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Ermidas de Santo André e de São Simão Espaços que hoje apenas abrigam memórias Montemor-o-Novo, a "cidade dos três montes", e as freguesias urbanas de Nossa Senhora do Bispo, e de Nossa Senhora da Vi- la, possuem um vasto património religioso, composto por trinta igrejas. Destas, doze localizam-se na cidade: Calvário, Convento de S. Domingos, Hospital de São João de Deus, Matriz, Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora da Paz, Nossa Senhora das Necessidades, Santa Casa da Misericórdia, São Francisco, São Lázaro, São Sebastião e São Vicente; treze nos arredores: Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Visitação, Represa, Safira, Santa Margarida, Santo Aleixo, Santo André, São Gens, São Geraldo, São Luís, São Mateus, São Pedro e São Simão; e cinco no Castelo: Convento da Saudação, Santa Maria da Vila, Santa Maria do Bispo, São João Batista, e a de São Tiago. Deste rol, existem dezoito templos, (Nossa Senhora da Paz, Nossa Senhora das Necessidades, São Francisco, São Lázaro, São Sebastião, São Vicente, Represa, Safira, Santo Aleixo, Santo André, São Gens, São Pedro, São Simão, e as cinco situadas no Cas- telo), que motivado pelo seu estado de abandono, ou outros motivos, há muito que deixaram de estar ao serviço do culto de adoração a Deus, aos Santos, e à Virgem Maria. Este mês, vou debruçar-me so- bre as ermidas referidas em título: Ermida de Santo André O Apóstolo de Cristo que lhe o nome nasceu em Betsaida, Palestina. Também conhecido como o "Afável", foi escolhido para ser um dos doze discípulos, e nas várias listas dadas no Novo Testamento, é sempre citado entre os quatro primeiros, junto com Pedro, João e Tiago. Faleceu em 60 d.C. em Pátras, Grécia. No calendário católico, é comemorado no dia 30 de Novembro, data do seu martírio. A ermida foi fundada em 1300. Instituída para fins assistenciais de peregrinos e enfermos, com albergaria anexa, presumivelmente no reinado de D. Dinis (o colector do Dicionário Geográfico), a men- ciona com exercício cultural no ano de 1316), seguiu vida esplendorosa ou precária, até ser anexada, em concordância das respectivas irman- dades, com o hospício do Espírito Santo em 1354, origem da fundação do Real Hospital de Santo André de Montemor-o-Novo. Situada a Noroeste da cidade, alcança-se através da estrada para Mora, na distância aproximada de 2 Km, e foi construída em grossa alvenaria, na plataforma de íngreme cerro crivado de azi- nheiras e sobreiros, donde se abarca vastíssimo horizonte, belo, alegre e vaziado. Os primitivos domínios públicos, num terreno murado, e com destino a repouso de romeiros do Apóstolo, foi património dos descendentes do Conde de Santo André, Cipriano Justino da Costa, está plantado de oliveiras seculares, destinadas a alimentar, perpetuamente, as candeias do altar. Este antigo titular, antes de ser elevado ao pariato, estando o templete abandonado ao culto, ordenou certas escavações nos terrenos anexos, localizando o cemitério da albergaria, e descobrindo muitas moedas antigas. A Courela de Santo André do Outeiro era em 1 763, património do padre-cura de Arraiolos, e estava aforada à Misericórdia da vila. Nas suas baixas, e junto à estrada nacional n. s 2, subsiste a velha "Fonte Santa", de fresquíssima água calcária, destinada a desentediar os peregrinos, e rendeiros das terras. Abandonada ao culto, nos fins do século XVIII, sofreu ruína muito acentuada, por roubo de materiais de construção, mas ainda, no ano de 1 924, conservava abóbadas da nave e parte do alpendre axial. Segundo o exame de arquitectura, das fachadas laterais de robustíssima alvenaria, e acusando sucessivas camadas de aparelho, para evitar males profundos, alpenduradas de telha vã, abraçavam o edifício, hoje perdidas, mas assinaláveis, pelos rudes modilhões de granito embebidos em ossatura. Correndo pela platiban- da, até alcançar o desaparecido cam- panário, havia varanda contígua, talvez primitivamente ameiada, que se atingia por escada interna, da sacristia paralela da abside. Arcos redondos na nave, levan- tados com desmesurado volume, protegiam as coberturas do edifício, no sistema de abobadilhas, em substituição das antigas, que seriam, como se admite, de travejamento ao uso da região. O terceiro tramo é antecedido de elegante arcada plena, ultrapassada com chanfros, apoiados em pilastras atarracadas graníticas. Parece obra de reforço de fins do século XV. Da imagem padroeira ignora- se a existência, sua factura e valor artístico, muito embora se tenha recolhido à Igreja do Hospital de Montemor-o-Novo, por volta de 1870. Actualmente, o espaço envolven- te da antiga ermida guarida a infra-estruturas para sistemas de operadores de telecomunicações, existindo no local, várias torres de transmissão. Ermida de São Simão Simão, o patrono da ermida, era um dos apóstolos, conhecido como o "Zeloso". Era filho de

