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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’O S S E RVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Ano XLIX, número 20 (2.516) Cidade do Vaticano quinta-feira 17 de maio de 2018 y(7HB5G3*QLTKKS( +:!z!,!?!"! Uma espiral de violência que afasta a paz Preocupação do Papa pelo agravamento das tensões na Terra Santa e no Médio Oriente Visita do Pontífice a Nomadélfia e a Loppiano P ro f e c i a de diálogo e fraternidade Duas “cidadelas” do diálogo e da fraternidade, dois lugares onde se vive plenamente a entrega do amor evangélico e se experimenta a profecia de uma «nova civilização». Eis a realidade de Nomadélfia e Loppiano, as duas comunidades que acolheram a visita do Papa Francisco na quinta-fei- ra, 10 de maio. A manhã que o Pontífice passou no centro da Toscana ini- ciou com o encontro com os filhos espirituais de Dom Zeno Saltini, o sa- cerdote de Carpi que lançou a primeira semente de Nomadélfia. Logo a se- guir foi a Loppiano, onde no santuário dedicado a Maria Theotokos sau- dou os membros do movimento dos Focolares. PÁGINAS 8, 9 E 10 Encontro com a diocese de Roma na basílica de São João de Latrão Para um novo êxodo «É necessário ouvir sem medo a nossa sede de Deus e o grito que sobe da nossa gente de Roma, questionando-nos: em que sentido este brado exprime uma necessida- de de salvação, ou seja, de Deus?». Foi o convite dirigido pelo Papa Francisco aos representantes das di- versas componentes da comunidade diocesana de Roma que participa- ram no encontro que teve lugar no final da tarde de segunda-feira, 14 de maio, na basílica de São João de Latrão. Depois de ter ouvido o relatório de síntese do trabalho da comissão que nos últimos meses aprofundou o tema das “doenças espirituais” e após ter respondido a quatro per- guntas que lhe foram dirigidas pelo arcebispo vigário Angelo De Dona- tis, o Pontífice proferiu um discurso no qual exortou a deixar-se «ilumi- nar pelo paradigma do êxodo, que narra precisamente como o Senhor escolheu e educou um povo ao qual se unir, para o transformar num ins- trumento da sua presença no mun- do». Este acontecimento, explicou, «fala de uma escravidão, de uma saída, de uma passagem, de uma aliança, de uma tentação/murmura- ção e de uma entrada», mas subs- tancialmente é «um caminho de cu- ra». E como tal pode orientar os passos da comunidade eclesial de Roma, ajudando-a a libertar-se de «uma condição de escravidão, ou seja, de limitação sufocante, de de- pendência de coisas que não são o Senhor». Neste sentido, Francisco convi- dou os presentes «a empreender ou- tra etapa do caminho da Igreja de Roma: sob um certo ponto de vista um novo êxodo, uma nova partida, que renove a nossa identidade de povo de Deus». Para alcançar este objetivo, acrescentou, «será preciso que as nossas comunidades se tor- nem capazes de gerar um povo, ou seja, capazes de oferecer e estabele- cer relações nas quais a nossa gen- tes possa sentir-se conhecida, reco- nhecida, escutada, amada». Uma verdadeira «revolução da ternura», que parte de «uma passagem prévia de reconciliação e de consciência que a Igreja de Roma deve cum- prir»: isto é, «reconciliar-se e reto- mar um olhar verdadeiramente pas- toral quer em relação a si mesma quer em relação ao povo ao qual é enviada». Publicaremos o discurso no pró- ximo número. Apelo após os atentados na Indonésia Chega de ódio PÁGINA 3 Em Nomadélfia junto do túmulo de Dom Zeno Em Loppiano As exéquias da recém-nascida assassinada na fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel «Guerra chama guerra, violência chama violên- cia». Preocupado e entristecido «pelo agrava- mento das tensões na Terra Santa e no Médio Oriente», o Papa renovou o apelo para que se ponha fim «à espiral de violência que afasta cada vez mais do caminho da paz, do diálogo e das negociações». No final da audiência geral de quarta-feira 16 de maio, na praça de São Pedro, o Pontífice ga- rantiu a sua proximidade «com a oração e o afeto a quantos sofrem», exprimindo «grande tristeza pelos mortos e feridos» causados pelos conflitos destes dias. «Reafirmo que o uso da violência nunca leva à paz» disse com vigor o Papa Fran- cisco, que em seguida exortou «todas as partes em causa e a comunidade internacional a renovar o empenho a fim de que prevaleçam o diálogo, a justiça e a paz». Também na saudação dirigida aos fiéis polacos presentes no encontro — entre os quais um grupo de ex-combatentes vindos para as celebrações do aniversário da batalha de Monte Cassino — o Pontífice fez referência à tragédia das duas guer- ras mundiais, que ensanguentaram o século pas- sado, para renovar o seu «apelo a favor da cessa- ção dos conflitos em curso no mundo e pela bus- ca de caminhos de paz». Significativos também os seus votos para o iní- cio do Ramadão, com o desejo de que «este tem- po privilegiado de oração e jejum ajude a percor- rer o caminho de Deus que é a via da paz». Precedentemente, ao concluir o ciclo de cate- queses dedicadas ao primeiro sacramento da ini- ciação cristã, Francisco recordou que «é dever dos pais, juntamente com os padrinhos e madrinhas, zelar pela alimentação da chama da graça batis- mal nas suas crianças, ajudando-as a perseverar na fé». De facto, reafirmou, para os pequenos «a educação cristã é um direito; ela tende a guiá-las gradualmente a fim de que conheçam o desígnio de Deus em Cristo: deste modo poderão ratificar pessoalmente a fé na qual foram batizadas». Antes da audiência geral o Papa recebeu em Santa Marta uma delegação das religiões dármi- cas indianas e depois, no local adjacente à Sala Nervi, um grupo de budistas provenientes da Tailândia. PÁGINA 16

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L’O S S E RVATOR E ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Ano XLIX, número 20 (2.516) Cidade do Vaticano quinta-feira 17 de maio de 2018

y(7HB5G3*QLTKKS( +:!z!,!?!"!

Uma espiral de violênciaque afasta a paz

Preocupação do Papa pelo agravamento das tensões na Terra Santa e no Médio Oriente

Visita do Pontífice a Nomadélfia e a Loppiano

P ro f e c i ade diálogo e fraternidade

Duas “cidadelas” do diálogo e da fraternidade, dois lugares onde se viveplenamente a entrega do amor evangélico e se experimenta a profecia deuma «nova civilização». Eis a realidade de Nomadélfia e Loppiano, asduas comunidades que acolheram a visita do Papa Francisco na quinta-fei-ra, 10 de maio. A manhã que o Pontífice passou no centro da Toscana ini-ciou com o encontro com os filhos espirituais de Dom Zeno Saltini, o sa-cerdote de Carpi que lançou a primeira semente de Nomadélfia. Logo a se-guir foi a Loppiano, onde no santuário dedicado a Maria Theotokos sau-dou os membros do movimento dos Focolares.

PÁGINAS 8, 9 E 10

Encontro com a diocese de Roma na basílica de São João de Latrão

Para um novo êxodo«É necessário ouvir sem medo anossa sede de Deus e o grito quesobe da nossa gente de Roma,questionando-nos: em que sentidoeste brado exprime uma necessida-de de salvação, ou seja, de Deus?».Foi o convite dirigido pelo PapaFrancisco aos representantes das di-versas componentes da comunidadediocesana de Roma que participa-ram no encontro que teve lugar nofinal da tarde de segunda-feira, 14de maio, na basílica de São João deLatrão.

Depois de ter ouvido o relatóriode síntese do trabalho da comissãoque nos últimos meses aprofundouo tema das “doenças espirituais” eapós ter respondido a quatro per-guntas que lhe foram dirigidas peloarcebispo vigário Angelo De Dona-tis, o Pontífice proferiu um discursono qual exortou a deixar-se «ilumi-nar pelo paradigma do êxodo, quenarra precisamente como o Senhorescolheu e educou um povo ao qualse unir, para o transformar num ins-trumento da sua presença no mun-do».

Este acontecimento, explicou,«fala de uma escravidão, de umasaída, de uma passagem, de umaaliança, de uma tentação/murmura-ção e de uma entrada», mas subs-

tancialmente é «um caminho de cu-ra». E como tal pode orientar ospassos da comunidade eclesial deRoma, ajudando-a a libertar-se de«uma condição de escravidão, ouseja, de limitação sufocante, de de-pendência de coisas que não são oSenhor».

Neste sentido, Francisco convi-dou os presentes «a empreender ou-tra etapa do caminho da Igreja deRoma: sob um certo ponto de vistaum novo êxodo, uma nova partida,que renove a nossa identidade depovo de Deus». Para alcançar esteobjetivo, acrescentou, «será precisoque as nossas comunidades se tor-nem capazes de gerar um povo, ouseja, capazes de oferecer e estabele-cer relações nas quais a nossa gen-tes possa sentir-se conhecida, reco-nhecida, escutada, amada». Umaverdadeira «revolução da ternura»,que parte de «uma passagem préviade reconciliação e de consciênciaque a Igreja de Roma deve cum-prir»: isto é, «reconciliar-se e reto-mar um olhar verdadeiramente pas-toral quer em relação a si mesmaquer em relação ao povo ao qual éenviada».

Publicaremos o discurso no pró-ximo número.

Apelo após os atentados na Indonésia

Chega de ódio

PÁGINA 3

Em Nomadélfia junto do túmulo de Dom Zeno Em Loppiano

As exéquias da recém-nascida assassinadana fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel

«Guerra chama guerra, violência chama violên-cia». Preocupado e entristecido «pelo agrava-mento das tensões na Terra Santa e no MédioOriente», o Papa renovou o apelo para que seponha fim «à espiral de violência que afasta cadavez mais do caminho da paz, do diálogo e dasnego ciações».

No final da audiência geral de quarta-feira 16de maio, na praça de São Pedro, o Pontífice ga-rantiu a sua proximidade «com a oração e o afetoa quantos sofrem», exprimindo «grande tristezapelos mortos e feridos» causados pelos conflitosdestes dias. «Reafirmo que o uso da violêncianunca leva à paz» disse com vigor o Papa Fran-cisco, que em seguida exortou «todas as partesem causa e a comunidade internacional a renovaro empenho a fim de que prevaleçam o diálogo, ajustiça e a paz».

Também na saudação dirigida aos fiéis polacospresentes no encontro — entre os quais um grupode ex-combatentes vindos para as celebrações doaniversário da batalha de Monte Cassino — oPontífice fez referência à tragédia das duas guer-ras mundiais, que ensanguentaram o século pas-sado, para renovar o seu «apelo a favor da cessa-ção dos conflitos em curso no mundo e pela bus-ca de caminhos de paz».

Significativos também os seus votos para o iní-cio do Ramadão, com o desejo de que «este tem-

po privilegiado de oração e jejum ajude a percor-rer o caminho de Deus que é a via da paz».

Precedentemente, ao concluir o ciclo de cate-queses dedicadas ao primeiro sacramento da ini-ciação cristã, Francisco recordou que «é dever dospais, juntamente com os padrinhos e madrinhas,zelar pela alimentação da chama da graça batis-mal nas suas crianças, ajudando-as a perseverar nafé». De facto, reafirmou, para os pequenos «aeducação cristã é um direito; ela tende a guiá-lasgradualmente a fim de que conheçam o desígniode Deus em Cristo: deste modo poderão ratificarpessoalmente a fé na qual foram batizadas».

Antes da audiência geral o Papa recebeu emSanta Marta uma delegação das religiões dármi-cas indianas e depois, no local adjacente à SalaNervi, um grupo de budistas provenientes daTa i l â n d i a .

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página 2 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 17 de maio de 2018, número 20

L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suumEM PORTUGUÊSNon praevalebunt

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GI O VA N N I MARIA VIANd i re t o r

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A uma associação laical belga

Construtores de pontesna vida pública

Encontro do Pontífice com os sócios do Círculo de São Pedro

Praticar a caridade para ser santo

A recomendação a pôr «talentos ecompetência ao serviço da edificação deuma sociedade mais justa, maisfraterna e mais humana» foi confiadapelo Papa aos leigos belgas da áreaflamenga reunidos na associação Logia,durante a audiência concedida namanhã de sábado, 12 de maio, naSala do Consistório.

Queridos amigos!Bem-vindos por ocasião da vossa vi-sita a Roma. Ao agradecer a vossaapresentação da associação Logia,desejo dirigir a minha cordial sauda-ção a todos os membros, assim co-mo às pessoas que ajudais graças àsvossas várias iniciativas.

Juntamente convosco, agradeço aoSenhor que vos permitiu «voltar àfonte e recuperar o frescor originaldo Evangelho» (Exort. ap. Evangeliigaudium, 11) e dali fazer surgir oprojeto Logia, que nasceu na parteflamenga da Bélgica. No âmbito deuma sociedade secularizada, onde al-guns gostariam de relegar a religiãoà intimidade secreta das pessoas, oobjetivo da vossa associação eviden-cia que «uma fé autêntica […] com-porta sempre um profundo desejode mudar o mundo, transmitir valo-res, deixar a terra um pouco melhordepois da nossa passagem por ela»(ibid., 183).

Deste modo, através da vossa pre-sença no cerne do âmbito público enos meios de comunicação, vós con-firmais que a escolha de seguir Cris-to e de pôr em prática as suas pala-vras nunca constitui uma perda dehumanidade, mas favorece o desen-volvimento dos nossos talentos e dasnossas competências em vista dobem de todos, ao serviço da edifica-ção de uma sociedade mais justa,mais fraterna e mais humana segun-do o coração de Deus. Portanto, en-corajo-vos a evidenciar, mediante aparticipação no debate público, queo Evangelho é um percurso de hu-manização na escola de Jesus, nossoSenhor e Mestre, não como inimigosque apontam o dedo e condenam,mas com a mansidão e o respeito(cf. 1 Pd 3, 16), sem vos cansar defazer o bem (cf. Gl 6, 9).

Através das vossas múltiplas ini-ciativas, possais testemunhar o dese-jo da Igreja de acompanhar, com asdiversas forças sociais, «as propostasque melhor correspondam à dignida-de da pessoa humana e ao bem co-mum» (Evangelii gaudium, 241),apoiando-vos na grande riqueza datradição cristã e na Doutrina socialda Igreja. Tende a peito manifestar,com as palavras e as ações, que a féem Jesus Cristo nunca é sinónimode fechamento, porque ela é dom deDeus oferecido a todos os homens

como um caminho que liberta dopecado, da tristeza, do vazio inte-rior, do isolamento, e a fonte deuma alegria que ninguém nos podetirar (cf. Jo 15, 11).

Por conseguinte, não tenhais me-do de pedir com insistência, na vos-sa oração e com a vossa participaçãonos Sacramentos, a ajuda do Espíri-to Santo para que vos seja doado«um espírito de santidade que im-pregne tanto a solidão como o servi-ço, tanto a intimidade como a tarefaevangelizadora, para que cada ins-tante seja expressão de amor doadosob o olhar do Senhor» (Exort. ap.Gaudete et exsultate, 31). Nesta pers-petiva, convido-vos também, atravésdos vossos encontros mensais, a de-senvolver vínculos de fraternidadepara tornar visível esta comunhãodas diferenças, da qual o EspíritoSanto é mestre, chefe de projeto, a

fim de fazer crescer, com o vossotestemunho de vida, uma cultura doencontro e do diálogo no meio dasociedade. Sob o impulso da graçade Deus, possais evidenciar humil-demente aquela santidade para aqual o Senhor nos chama, construin-do, com audácia e perseverança,pontes entre os homens, entre as ge-rações, entre os diversos âmbitos so-

ciais e profissionais, e reservandouma atenção especial aos pequeni-nos, aos pobres e a todas as pessoasque, de uma forma ou de outra, sãoexcluídas. Com esta esperança, econfiando-vos ao Senhor, por inter-cessão da Virgem Maria, concedo aBênção apostólica a vós e a todos osmembros da associação Logia.

O brigado.

«Uma bonita realidade de assistênciae de ajuda aos pobres: um ramo darica e fecunda “v i d e i ra ” da caridade,expressão da “vinha” eclesial deRoma: assim o Papa definiu oCírculo de São Pedro durante aaudiência que teve lugar na manhãde sábado 12 de maio na SalaClementina.

Queridos sóciosdo Círculo de São Pedro!Saúdo-vos cordialmente a todos eagradeço ao vosso Presidente-Geral,Duque Leopoldo Torlonia, as suaspalavras. Manifesto o meu apreço acada um pelo serviço diário a favordas pessoas mais desfavorecidas dacidade. Há muitos anos, o Círculode São Pedro é uma bonita realida-de de assistência e de ajuda aos po-bres: um ramo da rica e fecunda

“videira” da caridade, expressão da“vinha” eclesial de Roma. Sei quevos esforçais por ser o rosto de umaIgreja que avança até aos confins,que nunca está parada, mas cami-nha para ir ao encontro dos irmãose das irmãs que têm fome e sede deescuta, partilha, proximidade e soli-dariedade. Exorto-vos a prosseguirpor este caminho!

Na vossa atividade, não tenhaisvergonha da carne ferida do irmão,mas em cada pessoa sofredora e ne-cessitada sabei entrever o rosto deCristo. Sede missionários corajososda caridade cristã e não vos canseisde dar testemunho da misericórdiae da bondade de Deus, tornando-vos instrumentos de consolação pa-ra tantas pessoas frágeis e desespe-radas.

Tendes diante de vós o exemplode muitos Santos da caridade, jábeatificados ou canonizados; masdeixai-vos estimular também «pelossinais de santidade que o Senhornos apresenta através dos membrosmais humildes deste povo que par-ticipam também da função proféti-ca de Cristo, difundindo o seu tes-temunho vivo, sobretudo pela vidade fé e de caridade» (Exort. ap.Gaudete et exsultate, 8). O vossoapostolado constitui uma ocasião eum instrumento a fim de corres-ponder ao chamado à santidadeque o Senhor dirige a cada um denós. Através das obras de caridade,vós permitis que a graça recebidano Batismo frutifique num caminhode santidade, que é o fruto da açãodo Espírito Santo na nossa vida.

