Prêmio Qualidade na Educação Infantil - 2004

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Prêmio Qualidade na Educação Infantil 2004 Projetos premiados

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Prêmio Qualidade naEducação Infantil 2004

Projetos premiados

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Diretora do Departamento de Políticas de Educação Infantil e do Ensino Fundamental

Jeanete Beauchamp

Coordenadora Geral de Educação Infantil

Karina Rizek Lopes

Coordenação da Publicação

Ideli Ricchiero

Magda Patrícia Muller Lopes

Equipe Técnica da Coordenação Geral de Educação Infantil

Celza Cristina Chaves de Souza

Ideli Ricchiero

Magda Patrícia Müller Lopes

Neidimar Cardoso Neves

Roseana Pereira Mendes

Stela Maris Lagos Oliveira

Vitória Líbia Barreto de Faria

Equipe de Apoio da Coordenação Geral de Educação Infantil

Bráulio Ricardo Sousa Barroso

Garcia Alves Moreira

Maria Genilda Alves de Lima

Edição

Sâmia Formiga Mendes

Revisor

Gilberto D’Angelo Braz

Projeto Gráfico e Diagramação

Fernando Horta

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Índice

Apresentação ...............................................................................................................5

A gameleira .....................................................................................................................7

Graciliano Ramos ............................................................................................13

Revivendo as tradições ......................................................................................................18

Pequeno cidadão ..........................................................................................................23

Chega de silêncio: a arte das brincadeiras .........................................................................27

Brincarte ....................................................................................................................32

Navegando com Britinho .................................................................................................38

A praça que queremos .....................................................................................................44

Nas asas do Carcará ..........................................................................................................49

Arte: conhecimento que expressa liberdade para a vida .................................................54

Aprender inteirando-se com o mundo social: passeando também se aprende ...............58

Cartões telefônicos: uma alternativa de aprendizagem ...................................................62

É dia de espetáculo ..........................................................................................................66

Arte também se lê ..........................................................................................................70

Resgate de brinquedos e brincadeiras de nossos pais .......................................................74

Jogoteca: o prazer em conhecer ........................................................................................79

Chuá, chuá... a chuva vamos estudar .............................................................................84

Reciclando com arte para preservar a natureza ................................................................89

Uma mangueira em apuros ...........................................................................................94

Boi de Mamão ................................................................................................................99

Brincadeiras da Vovó: despertando fantasias e descobertas ...........................................104

Nós filhos da Terra... .......................................................................................................109

A primeira roda ..........................................................................................................115

Brincando e aprendendo com o Vovô .............................................................................119

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É com satisfação que o Ministério da Educação (MEC) apresenta aPublicação dos Projetos Premiados, na 5ª edição do Prêmio Qualidade na

Educação Infantil, versão 2004, em parceria com a Fundação Orsa e aUnião Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - Undime.

Este trabalho reúne os 24 projetos indicados, para divulgar as expe-riências de professoras e professores que atuam na Educação Infantil,em creches e pré-escolas públicas, nas diversas regiões brasileiras, fa-zendo-as emergir dos sistemas de ensino e comunidades onde foramdesenvolvidas.

Cada texto é um relato da prática diária desses mestres e suas

crianças. O Prêmio Qualidade reconhece o mérito da autoria das pro-

fessoras premiadas em 2004, valorizando e divulgando seus proje-

tos. Aqui estão registrados, sem dúvida, trechos da história da edu-

cação infantil pública, construída com profissionalismo, dedicação e

carinho.

Acreditamos que refletir, escrever e socializar a prática pode ser

um caminho promissor para a organização do trabalho pedagógico e

um investimento que todo professor deve fazer para o aprimoramen-

to de sua carreira.

O MEC espera que a Publicação dos Projetos Premiados contribua

como um recurso a mais para a formação continuada, por meio da

troca de idéias e experiências e, acima de tudo, que incentive um

trabalho consciente e engajado com a qualidade social em prol da

Educação Básica brasileira.

Francisco Das Chagas Fernandes

Secretário de Educação Básica

Apresentação

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Dados de identificação

Professora: Sheyla Silva de SouzaCo-autores do projeto: Antônia Aparecida Lima LopesEscola de Educação Infantil Espaço Alternativo Alexandre dosSantos LeitãoMunicípio / UF: Rio Branco / AcreFaixa etária atendida pelo projeto: 6 anos

A gameleiraCrianças realizam amplo trabalho de pesquisa e, a partir daobservação de uma árvore centenária, descobrem importantespassagens da história de luta do Estado do Acre

O Projeto A Gameleira assume importante papel de criar um

ambiente no qual as crianças mora-doras das margens do Rio Acre e debairros das redondezas possam tercontato com informações que façamparte do contexto social e das práti-cas educacionais. Sabemos que assima aprendizagem se dá de forma maisefetiva, pois, passa a interagir com ascrianças. Este trabalho foi desenvol-vido com crianças 6 anos que freqüen-tam a Escola de Educação InfantilEspaço Alternativo Alexandre dosSantos Leitão. A escola funciona so-mente no turno da tarde, num espaçocedido ao governo estadual do Acrepelo Instituto Imaculada Conceição,das servas de Maria.

1.Revolta iniciada em 1902, às margens do Rio Acre, nomunicípio de Xapuri. O pelotão — comandado pelocoronel Plácido de Castro e formado por seringueiros— enfrentava as forças bolivianas e dava início aomovimento que culminou com a independência do Acree sua posterior anexação ao território brasileiro.

A idéia deste projeto surgiu aoser constatado que a maioria de nos-sas crianças, que passa pelo Calça-dão da Gameleira todos os dias parachegar à escola, não sabe que aGameleira, além de ser um pontoturístico de nosso Estado, é o mar-co da Revolução Acreana 1 ou seja,faz parte da história da autonomiadeste povo. Daí veio a necessidadede proporcionar a elas condiçõesfavoráveis de investigação dessahistória, possibilitando a descober-ta da formação da cidade de RioBranco e da autonomia do Estado doAcre e das lutas que foram trava-das sob essa grande árvore.

No início do projeto, tínhamoscomo objetivo estimular o interessedas crianças sobre a história doAcre, sua autonomia e como ocor-reu o processo de formação da cida-de de Rio Branco. Por isso escolhe-mos a gameleira, uma árvore cente-

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nária, testemunha das histórias delutas e conquistas e que faz parte dodia-a-dia da comunidade. Houvevárias conversas sobre a árvoregameleira, sua importância física jáque ajuda a sus-tentar o barran-co do rio e, prin-cipalmente, asua relevânciahistórica, poisfoi cenário doprocesso de for-mação da cida-de de Rio Bran-co, constituindo-se o principal por-to da cidade.

Durante a visita à biblioteca doInstituto Imaculada Conceição, umadas atividades do projeto, as crian-ças tiveram acesso a fotos, registroshistóricos e textos informativos. Porintermédio de pesquisas e visitas, ascrianças descobriram que, até o iní-cio do século XX, o Acre pertencia à

Bolívia. Desde as primeiras décadasdo século XIX, no entanto, a maio-ria de sua população era formadapor brasileiros que exploravam os se-ringais alguns desses seringais; se

localizavamnas margensdo rio, localonde se encon-tra a gameleirae não obedeci-am à autorida-de boliviana.Os brasileiroscriaram, na

época, um território independente eexigiam sua anexação ao Brasil.Houve uma revolta e os conflitos sóterminariam com a assinatura doTratado de Petrópolis, em 17 de no-vembro de 1903. De acordo com odocumento, o Brasil recebeu a pos-se definitiva da região em troca deáreas no Mato Grosso, do pagamen-to de 2 milhões de libras esterlinas

Oferecemos situações que

permitiram às crianças entrar

em contato com diferentes fontes

de pesquisa, permitindo que

elas pudessem construir

seu próprio conceito sobre

a história da Gameleira

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e do compromisso de construir a Es-trada de Ferro Madeira-Mamoré2 .

Integrado ao Brasil como territó-rio, o Acre foi subdividido em trêsdepartamentos: Alto Acre, AltoPurus e Alto Juruá. Este último foidesmembrado, em 1912, para for-mar o Alto Tarauacá, mas foi unifi-cado, em 1920. A partir de 1934, pas-sa a eleger representantes para oCongresso Nacional. Em 15 de ju-nho de 1962, o presidente JoãoGoulart sanciona lei que eleva o

2.A Estrada de Ferro Madeira—Mamoré, localizadano interior da floresta amazônica, é uma das maisconhecidas ferrovias nacionais, pois ainda hojepersistem a mística, as lendas e as histórias quecercam sua idealização, construção e operação nosconfins do Brasil.

território à categoria de Estado.Para desenvolver nosso projeto, ela-boramos algumas etapas, como con-versas informais sobre a Gameleira,para descobrir o que as criançaspensavam sobre o assunto; a reali-zação de passeios no Calçadão daGameleira, provocandoquestionamentos sobre o tempo;chamando a atenção das criançaspara o tamanho da árvore que deunome ao calçadão. Durante o pas-seio, as orientamos para que obser-vassem também a Bandeira do nos-so Estado e registrassem, com dese-nhos, os objetos vistos nos lugarespor onde passamos. Além disso, fo-ram desenvolvidas atividades de

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pesquisa na biblioteca da escola embusca de livros e documentáriossobre a Revolução Acreana. As cri-anças visitaram o Palácio Rio Bran-co, considerado museu, que registratoda a trajetória de luta e conquistado espaço acreano para o Brasil; e oMemorial dos Autonomistas, ondese encontram os registros da histó-ria da autonomia do Acre; e incenti-vamos as crianças a conhecerem, pormeio de teatro e documentos, os per-sonagens principais que assegura-ram ao Acre a condição de Estado.

Todas as etapas foram documen-tadas com fotografias para montaruma exposição para a comunidade.As crianças visitaram ainda o Cal-çadão da Gameleira, acompanha-das de um guia da Secretaria doPatrimônio Histórico, foram esti-muladas a criar paródias, poesias etextos informativos. Outra etapa foiconvidar antigos moradores da RuaSenador Eduardo Asmar, onde pas-sa o Calçadão da Gameleira, paraserem entrevistados por elas; e ela-boramos, com os alunos, as pergun-tas para as entrevistas. E, por fim,foram construídas maquetes e car-tazes do Calçadão da Gameleira.Além das fotografias, o projeto foiregistrado também por meio de de-senhos ou atividades pelas quais ascrianças expressavam seus senti-mentos, como poesias edramatizações. Esses registros pro-

duzidos pelas crianças trazem, porexemplo, a primeira casinhaconstruída em frente à gameleira eo processo de formação do comér-cio de compra e venda dos produ-tos originários dos seringais. Nes-sa etapa, as crianças se sentiam par-te da história, pois muitos de seusascendentes vieram dos seringaispara a cidade.

A direção da escola agendoucom antecedência a visita aoMemorial dos Autonomistas e aoPalácio Rio Branco. Coube aos paislevarem as crianças deixando-asaos cuidados das professoras e au-xiliares escolares que junto com adireção se propuseram acompa-nhar. Depois da visita, voltamos to-dos caminhando para a escola. NoMuseu dos Autonomistas haviauma equipe nos esperando, as cri-anças se encantaram com o SenhorTempo, um personagem que nos le-vou a conhecer todo o processo deluta pela elevação do Acre a Estado,utilizando a dramatização, contan-do histórias e apresentando regis-tros fotográficos e documentos ori-ginais. No momento que descemospara uma sala onde são guardadosos restos mortais de Guiomar dosSantos, o primeiro governador doEstado, e de sua esposa, Lígia; ascrianças foram tomadas por um ins-tante de espanto e curiosidade.

Em frente ao Museu dos

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3. Francisco Alves Mendes Filho, seringueiro conhecidocomo Chico Mendes, participou da luta sindical dacategoria e organizou várias ações em defesa da posseda terra e, em 22 de dezembro de 1988, foi assassinadona porta de sua casa.

Autonomistas fica situado o PalácioRio Branco, sede do gabinete do go-vernador, que é utilizado apenas emsolenidades. Cada sala do Rio Bran-co retrata uma parte da história dacriação e da formação do povoacreano: sua Bandeira, as lutas quegeraram a Revolução Acreana, ostratados assinados, a trajetória paraa autonomia, os povos indígenas esua cultura. Além disso, existem re-latos históricos gravados de pesso-as, sobre a vida nos seringais e nacidade de Rio Branco na época daRevolução. Há também uma salaexclusiva sobre Chico Mendes3, omaior sindicalista que os seringuei-ros já tiveram.

Durante todo o processo de de-senvolvimento do trabalho, realiza-mos a avaliação do projeto. O resul-tado de todas essas atividades cul-minou com a exposição de umamaquete da Gameleira, construídacom a ajuda das crianças. A comuni-dade escolar pôde prestigiar essemomento, que, para as crianças e aescola, foi muito importante. Os paisapoiaram todas as etapas às quaisforam solicitados e ficaram emocio-nados durante a fala das crianças.

O Projeto A Gameleira, que contoucom a parceria da comunidade es-

colar, de pessoas e entidades gover-namentais que estão relacionadas àconstrução e restauração dessepatrimônio histórico, buscou tornaresse conhecimento mais efetivo,dando uma visão mais clara da nos-sa história, a qual não é caracteri-zada por heróis individualmente,mas por um processo coletivo deluta pela posse desta terra. Dessamaneira, pudemos oferecer situa-ções que possibilitaram às criançasentrar em contato com diferentesfontes de pesquisa, e que lhes per-mitiram criar seu próprio conceitosobre a história da Gameleira.

Nosso desafio foi contextualizar

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situações educacionais que pudes-sem efetivar a vinculação entre teo-ria e prática, ampliando o conheci-mento das crianças sobre sua pró-pria história, na busca de compre-ender os fatos sociais que marca-ram o processo de formação da ci-dade de Rio Branco e a autonomiado Estado doAcre, de modo ase conscientizarde que alguns deseus ascenden-tes construíramessa história emvários movimen-tos de luta, os quais envolveram aGameleira. Acreditamos que esseseja o papel da escola: discutir as-suntos que fazem parte do cotidia-no das crianças, os quais estão liga-dos a tomadas de decisões do seubairro, cidade, Estado e país.

Hoje, as crianças falam com cer-ta propriedade sobre o tema desen-volvido neste projeto, ou seja, ao to-

mar conhecimento dos fatos histó-ricos que envolveram o Calçadão daGameleira, este deixou de ser ape-nas uma passagem obrigatória acaminho da escola, e tornando-sealgo com significado maior o quefez com que trouxessem para a esco-la observações cheias de entusiasmo

e curiosidades,que eram compar-tilhadas nas ro-das de conversas.

E foi depoisdessa experiên-cia que muitosdescobriram o

sentido da cidadania. As criançaspuderam acompanhar as transfor-mações históricas; vendo o homemcomo agente dessa história; e se tor-nando parte dela; ao expor seus con-ceitos, valores e opiniões. A maiorrelevância desse projeto é poderenxergar nas crianças um ser crí-tico, capaz de fazer a diferença nasociedade do agora e do amanhã.

A maior relevância desse

projeto é poder enxergar

nas crianças um ser crítico,

capaz de fazer a diferença

na sociedade do agora

e do amanhã

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Professora: Gerlane Muriel de Lima OliveiraCo-autores do projeto: Eluza Caetano de Azevedo eSônia Costa AtaídeEscola de Educação Infantil Graciliano RamosMunicípio/UF: Maceió/AlagoasFaixa etária atendida pelo projeto: 5 e 6 anos

Graciliano RamosCrianças ampliam sua capacidade de interação com oconhecimento sobre a vida e a obra do escritor Graciliano Ramos

O Projeto Graciliano Ramos

teve como objetivo infor-mar às crianças sobre a

vida e a obra do Mestre Graça, apartir de experiências que possibi-litem o prazer, a curiosidade, a des-coberta, a reelaboração e sistemati-zação do conhecimento. O trabalhofoi desenvolvido na Escola de Edu-cação Infantil Graciliano Ramos,pela professora Gerlane Muriel deLima Oliveira, com alunos de 5 e 6anos. Foram co-autoras as professo-ras Eluza Caetano de Azevedo eSônia Costa Ataíde, e teve a partici-pação de Diana Gleide, Maria dasGraças, Mirtes Quitéria, LindoanaBeril e Leonice dos Santos.

A Escola de Educação InfantilGraciliano Ramos situa-se na peri-feria da capital alagoana, numa re-

gião residencial a 13 km do centroda cidade, no Conjunto VillageCampestre I. É uma instituiçãomantida pela prefeitura municipale administrada pela Secretaria deEducação do Município de Maceió,e atende a 150 crianças. A rendamédia familiar é de 1 (um) saláriomínimo, o que torna difícil o acessoaos bens culturais necessários paraa sua inserção social.

A idéia de realizar o projeto sur-giu a partir de um questionamento

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feito por uma criança da turma quequeria saber o por quê do nome daescola. A curiosidade dela levou auma discussão sobre Graciliano Ra-mos, incentivando o surgimento devárias hipóteses, entre elas a de quese tratava do dono da escola, de umjogador de futebol, de um políticoou de um escritor. Constatando o in-teresse do gru-po sobre a vidade GracilianoRamos, nos pro-pusemos a de-senvolver emsala um projetodidático sobre otema. Conside-rando tambémque a escola,com a perspec-tiva de constru-ção da cidada-nia, precisa as-sumir a valorização da cultura desua própria comunidade, assimcomo buscar ultrapassar seus limi-tes, propiciando às crianças o aces-so ao saber, não só no que diz respei-to aos conhecimentos socialmenterelevantes da cultura brasileira, noâmbito nacional e regional, mas tam-bém no que faz parte do patrimôniouniversal da humanidade.

A diversidade das atividades doprojeto tem como objetivo interligaras diversas áreas do conhecimento

e oferecer experiências de qualida-de, embasadas nos princípios con-tidos no Referencial Curricular Na-cional para a Educação Infantil(RCNEI) bem como no regimentointerno da escola: “Acesso das cri-anças aos bens socioculturais am-pliando a sua capacidade relativa àexpressão, à comunicação, à ética e

à estética; a soci-alização das cri-anças por meiode sua partici-pação e inserçãonas mais diver-sificadas práti-cas sociais; o di-reito das crian-ças de viver ex-periências pra-zerosas”.

A necessida-de de fazer umaseleção prévia

do material se deu pela complexida-de e extensão dos textos encontra-dos. Segundo o Referencial, os as-suntos trabalhados com as criançasdevem guardar relações específicascom os níveis de desenvolvimentodelas e das respectivas faixasetárias. Os cuidados tomados refor-çam a idéia defendida pelo RCNEIde que educar significa propiciarsituações de cuidados e aprendiza-gens orientadas de forma integradae que possam contribuir para o de-

O Projeto Graciliano Ramos

foi realizado para que as

crianças pudessem ter acesso

a informações a respeito

da vida e obra de Graciliano

Ramos, um dos mais importantes

escritores brasileiros,

como também ampliar

sua capacidade de interação

com o conhecimento, o que

se verificou durante o

desenvolvimento do trabalho

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senvolvimento da capacidade infan-til de relação interpessoal, de ser eestar com os outros em uma atitu-de básica de aceitação, respeito econfiança, e o acesso pelas criançasaos conhecimentos mais amplos darealidade social e cultural.

A primeira fase do projeto cons-tituiu-se no levantamento das hipó-teses das crianças sobre quem foiGraciliano Ramos. Por meio de umaconversa informal, destacamos aimportância do legado cultural e li-terário deixado pelo escritor para asociedade. Discutimos também so-bre o por quê de a escola ter recebi-do seu nome.

O material selecionado pelo gru-po para a pesquisa foi dividido e ex-plorado pelas crianças. Propusemosao grupo a leitura do conto A Terra

dos Meninos Pelados, extraído da obraliterária do Mestre Graça. O livro foilido pela professora por capítulos ea cada nova leitura relembrava comas crianças os acontecimentos doscapítulos anteriores.

Com as informações obtidas du-rante o projeto, as crianças monta-ram uma linha de tempo com infor-mações sobre a vida e a obra deGraciliano Ramos. Para tanto, fo-ram produzidos e selecionados tex-tos coletivos, para a linha de tem-po. Fizeram também listas das suasobras, etiquetaram fotos, montaramcom a professora um espaço de cu-

riosidades. Além disso, todas as in-formações veiculadas pela TV so-bre Graciliano Ramos eram comen-tadas pelas crianças e discutidas nasala de atividades. Assim como asinformações obtidas na escola, ascrianças conversavam em suas ca-sas com seus pais.

No dia 6 de maio, durante a visi-ta à exposição O Chão de Graciliano,

na Fundação Pierre Chalita, as cri-anças puderam confrontar essanova experiência com os conheci-mentos adquiridos e discutidos naescola. Elas também observarammanuscritos, documentos, objetospessoais, livros lançados no Brasile no exterior, ensaio fotográfico so-bre o local que o escritor viveu e es-creveu suas obras. Para participarda exposição tomamos alguns cui-dados especiais: lançar a propostapara o grupo, motivando-o para oevento e enviar circular para ospais solicitando autorização; defi-nimos posturas e cuidados que de-veriam ser considerados por to-dos, desde a saída da escola, du-

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rante a exposição e o retorno.Na aula seguinte, as crianças re-

lataram aos colegas, que não forama exposição, tudo o que foi visto.Aproveitando o entusiasmo da pers-pectiva da viagem a Palmeira dosÍndios, cidade onde Graciliano Ra-mos foi prefeito, conversamos comos alunos sobreo objetivo dopasseio e o tra-jeto a ser per-corrido. Lemoso texto sobre osdados históri-cos da cidade econtamos a len-da que explica onome da cidade.Para a viagem, tomamos as seguin-tes providências: contato com a pre-feitura de Palmeira dos Índios paraesclarecer os objetivos da visita; ofí-cio para a Secretaria Municipal deMaceió solicitando ônibus para a vi-agem; comunicado para os pais, soli-citando autorização; explicamos àscrianças sobre horários de saída e che-gada, postura, cuidados, trajeto a serfeito na cidade, almoço e lanche.

É importante destacar algumascontribuições para o sucesso do pro-jeto: os pais, por acreditar no traba-lho pedagógico da escola e deposi-tando em nós confiança para cuidarde seus filhos; o empenho dos mem-bros da escola, que dividiram tarefas

e responsabilidades; o apoio da Secre-taria Municipal de Educação e da pre-feitura de Palmeira dos Índios.

Em Palmeira dos Índios, o gru-po pôde visitar a casa dos pais deGraciliano Ramos; a igreja, ondebuscava inspiração para escrever; apitombeira que nunca deu fruto,

onde pediu emcasamento amão de Heloísa;a prefeitura, deonde governou acidade; a loja deseus pais, ondehoje funcionauma loja de mó-veis; a casa ondeo escritor mo-

rou, hoje transformada em museu.As crianças puderam ver suasobras, vestimentas, utensílios daépoca — lavabo, panelas, ferro acarvão, fogão a lenha, pilão, máqui-na de escrever etc. Após a viagem,as crianças contaram para outroscolegas o que viram e aprenderam,fizeram desenhos representativosdo que mais lhes chamou a atenção.

O passo seguinte foi mostraras fotos da exposição O Chão de

Graciliano Ramos e da viagem e so-licitar às crianças a produção deetiquetas com informações parasituar os visitantes da nossa mos-tra, que foi aberta aos pais e àcomunidade.

Participar de projetos

possibilita às crianças

estabelecer múltiplas relações,

amplia suas idéias sobre um

assunto específico, buscando

complementações de

conhecimentos pertinentes

aos diferentes eixos

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O Projeto Graciliano Ramos foi rea-lizado para que as crianças pudessemter acesso a informações a respeito davida e da obra de Graciliano Ramos,um dos mais importantes escritoresbrasileiros, como também ampliarsua capacidade de interação com oconhecimento, verificado durante odesenvolvimento do trabalho.

É importante ressaltar que osdesafios fizeram o grupo refletir,reavaliar e redefinir ações que ge-rassem avanços nas atividades doprofessor e na aprendizagem dascrianças. Segundo Pedro Demo, dou-tor em Educação, é fundamentalaprendermos a conviver com os li-mites, para transformá-los em desa-fios, e enfrentarmos os desafiospara podermos superar os limites.

Um dos desafios superados foi a fal-ta de material sobre o tema do pro-jeto, pois a escola dispunha até en-tão apenas de uma foto deGraciliano Ramos. Graças ao proje-to, hoje, possuímos um acervo pe-queno, mas significativo, sobre oautor de Vidas Secas. Todos que par-ticiparam do projeto tiveram a opor-tunidade de crescer e aprender comesse trabalho.

Participar de projetos possibili-ta às crianças estabelecer múltiplasrelações, amplia suas idéias sobreum assunto específico, buscandocomplementações com conhecimen-tos pertinentes aos diferentes eixos.Esse aprendizado serve de referênciapara outras situações, permitindo ge-neralizações de origens diversas.

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O folclore está presente em to-dos os momentos de nossa

vida. Nessa perspectiva, observou-se que a Escola Municipal de Edu-cação Infantil Pai Nosso, emMacapá, não tinha uma propostacurricular totalmente voltada paraa nossa cultura, em que as criançaspudessem absorver a essência desua identidade cultural. Partindodessa constatação surgiu a idéia detrabalhar o Projeto Revivendo as Tra-

dições, com o intuito de resgatar anossa cultura e despertar nas crian-ças sentimentos de amor e preser-vação pelas tradições de nossa ter-ra, deixadas pelos nossos antepas-sados para que estas não se percamno tempo.

A Escola Municipal de EducaçãoInfantil Pai Nosso atende 280 crian-ças, de 4 a 6 anos, distribuídas emdez turmas, e conta com uma estru-tura organizacional de cinco salas

Dados de identificação

Professora: Marlice Bentes dos SantosEscola Municipal de Educação Infantil Pai NossoMunicípio / UF: Macapá / AmapáFaixa etária atendida pelo projeto: 4 a 6 anos

Revivendo as tradiçõesProjeto desenvolvido no Amapá utiliza atividades lúdicaspara despertar nas crianças o gosto pela cultura

de atividades. Todas essas criançassão de famílias assalariadas ou quevivem do subemprego, que, paraobter o seu sustento, recorrem aotrabalho informal. Algumas delasvêem a escola não somente como lo-cal de aquisição de conhecimento,mas um lugar onde o seu filho possacompletar a sua refeição ou até mes-mo fazer a única do dia.

A partir da concepção de que ofolclore é uma fonte infinita decriatividade para a criança, traba-lhamos o Projeto Revivendo as Tradi-

ções, como forma de aproximar a cri-ança da essência de nossa cultura,como as lendas, as músicas, as can-tigas de roda, as comidas típicas, asplantas medicinais e as demais ma-nifestações.

Para desenvolver o projeto fo-ram utilizadas atividades lúdicascomo forma prática e agradável, pormeio da qual a criança pôde desen-

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volver todas as suas habilidadespara o ato de aprender. SegundoRosely Brenelli, por meio de jogos ebrincadeiras a criança assimila ouinterpreta a realidade. Por isso, ainserção do lúdico nas atividadesescolares facilita o aprendizado epermite que ela possa compreendertudo que está em sua volta, e desen-volver as suas habilidades no pro-cesso de ensino/aprendizagem. Aimportância do lúdico também édestacada pelo teórico Lev S.Vygotsky. Para ele, é no brinquedoque a criança aprende a agir numaesfera cognitiva. Nesse contexto,percebe-se a importância das ativi-dades lúdicas, pois, se bem acom-panhadas e observadas, permitemconhecer o desenvolvimentocognitivo da criança para que elachegue ao aprendizado. Portanto,trabalhar de maneira lúdica o

Revivendo as Tradições foi de sumaimportância tanto para o aprendi-zado das crianças como para o aper-feiçoamento de nossa prática comoprofessor.

O projeto foi elaborado com a fi-nalidade de ser posto em prática nomês de agosto, por ser o mês dasfestividades folclóricas. As açõesforam desenvolvidas por meio dejogos, brincadeiras cantadas, adivi-nhações, danças, parlendas, canti-gas de roda e pesquisas com os paissobre comidas típicas do nosso Es-tado e plantas utilizadas no trata-mento de algumas doenças. O prin-cipal objetivo das ações — realiza-das nas salas de atividades e naquadra coberta — foi o de ampliaro universo cultural das crianças,despertando nelas o interesse pelapreservação da essência de suaidentidade cultural.

