PREGAÇÃO GENUÍNA - A Pregação, a Responsabilidade do Ministro no Preparo e na Proclamação da...

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CURSO TEOLÓGICO LIVRE Guilherme Fonseca Vaz PREGAÇÃO GENUÍNA A Pregação, a Responsabilidade do Ministro no Preparo e na Proclamação da Mensagem, e o Retorno ao Padrão Bíblico de Pregação. Santana do Livramento - RS 2014

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A pesquisa objetiva apresentar uma série de pensamentos organizados sobre o que é pregação, definindo o que ela é em essência, a vida e os cuidados do pregador do evangelho e a situação de nossos dias no meio evangélico. A pesquisa apresenta também uma proposta para a aceitação do estilo de pregação expositiva, mostrando que essa é uma ferramenta eficaz para curar os problemas e os erros doutrinários de nossos dias, eliminando os falsos ensinos e trazendo de volta a Bíblia para o centro de nossa pregação, tornando nossa mensagem imune a erros, sendo totalmente cristocêntrica.

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  • CURSO TEOLGICO LIVRE

    Guilherme Fonseca Vaz

    PREGAO GENUNA

    A Pregao, a Responsabilidade do Ministro no Preparo e na Proclamao da Mensagem, e o

    Retorno ao Padro Bblico de Pregao.

    Santana do Livramento - RS2014

  • Guilherme Fonseca Vaz

    PREGAO GENUNA

    A Pregao, a Responsabilidade do Ministro no Preparo e na Proclamao da Mensagem, e o

    Retorno ao Padro Bblico de Pregao.

    Trabalho apresentado ao Centro de FormaoTeolgica CEFORTE Polo Santana doLivramento RS, como pr-requisito para obtenodo Certificado de Concluso de Curso de Graduaoem Teologia Livre.Orientador: Prof. Jlio Gobbi.

    Santana do Livramento - RS2014

  • Guilherme Fonseca Vaz

    PREGAO GENUNA

    A Pregao, a Responsabilidade do Ministro no Preparo e na Proclamao da Mensagem, e o

    Retorno ao Padro Bblico de Pregao.

    Trabalho apresentado ao Centro de FormaoTeolgica CEFORTE Polo Santana doLivramento RS, como pr-requisito para obtenodo Certificado de Concluso de Curso de Graduaoem Teologia Livre.Orientador: Prof. Jlio Gobbi.

    Santana do Livramento RS, 29 de novembro de 2014.

    BANCA EXAMINADORA

    _________________________________________________

    ________________________________________________

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo em primeiro lugar ao nico Deus santssimo, criador de todas as coisas,

    que me possibilitou, por Sua misericrdia, a oportunidade de estar diate Dele, e pelo

    privilgio de ser sustentado durante todo esse tempo por sua graa. Sou grato pela

    salvao em Cristo Jesus, meu Senhor, e por todas as benos e lutas que tenho

    experimentado Nele.

    Agradeo minha esposa, Daiane, que me motivou para que eu chegasse at o

    final desta jornada. Pelas noites que passou sem dormir, me acompanhando em minha

    pesquisa; ao auxlio, dedicao e pacincia que que esmerou para o meu cuidado. Amor,

    no tenho como te pagar por tudo isso, mas sei que Deus galardoador. Vejo em ti a

    promessa do Senhor que se cumpriu na minha vida. Quando leio o texto de Provrbios

    31.10-31 consigo te enxergar nele.

    minha me, que com dedicao e amor investiu no meu ministrio, sempre

    acreditando no meu potencial, e sempre me cercando com suas oraes. Obrigado me,

    o Senhor galardoador.

    Aos meus amigos e irmos em Cristo, por me amarem e me incentivarem.

    Obrigado por toda a dedicao, e tambm pelos muitos debates em aula e em casa, pois

    foram muito teis para a minha aprendizagem.

    Igreja Metodista Wesleyana em Dom Pedrito RS e em Bag - RS, por terem

    acreditado no meu chamado e tambm por me apoiarem, em especial ao pastor Srgio

    Siqueira e famlia, e ao pastor Mrcio Igniz e famlia, e a todos que investiram no custeio

    das despesas do seminrio, sou eternamente grato a todos, tanto pela ajuda como pela

    oportunidade de servi-los.

    Igreja Metodista Wesleyana em Santana do Livramento, na pessoa do pastor

    Clber Daniel Chaves e sua famlia, que investiram no meu ministrio.

    E a todos os professores que se dedicaram a esse processo de aprendizagem, o

    Senhor galardoador (Dn 12.3).

  • RESUMO

    A pesquisa objetiva apresentar uma srie de pensamentos organizados sobre a

    pregao, definindo o que ela em essncia, a vida e os cuidados do pregador do

    evangelho e a situao de nossos dias no meio evanglico. A pesquisa apresenta tambm

    uma proposta para a aceitao do estilo de pregao expositiva, mostrando que essa

    uma ferramenta eficaz para curar os problemas e os erros doutrinrios de nossos dias,

    eliminando os falsos ensinos e trazendo de volta a Bblia para o centro de nossa

    pregao, tornando nossa mensagem imune a erros e cristocntrica.

    Palavras chaves: pregao proclamao sermo exposio fidelidade

    Escrituras Bblia cristocntrica mensagem evangelho

  • RESUMEN

    La pesquisa tiene como objetivo presentar una serie de pensamientos organizados

    acerca la predicacin, la definicin de lo que es, en esencia, la vida y de los afanes de un

    predicador del evangelio y de la situacin actual en los crculos evanglicos. La pesquisa

    tambin presenta una propuesta de aceptacin de estilo expositivo de la predicacin, lo

    que demuestra que esta es una herramienta eficaz para curar los problemas y los errores

    doctrinales de nuestro da, eliminando las falsas enseanzas y trayendo de vuelta la Biblia

    al centro de nuestra predicacin hacer de nuestra inmune a los errores y mensaje

    cristocntrico.

    Palabras - clave: predicacin - proclamacin - sermn - exposicin - fidelidad - Escrituras -

    Biblia - cristocntrica - mensaje - evangelio

  • SUMRIO

    INTRODUO.......................................................................................................................8

    1 O SERMO.......................................................................................................................101.1 Kerusso..........................................................................................................................111.2 Euangelizo.....................................................................................................................121.3 Martureo.........................................................................................................................141.4 Didasko..........................................................................................................................161.5 Centralidade...................................................................................................................171.6 Despenseiro...................................................................................................................18

    2 OS CUIDADOS DO PREGADOR.....................................................................................202.1 Regenerao..................................................................................................................212.2 Piedade..........................................................................................................................232.3 Orao...........................................................................................................................262.4 Jejum..............................................................................................................................292.4.1 Trata o Carter e Adquire Poder.................................................................................292.4.2 Trata a Incredulidade..................................................................................................312.5 Gastar Tempo nas Escrituras e outros Assuntos...........................................................32

    3 RETORNO S ESCRITURAS..........................................................................................363.1 O Abandono das Escrituras e seus Efeitos...................................................................363.2 A Credibilidade das Escrituras.......................................................................................393.3 O Labor da Fidelidade...................................................................................................413.4 O Labor de Pregar as Escrituras em sua Forma Plena.................................................43

    4 O RETORNO PREGAO EXPOSITIVA.....................................................................454.1 Os Benefcios.................................................................................................................464.1.1 Elimina a Confuso e a Ignorncia no Meio Eclesistico...........................................464.1.2 Ajuda o Pregador a Retomar a Vida de Estudos........................................................484.1.3 A Sensao de Indiretas no Plpito............................................................................484.1.4 Ajuda a Congregao no seu Crescimento Bblico....................................................494.1.5 Considera toda a Bblia...............................................................................................494.2 Os Nmeros da Pregao Expositiva............................................................................50

    CONSIDERAES FINAIS.................................................................................................53

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................................54

  • INTRODUO

    Desde o surgimento do homem, o Senhor tem o chamado para a comunho, para

    andar com Ele. A Palavra do Senhor desde ento tem ecoado por toda a Terra e pela

    histria, chamando e levando homens e mulheres se arrepender de suas vidas

    indiferentes ao Criador, e voltar aos braos do Pai para serem mais uma vez cuidados e

    instrudos, uma vida proposta pelo Senhor que refletir na eternidade. A Bblia o

    resultado da ao de Deus no curso da histria da humanidade, o seu propsito eterno,

    o seu projeto foi concebido na eternidade, antes mesmo da criao do universo.

    A Bblia reflete o Criador em ao procurando salvar o homem, e contrasta a nossa

    natureza pecaminosa, procurando nos ensinar sobre o caos de uma vida independente do

    Senhor. Cristo Jesus o assunto principal de toda a Bblia, antecipando o seu surgimento

    de forma encarnada neste mundo, dando testemunho de sua estadia na Terra e

    mostrando o seu ministrio, reconciliando o homem com Deus. A Bblia o resultado de

    um perodo de 1600 anos que foram usados para escrev-la, e tambm o resultado do

    chamado de uma mdia de 40 autores que escreveram sob inspirao do Esprito

    Santo.

    A Bblia o livro mais vendido no mundo, mas tambm o mais perseguido, fruto da

    ganncia de muitos lderes em tentar varr-la do mapa. Hoje o problema passou a ser

    outro, muito alm das perseguies, ou das tentativas de elimin-la, o problema a sua

    m utilizao, a ao de negligenci-la, de desprezar seu contedo. O resultado disso

    tudo os problemas doutrinrios que estamos experimentando, onde a novidade, a

    experincia, a viso e os sonhos esto acima da autoridade das Escrituras.

    A igreja do nosso tempo tem experimentando um momento singular na histria: o

    nmero de evanglicos tem aumentado significativamente em nosso pas. Mas esse

    crescimento no tem sido acompanhado pela mudana da sociedade, o que pode nos

    levar a crer que o Evangelho no tem cumprido o seu papel. Mas quando mergulhamos

    um pouco mais fundo nos dados e nos fatos, passamos a entender que o Evangelho tem

    funcionado no seu propsito, que existem sim pessoas transformadas pela pregao, mas

    o que tem feito esse inchao acontecer no a pregao do Evangelho genuno, e sim a

    proclamao de uma mensagem hbrida, que no gera frutos, totalmente desprovida de

    poder, e na maioria das vezes voltada para o prprio eu.

    Nota-se tambm no meio evanglico brasileiro o aumento do nmero de pessoas

    que se autodenominam pastores, apstolos, bispos, mas que demonstram incoerncia em

  • suas vidas, sem cristianismo, sem base teolgica, sem piedade, comprometedores da

    doutrina de Cristo e do nome do Senhor. O despreparo de muitos desses lderes tem

    resultado direto em mensagens totalmente distantes do propsito do Evangelho,

    destorcendo a mensagem de Deus. Um outro dado que tem levado esse distanciamento

    da Mensagem o aumento de pessoas que no sabem por quem, para que ou porque

    foram chamadas, isso faz com que o retorno das pregaes ou do ensino ministrado por

    esses pregadores seja o de receber sorrisos de admirao, pessoas impactadas com

    suas mensagens, e um mover frentico na igreja impulsionado pela emoo que o

    pregador conseguiu desencadear nas pessoas. So os resultados de uma mensagem

    muitas vezes sem intelecto, reprovada por Cristo, totalmente voltada para as emoes e

    para o prprio eu.

