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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016 PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM URBANA: o caso de Prados, Minas Gerais FERREIRA, AMANDA. (1); SALOMÃO, RAFAEL S. (2); BARBOSA, ANA A. (3) 1. Universidade Federal de Juiz de Fora. Graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Endereço Postal: Galeria Prefeito Álvaro Braga, 11/401, Centro, Juiz de Fora - 36010-280 E-mail: [email protected] 2. Universidade Federal de Juiz de Fora. Graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Endereço Postal: Rua João Huss Dias, 71, Nova Floresta, Guaxupé - 37800-000 E-mail: rasalomã[email protected] 3. Universidade Federal de Juiz de Fora. Prof.ª Dr.ª da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Endereço Postal: Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Campus Universitário, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Bairro São Pedro, Juiz de Fora 36036-900 E-mail: [email protected] RESUMO Visto que as políticas públicas empregadas atualmente não se mostram eficientes para uma adequada preservação das paisagens urbanas brasileiras, este artigo apresenta o estudo da paisagem urbana de Prados, no qual prioriza-se a leitura de sua forma urbana baseada na teoria e metodologia empregada pela Escola Inglesa de Morfologia Urbana, pelo estudo da evolução da forma urbana e a caracterização dos diferentes tecidos urbanos que formam a paisagem. Em vista disso, a contribuição deste trabalho é discutir a preservação da paisagem urbana de Prados entendendo sua conservação, sem que haja estagnação da paisagem, visto que as cidades estão em constante transformação. Portanto, busca-se a preservação da paisagem como um instrumento de planejamento territorial, com diretrizes e recomendações práticas para uma efetiva preservação. Palavras-chave: Paisagem urbana; Preservação urbana; Planejamento.

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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016

PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM URBANA: o caso de Prados, Minas Gerais

FERREIRA, AMANDA. (1); SALOMÃO, RAFAEL S. (2); BARBOSA, ANA A. (3)

1. Universidade Federal de Juiz de Fora. Graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Endereço Postal: Galeria Prefeito Álvaro Braga, 11/401, Centro, Juiz de Fora - 36010-280

E-mail: [email protected]

2. Universidade Federal de Juiz de Fora. Graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Endereço Postal: Rua João Huss Dias, 71, Nova Floresta, Guaxupé - 37800-000

E-mail: rasalomã[email protected]

3. Universidade Federal de Juiz de Fora. Prof.ª Dr.ª da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Endereço Postal: Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Campus Universitário,

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Bairro São Pedro, Juiz de Fora – 36036-900 E-mail: [email protected]

RESUMO

Visto que as políticas públicas empregadas atualmente não se mostram eficientes para uma adequada preservação das paisagens urbanas brasileiras, este artigo apresenta o estudo da paisagem urbana de Prados, no qual prioriza-se a leitura de sua forma urbana baseada na teoria e metodologia empregada pela Escola Inglesa de Morfologia Urbana, pelo estudo da evolução da forma urbana e a caracterização dos diferentes tecidos urbanos que formam a paisagem. Em vista disso, a contribuição deste trabalho é discutir a preservação da paisagem urbana de Prados entendendo sua conservação, sem que haja estagnação da paisagem, visto que as cidades estão em constante transformação. Portanto, busca-se a preservação da paisagem como um instrumento de planejamento territorial, com diretrizes e recomendações práticas para uma efetiva preservação.

Palavras-chave: Paisagem urbana; Preservação urbana; Planejamento.

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Introdução

O objetivo deste artigo é discutir a preservação da paisagem urbana de Prados e contribuir

para ações de preservação e planejamento. As pesquisas referenciadas são parte do

desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Para melhor entendimento do termo: “paisagem urbana”, pesquisou-se diferentes conceitos

sobre paisagem em relação a diferentes abordagens encontradas. A partir de então,

definiu-se o processo para a análise da paisagem, sendo empregado a morfologia urbana,

para o entendimento de sua materialidade. Buscou-se então, a interpretação de morfologia

urbana e ainda quando surgiu esta estratégia de estudo do ambiente, além de explicar,

brevemente, as principais vertentes que abordam o tema, visto que atualmente são

reconhecidas majoritariamente três correntes ou Escolas de Morfologia Urbana relacionadas

pelo ISUF (International Seminar on Urban Form), conforme Moudon (1997). A Escola Inglesa

de Morfologia Urbana foi usada como base teórica de análise, sendo a metodologia utilizada

facilmente adaptável a diferentes cidades. Contudo, foi utilizado como base o livro

"Fundamentos de Morfologia Urbana" (PEREIRA COSTA; GIMMLER NETTO, 2015), sendo

uma das poucas publicações existentes em português sobre a vida e a obra de Michael R. G.

