Prêmio FCW 2012

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FUNDAÇÃO CONRADO WESSEL FCW P R Ê M I O Os vencedores do Prêmio Conrado Wessel de Arte, Ciência e Cultura 2012 ESPECIAL

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Prêmio Fundação Conrado Wessel 2012

Transcript of Prêmio FCW 2012

  • F u n d a o C o n r a d o W e s s e l

    fcwp r m i o

    os vencedores do Prmio Conrado Wessel de arte, Cincia e Cultura 2012

    e s P e C i a l

  • coordenao desta edio Jos Moscogliatto caricatti

    Fundao conrado Wessel rua Par, 50 - 15 andarHigienpolis - 01243-020so Paulo, sP - Brasiltel./fax: 11 [email protected]

  • 3e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    4 FCW inicia nova dcada de patrocnio a benefcios sociais

    8Premiao leva em considerao, alm do talento profissional, a contribuio sociedade dada pelos ganhadores

    14 Sergio Rezende concilia produo em fsica com a prtica poltica de uma viso nacionalista da cincia

    20 O cirurgio Marcos Moraes usa a legislao e cria estratgias de controle para combater o cncer

    26 Conhecido como exemplo de superao, o maestro Joo Carlos Martins gosta mesmo de ensinar msica e tocar Bach

    32 Veja os trs ensaios fotogrficos ganhadores em Arte de 2012

    46 Conhea os premiados de Arte de anos anteriores de todas as edies do Prmio FCW

    ndice

  • 4 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    Quando Ubaldo Conrado Wessel retornou ao Brasil em 1913, ao final do estgio realizado na Casa Beis-sner & Gootlieb de Viena para concluir o curso de fotoqumica e clicheria iniciado em 1911, trouxe

    consigo uma gravura em clich (imagem fotogrfica negativa) de um jardim vienense. Esse exemplar, reproduzido ao lado, mantido nos arquivos da Fundao Conrado Wessel. Feita por ele h 100 anos em papel Velox, produzido pela empresa de George Eastman, o melhor papel fotogrfico da poca segun-do o prprio Wessel.

    No foi por mera recordao de um emprego de sucesso na ustria que Wessel trouxe a gravura para o Brasil. Desde quando chegou a Viena para se especializar no ramo da foto-grafia e clicheria, ele acalentava a ideia de criar nova frmula para produzir papel fotogrfico. Na poca os papis eram de qualidade inferior Velox era o nico aceitvel e o objetivo era produzir um melhor. Ele trouxe o modelo como uma refe-rncia ao que conseguisse inventar no Brasil. Aqui, aps seis anos de pesquisa, no final de 1918, conseguiu definir a frmula que encaminhou para ser patenteada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

    A patente foi obtida por Conrado e por seu pai, Guilher-me, em 1921 e, por ironia, por ele vendida posteriormente, em 1954, empresa de Eastman, o mesmo proprietrio do papel Velox, como se v na foto da embalagem do Papel fotogr fico Kodak-Wessel, que Conrado tem s mos em 1949, ano em que construiu nova fbrica em So Paulo em parceria com a Kodak, cedendo a ela a opo de compra da patente, o que se formalizou em 1954. O trao histrico revelador dessas imagens a busca, sempre, do melhor. Conrado o conseguiu, pois sua

    Fundao Conrado Wessel inicia nova dcada de patrocnio a benefcios sociais

    Um fUtUro ainda melhor

  • Acima, a foto feita por Conrado Wessel em 1911, quando estagiava em Viena. Ao lado, ele mostra o papel desenvolvido j em parceria com a Kodak, em 1949fo

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  • 6 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    patente gerou a Fundao Conrado Wessel (FCW), o maior fenmeno nacional de apoio arte, cincia e cultura. Sua presena no ce-nrio acadmico brasileiro aclamada, desde quando, h 11 anos, foi lanado o Prmio FCW de Arte, Cincia e Cul-tura em eventos na Bienal, na Casa da Cultura Brasileira e na Sala So Paulo.

    Agora a FCW inicia uma nova dcada de outorga dos maiores prmios para a ar-te, a cincia e a cultura no Brasil. Neste ano, seis no-

    vos nomes ingressam na galeria de lau-reados em evento na Sala So Paulo, na capital paulista, com a apresentao do maestro Joo Carlos Martins, por mera coincidncia o vencedor do prmio de Cultura de 2012.

    A FCW continua a patrocinar publi-caes e eventos de algumas de suas par-ceiras como os Anais da Academia Bra-sileira de Cincias, a revista Journal of Aerospace Technology and Management (JATM) , do Departamento de Cincia e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), a Pes-

    quisa Naval, da Marinha do Brasil, e es-ta edio anual com os ganhadores dos Prmios FCW, que circula juntamente com Pesquisa FAPESP. Tambm banca trs bolsas complementares das Grandes Teses Capes e o prmio Almirante lvaro Alberto, este ltimo em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq).

    a FCW premia na categoria Arte os trs ensaios fotogrficos vencedo-res de um conjunto expressivo de mais de 450 inscritos. Nas categorias Medicina, Cultura e Cincia so escolhidos gran-des nomes, figuras cujo currculo revela uma exponencial dedicao sociedade, alm de indiscutvel competncia, conhe-cimento e valor acadmico consagrado internacionalmente. A fundao conside-ra, entretanto, que o grande beneficirio dos prmios o pas, por no se deixar esquecer quem luta para faz-lo melhor.

    O mesmo ocorre com as demais ativi-dades da FCW, especialmente as doaes, todas voltadas para entidades cujos fins sociais no se discutem: Corpo de Bom-beiros da Polcia Militar do Estado de So Paulo, Fundao Antonio Prudente, Asso-ciao Benjamin Constant, Servio Social do Exrcito de Salvao, Aldeias Infan-tis SOS Brasil e mais 27 outras entidades ligadas a atividades educacionais, com superlativo benefcio social.

    Exemplo bastante expressivo dos ob-jetivos dessas doaes e demonstrao do quanto elas de fato promovem a busca do apoio educacional dos beneficiados o que ocorre com a cota destinada ao Cor-po de Bombeiros. Entre os dias 6 e 14 de julho, sete integrantes da corporao es-taro se aperfeioando no College Station do Texas, Estados Unidos, para trazer aos demais componentes informaes, tecnologia e mtodos para a melhoria permanente de atendimento popula-o. Depois deles, outros 30 bombeiros seguiro para a Irlanda do Norte e Lon-dres, a fim de participar em Belfast dos Jogos Mundiais de Polcia e Bombeiros 2013. A cada ano, de 35 a 60 bombeiros participam de simpsios, encontros, jo-gos e cursos no exterior, sob o patroc-nio da FCW.

    Neste ano, seis novos nomes ingressam na galeria de laureados com o Prmio FCW{

    Ano Arte CinCiA CulturA MediCinA totAl

    2002 3 3 3 0 9

    2003 3 4 1 1 9

    2004 3 4 1 1 9

    2005 3 4 1 1 9

    2006 4 4 1 1 10

    2007 4 2 1 1 8

    2008 4 2 1 1 8

    2009 4 2 1 1 8

    2010 3 1 1 1 6

    2011 3 1 1 1 6

    2012 3 1 1 1 6

    Total geral 37 28 13 10 88

    Prmios FCWtotal de ganhadores em todas as categorias

  • 7e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    foram atendidas 21.379 famlias. Aliam--se a esse programa, pelo prisma de as-sistncia a carentes ou abandonados, os programas executados pelo Servio Social do Exrcito de Salvao e pelas Aldeias Infantis SOS do Brasil, ambas as institui-es donatrias de uma expressiva cota anual da fundao.