Obrigado também pelo Óbolode São Pedro, que recolheis em to-das as igrejas como sinal da vossaparticipação na solicitude do Bispode Roma para com a pobreza destacidade. A vossa apreciada atividadecaritativa seja sempre sustentadapela oração e pela referência cons-tante à Palavra de Deus, luz queilumina o nosso caminho.

Confio-vos, assim como os vossosfamiliares e a vossa missão, à prote-ção da Virgem Santa, a Salus PopuliRomani, e à intercessão de São Pe-dro e São Paulo. Peço-vos que con-tinueis a apoiar o meu ministériotambém com a oração, e abençoo-vos de coração.

O brigado.Aurelio Bulzatti, «Caridade»

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número 20, quinta-feira 17 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 3

No Regina Caeli o apelo depois dos atentados na Indonésia

Chega de ódioAplauso às mães que preservam as famílias

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!Hoje, em Itália e em muitos outrospaíses, celebra-se a solenidade daAscensão do Senhor. Esta festa in-clui dois elementos. Por um lado,orienta o nosso olhar para o céu, on-de Jesus glorificado está sentado àdireita de Deus (cf. Mc 16, 19). Poroutro, recorda-nos o início da missãoda Igreja: porquê? Porque Jesus res-suscitado e elevado ao céu envia osseus discípulos a difundir o Evange-lho por todo o mundo. Portanto, aAscensão exorta-nos a elevar o olharpara o céu, para o dirigir logo a se-guir para a terra, cumprindo as tare-fas que o Senhor ressuscitado nosconfia.

deram início a esta obra, que depoisfoi continuada pelos seus sucessores.A missão confiada por Jesus aosApóstolos prosseguiu através dos sé-culos, e prossegue ainda hoje: elaexige a colaboração de todos nós.Com efeito, cada um de nós, em vir-tude do Batismo que recebeu, estáhabilitado por sua vez a anunciar oEvangelho. É precisamente o batis-mo que habilita e também nos impe-le a ser missionários, que anuncia oEvangelho.

A Ascensão do Senhor ao céu, en-quanto inaugura uma nova forma depresença de Jesus no meio de nós,pede-nos para ter olhos e coraçãopara o encontrar, para o servir e pa-

também hoje Ele nos envia, com amesma força para dar sinais concre-tos e visíveis de esperança. PorqueJesus que nos dá a esperança, foielevado ao céu, abriu as portas docéu e a esperança que nós para lái re m o s .

A Virgem Maria que, como Mãedo Senhor morto e ressuscitado, ani-mou a fé da primeira comunidadedos discípulos, nos ajude também amanter «elevados os nossos cora-ções», como a Liturgia nos exorta afazer. E, ao mesmo tempo, nos ajudea ter “os pés no chão”, e a semearcom coragem o Evangelho nas situa-ções concretas da vida e da história.

No final da prece mariana, depois doapelo a favor da paz na Indonésia, oPontífice recordou o Dia mundial dascomunicações sociais, dedicado este anoao tema «Fake news e jornalismo depaz». Portanto, saudou os diversosgrupos de fiéis presentes, concluindo o

Regina Caeli com um pensamento àsmães, no dia em que se celebra a suafesta, e com uma oração a NossaSenhora de Fátima.

Queridos irmãos e irmãs!Estou particularmente próximo doquerido povo da Indonésia, de for-ma especial das comunidades cristãsda cidade de Surabaya duramenteatingidas pelo grave ataque contraos lugares de culto. Elevo a minhaoração por todas as vítimas e pelosseus familiares. Juntos invoquemos oDeus da paz para de que ponha fima estas ações violentas, e para queno coração de todos encontrem es-paço não os sentimentos de ódio ede violência, mas de reconciliação efraternidade. Rezemos em silêncio.

Celebra-se hoje o Dia Mundialdas Comunicações Sociais, sobre otema «Fake news — ou seja, notíciasfalsas — e jornalismo de paz». Saúdotodos os profissionais dos meios decomunicação, especialmente os jor-nalistas que se empenham para pro-curar a verdade das notícias, contri-buindo para uma sociedade justa epacífica.

Saúdo os funcionários da “Fe d e r a lExpress Europe”, esperando que asatuais dificuldades encontrem umasolução positiva. Dirijo um pensa-mento especial aos Alpinos, reunidosem Trento para o Encontro Nacio-nal. Encorajo-os a ser testemunhasde caridade e agentes de paz, se-guindo o exemplo de Teresio Olivel-li, alpino, defensor dos débeis, pro-clamado recentemente Beato. E sen-do hoje o dia das mães em muitospaíses, um aplauso às mães! Saúdotodas as mães, agradecendo-lhes asua preservação da família. Recordotambém as mães que nos vigiam docéu e continuam a preservar-noscom a oração.

Desejo a todos um bom domingo.Por favor, não vos esqueçais de rezarpor mim. Bom almoço e até à vista!

Eric Wagoner, «Ascensão»

Apelo do Papa pelo fim das violências na Indonésia. Depois dos recentesatentados que abalaram o país asiático, em particular os que atingiram ascomunidades cristãs de Surabaya, o Pontífice expressou a sua proximidade àpopulação durante o Regina caeli de domingo, 13 de maio, auspiciando que «nocoração de todos encontrem espaço sentimentos de reconciliação e de fraternidade.Precedentemente, referindo-se à festa litúrgica da Ascensão, celebrada na Itália enalguns países, Francisco convidou os quarenta e cinco mil fiéis presentes napraça de São Pedro a ser «homens e mulheres da Ascensão, ou seja, buscadoresde Cristo pelas sendas do nosso tempo».

Visita «ad limina» dos preladosda Conferência episcopal regional chinesa

Na manhã de segunda-feira, 14 de maio, o Papa recebeu em audiência os preladosda Conferência regional chinesa em visita «ad limina»

Santíssima Virgem de Fátimadirige o teu olhar sobre nós

sobre nossas famíliassobre o nosso país, sobre o mundo

(@Pontifex_pt)

Eis quanto nos convida a fazer apágina evangélica hodierna, na qualo evento da Ascensão vem imediata-mente depois da missão que Jesusconfia aos discípulos. Trata-se deuma missão incomensurável — ou se-ja, literalmente sem confins — quesupera as forças humanas. Com efei-to, Jesus diz: «Ide por todo o mun-do e pregai o Evangelho a toda cria-tura» (Mc 16, 15). Parece deveras de-masiado audaz a missão que Jesusconfia a um pequeno grupo de ho-mens simples e sem grandes capaci-dades intelectuais! Contudo, estarestrita companhia, irrelevante diantedas grandes potências do mundo, éenviada para levar a mensagem deamor e de misericórdia de Jesus atodos os recantos da terra.

Mas este projeto de Deus só podeser realizado com a força que o pró-prio Deus concede aos Apóstolo.Neste sentido, Jesus garante-lhesque a sua missão será apoiada peloEspírito Santo. Diz: «descerá sobrevós o Espírito Santo e vos dará for-ça; e sereis minhas testemunhas emJerusalém, em toda a Judeia e Sama-ria e até aos confins do mundo» (At1, 8). Por conseguinte, foi possívelrealizar esta missão, e os Apóstolos

pobres, em quantos sofrem na pró-pria carne a dura e mortificadora ex-periência de antigas e novas pobre-zas. Assim como inicialmente CristoRessuscitado enviou os seus apósto-los com a força do Espírito Santo,

ra o testemunharaos outros. Trata-sede ser homens emulheres da Ascen-são, ou seja, busca-dores de Cristo pe-las sendas do nossotempo, levando asua palavra de sal-vação até aos con-fins da terra. Nesteitinerário, encontra-mos o próprio Je-sus nos irmãos, so-bretudo nos mais

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página 4 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 17 de maio de 2018, número 20

Audiência ao metropolita Rastislav

Diversidades reconciliadas

Mensagem do Papa ao Katholikentag

Nostalgia de paz

Beatitude!Na alegria do Senhor ressuscitadosinto-me feliz por dar as boas-vindasa Vossa Excelência e à delegaçãoque o acompanha nesta peregrinaçãoa Roma, que realiza pela primeiravez como Primaz da Igreja ortodoxadas Terras Checas e da Eslováquia.Estou grato pela sua visita, que se-gue a do Cardeal Koch, Presidentedo Pontifício Conselho para a Pro-moção da Unidade dos Cristãos,realizada no ano passado à sua Ar-quidiocese. Agradeço-lhe também ocolóquio fraterno que mantivemos eas cordiais palavras que me dirigiu.

O apóstolo Paulo, antes de glorifi-car o Senhor com a oferta da vidanesta cidade, escreveu aos Romanos:«Procuremos o que interessa à paz eà mútua edificação» (14, 19). Bendi-gamos Deus pelos vínculos espiri-tuais que nos unem e nos encorajama prosseguir na edificação mútua ena busca conjunta da paz, dom doRessuscitado. Entre tais vínculosgostaria de evocar a presença, aquiem Roma, na antiga Basílica de SãoClemente, do túmulo de São Cirilo,Apóstolo dos Eslavos, cuja pregaçãodifundiu a fé nas terras onde a vossaIgreja desempenha a sua missão.Junto do seu túmulo Vossa Excelên-cia celebrou a Divina Liturgia, pres-tando homenagem a esse ilustreSanto, venerado pelos cristãos doOriente e do Ocidente. Precisamen-te a figura de São Cirilo inspira-metrês breves pensamentos que gostariade partilhar fraternalmente.

Segundo a tradição, os irmãos Ci-rilo e Metódio, provenientes de Tes-salónica, trouxeram ao Papa AdrianoII as relíquias de São Clemente, umdos primeiros Bispos de Roma, quemorreu no exílio na época do impe-rador Trajano. O gesto de Cirilo eMetódio recorda-nos que nós cris-tãos herdamos juntos — e temos ne-cessidade de partilhar continuamente— um imenso património comum desantidade. Entre as muitas testemu-nhas, professaram a fidelidade a Je-sus nos séculos passados inúmerosmártires, como São Clemente, masaté em tempos recentes, por exem-plo quando a perseguição ateia atin-giu os vossos países. Ainda hoje ossofrimentos de muitos irmãos e ir-mãs perseguidos por causa do Evan-gelho são uma evocação urgente,que nos interpela a buscar umamaior unidade. Possa o exemplo deCirilo e Metódio ajudar-nos a valori-zar este património de santidade quejá nos une!

O segundo aspeto, que nos recor-dam os Santos apóstolos dos esla-vos, diz respeito à relação entreevangelização e cultura. Bizantinosde cultura, os Santos irmãos tiverama audácia de traduzir a mensagemevangélica numa língua acessível aospovos eslavos da Grande Morávia.Encarnado o Evangelho numa deter-

minada cultura, proporcionaram de-senvolvimento à própria cultura. Oapostolado dos Santos Cirilo e Me-tódio, que o Papa João Paulo II p ro -clamou co-padroeiros da Europa,permanece hoje para todos nós ummodelo de evangelização. Paraanunciar o Senhor não é suficientereafirmar os esquemas do passado,mas é preciso pormo-nos à escuta doEspírito, que inspira sempre vias no-vas e corajosas para evangelizar oscontemporâneos. Também hoje ofaz, até em países tradicionalmentecristãos com frequência marcadospela secularização e indiferença.

Dos Santos Cirilo e Metódio gos-taria de citar um último aspeto. Elesconseguiram superar as divisões quesurgiram entre comunidades cristãsde culturas e tradições diferentes.Neste sentido podemos dizer que fo-ram «autênticos precursores do ecu-

menismo» (João Paulo II, Carta enc.Slavorum Apostoli, 14) Recordam-nosdesta forma que a unidade não sig-nifica uniformidade mas reconcilia-ção das diversidades no EspíritoSanto. Possa o testemunho dos San-tos Cirilo e Metódio acompnhar-nos, ao longo do caminho rumo àplena unidade, estimulando-nos a vi-ver esta diversidade na comunhão ea nunca desanimar no nosso percur-so, que somos chamados a percorrerpor vontade do Senhor e com ale-gria. A tal propósito, alegro-me pela

participação ativa da vossa Igreja naComissão mista internacional para odiálogo teológico entre a Igreja católicae a Igreja ortodoxa, através do Arce-bispo Juraj, aqui presente. Faço vo-tos a fim de que esta Comissão, queem 2016 adotou em Chieti um docu-mento sobre as relações entre prima-do e conciliaridade no primeiro mi-lénio, possa continuar a aprofundaro diálogo sobre este tema.

Beatitude, queridos irmãos, agra-deço-vos mais uma vez a vossa visi-ta, um dom para crescer na edifica-ção mútua, fortalecendo os nossosvínculos espirituais e de amizade.Peço ao Senhor, por intercessão dosSantos Cirilo e Metódio, que um diapossamos alcançar a plena unidade,para a qual caminhamos.

Peço-vos que transmitais aos vos-sos fiéis a garantia da minha recor-dação orante e a minha saudaçãocordial em Cristo ressuscitado. Invo-cando sobre todos a bênção do Se-nhor e a proteção da Mãe de Deus,peço-vos que reserveis um lugar paramim nas vossas preces.

Foi dedicada ao tema da paz a seguinte mensagemenviada pelo Papa Francisco aos participantes nacentésima primeira edição do Katholikentag, encontro doscatólicos alemães, que tem lugar em Münster.

Queridos irmãos e irmãs!Saúdo cordialmente todos vós por ocasião do 101º Ka-tholikentag que se realiza em Münster e estou feliz porserdes tão numerosos. A vossa participação é um sinalclaro de quanto vos está a peito o lema deste Katholi-kentag: «Busca a paz».

Esta expressão foi tirada do Salmo 34: «Desvia-te domal e pratica o bem, busca a paz e segue-a» (v. 15). Éum imperativo e um pedido de ajuda de extrema atua-lidade. Hoje não há tema mais importante no debatepúblico sobre a religião que o problema do fanatismo eda propensão à violência. Observamos isto na esferafamiliar, nos lugares de trabalho, nas associações, nosbairros, nas regiões e nas nações: onde quer que o ho-mem como tal não seja considerado um dom de Deushá desacordo, ressentimento e ódio. Estou profunda-mente preocupado pelas pessoas, de modo especial pe-las crianças e jovens, que são obrigados a fugir parasalvar a vida por causa da guerra e da violência nospróprios países. Batem às nossas portas pedindo ajudae acolhimento. Nos seus olhos vemos a nostalgia dapaz.

Há 370 anos, a cidade de Münster foi o cenário deuma paz significativa depois de uma guerra devastado-ra. Estabeleceu-se que o homicídio de guerra, cometidopelo homem até abusando do nome de uma religião,tivesse fim. O Katholikentag que se realiza em Müns-ter exorta-nos a aprender o caminho da paz para o fu-turo da nossa história. Um instrumento-chave para al-cançar isto é o nosso engajamento cristão na família,nas nossas escolas e instituições de formação, mas tam-bém e sobretudo na política.

A paz continua a crescer quando os cristãos de di-versas confissões se manifestam publicamente unidosno testemunho de Cristo e juntos se comprometem nasociedade, porque Cristo é a nossa paz (cf. Ef 2, 14). Apaz exige a convivência respeitadora de todas as pes-

soas de boa vontade, de todas as religiões e confissões.Todos podem ser pedras preciosas para a construçãode uma sociedade amante da paz. Buscar a paz e tor-ná-la tal é tarefa de todos os homens. Sois mensageirosde paz, de responsabilidade e misericórdia, sobretudopara as jovens gerações! Em cada criança, onde querque tenha nascido, é Cristo que olha para nós, Cristoque veio ao nosso mundo como um menino indefeso.As crianças são o futuro!

A participação equilibrada de todos os homens emulheres no bem-estar da própria sociedade é o funda-mento de uma paz duradoura. Contudo, a participaçãoequilibrada de todos é válida também para todos oshomens de todas as sociedades no mundo inteiro. Asgrandes obras de ajuda da Igreja, as associações e mui-tas paróquias oferecem um contributo precioso nesteâmbito. Mas a paz inicia de modo simples e modestona nossa linguagem, na escolha das palavras que usa-mos. Com palavras que se assemelham ao pão, fortale-cedoras, de apreço, boas, esclarecedoras e confiáveis:assim tem início a paz. Palavras que amam a verdadepronunciada pela nossa boca — na sociedade e na Igre-ja, em família e no círculo de amigos, no trabalho ouno tempo livre — servem a paz. Assim como tambémas palavras das nossas orações!

Desejo que este Katholikentag seja uma grande festada fé e um sinal de paz visível à distância. Os dias quevão da Ascensão ao Pentecostes recordam-nos que de-vemos pedir incessantemente ao Espírito Santo a fimde que nos conceda os seus dons e faça crescer a pazdo Senhor. Rezemos também a Maria, que como Mãeda Igreja orou juntamente com os apóstolos pela vindado Espírito Santo. Que Maria acompanhe e ampare anossa busca de paz. Confiemo-nos à sua intercessão e àsua ajuda!

Estou unido a vós na oração. Por favor, não vos es-queçais de rezar por mim! Concedo de coração a bên-ção apostólica a vós que estais reunidos em Münster ea todos os fiéis do povo de Deus na Alemanha.

Vaticano, 1 de maio de 2018

FRANCISCO

«Unidade não significa uniformidade mas reconciliação das diversidades noEspírito Santo», recordou o Papa a sua beatitude Rastislav, arcebispo de Prešove metropolita das Terras Checas e da Eslováquia, recebido em audiência namanhã de 11 de maio. Depois de um breve encontro particular do Pontífice com ometropolita, tiveram lugar a apresentação da delegação que acompanhavaRastislav e o intercâmbio dos dons e dos discursos. No final, o metropolitaalmoçou com Francisco em Santa Marta.

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número 20, quinta-feira 17 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 5

Em ligação vídeo com os participantes na vigília mariana internacional

A santidade é um elixir de juventude

Confirmação do delegado especialda ordem de Malta

Prezados amigos!