Conzen, e a teoria da Escola Inglesa de Morfologia Urbana.

Realizou-se uma pesquisa documental, iconográfica e cartográfica para a compreensão da

transformação urbana de Prados e sua paisagem ao longo do tempo, abrangendo o contexto

histórico no qual se insere, introduzindo os períodos morfológicos definidos a partir da relação

entre os períodos históricos e os períodos evolutivos, para então analisar a evolução da forma

urbana do Centro Histórico de Prados. Contudo, foram feitas análises da forma urbana a partir

de sete períodos morfológicos, sendo estes: período de formação (1700-1730), período de

consolidação (1731-1770), primeiro declínio e estagnação (1771-1799), período de

recuperação (1800-1889), período de expansão urbana (1890-1969), segundo declínio

(1970-1999) e segundo período de expansão urbana (2000-2015). A partir destes períodos e

do entendimento do adensamento e expansão urbana de Prados, foram analisados os

diferentes tecidos urbanos identificados, que geram a atual paisagem urbana de Prados. A

partir das análises realizadas observa-se que a paisagem de Prados necessita de diretrizes

específicas para a manutenção de sua qualidade.

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Paisagem Urbana

Objetivando-se contribuir para ações de preservação da paisagem urbana de Prados,

pesquisou-se diferentes conceitos sobre paisagem para melhor entendimento do termo:

“paisagem urbana”, em relação a diferentes abordagens encontradas.

A paisagem urbana, de acordo com Pereira Costa et al. (2013) é o resultado da ocupação

antrópica em um determinado território, visto que cada paisagem urbana tem suas próprias

características, sendo o reflexo da sociedade local. Para analisar a estrutura formal de uma

determinada paisagem urbana é necessário compreender a sociedade e a variação dos

diferentes grupos ali inseridos. (PEREIRA COSTA; GIMMLER NETO, 2015). Por ser o reflexo

da sociedade local, entende-se que a paisagem está intrinsecamente ligada a cultura

herdada, como ressaltam Sá Carneiro et al. (2009, p.129), "a cultura caracteriza a paisagem,

desde as construções evidentes até o patrimônio intelectual ali conservado". Com base nisso

Ferriolo (2007, p.44) apud Sá Carneiro et al. (2009, p. 129) destaca que "cada paisagem

desvela uma cultura de conteúdo material e imaterial", visto que seus valores e costumes

estão inseridos no ambiente em que esta se desenvolve.

Ainda sobre a paisagem, Strappa et al. (2003) destacam em sua obra "La città come

organismo" o termo sendo empregado no sentido de forma do território, ou aparência visível

daquela estrutura de relações que liga os diversos estados físicos do processo antrópico do

solo natural, sendo este, de caráter individual, único e não repetível. A estrutura do organismo

se desenvolve por meio de processos históricos, que possuem determinadas características,

que se individua na transformação do solo, em um determinado espaço e tempo, em função

da variabilidade natural e histórica. Em resumo, as características de cada local, geográficas e

históricas, se conformam ao longo do tempo e geram paisagens únicas.

Sendo a paisagem empregada no sentido de forma do território pode-se entender, portanto,

que uma paisagem é a forma de determinada cidade. Nesse mesmo contexto, Moudon

(1997), salienta que a cidade pode ser lida e analisada através de sua forma física, que

compreende sua forma urbana, sendo esta definida a partir dos elementos físicos

fundamentais: as edificações e seus espaços livres, públicos ou privados, os lotes, os

quarteirões e as vias. A compreensão da forma urbana se dá em relação às escalas: o edifício

e o lote, as vias e as quadras, a cidade e a região, e está intrinsecamente ligada a história e as

suas transformações ao longo do tempo.

Já Macedo (1999) apud Pereira Costa e Gimmler Neto (2015, p.33) vê "a paisagem como um

produto e um sistema", levando em consideração as características variáveis de cada

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ambiente, resultando assim, uma alteração morfológica a partir do processo de ocupação do

território.

Todavia, o conceito de paisagem urbana para Michael R. G. Conzen, é "traduzida do termo

townscape", e refere-se a fisionomia da cidade. (REGO; MENEGUETTI, 2011, p.126). Ainda

para Michael R. G. Conzen a paisagem é vista como um produto sendo as transformações

socioeconômicas condicionantes da forma da paisagem urbana. No entanto, apesar do termo

paisagem urbana ser amplamente discutido e haver uma grande variabilidade de conceitos,

conclui-se que a paisagem urbana é a forma da cidade, como o resultado de alterações no

meio físico realizadas pelo homem ligada aos sistemas socioeconômicos e políticos que

ocorreram ao longo do tempo.

