Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física ... · como sinônimos – ou...

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Técnico em Biblioteca Albertina Otávia Lacerda Malta 2014 Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

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Técnico em Biblioteca

Albertina Otávia Lacerda Malta

2014

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação

Física do Acervo

Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Temer Ministro da Educação José Henrique Paim Fernandes Secretário de Educação Profissional e Tecnológica Aléssio Trindade de Barros Diretor de Integração das Redes Marcelo Machado Feres Coordenação Geral de Fortalecimento Carlos Artur de Carvalho Arêas Coordenador Rede e-Tec Brasil Cleanto César Gonçalves

Governador do Estado de Pernambuco João Soares Lyra Neto

Secretário de Educação e Esportes de

Pernambuco José Ricardo Wanderley Dantas de Oliveira

Secretário Executivo de Educação Profissional

Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra

Gerente Geral de Educação Profissional Josefa Rita de Cássia Lima Serafim

Coordenador de Educação a Distância

George Bento Catunda

Coordenação do Curso Hugo Carlos Cavalcanti

Coordenação de Design Instrucional

Diogo Galvão

Revisão de Língua Portuguesa Letícia Garcia

Diagramação

Izabela Cavalcanti

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 3

1.COMPETÊNCIA 01 | CONHECER UM PLANO DE CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO DENTRO

DE UMA UNIDADE DE INFORMAÇÃO.................................................................................... 5

1.1 Conceitos ........................................................................................................... 5

1.1.1 Preservação ..................................................................................................... 5

1.1.2 Conservação e Conservação Preventiva ........................................................... 6

1.1.3 Restauração .................................................................................................... 9

1.2 O Que é um Plano de Conservação Preventiva? ................................................ 11

2.COMPETÊNCIA 02 | PLANEJAR SOLUÇÕES PARA CASOS DE EMERGÊNCIA NUMA UNIDADE

DE INFORMAÇÃO ............................................................................................................... 13

2.1 Programa de Gerenciamento de Emergências .................................................. 14

2.1.1 Etapa 1 - Identificação de Riscos .................................................................... 14

2.1.2 Etapa 2 – Prontidão ....................................................................................... 16

2.1.3 Etapa 3 – Resposta ........................................................................................ 18

2.2 Tratamento Emergencial para Documentos Molhados ..................................... 19

2.3 Resumo da Estrutura do Programa de Gerenciamento de Emergências ............ 21

2.4 Normas Técnicas .............................................................................................. 22

3.COMPETÊNCIA 03 | MANTER A ORGANIZAÇÃO DO ACERVO DA BIBLIOTECA,

RESPEITANDO PRINCÍPIOS DE ERGONOMIA, COMUNICAÇÃO VISUAL, SINALIZAÇÃO,

DISPOSIÇÃO DE MOBILIÁRIO E ORGANIZAÇÃO DO ACERVO – CONSERVAÇÃO DO ACERVO

BIBLIOGRÁFICO .................................................................................................................. 24

3.1 O que é um Livro? ............................................................................................ 24

3.1.1 Uma Breve História........................................................................................ 24

3.2 Conservação de Coleções Bibliográficas ............................................................ 27

3.2.1 O Lugar de Guarda ......................................................................................... 27

3.2.2 Acondicionamento e Armazenamento ........................................................... 29

3.2.3 Manuseio e Traslado ..................................................................................... 30

3.2.4 Usuários ........................................................................................................ 32

3.3 Higienização de Livros ...................................................................................... 32

4.COMPETÊNCIA 04 | EXECUTAR UM PLANO DE CONSERVAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO

ACERVO ............................................................................................................................. 34

4.1 Etapas para Elaboração do PCP......................................................................... 34

Sumário

4.1.1 Etapa 1 – Dossiê ............................................................................................ 35

4.1.2 Etapa 2 – Diagnóstico .................................................................................... 39

4.1.3 Etapa 3 – Execução ........................................................................................ 42

4.2 Programas de um Plano de Conservação Preventiva ......................................... 44

4.3 Avaliação, Revisão e Continuidade.................................................................... 46

5.COMPETÊNCIA 05 | COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO DAS COLEÇÕES

DE OBRAS RARAS E ESPECIAIS SOB A CUSTÓDIA DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS –

COLEÇÕES DE FOTOGRAFIA ................................................................................................ 48

5.1 Breve História da Fotografia ............................................................................. 48

5.1.1 O que é Fotografia? ....................................................................................... 50

5.1.2 Quais os Processos Fotográficos Encontrados em Arquivos? .......................... 50

5.1.3 Do que se Compõe uma Fotografia? .............................................................. 52

5.2 Em que Consiste a Preservação de Coleções de Fotografia? .............................. 53

5.2.1 Organização da Coleção ................................................................................. 53

5.3 Conservação de Coleções de Fotografia ............................................................ 55

5.3.1 Regras para um Correto Manuseio de Coleções de Fotografia ....................... 55

5.3.2 Deterioração de Fotografias .......................................................................... 58

5.4 Limpeza e Higienização ..................................................................................... 60

5.4.1 Limpeza de Emulsões..................................................................................... 61

5.4.2 Limpeza de Suporte em Papel ou Cartão........................................................ 62

5.5 Acondicionamento, Embalagens e Arquivamento ............................................. 63

5.6 Como Evitar a Deterioração de Coleções de Fotografia ..................................... 66

CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 68

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 70

MINICURRÍCULO DO PROFESSOR ....................................................................................... 74

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Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

INTRODUÇÃO

Caro (a) aluno (a), a disciplina Preservação, Conservação e Recuperação Física

do Acervo tem como objetivo fornecer informações básicas para a adoção de

um conjunto de ações simples e eficazes que visam prolongar a vida útil dos

acervos, com o objetivo de salvaguardar o patrimônio histórico e artístico.

A fragilidade dos materiais, as agressões climáticas, o manuseio inadequado e

outros fatores aceleram a deterioração de livros e documentos em geral,

trazendo à tona a preocupação permanente com a preservação e conservação

desses suportes, um legado que temos por obrigação deixar para as gerações

futuras (LAGO, FLORÊNCIO, COUTO, 2005).

Antes de iniciarmos nosso aprendizado é importante entender o que é o

patrimônio cultural e porque a humanidade, ao longo dos séculos, se esforça

tanto para preservá-lo. Patrimônio é uma palavra de origem latina,

etimologicamente ligada às estruturas familiares, à herança paterna, que ao

longo dos séculos desdobra-se em significados jurídicos e econômicos,

aportando na ideia de pátria, de nação, de lugar em que nos reconhecemos

como parte de um todo, de uma continuidade (CHOAY, 2001).

Patrimônio Cultural é o que herdamos de nossos antepassados, é o que nos dá a

noção de pertencermos a uma coletividade. Podemos dizer que almejamos

conservá-lo porque queremos preservar a nós mesmos como o povo de um

determinado país ou lugar.

As aulas aqui apresentadas fornecem conhecimentos para que as instituições

detentoras de acervos possam enfrentar o desafio de preservar suas coleções.

Entendemos que isso será possível apenas por meio do aprimoramento das

atividades realizadas por seus funcionários, buscando a correção de algumas

práticas e a sensibilização para a mudança de atitudes na gestão do

patrimônio cultural.

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Técnico em Biblioteca

Por fim, queremos agradecer a Antonio Carlos Montenegro, servidor da

Fundação Joaquim Nabuco, por partilhar seus conhecimentos e sua valiosa

experiência acerca do tema Conservação Preventiva, possibilitando nortear e

estruturar os conteúdos das competências.

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Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

As instituições memoriais têm o

objetivo de preservar e difundir

seus acervos na perspectiva de uma

ampla democratização da

informação e devem se constituir

em elos de um sistema memorial (GALINDO, 2010).

Competência 01

1.COMPETÊNCIA 01 | CONHECER UM PLANO DE CONSERVAÇÃO E

PRESERVAÇÃO DENTRO DE UMA UNIDADE DE INFORMAÇÃO

1.1 Conceitos

Para uma melhor compreensão do plano de conservação de acervos, ou,

como também é conhecido, um Plano de Conservação Preventiva, é preciso

entender o significado de alguns conceitos com os quais vamos conviver ao

longo do curso. Vamos procurar saber o que é preservação, conservação,

conservação preventiva e restauração. Alguns desses termos têm sido usados

como sinônimos – ou como equivalentes – quando, na verdade, designam

programas, atividades e ações diferentes, mas articuladas e complementares.

1.1.1 Preservação

1.1.1

Conway nos ensina que preservação é:

(...) uma palavra que envolve inúmeras políticas e

opções de ação, incluindo tratamentos de conservação.

Preservação é a aquisição, organização e distribuição de

recursos a fim de que venham a impedir posterior

deterioração ou renovar a possibilidade de utilização de

um seleto grupo de materiais (CONWAY, 2001, p. 14).

Preservação, portanto, trata de ações abrangentes no âmbito institucional,

isto é, ações de gestão — planejamento, captação e alocação de recursos

financeiros, humanos e tecnológicos. Hollós (2010) complementa esse

conceito afirmando que o termo preservação passa a conter um significado

ainda mais amplo, sendo reconhecido como uma disciplina de arquivo com

caráter multidisciplinar.

Adicionalmente, a preservação exige a criação das instituições de memória,

nas quais os registros da memória podem ser guardados e organizados de

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Técnico em Biblioteca

forma racional, não como vestígios documentais isolados, mas como

conjuntos documentais capazes de “permitir captar a intencionalidade e o

simbolismo do corpo social ao registrar seu passado” (VON SIMSON, 2000,

p.4). As instituições de memória são as bibliotecas, os museus, os arquivos e

demais instituições que desenvolvem atividades baseadas nos registros do

passado, representados pelos acervos históricos.

1.1.2 Conservação e Conservação Preventiva

Conservação e Conservação Preventiva são dois termos que andam juntos,

mas não são a mesma coisa. As ações de conservação se dirigem diretamente

ao objeto, nele interferindo, mas sem alterar o estado físico ou estético.

Podemos entender, assim, que a conservação é uma ação que visa

interromper um processo de degradação, sendo dirigida a cada unidade que

compõe a coleção.

Figura 1 – Conservação de livros Fonte: Blogspot.com.br/ (2013)

Por exemplo, se imaginarmos que os livros de uma biblioteca encontram-se

muito empoeirados e que a poeira, em razão dos seus componentes físicos e

químicos, irá acelerar o processo de degradação do papel, torna-se necessário

o planejamento e a execução de uma ação de conservação que consistirá,

basicamente, na higienização de cada livro da coleção.

Já a Conservação Preventiva, como o próprio nome diz, procura se antecipar

Competência 01

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Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

aos problemas, identificando e minimizando as causas que provocam a

degradação dos materiais. A Conservação Preventiva procura também

conhecer a coleção e nela atuar como um todo, entendendo-a como um

conjunto de elementos – os objetos de um museu, os livros de uma biblioteca

– que recebem interferências de toda ordem, inclusive, entre si mesmos.

No exemplo acima, no qual a coleção de uma biblioteca necessitou ser

higienizada, a ação de Conservação Preventiva seria estudar o lugar no qual os

livros estão estocados de modo a identificar a causa da sujeira – uma porta

voltada para uma rua sem calçamento, por exemplo –, e propor ações para

remover ou minimizar essa causa.

Figura 2 – Embalagem de proteção Fonte: Wordpress.com (2013)

Identificar, dirimir ou mesmo anular as causas da degradação dos materiais,

portanto, são os objetivos principais da Conservação Preventiva. E quais são

essas causas? Uma parte delas se encontra na própria natureza, outra na ação

humana. Muitos especialistas denominam estas causas de agentes

aceleradores da degradação dos materiais porque entendem que o processo

de degradação é natural, isto é, intrínseco à natureza das coisas.

O quadro a seguir resume quais são estes agentes. Classifica-os de acordo

com sua origem (da natureza ou da ação humana) e os comenta.

Competência 01

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Técnico em Biblioteca

AGENTE COMENTÁRIO

NA

TU

RA

L

Clima: temperatura, umidade do ar, luz solar.

Pragas, insetos e micro-organismos

Desastres naturais

O ambiente em que se encontram interfere de forma permanente no estado físico dos objetos. Variações de temperatura e umidade provocam alterações na estrutura molecular dos materiais. A proximidade de uma fonte natural de umidade, calor ou frio — uma floresta, um rio, o mar — pode alterar esses fatores climáticos. O sol emite uma gama de raios — Raios UV e infravermelhos — que atacam diretamente os materiais, alterando irreversivelmente sua estrutura física.