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Tudo foi adequado aos conteú-dos programáticos. Para trabalhara Língua Portuguesa, mostramoscantigas de roda ensinando a letrada música; já nas parlendas, as cri-anças completaram as frases. EmConhecimento Lógico Matemático,ensinamos os numerais recontandoas adivinhações ejogos de quebra-cabeça com figu-ras geométricasde lendas. No Co-nhecimento Soci-al, apresentamosas principais dan-ças folclóricas donosso Estado evárias brincadei-ras cantadas deixadas pelos nossosantepassados. Em Conhecimento Fí-sico, trabalhamos as lendasenfocando os seres vivos e as par-

tes dos vegetais, comidas típicas eplantas medicinais que forampesquisadas pelos alunos, com osseus pais. Na Função Semiótica, tra-balhamos expressão corporal, mu-sical e artística por intermédio dedanças, dramatizações e desenhos.Também foram apresentadas dan-

ças folclóricascom a participa-ção de alunos ep r o f e s s o r e s .Para a dramati-zação, mostra-mos as lendas doboto e do bodepara trabalharos seres vivos esuas característi-

cas; com a lenda da pororoca, foi mos-trado a força das águas e sua im-portância para a nossa sobrevivên-cia. No Ensino Religioso foram rela-

Conseguimos despertar

nas crianças a prática diária

de nossa cultura.

E com elas adquirimos

um aprendizado que servirá

de apoio para a prática

educacional no decorrer

de nossa vida

como educador

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tadas as festas religiosas do Estado.No decorrer da execução do pro-

jeto, as comidas típicas foram apre-sentadas como merenda escolar. Asreceitas foram obtidas pelo trabalhode pesquisa feita pelas crianças e asplantas medicinais ficaram expos-tas no pátio da escola. Em algumasatividades, o ma-terial utilizadofoi o papelão paraconfeccionar al-gumas partesdas plantas e osalunos monta-rem; papel-car-tão, figuras delendas e colapara montar que-bra-cabeça; e ca-derno de desenho, lápis de cor e cerapara desenhos e pinturas.

O Projeto Revivendo as Tradições foitrabalhado de forma coletiva, ou seja,a comunidade escolar participou dasatividades desenvolvidas, dessa for-ma os objetivos propostos alcança-ram a todos. No final do mês de agos-to, no encerramento das atividades dofolclore, na quadra da escola, cadaturma apresentou aos colegas, alémdos pais e professores, uma ativida-de relacionada ao tema do projeto.

As ações desenvolvidas foramavaliadas no decorrer do processo.Levou-se em conta a participação, ointeresse, a criatividade, a assidui-

dade, a observação e a socialização.Ao longo do projeto, surgiram dú-vidas e preocupação com relação àmetodologia utilizada para traba-lhar as atividades propostas, ou seja,questionamentos sobre a eficácia daforma que estávamos empregandopara alcançar nossos objetivos. No

entanto, os resul-tados obtidos fo-ram positivos.Além dos objeti-vos previstos,c o n s e g u i m o sdespertar nas cri-anças a práticadiária de nossacultura. E comelas adquirimosum aprendizado

que servirá de apoio para a práticaeducacional no decorrer de nossavida como educador.

Após a realização do projeto,observamos que as crianças tive-ram mais facilidade para trabalhara socialização, a leitura e a escrita.Elas passaram a pôr em prática, commais facilidade, suas diversas habi-lidades, com destaque para a pictó-rica, ou seja, a capacidade de dese-nhar. Além disso, a interação escola/família ficou bastante evidente. Ascrianças contaram com a ajuda dospais para pesquisar sobre comidastípicas, plantas medicinais e algu-mas lendas e, a partir daí, os pais

A interação escola/família

ficou bastante evidente.

As crianças contaram com

a ajuda dos pais para pesquisar

sobre comidas típicas, plantas

medicinais e algumas lendas e,

a partir daí, os pais tornaram-se

agentes participativos

na educação de seus filhos

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tornaram-se agentes participativosna educação de seus filhos.

Graças ao resultado obtido como Projeto Revivendo as Tradições, deci-dimos dar continuidade ao trabalhoem junho, por ser o mês das festasjuninas. Nessa época iremos traba-lhar como os mesmos objetivos, ouseja, o resgate da cultura amapaense.Assim, estaremos ampliando o nos-so trabalho. E, para que nossos obje-tivos sejam alcançados com mais su-cesso, pretendemos aperfeiçoar as

metodologias utilizadas nas ativida-des desenvolvidas no decorrer daexecução do projeto.

Na oportunidade, quero dizer atodos os professores do nosso paísque trabalham com a Educação In-fantil, que a nossa experiência pode-rá dar subsídio para a construção deprojetos que abordem novos temase alcancem seus objetivos, assimcomo servir de incentivo a todos osprofissionais que atuam para o enri-quecimento da educação no país.

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Dados de identificação

Professora: Eveline Souza Schramm De OliveiraEscola Csu LiberdadeMunicípio / UF: Salvador / BahiaFaixa etária atendida pelo projeto: 4 e 5 anos

Pequeno cidadãoA construção da cidadania começa na infância

AEscola CSU da Liberdade estálocalizada no bairro da Liber-

dade, o mais populoso de Salvador,onde existe um grande número defamílias carentes. A escola funcio-na nos turnos matutino e vesperti-no e atende 257 crianças. O projetoinicialmente foi desenvolvido ape-nas para o período vespertino e tevecomo público-alvo 130 crianças, en-tre 4 e 5 anos. Ele surgiu da necessi-dade de trabalhar com as criançasum material sobre a cidadania e ossímbolos nacionais, que a escolahavia recebido. Como fazer criançasdessa faixa etária compreender te-mas tão complexos? Foi esse o gran-de desafio e também a mola propul-sora desse projeto: desenvolver nacriança, por meio do exemplo, a éti-ca do cidadão.

Para dar embasamento ao nos-so trabalho, o texto foi escrito combase nos Referenciais Curriculares

Nacionais para a Educação Infan-til (RCNEI) que é um guia de refle-xão de cunho educacional sobreobjetivos, conteúdos e orientaçõesdidáticas para os profissionais queatuam diretamente com criançasde até 6 anos.

Esses Referenciais Curricularesenfatizam que nessa faixa etária 4 e5 anos é importante a identificaçãodo nome e destaca que a criança seinteressa pela sua representaçãoescrita desde que isso seja feito deforma contextualizada, ou seja, dan-do uma função social para ela. Essareflexão subsidiou o trabalho daconstrução da identidade desenvol-vida no início do projeto em que osalunos trabalharam com a históriado nome e posteriormente a confec-ção da sua carteira de identidade.

Outro aspecto importante tam-bém tratado nos Referenciais serviucomo fio condutor de praticamente

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todo o trabalho - é o reconhecimen-to da criança enquanto sujeito de di-reitos, pois essa encontra-se emuma etapa importante de suas vidas,com características próprias, quepodem e devem ser respeitadas. Se-gundo os RCNEI , no capítulo quetrata da Formação Pessoal e Social,nos atos cotidianos e em atividadessistematizadas, o que se recomen-da é “a atenção permanente à ques-tão da independência e autonomia.O exercício da cidadania é um pro-cesso que se inicia na infância,quando se oferecem às criançasoportunidades de escolha eautogoverno”.

O primeiro passo foi observar queas crianças não conheciam os seusdireitos. Aliás, nem sabiam que ti-nham direitos, não se consideravamcidadãos e nem percebiam o seu va-lor na sociedade. Observou-se aindaque a escrita do nome de cada umera compreendida como uma ativi-dade de rotina obrigatória sem ne-nhum outro sentido para elas . De-veriam aprender o nome, e pronto!

Desenvolver na criança a inde-pendência e a autonomia é algo desuma importância. No projeto, ascrianças tiveram a oportunidade dese dirigir a um órgão público, Servi-ço de Atendimento ao Cidadão(SAC) para tirar a carteira de iden-tidade oficial, passando por todo oprocesso que é feito por um cidadão

comum — entregando os documen-tos, pagando a taxa, recebendo tro-co —, sentindo-se um verdadeiro ci-dadão. Estimulando, assim, o desen-volvimento da independência e daautonomia.

Não se pode deixar de lado a par-te artística e as brincadeiras, quesão tratadas nos Referenciais e quefazem parte da vida da criança. Oprojeto trabalhou com arte e brin-cadeiras atreladas ao ser cidadão, eas crianças dançavam, cantavam,brincavam e percebiam diversos ti-pos de sons utilizando instrumen-tos que elas próprias construíram,com sucata.

O Pequeno Cidadão foi iniciadocom a confecção da Bandeira Naci-onal, que teve a participação de to-das as crianças do projeto para quecada uma se sentisse, de forma con-creta, parte integrante deste paíscuja dimensão ainda não podemmensurar. Atrelado a isso, todas assegundas-feiras, as crianças acom-panhavam a execução do Hino Na-cional. Elas ouviam atentas a melo-dia e a letra do hino. Essa atividadefoi realizada durante o projeto, comouma prática social que existe emtodos os eventos esportivos oficiaise que as crianças têm acesso nosmeios de comunicação.

Logo em seguida, foi trabalhadaa história do nome, que ganhou a de-nominação de “construção da iden-

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tidade”, desenvolvida em etapas.Inicialmente, foram orientadas adescobrir com os próprios paiscomo foi feita a escolha do seunome. Isso deu oportunidade ao de-senvolvimento da oralidade, poiscada criança contava nas rodinhasa história do seu nome. Paralelo aisso, foi enviadoaos pais umapesquisa paraque escreves-sem a históriado nome do fi-lho, dessa formaaqueles que nãoconseguissemrelatar a sua his-tória na sala,essa seria contada pela professora.A partir daí o nome foi trabalhadodurante todo o período do projeto,culminando com a confecção da car-teira de identidade fictícia confecci-onada na própria sala, na qual cadacriança escreveu o seu nome do seujeito, e uma outra que foi tirada numórgão público responsável, o SAC.Elas adoraram, sentiram-se indepen-dentes como verdadeiros cidadãos!

Outra atividade desenvolvida foia confecção do livro dos direitos dacriança. Elas ouviam histórias sobreos seus direitos e depois relatavamexperiências vividas a respeito doque acabaram de ouvir. Dessa for-ma todos participaram e comenta-

ram a história que tinham ouvido.Depois, as crianças em grupos fize-ram desenhos sobre o tema conver-sado. Dessa maneira foram conta-das várias histórias — cada uma re-lacionada a um direito da criança.Confeccionamos um livro que rece-beu o título Olha o Respeito, pois Sou

Pequeno! — frasedita por um dosalunos ao seu co-lega, quando ten-tava reivindicarum direito. Foi omaior sucesso,pois os alunoscomeçaram a en-tender os seus di-reitos, em todos

os lugares que estavam: em casa, naescola... A repercussão foi tamanhaque os pais procuraram a escolapara saber o que estava acontecen-do (de uma forma positiva, é claro!).

Logo depois foi feita a atividadeda bandinha. As crianças confecci-onaram instrumentos musicais desucata, colocando em prática o fa-zer artístico e, ao mesmo tempo,desenvolvendo a acuidade auditivaao descobrir o som de cada instru-mento. Também realizamos umaeleição para que — pelo voto dire-to — as crianças pudessem esco-lher o prefeito da banda. Os candi-datos tiveram direito à campanhaeleitoral e discursos.

Os alunos conseguiram

modificar suas atitudes

diante de situações expostas

durante o projeto. Isso foi notado

nos relatos de experiências

em rodinhas, de atitudes

de respeito em relação aos colegas,

ao utilizar palavras como:

Obrigado! Desculpe!

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A avaliação do Pequenos Cidadãos

foi realizada por meio de observa-ções e registros feitos durante todoo projeto. Constatamos que os obje-tivos alcançados superaram nossasexpectativas. Inicialmente, a propos-ta era modesta e simples e, no decorrerdo processo, to-mou uma dimen-são grandiosa.

Os alunosc o n s e g u i r a mmodificar suasatitudes diantede situações ex-postas durante oprojeto. Isso foinotado nos rela-tos de experiênci-as em rodinhas, de atitudes de res-peito em relação aos colegas, ao uti-lizar palavras como: Obrigado!, Des-culpe!. Essa mudança de comporta-mento também foi constatada nosrelatos dos pais, em reuniões. Segun-do eles, em casa, as crianças se sen-tiam valorizadas e sabiam quaiseram os seus direitos.

Com esse projeto, pude perceberque as crianças são ainda mais ca-pazes e sensíveis do que podemosimaginar. Tive a oportunidade de

ver os olhos das crianças brilhar aoserem valorizadas e levadas a sérioe ter consciência de, como afirmoucerta vez a poeta chilena GabrielaMistral: “Muito do que precisamospode esperar. A criança, não. Não selhe pode dizer amanhã. Porque seu

nome é: hoje”.Hoje a criança éum sujeito de di-reitos, hoje a cri-ança deve cons-truir sua identi-dade, hoje a cri-ança deve ser va-lorizada.

Essa foi umaexperiência grati-ficante, que obte-

ve um excelente resultado, pois tratouda realidade da criança, o seu dia adia, a sua vida. Sem dúvida, deve serapreciada por todos os profissionaisque trabalham com crianças de até 6anos. Esse projeto teve continuidadena nossa escola no ano seguinte,quando pudemos realizar a maioriadas atividades e mais uma vez foibem-aceito, com bons resultados. Es-pero poder estar contribuindo paramelhorar ainda mais a qualidade daeducação infantil do nosso país.

Pude perceber que as crianças

são ainda mais capazes e sensíveis

do que podemos imaginar.

Tive a oportunidade de ver

os olhos das crianças brilhar

ao serem valorizadas e levadas

a sério. Hoje a criança é um sujeito

de direitos, hoje a criança deve

construir sua identidade, hoje a

criança deve ser valorizada.

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Dados de identificação

Professora : Kelrie Rodrigues ReisEscola de Educação Infantil Marisa Mendes de CarvalhoMunicípio / UF: Fortaleza / CearáFaixa etária atendida pelo projeto: 5 e 6 anos

Chega de silêncioA arte das brincadeiras agitando a sala de aula

O Projeto Chega de Silêncio foi re-alizado com crianças entre 5

e 6 anos, que cursam Educação In-fantil II C, na Escola de Educação In-fantil Marisa Mendes, localizada emFortaleza, a capital cearense. Des-sas, nem todas fizeram Educação In-fantil I e apenas duas estão fora dafaixa etária equivalente à série quecursam. As crianças são moradorasdo bairro Vila Velha IV, que fica naperiferia da cidade e, apesar dascondições desfavoráveis, mostram-se bastante curiosas e com vontadede aprender. Os pais também de-monstram muito interesse pela vidaescolar dos filhos e, sempre que so-licitados, comparecem à escola.

Por se tratar de uma escola pú-blica, situada em uma área conside-rada de pobreza, a infância muitasvezes é atropelada. O fato de as cri-anças aprenderem brincando as es-timula a freqüentar com prazer asala de aula, resgatando a infância

perdida e diminuindo assim a eva-são escolar.

Segundo Daniela Padovan, Isa-bel Guerra e Ivonildes Milan, auto-ras do livro Projeto Presente, o mo-mento atual pede uma matemáticaviva, não uma ciência pronta e aca-bada a ser repetida pelos alunos.Diante disso, percebi que em minhaprática havia apenas o interesse emdesenvolver conteúdos com os alu-nos, por meio da repetição.

Avaliei minha postura e observei,nas atividades de matemática, ametodologia tradicional: criançaspassivas, sentadas, escrevendo nú-meros e ouvindo a professora falar.Percebendo a necessidade de mudaressa situação, conversei com as cri-anças e descobri o interesse naturaldelas pelas brincadeiras.

Resolvi, então, implementarações pedagógicas durante as aulasde matemática com o intuito dedesenvolvê-las integralmente fazen-

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do uso de atividades lúdicas paraque a partir disso as crianças fos-sem capazes de compreender e mu-dar a própria realidade.

Em um primeiro momento, foirealizada uma discussão em gruposobre as aulas de matemática. Ascrianças expuseram suas idéias emostraram o grande interesse quetinham pelas brincadeiras. Organi-zei alguns questionamentos paraidentificar os conhecimentos prévi-os delas sobre o assunto, como:

- Que brincadeiras vocês conhecem?- Como é essa brincadeira?- Quem já brincou?Durante a conversa, fui escre-

vendo o que as crianças falavam:“Eu brinco de amarelinha. É bom,é só jogar a pedrinha e pular.”(Vitória, 5 anos)

Discutimos sobre outras brinca-deiras que fizeram parte da minhainfância e logo percebi a importân-cia delas na vida do ser humano. En-cerramos a aula listando as brinca-deiras que seriam desenvolvidas. Eas escolhidas foram: boliche,rabinho, amarelinha e bola-ao-cesto.

Em seguida, elaborei um plane-jamento com objetivos, conteúdos,metodologias, recursos e avaliaçõesa serem utilizados. Retomamos adiscussão, onde foram estabele-cidas as regras que precisaríamossaber. Levei as crianças até o pátiopara dar início às brincadeiras. Aprincípio, elas sentiram dificuldadeem compreender as regras, esperara vez de jogar, se posicionar, identi-ficar os procedimentos das brinca-deiras, como jogar a pedrinha, o que

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fazer para pegar mais rabinhos ouderrubar o maior número de gar-rafas etc. Depois de algumas se-manas, porém, as dificuldadesforam diminuindo.

Na brincadeira do rabinho, convi-dei as crianças a colocar um rabinhofeito de E.V.A.(material feito de bor-racha fina usado para confeccionarjogos e letras) nas costas e, apósencaminhá-las ao pátio, onde ficaramorganizadas aleatoriamente dentro deum espaço delimitado, deveriam pe-gar o maior número de rabos uns dosoutros, sem deixar que ninguém tiras-se o seu. Quando a brincadeira termi-nava, os rabinhos eram levados paraa sala de aula, onde fazíamos a con-tagem, comparávamos e representá-vamos a quantidade.

Essa foi a brincadeira que o gru-po mais gostou. As crianças se di-vertiam bastante, desde a coloca-ção do rabinho até a retirada delepelos colegas. Algumas demonstra-

ram solidariedade ao retirar orabinho da outra, afirmando que,quando voltassem para a sala deaula, os devolveriam.

Durante a brincadeira, elas fo-ram desenvolvendo noções de cores,espaço, lateralidade, formas geomé-tricas, quantidades, comparação dequantidades, agilidade, percepçãovisual, raciocínio lógico, noções bá-sicas de muito, pouco, igual, diferen-te, mais, menos etc. Por intermédiodo lúdico, as crianças começaram adesenvolver não só os conteúdosmatemáticos, mas também outrasqualidades, como negociar, pedir,recusar, perceber o que podiam ounão fazer etc. O mais interessantefoi perceber que eu levaria o ano in-teiro para desenvolver todos essesconteúdos e habilidades.

Terminada essa fase, era neces-sário estimular a oralidade para en-tender o pensamento matemático dacriança e então, quando voltávamos

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do pátio, conversávamos sobre abrincadeira realizada e que serviriade critério na avaliação.

- O que precisamos para acertara bola no cesto?

- Qual o segredo para derrubar-mos mais garrafas no boliche?

Logo após as conversas, as cri-anças eram convidadas a realizaratividades relacionadas às brinca-deiras, como registrar com dese-nhos o que tinham visto evivenciado, expor para os colegas osignificado do desenho e construirtextos relatando a brincadeira.O que me chamou a atenção foramas produções coletivas, onde todasas crianças souberam relatar as brin-cadeiras desen-volvidas. Comisso, o grupo de-monstrou quehavia compreen-dido o assunto.

A cada dia, ascrianças ficavammais motivadascom as aulas,sentindo-se auto-ras ativas e cons-trutoras do pró-prio conheci-mento. Os colegas das outras tur-mas e os familiares foram convida-dos a participar da exposição dosregistros e a observar o processo dedesenvolvimento das crianças.

Esse trabalho foi muito gratifican-te, pois consegui com as crianças daminha sala quebrar paradigmas im-postos por uma educação tradicionale crescer profissionalmente.

A experiência do Projeto Chega de

Silêncio foi con-cluída no finaldo ano letivo de2004, obtendobons resulta-dos. Para avali-ar as crianças éimportante queos desafiosapresentadossejam possíveisde ser enfrenta-dos pelo grupo.Para isso, é fun-

damental avaliar a prática:- As atividades propostas têm

proporcionado momentos deintegração entre os grupos?

- Houve interesse pelas brinca-

Por meio de brincadeiras,

as crianças começaram a

desenvolver não só os conteúdos

matemáticos, mas também

outras qualidades, como

negociar, pedir, recusar,

perceber o que podiam ou

não fazer etc. O mais interessante

foi perceber que eu levaria

o ano inteiro para desenvolver

todos estes conteúdos

e habilidades.

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deiras e as atividades sugeridas?- Como as crianças se referem

aos próprios avanços e ao trabalhoque desenvolvem?

Elaborei uma ficha de avaliaçãopara cada aluno, na qual constavaa sua evoluçãoindividual, ati-tudes, habilida-des, conquistase avanços, com ointuito de anali-sar os resulta-dos e rever no-vamente a práti-ca pedagógicaquando necessá-rio. Nos desenhos, avaliei a quanti-dade de crianças presentes na brin-cadeira, os números na amareli-nha, espaço utilizado, as diferentesrepresentações das garrafas, a ex-pressão facial, percepção visual,corporal etc. A riqueza de detalhesnos desenhos tornou visível o graude desenvolvimento das crianças.

Fazendo uma avaliação de todo oprojeto, observei o quanto as crian-ças se envolveram com o assunto tra-balhado. Demonstraram interesse ecrescimento não só nas aulas de ma-temática, como em todas as áreas do

conhecimento.Esse progressotornou-se visívelna participaçãodas atividades, so-cialização e coope-ração do grupo.

O projeto deuoportunidade àscrianças de vive-rem a infância

com mais prazer e aprenderem o queé essencial para a vida do ser huma-no: respeitar o outro, saber conviverem sociedade, ser feliz, negociar, pe-dir etc. O trabalho foi muito gratifi-cante, pois consegui com as criançasda minha sala quebrar paradigmasimpostos por uma educação tradici-onal e crescer na profissão.

O projeto deu oportunidade

às crianças de viverem a infância

com mais prazer e aprenderem

o que é essencial para a vida

do ser humano: respeitar

o outro, saber conviver

em sociedade, ser feliz,

negociar, pedir...

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Professora: Taicy de Ávila FigueiredoEscola Classe Sonhém de CimaMunicípio / UF: Sobradinho / Distrito FederalFaixa etária atendida pelo projeto: 4 e 6 anos

BrincarteProjeto utiliza brincadeiras para resgatar a auto-estima das crianças

Criada pela rede pública de en-sino do Distrito Federal, em

1976, a Es-cola Classe Sonhém deCima funciona, desde 1997, em umprédio cedido pelo Instituto Nacio-nal de Colonização e Reforma Agrá-ria (Incra), no Projeto de Assenta-mento Contagem, na zona rural deSobradinho. A referida construção,antigo abrigo de posseiros, foi pre-cariamente adaptada para funcio-nar a nossa escola, a única do assen-tamento. A maior parte das nossascrianças é filha de trabalhadoresrurais da região, seja de famílias as-sentadas, seja de empregados daspropriedades rurais próximas, cujograu de instrução e renda familiarsão baixos.

A turma de educação infantil erabastante heterogênea, composta de15 crianças, entre 4 e 6 anos de ida-de, incluindo uma aluna com neces-sidades educacionais especiais. Du-

rante o período de adaptação, per-cebemos que essas crianças tinhamum enorme desejo de se integrar aonovo ambiente (a escola). O assen-tamento não lhes oferecia outrasopções de cultura, lazer e aprendi-zado coletivo, devido à ausência deoutros recursos públicos e ao isola-mento desta região rural.

Assim sendo, elegemos comonosso principal objetivo ampliar oconhecimento de mundo das nossascrianças, de forma que elas se sen-tissem não apenas acolhidas na es-cola, mas também valorizadas nasua individualidade, promovendo aauto-estima. Para alcançarmosesse objetivo, escolhemos comotema o folclore infantil. Acredita-mos que resgatando a arte e a cul-tura populares poderíamos, a umsó tempo, valorizar e ampliar os co-nhecimentos que nossas criançasjá traziam do lar.

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Inspiramos o nosso trabalho naseguinte concepção de Donald W.Winnicott, psicanalista e pediatrainglês, autor de vários livros sobrea criança: “A função da escola mater-

nal não é ser um substituto para uma

mãe ausente, mas

suplementar e am-

pliar o papel que,

nos primeiros anos

da criança, só a mãe

desempenha. Uma

escola maternal, ou

jardim de infância,

será possivelmente

considerada, de

modo mais correto,

uma ampliação da família ‘para cima’,

em vez de uma extensão ‘para baixo’ da

escola primária.”

Winnicott, ao afirmar que a Edu-cação Infantil pode ser consideradao modo mais correto de uma ampli-ação para cima da família, preten-de apontar para o fato de que, aoentrar na escola, a criança não dei-xa de lado a vida afetiva que tinhano lar, centrada sobretudo na mãe.Ao contrário, ela está ali paraampliá-la, relacionando-se com oseducadores e com outras criançasde idades variadas, com valores cul-turais e familiares diferentes dosseus. Por isso consideramos que ocerne de nosso objetivo seria forta-lecer a auto-estima de nossas crian-ças. Para que isso fosse possível, pri-

vilegiamos o brincar. Assim, ao cons-truírem seus próprios brinquedos,as crianças poderiam perceber a ca-pacidade que têm para alcançaraquilo que desejam, sentindo-semais confiantes, e teriam estímulo

para usar osbrinquedos con-feccionados nosjogos em grupo,essenciais paraa socialização.

O primeiropasso para tor-nar possível oprojeto foi, jun-tamente com as

crianças, criar uma rotina rica,prazerosa e flexível, fundamentalpara a adaptação delas na sua che-gada à escola, fornecendo-lhes sub-sídios para que pudessem se orga-nizar no tempo/espaço escolar, pos-sibilitando a elas se apropriaremdesse novo mundo de desenvolvi-mento. A rotina diária era compos-ta pelos seguintes passos:

Na Roda Inicial, o primeiro mo-mento de socialização do dia, as cri-anças, por meio de conversasdirigidas, compartilhavam as novi-dades que traziam de casa. A pro-fessora explicava a elas a agenda deatividades do dia e apresentava no-vos conhecimentos, utilizando paraisso jogos pedagógicos, livros infan-tis etc. À medida que as crianças

A convivência harmoniosa

de crianças de idades variadas,

de diferentes raças, religiões e

valores familiares, valorizou

e respeitou a individualidade

de cada uma, ajudando a

construir a auto-estima,

nosso principal objetivo

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iam se familiarizando com a rotina,uma delas era indicada como a Aju-dante do Dia, que dirigia a Roda,desenvolvendo a sua autonomia.

Na Hora da Atividade, as crian-ças podiam expressar, por meio deações mentais e concretas, os conhe-cimentos que vinham adquirindodurante a realização do projeto.Com o auxílio da professora, a clas-se, organizada em grupos de traba-lho diversificado, ampliava o uni-verso de conhecimentos utilizandovárias linguagens, como a escrita, amatemática, o grafismo etc., além deexplorar materiais concretos, novossuportes para a expressão plásticae jogos pedagógicos.

Na Hora da Brincadeira, tínha-mos na sala de aula vários brinque-dos, obtidos por meio de doações,para que as crianças dessem asasao jogo simbólico. Nesse momento,também usavam os brinquedos queelas mesmas confeccionavam comoos fantoches mamulengos, com osquais elas improvisavam históriasatrás da empanada1 ou brincavamde casinha.

No Recreio e Recreação, nossaturma, juntamente com as demaisclasses da escola (da 1ª à 4ª séries),

1 Palco para teatro de fantoches.2 Pipa, papagaio, rabo-de-arraia, cotó, cartola,maranhão etc... Uma pandorga se constitui dasseguintes partes principais: armação, amarração,cobertura, rabo e cordel.

podia brincar livremente, usufruin-do os brinquedos que confecciona-vam, ou organizando jogos do fol-clore infantil que a professora lheshavia apresentado, como cantigasde roda, amarelinha, pular cordaetc. Ao final do dia, tínhamos o Can-tinho da Leitura. Com as doações,conseguimos formar uma pequenabiblioteca na sala de aula, organiza-da em um belo baú, contendo livrosinfantis e gibis que as crianças ex-ploravam livremente, folheando,brincando de escolinha, contantohistórias umas às outras. Nos finaisde semana, cada criança escolhiaum livro da biblioteca e o levavapara casa, a fim de usufruí-lo comsua família.