Para analisar uma determinada paisagem urbana, a partir do processo de ocupação e

urbanização das cidades, pode-se utilizar a morfologia urbana. Estas análises, feitas a partir

de períodos morfológicos, são base para o estudo de vários pesquisadores, como geógrafos,

historiadores, planejadores, arquitetos e urbanistas. (PEREIRA COSTA et al., 2013)

Morfologia Urbana

A morfologia urbana estabeleceu-se essencialmente como área de estudo em meados do século

XX, com o "questionamento das atitudes modernistas em relação às cidades históricas" (DEL

RIO, 1990, p.71), sem deixar de considerar as importantes contribuições de Camilo Sitte no final

do século XIX quando das ações de transformação do tecido urbano, em Viena.

O estudo morfológico busca através de determinados períodos analisar a complexidade das

cidades em detrimento das transformações ocorridas, com o intuito de compreender as

cidades contemporâneas e a evolução de suas paisagens.

DEL RIO (1990) entende que a morfologia urbana estuda o tecido urbano e seus elementos

construídos, formados a partir de sua evolução e das transformações ocasionadas pelos

processos sociais. A morfologia urbana deve ser vista como "o estudo analítico da produção e

modificação da forma urbana no tempo" (SAMUELS, 1986 apud DEL RIO, 1990, p.71). Por

outro lado, Barbosa (2007) diz que:

A morfologia urbana permite analisar a relação existente entre os espaços livres [...] e os espaços construídos formados pelas edificações, materializados pela ação social. Neste sentido, torna-se importante o conhecimento de que esta relação decorre tanto da forma urbana, própria do lugar, como das normas e leis que ela incidem. (BARBOSA, 2007, p.60)

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Nota-se então, que a morfologia urbana tem como objetivo identificar e descrever os

elementos comuns e a estrutura genérica da forma urbana, sendo os objetos de estudos para

avaliar as transformações urbanas: o sistema viário, os quarteirões, os lotes e as edificações.

(PEREIRA COSTA; GIMMLER NETTO, 2015)

Atualmente, conforme Moudon (1997), são reconhecidas pelo ISUF três principais correntes

ou "Escolas de Morfologia Urbana" 1 : Inglesa, Italiana e Francesa. Todas as escolas

consideram como 'parcela' mínima, o lote urbano e a edificação, sendo este, o ponto de

partida para entender a forma urbana.

A Escola Inglesa de Morfologia Urbana tem o objetivo de desenvolver uma teoria de

construção da cidade, uma teoria mais descritiva de como planejar a cidade a partir da

investigação das transformações da forma urbana. O precursor desta escola é Michael Robert

Günter Conzen, geógrafo alemão que se dedicou ao estudo das formas urbanas. (MOUDON,

1997)

A Escola Italiana tem como objetivo investigar as tipologias edilícias e desenvolver teorias de

desenho arquitetônico e urbano, estudando o modo como as cidades deveriam ser

construídas, baseadas nas tradições históricas de construção da cidade a partir das

edificações. Saverio Muratori, fundador da Escola Italiana de Morfologia Urbana, atuou como

arquiteto e professor, elaborando estudos sobre o processo evolutivo das cidades de Veneza

e Roma, e utilizava-os como bases teóricas para as suas aulas de desenho arquitetônico. De

acordo com Pereira Costa & Gimmler Neto (2015), Muratori desenvolveu sua prática

profissional com reflexões a partir do particular para o geral, no qual a consciência espontânea

é a capacidade da população de reproduzir um tipo básico de edificação enraizado pela

cultura local. Segundo Moudon (1997), a Escola Italiana de Morfologia Urbana tinha como

expoentes Gianfranco Caniggia, Giuseppe Strappa, Aldo Rossi e Carlo Aymonino.

Já a Escola Francesa iniciou-se no final dos anos 60 com os arquitetos Philippe Panerai e

Jean Castex e o sociólogo Jean-Charles Depaule, que fundaram a Escola de Arquitetura de

Versalhes em reação à arquitetura modernista. A Escola Francesa de Morfologia Urbana tem

interesse nos aspectos sociais das cidades, em escala arquitetônica e urbana. São descritivos

quando desenvolvem estudos morfológicos e tem como propósito desenvolver uma teoria do

projeto base sobre as tradições de construção da cidade. Ainda utiliza-se da análise

1 O termo "Escolas" foi proposto por Moudon, em seu artigo, em 1997, para se referenciar aos três grupos que pesquisavam sobre a morfologia urbana, com o objetivo de ser traduzido em outros idiomas com mais facilidade, e até hoje é empregado. (ROSANELI & SHACH-PINSLY, 2010).

