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Preservar para viver: a experiência da preservação de quelônios no Rio Ituxi em Lábrea (AM) Acervo Apadrit.

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Preservar para viver: a experiência da preservação de quelônios no Rio Ituxi em Lábrea (AM)

Realização

ApoioPreservar para viver: a experiência da preservação de quelônios no R

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Quais os motivos que levam um grupo de pessoas a iniciar um trabalho que vai na contramão do que pensam e fazem os seus familiares, vizinhos e pessoas das comunidades ao redor? O que leva alguém a enfrentar difi culdades como ter que remar durante horas por um trabalho voluntário, correndo riscos e ausentando-se de casa?Talvez a experiência aqui sistematizada não contenha as respostas exatas à essas questões, mas ilustram como, sem hesitar, os moradores e moradoras da Reserva Extrativista do Rio Ituxi levam adiante um projeto de preservação à vida: o PRESERVIDA.Os bons resultados do projeto e a perseverança dos ribeirinhos e ribeirinhas dessa unidade de conservação no interior de Lábrea, estado do Amazonas, são os ingredientes que mantém vivos todos os anos milhares de quelônios dos Rios Ituxi e Purus, apesar de tantos desafi os.Organizações comunitárias, governamentais e não-governamentais comprometidas com projetos de conservação ambiental, não apenas na Amazônia, mas em todo o Brasil, tem muito a aprender com esses guardiães da fl oresta e dos rios. Essa publicação faz com que seus relatos e refl exões sejam compartilhados de maneira fl uída e corrente; como as águas do Ituxi.

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RealizaçãoAssociação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio Ituxi (Apadrit)Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)

Autoria ColetivaAbraão Carvalho da Cruz – Comunidade Vila VitóriaAldenir Arruda Braga – Vigia do Tabuleiro Nova Brasil II – Resex Médio PurusAmérico Teixeira de Sousa Neves Neto – Comunidade Nova Esperança – Rio ItuxiAntonio Vasconcelos de Souza “Pastor Antonio” – Comunidade Vila Vitória - Rio ItuxiAvelino Duarte de Oliveira “Seu Lino” – Comunidade Boas Novas – Rio SiriquiquiBenedito Clemente de Souza – Comunidade Jurucuá – Resex Médio PurusBraz de Oliveira da Silva – Comunidade Cajajuriã – Rio ItuxiConceição Fernandes Freires – Comunidade Vila Vitória – Rio ItuxiEliel Santos de Souza – Comunidade Vila Vitória – Rio ItuxiFrancisca Maia Freies “Dna. Roxinha” – Comunidade MangutiariFrancisco Maia Freire “Acuta” – Comunidade MangutiariJoana Nogueira de Sousa – Comunidade Nova Esperança – Rio ItuxiJoão Rodrigues Dias – Comunidade Vila Vitória – Rio ItuxiJoão Xavier de Mesquita “João Sabino” – Comunidade Capiruã José Maria Ferreira de Oliveira – Resex Médio Purus, presidente da ATAMPLaureni Barros Flores – Comunidade Floresta – Rio ItuxiLeonardo Marques Pacheco – ICMBioLuzianne Paiva de Souza – UEAManuel Ventura da Silva – Comunidade Boas Novas – Rio ItuxiMiqueias Santos de Souza – UFAMRafael Pereira dos Santos – Comunidade Vila Vitória – Rio ItuxiRaimunda Dias Farias “Dna. Deusa” – Comunidade São LuizRaquel Fernandes da Costa – Comunidade Vila Vitória – Rio ItuxiSilvério Barros Maciel – Comunidade Floresta – Rio Ituxi OrganizaçãoRoberta Amaral de Andrade (IEB)ColaboraçãoFrancivane Fernandes (IEB)Marcelo Franco (IEB)Miqueias Sousa (Apadrit)Leonardo Marques Pacheco (ICMBio)Coordenação editorialAlessandra Arantes (IEB)Foto da capaAcervo Apadrit

Projeto gráfi co Ribamar Fonseca (Supernova Design)Revisão ortográfi ca Valdinea P. da SilvaEditoração Eletrônica Supernova DesignImpressão Athalaia Gráfi ca

P933 Preservar para viver : a experiência da preservação de quelônios no Rio Ituxi em Lábrea (AM) / Roberta Amaral de Andrade, organizadora. – Brasília : IEB, 2013. 75 p. : il. ; 30 cm.

Inclui bibliografi a 1. Meio ambiente - preservação. 2. Projeto de conservação – Rio Ituxi (AM). 3. Projeto quelônios - Amazônia. I. Andrade, Roberta Amaral de.

CDD 363.7

Esta publicação foi produzida graças ao apoio do povo americano por meio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O conteúdo é de responsabilidade de seus autores e não necessariamente refl ete as opiniões da USAID ou do Governo dos Estados Unidos.

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Organização

Roberta Amaral de Andrade (IEB)

Colaboração

Francivane Fernandes (IEB)Marcelo Franco (IEB)Miqueias Sousa (Apadrit)Leonardo Marques Pacheco (ICMBio)

Setembro de 2013

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Acuta – à esquerda – os agentes ambientais mirins e o professor Eliel – à direita na soltura de 2010

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APRESENTAÇÃOINTRODUÇÃOQuê? Quelônios?! Projetos de conservação de quelônios na AmazôniaA EXPERIÊNCIA VIVIDA: CONSERVAÇÃO DE QUELÔNIOS NO RIO ITUXI, CALHA DO PURUSOs quelônios no Rio PurusO trabalho do Ibama: Projeto Quelônios da Amazônia (PQA)LINHA DO TEMPO“O ITUXI É O PURUS HÁ QUATORZE ANOS ATRÁS!”DESPERTAR PELA TERRA E PELA PRESERVAÇÃOAPRENDENDO COM A PRÁTICAO TRABALHO TÉCNICO: PASSO A PASSO1º PASSO: Preparação das praias2º PASSO: Monitoramento da desova3º PASSO: Acompanhamento dos nascimentos4º PASSO: SolturaENVOLVIMENTO DAS PESSOAS E O PROJETO PRESERVIDABALANÇO DOS RESULTADOSLIÇÕES APRENDIDAS E PLANOS PARA O FUTUROA importância da integraçãoAperfeiçoamento técnicoÉ preciso ter ousadiaNovos desafi osRecado ao outros gruposDocumentos consultadosLista de siglas

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Sumário

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Eu achei muito importante conversar sobre o nosso projeto. Espero que essas entrevistas cheguem até Brasília. João Dias, Agente Comunitário de Saúde (ACS) na Resex do Rio Ituxi

Aqueles que conhecem os projetos de conservação de quelônios na Amazônia e pela primeira vez têm contato

com a experiência de conservação no Rio Ituxi, situado no Município de Lábrea, no Amazonas, logo imaginam que esse é mais um dos projetos conduzidos por instituições governamentais ou de ensino como o Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) ou o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa). No entanto, a experiência contada na presente publicação, ambientada em um território de muita luta das comunidades locais pela garantia de seus direitos e manutenção de seus modos de vida, pode ser considerada singular. Ali o projeto desenvolvido ganha o nome de Preservida e assume algumas particularidades que motivaram este trabalho.

A metodologia de reconstrução da experiência, a “sistematização de experiências”, é um processo refl exivo

Apresentação

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de montagem de um “quebra-cabeças”, que permite aos protagonistas uma imersão nos acontecimentos passados para a avaliação e o balanço dos resultados e apropriação dos aprendizados e visualização dos novos desafi os.

Essa publicação, um dos produtos desta sistematização, foi “escrita” quando vivida pelas pessoas envolvidas na experiência e apenas organizada e colocadas no papel pela equipe do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB). O objetivo, com isso, é que se faça conhecer e difundir tal experiência, de modo a valorizar o conhecimento e o movimento gerado, atingindo outros grupos que pretendam ou já conduzam processos semelhantes.

Esperamos também que as páginas a seguir sensibilizem aqueles que pouco contato tem com essa realidade para reconhecer o fundamental papel que as comunidades amazônicas têm na conservação dos recursos naturais, dos quais são dependentes. Qualquer política pública ou ação desenvolvida com essa fi nalidade deve ter nessas populações seus aliados. A experiência do projeto Preservida é a confi rmação deste fato.

Boa Leitura!

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Antes quando a gente trabalhava na sorva, a gente não tinha conhecimento com o meio ambiente, mas, uma vez tocando fogo no campo, eu peguei um isqueiro e olhei. Estava escrito ‘respeite o meio ambiente’ e aquilo me serviu de lição. Com um isqueiro daqueles eu podia tocar fogo no mundo inteiro. Mas eu tive a ideia de cuidar.

Seu Lino, Resex do Rio Ituxi

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E ste livro trata da experiência do Projeto Preservida, desenvolvido por um grupo de moradores e moradoras da Reserva Extrativista (Resex)

do Rio Ituxi, no Município de Lábrea (AM), que fazem a preservação de quelônios em praias de duas comunidades da Reserva.

Antes de contar esta experiência, impulsionada pela força de vontade de um grupo de pessoas para evitar a extinção desses animais em seu território, é importante que se conheça um pouco sobre esse território e sobre os atores que participam dessa história: as comunidades ribeirinhas de Lábrea e os quelônios.

Introdução

Reunião sobre o projeto na presença do Ibama em 2012

PRESERVAÇÃO

O termo “preservar”, utilizado pelas comunidades da Resex do Rio Ituxi no trabalho que desenvolvem com os quelônios, será usado ao longo do texto com o sentido de “garantir os recursos necessários para a utilização das gerações futuras”.

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Reunião com Valmir (Ibama) no escritório do ICMBio em 2012

Reunião sobre o projeto

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Quê? Quelônios?!

A pesar do estranhamento que possa causar o nome, para quem nunca ouviu falar, os quelônios nada mais são do que

o nome dado ao grupo de animais a qual pertencem as tartarugas de água doce, as tartarugas marinhas, os jabutis e peremas (cágados). Na Amazônia, são chamados de bichos-de-casco e abrangem as tartarugas da Amazônia (Podocnemis expansa), tracajás (Podocnemis unifi lis), pitiús ou iaçás (Podocnemis sextuberculata), irapuca (Podocnemis erytrocephala), jabutis (Chelonoidis sp.), entre outros. No Brasil, existem 33 espécies (tipos) de quelônios: cinco são marinhos, 26 de água-doce e apenas dois terrestres.

Estes répteis – os bichos-de-casco são répteis assim como as cobras, os lagartos e os jacarés – são identifi cados pela presença de carapaças (nas partes superior e inferior do casco), que protegem o corpo desses animais quando se sentem ameaçados. Os quelônios são agrupados em dois grandes grupos basicamente em razão da maneira pela qual o animal recolhe a cabeça para dentro do casco: i) os Cryptodiros, que recolhem a cabeça totalmente dentro do casco, como os jabutis, o muçuã (Kinosternon scorpiodes) e o jabuti-machado (Platemys platycephala); e ii) os Pleurodiros, cujo pescoço dobra-se, lateralmente, dentro do casco a exemplo da tartaruga e do tracajá.