Também tínhamos uma AgendaSemanal. As segundas-feiras eramdedicadas ao Dia do Brinquedo. Ascrianças utilizavam sucatasrecicláveis e de simples manuseio,como jornais, garrafas plásticas ecaixas de papelão, e confeccionavamseus próprios brinquedos. Usandomaterial que antes poluía o meioambiente, as crianças, orientadaspela professora, pesquisaram econstruíram brinquedos como cho-calho, pandorga2, bonecas, másca-

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ras, baldes de areia, bilboquê3,massinha caseira, e fantasia debumba-meu-boi, entre outros.

O principal brinquedo confecci-onado foi o fantoche mamulengo,usando garrafas plásticas, jornalvelho e retalhos de pano. As crian-ças construíram passo a passo seuspróprios bonecos com entusiasmo,pois, desde o início do ano letivo, jáhaviam entrado em contato com omundo do teatro de bonecos. Tínha-mos também um fantoche de caba-ça, o Palhaço Pompom, que partici-pava diariamente da Roda Inicial eera manipulado pelo Ajudante doDia. Quando os bonecos ficaramprontos, as crianças manifestaramo desejo de construírem casinhaspara eles. Então, com caixas de sa-pato, cada criança fez uma casinhapara guardar o seu mamulengo e,usando uma grande caixa de pape-lão, o grupo fez um palco para o te-atro de fantoches, para ser usado naapresentação da turma.

A história escolhida pelas criançaspara ser encenada foi Tangolomango,baseada numa cantiga popular. A peçafoi apresentada no evento Festa da Pri-mavera, no qual compareceram todasas turmas da escola e as famílias dascrianças. Após a apresentação, os pe-

3 O objetivo do jogo é lançar um ou mais objetos, quesão presos a um cordão e encaixá-los num pino, queestá amarrado na ponta oposta do cordão.

quenos puderam levar seus fantochespara casa, com as caixinhas que con-feccionaram para eles, além de umasurpresa preparada pela professora:um porta-retratos contendo uma fotodo aluno com seu boneco; uma lem-brança importante para eles e suas fa-mílias, pois a maioria não tem máqui-na fotográfica para registrar a infân-cia dos filhos.

Às terças-feiras, o dia era dedi-cado ao Caderno de Música, quan-do apresentávamos uma nova mú-sica folclórica ou de ritmos popula-res brasileiros. Nessa etapa, explo-ramos cantigas de roda e cançõessobre folguedos populares, além decompositores como Luiz Gonzaga,Vinicius, Toquinho e ChicoBuarque, entre outros. Na Roda Ini-cial, trazíamos a letra impressa damúsica para cantá-la, fazendo a lei-tura do texto, que depois era ilustra-do; a coletânea das músicas ilustra-das formou o referido caderno, quecada criança levou para casa ao fi-nal do ano. Além disso, os textos fo-ram usados para estimular a cons-trução da linguagem escrita. Elasdesenvolveram várias atividades,como formar palavras com alfabe-to móvel, escrever frases, completarlacunas na música etc.

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Nas quartas-feiras, tínhamos oDia do Conto, com o objetivo de es-timular a construção da linguagemoral e escrita, por meio de histórias,mitos e lendas do nosso folclore,além de textos de vários estilos lite-rários, comopoesias e con-tos de fadas etextos informa-tivos. Os textosprivilegiavamtemas do folclo-re infantil e dacultura popu-lar. Este, especi-almente, foi umveículo que des-pertou enorme-mente o interes-se das criançaspor várias histó-rias, como A Casa da Flor, que conta ahistória real de um brasileiro descen-dente de escravos, e o Bumba-Meu-Boi

que, depois, foi encenado pela turmana festa junina da escola.

Às quintas-feiras, tínhamos oDia da Pintura, quando as criançasexploravam diversos materiais esuportes para a expressão plástica,quando, por exemplo, pintaram cai-xas de papelão para confeccionar asfantasias do boi usadas na festajunina. E, finalmente, às sextas-fei-ras, tínhamos o Dia do Vídeo e Re-creação, quando toda a escola parti-

cipava de brincadeiras dirigidas pe-los professores e assistia a filmespedagógicos.

Durante a realização do traba-lho, pudemos perceber que aheterogeneidade da turma, que po-

deria dificultara realização doprojeto, conver-teu-se numagrande riqueza.A convivênciaharmoniosa decrianças de ida-des variadas, dediferentes ra-ças, religiões evalores familia-res, valorizou erespeitou a in-dividualidadede cada uma,

ajudando a construir a auto-estima,nosso principal objetivo. Sentindo asua individualidade respeitada naescola, as crianças não demorarama se adaptar à rotina, pois ela eraestruturada e prazerosa. A crian-ça portadora de necessidades edu-cacionais especiais, hoje, se encon-tra plenamente integrada, desen-volvendo todas as suas potencia-lidades.

Ao longo do projeto, resgatamosnossa cultura popular, valorizando ocalendário comemorativo brasileiro.Trouxemos para a sala de aula his-

Resgatamos nossa cultura popular,

valorizando o calendário

comemorativo brasileiro.

Trouxemos para a sala de aula,

histórias sobre nossos índios, sobre

a contribuição dos negros, além

de folguedos ligados às festas juninas,

ao carnaval, à Páscoa e ao Natal,

além de outros. Assim, pudemos

apresentar às crianças nossas

datas comemorativas através

do nosso folclore, apresentando

cantigas e ritmos populares

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tórias sobre nossos índios, sobre acontribuição dos negros, além defolguedos ligados às festas juninas,ao carnaval, à Páscoa, ao Natal, alémde outros. Assim, pudemos apresen-tar às crianças nossas datas comemo-rativas, não de maneira estereotipa-da ou superficial, mas embasadas nonosso folclore, e recheadas de canti-gas e ritmos populares, como oBumba-Meu-Boi, o Reisado4 etc., ampli-ando o universo das crianças.

4 O Reisado é uma das pantomimas folclóricas maisricas e mais apreciadas, principalmente no Nordeste. Éapresentado de 24 de dezembro a 6 de janeiro, isto é,entre o Natal e Festa de Reis. O Reisado é formado porum grupo de foliões que se reúne numa espécie de rancho,com a finalidade de visitar as casas das pessoas daregião, cantando e dançando.

Acreditamos que nossa experi-ência mostrou que é possível orga-nizar o trabalho pedagógico na edu-cação infantil de modo que a forma-ção pessoal e social da criança este-ja intimamente ligada à construçãode novos conhecimentos, e que ametodologia e as atividades por nósdesenvolvidas possam ser aplica-das, com sucesso, em outras turmasde educação infantil, adaptando-asàs necessidades de cada escola.

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Dados de identificação

Professora: Amélia Sírtoli.Co-autores: Eliana Rosa Carvalho, Eliane Santana Velasco Vieirae Dayse Roberts Lima Freire.Centro Municipal de Educação Infantil “Zélia Vianna de Aguiar”Município/UF: Vitória / Espírito Santo.Faixa etária atendida pelo projeto: 2 e 3 anos

Navegando com BritinhoA descoberta de uma forma atraente de despertar nas criançaso interesse por imagens artísticas

OCentro Municipal de Educa-ção Infantil de Vitória, no Es-

pírito Santo, tem sua história vol-tada para a assistência social. Inau-gurado em 1958, inicialmente, fun-cionava como orfanato de caráter fi-lantrópico, com internos e semi-in-ternos. Depois passou a ter funçãode creche, mantido com o auxílio doEstado e patrões dos pais das crian-ças matriculadas.Atendia às neces-sidades dos pais que precisavam deum lugar seguro para proteger seusfilhos enquanto trabalhavam. Des-de a sua municipalização, em 1999,iniciou-se um trabalho desensibilização da comunidade esco-lar, a respeito do papel pedagógicoda escola. Hoje, com o projeto polí-tico-pedagógico em construção e oplano de trabalho elaborado por to-dos os funcionários, colocamos em

prática uma proposta que cuida eeduca, simultaneamente, consolida-da nas características pedagógicas.

Contando com bom espaço físi-co e apoio técnico, pedagógico e fi-nanceiro da escola e da SecretariaMunicipal de Educação, reunimoscondições para desenvolver proje-tos de trabalho com as crianças.Inseridos numa comunidade centralurbana da cidade de Vitória, atende-mos a uma clientela de níveis cultu-rais e sociais heterogêneos, compar-tilhando o mesmo espaço educacio-nal. Um grupo em especial — com-posto em sua maioria por filhos detrabalhadores residentes em outrosbairros e municípios — necessitavafortalecer os vínculos e as interaçõesafetivas entre a escola e as famílias— por isso passamos a estimular aparticipação ativa de todos.

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Acreditando na importância daarte na educação infantil, mobiliza-mos todos os nossos recursos parafazer com que o projeto fosse bem-su-cedido. Buscamos descobrir uma for-ma atraente de despertar nas crian-ças o interesse por imagens artísticas.O objetivo era aproximar as ativida-des pedagógicas das cotidianas. Naformação integral da criança, a esco-la assumiu seu papel de mediadorado conhecimento, transferindo demaneira sistematizada os interessesimediatos do dia-a-dia para outrospróprios do saber científico.

O trabalho pedagógico está cal-cado na política Municipal de Edu-cação Infantil, em documentos ofi-ciais da Secretaria Municipal deEducação, no Referencial CurricularNacional, literatura e periódicosafins, tendo como eixo central asartes visuais. Por meio da pedago-gia de projetos, tema de estudo nes-ta Unidade Escolar, nos esforçamospara estar engajados nela, mesmosendo um grande desafio por se tra-tar de crianças tão pequenas.

Para executar o projeto, utiliza-mos a apreciação das obras do ar-tista plástico pernambucanoRomero Britto1, em especial as

1 Artista plástico brasileiro que adotou um estilo alegree colorido. Suas obras estão espalhadas por mais de 70países. Seu traço tem características infantis e exploramformas geométricas ou figuras como corações ouanimais, sempre com cores vivíssimas.

reproduzidas em embalagens e ob-jetos de consumo. Contando com oapoio da pedagoga da instituição eestímulo de um arte - educador, vi-mos na obra alegre, de traçadosfortes, definidos e coloridos de suaobra, a possibilidade de trabalharcom suas reproduções artísticas.

Estudamos pesquisadores que pro-movem reflexões sobre o conceito deaprendizagem e uma nova forma deação pedagógica, em que o ensino dasArtes Visuais passa por um amploprocesso de aprendizagem, dentro efora da escola. A esta cabe organizar esistematizar em atividades nas quaisa criança possa estar tanto no lugar dequem produz como no de conhecedore apreciador de arte. Um processoonde o fazer é retroalimentado pelo co-nhecimento de outros produtores epela possibilidade de “ler” seus pro-dutos. É a oportunidade de conhecer,apreciar e produzir arte.

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Segundo Anamélia Bueno Buoro,“O conceito de Arte é uma lingua-gem que possui uma estrutura pró-pria e é capaz de dizer ao indivíduoalgo diverso que as outras lingua-gens dizem... O indivíduo ‘consumi-dor’ de uma obra de arte é tambémcriador, porque é leitor de obra dearte, intérprete do mundo.”

Fernando Hernandez, em seu li-vro Cultura Visual, MudançaEducativa e Projeto de Trabalho, apre-senta reflexões na tentativa de rom-per barreiras e mitos sobre como ocampo de estudos das artes deveráampliar os conhecimentos das cri-anças em todos os níveis, sobre acultura visual de nossa época e ou-tras. Fala sobre a racionalidadecultural onde considera que a arteé uma manifestação cultural e osartistas realizam representaçõesque são mediadoras de significa-dos em cada época e cultura. Paraele, trilhar esse caminho da arte naeducação não corresponde a umamoda, mas sim conecta a um fenô-meno mais geral que tem a ver com

o papel da escolarização na socie-dade da informação e da comuni-cação, e com a necessidade de ofe-recer alternativas aos alunos paraque aprendam a orientar-se e a en-contrar referências e pontos de an-coragem que lhes permitam avali-ar, selecionar e interpretar aavalanche de informações que re-cebem todos os dias.

Nós, enquanto escola e educado-res comprometidos, temos muito oque fazer por nossas crianças. Esti-mulando-as a conhecer e apreciarnossa herança cultural, sem temerproduzir arte. Valorizar o papel daarte na sociedade, visitar museus emostras artísticas, selecionar osmateriais a serem apreciados, diri-gindo o seu olhar e ofertar ambien-te propício à realização de seus tra-balhos. Esses foram os grandes de-safios desta proposta. E, como dis-se Marisa Szpigel, “O professor secoloca como um mediador/instrutorde conhecimentos culturais, e a in-tervenção que realiza fica evidentee pode ser avaliada pela qualidadedo material que seleciona, organizae traz para a sala.”

Para desenvolvermos o ProjetoNavegando com Britinho, buscamos ca-minhos de construção do conheci-mento, inspirados na perspectivaconstrutivista sóciointeracionista,concebendo a criança como sujeito so-cial e histórico, objetivando contri-

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buir na formação de cidadãos capa-zes de ler o mundo com sensibilidadee criatividade, ampliando sua capa-cidade criadora por meio da explora-ção de imagens, incentivando a des-coberta de nova forma de comunica-ção, considerando os apelos da mídiae da sociedade contemporânea.

O projeto foi elaborado de manei-ra a ultrapassar os muros da esco-la. Iniciado em fins de março de2003, a partir do interesse das cri-anças por peixes, após visita ao su-permercado, montamos mural depesquisa sobre o tema, com a parti-cipação de toda a escola, abordan-do duas funções: alimentação e or-namentação. Compramos peixespara nos alimentar e para ornamen-tar nosso aquário.

Muitas aulas-passeio foram re-alizadas: na praia, Escola de Ciên-cia, parques, casas comerciais, casade colegas, cinema, mercado de pei-

2 As Desfiadeiras de Siri da ilha Caieiras ,Espírito Santo,trabalham em uma Cooperativa fundada em 1999 pelaprefeitura e mantêm viva essa antiga tradição local.Sua atividade consiste em desfiar os siris pescados peloshomens usados no preparo de pratos típicos, como atorta capixaba.

3 As Paneleiras de Goiabeiras, assim chamadas por sera maioria das artesãs mulheres, residem no bairro deGoiabeiras, em Vitória, capital do Estado do EspíritoSanto. Com competência confeccionam, em barro,panelas, potes, travessas, de diversas formas etamanhos. O processo de fabricação é praticamente omesmo que os índios usavam na época dodescobrimento. Anteriormente, as Paneleirastrabalhavam individualmente em suas próprias casas.Atualmente, mais organizadas, estão agrupadas naAssociação das Paneleiras de Goiabeiras, uma espéciede cooperativa.

xe, colônia de pescadores,Desfiadeiras de Siri2 e Paneleirasde Goiabeiras3 dentre outras, tor-nando concretas as descobertas desala de aula. Plantamos e colhemoscoentro — tempero para peixe mui-to apreciado na culinária capixaba.Com o auxílio das famílias, escre-vemos e ilustramos o livro Nave-gando com Britinho, que conta todaa trajetória da construção de nos-so aquário.

Na alimentação, preparamos al-gumas receitas e degustamos patêde atum, moqueca e torta capixaba,que são pratos típicos de nossa re-gião. Conhecemos o peixe fresco e oindustrializado, como é por dentroe por fora, aprendemos quais os cui-dados que devemos ter ao comprá-lo e como comê-los. Promovemosuma grande festa inaugurando nos-so aquário. Cada turma confeitouum bolo em forma de animal mari-

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nho para compor a mesa da festa,organizada como um grande aquá-rio. Encerramos o trabalho produ-zindo uma embalagem para enviarnosso projeto ao Prêmio Qualidadena Educação Infantil - 2004.

Registrávamos diariamente asatividades e os acontecimentos in-teressantes e semanalmente enviá-vamos relatóri-os para o acom-panhamento fa-miliar. Observa-ção direta econstante, ano-tações em fichasindividuais eproduções cole-tivas orais e es-critas orienta-vam a nossa in-terferência.

Alcançamos vários níveis deinstrução: das crianças e suas fa-mílias, dos educadores e da escolae da comunidade em geral, estrei-tando nossa relação e possibilitan-do conhecimento mais profundo deobras artísticas que convivemosem nosso dia-a-dia.

Todo o trabalho foi marcado pelocomprometimento com a aprendi-zagem das crianças e da nossa tam-bém. Foi bastante gratificante tra-balhar com crianças tão pequenas,auxiliando na construção da auto-nomia delas, e elevando a sua auto-

estima. Sem falar que o trabalhonos impulsionou a fazer cada vezmais e melhor, porque estávamosfelizes. Os resultados positivos des-se projeto possibilitaram concluirque a forma mais adequada de ocotidiano e a arte entrarem na salade atividades — com significado di-dático-pedagógico — é investir na

formação conti-nuada do profes-sor para ajudá-loa romper com ametodologia ba-seada meramen-te na transferên-cia de conheci-mentos abstra-tos e passarmosoferecer às cri-anças nossa prá-tica para uma

real transformação, tornando-ascapacitadas a responder aos desa-fios do mundo atual. É notório osavanços conquistados, fazendo-nos acreditar que vale a pena e épossível produzir educação infan-til de qualidade.

O Projeto Navegando com Britinhoestendeu-se por mais de um ano le-tivo e até hoje contagia quem o co-nhece. Se pudesse continuá-lo,aprofundaria nos estudos sobre ali-mentação e a nossa culinária regio-nal. A experiência de ver nosso tra-balho organizado e pronto foi o me-

Alcançamos vários níveis

de instrução: das crianças e

de suas famílias, dos educadores

e da escola e da comunidade

em geral, estreitando nossa

relação e possibilitando

conhecimento mais profundo

de obras artísticas que

convivemos em nosso

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lhor prêmio. Aconselhamos todosos professores a “arriscarem-se” naaventura de registrar suas práticas,porque encontrar com os “corajo-sos” da educação infantil de todonosso país foi maravilhoso! Nos deua certeza de que a escola não é “de-

pósito” de crianças e que estamosno caminho certo, próximos dasmelhores práticas que se conhece, eisso nos fortalece e impulsiona aavançar sempre e acreditar que aescola pública pode ser da melhorqualidade.

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Professora: Carina Gomes Leal PaivaCo-autores do projeto: Carolina de J. Luzo, Enir S. Moreira,Ma. Aldeniza da Silva, Vanderleia de J. Ferreira, Helena F.Alves, Zilda R. de Araujo, Mariza A. Ferreira, Ir TeresaCavazzuti, Ir Ma. Elina Bustos, Kelly Cristina Silva CostaCreche Municipal “Crianças Crescendo”Município / UF: Jussara / GoiásFaixa etária atendida pelo projeto: 4 a 6 anos

A praça que queremosCrianças defendem a construção de uma praça no bairro emobilizam professores, pais, moradores do bairro e autoridadespara a realização do projeto

O bairro Nova Jussara fica loca-lizado a 5 km da cidade de

Jussara-GO e é formado por 350 fa-mílias carentes. A creche funciona,provisoriamente, em um prédio ce-dido pela Igreja Católica. Ela é com-posta de duas salas de aula, umacozinha, uma despensa, dois ba-nheiros, e uma área que é utilizadapara recreação e também para fazeras refeições. Na capela são feitas asreuniões e as festas. Seu projeto po-lítico pedagógico contempla o tra-balho com temas escolhidos pelasprofessoras e professores a partirdo interesse comum, acontecimen-tos locais e nacionais.

Acreditamos que com esta obraidealizada - A Praça Que Queremos -

e, oportunamente, realizada, a co-munidade se beneficiaria, podendocontinuar sua luta com mais moti-vação. Tendo direito a melhorescondições de vida e, o principal, nacondição de protagonista ativa noprocesso de socialização.

Considerando que a educaçãoinfantil é a primeira etapa da Edu-cação Básica, amparada pela Lei deDiretrizes e Bases da Educação Na-cional (LDB), suas ações passam ater uma intencionalidadeeducativa. Elas não se restringemapenas à guarda e ao cuidado dascrianças. Acreditamos em uma edu-cação infantil na qual as criançastenham direito à cultura, à brinca-deira, à literatura, ao teatro, à mú-

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sica, à pintura e à arte em geral. Épreciso torná-las capazes de conhe-cer sua realidade social e propormudanças. Fazê-las construtorasde sua própria história.

Um mês antes de desenvolver-mos o projeto propriamente dito,uma primeira abordagem envolven-do temas ambi-entais foi realiza-da, com o ProjetoÁgua Nossa de cadaDia. Após essa ex-periência, o depar-tamento do MeioAmbiente do mu-nicípio nos enviouuma proposta que visava melhorara qualidade de vida dos moradoresdo bairro. Entre as sugestões, esta-va a proposta de visitar uma praça,no entanto, o bairro onde está loca-lizada nossa creche não tem praça.Isto nos levou a uma reflexão sobreas condições da região. O que po-deríamos fazer para melhorar aqualidade de vida das pessoas? Le-vando-se em conta o expressivo nú-mero de famílias jovens que mo-ram no setor e, por conseguinte, de

crianças e adolescentes; a falta decuidado da população com o lixo; odesperdício da água; a inexistênciade arborização e de espaços verdes;o grande número de pessoas quesofre de problemas respiratórioscausados pela poeira.

O projeto envolveu toda a comu-nidade, deixan-do-a interessa-da e partici-pativa, dandooportunidadede planejar asatividades emconjunto pro-fessor/criança;

para trabalhar em grupo, e deixar asopiniões fluírem. Dessa forma, aeducação terá um novo rumo.

De acordo com Vera Grelhet, com-preender a situação-problema é o ob-jetivo do trabalho por projeto. Esse éo ponto inicial do trabalho, pois é par-tindo da realidade que se começamas descobertas educacionais. A au-tora diz também que todos têm tare-fas e responsabilidades. A aprendi-zagem se dá durante todo o proces-so e não envolve apenas conteúdo.

Trabalhar com a

educação infantil é

muito gratificante, pois,

ao mesmo tempo que ensinamos,

aprendemos a olhar a vida

a partir dos olhos

da criança

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Segundo ela, aprendemos a conviver,a negociar, a nos posicionar, a bus-car e a selecionar informações e re-gistrar tudo isso. Conseqüentemen-te, não devemos temer, pois a apren-dizagem se dá de forma gradativa,deixando as crianças mais atentas àsnecessidades do seu dia-a-dia, fazen-do com que elas pensem e ajam deacordo com as intervenções feitas, ese tornem responsáveis pela sua pró-pria história.

O projeto teve início com a apre-sentação e o levantamento do conhe-cimento prévio das crianças, resga-tando a história do bairro por meiode fantoches. O seu desenvolvimen-to se deu por etapas: foi feita umavisita ao bairro e conversamos comos moradores para saber como eonde era depositado o lixo; foramobservados a infra-estrutura - ruassem asfalto, falta de espaços delazer e recreação - e o meio ambien-te - pouca arborização, poluição so-nora. O objetivo dessa etapa foiconscientizar as crianças de quecada uma é responsável pelo bairroonde vive. Também fizemos umaseleção - classificação, contagem,seriação do lixo coletado no passeio- para a sua utilização no projeto eem outras atividades.

Começamos por questiona-mentos, como: O que é uma praça?O que tem numa praça? Para queserve? As respostas foram escritas

em um cartaz. No passeio, quandopercorremos as praças da cidade, aprofessora perguntou: “Quem cons-truiu a praça? Quanto foi gasto?”Como não sabiam a resposta, as cri-anças ficaram de averiguar. No diaseguinte à visita, elas trouxeram asrespostas sobre as questões coloca-das durante o passeio à praça.

As crianças se surpreenderamcom a placa de identificação da pra-ça, o seu nome e o chafariz. Depois,pensaram em outras coisas que po-deriam ser colocadas numa praça eque, segundo elas, viram em filmese revistas. Idealizaram um lugarpara espetáculos (Espaço Cultural)e pistas para bicicletas.

O desenvolvimento do projetoteve várias etapas: construção damaquete do que temos no bairro;elaboração da planta baixa da pra-ça que queremos; colocando legen-da; desenvolvendo uma ligação en-tre a escrita e o desenho e estabele-cendo a relação espacial e temporal.Foi feita também a construção damaquete da praça que queremos;em pequenos grupos, as crianças

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receberam diferentes tarefas: pro-duziram árvores, chafariz, placa,recipientes para lixo, quadra... Nes-sas atividades, foi desenvolvida acoordenação motora, a percepçãovisual e a criatividade. O nome es-colhido para a praça seria colocadonuma placa. Uma das crianças su-geriu: A Praça É Nossa. Outra cri-ança justificou que estava certo co-locar esse título, porque foram elasque a idealizaram.

Na roda de conversa, foi discuti-do o que poderia ser feito para que apraça se tornasse realidade: “Pode-mos pedir ao prefeito que fez a outrapraça.” A professora explicou que oprefeito constrói as coisas da cidadecom o dinheiro arrecadado do paga-mento dos impostos, por isso todosprecisam estar de acordo. Então, foisugerido convidar algumas pessoasdo bairro para dar a sua opinião. Fo-ram elaborados convites para o pre-sidente da Associação dos Morado-res do bairro, a diretora da escola, opessoal do Posto de Saúde, represen-tantes do bairro e os pais.

Na oportunidade, as criançasapresentaram o projeto e convida-ram os presentes a dar sugestões. Opresidente da Associação dos Mora-dores sugeriu que acrescentásse-mos ao pedido uma biblioteca. Aenfermeira parabenizou as criançaspela explicação que fizeram decomo a poeira gera enfermidades

respiratórias e sobre a necessidadede espaços verdes.

A professora explicou que parafalar com o prefeito seria precisomarcar uma audiência. Para isso, foiescrita uma carta. Enquanto espe-rava a confirmação do encontro como prefeito, foi organizada a apresen-tação do projeto, com a encenaçãoda canção popular A LindaRosa Juve-nil e a poesia Leilão de Jardim, de Ce-cília Meireles. As crianças estuda-ram a sugestão da biblioteca e a in-cluíram no Espaço Cultural. O pre-feito decidiu ir até a creche paraouvir “o assunto muito importante”que as crianças tinham para dizer-lhe. Ficou sensibilizado quando ascrianças explicaram a necessidadede uma praça para o bairro e, quan-do mostraram a maquete que ti-nham preparado, comprometeu-sea levar a proposta para a Câmarade Vereadores.

O Projeto A Praça Que Queremosveio ao encontro da necessidade demaior consciência e educação dacomunidade, pois os moradores dobairro ficaram encantados com asações realizadas pelas crianças, jun-tamente com as professoras. O pas-seio pelo bairro, realizando a coletade lixo e conversando com os mora-dores, causou um grande impactona comunidade. Naquele momento, acreche ampliou o seu espaço internopara dar a sua contribuição social.

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Em linhas gerais, o Projeto A Pra-ça Que Queremos colaborou com a so-cialização das crianças, que aos pou-cos foram apresentando mudançasde postura, atitudes, conceitos e pro-cedimentos. As crianças apren-deram a traba-lhar em grupo econviver com opróximo; escu-tando e respei-tando opiniões.A avaliação con-tínua da apren-dizagem se deuem todo o mo-mento e foi con-cluída na reu-nião com ospais, na qual foram citadas as mu-danças ocorridas em seus filhos.

O Projeto A Praça Que Queremosabriu caminhos para se trabalhartambém com a reciclagem. No se-gundo semestre, construímos vári-os brinquedos e realizamos ativida-

des com material reaproveitado.Neste ano de 2005, queremos desen-volver a coleta seletiva de lixo, jun-to com as crianças, seus pais e osfuncionários da creche. Dessa ma-neira enfatizamos nossa crença na

força da educa-ção e nas crian-ças como respon-sáveis por suaprópria história ede uma nova hu-manidade.

T r a b a l h a rcom a educaçãoinfantil é muitog r a t i f i c a n t e ,pois, ao mesmotempo que ensi-

namos, aprendemos a olhar avida a partir dos olhos da crian-ça. Ser professor é ensinar para avida, como, por exemplo, a cuidardo lugar onde se vive para queamanhã tenhamos uma qualida-de de vida ainda melhor.