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morfológica para identificar as bases do modernismo no desenho urbano no século XVIII.

(MOUDON, 1997)

Panerai em sua obra "Analyse urbaine" de 1999, traz a noção de "território" e de "paisagem

urbana", entendendo os fenômenos de crescimento através dos estudos morfológicos. Ainda

apresenta os elementos que constituem a cidade: os tecidos urbanos e as tipologias.

Como é possível observar, embora ambas as escolas de morfologia apresentarem

semelhanças em suas teorias e nos seus estudos aplicados, neste trabalho optou-se por

utilizar a teoria da Escola Inglesa de Morfologia Urbana como base conceitual e metodológica

com a finalidade de analisar a paisagem urbana do objeto de estudo, a cidade de Prados.

Teoria e Metodologia da Escola Inglesa de Morfologia Urbana

A Escola Inglesa de Morfologia Urbana estrutura-se no legado dos estudos de Michael Robert

Günter Conzen, geógrafo alemão nascido em 1907, completou sua graduação no Instituto

Geográfico da Universidade Humboldt, em Berlim, em 1931, onde as bases conceituais foram

estruturadas em estudos da paisagem e dos resultados visíveis sobre a paisagem urbana.

Radicou-se na Inglaterra, em 1933, onde atuou como Planejador Urbano e Rural, após um

curso realizado na Universidade Victoria, em Manchester, entre 1934 e 1936. Enquanto

planejador urbano preocupou-se com a formação conceitual e a sistematização das relações

urbanas, visto que, naquela época, havia uma lacuna em relação à fundamentação teórica de

planejamento e então, tentou estruturar a organização da ciência do planejamento. (PEREIRA

COSTA; GIMMLER NETTO, 2015)

O estudo mais significativo de M. R. G. Conzen foi o da cidade medieval de Alnwick, localizada

ao norte da Inglaterra, no qual é apresentado uma minuciosa análise morfológica, com o

intuito de abordar o desenvolvimento do plano urbano, detalhando suas características em

cada período morfológico, o padrão geral de crescimento, os tipos de unidades de

planejamento e a estrutura geográfica da paisagem urbana local. Contudo, este trabalho

indica que para uma análise morfológica apropriada é necessário fazer uma avaliação física

do local, como também a avaliação das questões sociais e econômicas inseridas no contexto

urbano local. (PEREIRA COSTA; GIMMLER NETTO, 2015)

A Escola Inglesa de Morfologia Urbana desenvolve estudos para analisar as transformações

que conformam as cidades, e tem como objetivo estabelecer parâmetros para o planejamento

e possíveis intervenções urbanas, de caráter multidisciplinar, abrangendo os conceitos da

geografia, história, ciências sociais, arquitetura e urbanismo. O estudo analisa o

desenvolvimento da cidade, em períodos morfológicos, sendo a forma em que as edificações

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foram construídas nos lotes e como influenciaram na dinâmica da cidade, parâmetros que

compõem um determinado tecido urbano.

M. R. G. Conzen configurou o processo de desenvolvimento, pelas denominadas parcelas

que representam extratos que se submetem e crescem sob determinados aspectos urbanos.

Como áreas da cidade que passam a existir em um dado momento e que apresentam

semelhanças, estrutural ou arquitetônica, e os relacionou ao plano de implantação dos

edifícios. Assim, num momento futuro, a cidade que se desenvolve, leva características

existentes e influenciam também na área já desenvolvida.

O método da Escola Inglesa de Morfologia Urbana utiliza de forma interdisciplinar a paisagem

urbana, analisado-a através da investigação das mudanças e permanências. Todavia, o

resultado observado é que a ocupação e urbanização "são evidências materializadas e objeto

de análise da Morfologia Urbana", e o propósito desta morfologia é estabelecer uma teoria

sobre a conformação das cidades. (PEREIRA COSTA et al., 2013, p.1)

Como método de análise, Michael R. G. Conzen propôs a visão tripartite, que consiste no

estudo de três aspectos formais: o plano urbano, o tecido urbano e o padrão de uso e

ocupação do solo, sendo os dois últimos, partes integrantes do plano urbano. Tais aspectos

são analisados em função dos intervalos de tempo que definem os períodos morfológicos, no

qual os resultados destas análises representam o processo de evolução da paisagem urbana.

