Prêmio FCW 2008

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FCW prêmio fundação conrado wessel OS VENCEDORES DO PRÊMIO CONRADO WESSEL DE ARTE, CIÊNCIA E CULTURA 2008 ESPECIAL

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Prêmio Fundação Conrado Wessel 2008

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conselho curador

Presidente

Dr. Antonio Bias Bueno Guillon

Membros

Dr. José Álvaro Fioravanti

Dr. José Antonio de Seixas Pereira Neto

Dr. José Hermílio Curado

Capitão PM Kleber Danúbio Alencar Júnior

Dr. Reinaldo Antonio Nahas

Prof. Stefan Graf Von Galen

diretoria executiva

Diretor Presidente

Dr. Américo Fialdini Júnior

Diretor Vice-Presidente

Dr. Sérgio Roberto de Figueiredo Santos e Marchese

superintendente

Dr. José Moscogliatto Caricatti

Coordenador Científico

Dr. Erney Plessmann de Camargo

Coordenador Cultural

Dr. Carlos Vogt

coordenação desta edição

Dr. José Moscogliatto Caricatti

Fundação Conrado Wessel

Rua Pará, 50 - 15º andarHigienópolis - 01243-020São Paulo, SP - BrasilTel./fax: 11 [email protected]

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4 Como a FCW nasceu, cresceu e passou

a apoiar a arte, a ciência e a cultura

8 Os caminhos que Conrado Wessel percorreu para criar um novo papel fotográfico

12 Fundação já premiou personalidades importantes para o Brasil

16 A festa para os premiados de 2008 na Sala São Paulo

20 As valiosas contribuições de Leopoldo de Meis

para a bioquímica, sociologia e educação

24 Fulvio Pileggi consolidou o InCor como centro

de excelência

28 Ernesto Paterniani foi pioneiro em técnicas

de melhoramento genético do milho

32 Ariano Suassuna legou obras fundamentais

para a cultura na literatura e no teatro

36 Conheça as fotos vencedoras

do Prêmio FCW de Arte 2008

44 Veja quais as instituições parceiras da fundação

e o júri que escolheu os ganhadores

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as fotos das páginas 4-7, 13, 16-19, 25 e capa são de autoria dos fotógrafos fernando silveira, pedro vertulli e polini prizmic

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Os prêmios concedidos pela Fundação Conrado Wessel (FCW) à arte, à ciência e à cultura, as-

sim como as bolsas de pós-doutorado no país e de graduação no exterior, já são contribuições reconhe-cidas pela comunidade científica do país. Também as doações anuais às instituições com diferentes fins tornaram-se uma tradição de benemerência da fun-dação. Todas essas ações foram-se cristalizando nesta primeira década do século XXI e hoje são consi-deradas colaborações importantes para a sociedade. O que ainda pouco se sabe é como se constituiu a FCW e o que a tornou sólida.

Uma fundação compõe-se, em linhas gerais, de um patrimônio inicial deixado pelo instituidor a uma finalidade social, sob a vigilância do Ministério Público, e gerido por administradores que devem seguir o estatuto e a legislação. Para evitar o colap-so do patrimônio original, crescer e impedir que a organização se torne insolvente e inviável é preciso uma administração eficiente e vigilante. Foi o que se fez com a FCW, uma instituição privada que nasceu oficialmente em 1994, quando se cumpriu o desejo de Ubaldo Conrado Augusto Wessel expresso no seu testamento feito em 1988, cinco anos antes de sua morte, e no qual está determinada a criação da fun-dação à qual destinava “todos os bens”. O objetivo foi cumprir as duas incumbências deixadas pelo fundador: fazer doações a entidades filantrópicas e premiar a arte, a ciência e a cultura no Brasil.

Para tais finalidades, Wessel legou um patrimônio inicial constituído de 41 imóveis na capital paulis-ta, em grande parte alugados, nos bairros da Barra

Como a Fundação Conrado Wessel nasceu, cresceu e passou a apoiar a arte, a ciência e a cultura no Brasil

Bases sólidas

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Cesar Camargo Mariano e Céline Imbert se apresentaram na festa do Prêmio FCW 2008, no dia 1º de junho

Funda, dos Campos Elísios e de Santa Cecília, que totaliza-vam 18.722 metros quadrados (m²) de área construída. E seis outros imóveis em Higienó-polis onde deveria ser erguido “um empreendimento imobi-liário cuja renda seria destina-da à concessão de prêmios”, de acordo com o testamento. A implementação da gestão correta desses bens levou-os a crescer, em média, 30% ao ano desde 2000, quando uma nova diretoria assumiu a fundação e imprimiu outra dinâmica para reverter o perfil de rentabilida-de patrimonial: desconcentrou, construiu novos e maiores pré-dios, fez aquisições e atualizou a carteira imobiliária. Hoje são 51 imóveis e mais de 22.000 m²

construídos. Como resultado desse investimento, a fundação concretizou o desejo de seu fundador expresso no estatuto.

A administração da FCW é formada por Conselho Cura-dor e Diretoria Executiva. Para a primeira diretoria, cuja gestão foi iniciada em 1995, Conrado Wessel havia indicado os seus testamenteiros como diretores nos três primeiros anos da fun-dação. O Ministério Público nomeou os dois testamenteiros – um diretor administrativo e um diretor gerente financeiro –, que ocuparam a direção por tempo de mandato superior ao especificado pelo fundador Wessel. Eles permaneceram nos cargos não por três anos, mas por cinco anos.

Para o Conselho Curador Wessel não indicou ninguém, mas o Ministério Público no-meou um afilhado dele em sua homenagem. Desse conselho também fazem parte perma-nentemente três representantes das entidades beneficiárias, ou seja, aquelas que recebem uma doação significativa da FCW a cada ano. No caso, a Fundação Antonio Prudente, o Corpo de Bombeiros e a Associação Ben-jamin Constant. Após o perío-do de transição e auditoria dos bens houve a posse da nova Di-retoria Executiva em fevereiro de 2000. A partir dessa gestão, o legado de Conrado Wessel foi integralmente administrado de acordo com os objetivos defini-dos para o patrimônio da FCW.

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Esses objetivos são dois, co-mo foi dito: doações e incentivo à arte, à ciência e à cultura. As doações são feitas anualmente para as três entidades já citadas, além de outras duas (Aldeias In-fantis e Exército de Salvação) e vêm dos recursos obtidos com as locações dos imóveis. As con-dições são definidas no estatuto social: devem ser destinadas aos beneficiários como “aporte de recursos para utilização educa-tiva, cultural e científica”. Além disso, há uma cota da adminis-tração da FCW, em parceria com o Ministério Público, que distribui cestas básicas. Até 2009 já foram atendidas 10.478 famí-lias assistidas por 31 entidades e instituições paulistas.

O incentivo à arte, à ciência e à cultura é o outro objetivo estatutário da FCW e a razão de a fundação ser hoje uma referência nacional no meio acadêmico. As premiações

distinguem os nomes reco-nhecidos internacionalmente na Ciência Geral; na Ciência Aplicada ao Campo, à Água, ao Meio Ambiente, à Tecnologia, à Biologia; na Medicina; e na Cultura. Para esse fim, a fun-dação usou os seis imóveis de Higienópolis. Wessel pensava que eles poderiam se transfor-mar em um empreendimento imobiliário, talvez como um conjunto residencial de apar-tamentos. A FCW, no entanto, ultrapassou a expectativa de seu instituidor – o empreendimen-to se configurou no Shopping Pátio Higienópolis, o que deu segurança orçamentária para o seu maior objetivo, o de con-cessão dos prêmios.

Na época, surgiram nume-rosas propostas para os seis

terrenos. A mais atraente de-las foi construir um shopping. Entretanto eram necessários no

mínimo 15.000 m² de área para o empreendimento comercial e a fundação tinha apenas 68% do necessário. Para chegar aos 100% foi preciso se unir a mais dois proprietários vizinhos, a Obra de Santa Zita e a empresa Plaza. O conjunto então forma-do atingiu 15.223,22 m². A par-ticipação no empreendimento foi estabelecida em 25% das cotas para a FCW e a Obra de Santa Zita; e 75% para o inves-tidor responsável pelo custo de implantação e construção. Co-mo tinha 68% da área, a funda-ção recebeu 17% das cotas (68% x 25% = 17%); e como a Obra Santa Zita detinha 32% da área, ficou com 8% das cotas (32% x 25% = 8%). O Shopping Pátio Higienópolis foi construído, se tornou um sucesso em pouco tempo e hoje vem de seu movi-mento comercial a maior parte da renda destinada aos vence-dores dos Prêmios FCW.

Leopoldo de Meis, Ariano Suassuna e Fulvio Pileggi, três ganhadores do Prêmio FCW 2008

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apoiou a publicação dos livros Amazônia e Educação. Com a FAPESP, publica sempre em outubro este suplemento es-pecial, completando agora seis anos de parceria.

Como as atividades da fun-dação se expandem ano

após ano, apenas uma parte delas está resumidamente ex-posta nesta edição. Em especial, o perfil dos ganhadores do Prê-mio FCW 2008 de Ciência e Cultura (a partir da página 20), a festa na Sala São Paulo (página 16), com a apresentação de Ce-sar Carmargo Mariano e Céline Imbert, e as excepcionais fo-tos dos ganhadores no quesito Arte (página 36), além da tra-dicional biografia de Conrado Wessel (página 8), sempre com novas imagens e informações. Também em outubro a FCW lançará o livro com os trabalhos de todos os fotógrafos finalistas, uma referência no setor. u

Na concessão do prêmio de Arte, a comissão julgadora é formada por fotógrafos e pu-blicitários de renome interna-cional, vinculados à Associação dos Profissionais de Propagan-da, revista About, Biblioteca Nacional, Fundação Arman-do Álvares Penteado, Fotosite, Museu da Imagem e do Som e Universidade de São Paulo.