Os materiais de origem orgânica — papéis, madeiras, tecidos — que compõem os livros, por exemplo, são alimentos para roedores, xilófagos e micro-organismos (fungos e bactérias).

Enchentes, tempestades, terremotos e maremotos são motivos de constante preocupação não só para os acervos. Em nossa região, felizmente, devemos ter atenção especial apenas com as enchentes e tempestades.

ÃO

HU

MA

NA

Iluminação artificial

Poluição

Uso indevido

Sinistros

Roubo e vandalismo

A iluminação artificial emite os mesmos raios da luz solar, embora em grau inferior. Entretanto, em razão da proximidade e do tempo de exposição, os danos causados são os mesmos.

A sujeira, a poeira e os gases emitidos por inúmeras fontes – trânsito, automóveis, fábricas — depositam-se sobre os objetos atacando sua estrutura molecular.

A proximidade de uma fonte importante de poluição — uma fábrica — pode determinar índices significativos de poluição.

O desconhecimento, ou o não atendimento, de algumas regras básicas para o manuseio e o uso cotidiano dos acervos pode provocar danos ao objeto.

Incêndios e acidentes com instalações do edifício — elétricas, hidráulicas e outras — são, na maioria das vezes, provocados pelo uso inadequado, precariedade ou falta de manutenção.

O interesse financeiro escuso, o tráfico ilícito de obras, os baixos níveis de educação estão na base destes tipos de agressão aos acervos.

Quadro 1 - Principais agentes aceleradores da degradação dos materiais Fonte: autora (2013)

O quadro acima não esgota as possibilidades de existirem outros agentes ou

Competência 01

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Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

fatores de degradação, pois estamos tratando da natureza e da ação do

homem, ou seja, estamos tratando da própria vida e de suas infinitas relações.

Um aspecto importante é que todas as causas e fatores são interdependentes

e interagem em todas as direções. Ou seja, em exemplos bem comuns: 1) a

alta umidade favorece sobremaneira o surgimento de fungos; 2) a sujeira atrai

insetos e roedores. Por isso, devemos entender a Conservação Preventiva

como um conjunto de atividades abrangente que visa combater as causas da

deterioração dos acervos em todos os seus aspectos ao mesmo tempo.

1.1.3 Restauração

Finalmente, para concluirmos esta parte das conceituações, vamos entender

o que é restauração. A restauração é constituída de intervenções mecânicas e

químicas com a finalidade de revitalizar o estado físico de um bem cultural e

resgatar seus valores históricos e artísticos. Em virtude do alto grau de

complexidade e de risco que pode apresentar, a restauração deve ser feita

apenas por especialistas e em casos muito especiais (CASSARES, 2000).

Figura 3 – Restauração de livro Fonte: Blogspot.com.br (2013)

Cesare Brandi define o conceito de restauração como sendo “qualquer

intervenção voltada a dar novamente eficiência a um produto da atividade

humana” (BRANDI, 2004, p.26). É uma conceituação interessante, pois remete

à funcionalidade do objeto a ser restaurado. Uma intervenção de restauro de

Competência 01

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Técnico em Biblioteca

Um Plano de Conservação Preventiva se preocupa em

estudar todos os aspectos da

instituição que, direta ou

indiretamente, possam ter

influência nas condições físicas do acervo para

elaborar os programas e

atividades que enfrentem as

situações de risco que eles podem

gerar.

um livro, por exemplo, deve objetivar, sobretudo, que ele possa ser

novamente fonte de informação e de conhecimento, sua função original.

Outros aspectos a serem considerados quando analisamos o planejamento de

uma intervenção de restauro: a) que os processos de restauração fatalmente

modificam o objeto tratado e, se não forem adequadamente executados,

podem provocar danos maiores do que o problema que se quer combater; b)

que uma ação de restauração sempre representa longos prazos e altos

valores, pois requer profissionais, equipamentos e materiais especializados; e

c) que a restauração intervém apenas nos efeitos, não tratando as causas da

degradação, pois, as causas muitas vezes são externas ao objeto. O quadro a

seguir nos dá uma síntese do que vimos até agora.

PRESERVAÇÃO

Conjunto de ações institucionais de gestão e planejamento, concretizado através da captação e alocação de recursos financeiros, físicos, humanos e tecnológicos com a finalidade de promover a permanência do patrimônio cultural.

CONSERVAÇÃO PREVENTIVA

Atividade que procura identificar as causas que promovem o aceleramento da degradação dos objetos e mitigar ou mesmo remover essas causas. É uma atividade permanente.

CONSERVAÇÃO

Atividade que deve ser planejada e executada sempre que os objetos apresentem sinais de aceleração do processo de degradação, seja ela causada por agentes naturais ou danos causados por eventos de qualquer origem. É uma atividade rotineira.

RESTAURAÇÃO

Ação que deve ser planejada e executada sempre que o grau de degradação alcance um estágio no qual a integridade física do objeto está em risco. O objetivo principal é devolver a funcionalidade perdida ao objeto. É uma atividade pontual.

Quadro 2 - Conceitos: preservação, conservação preventiva, conservação e restauração Fonte: autora (2013)

Em virtude da diversidade e quantidade de problemas que os acervos podem

apresentar, é consenso entre especialistas – e o próprio bom senso aponta

para essa direção – de que é através da conservação preventiva que as

instituições podem proporcionar uma efetiva proteção a grandes volumes de

Competência 01

11

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

acervo. Outro consenso é que os investimentos em conservação preventiva

serão sempre bem menores que os investimentos em restauração.

1.2 O Que é um Plano de Conservação Preventiva?

Vimos que os especialistas concordam que só através das atividades de

conservação preventiva é possível promover a preservação de grandes

volumes de acervo. Sim, porque seria uma tarefa sem fim executar programas

ou atividades de conservação e restauração sem que procurássemos resolver

as origens dos processos de degradação. Para que possamos nos utilizar dos

métodos e técnicas da conservação preventiva de forma efetiva, torna-se

fundamental elaborar e implantar um Plano de Conservação Preventiva na

instituição.

Durante o Curso Regional de Programação da Conservação Preventiva em

Instituições, promovido pelo ICOM – Conselho Internacional de Museus,

órgão da UNESCO, realizado em Havana em setembro de 2000, define-se o

que é um Plano de Conservação Preventiva, como sendo: a concepção,

coordenação e execução de um conjunto de estratégias sistemáticas

organizadas no tempo e no espaço, desenvolvidas por uma equipe

interdisciplinar com o consenso da comunidade, a fim de preservar,

resguardar e difundir a memória coletiva no presente e projetá-la para o

futuro para reforçar a sua identidade cultural e elevar a qualidade de vida.

Ou seja, o Plano de Conservação Preventiva (daqui por diante chamado de

PCP) é um conjunto de atividades que visa: a) identificar as causas da

degradação dos materiais que constituem os objetos do acervo, no caso das

bibliotecas, principalmente o papel, mas também uma série de outros

materiais; b) projetar e implantar soluções para eliminar estas causas,

quando isso é possível, ou dirimi-las, diminuindo seu impacto; e c) monitorar

e manter os diversos sistemas de proteção ao acervo.

Na Competência 04 estudaremos como elaborar um PCP, as etapas e

Competência 01

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Técnico em Biblioteca

elementos necessários para que ele se constitua numa ferramenta capaz de

determinar a melhoria das condições físicas do acervo. O alcance de seus

objetivos pode estar resumido numa ideia: antecipar-se aos problemas para

que possamos combater suas causas de forma efetiva. No momento é

suficiente conhecer alguns desses programas, relacionados a seguir:

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO DE PESSOAL

Trata de capacitar as equipes da instituição para desenvolver e executar o PCP.

PROGRAMA DE PREVENÇÃO E SEGURANÇA

Trata dos riscos relacionados a roubo, vandalismo, enchentes, incêndio (antes dos eventos terem ocorrido), etc.

PROGRAMA DE RISCOS E EMERGÊNCIAS

Trata dos danos relacionados a enchentes, incêndios, etc. (após o evento ter ocorrido).

PROGRAMA DE CONTROLE AMBIENTAL

Trata de adequar as condições climáticas relativas à temperatura, umidade do ar e luz (natural e artificial).

PROGRAMA DE CONTROLE DE PRAGAS

Trata de planejar e executar ações contra infestação por insetos e animais.

PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO

Trata de realizar as intervenções de restauração e conservação quando necessárias.

Quadro 3 – Principais programas de um PCP Fonte: autora (2013)

É um conjunto de programas como esse que compõe o PCP. A elaboração e

execução de cada um deles de forma adequada, harmoniosa e articulada é um

pressuposto para o sucesso do Plano. Claro que os programas acima

relacionados se referem a uma situação hipotética. Ao tratarmos de

instituições reais, a relação de programas poderá se alterar conforme as

características de cada instituição.

Para finalizar, um alerta que devemos faze: esse estudo não trata da

viabilização financeira e administrativa de um PCP. Entendemos que essa

questão extrapola os objetivos desta disciplina, sendo mais afeita às ações da

política de preservação da instituição, pois o PCP é parte integrante de um

processo mais amplo para o funcionamento de uma instituição memorial: a

Política de Acervos.

Competência 01

13

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

2.COMPETÊNCIA 02 | PLANEJAR SOLUÇÕES PARA CASOS DE

EMERGÊNCIA NUMA UNIDADE DE INFORMAÇÃO

Num Plano de Conservação Preventiva, a prevenção contra riscos é parte

fundamental. Na maioria das vezes, as instituições não estão preparadas para

agir de forma satisfatória em caso de emergência e muito menos possuem um

plano de prevenção para situações de risco. Inundações, incêndios e outros

desastres ocorrem de forma frequente e é triste constatar que as instituições,

de um modo geral, só tomam conhecimento das vantagens da prevenção de

emergências depois de sofridas experiências desastrosas para o patrimônio

memorial. As situações emergenciais mais comuns em unidades de

informação estão relacionadas aos seguintes fatores de risco: água, fogo e

vandalismo (ou roubo).

Figura 4 – Incêndio do Pilão, casarão histórico de Ouro Preto em 2003. Fonte: ourtoworld.jor.br (2013)

Sabemos que os riscos, na maioria dos casos, podem ser reduzidos ou

totalmente afastados caso seja adotado programa abrangente e sistemático

de prevenção. Esses programas fornecem os meios de reconhecer e prevenir

riscos e de responder com eficácia às emergências (OGDEN, 2001). Veremos, a

seguir, um programa de gerenciamento de emergências possível de ser

formulado por qualquer unidade de informação.

Competência 02

14

Técnico em Biblioteca

2.1 Programa de Gerenciamento de Emergências

Para enfrentar as situações emergenciais é preciso formular um programa

especial para esse fim. Um programa de gerenciamento de emergências é

composto por três conjuntos de iniciativas:

Prevenção (medidas preventivas);

Prontidão (plano emergencial);

Resposta (ação e volta à normalidade).

É da combinação dos riscos com a vulnerabilidade do edifício e do acervo que

ocorrem as calamidades. Devemos, por um lado, conhecer os riscos potenciais

que cercam a unidade de informação e, assim, poder anular ou combater

esses riscos; e, por outro lado, identificar e analisar as vulnerabilidades do

edifício e de seus sistemas de proteção e, se possível, eliminá-las. Para que

nosso estudo seja mais proveitoso vamos dividi-lo em três etapas.

2.1.1 Etapa 1 - Identificação de Riscos

O edifício é a primeira e principal barreira de proteção do acervo. De sua

capacidade de resistir às intempéries e às agressões da ação humana depende

boa parte das boas condições físicas das coleções documentais. Analisar os

riscos existentes no edifício é o passo inicial para a formulação de um

programa de prevenção de acidentes. Há inúmeros fatores que podem

significar risco para a integridade física das coleções. Neste texto introdutório,

enfocaremos apenas três:

a) Identificar no edifício e no seu entorno todos os elementos que

potencialmente possam dar origem a incêndios.

Verificar as condições de uso das instalações elétricas, instalações

especiais (de gás, por exemplo), motores e equipamentos, etc.;

Verificar a presença de fábricas, postos de gasolina, redes de distribuição

no entorno do edifício.

Competência 02

15

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

b) Identificar no edifício e no seu entorno todos os elementos que possam

torná-lo vulnerável a enchentes, inundações e infiltrações.

Verificar a proximidade de rios ou de outras fontes de água (exemplo:

reservatórios, açudes);

Verificar o nível da sala de guarda em relação à rua;

Verificar as condições de uso das instalações hidráulicas e sanitárias;

Verificar as condições de conservação da coberta e esquadrias e dos

sistemas de escoamento de águas.