O Projeto A Praça Que

Queremos colaborou

com a socialização das crianças,

que aos poucos foram

apresentando mudanças

de postura, atitudes, conceitos e

procedimentos. Aprendendo

a trabalhar em grupo e aceitar

o próximo; escutando e

respeitando opiniões

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Professora – Raimunda do Socorro Lemos de MatosCo-autores do projeto – Cláudia Eline Campos Rocha; Lucilene LimaSilva; Helen Luce Cardoso Alves; Anayra Sousa Pinheiro; Maria JoanaMelo Correia; Edna Maria Cabral Martins; Ana Rita Oliveira Pires;Maria do Socorro Pereira CorreiaCentro de Educação Infantil Pastor Estevam Ângelo de SouzaMunicípio / UF – São Luís / MaranhãoFaixa etária atendida pelo projeto: de 5 e 6 anos

Nas asas do CarcaráA música ajuda crianças do Maranhão a expressarcom mais facilidade suas emoções, sentimentos e, principalmente,a criatividade

O Centro de Educação InfantilPastor Estevam Ângelo de

Souza, que atende crianças de 5 e 6anos, tem um espaço físico amplo ebem distribuído, com três coretos,uma brinquedoteca, sala de vídeo,sala de professores, sala deinformática, cantina, anfiteatro eárea livre com boa amplitude, o quefacilita o desenvolvimento de ativi-dades variadas. A escola localiza-sena Cidade Operária, bairro da peri-feria de São Luís, no Maranhão, ricoem manifestações culturaisdiversificadas, como coral, bumba-meu-boi, grupos de pagode, entreoutros. As crianças que participa-ram do projeto pertencem ao seg-mento de baixo poder aquisitivo.

A idéia do projeto começou ao seobservar que as crianças possuíamum repertório musical bastante li-mitado. Elas cantavam apenas asmúsicas mais divulgadas pelos mei-os de comunicação, como axé, bregae rock pop. Como professora, isso meinquietava. Essa realidade tambémse fazia presente nas outras salas doterceiro período da pré-escola. O quenos levou a refletir sobre a impor-tância de as crianças conheceremmelhor a própria cultura e ampliara sua percepção musical.

A escolha recaiu sobre o artistabrasileiro João do Vale pelas suascomposições, que até hoje sãoregravadas por grandes intérpretes,como Chico Buarque, Maria

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Bethania, Alcione, entre outros. Alémde percebermos a forma de escrita ecomposições engraçadas que pode-riam causar interesse ao universo in-fantil. E por ser a ave carcará um dossímbolos de resistência e marca re-gistrada da aflição do sertão nordes-tino, determinou a escolha do temado Projeto Nas Asas do Carcará, queapresentaria às crianças a riquezada nossa cultura e a realidade de vidaque nos cerca. O projeto buscou ofe-recer às crianças do terceiro períododo Centro de Educação Infantil Pas-tor Estevam a oportunidade de co-nhecer a cultura maranhense pormeio da história da vida e da obrado compositor João do Vale, quemuito contribuiu para o nosso enri-quecimento artístico e cultural.

A música é uma linguagem que,se compreendida desde cedo, ajudao ser humano a expressar com maisfacilidade as suas emoções, senti-mentos e, principalmente, a ser cria-

tivo. O objetivo da musicalização in-fantil é contribuir para a formação eo desenvolvimento da personalida-de do indivíduo pelo estímulo da cul-tura e fornecendo meios para a evo-lução do conhecimento musical. Nes-se sentido, Caíres, monitora do EGJ,assim se refere: “Trabalhar com amúsica no cotidiano escolar signifi-ca ampliar a variedade de lingua-gem que pode permitir a descobertade novos caminhos de aprendiza-gem. É possível que se despertemnos alunos outras formas de conhe-cer, interpretar e sentir.”

Por essa razão, uma das metas doprojeto político-pedagógico na nos-sa escola é trabalhar com elemen-tos didáticos, que criem condiçõespara que nossas crianças possamconhecer, descobrir e vivenciar ex-periências, valores, costumes e re-lações sociais, garantindo assim, deforma significativa, a ampliação doconhecimento. E a música contribui

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significativamente para abrir esseleque de possibilidades.

Em decorrência da forte influên-cia da música que os meios de co-municação impunham ao repertó-rio diário das crianças, decidimosdiversificar um pouco essa tendên-cia. O que me inquietava, porém,era encontrar a melhor forma paraapresentar esse grande compositore saber se ele e suas músicas seri-am interessantes ou não para ascrianças. Assim, a roda de conver-sa, que permitia a troca e a livreexpressão das crianças sobre deter-minado assunto, dessa vez traziaem pauta a novela Celebridade. Nes-se bate-papo, as crianças comenta-vam que a novela considerava ce-lebridades pessoas que eram famo-sas. Isso me deu oportunidade demostrar que aqui também temoscelebridades e de grande significa-do para a nossa cultura.

No dia seguinte, coloquei no qua-dro, de maneira intencional, um jor-

nal com a foto de João do Vale. Per-cebi que a curiosidade das criançasfalava mais alto: De quem se trata-va? De onde ele vinha? Era uma ce-lebridade? As crianças que já con-seguiam ler, convencionalmente,trataram logo de falar para os cole-guinhas que se tratava de João doVale, o autor de Pisa na Fulô. E osquestionamentos continuaram:Onde ele mora? Ele está vivo ou jámorreu? Por que adeus, carcará?Diante desse fato, verifiquei que setratava de um assunto que muitointeressava às crianças: conhecer ahistória de João do Vale, que setransformara em objeto de interes-se para aquelas crianças. Dessa for-ma, propus então que trabalhásse-mos um projeto sobre a vida e aobra desse cantor e compositor,para que pudéssemos conhecer umpouco mais esse artista.

Nossa proposta incluía tambémconhecer o gênero bibliográfico a par-tir da história da vida de João do Vale

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e de seu estilo musical por meio dasletras de suas obras; reconhecer oselementos musicais básicos - frases,partes, elementos que se repetiam;fazer interpretação das suas músicasmais conhecidas; identificar a lingua-gem não convencional, encontradanelas como umaforma de comuni-cação própria docancioneiro popu-lar nordestino.

Para alcançaros objetivos pro-postos, o desen-volvimento doprojeto foi feitopor etapas: pri-meiramente, fizum levantamen-to dos conhecimentos prévios a res-peito do que as crianças sabiam so-bre o compositor; em seguida, apre-sentei algumas músicas de sua au-toria - Pisa na Fulô, Estrela Miúda,Trem de Teresina. Pedi também queentrevistassem seus familiarespara descobrirem se eles conheci-am algo sobre o artista. Com oenvolvimento da família, as crian-ças ficaram ainda mais motivadas,pois alguns pais levaram para a es-cola discos, livros e outros compra-ram CDs, e relatavam o que sabi-am sobre “o nosso João”, e isso fezcom que a integração família/esco-la ficasse mais consolidada.

Após a seleção de todo o materi-al, combinamos os dias em que iría-mos estudar a biografia do compo-sitor e ouvir suas músicas. Com oprosseguimento da leitura sobre abiografia de João do Vale, observeique as crianças se sensibilizaram

muito com o esti-lo de vida queJoão levara quan-do era garoto.Menino pobre,sem estudo, ten-do de vender pi-rulito para aju-dar a sua mãe.Após cada leitu-ra de sua vida,ouvíamos algu-mas de suas

obras que muito encantaram as cri-anças: Pipira do Mané, Trem deTeresina, Carcará (Um bicho que avoaque nem avião). Com a familiaridadedas crianças com as músicas de Joãodo Vale, foram selecionadas as desuas preferências. Após a seleção fei-ta pelas crianças, discutimos entãoo que faríamos com todas as infor-mações adquiridas. Propus, então,que montássemos um musical comas canções e o apresentássemos aosamigos, aos familiares e à comuni-dade escolar. O que foi aceito pelascrianças. E, assim, estamos hojeestruturando o coral da escola querecebeu o carinhoso nome de uma

O Projeto Nas Asas do

Carcará gerou nas crianças

situações de aprendizagens

reais e diversificadas,

possibilitando a construção

de sua autonomia e adquirindo

compromisso com o social.

Acredito que elas estão

se formando como cidadãos

críticos e participativos

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das musicas de João do Vale, dadopelas crianças, Coral Estrela Miúda.

Os espaços físicos utilizadosdurante o desenvolvimento do proje-to, além da sala de atividades, forama sala de vídeo, o anfiteatro e os core-tos que serviram como ambientes deapreciação e ensaios das obras. Paraa realização de algumas atividadesque envolviam leitura e escrita, utili-zou-se o alfabeto móvel. Em artes, fo-ram desenvolvidas várias técnicas depintura, dobraduras, recortes ecolagens com tecido e revistas.

Para sabermos ainda mais sobrea vida e a obra desse ilustre mara-nhense, fizemos várias parcerias. Pri-meiramente, com o teatro, cujo nomefoi dado em sua homenagem aindaem vida; depois, com profissionais daárea da música, como a professoraEdnir Cotrin Guará, ex-professora daescola de música, que muito nos au-xiliou na organização do musical econtinua nos auxiliando na estruturado coral. Além de profissionais daárea de artes, como a professoraEdvânia Ferres, que também contri-buiu para a realização desse projeto.

Por tudo que foi vivenciado, creioque houve uma real aprendizagempor parte das crianças, como o re-

gistro do vocabulário da forma deexpressão do povo do sertão revela-da nas músicas; a sensibilidade dascrianças com as dificuldades encon-tradas no percurso de vida do can-tor; a identificação pessoal das cri-anças com João, a questão de serpobre e negro; o fortalecimento daexpressão plástica nas crianças porintermédio da pintura, desenhos,colagens e dobraduras; propiciou ocontato com o estilo musical, ampli-ando para diferentes espaços, comoa vizinhança, amigos, entre outros.

Diante desse contexto, percebique o projeto gerou nas crianças si-tuações de aprendizagens reais ediversificadas, possibilitando aconstrução de sua autonomia e ad-quirindo compromisso com o soci-al. Acredito que elas estão se for-mando como cidadãos críticos eparticipativos. Com o sucesso obti-do no musical que foi apresentadopara toda a comunidade escolar efamiliares e, posteriormente apreci-ado no Fórum de Educação de 2004,oficializou-se então o Coral EstrelaMiúda, que hoje inclui, além das cri-anças do terceiro período, os alunosdo segundo período. E, futuramen-te, gravaremos o primeiro CD.

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Professora: Gianni Lucindo Dias.Escola: CIEI – Centro Integrado de Educação Infantil MariaJosé da Silva Cançado.Município/UF : Naviraí / Mato Grosso do SulFaixa etária atendida pelo projeto: 3 a 6 anos.

Arte: conhecimento que expressaliberdade para a vidaA arte como instrumento para proporcionar desenvolvimentointegral das crianças, trabalhando todas as áreas do conhecimento,de forma lúdica e prazerosa

O Centro Integrado de Educa-ção Infantil Maria José da Sil-

va Cançado está localizado em umaregião periférica da cidade e atendecrianças de 0 até 6 anos. Nossa es-cola proporciona um ambiente aco-lhedor, com amplo espaço para ati-vidades de recreação e jogos. Contatambém com salas laboratórios commateriais necessários para desen-volver as atividades específicas decada área do conhecimento, comoartes, música, lingüística, matemá-tica, educação de valores e ciências.

O projeto surgiu a partir da ne-cessidade de um trabalho mais efe-tivo com a arte, por entendermosque se trata de um elo entre todasas manifestações humanas. Umaforma perfeita de conhecer e perce-ber o mundo. Por intermédio daarte, a criança desperta seus senti-

dos, possibilitando a compreensãosignificativa de questões sociais,estéticas e cognitivas.

A elaboração do projeto Arte: Co-nhecimento Que Expressa Liberdadepara a Vida foi embasada no projetopolítico-pedagógico da nossa escola,nos Referenciais Curriculares para aEducação Infantil e em um materialmultimídia, para professor do Mater-nal ao Jardim III, destacando a arte,da Antiguidade até a atualidade.Durante todo o processo, as refle-xões surgiam no final de cada aula,na adequação do conteúdo para afaixa etária e também com os própri-os colegas de trabalho, que eram osprofessores regentes de cada sala,onde as atividades de artes eram de-senvolvidas.

Sempre quis trabalhar a arte deforma contextualizada. Por isso, nas

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primeiras atividades, procurei tra-zer uma poesia que pudesse propor-cionar conhecimento e reflexão. Umexemplo disso foi a atividade desen-volvida com Qual a cor do Amor? Nes-se caso, o objetivo foi trabalhar ascores e valorizar a importância doamor para as nossas vidas.

A organização do trabalho emsala era feita sempre com uma con-versa, para descobrir o conhecimen-to prévio das crianças sobre o temae a agenda da atividade a ser desen-volvida na sala. Quando se tratavade técnicas de pintura, conversáva-mos sobre os materiais utilizados.Na oralidade trabalhávamos mate-mática. Quando apreciávamos umatela, por exemplo, perguntamosquantos objetos podiam ser vistos,se eram grandes ou pequenos, quaisestavam em cima ou embaixo. Nasvárias áreas do conhecimento, sem-pre tinha algo por se fazer. Com a artecênica, as crianças podiam se expres-sar, falar, representar e reproduzir.Isso, com certeza, melhorou a desen-

voltura das crianças, que, no iníciodo ano, eram retraídas e quietas.

Quanto ao espaço físico, depen-dendo do objetivo, as atividades eramdesenvolvidas em locais diferencia-dos, como no gramado, na área gran-de, na sala e no quiosque. Nossas au-las saíram do ambiente escolar emdois momentos. Uma visita à casa deuma professora que é pintora de te-las. Visitamos o seu ateliê, para ensi-nar a pintura de telas, e fomos tam-bém a uma loja que vende diversostipos de produtos artesanais. Con-vidamos as avós artistas de nossascrianças a visitar a escola. Elas con-versaram e mostraram o trabalhodelas. Foi uma forma de as criançasperceberem que os artistas, muitasvezes, estão perto de nós. O desen-volvimento das ações artísticas pro-curou contemplar a arte como umtodo, favorecendo o fazer artístico,a apreciação e a reflexão.

As avaliações das atividades fo-ram feitas ao final de cada aula, 10minutos antes do seu término. Con-

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versávamos sobre a aula; o que fi-zemos; se elas haviam gostado. Se oassunto envolvesse alguma técnica,pedia que me falassem como tínha-mos feito e o que fora utilizado. Pro-curava também questionar as de-mais professoras para saber se ascrianças comentavam as atividadesrealizadas. Quando elas não gosta-vam, também falavam. Às vezes, nemprecisavam falar. No desenvolvimen-to da atividade, logo percebíamosquando não estava dando certo.

Todo esse processo serviu comoforma de reavaliar o trabalho que es-tava sendo colocado em prática.Para cada faixa etária, o processo sedeu de forma diferenciada. No Jar-dim I, as atividades utilizavam o pró-prio corpo: realizavam trabalhoscom o dedo, a mão, o pé, o sopro....Aprendi muito com as crianças. Terpaciência, respeitar o tempo de cadauma delas e também constatei oquanto esse projeto foi importantepara elas. Algumas se envolverammais, e demonstraram isso; no en-

tanto todas vivenciaram o projeto nasua totalidade, participaram e com-partilharam comigo do desejo deadquirir um conhecimento impor-tante para toda a vida. Quem se in-teressa por uma arte certamenteserá mais feliz na vida, terá melhorqualidade de vida. A arte é uma ma-neira de nos aproximar da perfei-ção, que para nós é representadapor Deus.

Acredito ter influenciado positi-vamente as crianças. Quando termi-nou o ano letivo, recebi a visita deuma mãe cuja filha fora minha alu-na. Ela levou a criança para me ver,pois, segundo ela, a garotinha fala-va que um dia queria ser professo-ra como eu, para pintar e desenhar.Fiquei muito feliz pelo comentário,porque sei que ela verá a vida comoutros olhos. A semente foi lançada.Atitudes como essa nos encorajama prosseguir na nossa jornada.

Este ano, todos os professoresda nossa escola irão ter acesso aeste projeto de artes para que pos-

sam desenvolver com suasturmas, com o apoio da di-reção e da coordenação.Na sala de artes, teremosos materiais necessáriospara trabalhar as artesplásticas, cênicas e visu-ais. Talvez pudéssemoster ousado mais, ter reali-zado e trabalhado maior

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número de técnicas de pintura, or-ganizado mais apresentações. Naparte visual, poderia ser acrescen-tado o espaço fí-sico, objetos dasala e várias ou-tras coisas.

Minha pro-posta daqui pa-ra frente é am-pliar o ensino daarte propriamen-te dita: sua his-tória e, principal-mente, os artistas da nossa terra. Pre-tendo sair mais da sala e, também,convidar diferentes artistas para vi-sitarem a nossa escola. Mostrandoque não precisamos ir muito longe

para ver as mais diferentes formasde arte. Quero ousar mais com as mi-nhas crianças. A arte pode proporci-

onar um desenvol-vimento integraldelas, pois no pro-cesso artístico po-demos trabalhartodas as áreas doconhecimento, deforma lúdica eprazerosa. A liber-dade do fazer ar-tístico é uma gra-

tificante forma de ensinar. A criançavivencia, reflete, se expressa e, a par-tir daí, teremos alunos críticos, quefalam o que pensam sem temoresnem receios.

Quem se interessa por

uma arte certamente será

mais feliz na vida, terá melhor

qualidade de vida. A arte

é uma maneira de nos

aproximar da perfeição,

que para nós é

representada por Deus

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Professora: Ângela Maria Sabião DamásioCo-Autores: Luzia Márcia Vianconi Souto; Selma Maria de AraújoEscola: Creche Menino JesusMunicípio / UF: Lucas do Rio Verde / Mato GrossoFaixa etária atendida pelo projeto: 1 a 3 anos.

Aprender inteirando-se com o mundosocial: passeando também se aprendeProjeto transforma um simples passeio numa estratégia para aconstrução do conhecimento

A Creche Menino Jesus, situadana cidade Lucas do Rio Verde,

em Mato Grosso, atende, em perío-do integral, 200 crianças na faixaetária de até 3 anos. Possui oito sa-las de aula, uma brinquedoteca, umavideoteca, uma biblioteca, refeitórioe ampla área externa com parques,tanques de areia, casa de boneca.

O Projeto Aprender Inteirando-secom o Mundo Social: Passeando tambémse Aprende visa integrar os passeiosao ato de educar e cuidar, pois ainteração social em situações diver-sas é uma estratégia importante doprofessor para propiciar conheci-mentos para as crianças.

A observação e a exploração domeio em que vivem são as princi-pais possibilidades de aprendiza-gem dessa faixa etária. Assim, ascrianças poderão gradualmente

construir as primeiras noções so-bre as pessoas, o seu grupo sociale as relações humanas. A interaçãocom adultos e crianças de diferen-tes idades, as brincadeiras, a explo-ração do espaço e o contato com anatureza são experiências necessá-rias para o seu desenvolvimento.

Com passeios a parques, praças,bosques, biblioteca, supermercadoe outros, propiciamos às crianças aampliação dos seus conhecimentosde forma lúdica e prazerosa, comonos fala Lev Seminovich Vigotsky:“O convívio social e o cultural entreos pares da mesma faixa etária eadulto do mesmo grupo social aoqual pertence a criança contribui deforma relevante para o desenvolvi-mento e a aprendizagem.”

Para ampliar os horizontes da cri-ança para além da casa e da creche,

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realizamos passeios que proporcio-naram a elas múltiplas formas deaprendizagem. No desenvolvimen-to dos trabalhos, notamos o entusi-asmo das crianças em participar deatividades diversificadas, duranteos passeios estabeleceram contatocom pessoas que não fazem partede seu convívio cotidiano, puderamobservar ambientes naturais boni-tos e atrativos, entre outros.

O projeto resultou de diálogos ereflexões no grupo de professores du-rante a hora-atividade1. Chegamos àconclusão de que nossos alunos vi-viam num mundo muito restrito en-tre a creche e suas respectivas resi-dências. Amadurecemos a idéia e ela-boramos o projeto. Com o seu desen-volvimento surgiram ricas experiên-cias, propiciando a ampliação dessemágico universo infantil.

Montamos um cronograma depasseios quinzenais, escolhendo lu-gares que pudessem despertar o in-

1 Período destinado a estudo, planejamento e avaliação,incluído na carga de trabalho, conforme artigo 67, V,da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

teresse e a atenção das crianças.Traçamos como principaisobjetivos: promover a socialização;o relacionamento com diferentespessoas; ampliar as possibilidadesde expressão e comunicação;estabelecer contato entre a criançae o meio ambiente, estimulando o in-teresse pela natureza e o que ela nosoferece; auxiliar nodesenvolvimento da criatividade eda imaginação, bem comodesenvolver a atenção e o raciocínio.Mais ainda, promover a interaçãoentre a família e a escola.

Participaram do projeto 75 crian-ças, de 1 a 3 anos, que integraramtrês turmas, duas do Maternal I euma do Maternal II. O professor eraresponsável por adequar o conteú-do a ser trabalhado ao lugar esco-lhido, respeitando a faixa etária decada turma. Para a realização dospasseios, foi necessária a autoriza-ção dos pais das crianças, bemcomo a parceria entre a escola, quecedeu o veículo, e a prefeitura, queofereceu um motorista para acom-panhar aos lugares propostos.

Nos dias de passeio, era realiza-da, ainda em sala de aula, na rodade conversa, uma explanação sobreo assunto que seria tratado e o local

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que iríamos conhecer e explorar.Nesse momento, muitas perguntasforam feitas e as expectativas, tan-to das crianças quanto das educa-doras, iam aumentando. No decor-rer dos passeios, as crianças, leva-das pela curiosidade, exploravam oambiente totalmente à vontade.

A cada localvisitado, um de-terminado traba-lho era realizado.No passeio aosupermercado,por exemplo, tra-balhamos comfrutas e verdu-ras, enfocandoseu valor nutri-cional; aprovei-tamos para ex-plorar o tamanho das frutas, a for-ma, a cor e a textura. Também vi-sitamos uma horta, onde observa-mos e conhecemos mais varieda-des de verduras. Quando fomos àCasa do Artesão, apreciamosobras artísticas regionais e pintu-ras sobre telas. Ao retornar à cre-che, montamos uma tela bem bo-nita, onde as crianças puderam seexpressar livremente, por meio deseus rabiscos e garatujas. Outrolugar que visitamos foi a Bibliote-ca Municipal. O objetivo dessepasseio foi para que as crianças ti-vessem maior acesso e contato

com a leitura e a escrita, para darpossibilidade a elas de ouvir his-tórias, manusear, folhear e fazerleitura não convencional.

Para trabalhar o movimento deforma bem prazerosa, fomos a umapraça. Lá as crianças correram, pu-laram, viraram cambalhotas, subi-

ram e desceramobstáculos, es-corregaram e sedivertiram pravaler. Vários ou-tros passeios fo-ram realizadosao longo do ano:à Sala de Recur-sos e Escola Es-pecial, promo-vendo a inte-gração com cri-

anças portadoras de necessidadesespeciais; ao bosque; à figueira his-tórica; a uma clínica veterinária e auma chácara, contemplando a natu-reza e o que ela nos oferece. Com aajuda de agentes de trânsito, fizemosum passeio até a casa de um alunopara estabelecer maior integraçãoentre a família e a escola.

Diante dos resultados obtidosem todos os passeios realizados,constatamos avanços significati-vos na construção do conhecimen-to da criança por meio de observa-ções e registros. Percebemos que ascrianças se apresentaram mais

Chegamos à conclusão deque nossos alunos viviam nummundo muito restrito entre a

creche e suas respectivasresidências. Amadurecemos aidéia e elaboramos o projeto,com o seu desenvolvimento

surgiram ricas experiências,propiciando a ampliação

desse mágico universo infantil

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desinibidas para participar einteragir no seu grupo social, ad-quirindo experiências significati-vas para o seu cotidiano.

Os passeios contemplaram vári-as áreas do conhecimento, como lin-guagens oral e escrita, natureza esociedade, artes e movimento. Foiuma oportunida-de importantepara o desenvol-vimento globaldas crianças.

A prática pe-dagógica propor-cionou o desen-volvimento da lin-guagem das cri-anças, pois estas participaram de di-versas situações em que puderamquestionar, comentar, formular hipó-teses, trocar idéias, ampliando suaspossibilidades de inserção e de parti-cipação nas diversas práticas sociais.

O Projeto Aprender Integrando-secom o Mundo Social: Passeando tambémse Aprende nasceu e se desenvolveua partir da necessidade de ampliar-mos o conhecimento de mundo denossos alunos. Como educadoras,tivemos momentos de reflexão,onde nossa vida profissional se for-

tificou, ampliando novas práticaseducacionais e beneficiando o de-senvolvimento infantil, transfor-mando o fazer pedagógico aindamais prazeroso e diversificado.

O trabalho possibilitou novos ho-rizontes e reflexões, ou seja, percebe-mos como é bom ensinar e aprender,

saber que vocêtem possibilidadede ajudar alguéme que sua práticapedagógica favo-rece o desenvolvi-mento das crian-ças. É muito grati-ficante terminar epoder continuar

no próximo ano um trabalho que deucerto, é estimulante saber que foi aresponsável pela felicidade de váriascrianças e isso retorna a você.

Pela experiência com o projeto,consideramos que os passeios po-dem ser realizados com qualquerturma, de qualquer idade e, princi-palmente, as de Educação Infantilque estão descobrindo o mundo à suamaneira. Basta o professor-educadorquerer redescobrir junto e, de acor-do com a faixa etária de sua turma,propor desafios, pois estes fazemparte do processo educativo.

Percebemos que ascrianças se apresentaram

mais desinibidas para participare interagir no seu grupo

social, adquirindoexperiências significativas

para o seu cotidiano

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Professora: Regina Carlotino AlvesCo-Autores: Verônica Silva Trindade (coordenadora pedagógica)Escola: Escola Municipal de Ed. Infantil e Ensino FundamentalCordolina Fontelles de LimaMunicípio / UF: Belém / ParáFaixa Etária atendida pelo projeto: 5 anos

Cartões telefônicos: uma alternativade aprendizagemColeção de cartões se transforma em um instrumento lúdicoe instigante para aprender matemática e descobrir uma enormevariedade de temas

O projeto com os cartões telefô-nicos foi desenvolvido com a

turma de Educação Infantil do tur-no vespertino, formada por criançasque tinham ingressado pela primei-ra vez na escola. A Escola Municipalde Educação Infantil e Ensino Fun-damental Cordolina Fontelles deLima, localizada no bairro daPratinha, na cidade de Belém, noPará, tem em seu entorno diversasáreas de ocupação cuja característi-ca - segundo pesquisa antropológi-ca e depoimento de moradores - seressente de serviços públicos, comoposto médico, espaço de lazer paraas crianças, saneamento básico eágua encanada, além do baixo nívelde escolaridade.

Inicialmente, optou-se em tra-balhar apenas alguns conteúdosespecíficos de matemática: conta-gem numérica, noções de conjun-tos e representações de quantida-des. A maioria da turma apresen-tava alguns avanços, evidenciadospela contagem que realizavam di-ariamente, ao conferir o número dealunos presentes; distinguindo sehavia mais meninos ou meninasna sala; além da marcação no ca-lendário do mês, que também per-mitia perceber o aprendizado dealguns alunos, no domínio da se-qüência numérica, identificando onúmero antecessor e o sucessor.

Com o objetivo de utilizar ummaterial alternativo como recurso

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ção onde elas reconheçam a neces-sidade da contagem. Segundo oReferencial Curricular Nacionalpara Educação Infantil, ao contarobjetos, as crianças aprendem adistinguir os que já contaram dosque ainda não contaram e a nãocontar duas ou mais vezes o mes-mo objeto. Daí a importância queisso se dê de maneira prática.

Tomando como base as teoriasdo desenvolvimento infantil, defen-dida por Jean Piaget, LevSeminovich Vigotsky e HenriWallon, a avaliação da aprendiza-gem se deu por meio da observaçãoe do registro de descobertas, levan-tamento de hipóteses e dos avançosdos educandos.

Após termos definido o objeto aser colecionado, as crianças passa-ram a trazer cartões telefônicos usa-dos, de séries variadas. Amobilização das crianças despertouo interesse e a participação dos paisou responsáveis na construção da

pedagógico, que despertasse o in-teresse e a criatividade das crian-ças nesse processo de aprendiza-gem, surgiu a idéia de definir umobjeto para fazer uma coleção.Após consultar a turma sobre o quepoderíamos colecionar, verificou-se que a maioria fazia referênciaaos cartões telefônicos.

Como foi sugerido em uma dasedições da Revista Escola, colecio-nar coisas pode ser um passatem-po delicioso e, ao mesmo tempo,uma ferramenta diferente para pro-fessores de educação infantil queintroduz os pequenos em diversosconteúdos matemáticos. E foi esseartigo da revista que me fez repen-sar e buscar uma forma lúdica deapresentar conceitos iniciais quecompreendem o ensino da Matemá-tica, na educação infantil.

