Práticas de Avaliação de Leitura e a Formação Do Leitor - Reconstruindo Conceitos Do Professor

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    PRTICAS DE AVALIAO DE LEITURA E A FORMAO DO LEITOR:RECONSTRUINDO CONCEITOS DO PROFESSOR

    Renilson Jos Menegassi Universidade Estadual de [email protected]

    A formao do leitorO valor social da leitura revela-se a partir da importncia que essa prtica adquiriu

    nas sociedades urbanas e modernas. Alm de possibilitar que o indivduo ultrapasseos obstculos impostos pelo cotidiano e tenha acesso, de modo mais fcil, aomercado de trabalho, a aprendizagem da leitura garante o exerccio da cidadania,

    uma vez que permite ao leitor entender, refletir e atuar sobre uma dada realidade.Em 2004, o Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica - SAEB (BRASIL,

    2004) mostrou o estado crtico da escola pblica brasileira, a partir da anlise dassries finais de ciclos. Na avaliao de Portugus, por exemplo, os alunos da 4srie somaram 169,4 pontos, maior que os pontos da ltima avaliao, mas estdistante do ideal: acima de 200 pontos. Quanto capacidade de leitura, a avaliaodemonstra que os alunos no conseguem ler e tm dificuldades para escrever.

    No final de 2005, o Ministrio da Educao aplicou novo teste de leitura a alunosde 4 e 8 srie, o Prova Brasil, consolidando as avaliaes anteriores,demonstrando o estado superficial da formao dos leitores nas escolas brasileiras.

    As investigaes oficiais permitem inferir que somente alguns segmentos dasociedade tm o privilgio de aprender a ler competentemente. Considerando-se asituao de ensino-aprendizagem de leitura e conseqentemente a formao doleitor nas sries iniciais, no precipitado afirmar que a escola vem cumprindo seucompromisso pela metade e no vem propiciando condies para o exerccio dacidadania e para a superao das desigualdades sociais, conforme se pregam nosParmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997). Alm disso, estudiosos jdemonstraram preocupao com relao ao ensino-aprendizagem da leitura e aformao do leitor na escola, buscando alternativas para minimizar as dificuldadesde compreenso e tornar a escola um espao de formao de leitores crticos ecompetentes.

    Sol Gallart (2001) demonstra que as prticas de avaliao mais inovadorasrevelam que o aluno assume com freqncia o papel auto-regulador de suacompreenso, desde que, na formao inicial como leitor, o professor desenvolvaatividades de avaliao condizentes com a realidade social dos alunos, empregandogneros discursivos e procedimentos de leitura adequados idade. A formao doleitor amplia-se, nessa perspectiva, para o seu desenvolvimento, permitindo suaincluso na sociedade de modo mais eficaz, atravs do domnio da leitura dos textosque circulam em seu meio social.

    Colomer & Camps (2002), subsidiadas pelos trabalhos de Sol (1998), propemque a escola atual transponha os muros da avaliao tradicional, que no avalia a

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    formao do leitor em desenvolvimento, pela avaliao formativa de leitura, quepermite uma formao mais adequada do leitor nas sries iniciais, em funo das

    situaes de leitura da sociedade. Essa postura, definida no seio da conceposcio-interacionista de linguagem (BAKHTIN, 1992, 2003; GERALDI, 1993), a qualconcebe a lngua como uma realidade scio-histrica (VYGOTSKY, 1998), propeno mais a formao de um aluno-leitor que consiga produzir um produto pronto,centrado exclusivamente ao final do processo de leitura, pelo contrrio, seuprocesso de formao e desenvolvimento como leitor acompanhado porinstrumentos de avaliao mais condizentes com a realidade social em que vive, noficando estanque ao ambiente escolar. Nesse sentido, a nomenclatura avaliaoformativa tem por objetivo a formao e o desenvolvimento do aluno-leitor, noapenas a tradicional formao leitora.

    Esses estudos e os dados oficiais despertam interesses na investigao sobre a

    formao do leitor em sries iniciais do Ensino Fundamental, na regio Noroeste doestado do Paran, onde nenhuma pesquisa dessa natureza foi desenvolvida naregio, permitindo um diagnstico preciso da situao. Apenas as avaliaes oficiaisforam registradas, sem se considerar, especificamente, os tipos de gnerosdiscursivos que as crianas da faixa etria interessada manipulam no seu cotidiano.Assim, a partir dessas constataes, empreendeu-se uma pesquisa sobre asprticas de avaliao de leitura e a formao do leitor nas sries iniciais do EnsinoFundamental. Especificamente, neste artigo, os exemplos comentados referem-se auma classe de 2 srie de Ensino Fundamental e o trabalho de reconstruo dosconceitos de leitura, avaliao de leitura, formao e desenvolvimento do leitor egneros discursivos como prtica de leitura social.