Figura 5 – Biblioteca após incêndio Fonte: olaserragaucha.com.br (2011)

Figura 6 - Biblioteca inundada Fonte: blogspot.com.br (2012])

c) Identificar no edifício e no seu entorno todos os elementos que

potencialmente possam torná-lo vulnerável a roubo e vandalismo.

Competência 02

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Técnico em Biblioteca

Verificar as condições de segurança das portas e janelas;

Verificar se o edifício dispõe de algum sistema de segurança;

Verificar se existem equipes de segurança;

Verificar se a unidade de informação dispõe de espaço destinado aos

objetos pessoais dos usuários, etc.

Conhecendo todos os riscos potenciais, deve-se eliminá-los, controlá-los ou

minimizá-los. Para tanto, serão necessárias executar ações em diversas áreas

da instituição, desde reparos no edifício ou a aquisição de equipamentos, até

a contratação e capacitação de pessoal. Na etapa seguinte, veremos quatro

iniciativas simples que poderão ser determinantes para o salvamento de

pessoas e do acervo em situações de emergências.

2.1.2 Etapa 2 – Prontidão

A primeira iniciativa objetiva é fazer a instituição estar preparada para

enfrentar situações emergenciais. Para tanto, um passo importante é instituir

equipes de prontidão:

Comissão de emergências para coordenar ações em momentos

emergenciais;

Comissão de conservação que conheça técnicas de intervenção e

manuseio de obras danificadas;

Brigada de incêndio que deverá ser treinada para saber como agir diante

de um incêndio.

Estas equipes deverão elaborar e contar com três instrumentos muito

simples, mas fundamentais para que a unidade de informação possa se

precaver contra as emergências: mapeamento das coleções, rota de fuga e kit

de emergência. Vamos descrever cada um deles.

Competência 02

17

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

a) Mapeamento das Coleções

Mapear significa localizar e indicar cada conjunto documental, documento ou

objeto das coleções da unidade de informação. Esta localização deverá ainda

classificar os documentos conforme sua vulnerabilidade, importância e valor

para a instituição. O mapeamento das coleções pode ser determinante para o

salvamento do que é considerado o melhor do acervo. Para efetivar o

mapeamento, as equipes deverão responder às seguintes questões:

A coleção (ou unidade documental) é fundamental para a missão

institucional?

A coleção (ou unidade documental) pode ser substituída?

O custo de substituição é maior ou menor que a restauração?

Existem exemplares (cópias) em outro formato ou em outro acervo?

O documento requer atenção imediata devido à sua composição (tipo de

papel ou de tinta, etc.)?

b) Rota de Fuga

Em caso de incêndio ou inundação, a definição de uma rota de fuga – indicada

por meio de sinalização – pode significar o salvamento de objetos valiosos da

coleção. A figura a seguir ilustra o quanto pode ser complexo definir uma rota

de saída de emergência em edifícios antigos.

Competência 02

18

Técnico em Biblioteca

Figura 7 – Planta do Convento de São Francisco de Olinda Fonte: Desenho de Antonio C. Montenegro (2013)

A rota deve ser adequadamente indicada por meio de sinalização visual.

c) Kit de Emergência

É de fundamental importância ter à mão equipamentos e utensílios

necessários à prevenção, ao combate e à minimização de danos. Um kit de

emergência pode ser fundamental para a proteção das pessoas e do acervo.

Extintores de incêndio, desumidificadores, ventiladores, luvas e máscaras

protetoras, lanternas, papéis absorventes, além dos utensílios e materiais de

proteção às pessoas (EPIs – equipamentos de proteção individual) e de

primeiros socorros são alguns desses utensílios.

2.1.3 Etapa 3 – Resposta

Apesar de todos os cuidados que possamos tomar, as emergências ocorrem.

Em parte porque não foi possível prevê-las completamente, em parte porque

Competência 02

19

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

os sistemas de detecção e defesa falharam. De qualquer modo é preciso sanar

os danos e fazer a instituição voltar à normalidade. Nesta etapa

conheceremos as atitudes e ações necessárias para tanto.

O que Fazer Imediatamente Depois do Sinistro:

Contatar com seguradoras;

Analisar as causas e efeitos do sinistro visando o aperfeiçoamento do

programa;

Instituir programa de restauração do espaço atingido e das coleções;

Avaliar as prioridades de restauração;

Eliminar acervo irrecuperável (após parecer de um restaurador e de uma

comissão de curadores) e acondicionar os que não necessitarem de restauro;

Limpeza e arrumação do local do sinistro;

Recolocação dos documentos nos seus lugares.

2.2 Tratamento Emergencial para Documentos Molhados

Por se tratar de um acontecimento recorrente em unidades de informação,

indicamos, neste momento, como devemos atuar nos casos em que

documentos e livros foram molhados por qualquer causa (infiltrações,

vazamentos, inundações). Existem vários métodos para efetuar a secagem – e

o salvamento – de documentos (livros, papéis, fotografias, etc.) molhados.

Alguns deles, entretanto, exigem treinamento especial e a presença de

especialistas.

Quanto maior a quantidade de água absorvida pelo papel, maior o risco ao

secá-lo. Para livros medianamente molhados – ou seja, não completamente

encharcados de água – a técnica mais simples é seca-los da maneira descrita

abaixo:

Levá-los para ambiente seco e arejado (pode-se usar desumidificadores e

ventiladores);

Competência 02

20

Técnico em Biblioteca

Estender os livros em varais de cordas de nylon grossas;

Interfolhar o máximo possível com papel absorvente;

Deixar secar naturalmente.

Figura 8 - Secagem de livros Fonte: noticias.uol.com.br (2012)

Este tratamento é também recomendado para a secagem de outros

documentos em suporte de papel, podendo-se usar, além do varal, mesas

cobertas com papel mata-borrão nas quais os documentos seriam espalhados

sem recobrimentos entre si.

Livros com papéis especiais – tipo couché – precisam de maiores cuidados e

seu manuseio deve ser feito por especialista. O papel couché é muito usado

em livros de arte com ilustrações coloridas, pois proporciona reprodução de

cor muito boa. Entretanto, ele é muito sensível à umidade, o que faz com que

suas páginas colem umas às outras.

Em caso de livros muito encharcados, o melhor é colocá-los individualmente

em sacos plásticos e congela-los em freezer tipo frost-free. Isso dará tempo

para que um restaurador especializado realize as intervenções necessárias.

A decisão de se efetuar a secagem dos livros – e as etapas de restauro,

quando se mostrarem necessárias – deve ser antecedida de estudos que

indiquem ser essa uma decisão correta. Para coleções correntes, por exemplo,

que tenham livros comuns e facilmente encontrados no mercado, talvez seja

Competência 02

21

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

mais viável repô-los do que recuperá-los.

No caso de fotografias molhadas os procedimentos abaixo descritos devem

ser acompanhados de conservador especializado.

Secar ao ar livre, na horizontal, sobre papel absorvente, uma a uma, sem

sobreposição;

Se precisar proteger ou entrefolhar fotos com papel, este deve ser do tipo

encerado, não aderente;

Retirar as fotos de envelopes, preservando informações que estes possam

conter;

Não tocar na superfície com a imagem (lado da emulsão);

Se estiverem enlameadas, enxaguar em água limpa, sem tocar na

superfície; secar na vertical no varal fixando-as com grampos plásticos, apenas

nas margens, sempre com acompanhamento de especialistas.

2.3 Resumo da Estrutura do Programa de Gerenciamento de Emergências

Ao final das etapas, o Programa deverá estar estruturado em três bases:

1) Prevenção Contra Água

Dispor de locais altos e arejados para a guarda de acervos.

Revisar telhados e sistemas de abastecimento d’água e de drenagem.

Fechar torneiras e janelas ao fim da tarde.

Dispor de materiais para proteção emergencial (plásticos, papéis

absorventes, tesouras, cordões, fitas, etc.).

2) Prevenção Contra O Fogo

Instalar para-raios;

Instalar portas corta-fogo;

CONTINUIDADE É A PALAVRA-CHAVE!

Um Programa de Gerenciamento de Emergências deve ser elaborado para que se incorpore às rotinas de trabalho

da unidade de informação. Ele não

pode ser descontinuado, ao contrário, deve ser

continuamente aprimorado por

meio de testes, de vistorias e de

treinamento das equipes envolvidas.

Competência 02

22

Técnico em Biblioteca

Instalar detectores de fumaça ou calor;

Realizar vistoria do Corpo de Bombeiros;

Isolar material inflamável.

3) Prevenção Contra Roubo E Vandalismo

Restringir entradas e saídas;

Possuir alarmes ligados à polícia local;

Cadastrar e acompanhar o usuário;

Proibir entrada de bolsas, mochilas, casacos, chapéus, etc., nos locais de

exibição ou consulta;

Permitir acesso apenas a um livro/documento por vez;

Checar o material antes e depois da consulta;

Instalar sistema de monitoramento e controle.

2.4 Normas Técnicas

A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT - é a organização brasileira

reconhecida e credenciada para definir e indicar parâmetros técnicos para os

procedimentos de prevenção e combate a sinistros e emergências. A ABNT

publica e atualiza normas referentes a equipamentos, sistemas e instalações

de segurança e proteção, indicando tipos, materiais, dimensões, quantidades

e demais elementos adequados a enfrentar as situações emergenciais.

Equipamentos como alarmes, sensores, elevadores, instalações elétricas, de

água, de climatização, de gás e outros componentes dos edifícios possuem

normas específicas que devem ser consultadas e observadas no momento de

planejamento ou de reformas das unidades de informação. Torna-se

necessário que a instituição conte com a consultoria e a colaboração de

empresas ou profissionais especializados.

No que se refere especificamente à Brigada de Incêndio, importante elemento

Competência 02

23

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

para o enfrentamento, tanto na prevenção quanto na proteção e resposta a

incêndios, devemos estudar e considerar a ABNT-NBR 14276:2006 que nos

fornece informações fundamentais para a composição desse grupo. Para a

ABNT, a Brigada é: “grupo organizado de pessoas preferencialmente

voluntárias ou indicadas, treinadas e capacitadas para atuar na prevenção e

no combate ao princípio de incêndio, no abandono de área e nos primeiros-

socorros, dentro de uma área preestabelecida” (ONO, R. e MOREIRA, K. 2011).

Nota: em virtude da extensão e complexidade do tema, não tratamos, nesta

Competência, de emergências provocadas por agentes biológicos (insetos e

micro-organismos).

Competência 02

24

Técnico em Biblioteca

3.COMPETÊNCIA 03 | MANTER A ORGANIZAÇÃO DO ACERVO DA

BIBLIOTECA, RESPEITANDO PRINCÍPIOS DE ERGONOMIA,

COMUNICAÇÃO VISUAL, SINALIZAÇÃO, DISPOSIÇÃO DE

MOBILIÁRIO E ORGANIZAÇÃO DO ACERVO – CONSERVAÇÃO DO

ACERVO BIBLIOGRÁFICO

3.1 O que é um Livro?

3.1.1 Uma Breve História

Pesquisadores situam o início da história do livro juntamente com o início da

história da escrita. Desde os mais remotos antepassados, o homem deixa suas

marcas espalhadas em forma de desenhos e símbolos nas paredes de pedra

das cavernas. Em algum momento, as marcas e desenhos saíram das paredes

e das pedras para pranchas de madeira ou de cerâmica, para os rolos de

tecido ou de couro. A reunião de várias placas ou pranchas, costurando ou

colando uma de suas margens, substituiu com vantagens os imensos rolos e

pesadas pranchas. Era o início do livro.

Figura 9 – China: invenção do papel Fonte: miniweb.bom.br/historia (2013)

As invenções do papiro e do papel aceleraram esse processo porque barateou

muito a confecção dos livros. Mas, foi a invenção da imprensa pelo alemão

Johan Gutenberg no século XV, que determinou o livro tal como o

Competência 03

25

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

conhecemos hoje. Modos de imprimir rudimentares – usando técnicas de

gravar como a xilogravura – já eram usados antes, o que Gutenberg inventou

foi uma máquina de imprimir – uma prensa – que usava tipos móveis.

Figura 10 – Johannes Gutenberg Fonte: wikipedia.org/wiki (2013)

Com isso, era possível imprimir vários exemplares de forma muito mais barata

e acessível. Um dos primeiros livros que Gutenberg imprimiu foi uma bíblia, a

chamada Bíblia de 42 linhas da qual fez imprimir cerca de 200 exemplares.

Especialistas afirmam que, no mundo, restam apenas 49 exemplares da Bíblia

de Gutenberg.

