Prémios Literários Dão Reconhecimento e Incentivo

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PRÉMIOS LITERÁRIOS DÃO RECONHECIMENTO E INCENTIVO Póvoa de Varzim, 27.02.2015 A Mesa 2 do Correntes d’Escritas fez uma reflexão multifacetada sobre “A verdade dos Prémios Literários: O Poder das Narrativas e/ou As Narrativas do Poder”. Esta manhã solarenga de sexta-feira, dia 27, reuniu à mesma mesa: Ana Luísa Amaral, Ana Paula Tavares, Germano Almeida, Inês Pedrosa, Isabel Pires de Lima, Manuel Jorge Marmelo e, como moderadora, Ana Gabriela Macedo. O debate decorreu em colaboração com o Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho e, mais uma vez, preencheu por completo o novo e aconchegante Cine- Teatro Garrett (Fotogaleria). Os escritores analisaram sob os respetivos pontos de vista, marcados pelas diferenças de origem (desde angolana a cabo-verdiana, ou portuguesa), género de estilo literário ou até idade, o tema proposto. Foram unânimes em concordar que não é o Prémio que constitui Poder, mas antes o impacto da narrativa e a influência da palavra na sociedade e nos regimes democráticos ou não. Afinal, lembrou Ana Luísa Amaral, “dizem que Napoleão tinha medo de jornais, mas ninguém disse que ele tinha medo de prémios”. Ainda assim, os escritores concordaram que os prémios são úteis ou necessários pelo “reconhecimento e algum incentivo” que trazem, como disse Ana Luísa Amaral. A escritora e Professora da Universidade do Porto referiu que a “escrita existe separada dos prémios”, embora haja a necessidade de “um diálogo com o mundo”, defendendo a ligação da criação à comunicação. Porém, Ana Luísa Amaral não escreve poesia para os prémios, explicou, “escrevo porque preciso, para encontrar algum sentido para a vida e para o mundo. Escrevo desde sempre e, enquanto escrevo, vivo numa outra dimensão um pouco descolada da vida”. Ana Paula Tavares referiu a importância dos prémios para a contestação ou luta contra determinadas injustiças, apontando o exemplo dos discursos dos três africanos premiados com o Prémio Nobel: Wole Soyinka, Nadine Gordimer e J. M. Coetzee. Nomeadamente, o nigeriano Soyinka optou pelo discurso político para salientar o silenciamento dos escritores e a perseguição política. Com o bom humor que carateriza a pessoa de Germano Almeida, o escritor e advogado cabo-verdiano abordou os escritores “desbocados sobre si próprios”, que nem sempre têm uma postura “politicamente correta” e, assim, correm o risco de não virem a ser premiados. Por outro lado, o prémio pode ser um contrapoder, pois temos muitos exemplos de escritores que recusaram receber Prémios, alegando razões pessoais e íntimas ou então razões políticas. Nestes casos, a razão da recusa acaba por ganhar valor e impacto para a causa defendida. Germano Almeida admite que todas as pessoas gostam de elogios e, naturalmente, os escritores gostam de receber prémios, “vendo assim reconhecida a sua obra”, em particular para os escritores mais jovens torna-se muito importante receber

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Texto sobre as palestras do evento Correntes d'Escrita em Portugal. mesa com escritores e críticos literários