    Prticas de avaliao de leituraDados levantados pelo Grupo de Pesquisa Interao e Escrita no Ensino e

    Aprendizagem (UEM/CNPq www.escrita.uem.br), onde a pesquisa desenvolvidase ancora, demonstram que o leitor em formao ainda avaliado de maneiratradicional nas escolas pblicas no Noroeste do estado do Paran,conseqentemente, assim tambm o ensino de leitura. Como exemplo, transcreve-se um instrumento de avaliao de leitura aplicado em determinada escola daregio, a uma 2 srie do Ensino Fundamental, em 2005, como amostra do tipo deabordagem de leitura que se considera como princpio de formao do leitor.

    Parceria da Natureza

    Muitas pessoas no gostam de formigas. Mas no h como negar que essespequenos animais desempenham um importante papel na natureza.As formigas podem espalhar sementes de plantas dentro da floresta e, alm

    disso ajudam a adubar o solo j que trazem restos de folhas, alimentos etc, at oseu interior. Como as minhocas, esses insetos tambm tornam o solo mais ricoao cavar tneis, uma vez que, remexendo a terra,permitem que o ar dasuperfcie entre em contato com ela.As formigas se alimentam de insetos, tantos vivos quanto mortos.

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    Na Austrlia e nos Estados Unidos, existe uma espcie de formiga conhecidacomo formiga pote-de-mel.

    No Brasil, as formigas tambm viram comida. Em alguns lugares do interior dopas comum pegar para comer as fmeas da sava.

    Leia o texto com ateno e responda:1. Que tipo de texto e esse?2. Do que fala esse texto?3. De acordo com o texto as formigas so boas ou ruins para a natureza? Porqu?4. O que come uma formiga?5. Como as formigas adubam o solo?6. O que voc no sabia sobre as formigas e agora ficou sabendo?7. Por que o ttulo do texto e parcerias da natureza?

    8. Reescreva as palavras no aumentativo:a) Formiga= b) Papel= c) Bicho=9. Reescreva as frases passando as palavras grifadas para o plural.a) As formiga so parceira da natureza.b) A formiga pode espalhar semente de planta.10. Escreva o sinnimo das palavras.a) gosta= animal= alimento=11. Escreva o antnimo das palavras.a) vivo= b) pequenos= c) rico=12. Separe as palavras em slabas.

    a) pequenos= b) papel= c) floresta=

    Observa-se que as perguntas so de uma tipologia tradicional, considerando-se ataxionomia proposta por Marcuschi (2001 e 2004), envolvendo respostas copiativascomo as de nmero 3., 4., 5. e 6. Por outro lado, por no especificar o gnerodiscursivo e os elementos presentes no seu estudo, como fonte, circulao, portadortextual, interlocutor etc., o texto acaba sendo didatizado na sala de aula, nocontribuindo para a formao do leitor, apenas para a averiguao pontual de umconhecimento que poderia ter sido melhor desenvolvido, uma vez que o temaformiga de interesse da faixa etria dos alunos (7 e 8 anos).

    Por outro lado, possvel verificar nuances de vestgios do scio-interacionismonesse instrumento avaliativo, ao se observar a questo 2. e 7., que exigem do leitor

    a ativao do processo compreensivo. Contudo, a simples apresentao de duasquestes mais adequadas em todo o texto no o configura como tendo ascaractersticas de avaliao formativa (COLOMER & CAMPS, 2002) pretendida paraa formao de um leitor competente. Pelo contrrio, nas questes 8. a 12., visvelo interesse gramatical com o trabalho escolar, levando o aluno a noproduzir novossentidos ao texto estudado, pelo contrrio, o leitor desvincula-se do sentido do textopara estudar uma gramtica descontextualizada e sem sentido, incorporando-lhe aprtica de leitura superficial. Alm do mais, o texto oferecido do gnero discursivoobra de referncia, como enciclopdias, o que o leva didatizao escolar, nestecaso.

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    Os instrumentos de avaliao de leitura

    Foi realizada pesquisa investigativa, tambm com abordagem interventiva, emum municpio de pequeno porte, no Noroeste do estado do Paran, com economiaessencialmente agrcola, com trs escolas pblicas municipais, uma estadual e umacom administrao privada. A pesquisa objetivou caracterizar as prticas deavaliao de leitura empregadas por professores de 1 a 4 sries do EnsinoFundamental, das escolas pblicas municipais.