Os bichos-de-casco não possuem dentes, mas apresentam um “bico cortante”, usado para arrancar pedaços de alimentos que são diversifi cados de acordo com a espécie, e podem ser carnívoros (comem carne), herbívoros (comem vegetais) e onívoros (comem tanto carnes quanto vegetais). As fêmeas dos quelônios põem ovos, em covas cavadas (ninhos), fora da água, normalmente em praias, barrancos (solo argiloso), como no caso de jabutis; e na terra e em meio ao folhiço, como no caso do cabeçudo (Peltocephalus dumerilianos) e do mata-mata (Chelus fi mbriatus). O número de ovos varia de acordo com a espécie e o tamanho do animal, e são, em média, 400 ovos para a tartaruga-marinha e 200 ovos para a tartaruga de água doce. Depois da postura dos ovos, os fi lhotes levam em torno de dois até seis meses para nascer dependendo da espécie.

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Tartaruga da Amazônia (Podocnemis expansa)

Tracajá (Podocnemis unifi lis)

Pitiú ou iaçá (Podocnemis sextuberculata)

Cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus)

Irapuca (Podocnemis erythrocephala)

Fotos e fonte: Ibama.

Muçuã ou Jurará (Kinosternon escorpioides)

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O que determina o sexo dos quelônios é a temperatura de incubação, que é o período em que os ovos se desenvolvem na cova. Temperaturas acima da média local originam mais fêmeas e temperaturas abaixo, mais machos. Os fi lhotes nascem com pouco mais de seis centímetros. Nas espécies aquáticas, os fi lhotes correm logo para a água depois que conseguem sair da cova.

Estes bichos de casco duro e aparência cansada possuem uma importância enorme para as populações amazônicas ribeirinhas do norte do país, pois são fonte de proteína animal na alimentação, e é um hábito cultural o consumo dos adultos bem como de seus ovos e fi lhotes.

De acordo com relatos históricos, os índios foram os primeiros consumidores da carne, ovos, gordura e vísceras desses animais. Entretanto, esse costume foi logo introduzido na dieta de outras populações tradicionais da Amazônia, tornando-se um hábito alimentar arraigado dessas populações. A partir do século XVII, o homem exerceu uma pressão excessiva de exploração dos estoques de quelônios, principalmente da tartaruga-da-Amazônia. As populações dessa espécie sofreram um impressionante massacre, que chegava à

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coleta de 48 milhões de ovos por ano e 400.000 fi lhotes de fêmeas deixaram de nascer a cada ano (BATES, 1863; MITTERMEIER, 1978, apud IBAMA, 2013).

Os quelônios além de desempenharem papel importante como recursos naturais também exercem grande relevância na cadeia alimentar de outros animais. Apesar disso, eles são vulneráveis às ações do homem e de predadores naturais, o que vem levando algumas espécies a estágios de extinção pela captura predatória para o comércio desses animais e de seus ovos, sem contar a ameaça pela poluição dos rios e mares.

Projetos de conservação de quelônios na Amazônia

Dada a importância dos quelônios na vida dessas comunidades e a diminuição da espécie em diversas regiões da Amazônia, nos últimos trinta anos, algumas iniciativas de conservação vêm sendo desenvolvidas na região. Destaque pode ser dado aos projetos conduzidos pelas populações ribeirinhas de diversos municípios

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nos Estados do Amazonas e Pará em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) – o Projeto Pé-de-Pincha; e aos trabalhos conduzidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por meio do Projeto Quelônios da Amazônia (PQA). Outra iniciativa mais recente para a conservação desses animais é o Projeto Tartarugas da Amazônia (PTA) do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa).

O Projeto Pé-de-pincha nasceu em 1999 no Município de Terra Santa, no Pará, da parceria entre a Ufam e os moradores da região, que se preocupavam com o desaparecimento dos quelônios na região. O nome Pé-de-pincha vem da marca dos rastros que os bichos de casco deixam na areia, em forma de tampinha de refrigerante, conhecidas, no local, como “pinchas”. O projeto envolveu comunidades e instituições locais em treinamentos, palestras, cursos e atividades diretas de proteção de ovos e soltura de fi lhotes de quelônios no seu ambiente natural. (ANDRADE et al., 2005)

O Programa Quelônios da Amazônia (PQA), por sua vez, foi criado pelo Ibama em 1979 com o mesmo objetivo de preservação dos quelônios, por meio da fi scalização das áreas de desova (tabuleiros), fortalecendo o envolvimento das comunidades com a formação de Agentes Ambientais Voluntários (AAVs), promovendo também a Educação Ambiental para os agentes envolvidos no local. O trabalho consiste na proteção das praias e tabuleiros, com a ajuda das comunidades, priorizando seis espécies: a tartaruga da Amazônia, o tracajá, o pitiú ou iaçá, a irapuca, o cabeçudo, e o muçuã, com o objetivo de recuperar e manter os estoques desses animais nos rios amazônicos.

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A superintendência do Ibama no Acre, desde o fi m dos anos 1990, vem trabalhando por intermédio do PQA e das comunidades ribeirinhas desde as cabeceiras dos Rios Acre, Laco, Tarauacá e Envira, até a região do médio Rio Purus, Pauini, Abunã e Juruá, no Estados do Acre e Amazonas (Municípios de Boca do Acre, Pauini e Lábrea).

Segundo o Relatório de Atividades de 2010 do Ibama/AC, em 21 anos de atuação e com um convênio estabelecido com o Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA), o PQA realizou atividades de educação ambiental para crianças, cursos, treinamentos e implantou alguns centros de quelonicultura, possibilitando o incremento na população dos quelônios nas áreas em que atuou (MMA, 2010).

Foi por intermédio do PQA que os ribeirinhos da calha do Rio Purus tiveram suporte para iniciar a longa caminhada de preservação dos quelônios que lá vivem e se reproduzem, fazendo parte do cotidiano alimentar de suas vidas, mas sendo também muito ameaçados pela captura predatória.

PRAIAS E TABULEIROS

As praias são os ambientes de desova dos quelônios. Na época da vazante, os rios amazônicos deixam à mostra esses solos de areia. As praias em que vários quelônios fazem seus ninhos de uma só vez são chamadas de “tabuleiros”. Em um tabuleiro, podem subir para desovar até quinhentos indivíduos em uma noite. va

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A Experiência Vivida: conservação de quelônios no Rio Ituxi, Calha do Purus

Os quelônios no Rio Purus

O Rio Ituxi, palco da experiência de preservação de quelônios relatada nesse livro, tem infl uência direta do rio em que desagua: o Purus, que apresenta uma biodiversidade de fauna aquática sem igual. Afl uente do Rio Solimões, o Rio Purus nasce no Peru e, no Brasil, suas águas barrentas cortam os Estados do Acre e do Amazonas. Ao entrar neste último, recebe as águas do Rio Acre, no Município de Boca do Acre, e em Lábrea suas águas encontram com as do Ituxi.

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Localização de Lábrea, Amazonas

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Rio Purus e a cidade de Lábrea ao fundo

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No Rio Purus, estão concentrados inúmeros lagos, praias e igarapés, ambientes férteis para a reprodução de peixes e quelônios, que desenvolvem com o ambiente uma relação de cumplicidade na utilização de suas praias como “tabuleiros” para reprodução.

A diversidade da fauna e fl ora local aplica-se também às populações humanas que ali se encontram. A história de ocupação da região antecede à colonização do vale do Purus, região já habitada anteriormente por populações indígenas, tais como os Apurinã, Paumari, Deni, Zuruahá, Jamamadi, entre outros povos, que foram duramente combatidos em meados de 1840. A ocupação mais recente, no último século encontra-se estreitamente vinculada à ocupação da Amazônia, e grande parte das comunidades que hoje se encontram ao longo do rio são extrativistas descendentes de seringueiros e soldados da borracha.

Assim como outras populações na Amazônia, as comunidades dos Rios Purus e Ituxi possuem uma relação enraizada de consumo de quelônios, utilizando-os, principalmente, na alimentação, mas também na medicina, nos cosméticos ou em usos domésticos, como na calafetagem de canoas. O alto consumo, destinado à venda na cidade, e fatores como o trânsito de embarcações e a captura acidental de quelônios por utensílios de pesca fi zeram com que esses bichos existentes na região diminuíssem ou até mesmo desaparecessem.

Diante desse fato, o Ibama começou a operacionalizar, na década de 1990, o PQA nessa região, que atualmente concentra o maior número de desovas e a maioria dos grandes tabuleiros do Amazonas (MMA, 2010).

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RESERVA EXTRATIVISTA !RESEX"

Reserva Extrativista foi um modelo de reforma agrária pensada pelos seringueiros do Acre, à época de Chico Mendes. Foi uma forma de proteger os recursos naturais, a fauna e a fl ora utilizados para a subsistência das famílias existentes e das futuras gerações. A Resex reconhece os direitos de uso dos recursos e moradia das comunidades tradicionais. Pode ser criada pelo governo federal ou estadual, a partir de demanda das comunidades. Em uma Resex, os donos de terras particulares têm que sair mediante indenização.

O trabalho do Ibama: Projeto Quelônios da Amazônia (PQA)

Em Lábrea, o trabalho em parceria com o Ibama começou junto com as comunidades que hoje se encontram na Reserva Extrativista (Resex) Médio Purus (decretada em maio de 2008). A atuação do projeto ocorreu, inicialmente, em sete tabuleiros ao longo do Rio Purus, no trecho de Rio Branco à Lábrea: tabuleiros do Botafoguinho, Pacoval, Santa Izabel, Santa Cândida, Novo Brasil, São João do Itari e Jurucuá.

Áreas protegidas e desmatamento (até 2008) do município de LábreaFonte: IEB.

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Valmir do Ibama participa da soltura em 2012 e orienta o trabalho

As atividades na região sempre foram realizadas “a várias mãos”, havendo parceiros que ajudavam no trabalho em cada município, entre órgãos públicos municipais, estaduais e federais, organizações não governamentais e, principalmente, os próprios ribeirinhos.

Os cuidados dos tabuleiros fi cam a maior parte do tempo nas mãos de alguns moradores das comunidades: os “vigias”, que receberam do Ibama um treinamento inicial e todos os anos recebem também os materiais necessários e uma ajuda de custo nos meses que trabalham. São esses vigias que se encarregam de cuidar dos tabuleiros desde a época da reprodução dos quelônios, no início de maio, passando pela desova, nascimento, cuidados dos fi lhotes e soltura, ao longo de, aproximadamente, sete meses contínuos.