O plano urbano está associado à ocupação do território e se desenvolve juntamente com a

história cultural da região, composto pelo sistema viário e o padrão de parcelamento do solo, é

considerado a organização das formas espaciais sobre a topografia. Para analisar o plano

urbano é necessário uma descrição geral do local, destacando o sistema viário e o padrão das

edificações que, quando semelhantes, formam uma unidade tipológica.

O tecido urbano é representado por quarteirões ou glebas com características semelhantes,

como a forma e o tamanho dos lotes, além da implantação da edificação no mesmo. As

características do estilo arquitetônico e dos materiais de revestimento compõem tipos edilícios

semelhantes, dentro de um tecido urbano, que por sua vez, conduz ao padrão de uso e

ocupação do solo. A partir das análises destas características pode-se definir a época em que

foram construídas, por estarem intrinsecamente ligadas aos aspectos socioculturais.

O processo de transformação que ocorre com as paisagens urbanas apresenta uma escala

hierárquica, podendo começar a partir de características relacionadas aos materiais de

revestimento, como até mesmo à ocupação dos lotes. Com o adensamento das cidades,

algumas áreas, sofrem transformações como a modificação do uso e a divisão de lotes que

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descaracterizam o tecido urbano. Devido a estas mudanças, Rego e Meneguetti (2011),

ressaltam que, o tecido urbano deve ser considerado um organismo, por estar em constante

transformação.

No entanto, para Rossi (2001, p.52), as estruturas urbanas com menores transformações no

decorrer dos anos, é o plano urbano, representado pelo sistema viário, pois este: "muitas

vezes se deforma, mas, substancialmente não se desloca". Contudo, o plano urbano

apresenta maior tendência de permanência no tempo, visto que as primeiras modificações se

dão no uso, pois demandam alterações na forma do tipo edilício, na fachada e na implantação

no lote, consequentemente, transformando o desenho da quadra e o tecido urbano. No

entanto, utiliza-se então o processo evolutivo urbano para interpretar e indicar determinadas

transformações no desenvolvimento econômico e social, que são denominados períodos

morfológicos, pois geram formas materiais passíveis de identificação na paisagem urbana.

As partes que diferenciam em sua forma, dentro de um mesmo plano urbano, são

consideradas unidades de planejamento. Segundo Pereira Costa e Gimmler Netto (2015),

Conzen indica o fator econômico que dá origem ao desenvolvimento de cada unidade de

planejamento e descreve as características do plano urbano, detalhando o sistema viário e o

parcelamento das quadras em lotes, identificando e definindo os lotes burgueses. Estes lotes

são considerados elementos originais do processo de parcelamento e em conjunto formam a

paisagem urbana. Possuem, como característica principal, maior profundidade em relação à

sua testada, sendo a edificação implantada em sua testada e os fundos ocupados por

quintais.

Ainda, segundo o método elaborado por Michael R. G. Conzen, através das análises

estudadas, torna-se possível compreender as tendências naturais de transformação que cada

cidade passa e garantir a continuidade de aspectos importantes da historicidade e unicidade

das paisagens urbanas construídas ao longo destas transformações, tornando-as paisagens

contemporâneas sem, no entanto, perder o caráter da paisagem.

Os centros urbanos históricos por serem as áreas mais antigas das cidades, tem uma maior

historicidade em relação aos outros tecidos, pois apresentam um maior número de períodos

morfológicos envolvidos em sua composição, por se desenvolverem durante um maior

período de tempo, no entanto, passaram por transformações mais significativas. A unicidade

pode ser entendida por identidade própria com suas características espaciais específicas.

Portanto, a análise de centros históricos, deve ser minuciosa, visto que essas regiões podem

apresentar acumulação de períodos morfológicos, denominado palimpsesto que é a

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sobreposição de camadas históricas que se acumulam no mesmo espaço físico e que podem

se apagar com o passar do tempo, segundo Pereira Costa e Gimmler Netto (2015).

Para a determinação dos períodos morfológicos relaciona-se os períodos históricos com os

períodos evolutivos, no qual os períodos históricos são demarcados por eventos e fatos

específicos em um determinado período de tempo, e os períodos evolutivos, configuram-se a

partir das transformações ocorridas na paisagem urbana, baseadas nas características

econômicas, sociais, políticas e culturais, sem uma definição temporal precisa. Entretanto,

para o estudo da paisagem urbana de centros históricos, é necessário a flexibilização para

definição dos períodos morfológicos, adequando-os às fontes e referências existentes.