Além da premiação, o apoio às instituições parceiras tornou a fundação uma participante obrigatória no fomento à pes-quisa e à divulgação da ciência. O Prêmio Almirante Álvaro Al-berto, do CNPq, é patrocinado pela FCW, que também conce-de nove bolsas complementares no exterior para os ganhadores dos Grandes Prêmios Capes de Teses e uma bolsa de graduação em música, de quatro anos, na Universidade de Indiana (EUA). Com a ABC, bancou cinco edi-ções anuais dos Anais da Aca-demia Brasileira de Ciências e

Para conceder os prêmios de Ciência e Cultura, a fundação mantém os seguintes parcei-ros, responsáveis pelas escolhas: FAPESP, Academia Brasileira de Ciências (ABC), Acade-mia Brasileira de Letras (ABL), Coor denação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Comando Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A partir de 2010, a Academia Nacional de Medicina e o Con-selho Nacional de Funda ções Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) se tornarão parceiros. Integram ainda a Comissão Jul-gadora representantes dos mi-nistérios da Agricultura, da Cul-tura, da Ciência e Tecnologia, da Educação, do Meio Ambiente, da Saúde, da Pesca e da Defesa (por meio da Marinha).

Cerca de 900 pessoas acompanharam a cerimônia de premiação e a apresentação musical

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Os caminhos que Conrado Wessel percorreu para desenvolver um novo papel fotográfico

Rumos de um inventor

O certificado da Casa Beis-sner & Gottlieb, de Viena,

documentou no dia 8 de feve-reiro de 1913 o estágio profis-sional obrigatório realizado por Conrado Wessel, na conclusão de seus estudos no Instituto K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt, iniciados em julho de 1911 e concluídos em dezembro de 1912 (ver o documento na página 10). O ob-jetivo maior do inventor Wessel estava no setor de fotoquímica que o instituto mantinha, com especialização em cópias e em clicheria. Sua atenção, porém, visava ao uso do papel, à escolha do mais indicado para cada tipo de emulsão. Ele observava aten-tamente os processos conheci-dos na época para obter o maior proveito dos recursos utilizados nos laboratórios vienenses. Tra-tava-se da permanente pesquisa que culminou com a descober-ta de uma fórmula nova para o banho do papel em 1918.

A fórmula foi descrita na patente obtida em 1921 como “novo processo para fabrica-ção de material photographico, sensível à luz, para o processo positivo e negativo, à base de

emulsões de saes de prata ou gelatina, albumina ou collodio, servindo de supportes para estas emulsões papel, vidro, celluloide ou qualquer outro supporte que seja appropriado” e era o marco final de uma longa trajetória de pelo menos seis anos de pesquisa, mais cinco de aperfeiçoamento da descoberta e expectativa de aprovação oficial. Esse trabalho de Conrado Wessel (1891-1993) teve a ajuda de seu pai, Guilher-me, e o apoio do professor de química da Escola Politécnica Roberto Hottinger.

Wessel decidiu estudar no K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt por este insti-tuto austríaco ser avançadíssi-mo na tecnologia gráfica, es-pecialmente em fotografia. Sua pretensão era aperfeiçoar-se em fotoquímica e clicheria. Quem garantiu os recursos para isso foi o pai, que considerava a cliche-ria um segmento de muita pers-pectiva, tendo em vista que em São Paulo, na época, só existiam três oficinas, todas com máqui-nas e processos primitivos.

Guilherme Wessel era dono da Casa Importadora de Arti-gos para Photographia, aberta

na rua Direita, 20, em 1902, e depois transferida para a rua Lí-bero Badaró, 48, provavelmente em 1905. Filho de pais alemães imigrados para Buenos Aires no século XIX, Guilherme teve seus dois filhos na capital argentina, mas decidiu tentar a sorte no Brasil um ano depois do nascimento de Conrado, em 1892, inicialmente na cidade paulista de Sorocaba. Embora a família Wessel fosse uma tra-dicional fabricante de chapéus em Hamburgo, Alemanha, o pai de Conrado tinha fascínio por fotografia, paixão herdada pelo filho.

Em 26 de dezembro de 1908, a morte do filho mais velho, Georg Walter, auxiliar do pai na loja, leva-o a propor a Conrado assumir o lugar do irmão. O caçula, no entanto, preferiu “trabalhar no ramo fotográfico por conta própria”. Guilherme fechou o estabele-cimento e encerrou a ativida-de comercial. Mas convenceu Conrado a ajudá-lo de outra forma: aperfeiçoar-se na Euro-pa e trazer o equipamento pa-ra ambos trabalharem em casa, com uma clicheria avançada.

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O jovem Conrado Wessel, provavelmente em Viena, onde estudou e estagiou de 1911 a 1914

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Enquanto isso, com o apoio de um amigo, H. Prault, Gui-lherme foi nomeado fotógrafo oficial da Secretaria da Agricul-tura, em 1909.

em meados de setembro de 1911, quando Conrado já

estudava no K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt, ca-sualmente estava no instituto o professor Josef Maria Eder, um especialista em química aplicada à fotografia, fundador do Instituto para Fotografia e Reprodução Técnica, hoje co-nhecido como Höhere Gra-phischen Bundes-Lehr-und Versuchsanstalt. Seu professor havia perguntado se Wessel já trabalhara com chapas secas. Ele disse que sim. Ato contí-nuo recebeu um original para

reproduzir. Eram chapas que Wessel não conhecia, muito rápidas na secagem. Ao obser-vá-las, calculou apenas cinco segundos para a exposição. Quando Wessel mostrou ao professor as reproduções que havia feito, Eder as viu e “disse que estavam muito boas”. A partir disso, os trabalhos mais difíceis, em especial os desti-nados aos livros de Eder, quem passou a fazer foi Wessel. Ga-nhou a confiança do professor, que o convidou a ir aos sá-bados ajudá-lo no laboratório.

Em 1912 ele conseguiu fa-zer um estágio importante em Viena concomitantemente com suas aulas durante o último se-mestre do curso. Suas referências no K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt lhe abriram as

portas de uma das mais impor-tantes empresas especializadas na área de mídia, gráfica e fotogra-fia, a Casa Beissner & Gottlieb. No instituto, cabia-lhe seguir seus professores – na Casa Beis-sner, buscou resultados pessoais melhores, com criatividade, e ela foi seu grande laboratório.

Em carta à família, datada de 14 de novembro de 1912, ele diz: “Hoje eu terminei na Casa Beissner o meu estudo em fotografia (...). Fiz algumas chapas, e ele deu ao copista para copiar, ele copiou em colloidim e saíram umas cópias regulares, porém não o que eu queria. Eu disse ao senhor Beissner que daquelas chapas obteria melhor resultado, pois que eles dese-javam copiar com contrastes, então ele me disse se eu podia fazer seria de grande vantagem. Eles compraram o papel que pedi, isto é: Velox”.

O papel Velox foi escolhi-do por Wessel porque permitia usar luz artificial para revelar a fotografia. A escolha condizia com experiências feitas sepa-radamente, sempre tendo em mira uma nova forma de papel fotográfico. “Fiz umas cópias que ficaram todos contentes

Viena, 8 de fevereiro de 1913.O sr. Conrado Wessel, após ter terminado os estudos gráficos da K.K. Graphischen lehr & Versuchsanstalt, esteve em nosso instituto em atividades práticas desde 10 de julho de 1912 até hoje. trabalhou em diferentes departamentos e obteve sucesso e muitos bons resultados. nós atestamos portanto com satisfação que estamos contentes pelo seu desempenho em cada índice, com extremado respeito por suas realizações, e desejamos a ele o maior progresso no futuro”

"Atestado

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com exceção do copista. O senhor Beissner viu-as e estava todo entusiasmado; chamou o copista e disse: ‘O senhor vê a diferença de um papel para o outro? Antes de o senhor Wessel ir embora é conveniente que aprenda como se fazem estas cópias’”, escreveu Wessel.

depois do período em Viena, ele voltou para São Paulo,

em 1914. Trazia na bagagem do navio as máquinas e ins-trumentos que conseguiu ad-quirir na Áustria, na França e na Alemanha, uma clicheria completa que aqui instalou pa-ra seu pai na rua Guayanases, 139. Wessel, no entanto, logo percebeu que precisava estudar muito mais do que o fizera na Europa. Conseguiu inscrever--se na Escola Politécnica como aluno ouvinte e a cursou entre 1915 e 1919. Lá se tornou ami-go e auxiliar de laboratório de Roberto Hottinger, titular da cadeira de bioquímica, físico--química e eletroquímica do curso de engenharia quími-ca. Hottinger confiava-lhe a preparação do laboratório nas aulas práticas e o incentivava a continuar sua pesquisa.

Passado mais um ano, os resultados já eram suficien-tes para acreditar na fórmula. Como partilhava sempre com o

pai seus trabalhos, este se preo-cupou em patentear o inven-to o quanto antes, assim que a “fórmula” original se definisse, não obstante fosse necessário ir aperfeiçoando-a. Já em 10 de novembro de 1916 seu pai consultava a empresa Interna-tional Patent Agency, de Moura & Wilson, “agentes de privilé-gios” do Rio de Janeiro, para informar-se sobre como reque-rer a patente. Em 13 de novem-bro de 1916 a Moura & Wilson responde. A empresa se dispõe a se encarregar de requerer o privilégio desde que fossem re-metidos, já preparados, “todos os papeis, como sejam relato-rio, desenhos, etc., mediante a quantia de Rs 220$000”. É pro-metido “um abatimento de Rs 30$000” sobre o preço usual.