    Com todas essas aes, nesta nova d-cada consolidam-se os resultados j obti-dos pela presena nacional da fundao. A tendncia tambm de expanso por-que, da gesto patrimonial que assumiu o legado de Conrado Wessel em 2000, um patrimnio que representava 18.727 metros quadrados de rea construda, e o ampliou com novas unidades e projetos, deve-se esperar metas mais ambiciosas de imobilizao, resultados mais consis-tentes, uma estimativa de agregar outros 100% de rea construda, para mais ofe-recer em prol dos objetivos estatutrios: incentivo educao, incremento arte, cincia, medicina e cultura, caminhos do futuro para o Brasil. n

    Outra doao anual muito significativa a atribuda Fundao Antonio Pruden-te. Embora seja uma frao pequena dos recursos que ela destina s suas ativida-des, contribui de forma segura e sistem-tica para o esforo hoje despendido no intuito de dotar o pas do maior centro de pesquisas oncolgicas, em nvel e padro que rivalizam com os mais avanados do mundo. Ainda no plano de influncia edu-cacional, relevante a contribuio anual Associao Benjamin Constant, mante-nedora do Colgio Benjamin Constant, onde Conrado Wessel estudou e se proje-tou ainda jovem no cenrio da fotografia, vencendo em 1906 dois concursos oficiais de fotografia promovidos pela Secretaria de Agricultura do Estado de So Paulo.

    n o caso da assistncia social, me-rece referncia o trabalho feito pela FCW em parceria com o Ministrio Pbico, distribuindo a crianas e famlias carentes grandes cestas natalinas. Desde 2005, quando se iniciou esse programa,

    Joo Carlos Martins rege a filarmnica

    Bachiana no teatro Positivo, em Curitiba

    (2009): dupla presena na festa de premiao da fCW

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  • 8 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    O s Prmios FCW j contemplaram quase uma centena de personalidades que fazem cincia, medicina, cultura e arte. Em 11 anos, foram con-cedidos 88 esculturas de Vlavianos, smbolo do prmio, alm de valores em dinheiro que vm crescendo desde a primeira edio, realizada em 2002. Atualmente so distribudos R$ 1,1 milho: R$ 300 mil para cada um dos ganhadores nas cate-gorias Cincia, Medicina e Cultura e R$ 200 mil a serem divididos entre os trs primeiros lugares da categoria Ensaio Fotogrfico.

    Em Cincia, Medicina e Cultura so sempre escolhidos personagens com um currculo de realizaes que no se li-mitam a sua rea de atividade. Os jris reunidos pela FCW so orientados a analisar no apenas a obra acadmica, cientfica ou cultural dos profissionais indicados pelas instituies par-ceiras da fundao (conhea todas na pgina 48), mas tambm para as realizaes que tenham a ver com benefcios trazidos sociedade em qualquer mbito.

    A rea mais fcil para enxergar essa qualidade dos ganhado-res a de Medicina. Todos, sem exceo, deram contribuies que redundaram em ganhos concretos para a sociedade o que no pouco em se tratando de um setor responsvel pela sade do brasileiro. Basta ler o perfil de Marcos Moraes na presen-te edio (pgina 20) para se ter uma ideia da importncia do trabalho desses profissionais.

    A contribuio social dos pesquisadores na categoria Cincia menos bvia pela prpria natureza de sua atividade. Trata-se de trabalhos de pesquisa, que visam ampliar o conhecimento humano em todas as reas do conhecimento, feitos por alguns dos principais cientistas brasileiros, como comprova a repor-tagem sobre o fsico Sergio Rezende (pgina 14).

    Premiao leva em considerao, alm do talento profissional, a contribuio sociedade dada pelos ganhadores

    Os valOres de cada um

    2012cincia

    Sergio rezende

    medicina

    marcoS moraeS

    cultura

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  • 10 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    cincia

    Jorge KalilImunologista

    medicina

    miguel SrougiUrologista

    cultura

    Paulo VanzoliniCompositor e zologo

    cultura

    nelson Pereira dos SantosCineasta

    cincia geral

    Jairton dupontQumico

    medicina

    angelita Habr-gamaColoproctologista

    2011 2010

    No primeiro ano em que foram esco-lhidos os primeiros seis ganhadores, em 2003, havia cinco subcategorias dentro de Cincia: Cincia Geral, Cincia Aplicada ao Campo, Cincia Aplicada ao Mar, Cin-cia Aplicada ao Meio Ambiente e Medici-na. Em 2007, o nmero de subcategorias diminuiu para trs (Cincia Geral, Cincia Aplicada e Medicina) e em 2010 e 2011 para duas (Cincia, que engloba todas as outras, e Medicina). Essa mudana veio em decorrncia do aperfeioamento na-tural dos critrios que regem os Prmios FCW, a cargo da administrao da funda-o com a colaborao de seus parceiros.

    A categoria Cultura premiou apenas escritores e poetas at 2007 e comeou a diversificar-se nas edies seguintes, escolhendo talentos da msica, do cine-ma, da dana e do teatro. O maestro Joo Carlos Martins, com sua rica histria de vida dedicada msica erudita, ganhou em 2012 (pgina 26).

    Por fim, a categoria Arte tambm so-freu mudanas. No comeo, apenas as fo-tos publicitrias eram premiadas. Desde 2011, o foco est dirigido aos ensaios fo-togrficos (pgina 32). As inscries para Arte so feitas via internet pelo endereo eletrnico www.fcw.org.br e despertam o interesse de fotgrafos de todo o Bra-sil. Sempre no segundo semestre do ano de outorga dos prmios a FCW edita seu tradicional livro com as fotos de todos os finalistas. Nas pginas seguintes pode-se conferir a lista com os ganhadores em to-das as edies dos Prmios FCW. n

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    So sempre escolhidos personagens com vasto currculo de realizaes em mais de uma rea{

  • 11e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    medicina

    ricardo PasquiniHematologista

    cincia geral

    leopoldo de meisBioqumico

    cultura

    ariano Suassunadramaturgo

    cincia geral

    ivn izquierdoneurocientista

    cultura

    affonso vilaPoeta e ensasta

    2009 2008

    cincia geral

    Jerson lima da SilvaBioqumico

    cincia aPlicada

    Joo gomes de oliveiraengenheiro mecnico

    cultura

    antonio nbregamsico e danarino

    2007

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    medicina

    fulvio PileggiCardiologista

    medicina

    ivo PitanguyCirurgio plstico

    cincia aPlicada

    ernesto Paternianigeneticista de plantas

    cincia aPlicada

    Hisako HigashiBioqumica

  • 12 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    cincia aPlicada ao meio ambiente

    aziz abSbergegrafo

    cincia geral

    Srgio mascarenhasfsico

    cincia aPlicada ao meio ambiente

    carlos nobreClimatologista

    cultura

    ruth rochaescritora

    cincia aPlicada ao camPo

    luiz c. fazuoliagrnomo

    cincia aPlicada gua

    galizia tundisiBilogo

    cincia geral

    Wanderley de SouzaParasitologista

    2006 2005

    cincia aPlicada gua

    aldo rebouasgelogo

    medicina

    ricardo brentanioncologista

    cincia aPlicada ao camPo

    magno ramalhogeneticista de plantas

    cultura

    fbio lucasCrtico e ensasta

    medicina

    adib JateneCardiologista

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  • 13e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    cincia geral

    isaias rawBioqumico

    cincia aPlicada ao camPo

    instituto agronmico

    cultura

    ferreira gullarPoeta

    cincia aPlicada gua

    alberto francooceangrafo

    cincia aPlicada ao meio ambiente

    museu Paraense emlio goeldi

    cincia geral

    carlos Henrique de brito cruzfsico

    medicina

    maria ins Schmidtepidemiologista

    cincia aPlicada ao mar

    dieter muehegegrafo

    cincia aPlicada ao meio ambiente

    Philip fearnsideBilogo

    2004 2003

    medicina

    cesar Victoraepidemiologista

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    cincia aPlicada ao camPo

    Jairo Vieiraagrnomo

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  • 14 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    Rezende: Agora posso

    ser pesquisador em tempo

    integral

    S ergio Machado Rezende est feliz. Estou no auge de minha carreira cientfica, ele contou no dia 15 de maio em sua sala ou gabinete, como ele chama no segundo andar do Departamento de Fsica da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife. Posso ser pesquisador em tempo integral, como nunca antes tinha conseguido ser no Brasil, e tenho a satisfao de ter feito muita coisa. Ele no parou de fazer pesquisa e escrever artigos cientficos mesmo quando ocupava cargos administrativos: com responsabilidades crescentes, foi chefe do Departamento de Fsica, que ajudou a formar, na dcada de 1970, diretor do Centro de Cincias Exatas e Naturais da UFPE, primeiro diretor cientfico da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Pernambuco (Facepe), secretrio de Cincia e Tecnologia de Pernambuco, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e ministro da Cincia e Tecnologia.

    Quando era ministro, de 2005 a 2010, Rezende publicou 26 artigos em respeitadas revistas de fsica uma mdia de cinco por ano ou um a cada dois meses. Seis deles ele assinou sozinho, como autor nico. Em 2007 vi alguns estudos experimentais e achei que poderia encontrar as explicaes para os resultados, ele diz. Como conseguia trabalhar em Braslia e ao mesmo tempo se deixar levar pelas equaes matemticas sobre o comportamento dos eltrons em materiais condutores? Organizando o tempo e a cabea para manter a motivao para a pesquisa. E o que pesquisa? fazer o que ningum fez! Quando sai algo bacana em uma revista, a mesma satisfao de fazer um gol de bicicleta!