Figura 11 – A Bíblia de Gutenberg Fonte: wikipedia.org/wiki (2013)

Desde a invenção de Gutenberg, o livro é essencialmente igual ao que

conhecemos centenas de anos depois, isto é, um conjunto de folhas de papel

reunidas por meio de uma cola ou de uma costura. Permanecer inalterado por

Competência 03

26

Técnico em Biblioteca

tanto tempo é uma prova de que ele reúne as qualidades fundamentais para

alcançar êxito em sua missão: ser um instrumento de registro de memória e

de ideias, ser, portanto, um instrumento de transmissão do conhecimento, de

geração em geração, século após século (ORTEGA & GASSET, 2006).

Apesar do progresso tecnológico que separa a Bíblia de Gutenberg para os

atuais meios de transmissão de conteúdos – os meios eletrônicos

principalmente – para muitos, o livro continua sendo um equipamento

insubstituível. Afinal, como disse Millôr Fernandes, livro não enguiça. É esse

instrumento essencial para o desenvolvimento físico e espiritual da

humanidade que temos missão de preservar e difundir.

As partes do livro

As figuras abaixo ilustram os vários elementos que compõem um livro. Todos

têm alguma razão de ser e boa parte deles serve, basicamente, para proteção

e preservação do conteúdo, conferindo ao objeto, além de maior resistência e

proteção, nobreza e valor comercial. Alguns livros possuem ainda outros

elementos que não aparecem nas figuras a exemplo de capas com orelhas,

sobrecapas, encartes e outros.

Figura 12 – Partes do livro Fonte: meuscrap.art.br/blog (2013)

Competência 03

27

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

Figura 13 – Partes do livro Fonte: meuscrap.art.br/blog (2013)

3.2 Conservação de Coleções Bibliográficas

Os princípios que vimos na Competência 1 referentes à Conservação

Preventiva devem nortear as atividades de conservação das coleções

bibliográficas. Os cuidados com o lugar de guarda do acervo — o

acompanhamento cotidiano das condições ambientais de temperatura e

umidade relativa, o manuseio e o armazenamento adequados, os cuidados de

limpeza e segurança, etc. — compõem o que pode ser denominado de rotina

de conservação.

Essas atividades acontecem no cotidiano das unidades de conservação e a boa

observação das técnicas, métodos e normas podem concorrer de forma

decisiva para a conservação dos acervos. Organizamos essa rotina reunindo

suas atividades em quatro campos comuns a todas as unidades de

conservação: a) o lugar de guarda do acervo; b) armazenamento; c) manuseio

e traslado; e d) usuários.

3.2.1 O Lugar de Guarda

Manter estáveis os índices de umidade relativa do ar (UR) e de

Competência 03

28

Técnico em Biblioteca

temperatura (T). A umidade relativa é uma forma de medir a quantidade de

água contida em determinado volume de ar. Os termo-higrômetros são

equipamentos que fazem a medição da umidade relativa e da temperatura.

Alguns manuais indicam que essa estabilidade deve situar-se em torno dos

50% de UR e 16o C de T, mas estudos modernos concluem que, para climas

tropicais, esses índices devem ser flexíveis para uma melhor convivência dos

livros com o clima natural, devendo situar-se em 60% de UR e 24o C.

Admitindo-se variações de 5% para mais ou para menos.

Figura 14 – Termo-higrômetro digital Fonte: www.azakyi.com.br (2013)

Os meios de que dispomos para alcançar esses índices são os equipamentos

de climatização (aparelhos de ar-condicionado) e os desumidificadores. O

inconveniente do ar-condicionado é a difícil possibilidade de mantê-lo

ininterruptamente em funcionamento. Mas é possível, usando-se um sistema

de revezamento com vários aparelhos, por exemplo.

Utilizar nas janelas de vidro filtros solares com proteção contra raios

ultravioletas (UV) ou cortinas.

Colocar telas protetoras nas janelas de modo a impedir, ou minimizar, a

entrada de insetos.

Evitar que instalações hidráulicas ou calhas e descidas d’água da coberta

Competência 03

29

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

atravessem o espaço das salas de guarda.

Verificar rotineiramente as condições de conservação das instalações

elétricas e hidráulicas.

Utilizar lâmpadas com filmes de proteção anti UV.

Instalar equipamentos de detecção de calor e incêndio.

Garantir que as salas de guarda tenham seus acessos fechados ao fim do

dia de trabalho.

Executar limpezas rotineiras nas salas de guarda utilizando aspirador de

pó. Quando necessário, pode-se usar pano úmido e o piso deve ser secado

rapidamente.

Fazer inspeções rotineiras nas salas de guarda e estantes para detectar a

presença de mofo, insetos ou animais.

3.2.2 Acondicionamento e Armazenamento

Preferir estante de metal (aço) com pintura eletrostática em cores claras.

As estantes devem manter uma distância entre si que permita não só a

circulação de pessoas, mas também dos carrinhos de transporte de livros. As

estantes de livros não devem ser colocadas junto a paredes externas. Se

colocadas junto a paredes internas, devem manter uma distância mínima de 7

cm.

A prateleira mais baixa da estante não deve estar a menos de 15 cm do

piso. As prateleiras mais altas devem estar ao alcance da mão.

Os livros comuns em bom estado devem ser colocados em pé, com

Competência 03

30

Técnico em Biblioteca

lombada voltada para fora. Os livros não devem ultrapassar a largura da

estante.

Livros raros e livros em mal estado de conservação devem receber

embalagens especiais feitas com papel neutro. Papeis neutros ou alcalinos

não transmitem acidez para o livro.

Livros de grandes dimensões podem ser colocados deitados nas

prateleiras, observando-se não sobrepor mais que dois.

Não colocar livros demasiadamente apertados nas estantes e, também,

não coloca-los demasiadamente separados. O uso de bibliocantos é

fundamental no equilíbrio dos livros nas prateleiras.

Livros com encadernações especiais (em tecido, couro, metal) podem

receber uma sobrecapa protetora.

3.2.3 Manuseio e Traslado

Dispor de espaço e de um carrinho de transporte quando for manipular e

transportar os livros.

Nunca pegue o livro da estante pela parte superior (cofia ou cabeça do

livro). Pegue-o pelo meio da lombada, afastando com a mão os livros ao lado.

Para limpeza, use aspirador de pó com potência média. Livros muito

danificados ou frágeis não devem ser limpos com aspirador.

Usar trinchas e pincéis macios para limpar as folhas internas sempre que

for preciso. Comece limpando externamente e, em seguida, as primeiras e

últimas páginas internas.

Competência 03

31

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

Livros muito sujos e empoeirados devem ser limpos com trinchas e pinceis

página a página.

É importante lembrar-se de usar equipamentos de proteção individual

(EPIs) e uma Mesa de Higienização.

Figura 15 – Mesa de higienização Fonte: centrocultural.sp.gov.br (2013)

Veja, ao final deste texto uma sequência orientadora de como executar a

higienização de livros.

As estantes devem ser limpas com aspirador, iniciando-se pela prateleira

superior.

Para transporte, é aconselhável utilizar caixas, colocando os livros na

posição horizontal. Procurar não colocar livros numa quantidade maior do que

alguém possa carregar. Usar o carrinho de transporte sempre que possível.

Livros raros devem ser transportados em caixas especiais.

Não usar colas e adesivos comuns; não usar clipes e grampos metálicos.

Procurar produtos de catalogação (etiquetas e adesivos) recomendados para

conservação.

Competência 03

32

Técnico em Biblioteca

3.2.4 Usuários

1) Manter pessoal atento à entrada e saída de visitantes e usuários. Contar

com equipamentos de monitoramento e segurança.

2) Sinalizar de forma clara as normas de consulta e utilização da unidade de

informação. Exemplo de algumas normas que, se observadas e respeitadas, já

significam um grande passo para a conservação do acervo:

Não fumar;

Não entrar com alimentos;

Não entrar com bolsa ou sacola;

Não riscar ou danificar os livros.

3.3 Higienização de Livros

A atividade de higienização é de suma importância na rotina de uma unidade

de informação. Muitos problemas de deterioração dos livros seriam resolvidos

se observássemos e cumpríssemos uma frequência de higienização. Abaixo,

apresentamos uma sequência que nos ajudará a entender os procedimentos e

os métodos de higienização de livros.

Lembramos novamente de que devemos estar protegidos com equipamentos

de proteção individual (EPIs) — máscaras, luvas, aventais — para execução

dessa atividade.

Competência 03

33

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

1 O livro deve estar firmemente apoiado

em uma superfície. Passar suavemente um pincel ou trincha nas capas, lombada e miolo sempre no sentido oposto ao do operador.

2 Abrir o livro com cuidado e passar o pincel

ou trincha nas guardas e cortes. Para manutenção, se limpa as cincos primeiras e cinco últimas folhas, que são as mais propensas a conter sujidades.

3 Para uma primeira limpeza recomenda-se

higienizar página a página, não se esquecendo de limpar bem próximo à costura, onde há maior acúmulo de sujidades.

4 Colocar a obra em pé, abrindo-a ao meio

e, a seguir, bater suavemente na lombada com o cabo do pincel (que deverá estar protegido com um tecido para amortecer o impacto e não danificar a obra).

5 Verificar os resíduos depositados para

identificar algum tipo de infestação. Quando a obra estiver fragilizada, infestada por insetos ou fungos, recomenda-se consultar um especialista.

Quadro 4 - Higienização de livros Fonte: Desenhos de Antonio C. Montenegro (2013)

Competência 03

34

Técnico em Biblioteca

4.COMPETÊNCIA 04 | EXECUTAR UM PLANO DE CONSERVAÇÃO E

PRESERVAÇÃO DO ACERVO

Como vimos na Competência 1, um plano de conservação e preservação, ou

melhor, um Plano de Conservação Preventiva – PCP é um conjunto de

estratégias sistemáticas organizadas no tempo e espaço, desenvolvidas por uma

equipe interdisciplinar com o consenso da comunidade, a fim de preservar,

resguardar e garantir o maior tempo possível de vida aos acervos. Nesta

competência vamos conhecer as etapas necessárias à elaboração de um PCP.

4.1 Etapas para Elaboração do PCP

Na elaboração de um PCP temos que considerar alguns pressupostos.

Pressupostos são fatos considerados como antecedentes necessários de

outros, ou seja, um pressuposto é uma condição para que algo aconteça como

nós esperamos ou planejamos. Para o nosso Plano, consideramos como

necessários os seguintes aspectos antecedentes:

a) O Plano deve ser visto como uma ação global que buscará intervir em

todos os aspectos que dizem respeito à conservação do acervo;

b) O Plano é composto por ações permanentes e sistemáticas e não devem

sofrer processos de descontinuidade;

c) Todos os elementos que compõem o Plano são importantes;

d) Para alcançar êxito, o Plano exige o compromisso e o envolvimento de

todos que compõem a equipe da instituição;

e) Para a formulação e execução do Plano, a equipe deverá ser

multidisciplinar, envolvendo profissionais especializados em conservação,

arquitetos, engenheiros, profissionais de segurança física e patrimonial e

tantos quantos forem necessários, dadas às características específicas de cada

Competência 04

35

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

acervo ou instituição.

Com esses pressupostos, é possível agora começarmos a conhecer as etapas e

os elementos de PCP.

4.1.1 Etapa 1 – Dossiê

Entendendo que só se preserva o que se ama e só se ama o que se conhece

(COUTO, 2009), a primeira etapa que a equipe deve realizar é um

levantamento minucioso e completo de tudo o que diz respeito ao acervo,

isto é, devemos conhecer da forma mais completa possível, as coleções e suas

condições de guarda e uso. A reunião organizada destas informações em

documento é o que denominamos dossiê.

Antes de tudo, precisamos conhecer a instituição em que se trabalha também

do ponto de vista legal, seus estatutos, regimento, legislação a que está

subordinada, estrutura organizacional, fontes de recursos financeiros e todos

os aspectos que possam ser facilitadores, ou limitadores, para a elaboração e

execução do PCP. Com isso, poderemos dar início ao processo de

levantamentos e pesquisa sobre o acervo propriamente dito e suas condições,

começando pelos locais onde é guardado.

CONHECER O EDIFÍCIO - O edifício onde se guarda o acervo é sua primeira e

principal proteção. Nós devemos caracterizá-lo, ou seja, descrevê-lo

pormenorizadamente, nos seguintes aspectos (e em tantos outros quanto

suas características específicas assim o exigirem):

Localização e entorno - O lugar em que o edifício está localizado pode ser

preponderante para a sua conservação e para a conservação dos objetos nele

guardados. Deve-se observar se o edifício está próximo a fontes de agentes

causadores de degradação como rios, lagos, mar, florestas, em razão da

umidade, da temperatura e da salinidade; fábricas e tráfego intenso, em razão

de trepidações e da poluição; áreas da cidade degradadas econômica e

Competência 04

36

Técnico em Biblioteca

socialmente, em razão da segurança.

