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ÍTQUE FAZEM OS DIPLOMADOS DO CURSO~MM* AMBICIONADO EM PORTUGAL
JOAOLOUSADA,
30 ANOS, ENGENHEIRO
AEROESPACIAL, TRABALHA
NA ALEMANHA COMO
DIRETORDEVOO
NO CENTRO DE CONTROLO
EUROPEU DA ESTAÇÃO
ESPACIAL INTERNACIONAL
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João Lousada, atualmente
no centro de controlo da
Estação Espacial Internacio-
nal, integrou a expediçãoAMADEE-18, que o levou ao
deserto de Omã, onde simu-
lou as condições de Marte
MARTAMARTINSSILVATEXTOS
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É o curso com a média mais alta do País e a esmagadora maioriados seus alunos desconhece a palavra desemprego. Fomos tentar
perceber o que faz afinal um engenheiro aeroespacial eencontrámos de tudo... até quem praticamente 'viva' no Espaço
ENGENHEIROS DEUM FUTURO QUEJÁ NÃO É SÓ DOS
FILMES DE FICÇÃO
ssim que João Lousada atendeu otelefone pediu pata lhe ligarmosumahora mais tarde. Nessa alturaexplicaria por que adiouaconversapara a pausa de almoço: "Estou atrabalhar com a Estação Espacial[noColumbusControlCenter.nosarredores de Munique, na Alemãnha - o centro de controlo europeupara a Estação Espacial Internacio-nal] e, tendo os astronautas abordo,pode surgir a qualquer momento al-gum problema que temos de resol-ver rapidamente, nãopodemos es-tar concentrados em mais nada .
"
Quando soam os alarmes - comotambémjá aconteceu a meio da noitee aqjm de semana - o importante é
pqjfbs astronautas asalvo e só depois
ijjróstigar se há razões para avançarJom medidas mais drásticas, sejafhumasituaçãode fogo, seja o impactode Uma peça solta na atmosfera. João
Lousada, que estánaTerra sempre deolhos postosno Espaço, foipromovido há cerca de quatro meses no em-prego de topo onde está desde 2016.
"Até aqui era um dos membros daequipa, trabalhava nos sistemas , nocontrolo térmico, nos sistemas desuporte de vida, na atmosfera que os
astronautas respiram dentro da es -tacão espacial, mas agora, como'flight director* [diretor de voo],coordeno essa equipa e ajudo todasas equipas da Europa a selecionar a
melhor forma de ajudar os astro-nautas no Espaço."
É verdade que já repetimos as pa-lavras Espaço e astronautas váriasvezes, mas não há como fugir delas:é disso que se trata na vida deste lis -boeta de 30 anos que se licenciou em2013 em Engenharia Aeroespacialno Instituto Superior Técnico - ummestrado integrado que este ano r,è'gistou a média de entrada mais eje-vada do País, 18 , 95 valores, destro -nando o curso de Medicina, talcomo já tinha acontecido ertt"2ol6 e
2017. João está a viver o sonho domenino que via as estrelas com os
avós naquelas noites quentes de ve-rão na aldeia da Bouça, em Figueiró
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dos Vinhos, equeseinterrogavaso-bre o que estaria para lá daquilo queos seus olhos de gaiato - o gosto nas-ceu, do que se lembra, pelos cinco,seis anos - viam.
O fascínio pelo Espaço é (aindahoje) tanto que o emprego não é asua única ligação ao tema que omotiva desde a infância: João entrouem regime de voluntariado para oFórum Espacial Austríaco em2015,altura em que foi um dos seleciona-dos para uma das missões mais im-portantes na investigação espacialmundial, depois de umprocesso de
seleção que tinha 100 candidatos e
600 testes diferentes. Faz 'missões
análogas' a Marte, o mesmo é dizer
que está treinado e certificado parafazer de astronauta em missões queprocuram na Terra - nomeada-mente em desertos - ambientes quese pareçam com o de Marte e ondetestam todas as tecnologias e con-ceitos que querem um dia levar ao
quarto planeta a partir do Sol. Emfevereiro de 2018, o engenheiro fi-lho de um piloto - e que por isso nãoestranhou que João quisesse andarcom a cabeça nas 'nuvens' - inte-grou com outros cinco elementos a
expedição AMADEE-18, queolevouao deserto de Omã, na península daArábia, onde esteve isolado durantetrês semanas vestido com um fato
que pesa 50 quilos.
