PREVALÊNCIA DAS DOENÇAS DIAGNOSTICADAS PELA ... 2018_Debora...Ter conhecimento da cobertura da TN...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATOGROSSO CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO DE FARMÁCIA
DÉBORA OLIVEIRA DE JESUS
PREVALÊNCIA DAS DOENÇAS
DIAGNOSTICADAS PELA TRIAGEM NEONATAL
NA REGIÃO DE SAÚDE GARÇAS-ARAGUAIA
Barra do Garças – MT
2018
DÉBORA OLIVEIRA DE JESUS
PREVALÊNCIA DAS DOENÇAS DIAGNOSTICADAS
PELA TRIAGEM NEONATAL NA REGIÃO DE SAÚDE
GARÇAS-ARAGUAIA
Monografia apresentada no Curso de
Farmácia do Campus Universitário do
Araguaia/UFMT, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Farmácia.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Fernanda Spegiorin Salla Brune
Barra do Garças – MT
2018
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à minha família, minha mãe Maria Cleide Neves de
Oliveira e minha avó Adaildes Neves Ferreira que sempre me apoiaram e
incentivaram em todas as etapas da minha vida, em especial para a conclusão
desta monografia.
À minha orientadora Profa. Dra. Maria Fernanda por aceitar me instruir neste
trabalho, por confiar em meu potencial acadêmico, pelo auxilio durante todo o
processo e por todos os ensinamentos.
À Deus, por me conceder perseverança, energia, saúde para concluir mais uma
etapa em minha vida.
Às minhas amigas, Gabrielle Nogueira, Amanda Borges Ferreira, Isabela Thays
Oliveira, Lauânne Gomes Purificação que me incentivaram e estiveram ao meu
lado durante todo o processo de desenvolvimento e conclusão do trabalho.
Ao Hospital Júlio Muller pelo fornecimento de dados que possibilitou o
desenvolvimento da monografia.
E, por fim, àqueles que me ajudaram direta ou indiretamente nesse processo de
aprendizado.
Muito obrigada.
“Que nada nos limite, que nada nos defina,
que nada nos sujeite.
Que a liberdade seja nossa própria substância,
já que viver é ser livre.
Porque alguém disse e eu concordo, que o tempo cura,
que a mágoa passa, que decepção não mata,
E que a vida sempre, sempre continua!”
(Simone de Beauvoir, 1908-1986)
RESUMO
A Triagem Neonatal (TN) é uma ação preventiva que por meio de exames laboratoriais visa o rastreamento neonatal de crianças portadoras de doenças genéticas, as quais devem ser diagnosticadas e tratadas o mais precocemente possível, a fim de evitar sequelas irreversíveis. O objetivo do estudo foi analisar a prevalência das patologias diagnosticadas pelo teste de Triagem Neonatal (TN) em recém-nascidos atendidos na região de saúde Garças- Araguaia, entre 2013 a 2016. Foi registrado o rastreamento de 4057 recém-nascidos nos dez municípios estudados. Desses, oito pacientes foram diagnosticados com alguma doença detectada pelo teste do pezinho, com as seguintes prevalências: hipotireoidismo congênito - 1:1014, fibrose cística- 1:2029, fenilcetonúria- 1:4057 e anemia falciforme- 1:4057. A cobertura da triagem neonatal foi de 58,8%, considerando a média nos dez municípios da região de saúde Garças-Araguaia. Ter conhecimento da cobertura da TN e da prevalência das doenças diagnosticadas é importante para melhorias na política de saúde da criança, além da garantia do diagnóstico precoce para que não ocorram sequelas irreversíveis.
Palavras-chave: Saúde da Criança; Doenças Metabólicas, Recém-nascido
ABSTRACT
Neonatal Screening (TN) is a preventive action that aimed at the neonatal screening of children with genetic diseases, through laboratory tests, and they should be diagnosed and treated as early as possible in order to avoid irreversible sequelae. The objective of the study was to evaluate the prevalence of pathologies diagnosed in Brazil by the Neonatal Screening test in newborns treated in the Garças-Araguaia region between 2013 and 2016 years. A total of 4057 newborns were registered in the ten studied cities, and eight newborns were diagnosed with genetic disease. The prevalence detected was: congenital hypothyroidism - 1: 1014, cystic fibrosis - 1: 2029, phenylketonuria - 1: 4057 and sickle cell anemia - 1: 4057. Neonatal screening coverage was 58.8%, considering the average in the ten municipalities of the Garças-Araguaia region. The knowledge of TN coverage and the prevalence of diagnosed diseases is important for improvements in the child's health policy, as well as ensuring early diagnosis so that irreversible sequelae do not occur.
Key-words: Child Health; Metabolic Diseases, Newborn
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
TN Triagem Neonatal
MS Ministério da Saúde
SUS Sistema Único de Saúde
PNTN Programa Nacional de Triagem Neonatal
PKU Fenilcetonúria
AF Anemia Falciforme
SBTN Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal
SRTN Serviços de Referência em Triagem Neonatal
SITN Sociedade Internacional de Triagem Neonatal
PAH Enzima hepática fenilalanina hidroxilase
Phe Fenilalanina
FC Fibrose Cística
HbS Hemoglobina S
HbA Hemoglobina A
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
HAC Hiperplasia Adrenal Congênita
HC Hipotireoidismo Congênito
RN Recém-Nascidos
DB Doença de Biotinidase
DPB Deficiência Profunda de Biotinidase
DPaB Deficiência Parcial de Biotinidase
GALT Galactose-1-fosfato uridiltransferase
HUJM Hospital Universitário Júlio Muller
SINASC Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos
IBGE Índice Brasileiro de Geografia e Estatística
NV Nascidos- vivos
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Quadro 1. Características das doenças rastreadas pela fase IV do Programa
Nacional de Triagem Neonatal........................................................................ 5
Tabela 1. Distribuição do número de NV resistentes e NV rastreados em cada
município da região de saúde Garças-Araguaia e, cobertura (%) do PNTN entre
2013 a 2016..................................................................................................... 17
Tabela 3. Distribuição do número e percentual de casos de doenças
diagnosticadas do Programa Nacional de Triagem Neonatal, em quatro
municípios da região de saúde Garças-Araguaia, 2013-2016......................... 20
Tabela 4. Prevalência das doenças diagnosticadas pela Triagem Neonatal
considerando dez municípios da região de saúde Garças-Araguaia, 2013-
2016.................................................................................................................. 24
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Percentual de cobertura do PNTN no Brasil entre os anos de 2004 a
2017.................................................................................................................... 5
Figura 2. Cobertura (%) da triagem neonatal em dez municípios da região de
saúde Garças - Araguaia (MT), no período entre 2013 e 2016......................... 18
Figura 3. Tempo médio (em dias) decorridos em cada uma das etapas do
SRTN/MT.......................................................................................................... 23
Sumário
1. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 1
1.1. TRIAGEM NEONATAL .................................................................................. 1
1.1.1. DEFINIÇÃO ............................................................................................. 1
1.1.2. HISTÓRICO............................................................................................. 1
1.2. TRIAGEM NEONATAL NO BRASIL ................................................................. 2
1.3. DOENÇAS DIAGNOSTICADAS PELA TN ......................................................... 6
1.3.1. FENILCETONÚRIA (PKU) ......................................................................... 6
1.3.2. FIBROSE CÍSTICA ................................................................................... 7
1.3.3. ANEMIA FALCIFORME ............................................................................. 8
1.3.4. HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA ........................................................ 9
1.3.5. HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO............................................................... 10
1.3.6. DEFICIÊNCIA DE BIOTINIDASE ................................................................ 11
2. OBJETIVOS ................................................................................................ 13
2.1. OBJETIVO GERAL .................................................................................... 13
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 13
3. METODOLOGIA ........................................................................................... 14
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 16
5. CONCLUSÕES ............................................................................................. 27
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 28
1
1. Revisão de Literatura
1.1. Triagem Neonatal
1.1.1. Definição
A Triagem Neonatal (TN) é uma ação preventiva que por meio de uma série
de exames laboratoriais visa o rastreamento neonatal de crianças portadoras de
doenças genéticas, que devem ser diagnosticadas e tratadas o mais
precocemente possível a fim de evitar sequelas para o paciente (SOUZA, C.F.