Clima local - O clima pode se constituir em vetor agressor dos materiais

que constituem o acervo. Levantar informações quanto à temperatura e

umidade relativa, ventos, precipitação pluviométrica média e máxima.

Estado de conservação do edifício - Sendo o edifício a primeira

barreira/defesa do acervo ao meio ambiente e às agressões, o seu estado de

conservação pode evitar acidentes pela forma como os objetos ficam

estocados ou expostos. O levantamento do estado de conservação deve

identificar os pontos vulneráveis do edifício: portas e janelas, coberta,

instalações elétricas e hidráulicas, etc.

Instalações e equipamentos - As instalações elétricas e hidráulicas devem

merecer especial atenção, pois são instrumentos necessários em momentos

emergenciais, mas podem ser a origem de problemas quando não recebem

manutenção sistemática – como a ocorrência de curtos-circuitos e

vazamentos, por exemplo.

Equipamentos de climatização e de segurança também devem ser

analisados, tanto no que diz respeito ao seu estado de conservação e

operação, quanto à adequação, quantificação e localização.

Devemos nos valer dos meios técnicos disponíveis (planilhas, fichas, plantas e

desenhos técnicos, fotografias) para investigar e registrar os aspectos e as

características do edifício: dimensões, materiais construtivos, instalações

especiais, fluxo de visitantes e funcionários, percurso dos automóveis de

serviço, além dos problemas e fragilidades que possam existir.

CONHECER O MOBILIÁRIO E OS EQUIPAMENTOS. Outro aspecto a ser

observado é a forma como são arquivadas as coleções, pois sabemos que a

maneira de guardar os objetos é determinante para sua conservação.

Competência 04

37

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

Os móveis — estantes, armários, mapotecas — destinados à guarda de

acervo devem ser minuciosamente quantificados, descritos e qualificados no

nosso dossiê.

Os equipamentos de monitoramento e controle ambiental —

desumidificador, termo-higrômetro — devem ser levantados e descritos. O

ideal é que se construa um mapa indicando localização, tipo, quantidade,

condição de funcionamento dos equipamentos para cada sala de guarda de

acervo.

CONHECER O ACERVO. Caracterizar o acervo é outro ponto fundamental para

a formulação do PCP. Um aspecto básico neste caso é o tratamento técnico.

Chamamos tratamento técnico ao sistema de registro do acervo que a

instituição possui. Pode ser desde um simples livro de tombo a um sofisticado

banco de dados informatizado de consulta remota. O importante é que a

instituição possa saber quantos, quais são e onde estão os objetos que

compõem suas coleções, conhecer seu histórico, como elas foram iniciadas,

de que forma vieram para a biblioteca, os proprietários anteriores, dentre

outras informações.

O conhecimento do histórico pode contribuir para a identificação de um

aspecto importante que é a atribuição de valor ao acervo. É muito comum

encontrarmos em bibliotecas coleções de obras raras que devem ser tratadas

como casos especiais no conjunto do acervo. É importante observar que,

quando nos referimos a valor, não o estamos fazendo do restrito ponto de

vista monetário, mas, sobretudo, de valores simbólicos que não são

facilmente traduzidos por dinheiro.

Materiais que constituem o acervo. Outra caracterização necessária diz

respeito aos materiais constitutivos do acervo. No caso das bibliotecas, esse

material será, em sua grande maioria, o papel. Mas as bibliotecas possuem

outros acervos especiais como discos de som e imagem, fotografias, objetos

de naturezas diversas em plástico, couro, madeira e outros. Cada tipo de

Competência 04

38

Técnico em Biblioteca

objeto deve ser descrito em seus aspectos físicos o mais detalhadamente

possível. Também na caracterização desses aspectos físicos, o registro do

estado de conservação do acervo é de fundamental importância.

CONHECER AS EQUIPES DE TRABALHO. Para a formulação do PCP é essencial

sabermos com quem vamos contar. Quais as categorias e competências

existentes nas equipes que poderão contribuir na elaboração do plano. Uma

biblioteca, geralmente, conta com diversas categorias de carreiras, reunindo

profissionais de diversas naturezas e que poderíamos agrupar, apenas para

efeito de classificação, em três grupos:

Pessoal de apoio e da logística, isto é, as pessoas que cuidam da limpeza,

da segurança e do transporte ou traslado de equipamentos e materiais;

Pessoal técnico, que são os bibliotecários e conservadores que trabalham

de maneira direta com o acervo e com o público;

Pessoal administrativo, ou seja, as pessoas que tratam dos aspectos

burocráticos e organizacionais da biblioteca.

Nosso entendimento é de que o fator humano — a qualificação e o

envolvimento da equipe com a instituição e com sua missão — é

determinante para o sucesso de qualquer iniciativa e mais ainda quando diz

respeito à conservação preventiva. Podemos afirmar que todas as pessoas

que trabalham na instituição têm igual importância para o êxito do PCP.

Também é necessário caracterizar o público usuário. Registrar a quantidade

de pessoas que frequentam a instituição, a média diária, dia e horário de

maior fluxo, origem, escolaridade, interesse dos usuários, etc. Um terceiro

tipo de frequentador que deve ser observado são os prestadores de serviço.

Essas pessoas normalmente não serão atendidas pelas equipes de

funcionários da biblioteca, podendo ser ou não funcionários públicos de

outras instituições, de instituições de apoio ou de empresas privadas

Competência 04

39

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

contratadas para realizar alguma tarefa.

Em resumo, o produto da Etapa 1 é um extenso dossiê que contém todas as

informações necessárias à elaboração da etapa seguinte, o diagnóstico. O

dossiê deve se valer de todos os meios de registro e comunicação dos seus

conteúdos: textos, planilhas, desenhos, fotografias, vídeos. O quadro abaixo

nos dá uma síntese dessas informações:

Quadro

Figura 5 – Síntese do Dossiê Fonte: autora (2013)

4.1.2 Etapa 2 – Diagnóstico

O dossiê deve ser o mais possível detalhado, permitindo aos gestores e

técnicos formar uma ideia exata das condições de guarda e conservação do

ITEM CONTEÚDO

O EDIFÍCIO

Deve conter todas as informações sobre o edifício; qualidades

e problemas; descrição dos materiais de construção e

acabamento; janelas, portas e demais aberturas; instalações

comuns e especiais; iluminação; sistema de segurança.

Informações sobre aspectos climáticos e do entorno do

edifício e das salas de guarda, particularmente.

Informações sobre mobiliário e equipamentos existentes.

O ACERVO

Caracterizar o acervo em seus diversos aspectos: o histórico

(origem, forma de aquisição); o físico, indicando os materiais

que constituem os objetos e seu estado de conservação;

conhecer a documentação do acervo.

Informações sobre a importância e o valor dos exemplares.

O FATOR HUMANO

Caracterizar a equipe da instituição, quantificando seus

componentes, indicando as funções que cada um exerce,

indicando o grau de instrução e capacitação.

A equipe da biblioteca como um todo deve ser vista como o

principal fator de proteção do acervo.

Caracterizar o público usuário e os prestadores de serviço que

usam e frequentam a instituição.

Competência 04

40

Técnico em Biblioteca

acervo, das fragilidades e dos problemas que podem vir a acontecer. Ou seja,

permitindo formular um diagnóstico. Nesta etapa, a equipe deve analisar

cada um dos elementos levantados, buscando identificar em cada um os

problemas e os riscos que representam para o acervo e, por outro lado, suas

potencialidades e possíveis soluções ou diminuição destes fatores de riscos.

Cada instituição, obviamente, identificará riscos inerentes às suas

características, mas, de uma maneira geral, podem relacionar e comentar as

ocorrências mais comuns em cada um dos aspectos estudados:

Diagnóstico do Edifício

Já dissemos anteriormente que o edifício é o primeiro e o principal elemento

de proteção ao acervo. Fatores decorrentes de uma má construção — ou de

uma reforma mal feita, quando se trata de edifícios reaproveitados — ou de

uma manutenção ineficiente podem acarretar problemas que fazem com que

o próprio edifício se torne um fator de agressão ao acervo.

Aspectos construtivos, como a coberta, as fundações, alvenarias, portas e

janelas devem ser criteriosamente observados e analisados e os problemas

encontrados devem ser objeto de estudos que resultem em propostas de

solução.

Aspectos de localização dos diversos setores no edifício também devem ser

analisados, buscando encontrar o melhor lugar para cada atividade, com

especial ênfase para as áreas de guarda das coleções, quando se tem em

mente a conservação preventiva dos acervos. Uma sala de guarda pode ou

não estar voltada para o mar ou localizada no lado poente do edifício, por

exemplo, e esses fatores acarretarão, em maior ou menor grau, níveis de

agressão difíceis de serem controlados.

As instalações e os equipamentos devem ser também estudados com base

nos levantamentos feitos durante a fase do dossiê, de modo a identificar

carências, impropriedades e necessidades.

Competência 04

41

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

Diagnóstico do Acervo

Observar a organização do acervo nas salas de guarda, o mobiliário e a forma

como e onde estão acondicionados, analisando se proporcionam a

visualização de todos os conjuntos de maneira fácil, com circulação suficiente

para permitir a passagem dos objetos de maiores dimensões. Ainda com

respeito à organização, observar os critérios de agrupamento de modo a que

objetos de categorias semelhantes possam permanecer próximos.

Quanto à localização do mobiliário, estudar se as estantes, armários e outros

tipos estão distribuídos corretamente, se estão próximos a janelas ou

aparelhos de ar-condicionado, que podem se tornar fontes de calor e de

umidade e de risco de acidentes.

Analisar se o mobiliário disponível é suficiente e adequado a cada tipologia e

quantidade do acervo e se os objetos estão colocados de maneira correta,

proporcionado um arquivamento estável e seguro. Um exemplo clássico de

riscos provenientes desse tipo de problema é a colocação de uma quantidade

de livros acima do que comporta uma prateleira, forçando a um manuseio

incorreto durante o qual, fatalmente, danos ocorrerão.

Diagnóstico do Fator Humano

Aspectos como a movimentação e fluxo de pessoas — funcionários, visitantes

e usuário, prestadores de serviço — também são importantes de serem

analisados. Observar se os usuários e visitantes têm ou não acesso às áreas de

guarda do acervo. Como é feito o acesso às obras para consulta, se há

controle de fluxo, se os equipamentos estão adequadamente colocados.

Quantos aos funcionários, analisar se são em número suficiente, se as

atividades técnicas são realizadas por pessoal qualificado e treinado, se as

diversas áreas de conhecimento — no campo técnico, administrativo e de

apoio — estão atendidas de forma equilibrada e eficiente.

Competência 04

42

Técnico em Biblioteca

Como resultado, a Fase 2 – diagnóstico – deve produzir um relatório que,

juntamente com o dossiê da Fase 1, apresentará de maneira clara uma análise

dos riscos que envolvem o acervo nas questões referentes às próprias

coleções, ao edifício e salas de guarda e consulta e às pessoas que interagem

com os objetos que compõem o acervo. Ao mesmo tempo, o diagnóstico deve

apontar alternativas de solução e de anulação dos fatores de risco

encontrados, quando isso for possível, e de diminuição e controle nos casos

em que a solução não exista ou não seja possível num curto prazo.

4.1.3 Etapa 3 – Execução

a) Ações Preparatórias

Concluída a etapa do diagnóstico, entendemos que possuímos todas as

informações necessárias para o conhecimento dos fatores que cercam o

problema da conservação do acervo: a caracterização e a análise dos aspectos

que o constitui fisicamente; de que forma o uso e a presença humana o

influencia; de que maneira as fragilidades, problemas e riscos podem ser

resolvidos ou equacionados.

Nesta etapa são definidas as intervenções e prioridades relacionadas a duas

áreas anteriormente estudadas: o edifício, suas instalações, equipamentos e

mobiliário e o fator humano, as equipes de funcionários e os usuários.

b) Ações preparatórias para o EDIFÍCIO

Elaborar e executar os projetos de reparos, reformas físicas e de

instalações, adequando-os aos objetivos do Plano;

Adquirir e instalar equipamentos e mobiliário;

Elaborar, registrar e executar uma rotina de manutenção dos elementos

do edifício — coberta, esquadrias, revestimentos, pisos, instalações

hidrossanitárias, instalações de climatização e segurança — indicando

frequência e periodicidade.