No final de 1920 já fabrica-vam o novo papel com sucesso e originalidade. No dia 19 de fevereiro de 1921 foi deposi-tado o “pedido de privilégio” no Ministério da Agricultura. E no início de maio de 1921 o ministro da Agricultura despa-chou favoravelmente o pedido. Em 26 de outubro de 1921 Epi-tácio Pessoa, então presidente da República, assinou a carta-pa-

tente do novo papel fotográfico – no mesmo ano Wessel insta-lou a fábrica de papéis fotográ-ficos na rua Lopes de Oliveira, 198. A caminhada para o total sucesso do empreendimento ainda não estava terminada. O inventor teve de aperfeiçoar a produção até conseguir um pa-pel confiável para o mercado e vencer a resistência inicial dos fotógrafos, seus clientes poten-ciais, o que ocorreu em defini-tivo a partir de 1924.

Uma vez ultrapassados os obstáculos, a produção cresceu o suficiente para que fosse com-prado um prédio maior para a fábrica. Wessel começou a ser assediado por empresas estran-geiras até que em 1949 o in-ventor e empresário firmou um contrato com a Kodak garantin-do para ela quase a totalidade de sua produção por muitos anos com o nome Kodak-Wessel. A partir de 1954 a patente pas-sou definitivamente à compa-nhia norte-americana. Naquele momento o pioneiro da indús-tria nacional já havia consoli-dado seu patrimônio, a raiz das ações que a Fundação Conrado Wessel desenvolve a favor da ar-te, da ciência e da cultura. u

Com a máquina de papel fotográfico e ao lado do carro: perseverança e sucesso

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Os ganhadores do Prêmio FCW de Arte, Ciência e Cultura de 2002, ano da primeira edição, até

2008 têm alguns pontos em comum. Os laureados em Ciência, por exemplo, são reconhecidos tanto pela alta competência nas áreas que dominam quanto pelo fato de terem contribuído para o Brasil enfrentar – e, em muitos casos, vencer – desafios. Em Cultura, escritores consagrados com uma obra sólida, conhecida também no exterior. Por fim, em Arte, autores de fotos extre-mamente criativas que se situam na fronteira entre a publicidade e a arte. Está claro que essas personalidades escolhidas não foram reunidas ao acaso. Os contem-plados são sempre indicados pelas sete instituições parceiras da FCW (ver na página 44) e cerca de 150 outras entidades afins, como universidades, institutos de pesquisa e academias.

Até 2008 foram premiados 56 cientistas, escritores e fotógrafos. Por área são 24 em Arte, 6 em Ciência Geral, 14 em Ciência Aplicada, 6 em Medicina, 6 em Cultura (Literatura). Algumas observações podem ocorrer quando se comparam as áreas, a respeito de sua quantidade desigual, procedência, divisão etc. Primeiro: há um núme ro maior em Arte e em Ciência Aplicada e um número menor igual nas outras três áreas. Se-gundo: considerando a Ciência de modo abrangente com a in clusão da Medicina, há um total de 26 nomes, o maior grupo. Terceiro: no campo da Arte há um grande número de nomes profissionais de uma única área, a Fotografia. Quarto: no campo da Cultura há nomes apenas do segmento Literatura.

Cada reparo desses tem sua justificativa no con-junto de critérios adotados pela FCW e suas parceiras,

FCW já premiou elenco de biografias importantes para o país

Contribuição e reconhecimento

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Fulvio Pileggi Iván Izquierdo

Leopoldo de Meis Hisako Higashi

Ariano Suassuna Ivo Pitanguy

Ernesto Paterniani Affonso Ávila

ganhadores de 2008 e de 2007: alta competência

2008 2007

para definir as áreas a premiar e os respectivos vencedores. Em Arte, por exemplo, a área escolhida é a fotografia pro-fissional; as modalidades são a Fotografia Publicitária e o En-saio Fotográfico (em duas sub-categorias, publicado e inédito). Nessa categoria houve uma es-colha exclusiva da FCW para homenagear de forma perene seu instituidor, que era um ex-celente fotógrafo profissional, publicitário, cinegrafista e in-dustrial pioneiro da fotografia na América Latina. Quanto ao total de premiados, 24, a expli-cação é que ganham de três a quatro fotógrafos por ano.

na categoria Ciência, ca-be um esclarecimento. A

Ciên cia Aplicada tem algumas subáreas, como Água, Campo, Meio Ambiente, Tecnologia, Biotecnologia, Nanotecno-logia. Às vezes, no ano, a co-missão julgadora define até três vencedores. Daí o total de 13. É oportuno conferir que a partir de 2006 já se verifica certa estabilidade, com qua-

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tro vencedores em Arte, três em Ciência e um em Cultura. Resta esclarecer que, realmen-te, até o momento o Prêmio FCW de Cultura foi atribuído apenas ao segmento Literatura. A fundação, entretanto, sem-pre informou que o prêmio de Cultura vem sendo destinado à Literatura temporariamente, os outros segmentos do mesmo setor também serão agraciados. A comissão julgadora e a co-missão de busca da FCW terão seu momento de escolha nessa outra linha.

As informações acima não traduzem, porém, a grandeza oculta nas extraordinárias bio-grafias de pesquisadores e escri-tores que se revelam ano a ano como suporte do desenvolvi-mento nacional. Haja vista Iván Izquierdo, ganhador de 2007, autor de estudos essenciais para se entender a memória; Sérgio Mascarenhas (2006), dissemi-nando conhecimento e oportu-nidades na pesquisa e educação em física; César Victora (2004), cujas pesquisas ajudam a moldar políticas públicas; Isaias Raw (2004), responsável pela dimen-são produtiva do Instituto Bu-tantan; e também Adib Jatene (2005); e Carlos Henrique de Brito Cruz (2003).

Cometemos, sem dúvida, injustiça ao não nos apro-

fundar na citação de Wanderley de Souza, Maria Inês Schmidt, Alberto Franco, Dieter Muehe, Philip Fearnside, Aziz Ab’Sáber, José Galizia Tundisi, Aldo Re-bouças, Jairo Vieira, Luiz Carlos Fazuoli, Carlos Nobre, Magno Ramalho, Ivo Pitanguy e o excepcional Ricardo Brenta-ni. Todos já tiveram suas bio-grafias pinceladas nas edições de anos anteriores de Pesquisa FAPESP. Na presente publica-ção serão retratados os ganha-

dores de 2008, Leopoldo de Meis, Fulvio Pileggi, Ernesto Paterniani e, em Cultura, Aria-no Suassuna. Renomados, esses cientistas orgulham o cidadão brasileiro pelo que fazem e têm feito, formando a galeria FCW junto com os literatos Ferreira Gullar, Lya Luft, Ruth Rocha, Fábio Lucas e Affonso Ávila; e Gustavo Lacerda, Tiago San-tana, Maurício Nahas, Bob Wolfenson, Klaus Mitteldorf, Lalo de Almeida, José Luiz Pederneiras, André François, Francilins Castilho Leal e Jú-lio Bittencourt, artistas êmulos

do fotógrafo Ubaldo Conrado Augusto Wessel.

A análise dessas biografias responde a um só vencedor, o beneficiário de seus esforços e suas conquistas, o nosso país. Quando recebem, como pe-queno reconhecimento a seu talento, prêmios da ordem de R$ 200 mil e uma escultura do artista plástico Vlavianos, iden-tificam nas lâminas do Troféu FCW a emblemática energia que os irmana aos destinos da Fundação Conrado Wessel, cujo nome é indicativo de pioneiris-mo nacional. u

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Os vencedores em seis categorias entre 2003 e 2006

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2003 2004 2005 2006

Brito Cruz

Maria Inês Schmidt

Jairo Vieira

Lya Luft

Dieter Muehe

Philip Fearnside

Isaias Raw

César Victora

Ferreira Gullar

Alberto Franco

Adib Jatene

Luiz Carlos Fazuoli

Fábio Lucas

José Galizia Tundisi

Aziz Ab’Sáber

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Sergio Mascarenhas

Aldo Rebouças

Ricardo Brentani

Ruth Rocha

Carlos Nobre

Magno Patto Ramalho

Wanderley de Souza

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1 Leopoldo de Meis (ganhador de Ciência Geral), Jacob Palis (presidente da ABC), Celso Lafer (presidente da FAPESP), Reinaldo Nahas (conselheiro da FCW), Marcos Moraes (presidente da ANM) e Erney Plessman de Camargo (presidente da Fundação Zerbini); 2 major Kleber Danúbio (conselheiro da FCW), Ricardo Paterniani, José Euclides Paterniani, Marco Antonio Zago (presidente do CNPq), Carlos Vogt (secretário estadual de Ensino Superior), brigadeiro Maurício Pazzini Brandão; 3 Protásio Lemos da Luz, Roberto Kalil Filho, Fulvio Pileggi (ganhador de Medicina), Renata Caruso Fialdini (presidente do júri de Medicina) e Ricardo Brentani (diretor presidente da FAPESP)

Américo Fialdini Jr., diretor presidente da FCW, em seu discurso de abertura

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A s cerca de 900 pessoas presentes na Sala São Paulo, centro da capital paulista, tiveram uma noite bastante agradável no

dia 1º de junho. Depois de assistir à cerimônia dos ganhadores do Prêmio FCW de Arte, Ciência e Cultura, puderam desfrutar da bela voz da cantora Céline Imbert, acompanhada pelo sempre competente piano de Cesar Camargo Mariano. Em uma das salas, todos puderam conhecer as fotos não só dos vencedores nas três categorias de Arte (Foto Publicitária, Ensaio Fotográfico Publicado e Ensaio Fotográfico Inédito), como dos demais finalistas. Foi um banquete para mente, ouvidos e olhos.