    Um quadro em sua sala uma fotografia em que Rezende est entre o presidente Lula e Pel, com uma dedicatria

    Sergio Rezende concilia sua produo cientfica com a prtica poltica de uma viso nacionalista da cincia brasileira

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  • 16 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    de Pel: Gol alegria!. At o ginsio, o que eu mais gostava era jogar futebol, conta Rezende. Duas semanas depois de chegar a Recife, em 1972, ele e um bedel montaram um campo de futebol em frente Escola de Engenharia, ento um dos nicos prdios da universidade, e durante anos os estudantes e professores do Departamento de Fsica se reuniam toda quartafeira tarde para jogar. Voltvamos zerados no dia seguinte, recordase o botafoguense que armava o jogo e tambm fazia gols ele s dei

    xou o gramado aos 54 anos por causa de um problema no joelho. Sem solenidade, atencioso e gentil, Rezende tem 72 anos. No parece ter mais de 60. Disfaro bem. A explicao gentica. Meu pai, Leo, morreu com 92 anos e minha me, Elsa, tem 100 anos.

    Nascido no Rio, Rezende trabalha em fsica h quase 50 anos. H quase 10 ele se dedica spintrnica, uma rea da microeletrnica fundamentada na perspectiva de propagao de informaes por meio do spin, o movimento de um eltron ao redor de si mesmo. Por meio de trabalhos tericos e experimentais feitos com seus estudantes e colegas, ele procura entender e ampliar a interao de spins de materiais condutores como ferro, nquel, mangans e cobalto.

    Foi um professor do Colgio de Aplicao da Universidade do Brasil, Luiz Eduardo Machado, astrnomo do Observatrio Nacional, que o fez comear a gostar de fsica. Aquele professor valorizava o raciocnio como forma de resolver os problemas, lembrase. A contragosto do pai, um advogado que queria que ele fosse mdico, Rezende foi estudar engenharia eletrnica, a rea que lhe parecia mais prxima da fsica, na Pontifcia Universidade Catlica (PUC) do Rio de Janeiro. Logo ele se destacou como um dos melhores da turma.

    Um dos professores, Luiz Carlos Bahiana, incentivouo a ir para o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, onde ele prprio tinha feito o doutorado. O rapaz hesitou: Mas ser que vou ser aceito?. O professor garantiu: Claro que vai!. Rezende se inscreveu e, com base no currculo e em uma carta de recomendao de Bahiana, o MIT o aceitou, levandoo a outro problema: no tinha como se manter l. Ele havia perdido o prazo para pedir bolsa de estudos para uma agncia federal e outra no lhe deu, argumentando que s apoiava estudantes de universidades pblicas. Em seguida ele viu em um jornal um anncio da Fundao Fullbright para estudantes brasileiros, inscreveuse e foi o nico do Brasil a conseguir. Lembro de quando subi a escadaria do MIT pela primeira vez, ele recorda, sentindo o peso da responsabilidade. Ser que vou conseguir?

    Aos poucos ele acertou o passo com seu trabalho sobre as propriedades magnticas de ferrites, um material usado em eletrnica, e tirou nota mxima em vrias disciplinas, at mesmo em uma conduzida por um professor que havia se recusado a orientlo quando chegou: foi o nico

    Jornal do Brasil de 27 de

    dezembro de 1967: notcia

    do retorno

    Lembro-me da primeira vez em que subi a escada do MIT: Ser que vou conseguir? {

  • 17e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    mudaramse outra vez, agora para Recife, com a misso de ajudar a formar o Departamento de Fsica da UFPE. Vim para ficar trs anos e fiquei, porque as coisas comearam a dar certo, conta Rezende.

    Ele guarda at hoje um bilhete em que o fsico Srgio Marcarenhas, professor da Universidade de So Paulo (USP) em So Carlos, lhe escreveu em 1970: Estamos vibrando que voc possa aceitar esta oportunidade histrica. Depois de convencer o Conselho Nacional de Pesquisa Cientfica e Tecnolgica (CNPq) a apoiar o novo grupo em Recife, Mascarenhas argumentou que Rezende faria o meio de campo entre os outros cinco professores mais jovens e fsicos mais experientes, que trabalhavam nos Estados Unidos e, Mascarenhas apostava, aceitariam se mudar para Recife. Rezende entrevistou cinco dos seis supostos interessados, mas nenhum aceitou o convite. Durante alguns anos ele foi o nico doutor do grupo que ocupava o terceiro andar do prdio da engenharia e havia se organizado para dar aulas pela manh e fazer pesquisa tarde.

    Aprendemos a fazer barulho, comemoramos quando saiu o primeiro paper do grupo, mas tambm passamos por muitos embates, Rezende relata. Diziam que ns nos julgvamos elitistas e PhDeuses. A credibilidade cientfica facilitou a aprovao de um financiamento para construir o prdio atual, inaugurado em 1982. Do atual corpo de 40 professores, trs outros do grupo inicial Cid Arajo, Jos Rios Leite e Maurcio Coutinho Filho continuam no departamento.

    10 da turma, que o deixou mais confiante. Ele terminou o mestrado e emendou com o doutorado, dessa vez com uma bolsa da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes). Quase quatro anos depois, j casado e com duas filhas pequenas, achou que era hora de retornar ao Brasil. Nessa poca o Itamaraty reuniu estudantes e pesquisadores brasileiros nos Estados Unidos, motivandoos a voltar. Rezende recebeu um convite para ir a uma dessas reunies, no pde, mas j tinha decidido: Alm da presso familiar, ele conta, eu achava que voltar era uma obrigao minha. Em 1967 o Jornal do Brasil o entrevistou e noticiou: O primeiro que veio do Norte.

    OpOrtunidade histrica

    Rezende lecionou no Departamento de Fsica da PUC durante trs anos, depois se mudou com a famlia para Campinas, como professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Seis meses depois

    Em novembro de 1947, na primeira

    comunho, com os pais, Lo e Elsa, e a

    irm mais velha, Eliza. Ao lado, em 1967,

    com David Bullock, no MIT. Acima, em

    1972, no laboratrio do ento nascente

    Departamento de Fsica da UFPE,

    Rezende (o terceiro, da esq. para a dir. ),

    Maurcio Coutinho e Cid Arajo

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    O Departamento de Fsica da UFPE, um dos melhores do pas, se expandiu para alm do magnetismo, a rea inicial, e hoje abriga equipes em outros campos, como ptica, supercondutividade, polmeros, semicondutores e ressonncia magntica; cada grupo expe as primeiras pginas dos artigos mais recentes em murais na entrada dos respectivos territrios, o que no muito comum em universidades e institutos brasileiros.

    Sergio Rezende foi um pioneiro em levar a cincia brasileira para o Nordeste, comenta Srgio Mascarenhas. O Departamento de Fsica foi o ncleo a partir do qual se fez o Centro de Cincias Exatas e da Natureza (CCEN), que rene tambm os departamentos de Qumica, Matemtica e Estatstica. Como terceiro diretor do centro, Rezende exercitou sua habilidade de conciliador, bastante valorizada por quem o conhece: O CCEN o resultado de um processo de convencimento de lideranas potenciais, para formarmos um grupo com objetivos semelhantes. Se

    no trabalharmos de modo coletivo, no conseguiremos fazer um bom trabalho.

    Em 1987 Rezende tentou ser reitor, no foi eleito, mas descobriu algo importante: no poderia ser poltico nem concorrer a cargos eletivos. No sei fazer promessas e depois no cumprir. Prefiro dizer no quando necessrio, explicando por que no. Em 1989, o governador Miguel Arraes o convidou para assumir a diretoria cientfica da recmcriada Facepe, instalada em trs salas do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), em frente UFPE.

    coube a ele a tarefa de elaborar as modalidades e os formulrios de pedidos de apoio financeiro para pesquisadores e estudantes, com base no que havia visto nas fundaes de So Paulo (FAPESP) e do Rio de Janeiro (Faperj). Em julho de 1990, no auditrio do Itep, Rezende apresentou os formulrios e as modalidades de apoio, agradeceu aos polticos de Pernambuco, que haviam incentivado a criao da fundao, e lembrou que qualquer pedido seria

    Em 1998, Rezende com Arraes (acima esq.) e Mascarenhas (acima dir.), em campo em 1982 (primeiro agachado direita) e em 2013, no lababoratrio

  • 19e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    julgado por especialistas com base no mrito das propostas, no por bilhetinhos de pessoas influentes, ele ressaltou. Arraes o procurou em seguida para dizer que os colegas haviam se surpreendido com tamanha franqueza e que ele prprio jamais pediria uma bolsa para quem quer que fosse.

    planO dO gOvernO

    Rezende conheceu o ento candidato a presidente Luiz Incio Lula da Silva, na reunio anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC) de 1998, em Natal. Rezende o ajudou a elaborar o plano de governo, Lula gostou de sua viso nacionalista sobre cincia e tecnologia, que implicava a valorizao e integrao das instituies de ensino e pesquisa, e o convidou para ser ministro assim que assumiu a Presidncia. Rezende disse que ainda no estava preparado para um cargo to alto, mas no escapou inteiramente: em 2003 ele assumiu a presidncia da Finep, o que lhe permitiu, diz ele, ver o ministrio por dentro, no por cima, e interagir com os institutos de pesquisa.