Estou feliz por participar na Vigíliamariana internacional dos jovens, empreparação para a próxima Assem-bleia do Sínodo dos Bispos, organi-zada no novo Santuário de São Ga-briel de Nossa Senhora das Dores. Éverdade que estou fisicamente dis-tante de vós, mas graças às moder-nas tecnologias da comunicação, te-mos a possibilidade de encurtar as

Assunção ao Céu, porque a santida-de nos preserva eternamente jovens,é o verdadeiro «elixir da juventude»do qual temos tanta necessidade. Foia juventude renovada que nos trouxea Ressurreição do Senhor.

Quem o entendeu bem foi SãoGabriel de Nossa Senhora das Do-res, Padroeiro dos estudantes, umsanto jovem apaixonado por Maria.Tendo perdido a sua mãe quando

na Família religiosa dos Passionistas,tornando-se Gabriel de Nossa Se-nhora das Dores.

Como reiterei recentemente naExortação Apostólica Gaudete et ex-sultate, «a santidade é o rosto maisbonito da Igreja» (n. 9) e transfor-ma-a numa comunidade «simpática»(cf. n. 93). Se Santo Ambrósio diziaque estava convicto de que «todas asidades são maduras para a santida-de» (De virginitate, 40), sem dúvidatambém o é a idade juvenil. Portan-to, não tenhais medo de ser Santos,olhando para Maria, São Gabriel etodos os Santos que vos precederame vos indicam o caminho!

O primeiro pensamento é paraMaria. O segundo pensamento é pa-ra os jovens unidos a nós de váriaspartes do mundo para participarnesta Vigília. Saúdo afetuosamenteos jovens do Panamá, reunidos noSantuário internacional do “Corazónde Maria” com o Bispo D. DomingoUlloa Mendieta, com os quais meencontrarei no próximo ano, porocasião da Jornada Mundial da Ju-ventude; os jovens da FederaçãoRussa, congregados na Catedral daTransfiguração, em Novosibirsk,com o seu Bispo D. Joseph Werth eo Delegado para os jovens de toda aRússia, Mons. Clemens Pickel; osjovens da Irlanda, em ligação daGlencomeragh House, Casa de ora-ção e formação para os jovens, jun-tamente com o Bispo D. AlphonsusCullinan; e finalmente os jovens deTaiwan, reunidos em Taiwan, naigreja dedicada a “Our Lady of As-sumption”. Precisamente nestes dias,os Bispos de Taiwan estão em Romapara a Visita «ad limina». Ficarãofelizes de saber que os seus jovensrezam e que hoje também eles estãocom o Sucessor de Pedro!

Estimados jovens, unidos em ora-ção de lugares tão distantes, vós soisuma profecia de paz e de reconcilia-ção para a comunidade inteira. Nun-ca me cansarei de o repetir: não le-vanteis muros, construí pontes! Não

levanteis muros, construí pontes!Uni as margens dos oceanos que vosseparam, com o entusiasmo, a deter-minação e o amor dos quais sois ca-pazes. Ensinai aos adultos, cujo co-ração muitas vezes se endureceu, aescolher o caminho do diálogo e daconcórdia, para deixar aos seus fi-lhos e aos seus netos um mundomais bonito e mais digno do ho-mem.

O terceiro e último pensamento épara o Sínodo, já próximo. Sabeisque a próxima Assembleia do Síno-do dos Bispos será dedicada a «Osjovens, a fé e o discernimento voca-cional», e que desde há tempos aIgreja inteira está intensamente com-prometida no caminho sinodal.

Encontrando-me com muitos jo-vens como vós, por ocasião da Reu-nião pré-sinodal de março passado,alertei para o perigo de falar dos jo-vens sem permitir que eles falem,deixando-os à «distância de seguran-ça». Os jovens não mordem, podemaproximar-se e têm entusiasmo; ealém do entusiasmo vós tendes achave do futuro.

Caros jovens, quando voltardespara as vossas famílias e paróquias —em Teramo, Panamá, Rússia, Irlandae Taiwan — não deixeis que vos si-lenciem. Sem dúvida, quem fala po-de errar, e também os jovens às ve-zes erram, são humanos, cometempecados de imprudência, por exem-plo. Mas não tenhais medo de errare de aprender dos vossos erros; é as-sim que se vai em frente. Se alguém— inclusive os vossos pais, os vossossacerdotes e os vossos professores —procurar fechar a vossa boca, recor-dai-lhes que a Igreja e o mundo têmnecessidade também dos jovens parase rejuvenescerem a si mesmos. Enão vos esqueçais de ter ao vosso la-do aliados invencíveis: Cristo, eter-namente jovem; Maria, mulher jo-vem; São Gabriel e todos os Santos,que constituem o segredo da juven-tude perene da Igreja.

O brigado!

Publicamos o texto da carta com a qual o Papa Franciscoconfirmou no cargo de delegado especial junto da Soberanaordem militar de Malta o arcebispo Angelo Becciu.

Ao Venerado IrmãoD. Giovanni Angelo BECCIUArcebispo titular de Rosellae

Delegado Especialjunto da Soberana Ordem Militar Hospitalar

de São Joãode Jerusalém, de Rodes e Malta

Passaram já quinze meses desde quando, a 2 de feverei-ro de 2017, decidi confiar a Vossa Excelência o cargode meu Delegado Especial junto da Soberana OrdemMilitar Hospitalar de São João de Jerusalém, de Rodese Malta, com a tarefa de acompanhar aquela beneméri-ta Ordem no processo de atualização da sua CartaConstitucional e do Código Melitense.

Antes de tudo, desejo agradecer-lhe pela diligênciadispensada na delicada tarefa, desempenhada por Vos-sa Excelência com grande disponibilidade, sobretudo

no encontro e na escuta atenta dos Membros da Or-dem. Em consideração ao facto que o caminho de re-novação espiritual e jurídica da S.O.M.M. ainda não seconcluiu, peço-lhe que aceite continuar a desempenharo cargo de meu Delegado até à conclusão do processode reforma e, contudo, enquanto eu considerar útil pa-ra essa Ordem. Até àquele momento Vossa Excelênciacontinuará a gozar de todos os poderes e a ser o meuporta-voz exclusivo para tudo o que concernir às rela-ções entre esta Sé Apostólica e a Ordem.

Com a presente designo Vossa Excelência a recebero juramento do novo Grão-Mestre da Ordem, Sua Al-teza Eminentíssima Frei Giacomo Dalla Torre do Tem-plo de Sanguinetto, no dia 3 de maio.

Ao renovar-lhe a garantia da minha oração, concedode coração a Bênção Apostólica a Vossa Excelência, aoGrão-Mestre e a todos os membros da Ordem meli-tense.

Vaticano, 2 de maio de 2018

FRANCISCO

«Se alguém — inclusive os vossos pais, os vossos sacerdotes e os vossos professores— procurar fechar a vossa boca, recordai-lhes que a Igreja e o mundo têmnecessidade também dos jovens para se rejuvenescerem a si mesmos», ressaltou oPapa Francisco na mensagem vídeo enviada aos participantes na vigília marianainternacional das novas gerações, realizada na tarde de 12 de maio, no novosantuário de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, em Isola del Gran Sassod’Italia, nos Abruzos. Presidida pelo cardeal Lorenzo Baldisseri, secretári o - g e ra ldo Sínodo dos bispos, a liturgia foi celebrada em ligação vídeo com quatrodioceses nos vários continentes.

distâncias. Na realidade, nós cristãossabemos desde sempre que a únicafé e a oração concorde unem oscrentes no mundo inteiro: pode-sedizer que, até sem o saber, fomos osprecursores da revolução digital!

Saúdo o vosso Pastor, D. LorenzoLeuzzi, que desde o início do seuministério no meio de vós vos levoua participar no caminho sinodal, e oCardeal Lorenzo Baldisseri, Secretá-rio-Geral do Sínodo, que celebra aSanta Missa para vós.

Agora gostaria de vos confiar al-guns pensamentos que me estão par-ticularmente a peito.

O primeiro pensamento é paraMaria. É bom que os jovens recitemo Rosário, manifestando assim o seucarinho pela Virgem. De resto, hojea sua mensagem é atual como nun-ca. E isto porque Ela é uma jovementre os jovens, uma «mulher dosnossos dias», como padre ToninoBello gostava de dizer.

Era jovem — talvez ainda adoles-cente — quando o Anjo lhe dirigiu apalavra, alterando os seus pequenosprojetos para a tornar parte do gran-de desígnio de Deus em Jesus Cris-to. Permaneceu jovem também de-pois quando, não obstante o passardos anos, se fez discípula do Filho,com o entusiasmo dos jovens, se-guindo-o até à Cruz com a coragemque somente os jovens possuem.Permanece jovem para sempre, atéagora que a contemplamos na sua

era criança, sabia que no Céu tinhaduas mães que velavam sobre ele. Éassim que se compreende o seugrande amor pela recitação do Rosá-rio e a sua terna devoção à Virgem,que ele quis associar para sempre aopróprio nome quando, com apenasdezoito anos, se consagrou a Deus

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página 6 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 17 de maio de 2018, número 20

Missas matutinas em Santa MartaSexta-feira, 4 de maio

O povo sabese o bispo é um pastor

O bispo é um homem que «sabe vi-giar com o seu povo» com «uma ati-tude de proximidade» e de envolvi-mento total. E «o povo sabe reco-nhecer se o bispo é um pastor», queconstrói uma relação «pessoal» aponto de «conhecer os nomes de to-dos» para se ocupar deles, ou se é«um empregado» homem de negó-cio «sempre com a mala na mão». Amissão do bispo de «guardar e con-firmar a fé» foi traçada e reafirmadapelo Papa.

«Ontem a liturgia fez-nos refletirsobre a transmissão da fé, sobre amaneira como se transmite a fé»,observou imediatamente o Papa. E«hoje este trecho dos Atos dosApóstolos — explicou referindo-se àprimeira leitura (15, 22-31) — faz-nosmeditar sobre o modo como preser-var a fé e confirmar na fé», recor-dando-nos que «este preservar e

se estes “ortodoxos da verdadeiradoutrina” para defender o povo, massurtiram o efeito contrário». A pon-to que «a comunidade ficou pertur-bada, desorientada». Por um lado,pensava o povo, «Paulo diz-nos is-to», mas «estes, que são doutoresformados dizem-nos outra coisa».Afinal «qual é o caminho?».

Eis então que, «em Jerusalém, Pe-dro e o colégio dos bispos tomamconta da situação, rezam, refletem erespondem». São «precisamente osbispos que preservam a fé e, aindamais, num momento em que o povoestá desorientado, devido a estaspessoas que se intrometem com dou-trinas que parecem mais ortodoxasmas, afinal, não têm raízes cristãs,são os bispos que confirmam na fé».

Assim, observou o Pontífice, «opovo, que estava perturbado, mudouo seu ânimo depois da carta» comorefere a página dos Atos dos Após-tolos: «Depois de a lerem, todos fi-caram satisfeitos com o encoraja-mento que lhes trazia». Eis que a si-tuação «muda», porque «quando obispo confirma na fé, chega a ale-

uma se perca». Mas esta é também«a prece de Jesus: na última ceia pe-de ao Pai a graça de que ninguém seperca: Jesus é bispo ali e como bis-po cuida de todos».

«Vigiar significa tudo isto» afir-mou o Papa, recordando que «o ver-dadeiro bispo não é apenas um vi-giador que olha do alto para baixo,não é apenas a sentinela», mas «éaquele que vigia participando; queconhece o nome de cada uma dasovelhas e isto faz-nos compreendercomo Jesus concebeu o bispo: próxi-mo».

«A capacidade de vigiar tem a vercom a “p ro x i m i d a d e ”» insistiu Fran-cisco. Por isso o pastor conhece cadaovelha «pelo nome, diz Jesus». E «oEspírito Santo deu ao povo de Deuso instinto de compreender onde háum verdadeiro bispo em relação aum bispo desorientado». De resto,acrescentou, «quantas vezes ouvimosdizer: “Oh, este bispo, sim, é bom,mas não cuida muito de nós, estásempre atarefado”; ou então,: “Estebispo intromete-se nos assuntos, éum pouco calculista e isto não estáb em”; ou ainda: “Este bispo ocupa-se de coisas que não estão em sinto-nia com a sua missão”; ou: “Estebispo está sempre de mala na mão,viaja continuamente”, ou ainda “coma guitarra na mão”, cada qual podep ensar».

«O povo de Deus — repetiu oPontífice — sabe quando o pastor épastor, quando o pastor está próxi-mo, quando sabe vigiar e dar a pró-pria vida por ele». O ponto centralé precisamente «a proximidade» e«a vida do bispo deve ser com o re-banho, com cada um». E «a alegriado bispo» é «que nenhuma ovelhase tresmalhe». E mais ainda, «amorte do bispo, do verdadeiro bis-po» é sempre «no seu rebanho».

«Comove-me tanto pensar — con-fidenciou a propósito Francisco — namorte de São Turíbio de Mongrove-jo: lá, numa pequena aldeia indíge-na, numa tenda, circundado peloscristãos indígenas que tocavam paraele a chirimia para que morresse empaz». É a imagem do «povo queama o bispo que cuidara dele».

«O bispo, com esta atitude deproximidade, de vigiar, de se envol-ver — também de oração, pois a pri-meira tarefa do bispo é rezar — temaquela relação íntima que Jesus quisentre o bispo e o povo, e com estaatitude confirma na fé» afirmou oPapa. Por conseguinte, ele «preservaa fé do povo». E foi precisamente«isto que os apóstolos fizeram comPedro em Jerusalém: viram estes in-quietos que iam lá, pensando ser osverdadeiros teólogos do cristianismo,para oferecer a verdadeira doutrina»,mas no final «perturbaram o povo, eos apóstolos decidiram intervir econfirmar aquele povo de Deus nafé». Na prática, «fizeram-se próxi-mos».

Rezemos ao Senhor — concluiu oPontífice — para que nos concedasempre bons pastores» e «que nuncafalte à Igreja pastores que vigiem:não podemos ir em frente sem eles:Que sejam homens trabalhadores, deoração, próximos do povo de Deus.Numa palavra: homens que saibamvigiar».

Terça-feira, 8 de maio

O grande mentirosoHá um inimigo «sedutor» que ex-plora «a nossa curiosidade e a nossavaidade» prometendo «prendas bemembrulhadas» apresentadas num bo-nito «pacotinho, sem nos deixar vero que há dentro»; é como se se tra-tasse de «um cão raivoso e acorren-tado» do qual não nos devemosaproximar — porque, caso contrário,«te morde, te destrói» — e com oqual nunca podemos dialogar, mas,pelo contrário, contra o qual deve-mos combater com as armas da ora-ção, da penitência e do jejum. Foitoda centrada sobre a luta espiritualcontra o diabo a reflexão propostapelo Papa Francisco.

Inspirando-se no trecho final doEvangelho do dia (Jo 16, 5-11), oPontífice começou a homilia expli-cando que o Senhor diz «que será oEspírito Santo quem nos fará com-preender que o príncipe deste mun-do já está condenado». Por conse-guinte, «devemos pedir ao EspíritoSanto a graça de compreender bemisto», ou seja, que «o demónio é umderrotado». O Papa advertiu imedia-tamente que, sem dúvida, «não mor-reu, está vivo»; no máximo «pode-mos dizer que está moribundo»,contudo é também «um derrotado».Por este motivo, «não pode prome-ter nada, não pode dar-nos a espe-rança de construir algo. Nada de tu-do isto, é um derrotado».

Todavia, não obstante «saibamosque é um derrotado», advertiu Fran-cisco, «na vida quotidiana não é fá-cil interiorizar este conceito, conven-cendo-nos». E a razão disto é fácilde compreender: «antes de tudo,porque o diabo é um sedutor e gos-tamos de ser seduzidos. Nós gosta-mos, sublinhou o Papa com ênfase.E ele sabe como se aproximar denós; sabe quais palavras nos dirigir.Desperta a nossa curiosidade, poissomos todos curiosos, e a nossa vai-dade: “Mas o que ele está a di-zer?”». Em síntese, o que «aconte-ceu com a Eva, acontece connosco.Connosco: “Experimentai isto! Nãoé o que estais a pensar, não...”. É asedução». Além disso, prosseguiu oPontífice, «devido à nossa vaidadegostamos que pensem em nós, quenos façam propostas... E ele tem estacapacidade; esta capacidade de sedu-zir». Por este motivo, «é tão difícilentender» que se trata de «um der-rotado; porque ele se apresenta comgrande poder: promete-te tantas coi-sas, oferece-te muitas prendas — b o-nitas, bem embrulhadas — “Oh, queb om!” — mas tu não sabes o que hádentro — “Mas, o embrulho é boni-to”. Seduz-nos com o pacote semnos fazer ver o que há dentro. Sabeapresentar as suas propostas à nossavaidade, à nossa curiosidade». Comefeito, acrescentou o Papa com umaimagem evocativa, «está prestes a fa-lecer, mas como o dragão, como ocrocodilo — que quando está paramorrer os caçadores alertam: «Nãote aproximes do crocodilo, porquecom um bater de cauda te podemandar para o outro mundo — émuito perigoso». E «é um sedutor.Apresenta-se com todo o poder. Enós, estultos, acreditamos».

confirmar na fé é o trabalho princi-pal dos bispos».

«A situação é clara» prosseguiu oPontífice, e «descrevem-na os após-tolos, os bispos» na carta aos cris-tãos de Antioquia que se encontranos Atos: temos «conhecimento deque, sem autorização da nossa parte,alguns dos nossos vos foram inquie-tar, perturbando as vossas almas».Em síntese, «os bispos, os apóstolos,reagem juntamente com Pedro dian-te desta falta de paz: estavam pertur-bados — explicou Francisco — p or-que chegaram aqueles, que eramcristãos, mas pretendiam reinstaurara iniciação judaica, os judaizantes, ediziam: «nós somos os detentores daverdadeira doutrina, não a que Pau-lo anuncia». Como se quisessem di-zer: «Paulo não; nós. Estas são notí-cias más».

Mas «com este discurso — afir-mou o Papa — aqueles infelizes sen-tiam-se desorientados: apresentaram-

fica estar com o povo, até de noite:pensemos nos pastores de Belém»que «alternadamente vigiavam du-rante a noite».

