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    I

    Alessandra Guedes Rondina

    Atuao fonoaudiolgicana preparao vocal do ator

    Campinas2005

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    II

    Alessandra Guedes Rondina

    Atuao fonoaudiolgicana preparao vocal do ator

    Dissertao apresentada aoPrograma de Ps-Graduao em

    Artes do Instituto de Artes daUNICAMP como requisito parcialpara a obteno do grau de Mestreem Artes sob a orientao da Prof.Dr. Sara Lopes.

    Campinas2005

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    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELABIBLIOTECA CENTRAL DA UNICAMP

    Rondina, Alessandra Guedes

    Atuao fonoaudiolgica na preparao vocal do atorR668v : trabalhando a funo potica da voz / Alessandra Guedes Rondina.

    - Campinas, SP : [s.n.], 2005.

    Orientador: Sara Pereira LopesDissertao (mestrado) Universidade Estadual de Campinas,

    Instituto de Artes.

    1. Voz Fisiologia. 2. Voz Educao.2. 3. Representao teatral. 4. Oratria. 5. Teraputica

    I. Lopes, Sara Pereira. II. Universidade Estadual deCampinas. Instituto de Artes. III . Ttulo.

    Palavras chave em ingls (Keywords): Voice Phisioloy.Voice Education.Acting.Oratory.Therapeutics.

    rea de concentrao: Artes Cnicas.Titulao: Mestre em Artes.Banca examinadora: Sara Pereira Lopes, Eusbio Lobo, Iara Bittante.Data da defesa: 15/02/2005.

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    III

    dedicao

    Em especial aos alunos deArtes Cnicas da Unicamp,que buscam desenvolver eaprimorar a arte de ser ator.

    Dedico este trabalho tambma todos que fazem da voz oseu instrumento de trabalho.

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    IV

    banca examinadora

    Eusbio LoboIara Bittante

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    V

    Agradecimentos

    Deus por est grandeoportunidade e por essaspessoas:

    aos professores

    Eusbio LoboLas Wollner

    Mrio Bolognesi

    Paulo KllPlnio Barbosa

    Regina Polo MulerRubens Brito

    Sara Pereira LopesStphanee Maylisse

    Vernica Fabrini

    aos colegas

    Turma de Mestrado de 2002

    Funcionrios do DAC e da Ps Graduao

    aos familiares

    Ao Bruno meu marido e aonosso filho Artur.E as nossas famlias quevibram com as nossasconquistas.

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    VI

    Professor especial

    Muito obrigada a minhaquerida orientadora Prof.Dr. Sara Lopes.Por toda tranqilidade,generosidade e seguranatransmitidas com tantapacincia atravs de sua voz.

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    Resumo

    Esta dissertao visa colaborao da fonoaudiologia com o processo

    criativo do ator de artes cnicas. Ela enfoca a problemtica da interpretao vocalde emoes extremas, como representar vocalmente personagens que exijam da

    sua voz alm do que ela, naturalmente, poderia oferecer.

    Quando a fonoaudiologia visa tratar vozes patolgicas, busca uma viso

    mais orgnica do paciente. Trabalhos teraputicos que resgatam as vozes que em

    algum momento foram julgadas perdidas. Resgata-se a clareza, o brilho, a

    eloquncia. Esse trabalho, nesse momento, no visa falar de exerccios, mas da

    base para se realizar qualquer exerccio, que a conscincia corporal vocal, em

    busca de uma voz extra cotidiano (voz potica).

    Conscincia que permitir o aprendizado de forma orgnica, da mesma

    forma que se alcana na terapia vocal, instrumentalizando o ator a realizar a sua

    produo vocal de modo autnomo.

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    VIII

    Rsum

    L objectif de ce travail est de penser lorthophonie comme une science

    lusage de lacteur dans son processus cratif en arts scniques. Il met laccente

    sur la problmatique de linterprtation vocale des motions extrmes, comme

    cest le cas dans les reprsentations vocales de personnages qui exigent de

    lmission de voix de lacteur plus quelle ne peut offir de manire naturelle.

    Quand lrthophonie a pour but soigner des voix pathologiques, un regard

    plus organique du patiente est mis en avance. Il sgit de proposer des travails

    thrapeutiques qui restituent les voix juges perdues. On restitue la clart, labrillance, lloquence. Ce travail cependant ne parle pas dexercices

    thrapeutiques mais du fondement pour mettre en place nimporte quel exercice

    dans la recherche dune voix extra quotidien (voix potique), ce fondement tant la

    conscience corporelle vocale.

    Cette conscience permettra lapprentissage de manire organique, celle

    quon retrove dans la thrapie vocale, ce qui donne lacteur des outils pour

    mettre en oeuvre as production vocale de faon autonome.

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    Sumrio

    Introduo ...........................................................................................................01

    CAPTULO I Fisiologia da Voz

    1.1 Uma viso convencional ........................................................................08

    1.2 Fisiologia Fonatria ...............................................................................10

    1.2.1 Sonorizao ...........................................................................12

    1.2.2 Produo vocal e a laringe ......................................................14

    1.2.3 Estrutura Corporal ...................................................................15

    1.3 A voz .....................................................................................................15

    1.3.1 Emisso ..................................................................................16

    1.3.2 Registro Basal .........................................................................17

    1.3.3 Registro Modal ........................................................................17

    1.3.4 Registro Elevado .....................................................................17

    1.4 Sobre a Freqncia Vocal .....................................................................17

    1.4.1 Monofreqncia .......................................................................18

    1.4.2 Freqncia Inapropriada ..........................................................191.4.3 Quebras de Freqncia ...........................................................20

    1.5 Intensidade Vocal ..................................................................................21

    1.5.1 Monointensidade .....................................................................22

    1.5.2 Variaes de Intensidade ........................................................22

    1.5.3 Ressonncia Vocal ..................................................................24

    1.6 A fala .....................................................................................................28

    1.6.1 Articulao ...............................................................................301.6.2 Entonao ................................................................................32

    1.6.3 Ritmo .......................................................................................33

    1.6.4 Velocidade ...............................................................................34

    1.6.5 Dinmica vocal ........................................................................34

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    X

    CAPTULO II Produo Vocal do Ator

    2.1 Uma viso ampliada ..............................................................................36

    2.2 Controlando a Voz .................................................................................37

    2.3 O Corpo .................................................................................................40

    2.3.1 Liberando as tenses .....................................................................42

    2.4 Respirao ...........................................................................................46

    2.5 O ator e a voz extra cotidiano ...............................................................49

    CAPTULO III

    3.1 Atuao Fonoaudiolgica ......................................................................51

    CONCLUSO ........................................................................................................57

    BIBLIOGRAFIA .....................................................................................................61

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    INTRODUO

    A compreenso do trabalho de preparao vocal do ator de teatro

    estabelece uma ligao entre trabalho tcnico da voz e o processo criativo. Para

    realizar um trabalho direcionado ao ator, necessrio que haja um entrosamento

    da parte do preparador vocal no que diz respeito ao repertrio corporal tcnico e

    dos personagens, e como est sendo organizado o espetculo. Desta forma o

    trabalho vocal ganha um direcionamento para o trabalho especfico do ator em

    uma determinada pea. Venho sugerir um trabalho anterior a este, uma

    preparao vocal que seja realizada por atores sem mesmo estarem definidos os

    papis e os personagens.

    A proposta desta preparao vocal objetiva desenvolver a voz extra

    cotidiano, ou seja, a voz profissional que seria uma voz redimensionada no corpo,

    buscando sua melhor performance, independente de ser uma voz do esforo fsico

    ou no. Afinal, a preparao vocal destina-se a uma determinada voz que realize

    produes sonoras que no so comuns na voz do cotidiano. A configurao da

    voz para a cena escapa do cotidiano pois trabalha com uma configurao e

    aproveitamento do trato vocal diferente e, consequentemente, interfere na

    fisiologia da voz, como por exemplo num grito, onde a voz excessivamente forte

    e forada. O treinamento dos exerccios deve promover o desenvolvimento

    fisiolgico dos msculos e rgos articulatrios responsveis pela produo vocal,

    trabalhando-se ento uma tcnica vocal para esses fins.

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    Podemos comparar essa preparao vocal com a preparao fsica que

    muitos atletas, bailarinos possuem. Quando se fala de uma perfomance corporal

    estamos falando da prpria linguagem que o corpo possui: para poder desenvolver

    todas as potencialidades deste corpo preciso um trabalho que descubra os seus

    prprios limites. Esse trabalho pode ser feito por intermdio da sensibilizao,

    vivncia e conscientizao, promovendo a compreenso de como o corpo se

    conecta e reage em todas essas relaes. O resultado ser percebido atravs do

    desempenho dos msculos, dos ligamentos, das articulaes, da respirao e do

    condicionamento fsico como um todo. Produzindo o movimento criativo preciso,

    ou seja, artstico, que so movimentos corporais que no fazem parte do

    repertrio de um corpo que se movimenta cotidianamente.

    Buscar a voz extra cotidiano pode parecer, para muitos, a utilizao da voz

    com caractersticas de abuso vocal ou mau uso vocal. Para facilitar o

    entendimento definiremos o que abuso vocal e mau uso da voz. Atores e outros

    profissionais de reas afins nem sempre percebem ou conhecem essas

    diferenas, porm elas existem e so necessrias para a compreenso do

    trabalho que proponho.

    O abuso e mau uso vocal podem contribuir para problemas

    vocais. Por abuso vocal, referimo-nos aos mecanismos larngeos

    que so usados excessivamente de vrios modos no-verbais

    abusivos, como tosse, pigarro, riso, choro. Tais comportamentos

    abusivos podem exercer efeitos negativos sobre o funcionamento

    larngeo e, s vezes, tambm sobre a produo vocal. O mau uso

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    vocal pode consistir em vocalizaes excessiva ou inapropriada,

    como falar com uma intensidade excessiva ou falar demais. A

    natureza adicional do edema (inchao) de prega vocal ou obstruo

    de tecido que pode resultar da vocalizao excessiva, como gritar

    ou berrar, aumenta as pregas vocais. Este aumento muda o som da

    voz. 1

    Podemos afirmar que nem sempre o mau uso (uso imprprio da voz), e o

    abuso vocal (comportamentos nocivos sobre a laringe e a voz), esto ligados a

    distrbios vocais com mudanas fsicas como ndulos ou outros problemas

    patolgicos. O uso ideal da voz no profissional estar sempre atento s

    questes de higiene vocal, reduzindo esses dois comportamentos. Muitas vezes

    aps terapia o paciente capaz de relatar que produz voz com mais facilidade e

    at mais do que antes. Isso possvel porque atravs da terapia clnica o paciente

    obteve um treinamento vocal, realizado com exerccios que ajudam a ampliar as

    condies fonatrias e a maior resistncia fsica do trato vocal, tanto anatmico

    como fisiolgico.