Um espaço para o mérito

Antonio Bias Bueno Guillon, presidente do Conselho Curador da FCW, abre a cerimônia

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1 André François (1º lugar Ensaio Fot. Publicado), Sérgio R. de Figueiredo S. e Marchese (vice- -presidente da FCW) e Antonio Bias Bueno Guillon; 2 José Caricatti (superintendente da FCW), Francilins Castilho Leal (2º lugar Ensaio Fot. Publicado) e Américo Fialdini Júnior; 3 Stefan von Gallen (conselheiro da FCW), José Luiz Pederneiras (1º lugar Foto Publicitária) e Airton Grazzioli (Ministério Público);

4 Rubens Fernandes Jr. (coordenador do prêmio de Arte), Júlio Bittencourt (1º lugar Ensaio Fot. Inédito) e José Eduardo Sabo Paes (presidente da Profis); 5 Celita Procopio de Carvalho (presidente do júri de Cultura), Domício Proença (ABL), Ariano Suassuna (ganhador de Cultura), ministro Ricardo Lewandowski, Jorge Guimarães (presidente da Capes) e José Caricatti; 6 Público na exposição de fotos

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7 Carlos Nobre (Inpe), coronel Marco Antonio Sala (CTA) e esposa e brigadeiro Maurício Pazzini Brandão; 8 Fulvio Pileggi, Jacob Palis,

Leopoldo de Meis e Jorge Guimarães; 9 José Eduardo Sabo Paes, Antonio Bias Bueno Guillon, Ricardo Lewandowski e Airton Grazzioli

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No final dos anos 1950, quando co-meçou a estudar medicina e ima-

ginava tornar-se um grande cirurgião, Leopoldo de Meis atendeu, involunta-riamente, a um chamado da ciência que moldou sua trajetória acadêmica. O he-matologista Walter Oswaldo Cruz, filho do lendário Oswaldo Cruz, abriu um processo seletivo para escolher estagiá-rios no laboratório do famoso instituto que leva o nome de seu pai. De Meis tinha pouco interesse pela disciplina, mas precisava muito de dinheiro e o salário oferecido, o equivalente a US$ 200 mensais, era muito atraente. A pri-meira fase da seleção, feita na casa de Walter, deixou o segundanista De Meis intrigado. Consistia em olhar para uma série de cartuns publicados na revista norte-americana New Yorker e explicar ao mestre onde estava a graça da piada. Chamado para a segunda fase, agora no laboratório do Instituto Oswaldo Cruz, o jovem candidato deparou-se com um desafio concreto: deveria dizer para que serviam equipamentos usados no labora-tório. Sem nenhuma familiaridade com eles, De Meis foi sincero e avisou que não sabia. Walter Oswaldo Cruz não pareceu surpreso e disse: “Bem, então adivinhe”. O jovem de 19 anos arriscou--se, e foi um dos quatro selecionados, provavelmente por reunir duas qualida-des que o professor via necessárias em seus discípulos: ter humor e curiosidade.

Pode-se dizer que tais qualidades jamais faltaram a Leopoldo de Meis, de 70 anos. Médico formado pela Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desistiria ainda nos primeiros anos de curso do projeto de ser cirur-gião (a repetição dos procedimentos lhe dava sono), substituindo-o tran-sitoriamente pela medicina clínica – também abandonada após o encontro com Walter Oswaldo Cruz, com quem trabalharia até 1964. “Um fato penoso de admitir é que foi a ganância do esti-pêndio, e não o despertar da faceta inte-lectual da minha personalidade, que me levou ao seu laboratório”, diz Leopoldo de Meis. Vocacionado para o trabalho de bancada, De Meis, hoje professor emé-rito do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, tornou-se um pesquisador dos mais respeitados em sua área, publicando nas mais importantes revistas científicas internacionais da disciplina.

Suas linhas de pesquisa são os me-canismos de transdução de energia em sistemas biológicos, transporte ativo de íons e síntese e hidrólise de ATP (adeno-sina trifosfato), nucleotídeo responsável pelo armazenamento de energia em suas ligações químicas. Oitenta por cento de seu tempo é consumido, ainda hoje, pe-lo laboratório, mas a multiplicidade de seus interesses tornou-o uma referência também em áreas como a sociologia da ciência – fez estudos pioneiros sobre o

Leopoldo de Meis deu contribuições valiosas para a bioquímica, a sociologia da ciência e a educação científica

Bom humor e curiosidade

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na época na linha de pesquisa que os projetou internacio-nalmente, o metabolismo das poliaminas, moléculas regu-ladoras do desenvolvimento presentes em plantas, animais e microrganismos. A princípio, De Meis sentiu-se intimidado com aquele ambiente fervi-lhante e considerou seu rendi-mento aquém das expectativas que fizera. “Apesar disso, foi no laboratório dos Tabor que realmente aprendi o que era bioquímica e foi na cafeteria do NIH que descobri os vas-tos horizontes das ciências bio-médicas”, recorda-se ele. Mais tarde, o pesquisador determi-naria o papel de duas poliami-nas (espermina e espermidina) no relaxamento muscular. No estudo dessas substâncias, sur-giram questionamentos sobre o transporte de cálcio dessas células que serviram de mote para uma sequência de estudos.

Adeposição do presidente João Goulart e o início do

regime militar em 1964 provo-caram ondas de choque no am-biente acadêmico em que De Meis trabalhava. Um mês após seu retorno dos Estados Unidos, foi chamado para um interro-gatório na Marinha e indagado se sabia de reuniões comunistas mantidas no departamento de Walter Oswaldo Cruz às quar-tas-feiras. Chocado, De Meis informou que as reuniões de quarta eram para a discussão de trabalhos científicos. O oficial sugeriu que lesse um relató-rio feito pelo novo diretor do instituto, repleto de acusações infundadas contra cientistas, em especial Walter Oswaldo Cruz.

A progressiva deterioração do ambiente no instituto, que levaria a um grande expurgo de pesquisadores um ano mais tarde, levou De Meis a trocar

trabalho dos pesquisadores no Brasil – e sobretudo a educa-ção científica, arregimentando adolescentes de áreas carentes para cursos que tratam a ciên-cia de uma forma agradável ou produzindo materiais didáticos, como livros ilustrados e DVDs.

À curiosidade, que o levou a trilhar esses caminhos, soma-se o bom humor exigido pelo fi-lho de Oswaldo Cruz. De Meis é um carioca de gestos largos e fala coloquial que pouco tem a ver com a imagem sisuda que muitos leigos fazem dos cientistas. Nascido no Egito e criado em Nápoles, na Itália, o

pesquisador mudou-se para o Rio de Janeiro quando tinha 9 anos, em decorrência da bus-ca de seu pai, um violoncelista napolitano, por melhores con-dições de vida no pós-guerra. Aos 18 anos, teve de escolher uma nacionalidade, e optou pe-la brasileira à italiana e à egípcia.

Assim que encerrou o cur-so de medicina, aos 24 anos, passou 18 meses nos Estados Unidos, ao obter uma bolsa nos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), na cidade de Bethesda. Trabalhou no laboratório de Herbert e Celia Tabor, que já atuavam

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o pesquisador: um carioca nascido no Egito e criado na Itália

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de emprego. Ele se transferiu para o Instituto de Biofísica da UFRJ, dirigido na época por Carlos Chagas Filho, cujo re-nome e habilidade diplomática protegeram o ambiente acadê-mico da ingerência militar. Foi nessa época que De Meis co-nheceu a geóloga Regina, com quem se casaria e teria quatro filhos, “minhas melhores con-tribuições à biologia”, como ele gosta de dizer.

Em agosto de 1969 De Meis foi procurado pelo então

presidente da Academia Brasi-leira de Ciências, Aristides Pa-checo Leão. Ele sugeriu que De Meis deixasse o país, pois sou-bera que ele e a mulher estavam na mira dos militares. De Meis e Regina começaram a enviar currículos para instituições dos Estados Unidos e da Europa e, diante de várias respostas posi-tivas, optaram por passar uma temporada em Heidelberg, na Alemanha. Lá havia espaço para Regina integrar-se a um grupo de geomorfologia na univer-sidade local e De Meis a uma unidade do Instituto Max Planck. Ele foi trabalhar com Wilhelm Hasselbach, chefe do instituto, que havia descoberto a bomba de cálcio do muscu-loesquelético em colaboração com Madoka Makinose. Depois de um ano e meio na Alema-nha, De Meis soube por amigos que já era seguro voltar. E re-tornou ao Rio de Janeiro.

Foi depois da estada na Ale-manha que o pesquisador pro-duziu uma de suas mais destaca-das contribuições à bioquímica, no âmbito da síntese do ATP (adenosina trifosfato): a desco-berta da formação da fosfoenzi-ma de baixa energia. Em 1971, Hasselbach e Makinose haviam publicado trabalhos mostran-do que, quando se formava um

gradiente (fonte de energia) de íons de cálcio (Ca2+), a enzima ATPase inserida no retículo sar-coplasmático do músculo podia usar a energia derivada do gra-diente para sintetizar a adeno-sina trifosfato a partir de ADP (adenosina difosfato) e fosfato.