A morfologia urbana, de acordo com Rego e Meneguetti (2011, p.126), "não estuda a cidade

isoladamente, mas a sua inserção no território e o modo como o conjunto de formas urbanas,

planejadas ou espontâneas, constitui a paisagem regional".

De acordo com o método da Escola Inglesa de Morfologia Urbana, a análise de uma

determinada paisagem urbana inicia-se com a estrutura urbana atual e se retrocede em

determinados períodos para que se avalie a formação e a evolução da paisagem urbana

(PEREIRA COSTA; GIMMLER NETTO, 2015).

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Prados e sua Paisagem

Tecidos urbanos e uso e ocupação do solo

A partir das análises feitas, foram identificados quatro diferentes tipos de tecidos

urbanos, classificados de acordo com a metodologia da Escola Inglesa de Morfologia Urbana,

apresentada anteriormente.

Figura 1 - Mapa esquemático dos diferentes tecidos urbanos de Prados e representação dos tecidos urbanos em fotos

Fonte: Baseado em SALGADO (2010). Mapa base Google (2016). Elaboração Amanda Ferreira (2016).

Fotografias por Amanda Ferreira. Nota: Na primeira foto (2015) tem-se o bairro Centro representando o tecido

urbano 1, núcleo histórico. Já na segunda foto (2015), tem-se o bairro Coqueiros representando o tecido urbano 2

com ocupações de encostas. Na terceira foto (2016) tem-se o bairro Centro representando o tecido urbano 3,

ocupações recentes. E na quarta foto (2016) tem-se o bairro Jardim Primavera representando o tecido urbano 4,

ocupações recentes com tendência à expansão.

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O tecido urbano 1 é constituído, substancialmente, por edificações do centro histórico, com

características arquitetônicas semelhantes, datadas de meados do século XVIII até meados

do século XIX. Entretanto, nota-se que houve o adensamento do centro, com uma ocupação

desordenada, pois a cidade não tem uma legislação vigente que assegure o caráter singular

da paisagem urbana de Prados. Este adensamento se deu principalmente com a ocupação de

encostas e de fundos de quintais dos lotes lindeiros à Igreja. O uso do tecido urbano 1 é

predominante residencial, com algumas edificações de uso misto, sendo comercial no

primeiro pavimento e residencial nos outros. Há ainda, edificações de uso institucional, como

Fórum, a Prefeitura e Escolas, e de uso religioso, Igreja Matriz e Capela do Rosário.

Já o tecido urbano 2 é caracterizado por edificações nas encostas adjacentes ao centro

histórico e até bairros mais recentes, Quebra-Castanha e Coqueiros, sendo composto de

ramificações de ruas estruturantes, gerando assim, ruas sem saída, que impedem a formação

de quarteirões ou glebas. É constituído, principalmente, de edificações de um a dois

pavimentos, sendo o uso residencial predominante.

O tecido urbano 3 é composto principalmente por edificações recentes, entretanto, nos

caminhos estruturantes, as vias principais, existem algumas edificações antigas. Composto

pelos bairros Pinheiro Chagas e Atalaia, uma parte do bairro Quebra-Castanha e a Rua de

Baixo, pode-se perceber que a ocupação é desordenada, sem um padrão de uso e ocupação

do solo e o tipo das edificações que configuram o tecido são, geralmente, de três a quatro

pavimentos.

A partir das análises visuais, percebe-se que houve uma preocupação com o parcelamento do

solo, no tecido urbano 4, sendo feitos loteamentos pela iniciativa privada, e configuram-se

bairros com tendência a expansão. O tecido urbano 4 é composto pelos bairros Jardim

Primavera e Buganvílias, sendo caracterizado pelo uso residencial e apresenta,

principalmente, edificações de dois a três pavimentos.

Análise Morfológica

A análise morfológica apresentada a seguir tem o objetivo de entender a evolução da cidade a

partir de seus períodos morfológicos, conforme preconizado pela Escola Inglesa de

Morfologia Urbana. Todavia, para o estudo morfológico vamos nos ater apenas ao centro

histórico do Município de Prados.

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Período de formação do arraial: 1700 a 1730.

O povoado que deu origem à Prados surgiu, com os primeiros registros datados, de 1704,

quando os irmãos do Prado, iniciaram ali a exploração do ouro. O principal fator para a

formação do povoado foi a extração do ouro, que se fazia ao longo do córrego que atravessa

a cidade. O povoamento nas Minas Gerais seguiam um mesmo padrão, na medida em que se

fixavam, construíam capelas, iniciando assim, os protonúcleos.