Já sabia que omais provávelera ir parao estrangeiroJOÃO LOUSADA, ENGENHEIRO
Maisinformação
PORTUGAL COMEÇA AMEXER-SE NO ESPAÇO?Para o engenheiro Nuno Ávila, a
presença portuguesa no Espaço játem relevo atualmente. "Â criação,este ano, da Agência Portuguesado Espaço foi um passo muito
importante; o facto de ter sido
aprovada legislação sobre a
utilização do Espaço também e até
está neste momento a decorrer um
concurso para o estabelecimento
de uma base de lançamento para
foguetões nos Açores."
À procura de uru lugar no Espaço
PRIMEIRO CURSO FOINA COVILHÃ EM 19910 primeiro curso semelhante ao
de Aeroespacial foi criado em 1991,
na Covilhã, mas com a designaçãode Engenharia Aeronáutica. "No
primeiro ano, e porque tivemos um
diferendo com o Ministério, as
inscrições só estiveram abertas na
última semana de agosto", recorda
Luiz Braga Campos. As únicas
universidades públicas que têm este
curso são o Técnico e a Universidade
da Beira Interior (UBI), na Covilhã.
O Espaço já foi mais longeO primeiro emprego de João Lousa-da também foi na Alemanha, mas naconstrução de satélites meteoroló-gicos. "Já sabia desde o início docurso que o mais provável era ter devir a trabalhar fora do País
, porqueem Portugal a área do espaço nãoestariamuito desenvolvida, embo-ra hoje em dia já comece a estar."Mas em 1992, quando Nuno Ávila,hoje com4s anos, entrouparao Ins-tituto Superior Técnico, em Lisboa,na primeira edição do curso, oEspa-ço era verdadeiramente uma mira-gem em Portugal, quer em relaçãoao mercado quer ao próprio curso,aindamuito exploratório.
" Havia disciplinas mais próximasda aeronáutica, mas tínhamos ape-nas uma ou duas que se relaciona-vam com o Espaço. Na altura nãohavia produção relacionada com o
Espaço, não havia empresas, não
haviaprojetos. Por isso houve mui-tas pessoas que acabaram por sair de
Portugal por desejarem mesmo tra-balhar no Espaço logo de início e
aqui não ser possível. O mercado detrabalho em Portugal era incipientee estava resumido a alguma ativida-de aeronáutica, pouca, de fabrico e
manutenção, eram atividades aero-náuticas acessórias", recordaNunoÁvila. Mas no final do ano 2000,com a adesão de Portugal à AgênciaEspacial Europeia, começaram a
surgir algumas iniciativas empresa-riais que aproveitaram por cá aabertura deste mercado.
"Foi nesse momento que arrancá-mos com a empresa onde ainda hoje
estou, uma multinacional que nas-ceu em Madrid como uma das pri-meiras 'start-ups' na área do Espaço.No final de 2002 arranquei com o es-critório da Deimos Engenharia aquiem Lisboa, no início era só eu e só de-pois comecei a recrutar ex-colegasmeus. Hoje somos 52 engenheiros e
continuamos aprocurar engenhei-ros aeroespaciais. Hámais ofertado
que procura na área, diria que a taxade desemprego é negativa, ou seja,há lugares por preencher. "
"Quando os pais vêm falar comigo
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muito preocupados porque os filhos
queremir para Engenharia Aeroes-pacial em vez de escolherem Medi-cina, aquilo que lhes digo é que se fo-rem para Medicina têm emprego emPortugal, se forem para EngenhariaAeroespacial têm emprego na Euro-
pa toda" , partilha Luiz Braga Cam -pos, professor catedrático e coorde-nador da Área Científica de Mecâni-ca Aplicada e Aeroespacial do De-partamento de Engenharia Mecâni-ca, que trouxe para o Instituto Supe -rior Técnico o curso que ia pôr os
alunos a olhar para o Espaço. Come-
çou por ter apenas 35 vagas (contraas92de2ol9)e uma média de entra-da de 16, 4 valores. E quando se apro-xima o final do curso e muitos estu-dantes de outros cursos começam asentir o nervoso miudinho de quemtem medo de não arranjar emprego,Braga Campos garante que os seusalunos nunca perdem o sono porcausa do desemprego.