De Meis e seu aluno de mestrado Hatisaburo Masu-da decidiram reproduzir uma experiência feita por Madoka Makinose, a fosforilação de uma enzima por fósforo inorgâni-co (Pi), que utilizava a mesma energia derivada do gradien-te. A experiência era simples de fazer com vesículas carre-gadas de íons de cálcio. Mas em seguida, como controle, a dupla decidiu utilizar vesícu-las permeabilizadas com éter etílico. Como não havia ne-nhuma fonte de energia dis-ponível, não se esperava que as vesículas fossem fosforiladas, mas isso aconteceu. “Surpre-endentemente, encontramos um pequeno mas significante nível de fosforilação, aproxi-madamente um décimo do que podia ser medido com as vesículas carregadas de íons de cálcio”, disse De Meis. O tra-balho dos dois brasileiros, De

Meis e Masuda, foi publicado em 1973, mesmo ano em que Paul Boyer obteve resultados parecidos, mas com a enzima da mitocôndria F1-Fo, que corroboravam a descoberta. Depois de ler o trabalho, De Meis escreveu a Boyer, que ganharia o Prêmio Nobel de Química de 1997. Disse que não havia citado o trabalho porque seu artigo já tinha pas-sado pelas provas tipográficas. Da correspondência brotou uma profícua colaboração, com visitas de Boyer ao Rio.

Em 1978 Leopoldo de Meis prestou concurso para professor titular da UFRJ, que à época significava chefiar o Departa-mento de Bioquímica, e venceu um colega mais velho. A expe-riência de médico lhe foi valio-sa: uma das provas consistia em colher sangue de um voluntário e fazer uma eletroforese e o ad-versário, sem experiência mé-dica, teve enorme dificuldade de cumprir a tarefa. Renovou os quadros do departamento e permaneceu como chefe por seis anos, repassando as tarefas burocráticas aos colegas e vol-tando a dedicar-se ao trabalho de bancada.

Livros ilustrados buscam tornar mais atraente o ensino de ciências

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A atividade com os estu-dantes mostrou-lhe a neces-sidade de produzir material didático atraente para o en-sino de ciên cias. Em parceria com o cartunista Diucênio Rangel, já preparou dois livros ilustrados: O método científico e A respiração e a primeira lei da termodinâmica. O método científico tornou-se peça de teatro, na qual o próprio De Meis atuou. Seu trabalho mais recente são filmes de animação.

Aposentado em 2008, De Meis tornou-se professor emérito da UFRJ e continua a trabalhar normalmente em seu laboratório. Não pensa em parar e continua se envolvendo em pesquisas científicas. Uma delas é a gordura marrom, te-cido especializado que, quando estimulado, dissipa muita ener-gia na forma de calor. Leva esse nome porque é repleto de mi-tocôndrias, as usinas energéticas das células, que são marrons.u

cias envolvendo temas como a fotossíntese ou a contração muscular, cujos resultados fo-ram apresentados no final, para discussão. Os resultados foram tão animadores que o curso foi ampliado para vários grupos de alunos, selecionados preferen-cialmente em escolas públicas. Atualmente são organizados pe-los alunos de doutorado do Ins-tituto de Bioquímica. Os alu-nos que se destacam no curso, assim como alguns de seus pro-fessores de escolas públicas, são convidados para estagiar no la-boratório, ajudando estudantes de pós-graduação e ganhando familiaridade com o ambiente acadêmico. Mais de 2,5 mil alu-nos e 800 professores já parti-ciparam dos cursos. Dos alunos selecionados para trabalhar no laboratório, cerca de 20 já che-garam à universidade. “Alguns de meus melhores alunos de doutorado começaram nesses cursos”, orgulha-se De Meis.

Em 1987, livre dos trabalhos administrativos, começou a se envolver com novas atividades. Uma delas foi a cienciometria, disciplina que busca gerar in-formações para estimular a su-peração dos desafios da ciência, tornando-se um dos primeiros pesquisadores a medir o impac-to da produção científica na-cional. Em 1996, ele e Jacque-line Leta, professora da UFRJ, publicaram o livro O perfil da ciência brasileira, análise da pro-dução científica do país que discute seu impacto, qualidade e distribuição regional.

opesquisador desenvolveu também um interesse

perene pelo ensino de ciências nas escolas. O início do proces-so foi um curso experimental para jovens estudantes que De Meis organizou nas férias de verão, em 1987. Durante uma semana, um pequeno grupo de estudantes planejou experiên-

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Quando terminou o ginásio na primeira metade dos anos 1940,

o paulista Fulvio Pileggi deixou sua ter-ra natal, São Carlos, e foi fazer o antigo curso científico na capital do estado. Es-tudou no conhecido Colégio São Bento e de lá saiu em 1947 para perseguir uma carreira que não contava com nenhum representante na família: a medicina. “Entrei em terceiro lugar na USP”, re-lembra Pileggi, hoje com 82 anos, que se aposentou em 1997, depois de ter sido professor titular de cardiologia na universidade por duas décadas e diretor- geral do prestigiado Instituto do Cora-ção (InCor) do Hospital das Clínicas (HC) por 17 anos, mas continua ativo em seu consultório particular. “Naque-la época, o vestibular durava um mês, com provas orais e escritas.” Ao tomar contato no quarto ano do curso com trabalhos na área de eletrocardiografia, o então jovem aspirante a médico logo pendeu para a especialidade clínica que o consagraria como um dos mais respei-tados cardiologistas do Brasil. Em 1952 concluiu a faculdade e iniciou uma longa e produtiva carreira de sucesso, marcada pela associação íntima entre a prática médica, a ciência e a adminis-tração hospitalar.

Depois de graduado, Pileggi fez in-ternato e residência médica no próprio

HC, mas, patrocinado por uma bolsa da Fundação Rockefeller, especializou-se no exterior. Seu destino foi o Instituto Nacional de Cardiologia do México, um dos mais importantes centros dessa especialidade médica nos anos 1950, que reunia dois expoentes da crescente área de eletrocardiografia, os professores De-metrio Sodi Pallares e Enrique Cabrera. “A eletrocardiografia era difícil, mas eu gostava de física e matemática, o que me ajudava nesse campo”, conta Pileggi. O brasileiro permaneceu quatro anos em terras estrangeiras e ganhou a confiança de Cabrera, com quem publicou artigos científicos de extrema relevância para a eletrocardiografia em importantes re-vistas internacionais. “Eles ficaram tão amigos que, quando Cabrera viajava, quem tomava conta do serviço de car-diologia era Pileggi, e não os alunos e os assistentes do mexicano”, comenta o oncologista Ricardo Renzo Brentani, amigo do cardiologista. “Pileggi é um cardiologista completo e foi ele quem estabeleceu as bases da eletrocardiografia no Brasil.”

De volta a São Paulo, foi trabalhar com a equipe do professor Luiz Venere Décourt, chefe do então Serviço de Cardiologia Clínica do HC, um centro que atraía médicos de toda a América Latina em busca de especialização nas

Fulvio Pileggi ajudou a implementar a eletrocardiografia no Brasil e consolidou o InCor como um centro de excelência

O amigo do coração

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doenças do coração, um cam-po que começava a ganhar corpo na medicina. Ao lado de Euryclides de Jesus Zerbi-ni, na época chefe do Serviço de Cirurgia Cardíaca do HC, Décourt, que tinha um perfil mais discreto e morreria em maio de 2007 aos 95 anos, foi um dos artífices da criação em 1963 do embrião do InCor, denominado inicialmente Ins-tituto de Doen ças Cardiopul-monares. O próprio Pileggi – discípulo de Décourt, de quem herdou os traços de austeridade – e outros cardiologistas de pe-so como Radi Macruz e Del-mont Bittencourt não só assis-tiram, mas também participa-ram do processo de unificação das áreas clínica e cirúrgica do InCor. “Naquele tempo con-távamos com cerca de 40 leitos na cardiologia e já achávamos que a universidade deveria ter um centro de excelência nessa área, juntando ensino, pesquisa e a parte de atendimento à po-pulação”, afirma Pileggi, que também em 1963 concluiu seu doutorado. Desde então a car-diologia brasileira não parou de

Os múltiplos talentos de Pileggi: clínico, pesquisador e administrador

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crescer – e o InCor, hoje com 535 leitos, tornou-se o maior expoen te da área e uma inspi-ração para outros centros que foram sendo criados pelo país.

Não seria exagero dizer que a consolidação do InCor

como centro de referência em cardiologia ocorreu durante a longa passagem de Pileggi pelo comando da instituição. Depois de obter todos os títu-los de professor de cardiologia na Faculdade de Medicina da USP, inclusive o de titular da especialidade em 1977, ele se tornou diretor-geral do InCor em 1981, posto que deixou apenas em 1997. Sem abrir mão de ser um cardiologista clínico de primeira linha e também um pesquisador invejável (publicou 488 artigos em revistas científi-cas nacionais e 233 em perió-dicos internacionais), Pileggi se notabilizou como um homem de grande visão administra-tiva. “Considero-o o maior responsável pela formação da notável instituição que é hoje o InCor”, diz o cardiologista Protásio Lemos da Luz, que tra-balhou com Pileggi por mais de 20 anos e é hoje diretor da Unidade de Aterosclerose do instituto. “Era um líder natu-ral, um grande médico, tanto pelo conhecimento como pe-lo humanismo. Ele teve uma visão administrativa avançada para a instituição. Estimulou a criação de equipes técnicas de excelência. Trouxe ciência para

o InCor, através da contratação de pesquisadores em áreas bási-cas. Formou vários médicos e pesquisadores da maior quali-dade.” Brentani complementa o comentário de Protásio: “Sua grande capacidade administra-tiva tinha a ver com o fato de estar sempre presente no InCor. Ele sabia o que o médico estava falando e o que era necessário para a instituição”.