    Trabalhar a preparao vocal atravs da abordagem teraputica

    e preventiva (fundamentos fisiolgicos e conscincia vocal), foi disponibilizada s

    pessoas que dependeram da reabilitao vocal para reeducar a sua voz. Buscar

    ampliar, ressoar, colorir, intensificar, a voz que em algum momento se encontrava

    limitada, doente, um pressuposto para perceber que possvel ampliar muito

    1 Daniel BOONE. A voz e a terapia vocal, p.20.

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    mais as vozes que nunca apresentaram nenhum tipo de doena e prepar-las

    para condies fonatrias muito mais exigentes que das vozes comuns. Afinal,

    esses pacientes que so submetidos ao tratamento vocal demonstram uma

    melhora satisfatria e at muito boa, voltando a produzir voz de forma segura e

    muitas vezes melhor do que antes, ento lano a pergunta: Se possvel reabilitar

    uma voz com problemas e torn-la apta a produzir uma voz confortvel e sem

    mais sinais sintomticos de dor ou desconforto, porque no preparar uma voz

    sadia, fortalecendo-a para a produo vocal que necessria para desempenhar

    seu papel com habilidade e segurana?

    Na maioria dos casos o retorno da voz normal esperado, principalmente

    quando no h evidncias de mudana na mucosa. importante ressaltar que nos

    casos de reabilitao vocal o sucesso da reabilitao se d tambm pelo empenho

    e dedicao do paciente em realizar os exerccios diariamente, pois estamos

    falando da preparao vocal que similar a preparao corporal e requer a

    mesma ateno e comprometimento na realizao de cada exerccio. Em relao

    ao ator, o que no possvel pensar em se apropriar de uma voz extra cotidiano

    de um dia para o outro. O trabalho tem um carter cumulativo e progressivo,

    principalmente se o objetivo for de ampliar a produo vocal dos atores.

    Um grande problema que muitos atores no possuem uma voz treinada,

    trabalhada, partindo logo no incio de sua carreira profissional a exercitarem a sua

    voz em um nvel bastante exigente de forma indiscriminada, apresentando todos

    os sinais possveis de um mau uso ou abuso vocal, como rouquido, quebras no

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    agudo, falta de brilho ou clareza ao falar, dificuldades de abastecimento e

    reabastecimento respiratrio, cansao fsico, sinais esses que podem ser

    trabalhados e redimensionados na preparao vocal.

    Todo trabalho vocal deveria ser direcionado aos msculos que envolvem o

    processo fonatrio e para alcanar um bom rendimento necessrio realizar um

    preparo de relaxamento antes de iniciar os exerccios e trabalhar gradualmente

    para no forar demais uma musculatura que est acostumada com determinado

    volume de trabalho e, aps o trabalho, importante relaxar essa musculatura para

    que ela no permanea em atividade constante.

    O trabalho que segue este ritmo respeita as caractersticas fisiolgicas de

    cada um, pois a busca do melhor rendimento vocal nada mais do que a

    ampliao dos movimentos musculares responsveis pelo processo vocal.

    Clinicamente falando, muitos dos problemas vocais surgem em pacientes porque

    eles, por algum motivo, passaram a utilizar uma musculatura que nunca foi usada

    antes e nem preparada para tal trabalho. Esse tipo de mudana causa uma fadiga

    orgnica, pois a musculatura passa a funcionar indiscriminadamente e o corpo

    todo comea a trabalhar num processo sofrido para a obteno de uma voz.

    Muitos no se do conta desse comportamento, prejudicando seriamente sua voz,

    necessitando de terapia fonoaudiolgica, quando no a soluo cirrgica. Ento

    traamos uma linha teraputica baseada nas avaliaes acsticas, corporais,

    emocionais e comportamentais. O objetivo principal est em buscar a voz que

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    existia antes, e para a sua surpresa, o paciente encontra uma voz mais agradvel

    de ouvir e principalmente de produzir.

    Mara e Pontes, dizem: Quanto aos objetivos do paciente em relao

    terapia vocal, aquele que usa a voz profissionalmente, como um cantor por

    exemplo, ter de ampliar ao mximo suas possibilidades vocais, e desenvolver

    recursos mais estveis do que um indivduo que no submete seu aparelho

    fonador sobrecarga do uso profissional da voz. 2

    E por que no parafrase-lo para o ator: ... aquele que usa a sua voz

    profissionalmente, como o ator por exemplo, ter de ampliar ao mximo suas

    possibilidades vocais,... .

    Seguimos com o conceito de vocaliade potica por Sara Lopes (2004) que

    completa a necessidade dessa voz como uma obra de arte:

    Por potica, como adjetivo, fica denominada a funo que tem

    uma voz de ir alm de seu uso utilitrio na linguagem, da

    transmisso de idias ligadas ao significado das palavras, criando o

    gesto vocal, gerando impresses, dizendo de si mesma e se

    comentando enquanto comenta e diz, mantendo o movimento

    interno ao procedimento tcnico que leva expresso diferenciada.3

    2 Mara BEHLAU e Paulo PONTES. Avaliao e Tratamento das Disfonias, p. 36.3Sara LOPES. Sobre a voz e a sua funo potica (vai dar no que falar...), p.18.

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    Para produzir voz profissional, ou seja, voz extra-cotidiano (uma expresso

    diferenciada), necessrio ampliar ao mximo suas possibilidades vocais, e

    desenvolver recursos mais estveis.

    Isso se aplica na ntegra ao ator, que necessita usar a voz com uma

    sobrecarga que na voz cotidiana no usada, uma vez que a terapia tem como

    objetivo utilizar ao mximo a capacidade fonatria, reestruturando os rgos

    responsveis pela produo vocal.

    O objetivo da fonoaudiologia trabalhando com a voz do ator a de

    compartilhar as tcnicas baseadas em seus conhecimentos fisiolgicos e

    anatmicos para a ampliao da capacidade dos rgos da voz e da fala

    desenvolvendo, assim, a possibilidade de sua funo potica (voz extra-cotidiano).

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    CAPTULO I

    FISIOLOGIA DA VOZ

    1.1 Uma viso convencional

    H sculos se fala da importncia da arte de se falar bem. Sabemos que no

    decorrer da histria do mundo muitos foram vencedores ou celebridades, graas

    ao seu poder de usar a voz e falar bem. Podemos citar algumas vozes que se

    eternizaram em nosso mundo como, por exemplo: Cid Moreira, rsula Vidal,

    Hittler, Elvis Presley, Elis Regina, Louis Armstrong, Frank Sinatra, J ohn Keneddy,

    Nelson Gonalves e dezenas poderiam ser citados.

    Temos tambm ao longo da histria da arte cnica muitos que se

    preocuparam do ponto de vista da criao de uma voz esttica (voz cnica), a

    preocupao em trabalhar tecnicamente uma voz para se alcanar alguns

    objetivos artsticos, dentre eles podemos citar: Grotowski, Stanislaviski, Barba e

    outros.

    Do ponto de vista cientfico podemos tambm ressaltar alguns

    pesquisadores da voz, Hirano, Boone, Casper, Mara Behlau, Paulo Pontes e

    Edme Brandi. Neste ltimo grupo podemos citar alguns objetivos como o de

    decifrar os harmnicos de uma voz, a identidade vocal que cada um possui, as

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    estruturas e as modificaes no trato vocal que resultam em vozes to diferentes,

    e os problemas que marcam profundamente outras vozes. Muito estudo foi

    realizado e muitas perguntas foram respondidas. Como sabemos, a tecnologia e a

    pesquisa avanaram e cresceram muito no decorrer dos sculos, o que facilita

    hoje a compreenso daquilo que um dia foi uma incgnita, ou um mistrio a ser

    decifrado. Dos vrios meios de estudo, quero ressaltar a Fisiologia que uma

    cincia utilizada pela medicina e outras reas afins com o interesse de estudar as

    funes de determinados rgos do ser humano. possvel hoje encontrarmos

    livros sobre a Fisiologia da Voz. Temos uma outra rea de pesquisa que a

    Fonoaudiologia, que estuda o Sistema Fonador e o Sistema Auditivo para ampliar

    conhecimentos sobre a produo da voz, a audio e suas patologias, e como

    trat-las do ponto de vista fisiolgico. Atualmente essa abordagem Fisiolgica faz

    parte da clnica fonoaudiolgica: aprender como funciona para compreender como

    se encontra e como direcionar o tratamento vocal.

    Atravs do embasamento Fisiolgico possvel explicar ao paciente como

    seu Aparelho Fonador funciona, e isso o ajuda a entender como ser seu trabalho

    de reabilitao e como ele produzir voz aps essa conscientizao. Verifica-se

    um salto no prognstico da terapia: a compreenso por parte do paciente sobre

    seu aparelho fonador, permite a maior eficcia no tratamento da sua disfonia.

    Um dos fatores mais importantes desta forma de abordar que a

    conscientizao permite a cada um compreender que sua fisiologia nica, cada

    um possui a sua e, alm disso, cada um possui uma anatomia nica, o corpo

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    reage de forma nica, ento preciso que cada um compreenda o que seu corpo

    tem e o que ele pode oferecer de forma nica e singular. Ao tratarmos de Voz

    Potica essa conscincia ainda mais importante pois, a partir desse

    conhecimento e descoberta que se faro novas nuances em determinadas

    performances.

    Os principais componentes da Fisiologia Vocal podem ser assim descritos:

    1.2 Fisiologia Fonatria

    A respirao tem um papel fundamental na produo da voz, ela no serve

    apenas para realizar as trocas gasosas do corpo humano. A capacidade pulmonar

    estabelece ligao direta com a produo sonora. Porque? Entre outros fatores

    atravs da quantidade de ar inspirado e expirado que se d a produo da voz e

    da fala, sendo uma das partes principais da fonao.

    A integridade do Aparelho Respiratrio deve ser avaliada e bem cuidada, e

    essa deveria ser uma preocupao geral das pessoas, tanto para aqueles que no

    utilizam a voz profissionalmente como para os que a usam, proporcionando assim

    um fluxo de ar expiratrio suficiente para a voz cotidiana e extra cotidiano,

    atravs dessa capacidade respiratria que se d o incio do trabalho vocal,

    podemos dizer que o ar expirado a matria-prima do falante.