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Ermidas de Santo André e de São Simão

Espaços que hoje apenasabrigam memórias

Montemor-o-Novo, a "cidadedos três montes", e as freguesiasurbanas de Nossa Senhora doBispo, e de Nossa Senhora da Vi-

la, possuem um vasto patrimónioreligioso, composto por trinta igrejas.Destas, doze localizam-se na cidade:

Calvário, Convento de S. Domingos,Hospital de São João de Deus,Matriz, Nossa Senhora da Luz, NossaSenhora da Paz, Nossa Senhoradas Necessidades, Santa Casa da

Misericórdia, São Francisco, SãoLázaro, São Sebastião e São Vicente;treze nos arredores: Nossa Senhorada Conceição, Nossa Senhora da

Visitação, Represa, Safira, Santa

Margarida, Santo Aleixo, SantoAndré, São Gens, São Geraldo, São

Luís, São Mateus, São Pedro e São

Simão; e cinco no Castelo: Conventoda Saudação, Santa Maria da Vila,

Santa Maria do Bispo, São JoãoBatista, e a de São Tiago. Deste rol,

existem dezoito templos, (NossaSenhora da Paz, Nossa Senhora das

Necessidades, São Francisco, São

Lázaro, São Sebastião, São Vicente,

Represa, Safira, Santo Aleixo, Santo

André, São Gens, São Pedro, São

Simão, e as cinco situadas no Cas-

telo), que motivado pelo seu estadode abandono, ou outros motivos,há muito que deixaram de estar ao

serviço do culto de adoração a Deus,aos Santos, e à Virgem Maria.

Este mês, vou debruçar-me so-bre as ermidas referidas em título:

Ermida de Santo André

O Apóstolo de Cristo que lhe dá o

nome nasceu em Betsaida, Palestina.

Também conhecido como o "Afável",

foi escolhido para ser um dos doze

discípulos, e nas várias listas dadasno Novo Testamento, é sempre citado

entre os quatro primeiros, juntocom Pedro, João e Tiago. Faleceuem 60 d.C. em Pátras, Grécia. No

calendário católico, é comemoradono dia 30 de Novembro, data do seumartírio.

A ermida foi fundada em 1300.Instituída para fins assistenciaisde peregrinos e enfermos, comalbergaria anexa, presumivelmenteno reinado de D. Dinis (o colectordo Dicionário Geográfico), já a men-ciona com exercício cultural no anode 1316), seguiu vida esplendorosaou precária, até ser anexada, emconcordância das respectivas irman-

dades, com o hospício do EspíritoSanto em 1354, origem da fundaçãodo Real Hospital de Santo André deMontemor-o-Novo.

Situada a Noroeste da cidade,

alcança-se através da estrada paraMora, na distância aproximadade 2 Km, e foi construída em

grossa alvenaria, na plataformade íngreme cerro crivado de azi-nheiras e sobreiros, donde seabarca vastíssimo horizonte, belo,

alegre e vaziado. Os primitivosdomínios públicos, num terrenomurado, e com destino a repouso deromeiros do Apóstolo, foi patrimóniodos descendentes do Conde deSanto André, Cipriano Justino daCosta, está plantado de oliveirasseculares, destinadas a alimentar,perpetuamente, as candeias doaltar. Este antigo titular, antes deser elevado ao pariato, estandoo templete já abandonado aoculto, ordenou certas escavaçõesnos terrenos anexos, localizandoo cemitério da albergaria, edescobrindo muitas moedas antigas.

A Courela de Santo André doOuteiro era em 1 763, património do

padre-cura de Arraiolos, e estavaaforada à Misericórdia da vila.Nas suas baixas, e junto à estradanacional n. s 2, subsiste a velha"Fonte Santa", de fresquíssima águacalcária, destinada a desentediaros peregrinos, e rendeiros das terras.

