San Simon” 13

EX. 5 “Como vivo coitada, madre, por meu amigo” 14

EX. 6 “- Digades, filha, mia filha velida” 14

EX. 7 “Sedia- m’eu na ermida de Sam Simion” 15

1.2. Cantigas de amor 16

EX. 8 “Proençaes soen mui ben trobar” 16

EX. 9 “Senhor, eu vivo coitada” 17

1.3. Cantigas de escárnio e maldizer 18

EX. 10 “Dom Foão, que eu sei” 18

EX. 11 “Foi um dia Lopo jograr” 19PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 20PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 23TESTE FORMATIVO 25

2. Fernão Lopes, Crónica de D. João I 26

EX. 1 Contexto histórico 26

EX. 2 Textos A e B 27

EX. 3 Capítulo XI 29

EX. 4 Capítulo CXV 31PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 32PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 33TESTE FORMATIVO 34

3. Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira 36

EX. 1 Excerto 1 36

EX. 2 Excerto 2 37

EX. 3 Excerto 3 38PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 40PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 41TESTE FORMATIVO 47

Gil Vicente, Auto da Feira [B] 48

EX. 1 Excerto 1 48

EX. 2 Excerto 2 49PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 51PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 52TESTE FORMATIVO 56

4. Luís de Camões, Rimas 58

EX. 1 Contextualização histórico-literária 58

4.1. Redondilhas 59

EX. 2 “Pastora da serra” 60

EX. 3 “Minina dos olhos verdes” 61

EX. 4 “Verdes são os campos” 62

EX. 5 “Vós, senhora, tudo tendes” 62

EX. 6 “A u~a senhora que estava rezando por u~as contas” 63

4.2. Sonetos

EX. 7 “Ondados fios d’ouro reluzente” 64

EX. 8 “Tanto de meu estado me acho incerto” 65

EX. 9 “Busque Amor novas artes, novo engenho” 66

EX. 10 “Aquela triste e leda madrugada” 67

EX. 11 “Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste” 68

EX. 12 “Oh! Como se me alonga, de ano em ano” 69

EX. 13 “Pede o desejo, Dama, que vos veja” 70

EX. 14 “Erros meus, má fortuna, amor ardente” 71PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 72PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 77TESTE FORMATIVO 82

5. Luís de Camões, Os Lusíadas 83

EX. 1 Proposição – Canto I 83

EX. 2 Dedicatória – Cantos I e X 84

EX. 3 Canto V, estâncias 41 e 42 86

EX. 4 Canto VII, estâncias 78 a 82 87PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 88PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 90TESTE FORMATIVO 94

6. História Trágico-Marítima 95

EX. 1 Género literário 95

EX. 2 Biografia de Jorge de Albuquerque Coelho 96

EX. 3 Excerto 1 97

EX. 4 Excerto 2 98

EX. 5 Excerto 3 100

EX. 6 Excerto 4 101PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 103PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 105TESTE FORMATIVO 108

11.º ANO

ÍNDICE

I S B N 9 7 8 - 9 8 9 - 7 6 7 - 3 2 2 - 1

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3

1. Padre António Vieira, Sermão de Santo António [aos Peixes] 110

EX. 1 Contextualização histórico-literária 110

EX. 2 O Sermão no século XVII 111

EX. 3 Excerto do Capítulo I 113

EX. 4 Excerto do Capítulo II 114

EX. 5 Excertos do Capítulo III 116

EX. 6 Excertos do Capítulo V 118

EX. 7 Excerto do Capítulo VI 120PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 122PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 125TESTE FORMATIVO 128

2. Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa 130

EX. 1 Ato I, cena I 130

EX. 2 Ato III, cena V 131

EX. 3 Ato III, cena VII 132PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 134PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 136TESTE FORMATIVO 138

3. Alexandre Herculano, Lendas e Narrativas: “A Abóbada” [A] 140

EX. 1 Excerto do Capítulo II 140

EX. 2 Excerto do Capítulo III 141

EX. 3 Excerto do Capítulo IV 142PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 143PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 144TESTE FORMATIVO 145

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra [B] 147

EX. 1 Excerto do Capítulo I 147

EX. 2 Excerto do Capítulo X 148

EX. 3 Excerto do Capítulo XX 150

EX. 4 Excerto do Capítulo XLIV 152PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 154PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 156TESTE FORMATIVO 160

Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição [C] 162

EX. 1 Introdução 162

EX. 2 Excerto do Capítulo I 163

EX. 3 Excerto do Capítulo XIX 164PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 165PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 166TESTE FORMATIVO 169

4. Eça de Queirós, Os Maias [A] 170

EX. 1 Biografia de Eça de Queirós 170

EX. 2 Excerto do Capítulo III 170

EX. 3 Excerto do Capítulo VI 171

EX. 4 Excerto do Capítulo VIII 172PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 174PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 176TESTE FORMATIVO 181

Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires [B]EX. 1 Contexto de publicação 182

EX. 2 Excerto do Capítulo I 183

EX. 3 Excerto do Capítulo XI 184

EX. 4 Excerto do Capítulo XII 187PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 188PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 190TESTE FORMATIVO 198

5. Antero de Quental, Sonetos Completos 200

EX. 1 Contextualização 200

EX. 2 “Evolução” 201

EX. 3 “Ideal” 202

EX. 4 “Oceano Nox” 203PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 204PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 206TESTE FORMATIVO 207

6. Cesário Verde, Cânticos do Realismo

(O Livro de Cesário Verde) 208

EX. 1 Nota biográfica 208

EX. 2 “O Sentimento dum Ocidental” 209

EX. 3 “A Débil” 210

EX. 4 “Num Bairro Moderno” 212PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 214PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 216TESTE FORMATIVO 217

12.º ANO

1. Fernando Pessoa 220

1.1. Poesia do ortónimo 220

EX. 1 Contextualização histórico-literária 220

EX. 2 “Autopsicografia” 221

EX. 3 “Ó sino da minha aldeia“ 222

EX. 4 “Não sei ser triste a valer” 223

EX. 5 “Não sei que sonho me não descansa” 224

EX. 6 “Não sei quantas almas tenho” 224PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 225PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 228TESTE FORMATIVO 230