M. et al., 2002; ABREU & BRAGUINI, 2008).
A TN também é denominada popularmente como “teste do pezinho”. O
termo foi criado para facilitar a ideia entre as mães e população em geral, devido
a realização da coleta de sangue que se dá a partir da punção capilar do
calcâneo do recém-nascido (RN). Os exames devem ser feitos
preferencialmente entre o 3º e o 5º dia de vida do neonato (LUZ et al., 2008;
LACERDA et al., 2017).
1.1.2. Histórico
A História da TN no mundo iniciou-se em 1961, quando o Prof. Robert
Guthrie desenvolveu a primeira metodologia para dosagem de fenilalanina em
amostras de sangue seco colhido em papel-filtro, visando o diagnóstico da
fenilcetonúria (PKU). Este passo foi extremamente decisivo na disseminação da
TN para o diagnóstico de diversas doenças em grandes populações, visto que
permitia que a amostra fosse colhida à distância e enviada pelo correio a
laboratórios centrais, onde eram realizados os exames (SBTN, 2004).
Em 1964, 400.000 crianças tinham sido testadas para PKU em 29 estados
americanos, detectando 39 casos positivos. Com o passar dos anos, em todos
os 50 estados americanos, o teste passou a ser obrigatório aos recém-nascidos
(Silva, 2008; SBTN,2004;).
A metodologia de detecção de patologias aplicada por Guthrie foi sendo
substituída por outras mais precisas e simples, além disso, novas patologias
puderam ser adicionadas nos programas de triagem. Desde então, programas
de TN incluindo o diagnóstico de diversas doenças foram implantados em todo
2
o mundo, tornando-se parte fundamental dos programas de saúde pública
(ABREU & BRAGUINI, 2008).
1.2. Triagem Neonatal no Brasil
Os programas de TN iniciaram em diversos países na década de 60, e no
Brasil, a primeira tentativa ocorreu em 1976, na cidade de São Paulo, em uma
associação dedicada ao atendimento a crianças portadoras de deficiência
mental, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE-SP), quando o
Prof. Benjamin Schmidt (SP) criou o projeto pioneiro de triagem neonatal para
PKU. Inicialmente realizava-se somente o diagnóstico de PKU, porém a partir de
1980 incorporou-se a detecção precoce do Hipotireoidismo Congênito (ABREU
& BRAGUINI, 2008).
Na década de 80, os estados de São Paulo (Lei Estadual n.º 3.914/1983) e
Paraná (Lei Estadual n.º 867/1987) obtiveram amparo legal para a realização
dos programas de TN, porém, com a Lei Federal n.º 8.069, de 13 de julho de
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), houve a tentativa inicial de
formalização da obrigatoriedade dos testes em todo o território nacional. No
entanto, a legislação foi contemplada apenas em 1992, pelo Ministério da Saúde
(MS) por meio da Portaria GM/MS nº 22, de 15 de janeiro de 1992, incluindo a
avaliação para PKU e Hipotireoidismo Congênito (SBTN, 2002; HC USP, 2011).
Em 2001, ciente da necessidade de se fazer cumprir a lei de maneira
adequada, o Ministério da Saúde publicou a Portaria n° 822 visando à
organização de uma rede de triagem neonatal no Brasil, com aumento do
número de exames cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Esta portaria
criou o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) que dentre os principais
objetivos do programa, destacam-se a busca da cobertura de 100% (cem
porcento) dos nascidos vivos e a definição de uma abordagem mais ampla da
questão; neste sentido, o processo de TN deve envolver várias etapas como: a
realização do exame laboratorial, a busca ativa dos casos suspeitos, a
confirmação diagnóstica, o tratamento e o acompanhamento multidisciplinar
especializado dos pacientes, além da ampliação da gama de agravos de saúde
triados como, a PKU, Hipotireoidismo Congênito, Anemia Falciforme e outras
Hemoglobinopatias e Fibrose Cística (BRASIL, 2001; Souza et al., 2002).
A partir de então, todos os Estados passaram a participar do PNTN,
realizado em Serviços de Referência em Triagem Neonatal (SRTN)
3
credenciados, todos com uma estrutura de diagnóstico, busca ativa, tratamento
e acompanhamento das doenças triadas, pagas com recursos SUS destinados
para este fim. Foram criadas sociedades com intuito de padronizar as
atividades/ações da TN, que foram a Sociedade Brasileira de Triagem Neonatal
(SBTN) e a Sociedade Internacional de Triagem Neonatal (SITN) (BRASIL, 2001;
Souza et al., 2002).
Em virtude dos diferentes níveis de organização das redes assistenciais
existentes, da variação de cobertura dos nascidos-vivos e da diversidade das
características populacionais, o PNTN foi implantado em 3 fases, até o ano de
2012: fase I, triagem realizada para PKU e Hipotireoidismo Congênito; fase II,
triagem realizada para PKU e Hipotireoidismo Congênito e Doenças Falciformes
e outras Hemoglobinopatias; fase III, triagem realizada para PKU,
Hipotireoidismo Congênito, Doenças Falciformes e outras Hemoglobinopatias e
Fibrose Cística (BRASIL, 2001).
Em 14 de dezembro de 2012, foi instituída a Fase IV, pela Portaria GM/MS
nº 2.829, na qual o estado do Mato Grosso se encontra desde 2014 (Portaria MS
488, 17/06/2014), com a inclusão da detecção das doenças hiperplasia adrenal
congênita e deficiência de biotinidase no PNTN, além das doenças congênitas
detectadas na fase III (BRASIL, 2012).
Atualmente, existem três versões de testes da TN disponíveis no Brasil,
sendo uma básica e duas ampliadas. A mais simples delas é capaz de detectar
até 6 (seis) doenças. Já as duas versões ampliadas podem detectar de 10 a 48
doenças com uma simples “picada”. Os nomes dos exames podem variar,
dependendo do local onde for realizada a coleta (MS, 2018).
O teste determinado básico é obrigatório e gratuito em todo o país e, como
dito anteriormente, pode detectar as 6 doenças que serão descritas no estudo
(PKU, hipotireoidismo congênito, fibrose cística, anemia falciforme, hiperplasia
adrenal congênita e deficiência de biotinidase) (MS, 2018; SBTN 2016).
Já o teste ampliado é oferecido gratuitamente na maioria dos hospitais e
maternidades particulares e pode detectar 10 doenças. Além das 6 detectadas
pelo teste simples, também pode indicar a deficiência de G6-PD, galactosemia,
leucinose e toxoplasmose congênita (BRASIL, 2018).