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    Atravs da quantidade de ar que cada um armazena que ser trabalhada

    a voz; articulando a voz obteremos a fala utilizada para a comunicao. O que

    acontece que a coluna de ar que se ajeita para sair atravs da laringe, realiza

    uma presso nas pregas vocais que se unem quando o falante tem a inteno de

    produzir a voz, e no apenas inspirar e expirar. Quando o ar passa pelas pregas

    vocais produz uma vibrao nelas, promovendo movimentos ondulatrios da

    mucosa das pregas vocais que chamamos de bordas livres; essas ondas emitem

    o som que amplificado pelos rgos ressoadores (caixa torcica, boca, nariz,

    seios da face).

    Ento, para iniciar a fonao necessrio que as pregas vocais

    (popularmente conhecidas como cordas vocais) localizadas na laringe

    (figuradamente falando, podemos usar a imagem de um tubo de pvc comprido),

    se aproximem, ou seja, que realizem o movimento de aduo. Nesse momento, o

    ar expirado proporciona uma presso direta nas pregas vocais que resiste a sada

    desse ar, produzindo as vibraes das pregas vocais resultando um som que

    amplificado pelos rgos ressonadores e que ns chamamos de voz falada. Para

    que a fonao ocorra novamente necessrio que as pregas vocais se separem,

    ou seja, que elas abduzam para que possa haver o reabastecimento do fluxo de ar

    atravs da inspirao e o processo comea novamente no incio de uma nova

    expirao.

    O momento em que as pregas vocais se unem, chamamos de coaptao.

    Essa unio se d pela sincronia dos msculos responsveis pela aduo e

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    abduo, geralmente eles trabalham em parceria, o que necessrio para uma

    boa qualidade vocal, pois nesse momento que o som produzido na laringe.

    1.2.1 Sonorizao: Brandi explica sonorizao da seguinte forma:

    Consiste em transformar ar expiratrio em som...

    Com a inteno de falar, de produzir som, as

    cordas vocais se aproximam (ou tentam se

    aproximar) da linha mediana da glote (posio

    fonatria). Essa aproximao pode ser

    adequada, percebendo-se o incio da

    sonorizao como suave, ou inadequada. 4

    O que se assemelha com os estudos realizados por Moore (1938)

    que observou e classificou como ataque simultneo o que seria mais adequado

    na voz falada cotidiana, e para Brandi sua classificao tem o mesmo objetivo de

    funcionamento mas se classifica como sonorizao inicial adequada. Seguindo

    ainda nos estudos de Moore temos o ataque vocal aspirado observando que o ar

    expirado comea a sair antes que a coaptao seja completa, ou seja, antes que

    a aduo (aproximao) termine. Permitindo um escape de ar muito grande, o

    que impede o falante de sustentar suas frases, e por ltimo temos o ataque vocal

    brusco caracterizado por uma aduo rpida e completa das pregas vocais

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    antecedendo a fonao, gerando uma tenso muscular exagerada, o que exige

    que a preso infragltica (sada do ar) seja aumentada para romper essa tenso

    e poder realizar a fonao.

    Ainda para Behlau (1995), ataque vocal a maneira como se inicia

    o som e est relacionado configurao gltica no momento da emisso. Ela

    classifica tambm de trs formas, a primeira seria ataque vocal isoscrnico, que

    pode ser chamado tambm de ataque vocal suave ou normal (fisiologicamente

    equilibrado), pois no apresenta tenso em excesso ou perda de ar na fonao,

    o segundo seria ataque vocal brusco apresentado tenso em excesso no

    momento da coaptao das pregas vocais resultando um som explosivo e em

    contrapartido o terceiro ser ataque vocal aspirado que reflete uma aduo das

    pregas vocais insuficiente sendo as pregas vocais pouco resistentes sada de

    ar na fonao.

    Muitas vezes essa maneira de iniciar a produo da voz tem conseqncias

    mais srias para a sade vocal, pois reflete em um esforo persistente para a

    realizao da voz falada, podendo com o tempo acarretar problemas patolgicos,

    como por exemplo os ndulos vocais. Para uma produo vocal menos agressiva

    e nociva a voz. Indica-se o ataque vocal simultneo ou isocrnico, pois trabalha-se

    em harmonia com os msculos da respirao e das pregas vocais o que propicia

    um melhor rendimento vocal, mas essa uma viso fonoaudiolgica para o

    tratamento de disfonias e de preveno de um modo geral.

    4 Edme BRANDI. Escalas de Avaliao da Voz Falada, p.44.

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    esse tipo de produo vocal que encontramos geralmente na voz do

    cotidiano. Ao falarmos de voz extra cotidiano a orientao pode no ser

    exclusivamente essa, pois o ator pode e deve se apropriar das vrias formas do

    ataque vocal. Porm, interessante ressaltar a observao que, tanto o ataque

    vocal aspirado, quanto ataque vocal brusco podem contribuir na composio

    artstica. Mas para isso, o ator necessita compreender seu aparelho fonador e

    como ele funciona para obter controle consciente de sua produo vocal, a

    compreenso fisiolgica da voz lhe dar uma base tcnica deste tipo de produo

    vocal.

    Ento a Fonoaudiologia est trabalhando para a ampliao e no na

    limitao da produo vocal. Preparar o ator para produzir a voz que o

    personagem demande. Produzindo uma voz orgnica, onde o corpo se envolva

    como um todo, voz e corpo numa s carne, e no uma voz mecnica, isolada,

    quem trabalha os componentes isolados, ou faz esforos separados, costuma

    apresentar maior desgaste fsico e emocional: o trabalho deve ser do conjunto.

    1.2.2 Produo vocal e a laringe: podemos dizer de maneira geral que os

    sons agudos so produzidos por laringes pequenas, pois as pregas vocais

    de tamanho menor tem a capacidade de emitir sons mais agudos e a

    tessitura vocal varia do mdio para o agudo, no entanto os sons mais

    graves j so produzidos por laringes compridas, pois as pregas vocais

    possuem um comprimento mais longo o que favorece uma tessitura vocal

    de mdia para grave.

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    importante lembrar que o comprimento do trato vocal interfere na

    produo vocal seguindo esta mesma lgica, lembrando que se assemelha a um

    tubo: quando o tubo longo, o som produzido tende a ter freqncias mais baixas

    e quando o tubo mais curto tende a ter freqncias mais agudas. Essas

    caractersticas tambm auxiliam no momento das classificaes vocais na rea

    do canto por exemplo.

    1.2.3 Estrutura Corporal: muito comum encontrarmos determinadas

    vozes em determinados tipos fsicos como, por exemplo, um indivduo alto

    com o pescoo mais alongado cuja tendncia emitir uma voz grave em

    nvel de tessitura vocal, e por outro lado, aqueles de estatura baixa e

    pescoo largo que possuem uma voz com uma tessitura vocal de alcance

    mais agudo e tessitura ampla, potente como os tenores de pera, embora

    devamos lembrar que sempre existem excees.

    1.3 A VOZ

    A voz o som produzido nas pregas vocais. E que encontra amplificao

    no corpo do falante a partir da ressonncia.

    O controle ressonancial importantssimo na amplificao da voz, ou seja,

    ela contribui efetivamente no aumento do volume vocal. Quanto maior for o

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    desenvolvimento da capacidade de ressoar a voz no corpo, maior ser seu

    rendimento vocal, esse um recurso do qual o ator se beneficiar grandemente,

    podendo assim desenvolver procedimentos tcnicos que o auxiliem a descobrir as

    vrias formas de ressoar, modificando timbres e volume, utilizando padres que

    na produo da voz cotidiana ele no usaria.

    Dependendo da posio do trato vocal, novos sons surgem, novos

    harmnicos florescem, isso se d em funo de alguns movimentos que alteram a

    constituio natural do trato vocal de cada um, como por exemplo a constrio do

    trato vocal afeta toda a seqncia de formantes produzidos nessa configurao,

    modificando a fala cotidiana, h tambm alteraes dos formantes se alongarmos

    o trato vocal atravs da protuso dos lbios, o que aumenta o comprimento com

    aproximadamente 1cm, esse pequeno aumento perceptvel, dando-nos a

    sensao de que a voz est mais grave, Zemlim (2000), pode-se ainda elevar ou

    abaixar a laringe o que resulta na mudana da configurao do trato vocal e

    consequentemente temos modificaes nas freqncias da voz cotidiana.

    Temos alguns parmetros vocais que modificam a nossa voz que so:

    1.3.1 Emisso: a forma como se emite a voz e geralmente

    caracterizada pela tessitura vocal na qual o indivduo encontra maior

    conforto ao produzir sons e na forma de ressoar esse som, ou seja, qual o

    registro ou quais os registros que o falante utiliza para emitir a sua voz

    cotidiana. Segundo Belhau (1995), podemos dividir os registros em trs:

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    1.3.2 Registro Basal: referindo-se a voz com a tessitura mais grave;

    1.3.3 Registro Modal: que se refere a voz com tessitura mediana, que

    muito encontrada na voz falada cotidiana;

    1.3.4.1 Regist ro Elevado: que se refere as vozes de freqncias

    mais agudas. A emisso da voz extra-cotidiano pode se dar de vrios

    modos como, por exemplo o falsete.

    1.4 Sobre a Freqncia Vocal

    O aparelho fonador produz ciclos vibratrios das pregas vocais que variam

    de pessoa para pessoa conforme a sua constituio fsica, ou seja, tamanho da

    prega vocal em comprimento, tenso muscular e a massa por unidade de

    comprimento, esse mecanismo em funcionamento produz a freqncia

    fundamental, que mais conhecida como altura vocal ou extenso fonatria.

    Para cada indivduo existe uma zona confortvel de fala, onde a produo

    vocal natural e sem esforo, podemos denominar de freqncia natural ou ideal,

    Zemlim (2000).

    Na voz cotidiana a freqncia fundamental pode percorrer a extenso de 2

    a 3 oitavas, o que eqivale a tessitura vocal de cada um. No adulto jovem do sexo

    masculino a freqncia mais usada em torno de 130Hz podendo ser

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    considerada uma voz grave e nas vozes do sexo feminino essa freqncia sobe

    aproximadamente para os 220 Hz, ento a diferena seria em torno de 1 oitava

    acima, Zemlim (2000). Muitas vezes, encontramos a expresso sensao

    psicofsica relacionada freqncia, ou seja, como julgamos um som no que diz

    respeito a sua altura, considerando-o mais grave ou mais agudo, depende

    basicamente da freqncia fundamental desse som, embora haja tambm a

    influncia da intensidade da ressonncia.