«Vigiar», frisou o Pontífice, é«uma linda palavra para descrever avocação do bispo: vigiar para prote-ger dos lobos, para confirmar a féquando o rebanho está um poucodesorientado, para preservar a fé»De resto, acrescentou, «vigiar signi-fica integrar-se na vida da grei. Jesusdistingue bem o verdadeiro pastordo empregado, daquele que é remu-nerado e não lhe interessa se o lobochega e come» uma ovelha: «nãolhe interessa».

Ao contrário, «o verdadeiro pastorque vigia, que está inserido na vidado rebanho, defende não só todas asovelhas: defende cada uma, confirmatodas e se uma se afastar ou se ex-traviar, ele vai procurá-la, recondu-zindo-a ao redil». E «está tão envol-vido que não deixa que nem sequer

gria, a alegria do cora-ção».

Com efeito, prosse-guiu, «o bispo é aqueleque vigia». E «a palavragrega diz isto»: o bispoé aquele «que preserva».Em suma, o bispo «étambém um pouco asentinela, que sabe vi-giar para defender o re-banho dos lobos quechegam: vigia, está aci-ma da grei e com a grei;caminha com o seu re-banho; cuida dele».

A vida do bispo estáassociada à vida do re-banho» insistiu o Papa.Certamente «ele não éum empregado de umamultinacional, porexemplo, que vai inspe-cionar». Ao contrário «obispo está associado aorebanho, mas vigia». E«há um aspeto maisprofundo na maneira devigiar do bispo», porque«ele, como os pastores,vigia». E «vigiar — ex-plicou Francisco — signi-

«São Turíbio de Mongrovejo» (catedral de Trujillo, Peru)

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número 20, quinta-feira 17 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 7

Insistindo sobre quanto é perigo-so o diabo, Francisco frisou que ele«sabe falar bem. Fala muito bem».Não só: «sabe também tocar, cantar;a fim de enganar é capaz de cantaraté o Aleluia pascal. É o grandementiroso, o pai da mentira». Aliás,«as suas propostas são todas menti-ras, todas». Contudo, infelizmente,«ele apresenta as mentiras e nósacreditamos. É um derrotado, masmove-se como um vencedor». Aponto que «é inclusive capaz de nosdar luz, ilumina! Mas a luz do dia-bo é fulgurante, como o fogo de ar-tifício, e não é duradoura. Um ins-tante, depois esmorece». Ao contrá-rio, «a luz do Senhor é suave, maspermanecente». Portanto, resumin-do, Francisco recordou que o diabo«nos engana, nos seduz, sabe mexercom a nossa vaidade, a nossa curio-sidade e nós compramos tudo, com-pramos tudo. E deste modo, caímosna tentação. Se fosse a tentação deum grande guerreiro, pelo menos lu-tou». Mas, disse o Papa sem meios-termos, «é a tentação apresentadapor um cobarde — porque é cobarde— por um mentiroso, por um sedu-tor». Em síntese, é «um derrotadop erigoso».

«Estai atentos» advertiu o Pontífi-ce, reafirmando que «devemos estaratentos ao demónio. “O que devofazer, padre?”. Esta pergunta surgesempre: “Padre, o que faço diantedeste diabo derrotado, mas astuto,mentiroso, sedutor que quer apode-rar-se de mim? Que devo fazer?”».Francisco respondeu recordando que«Jesus diz a nós, mas também aosapóstolos, o que se deve fazer: vigiare rezar. “Vigiai e rezai”: primeira coi-sa. E quando rezamos o Pai-Nossopeçamos a graça de não cair em ten-tação, peçamos que nos proteja paranão deslizarmos na tentação». Porconseguinte, a primeira arma é a«oração». Mas, acrescentou, «quan-do a sedução é forte — damo-nosconta, mas ela procura iluminar-noscom a sua luz artificial — p enitência,jejum». Portanto, eis as outras armaspresentes no arsenal do cristão paraesta luta; com efeito, «Jesus, nestesmomentos mais fortes, falando sobreo diabo, afirma: “Podemos derrotá-lo com a oração e o jejum”». O Se-nhor é claro: «vigiai, rezai e depois,por outro lado, diz: oração e jejum.Somente com isto».

Aliás, é uma ulterior sugestão deFrancisco, «outra coisa que devemosfazer é não nos aproximarmos. Umpadre da Igreja diz que «o diabo é

mendou Francisco descrevendo aseventuais consequências num diálo-go imaginário: «“Tenho uma grandeferida...” — “Quem ta procurou?” —“Um cão” – “Mas estava acorrenta-do?” — «Eh, sim, eu aproximei-mepara o acariciar” – “Mas, a culpa étua”. Precisamente «assim», obser-vou Francisco: «nunca se aproxi-mar» pensando que, não importa,«está acorrentado». Deixemo-lo alia c o r re n t a d o .

Por fim, a última admoestação doPapa: «Outra coisa que devemos fa-zer: estar atentos e não dialogar como diabo. Eva caiu por ter dialogado.Ele veio: “Mas come, por qual ra-zão...” – “Não, mas se o Senhor...”.Pobrezinha: pensou que era umagrande teóloga e caiu». Ao contrá-rio, «não devemos dialogar», dadoque «Jesus nos dá o exemplo. Nodeserto, quando foi tentado pelo de-mónio — as três tentações — comoresponde Jesus»? questionou-se oPapa. «Com as palavras de Deus —foi a resposta firme — com a palavrada Bíblia. Nunca com uma palavrasua; não dialoga com ele. Jesus ex-pulsa os demónios, afasta-os ou res-ponde com a palavra de Deus. Porvezes, pergunta o nome. Não estabe-lece um diálogo com eles». Em sín-tese, «com o diabo não se dialoga,porque ele nos vence, é mais inteli-gente do que nós. É um anjo; é umanjo de luz. E muitas vezes aproxi-ma-se de nós deixando-nos ver estaluz, mas perdeu a luz, e disfarça-sede anjo de luz, mas é um anjo da es-curidão, uma anjo da morte».

Daqui o convite conclusivo a re-fletir sobre a hodierna «Palavra deJesus» citada pelo evangelista João:«O príncipe deste mundo já estácondenado». De facto, o demónio«é um condenado, um derrotado,um acorrentado que está prestes amorrer»; mas, denunciou o Pontífi-ce, «é capaz de fazer massacres. Enós devemos rezar, fazer penitência,não nos aproximarmos, não dialogarcom ele. E por fim, ir ter com amãe, como fazem as crianças», dadoque «quando elas têm medo, vão tercom a mãe: «Mãe, mãe... tenho me-do!”, quando sonham... procuram amãe». E para o cristão a mãe é«Nossa Senhora; ela ampara-nos».Por este motivo «os padres da Igre-ja, sobretudo os místicos russos, di-zem — rezou Francisco — “na épocadas perturbações espirituais, há quese refugiar sob o manto da grandeMãe de Deus”. Ir ter com a Mãe».

Segunda-feira, 14 de maio

Amigo até ao fimTodos os cristãos receberam em doma amizade de Jesus: «o nosso desti-no é sermos seus amigos» e ele per-manece «fiel a este dom» mesmoquando «nos afastamos dele porcausa da nossa debilidade». Eis oensinamento que o Papa Franciscotirou das leituras litúrgicas do diadurante a missa celebrada na manhãde segunda-feira, 14 de maio, festado apóstolo São Matias.

«Na liturgia de hoje — afirmou oPontífice — há uma palavra que serepete muitas vezes»: é «a palavra“sorte”». Mas, advertiu imediata-mente, «não devemos considerá-lacomo um sinónimo de “caso”. Não é“por acaso”, por ventura»; ao con-trário «aqui é sinónimo de destino».Com efeito, observou, «na oração dacoleta rezamos deste modo: “Ó Se-nhor, a nós que tivemos a sorte dereceber o dom da tua amizade con-cede-nos que progridamos nesteamor, que sejamos eleitos, que per-maneçamos fiéis na eleição”».

O Santo Padre inspirou-se nestetrecho para refletir sobre o tema daamizade de cada cristão com Jesus.«Nós — explicou — recebemos estedom como sorte: a amizade do Se-

Analisando depois as caraterísticasdeste dom, o Papa evidenciou que,em primeiro lugar, se trata de «umdom que o Senhor conserva sempre»e que «ele é fiel a este dom». Aocontrário, «muitas vezes nós não so-mos fiéis e afastamo-nos, com osnossos pecados, com os nossos ca-prichos e muitas outras coisas». Aopasso que «ele é fiel à amizade, por-que nos chamou para que a vivêsse-mos. Elegeu-nos por esta razão, parasermos seus amigos: «Já não voschamo servos — diz no Evangelho(Jo 15, 9-17) — mas chamei-vos ami-gos”. Ele conserva esta palavra atéao fim».

A este propósito, o Pontífice pe-diu para que se pense com atençãoem «qual é a última palavra» queJesus «dirige a Judas, precisamenteno momento da traição». E a res-posta é surpreendente: «“Judas, ami-go”. Quando Judas estava para oentregar, ele chama-lhe “amigo”, re-corda-lhe isto. Porque ele é fiel». OSenhor «não diz: “Vai-te embora,porque te afastaste de mim. Vai-teemb ora”. Não! Ele é fiel até ao fima este dom que ofereceu a todos: odom da amizade».

Por conseguinte, continuou o Pa-pa no seu raciocínio «Jesus é nossoamigo. E Judas, como afirma aqui,foi rumo à sua nova sorte, rumo aoseu destino que ele escolheu livre-mente, afastou-se de Jesus». E este«afastar-se de Jesus», esclareceuFrancisco, chama-se «apostasia. Umamigo que se torna inimigo ou indi-ferente ou traidor». Ao contrário, «oSenhor não renega, até ao fim eleestá ali: “Judas, amigo”. Até aofim». E isto, é o conselho de Fran-cisco, «deve-nos fazer refletir».

Aliás, também a primeira leitura,tirada dos Atos dos apóstolos (1, 15-17.20-26), evidencia que «Matias foieleito no lugar de Judas por ser tes-temunha da Ressurreição, testemu-nha deste dom de amor, de amizade,mais do que amor trata-se de amiza-de, que significa familiaridade noamor. Porque o próprio Jesus diz:“Vós sois meus amigos. Já não voschamo servos, porque o servo nãosabe o que faz o seu senhor. Maschamei-vos amigos, pois vos dei aconhecer tudo quanto ouvi de meuPa i ”».

Com efeito, «o amigo é aqueleque partilha os segredos com o ou-tro». E dado que «recebemos comosorte, ou seja, como destino, o domda amizade de Jesus, como o tinharecebido Judas, como o tinha recebi-do Matias», o Papa convidou a pen-sar «nisto»: ou seja, no facto de queCristo «não renega este dom, nãonos renega, espera por nós até ao fi-nal. E quando, devido à nossa debi-lidade, nos afastamos dele, ele espe-ra, espera, Ele continua a dizer:«Amigo, espero por ti. Amigo o quequeres? Amigo, por que me atraiçoascom um beijo?”». Porque, concluiuo Pontífice, Jesus «é fiel na amiza-de». E «nós devemos pedir-lhe estagraça de permanecer no seu amor,de permanecer na sua amizade,aquela amizade que recebemos comosorte, como dom dele».

Miguel Ângelo, «Pecado original»

um cão raivoso — ou me-lhor furioso — e acorrenta-do”. Ele está acorrentado.Mas não o vais acariciar?Não deves acariciá-lo, por-que te morde, te destrói.Ele lá, eu cá». Portanto,«não nos devemos aproxi-mar», pois «se, espiritual-mente, nos aproximarmosdaquele pensamento, senos aproximarmos daqueledesejo, se formos por umlado ou por outro, estamo-nos a aproximar do cão rai-voso e acorrentado. Por fa-vor, não faças isto», reco-

Giuseppe Montanari«O beijo de Judas» (detalhe, 1918)

nhor. Esta é a nossa vocação: vivercomo amigos do Senhor, amigos doSenhor», repetiu duas vezes. E omesmo dom, observou, foi recebidopelos apóstolos: «ainda mais forte,mas o mesmo».

Portanto, atualizando o conceito,Francisco sublinhou que «todos nóscristãos recebemos este dom: a aber-tura, o acesso ao coração de Jesus, aamizade de Jesus. Recebemos por si-na o dom da tua amizade. O nossodestino é ser teus amigos».

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número 20, quinta-feira 17 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 8/9

Por uma civilização global da aliançaEncontro do Papa com o movimento dos Focolares em Loppiano

Na manhã de quinta-feira, 10 de maio, oPapa foi à Toscana para visitar acomunidade de Nomadélfia e a “cidadelainternacional” de Loppiano, onde seencontrou com o movimento dos Focolaresfundado por Chiara Lubich. No santuáriode Maria Theotokos o Pontífice,respondendo a três perguntas, proferiu oseguinte discurso.

Amados Irmãos BisposAutoridades e todos vós!Obrigado pelo vosso acolhimento! Saú-do todos e cada um, e agradeço a Ma-ria Voce a sua introdução... claro, tudomuito claro! Vê-se que tem as ideiasclaras!

Sinto-me muito feliz por estar hojeconvosco aqui em Loppiano, nesta pe-quena “cidade”, conhecida no mundoporque nasceu do Evangelho e doEvangelho se quer nutrir. E por isso éreconhecida como própria cidade deeleição e de inspiração por muitos quesão discípulos de Jesus, também por ir-mãos e irmãs de outras religiões e con-vicções. Em Loppiano todos se sentemem casa!

Quis vir visitá-la inclusive porque,como frisava aquela que foi a sua inspi-radora, a serva de Deus Chiara Lubich,pretende ser uma ilustração da missãoda Igreja hoje, da maneira como oConcílio Vaticano II a delineou. E ale-gro-me por dialogar convosco para fo-calizar cada vez mais, à escuta do de-sígnio de Deus, o projeto de Loppianoao serviço da nova etapa de testemu-nho e de anúncio do Evangelho de Je-sus ao qual o Espírito Santo hoje noschama.

Eu sabia as perguntas, compreende-se! A agora respondo às questões. Inse-ri-as todas aqui.

Partindo das palavras de Maria Voce,a qual falou do amor recíproco como “lei”de Loppiano, alguém perguntou ao Papacomo viver e renovar todos os dias esta re-comendação profética deixada por ChiaraLubich.

A primeira pergunta é feita por vós,“p i o n e i ro s ” de Loppiano, que fostes osprimeiros, há mais de 50 anos, e depois

gradualmente nos decénios seguintes, alançar-vos nesta aventura, deixando avossa terra, a vossa casa e o vosso lugarde trabalho, vindo transcorrer aqui avida para realizar este sonho. Antes detudo, obrigado, obrigado pelo que fi-zestes, obrigado pela vossa fé em Jesus!Foi Ele quem realizou este milagre, evós [pusestes] a fé. E a fé deixa que Je-sus aja. Por isso a fé faz milagres, poisdá o lugar a Jesus, e Ele faz milagresum atrás do outro. A vida é assim!

A vós “p i o n e i ro s ”, e a todos os habi-tantes de Loppiano, vem-me espontâ-neo repetir as palavras que a Carta aosHebreus dirige a uma comunidade cris-tã que vivia uma fase do seu caminhosemelhante à vossa. A Carta aos He-breus diz: «Lembrai-vos, porém, dosdias passados, em que, depois de serdesiluminados, suportastes grande comba-te de aflições. [...] com alegria permitis-tes o roubo dos vossos bens, sabendoque em vós mesmos tendes nos céusuma posse melhor e permanente. Nãorejeiteis, pois, a vossa confiança — avossa p a r ré s i a , diz — que tem grande eavultado galardão — hypomoné, é a pala-vra que usa, ou seja, carregar sobre osombros o peso de cada dia — para que,depois de haverdes feito a vontade deDeus, possais alcançar a promessa» (10,32-36).

São duas palavras-chave, mas namoldura da memória. Aquela dimensão“d e u t e ro n ó m i c a ” da vida: a memória.Quando, não digo um cristão, mas umhomem ou mulher, fecha a chave damemória, começa a morrer. Por favor,memória. Como diz o autor da Cartaaos Hebreus: «Lembrai-vos, porém,dos dias passados...». Com esta moldu-ra de memória pode-se viver, pode-serespirar, ir em frente, e dar fruto. Masse não tiveres memória... Os frutos daárvore são possíveis porque a árvoretem raízes: não está desenraizada. Senão tiveres memória, és um desenraiza-do, uma desenraizada, não darás fruto.Memória: é esta a moldura da vida.

Eis duas palavras-chave do caminhoda comunidade cristã neste texto; par-ré s i a e hypomoné. Coragem, franqueza e

suportar, perseverar, carregar sobre osombros o peso de todos os dias.

P a r ré s i a , no Novo Testamento, signi-fica o estilo de vida dos discípulos deJesus: a coragem e a sinceridade ao dartestemunho da verdade e juntamenteter confiança em Deus e na sua miseri-córdia. Também a oração deve ser comp a r ré s i a . Dizer as coisas a Deus «na ca-ra», com coragem. Pensai no modo co-mo o nosso pai Abraão rezava, quandoteve a coragem de pedir a Deus para“contratar” acerca do número dos jus-tos em Sodoma: «E se fossem trinta?...E se fossem vinte e cinco?... E se fos-sem quinze?...” Aquela coragem de lu-tar com Deus! E a coragem de Moisés,o grande amigo de Deus, que lhe dizna cara: “Se destruíres este povo, des-tróis também a mim”. Coragem. Lutarcom Deus na oração. É necessária par-résia, parrésia na vida, na ação e tam-bém na oração.

A p a r ré s i a expressa a qualidade fun-damental na vida cristã: ter o coraçãodirigido para Deus, crer no seu amor(cf. 1 Jo 4, 16), porque o seu amor afas-ta qualquer receio falso, qualquer tenta-ção de se esconder no viver tranquilo,nas aparências ou até numa hipocrisiasubtil. Trata-se de caruncho que estragaa alma. É necessário pedir ao EspíritoSanto a franqueza, a coragem, a p a r ré -sia — sempre unida ao respeito e à ter-nura — ao testemunhar as obras gran-des e belas de Deus, que Ele realiza emnós e no meio de nós. E também nasrelações no âmbito da comunidade, épreciso ser sempre sincero, aberto, fran-co, não receoso, preguiçoso ou hipócri-ta. Não, aberto. Não se pôr de lado,para semear joio — murmurar, masesforçar-se por viver como discípulosincero e corajoso em caridade e verda-de. Este semear joio, vós sabeis, des-truir a Igreja, destruir a comunidade,destruir a própria vida, porque te enve-nena também a ti. E os que vivem demexericos, que murmuram sempre umdo outro, eu gosto de dizer — vejo as-sim — que são “t e r ro r i s t a s ”, porque fa-lam mal dos outros; falar mal de al-guém para o destruir significa fazer co-mo o terrorista: vai com a bomba, lan-ça-a, destrói e depois vai-se emboratranquilo. Não. Aberto, construtivo, co-rajoso na caridade.