    Em 2005 ele foi para o ministrio e comeou a trabalhar com sua equipe em um plano de ao de cincia e tecnologia. Eu dizia: Se no fizermos, algum vai fazer. Desde o incio eu dizia que era para ser um plano do governo, no do MCT, com a participao indispensvel dos outros ministrios. Lula falou com os outros ministros e fizemos tudo sem dizer que era do MCT. Anunciado em 2007, o Plano de Ao em Cincia, Tecnologia e Inovao Pacti 20072010 previa investimentos de

    R$ 41 bilhes e promovia a integrao entre as aes do governo federal em cooperao com os governos municipais e estaduais. Uma das iniciativas mais visveis foram os 122 Institutos Nacionais de Cincia e Tecnologia (INCTs), criados dentro do CNPq. Rezende acredita que os INCTs contriburam para descentralizar a produo cientfica nacional. Cinco INCTs esto no Amazonas, ele diz. O maior gargalo ainda so empresas. A maioria ainda no acredita que podemos inovar e que a inovao pode mudar a vida delas.

    Acompanhei a criao do ministrio, conheci todos os ministros e posso afirmar, por experincia prpria, que Sergio Rezende mudou a cincia e tecnologia no pas, diz Mascarenhas. Sergio Rezende um exemplo que merece ser mostrado no s juventude como aos polticos, por ser um cientista que encara como obrigao social a necessidade de tirar o pas de nosso atraso centenrio. Pouco antes de sair do ministrio, Rezende reuniu seus artigos e reflexes sobre poltica cientfica e tecnolgica, publicados desde 1970, no livro Momentos da cincia e tecnologia no Brasil Uma caminhada de 40 anos pela C&T (Vieira e Lent, 2010). Em 2010, ao retomar a vida de pesquisador em tempo integral, ele chegava s oito da manh universidade. Hoje minha inquietao est voltada inteiramente para a cincia. Quero fazer mais coisas novas. n

    Em 2013, com a famlia no Rio: em p, as

    filhas Cludia, Isabel e Marta, Adlia, a

    mulher, e Elsa, a me; sentados, os netos

    Sebastio, Francisco, Julieta (no colo), olvia,

    Pedro e Joo. Abaixo, de frias com

    Adlia no Laos

    um cientista que encara como

    obrigao moral a necessidade de

    tirar o pas de nosso atraso

    centenrio, diz Mascarenhas

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  • 20 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    Moraes: amplo histrico

    de sucesso na gesto

    de instituies

    D urante uma das numerosas homenagens que recebeu, o mdico-cirurgio Marcos Moraes discursou sobre as dificuldades enfrentadas pelos hospitais filantrpicos, que tratam mais de um tero de todos os casos de cncer do pas. Sugeriu que eles deveriam ter uma lei de renncia fiscal prpria, similar Lei Rouanet para cultura. Lanada em 2010, a ideia germinou rapidamente e em 2012, por meio de medida provisria, foi institudo o Programa Nacional de Apoio Ateno Oncol-gica (Pronon) com o objetivo de captar e canalizar recursos para preveno e combate ao cncer. Em abril de 2013 a lei foi regulamentada por decreto presidencial.

    Marcos Moraes atualmente presidente da Fundao do Cncer, da Academia Nacional de Medicina e coordenador do Programa de Oncobiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A homenagem descrita acima ocorreu em agos-to de 2010 durante a primeira edio do prmio Octavio Frias de Oliveira, concedido pelo Instituto do Cncer do Estado de So Paulo (Icesp) a personalidades de destaque no combate doena no Brasil. O prmio foi entregue pelo ento vice-pre-sidente, Jos de Alencar, que travava uma luta contra o cncer havia 13 anos. Depois da cerimnia, ele me disse: Quero ser o padrinho dessa histria, conta Moraes.

    O cirurgio uniu-se ento a Paulo Hoff, professor titular de oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (USP) e diretor-geral do Icesp alm de mdico de Dilma Rousseff , e a Aristides Maltez Filho, da Associao Brasileira de Instituies Filantrpicas de Combate ao Cncer, e enco-mendou ao advogado Srgio de Andra, redator da Lei Rouanet, um projeto nos mesmos moldes para conseguir recursos con-

    Marcos Moraes extirpa tumores na sala de cirurgia e luta para diminuir o nmero de casos de cncer usando a legislao e criando estratgias de controle

    Combate em duas frentes

    mediCina

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  • 22 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    tra o cncer. Depois que Dilma foi eleita, os trs conseguiram uma audincia e a presidente se disps a apoiar a iniciativa por ser uma lei que envolve renn-cia fiscal, ela tem de partir do Poder Executivo. Quando che-gou ao Congresso, a lei recebeu algumas mudanas e Moraes, Hoff e Maltez se envolveram no corpo a corpo com deputados e senadores para convenc-los da necessidade de a medida ser publicada sem muitas modifi-caes. Foram bem-sucedidos. Batizada de Lei Jos de Alencar, ela permitir a pessoas jurdicas

    e fsicas fazer doaes a projetos de pes-quisa de combate ao cncer e abater do imposto de renda. a primeira lei que contempla a sade atravs da renncia fiscal, diz Moraes, ainda surpreso dian-te da rapidez com que tudo aconteceu.

    Essa foi a ltima conquista que Marcos Fernando Oliveira Moraes, de 77 anos, se tornou protagonista. A primeira talvez tenha sido quando saiu adolescente da alagoana Palmeira dos ndios para estu-dar no que era considerada a melhor es-cola do pas, o Colgio Pedro II, no Rio de Janeiro. Meu pai viu um anncio no jornal informando que a escola oferecia bolsa integral para dois estudantes de ca-

    da estado brasileiro, por meio de uma se-leo rigorosa, conta. Muito inteligente, ele me props o desafio de tentar estu-dar l. Moraes topou, estudou e passou. Foi para a capital da Repblica em 1950 e cursou o colegial (atual ensino mdio) como aluno interno.

    n os dois anos seguintes continuou no Pedro II, mas como inspetor de alunos. Tinha cama e comida, o suficien-te para me ajudar durante os primeiros anos do curso de medicina na Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade Es-tadual do Rio de Janeiro (Uerj), relata. Aquele foi um bom perodo para o jovem universitrio. Quando j no tinha mais o colgio para abrig-lo, Moraes dividiu um conjugado com Oduvaldo Viana Filho e Luiz Ea respectivamente, dramaturgo e pianista, ambos de grande talento , no incio dos anos 1960, que ele conheceu no Centro Popular de Cultura (CPC). Via-ninha e Luizinho Ea me apresentaram rica e bomia vida cultural da cidade, es-creveu o mdico por ocasio de sua posse como professor honorrio da UFRJ, em 2012. Tempos da bossa nova, do Beco das Garrafas, da Fiorentina, do Zum-Zum e do meu lindo Rio explodindo de felicidade.

    alegria dos tempos de estudante se-guiu-se a dura vida de mdico pro curando se afirmar na profisso no Hospital Silves-

    Com as quatro irms e um irmo ainda em Palmeira dos ndios, Alagoas, onde nasceu, e na formatura do ginsio, em 1953

    Conseguimos aprovar a primeira lei que contempla a sade por meio da renncia fiscal, diz Moraes {

  • 23e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    Nmero de fumantes acima dos 15 anos

    1989 32%

    2008

    nove anos, tempo suficiente para imple-mentar as mudanas necessrias.

    A Fundao do Cncer surgiu por sua iniciativa, em 1991, para dar suporte finan-ceiro ao Inca. Era preciso contratar mdi-cos, tcnicos e equipar melhor o prdio. Os programas j em andamento foram ampliados e outros criados, como o de de-teco precoce do cncer e o de combate ao tabagismo. Alguns hospitais, como de

    tre e no Hospital Ipanema. Nos anos 1970 voltei a trabalhar no Ipanema, que era o melhor centro de cirurgia gastroenterol-gica do pas, conta. Antes de partir para sua primeira experincia em instituies no exterior, ele ainda passou trs anos no Hospital Santa Rita de Palmeira dos n-dios. Era uma experincia pela qual eu achava que tinha de passar.