    Tambm em algum momento poderemos ouvir a expresso Pitch que a

    correspondncia psicofsica da freqncia fundamental, podemos dizer que com a

    elevao da freqncia fundamental, o Pitch se torna mais agudo, a sensao que

    temos ao ouvir a voz que ela se tornou mais aguda.

    Mara Belhau afirma que: O uso determinado de um pitch tem relao direta

    com a inteno do discurso, de tal forma, por exemplo, que um clima alegre

    passado atravs de tons mais agudos, associados a maior gama tonal, nfase

    mais marcada e maior velocidade da fala (como contarmos algo que nos deixou

    felizes).

    Conforme Zemlim (2000) a freqncia fundamental pode ser subdividida em

    3 aspectos:

    1.4.1 Monofreqncia: que eqivale a uma voz de pouca variao do pitch

    durante a fala, pobre em inflexes e podendo s vezes ser por uma

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    incapacidade de produzir essas inflexes seja por carter neurolgico ou

    por caractersticas da personalidade (pessoas tmidas, muito calmas

    tendem a falar com pouca variao de pitch), ou em outros casos refletir um

    transtorno psiquitrico (depresso) ou psicolgico (menopausa,

    andropausa), a verdade que esse tipo de voz caracterizada por padro

    de fala montono independente da inteno do discurso. O falante no est

    preocupado com a sincronia que a fala articulada e a voz emitida devam

    ter.

    1.4.2 Freqncia inapropriada: caracterizado por uma voz que excede a

    extenso de freqncia relativa a idade ou sexo, por exemplo, um adulto

    que apresenta uma freqncia prxima a voz aguda da criana.

    Clinicamente falando e sendo ela especialmente do sexo masculino,

    podemos afirmar que durante a sua muda vocal algo no ocorreu

    normalmente, ou seja, sua fisiologia e anatomia referentes a idade infantil

    permaneceram a mesma depois da puberdade, o que no deveria ter

    acontecido, pois a voz amadurece da mesma forma como nos

    desenvolvermos e nos tornamos adultos.

    Temospor outro lado o uso inadequado de inflexes relativo inteno do

    discurso, simplesmente por que o falante no percebe essa desarmonia do

    discurso, e no v necessidade de trabalhar essas parmetros vocais, pois o

    modelo que o ensinou, ou seja, seu meio de desenvolvimento, sempre ofereceu

    esse padro de dinmica vocal. Quando temos esse tipo de caso, necessrio

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    um trabalho de discriminao auditiva primeiro, pois o que temos em grande grau

    de comprometimento o feedback auditivo que essencial para um trabalho

    vocal.

    1.4.3 Quebras de freqncia: so mudanas bruscas, inesperadas e

    incontrolveis variando do agudo para o grave. Esto ligadas ao perodo em

    que a laringe ainda est em crescimento, durante a fase da puberdade,

    estando relacionada principalmente ao sexo masculino no perodo da

    adolescncia, o que no exclu as vozes femininas passarem por este

    processo. Trata-se de um evento transitrio pois so alteraes fisiolgicas

    pertinentes idade, a exploso de hormnios alterando as vozes

    masculinas e femininas,, podendo em alguns casos estar ligado a

    problemas patolgicos, quando a parte fisiolgica sofre alguma alterao

    fora do padro do desenvolvimento, o que futuramente interferir na beleza

    esttica do discurso do falante.

    A freqncia fundamental tambm sofre modificaes conforme a mudana

    de massa da prega vocal, pois medida que a massa aumenta, a freqncia

    diminui, produzindo uma voz com o timbre mais grave; e o contrrio tambm, a

    diminuio da massa produz uma voz de timbre mais agudo.

    O importante para o profissional da voz, neste caso o ator ou futuro ator,

    conhecer qual o tipo de freqncia que a sua voz cotidiana utiliza e observar

    atentamente se essa no , em parte, a sua grande dificuldade na produo de

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    uma voz potica, de uma voz extra-cotidiano. Compreender a importncia deste

    mecanismo, proporciona a busca de elementos tcnicos que desenvolvam e

    aprimorem cada vez mais a utilizao das freqncias nas composies vocais.

    Para isso o profissional que o oriente deve possuir habilidades auditivas e

    conhecimento prvio dessas caractersticas vocais, para guiar o trabalho vocal

    nesse sentido e estimular a prpria percepo auditiva de cada um a ser

    trabalhado.

    1.5 Intensidade Vocal

    O aparelho fonador tambm capaz de produzir sons que variem de

    intensidade amplamente. Zemlim (2000) geralmente a intensidade relatada em

    decibis e em casos de conversao gira em torno dos 60 ou 65 dB. Numa pea

    teatral por exemplo a intensidade geralmente de 85 dB, ao produzir o grito ou

    uma projeo vocal mais forte a intensidade varia de 100 e 110dB, so algumas

    medies j realizadas para se ter uma idia, o que no confere um carter

    determinante.

    Belhau e Pontes (1995) e Zemlim (2000) comentam que a intensidade

    vocal um parmetro fsico e que a partir do aumento da presso do ar subgltica

    a intensidade aumenta, pois sons mais intensos so produzidos no momento que

    h maior resistncia das pregas vocais pois a musculatura envolvida deve

    apresentar maior constrio, o que facilita sons agudos terem maior intensidade.

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    A sensao auditiva que a intensidade desperta no ouvinte chamada de

    Loudness, ou seja, a uma sensao psicofsica deste parmetro vocal:, atravs

    dela determinamos um som forte ou fraco. Zemlim (2000) subdivide a intensidade

    em 2 modelos:

    1.5.1 Monointensidade: caracteriza a voz que possui pobreza na variao do

    loudness caracterizando-se como uma voz fraca, podendo estar

    relacionada a uma incapacidade voluntria, permeando traos de

    personalidade, estando ligada a caractersticas pessoais ou involuntrias,

    conseqncia de algum transtorno anatmico ou neurolgico ou ligada a

    transtornos psiquitricos.

    O falante que utiliza esse tipo de intensidade desperta no ouvinte a

    impresso de ser um indivduo introvertido, inseguro.

    1.5.2 Variaes de intensidade: o discurso est caracterizado por variaes

    extremas que vo do explosivo ao fraco. No existe um controle harmnico,

    as mudanas de forte para fraco ou fraco para forte, so realizadas de

    forma descontrolada e desordenada, no condizendo com a inteno do

    discurso, o que produz uma voz muito desagradvel. Por sua vez, o falante

    que se apropria desse tipo de intensidade apresenta dificuldades em

    manter a ateno dos ouvintes.

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    A compreenso desse parmetro vocal de extrema importncia ao ator,

    pois atravs dele ser explorada a capacidade de volume, ou seja, da potncia da

    voz que o ator possui no teatro, onde muitas vezes no existem recursos

    tecnolgicos para ampliao vocal. Dominando esse parmetro, poder se

    instrumentalizar e integr-lo a outras qualidades vocais para a aquisio da voz

    extra-cotidiano e aperfeioar a voz em sua funo potica.

    Falando de forma prtica, a intensidade tem relao com o volume

    respiratrio, velocidade do fluxo expiratrio e a ocluso glotal (momento que as

    pregas vocais se unem). Para que isso acontea, deve haver uma coordenao

    sinrgica dos movimentos. E podemos tambm dizer que, para uma boa

    intensidade, importante haver adequada ressonncia, controle sobre a

    freqncia vocal (altura tonal), e o prprio controle de cada um em se ajustar em

    determinados espaos acsticos.

    Lembrando-se sempre que embora esses itens sejam apresentados

    separadamente e a proposta de trabalho prtico geralmente aborde tambm cada

    um separadamente, isto realizado desta forma apenas com fim didtico, para

    melhor aprendizado e experimentao, mas que a unio destes parmetros vocais

    devem traduzir o trabalho final do ator, sua conscincia vocal se desenvolver

    melhor desta forma e a utilizao desses conhecimentos se far de forma nica,

    salvo casos em que haja uma proposta esttica de apresentar caractersticas

    vocais separadamente.

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    1.5.3 Ressonncia Vocal

    A ressonncia responsvel pela amplificao do som que produzido

    pelas pregas vocais, tornando o som audvel e claro. Distribui-se nas cavidades

    oral e nasal e podemos ir mais alm dizendo que se espalha por toda parte ssea

    de nosso corpo.

    Encontramos vrias definies a respeito da ressonncia, segundo Sara

    Lopes (2004):

    A emisso do som muscular e sua anatomia ganha

    contornos nas alteraes dos canais por onde fluem

    livremente suas vibraes, na abertura eposicionamento da

    boca, nas possibilidades de encontros entre a lngua e o

    palato, no desenho dos lbios, ajudando a criar texturas,

    cores, timbres, em formas que a fontica chama de vogais,

    cujas caractersticas individuais decorrem de uma

    acomodao dos sons nas cavidades de ressonncia do

    corpo.5

    Observamos anteriormente que a freqncia o resultado da vibrao das

    pregas vocais. Sabemos que a vibrao necessita de um corpo que vibre para

    amplificar o seu som. Podemos usar como exemplo o violo e a sua corda, se a

    corda for tocada sem a ligao com o corpo do instrumento ela resultar em um

    5 Sara LOPES. Op. Cit., p.39.

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    som pequeno de pouca ressonncia, se por outro lado ela estiver presa ao corpo

    do violo teremos um som amplificado, ou seja, um som que vibra e ressoa dentro

    do corpo do instrumento. Paralelamente, a ressonncia do trato vocal ocorre de

    forma semelhante, pois existe uma vibrao sonora produzida pelas pregas

    vocais, que iro ser amplificadas, ou seja, sero ressoadas pelas cavidades do

    aparelho fonador, que so: faringe, laringe, cavidade oral (boca) , cavidade nasal e

    seios paranasais, que se encontram em nosso corpo. Assim, a relao corporal

    interferir diretamente na nossa ressonncia.

    A ressonncia pode variar e ser ampliada que o mais importante desta

    anatomia, pois o trato vocal ajustvel e varia de pessoa para pessoa. Cada um

    ressoa segundo o modelo que foi ensinado, o que geralmente se d atravs de

    imitao em primeiro lugar de seus pais os modelos mais prximos e depois as

    interferncias externas que surgem com o passar do tempo e desenvolvimento

    social.