I S B N 9 7 8 - 9 8 9 - 7 6 7 - 3 2 2 - 1

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4

1.2. Bernardo Soares, Livro do Desassossego 231

EX. 1 Contextualização histórico-literária 231

EXS. 2 e 3 Excertos do livro 232PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 234PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 235TESTE FORMATIVO 236

1.3. Poesia dos heterónimos 238

Alberto Caeiro 238

EX. 1 Contextualização histórico-literária 238

EX. 2 O primado das sensações 239

EX. 3 O poeta “bucólico” 239PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 240PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 242TESTE FORMATIVO 243

Ricardo Reis 244

EX. 1 “As rosas amo dos jardins de Adónis” 244

EX. 2 “Segue o teu destino” 244

EX. 3 “Lenta, descansa a onda que a maré deixa” 245PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 246PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 247TESTE FORMATIVO 249

Álvaro de Campos 250

EX. 1 Contextualização histórico-literária 250

EX. 2 “Ode Triunfal” 251

EX. 3 “Cruz na porta da tabacaria” 252PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 253PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 254TESTE FORMATIVO 255

1.4. Mensagem 257

EX. 1 Estrutura 257

EX. 2 “Segundo: O Das Quinas” 258

EX. 3 “Segunda: D. Fernando, Infante de Portugal” 258

EX. 4 “IX: Ascensão de Vasco da Gama” 259

EX. 5 “Primeiro: D. Sebastião” 260PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 260PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 262TESTE FORMATIVO 263

2. Contos 264

Manuel da Fonseca, “Sempre é uma companhia”[A] 264

EX. 1 Biografia de Manuel da Fonseca 264

EX. 2 Excerto 266PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 268PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 269

Maria Judite de Carvalho, “George” [B] 270

EX. 1 Excerto 1 270

EX. 2 Excerto 2 271PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 273PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 274

Mário de Carvalho, “Famílias desavindas” [C] 275

EX. 1 Contextualização literária 275

EX. 2 Excerto 1 276

EX. 3 Excerto 2 277PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 278PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 279TESTE FORMATIVO 280

3. Poetas contemporâneos 281

3.1. Miguel Torga 281

EX. 1 “Arte Poética” 281

EX. 2 “Dia Poético” 281

EX. 3 “Maceração” 282

3.2. Jorge de Sena 283

EX. 1 “Camões dirige-se aos seus contemporâneos” 283

EX. 2 “Glosa de Guido Cavalcanti” 284

3.3. Eugénio de Andrade 285

EX. 1 “Agora as palavras” 285

EX. 2 “O sal da língua” 285

3.4. Alexandre O’Neill 286

EX. 1 “Letra para um fado” 286

EX. 2 “A ti” 288

3.5. António Ramos Rosa 289

EX. 1 “Poema” 289

EX. 2 “Sou um homem vazio” 290

3.6. Herberto Helder 291

EX. 1 “O Poema” 291

3.7. Ruy Belo 292

EX. 1 “A primeira palavra” 292

3.8. Manuel Alegre 292

EX. 1 “Como Ulisses te busco e desespero” 292

EX. 2 “As mãos” 293

3.9. Luíza Neto Jorge 294

EX. 1 “Desinferno II” 294

3.10. Vasco Graça Moura 294

EX. 1 “Vita brevis” 294

3.11. Nuno Júdice 295

EX. 1 “O que é a poesia” 295

3.12. Ana Luísa Amaral 296

EX. 1 “Intertextualidades” 296

EX. 2 “Fingimentos poéticos” 297PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 298

4. José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis [A] 305

EX. 1 Contextualização literária 305

EX. 2 Excerto 1 305

EX. 3 Excerto 2 307PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 308PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 309TESTE FORMATIVO 310

ÍNDICE

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5

José Saramago, Memorial do Convento [B] 311

EX. 1 Excertos relativos à construção do convento 311

EX. 2 Excertos relativos à “epopeia da pedra” 312

EX. 3 Excertos relativos ao amor 313

EX. 4 Excertos relativos à construção da passarola 314PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 316PARA A COMPREENSÃO DO TEXTO 318TESTE FORMATIVO 322

QUADRO SINÓTICO DA LITERATURA PORTUGUESA 323

PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO DOS TESTES FORMATIVOS 331

CAPÍTULO 2

LEITURA 345

1. Relato de viagem 346

EX. 1 Excerto do livro O Planalto e a Estepe, Pepetela 346

EX. 2 Excerto do livro Sul, Miguel Sousa Tavares 347

2. Artigo de divulgação científica 348

EX. 1 Artigo de Carlos Fiolhais 348

EX. 2 Artigo de Timothy Ferris 350

3. Exposição sobre um tema 351

EX. 1 Texto sobre Gil Vicente 351

EX. 2 “Carreira da Índia” 352

4. Apreciação crítica 354

EX. 1 Artigo do ensaísta João Paulo Sousa 354

EX. 2 Crítica de José Miguel Costa 355

5. Discurso político 356

EX. 1 Excerto de discurso de Nelson Mandela 356

6. Artigo de opinião 358

EX. 1 “Andamos ou andámos” 358

EX. 2 “O problema do adultério” 359

7. Diário 360

EX. 1 Texto de José Gomes Ferreira 360

EX. 2 Textos de Miguel Torga 362

8. Memória 362

EX. 1 “Como um ruído de chocalhos”, Julieta Monginho 363

EX. 2 Artigo de Fernando Pinto do Amaral 364PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 365