De acordo com Vale (2000), o povoamento definitivo foi feito pelos sesmeiros, e as casas

foram sendo construídas junto às minerações. No arraial, o povoamento era provisório, ao

longo do caminho tronco, chamada Rua Direita. Com a construção da Igreja, inicia-se a

formação do núcleo de Prados.

Período de consolidação: 1731 a 1770

Com a estabilização da mineração, os proprietários de fazendas e sítios constroem suas

casas nas proximidades da Igreja, para pernoitarem, desde o ano de 1730. E a consolidação

do arraial, resulta na criação do Distrito de Prados pela Ordem Régia de 16 de janeiro de

1752. Para Vale (2000) Prados era como os já "conhecidos povoados brasileiros de

montanha", é como um "protótipo desses povoados". (VALE, 2000, p.40) e ainda afirma que

Prados, assim como as primeiras cidades mineiras, se formou a partir do caminho tronco: "as

primitivas cidades mineiras não tem largura nem altura, só tem comprimento. Parecem um

caminho. Assim era Prados de antanho". (VALE, 2000, p.38) Entende-se, então, que as

primeiras ocupações se consolidaram pelo caminho tronco, principalmente, ao redor da Igreja.

A figura abaixo ilustra, que os lotes se configuravam como os lotes burgueses, com a

definição da testada, porém, os fundos eram limitados pelo morro ou pelo córrego que

passava na cota abaixo. Percebe-se ainda que os fundos dos lotes eram destinados a quintais

e hortas, características ainda rurais, evidenciando de certa forma uma agricultura urbana,

trazendo a inúmeras edificações o caráter ainda de chácaras.

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Figura 2- Croquis esquemático com as primeiras ocupações ao redor da Igreja e Ilustração dos Primórdios do Arraial de Prados

Fonte: Elaboração Amanda Ferreira (2016) | Acervo do Museu Francisco Virgolino de Souza Filho em Prados (Sem data). Foto: Amanda Ferreira (2015).

Primeiro declínio e estagnação: 1771 a 1799

Em meados do século XVIII, com as dificuldades para extração do ouro e a cobrança de cada

vez mais tributos feita pela Coroa, aumentava a insatisfação da população. Inicia-se, então, a

Inconfidência Mineira. Este período é marcado por um declínio econômico ocasionado pelas

dificuldades daquele tempo, ocorreu uma estagnação no arraial e provavelmente não

houveram grandes alterações significativas no plano urbano.

Entretanto, apesar de ser um período de declínio e estagnação, em 1778, é iniciada a

construção da Capela do Rosário. Nota-se, portanto, com o início da construção da Capela é

criada uma nova direção para a expansão da cidade que virá ocorrer no início do século, como

pode-se notar no croquis abaixo.

Figura 3 - Croquis do mapa de ocupação em Prados a partir de 1778

Fonte: Elaboração Amanda Ferreira (2016).

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Período de recuperação: 1800 a 1889

No início do século XIX, encerra-se o período áureo das minas e os senhores de lavras se

dedicam à agricultura e pecuária. Com a economia em crise, inicia-se a indústria de artefatos

de couro, como arreios e outros produtos, o que aponta uma recuperação econômica.

Através de pesquisas em materiais da Fundação João Pinheiro, pode-se dizer que há um

considerável aumento da população e ainda, segundo Vale (2000), há uma recuperação na

economia do Distrito, no qual gera melhorias das edificações. Pode-se dizer, então, que é o

início de uma expansão urbana, como é representado no croquis abaixo.

Figura 4 - Croquis do mapa de ocupação em Prados em meados do século XIX e Ilustração do Arraial de Prados em 1839

Fonte: Elaboração Amanda Ferreira (2016) | Fonte: Acervo do Museu Francisco Virgolino

de Souza Filho em Prados (1839). Foto: Amanda Ferreira (2015).

Período de expansão urbana: 1890 a 1969

Em 1890 é criado o Município de Prados, o qual eleva a Freguesia à categoria de Vila.

Contudo, em 1891 é instalada a Vila de Prados. Em 1892 é instalada a Comarca de Prados e

no mesmo ano, deu-se a elevação de Vila à Cidade. Com a expansão, foram sendo feitas

melhorias referentes à infraestrutura urbana, como a autorização para os estudos de

canalização de água potável na cidade, em 1896. (VALE, 2000) No início do século XX, é

aberta a Rua Magalhães Gomes, transformando a cidade, que era composta por poucas ruas

e becos estreitos e tortuosos. Foram construídas edificações, ao longo da nova via.