    Levando em considerao tambm a imagem de que o trato vocal se

    parece com um tubo e que nesse tubo temos a presena da lngua na cavidade

    oral, que um corpo razoavelmente grande, dependendo da sua movimentao

    ela estar criando um obstculo e interferindo na produo desse som, podendo

    ser a constrio ou a interrupo a causa da modificao da ressonncia.

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    Conforme nos afirma Minifie (1973) citado por Boone (1994) sobre essa

    idia:

    Durante a produo de vogais, o trato vogal pode ser

    visto como um tubo tortuosamente moldado em uma

    extremidade (a abertura entre os lbios) e limitado na outra

    extremidade por um vlvula vibrtil (as pregas vocais) que

    exerce o efeito de fechamento o tubo na laringe. A geometria

    tridimensional deste tubo pode ser vu, faringe, mandbula,

    lbios, epiglote e laringe. Estas estruturas podem ser

    movimentadas individualmente ou em diversas combinaes.

    A combinao de estruturas que se move durante a

    produo de um som de fala particular determinar a

    configurao de trato vocal singular e, assim, o filtro acstico

    singular para aquele som. 6

    Temos tambm outra citao que afirma essa idia de mudana, Mara

    Behlau (1995):

    Pelas caractersticas das estruturas que compem esse

    sistema, a geometria tridimensional pode ser infinitamente

    modificada, de modo extremamente flexvel, durante a fala.

    O modo como realizamos essas manobras o responsvel,

    em grande parte, pelas caractersticas estticas de uma voz,

    6 Daniel BOONE. A voz e terapia Vocal, p.58.

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    embelezando-a ou no, tornando-a agradvel ou

    desagradvel, projetando-a ou no num ambiente.7

    Muitas vezes ento a ressonncia amplifica determinados sons e em outros

    ela amortece ou abafa. O equilbrio dessa utilizao acontece em alguns momento

    sem a percepo das pessoas, e s se do conta do contrrio quando escutam

    uma voz em desequilbrio ressonancial.

    O que seria uma voz em desequilbrio ressonancial? Uma voz

    extremamente nasalizada, muitas vezes conhecida como a voz do fanho ou

    fanhoso, muito popular em piadas. Por outro lado, a voz que no possu

    nenhuma ressonncia nasal predominantemente oral, chamamos popularmente

    de taquara rachada ou voz metlica, di aos ouvidos. Todos j experimentamos

    essas sensaes auditivas, que despertam sensaes de desconforto no ouvinte.

    importante ressaltar que as vozes que apresentam essas qualidade so

    trabalhadas na fonoaudiologia. Podemos afirmar que a busca da voz esttica se

    aproxima muito da busca de uma voz saudvel, pois buscamos um corpo em

    harmonia, embora nem sempre ele apresente essas caractersticas,

    principalmente para aqueles que o observam, porm aquele que a produz sabe

    exatamente aonde quer chegar e principalmente como chegar. Essas observaes

    se fazem num plano muito sensvel, onde os sentidos so estimulados e essa a

    7 Mara BEHLAU e Paulo PONTES, Op. Cit., p.66.

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    certeza da plena satisfao da funo da voz potica.

    O domnio da ressonncia acrescenta cada vez mais ao ator a sua

    instrumentalizao, na ampliao da voz extra-cotidiano. Ressoar a voz no corpo

    exige um conscincia corporal elevada e esse conhecimento corporal importante

    para que o ator tenha um preparo vocal constante e mltiplo, ou seja, no

    apenas uma preparao temporria para um determinado personagem, mas, uma

    organizao pr-para-ao, pois ela j faz parte do corpo, voz, mente,

    necessrio apenas buscar os elementos j adquiridos e organiz-los para a

    composio do personagem e da cena.

    1.6 A FALA

    A arte dramtica faz, essencialmente, apelo ao verbo falado.

    evidente. Para conserv-lo atravs do tempo, colocam-no

    escrito, mas, no momento em que se trata do poeta

    dramtico, no se deve cuidar da escrita mas das palavras.

    ento, com ritmo da frase, com o jogo das palavras breves,

    que a lngua falada penetra no peito dos homens. com sua

    virtude respiratria, com suadensidade plstica, que vogais

    e consoantes explodem nos coraes.

    Jean Louis Barrault

    A aquisio da fala um ato motor fino complexo, envolvendo outros

    sistemas ou at mesmo parte de outros sistema para sua realizao. Temos o

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    Sistema Respiratrio que parte essencial, como j vimos antes. Afirmamos que

    ele no apenas utilizado para as trocas gasosas. Temos tambm a participao

    do Sistema Digestivo, onde temos o uso tambm essencial para a fala que da

    boca, lngua, lbios, mandbula e dos dentes, e para controlar todos esses

    sistemas temos o Sistema Nervoso que determina as ordens para que cada um

    execute aquilo que se deseja realizar.

    Podemos considerar a fala um dos comportamentos mais refinados que o

    ser humano possui. Desde muito cedo ele comea a desenvolver essa habilidade

    e durante seu desenvolvimento ela vai sendo aperfeioada.

    A fala, para ser produzida, deve seguir uma seqncia de sons lgicos de

    uma determinada lngua para que se entenda o que o falante deseja comunicar.

    Para saber se estou falando da forma pretendida muito importante o

    feedback auditivo, ou seja, preciso ouvir o que est sendo dito. Atravs desse

    feedback o ator estar corrigindo e/ou aperfeioando seu modo de falar, ou

    melhor, a forma de articular as palavras, a explorao dotimbre, da ressonncia, o

    controle das pausas e o ritmo da fala, ampliando o valor esttico da voz e da fala.

    Temos que lembrar que o som larngeo no considerado fala, pois ele

    apenas uma fonte sonora, que varia de intensidade e de freqncia. Poderamos

    dizer de maneira simples que a fala a voz articulada. Mas segundo uma

    definio de Murdoch (1997):

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    A fala produzida pela contrao dos msculos de seu

    mecanismo, que incluem os msculos dos lbios, maxilares,

    lngua, palato, faringe e laringe, bem como dos msculos da

    respirao. Essas contraes musculares, so controladas

    por impulsos nervosos...8

    Isso significa que os sons que o aparelho fonador produz podem ser

    articulados na cavidade oral, atravs dos movimentos que a lngua, lbios,

    bochechas, mandbula e palato realizarem, para modificar o som produzido no

    momento da expirao, o que torna a fala compreensvel quando existe o desejo

    de se comunicar. Mas tambm possvel articular sons em uma voz com uma fala

    incompreensvel na qual a inteno e os sons produzidos so capazes de

    comunicar alguma idia, despertar alguma sensao, poderamos dizer:

    impressionar a quem ouve a ponto de faz-lo pensar, refletir. Isso faria parte da

    voz extra cotidiano e que considerada uma grande arte.

    1.6.1 Ar ticu lao

    Se fosse possvel isolar a laringe de algum modo, obteramos uma

    produo sonora to diferente da que ouvimos que seria parecida com um

    zumbido: esse som no o som que caracterizamos como fala. Os elementos da

    fala produzidos com a vibrao das pregas vocais so denominados sonoros,

    8 B. E. MURDOCH. Desenvolvimento da fala e Distrbios da linguagem, p. 01.

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    enquanto os que so produzidos sem a vibrao das pregas vocais so

    conhecidos como surdos, eles acontecem independentes das vibraes que as

    pregas vocais so capazes de produzir, eles precisam apenas da corrente de ar,

    que ao se encontrar com os articuladores como os lbios e a lngua, funcionam

    como vlvulas para bloquear o trato vocal; a liberao sbita deles produz um

    sopro de ar audvel.

    A articulao e suas possibilidades de experimentao pem a voz em

    movimento, as estruturas da boca alm de gerar os sons da fala podem alterar as

    caractersticas de ressonncia do trato vocal. Devido mobilidade dos lbios e da

    lngua a boca sem dvida a cavidade mais mvel e ajustvel da produo

    sonora. Temos tambm os dentes, o palato duro, o palato mole, as bochechas e a

    mandbula que tambm trabalham para que o som seja articulado e se transforme

    na fala que geralmente ouvimos. Cada um deles constitudo anatomicamente de

    msculos, e o trabalho realizado quando falamos de treinamento ou

    aperfeioamento articulatrio deve visar a conscincia desta musculatura: os

    exerccios sero direcionados para a musculatura articulatria. Alm do trabalho

    muscular importante que o ator saiba como emitir cada vogal e consoante da

    sua lngua falada, pois assim ele passa a associar os sons de cada fonema sua

    musculatura e configurao do trato vocal para produzi-los.

    Quando falamos de fala articulada muito importante tambm realar o

    feedback auditivo, pois muito difcil dizer alguma coisa do modo que se

    pretende, sem ouvir o que est sendo dito, no momento em que est sendo dito. O

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    feedback auditivo a via de monitorao, ou seja, de controle do falante, como

    se ele fosse o controlador, que ao perceber alguma distoro ou erro entra em

    ao sinalizando a necessidade de correo ou aperfeioamento. Ele

    responsvel por um boa articulao, inflexo, ritmo, velocidade e outros

    parmetros vocais.

    Na fala encontramos, alm dos rgos articulatrios responsveis pela

    compreenso da mensagem atravs de um desempenho lingstico, parmetros

    que podem e devem ser utilizados na fala, como: entoao, ritmo, velocidade e

    dinmica.

    1.6.2 Entonao

    Atravs desse parmetro transmitimos sentimentos e intenes. como se

    houvesse msica no modo de falar, essa modulao no modo de falar que vai

    determinar a inteno para o ouvinte. A inflexo e a pausa possuem, tambm

    sem a palavra, fora de persuaso emotiva9. E podemos citar tambm

    Stanislavski A fala msica. A pronncia, em cena, uma arte to difcil como o

    canto. Exige treino e uma tcnica que beira a virtuosidade(...) Todo o ator deve ter

    uma pronncia e dico excelentes(...)10

    9 O. R. CRUZ. Teatro e sua tcnica, p. 31.10 C. STANISLAVSKI. Manual do ator Opus 86, p. 71.

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    Utilizar as pausas, pode ser produzido o silncio eloqente para o

    embelezamento da fala do personagem, fazendo a correspondncia do contedo

    da frase com a inteno vocal e a inflexo utilizada, trabalhando assim a

    psicodinmica vocal.