CAPÍTULO 3

ESCRITA 371

1. Síntese 372

EXS. 1 e 2

2. Exposição sobre um tema 374

EXS. 1 a 10

3. Apreciação crítica 377

EXS. 1 a 6

4. Texto de opinião 380

EXS. 1 a 9

PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 383

CAPÍTULO 4

GRAMÁTICA 387

10.º ANO

1. O português: génese, variação e mudança 388

1.1. Principais etapas da formação e evolução

do português 388

1.2. Fonética e fonologia 389

1.3. Etimologia 390

1.4. Geografia do português no mundo 390

EXERCÍCIOS 391

2. Classes de palavras 393

EXERCÍCIOS 396

3. Sintaxe 397

3.1. Funções sintáticas 397

3.2. A frase complexa: coordenação e subordinação 402

EXERCÍCIOS 405

4. Lexicologia 410

4.1. Arcaísmos e neologismos 410

4.2. Campo lexical e campo semântico 410

4.3. Processos irregulares de formação de palavras 410

EXERCÍCIOS 411

11.º ANO

1. Discurso, pragmática e linguística textual 413

1.1. Texto e textualidade 413

1.2. Reprodução do discurso no discurso 415

1.3. Dêixis: pessoal, temporal e espacial 416

EXERCÍCIOS 417

12.º ANO

1. Linguística textual 420

1.1. Texto e textualidade 420

2. Semântica 421

2.1. Valor temporal 421

2.2. Valor aspetual 422

2.3. Valor modal 422

EXERCÍCIOS 423

RECURSOS EXPRESSIVOS 424

PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 426

CAPÍTULO 5

EXAMES 429

Proposta de exame 1 430

Proposta de exame 2 433

Proposta de exame 3 437

Proposta de exame 4 441

Proposta de exame 5 445

Proposta de exame 6 449

Exame Nacional de 2018 – 1.ª fase 454

PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO 459

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

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58 EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Contextualização histórico-literária

TEXTO A Breves notas sobre a biografia de Camões

A ausência de certezas acerca da vida do poeta é enorme: o seu nascimento costuma datar-se de cerca de 1525 e a sua morte de 1579/80; a sua presença como soldado, em África e no Oriente, está bem documentada. O próprio rei D. Sebastião, ao conceder-lhe a tença de 15 000 reais por ano, associa expressamente os serviços de soldado e os de poeta: “... respeito ao serviço que Luís de Ca-mões, cavaleiro fidalgo de minha casa, me tem feito na Índia por muitos anos, e aos que espero que ao diante me fará e à informação que tenho de seu engenho e habilidade, e à suficiência que mostrou no livro que fez das cousas da Índia”. Tudo o mais resulta da acumulação de conjeturas, em dose muito variável de acerto e de fantasia, que se vêm sucedendo desde os seus primeiros biógrafos (Pedro de Mariz, Severim de Faria e Manuel de Faria e Sousa) até aos nossos dias (Hermano Saraiva, 1978, e Aníbal de Almeida, 1996).

A indeterminação biográfica (que periodicamente se vai colmatando com hipóteses mais ou menos romanceadas) não impede, porém, o esclarecimento de algumas coordenadas contextuais de maior impacto na interpretação do seu texto. Pela vastidão das referências culturais e literárias presentes na sua obra, pode inferir-se, por exemplo, que a sua formação cultural deve ter sido pro-funda e diversificada, denunciando um ecletismo assente em “honesto estudo” (Rocha Pereira, 1998, e Ramalho, 1992). A cortesania poética peninsular, e para além dela, a cultura clássica e os códigos italianizantes mais em voga como o dolce stil nuovo, o petrarquismo e o neoplatonismo são apenas algumas das componentes mais visíveis na sua poesia (épica e lírica), como suportes pontuais da sua mundividência e como referências que chegam a entrechocar-se e a colidir frontalmente com experiências vividas, instaurando, por isso, tensões insolúveis.

José Augusto Cardoso Bernardes, História Crítica da Literatura Portuguesa: Humanismo e Renascimento, Volume II (dir. de Carlos Reis). Lisboa: Editorial Verbo, 1999

1. Selecione do texto dois factos sobre a vida de Luís de Camões que não possam ser objeto de contestação.

TEXTO B A poesia de medida velha e o equilíbrio entre o riso e o siso

A galantaria que Camões louvou na poesia de medida velha traduz-se por vezes na busca de um hábil equilíbrio entre siso e riso. Cousas de burla (motivos puramente ficcionais ou colhidos no dia a dia) têm aqui lugar cativo. Ora, nessa abertura ao quotidiano, com suas peripécias e prosaísmo, as redondilhas divergem claramente das “outras rimas”: nelas cabem registos discursivos e léxico que na poesia do século XVI se diriam interditos em géneros considerados maiores. Na verdade, dificil-mente se poderia esperar noutro molde que não numa trova mandasse Camões recado ao marquês de Cascais sobre as cinco galinhas e meia que tinha a haver (“Cinco galinhas e meia / deve o Senhor de Cascais, / e a meia vinha cheia / de apetitos para os mais”). [...]

Poder-se-á então falar de uma assunção tática das diferenças entre medida velha e nova, de um reconhecimento implícito da especificidade de códigos que regem a composição num e noutro molde, não obstante possíveis contaminações? Tudo leva a crer que sim. Por isso se afigura interes-sante que, apesar de tal imaginária fronteira, Petrarca (e a lírica petrarquista) constituísse referência mesmo onde, em princípio, a sua sombra não seria projetada. [...]

4 LUÍS DE CAMÕES, RIMAS

5

10

15

20

5

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EXERCÍCIO 1

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59

12.º

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4. LUÍS DE CAMÕES, RIMAS

Bastariam as endechas a Bárbara escrava para se perceber que a relação entre as redondilhas e a poesia italianizante dificilmente se resumiria, para Camões, a uma distância respeitosa. Não me refiro tanto à escolha do tema. Precedente do elogio de uma escrava, tê-lo-ia encontrado o poeta no Cancioneiro Geral, em composições de D. João de Meneses, bem como vagamente (e sem paralelo decisivo com o texto camoniano) numa ode (II, 4: “Ne sit ancillae tibi amor pu-dori”) de Horácio. É sobretudo a aplicação subversiva de tópicos petrarquistas ao elogio desta “pretidão de amor” que evidencia uma deliberada transgressão dos cânones.