A habilidade gerencial de Pileggi implementou de fato a missão da Fundação Zerbini, uma entidade de direito pri-vado criada em 1978 para dar suporte financeiro ao InCor. Inaugurada em 1977, a sede da instituição fez com que o setor de cardiologia do HC

ganhasse vida própria, sem, no entanto, deixar de atuar em si-nergia com todo o hospital uni-versitário da FMUSP. Mas era preciso garantir bons médicos em tempo integral, aparelhar de forma moderna todo o instituto e ter verba para a pesquisa e o ensino. “Começamos a pagar os médicos e funcionários tão bem quanto os melhores hos-pitais privados como forma de mantê-los no InCor”, conta Pileggi, que nunca se furtou a manter contatos estreitos com autoridades em nível estadual e até federal em busca de res-paldo material e financeiro ao grande centro de cardiologia. Com o suporte econômico e a agilidade burocrática propicia-

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pesquisas do setor. Cotidiana-mente lê trabalhos científicos publicados nas revistas especia-lizadas. Também encontra tem-po para reler livros de autores que o encantaram na juventu-de, como Dostoiévski e H.G. Wells, e obras sobre a Segunda Guerra Mundial, uma de suas paixões. “Gosto muito de es-tudar a vida dos grandes gene-rais, como MacArthur, Patton e Rommel”, afirma o cardiolo-gista, que também é um grande apreciador de vinhos. Fora da medicina, outro tema que o entusiasma é falar do Palestra Itália, denominação que ainda usa para se referir ao Palmeiras, seu clube do coração. Casado, Pileggi teve quatro filhos, dois homens e duas mulheres, mas nenhum deles seguiu a profissão do pai. Até o time de futebol é outro. Os homens torcem para o Santos. u

de uma ponta de orgulho ao lembrar que deixou a direção geral do InCor em 1997 com 280 leitos (quando assumira as rédeas do instituto havia 40) e um caixa superavitário. “Mui-tos no exterior, como a revista (médica) The Lancet, reconhe-ceram a excelência do InCor”, comenta Pileggi. Apesar do enorme prestígio no meio aca-dêmico e médico, o veterano cardiologista sempre foi avesso a badalações. “Nunca gostei de aparecer em televisão, de fazer marketing”, afirma, com seve-ridade.

Mesmo aposentado da fa-culdade, com todo o seu tem-po de trabalho, geralmente as tardes, dedicado ao consultório particular na capital paulista, Pi-leggi não perde os antigos há-bitos. Ainda estuda cardiologia com afinco, sempre em busca das mais recentes novidades e

dos pela Fundação Zerbini, o InCor pôde destinar 10% dos leitos para pacientes de convê-nios privados ou clientes parti-culares, que pagavam pelos bons serviços prestados pelos cardio-logistas da instituição, e atender 90% de sua clientela de forma gratuita, por meio do sistema público de saúde. O flexível modelo gerencial, que sofreu duras críticas quando começou a ser implantado, hoje se tornou uma referência para fundações e mantenedoras de hospitais pelo Brasil afora.

talvez mais do que ninguém, Pileggi sabe que o InCor é

uma obra coletiva, que alcan-çou seu padrão de qualidade porque muitos homens, cardio-logistas como ele, sonharam o mesmo sonho antes e depois de sua passagem pelo comando da instituição. Mas ele não escon-

Na gestão de Pileggi o número de leitos do InCor aumentou sete vezes

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Uma vida devotada ao trabalho, ao qual se dedicou com persistência

e paixão. É assim que o professor Er-nesto Paterniani, um dos mais respeita-dos pesquisadores brasileiros na área de seleção e melhoramento genético em milho, morto em 18 de junho de 2009, aos 81 anos, é lembrado por seus pares. “Muitos programas de melhoramento no Brasil hoje são coordenados por ex--alunos dele”, diz o professor Roland Vencovsky, do Departamento de Gené-tica da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, que trabalhou e conviveu com o pesquisador durante quase 50 anos. Paterniani orientou 33 alunos de iniciação científica, 30 de mestrado e 13 de doutorado. “Muitos desses alunos foram depois lecionar em outras escolas ou trabalhar em empresas particulares na área de melhoramento genético em milho e outros produtos”, relata. Pater-niani desenvolveu em colaboração com Vencovsky o trabalho Seleção recorrente re-cíproca baseada em progênies de meios irmãos e plantas prolíficas de milho (Zea mays L.), ganhador em 1978 de prêmio concedi-do pela Fondazione Tito V. Zapparoli, da Itália, em concurso internacional de pesquisas originais com milho. O pes-quisador publicou 40 revisões didáticas,

95 resumos, 20 trabalhos no Brasil e 18 no exterior. Além de ter participado de 80 congressos e reuniões científicas na-cionais e 36 internacionais.

Paterniani foi professor do Departa-mento de Genética da Esalq, onde lecio-nava genética, melhoramento de plantas e técnicas de experimentação agrícola, desde 1952 até 1998, quando se aposen-tou aos 70 anos. Mas nunca abandonou a carreira de pesquisador. “Mesmo tendo se aposentado formalmente, ele não parou de trabalhar até o último dia da sua vida, tanto na Esalq como em outras institui-ções”, recorda o professor Joaquim José de Camargo Engler, diretor administra-tivo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e ex--diretor da Esalq. Engler tece elogios ao mestre de quem foi aluno na turma de 1961: “Ele demonstrava grande compe-tência, um profundo conhecimento da matéria aliado a uma didática excelente”. Depois de formado, Engler estreitou essa convivência, já que também passou a dar aulas na universidade. “Fomos compa-nheiros de trabalho também na comissão de pós-graduação da Esalq, que ele pre-sidiu por quatro anos”, diz Engler, que o sucedeu no cargo.

Paulistano nascido no bairro do Bom Retiro em 1928, Paterniani

Ernesto Paterniani foi pioneiro em técnicas de seleção e melhoramento genético do milho

Devoção à genética

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da Esalq um banco de germo-plasma de milho, mantido por ele durante 17 anos. Para criar esse banco o pesquisador fez vá-rias viagens de coleta visitando agricultores, reservas indígenas e países vizinhos ao Brasil, co-mo o Paraguai. Com a criação da Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária (Embrapa) em Brasília, esse banco foi en-viado à sua unidade de Recur-

era filho de imigrantes italianos que desembarcaram no Bra-sil para trabalhar nas lavouras de café. Quando tinha 1 ano de idade seus pais mudaram--se para Piracicaba, no inte-rior paulista, para assumir o comando de um armazém de secos e molhados da família. A facilidade para aprender ma-temática e álgebra quase o le-vou a estudar engenharia civil. Mas a situação familiar da época fez com que optasse pela enge-nharia agronômica. E com isso a pesquisa brasileira ganhou um dedicado mestre da genética. Vocação despertada assim que ingressou na Esalq, em 1947. E que o levou ao final do cur-so, em 1950, a ser contemplado com uma bolsa da Fundação Rockefeller para agrônomos recém-formados estagiarem no Programa Agrícola Mexicano. Foi no México, em 1951, que Paterniani iniciou seus traba-lhos de melhoramento genético do milho. Ao voltar para o Bra-sil, no ano seguinte, começou a dar aulas na Esalq e desde então sempre trabalhou em institui-ções públicas, desenvolvendo uma carreira reconhecida in-ternacionalmente.

“As atividades de Paterniani em relação ao melhoramento genético do milho podem ser divididas em duas partes”, diz Vencovsky. A primeira é a pro-dução ou criação de variedades novas de milho, que chegaram até o produtor rural. Entre as variedades de milho melho-radas que desenvolveu estão Piramex, Pérola Piracicaba, Piranão e Centralmex, entre muitas outras. Ele também conduziu pesquisas para ob-tenção de milho sacarino com alto teor de açúcar no colmo. A outra parte das atividades do geneticista está relacionada aos métodos de seleção para obter novas variedades. Desenvolveu

metodologias para identifica-ção das melhores fontes de ger-moplasma de milho – material genético de uso imediato ou com potencial de uso futuro – para o Brasil, utilizadas em programas oficiais e privados. Na sua trajetória, pesquisa bá-sica e aplicada sempre andaram lado a lado.

A partir de 1952 organizou no Departamento de Genética

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Ernesto Paterniani organizou banco de germoplasma de milho

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sos Genéticos e Biotecnologia. “Paterniani contribuiu muito para a criação e desenvolvi-mento da Embrapa Recursos Genéticos”, diz Engler. Desde agosto de 2003 ele fazia parte do Conselho de Administração da instituição, sendo reconduzi-do à função de conselheiro por mais duas gestões consecutivas, cargo que ocupou até a sua morte. Na Esalq foi presidente da Comissão de Pós-graduação, chefe do Departamento de Genética, diretor do Instituto de Genética, coordenador do programa de pós-graduação em genética e melhoramento de plantas e ouvidor do campus Luiz de Queiroz.

Nos anos de 1962 e 1963 exerceu o cargo de professor titular na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro para ministrar os cursos de ge-nética e de evolução, atendendo a convite do professor Warwick

Estevam Kerr, que havia assumi-do a diretoria científica da FA-PESP, para substituí-lo. Como decorrência do curso de evo-lução, o geneticista determinou a distância efetiva de dispersão do pólen de milho no campo e conduziu seleção para isola-mento reprodutivo entre duas populações do cereal, pesquisa que se tornou clássica nos cur-sos de evolução de vários países. “Paterniani era muito respeita-do no Brasil e no exterior pe-las atividades tanto de cientista quanto de gestor de instituições de pesquisa”, diz Engler.