    1.6.3 Ritmo

    algo pessoal que acontece diferente com cada um na sua fala cotidiana, a

    melodia e as inflexes esto ligadas com o prprio ritmo de ser das pessoas,

    embora seja totalmente possvel entender o ritmo e trabalhar de forma a exercer

    um controle sobre ele na fala extra-cotidiana. No ritmo da fala vemos a

    importncia do controle respiratrio que tambm exerce influncia no prprio

    ritmo. Segundo Mara (1995) o ritmo da fala geralmente est ligado a capacidade

    de organizar as idias e permitir que os pensamentos fluam oralmente.

    O encadeamento das palavras e das frases ordenado e executado num

    ritmo que o falante pode exercitar ou ter a habilidade de pr-determinar. O ritmo

    mais fcil de ser percebido num texto potico onde muitas vezes a rima o conduz

    atravs da acentuao tnica das palavras, por isso, muito importante que o ator

    perceba sempre a poesia e a musicalidade das slabas, palavras, frases que se

    encontram na sua fala cnica. O ritmo o movimento da fala desenhada no

    tempo.

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    1.6.4 Velocidade

    Refere-se quantidade de palavras que o falante produz em determinado

    tempo influenciando a prosdia, ou seja, o ritmo da fala, caracterizando assim

    cada um num ritmo prprio e distinto dos demais falantes. A velocidade da fala

    tambm interfere na compreenso da mensagem. Ainda citando Behlau (1995)

    diz que geralmente do ponto de vista psicodinmico a velocidade lenta transmite a

    sensao de um pensamento lento, falha na organizao de idias deixando o

    ouvinte sem atrativos para ouvi-lo; j na velocidade rpida temos a sensao que

    o interlocutor no tem espao para participar, transmite a idia de tenso e

    ansiedade por parte do falante. Tanto o ritmo como a velocidade interferem

    diretamente na articulao.

    1.6.5 Dinmica vocal

    a habilidade que o falante possui em controlar as variaes na altura,

    intensidade, velocidade, ritmo e o prprio colorido da voz, e isso depende

    exclusivamente do domnio e do conhecimento que o falante tenha desses

    atributos vocais, que ao ser utilizado estar causando uma determinada impresso

    ao ouvinte. E o ritmo de grande importncia para a dinmica da fala, pois esses

    ajustes que daro a flexibilidade que a voz necessita para se tornar uma voz

    extra-cotidiano. E basta ajustar a dinmica da fala, da voz para determinada

    performance, podendo requerer uma dinmica excessiva ou econmica: havendo

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    o controle por parte do falante basta a ele e quem o dirige organizar a composio

    da fala da performance artstica.

    Os itens abordados acima, referem-se a caractersticas da fala

    merecedoras de destaque pois devem ser bem compreendidas e estudadas,

    pesquisadas e experimentadas, em funo da sua importncia na ampliao da

    voz cotidiana. O domnio de cada um dar ao ator bases para se instrumentalizar

    vocalmente.

    Faz-se necessrio relembrar que cada trabalho nico, cada ator singular

    dentro da sua multiciplidade. Isto nos mostra e afirma tambm que o aprendizado,

    a vivncia e o aproveitamento so nicos e singulares: raramente mais de um ou

    todos conseguem sentir, provar e aprender na mesma intensidade ou eficincia;

    para alguns mais fcil, para outros mais difcil, porm a disciplina e o trabalho

    compensam muitas dificuldades e superam grandes obstculos.

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    CAPTULO II

    PRODUO VOCAL DO ATOR

    2.1 Uma viso ampliada

    Ao nascermos somos guiados pelas nossas necessidades fisiolgicas,

    nosso corpo por natureza nada sabe precisamos adquirir, aprender

    conhecimentos para nos desenvolvermos e nos tornarmos adultos. Mas o que

    acontece e como acontece esse caminhar que muito importante na nossa

    histria corporal. E qual o interesse pela histria corporal se o trabalho destina-se

    a trabalhar a voz extra-cotidiano?

    So as impresses corporais que norteiam muito do nosso comportamento,

    nossas reaes. Nossa voz reflete as impresses, sensaes corporais. E quando

    falamos de pessoas que utilizam a sua voz como instrumento de trabalho o corpo

    inseparvel. J observaram informalmente como o corpo de muitas pessoas

    falam mais que a sua prpria voz?

    Quando falamos em aprender devemos primar por um aprendizado de

    dentro para fora, que utilize a vivncia, sensibilizao e conscientizao como

    ponte para o conhecimento. O aprender nos faz saber como utilizar nossas

    ferramentas, podendo muitas vezes no ser da melhor maneira possvel, ou at

    mesmo a mais estratgica. Mas importante que o indivduo conhea todas as

    suas possibilidades para poder utiliz-las para um determinado fim artstico.

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    Um lao funcional liga de fato voz ao gesto: como a voz, ele

    projeta o corpo no espao da performance e visa conquist-lo,

    satur-lo de seu movimento. O gesto contribu com a voz para

    fixar e compor o sentido. 11

    Retomo o exemplo dado no primeiro captulo sobre a preparao fsica que

    atleta e bailarinos possuem. Antes de saberem at aonde podem chegar eles

    precisaram explorar movimentos, formas corporais, horas de treinamento em

    busca de uma resposta, realizando assim um mapeado dos limites e

    potencialidades de seu corpo.

    Passaremos a explorar alguns pontos importantes num trabalho prtico,

    que visa trabalhar todos os itens j expostos no captulo anterior, procedimentos

    para realiz-los em sua totalidade para obteno de resultados plenos.

    2.2 CONTROLANDO A VOZ

    E vosso corpo a harpa de vossa alma;

    A vs pertence tirar dele msica melodiosa

    ou rudos dissonantes.

    Gibran Khalil Gibran

    11 Paul ZUMTHOR. A letra e a Voz, p.243.

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    Nosso corpo sendo um instrumento para o dia a dia produzir trabalhos que

    o dia a dia nos exige. Nosso corpo sendo comparado a um instrumento musical se

    torna um corpo profissional. A msica (voz) que ele produzir ser afinada e s

    vezes embelezada com alguns sons dissonantes, e a compreenso da emisso

    vocal permitir que o instrumento seja tocado plenamente.

    Como a minha voz? O que eu possuo de voz? O que eu posso fazer com

    a minha voz? Minha voz far tudo aquilo que eu desejo? O que no faltaria seriam

    perguntas a respeito do assunto. Respostas talvez faltassem: afinal, s possvel

    responder quilo que j conhecemos, experimentamos, e muitas vezes essas

    respostas esto em ns mesmos, na maneira como nos relacionamos com o

    mundo e com o outro, com o cotidiano e o extra-cotidiano, com a sala de ensaio e

    o palco...

    importante refletir numa questo simples: Eu me ouo? Quando falamos

    de som, msica, voz, podemos falar e opinar e discutir, porque ouvimos e nossa

    discriminao auditiva percebe elementos sonoros que me fazem pensar a

    respeito dessa produo. Produzir voz sem se ouvir impossvel. Controlar voz

    sem se ouvir mais difcil ainda.

    Todos passam pela a experincia de ouvir sua voz em alguma gravao e

    exclamarem: - Essa voz no minha! Eu no falo assim! E o sentimento de

    frustrao. Esse fenmeno ocorre porque o feedback auditivo acontece pela

    conduo area somente, e quando nos ouvimos falar ao vivo a via ssea

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    estimula nossas orelhas e alm desse som ns no percebemos conscientemente

    mas nosso corpo sseo esta vibrando nesse momento. Mas, apenas os sons

    transmitidos pelo o ar estimulam as orelhas de nosso ouvintes. Isso explica

    parcialmente porque as pessoas em geral ficam to chocadas quando ouvem pela

    primeira vez uma gravao de sua prpria voz. Do aparelho de registro o ouvinte

    ouve apenas os sons transmitidos pelo ar e, como alguns componentes de baixa

    freqncia produzidos pela laringe no so transmitidos pelo ar, ouvimos nossas

    prprias vozes de maneira muito mais potente e cheia do que aquela que

    aparece em nossos sistemas de registro. Outros fatores, como as diferenas de

    fase entre os sons conduzidos pelo ar e pelos ossos e diferenas no momento da

    chegada orelha, ajudam a aumentar as diferenas que detectamos na audio

    de nossa voz ao vivo e gravada.

    Essa uma observao importante de se fazer, pois o treinamento deveria

    ser tambm realizado com registros de gravaes, pois essa a voz que o ouvinte

    estar recebendo e responde aos estmulos sonoros. Trabalhar com o feedback

    do registro vocal torna a percepo auditiva mais aguada, o que instrumentaliza

    melhor o ator, pois passa a perceber sons que antes no percebia, podendo variar

    da articulao, emisso, ressonncia e a prpria inteno do discurso.

    Aqueles que utilizam a voz como instrumento de trabalho devem treinar a

    arte de ouvir a si mesmos, e somente aps esse treinamento que o profissional

    capaz de perceber, captar, compreender e reproduzir vrios tipos de sons vocais

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    articulados ou no. No podemos esquecer que as sensaes corporais trabalham

    juntas com a percepo auditiva e auxiliam a controlar a emisso dos sons.

    Essa tcnica de gravao, ou seja, de captao da voz do falante muito

    utilizada em clnica, pois a forma pela qual o paciente que apresenta alguma

    alterao vocal comea a ter conscincia da sua voz falada cotidiana e tem como

    orientao as caractersticas vocais sinalizadas para realizar as devidas

    modificaes, sejam elas de articulao, emisso, ressonncia, respirao,

    volume, intensidade, havendo sempre gravaes mensais para a comparao das

    modificaes vocais realizadas.

    Pensar e trabalhar atravs de uma viso ampliada nos leva a treinar nossos

    ouvidos antes de qualquer trabalho vocal. Essa a diferena dos trabalhos

    convencionais. A fonoaudiologia poderia ser a sinalizadora destas

    2.2 O CORPO

    Sabemos que o corpo humano muito complexo, porm, qualquer pessoa, de

    forma simples, capaz de falar de como ele constitudo: pele, msculos,

    tendes, nervos e etc. Para respirarmos o que precisamos? Nariz, boca, pulmes,

    abdome? E como eles funcionam? Como o meu corpo funciona? So perguntas

    simples mas que interferem diretamente no trabalho pessoal com a interveno de

    um profissional. A conscientizao e a sensibilizao possibilitam que o corpo

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    aprenda e, depois de um perodo, a cabea poder esquecer e, quando o corpo

    aprende, suas aes no se tornam mecnicas, sem vida, sem brilho e cheias de

    esforos involuntrios e voluntrios com o objetivo de realizao. Devemos nos

    lembrar que o caminho para a aquisio da fala, por exemplo, comea pelas

    mos, ou seja, pelo concreto. Aps a explorao do objeto com as mos, com a

    boca, com o olfato, com o corpo todo que a criana aprende a falar e a usar sua

    voz. A qualidade da voz e da linguagem de uma criana se d pela quantidade de

    experincias concretas e prazerosas que ela encontrou no seu dia a dia.