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Seu Aldenir, vigia do tabuleiro Novo Brasil II, começou o trabalho no ano de 2000. Em seu primeiro relatório, contabilizou quatro tartarugas desovando. Treze anos depois, relata o resultado animador: 1.071 novas tartarugas apareceram nos tabuleiros para desovar. Isso apenas se tratando de quelônios, que são os animais monitorados, mas há muitos outros animais não contabilizados que se benefi ciam da preservação dessas praias.

A gente fala tartaruga, mas na prática a gaivota, bacurau, camaleão, todos esses bichos estão sendo preservados com os cuidados do tabuleiro. Os bichos fi cam naquele lugar de refúgio. Sem contar os peixes! Aldenir, Resex Médio Purus

Mais recentemente, além desses sete tabuleiros – que passaram a ser chamados de “ofi ciais” –, foram criados outros sete, chamados de “comunitários”.

Os tabuleiros comunitários foram implantados por sugestão do Ibama por meio de acordos com as comunidades. Com menos de cinco anos de implantação, os resultados obtidos nesses tabuleiros foram menos expressivos do que os ofi ciais: em 2012, foram soltos apenas 300 quelônios. Seu Benedito, morador da comunidade Jurucuá, atribuiu o baixo número de quelônios soltos à confusão entre responsabilidades, pois os moradores estavam acostumados com a metodologia de trabalho nos tabuleiros ofi ciais. Ainda que houvesse um acordo com as comunidades para que cuidassem, elas fi caram à espera do Ibama – que não apareceu no último ano – para executar os trabalhos.

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A gente cuidava desse tabuleiro em coletivo. Da última vez que o Ibama esteve aqui, eles se comunicaram dizendo que preferiam que fossem escolhidas uma ou duas pessoas da comunidade para vir um pagamento para eles. A Dna. Nazaré deu o nome de um fi lho dela e de mais uma pessoa. Daí o pessoal falou: “Já que eles vão deixar para cuidar, deixa para lá”. Mas nunca chegou nada para eles. Benedito Clemente, Resex Médio Purus

Nos tabuleiros ofi ciais, além do trabalho dos vigias, a presença do Ibama sempre foi fundamental. Os funcionários do órgão realizavam o monitoramento nos tabuleiros durante uma determinada época do ano, visitando um a um, quando o projeto possuía recursos. Eles saiam de barco de Rio Branco em direção à Boca do Acre e Lábrea, em uma viagem que durava cerca de nove dias. Ao longo do tempo, no entanto, os recursos e o tempo disponível dos funcionários do Ibama diminuíram e as viagens passaram a ser mais rápidas, até que, em 2012, deixaram de monitorar e não houve a liberação dos recursos nem para o pagamento dos vigias e nem dos gastos do trabalho.

Atualmente, há uma grande preocupação quanto à falta de assistência do PQA em todos os tabuleiros. Nessa época de crise, os vigias dos tabuleiros ofi ciais contaram com o apoio do órgão gestor da Resex, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que em 2012 arcou com as despesas de

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combustível e material, o que, ainda assim, não foi sufi ciente. Levando em conta o tempo desprendido pelos vigias para cuidar dessas áreas durante meses, durante os quais essas pessoas deixam de trabalhar em suas atividades econômicas, o “rancho” – isto é a alimentação necessária a uma família no período de um mês – torna-se também um item fundamental. José Maria Ferreira de Oliveira, presidente da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Médio Purus (Atamp) vem tentando articular-se com o Ibama de Manaus e com o ICMBio para reverter esse quadro e evitar a perda de um trabalho de 20 anos, com pouca esperança. Em 2013, os vigias já disseram que não podem trabalhar sem receber os recursos, e os comunitários continuam ainda no aguardo de uma posição do Ibama, que se comprometeu em fazer visitas pontuais aos tabuleiros, sem, no entanto, conseguir uma solução para a mudança brusca na metodologia de trabalho.

Não se sabe ainda das consequências da interrupção, nos últimos dois anos, de um trabalho tão importante como o que vinha sendo desenvolvido pelo Ibama junto às comunidades do Rio Purus. É importante, por isso, buscar soluções e ter nessa experiência um aprendizado para que se possa ressaltar e aperfeiçoar as sementes que foram plantadas, sendo uma delas a experiência que contamos nas próximas páginas, na Resex do Rio Ituxi.

O Ibama tinha uma atuação direta com os tabuleiros, diferente do ICMBio, que tem uma série de coisas pra cuidar. A associação hoje está muito mais preocupada com essa questão, porque vemos as difi culdades, inclusive do próprio gestor local do ICMBio. Sem apoio do órgão ele não daria conta de tocar isso sozinho. A situação é complicada. (José Maria, Resex Médio Purus)

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Filhotes com umbigo não cicatrizado são mantidos em uma caixa d’água com areia até a cicatrização

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Linha do Tempo

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“O Ituxi é o Purus há quatorze anos atrás!”

A o mesmo tempo em que as comunidades “vizinhas”, no Rio Purus, iniciavam o projeto em parceria com o Ibama,

no Rio Ituxi elas começavam a perceber que a quantidade de quelônios – principalmente os tracajás – ia diminuindo a cada ano. Tinha lugares que já não se via mais. O principal fator de destruição não era o consumo pelas comunidades, mas sim a captura de animais e a coleta de ovos para a venda. Eles valiam (e ainda valem) muito na cidade, e as pessoas chegavam até a trocar cigarros por um “bicho de casco”. A maior parte fazia pela necessidade, por não haver outra forma de sobrevivência e geração de renda, situação que ainda perdura.

Os materiais utilizados na pesca de outros bichos também acabaram com parte dos quelônios. Mesmo quando não são o alvo principal, as malhadeiras, espinhéis e camurins, espalhados pelo rio para pescar peixes, acabam capturando acidentalmente os tracajás, dos pequenos aos grandes. Muitas vezes o que ocorre, infelizmente, é que esses utensílios muitas vezes são colocados propositadamente para pegar os bichos de casco para a venda.

É interessante: o que a gente está começando hoje é o trabalho que os vigias do Purus estavam fazendo há quatorze anos. Miqueias Souza, Apadrit

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Antigamente, no tempo do meu pai, quando a gente era criança, tinha muito mesmo bicho de casco. O meu pai cansava de falar que tiravam os ovos até de caixa. Não fazia falta. Foi o tempo que o pessoal começou a pescar com malhadeira, pegando e vendendo. Aí foi falhando.

Dna. Roxinha, Resex do Rio Ituxi

A malhadeira ataca muito, mas pega os bichos maiores, os pequenos

passam. Já o espinhel e o camurim levam tudinho: o pai, a mãe, o fi lho, o neto, tudo! Se você iscar 50 camurins,

pega uns trinta ou quarenta bichos. Do grande ao pequeninho. E o espinhel é

o pior: são 150 anzóis!

Seu Américo, Resex Rio Ituxi

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MALHADEIRA, ESPINHEL, CAMURIM E CAPA#SACO

A malhadeira, o espinhel, o camurim e o capa-saco são instrumentos utilizados na pesca. A malhadeira é um tipo de rede em que o tamanho da malha depende do tamanho do peixe que se vai pescar. A de 20 cm é usada para pegar bicho de casco. O espinhel é uma corda com vários anzóis que se mantém esticada quando amarrada em pontos de apoio na beira com auxílio de uma pedra, que alcança o fundo. O camurim é feito de linhas de fi bra amarradas a boias com anzóis iscados (com palmito ou peixes) nas extremidades. Já o capa-saco é uma rede com cordas grossas utilizada nas “bocas” dos igarapés, na correnteza, principalmente em época de vazante do rio. É um tipo de rede que tampa completamente o rio/igarapé.

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Indignado com essa situação, Seu Américo Teixeira, foi um dos primeiros a cuidar dos tabuleiros em 2008, e uma das “peças-chave” no trabalho iniciado pela Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio Ituxi (Apadrit), que consistia na vigilância das praias para evitar o saque dos ovos e dos próprios quelônios, que eram capturados para venda. Ele pensava nas gerações futuras, e não apenas nos seus, mas nos fi lhos e netos daquele rio, que corriam o risco de não poder presenciar um tracajá boiando, ou a “esquentação” dos bichinhos no início do mês de julho. O fato de haver no Rio Purus, um projeto apoiado pelo governo federal, teve grande infl uência, não apenas para mostrar na prática que os resultados eram positivos e que era possível preservar, mas também para dar suporte para a movimentação que se iniciava no Ituxi:

Aqueles mais revoltosos falavam [...] que se pegassem quem estava proibindo iam dar uma “piza” no cara, porque o cara não podia proibir aquilo que era da natureza; se era da natureza era pra todos. Eu dizia “sim, se é da natureza é pra todos, mas o governo quer que a gente preserve [...]”. Isso não vem só de nós, como eu cansei de dizer olha gente, isso não vem de mim, não vem do Pastor, vem do governo. É o governo que quer fazer essa preservação no Amazonas inteiro, não é só aqui, vocês pensam que é só aqui, mas não é só aqui. Seu Américo

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O Ibama, realmente, mostrava-se empenhado em preservar os quelônios no Rio Purus, mas o trabalho que nascia no Ituxi, no entanto, era um movimento um pouco diferente: quem começou e fez o trabalho crescer não foi o governo e sim alguns moradores das próprias comunidades, ainda que contrariados por uma parte deles – o que foi uma das principais difi culdades enfrentadas.

A gente trabalhou sem ajuda dos funcionários públicos: ninguém nem via eles por aqui; Nunca teve um pra dizer “Seu Américo, eu estou do seu lado”; ou “se atacarem, nós estamos com vocês”. Então nós começamos esse trabalho na coragem e na fé em Deus, como quem vai brigar com uma onça.

Seu Américo

Antigamente, na praia do Gregório – a primeira a receber cuidados, se via de todos os tipos de quelônios: de tracajás a pitiús. Quando começou a cuidar da praia, o desejo de Seu Américo era poder ver os “bichinhos boiando” em um

ESQUENTAR !OU ASSOALHAR"

O termo “esquentar”, falado normalmente pelas comunidades ribeirinhas do Ituxi (e conhecido tecnicamente como “assoalhar”) é dado ao período em que os quelônios saem da água, subindo em pedaços de paus, pedras ou nas praias para se esquentarem ao calor do sol. Esse processo é realizado por fi lhotes e adultos para que o casco fi que mais rígido, uma vez que a vitamina D ativada pelo sol metaboliza o cálcio que, por sua vez, endurece o casco. Nas fêmeas adultas, esse processo faz parte do desenvolvimento dos ovos que serão colocados nos tabuleiros. É nesse momento também que os bichos se expõem à superfície fi cando mais vulneráveis aos predadores.

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lugar onde já não se via nada. Além de solitário, ele executava um trabalho difícil e oneroso, enfrentando ainda a resistência de vizinhos e pessoas de fora que pegavam os ovos: os “atacadores”, alguns ainda que zombavam de seus esforços.