4
Por fim, o teste expandido, considerado o exame mais complexo disponível
no país, pode detectar até 48 doenças sendo oferecido apenas em laboratórios,
maternidades e hospitais particulares (BRASIL, 2018).
O PNTN considera que as doenças a serem triadas devem seguir como
critérios o fato de não apresentarem manifestações clínicas muito precoces,
permitirem a detecção precoce por meio de testes seguros e confiáveis, serem
amenizáveis mediante tratamento; serem passíveis de administração em
programas com logística definida; e terem uma relação custo-benefício
economicamente viável e socialmente aceitável. Entretanto, tais estudos de
custo-benefício jamais foram realizados no Brasil. Os testes vigentes
reproduzem modelos e diretrizes internacionais, que é o caso da galactosemia
(CAMELO JUNIOR et al., 2011).
Segundo Bosch (2006), a galactosemia é uma das várias doenças que
tem demanda para que esta seja incluída na TN, visto que seu diagnóstico
precoce é fundamental para excluir de imediato a galactose da dieta alimentar
de modo a evitar sequelas irreversíveis (Bosch, 2006). Trata-se de uma doença
metabólica hereditária caracterizada pela deficiência da enzima galactose-1-
fosfato uridiltransferase (GALT) que afeta cerca de 1:30 000 a 1:60 000 RN. A
maioria dos doentes apresenta no período neonatal, após ingestão de leite, uma
deterioração neurológica progressiva, cataratas e alterações no aparelho
digestivo e renal (FRIDOVICH-KEIL, 2006; SILVA & CARDOSO, 2008).
Segundo Camelo Junior e colaboradores (2011), um estudo-piloto,
realizado no Estado de São Paulo com 59.953 RN, usando amostragem de 10%
do total de 603.368 recém-nascidos, para a análise da galactosemia no teste do
pezinho, identificou uma frequência de 1:19.984 RN. A incidência da PKU e
galactosemia são muito semelhantes em São Paulo e no Paraná, sendo que o
tratamento da galactosemia é muito mais barato e tão efetivo quanto o da PKU.
No Quadro 1 são apresentadas as características das doenças rastreadas
pela Fase IV do PNTN no Brasil, as quais serão apresentadas na sequência
deste capítulo.
5
Quadro 1 – Características das doenças rastreadas pela fase IV do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN). NV = nascidos vivos
(Fonte: adaptado de LUZ et al., 2008)
A Figura 1 mostra o percentual de cobertura de PNTN no Brasil durante os
anos de 2004 a 2017 (BRASIL, 2018.)
Fonte: Programa Nacional de Triagem Neonatal – CGSH/DAET/SAS/MS, BRASIL, 2018.
Figura 1. Percentual de cobertura do PNTN no Brasil entre os anos de 2004 a
2017.
6
1.3. Doenças diagnosticadas pela TN
1.3.1. Fenilcetonúria (PKU)
A PKU (Phenilketonuria) é uma doença genética, causada por mutações
de um gene localizado no cromossomo 12q22-q24, o qual codifica a enzima
hepática fenilalanina-hidroxilase (PAH). A ausência ou deficiência desta enzima
impede a conversão hepática de fenilalanina (Phe), um dos aminoácidos
essenciais e mais comuns do organismo, em tirosina (Tyr), causando acúmulo
de Phe no sangue e em outros tecidos e da excreção urinária de Phe e seus
metabólitos (BRASIL, 2013; BRASIL, 2017).
Além disso, esta doença é um dos erros inatos do metabolismo, com
padrão de herança autossômico recessivo. É considerada rara, tendo
prevalência global média estimada de 1:10.000 recém-nascidos. No Brasil, tem
sido encontrada uma prevalência variando de 1: 15.000 a 1: 25.000 (BRASIL,
2013; BRASIL, 2017).
Do ponto de vista de gravidade, a PKU pode ser classificada em Clássica
e Leve. Na PKU Clássica, os pacientes apresentam concentração plasmática de
Phe ao diagnóstico superior a 20 mg/dl e tolerância à Phe inferior a 350 mg/dia.
Na PKU Leve, o valor de Phe plasmática ao diagnóstico é de 6-20 mg/dl e a
tolerância à Phe é mais elevada (NALIN et al., 2010).
Os recém-nascidos (RN) portadores de PKU são assintomáticos antes de
passarem a receber alimentos que contenham Phe (leite materno ou fórmulas
infantis próprias da idade). Se a doença não for detectada pelo rastreamento
metabólico na TN, seu início é enganoso e só se manifestará clinicamente em
torno do 3º ou 4º mês de vida do RN. Nessa época, a criança começa a
apresentar atraso global do desenvolvimento neuropsicomotor, podendo mostrar
irritabilidade ou letargia, perda de interesse pelo que a rodeia, convulsões,
eczema crônico, hipopigmentação cutânea, da pele e dos cabelos (reduzida
síntese de melanina), cheiro característico da urina (odor de forte pela presença
do ácido fenilacético) e perturbações do sono (BRASIL, 2013; NALIN et al.,
2010).
A principal característica da doença não tratada é o retardo mental, que
se agrava durante a fase de desenvolvimento do cérebro. O excesso de Phe
inibe competitivamente o transporte e a captação neuronal de outros
7
aminoácidos cerebrais através da barreira hematoencefálica, causando
diminuição da concentração cerebral intracelular de tirosina e de 5-
hidroxitriptofano, limitando a produção de serotonina e das catecolaminas
(BRASIL, 2013).
O tratamento da PKU deve ser iniciado tão cedo quanto possível,
idealmente até o 10º dia de vida. O tratamento envolve duas estratégias
conjuntas principais: a dieta restrita em Phe e o uso de fórmula metabólica rica
em aminoácidos, geralmente misturas ou hidrolisados de proteína, mas isenta
de Phe. Através deste tratamento, os níveis sanguíneos de Phe diminuem, evita-
se o dano neurológico nos pacientes que têm diagnóstico precoce, e mantém se
o consumo de Phe suficiente para satisfazer as necessidades de crescimento do
paciente. A adesão à dieta é influenciada por fatores como, cognitivos,
emocionais, fisiológicos e culturais. Além disso, esta deve ser feita durante toda
a vida do paciente, e a capacidade e disposição em segui-la variam entre os
pacientes e cuidadores (NALIN et al., 2010; BRASIL, 2013).
1.3.2. Fibrose Cística
Fibrose cística (FC) ou mucoviscidose é doença autossômica recessiva
letal, predominante em populações caucasianas, cuja incidência varia de
1:2000 ou 1:3000 nascimentos em vários países: 1 indivíduo em cada 25 nestas
populações é portador assintomático do gene. É menos frequente em negros,
um 1:17.000, e rara em asiáticos, 1:90.000, na população americana. No Brasil,
a incidência ainda é ignorada, contudo estudos regionais mostram dados
estatísticos variáveis que sugerem uma incidência em torno de 1:7.000 no país
como um todo (BRASIL, 2010; Reis et al., 1998).
O gene da doença, CFTR- regulador de condutância transmembrana da
fibrose cística, produz uma alteração na função da proteína que regula o
transporte de cloro nas células epiteliais. Como resultado, as secreções são mais
viscosas, obstruindo os canais das glândulas exócrinas no pâncreas, pulmões,
intestino, fígado e testículos. Além disso, as glândulas sudoríparas não
absorvem normalmente o sódio e o cloro, produzindo um suor muito salgado,
doença do Beijo Salgado (ROSA et al., 2018).