Texto crítico de Isabel Adelaide Almeida. In José Augusto Cardoso Bernardes, História Crítica da Literatura Portuguesa: Humanismo e Renascimento, Volume II (dir. de Carlos Reis). Lisboa: Editorial Verbo, 1999

2. De acordo com o texto, explique o sentido da expressão “A poesia de medida velha é o equilíbrio entre o riso e o siso”, usada para caracterizar a poesia camo-niana.

3. Indique uma característica inovadora da escrita de Luís de Camões.

4. Na expressão “É sobretudo a aplicação subversiva de tópicos petrarquistas ao elogio desta «pretidão de amor» que evidencia uma deliberada transgressão dos cânones.” (ll. 19-20), substitua a expressão sublinhada por um pronome pes-soal, procedendo às alterações necessárias.

5. Indique o referente da palavra “que” (l. 1).

6. Identifique a função sintática do segmento “as endechas a Bárbara escrava” (l. 14).

15

20

MEDIDA VELHA“Designa-se por medida velha (poesia tradicional ou poesia em

redondilha) a poesia lírica composta em verso de cinco ou sete síla-bas, existente nos cancioneiros peninsulares ao longo de todo o sécu-lo XV e grande parte do século XVI. Em Portugal (e também Espanha) a introdução do decassílabo (medida nova) faz-se de forma gradual e não superadora, desde a terceira década de Quinhentos. De tal forma que boa parte dos poetas que acabariam por distinguir-se no culto dos novos metros optaram por não enjeitar o verso an-tigo, continuando a usá-lo, com perseverança e em regime de cons-tante alternância. Assim aconteceu, desde logo, entre nós, com Sá de Miranda (1481-1558) que, embora introduzindo na lírica portugue-sa a medida italiana e as novas formas estróficas que lhe andam associadas, não abdicou, ele próprio, de continuar a poetar «à ma-neira antiga»”.

Dicionário de Luís de Camões, coord. de Vítor Aguiar e Silva.

Lisboa: Editorial Caminho, 2011

Retrato de Luís de Camões, obra de José Malhoa (1855-1933).

4.1 Redondilhas

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346 LEITURA

Texto de dimensões narrativa e descritiva, que aborda uma multiplicidade de temas, con-templando experiências, descobertas e reflexões, num discurso pessoal.

Marcas de género:

– variedade de temas;

– discurso pessoal (predomínio da 1.ª pessoa);

– dimensões narrativa e descritiva;

– diversidade de recursos e formatos.

Recursos linguísticos:

– linguagem pessoal, marcada pela subjetividade;

– formas de 1.ª pessoa (pronomes, verbos);

– expressões temporais e espaciais;

– formas verbais predominantemente nos tempos do pretérito.

Assim me vi num pequeno barco de pesca, ao todo umas dez pessoas, embarcado numa noite de Tavira, rumo ao norte de África. Enjoar foi o menos. O dono do barco, para quem antes tudo era fácil por só sentir o cheiro do dinheiro à frente do nariz, às tantas já se considerava meio perdido e temia estarmos a ir para o oceano largo. Raio de marinheiro tínhamos arranjado. Horas de angús-tia, muitas, um dia inteiro e mais uma noite. A água tinha acabado, da comida nem falar, e ia uma mulher grávida a bordo, a mulher do nosso mais velho futebolista. O dono do barco começou então a temer a reação dos marroquinos, se nos vissem clandestinamente desembarcar. Vocês depois de-fendem-me lá, são amigos deles, dizem que me obrigaram a transportar-vos, me ameaçaram com uma faca, para eu poder voltar para casa. E nos dava a faca. Não queria ir para a cadeia, ao regressar a Portugal. Tinha sido bem pago, não tínhamos remorsos, o problema era dele. Ainda por cima mau piloto, nos obrigou a andar em círculo. Finalmente vimos terra. Podia ser a Espanha de Franco ou o Portugal de Salazar, os dois comparsas. Felizmente era mesmo Marrocos. Para trás ficavam as capas pretas e o frio. E o fado.

Estava de novo em África.África surgiu nessa madrugada na forma de um morro encimado por uma nuvem branca.

O céu ficava cada vez mais azul e o mar ia acalmando à medida que nos aproximávamos de terra. Era tudo imaginação, mas no barco sentíamos os cheiros familiares e eu até ouvia o mugir dos meus bois. Cada um reconhece a sua África, aquela era a minha, tinha de meter bois. A nossa África re-cebeu-nos como sonháramos. Sem sequer pedirem vistos e passaportes, quando o nosso chefe se apresentou, no posto de polícia de uma aldeia onde acostámos, como um dos responsáveis pelo movimento de libertação. Marrocos foi solidário. E o barco foi enviado para trás, com comida e água. O dono nos abraçou a todos, tinha ganho mais numa viagem que em dois meses de pesca. Que se lixasse a polícia política que muito provavelmente o esperava no regresso.

Pepetela, O Planalto e a Estepe. Lisboa: Dom Quixote, 2009

1. Explicite o motivo que terá levado a personagem principal a fazer esta viagem.

2. Mostre como o protagonista experiencia um conjunto de vivências marcantes nes-ta travessia.

1 RELATO DE VIAGEM

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“E porque algu~as cantigas i há em que falam eles e elas outrossi, pore é bem de entenderdes se son d’amor, se d’amigo, porque sabede que se eles falam na prima cobra e elas na outra [é d’] amor, porque se move a razõ d’ele como vos ante dissemos, e se elas falam na primeira cobra é ou-trossi d’amigo, e se ambos falam e u~a cobra, outrossi é segundo qual deles fala na cobra primeiro.”

Arte de Trovar, cap. IV (CBN)

EXERCÍCIO 1

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Ao quarto dia, já ao fim da tarde e sabendo que, dobrado o próximo cabo, teria Fortaleza à vista, entrei na água, ajoelhei-me debaixo de uma onda e agradeci ao destino que me deixara viver aque-les quatro dias de deslumbramento.

Há, há praias ainda desertas no mundo. Umas verdadeiramente desertas, outras desertas só para a fotografia, como as dos postais do Algarve. Mas em que lugar do mundo existem mil quilómetros quase contínuos de praias desertas?