Eu cansei de sair daqui três horas da madrugada remando para ir lá pra praia para preservar aquelas covinhas de ovos que eles tinham colocado no correr da noite. Mas os atacadores me chamavam de “puxa-saco”, porque eu estava trabalhando voluntário.

“Fosse ao menos para ganhar, era uma coisa mais saudável, mas voluntário não!” indignavam-se os “atacadores”. Isso não afetava o pioneiro da praia do Gregório: “Mas deixe, sou eu, eu quero cuidar [...]”, dizia Seu Américo. O trabalho, no entanto, não se manteve por não apresentar muitos resultados, uma vez que já pouco havia o que se preservar ali, diferente do que se via na preservação dos quelônios das prais do rio Purus. Seu Américo quase se deu por vencido, não fosse o apoio de duas pessoas, que estiveram presentes desde o início: Pastor Antonio Vasconcelos, liderança da Apadrit, quem primeiro levou e articulou os trabalhos na reserva, e Francisco Maia, o “Acuta”, morador de outra comunidade vizinha, que também passou a cuidar de tabuleiros. Companheiros de longa data, esses três personagens já haviam lutado juntos alguns anos antes para terem assegurado os seus direitos de cidadãos e de acesso à terra, pois só assim seria possível o surgimento do trabalho com os quelônios, como veremos a seguir.

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Esquentação de tracajás no Rio Madeira

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Despertar pela terra e pela preservação

Pastor Antonio segura a camiseta do projeto

O “I Encontro das Populações Tradicionais do Amazonas” foi onde o papai [Pastor Antonio] despertou para essa coisa da preservação. Ele voltou de lá cheio de ideias. Antes disso quem mandava lá era os regatões. Aí ele chegou e começou a trabalhar na sensibilização do povo. Eliel Souza, Apadrit

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Limites da Resex, Rio Ituxi e seus afl uentes: Rio Siriquiqui e Rio Punicici Município de Lábrea, sul do Estado do AmazonasFonte: IEB.

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Antes do trabalho com os quelônios começar, a comunidade de “Pedreira do Baú” (atual Vila Vitória) se organizava – não sem muita luta – para a formação da Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio Ituxi (Apadrit), criada em 1997. Diante de uma série de ameaças ao território, como os grileiros, e explorados por “patrões” e “regatões”, que os acorrentavam à escravidão por dívidas, os moradores dos Rios Ituxi e afl uentes se organizaram em comunidades e começaram a se conscientizar sobre os seus direitos.

Lideradas pela Apadrit, na pessoa de seu primeiro presidente – o Pastor Antonio Vasconcelos – movidas pela injustiça que reinava sobre os moradores da região e preocupadas com a garantia da terra e dos recursos dos quais dependiam, aquelas comunidades adotaram a ideia da criação de uma reserva extrativista na região para “preservar a fl oresta e seu ecossistema e garantir à população local a exploração autossustentável dos recursos naturais renováveis, de modo a alcançar equilíbrio ecológico e qualidade de vida” (Carta de solicitação da criação da Resex ao CNPT; APADRIT, 2000). Desse momento em diante, as conquistas da associação seriam notáveis e resultariam na criação da reserva extrativista, em 2008: a Resex do Rio Ituxi, envolvendo 14 comunidades, com suas “voltas” e praias, incluindo muitas que serviam de moradia aos quelônios.

Diante dessa conjuntura de lutas pela sua terra e sobrevivência (do fi m dos anos 1990 até meados de 2008) não é, portanto, de se espantar a força que a preservação dos quelônios ganhou tanto com a criação da Resex quanto com o envolvimento da associação. Mesmo em meio à movimentação social, Pastor Antonio abraçou a causa e reforçou o trabalho de preservação dos quelônios, antes de qualquer interferência do governo, motivando outras pessoas na Resex.

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Sede da Apadrit na comunidade Vila Vitória

Cortei muita sorva, seringa. O que eu via era que a gente só consumia e nunca colocava. Aí o Pastor Antonio teve a ideia de pedir a reserva. Fomos aprendendo por meio dele, que foi um bom professor. Seu Lino, Apadrit

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PROGRAMA AGENTE AMBIENTAL VOLUNTÁRIO !AAV"

Diante da necessidade de se intensifi car a atuação dos órgãos gestores nas unidades de conservação com a participação da população no processo de gestão, o CONAMA, por meio da Resolução nº 03/88 criou o “agente ambiental voluntário”, que foi incorporado ao Ibama na forma de um programa (Normativa IBAMA º 066/05), com o objetivo de preservação dos recursos naturais. Qualquer pessoa física pode habilitar-se ao ingresso no programa desde que seja alfabetizada, tenha mais que 18 anos, esteja vinculada a uma entidade civil ambientalista ou afi m e tenha sido capacitada e credenciada pelo Ibama.

(FONTE: Adaptado de Ibama, 2013 e Ambiente Brasil, 2005)

Paralelamente aos acontecimentos do Ituxi, em 2005, o Ibama criou o Programa Agentes Ambientais Voluntários (AAV) com o objetivo de aproximar os moradores das comunidades da gestão ambiental, que, na maior parte das vezes, fi cava a cargo apenas dos órgãos gestores e de fi scalização. A ideia era de compartilhar responsabilidades com os agentes, não sem que antes eles passassem por um treinamento para desempenhar suas funções. No mesmo ano de criação do Programa, o Ibama realizou em Lábrea um curso de AAVs para moradores do Rio Purus e do Rio Ituxi e afl uentes (áreas onde, no ano de 2008, seriam decretadas as Resex do Médio Purus e Resex do Rio Ituxi, respectivamente). Os participantes aprenderam sobre legislação e educação ambiental, procedimentos de fi scalização comunitária, entre outros assuntos. Mesmo sendo criticado – pelo fato de algumas pessoas acreditarem que o trabalho de fi scalização era função apenas do governo –, este Programa foi um marco no trabalho de preservação desenvolvido na região.

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Carteirinha do Agente Ambiental Voluntário de Francisco Monteiro Duarte, atual presidente da Apadrit

O curso despertou a autoconfi ança do grupo, fazendo-os sentir que estavam no caminho certo lutando pela criação de suas Resex. Sentindo-se apoiados pelo Ibama e com as ferramentas necessárias para trabalhar como agentes ambientais, o grupo enfrentou as reações contrárias ao trabalho dos quelônios. Conversavam com os atacadores com paciência e realizavam “autos de constatação” – quando necessário – sempre com muita cautela.

Eu não entrei em confl ito porque eu tenho assim um jeito pra chegar até as pessoas. Eu chego numa boa, conversando. Eu aprendi isso na época que a gente fez o treinamento pra agente ambiental voluntario. Porque a gente fez um treinamento de educação ambiental e teve uma boa prática de como chegar até as pessoas.

Benedito, Resex Médio Purus

Quando eles iam barrar alguém o pessoal perguntava se eles tinham autoridade pra fazer aquilo. Aí o pessoal mostrava a carteirinha “eu sou agente ambiental voluntário.

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Falávamos com o pessoal: “auto de constatação a gente pode fazer mas a gente não quer. Queremos que vocês obedeçam as leis, porque elas vem pra ajudar a gente.

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Três anos após o curso, em 2008, as duas Resex foram decretadas. Em maio, o Presidente Lula assinou apenas o decreto de criação da Resex Médio Purus. Essa notícia trouxe alegria pela vitória do povo do Purus, mas trouxe igualmente grande desânimo para as lideranças do Ituxi. Em meio à frustração, elas solicitaram uma audiência com o Presidente da República, Lula, que pediu que um grupo de lideranças retornasse a Brasília no mês de junho já para a cerimônia de decretação da Resex. Em 5 de junho de 2008, dia do Meio Ambiente, coroando uma luta de quase uma década, o Presidente Lula assina o decreto de criação da Resex do Rio Ituxi (ALEIXO, 2011). A partir dessa conquista, uma nova etapa de lutas se iniciava, entre as quais, a preservação dos quelônios.

No mesmo ano, em uma Conferência dos Povos da Floresta,

no Acre, Pastor Antonio conheceu Julio Rezende, chefe do PQA no Ibama do mesmo estado, que afi rmou: “se vocês tem vontade de trabalhar, nós também”. Assim, de volta ao Rio Ituxi, Pastor Antonio começou a fazer reuniões de sensibilização das comunidades. Mesmo com o incentivo e com o trabalho que já desenvolviam no Rio Purus, a parceria com o Ibama não se concretizou. Os tabuleiros do Ituxi tinham um dos pré-requisitos principais – o apoio das comunidades – mas o Ibama avaliou que teriam gastos muito altos para uma área tão pequena” a ser preservada.

Apesar disso, Pastor Antonio não desanimou. Em outra conferência, no Amazonas, ele conseguiu uma cartilha técnica do Projeto Pé-de-pincha. Ela dava as orientações que somadas à vontade de preservar, fi zeram com que os trabalhos, tal como se vê hoje, se iniciassem.

CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE PRAIAS !PQA"

“Seleção de Praias: para a seleção de um tabuleiro, consideramos imprescindível o apoio das comunidades localizadas no entorno da área a ser trabalhada. E é condição prioritária o desejo dessas comunidades de administrarem o manejo dos quelônios. As praias (tabuleiros) são selecionadas ainda de acordo com o potencial de reprodução, ou seja, pela quantidade de matrizes aptas à desova, que frequentam os tabuleiros, a proximidade de cidades, fl uxo diário de embarcações, facilidade de acesso, apoio de ONGS, etc.”

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Acuta e Chicão descobrem os ninhos

A praia do Gregório foi a primeira a dar resultados, mas começamos mesmo na praia do Caiado e lá já não tinha mais quelônios mesmo. Eu pensava “preservar o que ali?” De imediato já comecei a ver outras praias, a pedido do Acuta. Vi que tinha muito bicho boiando e tinha um potencial. Fiz uma reunião na Vila Vitória e mostrei a importância da preservação.

Pastor Antonio, coordenador do Projeto Preservida

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A situação de isolamento e falta de parcerias com organizações experientes na preservação dos

quelônios fez com que o grupo tivesse que usar a criatividade para ter resultados positivos. Por um lado, trabalharam com muitas difi culdades e com resultados não tão rápidos. Por outro lado, tornaram-se pesquisadores e inventores da própria prática. Tinham, afi nal, um ótimo laboratório à disposição: os tabuleiros que cuidavam.

