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7 Estrelo Filmes, VideoFilmes, Petrobras e Sabesp

apresentam

TERRA DEU, TERRA COMEPedro de Alexina em um filme de Rodrigo Siqueira

Com

Pedro de Alexina,

Dona Lúcia, João Batista, Dolores,

Seu Pidrim Pessanha, Admilson, Geovani,

Adilson, Nei, Edinho, Sineca

e familiares de seu Pedro

Uma produção 7 Estrelo Filmes

Produtora Associada Tango Zulu Filmes

Distribuição VideoFilmes

www.terradeuterracome.com.br

Assessoria de Imprensa:F&M ProCultura – Margarida Oliveira e Carolina [email protected] ; [email protected] / Fone: (11) 3263-0197

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ÍNDICE

Apresentação................................................................................................................……….....4

Ficha Técnica / Elenco.........................................................................................………..............5

Festivais e Prêmios....................................................................................………........................6

Sinopses...........................................................................................……….................................7

Direção – Rodrigo Siqueira.....................................................………...........................................8

Fotografia – Pierre de Kerchove............................................................................………...........10

Som – Célio Dutra…………..................................…...................................……….....................11

Making Of – Breves Comentários....................................................................................……….12

Lançamento – Programa Cine Mais Cultura...................................…..............................………13

Vissungos................................................................................................................……….........15

Resenhas – Eduardo Escorel / Nirlando Beirão / Crítica da Folha de São Paulo………..............................17

7Estrelo Filmes...........................................................................................………......................21

Tango Zulu Filmes……................................................................…....................……….............22

VideoFilmes...................................................................................................................………...23

Patrocinadores.................................................................................................................………24

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APRESENTAÇÃO

Nonada.Terra Deu, Terra Come.

Grande vencedor do festival É Tudo Verdade 2010, Terra Deu, Terra Come traz ao espectadorum filme de linguagem ao mesmo tempo simples e encantadora, que harmoniza forma econteúdo com muita sensibilidade. Como definiu o crítico Eduardo Escorel, Terra Deu TerraCome “de um lado, revela um personagem singular, morador de uma comunidade isolada,vinculada a valores arcaicos; de outro, elabora linguagem sofisticada, estabelecendo um novopatamar para o cinema que procura desvendar os mistérios do mundo.”

As histórias contadas pelo cativante protagonista e a maneira como a narrativa se estruturaleva o espectador ao universo mítico do sertão de Minas Gerais, aquele “sertão do tamanho domundo” dos livros de Guimarães Rosa. Memória, documentário e ficção se fundem paramostrar a vida e a morte em um canto metafísico de Minas. Não se sabe o que é verdade ourepresentação, fato ou invenção.

Quando, em 2005, o diretor Rodrigo Siqueira conheceu Pedro de Alexina, que mora no Quarteldo Indaiá, comunidade de garimpeiros na região de Diamantina, Minas Gerais, ficouimediatamente encantado com aquele senhor octagenário e guardião das antigas tradições queos africanos trouxeram para a região no século XVIII.

Pedro de Alexina é um dos últimos conhecedores dos vissungos, cantos em dialeto “banguela”que eram usados no trabalho nas minas de ouro e diamante e também nos rituais fúnebres.Mas esta não é sua principal qualidade. Trata-se de um exímio contador de histórias, com umcarisma fora do comum que o coloca entre os grandes personagens da história dodocumentário brasileiro. Seu Pedro traz a ambiguidade em si mesmo, a dúvida, a verdade e ainvenção, a atuação e a auto-representação.

Na tradição oral, a performance do narrador é fundamental para que se mantenha a audiência.As histórias só existem se houver quem as ouça. Elas só permanecem se os ouvintes seguiremseus passos até o fim. E é na performance, na capacidade de invenção do narrador, que seconstrói a atenção e o vínculo do ouvinte com o que se conta. Quanto mais fabuloso, maiscurioso o ouvinte fica, como que a querer saber até que ponto o narrador vai conduzi-lo. Ondediabos isso vai dar? Esse é o jogo de Terra Deu, Terra Come.

No prólogo do filme, Seu Pedro narra um tipo de história que é muito popular no Brasil,herdada da tradição do catolicismo popular português. “No tempo que Cristo mais são Pedroandavam pelo mundo…” Há uma infinidade de histórias que começam assim, como queremetendo o ouvinte a um tempo remoto e vinculando a narrativa a duas “testemunhas” dereputação ilibada – Cristo e São Pedro –, a corroborar a veracidade do narrado. Como ficaexplícito no filme, em geral, essas histórias carregam sabedoria disfarçada de simplicidade.

Juntos e cúmplices, cineasta e personagem se engajam em um jogo de fazercinema, uma partilha, uma conversa, um duelo, uma encenação.

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FICHA TÉCNICA

Título Original: Terra Deu, Terra ComeFormato de captação: DVC PRO HD e 16mmFormato de exibição: HDCAMDuração: 88 minutosPaís: BrasilGênero: DocumentárioRealização: 7 Estrelo FilmesProdutora Associada: Tango Zulu FilmesDistribuição: VideoFilmes

Direção: Rodrigo SiqueiraColaborou na direção: Pedro de AlexinaFotografia: Pierre de KerchoveSom: Célio Dutra

Produção executiva: Rodrigo Siqueira e Tayla TzirulnikAssistente de Produção Juliana KimPesquisa: Lúcia Nascimento e Rodrigo siqueiraProdução de frente: Marcelo Ferrarini e Roberta CanutoProdução de set: Ricardo MagosoEdição: Rodrigo SiqueiraArte e gráficos: Júlio DuiFinalização de imagem: Alex YoshinagaMixado nos estúdios: TILProdução de Lançamento: Lívia Rojas e Michael Wahrmann

Lançamento em São Paulo: 1o de outubro de 2010

Elenco

Pedro de AlexinaDona LúciaJoão BatistaDoloresSeu Pidrim PessanhaAdmilsonGeovaniAdilsonNeiEdinhoSinecae familiares de seu Pedro

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FESTIVAIS E PRÊMIOS

É Tudo Verdade 2010 - 15º Festival Internacional de Documentários

Melhor Documentário BrasileiroPrêmio CPFL Energia É Tudo Verdade “Janela para o Contemporâneo”

Veredicto do Júri: “Pela universalidade de seu personagem, pela bela, simples e, ao mesmotempo, complexa abordagem do tema, o júri decidiu conceder o Prêmio CPFL Energia / É TudoVerdade “Janela para o Contemporâneo” de Melhor Documentário Brasileiro de Longa ouMédia – Metragem para Terra Deu, Terra Come, de Rodrigo Siqueira.”