    Ao estudar a Bblia, a histria da igreja e a reforma protestante, notamos que o

    instrumento que provocou o avivamento e suas consequncias, como a mudana na

    sociedade para uma vida mais piedosa, foi a Palavra, principalmente a exposio bblica.

    O momento hostil que estamos vivendo onde muitos lderes se entregam ao pragmatismo,

    a exposio bblica o antdoto para esse mal, entendendo que por ser bblica tambm

    cristocntrica.

    O presente trabalho monogrfico uma pesquisa que reuniu citaes de autores

    que expressam seu desejo de um retorno s Escrituras, tambm apresenta versculos que

    tentam remontar o padro bblico da proclamao do evangelho. Partindo da Palavra de

    Deus, navegando entre livros que falam sobre o assunto, foi montado este trabalho, na

    sinceridade e no temor do Senhor, elaborado na tentativa de auxiliar e esclarecer aqueles

    que so dedicados ao ministrio da pregao, dando motivao para optarem pela busca

    do saber e pela dedicao exposio das Escrituras, ao padro bblico exigido pelo

    Criador.

  • 1 O SERMOPara que a mensagem venha a ser proclamada, o esboo do sermo, ou sua ideia,

    precisa ser preparado. Conforme estudamos nas aulas de homiltica, percebemos que

    Jesus preparava seus sermes. A prova disso era a sua pregao mais famosa: o

    Sermo do Monte, que fora anunciado de forma harmoniosa, dividido em trs captulos,

    o cinco, seis e sete do Evangelho de Mateus. Cada um deles representando os seguintes

    tpicos da mensagem: o que o homem deve ser, o que ele deve ter, e o que ele deve

    fazer. Seguindo a lgica do exemplo do Senhor Jesus, comeamos a entender que o

    sermo no criado na hora da explanao, o que, de certa forma, seria considerado

    negligncia da parte do pregador. Dedica-se tempo para prepar-lo. Lopes apud Confort

    fez a seguinte declarao sobre o rduo trabalho do pregador na preparao do sermo:

    Pregar a verdade de Deus exige sacrifcio, estudo e esforo. Os seus diamantesno ficam expostos na superfcie para serem colhidos como flores, Sua riqueza s descoberta mediante trabalho preparatrio rduo, intelectual e espiritual (2008,p. 17).

    Para preparar o sermo, importante termos em mente o seu propsito. Sabemos

    que Deus fiel sua Palavra. O profeta Isaas descreve o pronunciamento de Jav com

    respeito sua Mensagem: Assim ser a palavra que sair da minha boca: ela no voltar

    para mim vazia, antes far o que me apraz, e prosperar naquilo para que a enviei (Is.

    55.11). Com o fato de Jav comprometer-se com sua Palavra, entendemos que o prprio

    Senhor se far presente quando a proclamarmos tal qual como Ele ordenou. Tambm

    cremos que o Evangelho o poder de Deus para a salvao de todo aquele que cr (Rm.

    1.16b). MacArthur, comentando sobre a ideia do poder exercido no Evangelho, ao ler o

    texto de Romanos 1.16, diz: o evangelho efetivo porque carrega em si a onipotncia de

    Deus... Somente o poder de Deus capaz de dominar a natureza pecaminosa do homem

    e dar a ele uma nova vida (2010, p. 1491). Com base no que citamos, bom notarmos

    as dvidas que essas verdades comeam a gerar no corao das pessoas que desejam

    sinceramente cumprir o ministrio da Palavra de forma ntegra, com dedicao e lealdade

    ao SENHOR; listaremos algumas destas dvidas: Estamos realmente preparando algo

    em que far com que Deus seja glorificado? A mensagem que estamos preparando

    garantir a manifestao de Deus para a converso, consolo, admoestao e salvao

    das pessoas que o escutaro? Pregaremos com a inteno de ser bem-aceito pela igreja

    ou pelo desejo de que Deus atraia para Ele os ouvintes para salv-los?

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  • interessante considerarmos o que a pregao, e defini-la para entendermos a

    abrangncia de seu propsito na vida do mensageiro e da igreja.

    De todos os termos e argumentos que existem sobre o que pregao, Olyott

    procura defini-la de forma abrangente com quatro palavras gregas: kerusso, euangelizo,

    martureo e didasko.

    1.1 KerussoPara Olyott, a palavra kerusso no mundo antigo era utilizada para apontar o ofcio

    do arauto, servo do rei, mensageiro oficial, que era o responsvel por divulgar, ou melhor,

    por proclamar a vontade de seu senhor. Logo, percebemos que o arauto, ou proclamador

    real, no possua mensagem prpria, e nem mesmo por ele ser o proclamador deveria

    ficar em evidencia. De fato, se o arauto cumprisse a determinao do rei, logo as pessoas

    que escutariam esse servo enxergariam como se o prprio rei estivesse ali, proclamando

    suas palavras. Stott, falando sobre a autoridade de Deus atribuda ao pregador como

    arauto do rei, declara o seguinte: ... o arauto parece, no Novo Testamento, possuir uma

    autoridade mais direta, representando mais de perto seu senhor quando o arauto faz

    sua proclamao, a voz do rei est sendo ouvida (2011, p.33). E disse tambm: A

    proclamao precisava ser transmitida exatamente como recebida. Como mensageiro

    direto de seu senhor, ele no podia ousar acrescentar sua interpretao (STOTT, 2011,

    p.34). O arauto, ao usar a autoridade concedida por Deus para proclamar (kerusso),

    deveria ser fiel mensagem anunciada pelo prprio Senhor nas Escrituras. O apstolo

    Joo, ao relatar suas vises no livro de Apocalipse, ao concluir seus escritos, faz a

    seguinte afirmao:

    Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Sealgum lhes fizer qualquer acrscimo, Deus lhe acrescentar os flagelos escritosneste livro; e, se algum tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia,Deus tirar a sua parte da rvore da vida, da cidade santa e das coisas que seacham escritas neste livro (Ap. 22.18 19).

    Em outro texto, o apstolo Paulo, dirigindo-se aos glatas, diz o seguinte: Assim,

    como j dissemos, e agora repito, se algum vos prega evangelho que v alm daquele

    que recebestes, seja antema (Gl 1.9). Ento, o ministrio da Palavra no admite

    concesses. O pregador deve usar o texto bblico para falar aquilo que realmente as

    Escrituras querem dizer, isto se chama Exegese, e sobre isso que Olyott tambm

    comenta:

    11

  • O estudo que revela o significado intencional das palavras e sentenas da Bbliachama-se exegese. No haver um pregador verdadeiro, se tudo o que este disserno estiver fundamentado em exatido exegtica (2008, p. 29).

    Um bom exemplo para ser usado o texto da primeira carta de Paulo aos corntios,

    que diz: Graas a Deus, que nos d a vitria por intermdio de nosso Senhor Jesus

    Cristo (1 Co 15.57). Alguns pregadores caixinha de promessas tomariam o texto citado,

    e abordariam que a abrangncia do versculo mencionado para situaes de uma vida

    terrena, falando que Cristo uma pessoa totalmente preocupada em fazer as pessoas

    felizes, sendo vitoriosas em todos os aspectos. Mas a ideia principal do texto o que est

    escrito em alguns versculos anteriores, traduzindo que a vitria proposta por Jesus ao

    crente a vitria sobre a morte:

    E, quando este corpo corruptvel se revestir de incorruptibilidade, e o que mortalse revestir de imortalidade, ento, se cumprir a palavra que est escrita: Tragadafoi a morte pela vitria? Onde est, morte, o teu aguilho?O aguilho da morte o pecado, e a fora do pecado a lei (1 Co. 15.54 56).

    Begg, com respeito ao cuidado do arauto com a exposio das Escrituras bem

    mais criterioso:

    possvel removermos um texto como Hebreus 13.8 (Jesus Cristo, ontem ehoje, o mesmo e o ser para sempre) do contexto que o cerca e fazermos umtrabalho adequado de falar sobre os benefcios, para o crente, de um Jesus que imutvel. Mas, se queremos que nossos ouvintes aprendam como interpretar aBblia, temos de realizar o trabalho rduo de entender por que o versculo 8aparece entre os versculos 7 e 9. Se fizermos esse trabalho, acharemosnecessrio explicar nosso versculo no apenas em separado ou em termos decontexto imediato, mas tambm no contexto mais amplo do livro.Reconheceremos que toda aplicao que no se focaliza no sacerdciopermanente de Cristo no somente erra quanto ao ensino do texto, mas tambmpresta um desservio s pessoas que esto aprendendo conosco (2014, p. 44).

    Fica claro que, o que deve determinar a pregao na maioria das vezes no

    quando surge um tema no corao e inicia-se uma caa de versculos fora de contexto,

    que tentam provar que o tema condizente, mas sim o que as Escrituras querem dizer

    sobre o tema. A Bblia quem deve dar o assunto ser proclamado pelo arauto.

    1.2 EuangelizoEmbora a palavra euangelizo seja diferente da palavra kerusso, para Olyott, ambas

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  • podem significar a mesma coisa, no contexto de pregao, cooperando uma com a outra.

    Olyott afirma que evangelizar tambm proclamar. Sobre a palavra grega euangelizo,

    ele descreve o seguinte:

    Esta a palavra da qual obtivemos a nossa palavra evangelizar. O verbo gregosignifica trazer boas notcias ou anunciar boas-novas. Em Lucas 2.10, ondelemos que o anjo disse: Eis aqui vos trago boa-nova..., ele usou este verbo(2008, p. 14).

    Parece que passamos a ter uma impresso errada sobre a palavra evangelismo.

    Muitos imaginam que anunciar as boas-novas somente proclamar o Evangelho do

    Senhor Jesus para aqueles que esto perdidos, o que em parte, uma interpretao

    correta. Mas Olyott traz uma outra usabilidade para o termo evangelismo; descrevendo

    que tambm pode ser aplicado para os de dentro de casa, ele diz:

    Evangelizar pode at ser usado em referncia a algo que fazemos aos crentes!Isto pode ser visto, por exemplo, em Romanos 1.15. Depois de saudar os seusleitores, que eram crentes, no versculo 7, e de apresentar as informaes dosversculos 8-14, Paulo continuou: Quanto est em mim, estou pronto a anunciar oevangelho tambm a vs outros que estais em Roma. A expresso anunciar oevangelho uma traduo do verbo euangelizo. Paulo iria a Roma paraevangelizar aqueles que j eram convertidos! tempo de pensarmos novamente arespeito de como usamos nossas vrias palavras que expressam a ideia de pregar(2008, p. 15).