Diante de uma doença com um prognóstico tão grave e cuja
sintomatologia manifesta-se geralmente em torno dos primeiros anos de vida,
8
os programas de triagem neonatal são de importância fundamental para o seu
acompanhamento adequado. O diagnóstico presuntivo é estabelecido com a
análise dos níveis da tripsina imunorreativa (IRT) (ROSA et al., 2018).
O tratamento do paciente com FC consiste em acompanhamento médico
regular, suporte dietético (dietas hipercalórica, hiperlipídica e hiperprotéica),
utilização de enzimas pancreáticas, suplementação vitamínica lipossolúvel
(vitaminas A, D, E, K), terapia mucolínica e fisioterapia respiratória (ROSA et
al., 2018).
1.3.3. Anemia Falciforme
A anemia falciforme é a doença hereditária monogênica, causada por uma
mutação de ponto (GAG->GTG) no gene da globina beta da hemoglobina,
originando uma hemoglobina anormal, denominada hemoglobina S (HbS), ao
invés da hemoglobina normal denominada hemoglobina A (HbA) (ANVISA,
2002).
No Brasil, a anemia falciforme distribui-se heterogeneamente, sendo mais
frequente onde a proporção de antepassados negros da população é maior
(Nordeste), porém é predominante tanto entre negros e pardos quanto entre
brancos. É importante destacar que a incidência de pessoas com traço
falciforme, no Brasil, é de 1:35 entre os RN vivos. Atualmente, estima-se que
nasçam, a cada ano, 200.000 crianças com traço falciforme e mais de 8.000
afetados com a forma homozigótica (HbSS). Estima-se o nascimento de 700 a
1.000 novos casos anuais de doenças falciformes no país. Portanto, as doenças
falciformes são um problema de saúde pública no Brasil (ANVISA, 2002;
BRASIL, 2012).
A HbS tem uma característica química específica que, em situações de
ausência ou diminuição da tensão de oxigênio, provoca a sua polimerização,
alterando drasticamente a morfologia do eritrócito. Este adquire a forma de foice.
Esses eritrócitos com forma característica dificultam a circulação sanguínea,
provocando vaso-oclusão e infarto na área afetada. Tais problemas produzem
isquemia, dor, necrose e disfunções, bem como danos permanentes aos tecidos
e órgãos, além da hemólise crônica (BRASIL, 2012).
O tratamento é baseado em algumas medidas, como profilaxia, diagnóstico
e terapêutica precoce de infecções; manutenção de boa hidratação e evitar
condições climáticas adversas. Além disso, acompanhamento ambulatorial 2 a
9
4 vezes ao ano e educação da família e paciente sobre a doença são auxiliares
na obtenção de bem-estar social e mental (BRASIL, 2012; ANVISA, 2002).
1.3.4. Hiperplasia Adrenal Congênita
A definição de hiperplasia adrenal congênita (HAC), envolve um conjunto
de síndromes transmitidas de forma autossômica recessiva que são
caracterizadas por diferentes deficiências enzimáticas na síntese dos esteroides
adrenais (BRASIL, 2010).
Dentre as inúmeras deficiências, as mais comuns em HAC são: 21-
hidroxilase (CYP21A2), que é responsável por 95% dos casos e, 11-beta-
hidroxilase (CYP11B1), sendo detectada em 5% dos casos (BRASIL, 2010).
A incidência desta doença é variável entre diferentes populações com
incidência da forma perdedora de sal variando 1:2.803 a 1:42.000 RN. No Brasil,
a incidência desta forma parece variar de 1:7.500 a 1:10.000 RN (BRASIL, 2010).
São classificadas em 3 tipos: forma clássica predadora de sal, forma
clássica não perdedora de sal (virilizante simples) e forma não clássica (início
tardio) (BRASIL, 2010).
A forma clássica constitui a forma mais comum de HAC, 60% dos casos,
onde ocorre comprometimento não só da produção de cortisol, mas também de
mineralocorticoide. Apresenta sinais de hipercalernia e aumento da atividade da
renina plasmática que acontece após o quarto dia de vida (VARGAS &
KURDIAN, 2002; BRASIL, 2010).
Além disso, há baixo ganho ponderal, episódios de vômitos, desidratação,
colapso vascular, e choque seguindo-se o óbito após a segunda semana de vida.
Nos RN do sexo feminino há virilização da genitália externa (aumento de clitóris,
fusão labial e formação de seio urogenital), decorrente do excesso de
andrógenos durante a vida intrauterina. Já a forma não clássica é caracterizada
pela exposição a baixas concentrações de andrógenos que não produzem
doença clínica aparente nos primeiros anos de vida, podendo este início de
sintomas ocorrer no final da infância ou adolescência (VARGAS & KURDIAN,
2002; BRASIL, 2010).
O sexo masculino pode apresentar sinais como: pubarca precoce, aumento
do pênis, acne, e surto de crescimento. Os sinais de virilização vão se
acentuando quanto mais tarde for o diagnóstico (VARGAS & KURDIAN, 2002).
10
Já no sexo feminino, os sinais mais frequentes são a pubarca prematura,
apresentando acne e hirsutismo, avanço da idade óssea, além de clitoromegalia.
Após a puberdade pode provocar irregularidade menstrual, acne grave, calvície
temporal e infertilidade (BRASIL, 2010).
O tratamento da HAC tem como objetivos repor glico e
mineralocorticóides, evitar a virilização dos genitais externos, prevenir a
desidratação por perda de sal, controlar o hiperandrogenismo sem afetar a
velocidade de crescimento, preservar a função gonadal, fertilidade e estatura
final (BACHEGA et al., 2001).
1.3.5. Hipotireoidismo Congênito
O hipotireoidismo refere-se à diminuição ou ausência de hormônios
tiroidianos e é caracterizada pela diminuição dos níveis séricos de T4 e T3,
podendo ser classificado em primário (quando a deficiência hormonal se deve à
incapacidade, parcial ou total, da glândula tireoide de produzir hormônios
tiroidianos) e central (quando há deficiência de hormônios tiroidianos por falta de
estímulo do TSH hipofisário ou do TRH hipotalâmico) (BRASIL, 2015).
O hipotireoidismo congênito (HC) é o distúrbio endócrino mais frequente e
com incidência variando de 1:2.000 a 1:4.000 RN em países com suficiência
iódica. No Brasil, a prevalência de HC é aproximada a esses valores, variando
de 1:2.595 a 1:4.795 (MACIEL et al., 2013).
A TN tem importância no diagnóstico do HC pois, se descoberto
precocemente pode evitar as sequelas, principalmente o retardo mental
secundário ao hipotireoidismo, o que pode ser conseguido com o início da
terapêutica adequada nas duas primeiras semanas de vida (MACIEL et al.,
2013).
A maioria dos RN com HC apresenta poucas ou nenhuma manifestação
clínica da doença ao nascimento devido a passagem de T4 materno pela barreira
placentária e em função de a maioria das crianças afetadas apresentar algum
tecido tireoidiano funcionante. Um dos primeiros sinais observados é a icterícia
neonatal prolongada e, à medida que o tempo passa a criança sem diagnóstico
se apresentará letárgica, com movimentos lentos, choro rouco, engasgos
frequentes, constipação, macroglossia, hérnia umbilical, fontanela ampla,
11
hipotonia, pele seca, cabelos ralos e adquire a fácies típica com nariz em sela
(MACIEL et al., 2013).