38º Festival de Cinema de Gramado - 2010

Melhor Filme – Mostra PanorâmicaTroféu Cidade de Gramado

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SINOPSE LONGA

Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos de idade, comanda como mestre de cerimônias ovelório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, que morreu com 120 anos. O ritualsucede-se no quilombo Quartel do Indaiá, distrito de Diamantina, Minas Gerais.Com uma canequinha esmaltada, ele joga as últimas gotas de cachaça sobre o cadáver jáassentado na cova: “O que você queria taí! Nós não bebeu ela não, a sua taí. Vai e não voltapra me atentar por causa disso não. Faz sua viagem em paz”.Dessa maneira acaba o sepultamento de João Batista, após 17 horas de velório, choro, riso,farra, reza, silêncios, tristeza. No cortejo, muita cantoria com os versos dos vissungos, tradiçãoherdada da África.Descendente de escravos que trabalhavam na extração de diamantes, nas Minas Gerais dotempo do Brasil Império, Pedro é um dos últimos conhecedores dos vissungos, as cantigas emdialeto banguela cantadas durante os rituais fúnebres da região, que eram muito comuns nosséculos 18 e 19.Garimpeiro de muita sorte, Pedro já encontrou diamantes de tesouros enterrados pelos antigosescravos, na região de Diamantina. Mas, o primeiro diamante que encontrou, há 70 anos, o tiocom quem trabalhava o enterrou e morreu sem dizer onde. Depois disso, vive sempre em umasinuca: para reencontrar o diamante só se invocar a alma de seu tio João dos Santos. “É umdiamante e tanto, você precisa ver que botão de mágoa.”Ao conduzir o funeral de João Batista, Pedro desfia histórias carregadas de poesia esignificados metafísicos, que nos põem em dúvida o tempo inteiro: João Batista tinha pactocom o Diabo?; O Diabo existe?; estamos sozinhos, ou as almas também estão entre nós?;como Deus inventou a Morte?A atuação de Pedro e seus familiares frente à câmera nos provoca pela sua dramaturgiaespontânea, uma auto-mise-en-scène instigante. No filme, não se sabe o que é fato e o que érepresentação, o que é verdade e o que é um conto, documentário ou ficção, o que é cinema eo que é vida, o que é africano e o que é mineiro, brasileiro.

SINOPSE CURTA

Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos de idade, comanda como mestre de cerimônias ovelório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, que morreu com 120 anos. O ritualsucede-se no quilombo Quartel do Indaiá, distrito de Diamantina, Minas Gerais.Ao conduzir o funeral de João Batista, Pedro desfia histórias carregadas de poesia esignificados metafísicos, que nos põem em dúvida o tempo inteiro. A atuação de Pedro e seusfamiliares frente à câmera nos provoca pela sua dramaturgia espontânea, uma auto-mise-en-scène instigante.No filme, não se sabe o que é fato e o que é representação, o que é verdade e o que é umconto, documentário ou ficção, o que é cinema e o que é vida, o que é africano e o que émineiro, brasileiro.

SINOPSE - 30 palavras

Pedro de Alexina, 81, conduz, como mestre de cerimônias, o funeral de João-Batista, mortoaos 120 anos. Ali, não se sabe o que é realidade ou representação, documentário, ficção oumemória.

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DIREÇAO - RODRIGO SIQUEIRA

Com formação em jornalismo, o diretor mineiro Rodrigo Siqueira entrou para o cinema comopesquisador para o longa-metragem de ficção que abordava a trajetória da Radio Favela deBelo Horizonte.A partir dessa experiência, realizou o documentário Aqui Favela, o Rap Representa, vencedordos prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Pesquisa no Festival Internacional de FilmeEtnográfico do Rio de Janeiro em 2003 e exibido em rede nacional pela Tv Cultura, atingindocerca de 800 mil espectadores e tendo excelente repercussão.Terra Deu, Terra Come consagraga Rodrigo Siqueira como diretor ao ganhar o prêmio máximono É Tudo Verdade 2010, o mais importante festival de documentários da América Latina. Ofilme é seu segundo trabalho autoral e seu primeiro projeto a ser lançado em circuito comercialde cinemas.

Comentários pessoais do diretor sobre Terra Deu, Terra Come

Na virada de 2004 para 2005, estava mergulhado e enredado pelo livro Grande Sertão:Veredas, do escritor mineiro João Guimarães Rosa, um dos mais importantes romancistas delíngua portuguesa.

Famoso por atrair ao sertão de Minas Gerais estrangeiros de todos os cantos do mundo, o livrofez com que eu e minha mulher imprimíssemos uma viagem em busca do sertão mítico eprofundo retratado por Guimarães Rosa. “O sertão está dentro da gente”, diz Riobaldo, opersonagem principal do livro.

No meio do caminho, encontrei o sr. Pedro Vieira, conhecido como Pedro de Alexina, guardiãodas tradições fúnebres que os africanos trouxeram para a região de Diamantina no século 18.A mistura de diferentes povos da África nas minas de diamante fez nascer na região o dialetobanguela, que fundia as línguas destes povos ao português. Do dialeto, sobraram apenasalgumas cantigas de trabalho e de rituais fúnebres, conhecidas como vissungos.