Esta é uma viagem onde se juntou a geografia ao sonho, chegando-nos quase a fazer sentir como os descobridores de antigamente. Natal-Fortaleza, sempre pela praia, exceto quando um rio mais largo, desaguando no mar, nos obrigava a vir “a terra” contorná-lo ou quando um imenso pantanal com sali-nas nos forçava a um longo desvio pelo sertão adentro. Mil quilómetros certos, de buggy (“bugui”, como dizem os brasileiros), em quatro dias de viagem. Dentro de alguns anos, esta viagem será um “clássico”, hoje é apenas conhecida de meia dúzia dos mais de seiscentos “bugueiros” credenciados em Natal.

Ao longo dos mil quilómetros da viagem, fomos conscienciosamente elaborando o road-book do itinerário: quem vier a seguir, com os nossos “bugueiros”, terá a tarefa facilitada. Ficará a saber onde os rios dão passagem a vau, onde não dão mas existem balsas para nos atravessar para o outro lado e onde nem uma coisa nem outra acontecem e só resta entrar pelo interior à procura de uma ponte ou de um local que dê para atravessar. Ficará a saber, também, quais os promontórios cujas rochas só permitem passagem na maré vazia e rapidamente descobrirá, como nós o fizemos, que conhecer a tabela das marés é essencial. Enfim, ficará a saber quais os pontos de assistência ao longo do per-curso: para comer, para dormir, para abastecer de gasolina ou para consertar pneus.

Todas as dificuldades controladas, resta a recompensa. A fantástica sensação de liberdade de rolar a cem à hora, à beira-mar, em praias desertas a perder de vista, só com a companhia dos urubus pousados na areia. O incrível sentimento de isolamento de andar à noite, sob um céu pejado de estrelas, sem ver nada mais do que a espuma das ondas refletida pelos faróis e sem ouvir nada senão o barulho do motor do carro e ronco ritmado do mar e sem saber onde e quando se irá dormir. O deslumbramento de uma paisagem que varia entre as areias vazias de tudo até às praias de coqueiros, às rochas, aos rios que vêm desembocar na praia, às dunas gigantescas debruçadas sobre o mar, às rias que se abrem de repente e onde se pode tomar banho em duas águas – salgada e doce – ou às nascentes de água doce que escor-rem do flanco das ravinas sobre a praia. Os encontros com os pescadores solitários ou com os que saem em grupos de quatro numa jangada completamente artesanal, e regressam três ou quatro dias depois, carregados de peixes enormes e estranhos. E ainda as aldeias de pescadores à beira-mar com as praias transformadas em pastagens das mais inesperadas espécies: cavalos, burros, vacas, ovelhas e porcos. Sim, sim, eu vi rebanhos de ovelhas a pastar à beira-mar e até javalis foçando na areia!

Quatro dias de revelação, um por um.Miguel Sousa Tavares, Sul, Viagens.

Alfragide: Oficina do Livro, 2004

1. Explicite as coordenadas de enunciação (temporais e espaciais).

2. Relacione o título do texto com a frase “Esta é uma viagem onde se juntou a geo-grafia ao sonho,” (l. 7).

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3. Na viagem da personagem, destaca-se uma figura que a marcou.

3.1. Identifique-a, justificando.

4. Indique as marcas linguísticas de 1.ª pessoa presentes no texto, nomeadamente:

a. pronomes e formas verbais;

b. expressões subjetivas e comentários.

5. Comprove, recorrendo a elementos textuais, que o texto é um relato de viagem.

EXERCÍCIO 2

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372

Consiste numa redução de um texto ao essencial por seleção crítica das ideias-chave.

1.ª fase – planificação– leitura integral do texto;– assinalar os marcadores discursivos que permitem o encadeamento entre as diferentes

partes do texto;– leitura seletiva em que devem ser sublinhadas as ideias e as palavras essenciais – divisão

do texto em partes (por exemplo, em parágrafos) e escrita de uma frase com a ideia prin-cipal;

– eliminar comentários pessoais do autor, citações, exemplos, repetições.

2.ª fase – textualização– plano: • introdução: apresentação do tema, de forma sucinta, salientando uma palavra ou ex-

pressão que o defina (uma frase); • desenvolvimento: registo das ideias-chave, de acordo com uma ordem própria, man-

tendo, todavia, a essência e a coerência da informação; • conclusão: síntese contendo a ideia principal ou comentário final, destacando a inten-

ção global do autor. • uso da 3.ª pessoa; • respeito do pensamento do autor; • na apresentação das ideias centrais, existe liberdade a nível da ordenação e organiza-

ção; • uso de marcadores discursivos; • concisão, frases curtas, claras e precisas.

O que me proponho é lembrar o rei D. Dinis como o grande representante português de uma riquíssima produção lírica que reuniu personalidades poéticas de diversos quadrantes e distintas origens sociais na Península Ibérica, ao longo de um século e meio da nossa Idade Média. E é a homenagem modesta, mas sentida, de quem há mais de duas décadas procura sensibilizar jovens estudantes para a beleza das cantigas dos trovadores e, no início de cada ano, continua a constatar que, interrogados sobre nomes dos poetas medievais que escreveram em galego-portugês, respon-dem apenas, invariavelmente, D. Dinis. As gerações mais novas, alunos do Ensino Secundário e universitários, não deixam pois de reconhecer e evocar o seu nome, associado à cantiga sobre as flores de verde pinho. A posição consolidada que o rei ocupa no cânone escolar e na história literá-ria ainda continua a dar os seus frutos.

D. Dinis foi um poeta cuja atividade se situou, como sabemos todos, entre 1279 e 1325. […] O cor-pus reparte-se pelos três géneros poéticos canónicos definidos na Arte de Trovar: cantigas de amor, cantigas de amigo e cantigas de escárnio e maldizer. […] As suas cantigas apresentam ora um teci-do retórico e esquemas verbais próprios do registo culto, ora uma elaboração que as aproxima da poesia popular, nomeadamente o uso do refrão e das múltiplas variantes do esquema paralelístico.