Abandonada ao culto, nos fins

do século XVIII, sofreu ruína muito

acentuada, por roubo de materiaisde construção, mas ainda, no ano de1 924, conservava abóbadas da navee parte do alpendre axial. Segundo o

exame de arquitectura, das fachadaslaterais de robustíssima alvenaria,e acusando sucessivas camadasde aparelho, para evitar malesprofundos, alpenduradas de telha vã,

abraçavam o edifício, hoje perdidas,mas assinaláveis, pelos rudesmodilhões de granito embebidosem ossatura. Correndo pela platiban-da, até alcançar o desaparecido cam-

panário, havia varanda contígua,talvez primitivamente ameiada, quese atingia por escada interna, dasacristia paralela da abside.

Arcos redondos na nave, levan-tados com desmesurado volume,protegiam as coberturas do edifício,no sistema de abobadilhas, em

substituição das antigas, que seriam,como se admite, de travejamentoao uso da região. O terceiro tramoé antecedido de elegante arcadaplena, ultrapassada com chanfros,

apoiados em pilastras atarracadas

graníticas.Parece obra de reforço de fins do

século XV.

Da imagem padroeira ignora-se a existência, sua factura e valorartístico, muito embora se tenharecolhido à Igreja do Hospital deMontemor-o-Novo, por volta de 1870.

Actualmente, o espaço envolven-te da antiga ermida dá guarida ainfra-estruturas para sistemas de

operadores de telecomunicações,existindo no local, várias torres detransmissão.

Ermida de São Simão

Simão, o patrono da ermida,era um dos apóstolos, conhecidocomo o "Zeloso". Era filho de

Cleophas e de Maria. Cleophasera irmão de São José, e ela,irmã da Virgem Maria. Assim, Si-mão era primo irmão de Jesus.

Antiga, de fundação desco-nhecida, a ermida tem característicasconstrutivas de alvores do séculoXVII (no seu aspecto actual), en-contrando-se completamentearruinada e sem coberturas, ergui-da no alto dominador do cabeço doseu nome, envolvida por oliveirase sobreiral, abrangendo vasto ho-rizonte seco e triste, para a estradade Arraiolos, e grandioso, na linharecortada do castelo, casario dacidade e silhueta de Ermida deNossa Senhora da Visitação, daqual dista cerca de um quilómetro, e

donde se faz, por melhor via, o seuacesso.

No ano de 1763, as terras do

ferragial pertenciam a José António

Macedo, residente em Lisboa, comforo devido ao templete, que esta-va agregado eclesiasticamente, à

Matriz de Nossa Senhora do Bispo.Na colina mais vizinha do povoado,ligada à horta de Luís de AlmeidaCabral, filho de Francisco de Brito

Lobo, da vila de Moura, e arrendadaa Manuel Caetano Pratas, ficava asinistra forca comarca, com murosde grossa alvenaria.

A ermida, construída emgrosso paramento, e de volumesinteressantes na linha do ocidente,obedeceu ao tipo corrente dearquitectura religiosa rural, do aromontemorense, sem vestígios de

alpendre, mas robustecida de fortesbotaréus de alvenaria, integradosna fachada, que perdeu, por des-moronamento, com a empena e o

portal.A vasta nave, rectangular, de

alçados caiados de branco, eracoberta por tecto de meio canhão,e tinha dois altares laterais, meti-dos em arcos redondos, recobertosde pintura de pinta-d'água, geo-metrizantes.

O presbitério, de estruturapraticamente intacta, e de plantaquadrangular, iluminado por frestas

estreitas, possui o arranque do arcomestre de volta plena apilastrado,restos de abóbada de alvenaria, eacentuados vestígios de composiçãomural naturalista, interrompida pelo

espaço fundeiro da ousia, quedenuncia ter sido decorado porretábulo de talha.

A imagem titular - "São Simão",de pedra de Ançã, aparentementede princípios do século XVI, subsistena sacristia de Nossa Senhora da

Visitação.A ermida, já estava desafectada

e em ruínas, no ano de 1875.Dimensões totais exteriores

do edifício: nave e presbitério -comprimento 16,15 x largura 8,70;abside - largura máxima 5,50m.

A festa do patrono realizava-seno dia 18 de Fevereiro.