    Do Rio e do interior de Alagoas, Mo-raes saltou para a Universidade de Illi-nois, em Chicago, Estados Unidos, onde ficou entre 1975 e 1977. Foi um perodo fundamental na sua vida profissional ao trabalhar com dois grandes cirurgies, Lloyd Nyhus e Tapas Das Gupta, e aliar a pesquisa cientfica formao em ci-rurgia oncolgica. Suas principais reas de atua o como cirurgio so: tubo di-gestivo, mama, sarcoma, plvis e melano-ma. Hoje ele ainda interna e opera seus pacientes no Hospital Samaritano. Quem o conhece um pouco mais no mede elo-gios. Ele foi um dos pioneiros na cirurgia oncolgica moderna no Brasil, ajudou a internacionalizar a medicina do pas e extremamente capaz, diz Paulo Hoff.

    controle de cncer

    Quando voltou dos Estados Unidos che-fiou o Departamento de Cirurgia do Hos-pital Universitrio da Universidade Gama Filho e reuniu um bom time de cirurgies, como Armando de Oliveira e Silva, Jos Reinan Ramos e Florentino Cardoso. Cer-ta noite de dezembro de 1989, o telefone tocou em sua casa s 23 horas. Do outro lado, o recm-eleito Fernando Collor de Mello, que ele no conhecia, disse que tinha boas informaes sobre ele e o con-vidou a escrever o Programa Nacional de Controle de Cncer do governo. Aceitei e por dois meses trabalhei no edifcio Bolo de Noiva em Braslia, conta.

    No programa foi especificado que a poltica de controle da doena deveria ser feita pelo Instituto Nacional de Cncer (Inca), que, segundo Moraes, no passava de um hospital comum na praa da Cruz Vermelha. Graas ao programa o instituto se tornou um departamento do Ministrio da Sade e passou a orientar a poltica de combate ao cncer no Brasil. Moraes foi nomeado seu diretor e ficou no cargo por

    Maratonista amador at os 59 anos, aqui

    Moraes aparece com o Rio ao

    fundo, vestido com a camiseta de sua ltima maratona,

    realizada em Boston

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    Contra o fumoAlguns avanos do Programa Nacional de Controle do Tabagismo

    Estados com leis antifumo

    Roraima

    Amazonas

    Rondnia

    Paraba

    Rio de JaneiroSo Paulo

    Paran

    foNTe: iNCA

    17,2%

    32%

  • 24 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    Oncologia, o Luza Gomes de Lemos e o Pro-Onco, foram incorporados ao Inca. Em 20 anos, a fundao investiu mais de R$ 1,5 bilho no instituto.

    O mais importante de minha gesto foi a implantao de uma poltica obstinada de combate ao tabagismo, orgulha-se. De fato, os nmeros impressionam. Em 1989, 32% da populao acima dos 15 anos fumava; em 2008, 17%. Pelo menos sete estados brasi-leiros adotaram leis antifumo que probem o cigarro em ambientes coletivos, alm de outras medidas que desestimulam o hbito de fumar (ver quadro na pgina 25). A re-vista mdica britnica The Lancet publicou estudo em junho de 2011 indicando uma reduo das doenas crnicas degenerati-vas no Brasil e relacionando essa queda ao controle do tabagismo nos ltimos anos.

    O trabalho de Moraes ex-maratonista amador e pai de Marcelo e Marcos tem relao com dois outros temas de extrema importncia para ele: a pesquisa cientfica e os cuidados paliativos. Como diretor do Inca e presidente da Fundao do Cncer, apoiou a pesquisa no hospital, concedeu bolsas para pesquisadores e recursos para estudos, alm de criar mecanismos para

    formalizar contratos com a indstria far-macutica e receber doaes. Sem a fun-dao, no haveria pesquisa laboratorial consistente nem a parte translacional, diz Jerson Lima da Silva, professor titular do Instituto de Bioqumica Mdica da UFRJ e diretor cientfico da Fundao de Ampa-ro Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O Marcos foi importantssimo nesse processo, corrobora Paulo Hoff.

    a coordenao do Programa de On-cobiologia da UFRJ tambm par-te das atribuies de Moraes. Criado em 2000 para agregar grupos de pesquisa em cncer de vrias universidades e centros cientficos, comeou com 13 cientistas e hoje rene 27 grupos de pesquisa, com cerca de 300 integrantes. A dotao or-amentria vem da Fundao do Cncer. Ele estimula a cooperao entre os gru-pos e tem um efeito catalisador enorme, testemunha Jerson Lima.

    Hoje Moraes tambm ocupa a pre-sidncia da Academia Nacional de Me-dicina (ANM) pela segunda vez e traba-lha para torn-la sustentvel. Estamos terminando o retrofit do prdio antigo

    No Hospital Samaritano, no Rio, em 2011. l onde ele ainda interna e opera seus pacientes

  • 25e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    e conclumos um edifcio novo, para dar amparo econmico instituio, conta ele. E recentemente estabelecemos o pla-nejamento estratgico para a ANM com o auxlio da Fundao Dom Cabral. As intervenes certamente ajudam a mudar o futuro da academia.

    u ma preocupao que vem dos pri-meiros tempos de Moraes no Inca com os cuidados paliativos dos doentes terminais. Quando comeou a trabalhar no Plano Nacional de Controle de Cncer, ele recrutou profissionais da rea para ajud--lo. Entre os integrantes estava a oncolo-gista Magda Rezende, ento responsvel pelo Grupo Especial de Suporte Terapu-tico Oncolgico (Gesto), organizao cria-da em 1986 e registrada em cartrio para poder se organizar, arrecadar fundos e trabalhar com menos burocracia. Ao as-sumir a direo do Inca, Moraes colocou o Gesto para prestar servios ao instituto.

    O princpio do cuidado paliativo da organizao dar conforto psicolgico, ma-terial e toda assistncia ao doente no final da vida. Ele no precisa passar suas ltimas semanas ou meses entubado e sedado em uma Unidade de Terapia Intensiva, sem nenhum poder de deciso, explica Magda. Pelo contrrio: o ideal que fique perto da famlia, vivendo seus ltimos momentos em um lugar acolhedor. Hoje o Inca atende 300 doentes em casa com direito a oxignio, remdios e treinamento das pessoas prxi-mas. Os mais carentes recebem assistncia extra, como cestas bsicas.

    Quando no h mais nada a fazer, sempre h alguma coisa a fazer, uma

    frase que Marcos Moraes repete vrias vezes quando fala dos cuidados paliativos. A Fundao do Cncer investe, no mo-mento, na construo de um prdio tr-reo para onde os pacientes terminais sem recursos podero ir de modo a aproveitar o resto da vida. o conceito de hospice, como chamado no exterior, palavra que significa acolhida, hospedagem. um local com 300 mil metros quadrados no bairro de Vargem Pequena, no Rio, que dever ser bonito, com portas e janelas voltadas para jardins floridos onde o pa-ciente com pouco tempo de vida dever estar integrado famlia e no isolado na UTI, diz Moraes. Um jeito, enfim, de partir com dignidade. n

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    Ajuda da legislaoRestries legais ao cigarro no Brasil conseguidas nos ltimos anos

    1 fixao dos limites mximos de alcatro, nicotina e monxido de carbono para cigarros vendidos no pas

    2 Proibio do uso de descritores de produtos como light, ultralight, suave, baixos teores etc., que do a falsa impresso de serem mais saudveis

    3 Proibio da propaganda de cigarro na mdia

    4 Proibio do patrocnio de eventos culturais e esportivos pela indstria do tabaco

    5 Proibio do fumo em ambientes coletivos fechados

    6 incluso de imagens e mensagens de advertncia sobre os malefcios do fumo nos maos dos produtos derivados do tabaco vendidos no Brasil

    7 A criao de taxa anual de registro de todos os produtos derivados do tabaco vendidos no Brasil, com a obrigatoriedade da informao por parte da indstria do fumo sobre a composio deles

    foNTe: iNCA

    Moraes entre Tapas Das Gupta (esq.) e lloyd Nyhus, em 1998. Ambos foram seus chefes em Chicago. Abaixo, com as irms Maria Aparecida (esq.) e Maria de oliveira e os filhos Marcelo e Marcos, ainda jovens, em 1990

  • 26 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    Joo Carlos Martins: Nasci

    pianista e quero morrer

    pianista

    N a Bblia, J perde os filhos, a fortuna e os bens. E aguentou firme. Deus permitiu ainda que Satans o ferisse de lceras malignas, desde a planta do p at o alto da cabea. Ele con-tinuou em frente. Aps suportar tudo, enfim J foi premiado pelo Criador. Hoje, porm, ningum se lembra de que, antes de tudo isso, ele era um homem nico pela sua integridade. S falam da sua superao. O pianista e regente Joo Carlos Mar-tins, longe da retido da figura bblica, humano, demasiado humano, como todos ns. O seu maior terror justamente ser conhecido, como J, apenas pelas mazelas de sua vida, que so muitas, e no pelas conquistas como artista.