    Sobre a usabilidade entre as palavras kerusso e euangelizo, Stott traz a ideia da

    cooperao das duas palavra, falando tambm do despenseiro, pessoa que era o

    responsvel por administrar a despensa de seu senhor, para abastecer sua famlia. O

    despenseiro administrava da melhor forma possvel, visando a vida saudvel de toda a

    famlia que estava sob sua responsabilidade. Stott afirma:

    O pregador cristo to despenseiro quanto arauto. Na verdade, a boa notciaque ele deve proclamar faz parte da Palavra da qual ele despenseiro; pois aPalavra de Deus essencialmente o registro e a interpretao do grande feitoredentor de Deus em Cristo e atravs dele. As Escrituras do testemunho deCristo, o nico Salvador dos pecadores. Assim, um bom despenseiro da Palavraser sempre um zeloso 'arauto das boas novas' da salvao em Cristo (2011, p.32).

    O apstolo Paulo tinha o desejo de evangelizar os cristos de Roma. Em outras

    cartas, Paulo aparece relembrando sobre os fatos de Cristo e da salvao trazida por Ele.

    13

  • E nesse trabalho de relembrar, Paulo tentava com isso imunizar as igrejas contra o

    perigo dos judaizantes, que desmereciam a obra expiatria de Cristo, fazendo com que os

    novos convertidos voltassem para as sombras das tradies judaicas. O que no

    diferente do nosso tempo, onde a f de muitos baseia-se em prdios, templos, rituais, e

    em elementos como rosa ungida, leo de uno e outros; usados com a desculpa de que

    isso fortalecer a f, tornando-se o veculo que promover o milagre to esperado. Para

    os que se levam por esses tipos de artimanhas tambm bem aplicado o que o autor da

    carta aos Hebreus diz:

    Pois, com efeito, quando deveis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido,tendes, novamente, necessidade de que algum que vos ensine, de novo, quaisso os princpios elementares dos orculos de Deus; assim, vos tornastes comonecessitados de leite e no de alimento slido (5.12).

    A chegada de pessoas que j eram crists de outras igrejas pode ser um perigo se

    o lder no estiver interessado em repassar os princpios elementares, pois no sabemos

    o que foi ensinado para elas. O mau ensino pode muito bem ser usado para afogar o

    conhecimento das Escrituras, causando confuso no meio da igreja. Por isso, sempre

    necessrio uma evangelizao contnua, ou de plpito ou pessoal, no que conhecemos

    como discipulado, sempre com a iniciativa de conduzir o novo congregado novamente

    para a F verdadeira, destruindo os sofismas sobre o cristianismo.

    Porque as armas da nossa milcia no so carnais, e sim poderosas em Deus,para destruir fortalezas, anulando ns sofismas e toda a altivez que se levantacontra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento obedinciade Cristo,... (2 Co 10.4-5).

    So tempos difceis em que o lder cristo dever derrubar sofismas que no foram

    ensinados pela prtica de vida no mundo pago, mas sim, pelas falsas ideias que foram

    ensinadas direto de plpitos, que possuem a nomenclatura de evanglicos mas no so,

    ou que se perderam no caminho em seus ensinos, repassando ideias que desmerecem o

    Evangelho de Cristo.

    1.3 MartureoA terceira palavra grega que tambm ajuda a definir o que pregao o verbo

    martureo. Para Olyott, o significado deste verbo : o ato de dar testemunho dos fatos, ou

    simplesmente testemunhar. Quando ouvimos a palavra testemunho, logo vem

    14

  • memria os nossos cultos; e aquele momento em que o dirigente abre espao para que a

    as pessoas deem testemunho do que Jesus Cristo tem feito na vida delas. Ou ento, a

    palavra testemunho tambm sintetiza a responsabilidade do cristo no mundo, dando

    testemunho de vida transformada por Deus. Stott tambm aprova em parte essas duas

    formas de pensar; mas ele sintetiza um pouco mais afundo com aquilo que a Bblia em

    um todo procura mostrar:

    Para alguns, a ideia transmitida aquilo que em geral chamamos dartestemunho (que normalmente consiste em narrar as circunstncias da suaconverso, s vezes com o acrscimo de algumas notas autobiogrficas sobrecomo tem sido sua peregrinao espiritual desde ento). Para outros, otestemunho acima de tudo a nossa vida, muito mais do que aquilo que falamos:a poderosa influncia do exemplo do cristo. H alguma verdade nessas duasideias... Entretanto, o conceito bblico de testemunho bem mais amplo queessas duas ideias, e quando pensamos no pregador como testemunha, importante ter como pano de fundo a totalidade do ensino da Bblia a esse respeito(STOTT, 2011, p. 56).

    Stott diz que quando Jesus, em Joo 15.26 - 27, chama os discpulos de

    testemunhas, Ele est usando uma metfora jurdica, levando-os concepo de um

    tribunal, onde o prisioneiro est sendo julgado, e o advogado, ao defender o prisioneiro

    com seus pronunciamentos, chama as testemunhas para fortalecerem o veredicto:

    Afirmo que a situao a seguinte: Jesus Cristo est sendo julgado, no peloSindrio, nem por Pncio Pilatos, nem por Herodes Antipas, mas no tribunal daopinio pblica. O mundo (que significa, no Novo Testamento, a sociedadesecular, afastada de Deus, no-crist, s vezes desinteressada e s vezes hostil)exerce o papel de juiz. Ele est continuamente julgando Jesus, pronunciandovrios veredictos a seu respeito. O diabo o acusa com muitas mentiras e chamacentenas de falsas testemunhas para depor. O Esprito Santo o Parclito, oadvogado de defesa, e nos chama como suas testemunhas (STOTT, 2011, p. 57).

    O pregador chamado para dar testemunho dos fatos sobre Cristo e o Seu reino.

    Como testemunha, a centelha da Verdade precisa estar viva dentro do despenseiro,

    ardendo como que se aquilo fosse a nica verdade concebvel com o poder de resolver

    todos os nossos piores problemas, o que de fato . Por isso, o pregador deve ter certeza

    do que ele est falando. O prprio Senhor Jesus enfatizou que os sinais da mensagem

    poderosa seguiriam aqueles que creem:

    Estes sinais ho de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirodemnios; falaro novas lnguas; pegaro em serpentes; e, se alguma coisamortfera beberem, no lhes far mal; se impuserem as mos sobre enfermos,eles ficaro curados E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperandocom eles o Senhor, e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiram.(Mc 16.17-18, 20).

    15

  • Para dar testemunho, indiscutvel a participao ativa do crer. O que se v hoje

    nos plpitos parece ser um descrdito com o Evangelho, as mensagens esto

    acompanhando uma tendncia de ficarem vazias de Cristo, e consequentemente vazias

    do Reino de Deus e totalmente desprovidas de poder.

    1.4 DidaskoEssa a nossa quarta palavra grega que tenta expressar o propsito e definio da

    pregao. Segundo o Dicionrio Strong, o verbo didasko quer dizer:

    Ensinar, conversar com outros a fim de instru-los, pronunciar discursos didticos,ser professor, desempenhar o ofcio de professor, conduzir-se como um professor,ensinar algum, dar instruo, instilar doutrina em algum, algo ensinado ouprescrito, explicar ou expor algo, ensinar algo a algum (2002, p. 1293).

    Em outras palavras, o verbo didasko a pregao aplicada, o ensino de como se

    deve viver o que est prescrito e testemunhado. Didasko mostrar como colocar em

    prtica a mensagem proclamada. Este verbo muito utilizado para dar sustentao

    proposta de criao de escolas bblicas para o ensino das escrituras, o que tambm

    correto. Mas Olyott, na tentativa de descrever o verbo grego citado, afirma que o mesmo

    parte importante da mensagem: Pronunciar em termos concretos o que a mensagem

    significa e referncia ao viver no deve ser um mero acrscimo nossa pregao; deve

    ser uma parte da mensagem que proclamamos (OLYOTT, 2008, p.17). A citao de

    Olyott confirmada por ele mesmo, apontando os textos de Atos do Apstolos: Em Atos

    5.42, lemos que os apstolos no cessaram 'de ensinar e de pregar' (didasko e

    euangelizo) a Jesus, o Cristo... Em Atos 28.31, lemos que Paulo usou sua casa em Roma

    para pregar e ensinar (kerusso e didasko) (OLYOTT, 2008, p. 17). Ainda Olyott afirma

    que quando algum prega, no importa o lugar em que se encontra ou para quem est

    comunicando a mensagem, o pregador est usando os quatro verbos: kerusso,

    euangelizo, martureo e didasko.

    No Novo Testamento, no temos uma palavra que signifique pregar para o perdidoe outra que signifique pregar para o salvo. Simplesmente no encontramosmensagens conhecidas como mensagens doutrinrias, enquanto outras soconhecidas como mensagens evangelsticas... A pregao, toda a pregao,envolve fazer quatro coisas de uma vez (OLYOTT, 2008, p. 18).

    16

  • Acredita-se que essa definio termina com a insegurana de quem prepara um

    sermo evangelstico, que se volta totalmente para o visitante e, como alguns, acabam se

    tornando ansiosos por no conseguirem visualizar os que iriam ser evangelizados. Fica

    claro o que Olyott tentou dizer sobre o que realmente o sermo. Mas para ficar bem

    conciso, mostraremos um resumo dos quatro verbos gregos, tambm citado por Olyott:

    Se pudermos entender isso, muitas passagens das Escrituras nos atingiro demaneira diferente. Um bom exemplo 2 Timteo 4.1-5. Nestes versculos, Pauloescreveu suas palavras finais a algum que, mesmo sendo jovem, j era umimportante lder cristo. Paulo o instrui solenemente a pregar a Palavra! Nesseponto, ele usou o verbo kerusso. Mas, por que Timteo devia fazer isso? Por queviria o tempo em que as pessoas no suportariam a s doutrina (uma palavra dafamlia de didasko) e se cercariam de mestres (outra palavra da famlia dedidasko). bvio que Paulo estava dizendo a Timteo que pregar (kerusso) amaneira de ensinar (didasko) a igreja e proteg-la do erro. Mas isso no tudo.Paulo exortou Timteo a fazer o trabalho de um evangelista (uma palavra dafamlia de euangelizo). claro que Paulo queria dizer que, medida que Timteopregasse (kerusso) e, consequentemente, ensinasse [didasko], deveria assegurar-se de que o verdadeiro evangelho (euangelizo) fosse mantido em primeiro plano.Assim, em um nico pargrafo, vemos que trs de nossas quatro palavras foramusadas para descrever a tarefa de Timteo. Se ele era um verdadeiro pregador,no faria apenas uma dessas coisas e sim todas elas. Onde quer queencontremos a verdadeira pregao, vrias coisas acontecem ao mesmo tempo.Se no levarmos isso em conta, jamais seremos verdadeiros pregadores(OLYOTT, 2008, p. 18).

    Ainda que os quatro verbos gregos consigam juntos expressar o que pregao,

    preciso trabalhar a particularidade de um ponto que determinar o foco do arauto,

    tornando ainda mais clara a responsabilidade de seu chamado: a centralidade do sermo.