A única ferramenta técnica de que dispunham para se orientar – a cartilha do projeto Pé-de-Pincha – forneceu as orientações técnicas básicas para o trabalho: o tempo de eclosão dos ovos, do desenvolvimento dos fi lhotes, como e onde fazer o berçário que os abrigaria antes da soltura, cuidados especiais que deveriam ser tomados para garantir a sobrevivência dos bichinhos antes que eles retornassem ao rio, seu lugar de origem. Ainda assim, sem apoio dos órgãos competentes, os resultados do trabalho no Rio Ituxi tiveram base na experiência e experimentação. Muitas ideias foram trazidas do Purus. Outras, apenas imaginadas e colocadas em prática.

Aprendendo com a prática

Começamos ilegal, mas não sabíamos como fazer. Hoje o pessoal do Ibama já passou pra gente que existem outras formas de trabalhar. O berçário estávamos fazendo errado, os bichinhos estavam comendo uns aos outros porque estávamos colocando muitos na caixa d’água. Já aprendemos alguma coisa. Pastor Antonio

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A parte mais conhecida e divulgada do trabalho de preservação de quelônios normalmente é a chamada “soltura,” momento no qual os fi lhotes são soltos ao ambiente natural de onde pertencem, seja no rio ou no mar. Não são todos que sabem, no entanto, que os trabalhos que resultam nessa atividade começam muito tempo antes. Nos Rios Ituxi e Purus eles se iniciam, respectivamente, de maio a junho e se estendem até novembro, sendo divididos nesse período em diferentes etapas.

O trabalho principal é basicamente o mesmo e consiste em assegurar um ambiente livre de predadores e perturbações para que as fêmeas adultas possam colocar seus ovos e depois vigiar o local até que os fi lhotes nasçam. O cuidado com os fi lhotes pode ser específi co para cada local. No caso do Ituxi, não há o transporte dos ovos para que os fi lhotes nasçam em um local instalado para isso, etapa necessária em locais sujeitos a serem inundados. No entanto, os fi lhotes, especialmente aqueles que ainda não tiveram o seu umbigo cicatrizado por completo, recebem cuidados em caixas d’agua, chamadas de berçários ou viveiros.

Todo esse processo é conduzido pela Apadrit junto aos agentes ambientais voluntários aos “agentes ambientais mirins” que são as crianças das comunidades que participam das atividades. Há uma preparação antes da prática tanto para os agentes adultos quanto para os agentes mirins. Os primeiros utilizam as reuniões da associação, ou convocam reuniões, quando necessário, para planejar a distribuição de tarefas e dos materiais e recursos necessários. Já os agentes mirins são treinados em sala de aula. Desde 2009, Eliel Souza, professor na comunidade Vila Vitória, dedica parte de suas aulas para

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Agentes ambientais mirins na soltura de 2011

O momento da soltura é sempre uma grande festa

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falar sobre educação ambiental, tendo como principal foco a preservação dos quelônios. Nas aulas teóricas, usa a disciplina de artes para sensibilizar e a de ciências para preparar as crianças para as aulas práticas, em que elas participam da limpeza das praias, dos cuidados no berçário e na soltura dos fi lhotes. Muitos pais contrários à ideia no começo passaram a ver o trabalho com outros olhos, sendo orientados pelos seus fi lhos sobre o que aprendiam na escola.

Professor Eliel reunido com os alunos para atividade com os quelônios

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O Eliel falou “vamos fazer diferente. Vamos envolver as crianças e eu me comprometo em fi scalizar, com ajuda do Rafael, Samuel e dos alunos”. Fizeram um trabalho excelente. Pastor Antonio

Minhas meninas gostam de preservar. Uma disse “papai, a natureza cuida deles, nós não sabemos cuidar. A gente vai dar comida e eles não vão achar bom, mas a natureza sabe escolher o que vai dar de comer pra eles. Abraão Carvalho, Resex do Rio Ituxi

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É uma alegria, um prazer que a gente vê nas crianças pra cuidar disso. Talvez eles mesmos é quem vão levar pra frente. Conceição Freires, Resex do Rio Ituxi

As crianças da Vila Vitória já são profi ssionais!. Laureni Barros, Resex do Rio Ituxi

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O trabalho técnico: passo a passo

São quatro pólos: Capiruã, Mangutiari, Vila Vitória e Capurana, que envolvem a Vila Vitória, que é a central e fi ca no meio. As reuniões são feitas lá. As praias fi cam entre Capiruã e Mangutiari, aí a Vila Vitória que vem de lá de cima, entre Mangutiari e Capiruã e junta tudo ali só naquele rio e faz a soltura do quelônio, todo fi nal de ano.

João Dias

Voltas – Desenho Pr. Antonio

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Os passos do trabalho de preservação dos quelônios segundo o Projeto “Pé-de-pincha”

Fonte: adaptado de Andrade, 2005.

Filhotes com umbigo não cicatrizado

Os passos do trabalho de preservação dos quelônios realizado na Resex do Rio Ituxi.

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“EMPRÉSTIMO”

O capitari é “emprestado” do Rio Purus, onde existem em abundância. Após o trabalho o capitari é solto no Rio Ituxi e passa a fazer parte daquele ambiente. O grupo se questiona sobre os efeitos do deslocamento dos bichos de uma área a outra, sendo essa estratégia, no entanto, a forma que encontraram de compensar o ambiente em que os quelônios já não sentiam segurança para desovar. Esse momento também é uma oportunidade que o grupo tem para trocar experiência com os vigias dos tabuleiros do Purus, que são quem lhes fornecem o “chama”.

1º PASSO: Preparação das praias

Colocação do “chama”

Tem gente que diz que o capitari velho, já formado mesmo, ele apita. Ai os quelônios que vão passando escutam o apito dele e fi cam por ali. Ele chama toda qualidade: a tartaruga, o tracajá, o içá (onde tem).

Seu Américo

“CHAMA”: é o nome dado ao macho da tartaruga – o “capitari” –, quando no início do mês de julho é “convocado” a um trabalho nobre: o de atrair ou “chamar” os quelônios que estão nos arredores para procriar e botar seus ovos na praia onde é colocado. Essa tática tem uma razão de ser: em ambientes muito perturbados pelo homem, onde a “atacação” é constante, os quelônios se afastam. A (re) construção da confi ança é um passo importante nesse momento.

Colocação de bandeirasUma praia com uma bandeira branca signifi ca “área de preservação”. Serve de aviso às pessoas de fora para que não se aproximem da área para não haver perturbações que espantem os quelônios.

Limpeza das praiasEsse é um trabalho importante, com o objetivo de remover obstáculos, como pedaços de pau, que possam interferir no deslocamento dos bichos até a praia. Essa ação é realizada com as crianças da escola municipal Irmão Geraldo.

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Acuta trabalha na praia sinalizada pela bandeira branca para dizer que é area de preservação

Placas de sinalização das praias confeccionadas pelo grupo

TEORIA E PRÁTICA

A limpeza das praias é a primeira atividade prática que as crianças das comunidades de Vila Vitória e Mangutiari desenvolvem. Durante as aulas teóricas, o professor Eliel explica sobre a importância da preservação dos quelônios e da limpeza das praias, rios e lagos da Resex. Os alunos têm suas aulas práticas de educação ambiental ao mesmo tempo em que realizam uma das etapas da preservação dos quelônios.

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2º PASSO: Monitoramento da desova

Vigia noturna diáriaEsse trabalho, realizado pelos vigias dos tabuleiros, é certamente o mais exaustivo. Todos os dias, o vigia deve acompanhar os bichos que visitam a praia no período da noite para desovar. “Tem que morar lá.”, afi rma Dna. Joana, mulher do Seu Américo, que todos os anos, na época da desova, aguarda pacientemente o marido voltar dos trabalhos noturnos.

Plaqueamento Diferentemente do que são ensinadas nas cartilhas, as plaquinhas não são colocadas exatamente nas covas e nem contém as informações do dia exato em que os ovos foram botados. Elas são colocadas em lugares com distância predeterminada das covas verdadeiras, e as informações sobre os ovos e como localizá-las são anotadas em um caderno. Essa estratégia serve para despistar os atacadores. A informação coletada nos cadernos serve para saber o período em que os fi lhotes nascerão e terão que ser transportados ao berçário – de 50 a 60 dias depois, dependendo do clima do verão.

Despistando os “atacadores” – limpeza dos rastros e covas falsas No segundo ano de cuidados, percebendo que além dos predadores naturais, ainda havia muitas pessoas de dentro e de fora das comunidades que atacavam os ninhos, o grupo pôs em prática uma ideia para despistá-los – marcar as covas verdadeiras e criar outras falsas em lugares onde apenas o grupo saberia localizar. Além disso, os rastros deixados até as covas são apagados. A ideia funcionou e nos outros anos continuou a ser aplicada.

ANOTAÇÕES A VÁRIAS MÃOS

Em alguns lugares onde muitas pessoas não sabem ler e escrever, a realização desse passo pode ser difi cultado. Para contornar essa situação, na comunidade de Vila Vitória e Mangutiari, as crianças têm desempenhado um papel importante: são incentivadas pelo professor Eliel a acompanharem os pais nos trabalhos práticos e ajudam na coleta de informações quando aqueles já dominam a escrita.

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Plaqueamento

Praia no Rio Ituxi

Tem que ir [todo dia] e dormir pouco, porque tem muito “cabra” experiente. Tem horário certo, quando não tem muita atacação a gente vai de manhã, depois só no outro dia. Tem o nome “vigia”, por isso. Ele vai sofrer. Mas a gente enfrenta.

Seu Américo

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3º PASSO: Acompanhamento dos nascimentos

Contagem dos ϐilhotesEssa etapa começou a ser realizada apenas no segundo ano de trabalho. Contam-se os fi lhotes normais e defeituosos.

Limpeza das covas Moscas, cupins ou formigas podem invadir as covas e, chegando aos ovos, matar os fi lhotes. Quando isso ocorre, as covas são limpas e, apenas nessa situação, os ovos são transportados para outras covas, uma vez que não ocorrem enchentes frequentes nem outros riscos associados para justifi car o transporte.

Cuidados no berçário Os fi lhotes são transportados a berçários (caixas d’água) nos quais fi cam durante quinze dias para o endurecimento do casco e para curar o umbigo daqueles que ainda não têm a cicatrização completa. Esses, em especial, começaram a ser colocados nos berçários separados com um pouco de areia, que, como observado pelo grupo, ajuda na cicatrização.