    Eu recebi um talento de Deus e vrias vezes no soube dar valor a esse presente. H, porm, muita gente que fala que eu quero me dar bem com a minha histria de superao, com o fato de ter aparecido no final da novela Viver a vida e dar autgrafos nos aeroportos e tirar foto com as pessoas, conta Joo, cujo nome, curiosamente, lembra o de J. Na verdade, a histria de superao s me serve para eu poder espalhar a msica pelos brasileiros. um crime tocar a Quinta sinfonia, de Beethoven, no Domingo do Fausto se consigo, com isso, alcanar 10 milhes de pessoas ao vivo?, pergunta o maestro. Martins faz clculos rpidos das apresentaes da sua orquestra, a Bachiana Filarmnica, que fundou em 2004: so 2 milhes de pessoas nos concertos fechados, 3 milhes em apresentaes abertas e 5 milhes de espectadores nos megaeventos, como no show do rveillon de So Paulo no final de 2012. Onde no Brasil h um pblico desse para msica clssica?

    Para alm dos nmeros de pessoas que ouvem msica, Mar-tins responsvel por um grupo crescente de crianas que apren-

    Hoje mais conhecido como exemplo de superao, Joo Carlos Martins gosta mesmo de ensinar a paixo pela msica aos jovens e de tocar Bach

    Joo, um pianista

    Cultura

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    de a tocar msica. Temos 4 mil crianas que so introduzidas nesse universo pela Fundao Bachiana. Temos ncleos de es-tudo com o mtodo la corda, que trabalha, num primeiro mo-mento, a formao de grupos de cordas, j que, nas orquestras, 60% dos instrumentistas so des-se naipe. Quero formar mil or-questras at fazer 80 anos, fala.

    Voc consegue mudar a vi-da de toda uma comunidade por meio da msica. Um exemplo: se voc est vendo um jogo de fu-tebol e o Messi faz um gol pela Argentina, a vontade de matar

    os argentinos. Mas, na mesma noite, se voc ouvir um tango a sensao de pura beleza. A msica serve, justamente, pa-ra reunir as pessoas, acredita o maestro. Por isso, no dia 24 de dezembro, Martins planeja tocar Jesus, alegria dos homens, da cantata de Bach, com 70 orquestras es-palhadas pelo Brasil que seriam reunidas pela internet, com ele regendo de algum monumento, talvez, sonha, o Cristo Reden-tor. Sou adepto de uma sabedoria chinesa que diz que para multiplicar voc precisa dividir, observa Martins. Villa-Lobos queria fechar o Brasil em forma de cora-o em torno da msica. Imagine o que ele faria hoje com a internet e a televiso.

    E sse entusiasmo acompanha o m-sico desde criana, quando, aos 8 anos, o pai o inscreveu num concurso pa-ra tocar Bach e ele venceu seu primeiro desafio. O autor do Cravo bem temperado virou a obsesso de Martins, que j gra-vou toda a sua obra para teclado, pelo se-lo americano Concord, em 19 CDs, numa leitura que foi comparada, pela origina-lidade, s verses radicais do canadense Glenn Gould. Com Bach, eu procurei ter a relao de um compositor europeu que pegou uma caravela e veio conhecer o Brasil. Respeito o texto original, mas dou a viso de um brasileiro sobre a obra de Bach. E para isso voc precisa ter uma coragem danada. A concepo rtmica e meldica de um pianista brasileiro cer-tamente no a de um europeu, explica.

    Para Martins, Bach foi a sntese e a profecia de tudo e ele continua caminhan-do atravs dos sculos. Qual seria o Bach de hoje? Primeiro, ele se encontraria com o Bill Gates e diria: Bill, no adianta voc tentar fazer um computador com alma. O nico fui eu e Deus guardou essa frmula para outro sistema planetrio, no para a Terra. Bach foi um computador e um computador com alma. A msica de hoje seria feita com todas as alternativas mu-sicais de hoje, combinando a matemti-ca precisa e a alma, acredita o pianista e regente. Quando Bach escrevia nova

    Com Heitor Villa-Lobos (abaixo, esq.) e com a pianista Guiomar Novaes

    Voc consegue mudar a vida de toda uma comunidade por meio da msica, fala o maestro{

  • 29e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    curso de um sculo aparece uma pessoa to predestinada como voc, Joo Carlos.

    Mas o talento que ganhou de Deus foi submetido a muitas provas. Numa partida de futebol feriu-se e, como diz, no teve a maturidade para ficar na msica e se afas-tou. Quando resolveu voltar, o segundo baque: uma leso por esforo repetitivo o tirou novamente da msica e ele, mais uma vez, confessa que lhe faltou a matu-ridade para ficar. Vendeu todos os pianos e chegou a virar empresrio de boxe. Na terceira vez, ao tentar um retorno ao te-clado, foi espancado durante um assalto na Bulgria, onde estava gravando um disco, o que tirou dele novamente parte do mo-vimento das mos. A eu vi que precisava lutar com todas as foras para permanecer na msica. Lutando contra dores fortes, precisou fazer uma reprogramao cere-bral e tentou tocar s com a mo esquerda.

    Sonhou uma noite com o maestro Eleazar de Carvalho, seu velho amigo, e decidiu, aos 64 anos, se transformar em regente. Teve apenas poucas aulas e, em oito anos, passou da marca dos mil con-certos. Foi uma mudana na minha vida: procurar a excelncia musical com res-ponsabilidade social. Vi que era hora de retribuir o fato de ter conseguido perma-necer na msica ainda que pela regncia,

    msica, ou quando Beethoven, mesmo surdo, fazia msica, no consciente eles se julgavam menores do que eram. No subconsciente, tenho certeza de que eles sabiam estar deixando um legado para a humanidade. Eles sabiam que eram me-lhores. Mas todo cara que muito bom tem uma certa timidez.

    conselho de dal

    Reza a lenda que, h muitos anos, durante um jantar com a atriz Mia Farrow, Mar-tins ouviu um conselho maroto de Sal-vador Dal: Comece a dizer que voc o maior intrprete de Bach, e em 30 anos o mundo vai acreditar em voc. Mas m-sicos srios afirmam que ele sabe o que toca. A identificao, a compreenso e o amor de Joo por Bach inquestionvel, comovente e autntico. E ele no parou por a. Sua explorao do repertrio re-vela inteligncia, originalidade e dedica-o. A arte dele consequncia direta de sua imensa humanidade, elogia o colega pianista Jean-Louis Steuerman. Ele traz uma mensagem muito bonita, em especial para aqueles que enxergam alm do b-vio, concorda o tambm pianista Nelson Freire. Aos 12 anos, aps um concerto, recebeu um bilhete de uma admiradora especial: Guiomar Novaes. Raramente no

    Joo Carlos Martins, de frente,

    toca Bach em dueto com o

    colega jazzista Dave Brubeck no

    Lincoln Center, em Nova York

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    diz Martins. Apesar de ter penado como J, ao contrrio do personagem bblico, o pianista reconhece seus muitos erros. Nunca deveria ter entrado para a pol-tica. Vejo, agora, que um artista no pode se envolver nessas coisas quando recebe um dom divino, fala.

    Por isso tambm fala sem rodeios que no se arrepende de ter colocado sua orquestra para tocar com sertane-jos, para ele uma estratgia para atingir um bem maior. Eu queria que o pblico do sertanejo entendesse a fora da m-sica clssica. Se tocamos Beethoven com Chitozinho e Xoror foi para que, hoje, pudssemos fazer o que bem entendsse-mos. A orquestra ficou conhecida e estou radicalizando a programao, revela. O maestro diz que, dos mil concertos, ape-nas 30 foram nessa direo mais pop, o que representaria, segundo ele, menos de 2% do total de apresentaes. A sua nova solista, numa apresentao em So Paulo, em novembro, tambm polmica: a secretria de Estado do governo Bush, Condoleezza Rice, que tocar o Concerto para piano, de Schumann, com a Bachiana.

    n ada mais natural para um grupo que j fez dupla com a bateria da escola de samba paulista Vai-Vai, que, em 2011, homenageou o regente com o enre-do A msica venceu, levando o estandarte do Carnaval daquele ano com a histria de Martins. Foi a vitria da msica cls-sica, do nome de Bach do Sambdromo. Eu tive uma vida cheia de altos e baixos e um reconhecimento da seriedade dos meus trabalhos, tanto na msica quanto na parte social, avalia o pianista.