O início do tratamento desta doença deve ser o mais precoce possível,
preferencialmente nas duas primeiras semanas de vida sendo recomendada
levotiroxina (hormônio tireoidiano) por via oral, na forma de comprimido. A dose
é individualizada, sendo maior para o RN e com possibilidade de ser diminuída
com o avanço da idade. Normalmente, o tratamento é interrompido aos 3 anos
de idade para realização de exames específicos que irão definir o tipo e a causa
do HC (MACIEL et al., 2013; BRASIL, 2015).
1.3.6. Deficiência de Biotinidase
A deficiência de biotinidase (DB) é um erro inato do metabolismo, de
herança autossômica recessiva. Na deficiência da enzima biotinidase, a biotina,
também conhecida como vitamina B7, não pode ser liberada a partir de
pequenos biotinilpeptídeos e da biocitina. Assim, pacientes com esta deficiência
são incapazes de reciclar a biotina endógena ou de usar a biotina ligada às
proteínas da dieta, consequentemente ocorre sua perda na urina (BRASIL,
2012).
No Brasil, estima-se que possam existir aproximadamente 3.200 pacientes
com DB, incidência aproximada de 1:60.000, em uma população de cerca de
190 milhões de habitantes (BRASIL, 2012).
Com base no nível da atividade de biotinidase, os pacientes são
classificados em três grupos principais: Deficiência profunda de biotinidase
(DPB), Deficiência parcial de biotinidase (DPaB) e casos assintomáticos
(BRASIL, 2012).
No primeiro caso, ocorre quando a atividade enzimática é inferior a 10% da
média normal e os sintomas e sinais podem surgir entre o segundo e o quinto
meses de vida. Muitas crianças, não tratadas precocemente, desenvolvem
atraso no desenvolvimento, perda ou deficiência auditiva, problemas visuais,
incluindo atrofia óptica, condições que, normalmente, não são reversíveis com o
uso da biotina. Já no caso da DPaB, acontece quando a atividade enzimática se
situa entre 10 e 30% da média considerada normal. Esses pacientes,
diagnosticados a partir do teste de TN, podem permanecer assintomáticos
mesmo sem tratamento, mas, na maioria das vezes, em situações de estresse,
12
como infecções, podem desenvolver sinais e sintomas da doença (BRASIL,
2012).
E por fim, pacientes com diminuição da afinidade da enzima biotinidase
pela biocitina: esses pacientes tem atividade enzimática normal aos testes,
usualmente realizados; mas a testagem com substratos mais específicos
evidencia a diminuição de afinidade (BRASIL, 2012).
O tratamento da DB consiste na ingestão oral da vitamina biotina, por toda
a vida. A dose determinada é de 5 e 20 mg/dia, tanto nos casos de deficiência
total como deficiência parcial, independentemente da idade. A quantidade de
biotina necessária vai diminuindo com o aumento da idade. O único método para
monitorar se a dose está adequada é a dosagem de ácidos orgânicos na urina
que se normaliza. No entanto, cerca de 20% das crianças com DB não
apresentam anormalidades na dosagem urinária de ácidos orgânicos, mesmo
quando sintomáticos (MARILLIS et al., 2014).
Para que o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) aumente a
cobertura das patologias triadas para 100% dos RN, é necessário consolidar e
padronizar o atendimento ofertado pelos Serviços de Referência em Triagem
Neonatal (SRTN) responsáveis pela execução do PNTN, garantido a detecção
das patologias e permitindo o diagnóstico e tratamento precoces (OLIVEIRA et
al., 2017).
Pesquisas tem mostrado a ocorrência das doenças diagnosticadas na TN
em vários estados do país, porém foi notada uma escassez de informações a
esse respeito no estado de Mato Grosso, em especial na região de saúde Garças
Araguaia, a qual inclui dez municípios. Dito isso, este projeto justifica-se na
importância de conhecer as doenças mais comumente diagnosticadas nesta
região a fim de facilitar a abordagem dos profissionais de saúde com esses
pacientes e seus familiares.
13
2. Objetivos
2.1. Objetivo Geral
Analisar a prevalência das patologias diagnosticadas pelo teste de
Triagem Neonatal (TN) em recém-nascidos atendidos na região de saúde
Garças- Araguaia.
2.2. Objetivos Específicos
Avaliar a cobertura da triagem neonatal na região de saúde Garças
Araguaia- MT, no período de 2013 a 2016;
Calcular a prevalência de cada doença da triagem neonatal na região de
saúde Garças Araguaia- MT, no período de 2013 a 2016;
Avaliar o prazo entre a coleta de material biológico para a triagem neonatal
e a liberação do resultado, assim como o tempo decorrido entre a liberação do
resultado dos exames e a reconvocação dos casos diagnosticados;
Avaliar o número de ocorrências de coletas precoces ou tardias em cada
município da região de saúde Garças-Araguaia entre 2013 e 2016.
14
3. Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo, observacional e transversal, com a
utilização de dados secundários do único SRTN do Mato Grosso, localizado no
Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM/UFMT). A população de estudo foi
composta por todos os RN vivos residentes na região de saúde Garças
Araguaia/MT que realizaram o teste de triagem neonatal na rede pública, no
período de janeiro de 2013 a dezembro de 2016.
Foram incluídos todos os RN vivos cadastrados no SRTN da região de
saúde Garças Araguaia, no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2016.
Não serão incluídos nesta pesquisa as crianças nascidas em demais regiões do
estado do Mato Grosso, exceto na região de saúde Garças Araguaia, e aquelas
que, apesar de nascidas na microrregião Garças Araguaia, realizaram a triagem
neonatal somente no setor privado de saúde.
A região de saúde Garças Araguaia, situada na região leste do estado do
Mato Grosso, abrange 10 municípios: Araguaiana, Barra do Garças,
Campinápolis, General Carneiro, Nova Xavantina, Novo São Joaquim, Pontal do
Araguaia, Ponte Branca, Ribeirãozinho e Torixoréu. Em 2014, a população
residente nesta região foi estimada para 120.884 habitantes (BRASIL, 2015b).
Para calcular a cobertura do programa de triagem neonatal nesta região,
entendida como proporção da população-alvo que realizou teste de triagem
neonatal, foi utilizado o seguinte cálculo:
• Como numerador, o número de Recém-Nascidos (RN) rastreados no
SRTN em cada ano (entre 2013 a 2016).
• Como denominador, os dados oficiais do Ministério da Saúde, no
Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) por Residência
da Mãe/ DATASUS1
Os RNs com resultados alterados na triagem neonatal foram
denominados “casos diagnosticados”. O número de RN rastreados foi dividido
1 (http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def).
15
pelo número de casos diagnosticados para calcular a prevalência de cada
doença da triagem neonatal na região de saúde Garças Araguaia- MT.
Os dados foram descritos por meio de frequências absolutas e relativas
para as variáveis categóricas, e de médias e desvios-padrão para as variáveis
numéricas contínuas.
Este trabalho é parte integrante de uma pesquisa intitulada “Panorama da
triagem neonatal na microrregião Garças-Araguaia, MT”, cadastrada na Pró-
reitoria de Pesquisa da UFMT (PROPeq) sob registro 340/2018, e aprovada no
Comitê de Ética em Pesquisa do Campus Universitário do Araguaia/UFMT
(Plataforma Brasil, parecer n° 2.230.081).