    1.5 CentralidadeTodos podem interpretar as Escrituras da forma que quiserem. A Bblia no de

    particular interpretao. Pode-se, usando as Escrituras, falar sobre qualquer tipo de

    assunto; sobre histria, e at mesmo sobre cincia, tanto que o livro de Gnesis

    motivo de debate, tanto no campo acadmico quanto no meio eclesistico, para assuntos

    como a origem de todas as coisas. Mas no campo da pregao, a mensagem precisa ser

    centralizada no seu principal assunto: salvao. Para ser centralizada exige-se um alvo,

    um padro, algo que possa controlar toda a informao prestada na mensagem pelo

    arauto. Cristo tornou-se esse padro, tanto que sobre Cristo que as Escrituras detm

    o seu alvo. Olyott, sobre a referncia de Jesus nas Escrituras, comenta o seguinte:

    Toda a Escritura fala sobre a pessoa de Cristo. Implcita ou explicitamente, direta

    17

  • ou indiretamente, cada parte da Bblia nos revela Cristo. Em toda a Escritura, noh qualquer passagem que seja uma exceo. O Esprito de Cristo moveu todos os autores do Antigo Testamento a escreveremos seus livros (1 Pe 1.10-12). O prprio Senhor Jesus esclareceu o AntigoTestamento para os seus discpulos e lhes explicou que Ele estava contido emcada parte da Escritura (Lc 25.25-27). Jesus o grande assunto dos quatroevangelhos, de Atos dos Apstolos, de todas as epstolas e do Apocalipse (2008,p. 23).

    Jesus o modelo, o padro que dever ser usado como alvo para a centralidade da

    pregao. Jesus o maior assunto contido nas Escrituras, pois o ato sobrenatural do

    amor e da justia de Deus em favor de todos os homens. O apstolo Paulo estava muito

    bem esclarecido e firme na centralidade de seus sermes: Eu mesmo, irmos, quando

    estive entre vocs, no fui com discurso eloquente nem com muita sabedoria para lhes

    proclamar o mistrio de Deus. Pois decidi nada saber entre vocs, a no ser Jesus Cristo,

    e este, crucificado (1 Co 2.1, 2 NVI). Paulo assume com fidelidade seu ministrio, usando

    Cristo como o centro de sua pregao. Se Jesus o centro, logo o prprio Senhor

    algum que deva ser imitado.

    1.6 DespenseiroA intima ligao entre o sermo e o pregador leva-nos acrescentar este ponto no

    intuito de melhorar ainda mais a definio do que o sermo; e a viso do termo

    despenseiro no pode fugir deste captulo. Nos dias de hoje, segundo Bueno, o

    despenseiro visto como o administrador da copa. Uma das cartas de Paulo aos corntios

    contm o seguinte texto: Assim, pois, importa que os homens nos considerem como

    ministros de Cristo e despenseiros dos mistrios de Deus. Ora, alm disso, o que se

    requer dos despenseiros que cada um deles seja encontrado fiel (1 Co 4.1,2). Segundo

    MacArthur, a palavra despenseiro utilizada pelo apstolo Paulo para definir suas

    responsabilidades como apstolo, no seu envolvimento total na administrao dos

    mistrios de Deus.

    usando uma palavra que, originalmente, se refere a uma pessoa incumbida decuidar de todos os negcios domsticos do seu senhor, como, por exemplo,imveis, campos, finanas, alimentao, outros servos e, s vezes, at mesmodos filhos do dono da casa (MACARTHUR, 2010, p. 1531).

    Sobre a responsabilidade que cerca a palavra despenseiro, Stott concorda com a

    citao acima, colocando que esse tipo de servo era um empregado de confiana,

    18

  • responsvel por zelar pela justa utilizao dos bens de seu senhor. Stott traz ainda em

    seu comentrio a palavra grega oikonmos, de onde vem as palavras despenseiro ou

    mordomo:

    temos oikonmos, o despenseiro ou mordomo, cujo cargo chama-se oikonoma:mordomia. Estas palavras vm de ikos, casa, e nemo, administrar ou dirigir, edelas, claro, vm diversas palavras nossas, como economia, economista eeconomizar... Todos os cristos so tambm despenseiros de Deus, queadministraro seus bens, no para proveito pessoal, mas em benefcio da famliatoda (STOTT, 2011, p. 19).

    O despenseiro tambm pode ser visto como que o responsvel por retirar da

    despensa aquilo que os integrantes de uma casa necessitam para alimento. Ele avaliar o

    que saudvel e til para as pessoas que esto sob seus cuidados. Por isso, o sermo

    pode ser visto como um apanhado de alimento necessrio para a manuteno do corpo

    mstico de Cristo, sua igreja. E o pregador deve ter todo o cuidado com o sermo, pois ele

    est administrando os bens que no so seus. Ainda sobre o texto da primeira carta de

    Paulo aos corntios, Stott diz:

    ...somos apenas empregados subalternos de Cristo, administradores de bensalheios. essa posio subordinada que ocupamos. Os bens que o pregadorcristo administra so chamados mistrios de Deus... Assim, os mistrios deDeus so os segredos pblicos de Deus, a soma de sua autorrevelao contidanas Escrituras. Desses mistrios revelados, o pregador cristo despenseiro,encarregado de torn-los ainda mais conhecidos pela famlia (STOTT, 2011, p.20).

    A citao acima mostra o quanto o Senhor nos confiou o privilgio da proclamao

    de sua Palavra. Diante deste glorioso chamado, o despenseiro no pode falhar, pois a ele

    foi confiada uma famlia que necessita de cuidados constantes. A despensa para a

    proviso est cheia, a Palavra do Senhor. Stott diz que o pregador no tem a fonte da

    mensagem em si mesmo; a mensagem recebida de fora. Como o despenseiro no

    alimenta a famlia de seu senhor do seu prprio bolso (STOTT, 2011, p. 21). Por isso, o

    despenseiro no pode confiar em suas habilidades, isso mostra que ele dever se deter

    em dedicar-se ao estudo, consagrao e comunho com o seu Senhor. Pregador e

    mensagem esto intimamente ligados, assim como o Senhor e sua Palavra esto

    totalmente unidos, operando com poder na vida do despenseiro para proclamar suas

    verdades.

    19

  • 2 OS CUIDADOS DO PREGADORPrecisamos definir antes o que o pregador. Segundo o Mini Dicionrio de Lngua

    Portuguesa de Silveira Bueno, pregador aquele que faz pregaes, orador religioso;

    aquele que repreende ou adverte (BUENO, 2007, p. 619). Dentro do meio eclesistico, o

    pregador o orador religioso. Para melhorar a sintetizao sobre o que o pregador,

    estaremos trabalhando alguns aspectos dos seus cuidados.

    O chamado para a pregao parte unicamente de Deus segundo sua misericrdia.

    um erro imaginar que dependa de fator humano, pois seria igual a fazer com que um

    desafinado consiga cantar bem quando no existe a capacidade nele de se ouvir, e por

    no conseguir se escutar acaba indo contra a sua natureza provocando at algum tipo de

    desconforto.

    Porque, pela graa que me foi dada, digo a cada um dentre vs que no pense desi mesmo alm do que convm; antes, pense com moderao, segundo a medidada f que Deus repartiu a cada um. Porque assim como num s corpo temosmuitos membros, mas nem todos os membros tm a mesma funo...(Rm 12.3, 4).

    Podemos muito bem usar a mesma linha de pensamento para a pregao. A

    autoridade no ministrio da Palavra depende da graa do Senhor, e exige aes que

    caracterizaro o pregador como algum aprovado por Deus, apto para servi-lo no seu

    ministrio, e isso evidenciado por suas prticas, sua consagrao (separao), seu

    carter, e entre outras coisas, que Jesus Cristo ensinou com a afirmao da seguinte

    frase: Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7.20). Embora a frase de Jesus

    esteja sendo usada diretamente para os falsos profetas, o princpio o mesmo para a

    tentativa de conhecer se o obreiro do Senhor ou no.

    O cuidado do curso espiritual do pregador, a prtica de vida santificada, a devoo

    a Deus no so atividades internalizadas, mas sim externalizadas, pois partem de um

    homem interior saudvel na comunho com o Senhor. O apstolo Paulo chama seu

    discpulo Timteo para o exerccio desses cuidados: Procura apresentar-te a Deus

    aprovado, como obreiro que no tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra

    da verdade (2 Tm 2.15). O despenseiro precisa contar com a credibilidade da

    comunidade crist, ser visto como algum confivel, fiel ao Senhor, disposto na

    comunho com Deus e exercitado na sua consagrao.

    Veremos a seguir alguns pontos dos inmeros que existem que precisam ser

    observados por aqueles a quem o Senhor confiou o ministrio da pregao do Evangelho.

    20

  • 2.1 RegeneraoAntes de adentrar prtica de vida do ministro da Palavra, precisamos afunilar

    quem so as pessoas que esto aptas para esse ministrio. No adiantaria nada falar

    sobre moralidade, consagrao, comunho com Deus, sem antes abordar a nova

    natureza de um ministro do Evangelho transformado por Deus.

    Para o despenseiro, regra buscar viver uma vida coerente com o ensino bblico.

    Na primeira carta do apstolo Joo, temos a seguinte afirmativa: Aquele que diz que

    permanece nele (Jesus), esse deve tambm andar assim como Ele andou (1 Jo 2.6).

    MacArthur, sobre o versculo citado, declara:

    A vida de obedincia de Jesus o modelo para o cristo. Aqueles que se dizemcristos devem viver como ele viveu, uma vez que possuem a presena e o poderdo seu Esprito (2010, p. 1755).

    Para complementar a afirmao acima, apresentamos dois textos do Evangelho de

    Joo que fazem meno de uma pessoa convertida em Jesus Cristo:

    mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos deDeus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais no nasceram do sangue,nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (Jo 1.12, 13).

    Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem no nascer da gua edo Esprito no pode entrar no reino de Deus. O que nascido da carne carne, eo que nascido do Esprito esprito. No te admires de eu te dizer: importa-vosnascer de novo (Jo 3.5-7).

    Com estes textos, entendemos que, sem a interveno do Senhor no existe a

    capacidade de viver o cristianismo. Essa capacidade somente delegada aos que

    nasceram segundo a vontade de Deus, em uma definio que deve ser conhecida por

    todos os cristos: nascer de novo. Baxter afirma a existncia de homens pregadores que

    no nasceram de novo, o que , infelizmente, um grande risco para a igreja.

    Infelizmente, a existncia de pastores no-regenerados e inexperientes umperigo e uma desgraa comum na Igreja. H homens que se tornam pregadoresantes de se tornarem cristos, consagrados ao ministrio de Deus antes de teremsido santificados e de terem os coraes consagrados ao discipulado de Cristo.Tais homens adoram um Deus que desconhecem e pregam um Cristo a quem noseguem; oram por meio de um Esprito que no lhes testifica a filiao erecomendam um estado de santidade e comunho com Deus, glria e felicidade,que igualmente no experimentam - e que talvez jamais conhecero (BAXTER,2008, p.38).