Membro da Academia Bra-sileira de Ciências e um

dos mais importantes nomes do agronegócio do país, exer-ceu um importante papel na aprovação da Lei Nacional de Biossegurança, como membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio),

entre 1996 e 2001. Defensor apaixonado da engenharia genética, afirmou em diversas ocasiões que a transgenia era mais uma ferramenta à dispo-sição dos melhoristas, comple-mentar às demais técnicas de manipulação genética. Em um artigo escrito em 2001 para os Cadernos de Ciência & Tecno-logia, publicação editada pela Embrapa, Paterniani escreveu: “É importante salientar que o melhoramento genético não será conduzido exclusivamen-te pela transgenia. Os chama-dos métodos convencionais e a engenharia genética não são mutuamente excludentes, mas se complementam, e cada téc-nica é utilizada segundo as suas potencialidades. A engenharia genética representa, na verda-de, uma ferramenta a mais à disposição do melhoramento genético”. Paterniani também era membro da Academia de

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como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coor-denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Academia Brasileira de Ciências. “Mas como ele também participava dos co-mitês de avaliação não podia ser indicado”, diz Engler. Em 2008 não participou e pôde fi-nalmente ser indicado. “Foi um prêmio muito merecido, por-que o melhoramento genético de plantas no Brasil deve muito a Paterniani”, ressalta. u

mesmo comparada com países do Primeiro Mundo, e esse patamar existe em função das pesquisas realizadas por esses cientistas”, disse à assessoria de comunicação da Esalq.

oprofessor Engler, que participou por vários

anos do comitê de seleção do Prêmio Conrado Wessel, dis-se que o nome de Paterniani era sempre lembrado “como um grande candidato” nos intervalos das reuniões pelos representantes de instituições,

Ciências do Terceiro Mundo (TWAS) e foi um dos funda-dores da Academia de Ciências do Estado de São Paulo.

Durante a sua carreira, re-cebeu prêmios e homenagens de diversas instituições, como Prêmio Almirante Álvaro Al-berto, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, em 1988, Prê-mio Frederico Menezes Veiga, da Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária, em 1992, além da Comenda da Ordem Nacional do Mérito Cientí-fico, em 1995, e da Grã-Cruz da Ordem Nacional do Méri-to Científico, em 2000, ambas concedidas pela Presidência da República.

As últimas homenagens re-cebidas pelo geneticista foram o Prêmio Fundação Bunge 2005, na área de Agronegócio, categoria Vida e Obra, e o Prê-mio Fundação Conrado Wes-sel 2008, na categoria Ciência Aplicada, no início do mês de junho. Como estava doente, foi representado por seus filhos Jo-sé Euclides Stipp Paterniani e Ricardo Stipp Paterniani na entrega do prêmio. E demons-trou agradecimento com a ho-menagem. “Tudo o que sei e aprendi foi à custa da sociedade, e as palestras que dou são uma forma de devolver a ela todo o conhecimento que obtive ao longo dos anos. É gratificante conquistar esse prêmio porque são muitos cientistas merece-dores. O Brasil tem hoje uma tecnologia de maior eficiência,

Variedades de milho

melhoradas pelo pesquisador

são usadas até hoje

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Em meio a tanta e tão resistente co-moção popular, pode-se ter a certeza

de que houve alguém que não deve ter chorado a morte do cantor americano Michael Jackson (1958-2009): o parai-bano de nascimento, mas pernambucano de coração, advogado, professor, teatró-logo e romancista Ariano Suassuna. Do alto de seus 82 anos, completados em 16 de junho passado, Ariano avisava a todos que quisessem ouvir que, se o vis-sem comprando um disco do pop star, é porque tinha perdido o juízo de vez. “Não é possível que queiram exigir que eu ache o Michael Jackson e a Madon-na com a mesma importância de um Herman Melville [1919-1891] ou de um Euclides da Cunha [1866-1909]. Não aceito que os brasileiros, equivo-cados, queiram, em nome da nossa bela e fecunda diversidade, acolher também esse lixo cultural como se fosse coisa importante.” Mas o desprezo do mestre não tem apenas alvos “fáceis” como o rock. “Uma vez li um ensaio do Martin Heidegger [1889-1976] e no fim do texto o homem escreveu que ‘enfim, a essência da poesia é a poesia da essência’. Sujeito chato! Eu, perder tempo para ler uma besteira dessas, rapaz? Que cabra chato!”, foi como definiu, sem papas na língua, o filósofo alemão. Afinal, entre Thriller e o Dasein não haveria nada a agradar Ariano? “Olha, meu amigo Ca-piba [1904-1997], este sim um grande

compositor, ficava indignado quando diziam que cachorro gosta de osso. Ele dizia: ‘Só dão osso ao cachorro, depois dizem que ele só gosta disso. Bote um osso e depois um filé, para ver qual ele escolhe’. Agora não estão deixando a juventude brasileira entrar em contato com o filé. Só dão osso.”

Suassuna fez sua parte e nos legou, em suas obras para teatro, romances e poesias e no Movimento Armorial, ini-ciado nos anos 1970 no Recife, um belo “filezão” para quem tiver bons dentes e apetite para devorá-lo. Aliás, ele continua em ação pela cultura nacional com suas chamadas “aulas-espetáculos”, conceito inventado por ele na sua gestão como secretário de Cultura de Pernambuco, durante o governo de Miguel Arraes (hoje Suassuna é secretário Estadual de Cultura de Pernambuco), uma aula di-ferente que é ministrada com o auxílio de músicos e bailarinos. Daí como ar-tista de circo ele circula o Brasil todo, todo o tempo, o que, se é bom para a cultura nacional, não o foi para a con-fecção deste perfil, já que foi impossível para o vencedor do Prêmio Conrado Wessel de Cultura 2008 arranjar tempo para ser entrevistado. Contabilizamos essa dificuldade ao pedido que ele re-gistrou em Metade rei, metade palhaço: “Faço um apelo a todos vocês, pedindo que compreendam minha situação e me deixem sossegado para escrever”. Muito

Aos 82 anos, o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna ainda acredita que não se vive sem sonhos

O homem daesperança

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merecido; nós todos ganhamos com isso. Criatividade é a al-ma dos personagens de Ariano e foi preciso usar a nossa para descobrir, em seus escritos, falas e entrevistas, trechos que pu-dessem servir para dar ao leitor um pouco do jeito Suassuna de ser e pensar.

“A massificação procura bai-xar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto. Nunca vi um gênio com gosto médio”, diz. “Arte para mim não é pro-duto de mercado. Podem até me chamar de romântico. Arte para mim é missão, vocação, festa.” Acima de tudo, para Ariano, a arte é do povo, mais do que o céu é do avião, embora ele avi-se que não pretende “colocar a cultura brasileira numa redo-ma, o que, além de impossível, é absolutamente indesejável”. Em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 1989, ele lembrou os Brasis já antevistos por Machado de Assis que explicariam os bens e os males da nossa cultura. “As maiores doenças nossas têm ori-gem no Brasil oficial e a cura só lhe pode vir do Brasil real”,

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Suassuna: “Arte para mim

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acredita. Há tempos, aliás, desde o dia 18 de outubro de 1970, quando lançou oficialmente, no Recife, em meio a um concer-to e uma exposição de arte, o Movimento Armorial, do qual é uma das principais inspirações. Então já preconizava que era preciso valorizar a cultura do Nordeste brasileiro, pretenden-do realizar uma arte brasileira erudita a partir das raízes po-pulares nordestinas. “A arte ar-morial é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos ‘fo-lhetos’ do romanceiro popular do Nordeste, a literatura de cor-del, com a música de viola, ra-beca ou pífano que acompanha os seus cantares”, escreveu num artigo em 1975 para celebrar os cinco anos do “filho”.

daí a importância, para ele, de tudo que venha do povo,

sem falsos entusiasmos ou hipo-crisia de letrado condescenden-te com as raízes populares. Daí, para Suassuna, da especial sim-bologia do “armorial”, conjun-to de insígnias, brasões e estan-dartes e bandeiras, a heráldica, segundo ele, paradoxalmente, “uma arte mais popular do que qualquer coisa, e a adoção pa-ra o movimento deixou claro o desejo de ligação com essas raízes heráldicas culturais bra-sileiras”. Povo, para Ariano, não é pouca coisa, não. “Goethe, Cervantes, Dostoiévski, Gorki e Tolstói eram um pessoal que fazia uma arte profundamente ligada à terra e ao povo deles. Assim, eu recebo a influência deles, junto com a do cordel, no sentido de procurar ser fiel ao meu país e ao meu povo.

Esses criadores todos são meus parentes”, afirma. Pena que o Brasil tenha começado só em 1500, sem ter tempo de nos ter legado o gostinho de uma Idade Média. Mas, na falta de uma na-cional, Ariano, juntando toques de barroco e dos romanceiros espanhóis do tempo de Cer-vantes e Calderón de la Barca, criou a Idade Média não apenas brasileira, mas nordestina.

Foi preciso, porém, uma tra-gédia para aproximar Suassuna desse povo e de seus mitos e fantasias. Nascido Ariano Vilar Suassuna, em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, em 16 de junho de 1927, é filho de João Urbano Pessoa de Vas-concelos Suassuna, presidente da Paraíba entre 1924 e 1928, assassinado no Rio de Janeiro, então capital da República, nos últimos dias que antecederam a deposição de Washington Luís com a Revolução de 1930, cujo gatilho foi a morte do então governador João Pessoa Caval-canti de Albuquerque, candida-to a vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas e integrante do grupo político oposto ao do pai de Suassuna. A família mudou---se do Rio para Pernambuco e em seguida para Paraíba, a mãe, Rita Vilar Suassuna, e nove fi-lhos, na Fazenda Acahuan, onde Ariano passou sua infância.

A morte do pai, então, le-vou-o mais perto dos temas e formas de expressão artística que, mais tarde, seriam fontes do seu universo ficcional ou, palavras suas, do seu “mundo mítico”. O convívio com a nar-rativa oral e a poesia sertaneja, que assimilou com naturalida-de, permitiu ao jovem Ariano

mesclar suas raízes de família rica com os “causos” e contos, poemas populares e romances, que permeiam sua obra. “Eu acho que arte é o acréscimo que a gente faz ao real. Eu gosto muito do fantástico e, no cordel, o fantástico está muito unido ao realismo. Para Goethe, quem pinta um cachorro do jeito que ele é apenas acresce um cachor-ro aos outros já existentes e a função da arte não é fazer is-so.” A arte, para Suassuna, está ligada ao mote de Calderón, para quem “a vida é sonho e os sonhos vida são”, num “tro-cadilho” que, ao contrário da inversão de Heidegger, Ariano aprovaria. “O que é muito di-fícil é você vencer a injustiça secular que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos. Eu digo sempre que, das três chamadas virtudes teologais, eu sou fraco na fé e fraco na caridade; só me resta a esperança. Eu sou o homem da esperança.” Para isso também serve a fantasia.