O encontro com Pedro de Alexina transformou minha viagem em uma expedição ao imaginárioda tradição oral que remonta aos povos andantes, que carregavam suas histórias fantásticasentre a Índia, a China, a África e o Oriente Médio.

Seguimos nossa viagem sob a sensação de termos encontrado o que nos parecia umaSherazade personificada em um griô africano. Suas histórias emendam-se umas nas outras,misturando os contos populares ao mundo vivido e a uma miríade de mitos de diferentesorigens.

Dois anos depois, em maio de 2007, voltei ao Quartel do Indaiá, comunidade remanescente dequilombo, para fazer um filme com seu Pedro. Desta vez, minha viagem foi muito mais longe.Em 30 dias, seu Pedro me transportou para um espaço e tempo indefinidos, distantes, mas aomesmo tempo muito próximos das minhas memórias de infância em Minas, próximas do meu“sertão interior”.

Mediado pela imaginação, pela memória dos antepassados e de suas histórias pessoais, Pedrome levou a um lugar onde o sertão mineiro encontra a África de séculos atrás, onde a morteencontra a vida e onde Deus e o “Outro” coexistem todo o tempo.

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Das mais de 40 horas de material que produzi sobre esse lugar e sua gente, poderia fazerdiversos filmes diferentes. Mas apenas um tomou parte em mim, pro bem e pro mal, como emum contrato com o Demo. Uma parte que me ecoa até hoje, como se fosse uma históriafantástica ouvida por uma criança em noite de lua. Mais que uma experiência fílmica, possodizer sem demagogia, seu Pedro tornou-se um companheiro que me ajuda a traçar a minhapassagem por aqui.

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DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: PIERRE DE KERCHOVE

Pierre de Kerchove, diretor de fotografia formado no Curso Superior do Audiovisual da ECA-USP, com pouco tempo de mercado já coloborou com as principais produtoras do país,fotografando filmes publicitários para grandes agências nacionais e internacionais. Além dapubliciadade, seu trabalho já foi visto em diversos curtas-metragens premiados como Café comLeite vencedor do Urso de melhor curta no Festival de Berlim de 2008 e Tyger premiado emClairmont-Ferrand 2007. Terra Deu, Terra Come é seu primeiro documentário delonga–metragem, vencedor do “É Tudo Verdade” 2010.

Comentários pessoais de Pierre de Kerchove sobre Terra Deu, Terra Come

Quando o diretor me chamou para fotografar o documentário, eu não tinha ideia do que meesperava. Achei interessante, importante como resgate de um patrimônio da nossa cultura,mas confesso que tenho certo receio em relação aos documentários sobre este tipo de tema.Eu temia que nosso projeto virasse um “filme só para antropólogo ver”, muito específico, temiaque que nosso personagem principal não trouxesse uma riqueza a mais além dos cantosvissungos e do estilo de vida dos garimpeiros. Claro que essa tradição já é uma riqueza em si,mas não é o suficiente para segurar um filme, pensava eu.

Quando chegamos à casa de Seu Pedro, fiquei impressionado com sua beleza. Todos eles têmum pele negra incrível, tão opaca que reflete a luz. Os detalhes do rosto aparecem pelocontraste entre o preto da pele e o brilho da luz. A grande dificuladade era fotometrar essaspeles nos dias nublados, pois a baixa latitude do vídeo fazia com que o céu ficasse estouradoquando acertava o diafragma para a pele deles.

Convenci a produção a comprar um gerador de 1000w para poder ligar uma bola chinesa ealgumas lâmpadas de 60w que espalharíamos pela casa. Levamos também três lampiões agás. Esses lampiões oferecem uma luz linda, e eu os usava o tempo todo nas noturnas. Oúnico problema é que eles “apitam”, então vez ou outra eu os enquadrava para que oespectador entendesse de onde vinha o barulho.

Ao longo das filmagens fui percebendo que Seu Pedro nos traria uma riqueza imensurável. Eleé muito inteligente e sabido, e vive totalmente imerso no universo místico daquela região. ORodrigo já tinha noção disso e por isso estimulava um determinado tema nas conversas comSeu Pedro, que já começava a “prosear” sobre o assunto. De tal maneira que iam surgindoelementos totalmente inesperados, como aquela máscara de velho. E a conversa deixava deser previsível para virar uma cena totalmente inesperada, surpreendente.

Essas situações eram um deleite, pois parecia que estávamos rodando uma ficção. Eu tinhaque pensar rápido e achar o melhor ângulo para aquela situação. Toda a mis-en-scèneacontecia de maneira orgância; não planejávamos nada, deixávamos o Seu Pedro conduzir e oRodrigo ia “pescando” e estimulando os assuntos que queria abordar.

Ao final, fazer este filme foi surpreendente e muito mais enriquecedor do que eu esperava, emtodos os sentidos.

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SOM: CÉLIO DUTRA

Célio Dutra se formou em Som para Cinema pela EICTV (Escola Internacional de Cinema e TVde San Antonio de Los Baños – La Habana – Cuba), onde foi contemplado com uma bolsa deintercâmbio na KHM (KunstHochSchule fuer Medien – Colônia – Alemanha).Dentre os principais trabalhos sonoros anteriores à participação no documentário Terra Deu,Terra Come, destacam-se a restauração de áudio para dois dos maiores filmes brasileiros: OBandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, e Terra em Transe, de Glauber Rocha, oqual mereceu atenção especial pelo estabelecimento de padrões e metodologias pararestauração de som.

Comentários pessoais de Célio Dutra sobre Terra Deu, Terra Come

A grande brincadeira sonora do trabalho realizado para a produção do documentário TerraDeu, Terra Come se encontrou numa premissa básica estabelecida na pré-produção do projeto– todos os sons utilizados no filme foram captados durante as filmagens no Quartel do Indaiá,em Minas Gerais.