    Durante o ano de 2006, a partir de anlises dos instrumentos avaliativosaplicados pelos professores nas quatro sries, em 2005, como o exemplificadoanteriormente, iniciou-se o processo de discusso e reconstruo dos conceitos deleitura, de produo de perguntas e de avaliao de leitura junto ao corpo docentedo municpio investigado, a partir da abordagem de gneros discursivos na sala de

    aula. As avaliaes produzidas no ano anterior demonstravam que os conceitos deleitura e de formao do leitor requeriam alteraes substanciais, para se orientar omelhor desenvolvimento do aluno-leitor nas sries iniciais.

    Definiu-se como conceito de leitura norteador para a pesquisa o proposto porDellIsola (1996), que apresenta a leitura como um ato de co-produo de sentidos,em que se consideram as possibilidades de variaes na leitura, em funo domomento scio-histrico-ideolgico do leitor. J a o conceito de avaliao formativade leitura foi o discutido por Colomer & Camps (2002), envolvendo os princpios daLingstica Aplicada e da Psicolingstica Aplicada.

    Participaram da pesquisa trinta e cinco professores de 1 a 4 sries. Nesteartigo, so comentados quatro procedimentos de trabalho com avaliaes de leiturasdistintas, produzidos ao longo do ano de 2006, nos meses de maro, junho,setembro e novembro, com anlises das prticas dos meses de maro e novembro,especificamente. Aqui, so analisados os instrumentos de avaliao de leitura e osprogressos apresentados pelos professores ao longo do percurso de produo. Nointeressam, nesta fase do trabalho, as aplicaes realizadas junto aos alunos e osseus resultados possveis. Desta forma, restringimos a descrio da pesquisa a umade suas fases, mais especificamente, quela que se direciona a analisar areconstruo de conceitos e prticas de leitura com os professores envolvidos.

    Produo de 3/2006

    O primeiro trabalho realizado foi com a leitura e a produo de perguntas parao texto MiniMulta, que circulava, no incio de 2006, entre as crianas, como umacampanha de conscientizao das leis de trnsito, produzida pelo Governo doParan e demais rgos governamentais ligados ao tema educao no trnsito. Otexto foi recolhido entre as crianas da 2 srie e oferecido aos professores pelopesquisador, como uma mostra de gnero discursivo que circula entre seus alunos.Este instrumento de avaliao no aqui analisado e discutido, em funo doespao do texto.

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    Produo de 6/2006Na segunda atividade de produo de avaliao de leitura, solicitou-se aos

    professores que procurassem textos de circulao social que seus alunosnormalmente manuseiam e lem. A surpresa foi descobrir que os professoresapresentaram muita dificuldade para identificar e escolher gneros discursivos quecirculam entre seus alunos. A maioria dos professores trouxe para o trabalho textosretirados de livros didticos. Como exemplo, o texto Dormir fora de casa foi retiradode um livro didtico que no era empregado em sala de aula, porm servia comofonte de textos para avaliaes de leitura. Junto seguem as perguntas produzidas.

    1) Voc j dormiu fora de casa?2) Se voc for dormir fora de casa o que voc leva em sua bagagem?

    DORMIR FORA DE CASA

    A menina ficou entusiasmada com o convite.Ia passar o dia na casa da colega e dormir fora de casa pela primeira vez.Preparou sua bagagem. Encheu uma sacola, que a me examinou.Havia camisola, escova de dentes, brinquedos.A me tirou umas coisas e colocou outras.Bem feliz, carregando sua boneca preferida, a menina partiu.

    Passou um dia muito bom.Brincaram de casinha, de escola, de macaco-disse.Pularam corda, viram desenho animado na televiso.Tomaram sorvete, tomaram banho.A noite foi chegando...Dormir fora de casa no estava lhe parecendo, agora, to bom como

    havia pensado.Estava com vontade de chorar. Ficou meio triste, meio sem graa. Queria

    a me perto.Queria sua cama, suas coisas.Fez uma carinha boa e pediu:- Posso telefonar pra mame?

    Mame havia sado. O jeito era agentar firme.Distraiu-se com os brinquedos.

    O sono chegou devagarzinho. Dormiu abraada sua boneca, falando

    baixinho no seu ouvido: pode dormir sossegada, que eu estou aqui com voc.[...]Ronaldo Simes Coelho. Dormir fora de casa. So Paulo, FTD, 1988

    Estudo do texto:1 - Como a menina ficou ao receber o convite de sua colega? Por qu?2 - Por que a me da menina retirou de sua bolsa alguns objetos?3 - Qual o motivo da menina ter ficado triste quando comeou anoitecer? E o queela fez?4 - Voc j passou por uma situao igual a vivida pela menina da histria?Conte como foi.