    Martins gosta de lembrar que faz con-certos para crianas da periferia na ina-tingvel Sala So Paulo. Levei quase 2 mil crianas num concerto outro dia. Quando perguntei quem teve vontade de chorar, quase 80% da garotada levantou a mo. Ter acesso boa msica um direito de todos os segmentos da sociedade. Em re-conhecimento a essa ateno dispensada s crianas, o cartunista Mauricio de Sou-sa criou o Maestrinho Joca, personagem inspirado em Joo Carlos Martins que, at o final do ano, ir incentivar as crianas a ouvir boa msica. Quem mexe com msica sabe. Criana adora msica cls-

    Joo Carlos quer voltar a tocar com as duas mos em 2015 num concerto de Mozart

  • 31e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    sica, os pais que geralmente no gostam tanto. Se deixar, ela vai embora ouvindo, afirma Mauricio, seu amigo de longa data.

    Alm disso, est programado um filme em sua homenagem, em que o ator Mar-celo Serrado ir interpret-lo. Milagre das mos, com direo de Bruno Barreto, comea a produo em dezembro e est previsto para circular em 82 pases. O Marcelo Serrado ir emagrecer alguns quilos. Ele tem a vantagem de tocar pia-no. Eu li o roteiro e garanto que, depois de seis minutos de filme, vai ter muita gente com lgrimas nos olhos, acredita o pianista. Aps amargar um ostracismo forado, Martins est de volta com toda a fora. A pessoa quando nasce como uma flecha, ela tem que alcanar o seu destino. Ela pode ter desvios, mas ela vai alcanar o seu destino. Na vida voc pode ter erros e acertos, os erros voc corrige e os acertos voc procura aprimorar, avisa.

    Ele um smbolo de que foi progra-mado para no desistir, como ensinava o nosso pai. Se todos tivessem 10% da viso social que ele tem, talvez o Brasil tives-se menos problemas com seus jovens. Eu sou o irmo mais velho, ele, o caula, mas sempre vou admirar a grandeza e energia em criar talentos e ajudar as pes-soas, diz o jurista Ives Gandra Martins. Apesar desse entusiasmo, Martins no se conforma em ter parado de tocar piano, uma dor que no o abandona. Suas his-trias com o piano so sempre memor-veis, como quando tocava no Alasca, em 1970, as partitas de Bach e algum lhe avisou que o pianista Dave Brubeck es-

    tava na plateia. Em homenagem ao jazzista, Martins tocou como bis Thank you, tributo a Chopin composto por Brubeck, que foi dar o seu thank you no cama-rim do brasileiro. O seu Bach to enrgico que tive de mandar meus filhos pararem de bater os ps no cho para acompanhar voc como se fosse jazz, elo-giou o colega americano.

    No nego que a regncia te-nha me dado muita coisa boa, mas nasci pianista e quero mor-rer pianista. Acordo todos os dias pensando nisso, revela. Em no-vembro, ele vai tocar o Concerto para mo esquerda, de Ravel, com Roberto Minczuk frente da Orquestra Sinfni-ca Brasileira. Se tudo continuar bem, em 2015 quer se submeter a uma nova cirur-gia para retirar um tendo da perna e im-plantar na mo direita e, enfim, tocar no-vamente um concerto, de Mozart, com as duas mos. Infelizmente, basta uma busca rpida pela internet para perceber que h poucas referncias ao seu nome como grande intrprete de Bach e muitas como um exemplo de superao. No passado, era o oposto: alm de matria de muitas crticas elogiosas e entrevistas, Martins foi assunto de trs pginas do prestigiado jornal americano The New York Times. Aplaudir apenas a sua fora de vontade no a melhor forma de elogi-lo, pedin-do a ele que tenha uma pacincia de J at que o pblico volte a falar apenas do talento de Joo, um artista. n

    regendo a Bachiana e, abaixo, frente da

    escola de samba Vai-Vai como enredo

    vencedor de 2011

    A pessoa quando nasce

    como uma flecha que tem

    que alcanar o seu destino,

    diz Martins

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  • 32 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    O sufOcO das espcies nativas

    O ensaio Sufocamento a mais pura expresso de um sentimento guardado h muito tempo por Pedro David. O fotgrafo natural de Santos Dumont, municpio de Minas Gerais, nunca se conformou com os reflorestamentos feitos exclusivamente com eucaliptos para alimentar os fornos de siderrgicas. Ao deparar com rarssimos exemplares de outras espcies de rvores nati-vas em meio a grandes extenses de plantaes de eucaliptos ele conseguiu dar concretude quela sensao de sufoco pro-vocada pelo predomnio de uma nica espcie. O ensaio feito em janeiro de 2012 ganhou o prmio de Arte 2012.

    O segundo lugar ficou com o paulista de So Jos do Rio Pardo Mauro Restiffe, com Planos de fuga, e o terceiro com o paulistano Bob Wolfenson, com Belvedere. Os trs recebero R$ 200 mil: o primeiro colocado ganhar R$ 114,3 mil e o segun-do e o terceiro R$ 42,8 mil cada um. Eles sero presenteados tambm com a j tradicional escultura representando o prmio, de autoria do artista plstico Vlavianos.

    Em 2012 o prmio de Arte recebeu trabalhos de 468 fot-grafos, um nmero recorde. Foram cerca de 7 mil imagens de ensaios fotogrficos inditos e publicados de 21 dos 26 estados brasileiros, alm do Distrito Federal. Os ganhadores foram es-colhidos por um jri de nove professores de universidade e fotgrafos, presidido por Rubens Fernandes Junior, curador de fotografia da FCW e diretor da Faculdade de Comunicao e Marketing da Fundao Armando lvares Penteado (Faap).

    2012finalistas

    ana Carolina fernandes

    Claudia Jaguaribe

    Daniel Moreira

    Dirceu Maus

    Gilvan Barreto

    Jos Diniz

    Marcelo argolo

    Marcos Muniz da silva

    Mazzo

    nilmar lage

    Roberto Wagner

    Valdemir Cunha

    arte

  • 33e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    1 lugar

    Sufocamento,

    de Pedro David

    ensaio

    fotoGRfiCo

  • 34 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

  • 35e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    rvores solitrias completamente envolvidas pela floresta de eucaliptos inspiraram Pedro David a fazer o ensaio como uma denncia. O eucalipto cobra um alto preo para realizar seu milagre desenvolvimentista: esgota a gua e os nutrientes do solo, seca nascentes prximas e espanta totalmente a fauna, que no suporta seu odor, diz ele, que realizou o trabalho em janeiro de 2012

  • 36 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

  • 37e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

  • 38 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    2 lugar

    Planos de fuga,

    de Mauro Restiffe

  • 39e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

  • 40 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    As fotos da srie retratam o entorno do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) no centro financeiro de So Paulo. Os personagens daquele espao so os trabalhadores dos bancos e instituies similares. As imagens foram feitas em meados de 2012 como proposta para a exposio do mesmo nome que aconteceu no CCBB, que questionava os parmetros da instituio como espao expositivo, conta Mauro Restiffe

  • 41e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

  • 42 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    3 lugar

    Belvedere,

    de Bob Wolfenson

  • 43e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

  • 44 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

  • 45e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    Belvedere um posto de observao privilegiado. Dele enxergo vultos do passado e do presente fundidos numa atmosfera de baixa temporada, to comum ao turismo de certa fatia da classe mdia na qual fui gerado e cresci, escreve Bob Wolfenson. O projeto de ensaio nasceu quando o fotgrafo viajava entre as cidades mineiras de Caxambu e Tiradentes, em 2011. Foi esse sentimento evocativo embaralhado fotogenia dos ambientes vazios e/ou decadentes que norteou a organizao desta sequncia de fotografias