Competência 04

43

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

c) Ações preparatórias para o FATOR HUMANO

Da análise dos dados referentes ao fluxo de pessoas na biblioteca, resultará

uma série de normas e procedimentos que visam à preservação do acervo e à

proteção das pessoas.

Normas de segurança que previnam a instituição contra negligências e

crimes de vandalismo e roubo. Alguns exemplos: controle de acesso de

pessoas à instituição, particularmente às áreas de guarda; vistorias periódicas

aos acessos e seus bloqueios (portas, portões, janelas).

Normas preventivas contra acidentes envolvendo equipamentos e

instalações elétricas e hidráulicas; normas preventivas contra acidentes

naturais, como enchentes e tempestades. Entre estas, podemos elencar: a

manutenção periódica dos elementos construtivos de defesa do edifício, o

treinamento constante de equipes, a definição de objetos a ser resgatada, a

definição de rotas de fuga, dentre outros.

Normas e procedimentos a serem adotados em casos de emergência, a

exemplo da indicação de telefones a serem contatados, como os dos

bombeiros e da polícia ou dos responsáveis pela instituição.

As normas têm que ser periodicamente atualizadas e testadas de modo a

termos certeza de sua eficácia e efetividade. Deve-se, ainda, realizar

treinamentos regulares com equipes que trabalham direta ou indiretamente

com o acervo, pois a rápida ação num momento emergencial pode

determinar um grau menor ou maior do dano que o acervo venha a sofrer.

A amplitude do tema indica que a criação de normas para cada instituição

deve ser antecedida de todos os estudos – o que deixamos claro neste texto –

e que a equipe deve contar com pessoas especializadas. Neste núcleo

contemplamos apenas breves orientações.

Competência 04

44

Técnico em Biblioteca

Ainda sobre os fatores humanos no contexto de um PCP, queremos repetir

que o sucesso, ou fracasso do plano, depende muito do envolvimento das

equipes com a sua elaboração, implantação e acompanhamento. Assim,

nunca devemos nos esquecer da necessidade de treinamento e capacitação

dos funcionários — não só daqueles diretamente envolvidos com o acervo -—

para que suas ações sejam pautadas pelos conceitos e princípios da

conservação preventiva.

Cada um dos itens aqui vistos pode e deve gerar uma série de iniciativas,

ações e projetos específicos que, embora tratados de forma individual, devem

se harmonizar no seu conjunto desde a elaboração até a execução ou

instalação. Em outras palavras, os projetos de reforma arquitetônica devem

considerar, entre inúmeros aspectos, as necessidades de controle de público;

os projetos de climatização devem tratar não apenas do conforto das pessoas,

mas levar em consideração os parâmetros de conservação; os projetos de

iluminação não devem se deter apenas aos aspectos estéticos ou funcionais;

as normas devem se adequar aos fatores limitadores que muitas vezes o

edifício impõe e assim por diante.

4.2 Programas de um Plano de Conservação Preventiva

Cumpridas as etapas preparatórias à execução do PCP, passamos a formular o

conjunto de programas que buscam enfrentar os problemas diagnosticados e

analisados nas etapas anteriores em cada um dos aspectos que dizem

respeito à conservação e uso dos acervos. Tais programas devem se tornar

rotina e serem incorporados aos procedimentos técnicos da instituição. No

quadro abaixo, damos exemplos de alguns dos programas comuns em um

PCP, sempre lembrando que o que vai determinar as definições técnicas de

cada um são as características de cada instituição – exatamente os aspectos

estudados nas etapas anteriores.

Competência 04

45

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

PROGRAMA DE

PROCESSAMENTO

TÉCNICO E

ORGANIZAÇÃO DO

ACERVO

Denominamos processamento técnico as atividades de classificação, formação

e desenvolvimento de coleções, recuperação de informações; de atendimento

ao usuário e de difusão de acervos bibliográficos. Um programa de

organização física que indique as necessidades de mobiliário, de

equipamentos e outros itens deve estar associado ao tratamento técnico.

PROGRAMA DE

CAPACITAÇÃO DE

PESSOAL

Novas tecnologias resultam em novos desafios para os gestores dos acervos.

Por outro lado, novas pesquisas indicam soluções para problemas de

conservação. Dessa forma, as equipes devem ter sua capacidade técnica

constantemente atualizada.

PROGRAMA DE

PREVENÇÃO E

SEGURANÇA

Os fatores de riscos relacionados a roubo, vandalismo, enchentes e incêndio

devem ser objeto de ações rotineiras, como a criação de uma brigada contra

incêndio. Especialistas devem ser convidados ou contratados para prestarem

consultoria ou formularem projetos nessa área.

PROGRAMA DE

EMERGÊNCIAS

Os danos relacionados a enchentes, incêndios podem ter seus efeitos

diminuídos significativamente se a instituição contar com equipamento

adequado e pessoal treinado para enfrentá-los. Na Competência 2 – vimos

como agir em situações de emergência.

PROGRAMA DE

CONTROLE

AMBIENTAL

Como vimos, variações bruscas da umidade do ar e da temperatura,

associadas a outros fatores, se constituem numa das causas da degradação

dos acervos. Assim, é imprescindível elaborar um programa de

monitoramento e controle das condições climáticas das salas de guarda,

indicando a necessidade de equipamentos como data-loggers,

desumidificadores, esterilizadores e outros.

Métodos e técnicas para o monitoramento e o controle da qualidade do

ambiente de guarda do acervo foram tratados na Competência 3.

PROGRAMA DE

CONTROLE DE

PRAGAS

Controlar infestações por pragas exige um programa de monitoramento

permanente. Para tanto, é necessário contar com profissionais ou empresas

especializadas. O monitoramento e acompanhamento diários são a base para

o efetivo controle de pragas.

PROGRAMA DE

CONSERVAÇÃO E

RESTAURO

As ações de conservação devem se tornar rotina na unidade de informação. A

higienização e o acondicionamento de livros e outros tipos de acervo são

determinantes para um maior tempo de vida útil.

A restauração deve ser uma atividade excepcional, isto é, idealmente, do

ponto de vista da conservação preventiva, não deveria haver a necessidade de

restaurar.

Quadro 6 – Programas de um Plano de Conservação Preventiva Fonte: autora (2013)

Competência 04

46

Técnico em Biblioteca

4.3 Avaliação, Revisão e Continuidade

Todas as etapas elencadas devem ser minuciosamente registradas em

planilhas próprias. Estes registros servirão como base de comparação para as

análises dos monitoramentos programados no próprio PCP. Poderemos

estabelecer bases comparativas, por exemplo, para umidade relativa e

temperatura nas salas de guarda, fatores determinantes na classificação

desses espaços; estabelecer parâmetros para o surgimento de pragas e

insetos e para a ocorrência de roubo ou vandalismo e compará-los

continuamente de modo a estabelecer alterações na execução do Plano.

O diagrama a seguir sintetiza o que vimos ao longo deste texto, enfatizando o

caráter de continuidade que deve permear a execução de um PCP.

Figura 16 – Diagrama/Síntese das etapas do PCP Fonte: autora

Competência 04

47

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

Um PCP defende o princípio de que devemos nos antecipar aos problemas e

atacar suas origens e não remediar seus efeitos. Entende que a conservação

preventiva é mais econômica e viável que as atividades de conservação e

restauração, embora reconheça que estas sejam necessárias. Concorda, em

última análise, com a ideia exemplarmente resumida no dito popular: melhor

prevenir que remediar.

Finalmente, queremos lembrar que um PCP deve ser formulado por toda a

equipe direta ou indiretamente envolvida com o acervo, pois todo

conhecimento é importante para sua concepção e execução e o

comprometimento de todos é determinante para o sucesso. Assim, um Plano

de Conservação Preventiva deve estar incorporado à rotina da biblioteca ou

de qualquer instituição que detenha acervos de valor histórico e cultural e ser

parte integrante de suas atividades de gestão e planejamento.

Competência 04

48

Técnico em Biblioteca

5.COMPETÊNCIA 05 | COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DO

TRATAMENTO DAS COLEÇÕES DE OBRAS RARAS E ESPECIAIS SOB A

CUSTÓDIA DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS – COLEÇÕES DE

FOTOGRAFIA

É comum encontrar em bibliotecas, coleções especiais, de obras raras, de

cartões postais, de gravuras, de mapas, de jornais e revistas e outras. Dentre

elas, umas das mais comuns são as coleções de fotografia. Por isso,

trataremos nesta competência, da conservação de coleções de fotografia.

A preservação de coleções de fotografia é uma atividade importante na

administração geral de qualquer instituição memorial. Mais sensíveis que a

maior parte dos documentos, as fotografias têm uma química complexa que

deve ser levada em consideração, caso se pretenda preservá-las para o futuro

(MUSTARDO; KENNEDY, 2004).

5.1 Breve História da Fotografia

Desde seus primórdios, a humanidade registra por meio de imagens os medos

e desejos. As pinturas pré-históricas atestam que imagem, além de

representação, é informação e é documento.

Figura 17 – Mãos. Desenho rupestre encontrado na caverna de El Castillo. Fonte: livescience.com (2013)

Competência 05

49

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

Com o advento da fotografia, no século XIX, essa função da imagem se amplia

de maneira exponencial, porque, finalmente “um aparelho que podia

rapidamente gerar uma imagem do mundo visível, com um aspecto tão vivo e

tão verídico como a própria natureza” (BENJAMIN, 1994, p.95) estava

disponível.

Imediatamente após a sua invenção, aparecem fotógrafos em todas as

grandes cidades, inclusive Rio de Janeiro, Recife e Salvador, pelo fato de

serem cidades portuárias, portanto portas de entrada, e em São Paulo, pela

intensa imigração (PAVÃO, 1997). Daí decorre a afirmação de Kossoy (2001)

de que, a partir do início do Século XX, o mundo torna-se portátil na medida

em que é substituído por imagens fotográficas.

Figura 18 - Câmera de Daguerreótipo. Fonte: classicameras.wordpress.com (2013)

Figuras 19 e 20 – A primeira fotografia conhecida, produzida em 1826, Paris, por Niépce e o retrato de Joseph Nicéphore Niepce. Fonte: blogspot (2013)

Podemos dizer que a fotografia não foi

inventada. Ela é fruto da evolução tecnológica que

remonta ao século XVI com a câmara escura. Mas foi no

século XIX que pessoas como

Niépce, Florence e Daguerre

desenvolveram os métodos e

processos que determinaram a fotografia como

ficou conhecida por todo século XX e culminou com o

advento da fotografia digital.

Competência 05

50

Técnico em Biblioteca

5.1.1 O que é Fotografia?

Fotografia é escrever com a luz. É a luz fixada num suporte. Tudo na

fotografia gira em torno da luz e da captura da luz refletida pelos objetos em

um suporte. A luz é a matéria-prima da fotografia.

O termo fotografia é usado, na atualidade, genericamente para designar

objetos de natureza bastante diversa e que têm em comum a ação da luz na

formação da imagem. O termo engloba, na verdade, todas as técnicas

fotográficas: negativos, diapositivos, prova original (impressão sobre papel,

cópia, ampliação), fotografias em estojo, etc.

5.1.2 Quais os Processos Fotográficos Encontrados em Arquivos?

Uma grande variedade de processos é encontrada nos arquivos e bibliotecas,

desde os pioneiros até as atuais impressões de fotografias digitais, porém

vamos nos referir aos processos fotográficos que foram introduzidos e se

desenvolveram ao longo do século XIX e XX. O quadro abaixo ilustra e

descreve alguns desses processos.

.

O daguerreótipo é uma imagem positiva sobre

placa de metal (cobre) recoberta por uma

camada de prata polida. Ele é protegido dentro

de um estojo e vigorou entre 1839 e 1855.

Figura 21 - Estojo com daguerreótipo ca. 1860 Fonte: Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Fotos Severino Ribeiro, 2009.

Competência 05

51

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

O ambrótimo é uma imagem negativa,

impressa sobre uma placa de vidro, revestida

por trás com um veludo ou cartão preto,

aparecendo como um positivo, que vigorou

entre 1852 e 1880 e também é apresentado

dentro de um estojo. O processo ainda foi

utilizado até meados do século XX, pelo baixo

custo e excelente qualidade da imagem.

Figura 22 - Estojo com ambrótipo ca. 1880. Fonte: Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Fotos Severino Ribeiro, 2009.