Considerando-se que, desdecedo, as crianças aprendem a me-morizar seqüência numérica,deve-se proporcionar uma situa-

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mos de folhas de papel madeira,identificamos as categorias e fixa-mos no quadro. Também foram fei-tos trabalhos em grupo, como aconstrução de jogos de memória e aseleção dos cartões por categoria.

O objetivo do projeto - ao optarpela utilização de material alternati-

vo (cartões telefô-nicos usados)como recurso pe-dagógico na cons-trução de conheci-mentos - estavadirecionado, inici-almente, à área deMatemática, po-rém, com o desen-volvimento das ati-vidades, estendeu-se às demais áreas

do conhecimento. No início do pro-jeto, a expectativa compreendia ob-jetivos a serem alcançados no ensi-no da contagem numérica, relaçãode quantidades, noções de conjun-tos, porém, além desses, alcançamosoutros resultados: conversas acercado meio ambiente, a identificação depontos turísticos de Belém e da cul-tura regional, a leitura e a interpre-tação de símbolos e imagens impres-sos nos cartões, o desenvolvimento

À medida que a turmafoi se envolvendo, realizavam

não somente a contagem decartões, mas também a leitura

de imagens expressas nos cartões,a identificação de pontos turísticos

de Belém e outros aspectosregionais, o diálogo sobre o

meio ambiente ao classificaros cartões que traziam paisagens

da natureza e de animais

1 Círio de Nazaré- conhecida festa católica que ocorreno 2º domingo de outubro, na cidade de Belém do Pará.Traz no centro da procissão, a berlinda com a imagemde Nossa Sra. de Nazaré

coleção com cartões. As ações desen-volvidas acabaram por se dar de for-ma interdisciplinar. À medida que aturma foi se envolvendo, realizavamnão somente a contagem de cartões,mas também a leitura de imagensexpressas nos cartões, a identifica-ção de pontos turísticos de Belém eoutros aspectosregionais (oCírio¹, o folclo-re e a culiná-ria); o diálogosobre o meioambiente aoclassificar oscartões que tra-ziam paisagensda natureza ede animais. Por-tanto, diversosforam os assuntos abordados du-rante o projeto, atingindo eixos doconhecimento, como Natureza e So-ciedade, Matemática e Linguagem.

Diante de uma variedade de car-tões telefônicos, organizamos con-juntos que compreenderam as se-guintes categorias: brinquedos, ani-mais, frutas, natureza, Belém, pro-paganda, datas comemorativas esímbolos natalinos. Na organizaçãodos cartões por categorias, dispo-

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embasamento teórico em sua práti-ca e o acompanhamento dos avan-ços e das dificuldades dos edu-candos por meio de registros. Tam-bém foram consideradas, na avali-ação, as interações socioeducativas:o interesse e a participação nas ati-vidades propostas, a produção co-letiva, as falas significativas das cri-anças nas discussões dos temas quesurgiam e de que maneira o conhe-cimento estava sendo elaborado.

O projeto pode ser ampliado for-mando outras categorias que aindanão foram contempladas e essa ex-periência pode ser adaptada a outrasrealidades educacionais existentesno país, partindo das séries dos car-tões disponíveis em cada Estado.

de um trabalho interdisciplinar e aparticipação da família.

Foi utilizado como metodologia asrodas de conversas, onde foram pro-postas questões instigantes, a fim depromover o processo de indagaçãoacerca do tema em destaque e perce-ber o que as crianças pensavam so-bre os assuntos abordados.

O processo de avaliação se de-senvolveu pela observação e pelo re-gistro das descobertas, levantamen-to de hipóteses e os avanços das cri-anças. A prática de uma avaliaçãocontínua e qualitativa requer umcompromisso do educador em re-pensar a sua prática pedagógica,adotando atitudes que direcionemo seu fazer pedagógico, a busca do

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Dados de identificação

Professora: Cecília Beatriz SilvaCreche Santa CatarinaMunicípio/UF: Cabedelo / ParaíbaFaixa etária atendida pelo projeto: 4 a 5 anos

É dia de espetáculo!Histórias infantis ajudam a melhorar os relacionamentos em salae promovem maior interação das crianças nas atividades

Alguns conflitos acirrados entreas crianças disputas por brin-

quedos, lápis, entre outros, que sóse resolviam com brigas, beliscõese muito choro, eram constantes.Nas conversas com as famílias, no-tei que no contexto familiar, muitasvezes, questões semelhantes eramresolvidas com brigas e disputas.O diálogo, na maioria das vezes, erapouco utilizado. Concluí que erapreciso fazer muita coisa! Até por-que as conversas individuais ou emgrupo não estavam surtindo efeito.

Buscando subsídios na obrapiagetiana, percebi que esses confli-tos, o famoso egocentrismo, são co-muns na faixa etária dos 4 aos 5anos, porém o papel do educadorconsiste em oferecer condições paraque as crianças possam lidar comessas divergências de maneira har-moniosa. Foi com base nesses prin-cípios que elaborei o projeto É Diade Espetáculo!, no qual pensei em

unir o interesse pela literatura, con-seqüentemente a dramatização, aotrabalho em grupo.

A Creche Santa Catarina, ondefoi implementado o projeto, está si-tuada na cidade de Cabedelo, naParaíba, e atende 80 crianças de até5 anos. A comunidade desse muni-cípio tem na pesca artesanal e nocomércio informal suas principaisfontes de renda. A maior parte dapopulação possui apenas a primei-ra fase de escolaridade do EnsinoFundamental.

Para encaminhar o projeto demaneira coerente, procuramos rea-lizar diversos tipos de leitura. En-tre elas, o material dos autores B.JWadsworth e L. de Oliveira Limasobre os estágios do desenvolvimen-to na obra de Piaget, que trouxe es-clarecimentos importantes. Portan-to, me baseei nos princípios didáti-cos demonstrados nos estudos dePiaget, para nortear minha prática

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e postura como educadora.Nesses princípios didáticos, as

dramatizações e os recontos de his-tórias, entre outros, se tornam mé-todos propícios para que as crian-ças possam lidar com esses confli-tos comuns naquela faixa etária.

Minha preocupação era propici-ar condições para que as divergênci-as fossem amenizadas, não de modoautoritário, com ordens. Pelo contrá-rio, que fosse encontrada uma ma-neira prazerosa e envolvente. Paraque isso acontecesse, encontrei naroda de leitura um campo propício,porque minha turma era fascinadapelos clássicos infantis.

No primeiro momento, procureiobservar com mais atenção as rodasde leitura. Selecionei as histórias quemais encantamento e prazer propor-cionavam às crianças; para, a partirdaí, trabalhar de maneira lúdica apartilha, a interação e, assim, auxili-ar as crianças no processo evolutivoda fase egocêntrica. Feita as obser-vações, as histórias Galinha Ruiva eChapeuzinho Vermelho foram as leitu-ras mais saboreadas e festejadas pe-las crianças.

Feito esse trabalho inicial, as áre-as planejadas para a atividade fo-ram: artes com o desenho das his-tórias, a construção e a pintura docenário e a dramatização. Tambémforam escolhidas para serem traba-lhadas a linguagem oral e a escrita

com o contando e recontando ashistórias e escrevendo as palavrassignificativas, fazendo a relação depalavras do texto com outras traba-lhadas em sala, roda de conversapara socialização dos desenhos eleitura da receita de doce. Inicial-mente, foram essas áreas escolhi-das. No decorrer das atividades,porém, houve a oportunidade detrabalharmos as áreas de Matemá-tica (classificação) e Natureza e So-ciedade (animais e higiene). As ati-vidades foram cuidadosamente pla-nejadas para promover a interaçãodo grupo, pensando na motivaçãocentral do trabalho, que era a apre-sentação e a dramatização das his-tórias como componente auxiliar deinteração do grupo.

Realizamos as rodas de conver-

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sas, onde as crianças recontaram ashistórias. Nesse momento, era ava-liada a verbalização, os gestos e asvozes que emprestavam aos perso-nagens. Depois do reconto, foram re-alizados desenhos referentes às his-tórias e à socialização das produções.Essa socialização proporcionou mo-mentos de discussão e interação im-portantes para o processo.

Outras particularidades, porém,iam sendo acrescentadas às históri-as: a escrita dos títulos e a relação fei-ta pelos alunos com outras palavrase outros textos já trabalhados em sala,escrita de palavras significativas —como doce e pão —, a pesquisa e aclassificação dos animais existentesnas histórias.

Aproveitando a oportunidadeproporcionada pela históriaChapeuzinho Vermelho, foi trabalha-do outro suporte de leitura, no casoo gênero textual da receita. Foi lidaa receita de um doce e em seguidaele foi elaborado com as crianças.Para inserir a confecção do doce notrabalho, foi sugerida a doação des-

te para um amigo da creche. Nessafase, também foi possível trabalharoutro tema, como a higiene na ma-nipulação dos alimentos.

A dramatização, ponto alto doprojeto, foi realizada com a históriaChapeuzinho Vermelho. Para a confec-ção do cenário, foi solicitado pape-lão para a turma, por ser um materi-al barato e de fácil aquisição. Essepedido trouxe curiosidade e interes-se dos pais pelas atividades, algoenriquecedor para o processo. A tur-ma foi dividida de forma que todosos itens do cenário (casa deChapeuzinho, casa da Vovó e as flo-res) fossem confeccionados e pinta-dos pelas crianças. O espírito de equi-pe, a preocupação com o trabalho, aconcentração na atividade foram fa-tos marcantes. Na apresentação, asfalas foram ditas de maneira espon-tânea, sem cobranças de perfeição, atéporque esse não era o propósito.

Dando continuidade ao projeto, ahistória Galinha Ruiva foi apresenta-da por meio de fantoches, levando emconsideração o interesse da turmapor esse recurso. Na confecção dospersonagens foram utilizadosrolinhos de papelão, que vêm dentrodos rolos de papel higiênico. A apre-sentação provocou risos e diálogosenvolventes. Mais uma vez, tudo foirealizado sob a ótica do projeto, comcooperação e promovendo momentosde interação.

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A avaliação do trabalho foi base-ada no registro da observação reali-zada durante cada atividade e decomo as crianças estavam respon-dendo às atividades planejadas. Nodecorrer do trabalho, foi possívelperceber avanços importantes. Umexemplo disso foi uma criança pro-por que o brin-quedo — que es-tava sendo dese-jado por ela e ou-tro coleguinha aomesmo tempo —fosse intercala-do, cada um brin-caria por um cer-to tempo. Paraisso, houve coo-peração e nãoempurrão. O entendimento entre ascrianças nas atividades tornou-seuma prática corrente.

Os resultados foram gratifican-tes e estavam dentro do esperado ini-cialmente, no entanto, a mobi-lização dos pais poderia ter sidomaior. A evolução obtém resultadosquase imperceptíveis, mas é preci-so “olhos” para enxergar as evolu-ções no processo educativo. Estetem, na avaliação, um campo per-manente de reflexão e auxílio no di-

agnóstico das dificuldades e na su-peração dos problemas.

A ampliação do projeto foi pro-posta para as demais educadoras dainstituição, como forma de repen-sarmos o período de adaptação, noqual o trabalho de integração dogrupo começa a ficar forte. Dando

cara nova às ati-vidades pensa-das, a fim de so-cializarmos a tur-ma e toda a insti-tuição com basessólidas.

Um detalhe noprojeto a ser aper-feiçoado é a parti-cipação e a inte-ração dos pais, e

conseqüentemente da comunidadeno trabalho desenvolvido com ascrianças. O engajamento pode serconsiderado bom, mas é necessá-rio superar as expectativas para ainteração ser mais abrangente. E, porfim, a experiência relatada fornecesubsídios para outros educadoresencontrarem possíveis soluçõespara conflitos surgidos em sala, nãoapenas com atitudes paliativas, mascom elementos que alicercem o de-senvolvimento infantil.

As atividades foram

cuidadosamente planejadas

para promover a interação

do grupo, pensando na motivação

central do trabalho, que

era a apresentação e a

dramatização das histórias

como componente auxiliar

de interação do grupo

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Professora: Juju Andrade RodriguesCo-autora do projeto: Noêmia Fabíola Costa do NascimentoCreche Municipal Maria Alice Gonçalves GuerraMunicípio/UF: Camaragibe / PernambucoFaixa etária atendida pelo projeto: 2 e 3 anos

Arte também se lêObras de Portinari ajudam a desenvolver o senso de observaçãonas crianças e a promover maior socialização entre elas

Em 2003, ano do centenário denascimento de Cândido

Portinari (1903-1962), a prefeiturada cidade de Camaragibe, emPernambuco, promoveu uma expo-sição itinerante com algumas répli-cas da obra do pintor. O evento foiuma oportunidade especial para ascrianças da Creche Municipal Ma-ria Alice Gonçalves Guerra teremcontato com a linguagem das artesplásticas, utilizando como suporteas cópias de importantes telas doartista. Por ser portadora de umacuriosidade inesgotável, a criançaestá aberta à diversidade de experi-ências, descobertas e invenções.Basta ter acesso e vivenciar a leitu-ra e a produção de arte.

A proposta curricular da Educa-ção Infantil de Camaragibe ressal-ta que o desenho, a pintura e a gra-vura são modalidades das artesplásticas que estão diretamente re-

lacionadas com o fazer artístico dacriança. E para a arte-educadora AnaMae Barbosa, a educação escolar, noque se refere à arte, deve estar rela-cionada em três ações mentais e sen-sorialmente básicas, e nãohierarquizadas, como componentedo ensino: a apreciação, que se refe-re à leitura e à percepção da obra; acontextualização, que trata do conhe-cimento e da estimulação do pensa-mento sobre a arte nos seus diversoscontextos; e o fazer artístico, que tra-ta da criação e da produção em arte.

A proposta deste projeto visadespertar nas crianças o gosto pelaarte e pela cultura, possibilitandouma identificação com Portinarimenino e, paralelamente, resgataras brincadeiras populares contex-tualizando com situações de casavivenciadas na creche, visando odesenvolvimento do senso de obser-vação e a recriação, por meio dos

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desenhos da criança, do tema estru-tural da obra.

Foi realizado levantamento bibli-ográfico em revistas, livros, sites e naFormação Continuada dos Educado-res da Rede Municipal de Cama-ragibe. Tivemos contato com as ré-plicas das telas da exposição. Parao trabalho comas crianças, sele-cionamos aque-las com o temaestrutural daobra de Portinarique retratavam ainfância dele emBrodósqui, no in-terior do Estadode São Paulo.

As ativida-des foram plane-jadas levando-se em conside-ração a proposta triangular siste-matizada no Brasil por Ana MaeBarbosa, entre as décadas de 80 e90. Inicialmente, apresentamos afoto de Cândido Portinari e lemoso texto biográfico de CândidoPortinari, de Nadine Trzmielina eAngelo Bonito autores da série Cri-anças Famosas, que relata a infân-cia do menino Candinho e sua vo-cação para as artes.

Apresentamos, na roda de apre-ciação, todos os quadros da exposi-ção itinerante. As crianças ficaram

atentas e entusiasmadas com as te-las. Ao perguntarmos quais foramàs preferidas, para nossa surpresa,os quadros escolhidos foram: Meni-na Sentada (1943), Menina de Trança(1955) e Ronda Infantil (1932).

A obra Menina Sentada ficou co-nhecida na turma como o quadro de

Dayane. Essatela possibilitoua exploração dalinguagem oral ea interpretaçãodos aspectos for-mais: percepção,ident i f i cação ,análise de ele-mentos visuais -linha, forma, cor,luz.... Com a obraMenina de Trançaforam explora-dos os aspectos

simbólicos: interpretação dos signi-ficados (emocionais, estéticos),contextualizadas em vivênciascomo: salão de beleza e eleição paraa menina mais parecida com a doquadro. Já na tela Ronda Infantil, queapresenta a clássica brincadeira deroda, foi explorada a leitura espon-tânea e a sensibilidade das crianças;também foi trabalhada a percepçãodos elementos visuais.

Chamamos a atenção das crian-ças para detalhes específicos, comomenino e menina brincando juntos,

Trabalhar com as obras de

Portinari possibilitou ainda

interação com outras áreas de

conhecimento, pois estimulou o

desenvolvimento da expressão

plástica da criança, a leitura

pictórica, a linguagem oral,

a vivência musical (ouvir e

cantar cantigas de roda) e a

relação interpessoal

(interpretações e opiniões

individuais)

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fato que não acontecia na sala deaula; e a exclusão de uma criança,como ela se sente fora da brinca-deira. Aproveitamos para falar so-bre as brincadeiras costumeiras nassuas ruas, comseus colegas debairro, bem comoa exclusão de cri-anças naquelasbrincadeiras.

Trabalhar comas obras de Porti-nari possibilitouainda interação com outras áreas deconhecimento, pois estimulou o de-senvolvimento da expressão plásti-ca da criança, a leitura pictórica, alinguagem oral, a vivência musical(ouvir e cantar cantigas de roda) e arelação interpessoal (interpretaçõese opiniões individuais). O resultado

obtido com a vivência do projeto su-perou nossas expectativas. Além deter desenvolvido o senso de obser-vação nas crianças, proporcionoumaior socialização entre elas.

Os desenhosdas crianças re-velaram o nívelde maturidadee m o c i o n a l ,perceptivo e in-telectual porelas alcançado.Vários fatores

podem ter influenciado no grau dehabilidade e competência das cri-anças, entre elas a idade cronoló-gica, sua vivência (familiar e esco-lar) e sua auto-estima. Os dese-nhos - releitura da tela Menina Sen-tada - mostram formas bastante ri-cas, a divisão do corpo humano é

O resultado obtido com a

vivência do projeto superou

nossas expectativas. Além de

ter desenvolvido o senso de

observação nas crianças,

proporcionou maior

socialização entre elas

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visível, impressiona, os dedos naspontas das mãos são definidos, aspernas com os pés nas suas extre-midades. O desenho do rosto da fi-gura da Menina de Tranças foi rea-lizado observando o quadro, per-cebemos detalhes ricos da facehumana, quando um adulto estáorientando: olhos, boca, nariz, ca-belo, orelhas, sobrancelhas.

Por essa experiência pôde serobservada que alguns alunos pos-suem um vocabulário razoável, e semanifestam com desenvolturaquanto a sua autonomia, perspicá-cia, linguagem e liderança. As crian-ças com 2 anos de idade, mesmo não

estando no nível das demais, desen-volveram-se tanto na questão da falacomo na interação com as outras.

O projeto ampliou as possibili-dades de se trabalhar arte com cri-anças pequenas de forma lúdica eprazerosa, valorizou os conhecimen-tos prévios da comunidade. No en-tanto, faltou promover encontroscom artistas locais. Não só pintores,mas também escultores, atores...Realizar visitas a museus e galeri-as. Essa experiência pode ser apli-cada em qualquer faixa etária, po-rém é necessário escolher cuidado-samente as obras tendo clareza dofoco a ser abordado.

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Professora: Leliane Aparecida Arruda CachubaCo-autores do projeto: Dulce Couto, Elizabeth Fagundes e Rosana MeloCentro Municipal de Educação Infantil BonsucessoMunicípio/UF: Guarapuava / ParanáFaixa etária atendida pelo projeto: 4 a 5 anos

Resgate de brinquedos e brincadeirasde nossos paisProjeto leva pais de volta à escola e promove, por meio dointercâmbio de brincadeiras de diferentes gerações, interação entrea família e a comunidades escolar

Aeducação está sempre buscan-do aperfeiçoar sua prática

pedagógi-ca com novos métodos enovas teorias para a melhoria dosresultados do ensino/aprendizagem.Nessa perspectiva, busca-se envol-ver todos os elementos integrantes,dentro e fora da escola. Tendo emvista a carência do resgate culturalcomo aprendizado para as crianças,a pouca participação dos pais no pro-cesso de aprendizagem escolar, a fal-ta de conhecimento das crianças dediversos brinquedos e brincadeiras.Todos esses fatores foram levados emconta na idealização e realização dopresente projeto.

Dentre tantas metodologias aserem utilizadas nos diversos te-mas, trabalhar com projetos é o quemais abrange a questão das rela-

ções humanas e se aproxima da si-tuação de resolver problemas davida real. Segundo Rossini, autor dolivro Aprender Tem que Ser Gostoso, oaprender deve ocorrer em ambien-te natural, integrando capacidadecom modos de pensar, sentir e agir.

O Resgate de Brinquedos e Brinca-deiras de Nossos Pais foi desenvolvi-do na turma de Jardim II B, do Cen-tro Municipal de Educação InfantilBonsucesso, em Guarapuava, noEstado do Paraná. Participaram doprojeto 24 crianças, com idade en-tre 4 e 5 anos, filhos de famíliasmoradoras de bairros da periferiade nossa cidade, de classe média-baixa e baixa, onde a maioria dospais é assalariada, trabalhando naconstrução civil, em serviços do-mésticos e operários em geral.

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O resgate do brincar na Educa-ção Infantil é de suma importânciapara o desenvolvimento cognitivo,afetivo e social da criança. Piagetafirmou certa vez que, quandobrinca, a criança assimila o mun-do à sua maneira, sem compromis-so com a realidade, pois suainteração com o objeto não depen-de da natureza do objeto, mas dafunção que a criança lhe atribui. Seo resgate do brincar é fundamen-tal para o desenvolvimento da cri-ança é importante também usar doconhecimento empírico (adquiridopela experiência) dos pais. Comoafirma Rossini, na Antiguidade, oconhecimento era transmitido deforma bastante natural e informal:“As pessoas reuniam-se em várias

situações, conversavam, discutiam,trocavam idéias. Sem perceber,umas ensinavam às outras aquiloque sabiam de forma prática e sig-nificativa, experimentando, investi-gando, procurando outra resposta.”

Deste modo, essa importantecontribuição para o conhecimentodeve ser trazida e aproveitada damelhor maneira possível dentro daescola. Para que isso se concretize,num primeiro momento é precisolembrar a importância de conhecera vida da criança e o meio em queela vive. Para isso, o ideal é conver-sar com as crianças, descobrir suasbrincadeiras e seus brinquedospreferidos. As brincadeiras nospermitem entendê-las melhor, fatoressencial na realização de nosso

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trabalho, uma vez que ele tambémconsiste em maior aproximação en-tre a criança, a família e a escola. Éoportuno ressaltar que, segundoMichael Dertouzos, engenheiro gre-go, professor de Ciência da Compu-tação, as crianças e o lado infantilque há dentro de nós preferem apren-der pela excitaçãoda descoberta e daparticipação.

Para o desen-volvimento dessetrabalho, estabe-lecemos algunsobjetivos a seremalcançados, taiscomo resgatarbrinquedos e brin-cadeiras da infân-cia dos pais; daro p o r t u n i d a d epara pais, filhos eprofessores brin-carem juntos; pro-porcionar diferentes opções de brin-quedos e brincadeiras; fazer compa-rações entre o que era usado em umageração e em outra; aumentar aintegração entre família/escola; refor-çar a importância da participação dospais na tarefa de casa e diversificar oacervo de brinquedos da creche.

Inicialmente, dividimos o traba-lho em seis etapas. A primeira foi aroda de conversa, na qual comenteisobre o trabalho que iríamos fazer.

Em seguida, conversamos sobre asbrincadeiras e os brinquedos queelas mais gostavam. Cada uma de-senhou seu brinquedo ou brincadei-ra preferida. No segundo encontro,fizemos outra roda de conversa, ten-do como tema Quais seriam os brin-quedos e as brincadeiras que os pais

de cada criançab r i n c a v a mquando erammenores? Al-guns diziam quenão sabiam, ou-tros arriscavamuma respostaqualquer. Entãoentreguei umq u e s t i o n á r i oque seria respon-dido pelos pais eexpliquei do quese tratava. A en-trevista foi regis-trada em forma

de questionário para aumentar o in-teresse pela leitura e pela escrita.

As respostas dessa entrevista fi-zeram parte da terceira etapa do nos-so trabalho. Elas foram analisadasem uma roda de conversa e, com osdados dos questionários e dos dese-nhos das crianças, fizemos um pai-nel comparativo. No dia seguinte, uti-lizando as mesmas respostas, mon-tamos um gráfico colando bolinhasde papel nas brincadeiras e nos brin-

O resgate do brincar na

Educação Infantil é de suma

importância para o

desenvolvimento cognitivo,

afetivo e social da criança.

Piaget afirmou certa vez que

quando brinca, a criança

assimila o mundo à sua maneira,

sem compromisso com a

realidade, pois sua interação

com o objeto não depende

da natureza do objeto, mas

da função que a criança

lhe atribui

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quedos preferidos dos pais, utilizan-do algumas noções matemáticas.

A quarta etapa foi a montagem debrinquedos como tarefa de casa e asocialização dos brinquedos. Envia-mos um bilhete aos pais, pedindoque montassem um brinquedo comseu filho, ensinasse a brincar e man-dasse o brinquedono dia seguintepara o CMEI, ondefaríamos um mo-mento de socializa-ção dos brinque-dos. O objetivodessa atividadeera fazer com queas crianças mos-trassem e compar-tilhassem os brinquedos montadospor seus pais. Após todos apresen-tarem seus brinquedos, houve o mo-mento da socialização. No dia se-guinte, usamos um “blocão” paraescrever um texto relatando as expe-riências das crianças fazendo osbrinquedos com seus pais.

Para finalizar o trabalho, realiza-mos uma tarde recreativa, convida-mos os pais para virem ao CMEI paramontar novos brinquedos e ensinaralgumas brincadeiras. Foi um encon-tro muito proveitoso e, principalmen-te, divertido. No encerramento daatividade, as crianças ilustraram,com pintura em papel e tinta guache,o que mais gostaram da tarde recre-

ativa ou de uma das outras ativida-des realizadas no decorrer do proje-to. Buscou-se nele desenvolver nascrianças a linguagem oral e escrita,o raciocínio lógico e matemático, ofazer artístico e a criatividade, o res-gate do histórico familiar e a promo-ção da interdisciplinaridade. As ta-

refas foram rea-lizadas sema-nalmente, inter-calando-as comas demais ativi-dades do CMEI.

Ao final decada dia de tra-balho foi feitauma observa-ção individual e

coletiva da participação de pais ecrianças nas atividades, do interes-se e curiosidade de todos os elemen-tos envolvidos, dos dados regis-trados pelos pais e das produçõesdas crianças. Após a análise dos re-sultados, da participação dos paisdos alunos no desenvolvimento dascrianças, pode-se afirmar que os ob-jetivos foram alcançados. Além dis-so, passamos a conhecer melhor ospais, envolvendo-os nas atividadesescolares e reforçando sua impor-tância no desenvolvimento de seusfilhos. Em relação à leitura, a escri-ta, números, quantidades, históriada família, criatividade etc., foi es-timulante o progresso das crianças.

Buscou-se nele desenvolver

nas crianças a linguagem oral

e a escrita, o raciocínio

lógico e matemático, o fazer

artístico e a criatividade, o

resgate do histórico familiar

e a promoção da

interdisciplinaridade

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Os resultados obtidos foram osmelhores possíveis, já que houveparticipação, interesse, entusias-mo e alegria por parte de todos osenvolvidos..

Quando se planeja um projeto,segue-se linhas e teorias que podemdar certo ou não. Na nossa propos-ta buscamos soluções de “proble-mas” e para isso foi preciso envol-ver todos com uma novametodologia, mas não foi nenhumbicho de sete cabeças. Utilizamos oque tínhamos a nosso alcance, tal-

vez por isso deu tão certo. O projetopode ser aplicado em qualquer lu-gar, por qualquer professor, pois seenquadra na realidade e na culturade cada um. Pretendemos estendê-lo aos demais Centros Municipaisde Educação Infantil.

Considero relevante destacarainda a importância que este prê-mio tem em relação ao intercâm-bio das práticas educacionais dopaís, pois a educação não deve fi-car restrita a quatro paredes deuma sala de aula.