    Em qualquer exerccio devemos lembrar que o corpo a nossa ligao

    entre qualquer prtica proposta com o objetivo de trabalhar respirao, emisso,

    ressonncia, articulao e outros mais que tenham como objetivo exercitar a voz,

    cada um carrega uma bagagem que vem com o seu desenvolvimento.

    Temos tambm uma declarao de Sara Lopes que nos afirma essa idia:

    A voz experincia. Isto significa que a expresso vocal do

    indivduo est diretamente ligada s circunstncias de sua educao,

    da classe social e grupo cultural a que pertence, das vozes que o

    influenciaram e atravs das quais aprendeu a falar, do lugar onde se

    criou e onde vive, de sua constituio fsica, emocional e psicolgica,

    de seu universo imaginrio... E se voz experincia, na vida, ela

    tambm o ser na arte. O reconhecimento desse fator torna-se uma

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    chave para o trabalho vocal do ator e a explorao de suas

    possibilidades12.

    No meio de tantas experincias devemos nos lembrar que ele tambm sofre

    muitas agresses, problemas de sade fsica, problemas com a sade emocional,

    problemas profissionais, pessoais, seja qual for, ele gera tenses e muitas tenses

    principalmente em nossa coluna vertebral . Nossa coluna vertebral que nos

    sustenta em uma boa ou m postura, que interferir diretamente em nossa

    disposio fsica, humor, aparncia e tambm em nossa emisso vocal e o modo

    como articulamos: os sons que saem do nosso corpo so influenciados nestas

    situaes. Muitas das pessoas que se queixam de disfonias, apresentam uma

    postura inadequada, um corpo desarmonioso. necessrio reorganizao

    corporal-postural para um resultado mais satisfatrio na qualidade fonatria. E a

    maioria das pessoas que participam de uma terapia vocal se surpreendem ao

    saberem as relaes que o corpo e a voz possuem, pois num conceito coletivo

    muitos ainda vem seu corpo em partes, dividido, no percebem as relaes que

    rgos e membros interagem.

    2.3.1 LIBERANDO AS TENSES CORPORAIS

    Muitos profissionais, hoje, trabalham de vrias formas o corpo para liber-lo

    das tenses em que se encontra. Podemos falar de yoga, tai chi

    chuan, meditao, alongamento, tcnicas de fisioterapia, auto massagens,

    12 Sara LOPES. Op. Cit., p. 75.

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    conscientizao corporal, esvaziar a mente, concentra-se num som, vrias formas

    podem ser trabalhadas com o objetivo de aliviar as tenses. Na verdade no

    importa exatamente qual seja a tcnica utilizada pelo profissional, desde que ele

    saiba como faz-la, em que momento aplicar e para quem aplicar, e quando no

    aplicar. ao de induzir o cliente percepo e ao controle voluntrio dos seus

    prprios movimentos. Poderamos dizer que a preocupao deste trabalho est

    aqui, nesta ltima frase, pois o objetivo do exerccio deve se muito bem estudado

    e planejado, para que se d uma orientao com qualidade, trabalhando-se com

    princpios de ampliao e/ou aperfeioamento, estticos e preveno. Pode

    parecer redundante, mas a importncia de se conhecer e entender a forma correta

    de trabalhar seu corpo e perceber e compreender como ele responde a cada

    exerccio fundamental para o progresso do trabalho

    Quando falamos em liberar tenses corporais, temos que saber que as

    tenses geradas na coluna cervical e torcica comprometem a musculatura do

    abdome e da laringe. Se a regio cervical esta rgida, tensionada, a fonao est

    comprometida e o profissional da voz ter que realizar um esforo maior para sua

    produo vocal habitual. No final de um dia de luta para poder ser ouvido e

    entendido, sua voz estar cansada, agravada, sem brilho, transmitindo a quem

    ouve e v todo cansao de um dia de trabalho. Pensando assim, para algum que

    precisa atuar, estar tencionado significa passar horas competindo sonoramente

    sem foras fsicas necessrias para vencer, ou se vencer, poder ter sido no seu

    limite, e andar a beira do limite em uma constante no se traduz num bom

    prognstico ao profissional da voz. Nesses momentos nevrlgicos muitos no se

    do conta das perdas fisiolgicas lastimveis que suas vozes podem sofrer.

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    Saber como fazer e para que, ajuda a ampliar a conscientizao corporal

    pois partimos do ponto que o corpo fala. Como citado tambm por Paul Zumthor

    toda voz emana de um corpo, e este, numa civilizao que ignora nossos

    procedimentos de registro e de reproduo, permanece visvel e palpvel

    enquanto ela audvel 13. O voz muito mais concreta do que muitos pensam :

    ...fica estabelecido, ento, que voz corpo, num corpo vivo e cada uma de suas

    partes, capacitado a estabelecer relaes funcionais entre o esprito, a mente e a

    matria14.

    Mas o trabalho no se destina a dizer o que no se pode fazer mas como

    faz-lo dentro de uma criao artstica. Por isso essas questes esto sendo

    levantadas: elas abordam o como faz-lo, por isso a repetio se faz necessria.

    O conhecimento das prticas para a liberao de tenses cervicais, para o

    ator poderia ser considerado uma tcnica para a realizao de uma voz com

    tenso na composio de um personagem, pois sabendo como seu corpo se

    comporta possvel lanar mo destes conhecimento para o desenvolvimento de

    uma voz extra-cotidiano. Quando falamos de tcnica de relaxamento, para que a

    pessoa observe como est reagindo corporalmente em momentos de stress.

    Alguns comandos facilitam essa conscientizao, como: perceba o ritmo

    da sua respirao; sinta o peso dos seus ombros; permita a saliva descer

    13 Paul ZUMTHOR. Op. Cit., p. 244.14 Sara LOPES. Op. Cit., p. 22.

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    tranqilamente; pense em algo to leve como uma pluma e sinta seu corpo

    flutuar; mova-se com o ritmo da respirao. Muitas outras poderiam induzir a

    pessoa a auto-percepo e ao auto-conhecimento, instrumentalizando o ator para

    reproduzir em algum outro momento esse mesmo padro corporal que tenha

    como objetivo a realizao de uma voz produzida de um estado de stress na

    construo de uma performance.

    A relaxao condio indispensvel para a boa produo vocal. No

    entanto muito comum no momento que antecede a produo sonora o ator estar

    tensionado pela ansiedade da ocasio. Conscientizando-se, o ator ter uma

    autonomia que permitir relaxar-se em situaes de dinmica vocal. Como?

    Relembrando os exerccios que pratica, as tcnicas de relaxao que

    utiliza, porm de uma forma abreviada, ou reduzida, por exemplo: onde estiver, da

    forma que estiver, observar as tenses e contraes e buscar manter essas

    regies relaxadas pelo efeito contrrio das sensaes que possui; estando

    sentado ou em p, deitado, buscar observar as condies da mandbula, pescoo,

    ombros, e at a condio interna, havendo possibilidades um relaxante bocejo

    com suspiro aliviador que produz alvio s tenses da laringe, descomprime as

    pregas vocais, libera a emisso vocal, mantm o tom da voz.

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    2.4 RESPIRAO

    O Aparelho Respiratrio e a qualidade da respirao so muito importantes

    para aqueles que desejam usar sua voz como instrumento. Sabemos que a

    respirao resulta de movimentos autnomos, mas que podem ser voluntrios no

    decorrer do desenvolvimento e da necessidade. Podemos citar o exemplo de uma

    criana nova que mal aprendeu a andar direito e j est aprendendo a nadar: com

    o desenrolar das aulas ela se dar conta de como realizar determinados controles

    respiratrios at sincroniz-los no momento do exerccio e do percurso a ser

    percorrido dentro da gua, ela estar desenvolvendo uma respirao extra-

    cotidiano, ou seja, para nadar ela saber que sempre precisar mudar ou adequar

    o padro respiratrio para a arte de nadar, pois se ela mantiver as mesmas

    caractersticas respiratrias, decerto no ter uma boa performance ou se

    afogar.

    Estaremos abordando a importncia da respirao no processo da fonao.

    Para se obter o movimento respiratrio necessrio uma inspirao e uma

    expirao e cronometrado no perodo de 1 minuto realizamos de 16 a 18

    movimentos completos. Quando falamos de respirao fonatria, devemos

    lembrar que a inspirao se torna mais rpida para o reabastecimento e a

    expirao dever ser controlada e capaz de estender-se um pouco mais para

    poder realizar a produo vocal desejada.

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    Para se ter boa qualidade respiratria no momento da fonao

    necessrio: 1. Pulmes em pleno funcionamento; 2. Msculos intercostais

    realizando movimentos saudveis; 3. Boa tonicidade da musculatura abdominal

    que acompanha o diafragma.

    Tradicionalmente foi difundido por vrias dcadas que a melhor respirao

    seria a respirao diafragmtica: importamos esse termo dos professores de canto

    e deles prprios, os cantores, que passou a ser utilizada como regra de uma boa

    oratria, ou de um bom cantor. Aps pesquisas e estudos sabemos que seria

    muito ingnuo classificar a boa respirao apenas pelo nome diafragmtica, pois

    h muitos outros msculos envolvidos nesse ato neuro-motor. Falando dos tipos

    de respirao encontramos algumas referncias que dividem em 4 tipos bsicos:

    1. Clavicular (superior), 2. Mista (superior e inferior), 3. Abdominal (inferior) e 4.

    Diafragmtico-abdominal. Brandi afirma que a melhor respirao seria aquela em

    que h predominncia funcional da regio costodiafragmtica. Observe a frase:

    falamos de predominncia e no apenas de um tipo. Temos reconhecido o grande

    valor dos msculos intercostais na respirao e na produo tanto de voz falada

    como de voz cantada.

    Um observao importante e de grande valor que a respirao deve ser

    livre de qualquer esforo, inspirar e expirar devem ser aes prazerosas e

    relaxantes, no devemos fazer esforo para que ela se realize, pelo contrrio ela

    deve liberar as tenses, oxigenar nosso crebro, eliminar nossas impurezas.