E depois a outra palavra: hypomoné,que podemos traduzir com submetersuportar. Permanecer e aprender a ha-bitar nas situações exigentes que a vidanos apresenta. O Apóstolo Paulo, comesta palavra, expressa a constância e afirmeza em levar por diante a escolhade Deus e da vida nova em Cristo. Tra-ta-se de manter firme esta escolha até àcusta de dificuldades e contrariedades,sabendo que esta constância, esta fir-meza e esta paciência produzem a espe-rança. Assim diz Paulo. E a esperançanão desilude (cf. Rm 5, 3-5). Memorizaisto: a esperança nunca desilude! Nun-ca desilude! Para o Apóstolo o funda-mento da perseverança é o amor deDeus derramado nos nossos coraçõescom o dom do Espírito, um amor quenos precede e nos torna capazes de vi-ver com tenacidade, serenidade, positi-vidade, fantasia... e também com umpouco de humorismo, até nos momen-tos difíceis. Pedi a graça do humoris-mo. É a atitude humana que mais seaproxima da graça de Deus. O humo-rismo. Conheci um santo sacerdote,atarefado até aos cabelos — ia, vinha...— mas nunca deixava de sorrir. E dadoque tinha este sentido do humor, quemo conhecia dizia dele: “Mas ele é capazde rir dos outros, de rir de si mesmo eaté da própria sombra!”. O humorismoé assim!

A Carta aos Hebreus convida aindaa «lembrar aqueles primeiros dias», ouseja, a reacender no coração e na menteo fogo da experiência da qual tudonasceu.

Chiara Lubich sentiu de Deus o estí-mulo a fazer nascer Loppiano — e de-pois as outras cidadelas que surgiramem várias partes do mundo — contem-plando, um dia, a abadia beneditina deEinsiedeln, com a sua igreja e o claus-tro dos monges, mas também com a bi-blioteca, a carpintaria, os campos... Ali,na abadia, Deus está no centro da vida,na oração e na celebração da Eucaris-tia, da qual brotam e se alimentam afraternidade, o trabalho, a cultura, a ir-radiação da luz e da energia social doEvangelho no meio do povo. E assimChiara, contemplando a abadia, foi es-timulada a dar vida a algo semelhante,de forma nova e moderna, em sintoniacom o Vaticano II, a partir do carisma

da unidade: um esboço de cidade novano espírito do Evangelho.

Uma cidade na qual sobressaia, antesde mais, a beleza do Povo de Deus, nariqueza e variedade dos seus membros,das diversas vocações, das expressõessociais e culturais, cada um em diálogoe ao serviço de todos. Uma cidade quetem o seu coração na Eucaristia, nas-cente de unidade e de vida sempre no-va, e que se apresenta aos olhos dequem a visita também na sua veste lai-cal e diária, inclusiva e aberta: com otrabalho da terra, as atividades da em-presa e da indústria, as escolas de for-mação, as casas para a hospitalidade epara idosos, os a t e l i e rs artísticos, osconjuntos musicais, os meios de comu-nicação modernos...

Uma família na qual todos se reco-nhecem filhos e filhas do único Pai,comprometidos a viver o mandamentodo amor recíproco entre si e em relaçãoa todos. Não para estar tranquilo forado mundo, mas para sair, para encon-trar, para cuidar, para lançar de mão-cheia o fermento do Evangelho na mas-sa da sociedade, sobretudo onde hámais necessidade, onde a alegria doEvangelho é esperada e invocada: napobreza, no sofrimento, na provação,na busca, na dúvida.

O carisma da unidade é um estímuloprovidencial e uma ajuda poderosa pa-ra viver esta mística evangélica do nós,ou seja, caminhar juntos na história doshomens e das mulheres do nosso tem-po com “um só coração e uma só al-ma” (cf. At 4, 32), descobrindo-se eamando-se concretamente como “mem-bros uns dos outros” (cf. Rm 12, 5). Porisso Jesus rezou ao Pai: “Para que to-dos sejam um, como tu, ó Pai, és emmim, e eu em ti” (Jo 17, 21), e nos mos-trou em si mesmo o caminho até à doa-ção completa de tudo no esvaziamentoabismal da cruz (cf. Mc 15, 34; Fl 2, 6-8). Trata-se da espiritualidade do “nós”.Para brincar, podeis fazer a vós mes-mos, e também aos demais, um teste.Um sacerdote que está aqui — mais oumenos escondido — fez-me este teste.Perguntou-me: “Diga-me, padre, qual éo contrário do ‘eu’, o oposto do ‘eu’?Eu caí na cilada e respondi imediata-mente: “Tu ”, E ele retorquiu: “Não, ocontrário de cada individualismo, querdo eu quer do tu, é “nós”. É esta a es-piritualidade do nós que deveis levarpor diante, que nos salva de qualqueregoísmo e interesse egoísta. A espiritua-lidade do nós.

Não é só uma questão espiritual, masuma realidade concreta com consequên-cias formidáveis — se o vivermos e sedeclinarmos com autenticidade e cora-gem as suas diversas dimensões — a ní-vel social, cultural, político, económi-co... Jesus remiu não só cada indiví-duo, mas também a relação social (cf.Exort. Ap. Evangelii gaudium, 178). Le-var a sério este facto significa plasmarum rosto novo da cidade dos homenssegundo o desígnio de amor de Deus.

Loppiano é chamada a ser isto. Epode procurar, com confiança e realis-mo, tornar-se tal cada vez melhor. Istoé essencial. E daqui é preciso partirsempre de novo.

Eis a resposta à primeira pergunta:partir sempre de novo, mas desta reali-dade, que é viva. Não das teorias, não,da realidade, da maneira como se vive.E quando se vive autenticamente a rea-lidade, é um elo desta cadeia que nosajuda a ir em frente.

Na segunda questão perguntaram aFrancisco qual «contributo novo e criati-vo» as escolas de formação presentes emLoppiano e uma realidade académica co-mo o Instituto universitário Sophia, podemoferecer «para construir uma liderançaque consiga abrir novos caminhos».

está na base de cada um destes percur-sos e que tem na proximidade e no diá-logo o seu método privilegiado. E aquihá uma palavra que é também paramim a chave: “p ro x i m i d a d e ”. Não sepode ser cristão sem estar próximo,sem ter uma atitude de proximidade,pois a proximidade foi a atitude deDeus quando enviou o Filho. PrimeiroDeus fez isto quando guiou o povo deIsrael e pergunto-lhe: «Diz-me, visteoutro povo que tenha deuses tão próxi-mos como eu estou próximo?». Assimpergunta Deus. A proximidade, a pro-ximidade. E depois, quando envia o Fi-

mia civil e de comunhão; e a experiên-cia académica de fronteira do InstitutoUniversitário Sophia, erigido pela SantaSé, do qual uma sede local — por istome congratulo de coração — será proxi-mamente ativada na América Latina.

É importante que em Loppiano hajaum centro universitário destinado aquem — como diz o seu nome — pro cu-ra Sabedoria e estabelece como objeti-vo a construção de uma cultura da uni-dade. Cultura da unidade. Não disseda uniformidade. Não. A uniformidadeé o contrário da unidade! Ele reflete, a

Em Loppiano vive-se a experiênciade caminhar juntos, com estilo sinodal,como Povo de Deus. E é esta a basesólida e indispensável de tudo: a escolado Povo de Deus onde quem ensina eguia é o único Mestre (cf. Mt 23, 10) eonde a dinâmica é a escuta recíproca eo intercâmbio de dons entre todos.

Daqui podem haurir novo impulso,enriquecendo-se com a fantasia doamor e abrindo-se às solicitações do Es-pírito e da história, os percursos de for-mação que em Loppiano floresceramdo carisma da unidade: a formação es-piritual para as diversas vocações; a for-mação para o trabalho, o agir económi-co e político; a formação para o diálo-go, nas suas diversas expressões ecumé-nicas e inter-religiosas e com pessoasde diferentes convicções; a formaçãoeclesial e cultural. E isto ao serviço detodos, com o olhar que abraça toda ahumanidade, a começar por quem, dequalquer maneira, está relegado às peri-ferias da existência. Loppiano cidadeaberta, Loppiano cidade em saída. EmLoppiano não existem periferias.

É uma grande riqueza poder disporde todos estes centros de formação emLoppiano. É uma grande riqueza! Su-giro-vos que lhes deis um renovado im-pulso, abrindo-os a horizontes maisvastos e projetando-os para as frontei-ras. É essencial, em particular, desen-volver um projeto formativo que rela-cione cada um dos percursos queabrangem mais concretamente as crian-ças, os jovens, as famílias, as pessoasdas várias vocações. A base e a chavede tudo seja o “pacto formativo”, que

lho para se fazer próximo — um de nós— para se fazer mais próximo. Esta pa-lavra é a chave do cristianismo e dovosso carisma. Proximidade.

Depois, é preciso educar-se paraexercer juntos as três linguagens: da ca-beça, do coração e das mãos. Ou seja,é necessário aprender a pensar bem, asentir bem e a trabalhar bem. Sim,também o trabalho, porque ele — comoescrevia o padre Pasquale Foresi, quedesempenhou um papel central na rea-lização do projeto de Loppiano — «nãoé apenas um meio para viver, mas é al-go inerente ao nosso ser pessoa huma-na, e por conseguinte, é também ummeio para conhecer a realidade, paracompreender a vida: é instrumento deformação humana real e efetiva». Isto éimportante — as três linguagens — p or-que nós herdamos do Iluminismo estaideia — não sadia — que a educação éencher a cabeça de conceitos. E quantomais souberes, melhor serás. Não. Aeducação deve concernir a cabeça, ocoração e as mãos. Educar para pensarbem, não só aprender conceitos, maspensar bem; educar para sentir bem;educar para agir bem. De modo queestas três linguagens estejam interliga-das: que tu penses aquilo que sentes efazes, que tu sintas aquilo que pensas efazes, que tu faças o que sentes e pen-sas, em unidade. Isto é educar.

Confirmam a incisividade e a proje-ção em vasta escala deste compromissopromissor duas das realidades que sur-giram em Loppiano nos últimos anos:o Polo empresarial “Lionello Bonfanti”,centro de formação e difusão da econo- CO N T I N UA NA PÁGINA 10

partir da sua inspiraçãoconstitutiva, as linhas quetracei na recente Constitui-ção apostólica Veritatis gau-dium, convidando a uma re-novação sábia e corajosados estudos académicos. Eisto para oferecer uma con-tribuição competente e pro-fética para a transformaçãomissionária da Igreja e paraa visão do nosso planeta co-mo uma única pátria e dahumanidade como um úni-co povo, feito de tantos po-vos, que habita uma casacomum.

Em frente, em frente as-sim!

Na terceira e última ques-tão um dos migrantes acolhi-dos em Loppiano perguntou aFrancisco qual é a sua «mis-são na etapa da nova evange-

lização» e quais respostas dar «aos desa-fios do nosso tempo como ocasião de cresci-mento para todos».

Quero levantar o olhar para o hori-zonte e convidar-vos a fazê-lo junta-mente comigo, para olhar com fidelida-de confiante e com criatividade genero-sa para o futuro que já começa hoje.

A história de Loppiano está apenasno início. Vós estais no início. É umapequena semente lançada nos sulcos dahistória e que já germinou verdejante,mas que deve ganhar raízes robustas edar frutos substanciosos, ao serviço damissão de anúncio e encarnação doEvangelho de Jesus que a Igreja hoje échamada a viver. E isto requer humil-dade, abertura, sinergia, capacidade dearriscar. Devemos usar tudo isto: hu-mildade e capacidade de arriscar, jun-tos, abertura e sinergia.

As urgências que nos interpelam,com frequência de modo dramático, detodas as partes não nos podem deixartranquilos, mas pedem-nos o máximo,confiando sempre na graça de Deus.

Na mudança de época que estamos aviver — não é uma época de mudança,mas uma mudança de época — é preci-so comprometer-se não só a favor deum encontro entre as pessoas, as cultu-ras e os povos e de uma aliança entreas civilizações, mas a fim de vencer to-dos juntos o desafio epocal de cons-truir uma cultura partilhada do encon-tro e uma civilização global da aliança.Como um arco-íris de cores no qual seabre como um leque a luz branca do

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amor de Deus! E para fazer isto sãonecessários homens e mulheres — jo-vens, famílias, pessoas de todas asvocações e profissões — capazes deabrir caminhos novos para percorrerjuntos. O Evangelho é sempre novo,sempre. E neste tempo pascal a Igre-ja muitas vezes nos disse que a Res-surreição de Jesus nos traz juventu-de e nos faz pedir esta juventude re-novada. Ir sempre em frente comcriatividade.

O desafio consiste na fidelidadecriativa: ser fiel à inspiração originá-ria e ao mesmo tempo aberto ao so-pro do Espírito Santo e empreendercom coragem os caminhos novosque Ele sugere. Para mim — e acon-selho-vos a fazê-lo — o maior exem-plo é o que podemos ler no Livrodos Atos dos Apóstolos: ver comoeles foram capazes de permanecerfiéis ao ensinamento de Jesus e ter acoragem de fazer tantas “loucuras”,porque fizeram muitas, indo por to-do o mundo. Porquê? Sabiam con-jugar esta fidelidade criativa. Ledeeste texto da Escritura, não uma vez,mas duas, três, quatro, cinco ou seisvezes, porque ali encontrareis o ca-

minho desta fidelidade criativa. OEspírito Santo, não o nosso bomsenso, não as nossas capacidadespragmáticas, não os nossos modosde ver sempre limitados. Não, ir emfrente com o sopro do Espírito.

Mas como se faz para conhecer eseguir o Espírito Santo? Praticandoo discernimento comunitário. Ou se-ja, reunindo-se em assembleia emvolta de Jesus ressuscitado, o Senhore Mestre, para ouvir o que o Espíri-to nos diz hoje como comunidadecristã (cf. Ap 2, 7) e para descobrirjuntos, nesta atmosfera, a chamadaque Deus nos faz ouvir na situaçãohistórica na qual nos encontramos aviver o Evangelho.

É necessária a escuta de Deus atéouvir com Ele o brado do Povo, e épreciso ouvir o Povo até respirar ne-le a vontade à qual Deus nos chama.Os discípulos de Jesus devem sercontemplativos da Palavra e contem-plativos do Povo de Deus.

Todos somos chamados a tornar-nos artífices do discernimento comu-nitário. Não é fácil fazê-lo, mas de-vemos fazê-lo se quisermos ter estafidelidade criativa, se quisermos serdóceis ao Espírito. É este o caminho

para que também Loppiano descu-bra e siga passo a passo o caminhode Deus ao serviço da Igreja e daso ciedade.

*****Antes de concluir, mais uma vez

obrigado a todos vós pelo acolhi-mento e pela festa!

E também uma última coisa quefaço questão de vos dizer. Estamosaqui reunidos diante do Santuáriode Maria Th e o t o k o s . Estamos sob oolhar de Maria. Há também nistouma sintonia entre o Vaticano II e ocarisma dos Focolares, cujo nomeoficial para a Igreja é Obra de Ma-ria.

A 21 de novembro de 1964, naconclusão da terceira Sessão doConcílio, o beato Paulo VI pro cla-mou Maria “Mãe da Igreja”. Eumesmo quis instituir este ano a suamemória litúrgica, que será celebra-da pela primeira vez no próximo dia21 de maio, segunda-feira depois doPe n t e c o s t e s .

Maria é a Mãe de Jesus e, n’Ele, éa Mãe de todos nós: Mãe da unida-de. O Santuário a Ela dedicado aquiem Loppiano é um convite a colo-carmo-nos na escola de Maria para

aprender a conhecer Jesus, a vivercom Jesus e de Jesus presente emcada um de nós e no meio de nós.

E não vos esqueçais de que Mariaera leiga, era uma leiga. A primeiradiscípula de Jesus, sua mãe, era lei-ga. Há uma inspiração grande nisto.E um bom exercício que podemosfazer, eu desafio-vos a fazê-lo, ou se-ja, ler [no Evangelho] os episódiosda vida de Jesus mais conflituosos ever — como em Caná, por exemplo— como reage Maria. Ela toma a pa-lavra e intervém. “Mas, padre, [estesepisódios] não estão todos no Evan-gelho...”. Imagina tu, imagina que aMãe estava ali, que viu isto... Comoteria reagido Maria a isto? Esta éuma verdadeira escola para ir emfrente. Porque ela é a mulher da fi-delidade, a mulher da criatividade, amulher da coragem, da p a r ré s i a , amulher da paciência, a mulher dasuportação das coisas. Reparai sem-pre nisto, esta leiga, primeira discí-pula de Jesus, como reagiu em todosos episódios conflituais da vida deseu Filho. Ajudar-vos-á tanto.

E não vos esqueçais de rezar pormim porque preciso disso. Obriga-do!

Em Nomadélfia o Pontífice visitou a comunidade fundada por Dom Zeno

Onde a fraternidade é lei e profeciaDepois de ter concluído a visita a Loppiano, o Papafoi de helicóptero a Nomadélfia, onde na manhã dequinta-feira 10 de maio se encontrou com acomunidade fundada por Dom Zeno Saltini. Aseguir o discurso que Francisco pronunciou.