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Professora: Luciana MunizCo-autora: Flavia Rodrigues de LimaEscola Estadual de Ensino Fundamental República, Rede FAETECMunicípio/UF: Rio de Janeiro/Rio de JaneiroFaixa etária atendida pelo projeto: 5 anos

Jogoteca : o prazer em conhecerCrianças experimentam diversas formas de lidar com oconhecimento por meio da invenção de jogos e tornan-seautores da sua própria aprendizagem

A Jogoteca surgiu pela necessida-de que tínhamos de esclarecer

as dúvidas dos pais que não enten-diam que o processo de aprendiza-gem pudesse ser feito, de modo ge-ral, por meio de jogos e brincadei-ras. A maioria entendia a EducaçãoInfantil como um momento da vidaescolar de seu filho sem grande im-portância e que a aprendizagem sóocorreria mesmo quando a criançachegasse à Classe de Alfabetização1.Nosso projeto procurou, concreta-mente, abrir o diálogo com as famí-lias e romper com a idéia de quebrincadeira é somente passatempoe não aprendizagem. Emprestandoos jogos para as crianças levarempara casa, queríamos que ela

1 As Classes de Alfabetização se destinam às criançasantes de ingressarem no ensino fundamental. Éimportante destacar que o Plano Nacional de Educação(Lei nº 10.172/2001) estabelece a extinção das classesde alfabetização: (II A 1 1.3 - Meta 15).

interagisse com a família o que étrabalhado na escola e assim ospais fossem levados a refletir sobreos conceitos, habilidades e atitudesdesenvolvidas em cada jogo.

Ao mesmo tempo, essa situaçãose refletia na maneira com que nos-sas crianças lidavam com suaaprendizagem. Algumas demons-travam insegurança diante das ati-vidades, com medo de dar respos-tas erradas. Com o jogo, acredita-mos que elas poderiam superar essasituação por estarem numa ativida-de lúdica e natural e, assim, teriama oportunidade de demonstrar seusconhecimentos de forma espontâ-nea e contextualizada.

Tendo como fundamento a teo-

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ria da construção do conhecimento,acreditávamos que confeccionandoe selecionando os temas, estabele-cendo as regras e a maneira de jo-gar, a criança seria estimulada à ati-vidade e à iniciativa. Ela passaria aser autora do seu conhecimento,compreendendoque deve e podeintervir no meioe não apenas secomportar comoreceptora. Nessesentido, o desa-fio à capacidadecognitiva seriatambém umaforma de prazer.

Em nossaprática, busca-mos sempre novas metodologias,maneiras de movimentar o cotidia-no de nossas turmas, assumindo asteorias com o imprescindívelembasamento e justificativa para asnossas ações educativas. Acredita-mos numa educação infantil dinâ-mica e interativa, na qual as crian-ças sejam, verdadeiramente, res-ponsáveis por sua aprendizagem. Arealização do Projeto Jogoteca repre-senta parte do nosso caminho paraa aproximação da teoria à prática,por meio da experimentação e de re-gistros constantes, acrescidos deanálise permanente da nossa práti-ca, sem a qual não é possível mudar.

O projeto foi realizado na EscolaEstadual de Ensino FundamentalRepública, situada na zona norte domunicípio do Rio de Janeiro, em umaturma de 12 crianças, de 5 anos. AJogoteca é uma proposta de constru-ção coletiva de jogos já conhecidos

pelo grupo, apro-ximando o cotidi-ano social ao am-biente escolar etornando a apren-dizagem signifi-cativa para a cri-ança. O objetivoprincipal de utili-zar os jogos foi apossibilidade detrabalhar dife-rentes conteúdos

numa mesma atividade.Nessa proposta, as crianças pu-

deram experimentar diversas for-mas de lidar com o conhecimento.A autonomia delas foi crescendo echegaram a ponto de inventar ou-tras possibilidades de jogos. Torna-ram-se, então, pequenos inventorese autores da sua aprendizagem.

De acordo com os princípios doReferencial Curricular Nacional paraa Educação Infantil, os jogos propici-am a ampliação dos conhecimentosinfantis de forma interdisciplinar.Acreditamos na idéia de que o conhe-cimento se encontra integrado às di-ferentes situações que vivenciamos e

Nessa proposta, as criançaspuderam experimentar

diversas formas de lidarcom o conhecimento.

A autonomia delas foi crescendoe chegaram a ponto de inventaroutras possibilidades de jogos.Tornaram-se, então, pequenos

inventores e autores da suaaprendizagem

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que, dificilmente, um único conteúdopode ser destacado nas atividades daEducação Infantil.

Em todas as etapas de constru-ção dos jogos, pudemos contemplare articular os diversos conteúdospropostos pelo RCNEI: conceituais,de procedimentos e de atitudes. De-mos prioridade ao desenvolvimen-to dos âmbitos de experiência pro-postos: formação pessoal e social (au-tonomia e identidade) e conhecimen-to de mundo (movimento, artes visu-ais, linguagens oral e escrita, nature-za e sociedade, e matemática). Os con-teúdos de atitude e de procedimentosestiveram presentes em todos os jo-gos nos momentos de seleção, cons-trução, elaboração de regras e no atode jogar: cooperação, respeito, auto-nomia, solução de problemas, valoreséticos e decisão coletiva.

Todos os jogos eram construídose suas regras estabelecidas coletiva-mente, estimulando dessa forma odesenvolvimento de múltiplas com-petências: análise, decisão, planeja-

mento, exposição de idéias, partici-pação ativa e respeito ao outro. Jogá-vamos em um grupo maior ou empequenos grupos e, sempre que ne-cessário, recorríamos às regras quetinham sido estabelecidas.

A construção do jogo partia sem-pre de fontes diversas que estives-sem sendo trabalhadas no momen-to, como, por exemplo, livros de his-tórias, encartes de supermercado,pesquisas em jornal, sucata, umamúsica, ou ainda de atividades es-pontâneas, como brincadeiras e de-senho. Dessa forma, ao trabalhar-mos o portador de texto “encarte desupermercado” surgiu a idéia daconstrução de um jogo da memória.

A partir dessa idéia, fizemos ou-tro jogo de associação por semelhan-ça, o mico- preto. Na semana do meioambiente, aproveitamos o recontode uma história sobre o que deve-mos fazer para salvar o planeta econstruímos o jogo de trilha: “A cor-rida para salvar o mundo.” Estejogo, por exemplo, demanda em sua

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elaboração a articulação de conteú-dos, como escrita, leitura dos núme-ros, seqüência numérica, valoresrelativos ao comportamentoambiental, expressão oral e expres-são artística.

A todo o momento, fazíamos aavaliação do projeto, por meio daobservação e do registro das ativi-dades. Com a opinião das crianças,construímos uma tabela de avalia-ção do grupo, trabalhando a leiturae a interpretação de dados matemá-ticos e seus usos sociais. Posterior-mente, fizemos um gráfico com osdados coletados.

A cada final de semana, os alu-nos levavam um jogo para casa,acompanhado de uma ficha de ava-liação para os pais e, assim, a apren-dizagem das crianças era partilha-da com a família de forma prática.Durante o projeto, realizamos umencontro de integração com as famí-lias na escola, para conversar sobreo trabalho e explicar passo a passoa proposta de construção de jogos.Discutimos os tipos de conteúdosenvolvidos e de que forma o traba-lho está fundamentado na propos-ta curricular do RCNEI. Para a con-fecção dos jogos, utilizamos mate-riais disponíveis na escola ou os debaixo custo. Ao todo, foramconstruídos oito jogos: memória, que-bra-cabeça, mico-preto, trilha, bingo,baralho, mímica e dominó.

O maior aprendizado da turmafoi em relação à autonomia sobre aprópria aprendizagem. Em cadamomento do projeto, as criançastornaram-se capazes de tomar deci-sões, resolver conflitos e problemas,definir regras e dar sugestões parao encaminhamento das atividades. Oque de início partia das professoras,passou a ser definido pelas crianças.Ao mesmo tempo, aumentaram opotencial delas de intervir na própriaaprendizagem e na do outro, alter-nando entre os papéis de “ensinan-tes” e “aprendentes”. Na troca, pu-deram experimentar novas formasde aprender.

A cooperação e o respeito foramvalores fortemente interiorizadospelo grupo. Nos jogos, as criançassempre tinham a preocupação deajudar o outro a alcançar os objeti-vos, incentivando-se mutuamente anão desistir nem desanimar diantedos obstáculos e, assim, trabalhan-do sentimentos de ganhos e perdas.O respeito às regras e à vez do cole-ga eram sempre lembrados. Comotinham de tomar decisões e resolverconflitos constantemente, a idéia deestar construindo algo para si epara todos era ressaltada para en-contrar uma solução em comum.

Nós, professoras, pudemos expe-rimentar na prática o quanto o co-nhecimento prévio das criançaspode tornar a aprendizagem signi-

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ficativa. Envolvendo a turma emcada etapa, vimos como é possívelmodificar e contextualizar o ato deaprender, observando como o com-portamento das crianças pode vari-ar de acordocom o estímuloque lhe oferece-mos. Percebe-mos que, duran-te os jogos, asaprendizagensocorrem de ma-neira natural,pois fazem partedo contexto dacriança, o errotorna-se um de-safio e um incen-tivo ao conheci-mento, contrariando outras situa-ções em que ele age como propulsordo fracasso e do medo de aprender.

Com a Jogoteca, mudamos ocomportamento das crianças quese apresentavam inseguras dian-te da aprendizagem, afinal, de-monstrar conhecimento fazia par-te do jogo. O registro das ativida-des despertou em nós um olharmais criterioso sobre o desenvol-vimento de cada criança e sobre

nosso fazer pedagógico. À medi-da que percebemos os resultadospositivos, tivemos maior seguran-ça e autonomia para fazer novasexperiências. Foi também extre-

mamente pra-zerosa a relaçãocom as criançasdurante os jo-gos nos quaispudemos noscolocar no pa-pel de “apren-dentes”, trocan-do experiênciase descobrindonovas possibi-lidades de tra-balho.

Por fim, nossagrande satisfação foi conseguir esta-belecer um estimulante canal de tro-ca com as famílias, que passaram aser parceiras de nosso trabalho. Me-nos ansiosas, puderam experimentarconosco o desenvolvimento de suascrianças. De acordo com o depoimen-to dos pais, aquele momento de jogoestava sendo precioso para cada fa-mília, que, ao participar do projeto,aprendeu a dedicar mais tempo paraas aprendizagens de seus filhos.

A cooperação e o respeitoforam valores fortementeinteriorizados pelo grupo.

Nos jogos, as crianças sempretinham a preocupação deajudar o outro a alcançar

os objetivos, incentivando-semutuamente a não desistirnem desanimar diante dos

obstáculos e, assim,trabalhando sentimentos

de ganhos e perdas

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Professora: Maria Elisabete FernandesUnidade de Apoio à Criança Boa VistaMunicípio/UF: Mossoró/Rio Grande do NorteFaixa etária atendida pelo projeto: 5 e 6 anos.

Ao longo do meu trabalho, per-cebi que precisaria dar maior

atenção à parte disciplinar da mi-nha turma na escola onde trabalho.Algumas crianças mostravam umcomportamento disperso. Assim, afalta de interesse, a dificuldade deintegração, cooperação e participa-

Chuá, Chuá... a chuva vamos estudar!A partir da realidade das crianças, inúmeras oportunidades deconstrução e ampliação de conhecimentos sobre o mundo social eo natural podem ser exploradas

ção eram constantes. Diante dessasituação, sentia-me muito cansa-da, angustiada e distante da tur-ma. Muitas crianças convivemcom os pais separados, outras vi-vem em lares desajustados nosquais freqüentemente presenciambrigas e outras formas de violên-

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cia. O resultado disso tudo reper-cute de forma negativa na escola,pois algumas crianças, por seremmuito agressivas, geralmente, sen-tem dificuldade em se relacionarcom as demais.

O Projeto Chuá, Chuá... A ChuvaVamos Estudar! implementado naUnidade de Apoioà Criança Boa Vis-ta, situada na ci-dade de Mossoró,no Rio Grande doNorte funcionaem uma casa quetem 5 salas de aulapara atender cri-anças de 2 a 6anos de idade.Possui uma sala especial para cri-anças entre 2 e 3 anos de idade. Co-locando em prática uma linha peda-gógica construtivista, nossas crian-ças, na sua maioria, de famílias debaixa renda, cujos pais são assala-riados ou autônomos e também al-guns desempregados. A maior par-te dos pais ou responsáveis possuium certo grau de escolaridade, noentanto, existem alguns analfabetos.

O tema para o projeto surgiu apartir da realidade vivida pelas cri-anças. Ao observarem as grandeschuvas que ocorreram na cidade eas conseqüências dessas, que deixa-ram muitas famílias desabrigadas,as crianças chegavam à escola fa-

zendo muitos questionamentos elevantando várias hipóteses acercadesse fenômeno. Daí, então, resolviaproveitar tal situação e desenvol-ver o referido projeto, na tentativade fomentar uma aprendizagemmais significativa, uma vez que par-tiu do interesse e da curiosidade das

próprias crian-ças. Estas, porsua vez, utiliza-ram a expressão“chuá, chuá”para imitar obarulho da chu-va. Com a idéiado projeto, per-cebi a possibili-dade de oferecer

inúmeras oportunidades de constru-ção e ampliação de conhecimentossobre o mundo social e o natural.

De acordo com o ReferencialCurricular Nacional para a Educa-ção Infantil, o mundo onde as crian-ças vivem se constitui de um con-junto de fenômenos naturais e soci-ais indissociáveis, diante do qualelas se mostram curiosas e in-vestigativas. Além disso, a compre-ensão dos fenômenos naturais é umimportante aprendizado para elas,pois atividades dessa natureza,além de tratarem de um tema quedesperta bastante interesse nelas,permitem que se trabalhe de formaprivilegiada a relação que o homem

Apesar de o tema estardiretamente ligado à Natureza

e à Sociedade, trabalhamostambém outras áreas doconhecimento de forma

integrada, buscando umaaprendizagem mais ampla e

significativa para as crianças

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estabelece com a natureza. Combase nesse pressuposto, optei pordesenvolver o projeto tendo comofonte principal a teoria de JeanPiaget, propondo atividades desafi-adoras, capazes de provocaremdesequilíbrios e reequilibraçõessucessivas, promovendo a desco-berta e a construção de conhecimen-to a respeito da chuva e a relaçãodesta com os seres vivos.

De acordo com Schliemann, nolivro Novas Contribuições da Psicolo-gia aos Processos de Ensino-Aprendiza-gem, o desenvolvimento da criançase dá no contato e na interação comoutras crianças, daí a necessidadeda promoção de atividades grupais.Durante a realização de todo o pro-jeto, promovemos a integração dasdiferentes áreas do conhecimento,possibilitando à criança um desen-volvimento amplo e dinâmico.

E assim, de acordo com as orien-

tações contidas no Referencial,achei coerente trabalhar com o re-pertório musical de Luiz Gonzaga,uma vez que retrata muito bem aimportância da chuva para os seresvivos e que possui uma linguagemacessível à turma, servindo assimcomo forte subsídio no processoensino/aprendizagem.

O objetivo principal do projetoera fazer com que as crianças per-cebessem o papel da chuva para osseres vivos, estabelecendo algumasrelações e destacando a necessida-de da valorização e da economia daágua. Assim, iniciei com uma rodade conversa para detectar os conhe-cimentos prévios das crianças. Fei-to esse levantamento, dividi o pro-jeto em algumas etapas. Com a aju-da dos pais, foram realizadas mui-tas pesquisas em livros, jornais, re-vistas e pela Internet. Selecionei al-guns materiais e montamos um

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mural na sala. Alguns textos subsi-diaram nossas rodas de conversa nodecorrer do trabalho, por meio deleituras compartilhadas. Naquelemomento, as crianças tiveram opor-tunidade de expor suas idéias, rela-tar fatos vivenciados e observadose de apreciar a leitura feita pelo pro-fessor. Diariamente, elas faziam aobservação do tempo e registrava-ocom desenhos.

Retomando as hipóteses levan-tadas pela turma sobre a origem dachuva, contei a história Gota deÁgua. Em seguida, realizei uma ex-periência para melhor compreensãodo assunto. Trabalhei também opoema Água, de Paulo Tatit eArnaldo Antunes, e aproveitei omomento para falar da importânciada água na vida dos seres vivos. Es-tudamos também outros fenôme-nos que acompanham a chuva,como o relâmpago, o trovão e o arco-íris, utilizando histórias, experiên-cias, músicas e danças.

Para trabalhar a relação entre ohomem e a natureza utilizei o reper-tório musical de Luiz Gonzaga e opoema de Cristina Aragão, UmDiadema de Cores. Apesar de ser umtrabalho difícil, conseguimos bonsresultados, depois de refletirmossobre as músicas Baião da Garoa e AsaBranca. Trabalhei também com al-guns mitos, lendas e históriasbíblicas. A turma visitou a zona ru-

ral. Lá as crianças observaram di-retamente a importância da chuvapara os seres vivos e a necessidadede usar adequadamente a água. Emoutra oportunidade, observamosuma rua depois de uma pancada dechuva, refletindo sobre a interferên-cia desta na vida das pessoas.

No fazer artístico, as crianças fi-zeram uso de materiais diversospara desenhar, pintar, recortar e co-lar. Pintaram alguns quadros paracompor nossa pinacoteca e confec-cionamos uma maquete. Redigimosum texto coletivo em forma de poe-ma e confeccionamos alguns livros,nos quais as crianças tiveram aoportunidade de expor seus novosconhecimentos. Depois realizamosuma exposição na escola para ospais. Apesar de o tema estar direta-mente vinculado à natureza e à so-ciedade, trabalhamos também ou-tras áreas do conhecimento de for-ma integrada, buscando umaaprendizagem mais ampla e signi-ficativa para as crianças.

A avaliação foi feita de forma sis-temática e contínua, ao longo do de-senvolvimento do projeto, por inter-médio das atividades contextua-lizadas, para observar a evoluçãodas crianças. Para tanto, aproveita-mos as suas diversas formas de ex-pressão, como a fala, a escrita, odesenho, a pintura, as confecções demaquete e livros. Tudo isso permi-

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tiu avaliar nosso trabalho e a con-clusão foi positiva. Com essas ati-vidades, as crianças puderam ex-pressar a amplitude de suas experi-ências e adquiriram novos conheci-mentos sobre oseu meio social eo natural. Valeressaltar aindaque todo esse re-sultado tambémé fruto da estrei-ta relação entreas diversas áreasdo conhecimento.Assim, podemosdizer que nossosobjetivos foramalcançados. Aindisciplina e afalta de interessederam lugar à par-ticipação e ao envolvimento coletivo.

Na verdade, esta foi uma experi-ência de grande repercussão na ci-dade, principalmente pelaabrangência do tema e a realizaçãode atividades lúdicas, que por suavez, privilegiaram o grande poten-cial das crianças. Assim, estamos

pensando em realizá-la tambémcom as demais turmas que não fo-ram contempladas. Se possível, fa-remos mais passeios, observações eexperiências com as crianças, por-

que isso torna aaprendizagemmais prazerosa esignificativa. Éuma experiênciaque pode e deveser desenvolvidapor todos os pro-fessores que bus-cam um trabalhode caráter cientí-fico, que envolveo meio natural eo social, e que aomesmo tempotraz inúmerasrespostas às cu-

riosidades das crianças, uma vezque estas se mostram sempreinvestigativas sobre o seu mundo etambém porque a chuva é um fenô-meno natural vivido e presenciadopor elas. Daí a razão pela qual pro-voca tanto interesse e estimula aparticipação de todos.

Ao observarem as grandeschuvas que ocorreram na cidadee as conseqüências dessas, que

deixaram muitas famíliasdesabrigadas, as crianças

chegavam à escola fazendomuitos questionamentos e

levantando várias hipótesesacerca desse fenômeno...

Com a idéia do projeto, percebia possibilidade de oferecerinúmeras oportunidades de

construção e ampliaçãode conhecimentos sobre

o mundo social e o natural

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Professora: Ana Delane Coelho ZandonadiEscola Municipal de Educação Infantil Balão MágicoMunicípio / UF: Rolim de Moura / RondôniaFaixa etária atendida pelo projeto: 5 anos

Reciclando com arte para preservara naturezaCrianças aprendem a cuidar do meio ambiente, brincando

A Escola Municipal de EnsinoInfantil Balão Mágico situada

no centro da cidade de Rolim deMoura, em Rondônia atende, apro-ximadamente, 600 crianças; possui12 salas de aula, uma brin-quedoteca, uma videoteca, uma qua-dra de areia, um parquinho e, gra-ças ao acervo de livros que ganha-mos com a premiação do ProjetoReciclando com Arte para Preservar aNatureza, podemos dizer que temosum biblioteca sortida.

Como o parquinho de nossa es-cola entrou em reforma, confeccio-namos nossos brinquedos e decidi-mos trabalhar com materiaisrecicláveis. Resolvemos concentrarnossas ações em torno do projetoque compreende a arte e a preser-vação do nosso meio ambiente. Paranos embasar e nos estruturar nasações pedagógicas nós, professoresda Balão Mágico, costumamos fazer

estudo dos Referenciais Curricu-lares Nacionais para a EducaçãoInfantil. Em uma dessas leituras,descobri a seguinte frase: “Brincaré uma das atividades fundamentaispara o desenvolvimento da identi-dade e autonomia da criança.” Estafrase me fez refletir sobre a necessi-dade de adequar minha práticapara desenvolver a criatividade e aaprendizagem das crianças pormeio do lúdico.

Além dos estudos dos Refe-renciais, utilizamos também o Pro-grama de Formação de ProfessoresAlfabetizados (Profa), no qual a co-ordenadora Telma Weisz explica quepara haver aprendizagem efetiva pre-cisa também haver questio-namentos e objetivos significativospara a criança. A minha prática me-lhorou também depois que li o livroA Paixão de Conhecer o Mundo, deMadalena Freire, obra que trata so-

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bre o relacionamento entre criançase professores e como se dá o conhe-cimento advindo de tal relação.

A partir daí, passei a observarmais as crianças e os assuntos quesurgiam nas rodas de conversa. Foiassim que um dia, uma das crian-ças contou que tinha visto na tele-visão um filhote de onça morto. Se-gundo ela, um homem mau haviacolocado fogo na floresta, queiman-do o animalzinho. Outras criançastambém haviam assistido. Inicia-mos, então, um debate sobre as con-seqüências causadas pelas queima-das, autorizadas ou não pelo Insti-tuto do Meio Ambiente e dos Recur-sos Naturais Renováveis (Ibama).Naquele momento, percebi que as

crianças tinham aprendido muitomais que conceitos de preservação,elas, além de observar, também pas-saram a expor suas idéias de ma-neira crítica.

Durante o projeto, as criançastímidas tornaram-se falantes eparticipativas. Todo dia tínhamosnovidades na rodinha, cada um que-ria saber mais que o outro e essa dis-puta foi bastante válida, pois elasperderam a timidez e aprenderamcom as experiências umas das ou-tras. Por exemplo, um dia uma cri-ança disse que queria contar umanovidade. Começou meio sem gra-ça, dizendo que havia pedido a seupai que não derrubasse as árvoresque ficavam perto de sua casa, no

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fundo do quintal. O pai, porém, nãoatendeu ao pedido do filho. A crian-ça descobriu então que, em conse-qüência disso, perderam a sombra,que deixava a casa mais fresquinha,e um desagradável calor se instala-ra dentro da casa.

Quanto aos re-sultados obtidos,foram os melho-res possíveis. Euesperava que elasaprendessem afazer os brinque-dos propostos eque comparti-lhassem com asoutras crianças.No entanto, graças à curiosidade eao interesse de todas, fomos muitoalém do que estava previsto. Comojá relatei, a preservação do meio emque vivemos é trabalhado durantetodo o ano. Fiquei satisfeita com osdesdobramentos do projeto e dese-jaria que a comunidade escolar e asfamílias participassem de nossasbuscas, trabalhando mais sobre otema da reciclagem, e proporia a

confecção de cartões feitos com pa-pel reciclado para serem usados emdatas comemorativas, por exemplo,o Dia das Mães, Dia dos Pais, Pás-coa etc. Para avaliar minha prática,o desenvolvimento das crianças e

sua aprendi-zagem, utilizeiquestionamen-tos, observaçõese reflexões.

Durante esseprocesso de cons-trução e desco-bertas, surgiu apergunta de umacriança sobre oformato e a es-

trutura das ocas nas aldeias indíge-nas. Com essa curiosidade, ela mos-trou que estava sendo crítica eparticipativa.

Durante uma roda de conversa,perguntei por que não se deve der-rubar as árvores da floresta. A mai-oria das crianças respondeu que osanimais e os peixes morreriam. Fi-quei muito feliz, mas precisava con-firmar se eles haviam compreendi-do bem as conseqüências dodesmatamento. Por isso, insisti notema e quis saber por que morreri-am. Então, elas me responderam queas árvores cairiam em cima deles eos esmagaria. Pensei muito paraachar uma solução, um meio demostrar que animais e peixes mor-

Como o parquinho de nossaescola entrou em reforma,

confeccionamos nossosbrinquedos e decidimos trabalhar

com materiais recicláveis.Resolvemos concentrar

nossas ações em torno do projetoque compreende a arte e a

preservação do nossomeio ambiente

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reriam, sim, mas não da forma queeles estavam imaginando.

Quase no final da aula, me veioa idéia de representar um rio commata ciliar e outro sem. Fizemosnovamente a rodinha para que eusocializasse minha idéia, então fo-mos fazer o experimento na quadrade areia. Lá fizemos dois buracos,representando os rios. Em um de-les construímos uma parede de pa-pelão para fazer a função dasraízes, colocamos alguns raminhospara representar as árvores e darmais veracidade ao experimento.Pegamos duas vasilhas com a mes-ma quantidade de água e ainda co-locamos uma pedrinha em cadaburaco para representar os peixes.Ao meu sinal, a água foi colocadanos buracos e ficamos observando.As crianças verificaram que a águado “rio” sem raízes, sem árvores,secou mais rápido.

Graças a essa experiência, ascrianças entenderam que os peixesmorreriam, se derrubassem as árvo-res, porque as águas dos rios seca-riam. A partir dessa demonstração,explicar que os animais morreriampor falta de água e alimento foi fá-cil. Depois de questioná-las sobre aalimentação de alguns animais, elesentenderam que rios e florestas sefazem necessários para a vida de to-dos. Compreenderam também quenós precisamos tanto das florestas

quanto dos rios para suprir nossasnecessidades.

Em um passeio ao seringal, as cri-anças conheceram o látex e ficaramsabendo quais as suas utilidades.Eles acharam interessantíssimo ouso daquele leite para a fabricaçãoda borracha escolar, pneu de carroe de bicicleta etc.

Quando já havíamos encerradoos trabalhos do projeto, uma crian-ça disse na rodinha que tinha algopara dizer sobre queimada, entãotodos ficamos atentos e fiquei sur-presa com a iniciativa dela, mos-trando que se aprende com mais fa-cilidade quando se participa efeti-vamente das atividades.

Os embasamentos serviram paraque se organizasse o projeto com ob-jetivos claros e de forma descontraídapara favorecer não só a aprendiza-gem, mas também a socialização dascrianças e suas famílias, o que, nomeu ponto de vista, é o objetivo prin-cipal da educação infantil.

A roda de conversa, a rotina, o pla-nejamento individual e o coletivo aju-dam a desenvolver o trabalho, pois,durante o planejamento coletivo, oprofessor descobre o interesse dascrianças e, com os questionamentos,ele consegue interagir com elas, fa-zendo com que avancem em seus co-nhecimentos.

Iniciamos nossas atividades comum vídeo de conscientização sobre

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as conseqüências que o lixo mal ar-mazenado pode trazer. Em seguida,na rodinha, fiz vários questio-namentos acerca dos conhecimen-tos e interesses das crianças. Aindana rodinha, reorganizamos nossarotina, integran-do nela as etapasprováveis do pro-jeto. Combina-mos o que, comoe quando faría-mos os brinque-dos, passeios, de-senhos e quandoassistiríamos aosvídeos previstosetc. Combinamostambém como de-veriam se comportar após a confec-ção dos brinquedos feitos com gar-rafas plásticas, caso outras turmaspedissem emprestado e tambémsobre como deveriam se comportardurante os passeios.

Os desenhos eram propostossempre após as atividades de con-fecções, brincadeiras e passeios,abrangendo assim a linguagem daarte. As linguagens de Português,Matemática, História e Ciênciastambém foram contempladas. Tra-

balhamos a oralidade e a escritacom produções de frases e textos eseus respectivos registros. Em Ma-temática, abordamos a seqüêncianumérica, a adição e a subtraçãopor meio da contagem dos pontos

das competiçõescriadas pelas cri-anças, após aconfecção dosbrinquedos. EmHistória, traba-lhamos os costu-mes indígenas.E, em Ciências,falamos sobreanimais, plan-tas, água, lixo edesmatamento.

Os espaços que utilizamos paradesenvolver o projeto foram: sala deaula, quadra de areia, parquinho,videoteca, pátio e calçada da escolae os passeios nas suas proximida-des, no Centro de Saúde, no serin-gal e no lixão.