    21

  • Mas o que novo nascimento? uma filosofia de vida? algo que algum possa

    conquistar somente com a meditao e consagrao? um novo nvel espiritual?

    apenas uma mudana de atitude? A resposta para isso que o novo nascimento um ato

    divino. um pronunciamento do Criador declarando que o novo convertido passa da

    condio de pecador, de algum que estava indiferente e rebelde a Deus, para a condio

    de justificado em Jesus Cristo, sendo automaticamente visitado pela obra regeneradora

    do Esprito Santo em sua vida, transformando-o em uma nova criatura, capacitada pelo

    poder do Esprito Santo para amar e obedecer a Deus. Collins, explicando sobre o que

    pensava John Wesley a respeito da regenerao, diz:

    a santidade... no seria posta em prtica em sua vida por obras, nem porresoluo, nem por vontade e esforo humanos, apesar de bem-intencionado ousincero, mas apenas e de forma magnfica como resultado da graciosidade e dofavor divino os pecadores so justificados e regenerados por meio da graaapenas pela f (2011, p. 266).

    Para efeito de participao, a criatura humana no tem o poder de regenerar seu

    homem interior, pois ele prprio est em uma condicional de morte espiritual (separado de

    Deus). Mas a graa preveniente, ensinada pelo arminianismo e tambm por John Wesley,

    capacita o homem para crer, e como explica o modelo sinergista, o homem pode ento

    ser regenerado por Deus. Essa obra, mesmo que sinergista, exclui totalmente o mrito

    humano.

    ela exclui todo o mrito humano, ressalta o papel divino na regenerao...,demonstra que os frutos da graa livre no so concedidos com base emcooperao humana anterior e revela que a pessoa no tem de ser, nem fazeralgo antes a fim de ser regenerada... a regenerao, como a justificao, totalmente um dom (COLLINS, 2011, p.267).

    A graa de Deus transforma o homem, trazendo para dentro dele a natureza divina,

    habilitando-o a obedecer e amar a Deus.

    A graa no contexto da regenerao, entendida assim, o poder salvfico de Deusdisponibilizado para todo aquele que cr; no nada menos que a capacitaopelo Esprito Santo para a obedincia a Cristo (COLLINS, 2011, p. 269).

    Para Ladd (2003), ser nova criatura no consiste apenas uma renovao da

    moralidade, muito mais profundo que isso, ela exige uma conduta moral, ou seja, no

    22

  • est nos atos morais, e sim em um conjunto de aes e verdadeiras intenes advindas

    de um corao saudvel, regenerado, providas pelo prprio Cristo, refletidas na vida do

    crente.

    A renovao do novo homem no designa uma renovao gradual do carter, massim que a nova humanidade, j existente em Cristo, seja progressivamente postaem prtica na igreja crist. Embora o vestir-se de um novo homem seja visto comoalgo j acontecido em Cristo, no um evento que j aconteceu de uma vez portodas, pois Paulo exorta a nos despirmos do velho homem que se manifesta naconduta pag, para nos revestirmos do novo homem, que criado semelhanade Deus (Ef 4.22-24) (LADD, 2003, p.653).

    Sendo assim, fica claro que o ministro do Evangelho no aquele que se utiliza

    apenas das boas intenes para a edificao e o crescimento do reino de Deus na forma

    da igreja, mas antes de tudo, algum que foi transformado. O sobrenatural

    disponibilizado por Deus , no somente para fazer parte de sua vida, mas tambm

    para ser o dnamo que concede a energia para o novo padro de vida, trazendo a

    excelncia de Jesus ao seu cotidiano, manifestando-se no carter, no exemplo e em sua

    mensagem, porque sem Jesus nada poderemos fazer (Jo 15.5). Um nascido de novo

    consegue muito bem se relacionar com as primcias de Deus, tornando-se um verdadeiro

    mordomo amoroso e fiel ao Senhor, esse sim desempenhar com dedicao seu

    ministrio, sendo um modelo de vida piedosa a ser seguido na igreja.

    2.2 PiedadeMesmo que o sermo consiga tomar forma, e consiga expressar a vontade de Deus

    promovida pela ministrao da mensagem, o ministro da Palavra precisa se definir com

    relao a Deus. Para Lopes , temos a terrvel tendncia de nos esmerarmos na estrutura

    do sermo, na eloquncia e em nosso desempenho e nos esquecermos, ou

    negligenciamos a prtica de uma vida piedosa. Lopes comenta que uma vida ungida

    produz um ministrio ungido. Santidade o fundamento de um ministrio poderoso. A

    piedade uma necessidade vital na vida de todo pregador (2008, p.172).

    O que ns precisamos desesperadamente nestes dias no apenas depregadores eruditos, mas, sobretudo, pregadores piedosos. Erroll Hulse definepregao como sagrada eloquncia atravs de um embaixador cuja vida deve serconsistente em todos os aspectos com a mensagem que proclama. A vida dopregador fala mais alto que os seus sermes (LOPES, 2014, p. 171).

    23

  • Mas como podemos definir a palavra piedade? O que ela representa? Em que

    prticas consiste uma vida piedosa? Bueno sintetiza a palavra piedade como amor s

    coisas religiosas; religiosidade; devoo; compaixo e d (BUENO, 2007, p.596). Mas

    Lopes , trazendo a citao de Hulse, contrasta ainda mais a piedade na prtica de vida,

    Hulse define:

    Piedade constante cultura da vida interior de santidade diante de Deus e paraDeus, que por sua vez se aplica em todas as outras esferas da vida e prtica.Piedade consiste em orao junto ao trono de Deus, estudo de sua Palavra emsua presena e a manuteno da vida de Deus em nossas almas, que afeta toda anossa maneira de viver (LOPES apud HULSE, 2008, p. 172).

    Ainda sobre a piedade, Lopes chega a afirmar que se um pregador do evangelho

    no a vive, um desastre; contrastando, infelizmente, o grande abismo que existe em

    muitos pregadores entre a mensagem que proclamam e a vida piedosa, que confrontam o

    pecado de plpito, mas no o abandonam de suas vidas. Sobre esse tipo de ministro, o

    apstolo Paulo nos adverte em uma de suas cartas:

    Tu, pois, que ensinas a outrem, no te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas queno se deve furtar, furtas? Dizes que no se deve cometer adultrio e o cometes?Abominas os dolos e lhes roubas os templos? Tu, que te glorias na lei, desonras aDeus pela transgresso da lei? Pois, como est escrito, o nome de Deus blasfemado entre os gentios por vossa causa (Rm 2.21-24).

    O pregador, que tambm pode ser considerado um lder pela influncia que exerce,

    deve obter o xito na prtica piedosa, no bom testemunho de homem de Deus, o que

    tambm o exemplo a ser cuidado e vivido pela igreja. Lopes diz que quando os

    pregadores no so coerentes, a sua pregao torna-se vazia, pobre e infrutfera.

    Eloquncia sem piedade no pode gerar verdadeiros crentes. Ortodoxia sem piedade

    produz morte, no vida (2008, p. 175).

    No apocalipse de Joo, no texto que se refere carta escrita igreja de feso,

    vemos uma igreja saudvel doutrinariamente, reconhecida pelo prprio Senhor Jesus pelo

    seu trabalho e perseverana; que conseguia discernir os falsos apstolos e os

    desconsiderava, que estava suportando bem as tribulaes, mas, com uma grave

    acusao da parte de Cristo: abandono do primeiro amor (Ap 2.1-5). O texto em si nos

    revela que somente o conhecimento das Escrituras no o suficiente para viver uma vida

    crist sadia, aprovada por Cristo. Como exemplo de muito conhecimento, pouco

    proveito, podemos citar os fariseus, sacerdotes e escribas da poca de Jesus, que com

    24

  • todo o conhecimento que possuam foram capazes de se envolverem na crucificao de

    Jesus Cristo, negando-o como Messias (Jo 18.35). A soluo ento para ser aprovado por

    Deus como um despenseiro eficaz de sua Palavra no somente o conhecimento.

    Diante da grande responsabilidade do pregador com relao a Deus, as Escrituras

    e aos ouvintes, o despenseiro deve se tornar a mensagem. A vida do arauto deve dar o

    testemunho daquilo que est sendo proclamado. A no internalizao dessa

    responsabilidade levar os pregadores derrota, como aponta Lopes :

    Muitas das derrotas que os pregadores sofrem devem-se ao fato de no teremfome de santidade. Infelizmente, muitos pregadores vivem como atores.Representam diante do povo o que no vivem em seus lares ou em suas vidasprivadas. Usam mscara, vivem uma mentira, pregam sem poder e levam acongregao a dormir ou se entediar com sermes vazios e secos.Muitos pregadores pretendem ser no plpito o que no so na realidade. Piedadeno plpito precisa ser acompanhada de piedade no lar. impossvel ser umpregador eficaz e, ao mesmo tempo, um mau marido ou pai. Nem ser boca deDeus e carregar ao mesmo tempo um corao carregado de impureza (2008,p.175).

    Ainda sobre a prtica da piedade na vida do pregador, Lopes afirma: Assim, um

    ministro sem piedade no tem autoridade para pregar o santo evangelho (2008, p.176).

    Para Lopes , quando o ministro no mantm uma vida de piedade, deixa de atrair

    pessoas para a igreja, passando a repeli-las, deixando de construir as pontes que as

    aproximavam, para cavar abismos entre elas e o Senhor. Tambm para Lopes, poucos

    ministros tm algum hbito devocional sistemtico e pessoal, o que explica a falta de

    piedade de muitos pregadores, pois certamente piedade a consequncia da vida

    devocional (LOPES, 2008, p.180).

    Antes de estar diante dos homens, o pregador deve viver na presena de Deus.Antes de alimentar o povo de Deus, o pregador deve alimentar o seu corao.Antes de pregar ao povo de Deus, o pregador deve aplicar a Palavra sua prpriavida. A parte mais importante do sermo o homem atrs dele (LOPES, 2008,p.180).

    A sequido da vida espiritual da igreja pode tambm ser uma consequncia da falta

    de padres para serem seguidos. A atrao que Jesus provocava nas pessoas era fruto

    de sua vida piedosa, um atraente tanto em testemunho de vida com Deus como em poder

    do Esprito Santo habitando seu corpo plenamente, fruto de algum que procurava se

    manter em status de aprovao por Deus.

    25

  • 2.3 OraoFica difcil no aceitar a condio de que para o reino de Deus se manifestar entre

    ns, necessrio a orao. Essa afirmao no tem por motivo limitar o poder de Deus,

    que soberano em suas decises, e que pode muito bem usar quem Ele quiser ou o que

    Ele quiser para se fazer glorificado, ou para atender o seu propsito, como exemplo, a

    mula de Balao, e tambm o prprio fara que, mesmo no sendo crente no Senhor,

    atendeu os propsitos de Deus de forma involuntria (Rm 9.17). Mas o prprio Jesus

    Cristo, com a inteno de mostrar para os discpulos sobre quais seriam as intenes e

    prioridades que deveriam fazer parte de suas oraes, ensina na seguinte frase: venha o

    teu reino(Mt 6.10). Uma das principais participaes do cristo no reino de Deus na

    orao. Jesus, chamando seus discpulos para assumirem suas responsabilidades no

    reino de Deus, convoca-os orar por trabalhadores do Senhor, com o fim de que Deus

    estivesse intervindo em Sua obra:

    Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, paraque o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir. E lhes fez aseguinte advertncia: A seara grande, mas os trabalhadores so poucos. Rogai,pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara (Lc 10.1-2).