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PRMIOS LITERRIOS DO RECONHECIMENTO E INCENTIVOPvoa de Varzim,27.02.2015A Mesa 2 do Correntes dEscritas fez uma reflexo multifacetada sobre A verdade dos Prmios Literrios: O Poder das Narrativas e/ou As Narrativas do Poder.Esta manh solarenga de sexta-feira, dia 27, reuniu mesma mesa: Ana Lusa Amaral, Ana Paula Tavares, Germano Almeida, Ins Pedrosa, Isabel Pires de Lima, Manuel Jorge Marmelo e, como moderadora, Ana Gabriela Macedo. O debate decorreu em colaborao com o Centro de Estudos Humansticos da Universidade do Minho e, mais uma vez, preencheu por completo o novo e aconchegante Cine-Teatro Garrett (Fotogaleria).Os escritores analisaram sob os respetivos pontos de vista, marcados pelas diferenas de origem (desde angolana a cabo-verdiana, ou portuguesa), gnero de estilo literrio ou at idade, o tema proposto. Foram unnimes em concordar que no o Prmio que constitui Poder, mas antes o impacto da narrativa e a influncia da palavra na sociedade e nos regimes democrticos ou no. Afinal, lembrou Ana Lusa Amaral, dizem que Napoleo tinha medo de jornais, mas ningum disse que ele tinha medo de prmios. Ainda assim, os escritores concordaram que os prmios so teis ou necessrios pelo reconhecimento e algum incentivo que trazem, como disse Ana Lusa Amaral.A escritora e Professora da Universidade do Porto referiu que a escrita existe separada dos prmios, embora haja a necessidade de um dilogo com o mundo, defendendo a ligao da criao comunicao.Porm, Ana Lusa Amaral no escreve poesia para os prmios, explicou, escrevo porque preciso, para encontrar algum sentido para a vida e para o mundo. Escrevo desde sempre e, enquanto escrevo, vivo numa outra dimenso um pouco descolada da vida.Ana Paula Tavares referiu a importncia dos prmios para a contestao ou luta contra determinadas injustias, apontando o exemplo dos discursos dos trs africanos premiados com o Prmio Nobel: Wole Soyinka, Nadine Gordimer e J. M. Coetzee. Nomeadamente, o nigeriano Soyinka optou pelo discurso poltico para salientar o silenciamento dos escritores e a perseguio poltica.Com o bom humor que carateriza a pessoa de Germano Almeida, o escritor e advogado cabo-verdiano abordou os escritores desbocados sobre si prprios, que nem sempre tm uma postura politicamente correta e, assim, correm o risco de no virem a ser premiados. Por outro lado, o prmio pode ser um contrapoder, pois temos muitos exemplos de escritores que recusaram receber Prmios, alegando razes pessoais e ntimas ou ento razes polticas. Nestes casos, a razo da recusa acaba por ganhar valor e impacto para a causa defendida.Germano Almeida admite que todas as pessoas gostam de elogios e, naturalmente, os escritores gostam de receber prmios, vendo assim reconhecida a sua obra, em particular para os escritores mais jovens torna-se muito importante receber um prmio. J para no falar do valor pecunirio do prmio, assunto sobre o qual parece haver alguma vergonha em falar, como se o escritor ainda vivesse das nuvens ou se contentasse em comer apenas um ovo por diaIns Pedrosa voltou a destacar este Encontro na Pvoa de Varzim e o fenmeno de haver tanta gente interessada em ouvir escritores e em falar de livros, afirmando: o que aqui se passa o resultado da f na magia da Cultura.A jornalista e escritora considera que a escolha das palavras poder; cada exerccio de leitura poder; aceitar ou recursar prmios poder. Pena que na atribuio de prmios as mulheres no sejam to contempladas quanto os homens: o prmio Nobel foi atribudo 107 vezes e apenas 13 no feminino; o Prmio Cames, em 26 edies, foi atribudo 25 vezes a homens e 5 vezes a mulheres... Os tops de vendas valem o que valem, mas quando aparece por l um escritor autntico, geralmente, um homem, afirmou Ins Pedrosa.A antiga Ministra da Cultura (mandato 2005-08), Isabel Pires de Lima, considerou que o prmio distingue e aponta socialmente seres distintos. E, refletindo sobre porque proliferam hoje os prmios, Isabel Pires de Lima aponta algumas razes: suster a queda literria e a sua perda de prestgio na sociedade; a procura de prestgio de quem atribui o prmio; a necessidade de procurar num prmio a mola que faz vender (o rudo meditico) e responder a uma necessidade de provocar a inveno de escritores. Apesar de tudo, a criao de prmios literrios positiva, concluiu.Manuel Jorge Marmelo, escritor vencedor do Prmio Correntes dEscritas 2014, reforou que no pensa nos prmios quando est a imaginar ou a escrever os seus livros, no so os prmios o mais importante nem uma verdade essencial quanto qualidade do que se escreve. Mas no podia negar que o Prmio Correntes dEscritas teve um impacto enorme na sua vida, desde logo porque j no est desempregado, como acontecia h um ano, encontrando-se, hoje, com um estado de esprito completamente diferente e at suspeito que estou mais bonito!...