Quanto ao interesse de outrosprofissionais pelo projeto só ocorre-ria após a sua premiação. Creio queele fará parte da proposta político-pedagógica não só desta escola, masabrangerá todo o município.

A roda de conversa, a rotina,

o planejamento individual

e coletivo ajudam a desenvolver

o trabalho, pois, durante o

planejamento coletivo, o

professor descobre o interesse

das crianças e, com os

questionamentos, ele consegue

interagir com elas, fazendo

com que avancem em

seus conhecimentos

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Professora: Nara Elisa SilveiraEscola Municipal de Educação Infantil Estrelinha AzulMunicípio / UF: Campo Bom / Rio Grande do SulFaixa etária atendida pelo projeto: 6 anos

Uma mangueira em apurosCrianças transformam a ameaça a uma mangueira em umaverdadeira aula de cidadania e compromisso com o meio ambiente

Em março de 2004, houve neces-sidade de construir uma área

coberta no pátio, com o objetivo defacilitar a circulação entre os prédi-os da Escola Infantil EstrelinhaAzul, que atende crianças de até 6anos, e o do Centro de AtendimentoIntegral à Criança e ao Adolescen-te. Com essa construção, a turma deJNB3, da Escola Infantil, ficou preo-cupada com a situação de uma pe-quena mangueira que poderia ter o

seu crescimento comprometido e atémesmo morrer, pois ficaria embai-xo do telhado. Surgiu, então, a preo-cupação e a curiosidade das crian-ças em relação ao futuro da man-gueira, pois observaram que a árvo-re não teria espaço para se desen-volver. Percebeu-se o envolvimentodas crianças no assunto pelas suasfalas: “Temos uma mangueira emapuros!” — frase que originou o pro-jeto, em abril de 2004.

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Para Jackson Muller, toda natu-reza é um serviço: “Serve a nuvem,serve o vento, serve a chuva. Ondehouver uma árvore para plantar,plante-a você. Onde houver um erropara corrigir, corrija-o você. Ondehouver um trabalho e todos se es-quivam, aceite-ovocê.” Esse pen-samento foi o queme guiou duranteo projeto. Aindasegundo o mesmoautor, a EducaçãoAmbiental nãopode se limitar aensinar os meca-nismos de equilí-brio da natureza.Fazer EducaçãoAmbiental é rele-var os interessesde diversos grupos sociais em jogonos problemas ambientais. Além doamor à natureza e do conhecimentode seus mecanismos, é precisoaprender a consolidar nossos ideaiscom relação aos destinos da socie-dade em que vivemos e do planetaque habitamos.

No momento em que observo as ati-tudes das crianças, percebo que a Edu-cação Ambiental é muito mais do quemecanismos de equilíbrio da nature-za, é amor, é conhecimento adquiridona prática. São os ideais de todos emrelação ao destino do nosso planeta.

Segundo os autores BernardSpodek e Olivia N. Saracho, em suaobra Ensinando Crianças de Três a Oitoanos, a influência da escola sobre ascrianças pequenas não pode ser se-parada da influência da família oudo contexto no qual ambas operam.

A casa, a escola,a comunidade ea cultura estãoin ter l igadas .Muitas vezes, aúnica forma deinfluenciar posi-tivamente o de-senvolvimentode uma criançaé buscar melho-rias na comuni-dade e na socie-dade, além deutilizar o supor-

te de vários agentes sociais. O pro-jeto desenvolveu-se interligando aescola, a família, a comunidadecomo um todo, procurando amelhoria na vida da criança e da co-munidade em que ela está inserida.

O livro Cenas de Sala de Aula, deMaria Isabel H. Dalla Zen, contri-buiu muito para a construção de umtrabalho por projetos, no qual ascrianças são protagonistas de suasaprendizagens. Compreendi que oimportante é escutar e observar ascrianças, tomando o entendimentoe os interesses delas como ponto de

As atividades propostas parao grupo tiveram como objetivos:refletir sobre as conseqüências

de nossas ações, estabelecerrelações entre os seres vivos eo meio ambiente, valorizar apreservação das espécies emnosso meio, para melhorar a

qualidade de vida de cada um denós e observar, pesquisare conhecer as diferentesvariedades de plantas

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partida para o planejamento; res-peitar a estrutura de tempo de cadauma, promovendo uma variedadede atividades e de “escolhas” deaprendizagem; acompanhar as cri-anças em processos contínuos, in-terpretando suas estratégias de ra-ciocínio e as percepções que cons-troem, para desenvolver propostaspedagógicas adequadas as suaspossibilidades cognitivas.

Quando observamos a situaçãoem que se encontrava a mangueira,conversamos sobre o que estavaacontecendo. As crianças sabiamque a árvore dava frutos e que aconstrução do telhado a prejudicaria,porque ela precisa de sol, de espaço,de ar, da chuva, portanto seria neces-sário tirá-la de onde estava.

As atividades propostas para ogrupo tiveram como objetivos: refle-tir sobre as conseqüências de nossasações, estabelecer relações entre osseres vivos e o meio ambiente, valo-rizar a preservação das espécies emnosso meio, para melhorar a quali-dade de vida de cada um de nós e ob-servar, pesquisar e conhecer diferen-tes variedades de plantas.

Fizemos vários passeios pelobairro e nas casas das crianças, ob-servando as plantas que existem,sua preservação e conservação. Du-rante esses passeios, os pais recebe-ram uma pesquisa com as seguin-tes questões: Havia árvores no pá-

tio de sua casa? Quais as espécies?Gostariam de plantar outras árvo-res? Qual a importância das árvo-res na vida de cada um? A partir dospasseios e dessa pesquisa, conver-samos sobre o que vimos: a situa-ção das ruas, se havia muitas árvo-res; se eram frutíferas ou com flo-res e tabelamos os dados coletados.Após todas as atividades, registra-mos o que foi realizado, confeccio-namos um livro, ilustramos comdesenhos e recortes e colagens, ela-boramos texto coletivo, drama-tizações, pintura com lápis de cor, gizde cera, tinta guache, massa de mo-delar, argila. Também fizemos pas-seios para conhecer um pouco maisa nossa cidade.

Fizemos registros das atividadespor meio de desenhos e, em conjun-to, escrevemos uma carta para a di-retora da escola solicitando ajuda.Após isso, escrevemos para o pai deuma criança, que trabalhava complantas, para que colaborasseconosco. Após receber nossa carta,o paisagista veio até nossa escola e

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começou a fazer o tratamento paraa remoção da árvore para o novolocal, já determinado pelas crianças.Esse processo foi acompanhado pe-las crianças, que se autode-nominaram “os Salvadores da Na-tureza” e durou cinco meses — deabril a setembro. Durante esse tem-po, criamos um texto coletivo, a par-tir de todas as observações e dosrelatos das crianças, o qual foitransformado em uma drama-tização, que foi apresentada no IIIFórum Municipal de Lixo e Cidada-nia, na nossa cidade, nessa oportu-nidade as crianças puderam falar aopúblico presente sobre a importân-cia da preservação da natureza.

A retirada da mangueira foi mui-to trabalhosa. Foram necessáriasquatro pessoas adultas para trans-portar a árvore até o local definiti-vo — ao lado da casinha de bone-cas. O paisagista alertou as crian-ças que a árvore sofreu muito e queprecisaria de muitos cuidados nassemanas seguintes. Todos os dias,ao chegar à escola, as crianças iamaté a mangueira, para conversarcom ela e dar carinho.

Como algumas crianças nuncahaviam comido a fruta da manguei-ra, chegou o Dia da Manga. Nesse dia,todos saborearam a fruta. Após pe-garmos os caroços, fizemos o plan-tio deles no pátio da escola. Tambémcolocamos na árvore, uma placa pen-

durada com informações sobre a fru-ta, para que as pessoas, que diaria-mente circulam no pátio da escolapudessem ler.

Realizamos diversas atividadesdurante o projeto: assistimos a fil-mes que tratam da preservação danatureza: As Aventuras de Zak eCrysta na Floresta Tropical. Visitamoso Horto Municipal para buscar mu-das de árvores para plantio nas ca-sas das crianças; recebemos emnossa escola alguns funcionários doHorto Municipal, para a identificaçãodas árvores e a confecção de placascom o nome científico e o popular daplanta. Participamos com a prefeitu-ra da iniciativa de arborização dasruas. Apresentamos o projeto nas fes-tividades cívicas do Dia 7 de Setem-bro. A Secretaria Municipal de Edu-cação e Cultura homenageou o traba-lho desenvolvido e também por ele tersido classificado entre os cinco me-lhores do nosso Estado.

A partir do momento em que nos-so projeto teve início, pude observar ointeresse dos alunos com a preserva-ção da natureza. A primeira atitudedelas, se autodenominando “os Salva-dores da Natureza”, demonstrou oentendimento da importância da pre-servação e do trabalho em grupo.

Em todas as atividades propos-tas, a opinião das crianças semprefoi valorizada em primeiro lugar.Seus questionamentos me indica-

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vam o caminho a seguir. Desde oprimeiro instante, quando manifes-taram a preocupação pela situaçãoda árvore, percebi que era o momen-to de fazer algo.

As crianças, naturalmente, pas-saram a ter mais cuidado com asplantas da escolae do bairro. Reali-zaram tarefas so-bre reciclagem,plantaram se-mentes e mudasde flores e obser-varam a meta-morfose da bor-boleta. Foi feita uma pequena hortade chás medicinais e foram coloca-das lixeiras para a separação do lixonas salas de aula. Com tudo isso,todos na escola se envolveram coma preservação do meio, conseqüen-temente, envolvendo as famílias donosso bairro, melhorando assim aqualidade de vida de todos nós.

As correspondências e a confec-ção de placas informativas aumen-taram o interesse das crianças pelaleitura e pela escrita, pois elas reali-

zaram tentativas, identificando le-tras do alfabeto, observando ossons parecidos e a pronúncia corre-ta das palavras, reproduzindo e or-ganizando o que é contado ou lido,pois estão em busca de conhecimen-to constante. Na contagem, já estão

c o m p a r a n d oquant idades ,classificando eagrupando nasvárias situaçõesvivenciadas nes-se projeto. Per-cebo tambémque possuem

opinião própria, com senso críticocada vez mais apurado.

As transformações ocorridascom as crianças em relação à preser-vação do meio ambiente demons-tram que os objetivos do projeto fo-ram alcançados. No momento emque elas manifestam essa vontade depreservar a natureza com tanta con-vicção, percebo que é possível que,futuramente, exista um mundo maissaudável, com adultos mais consci-entes de seu papel.

O projeto desenvolveu-seinterligando a escola, a família,

a comunidade como um todo,procurando a melhoria na vida

da criança e da comunidadeem que ela está inserida

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Professora: Débora Cristina RodriguesCo autores: Circe Helena Cruz Ricc Muller; Maria Goreti Amorim;Rosana Conceição; Raquel Nascimento Pereira; Roberta de ÁvilaGuedes; Sara Liberato Crema Correa.Centro de Educação Infantil Bem-Te-viMunicípio/UF: Florianópolis / Santa CatarinaFaixa etária atendida pelo projeto: 7 meses a 1 ano e meio

Boi-de-MamãoPor meio de brincadeiras, crianças têm o primeiro contato compersonagens do folclore brasileiro

Desde cedo, os bebês emitemsom, expressando seu estado

de bem-estar ou mal-estar, para co-municar-se com os outros. No perí-odo de adaptação do ano letivo de2004, os profissionais do Berçáriodo Centro de Educação InfantilBem-Te-Vi, que atende crianças de7 meses a 1 ano e meio, observaramque o choro, o balbucio, oengatinhar, a manipulação de obje-tos e os gestos estiveram muito pre-sentes como forma de expressão.Partindo dessa constatação e obser-vando atentamente os modos de serda criança, sentimos a necessidadede provocar e estimular as múltiplaslinguagens dela, que são, com aafetividade e a coordenação motora,eixos norteadores do trabalho peda-gógico do Centro de Educação Infan-

til, onde foi realizado o trabalho, lo-calizado em Florianópolis, em San-ta Catarina, e faz parte da rede es-tadual de ensino. Atende um públi-co de médio-baixo poder aquisitivo.

A criança se desenvolve de formaintegrada nos aspectos cognitivos,afetivos, físico-motores, lingüísticos esociais. Esse processo de desenvolvi-mento se dá a partir da elaboração queela faz na sua interação com o meiofísico e o social nos quais vai conhe-cendo o mundo a partir de sua ação.

Buscando inspiração na arte aço-riana, que faz parte da cultura deSanta Catarina, onde as crianças sãoprivilegiadas por vivenciar as dan-ças, a gastronomia, os personagense as músicas referentes especifica-mente à dança do boi-de-mamão.

Portanto, utilizamos a brincadei-

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ra do boi-de-mamão por esta fazerparte da manifestação cultural típi-ca na qual nossas crianças estãoinseridas. Essa brincadeira faz par-te do folclore brasileiro em diversasformas. Em todas as regiões, de nor-te a sul, é possível registrar a belezae os mistérios dessa tradição. NoNordeste é conhecida como boi-bumbá e bumba-meu-boi. No Sul,apresenta uma coreografia que en-canta turistas e moradores a cadaencenação.

Dessa forma foi inserido no Ber-çário um pedacinho da manifesta-ção folclórica açoriana intitulada deProjeto Boi-de-Mamão. Respeitando afaixa etária, procuramos selecionaralgumas músicas com a intençãode estimular a linguagem expressi-va por meio do corpo, dos instru-mentos, valorizando a cultura naqual a criança está inserida.

Lev Vigotsky, bielo-russo, funda-

dor da escola soviética de psicolo-gia, corrente que hoje dá origem aosocioconstrutivismo entende a brin-cadeira como atividade social dacriança e, por meio dessa, ela adqui-re elementos imprescindíveis paraa construção da sua personalidadee para a compreensão da realidadeda qual faz parte. Ele apresenta aconcepção da brincadeira como sen-do um processo e uma atividadesocial infantil.

Na perspectiva vigotskyana odesenvolvimento das funções inte-lectuais, especificamente humanas,é mediado socialmente pelos signose pelo outro. Ao interiorizar as ex-periências fornecidas pela cultura,a criança reconstrói, individualmen-te, os modos de ação realizados ex-ternamente e aprende a organizaros próprios processos mentais. Oindivíduo deixa, portanto, de se ba-sear em signos externos e começa a

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se apoiar em recursos interio-rizados imagens, representaçõesmentais, conceitos etc.

As crianças se iniciam no mun-do adulto por meio da brincadeira,assim desenvolvem-se socialmente,ao adquirir conhecimento das atitu-des e das habilida-des necessáriaspara viver em seugrupo social. Di-ante da observa-ção atenta domodo de ser dacriança, utiliza-mos a cultura lo-cal (música e per-sonagens) de for-ma lúdica no de-senvolvimento ena apropriaçãodas linguagens.

As atividadeselaboradas tiveram como foco o de-senvolvimento da linguagem porintermédio de música, teatro, horado conto, afetividade, interação eartes visuais. Entre as várias ativi-dades feitas em sala, foi confeccio-nado um mural onde o boi-de-ma-mão foi explorado e construído jun-to com as crianças, com o objetivode apresentar o personagem de for-ma colorida e atrativa, facilitando avisualização diária, além daestimulação das linguagens gestuale verbal, para o reconhecimento do

personagem. Produzimos um boicom caixa de papelão e garrafadescartável. Tivemos como objetivodesenvolver a percepção tátil pormeio do manuseio de materiais mo-les e frios e ainda explorar o movi-mento do corpo nas tentativas de en-

trar, sair, em-purrar, utilizan-do-o como umbrinquedo amais em sala.Foi utilizadopara confecçãouma caixa de pa-pelão, garrafadescartável, pa-pel de revista,guache. Tam-bém lemos, emroda, a históriaem um livroonde explora-

mos as gravuras e a musicalizaçãopara identificar os personagens eestimular a concentração.

Confeccionamos três bonecas depano, tamanho grande, simbolizan-do a personagem Maricota. Duran-te a confecção, as crianças auxilia-ram no enchimento da boneca comesponja, carimbaram a mão no ves-tido de uma delas, e pintaram a ou-tra. O acabamento final se deu comos cabelos feitos pelas professorascom materiais diversificados, umacom lã, outra com espiral e outra

As crianças se iniciam nomundo adulto por meio da

brincadeira assim desenvolvem-sesocialmente, ao adquirir

conhecimento das atitudes e dashabilidades necessárias para

viver em seu grupo social.Diante da observação atenta dos

modos de ser da criança,utilizamos a cultura local, música

e personagens de forma lúdica,no desenvolvimento

e na apropriação das linguagens

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com canutilho. O objetivo dessa ati-vidade foi o de estimular a identifi-cação da personagem, a percepçãoauditiva e a afetividade. Falamos empercepção auditiva porque em bai-xo do vestido de uma das Maricotas,que estavam penduradas na sala,havia uma caixinha de música que,ao tocar, as crian-ças ficavam pro-curando de ondevinha o som.

No desenrolardo projeto, senti-mos a necessida-de de proporcio-nar à família mai-or contato com otrabalho realiza-do em sala. A Maricota passou o fi-nal de semana na casa das crianças,e pedimos para que os pais relatas-sem essa experiência. Tivemos tam-bém um momento de interação en-tre a família e a escola na constru-ção de um painel, onde, para que seinteressassem pelo projeto, elas pin-taram a Maricota e o Boi-de-Mamão.

A música foi estimuladora na horada roda, quando sentávamos, cantá-vamos e fazíamos os gestos da músi-ca da Maricota e do Boi, tendo comoobjetivo trabalhar a expressão corpo-ral por meio de gestos e estimular odesenvolvimento da linguagem verbal.

A última personagem utilizadafoi a Bernunça, uma cobra de pano

que integra a dança folclórica. Cons-truímos então um mural com umaBernunça grande, que foi pintadopelas crianças. Utilizamos materi-ais diversos, como plástico de boli-nha, cola colorida, papel onduladoe papel-cartão, para despertar o in-teresse visual pela personagem e o

desenvolvimen-to da percepçãotátil. Foi feitoum fantochedessa perso-nagem com oobjetivo de tra-balhar com tea-tro e estimular ai m a g i n a ç ã o .Uma grande

Bernunça foi confeccionada em for-ma de túnel. Nessa tarefa tivemos aajuda da turma do pré (crianças de5 a 6 anos). O objetivo era explorar ainteração com outras crianças e tam-bém a linguagem corporal, desper-tando a curiosidade. Utilizamos paraa confecção tecido, guache, caixa depapelão, emborrachado e sucata.

No processo de avaliação, obser-vamos a satisfação das criançascom o trabalho realizado em sala,pois as inseguranças diante da no-vidade foram dia-a-dia superadascom o apoio do adulto. Percebemosas conquistas e as ações das crian-ças no processo de aprendizagem,dando importância à relação famí-

Respeitando a faixaetária, procuramos

selecionar algumas músicascom a intenção de estimulara linguagem expressiva por

meio do corpo,dos instrumentos,

valorizando a cultura naqual a criança está inserida

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lia/escola, procurando assim que oprojeto fosse significativo para to-dos. Procuramos não nos desviar denossos propósitos, assumindo emnossa prática uma postura semprereflexiva e crítica.

Foi muito gratificante a oportu-nidade de partilhar com a famíliavivências diárias e a certeza de queenriquecemos e contribuímos parao resgate da identidade da culturaaçoriana. O trabalho realizado comas crianças pôde ser avaliado de for-ma positiva, tendo o lúdico comonorteador do Projeto Boi-de-Mamão,

percebeu-se claramente que o obje-tivo foi alcançado.

Segundo Vigotsky, as interaçõesque as crianças estabelecem com omundo são mediadas pela fala, ges-to e ação. A linguagem é um instru-mento fundamental na orientaçãoda ação, na construção do conheci-mento, do pensamento e na organi-zação das experiências. Nesse pro-cesso, observamos que a linguagemoral destacou-se entre os demais ti-pos de linguagens existentes, enri-quecendo e contribuindo para o de-senvolvimento integral das crianças.

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Professora: Maria Vanúzia dos SantosJardim de Infância Pequeno PolegarMunicípio/UF: Japaratuba / SergipeFaixa etária atendida pelo projeto: 6 anos

Brincadeiras da vovó: despertandofantasias e descobertasFamiliares e a comunidade trabalham juntos com a escola pararelembrar brincadeiras de sua infância e ensiná-las às crianças

O objetivo desse projeto desen-volvido com crianças de 6

anos, do Jar-dim de Infância Peque-no Polegar, localizado no PovoadoSão José da Caatinga, município deJaparatuba, em Sergipe foi resgataras brincadeiras e a construção debrinquedos, com material alternati-vo, que fizeram a alegria dos nossosantepassados. Para isso, desenvolve-mos situações de aprendizagens sig-nificativas para despertar nas crian-ças a valorização das brincadeirasque entreteram várias gerações.

O Projeto Brincadeiras da Vovó: Des-pertando Fantasias e Descobertas trazpara a escola os valores culturais,recreativos e prazerosos, que se en-contram nessas manifestações. Osenvolvidos no projeto - professores,pais, crianças e componentes daunidade escolar - trabalharam ati-vidades significativas, como músi-

ca, dança, construção de brinquedose utilização do material construídonas diversas brincadeiras. As for-mas de brincar hoje também foramcontempladas, comparando-as comas experiências do passado. A dis-cussão do tema foi levada em umareunião para os pais, que, entusias-mados, aceitaram o desafio de, jun-tamente com os professores, inte-grar o trabalho. Por se tratar de umaforma dinâmica de resgatar a parti-cipação dos educadores, crianças,pais e a comunidade como um todo,numa atividade desenvolvida a par-tir da sala, o projeto teve início nomês de fevereiro, e toda a escola as-sumiu como tema gerador: Brinca-deiras da Vovó: Despertando Fantasiase Descobertas.

Resgatar a referência dos nossosantepassados, por meio de brinca-deiras e fantasias, é trazer para a

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infância o registro de uma culturaviva, que se transmite de geraçãoem geração. É um referencial quemarca a vida do ser humano. É nes-sa fase que se dá um grande avan-ço para completar o desenvolvi-mento da criança. Ela é observado-ra e registra to-dos os momen-tos, agradáveisou não. Qual-quer negligênciaou maus tratosnesse períodopoderá ter con-seqüências ne-gativas por todaa existência dacriança. Certa-mente, desenvolver um projeto queresgate as brincadeiras e fantasias,vivenciadas pelos avós, pais e tios,despertará nas crianças momentosprazerosos, que irão interferir nasua formação positivamente, porisso a importância da execução des-se projeto.

Com esse trabalho pretendemospromover uma discussão e contri-buir para resgatar e valorizar asbrincadeiras do tempo da vovó, ali-adas às dos dias atuais, para tantose elegeu metas específicas: sensi-bilizar a comunidade escolar e ospais para a importância do resgatede músicas e brinquedos viven-ciados no tempo da vovó; contribuir

para o crescimento e o desenvolvi-mento das crianças nos aspectos cul-turais, sociais e econômicos; privile-giar o trabalho coletivo, promover odiálogo entre a comunidade escolare a local; desenvolver os conteúdosde forma interdisciplinar; valorizar

a cultura tradicio-nal despertandonas crianças fan-tasias e descober-tas do brincar econstruir os pró-prios brinquedos;e, por fim, ofere-cer oportunida-des a elas no queconcerne à apre-sentação das mú-

sicas, danças, brincadeiras e brin-quedos construídos durante a reali-zação do projeto.

Para alcançarmos as metas doprojeto, desenvolvemos as seguin-tes ações: reuniões e palestras;envolvimento dos pais, ensinandoàs crianças as brincadeiras e comoconstruir os brinquedos; realizaçãode atividades envolvendo, músicase brinquedos confeccionados pelascrianças com ajuda dos professorese dos pais; palestras sobre o tema:trabalho coletivo e individual; de-senvolvimento de assuntos, atravésdo tema gerador: Brincadeiras daVovó: Despertando Fantasias e Desco-bertas; construção dos brinquedos

Resgatar a referência dosnossos antepassados, por meio

de brincadeiras e fantasias,é trazer para a infância o

registro de uma cultura viva,que se transmite de geração

em geração. É um referencialque marca a vidado ser humano...

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Considerando que nin-guém melhor do que aque-les que estão cotidiana-mente envolvidos com ascrianças — seus pais, ir-mãos e avós — têm um co-nhecimento mais profundoda realidade social em queas brincadeiras são desen-volvidas, identificamos asbrincadeiras e os brinque-

dos utilizados durante o períodoque as crianças estão em casa.

Em seguida, definimos os critéri-os e as prioridades para a realizaçãodas atividades. Destacamos o envol-vimento de toda a comunidade esco-lar; a participação dos pais na confec-ção dos artefatos e brinquedos; de-senvolvimento de um tema gerador:Brincadeiras da Vovó: Despertando as Fan-tasias e Descobertas; textos construídospelos alunos; apresentação do mate-rial elaborado e as brincadeiras maisapreciadas pelos alunos.

com material alternativo e utiliza-ção dos mesmos nas brincadeiras;e apresentação das tarefas realiza-das durante a execução do projeto.

O ponto de partida foi à busca deinformações sobre as formas deintegração das brincadeiras da vovóe das atuais. Nesse sentido, foi obser-vado o desempenho das crianças de6 anos durante a recreação e as ativi-dades realizadas na sala. O caminhopercorrido para o desenvolvimentodo trabalho não foi linear, comportan-do idas e vindas, com o intuito de res-gatar o que há de mais significativona cultura e na vivência de umpovo no que concerne às brinca-deiras que permeiam a vida de to-das as pessoas na infância, no seucontexto social, político e cultural.Assim, tivemos o cuidado de fa-zer uma sondagem, com as famí-lias das crianças, para ficar saben-do quais as brincadeiras das cri-anças em casa, e nas ruas da nos-sa comunidade.

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Nessa etapa de sondagem, desco-brimos que as crianças gostam debrincar com adivinhações. Foi solici-tado, então, que cada criança pedissea alguém de casa que lhe ensinasseuma adivinhação. No dia seguinte,reunimos as crianças em círculo paraa apresentação da tarefa, cada umase dirigia a outro coleguinha, que ten-tava responder a adivinhação.

As atividades desenvolvidasapresentaram bons resultados. Ascrianças se divertiram e aprende-ram. O comportamento agressivotem sido trabalhado durante asbrincadeiras e a construção dosbrinquedos, a presença dos pais nasoficinas tem sido muito importan-te, uma vez que a troca de experiên-cias entre eles, professores e crian-ças nos fez perceber o valor emana-

do dessa convivência dentro da es-cola, os pais se sentem valorizadose as crianças mais amadas peloapoio dos familiares.

Diante de tantas fantasias e des-cobertas, passamos a acreditar quea aprendizagem torna-se mais fácile prazerosa quando existe a partici-pação coletiva, não apenas nos mo-mentos das festinhas — da Mamãe,do Papai, das Festas Juninas, do 7 deSetembro, do Dia da Criança, do Pro-fessor, as festas convencionais nasquais as famílias e a comunidadeparticipam.

Esse foi o primeiro projeto degrande porte que empreendemos nanossa unidade escolar e tem sidouma experiência válida, ponto departida para outras conquistas.Outro aspecto que vale ressaltar

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como avaliação positiva é o desem-penho das crianças na realizaçãodas atividades. Elas estão maisparticipativas e atentas na produ-ção dos textos e nas tarefas em casa,a escola tornou-se mais prazerosa ea alegria é perce-bida no rostinhode todos. Como aavaliação é umprocesso dinâmi-co e contínuo, es-peramos que, nofinal do ano, a cri-ança leve consigoum pequeno livro construído comtextos produzidos por ela e não umdiploma do ABC, como se fazia con-vencionalmente. Esta é a nossa pos-tura a partir da construção e reali-zação desse projeto.

Concluímos o primeiro semestrede 2004 com a apresentação das ati-vidades desenvolvidas na propostado projeto e com a apresentação doSão João na Roça Mirim, festejo po-pular que se inicia no Dia de São José,santo padroeiro da nossa comunida-

de. Também faz parte da conclusãodessa primeira etapa, o testemunhodos pais com relação ao projeto. Nosegundo semestre, terminamos o pro-jeto escrevendo a história vivida noJardim de Infância Pequeno Polegar.