    A orao tambm reflete no crescimento da igreja. Em dados particulares, Lopes

    mostra a relevncia da vida de orao para os nossos dias como ferramenta para o

    crescimento saudvel de nossas igrejas:

    No ano de 1997, juntamente com oitenta pastores brasileiros, visitamos a Coreiado Sul, para fazer uma pesquisa sobre o crescimento da igreja. Visitamos onzegrandes igrejas em Seul igrejas locais entre 10 mil e 700 mil membros. Emtodas essas igrejas testificamos que a principal causa do crescimento fora aintensa vida de orao.Nenhuma igreja evanglica pode ser organizada naquele pas sem que antes hajauma reunio diria de orao pela madrugada. O seminarista que faltar a duasreunies de orao de madrugada durante o ano, exceto por motivo justificado,no serve para ser pastor Eles levantam-se de madrugada para orar porqueDeus prioridade na vida deles. A sensao que tivemos em uma dessasreunies foi de que o cu havia descido terra (2008, p.190).

    A orao precisa se tornar a prioridade dos ministros da Palavra. No existe

    pregao eficaz sem vida crist eficaz. No existe vida crist eficaz sem vida de orao,

    pois na orao que geramos intimidade com o Senhor, onde reconhecemos quem

    Deus , e quem ns somos. A purificao dos pecados que cometemos ocorre somente

    pela confisso, e confisso orao. Ao confessarmos, reconhecemos o quanto somos

    26

  • dependentes da misericrdia de Deus, e exercitamos confiana em nosso fiel advogado,

    Jesus, o Cristo, que intercede por ns em todo o momento. Lopes chega a comentar com

    infelicidade que muitos pregadores e igrejas j abandonaram o privilgio de uma vida

    abundante de orao. Comenta tambm que hoje nossa dependncia est mais anelada

    aos recursos dos homens do que de Deus, que confiamos mais no preparo humano que

    na capacitao divina.

    Muitos pregadores pregam sermes eruditos, porm sem o poder do EspritoSanto. Eles tm luz em sua mente, contudo no tm fogo no corao. Tmerudio, mas no tm poder. Tm fome de livros, mas no de Deus. Eles amamo conhecimento, mas no buscam a intimidade de Deus. Pregam para a mente,no para o corao. Eles tm uma boa atuao diante dos homens, mas nodiante de Deus. Gastam muito tempo preparando os sermes, mas nopreparando corao. Sua confiana est firmada na sabedoria humana, no nopoder de Deus. Homens secos pregam sermes secos e sermes secos no produzem vida Sem orao no existe pregao poderosa (LOPES, 2008, p. 182).

    A primeira carta pastoral de Paulo para Timteo nos da uma base para as

    atividades que devem ser prioridade na vida dos ministros. Paulo, no dever de preparar o

    jovem pastor, encarrega-o de suas responsabilidades no ministrio:

    Este o dever de que te encarrego, filho Timteo, segundo as profecias de queantecipadamente foste objetivo: combate, firmado nelas, o bom combate,mantendo a f e a boa conscincia, porquanto alguns, tendo rejeitado a boaconscincia, vieram a naufragar na f (1 Tm 1.18-19).

    O dever de Timteo era, amparado nas profecias que havia recebido, manter a f e

    a boa conscincia. A f condiz em continuar crendo no Evangelho que havia sido pregado

    para ele e sua famlia. Seu ministrio dependia da credibilidade que ele concedia

    Palavra. A boa conscincia, segundo MacArthur, condiz em manter a capacidade de julgar

    a si mesmo, uma vez que a conscincia foi implantada no homem por Deus, esta o julga

    segundo a lei que Deus escreveu no corao do ser humano; que ao transgredi-la, produz

    culpa.

    Uma vez que Deus escreveu a sua lei no corao do ser humano, este conhece opadro bsico de distino entre certo e errado. Quando viola esse padro, suaconscincia produz culpa, que atua como o sistema de segurana da mente eproduz temor, culpabilidade, vergonha, dvida como advertncias sobre perigosque ameaam o bem-estar da alma. Por outro lado, quando faz a vontade deDeus, o cristo desfruta da afirmao, da segurana, da paz e da alegria de umaconscincia boa (MACARTHUR, 2010, p. 1653).

    27

  • Se Timteo rejeitasse a boa conscincia, ou seja, a capacidade de autojulgar-se,

    ele poderia muito bem naufragar na f. Mas o apstolo Paulo reorganiza as prioridades do

    jovem pastor, ele diz: Antes de tudo.

    Antes de tudo, pois, exorto que se use a prtica de splicas, oraes,intercesses, aes de graas, em favor de todos os homens, em favor dos reis ede todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vidatranquila e mansa, com toda piedade e respeito Quero, portanto, que os varesorem em todo lugar, levantado mos santas, sem ira e sem animosidade (1 Tm2.1-2, 8).

    A principal prioridade de Timteo e da igreja para o ministrio seria a orao. A

    orao, no texto citado acima, no visa interesses prprios, mas sim dedicada salvao,

    comprometida com a revelao de Deus no corao de todo o homem.

    Mas para que a orao seja eficaz diante de Deus, ela precisa estar acompanhada

    pela santidade. O versculo oito, referente aos homens da igreja, contm a seguinte frase:

    levantando mos santas, sem ira e sem animosidade. Sobre essa ordem de Paulo,

    MacArthur comenta:

    Levantando mo santas. Paulo no est enfatizando uma postura especfica queseja necessria para a orao, mas um pr-requisito para a orao eficaz... Apalavra grega traduzida por santas significa no contaminadas ou nomanchadas pela maldade. Mos simbolizam as atitudes da vida; portanto,mos santas representam uma vida santa. A base de uma orao eficaz umavida reta (MACARTHUR, 2010, p. 1656).

    O despenseiro deve estar bem consciente de suas responsabilidades, assim como

    os apstolos tambm estavam: ... e, quanto a ns, nos consagraremos orao e ao

    ministrio da palavra (At 6.4). Consagrao separao, envolver tempo de qualidade

    para Deus. O Senhor Jesus ensinou isso, dizendo: Tu, porm, quando orares, entra no

    teu quarto e, fechada a porta, orars a teu Pai, que est em secreto; e teu Pai, que v em

    secreto, te recompensar (Mt 6.6). No contexto que envolve este versculo, Jesus estava

    destacando a orao dos fariseus diante do povo, envolvida de hipocrisia, tentando

    demonstrar quo religiosos eram. E Jesus enfrenta de frente essa religiosidade, dizendo

    que, o que interessa o contedo da orao voltado para o propsito de servir a Deus,

    no s aparncias. Mas podemos usar tambm esse texto para aplicarmos a uma orao

    de qualidade, onde o cristo se retira para uma lugar que possa ficar em secreto com

    Deus sem ser interrompido.

    28

  • 2.4 JejumDe todos os meios que Deus possibilitou ao seu povo para que tenham comunho

    com Ele, o jejum outra ferramenta que tem como misso prestar manuteno nova

    natureza do convertido em Cristo. Segundo Bueno, jejum : Abstinncia parcial ou total

    de alimentos em certos dias, por penitncia ou prescrio religiosa (2007, p. 453). J o

    Dicionrio da Bblia Almeida (2003) registra o seguinte:

    Prtica de no se alimentar por certo tempo (1 Rs 21.9). Como prtica religiosa, voluntrio, exige pureza de vida (Is 58.3-7) e exclui a exibio (Mt 6.16-18). Emduas passagens no NT relata-se que a liderana da igreja, seguindo o costumejudaico, orou com jejum (At 13.2-3, 14.23) (2003, p. 1419).

    Tanto o Antigo Testamento quanto o Novo Testamento enfatizam a prtica do jejum,

    mostrando que o mesmo faz parte da liturgia religiosa judaica e crist. Para o pregador,

    essa ferramenta indispensvel para que o sermo seja ministrado com poder, e possa

    cumprir seu propsito. De todos os benefcios do jejum, seguimos com alguns pontos que

    merecem ser destacados.

    2.4.1 Trata o Carter e Adquire PoderO jejum, alm de ser uma prtica piedosa, ele serve para mostrar o que realmente

    nos controla. Lopes traz o seguinte comentrio de Richard Foster sobre a disciplina do

    jejum, ele diz:

    Mais do que qualquer outra disciplina, o jejum revela as coisas que nos controlam.O jejum um maravilhoso benefcio para o verdadeiro discpulo que deseja sertransformado na imagem de Jesus Cristo. Muitas vezes, encobrimos o que estdentro de ns com comida e outras coisas (2008, p. 192).

    Logo, entende-se que o jejum no tem como objetivo central a busca de poder, mas

    sim a transformao do carter. o desejo de preencher o vazio infinito dentro do homem

    pela presena de Deus. Lopes traz tambm o comentrio de John Piper, que para ele

    jejum fome de Deus, e que o grande inimigo desta fome por Deus no o veneno

    mortfero, mas sim os dons do prprio Deus; que para muitos pode ser apenas uma torta

    de ma.

    Jejum fome pelo prprio Deus, no por aplausos humanos... para noshumilharmos diante de Deus (Dn 10.1-12), para suplicarmos a sua ajuda e paravoltarmo-nos para Deus com todo o nosso corao (Jl 2.12,13). para

    29

  • reconhecermos a nossa total dependncia da proteo divina (Ed 8.21-23). Ojejum um instrumento para fortalecer-nos com o poder divino, em face dosataques do inferno (Mc 9.28, 29) (LOPES, 2008, p. 192).

    Certa vez, Jesus, juntamente com os seus discpulos, questionado pelos fariseus

    por ter colhido espigas em uma seara no dia em que os judeus guardam o sbado,

    responde: O sbado foi estabelecido por causa do homem, e no o homem por causa do

    sbado ... (Mc 2.27). Deste modo, pode-se usar o versculo ora citado como modelo de

    texto para a seguinte frase: o estomago foi criado para o homem e no o homem para o

    estomago. O nvel de comprometimento que exercido pelo obreiro da Palavra revela

    quem o seu senhor, como tambm um incontinente ou um beberro. Assim, pode-se

    imaginar a quem o pregador de fato tem desejado servir.

    os discpulos lhe rogaram, dizendo: Mestre, come! Mas ele lhes disse: Umacomida tenho para comer, que vs no conheceis A minha comida consiste emfazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra (Jo 4.31-32, 34).

    Lopes aprofunda ainda mais o sentido espiritual do jejum, como algo que glorifica o

    Senhor, expressado na fome pela realidade eterna, trazendo as pequenas coisas que

    fazemos no dia a dia como ofertas de louvor :

    Devemos comer e jejuar para a glria de Deus (1Co 10.31). Quando nscomemos, saboreamos o emblema do nosso alimento celestial, o Po da Vida. Equando jejuamos, dizemos: Amo a realidade acima do emblema. O alimento bom, mas Deus melhor (2008, p. 193).