Tem que abrir a cova e tirar o ovo pra ver como é que está, pra colocar em outro local, se não eles comem tudo. E o pior é que a mosca varejeira chega – não sei como ela faz aquilo – [...] eu acho que ela vai se esfregando na areia e vai entrando, vai entrando até chegar nos ovos pra soltar as porcarias dela né, os “tapurus”. A gente tira aqueles “tapuruzão” deste tamanho de dentro. Mata tudo. Seu Américo

É só na experiência mesmo. No começo a gente sabia que em uns cinquenta, sessenta dias iam nascer. Voltávamos naquela data e abríamos as covas. Se eles tivessem nascido a gente juntava na vasilha e trazia pra cuidar. Eliel Souza

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O vigia Samuel ensina as crianças a analisar os ovos e coletar os quelônios de forma cuidadosa

Nascimento dos fi lhotes

Agente ambiental mirim

Filhotes que serão transportados para os berçários (caixas d’água) para endurecimento do casco e para curar o umbigo

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4º PASSO: Soltura

A soltura talvez seja o momento mais aguardado de todo o trabalho. É nesse momento em que há o maior número de pessoas participando da atividade. O trabalho solitário dos vigias de praias se transforma em trabalho coletivo. Participam os moradores de outras comunidades e também convidados de fora da Resex, como os órgãos governamentais e parceiros. O trabalho de meses acaba em uma bela celebração, na qual se vê na prática e se fala na teoria sobre a importância da preservação.

Agentes ambientais mirins sendo preparados para a soltura

DOAÇÃO

Da mesma forma que o trabalho no Rio Purus serviu de exemplo para o Ituxi, esse intercâmbio de experiências e troca de conhecimentos tende a ser favorável por ambos os lados. As lideranças das duas associações já se deram conta disso: na soltura do ano de 2012, o trabalho foi conjunto tendo a Atamp, por meio de seu presidente José Maria, doado cinco mil fi lhotes de seus tabuleiros para povoarem o Rio Ituxi.

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Filhotes de quelônios do Rio Purus são transportados para soltura no Rio Ituxi (2012)

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Envolvimento das pessoas e o Projeto Preservida

O grupo é unânime em dizer: “sem parcerias, o trabalho não funciona”. Seja entre os próprios comunitários ou a parceria institucional de outras organizações de fora da Resex: é preciso união e apoio entre as pessoas.

O esforço feito por Seu Américo contagiou aos demais, que, em seguida, o ajudaram no trabalho. Ele cuidava das praias acima da comunidade e Acuta das praias abaixo. Na Vila Vitória, outros agentes voluntários passaram a trabalhar junto com o professor. É o caso de Samuel e Rafael dos Santos. Com a sensibilização feita pelo Pastor Antonio, os moradores de Nova Esperança e Floresta também uniram-se à preservação. Alguns se juntaram ao grupo, como João Sabino, da Comunidade Capiruã, e Avelino Duarte (Seu Lino), da Comunidade Boas Novas. Enquanto uns trabalhavam nas praias que já vinham sendo cuidadas, outros seguiram o exemplo em outras praias,

O que me motivou é o que eu entendo do manejo. Preservo para poder mais na frente ter um lucro e alimento da própria área. Nós gostamos muito dos quelônios como alimento. Preservamos e mais pra frente vamos ter um retorno.

(Rafael Santos, Resex Rio Ituxi)

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por conta própria, como Raimunda Dias, a Dna. Deusa. Em 2010 e 2011, ela e seu marido, Graciano Pereira Bento (Comunidade São Luiz), cuidaram de alguns fi lhotes e realizaram a soltura, inspirados no trabalho da “parte de cima” da Resex.

Além disso, os trabalhos de Eliel, como professor na comunidade Vila Vitória, e de Acuta, como canoeiro responsável pelo transporte até a escola, facilitaram o envolvimento das crianças. O grupo cresceu.

Lá na minha comunidade só eu mesmo que estou tentando esse trabalho. Em 2011 consegui mais de 200 fi lhotinhos. Não tinha um lugar apropriado lá em casa, mas eu coloquei num tanquezinho com água e deixei passar uns 15 dias pra poder soltar no rio. Em 2012 eu não consegui, a perseguição nessa praia foi grande. (Dna. Deusa, Resex Rio Ituxi)

Antes eu não tinha muito tempo, a gente trabalhava muito longe, os bichos fi cavam pela parte de baixo e não tinha como. [...] Tivemos a ideia de vigiar a boca do rio [...]. O tempo a gente ainda não tem, mas temos a facilidade pra defender, porque estamos na boca e o pessoal vem de baixo. Por isso que eu comecei a me envolver. (Seu Lino)

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Na parte técnica, tendo apenas a cartilha do Projeto Pé-de-Picha como base dos trabalhos, foi com o envolvimento do fi lho de Pastor Antonio, Miqueias Souza, estudante de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e sua esposa Luzianne Paiva, estudante do curso de gestão ambiental da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) que o projeto adquiriu um tom mais “profi ssional”. No início, sugerido por Miqueias, foi iniciada a contagem dos fi lhotes que nasciam, para que houvesse uma maneira de saber se o trabalho estava tendo êxito ou não. Uma vez mais foi “emprestada” a metodologia do trabalho no Purus, no qual eles usavam formulários fornecidos pelo Ibama. O que era sentido na prática, os números confi rmaram.

Muita gente, inclusive o pessoal da faculdade, achava que eu ganhava pra fazer esse trabalho. Mas quando eu vi o pessoal motivado a fazer – principalmente o Seu Américo – eu pensei: “tenho que ajudar de alguma forma”. Passei várias noites escrevendo projeto e pesquisando as espécies, pra entender mais. Miqueias Souza

O envolvimento da Universidade foi favorável também para a divulgação do trabalho que permanecia “isolado” no interior, sem ser divulgado na cidade, destino de quase todos os quelônios vendidos pelos “atacadores”. Com a apresentação dos trabalhos de Miqueias e Luzianne, professores e jovens da cidade passaram a conhecer a preservação feita no Ituxi.

Outras instituições também foram se somando aos esforços. Sem o conhecimento técnico que detinha o Ibama, o ICMBio prestou parceria na aquisição de materiais para o trabalho. Em 2010, com auxílio do analista ambiental Diego de Lemos, foi enviado um pequeno projeto ao PNUD para

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fi nanciamento dos materiais para as atividades que desenvolveriam. O projeto foi aprovado e naquele ano foram adquiridas cinco caixas d’agua para a montagem dos berçários, além da contribuição com o combustível diretamente do ICMBio. Em 2011, o órgão também doou parte do combustível e houve a participação da analista Andrea Mitozo nos trabalhos de soltura. O Ifam e o IEB colaboraram em 2012, respectivamente, com cestas básicas para as pessoas envolvidas e com a confecção das camisetas do projeto.

Placas de sinalização das praias confeccionadas pelo ICMBio em 2013

Placas de sinalização da Resex servem para sinalizar as praias – Miqueias e Luzianne

PRESERVIDA: “PRESERVAR PARA VIVER”

O nome dado ao projeto idealizado pelo Pastor Antonio batizou o trabalho desenvolvido: Preservida. O complemento “Preservar para viver” tem grande signifi cado. Eles queriam algo que relacionasse a vida com a preservação. “Meu pai já dizia que ‘com vida se faz vida’. Ele não conhecia a área ambiental, mas sempre me incentivava nisso”, conta Pastor Antonio. “É preservar para viver, para ter, para se alimentar” e não “preservar para morrer, para acabar”, complementa o agente comunitário de saúde (ACS) João Dias.

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Balanço dos resultados

O que parecia impossível de acontecer, aconteceu: os dados registrados pela Apadrit contabilizaram mais de 8.100 quelônios nos primeiros quatro anos, e a soltura dos quelônios passou de 500 a quase 2.000 bichinhos soltos, no quinto ano, em 2012. Além disso, a aparição de tracajás onde antes não havia se tornou frequente, e a autoestima e esperança do grupo cresceram.

Olha, depois que nós começamos esse trabalho, a gente já vê “avultação” de bicho esquentando na beira do rio. A gente não via. Daqui pro mês de junho, vai aumentar bastante a “esquentação” dos bichos na beira do rio.

Seu Américo

A pesquisa realizada por Luzianne também mostrou que o consumo dos quelônios na alimentação das comunidades envolvidas se manteve estável. Antes de o trabalho ser iniciado, o consumo era pouco porque não havia grande quantidade de quelônios. Com a preservação, apesar de a quantidade aumentar, o consumo se manteve baixo porque, ao mesmo tempo em que preservaram, os moradores foram se conscientizando sobre o uso com sabedoria desse recurso.

Eu acho que diminuiu o consumo. Ao mesmo tempo que a gente preservava, [os moradores das comunidades] se alimentam, mas não da forma como antigamente. [...] Quando a gente tem uma festa ou alguma coisa pra comemorar [Seu Abraão] traz [os tracajás] contados para uma refeição coletiva.

Eliel Souza

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Tudo isso resultou em outra mudança, não menos importante: a sensibilização daqueles que ainda não tinham entendido a importância de se preservar e também dos mais descrentes, que viam os quelônios aumentando e, ainda assim, falavam que não havia resultados. Muitos “mudaram de lado” e passaram a contribuir também. Houve um período em que Seu Américo, chateado com alguns acontecimentos, se afastou de sua casa por um tempo. Foi um de seus fi lhos, que não entendia o porquê de seu pai dedicar seus esforços naquele trabalho, quem resolveu assumir o lugar do pai até ele voltar. Outros moradores, como Seu Abraão, pessoa de muita experiência sobre a captura e o comportamento dos quelônios, passaram a usar os seus conhecimentos a favor da preservação.

Tem gente que antes falava que não ia dar certo e já está gostando. Eu fui assim. Eu não entendi, mas eu não fui ignorante. Procurei pensar, analisar e entender. Se a gente não sabe a gente procura entender, pra ver se vai ter resultado ou não e depois orientar outros pra que entrem no negócio. João Dias

RESULTADOS DA PESQUISA

“Durante as entrevistas, os moradores da Reserva mencionaram que o consumo de quelônios ocorre raramente porque é uma alimentação especial que não deve ser comida todo dia. Geralmente o consumo se dá apenas em ocasiões especiais como, aniversários, ceias de natal, ou datas semelhantes a estas.”

(Souza, 2012)

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Tabela: Números do trabalho desenvolvido pelo Preservida

PESSOAL ENVOLVIDO EM 2011

Comunidades Crianças Professor Rural Comunitários Agentes de Praia Apoio Técnico

03 32 01 25 04 02

Tabela: Números de pessoas envolvidas no projeto

Ano N° de covas violadas

N° de covas protegidas N° de ovos

N° de quelônios eclodidos

N° de quelônios

soltosN° de praias

2008 40 146 2.920 2.920 2.920 4

2009 20 160 3.550 3.200 3.200 4

2010 30 30 600 600 600 5

2011 18 52 1.300 1.300 1.268 5

2012 10 83 1.500 2.500 7.052* 5

*Total com doação da Resex Médio Purus

Bom, a verdade a gente tem que falar toda vida. Os meus fi lhos no início, eram um pouco revoltados, mas depois eles foram vendo o que eu ia fazendo. Então eles foram chegando, e tem até um que trabalhou no tabuleiro com o Eliel. Ele compreendeu que aquele trabalho vai servir mais pra frente. Seu Américo

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Lições aprendidas e planos para o futuro

A importância da integração

O tabuleiro da [Rebio] Abufari é respeitado. Não fosse aquele tabuleirão não tinha bicho de casco aqui, porque é aquele lá que fornece os bichos de casco que vem pra cá. Lá você podia passar a qualquer hora do dia, no tempo que o bicho de casco está saindo e estava pretinho de tartaruga em cima da praia. Lá, os barcos não passam pela beira eles passam do outro lado.