Estimados irmãos e irmãsde Nomadélfia!Vim aqui ao meio de vós para recordar Dom Ze-no Saltini e exprimir o meu encorajamento à vos-sa comunidade que foi fundada por ele. Saúdo-vos todos com afeto: o vosso presidente FrancescoMatterazzo, o pároco padre Ferdinando Neri, osnumerosos amigos e o Bispo de Grossetto, em cu-ja Diocese estais inseridos e que segue com zelo ocaminho da obra de Dom Zeno. Nomadélfia éuma realidade profética que se propõe realizaruma nova civilização, praticando o Evangelho co-mo forma de vida boa e bonita.

O vosso Fundador dedicou-se com fervor apos-tólico a preparar o terreno para a semente doEvangelho, a fim de que pudesse dar frutos de vi-da nova. Crescido no meio dos campos das férteisplanícies da Emília, ele sabia que quando chega aestação certa é o tempo de pegar no arado e pre-parar a terra para o plantio. Ficou-lhe impressa a

força do Evangelho e do Espírito Santo, medianteo vosso límpido testemunho cristão.

Diante dos sofrimentos de crianças órfãs oumarcadas pelas dificuldades, Dom Zeno entendeuque a única linguagem que compreendiam era ado amor. Por conseguinte, soube identificar umapeculiar forma de sociedade na qual não há espa-ço para o isolamento nem para a solidão, mas vi-gora o princípio da colaboração entre diversas fa-mílias, onde os membros se reconhecem irmãosna fé. Assim em Nomadélfia, em resposta a umachamada especial do Senhor, estabeleceram-sevínculos muito mais sólidos do que os de parente-la. Tem lugar uma consanguinidade com Jesus, pró-pria de quem renasceu pela água e pelo EspíritoSanto e segundo as palavras do Mestre divino:«Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é queé meu irmão, minha irmã e minha mãe» (Mc 3,35). Este vínculo especial de consanguinidade efamiliaridade manifesta-se também pelas relaçõesrecíprocas entre as pessoas: todos se chamam pelonome, nunca pelo sobrenome, e nos relaciona-mentos diários usa-se o confidencial “tu”.

Gostaria de evidenciar outro sinal profético, umsinal da grande humanidade de Nomadélfia: tra-ta-se da atenção amorosa para com os idosos que,

até quando não gozam de boa saúde, permane-cem em família e são apoiados pelos irmãos e ir-mãs de toda a comunidade. Continuai neste cami-nho, encarnando o modelo do amor fraterno, in-clusive mediante obras e sinais visíveis, nos múlti-plos contextos onde a caridade evangélica voschama, mas conservando sempre o espírito deDom Zeno que desejava uma Nomadélfia “leve” eessencial nas suas estruturas. Diante de um mun-do que às vezes é hostil aos ideais pregados porCristo, não hesiteis em responder com o testemu-nho jubiloso e sereno da vossa vida, inspirada noEvangelho.

Agradeço-vos muito o calor e o clima de famí-lia com o qual me recebestes. Foi um encontrobreve mas cheio de significado e emoção; conser-vá-lo-ei comigo, especialmente na oração. Recor-darei os vossos rostos: os rostos de uma grandefamília com o sabor sincero do Evangelho.

E agora, saboreando a alegria de sermos todosirmãos porque somos filhos do Pai celestial, reci-temos juntos o Pai-Nosso.

Recitação do Pai-Nosso

Agora concedo a todos vós, às vossas famílias eàs pessoas queridas a Bênção apostólica, invocan-

Encontro com o movimento dos Focolares

frase de Jesus: «Quem depois de dei-tar a mão ao arado, olha para trás,não é apto para o Reino de Deus»(Lc 9, 62). Repetia-a com frequência,talvez prevendo as dificuldades queteria encontrado para encarnar, narealidade do dia a dia, a força reno-vadora do Evangelho.

A Lei da fraternidade, que carateri-za a vossa vida, foi o sonho e o obje-tivo de toda a existência de Dom Ze-no, que desejava uma comunidade devida inspirada no modelo delineadonos Atos dos Apóstolos: «A multidãodos que haviam abraçado a fé tinhaum só coração e uma só alma. Nin-guém chamava seu ao que lhe per-tencia mas, entre eles, tudo era co-mum» (At 4, 32). Exorto-vos a conti-nuar este estilo de vida, confiando na

do sobre cada um a luz e a força doEspírito Santo.

[Bênção]E rezai por mim, não vos esque-

çais.

No final do encontro, o Papa agradeceua todos, em particular os presentessignificativos que lhe foram oferecidos.

Muito obrigado pelo acolhimento. Epelas prendas, que são “dons de fa-mília”, isto é muito importante: sãodons que vêm do coração, da família,daqui; simples, mas ricos de signifi-cado.

Muito obrigado! Agradeço-vos oacolhimento, a vossa alegria. E ideem frente! Obrigado.

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número 20, quinta-feira 17 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 11

Prefácio do Papa Francisco a uma antologia de textos do seu predecessor

Contra as reduçõesideológicas do poder

Desde sempre a relação entre fé e política éum dos grandes temas que está no centroda atenção de Joseph Ratzinger / Bento

XVI e atravessa todo o seu caminho intelectual ehumano: a experiência direta do totalitarismo na-zista levou-o como jovem estudioso a refletir so-bre os limites da obediência ao Estado a favor daliberdade da obediência a Deus: «O Estado — es-creveu a este propósito num dos textos propostos— não é a totalidade da existência humana nemabrange toda a esperança humana. O homem e asua esperança vão além da realidade do Estado e

visão cristã dos direitos humanos, capaz de pôrem questão a nível teórico e prático a pretensãototalitária do Estado marxista e da ideologia ateiasobre a qual se fundava; pois, para Ratzinger, ocontraste autêntico entre marxismo e cristianismonão é certamente estabelecido pela atenção prefe-rencial do cristão pelos pobres: «Devemos apren-der — mais uma vez, não só a nível teórico, masno modo de pensar e agir — que ao lado da pre-sença real de Jesus na Igreja e no sacramento,existe outra presença real de Jesus nos mais hu-mildes, nos espezinhados deste mundo, nos últi-

a negação da dependência do amor, a negação deque o homem é criatura de Deus, criado amorosa-mente por Ele à sua imagem e pelo qual o ho-mem suspira como a corça pelas correntes deágua (cf. Sl 41). Quando se nega esta dependên-cia entre criatura e criador, esta relação de amor,no fundo renuncia-se à verdadeira grandeza dohomem, ao baluarte da sua liberdade e dignida-de.

Assim, a defesa do homem e do humano contraas reduções ideológicas do poder, exige hoje maisuma vez que se estabeça a obediência do homema Deus como limite da obediência ao Estado.Aceitar este desafio, na verdadeira mudança deépoca na qual vivemos, significa defender a famí-lia. Contudo já São João Paulo II tinha compre-endido o alcance decisivo da questão: com razãochamado também o “Papa da família”, não poracaso frisava que «o futuro da humanidade passaatravés da família» (Familiaris consortio, 86). E emsintonia com isto, também eu reafirmei que «obem da família é decisivo para o futuro do mun-do e da Igreja» (Amoris laetitia, 31).

Deste modo, estou particularmente feliz porpoder introduzir este segundo volume dos textosescolhidos de Joseph Ratzinger sobre o tema «fée política». Juntamente com a sua imponenteOpera omnia, eles podem ajudar não só todos nósa compreender o nosso presente e a encontraruma firme orientação para o futuro, mas tambémser verdadeira fonte de inspiração para uma açãopolítica que, pondo a família, a solidariedade e aequidade no centro da sua atenção e da sua pro-gramação, olhe deveras para o futuro com clari-dência.

Fé e política

O Evangelhopara combater a máfia

No vigésimo quinto aniversário da visita deJoão Paulo II a Agrigento (9 de maio de1993), quando o Pontífice pronunciou a pro-fética invectiva contra a máfia e pediu aosmafiosos que se convertessem, o Papa Fran-cisco — através de um telegrama enviado pelocardeal Pietro Parolin, secretário de Estado,ao cardeal Francesco Montenegro, arcebispode Agrigento — encorajou bispos e fiéis daIgreja siciliana. E exortou-os a «percorrerunidos no caminho traçado pelo beato padrePino Puglisi e por quantos, como ele, teste-munharam que as tramas do mal se comba-tem com a prática diária, mansa e corajosa doEvangelho, especialmente no trabalho educa-tivo no meio dos adolescentes e dos jovens».

Publicamos o prefácio, assinado pelo Papa Francisco, a umaantologia de textos do seu pedecessor (Liberare la libertà.Fede e politica nel terzo millennio, Siena, Cantagalli, 2018, 208páginas). Nas livrarias a partir de 10 de maio, o livro foiapresentado no dia seguinte em Roma, na sala Zuccari dopalácio Giustiniani com pronunciamentos da presidente dosenado Maria Elisabetta Alberti Casellati, do arcebispoGeorg Gänswein, de Antonio Tajani e do arcebispoGiampaolo Crepaldi, moderados por Pierluca Azzaro que,juntamente com Carlos Granados, editou o livro. Aantologia é composta por textos escritos de 1971 a 2014 e é osegundo volume de uma coleção em seis línguas que teveinício em 2016 com uma coletânea dedicada ao sacerdócio.Estão previstos outros títulos sobre ciência e fé, Europa,minorias criativas, universidade, eucaristia. Em 1971Ratzinger dedicou o livro, pouco conhecido, L’unità dellenazioni. Una visione dei Padri della Chiesa à relação entre fé epolítica, do qual foi tirado o quarto texto da nova antologia.Contudo, já em 1961 e 1963 o jovem teólogo bávaro tinhaantecipado as linhas fundamentais da sua visão da política —inspirada sobretudo em Orígenes e Agostinho — em doisamplos artigos, que depois foram reelaborados no livro,imediatamente traduzido em português, espanhol, italiano ereeditado em 2009 pela Morcelliana de Bréscia. (g . m . v. )

da esfera da ação política. Isto vale não só paraum Estado que se chama Babilónia, mas paraqualquer tipo de Estado. O Estado não é a totali-dade. Ele alivia o peso ao homem político e abre-lhe o caminho para uma política racional. O Esta-do romano era falso e anticristão precisamenteporque pretendia ser o totum das possibilidades edas esperanças humanas. Assim, ele pretende oque não pode; desta forma, falsifica e empobreceo homem. Com a sua mentira totalitária torna-sedemoníaco e tirânico».

Sucessivamente, baseado também nisto, ao ladode São João Paulo II ele elaborou e propôs uma

depois seria a liberdade verdadeira?».E assim, com um salto de trinta anos, ele acom-

panha-nos à compreensão do nosso presente, co-mo testemunho do inalterado vigor e vitalidadedo seu pensamento. De facto, hoje mais do quenunca, reapresenta-se a mesma tentação da rejei-ção de cada dependência do amor que não seja oamor do homem pelo próprio ego, pelo «eu e pe-las suas vontades»: e, consequentemente, o perigoda “colonização” das consciências por parte deuma ideologia que nega a certeza de fundo pelaqual o ser humano existe como varão e mulher,aos quais foi atribuída a tarefa da transmissão da

mos, nos quais ele quer ser en-contrado por nós», escreveu Rat-zinger, já nos anos setenta, comuma profundidade teológica etambém uma acessibilidade ime-diata, próprias do verdadeiro pas-tor. E aquele contraste que nemsequer é devido, como ele frisouem meados dos anos oitenta, àfalta do sentido de igualdade esolidariedade no Magistério daIgreja; e, consequentemente, «nadenúncia do escândalo das evi-dentes desigualdades entre ricose pobres — quer sejam desigual-dades entre países ricos e paísespobres ou desigualdades entreclasses sociais no âmbito do mes-mo território nacional que já nãoé tolerado».

Ao contrário, um contrasteprofundo, observou Ratzinger —e antes ainda da pretensão mar-xista de colocar o céu na terra, aredenção do homem no mundo— é determinado pela diferençaabissal que subsiste em relaçãoao modo como a redenção deveconcretizar-se: «A redenção reali-za-se por meio da libertação detodas as dependências, ou é por-ventura a única via que leva à li-bertação é a completa dependên-cia do amor, dependência que

vida, àquela ideologia quechega à produção planeada eracional de seres humanos eque — talvez por alguma fina-lidade considerada “b oa” —chega a considerar lógico e lí-cito eliminar o que já não seconsidera criado, doado, con-cebido e gerado mas feito pornós mesmos.

Estes aparentes “d i re i t o s ”humanos que são todos orien-tados para a autodestruição dohomem — Joseph Ratzingermostra-nos isto com vigor eeficácia — têm um só denomi-nador comum que consistenuma única e grande negação:Durante a apresentação no senado da República Italiana

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página 12 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 17 de maio de 2018, número 20

Exéquias do diretor emérito de L’Osservatore Romano

Como no diada primeira comunhão

VINCENZO PAGLIA

Fomos acolhidos nesta santa liturgiapara acompanhar Mario Agnes nasua última etapa da peregrinação ru-mo ao céu. Começa-a daqui, destapequena igreja de Santa Ana, a suaigreja dos últimos anos, desde quan-do em 1984 foi chamado a dirigir«L’Osservatore Romano». Todos osdias, Mario, entrava aqui antes deiniciar o seu trabalho. Hoje, nela co-meça a sua última viagem, rumo àcidade santa na qual, acolhido peloSenhor, habitará para sempre, emcomunhão com todos os justos. Ecaminhará «numa vida nova», comoouvimos da carta do apóstolo Pauloaos Romanos (6, 4).

Nestes últimos anos da doença foiobrigado a permanecer em casa. Edepois da morte da amada irmã Li-sa, à doença que o debilitava cadavez mais no corpo acrescentou-setambém a solidão. Podemos sentir-nos sozinhos, infelizmente, tambémdentro destes muros. Teve o confor-to da presença solícita de duas cola-

boradoras ucranianas, dos sobrinhos,os filhos dos amadíssimos irmãos, ede pouquíssimos amigos.

E a sua amizade, até nos momen-tos da debilidade, talvez sobretudonestes momentos, foi sempre precio-sa e terna. No domingo passado le-vei-lhe a comunhão — como aconte-cia regularmente desde há tempos —e a sua piedade ao receber a Euca-ristia foi exemplar. E confidenciara aum amigo que imaginava o momen-to da sua morte e da sua entrada nocéu cheio de alegria como no dia emque fizera a primeira comunhão.

Esperávamos tê-lo ainda entrenós. A sua morte surpreendeu-nos eentristece-nos. Certamente podeconfortar-nos o facto que para elechegou como um adormecer sereno.Na tradição do Oriente diz-se assimda morte de Maria: a dormitio virgi-nis, representada no ícone deitadano leito, circundada pelos apóstoloscom Jesus no meio que pega com assuas mãos na pequena alma de Ma-ria a fim de a levar para o céu aoseu lado.

Mario adormeceu no dia seguinteà súplica a Nossa Senhora de Pom-peia — um santuário que lhe eramuito querido desde a infância — ena vigília da festa da Ascensão deJesus, como que sugerindo o mesmoabraço de Jesus que pega nele parao levar para o céu. O apóstolo Pauloescreve aos Romanos: «Porque, sefomos plantados juntamente com elena semelhança da sua morte, tam-bém o seremos na da sua ressurrei-ção... Ora, se já morremos com Cris-to, cremos que também com ele vi-veremos» (6, 5.8).

E esta santa liturgia, memória damorte e ressurreição de Jesus, torna-nos partícipes desta entrada no céu.Nós estamos ao lado de Mario coma nossa prece e a palavra evangélicasugere-nos algo do diálogo que tevelugar entre o Senhor e este seu ser-vo, como num eco distante mas pro-fundo: «Muito bem, servo bom efiel. Sobre o pouco foste fiel, sobremuito te colocarei; entra no gozo doteu senhor» (Mt 25, 21), diz-lhe oS e n h o r.

Mario foi um crente bom e fiel noseu serviço ao Evangelho e à Igreja.Foram muitos os talentos a ele con-

fiados, com os quais procurou lidarao longo da sua vida. A partir do ta-lento de estudioso. Foram muitos osque continuaram a chamá-lo «pro-fessor» devido à sua experiência dehistoriador e docente, com os estu-dos iniciados na universidade deNápoles com Paolo Brezzi e prosse-guidos com o ensino de história docristianismo em Cassino e depois emRoma.

E se a universidade foi avarentacom ele, teve a confiança generosaprimeiro de Paulo VI, e depois deJoão Paulo II. Mario está marcadopela Ação Católica que o viu partici-par ativamente desde jovem, quandodirigia, na sua amada Avellino, asecção dos jovens e depois a presi-dência da Ação Católica diocesana.

Paulo VI, que Mario recordavacom paixão também nestas últimassemanas e aguardava com ansiedadea sua canonização — falámos acercadisto várias vezes — nomeou-o presi-dente nacional em 1973 sucedendo aVittorio Bachelet. Era um momentodelicado para a Ação Católica italia-na, que estava a redefinir a própriaidentidade e missão no âmbito daIgreja, comprometida a traduzir amensagem conciliar num país queestava a mudar profundamente. Ma-rio quis distinguir a sua Ação Cató-lica com um cristianismo de povo,militante.

«A Ação Católica — dizia numaentrevista — considera desta maneiramanifestar a sua identidade que é ade ser um sinal e um instrumentopara a participação do povo deDeus na missão pastoral da Igrejade concorrer para a edificação da co-munidade cristã tornando-se presen-te em todos os problemas da vida,também nos sociais e nas suas impli-cações políticas, com a singularidade

Na paróquia de Santa Ana

CO N T I N UA NA PÁGINA 13

Prosseguem os encontros do Papacom os bispos chilenos

O Papa Francisco encontrou-se com os bispos do Chilede 15 a 17 de maio num local adjacente à Sala Paulo VI,anunciou a Sala de imprensa da Santa Sé num comu-nicado difundido no dia 12 de maio, no qual recordaque o encontro se realiza depois da convocação doepiscopado chileno a 8 de abril passado. O Santo Pa-dre, devido às circunstâncias e aos desafios extraordi-nários causados pelos abusos de poder, sexuais e deconsciência que se verificaram no Chile nas últimas dé-cadas, considera necessário examinar profundamente ascausas e as consequências, assim como os mecanismosque nalguns casos levaram ao ocultamento e às gravesomissões em detrimento das vítimas.