Assim, Rodrigo e eu proporcionaríamos uma veracidade pessoal ao documentário,retransformando a experiência do registro na composição da narrativa – fantasiando a verdadedo documento sonoro dentro do contexto proposto pelo filme. A garantia dessa premissa lúdicafoi possível graças a esse acordo e ao fato de que eu trabalharia a pós-produção do áudio parao documentário.

Eu tentei essa experiência outras duas vezes, em outros projetos. Num deles, não realizei após-produção sonora. Em outro, o tempo da pós-produção foi apressado por questões deprodução. De certo modo, esses dois projetos me prepararam para colocar em prática esseconceito de produção sonora com Terra Deu, Terra Come. Não se trata de uma simplescomposição de banda sonora para documentário, mas da síntese do pensamento teóricosonoro proporcionado pelas experiências da filmagem, revividas e (re)transformadas noprocesso de finalização do filme. A maturidade desse processo se deu pelas relações do tempo– de captação sonora, da pós-produção e do desenvolvimento do que se desejou contar nofilme.

Nesse aspecto, Terra Deu, Terra Come se mostrou como o resultado da sapiência de um filmede tempo certo, cujo processo durou o necessário para florescer. Com ele, não tive aimpressão de incompletude ou algo que ainda poderia ter sido feito depois de pronto. O tempo,essência da narrativa audiovisual, girou a nosso favor, mostrando-se o das Minas, na figurarepresentativa do “seu” Pedro e na história que garimpamos na região de Diamantina. Nossaesperança de garimpeiros começou com um “palpite” dos envolvidos e se consolidou numa“canjicada”.Me sinto privilegiado por haver colaborado com esse projeto, possibilitado pela conciliação deesforços individuais a favor do trabalho conjunto.

Pessoalmente, tive o prazer de poder conhecer mais um pouco da minha própria mineiridade,cujo entendimento ultrapassa qualquer significado exposto em palavras. Mineiramente, possodizer, em plural, que vivemos o filme apresentado num funeral regado a cachaça.

Eu, com as terras. Em transe, que deu e come.

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MAKING-OF - BREVES COMENTÁRIOS

ROTEIRO

O roteiro articula os rituais fúnebres de João Batista, que começa com a sua morte, passa pelovelório e o cortejo até o enterro, com as diversas histórias pessoais que Pedro de Alexina nosconta. No decorrer do filme, o protagonista incorpora personagens para contar “causos” quefazem documentário e ficção parecerem uma coisa só. A narrativa tem uma estrutura não-linear, em que os personagens e situações são apresentados aos poucos, de maneira que oespectador vai montando a sequência individualmente. Na parte final, há uma situação que fazo espectador ligar as pontas da história. No entanto, por ser uma obra aberta, essa situaçãotraz novos questionamentos e pontos de reflexão sobre o filme, a realidade e a representação.

PRODUÇÃO

A produção do documentário começou no dia 1º de Janeiro de 2005, quando o diretor RodrigoSiqueia conheceu o sr. Pedro Almeida, personagem principal do filme. Desde então foramforam 12 viagens à comunidade de Quartel do Indaiá. E em maio de 2007, com o patrocínio daPetrobras, e com a cooperação da Representação da UNESCO no Brasil, uma equipe deapenas 4 pessoas fez uma imersão de 30 dias com o protagonista e sua família. Essa imersãoresultou em um material de 40 horas, que funde documentação etnográfica e experimentaçãoem busca do rico imaginário poético dos personagens. Ao final, a produção enxuta favoreceu alinguagem do filme. Posteriormente, o projeto foi contemplado pelo Programa de Fomento aoCinema Paulista na categoria de finalização, com patrocínio da Sabesp.

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LANÇAMENTO

Com distribuição da VideoFilmes e da 7Estrelo Filmes, em parceria com os contemplados doPrograma Cine Mais Cultura – do MINC, Terra Deu, Terra Come, será lançadosimultanemante com mais de 800 cópias em todo o país a partir do dia 1º de outubro.Considerado pelos críticos como um documentário de linguagem inovadora, o filme inovatambém em sua estratégia de lançamento e entra em cartaz com dimensões comparáveis aos“blockbusters” americanos.

Tradicionalmente, os documentários brasileiros são lançados com pouquíssimas cópias e têmgrande dificuldade de alcançar o público.

Terra Deu, Terra Come inova porque incorpora à sua estratégia de distribuição um parqueexibidor alternativo que tem larga escala e capilaridade nas capitais no interior do país.

O compromisso da produtora 7Estrelo Filmes e da distribuidora VideoFilmes é fazer com que ofilme chegue a quem deve chegar, que é o público brasileiro. Seja em um cinema na região daavenida Paulista, da zona sul do Rio de Janeiro, em um cineclube no interior do Acre, no sertãomineiro ou no pantanal.

O programa Cine Mais Cultura, do governo federal conta hoje com 821 pontos de exibiçãodigital em todos os 27 estados do Brasil, em periferias das capitais e no interior dos estados. Efaz chegar cinema a centenas de cidades que não possuem salas de exibição comercial.

Cada exibidor contemplado pelo Cine Mais Cultura receberá gratuitamente um kit do filmeTerra Deu, Terra Come contendo DVD, cartaz e material de divulgação para a realização deexibições nos meses de outubro e novembro de 2010, simultaneamente ao período em que ofilme estará em cartaz no circuito comercial de cinemas. A quantidade de espectadores destassessões será oficialmente registrada, contabilizando assim o público do filme no circuito não-comercial conjuntamente ao público do circuito tradicional.

Ao gerar fato novo na grande imprensa, Terra Deu, Terra Come pretende também provocaruma ampla discussão sobre como a participação do circuito não comercial pode contribuir parafazer o cinema brasileiro chegar aos brasileiros. E de maneira incorporada aos lançamentosnacionais do circuito comercial.