O ferrótipo é um processo semelhante ao

ambrótipo, tendo como suporte uma chapa de

ferro pintada de preto em que a imagem

aparece positiva pelas mesmas razões. Vigorou

entre 1853 e 1880. Tornou-se o mais popular

dos processos em razão de ser o mais barato

da época, da chapa de ferro ser inquebrável e

fácil de cortar em vários formatos e

dimensões.

Figura 23 - Estojo com ferrótipo, ca. 1890. Fonte: Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Fotos Severino Ribeiro, 2009.

Papéis de albumina foram utilizados para todo

tipo de fotografia na época, sendo os mais

comuns para os retratos montados sobre

cartão no formato carte de visite. Vigorou

entre 1855 até a década de 1930.

Figura 24 - carte de visite, ca. 1880. Fonte: Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Fotos Severino Ribeiro, 2009.

Competência 05

52

Técnico em Biblioteca

Papéis em gelatina prata (impressão direta), também montados sobre cartão, são os chamados papéis de emulsão, pois são sensíveis à luz desde o momento do seu fabrico, mais práticos de usar, de melhor qualidade e de fabricação industrial. Vigorou a partir de 1880.

Figura 25 - carte de visite, ca. 1890. Fonte: Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Fotos Severino Ribeiro, 2009.

Diversidade de processos fotográficos

correntes no século XX: negativos de película,

impressão fotográfica com plastificação em

preto e branco e colorido, papéis resinados,

etc.

Figura 26 - Processos fotográficos do século XX. Fonte: Coleção particular. Foto Betty Lacerda, 2011.

5.1.3 Do que se Compõe uma Fotografia?

Numa fotografia existem várias partes, com funções específicas: “[...] uma

fotografia será uma composição de materiais, em geral com uma configuração

laminada ou em camadas, com todas as resultantes químicas e os riscos físicos

que isto possa acarretar”. (MUSTARDO; KENNEDY, 2001, p. 19).

Material formador da imagem – é a parte da fotografia que se transforma

em imagem visível, sensível à luz, que nos dá os claros e os escuros ou as

cores. Constitui-se de partículas metálicas (prata, platina ou ferro) ou de

corantes ou pigmentos (MUSTARDO; KENNEDY, 2001; PAVÃO, 1997), pode

Competência 05

53

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

encontrar-se junto com o aglutinante formando a emulsão;

O suporte primário – que dá consistência ao objeto. Pode ser metal, vidro,

papel, plástico ou outro;

A camada aglutinante ou meio ligante – pode existir ou não, é o material

transparente que mantém os elementos formadores da imagem agarrados ao

suporte. O aglutinante mais comum é a gelatina, porém, no século XIX, foram

usados a albumina e o colódio;

As camadas acessórias ou protetoras – servem para tornar o suporte mais

branco, isolam a imagem e moldam a superfície da fotografia impressa sobre

papel;

O suporte secundário – usado nas provas para reforçar o suporte, pode

ser papel, cartolina ou cartão.

5.2 Em que Consiste a Preservação de Coleções de Fotografia?

A preservação de fotografias engloba ações de conservação, de

processamento da informação e de restauração. Sabemos que o campo de

ação da restauração em fotografia é muito restrito, visto que as

deteriorações, na maioria dos casos, são irreversíveis. E, por envolver

processos complexos, a restauração só deve ser executada por especialistas.

No que diz respeito ao processamento da informação de fotografias, por não

ser o foco da disciplina, faremos apenas breves considerações sobre a

organização das coleções, logo a seguir. Nosso objetivo é, portanto, tratar,

exclusivamente, de ações de conservação com intervenções curativas básicas.

E, para tal, nos basearemos, primordialmente, na comprovada experiência de

Luis Pavão registrada na obra Conservação de Coleções de Fotografia (1997) e

nos cadernos da coleção do Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e

Arquivos – CPBA (2001).

5.2.1 Organização da Coleção

A maioria das coleções chega às instituições de forma caótica: negativos em

película e em vidro numa mesma embalagem, ampliações em papel

Competência 05

54

Técnico em Biblioteca

fotográfico de formatos e técnicas diferentes sem qualquer proteção, tudo

isso junto a textos manuscritos e impressos em geral.

Figura 27 - Diversidade de processos forográficos. Fonte: Coleção particular. Foto Betty Lacerda, 2013.

São necessárias ações de ordenação e classificação das espécies que

compõem a coleção, com o objetivo de facilitar a localização física,

racionalizar a utilização do espaço e proporcionar as condições adequadas

para a sua conservação. Essas ações iniciais prepararão a documentação para

o processamento da informação.

É fundamental, porém, todo cuidado no momento dessas intervenções para

que não se percam informações vinculadas à organização original (PAVÃO,

1997).

Figura 28 - Organização de negativos em película. Fonte: Acervo Fundação Joaquim Nabuco. Foto Severino Ribeiro, 2009.

Palavra de ordem em conservação:

BOM SENSO

Competência 05

55

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

5.3 Conservação de Coleções de Fotografia

Muitos dos documentos fotográficos sob a guarda de uma biblioteca ou

museu são raros, valiosos, e por vezes únicos. É da responsabilidade dos

técnicos, enquanto guardiães das coleções, tomar todas as precauções

possíveis para a salvaguarda de modo que elas perdurem até gerações

futuras.

Para que não se corram riscos de intervenções desastrosas, devemos saber

distinguir entre a verdadeira necessidade de intervenção no objeto ou a

necessidade motivada pela curiosidade ou vontade de realizar uma ação

prática. O treinamento ou experimentação, mesmo os mais simples, poderão

ser realizados com cópias ou exemplares sem valor, nunca com documentos

fotográficos de valor histórico.

Caro (a) aluno (a), antes de iniciar qualquer ação de conservação você tem

que ter internalizado as regras básicas para um correto manuseio de coleções

de fotografia, regras essas que se aplicam, de um modo geral, a todos os

acervos, especialmente os de obras raras.

5.3.1 Regras para um Correto Manuseio de Coleções de Fotografia

Manter comida afastada das coleções

Mantenha o almoço, lanche, ou outra comida e bebida longe das coleções;

Não coma ou beba na sua mesa ou espaço de trabalho.

Lavar as Mãos

Uma vez que esteja sempre preparado para manusear coleções, suas

mãos devem estar sempre lavadas;

Lave as mãos depois de intervalos e refeições;

Lave as mãos frequentemente durante períodos longos de contato com

Competência 05

56

Técnico em Biblioteca

materiais das coleções. A sujidade e a poeira podem passar de um documento

para outro;

Nunca utilize creme de mãos antes de manusear coleções;

No caso de usar cabelos longos, prenda-os.

Organizar-se antecipadamente

O local de trabalho deve ser sossegado, longe de corredores e zonas de

passagem;

Figura 29 - Materiais de conservação. Foto Severino Ribeiro, 2009.

O local de trabalho deve ser limpo e arejado e bem iluminado;

Só inicie as tarefas quando há tempo e sossego, assim evita-se erros e

precipitações;

Prepare antecipadamente o espaço de trabalho, de maneira a acomodar o

objeto que pretende ver ou tratar;

Certifique-se de que tem todas as ferramentas necessárias para o trabalho

(por exemplo: luvas, pincéis, réguas, etc.);

No fim do dia de trabalho, arrume todos os documentos na sala de guarda

(arquivo) e tente deixar as ferramentas limpas e arrumadas.

Manusear os objetos com cuidado

Use sempre luvas nas duas mãos quando manusear originais das coleções,

Competência 05

57

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

particularmente materiais fotográficos;

Antes de mover um objeto, avalie o seu estado de conservação. Se estiver

danificado, chame o conservador chefe. Não manuseie você próprio o objeto

danificado;

Figura 30 - Proteção de páginas de álbum com folhas de papel alcalino. Fonte: Acervo Museu do Estado de Pernambuco. Foto Adonias Ferreira, 2012.

Manuseie as embalagens com cuidado;

Não se apoie e nem coloque objetos pesados sobre as coleções, mesmo

que se encontrem fechados em caixas;

Tenha atenção em não tocar ou arrastar objetos (por exemplo: joias,

relógios, crachás) sobre a superfície dos documentos;

Mantenha as coleções em superfícies lisas e estáveis. Não coloque

materiais no seu colo nem deixe que fiquem salientes nos bordos da mesa;

Levante os materiais com as duas mãos de forma a evitar que dobrem,

rasguem ou partam;

Devem encontrar-se à disposição cartões de conservação para manusear

e/ ou mover objetos que necessitem de apoio;

Nunca tente levantar um objeto de grandes dimensões sozinho. Não

hesite em pedir ajuda aos seus colegas. Mostre-se também disponível para

ajudar colegas que necessitem;

Não empilhe objetos diretamente uns sobre os outros, a menos que se

encontrem separados por uma folha intercalar de material de conservação ou

embalagem apropriada;

Na dúvida, NÃO FAÇA!

Competência 05

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Técnico em Biblioteca

Não empilhe objetos de formatos, pesos ou espessuras muito diferentes.

Não faça pilhas muito altas;

Sempre utilize lápis, e não caneta, quando trabalhar com fotografias;

Nunca escreva em papéis que tenham documentos ou materiais de

coleções por baixo. A pressão e a tinta podem danificá-los;

Cubra os objetos que não estão sendo utilizados com folhas apropriadas.

A luz danifica as coleções;

Escreva avisos: “FOTOGRAFIAS POR BAIXO”, “CUIDADO! NÃO MEXER” em

folhas e coloque por cima.

Não utilize material de escritório nas coleções (fita adesiva,

grampeadores, clipes, elásticos de borracha, Post-it, borrachas normais, etc.);

Faça as coisas com calma.

5.3.2 Deterioração de Fotografias

As fotografias apresentam, invariavelmente, marcas associadas às condições

de guarda, ao tratamento que receberam ao longo do tempo, ou por causa do

manuseio inadequado ou ainda pelas próprias características dos materiais

constituintes. Os fatores para a degradação de fotografias podem ser

intrínsecos e extrínsecos.

a) Fatores intrínsecos – pela própria natureza dos materiais que compõem a

fotografia ou pelo processamento incorreto em laboratório. As deteriorações

mais comuns são:

Esmaecimento, amarelecimento e aparecimento de manchas na área da

imagem e do suporte;

Alteração de formato, aparecimento de bolhas e enrugamento, etc;

Destruição da camada de gelatina, emissão de gases, ressecamento ou

amolecimento da superfície.

b) Fatores extrínsecos – pelo manuseio incorreto, pelos materiais e sistemas

inadequados de embalagem e arquivamento e pela falta de controle

ambiental e de higiene da área de guarda dos acervos.

Competência 05

59

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

Manuseio incorreto pelo próprio homem causam danos graves e alguns

irreversíveis:

Impressões digitais, sujidades, abrasões, rasgos, fraturas, perdas de

suporte primário, perdas de emulsão, perdas do suporte secundário;

Figura 31 - Ampliação rasgada por manuseio incorreto. Fonte: Coleção particular. Foto Betty Lacerda, 2011.

Materiais acessórios e embalagens inadequadas (envelopes, pastas, caixas,

álbuns, encadernações, colas, adesivos, etc.) causam:

Esmaecimento, amarelecimento e manchas na área da imagem e do

suporte, alteração de formatos, rasgos e fraturas;

Figura 32 - Negativos em embalagem envelhecida. Coleção particular. Foto Betty Lacerda, 2013.

Ambiente de guarda com temperatura e umidade relativa do ar elevadas e

oscilantes, incidência de luz solar provocam:

Competência 05

60

Técnico em Biblioteca

Ataques de fungos e insetos, alterações físico-químicas e orgânicas do

material, destruição da camada de gelatina, aceleração do desgaste das

embalagens, dentre outros problemas;

Falta de rotina de limpeza e higienização do ambiente e poluição do ar,

causam:

Depósito de poeira e gases, pragas, ataques de insetos e animais

roedores.

Podemos observar que chamamos mais atenção para os fatores externos de

deterioração pelo fato de que a maioria das soluções dos problemas está em

nossas mãos, bastando que não cruzemos os braços diante das dificuldades e

usemos de criatividade e bom senso.

5.4 Limpeza e Higienização

Existem vários tipos de tratamento de limpeza ou higienização e a escolha do

procedimento a ser adotado dependerá da espécie de fotografia e do

problema de deterioração apresentado.

Antes de iniciar qualquer limpeza, deve-se observar cuidadosamente a

emulsão e o suporte do objeto fotográfico. Lembre-se de que a emulsão é

formada pela camada aglutinante e pelos materiais formadores da imagem e

que o suporte é a camada que dá sustentação ao objeto fotográfico e onde se

encontra a emulsão.