"A taxa de empregabilidade destecurso é de 90 por cento ao fim de ummês e de 100 por cento ao fim de três
meses. Aliás, eles começam a terofertas de emprego ainda antes deacabarem o curso. Nós temos que os
avisar para não aceitarem propostasantes de acabarem o curso porquedepois atrasam a conclusão do cur-so ou a tese de mestrado", continua,acrescentando que a remuneraçãodestes mestres depende muito "das
empresas e principalmente dos paí-ses. São bem remunerados em Por-tugal, mas não se compara com o
que recebe um engenheiro aeroes-pacial na Alemanha. Uma vez tive
A taxa deemprego é de100% ao fimde três mesesLUIZ B. CAMPOS, I.S. TÉCNICO
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aqui um aluno de Munique a fazerum intercâmbio e ele disse-me queadoravaficar em Portugal, mas queo ordenado aqui era multo diferentedo que poderia receber lá"
.E mes-
mo o valor sendo muito variável, a'Domingo' apurou junto dosprofis-sionais da área que um jovem quecomeça o seu primeiro emprego emPortugal depois de terminar o mes-trado integrado aufere um ordena-do que ronda os 1500 euros, precisa-mente o mesmo que um médico eminício de carreira a trabalhar qua-renta horas semanais.
" Não se fica rico a fazer engenha-ria, mas os profissionais de aeroes-pacial são muito cobiçados por ou-tros setores pelas suas capacidadesanalíticas e, portanto, muitos aca-bam por ser capturados por outrossetores que têm níveis salariais mui-tíssimo mais altos do que este",acrescenta o engenheiro Nuno Ávi-la. "Há muitas empresas de gestãoque procuram muito os nossos en-genheiros para gerir projetos tecno-lógicos que não são fáceis de entre -gar a um advogado ou a um econo-mista" , defende ainda o catedrático
Braga Campos.
Luís Antunes tem 34 anos e trabalha como engenheiro de produção e de desenvolvimento de produto
A qualquer momento pode serpreciso resolver um problemacom os astronautas na EstaçãoEspacial Internacional
O outro ladoQuando contactámos por telefone al-guns engenheiros aeroespaciais paraas empresas onde os antigos profes-sores nos disseram que os encontra-ríamos
, por três ou quatro vezes rece-bemos a mesma resposta do outrolado: "Olhe, jánãotrabalhaaqui, mu-dou de emprego." Em 'off, um ex--colega disse: "Recebeu outra pro-posta, foipara outra empresa."Luís Antunes, que entrou no curso em2003, tevedepediraum empregadorque lhe apresentarauma proposta detrabalho para começar uma semanamais tarde, de forma a conseguir con-centrar-se melhor na conclusão datese de mestrado , mas entre empre-gos não teve uma história tão felizcomo a que descrevem os colegas." Estive desempregado 18 meses e embusca ativa de emprego." Nestemo-mento desempenha funções de enge -nheiro de produção e de desenvolvi-mento de produto numa empresa de
produção por manuf atura aditiva queatua em diferentes mercados
,como a
joalharia, a cultura, o marketing e acomunicação, entre outros.
"Dentro das minhas funções com-pete-me fazer a gestão da produçãonas diferentes tecnologias , bem comotambém desenvolvimento de produ-
to", descreve Luís, embora tenha es-colhido o curso a sonhar com voosmais altos. "Tinha um fascínio algoromanceado pelo Espaço que, frutoda oferta das disciplinas do curso àdata, do conhecimento da realidade
portuguesaparaotrabalhonaárea, e
ainda outros fatores de caráter mais
pessoal, acabou por ficar um pouco
mais de lado, tendo escolhido um ca-minho mais prático que me condu-zisse ao mercado de trabalho comboas ferramentas"
, explica.Rita Costa, de 23 anos, está a dias de
entregar a tese. Pertence aos 30 porcento de mulheres que frequentam ocurso de Engenharia Aeroespacial(eml992eramloporcento)ehoje,ao
contrário do ano de 2014 em que en-trou como caloira neste curso, já sabe
o que a apaixona: áreas como Aero-termodinâmica, Propulsão e Mecâni-ca de Fluidos Computacional, nomesestranhos para quem se move noutraslides
, mas já se sabe que quem o feioama bonito lhe parece.
"Pensar no 'onde é que se vê daqui acinco anos' aos 18 parecia-me algomuito, mas muito remoto", conta.Mas "ao longo destes cinco anosaprendemos a fazer muitas coisas so -zinhos, a encontrar soluções paraproblemas novos e difíceis empoucotempo". Aprendeu também a sele-cionar propostas de trabalho - foramvárias (e ainda não acabou o curso) ,
tanto em Portugal como no estran-geiro, e optoupor uma que embreve alevará até Toulouse, em França. Masela quer ir mais longe: "Há 50 anos,poucos ou nenhuns nos imaginavamna Lua, e 50 anos depois... há aindatanto por descobrir. Vamos a isso?"
Vamos, Rita.