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    5 - Do que trata o texto.Gramtica:

    1) Observe:Fez uma carinha boa e pediu: Posso telefonar para a mame?a) O que significa os dois pontos nesta frase?b) O que indica o travesso na fala da menina?c) Por que a fala da menina comea com letra maiscula?Produo textual:

    De acordo com o texto a menina sentiu vontade de chorar e ligou para a suame. Se a me tivesse atendido o telefone, como teria sido a conversa?

    Escreva um dilogo entre as duas.

    Nesta construo, observa-se o emprego de perguntas de pr-leitura, comoforma de ativar os conhecimentos do leitor sobre o tema discutido no texto. Assim,as perguntas Voc j dormiu fora de casa? e Se voc for dormir fora de casa o quevoc leva em sua bagagem?possibilitaram ao leitor a ativao de conhecimentospessoais e sociais sobre a temtica a ser lida. Essa estratgia de trabalho,desenvolvida pelos estudos realizados pela Psicolingstica (SOL, 1998;TAGLIEBER & PEREIRA, 1997), oferece ao professor uma noo de que o gneroescolhido para o trabalho deve levar em conta no s o entorno social do leitor,como tambm suas relaes pessoais com a temtica do texto lido.

    As perguntas construdas para o estudo do texto podem ser classificadas,

    ainda segundo a taxonomia de Marcuschi (2001 e 2004), como: cpia (1),compreensivas (2, 3 e 5), interpretativa (4), gramtica contextualizada (a, b, c); almdessas, tambm houve uma proposta de produo textual, buscando interligar asperguntas produzidas na atividade de pr-leitura com a histria lida, numa relaopessoal do leitor com a leitura realizada.

    A partir das orientaes oferecidas, nessa atividade so perceptveis algunspontos para discusso, que demonstram as alteraes em processo de reconstruodo conceito de leitura entre os professores:

    a) perguntas de compreenso textual so apresentadas no incio, como umamaneira de mensurao do entendimento do texto, posio defendida pelaLingstica Aplicada a partir dos estudos da Psicolingstica Aplicada;

    b) introduo de pergunta interpretativa, que busca relacionar o fatoapresentado no texto com a realidade do leitor, aps o trabalho com acompreenso textual (MENEGASSI, 1995);

    c) introduo de pergunta que resume o contedo compreendido no texto, Doque trata o texto?, de acordo com os estudos da Psicolingstica Aplicada,mostrando que s resume quem compreende o texto;

    d) perguntas que envolvem contedo gramatical so propostas a partir do usode regras da lngua em situao textual especfica;

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    e) produo textual possibilita a unio de informaes trabalhadas antes,durante e aps a leitura do texto, relacionando o texto lido situao social

    possvel para o leitor-produtor.Esses pontos demonstram as alteraes encontradas j na segunda atividadede produo de avaliao de leitura, em junho de 2006. Destaca-se que a escolhado gnero discursivo, apesar de ser ligada ao livro didtico, procedimento comum aoprofessor, no influenciou negativamente na construo das atividades de avaliaode leitura, uma vez que a temtica do texto prpria a crianas da srie trabalhada.

    Produo de 9/2006A terceira produo de instrumento de avaliao de leitura teve uma escolha

    de gnero discursivo adequada s crianas da 2 srie. Os professores trouxerampara o trabalho uma reportagem sobre o grupo de cantores RBD, apesar de no

    haver referncia fonte, foi possvel perceber que um texto de notcia,possivelmente retirado de uma revista semanal ou de um jornal. Por questo deespao, o instrumento no avaliado.

    Produo de 11/2006A ltima atividade de avaliao de leitura foi produzida em novembro de 2006,

    tendo por escolha textual o gnero cartaz de um filme apreciado pelas crianas nafaixa etria compreendida para a 2 srie, entre 8 a 9 anos de idade.

    1. Voc gosta de assistir filme de desenho? Por qu?2. Qual o seu desenho preferido?3. Escreva 3 nomes de filmes de desenho que voc j assistiu.

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    Agora que voc leu o texto, responda as perguntas.

    1. Que tipo de texto esse?2. Em que lugares encontramos esse tipo de texto?3. Para que serve esse tipo de texto?4. Identifique o nome do filme que est sendo apresentado?5. Por que o azul a cor que mais aparece no texto?6. Das personagens que aparecem no cartaz, qual delas representa o mal?7. O que voc observou para chegar a essa resposta?8. Do que trata o texto?