CINE MAIS CULTURA

Com a concentração de salas comerciais de cinema em apenas 8% do território nacional e aquantidade muito reduzida de obras audiovisuais brasileiras na TV, a maioria dos filmesproduzidos no país permanecem inéditos para grande parte de sua população.

Norteado por demandas apresentadas em diálogos com a sociedade civil, o Ministério daCultura, sob orientação do Programa Mais Cultura, promove a ação Cine Mais Cultura.

Através de editais e parcerias diretas, a iniciativa disponibiliza equipamento audiovisual deprojeção digital, obras brasileiras do catálogo da Programadora Brasil e oficina de capacitação

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cineclubista, atendendo prioritariamente periferias de grandes centros urbanos e municípios, deacordo com os indicadores utilizados pelo Programa Territórios da Cidadania.

Os editais têm como foco pessoas jurídicas sem fins lucrativos e, conforme seus objetos, visamcontemplar entidades tais como bibliotecas comunitárias, pontos de cultura, associações demoradores ou até mesmo escolas e universidades da rede pública bem como prefeituras,sempre com o objetivo de favorecer o encontro e a integração do público brasileiro com aprodução audiovisual de seu país.

Os Cine Mais Cultura são espaços para exibição de filmes com equipamento de projeçãodigital, obras brasileiras, em DVD, do catálogo da Programadora Brasil e oficina de capacitaçãocineclubista.

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VISSUNGOS

Vissungo, definição do Houaiss

Datação: sXXAcepções - substantivo masculinoRubrica: etnografia, música. Regionalismo: Minas Gerais.

Canto responsorial de negros nas lavras de diamantes em Diamantina (MG) com palavras emportuguês e línguas africanasObs.: f. geral não pref.: viçungo

Etimologiaumbd. ovisungu, pl. de ochisungu ‘canto’, registra Nei Lopes

Os Vissungos são cantos de trabalho outrora ouvidos dos africanos nos garimpos deDiamantina, Minas Gerais. Como uma das características principais dos vissungos destaca-seo fato de serem cantados em dialeto que mistura o português à língua banguela (ou benguela),e a uma fusão de outras línguas africanas também de matriz banto, correntes entre osescravos que garimpavam na região.

No livro “O Negro e o Garimpo em Minas Gerais”, editado pela primeira vez em 1943, opesquisador Aires da Mata Machado Filho registrou 65 vissungos que colhera no povoado deSão João da Chapada, distrito de Diamantina, na década de 1930.

Como descreve o autor, “os negros no serviço cantavam o dia inteiro. Tinham cantos especiaispara a manhã, o meio-dia e a tarde. Mesmo antes do sol nascer, pois em regra começava oserviço alta madrugada, dirigiam-se à lua, em uma cantiga de evidente teor religioso.” (…)“Muito interessante era a multa. Quando alguma pessoa chegava à lavra, era logo multadapelos mineradores, com uma cantiga apropriada exigiam alguma coisa do recém-chegado”(como uma espécie de pedágio).

Há também os cantos de enterro, que eram entoados durante o caminho até o cemitério.Durante longas distâncias, duas pessoas carregavam nos ombros o cadáver em uma redeenrolada em um pau, conhecido como “bangüê”, e iam cantando os vissungos para despedirdo defunto.

Hoje, os vissungos são extremamente raros e estão sob o risco de serem completamentedissipados como prática sócio-cultural. A pesquisadora Lúcia Nascimento, que integra a equipede pesquisa de Terra Deu, Terra Come, em sua tese de mestrado A África no Serro Frio –Vissungos: Uma prática social em extinção – já alertava, em 2003, para o fato de que restamapenas três pessoas que conhecem os vissungos “originais” e o dialeto derivado do Benguela,dois no povoado de Ausente, em Milho Verde, distrito do município de Serro, e um na região deSão João da Chapada. Após as filmagens do documentário seu Crispim Veríssimo, um doscantadores de Milho Verde, morreu. Hoje restam apenas dois: Seu Pedro, em Quartel doIndaiá, e seu Ivo Silvério, em Milho Verde.

O protagonista de Terra Deu, Terra Come Pedro Vieira, conhecido como “Pedro de Alexina”, éo último cantador dos vissungos sanjoanenses (de São João da Chapada). Aos 81 anos,

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garimpeiro e trabalhador rural, Seu Pedro ainda guarda na memória alguns dos cantos queaprendeu na infância e quando trabalhava nas “faisqueiras” – como eram conhecidos osgarimpos manuais.

A pesquisadora Lúcia Nascimento também vem alertando, sistematicamente, para o fato deque com a morte dessas pessoas morrerá também o dialeto delas. O universo simbólico quecompunha o cotidiano nas faisqueiras e que antes era o combustível para a explosão dasvozes nas cantorias dos trabalhadores foi dissipado com o fim dos áureos tempos do garimpo.

Sem as mesmas referências sócio-culturais dos antigos cantadores, os jovens têm grandesdificuldades em aprender os cantos e já não encontram nos vissungos o lastro com o dia-a-diade trabalho. “Com a abolição da escravatura, sem o trabalho grupal que anteriormente eraexigido, essas práticas foram se dissipando. Hoje em dia é comum garimpar sozinho nestaslocalidades. Isto nos leva a compreender o esquecimento dos cantos de trabalho e de multasofrido pelos cantadores”, atesta Lúcia Nascimento.

Com a plena consciência de que os vissungos e o dialeto Banguela configuram-se como umpatrimônio de sua gente, o próprio personagem Pedro de Alexina nos alerta para aresponsabilidade de preservação desse patrimônio.

Em ação articulada com a UNESCO, parceira do projeto, a documentação audiovisual dosvissungos em Terra Deu, Terra Come configura-se como iniciativa decisiva para odesenvolvimento das subsequentes ações de preservação da tradição oral afro-mineira.

Referências bibliográficas:

FURTADO, Júnia Ferreira. O Livro da Capa Verde: o Regimento Diamantino de 1771 e a vidano distrito diamantino no período da real extração. São Paulo: Ed. Annablume; Belo Horizonte:PPGH/ UFMG, 2008.