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Figura 5 - Rua Magalhães Gomes recém aberta e ao passar dos anos sua ocupação e adensamento

Fonte: Acervo de Luís Fonseca e Silva (1908). Acesso: 16 fev. 2016 | Acervo do Museu Francisco Virgolino de

Souza Filho em Prados (Sem data). Foto: Amanda Ferreira (2015) | Acervo de Luís Fonseca e Silva (1920). Acesso: 16 fev. 2016.

Devido à expansão urbana vão ocorrendo melhorias, como ressalta VALE (2000), que em

1914, inicia-se o uso de água canalizada e em 1920, é inaugurado o coreto na Rua Magalhães

Gomes e a partir de 1921, é inaugurada a luz elétrica na cidade. Percebe-se ainda como

ocorre o adensamento. No entanto, nota-se ainda, como os lotes burgueses permanecem

com as mesmas dimensões. A partir de 1937, é autorizada a construção rede de esgoto na

sede do município e a partir da década de 1960, inicia-se a ocupação das encostas lindeiras.

Entende-se, a partir das descrições de Vale (2000), que com a elevação da Vila à Cidade,

houve um desenvolvimento mais expressivo gerando um crescimento populacional e

consequentemente, uma expansão urbana e ainda o adensamento da área central

principalmente em relação aos lotes burgueses, que foram divididos e ocupados os fundos,

que antes eram destinados a quintais e hortas. Vê-se essa transformação da cidade no

croquis abaixo.

Figura 6- Croquis do mapa de ocupação em Prados até meados do século XX

Fonte: Elaboração Amanda Ferreira (2016).

Segundo declínio: 1970 a 1999

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Na década de 70, durante a Ditadura Civil Militar, com o "Milagre Econômico" há o incentivo

de melhorias na infraestrutura das cidades que geraram empregos, ocasionando o êxodo rural

e a migração para os grandes centros, acarretando as expansões urbanas, sem o devido

planejamento. Ainda, com a indústria automobilística inicia-se uma crise na indústria de

arreios de couro, e as indústrias modificam os produtos passando para o artesanato em couro

de sapatos e bolsas. Em decorrência da crise que afetou a indústria de arreios de couro e o

incentivo a geração de empregos nas grandes cidades, há um declínio demográfico do

município. Contudo, em 1977 a Fundação João Pinheiro realiza um estudo preliminar e

diretrizes de desenvolvimento para a Região do Campo das Vertentes, e em 1980, é

elaborado um Plano de Organização Espacial e Preservação do Centro Histórico de Prados.

Entretanto, esses planos com diretrizes específicas para cidade não foram implementados

pela Prefeitura, e ainda hoje, a cidade não possui planos de planejamento. Em decorrência da

falta de planejamento, nota-se que as expansões urbanas ocorrem de maneira desordenada.

Figura 7 - Croquis do mapa de ocupação em Prados no final do século XX

Fonte: Elaboração Amanda Ferreira (2016).

Segundo período de expansão urbana: 2000 a 2015

A partir do século XXI, com as políticas públicas e a melhoria de vida das classes populares,

tem-se um aumento da população, visto que saída para os grandes centros urbanos é menor.

A partir de análises visuais do local, percebe-se um considerável número de residências de

médio a alto padrão, principalmente em bairros novos. O mapa abaixo retrata a ocupação no

século XXI, com um maior adensamento do centro histórico e de áreas adjacentes.

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Figura 8 - Croquis do mapa de ocupação em Prados no século XXI

Fonte: Elaboração Amanda Ferreira (2016).

Considerações Finais

A partir das pesquisas realizadas, nota-se que a ocupação em Prados se deu, primeiramente,

com o adensamento do Centro Histórico e expansão para as áreas adjacentes e

posteriormente, adensou-se outras áreas, até então, pouco ocupadas, como é o caso dos

Bairros Pinheiro Chagas, Quebra-Castanha e Coqueiros, além da ocupação dos caminhos

estruturantes, como a Rua de Baixo e a Rua que segue para Atalaia.

Conclui-se então, que para a efetiva preservação de nossos bens culturais, assim como o

entorno no qual se inserem, é necessário que sejam elaboradas políticas públicas e

instrumentos de gestão e planejamento da paisagem, como Plano Diretor, Lei de uso e

ocupação do solo e zoneamento; assim como parâmetros urbanísticos que auxiliem a

preservação da paisagem urbana de Prados, para que esta não perca suas características e

qualidade.

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