    Jejuar ter comunho com Deus, desejar desfrutar de intimidade com o Criador.

    Quem jejua no tem pressa de fazer sua vontade, o seu alvo satisfazer as necessidades

    do reino de Deus, movido pelo desejo de servir, e de ser til para o Senhor. O resultado

    disso manifestado na pregao.

    Quem jejua tem mais pressa em desfrutar a intimidade com Deus do que emalimentar-se. Quem jejua tem mais fome do po do cu do que do po da terra.Quem jejua tem mais saudade do Pai do que de suas bnos. Quem jejua estmais confiado no poder que vem do cu do que nos recursos da terra. Quem jejuaest mais confiante nos recursos de Deus do que na sabedoria humana.Verdadeiramente, se desejamos ver pregaes ungidas e cheias de vigor, seansiamos ver o despertamento da igreja, e seu crescimento numrico, precisamos,de pregadores que sejam homens santos e piedosos, homens de orao e jejum(LOPES, 2008, p. 194, 195).

    O jejum uma necessidade que no deve estar focada em resultados que podem

    30

  • ser usados como meios para se vangloriar, mas com o alvo principal e nico de vida com

    Deus em adorao e rendio Sua vontade. Lembrando tambm o que o evangelho de

    Lucas diz sobre a profetisa Ana: Esta no deixava o templo, mas adorava noite e dia em

    jejuns e oraes (Lc 2.37). Adorao no s msica e cnticos, quem jejua e ora

    tambm est adorando ao Senhor.

    2.4.2 Trata a IncredulidadeO Jejum tambm uma ferramenta que serve para aumentar a f, expulsando

    assim a incredulidade. O texto do evangelho de Mateus 17.14-21 bem didtico quanto

    aos efeitos da falta do jejum sobre a vida daqueles que se dispem com Cristo a fazer sua

    obra.

    E quando chegaram para junto da multido, aproximou-se dele um homem, que seajoelhou e disse: Senhor, compadece-te de meu filho, porque luntico e sofremuito; pois muitas vezes cai no fogo e outras muitas, na gua. Apresentei-o a teusdiscpulos, mas eles no puderam cur-lo. Jesus exclamou: gerao incrdula eperversa! At quando estarei convosco? At quando vos sofrerei? Trazei-me aquio menino. E Jesus repreendeu o demnio, e este saiu do menino; e, desde aquelahora, ficou o menino curado.Ento, os discpulos, aproximando-se de Jesus, perguntaram em particular: Porque motivo no pudemos ns expuls-lo? E ele lhes respondeu: Por causa dapequenez da vossa f. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes f como umgro de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acol, e ele passar.Nada vos ser impossvel. Mas esta casta no se expele seno por meio deorao e jejum (Mt 17.14-21).

    Alguns interpretam o termo casta do texto de Mateus como referindo-se a

    demnios. Mas a partir do versculo 19 aparece um outro contexto, onde os discpulos

    esto a ss com Jesus, o qual comeam a interrog-lo sobre o porqu deles no

    conseguirem expelir o demnio que atormentava o jovem que encontrava-se possesso.

    Jesus no responde aos discpulos dizendo que o demnio que expelira do jovem era

    mais poderoso; at porque todos os principados e potestades esto sujeitos ao nome do

    Senhor Jesus, o que fugir disso impossvel; mas responde solucionando a dvida dos

    discpulos, apontando para o problema que passou a existir neles: a incredulidade no

    poder de Deus; que pode ter sido desenvolvida por causa do excesso de confiana em si

    mesmos. MacArthur, sobre o ocorrido no evangelho de Mateus, diz o seguinte:

    Quando enviou os discpulos (10.6-8), Cristo comissionou-os explicitamente afazerem esse tipo de milagre. Menos de um ano depois, eles fracassaram naquiloem que haviam sido bem-sucedidos anteriormente. A explicao de Cristo para o

    31

  • fracasso deles foi que a f que tinham era pouca (v. 20). A deficincia noconsistia em falta de confiana; eles ficaram surpresos por no terem podidoexpulsar esse demnio. bem possvel que o problema tenha sido que eles nohaviam feito de Deus em vez de seus prprios dons o objeto de sua confiana(2010, p. 1238).

    A falta de f a resposta para o infortuno. O fato dos discpulos estarem com Jesus

    no significava nada, pois faltava-lhes o exerccio prtico do convvio com Deus, o

    exerccio da orao, jejum e meditao nas Escrituras; tudo isso enobrece a intimidade,

    fazendo dos ministros da Palavra homens honrados e conhecidos nos cus pelo Senhor.

    2.5 Gastar Tempo nas Escrituras e outros AssuntosUm mdico que se prese, antes de ser um bom profissional com habilidade em

    diagnosticar os problemas de seus pacientes, precisa antes de tudo dedicar-se ao estudo

    e prtica de sua profisso. um erro terrvel admitir um mdico que no saiba que

    medicamento est receitando, quanto menos assumir um bloco cirrgico algum que no

    tenha se esmerado horas e horas em exerccios de instrumentao, anatomia e

    procedimentos cirrgicos. Assim, como em qualquer outro ofcio, a admisso para algo

    em que no se conhece gera consequncias bem desagradveis, e exemplos existem

    vrios. Tambm no podemos nos dar ao luxo de menosprezarmos o cuidado e diligencia

    que devemos ter com a Palavra de Deus, por ela se tratar de uma ferramenta que tem

    como objetivo alcanar a alma do homem para a eternidade com o Senhor.

    Podemos dizer que a prpria Bblia se enxerga como um elemento que pode

    provocar destruio, ou como uma ferramenta: No a minha palavra fogo, diz o

    SENHOR, e martelo que esmia a penha? (Jr 23.29). Como ferramenta, o despenseiro

    precisa se exercitar nela, como o elemento fogo, o arauto precisa tem-la, pois trar juzo

    para aqueles que a proclamam indevidamente.

    Os senhores no temem que, ao abrir a Bblia, leiam a sua prpria sentena demorte? No temem que, ao preparar o sermo, estejam escrevendo a acusaode sua prpria alma? Quando argumentam contra um pecado, acaso no fazemaumentar a gravidade de sua prpria condio? A proclamao das insondveisriquezas de Cristo e sua graa no anuncia sua prpria iniquidade, caso a rejeiteme evitem? (BAXTER, 2008, p.36).

    Sim, devemos tem-la. A Bblia um instrumento que revela a poderosa graa de

    Deus que, para aqueles que respondem de forma positiva, obtm benos da parte do

    Senhor, mas, se respondem de forma negativa, atrair para aquele que a utiliza de forma

    errada consequncias perigosas. No so poucos os exemplos de pessoas mencionadas

    32

  • pela prpria Bblia que foram vtimas do Senhor por no exercerem os detalhes que a

    Palavra de Deus havia instrudo, algumas dessas vtimas parecem at ser inocentes,

    como o caso de Uz, que de forma inocente e com boa inteno, ao ver que a arca de

    Deus poderia cair do carro que estava sendo puxado pelos bois, que haviam tropeado,

    segurou a arca com a mo, e isso foi fatal para ele. Uz foi ferido por Deus e morreu ali

    junto com a arca (2 Sm 6.6, 7). Sobre esse ocorrido, MacArthur diz:

    Independentemente da inocncia da ao, tocar na arca era franca violao da leide Deus e o resultado seria a morte (Nm 4.15). Essa era a maneira de preservar asantidade de Deus e o temor de se aproximar dele sem o preparo adequado(2010, p. 401).

    Podemos observar esse ocorrido ainda de uma outra forma: por causa da falta de

    preparo do rei Davi em como proceder na adorao ao Senhor, um inocente com boas

    intenes acabou sendo morto. A arca do Senhor no deveria ser carregada por bois, mas

    sim pelos levitas, pois a glria do Senhor, simbolizada na arca, que tipificava Cristo e seu

    ministrio, deveria estar nos ombros da descendncia de Levi. Tambm podemos usar um

    outro exemplo aqui: estamos agindo como bois, que tropeam e fazem o povo morrer, ou

    levitas consagrados e aplicados em conhecer ao Senhor e s suas determinaes?

    Somente boas intenes parece que no so o suficiente dentro do ministrio da

    pregao. exigido temor, preparo e dedicao Palavra. Nadabe e Abi tambm

    sofreram as consequncias de serem relapsos em suas atividades como sacerdotes, tudo

    porque no proclamaram a ordem do servio sacerdotal da forma que deveria ser com

    suas vidas diante do povo do Senhor, mesmo diante de toda a instruo que haviam

    recebido (Lv 10.1-3).

    Diante destas verdades, o pregador precisa investir tempo no seu preparo, pois a

    igreja certamente identificar e valorizar o seu empenho. Lopes apud Criswell diz: O

    pregador precisa estar cheio da verdade de Deus, porque, se a mensagem tem um

    pequeno custo para o pregador, ela tambm ter um pequeno valor para a congregao

    (2008, p. 196).

    Desde o Antigo Testamento o Senhor faz promessas referente ao pastoreio de seu

    povo. No livro do profeta Jeremias, o Senhor diz: Dar-vos-ei pastores segundo o meu

    corao, que vos apascentem com conhecimento e com inteligncia (Jr 3.15). Sobre o

    versculo citado, Lopes traz a seguinte afirmativa:

    Se os pastores no forem homens de conhecimento, jamais podero realizar o

    33

  • ministrio de ensino e instruo ao povo de Deus. O conhecimento de que fala oprofeta Jeremias refere-se tanto ao conhecimento da mente como o conhecimentodo corao. o conhecimento da verdade crist aliado experincia crist. impossvel ter graa no corao sem luz na mente. impossvel ter experinciasgloriosas sem o conhecimento das Escrituras. O conhecimento do corao sem oconhecimento da mente no faz sentido (2008, p. 197).

    Tambm no podemos ser destemperados, puxando todo o lado da balana para a

    razo, afirmando que s o conhecimento o suficiente. preciso nivelamento da parte do

    pregador, pois o conhecimento apenas da mente sem a piedade produz aridez (LOPES,

    2008, p. 197).

    Os ministros segundo o corao de Deus, em vrios aspectos, so aqueles quetm a mente cheia de conhecimento e o corao cheio de graa. Para um ministroalimentar os seus ouvintes com conhecimento e inteligncia sem ser ele mesmoum homem com conhecimento e inteligncia, seria to impossvel como ver semos olhos ou ouvir sem os ouvidos (LOPES apud SHAW, 2008, p. 197).

    O pregador um funcional estudante para a vida toda. Para ele, a teologia no

    acaba na entrega do certificado em um curso de graduao, ele estudar de forma sria

    enquanto viver (LOPES, 2008, p. 196). Para Lopes, o conselho de Martyn Lloyd-Jones

    bem vindo, ele recomenda que cada pregador deve ler toda a Bblia pelo menos uma vez

    por ano (2008, p. 196). Criswell, citado por Lopes, alerta que o ministro deve ser um

    estudante em todo lugar. Ele deve consagrar uma parte especfica de cada dia para

    dedicar-se severa e sistematicamente ao estudo privativo (2008, p. 196).