MACHADO FILHO, Aires da Mata. Arraial do Tijuco Cidade Diamantina. Belo Horizonte: Ed.Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1980.

MACHADO FILHO, Aires da Mata. O negro e o garimpo em Minas Gerais. Belo Horizonte: Ed.Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1985.

NASCIMENTO, Lúcia Valéria do. A África no Serro-Frio: vissungos: uma prática social emextinção. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,2003.

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RESENHAS

PROEZA NOTÁVEL - Crítica de Eduardo Escorel para revista Piauí

Terra Deu, Terra Come – Proeza NotávelEduardo Escorel

Escolhido melhor documentário da competição brasileira do festival É Tudo Verdade deste ano( 8 a 18 de abril ), “Terra Deu, Terra Come”, produzido, dirigido e editado por Rodrigo Siqueira,é uma proeza. De um lado, revela um personagem singular, morador de uma comunidadeisolada, vinculada a valores arcaicos; de outro, elabora linguagem sofisticada, estabelecendoum novo patamar para o cinema que procura desvendar os mistérios do mundo.

Entre outros feitos, “Terra Deu, Terra Come” harmoniza assunto e forma com destreza,evidenciando os limites das duas variantes usuais do documentário – (1ª) mera observação deeventos que ocorrem independente da vontade do realizador e (2ª) depoimentos propiciadospelo observador. Rodrigo Siqueira terá percebido que essas duas possibilidades não dariamconta do que encontrou na comunidade do Quartel de Indaiá, perto de Diamantina, em MinasGerais. Seria preciso recorrer à terceira alternativa – reconstruir o passado, terreno livre dainvenção. Pedro de Alexina, velho garimpeiro, ganhou o merecido crédito de colaborador nadireção de “Terra Deu, Terra Come”, ao se tornar protagonista e, junto com Rodrigo Siqueira,maestro dessa reconstrução. A partir de um evento deflagrador, o documentário recupera oritual para encomendar almas, que Pedro de Alexina é dos poucos remascentes a conhecer.Nesse processo, o evento circunstancial – a morte de um amigo – perde relevância. Prevalecea dimensão mítica, recuperada na narrativa de Pedro de Alexina. Conduzindo o relato, ele dálições de sabedoria, fala do quotidiano, improvisa explicações, sem esclarecer, em cada caso,quando está fabulando ou sendo factual.

A importância da tradição oral, fundamento do saber na comunidade, é indicada no começo doprólogo, através da supressão da imagem. Livre de apelos visuais, com a tela preta, a atençãopode se concentrar na fala que define o tema de “Terra Deu, Terra Come”. Mesmo “velhos e searrastando”, não aceitamos a morte, diz Pedro de Alexina. Remontando ao tempo em que“Cristo mais São Pedro andavam pelo mundo”, explica o acordo que levou à preservação davida de idosos, necessários para dar “conselho aos novos”. Só de vez em quando, a Mortesaltava e matava um, diz Pedro de Alexina, ficando culpada por isso. Cristo, então, inventa adesculpa que existe até hoje:

“Quando morre um, ah é, foi do coração. Tomou uma topada? Ah, foi a topada! O que que ofreguês arrumou? Ah, não, ele adoeceu, apresentou com isso, aquilo outro, né? Morreu! Né? Éa desculpa que Deus pôs… que nós todos, hoje, tá nessa desculpa. Ah, do que morreu? Ah, derepente…ah, é o coração. Nonada, mas tem essa Morte. Né?”

“Mergulhado e enredado” por “Grande Sertão: Veredas” Rodrigo Siqueira viajou “em busca dosertão mítico e profundo retratado por Rosa.” Motivação que o levou à região explicitada norelato da abertura de “Terra Deu, Terra Come”, quando Pedro de Alexina usa a palavranonada, como é sabido, a primeira do romance de Guimarães Rosa.

Rodrigo Siqueira aparece em alguns planos, e ao longo do documentário pede explicações aPedro de Alexina. Não querendo ser um observador distante, vence a timidez e procura se

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integrar à observação; revela, por outro lado, que “Terra Deu, Terra Come” é o registro de umadescoberta, não de algo conhecido de antemão. Para poder apreciar esse processo, oespectador precisa ter disposição para reviver, concentradas em 89’, dúvidas, hesitações, eambiguidades do longo caminho percorrido na realização dessa obra notável.*Vai acima um primeiro registro, depois de ter visto “Terra Deu, Terra Come” duas vezes.Estando ainda inacessível, guardarei comentário mais extenso para quando o documentáriorealizado por Rodrigo Siqueira puder ser visto, o que espero não demore. Por enquanto,saudemos um grande acontecimento cinematográfico.

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BONITEZA E PRECISÃO - Texto de Nirlando Beirão para revista Brasileiros

Boniteza e precisão

Com sutileza, Rodrigo Siqueira visita o mundo de Guimarães Rosa no documentário Terra Deu,Terra Come.

Por Nirlando Beirão

Está embebida de Guimarães Rosa a maestria com que Rodrigo Siqueira conjuga imagens epalavras neste seu primeiro documentário longa-metragem (88 minutos), Terra Deu, TerraCome – prêmio maior para o diretor brasileiro no festival É Tudo Verdade, edição 2010.Comente com ele: “Você parece ser um rosiano de carteirinha”. E Rodrigo há de,mineiramente, maneirar: “A gente vai ficando, né? Basta ler o Guimarães Rosa pra ficar”.