Manoel Ponte, Resex Rio Ituxi

D a Reserva Biológica (Rebio) Abufari, passando pela Resex Médio Purus e chegando aos tabuleiros do Ituxi, as águas

que correm são as mesmas. Mudam os nomes dos rios e passam várias e diferentes comunidades. Para os quelônios, no entanto, esses detalhes não fazem diferença: eles se farão presentes nos ambientes que estiverem preservados. E quanto mais preservado estiver o Purus, mais preservado vai estar o Ituxi.

Para isso, a integração das pessoas é tão importante quanto à integração das águas. As duas associações que estão à frente dos trabalhos nesses rios, a Apadrit e a Atamp, já entenderam que tem muito o que aprender uma com a outra. O conhecimento técnico do trabalho desenvolvido no Purus pode ser trocado com a experiência de organização comunitária do Ituxi. “O Preservida quer invadir o Purus”, diz brincando Pastor Antonio, sobre o trabalho de base que querem implementar com apoio da Atamp no Rio Purus. Para completar, sendo a Resex Médio Purus mais populosa com famílias grandes e escolas com muitos alunos, a proposta do envolvimento das crianças é vista como algo promissor.

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A existência de uma iniciativa de conservação dentro da própria UC foi fundamental para que os moradores propusessem a extensão da atividade para outras áreas. Por conta de ter sido proposta pelos próprios moradores, há um grande potencial do plano de ação ser implementado com sucesso. Leonardo Pacheco, gestor da Resex, ICMBio

Eu estive conversando com o Zé Maria [presidente da ATAMP] que é um grande idealista e surgiu a questão “por que a gente não une forças?”. Podíamos unir força o Ituxi e o Purus, poderia ser até o fi nal do livro!

Miqueias Souza

Antes disso, contudo, a preservação dos quelônios já tem sua expansão marcada nas outras comunidades do Ituxi. Ao longo de 2012, foram realizadas reuniões abaixo do rio, com o ICMBio e Ibama, e cinco outras comunidades se mostraram interessadas, tendo algumas delas já iniciado o trabalho voluntariamente. Em 2013, há planos de apoio à essas iniciativas, por meio de um projeto recentemente aprovado pelo Programa Arpa, [...]”, que garantirá nos próximos dois anos a elaboração de um “Plano de conservação comunitário de quelônios” na Resex e os recursos necessários para a execução em todas as praias onde há demanda.

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Aperfeiçoamento técnico

Com o conhecimento de quem vive diariamente a realidade das praias ao longo do Rio Ituxi, o grupo colocou em prática algumas técnicas empíricas para iniciar os trabalhos. Um tanto foi aprendido dos “vizinhos”, outro tanto foi o conhecimento adquirido por meio de documentos ou técnicos que tinham contato com a experiência. A cada ano, estão sendo aperfeiçoados os métodos de contagem de ovos, de vigia das covas e cuidados com os fi lhotes. Existem planos para um programa de monitoramento para que haja marcação de fi lhotes soltos e das fêmeas que desovam. Além disso, querem instalar postos de fi scalização nos pontos abaixo e acima das praias, por onde entram e saem os “atacadores”.

Uma das lições aprendidas pelo grupo foi a de que, com a mesma importância dada às questões técnicas, devem ser tratadas as questões de sensibilização e educação ambiental. O êxito do envolvimento das crianças da Vila Vitória deve também ser aperfeiçoado. Como parte do aprendizado, fi cou a consciência de que esse é um processo constante e que deve abranger o maior número de pessoas. Por essa razão, os planos para o futuro incluem palestras e atividades com os moradores das comunidades onde o projeto está presente. Também deverá ser executado, ao longo do ano, um projeto de educação ambiental, não apenas com crianças, mas com moradores e professores da cidade que dão aula na reserva.

É preciso ter ousadia

Dessa vez quando eu fui colocar a bandeirinha, junto com Chicão e a Maria, sua companheira, o motor quebrou. Nós tivemos que remar quase dois dias pra voltar. Voltei ainda umas duas vezes com meu motor. Quando a gente vive na fl oresta a gente tem que fazer alguma coisa pra rebater o que a gente faz de ilegal.

Seu Lino

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Quais os motivos que levam um grupo de pessoas a iniciar um trabalho que vai na contramão do que pensam e fazem os seus familiares, vizinhos e pessoas das comunidades ao redor? O que leva alguém a enfrentar difi culdades como ter que remar durante horas por um trabalho voluntário, correndo riscos e ausentando-se de casa?

O Preservida nasceu e cresceu com a consciência de que era necessário fazer algo para mudar a situação do desaparecimento dos quelônios no Ituxi aliada a uma grande dose de motivação e proatividade. A falta de conhecimento técnico não foi empecilho. A ausência de apoio tampouco. Conseguindo bons resultados em pouco tempo de atividades, o grupo se convenceu de que são capazes disso e muito mais, sem medo de sonhar e ousar: estão estudando a criação de um Instituto aos moldes do que hoje é o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). Foi após uma visita de Eliel à Tefé, onde conheceu o IDSM, que surgiu a ideia de se montar uma iniciativa parecida e integrada à Resex do Rio Ituxi. Os objetivos são o de desenvolver projetos para a conservação de forma integrada às comunidades da Resex.

INSTITUTO MAMIRAUÁ

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) é uma unidade de pesquisa supervisionada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Surgiu para institucionalizar as ações e os princípios da Sociedade Civil Mamirauá (SCM) e do Projeto Mamirauá, que atuavam na região de Tefé em questões de conservação da biodiversidade e de desenvolvimento sustentável de populações tradicionais, desde o início dos anos 1990. As atividades se desenvolvem nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá (RDSM) e Amanã (RDSA).

O IDSM tem por objetivo promover a conservação das reservas Mamirauá e Amanã por meio do uso participativo e sustentado dos recursos naturais, e produzir conhecimento e tecnologias para subsidiar a gestão ambiental participativa com base científi ca e a exploração sustentável dos recursos naturais da Amazônia, replicando suas boas experiências para outras áreas amazônicas, ofi cialmente protegidas ou não.

(Fonte: IDSM, 2010)

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Novos desaϐios

Com tantos projetos pela frente, resta agora driblar os desafi os para a sua realização. Um dos principais – se não o principal – é o fi nanciamento para a manutenção dos trabalhos, pois não apenas de boa vontade é feita a preservação. Os recursos mínimos para aquisição de combustível e cesta básica para as pessoas responsáveis por vigiar as praias devem estar garantidos. Dessa forma, o projeto consegue avançar a outros níveis. Essa tarefa será facilitada quanto mais instituições abraçarem a causa, ou seja, havendo mais parcerias de organizações da sociedade civil e maior envolvimento dos órgãos públicos – principalmente aqueles que têm como responsabilidade cuidar do meio ambiente e assegurar a qualidade de vida das populações tradicionais, como o Ibama e o ICMBio. Mas não apenas: a prefeitura como também as secretarias municipais e estaduais devem se envolver. “Em Canutama, até a prefeitura está envolvida nos trabalhos com os quelônios”, lembra Pastor Antonio, fazendo referência à experiência no município vizinho que vem demonstrando resultados positivos, a da APA Jamanduá. Neste caso, a iniciativa é mantida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Além disso, um enorme desafi o é a coleta ilegal e a sensibilização tanto dos moradores quanto das pessoas na cidade, destino fi nal dos animais capturados na Resex. A reserva e o acordo de gestão, construídos em 2012, fortalecem a iniciativa, pois o primeiro reconhece direitos daquelas comunidades sobre o uso dos recursos de seu território; e o segundo estabelece as regras desse uso. Somado a este fato, é de suma importância que haja alternativas de renda também para que a venda não seja uma prática. Por isso, a sintonia fi na entre os moradores da Resex e o órgão gestor deve ser a principal ferramenta de trabalho, junto ao acordo de gestão de 2012.

Eu acho que a gente pode também apoiar essa iniciativa. Por que não, né? A gente gasta tanto com outras iniciativas que só são mantidas porque tem o braço do estado forte. Mas acho também que temos que ver de que maneira a gente intervém nesse processo, que já está andando, pra não criar uma dependência. Tem searas que são nossas enquanto estado: a fi scalização, apreender e multar. Jogar isso pra eles acho que pode ser um pouco demais. Leonardo Pacheco

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O pessoal trocava os tracajás por mercadorias pela necessidade. Eles eram obrigados, não conheciam outra maneira de sobrevivência. Hoje por meio da associação e dos projetos que ela trouxe eles passaram a trabalhar com outras atividades. Sempre tenho dito para o ICMBio: se for fi scalizar, tem que colocar outra sobrevivência.

Pastor Antonio

Temos que cuidar do meio ambiente e pensar nas outras gerações. Somos muito agradecidos ao pessoal do ICMBio que tem uma paixão muito grande pela gente, o pessoal do IEB, CPT e IBAMA e as organizações que visitam a reserva.

Seu Lino

ACORDO DE GESTÃO

“Artigo 26 – O uso de apetrechos e técnicas de pesca dentro da Reserva Extrativista deverá obedecer à legislação vigente.§ 1º - Fica proibida a pesca de arrastão na frente dos tabuleiros de preservação de quelônios.§ 2º - No Rio Ituxi só será permitida a pesca com arrastão de malha a partir de 12 cm.§ 3º - Fica proibido o uso de arrastão no Rio Curuquetê.§ 4º - No caso da pesca para comercialização em lagos, só poderá ser usada malha a partir de 6 cm.§ 5º - Fica proibida a prática de batição, pesca com veneno, rede de lanço e capa-saco”

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Recado ao outros grupos

Com resultados tão positivos, a experiência do Ituxi merece ser difundida para outros grupos, que queiram ou que já estejam realizando o mesmo trabalho em outros locais. Assim, o grupo deixa recados simples, mas com a propriedade de quem já lutou e venceu:

Preserve, pense no dia de amanhã, não pense em você pense geração nova, que precisa ver o bicho de casco, precisa ver o pirarucu, precisa ver a madeira, a árvore de pau de boa qualidade.

Silvério Maciel, Resex do Rio Ituxi

Façam o que nós fi zemos: se reúnam para poder preservar amanhã vocês terem os resultados que hoje nós estamos tendo. Mesmo com difi culdades, remando no sol na chuva, de noite, no frio e no calor, nós não desistimos. Deixo como recordação que você pode enfrentar uma luta mas na frente vai sorrir como nós estamos sorrindo, com os resultados que nós tivemos.