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    A inspirao e a expirao para resultados fonatrios seguem as mesmas

    regras, deve ser livre de qualquer tipo involuntrio de esforo. Por que

    involuntrio? Pode acontecer do ator ter que desenvolver uma respirao ruidosa,

    tensa ou curta para a composio de um personagem ou para determinada

    performance, ele poder e dever realiz-la desde que saiba exatamente como

    a linguagem corporal para a realizao desse ato respiratrio. Desta forma ele

    controlar o ato voluntrio de respirar da maneira que for preciso. Como ele

    aprender? Tendo conscincia de como o seu corpo respira, no criando a idia

    de que a respirao est fora do corpo. A conscincia respiratria se torna

    concreta e controlvel em qualquer circunstncia, a partir de uma frase antiga:

    Conhece-te a ti mesmo. Para isso necessrio estudo, trabalho fsico e muita

    disciplina, qualidades essenciais a um ator. Liberar a respirao significa

    conscientizar-se.

    O ato de falar, ou melhor, a arte de falar, provoca mudanas grandes no

    ritmo respiratrio, e devemos buscar o mximo de aproveitamento neste momento

    para o desenvolvimento de uma voz profissional. A expirao se torna voluntria e

    mais longa, e as inspiraes mais breves para o reabastecimento a medida que a

    exigncia da produo vocal for se concretizando.

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    2.5 O ATOR E A VOZ EXTRA COTIDIANO

    A Fonoaudiologia em ao deve buscar capacitar o ator para que ele prprio

    tenha autonomia para desenvolver a voz que precisa para a sua criao artstica

    baseado em suas orientaes, que visa um ator para a independncia vocal.

    Permitindo que ele comece a questionar e buscar respostas para sua preparao,

    como por exemplo, que tipo de voz ele precisa, qual ser a melhor respirao,

    que ressonncia usar, como organizar a articulao e muitas outras vo surgir.

    Lopes (2004) comenta:

    O trabalho vocal que se desenvolve pela adoo e imitao

    de um modelo, por meio da repetio de formas acabadas,

    frmulas prontas, solues permanentes, limitado e torna-se

    limitador, quer seja proposto sobre si mesmo, quer seja na

    relao com uma linguagem. Percorrer esta via admitir que

    uma tcnica existe por si mesma, sem depender de um

    organismo vivo, consciente e dotado de imaginrio, que adote

    seus procedimentos e a construa em seu corpo, a seu modo,

    criando, pela matria que lhe prpria, a individuao da

    forma.15

    15 Sara LOPES. Op. Cit., p. 26.

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    Esta a essncia da idia de se desenvolver uma voz extra cotidiano, que

    o ator tenha liberdade, criatividade e subsdios para elaborar a sua prpria voz, a

    partir da suas prprias referncias, fsicas, emocionais, socioculturais.

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    CAPTULO III

    Atuao Fonoaudio lgica: Supor te Tcnico

    Das caractersticas vocais que abordamos, das definies que estudamos,

    poderamos dizer que essa seria uma viso panormica (simplificada) da voz

    normal? A Fonoaudiologia trata dos princpios de preveno, habilitao e

    reabilitao da voz, onde o objetivo a busca da voz equilibrada, ou seja, normal.

    Equilbrio e normal muitas vezes se confundem para definir o bom uso da voz.

    Ser que podemos classificar uma voz como normal? Afinal, o que normal?

    Segundo Casper (1996,):

    No h padres estabelecidos, e nenhuma fronteira

    de normas aceitas foi estabelecida. Tentarestabelecer tais

    padres pode ser comparado a definir o que constitui a

    aparncia normal. A voz, como aparncia, surge em tantas

    variedades. Fatores culturais, ambientais e individuais

    contribuem para a determinao do que designado como

    normal. E a voz, novamente como a aparncia, no

    permanece constante. Ela muda no transcorrer da

    durao de vida; ela muda em reao s emoes; ela

    muda em resposta ao ambiente; ela reflete o estado de

    sade do corpo e da mente. extremamente difcil, quando

    no impossvel, ter uma definio nica que abarcasse todos

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    os modos que uma voz normal pode soar. Normal no um

    estado nico, ao contrrio, existe em um contnuo 16.

    A parte grifada traduz uma essncia que muitos deixam passar

    despercebida, nossa voz ela pelo que somos e onde estamos. Sofrendo

    mudanas de vrios tipos dos quais devemos nos adequar para que tenhamos o

    prazer e a efetivao da comunicao.

    comum falarmos hoje em Voz Cantada, o que j traduz a diferena da

    Voz Falada que se d pelo prprio termo, mas dentro da Voz Falada, pode-se

    identificar a voz extra-cotidiano (fala espontnea), a voz profissional, que inclui a

    voz do ator. Mas como diferenci-las?

    Para explicar a Voz Falada no cotidiano, utilizarei a definio de Brandi

    (2002):

    Na fala, a voz percebida (ou deveria s-lo) como

    expresso do Eu. Logo, deve reproduzir da melhor forma

    possvel aquilo que a pessoa (voz liberada) oudeseja ser

    (voz conquistada). Isto refletir na qualidade da fala, que

    engloba a qualidade da voz e da expresso. 17

    Isso pode explicar porque muitos dos falantes possuem problemas de controle

    respiratrio, articulao, ressonncia, inflexes e emisso vocal, e no percebem

    16 Raymond COLTON e J anine CASPER. Compreendendo os problemas de voz, p. 206.

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    o problema. Suas preocupaes esto centradas em comunicar, em expressar

    aquilo que pensam e sentem, independente de o estarem fazendo da melhor

    maneira possvel quanto ao nvel de qualidade vocal e compreenso do seu

    discurso. No possuem a conscincia da importncia de trabalhar o Aparelho

    Fonador. Em vrios momentos sua fala est sujeita s variaes emocionais em

    que se encontra. As idias confusas, as emoes afloradas, o humor alterado,

    correspondem as alteraes vocais. Pois a boca fala do que o corao est

    cheio18 . Mas isso s deveria acontecer no momento em que as pessoas no

    esto utilizando sua voz profissional.

    Temos tambm a possibilidade de classificar a Voz Falada cotidiana em

    Voz Falada Espontnea, Brandi (2002):

    Muitos de ns utilizamos a mesma voz em toda e qualquer

    situao no decorrer de nossas vidas e no passa, na

    maioria das vezes, pela cabea das pessoas, que elas

    poderiam modificar sua voz ou, pelo menos, melhor-la, da

    mesma forma como melhoram aspectos da aparncia fsica

    atravs do trabalho corporal 19.

    Cada voz possui caractersticas pessoais que so adquiridas no decorrer da

    vida, o que nos permitia chamar essas caractersticas de timbre vocal ou nos

    termos mais atuais como qualidade vocal, eqivalendo-se nossa impresso

    17 Edme BRANDI. Educao da Voz Falada, p. 280.18 NTLH. Blbia Jovem, Lucas 6:45.19 Edme BRANDI. Educao da Voz Falada, p. 282.

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    digital. Essa constituio vocal se faz atravs dos ajustes motores da fala, ou seja,

    a forma como articulamos, respiramos, ressoamos, a tenso empregada na

    vibrao das pregas vocais, posicionamento da laringe, nossa constituio

    anatmica e fisiolgica. Soma-se ainda caractersticas psicolgica e scio-

    educacional que cada um adquire no decorrer da sua vida.

    Quanto relao especfica da Fisiologia da Voz com a arte do ator,

    observando sua trajetria de trabalho em relao concepo de um

    personagem, sabemos que, em muitos aspectos, seu aparelho fonador usado

    como um instrumento de trabalho.

    Da mesma forma que um atleta necessita do seu corpo para seu trabalho

    fsico, o mesmo acontece com o ator.

    Antes de tudo necessrio conhec-lo bem. Como reage a alimentao?

    Como reage as horas de treinamento? Como seu desempenho fsico diante do

    stress, a mudanas de clima, sob presso e outras variveis poderiam ser citadas.

    Quanto mais o atleta treinar, se exercitar com dedicao e disciplina, seu

    corpo vai superando seus limites ou suas dificuldades e se preparando tanto para

    provas de limites quanto para provas de resistncia. Qual o segredo? Preparo

    (trabalho muscular) e trabalho consciente.

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    Assim para o ator: quanto mais conhecer sobre seu aparelho fonador,

    quais os seus limites, quais as possibilidades de reverberao, de variaes de

    timbre, de ressonncia, de intensidade, de articulao, da psicodinmica vocal que

    pode alcanar para dar vida a um personagem, mais estar atingindo a grandeza

    da arte de interpretar.

    Um dos canais para aprender esses conceitos adquirindo um

    conhecimento simples, porm esclarecedor da fisiologia da voz, ou seja, de como

    a voz funciona, instrumentalizando-se para uma produo vocal potica.

    Bombardear o ator ou o estudante de artes cnicas com uma poro de

    definies e termos que falam sobre a voz e/ou a fala nem sempre a melhor

    forma de ensinar voz. Palestras geralmente visam o carter preventivo.

    Trabalhar a voz do ator deve demandar as necessidades reais da profisso.

    Produzir a voz no corpo. Voz potica. Voz sensvel. Voz segura. A fonoaudiologia

    deve visar esses itens para desenvolver uma viso e um trabalho ampliado,

    redimensionado. Para isso preciso tempo e disposio. Tempo para que cada

    informao seja sorvida pela mente e pelo corpo, chegando ao ponto de que cada

    gesto corporal e vocal esto todos em sintonia e sob o controle do indivduo.

    Disposio de ambos os lados, de quem ensina e de quem est aprendendo, pois

    talvez uma vez explicado no seja suficiente ento preciso explicar de novo e de

    outra forma e aquele que tenta realizar os exerccios talvez no alcance de

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    primeira, tentando uma, duas, trs e quantas vezes forem necessrias para a

    compreenso e a realizao da proposta.

    O fonoaudilogo e/ou preparador vocal deve tambm experimentar com

    cada aluno, cada ator suas propostas, observar cada um separadamente, para

    perceber a dinmica e o desenvolver corporal e vocal, estar em campo com ele

    e/ou eles, para tornar cada vez mais claras e concreta as suas informaes.

    Mantendo o olhar de fora como retorno na busca da voz extra-cotidiano

    caracterizando sua funo potica.

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    CONCLUSO

    Escrever, relembrar, tornar a escrever, observar, lembrar, so as formas

    que conduziram a escrita deste trabalho, com a inteno de proporcionar uma

    leitura fcil