    Produo de textoProduza um convite no espao abaixo da folha sulfite, para ser entreguepessoalmente, convidando seu amigo para assistir o filme A pequena Sereia II,

    em sua casa, domingo partir das 14:00 hs.

    Nesta avaliao de leitura, possvel observar elementos de trabalho com ognero discursivo escolhido, numa ntida progresso na reconstruo dos conceitosde leitura, avaliao e formao do leitor junto aos professores.

    Como nas avaliaes anteriores, as atividades de pr-leitura auxiliam naativao de conhecimentos prvios sobre o tema do texto a ser lido, solicitandoprogresso de informaes do leitor. Destaca-se que, nas questes de pr-leitura, jse requer posicionamentos preferenciais e argumentativos do leitor, exigindo-lhe,antes mesmo de ler o texto propriamente dito, determinada criticidade. Assim, asduas primeiras questes, Voc gosta de assistir filme de desenho? Por qu? e Qual

    o seu desenho preferido?,solicitam do leitor muito mais do que simples ativaode conhecimento prvio, tambm j buscam uma posio de autor, de leitor crticoem formao.

    As trs primeiras perguntas sobre o texto lido apresentam elementos doestudo do gnero escolhido. Assim, a primeira delas, Que tipo de texto esse?,apesar de empregar a palavra tipo, significa, na verdade, gnero, que, segundodepoimentos orais dos professores, um vocbulo estranho aos alunos, por isso apreferncia pela utilizao de tipo. As demais perguntas evidenciam a circulaodo texto, Em que lugares encontramos esse tipo de texto?e a finalidade do gnero,Para que serve esse tipo de texto?, demonstrando que os estudos e orientaesproduzidas durante o ano da pesquisa foram incorporados nas avaliaes de leitura

    construdas.A pergunta 4 de compreenso textual; a 5 exige do aluno uma leitura de

    inferncia extra-textual, em que as informaes do texto, aliadas ao conhecimentode mundo do leitor, possibilitam a construo de uma ponte de sentido, comresposta de certo nvel interpretativo. J a pergunta 8, como nas avaliaesanteriores, vem posicionada estrategicamente ao final do estudo do texto, como umresumo das informaes trabalhadas nas perguntas anteriores, auxiliando o leitor nasua produo.

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    A atividade que solicita produo de texto apresenta comando com oselementos prprios para o trabalho com o gnero discursivo eleito, de acordo com

    Menegassi (2003):

    Produza um convite no espao abaixo da folha sulfite, para ser entreguepessoalmente, convidando seu amigo para assistir o filme A pequena Sereia II,em sua casa, domingo partir das 14:00 hs.

    Assim, indicam-se o gnero discursivo (convite) a ser produzido, a finalidade(convidar amigo para assistir filme, com informaes sobre o filme, lugar e horrio),o interlocutor (um amigo), o portador textual (pedao de papel sulfite), a circulao(entregar pessoalmente), a posio do autor (amigo convidando amigo para ir suacasa), os quais configuram um trabalho mais adequado com a produo textual em

    sala de aula.

    ResultadosCom a anlise dos instrumentos de avaliao de leitura produzidos, nota-se

    que:a) as atividades de pr-leitura, em forma de perguntas que relacionam o tema do

    texto a ser lido com a vivncia do aluno-leitor, tornam-se constantes;b) os elementos e caractersticas sociais do gnero discursivo passam a ser

    consideradas na produo das perguntas, levando o leitor a conceber o textocomo uma manifestao de linguagem de carter scio e historicamente

    estabelecida, no apenas um momento de tarefa escolar;c) as perguntas de interpretao so em maior nmero, exigindo do aluno-leitor

    posicionamentos crticos, desenvolvendo-se progressivamente durante suaformao como leitor;

    d) o comando de produo textual demonstrou que os elementos prprios para aconstruo escrita de um gnero discursivo passaram a ser internalizadosnas atividades dos professores;

    e) a dificuldade inicial do professor, na identificao e escolha de gnerosdiscursivos que circulam entre os alunos, foi se alterando ao longo doprocesso da pesquisa;

    f) o professor, mesmo utilizando-se de textos retirados de livros didticos,passou a considerar a temtica prpria idade das crianas, escolhendomais adequadamente o gnero discursivo trabalhado;

    g) o gnero discursivo escolhido leva em conta o entorno social do leitor e asrelaes pessoais com a temtica do texto lido.

    Esses pontos destacados evidenciam as transformaes ocorridas ao longodo ano letivo de 2006, demonstrando as reconstrues e as internalizaesconceituais no nvel terico-metodolgico de produo de instrumentos de avaliaode leitura, no processo de formao do leitor nas sries iniciais.

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    Referncias

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