Meio por acaso, naquela embriaguez rosiana que constrói uma sensação de realidade a partirdo fraseado ficcional, na ambiguidade de não se saber se é mero “causo” ou pura verdade, éque Rodrigo, nascido em Belo Horizonte e há oito anos em São Paulo (“pai de Benjamin etorcedor do Galo”, ele impõe como condições prévias de identidade), garimpou o episódio quedesencadeou sua dupla viagem. A de peregrino curioso, pelas veredas do Grande Sertão, e ade intelectual meticuloso, que veio a dar, mais de cinco anos depois, no documentáriopremiado. O episódio: aquele no qual o jagunço Riobaldo “toma parte” – ou seja, sela o pactocom o diabo, “no meio do redemunho”, ainda que o diabo, ele próprio, não compareça aoencontro.

Virada de 2004 para 2005: Rodrigo, acompanhado da mulher Clarice, palmilha os camposgerais de Guimarães Rosa atrás de alguém capaz de lhe explicar a essência enigmática do“pacto” – e, por extensão, a genuína natureza do Coisa Ruim. Diziam que por lá ainda temquem saiba desses mistérios. Cordisburgo, Morro da Graça, São Francisco, o Parque Nacionalda Serra das Araras, a Chapada Gaúcha (em cujo tabuleiro eles toparam até com um casal deescoceses, leitores de Rosa, a tentar vislumbrar o Liso do Sussuarão e o Vão dos Buracos,dois dos sítios da geografia mítica do escritor). Dali, deslizando pelos atalhos pedregosos daantiga Estrada Real, enveredaram Rodrigo e Clarice por Milho Verde, São Gonçalo do Rio dasPedras, Diamantina, para, enfim, sucumbir à vastidão do Urucuia, a caminho do PlanaltoCentral.

O olhar agudo do cineasta escarafunchou a alma dos circunstantes, mas não deparou nemcom o Demo nem com a lógica de seus acordos. Para compensar, em um mágico 1o de

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janeiro, achou ouro em pó para sua futura narrativa, na figura de Pedro de Almeida, 81 anos,garimpeiro de diamantes e cantador de vissungos. Rodrigo sabia o que era isso desde quetomou conhecimento pela leitura do clássico O Negro e o Garimpo em Minas Gerais, doprofessor Ayres da Matta Machado. Vissungos são cantos em dialeto benguela que, ali, emQuartel do Indaiá, antigo quilombo vizinho a Diamantina, seu Pedro é hoje o último a preservar.

Acionada a câmera, seu Pedro não se faz de rogado. Começa por comandar, como mestre decerimônia, o velório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, que, dizem os convivas,morreu aos 120 anos. Com uma caneca, despeja sobre o cadáver assentado já na cova,coberto pela mortalha de linho, umas gotas de cachaça. “O que você queria taí! Nós não bebeuela não, a sua taí. Vai e não volta pra me atentar… Faz sua viagem em paz.” E aí é outraviagem que começa, em uma teatralidade de fonemas, sons, frases, risadas, bebedeiras,máscaras, movimentos (a linguagem corporal de seu Pedro não fica a dever a um aluno doscursos de teatro de Antunes Filho), em que a vertigem da narrativa trapaceia astuciosamenteas fronteiras da farsa e do real. A delicadeza e a sutileza do estilo de Rodrigo Siqueiraespantam as rasuras do folclore, um perigo em filmes desse tipo, e um primor de narrativa oralse impõe por si mesma (e, claro, com a necessidade imperiosa de legendas), narrativavigorosa, divertida, sensível, humana e – como haveria de gostar o santo padroeiro Rosa –com o diabo, sempre ardiloso, arrevesando o desfecho.

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CRÍTICA DA FOLHA DE SÃO PAULO - 15º É TUDO VERDADE

Crítica “Terra Deu, Terra Come”

Direção inventiva resgata quilombolas

FLAVIA CESARINO COSTACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No início do século 18, a descoberta de diamante em Minas Gerais trouxe um grande afluxo depessoas ligadas ao garimpo. A cidade de São João da Chapada era uma das sedesadministrativas da administração colonial, que tentava controlar o contrabando. Escravosfugidos escondiam-se perto do vizinho Quartel de Indaiá, onde ficavam as tropas portuguesas.Com a desativação das minas pela Coroa, os quilombolas ocuparam a área e formaram umapovoação que permaneceu relativamente isolada até hoje.Nessa região praticam-se ainda os chamados “vissungos”, músicas em forma de perguntas erespostas associadas a cerimônias fúnebres, cantadas inteiramente em dialeto benguela,originário de Angola.Por causa do isolamento e da sobrevivência dessa forma musical, os moradores de Quartel deIndaiá são visitados por pesquisadores e desde o início do século. O documentário de RodrigoSiqueira, “Terra Deu, Terra Come”, procura resgatar o que sobra destes cantos na memóriados habitantes locais, mas propõe uma perspectiva diferente para o embate com seusentrevistados.Parte do problema é que seu principal informante, o sr. Pedro de Alexina, 82 anos, precisaenfrentar o desgaste do tempo e o embaralhamento de uma tradição oral já misturada com oportuguês e que se modifica a cada vez que ele é entrevistado.Pedro de Alexina fica no limiar entre a rememoração, a vivência real e a tentação para inventar,rodeado de filho, netos e da mulher, que influenciam a conversa.

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A saída do diretor para a situação é bastante inventiva. Em vez de apelar para o estilodocumental tradicional, Rodrigo Siqueira transforma a situação ambígua das memórias de seuPedro, que transitam entre o relato e a invenção, em matéria-prima de encenações queenvolvem todo o núcleo familiar.Até os filhos e netos, meio descrentes, envolvem-se com um jogo que acaba sendo maisverdadeiro do que o produto de uma memória fiel. E a imagem documental acaba seconstruindo, ao longo do filme e das conversas filmadas, como um comentário poético emetalinguístico sobre ela mesma e sobre os limites da verdade.