É o trovador com o maior número de composições poéticas conservadas e transmitidas até aos nossos tempos […], não sendo alheios a esse facto seguramente a sua condição social, mas também o prestígio e a qualidade das suas cantigas. […]

A sua apetência pela cultura, e pelas Letras tinha […] um sentido coletivo, porque D. Dinis

1 SÍNTESE

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EXERCÍCIO 1

ESCRITA

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não era apenas um aristocrata letrado, era rei, e essa condição régia determina que ele encare a transmissão do conhecimento e da cultura entre os seus súbditos como uma missão de relevo. […] Cremos […] que a apreciação do valor artístico do nosso rei deverá ser complementada com uma avaliação mais integrada dos seus projetos culturais. Destes fazem parte a instauração de estudos superiores no reino, a proteção da língua portuguesa, a renovação da tradição poética trovadoresca e a preservação da memória histórica. […]

Elisa Nunes Esteves, O Poeta D. Dinis. Congresso Internacional de Dom Dinis, 750 anos do seu nascimento. Évora: Centro de Estudos em Letras, 2011. Disponível em: http://dspace.uevora.pt/rdpc/handle/10174/4207

[consultado em 2018/05/14]

Tendo em conta as características da síntese, construa um texto conciso e objetivo (de 70 a 90 palavras) que reduza o texto original ao essencial por seleção crítica das ideias--chave. No fim, releia o texto com atenção e faça as correções necessárias.

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Um primeiro contacto com a obra de Camões não dispensa o aflorar de um espinhoso problema prévio que consiste em destrinçar as composições que são sem dúvida da autoria do poeta, daque-las que pertencem a outros autores, e ainda aquelas sobre cuja autoria permanece a incerteza.

Ainda hoje, quatro séculos passados sobre a morte do poeta, não dispomos de uma edição que contenha tudo o que Camões escreveu, sem risco de mistura com poemas apócrifos, isto é – escritos por outrem.

Temos edições que acumularam tudo aquilo o que, com maior ou menor certeza, se lhe pôde atribuir: a edição do Visconde de Juromenha contém quase 600 composições (que, contudo, não devemos considerar abrangerem a totalidade das espécies camonianas, uma vez que é admissível que haja textos por encontrar em cancioneiros particulares ainda não estudados...). […]

Toda esta incerteza deriva do facto de muito pouco da obra de Camões, além d’Os Lusíadas, ter sido publicado durante a sua vida. A primeira edição da lírica apareceu em 1595, quinze anos depois da morte do poeta. E, além de conter imperfeições graves, sobretudo atribuindo ao poeta composições alheias (entre as quais umas trovas já publicadas no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516, antes de Camões nascer), apresenta-se como uma recolha incompleta, coligida a partir de cancioneiros de mão (coleções particulares manuscritas onde, sem qualquer escrúpulo de rigor quanto à autoria, os amantes de poesia ima copiando os textos da sua preferência).

Não é de espantar, portanto, que os editores seguintes tenham procurado apresentar versões mais completas, socorrendo-se de toda a espécie de materiais. E não é de espantar também que, de mistura com muitas poesias genuinamente camonianas, muitos apócrifos tenham entrado no caudal da lírica.

Só no fim do século XIX, com Wilhelm Storck e Carolina Michaëlis de Vasconcelos, e ao longo do século XX se inverteu a atitude dos editores e estudiosos do texto camoniano, passando o objetivo principal a ser o de averiguar com rigor a autoria das composições em vez de aumentar cada vez mais o acervo da lírica

Maria Vitalina Leal de Matos, Lírica de Luís de Camões, Antologia. Lisboa: Editorial Caminho, 2012

Tendo em conta as características da síntese, construa um texto conciso e objetivo (de 85 a 90 palavras) que reduza o texto original ao essencial por seleção crítica das ideias--chave. No fim, releia o texto com atenção e faça as correções necessárias.

EXERCÍCIO 2

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402 GRAMÁTICA

É um complemento selecionado por um adjetivo e pode ser um grupo preposicional.

3.1.3. AO NÍVEL DO GRUPO ADJETIVAL (GAdj)

A. Complemento do adjetivo

Exemplos

Os agricultores ficaram desolados com a tempestade. O problema parecia fácil de resolver.

3.2 A frase complexa: coordenação e subordinação

A. Coordenação

Processo de combinação de duas ou mais unidades linguísticas que desempenham funções sintatica-mente equivalentes.

Orações coordenadas

Elementos de ligação

ExemplosConjunções

coordenativasLocuções

coordenativas

copulativas (valor adicional,

de sequencializa-ção)

e, nem nem...nem

não só... mas também

não só... como (também)

O Joaquim comprou um carro e a Paula comprou uma moto. Não trabalho ao sábado nem ao domingo. Nós não só reservámos o hotel como fizemos as malas para partir.

disjuntivas (valor de alternân-cia ou alternativa)

ou ou... ou

ora... ora

quer... quer

A Maria hoje fica em casa ou vai ao cinema.Ou a febre baixa ou a criança fará exames especí-ficos.

adversativas (valor de contraste, oposição, restrição)

mas O trabalho era muito, mas conseguimos fazê-lo.

conclusivas (valor de

conclusão)

logo O aviso foi feito atempadamente, logo esperáva-mos que todos comparecessem à reunião.

explicativas (valor explicativo)

pois, que Apaga a luz que quero dormir.A criança é prematura, pois nasceu com sete me-ses de gestação.

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B. Subordinação

Processo de combinação de duas ou mais frases em que a subordinada desempenha uma função sintá-tica na outra oração, estando dependente dela ou de um constituinte.

• Oração ou elemento subordinante: constituinte ou oração de que depende a oração subordinada.

• Oração subordinada: desempenha uma função sintática na frase complexa.

ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS

Orações subordinadas substantivas

(equivalem a um GN)

Elementos de ligação

Funções sintáticas

completivas

finita – que, se

não finita – de, para, em (preposições)

Complemento direto: O treinador disse que os atletas estavam preparados. (O treinador disse a verdade.)