16
4. Resultados e Discussão
4.1. Cobertura da Triagem Neonatal
O estado do Mato Grosso (MT) é dividido em 141 municípios e sua área
territorial equivale a 10,6% do território brasileiro, com mais de 3,44 milhões
habitantes, de acordo com estimativas para 2018 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2018). Considerando o estado do MT, no período
de 2013 a 2016, um total de 158.816 crianças foi triado para a detecção das
patologias inseridas no programa de TN, perfazendo uma média de 39.704,
sendo triadas aproximadamente 1.749 crianças, anualmente.
O estado do Mato Grosso, devido à sua grande extensão territorial que
proporciona diferentes situações econômicas, sociais e de saúde loco-regionais;
e atendendo as normativas do SUS no que tange ao Planejamento Regional
Integrado, está divido em 16 (dezesseis) regiões de saúde e 6 (seis)
macrorregiões (MATO GROSSO, 2018).
O número dos NV residentes e rastreados, além da cobertura da PNTN da
região de saúde Garças-Araguaia no período de 2013 a 2016 estão descritos na
Tabela 1 e na Figura 1.
A região de saúde Garças-Araguaia, analisada nesta pesquisa,
compreende dez municípios do MT, sendo que Barra do Garças é considerada
uma referência para a assistência à saúde, incluindo a saúde infantil. A coleta da
TN é realizada em cada município da região de saúde de Garças-Araguaia e
posteriormente o material biológico do RN é enviado ao SRTN situado no
Hospital Universitário Júlio Müller, em Cuiabá-MT, capital do estado. No período
de 2013 a 2016 um total de 4.057 RN foi triado para a detecção das patologias
inseridas no programa de TN nestes dez municípios.
17
Tabela 1. Distribuição do número de NV residentes e NV rastreados em cada município da região de saúde Garças-Araguaia, e cobertura (%) do PNTN entre 2013 e 2016.
Município (MT) NV (n) NV rastreados (n) Cobertura do PNTN (%) Araguaiana 151 94 62
Barra do Garças 3092 1739 56 Campinápolis 1420 709 49
General Carneiro 426 121 28 Nova Xanvantina 1171 792 67
Novo São Joaquim 364 233 64 Pontal do Araguaia 298 134 44
Ponte Branca 60 60 100 Ribeirãozinho 132 88 66
Torixoréu 165 87 52 NV = nascidos vivos; PNTN = Programa Nacional de Triagem Neonatal.
Observa-se na Tabela 1 que a cobertura da triagem neonatal,
considerando os nascidos vivos na microrregião Garças- Araguaia, entre 2013 e
2016, variou de 28% a 100%, sendo 62% no município de Araguaiana, 56% em
Barra do Garças, 49% em Campinápolis, 28% em General Carneiro, 67% em
Nova Xavantina, 64% em Novo São Joaquim, 44% em Pontal do Araguaia, 66%
em Ribeirãozinho, 52% em Torixoréu e, por fim, destaca-se que o município de
Ponto Branca apresentou uma cobertura de 100% no PNTN.
Segundo dados do Ministério da Saúde, citados anteriormente (Figura 1),
o Brasil tem aumentado seu percentual médio de cobertura da triagem neonatal,
tendo em vista que em 2004 este foi de 74,98% e em 2011 obteve-se 81,43%. A
elevação na cobertura da triagem neonatal continuou evidente, sendo que em
2016 foi de 76,97% e no ano de 2017, considerado o dado mais recente referente
à TN no Brasil, a média foi de 85,80% (BRASIL, 2018).
A Figura 2 mostra a cobertura (%) da TN na região de saúde Garças-
Araguaia no período estudado, evidenciando as diferenças entre os dez
municípios pesquisados.
18
Figura 2. Cobertura (%) da triagem neonatal em dez municípios da região de saúde Garças-Araguaia (MT), no período entre 2013 e 2016.
Quando comparada com alguns estados brasileiros, a cobertura da
triagem neonatal avaliada nesta pesquisa mostrou-se inferior, considerando-se
58,8% a média da cobertura da TN nos dez municípios. O estado do Paraná
apresentou uma cobertura da TN, em 2006, de 98,4%, de acordo com Carvalho
et al., (2008), enquanto na Bahia este valor foi um pouco menor, de 90,8% no
período entre 2007-2009 (AMORIM et al, 2011). Outros resultados sobre
cobertura da TN também se mostraram acima da média encontrada neste
estudo, como 87,2% em Santa Catarina no ano de 2008 (NUNES, 2013), 76,6%
verificada em Tocantins entre 2001-2011 (MENDES et al., 2013).
Um estudo mais atual feito por Kraemer (2017) mostrou percentuais da
cobertura da TN pelo Brasil no ano de 2016. O Paraná, por exemplo, obteve
104,06%, maior percentual de cobertura do país. Ainda nesse estudo, o estado
do Mato Grosso mostrou uma cobertura da TN de 68, 36%, valor distante
daquele encontrado nas regiões do Garças-Araguaia (58,8%).
O objetivo de todo programa de rastreamento neonatal é ter a cobertura
de 100% dos RN, ou seja, devem ser colhidas amostras de sangue de todos os
recém-nascidos. Um fator que pode explicar os resultados de cobertura parcial
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Araguaiana
Barra do Garças
Campinápolis
General Carneiro
Nova Xanvantina
Novo São Joaquim
Pontal do Araguaia
Ponte Branca
Ribeirãozinho
Torixoréu
62
56
49
28
67
64
44
100
66
52
% de cobertura de TN
19
do PNTN é a realização do exame por laboratórios particulares, cujos dados não
são contabilizados nos registros oficiais do Estado. Ainda, é importante citar a
deficiência ou inexistência de informação às mães, famílias e sociedade em
relação à importância da TN, além do inadequado ou inexistente envolvimento e
compromisso dos gestores municipais (BRASIL, 2018).
Segundo Botler (2010), é importante que exista uma busca continua por
uma cobertura efetiva, caracterizada pelo acesso universal ao teste executado
no momento oportuno e com a técnica adequada; haver infraestrutura para
definição do diagnóstico e tratamento; possuir um teste de rastreio adequado;
sendo esse teste aceito pela população assistida e de custo-efetivo. Com isso,
será permitido diagnóstico e tratamento precoce das doenças diagnosticadas
evitando que surjam sequelas graves ao RN.
4.2. Prevalência das doenças diagnosticadas na Triagem Neonatal
A distribuição das doenças diagnosticadas por meio da Triagem Neonatal
apresenta variação entre os municípios da região de saúde Garças-Araguaia.
A Tabela 2 indica a distribuição do número e percentual de casos de doenças
diagnosticadas em quatro municípios da microrregião Garças-Araguaia entre
2013 a 2016.
Tabela 2. Distribuição do número e percentual de casos de doenças diagnosticadas do Programa Nacional de Triagem Neonatal, em quatro municípios da microrregião Garças-Araguaia, 2013-2016.
Municípios Doenças RN
rastreados (n)
Casos
diagnosticados (n) %
Barra do Garças HC 1739 3 0,17
FC 1739 1 0,06
Nova Xavantina HC 792 1 0,13
General Carneiro FC 121 1 0,82
Pontal do Araguaia PKU 134 1 0,75
AF 134 1 0,75
(HC: hipotireoidismo congênito; FC: fibrose cística; PKU: fenilcetonúria; AF: anemia falciforme)
20
Na Tabela 3, são apresentadas as prevalências das doenças identificadas
na região pesquisada.
Tabela 3. Prevalência das doenças diagnosticadas pela Triagem Neonatal considerando dez municípios da região de saúde Garças-Araguaia, 2013-2016.