Durante os encontros, o Papa Francisco deseja parti-lhar as suas conclusões pessoais, consequentes da re-cente missão especial no Chile confiada a D. CharlesScicluna, arcebispo de Malta, e ao sacerdote Jordi Ber-tomeu, da Congregação para a doutrina da fé, comple-tadas pelos numerosos testemunhos, escritos e orais,que o Papa continuou a receber nas últimas semanas.

Durante os encontros, nos quais participam 31 bisposdiocesanos e auxiliares e 2 bispos eméritos, o Santo Pa-

dre é acompanhado pelo cardeal prefeito da Congrega-ção para os bispos, Marc Ouellet.

O objetivo deste longo “processo sinodal” é discernirjuntos, na presença de Deus, a responsabilidade de to-dos e de cada um nestas feridas devastadoras, e estudarmudanças adequadas e duradouras que impeçam a re-petição destes atos sempre reprováveis. É fundamentalrestabelecer a confiança na Igreja através dos bons pas-tores que testemunham com a própria vida ter ouvidoa voz do Bom Pastor e que saibam acompanhar o so-frimento das vítimas e agir de modo determinado e in-cansável na prevenção dos abusos.

O Pontífice — conclui o comunicado — agradece adisponibilidade dos seus irmãos bispos em pôr-se à es-cuta dócil e humilde do Espírito Santo e renova a suasolicitação ao Povo de Deus no Chile para que conti-nue em estado de oração a fim de que se realize a con-versão de todos. Não está previsto que o Papa Francis-co faça declaração alguma nem durante nem depoisdos encontros, que se realizam em confidencialidadeabsoluta.

Com as palavras do Pontífice que,no telegrama de condolências (quepublicamos na edição da semanapassada), recorda «com gratidão ocompromisso no laicado católico esobretudo o serviço generoso nadireção» de L’O sservatoreRomano, teve início o rito das

à entrada da igreja o cardealTarcisio Bertone e monsenhorLeonardo Sapienza, regente daPrefeitura da Casa Pontifícia.Participaram na celebração oarcebispo Angelo Becciu,substituto da Secretaroa de Estado.Os familiares estavam circundados«pelos amigos mais chegados e porquantos colaboraram com MarioAgnes na sua atividade, primeirono laicado italiano e depois aoserviço da Santa Sé.

exéquias de Mario Agnes namanhã de sábado, 12 de maio, naigreja de Santa Ana no Vaticano.O rito foi presidido pelo arcebispoVincenzo Paglia e concelebraramCarlo Maria Polvani, chefe daSecção informações da Secretariade Estado, os agostinianos GioeleSchiavella, Vittorino Grossi e JafetRamón Ortega Trillo, queentoaram as sóbrias e sugestivasmelodias gregorianas, e o salesianoSergio Pellini. Acolheram o féretro

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número 20, quinta-feira 17 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 13

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 12

Exéquias de Mario Agnes

Vinte e três anosGI O VA N N I MARIA VIAN

Mario Agnes foi um representantesignificativo, e ao mesmo tempodiscreto, do catolicismo italiano.Nascido em terra irpina numa famí-lia com sólidas raízes católicas e àqual permaneceu sempre muito li-gado, distinguiu-se pela fidelidadeabsoluta à hierarquia eclesiástica.Nas últimas três décadas do séculoXX viveu o seu compromisso de lei-go primeiro na Acção Católica (daqual foi também presidente nacio-nal) e depois em L’Osservatore Ro-mano, que dirigiu durante quaseum quarto de século.

Magro e quase escavado no físi-co, rigoroso nos modos e por vezesríspido, com o passar dos anos ti-nha suavizado um carácter forte eimpetuoso que, a quantos o conhe-ciam diretamente, mostrava ao con-trário inesperadamente atençõesamistosas e até solicitudes afetuosas.Concluída a sua longa direção, ti-nha-se retirado cada vez mais nasua casa no Vaticano e nos últimosanos foi atingido por uma gravedoença, enfrentada sem lamenta-ções, e sofreu sobretudo a perda daamadíssima irmã. Até aos últimosdias continuou contudo a seguir aatualidade, recebendo sobrinhos eamigos, mas preferindo com maisfrequência breves conversas por te-lefone.

O período da sua direção do jor-nal da Santa Sé foi o segundo maislongo na história de L’O sservatoreRomano, depois das quatro décadasde Giuseppe Dalla Torre, prolon-gando-se por vinte e três anos sobdois pontífices: João Paulo II e Ben-to XVI. E com o aristocrático padua-no, muito diferente dele e em tem-pos radicalmente mudados, Mario

Agnes teve características comuns: ocompromisso no movimento católi-co, a fidelidade ao serviço da SantaSé e, por fim, um governo firme dojornal.

Transformado na época do concí-lio e da direção de Raimundo Man-zini, que fora nomeado por JoãoXXIII e que com abertura coerente einteligente soube depois interpretaros quinze anos montinianos, o jor-nal do Vaticano foi em seguidaguiado por mais de seis anos porValerio Volpini, intelectual discretoe requintado. O sucessor foi preci-samente chamado por João Paulo IIna pessoa de Agnes, quando aindanão tinha cinquenta e três anos, oqual sem hesitar enfrentou dificul-dades externas e internas do diário.A sua atenção concentrou-se sobre-tudo nas transformações, até confli-tuais, do catolicismo italiano, e a es-te compromisso acrescentou-se a en-trada no jornal das novas tecnolo-gias, que acolheu sem contudo de-las se servir pessoalmente.

Fidelíssimo ao primeiro Papa nãoitaliano depois de quase meio milé-nio, Agnes guiou o jornal da SantaSé no período no qual se afirmou econsolidou a projeção vigorosamen-te planetária do pontificado de Wo-jtyła. Mas não abandonou o olharapaixonadamente partícipe sobre aItália e sobre as vicissitudes dos ca-tólicos na península. No final dasua direção deixou com consciênciaserena uma redação maturada e dis-posta a prosseguir, através das mu-danças indispensáveis para qualquerjornal que queira ser autenticamentetal, um compromisso institucionaldiário e silencioso. Ao serviço deum editor que não tem igual no pa-norama internacional dos meios decomunicação.

Aquela gravata um pouco folgadaPIERO DI DOMENICANTONIO

Na redação havia quem pensavaque pusesse gravata até com o pija-ma. Um dia, o responsável pelo ser-viço internacional da época fez-lhediretamente a pergunta. A respostafoi uma risada.

Mario Agnes não era só o ho-mem com o indicador apontado dafotografia que todos os jornais ita-lianos publicavam todas as vezesque citavam uma tomada de posi-ção do jornal da Santa Sé. Por de-trás daquele rosto severo, magro eossudo havia um homem que sabiasorrir também de si mesmo. Um lei-go que não admitia meias medidasquando se tratava de fidelidade àIgreja e ao Papa, mas que nunca re-nunciava à brincadeira ou à piada.

Ao jornal apresentou-se com aspalavras da mensagem do concílioaos jovens: «Doar-se sem retorno».Ritmou-as durante a passagem detransferência do cargo com ValerioVolpini num ambiente situado entrea rotativa e o salão do linótipo. E apartir de então, durante vinte e trêsanos, viveu-as no seu escritório nosegundo andar do prédio de Via delPellegrino onde, duas vezes por dia,convocava a redação para decidir aorganização do jornal e ditar a li-nha. Tinha uma ideia muito clarade como queria que fosse «L’O sser-

vatore Romano». Uma «voz forado coro», repetia, capaz de acompa-nhar uma escrupulosa documenta-ção da atividade papal e uma leitu-ra atenta das vicissitudes políticas eeclesiais, sobretudo italianas. Por is-so tinha retomado a publicação das«Acta Diurna» e transformado a ru-brica sobre a situação política numaanálise perspicaz e, quando era ne-cessário, pungente do debate emcurso. E quando era preciso defen-der ou até reafirmar os valores davida, da honestidade, da justiça eda democracia ditava breves comen-tários a serem inseridos nos artigosde crónica.

Com ele, que escrevia usando aesferográfica e pequenas folhas depapel conservadas no bolso do ca-saco, o jornal atravessou também afase da renovação tecnológica. Datipografia tinha saudades da huma-nidade que nela se respirava junta-mente com as baforadas das caldei-ras do chumbo, quando na mesa dochefe da tipografia controlava aspáginas antes da impressão. Soubecontudo captar as oportunidadesque se abriam, concordando e enco-rajando as primeiras experiências narede e a impressão descentralizadadas edições semanais.

Mesmo tendo deixado há temposo ensino universitário, muitos conti-nuavam a chamá-lo “p ro f e s s o r ”. Ojornalismo não era a sua profissão,mas sabia desempenhar o cargo dediretor. Era exigente. Não hesitavaem levantar a voz quando era ne-cessário. E não só com os seus.«L’Osservatore Romano» era paraele, antes de mais, o jornal do Papae defendia esta identidade até à cus-ta de se confrontar com políticos oucom os poderosos do momento. Fezdo jornal o megafone de João PauloII, sobretudo dos seus repetidosapelos a favor da paz. A ponto que,nos dias precedentes à guerra doGolfo, as suas primeiras páginas setornaram verdadeiros manifestos er-guidos nos cortejos de protesto queatravessavam as estradas de Roma.

Havia uma profunda sintonia en-tre Wojtyła e Agnes. A estima doPapa polaco pelo seu leigo italianotinha-se tornado, ao longo dosanos, amizade. E Agnes esteve sem-pre ao seu lado. Seguiu-o em quasetodas as suas viagens. Até ao fim.Poucas horas antes da morte doPontífice, convocou toda a redação,para dizer que lhe tinha levado asaudação do jornal. Estava pertur-bado. Comovido. E pela primeiravez vi a sua gravata folgada.

e a originalidade de uma contribui-ção requintadamente evangélica».

Em 1984 João Paulo II chamou-oa dirigir «L’Osservatore Romano»,quando tinha quase cinquenta etrês anos. Dirigiu-o durante todo opontificado e continuou ainda até2007 com o Papa Bento.

Nestes longos anos, Mario Agnesdeu sempre voz ao Papa, até nosmomentos mais delicados, quandoo Santo Padre era isolado ou me-diado, como aconteceu, por exem-plo, em 2003 quando fez ressoarclaríssima a oposição de João PauloII à guerra no Iraque. Todos recor-damos aquele título em letras gran-des na primeira página: «Nuncamais a guerra!».

Guiou o jornal nos horizontesplanetários de João Paulo II sem

abandonar o olhar sobre Roma esobre a Itália. Acerca dele escreveaquele distinto historiador que foiGiorgio Rumi: «Não há vicissitudedeste decénio que não tenha deixa-do vestígios nas “Acta Diurna”.Grandes acontecimentos de políticainternacional e eventos controversosda vicissitude doméstica italiana,episódios de crónica e experiênciaseclesiais: Mario Agnes não quis sernem juiz nem cronista. Ao contrá-rio, escolheu o percurso do teste-munho, na fidelidade da mente edo coração ao Pontífice. E atravésda espontaneidade da sintonia deuaos nossos dias uma contribuiçãode amizade, sobretudo frutuosa pora ter orientado para a verdade des e m p re » .

Muitas outras coisas poderiamser ditas acerca de Mario. Hoje, an-tes que ele volte para a sua Avelli-

no, queremos dar-lhe a nossa últi-ma saudação. Saudamos um ho-mem de fé profunda e reservada;um crente que serviu a Igreja e oseu país sem nada pretender para sie dedicando-se com generosidadeao bem de todos.

O seu carácter seco — tal como oseu físico — estava cheio de ternurae nestes últimos tempos da doença,enquanto o seu corpo mingava, asua ternura pela amizade aumenta-va mesmo tendo dificuldade de seexpressar. Agora entregamo-lo aoSenhor na oração. E podemos ima-giná-lo quando estiver a chegar àsportas do céu recebido por NossaSenhora, pelos seus santos, pelospais e Lisa, que se abre caminho,Biagio, Angelo e os muitos amigosque lhe fazem festa. A nossa preceo acompanhe nesta última etapa daperegrinação rumo ao céu.

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página 14 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 17 de maio de 2018, número 20

Ligação vídeo com cinco sedes de Scholas Occurrentes

Devemos arriscar

Desde há décadas o Barrio 31, áreadegradada no coração de Buenos Ai-res, cresce continuamente. A cidadefez tudo para esquecer ou esconderesta enorme superfície de habitaçõesimprovisadas onde vivem mais dequarenta mil pessoas. Chegaram acolocar uma enorme lona para evitarque quantos transitam pela vizinhaautoestrada possam vê-la. Mas tudoinútil: as barracas multiplicaram-se,com o seu contorno de transtornos,miséria, sofrimento e insegurança. Eno centro deste bairro tão difícilScholas Occurrentes quis abrir a se-de que o Papa Francisco inaugurou,através de uma conferência vídeo deRoma, na tarde de 11 de maio.

Para essa ocasião, ao Barrio 31 fo-ram convidadas algumas personali-dades do mundo do desporto: ao re-dor, um grupo de jovens e uma or-questra, também ela formada por jo-vens, que tocaram ao vivo da capitalargentina precisamente para o Pontí-fice, que naquele momento estava noPalácio de São Calisto, na sede ro-mana de Scholas.

O Papa chegou à sede de Traste-vere no início da tarde e foi recebidopelo presidente José María Del Cor-ral, pelo secretário Enrique Palmeyroe por uma centena de jovens queparticiparam nos laboratórios deScholas em dez países do mundo:Argentina, Paraguai, Colômbia, Mé-xico, Peru, Brasil, Haiti, Moçambi-que, Espanha e Itália. Em seguida,dentro do local, Francisco inaugurouvirtualmente outras sedes de Scholasatravés de ligações vídeo com cincopaíses, inclusive com a Argentina.Saudando os interlocutores, o Papaconvidou a nova geração de jovensformadores de Scholas a não dormir,a não perder a capacidade de sonharde olhos abertos, porque todos sãocapazes de sonhar enquanto dor-mem. Encorajou-os a olhar mais

além, conscientes de que um sonhopode transformar-se em realidade.Sucessivamente, pediu-lhes que ar-risquem, encontrem a coragem delutar pela vida, pelos sonhos, e quenão vão para a reforma antes dotempo, pois não há vida mais tristedo que ver um jovem de quinze, vin-te ou vinte e cinco anos já aposenta-do, que não tem a coragem de acre-ditar, de trabalhar, de arriscar.

Também de Barranquilla, na Co-lômbia, o entusiasmo dos jovens sefez ouvir com cânticos e músicas.Scholas abriu ali um novo polo, emcolaboração com o ministério daeducação. Depois chegou a vez deTofo, em Moçambique, onde os jo-vens estavam circundados por pran-chas de surf. O Papa dirigiu-lhesuma breve saudação, abençoando ocoração dos jovens e de todos aque-

les que trabalham, sonham e acredi-tam na juventude. Em particular,quantos florescerem amanhã, e serãocapazes de florescer se se apegaremàs raízes e forem em frente. Depois,ressaltou a importância do trabalho,da força de vontade e do desejo desemear o bem. Sem esquecer aquelesque se opõem ao projeto, porquecontudo se trata de um caminho devida.

De Miami, nos Estados Unidosda América, um grupo feminino uni-formizado estava alinhado à esperada ligação com o Papa. Ao lado dasjovens, o presidente da câmara mu-nicipal dessa cidade da Florida e al-gumas autoridades estatais que seocupam de educação. A apresenta-dora pediu ao Pontífice uma mensa-gem para as mulheres e os jovensque guiam iniciativas sociais. Diri-

gindo-se a eles, Francisco exortou asair, pois embora seja verdade quequem sai e caminha pode ter umacidente, é igualmente verdade quequantos permanecem fechados e nãosaem, apanham uma doença. Em se-guida, o Papa disse que prefere umajuventude acidentada a uma juventu-de doente.

Finalmente chegou a vez do Mé-xico, de cuja capital federal os jo-vens enviaram uma mensagem aosseus coetâneos mediante uma inicia-tiva chamada «Boxval», ou seja,«boxe com os valores», para harmo-nizar o desenvolvimento daquelesque vivem em contextos de vulnera-bilidade, através da transmissão devalores que ajudem a superar as ex-periências difíceis da vida. Nessa cir-cunstância, um rapaz e uma moçaofereceram uma breve demonstraçãode uma luta de boxe.

Em seguida, o Pontífice concluiuoficialmente o terceiro encontro in-ternacional de jovens, organizadoem colaboração com o ministérioitaliano da educação, da universida-de e da pesquisa, o qual teve inícioem Roma no dia 7 de maio. Nessaocasião estava presente também a ti-tular desse ministério, Valeria Fedeli.Precedentemente, o Papa tinha dadoa primeira mão de tinta numa placade vidro. Com um pincel embebidode cor amarela, desenhou o mono-grama Ihs, encimado por uma cruz.Trata-se da iniciativa «Pintandopuentes». Depois, benzeu tambémas obras de 14 artistas de prestígiomundial, que cederam ao Pontíficeas próprias criações, as quais serãoleiloadas para financiar os projetoseducativos que Scholas realizaanualmente.

Ao Papa foram mostradas tambémoito t-shirts de jogadores de futebolde seleções nacionais que vencerama copa do mundo. Entre outras, ado Brasil, vestida por Pelé em 1970;da Itália, vestida por Vierchowodem 1982; e da Argentina, que perten-ceu a José Luís Brown em 1986. (ni-cola gori)

Uma cultura jurídica na IgrejaInstrução da Congregação para a educação católica

A possibilidade de erigir departamentos de direito ca-nónico nas faculdades de teologia e cátedras da mesmamatéria nas faculdades de jurisprudência no âmbitodas universidades católicas e a promoção dos estudosde direito canónico no primeiro ciclo numa faculdadede teologia, na qual deve ser ensinada a mencionadadisciplina sempre por um docente estável: são estas,como realçou o arcebispo secretário Vincenzo AngeloZani, as principais novidades contidas na Instrução daCongregação para a educação católica sobre os estudosde direito canónico, à luz da reforma do processo ma-trimonial, divulgada na manhã do dia 3 de maio.