A magia, no entanto, ficou guardada na cabeça do moço quando ele entrou, em 1946, na Faculdade de Direito do Recife, e só deu o ar da graça, enfim, no ano seguinte, quando escreveu sua primeira peça, Uma mulher vestida de sol. Ele até advogou por alguns anos, mas a imagi-nação foi mais forte do que a Justiça e, em 1955, cinco anos após se formar bacharel, criou o Auto da compadecida, considerada pelo crítico Sábato Magaldi o “texto mais popular do moder-no teatro brasileiro”. Originada de um auto popular nordestino, com forte influência moura na

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de luz cheias de gargalhadas, todo esse mundo me foi re-velado, ao mesmo tempo, pelo circo, pelo auto popular e pela ribalta.” Suas obras chegaram ao grande público ao se trans-formarem em séries televisivas. “Mas não fui eu que me rendi à televisão. Foi a televisão que se rendeu às minhas peças.”

O homem que tanto apre-ciou o sonho dos outros tam-bém tem lá os seus. “Sem sonho a gente não vive. Acho que é necessário ao ser humano um sonho colocado lá na frente, pa-ra que a gente não se acomode e procure aquele ideal, aquela ver-dade maior. O Brasil com que eu sonho seria um lugar onde a gente realizasse, pela primeira vez na história humana, a fusão de justiça e liberdade.” u

mento suspeitoso (1957), O santo e a porca (1957), A pena e a lei (1959), Romance d’A pedra do rei-no e o príncipe do sangue do vai--e-volta (1971), um “romance armorial popular”.

V ieram também muita poe-sia, textos críticos de estéti-

ca, de quando lecionou na Uni-versidade Federal de Pernam-buco, e passagens pela política e pela cultura dita oficial, como secretário de Cultura da sua ci-dade e do seu estado. Como nas grandes tragédias que faziam o prazer do menino no sertão, tudo aquilo havia começado com a morte do pai. “Ainda menino, no sertão da Paraíba, o palco mágico e festivo do teatro, com seus violentos contrastes, povoa do de assassinatos, zonas

origem de sua história, o Auto da compadecida revela, pela pri-meira vez, em todo o seu colo-rido, a notável mistura da cul-tura popular com o picaresco, o satírico dos graciosos do teatro de Calderón, de Lope de Vega, das criações imortais de Cer-vantes, entrelaçados com cordel, mamulengo, oralidade, desafios de cantadores e os autos popu-lares religiosos publicados em folhetos no Nordeste. “Nós e o barroco temos muito a ver, pois foi durante o século XVI que começou a se formar isso a que nós chamamos de Brasil. Mas tudo foi feito com a in-tenção de ser universal, porque eu acredito que o ser humano é o mesmo, em todos os lugares e todos os tempos.” Vieram, a seguir, outras criações: O casa-

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montagem de O auto da compadecida, de 1957, no rio

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InstItuIções ParceIras da FcW

Fun da ção de Am pa ro à Pes qui sa do Es ta do de São Pau lo – FA PESP

Li ga da à Se cre ta ria de Ensino Superior do Estado de São Paulo, é uma das prin ci pais agên ci as de fo men to à pes qui sa ci en tí fi ca e tec no ló gi ca do país. Des de 1962 a FA PESP con ce de au xí lio à pes qui sa e bol sas em to das as áre as do co nhe ci men to, fi nan ci an do ou tras ati vi da des de apoio à in ves ti ga ção, ao in ter câm bio e à di vul ga ção da ci ên cia e tec no lo gia em São Pau lo.

Co or de na ção de Aper fei ço a men tode Pes so al de Ní vel Su pe ri or – Capes

Fun da ção vin cu la da ao Mi nis té rio da Edu ca ção, tem como mis são pro mo ver o de­sen vol vi men to da pós­gra du a ção na ci o nal e a for ma ção de pes so al de alto ní vel, no Bra sil e no ex te ri or. Sub si dia a for ma ção de re cur sos hu ma nos al ta men te qua li fi ca dos para a do cên cia de grau su pe ri or, a pes qui sa e o aten di men to da de man da dos se to res pú bli co e pri va do.

Con se lho Na ci o nal de De sen vol vi men to Ci en tí fi co e Tec no ló gi co – CNPq

Fun da ção vin cu la da ao Mi nis té rio da Ci ên cia e Tec no lo gia (MCT), para apoio à pes­qui sa bra si lei ra, que con tri bui di re ta men te para a for ma ção de pes qui sa do res (mes tres, dou to res e es pe ci a lis tas em vá ri as áre as do co nhe ci men to). Des de sua cri a ção, é uma das mais só li das es tru tu ras pú bli cas de apoio à ci ên cia, tec no lo gia e ino va ção dos paí ses em de sen vol vi men to.

So ci e da de Bra si lei ra para o Pro gres so da Ci ên cia – SBPC

Fun da da há mais de 50 anos, é uma en ti da de ci vil, sem fins lu cra ti vos, vol ta da prin ci­pal men te para a de fe sa do avan ço ci en tí fi co e tec no ló gi co e do de sen vol vi men to edu ca ci o nal e cul tu ral do Bra sil.

Aca de mia Bra si lei ra de Ci ên ci as – ABC

So ci e da de ci vil sem fins lu cra ti vos, fun da da em 3 de maio de 1916, tem por ob je ti vo con­tri bu ir para o de sen vol vi men to da ci ên cia e tec no lo gia, da edu ca ção e do bem­es tar so ci al do país. Atu al men te reú ne seus mem bros em dez áre as: Ci ên ci as Ma te má ti cas, Ci ên ci as Fí si cas, Ci ên ci as Quí mi cas, Ci ên ci as da Ter ra, Ci ên ci as Bi o ló gi cas, Ci ên ci as Bi o mé di cas, Ci ên ci as da Saú de, Ci ên ci as Agrá ri as, Ci ên ci as da En ge nha ria e Ci ên ci as Hu ma nas.

Aca de mia Bra si lei ra de Le tras – ABL

Fun da da em 20 de ju lho de 1897 por Ma cha do de As sis, com sede no Rio de Ja nei ro, tem por fim a cul tu ra da lín gua na ci o nal. É com pos ta por 40 mem bros efe ti vos e per­pé tu os e 20 mem bros cor res pon den tes es tran gei ros.

Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial – CTA

Criado na década de 1950, é uma organização do Comando da Aeronáutica que tem como missão o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento de atividades aeronáuticas, espaciais e de defesa, nos setores da ciência e da tecnologia.

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JÚRI dos PRêmIos FCW de 2008

CIÊNCIA GERAL parceira que indicou

Jacob Palis | Presidente FCW Adalberto Ramon Vieyra Capes Eduardo Moacyr Krieger SBPC Erney Plessmann de Camargo FCW Henrique Eisi Toma ABC José Roberto Drugowich de Felício CNPq Marco Antonio Sala Minucci CTA Regina Pekelmann Markus SBPC

CIÊNCIA APLICADA Marco Antonio Zago | Presidente FCW Carlos Afonso Nobre FCW Carlos Vogt FCW Eric Arthur Bastos Routledge Secretaria Especial de Aquicultura e PescaEvaristo Eduardo de Miranda SBPC Fernando Galembeck CapesJosé Oswaldo Siqueira CNPqMonica Ferreira do Amaral Porto FAPESPSergio Mascarenhas FCW

mEDICINA Renata Caruso Fialdini | Presidente FCW Eduardo Moacyr Krieger SBPCErney Plessmann de Camargo FCWFernando Ferreira Costa CNPqGuilherme Kurtz CapesManoel Barral Netto ABCMarco Antonio Zago FCWMario José Abdalla Saad FAPESPProtásio Lemos de Luz FCWReinaldo Felippe Nery Guimarães Ministério da SaúdeRicardo Renzo Brentani ABC

CuLtuRA Celita Procopio de Carvalho | Presidente FCW Alfredo Bosi FAPESPBenjamim Abdala Júnior CapesCarlos Alberto Ribeiro de Xavier MECCarlos Vogt SBPC/FCWDomício Proença ABLJorge Almeida Guimarães FCWWrana Panizzi CNPq

ARtE / FotoGRAFIA PubLICItáRIA Rubens Fernandes Junior | Presidente FCWAndré Porto Alegre APP Cristiano Burmester AbrafotoGisele Centenaro Revista AboutJuan Esteves Fotógrafo

ARtE / ENsAIo FotoGRáFICo PubLICADo E INéDIto Rubens Fernandes Junior | Presidente FCWHelouise Costa MAC/USPJoão Castilho (1º colocado Ensaio Fotográfico 2007) FotógrafoJoaquim Marçal Ferreira de Andrade Biblioteca Nacional/IconografiaJuan Esteves FotógrafoRicardo Chaves Jornal Zero HoraRonaldo Entler Unicamp

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Até 5 de março de 2010

6 a 31 de março de 2010

5 a 9 de abril de 2010

Última semana de abril de 2010

14 de junho de 2010

Prazo para recebimento das indicações e inscrições (Arte)

Preparação dos dossiês dos indicados

Julgamento e escolha dos premiados

Divulgação dos trabalhos

Premiação

cronograma da premiação 2009

fundação conrado wessel | www.fcw.org.br

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