Ao observar as Tabelas 2 e 3, nota-se que as doenças com maior
ocorrência entre 2013 e 2016 foram HC e FC, com uma prevalência de 1:1014 e
1:2029 RN, respectivamente. As prevalências das doenças PKU e AF
encontradas no estudo foram 1:4057 RN. As demais doenças triadas pelo “teste
do pezinho”, sendo elas hiperplasia adrenal congênita e deficiência de
Biotinidase, não foram diagnosticadas no período e região analisados.
Segundo Carvalho (2017), estudos conduzidos no Brasil sobre a
prevalência de PKU em amostras de triagem neonatal demonstraram resultados
diversos nas várias regiões do país, como citados a seguir: 1:1749 RN em
Araraquara (SP), 1:8690 em Sergipe, 1:16.334 RN no Recôncavo Baiano,
1:19.409 RN em Ribeirão Preto (SP), 1:25.313 RN no Rio de Janeiro, 1:28.309
RN no Tocantins, 1:28.862 em Santa Catarina e 1:33.068 RN no Mato Grosso.
Segundo o autor, essa importante diferença de número de casos observada
entre os Estados pode ser devida à forma de registro e ao funcionamento dos
serviços de TN.
No presente estudo, a anemia falciforme mostrou uma prevalência
diferente do que geralmente acontece no país, sendo 1:4057 RN (Tabela 3). Em
um estudo realizado na Bahia, por exemplo, notou-se uma prevalência de 1:601
nascidos vivos para a doença falciforme. De modo geral, no Brasil, a anemia
falciforme é questão de saúde pública, com importância epidemiológica em
virtude da prevalência e incidências elevadas. Esta varia de 0,1% a 0,3%,
Doença Casos
diagnosticados
Prevalência
Hipotireoidismo Congênito 4 1:1014
Fibrose cística 2 1:2029
Fenilcetonúria 1 1:4057
Anemia falciforme 1 1:4057
21
dependendo do grupo e da região estudada. As regiões de prevalência mais
elevadas de portadores e afetados são Sudeste e Nordeste (COSTA et al.,
2012).
A anemia falciforme predomina na população negroide, com tendência a
atingir parcela cada vez maior da população devido ao alto grau de miscigenação
no Brasil (BRASIL, 2016; COSTA et al 2012).
Assim como a anemia falciforme na região estudada, a fenilcetonúria
também apresentou uma prevalência de 1:4057 (Tabela 4). Segundo Costa et
al, (2012), a prevalência da doença na Bahia foi de 1:16.334 nascidos vivos e,
segundo Stranrieri (2009) no Mato Grosso, a prevalência da doença foi de
1:33.068 nascidos vivos.
A PKU apresenta graves efeitos sobre o desenvolvimento do sistema
nervoso quando não tratada adequadamente e no momento oportuno. O
acúmulo de fenilalanina tem efeitos tóxicos sobre o sistema nervoso em
formação, levando ao retardo mental, que pode ser evitado com uma dieta
precoce específica com baixos teores deste aminoácido (BOTLER, 2010).
Em relação ao Hipotireoidismo Congênito, que obteve o maior índice na
região estudada (1:1044), estudos mostram que sua prevalência na população
mundial varia entre diferentes populações, com valores entre 1:20 e 1:6287
nascidos vivos, sendo as maiores prevalências verificadas em grupos étnicos
específicos (México e Bielorrússia). No Brasil, os valores obtidos em diferentes
estudos oscilam de 1:7.500 a 1:10.000 nascidos vivos. No estado do Ceará, por
exemplo, a prevalência de HC foi 1:964 e no Mato Grosso foi de 1:9.448 nascidos
vivos em 2008 (SALES, 2018; CARVALHO 2017; STRANIEIRI, 2009).
A prevalência média mundial do HC encontra-se em torno de 1:3.500
nascidos vivos, e esta patologia também pode levar ao retardo mental se não
tratado da forma e no momento adequados. A Academia Americana de Pediatria
(AAP) e a Associação Americana de Tireóide afirmam que o tratamento instituído
até quinze dias de vida é capaz de garantir o desenvolvimento neurológico
normal mesmo nos casos mais graves (BOTLER, 2010).
22
Segundo Nunes et al. (2012), as crianças com HC não tratadas
precocemente terão o crescimento e o desenvolvimento mental comprometidos,
ocorrendo manifestações clínicas como: hipotonia muscular, dificuldades
respiratórias, cianose, icterícia prolongada, constipação, bradicardia, anemia,
sonolência excessiva, levedo reticulares, choro rouco, hérnia umbilical,
alargamento de fontanelas, mixedema, sopro cardíaco, dificuldade na
alimentação com deficiente crescimento pôndero-estatural, atraso na dentição,
retardo na maturação óssea, pele seca e sem elasticidade, atraso de
desenvolvimento neuropsicomotor e retardo mental.
Considerando a FC, notou-se uma prevalência de 1:2029 RN (Tabela 3), a
qual pode ser considerada elevada, visto que no Brasil a prevalência de FC é de
1:10.000 nascidos vivos, sendo encontrada prevalência maior no Rio Grande do
Sul, entre 1:5.000 e 1:8.000 nascidos vivos. Essa prevalência tão frequente para
o Estado é justificada pela variação de miscigenação e pela predominância de
caucasianos na população (JAKS, 2018).
Segundo Hortencio et al. (2014), o diagnóstico tardio de crianças com FC
ocasiona inúmeras complicações ao RN, como por exemplo, a desnutrição que
leva a retardo do crescimento, diminuição da força muscular, fadiga, infecções
respiratórias de repetição e função pulmonar diminuída. Portanto, o diagnóstico
precoce da FC facilita atenção especial ao estado nutricional, ao
acompanhamento da curva de crescimento do RN e à detecção de colonização
de patógenos nas vias aéreas superiores, os quais estão intimamente
relacionados a um pior prognóstico (HORTENCIO et al., 2014; BRASIL, 2016).
4.3. Processo da Triagem Neonatal: etapas, prazos e implicações
Levando em consideração as características das doenças triadas pelo
PNTN, podemos entender a importância da realização do exame no período
indicado (3º a 5º dia do RN) e seu resultado sendo entregue o mais rápido
possível. Desse modo, se consegue diagnosticar antecipadamente tais doenças
congênitas, de forma que estas sejam detectadas em fase precoce, garantindo,
portanto, a prevenção do aparecimento de sequelas neurológicas que podem ser
provocadas pela PKU e pelo HC, assim como reduzir morbidade e mortalidade
23
das hemoglobinopatias com a introdução de medicamentos e outras formas de
tratamento em tempo adequado (MS, 2016).
O processo de TN inclui muitas etapas que vão desde a coleta do material
biológico do RN até a confirmação dos resultados, quando necessária. Dentre
muitas variáveis que podem interferir neste processo, destacam-se os prazos
para a entrega dos resultados da TN e também para o retorno dos RNs
reconvocados após o diagnóstico de alguma patologia. A Figura 3 representa o
tempo médio (em dias) decorridos em duas etapas da TN: entre a coleta do
material biológico no laboratório e a liberação do resultado, e entre a liberação
do resultado e o retorno dos RNs reconvocados, no caso de diagnóstico para
alguma patologia.
Figura 3. Tempo médio (em dias) decorridos entre a coleta do material biológico no laboratório e a liberação do resultado, e entre a liberação do resultado e o retorno dos pacientes reconvocados pelo SRTN/MT no período de 2013 a 2016, na região de saúde Garças-Araguaia.