    O despenseiro no somente um criterioso estudante de teologia, ele tambm

    estuda o que est ao seu redor, os conflitos da sua gerao, as notcias do dia a dia. Ele

    est inteirado do sistema em que est situado, conhece os fatos e a cultura da sociedade

    em que est inserido. O ministro da Palavra precisa ler no apenas a Palavra, como

    tambm o mundo ao seu redor; precisa ler o texto antigo e a nova sociedade sua volta

    (LOPES, 2008, p. 195, 196).

    Um despertamento para o retorno s Escrituras necessrio para os nossos dias,

    onde a liturgia cheia de louvores egocntricos, o espetculo e a performance ocupam o

    espao da pregao, os pregadores precisam desesperadamente retornar Palavra de

    Deus. Todo pregador precisa ter paixo pela Palavra de Deus. Ele deve l-la, conhec-la,

    obedecer a ela e preg-la com autoridade, no poder do Esprito Santo (LOPES, 2008, p.

    201). O chamado da conscincia autoanlise feito a todos os servos do Senhor, aos

    que o temem, para o conhecimento dos desvios e o retorno plenitude do ministrio da

    pregao. As palavras do salmista Davi devem permear a nossa conscincia: Sonda-me,

    34

  • Deus, e conhece o meu corao, prova-me e conhece os meus pensamentos; v se ha

    em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno (Sl 139.23, 24). Precisamos

    ser humildes e reconhecer nossa fraqueza apontando aquilo que temos feito de errado ou

    o que temos omitido, e principalmente desejar ardentemente o retorno fidelidade para

    com Deus e sua Palavra, pois um ministrio que carrega em si uma grande e poderosa

    promessa: Os que forem sbios, pois, resplandecero como o fulgor do firmamento; e os

    que a muitos conduzirem justia, como as estrelas, sempre e eternamente (Dn 12.3).

    Lembrando que o texto bblico citado no um texto potico, nem um relato de aspirao

    de um homem, um anjo enviado a Daniel em uma viso relatando os ltimos

    acontecimentos do tempo do fim. Podemos interpretar como uma promessa literal da

    parte do Senhor para os que se empenham nesse ministrio.

    35

  • 3 RETORNO S ESCRITURASA vida crist uma constante de avaliao, observao do carter, mudanas de

    atitude entre outras coisas. Isso, partindo do ponto de vista individual para a igreja em um

    todo, acaba deixando as coisas turvas, pois observamos que algumas situaes no so

    necessrias, outras esto em deficit, ou ento so perigosas para o funcionamento

    perfeito do corpo mstico de Cristo. Imaginamos que, com um pouco de critrio,

    observao, temor e graa de Deus, conseguiremos avaliar aquilo que preciso ser

    descartado, e reconhecer os antigos hbitos que merecem ser realocados para dentro da

    igreja. Assim, como cada indivduo faz sua anlise diante do espelho do Senhor, sua

    Palavra, procurando em si o que deve ser evitado e o que deve ser acrescentado sua

    vida.

    Podemos observar os acontecimentos na igreja em um todo, e disso tudo tirarmos

    as concluses que precisam ser desenvolvidas para que possamos entender o que

    devemos priorizar como igreja do Senhor, comeando pelo princpio de analisar os

    acontecimentos e as consequncias descobrindo o que levou para que estas

    acontecessem.

    3.1 O Abandono das Escrituras e seus EfeitosEstamos vivendo um tempo a par na histria da igreja de nossos dias. Segundo

    dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), o Brasil est

    experimentando um significativo aumento no nmero de pessoas que se declaram

    evanglicas. Entre os anos de 2000 e 2010 o nmero de evanglicos aumentou 61%,

    diferente da realidade de outros pases, como os europeus, que j foram celeiro de

    missionrios que proclamaram o Evangelho alm de suas fronteiras, inclusive no Brasil, e

    hoje vivem a dura realidade de ver o percentual de cristos cada vez mais diminuir.

    Em 30 anos, percentual de evanglicos passa de 6,6% para 22,2%. Osevanglicos foram o segmento religioso que mais cresceu no Brasil no perodointercensitrio. Em 2000, eles representavam 15,4% da populao. Em 2010,chegaram a 22,2%, um aumento de cerca de 16 milhes de pessoas (de 26,2milhes para 42,3 milhes). Em 1991, este percentual era de 9,0% e em 1980,6,6% (IBGE, Censo 2010).

    No so poucos os que interpretam o crescimento evanglico como apenas um

    inchao. Lopes interpreta o crescimento percentual da igreja evanglica brasileira como

    36

  • um problema, pois a crescente no est sendo acompanhada pela transformao da

    sociedade, que seria a consequncia natural de um crescimento saudvel. Segundo

    Lopes, esse inchao da igreja pode estar sendo desencadeado pelo abandono do

    genuno Evangelho.

    Muitos pastores, no af de buscar o crescimento de suas igrejas, abandonam ogenuno evangelho e rendem-se ao pragmatismo que prevalece na cultura ps-moderna. Buscam no a verdade, mas o que funciona, no o que certo, mas oque d certo. Pregam para agradar aos ouvintes, no para lev-los aoarrependimento. Pregam o que eles querem ouvir, no o que eles precisam ouvir.Pregam outro evangelho, um evangelho antropocntrico, no o evangelho da cruzde Cristo... No pregam as Escrituras, mas as revelaes de seus prprioscoraes (LOPES, 2008, p. 169).

    A consequncia desse descaso o significativo nmero de pessoas no

    convertidas dentro das igrejas, que no foram contempladas com a Palavra de Deus, por

    isso, geram grande crise moral e sequido espiritual, e assim se tornam objeto de

    escrnio para o mundo secular. Pessoas que esto no corpo de Cristo com o nico

    propsito de serem privilegiadas pelas benos de Deus, e no por desejarem conhecer o

    Senhor.

    O Evangelho tem sido trocado por uma mensagem de autoajuda, sem Cristo, e

    totalmente voltada para o eu, para as circunstncias desta vida, pois ainda no

    entenderam, ou perderam o conhecimento de que um Deus eterno s pode prometer

    coisas eternas. Buscam felicidade e proviso abundante, mas pecam em no conhecer

    que algumas situaes como sofrimento e tribulaes fazem parte da agenda do crente

    fiel.

    importante notarmos para a gravidade da seguinte frase dita por algum: quando

    um cristo ortodoxo e um cristo popular utilizam a palavra 'vitria', ambos esto falando

    de coisas totalmente diferentes. O prprio Senhor Jesus passou por algo parecido

    quando o povo preferiu o que era terreno do que aquele que divino, mostrando onde de

    fato as intenes do povo estavam focadas:

    Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vs me procurais, noporque vistes sinais, mas porque comestes dos pes e vos fartastes Quemcomer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele Muitos dos seus discpulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro estediscurso; quem o pode ouvir? A vista disso, muitos dos seus discpulos oabandonaram e j no andavam com ele (Jo 6.26, 56, 60, 66).

    O texto citado acima deve causar algum tipo de desconforto naqueles que buscam

    37

  • o crescimento de suas igrejas de forma anormal e desenfreada. Talvez para eles, seja

    suportvel apenas ler nas Escrituras somente o Deus de amor, criando nas pessoas a

    ideia de que Deus como que a figura de um av, que tenta conter as traquinagens de

    seus netos, mas no os disciplina, no os reprova naquilo que deve ser corrigido, no os

    ensina naquilo que deve ser vivido. Cria-se ento um Deus imoral, incapaz de punir,

    sempre amvel e disposto a sempre abrir o armazm dos cus e abenoar seu povo, sem

    sequer tratar a condio de um corao mergulhado na carnalidade, sem nenhuma

    afeio com a eternidade. Alis, obtm-se o conceito de que o Senhor se empenhar em

    tratar as dores do passado do indivduo, mudando a vida do novo convertido para uma

    vida com expectativas em milagres, maravilhas, benos e proviso para alm daquilo

    que se precisa ter, em uma tica extremamente terrena, sem torn-lo responsvel por

    seus atos. Esse tipo de cristianismo ensinado em nossos dias, segundo a Palavra de

    Deus, falso. Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus sero

    perseguidos (2 Tm 3.12). MacArthur, sobre o versculo citado logo acima, afirma: Os

    cristos fiis devem esperar a perseguio e o sofrimento nas mos de um mundo que

    rejeita a Cristo (2010, p. 1673). Para o cristo, perseguio, combate, ser mau visto pelas

    pessoas devido sua f, tribulaes da vida (Mt 7.24-27) normal, e isso deve que ser

    ensinado pelo despenseiro, e evitado radicalmente o ensino de fbulas. Entendemos que

    a atitude do pregador proclamar as verdades sobre o reino de Deus. A obra do Esprito

    Santo quem conduzir o tenro cristo a uma compreenso slida das verdadeiras

    promessas de Deus em Cristo Jesus. Somente um nascido de novo pode ter a plena

    alegria de Cristo em meio s situaes hostis, rodeado pelos tormentos da vida, e esse

    sim, diante do ensino coerente que foi passado pelo pregador, responder a altura diante

    de todo o tipo de situao, boa ou ruim.

    Temos, porm, este tesouro em vasos de barro, para que a excelncia do poderseja de Deus e no de ns. Em tudo somos atribulados, porm no angustiados;perplexos, porm no desanimados; perseguidos, porm no desamparados;abatidos, porm no destrudos; levando sempre no corpo o morrer de Jesus, paraque tambm a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque ns, que vivemos,somos sempre entregues morte por causa de Jesus, para que tambm a vida deJesus se manifeste em nossa carne mortal (2 Co 4.7-14).

    A verdade que sobre todos que vivem neste sculo, onde a ganncia e o desejo

    de muitos em vangloriar-se sobre os rebanhos que so pastoreados dentro das igrejas,

    uma atitude firme est sendo cobrada daqueles que desejam se manter fiis ao Senhor

    diante de Sua Palavra, Paulo diz: Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua

    38

  • nestes deveres; porque, fazendo assim, salvars tanto a ti mesmo como aos teus

    ouvintes (1 Tm 4.16). Dar crdito ela ser um diferencial, tanto para agora como na

    eternidade.

    3.2 A Credibilidade das EscriturasNo de agora que o descrdito Palavra do Senhor vem surgindo. O prprio

    Deus, inmeras vezes exortou o seu povo a dar crdito s suas Palavras. Tambm o

    profeta Oseias, inspirado pelo Esprito Santo, adverte o povo do Senhor para a destruio

    que teria vindo sobre eles devido falta de conhecimento (Os 4.6), consequncia da

    negligencia dos sacerdotes em no ensinarem o povo, por no considerarem mais a

    Palavra. O apstolo Paulo previu a adversidade que viria tambm sobre a igreja do

    Senhor, convocando Timteo para ser prudente em seu ministrio:

    Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que h de julgar vivos e mortos, pela suamanifestao e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, querno,