Resgatar asBrincadeiras daVovó trouxe parao Jardim de In-fância PequenoPolegar novaenergia no senti-do de socializar,partilhar, reto-

mar uma caminhada na qual o tra-balho de integração entre a escola,a família e a comunidade se tornema grande alternativa para a cons-trução da paz e do amor, tão essen-ciais em nossos dias. A semente foilançada e os frutos deverão ser co-lhidos, na forma de confiança, res-peito e da alegria em podermos con-tribuir para a formação de nossascrianças em prol de uma socieda-de comprometida com uma escolade qualidade.

Diante de tantas fantasiase descobertas, passamos

a acreditar que a aprendizagemtorna-se mais fácil e

prazerosa quando existe aparticipação coletiva...

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Professora: Alessandra Rodrigues da SilvaCo-autores do projeto: Clelma Maria Maximiano Januário e MirianRodriguesEscola Municipal de Educação Infantil Creche SementinhaMunicípio / UF: Marília / São PauloFaixa etária atendida pelo projeto: 4 a 6 anos

Nós, filhos da terra...Crianças identificam as diferenças entre as pessoas e aprendemque todos precisam ser respeitados igualmente

A E.M.E.I. Creche Sementinha,pertencente à Rede Municipal

de Edu-cação da cidade de Marília,em São Paulo, está localizada nazona sul da cidade, em região peri-férica. A comunidade é constituídapor famílias de baixa renda sendoque a maioria trabalha na área daconstrução civil e em serviços do-mésticos. Nossa unidade atende 538crianças, entre 1 ano e 10 meses e 6anos de idade. Participaram do pro-jeto duas classes de crianças, de 5 e6 anos, em período integral, e umaclasse com crianças de 4 anos, aten-didas em apenas um turno.

Antes da realização do projeto,as crianças apresentavam uma vi-são superficial sobre as diferençasexistentes entre as pessoas. As ob-servações delas eram reduzidas aoaparente, ao que era visível, como,

por exemplo, a cor dos olhos e o for-mato do rosto.

A proposta deste projeto surgiuquando a turma do Pré III integraldecidiu apresentar um coral para afesta do Dia das Mães, deparando-se com o seguinte questionamento:Como a Bruna, integrante da turmae portadora de deficiência auditiva,poderia cantar, se ela não ouve? Sur-giram várias propostas diante daquestão e a mais aceita pelo grupofoi à apresentação da música emduas formas: em linguagem oral eem linguagem de libras. Sentindoque o grupo estava sensível à expe-riência vivida, a professora do PréIII integral decidiu que aquele seriaum bom momento para trabalharos conteúdos relacionados às dife-renças e, como esse assunto faz par-te do projeto coletivo Semente dos

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Sonhos: Eu Cidadão do Mundo..., de-senvolvido pela escola, buscou-se acolaboração das professoras do PréI parcial - tarde - e Pré II integral e,juntas, elaboraram um outro proje-to: Nós, Filhos da Terra....

Nosso projeto teve por concep-ção político e filosófica a idéia do ho-mem como sujei-to histórico, cujaexistência con-templa, ao mes-mo tempo, umadimensão coleti-va e individual,fruto da subjetivi-dade. Esta últimarege o nosso coti-diano e é permeada por conflitos,que ficam evidentes na abordagemwalloniana, segundo explicaHeloysa Dantas, ao discutir a auto-nomia do sujeito, no livro Piaget,Vygotsky e Wallon: TeoriasPsicogenéticas em Discussão. Nestaobra é colocada a relação do sujeitocom outros e seu produto culturalserá sempre contraditório e, nessarelação de tensão intra einterpessoal, o sujeito ao mesmotempo se constrói e se liberta. Acre-ditamos, entretanto, que o caráterconstrutivo e libertador, resultantedas contradições presentes na rela-ção entre sujeitos preconizados pelateoria walloniana, pode acontecer, sehouver na sua base formativa per-

cepção, entendimento e respeito àsdiferenças.

Dentre as instituições passíveisdessa base formativa, acreditamosque a instituição escolar é a que seencontra em uma situação mais de-sejável. Essa responsabilidade dainstituição escolar é apontada por

Maria de FátimaMoraes, no livroP e d a g o g i aFreinet: Teoria ePrática. Segundoela, a escola nãopode se omitirdiante das mu-danças sociais epolíticas profun-

das, nas quais a juventude que elaabriga terá um papel histórico rele-vante. De fato, a instituição escolaré a que melhor pode trabalhar a ex-pressão e a reflexão sobre as dife-renças, contribuindo para a forma-ção do novo cidadão cuja cidadania,como nos diz a autora, não se expe-rimenta conceitualmente. Assim,buscamos, em nosso projeto, vivercom os nossos pequeninos a expres-são e o respeito às diferenças damelhor forma possível. Esperamosque o experimentado e o vivido pos-sam ter impresso em suas vidas ele-mentos para, no futuro, pensarema ética e a cidadania como valoresinalienáveis à prática da liberdadee da justiça social.

Depois de todas as atividadesconcluídas, percebemos que as

crianças ficaram mais sensíveisàs diferenças. Entendendo que,embora possamos ter muitas

coisas em comum, somos seres únicos,

belos e diferentes

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Este projeto foi planejado respei-tando as especificidades dos dife-rentes níveis de desenvolvimentodas crianças participantes. Partin-do de noções mais próximas das cri-anças, como as características físi-cas e as de personalidade, amplian-do-as para as características pecu-liares a outros gru-pos sociais, comoos povos indíge-nas e os povos deoutros países, e,por último, a pro-posta de um estu-do de como a nos-sa sociedade per-cebe e se relacionacom as diferenças.

Nosso primei-ro passo foi esti-mular as criançasdo Pré I parcial a olharem-se no es-pelho e depois ao coleguinha. Retra-tando, registrando, tomando cons-ciência do como sou e como é o outro.Descobrimos o que gostamos e doque não gostamos, nossos medos esonhos, nos pesamos e nos medi-mos. Redescobrimos os funcionári-os da nossa escola, observando-ose desenhando-os. Percebemos que ocabelo da senhora Wilma, funcioná-ria da escola, “é tão pretinho e lisoque até parece de índio”. Vivemos eregistramos nossas descobertas e(re)descobertas fazendo uma bone-

ca que representasse a senhoraWilma, a nova companheira da tur-ma. No entanto, o melhor de tudoficou registrado no coração. Abriu-se um caminho novo, caminho noqual os amigos do Pré II integral seaventuraram e foram mais longe.

Nós, do Pré II integral, estudamosas famílias, des-cobrindo que to-dos as temos eque são únicas ediferentes, e asimortalizamosem fotos paraque jamais asesqueçamos .Descobrimostambém, talcomo nós, nos-sas famílias têmas suas particu-

laridades: suas regras, valores e reli-gião. Pesquisamos junto à comuni-dade se havia pessoas portadoras denecessidades especiais e participa-mos de uma palestra ministrada pelosenhor João, portador de deficiênciafísica. Ampliamos nossa busca e fo-mos visitar diferentes culturas.(Re)descobrimos os índios com pes-quisas, exposição e palestra realiza-das pelas crianças do Pré III parcialmanhã e pelo seu professor Edson.

Nós, do Pré III integral, começa-mos pela leitura de livrosespecializados para a questão dos

Acreditamos que as nossascrianças, no presente e no futuro,

saberão diferenciar asnecessidades de cada pessoa,respeitando o lugar do idoso

em um ônibus comum, ajudandoum deficiente a atravessar a rua,respeitando as idéias contrárias

às suas e, o mais importante,sendo verdadeiramente

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portadores de necessidades especi-ais. Percebemos, então, que algumascrianças manifestaram que as dife-renças não são só as coisas visíveis,mas está também na forma de sen-tir, pensar, gostar etc. Participamosde algumas rodas de conversa, pa-lestras junto às outras turmas e visi-tamos a Associação de Pais e Ami-gos dos Excepcionais (Apae) e umasala na Escola Municipal de Educa-ção Infantil Monteiro Lobato, equipa-da para crianças portadoras de ne-cessidades especiais.

Saímos para um passeio pela ci-dade registrando tudo o que é feitopara tornar a vida das pessoas por-tadoras de necessidades especiais,um pouco melhor. Ficamos felizesao descobrirmos o microônibusadaptado para os deficientes físicos

que usam cadeira de roda. Apren-demos também como os portadoresde necessidades especiais foramvistos e tratados pela sociedadeatravés dos tempos. Vimos quadrosque mostravam que eles ficavam“escondidos” ou eram mantidoscomo “bobos da corte”.

Trabalhamos os eixos de Identi-dade e Autonomia, e Conhecimentode Mundo, em todo o projeto. O obje-tivo maior dessa experiência foi pro-porcionar aos alunos, respeitando asespecificidades da faixa etária e de seunível de desenvolvimento, o conheci-mento, o respeito e a valorização dasdiferenças como elemento de enrique-cimento pessoal e social.

Todo esse trabalho foi realizadocom muita pesquisa e auxílio de re-cursos didáticos extremamente im-portantes e ricos — livros, poesias,reportagens, entrevistas, palestras emusicais. As parcerias — envolven-do a direção da escola, funcionários,pessoas da comunidade e pais de cri-anças, Secretária Municipal da Edu-cação, a Apae; e a Universidade Es-tadual Paulista (Unesp), com a esta-giária Juliana — viabilizaram nossotrabalho e o tornaram mais rico.

Avaliar é um dos momentosmais importantes do trabalho, poisé justamente nele que repensamosa nossa prática pedagógica e nosconscientizamos se realmente asnossas crianças aprenderam o que

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foi proposto como objetivo no iníciodo processo. Assim, num constanteir e vir conduzimos o nosso trabalho,redirecionando-o sempre que foi ne-cessário. E assim, tendo clareza so-bre os princípios e diretrizes políti-co-filosóficas que norteiam a nossaprática pedagógica, as questões ini-ciais colocadas para elaboração donosso projeto foram: O que entende-mos por cidadania?; Que tipo de ci-dadão desejamos formar?; Com quetipo de sociedade sonhamos?

A partir da reflexão sobre essesquestionamentos, definimos o quechamamos de “conteúdos válidos”conteúdos que, em nosso entendi-mento, seriam essenciais na forma-ção do cidadão, do nosso “cidadãodo mundo”, cidadão consciente eresponsável pelo seu próprio desti-no e co-responsável pelo destino deseus semelhantes. E foi isso que onosso projeto Nós, Filhos da Terra...teve como objetivo: dar condiçõespara que as nossas crianças respei-tassem a si e ao outro.

Depois de todas as atividadesconcluídas, percebemos que as cri-anças ficaram mais sensíveis às di-ferenças. Entendendo que, emborapossamos ter muitas coisas em co-mum, somos seres únicos, belos e di-ferentes. No começo do trabalho,uma falava que para ser índio temque usar peninha; outra dizia quesomos diferentes porque somos hu-

manos. No final, os comentárioseram: “O índio que é igualzinho agente. Só tem jeito diferente”; “O ín-dio é ser humano igual a gente”.Quanto às crianças portadoras denecessidades especiais: “Eles são di-ferentes por fora e não por dentro.”

Acreditamos que as nossas crian-ças, no presente e no futuro, saberãodiferenciar as necessidades de cadapessoa, respeitando o lugar do idosoem um ônibus comum, ajudando umdeficiente a atravessar a rua, respei-tando as idéias contrárias às suas e,o mais importante, sendo verdadei-ramente Filhos da Terra.

Este trabalho foi muito especi-al, pois, além das crianças de nos-sa turma, envolveu crianças deoutras turmas, pais, comunidadee funcionários da escola. Como o

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tema faz parte do projeto coleti-vo da nossa escola e é um assun-to de extrema importância para odesenvolvimento de nossas crian-ças, então daremos continuidadecom a campanha: Nós, Filhos da

Terra... Os objetivos dessa campa-nha será manter vivo o espírito derespeito às diferenças e à diversi-dade e vai envolver a direção, pro-fessores, funcionários e criançasdo Pré II e Pré III.

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Dados de identificação

Professora: Andréia Pereira Marques de CarvalhoCo-autoras do projeto: Maria de Fátima B. Nunes e Diva SebastiãoPereiraEscola Maternal Municipal Leonardo Augusto Marcelo dos SantosMunicípio / UF: Barueri / São PauloFaixa etária atendida pelo projeto: 1 e 2 anos

A primeira rodaCrianças aprendem a observar e a explorar o ambiente comatitude de curiosidade, tornando-se cada vez maisseres independentes e transformadores

Uma sala lotada de berços, onúmero elevado de crianças e

o material pedagógico insuficientenos trouxeram uma grande angús-tia, mas também reflexão. Percebe-mos ainda que a nossa função deeducadoras precisa estar mais com-prometida com o educar e não ape-nas o cuidar. Daí a idéia de realizar-mos o projeto, que foi desenvolvidona Escola Maternal Municipal, fun-dada em novembro de 1988. Na épo-ca, atendia a média de 90 crianças,no período integral. Dezesseis anosdepois, a escola foi ampliada, pas-sando a funcionar com seis salas ecom uma demanda de 250 alunos.Nossas crianças de 1 ano, iniciam aprimeira jornada escolar. Muitassem saber comer, pois estão no pro-cesso de aleitamento, sem andar, fa-

lar e se comunicar com autonomia.Para mudar e dar mais dinamis-

mo às atividades em sala, pensa-mos em alternativas para melhortrabalhar com as crianças. Quan-do conquistamos um espaço preci-oso, optamos pela retirada dos ber-ços e montamos uma roda de fotosno chão, percebemos que estáva-mos formando a primeira roda, doprimeiro ano letivo e do primeiroano de vida de muitas criança, umnovo caminho, repleto de novasperspectivas, autonomia e cresci-mento. O início de muitas vidas,com muitas histórias.

Após a retirada dos berços, nos-sa sala ganhou um espaço amplo. Ecom esse espaço objetivamos traba-lhar diariamente em roda. Mascomo criar uma rotina de roda com

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crianças de 1 ano? Surgiu a idéia daroda de fotos. Respeitando a pers-pectiva de que as crianças precisamdesenvolver uma imagem positivade si, atuando de forma indepen-dente, com confi-ança em sua ca-pacidade, perce-bendo suas limi-tações e conhe-cendo progressi-vamente seu cor-po e potencial.Começamos a fo-tografar individualmente cada cri-ança, priorizando o rosto. Imprimi-mos as fotos em tamanho da folhaA4, colamos em quadrados colori-dos de 20cmx20cm e fixamos as fo-tos no local mais próximo, que jul-gamos ser o ideal para as criançasde 1 ano. No chão, formamos uma

enorme roda. As crianças passarama observar e a explorar o ambientecom curiosidade. Na busca de me-lhor adaptar as crianças, nos trans-formamos em “tias-brinquedo”. E

não só conquis-tamos nossascrianças como aparticipação deoutras educado-ras, tornando as-sim um númeromaior de crian-ças felizes.

Ao trabalharmos com as fotosdas crianças coladas no chão, o prin-cipal objetivo era que elas se sentis-sem como parte importante das nos-sas vidas. Conseguimos desenvol-ver nelas a capacidade de observare explorar o ambiente para ampliargradativamente suas possibilidades

Conseguimos desenvolvernelas a capacidade de observar

e explorar o ambientepara ampliar gradativamente

suas possibilidadesde comunicação einteração social

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de comunicação e interação social.Com as fotos, as crianças passa-

ram a se reconhecer e a identificarseus amigos, ganhando autonomiae independência. A prática diária deestabelecer diálogos com as fotosem frente das crianças tornou o nos-so trabalho mais afetivo, comunica-tivo e construtivo. Passamos a obser-var que as crianças começaram a semostrar mais, a se explorar, se tocarcom afeto e curiosidade. Garantimosa auto-estima tornando as criançascada vez mais independentes.

Procuramos utilizar as diferenteslinguagens (corporal, musical, plás-tica e oral). O reconhecimento dosolhos, boca, nariz, orelha e cabeça foitrabalhado com músicas (Ará-tá-tá,Dududá, Tra-lá tra-lá, Aí meu nariz,Atchim), parlendas (Janela Janelinha,Eu Conheço um Jacaré e outras), brin-

cadeiras de Esconde-Achou, Pega oAmigo, Jogo das Expressões diantedo espelho, jogar bola, cada um noseu lugar, arcos mágicos.

Percebemos que as crianças tí-midas passaram a ser maisparticipativas, cooperativas e inte-ressadas. Nas outras atividades,elas conseguiram se respeitar einteragir mais, tornando o dia-a-diamais significativo para nós educa-doras e para elas mesmas.

Tudo começou na roda de fotos,as crianças ganharam autonomia,elevaram a auto-estima e estão evo-luindo a cada dia. Percebemos queas conquistas são importantes ecompensadoras. A equipe de educa-doras vem se estimulando com asmudanças que conquistamos e tam-bém estão se empenhando para jun-tos modificarmos a nossa escola.

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Vários cantos para atividadesexternas foram criados a partir debreve pesquisa com as própriascrianças. Trabalhamos um muralexterno específico para estabelecerum vínculo positivo apenas commensagens posi-tivas e de agrade-cimento. Essaenergia boa degratidão nos dei-xou mais próxi-mos de toda a co-munidade e, na-turalmente, pas-samos a incenti-var a participa-rem de todo pro-cesso pedagógi-co que estáva-mos desenvolvendo em sala. Aparticipação dos pais ou respon-sáveis em reuniões aumentouquando passamos a ensinar aeles algumas brincadeiras, can-ções e atividades que a criançatinha participado naquele mês.

À medida que modificávamosa sala visando obter um ambien-te estimulante para as crianças,notamos o quanto nosso traba-lho se tornava mais significati-

vo. A cada mudança, uma respos-ta de conduta das crianças deixa-va cada vez mais claro o quanto onosso envolvimento, dedicação,comprometimento e amor sãofundamentais neste maravilhoso

processo conhe-cido como edu-cação infantil.

Conquista-mos a nossaauto-estima enos propomosser diariamentea ponte pelaqual passa a his-tória presente.Temos muito oque fazer, talvezmais do que

qualquer profissional em outro lu-gar do planeta. Ser ponte de for-ma constante, consciente, ser bonsexemplos. A figura de ponta dessapostura perante a vida há de sersempre a criança, que é a nossamelhor possibilidade de passo adi-ante. “Que possamos caminharcom passos largos para um Mun-do melhor. Porque as crianças sãoas melhores mensagens que envi-amos para o futuro.”

Tudo começou na roda de fotos,as crianças ganharam autonomia,

elevaram a auto-estima eestão evoluindo a cada dia.

Percebemos que as conquistassão importantes e compensadoras.

A equipe de educadoras vemse estimulando com as mudanças

que conquistamos e tambémestão se empenhando para

juntos modificarmosa nossa escola

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Professora: Núbia Pereira BritoEscola Municipal Dom AlanoMunicípio / UF: Formoso do Araguaia / TocantinsFaixa etária atendida pelo projeto: 5 e 6 anos

Brincando e aprendendo com o vovôProjeto une diferentes gerações em uma aula de respeito eadmiração mútuos e as crianças descobrem a alegria de convivercom os idosos

As crianças da Escola Munici-pal Dom Alano, situada em

um bairro residencial da cidade deFormoso do Araguaia, no Estado deTocantins, eram preconceituosas eviam negativamente a velhice. Nãopercebendo a contribuição que osidosos poderiam trazer para as suasvidas e ao seu aprendizado. Sabe-mos que quando a velhice é encara-da de forma negativa, os idosos,além de enfrentarem problemas fí-sicos e psicológicos próprios da ida-

de, acabam desamparados pela so-ciedade e, às vezes, por suas própri-as famílias.

A escola recebe crianças com con-dições socioeconômicas variadas,parte de classe média e outra declasse média-baixa. Das criançasque a pré-escola recebe, 52% moramna zona rural. Daí percebe-se a va-riedade cultural existente, o que tor-na a sala, extremamente heterogê-nea algo que contribuiu significati-vamente no desenvolver do projeto.

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Ao observar o desrespeito sofri-do pelo guarda e a merendeira daescola, percebeu-se que as práticasde algumas crianças em relação aoconvívio com os idosos não eramnada agradáveis. Ficou evidente arelevância de se trabalhar o temacom o pré-escolar, que atende cri-anças de 5 e 6 anos, levando-se emconsideração que muitas delas sãocriadas pelos avós.

O objetivo era dar oportunidadeàs crianças para a adoção diária deatitudes de solidariedade, coopera-ção e repúdio às injustiças, além derespeitar o outro exigir respeito parasi do mesmo, como ensinam osParâmetros Curriculares Nacionais(PCNs), somando-se a isso oposicionamento contra qualquerdiscriminação relacionada a idosos.

Ao partir de uma visão da Filo-sofia para Crianças embasada na te-oria de Matthew Lipman, autor quedefende a criação da comunidadede investigação1 como fundamentalna construção da cidadania foi pos-sível ter bom proveito de um proble-ma levado por uma criança para asala, sobre o desrespeito sofrido peloguarda, no portão da escola. Ao tér-mino do período de recreação, uma

1 Comunidade de Investigação, idéia presente no Projetode Filosofia para Crianças, de Matthew Lipman.Significa um processo pedagógico que requer a criaçãode um estado de comunicação. A comunicaçãoestabelecida aí, não é uma simples conversa semobjetivos, mas uma investigação em busca da verdade.

criança entrou na sala e disse emvoz alta: “Tia, um menino da outrasérie, empurrou o guarda no portãoe falou que ele é um velho nojento.”Surgia a oportunidade para dar iní-cio ao projeto.

Acreditamos que a socializaçãoentre idosos e crianças contribuiriapara um aprendizado significativoe, assim, ambos perceberiam a ne-cessidade de mudanças de atitudes,respeitando e valorizando não só osidosos, mas toda a sociedade. Fazen-do valer um dos objetivos propos-tos pelos Parâmetros Curriculares,que trata de atitudes de respeitopelas diferenças entre as pessoas,respeito esse necessário ao convívionuma sociedade justa. Então, resol-veu-se fazer uma rodinha de conver-sa e, dentro da metodologia comu-nidade de investigação, utilizarcomo tema de discussão o seguintequestionamento: “O que é respei-to?” Obtivemos respostas como: “Équando não pego as coisas dos ou-tros escondido”; “É quando faz oque a mãe manda”; “É obedecer aprofessora...”

Ao percebermos que não menci-onaram os idosos, partimos paraoutra pergunta: “E o que fizeram

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com o guarda no portão é correto?”Todos foram unânimes em dizer“não” e uma criança acrescentou:“É falta de respeito com as pessoasmais velhas. Eles também desobe-decem à merendeira.” Então, a par-tir daquele momento, resolvemos es-tudar o tema sobre os idosos, o queas crianças acei-taram com muitaboa vontade.

Foi feita umareunião com ospais para aapresentar a pro-blemática e jun-tamente com ascrianças seriaelaborado umprojeto que tra-balhasse valores, socializando comidosos, de forma que o conhecimen-to dos mesmos contribuísse para oaprendizado das crianças. E, assim,de forma lúdica, as crianças seriamconscientizadas da importância derespeitar pessoas da terceira idade.Assim foi elaborado o Projeto Brin-

cando e Aprendendo com o Vovô,objetivando mobilizar pais, crianças,profissionais da escola e da comuni-dade na formação de pessoas para oconvívio em sociedade.

Outro tema foi colocado em dis-cussão: “O que é uma pessoa ido-sa?” Conforme as crianças iam fa-lando, surgiam interrogações como:

Quem são? Por que são idosos? Temalguém idoso na sua família? Vocêgosta dele(a)? Quem mora com seusavós? Por quê? Existem idosos naescola? As respostas surpreendiam:“Pessoa idosa é uma pessoa velhacomo minha avó”; “Pessoa que dácarinho, amor e sabe muito”; “Pessoa

carinhosa, tudo oque peço para mi-nha avó, ela medá.” As criançasassociavam osidosos apenas aosseus avós.

Depois, visi-tamos os depar-tamentos da es-cola para identi-ficar os idosos

que trabalhavam na instituição. Ascrianças descobriram apenas oguarda e a merendeira. No dia se-guinte, ambos foram convidadospara ir até a sala de aula, falar so-bre o desrespeito que sofriam porparte de algumas crianças. Nessaoportunidade, houve uma bela soci-alização de idéias e questionamentos.“Qual o aluno que mais desrespeitavocê, seu Zé?”; “Como o senhor ficaquando é xingado?”; “O senhor erabagunceiro quando era menino?”Com a merendeira, a mesma coisa:“A senhora nem é muito velha, porque os meninos desobedecem?”; “Asenhora fica triste?” Todos se em-

O Projeto Brincando e

Aprendendo com o Vovô

trouxe resultados que

mudaram a vida das crianças

do pré-escolar e de suas

famílias; que ampliaram

a visão da comunidade

da Escola Municipal Dom Alano

e da própria cidade de Formoso

do Araguaia.

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polgaram num diálogo sadio que le-vou à amizade, a merendeira propôsensinar-lhes uma de suas receitas. Eo guarda propôs acompanhá-las du-rante o projeto.

Em outra etapa, visitou-se o Abri-go de Idosos da cidade, para que ascrianças se aproximassem de outrosidosos que viviam uma realidade di-ferente, pois não moravam com suasfamílias. Nessa visita, as criançastrouxeram de suas casas lanchespara compartilharem com os ido-sos. A timidez inicial foi superadacom a leitura de reflexões, apresen-tação de músicas das crianças e odiálogo na comunidade de investi-gação. Mas quando um dos idosos,habilidoso com uma gaita, tocou ecantou com as crianças, elas se di-vertiram, dançaram alegremente, aosom de músicas antigas.

Em outra etapa do projeto, foi fei-to um estudo sobre o surgimento dacidade de Formoso do Araguaia, e pormeio de pesquisas sobre os pioneiros

da cidade, destacou-se os mais ido-sos. Neste trabalho foi identificado oprofessor mais velho do município,ele mesmo um dos desbravadores. Ascrianças fizeram um visita a ele e seemocionaram ao ver aquele senhorchorando e a sua esposa fazendo ex-planação de sua trajetória.

Em sala, construímos um álbumseriado com biografias, varais e que-bra-cabeça com nomes dos pioneiros.Feito isso, elas apresentaram paraoutras turmas a vida dos idosos, uti-lizando suas produções. As criançasfizeram um desenho do idoso que elesmais gostaram e, em seguida, expli-caram para os demais colegas os por-quês da escolha da pessoa desenha-da. Trabalhamos também com umarevista em quadrinhos, a realidade davida de idosos indígenas. Enfatizandoque, nessa comunidade, os idosos sãovalorizados, pois são responsáveispelos ensinamentos antigos.

Em outro momento, utilizou-se acomunidade investigação para se-

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rem colhidas sugestões das própri-as crianças para a montagem depanfletos a serem distribuídos paraa comunidade: “Os idosos merecematenção”; “Respeite os mais velhos”;“Brinque com seus avós”; “Ajude osidosos com amor e carinho”; “Con-verse, ouça as ex-periências dosmais velhos.” Oque chamou aatenção das crian-ças foi o momentode distribuiçãodos panfletos quefizeram. Elas eramrecebidas com pra-zer e elogiadas pelas ações.

O ponto alto do projeto foi o Diacom o Vovô, que reuniu idosos da ci-dade num piquenique com as crian-ças. Foram confeccionados diversosbrinquedos, como pernas de lata, te-lefones com caixa de fósforos,bilboquês, bonecas de pano, cavalos-de-pau etc. E aprenderam brincadei-ras de antigamente, como bom-bar-quinho, corre-cutia, guarda anel etc.

O Projeto Brincando e Aprendendo

com o Vovô trouxe resultados que mu-daram a vida das crianças do pré-

escolar e de suas famílias; que am-pliaram a visão da comunidade daEscola Municipal Dom Alano e daprópria cidade de Formoso doAraguaia; e que transformaram arotina da professora regente e dosprofessores que tiveram contato

com o projetodas diversas for-mas em que elefoi divulgado.Portanto, exis-tem motivos desobra para acontinuidade ea ampliação dotrabalho.

Acreditamos que para uma pro-dução intelectual de qualidade, oprofessor precisa estar disposto arealizar mudanças, aperfeiçoando oseu trabalho constantemente. Noprojeto desenvolvido, considera-seque a problemática é um tema queoutros professores do país podemaproveitar, pois é possível trabalharidentidade, diferenças e respeito emqualquer lugar e, principalmente, naescola, que é o centro de formaçãode pessoas responsáveis por um fu-turo atuante e de qualidade.

A socialização entre idosos

e crianças contribuiria para

um aprendizado significativo e,

assim, ambos perceberiam a

necessidade de mudanças

de atitudes, respeitando e

valorizando não só os idosos,

mas toda a sociedade

Page 124: Prêmio Qualidade na Educação Infantil - 2004