Em relação à liberação do resultado da TN pelo laboratório, houve um
aumento no prazo médio entre os anos de 2013 (8,2 dias) e 2016 (10,8 dias).
Considerando o tempo para o retorno do RN reconvocado, notou-se uma
diminuição, sendo o prazo de 86 dias no ano de 2013 e 65 dias no ano de 2016.
0
20
40
60
80
100
2013 2014 2015 2016
8,2 8,59 9,1 10,8
86
73,5
58,165,1
Dia
s (m
édia
)
laboratório/liberação do resultado (dias) resultado/retorno do reconvocado (dias)
24
Segundo o Ministério da Saúde (2016), todos os resultados dos exames
de TN deverão ser entregues às famílias, com a maior brevidade possível, assim
que a Unidade de Coleta os receba do Laboratório Especializado, fisicamente ou
por solução informatizada. Além disso, as crianças reconvocadas deverão ser
localizadas imediatamente para encaminhamento e início imediato do
tratamento. Para facilitar este processo, tempos corretos para o mesmo foram
estipulados, considerando-se até 7 (sete) dias o tempo ideal, de 8 a 30 dias
aceitável e por fim, acima de 30 dias tempo inapropriado.
É importante que haja comprometimento e rapidez para a entrega dos
resultados e reconvocação dos RN, visto que atrasos podem interferir no
tratamento e até mesmo na evolução da doença (SOUSA, 2017). Assim, a
equipe de saúde deve efetuar a busca ativa do recém-nascido portador da
doença e orientar continuamente os familiares sobre a patologia que a criança
possui, para que o tratamento não seja abandonado (VESPOLI, 2011).
Outro fator que pode influenciar no resultado e tratamento da(s) doença(s)
é o tempo de vida da criança no momento da coleta do material biológico, caso
esta seja precoce ou tardia, conforme mostrado na Tabela 4.
Tabela 4. Números (n) de coletas de material biológico para TN consideradas precoces ou tardias, na região de saúde Garças-Araguaia entre 2013 a 2016.
Município Coleta precoce (n) Coleta tardia (n)* Total rastreado (n)*
Araguaiana 2 8 94
Barra do Garças 5 343 1739
Campinápolis 11 117 709
General Carneiro 0 35 121
Nova Xavantina 8 55 792
Novo São Joaquim 1 33 233
Pontal do Araguaia 0 24 134
Ponte Branca 7 2 60
Ribeirãozinho 1 5 88
Torixoréu 0 21 87
* foram consideradas coletas precoces aquelas realizadas até 2 (dois) dias após o nascimento e coletas tardias aquelas realizadas após 15 dias do nascimento.
25
De acordo com a Tabela 4, os municípios onde a coleta tardia apresentou
maior ocorrência foram General Carneiro, com cerca 29% das coletas (n=35), e
Torixoréu, com registro de 24% (n=21) do material coletado após o quinto dia do
nascimento da criança. Já as coletas consideradas precoces (período anterior a
48 horas a partir do nascimento), as cidades com maior ocorrência foram Ponte
Branca, com 12% (n=7) e Araguaiana com 2% (n=2). De modo geral, a falha
mais comum em relação ao prazo de coleta para o teste do pezinho foi a coleta
tardia, considerada nesta pesquisa como após o 15° dia de vida do RN.
Para que o programa de TN atinja seus propósitos, é necessário que todas
as etapas que compõem o processo de TN sejam cumpridas eficientemente,
tornando a equipe multidisciplinar e os familiares do recém-nascido os principais
responsáveis pelo sucesso da ação. Não basta apenas que a coleta seja feita
adequadamente e os resultados emitidos de maneira rápida e eficiente
(VESPOLI, 2011).
De acordo com o observado, nem todas as amostras encontravam-se
dentro do prazo estabelecido como aceitável para a realização da TN, visto que
foram destectadas amostras que ultrapassaram os 30 dias. Segundo o Ministério
da Saúde, o tempo ideal para a coleta das amostras é de até sete dias de
nascido, considerando o período entre oito e 30 dias como aceitável, e, acima
de 30 dias, como período inapropriado (ALMEIDA et al., 2006).
Tendo em vista os problemas relacionados ao tempo de coleta, seja esta
tardia ou precoce, é importante que haja intensificação mais ativa, no que diz
respeito a educação em saúde, principalmente voltadas as gestantes durante o
pré-natal, com orientações mais precisas e convincentes sobre a importância da
TN. Além de, fazer-se necessário também a educação e capacitação do servidor
da área da saúde que realiza o exame (BRASIL, 2016).
De acordo com Vespoli et al. (2011), a demora na coleta e,
consequentemente no diagnóstico das doenças, pode causar sequelas graves,
fazendo com que a triagem neonatal entre o 3° e 5° do RN seja essencial. No
caso de doenças como HC e PKU, o atraso no diagnóstico pode ocasionar
sequelas no sistema neurológico, como retardo mental. Já considerando a AF
podem surgir eventos infecciosos e cardiovasculares em crianças
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diagnosticadas após o prazo ideal estipulado para a coleta do material biológico.
Crianças diagnosticadas na TN com FC apresentam melhor estado nutricional,
melhor crescimento e menos hospitalizações do que aquelas com diagnóstico
clínico posterior ou tardio. Além disso, a coleta de sangue tardia eleva o risco de
complicações na criança, podendo levá-la à óbito desde o período neonatal até
fases mais tardias da infância.
Segundo Carvalho (2008), diversos fatores contribuem para que aconteça
a coleta tardia, como a falta de conscientização das famílias sobre a importância
da realização do teste, os riscos associados à ocorrência de erros metabólicos
para a saúde do nascido e o risco para novos nascimentos nas famílias. Além
disso, a falta de informação sobre a gratuidade do teste e do tratamento.
Nesse contexto, o farmacêutico junto com os demais profissionais da área
da saúde, tem um papel fundamental podendo orientar e informar a população,
principalmente as mulheres no ciclo gravídico-puerperal sobre o teste de TN,
esclarecendo acerca de sua finalidade, uma vez que a falta de informação
influencia, negativamente, em sua realização, comprometendo o diagnóstico e o
tratamento com a falta de informação acerca da importância deste exame.
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5. Conclusões
✓ O percentual de cobertura obtido na região estudada de 58,8% foi
considerado abaixo da média do estado do Mato Grosso que é de 68,36%;
✓ As doenças com maior ocorrência entre 2013 e 2016 foram
hipotireoidismo congênito e fibrose cística, com uma prevalência de
1:1014 RN e 12029 RN, respectivamente;
✓ Fatores relacionados a falhas no processo de coleta, como o fato de ser
feita de maneira tardia ou precoce, o tempo de liberação dos resultados e
a morosidade do retorno dos reconvocados também podem interferir no
processo da triagem neonatal. Em relação à liberação do resultado da TN
pelo laboratório, houve um aumento no prazo médio entre os anos de
2013 (8,2 dias) e 2016 (10,8 dias). Considerando o tempo para o retorno
do RN reconvocado, notou-se uma diminuição, sendo o prazo de 86 dias
no ano de 2013 e 65 dias no ano de 2016;
✓ O conhecimento sobre a realidade dos municípios do interior do estado do
Mato Grosso em relação ao “teste do pezinho” é uma ferramenta para
futuras ações na área de saúde, visando melhorias em todas as etapas
do processo de triagem neonatal, e consequentemente elevando sua
cobertura nesta região.
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6. Referências Bibliográficas
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