Prédica João 9.1-11

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O texto que acabamos de ler é uma das mais belas histórias da Bíblia. A cura de um cego de nascença. Alguém que sai da escuridão para a luz. Afirma o texto que Jesus, passando, viu um cego de nascença. Ali estava aquele homem. Nasceu cego. Cresceu cego. Não sabia ler nem escrever. Não tinha utilidade para a sociedade judaica. Atualmente os cegos podem aprender, ler e escrever, pois existe o sistema Braille. Mas, no tempo de Jesus os cegos não tinham valor algum. E nascendo cego, eram logo apontados como sendo castigados por pecados. Esta era a concepção das pessoas da época, conforme podemos também observar no próprio texto (vers. 2). Este homem, cego, que havia passado toda sua vida na escuridão, era visto assim. Para o povo, o sofrimento deste homem estava relacionado com castigo. E se este homem estava sofrendo, porque não ajudar? Se caso o homem não fosse ajudado, ele permaneceria abandonado, sozinho, dependendo da caridade e da compaixão de quem por passasse por ele. É interessante que Jesus andando pelas ruas, viu este homem. Mesmo Jerusalém sendo uma grande cidade, com certeza com muita muvuca, muita gente nas ruas, pessoas por todos os lados, Jesus nota aquele que não era notado. Um olhar superficial nos mostra apenas multidão. Mas o olhar de Jesus não é superficial. Jesus não vê multidões. Jesus vê cada indivíduo. E Jesus prendeu sua atenção naquele homem pobre cego de

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O texto que acabamos de ler é uma das mais belas histórias da

Bíblia. A cura de um cego de nascença. Alguém que sai da

escuridão para a luz.

Afirma o texto que Jesus, passando, viu um cego de nascença.

Ali estava aquele homem. Nasceu cego. Cresceu cego. Não sabia

ler nem escrever. Não tinha utilidade para a sociedade judaica.

Atualmente os cegos podem aprender, ler e escrever, pois existe

o sistema Braille.

Mas, no tempo de Jesus os cegos não tinham valor algum. E

nascendo cego, eram logo apontados como sendo castigados por

pecados. Esta era a concepção das pessoas da época, conforme

podemos também observar no próprio texto (vers. 2). Este

homem, cego, que havia passado toda sua vida na escuridão, era

visto assim. Para o povo, o sofrimento deste homem estava

relacionado com castigo. E se este homem estava sofrendo,

porque não ajudar?

Se caso o homem não fosse ajudado, ele permaneceria

abandonado, sozinho, dependendo da caridade e da compaixão

de quem por passasse por ele.

É interessante que Jesus andando pelas ruas, viu este homem.

Mesmo Jerusalém sendo uma grande cidade, com certeza com

muita muvuca, muita gente nas ruas, pessoas por todos os lados,

Jesus nota aquele que não era notado. Um olhar superficial nos

mostra apenas multidão. Mas o olhar de Jesus não é superficial.

Jesus não vê multidões. Jesus vê cada indivíduo. E Jesus prendeu

sua atenção naquele homem pobre cego de nascença, assim como

já fez em outras ocasiões com mulheres.

Aí os seus discípulos, que estavam imersos na crença da causa e

efeito, já começaram a indagá-lo, com um julgamento errado: E

os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem

pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? (João 9.2)

E nós, seres humanos, somos assim mesmo, implacáveis!

Julgamos o que não sabemos, condenamos com preconceitos,

nos deixamos levar pelas aparências. Tratamos com indiferença,

vemos multidões, não enxergamos o cuidado que cada ser

individualmente necessita. Mas Deus não é assim. Deus através

da pessoa de Jesus, olha em meio à multidão. Olha para

aquele/a que não é visto/a. Jesus também mostra isso. Parou

para falar com o cego de nascença. Isso é realmente maravilhoso

prezadas irmãs, prezados irmãos! Jesus se importa com cada ser

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humano. Sem distinção. O mestre mostra aos seus discípulos que

não havia nenhum castigo e nenhuma maldição hereditária sobre

a vida daquele homem. Ao contrário, havia, na realidade humana

daquela geração, uma cegueira muito mais profunda e pavorosa

do que aquela em que se deixa de ter a visão física desta

realidade.

Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim

para que se manifestem nele as obras de Deus. (João 9.2). Ou

seja, este pobre homem estava tendo ali a oportunidade de ver a

Jesus, conhecer a paz e a misericórdia de Deus. Algo

maravilhoso e extremamente mais importante do que sua

cegueira física. Quantos são aqueles/as, que mesmo vendo

perfeitamente vivem sem enxergar com excelência o sentido real

da vida?

É o que se dá com os fariseus. Jesus novamente faz esta cura

num sábado (João 9.14) e este é motivo suficiente para os

fariseus condenarem a ação de Jesus. Para eles, Jesus estava

descumprindo a lei. Não podia ser ação divina por isso. Não

entendiam que o próprio Deus agia ali. Assim podemos ver em

quão profunda escuridão os fariseus se encontravam. Levando

uma vida sem nenhum sentido verdadeiro, eles se prenderam a

legalismos e rituais pesados. Deixaram esfriar o amor nos

corações e se esqueceram do principal da lei. Jesus mesmo nos

ensina que a medida para cumprir a lei é o amor.

Jesus quer dar sentido real à vida das pessoas, quando Ele diz:

“Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em

trevas, mas terá a luz da vida. (João 8.12). Ele reafirma isso no

versículo 5 do nosso texto: “Enquanto estou no mundo, eu sou

a luz do mundo”. Ele conhece cada um, cada uma, sabe dos

corações duros, que não enxergam a luz e se preocupa em

trabalhar em favor destes enquanto há tempo, conforme o

versículo 4. Jesus se preocupa com o indivíduo. Quer ser a luz

pela qual todos podem viver e caminhar de fato, não andando

mais em trevas.

E é neste sentido que Jesus trabalha. Jesus aproveita a

oportunidade para trazer lições morais valiosíssimas quando

realiza este milagre. Ele poderia ter simplesmente declarado a

cura imediata do cego de nascença, como fez em outras

situações. Mas não, Jesus tem um objetivo maior: ele quer

outros passem a enxergar a partir desta ação. Por isso o cego

é enviado a se lavar no Tanque de Siloé. Ali muitas pessoas

veriam o que havia acontecido e teriam a oportunidade de crer.

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Isto significa que Jesus queria não só curar a cegueira física,

palpável, como também abrir os olhos da fé do cego e de todos

demais.

O ato de passar lama nos olhos do cego significa a cegueira

espiritual das pessoas. A sujeira que cega, mas, que, após ser

lavada, dá nova visão.

O cego poderia muito bem ter ignorado a ato de Jesus, e sua

ordem de ir lavar seus olhos. Mas não. Ele estava ali para

obedecer, estava ali para confiar, e para exaltar o nome de Deus.

Deste modo o homem cego de nascença, parte para lavar a lama

de seus olhos, no Tanque de Siloé, para que uma vez curado,

possa também ter um rumo a seguir, um norte para se guiar, ao

passo que Jesus se apresenta como tal direção e como sentido

supremo da vida.

Da mesma maneira como este cego confiou no agir e ordem de

Jesus, é preciso que também nós nos disponhamos para esta cura.

Devemos sempre pedir a Deus que remova a lama que nos

impede de ver o seu propósito e a sua graça. Jesus veio para que

possamos lavar a lama de nossos olhos e enxergar o verdadeiro

proposito de Deus.

Que Deus não permita nossa cegueira espiritual, mas que

possamos deixar de lado desejos individualistas e percebamos

aqueles e aquelas que desejam de nós, nossa atenção assim como

Jesus o fez. Que o Espírito Santo nos ilumine e conduza todos os

dias. Amém!