Complemento oblíquo: Todos lutamos por que a pro-posta fosse aprovada. (Todos lutamos pela aprovação da proposta.)

Sujeito: É importante que faças os trabalhos. (Isso é impor-tante.)

Complemento do nome: Tenho medo (de) que te esque-ças dos medicamentos.

Complemento do adjetivo: O aluno está convencido (de) que a sua turma ganha o concurso.

relativas

quem, onde, quanto, o que (sem

antecedente)

Sujeito: Quem chegar atrasado não faz o exame.

Complemento direto: Já conhecia quem tu vieste apre-sentar-me.

Complemento indireto: O monitor deu uma recompensa a quem mereceu.

Complemento oblíquo: Conversei com quem estava na sala.

Predicativo de sujeito: Ele não parece quem me descre-veste.

Modificador (GV): Comprei os livros onde havia melhores descontos.

ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS

Orações subordinadasadjetivas relativas

(equivalem a um GAdj)

Elementos de ligaçãoFunções sintáticas

(pronome relativo, determinante relativo, advérbio relativo – retomam o antecedente presente na

oração subordinante)

restritivasO camarão que eu comi estava estragado.

O camarão congelado estava estragado.

Modificador do nome restritivo

explicativas Aqueles gelados, que eu comprei, eram excelentes.

Modificador do nome apositivo

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Page 14: Praticar para oxame tuguês .º ANO 12.º ANO

410 GRAMÁTICA

4 LEXICOLOGIA

4.1 Arcaísmos e neologismos

4.2 Campo lexical e campo semântico

4.3 Processos irregulares de formação de palavras

• Arcaísmos: palavras ou expressões que deixam de ser usadas pelos falantes da norma-padrão da língua (asinha, mui, fontana).

• Neologismos: palavras novas criadas a partir das estruturas já existentes na língua (janela, rato, portal no sentido informático)

• Campo lexical: conjunto de palavras associadas, pelo seu significado, a uma determinada ideia ou con-ceito. Exemplo: Campo lexical de parentesco – pai, mãe, tio, tia, avó, avô, neto, sobrinho

• Campo semântico: conjunto de significados que uma palavra pode ter nos diferentes contextos em que ocorre. Exemplo: Campo semântico de fonte – fonte de inspiração, fonte de água, fonte de luz.

PROCESSOS Definição Exemplos

Extensão semântica

Novo sentido que uma palavra adquire com o alargamento do seu significado. O novo significado refere algo de novo

que se assemelha ao que antes a palavra nomeava.

janela, portal, rato, salvar (palavras com um novo sentido em termos informáticos)

viagem relâmpago, jogar limpo, uma pipa de massa, pontos quentes, descongelamento dos

salários

Empréstimo

Integração de palavras de origem estran-geira no vocabulário da língua portuguesa.

O empréstimo pode manter a forma de origem ou ser integrado no sistema fono-lógico e morfológico da língua que adota

a palavra.

dossiê (do francês dossier), futebol (do inglês football)

input, output, t-shirt, play-center (palavras que mantêm a forma estrangeira)

babysitter, meeting, guiché, plafond

Amálgama

Criação de uma palavra nova a partir da junção de partes de duas ou mais palavras.

cosmecêutica (cosmética + farmacêutica), diciopé-dia (dicionário + enciclopédia), Cinanima (Cinema

de Animação)

Sigla

Criação de uma palavra a partir da redu-ção de um grupo de palavras às suas letras iniciais. As siglas pronunciam-se alfabetica-

mente, letra a letra.

www (world-wid web – teia mundial), SOS (Save Our Souls), SMS (short message system)

Acrónimo

Criação de uma palavra formada pelas iniciais de uma sequência de palavras ou pela junção das letras iniciais de várias palavras. É pronunciada silabicamente.

TAP (Transportes Aéreos Portugueses), PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), VIARCO, marca de lápis (Vieira + Araújo + Com-

panhia)

Truncação

Criação de uma palavra a partir do corte de parte da palavra de que deriva, man-tendo o sentido e a classe gramatical.

foto (fotografia), hiper (hipermercado), Zé (José), curtas (curtas-metragens)

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EXERCÍCIOS

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1. Leia o texto.

Capítulo V

NO QUAL FALA SUMARIAMENTE DAS COUSAS NOTAVEIS QUE O INFANTE D. HENRIQUE FEZ POR SERVIÇO DE DEUS E HONRA DO REINO

Em qual parte assentarei melhor o começo deste capitulo, que naquela mui honrada conquista que se fez sobre a grande cidade de Ceuta, de cuja famosa vitoria os céus sentiram gloria e a terra benefício?

Gloria me parece assaz para o sacro colégio das celestiaes virtudes, tanto sacrifício divino com tão sagradas cerimonias quantas até hoje são feitas em aquela cidade em louvor de Cristo Nosso Se-nhor, e por sua graça para sempre serão. Pois do proveito que a terra recebeu, o Levante e o Ponente são bem clara testemunha, quando os seus moradores podem comudar suas cousas sem grande perigo de suas fazendas, que por certo não se pode negar que a cidade de Ceuta não seja chave de todo o mar Medioterreno.

Gomes Eanes da Zurara, Crónica de Guiné. Porto: Civilização Editora, 1973

1.1. Transcreva, do texto, exemplos de arcaísmos.

2. Atente nas frases.

a. “[…] estava no auge da trotamundice, e por isso não viria.” (Lídia Jorge, O Vale da Paixão, 3.ª edição. Lisboa: Dom Quixote, 2001.

b. “… a culpa foi do tragalhadanças do Achado que não vê onde põe os pés” (José Saramago, A Caverna. Lisboa, Editorial Caminho, 2000)

c. “Quase não tatibitatibiava” (Ruben A., A Torre da Barbela. Lisboa, Editorial Presen-ça, s.d.)