Aprovado a 27 de abril pelo Papa Francisco, que au-torizou a sua publicação, ocorrida no sucessivo dia 29,o documento — disponível online no site da Santa Se-de w2.vatican.va — é assinado pelo cardeal prefeito,Giuseppe Versaldi, e pelo mesmo prelado, o qual escla-receu que a Instrução quer apoiar e aprofundar a cul-tura jurídica da Igreja, e que as instituições académicasdeverão adaptar-se às novas normas a partir do iníciodo ano de 2019-2020. O documento começa pelos mo-tu proprio Mitis iudex Dominus Iesus e Mitis et miseri-cors Iesus, acerca da reforma dos processos canónicospara as causas de declaração de nulidade do matrimó-

nio: com efeito, através dele, a Congregação para aeducação católica, na sua competência sobre as institui-ções académicas para os estudos eclesiásticos, tencionaencorajar uma preparação diferenciada das figuras cha-madas a trabalhar nos tribunais eclesiásticos, ou queestão engajadas na consultoria matrimonial e familiar,para a qual se exige também uma preparação adequa-da. Portanto — prosseguiu D. Zani — enquanto o per-curso normal para a formação dos futuros canonistas,coerentemente com a Constituição apostólica Ve r i t a t i sgaudium, permanece o ciclo da licenciatura em direitocanónico, a nova Instrução quer que as instituições dedireito canónico ofereçam também um diploma em di-reito matrimonial e processual, sobretudo a quantospor justa causa obtiverem do supremo tribunal da Assi-natura apostólica, a dispensa do grau académico.

Além disso, até para os outros agentes do tribunaleclesiástico, para os quais a lei não prevê um grau aca-démico, é oferecido um percurso de formação, e prevê-se uma adequada preparação mínima para os consulto-res na pastoral matrimonial e familiar. Finalmente, asnovas normas evidenciam os requisitos necessários, queasseguram a qualidade das instituições já existentes, oudaquelas que forem erigidas.

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número 20, quinta-feira 17 de maio de 2018 L’OSSERVATORE ROMANO página 15

INFORMAÇÕESAudiências

O Papa Francisco recebeu em audiên-cias particulares:

A 11 de maio

Sua Ex.cia a Senhora VioricaDăncilă, Primeira-Ministra da Ro-ménia, com o Séquito.

D. Luis Francisco Ladaria Ferrer,Prefeito da Congregação para aDoutrina da Fé.

Sua Beatitude Rastislav, Metropolitadas Terras Checas e da Eslováquia,Arcebispo de Prešov, com o Séquito.

Sua Ex.cia o Senhor Antonio Ray-mond Andary, Embaixador do Líba-no em visita de despedida.

A 12 de maio

Os Senhores Cardeais Marc Ouellet,Prefeito da Congregação para osBispos; e Fernando Filoni, Prefeitoda Congregação para a Evangeliza-ção dos Povos; D. Rigoberto Corre-dor Bermúdez, Bispo de Pereira(Colômbia).

Sua Ex.cia o Senhor Peter Sopko,Embaixador da República Eslovaca,em visita de despedida.

A 14 de maioOs Senhores Cardeais ReinhardMarx, Arcebispo de München eFreising (Alemanha), Coordenadordo Conselho para a Economia; eGualtiero Bassetti, Arcebispo de Pe-rugia — Città della Pieve (Itália),Presidente da Conferência Episcopalitaliana; D. Gregorio Rosa Chávez,Bispo Auxiliar de San Salvador (ElSalvador); e os seguintes Preladosda Conferência Episcopal RegionalChinesa, em visita «ad limina apos-tolorum»: D. John Hung Shan-chuan, Arcebispo de Taipei, Admi-nistrador Apostólico das Ilhas Kin-men ou Quemoy e Matzu; D. JohnBaptist Lee Keh-mien, Bispo deHsinchu; D. Philip Huang Chao-ming, Bispo de Hwalien; D. PeterLiu Cheng-Chung, Arcebispo-Bispode Kaohsiung; D. Thomas ChungAn-zu, Bispo de Kiayi; D. MartinSu Yao-wen, Bispo de Taichung; eD. Bosco Lin Chi-nan, Bispo de Tai-nan.

Renúncias

O Santo Padre aceitou a renúncia:

No dia 11 de maioDe D. Matthias Kobena Nketsiah,ao governo pastoral da Arquidiocesede Cape Coast (Gana).

No dia 16 de maioDe D. José Luiz Bertanha, S.V.D., aogoverno pastoral da Diocese de Re-gistro (Brasil).De D. Martin Roos, ao governo pas-toral da Diocese de Timişoara (Ro-ménia).

Nomeações

O Sumo Pontífice nomeou:

A 11 de maioArcebispo de Cape Coast (Gana),D. Charles Palmer-Buckle, até estadata Arcebispo de Acra.Auxiliar da Arquidiocese de Monte-videu (Uruguai), o Rev.do Pe. LuisEduardo González Cedrés, até hojeVigário-Geral de Maldonado — Pun-ta del Este e Reitor do SeminárioInterdiocesano do Uruguai, simulta-neamente eleito Bispo Titular deThugga.

D. Luis Eduardo González Cedrésnasceu em Montevideu (Uruguai), nodia 15 de janeiro de 1972. Foi ordena-do Sacerdote a 18 de abril de 2009.

A 16 de maioBispo de Registro (Brasil), o Rev.do

Pe. Manoel Ferreira dos Santos Jú-nior, M.S.C., até esta data Reitor ePároco do Santuário de Nossa Se-nhora Aparecida do Sul, na Diocesede Itapetininga.

D. Manoel Ferreira dos Santos Jú-nior, M.S.C., nasceu a 21 de março de1967 em Itapetininga, no Estado deSão Paulo. Completou os estudos deFilosofia na Universidade São Francis-

co em São Paulo (1987-1989) e os deTeologia na Pontifícia Faculdade NossaSenhora da Assunção em São Paulo(1991-1994), onde obteve depois a Li-cenciatura em Teologia Pastoral(1998-2002). Frequentou também ocurso de Direção Espiritual no CentroUniversitário Salesiano de São Paulo(2006). A 2 de fevereiro de 1991 emi-tiu a Profissão religiosa na Congrega-ção dos Missionários do Sagrado Co-ração e foi ordenado Sacerdote no dia 7de janeiro de 1995. No âmbito da suaCongregação, desempenhou os seguintescargos: Reitor do pré-noviciado e doSeminário de Teologia, Vice-Mestre dosNoviços; Coordenador da Casa de Re-cuperação para toxicodependentes; Vice-Provincial e Superior Provincial pordois mandatos (2011-2017). Foi tam-bém Vigário Paroquial e depois Páro-co-Reitor do Santuário do SagradoCoração de Jesus em São Paulo; e Pá-roco de São Benedito em São Paulo,Santa Rita de Cássia em Pirassunun-ga (Diocese de Limeira) e de NossaSenhora da Soledade em Delfim Mo-reira (Arquidiocese de Pouso Alegre).

Bispo de Timişoara (Roménia), oR e v. do Cón. József-Csaba Pál, doclero da mesma Diocese, até hojeArquidecano montano e Pároco deReşiţa.

D. József-Csaba Pál nasceu no dia5 de dezembro de 1955, em Frumoa-sa/Csíkszépvíz (Roménia). Recebeu aOrdenação sacerdotal a 21 de junho de1981.

Prelados falecidos

Adormeceu no Senhor:

No dia 11 de maioD. José Francisco Oliveros, Bispo deMalolos (Filipinas).

O ilustre Prelado nasceu no dia 11de setembro de 1946, em Quezon (Fili-pinas). Recebeu a Ordenação sacerdo-tal a 28 de novembro de 1970. Foi or-denado Bispo em 20 de março de2000.

Apelo no final do congresso «Darma e Logos»

Construir pontes

Na manhã de quinta-feira 3 de maio, o Papa recebeu em audiênciaos prelados da Conferência episcopal da Tailândia em visita «ad limina»

Visita «ad limina»dos bispos da Tailândia

Apresentados o lema e o logótipo da viagem a Genebra

Debaixo do céu da ecumeneUm barco no mar do mundo, como mastro principal em forma decruz e a escrita “O ikoumene” quese destaca em cima como um céuque abrange tudo. Eis a imagemescolhida para o logótipo queacompanhará a visita do PapaFrancisco a Genebra, no dia 21 dejunho, por ocasião do septuagési-mo aniversário do Conselho ecu-ménico das Igrejas (Wcc). O anti-go símbolo da Igreja representadapor um barco que, em Cristo, en-frenta as adversidades de cada tem-pestade, será ladeado por um lemada peregrinação ecuménica: «Ca-minhar, rezar e trabalhar juntos».

A divulgação do logótipo e dolema da viagem foi feita pela Salade Imprensa da Santa Sé no dia 15de maio. Contemporaneamente nacidade suíça, na sede do Wcc,monsenhor Andrzej Choromański,do Pontifício conselho para a pro-

moção da unidade dos cristãos(que interveio em representação dopresidente, cardeal Kurt Koch) e oreverendo Olav Fykse Tveit, secre-tário-geral do Conselho ecuménicodas Igrejas, realizaram uma confe-rência durante a qual ilustraram osdetalhes da viagem.

conclusão da conferência «Darma e Logos» na qual a 15 de maio, em Roma,se confrontaram em espírito de amizade budistas, cristãos, hindus, jainistas esikhs. «Evidenciamos a importância e a necessidade de aumentar o nossoempenho no diálogo comum e na colaboração recíproca — lê-se no texto —no espírito do amor e da verdade, permanecendo profundamente enraizadosnas nossas respetivas tradições religiosas para sermos capazes de enfrentar demodo eficaz os desafios dos nossos tempos e construir uma cultura do en-contro e do diálogo».

«Fazemos apeloaos líderes religio-sos, aos académicose aos fiéis das nos-sas religiões a cons-truir pontes, a uniras nossas mãos comtodas as pessoas deboa vontade a fimde contribuir paraconstruir a paz nomundo de hoje ede amanhã». Eis oponto culminanteda Declaração con-junta assinada na

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página 16 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 17 de maio de 2018, número 20

Na audiência geral o Papa concluiu as reflexões sobre o batismo

A educação cristãé um direito das crianças

A educação cristã «é um direito dascrianças». Recordou o Papa Franciscona audiência geral de quarta-feira, 16de maio, na praça de São Pedro,concluindo o ciclo de catequesesdedicadas ao batismo.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!Hoje concluímos o ciclo de cateque-ses sobre o Batismo. Os efeitos espi-rituais deste sacramento, invisíveisaos olhos mas ativos no coração dequem se tornou criatura nova, sãoexplicitados pela entrega da vestebranca e da vela acesa.

Depois do lavacro de regeneração,capaz de recriar o homem segundoDeus na verdadeira santidade (cf. Ef4, 24), pareceu natural, desde os pri-meiros séculos, revestir os recém-ba-tizados com uma veste nova, cândi-da, à semelhança do esplendor davida obtida em Cristo e no EspíritoSanto. A veste branca, expressa sim-bolicamente o que aconteceu no sa-cramento e anuncia a condição dostransfigurados na glória divina.

Paulo recorda o que significa re-vestir-se de Cristo, explicando quaissão as virtudes que os batizados de-vem cultivar: «Escolhidos por Deus,santos e amados, revesti-vos de sen-timentos de ternura, de bondade, dehumildade, de mansidão, de magna-nimidade, suportando-vos uns aosoutros e perdoando-vos reciproca-mente. Mas acima de tudo, revesti-

vos da caridade, que as une todas demodo perfeito» (Cl 3, 12-14).

Também a entrega ritual da cha-ma acendida no círio pascal, recordao efeito do Batismo: «Recebei a luzde Cristo», diz o sacerdote. Estaspalavras recordam que não somosnós a luz, mas a luz é Jesus Cristo(Jo 1, 9; 12, 46), o qual, ressuscitan-do dos mortos, venceu as trevas domal. Nós somos chamados a recebero seu esplendor! Assim como a cha-ma do círio pascal acende cada umadas velas, também a caridade do Se-nhor Ressuscitado inflama os cora-ções dos batizados, colmando-os deluz e calor. E por isso, desde os pri-meiros séculos, o Batismo chamava-se também “iluminação” e aqueleque era batizado dizia-se que estava“iluminado”.

Com efeito, é esta a vocação cris-tã: «Caminhar sempre como filhosda luz, perseverando na fé (cf. Ritoda iniciação cristã dos adultos, n. 226;Jo 12, 36).

Se se tratar de crianças, é tarefados pais, juntamente com os padri-nhos e as madrinhas, ter o cuidadode alimentar a chama da graça batis-mal nas suas crianças, ajudando-as aperseverar na fé (cf. Rito do Batismodas Crianças, n. 73). «A educaçãocristã é um direito das crianças; elatende a guiá-las gradualmente para oconhecimento do desígnio de Deusem Cristo: assim poderão ratificar

pessoalmente a fé na qual foram bati-zadas» (ibid., Introdução, 3).

A presença viva de Cristo, que de-ve ser preservada, defendida e incre-mentada em nós, é lâmpada que ilu-mina os nossos passos, luz queorienta as nossas opções, chama queaquece os corações no caminho ru-mo ao Senhor, tornando-nos capazesde ajudar quem percorre o caminhoconnosco, até à comunhão insepará-vel com Ele. Naquele dia, diz aindao Apocalipse, «não haverá mais noi-te, e não necessitarão de lâmpadanem de luz do sol, porque o SenhorDeus os ilumina; e reinarão para to-do o sempre» (cf. 22, 5).

A celebração do Batismo conclui-se com a recitação do Pai-Nosso,própria da comunidade dos filhos deDeus. Com efeito, as crianças renas-cidas no Batismo receberão a pleni-tude do dom do Espírito na Confir-mação e participarão na Eucaristia,aprendendo o que significa dirigir-sea Deus chamando-lhe “Pa i ”.

No final destas catequeses sobre oBatismo, repito a cada um de vós oconvite que expressei do seguintemodo na Exortação apostólica Gau-dete et exsultate: «Deixa que a graçado teu Batismo frutifique num cami-nho de santidade. Deixa que tudoesteja aberto a Deus e, para isso, op-ta por Ele, escolhe Deus sem cessar.Não desanimes, porque tens a forçado Espírito Santo para tornar possí-vel a santidade e, no fundo, esta é ofruto do Espírito Santo na tua vida(cf. Gal 5, 22-23)» (n. 15).

Novo apelo do Papa a favor da pazna Terra Santa e no Médio Oriente.Ao saudar os grupos de fiéis presentes,Francisco expressou preocupação e dorpelo agravar-se das tensões na região.

Estou muito preocupado com oagravar-se das tensões na Terra San-ta e no Médio Oriente, e com a es-piral de violência que afasta cadavez mais do caminho da paz, do diá-logo e das negociações.

Expresso a minha grande dor pe-los mortos e pelos feridos e estoupróximo com a oração e o afeto dequantos sofrem. Reafirmo que o usoda violência nunca leva à paz. Guer-ra chama guerra, violência chamaviolência.

Convido todas as partes em causae a comunidade internacional a re-novar o compromisso para que pre-valeçam o diálogo, a justiça e a paz.

Invoquemos Maria, Rainha dapaz. «Avé Maria...».

Dirijo os meus cordiais bons votospara o mês do Ramadão que come-çará amanhã. Este tempo privilegia-do de oração e de jejum ajude a ca-

minhar pelas sendas de Deus que éo caminho da paz.

Dirijo uma cordial saudação aosperegrinos de língua portuguesa, es-pecialmente aos aposentados da«Associação de Amizade Itália-Bra-sil» e restantes grupos brasileiros.Queridos amigos, todos os batizadosestão chamados a ser discípulos mis-sionários, vivendo e transmitindo afé. Em todas as circunstâncias, pro-curai oferecer um testemunho alegreda vossa fé. Que Deus vos abençoee a Virgem Mãe vos proteja!

A chefes das religiões dármicas

Diálogo e colaboração

A budistas da Tailândia

Te s t e m u n h a sde valores

Ainda antes da audiência geral oPapa recebeu uma delegação budistaproveniente da Tailândia.

Recebo-vos de bom grado e agra-deço-vos o dom precioso do vos-so Livro Sagrado traduzido emlíngua contemporânea pelos mon-ges do Templo Wat Pho. Trata-sede um sinal tangível da vossa ge-nerosidade e da amizade que nosliga desde há muitos anos, um ca-minho feito de pequenos passos.Recordo em particular o encontrono Vaticano entre o Beato PapaPaulo VI e o Venerável SomdejPhra Wanaratana, cuja efígie estáexposta à entrada do PontifícioConselho para o Diálogo Inter-religioso, que nestes dias tivestesa ocasião de visitar.

É meu profundo desejo quebudistas e católicos intensifiquema sua relação, progridam no co-nhecimento recíproco e na estimadas respetivas tradições espiri-tuais, e sejam no mundo testemu-nhas dos valores da justiça, dapaz e da tutela da dignidade hu-mana. Renovando a minha grati-dão por este encontro, sobre to-dos vós invoco as bênçãos divi-nas, de alegria e serenidade.

Antes da audiência geral o Paparecebeu em Santa Marta osparticipantes no colóquio organizadono dia precedente pelo Pontifícioconselho para o Diálogo Inter-religioso com delegados das religiõesdármicas da Índia.

Queridos amigos!Sinto-me feliz por me encontrarconvosco por ocasião do Congres-so sobre «Darma e Logos. Diálogoe colaboração numa época comple-xa», que teve lugar ontem em Ro-ma. Congratulo-me convosco porterdes dado vida a esta iniciativa,que abrange cristãos, hindus, bu-distas, jainistas e sikhs.

Diálogo e colaboração são pala-vras-chave num tempo como o

nosso no qual, devido a uma inédi-ta complexidade de fatores, viucrescer tensões e conflitos, comuma violência difundida quer empequena quer em grande escala.Por conseguinte, é motivo de agra-decimento a Deus quando os che-fes religiosos se comprometem porcultivar a cultura do encontro edão exemplo de diálogo e colabo-ram efetivamente ao serviço da vi-da, da dignidade humana e da tu-tela da criação.

Agradeço-vos pelo que fazeis,colaborando juntos segundo as res-petivas tradições religiosas, para apromoção do bem neste nossomundo. Invoco abundantes bên-çãos sobre vós e sobre as vossas co-munidades.