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REALIZAÇÃO

7ESTRELO FILMES

Produtora do diretor Rodrigo Siqueira, a 7Estrelo Filmes atua como geradora de conteúdoaudiovisual para cinema, televisão e internet. Em 2003 produziu o documentário Aqui Favela, oRap Representa, lançado na 27ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e exibido emrede nacional pela TV Cultura. Em 2006 produziu o Cine Popular Guarulhos, em parceria coma prefeitura local, projeto de cinema itinerante pelos bairros periféricos de Guarulhos, queatendeu mais de 50 mil pessoas. Entre 2004 e 2007, realizou vários projetos em parceria como portal UOL, destacando-se o conteúdo audiovisual e escrito para o teaser-site da 27ª Bienalde São Paulo; e a série de 10 documentários curtos sobre o samba de São Paulo,acompanhados de reportagens especiais do diretor Rodrigo Siqueira. Além de lançar TerraDeu, Terra Come nos cinemas, atualmente, a 7Estrelo Filmes prepara um novo longa-metragem documental; uma série de documentários em quatro capítulos; e desenvolve o seuprimeiro projeto de cinema ficcional.

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PRODUÇÃO ASSOCIADA

TANGO ZULU FILMES

A Tango Zulu Filmes foi criada em 2008 por Tayla Tzirulnik. Produz filmes para publicidade,cinema e tv, e projetos especiais como festivais de cinema, etc. Nos projetos educativos,destaca-se o documentário sobre direção de fotografia "Cinematografia" da coleção ArquivoPlano B, que já vendeu mais de 1.000 dvds. O próximo lançamento é "O Roteirista", que dessavez explora a profissão de quem escreve o cinema brasileiro. Este ano a produtora realiza seuprimeiro festival de cinema brasileiro em Frankfurt, Alemanha, o MAIN CINE BRASIL. A TangoZulu Filmes também é responsável pela publicação da revista de cinema trimestral, BETA. Arevista BETA é uma das revistas mais elogiadas pelos profissionais da área. Terra Deu, TerraCome é o primeiro longa-metragem da produtora, realizado em parceria com a 7 EstreloFilmes.

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DISTRIBUIÇÃO

VIDEOFILMES

A VideoFilmes é uma produtora de cinema e vídeo conhecida no Brasil pela alta qualidadetécnica e artística de seus trabalhos. Fundada em 1987 por Walter Salles e seu irmão JoãoMoreira Salles, a Videofilmes produz séries e programas para televisão, filmes de longa-metragem e documentários.De Walter Salles, a VideoFilmes produziu Linha de Passe, Central do Brasil, Meia-noite/Oprimeiro dia, co-dirigido por Daniela Thomas, e Abril despedaçado.Um dos principais focos da produtora é a realização de filmes de diretores estreantes, casos deMadame Satã, de Karim Aïnouz, Cidade de Deus, co-dirigido por Kátia Lund e FernandoMeirelles, dos documentários Onde a terra acaba, de Sérgio Machado, Contratempo de MaluMader e Mini Kerti, No Meu Lugar, dirigido por Eduardo Valente e Quincas Berro D’água,dirigido por Sérgio Machado.Por outro lado, a VideoFilmes já teve o privilégio de produzir documentários realizados pelosmestres Nelson Pereira dos Santos (Casa grande e senzala) e Eduardo Coutinho (Moscou,Jogo de Cena, Babilônia 2000, Edifício Master, Peões e O Fim e o Princípio).A produtora investe continuamente na produção de documentários, como Santiago, NelsonFreire e Entreatos, de João Moreira Salles, e Paulinho da Viola – Meu tempo é hoje, de IzabelJaguaribe e o recém lançado Uma noite em 67 de Renato Terra e Ricardo Calil. Por seusfilmes de ficção e documentários, a VideoFilmes já recebeu mais de 300 prêmios nacionais einternacionais.

Longas-metragens:

2010 UMA NOITE EM 67, de Renato Terra e Ricardo Calil2010 QUINCAS BERRO DÁGUA, de Sérgio Machado2009 NO MEU LUGAR, de Eduardo Valente2009 MOSCOU, de Eduardo Coutinho2008 CONTRATEMPO, de Malu Mader e Mini Kerti2008 LINHA DE PASSE, Walter Salles e Daniela Thomas2007 JOGO DE CENA, de Eduardo Coutinho2007 SANTIAGO, de João Moreira Salles2006 O CÉU DE SUELY, de Karim Aïnouz2005 O FIM E O PRINCÍPIO, de Eduardo Coutinho2005 CIDADE BAIXA, de Sérgio Machado2004 PEÕES, de Eduardo Coutinho2004 ENTREATOS, de João Moreira Salles2004 FALA TU, de Guilherme Coelho2003 NELSON FREIRE, de João Moreira Salles2003 PAULINHO DA VIOLA – MEU TEMPO É HOJE, de Izabel Jaguaribe2002 EDIFÍCIO MASTER, de Eduardo Coutinho2002 MADAME SATÃ, de Karim Aïnouz2002 CIDADE DE DEUS, co-dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund2001 ONDE A TERRA ACABA, de Sérgio Machado2001 ABRIL DESPEDAÇADO, de Walter Salles2001 LAVOURA ARCAICA, de Luiz Fernando Carvalho2001 BABILÔNIA 2000, de Eduardo Coutinho1998 MEIA-NOITE/O PRIMEIRO DIA, co-dirigido por Daniela Thomas e Walter Salles1998 CENTRAL DO BRASIL, de Walter Salles1995 TERRA ESTRANGEIRA, de Walter Salles e Daniela Thomas

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PATROCINADORES

Terra Deu, Terra Come só pôde ser realizado graças ao apoio daqueles que acreditaram noprojeto quando era apenas uma ideia. A equipe do filme agradece a todos os parceiros.

Realização: 7 Estrelo FilmesCooperação: UNESCO – Representação no Brasil

Produzido com recursos do artigo 18 da lei RouanetSelecionado pelo Programa Petrobras CulturalApoio: Lei de Incentivo à CulturaPatrocínio: Petrobras

Finalização com recursos do artigo 1ºA da lei do AudiovisualApoio Ancine / Programa de Fomento ao Cinema PaulistaPatrocínio: Sabesp