2.1. Identifique as palavras que constituem neologismos.

3. Leia o texto.

Alvor a voarAlvor. Alvor em voo de pássaro. Alvoroço de penas brancas. Ah, ah, ah minha machadinha, quem

te pôs o nome sabendo que és minha. Ganhar asas sobre estas cores é de agradecer a todos os céus, agora que este está tão perto.

Sou refém de imagens, vivo a pintá-las, desenhá-las, a escrever para elas. Olho para as paisagens já a riscar um quadrado no ar como se estivesse a enquadrá-las num visor. Ou a abrir janelas dentro do espaço. E estas, vistas de avioneta em trabalho de reportagem, entram diretas para o meu álbum interior de fotografias em movimento. Uma paisagem pode mesmo entrar no corpo e ficar cá a mo-rar. Alvor de alvorada, de amanhecida luz e claridade.

Teresa Conceição, Ir É o Melhor Remédio. Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2015

3.1. Transcreva as palavras do campo lexical de voo.

3.2. Registe cinco palavras do campo lexical de viagem e paisagem.

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PROPOSTA DE EXAME 1

GRUPO IA

Leia o poema.

A minha vida é um barco abandonadoInfiel, no ermo porto, ao seu destino.Por que não ergue ferro e segue o atinoDe navegar, casado com o seu fado?

Ah! falta quem o lance ao mar, e aladoTorne seu vulto em velas; peregrinoFrescor de afastamento, no divinoAmplexo da manhã, puro e salgado.

Morto corpo da ação sem vontadeQue o viva, vulto estéril de viver,Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,O vento embala-te sem te mover, E é para além do mar a ansiada Ilha.

Fernando Pessoa, Obra Poética, Volume I. Lisboa: Círculo de Leitores, 1986

1. Identifique o recurso expressivo utilizado no primeiro verso e explicite o seu valor expressivo.

2. Explicite dois dos traços que caracterizam o sujeito poético, justificando a respos-ta com elementos do texto.

3. Clarifique o sentido dos dois últimos versos do poema.

BLeia o poema.

DESPONDENCY1

Deixá-la ir, a ave, a quem roubaramNinho e filhos e tudo, sem piedade...Que a leve o ar sem fim da soledadeOnde as asas partidas a levaram... Deixá-la ir, a vela que arrojaramOs tufões pelo mar, na escuridade,Quando a noite surgiu da imensidade,Quando os ventos do Sul se levantaram...

Deixá-la ir, a alma lastimosa,Que perdeu fé e paz e confiança,À morte queda, à morte silenciosa... Deixá-la ir, a nota desprendidaDum canto extremo... e a última esperança...E a vida... e o amor... deixá-la ir, a vida!

Antero de Quental, Sonetos. Lisboa: IN-CM – Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2002

GLOSSÁRIO1 desesperança.

4. Relacione o título do poema com a estrutura anafórica do texto.

5. Explicite o paralelismo que se pode estabelecer entre “a ave”, “a alma” e “a nota”.

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GRUPO II

Leia, atentamente, o texto.

O único viajante com verdadeira alma que conheci era um garoto de escritório que havia numa outra casa, onde em tempos fui empregado. Este rapazito colecionava folhetos de propaganda de cidades, países e companhias de transportes; tinha mapas – uns arrancados de periódicos, outros que pedia aqui e ali; tinha, recortadas de jornais e revistas, ilustrações de paisagens, gravuras de costumes exóticos, retratos de barcos e navios. Ia às agências de turismo, em nome de um escritó-rio hipotético, ou talvez em nome de qualquer escritório existente, possivelmente o próprio onde estava, e pedia folhetos de viagens para a Itália, folhetos de viagens para a Índia, folhetos dando as ligações entre Portugal e a Austrália.

Não só era o maior viajante, porque o mais verdadeiro, que tenho conhecido: era também uma das pessoas mais felizes que me tem sido dado encontrar. Tenho pena de não saber o que é feito dele, ou, na verdade, suponho somente que deveria ter pena; na realidade não a tenho, pois hoje, que passaram dez anos, ou mais, sobre o breve tempo em que o conheci, deve ser homem, estúpido, cumpridor dos seus deveres, casado talvez, sustentáculo social de qualquer – morto, enfim, em sua mesma vida. É até capaz de ter viajado com o corpo, ele que tão bem viajava com a alma.

Recordo-me de repente: ele sabia exatamente por que vias férreas se ia de Paris a Bucareste, por que vias férreas se percorria a Inglaterra, e, através das pronúncias erradas dos nomes estranhos, havia a certeza aureolada da sua grandeza de alma. Hoje, sim, deve ter existido para morto, mas talvez um dia, em velho, se lembre como é não só melhor, senão mais verdadeiro, o sonhar com Bordéus do que desembarcar em Bordéus.

E, daí, talvez isto tudo tivesse outra explicação qualquer, e ele estivesse somente imitando al-guém. Ou… Sim, julgo às vezes, considerando a diferença hedionda entre a inteligência das crian-ças e a estupidez dos adultos, que somos acompanhados na infância por um espírito da guarda, que nos empresta a própria inteligência astral, e que depois, talvez com pena, mas por uma lei alta, nos abandona, como as mães animais às crias crescidas, ao cevado que é o nosso destino.

Fernando Pessoa, Livro(s) do Desassossego. (ed. de Teresa Rita Lopes). São Paulo: Global Editora, 2015

Para responder a cada um dos itens de 1. a 7., selecione a única opção que permite obter uma afirmação correta.

1. Na opinião do autor, o verdadeiro “viajante” é aquele que

(A) coleciona publicidade de locais a visitar.

(B) organiza metodicamente a sua viagem.

(C) reúne mapas para escolher devidamente o seu destino.

(D) viaja interiormente, “com a alma”.

2. Segundo o autor,

(A) o pensamento é mais verdadeiro do que a realidade.

(B) “desembarcar em Bordéus” é melhor do que sonhar com a viagem.

(C) Bordéus é uma cidade de sonho.

(D) quando se envelhece não se pode viajar.

3. Na expressão “morto, enfim, em sua mesma vida.” (ll. 13-14), está presente uma relação de

(A) consequência.

(B) equivalência.

(C) contraste.

(D) fim.

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