  • 46 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    2011

    1 lugar

    Albinos,

    de Gustavo Lacerda

    2 lugar

    Negros paroxismos,

    de Lucio Adeodato

    3 lugar

    Panoramas,

    de Cassio

    Vasconcellos

    ensAio

    fotoGrfiCo

    2010

    1 lugar

    TV P&B,

    de tadeu Vilani

    ensAio

    fotoGrfiCo

    2009

    fotoGrAfiA

    pubLiCitriA

    1 lugar

    O sol no cu

    de nossa casa, de

    Marcio rodrigues e

    Marco Mendes

    2 lugar

    Imagens humanas, de

    Joo roberto ripper

    ensAio

    fotoGrfiCo

    pubLiCAdo

    3 lugar

    Sem ttulo,

    de ricardo barcellos

    ensAio

    fotoGrfiCo

    indito

    1 lugar

    Ousadia mpar,

    de denise

    Wichmann

    1 lugar

    Cantora de pera,

    de Jos Luiz

    pederneiras

    fotoGrAfiA

    pubLiCitriA

    1 lugar

    A curva e o caminho,

    de Andr franois

    ensAio

    fotoGrfiCo

    pubLiCAdo

    1 lugar

    Cidado X,

    de Jlio bittencourt

    ensAio

    fotoGrfiCo

    indito

    2007

    fotoGrAfiA

    pubLiCitriA

    1 lugar

    Caminhos do corao,

    de Alexandre salgado

    2 lugar

    120 razes para ser

    cliente completo,

    de Gustavo Lacerda

    1 lugar

    Redemunho,

    de Joo Castilho

    ensAio

    fotoGrfiCo

    2008

    2 lugar

    Drom,

    o caminho cigano,

    de Gui Mohallem

    3 lugar

    ndios contemporneos,

    de Kenji Arimura

    2 lugar

    O homem e a terra,

    de Lalo de Almeida

    2 lugar

    Vi elas, de francilins

    Castilho Leal

  • 47e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    2006

    1 lugar

    Tim: viver sem

    fronteiras,

    de Gustavo Lacerda

    2 lugar

    Abrao,

    de ricardo de Vicq

    fotoGrAfiA

    pubLiCitriA

    1 lugar

    O cho de Graciliano,

    de tiago santana

    2 lugar

    Numa janela do edifcio

    Prestes Maia, 911,

    de Julio bittencourt

    ensAio

    fotoGrfiCo

    1 lugar

    Existem chances

    de cura...,

    de Maurcio nahas

    2 lugar

    Gol. Sempre

    fiel a voc...,

    de Andreas Heiniger

    3 lugar

    Lonas Alpargatas:

    o superpoder

    do caminhoneiro,

    de Gustavo Lacerda

    fotoGrAfiA

    pubLiCitriA 1 lugar

    Irado,

    de ricardo Cunha

    2 lugar

    Borboleta,

    de paulo Vainer

    3 lugar

    Gordinha,

    de felipe

    Hellmeister

    fotoGrAfiA

    pubLiCitriA

    1 lugar

    Campanha do

    produto giz,

    de bob Wolfenson

    fotoGrAfiA

    pubLiCitriA

    fotoGrAfiA

    pubLiCitriA

    1 lugar

    Colorama,

    de Klaus Mitteldorf

    2 lugar

    AXE,

    de Maurcio nahas

    3 lugar

    ISA - Projeto gua Viva,

    de Allard

    2005 2004 2003 2002

    2 lugar

    Per,

    de Leonardo Martins

    Vilela, para Gstaff

    3 lugar

    Menino com bola,

    de Mrcia ramalho

  • 48 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo FAPESPLigada Secretaria do Desenvolvimento Econmico, Cincia e Tecnologia do Estado de So Paulo, uma das principais agncias de fomento pesquisa cientfica e tecnolgica. Desde 1962 concede auxlio pesquisa e bolsas em todas as reas do conhecimento, financiando atividades de apoio investigao, ao intercmbio e divulgao da cincia e tecnologia em So Paulo.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CapesVinculada ao Ministrio da Educao, promove o desenvolvimento da ps-graduao nacional e a formao de pessoal de alto nvel, no Brasil e no exterior. Subsidia a formao de recursos humanos altamente qualificados para a docncia de grau superior, a pesquisa e o atendimento da demanda dos setores pblicos e privados.

    Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPqFundao vinculada ao Ministrio da Cincia e Tecnologia para apoio pesquisa brasileira, que contribui diretamente para a formao de pesquisadores (mestres, doutores e especialistas em vrias reas do conhecimento). uma das mais slidas estruturas pblicas de apoio cincia, tecnologia e inovao dos pases em desenvolvimento.

    Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia SBPCFundada h mais de 50 anos, uma entidade civil, sem fins lucrativos, voltada principalmente para a defesa do avano cientfico e tecnolgico e do desenvolvimento educacional e cultural do Brasil. Academia Brasileira de Cincias ABCSociedade civil sem fins lucrativos, tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento da cincia e tecnologia, da educao e do bem-estar social do pas. Rene seus membros em 10 reas das Cincias: Matemticas, Fsicas, Qumicas, da Terra, Biolgicas, Biomdicas, da Sade, Agrrias, da Engenharia e Humanas.

    Academia Brasileira de Letras ABLFundada em 20 de julho de 1897 por Machado de Assis, com sede no Rio de Janeiro, tem por fim a cultura da lngua nacional. composta por 40 membros efetivos e perptuos e 20 membros correspondentes estrangeiros.

    Departamento de Cincia e Tecnologia AeroespacialCriado na dcada de 1950, uma organizao do Comando da Aeronutica que tem como misso o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento de atividades aeronuticas, espaciais e de defesa, nos setores da cincia e da tecnologia.

    Conselho Nacional das Fundaes Estaduais de Amparo PesquisaOrganizao sem fins lucrativos que tem por objetivo maior articular os interesses das agncias estaduais de fomento pesquisa em todo o pas. Criado oficialmente em 2007, o conselho j agrega fundaes de 22 estados mais o Distrito Federal.

    Marinha do BrasilIntegrante do Ministrio da Defesa. Contribui para a defesa do pas e atua na garantia dos poderes constitucionais e em apoio poltica externa do pas.

    INSTITuIeS PArCeIrAS DA FCW

  • 49e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    Jri dos prmios FCW de 2012

    CinCia parCeira que indiCouJacob palis Jr. / presidente abCarnaldo niskier abLCarlos a. Vogt FCWerney plessmann de Camargo FCWGlaucius oliva CnpqJorge almeida Guimares CapesJos roberto drugowich de Felcio FCWmarco antonio sala minucci FCWmario neto borges Confapregina pekelmann markus sbpCVilson rosa de almeida dCTaWalter Colli FapespWilson barbosa Guerra marinha do brasil

    CuLTura Celita procopio de Carvalho / presidente FCWana Lucia almeida Gazzola Capesana mae Tavares bastos barbosa FCWCarlos a. Vogt FCWCelso Lafer Fapespdomcio proena Filho abLGuilherme sales soares de azevedo melo CnpqJos murilo de Carvalho abCodenildo Teixeira sena Confaprute maria Gonalves de andrade sbpC

    mediCina renata Caruso Fialdini / presidente FCWandy petroianu Confapeduardo moacyr Krieger Fapesperney plessmann de Camargo FCWGuilherme suarez Kurtz Capesivo pitanguy abLJos Luiz de medeiros amarante Jnior marinha do brasilJos osmar medina pestana sbpCmarcelo andr barcinski FCWmarco antonio Zago FCW manoel barral netto Cnpq rubens belfort mattos Jnior abC

    arTe / ensaio FoToGrFiCorubens Fernandes Junior / presidente FCWCludia Guilmar Linhares sanz unbeugnio svio Lessa baptista Festival de Fotografia de Tiradentes / puC-mGHelouise Costa maC-uspJoaquim maral Ferreira de andrade puC-rioJos afonso da silva Jnior uFpeJuan esteves revista Fotografe Melhorricardo de Leone Chaves Fotgrafo e colaborador do jornal Zero Hora ronaldo entler Facom-Faapsilas Jos de paula Fotgrafo e professor da uFCe

  • 50 e s p e c i a l p r m i o c o n r a d o w e s s e l | p e s qu i s a fa p e s p

    11 de novembro de 2013

    11 a 22 de novembro de 2013

    27 e 28 de novembro de 2013

    2 de dezembro de 2013 a 10 de maro de 2014

    24 a 28 de maro de 2014

    9 de junho de 2014

    Prazo para recebimento das indicaes (Cincia e Cultura)

    Preparao dos dossis dos indicados (Cincia e Cultura)

    Julgamento e escolha dos premiados (Cincia e Cultura)

    Prazo para recebimento das inscries (Arte)

    Escolha dos premiados (Arte)

    Cerimnia de premiao

    CronogrAmA dA PrEmiAo 2013

    Fu n d a o Co n ra d o We s s e l | w w w. f c w. o r g. b r