Conceição Freires

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O grupo primeiro tem que se conscientizar entre eles, se é isso mesmo que eles vão fazer. Depois tentar dar a mão e não desistir de maneira nenhuma, mesmo que venha as tempestades, que venham as pessoas que dizem que não dá certo. Não liguem pro que o mundo diz. Tem que criar meios pra melhorar o trabalho cada vez mais e trazer mais gente pro seu lado. A minha mãe sempre dizia que uma andorinha só não faz verão, tem que ser todas as andorinhas pra que o verão aconteça. Mesmo que vocês discordem entre si, no fi nal da discordância cheguem num consenso.

Eliel Souza

Pra quem vai ler a publicação eu falaria: se você tem a vontade de fazer o mesmo projeto, tem que se comunicar com outros órgãos e outras comunidades. Se o seu sonho é crescer o projeto, tem que pedir ajuda e força.

João Dias

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Eu acho importante que a gente crie uma rede local ao longo do Rio Purus, de comunidades e instituições que se interessem pela atividade. Institucionalizar no sentido de ter espaços para discussão.

Leonardo Pacheco

Não devemos desistir, mesmo com grandes problemas. O aprendizado é esse. Parece que não vai chegar o nosso objetivo, mas ele traz grandes resultados. Eu enfrentaria tudo por todos novamente. Mesmo colocando minha vida em risco, mas eu faria tudo novamente.

Pastor Antonio

A natureza cria os fi lhos dela tranquilamente, como nós criamos os nossos. Se nós temos um fi lho e entregamos pra natureza, será que a natureza vai criar ele? Ela não vai. O bichinho vai morrer logo. Do mesmo jeito é trazer o fi lhote de qualquer bicho do mato pra casa. Ele adoece, você não vai dar o alimento que alimenta ele – porque você não conhece o alimento que ele come. Eu não acho que seja conveniente a pessoa trazer um fi lho de um bicho do mato pra casa. [...] É como você pegar um macaquinho, amarrar o bichinho pela cintura no pé da parede e ele fi ca todo sujo, todo esculhambado [...] ele morre, não tem como. É que nem os “queloniozinhos” dentro da panela de pressão pra criar, não tem como, tem que criar no rio.

Seu Américo

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DOCUMENTOS CONSULTADOS

ALEIXO, J. (Org.). Memorial da luta pela reserva extrativista do Ituxi em Lábrea. Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB. Brasília, 2011.

__________. Memorial da luta pela reserva extrativista do Médio Purus em Lábrea. Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB. Brasília, 2011.

AMBIENTE BRASIL. Ibama cria programa de Agentes Ambientais Voluntários. 2005. Disponível em: <http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2005/05/16/19148-ibama-cria-programa-de-agentes-ambientais-voluntarios.html>. Acesso em: 18 jul. 2013.

ANDRADE et. al. Cartilha: “Projeto Pé-de-pincha: parceria de futuro para conservar quelônios na Amazônia”. Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea/Ibama, 2005.

APADRIT – ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES AGROEXTRATIVISTAS DA ASSEMBLEIA DE DEUS DO RIO ITUXI. Carta de solicitação da criação da Resex ao CNPT. 18 de setembro de 2000. Arquivo pessoal Apadrit, 2000.

IBAMA – INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS. Agentes Ambientais Voluntários. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/supes-rn/agente-ambiental-voluntario_proamb. Acesso em: 18 jul. 2013.

ICMBIO – INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Acordo de Gestão da Resex do Rio Ituxi, 2012.

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IDSM – INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MAMIRAUÁ. Plano Diretor do IDSM-OS (2010-2015). Disponível em: <http://mamiraua.org/cms/content/public/documents/4e017e17-84ce-43ad-89f0-370471eed35d_Plano%20Diretor%20IDSM%202010-2015.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2013.

MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Projeto Quelônios da Amazônia – Relatório de Atividades 2010, Ibama/AC. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama. Rio Branco, 2010.

JUSTE, M. Instituto recruta colaboradores em todos os Estados do país para dividir com eles a responsabilidade pela proteção do meio ambiente. 2005. Disponível em: < http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=505>. Acesso em: 18 jul. 2013.

PROJETO PÉ-DE-PINCHA. Disponível em: <http://pedepincha.com.br/noticia/como-iniciou-o-projeto>. Acesso em: 22 jun. 2013.

SOUZA, L. P. de. Adequações de iniciativas de manejo de quelônios (Podocnemis) nas comunidades Vila Vitória e Mangutiari na Reserva Extrativista do Rio Ituxi, município de Lábrea-AM. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnólogo em Gestão Ambiental) – Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, Universidade do Estado do Amazonas. 53 f. Lábrea, 2012

WIKIPEDIA. Rio Purus. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Rio_Purus&ol did=34466826>. Acesso em: 22 jun. 2013.

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LISTA DE SIGLAS

AAV – Agente Ambiental VoluntárioACS – Agente Comunitário de SaúdeAPA – Área de Proteção AmbientalAPADRIT – Associação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio ItuxiARPA – Programa Áreas Protegidas da AmazôniaATAMP – Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Médio PurusCNPT – Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações TradicionaisCPT – Comissão Pastoral da TerraCONAMA – Conselho Nacional do Meio AmbienteFNMA – Fundo Nacional de Meio AmbienteIBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisIDSM – Instituto de Desenvolvimento Sustentável MamirauáIFAM – Instituto Federal do AmazonasICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

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IEB – Instituto Internacional de Educação do BrasilIFAM – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do AmazonasINPA – Instituto Nacional de Pesquisas da AmazôniaMCT – Ministério da Ciência e TecnologiaMMA – Ministério do Meio AmbientePNUD – Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoPQA – Projeto Quelônios da AmazôniaPTA – Projeto Tartarugas da AmazôniaREBIO – Reserva BiológicaRDS – Reserva de Desenvolvimento SustentávelRDSM – Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá RDSA – Reserva de Desenvolvimento Sustentável AmanãRESEX – Reserva ExtrativistaUC – Unidade de ConservaçãoUFAM – Universidade Federal do Amazonas

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Agentes ambientais na soltura dos quelonios em 2010

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RealizaçãoAssociação dos Produtores Agroextrativistas da Assembleia de Deus do Rio Ituxi (Apadrit)Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)

Autoria ColetivaAbraão Carvalho da Cruz – Comunidade Vila VitóriaAldenir Arruda Braga – Vigia do Tabuleiro Nova Brasil II – Resex Médio PurusAmérico Teixeira de Sousa Neves Neto – Comunidade Nova Esperança – Rio ItuxiAntonio Vasconcelos de Souza “Pastor Antonio” – Comunidade Vila Vitória - Rio ItuxiAvelino Duarte de Oliveira “Seu Lino” – Comunidade Boas Novas – Rio SiriquiquiBenedito Clemente de Souza – Comunidade Jurucuá – Resex Médio PurusBraz de Oliveira da Silva – Comunidade Cajajuriã – Rio ItuxiConceição Fernandes Freires – Comunidade Vila Vitória – Rio ItuxiEliel Santos de Souza – Comunidade Vila Vitória – Rio ItuxiFrancisca Maia Freies “Dna. Roxinha” – Comunidade MangutiariFrancisco Maia Freire “Acuta” – Comunidade MangutiariJoana Nogueira de Sousa – Comunidade Nova Esperança – Rio ItuxiJoão Rodrigues Dias – Comunidade Vila Vitória – Rio ItuxiJoão Xavier de Mesquita “João Sabino” – Comunidade Capiruã José Maria Ferreira de Oliveira – Resex Médio Purus, presidente da ATAMPLaureni Barros Flores – Comunidade Floresta – Rio ItuxiLeonardo Marques Pacheco – ICMBioLuzianne Paiva de Souza – UEAManuel Ventura da Silva – Comunidade Boas Novas – Rio ItuxiMiqueias Santos de Souza – UFAMRafael Pereira dos Santos – Comunidade Vila Vitória – Rio ItuxiRaimunda Dias Farias “Dna. Deusa” – Comunidade São LuizRaquel Fernandes da Costa – Comunidade Vila Vitória – Rio ItuxiSilvério Barros Maciel – Comunidade Floresta – Rio Ituxi OrganizaçãoRoberta Amaral de Andrade (IEB)ColaboraçãoFrancivane Fernandes (IEB)Marcelo Franco (IEB)Miqueias Sousa (Apadrit)Leonardo Marques Pacheco (ICMBio)Coordenação editorialAlessandra Arantes (IEB)Foto da capaAcervo Apadrit

Projeto gráfi co Ribamar Fonseca (Supernova Design)Revisão ortográfi ca Valdinea P. da SilvaEditoração Eletrônica Supernova DesignImpressão Athalaia Gráfi ca

P933 Preservar para viver : a experiência da preservação de quelônios no Rio Ituxi em Lábrea (AM) / Roberta Amaral de Andrade, organizadora. – Brasília : IEB, 2013. 75 p. : il. ; 30 cm.

Inclui bibliografi a 1. Meio ambiente - preservação. 2. Projeto de conservação – Rio Ituxi (AM). 3. Projeto quelônios - Amazônia. I. Andrade, Roberta Amaral de.

CDD 363.7

Esta publicação foi produzida graças ao apoio do povo americano por meio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O conteúdo é de responsabilidade de seus autores e não necessariamente refl ete as opiniões da USAID ou do Governo dos Estados Unidos.

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Preservar para viver: a experiência da preservação de quelônios no Rio Ituxi em Lábrea (AM)

Realização

Apoio

Preservar para viver: a experiência da preservação de quelônios no Rio Ituxi em

Lábrea (AM)

Quais os motivos que levam um grupo de pessoas a iniciar um trabalho que vai na contramão do que pensam e fazem os seus familiares, vizinhos e pessoas das comunidades ao redor? O que leva alguém a enfrentar difi culdades como ter que remar durante horas por um trabalho voluntário, correndo riscos e ausentando-se de casa?Talvez a experiência aqui sistematizada não contenha as respostas exatas à essas questões, mas ilustram como, sem hesitar, os moradores e moradoras da Reserva Extrativista do Rio Ituxi levam adiante um projeto de preservação à vida: o PRESERVIDA.Os bons resultados do projeto e a perseverança dos ribeirinhos e ribeirinhas dessa unidade de conservação no interior de Lábrea, estado do Amazonas, são os ingredientes que mantém vivos todos os anos milhares de quelônios dos Rios Ituxi e Purus, apesar de tantos desafi os.Organizações comunitárias, governamentais e não-governamentais comprometidas com projetos de conservação ambiental, não apenas na Amazônia, mas em todo o Brasil, tem muito a aprender com esses guardiães da fl oresta e dos rios. Essa publicação faz com que seus relatos e refl exões sejam compartilhados de maneira fl uída e corrente; como as águas do Ituxi.

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