É preciso ter cuidado com suportes fragilizados e com emulsões que estejam

se descolando do suporte. Quando o suporte for de papel, ele pode estar

rasgado ou quebradiço. Quando for de vidro, pode estar quebrado ou

trincado.

Competência 05

61

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

5.4.1 Limpeza de Emulsões

O tratamento mais adequado para a limpeza de emulsões, e que se aplica

sistematicamente, é por meio de jato de ar lançado por uma pera de

borracha. O procedimento é seguro, não toca nem risca a emulsão e pode ser

aplicado, de um modo geral, a todas as espécies de fotografias.

O soprador de borracha retira a poeira

depositada sobre a superfície de qualquer

espécie de documentos. Entretanto, é

preciso ter cuidado em suportes

fragilizados onde a emulsão pode estar se

destacando.

Figura 33 - Limpeza de emulsão de negativo de película. Acervo particular. Foto Severino Ribeiro, 2013.

Para remoção de sujidades mais renitentes

também pode ser usado um pincel de

cerdas macias, mas com cuidado

redobrado, pois pode deixar leves riscos

sobre a superfície.

Figura 34 - Limpeza de negativo em vidro com pincel de cerdas macias.

Acervo Fundaj. Foto Severino Ribeiro, 2013.

As ações de limpeza e acondicionamento são tarefas obrigatórias e complementares: após a limpeza é fundamental o acondicionamento em novas embalagens:

não faz sentido limpar as fotografias e acondiciona-las nas mesmas embalagens, porque se sujariam de novo;

não é produtivo acondicionar em novas embalagens os documentos sujos, porque acarretaria a degradação das embalagens;

Competência 05

62

Técnico em Biblioteca

O pincel de cerdas macias também pode

ser usado na limpeza de fotografias sobre

papel, com cuidado para não deixar riscos

na imagem.

Figura 35 - Limpeza de impressão (prova original) com pincel de cerdas macias. Acervo particular. Foto Severino Ribeiro, 2013.

5.4.2 Limpeza de Suporte em Papel ou Cartão

As sujidades no verso das fotografias sobre papel, em cartões de montagem

ou páginas de álbuns podem ser limpas com borracha incolor macia ou por

meio de uma “trouxinha” ou “boneca” de tecido contendo pó de borracha, ou

ainda com pincel de cerdas macias e pera sopradora.

Figura 36 - Limpeza do verso da fotografia com pó de borracha.

Fonte: Acervo particular. Foto Severino Ribeiro, 2013.

Coloca-se a fotografia com a imagem virada

para baixo sobre uma folha limpa de papel

neutro ou mata-borrão.

Se segura a fotografia com uma mão aberta e

movimenta-se a “trouxinha” com o pó de

borracha do centro para fora, sem aplicar

demasiada força.

Não se deve esperar que o papel fique com

aspecto de novo, pois ele não é.

Competência 05

63

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

Figura 37 - Retirada do excesso do pó de borracha. Fonte: Acervo particular. Foto Severino Ribeiro, 2013.

Figura 38 - Limpeza do anverso com pera de sopro.

Fonte: Acervo particular. Foto Severino Ribeiro, 2013.

5.5 Acondicionamento, Embalagens e Arquivamento

Esta é uma etapa muito importante no processo de conservação das coleções.

A escolha do material utilizado, do tamanho e da forma compõe um conjunto

de critérios fundamentais, pois a embalagem deve adequar-se à peça, ao seu

estado físico e tipo de utilização. A embalagem não deve interferir com a peça

e deve ser de material quimicamente neutro ou alcalino. Da sua manipulação

não podem resultar danos físicos ou desgaste (PAVÃO, 1997). Neste processo,

identificamos três níveis de acondicionamento:

Devem-se limpar bem os resíduos de

borracha tanto da fotografia quanto do mata-

borrão (para evitar que fiquem colados no

objeto seguinte).

Ao final da limpeza, usar a pera de borracha

para soprar os dois lados da fotografia.

Devem-se limpar bem os resíduos de

borracha tanto da fotografia quanto do mata-

borrão (para evitar que fiquem colados no

objeto seguinte).

Competência 05

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Técnico em Biblioteca

Figura 39 - Embalagens em papel neutro. Fonte: phneutro.pt (2013)

As embalagens individuais são o primeiro nível de acondicionamento. Elas protegem da poeira, da manipulação e de flutuações bruscas do ambiente. Permitem uniformizar formatos, numerar e indexar. É o elemento mais delicado porque está em contato direto com as peças. Pode ser de papel, plástico ou cartão.

Figura 40 - Embalagens em papel neutro. Fonte: phneutro.pt (2013)

Figura 41 - Caixas para negativos em vidro. Fonte: phneutro.pt (2013)

O segundo nível de acondicionamento é composto pelas caixas, pastas, classificadores, álbuns. Permitem agrupar espécies semelhantes, evitar excesso de peso e são auxiliares na organização e na procura dos documentos fotográficos. Podem ser em cartão, plástico ou metal.

Figura 42 - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. Fonte: (PAVÃO, 1997, p.197))

O terceiro nível de acondicionamento é formado pelo mobiliário de guarda e arquivamento, são os armários, estantes e mapotecas em aço.

Quadro 10 - Acondicionamento, embalagens e arquivamento. Fonte: autora (2013)

Competência 05

65

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

Os materiais de embalagens – vantagens e desvantagens:

A escolha correta dos materiais para embalagens é uma decisão importante

em conservação. Todos eles, mesmo os mais usados em coleções de

fotografia – o papel, o cartão e o plástico – têm vantagens e inconvenientes.

Além do que esses materiais estarão durante muitos anos em contato direto

com os documentos e por esse motivo deverão ser de boa qualidade (PAVÃO,

1997).

a) O papel

De boa qualidade é um excelente material para embalagens;

Permite as trocas gasosas com o exterior, funciona como filtro de poeiras,

não é abrasivo e não cria eletricidade estática;

De má qualidade pode danificar seriamente a peça;

São aceitáveis os papéis de ph neutro ou próximo de neutro e os

ligeiramente alcalinos, livre de lignina e corantes;

Os envelopes ideais são os confeccionados por meio de dobraduras, não

requerendo colas.

b) O plástico

Tem a vantagem de ser transparente e facilitar a consulta sem precisar

remover o objeto do invólucro;

É adequado para provas (fotografias sobre papel) e diapositivos;

Atrai poeira (pela eletricidade estática) que fica retida na superfície,

podendo causar riscos;

O mais recomendado é o poliéster, de melhor qualidade, maior

transparência e estabilidade;

Devem-se evitar plásticos como o PVC (cloreto de polivinil), de cheiro

forte, que se decompõem rapidamente e interage com as peças;

Por ter surgido há pouco mais de 100 anos e os de melhor qualidade há

Competência 05

66

Técnico em Biblioteca

cerca de 50 anos, o comportamento dos plásticos, em longo prazo, não é tão

bem conhecido.

c) O cartão

Permite construir embalagens rígidas, oferece proteção às fotografias

fisicamente frágeis ou fragilizadas;

Optar pelo de boa qualidade (ph neutro ou ligeiramente alcalino, branco e

sem colagem ácida);

Com ele se constrói as clássicas molduras passe-partout para arquivo e

exposição;

Pode ser usado como suporte em embalagem de poliéster.

Qualquer embalagem, mesmo que tenha sido confeccionada com os melhores

materiais, devem ser observadas regularmente. É fundamental que se

acompanhe o comportamento dos materiais que compõem as embalagens

para que se possam detectar possíveis interações para com os documentos.

5.6 Como Evitar a Deterioração de Coleções de Fotografia

O controle da temperatura e da umidade relativa, especialmente na área de

guarda das coleções, é muito importante. É preciso que o acervo esteja num

ambiente no qual seja possível exercer controle da temperatura e da umidade

relativa. Se isso não for possível, num primeiro momento, ao menos se deve

transferir as coleções para uma área mais seca e fresca do edifício.

Enfatizamos que é por meio da conservação preventiva, como foi dito nas

competências anteriores, que conseguiremos salvaguardar a documentação e

evitar a destruição das coleções de fotografia. Sem dúvida, a vigilância e o

controle das condições ambientais do arquivo, junto com a forma de

utilização das coleções, é que definirão o tempo de vida de cada documento.

Caro (a) aluno (a), esperamos que você tenha apreciado o conteúdo e

Materiais a evitar! Não devemos nos esquecer de que temos que evitar,

em embalagens de arquivo, os

elásticos, as fitas adesivas, as colas

comuns e a base de solventes artificiais, bem como clipes e

grampos, que danificam

fisicamente os documentos e

enferrujam, deixando marcas que facilmente conhecemos.

A madeira e seus derivados são,

também, muito nocivos, já que no processo da sua

decomposição são liberados peróxidos – gases oxidantes que amarelam as

imagens de prata e o papel. Por esse

motivo, o mobiliário

(armários e estantes) não deve

ser de madeira (PAVÃO, 1997).

Competência 05

67

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

aprendido o máximo de conhecimento possível. Nossa proposta foi passar

principalmente práticas e soluções para conservação e preservação de

materiais informacionais. Boa aprendizagem!

A palavra chave em conservação é VIGILÂNCIA!

Competência 05

68

Técnico em Biblioteca

CONCLUSÃO

Caro (a) aluno (a), ao longo da disciplina Preservação, Conservação

Restauração e Recuperação Física do Acervo pudemos fazer um percurso em

torno de temas relevantes para as unidades de informação e demais

instituições responsáveis pela guarda de acervos históricos, documentais e

artísticos. Foi possível compreender o quanto a preservação destes acervos se

deve ao nosso compromisso, como Nação, de permitirmos que as gerações

futuras possam usufruir dos bens culturais que testemunham a nossa história

e cristalizam nossa identidade assim como nós usufruímos.

Distinguimos atividades aparentemente iguais, mas que, na verdade, são

diferentes e complementares entre si, mas que visam, sobretudo, a

preservação deste patrimônio: a conservação, a conservação preventiva e a

restauração. Vimos que essas atividades devem estar articuladas em um plano

que permita às equipes das unidades de informação se antecipar aos

problemas e emergências decorrentes tanto da natureza quanto da atividade

humana.

Vimos também que um Plano de Conservação Preventiva é composto por

ações e atividades globais que visam alterar todos os parâmetros que

interferem direta ou indiretamente no acervo e no seu estado físico. Ações e

atividades que devem ser perenes e cíclicas, nas quais o princípio do

monitoramento e da avaliação se transforme numa rotina e permita seu

constante aprimoramento. Ações e atividades que dependem, para alcançar o

sucesso almejado, da participação de todos os que fazem parte das equipes

das unidades de informação.

Enfocando as atividades da conservação preventiva, foi possível abordar de

modo particular o livro, indicando como ocorreu sua evolução e informando

sobre sua constituição física. Demonstramos também como é possível realizar

as atividades de higienização e guarda desta que é a nossa mais frequente

tipologia de acervo.

69

Preservação, Conservação, Restauração e Recuperação Física do Acervo

Finalmente, tratamos de uma tipologia de acervo por si só muito especial, que

está presente nos livros e, de modo muito frequente, nas bibliotecas, nos

museus e demais instituições detentoras de acervo: a fotografia. Vimos que a

fotografia, assim como o livro, é resultado das ideias e do pioneirismo de

muitos homens e mulheres que perceberam sua importância para a expressão

dos sentimentos humanos, para a preservação da memória das pessoas, das

famílias e das cidades, e para o registro e transmissão para o futuro dos

saberes acumulados ao longo dos tempos.

Esperamos que tenhamos contribuído de alguma maneira para que as

atividades desenvolvidas nas unidades de informação aconteçam calcadas em

conhecimentos técnicos, mas, principalmente, que tenhamos demonstrado o

quanto é importante a participação de todos, sem distinção da função ou

cargo, para que essas atividades alcancem seus objetivos: acervos

preservados e disponíveis para a coletividade.

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Técnico em Biblioteca

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Técnico em Biblioteca

MINICURRÍCULO DO PROFESSOR

Albertina Otávia Lacerda Malta

Mestra em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Pernambuco

(2013). Servidora da Fundação Joaquim Nabuco, instituição vinculada ao

Ministério da Educação, com sede no Recife. Na Fundação Joaquim Nabuco

exerceu os cargos de Coordenadora Geral do Centro de Documentação e de

Estudos da História Brasileira - Cehibra (2003/2011), Coordenadora de

Iconografia (1990/2003) e Chefe da Divisão de Fototeca (1988/1990).

Formada em História pela Universidade Católica de Pernambuco (1977).